Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Instituto De Letras Programa De Pós-Graduação Em Letras Estudos De Literatura Literatura Brasileira
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS ESTUDOS DE LITERATURA LITERATURA BRASILEIRA EDUARDO DE OLIVEIRA LANIUS O PROFETA DESACREDITADO: UMA LEITURA DO PROJETO FICCIONAL DE PAULO FRANCIS Porto Alegre 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS ESTUDOS DE LITERATURA LITERATURA BRASILEIRA EDUARDO DE OLIVEIRA LANIUS O PROFETA DESACREDITADO: UMA LEITURA DO PROJETO FICCIONAL DE PAULO FRANCIS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Instituto de Letras como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Literatura Brasileira Orientador: Professor Doutor Luís Augusto Fischer Porto Alegre 2012 AGRADECIMENTOS Para minha mãe, Norma; Para Luís Augusto Fischer, professor cuja curiosidade intelectual e gama de interesses invejo, com um reconhecimento especial por seu estímulo, confiança, dicas, intuições - e paciência; E à memória de meu pai, Eloy. “Exercer a crítica da nação é uma forma de otimismo.” Wole Soyinka “Um texto sem pretensões não existe.” Paulo Francis RESUMO A ficção de Paulo Francis - um corpus formado por dois romances, Cabeça de papel e Cabeça de negro , partes de uma trilogia inconclusa, mais duas novelas, “Mimi vai à guerra” e “Clara, Clarimunda...”, publicadas sob o título geral Filhas do segundo sexo , e um romance póstumo, Carne viva - se apresenta como um experimento interessante do panorama literário brasileiro das últimas décadas. Jornalista de interesses culturais e políticos, Francis dotou suas narrativas de procedimentos usados nas crônicas publicadas ao longo de décadas na imprensa nacional, principalmente nos dois primeiros romances, cujo narrador, Hugo Mann, é extremamente digressivo, opinativo, irreverente e provocativo. É esse narrador, que filia o resultado a um tipo de subgênero que se poderia chamar de “romance de ideias”, que se quer investigar. Produto característico do século XX, Francis parece ter usado o romance de ideias para alcançar um tipo de fabulação que diagnosticasse as mazelas do Brasil, em um tipo de texto que se pretende também um painel histórico, sociológico, comportamental. Como coadjuvantes, entram os demais títulos de sua novelística. Palavras-Chave: narrador, romance de ideias, literatura brasileira. ABSTRACT Paulo Francis’s fiction - one corpus formed by two romances, Paper Head and Negro Head , which are parts of an unfinished trilogy, plus two novels, ‘Mimi goes to War’ and ‘Clara, Clarimunda...’ both published under the general title Daughters of the Second Sex , and the posthumous romance Live Flesh - appears as an interesting experiment in the Brazilian literary panorama of the last decades. A journalist with cultural and political interests, Francis produced his narrative using the same procedures he used in his chronicles published in national newspapers for decades, mainly in this two first romances, whose narrator, Hugo Mann, is extremely digressive, opinionated, irreverent and provocative. What this study aims to investigate is this narrator who links the result to a sort of subgenus that might be classified as ‘romance of ideas’. As a characteristic 20 th Century product, Francis seems to have used his romance of ideas with the purpose of achieving a sort of fable that would diagnose Brazil’s sores. His writing also intends to be a historic, sociological and behavioural panel of the nation. His other novels enter like coadjutants. Key words: narrator, romance of ideas, Brazilian literature. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................7 2 APRESENTAÇÃO DE PAULO FRANCIS......................................................................20 2.1.VIDA...................................................................................................................................20 2.2 OBRA..................................................................................................................................24 2.3 POR QUE PAULO FRANCIS: ATAQUE E DEFESA.....................................................29 3 ROMANCE DE IDEIAS, IDEIAS NO ROMANCE........................................................45 4 O NARRADOR EM PAULO FRANCIS ..........................................................................64 4.1 CABEÇA DE PAPEL.........................................................................................................65 4.1.1 O enredo..........................................................................................................................65 4.1.2 O narrador......................................................................................................................72 4.2. CABEÇA DE NEGRO......................................................................................................79 4.2.1 O enredo..........................................................................................................................79 4.2.2 O narrador......................................................................................................................84 4.3 FILHAS DO SEGUNDO SEXO........................................................................................89 4.3.1 O enredo..........................................................................................................................89 4.3.2 O narrador......................................................................................................................93 4.4 CARNE VIVA..................................................................................................................100 4.4.1 O enredo........................................................................................................................100 4.4.2 O narrador....................................................................................................................102 4.5 O CRONISTA...................................................................................................................105 5 CONCLUSÃO....................................................................................................................115 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................134 7 1 INTRODUÇÃO Este trabalho bem poderia levar como subtítulo “uma dissertação em dois tempos”. Aprovado como aluno do Programa de Pós-Graduação em Letras em 2001, cumpri os créditos obrigatórios e... não defendi meu projeto, escrito apenas em parte. Os motivos são muitos, mas é provável que se possa resumi-los em um principal: não sabia exatamente o que fazer com um material que a mim se afigurava rico e, talvez em razão dessa complexidade, cheio de possibilidades que o tornavam quase inabarcável (para os meus olhos de então, interessado que estava em variadas aproximações a partir de um ponto de origem de tantos matizes). Alguns anos passados, mais maduro em relação a esse objeto, volto ao mesmo corpus e percebo que alguma coisa mudou. Se meu olhar não sofreu modificações sensíveis, a verdade é que consigo perceber no que originalmente era um conjunto de difícil abordagem algumas brechas ou caminhos por onde posso começar a pensar sobre a obra que me dispus a estudar. Continuo, e cada vez mais, a achar o que coletei propenso a investidas por múltiplos ângulos, o que me dá convicção de que mantém força e permanência. Na época da “primeira encarnação” do texto, não consegui equacionar alguns problemas e encontrar as devidas soluções, o que espero ter alcançado nesta “segunda encarnação”. Nem tudo se perdeu, alguma coisa se transformou e assisti, nestes dez anos entre um e outro empenhos, ao relançamento de boa parte das obras do autor em questão, Paulo Francis (1930-1997), assim como ao de um romance inédito. Tudo, é claro, serviu para avivar o eventual interesse que sua produção jornalística e literária venha a suscitar nas novas gerações, por meio de um dado igualmente digno de nota: Francis, embora tenha morrido há exatamente 15 anos, continua muito presente e bastante referido para uma parcela significativa de admiradores. Isso se traduz de formas diversas, mas penso que, para além da reposição às livrarias dos romances Cabeça de papel e Cabeça de negro , das novelas contidas em Filhas do segundo sexo , dos semimemorialísticos O afeto que se encerra e Trinta anos esta noite e do lançamento do romance inédito Carne viva , na última década, a aparição de um documentário e de um perfil biográfico, em dois anos e tanto, reforçam a ideia de que seu legado não se perdeu. 1 Uma busca casual no Google, o mais popular local de pesquisas da internet, dá conta 1 No momento em que esta dissertação era finalizada, chegava às livrarias uma coletânea de artigos de Francis, Diário da corte . A seleção, feita pelo seu ex-colega de trabalho Nelson de Sá, reúne 76 crônicas publicadas na Folha de S. Paulo entre 1976 e 1990, sobre temas como Jorge Amado, Edmund Wilson, Woody Allen, Leonel Brizola e Fernando Collor de Mello. É mais um dado a se acrescentar ao conjunto das celebrações de um espólio que parece longe de atingir o esgotamento. 8 de 19 milhões de referências a ele 2, de sites mantidos por amigos - como http://paulofrancis.com , em que se pode ler depoimentos de sua viúva, a jornalista e escritora Sonia Nolasco, e de Daniel Piza, autor do primeiro perfil publicado de Francis, Paulo Francis: Brasil na cabeça (2004), e www.paulofrancis.com.br , com trechos retirados de O afeto que