Redalyc.O GOLPE DE 1964 E a DITADURA CIVIL-MILITAR
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Espaço Plural ISSN: 1518-4196 [email protected] Universidade Estadual do Oeste do Paraná Brasil Blankl Batista, Alexandre O GOLPE DE 1964 E A DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA NO DISCURSO DE PAULO FRANCIS Espaço Plural, vol. XIII, núm. 27, julio-diciembre, 2012 Universidade Estadual do Oeste do Paraná Marechal Cândido Rondon, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=445944369009 Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto O GOLPE DE 1964 E A DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA NO DISCURSO DE PAULO FRANCIS THE 1964 MILITARY COUP AND BRAZILIAN DICTATORSHIP THROUGH THE SPEECH OF PAULO FRANCIS Alexandre Blankl Batista Resumo: O objetivo do texto é apresentar Abstract: The aim of this work is to present uma reflexão sobre certos aspectos do a reflection about certain aspects of the discurso e das impressões do jornalista speech and the impressions of pressman Paulo Francis a respeito do Golpe Civil- Paulo Francis concerning the Civil-Military Militar de 1964 e do regime ditatorial que Coup in 1964 and the Dictatorship which vigorou no Brasil entre 1964 e 1985. Serão took place in Brazil from 1964 to 1985. utilizados textos deste jornalista vinculados There will be employed works of the named à grande imprensa, em especial ao jornal pressman which are linked to big media, Folha de São Paulo, além de seu livro de specially to Folha de São Paulo, as well as memórias acerca de 1964, Trinta Anos esta his book of memories from 1964, Trinta noite, escrito no jubileu de trinta anos do Anos esta noite (free translation: “Thirty Golpe, em 1994. Por meio da análise do Years tonight”), which was written by the discurso do autor, é possível listar pontos time of the thirtieth anniversary of the em comum com determinada interpretação military coup, in 1994. By analyzing the da história do Golpe e da Ditadura que tem speech of the author, it is possible to point sido disseminada recentemente na grande common issues with a certain interpretation imprensa. Tal reflexão também se mostra of the history of the Coup and the pertinente no sentido de avaliar questões Dictatorship which has been recently relacionadas à viragem ideológica de disseminated within the big media. Such Francis, ora trotskista no período pré-1964, reflection also presents its relevance when ora liberal-conservador a partir de meados analyzing questions related to the da década de 1970. ideological turnover Francis had, Trotskyist before 1964 and then Liberal-Conservative Palavras-chave: Paulo Francis, Golpe de from the 1970s on. 1964, Ditadura Civil-Militar no Brasil. Keywords: Paulo Francis, The 1964 Military Coup, Brazilian dictatorship. Este texto é uma versão ampliada, corrigida e atualizada de um pequeno esboço, originalmente apresentado no III Simpósio Trabalho, Cultura e Poder, realizado na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), em 2012, e publicado nos Anais deste evento. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Email: [email protected] Espaço Plural • Ano XIII • Nº 27 • 2º Semestre 2012 • p. 111-125 • ISSN 1518-4196 DOSSIÊ DITADURAS DE SEGURANÇA NACIONAL E TERRORISMO DE ESTADO O 1964 FEZ DE MIM, DA MINHA entendimento sobre a participação dos GERAÇÃO, HOMENS ADULTOS. Estados Unidos no processo que culminou 4 VIVÍAMOS DE ILUSÕES, NOS nos vinte e um anos de Ditadura no Brasil . IMAGINANDO SENHORES DO BRASIL Cabe ressaltar, ainda, outro leque de DE QUE GRADUALMENTE discussões, no qual certos historiadores se TOMÁVAMOS POSSE (…). debruçam, de modo a não deixar de analisar PAULO FRANCIS, TRINTA ANOS ESTA o caso brasileiro como fenômeno isolado. NOITE Trata-se da história da Ditadura brasileira como parte de uma lógica mais ampla que O Golpe de 31 de março de 1964, engloba as chamadas “Ditaduras de que derrubou o presidente João Goulart no Segurança Nacional”, específicas da Brasil, vem suscitando um acalorado debate América Latina5. historiográfico. Recentemente, boa parte dos Os casos acima são apenas uma historiadores tem adotado a ideia de um pequena amostra dos tópicos paralelos que “Golpe Civil-Militar”, lembrando que não instigam os pesquisadores e geram foram apenas os militares que conspiraram controvérsias ao tema do Golpe de 1964. na derrubada de João Goulart (Jango) e Junto a estes debates, também há algumas deram sustentação à Ditadura. No rol de versões que têm dado ênfase aos interpretações sobre o Golpe encontram-se acontecimentos que levaram ao Golpe, pesquisas sobre a acentuada articulação dos essencialmente, na ação providencial de civis1 e, de outro lado, trabalhos que certos protagonistas, cujo papel de destaque reafirmam a ação preponderante dos teria sido fundamental não apenas no militares no episódio2. Há quem não andamento do processo golpista, mas esqueça de reafirmar o papel dos também no caráter que teve a Ditatura Civil- movimentos sociais, que não teriam ficado Militar no Brasil. Recentemente, os passivos frente à agitação pré-golpe3. Em trabalhos do jornalista Elio Gaspari são um meio a esses estudos, é controverso o exemplo nesse sentido. As séries Ilusões Armadas e O Sacerdote e o Feiticeiro, publicadas pelo autor entre 2002 e 2004, 1 René Dreifuss, em um excelente trabalho sobre o complexo IPES/IBAD, mapeou extensivamente a constituem-se na pretensão de escrever uma atividade destes institutos, mostrando a verdadeira “História da Ditadura”, impressionante organização do empresariado considerando a extensão da narrativa e os brasileiro que apoiou o golpe civil-militar: DREIFUSS, René Armand. 1964, A conquista do temas apresentados. Estado: ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis: Vozes, 1981. 2 Gláucio Ary Dillon Soares reafirma a 4 Uma tentativa interessante de balanço preponderância dos militares no golpe, no máximo, historiográfico sobre algumas das diferentes admitindo os civis como importantes coadjuvantes interpretações acerca do golpe encontra-se na obra de em tal processo, mas não como os “atores” Carlos Fico, Além do Golpe: FICO, Carlos. Além do principais. Nesse sentido, critica certos trabalhos que Golpe: Versões e controvérsias sobre 1964 e a teriam “subestimado o papel dos militares”: Ditadura Militar. São Paulo: Record, 2004. SOARES, Gláucio Ary Dillon . O Golpe de 64. In: 5 Destacam-se os trabalhos de Enrique Serra Padrós: 21 anos de regime militar: balanços e perspectivas. PADRÓS, Enrique (Org.). As Ditaduras de Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, Segurança Nacional: Brasil e Cone Sul. Porto 1994. Alegre: Corag/ Comissão do Acervo da Luta contra a 3 Um bom exemplo desta posição pode ser Ditadura, 2006; PADRÓS, Enrique. América Latina: encontrado no trabalho de Jacob Gorender: Ditaduras, Segurança Nacional e Terror de Estado. GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. São Paulo: História & Luta de Classes, Marechal Cândido Ática, 1999. Rondon, julho 2007, p. 43-49. Espaço Plural • Ano XIII • Nº 27 • 2º Semestre 2012 • p. 111-125 • ISSN 1518-4196 O GOLPE DE 1964 E A DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA NO DISCURSO DE PAULO FRANCIS No entanto, Gaspari não foi o ideológica de Francis, ora trotskista no pioneiro, na área do jornalismo, ao tentar período pré-1964, ora liberal-conservador a registrar impressões sobre a Ditadura Civil- partir do final da década de 1970. Militar. Outros jornalistas antes dele já Paulo Francis se dizia trotskista. Deu haviam escrito memórias sobre o período. uma guinada conservadora, adotando Entre eles, o conhecido polemista Paulo postura em defesa do liberalismo, expressa Francis, que publicou um livro de memórias sensivelmente a partir da década de 1980. a respeito do Golpe de 1964, do qual as Como intelectual de esquerda, Francis teve interpretações e o estilo narrativo lembram participação marcante no jornal Última significativamente os trabalhos de Elio Hora, de Samuel Wainer, entre 1963 e 1964, Gaspari. Ao longo do texto, apontaremos quando atacava com veemência algumas dessas semelhanças. No momento, personalidades da União Democrática cabe dizer que o livro de Francis não tinha a Nacional (UDN), em especial Carlos mesma pretensão das séries publicadas por Lacerda, oligarquias políticas e Elio Gaspari, tanto em relação à extensão de organizações empresariais, além do informações, quanto ao volume documental imperialismo dos EUA. Foi marcante apresentados pelo último. Mesmo assim, os também a sua atuação no semanário O pontos de aproximação são significativos, Pasquim, entre 1969 e 1976, quando não apenas para traçar um paralelo entre os escrevia já sob a vigilância da censura. Sua dois, como também apontar as relações dos virada ideológica se consolidou em território trabalhos desses autores com a grande estadunidense, em tempos que já era imprensa. correspondente estrangeiro da Folha de São Sendo assim, o objetivo deste texto é Paulo, jornal onde foi colunista entre 1975 e apresentar uma breve reflexão sobre certos 1990. aspectos do discurso e das impressões do A Folha de São Paulo (FSP) jornalista Paulo Francis a respeito do Golpe também passou por uma fase de transição, a Civil-Militar de 1964 e do regime ditatorial qual acompanhou a virada ideológica de que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985. Paulo Francis. Nos tempos iniciais de FSP, Tentaremos reforçar a hipótese de que há Francis tinha como diretor de redação um vínculo importante