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Scanlation: reprodução e consumo subalterno de mangá na cibercultura

Tatiane Hirata

Mestranda na pós-graduação em Estudos de Cultura Contemporânea da UFMT e integrante do Núcleo de Estudos Contemporâneos (NEC) da UFMT E-mail: [email protected] Yuji Gushiken

Doutor em Comunicação e Cultura (UFRJ) Professor do Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea da UFMT e líder do NEC-UFMT E-mail: [email protected] Resumo: Este artigo discute a prática midiática conhecida no campo da cibercultura como scanlation, que consiste em digi- talizar, traduzir, editar e distribuir gratuitamente as histórias em quadrinhos japonesas, chamadas de mangá. O scanlation remete a uma releitura contemporânea de um sistema de dá- Introdução divas, através do qual os objetos da indústria criativa japonesa são apropriados, reproduzidos e redistribuídos em circuitos subalternos de consumo. Neste artigo, analisa-se o fenômeno so- Palavras-chave: Comunicação, scanlation, mangá, cibercultura, ciotécnico e midiático da prática social consumo subalterno. denominada scanlation: a reprodução di- Scanlation: reproducción y consumo subalterno de man- gitalizada e ilegal de mangás (quadrinhos ga en la cibercultura japoneses) levada a cabo por fãs em circui- Resumen: Este artículo discute la emergencia de la práctica tos de sociabilidade na cibercultura. Adota- mediática conocida como scanlation, que consiste en la digi- talización, traducción, edición y distribución gratuita de las se, portanto, a abordagem metodológica que historietas cómicas japonesas, conocidas como mangá. El scan- inclui o modelo de estudos da comunicação lation remite a lectura contemporánea de un sistema de dadiva, a través del cual los objetos de la industria creativa japonesa como ciência da cultura (Lima, 2001). A son apropiados, reproducidos y redistribuidos en circuitos su- partir do campo da comunicação (Weber; balternos de consumo. Bentz; Hohfeldt, 2002), este artigo dialo- Palabras clave: Comunicación, scanlation, , cibercultura, consumo subalterno. ga, no modelo escolhido, com as ciências sociais, em especial a antropologia, tendo Scanlation: reproduction and subaltern consumption of como foco a atualização do sistema de dádi- manga in cyberculture Abstract: This article discusses the media practice known in va (Mauss) no capitalismo contemporâneo. the field of cyberculture as scanlation, a process of scanning, No plano metodológico, opta-se por uma translating, editing and free distribution over the internet of análise histórica, suplementada por obser- Japanese , called manga. Scanlation refers to a contem- porary revisiting of gift economy, through which the Japanese vação participante hoje aplicada às práticas creative industry products has been used, reproduced and re- da cibercultura (Lemos, 2010), com apoio distributed in subaltern circuits of consumption. Keywords: Communication, scanlation, manga, cyberculture, de uma bibliografia já produzida sobre subaltern consumption. mangá como produto cultural e comunica-

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cional (Luyten, 2000; 2005). As categorias de pão para promover sua política diplomática análise incluem instituições (mercado inter- conectada diretamente aos valores daquela nacional de mangás) e formações culturais sociedade. Além de mostrar um lado menos (scanlation como prática midiática). Comu- tradicional e menos rígido dos japoneses, es- nicação, nessa abordagem adotada, define-se ses produtos ajudam o país a produzir uma como: “processo simbólico através do qual a imagem de país moderno, sintonizado com o realidade é produzida, mantida, reparada e desejo de consumo de jovens do mundo in- transformada”. (Lima, 2001) teiro, e também a exportar produtos que não se resumem a automóveis e equipamentos eletrônicos. A explosão da indústria criativa, Uma das soluções para em setores como o entretenimento, tornou- que leitores de outros se mais evidente com as crises econômicas enfrentadas pelo Japão nas décadas de 1990 países tivessem acesso às e 2000, que limitaram a produção industrial revistas em quadrinhos do país, mas favoreceram o consumo de japonesas foi montar mangás e no cenário internacional. circuitos de distribuição Na década de 90, a imagem do Japão já não de cópias clandestinas é apenas econômica. Sushi, sashimi e ka- raokê são agora símbolos tão bons como Honda e Mitsubishi. Eles fazem parte do fluxo externo da cultura japonesa. As di- As histórias em quadrinhos japonesas, mensões do Japão fazem com que este flu- conhecidas como mangás, são consumidas xo seja inevitável. Assim, torna-se impos- em escala global na versão impressa. Elas são sível para o país deixar de ser influenciado encontradas facilmente à venda em livrarias por outros países, isto é, internacionalizar- se. Ambos os processos vieram para ficar, físicas e online, lojas especializadas e bancas visto que o Japão não existe no vácuo e está de jornal. O mangá, item da cultura pop ja- envolto por outros países do mundo. (Eds- ponesa, é um dos elementos que constituem trom apud Ortiz, 2001: 67) o chamado Cool Japan, campanha que con- siste em ampliar a influência daquele país As origens do mangá remontam a perga- nos campos político, social, cultural e eco- minhos budistas do século XII. Mas, como nômico através de seus produtos mais po- produto da moderna indústria criativa, co- pulares. O Cool Japan, termo adotado pelo meçou a ser descoberto além das fronteiras governo japonês na década de 2000, tem ori- japonesas entre as décadas de 1960 e 1970, gem na reportagem Japan’s Gross National quando animações made in Japan chegaram Cool1, do jornalista norte-americano Dou- às telas das emissoras de TV ocidentais. Ba- glas McGray. Em 2002, ele publicou na re- seados nas histórias em quadrinhos japone- vista Foreign Policy um pequeno panorama sas de grande sucesso, os animes – como as da emergência do Japão “descolado”, cujos animações são chamadas pelos japoneses – produtos são consumidos avidamente pelo surgiram como opção mais barata para pre- próprio público japonês, mas também cada encher lacunas nas grades de programação vez mais exportados. das emissoras de TV em países do Ocidente, Os jogos eletrônicos, as histórias em qua- sendo adquiridos para atender ao público drinhos, as animações, a moda, a gastrono- infantil. Porém, no Japão, mangás e animes mia, o design e a música japoneses, entre não são produtos exclusivos para crianças e tantos outros produtos que possuem uma adolescentes. Mangá e fazem parte de aura cool, fazem parte do Soft Power (Poder um sistema mais amplo, que inclui leitores Brando) engendrado pelo governo do Ja- de ambos os sexos, variadas faixas etárias e

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[...] não se limita, como em muitos países, [...] os mangás nunca foram concebidos para a um público infantil. Desde o início ele se ser vendidos no exterior. Eles nasceram com volta para leitores diferenciados, exploran- histórias estilizadas e trabalhos artísticos feitos do os enredos em múltiplas direções: aven- para os japoneses, culturalmente específicos e tura, comédia, romance, ação, política, ero- baseados em valores compartilhados, criados tismo. A técnica da narrativa, gramatical e sem preocupação com possíveis respostas es- visual, de cada um desses eixos tende assim trangeiras a sua abordagem do sexo, do cristia- a se enriquecer e a se diversificar.” (Ortiz, nismo e de outras questões polêmicas. (Gra- 2001: 165) vett, 2006: 156)

Por conta de seu conteúdo não voltado A falta de licenciamentos de mangás por especificamente para o público almejado editoras estrangeiras praticamente forçou pelas emissoras de TV de outros países, no- os leitores de outros países, que se mostra- tadamente no Ocidente, as animações japo- ram persistentes no consumo do produ- nesas passaram por adaptações na dublagem to, a buscar maneiras diversas para terem ou na edição de cenas. O objetivo era ade- acesso a revistas originais, publicadas no quar o conteúdo para que estivesse de acordo Japão. Uma delas foi montar circuitos de com as normas que garantissem a “formação distribuição de cópias clandestinas das re- saudável” de crianças e adolescentes. O que vistas em quadrinhos, disponibilizando-as as emissoras desses outros países não espe- a integrantes de clubes de fãs de cultura pop ravam é que as séries amealhassem a admi- japonesa. Na Espanha, a animação Dragon ração do público, que começou a demandar Ball tornou-se popular na década de 1980, a produtos correlatos – brinquedos e princi- ponto de fãs se mobilizarem para adquirir, palmente revistas em quadrinhos – em geral por vias não formais, cópias dos mangás da disponíveis em grande quantidade no Japão. série criada por . Editoras norte-americanas, asiáticas Como Alfons Moliné relata, e européias passaram a voltar a atenção mercadológica para a então emergente de- [...] o sucesso foi tão grande que, no início, manda dos telespectadores por produtos a não-existência de merchandising base- relacionados às séries. Chegaram a lançar ado na série incentivou os próprios fãs a criarem o seu. Aconteceu um tráfico de fo- revistas em quadrinhos genéricas, porém tocópias do mangá original japonês não só sem autorização de autores e editores dos entre crianças e adolescentes, mas também mangás no Japão. Nos outros países, as his- entre jovens adultos. A dragonballmania tórias e os desenhos eram feitos por artistas ficou consolidada como o perfeito exem- locais e não possuíam relação com o mate- plo da maneira como um mito popular de rial original, cujo licenciamento não inte- massas pode ser criado a partir do clamor do público, sem campanhas publicitárias. ressava às editoras de outros países. Entre os (Moliné, 2004: 59) motivos para resistir ao licenciamento dos mangás: os temas abordados (considerados A leitura de mangá tornou-se mais acessí- impróprios para leitores infanto-juvenis) e vel a leitores de outros países apenas a partir os custos de adaptação e publicação do ma- das décadas de 1990 e 2000: o licenciamento terial impresso (a necessidade de tradução de animes aumentou nas emissoras estran- do japonês e diagramação de acordo com o geiras, que prepararam o público para o con- padrão de leitura de cada país). Xenofobia sumo de mangá, e editoras especializadas em e protecionismo comercial também eram publicações japonesas foram criadas em dis-

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tintos países. Os mangás transformaram-se original em formato digital comercializado e em um fenômeno de comunicação de massa consumido no Japão, produzidos para dispo- também no Ocidente, chegando a gerar ao sitivos de leitura em tablets. Na verdade, tra- setor editorial japonês lucros de 12 bilhões ta-se de cópias não autorizadas, em formato de ienes2 em 2008, segundo relatório da Ja- digital. A partir de exemplares impressos, os pan External Trade Organization (Jetro). mangás são manipulados em equipamentos Nesse montante estão os valores arrecadados digitais, traduzidos e distribuídos gratuita- com a exportação de volumes em japonês e mente por grupos de leitores que usam a in- os contratos de licenciamentos dos títulos, ternet para essas atividades. assinados pelas mais importantes editoras Grupos de fãs assumem papéis de edito- nipônicas e suas contrapartes no exterior. res, tradutores, designers e administradores de As principais demandas dos fãs foram sites. Ao simular o trabalho de profissionais, atendidas, o que incluiu o licenciamento das eles realizam a tarefa de levar a outros leitores séries de sucesso no Japão (Bleach, Dragon não nipônicos arquivos de imagens contendo Ball, , Saint Seiya, entre milhares de mangás traduzidos do japonês para um idio- títulos) e histórias de autores consagrados, ma mais acessível ao público estrangeiro – in- como . Porém, as demandas, glês, por exemplo. A prática social de traduzir, transformadas pela emergência das mídias copiar, escanear e distribuir gratuitamente as digitais a partir da década de 1990, apresenta- revistas de mangá ganhou a denominação de ram novas exigências do público consumidor scanlation, junção dos termos em inglês scan e fora do Japão, relacionadas a questões como (digitalização e tradução). tradução, qualidade do material impresso e No desenvolvimento do capitalismo histó- custos dos exemplares. Somados a esses fato- rico, a dinâmica de um consumo dito subal- res, há também o fato de leitores terem acesso terno demanda compreender modos de exis- direto ao material em língua japonesa e es- tência material e simbólica no seio do próprio tarem constantemente informados sobre os sistema econômico em dimensão global. No lançamentos do mercado editorial nipônico, caso, é preciso prestar atenção em práticas en- tornando inevitáveis as comparações entre contradas no interior do próprio sistema que, mangás licenciados e versões originais. por alguma razão, arranham, perturbam ou Fora do Japão, simultaneamente ao cres- até mesmo desestabilizam a lógica hegemôni- cimento do consumo das versões licenciadas ca do capital. Daí aí a importância de identi- em versão impressa, surgiam e circulavam ficá-las, de esmiuçar o seu funcionamento e cópias escaneadas e não autorizadas, envol- sondar a sua potência. (Brandão, 2007) vendo novos recursos tecnológicos da mídia O scanlation segue a mesma trilha da prá- digital. A esta prática social, como prática tica do fansubbing, atividade de tradução, midiática, deu-se a designação de scanlation. legendagem e distribuição de conteúdo au- diovisual praticada por fãs de séries audiovi- Scanlation: Apropriações sociais de suais japonesas. Oriundo da década de 1970, tecnologia e reprodução de mangá quando os aparelhos de videocassete e as para consumo subalterno fitas VHS permitiram aos usuários domés- ticos gravar programas de TV, o fansubbing De maneira um pouco diferente do tráfico começou a ganhar forma no final da déca- de fotocópias relatado por Moliné, o mangá da de 1980, quando fãs de ficção científica continua fazendo parte de um circuito subal- começaram a legendar, por conta própria, terno de consumo produzido pelos próprios animações japonesas do gênero, com robôs fãs. Trata-se de versões digitais alternativas, gigantes e demais histórias que não se asse- que não têm nenhuma ligação com o mangá melhavam àquelas criadas no Ocidente. As

Líbero – São Paulo – v. 15, n. 30, p. 127-138, dez. de 2012 Tatiane Hirata / Yuji Gushiken – Scanlation: reprodução e consumo subalterno de mangá na cibercultura 131 fitas VHS de animes e séries audiovisuais, seus conhecimentos sobre como melhor in- assim como as fotocópias de mangás, deram tervir no material digitalizado, ao mesmo lugar aos CDs, pen drives e arquivos digitais. tempo em que exteriorizam uma força cria- A prática do scanlation popularizou-se tiva, usando como objeto mediador o man- entre os fãs não japoneses de mangá, que gá. Na apropriação, segundo André Lemos formam seus grupos, chamados de scanla- (2010), evidenciam-se as dimensões técnicas tors ou scantrad (scan traduction), recru- de aprendizagem e treinamento. tando amigos ou contatos em redes sociais. Reunidos pela sociabilidade fomentada no ciberespaço, os integrantes oferecem seus co- Os scanlators apro- nhecimentos e habilidades em determinada priam-se de recursos, função – a experiência com programas de edição de imagem (preparação de arquivos desviando as funções digitalizados) e conhecimentos em japonês dos equipamentos para ou inglês (tradução do texto das histórias) uma prática subalterna – para construir um circuito de reprodução, de circulação e circulação e consumo de mangá digitalizado. consumo de mangás Participantes de um novo tipo de “estar junto à toa”, esses fãs, em contato constante através das redes sociais, fóruns e progra- mas de conversação instantânea, passam a A apropriação das tecnologias da cibercul- compartilhar frustrações e momentos de tura, aliada aos desejos de informação livre e entretenimento e a participar de trabalhos busca de transgressão às normas da socieda- colaborativos pela internet. Como ressalta o de, abriu brechas para que usuários de fer- ramentas digitais pudessem desenvolver seus sociólogo francês Michel Maffesoli, “a emo- próprios aplicativos, utilizados para facilitar ção não pode ser reduzida unicamente à es- a vida dos usuários da internet e provocar a fera do privado, mas é cada vez mais viven- ira dos produtores de mídia. Os softwares de ciada coletivamente”. (Maffesoli, 1995: 76) compartilhamento peer-to-peer Winny, cria- Situados em qualquer parte do mundo, do em 2002 por Isamu Kaneko, e Share, criado fãs colaboram para a emergência de usos não por um usuário japonês anônimo em 2003, previstos pelos autores das histórias em qua- provocaram no Japão as prisões de usuários drinhos nipônicas e pelos fabricantes/inven- que utilizavam esses dois softwares para com- tores dos aparatos técnicos envolvidos nesta partilhar ilegalmente mangás, animes, séries prática. Quando improvisam no uso de sof- de TV, filmes, pornografia e games. twares, e-mails, telefones celulares, programas O Share e o Winny foram descobertos e de conversação instantânea e sites de vídeos usados no exterior como canais de distribui- como o Youtube, os integrantes de grupos ção de conteúdos veiculados originalmente em scanlators apropriam-se desses recursos técni- território japonês. Os dois softwares funcio- cos, desviando as funções dos equipamentos nam como fontes importantes para obtenção para o funcionamento de uma prática subal- da matéria-prima de scanlation, que são as pá- terna de circulação e consumo de mangás. ginas escaneadas diretamente das antologias e Conhecimentos em webdesign e progra- os volumes compilados colocados à venda no mas de edição de imagens também são des- mercado japonês. Outros programas peer-to- viados de finalidades “sérias” e economica- peer mais populares entre usuários ocidentais, mente produtivas – finalidades profissionais como o BitTorrent, Emule e Limeware, ajudam para outros usos no ambiente dos scanlators. os arquivos obtidos a partir do Winny e Share a Os praticantes de scanlation aperfeiçoam circular entre computadores do mundo inteiro.

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Manuseios de ferramentas midiáticas e English-Language Manga (quadrinhos com a despesas improdutivas na cibercultura estética do mangá publicados originalmente em inglês) e os comics norte-americanos, en- Segundo Hye Kyung-Lee (2009), a expan- tre outros. As histórias em quadrinhos inde- são da atividade do scanlation deve-se a três pendentes feitas por fãs, caso das produções fatores: a grande demanda de mangás, que japonesas chamadas de e que se as- excede o número de títulos ofertados pelas semelham aos fanzines no Ocidente, também editoras fora do Japão; a emergência de tec- são traduzidas, digitalizadas e disponibiliza- nologias digitais de reprodução de cópias; e a das gratuitamente na internet. Os mangás, agora digitalizados na prática de scanlation, circulam livremente na Inter- O praticante de net por intermédio de seus leitores, que de- Scanlation é um ciber- sempenham um papel mais ativo no consu- rebelde que direciona mo, não se restringindo apenas à prática da o vitalismo acumulado leitura. Para esses grupos de fãs, o importan- te, nas condições históricas da cibercultura, no cotidiano para não se trata apenas de apreciar, mas compar- atividades ditas tilhar e levar títulos de mangá ao conheci- frívolas na cibercultura mento de outros leitores em torno da cultura pop japonesa, cujo imaginário mundializado eles colaboram para atualizar. O fenômeno do scanlation é contemporâneo do forma- disseminação da Internet. Esses fatores, ligados to mp3 na música e dos formatos graváveis diretamente ao desenvolvimento das inovações em DVD para vídeos: os processos técnicos tecnológicas, possibilitaram a transformação que acentuaram a capacidade de reprodução do mangá impresso em arquivos digitais e sua de objetos culturais alteraram a relação dos distribuição de modo mais veloz e sem contro- consumidores com tais objetos, ao mesmo le do mercado formal pelo mundo inteiro. Os dispositivos mais usados são os programas de tempo em que produziram condições de no- “bate-papo”, programas de compartilhamento vas relações entre os próprios consumidores peer-to-peer e sites e blogs criados e mantidos dos dispositivos técnicos. pelos próprios grupos scanlators. O comportamento ativista do leitor e Somado a estes fatores, há também a praticante de scanlation, que vai contra a presença de tutoriais e recursos educativos maneira “convencional” de se consumir que, utilizando a estrutura aberta da Inter- HQs, o transforma em uma espécie de cy- net, permitem que conhecimentos outrora berpunk: um ciber-rebelde que direciona transmitidos de maneira verticalizada em todo o vitalismo acumulado no cotidiano instituições de ensino formais passem a ser banal para atividades consideradas frívolas acessíveis a qualquer usuário na rede. Tuto- e sem finalidades econômicas no ambiente riais de Photoshop, por exemplo, são fontes da cibercultura. Do ambiente estrutura- de conhecimento utilizadas pelos integrantes do e organizado das escolas, faculdades e de scanlators que lidam com a edição das pá- locais de trabalho partem forças e habili- ginas digitalizadas. dades que movem a prática do scanlation, Apesar de a prática do scanlation ser cons- passível de ser relacionada com mesma tantemente relacionada aos mangás, ela inclui categoria dos vírus de computador, das também outros tipos de histórias em quadri- navegações aleatórias em sites e das con- nhos: os manhwa (quadrinhos sul-coreanos), versações em salas de bate-papo: despesas os manhua (quadrinhos chineses), os Original improdutivas. (Lemos, 2010)

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Para Georges Bataille (1975), a despesa Capitalismo rizomático: produção improdutiva é decorrente de um tipo de con- hierárquica, reprodução anárquica sumo que não tem como finalidade principal a preservação da vida terrena ou a acumula- Segundo as leis de direitos autorais em ção de bens, mas os excessos, as perdas e os voga no Japão, um autor possui o direito de prazeres furtivos. Em outras palavras, as des- preservar a integridade de seu trabalho con- pesas improdutivas se relacionam com ativi- tra qualquer tipo de mutilação, distorções ou dades consideradas menos “nobres”, como as modificações que contrariem sua vontade. festas, as guerras, os jogos e as coisas banais. Pequenas alterações e digitalizações de obras Apesar da ligação com o que é enquadrado podem ser feitas sem a autorização dos de- como “inútil”, a despesa improdutiva trans- tentores dos direitos autorais em situações forma-se em elemento essencial para a vida muito específicas, como no caso de adapta- em sociedade, e, na Internet, surge como ca- ção de trabalhos para usos educativos, desde talisadora das atividades do underground hi- que a quantidade de cópias digitais não acar- gh-tech, no qual se enquadra a prática social rete prejuízos aos autores. e midiática do scanlation. Ao usuário comum é permitido reprodu- Segundo Henry Jenkins, “a circulação de zir um trabalho, sem o consentimento do au- conteúdos – por meio de diferentes sistemas tor, desde que a reprodução esteja confinada de mídia, sistemas administrativos de mídias a um círculo restrito, como o uso pessoal ou concorrentes e fronteiras nacionais – de- doméstico ou casos similares classificados pende fortemente da participação ativa dos como “uso privado”, e que não tenha como consumidores.” (Jenkins, 2009: 29). Dotados finalidade a obtenção de lucro. Trabalho é de informações e conhecimentos sobre con- entendido aqui como a produção na qual teúdos de seu interesse, esses consumidores pensamentos e sentimentos são expressos de utilizam tecnologias midiáticas ao seu al- maneira criativa e enquadrados num domí- cance para fazer com que informações flu- nio musical, artístico, literário ou científico am por canais e suportes diferentes daqueles (Cric, 2010). A partir do momento em que para os quais foram criados. A relação entre imagens, fotos, textos e outros trabalhos pré- mercados midiáticos, plataformas de mídia e existentes passam a ser digitalizados, arma- o comportamento mais ativo e criativo por zenados e reproduzidos em computadores parte dos consumidores resulta no que o au- ou em servidores de Internet, com o propó- tor chama de Cultura da Convergência. sito de serem utilizados em sites e blogs, por Convergência, de acordo com Jenkins, exemplo, a reprodução deixa a esfera do uso privado para tornar-se público, devendo as- [...] não ocorre por meio de aparelhos [...] A sim ter a permissão do autor ou do detentor convergência ocorre dentro dos cérebros de dos direitos autorais. consumidores individuais e em suas intera- ções sociais com os outros. [...] Nenhum de As condições sociotécnicas foram altera- nós pode saber tudo; cada um de nós sabe das com a disseminação de tecnologias de alguma coisa; e podemos juntar as peças, se digitalização de conteúdos, provedores de associarmos nossos recursos e unirmos nos- armazenamento de arquivos, sites de upload sas habilidades. A inteligência coletiva pode de conteúdos, serviços gratuitos de criação ser vista como uma fonte alternativa de po- der midiático. (Jenkins, 2009: 30) de blogs, sites e compartilhamento peer-to- peer. Nestas condições, trabalhos pré-exis- Munidos cada qual com um tipo de conhe- tentes deixam de fazer parte de apenas um cimento diferente, os fãs reúnem-se virtual- computador para serem reproduzidos e dis- mente e põem em funcionamento suas habili- tribuídos à exaustão, além de sofrerem remi- dades para popularizar o consumo de mangá. xagens, bricolagens e outros tipos de modifi-

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cações não autorizadas pelos criadores e/ou scanlators: grupos pressionados e obrigados detentores de direitos autorais. As páginas de a cessar suas atividades ressurgem posterior- papel de um mangá, quando deixam a estru- mente com outra configuração ou dão lugar tura dos exemplares palpáveis para virarem a novos participantes; membros que cessam arquivos digitais nas mãos dos scanlators, sua participação são substituídos por outros; transformam-se em bens informacionais mangás retirados dos sites são logo encon- que se multiplicam rapidamente. trados em distribuição pelos leitores que fizeram o download dos arquivos a tempo. [...] o bem informacional não sofre a es- cassez típica dos bens materiais. Ele pode O próprio mecanismo de funcionamento de ser reproduzido ao infinito, sem perda ou um grupo scanlator, constituído pelas táticas desgaste do original. Além disso, o bem in- de distribuição de arquivos digitais, pelo re- formacional não vive o desgaste quando é crutamento de integrantes, com suas funções utilizado. Quem pode desgastar-se é ape- e etapas dependentes uma das outras, com- nas o seu suporte. (Silveira, 2007:34) põe um processo que não cessa de reinventar A prática de scanlation, considerada uma suas conexões nas cadeias da cibercultura. violação dos direitos autorais, tornou-se alvo Um rizoma pode ser rompido, quebrado de uma coalizão coordenada por editoras em um lugar qualquer, e também retoma norte-americanas e japonesas, cujos lucros segundo uma ou outra forma de suas linhas obtidos na venda de mangás vêm caindo com e segundo outras linhas. É impossível exter- o passar dos anos. Em 2010, alguns grupos minar as formigas, porque elas formam um scanlators especializados em traduzir títulos rizoma animal do qual a maior parte pode ser destruída sem que ele deixe de se recons- para o inglês, sites agregadores de páginas truir. (Deleuze; Guattari, 1995: 18) de mangás e distribuidores de raws (páginas de mangás escaneadas, porém sem qualquer A dedicação de tempo e de empenho em tipo de intervenção digital na forma e no habilidades na tradução, edição e distribui- conteúdo) foram ameaçados com processos ção gratuita e não autorizada dos mangás judiciais pelos grupos integrantes das edi- digitalizados, ao ir na contramão da lógica toras e proibidos de prosseguirem com as capitalista de acumulação de bens, apresen- atividades de distribuição de mangás pela ta-se como uma espécie de economia con- Internet, sendo obrigados a retirar da rede temporânea de dádivas, atualizada na ciber- todos os títulos oferecidos para leitura gra- cultura com seus circuitos de distribuição 1 tuita . Porém, os títulos que foram proibidos de piratarias, arquivos musicais, filmes e sof- de circular em versão alternativa ainda são twares, colocados gratuitamente à disposição encontrados e redistribuídos de maneiras dos usuários da Internet. No caso do scan- diversas por usuários que possuem cópias lation, o regalo ofertado é o mangá traduzi- dos arquivos. Entre as vias utilizadas para do. O consumo e a circulação deste produto o escoamento dos títulos “banidos” estão reforçam o vínculo entre apreciadores das mensagens privadas em fóruns de discussão, histórias em quadrinhos. comunidades virtuais fechadas, programas de conversação instantânea e programas de [...] a lógica das redes e a sua cultura de compartilhamento via peer-to-peer. uso foi retomando os processos cotidianos É importante ressaltar o caráter rizo- não-mercantis e permitindo emergir outras relações intersubjetivas. Uma economia da mático da prática sociotécnica dos grupos dádiva surge na forma de compartilhamen- to de conteúdo e de conhecimentos, facili- 1 Japanese, U.S. Manga Publishers Unite To Fight Scanlationsh. Disponível em Gindres et alli, 2002:28)

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Leitores com habilidade em tradução e porâneo de trocas e prestações de que falava adaptação de títulos publicados originalmen- Marcel Mauss (1974) sobre sociedades tradi- te em japonês ajudam outros leitores, que não cionais. Os capítulos e tomos inteiros de man- têm conhecimento ou não são fluentes no gás, oferecidos para download, podem ser idioma, a ter acesso às histórias, reforçando o considerados analogamente como dádivas, sentimento de coletividade dos fãs, ainda que regalos (presentes) ofertados e que podem ser o contato seja apenas via Internet. retribuídos pelos fãs e leitores. Um presente dado que requer uma retribuição à altura, seja No fundo, são misturas. Misturam-se as almas nas coisas; misturam-se as coisas nas almas. Misturam-se as vidas, e é assim que as pessoas e as coisas misturadas saem A dedicação de tempo cada qual de sua esfera e se misturam: o que é precisamente o contrato e a troca. e de empenho do (Mauss, 1974: 71) Scanlation, ao ir na contramão da lógica O sistema social da dádiva, a partir da obra de Marcel Mauss, original de 1922, ganhou capitalista, apresenta- releituras nas últimas décadas, principalmen- se como uma economia te de pesquisadores europeus, para redimen- contemporânea de dádivas sionar a importância de um pensamento não utilitarista no bojo do desenvolvimento do capitalismo. Nessas releituras, dádiva é “qual- de maneira direta ou indireta, como nos ca- quer prestação de bens ou serviços efetuada sos em que um título difundido pela Internet sem garantia de retorno, tendo em vista a agrada tanto que seus fãs organizam petições criação, manutenção ou regeneração do vín- para sensibilizar as editoras a ter os tomos em culo social. Na relação da dádiva, o vínculo suporte de papel para colecioná-los. é mais importante do que o bem” (Caillé in Um dos maiores incentivos para um gru- Martins, 2001: 192). Presentear os leitores de po scanlator continuar suas atividades é saber mangás com um trabalho feito por fãs é um que há outros fãs interessados em acompa- gesto que fortalece o sentimento de coletivi- nhar seu trabalho, criticá-lo quando neces- dade possibilitado pela Internet com o surgi- sário e ajudá-los a difundir a cultura , mento das comunidades virtuais, através das ampliando o círculo de leitores que têm gos- quais os scanlators formam suas equipes. Fãs tos em comum em escala mundial. No reco- que possuem maiores habilidades na tradu- nhecimento do esforço alheio e na necessi- ção ajudam aqueles que não têm ou não co- dade da retribuição como agradecimento, nhecem de maneira suficiente outros idiomas. os fãs que se tornam tradutores, editores ou Deixar de partilhar é como quebrar esse sen- scanners presenteiam algo de si, repassando a timento de coletividade, e não reconhecer o outros jovens esta missão. trabalho que outros tiveram para levar é visto Há ainda fatores que reforçam o que como desrespeito. “Recusar-se a dar, deixar de membros de grupos de scanlators qualificam convidar ou recusar-se a receber equivale a como nobres e justas, embora sejam consi- declarar guerra; é recusar a aliança e a comu- deradas atividades improdutivas. As ativida- nhão”. (Mauss, 1974: 57) des de tradução/adaptação, digitalização das No caso das práticas midiáticas do scan- imagens e distribuição gratuita constituem- lation, o ato de compartilhar, disponibilizar se numa espécie de trabalho colaborativo, e tornar acessíveis obras antes publicadas em que doar parte de seu tempo, dedicar em idiomas distantes do alcance de muitos seus conhecimentos para tornar as histórias leitores assemelha-se a um sistema contem- acessíveis a uma vasta gama de outros fãs

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são considerados como uma forma justa de midiatizada, e que passa necessariamente pelo compartilhar a preferência pelos mangás. consumo de bens materiais produzidos no Os circuitos de scanlation, portanto, re- modo de produção capitalista. produzem na cultura contemporânea os A produção simbólica no scanlation refe- processos de redistribuição de bens mate- re-se não apenas ao produto digital que cir- riais e simbólicos, fomentando uma relação cula como cópias de um consumo subalterno de status que se baseia muito mais na distri- entre fãs anônimos espalhados pelo planeta. buição desses bens do que no seu acúmulo. Refere-se também às vinculações sociais pro- Os grupos scanlators, nessa perspectiva, atu- duzidas nas atividades envolvidas: manuseio alizam o primado da cibercultura no que ela de ferramentas midiáticas, produção e troca se distingue da tecnocultura (Lemos, 2010), de saberes, divisão do trabalho e cooperação tornando dinâmica a noção que se possa ter entre os pares da comunidade que se inventa. nos dias de hoje de sociabilidade, imersão na Paradoxalmente, em se tratando de socieda- experiência urbana, ativismo em rede, traba- de de consumo, as vinculações produzidas lho coletivo e o que é viver sob a hegemonia do modo de produção capitalista. fomentam-se não no acúmulo de bens ma- teriais, o que é característica do modo de produção capitalista. Antes, a sociabilidade Considerações finais inventada nutre-se de um trabalho coopera- A concepção de usos midiáticos compreen- tivo, em que dividir produtos culturais para de o plano do consumo necessariamente nos então multiplicá-los e distribuí-los em rede entremeios do modo de produção capitalista. é o que fomenta uma idéia de comunidade. Nessas condições históricas, as noções de re- O scanlation torna-se uma espécie de dá- sistência hoje passam por práticas sociais que, diva contemporânea, porque se trata não de nos processos de consumo, permitem visuali- uma relação de troca econômica, mas de uma zar melhor o que significa resistir – econômica, relação de troca simbólica, embora o simbó- política e culturalmente – nos dias de hoje. As lico evidentemente só se atualize a partir da práticas de scanlation são atravessadas neces- materialidade econômica traduzida no acesso sariamente pelo consumo de produtos cultu- a equipamentos digitais. Em outras palavras, rais da indústria criativa japonesa, hoje mun- o scanlation é uma prática social que se atu- dializada pelos processos de globalização da aliza como prática midiática, que por sua vez economia. São atravessadas também por uma advém da evolução constante do desenvolvi- condição global do capitalismo na medida em mento industrial e das ferramentas tecnoló- que se atualizam no consumo de ferramentas gicas, o que também só se torna viável numa de mídias digitais, produtos do processo mo- sociedade de consumo de tais bens materiais. dernizador das tecnologias midiáticas. Nos entremeios do sistema capitalista, a A atividade de scanlation é uma prática so- prática de scanlation permite conceber que cial que sugere repensar os modos como torna- se viável a produção de subjetividade em meio a reprodução insistentemente subalterna de às condições de existência construídas nos em- bens simbólicos compromete e questiona o bates do processo modernizador do Ocidente. capitalismo no qual se originam tais bens. O consumo de tecnologias torna-se condição Mas práticas sociais caracterizadamente de existência material e simbólica, o que inclui subalternas, caso do scanlation, tornam-se a necessidade de produção e reprodução de lin- processos reprodutores do próprio sistema guagem. O scanlation, como prática social, per- capitalista, que, historicamente, vive de cri- mite perceber o quanto há de investimento em ses constantes e reinvenções contínuas. uma existência simbólica hoje enfaticamente (artigo recebido mai.2012/ aprovado out.2012)

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