Formas De Resistência Camponesa: Visibilidade E Diversidade De Conflitos Ao Longo Da História
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estratégias e as concepções de direitos em uma O objetivo dos autores é contribuir para a realização de um campo de conhecimento que O livro desnuda a antigüidade dos conflitos no sociedade marcada pela escravidão. Com o fim se convencionou chamar de História Social do Campesinato. Os textos são o resultado de campo. A documentação é escassa, mas suficiente desta, coube aos trabalhadores do campo um papel pesquisas produzidas em diversas universidades brasileiras de distintas regiões do país. Formas de resistência para evidenciar que as disputas pela terra ou a fundamental na construção do mercado interno Enfocam experiências de luta e a organização de movimentos rurais ocorridos em várias I – Motta e Zarth camponesa – vol. de resistência (Orgs.) Formas submissão aos povoadores eram muitas vezes brasileiro. partes do Brasil. camponesa: visibilidade resolvidas pela violência física. Os embates não se Há ainda textos sobre os primeiros trinta anos da O conjunto de artigos tem como principal elemento norteador de reflexão, indagação e resumiam a expulsões, mas incluíam diversos história republicana. É possível encontrar no inquietude como os pobres do campo, nas mais diversas áreas da nação, procuraram e diversidade de conflitos tipos de pagamento dos camponeses em dinheiro período tanto as concepções de justiça dos assegurar seu direito à terra, consagrando como costume o direito expresso na primazia ou em espécie. lavradores como suas manifestações coletivas de da ocupação ou na percepção da injustiça diante dos terratenentes. A formação do Império do Brasil em 1822 não rebeldia. Evidencia-se ainda que as tentativas ao longo da história alterou a estrutura fundiária então existente. A governamentais em auxiliar a política de coloniza- necessidade de melhorar o acesso à terra chegou a ção do território partem de um preconceito contra ser levantada por alguns políticos. Houve até um o camponês nacional, que deveria se submeter aos vol. I primeiro projeto para uma nova lei agrária, que interesses políticos e ideológicos dos agentes do saiu das mãos de José Bonifácio de Andrada e Silva. Estado. Ao longo dos anos oitocentos, em diversas Concepções de justiça e resistência nos Brasis ocasiões, os pobres do campo ousaram subverter a ordem, questionar o poder dos senhores de terra e realizar uma leitura particular das leis. Investiga- se, por exemplo, a origem da palavra posseiro, Márcia Motta e em contraponto a sesmeiro, sendo a primeira Coleção História Social do Campesinato no Brasil Paulo Zarth (Orgs.) empregada para referir-se ao invasor, àquele que não era visto como legítimo ocupante de uma terra sem dono. Os estudos reunidos sobre o período colonial e o Império são faces mais visíveis de uma história social do campesinato do século XIX. Revelam as NEAD UNESP Formas de resistência camponesa: visibilidade e diversidade de conflitos ao longo da história Formas de resistência camponesa (FINAL).P651 23/7/2008, 17:50 FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Presidente da República Presidente do Conselho Curador Marcos Macari GUILHERME CASSEL Ministro de Estado do Desenvolvimento Diretor-Presidente Agrário José Castilho Marques Neto Editor-Executivo DANIEL MAIA Jézio Hernani Bomfim Gutierre Secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Agrário Conselho Editorial Acadêmico Antonio Celso Ferreira ROLF HACKBART Cláudio Antonio Rabello Coelho Presidente do Instituto Nacional de José Roberto Ernandes Colonização e Luiz Gonzaga Marchezan Reforma Agrária Maria do Rosário Longo Mortatti Mario Fernando Bolognesi ADONIRAN SANCHES PERACI Paulo César Corrêa Borges Secretário de Agricultura Familiar Maria Encarnação Beltrão Sposito Roberto André Kraenkel ADHEMAR LOPES DE ALMEIDA Sérgio Vicente Motta Secretário de Reordenamento Agrário Editores-Assistentes HUMBERTO OLIVEIRA Anderson Nobara Secretário de Desenvolvimento Territorial Denise Katchuian Dognini Dida Bessana CARLOS MÁRIO GUEDES DE GUEDES Coordenador-geral do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural ADRIANA L. LOPES Coordenadora-executiva do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO (MDA) www.mda.gov.br NÚCLEO DE ESTUDOS AGRÁRIOS E DESENVOLVIMENTO RURAL (NEAD) SBN, Quadra 02 – Ed. Sarkis – Bloco D – loja 10 – Sala S2 CEP: 70.040-910 – Brasília — DF Tel.: (61) 3961-6420 www.nead.org.br PCT MDA/IICA – Apoio às Políticas e à Participação Social no Desenvolvimento Rural Sustentável Formas de resistência camponesa (FINAL).P652 23/7/2008, 17:50 MÁRCIA MOTTA PAULO ZARTH (Orgs.) Formas de resistência camponesa: visibilidade e diversidade de conflitos ao longo da história Concepções de justiça e resistência nos Brasis volume 1 Formas de resistência camponesa (FINAL).P653 23/7/2008, 17:50 © 2008 Editora UNESP Direitos de publicação reservados à: Fundação Editora da UNESP (FEU) Praça da Sé, 108 01001-900 – São Paulo – SP Tel.: (0xx11) 3242-7171 Fax: (0xx11) 3242-7172 www.editoraunesp.com.br [email protected] CIP – Brasil. Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ C96t Cruz, Sebastião Carlos Velasco e Trajetórias: capitalismo neoliberal e reformas econômicas nos países da periferia / Sebastião Carlos Velasco e Cruz. – São Paulo: Editora UNESP: Programa San Tiago Dantas de Pós-Graduação em Relações Internacionais da UNESP, Unicamp, e PUC-SP, 2007. Inclui bibliografia ISBN 978-85-7139-784-2 1. Capitalismo. 2. Economia. 3. América Latina – Política econômica. I. Título. 07-3439. CDD: 330.122 CDU: 330.342.14 Editora afiliada: Formas de resistência camponesa (FINAL).P654 23/7/2008, 17:50 SUMÁRIO Apresentação à coleção 7 Introdução 17 1 “Viva o povo! Morte aos traidores!” As quimeras do sertão em Minas Gerais, 1736 25 Luciano Figueiredo 2 Formas de vida e resistência dos lavradores-pastores do Rio Grande no período colonial 43 Helen Osório 3 O mato, a roça e a enxada: a horticultura quilombola no Brasil escravista (séculos XVI-XIX) 63 Mário Maestri e Adelmir Fiabani 4 Posseiros no Oitocentos e a construção do mito invasor no Brasil (1822-1850) 85 Márcia Maria Menendes Motta 5 Rompendo o silêncio: conflitos consuetudinários e litigiosos em terras pró-indivisas (Juiz de Fora, Minas Gerais – século XIX) 103 Elione Silva Guimarães 6 Senhores de terra e intrusos: os despejos judiciais na Campanha Rio-Grandense oitocentista (Alegrete, 1830-1880) 127 Graciela Bonassa Garcia 7 A Cabanagem, a terra, os rios e os homens na Amazônia: o outro lado de uma revolução (1835-1840) 153 Magda Ricci Formas de resistência camponesa (FINAL).P655 23/7/2008, 17:50 8 Balaiada e resistência camponesa no Maranhão (1838-1841) 171 Matthias Röhrig Assunção 9 Movimentos sociais do século XIX: resistência e luta dos Balaios no Piauí 199 Claudete Maria Miranda Dias 10 (Des)Medidos Quebra-quilos e outros quebras nos sertões nordestinos (1874-1875) 219 María Verónica Secreto 11 Para não esquecer Canudos 241 Eli Napoleão de Lima 12 Invenção e tradição na formação das “Cidades Santas” do Contestado 261 Paulo Pinheiro Machado 13 “Inimigos do progresso”: dominação de classe e resistência camponesa na Primeira República: a guerra sertaneja do Contestado 281 Tarcísio Motta de Carvalho 14 A Revolta do Capim: camponeses envolvidos em disputas político-partidárias no início da República 305 William Gaia Farias 15 “Governar é promover a felicidade da Pátria”: governo e campesinato no Rio Grande do Sul da Primeira República 329 Marcio Antônio Both da Silva Sobre os autores 349 Formas de resistência camponesa (FINAL).P656 23/7/2008, 17:50 APRESENTAÇÃO À COLEÇÃO Por uma recorrente visão linear e evolutiva dos processos históricos, as formas de vida social tendem a ser pensadas se sucedendo no tempo. Em cada etapa consecutiva, apenas são exaltados seus princi- pais protagonistas, isto é, os protagonistas diretos de suas contradições principais. Os demais atores sociais seriam, em conclusão, os que, por al- guma razão, se atrasaram para sair de cena. O campesinato foi freqüente- mente visto dessa forma, como um resíduo. No caso particular do Brasil, a esta concepção se acrescenta outra que, tendo como modelo as formas camponesas européias medievais, aqui não reconhece a presença históri- ca do campesinato. A sociedade brasileira seria então configurada pela polarizada relação senhor–escravo e, posteriormente, capital–trabalho. Ora, nos atuais embates no campo de construção de projetos concor- rentes de reordenação social, a condição camponesa vem sendo socialmente reconhecida como uma forma eficaz e legítima de se apropriar de recursos produtivos. O que entendemos por campesinato? São diversas as possibilidades de definição conceitual do termo. Cada disciplina tende a acentuar perspectivas específicas e a destacar um ou ou- tro de seus aspectos constitutivos. Da mesma forma, são diversos os con- textos históricos nos quais o campesinato está presente nas sociedades. To- davia, há reconhecimento de princípios mínimos que permitem aos que investem, tanto no campo acadêmico quanto no político, dialogar em tor- no de reflexões capazes de demonstrar a presença da forma ou condição camponesa, sob a variedade de possibilidades de objetivação ou de situa- ções sociais. Em termos gerais, podemos afirmar que o campesinato, como catego- ria analítica e histórica, é constituído por poliprodutores, integrados ao jogo de forças sociais do mundo contemporâneo. Para a construção da história social do campesinato no Brasil, a categoria será reconhecida pela produ- ção, em modo e grau variáveis, para o mercado, termo que abrange, guar- 7 Formas de resistência camponesa