Universidade Federal Do Rio De Janeiro Museu Nacional Programa De Pós-Graduação Em Antropologia Social Hélio Oiticica

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Universidade Federal Do Rio De Janeiro Museu Nacional Programa De Pós-Graduação Em Antropologia Social Hélio Oiticica Universidade Federal do Rio de Janeiro Museu Nacional Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social Hélio Oiticica: selvagem, antropófago, contra o Estado e além. Fronteiras e ressonâncias entre antropologia e arte. Leonardo Nascimento da Silva Rio de Janeiro 2020 Leonardo Nascimento da Silva Hélio Oiticica: selvagem, antropófago, contra o Estado e além. Fronteiras e ressonâncias entre antropologia e arte. Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em antropologia social. Orientador: Eduardo Viveiros de Castro Coorientador: Frederico Coelho Rio de Janeiro 2020 RESUMO Em uma célebre passagem de O pensamento selvagem, o antropólogo Claude Lévi- Strauss defende que a arte é uma espécie de reserva ecológica em que o “pensamento selvagem” continua a prosperar livremente no mundo tecnicizado e racionalizado das sociedades modernas. Ao longo deste trabalho, exploro algumas das sugestões presentes na obra de Lévi-Strauss, em diálogo com as transformações ocorridas na teoria antropológica nos últimos anos. Pretendo demonstrar que as proposições estéticas e existenciais de artistas engajados em projetos construtivistas e ligados à contracultura – com particular atenção à obra de Hélio Oiticica (1937-1980) – compartilham inquietações e permitem contatos produtivos com questões de nossa disciplina, em especial com aquelas orientadas por uma filosofia da diferença e concebidas a partir de preocupações (pós-)estruturalistas. Se eu conseguir defender que olhando para o campo das artes é possível encontrar experiências e racionalidades que atravessam diferentes áreas de nossa sociedade, então eu terei alcançado o meu objetivo, a saber: afirmar que cultura é sociedade. Mais do que isso, eu terei evidenciado que em certos domínios da vida social se encontram ideias e práticas que resistem à reificação das relações sociais, criando uma multiplicidade de formas de vida que se opõem aos aparelhos de captura do Estado, do Mercado e da Razão colonial. Palavras-chave: Hélio Oiticica; arte; antropologia; antropofagia; corporalidade; pós- estruturalismo; imanência; anarquia. ABSTRACT In well-known lines of La Pensée Sauvage, the anthropologist Claude Lévi-Strauss argues that art is a sort of ecological reserve in which the “savage thought" continues to operate in the technical and rational world of modern societies. Throughout this work, I explore some of the suggestions found in Lévi-Strauss's writings within a dialogue with more recent developments in anthropological theory. I intend to demonstrate how the aesthetic and existential propositions made by a generation of Brazilian artists engaged in constructivist and counter-cultural movements – especially Hélio Oiticica (1937-1980) – share concerns and allow a productive debate with issues introduced in our discipline by the philosophy of difference and (post-)structuralism. My goal is to establish that by looking at the field of arts it is possible to find experiences and rationalities that cut across different areas of our society. Namely, to demonstrate how culture is society. The conclusion is that, in certain domains of social life, ideas and practices offer resistance to the reification of social relations, creating a multiplicity of life forms opposed to the capture apparatuses of the State, the market and the colonial reason. Keywords: Hélio Oiticica; art; anthropology; anthropophagy; corporality; post- structuralism; immanence; anarchy. AGRADECIMENTOS Agradeço à Capes e à sociedade brasileira pelo financiamento desta pesquisa. À Universidade Federal do Rio de Janeiro, ao Museu Nacional e ao Programa de Pós- graduação em Antropologia Social por todo aprendizado, reforçando minha certeza de que a Universidade pública é fundamental para a construção de um país mais justo e plural. Ao Eduardo, pela confiança e pela liberdade no processo de orientação. De outra forma não teria sido possível. Agradeço, acima de tudo, por sua obra: saúde e anarquia para o pensamento! Ao Fred, pela honra da coorientação. Esta pesquisa, de certa forma, começou a ser formulada quando fui apresentado à trajetória do HO por sua dissertação. À minha mãe, farol dos meus dias. Ao meu pai, com uma década de saudades. À minha irmã, com amor e muita admiração. Às minhas primas Michelle, Giselle e Eloisa, pelo cuidado e cumplicidade. A todos os professores e professoras que tive ao longo do mestrado: Adriana Facina, Aparecida Vilaça, Carlos Fausto, Els Lagrou, Luiz Costa, Olívia Gomes e Vera Malaguti. Revendo as ementas das disciplinas e meus trabalhos finais, pude perceber o quanto amadureci, como pesquisador e como pessoa. Gostaria de agradecer especialmente ao Luiz Fernando Dias Duarte: nosso curso sobre as categorias de Natureza e Vida foi fundamental para a minha formação como antropólogo. À Vera, pela presença na banca e pela importância na minha história. Espero que o Hélio te auxilie na árdua tarefa de “arrancar alegria ao futuro”. Como não poderia deixar de ser, agradeço também ao Nilo Batista. O Rio de Janeiro, um dia, vai reconhecer e honrar a grandeza de vocês. Ao Renato, pela presença na banca, mesmo sem conhecer a mim e o meu trabalho (ainda que o primeiro ponto tenha sido resolvido em grande estilo: um encontro inesperado na plateia de Patti Smith!). É um prazer compartilhar esta dissertação com alguém que leio sempre com grande entusiasmo. Aos amigos e amigas de toda uma vida, sobretudo aqueles/as que estiveram perto neste momento. À Luisa, que estava ao meu lado quando saiu o resultado do processo seletivo para o mestrado, e que tanto me estimula e ensina. Ao Breno, amigo que conheceu cada parte desta dissertação antes mesmo que ela começasse a ser escrita. Ao Dennis, à Mari e ao Carlos, com carinho e gratidão. Aos amigos queridos Maria, Levindo, Amilton e Eloy, parte essencial dessa trajetória. Aos colegas e amigos do PPGAS, em especial àqueles que acompanharam algum momento da realização deste trabalho. Aos alunos e alunas do programa de maneira geral, companheiros de alegrias e derrotas nestes dias tão estranhos. Estendo os agradecimentos aos funcionários da biblioteca e da secretaria do programa, e também àqueles que não conheço, mas que participaram da minha formação direta ou indiretamente. Aos editores do Suplemento Pernambuco Schneider Carpeggiani e Igor Gomes, pela amizade, pelas trocas nos últimos três anos e pelo trabalho que vocês realizam: um pouco de respiro para não sufocarmos. Agradeço aos meus familiares, amigos de escola, amigos ‘da rua’, amigos de faculdade, professores e todos aqueles que estão ou estiveram presentes em algum momento. Todos e todas fazem parte da minha história e contribuíram de alguma forma para este trabalho. Força da Imaginação (Dona Ivone Lara / Caetano Veloso) Força da imaginação, vai lá Além dos pés e do chão, chega lá, O que a mão ainda não toca Coração um dia alcança Força da imaginação, vai lá Quando um poeta compõe mais um samba Ele funda outra cidade Lamentando a sua dor ele faz felicidade Força da imaginação Na forma da melodia Não escurece a razão Ilumina o dia a dia Força da imaginação, vai lá Além dos pés e do chão, chega lá, O que a mão ainda não toca Coração um dia alcança Força da imaginação, vai lá Quando uma escola traz de lá do morro O que no asfalto nem é sonho Atravessa o coração um entusiasmo medonho Força da imaginação Se espalhando na avenida Não pra animar a fraqueza Mas pra dar mais vida à vida Aos ingovernáveis: a imaginação contra o poder. SUMÁRIO Introdução – Fronteiras e ressonâncias entre antropologia e arte ......................... 11 Capítulo 1 – A passagem do concreto ao neoconcreto ............................................. 38 1.1 Projeto construtivo na arte brasileira ...................................................................... 40 1.2 Neoconcretismo e a transformação do projeto construtivo .................................... 52 1.3 O sentido de construtividade em Oiticica ............................................................... 63 1.4 Imagens do capítulo ................................................................................................ 69 Capítulo 2 – Pensamento flexível, corpo selvagem ................................................... 74 2.1 Parangolé: imanência do ato corporal expressivo .................................................. 87 2.2 Arte ambiental: novos rumos na sensibilidade contemporânea ............................. 110 2.3 Imagens do capítulo ............................................................................................... 120 Capítulo 3 – Contra o Estado, contracultura: seja marginal, seja herói .............. 131 3.1 Contra o Estado: seja marginal .............................................................................. 145 3.2 Contracultura: seja herói ........................................................................................ 167 3.3 Imagens do capítulo ............................................................................................... 185 Considerações finais .................................................................................................. 188 Bibliografia ................................................................................................................. 196 INTRODUÇÃO: FRONTEIRAS E RESSONÂNCIAS ENTRE ANTROPOLOGIA E ARTE Em uma célebre passagem de O pensamento selvagem ([1962] 2012), Claude Lévi- Strauss defende que a arte é uma espécie de reserva
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