Vozes Femininas Da Clandestinidade Comunista (1940-1974)
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Vozes femininas da clandestinidade comunista (1940-1974) Vanessa Andreia dos Santos de Almeida Trabalho de projecto Mestrado em Antropologia Área de Especialização em Direitos Humanos e Movimentos Sociais Orientadora: Professora Doutora Paula Godinho Setembro, 2015 Trabalho de Projecto apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Antropologia, Área de Especialização em Direitos Humanos e Movimentos Sociais, realizado sob a orientação científica da Professora Doutora Paula Godinho I À memória do meu pai, Mariano de Almeida, funcionário, do Partido Comunista Português II Agradecimentos Cada investigação é, na sua essência, um entrelaçar de motivações diversas que justificam o trilho percorrido. Esse caminho teve início num tempo demasiado distante, mas nem assim perdeu o sentido ou a razão de ser, pelo contrário, ganhou uma dimensão maior e a obrigatoriedade da sua realização. Quero começar por agradecer à Professora Doutora Paula Godinho, não apenas ter acedido orientar este trabalho, mas também pela leitura crítica do mesmo, assim como por todas as sugestões e conselhos. Agradeço sobretudo a amizade, o carinho e incentivo constante com que me presenteou ao longo destes últimos anos, bem como por nunca ter deixado de acreditar em mim, quando por vezes era eu própria que de mim duvidava. Às antigas clandestinas do Partido Comunista Português, que acederam partilhar comigo as suas memórias e depositaram em mim confiança ao fazê-lo, o meu agradecimento pungente. Sem os testemunhos de Conceição Matos, Domicilia Correia da Costa, Elídia Rosa Caeiro, Fernanda Alves Rodrigues, Francisca Galado Caeiro, Margarida Tengarrinha, Maria Carvalho, Maria Machado, Maria Lourença Cabecinha, Sofia Ferreira e Teodósia Gregório este trabalho não seria possível, e eu seria com certeza uma pessoa diferente da que sou hoje, pois o que me ensinaram foi muito para além das suas experiências da clandestinidade. Infelizmente, este trabalho chega demasiado tarde para algumas delas, e isso é da minha inteira responsabilidade. Ao Partido Comunista Português pelo acesso à totalidade da imprensa consultada, o meu obrigada. Do mesmo modo, ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo e aos seus funcionários, com um destaque particular para o dr. Paulo Tremoceiro, pela disponibilidade constante. Um agradecimento pelas palavras de incentivo, tanto ao Professor Doutor Fernando Rosas como à Cristina Nogueira, que mesmo de longe nunca deixou de demonstrar a sua disponibilidade para tudo aquilo que eu necessitasse, assim como ao dr. José Pacheco Pereira, pela cedência de materiais. À Dulce Simões, não apenas pela amizade que nos une, mas também pela revisão cuidada e sugestões pertinentes. Sem a sua ajuda, o resultado seria com certeza outro. Este trabalho reflecte grande parte da minha vida dos últimos anos, mesmo quando foi objecto de interrupção, mas não de esquecimento. Foram anos de um III percurso pessoal por vezes demasiado doloroso, mas também por isso era impossível deixar de cumprir o objectivo a que me propus. À minha família de mulheres, o meu obrigada. À minha avó, porque sem ela não teria sido possível. À minha mãe, pela coragem com que me acompanhou nestes últimos anos, pelo apoio constante mesmo quando a minha ausência é uma realidade e à minha irmã, porque sei da felicidade que sente por me ver concluir mais um projecto. Todos os trabalhos de investigação pressupõem momentos de isolamento onde, confrontados com a escrita, nos deparamos também com as nossas fragilidades e inseguranças. Mas também comportam em si redes de solidariedade silenciosas que nos amparam nos momentos decisivos. Antes de mais, ao José Miguel Leal da Silva, pela amizade e confiança. Depois, à célula. A quem permaneceu e permanece sempre do meu lado, independentemente das circunstâncias. À Cláudia Ferreira, presença constante dos meus dias. À Maria Morais, que mesmo estando longe, sei que está comigo e que o carinho é igual ao do primeiro dia. À Catarina Oliveira, que reentrou na minha vida há dois anos e veio para ficar. À Catarina Pires e à Sandra Benfica, que me chamam tantas vezes à razão no meio de abraços sentidos. Ao João Alves, que exige de mim quando acha que o deve fazer e que me ampara quando sabe que não é a brincar. À Maria Miguel, que não me deixou desistir e que me recorda da força de que eu sou capaz. Todos foram e continuam a ser parte fundamental do meu rumo à vitória, foram quem me emprestou a coragem quando ela escasseava e quem me dá alento para prosseguir. Uma palavra especial para o Tiago Carvalho, pela ternura, pela música, e porque o seu exemplo foi tantas vezes fonte de inspiração. Este trabalho representa para mim muito mais do que um mero projecto académico. E longe de ser uma conclusão, representa acima de tudo o tomar as rédeas de um caminho do qual me desviei há demasiado tempo. Quando o iniciei, tinha o meu pai ao meu lado, hoje já não. Este trabalho é dele também, por tudo aquilo que me transmitiu. A minha maior mágoa é que já não vai ser lido por ele e que perdi para sempre a oportunidade de ouvir a análise minuciosa que eu sei que faria. Mas, mesmo tarde demais, eu não me rendi. Ele teria apreciado isso. IV Vozes femininas da clandestinidade comunista (1940-1974) Vanessa Andreia dos Santos de Almeida PALAVRAS-CHAVE: Clandestinidade, Partido Comunista Português, Estado Novo, memória colectiva. Resumo Este trabalho de investigação pretende reflectir sobre as vivências femininas na clandestinidade comunista portuguesa, na tentativa de compreender de que modo a divisão socialmente construída entre os géneros vai reflectir-se na militância política e nos quotidianos da clandestinidade. Em termos metodológicos, e porque considerámos que era impossível captar a essência do que foi a experiência da clandestinidade no feminino apenas mediante o recurso a fontes documentais, optámos por proceder à recolha de narrativas de vida de mulheres que passaram por tal experiência, com vista a trabalharmos a noção de memória colectiva, esta entendida como fenómeno socialmente construído por um determinado grupo ou comunidade. Seguimos então o caminho da história oral e recorremos a bibliografia proveniente dos mais diversos campos do saber: história, sociologia, antropologia, ciências da educação e psicologia, com vista a resgatar do silêncio a que foram confinadas as vozes daquelas mulheres que, com um enorme sacrifício pessoal, abandonaram as suas terras, as suas casas, a sua família, inclusivamente o seu nome, para passar à clandestinidade, permitindo a sobrevivência do aparelho clandestino do Partido Comunista Português durante os anos da ditadura do Estado Novo. V Feminine voices of the communist clandestinity (1940-1974) Vanessa Andreia dos Santos de Almeida KEYWORDS: Clandestinity, Portuguese Communist Party, Estado Novo, collective memory Abstract This research intends to reflect on women’s experience in the Portuguese communist clandestinity in an attempt to understand how the socially constructed boundary between genders impacted the political activism and daily secrecy. In methodological terms, and because it was considered impossible to capture the essence of what was the experience of feminine clandestinity recurring only to documental sources, it was chosen to collect narratives of the lives of women that experienced it, in order to work the concept of collective memory, understood as a social phenomenon built by a certain group or community. This was followed by the oral history path and resorted to a bibliography originated from the most miscellaneous fields of knowledge: history, sociology, anthropology, education sciences and psychology, aiming to rescue from deep silence those women’s voices who, with a huge personal sacrifice, have abandoned their land, their homes, their family, even their name, to go underground, allowing the survival of the clandestine structure of Portuguese Communist Party during the years of the Estado Novo dictatorship. VI Índice Introdução: o tema, os problemas e os caminhos ……………………………........... 1 Capitulo 1 – O Partido Comunista Português e a questão feminina …………...... 19 1.1. O Partido rumo à clandestinidade ……………………………………………....... 34 1.2. As mulheres e a passagem à clandestinidade …………………………………..... 47 Capitulo 2 – “Eu não sou eu nem sou o outro, sou qualquer coisa de intermédio” 64 2.1. Eu passei por muitas casas, isto é uma história muito grande ………………….. 83 2.1.1. As tipografias …………………………………………………………………... 97 2.1.2. As casas de apoio …………………………………………………………....... 101 Capitulo 3 - Resistências na clandestinidade …………………………………….. 105 3.1. «Por teu livre pensamento foram-te longe encerrar» ……………………...……. 116 3.1.1. Honra e vergonha, ou alegria do dever cumprido ……………………………. 127 Conclusão: o direito à memória e ao reconhecimento ………………………….…133 Fontes e Bibliografia …………………………………………………………....…... 137 Anexo - Biografia das entrevistadas ………………………………………….........…148 VII Introdução: o tema, os problemas e os caminhos Pela glória quem não faria grandes coisas? Mas quem as faz pelo olvido? (Bertolt Brecht, Elogio do Trabalho Clandestino) Se vives nas sombras, frequentas porões Se tramas assaltos ou revoluções A lei te procura amanhã de manhã Com o seu faro de dobermann (Chico Buarque, Hino de Duran) Na contracapa do livro Ensaio sobre a Cegueira, José Saramago recorre a uma epígrafe de um livro inventado, o Livro dos Conselhos: «Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara». Em Outubro de 1998, na sede nacional do Partido Comunista Português (PCP), Eduardo Gageiro, através da sua