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Caderno de Resumos

Realização Programa de Pós-Graduação em Letras

Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas UNESP – São José do Rio Preto

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IV Congresso Internacional do PPG-Letras e XVIII Seminário de Estudos Literários 18 a 20 de setembro de 2017

QUAL O LUGAR DA LITERATURA?

Caderno de Resumos

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de São José do Rio Preto, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – Programa de Pós-Graduação em Letras.

São José do Rio Preto Unesp – Câmpus de São José do Rio Preto 2017

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Reitor Sandro Roberto Valentini Vice-reitor Sergio Roberto Nobre Pró-Reitora de Graduação Profa. Dra. Gladis Massini-Cagliari Pró-Reitor de Pós-Graduação João Lima Sant’Anna Neto Pró-Reitora de Pesquisa Prof. Dr. Carlos Frederico de Oliveira Graeff Pró-Reitora de Extensão Universitária Profa. Dra. Cleopatra da Silva Planeta Pró-Reitor de Planejamento Estratégico e Gestão Prof. Dr. Leonardo Theodoro Büll

Diretora Profa. Dra. Maria Tercília Vilela de Azeredo Oliveira Vice-Diretor Prof. Dr. Geraldo Nunes Silva

Chefe e Vice-Chefe do Departamento de Letras Modernas Prof. Dr. Peter James Harris Profa. Dra. Norma Wimmer Chefe e Vice-Chefe do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários Profa. Dra. Lúcia Granja Prof. Dr. Luís Augusto Schmidt Totti

Programa de Pós-Graduação em Letras Coordenador Prof. Dr. Pablo Simpson Vice-coordenador Prof. Dr. Cláudio Aquati

Comissão organizadora do evento Coordenador geral Prof. Dr. Pablo Simpson Manoela Navas Corpo docente Profa. Dra. Cláudia Maria Ceneviva Nigro Profa. Dra. Giséle Manganelli Fernandes Profa. Dra. Maria Cláudia Rodrigues Alves Prof. Dr. Nelson Luís Ramos Profa. Dra. Norma Wimmer Profa. Dra. Susanna Busato Corpo discente Alan Medeiros Casteluber Davi Silistino de Souza Débora Spacini Nakanishi Dibo Mussi Neto Fernando Aparecido Poiana 4

Gabriela Fardin Gisele de Oliveira Bosquesi Ingrid Zanata Riguetto Joshua Teixeira Tangi Juliane Camila Chatagnier Laís Midori Leandro Henrique Aparecido Valentin Lucas de Castro Marques Monelise Vilela Pando Natália Fernanda da Silva Trigo Odair Dutra Santana Júnior Suzel Domini dos Santos

Comissão Científica do evento Profa. Dra. Cláudia Maria Ceneviva Nigro (UNESP/IBILCE) Profa. Dra. Giséle Manganelli Fernandes (UNESP/IBILCE) Prof. Dr. Gustavo Scudeller (UNIFESP) Profa. Dra. Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP/IBILCE) Prof. Dr. Manuel Fernando Medina (University of Louisville, KY, EUA) Prof. Dr. Nelson Luís Ramos (UNESP/IBILCE) Profa. Dra. Norma Wimmer (UNESP/IBILCE) Prof. Dr. Osvaldo Copertino Duarte (UNIR – Universidade Federal de Rondônia) Prof. Dr. Ricardo Gaiotto (PUC – Campinas)

Organização do caderno de resumos Gisele de Oliveira Bosquesi Débora Spacini Nakanishi Diego Jesus Rosa Codinhoto Fernando Aparecido Poiana Suzel Domini dos Santos Pablo Simpson

Congresso Internacional do PPG-Letras (4. : 2017 : São José do Rio Preto, SP) Caderno de resumos [do] 4. Congresso Internacional do PPG-Letras e 18. Seminário de Estudos Literários [recurso eletrônico] : 18 a 20 de setembro de 2017, São José do Rio Preto-SP / [Organização de Gisele de Oliveira Bosquesi... [et al.]. – São José do Rio Preto : UNESP – Câmpus de São José do Rio Preto, 2017 91 p.

Temática do evento: Qual o lugar da literatura? E-book Requisito do sistema: Software leitor de pdf Modo de acesso: ISBN 978-85-8224-138-7

1. Literatura - História e crítica - Teoria, etc. 2. Literatura - Estudo e ensino. I. Seminário de Estudos Literários (18. : 2017 : São José do Rio Preto, SP) II. Bosquesi, Gisele de Oliveira. III. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. IV. Qual o lugar da literatura?

CDU – 8.013

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE UNESP - Câmpus de São José do Rio Preto

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APRESENTAÇÃO

O IV CONGRESSO INTERNACIONAL DO PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM LETRAS é uma realização do Programa de Pós-Graduação em Letras do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE) de São José do Rio Preto, da Universidade Estadual Paulista (UNESP). O congresso reúne professores e pesquisadores brasileiros e estrangeiros que desenvolvem estudos nas áreas de teoria e crítica literária em seus diversos campos, como a literatura comparada, a literatura clássica, a literatura brasileira, as literaturas estrangeiras modernas e as relações entre a literatura e outras artes, como a pintura, o cinema, a música e as narrativas gráficas. O tema do encontro de 2017 vem expresso na forma de um questionamento: “Qual o lugar da literatura?” A proposição, em princípio simples em sua formulação, sugere outras questões de difícil resposta, algumas delas já antigas: O que é literatura? O que é um lugar? A literatura tem lugar, é entre-lugar, fronteira, trânsito? Quais são os modos de circulação e de legitimação disso que chamamos “literatura”? Ou será a literatura, ela mesma, um certo lugar, algo que se torna visível no espaço? Visibilidade frágil ou forma que se quer talvez sem espaço, residindo tão só na espacialidade da palavra, do livro, da tela? Menos imagem visível de um lugar, do que imaginação. Seria a literatura, ademais, essa consciência de um certo lugar sem lugar, de uma certa proximidade (ou lugar relativo) que pretende com relação ao eu, ao mundo, ao leitor? São questões que colocamos como sugestão para a reflexão dos participantes, desde já convidados a contribuir com outras mais.

O XVIII SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS é uma iniciativa do Programa de Pós-Graduação em Letras do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE), da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de São José do Rio Preto (SP), cujo objetivo é oferecer aos alunos dos cursos de Mestrado e Doutorado a oportunidade de debater suas pesquisas em andamento com professores convidados especialmente para essa finalidade. Visa-se, por meio desse debate, proporcionar aos alunos a possibilidade de aprimorarem sua reflexão a partir das sugestões de pesquisadores mais experientes. As bancas de debate são compostas por professores convidados, que efetivamente debatem os projetos com os alunos, e por alunos de pós- graduação da própria Instituição, que atuam como moderadores. Sejam bem-vindos, e bom trabalho!

Agradecimento: O PPGL agradece o auxílio financeiro da FAPESP (processo 2017/13534-4), que permitiu a vinda dos professores Adalberto Luis Vicente, Antônio Roberto Esteves, Emerson da Cruz Inácio, Gustavo Scudeller e Lúcia Helena Costigan, da PROPG/UNESP e da FAPERP, responsáveis pelo auxílio aos demais convidados de universidades brasileiras.

Acknowledgement: The PPGL gratefully acknowledges financial support received from the Irish Embassy in Brasília, without which it would have been impossible for Vincent Woods to travel from Dublin to São José do Rio Preto to deliver his lecture.

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CONFERÊNCIAS E MESAS REDONDAS

18 de setembro, às 10h30

“SILÊNCIOS HABITÁVEIS NA PRODUÇÃO AFROLUSOBRASILEIRA CONTEMPORÂNEA”

Emerson da Cruz Inácio (USP)

O silenciamento estético, político e discursivo constitui-se ainda como uma questão a ser transposta por boa parte da produção estética de assinatura afrodescendente, uma vez que se trata de um “universo” literário ainda em conformação e que emerge tendo como horizontes paradigmas como a classe, a nacionalidade e as identidades específicas. Assim, a proposta dessa intervenção é avaliar o estatuto da produção afrodescendente no Brasil e em Portugal, notadamente aquela que se sedimenta nos últimos 20 anos, pensando-a como dobras constituintes de um plissado (Jacques Derrida, Parages, 1986), que ora revelam ora escondem múltiplos processos emancipatórios, diálogos com os cânones sedimentados e tensões com as formas de expressão identitárias. Nessa perspectiva, essa produção tende a apontar simultaneamente a síntese e o essencialismo, a perspectivação da deriva como possibilidade e a necessidade de sedimentação cultural.

18 de setembro, às 16h30

“LITERATURA, GOZO E DENÚNCIA: DOIS FRAGMENTOS DO JORNAL DOBRABIL DE GLAUCO MATTOSO”

Gustavo Scudeller (Unifesp)

Os anos 1970 são particularmente importantes para a literatura e a arte no Brasil, por razões conhecidas. Com o AI-5 e o recrudescimento da censura no auge do regime militar, o interesse pela literatura de denúncia se torna cada vez mais urgente ao longo da década, ao mesmo tempo em que as suas condições de realização vão se tornando mais escassas. Assumindo valores de espontaneidade, informalidade e apelo popular, em oposição ao formalismo da arte de vanguarda do período anterior, esse tipo de literatura vai buscar nos jornais e na aproximação com a cultura de massas alguns de seus principais modelos. Não por acaso, Glauco Mattoso, escolhe polemizar com essas tendências nas páginas de seu inusitado Jornal Dobrabil — espécie de folhetim literário de pequena tiragem e declarada inspiração vanguardista. Logo na folha de abertura do último fascículo de 1979, o poeta, assumindo a persona do editor e crítico cultural, dispara invectivas contra os lugares-comuns da literatura de denúncia que começava a ganhar notoriedade na época, mirando principalmente os pudores dessas obras ao descreverem as violências e torturas praticadas por agentes de Estado. Na avaliação do autor, faltariam realismo e crueza a esse tipo de literatura, coisas que uma obra puramente imaginativa como a do Marquês de Sade, por exemplo, teria de sobra. Curiosamente, é no mesmo Jornal Dobrabil, que, um ano antes, Glauco apresenta um sinistro conto-reportagem sobre o “caso amoroso” surgido entre um homem e seu torturador. Considerado em paralelo com a crítica de 1979, o conto pode ser visto como 8 uma espécie de emulação criativa, isto é, uma tentativa de boa realização literária de um conto-denúncia, nos modelos que sua crítica, posterior, vem cobrar da literatura em voga na época. Mas o que poderia haver de exemplar numa literatura de denúncia fundada na ideia de literatura de imaginação? Haveria mesmo algo de irredutível na literatura que justificasse sua existência mesmo diante dos fatos mais brutos da circunstância política e da vida cotidiana? Essas são algumas questões que gostaria de abordar nesse trabalho, a partir da leitura dos dois fragmentos mencionados.

18 de setembro às 16h30

A REPRESENTAÇÃO POÉTICA DO RIO EM JOÃO CABRAL DE MELO NETO E MARCOS SISCAR

Adalberto Luis Vicente (UNESP)

Enquanto objeto natural, o rio apresenta-se de modo complexo e misterioso. Horizontes diversos (nascente, foz, margens, paisagens, infinito, céu), profundidades (superfície, fundo, leito), traços de temporalidade (intermitência sazonal, fluir contínuo, transitoriedade) e um conjunto de componentes concretos (pedras, plantas, lama, peixes, animais), embora nem sempre presentes diante do olhar, pressupõem e determinam aquilo que um observador pode contemplar de um rio a partir de uma determinada posição espacial e temporal. Pelo fato de apresentar-se sempre como uma síntese do visível e do invisível, do referencial e do simbólico, o rio torna-se um objeto capaz de excitar de modo especial a imaginação poética. Não é raro que na poesia moderna e contemporânea, o olhar do poeta, ao fixar-se sobre um determinado objeto, expanda a perspectiva para o mundo, sem deixar de buscar apreender sua “organização interna” (Iser). No entanto, como lembra Michel Collot, essa escritura poética que visa um horizonte mais amplo, tanto do ponto de vista externo quanto interno, “também remete (pelo jogo da metáfora) ao espaço interior da consciência poética e ao espaço do texto” (La Poésie moderne et la structure d’horizon, 1989, p.6). É sob essa perspectiva que trataremos da representação do rio em alguns poemas de João Cabral de Melo Neto (“A morte dos rios”, “Rios sem discursos”, “Os rios de um dia”, “Rio e/ou poço”) e de Marcos Siscar. No caso deste último, a análise se deterá, sobretudo, no livro Rio verdadeiro, incluído na coletânea Metade da Arte (2003).

19 de setembro às 10h30

LA CONSTRUCCIÓN DE LA MEMORIA EN LA NARRATIVA JUDÍA DE AMÉRICA LATINA

Manuel Fernando Medina Medina (University of Louisville)

Mi trabajo estudia la re-creación de la memoria común entre textos de escritores judíos que revisan los archivos de las memorias familiares para poder encontrar una fundación para el establecimiento de sus identidades en todos los aspectos: personal, nacional, profesional, de género y más. Empleo un marco teórico que parte de la idea del archivo foucoldiana pero trasladada a un espacio de la invención selectiva del pasado que se re- crea en la producción cultural. Se emplea el concepto del tercer espacio, según lo 9 interpreta Homi Bhabha respecto a los lugares no-fijos desde los cuales los autores empiezan a hilar diferentes historias a fin de entregar al lector, y a si mismos, una versión revisada, re-inventada de los sucesos de acuerdo a las necesidades emocionales del momento. Se explora la teoría fundamental del rol de la memoria en la ficción de sectores marginados y subalternos. La ponencia utiliza la obra de autores judíos de América Latina tales como Michel Laub, en Diario de una Queda, Rosa Nissán en Novia que te vea, Ana María Shúa en El libro de las memorias, A Guerra No Bom Fin de Moacyr Scliar, la poesía de Ivonne Vailakis y la película 18-J producida por múltiples directores. Cada texto me permite ilustrar maneras diferentes en que los autores (o directores) construyen sus memorias a través de hilar invención y realidad, o invenciones re-creadas por medio de voces narrativas contándolas en repetidas ocasiones en un afán de encontrar una versión que los satisfaga y desde la cual puedan empezar a construir una identidad.

19 de setembro às 10h30

DOMINGOS CALDAS BARBOSA (1740-1800): CRONISTA DO AMBIENTE CULTURAL LUSO-BRASIELIRO DO SÉCULO XVIII

Lúcia Helena Costigan (Ohio State University)

A produção literária do poeta afro-brasileiro Domingos Caldas Barbosa ainda é razoavelmente inacessível tanto ao público leitor quanto aos estudiosos da literatura luso-brasileira em geral. Apesar de sua figura histórica ter alcançado alguma projeção no Brasil através da coleção de modinhas Viola de Lereno, que lhe rendeu a fama de compositor e cantor de modinhas, a grande maioria de suas obras permanece na obscuridade. O texto a ser apresentado na conferência centra-se no poema autobiográfico “A Doença”,que teve uma única edição em 1777 e que ainda é praticamente desconhecido pelos críticos literários. Procuraremos destacar que, diferente do modelo popular que o tornaram conhecido, este poema de cunho autobiográfico é uma obra de fundamental importância para o conhecimento dos preconceitos sofridos pelo poeta afro-brasileiro e das maneiras criativas para superá-las na sociedade luso-brasileira da segunda metade do século XVIII. As 49 páginas do poema “A Doença”, nos permitem perceber que Domingos Caldas Barbosa não foi apenas um produtor de modinhas, mas um erudito e talentoso poeta com profundo domínio da literatura clássica, da história universal e, acima de tudo, da sociedade e cultura luso-brasileira do seu tempo.

19 de setembro às 16h30

NARRATOLOGIA: NARRATIVAS E IDENTIDADES

Flávia Andrea Rodrigues Benfatti (UFU)

De acordo com os teóricos Brockmeier; Carbaugh (2001), a narratologia propõe um estudo das narrativas modernas, surgido nas décadas de 1960 e 1970 com o intuito de estudar os textos narrativos principalmente os de literatura ficcional. Desde então, a narratologia tem se transformado em uma teoria interdisciplinar envolvendo semiótica e 10 cultura de textos e contextos narrativos. Portanto, a narratologia diz respeito a tudo o que “conta uma estória. Ela envolve gêneros orais e escritos da linguagem, imagens, espetáculos, eventos, e artefatos culturais” (BROCKMEIER; CARBAUGH, 2001, p.4). No início, a narratologia estava atrelada ao estruturalismo e possuía algumas limitações, como o fato de não se considerar o contexto de produção e recepção das obras, por exemplo, porém, com o projeto pós-estruturalista, de estruturas invariáveis passa-se a pensar em estruturas variáveis que levam em consideração o contexto cultural das manifestações narrativas e as possibilidades interpretativas fora do texto. A partir desse momento, as narrativas então se adaptam a várias situações; elas dão voz às relações sociais e constroem significados culturais. Assim, esta apresentação visa debater sobre as formas de narrativas literárias, ficcionais ou autobiográficas, considerando a construção identitária dos sujeitos narrados dentro de uma perspectiva sócio histórica cultural.

19 de setembro às 16h30

LITERATURA DE ESPANHÓIS DE ORIGEM MARROQUINA: MIGRAÇÃO E TRANSCULTURALIDADE

Antônio Roberto Esteves (UNESP)

É quase um lugar comum afirmar que o planeta está se tornando um imenso território de deslocamentos cruzados, decorrentes da aceleração das comunicações, da globalização da economia e da internacionalização da cultura. Nesse processo, apesar da resistência de setores conservadores, a Europa avança a passos rápidos na direção de um continente multirracial, conforme já afirmava Umberto Eco em texto publicado no final do século XX. Tal processo vem acompanhado de profundas mudanças na ordem das filiações identitárias. Os fluxos migratórios fazem desaparecer o mito da cultura nacional monolítica, dando lugar a espaços e textos culturais híbridos. Um exemplo desse processo ocorre com a segunda geração de imigrantes marroquinos na Espanha, educados num entre-lugar da cultura original de seus pais e da cultura da terra de adoção. No caso de Barcelona, que também é multicultural, ocorre ademais uma constante negociação entre a cultura catalã local e a cultura espanhola do estado central. Um desses escritores é Saïd El Kadaoui Moussaoui, nascido no Marrocos e educado em Barcelona, que escreve em castelhano e catalão. Nossa intervenção fará uma leitura de seu último livro, No, publicado em 2016, em catalão e em castelhano. Usando fios de variada procedência, o romance articula elementos autoficcionais, metaficcionais e ensaísticos, para discutir, entre outros temas, o conflito entre a dupla identidade marroquina e europeia do narrador protagonista. A literatura, neste caso, encontra seu lugar dentro de um ambiente multicultural e trata de conciliar representações identitárias fragmentadas, sob um ponto de vista descentralizador e policêntrico.

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20 de setembro – 14h às 18h

THE THEATRE – FAR MORE THAN LITERATURE An afternoon of activities coordinated by Prof Peter James Harris

At the end of his acceptance speech for the 2016 Nobel Prize for Literature acknowledged the controversy surrounding his award, mischievously agreeing with those critics who had said that a lyricist should never have been eligible for the prize at all. He conceded that “songs are unlike literature. They’re meant to be sung, not read.” But in his next breath he went on to remind those same critics that the writer at the pinnacle of the Western Canon was also not primarily engaged in the production of literature: “The words in Shakespeare’s plays were meant to be acted on the stage. Just as lyrics in songs are meant to be sung, not read on a page.” The speakers in this afternoon’s programme will each seek to throw light on some of the ways in which an adequate understanding of the Theatre depends on first accepting that the playscript is not meant to be “read on a page”.

MRS WARREN’S PROFESSION IN BRAZIL

Rosalie Rahal Haddad

This presentation, based on Rosalie Rahal Haddad’s Bernard Shaw in Brazil: The Reception of Theatrical Productions, 1927-2013 (Peter Lang, 2016), examines the reception of Mrs Warren’s Profession in Brazil. An overview will be given of three productions of Shaw’s play (in 1947, 1960 and 1998), setting the analysis in the context of the political, economic, and cultural climate prevailing at the time of their staging in Rio and São Paulo.Throughout the first half of the twentieth century, theatre and theatre criticism in Brazil were but precariously established: commercial considerations frequently prevailed over aesthetic concerns, and the theatregoer with no knowledge of English could have no guarantee that the translated text or adaptation of a play bore much more than a passing resemblance to the original upon which it was based. In the 1950s, along with an acceleration of economic growth, there was an increasing development in the country’s social and political infrastructure, which saw the rise of the middle class, freely elected presidents, and the building of the new capital, Brasília, which resulted in a more optimistic view of Brazil’s place in the world. It was surely no coincidence that, in 1960, Brazilian theatregoers witnessed the best production of a Shavian play to date, presented by a highly skilled director, excellent actors, and reviewed by well-informed and articulate critics. A comparison of these three productions of Mrs Warren’s Profession thus serves to reflect the trajectory of the Brazilian stage and its close relationship to the country’s socioeconomic and political status, demonstrating that the success of a play depends on far more than the literary merits of the playscript.

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COLIN MURPHY’S DOCUMENTARY THEATRE: ECONOMICS AND HISTORY ON STAGE

Beatriz Kopschitz Bastos

Dublin-born journalist and writer Colin Murphy has made a name as one of the leading documentary playwrights in Ireland, responding to social and economic changes in the country’s recent history, and also to a decade well-supplied with centenaries – in particular, those of WWI and the Easter Rising. Five of his plays in the documentary genre have been produced or read publicly in the last five years: Guaranteed! (2013); Bailed out! (2015); Jack Duggan’s War (2015); Inside the GPO (2016); A Day in May (2016).This paper provides a survey of Colin Murphy’s plays, shedding light in particular on Guarantee!, Jack Duggan’s War and Inside the GPO. It looks at the documentary features of the plays and discusses the borders between investigative journalism, documentary and drama, aiming to identify how Murphy’s plays conform to or move away from definitions of documentary theatre such as that proposed by Patrice Pavis: “theatre that uses, for its text, only documents and authentic sources, ‘selected’ and ‘assembled’ in accordance with the playwright’s social and political thesis”.

THE DYNAMICS OF WRITING A PLAY FOR THE STAGE: LINGUISTIC AND PRACTICAL EXPERIMENTS IN THE TWO DEATHS OF ROGER CASEMENT

Domingos Nunez

This paper discusses the dynamics of a three-year research process that resulted in several drafts and a professional production of the play The Two Deaths of Roger Casement. The work was conceived within an innovative post-doctorate project, supervised by Prof Peter James Harris (IBILCE/UNESP), with the support of CAPES and the producer and literary director of Cia Ludens, Dr Beatriz Kopschitz Bastos. During this period, linguistic and practical experiments were conducted, leading up to the first public reading of the play as part of the Cycle of Staged Readings entitled Cia Ludens and the Irish Documentary Theatre (2010-2015), held in São Paulo in October/November, 2015. Further modifications were made during the rehearsal period, and the final treatment given to the script was shown in the full production of the play that premiered at the Teatro Aliança Francesa, in São Paulo, in September 2016. The final playscript was thus the result of an organic process in which the written text determined the practice with the cast, which in its turn reshaped the forms assumed by the text. Many aspects of what was performed on the stage could not be captured in the stage directions in the final version of the play; the text to be published will therefore allow future directors and actors the space for their own interpretation of the staging possibilities. The round-table audience members will be invited to take part in an experiment with the text, in the course of which clips from a video recording of the play will be shown in order to illustrate aspects of the creative process.

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SAINTS, STRAWMEN AND SAGA PEOPLE: WORD AND IMAGE IN IRISH THEATRE

Vincent Woods

In this lecture Irish playwright and poet Vincent Woods will discuss text and design in contemporary Irish theatre, making particular reference to his own plays At the Black Pig’s Dyke, John Hughdy/Tom John and A Cry from Heaven, and discussing the influence of writers such as John Millington Synge, Tom MacIntyre and Tom Murphy. He will consider the role and influence of set and costume design in theatre production, focusing on the work and vision of two of Ireland’s leading stage designers, Frank Conway and Monica Frawley. Among the issues he will consider are: how the visual dimension of live theatre is drawn from or inspired by the literary text; what is the role of the designer in bringing a text to life on the stage; how do designer, writer and director work together to realise a particular theatrical production of a written text; why is Irish theatre traditionally literary and text-led, with less imagistic, experimental and visual theatre than in many other countries; and how does a writer of poetic texts imagine the play in full production? Woods will discuss the process of writing a play from initial concept to first draft to finished text, and illustrate the subsequent transition of text to play (‘page to stage’) as designer and director add their art and expertise to the written word. He will draw on interviews with other writers and with designers Conway and Frawley to show how the written word becomes image and is heightened and strengthened by this creative adaptation. Note: Frank Conway was one of the early designers for Druid Theatre Company, designing set and costumes for such memorable productions as Tom Murphy’s Bailegangaire, as well as many productions for the Abbey Theatre. Monica Frawley also designed many shows for Druid Theatre Company, including Woods’s At the Black Pig’s Dyke and Song of the Yellow Bittern, many of Tom Murphy’s plays at the Abbey Theatre and opera and theatre productions in Ireland, the UK, Germany and the US.

20 de setembro às 19h

A LITERATURA INVISÍVEL

Luiz Ruffato

Toda a minha obra literária tem se desenvolvido no sentido de abarcar um personagem invisível na sociedade brasileira - e portanto também invisível na literatura brasileira - que é a gente de classe média baixa. A literatura brasileira é pródiga em representar núcleos burgueses e pequeno-burgueses e também os marginalizados, em se tratando de produção urbana, mas se ‘esquece’ da grande massa anônima de trabalhadores, que não sendo intelectuais nem vivendo em comunidades, mas habitando entre ambos os mundos, não possui glamour para tornar-se prosa de ficção. Meus livros tentam resgatar essa dívida, emprestando espaço para aqueles que não pertencendo à sociedade ocupam o não lugar da invisibilidade.

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COMUNICAÇÕES (Em ordem alfabética por sobrenome do autor)

O PAPEL DA LITERATURA PARA O SER QUE SE QUER HUMANO

Thiago Henrique de Camargo Abrahão [email protected]

Após a leitura de um texto literário, não nos é mais possível, de boa-fé, alegar ignorância a respeito do que lemos — como não podemos, sob a égide do direito, justificar uma infração cometida alegando que desconhecemos a lei em vigência. Encontramos, nesse âmbito, um lugar de destaque para a literatura, cujas palavras, ao nomearem o mundo, retiram-no das sombras e o tornam perceptível e, consequentemente, pensável. Evidentemente, poderíamos apontar, como contraexemplo, que tal fenômeno também se daria com uma simples receita de bolo. O texto literário se destaca, entretanto, porque não são apenas suas palavras que nos ajudam a conhecer (ou reconhecer) o mundo, pois, a esse respeito, merecem destaque, dentre outros aspectos, o trabalho formal concernente à sua estrutura e as relações de sentido criadas por figuras de linguagem como a metáfora e a metonímia. Disso se segue que a literatura amplia nossa capacidade linguística e, se se quiser — como entendeu Ludwig Wittgenstein, para quem os limites da linguagem significam, para o homem, os limites de seu mundo —, a compreensão de nossa existência. Contudo, não queremos dizer que a literatura nos ofereça respostas prontas, pois parte de seu poder (análogo, a propósito, ao âmbito filosófico) é encontrado na capacidade de formular perguntas profícuas. À luz dessas afirmações, evidenciaremos que a literatura tem, em potência, a capacidade de fomentar a reflexão crítica ao oferecer outras perspectivas para que possamos pensar além do normalmente estabelecido pelo senso comum. Trata- se, portanto, de um lugar de destaque, cujo papel promove — como constatou o professor Antonio Candido em ensaios como “A literatura e a formação do homem” — o alargamento do que há de humano no ser que somos. Palavras-chave: Literatura; Antonio Candido; humanismo.

DE SEREIAS E O LUGAR DO CANTO AUSENTE DA LITERATURA

Geisy Nunes Adriano [email protected]

É voz corrente que a literatura corre perigo diverso daquele de que temia Platão, isto é, o de ser destronada de seu papel na formação cultural do indivíduo (TODOROV, 2010), ou que a narração tradicional entra em declínio com a destruição da experiência transmissível e a mudez pós-Segunda Guerra Mundial (BENJAMIN, 1980), ou com a pobreza de experiências partilháveis no dia-a-dia do homem contempo- râneo (AGAMBEN, 2008), mas também se reafirma o poder e a persistência dessa arte frente ao mundo e aos seus habitantes, inevitavelmente sempre humanos. Mesmo o herói Ulisses continua não saindo ileso ao encontro com as sereias, pois a Odisseia se transforma continuamente no túmulo das mulheres-pássaros, para sempre inscritas na narrativa e cujo silêncio torna-se impossível de escapar (BLANCHOT, 2005). Mesmo diante da morte prometida pelo Oráculo, é possível ser e estar no mundo via palavra 15 literária. Em nossas interrogações acerca do lugar da literatura ou da arte de narrar estórias no mundo contemporâneo, traçamos um diálogo com a leitura de Blanchot (2005; 2011) e Oliveira (2008) do canto das sereias da Odisseia, de Homero, dentre outros autores. Tendo por objetivo evidenciar a ideia da literatura-navegador, cujo lugar é o da travessia em direção ao canto ausente da sereia, não do ponto de chegada. Representado pela imagem de um deserto silencioso, o canto inumano é o lugar da essência da criação literária ou da “fala errante”, é o lugar inalcançável, imaginário e fantasmático que continua capturando seu narrador-viajante pela sedução do desejo pelo ausente. Palavras-chave: Literatura; Canto das sereias; Maurice Blanchot.

O CINEMA COMO LUGAR DA LITERATURA: A QUESTÃO DAS REFRAÇÕES EM PERSUASÃO DE JANE AUSTEN

Debora Cristina de Almeida [email protected]

O presente trabalho propõe uma leitura comparativa do processo de adaptação do romance Persuasão (1818), da romancista inglesa Jane Austen (1775-1817), para suas duas versões cinematográficas produzidas pela BBC (1995 e 2007), abordando as implicações do diálogo intersemiótico entre a narrativa verbal do romance e a narrativa cinematográfica, bem como as motivações, seleções e ressignificações peculiares de cada versão. O objetivo é promover a discussão sobre a questão das refrações, características do sistema de mecenato, considerando como suporte teórico- metodológico os apontamentos de Lefevere (1992) a respeito dos elementos constituintes desse sistema: os componentes ideológico, econômico e de status. Articulando-se a teoria das refrações de Lefevere (ibid) com os preceitos de Stam (2008) e Hutcheon (2006) a respeito da natureza criativo-interpretativa do processo de apropriação e transposição intertextual que é a adaptação, analisar-se-ão as operações de seleção, ampliação e concretização pelas quais passa o texto-fonte, no que concerne a modificações, descartes, transcodificações e suplementações feitas pelos adaptadores quando da passagem do texto literário para o filme, bem como os efeitos de sentido imbricados em cada um dos processos adaptativos. Comparando-se e contrastando-se as duas versões de Persuasão para o cinema (1995 e 2007), pode-se concluir que, no caso específico aqui abordado, as refrações do processo adaptativo apontam para dois prismas diferentes – o do processo e o do resultado. Busca-se, com este trabalho, enfatizar a crítica da fidelidade ao original uma vez que as variações dentre as versões de Persuasão é que fomentam o interesse atual por essa obra de quase 200 anos. É justamente o caráter variado da repetição de um mesmo enredo que constitui parte do grande fascínio do público pelas adaptações para o cinema (cf. Hutcheon, 2006). Palavras-chave: adaptação; cinema; refrações; Lefevere.

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EUCLIDES DA CUNHA E A LITERATURA PELOS CAMINHOS DA AMAZÔNIA: ENTRE O RIO E A FLORESTA NA BELLE ÉPOQUE

Luis Fernando Ribeiro Almeida [email protected]

Nejar (2007) aponta que o autor d’Os Sertões (1902) “foi sozinho uma geração, no princípio do século XX, em que o pensamento engatinhava”. Em uma postura mais incisiva, Erthal (2009) chega a ponderar que fora Euclides da Cunha que “acordou nosso país para a realidade, ensinando os brasileiros a olharem antes para dentro que para fora”. Esse período de nossa literatura que pode ser situado entre o apogeu dos estilos da segunda metade do século XIX e o surgimento do Modernismo em 1922, é comumente denominado pela crítica de Pré-Modernismo, período sincrético onde ocorreram certas experiências da revolução modernista, como busca de ruptura com o passado; denúncia da realidade; regionalismo e tipos humanos marginalizados (JOBIM e SOUZA, 1987). Com base no exposto, este estudo busca refletir sobre os escritos amazônicos de Euclides da Cunha, e as representações desse espaço e do homem, em especial do seringueiro, situados no contexto da Belle Époque, utilizando-se como procedimentos metodológicos os postulados da Teoria Literária. Nas pesquisas dessa vertente do escritor fluminense, resultado de sua passagem pela região amazônica como chefe da Comissão de Reconhecimento do Alto Purus, ocorrida em 1905, Euclides da Cunha tem a oportunidade de ampliar seus horizontes de inspiração para escrever, embora imerso em outro ambiente, sob a influência agora do rio e da floresta. Como bem aponta Lima (2009), o sertanejo permanece como personagem central, cabendo ao escritor denunciar a guerra cotidiana e silenciosa travada nos seringais. Esses sujeitos, nordestinos-sertanejos, entram agora em um novo cenário, o que se poderia chamar de “outro sertão”. Para Euclides da Cunha, a Amazônia “é uma terra que ainda se está preparando para o homem”, este que a invadiu fora do tempo, impertinentemente, em plena arrumação de um cenário maravilhoso (MEIRELLES FILHO, 2004). Palavras-chave: Literatura; Representação; Belle Époque; Amazônia.

A MEMÓRIA COLETIVA DA ESCRAVIDÃO E O ESQUECIMENTO EM FRED D’AGUIAR

Elis Regina Fernandes Alves [email protected]

Analisam-se dois romances do escritor anglo-guianense Fred D’Aguiar: The Longest Memory (1994) e Feeding the Ghosts (1997) com base no conceito de memória coletiva de Maurice Halbwachs (2006). Para Halbwachs, a memória nunca é totalmente individual, visto sermos seres sociais, coletivos. No caso da escravidão, pode-se falar em trauma coletivo sofrido por milhões de seres humanos escravizados, cujas memórias coletivas foram sendo ignoradas e esquecidas por uma história que oficializava a memória coletiva das elites detentoras do poder, os escravizadores. Desta forma, as memórias coletivas dos escravos nunca se tornavam história, pois não tinham voz como seres sociais, nem sequer eram considerados humanos. Nos dois romances de Fred D’Aguiar, há a ficcionalização de memórias coletivas de escravos, cujas vozes narrativas ficcionais relembram e relatam os traumas da escravidão e a própria tentativa de esquecimento destas memórias por parte dos escravos. Em Feeding The Ghosts, a 17 ambientação é o navio negreiro e as memórias coletivas da passagem intermédia, já The Longest Memory mostra uma plantation nos Estados Unidos, e a memória coletiva se volta para a fuga e os castigos dados aos escravos, num panorama do que foi a escravidão negra desde a captura em África até a vida dos escravos nas grandes fazendas estadunidenses. Evidencia-se que as memórias coletivas dos escravos acerca da escravidão foram esquecidas pelas histórias oficializadas e é a ficção que parece querer revisitar esses locais da memória. Palavras-chave: Memória coletiva; escravidão; Fred D’Aguiar.

MEMÓRIA AFETIVA E MEMÓRIA NACIONAL EM MARCELO RUBENS PAIVA

Maria Cláudia Rodrigues Alves [email protected]

As autoficções ou narrativas inspiradas em biografias de autores têm sido uma constante na literatura brasileira contemporânea. Citando apenas alguns de nossos escritores, podemos elencar entre muitos Marcelo Rubens Paiva, Tatiana Salem Levy, Ricardo Lísias, Sergio Kokis, Cristóvao Tezza, cujas obras tornaram-se best-sellers e receberam não somente elogios da crítica especializada, como também indicações e muitas vezes prêmios literários. Interessa-nos, pois, investigar o fascínio que provocam obras de cunho autoficcional e a difícil tarefa de categorizá-las literariamente à luz de estudiosos como Paul RICŒUR (1991 e 2007), Philippe LEJEUNE (2008), Marisa LAJOLO (2007) e Anna FAEDRICH (2014). Para tanto, buscando efetuar um recorte para este estudo e apresentação, elegemos inicialmente o escritor Marcelo Rubens Paiva que, em sua primeira obra Feliz Ano Velho (1982), e na mais recente, Ainda estou aqui (2015), lança mão de sua história pessoal e familiar. O primeiro romance conta o acidente que deixou o autor paraplégico e as consequências dessa mudança abrupta de situação no seio da família, socialmente etc. Mas também relata como sua casa foi invadida por militares durante a ditadura brasileira. Ainda estou aqui, trinta e cinco anos depois de seu primeiro romance, traz a mãe do autor como protagonista, a advogada, defensora dos direitos indígenas, Eunice Paiva, diante de duas lutas: a primeira para criar os filhos sem o pai, morto pela ditadura, e a segunda, contra o Alzheimer. Pretendemos promover a reflexão e debate, questionando-nos: Há lugar para a autobiografia na literatura dita canônica? Em que momento a memória afetiva do autor, sua biografia, torna-se, uma vez transformada em memória social, em memória nacional, enfim literatura? Palavras-chave: Identidade; Memória; Autoficção; Esquecimento.

A AUTOBIOGRAFIA E SUAS VERTENTES NA OBRA DE J.-M. G. LE CLÉZIO: A ESCRITA DE SI COMO UM CAMINHO NA BUSCA DE IDENTIDADE

Islene França de Assunção [email protected]

A obra de Le Clézio acompanha as mutações da literatura francesa contemporânea, seguindo a tendência da escrita de si, porém distanciando-se da linha tradicional da autobiografia e assemelhando-se às novas formas recentemente surgidas no universo 18 autobiográfico, identificadas como “autoficção”, “narrativa de filiação” e “ficção biográfica”. Visto que a necessidade de autocompreensão liga-se a uma interrogação sobre a origem e a filiação, os protagonistas leclézianos empreendem uma viagem rumo ao passado, para narrar fatos da infância, da vida dos pais, antepassados ou de alguma personalidade importante em suas vidas. Traduzindo uma necessidade geral própria à época atual, a obra lecléziana confirmará a obstinação dos escritores contemporâneos em reencontrar a herança perdida e evitar a irremediável passagem do tempo. A volta ao passado configura uma partida em busca de si mesmo, pois, na tentativa de encontrar as origens, os protagonistas exprimem o desejo de encontrar a identidade, de suprir uma falta ou restituir a dignidade roubada a um de seus familiares. A viagem e a escrita tomam, portanto, uma dimensão iniciática, uma vez que se mostram produtos de uma busca identitária, assumindo papel de mediadoras do autoconhecimento e da preservação da memória, devido à capacidade de resistir à passagem do tempo, fazendo sempre vivos as pessoas e os fatos narrados. Desse modo, este trabalho objetiva examinar algumas particularidades das escritas de si presentes nos romances Voyage à Rodrigues, L’Africain, Onitsha, Ritournelle de la faim et Diego et Frida, demonstrando como Le Clézio ultrapassa, em seus escritos, o domínio da autobiografia tradicional e mesmo da autoficção. Para desenvolver essas ideias, o trabalho se fundamentará em teorias e críticas da literatura contemporânea, da autobiografia e da autoficção, assim como naquelas concernentes ao estudo do sujeito, da identidade e da memória, à luz das quais é feita a leitura, interpretação e análise das obras estudadas. Palavras-chave: literatura contemporânea; escrita de si; autoficção; identidade.

A CONSTRUÇÃO DA TEORIA DO INDIGENATO: JUSTIFICAÇÃO DA COLONIZAÇÃO PELA NEGAÇÃO DO NEGRO

Providence Bampoky [email protected]

Enquanto a abolição da escravidão pretendia colocar fim à condição desumanizante do negro, o colonialismo introduzia dentro dos territórios africanos outras formas de subserviências e de alienação firmemente alicerçadas nos moldes da herança do Code Noir, no entanto, com características específicas. Esta mutação progressiva traduzia a aparição de um outro regime calcado nas mesmas ideologias de subjugação e de opressão da raça negra nos territórios da AOF (África Ocidental Francesa). O Regime do Indigenato ou mais conhecido sob o nome de Code de l’Indigénat ou l’Indigénat constituía um conjunto de regras e normas disciplinares concebidas nas colônias francesas para o controle e a repressão das populações chamadas indigènes. Segundo FAUGERE; MERLE (2010) o termo ‘indigène’ refere-se ao indivíduo que nasceu no país, o lugar em questão e que ali tem suas raízes. Esse termo entrou, em 1532, no vocabulário francês. Portanto, nas décadas do século XX, mais especificamente, no período da dominação colonial, a definição da palavra ‘indigène’ passou a adquirir uma série de conotações pejorativas e acompanhada, desde então, de ideologias raciais e separatistas. Com base nas relações entre literatura e história, este trabalho busca analisar e justificar o modo como o Regime do Indigenato introduziu, por um lado, ideias de uma negação de direitos civis para esses indivíduos cujos costumes e religiões os colocavam longe da civilização francesa, mas por outro lado, proporcionou o nascimento de uma elite intelectual literária. Palavras-chave: Colonização francesa; literatura; história. 19

ADDIE BUNDREN NO REINO DO INDECIDÍVEL: UMA LEITURA DESCONSTRUTIVA DE

Leila de Almeida Barros [email protected]

O principal objetivo deste trabalho é oferecer uma nova possibilidade de análise do monólogo interior de Addie Bundren, personagem central do romance Enquanto agonizo (1930), de William Faulkner. Sem deixar de levar em conta o imperativo do diálogo com a tradição, busca-se amparo no pensamento filosófico de Jacques Derrida, sobretudo naquelas ideias apresentadas n’A farmácia de Platão (2005) a respeito do quase-conceito de pharmakón. Addie retorna ao mundo dos vivos via linguagem para contar a sua versão dos fatos e oferecer uma alternativa à história de uma família que é contada a conta-gotas apenas pelos filhos e pelo marido. Chama a atenção que Addie ganhe voz em Enquanto agonizo apenas após tornar-se um it indefinível. Com base na análise de Derrida acerca do surgimento da escrita na Grécia Antiga e a consequente seleção de apenas um sentido ofertado a ela – o de veneno, em prejuízo de outro sentido, o de remédio – discute-se a problemática da entrada da metafísica ocidental no pensamento dualista. Derrida evidencia que mesmo Platão permanece no terreno do indecidível, quando admite timidamente que a escrita pode ser tanto veneno quanto remédio. Não um ou outro, mas sim um e outro, a morta-viva Addie e a linguagem em que se transfigura parecem igualmente habitar o não-lugar do indecidível que desafia o pensamento dualista ocidental. Palavras-chave: William Faulkner; Jacques Derrida; Pharmakón; Indecidível.

SIMBAD, O MARUJO: TECENDO RELAÇÕES ENTRE TEXTO E IMAGEM

Jaqueline de Carvalho Valverde Batista [email protected]

O trabalho propõe uma relação entre texto e imagem na obra Simbad, o Marujo (2009), obra anônima, adaptada por Ana Maria Machado. Nessa obra, mergulhar-se-á para conhecer com afinco sua composição: a distribuição de imagens – ilustrações de Igor Machado – e seus atributos relacionados às palavras que compõem o texto adaptado por Ana Maria Machado. Na análise entre texto e imagem da obra, ressaltaremos a função da ilustração e suas contribuições para a construção de interpretações para o texto. Ainda, em síntese, destacaremos as possíveis escolhas feitas pelo ilustrador ao apresentar determinada imagem para o texto (qual parte ele destaca por meio da ilustração e no que ela pode contribuir na construção da interpretação textual). Entendendo-se o texto como norteador da imagem, considerar-se-á as contribuições de Rudolf Arnhein (1974), que atribui às imagens características que podem influenciar na interpretação do texto. Nas imagens (ilustrações) presentes em Simbad, o Marujo (2009) pode-se evidenciar, por exemplo, o predomínio de trações que contornam as imagens, o que, segundo Arnhein (1974), delimita o objeto. As imagens, nessa obra, ocupam a página em sua completude e algumas ocupam página dupla, o que pode ampliar a interpretação dessas imagens, frente ao seu norteador, o texto. Além dos traços, as cores, a sobreposição de contornos, a iluminação, a focalização adotada pelo narrador, atuam como norteadores de possíveis interpretações para a obra (relação entre texto e imagem). Na esteira de Arnhein (1974), serão utilizadas as contribuições de Nodelman 20

(1988), de Bal (2009) para estabelecer essa relação e, por fim, ressaltar-se-á, de fato, se as imagens são realmente direcionadas pelo texto escrito. Palavras-chave: literatura infantil e juvenil; imagem; relação tensional – texto/ imagem; Ana Maria Machado.

O CAMINHO DO ESPÍRITO E O CAMINHO DA NAÇÃO: AS LINHAS DE FORÇA DE REPRESENTAÇÃO LITERÁRIA CONSTRUÍDAS PELA CRÍTICA BRASILEIRA OITOCENTISTA NO CASO DE A NEBULOSA (1857)

Maíra Aparecida Pedroso de Moraes Benedito [email protected]

O romantismo surgiu não apenas como um movimento estético contrário ao classicismo, mas também como um período que trouxe uma nova concepção de homem e de história. Neste contexto dois ideais aparecem com grande força: o Espírito e a Nação, sendo embasados literária e filosoficamente, estas duas instâncias se entrecruzam e se complementam, delimitando através do tempo o percurso para o gênio. No caso do Brasil, através desses ideais se formaram linhas de força para a representação literária, as quais a crítica transformou e até mesmo reduziu a um conjunto de parâmetros que se distanciaram do movimento complementar entre o Espírito e a Nação. Através da exposição de A Nebulosa (1857) de Joaquim Manuel de Macedo, um texto não canônico do período de formação da literatura brasileira, bem como a recepção crítica desta obra, este artigo buscará evidenciar os topos de representação do período oitocentista e suas limitações, bem como trazer à tona a multiplicidade criativa do autor que não se enquadra em categorizações estanques de estilo e forma. Palavras-chave: literatura; romantismo; representação; cânone.

LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEAS E FOTOGRAFIAS: QUAIS OS SENTIDOS INTRÍNSECOS A ESTA RELAÇÃO?

Renan Augusto Ferreira Bolognin [email protected]

Esta comunicação apresentará esboços de minha pesquisa de doutorado. Circunscrita no grupo de pesquisa “Literatura e Tempo Presente” - liderado pelas profªs Drªs Rejane Cristina Rocha e Juliana Santini – esta pesquisa objetiva demonstrar mediante os romances Nove noites (2004), de Bernardo Carvalho; Divórcio (2013), de Ricardo Lísias; e do romance gráfico Rremembranças da menina de rua morta nua, de Valêncio Xavier, e as fotografias trazidas em suas narrações, qual(is) o(s) sentido(s) sócio- político(s) pode(m) ser depreendido(s) na relação construída entre a fotografia e a literatura brasileira contemporânea (a qual chamo de diálogo inespecífico). Para levar a cabo estas análises, questiono o(s) porquê(s) da existência destes diálogos entre fotografia e literatura como inespecíficos ao embasar este trabalho nos conceitos de inespecífico e de campo expansivo, de Florencia Garramuño (2014); na filosofia desconstrucionista de Jacques Derrida (1997); e nos questionamentos políticos da arte através de Jacques Rancière (2009). Como hipóteses concernentes à minha pesquisa e que serão postas à mesa nesta proposta de comunicação, tratarei as seguintes: i. Este 21 diálogo inespecífico entre literatura e fotografia concerne a modificações dos procedimentos de representação da literatura; e ii. A inserção de fotografias no corpo da narrativa tem como finalidade criticar os paradigmas dos sistemas axiológicos da sociedade Ocidental. Com a soma de ambas as hipóteses, esta comunicação tratará o diálogo inespecífico percebido na aliança dos textos literários analisados e de suas fotografias como um questionamento a respeito dos protocolos de inteligibilidade e de visibilidade concernentes a cada arte e, obviamente, à uma fatura política intrínseca a este diálogo (RANCIÈRE, 2012). Palavras-chave: Literatura brasileira contemporânea; Fotografias; Diálogo inespecífico; Campos expansivo.

A TÉCNICA NARRATIVA DE ALESSANDRO MANZONI E O PONTO DE VISTA DA DIVINA PROVIDÊNCIA

Gisele de Oliveira Bosquesi [email protected]

Considerado uma das obras mais representativas da literatura italiana, o romance I promessi sposi, de Alessandro Manzoni, espelha, do ponto de vista linguístico, a própria unificação do país, ocorrida oficialmente em 1861, no período chamado Risorgimento. O primeiro romance histórico italiano, publicado em 1827 e republicado em 1840, foi concebido em dialeto milanês e teve sua última versão em dialeto toscano, língua que serviu de base para o italiano standard. São numerosos, portanto, os estudos sobre a relação entre a obra manzoniana e a identidade nacional, bem como a cor local que o gênero romanesco inaugurado por Walter Scott adquiriu em solo italiano. Entretanto, a relevância literária da obra estudada repousa também sobre outros aspectos, relacionados ao processo de construção da narrativa. Alguns desses aspectos da técnica de Alessandro Manzoni foram apontados por Umberto Eco em Seis passeios pelos bosques da ficção, a fim de esclarecer a interpretação segundo a qual o romance, alternando entre a visão panorâmica dos espaços geográfico e social e a focalização dos espaços íntimos e histórias pessoais, conta-nos não apenas a história do desafortunado casal Renzo e Lucia, mas também a “História da Divina Providência, que conduz, corrige, salva e resolve” (ECO, 1994, p. 79). Objetivamos, portanto, observar, apoiando-nos não apenas nas observações de Umberto Eco mas também no aporte teórico sobre o ponto de vista na ficção fornecido por Norman Friedman, alguns momentos em que o modo de exposição dos ambientes e das ações está carregado de sentido, a serviço da interpretação geral da obra. Palavras-chave: Alessandro Manzoni; Foco Narrativo; Romance Histórico.

O SENTIMENTO DE NÃO-PERTENÇA EM OS MEUS SENTIMENTOS, DE DULCE MARIA CARDOSO

Gabriela Cristina Borborema Bozzo [email protected]

A partir dos aspectos estudados acerca da forma do romance, selecionamos a relação do herói com o mundo como foco do presente estudo, o qual tem como objeto de análise do romance Os meus sentimentos (2012), de Dulce Maria Cardoso. Partindo do aspecto 22 selecionado para a discussão e dos estudos já publicados acerca da obra da autora, em sua maioria pautados nos Estudos Culturais, temos a temática do desajuste, da não- pertença que atravessa seus heróis. No trabalho de Dulce, o sentimento de não-pertença já apresenta-se tanto literalmente, como no narrador-personagem Rui em O retorno (2011), quanto metaforicamente, como em Violeta em Os meus sentimentos, personagem que se sente em um exílio figurado (e não geográfico) no mundo. Para tanto, pretendemos expor uma leitura reflexiva de partes das obras O tempo no romance (1974), de Jean Pouillon; O universo do romance (1976), de Roland Bourneuf e Real Ouellet; e Pessoa e personagem (2010), de Michel Zéraffa, seguida por uma análise em close reading do romance e, por fim, de um comentário crítico acerca de sua composição, tendo em vista os autores comentados. A partir disso, portanto, pretende-se analisar o sentimento de não-pertença que se manifesta na personagem como o centro da sua relação com o mundo que a cerca. Palavras-chave: Violeta; personagem; herói; Os meus sentimentos.

O ROMANCE HISTÓRICO E SUAS MODIFICAÇÕES

Marta Roque Branco [email protected]

Conforme aponta Baumgarten em “O novo romance histórico brasileiro”, “Todo romance, como produto de um ato de escrita é sempre histórico, porquanto revelador de, pelo menos, um tempo a que poderíamos chamar de tempo da escrita ou da produção do texto” (2000, p. 169). Contudo, ressalta ele, no âmbito dos estudos literários, essa definição é insuficiente para caracterizar o Romance Histórico. Em sua concepção, “romance histórico corresponde àquelas experiências que têm por objetivo explícito a intenção de promover uma apropriação de fatos históricos definidores de uma fase da História de determinada comunidade humana”. Nesse sentido, a origem dessa forma de escrita está vinculada à produção de Walter Scott e ao período de vigência do Romantismo, assumindo, portanto, papel importante na construção de nacionalidades/ identidades europeias e americanas. Mas o Romance Histórico, tal como foi concebido em sua origem, passou por modificações no decorrer dos anos. Das marcas que definem sua forma clássica, muitas delas são redimensionadas. No que se refere à Literatura brasileira, o caso do Romance Histórico não foi diferente. Em José de Alencar, como por exemplo, As Minas de Prata (1865), vemos o desejo de, juntamente com a exposição dos acontecimentos históricos, definir uma identidade brasileira. Mas também nas produções brasileiras muitas mudanças aconteceram. É o que se pode notar, dentre tantos outros, em Galvez, Imperador do Acre (1975), de Márcio Bentes de Souza com sua narrativa inovadora que promove a reatualização de episódios históricos. Apresentar um quadro de algumas pesquisas sobre o Romance Histórico e um panorama dos Romances Históricos brasileiros, ao menos em parte, é o objetivo desta comunicação. Para tanto, autores como Baumgarten (2000), Lukács (2011), Hutcheon (1991), Jameson (2007) e Flávio Loureiro Chaves (1988) serão utilizados na exposição. Palavras-chave: Romance Histórico tradicional; Novo Romance Histórico; Metaficção Historiográfica.

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“SEPULTURA”: A MORTE E O MACABRO EM CHARLES BAUDELAIRE E ODILON REDON

Luíza Araujo Braz [email protected]

O presente estudo tem por objetivo apresentar a temática da morte e do macabro na obra Les Fleurs du Mal (As Flores do Mal), de Charles Baudelaire, e na primeira fase de produção artística do pintor e gravador francês Odilon Redon, a partir da descrição, análise e cotejo do poema “Sépulture” (“Sepultura”), da ilustração proposta para acompanhá-lo e de outras obras de Odilon Redon. A gravura selecionada faz parte de um conjunto de nove pequenos desenhos apresentados pelo pintor a seu editor em 1889, correspondentes a oito poemas da obra As Flores do Mal e a uma sugestão de capa ou de frontispício para o livro. Para tal, baseamo-nos principalmente nos conceitos de intertextualidade, revisitado pela autora Tiphaine Samoyault (A intertextualidade. Tradução de Sandra Nitrini. São Paulo: Aderaldo e Rotschild, 2008) e de paratexto literário/iconográfico, estabelecido por Gérard Genette (Seuils. Paris: Seuil, 1987). Visando a descrever o tratamento dos temas da morte e do macabro por ambos os artistas, é possível elaborar, ainda, um panorama dos projetos estéticos (poético e gráfico) e descrever os diálogos estabelecidos entre as produções de Charles Baudelaire e Odilon Redon, que recusava o uso da palavra “ilustração” e, além disso, preferia ser reconhecido como um “intérprete” ou “tradutor” das obras literárias a partir das quais realizava suas gravuras. Palavras-chave: As Flores do Mal; Paratexto iconográfico; Charles Baudelaire; Odilon Redon.

O CAMINHANTE NAS ZONAS DO TERRITÓRIO DO URBANO E DO IMPREVISÍVEL

Susanna Busato [email protected]

A poesia é exploradora de territórios e de linguagens. A poesia esgarça a linha do tempo e sulca o espaço familiar para, ao fazê-lo, construí-lo em outra partitura e arquitetura. Nesse processo encontra o estranho na imagem e mobiliza nossa percepção. São as zonas do território do urbano e do imprevisível da poesia que este trajeto que faço busca explorar. O dado visual do percurso acena para mim o traçado fotográfico que o livro Rua, de Guilherme de Almeida (1890-1969), vai oferecer como proposta editorial, em 1961. É sabido que a inclinação para o visual da construção da imagem é um elemento de sua poética, que sabe como extrair dos referentes camadas de expressão fono-morfo- semântica que encontram na sintaxe do verso a curva necessária para tecer o olhar da cena urbana como um passante da rua. O que me interessa no trajeto do seu olhar é o modo como a poesia emerge da paisagem urbana, como o poeta concebe sua natureza e a transmuta para o universo do olhar do passante, essa figura que flana e é arremessada aos núcleos de sentido da paisagem, de modo analógico. Percebo na poesia de Rua um processo de associação de imagens que vai superando/mascarando/metamorfoseando o referente, a ponto de termos em sobreposição duas realidades: a do objeto ou da cena em si e a que habita o onírico ou o devaneio que emerge do contato. Eu diria ainda que, mais do que flagrar um elemento do ambiente urbano, a poesia de Rua atua no familiar 24 da cena, para, por um processo de transferência de sentido, construir no signo novo o dado de informação de natureza encantatória. Palavras-chave: poesia moderna; Guilherme de Almeida; cidade; paisagem urbana.

O LUGAR DO LEITOR NA OBRA LITERÁRIA: UMA ANÁLISE DE O CEMITÉRIO DE PRAGA, DE UMBERTO ECO

Deborah Garson Cabral [email protected]

A obra literária se insere em um tempo e espaço, seu momento de produção, o tempo em que relata a história, os lugares onde ambienta essa história, além de o momento em que o leitor se depara com a obra e adentra por sua porta. O livro cria sentidos, abraça seu leitor ou o repele, faz com que ele passeie pelo universo semântico que cria, oferecendo possibilidades interpretativas, mais ou menos visíveis, que serão decodificadas por esse leitor. Umberto Eco se refere sempre, em seus textos teóricos, ao leitor como um construtor da narrativa, um complementador de sentidos, que precisa estar atento durante o passeio que promove dentro das histórias de que participa. O que se propõe, neste trabalho, portanto, é refletir sobre qual o lugar do leitor nas narrativas ficcionais, em especial no romance do mesmo autor, O cemitério de Praga (2010), que promove uma revisitação na história da Itália ao final do século XIX, convidando o leitor a questionar a realidade dos fatos, exigindo que este se esforce para construir essa história verificando quais fatos são reais, e quais poderiam ser. Introduzindo a figura do narrador, este estudo busca revelar as relações entre o processo narrativo e o de leitura, que se permeiam e se complementam, sendo imprescindível que esses papeis estejam fundidos para que a narrativa alcance seu objetivo final, a compreensão e interpretação mais aproximada possível da ideal. Palavras-chave: Narrador; leitor ideal; literatura italiana; Umberto Eco.

LEITURA E LEITORES NA ANTOLOGIA DE LITERATURA ESTRANGEIRA DE PATRÍCIA GALVÃO E GERALDO FERRAZ NO SUPLEMENTO LITERÁRIO DO DIÁRIO DE S. PAULO (1946-1948): CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA LITERÁRIA BRASILEIRA

Fernando da Silva Cabral [email protected]

O presente projeto tem como objetivo geral investigar os artigos do suplemento literário do Diário de S. Paulo, especialmente a Antologia de Literatura Estrangeira publicados entre novembro de 1946 a novembro de 1948. A partir da pesquisa, busca-se contribuir com o estudo da crítica literária brasileira buscando compreender qual seria a função desta seção para a produção e consolidação de uma crítica em periódicos paulistas. O caráter biobibliográfico dos artigos acabou promovendo um projeto que apresentava ao público leitor aspectos importantes dos escritores selecionados por Patrícia Galvão e Geraldo Ferraz. Os críticos apontavam leituras, traziam traduções por vezes inéditas e inseriam os escritores em tradições literárias pertinentes às suas culturas literárias. Os objetivos específicos, a princípio, são: levantar os artigos de Geraldo Ferraz e Patrícia Galvão publicados na seção Antologia da literatura estrangeira publicados entre 25

1946 e 1948; esquadrinhar e estabelecer possíveis paralelos e distanciamentos entre os artigos da Antologia a fim de entender em que medida essa coluna contribui para a formação de leitores, assim como o critério de escolha dos escritores e a análise da função da seção. Além de contribuir para o estudo da literatura brasileira e de parte da história da crítica literária em um periódico paulistano, esse projeto pretende resgatar os artigos publicados na coluna de Antologia de literatura estrangeira e, assim, observar como se dá o trabalho do crítico literário num período onde o crítico de ofício se configurava frente ao crítico de rodapé. Palavras-chave: Patrícia Galvão; Geraldo Ferraz; crítica literária; suplemento literário.

O LUGAR DA LITERATURA NO ENCONTRO ENTRE ESCRITOR E LEITOR EM DIÁRIO DAS COINCIDÊNCIAS, DE JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA

Priscila Miranda Caetano [email protected]

O presente estudo tem como objetivo refletir e apreender uma tendência da literatura brasileira contemporânea e o sentido de sua criação: a interação entre a palavra e a vivência cotidiana; entre o texto e o leitor no processo de manuseio da palavra poética em constante mutação, mímese da própria vida. No universo da escrita de João Anzanello Carrascoza, encontramos uma espécie de convite ao leitor. Os fragmentos e rastros deixados ao longo das narrativas despertam um inicial estranhamento e, ao mesmo tempo, uma porta aberta para o que está além do texto; nas sombras entre as palavras e o silêncio, está o lugar de encontro desta literatura: o instante de reconciliação entre o ser e o seu “outro”, obscurecido pelo automatismo da modernidade. Carrascoza se alimenta da poeticidade para promover esta experiência leitora; em suas narrativas, o escritor e o leitor são cúmplices na missão de escrita e reescrita das histórias primordiais e transformadoras do mundo. No afã de realização deste intento, o autor promoveu um projeto de escrita coletiva, no qual recebeu histórias de coincidências de várias pessoas e selecionou-as para reescrevê-las e trazer à existência o Diário das coincidências (2016), “trazendo à luz estas histórias duplamente perdidas” (2016, p. 94), obra esta que constitui o corpus de nosso estudo. Para contribuir com esta discussão, recorremos às concepções de Roland Barthes, , Leyla Perrone Moisés, Ezra Pound e Mário Perniola. Partiremos da hipótese de que a arte literária contemporânea se alimenta da poeticidade dos tempos remotos, em que contar histórias significava revelar-se, conhecer-se e reconhecer-se no mundo. Palavras-chave: Carrascoza; Diário das coincidências; poeticidade; leitura.

ALTERNÂNCIA DE FOCALIZAÇÃO E MULTIPLICIDADE DE VOZES EM GRACILIANO RAMOS: DIÁLOGO ENTRE O ROMANCE VIDAS SECAS E O CONTO “UMA VISITA”

Bruna Letícia Pinheiro Carmelin [email protected]

O presente trabalho tem por objetivo evidenciar como se configuram a alternância de focalização e a multiplicidade de vozes no romance Vidas secas (1938), de Graciliano Ramos, e como essas ocorrências podem ser analisadas no conto “Uma visita”, 26 publicado na coletânea Insônia (1947), do mesmo autor. Num primeiro momento, procuraremos introduzir noções teóricas sobre foco narrativo nos termos de Genette (1995), ao denominar focalização zero, focalização externa e focalização interna como formas de representação de determinados pontos de vista no material da narrativa; e nos termos de Friedman (2001), destacando os focos narrador onisciente neutro e onisciência seletiva múltipla. Em seguida, será apresentada breve explanação acerca dos estudos de Bakhtin (2005) sobre polifonia ou multiplicidades de vozes no discurso literário, que consideram as vozes dos personagens não apenas como objetos do discurso do autor, mas sim como a representação de consciências autônomas que constroem um discurso em constante diálogo, no qual uma voz não impera diante das outras. Concluída a conceituação teórica, ilustraremos, brevemente, a distribuição do foco narrativo em Vidas secas e de que maneira essa distribuição contribui para a polifonia do romance, tendo como princípio norteador da leitura o fato de que mais de um personagem atua como focalizador e apresenta a sua visão e percepção dos fatos narrados. Por fim, analisaremos a alternância de focalização no conto “Uma visita”, evidenciando tal alternância de focalização como forma de trazer o episódio narrado a partir da experiência pessoal de cada personagem e como esse procedimento permite que seja assinalada certa multiplicidade de vozes que dialoga com Vidas secas. Palavras-chave: Graciliano Ramos; focalização; voz narrativa.

PROSAS BÁRBARAS, DE EÇA DE QUEIRÓS: BEM MAIS QUE HISTORIAZINHAS ROMÂNTICAS DUM SONHADOR EMOTIVO

Jean Carlos Carniel [email protected]

O escritor português Eça de Queirós (1845-1900) publicou, durante o final da década de 1860, diversos folhetins nos jornais Gazeta de Portugal e Revolução de Setembro, e que depois foram reunidos, postumamente, sob o título de Prosas Bárbaras (1903). Esses primeiros escritos do autor de O crime do Padre Amaro, além de serem pouco explorados pelos manuais de literatura, também acabam sendo rebaixados por grande parte da crítica, pois, são vistos como pertencentes a um período de imaturidade e experiência literárias. Objetiva-se, com esse trabalho, traçar algumas reflexões sobre como a obra Prosas Bárbaras é lida pela crítica literária. Levamos em consideração a importância dessa coletânea na carreira de Eça, buscando ressaltar as suas próprias qualidades. Deste modo, lançamos um olhar valorativo sobre a produção inicial do jovem Eça. As afirmações de Reis e Peixinho (2004) e Grossegesse (2006-2007) são utilizadas para reforçar a valorização das narrativas de Prosas Bárbaras, contrastando- se com as afirmações de críticos que desvalorizam essa obra, como, por exemplo, Ferreira (1971), Saraiva e Lopes (1979), Moisés (1983) e Serrão (1985). Observa-se que essas narrativas são desvalorizadas por grande parte da crítica por se distanciarem do aclamado realismo/naturalismo do autor português, contudo, já se nota nelas a preocupação de Eça com assuntos de teor social. Além disso, ressalta-se o diálogo do escritor português com escritos de autores estrangeiros e uma variedade de gêneros utilizados pelo jovem Eça, fazendo com que esses textos oscilem entre narrativa literária, carta e ensaio. Palavras-chave: Eça de Queirós; Prosas Bárbaras; literatura portuguesa.

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A LITERATURA CONTEMPORÂNEA COMO PALCO DE REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO DIVERSAS

Juliane Chatagnier [email protected]

A contemporaneidade, como é chamada, serve para designar o momento no qual se marca a soberania do fenômeno da globalização, ou mundialização, como prefere Ortiz (1994). Este fenômeno é responsável tanto por mudanças positivas, como o estabelecimento da conexão eficaz entre lugares distantes, quanto por levar a sociedade, ou os indivíduos, a presenciarem mudanças nas redes de configurações sociais. A partir das transformações, surge um sentimento de instabilidade, posto que tudo é modificado velozmente e a qualquer instante. A construção dos indivíduos dá-se, muitas vezes, contraditória, com identidades constituídas por diversas vozes. No que concerne ao gênero, pode-se afirmar que desde os anos 70, este é visto como uma construção social de identidades sexuais e se torna o objeto de estudo também da crítica feminista, abrindo, assim, caminho para a desconstrução do masculino e do feminino. Uma vez que a biologia deixa de ser o destino e, conforme Butler (1990; 2003), o gênero é construto social, objetiva-se, nesta comunicação, verificar como as identidades de gênero masculina, feminina e/ou outras, têm sido apresentadas na literatura contemporânea. Partimos do princípio de que as identidades de gênero sofrem rupturas com os modelos tradicionais e estão deslocadas, devido à grande diversidade de opções oferecidas hoje em dia. Para tanto, serão utilizados romances contemporâneos, brasileiros, norte-americanos e ingleses, datados a partir de 1970, que serão analisados sob a luz da teoria da performatividade de Judith Butler (1990; 2003). Palavras-chave: gênero; performatividade; contemporaneidade; Judith Butler.

A IMAGEM DA RUÍNA COMO PROCEDIMENTO DE APROXIMAÇÃO ENTRE ASSIM NA TERRA (2013), DE LUIZ SÉRGIO METZ, E A TRADIÇÃO LITERÁRIA

Diego Jesus Rosa Codinhoto [email protected]

É objetivo deste trabalho refletir sobre a imagem da ruína presente na obra Assim na terra, de Luiz Sérgio Metz (2013), à luz do conceito de ruína postulado por Corrêa (2006). Elegemos para análise um trecho do romance em questão em que é narrada a entrada do protagonista em um casarão de campanha abandonado prestes a desmoronar. Nesse trecho, o protagonista anota, em sua caderneta, todas as sensações e lembranças provocadas pelos objetos que via na “casa das casas” (METZ, 2013, p. 50), até encontrar determinada arca, que o protagonista supõe ter vindo de lugares longínquos, por via marítima, tendo uma longa história desconhecida. Em relação ao conceito de ruína, Corrêa (2006) esclarece que ele não só deve ser pensado no seu sentido negativo, como algo em decadência ou em destruição, mas também na sua acepção positiva, mais especificamente no sentido arqueológico do termo: as ruínas como objetos ou fragmentos que, ao serem escavados, adquirem um estatuto de fontes históricas de culturas desconhecidas ou já esquecidas. Diante de tal definição teórica sobre o conceito de ruína, esperamos confirmar a hipótese de que, em Assim na terra (METZ, 2013), a imagem da ruína se manifesta em seu duplo caráter: o casarão em ruínas explorado pelo 28 protagonista é a imagem da destruição e degeneração e, ao mesmo tempo, uma fonte de recuperação e regeneração histórica. A imagem do casarão em ruínas e da arca encontrada pelo protagonista representam no trecho destacado um procedimento utilizado em todo o romance, que se desdobra em um diálogo da obra com a tradição literária, inseridas ali por meio do procedimento de intertextualidade. Palavras-chave: Metz; ruína; tradição; intertextualidade.

ENTRE O ESTÉTICO E O IDEOLÓGICO: O LUGAR DA LITERATURA EM 1930

Elisa Domingues Coelho [email protected]

A década de 30 é, certamente, um dos períodos de maior ebulição literária da Literatura Brasileira, a prosa desses anos é tão numerosa que, hoje, é imensurável dizer quantos romances não se perderam na formação do cânone literário que hoje conhecemos e é, por isso, terreno ainda riquíssimo para aqueles que se propõem escavar, nos arquivos, os romances que lá ficaram e não galgaram seu lugar na Historiografia Literária. Essa produção tão vasta é, na verdade, sintomática de um período em que o lugar da nossa literatura, ainda incerto na nossa jovem formação literária, esteve espremido entre a revolução estética de 22 e a polarização ideológica advinda do avanço dos regimes totalitários. Nesse contexto, a literatura se via ora como extensão do embate ideológico da nossa intelectualidade e ora nesse entre-lugar estético-ideológico que compunha a “crise de representação” desse decênio. Esse trabalho não intenta chegar a uma assertiva sobre qual seria esse lugar da literatura de 30, mas discutir justamente esses entre- lugares através da análise das posturas críticas dos dois grandes grupos que cindiram a intelectualidade de então: escritores sociais e intimistas, categorização essa formulada por Lafetá e já muito enraizada na crítica. Para a conceituação de todas essas questões em movimento em 30 e fundamentação da análise, partimos da leitura de Jorge Amado: Romance em tempo de utopia, de Eduardo de Assis Duarte, Uma história do romance de 30, de Luís Gonçales Bueno e Educação pela noite e outros ensaios, de Antonio Candido, uma bibliografia crítica essencial para entendermos o contexto dessa crise do lugar da literatura e – por que não? - de todos que dela se ocupavam. Palavras-chave: romance; década de 30; modernismo; literatura brasileira.

ANÁLISE DAS RELAÇÕES INTERTEXTUAIS ENTRE O CONTO “ADÃO E EVA”, DE MACHADO DE ASSIS, E O “MITO DA CRIAÇÃO”, NA BÍBLIA

Diana Sousa Silva Correa [email protected]

Um dos grandes desafios para o professor de Português, no que se refere ao processo de ensino e aprendizagem dos estudos de linguagem, é desenvolver a competência linguística e discursiva dos educandos. Para isso, as práticas de leitura e produção textual devem se revestir de significação, tendo em vista que essas duas capacidades são indispensáveis para a democratização do acesso à cultura letrada e às formas de socialização mais complexas da vida cidadã. Neste sentido, o presente trabalho consiste numa proposta didática, que parte da Teoria Semiolinguística, de Patrick Charaudeau 29

(2010), por meio da análise das relações intertextuais nas narrativas “Adão e Eva”, de Machado de Assis, e o “Mito da Criação”, plasmado na Bíblia. Considerando o caráter interlocutivo e polifônico do texto, recorremos, também, aos estudos de Bakhtin (1988), que compreende a língua como um processo de interação verbal. O objetivo deste trabalho é, portanto, a clarificação dos aspectos de intersecção (identificação do intertexto) do conto machadiano com a narrativa bíblica. Observamos que esta perspectiva analítica contribui não só para o reconhecimento do diálogo intertextual das narrativas em questão, mas também para a identificação da intencionalidade e da ideologia. Tais aspectos consubstanciam um mecanismo de potencialização das habilidades de leitura e escrita. Palavras-chave: Teoria Semiolinguística; Narrativa; Leitura; Intertextualidade.

NOS LIMITES DA PALAVRA: O ESTATUTO DO SILÊNCIO EM CONTOS DE AUTORIA FEMININA

Loren Lopes Damásio [email protected]

Este projeto de pesquisa propõe o estudo do silêncio na busca da identidade feminina no âmbito de três contos: “Árvore florida”, de Katherine Anne Porter (1890-1980), “Colheita”, de Nélida Piñon (1937-), e “Uma situação temporária”, de Jhumpa Lahiri (1967-). Nesses textos as protagonistas, imersas em duas das experiências humanas mais radicais, devotas do silêncio: o amor e a morte, experimentam certa angústia, que fragilizará suas relações com os demais. Ao valerem-se do silêncio como lugar de exílio, encontram nele um caminho para significar. Partindo da premissa de que o silêncio não representa ausência, mas é, pelo contrário, sentido substantivo, a pesquisa se lança à luz de estudos sobre o tema com Sciacca (1967), Sontag (1987), Steiner (1988) e Orlandi (1993), bem como dos escritos de Paz (1995) e Barthes (2003), por uma configuração do sujeito amoroso. Além disso, para melhor compreensão da relação feminina com a palavra e o silêncio, acreditam-se relevantes as contribuições de gênero elaboradas por Woolf (1990) e Beauvoir (1990), sem se prescindir, claro, da fortuna crítica das autoras que integram o corpus da pesquisa. Propõe-se, desse modo, revisitar o estatuto do silêncio e, por extensão, o da própria palavra, revelando a matéria literária do primeiro e percebê-lo, fugaz que é, apreendido nas linhas de uma escrita imanente. Palavras-chave: Silêncio; contos femininos; identidade feminina.

AS EXPERIÊNCIAS DA LITERATURA AFRICANA DE LÍNGUA PORTUGUESA NA FORMAÇÃO LITERÁRIA DO ALUNO E DO PROFESSOR DAS ESCOLAS TÉCNICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

Michelle Mittelstedt Devides [email protected]

A prática de leitura e a experiência decorrente deste ato são singulares para a formação do leitor, especialmente a do jovem leitor que encontra muitas vezes na escola a inserção de obras literárias em seu repertório de leitura, e também, a do professor, cujo papel é intermediar o caminho da leitura. Dessa forma, configura-se por objeto de estudo as experiências da Literatura Africana de Língua Portuguesa na formação 30 literária do aluno e do professor das Escolas Técnicas do Estado de São Paulo (ETECs), do Centro Paula Souza. O objetivo é analisar como as experiências de leitura literária ocorrem nas séries finais do ensino médio integrado ao técnico, considerando os fatores que influenciam essas experiências, sua plurissignificação e a experiência estética e suas implicações na formação dos leitores, alunos e professores; além de estabelecer um panorama sobre a inserção da literatura africana nas aulas de literatura nas instituições de ensino selecionadas. Este projeto pretende, primeiramente, identificar as concepções de leitura e literatura dos sujeitos envolvidos, bem como os parâmetros utilizados para o desenvolvimento das aulas de literatura, por meio de pesquisa documental e pesquisa de campo, por meio de entrevistas e questionário. Em seguida, será realizada uma análise dos registros de aulas das atividades de leitura do texto literário africano para identificar os procedimentos didáticos e possíveis experiências literárias. O caminho a ser percorrido deve ser pautado nos estudos de Teoria da Literatura de Antonio Candido, Alfredo Bosi, Terry Eagleton e Jonathan Culler, priorizando as contribuições das vertentes da Estética da Recepção, a partir de Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser; e formação do leitor, por meio das contribuições de Roger Chartier, Marisa Lajolo, Regina Zilberman e Paulo Freire; por fim, contemplando questões Pós-Coloniais, a partir de conceitos de Homi Bhabha e Edward Said. Palavras-chave: experiências literárias; formação do leitor; literatura luso-africana.

A RENOVAÇÃO ESTÉTICA EM L'ÉCUME DES JOURS, DE BORIS VIAN

Glenda Verônica Donadio [email protected]

Esta pesquisa de mestrado busca demonstrar as características da estética surrealista presentes na obra L’Écume des Jours (1947), de autoria de Boris Vian, além da presença do hibridismo de gêneros, pois pode-se considerá-la uma narrativa poética de acordo, sobretudo, com os trabalhos de Tadié (1994), Bradbury (1999), Lima (1995) e Moisés (2012). Ademais, visto o ano de publicação da obra, será realizada uma contextualização a respeito da produção literária do período do pós-guerra – a partir de 1945 – colocando em evidência as principais alterações estéticas ocorridas nesta época, de acordo com os pressupostos teóricos de Bersani (1970). Dessa forma, a obra prima de Vian será inserida neste contexto por meio da demonstração de sua relevância para a renovação de conceitos vigentes no âmbito literário como o Amor, a Liberdade, a Poesia e o humor, bem como seu papel na elaboração de uma crítica social – à religião, às amarras sociais, à recusa ao amor, ao erotismo, à figura da mulher, entre outros. Ainda, em conjunto com a demonstração referida acima, ressaltar-se-á a importância do trabalho com a linguagem realizado pelo autor, responsável pela elaboração da narrativa poética com fins à criação e à liberação da imagem surrealista, sem as quais nenhum dos aspectos anteriores seria exequível. Palavras-chave: Boris Vian; Narrativa poética; Surrealismo.

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EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO PARA CRIANÇAS: O PAPEL DA ILUSTRAÇÃO NA PRODUÇÃO DE SENTIDO EM LE FANTÔME DU PETIT MARCEL DE ÉLYANE DEZON-JONES E STÉPHANE HEUET

Karina Espúrio [email protected]

Pensando na relevância da imagem em um livro ilustrado, seria ela capaz de introduzir no mundo infantil uma obra feita essencialmente para adultos? É isso que se propõe a fazer Élyane Dezon-Jones e o ilustrador Stéphane Heuet em Le Fantôme du Petit Marcel [O fantasma do pequeno Marcel, tradução minha]. O livro foi publicado na França em 2014 e ainda não tem tradução para o português. A obra parece ser uma tentativa de apresentar o romance No Caminho de Swann (2006), primeiro volume de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, às crianças. O objetivo desta comunicação é problematizar o papel da ilustração na produção de sentido dessa obra e analisar como passagens do livro de Proust são adaptadas para serem compreendidas pelo público infantil. Para tal, serão utilizadas obras de Perry Nodelman (1988), Joseph Hillis Miller (1992), Stephen C. Behrendt (1997), Nikolajeva e Scott (2011) e Van der Linder (2011), que nos ajudam a definir o papel das imagens em livros ilustrados. Também se faz necessária a análise do posicionamento espacial de cada imagem no livro, bem como sua conexão com o texto no qual ela se baseia. Dessa forma, a hipótese a ser discutida é se tais ilustrações conseguem ou não mostrar de forma pictórica um acontecimento criado pela autora do livro ou uma passagem do livro de Proust recriada para o público infantil. Palavras-chave: Marcel Proust; Adaptação; Imagem; Livro ilustrado.

AUTONOMIA E INTROSPECÇÃO NARRATIVA EM LA FIN DE LA NUIT DE FRANÇOIS MAURIAC

Carla Alexandra Ezarqui [email protected]

A evolução do romance no século XX foi resultado de um tratamento diferenciado de aspectos estruturais como o tempo e a voz. François Mauriac (1885-1970), cuja produção literária está situada, predominantemente, na primeira metade deste mesmo século, imprimiu em obras como La fin de la nuit o seu legado quanto à experimentação da forma narrativa, ainda que sempre tenha prezado pelo resguardo da ordem e da clareza do romance tradicional francês. O romance em questão é permeado pela imprecisão. No plano do conteúdo, o enredo é marcado pela indeterminação da culpa da personagem protagonista Thérèse, tomada como uma criminosa em potencial. No plano da forma, verifica-se a exploração de diferentes pontos de vista que se alternam, por meio de um narrador onisciente, que vacila entre focalizações distintas, sugerindo uma certa impossibilidade de posicionar, de modo definitivo, a voz que fala com e para os fatos à medida que os narra. Sartre (1947), em seu ensaio “M. Mauriac et la liberte”, critica essa oscilação narrativa, afirmando não se sustentar a posição ambígua do narrador, ora cúmplice, ora testemunha da personagem, salientando, ainda, que o romancista dispõe de um “olhar privilegiado”. Sendo assim, a partir da reflexão dos limites desse olhar e da pertinência de se pensar em privilégios no âmbito da criação artística, este trabalho tem como objetivo analisar em que medida o narrador onisciente 32 tem sua autonomia comprometida pelo espaço cedido à consciência da personagem Thérèse, sobretudo, e como esse processo interfere em sua liberdade no desenrolar dos acontecimentos. Palavras-chave: François Mauriac; La fin de la nuit; Narrador; Focalização.

DENÚNCIA EM CONVERSAZIONE IN SICILIA: O CAMINHAR FÍSICO E MEMORIALÍSTICO DE SILVESTRO FERRAUTO POR TERRAS SICILIANAS.

Patricia Aparecida Gonçalves de Faria [email protected]

O escritor, editor e tradutor italiano Elio Vittorini (1908-1966) compôs obras ilustrando aspectos da sociedade italiana, como a violência do mondo offeso (mundo em crise), a dor causada pelo genere umano perduto (gênero humano perdido) e os seus reflexos na condição miserável imposta ao povo. Em sua obra mais conhecida Conversazione in Sicilia (Conversa na Sicília) (1941), nosso objeto de estudo nesta comunicação, iremos verificar como o autor utiliza a arte como representação literária para mostrar aos leitores as mazelas e as dificuldades enfrentadas pelos sicilianos na primeira metade do século XX. É, portanto, a partir da construção individual da personagem Silvestro Ferrauto e de todos aqueles que cruzam o seu caminho físico ou memorialístico em Conversazione in Sicilia que o autor ilustra o abandono, a miséria e o sofrimento do homem italiano. Assim, “Denúncia em Conversazione in Sicilia: o caminhar físico e memorialístico de Silvestro Ferrauto por terras sicilianas” pretende analisar como o processo cíclico do deslocar-se do norte italiano, mais precisamente Milão até a aldeia siciliana em Siracusa serviu de alicerce para o literato ilustrar a relação do sujeito com o sul agrícola da península itálica, marcado pelo modo de vida simples de uma população em um espaço árido e subdesenvolvido, e que se julga esquecida, massacrada, incapaz de questionar e mudar as práticas adotadas pelo seu opressor. Palavras-chave: Literatura italiana; Conversazione in Sicilia; Elio Vittorini; denúncia.

UMA REFLEXÃO SOBRE O TRABALHO FEMININO NA ERA INDUSTRIAL EM MARY BARTON, DE ELIZABETH GASKELL

Daiane de Cássia Martins Fazan [email protected]

Neste trabalho, objetivamos analisar o romance Mary Barton (1848), da escritora vitoriana Elizabeth Gaskell (1810-1865) no que diz respeito a representação do trabalho feminino e aos lugares que eram ocupados pelas mulheres no auge da industrialização. Assim, refletiremos sobre as personagens secundárias da narrativa no intuito de investigar como as arbitrariedades (realizadas, muitas vezes, pelo patronato) eram atravessadas por elas, a saber: os ambientes insalubres nas fábricas, as doenças que acometiam-nas, a diferença salarial e as válvulas de escape para as dificuldades, como a fé, a prostituição e o casamento arranjado. Tal reflexão se desdobrará na heroína dos romance, uma vez que a personagem principal tem papel ativo na mudança de vida das personagens secundárias e, desse modo, analisaremos quais ações são tomadas por ela no que se refere à militância política e social e como esta a constrói e reconstrói 33 literariamente em caráter e personalidade. Para isso, trabalharemos com as ponderações de Brown (2000), que discutem o progresso e o declínio das mulheres no século XIX. Além disso, fundamentamo-nos em Dosky (2014) e Fyfe (2010) para tratar dos problemas sociais e a resolução destes nas narrativas de Gaskell. Voltamo-nos para as análises históricas de Engels (1987), em A condição da classe trabalhadora na Inglaterra, e Thompsom (1988), em A formação da classe operária inglesa. Os romances de Gaskell são bastante densos e evocam questões que não foram resolvidas completamente até os dias atuais, como a desigualdade trabalhista, principalmente, com relação às mulheres; dessa forma, nossa análise desenvolve-se sob a seguinte problemática: em que medida o trabalho nas fábricas dignifica e condena as mulheres do romance citado? Palavras-chave: Elizabeth Gaskell; Mary Barton; Revolução Industrial; Romance Inglês.

A NUDEZ SOCIAL EM FANNY HILL: REFLETINDO SOBRE O RETRATO DA HEROÍNA BURGUESA NO ROMANCE DE JOHN CLELAND

Gabriela Fardin Fernandes [email protected]

A comunicação apresenta a obra inglesa Fanny Hill, or Memoirs of a Woman of Pleasure (CLELAND, 1748-9) ao público ouvinte, e pretende promover, com base em trechos do livro, uma reflexão sobre a relação entre a personagem principal, Fanny Hill, versus a realidade cotidiana da vida burguesa. Para tanto, realizaremos a análise do desenvolvimento da personagem ao longo do romance até o momento em que ela alcança seu lugar como burguesa na sociedade e, consequentemente, passa a ser considerada “uma mulher de respeito”. O suporte teórico no qual a comunicação será baseada é formado pelos trabalhos que tiveram como foco a discussão sobre a presença dos costumes burgueses no romance de Cleland (WAGNER, 1997), a complexidade das reflexões feitas pela personagem principal sobre sua vida como uma jovem prostituta (JUENGEL, 2009) e a questão do determinismo social do herói romântico (LUKÁCS, 2009). Fanny Hill parece-nos se tratar de um romance pornográfico tanto pelas aventuras sexuais nele narradas quanto pelas críticas à sociedade burguesa que aparecem infiltradas em questões abordadas no livro. O leitor de classe média escandalizado pelas cenas de sexo teria deixado passar batido às críticas sobre a hipocrisia da sociedade burguesa? Não podemos afirmar que sim, pois não há uma maneira de mensurar a recepção dos leitores da época para essa questão específica, o que sabemos, pelos estudos já citados neste trabalho, é que há muito para ser discutido sobre essa “verdade nua e crua”, nas palavras de Fanny Hill, sobre a sociedade da época, o que pretendemos refletir durante a comunicação. Palavras-chave: Literatura Inglesa; Romance; John Cleland; Fanny Hill.

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AUTORES LATINOS NOS ESTADOS UNIDOS: MARCAS DE DIVERSIDADE E RESISTÊNCIA

Giséle Manganelli Fernandes [email protected]

Sem dúvida nenhuma, os Latinos têm um respeitável papel na vida cultural da sociedade nos Estados Unidos. A publicação da obra The Norton Anthology of Latino Literature, em 2011, marca a importância desta produção em termos literários, musicais e de caricaturas e quadrinhos. Este trabalho focalizará produções de Demetria Martínez, Julia Alvarez, Martín Espada e dos cartunistas The Hernandez Brothers e Lalo López Alcaraz com o objetivo de examinar como esses autores abordam questões relativas à história de seus ancestrais e à luta de resistência dos imigrantes Latinos e de seus descendentes nos Estados Unidos, enfrentando as mais diversas formas de preconceito. Os textos apresentam problemas concernentes à busca deste grupo por sua identidade, além de tratarem da problemática imigração e do temor da Border Patrol. Os procedimentos estéticos empregados pelos artistas revelam o desejo da transposição de fronteiras, sejam elas sociais ou linguísticas. Especificamente no âmbito da força de trabalho deste grupo nos Estados Unidos, Martín Espada faz uma homenagem aos trabalhadores Latinos que morreram no World Trade Center quando houve os ataques terroristas em 11 de setembro de 2001. Textos teóricos de Alberto Moreiras (2001), Hugo Achugar (2006), José Luiz Saldívar (1997) serão utilizados na discussão dos tópicos examinados no presente estudo. Palavras-Chave: Latinos nos Estados Unidos; Identidade; Fronteiras; Bilinguismo.

ENTRE A SOLIDÃO E A MELANCOLIA: UM ESTUDO DA PERSONAGEM DODÔTE, DE REPOUSO, DE CORNÉLIO PENNA

Renata de Paula Ferreira [email protected]

Ao estudar a personagem Dodôte, de Repouso (1948), é necessário levar em conta dois fatores: a solidão e a melancolia. Dodôte é uma personagem solitária e melancólica que, por ter sérios problemas de convívio social, vive mergulhada em seu mundo interior, em completo divórcio com a realidade exterior em apatia constante como reforça Marie- Claude Lambotte (2000). Cingida pela prisão feita em si mesma, Dodôte possui grande dificuldade de integrar-se ou comunicar-se com os outros, isso reforçado pelo olhar do melancólico perante o mundo que é bastante díspar em relação ao das outras pessoas, assim como sua relação com o mundo. Sua auto imagem melancólica pode ser elucidada pelo que Sigmund Freud, em sua obra Luto e melancolia, classificou com base nos seus estudos voltados ao superego. Cornélio Pena, ao tratar dos sofrimentos íntimos de suas personagens, dos “sofrimentos da alma”, não apresenta preocupação em explicitar ao leitor a sequência de acontecimentos ou dos pensamentos das mesmas. São lacunas textuais que causam mistérios que ficarão em aberto diante de uma textura densa vinda da complexidade de sua personagem. O autor tinha inclinações por temas que tratavam de questões existenciais, intimistas, favorecendo uma narrativa de caráter psicológico, o que ajuda a esclarecer seu afastamento do grande público, acostumado com enredos tradicionais e lineares. Palavras-chave: Romance; Repouso; Dodôte; Personagem. 35

ARTISTAS E BURGUESES, CENÁCULO E JORNALISMO: O ESCRITOR EM ILUSÕES PERDIDAS

Melissa Raquel Zanetti Franchi [email protected]

O início do século XIX ocasionou uma transformação no “estatuto do escritor” (BÉNICHOU, 1973), que deixou de receber o patronato real e passou a lidar diretamente com o mercado literário que então tomava corpo (BOURDIEU, 1996). O movimento romântico atribuiu ao escritor, conforme Bénichou (1973), um papel de ordem espiritual, em substituição à religião que vinha sendo posta em cheque desde o fim do Século das Luzes. Para compreender essa “consagração”, mobilizamos a noção de gênio e a lógica do “qui-perd-gagne” (BRISSETTE, 2008), enquanto inspiração criativa que, por um lado, possibilita uma visão única e holística do mundo, e, por outro, leva à incompreensão, isolamento e melancolia do indivíduo, tornando-se um fardo. A obra Ilusões Perdidas (1837-1843), de Balzac, representa de maneira primorosa esse momento de transição através do retrato de dois tipos de literatos: um, contemplado pelos escritores do Cenáculo, geniais e preocupados com sua missão social; outro, o jornalista, ligado ao capitalismo e ao tráfico de influências. Esse contraste traz à tona a conturbada relação entre burgueses e artistas – os últimos buscando, a todo custo, distinguir-se dos primeiros, principalmente no que tange a seu vínculo com o capital e o trabalho, originando um modo de vida típico da classe artística, conhecido posteriormente como boemia (BOURDIEU, 1996). O objetivo do nosso trabalho é analisar essas representações à luz das reorganizações sociais pelas quais a França passava durante a Restauração (período em que se desenrola o enredo balzaquiano), bem como investigar as relações entre literatura e jornalismo (THÉRENTY, 2007), problematizando as oposições estanques sobre as quais Ilusões Perdidas se constrói. Com o intuito de complementar nosso estudo da figura do escritor, a pesquisa se vale também da análise acessória de outras obras de Balzac que contemplem o tema e de periódicos que tratem da recepção e crítica do romance. Palavras-chave: Balzac; gênio; boemia.

O FANTÁSTICO NA LITERATURA: A MANIFESTAÇÃO DO FANTÁSTICO TRADICIONAL NO SÉCULO XX

Amanda da Silveira Assenza Fratucci [email protected]

A literatura fantástica produzida no século XIX (fantástico tradicional) foi alvo de várias tentativas de definição. Sobre o fantástico no século XX e na contemporaneidade, no entanto, não há a mesma variedade de estudos críticos. O que temos nos dias atuais é uma série de estudos desencontrados a respeito dessa manifestação. Alguns autores afirmam que há atualmente um neofantástico, principalmente nas literaturas de língua espanhola; outros tratam o Realismo Mágico ou Maravilhoso como manifestação fantástica na atualidade. Para Todorov, por exemplo, o fantástico teve uma vida relativamente breve: o crítico afirma que ele apareceu no fim do século XVIII com Cazotte e evoluiu durante o século XIX culminando nos contos de Maupassant, que seriam os últimos representantes satisfatórios do gênero. Assim, o que se objetiva neste estudo é mostrar que o fantástico tradicional do século XIX ainda tem, ao longo do 36 século XX e até os dias atuais, uma permanência na literatura, trazendo a hesitação como principal aspecto. Para isso, partiremos da leitura, interpretação e análise dos textos ficcionais selecionados, de autoria de Claude Seignolle, escritor contemporâneo, verificando e buscando compreender como se dá a presença do fantástico tradicional nas obras do autor. Além disso, buscaremos compreender quais são as características que diferenciam esse fantástico tradicional aplicado à literatura dos séculos XX e XXI do neofantástico definido por Sartre, Alazraki ou Bessière. Palavras-chave: Literatura fantástica; Literatura do século XX; Claude Seignolle.

FORA DA FICÇÃO: POSICIONAMENTOS E ATITUDES PESSOAIS E ESTÉTICAS DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE DIANTE DE SEUS CONTEMPORÂNEOS

Márcio Freire [email protected]

Tudo em Carlos Drummond de Andrade interessa, tem valor, diz algo. Drummond é refratário à classificação de poeta crítico, que foi, de maneira definitiva, atrelada à figura dos grandes poetas do século XX. Dado o lugar que Drummond ocupa na literatura brasileira do século, a nota ganha destaque e assinala um paradoxo, que não deixa de ser significativo e encerra numerosas especulações. Descrito como tímido e preso a amizades mineiras de longa data, políticas e artísticas, muitas vezes era na crônica, gênero propício ao assunto mesclado, próximo a conversa informal, que o poeta se abria e falava abertamente sobre seus contemporâneos, amigos e companheiros de atividade literária, próximos e distantes, sem fazer a distinção entre o pessoal, o artístico e o intelectual. Distante da atividade crítica ou filosófica, do ensaio militante, à maneira de Mário de Andrade e Oswald de Andrade, Drummond escreveu muitos textos em prosa, tendo como interesse seus contemporâneos: necrológios, epicédios, perfis literários, notas breves, traços de memórias publicados na imprensa brasileira. Partindo da análise e interpretação do uso que o poeta fez dessas formas literárias breves, publicadas em jornais e posteriormente coligidas em livros como Fala amendoeira, O observador no escritório, Tempo vida poesia, Discurso de primavera e algumas sombras etc., buscaremos entender como, fora da ficção, nesses textos, o poeta se manifesta sobre seus contemporâneos a partir de inserções críticas repletas de elogios, exaltações, restrições, avaliações e julgamentos por vezes ambíguos, duros e até contundentes, que expõem seus gostos, suas opções literárias e muitas de suas posições pessoais e críticas. Palavras-chave: Carlos Drummond de Andrade; Oswald de Andrade; crítica; perfil literário.

ENTRE O TRAUMA E A INCERTEZA: A NARRATIVA DA MEMÓRIA EM DIÁRIO DA QUEDA E O SOL SE PÕE EM SÃO PAULO

Gisele Novaes Frighetto [email protected]

É possível narrar integralmente a memória na literatura brasileira do tempo presente? Debruça-se sobre essa questão a análise de dois romances brasileiros contemporâneos, 37

O Sol se põe em São Paulo (2007), de Bernardo Carvalho, e Diário da queda (2011), de Michel Laub. Ambos são narrados em primeira pessoa, tematizam histórias de imigrantes e representam atualizações e permanências nos modos de narrar do pós- modernismo. Este último é pensado enquanto tendência cultural contraditória (JAMESON, 2007) caracterizada pela “presença do passado” (HUTCHEON, 2004) na retomada paródica da tradição literária. A narrativa da memória como rastro (RICOUEUR, 2007; GAGNEBIN, 2009) permanece, é transformada pela desintegração da experiência (BENJAMIN, 1994) que, no narrador pós-moderno, torna-se impossibilidade de contar uma vivência autêntica ou integral (ADORNO, 2012). Assim, analisamos como se dá a memória da incerteza no romance de Bernardo Carvalho, para a qual cumprem papel importante a estrutura em mise en abyme e o narrador- testemunha. E investigamos a memória do trauma (SCHØLLHAMMER, 2013) no romance de Michel Laub, no qual a catástrofe coletiva de Auschwitz é o eixo temático que aproxima memória coletiva e memória individual, passado e presente, em um enredo caracterizado pela fragmentação. Desse modo, contribuímos para uma reflexão mais abrangente, que diz respeito aos modos de representação possíveis em romances brasileiros pós-modernos. Palavras-chave: Romance brasileiro; Pós-modernismo; Memória.

AS EXPERIMENTAÇÕES TECNOLÓGICAS E A FORMAÇÃO IDENTITÁRIA DAS PERSONAGENS DE ZERO K

Maura Cristina Frigo [email protected]

O presente trabalho trata da análise da formação identitária das personagens da obra Zero K, publicada em 2016 pelo autor norte-americano Don DeLillo. O intuito é verificar como as experimentações tecnológicas que permeiam a narrativa e que estão presentes no cotidiano das personagens influenciam seu comportamento e a formação de suas identidades. Tem-se retratada uma época marcada pelo uso da tecnologia a serviço de uma sociedade que busca a preservação da vida, denotando a evolução do ser humano atrelada aos avanços tecnológicos. E assim é possível ver que o sujeito pós- moderno se diferencia do sujeito do Iluminismo em termos identitários, isto é, a identidade fixa e estável foi descentrada, resultando em identidades abertas, contraditórias, inacabadas e fragmentadas deste sujeito. Este vive em um universo imagético, repleto de signos e ícones. São cenas do mundo pós-moderno retratadas por Don DeLillo e estudadas por teóricos como Fredric Jameson (capitalismo tardio), Baudrillard (simulacro), Terry Eagleton (pós-moderno), Stuart Hall (descentramento do sujeito), Linda Hutcheon (discurso, poder e ideologia) e Zygmunt Bauman (modernidade líquida), Haraway (tecnologia), entre outros. Esta pesquisa evidencia a maneira como a literatura permite representar, reler e reavaliar as identidades e linguagens do sujeito nas comunidades do mundo pós-moderno retratadas na obra em foco. Palavras-chave: Experimentações tecnológicas; Formação identitária; Personagens; Zero K.

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A TEATRALIDADE E A LITERATURA CONTEMPORÂNEA

Leila Bianca Mélega Gallo [email protected]

Essa comunicação tem como objetivo traçar um elo entre os conceitos de teatralidade e literatura, analisando que a literatura pressupõe uma forma de teatralidade cênica, pois esse conceito permite a articulação entre o que é e o que não é teatro. Ou seja, a teatralidade cênica separa a encenação da obra dramática e faz com que se estenda para todo o tipo de texto, mantendo um elo frágil entre texto e encenação, possibilitando afirmar que o conceito de teatralidade é operacional, pois, ao se transpor para a cena o literário, tem como função estar presente e criar situações de linguagem, e não apenas simbolizar cenicamente. Um conto, uma crônica, um poema, podem sim ter o poder, ou melhor, o desejo de virem a ser teatral. Não são gêneros discursivos considerados teatrais, mas percebe-se que neles pode repousar uma teatralidade, ou seja, pode-se inserir essa relação de “jogo cênico” a partir ou por intermédio de seu texto. O trabalho traz conceitos levantados por Silvia Fernandes, Jean-Pierre Sarrazac, Roland Barthes e Josette Féral, que ajudam a concluir que texto e teatro são indissociáveis e que essa união deve ser valorizada de forma a garantir para o texto a sua teatralidade, pois ela deve estar presente em tudo que envolve o teatral desde o texto, chave para a encenação, até o ato cênico. Palavras-chave: Literatura; Teatralidade; Jogo Cênico.

UM INDIVÍDUO PROBLEMÁTICO NO GRANDE SERTÃO: A CONSCIÊNCIA INFELIZ DE RIOBALDO TATARANA

Ana Paula Garcia [email protected]

O presente trabalho tem como objetivo construir um olhar para o perfil e para as reflexões de Riobaldo, protagonista da obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, a partir da compreensão da figura do indivíduo problemático lukácsiano. Jagunço de linguagem simples e modos às vezes rudes, o personagem revela pensamentos complexos e muita sensibilidade na percepção do mundo e do ser humano, aspectos que acabam por determinar a natureza de suas relações. Desse modo, a maneira como problematiza a realidade que o cerca, a profundidade de sua consciência e a consequente solidão em que se encerra o aproximam do perfil do herói moderno traçado por Georg Lukács em sua obra A teoria do romance, principalmente no que se refere ao seu caráter questionador e à forma como a incompletude e a fragmentação que descobre na modernidade o afetam. Suas angústias e preocupações ficam ainda mais nítidas quando colocadas em paralelo com o modo espontâneo, prático e, mesmo assim, sensível com que seu grande companheiro Diadorim encara a vida. Assim, pretende-se mostrar que o despojamento do sertanejo esconde, na verdade, um refinamento reflexivo e uma psicologia demoníaca característicos de personagens modernos aparentemente muito distintos de Riobaldo, como Raskolnikov, do romance Crime e Castigo, de Dostoiévski, ou Des Esseintes de Às avessas, de Huysmans, por exemplo. Palavras-chave: romance moderno; indivíduo problemático; consciência infeliz; Riobaldo.

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AMOR: DEGRAUS DE UMA ESCADA ESPIRALADA QUE LEVA À TRANSCENDÊNCIA

Priscila da Silva Garcia [email protected]

A obra O amor natural (1992), de Drummond, veio para nos mostrar sua face pouco conhecida. Os seus poemas erótico-pornográficos reunidos nesta obra mostram influências de Platão até Camões e, em cada página, somos apresentados a uma nova forma de Amar, porém, todas elas declaradas pelo poeta como naturais. Quem abrir o livro se deparará com o Amor – a “palavra essencial” – apresentando-se como anfitrião e sentado na sala de estar da casa erótico-pornográfica do itabirano. Ele (o Amor) reunirá desejo e alma para recepcionar o leitor, mas na pressa de chegar logo aos quartos, unidos e sob a figura dos deuses mitológicos Afrodite, Eros e Psique, eles percorrerão os cômodos da casa segurando o visitante pela mão e, em cada verso, analisarão o Amor pelo próprio Amor, sem deixar de amar e de também desejar. Veremos do envolvimento ao entrelaçamento dos corpos, este discutido em O Banquete (2011) e relembrado na obra, tentativa de voltar a perfeição humana. Deuses e mortais se encontrarão no mesmo nível – ou na mesma cama – e ambos vão sofrer e até morrer de amor. Bataille (2011) nos dará melhor essa visão de sofrimento e morte que acontece na cama e no poema drummondiano. O toque e os beijos aumentarão e seguirá até a penetração, mas veremos que o movimento descensional do poeta está localizado na escada de Frye (2004), portanto, será invertido e o movimento de ascensão atingirá o gozo, também a transcenderia. Numa análise atenta do poema “Amor – pois que é palavra essencial”, estaremos apenas à porta da obra, mas mais próximos de conhecermos a casa erótico-pornográfica de O amor natural. Palavras-chave: Amor; Eros; transcendência.

A REVITALIZAÇÃO DO NARRAR NO MUNDO AUTOMATIZADO NA OBRA DE ALESSANDRO BARICCO

Pedro Henrique Pereira Graziano [email protected]

O objetivo deste trabalho é demonstrar, tendo como base romances do autor contemporâneo italiano Alessandro Baricco, Castelli di rabbia e Oceano mare, como o autor é capaz de operar uma revitalização da arte de narrar em uma sociedade automatizada na qual a faculdade de narrar vem sendo progressivamente negligenciada, de modo que se encontra em vias de extinção. O trabalho explicitará como se dá a automatização do fazer artístico na sociedade que segue as grandes guerras, na modernidade, chegando até os dias atuais, levando em consideração o que estabelecem autores como Benjamin e Adorno, abordando uma perspectiva crítica da sociedade do século XX, passando por aquilo que estabelece Leyla Perrone-Moisés na obra Mutações da literatura do século XXI, discutindo o fazer literário nos dias atuais. Será feita uma ligação entre as mutações sofridas pela arte de narrar desde o período inicial levado em consideração, o século XX, levando em consideração suas problemáticas, como as Grandes Guerras e os movimentos de urbanização, juntamente com os aprofundamentos destas mutações com o avanço tecnológico e o aprofundamento das técnicas de 40 reprodução artística do século XXI. A partir do estabelecimento deste paradigma crítico-teórico, serão analisados aspectos do romance que corroboram para a compreensão daquilo que é discutido por cada um dos autores citados. Desta forma, espera-se esclarecer como o autor posiciona o narrar como protagonista quando se fala de reumanizar a arte e transformá-la em um elemento de resistência durante um período que o próprio romancista, Alessandro Baricco, denomina um tempo de barbárie. Palavras-chave: Alessandro Baricco; Mutação; Benjamin; Narrador.

PARA UN BARROCO SIN NOMBRE: EM TORNO A

Amanda Fanny Guethi [email protected]

Desde de pelo menos a década de 1960, a obra ficcional do escritor uruguaio Juan Carlos Onetti (1909-1994) vem sendo lida, por uma parcela da crítica especializada, a partir de uma curiosa – senão sintomática para algumas produções literárias do século XX – dicotomia: ora barroca, ora não barroca, entendidas ambas as posições como positivas a depender do objetivo da apreciação crítica e da concepção a respeito do literário que sustenta tais posturas. Isso se percebe, por um lado, no significativo número de textos críticos que aproximam a literatura de Onetti do barroco, e, por outro, no estabelecimento de um conjunto de elementos que especifica o estilo onettiano, mas que funciona tanto para afirmá-lo como tipicamente barroco – e exaltá-lo por isso –, como para negá-lo – o que, também, lhe rende elogios. Este trabalho tem por objetivo, assim, apresentar brevemente o referido panorama das relações entre a crítica do barroco como chave de leitura para a produção literária de Onetti, esboçando i) algumas implicações de certos estigmas promovidos por análises canônicas, como, por exemplo, a cristalização de uma imagem de autor e de sua obra; ii) alguns pontos de possível convergência entre as antagônicas posições acerca da filiação barroca da obra de Onetti, com o intento de iii) propor uma espécie de saída plausível para a questão, levando em conta que o próprio Onetti nunca se autodenominou barroco, sem com isso dar a discussão por encerrada. Palavras-chave: Literatura hispano-americana; Juan Carlos Onetti; barroco.

CONTINUAÇÃO DE ALCÁCER QUIBIR: O QUESTIONAMENTO DO MITO PORTUGUÊS EM DOIS POEMAS DE MANUEL ALEGRE

Rachel Hoffmann [email protected]

Este trabalho tem como objetivo analisar dois poemas do autor português Manuel Alegre. Um desses poemas, chamado “A batalha de Alcácer Quibir”, retoma o conflito que marcou a morte do rei D. Sebastião, o que significou, para Portugal, uma nova anexação à Espanha. O segundo, intitulado “As colunas partiam de madrugada”, evoca uma batalha ocorrida entre Portugal e Angola, na luta dessa última nação por sua própria independência. A presença da figura de D. Sebastião, na sua tentativa de conquista de novos territórios africanos, opera uma intertextualidade com o evento histórico ao mesmo tempo em que marca um posicionamento crítico frente a transformação da personagem em um mito. Por outro lado, a utilização de 41 procedimentos semelhantes aos do poema “A batalha de Alcácer Quibir” no texto “As colunas partiam de madrugada” sugere o fracasso advindo da posição portuguesa nos dois conflitos bélicos evocados, os quais são aproximados, entre outros aspectos, pelo modo de construção dos dois textos. Para analisarmos os dois poemas, utilizaremos os apontamentos de Linda Hutcheon (1989, 2000) sobre a ironia e a paródia. Paralelamente, observaremos como a adoção desses recursos permite o questionamento em torno dos mitos que forjaram a identidade portuguesa. Nesse sentido, usaremos o conceito de mito, desenvolvido por Barthes (1972), bem como as reflexões de Eduardo Lourenço (1988, 1999) sobre a identidade portuguesa. Palavras-chave: Manuel Alegre; mito; identidade portuguesa; paródia.

AS FRONTEIRAS DO CAPÃO: A VEZ E A VOZ DO OUTRO EM CAPÃO PECADO

Amanda Cristyne Hrycyna [email protected]

A periferia e seus habitantes como personagens de destaque são lançados na literatura brasileira contemporânea pelo que é produzida nela e por eles. Ou seja, a região periférica é construída literariamente para narrar a vida de seus moradores. De grande importância, essa produção merece destaque por oferecer a oportunidade de produzir discursos e moldar um sistema literário do qual fazem parte negros, homossexuais, presidiários, mulheres, entre outros grupos que produzem arte na marginalidade. O primeiro romance e segundo livro do escritor paulista Ferréz foi lançado no ano de 2000 e se intitula Capão Pecado. A obra tem como fio narrativo o enredo de vida de Rael, um jovem morador da zona sul de São Paulo, do Capão Redondo, geograficamente denominado de hiperperiferia. O escritor é responsável, a partir dessa publicação, pela exposição de autores advindos de locais gravados pela miséria e pela criminalidade. O resultado do romance de Ferréz vai muito além da exibição dos problemas sociais do local de onde e para onde fala. É uma narrativa de pobreza, de violência, de descaso de ordem pública em relação à periferia. Mas é também uma narrativa de coletividade, de confraternização de vozes, de civilização da periferia. Com essa afirmação, nas palavras do próprio escritor, a Literatura Marginal seria uma literatura feita por minorias, sejam elas raciais ou socioeconômicas. Literatura que, como pode ser deduzida de seu nome, é feita à margem dos grandes núcleos do saber e da grande cultura, ou seja, afastada do grande poder aquisitivo. Palavras-chave: Literatura Marginal; Representatividade; Periferia.

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O LUGAR DA LITERATURA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Reginaldo Inocenti [email protected]

O presente estudo busca compreender, no contexto histórico atual, o lugar ocupado pela literatura na Educação Básica. Atualmente, quando pensamos na recepção do texto literário, estamos falando de uma série de estruturas interconectadas que possibilitam a construção de múltiplos sentidos a depender do arcabouço cultural disponibilizado aos leitores. Entretanto, por muito tempo, o texto literário ficou recluso a um panteão inacessível à maioria dos mortais, pois sua importância recaía menos na intencionalidade textual e mais nos elementos que lhe davam forma. Sacralizada por críticos renomados, a literatura deveria ser dissecada para revelar em suas entranhas os procedimentos usados pelo autor para a “construção” do texto. Todavia, esse árduo trabalho, fortemente explorado pela academia, passava despercebido pelos leitores “leigos”, os quais, interessados no deleite proporcionado pelo texto, se prendiam mais atentamente ao sentido desencadeado pela leitura. Porém, mesmo não conhecendo os meandros da análise formal, esses leitores necessitam de uma série de outros conhecimentos para inferir um sentido textual. De acordo com Iser (1996), o texto literário se caracteriza por possuir vazios os quais permitem ao leitor penetrá-lo com representações próprias do mundo e, a partir daí, dialogar com sua intencionalidade. Evidentemente, ao condicionar a leitura ao “preenchimento” dos vazios, devemos considerar um leitor com representações sobre o mundo que se “encaixam” nesses espaços. Ao entrevistar, em nosso mestrado, alunos da educação básica, pudemos concluir que o lugar ocupado pela literatura na escola básica é trifronteiriço, ou seja, ora o aluno se ocupa em dissecar o texto para compreender como se organiza seus elementos internos, ora lê buscando responder perguntas terceirizadas do material didático, ora, por não possuir representações sobre o mundo que deem conta do texto, o lê sem compreendê-lo. Nos três casos, percebe-se a ausência da literatura no sentido de apropriação, pelo próprio leitor, do mundo contido no texto. Palavras-chave: Representações; leitor; literatura; educação básica.

ADAPTAÇÕES DE DONA CAROCHINHA REALIZADAS POR FIGUEIREDO PIMENTEL E ANA MARIA MACHADO

Jesyka Leticia Lemos Jaqueta [email protected]

Em 1879, o português Adolfo Coelho publicou a compilação Contos Populares Portugueses, na qual apresentou dezenas de histórias provindas da tradição oral de seu país. Como conto de abertura estava a “História da Carochinha”, uma baratinha que, tendo encontrado alguns vinténs, decidiu procurar um marido para se casar, mas o marido escolhido acabou caindo num caldeirão com feijão fervente e faleceu antes das bodas. Poucos anos depois, Figueiredo Pimentel publicou uma versão abrasileirada da história em seu primeiro livro para crianças, intitulado Contos da Carochinha, também uma compilação de contos populares. Desde então, o livro de Pimentel continuou ganhando sucessivas reedições, com ilustrações e projetos gráficos diferentes. A edição selecionada para esta apresentação é a de 2005, produzida pela editora Villa Rica e ilustrada por Julião Machado. A partir da versão de Pimentel, surgiram variadas 43 reescrituras nacionais do conto, algumas mais literais e outras com diversas alterações tanto no enredo quanto nas representações da Carochinha, como é o caso da versão realizada por Ana Maria Machado, que se intitula Dona Baratinha e foi lançada como livro ilustrado pela editora FTD, em 1996. A edição desse texto aqui selecionada é a ilustrada por Maria Eugênia e reeditada em 2004. O objetivo deste trabalho é observar as mudanças que ocorreram nas versões citadas, nos âmbitos verbal e visual, com destaque para a construção da personagem principal, Dona Carochinha/Baratinha. Para tanto, serão utilizadas teorias dos Estudos da Tradução, em conjunto com os Estudos da Imagem. Palavras-chave: Dona Carochinha; Baratinha; Figueiredo Pimentel; Ana Maria Machado.

AS TIPOGRAFIAS DOS JORNAIS BRASILEIROS DO XIX E O FORTALECIMENTO DE NOSSA LITERATURA: DIÁLOGOS COM ANTONIO CANDIDO

Odair Dutra Santana Júnior [email protected]

Antonio Candido, em sua Formação da literatura brasileira, ao discorrer sobre os romancistas estrangeiros que circularam no Brasil durante o século XIX, apresentou a seguinte indagação: “Quem sabe quais e quantos desses subprodutos influíram na formação do nosso romance. Às vezes, mais do que os livros de peso em que se fixa de preferência a atenção” ([1959], 1997, p. 108). Nesta comunicação, refletiremos sobre essa questão diante dos dados referentes à publicação de romances-folhetim pelo Jornal do Commercio, e sabendo que o hábito de reimpressão desses romances pelas tipografias dos jornais foi uma atividade comum no período. A partir do levantamento desses dados, foi possível afirmar que Candido talvez não tenha tirado todo proveito do questionamento que ele mesmo fez. Os novos dados hoje disponíveis sobre a presença e circulação desses autores estrangeiros no Brasil apontam que eles influenciaram muito mais na formação do nosso romance do que foi destacado até então. Um dos caminhos pelo qual acreditamos que a presença desses autores estrangeiros teria atuado no fortalecimento de nossa literatura foi por meio do fortalecimento do gosto dos leitores brasileiros: ao fazer circular entre os leitores do país os romances estrangeiros, a tipografia do Jornal do Commercio contribuía para alargar o horizonte desses leitores. Desse modo, quando o romance estrangeiro, notadamente o romance francês, foi publicado, ele provocou uma ampliação da imaginação da sociedade brasileira para além de sua realidade, fazendo-a tomar contato com uma diversidade de “visão das coisas” e “emoções literárias” até então desconhecida. Tal transformação do público não deixaria de ser considerada pelos homens de letras brasileiros no momento de desenvolvimento da produção nacional. Palavras-chave: literatura brasileira; romance-folhetim; Jornal do Commercio; público literário.

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“MÁXIMAS” E “ADVERTÊNCIAS” NO PARADISO DANTESCO

Heloísa Abreu de Lima [email protected]

É predominante a ideia de que, dentre os cânticos da Commedia, o Paradiso é aquele que mais se distancia do plano terreno – seja por conteúdo, linguagem, estilo ou composição. Tal visão, que não deixa de ser verdadeira, pode, quando generalizada, permanecer à margem da percepção de certas modulações presentes no cântico, pois o Paradiso, embora de fato se destaque do plano humano, não é alheio a este. Exemplo disso são as “máximas” e “advertências” presentes ao longo do cântico, isto é, formas aforismáticas que, no primeiro caso, enunciam um fenômeno ou uma atitude relativos à vida humana e, no segundo caso, enunciam um preceito a ser seguido. Ambas são recursos empregados nos outros cânticos do poema, mas assumem função fundamental no Paradiso, no qual as máximas normalmente manifestam um julgamento negativo a respeito da verdade enunciada e as advertências normalmente repreendem severamente as ações humanas, articulando-se ambas na constituição de um dos principais tipos discursivos do Paradiso. Esta proposta tem como objetivo discutir as máximas e advertências do Paradiso, começando por uma apresentação geral sobre sua constituição e suas principais características na Commedia. Com isso, será feita uma exposição, fundamentada pela apresentação de alguns exemplos, das características que elas assumem particularmente no Paradiso. Isto conduzirá ao tratamento das máximas e advertências como recursos retóricos, responsáveis pela composição de um dos tipos discursivos dominantes do Paradiso (tal como definidos por Anna Maria Chiavacci Leonardi): o chamado “discurso profético”, destinado a condenar ou lamentar a degradação humana, o qual constitui um importante contraponto aos momentos do cântico nitidamente destacados do plano terreno, como observou Marcello Aurigemma. Finalmente, esta proposta pretende relacionar brevemente, sobretudo segundo estudos de Pietro G. Beltrami, os recursos das máximas e advertências à terzina, unidade fundamental de escansão na Commedia. Palavras-chave: Poesia italiana; história e interpretação; Dante Alighieri; 1265-1321; Commedia - análise e interpretação; Commedia - Paradiso.

HONORÉ DE BALZAC E A CIRCULAÇÃO DE EDIÇÕES PIRATAS NO BRASIL (SÉCULO XIX)

Lilian Tigre Lima [email protected]

Conforme destaca Nelson Schapochnik (2016, p. 301), embora estudos recentes sobre a História da Leitura no Brasil apontem para uma rede complexa de circulação de livros no país ao longo do século XIX, pouco se sabe, ainda, sobre as reais condições de produção, divulgação e comercialização desses materiais impressos e sobre a atuação dos profissionais ligados ao comércio livreiro e editorial. Um dos aspectos ainda pouco conhecidos são, segundo o autor, as práticas comerciais de contrafações, isto é, de livros piratas colocados em circulação no Brasil oitocentista por meio do comércio transatlântico de impressos. O mercado clandestino de livros ganhou forças na Europa a partir da década de 1830 com os editores belgas, que, diferente dos franceses, não tinham seus trabalhos submetidos à forte censura nem às altas cargas tributárias. O 45

Brasil do século XIX, por sua vez, completamente inserido nesse comércio internacional de circulação de impressos, não demorou a aderir a essas práticas comerciais, investindo fortemente na importação do produto belga ainda na primeira metade do século XIX. A partir daí, como parte integrante da pesquisa de Mestrado intitulada “Balzac no Brasil: o romance de Alencar e a formação do gosto literário (século XIX)”, a presente comunicação tem por objetivo apresentar um conjunto de obras de Honoré de Balzac comercializadas no Brasil por meio da contrafação belga, discutindo, a partir daí, o que esses dados podem nos dizer sobre o mercado editorial brasileiro oitocentista e ainda sobre as práticas de leitura. Palavras-chave: Circulação de impressos; Edições piratas; Honoré de Balzac; Século XIX.

ANTONIO CANDIDO: O ROMANCE BRASILEIRO NO ANO DE 1943

Gilda Marchetto [email protected]

Antonio Candido, em Brigada ligeira (1945), reúne alguns de seus artigos escritos para a coluna “Notas de crítica literária” do jornal Folha da Manhã. Nesses artigos, o crítico se detém sobre a narrativa brasileira da década de 1940, mais especificamente, sobre os romances publicados no ano de 1943. Para encarar uma literatura do ângulo das produções feitas para permanecerem, como afirma Antonio Candido, é preciso passar da afetividade e da observação para a síntese de ambos e estabelecer um movimento de pensar efetivamente a matéria verbal. Afirma também que, para a literatura brasileira se tornar grande, “é preciso que o pensamento afine a língua e a língua sugira o pensamento por ela afinado. Uma corrente de mão dupla, de que saem as obras-primas, e sem a qual dificilmente se chega a uma visão profunda e vasta da vida dentro da literatura” (CANDIDO, 1945, p. 88). A partir dessas afirmações e considerando o conjunto das análises feitas por Antonio Candido sobre os romances publicados no ano de 1943, em Brigada ligeira, essa comunicação pretende discutir como os romancistas brasileiros da década de 1940, já reconhecidos pela crítica, que participaram do movimento renovador de 1930, dando continuidade ao programa estético iniciado em 1922 e os novos que surgiram no ano de 1943, trabalharam esteticamente com a matéria verbal e quais os traços mais significativos presentes nos romances analisados pelo crítico. Palavras-chave: Teoria literária; Crítica; Romance; Antonio Candido.

A ALMA DE FRANKENSTEIN: SOBRE A INFLUÊNCIA DO MONSTRO DE MARY SHELLEY NA LITERATURA GÓTICA

Karolina de Souza Marinho [email protected]

Considerado um grande clássico do horror, e também a primeira obra de ficção científica, Frankenstein, ou O Prometeu Moderno, escrito em 1817 por Mary Shelley (1797 – 1852), conta a famosa história de Victor Frankenstein, jovem estudante que decide desafiar os mistérios da criação e da ciência, dando vida à uma criatura monstruosa criada a partir pedaços de cadáveres. O monstro, embora demonstre sinais 46 de sensibilidade e inteligência, tem uma aparência repugnante, deformada, motivo pelo qual a sociedade o rejeita e o abomina. Amargurada e com repulsa de si mesmo, a criatura volta-se contra seu criador em busca de uma companhia que lhe é recusada. O desfecho trágico é resultado da ambição desmedida do estudante, e acaba por dar à narrativa um caráter moral acerca da relação entre criador e criatura, bem como levanta questionamentos sobre a alma, e sobre a tentativa de vencer a morte através da ciência. Para a literatura gótica, que tem início no século XVIII com O Castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole (1717 – 1797), o romance de Mary Shelley fez parte de um ciclo de obras que exploravam o horror mais científico e moderno, e que acabaram por consolidar, desta maneira, a popularidade e a força da narrativa de horror no século XIX. De Frankenstein, derivaram diversas adaptações para o cinema, e até hoje este é um dos personagens icônicos e inesquecíveis do gênero horror. Palavras-chave: Literatura Gótica; Literatura de Horror; Medo.

“ROMANCES E NOVELLAS MUITO EM CONTA”: PRESENÇA DA LITERATURA ESTRANGEIRA NOS ANÚNCIOS DA LIVRARIA GARNIER NO DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO (1854-1855)

Lucas de Castro Marques [email protected]

Essa comunicação tem por objetivo apresentar uma reflexão sobre a presença da literatura estrangeira nos catálogos de livros da Livraria Garnier, dedicando-se especificamente aos extratos de catálogos publicados no Diário do Rio de Janeiro entre 1854 e 1855. Instalada no Rio de Janeiro na década de 1840 pelo francês Baptiste-Louis Garnier como uma filial da “Garnier Frères” de seus irmãos em Paris, a livraria, nas primeiras décadas, vendia livros importados principalmente da França e de Portugal. Após alguns anos como livreiro, Garnier viria a se tornar, como afirma Hallewell (2005, p. 197), “o mais importante editor brasileiro do século XIX”, responsável pela edição dos livros de Joaquim Manoel de Macedo, José de Alencar e Machado de Assis, escritores célebres da Literatura Brasileira. Concederemos atenção aos anúncios de literatura estrangeira divulgados no jornal devido ao fato de a Livraria Garnier ter publicado, quase que diariamente, diversos extratos do seu catálogo de livros em francês e em português nas páginas do Diário do Rio de Janeiro. O livreiro aproveitou a oportunidade para divulgar os livros à venda, já que, exatamente nesse mesmo período, seu comércio atuou como agência de anúncios do jornal, do qual ficou responsável pelo recebimento das propagandas e dos pagamentos pela publicação. Abordaremos os extratos “Romances e Novellas Muito em Conta”, “Romances Illustrados, Muito Baratos” e “Livros Illustrados Muito Baratos”, que listam títulos de escritores reconhecidos na época, tais como dos franceses Alexandre Dumas, Honoré de Balzac, Victor Hugo, Chateaubriand, do escocês Sir Walter Scott e do norte-americano Fenimore Cooper. Como suporte teórico para a análise, utilizaremos os trabalhos de Queiroz (2008), Dutra (2010), Modenez (2013) e Granja (2013), que estudaram outros catálogos da mesma livraria, e os trabalhos de Silva (2006) e Mançano (2008), que estudaram anúncios de venda de livros em jornais. Palavras-chave: Livraria Garnier; Diário do Rio de Janeiro; anúncios de venda de livros; século XIX.

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O DIVINO E O REAL NO ROMANCE A PAIXÃO SEGUNDO G.H., DE CLARICE LISPECTOR

Nayara Cristina Marques [email protected]

Esta comunicação tem como objetivo apresentar algumas considerações acerca do romance A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, tendo em vista os conceitos de divino e humano apresentados ao longo da narrativa. Publicado em 1964, o romance tem como personagem protagonista G.H., uma escultora burguesa que a partir do encontro com uma barata começa a refletir e questionar temas que afligem o ser- humano. Caracterizada por NUNES (1995) como “tormentosa”, estas reflexões relacionam-se por vezes com temas referentes ao divino e ao humano, conceitos estes que permeiam a obra clariciana. Neste trabalho, estudaremos como estes dois conceitos se relacionam para criar uma narrativa na qual estão evidentes conflitos subjetivos entre as personagens e a ordem social, as personagens e o meio em que vivem e, por fim, as personagens em conflito com elas mesmas. A partir do estudo do romance, faz-se relevante levantar alguns aspectos relacionados à intertextualidade com textos religiosos como o texto bíblico, especialmente o Velho Testamento, e quais os efeitos de sentido que o diálogo com o texto religioso em comparação aos conceitos abordados neste trabalho apresenta ao longo da narrativa. Como fundamentação teórica nos basearemos na teoria de Adorno (2008) e Todorov (1973), tendo em vista os estudos das categorias da narrativa, Nunes (1995), a qual funciona como embasamento teórico-crítico para o entendimento da obra clariciana e Flusser (2002) e Tosaus Abadía (1996), que nos servirão de base para a compreensão da divindade e do senso de realidade na literatura moderna e contemporânea. Palavras-chave: Clarice Lispector; A paixão segundo G.H.; divino; real.

DUPLAS NA LITERATURA: PERSONAGENS MASCULINOS

Rebecca Miriã Ribeiro Martins [email protected]

Sabe-se que as duplas de personagens concretizam-se em diversos contextos: recorrentes na Mitologia, por exemplo, na Bíblia, na mídia televisiva de entretenimento, no âmbito das séries, nos desenhos animados, no cinema (curta ou longa-metragem) e nas histórias em quadrinhos. Assim, os personagens podem estar formados em duplas desde o princípio, mas também podem estabelecer-se durante o desenvolvimento da trama. Podemos, ainda, considerar outra característica das duplas, quando um personagem recebe ajuda de outro da dupla, configurando-se na representação de um líder e um seguidor. O objetivo deste trabalho consiste em evidenciar, em obras literárias, personagens que se organizam em duplas e estabelecem vínculos de amizade, considerando um recorte específico de personagens masculinos. Para tanto, a partir do conceito de amizade, tomaremos como base obras como De amicitia, na qual Cícero propõe parâmetros morais e éticos que deveriam reger uma relação de amigos, e A ética a Nicômaco, de Aristóteles, cujo autor trata especificamente sobre o tema da amizade. Dessa maneira, este trabalho propõe a reflexão acerca da razão que leva a esse binômio 48 ser frequentemente utilizado e com ótimos resultados narrativos, tendo em vista que o recurso das duplas está presente desde a Antiguidade e perdura até os dias atuais. Palavras-chave: duplas; literatura; personagens masculinos.

A CRONOTOPIA ROMÂNTICA: ANÁLISE ESPAÇO-TEMPO EM MACÁRIO E NOITE NA TAVERNA

Fernanda Remes Mattiuz [email protected]

O objetivo deste trabalho é discutir a relação espaço-tempo em Macário (1855) e Noite na Taverna (1855), de Álvares de Azevedo (1831-1852), e como as duas obras estão relacionadas pela constituição temporal noite. Para tanto, o texto “Educação pela Noite” (1989), de Antonio Candido, que sustenta o viés de continuidade entre Macário e Noite na Taverna, o conceito de cronotopo, de Mikhail Bakhtin, presente no capítulo “Formas de tempo e de cronotopo no romance” (ensaios de poética histórica), em Questões de Literatura e Estética: a teoria do romance (2002), em que o teórico russo refere-se à indissolubilidade do tempo e do espaço na literatura, e a estética binômica, descrita pelo próprio Azevedo no prefácio crítico à segunda parte de Lira dos Vintes Anos (1853), serão elencados a fim de nos fornecer a base teórica apropriada para a discussão proposta. A partir disso, estudaremos a construção do tempo noite em cada obra como aspectos cronológicos e psicológicos para, finalmente, relacionarmos uma obra à outra. Esperamos, com isso, compreender os procedimentos artísticos empregados na construção do tempo e do espaço, bem como identificar o cronotopo como um possível recurso narrativo responsável pela ligação de uma obra à outra, e também contribuir para a leitura crítica da prosa azevediana. Palavras-chave: Álvares de Azevedo; Cronotopo; Noite na Taverna; Macário.

AS NOVELAS MUSICAIS DE BALZAC: INTERTEXTO MÚSICA E LITERATURA

Fernando Henrique Magalhães Mendes [email protected]

Esta comunicação tem como objetivo discorrer sobre a questão do intertexto entre música e literatura nas três novelas musicais de Balzac: Sarrasine (1831) Gambara (1837), e Massimila Doni (1839). Tomaremos como principais referências bibliográficas Gérard Genette: Palympsestes – La littérature au second degré, Tiphaine Samoyault: L’Intertextualité: Mémoire de la littérature, e de como o processo da intertextualidade ocorre nessas obras principalmente ao que toca a questão da representação da ópera na obra literária. Pretendemos discorrer sobre como os caracteres intertextuais e até mesmo interartísticos das novelas musicais balzaquianas podem ser considerados como consequência direta da influência das obras e do pensamento artístico de E.T.A. Hoffmann. Tal característica é evidenciada pelo próprio escritor francês no seu prefácio dos “Estudos Filosóficos”, no qual o escritor afirma que as artes como a literatura, a música e pintura estariam ligadas entre si por uma força misteriosa, pensamento, este, evidenciado por Hoffmann em diversos ensaios e obras sobre a unidade das artes. Embora o pensamento artístico de Hoffmann e Balzac 49 englobem também a pintura, nessa comunicação o foco será apenas na relação literatura-música e vice-versa. Para essa análise da relação de Hoffmann e Balzac tomaremos como principal bibliografia o trabalho da Profª Drª Marta Kawano: E.T.A Hoffmann, Honoré de Balzac e a figura do artista. Palavras-chave: literatura; música; intertextualidade; Balzac.

DO CONTO A CRÔNICA: O LUGAR DA LITERATURA NA PRODUÇÃO LITERÁRIA DE CLARICE LISPECTOR

Maria Alice Sabaini de Souza Milani [email protected]

Esta comunicação tem como objetivo analisar o conto "Felicidade Clandestina", verificando as considerações que a narradora protagonista, por meio das digressões, tece a respeito na literatura e da sua função no amadurecimento intelectual da personagem que espera durante vários dias para conseguir emprestado o livro Reinações de Narizinho. Clarice Lispector, com grande maestria, escreve o desejo e as angústias dessa personagem que desejava ler esta obra, mas que era impedida pelas desculpas de sua colega que apesar de possuir o livro não o queria emprestar. Além de observar como se posiciona essa narradora a respeito do lugar a literatura em sua vida, também observaremos o posicionamento da escritora Clarice Lispector acerca da literatura (seu lugar e função) por meio de suas crônicas reunidas em A descoberta do mundo. Nesse sentido, esse trabalho se baseará tanto no conto como nas crônicas claricianas, afim de averiguar se a personagem do conto e a escritora das crônicas possuem o mesmo posicionamento diante do lugar da literatura e da sua função, uma vez que no conto a personagem, inicialmente atribui à literatura um lugar de entretenimento para posteriormente conceder-lhe um lugar de amadurecimento, na medida em que a partir da leitura a personagem amadurece e se humaniza. Para a realização desse trabalho, de cunho bibliográfico, utilizaremos CANDIDO (1972), BARTHES (1974), SÁ (1979) entre outros. Palavras-chave: Literatura; Clarice Lispector; Conto; Crônicas.

FANFICTIONS: LITERATURA EM UMA ERA DIGITAL

Paula Renata Milani [email protected]

O presente trabalho tem como objetivo analisar o universo online de fanfictions - ficção de fãs: textos escritos com base em obras de terceiros -, com foco especial nas ferramentas de websites, blogs e páginas exclusivas de fanfictions, a fim de descobrir as facilidades de acesso e de organização dessas obras e em que medida isso impacta o fã no momento de sua escolha de leitura. Selecionamos, para tanto, dois websites de fanfictions bem conhecidos: Floreios e Borrões (http://www.floreioseborroes.net/) e Fanfcition.net. Também escolhemos um blog nomeado Liga dos betas (http://ligadosbetas.blogspot.com.br/search/label/Yaoi%2FLemon), cujo propósito é servir como suporte aos escritores de fanfictions, com dicas sobre variados estilos de leitura, para que suas histórias sejam cada vez mais originais e bem escritas. Como suporte teórico, usamos as obras Fic – Por que a fanfiction está dominando o mundo, de 50

Anne Jamison: obra que nos apresenta melhor o universo de fanfictions e sua extensão; Cibercultura e Literatura: Identidade e Autoria em Produções Culturais Participatórias e na Literatura de Fã (fanfiction), de André de Jesus Neves, obra que questiona como a internet contribui para a reinvenção da literatura, e, por fim, Literatura Eletrônica: Novos Horizontes para o Literário, de N. Katherine Hayles, que nos traz melhor compreensão do campo da literatura eletrônica. Resultados iniciais mostram que o armazenamento e a disponibilização das histórias desses grupos de fãs ultrapassa qualquer organização de bibliotecas físicas, além de maior facilidade de acesso e possibilidade de seleção de histórias mais compatíveis com o interesse do leitor. Palavras-chave: fanfictions; ciberliteratura; fãs.

O ENTRE NAS OBRAS LITERÁRIAS LIVRO DO DESASSOSSEGO E NOCILLADREAM: ALGUNS ASPECTOS

André Luiz Menezes de Morais [email protected]

Como estabelecer relação entre as reflexões do cotidiano coletivo e individual, feitas por meio de fragmentos pelo semi-heterônimopessoano Bernardo Soares, no Livro do desassossego (2016), e a multifacetada trama de temas literários, científicos e sem personagem fixo (na figura do herói) – também realizada por meio de fragmentos, percebidas em Nocilladream (2013), de Agustín Fernández Mallo? Apesar de quase um século separar a produção literária dos autores mencionados, tanto na obra de Fernando Pessoa como na de Fernández Mallo o pensamento, articulado pelo registro do signo linguístico, abre espaço para uma reflexão mais ampla de conceitos tidos como “fechados”, de interpretação “correta”, “definida”. A perspectiva desta comunicação é a de que Pessoa e Mallo transcendem essas formas conceituais “fechadas” e estabelecem, entre si, um elo de significado mais aberto – baseado na dúvida e na incerteza – por meio do “intervalo” (MARTINS, 2017). Buscando explicar esse “intervalo”, essa incerteza de definição conceitual que atravessa os temas da sua obra, Pessoa chamou-o de “entre”, em que esse conceito apresenta o sentido do “estacionário, da indecisão e do impasse” (PERRONE-MOISÉS, 1982, p. 28). Por meio desse “impasse”, dessa “indecisão”, este trabalho pretende contribuir com a perspectiva de que o lugar das obras literárias Livro do desassossego e Nocilladream é nesse entre: esse meio-termo ao mesmo tempo “indeciso” e amplo de significados.

DA OBLITERAÇÃO À EVIDÊNCIA: A JURISDIÇÃO DAS IDENTIDADES QUARE

Fernando Luís de Morais [email protected]

A confluência entre os estudos queer e os estudos de raça/etnia em anos relativamente recentes promoveu uma revisão fundamental no âmbito desses dois domínios investigativos. Em um esforço de reconceptualizar os estudos queer, E. Patrick Johnson, no ensaio “'Quare' studies, or (almost) everything I know about queer studies I learned from my grandmother” (2005), enfatiza a importância de contestar noções estáveis de identidade e, ao mesmo tempo, situar o conhecimento de raça/etnia e classe nos estudos 51 de gênero, oferecendo, assim, contribuições imprescindíveis à redefinição desse campo teórico. A Teoria Quare, então proposta por Johnson, oferece um quadro particularmente útil dentro do qual se pode analisar a obra poética de Thomas Grimes. Na coletânea “Glass Closets”, compilada na antologia Milking Black Bull: 11 Gay Black Poets (1995), por exemplo, o poeta norte-americano negro e gay explora as complexidades, os dilemas e os desafios da vida dos gays negros, excedendo os limites de um protesto social e engajando-se em um grande número de preocupações que englobam desde temas basais especificamente ligados aos afro-americanos até aqueles universalmente humanos. Esta comunicação, portanto, visa a explorar alguns conceitos básicos que norteiam a Teoria Quare, bem como mostrar sua operacionalidade na obra de Thomas Grimes, que trabalha na contracorrente de discursos racistas e homofóbicos, ampliando, pois, possibilidades de ser e de viver. Pretendo, em última instância, escrutinar como esse poeta usa a escrita enquanto estratagema político a fim de desestabilizar e subverter um sistema de matriz heterossexual, branca, de classe média, regulador de normas culturais. Palavras-chave: Identidade de gênero; Identidade de raça; Teoria Quare; Thomas Grimes.

GUIMARÃES ROSA E AS NARRATIVAS DENTRO DA NARRATIVA

Ana Carolina da Silva Mota [email protected]

Este trabalho propõe a análise da presença de narrativas secundárias e terciárias dentro do enredo principal de dois contos de Guimarães Rosa: “O burrinho pedrês”, que abre Sagarana (1984), e “O recado do morro”, que compôs Corpo de baile (1956) e, após o desmembramento dessa obra, passou a integrar No Urubuquaquá, no Pinhém (1969). Tem-se como objetivo discutir as diferentes funções que o mise en abyme exerce na produção rosiana, como antecipar um fato que acontecerá ou trazer para a cena algo importante que não está ali concretamente, ao mesmo tempo em que se pretende pontuar as funções que se repetem nos dois contos selecionados. Além disso, objetiva-se discutir a presença do narrador tradicional dentro dos contos selecionados e a atuação dos indivíduos que detêm o poder e a capacidade de elaborar e contar histórias: as crianças, os velhos e os loucos. O termo “elaborar” é especialmente importante, pois em diversas ocasiões o que parece realmente interessar não é o conteúdo da narrativa, mas a elaboração, o ato narrativo do narrador. Para tanto, serão considerados textos críticos sobre a obra de Guimarães Rosa, como alguns escritos de Antonio Candido, além de trabalhos como “O narrador” (1994), de Walter Benjamin, e Fedro (1975), de Platão. Palavras-chave: Guimarães Rosa; Mise en abyme; Contos.

12 ANOS DE ESCRAVIDÃO: O LUGAR DO "PECADO ORIGINAL" AMERICANO NA LITERATURA E NO CINEMA

Débora Spacini Nakanishi [email protected]

O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a representação da escravidão norte-americana na literatura, estudando especificamente a autobiografia intitulada 12 52 anos de escravidão, de Solomon Northup, e no cinema, com a adaptação homônima. Lançado mais de 160 anos após a primeira publicação do livro, o filme consagra-se no cânone cinematográfico hollywoodiano, tornando-se a resposta a uma aparente negligência ao tema por parte dos grandes estúdios norte-americanos. Questionamos, portanto, os motivos de tal falta de apreço por obras literárias de testemunho sobre a escravidão, como também a desconsideração da temática pelo cinema hollywoodiano. Para a análise do livro de Solomon Northup, nos baseamos em autores como Olney (1984) e Roy (2014), nos concentrando nas peculiaridades, tanto de estilo quanto de contexto de produção, do gênero narrativas de escravos. Já para a análise do filme, dirigido por Steve McQueen, nos apoiamos em autores como Bordwell e Thompson (2010). Quanto à trajetória do tema escravidão pela história do cinema hollywoodiano, nos fundamentamos em Sklar (1978) e Rosenstone (2014). A hipótese mantida até então é de que literatura e cinema trabalham como uma espécie de contradiscurso ao pensamento vigente em determinado período histórico. Ou seja, um filme como, por exemplo, ...E o vento levou (1939), deve ser estudado não como uma aula sobre a história da escravidão e da Guerra Civil, mas sim entendido como um reflexo da sociedade da época de sua produção e lançamento, sendo, portanto, um contradiscurso que possibilita uma maior compreensão social através dos tempos. Da mesma forma, entendemos que 12 anos de escravidão, com todas as suas propriedades, reflete a forma como as pessoas dos anos 2010 lidam com o “pecado original” americano. Palavras-chave: 12 anos de escravidão; Solomon Northup; Steve McQueen.

O ESPAÇO DA LITERATURA NO CLUBE DE LEITURA: A EXPERIÊNCIA DE LEITURAS COLABORATIVAS E A FORMAÇÃO DO LEITOR

Diana Navas [email protected] Janaina Santos Silva Soggia [email protected]

O presente estudo tem como objetivo demonstrar como a experiência da leitura colaborativa, por meio de uma abordagem dialógica, pode contribuir não apenas para a formação de hábitos leitores e construção de sentidos, mas, também, para a formação de indivíduos social e politicamente mais ativos quando colocados em contato com a literatura além do âmbito escolar. Para isso, assume como foco de observação o funcionamento de um clube de leitura, o Café Literário, realizado desde Maio/2016, com encontros mensais na Casa das Rosas, um museu que oferece à população de São Paulo cursos, oficinas de criação e crítica literárias, ciclos de debates, saraus, exposições ligadas à literatura. Esse núcleo de leitura conta com participantes de diversificadas áreas: humanas, linguagens, tecnologia e, até, estudantes do Ensino fundamental II, apresentando, portanto, um público de perfil bastante variado. Diversificadas são também as leituras sugeridas, as quais abarcam livros canônicos e contemporâneos de literaturas de diferentes nacionalidades. A observação e reflexão acerca desse espaço de leitura colaborativa, em que se legitima o desejo de ler, são pautadas nas considerações de Antonio Candido, Michele Petit, Harold Bloom, Teresa Colomer e Cyana Leahy- Dios. Partimos da hipótese de que em um espaço no qual o pacto de leitura possibilita a criação de hipóteses interpretativas e em que o diálogo entre pares é favorecido por meio de uma relação equitativa de interlocução, contribui-se para a formação de leitores 53 mais críticos, atentos e conscientes não apenas em relação à leitura da obra literária mas em relação à leitura do mundo. Palavras-chave: clube de leitura; leitura colaborativa; dialogia; formação leitora.

A RELAÇÃO ENTRE LITERATURA E HISTÓRIA NO ROMANCE AND THE HIPPOS WERE BOILED IN THEIR TANKS (2008), DE E WILLIAM S. BURROUGHS

Manoela Caroline Navas [email protected]

Esta comunicação examina a relação entre Literatura e História no romance norte- americano And the Hippos Were Boiled in Their Tanks (2008), escrito em 1945, mas só publicado em 2008, resultado de uma coautoria entre Jack Kerouac e William S. Burroughs, fundadores da . Para estabelecer a comparação proposta, faz-se necessário elucidar como se constitui a chave de leitura do romance. Primeiro, serão apresentadas considerações acerca do gênero roman à clef, para poder estabelecer as possíveis relações entre o romance e a História. Logo, será apresentada uma contextualização da Beat Generation, com as premissas dadas por Claudio Willer (2009; 2014), elucidando a luta de caráter ideológico travada pelos beats por meio das experimentações literárias a fim de conseguir dar vazão aos valores que acreditavam faltar na sociedade norte-americana no período pós – Segunda Guerra Mundial. Tomando por base o texto de Fernanda Pivano (2002), será discutido também como a geração Beat revela seus valores no processo de construção do romance, colocando em xeque o próprio gênero literário. Será também apresentado um panorama sobre a teoria transcendentalista proposta por Thoreau, focalizando sua crítica às Instituições, e como ela é revisitada no romance. Após essas considerações teóricas, serão apresentadas análises do romance em questão, com o objetivo de revelar os elementos envolvidos com a representação de uma identidade cultural em sua relação histórica, por meio do acesso à memória presente no romance e suas reverberações em relação às noções de moralidade e descrença nas Instituições. Palavras-chave: Geração Beat; Jack Kerouac; Moralidade; William Burroughs.

CINEMA: DA CRIAÇÃO À RELAÇÃO COM OUTRAS ARTES

Dibo Mussi Neto [email protected]

O presente trabalho visa sobrevoar a história do cinema, buscando entender a sua criação, que nasce como curiosidade científica, passando pelo seu desenvolvimento e criação de novas técnicas, por sua aproximação com outras artes, consolidando-se como atividade industrial e de massa. Cabe, nesta reflexão, pensar sobre a modernidade, porque se trata de uma arte propriamente moderna, pois está intrinsecamente ligada à sociedade industrial. Neste trabalho, adotaremos, didaticamente, a divisão da história do cinema em dois momentos importantes, sendo o primeiro, o do cinema que enaltece a modernidade que o criou; e o segundo, o do cinema que critica essa modernidade, tendo a Primeira Guerra Mundial como grande marco dessa divisão. Para entender o período histórico e as principais mudanças que incidiram sobre o cinema, utilizaremos como 54 suporte teórico as discussões de Costa (2007), Xavier (2007) e Vieira (2007). A partir das reflexões presentes em Ecos do cinema: de Lumière ao digital (2007) e da análise dos filmes dos irmãos Lumière (1896), O gabinete do Dr. Caligari (1912), Nosferato (1922), Um cão andaluz (1929), dentre outros, podemos entender como o cinema se consolida como arte e como por meio do desenvolvimento de técnicas vai sendo construída a narrativa do cinema, contando com a contribuição de outras artes, como o teatro e a literatura. Palavras-chave: Cinema; Modernidade; Literatura.

CLOCKWORK ANGELS OU UMA OUTRA SAGA DO OTIMISMO

Janaína Andressa dos Santos Neves [email protected]

Quem não gostaria de viver no melhor dos mundos possíveis? Houve até mesmo quem tentasse provar que isso já acontecia, e houve quem tentasse, consequentemente, argumentar que essa ideia era absurda. No primeiro caso, o polímata Gottfried Wilhelm Leibniz desenvolveu uma linha de pensamento conhecida como “otimismo”, que pode ser resumida na afirmação de que, sendo o universo criado por Deus, nele se torna possível conciliar o máximo de bem e o mínimo de mal, o que faz dele o melhor dos mundos possíveis. Há também na teoria de Leibniz uma tentativa de demonstrar que o mundo possui uma estabilidade por meio de uma uniformidade nos acontecimentos. Entretanto, como já mencionado, houve quem discordasse de tal posicionamento e o combatesse: assim nasceu a obra Cândido, de Voltaire, 1759, – uma resposta satírica a certas linhas filosóficas da época, como as de Rousseau e de Leibniz. Trata de um jovem que havia sido criado em um castelo e ensinado pelo mestre Pangloss que acredita que a melhor vida possível seria estar no melhor mundo possível. Entretanto, Cândido é expulso de seu lar e passa a enfrentar uma série de desventuras que vão colocando em xeque todo o seu aprendizado sobre o otimismo. Esse conto filosófico influenciou vários artistas ao longo do tempo e, dentre eles, o compositor e baterista Neil Peart, da banda canadense Rush, pois o letrista de Clockwork Angels admite no posfácio do livro que obteve no conto a base para o arco narrativo da história do álbum. Assim, a proposta da comunicação é abordar aspectos em que a história de Voltaire, como hipotexto, e, consequentemente, a teoria do otimismo conforme apresentada em Cândido, aparecem tanto na construção do arco da narrativa de Clockwork Angels, como na construção dos personagens e na mentalidade social e política ambientada naquele mundo. Palavras-chave: Clockwork Angels, Cândido, Hipotexto.

O GÊNERO EM PERSONAGENS FEMININAS DA OLD RELIGION

Cláudia Maria Ceneviva Nigro [email protected]

O sexismo, enquanto mecanismo, pode ser um sentimento, um discurso misógino, uma ação de ódio a(o)s considerado(a)s não pertencentes, replicando o direito de usufruto de corpos e dispondo e restringindo o espaço de atuação social. Na literatura esses mecanismos dão-se performativamente. HOOKS (1998), ANZALDÚA (1987) e 55

BUTLER (2003) indicam como o discurso de gênero afeta corpos abjetos, engendrando discursos capazes de suprimir a presença de sujeitos, fundamentando o discurso hegemônico. No entanto, há uma escrita nas fissuras do sistema, servindo-se da linguagem literária própria do discurso hegemônico para acrescentar significações outras, destituindo as formas consagradas do dizer poético. Propõe-se nessa apresentação verificar como se dão as feminilidades “bruxas” em personagens literárias partícipes do mito do Rei Arthur, mostrando como as relações de poder constituem-se em representações expressas em contextos sociopolíticos, onde complexas relações são estabelecidas por atos de fala, desviantes e propiciadoras de aberturas nas normas prescritas. Desse modo, pode-se dizer que a literatura pode funcionar como uma militância artística, negando e incorporando novos elementos ao hegemônico. Palavras-chave: Gênero; Bruxas; Mito; Rei Arthur.

RETOMADA E PRESENÇA DO MITO DA FEMME FATALE NA PINTURA, NA LITERATURA E NA MÚSICA NA MODERNIDADE DO SÉCULO XIX.

Andressa Cristina de Oliveira [email protected]

A retomada do mito da femme fatale, notadamente o de Salomé, retratado primeiramente nos Evangelhos de São Marcos, São Mateus e São Lucas, fez escola na modernidade do século XIX e, sobretudo, durante o Simbolismo francês. Salomé, que até então havia sido apresentada como mero apêndice de sua mãe, Herodíade, aparece, no final do século XIX, como a grande personificação da anima perversa, assumindo o papel que outrora pertencera a mulheres míticas como Cleópatra e Helena. Retratada nas telas de Gustave Moreau e Henry Regnault, nas ilustrações de Aubrey Bearsdley, na música de Richard Strauss e de Jules Massenet, bem como nas obras literárias de Heinrich Heine, Théodore de Banville, Gustave Flaubert, Stéphane Mallarmé, Jules Laforgue, Oscar Wilde, Apollinaire, entre tantos outros, essa mulher fatal remodelada vem representar a essência da transgressão na modernidade, nos termos de Friedrich (1991), isto é, a transgressão da linguagem, da temática usual, enfim, da atitude do artista em relação à sua própria produção artística. Dessa forma, pretende-se, aqui, abordar e demonstrar brevemente a presença deste mito nas diversas artes, tanto na pintura, quanto na literatura e na música, sobretudo entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX. Palavras-chave: Femme Fatale; Salomé; Simbolismo; Modernidade.

A REPRESENTAÇÃO DO BRASIL PÓS-64 EM ZERO E A FESTA

Júlia de Mello Silva Oliveira [email protected]

O romance pós-64 em geral e, especificamente, aqueles cuja estética é fragmentária e polifônica, foram tradicionalmente estudados sob um viés ideológico que justificava, estreitamente, a estruturação do texto pelo contexto político do qual emergiam. Este trabalho, porém, almejando rever tal relação - desses romances, de suas formas caleidoscópicas, com o real –, propõe sua releitura a partir da crise da representação realista do final do século XIX, cujas ondas ficcionais posteriores aos poucos 56 incorporaram consciência crítico-problemática da representação do real, não negando, contudo, que o momento histórico do regime militar tenha potencializado a intensidade do trabalho dos princípios composicionais estruturantes dessas obras. Para tanto, optou- se pela análise de Zero (1975), de Ignácio de Loyola Brandão, e A festa (1976), de Ivan Ângelo, dois romances do período ditatorial brasileiro, emblemáticos em relação ao esfacelamento da forma que ao trabalharem de maneiras diferentes ainda remontam à consciência legada pela crise representacional sobre a relatividade da mímesis do real. Epistemologicamente, a análise aqui proposta terá por aporte metodológico as principais teorias sobre mímesis/representação; sobre o romance, especialmente sobre os romances pós-64 e contemporâneo; sobre os livros-objeto desta pesquisa. Por essa perspectiva, portanto, se lerá Zero e A festa como romances que, assim como os demais de estética fragmentário-polifônica, têm esse tratamento formal, não apenas em razão do período que retratam, mas em razão de toda uma tradição pré-existente que remonta ao final do século XIX. Palavras-chave: Mímesis/representação; Romance contemporâneo brasileiro; Romance pós-64.

HABITANTES DAS RUAS: UMA LEITURA DA NARRATIVA JUVENIL GALEGA ILLA SOIDADE, DE AN ALFAYA

Karina de Oliveira [email protected]

Temas difíceis ou tabus (Roig Rechou; Oittinen, 2016), como a discriminação social e racial, a morte, a homossexualidade, entre outros, tardaram a aparecer na literatura juvenil galega. Pode-se constatar que essa característica passou a ser mais recorrente a partir do final do século XX e início do século XXI, período de inovações no mercado editorial para o público pretendido. Considerando esse pressuposto, este trabalho objetiva apresentar um recorte de nossa tese de Doutorado – um estudo comparado a respeito das temáticas mais frequentes em um corpus de vinte e quatro narrativas juvenis contemporâneas brasileiras e galegas, sendo doze de cada âmbito –, por meio da análise da obra Illa Soidade (2007), de An Alfaya, que narra e entrelaça as histórias de Soa, uma mendicante, e a de Lucía, uma jovem estudante de Jornalismo. A leitura da narrativa é realizada a partir de adaptações da grade de análise elaborada por João Luís Ceccantini (2000) e a fundamentação teórica deste trabalho está embasada em estudos Martha (2010), Roig Rechou (2015), dentre outros. Por fim, nota-se que essa narrativa juvenil contemporânea galega apresenta alguns elementos inovadores, tais como, o protagonismo feminino, e o fato de uma das personagens centrais pertencer a um grupo social minoritário, a saber, uma mulher que vive nas ruas. Palavras-chave: Literatura juvenil galega; Temáticas tabus; Grupos minoritários.

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A ESCRITA ROTEIRIZADA EM O CÉU E O FUNDO DO MAR, DE FERNANDO BONASSI

Marília Corrêa Parecis de Oliveira [email protected]

O presente trabalho visa identificar e investigar, em suas funções de efeito e sentido, de que maneira a novela O céu e o fundo do mar, de Fernando Bonassi, publicada em 1999, apropria-se de recursos da linguagem visual para constituir-se como literatura, criando, dessa forma, uma espécie de escrita roteirizada. A obra tem como contexto histórico o período da ditadura civil-militar brasileira. Interessa-nos, aqui, investigar como a fragmentação formal dela e a representação de certa materialidade do real nela contida estão intimamente relacionadas. A fábula da novela conta-nos sobre o encontro de uma mulher de um desaparecido político e de um pequeno traficante de drogas no período da Anistia no Brasil. Permeada por pouquíssimas ações e por diálogos mínimos, a narrativa se constrói quase que inteiramente pelos encontros amorosos dessas duas personagens; ela, ainda imersa no luto pelo esposo; ele, abrindo-se aos prazeres amorosos, mas ambos, em última análise, bloqueados por memórias de violência e tortura. Logo, o diálogo com o gênero roteiro e a escolha do foco narrativo câmera, nos termos de Friedman (2002), se relacionam intimamente com o contexto representado na obra. Nesse sentido, tal foco narrativo eleito para essa representação parece ser a saída, por parte de um narrador, para expressão daquilo que, a princípio, não é exprimível: a memória da violência; o trauma da experiência. Palavras-chave: Fernando Bonassi; Literatura; Roteiro Cinematográfico; Violência.

RELAÇÃO TÓPICA ENTRE O ROMANCE ANTIGO GRECO-ROMANO E O ROMANCE-FOLHETIM

Nicolas Pelicioni de Oliveira [email protected]

O presente estudo questiona a ligação tópica entre o Romance Antigo Greco-Romano, produzido entre o século III a. C. e o século VI d. C., e o Romance-Folhetim, produzido no século XIX. A pesquisadora Tania Rebelo Costa Serra já aponta essa relação em sua Antologia do romance-folhetim (1839-1870), contudo, a pesquisadora tem como escopo a gênese do romance brasileiro a partir do romance-folhetim, enquanto, por outro lado, buscamos enfatizar uma relação tópica que possibilite ampliar a ligação com o Romance Antigo Greco-Romano. A pesquisa, originada a partir das discussões propostas pela disciplina da Profª. Drª. Lúcia Granja (UNESP/Ibilce), Questões de Crítica e História Literária Brasileiras: A crítica literária brasileira a partir da fortuna crítica de Machado de Assis, agora se desenvolve a partir de uma apresentação comparativa entre os romances-folhetins apresentados por Costa Serra, em especial os que ela denomina precursores: O aniversário de Dom Miguel em 1828 (romance histórico), de João Manuel Pereira da Silva, Os assassinos misteriosos ou a paixão dos diamantes (novela histórica), de Justiniano José da Rocha, Amância (romance), de Domingos José Gonçalves de Magalhães, e os romances antigos gregos Quéreas e Calírroe, de Chariton, Ântia e Habrócomes, de Xenofonte de Éfeso, As etiópicas, de Heliodoro, e os romances romanos História do rei Apolônio de Tiro, de autor anônimo, Satíricon, de Petrônio, e O Asno de ouro, de Apuleio. 58

Palavras-chave: Romance antigo greco-romano; Romance-folhetim; Romance brasileiro.

O ROCK DE RENATO RUSSO: UMA MANIFESTAÇÃO DA CANÇÃO- POEMA

Elisângela Maria Ozório [email protected]

O artigo “O rock de Renato Russo: uma manifestação da canção-poema” apresenta-se como uma reflexão crítico-literária sobre a poesia, que se manifesta, ainda hoje, por meio da música, resgatando a canção poética. Por causa disso, o retrocesso à poesia primitiva como recriação do espaço social, o reconhecimento do rock como canção resistente-libertária e a percepção da poesia marginal como escrita da poesia em recursos diversos dos tradicionais colaboram para a identificação dos elementos sonoros, orais e poéticos, que compõem a poesia cantada de Renato Russo. O artigo tem como norte as ideias do crítico Paul Zumthor sobre a canção. Para ele, a canção sintetiza uma poesia de presentificação de corpos que se tocam: a poesia tornada corpo concreto na execução da canção e o corpo do ouvinte e/ou do intérprete. O toque dos corpos na poesia cantada desenvolve a metáfora que recria o espaço social que atinge o ser do eu poético. Além disso, toda a criação da metáfora que favorece a percepção e as experiências destes corpos passa pela voz que canta; logo, a voz sonora da canção significa a base desta poesia. Diante das considerações, como exemplificação, o artigo tem como análise a canção-poema “Há Tempos” que presentifica o homem social e o homem da cidade. Palavras-chave: poesia; canção; Renato Russo.

A CONSCIÊNCIA DO ATO DE ESCREVER EM RODRIGO DE SOUZA LEÃO

Monelise Vilela Pando [email protected]

Com uma escrita de caráter instável quanto ao tempo, às vozes e às perspectivas narrativas, o autor contemporâneo Rodrigo de Souza Leão, demonstra em seu trabalho o interesse por uma espécie de dor universal que compreende sua condição humana, sua tarefa de escritor e sua condição de esquizofrênico. Esses são assuntos recorrentes nas obras do escritor carioca, a serem evidenciados neste trabalho, posto que ao abordá-los de maneira assertiva e sem desvios, Leão expõe um percurso de reconhecimento e reflexão a respeito do fazer literário. Propomos um estudo que pontue a consciência do ato de escrever, e ao mesmo tempo, demonstre-o e reflita sobre ele, e sua necessidade durante o desenvolvimento da narrativa. O recorte para o estudo compreende seu primeiro título em prosa, Todos os cachorros são azuis (2008), e seu segundo título, já póstumo, Me roubaram uns dias contados (2010). Interessa-nos verificar a presença de uma consciência narrativa do ato literário, e perquirir as motivações da escrita, dispostas em ambas as narrativas de Leão. Trata-se de uma espécie de aferição da importância por ele dada ao seu fazer literário, e de uma busca por compreender o lugar e a função da literatura para um artista que, além de escrever em prosa, se manifesta em diversas frentes, como a poesia, a música, a pintura e o jornalismo literário. Dessa forma, 59 considerando o forte caráter biográfico da literatura de Leão, lançamos mão de estudos sobre autoficção, Alberca (2007), e Azevedo (2014), para que, pensados junto as declarações acerca do ato de escrever, possamos compreender os usos e intenções da tessitura literária em sua obra. Palavras-chave: Literatura brasileira contemporânea; Rodrigo de Souza Leão.

A COMPOSIÇÃO IMAGÉTICA DA SEXUALIDADE EM DESMUNDO (1996), DE ANA MIRANDA

Juliana Cristina Minaré Pereira [email protected]

O objetivo elementar desse trabalho é realizar uma análise comparativa entre duas passagens da obra Desmundo (1996), de Ana Miranda. Fundamentar-se-á na teoria da figuratividade, apresentada por Bertrand, que diz ser possível “localizar no discurso este efeito de sentido particular que consiste em tornar sensível a realidade sensível” (2003, p.151), com o intuído de perceber como a utilização da linguagem e o posicionamento do enunciador mudam as imagens e sensações perceptíveis ao leitor. Os trechos destacados são lembranças da personagem narradora sobre atos sexuais vividos com seu marido e com seu amante. Tal estudo torna-se relevante por se tratar da mesma temática, mas com uma construção textual distinta, gerando, dessa maneira, percepções diversas. Isto posto, vale dizer que a obra analisada é uma metaficção historiográfica, determinada por Linda Hutcheon como pós-moderna, que constroi “uma força problematizadora em nossa cultura atual: levanta questões sobre (ou torna problemáticos) o senso comum e o ‘natural’” (1991, p. 13). Nesse sentido, Desmundo tem como função questionar a história tida como oficial e, consequentemente, discute também a forma de construção linguística prevalente nesse discurso. Diante disso, ressalta-se o posicionamento distinto que a narradora tem a respeito do ato sexual, que é de fundamental importância para a compreensão global da obra, bem como da problematização da condição feminina. A obra traz uma personagem que revela suas impressões e anseios sobre sua sexualidade, expondo a diferença entre esposo e amante, por vezes utilizando o mesmo campo semântico, entretanto, com uma composição imagética que ora provoca repulsa, ora evoca o prazer. Palavras-chave: Desmundo; Metaficção historiográfica; sexualidade; figuratividade.

POESIA E BARBÁRIE EM “NORTHERN IRELAND: TWO COMMENTS”

Fernando Aparecido Poiana [email protected]

Este estudo buscar analisar o poema “Northern Ireland: Two Comments”, publicado no livro Gradual Wars (1972), do poeta, romancista e crítico literário norte-irlandês Seamus Deane (1941). O objetivo principal desse trabalho é examinar a maneira por meio da qual “Northern Ireland: Two Comments” contrasta imagens de caráter messiânico e realístico como estratégia de construção que dê forma e expressão ao seu tema. Sendo assim, violência, lamento e morte são questões que emergem da organização retórica desse poema. Desse modo, interessa a esse estudo analisar como o sujeito poético busca se localizar diante da realidade tensiva que “Northern Ireland: 60

Two Comments” reconfigura textualmente. A discussão ora proposta fundamenta-se na discussão sobre a linguagem poética feita por Terry Eagleton em How to Read a Poem (2007) e nas análises sobre poesia e o contexto histórico irlandês do século XX encontradas nos livros Tradition and Influence in Anglo-Irish Poetry (1989), editado por Terence Brown e Nicholas Grene, Modern Irish Poetry: Tradition & Continuity from Yeats to Heaney (1989), de Robert F. Garratt, Poetry in Contemporary Irish Literature (1995), editado por Michael Kenneally e Irish Poetry: Politics, History, Negotiation (1997), de Steven Matthews. A hipótese examinada no presente trabalho, portanto, é a de que a linguagem poética de “Northern Ireland: Two Comments” incorpora tensões que definem muito do Zeitgeist do seu contexto de produção/origem, no caso específico, a atmosfera instável dos conflitos paramilitares da Irlanda do Norte na virada da década de 1960 para a de 1970. Palavras-chave: Seamus Deane; Poesia Irlandesa; Crítica Literária.

LITERATURA E OUTRAS ARTES NO INQUÉRITO SOBRE O SACI PERERÊ, DE MONTEIRO LOBATO

Amaya Obata Mouriño de Almeida Prado [email protected]

O trabalho pretende refletir sobre o lugar da literatura no inquérito promovido há exatos 100 anos por Monteiro Lobato na edição vespertina do jornal O Estado de São Paulo, conhecida como Estadinho. O que a princípio se configurava como uma pesquisa etnográfica ampliou-se com a edição do livro O Sacy Pêrêrê: resultado de um inquérito, de 1918. A partir do cotejo entre os textos do jornal e do livro, objetivo principal de nossa tese de doutoramento, pudemos identificar que, para além da reflexão sobre a cultura popular, a primeira obra editada por Lobato pode ser lida como a apresentação de seu projeto estético para a cultura brasileira em geral, defendido a partir de reflexões sobre artes plásticas, sobre o papel das ilustrações em livros e já moldado pelo seu fazer literário, uma vez que a obra se estrutura a partir de um processo de ficcionalização para a apresentação do inquérito, com a presença de duas vozes: a do Lobato articulista e a do Lobato editor, este apresentado como narrador, aquele como personagem, que se caracterizam por certo distanciamento no início do livro, mas que ao final se mostram unidas e coerentes com a defesa de um ideal nacionalista, atuando para a construção de uma identidade nacional. Lobato propõe uma dessas vozes como uma instância narrativa, ou seja, identifica-se a presença de um narrador que conta, desde seu ponto de vista, a história do inquérito. É então que vemos o Lobato editor comentar com ironia algumas frases do Lobato articulista, desconstruindo a si próprio também. Além disso, esse narrador seleciona, comenta, critica e unifica a pluralidade de vozes dos depoimentos, resultando no efeito de conduzir e gerenciar a leitura da obra. Palavras-chave: Edição; Monteiro Lobato; Saci Pererê.

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A SUBVERSÃO PELO RISO: DESCONSTRUÇÕES DO SAGRADO CANÔNICO NA OBRA ROMANESCA DE MOACYR SCLIAR

Rafaella Berto Pucca [email protected]

Este trabalho busca apresentar como o humor judaico na obra de Moacyr Scliar aparece, no nosso entendimento, como forma de subversão ou desconstrução do discurso sagrado canônico (A Sagrada Escritura). Scliar, ao eleger clichês contemporâneos como “terapia de vidas passadas” (A mulher que escreveu a Bíblia) ou “palestra egocêntrica de historiador-dramaturgo em crise existencial” (Manual da paixão solitária), assim como a “encenação juvenil de fatos históricos” (Os vendilhões do templo), cria certa ambientação para a entrada do humor, que no espaço da literatura judaica é entendido como importante arma na luta dos judeus pela sobrevivência, dada sua longa história de minoria perseguida (são os ex-cêntricos da História - fora dos centros produtores de sentido - segundo Linda Hutcheon). Desta forma, tomaremos como ponto de partida o conceito de desconstrução do filólogo franco-argelino Jacques Derrida, que evidencia a natureza discursiva de todos os textos, sejam estes canônicos ou não, pondo em xeque as matizes culturais das metarrativas ocidentais. Assim, ao propor uma revisão dos sentidos originais, percebemos que o novo discurso (a releitura) não se dá pela veia da revolta militante ou da agressividade ácida, pelo contrário, é concebido pelo viés do riso, característica peculiar de um povo que ri de si mesmo para a compreensão de seu lugar na História. Palavras-chave: Humor judaico; desconstrução; Sagrada Escritura; Moacyr Scliar.

O ESPAÇO LITERÁRIO: BREVE DISCUSSÃO SOBRE ALGUMAS VERTENTES POSSÍVEIS E SUA ABORDAGEM EM LITERATURA

Nelson Luís Ramos [email protected] Fabiano da Silva Costa [email protected]

O espaço enquanto categoria literária tem sua razão de ser, como lembra Genette em Figures II: “(...) devemos também considerar a literatura nas suas relações com o espaço. Não somente (...) porque a literatura, entre outros ‘temas’, fala também do espaço, descreve lugares, moradias, paisagens, (...) nos transporta na imaginação por paragens desconhecidas que ela nos dá por um instante a ilusão de percorrer e habitar; (...)” (1969, p. 43), embora não aprofunde a discussão. Para o teórico Roland Bourneuf, “(...) o espaço deve ser considerado da mesma forma que a intriga, o tempo ou as personagens como um elemento constitutivo do romance e sua presença mobiliza uma série de questões: que elos ligam o elemento espaço aos outros, que inter-relações se estabelecem com ele e em que ele contribui para criar no romance uma unidade dinâmica?” (1970, p. 82). O brasileiro Luis Alberto Brandão, em Teorias do espaço literário, elenca quatro modos principais de abordagem do espaço: como representação, como estruturação textual, como focalização e da linguagem – a primeira, representação do espaço no texto literário, é a que nos interessa. E enfatiza Brandão: “(...) Se o espaço, como categoria relacional, não pode fundamentar a si mesmo, é por meio de suas ‘ficções’ que ele se manifesta, seja para vir a ser tomado por real, seja para reconhecer- 62 se como projeção imaginária, ou, ainda, para se explicitar, na autoexposição de seu caráter fictício, como realidade imaginada” (2013, p. 35). Finalmente, o pesquisador Ozíris Borges Filho lembra, em Poéticas do espaço literário, que desde a década de 60 os estudos sobre ‘espaço’ têm aumentado significativamente (2009, p. 4) e que o binômio espaço-literatura se dividiu em seis linhas: a que trata da forma espacial do espaço literário, a de abordagem temática do espaço, a estruturalista, a que aponta a indissolubilidade entre espaço e tempo, a da relação entre o espaço representado na obra e o espaço da leitura e, finalmente, à relação entre o espaço do escritor, real, geográfico, e o espaço representado na obra. Discutiremos, nessa comunicação, o papel de algumas dessas abordagens do espaço literário e sua aplicação em nossas pesquisas atuais, nele embasadas. Palavras-chave: Teoria literária; narrativa; espaço literário.

REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS DE DINORATH DO VALLE – ESTUDO SOBRE AS CRÔNICAS DE DINORATH DO VALLE NO JORNAL CORREIO DA ARARAQUARENSE DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Vera Lúcia Guimarães Rezende [email protected]

Gênero literário associado aos jornais de circulação nacional, sediados nas capitais brasileiras, a crônica se fazia presente também nas publicações do interior do país em meados do século 20, como o Correio da Araraquarense, de São José do Rio Preto - SP. Inaugurado em 1956, o jornal teve entre seus cronistas mais assíduos a professora e escritora Dinorath do Valle que, durante 14 anos, escreveu semanalmente a coluna “Reflexões Contemporâneas”. Neste trabalho são apresentadas algumas destas crônicas, recolhidas entre as páginas do jornal, e que nunca mais vieram a público, salvo na época em que foram impressas há 61 anos. Mais do que mero resgate histórico da obra de Dinorath do Valle, busca-se refletir sobre os temas escolhidos bem como a abordagem destes temas, que já naquela época indicava um olhar crítico e uma linguagem afiada. Tais escritos merecem ser estudados também por representarem os primeiros passos da professora no desenvolvimento de sua técnica de composição literária, revelada anos depois quando foi premiada em 14 concursos nacionais e internacionais. Entre as décadas de 1970 e 1980, Dinorath do Valle publicou doze livros, todos esgotados: um romance, uma novela, dois livros de contos, quatro livros infanto-juvenis, além de quatro livros pedagógicos sobre desenho artístico, disciplina que ensinou durante 35 anos de magistério público paulista. Palavras-chave: Crônica; Literatura; Região.

ESPAÇO, MOVIMENTO E IDENTIDADE EM CRÔNICAS DE ALEXANDRA LUCAS COELHO

Mariana Letícia Ribeiro [email protected]

Em seu livro de crônicas intitulado Vai, Brasil (2015), a autora portuguesa Alexandra Lucas Coelho retrata, por meio de sua estadia e passagem por várias regiões do Brasil, as peculiaridades e os vários discursos que compõe um espaço tão grande como o Brasil 63 apesar do caráter totalizador da globalização, desmistificando ideias já tão antigas e superficiais construídas pelo estrangeiro em relação ao país. Tal contraste, revela, por sua vez, tanto as consequências econômicas da globalização no lugar que observa e a influência do global no local em termos sociais e culturais, quanto o modo pelo qual a autora estruturará sua visão a respeito do país estrangeiro e da identidade do outro. Portanto, o presente trabalho tem como objetivo ressaltar a presença da viagem e do olhar da autora sobre o país estrangeiro, que é influenciado tanto pela globalização e formas de consumo, como definidas por Canclini (1999), quanto por um resgate do passado, principalmente no que diz respeito ao colonialismo. Ademais, serão observadas quais características poderiam auxiliar na identificação de sua obra como pós-modernista no sentido de que se trata de uma escrita contemporânea que questiona o passado e faz uso de diversos recursos literários e jornalísticos, compondo uma obra que se constitui no limiar, e que, entretanto, procura definir seu próprio espaço dentro da literatura portuguesa. Assim, busca-se realizar a análise da obra estabelecendo sempre o diálogo entre o aspecto espacial e o literário presente nas crônicas, utilizando para isso, além de Massey (2009) e Santos (2003, 2006, 2009), teóricos como Linda Hutcheon (1991) e Ana Paula Arnaut (2002, 2011), bem como de conceitos relativos à construção e representação do espaço na literatura, uma vez que a construção da espacialidade na ficção envolve o olhar subjetivo do narrador. Palavras-chave: Viagem; identidade; espaço; literatura portuguesa.

A BELEZA E O INFERNO DE SAVIANO: QUANDO A LITERATURA É UMA FORMA DE LUTA E DE SOBREVIVÊNCIA

Regiane Rafaela Roda [email protected]

A escrita de Roberto Saviano chama a atenção para os problemas que o sul italiano ainda enfrenta em pleno século XXI: pobreza, descaso das autoridades, subdesenvolvimento e a dominação de organizações criminosas. Em A beleza e o inferno, publicado em 2011, o autor reuniu textos publicados anteriormente, entre 2004 e 2009. Jornalista de formação, Saviano dedicou-se à investigação das facetas da sociedade sulista italiana com o objetivo de transformar e denunciar a realidade à qual milhares de italianos estão sujeitos. Em suas próprias palavras “escrever [...] significou não me perder. Não me dar por vencido. Não desesperar” (SAVIANO, 2011, p. 09). Em suas páginas ecoam o jornalista investigativo, mas se instaura, para além deste, o escritor engajado em uma luta às cegas, combatendo forças perigosas que insistem em calá-lo ou, ainda, fazê-lo desistir de ser o arauto de uma verdade social que muitos preferem manter escondida. Ameaçado de morte pela máfia napolitana, a Camorra, desde 2006, quando publicou Gomorra, o autor permanece protegido e escoltado pela polícia, escondido e mudando seu endereço regularmente para manter-se vivo. Mesmo sob a sentença mortal da máfia, Saviano continua publicando e realizando palestras com o intuito de levar ao conhecimento de seu público a realidade que insiste em ser ainda mais cruel do que qualquer ficção poderia inventar. Nesse jogo de realidades, relatos e narrações cruzadas que mesclam elementos da literatura e do dado jornalístico, este trabalho tem como objetivo demonstrar o papel da Literatura como formadora de uma consciência crítica, veículo de informação e porta-voz de um desejo de mudança e como a obra de Saviano se coloca em um novo espaço literário e retoma a chamada “Questão 64 meridional” sob um novo ponto de vista: daquele que resiste e continua lutando contra um sistema instituído pelo medo. Palavras-chave: Roberto Saviano; Literatura; Máfia; Intertextualidade.

DON LAÍTO E DOÑA BONE X GAROTO ANÔNIMO: A (DES)ESTRUTURAÇÃO DA IDENTIDADE CHICANA NAS PERSONAGENS DE TOMÁS RIVERA

César Augusto Alves dos Santos [email protected]

Este trabalho objetiva analisar como os chicanos (imigrantes mexicanos que vivem nos EUA ou cidadãos estadunidenses descendentes de mexicanos) têm sua identidade (des)estruturada nas personagens do capítulo "La mano en la bolsa", presentes na obra da literatura chicana ...y no se lo tragó la tierra, de Tomás Rivera (1992). Esta investigação evidencia o processo de (des)estruturação da identidade chicana por meio de dois vieses: (i) associando identidade ao conceito de subclasse definido por Bauman (2005), isto é, a negação do direito de reivindicar uma identidade que não seja a atribuída e imposta por outros, representada aqui pelas personagens carregadas de estereótipos Don Laíto e Doña Bone; (ii) por meio da ideia de identidade fragmentada do sujeito pós-moderno defendida por Hall (2006), contrapondo-se à noção de identidade pré-concebida por artefatos culturais imaginados, representada, no texto em foco, pelo garoto anônimo, o qual tem a função de desfazer os estereótipos atribuídos aos chicanos. As questões de identidade serão debatidas ao longo do trabalho a fim de demonstrar que as características das personagens e suas experiências apresentadas na narrativa foram utilizadas como instrumentos tanto de apresentação e de confirmação quanto de ruptura e de desestruturação de estereótipos sempre relacionados à identidade dos chicanos. Palavras-chave: Identidade; Chicanos; Tomás Rivera.

A IMPREVISIBILIDADE DO PROCESSO CRIATIVO EM NOTAS SOBRE UMA POSSÍVEL A CASA DE FARINHA

Gislaine Goulart dos Santos [email protected]

João Cabral de Melo Neto é reconhecido pela imagem de poeta “lúcido”, engenheiro, arquiteto, antilírico; predicados que foram cristalizados pelos estudos críticos de sua obra no final dos anos 1960 até começo de 1980 e consolidados pela crítica posterior que não considerou os livros produzidos sob a influência de poetas, artistas e espaços espanhóis. Estes textos críticos privilegiaram os estudos estruturalistas em que a autonomia do discurso poético e seu fechamento em torno de si mesmo constituíam importante parâmetro de análise, privilegiando um poeta da metalinguagem em detrimento de um poeta preocupado com as questões humanas. Esta tradição crítica, com exceção de alguns estudos, ignorou a presença da mulher, do homem, do nordestino e do sevilhano como uma forma de superação da poesia cabralina este paradigma objetivista e lógico-racional. Para nós, a racionalidade da poética de Cabral “ultrapassa os limites da lógica científica, e abarca o ‘sensível’ e o ‘imprevisível’” 65

(PAVIANI, 1991, p. 7), é uma racionalidade estética que elimina a possibilidade de a obra provir do acaso e se entregar à espontaneidade da emoção. Os manuscritos de Notas sobre uma possível A casa de farinha (2013), além de mostrar que a obra não surge do acaso, já que Cabral prepara planos, roteiros e fichamentos de leitura antes de escrever o texto; revela a imprevisibilidade de seu fazer pelas rasuras e reescritos marginais e interlineares que não são transcritos na publicação organizada por Inez Cabral. Por este motivo, pretendemos realizar, com o auxílio da crítica genética, a transcrição diplomática de algumas folhas manuscritas para reconstituir o processo criativo cabralino, destacando as escritas marginais e interlineares, as rasuras visíveis e invisíveis para pensar novas perspectivas de leitura e destacar a imprevisibilidade da escrita destes manuscritos. Este processo permite contrariar o argumento de grande parte da crítica que retratou João Cabral como um poeta racional e sua escrita como estável e previsível. Palavras-chave: João Cabral; Crítica genética; Imprevisibilidade; Racionalidade.

NOTAS SOBRE O ROMANCE ÁRVORES ABATIDAS – UMA PROVOCAÇÃO, DE

José Lucas Zaffani dos Santos [email protected]

No dia em que se deu o enterro de sua amiga Joana, o narrador do romance Árvores abatidas – uma provocação (1984), de Thomas Bernhard, comparece ao “jantar artístico” na casa do casal Auersberger para recepcionar o famoso ator do Burgtheater em cartaz com a peça O pato selvagem, de Ibsen. Em estado de luto pela morte de Joana, o narrador instala-se em uma poltrona no canto escuro da casa, tentando passar despercebido, de onde observa os convidados à espera do ator. Após décadas sem qualquer contato com os presentes, o narrador torna esse jantar o momento ideal para, via monólogo interior, dissecar as relações entre os artistas de Viena, lugar que há tempos abandonara para residir em Londres. Uma vez que o protagonista interage minimamente com os demais, é pelo olhar que ele vai operar o relato de suas memórias, analisando o gestual, e também as marcas discursivas nas falas dos conterrâneos. Se, socialmente, o reencontro com os amigos vienenses visa celebrar o ator do Burgtheater, permanece incompreensível a todos, no entanto, as causas que teriam levado Joana ao suicídio. A partir dos pontos levantados, analisaremos a instância do olhar tomando por base as ideias de Georges Didi-Huberman em O que vemos, o que nos olha. Sobre a questão da morte, especificamente, do suicídio traremos como aporte O mito de Sísifo, de Albert Camus. Desse modo, com essa comunicação, pretendemos discutir como a função escópica, aliada ao monólogo interior, contribui para que o narrador tente elaborar um sentido para a morte. Palavras-chave: Thomas Bernhard; literatura alemã; morte; olhar.

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A EXPRESSÃO DO GROTESCO NA POESIA DE ADEMIR ASSUNÇÃO

Suzel Domini dos Santos [email protected]

O presente trabalho visa apresentar as formas pelas quais a linguagem poética construída por Ademir Assunção estabelece releituras criativas da modernidade na medida em que mobiliza elementos da tradição, promovendo um diálogo constante não apenas com a poesia, mas com as artes de um modo geral. Dentro desse escopo, propomos uma leitura crítica do livro de poemas intitulado A voz do ventríloquo, cuja publicação é de 2012, tendo como principal foco de análise a manifestação do grotesco e do fragmentário, que fazem ressoar aspectos do projeto estético de Charles Baudelaire. Valendo-se de uma apropriação altamente criativa de elementos modernos, como a intertextualidade, a junção de realidades dissonantes e a colagem, Assunção constrói um universo de linguagem autônomo e singular, que força os limites da representação e, com isso, questiona os limites do real convencionado. O grotesco é acionado pelo poeta brasileiro enquanto meio de manifestar o desconcerto em relação ao próprio mundo, a angústia diante de uma realidade sócio histórica fundamentada nos ditames do consumo, e também para questionar padrões massivos, evidenciando a arbitrariedade dos valores que nos norteiam. A poesia de Ademir Assunção reafirma a categoria do grotesco como elemento propício à expressão de uma verdade estética que diverge das normas correntes, de um entendimento passivo do mundo, contrapondo-se à ordem da linguagem habitual e, também, do contexto histórico em que se insere. Em seu exercício criativo, o poeta reafirma paradigmas da modernidade e, ao mesmo tempo, os atualiza, abrindo um leque de novas possibilidades de sentido, engendrando respostas à tradição. Palavras-chave: Ademir Assunção; Poesia contemporânea; Grotesco; Modernidade.

A EPÍGRAFE METAFICCIONAL EM CORDILHEIRA, DE DANIEL GALERA

Danatiele Soares Segato [email protected]

A metaficção é constantemente relacionada à literatura modernista e pós-modernista, apesar de integrar uma longa tradição do romance e figurar em obras literárias desde o século XVIII. Recurso muito utilizado por autores brasileiros contemporâneos, para o professor Karl Erik Schøllhammer (2011) é preciso uma “boa dose de vontade iconoclasta e profanadora” para não poupar sequer a própria literatura. Em Cordilheira (2008), Daniel Galera questiona o papel da literatura ao narrar a história de um grupo de escritores argentinos que desempenham os personagens de seus próprios livros e partilham suas experiências como verdadeiros membros de uma espécie de seita lítero- filosófica, inspirados no autor guatemalteco, Jupiter Irrisari, que parou de escrever suas histórias e passou a vivê-las. Guiando-nos pelos estudos paratextuais de Gérard Genette (2009) e metaficcionais de Lynda Hutcheon (1984), pretendemos evidenciar que ao começar seu livro tendo como epígrafe um recorte do livro Personajes, de Irrisari – o autor ficcionado na própria história –, Galera utiliza o peritexto como suporte para toda a história que será apresentada, contendo em si o ideal do grupo de autores portenhos que encaram o fazer e viver literário como um compromisso inquebrantável e mantém a circunscrição do romance ao epigrafar o autor criado para servir de alavanca à metaficção do livro. 67

Palavras-chave: Literatura brasileira; epígrafe; metaficção.

A TOADA DE BUMBA MEU BOI COMO GÊNERO LITERÁRIO: UM CANTO ENTRE A VOZ FOLCLÓRICA E A VOZ POÉTICA

Janick de Lisieux Diniz Serejo [email protected]

Segundo a versão de Bueno (1999), a lenda do boizinho de São João é recriada pelo Bumba meu boi maranhense através da tradição oral, por isso comum durante as apresentações das brincadeiras e exaltações a Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal, sendo os dois últimos muito reverenciados pelos grupos considerados de sotaques de raiz (matraca e zabumba).O objetivo deste trabalho é identificar a toada do Bumba meu boi do Maranhão como gênero literário e reconhecer na performance oral os aspectos da poética presentes na construção da cultura maranhense. Neste trabalho, trataremos o Bumba meu boi não só como manifestação folclórica maranhense, mas como literatura, dando ênfase à voz poética das toadas. A metodologia adotada para a realização deu-se em três etapas: 1) a catalogação bibliográfica para favorecer uma melhor compreensão da pesquisa regional e melhor embasamento teórico; 2) a visita aos barracões e locais de ensaios para uma maior aproximação com os grupos de bumba meu boi; 3) a escolha da toada para análise, sendo que esta foi transcrita de registro oral. Com base na concepção do etnólogo Paul Zumthor, de que a poesia oral está presente nas mais variadas manifestações artísticas que têm a voz como matéria-prima do canto, é que nos propusemos a escrever este trabalho, e pudemos comprovar que a fé e a devoção ao sagrado oferecem aos compositores, na maioria os cantadores ou Amos do bumba meu boi, elementos estruturais para exprimir o poético na magia das toadas. Palavras-chave: Toada; Performance poética; Oralidade; Paul Zumthor.

UMA POÉTICA DA FRAGMENTAÇÃO: ESTUDO DO NARRADOR AUTODIEGÉTICO EM O SOM E A FÚRIA E ENQUANTO AGONIZO, DE WILLIAM FAULKNER

Claudimar Pereira da Silva [email protected]

A presente comunicação objetiva a análise da figura do narrador, na obra do escritor norte-americano William Faulkner, por meio de uma delimitação teórica específica, calcada em narradores de tipo autodiegético, isto é, aqueles que narram e configuram-se ao mesmo tempo como personagens centrais da diegese (REIS & LOPES, 1988). A partir dos pressupostos teóricos cristalizados por Gérard Genette em Discurso da Narrativa (197-), mais especificamente os conceitos de voz e focalização, pretende-se analisar o modo como estes dois mecanismos operam na construção da sintaxe discursiva de três narradores previamente selecionados na obra faulkneriana. Trabalhamos com a hipótese de que os conceitos de voz e focalização, ou seja, o processo de enunciação e a instauração da perspectiva sobre a dimensão diegética configuram-se como fatores determinantes para a sedimentação de uma narrativa de teor poético, respaldada nas técnicas de fluxo de consciência e monólogo interior, no aparato metalinguístico, na modulação lírica de tais vozes, e nas construções geológico- 68 subjetivas desses narradores. A partir desses componentes, julgamos que instala-se, na narrativa de Faulkner, aquilo que nomearemos como uma poética da fragmentação, isto é, a representação da fragmentação subjetiva do (s) narrador (es), em termos de estrutura, linguagem e poeticidade. Como já foi reiterado, o corpus de nossa comunicação será fundamentado em narradores-protagonistas, imiscuídos na ação, e que possuam tal maneira de narrar. Dessa forma, trabalharemos com três narradores provenientes de dois romances importantes da obra do escritor sulista: os irmãos Benjy e Quentin Compson, de O Som e a Fúria (2009), e Darl Bundren, de Enquanto Agonizo (2010). Palavras-chave: William Faulkner; narrador; narrativa poética; fragmentação.

ATOS DE EQUILIBRISTA: MODESTO CARONE E A NARRATIVA DOS MÚLTIPLOS PERTENCIMENTOS

Efraim Oscar Silva [email protected]

Críticos e teóricos contemporâneos que atuam em diferentes campos, como filosofia, história, estética, sociologia, antropologia e estudos literários, discutem a identificação do literário com o não literário, implicando a incorporação de visões, crenças, significados, discursos que estão mais ou menos distantes do seu “campo de origem”, das suas matrizes clássicas e do cânone. A ensaísta argentina Josefina Ludmer situou essas experiências em posição diaspórica: ao transporem a fronteira do literário, as obras “ficam dentro e fora”. Identificamos na produção ficcional do escritor (e também tradutor, ensaísta e professor) Modesto Carone esse deslocamento/ deslizamento da literatura na direção de outros gêneros e de outras expressões do cognitivo e do sensível. São até o momento quatro volumes de contos e uma novela – As marcas do real, Aos pés de Matilda, Dias melhores, Por trás dos vidros e Resumo de Ana –, nos quais a textualidade manifesta traços formais e temáticos que mesclam características do relato memorialístico, da crônica do cotidiano, da prosa de ficção e do ensaio. Nossa pesquisa propõe-se a analisar essa obra na perspectiva da sua interseção com outros campos (leia- se outras racionalidades e subjetividades) e a refletir sobre o seu caráter singular. Para cumprir esse percurso, faremos uma pesquisa bibliográfica de natureza teórico-crítica e referenciaremo-nos em discussões em torno das experiências expansivas da arte e da literatura contemporâneas, desenvolvidas por autores como Jacques Rancière, Florencia Garramuño, Néstor Canclini e Roberto González Echevarría, entre outros. Esperamos demonstrar que o texto ficcional de Carone se distancia da tradição mimética na literatura ocidental e ostenta um distanciamento entre o narrador e o narrado que é frequente no discurso não literário. Ou seja: expande-se do campo literário para o não literário, movimento que tem sido apontado como um dos traços marcantes da arte contemporânea. Palavras-chave: Narrativa brasileira contemporânea; Modesto Carone; Literatura expandida.

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A LOUCURA E O LUGAR QUESTIONADOR DA LITERATURA

Elaine Cristina dos Santos Silva [email protected]

Entendemos a loucura, conforme Michel Foucault em História da loucura na idade clássica (1972), como um fenômeno socialmente percebido, historicamente forjado e não tão natural quanto parece. Com isso em mente, e ainda à luz de Foucault, importa- nos ressaltar como, na modernidade, a loucura é percebida por meio de uma relação negativa com a razão, em que esta detém o poder não apenas de determinar o que é aquela, mas também de trancafiá-la em asilos e silenciar sua fala em nome de uma normalidade muito mais subjetiva do que a medicina psiquiátrica gostaria de admitir. Se, no campo científico, o discurso psiquiátrico isola a loucura e a desqualifica em favor da razão, no campo da arte o discurso literário resgata esteticamente a voz do louco para propor questionamentos, relativizar a lógica das práticas cotidianas e sugerir, conforme Maria Cristina Batalha, outra regulação do mundo, que não passe pela cultura ou pelas crenças vigentes. Sabendo disso, ao analisar como se dá a construção formal das personagens loucas nas narrativas do autor francês Guy de Maupassant, poderemos evidenciar como a desorganização da mente, conforme aponta Irène Bessière, remonta ao questionamento da cultura, na qual o indivíduo não se encaixa ou não consegue expressar plenamente sua individualidade, sufocado que é pelo discurso da normalidade. Por meio dos contos de Maupassant será possível demonstrar como as personagens loucas podem desempenhar papéis privilegiados enquanto questionadoras do universo cotidiano, uma vez que o delírio, a alucinação ou outras manifestações de desarranjo mental têm a vantagem de mostrar que não existe uma única lógica possível, colocando em xeque a ordem pré-estabelecida. Palavras-chave: Loucura; Normalidade; Foucault; Maupassant.

A LITERATURA E A PROVOCAÇÃO: O MITO DE FEDRA E HIPÓLITO NA POESIA DE EURÍPIDES

Fernando Crespim Zorrer da Silva [email protected]

No período clássico, o filósofo Platão proclama, na República, que Homero havia educado a Grécia, ou seja, outorga-lhe um papel pedagógico por sua poesia e, ao mesmo tempo, coloca-o no centro da Literatura Clássica. Sobre a tragédia grega, Aristóteles salientou, dentre outras questões, na sua Poética, a importância da catarse na tragédia grega. Na verdade, cada pensador avalia diversas peculiaridades para analisar a Literatura e o seu respectivo lugar na sociedade. Uma das questões pertinentes é se, para todas as obras, as respostas seriam as mesmas. O caso das tragédias de Eurípides nos proporciona um elemento a mais para reflexão dessas indagações. O drama Hipólito Encoberto, após ter sido representado, provocou reações negativas por parte do público. Devido à má recepção, Eurípides escreveu uma nova peça, Hipólito porta-coroa. Trata- se de um dos poucos casos na História da Literatura na qual um escritor reescreve um texto por causa da reação do público. Por que o teatro de Eurípides provocou todo esse desconforto? A resposta, mesmo que parcial, pode ser pela apresentação de uma paixão de uma mulher pelo seu enteado. Assim, parece haver indicativos de que um dos lugares da Literatura na sociedade é produzir rupturas, cisões e explorar o que ainda é pouco 70 investigado, revelar que mesmo o que é polêmico pode ser somente uma faceta, como é o caso, aqui, por exemplo, do amor, da paixão, dos sentimentos. O escritor, ao escrever as suas obras, procura ocupar um lugar entre a sua obra e a sociedade, apresentando novas reflexões ou tão-somente respostas. Seguindo esses questionamentos, pretendemos examinar, através dessas duas peças, que tipo de contribuição nos fornecem para o debate do lugar da Literatura na sociedade. Palavras-chave: Eurípides; Fedra; Hipólito.

DÍCTIS: A QUESTÃO DO NARRADOR/AUTOR EM EPHEMERIS BELLI TROIANI

Gelbart Souza Silva [email protected]

Nesta comunicação apresento a constituição do narrador na obra da literatura latina tardia conhecida como Ephemeris Belli Troiani (Diário da Guerra de Troia), datável do século IV d. C. Ephemeris relata os eventos da Guerra de Troia do ponto de vista de um narrador em primeira pessoa que se apresenta como um soldado cretense de nome Díctis, alistado na milícia do comandante grego Idomeneu. Dessa forma, a narração do prélio entre gregos e troianos (conhecida em literatura primordialmente pelo poema épico Ilíada, de Homero) reveste-se em Ephemeris de uma atmosfera “racionalizante”, pois diminui os heróis à condição humana regular, afasta consideravelmente de cena os deuses e apresenta uma organização narrativa baseada na lógica, na cronologia e na totalidade dos eventos (pois conta-se relativamente todo o conteúdo central da Guerra de Troia: de sua origem no rapto da formosa Helena até o regresso dos gregos vitoriosos à terra natal). Composta de seis capítulos, precedidos por uma carta e um prólogo, a obra é uma versão para o latim de um texto originalmente em grego, o qual se encontra hoje fragmentado. Seguindo apontamentos de Brandão (2005) acerca da instância do narrador no romance antigo grego e os comentários de Karen Ní Mheallaigh (2008) e Mireia Movellán Luis (2015) sobre o caráter (pseudo)histórico de Ephemeris, examino o modo como a apresentação do narrador de Ephemeris nos paratextos (na Carta do tradutor latino e no Prólogo do “editor” grego do texto) e a sua narração empreendida em primeira pessoa, testemunha ocular dos fatos, produzem um efeito de autoridade quanto à veracidade do relato. Com esse exame, busco refletir acerca da confusão (pretensamente intencional) entre narrador e autor em Ephemeris e a sua recepção na Idade Média. Palavras-chave: Guerra de Troia; Ephemeris Belli Troiani; Díctis Cretense; romance antigo.

O MITO DA BABEL E A TRADUÇÃO POÉTICA DE HAROLDO DE CAMPOS

Laís Midori da Silva [email protected]

De modo geral, não é tão atípico ouvirmos falar sobre o mito da Babel, episódio retratado no Livro do Gênesis, que compõe o Pentateuco da Bíblia cristã. Nessa passagem, Deus embaralha as línguas dos povos para dificultar a comunicação, haja vista que os mesmos almejavam construir um templo a fim de alcançar o céu. É claro 71 que esse é apenas um resumo superficial e talvez um tanto quanto grosseiro do acontecimento bíblico, entretanto, o grande interesse do presente trabalho dá-se muito mais pela importância das questões da linguagem e da comunicação abordadas pelo mito do que pela validade religiosa da Babel. Ocorre que, segundo nossa hipótese, o poeta, como um Deus-Poietés, realiza um trabalho que se assemelha ao de Deus, porém, de modo reverso: ao invés de embaralhar a língua dos povos para impedir a comunicação, faz convergir as linguagens, amalgamando-as no texto poético e transformando-as linguagem universal da poesia. Dessa maneira, ao destacarmos a importância mitológica da referida passagem, pretende-se, a partir da leitura da tradução da “Babel” (CAMPOS, 2004) realizada por Haroldo de Campos, compreender o procedimento adotado na escolha da linguagem poética na recriação de um texto que retrata o mito da origem – a gênese do mundo - na contemporaneidade, período em que não só a linguagem como também a cultura se encontra totalmente “babelizada”. Palavras-chave: Babel; Cultura; Linguagem; Poesia; Tradução.

O ROMANCE AMANHÃ (1901), DE ABEL BOTELHO, E O NATURALISMO

Moisés Baldissera da Silva [email protected]

Abel Acácio de Almeida Botelho, mais conhecido como Abel Botelho, é um escritor português que, segundo Saraiva e Lopes (1955, p. 951), “representa o ponto extremo até onde chegou [...] a ficção naturalista da escola de Zola'". É conhecido por publicar a série de romances intitulada Patologia Social, com a qual o autor pretendeu criticar "as grandes famílias titulares [...] corroídas pelas ‘diáteses mórbidas’ de devassidões e alianças consanguíneas ancestrais'" (SARAIVA, 1955, p. 951). As obras de destaque nessa série são O Barão de Lavos (1891), que dá início à série, e O Livro de Alda (1898). Ambas retratam a homossexualidade, respectivamente, masculina e feminina, sendo as mais conhecidas pelos críticos. Há nessa série, também, o romance Amanhã (1901), escrito entre novembro de 1894 e junho de 1895, momento de intensa discussão sobre os movimentos políticos em Portugal, sendo eles o socialismo, comunismo e anarquismo, esse último predominante no romance. Sendo assim, como objetivo, procurarei apresentar algumas características naturalistas, baseado na obra O romance experimental e o naturalismo no teatro (1979), de Zola, e como elas estão presentes, ou não, no romance Amanhã (1901). Esses apontamentos são necessários para que possamos compreender em que medida o autor português se apropria e modifica os conceitos naturalistas para criar uma obra com uma gama intensa de peculiaridades. Palavras-chave: Naturalismo português; Abel Botelho; Patologia Social.

ASPECTOS HIPERMODERNOS NO CONTO "O IMPORTADO VERMELHO DE NOÉ", DE ANDRÉ SANT'ANNA

Paulo Ricardo Moura da Silva [email protected]

Sob muitos aspectos, a narrativa brasileira contemporânea apresenta uma forte tendência em ressignificar suas relações representacionais com a realidade sociocultural, sobretudo no que se refere à exploração estética da dimensão cultural da sociedade 72 contemporânea, em sua condição fragmentária, instável, múltipla, individualista, consumista e midiática. Com o olhar apurado e atento para as relações sociais, a ficção brasileira produzida nas últimas décadas parece lançar-se na perspectiva de busca pelos aspectos pisoteados da cultura a fim de produzir uma literatura que afete o leitor, ao mesmo tempo em que seja afetada por ele (SCHØLLHAMMER, 2012). Nesses termos, a presente proposta de trabalho tem como objetivo primordial discutir criticamente o conto “O importado vermelho de Noé”, do escritor André Sant’Anna (2007), presente no livro Sexo e amizade, sob a perspectiva das reflexões de Gilles Lipovetsky (2004) sobre os aspectos fundamentais que constituem a hipermodernidade. Iremos nos atentar em nossa leitura crítica para os diálogos possíveis entre o conto de André Sant’Anna e as discussões de Gilles Lipovetsky de modo a aproximá-los para verificarmos certos aspectos convergentes entre estes dois discursos – o literário e o teórico, respectivamente –, como, por exemplo, no que diz respeito ao consumismo, ao individualismo, bem como às ressignificações nas relações que os indivíduos hipermodernos estabelecem com o tempo. Palavras-chave: André Sant’Anna; hipermodernidade; narrativa brasileira.

QUAL O LUGAR DE CAMPOS DE CARVALHO NA LITERATURA BRASILEIRA?

Thalita Cristina Silva [email protected]

Esta comunicação tem por objetivo tecer algumas considerações sobre a vida e a obra do escritor mineiro Campos de Carvalho, oportunizando à comunidade acadêmica o conhecimento sobre a literatura de um autor irreverente, irônico, polêmico e, até agora, pouquíssimo estudado. A obra literária de Campos de Carvalho é constituída por pelo menos quatro livros que trouxeram notoriedade ao autor e agitaram a literatura brasileira do século XX. São eles: A Lua Vem da Ásia (1956), Vaca de Nariz Sutil (1961), A Chuva Imóvel (1963) e O Púcaro Búlgaro (1964). Além destes, Campos de Carvalho também foi autor de mais dois livros que ele mesmo renegou: Banda Forra (1941) e Tribo (1954). Durante a vida, ainda escreveu cartas, contos e crônicas para o Pasquim, alguns dos quais foram reunidos e publicados pela José Olympio postumamente. Embora tenha produzido uma obra relativamente extensa e tenha tido sucesso na maioria de seus livros, esse notável escritor ocupa um lugar restrito na história da literatura brasileira, ficando sempre às margens da nossa formação. O IV Congresso Internacional do PPG-Letras propõe um tema que incomoda e faz refletir, deixando a seguinte pergunta: Qual é o lugar da literatura? Essa pergunta me leva a outra: Qual o lugar de Campos de Carvalho na literatura brasileira? É, portanto, esta proposição que norteará este estudo. Palavras-chave: Campos de Carvalho; literatura brasileira; lugar.

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MAXIMUS IN MINIMUM: A BREVIDADE EM MICRORRELATOS DE ANA MARÍA SHUA

Danieli Munique Fontes da Silveira [email protected]

Parente próximo do conto, narrativa hiperbreve, gênero híbrido, economia de meios para alcançar o máximo de efeitos. Estas são ideias chaves relacionadas ao microrrelato. Ródenas de Moya em El microrrelato en la estética de la brevedad del Arte Nuevo afirma que o microrrelato possui uma fórmula na qual impera a regra “basta o suficiente”: existe a intenção de fechar o universo dentro de um verso valendo-se do maximus in minimum. Este gênero conta com o leitor ativo e cúmplice para alcançar a total significação da narrativa e ler mais do que as poucas linhas escritas no papel. A consolidação do microrrelato possui vários fatores que presidiram a gênese da cultura pós-moderna: as teses de dissolução do sujeito, a redução do protagonismo do indivíduo, as condições humanas como o sofrimento, amor, morte, perdão. Podemos encontrar esses temas em vários textos da escritora argentina Ana María Shua presentes no livro Cazadores de Letras e mostrar como essas reflexões são construídas é um dos objetivos do nosso trabalho. Mas como um gênero tão breve é capaz de alcançar pensamentos tão profundos relacionados aos anseios, desejos e medos do sujeito pós- moderno? Dessa forma, apresentaremos também uma discussão sobre como a própria brevidade é o motor que possibilidade a construção das reflexões promovidas pelas narrativas de Shua. Utilizaremos como embasamento teórico de nossa reflexão, além do trabalho já citado, o estudo de David Lagmanovich El microrrelato. Teoría e historia (2006) e o trabalho de Irene Andres-Suáreaz, La era de la brevedad. O microrrelato está longe de ser um gênero menor ou um subgênero do conto, ele possui estatuto próprio e ocupa um espaço no panorama literário. Portanto, promover o debate dessas ideias pode contribuir para proposições associadas com lugar da literatura, ou se há realmente um lugar para ela. Palavras-chave: Microrrelato; Brevidade; Pós-modernidade.

UM ESTUDO SOBRE A MEMORIA E A REPRESENTAÇÃO EM A FLORESTA DO ALHEAMENTO E O MARINHEIRO DE FERNANDO PESSOA

Maraynna Cristiano Simão [email protected]

Este estudo investiga a relação entre a memória como mecanismo articulador de ideias capaz de situar entre o fato real e a imaginação dos sujeitos diante dos fatos e acontecimentos, e a criação literária em A Floresta do Alheamento e O Marinheiro de Fernando Pessoa. Essa memória, dada como um procedimento além de uma faculdade humana, é capaz de mobilizar diversas temáticas e ser matéria prima para a criação poética e literária. Tendo em vista essa questão, o presente estudo busca apontar as relações criadas entre a problemática da memória e o texto literário e demonstrar como essas relações são fundamentais para a articulação de alguns temas como o sonho e a realidade, a lembrança e a ficção, a razão e a emoção, que emergem no texto por intermédio do uso da rememoração como seu princípio desencadeador. Como metodologia, esse trabalho, em primeiro lugar, analisa os procedimentos linguísticos literários dos textos selecionados e depois discute alguns dos seus temas mais 74 marcantes. A fundamentação teórica é formada pelos escritores Michel Pêcheux, Henri Bergson e Paul Ricœur e seus escritos sobre a problemática da memória. Espera-se, portanto, que o resultado dessa análise crítica possa elucidar como se estabelece a relação entre a temática da memória e o discurso literário/ficcional nesses dois textos de Pessoa. A partir disso, busca-se analisar e compreender os possíveis sentidos veiculados pelos textos escolhidos, levando em consideração toda a problemática da memória e o universo poético literário desse autor. Palavras-chave: Memória; Literatura; Fernando Pessoa.

TRAMAS DA NARRATIVA: ESPAÇO, TEMPO E INCONSCIENTE POLÍTICO

Vitor Soster [email protected]

Na contemporaneidade, a linguagem cinematográfica é uma das principais formas de expressão e reflexão sobre a sociedade. O “narrador cinematográfico” (cf. Casetti; Di Chio, 1990) articula os elementos narrativos sob a organização de um “autor implícito” (cf. Booth, 1961). O modo pelo qual isso é feito pode render alguma compreensão sobre o movimento social em curso que se põe mais pela forma do que meramente pela fábula narrada. Forma, porém, constituída pelo seu exterior. Para o estudo da forma narrativa do filme O som ao redor (Mendonça Filho, 2012), proponho analisar o modo pelo qual o espaço é produzido (cf. Lefebvre, 1974) e quais “práticas de tempo” (cf. Bensa, 1997) estão envolvidas nesse espaço no presente, no passado e no futuro. O filme versa sobre a vida urbana de classe média e retrata os conflitos vividos por essa classe, em quatro diferentes núcleos de ação, os quais divido segundo seus protagonistas: Bia, João, Francisco e Clodoaldo. Esses conflitos, marcados como vividos contemporaneamente, contam também um pouco da história do país e das relações entre classes. Os resultados a serem apresentados buscam mostrar, em que medida, tempo, espaço e “inconsciente político” (Jameson, 1981) se articulam na construção de um lugar para a narrativa, ou seja, de um lugar a partir do qual uma história é contada. Palavras-chave: narrativa; cinema; O som ao redor; contemporaneidade.

O BIOPODER COMO FORMA DE CONTROLE DAS ESCRAVAS CLONES EM “AN ORISON OF SONMI~451”, EM CLOUD ATLAS, DE DAVID MITCHELL

Davi Silistino de Souza [email protected]

No presente trabalho analisamos de que maneira a sociedade capitalista distópica do futuro se utiliza do biopoder como forma de controle e dominação direto dos escravos geneticamente criados no capítulo “An Orison of Sonmi~451”, presente em Cloud Atlas, de David Mitchell. Ademais, demonstraremos como a protagonista Sonmi~451 é capaz de combater os recursos de biopoder que essa sociedade traz. Desenrolando-se mais de um século posterior à contemporaneidade, tal capítulo traz suposições do modo como o sistema econômico, político, social se manifestará no futuro. Nessa narrativa, podemos ainda perceber um âmbito de controle e poder hegemônico subjugador, o qual atinge de uma forma direta a vida de parte dos seres – principalmente os que foram 75 geneticamente construídos. Sonmi~451, de fato, assim como suas irmãs clones, vive sob um regime de escravidão. Ou seja, essas vidas são, literalmente, posse das pessoas no poder. O conceito que trazemos de biopoder é retomado de Foucault (2015), o qual o define como o direito de vida e morte. Tal direito desenvolve-se com o passar dos séculos, caminhando desde o período antigo (dominação dos escravos e dos filhos pelo pai de uma família romana); até a contemporaneidade (políticas reguladoras da vida, como de natalidade, controle da mortalidade, pesquisas a fim de estender a longevidade). Na narrativa de Mitchell, Sonmi~451 lida com um estágio avançado do biopoder, em que há um retorno a um primitivismo escravocrata, em que o estado, representado por corporações, possuem o controle da vida das escravas clones. Para o desenvolvimento da pesquisam, utilizamos Foucault (2015) e Rabinow; Rose (2006) para compreender o funcionamento e o desenvolvimento do conceito de biopoder na história. Portanto, propomos revelar quais os meios que o estado tem para controlar a vida das escravas no romance e quais ações são tomadas por Sonmi~451 a fim de lutar contra essa subalternização. Palavras-chave: Biopoder; Cloud Atlas; Sonmi~451; David Mitchell.

A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM FEMININA NO POEMA "BRANCA DE NEVE", DE GUILHERME DE ALMEIDA

Denise Loreto de Souza [email protected]

Quando nos deparamos com o título “Branca de Neve”, esse nos remete, imediatamente, a um conto de fadas, oriundo da tradição oral, e que, atualmente, habita os livros de contos infantis. Registrado em 1812, pelos Irmãos Grimm, o conto sofreu diversas reescrituras ao longo dos séculos, em diferentes suportes, tanto em filmes quanto em poemas. A personagem Branca de Neve, do conto, é conhecida por sua beleza incomparável e por sua bondade. No poema, Branca de Neve aparece como a lembrança de um amor distante do eu-lírico, que a recorda com saudosismo, numa atmosfera de sonho e fantasia. E nosso objetivo é analisar de que forma a imagem da figura feminina é construída no poema Branca de Neve, publicado no livro Encantamento (1925), de Guilherme de Almeida, e até que ponto dialoga com a personagem do conto dos Irmãos Grimm. Branca de Neve é a figura idealizada por quem o eu-lírico se apaixonou. O eu- lírico é um leitor de contos e projetou sua vida na história que já leu. Há um movimento metalinguístico no poema, que pretendemos evidenciar. Focalizaremos, também, aspectos de sonoridade e a questão do amor romântico, que perpassa todo o poema e que contribuem para compor a imagem dessa figura que é o “objeto” de amor e desejo do eu-lírico. Como fundamentação teórica, utilizaremos textos que nos remetam ao universo dos contos maravilhosos, como o de Barbara Vasconcellos de Carvalho, intitulado A literatura infantil (1982); o de Nelly Novaes Coelho, O conto de fadas (1987); dos Irmãos Grimm, Contos maravilhosos infantis e domésticos (2014) e textos que tratam de aspectos sonoros relacionados à poesia, como "O ritmo", de Octavio Paz (1982). Palavras-chave: Branca de Neve; eu-lírico; intertextualidade.

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O DEVIR DO FANTÁSTICO NA LITERATURA DE SAMANTA SCHWEBLIN

Emilia Magalí Spahn [email protected]

A proposta da presente pesquisa consiste na problematização do fantástico, articulado a partir da tematização da loucura - entendida como o sem-sentido no modo de falar ou agir de determinado personagem - na produção literária da escritora argentina Samanta Schweblin. Se sustenta como hipótese que a narrativa de Schweblin permite atualizar a discussão a respeito da literatura fantástica ao substituir a tradicional dicotomia entre racional e irracional, postulada por Todorov (1970), pela contraposição entre o esperado e o inesperado, ao habilitar uma multiplicidade de pontos de vista no relato. Essa contraposição pode ser lida em função da alteração do reconhecível, esboçado nas narrativas vinculado ao conceito de loucura, ao considerar a leitura de Campra (2001), que sustenta que o objetivo do fantástico é iluminar os abismos do incognoscível. O trabalho visa explicitar a proliferação de sentidos na narrativa da autora associado ao contexto de produção, ao considerar a incidência na escritura literária da substituição do sujeito racional pelo sujeito do inconsciente (Freud) e sujeito do desejo (Lacan). A análise se dará, especificamente, a partir dos contos “El hombre sirena”, “Pájaros en la boca” e “Bajo tierra”, presentes no livro Pájaros en la boca (2009), “Nada de todo esto, “Mis padres y mis hijos” e “Para siempre en esta casa”, reunidos no livro Siete casas vacías (2015), e do romance Distancia de rescate (2014). Palavras-chave: Fantástico; Literatura e psicanálise; Literatura contemporânea argentina; Samanta Schweblin.

ROBINSON CRUSOE: DANIEL DEFOE POR N.C. WYETH

Edna Carla Stradioto [email protected]

Entre 1870 e 1950 os Estados Unidos viviam os Anos Dourados da ilustração literária. Além do desenvolvimento da tecnologia de impressão colorida na década de 1890, a produção de papel em larga escala provocou a redução nos preços desse produto, estimulando o mercado editorial, e conta-se ainda que as ferrovias facilitavam a distribuição dos produtos e a era industrial favorecia e incentivava a leitura em geral. Diante de um cenário tão favorável, as editoras passaram a requisitar cada vez mais os trabalhos de imagem para revistas e obras literárias, movimentando uma classe de artistas que revolucionou a arte americana da ilustração. Um dos nomes de destaque dessa época é o de Newell Convers Wyeth (1882-1945), conhecido como N.C. Wyeth. Esse estudo compreende a análise da poética desse pintor para as ilustrações feitas (1920) para o romance histórico Robinson Crusoe (1719) de Daniel Defoe. Dessa produção escolhemos quatro ilustrações para refletir, como a produção do pintor interagiu com a obra, como a feitura pictórica encontra homologias no texto, e como o projeto estético de Wyeth para Robinson Crusoe contribuiu para a leitura do livro. Portanto, esse trabalho prioriza o exame de algumas das pinturas de Wyeth nessa obra, a fim de investigar a ótica com a qual foram trabalhadas a relação texto-imagem e em qual medida elas contribuíram para a leitura da obra, adicionando ou modificando conteúdos. Isto posto, esse estudo tem como base a investigação da imagem estática para o gênero literário livro ilustrado. 77

Palavras-chave: Robinson Crusoe; Daniel Defoe; N. C. Wyeth; ilustração.

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A POBREZA DE EXPERIÊNCIA NA POÉTICA DO RAP

Henrique Yagui Takahashi [email protected]

Nos últimos 20 anos, o rap (rhythm and poetry) é uma das principais narrativas poéticas que expressam as experiências dos sujeitos marginalizados das periferias urbanas brasileiras. Para analisar as narrativas poéticas do rap, utilizarei do conceito de experiência de Walter Benjamin (2015). Para Benjamin, a experiência de vida dos sujeitos seria a matéria-prima para a elaboração das narrativas poéticas. E no caso do rap, suas narrativas teriam como temáticas centrais as experiências do universo marginalizado: a violência estatal, criminalidade, sistema penitenciário, tráfico e consumo de drogas, racismo, pobreza e miséria social. A partir deste conceito de experiência, o autor faz uma análise da transição da narrativa tradicional para a narrativa moderna. A narrativa tradicional tem como figura central o “contador de histórias”, que não seria apenas aquele personagem que narra uma história, mas é um conceito cuja característica essencial seja o ato de partilhar experiências. A transição para a narrativa moderna se dá a partir das grandes guerras do século XX (I e II GM), em que os soldados que voltavam da guerra ou aqueles prisioneiros do campo de concentração vivenciaram fatos tão absurdos, que tais experiências se tornaram inenarráveis, ou seja, a experiência partilhada foi silenciada e Benjamin chama-se isso de “pobreza de experiência”. A poesia moderna se constituirá com a tentativa de narrar as “experiências do choque”, ou seja, utilizar todas as vivências violentas e traumáticas que ocasionam o “choque” em expressão poética. O objetivo deste trabalho é analisar a poética do rap como uma narrativa que relaciona a narrativa tradicional do “contador de histórias” e a narrativa moderna da “experiência do choque”. Na narrativa do rap, a estética tradicional estaria na recuperação das narrativas orais do griot africano e do spiritual afro-americano. Estas tradições orais possuem o intuito de rememorar e recuperar a história dos antepassados africanos que fora apagada com a diáspora africana e sua respectiva escravidão. Porém, ao mesmo tempo em que o rap recupera a tradição oral, há também elementos das experiências de choque do Brasil contemporâneo, como a violência, a criminalidade, o racismo e ausência do Estado. Palavras-chave: Rap; Benjamin; experiência.

A PAISAGEM POÉTICA EM NATHANAËL (1996), DE JEAN GROSJEAN

Joshua Teixeira Tangi [email protected]

Esta comunicação intenciona discutir o lugar da paisagem como elemento poético no livro de poemas Nathanaël (1996), do poeta, tradutor e crítico francês Jean Grosjean (1912 – 2006). A obra sobre a qual se pautará nossa fala é dividida em quatro seções (“Runes”, “Un jonc pour mesure”, “La voile du temple”, e “Ils ont paru mourir”), com 121 poemas ao total, apresentados em versos e versículos. Cintilam, na leitura de Nathanaël, matizes tanto humildes, em virtude da suposta simplicidade das imagens 78 naturais e paisagísticas aí movimentadas, quanto solenes, face ao aparente ocultamento do enunciador poético nos textos, de maneira que a paisagem acaba por revelar, como buscaremos demonstrar, mais do sujeito poético do que ele próprio expressamente parece nos dizer. No que diz respeito ao suporte teórico que ampara nossa reflexão, valemo-nos das considerações do francês Michel Collot (1986; 1988; 2005a; 2005b; 2011; 2013), e interessando-nos sobretudo o modo com que o ponto de vista, as lacunas e o destaque, elementos essenciais na percepção da paisagem segundo Collot em “Points de vue sur la perception des paysages” (1986), suscitam relações entre sujeito poético e temporalidade. Argumentaremos, portanto, em nossa fala, em favor de uma leitura do espaço poético de Nathanaël como a expressão da experiência da temporalidade pelo sujeito, fazendo, então, da paisagem o lugar de aproximação do leitor com a finitude do ser ela própria. Palavras-chave: Poesia Francesa; Jean Grosjean; Paisagem; Tempo.

A MEMÓRIA, A (RE)CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES NA PÓS- MODERNIDADE E UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO COM A NOVELA GRÁFICA PERSÉPOLIS DE MARJANE SATRAPI

Thaís Fernanda Rodrigues da Luz Teixeira [email protected]

Trata-se de uma pesquisa-ação articulada com uma proposta de intervenção, com o objetivo de atender às demandas de leitura e escrita em sala de aula. Pretende-se estabelecer relações entre as memórias (SANTO AGOSTINHO 1999; POLLAK, 1992; CANDAU, 2016) e as identidades na pós-modernidade (HALL, 2003; BAUMAN, 2005; WOODWARD, 2000). Por isso, optou-se por elaborar uma proposta de intervenção, a partir da novela gráfica Persépolis (SATRAPI, 2007), para que os alunos repensem suas posições identitárias no mundo tanto como sujeitos da/na linguagem quanto sujeitos-protagonista de suas memórias. Sob tal contexto, a proposta de intervenção será desenvolvida com os alunos de um oitavo ano do Ensino Fundamental, na disciplina de Língua Portuguesa. A proposta sugere o contato com obras autobiográficas para que o aluno tenha motivação para se posicionar discursivamente, reivindicando um lugar para falar de si mesmo. Apropriando-se de um gênero em consolidação, narrado por uma voz feminina, nos limites do real e do ficcional (GARCÍA, 2012), espera-se trabalhar a relação híbrida entre a linguagem verbal e a não verbal (CAGNIN, 1975; RAMOS, 2010); e os aspectos sociais, culturais e históricos constituintes da obra. Para o sujeito, a escrita e a fala são provenientes de um lugar e um tempo particular, em uma história e uma cultura específica. O que se diz está sempre “em contexto” posicionado. (HALL, 1996). As identidades adquirem sentido por meio da linguagem e dos sistemas simbólicos pelos quais elas são representadas (WOODWARD, 2000). A identidade é uma produção que nunca se completa, está sempre em processo, e é sempre constituída interna e não externamente à representação. (HALL, 1996). A representação atua simbolicamente para classificar o mundo e nossas relações no seu interior (HALL, 1996). Deve-se falar em identidades possíveis, das quais o sujeito pode se identificar, ao menos temporariamente. (HALL, 2013; BAUMAN, 2005). Palavras-chave: novela gráfica; identidades; memórias; pós-modernidade.

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A TRANSFOMAÇÃO EM “SNOW WHITE AND THE SEVEN DWARFS”: UMA RELEITURA POÉTICA

Maisa dos Santos Trevisoli [email protected]

A fantasia sempre caminhou pelo imaginário do ser humano. Não é por acaso que as narrativas orais maravilhosas têm sua origem quase que concomitantemente ao uso da fala. Na contemporaneidade, podemos perceber o uso dessas narrativas como forma de problematizar os modelos da atual sociedade, e cada vez mais autores se empreendem nesta tarefa de abrir as portas de um novo mundo que traz o passado e o presente como forma de refletir sobre as nossas sociedades. Anne Sexton (1928-1974), grande poetisa norte-americana, começou a escrever após a sugestão de seu psiquiatra. A escrita tinha o intuito de ajudá-la a lidar com suas frustrações e traumas quanto a vida doméstica, o seu papel de mãe, esposa e mulher. Dentre as diversas obras de Sexton, o livro de poemas Transformations (1971) traz releituras de contos de fadas que são transformados não só em sua forma, mas em sua perspectiva, valores, temas e espaço-temporal, refletindo questões contemporâneas. Partindo das teorias sobre o contemporâneo e o dispositivo empreendidas por Giorgio Agamben (2009), bem como o conceito de história aberta de Walter Benjamin (1985), pretende-se problematizar como a poetiza busca na história fechada dos contos de fadas uma forma de vê-los contemporaneamente, deixando aflorar novas indagações e percepções que podem ser lidas através de conceitos freudianos. O livro Transformations traz dezesseis releituras das quais analisaremos apenas a primeira “Snow White and the Seven Dwarfs”. Pretende-se confrontar as escolhas lexicais e semânticas utilizadas por Sexton neste corpus com a já conhecida história da “Branca de Neve e os Sete Anões”, com o propósito de entender como a poetisa os subverte. Esperamos que esse paralelo nos esclareça a mudança no final do poema, se comparada ao conto, em que as personagens Branca de Neve e Madrasta são aproximadas psicologicamente. Palavras-chave: Anne Sexton; releitura; Branca de Neve.

A ARTE QUE SE VOLTA PARA O EU: RELAÇÕES ENTRE O PRIMEIRO ROMANTISMO ALEMÃO E O CINEMA EXPRESSIONISTA ALEMÃO

Natalia Fernanda da Silva Trigo [email protected]

O presente trabalho visa analisar a relação entre a literatura do primeiro romantismo alemão e o cinema expressionista alemão. Tanto o expressionismo quanto o romantismo aconteceram em momentos históricos marcados por importantes mudanças, sendo assim, buscamos entender como ambos os movimentos artísticos refletem de maneira semelhante sobre as mudanças histórico-sociais da sociedade alemã. O cinema expressionista herda do romantismo características como o subjetivismo, o misticismo, o sombrio, o noturno e o fantasmagórico. Outra relação importante entre os dois movimentos artísticos é o fato de que ambos nasceram como uma reação a um paradigma de arte, o romantismo como reação a arte Clássica e o cinema expressionista alemão como reação ao cinema naturalista hollywoodiano. Para entender o momento histórico e as principais características do primeiro romantismo utilizaremos como suporte teórico as discussões de Falbel (2008), Duarte (2011), Kohlschmidt (1967), 80

Rosenfeld (1996), Scheel (2010) e O’Brien (1995). Sobre o cinema expressionista alemão nos pautaremos principalmente nas reflexões de Eisner (2002), Kracauer (1966) e Vieira (2007). A partir da análise da obra primeiro romântica Hinos à Noite, de Novalis, e dos filmes expressionistas Gabinete do Dr. Caligari (1919), de R. Wiene, Nosferatu (1922) e Fausto (1926) de, F. W. Murnau, podemos entender que as mudanças no âmbito social que perpassam tanto o romantismo quanto o cinema expressionista resultam em uma arte que se volta para o indivíduo e para a reflexão interna do eu, partindo do sujeito para refletir e entender a sociedade e o momento histórico em que ele se insere. Palavras-chave: primeiro romantismo alemão; cinema expressionista alemão; Novalis.

ASPECTOS DO FOCO NARRATIVO E DA “ANTIFORMAÇÃO” DO PROTAGONISTA DO CONTO “A COVA DO DIABO”, DE SAMUEL RAWET

Leandro Henrique Aparecido Valentin [email protected]

O presente trabalho apresenta uma leitura de “A cova do Diabo”, o mais antigo conto de Samuel Rawet publicado em periódico de que se tem registro até o momento. A análise privilegia dois aspectos singulares desse texto, que permaneceu inédito em livro, em relação à produção posterior do escritor: a) o foco narrativo, que parte de um ângulo mais externo ao protagonista, mobiliza descrições de cunho naturalista, apresenta traços de intrusão e que, posteriormente, se aproxima da perspectiva da personagem principal; b) o modo como o conto se apropria de traços do romance de formação (Bildungsroman). O estudo conclui que “A cova do Diabo” é um texto que se distancia substancialmente dos aspectos temático-formais que marcam os contos de Rawet, sobretudo do início de sua carreira. Trata-se de uma narrativa construída linearmente, sem a presença de analepses, com um narrador mais externo, de modo que não há uma ênfase à projeção da atividade mental do protagonista no primeiro plano no discurso narrativo. Conclui, também, que o conto estabelece um diálogo algo irônico com o romance de formação (Bildungsroman), pois a “formação” do protagonista é, em última instância, uma antiformação, ou seja, trata-se de uma adaptação do Bildungsroman à brevidade do gênero conto e ao milieu em que o protagonista está inserido (Proc. FAPESP nº 2014/26128-6). Palavras-chave: Samuel Rawet; conto; foco narrativo; Bildungsroman.

O DUPLO NO CONTO “LA MUJER DE VERDE”, DE CRISTINA FERNÁNDEZ CUBAS

Suelen Marcellino de Amorim Viegas [email protected]

O duplo há muito tempo está presente na literatura das mais diversas formas e com diversos significados. Logo, o objetivo do trabalho é apresentar uma análise interpretativa do duplo, sob a perspectiva da literatura fantástica, no conto “La mujer de verde” (1994), da escritora contemporânea espanhola Cristina Fernández Cubas (1945-). Em “La mujer de verde”, publicado no livro Con Agatha en Estambul, duas histórias são contadas. Na primeira, contada pela narradora personagem, o fantástico está unido 81 ao duplo por meio de um fenômeno inexplicável que instiga a personagem a refletir e questionar sobre o funcionamento do mundo e seus questionamentos podem ser considerados uma reflexão sobre o próprio fantástico. Enquanto a segunda história é construída e interpretada pelo leitor a partir de um elemento surpresa ao final do conto, este permite concluir que a primeira história é fruto da manipulação da narradora ao expor os fatos, assim o duplo é fruto do desdobramento do tempo que ocorre a partir da recomposição dos fatos. Para o desenvolvimento da análise, foi feito um estudo do duplo na literatura, do fantástico e do gênero conto. Em relação ao suporte teórico, citamos: Gotlib (1998), Herrero Cecilia (2000, 2011), Martín Taffarel (2006), Roas (2011) e Rosset (2008). Palavras-chave: O Duplo; Fantástico; Conto.

DA LITERATURA PARA O AUDIOVISUAL: A ADAPTAÇÃO DE ELITE DA TROPA PARA O FILME TROPA DE ELITE

Arnaldo de Freitas Vieira [email protected]

Este trabalho pretende focar a problemática atual que permeia a adaptação de obras literárias para os meios audiovisuais, especificamente o atual cinema brasileiro, através da análise da obra Elite da Tropa (2006), dos autores Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel e sua transposição cinematográfica Tropa de Elite (2007), filme do Diretor José Padilha. Assim, temos o objetivo de analisar e identificar os limites entre realidade e ficção que marcam tanto o livro quanto o filme, observando a presença de traços de reportagem jornalística na obra literária e de cinema documental na obra fílmica. Da mesma forma, abranger por meio das duas obras, os diversos aspectos que caracterizam o processo de adaptação literária para o audiovisual, citando também outras obras literárias que têm igualmente passado por tal processo de adaptação. O material bibliográfico fará referência aos trabalhos do Prof.º Dr. Marcelo Magalhães Bulhões, da FAAC/UNESP, do Prof.º Pós-Doutor Rildo Cosson, pesquisador da UFMG e do Prof.º Pós-Doutor Sydney Ferreira Leite, Pró-Reitor Acadêmico do Centro Universitário Belas Artes, além da obra Elite da Tropa. Palavras-chave: Literatura; Cinema; Adaptação Literária.

CANDIDE REVISITADO

Norma Wimmer [email protected]

Candide (1759) é, ainda hoje, um dos mais conhecidos contos filosóficos da autoria de Voltaire. Neste texto, o autor não apenas critica a filosofia otimista de Leibniz e de Wollf, segundo a qual os piores dramas vividos pela humanidade fariam sentido e teriam um caráter libertador, mas também enfatiza o fato de que esse nosso mundo é o pior dos mundos possíveis pois, além de incontroláveis desgraças naturais, outros tantos flagelos, desencadeados, esses sim, pela ação humana - intolerância, guerras, perseguições religiosas - tornam desastrosa e impossível a existência dos homens. Alguns autores, nos séculos XIX e XX, revisitaram o conto de Voltaire. Em seus textos também vem enfatizada a consciência do caráter absurdo do mundo e da existência dos 82 indivíduos. Na comunicação proposta, pretendemos apresentar, sob uma abordagem de caráter comparatista, o Candide, de Voltaire e Les Nouvelles aventures de Candide ou a révolte de l'être, de Laurent Degos, obra publicada em Paris, pelas Éditions Le Pommier, em 1999.Verificaremos os procedimentos adotados pelo autor dessa releitura na constituição de seu texto parodístico, notadamente o tratamento por ele dispensado às atividades de caráter intertextual, evidentes em sua adaptação. Na verdade, o próprio conto de Voltaire vem incluído no final volume, sob forma de anexo direcionando, assim, a leitura e a apreensão do leitor. Palavras-chave: Candide; Voltaire; Laurent Degos; Les Nouvelles aventures de Candide ou la révolte de l'être.

A REPRESENTAÇÃO DA ESCRAVIDÃO E DO ESCRAVO NO DRAMA CANCROS SOCIAIS DE MARIA RIBEIRO

Gustavo Zambrano [email protected]

A partir dos anos sessenta do Século XIX os debates por parte dos intelectuais brasileiros da necessidade de um liberalismo de cunho social e a exposição de questões que envolviam os problemas da escravidão ganham força com o passar dos anos (Bosi, 1992). Mas se vários desses debates ocorreram nos periódicos da época, Maria Angélica Ribeiro preferiu que Cancros Sociais obra encenada no Teatro Ginásio em maio de 1865 e que tematiza a escravidão fosse debatida no palco. Desse fato, é possível supor que a escritora tivesse o mesmo pensamento de Machado de Assis de que o teatro é uma grande ferramenta para civilizar a sociedade, mostrando aos espectadores e leitores o mau funcionamento e as misérias de um corpo social. A partir dessas considerações, esse trabalho tem como objetivo, portanto, realizar a análise e interpretação do drama Cancros Sociais, observando na obra questões relativas à escravidão e ao mesmo tempo debater se tal texto literário é uma peça que defende a abolição dos cativos ou somente propõe ser uma obra de denúncia da escravidão. Além do mais, nesse trabalho temos como objetivo analisar como o escravo é representado na peça de Maria Ribeiro, isto é, por meio da ideia do cativo como sujeito-coisa ou por meio da tese desenvolvida por Chalhoub (2011) de que o escravo no século XIX no Brasil era um sujeito histórico que pensava o mundo, atuando sobre ele. Palavras-chave: Maria Ribeiro; Teatro Brasileiro; Escravidão; Drama Realista.

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PAINÉIS

MADAME BOVARY: UM NOVO MODELO DE ROMANCE PARA A CRÍTICA DO SÉCULO XIX

Érika Shigaki Lisbôa Aidar [email protected]

O romance Madame Bovary (1856), de Gustave Flaubert, é considerado um marco para o realismo, e um modelo de romance moderno que escancara os fatos de uma sociedade individualista, de modo nítido, sem julgamentos de valor. A obra sofreu grande repercussão mundial na época em que foi publicada por tematizar o adultério, rendendo até mesmo um processo ao escritor. Portanto, a pesquisa pretende demonstrar como sucedeu a recepção crítica de Madame Bovary no Brasil do século XIX, entre os anos de 1856, período em que a obra entrou em circulação, até 1900. A pesquisa é norteada pela Teoria da Estética da Recepção e do Efeito, proposta pelos teóricos Jauss (1994) e Iser (1996), que consideravam a expectativa do público leitor como critério para a determinação do valor estético da obra. No Brasil, a circulação do romance foi dada em formato de folhetim, localizado nos rodapés dos jornais, e em livro. As críticas foram extraídas de periódicos, como revistas e jornais, importantes meios de circulação da literatura e cultura na época. Após o levantamento dos dados, as críticas foram analisadas, e percebeu-se que entre elas haviam não só críticas negativas, que julgavam a obra imoral e capaz de corromper as moças em suas leituras, mas também, críticas positivas que evidenciavam Madame Bovary como uma obra de arte moderna e genuína, e Gustave Flaubert como um dos melhores escritores existentes, até então. Palavras-chave: Madame Bovary; Gustave Flaubert; realismo, romance moderno, recepção crítica.

O MITO COMO UTOPIA NA LITERATURA DE ELIO VITTORINI

Marta Matos da Cruz [email protected]

O presente trabalho fará um percurso histórico e literário sobre o autor Elio Vittorini. O século XX italiano passou por diversas transformações em distintas esferas, desde o mundo político até o mundo das artes. No Neorrealismo muitos intelectuais foram influenciados pela movimentação da grande massa popular. A realidade social e política foi retratada nas artes de maneira brilhante, desse modo, destacamos a literatura, através da qual discursos literários e culturais colocaram em evidência o contraste entre as tendências fundamentais da cultura moderna do fenômeno fascista. Muitos problemas contemporâneos foram levantados durante as manifestações populistas, naquele momento essas manifestações passaram a ser uma das principais ferramentas de luta contra o sistema. Houve uma grande produção cultural e literária durante a Resistenza, como forma de denúncia sobre a realidade italiana. Na pesquisa empreendida, buscamos verificar se está presente na obra de Vittorini o mito como utopia, pois havia na grande literatura da época um forte desejo em recriar a realidade por meio da literatura, muitos autores procuravam recriá-la através do modo pelo qual compreendiam essa realidade, desse modo a alma pessoal do autor estava presente em seus escritos. Vittorini foi um 84 desses autores, pois olhava a realidade da sociedade na qual estava inserido e a “rejeitava”, ele tinha ânsia em transformá-la; essa transformação ocorreu através de suas obras. Como assinala Vieira (2013): “Há uma razão histórica para a utopia se manifestar através da literatura. É porque a literatura, ou o gênero literário utópico, permite a transmissão de mensagens revolucionárias e subversivas de forma clandestina.” (s./p.) A literatura de Vittorini tinha caráter crítico, ali estava exposto seu desejo por uma nova realidade, uma realidade que foi recriada em seus escritos; havia em seus textos um parâmetro entre utopia e sonho, que visava o futuro. Palavras-chave: Literatura; mito; utopia.

ENTRE MACHADO DE ASSIS E B. L. GARNIER: CRÍTICA, POESIA E CÂNONE

Diego Guerra [email protected]

Este trabalho apresenta resultados da pesquisa que relaciona o poeta Bruno Seabra (Flores e Fructos, 1862) à crítica literária do período e à edição no Brasil. Insere-se em uma pesquisa de escopo mais amplo Machado de Assis e os Garnier: autor e editores, itinerário de consagração conjunta nos cenários nacional e internacional, na qual se propõe que os escritores, no início dos anos 1860, sejam estudados em sua relação com as ações dos editores Garnier, por meio da análise de fontes primárias, formulando a hipótese de que o conhecimento aprofundado das relações do principal escritor brasileiro (Machado de Assis) com seus editores, bem como a de outros escritores, evidenciará a confluência entre a “mão do autor e a mente do editor” (Chartier, 2016), com o objetivo de esclarecer aspectos dessas trajetória literárias, além de sua ação na formação do cânone literário brasileiro (Candido, 2014 [1959]) e na constituição do campo literário brasileiro (Bourdieu, 1996; Granja, 2016). Para contribuir com essa ideia, tomamos como objeto de estudo a obra de Bruno Seabra, Flores e Fructos, 1862, editada pela Editora Garnier, hoje reconhecida como obra rara, e que foi, naquela época, aclamada pela crítica de Machado de Assis, na qual se ressaltou a qualidade da obra. Dessa forma, é objetivo específico da pesquisa o avanço no debate das relações entre o editor e o escritor, a análise da criação estilística do poeta paraense, realizando também um mapeamento da recepção crítica da obra, sendo que, de modo panorâmico, o estudo desse livro de poemas românticos, hoje em dia menos canônico, visa uma melhor compreensão da composição do cânone literário brasileiro, em que se relacionem editor, escritor e crítico literário no processo formativo da literatura. Palavras-chave: Machado de Assis; B. L. Garnier; Bruno Seabra; Cânone literário.

UMA RONDA SOLITÁRIA: EXÍLIO E ESTRANGEIRIDADE EM O MURO DE PEDRAS, DE ELISA LISPECTOR

Nicolas Ferreira Neves Jacintho [email protected]

Desde Ovídio até os dias atuais é possível observar com certa recorrência as temáticas do exílio e da condição estrangeira dentro do campo da literatura (QUEIROZ, 1988). Do exílio imposto ao exílio voluntário, por razões políticas ou pessoais, a experiência 85 exílica serve de matéria literária, interferindo não apenas na vida pessoal, mas na própria obra de escritores e escritoras que passaram pelo processo de exílio; processo que nem sempre pressupõe um deslocamento geográfico que afasta o indivíduo de sua comunidade de origem, uma vez que, para além de uma experiência, o exílio configura- se como uma condição adquirida ou imposta, podendo ser vivenciado por grupos que partilhem de condições sociais semelhantes àquela do exilado. E, enquanto condição, o exílio interfere na criação literária não apenas ao propiciar aos autores novas temáticas e possibilidades narrativas, mas também ao influenciar as escolhas formais pelas quais um autor opta no momento de produzir suas obras. Este trabalho tem como objetivo analisar como se configuram as temáticas do exílio e da condição estrangeira dentro da literatura, buscando para isso observar quais são os elementos literários e linguísticos utilizados na construção de textos com essas temáticas. Para tanto utilizaremos como objeto de análise o romance O muro de pedras (1963), de Elisa Lispector, buscando demonstrar como o exílio e a condição estrangeira constituem elemento fulcral da produção literária da autora uma vez que, como demonstraremos, a condição exílica se impõe como condicionante não apenas do conteúdo textual, mas até mesmo da forma literária. Neste sentido, valeremo-nos durante nossa pesquisa das reflexões de Deleuze e Guattari sobre a literatura rizomática, buscando entender como esse conceito se liga ao de uma literatura de exílio. Palavras-chave: Elisa Lispector; Literatura Brasileira; Exílio.

UMA LEITURA DO ROMANCE CAPITÃES DA AREIA, DE JORGE AMADO, EM SEUS ASPECTOS TEMÁTICO E FORMAL

Alex Segantini Marques [email protected]

Capitães da areia, publicado em 1937, é um romance pioneiro na representação do menor abandonado na literatura brasileira, pois, além de protagonizar um grupo de subalternos, também demonstra os diversos aspectos da opressão social e do descaso do estado frente à nova organização social urbana na Bahia. Devido aos fatores críticos o romance foi alvo de censura e de queima pública de exemplares em seu lançamento. A pesquisa tem como objetivo apresentar um estudo sobre o trabalho de linguagem realizado na narrativa e sobre as características político-ideológicas vinculadas aos principais temas do romance: a questão da infância “roubada” e o vínculo entre opressão e a sociedade. A pesquisa teve como base a análise dos operadores da narrativa apresentados por Franco Junior (2006) em correlação com os aspectos temáticos, como, por exemplo, a denúncia da marginalização social observável na personagem Pedro Bala; bem como assuntos abordados pelo teórico Alfredo Bosi em História Concisa da literatura brasileira (2006), entre outros, a fim de verificar como o contexto sócio- histórico do romance está relacionado com o seu processo de produção, e também recepção, visando investigar a sua importância no sistema literário brasileiro. Por meio do estudo do romance que compõe o corpus deste trabalho, foi possível identificar como o autor usa dos traços culturais e das adversidades do povo brasileiro (misturados com crença religiosa, ideologia, ceticismo e ativismo político) para construir seu microcosmo ficcional, fazendo da literatura um meio eficaz de problematizar e apresentar propostas de reestruturação social que superam os problemas apresentados. Palavras-chave: Opressão Social; Menor Abandonado; Infância. 86

O AMOR E A SOCIEDADE NO ROMANCE GABRIELA, CRAVO E CANELA, DE JORGE AMADO

Mariana do Val Müller [email protected]

Jorge Amado, escritor baiano, romancista, membro da Academia Brasileira de Letras, inaugura uma nova fase de suas obras com o romance Gabriela, Cravo e Canela, pois muda a forma de abordagem do conteúdo político presente nos seus primeiros livros e passa a dar lugar à ambientação regional e a valores humanos mais individuais, que também dizem respeito às posições e lugares das personagens na sociedade. No romance, o amor de Gabriela por Nacib é inteiramente livre de quaisquer interesses, e o fato de ela ser uma retirante sertaneja a põe relativamente a salvo de certas concepções convencionais adotadas pela moralidade dominante. Uma leitura atenta da obra nos faz perceber que o amor de Gabriela representa uma liberdade que questiona fortemente a sociedade em que ele se manifesta, permitindo, deste modo, a realização de uma crítica social. Para o estudo da obra, fizemos uma análise descritiva e interpretativa, utilizando da seguinte fundamentação teórica: Cândido (1984), Da Matta (1993), Franco Jr. (2003), Gancho (2012), Moutinho (2004). Pode-se que identificar que o romance Gabriela, cravo e canela, além de questionar certos paradigmas morais dominantes à época de sua publicação, questiona, ainda hoje, paradigmas morais, valores patriarcais e, de certo modo, traços arcaicos da estrutura econômica e política ainda vigentes na sociedade brasileira. Palavras-chave: A sociedade; Jorge Amado; Amor; Gabriela Cravo e Canela.

DJANGO LIVRE: UMA SAGA MÍTICA

Marina de Lima Braga Penha [email protected]

A presente pesquisa, a princípio, se voltou para os mitos gregos clássicos. Em um segundo momento, voltou-se para os mitos literários presentes no filme Django Livre, de Quentin Tarantino, visto e analisado enquanto narrativa, para então proceder à análise comparativa. Nos dias atuais, é necessário, mesmo à revelia das características da contemporaneidade, vislumbrar a possibilidade de que algo permanece, como é o caso dos mitos literários. Como aporte teórico utilizamos o livro de Junito Brandão, Mitologia Grega (2012), afim de entendermos o mito clássico para então compará-lo com o mito literário e posteriormente com o filme de Tarantino. Em seguida utilizamos o livro de Mitos Literários (2005) o qual assevera que a literatura acolheu a mitologia quando a mesma perdeu sua sacralidade. Por fim, utilizamos o Poder do Mito (2011), de Joseph Campbell. Em relação à análise comparativa do filme Django Livre com os mitos clássicos notamos que na história Quentin revisitou o mito germânico bastante famoso de Brunhilde e Siegfried, porém com outra roupagem, pois o herói do filme é um ex escravo americano que virou caçador de recompensas e tenta desesperadamente resgatar sua amada Brunhilde. Diferentemente do mito original, ela não está presa em uma montanha, mas sim em uma fazenda de escravos. Assim, podemos verificar que Quentin reconta o mito alemão por meio do cinema e, ao fazê-lo, o recria. Isso nos mostra que o mito não morreu ou virou mentira, ele só está sendo reconstruído e recontado de diversas formas, por diferentes artes. Assim, ao se apropriar do mito 87 germânico e colocá-lo nos Estados Unidos da América, Tarantino, não só nos mostra a imortalidade mítica, como promove, metaforicamente, a libertação dos escravos e, nesse sentido, reescreve miticamente esse período de barbárie da humanidade. Palavras-chave: mito; mito literário; Django livre; Quentin Tarantino.

A PERSONAGEM FEMININA NO CONTO "MARGARIDA NO CASTELO", DE DINORATH DO VALLE

Pâmela Coca dos Santos Ramos [email protected]

A escritora Dinorath do Valle foi professora, historiadora, jornalista e figura importante no desenvolvimento cultural de São José do Rio Preto, tendo sido uma das fundadoras da Casa de Cultura da cidade, que hoje tem o seu nome. De seu premiado livro O vestido amarelo (1976), selecionamos o conto “Margarida no Castelo” com o objetivo de, nele, estudar a construção da personagem feminina na protagonista Matilde. No conto, Matilde é uma mulher que se envolve com vários homens mais jovens enquanto seu marido, Juvenal, viaja a trabalho. No entanto, um dia, ao voltar do trabalho, o homem lhe diz que pretende parar de viajar e que pediu uma mudança de cargo. Alarmada com a possibilidade de não poder mais se encontrar com os rapazes mais jovens, vai até o superior de Juvenal, André, para lhe pedir que não conceda a mudança de cargo ao seu marido. Depois dessa visita, André e Matilde tornam-se amantes até que, um dia, ela termina o caso e ele, indo visitá-la, flagra-a com outro e atira nela. Para o estudo da personagem feminina do conto e para a análise da narrativa, nos utilizamos, dentre outras, das obras como Segundo sexo: fatos e mitos (1970), de Simone de Beauvoir, e Como analisar narrativas (1991), de Candida Vilares Gancho. A partir desse estudo, conseguimos identificar o modo como o conto constrói a personagem feminina e o que se espera dela enquanto mulher casada na sociedade retratada e que papeis ela efetivamente cumpre na narrativa ao agir como age. Palavras-chave: Dinorath do Valle; Personagem Feminina; Margarida no Castelo.

REFERÊNCIAS MITOLÓGICAS NA PROSA BARROCA DE GIAMBATTISTA BASILE: RESQUÍCIOS RENASCENTISTAS OU PEDANTISMO EM “SOLE, LUNA E TALIA”?

Adriana Aparecida de Jesus Reis [email protected]

“Sole, Luna e Talia”, conto maravilhoso traduzido no Brasil como “Sol, Lua e Tália”, do autor italiano Giambattista Basile (1566-1632), é a primeira versão da narrativa “A bela adormecida”, hoje conhecida como clássico infantil. Trata-se da quinta história narrada na quinta jornada e por ele registrada em sua obra, escrita em dialeto napolitano, intitulada Lo cunto de li cunti overo lo trattenemiento de peccerille (traduzida como O conto dos contos ou o entretenimento dos garotinhos), também conhecida como Pentamerone (Cinque giornate) e publicada postumamente, entre 1634 e 1636. Em “Sole, Luna e Talia”, podemos notar referências a mitos, dentre eles, o mito de Medeia e dos monstros Cila e Caríbdis, principalmente, por meio de mitemas, menor partícula significativa de um mito. Essas referências mitológicas trazem consigo temas ligados à 88 traição, passividade, vingança, sabedoria e entre outros. Dessa maneira, o presente trabalho buscou evidenciar os principais mitos presentes no conto maravilhoso estudado e como tais referências mitológicas podem ser interpretadas. Elas poderiam ser entendidas como resultado de um eco, uma espécie de efeito de degeneração da Renascença? Ou seriam fruto de pedantismo, ou seja, poderiam ser interpretadas como uma demonstração de conhecimento que serve de pretexto a uma ornamentação faustosa da linguagem, característica fundamental do Movimento artístico do Barroco na Itália do século XVII? Para responder tais questões, fundamentos nossas considerações e análises a respeito do autor Giambattista Basile, sua obra prima e o contexto geral da Literatura Italiana Barroca em Pazzaglia (1993), Sansone (1956), Squarotti (1989) e Lombardi (2015). Nossas reflexões sobre as referências mitológicas tiveram como base os estudos de Grimal (1912) e Harvey (1987). Palavras-chave: Mitologia; Barroco; Giambattista Basile; "Sole, Luna e Talia".

LE HÉRISSON: AS PROXIMIDADES NARRATOLÓGICAS ENTRE LITERATURA E CINEMA

Camila Cristina dos Santos [email protected]

Na atualidade, estudos sobre adaptações de filmes a partir de romances mostram-se fundamentais para os estudos comparativos em geral e para a compreensão das transposições intermidiais no campo cinematográfico. Tendo em vista que se equiparam por serem artes narrativas que transmitem uma história, pretendemos colocar em evidência a complexidade da relação intertextual entre Literatura e Cinema, tomando como pontos centrais a configuração da linguagem cinematográfica e, além disso, as especificidades de cada uma das mídias citadas. Baseando-se na obra L’élégance du Hérisson (2006), da escritora francesa Muriel Barbery e sua respectiva adaptação fílmica, Le Hérisson, realizada em 2009, da cineasta também francesa Mona Achache, a realização deste estudo procura analisar as relações narratológicas por meio do cotejo entre as obras e buscar refletir sobre tanto proximidades quanto distanciamentos para elucidar o ato de traduzir entre sistemas de significação distintos. Com o intuito de abranger áreas diversificadas do conhecimento e da arte, este trabalho concentra-se nos dois principais campos de estudo que convergirão ao longo do desenvolvimento de cotejo entre texto-fonte e filme, sendo eles a literatura comparada, fundamentada pelas reflexões feitas por Nitrini (2010) e a adaptação cinematográfica, a partir das análises de Xavier (1984). O objetivo, assim, é fomentar ainda mais a discussão sobre os métodos de criação e de construção para uma narrativa audiovisual. Palavras-chave: Literatura; Cinema; Adaptação.

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A CURA PELA LITERATURA: O POTENCIAL TERAPÊUTICO DA NARRATIVA MÍTICA EM "UMA ESTÓRIA DE AMOR", DE GUIMARÃES ROSA

Lucas Silveira Fantini da Silva [email protected]

Este trabalho tem o objetivo de deslindar a psicologia de Manuelzão, protagonista da novela “Uma estória de amor”, presente em Corpo de Baile (1956), de Guimarães Rosa. A metodologia disposta na análise da personagem leva em consideração os conceitos junguianos e seus desdobramentos em teorias pós-junguianas, como a Psicologia Arquetípica, de James Hillman. Em comum, tais sistemas teóricos prezam pelo estudo das motivações mítico-arquetípicas que permeiam a constituição psíquica do sujeito. Dessa forma, é possível traçar um vínculo entre conflitos internos do protagonista e representações temáticas de matrizes mitológicas universais. A trama da novela em questão relata a festa dada por Manuelzão a fim de inaugurar a capelinha construída na fazenda da Samarra. Conforme a festa ganha proporções, o protagonista observa o mundo ao seu redor escapar do poder de seus mandos e vontades para ganhar um movimento autônomo e caótico, concentrando opostos que transgridem a barreira do sagrado e do profano (VASCONCELOS, 1996). A desordem da festa faz com que Manuelzão se distancie de todos e volte sua atenção para as efervescências da própria psique. O olhar introspectivo do protagonista revisita suas memórias mais íntimas, traz à tona delicadas questões afetivas e revela medos profundos. Angustiado, Manuelzão reconhece suas fragilidades, inseguranças e incertezas. O contraste entre o ambiente festivo e o torpor melancólico do protagonista culmina no evento chave da trama: a declamação da “Décima do Boi e do Cavalo” pelo velho Camilo. Todos da festa param para escutá-lo e Manuelzão deixa-se entregar à narrativa épica e fantástica que, de maneira abrupta, o faz retomar o controle da situação e de sua vida. Nosso ponto de exploração, por fim, será o estudo do poder terapêutico da literatura nesse lugar de entrecruzamento das particularidades da psique do sujeito com o imaginário universal das narrativas míticas. Palavras-chave: Psicologia; arquétipo; mito; metaficção; Guimarães Rosa.

A RELAÇÃO ENTRE O VER E O CONTAR NO CONTO “A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA”, DE GUIMARÃES ROSA

Bianca Cristina Sinibaldi [email protected]

Este trabalho realiza um estudo do conto de Guimarães Rosa, “A hora e vez de Augusto Matraga”, publicado em Sagarana (1946). O objetivo é caracterizar o narrador e o foco narrativo e investigar seus propósitos estratégicos no desenvolver da narrativa, uma vez que, a voz narrativa formula questões cuja densidade leva o leitor a indagações sobre o próprio ato de narrar e as relações que estabelece com o universo representado. Para tanto, utilizamos, como fundamentação teórica, para o estudo do narrador e do foco narrativo, Genette (1972), Friedman (2002) e Benjamin (2012). A voz narrativa rompe a diegese e elabora um parecer que remete a questão da mimese - assim, se fez necessário utilizar Aristóteles para elucidar a comparação entre a poesia e a história. No desenrolar da trajetória de Augusto Matraga, tal consideração clareia a narrativa ambientada no 90 universo do sertão mineiro que faz alçar um espaço e um tempo míticos, submetendo o saber não à prova do fato comprovável, mas sim à prova da possibilidade de ordenação em forma narrativa elaborada de uma realidade própria. Realizada a análise, identificamos o narrador do conto como heterodiegético de nível extradiegético que utiliza o verbo na 3ª pessoa e no tempo passado, demonstrando estar a história concluída no momento em que narra. É um focalizador-narrador que tem conhecimento da história, mas seleciona o que contar e em qual momento contar. Guimarães Rosa por meio de uma narrativa de conversão de um homem e com elementos da cultura oral (as sagas e os causos) faz uma reflexão sobre a questão da ficcionalidade de modo a nos levar juntos pela travessia de Matraga. Palavras-chave: Guimarães Rosa; narrador; foco narrativo; mimese.