19º Congresso Brasileiro de Sociologia 9 a 12 de julho de 2019 UFSC - Florianópolis, SC

GT09 - Pensamento Social no Brasil

O CONSERVADORISMO E O LIBERALISMO NO DISCURSO JORNALÍSTICO DE PAULO FRANCIS Laís Oliveira (UFJF)

1 Introdução Franz Paul Trannin da Matta Heilborn, mais conhecido como Paulo Francis, foi um jornalista brasileiro que se tornou célebre nas décadas de 1980-90 devido ao seu jeito único de falar com voz arrastada e inebriada, que emitia “frases curtas em staccato, definitivas e cínicas”. (KUCINSKI , 20001) Ao longo de quase 50 anos de carreira Francis foi um jornalista que construiu um personagem de si mesmo, engraçado e caricatural, transformando-se no fim da vida em um grande show man do jornalismo brasileiro. Este personagem era o polemista que se colocava sempre que possível contra tudo e todos, às vezes cínico e virulento em ataques a personalidades públicas, mas sempre ilustrado e bem informado, e que nunca se posicionou bem e claramente em termos políticos e ideológicos. Como bem notou Eduardo Sterzi (2000, p. 1) “se o Francis comunista podia ser escandalosamente elitista em seus gostos e posições, o Francis conservador também se mostrou eivado de um anarquismo insopitável”. Sua carreira jornalística teve início nos finais dos anos 1950 como crítico de teatro e cultura, após uma breve, porém, profícua, carreira de ator e diretor teatral. Na década de 1960 já tendo abandonado o jornalismo cultural e ingressado de vez no jornalismo político, Francis, paralelamente a outros

1 Disponível em: http://kucinski.com.br/visualiza_noticia.php?id_noticia=407. Acesso em: março de 2016 trabalhos em outros periódicos, fez parte da fundação do semanário alternativo de humor O Pasquim2 e: ideologicamente, era alinhado a esquerda e considerado um trotskista pela força dos seus argumentos e posição frente aos desequilíbrios do Regime Militar brasileiro e fatos internacionais, como a invasão do Vietnã pelos EUA, o que o levou a ser preso, em dezembro de 1968, logo após a promulgação do AI-5. Em 1971, mudou-se definitivamente para Nova York [...] colaborando, à distância, com diversos jornais e revistas brasileiros (, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo), bem como a televisão. Aos poucos abandonou alguns dos seus posicionamentos ideológicos, redefinindo-os em outra direção, com que ganhou a pecha de conservador, esnobe, elitizado e de direita. (RODRIGUES, 2016, p. 1)

É bastante conhecida esta trajetória ideológica de rupturas e ambiguidades que o jornalista percorreu, a partir desta mudança definitiva para Nova York como correspondente internacional do jornal Folha de São Paulo, sendo a mesma convergente nos anos 1980/90 com a trajetória de tantos outros intelectuais, que como Francis, se deslocaram da esquerda para a direita do espectro político. Uma das razões para a elaboração desta pesquisa foi tentar melhor caracterizar este deslocamento3 ideológico do jornalista de uma maneira ainda inédita nos estudos existentes sobre o mesmo4. Desta forma, a hipótese com que se trabalhou neste projeto foi a de que preceitos “classicamente” liberais e defesas “classicamente” conservadoras se confundiam na tomada de posições de Paulo Francis, formando uma visão de mundo ambígua e contraditória em aparência, porém bastante consistente em sua capacidade de se fazer ouvir/influenciar seus leitores. Falarei a respeito das características desta visão de mundo mais à frente quando da análise das colunas de Francis no seu “Diário da Corte”. Antes, porém, falarei brevemente do mapa conceitual que nos serviu de base para chegar a este ponto.

2 Criado em 1969 O Pasquim existiu durante boa parte da ditadura militar como periódico alternativo de humor e crítica ao governo brasileiro. Francis se juntou ao núcleo fundador já no primeiro ano de existência do jornal, “debutando” no número 6 com um texto sobre o Marquês de Sade. Segundo Bernardo Kucinski, o hebdomadário provocou uma revolução na linguagem do jornalismo brasileiro instituindo “uma oralidade que ia além da mera transferência da linguagem coloquial para a escrita do jornal. Essa revolução, semi-apreendida pela imprensa nos anos seguintes, teve impacto profundo na publicidade”. (KUCINSKI, 1991, p. 108) 3 Não trabalhamos com a ideia de conversão, pois esta sugere uma mudança abrupta, radical, o que não parece ter ocorrido com Francis de fato, uma vez que o jornalista mesclou durante toda vida posicionamentos ideológicos conflitantes. 4 Estes estudos somam uma tese de doutorado e seis dissertações de mestrado. Ver nas referências. 2 As origens e o significado de conservadorismo liberal

2.1 O conservadorismo e o liberalismo na Europa O primeiro estímulo do pensamento conservador veio da Inglaterra com Edmund Burke5 e a publicação de seu livro Reflexões sobre a revolução na França (Reflections on the Revolution in France de 1790) – um livro que para nosso espanto serve de inspiração tanto para os conservadores como para os conservadores liberais, o que será falado mais à frente. Para Karl Mannheim (1981), no entanto, foi na Alemanha e não na Inglaterra que ocorreu um processo de se pensar filosoficamente e até as últimas consequências o que seria o conservadorismo, sendo neste país o local onde este se desenvolveu com mais vigor. Para este autor, o conservadorismo da primeira metade do século XIX como estilo6 de pensamento consciente e reflexivo7 teria surgido como reação aos ideais revolucionários, sobretudo, no tocante à ideia de liberdade e igualdade dos liberais, representadas pelo “direito ao mais completo exercício dos inalienáveis Direitos do Homem”. (MANNHEIM, 1981, p. 115). Para se opor aos Direitos Humanos os conservadores criaram outra ideia, a de que [...] Os homens são essencialmente desiguais, desiguais em seus dotes naturais e habilidades e desiguais até o mais profundo cerne de seus seres. A liberdade, portanto, só pode consistir na habilidade de cada homem de se desenvolver sem impedimentos ou obstáculos de acordo com as leis e princípios de sua própria personalidade. (MANNHEIM, 1981, p.115)

5 Edmund Burke foi um estadista irlandês, membro do parlamento londrino pelo Partido Whig – de inclinações liberais. Suas reflexões foram feitas a um correspondente seu na França em forma de cartas, e posteriormente, publicadas sob a forma de livro em 1790. “Há relativo consenso, no debate sobre o pensamento social e político fundado na modernidade, quanto às Reflexões de Edmund Burke constituírem-se como ponto de partida do conservadorismo clássico. Nelas, estão condensados também os ideais culturais e simbólicos das classes sociais golpeadas pela Revolução Francesa, com destaque para a aristocracia feudal”. (SOUZA, 2016, p. 362) 6 Mannheim quer estudar o pensamento baseado na sociologia do conhecimento – disciplina criada por ele. Do ponto de vista desta disciplina “a história do pensamento não é uma mera história das ideias, mas uma análise de diferentes estilos de pensamento enquanto crescem e se desenvolvem, fundem-se e desaparecem; e a chave para a compreensão das mudanças nas ideias deve ser encontrada nas circunstâncias sociais em mudança, principalmente no destino dos grupos ou classes sociais que são os “portadores” desses estilos de pensamento”. (MANNHEIM, 1981, p. 78) Basicamente, tomamos este como nosso ponto de partida principal. 7 Ou seja, conservadorismo é muito diferente do mero tradicionalismo – que significa um conservadorismo natural, “uma tendência a se apegar a padrões vegetativos, a velhas formas de vida que podemos considerar razoavelmente universais e onipresentes. A palavra designa em grau maior ou menor a característica psicológica formal de toda mente individual. [...] O conservadorismo seria em ultima analise o tradicionalismo tornado consciente [...]”. (MANNHEIM, 1981, p. 110) Em outras palavras, para Karl Mannheim (1981) o conservadorismo trata de uma maneira de ver o mundo surgida no bojo dos acontecimentos8 que deram origem ao mundo Moderno e que “surge em oposição ao movimento progressista altamente organizado, coerente e sistemático” (p. 11) da burguesia racional e capitalista. Ou seja, a base ideológica original do conservadorismo, ao menos na Alemanha, se compõe de posições anti-racionalistas, anti-burguesia e anti- capitalismo, porém geralmente se acredita que os socialistas é que foram os primeiros a criticar o capitalismo enquanto sistema social; na verdade, segundo Mannheim (1981) “há várias indicações de que as críticas começaram na oposição de direita e foram depois gradualmente assumidas pela oposição de esquerda.” (p. 97) Posto isso para lembrar que o significado destes conceitos ideológicos se modificou bastante ao longo da história, não pertencendo jamais a um sistema pronto e acabado, mas sendo um modo de pensar em contínuo processo de desenvolvimento. Desta forma, “o conservadorismo não queria apenas pensar alguma coisa diferente de seus oponentes liberais; ele queria pensa-lo diferentemente”. (MANNHEIM, 1981, p. 128-131) O seu problema chave sempre foi pensar algo em oposição ao pensamento do jusnaturalismo liberal. Ricardo Pinto (2001) em estudo sobre o neorepublicanismo mostra como a palavra República “expressou e ainda expressa sentidos diversos e, por vezes, contraditórios.” O mesmo acontece com o liberalismo que segundo Wanderley Guilherme dos Santos (1998) é hoje “um termo vago. Como liberal alguém pode ser considerado altamente progressista e também por liberal alguém pode ser muitas vezes visto como inabalável conservador”. Para Merquior (1991) há na verdade uma “impressionante variedade dos liberalismos: há vários tipos históricos de credo liberal, e não menos significantes, várias espécies de discurso liberal”. (MERQUIOR, 1991, p. 221) O mesmo pode ser dito do conservadorismo ainda com o agravante de que “ideias canonizadas por alguns conservadores são inteiramente rejeitadas por outros” (VICENT, 1995, p. 91). Além disto, Um dos argumentos mais evasivos do conservadorismo é que ele não consiste em uma ideologia no sentindo comum da palavra. O paradoxo é ser uma teoria que rejeita a teoria. O antiintelectualismo é, em outras

8 O principal deles certamente foi a Revolução Francesa. palavras, aparente e não real. A explicação mais convincente, que está por trás do menosprezo teórico da teoria, é que se trata de um tipo diferente de teoria. A razão prática é distinta da razão teórica. A razão teórica, fundamentada em ideias a priori, é considerada inadequada à política. Nesse sentido, os conservadores não podem por definição, ter elaborado respostas teóricas claras às perguntas políticas. Alguns veêm nisso uma fraqueza, outros argumentam que é uma força implícita. (VICENT, 1995, p. 91)

Feito isto, tentarei definir o que é ser conservador nos tempos atuais, deixando claro que com este trabalho pretendi apenas abrir algumas possibilidades levando em conta que em algum ponto da estrutura o significado dessas categorias é estático, caso contrário o debate politico não seria possível. Usarei, então, duas definições, e o leitor verá que o nosso objeto de estudo, o jornalista Paulo Francis, se encaixa bem em ambas a partir de seus deslocamento ideológico na década de 1970. A primeira é a do filósofo e teórico político inglês Michael Oakeshott9, para quem ser conservador é preferir o familiar ao desconhecido, preferir o tentado ao não tentado, o facto ao mistério, o real ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao superabundante, o conveniente ao perfeito, a felicidade presente à utópica. (OAKESHOTT, 2014, p. 25)

Por fim recorreremos à definição de Karl Mannheim (1981) em que, além do que já foi exposto mais acima, Umas das características mais essenciais do modo de vida e do pensamento conservador parece ser a forma como ele se apega ao imediato, o real, o concreto [...] com implicações anti-revolucionárias. Conhecer e pensar “concretamente” agora passa a significar o desejo de restringir o alcance da própria atividade às redondezas imediatas onde se está localizado e de abjurar rigidamente tudo aquilo que possa cheirar à especulação ou hipótese. [...] O conservadorismo encara o real como algo que existe; isso resulta numa tendência ao fatalismo. A interpretação ou imputação conservadora de significados surge com uma reação antagônica ao modo revolucionário de conceber o significado das coisas. [...] A peculiaridade do modo conservador de enquadrar as coisas em um contexto mais amplo é que ele se aproxima delas por trás, a partir de seu passado. Para o pensamento progressista, o significado das coisas deriva em última análise de algo acima ou além delas mesmas, de uma utopia futura ou de sua relação com uma forma transcendente. Os conservadores no entanto, veem todo o significado de uma coisa no que está por trás dela, ou seu passado temporal ou sua origem evolutiva. Enquanto o

9 Michael Joseph Oakeshott (1901-1990) é considerado um dos mais importantes filósofos conservadores do século passado, embora seja um nome quase desconhecido no meio acadêmico brasileiro. Sua obra é uma proposta original em torno do conservadorismo, libertando-o das “tradicionais amarras da religião, historicismo, moralismo, hierarquia social e nacionalismo, ao mesmo tempo em que o reedificava sobre uma epistemologia cética e uma teoria da identidade humana rigorosamente construída.” (MARCHIORI NETO; FERRI, 2015, p. 101-102) progressista utiliza o futuro para interpretar as coisas, o conservador utiliza o passado, o progressista pensa em termos de modelos, o conservador em termos de origens. (MANNHEIM, 1981, p. 121, com grifos meus)

Passemos agora à definição do liberalismo em suas origens europeias. Este surge como um conjunto de ideias éticas, políticas e econômicas da burguesia em oposição à visão de mundo da nobreza feudal. Em resumo, este estilo de pensamento tem origem no Iluminismo europeu, sendo uma reação da burguesia ao absolutismo monárquico. Baseia-se essencialmente em “um compromisso com a liberdade do indivíduo”. (JOHNSON, 1997, p. 51) Para Norberto Bobbio (2006), em definição que nos ajuda muito nesta pesquisa, o liberalismo é, além disto, uma concepção de Estado, de um estado limitado. Contudo, é importante destacar que em meados do século XIX, “ocorrerá uma importante inflexão na teoria liberal, quando o medo da democracia levou muitos pensadores proeminentes a defenderem um liberalismo distintamente conservador”. (MERQUIOR, 1991, p. 149) Nesse liberalismo conservador as tradições não impendem a mudança adaptativa e o organicismo não exclui a modificação parcelada das instituições e procedimentos. Edmund Burke, para nosso completo assombro, é também considerado o pai desta forma de pensamento. Este intelectual tinha um respeito pela tradição nem sempre reacionário “recorrendo ao mesmo argumento em favor dos velhos direitos”. O conservadorismo de Burke, segundo Merquior, era politicamente liberal e também economicamente moderno. O próprio Adam Smith o elogiou “por sua perfeita compreensão da economia liberal”. (MERQUIOR, 1991, p. 11) Para Andrew Vicent (1995) muitos autores sustentam que o conservadorismo de espírito liberal surge de fato com Alexis de Tocqueville, mas remonta ao livro Thougts and Details on Scarcity de Edmund Burke – a mesma constatação de Merquior. Outra pesquisadora, Thais Aguiar (2011), acredita que Alexis de Tocqueville foi um dos autores que melhor expressou no pensamento político uma sensibilidade de origem aristocrática que apreciava “uma disposição de coisas que a democracia tendia a dissolver”. A autora demostra em estudo que alguns destes autores, citados acima, experimentaram “os tempos de ascensão revolucionária das massas e duvidaram da possibilidade das mesmas governarem. [...] A hipótese é que a teoria democrática se reinventou na modernidade tendo em relevo o medo das massas”, (AGUIAR, 2011, p. 619) processo que está autora dará o nome geral de “demofobia”. Provavelmente o mais famoso dos grupos intelectuais de uma certa tradição do conservadorismo liberal é a sociedade Mont Pelérin chefiada por Frederick Hayek10 em 1947. Esta sociedade [...] reuniu uma série de intelectuais das áreas de economia, filosofia e história, na cidade de Mont Pelerin (Suíça) para discutir o destino do liberalismo e fomentar um espaço de debates e produção em torno do que consideravam os perigos da sociedade da época e apresentar as propostas de superação desses males a partir da aplicação das doutrinas (neo)liberais. (FRIDERICHS, 2016, p. 113)

Entretanto, para entender o teor e significado do conservadorismo liberal11 do jornalista Paulo Francis precisaremos ir adiante e chegar mais precisamente até os anos pós-segunda Guerra Mundial quando aquele estilo de pensamento “centrará suas críticas no domínio do setor público, nos programas estatais e de previdência, atacando o crescimento do Estado, almejando a desregulamentação e a privatização”. (VICENT, 1995, p. 75) Em resumo, em finais do século XIX e início do XX o liberalismo sofrerá uma inflexão conservadora em torno do conceito de democracia que pode ser melhor traduzido em medo e horror às massas, e mais tarde a partir da segunda metade do século XX com relação aos direitos sociais12 promulgados pelo Welfare State. Desta última inflexão fará parte principalmente a “escola” neoliberal

10 “Um dos expoentes da „Escola Austríaca de Economia‟ e um dos mais importantes pensadores liberais do século XX.” Fonte: Instituto Liberal. Disponível em: https://www.institutoliberal.org.br/biblioteca/galeria-de-autores/friedrich-august-von-hayek/ 11 Chamaremos Paulo Francis a partir de agora de conservador liberal, porque defesas conservadoras mescladas a defesas liberais foram uma constante em seu pensamento – embora Francis não possa ser considerado um teórico de fato, pois não produziu nada de original nestes termos – porém o polo do conservadorismo pesando sempre mais. 12 “Os direitos sociais são aqueles que têm por objetivo garantir aos indivíduos condições materiais tidas como imprescindíveis para o pleno gozo dos seus direitos. [...] Na sua grande maioria, os direitos sociais dependem de uma atuação do Estado, razão pela qual grande parte dessas normas é de eficácia limitada. Ainda, valem como pressupostos do gozo dos direitos individuais na medida em que cria condições materiais mais propícias ao aferimento da igualdade real, o que, por sua vez, proporciona condição mais compatível com o exercício efetivo da liberdade”. (PESSOA, Eudes Andre. A Constituição Federal e os Direitos Sociais Básicos ao Cidadão Brasileiro. IN: AMBITO JURÍDICO, Rio Grande, 06 de Junho de 2017. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9623. Acesso em: 06 de junho de 2017. criada ainda no início do século XX por Hayek. Segundo Cesar Candiotto (2012), o neoliberalismo “ao adotar as ideias de Hayek, sublinha a não interferência do estado nas questões econômicas e sociais e reduz a democracia somente a um meio desejável para a defesa da liberdade individual de produzir e consumir”. (p. 155) Para Merquior (1991) o que Friedrich Hayek fez foi “uma crítica contundente dos sonhos igualitários repudiando a democracia majoritária [...] que terminou por minar o próprio âmago da ética liberal”. (MERQUIOR, 1991, 113, 194-195) Agora mostraremos de que maneira este neoliberalismo conservador chegará aos EUA na segunda metade do século XX, e influenciará fortemente o jornalista Paulo Francis.

2.2 O conservadorismo e o liberalismo americano Segundo Robert Nisbet (1987) ocorrerá nos EUA, a partir da década de 1950, um renascimento do pensamento conservador, que chegará ao seu ápice na década de 1980, e levará à presidência o primeiro presidente americano da história a se declarar orgulhosamente conservador, – contexto em que Francis esteve inserido a partir de 1971, quando se transferiu em definitivo para Nova York, e fora extremamente influenciado. Tal contexto teria se iniciado quando da publicação de Road to Serfdom de Frederick Hayek em 1944, publicação que foi procedida por uma série de outras publicações conservadoras bem como da criação de institutos, centros de pesquisa e jornais conservadores. Nomes como o de Friedrich Hayek – do qual segundo o biógrafo Daniel Piza o jornalista teria “devorado” The Fatal Conceit: The Errors of Socialism, livro publicado pela primeira vez em 1988 onde Hayek diz “que o erro fatal do socialismo foi supor que um grupo de pessoas no poder pudesse ter informação suficiente para fazer uma sociedade funcionar, produzir, sem perda de dinamismo” (PIZA, 2004, p. 85) –, teriam “feito a cabeça” do jornalista, além dos neoconservadores surgidos nos anos 1960 como Daniel Bell13 - a quem Francis passa a ler e citar com frequência a partir do final da década de 1970 - e Daniel

13 Foi um pensador muito influente durante as décadas de 1960 e 1970, principalmente com obras sobre o pós-industrialismo e a tese do fim das ideologias. Sua obra, até hoje, representa um marco nas discussões em economia, sociologia e economia política. (Fonte: Wikipedia) Patrik Moynihan14 – quem, segundo Francis em coluna n´O Estado de São Paulo no ano de 1996, o então senador Eduardo Suplicy não compreendia muito bem. Entretanto, uma particularidade importantíssima dos EUA, é que neste país conservador e conservadorismo nunca foram conceitos [...] especialmente populares como na Grã-Bretanha, que tinha um Partido Conservador pronto a sancionar as aspirações conservadoras, a América tinha apenas os seus dois grandes partidos e uma coleção de partidos inconsequentes de movimentos constituídos à volta de interesses especiais. Em nenhum destes figuravam os conservadores. (NISBET, 1987, p. 156)

Segundo o autor que faz nota introdutória ao texto de Friedrich Hayek, Por que não sou conservador,15 no site do Instituto Ludwig Von Mises Brasil16: O chamado "conservadorismo anglo-saxônico", em especial o surgido nos EUA com a "Old Right", nada tem de conservador (sob a visão europeia). Esse conservadorismo americano se baseava na liberdade individual, na defesa da vida e da propriedade, na liberdade de empreendimento e de comércio. Trata-se da essência da ideia de conservação da liberdade, ideia essa oriunda diretamente do liberalismo clássico. (Disponível em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2375. Acesso em: 26 de julho de 2017).

Não seria então mera coincidência o sucesso alcançado pelas ideias neoliberais nos EUA. Como definiu Friedrich Hayek neste texto citado acima, “verdadeiros” liberais como ele, Hayek, ao resistirem à invasão da esfera da liberdade individual propagada pelos movimentos progressistas, se colocam, à primeira vista, lado a lado com os conservadores resistentes às mudanças. A defesa da liberdade individual tal como proferida pelo jornalista Paulo Francis, sobretudo nos anos 1990, em que o Estado não deveria em hipótese alguma administrá-la ou intervir em seus assuntos, além de se assemelhar muito a esta afirmação de Hayek, se assemelha também ao conservadorismo de outro importante nome, Michel Oakeshott, como já foi exposto mais acima, onde ser

14 Foi um político e sociólogo americano, membro do Partido Democrata e um dos maiores autores neoliberais contemporâneos no final do século XX e início do século XXI. (Fonte: Wikipedia) 15 HAYEK , Friedrich A. Por que não sou conservador. In: MISES BRASIL (INSTITUTO LUDWIG VON MISES BRASIL), 2016. Disponível em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2375. Acesso em: 23 de maio de 2017 16 Em seu site, o Instituto é definido como “uma associação voltada à produção e à disseminação de estudos econômicos e de ciências sociais que promovam os princípios de livre mercado e de uma sociedade livre.” (Disponível em: http://www.mises.org.br/About.aspx. Acesso em: 23 de maio de 2017) conservador é ser contrário às mudanças, à presença do Estado resolvendo os conflitos individuais, como também interferindo na economia. Para Oakeshott: A função do governo consiste simplesmente em governar, não em impor outras crenças e atividades aos seus súditos. A imagem do governante deve a ser a de um árbitro cuja função consiste em aplicar as regras do jogo, ou a de um moderador que dirige um debate sem dele participar. [...] A principal e talvez a única atividade especificamente econômica de um governo deve ser a manutenção de uma moeda estável. (OAKESHOTT, 2014, p. 25, com grifos meus)

Passemos agora à tentativa de definição dos conceitos à realidade histórico social brasileira.

2.3 O conservadorismo e o liberalismo no Brasil Podemos concluir, a partir do que foi dito acima, sobre a dificuldade existente em definir com precisão os conceitos de conservadorismo e liberalismo, além de como ambos se modificaram bastante desde suas origens. O que mais importa neste presente trabalho é que em seus primórdios, e até o alvorecer do século XX, liberalismo e conservadorismo eram visões de mundo antagônicas que interpretavam cada uma à sua maneira valores como liberdade, igualdade e a função do Estado. Também no Brasil, embora com muitas ressalvas e singularidades, sempre houve uma secular e distinta oposição entre conservadores e liberais, que assume expressiva manifestação a partir do processo de Independência. A questão é que se já não foi fácil fazer este exercício sem grandes perdas olhando para o continente que elaborou estes conceitos, tarefa também nada simples será tentar fazer o mesmo num país que como todos os outros povos americanos possui uma formação nacional que não é “natural, não é espontânea, não é, por assim dizer, lógica. Daí a imundície de contrastes que somos.” (MÁRIO DE ANDRADE, 1978, p. 8 apud BRANDÃO, 2005, p. 254) Partindo desta ideia, é bem provável que ao final deste trabalho encontremos um Paulo Francis nada lógico, e completamente sem sentido à primeira vista. Nesta, pois que então, difícil empreitada de se pensar o pensamento, o cientista político Gildo Marçal Brandão (2005) vislumbra na “evolução política e ideológica brasileira a existência de “estilos” determinados, formas de pensar extraordinariamente persistentes no tempo” (BRANDÃO, 2005, p. 236). De um lado, dois estilos de direita, que podem ser divididos em conservadores – ou idealistas orgânicos17 -, e de outro em liberais – ou idealistas constitucionais. Os primeiros remontariam aos Saquaremas no Império, passando por Oliveira Vianna e Visconde de Uruguai até desaguar no pensamento autoritário dos anos 1930. Já os segundos remontariam a Joaquim Nabuco, passando por Tavares Bastos e desaguando em Raymundo Faoro até os dias atuais. Além destas duas grandes escolas de pensamento de direita, existiriam mais duas que no processo de naturalização do Brasil industrial, se esboçaram na contramão e, malgrado suas debilidades, constituíram as primeiras concepções antiaristocráticas do país, fornecendo os lineamentos gerais de todas as reformas sociais e econômicas propostas até a ascensão do neoliberalismo.” (BRANDÃO, 1995, p. 236)

Quais sejam, dois diferentes “estilos” de esquerda, um pensamento radical de classe média e um marxismo de matriz comunista. Por esta ótica os conservadores brasileiros acreditavam num Estado forte e centralizado, autocrático e pedagogo, isto porque não é possível ter liberalismo numa sociedade que não tem a capacidade genuína para ser liberal, que possui oligarquias “broncas” e um aparato institucional “pesado, lento, ineficiente e corrupto, [...] é fragmentada, atomizada, amorfa e inorgânica, desprovida de liames de solidariedade internos”. (BRANDÃO, 2005, p. 246-7) Em resumo, para os conservadores brasileiros a democracia liberal também constitui uma grande ilusão. Já para os liberais tratava-se de “buscar, como na Nova Inglaterra, o maior progresso de sociedade pela maior expansão da liberdade individual”, (TAVARES BASTOS, 1976 apud BRANDÃO, 2005, p. 247) afirmando criticamente a centralidade de sempre do Estado brasileiro, e propondo a sua restrição ao necessário para que a “autonomia” da sociedade civil pudesse se afirmar. Seu programa pode ser resumido na “crença de que a boa lei produziria a boa sociedade”. (BRANDÃO, 2005, p. 248) Impossível não enquadrar o jornalista Paulo Francis da década de 1960, co-fundador do Pasquim e à frente de importantes publicações de esquerda no Brasil como pertencente a uma escola de pensamento radical de classe média.

17 Os conceitos de idealismo Orgânico e Idealismo Constitucional foram originariamente formulados por Oliveira Vianna. Mas e o Francis das décadas de 1980-90, como e onde enquadrá-lo? É o que tentarei fazer a seguir nas próximas linhas.

3 TEMPOS DE “DIÁRIO DA CORTE”

3.1 Redemocratização No ano de 1971 sofrendo as consequências do AI-5 como ter sido preso quatro vezes, e impossibilitado de trabalhar livremente no Brasil, o jornalista Paulo Francis embarca para Nova York e lá fixa morada até o fim de sua vida em 1997. Em seguida, no ano de 1975, começa a trabalhar para o jornal Folha de São Paulo primeiro como colaborador, depois como correspondente internacional a convite do jornalista Claudio Abramo – que naquele momento promovia uma grande reforma na Folha, “após ser contratado por (Otávio) Frias para pilotar a redação do jornal” (GONÇALVES, 2008, p. 36), transformando-a nos anos seguintes no jornal de maior tiragem do país. Na década de 1980 a coluna do jornalista se fixa “às quintas-feiras e aos sábados, na Ilustrada (caderno cultural da Folha)” (BATISTA, 2015, p. 186). Neste período a coluna é batizada ironicamente pelo próprio Abramo com o título de “Diário da Corte”. Enquanto escreveu na Folha Francis acompanhou mesmo a distância o processo lento e gradual da redemocratização brasileira, “em que se transcorreram 11 anos para que os civis retomassem o poder e outros cinco anos para que o presidente da República fosse eleito por voto popular direto” (KINZO, 2001)18. Escrevendo de Nova York, mas com o olhar voltado para o Brasil, Francis fora influenciado por este processo e a consequente “recomposição das direitas em torno de um novo bloco econômico e político – o neoliberalismo”. Segundo Friderichs (2016), a preocupação das classes empresariais neste momento era justamente que com a redação de uma nova Constituição e “um processo eleitoral mais amplo, seus interesses poderiam perder espaço frente a projetos ligados a grupos de esquerda”. (FRIDERICHS, 2016, p. 110-111-115) Talvez um dos momentos mais importantes e complexo deste período tenha sido a elaboração de uma nova Constituição no ano de 1988 pela

18 É bastante variável na literatura o ano exato em que este processo tem início. Para a autora aqui escolhida o processo dura de 1974 a 1985. Assembleia liderada pelo político Ulysses Guimarães – a quem Francis não poupava grossuras e polemismo, e o apelidou de velho Tuta, “em referência à múmia de Tutancâmon, para sublinhar a idade do líder do PMDB”. (SÁ, 2012, p. 316) Promulgada por diversos grupos tanto à direita (em sua maioria) quanto à esquerda (em sua minoria), “certamente foi a experiência mais democrática na história constitucional brasileira” (KINZO, 2001), e instaurou no país um Estado de bem estar social ao ter uma enorme preocupação com os chamados Direitos Sociais “baseados na universalidade, seguridade social e cidadania”, (SAAD FILHO, 2016) – direitos que para serem assegurados necessitam de uma crescente intervenção estatal. Ou seja, havia no plano ideológico político brasileiro uma encruzilhada que “levaria a transição democrática a ser acompanhada pela transição econômica ao neoliberalismo” (SAAD FILHO, 2016), em outras palavras, uma encruzilhada entre uma Constituição progressista de um lado, e de outro, a recente chegada de ideias neoliberais que iam exatamente em seu caminho oposto. Francis, como não podia ser diferente, era contrário ao aspecto social- democrático da nova Constituinte, embora fizesse um diagnóstico correto da questão da reforma agrária que foi pouco ou nada modificada pela nova Carta: Francis tinha a nítida sensação de que o Brasil estava escolhendo rumos inadequados em sua ânsia de democratização. Sobre a Constituinte de 1988, não poupou ataques. À parte grossuras, como a de dizer que o peemedebista Ulisses Guimarães tinha mal hálito, era capaz de juízos definitivos, como quando leu a Constituição promulgada no ano seguinte e decretou: „Acabei lendo a Constituição de 245 artigos. Os empreiteiros e senhores de terra levaram tudo que quiseram. O de costume‟. (PIZA, 2004, p.84)

Numa entrevista dada ao programa Roda Viva da TV Cultura, quando do lançamento de seu livro sobre o golpe militar, Trinta anos esta noite19, afirma novamente: É evidente que essa constituição-Frankenstein tem que sofrer uma revisão. Isso é uma constituição absolutamente absurda, que não tem pé nem cabeça econômica no mundo de hoje. (PAULO FRANCIS EM..., 1994. Disponível em:

19 FRANCIS, Paulo. Trinta anos esta noite: o que vi e vivi. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. É neste livro que Francis traz uma versão nova e polêmica a respeito dos fatos, na esteira de uma tendência anti-comunismista e anti-esquerdista de intelectuais no país de reescreverem a história da ditadura militar sob um novo olhar. Resumidamente para o jornalista: 1 – Os EUA não tiveram uma participação definitiva no Golpe de 1964, e 2 – João Goulart caso realmente quisesse, teria impedido o golpe de acontecer, apenas acionando as forças armadas para tal. http://www.rodaviva.fapesp.br/materia_busca/35/francis/entrevistados/pa ulo_francis_1994.htm)

Ao caracterizar a Constituição de 1988 desta maneira o jornalista pode ser enquadrado tanto dentro da categoria de “idealista orgânico” quanto dentro da categoria de “idealista constitucional”, ou seja, ao tecer aquelas críticas estava se posicionando tanto como conservador quanto como liberal no sentido que nos sugere Gildo Marçal Brandão (2005) de “formas de pensar extraordinariamente persistentes no tempo” dos conservadores e liberais “clássicos” no Brasil. Se portando ora como conservador, ora como liberal, também para Paulo Francis, como para os conservadores, “a democracia política constitui a grande ilusão” (BRANDÃO, 2005, p. 247). Entretanto, de maneira alguma deseja o jornalista um Estado brasileiro interventor (para a aplicação dos direitos sociais) e que desta forma seja tomado como a única efetiva garantia da liberdade civil – indo assim de encontro aos liberais. No trecho a seguir, também podemos vislumbrar este conservadorismo liberal do jornalista através da sua visão crítica da justiça social promovida pelo Welfare State. Neste exemplo, uma nova conquista – que no caso seria a renda mínima universal, mas também poderia ser a ampliação dos direitos sociais trazidos pela Constituição de 1988 – estaria destruindo ou acarretando a supressão de uma conquista mais antiga – no caso a liberdade. Assim escreveu o jornalista sobre o assunto: Mogadon20 tem um estudo-discurso sobre imposto de renda negativo e garantia de renda mínima para os destituídos. [...] Junto recebo um livro chamado Real freedom for all de Phillip Van Parjs21 – catedrático de economia e ética da Universidade Católica de Louvain. Há coisas no livro que raramente são vistas no Brasil, uma consideração das ideias sociais de Jonh Rawls e Ronald Dworkin, por exemplo. Mas é a velha história de sempre. Van Parjs é contra o socialismo coercitivo, mas quer um mínimo de renda a quem não consegue sobreviver no mercado. O problema é que este mínimo, se imposto em economias subdesenvolvidas só pode ser imposto coercitivamente. Seus efeitos são invariavelmente o oposto do pretendido. Se queres um monumento olha o INSS. (FRANCIS, OESP, 12.12.1996)

20 Apelido dado por Francis para o então senador Eduardo Suplicy. 21 Philippe Van Parijs é um filósofo e economista político belga, conhecido como proponente e principal defensor do conceito da renda mínima. (Fonte: Wikipedia) Além deste, o tema da “demofobia” também nos ajuda a enquadrar o jornalista Paulo Francis como conservador liberal. Na entrevista já citada acima, ele afirma: [...] Eu prezo a democracia, prezo principalmente as liberdades públicas e sempre que há uma ditadura as liberdades públicas são prejudicadas. Eu, como jornalista, sou um acirrado defensor das liberdades públicas, mas o problema da democracia é que se formam esses blocos, você entende? Irredutíveis. Irracionais. [...] Quero deixar bastante claro que eu gosto de liberdade, democracia, e acho que todo mundo tem direito a votar. Agora, o Brasil você sabe perfeitamente que o voto de certos estados vale 200 votos do voto de um paulista. [...] É um absurdo o voto de um pernambucano valer muito mais do que de um paulista, porque: "one men, one vote" [um homem, um voto]. Democracia é isso. Um homem, ou uma mulher, no caso. (PAULO FRANCIS EM..., 1994. Disponível em: http://www.rodaviva.fapesp.br/materia_busca/35/francis/entrevistados/pa ulo_francis_1994.htm)

Como já foi dito no início deste trabalho, este tema da “demofobia”, para usar o termo da pesquisadora Thais Aguiar (2011), é um tema presente em todos os conservadorismos liberais do século XX. Para o jornalista Paulo Francis, o processo de democratização em que o “número de indivíduos com direito ao voto sofreu um progressivo alargamento” (BOBBIO, 1986, p. 19), inevitavelmente, nivela por baixo, ou seja, tem um efeito contrário ao originalmente pretendido, o que pode ser percebido em sua afirmação sobre o voto de um nordestino valer mais do que o voto de um paulista. Ao mesmo tempo em que o jornalista acredita que a liberdade é extremamente necessária, a democracia é algo que detesta, porém acaba “suportando”, pois Liberdade é uma possibilidade no nosso mundo e merece ser defendida de todas as formas. O que inclui liberdade econômica. Mas o mito da democracia, como os comerciais que vemos ad nauseam, continua tão divulgado, batido, que é difícil encontrar alguém que o conteste, o que é até considerado prova de mau caráter e de “vocação fascista” nos círculos mais doidivanas. (FRANCIS, FSP, 11.09.1988) . Este assunto liberdade-democracia se repete numa entrevista dada ao jornalista Hamilton dos Santos, publicada no jornal O Estado de São Paulo no ano de 1994, também quando do lançamento do livro, Trinta anos esta noite. A certa altura da entrevista Francis afirma: JK cometeu talvez um enorme erro como mostro no meu livro em fazer o PSD, partido majoritário no Congresso de que era líder votar em Castelo Branco. Digo “talvez” porque mais e mais me convenço que a modernização do Brasil é extremamente difícil em plena democracia. Gosto de liberdade. Posso viver sem democracia. (FRANCIS, OESP, 19.03.1994, com grifos meus)

Em uma de suas últimas colunas antes de falecer o jornalista escreveu, afirmando ser a favor do voto censitário e da aristocracia: Clinton é de família pobre, de gente que só começou a ter o direito de votar na primeira metade do século passado. Lembra certos senadores do nosso sertão, que fazem poços de água para lavar cavalos, negando- a aos flagelados, ou compram votos para os filhos por R$ 5,00 per capita. Mentalidade raspa-barril. Antigamente nos EUA, só votava quem tinha propriedade e berço. Daí de Platão a Henry Adams se preferir uma república oligárquica à democracia representativa que, inevitavelmente, nivela por baixo. Júlio César, que era um populista operacional, vinha de uma das mais antigas famílias romanas, era um patrício e membro da ordem equestre, o clube mais exclusivo de Roma. Até os tarados Nero e Calígula eram ultra bem-nascidos, ainda que às vezes fruto de incesto, que acontece nas melhores famílias. O império Romano durou 2 mil anos. (FRANCIS, OESP, 30 de janeiro de 1997)

3.2 A eleição de 1989 Determinada pela Constituição de 1988 a eleição realizada no ano seguinte marca o momento em que os brasileiros vão a urna pela primeira vez em 25 anos votar para Presidente da República, encerrando-se assim o período da redemocratização. Foram no total 22 candidatos concorrendo ao cargo, mas somente dois se elegeram para o segundo turno, sendo eles, Fernando Affonso Collor de Mello – representante da elite – e Luís Inácio Lula da Silva – “intimamente ligado às lutas operárias do ABC paulista, ao renascimento das liberdades políticas no final dos anos 70, à fundação de um partido político de massas”. (ALMEIDA, 2013) Como pano de fundo mundial, tem-se a queda do muro de Berlim e o fim do chamado “Socialismo real”, além do governo de Ronald Reagan (1981-1989) nos EUA que segundo Robert Nisbet: Deve ser considerada o toque final de uma estrutura conservadora que se formou ao longo de trinta anos e que não era só de caráter político, mas também cultural e intelectual com nomes de intelectuais notáveis, jornais de circulação e influência nacional, centros e institutos conservadores. (NISBET, 1987, p. 156)

Fernando Collor como todos sabem vence a disputa – um presidente que dará início ao “processo de implementação da agenda neoliberal. [...] A partir de então, consolida-se o discurso de que a agenda neoliberal é o único caminho para a resolução dos problemas oriundos da chamada década perdida”. (ALMEIDA, 2013) Impossível falar de Paulo Francis e não mencionar a semelhança existente entre a sua participação nesta eleição com a participação de outros jornalistas – pertencentes à Nova Direita ou ao neoconservadorismo atual – na última eleição presidencial brasileira no ano de 2018. Também é bem provável que Francis, tendo apoiado Fernando Collor22, no primeiro e segundo turnos, e criticado a candidatura de Lula de todas as maneiras23, tenha inaugurado neste momento uma longa desconstrução midiática da imagem do Partido dos Trabalhadores (PT) que chegou até os dias atuais. Tal desconstrução culminou, principalmente na eleição de 2018, na fomentação de um discurso de ódio24 por opositores aos integrantes e ações políticas de todo e qualquer partido de esquerda, mas, sobretudo ao PT e a própria figura de Lula. Além disto, a estratégia de Collor para ganhar a eleição foi muito parecida com a do candidato Jair Bolsonaro, qual seja, a de ser o guardião da moralidade cristã, da família e da ordem e de prometer, se eleito, fazer uma espécie de “caça às bruxas” contra a corrupção. Este tema da luta contra a corrupção tem alguns pressupostos ideológicos básicos, tanto em 1989 quanto em 2018 que seriam (resumidamente): 1 – se aplica, principalmente, a governos supostamente socialistas ou que possuem uma pretensão não declarada de vir a ser e 2 - ser contrária a um Estado de bem estar social que necessita urgentemente ser enxugado e paralisado através principalmente das privatizações. Tais pressupostos foram bastante endossados pelo jornalista Paulo Francis tanto

22 O jornalista chegou a justificar a sua escolha por Collor por este candidato ser “alto, bonito e branco, branco ocidental. É outra imagem do Brasil, com que fui criado, francamente.” (FRANCIS. Diário da Corte. FOLHA DE SÃO PAULO, 27 de janeiro de 1990) 23 Na entrevista ao programa Roda Vida da TV Cultura de 1994 Francis afirmou: “[...] Se o Lula ganhar esta eleição o país irá sofrer uma guerra civil. [...] O Lula não tem competência para dirigir. [...] Ele não tem condição nem para ser torneiro mecânico. Ele perdeu um dedo.” (PAULO FRANCIS EM..., 1994. Disponível em: http://www.rodaviva.fapesp.br/materia_busca/35/francis/entrevistados/paulo_francis_1994.htm. Acesso em: 20 de março de 2017 24 Discurso de ódio (tradução do inglês: hate speech) ou incitamento ao ódio (tradução do sueco: hets mot folkgrupp) é, de forma genérica, qualquer ato de comunicação que inferiorize ou incite contra uma pessoa ou grupo, tendo por base características como raça, gênero, etnia, nacionalidade, religião, orientação sexual ou outro aspecto passível de discriminação. (Fonte: Wikipédia) durante quanto nos anos seguintes à eleição de 1989, o que será mostrado a seguir.

3.3 A polêmica com os diretores da Petrobrás Em dezembro de 1990 o jornalista Paulo Francis é compulsoriamente obrigado a deixar a Folha de São Paulo por conta das desavenças com o ombudsman25 Caio Túlio Costa e uma certa incompatibilidade com a direção do jornal. Após 15 anos escrevendo no jornal Folha de São Paulo de 1975 a 1990, Francis acaba aceitando o convite do rival O Estado de São Paulo e o “Diário da Corte” muda de endereço a partir de dezembro de 1990. Dentro do OESP o jornalista continua a construção do seu personagem polêmico e participa da derradeira e última polêmica de sua vida com os sete diretores da Petrobrás, liderados pelo então presidente, Joel Rennó. A polêmica tem início no final de outubro de 1996 quando Francis sem aviso prévio, no programa Manhattan Connection do canal de TV pago GNT, acusa a diretoria da de fazer parte de um esquema de desvio de recursos, mantendo contas em paraísos fiscais. A denúncia foi feita como transcrito a seguir: Francis: - Os diretores da Petrobras todos põem o dinheiro lá...(Suíça) tem conta de 60 milhões de dólares... Lucas: - Olha que isso vai dar processo... Francis: - É...um amigo meu advogado almoçou com um banqueiro suíço e eles falaram que bom mesmo é brasileiro (…) que coloca 50 milhões de dólares e deixa lá. Lucas: - Os diretores da Petrobras tem 50 milhões de dólares? Francis: - Ahh é claro... imaginem... roubam... superfaturamento...é a maior quadrilha que já existiu no Brasil. (MENDES, 2014. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/11/141128_lucas_francis_ petrobras. Acesso em 09 de junho de 2019).

Na imprensa escrita a polêmica tem início no “Diário da Corte” de 05 de dezembro de 1996 em que Francis inicia seu texto da seguinte maneira: Diretores da Petrobrás me processam por US$ 100 milhões. Devem achar que tenho acesso irrestrito ao Tesouro, como eles. Os US$ 100 milhões em soam como o 13º dos diretores da empresa. [...] É evidente que toquei num nervo da Petrossauro. Mais evidente que querem me

25 Ombudsman “é uma palavra sueca que significa representante do cidadão. Designa nos países escandinavos, o ouvidor-geral – função pública criada para canalizar problemas e reclamações da população. [...] A função de ombudsman da imprensa foi criada nos Estados Unidos nos anos 60.” (PETRIK, 2006, p. 58) intimidar. Waal, começam as investigações. Fiquem sintonizados neste espaço. (FRANCIS, OESP, 05.12.1996)

Em seguida na mesma coluna, com o subtítulo Liberdade, Liberdade prossegue sobre o assunto: É o maior assalto perpetrado à liberdade de imprensa no Brasil. Se o processo seguir o curso previsto, ficarei arruinado e teria, no mínimo, meus bens tomados pela Justiça. O objetivo do processo é calar minhas críticas a Petrobrás. Manhattan Connection é um programa muito visto no Brasil. Por que não sou processado no Brasil? Meus ataques não difamam diretores da Petrobrás juntos aos brasileiros? Por quê? Só há uma hipótese. Os diretores tem consciência de que a maioria das pessoas proteinizadas no Brasil concorda com minhas opiniões, e sentem que seria inútil convencê-las do contrário. (FRANCIS, OESP, 29.12.1996)

De fato Francis vinha fazendo verdadeira campanha contra a Petrobrás havia algum tempo. A partir de 1992, do ex-ministro apropriou- se da expressão irônica, „Petrossauro‟, e passou a defender reiteradamente a privatização da empresa juntamente com a abertura do mercado brasileiro e de outras estatais como a Vale do Rio Doce. O economista Roberto Campos nesta época “tornar-se-ia quase uma espécie de guru para Francis que o referenciava para pautar diversos temas relacionados à economia ”. (BATISTA, 2015, p. 210) A defesa de Francis pelas privatizações das estatais brasileiras, principalmente da Petrobrás, ou seja, o seu anti-estatismo é um assunto que chega a ficar repetitivo e cansativo em suas declarações da década de 1990. Com formas variadas, o argumento é sempre o mesmo: há um inchaço da máquina estatal corrupta e deficitária, e como solução há somente o caminho da privatização e do livre mercado: Todo o país do mundo está se privatizando, a economia está (...) Eu estava lendo as últimas da URV [Unidade Real de Valor] e não sei o quê, no Financial Times, um jornal inglês, que cuida muito do Brasil, estava uma página de anúncio da Hungria vendendo todas as estatais. Agora, o Brasil não adianta. O governo toma dinheiro, as pessoas ainda não compreendem isso, no Brasil. O governo toma dinheiro a 54% ao mês, juros inacreditáveis, embora 90 a 80% seja de inflação, é para manter essa máquina estatal falida e cronicamente deficitária e insolúvel que não há maneira. Eu, por exemplo, conheci intimamente alguns diretores da Petrobrás. Não há maneira possível da Petrobrás dar lucro, não há maneira possível porque o óleo explorado, existe o óleo no Brasil que, se explorado, com os preços atuais do mercado, a exploração custaria três vezes o que eles poderiam vender no óleo. E por aí vão as estatais todas. Mas, enfim, isso é um assunto imenso. (PAULO FRANCIS EM..., 1994. Disponível em: http://www.rodaviva.fapesp.br/materia_busca/35/francis/entrevistados/pa ulo_francis_1994.htm ) Finalmente, sentindo desde que iniciara o processo da Petrobrás “terríveis dores no ombro” (NOGUEIRA, 2010, p 19), Paulo Francis acabou morrendo em 4 de fevereiro de 1997 por um um enfarte fulminante no duplex em que morava com a mulher, Sonia Nolasco, em Nova York. Não há como ter certeza e precisão da influência desta polêmica na morte do jornalista, o fato é que todo aquele processo o fizera se desgastar muito em rápidos quatro meses.

4 CONCLUSÕES

No final de sua carreira Paulo Francis contabilizara um espaço único no jornalismo brasileiro. Possuía uma coluna inteira só para si no Estado de São Paulo, onde versava sobre temas de cultura e política aparentemente com total liberdade. Seu patrimônio particular acumulara-se em torno de 3 milhões de dólares e era provavelmente um dos jornalistas mais bem pagos da imprensa nacional. A partir de finais da década de 1980 foi pouco a pouco se tornando uma voz conservadora liberal dentro do jornalismo hegemônico brasileiro. Pouco a pouco porque ainda na transição democrática brasileira (1974-85) o jornalista não está plenamente posicionado nestes termos. É somente a partir de 1991, sobretudo, que temos um Francis liberal em termos econômicos, mas conservador em termos culturais e sociais. Seu conservadorismo foi se tornando cada vez mais aristocrático, com um fortíssimo conteúdo anti-esquerda, anticomunismo/socialismo, “apavorado” com a presença das massas na democracia, mas também e principalmente na cultura. Porém, ao mesmo tempo, o jornalista era um liberal que clamava por liberdade de imprensa, liberdade de mercado, liberdade para falar à vontade sem ser censurado pelo politicamente correto, mas contrário à liberdade de alguns indivíduos lutarem por suas pautas identitárias e se verem reconhecidos. Ou seja, liberdade, sem revolução e progresso, só havendo para alguns, de preferência para os “bem” nascidos. Por fim, o seu racismo vai atingir a tudo e a todos, de maneira implacável, e finalmente o velho Francis deixará de brilhar intelectualmente como outrora já havia brilhado. REFERÊNCIAS

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