4 a Reconfiguração Do Discurso Do Samba
4 A reconfiguração do discurso do samba O caminho percorrido pelo samba, iniciado aproximadamente na década de 1930, se desconsiderarmos os movimentos anteriores que permitiram o seu surgimento, culmina hoje numa jornada para garantir-lhe a permanência de suas conquistas. Saindo do gueto, de uma posição marginal, ele veio, conforme pudemos observar, galgando espaços, até se transformar na principal manifestação da cultura popular brasileira. Hoje a grande questão é saber como pode se manter no estado em que está. Sua característica antropofágica lhe permitiu devorar tudo aquilo que foi necessário para seus objetivos. Devorando, transformando e se apropriando, o samba carioca aprendeu a dialogar com o Estado, com diversos segmentos sociais, com diversos instrumentos de comunicação e com a indústria cultural. Nunca se colocou numa posição de vítima, ao contrário, sabendo-se aproveitar de todas estas situações, retirando delas vantagens que lhe permitiram o caráter hegemônico, dentro do cenário cultural brasileiro, inclusive sendo tombado como patrimônio imaterial da cultura. Esta estratégia malandra permanece presente e hoje é um poderoso instrumento para que possa se manter onde está. É necessário dizer que, ao denominar esta estratégia de malandra, estamos propondo uma releitura da noção de malandragem contida na obra “Dialética da malandragem” 116 de Antonio Candido, indo na direção oposta à brilhante leitura realizada por João Cezar de Castro Rocha em seu texto “Dialética da marginalidade”. 117 Entendemos aqui a figura do malandragem não como uma estratégia de coalizão, mas de enfrentamento. O malandro enfrenta, apropriando-se progressivamente “das armas” de seu oponente, assumindo deliberadamente, e conscientemente, determinadas características impostas e delas retirando vantagens.
[Show full text]