Olhares Indígenas Contemporâneos O CINEP

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Olhares Indígenas Contemporâneos O CINEP olhares indígenas contemporâneos O CINEP Fundado em 11 de novembro de 2005, Povos Indígenas da Região Sul (ARPINSUL), o CINEP é uma associação civil, sem fi ns Ar culação dos Povos Indígenas do Pantanal lucra vos, com sede em Brasília – DF. (ARPINPAN) e Aty Guasu (Guarani Kaiowá). A en dade foi criada para promover, Faz parte do CINEP o Observatório de apoiar e executar a vidades de formação Direitos Indígenas (ODIN), que tem o e qualifi cação direcionadas a lideranças, obje vo de criar uma rede de advogados, profi ssionais e universitários indígenas das bacharéis e acadêmicos indígenas do diferentes regiões do país, com o obje vo de Direito de modo a fortalecer uma atuação aprimorar e orientar a formação polí ca e mais autônoma na defesa dos direitos acadêmica para a luta desses povos do Brasil. desses povos. O CINEP também presta apoio técnico a O ODIN pretende ser uma referência na en dades e organizações indígenas que observação do cumprimento e da violação possuem atuação nacional e regional. É o dos direitos dos povos indígenas no caso da Ar culação dos Povos Indígenas do Brasil, bem como no monitoramento das Brasil (APIB), Coordenação das Organizações polí cas públicas voltadas a esses povos. Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Além disso, o ODIN atua na formação Ar culação dos Povos e Organizações complementar dos advogados indígenas, Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e inves ndo em programas de atualização e Espírito Santo (APOINME), Associação dos especialização. Para saber mais sobre o CINEP consulte Secretário ExecuƟ vo www.cinep.org.br Domingos Sávio Camico Agudelos Conselho Diretor Conselho Fiscal Gersem José dos Santos Luciano (Diretor Francisca Novan no Pinto de Ângelo ( tular), presidente), Maria Inês de Freitas (Diretora Maria Auxiliadora Cordeiro da Silva ( tular), administra va e fi nanceira), Florêncio Sônia Bone de Souza Silva Santos Guajajara Almeida Vaz Filho (Diretor de projetos) ( tular), Timóteo da Silva Verá Po guara (suplente), Elda Vasques Guarani (suplente). SABERES INDÍGENAS olhares indígenas contemporâneos CENTRO INDÍGENA DE ESTUDOS E PESQUISAS Brasília, julho de 2010 © 2010 Centro Indígena de Estudos e Pesquisas – CINEP Organizadores Gersem José dos Santos Luciano Jô Cardoso de Oliveira Maria Barroso Hoff mann Criação de capa e projeto gráfi co: Ribamar Fonseca (Supernova Design) Editoração Eletrônica: Henrique Macedo (Supernova Design) Revisão de textos: Alessandro Mendes (Azimute Comunicação) Ficha Catalográfi ca Sumário 6 INTRODUÇÃO Gersem José dos Santos Luciano Maria Barroso Hoff mann 18 PERFORMANCES E EXPERIÊNCIAS DE ETNICIDADE: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS TAPEBA Rita Gomes do Nascimento 62 EXPRESSÃO FORMAL E ESCOPO DA CLASSIFICAÇÃO LINGUÍSTICA DAS ENTIDADES NA CONCEPÇÃO DO MUNDO DAS ENTIDADES NA CONCEPÇÃO DO MUNDO DOS BANÍWA SOBRE A NATUREZA Edilson Mar ns Melgueiro 104 POVOS INDÍGENAS E ETNOGÊNESES NA AMAZÔNIA Florêncio Almeida Vaz Filho 160 POVOS INDÍGENAS, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Vilmar Mar ns Moura Guarany 182 POVO KYIKATÊJÊ: SAGA DE RESISTÊNCIA E LUTA Rosani de Fa ma Fernandes 204 ESBOÇO DE UM PERFIL DO ESTUDANTE INDÍGENA NO ENSINO SUPERIOR Centro Indígena de Estudos e Pesquisas - CINEP INTRODUÇÃO GERSEM BANIWA1 MARIA BARROSO HOFFMANN2 1 Diretor-Presidente do CINEP, doutorando em Antropologia Social pela Universidade de Brasília – UnB. 2 Doutora em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e pesquisadora do Laboratório de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento – LACED. 6 INTRODUÇÃO Atualmente, es ma-se que existam no Brasil mais de 6.000 estudantes indígenas no ensino superior, dos quais pelo menos 100 estão na pós-graduação, mais de 40 já concluíram o mestrado e três, o doutorado. Tais dados indicam que já foram produzidos pelos menos 40 dissertações de mestrado e cinco teses de doutorado. No entanto, essas teses e dissertações não foram até hoje publicadas e divulgadas, mesmo sendo as pioneiras no Brasil, o que deveria despertar curiosidade e interesse por parte de editoras e de ins tuições parceiras e apoiadoras. É possível imaginar muitas razões para isso, uma das quais é a forte concorrência das produções de pesquisadores e assessores não indígenas sobre a temá ca indígena que con nua dominando o mercado e o imaginário social. Ou seja, ainda impera no imaginário do povo brasileiro a visão de que são os brancos assessores que possuem os conhecimentos e as verdades sobre os povos indígenas. Com o propósito de mudar esse cenário, o Centro Indígena de Estudos e Pesquisas (CINEP) está lançando a Série Saberes Indígenas, sendo esta coletânea o primeiro volume da série, que traz a público a síntese de três dissertações de mestrado defendidas em 2008 e 2010 e de duas teses de doutorado defendidas em 2009 e 2010. Além disso, a coletânea traz ainda o resultado de uma pesquisa preliminar realizada por estudantes e pesquisadores indígenas da rede CINEP sobre o perfi l dos estudantes indígenas no ensino superior. O projeto Série Saberes Indígenas faz parte de uma estratégia ar culada do CINEP e da Ar culação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) que inclui também a criação de um site e de uma revista semestral voltados prioritariamente ao tema do ensino superior indígena. Com isso pretende- se oferecer aos estudantes, pesquisadores e profi ssionais indígenas canais próprios de divulgação dos resultados de seus estudos e pesquisas e meios de comunicação próprios. Além disso, as inicia vas oferecem uma oportunidade aos pesquisadores, estudiosos e à opinião pública brasileira em geral de conhecer um pouco mais do mundo e da realidade indígena a par r do próprio olhar e do pensamento genuíno dos indígenas, escrito e publicado por eles mesmos. Sabemos que as dissertações e teses produzidas por indígenas ainda são poucas e, em função disso, ainda não conseguem infl uenciar as polí cas públicas, principalmente porque são poucos conhecidas, na medida em que encontram enormes difi culdades para serem publicas e divulgadas. Ou seja, as produções não indígenas sobre os povos indígenas ainda con nuam tendo a preferência dos leitores, da mídia, das editoras e, GERSEM BANIWA | MARIA BARROSO HOFFMANN 7 consequentemente, dos gestores públicos. Ainda levaremos bom tempo para conseguir equilibrar as forças e colocar no mercado e na sociedade as produções acadêmicas dos indígenas. Há um campo aberto e promissor para as futuras produções indígenas, mas ainda precisamos romper as barreiras corpora vas dos grupos de pesquisadores indigenistas, que ainda con nuam dominando o cenário e o mercado, embora cada vez mais a sociedade e as ins tuições públicas e privadas mostrem sinais de valorização dos trabalhos indígenas. Não se trata de subs tuir uma pela outra, mas garan r espaços para todos na mesma medida e proporção. Nesse sen do, a entrada dos indígenas na universidade faz parte de uma nova etapa no processo histórico das relações estabelecidas entre os povos indígenas e o Estado brasileiro. Afi nal de contas, o projeto cole vo de formação de uma inteligentsia indígena é uma necessidade imprescindível para a gestão dos territórios indígenas, que hoje representam 13% do território nacional, e para a recuperação das desejadas autonomias indígenas. Da relação tutelar construída ao longo do último século sob a orientação colonizadora ora do Estado, ora da Igreja, ora das ONGs resultaram os principais desafios enfrentados pelas lideranças e acadêmicos indígenas, cada um no seu campo de atuação, distantes ou divergentes entre si, mas enfrentando a mesma causa e efeito sem que se deem conta disso, pela própria forma como a nova tutela opera de modo consciente ou inconsciente pelos seus praticantes. Não é difícil perceber tal situação. Basta analisar o fato de que os interesses dos povos indígenas pelo ensino superior está relacionado à aspiração coletiva de enfrentar as condições de vida e marginalização, na medida em que veem a educação como uma ferramenta para promover suas próprias propostas de desenvolvimento, por meio do fortalecimento de seus conhecimentos originários, de suas instituições e do incremento de suas capacidades de negociação, pressão e intervenção dentro e fora de suas comunidades. Por que então, mesmo com os primeiros indígenas egressos das universidades com diferentes especialidades, estimados em pelo menos 500 indígenas, continuam a não haver sinais claros de mudanças concretas nas possibilidades ou oportunidades? Mesmo com um número signifi ca vo de profi ssionais indígenas habilitados, as oportunidades e os espaços estratégicos no âmbito interno do movimento indígena e no âmbito das polí cas públicas con nuam sendo ocupadas por profi ssionais não 8 INTRODUÇÃO indígenas especialmente ligados às ONGs indigenistas, na maioria das vezes com apoio das próprias organizações indígenas. A jus fi ca va é sempre que os indígenas não estão sufi cientemente preparados e qualifi cados para exercer tais tarefas, pois os cursos universitários não dão conta disso, o que pode ser verdade, mas que poderia ser complementado com cursos específi cos, aliás, como fazem para suas equipes técnicas não indígenas que também saem das universidades com as mesmas defi ciências na formação. É natural que os indígenas egressos das universidades adotem posturas mais crí cas a prá cas tutelares viciadas e busquem provocar mudanças, e é isso que incomoda e ameaça lideranças indígenas, dirigentes e equipes não indígenas das ONGs. Afi nal de contas, os indígenas formados nas universidades acumularam conhecimentos novos, que os capacitaram a uma visão crí ca e transformadora, e ao retornarem para suas comunidades estarão sedentos de contribuir para as mudanças que precisam ser feitas pela comunidade para melhorar as condições de vidas das pessoas, ques onando, enfrentando e denunciando muitas vezes prá cas viciadas de corrupção e autoritarismo das velhas lideranças indígenas forjadas pela ideologia tutelar, paternalista e autoritária da prá ca indigenista da FUNAI. Considerando as experiências concretas em curso no Brasil, o movimento indígena, que inclui os acadêmicos indígenas e o movimento indigenista, enfrenta desafi os explícitos e implícitos comuns e incomuns.
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