Passaram a Mão Na Minha Poupança
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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Departamento de História Programa de Pós-Graduação em História Econômica Passaram a mão na minha poupança Um estudo sobre o impacto do Plano Collor no cotidiano da população brasileira urbana em 1990 Francine De Lorenzo Andozia São Paulo 2019 (Versão corrigida) Francine De Lorenzo Andozia Passaram a mão na minha poupança Um estudo sobre o impacto do Plano Collor no cotidiano da população brasileira urbana em 1990 Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Econômica da Faculdade de Filosofia,Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, sob orientação da Profa. Dra. Sara Albieri. São Paulo 2019 (Versão corrigida) Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Catalogação na Publicação Serviço de Biblioteca e Documentação Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Andozia, Francine De Lorenzo Ap Passaram a mão na minha poupança - um estudo sobre o impacto do Plano Collor no cotidiano da população brasileira urbana em 1990 / Francine De Lorenzo Andozia ; orientador Sara Albieri. - São Paulo, 2019. 263 f. Dissertação (Mestrado)- Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Departamento de História. Área de concentração: História Econômica. 1. Plano Collor. 2. Poupança, confisco. 3. comportamento econômico. 4. cultura econômica. 5. cotidiano. I. Albieri, Sara, orient. II. Título. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE F FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS ENTREGA DO EXEMPLAR CORRIGIDO DA DISSERTAÇÃO/TESE Termo de Ciência e Concordância do (a) orientador (a) Nome do (a) aluno (a): Francine De Lorenzo Andozia Data da defesa: 02/07/2019 Nome do Prof. (a) orientador (a): Sara Albieri Nos termos da legislação vigente, declaro ESTAR CIENTE do conteúdo deste EXEMPLAR CORRIGIDO elaborado em atenção às sugestões dos membros da comissão Julgadora na sessão de defesa do trabalho, manifestando-me plenamente favorável ao seu encaminhamento e publicação no Portal Digital de Teses da USP. São Paulo, _13_/_08_/_2019 _________ __________________________________________ (Assinatura do (a) orientador (a) ANDOZIA, Francine De Lorenzo. Passaram a mão na minha poupança - um estudo sobre o impacto do Plano Collor no cotidiano da população brasileira urbana em 1990. Dissertação (Mestrado) apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em História. Aprovado em: Banca Examinadora Prof. Dr. Instituição: Julgamento: Assinatura:__________________________ Prof. Dr. Instituição: Julgamento: Assinatura:__________________________ Prof. Dr Instituição: Julgamento: Assinatura:__________________________ AGRADECIMENTOS À Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, pela oportunidade de realização do curso. À minha orientadora, Profa. Dra. Sara Albieri, não só pela preciosa orientação no desenvolvimento deste trabalho de pesquisa, mas também pelo apoio e carinho nos momentos difíceis. Ao Prof. Dr. Francisco Assis de Queiroz e ao Prof. Dr. Osvaldo Coggiola, pelo interesse e disposição em avaliar esta pesquisa e pelas importantes contribuições para o resultado final deste trabalho. À equipe do acervo do Grupo Estado e aos colegas jornalistas, pela atenção e ajuda com muitas das fontes utilizadas nesta dissertação. Aos amigos e familiares, pela ajuda e apoio durante todo período de pesquisa. Ao Max, meu companheiro de todas as horas. RESUMO O Plano Brasil Novo – ou Plano Collor, como ficou conhecido – foi lançado em março de 1990 por Fernando Collor de Mello, primeiro presidente eleito por voto direto no Brasil em quase 30 anos, tendo como principal marca o inédito confisco das aplicações financeiras privadas por um período de 18 meses. A brusca retirada de moeda de circulação, que fez sumir de um dia para outro cerca de 75% do dinheiro que irrigava a economia brasileira, provocou uma ruptura não apenas no sistema econômico-financeiro do País, como também nas relações sociais e na cultura econômica vigentes, alterando a dinâmica do cotidiano e o comportamento econômico da população urbana. Palavras-chave: Plano Collor, poupança, confisco, Fernando Collor de Mello, cotidiano, cultura econômica, comportamento econômico. ABSTRACT The New Brazil Plan – or Collor Plan, as it was known – was launched in March 1990 by Fernando Collor de Mello, the first president elected by direct vote in Brazil in almost 30 years, having main feature the unprecedented confiscation of private financial investments for a period of 18 months. The abrupt withdrawal of circulation money, which wiped out about 75% of the money that irrigated the Brazilian economy from one day to the next, provoked a rupture not only in the country's economic-financial system, but also in social relations and economic culture, changing the daily dynamics and the economic behavior of the urban population. Keywords: Collor Plan, savings, confiscation, Fernando Collor de Mello, daily life, economic culture, economic behavior. SUMÁRIO Introdução Apresentação do tema e objetivos 01 Justificativa 03 Fontes primárias 07 Fundamentação teórica 14 Balanço historiográfico 21 Procedimentos metodológicos 22 Capítulo 1 - Cenário histórico 1.1 - O Brasil em 1990 25 1.2 - Quem era Collor 30 Capítulo 2 - O Plano Collor 2.1 - A concepção 35 2.2 - Principais personagens 37 2.3 - O confuso anúncio 40 2.4 - Quem foi afetado? 54 Capítulo 3 - O impacto do Plano Collor na vida da população mais afetada 3.1 – À espera do Plano Collor: expectativa por mudanças 60 3.2 – A desorientação no dia a dia 62 3.2.1 – A cidade como artefato 63 3.2.2 – Campo de forças 65 3.2.2.1 – Poder e resistência 65 3.2.2.2 – Modos de vida urbana 139 3.2.2.3 – Comunicação 189 3.2.3 – Representações sociais 241 Considerações finais 253 Referências bibliográficas 256 Anexos (arquivo digital) Introdução Sequestro neste País não é só de pessoas. Há os sequestros tão ou mais violentos que o de pessoas. São os sequestros de salários, dos aumentos, da conta corrente, da poupança, da dignidade humana que o governo tenta encobrir, alegando estar favorecendo os descamisados e pés descalços. Raul Cândido da Silva Filho – São Paulo (SP) Folha de S.Paulo, Painel do Leitor, 15 de julho de 1990, p. A-3 Apresentação do tema e objetivos O objetivo desta pesquisa de Mestrado é mostrar, a partir das fontes selecionadas, como o chamado Plano Collor (1990-1992) foi vivenciado pelos segmentos da população brasileira mais afetados por ele. Lançado em março de 1990 por Fernando Collor de Mello, primeiro presidente eleito por voto direto no Brasil em quase 30 anos, o Plano Brasil Novo – ou Plano Collor, como ficou conhecido – reunia medidas que visavam o controle da inflação e o desenvolvimento econômico do País. Embora envolvesse diferentes tipos de ações com foco não só no ambiente doméstico, mas também nas relações econômicas com o exterior, o Plano Collor ficou marcado por uma medida específica, que o distinguia de todos os outros programas de estabilização já lançados: o inédito bloqueio das aplicações financeiras privadas por um período de 18 meses1. Concentraremos nossas atenções nesta particularidade do Plano Collor, buscando entender as implicações desta medida na vida da população. A brusca retirada de moeda de circulação, que fez sumir de um dia para outro cerca de 75% do 1 Medida provisória 168, de 15 de março de 1990. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/1990- 1995/168.htm. Acesso em 5 de fevereiro de 2016. Vide anexo 7. 1 dinheiro que irrigava a economia do País por meio de um confisco2, como se habituou dizer, era a aposta do novo governo para vencer a inflação galopante, que já ultrapassava a marca de 80% ao mês3. De um dia para outro, os saques em conta corrente e poupança foram limitados a 50 mil cruzados novos (cerca de R$ 8.300 em valores atuais4), equivalentes à época a 13,6 salários mínimos5 ou US$ 6256, não importando o saldo existente em conta, compromissos assumidos ou qualquer outro fator que por ventura pudesse justificar a necessidade de retirada de maior quantia. Para aplicações no overnight, contas remuneradas e em fundos de investimento, o limite de saque era de 25 mil cruzados novos ou 20% do valor aplicado, sujeitos a tributação de 8% sobre o valor retirado. Em todos os casos, a devolução dos valores bloqueados ocorreria apenas a partir de 16 de setembro de 1991, em 12 parcelas mensais consecutivas. Ao provocar uma ruptura nas regras em vigor e, por consequência, no funcionamento da sociedade, o Plano Collor alterou as relações sociais e a dinâmica da economia, gerando um efeito negativo em cadeia que resultou na pior recessão registrada no Brasil em uma década: em 1990, o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 4,3%, a maior retração desde 1981. Essas mudanças tiveram profundo impacto no cotidiano, afetando não apenas as atividades diárias, mas também o comportamento e o sentimento das pessoas. 2 Estimativa apresentada pelo então secretário de Política Econômica, Antônio Kandir, em entrevista à Rede Globo em março de 1990 (vide anexo 4: Kandir - Plano Collor (Rede Globo, 1990)). O uso da palavra “confisco” para se referir ao bloqueio das aplicações financeiras pelo Plano Collor foi considerado inadequado por estudiosos como Cid Heráclito de Queiroz (1990) e Luiz Carlos Bresser-Pereira (1991), além de ter sido fortemente contestado pelo governo. Entretanto, diante da falta de consenso a este respeito (Ramalho, 1993) e de sua ampla utilização pela mídia, acadêmicos, economistas e pela população em geral, a palavra “confisco” rapidamente passou a ser atrelada ao episódio do bloqueio das aplicações financeira pelo Plano Collor. 3 De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou elevação mensal de 82,4% em março de 1990, registrando alta de 6390% no acumulado em 12 meses.