Arnaldo Baptista Discografia Comentada com

OS MUTANTES (1968) Em seu álbum de estreia, o trio foi muito além da óbvia influência dos Beatles, da Jovem Guarda e dos mandamentos do Tropicalismo. Juntamente com a psicodelia inerente à época, , e usaram uma alta dose de excentricidade sonora para provocar a caretice reinante e, principalmente, demolir conceitos musicais pré-estabelecidos, fazendo uso de colagens musicais e jogo de vozes surpreendentes, até então inéditos no cenário do cancioneiro brasileiro. Disfarçadamente, “Panis et Circenses” traz uma crítica política que funciona como contraponto à alegria dançante e desmiolada de “Minha Menina”, da mesma fora que métrica quase concretista de “Bat Macumba” se confronta com a lisergia de “Ave Gengis Khan”. Tudo muito bem amarrado pela produção de Manoel Barenbein e os arranjos de . Foi um excelente rompimento do óbvio! https://www.youtube.com/watch?v=S-S2v9GoQjc&list=PLRQKT- Cu2_2S26KTGzg8b_E2-dxllwEL- https://www.youtube.com/watch?v=G8Zsv4TP9dM&list=PLRQKT- Cu2_2S26KTGzg8b_E2-dxllwEL-&index=2 https://www.youtube.com/watch?v=9HU7JMaX4cM&list=PLRQKT- Cu2_2S26KTGzg8b_E2-dxllwEL-&index=7 https://www.youtube.com/watch?v=dtB7R-H6SbQ&list=PLRQKT- Cu2_2S26KTGzg8b_E2-dxllwEL-&index=11

MUTANTES (1969) Se a estreia foi excelente, o segundo álbum não ficou atrás, embora traga mudanças significativas. Nele há uma maior diversidade de gêneros e estilos, ainda mais anárquica e explicitamente debochada, a ponto de muitas vezes soar como um completo descaso em relação ao ouvinte. Um perfeito exemplo disso está na aparente desconexão entre a alegria roqueira de “Não Vá se Perder por Aí” com a tiração de sarro com o sertanejo caipira de “Dois Mil e Um”. A atmosfera sonora insana e genial ao mesmo tempo faz com que, mesmo nos dias atuais, o álbum seja de uma coragem e inventividade impressionantes. Abaixo, você pode ouvir o álbum na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=6qO4-rNc6iY

A DIVINA COMÉDIA OU ANDO MEIO DESLIGADO (1970) As experimentações que se tornaram a marca registrada do grupo já começavam pelo dúbio título do terceiro álbum, que permitia as interpretações mais malucas. Apesar disso, a outrora diversidade deu lugar a um conceito sonoro mais focado na música pop da época, o que rendeu pérolas como “Ando Meio Desligado”, “Hey Boy”, “Ave Lúcifer” e “Haleluia” – ambas satirizando o catolicismo fervoroso do Brasil naqueles tempos – e adoráveis maluquices como “Meu Refrigerador Não Funciona”, tudo realçado pelos arranjos de Duprat e pela produção certeira de Arnaldo Saccomani, que tratou de trazer vários elementos da produção psicodélica que fez com um de seus protegidos, ninguém menos que , aquele que batizou o trio de Arnaldo, Sérgio e Rita, e que se alinhava com eles na busca por sonoridades mais lisérgicas. Quer ouvir o disco na íntegra? Clique abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=ovDCSq6pTy o

JARDIM ELÉTRICO (1971) O quarto álbum está na intersecção entre a fase psicodélica e o início da jornada pelo rock progressivo, soando com uma excentricidade libertária, quase vulcânica. Usando e abusando de dinâmicas diferentes ao longo do repertório – compare o astral de “Top Top” com a atmosfera quase melancólica de “Benvinda” e “Virgínia”, e também à experimentação de “El Justiceiro” e “” -, a banda chega a resvalar em pequenos excessos de distorção e solos de guitarra – como em “It’s Very Nice pra Xuxu” - e para compensar a candura de temas como “Baby”. Foi uma transição certeira! Tenha suas próprias sensações: https://www.youtube.com/watch?v=FNF1C1vN3B 8

MUTANTES E SEUS COMETAS NO PAÍS DO BAURETS (1972) Foi o álbum que marcou a saída de Rita Lee em direção a uma carreira solo muitíssimo bem sucedida. O experimentalismo de outrora deu lugar a um som mais convencional, roqueiro e pop na medida correta. Você pode comprovar isso ouvindo pequenas maravilhas como “Vida de Cachorro”, “Posso Perder Minha Mulher, Minha Mãe, Desde que Eu Tenha o Rock and Roll”, “Dune Buggy”, a versão de “Rua Augusta” - o eterno hit de Eduardo Araújo – e a maravilhosa “Balada do Louco”, que se tornou um clássico na história da Música brasileira em todos os tempos, mas é a longa faixa-título que evidencia os caminhos do rock progressivo que a banda trilharia nos anos seguintes. Outro disco que você pode ouvir integralmente: https://www.youtube.com/watch?v=dDnFvh1hGX 4

O A E O Z (1973) Embora tenha sido gravado naquele ano, passou quase duas décadas sem ver a luz do dia, engavetado pela gravadora Polydor por se recusar a lançar um LP duplo com ares megalomaníacos até mesmo para os padrões de rock progressivo daqueles tempos. Efetivando o baixista e o baterista Dinho Leme como integrantes da banda e não mais como “músicos de apoio”, Arnaldo e Sergio se jogaram na faixa-título, uma linda suíte dividida em três partes e que deixa explícita a absurda influência que o Yes exercia em todos os envolvidos, tanto no aspecto composicional como na escolha dos timbres dos instrumentos. Há espaço para um hard rock muito bom, “Eu Ainda Vou Transar com Você”, juntamente com um momento “ripongo transcendental” pontuado por violões e tablas (“Você Sabe”) e a razoável “Rolling Stone”, mas é preciso ouvir com bastante atenção a inspirada “Hey Joe” (não, não é uma regravação do grande hit de ) e bela “Uma Pessoa Só”, que merecem uma valorização mesmo que tardia. Desiludido e meio pirado, Arnaldo caiu fora e fez a carreira que você já conhece. Ouça aqui o álbum dividido em duas partes: https://www.youtube.com/watch?v=X2MZhtXfXjI https://www.youtube.com/watch?v=ZdKa-0wafRs