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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS – FGV CPDOC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS DOUTORADO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS Um movimento em muitas cores: O circuito de relações das torcidas organizadas paulistas entre 1968 e 1988 - Uma história da ATOESP (Associação das Torcidas Organizadas do Estado de São Paulo). Apresentada por VITOR CANALE Professor Orientador Acadêmico: Bernardo Borges Buarque de Hollanda Rio de Janeiro Novembro de 2020 VITOR CANALE Um movimento em muitas cores: O circuito de relações das torcidas organizadas paulistas entre 1968 e 1988. Uma história da ATOESP (Associação das Torcidas Organizadas do Estado de São Paulo). Trabalho de Conclusão apresentado ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC. Para a obtenção de grau de Doutorado em História, Política e Bens Culturais e Projetos. Rio de Janeiro Novembro de 2020 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas/FGV Canale, Vitor dos Santos Um movimento em muitas cores : o circuito de relações das torcidas organizadas paulistas entre 1968 e 1988 : uma história da ATOESP (Associação das Torcidas Organizadas do Estado de São Paulo) / Vitor dos Santos Canale. – 2020. 340 f. Tese (doutorado) – Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas, Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. Orientador: Bernardo Borges Buarque de Hollanda. Inclui bibliografia. 1. Futebol - Torcedores - São Paulo (Estado) - 1968-1988. 2. Violência nos esportes - São Paulo (Estado) - 1968-1988. 3. Torcedores desportivos. 4. Rivalidades esportivas. I. Hollanda, Bernardo Borges Buarque de, 1974-. II. Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas. Programa de Pós- Graduação em História, Política e Bens Culturais. III. Título. CDD – 306.48 Elaborada por Rafaela Ramos de Moraes – CRB-7/6625 AGRADECIMENTOS Os caminhos que levaram a esta tese remetem ao dia 5 de maio de 2012. Era uma manhã chuvosa no Parque São Jorge e seria meu primeiro contato com Cláudio Faria Romero, o Vila Maria, fundador dos Gaviões da Fiel e da Camisa 12. Figura de imenso carisma, me apresentou o clube com a propriedade de quem estava em casa e, após mais de três horas de entrevista, me presentou com um calhamaço de documentos. Ao chegar em casa deparei com uma série de materiais sobre a Atoesp, Associação das Torcidas Organizadas do Estado de São Paulo, e sua luta contra a política de proibições aos grêmios de torcedores após a Batalha Campal do Pacaembu, em 1995. Sem esse presente, meu interesse pela Atoesp provavelmente não existiria. O calhamaço de documentos e o desejo de retornar aos estudos sobre torcidas permaneceram guardados por mais de quatro anos num armário e de lá só saíram com a ajuda de Thiago “Peixe” Franco. Certeiro, como apenas os bons pivôs são capazes de ser, seus conselhos me lembraram dos prazeres da pesquisa. A nossa conversa foi mais um presente e mudou meu destino. A acolhida do professor Bernardo, desde o projeto de admissão para o doutorado no PPHPBC da Fundação Getúlio Vargas, foi o grande estímulo para esta empreitada. A admiração que sentia desde a leitura de O clube como vontade e representação só cresceu ao longo da orientação. Agradeço às valiosas observações da professora Simoni Lahud Guedes e do professor Paulo Fontes no exame de qualificação. A perda da professora Simoni, madrinha dos estudos esportivos nas ciências sociais latino-americanas, foi um duro golpe em tempos tão difíceis. À equipe do site Ludopédio, Sérgio Giglio, Enrico Spaggiari, Max Rocha, Marco Lourenço, Marco Antunes e Victor Figols, pelo impressionante trabalho que tanto auxilia todos os pesquisadores do futebol nas ciências humanas. Vida longa ao Ludopédio! A todos os torcedores que acreditaram nas possibilidades desta tese e cederam seu tempo em relatos e entrevistas contando suas histórias. Fernando Pereira da Silva, membro da Torcida Uniformizada do Guarani e da Guerreiros da Tribo; Tadeu Robel Datovo, presidente da Torcida Guerreiros da Tribo; Cláudio Simões, ex-presidente dos Gaviões da Fiel; e Maurício Lombardi, fundador da Torcida Jovem da Ponte Preta, em memória. A Renato Squarizi Simões e Cristina Siqueira, do Memorial do Guarani Futebol Clube. O orgulho em participar desse projeto marcará para sempre minha vida de historiador e torcedor bugrino. Ouvir as histórias de jogadores, torcedores e dirigentes e participar do cotidiano do clube foi a realização de um sonho e um aprendizado valioso. E a José Fernando Fumagalli, ídolo e exemplo de superação – nenhum bugrino vivo se esquecerá do dia 23 de outubro de 2016 e os 6 a 0 contra o ABC, obrigado por nos fazer sonhar. Ao longo de quatro anos de idas e vindas entre Valinhos e o Rio de Janeiro pude contar com a grata amizade de Roberto Brasil; as cervejas e as idas à praia foram um precioso refúgio. E Isabella Trindade, irmã querida, contar com a sua cumplicidade foi grande alento nos momentos difíceis. Ao caro amigo Bruno Sanches Ranzani da Silva, nem mesmo a distância diminui o imenso carinho que tenho por você. Ao querido João Roberto Mamprim, amigo-irmão de uma vida toda, agradeço o apoio e o carinho. A conclusão da tese seria impensável sem a compreensão dos meus colegas da Emef Maestro Marcelino Pietrobom. Desde a minha chegada à escola, em 2016, pude sentir-me parte de uma comunidade que encampou a minha luta por diversas vezes. Agradeço nominalmente aos amigos Pablo Souza, Juliana Videira, André Cantalogo, Maria Helena Vaz Pinhatari, Franceli Freitas e Silvana Fracasso pela imensa solidariedade nos percalços da vida, nunca me esquecerei da maneira maravilhosa como vocês me receberam. Ao professor João Samuel Rodrigues dos Santos Júnior, pela consultoria jurídica e pelo importante documento que tanto me auxiliou no Capítulo 3. À professora Aliane Tonon, por lembrar-me do exemplo que este doutorado pode ser para os nossos alunos. Meus agradecimentos à revisão e à prontidão de Laura Moreira, mesmo com os prazos tão justos. Agradeço à minha família: os gatos Dude, Betânia e, principalmente, Zizinho, o melhor assistente de pesquisa que eu poderia ter, e por fim a Stela, minha esposa, companheira e turbilhão de felicidade. Esperei por você por toda a minha vida. Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça. (Marc Bloch) (verso da epígrafe: em branco) RESUMO A presente tese investiga o panorama de relações sociais que envolveram as principais torcidas organizadas de São Paulo e Campinas entre 1968 e 1988 a partir da análise de jornais, revistas e entrevistas com torcedores. Ao apresentar diversas torcidas organizadas desde suas fundações, buscou-se balizar as pautas e os interesses de cada entidade, suas trajetórias políticas dentro dos clubes e as correlações que estabeleceram com os demais grêmios de torcedores, com os representantes da Federação Paulista de Futebol, com a mídia e com os agentes da segurança pública. Esse vasto ambiente de relações envolvendo as torcidas organizadas estimulou a percepção de lideranças do movimento quanto às possibilidades de uma ação conjunta, o que deu ensejo à criação da Atoesp, a Associação das Torcidas Organizadas do Estado de São Paulo, em 1976. A intensificação das rivalidades violentas entre torcedores na capital levou à suspensão do pacto de não agressão entre os grêmios e ao encerramento da associação em 1983. O surgimento da torcida Mancha Verde, no mesmo ano, tornou-se símbolo da centralidade da conduta violenta como meio de amealhar status no movimento dos torcedores, e os crescentes enfrentamentos ao longo da década de 1980 culminaram com o assassinato do torcedor Cleofas Sóstenes Dantas, presidente da Mancha Verde, em 1988. Sob a concepção teórica de Pierre Bourdieu acerca das distintas formas de capital e o conceito de E. P. Thompson de economia moral, buscou-se compreender a atuação dos grêmios de torcedores como uma jornada para reunir capitais no intuito de transformar os clubes e a estrutura do futebol de São Paulo e de resistir às investidas de uma lógica economicista, que visava solapar o futebol enquanto consumo popular. Por fim, concluímos o importante papel das torcidas organizadas na maior participação dos torcedores nas decisões sobre o futebol; contudo, o aumento da violência entre adeptos fragilizou as ações conjuntas entre os grêmios e estigmatizou o movimento perante outros agentes do esporte. Palavras-chave: Futebol; torcida organizada; torcedores; São Paulo; ATOESP. ABSTRACT This thesis investigates the social backgrounds and relations among football organized supporters in Campinas and São Paulo (both in São Paulo state), from 1968 to 1988, using newspapers, magazines and supporters interviews as primary sources. Our main goal is to map the network of interactions among the organizations themselves, their political history inside football clubs, their relations with the Paulista Football Federation, public security agents and media channels. This vast network was well perceived by supporters’ leaderships, who created the Football Supporters Association of São Paulo State (ATOESP) in 1976. However, the increasing animosities among rival organizations led to the suspension of the non-aggression pact and the Association was closed in 1983. In the same year, the Mancha Verde Organization was created and it became a symbol of violent behavior as a central way to gain social status among supporters during the 80’s. It culminated with the assassination of its own president, Cleofas Sóstenes Dantas, in 1988. Under the theoretical framework of Pierre Bourdieu’s capital and E. P. Thompson’s moral economy, we looked into supporters organizations as entities whose efforts went mostly towards funding the transformation of soccer in São Paulo, influencing Club structures and resisting the economicist facets that threatened to overstep soccer as a popular sport. Finally, we conclude by supporting that such organizations had a positive role in elevating supporter’s participation in decisions concerning the sport’s development.