III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL

RELATÓRIO FINAL

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS

De 8 a 10 de outubro de 2013 Brasília, Brasil Copyright © Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 2014

Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Organização Internacional do Trabalho (OIT).

III Conferência Global sobre Trabalho Infantil: relatório final. -- Brasília, DF: Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação, 2014.

132 p. ; 22 cm.

ISBN: 978-85-60700-71-4

1. Trabalho infantil. 2. Conferencia global, relatório. I. Organização Interna- cional do Trabalho.

CDU 331-053.2 FICHA TÉCNICA

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS)

Ministra Secretário Executivo Marcelo Cardona Rocha Secretária de Assistência Social Denise Ratmann Arruda Colin Secretária Executiva da III Conferência Global sobre Trabalho Infantil Paula Montagner Assessora Internacional Claudia de Borba Maciel Equipe envolvida Adriana Braz Adriana Miranda Moraes Adrianna Figueiredo Alex Kleyton Rodrigues Barbosa Amanda Guedes Ana Cláudia Nascimento Ana Paula Siqueira André Luís Quaresma de Carvalho André Luiz Silva Gomes Anelise Borges Souza Anna Rita Scott Kilson Bárbara Pincowsca Cardoso Campos Benício Marques Carolina Terra Daniel Plech Garcia (Secretaria Executiva da III CGTI) David Urcino Ferreira Braga Eduardo de Medeiros Santana Fábio Macario Fernanda Sarkis Franchi Nogueira Fernando Kleiman Francisco Antonio de Sousa Brito Ganesh Inocalla Guilherme Pereira Larangeira Iara Cristina da Silva Alves Ivone Alves de Oliveira João Augusto Sobreiro Sigora Joaquim Travassos Katia Rovana Ozorio Laura Aparecida Pequeno da Rocha Ligia Girão (Secretaria Executiva da III CGTI) Ligia Margaret Kosin Jorge Luciana de Fátima Vidal Marcelo Saboia Marcia Muchagata (Secretaria Executivaa da III CGTI) Mônica Aparecida Rodrigues Nadia Marcia Correia Campos Natascha Rodenbusch Valente Olímpio Antônio Brasil Cruz Pollyanna Rodrigues Costa Priscilla Craveiro da C. Campos Raquel Solon Lopes (Secretaria Executiva da III CGTI) Renata Lu Rodrigues Ségismar de Andrade Pereira Sergio Paz Tarcisio Silva Pinto Telma Maranho Gomes Thor Saad Ribeiro Ubirajara da Costa Machado Valéria Cristina da Trindade Feitoza Valeria Maria de Massarani Gonelli Vanidia Kreibich Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)

Ministro Manoel Dias Secretário Executivo Nilton Fraiberg Machado / Paulo Roberto Pinto Secretário de Inspeção do Trabalho Paulo Sérgio de Almeida Equipe envolvida Alberto Souza Caroline Vanderlei Célia Maria Galvão de Menezes Deise Mácola de Freitas Diana Rocha Elvira Míriam Veloso de Mello Cosendey Eridan Moreira Magalhães Fátima Chammas Fernanda Sucharski Karina Andrade Ladeira Leonardo Soares de Oliveira Luiz Henrique Ramos Lopes Marcela Pinheiro Alves da Silva Marinalva Cardoso Dantas Mario Barbosa Maristela Borges Saravi Paula Neves Regina Rupp Catarino Roberto Padilha Guimarães Sergio Paixão Pardo Teresa Calabrich

Ministério das Relações Exteriores (MRE)

Ministro Luiz Alberto Figueiredo Machado/ Secretário Geral Eduardo dos Santos Subsecretário Geral para Assuntos Políticos Carlos Antonio da Rocha Paranhos Diretor do Departamento de Direitos Humanos e Temas Sociais Alexandre Peña Ghisleni / Gláucia Silveira Gauch Grupo de Trabalho – III CGTI Eduardo Alcebiades Lopes Fábio Moreira Carbonell Farias Jean Karydakis Rafael Leme Thiago Poggio Pádua

Missão Permanente em Genebra Maria Nazareth Farani Azevedo Maria Luisa Escorel Andre Misi Francisco Figueiredo de Souza

Secretaria de Comunicação da Presidência da República

Ministro (a) Thomas Timothy Traumann / Helena Chagas Chefe da Assessoria Especial de Relações Públicas no Exterior Jandyr Santos Jr. Equipe Jucelino Moreira Bispo Georgeana Arrais de C. Pinto Márcio Venciguerra Patrícia Kalil Julia Segatto Rhaiana Rondon Camila Santana Julia Segatto Alice Watson Cleto

Organização Internacional do Trabalho (OIT) – Escritório no Brasil

Diretora Laís Abramo Diretor Adjunto Stanley Gacek Oficial de Finanças, Administração e Recursos Humanos Renato Mendes Coordenadora do Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil - IPEC Maria Cláudia Falcão Coordenadora do Programa de Cooperação Sul-Sul Fernanda Barreto Equipe Janaina Viana (Secretaria Executiva da III CGTI) Marcelo Moreira Vilela Rocha (Secretaria Executiva da IIICGTI) Paula Fonseca Cynthia Ramos Pedro Brandão Jean Pierre Granados Erik Ferraz Sinomar Fonseca Severino Goes OIT – Genebra/Sede Constance Thomas Simon Steyne Pedro Américo Furtado de Oliveira Beatriz Caetano-Pinto Banco Mundial

Diretora do Banco Mundial para o Brasil América Latina e Caribe Débora Wetsel Equipe Maria Conception Steta Gandara Magnus Lindelow

Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) – Brasil

Representante do UNICEF no Brasil Gary Stahl Chief Child Protection Casimira Benge South- South Horizontal Cooperation Michelle Barron Niklas Stephan

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) – Brasil

Representante da UNESCO no Brasil Lucien Munhoz Equipe Marlova Jovchelovitch Noleto Rosana Sperandio Pereira Julio Cesar Cuba Sanchez Manuela Pinheiro Rego Jane Fádua Bittencourt Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – Brasil

Representante-residente do PNUD no Brasil Jorge Chediek Equipe Maristela Marques Baioni Maria Teresa Amaral Fontes Andrea Ribeiro Bosi

PNUD – Teamworks (Child Labour Dialogues) Aneeq Cheema Cristiano Penna Gayan Peiris Ifoda Abdurazakova Jeffrey Huber Kathy Kelley Romolo Tassone

Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (CONGEMAS) Valdiosmar Vieira Santos Selma Batista

Comissão Organizadora Nacional (CON)

MDS Marcelo Cardona Rocha Denise Ratmann Arruda Colin MTE Nilton Fraiberg Machado / Paulo Roberto Pinto Leonardo Soares de Oliveira Luiz Henrique Ramos Lopes (Suplente) MRE Eduardo dos Santos Alexandre Ghisleni Casa Civil da Presidência da República Ivanildo Tjara Franzosi Juliano Pimentel Duarte (Suplente) Secretaria Geral da Presidência da República Juliana Gomes Miranda Verônica Lucena da Silva (Suplente) Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH) Maria Izabel da Silva Tassiana da Cunha Carvalho (Suplente) Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) Danyel Lorio de Lima Rafael Luiz Giacomin (Suplente) Ministério da Educação (MEC) Fábio Meireles de Hardman de Castro Danielly dos Santos Queirós (Suplente) Ministério da Saúde Carmen Lúcia Miranda Silvera Ivone de Almeida Peixoto (Suplente) Ministério da Previdência Social Rogério Nagamini Costanzi Fátima Aparecida Rampin (Suplente) Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) Leila Pizzato Margarida Munguba Cardoso (Suplente) Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) Mirian Maria José dos Santos Maria de Lourdes Magalhães (Suplente) Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil (CONAETI) Tânia Maria Dornellas dos Santos Claudir Mata (suplente) Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI) Isa Maria de Oliveira Gabriella Bighetti (Suplente) Joseane Barbosa da Silval (Suplente) Representantes das Organizações de Empregadores de Âmbito Nacional Reinaldo Felisberto Damacena (CNI) Maria Clara Calderon Almeida de Oliveira Rodrigues (CNC – Suplente) Representantes das Organizações de Trabalhadores de Âmbito Nacional Expedito Solaney P. de Magalhães (CUT) Rumiko Tanaka (UGT – Suplente) Governo do Distrito Federal (GDF) Maria América Menezes Bonfim Hamú Vera Lúcia Rodrigues Fernandes (Suplente) OIT Laís Wendel Abramo Maria Cláudia Falcão (Suplente) Tribunal Superior do Trabalho (TST) Saulo Tarcísio de Carvalho Fontes Platon Teixeira de Azevedo Neto (Suplente) Andrea Saint Pastous Nocchi (Suplente) Ministério Público do Trabalho (MPT) Rafael Dias Marques Thalma Rosa de Almeida (Suplente)

Comitê Consultivo Internacional Afeganistão – Faqirullah Safi, Chancelaria Afegã Albânia – Filloreta Kodra - Agência Nacional para a Proteção dos Direitos da Criança do Ministério do Trabalho Argentina – María del Pilar Rey Méndez – Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Infantil (Conaeti) Armênia – Anahit Martirosyan – Departamento de Relações Internacionais do Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais Bangladesh – Humayun Kabir – Ministério do Trabalho e Emprego Brasil – Márcia Lopes – Ex-Ministra do MDS e Chefe da Delegação brasileira na II CGTI Cabo Verde – Francisca Marilena Catunda Baessa – Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA) Cazaquistão – Aysara Baktymbet – Segunda Secretária do Departamento de Cooperação Multilateral Colômbia – Laura Liliana Orjuela Vargas – Direção de Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário da Chancelaria Colombiana Equador – María del Carmen Velasco – Ministério das Relações Laborais Eslovênia – Departamento de Direitos Humanos da Chancelaria local Espanha – Jesús Molina Vázquez – Coordenador Geral da Cooperação Espanhola no Brasil Estados Unidos – Marcia Eugenio – Escritório de Trabalho Infantil, Trabalho Forçado e Tráfico de Pessoas – Departamento Americano de Trabalho Granada – Darshan Rhamdhani – Ministério da Justiça Jamaica – Marva Ximinnies – Diretora de Unidade Líbano – Nazha Chalita – Ministério do Trabalho Mauritânia – Mohamed Ould Sid Ahmed Ould Bedde – Diretoria de Infância do Ministério de Assuntos Sociais, da Infância e da Família México – Joaquin Gonzalez Casanova – Ministério do Trabalho e Bem-Estar Social Noruega – Martin Torbergsen – Seção de Direitos Humanos e Democracia da Chancelaria norueguesa Nigéria – Juliana A. Adebambo – Ministério do Trabalho e Produtividade Países Baixos – Lauris Beets – Departamento de Assuntos Internacionais do Ministério de Assuntos Sociais e Emprego Peru – Edgardo Sergio Balbin Torres – Diretoria Geral de Direitos Fundamentais e Seguridade e Saúde no Trabalho República do Congo – Marie-Céline Tchissambou Bayonne – Ministério de Assuntos Sociais, Ação Humanitária e da Solidariedade Romênia – Codrin Scutaru – Ministério do Trabalho Seicheles – Erna Athanasius – Embaixadora para Assuntos da Mulher e da Criança Tanzânia – Sr. Mkama J. Mkama – Principal Labour Officer Uruguai – Juan Andrés Roballo – Ministério do Trabalho Vietnã – Cao Thi Thanh Thuy – Departamento de Cooperações Internacionais do Ministério de Trabalho, Inválidos e Assuntos Sociais União Europeia – Elisabeth Tison – Divisão de Direitos Humanos e Políticas e Cooperação Multilateral MERCOSUL – Cristhian Mirza – Instituto Social do MERCOSUL CPLP – Odete Severino – Ministério da Solidariedade e Segurança Social Organização Internacional dos Empregadores (OIE) – Amélia Espejo Confederação Sindical Internacional (CSI) – Jeroen Beirnaert – Departamento de Direitos Humanos e Sindicais OIT – Constance Thomas – IPEC UNICEF – Susan Bissell – Departamento de Proteção à Criança UNESCO – Florence Migeon – Setor de Educação Marcha Global – Kailash Sarthyart SUMÁRIO

PREFÁCIO...... 15 INTRODUÇÃO ...... 19 A III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL ...... 23 PRINCIPAIS RESULTADOS DA III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL ...... 27 SESSÃO INSTALAÇÃO DA 3ª CGTI ...... 31 SESSÕES PLENÁRIAS...... 35 I. A Erradicação Sustentável do Trabalho Infantil...... 35 II. Pronunciamentos de Governos, Empregadores, Trabalhadores e Sociedade Civil ...... 41 SESSÕES SEMIPLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS ...... 47 I. Violação de Direitos de Crianças e Adolescentes em Atividades Ilícitas ...... 47 II. Trabalho Infantil e Migrações ...... 52 III. Trabalho Infantil Doméstico e Gênero ...... 56 IV. Trabalho Infantil na Agricultura ...... 60 V. Modelos de Educação e Escolas ...... 66 VI. Produção de Estatísticas ...... 70 VII. Trabalho Infantil Urbano ...... 74 VIII. Trabalho Infantil nas Cadeias Produtivas ...... 79 IX. Papel do Sistema Judicial no combate ao Trabalho Infantil ...... 83 SESSÃO PLENÁRIA “COMO ACELERAR A LUTA CONTRA O TRABALHO INFANTIL” e ENCERRAMENTO DA III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL ...... 91 DECLARAÇÃO DOS ADOLESCENTES PARTICIPANTES…………………………………………….… 93 DECLARAÇÃO DE BRASÍLIA SOBRE TRABALHO INFANTIL ...... 97 ANEXOS ...... 103

PREFÁCIO

III Conferência Global sobre o Trabalho Infantil, realizada em 2013, sob a coordenação do governo brasileiro e apoio da Organização A Internacional do Trabalho – OIT é um novo marco na trajetória dos encontros internacionais de luta pela erradicação do trabalho infantil . Esteve marcada pela convergência de interesses entre governos, empregadores, trabalhadores e sociedade civil, revitalizando esse tema na agenda pública de todos os países. A percepção dessa convergência permitiu a construção conjunta da Delaração de Brasilia contra o Trabalho Infantil, na qual reafirmamos o compromisso de garantir que nossas crianças e adolescentes tenham o direito a um futuro livre da exploração do trabalho, acesso a educação de qualidade,saúde,serviços sociais e mais trabalho decente em todos os setores de atividade. Neste relato estão registradas lições importantes e esperamos que este registro seja um instrumento que nos apoie para seguir no aperfeiçoamento da legislação, na busca por eliminar a impunidade dos que utilizam o trabalho infantil, no fortalecimento da cooperação entre governos e também entre segmentos sociais. O forte engajamento de empregadores, trabalhadores e organizações da sociedade civil no enfrentamento desse desafio representa a aceleração do ritmo da eliminação do trabalho infantil em cada pais. O conhecimento promovido pela troca de experiências e de informações quantitativas e qualitativas da realidade de todos os é uma das principais armas nessa luta. Estamos convencidos que a erradicação sustentada do Trabalho Infantil não pode prescindir da ampliação e da articulação das politicas de desenvolvmento social e econômico. Para alcançar esse objetivo temos que dar continuidade à mobilização alcançada pela III Conferência Global e por isso convidamos a todos a divulgar, debater e propor abordagens inovadoras para as diversidade de situações que os gestores nacionais e locais enfrentam na operacionalização dessas politicas, em especial para suas piores formas. O site da conferência e a plataforma de diálogos sobre o trabalho infantil permanecem ativos com o objetivo de garantir um espaço de diálogo e de consolidação de ideias e das ações empreendidas apoiando, assim, a disseminação do que já conquistamos. Nessa caminhada tivemos o apoio de muitos parceiros. Aproveitamos a oportunidade para agradecer o apoio de todos os representantes do Comitê Consultivo Internacional, da Comissão Nacional, dos especialistas, dos participantes dos diálogos, das redes sociais e em especial, às equipes da OIT de Genebra e do Brasil. Desde já, desejamos que o governo da Argentina, responsável por sediar a próxima Conferência, possa contar com o suporte de todos. Que a próxima Conferência, a realizar-se em 2017, constate o sucesso de nossos esforços, refletidos nos progressos alcançados para eliminar essa chaga na vida desses milhões de seres humanos em todo o mundo. Um futuro melhor é possível e iremos conquistá-lo juntos.

Tereza Campello Ministra de Estado de Desenvolvimento Social e Combate à Fome

Manoel Dias Ministro do Trabalho e Emprego

Luiz Alberto Figueiredo Ministro das Relações Exteriores A III Conferência Global sobre Trabalho Infantil A III Conferência Global sobre Infantil Trabalho 18 A III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL INTRODUÇÃO

presentam-se, neste relatório, os con- Trabalho (OIT), a Conferência contou com dele- teúdos compartilhados e debatidos pelos gações dos países presentes e com uma diver- A participantes da III Conferência Global so- sidade de atores, o que mostra o avanço no re- bre Trabalho Infantil – III CGTI, realizada em Brasí- conhecimento da importância do tema para as lia, Brasil, de 8 a 10 de outubro de 2013. agendas nacionais. O evento congregou 155 países, com 1200 Em seu processo organizativo, a Conferência pessoas presentes representando governos mobilizou também um conjunto variado de ato- nacionais, lideranças sociais, organizações de res institucionais através da Comissão Organi- trabalhadores e empregadores, adolescentes, zadora Nacional e do Comitê Consultivo Interna- especialistas, operadores do direito, jornalistas e cional. A primeira, responsável por assessorar outros profissionais de mídia de todo o mundo de forma consultiva o processo de organização (ver pág. 121 com a lista de participantes). Por da Conferência, foi composta por representa- meio da internet, cerca de outras mil conexõe- ções interinstitucionais de trabalhadores, em- sassistiram às plenárias da conferência. pregadores, sociedade civil, governo e os ope- radores do direito (Poder Judiciário e Ministério A organização da Conferência realizada por um Público do Trabalho). O segundo, composto por país em desenvolvimento foi um marco impor- representantes de governos, blocos regionais, tante na trajetória dos encontros internacionais organismos multilaterais, organizações da so- de luta contra o trabalho infantil. Foi reconhecida ciedade civil reconhecidas internacionalmente como um sinalizador importante de que o com- e por especialistas da área. O Comitê atuou por promisso dos Estados contra a exploração de meio virtual, tendo como objetivos: (i) apoiar crianças e adolescentes não deve ser limitado Comissão Organizadora Nacional da III CGTI por fronteiras culturais, políticas ou econômicas. na mobilização internacional com o intuito de O fenômeno do trabalho infantil afeta a todos e, potencializar a participação do maior número sendo assim, é responsabilidade de todos contri- de países nas atividades preparatórios e na buir para sua erradicação sustentável. III CGTI; (ii) contribuir na construção do Docu- Presidida pelo governo brasileiro e realizada em mento Base da III CGTI; (iii) divulgar e organizar parceria com a Organização Internacional do eventos e iniciativas que promovessem a dis-

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 19 cussão dos principais aspectos do Roteiro para podemos melhorar nas experiências que já mos- Eliminar as Piores Formas de Trabalho Infantil traram sucesso. até 2016 (Roadmap) aprovado na Conferência Durante o evento, foram apresentadas e discutidas Global sobre Trabalho Infantil da Haia em 2012 e experiências e práticas exitosas ao redor do também do Documento Base da III CGTI. mundo sobre o trabalho infantil na agricultura, Desde a elaboração do Roteiro para a Eliminação no trabalho doméstico, nos ambientes urbanos das Piores Formas do Trabalho Infantil (-Roadmap) e nas cadeias produtivas. Além disso, também em 2010, muitos esforços foram empreendidos foram apresentadas experiências e práticas sobre em diferentes partes do mundo para garantir violação de direitos de crianças e adolescentes maior consistência às ações de enfrentamen- em atividades ilícitas, além do trabalho infantil to ao problema. A III CGTI foi uma oportunidade em contexto de migrações. Muitas iniciativas especial para compartilhar esses esforços e as importantes também foram compartilhadas e lições aprendidas até aqui, a partir das trajetórias analisadas em relação à produção de estatísticas, dos diferentes atores. à atuação dos sistemas de justiça e aos modelos de educação e escolas. Todos os temas que antes Como país do hemisfério sul que vem enfren- foram objeto de debate por meio da plataforma tando o trabalho infantil e gerando práticas bem www.childlabourdialogues.org, com o sucedidas a serem compartilhadas, o Brasil foi online envolvimento de cerca de 19 mil pessoas. Essas convidado a sediar a III Conferência Global sobre contribuições estão consolidadasno texto base Trabalho Infantil. O convite partiu de Piet Hein atualizado da III CGTI (ver site da conferência: Donner, Ministro para Assuntos Sociais e Em- www.childlabour2013.org). prego da Holanda e organizador da Conferência de Haia de 2010. O governo brasileiro abraçou a Neste relatório, pretende-se apresentar a siste- oportunidade e aceitou o desafio, afirmando sua matização de todo o conhecimento compartilha- determinação e vontade política, contando com do e discutido, as análises e alertas feitos pelos o apoio de outros líderes e, juntamente à OIT, or- especialistas no tema, como também o compro- ganizou o evento, mantendo o foco na meta de metimento dos gestores públicos, dos represen- buscar a eliminação das piores formas de traba- tantes de empregadores e trabalhadores e da so- lho infantil até 2016. ciedade civil expresso em seus discursos e em nome de suas nações e povos. Assim, em 2013, o evento de Brasília foi um en- contro global onde se discutiu o que se tem feito, Estiveram presentes pouco mais de 20 adolescen- quão efetivas têm sido essas ações e quais as tes de todas as regiões do Brasil representando as lições aprendidas até agora. Também se discu- crianças e os adolescentes de todo mundo, com o tiu sobre o que devemos continuar a fazer para papel de lembrar aos adultos que eles devem ser alcançar a erradicação do trabalho infantil e o que envolvidos como sujeitos da transformação que se

20 A III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL quer promover, merecendo destaque a Declaração Este documento marca os elementos de con- dos Adolescentes Participantes (veja pág. 93) senso para apoiar a aceleração da erradicação de todas as formas de trabalho infantil e, de forma A reafirmação do compromisso de governos, de emergencial, das suas piores formas. trabalhadores, de empregadores e da sociedade civil pela erradicação do trabalho infantil ocorreu Acreditamos que esse relatório será uma ferra- com a aprovação da Declaração de Brasília so- menta útil, uma vez que registra os desafios e bre o Trabalho Infantil, documento oficial que re- avanços alcançados, bem como alternativas para presenta os resultados da III CGTI (ver pág. 97). acelerar a erradicação do trabalho infantil.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 21 22 A III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL A III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL

Vitórias a celebrar e desafios a enfrentar

urante a III CGTI, celebrou-se ampla- Contudo, estima-se que em 2012 168 milhões de mente a constatação de que o número crianças em todo o mundo trabalhavam – 11% D de crianças e adolescentes em trabalho de toda a população com até 17 anos do plane- infantil em todo o mundo vem diminuindo. Por ta. A metade desde total, que corresponde a 85 outro lado, os debates também reconheceram milhões, são crianças e adolescentes envolvidos que há importantes dimensões que ainda desa- nas piores formas de trabalho infantil, que tem fiam governos, empresas, organizações de traba- sua saúde, segurança e desenvolvimento coloca- lhadores e a sociedade civil organizada, exigindo dos em risco. Dentre as regiões onde a situação adequado reconhecimento e estratégias para seu é mais grave, mantem-se em destaque a região enfrentamento. da África Subsaariana, onde uma de cada cinco crianças está no trabalho infantil. O Relatório da OIT “Medir o progresso na Luta contra o Trabalho Infantil — Estimativas e tendên- Um dos aspectos importantes do Relatório foi mos- cias mundiais 2000-2012”, lançado em setembro trar que eram infundados os receios de que as difi- de 2013 revela últimos 12 anos resultaram em culdades sociais provocadas pela crise econômica um progresso significativo a ser considerado e mundial de 2008-2009 criariam condições para um celebrado. Há cerca de 78 milhões a menos de aumento do trabalho infantil. Os dados não revela- crianças trabalhadoras em relação ao início do re- ram aumento dos números. Além disso, o Relatório ferido período — uma redução de cerca de um revelou que o fenômeno do trabalho infantil não é terço do número total. De 2000-2012, há 40% a uma realidade restrita aos países pobres. menos de meninas trabalhando e 25% a menos Ao se fazer uma análise mais detalhada dos de meninos. Na faixa etária de 5 a 17 anos em si- números sobre trabalho infantil dos últimos 12 tuação de trabalho perigoso, o número foi reduzi- anos, há evidências da necessidade de ajustes do à metade no mesmo período: de 171 milhões estratégicos para sintonizar e concentrar os es- para 85 milhões de crianças e adolescentes. forços em áreas onde ainda não foram alcança-

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 23 dos resultados suficientemente satisfatórios, atores até o presente momento, revisando lições com vistas à garantia de proteção integral para aprendidas e mapeando os desafios que estão todas as crianças e adolescentes. postos à frente, com o compromisso coletivo A III CGTI representou uma oportunidade ímpar reafirmado de avançar pela proteção dos direitos para uma crítica positiva da trajetória de todos os das crianças e adolescentes.

O caminho da articulação global – nova etapa na luta pela erradicação do trabalho infantil

Os debates ocorridos durante a III CGTI constituí- tratégias para o enfrentamento do trabalho infan- ram um aspecto chave para a reflexão e o diálogo til. As experiências nacionais e locais fornecem conjuntos sobre a eliminação do trabalho infantil, um rico mosaico de conhecimentos que inspira a em particular suas piores formas. Isso se aplica implementação de projetos inovadores e de polí- tanto ao que se refere ao balanço dos progres- ticas sociais que exigem a renovação das aborda- sos alcançados desde a adoção das Convenções gens utilizadas. Na busca por uma melhor com- nº 182 – Convenção sobre proibição das piores preensão das particularidades de cada situação, formas de trabalho infantil e ação imediata para dialogando com os distintos contextos locais e sua eliminação – e nº 138 – Convenção sobre estimulando olhares criativos combinados a uma idade mínima para admissão a emprego, da Or- sólida experiência, a III Conferencia conclamou ganização Internacional do Trabalho (OIT), quanto os participantes a se engajarem no debate em à proposição de mecanismos para acelerar o en- torno de quatro eixos principais de ação, tal como frentamento a esse fenômeno na direção da sua definidos no Roteiro para Eliminação das Piores erradicação sustentável. Formas do Trabalho Infantil (Roadmap): A III CGTI mostrou a efetividade do que tem sido 1) A proteção social para crianças e suas famílias; feito e o que deve ser aperfeiçoado. Por isso 2) A ampliação da educação obrigatória, integral mesmo, definiu que a busca por acelerar o ritmo e de qualidade, facilitando o acesso à educa- da luta contra o trabalho infantil precisa estar fir- ção e garantindo que crianças e adolescentes memente apoiada na troca de práticas exitosas e permaneçam na escola, completem a escola- lições aprendidas, de modo que os esforços dos ridade básica e adquiram capacitação para o países permitam a construção de políticas que ingresso no mercado de trabalho em melho- aprofundem a consistência e a integração de es- res condições;

24 A III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL 3) A construção e implementação de legislação atestadas como efetivas e exitosas pela expe- especifica e de estratégias necessárias para riência dos atores envolvidos. incentivar e reforçar o papel do sistema de Ao mesmo tempo, para incentivar ainda mais uma justiça para acelerar a eliminação das piores participação ampla, franca e democrática por par- formas de trabalho infantil; te de todas as partes interessadas, fortalecendo 4) As políticas de trabalho, emprego e renda que uma rede de mobilização nacional e internacional, ofereçam oportunidades de trabalho decente a III Conferência promoveu o uso da plataforma para trabalhadores adultos e garantam a en- virtual “Diálogos sobre Trabalho Infantil” (www. trada de adolescentes no mercado de traba- childlabourdialogues.org). Um dos objetivos prin- lho na idade permitida, garantindo-lhes me- cipais da plataforma foi propiciar um espaço para lhores condições de trabalho. a discussão preparatória para as atividades pre- Subsidiando os debates, o Documento Base da senciais, tematizadas nos desafios mais impor- III Conferência apresentou análises iniciais e os tantes relacionados ao enfrentamento do traba- dados conhecidos sobre o problema do trabalho lho infantil, em especial das suas piores formas, infantil em todo o mundo, além de algumas das assim como também disseminar documentos, principais linhas estratégicas para seu enfren- experiências e projetos de cooperação que dela tamento e um importante olhar crítico sobre os se derivaram. A plataforma continua disponível avanços obtidos e os desafios a enfrentar. A ela- para todos os interessados no enfrentamento ao boração do Documento Base da III Conferência trabalho infantil, especialmente como ferramenta expressa o processo participativo, interinstitucio- para intercâmbio de informações e experiências. nal e multidisciplinar que caracterizou o evento. Mais de 19 mil pessoas de diferentes lugares do Escrito por especialistas em sua versão original, o Documento Base foi revisado e atualizado ao mundo, inclusive adolescentes e jovens, acessa- longo dos meses que antecederam o evento pre- ram os debates virtuais que antecederam a Con- sencial, incorporando o ponto de vista das insti- ferência, superando as dificuldades de comunica- tuições integrantes da Comissão Organizadora ção linguística e tecnológicas, numa diversificada Nacional do Comitê Consultivo Internacional e teia de interação, construindo ideias e propostas de todos os que contribuíram para os diálogos que foram incorporadas ao Documento Base da na plataforma “Diálogos sobre Trabalho Infantil”. III CGTI. Além disso, os diálogos oportunizaram Em seu conteúdo, buscou-se fazer uma leitura um importante intercâmbio de práticas e lições do contexto atual no enfrentamento ao trabalho aprendidas que contribuiu para dar visibilidade a infantil, levando em conta aproximadamente uma lideranças, instituições e grupos sociais que es- década experiências de diversos países. O docu- tão fazendo uma real diferença na proteção das mento buscou, por fim visibilizar os desafios a crianças e adolescentes explorados pelo trabalho enfrentar e apontar as estratégias e abordagens infantil.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 25 Na fase preparatória da conferência, seis salas pelos vários atores engajados na plataforma e temáticas foram criadas na plataforma virtual, pelos parceiros organizadores da Conferência. Al- contando com apoio de moderadores de diversos gumas delas foram apresentadas presencialmen- países e com diferentes perspectivas, manten- te durante a conferência, a fim de estimular os do assim a pluralidade das visões. Destacou-se gestores de programas a debater sobre práticas a participação de membros de equipes técnicas exitosas de erradicação do trabalho infantil em reconhecidas nacional e internacionalmente por todo o mundo. As informações que descrevem seu papel no combate ao trabalho infantil. essas experiências estão disponíveis a todos os No processo participativo, adolescentes e jo- interessados, através da plataforma virtual “Diá- vens também tinham a sua disposição uma logos sobre Trabalho Infantil”. sala onde puderam expressar suas ideias e Em suas atividades presenciais, a III CGTI reuniu propostas em relação à erradicação do trabalho os participantes em sessões plenárias e semi- infantil. Um aspecto evidenciado por esse es- plenárias temáticas para debates e intercâmbio paço foi a necessidade de uma linguagem téc- de conhecimentos, experiências e práticas no nica direcionada ao esclarecimento de como os enfrentamento ao trabalho infantil em atividades direitos das crianças e adolescentes precisam ilícitas, na agricultura, no trabalho doméstico, ser respeitados e integrados ao cotidiano des- em ambientes e situações urbanas, nas cadeias sa nova geração. produtivas, bem como temas relacionados a gê- Além disso, criou-se um banco de informações nero e migrações. Além disso, foram discutidos – um repositório de mais de 120 práticas de en- modelos de educação, a produção de estatísti- frentamento ao trabalho infantil, apresentadas cas e o papel do sistema judicial.

26 A III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL PRINCIPAIS RESULTADOS DA III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL

entre os vários aspectos relevantes da III 4) A importância da formalização do trabalho, CGTI, destaca-se, de acordo com seus da inspeção do trabalho e da necessidade de D participantes, o número, diversidade e cumprimento da legislação trabalhista; qualidade do perfil dos 1200 representantes pre- 5) A necessidade de ter em conta os pontos de sentes no evento, compartilhando suas expe- vista e participação das crianças e dos jovens riências, conhecimentos, habilidades e posicio- na concepção e implementação de políticas namentos institucionais. públicas; Conferências globais são importantes momentos 6) O papel central dos governos na definição e para compartilhar informações, adensar redes de desenvolvimento de políticas integradas, de intercâmbio e trabalho em conjunto, estabelecer educação com qualidade, de proteção social alianças institucionais, formar lideranças e cons- total, de promoção do trabalho decente e truir consensos sobre ações futuras que os ato- combate a desigualdade; res responsáveis pelo tema adotarão a partir daí. Neste contexto, a III CGTI indicou para o cenário 7) A necessidade de reforçar o diálogo social e mundial os pontos fundamentais das estratégias a negociação coletiva como instrumento para de prevenção e erradicação do trabalho infantil: avançar na luta contra o trabalho infantil; 8) O estímulo continuado para o aumento do ní- 1) A coordenação entre os diferentes interve- vel de conscientização sobre as implicações nientes públicos, privados e da sociedade civil; do trabalho infantil para o desenvolvimento 2) A importância das políticas de transferência das futuras gerações; de renda pela relação direta entre pobreza e 9) A necessidade de identificar novos marcos e es- trabalho infantil; tratégias para a prevenção e eliminação do traba- 3) A necessidade de priorizar os aspectos de re- lho infantil no contexto de uma economia global lações com o mercado de trabalho, tais como e nas dimensões que ainda representam um a formação profissional para adolescentes e desafio por sua invisibilidade ou pelas dificulda- jovens; des estruturais que impõem, como a exploração

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 27 sexual infantil, os conflitos armados, o trabalho ção dos mecanismos e soluções já demonstra- infantil doméstico e as atividades agrícolas; dos efetivos, o aumento da consciência, a conti- 10) A urgente necessidade da ratificação univer- nuação e o incremento dos esforços. sal da Convenção nº 182 da OIT, pelos poucos Destacou-se a participação de 27 adolescentes países que ainda não o fizeram. brasileiros, cujos olhares e demandas alertam A Declaração de Brasília sobre o Trabalho Infantil que sem eles não há solução possível. A Declara- reafirma o compromisso na luta pela erradicação ção apresentada por eles é um sinal de que suas do trabalho infantil de forma sustentável e ofe- vozes não são uma ilustração participativa, mas rece diretrizes claras para orientar as políticas, a que devem ser tomadas em conta. visão e a ação de todos os interlocutores enga- Assim, a Conferência mostrou que hoje entende- jados na luta contra o trabalho infantil. São ex- mos melhor o problema do trabalho infantil e temos pectativas próximas, possíveis e exequíveis para um entendimento mais claro sobre a eficácia das o momento em que vivemos. ações para sua erradicação. Com esta conclusão, os A Declaração traduz o que a Conferência reafir- atores declararam: “reafirmamos nossa determina- mou em seus diversos momentos: o caminho ção de eliminar as piores formas de trabalho infantil para uma solução eficaz para o trabalho infantil, até 2016, ao mesmo tempo em que reiteramos o seja em suas piores formas ou nas demais, im- objetivo mais abrangente de erradicar toda forma plica o envolvimento de todos os interessados, a de trabalho infantil, ao aumentar imediatamente troca de experiências e de boas práticas, a ado- nossos esforços em nível nacional e internacional.”

28 A III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL Sessão Instalação da 3ª CGTI

Sessão Instalação da 3ª CGTI 30 SESSÃO INSTALAÇÃO DA 3ª CGTI SESSÃO INSTALAÇÃO DA 3ª CGTI

Conferência foi aberta pela Presidenta da Um modelo de desenvolvimento com o olhar Republica do Brasil, sra. , prioritário para os mais pobres e vulneráveis está A e o diretor-geral da OIT, sr. Guy Rider. Eles no começo de tudo. Ele incorpora a construção reconheceram com uma especial homenagem o de uma robusta rede de proteção social, permi- talento dos adolescentes da Orquestra Infanto-Ju- tindo ao Estado garantir direitos e oportunidades venil de Heliópolis (uma das maiores favelas da ci- a todos, priorizando o enfrentamento da miséria, dade de São Paulo), que recepcionou a Conferên- com reflexos na renda familiar e no mercado de cia com um concerto de música popular brasileira. trabalho, considerando que, não sendo o único determinante da existência ou do agravamen- Para a Presidenta do Brasil, a Conferência repre- to do trabalho infantil, a miséria é um dos seus sentou um momento ímpar para o fortalecimento principais fatores de sua reprodução ao longo das e para a globalização da luta contra o trabalho in- gerações. fantil, que considera um dos maiores problemas de nosso tempo. Ressaltou que a erradicação do Outro importante aspecto abordado pela Pre- trabalho infantil exige compromisso de todas as sidenta foi a educação. Ela afirmou que a partir nações e só será possível pela ação articulada de medidas que universalizem o acesso ao nível entre governos, trabalhadores, empregadores fundamental de ensino para meninas e meninos, e sociedade civil para cooperar e construir solu- a ação institucional imediata subsequente será a ções concretas. A Presidenta reconheceu ainda ampliação do acesso com incentivos financeiros os avanços da comunidade internacional na pro- aos níveis descentralizados de governo para ga- teção jurídica das crianças e adolescentes, com rantir a inclusão de crianças de famílias de baixa Eliminação Sustentável do Trabalho Infantil Sessão de abertura e Plenária - os tratados e convenções com elevados níveis renda nas iniciativas de educação infantil. O desa- de ratificação pelos Estados, porém afirmou que fio a seguir será ampliar o interesse dos adoles- estes avanços não alcançaram ainda 168 milhões centes em um modelo de ensino conectado téc- de crianças que ainda são vitimizadas pela explo- nica e tecnologicamente às perspectivas criativas ração do trabalho infantil, tanto em regiões ricas de um futuro profissional. como em regiões pobres do mundo – não há na- Por outro lado, ela destacou que parte do êxito ção livre desse problema. alcançado pelo Brasil está lastreado em um efi-

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 31 ciente sistema de inspeção do trabalho, com a trabalho doméstico. Reforçou que as experiên- participação vigilante e positiva das organizações cias de eliminação do trabalho de crianças e ado- de trabalhadores e empregadores e que, no caso lescentes da África Subsaariana exigem maior fo- do Brasil, também conta com a indispensável calização e intensidade de esforços. Entretanto, atuação dos poderes Legislativo e Judiciário. Ela também indicou que muitas crianças exploradas lembrou ainda que uma das dimensões mais de- vivem em países de nível médio de desenvolvi- safiadoras da luta contra o trabalho infantil diz mento e em famílias de classe média. respeito ao aprimoramento da capacidade para Além da garantia da universalidade do acesso à investigar e punir as redes de exploração, com educação a todas as crianças, ele chamou aten- o foco especial nas piores formas do trabalho in- ção sobre a necessidade de oferecer condições fantil. E para enfrentar tal problema, afirmou que de trabalho decentes para os professores e que a criação de canais públicos e efetivos para rece- isso deve ser parte de um esforço continuado. bimento de denúncias, com funcionamento inin- E afirmou que para a OIT não há como eliminar terrupto, é passo decisivo e deve ser combinado o trabalho infantil até todas as crianças estarem com a adoção de medidas para evitar a impunida- na escola, dizendo ainda que proteção social e de dos criminosos e exploradores. educação para todos são as pedras basilares de Em sua saudação aos participantes na abertura todas as nossas ações. da III Conferência Global sobre Trabalho Infantil, Ele convocou todos a manterem um olhar claro Guy Ryder, diretor-geral da Organização Interna- e crítico, pois a meta de eliminação das piores cional do Trabalho (OIT), também reafirmou que o formas de trabalho infantil em 2016 não será al- caminho nessa marcha para a erradicação do tra- cançada se não forem realizadas mudanças. Para balho infantil depende da capacidade de mobilizar Ryder, a falha coletiva das políticas precisa ser governos, cidadãos, e organizações de emprega- sanada, mais intensamente e mais rapidamente. dores e trabalhadores. Ressaltou ainda que não podemos nos desviar Guy Ryder afirmou que o conhecimento aportado da meta estabelecida no momento em que se pelos estudos mostra que a direção está correta, vislumbram os últimos quilômetros dessa longa mas há necessidade de acelerar o passo. Isso é marcha e que o alvo deve ser um mundo livre de especialmente importante em setores e regiões trabalho infantil no futuro. Ao final, afirmou que em que há persistência da exploração de crianças isso não é uma utopia e que devemos preparar como é o caso do setor agrícola, de serviços e do nossos planos, não nossas desculpas.

32 SESSÃO INSTALAÇÃO DA 3ª CGTI Sessões Plenárias

Sessões Plenárias 34 SESSÕES PLENÁRIAS SESSÕES PLENÁRIAS

I. A Erradicação Sustentável do Trabalho Infantil

“A não ser que sejamos essa sessão foram abordados os pro- éticos e moralmente gressos realizados desde 2000 no en- N frentamento ao trabalho infantil em corretos, as crianças não todo o mundo, tendo em consideração os re- confiarão em nós. Existe sultados apresentados pelo relatório da OIT trabalho infantil agrícola “Medir o progresso na luta contra o trabalho infantil. Estimativas globais e tendências entre em muitas áreas remotas, o 2000 e 2012”. trabalho infantil no ambiente Também foi abordado na plenária o papel de- doméstico ocorre em espaços sempenhado por governos, empregadores, tra- invisíveis. Até que ponto isso balhadores e sociedade civil quanto à sustenta- é responsabilidade nossa? bilidade da prevenção e eliminação do trabalho infantil. Ao passo que se ressaltaram os avan- As ações necessárias nestes ços, também se reconheceu que há um cami- campos serão eficazes nho a percorrer para vencer os desafios presen- quando eticamente nos tes e futuros, e que para isso há necessidade de forte compromisso institucional, principalmente considerarmos responsáveis ​​ dos governos, além da renovação da agenda de por essas crianças. A prevenção e eliminação do trabalho infantil. hipocrisia acaba sendo um Moderada pela Ministra Tereza Campello, do Mi- dos piores pecados contra as nistério de Desenvolvimento Social e Combate à crianças.” Fome (MDS) do Brasil, a sessão teve a participa- ção da Ministra Liliane Ploumen, do Ministério do

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 35 Comércio Exterior e Cooperação Internacional da do trabalho infantil podem e devem apoiar esta Holanda, de Octavio Carvajal Bustamante, repre- ação, compartilhando uma visão de longo prazo e sentante da Organização Internacional de Empre- investindo em soluções que foquem nas causas gadores (OIE), de Jeroen Beirnaert, da Confede- do problema. ração Sindical Internacional (ITUC), e de Kailash Octavio Carvajal Bustamante, representante da Satyarthi, fundador e presidente da Marcha Glo- Organização Internacional dos Empregadores bal contra o Trabalho Infantil. (OIE), reafirmou a importância do trabalho em A Ministra Ploumen ressaltou a importância de cooperação e reconheceu que há oportunidades a comunidade internacional continuar a trabalhar de consolidar as boas práticas. Destacou que os pela ratificação das convenções da OIT nº 182 da empregadores, em seu compromisso ético e le- OIT sobre proibição das piores formas de traba- gal, entendem que o recrutamento de crianças e lho infantil e nº 138, que estabelece a idade mí- adolescentes afeta a produtividade, a reputação, nima para o trabalho. Afirmou que é fundamental a oferta de emprego e o investimento estrangei- coordenar os passos que foram avançados nessa ro. Ressaltou o empenho dos empregadores para caminhada e, procurar soluções em outros espa- eliminar o risco de recrutamento ilegal por meio ços, aumentando a conscientização e sensibili- do monitoramento da idade mínima de admis- zando a população. são ao emprego, oferta de condições de trabalho adequadas para os adolescentes, afastamento Jeroen Beirnaert, representante da Confede- de trabalhos perigosos, estímulo ao cumprimen- ração Sindical Internacional (CSI), afirmou que to da lei e o acesso à educação e à proteção so- o movimento sindical apoia a idade mínima de cial, bem como o compromisso de favorecer a admissão ao emprego e a garantia de acesso à inspeção eficaz, a promoção de qualificação e a educação para todas as crianças. Enfatizou que criação de empregos. a CSI também é favorável à promoção do acesso ao Trabalho Decente para que os pais possam cui- Para os empregadores deve-se buscar estabele- dar de suas famílias com dignidade, o que requer cer parcerias como um elemento-chave da estra- mecanismos de proteção social universalizados tégia de enfrentamento ao trabalho infantil: para os mais vulneráveis. ‹‹ A parceria com os governos: o governo de- Em relação às possibilidades de avanço, o repre- sempenha um papel único no quadro legal sentante dos trabalhadores destacou que para para regular o trabalho infantil e dos adoles- alcançar melhores resultados será fundamental centes. O papel das empresas é estar em avançar na integração do tema do trabalho infantil conformidade com a legislação vigente em às agendas nacionais, expressando essa priorida- cada país. A falta de autoridade para assegu- de nos orçamentos nacionais. Segundo ele, os rar a aplicação da lei não altera a obrigação países doadores de recursos para a erradicação das empresas em cumpri-la;

36 SESSÕES PLENÁRIAS “Uma maneira eficiente de não ter trabalho infantil é não ter estatísticas. Objetivos claros, com dados incertos, é impossível. Ter dados confiáveis mostra o status do trabalho infantil para que se possa tirar o problema da invisibilidade.”

‹‹ A parceria com organizações de trabalhado- necessário ampliar a contratação de pro- res: através do diálogo social voluntário e efi- fessores. Os recursos envolvidos para a caz em relação aos termos e condições de contratação de professores em todos os emprego; países são estimados em um valor equiva- lente a um quarto do que os americanos ‹‹ A parceria com organizações nãogoverna- gastam em armas, um quarto do que é gas- mentais: com estas organizações, os em- pregadores se comprometem a unir forças to em cosméticos ou metade dos custos e capacidades para alcançar a eliminação do relacionados ao consumo do tabaco. Por trabalho infantil; isso mesmo não se trata de um problema de recursos financeiros; ‹‹ A parceria com comunidades locais: repre- senta o envolvimento positivo dos emprega- 2) A geração de novas ocupações: a redução da- dores na comunidade e pode contribuir para taxa de crescimento em economias emergen- ajudar a respeitar os costumes e as culturas. tes pode levar as crianças ao trabalho infantil. É fundamental que se garanta às crianças a Kailash Satyarthi, representando a sociedade civil oportunidade de terem empregos de qualida- falou de sua satisfação com o compromisso de- de no futuro; monstrado pelos países em desenvolvimento, ao tomarem a iniciativa na luta contra o trabalho in- 3) A aplicação da lei: a Convenção nº 182 da fantil. Propôs uma reflexão sobre como alcançar OIT ratificada pela maioria dos países da Or- a eliminação do trabalho infantil, uma vez que os ganização das Nações Unidas. Muitos dos desafios se tornaram cada vez mais complexos, quais também já têm legislação específica, especialmente para avançar na erradicação das mas sem a implementação dessas legisla- piores formas de trabalho infantil. ções. É fundamental que os que exploram os 85 milhões que estão nas piores formas Para ele, cinco desafios precisam ser compreen- de trabalho infantil, percebam que serão le- didos e enfrentados: vados a julgamento! Por essa razão, consi- 1) A educação: Para alcançar as crianças e dera fundamental fortalecer o marco e o sis- adolescentes que estão fora da escola é tema legal e os mecanismos de inspeção;

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 37 “A riqueza que vem do trabalho infantil é dinheiro ilícito, ilegal e antiético, e precisamos resolver esta situação econômica. Nenhum trabalho infantil no mundo pode ser o melhor para nós, para nossos filhos e para as futuras gerações.”

4) A emergência ecológica: os sistemas de ges- Satyarthi conclamou todos a fazerem do docu- tão de riscos de desastres devem intervir mento final da conferência uma declaração de considerando o cuidado de crianças que são guerra contra o trabalho infantil, pois sua supera- vítimas dessas catástrofes; ção somente ocorrerá se houver um movimento global e forte. 5) A emergência ética: muito é prometido mas não cumprido! É necessário dar voz às crian- A Ministra Tereza Campello afirmou sua convic- ças e adolescentes.A hipocrisia acaba sendo ção de que os governos devem liderar a imple- um dos piores pecados contra as crianças e mentação de políticas e programas para erradicar elas preferem a simplicidade; o trabalho infantil, com apoio dos outros atores

38 SESSÕES PLENÁRIAS sociais, isto é, os trabalhadores, os empregado- trabalhista, que elevou a formalização dos res e a sociedade civil. Para conseguir isso afir- empregos, a ampliação da segurança social mou ser necessário: com programas como o Bolsa Família e a ex- pansão ao acesso de serviços públicos, capa- ‹‹ Uma abordagem multidimensional e multis- citação profissional de trabalhadores do aces- setorial. Ações com capacidade para atacar a so à água e à energia elétrica para os pobres. raiz do problema estão ligadas à multidimen- Esse conjunto de políticas representa uma sionalidade e intersetorialidade. Além disso, alternativa aos modelos tradicionais de com- essas ações devem ser de longo prazo e de- bate à crise econômica, e busca pela redução senvolvidas junto com as famílias, para efeti- da desigualdade alcançar a todos, inclusive vamente alcançar mudanças na situação das crianças. E isso não tem a ver apenas com o famílias em que persiste o trabalho infantil; direito de não trabalhar, mas com o acesso a ‹‹ O fortalecimento da legislação: é fundamental todos os direitos de cidadania; que a legislação para o combate ao trabalho infantil seja robusta e proteja todos os atores, ‹‹ A ação do governo. O Estado deve ser ativo e sua atuação já provou que é possível avan- sendo igualmente fundamental a sua imple- çar nas políticas públicas de enfrentamento mentação; ao trabalho infantil, mesmo durante crises. ‹‹ A produção de estatísticas para um diagnós- Citando o exemplo do Brasil nos últimos 20 tico da realidade em cada um dos países. O anos, destacou que mesmo passando por di- problema da invisibilidade do trabalho infan- ferentes estágios de desenvolvimento econô- til decorre da inexistência de painel de infor- mico, foi possível reduzir o trabalho infantil de mações suficientemente abrangente. Além forma contínua. Isso se deve à manutenção disso, será o monitoramento continuo da de gastos sociais e politicas públicas abran- situação de nossas crianças e adolescentes gentes. Embora a pobreza não seja a única que funcionará como elemento de prevenção causa do trabalho infantil, ela é uma de suas para evitar o retorno do trabalho infantil; principais causas e exige a contribuição das ‹‹ O estabelecimento de pisos de proteção crianças para a sobrevivência das famílias; social para a inclusão não apenas da educa- ‹‹ A ministra lembrou que o Brasil está enfren- ção e da saúde, mas também da proteção tando a crise com modelo, diferente daquele integral da criança e da família, evitando que que preconiza o corte de gastos públicos. O os adultos venham a depender do trabalho país vem implementando políticas de inclu- das crianças; são e combate à pobreza, aumento do salário ‹‹ Mecanismos de coordenação. Para tornar mínimo (aumento de mais de 70% nos últi- possível a construção de alternativas e polí- mos dez anos), cumprimento da legislação ticas específicas construídas considerando

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 39 a situação de cada país. Há necessidade de mesma direção e garantir a transparência, a espaços institucionais de coordenação entre democracia e o controle social. os diferentes ministérios e as instâncias sub- ‹‹ Garantia do acesso, oferta e qualidade da nacionais de governo e com a participação educação. Enfatizou a necessidade de garan- de trabalhadores, empregadores e socieda- tir uma escola atrativa aos adolescentes, pois de civil. Esses mecanismos são espaços que esses estão insatisfeitos com a educação e permitem alinhar os esforços de todos na indo para o trabalho.

“O menor dos atos, nas circunstâncias mais limitadas, trás em si a semente da ilimitação, pois basta um ato e, às vezes, uma só palavra para mudar todo o conjunto.” Hannah Arendt

40 SESSÕES PLENÁRIAS II. Pronunciamentos de Governos, Empregadores, Trabalhadores e Sociedade Civil

segunda sessão plenária discorreu so- tes que os avanços na eliminação do trabalho bre o comprometimento efetivo de líde- infantil, embora visíveis, ainda devem avançar A res governamentais, de trabalhadores, mais para alcançar e eliminar situações graves, empregadores e da sociedade civil para a eli- em particular de crianças e adolescentes que minação sustentável do trabalho infantil. Esta estão nas piores formas do trabalho infantil. sessão tornou possível que as lideranças que Alertaram que, além das ações emergenciais estavam na conferência relatassem seu com- para retirar crianças e adolescentes destas si- promisso e situações nacionais, setoriais ou tuações, é importante criar estratégias para evi- regionais que considerassem relevantes para tar que resultados positivos no enfrentamento avançar na eliminação do trabalho infantil. ao trabalho infantil venham a ser perdidos por A maior parte dos 55 pronunciamentos desta crises econômicas, desastres naturais ou cria- sessão reconheceu a importância da luta contra ção de políticas que não priorizem o tema da situações de exploração de crianças e adoles- prevenção e eliminação do trabalho infantil. centes, ao passo que apresentava resultados Tal como disse o Ministro do Trabalho do Brasil, de políticas, programas e ações que estavam sr. Manoel Dias, que foi abriu e coordenou a em campo nos países dos cinco continentes. sessão, outros representantes governamentais Mais importante, no entanto, foram as indica- também ressaltaram a importância da atuação ções de compromisso com a continuidade des- conjunta e coordenada, além de possíveis no- ses processos de transformação por meio da vos recursos financeiros e apoio técnico para designação de recursos e da troca de experiên- que as lições aprendidas e o conhecimento cias permitida pela cooperação internacional, acumulado possam ser compartilhados e adap- com destaque para as atividades da OIT. tados a situações regionais e locais. No site es- Representantes de organizações não governa- tão disponíveis os 55 pronunciamentos listados mentais foram enfáticos em lembrar os presen- abaixo:

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 41 Ordem Países ou Organização Setor Nomes Cargo/Entidade 1 G Manoel Dias Ministro do Trabalho e Emprego 2 Panama (SICA) G Alma Cortes Ministra do Trabalho 3 Bangladesh G Meher Afroze Chumki Minister of Women and Children 4 USA T Lorretta Johnson Secretary-Treasurer, American Federation of Teachers 5 MERCOSUR OI Ivan Ramalho Alto Representante do MERCOSUL 6 Human Right Watch NGO Jo Backer Advocacy Director 7 Iran G Ali Rabie Minister of Cooperatives, Labour & Social 8 Mexico G Alfonso Navarrete Prida Secretario del Trabajo y Previsión Social 9 Africa do Sul G Mildred Oliphant Labour Minister - Department of Labour 10 Nicaragua T Jose Antonio Zepeda Lopez Secretario General de la Confederación General de los Trabajadores de la Educación 11 Spain E Emilio Gilolmo Lopez Vicepresidente Ejecutivo de Fundación 12 Nepal G Hari Prasad Neupane Minister for Labour and Employment 13 Mauritania G Aicha Vall Mint Michel Verges Ministre des Affaires Sociales, de l’Enfance et de la Famille 14 Cameroun G Grégoire Owona Ministre du Travail et de la Sécurité Sociale 15 Italy T Silvana Cappuccio Confederazione Generale Italiana del Lavoro 16 Panama E Marisol Linero Blanco Coordinadora General del Consejo Nacional de la Empresa Privada 17 World Vision Internacional NGO João Helder Alves da Silva Diniz Diretor Nacional - Brasil 18 Marrocos G Abdelouahad Souhail Ministre de l’Emploi et de la Formation Professionnelle 19 Zimbabwe G Nicholas Goche Minister of Public Service, Labour and Social 20 Peru G Teresa Nancy Laos Cáceres Ministra de Trabajo y Promoción del Empleo 21 Brazil T Expedito Solaney Secretário Nacional de Políticas Sociais 22 Dominican Rep. E Jaime González Hernández Presidente de la Confederación Patronal de la República Dominicana 23 Germany NGO Antje Weber Kindemothilfe 24 Angola G Sebastião Luquinda Secretário de Estado do Trabalho e 25 India G Anil Khachi Joint Secretary, Ministry of Labour and 26 Internacional Labour Right Forum NGO Judy Gearhart Executive Director 27 Mauritania NGO Mohamed Abdellhi Autorité de Régulation des Marchés Publics 28 Colombia G José Noel Rios Muñoz Vice ministro de Relaciones Laborales e

42 SESSÕES PLENÁRIAS Ordem Países ou Organização Setor Nomes Cargo/Entidade 29 Europpean Union G Ana Paula Zacarias Ambassador 30 Côte D’Ivoire G Yao Patricia Sylvie Directeur de Cabinet de la Première Dame 31 Azerbaijan G Aynur Sofiyeva The State Commiettee for Family, Women and Children Affairs 32 Sweden G Magnus Robach Ambassador of Sweden to Brazil 33 Mozambique G Maria Helena Taipo Ministra do Trabalho 34 Egito G Hossam Zaki Ambassador of Egypt do Brazil 35 France G Cyril Cosme Déégué des Affaires européennes 36 Indonesia G Mudji Handaya Director General fo Labour Inspector 37 Spain G Manuel de la Cámara Hermoso Ambassador of Spain to Brazil 38 Tunisia G Hayet Ben Samil Directrice des Négociations Collectives à la Direction Générale du Travail au Ministère 39 Portugal G Francisco Ribeiro Telles Ambassador of Portugal to Brazil 40 Libano G Nazha Chalita Ministry of Labour 41 China G Zhu Qinggiao Ministro-Conselheiro 42 Ghana G Nii Armah Ashietey Minister for Employmet and Labour 43 Paraguay G Cynthia Lucia Gonzáles Rios Viceministra de Trabajo y Seguridad Social 44 United Kigndom G Alexander Ellis Ambassador of United Kingdom to Brazil 45 Japan G Takashiro Nakamae Ministro-Conselheiro 46 Sao Tome and Principe G Leonel Pontes Ministro da Saude e dos Assuntos Sociais 47 Argentina G Maria del Pilar Rey Mendez Presidente de la Comisión Nacional para la Erradicación del Trabalho Infantil 48 Comunidade dos Países de Língua G Manuel Lapão Diretor de Cooperação 49 Guinea G Diaka Diakite Ministre des Afaires Sociales de la Promotion Feminine et de l’Enfance 50 Dominican Republic G Martiza Hernández Ministra de Trabajo 51 Cuba G Carlos Rafael Zamora Ambassador of Cuba to Brazil 52 Algeria G Khiat Mohamed Secretario Geral do Ministério do Trabalho 53 Burkina Faso G Paul Nobila Kabore Secrétaire Général de l´Organisation Nationale des Syndicats Libres 54 Sri Lanka G Gamini Lokuge Minister of Labour and Labour Relation 55 Timor-Leste G Aniceto Leto Soro Inspetor Geral do Trabalho

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 43 44 SESSÕES PLENÁRIAS de Debates Temáticos Sessões Semiplenárias de Debates Temáticos Sessões Semiplenárias

Sessões Semiplenárias de Debates Temáticos 46 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS SESSÕES SEMIPLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS

I. Violação de Direitos de Crianças e Adolescentes em Atividades Ilícitas

Ementa da semiplenária Violação de Direitos de Crianças e Adolescentes em Atividades Ilícitas Dados globais apontam que cerca de 215 milhões de crianças hoje estão no trabalho infantil, sendo que 115 encontram-se nas piores formas, que incluem todas as formas de trabalho forçado ou compulsório, exploração sexual comercial, atividades ilícitas e atividades perigosas. As piores formas de trabalho in- fantil constituem em clara violação dos direitos básicos de crianças e adolescentes tais como previstos em diversos instrumentos e tratados internacionais. A Convenção sobre os Direitos da Criança afirma que crianças e adolescentes devem ser protegidos contra todas as formas de violência física ou men- tal, abuso ou tratamento negligente, maus tratos ou exploração. ‹‹ Como as políticas de proteção social podem identificar, retirar e reparar a criança exposta à exploração sexual, ao tráfico de pessoas, tráfico de drogas, trabalho forçado e envolvimento em conflitos armados? ‹‹ Qual o papel dos diversos atores sociais e da sociedade civil organizada no diagnóstico, mapeamen- to e enfrentamento dessas piores formas de trabalho infantil? ‹‹ Como transversalizar a perspectiva de gênero e étnico/racial nas políticas de proteção social a crian- ças e adolescentes vítimas das piores formas de trabalho infantil?

oderada por Constance Thomas, di- Nações Unidas sobre Violência contra Crianças, retora do Programa Internacional de Leila Zerrugui, Representante Especial do Secre- M Eliminação do Trabalho Infantil da Or- tário Geral das Nações Unidas para Crianças em ganização Internacional do Trabalho (IPEC), os de- Conflitos Armados, Aidan McQuade, fundador bates da semiplenária sobre violação de direitos da ONG Anti-Slavery International, Dorothy Roz- de crianças e adolescentes em atividades ilícitas ga, diretora executiva internacional da ECPAT e tiveram a contribuição de Marta Santos Pais, Daphne G. Culanag, diretora de programas da Representante Especial do Secretário Geral das World Vision nas Filipinas.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 47 e políticas de prevenção do trabalho infantil. Foi Boa ideia contra a exploração de crianças pelo tráfico sugerido que os países fortaleçam mecanismos de drogas de denúncias individuais ou coletivas referentes a violações dos direitos das crianças e que os dis- Os debatedores lembraram que está sendo elaborado um ponibilizem nas escolas. “mapa do caminho global” para combater o tráfico de dro- gas e o envolvimento de crianças nessa atividade ilícita. A Outro ponto relevante são os impactos diretos e estratégia global precisa ser complementada por estratégias indiretos que os conflitos armados têm na vida de nacionais adaptadas à realidade de cada país. Ressaltou-se crianças e adolescentes tendo em vista as cone- que, nos países onde há recrutamento de crianças para gru- xões entre os conflitos armados, a violência e as pos armados ou para o tráfico de drogas, há também falhas piores formas de trabalho infantil. São exceções no registro civil de nascimento. Se a existência jurídica da os governos que concordaram que as crianças criança não é conhecida, sua proteção é ainda mais difícil. não podem ser envolvidas nos conflitos. Elas são Por isso, se recomendou fortemente a consolidação do regis- recrutadas como soldados por milícias ou grupos tro civil de nascimento em todos os países. Os participantes guerrilheiros, enquanto outras são obrigadas a compartilharam a estimativa feita por uma ONG brasileira de que 1.000 dólares podem custear bolsas sociais para a ca- realizar trabalhos perigosos para financiá-los. Es- pacitação de jovens explorados pelo tráfico, com a finalidade sas crianças são submetidas à fome, doença, se- de integração social e desenvolvimento de perspectivas para paração familiar e forte estresse psicológico. Em emprego futuro. Este custo, comparado aos bons resultados alguns casos, são submetidas a atrocidades, for- com jovens adictos ou privados de liberdade, sugere a possi- çadas a maltratar, estuprar, espionar e assassinar bilidade de replicação do projeto em outros países. membros de sua comunidade e família. Desse modo, seus elos são cortados e elas ficam inca- pacitadas de retornar para casa, mesmo após o Um primeiro ponto importante a considerar é o cessar-fogo. alarmante aumento do tráfico de crianças. Entre 2007 e 2010, 27% das vítimas identificadas eram Para a representante da ONU é fundamental que crianças, estando as meninas especialmente os governos planejem estratégias nacionais es- vulneráveis, segundo estimativas reportadas por pecíficas e adequadas, identificando e protegen- Marta Paes. Para modificar esta realidade, os go- do as crianças que estão trabalhando em ativi- vernos devem colocar em prática as legislações dades ilícitas, como o tráfico. Ela informou que que desenharam, aprovaram e efetivaram as atualmente a ONU trabalha na elaboração de um iniciativas regionais e globais de combate ao tra- “roteiro global” para combater o tráfico de dro- balho infantil. gas e o envolvimento de crianças nessa ativida- de ilícita, o que precisa ser complementado por Concluiu-se que é fundamental conceder às estratégias adaptadas à realidade de cada país. crianças e aos adolescentes as ferramentas ne- A documentação é um dos exemplos mais im- cessárias para participar na formulação de planos portantes, pois se a existência jurídica da crian-

48 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS ça não é conhecida sua proteção se torna ainda ração de crianças e adolescentes. O combate à mais difícil. escravidão infantil, portanto, precisar integrar de forma prioritária as metas de desenvolvimento na Segundo Zerrougui, a reintegração social, a prote- agenda pós-2015 da ONU, a fim de possibilitar ção sócioeconômica e o combate à pobreza são maior mobilização de recursos e de esforços para estratégias para a prevenção e a reinserção social o combate ao trabalho infantil escravo, uma vez de crianças e famílias envolvidas em atividades que o combate às piores formas de trabalho in- de tráfico ou em grupos armados, tornando-se fantil sem essa preocupação direcionada não tem elementos-chave para a eliminação das piores levado à eliminação dessa forma degradada de formas de trabalho infantil. Essa abordagem é es- trabalho. pecialmente eficaz quando aliada à reintegração comunitária e alternativas produtivas que asse- gurem amparo e estabilidade social em cenários pós-conflitos. Ela lembrou ainda que a retirada de Crianças ajudam a monitorar riscos crianças dos grupos armados deve ser acompa- Na África Ocidental, com o apoio do UNICEF, foram entre- nhada por apoio psicológico, porque elas preci- gues câmeras às crianças para fotografarem os lugares onde sam ser assistidas e reintegradas à comunidade, estavam vulneráveis ao tráfico. Assim foi possível conhecer tendo suas feridas e traumas tratados. a perspectiva das crianças sobre perigo e focos de vulnera- bilidade. Surpreendentemente, as crianças fotografaram os Outro aspecto importante mencionado foi a ne- mercados e rodoviárias como locais de vulnerabilidade ao cessidade de evitar o risco de criminalização recrutamento e tráfico para o trabalho na agricultura, pesca das crianças que participaram dos grupos arma- ou exploração sexual. dos. O mais importante é a identificação das s causas e fatores que levaram à formação dos grupos armados. A condenação moral e a cons- Como ação de grande potencial, McQuade des- cientização sobre o envolvimento de crianças taca a conscientização dos pais sobre os riscos em grupos armados é muito relevante e comple- da escravidão infantil, os benefícios da edu- mentar às ações de repressão. A estabilidade é cação, em particular para grupos que sofrem um dos princípios-chave para a sustentabilidade discriminação. Essa necessidade faz com que do combate ao trabalho infantil em situações de seja urgente a combinação de políticas sociais, conflitos armados. econômicas e de distribuição de renda, assim Aidan McQuade estimou que o número de 5,5 como o fortalecimento das medidas de comba- milhões de vítimas do trabalho infantil forçado te à discriminação, legislação clara e adequada, estimado em 2012 era equivalente ao de 2005, identificação dos fatores que alimentam o fluxo demonstrando a falta de avanço da comunidade do tráfico de crianças para o trabalho escravo e internacional em combater essa forma de explo- fiscalização constante das cadeias produtivas

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 49 da pesca e da agricultura. Redes de assistên- A representante da ONU identificou a carência cia e apoio a crianças e famílias resgatadas do de legislação específica e a ausência de sóli- trabalho escravo devem ser criadas, segundo das redes sociais oficiais, de programas pú- ele. Além disso, empregadores, trabalhadores blicos, de apoio e inclusão de crianças e ado- e consumidores precisam ser conscientizados e lescentes vítimas de exploração sexual. Este devem participar da implementação dessas es- tema também deveria ser objeto de inclusão tratégias no nível nacional e local. na agenda do pós 2015 da ONU, facilitando in- clusive a obtenção dos recursos necessários Segundo Dorothy Rozga, o barateamento das para o combate à exploração sexual comercial passagens aéreas, as facilidades de agendamen- de crianças. to de viagens pela internet e principalmente a sua possibilidade de reserva anônima de crian- Daphne Culanag compartilhou a experiência do ças, elevaram os números de turistas sexuais de programa TEACh Now! (ABK2 Initiative: Take destinos de turismo sexual, afetando milhões de Every Action for Children Now!), realizado nas crianças a cada ano. Como desafios, ela apontou Filipinas, através do qual se implementaram a contínua tolerância em relação à perpetuação ações multidisciplinares com foco na erradica- da exploração sexual de crianças no mundo; o ção das piores formas de trabalho infantil. Ela não alinhamento de políticas nacionais com dire- destacou que uma boa prática contra o trabalho trizes e mecanismos internacionais; o aumento infantil deve promover os direitos, capacitar e do problema em diversos países; o difícil acesso empoderar as crianças, fortalecer as estruturas de crianças a fóruns de participação e a inadequa- comunitárias, estabelecer parcerias com o go- ção dos serviços e dos profissionais que atuam verno, o setor privado, as ONGs locais e a co- no atendimento e reabilitação de vítimas da ex- munidade. Ela enfatizou também a importância ploração sexual. da economia comunitária para a reintegração dessas crianças. Segundo Culanag, sem a co- munidade e os professores não seria possível avançar. Recomendações da semiplenária Outro aspecto importante levantado durante a A partir dos debates sobre violação de direitos, recomendou- discussão é a circulação da informação – seja se conceder às crianças instrumentos de educação e parti- pela associação de pais e responsáveis; a com- cipação na formulação de planos e políticas para prevenir o trabalho infantil. Foi sugerido que os países fortalecessem pilação de casos de trabalho infantil e envio de mecanismos de denúncias individuais ou coletivas referentes denúncias ao governo; registro mediante fotos e a violações dos direitos das crianças e que os disponibilizas- vídeos, favorecendo a prestação de contas; o tra- sem nas escolas, além de ratificarem o protocolo sobre me- balho conjunto com agentes escolares, professo- canismos de denúncias individuais em preparação pela OIT. res, coordenadores e diretores de escolas; e as campanhas de conscientização.

50 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS Assim, a semiplenária foi encerrada reiteran- a articulação e conscientização dos atores em do-se a necessidade de ratificação de conven- redes de educação, acolhimento e assistên- ções e instrumentos internacionais, e ressal- cia, proteção social, lazer, cultura, esportes, tando-se a importância de adaptar abordagens capacitação profissional e acesso à saúde. Fi- às realidades específicas, melhorando a cole- nalmente, advertiu-se que crianças e adoles- ta de dados. O fortalecimento da legislação centes sejam vistos como agentes de trans- punitiva para os exploradores e sua coerente formação, cabendo à sociedade facilitar sua aplicação também foi lembrado, assim como participação e envolvimento.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 51 II. Trabalho Infantil e Migrações

Ementa da semiplenária Trabalho Infantil e Migrações A migração muitas vezes oferece uma oportunidade de uma vida melhor e de proteção frente a amea- ças imediatas como casamentos forçados, conflitos e desastres naturais. Porém, crianças migrantes e refugiadas podem enfrentar sérios desafios durante o processo migratório, tanto doméstico quanto inter- nacional, especialmente quando se deslocam sem documentação, sem suas famílias, em contextos de violações massivas de direitos humanos, em países onde a proteção legal está ausente e onde crianças são impedidas de ter acesso a serviços básicos, como educação e saúde. Nessas situações, crianças migrantes e refugiadas ficam expostas a diversos riscos de exploração, de trabalho infantil e inclusive de tráfico. Além disso, é necessário refletir sobre como a migração dos pais que deixam seus filhos em seus locais de origem impacta seu acesso a educação e sua entrada precoce no mercado de trabalho. ‹‹ Como a legislação e as políticas públicas de proteção social e educação podem diminuir a vulnera- bilidade e garantir os direitos e a proteção de crianças migrantes e refugiadas e filhas de migrantes e refugiados?

A semiplenária Trabalho Infantil e Migrações foi lho infantil. Como a situação de vulnerabilidade moderada por Diego Beltrand, diretor regional da específica das crianças envolvidas num contexto Organização Internacional para Migrações (OIM), de migração é ainda maior, estejam estas acom- e dela participaram Nadine Perrault, assesso- panhadas ou não, a cooperação internacional se ra regional de proteção infantil do UNICEF para torna elemento essencial para enfrentar e com- América Latina e Caribe, Vitit Muntarbhorn, pro- bater a exploração laboral infantil. fessor de direito da Universidade Chulalongkorn Nadine Perrault ressaltou a correlação existente em Bangkok, Tailândia, Piyasiri Wickramasekara, entre o aumento da migração infantil e do traba- vice-presidente da Global Migration Policy Asso- lho infantil, e por meio de pesquisa da UNICEF, ciates (GMPA), Shereen Al-Taeib, Chefe do De- ressaltou a vulnerabilidade de crianças e adoles- partamento sobre Trabalho Infantil, do Ministério centes migrantes, particularmente daqueles que do Trabalho da Jordânia e Eva Maria Vélez, Coor- viajam desacompanhados ou em situação irregu- denadora Nacional do PRONIM - Diretoria Geral lar em países fronteiriços, em geral vivenciando de Educação Indígena, México. violência, pobreza e desemprego. Essa situação Celebrou-se a realização desta semiplenária já se torna crítica se o grupo étnico ao qual a crian- que a migração ainda é uma situação pouco dis- ça pertence for discriminado (afrodescendentes, cutida dentro do cenário de erradicação do traba- indigenas) ou invisibilizado (meninas).

52 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS Há grande diversidade de políticas e leis de pro- O palestrante seguinte, Vitit Muntarbhorn, falou teção da criança, mas que essas não consideram sobre os avanços e as constantes mudanças da a situação desse público específico, o que revela legislação em relação à migração e ao trabalho a falta de mecanismos protetivos destinados a infantil, recordando que a maioria das crianças migrantes. Portanto, entende-se que o fortaleci- migrantes trabalhavam na economia informal em mento desses mecanismos deve ser considera- seus locais de origem e, neste sentido, a migra- do prioritário para apoiar a estruturação de medi- ção representa tanto oportunidades quanto vul- das que considerem a questão da infância neste nerabilidades, cujo leque é extenso – da humi- contexto migratório, em que muitas vezes não há lhação à detenção, o que os afasta do alcance da documentação adequada. Por outro lado, as polí- lei. Esta situação exige uma legislação que preze ticas de proteção já existentes devem incorporar sobretudo a proteção integral da criança, em par- a perspectiva das crianças migrantes, evitando, ticular da migrante. Não faltam convenções inter- por exemplo, que meninos e meninas migrantes nacionais e legislação, mas sim sua implementa- sejam encaminhados a centros de detenção con- ção nos espaços locais, bem como a geração de vivendo com jovens infratores como se fossem oportunidades de emprego, serviços básicos e situações semelhantes. proteção social. Muntarbhorn citou o Bolsa Famí- lia, no Brasil, e programas similares na Indonésia e outros países como exemplos de políticas para garantir melhoras no bem estar da população. Recomendações a partir da semiplenária Piyasiri Wickramasekara focalizou sua contribui- Para efetivamente combater o trabalho infantil em con- ção na experiência da Ásia, onde há mais mi- textos de migração é preciso abandonar as respostas pontuais, adotar programas estruturais e que priorizem a grantes domésticos que internacionais. O foco intersetorialidade. Além disso, a realização de um plane- na migração irregular e no tráfico tem servido jamento estratégico se torna fundamental para lidar com como desculpa para elaboração de legislações a situação do migrante, uma vez que os desencontros que que ignoram a condição particular das crianças, ocorrem entre as políticas nacionais e aquelas desenvol- invisibilizadas no processo migratório e por isso vidas nas ações humanitárias duplicam esforços e pulve- mesmo não alcançadas pelas políticas públicas rizam as ações. Um último alerta importante diz respeito do país de destino. Em 2013, 15 milhões foram às características punitivas das leis migratórias: elas de- reconhecidos como refugiados, mas há número vem ser reformuladas e redirecionadas para a proteção ainda elevado buscando refúgio. dos direitos humanos das crianças migrantes ou filhos de migrantes e refugiados. A estruturação de um sistema de Entre os instrumentos mais relevantes sobre a proteção é fundamental para evitar a criminalização das temática foram destacadas: a recomendação 102 crianças e adolescentes a partir de uma perspectiva do di- da OIT (Normas Mínimas de Seguridade Social) e reito humano à mobilidade protegida. o kit de ferramentas da OIT para analisar a migra- ção desde uma perspectiva de direitos.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 53 Shereen Al-Taeib apresentou a boa prática da Jor- que ficam sob a responsabilidade de terceiros e dânia em relação à situação de 500 mil refugia- população indígena. dos sírios que chegaram ao país em condições de No caso do México, as questões entre rural e ur- extrema vulnerabilidade e pobreza sendo em sua bano não estão mais no centro da escolha migra- maioria mulheres, crianças e idosos. Em 2011, o tória, mas sim se o local de destino representa governo da Jordânia implementou uma política um polo de desenvolvimento ou não. Uma pes- voltada exclusivamente para o combate ao traba- quisa realizada em 2009 mostra que a população lho infantil e conta com um projeto da OIT para migrante era de 9 milhões, destes 36% são me- auxiliar na gestão desta situação. A legislação ninos e meninas de 0-15 anos. não discrimina o acesso às políticas públicas com base na nacionalidade e, portanto, os refugiados O programa PRONIM surgiu devido ao grande nú- têm acesso livre à educação e saúde. O desafio mero de pessoas migrantes e, desde 2002, aten- tem sido cobrir a multiplicidade de realidades e deu cerca de 46 mil crianças. Nos últimos anos as de culturas presentes neste contexto de migra- crianças estão se direcionado mais para as áreas ção de população síria na Jordânia, em que não agrícolas, passando por condições extremas que há como obrigar o envio das crianças refugiadas violam direitos humanos, sem condições de es- às escolas. tudar, enfrentando diferenças climáticas significa- Apresentando uma iniciativa no México com foco tivas e sem professores preparados para suas es- nas migrações domésticas, Eva Maria Vélez apre- pecificidades. O programa possibilita às famílias sentou o PRONIM, projeto de educação básica a certeza de que as crianças serão atendidas de para meninos e meninas, filhos de trabalhadores acordo com os ciclos agrícolas, respeitando o flu- ou trabalhando na agricultura familiar. Este proje- xo migratório e garantindo a continuação de sua to atende também a repatriados, albergados no educação, independentemente de onde estejam. território mexicano, crianças filhas de migrantes O PRONIM firmou compromissos internacionais e se articulou com outras políticas locais, focou a Proteção e garantia de direitos às crianças e aos sensibilização e o trabalho com produtores agrí- adolescentes migrantes é consenso colas, gestores de políticas educacionais e na exi- gência da co-responsabilização destes parceiros. Os debates alertaram para o desenvolvimento de políticas Veléz informou que um sistema de controle es- que garantam o registro de nascimento a todas as crianças, uma vez que, quando estas são encontradas sem documen- colar permite delimitar a trajetória geográfica do tação, sua situação de migrante se torna ainda mais cercada aluno, traçar o perfil dos docentes e as caracte- de vulnerabilidades, não sendo possível saber seu local de rísticas de cada centro, garantindo melhor plane- origem nem o nome do país, complexificando o acesso aos jamento orçamentário do Estado, transparência serviços educacionais e de saúde. de prestações de contas, informes geográficos e estatísticas confiáveis.

54 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS A semiplenária foi encerrada ressaltando-se a criança dentro do processo dos fluxos migrató- percepção de que a legislação e as políticas rios. Assim, seria possível favorecer a adoção de públicas de proteção social e educação podem abordagens similares por parte dos governos na- diminuir a vulnerabilidade e garantir direitos e cionais. Finalizando, salientou-se a necessidade proteção a crianças migrantes, refugiadas e fi- de combater a xenofobia, o racismo e o tráfico de lhas de migrantes e refugiados. Neste sentido, pessoas. A partir dos exemplos de práticas apre- é importante a criação urgente de metodologias sentadas, concluiu-se que é imperativa a elabo- de pesquisa que possam demonstrar as carac- ração de programas e políticas estruturantes, de terísticas centrais desta realidade, orientando caráter continuado e que levem em consideração um arcabouço jurídico internacional que consiga a diversidade cultural das crianças em situação garantir a compreensão da condição especial da migratória.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 55 III. Trabalho Infantil Doméstico e Gênero

Ementa da semiplenária Trabalho Infantil Doméstico e Gênero Em todo o mundo, milhares de crianças e adolescentes estão envolvidos com o trabalho doméstico, remunerado ou não, em domicílios de terceiros, onde realizam tarefas como limpar, passar roupa, cozinhar, fazer jardinagem, coletar água, cuidar de outras crianças e/ou idosos. Muitos trabalham em condições perigosas e, em alguns casos, análogas à escravidão. O trabalho infantil doméstico favorece condições de extrema vulnerabilidade, podendo dar lugar ao isolamento, dependência e violação de direitos, além de longas e pesadas jornadas de trabalho. ‹‹ Como as políticas de promoção de trabalho decente e de regulamentação do trabalho doméstico podem impactar no trabalho infantil doméstico? ‹‹ Quais os desafios e as estratégias necessárias para avançar na identificação, retirada e monitora- mento do trabalho infantil doméstico? ‹‹ Como políticas de proteção social direcionadas a membros da família (como idosos e pessoas com doenças crônicas) podem liberar a criança de suas obrigações familiares permitindo, assim, o aces- so a educação, saúde, etc? ‹‹ Quais dimensões de gênero devem ser consideradas para que as políticas que favorecem trabalho decente também contribuam para proteger mulheres e meninas do ciclo da exploração laboral do- méstica?

A semiplenária Trabalho Infantil Doméstico e Gê- Dayana Divevar Inga, diretora da ONG SUMAPI nero teve como moderadora Jo Becker, Diretora das Filipinas. de Advocacy para os Direitos da Criança da Hu- O evento teve início com um panorama geral do man Rights Watch (HRW). Participaram como es- trabalho infantil doméstico pela moderadora dos pecialistas, Manuela Tomei, diretora do programa debates, ressaltando-se a particularidade do au- Condições de Trabalho e de Emprego da OIT, e mento no número de trabalhadores infantis do- Myrtle Witbooi, representante do Sindicado dos mésticos a despeito do cenário de redução geral Trabalhadores Domésticos na África do Sul (SAD- dos números globais do trabalho infantil. Esti- SAWI). Apresentando exemplos de práticas insti- mou-se que 11,9 milhões de crianças são explo- tucionais sobre o tema, participaram Juan Andrés radas como trabalhadores domésticos em condi- Roballo, Inspetor Geral do Trabalho e de Seguran- ções de isolamento, riscos de abusos tais como ça Social do Ministério do Trabalho do Uruguai, e violência física, psicológica e emocional, falta de

56 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS Convenção nº 189 e a Recomendação 201 da Boas ideias para os desafios de enfrentar o trabalho OIT que, embora tratem do trabalho doméstico infantil doméstico em geral, são importantes para o combate ao Soluções possíveis de serem adotadas, porque já exemplifi- trabalho infantil, pois fomentam a formalização cadas na prática, foram lembradas pelos participantes, tais e profissionalização dos trabalhadores domésti- como a realização de inspeções nas residências, a partir da cos. Além disso, a Convenção pede a definição legislação que regula tais medidas como no Uruguai, e a de idade mínima, tornando inadmissível o tra- limitação da idade mínima em 18 anos, com destaque para a balho doméstico realizado por pessoas abaixo inclusão do trabalho infantil doméstico na Lista TIP, tal como da idade-limite estabelecida por cada país, res- feito em importante iniciativa do governo brasileiro. saltando também as condições de escravidão, risco ou ameaça para a saúde. Há algumas experiências inovadoras, como o descanso e baixos salários, em um contexto de programa nacional uruguaio sobre trabalho do- difícil alcance por parte das medidas de proteção méstico. A regulamentação nacional adotada trabalhistas. no Uruguai foi estabelecida pela combinação As apresentações pontuaram a importância da do marco legal presente na Constituição da Convenção nº 189 da OIT para o entendimento República, no Código da Criança e do Adoles- do trabalho doméstico como trabalho decente cente e nas Convenções nº 138 e 182 da OIT, e da adoção de ações que acabem com o traba- já ratificadas pelo país. Ressaltou-se que o tra- lho infantil doméstico. Baseando-se no exem- balho doméstico foi regulamentado no Uruguai plo da África do Sul, a moderadora relatou o em 2006, estabelecendo a idade mínima para que também ocorre em outros países, onde a 18 (dezoito) anos e limitando a jornada diária e situação de exploração é encoberta por uma fal- sa inclusão nas famílias que as abrigam, sendo que as crianças, no entanto, realizam todas as Estratégias criativas para enfrentar o problema do tarefas domiciliares sozinhas. Outras são aban- acesso aos trabalhadores domésticos donadas pelos seus empregadores nas ruas e sem identificação, sendo vítimas de exploração As formas de abordagem do programa da SUMAPI nas Fi- lipinas permitem aceder aos trabalhadores domésticos nos sexual comercial. parques, escolas e áreas públicas das comunidades, aos do- Há crescente percepção de que o trabalho in- mingos e nos seus dias de folga. Outra forma de abordagem fantil doméstico não pode ser ignorado, tendo são as linhas de atendimento direto, disponibilizadas pela sido incluído explicitamente nas Convenções organização, para que as trabalhadoras possam falar sobre nº 138 e 182, e abordado em iniciativas de as- os seus problemas através das redes sociais, em encontros sistência técnica e disseminação de conheci- nacionais de trabalhadores domésticos e outros eventos. mento desenvolvidas pela OIT. Além disso, a

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 57 semanal, descanso durante a jornada, indeniza- ção e outros benefícios. Através da ação do Mi- Estratégias que demonstram ser possível a inspeção nistério do Trabalho, Roballo informou que são do trabalho domestico realizadas fiscalizações periódicas nas residên- O programa uruguaio realiza a fiscalização de 100% das cias, o que fortalece a cadeia de regulamenta- denúncias recebidas sobre abusos em trabalho doméstico. ção, o aumento da formalidade, um maior re- Quando a fazem, usam a estratégia de cobrir todos os lares conhecimento de riscos e melhorias gerais das da região com as visitas domiciliares dos fiscais para evitar condições laborais. O programa também reali- que a pessoa que denunciou sofra qualquer tipo de assédio. za articulação interinstitucional e campanhas na A partir de 2012, foi possível passar a fazer inspeção nos mídia sobre o assunto. lares a partir da adoção de legislação específica para isso. A abordagem não é invasiva, mas busca sim resolver a situa- Outra inovação vem da Associação Nacional de ção com oferta de assessoria para as partes envolvidas, dis- Trabalhadores Domésticos das Filipinas – SU- tribuição de folhetos informativos, formulários de recibo de MAPI, que, sendo a única instituição formal- salário disponibilizados ao empregador, entre outras ações. mente registrada a tratar do assunto no país, A partir da visita de mais de 15 mil lares e das inspeções, busca ajudar crianças que fogem ou são aban- observou-se uma melhoria nas condições de trabalho e um donadas pelas famílias que as empregavam. incremento na regulamentação da situação dos trabalhado- Aqueles que buscam apoio são encaminhados res domésticos. para outras instituições, através de aconse-

lhamento por telefone ou redes sociais. Além A informalidade do trabalho doméstico deve ser en- disso, a organização oferece cursos, capacita- frentada pela ação do Estado ção, orientação para empregadores, encami- nhamento para outros empregos e bolsas de Os debates alertam que o problema da informalidade no estudos. Estas oportunidades de capacitação trabalho infantil doméstico não pode se apoiar na falta de são uma forma de aumentar o contato das compreensão sobre e entre as políticas sociais. É consenso que a informalidade do trabalho doméstico e do trabalho trabalhadoras domésticas com a instituição, o infantil doméstico é problema de todos os atores da so- que ajudou a disseminar informações sobre di- ciedade. Por isso, deve-se ressaltar de forma clara que as reitos, reduzir o número de abusos e tornar si- políticas sociais devem ser implementadas e que isto está tuações de exploração mais visíveis. As crian- sobretudo na mão do Estado. O empregador tem a obriga- ças demonstram maior consciência sobre o ção de cumprir as normas trabalhistas e o governo tem a assunto, autoconfiança para falar sobre o que obrigação de cumprir com as suas ações. acontece e demandar seus direitos, inclusive à educação.

58 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS A semiplenária tratou de diversas questões infantil doméstico. Foi ressaltada a importân- centrais relativas ao trabalho infantil domés- cia da Convenção nº 189 da OIT sobre o traba- tico. A informalidade foi apontada como um lho doméstico, que visa garantir direitos atra- grande problema a ser enfrentado, sendo a vés do reconhecimento do trabalho doméstico formalização do vínculo abordada como forma realizado em casa de terceiros como trabalho de favorecer também o combate ao trabalho formal.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 59 IV. Trabalho Infantil na Agricultura

Ementa da semiplenária Trabalho Infantil na Agricultura Aproximadamente 60% do trabalho in- fantil no mundo concentra-se na agri- cultura, o que equivale a mais de 129 milhões de meninas e meninos. Por um lado, a presença de crianças e adolescen- tes trabalhando na agricultura pode estar relacionada à vulnerabilidade econômica das famílias, ao menor acesso a serviços públicos de qualidade, à ausência ou ina- dequação do uso de tecnologia agrícola no campo e à menor disponibilidade de oportunidades de trabalho para adultos. Por outro, este fenômeno também está ligado à demanda por transmissão inter- geracional de conhecimentos. O trabalho infantil rural é ainda mais grave, já que a natureza e as condições em que as atividades laborais desenvolvidas por crianças e adolescentes podem ser insalubres e inadequadas, facilitando não só acidentes, mas agravos à saúde. Além disso, mais de 67% do trabalho infantil neste setor ocorre em empreendimentos familiares, fator que obstaculiza ainda mais sua eliminação devido ao difícil acesso de profissionais de inspeção aos domicílios. ‹‹ Como as políticas de proteção social e as legislações específicas podem apoiar a transformação dessa realidade? ‹‹ Como políticas de crédito e incentivo à produção e a implementação de novas tecnologias no cam- po podem prevenir a entrada precoce de crianças e adolescentes no mercado de trabalho? ‹‹ Como as políticas e a operação do sistema de educação podem tornar a escola mais atraente que o mundo do trabalho, respeitando as demandas da realidade rural? Como aprimorar os mecanismos de transição escola trabalho? ‹‹ Como ampliar as oportunidades de trabalho decente para os adolescentes com idade mínima para o trabalho?

60 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS Abordagens setoriais que ajudam a combater o Integrar políticas estrategicamente trabalho infantil em áreas rurais incluem: A as- A coordenação de diferentes políticas e a elaboração de abor- sociação sindical, de modo a fortalecer a partici- dagens integradas é fundamental. Neste sentido, o ponto de pação dos pequenos agricultores nas decisões partida é buscar promover o trabalho decente e a erradicação de preços do mercado; a ratificação das con- da pobreza. Os participantes concordaram que, para atacar a venções e práticas que orientam sociedades e complexidade do trabalho infantil, há que integrar programas, governos para a promoção da saúde e da segu- políticas e legislações, em um grande esforço de coordena- rança no trabalho na agricultura; e ainda a garan- ção, como no caso do Brasil, em que se acentuaram as articu- tia de aplicação de legislação que preveja idade lações das políticas sociais. mínima para o trabalho agrícola.

A semiplenária Trabalho Infantil na Agricultura Enfrentando os desafios de engajar os atores gover- teve a moderação de Dag Kjethi Oyna, secretário namentais que podem fazer a diferença nas áreas geral da Associação Norueguesa de Fabricantes agrícolas rurais de Chocolate, e a participação de Sue Longley, Uma grande dificuldade é a concentração do trabalho infan- oficial internacional da União Internacional dos til entre os pequenos agricultores, para os quais o acesso é Trabalhadores da Alimentação, Agricultura, Ho- mais difícil e que normalmente não têm organização sindi- téis, Restaurantes, Tabaco e Afins (UITA-IUF), cal. Daí, a importância do esforço de alcançar esses agricul- Kasilash Satyarthi, presidente da Marcha Global tores e envolvê-los na problemática do combate ao trabalho contra Trabalho Infantil, Bern Seinffert, ponto fo- infantil. Decorre dessa necessidade, a relevância de tornar o tema prioridade específica para os ministérios da agricul- cal para a prevenção ao trabalho infantil na agri- tura, e não somente para os ministérios de educação e do cultura, da Organização das Nações Unidas para trabalho, que normalmente já são envolvidos com o tema. Alimentação e Agricultura (FAO), e Irene Leshore, Acrescente-se que os bons resultados são alcançados quan- da ONG Nainyoiye Community Development Or- do os atores governamentais mais importantes são engaja- ganization (NCDO), do Quênia. dos no tema, como os ministérios de finanças e outros. Na O pano de fundo do trabalho infantil agrícola é a Costa do Marfim, o poder de influência da primeira dama al- combinação de carências educacionais, pobreza, cançou convocar vários ministérios para engajar-se no tema; no Brasil, é a integração das diferentes políticas que vem falta de organização e falta de condições de saú- trazendo resultados concretos; no Quênia, as mensalidades de. Esta situação acaba por caracterizar a falta do escolares foram abolidas, foi aumentado o investimento es- trabalho digno, associando-se à falta de proteção colar e o número de crianças inseridas nas escolas; na Índia, normativa, já que na maioria dos países não há o programa que fornece refeições quentes para as crianças leis para áreas rurais e sua aplicação esbarra na consegue atrai-las ainda mais para a escola. vontade política dos atores envolvidos.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 61 A experiência que União Internacional dos Tra- pacional para aumentar a proteção do trabalho balhadores da Alimentação, Agricultura, Hotéis, rural. No Cazaquistão, agem promovendo acor- Restaurantes, Tabaco e Afins (UITA-IUF) desen- dos entre sindicatos para quem trabalhem em volve em vários países mostra relativo suces- conjunto e mantenham o registro das crianças so. Em Gana, buscam organizar trabalhadores em trabalho infantil, com o fim de matriculá-las autônomos e trazê-los para a formalidade es- nas escolas. tendendo a proteção. No Brasil, trabalham para Além disso, a UITA-IUF trabalha para firmar acor- organizar pequenos agricultores por reforma dos com grandes indústrias para que zelem pela e direitos agrários que garantam estabilidade eliminação do trabalho infantil em suas planta- econômica, além de saúde e segurança ocu- ções e nas de seus fornecedores. Assim, o tra- balho da IUF é realizado através de parcerias com a ONU, OIT, sindicatos de trabalhadores e com a Ideias inovadoras para mobilizar os atores locais Marcha Global, com a qual elaborou o Marco para Os participantes compartilharam sugestões sobre méto- a erradicação do Trabalho Infantil. Dentre outras dos inovadores, como o monitoramento comunitário e em definições, esse marco destacou a importância pequenas vilas, através da sociedade civil, de grupos de incluir os pequenos agricultores no processo de mulheres e de jovens, contribuindo para complementar o tomada de decisões. sistema formal de inspeção. Além de garantir educação no meio rural, para Neste modelo, sem autoridade formalmente constituída, os transformar esta realidade é necessária uma nova membros da comunidade atuam como vigilantes para ajudar abordagem para a agricultura: legislação sobre o sistema formal a identificar os casos e informar as autori- idade mínima, preços para os produtos, garantia dades, envolvendo as associações comunitárias na questão do trabalho infantil. Na Índia, o programa Comunidade Ami- de salários, trabalho decente, força de trabalho ga da Criança ajuda a enfrentar o trabalho infantil no setor treinada, agricultura que não dependa de trabalho agrícola em mais de 40 vilarejos, com 14 metas a serem al- infantil, além de planos e prazos concretos para cançadas, entre elas a garantia de acesso à educação e a todas as ações. efetiva matrícula nas escolas. Para Kailash Satyarthi, a agricultura está cada vez Além disso, também foi criado um parlamento infantil. A mais perigosa em função do uso de produtos quí- fiscalização pela comunidade ajuda para que as leis sejam micos e máquinas elétricas, cujo uso inadequado observadas e vigorem nos locais. Os participantes também mata crianças, mesmo em países industrializa- mencionaram os incentivos que os programas com investi- dos. Estas atividades estão contidas em cadeias mentos na área agrícola poderiam oferecer se pudessem de abastecimento cujo monitoramento é cada estar mais ligados ao combate ao trabalho infantil, como, vez mais difícil. por exemplo, maiores facilidades de incentivos em relação aos níveis de escolarização das crianças. Segundo Satyarthi, dentre os desafios a serem enfrentados para aperfeiçoar as ações de erradi-

62 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS cação do trabalho infantil na agricultura, destaca- As JFFLS são implementadas na Tanzânia com se a insuficiência no conhecimento das estatís- adolescentes com idade mínima para o trabalho, ticas sobre trabalho agrícola, a naturalização do ensinando sobre práticas agrícolas, seus direi- trabalho das crianças pelas famílias e a falta de tos, trabalho infantil, como ter acesso a crédito programas no campo, pois essas crianças estão e ao mercado, marketing, empreendedorismo e em áreas distantes dos centros de tomada de sobre a importância das organizações de produ- decisões. As grandes empresas não devem se tores para trabalhos futuros, desenvolvendo ha- esconder na complexidade das cadeias produti- bilidades para a vida. A abordagem tem grande vas, mas assumir responsabilidade para que não número de módulos para aprendizagem e os ado- ocorra o trabalho infantil nas respectivas cadeias lescentes podem escolher de acordo com seus de abastecimento. objetivos curriculares. Bernd Seiffert relatou a experiência desenvolvida O trabalho é desenvolvido em parceria entre os desde 2007, através das Junior Farmer Field and sindicatos e as associações de produtores, go- Life Schools (JFFLS), com uma abordagem de vernos e fornecedores locais de crédito. Os cur- aprendizagem por meio de parcerias para comba- rículos são flexíveis e customizados para as ne- te ao trabalho infantil na agricultura. cessidades específicas dos países. A realidade local e as cadeias produtivas são consideradas e Ele mencionou que a abordagem é relevante para os educadores são voltados para aquela zona es- reduzir o trabalho infantil porque aborda causas pecífica de atividade. Cada adolescente capacita- originais, como a pobreza rural e familiar e permi- do treinará outros 20 adolescentes, tornando-se te que os adolescentes aprendam para orientar o seu futuro. Uma vez que os agricultores parti- cipam do programa, eles podem se auto-organi- zar e melhorar o ambiente de trabalho, criando Os desafios de enfrentar o trabalho infantil a partir do parcerias com governo, melhor relação com o ponto de vista das famílias mercado, melhor entendimento sobre com quem Um importante alerta para as dimensões familiares que devem formar parcerias e usando práticas saudá- as comunidades rurais vivem foi compartilhado: o trabalho veis por meio da gestão do uso de herbicidas, ou pago pela unidade produzida que incorpora todo o núcleo fa- mesmo da abolição do seu uso. miliar no processo, e especialmente as crianças que acom- panham suas mães, inclusive com os irmãos menores. Em As JFFLS incentivam habilidades que capacitam muitos casos, o trabalho das crianças em atividades ligadas para a transição escola-trabalho, criando e iden- à agricultura acontece em nível familiar porque são os pais tificando oportunidades de trabalho autônomo, que levam as crianças para ajudá-los no trabalho. Daí a im- empresarial ou contratado. Assim, pais e respon- portância de também sensibilizar os pais acerca dos riscos sáveis percebem que essa abordagem de forma- dessa prática. ção fortalece seus filhos.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 63 um multiplicador. O JFFLS empodera os adoles- como nas escolas regulares, mas aprendem o centes para que tenham oportunidades de vida e que é importante para sobrevivência nas comu- trabalho, além de promoção de emprego. É um nidades pastoris. A intenção é alcançar a elabo- exemplo de como programas agrícolas podem ração de um currículo específico para as crian- contribuir para reduzir o trabalho infantil. ças do meio rural. Irene Leshore apresentou a experiência de sua Com apoio da OIT, a NCDO estruturou as esco- organização no Quênia, com crianças que cuidam las, pagou professores, comprou móveis e insta- de gado em região árida no norte do país, habita- lou sistemas de iluminação com energia solar. O da por comunidades pastoris. Neste local, 86% governo reconheceu que é preciso estabelecer das crianças são analfabetas e a maioria envolvi- canais alternativos para crianças em situação de da em trabalho infantil. pobreza na área rural, como as escolas informais. Em 2004 havia quatro escolas, mas em 2013 As escolas têm currículos e cronogramas fle- eram mais de 90, e na medida em que mais crian- xíveis e as crianças podem frequentá-las por ças vão à escola o número daquelas que trabalha apenas algumas horas a cada noite. Os alunos também diminui. passam por um processo de educação básica,

64 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS Na semiplenária houve consenso quanto à impor- públicos essenciais, como saúde e educação de tância de uma combinação de fatores indispensá- qualidade, e comprometimento das grandes em- veis à erradicação do trabalho infantil, tais como presas com todas as etapas das cadeias produti- educação, conscientização e aplicação de legis- vas, constituem elementos primordiais à erradi- lação específica, incluindo idade mínima para o cação do trabalho infantil rural. trabalho no campo. Os debates alertaram de que, em geral, a prioriza- Abordagens criativas para o enfrentamento em nível ção ao combate ao trabalho infantil se dá através local da elaboração de leis e políticas, com baixa ou ne- nhuma efetiva aplicação no campo, onde muitas Muitas vezes, as leis existentes sobre trabalho infantil não se vezes a fiscalização do trabalho não é utilizada. A aplicam a pequenos agricultores ou ao setor informal, situa- maior parte do trabalho infantil está concentrada ção que precisa ser devidamente enfrentada. Neste contex- to, processos de capacitação ajudam a trazer soluções para nos pequenos agricultores e na agricultura fami- o trabalho infantil em áreas rurais e a buscar soluções. Por liar e, muitas vezes, as leis não se aplicam a eles. exemplo, por que não ter um adulto melhor treinado para cui- É preciso articular melhor as ações dos ministros dar do rebanho em vez de 10 crianças? Seria garantir o traba- do trabalho e as ações que envolvem outras áreas lho para o adulto, eliminando o trabalho infantil. A realização responsáveis pela manutenção dos baixos níveis de avaliações de riscos também podem ser realizadas para salariais no campo, uso da terra, da reforma agrária saber e confirmar se a atividade é perigosa ou não, realizados e da segurança alimentar para conseguir avançar por comitês regionais para que os fiscais possam fazer um no problema do trabalho infantil na agricultura. melhor trabalho em conjunto, já que há poucas equipes de inspeção nos países. Abordagens integradas, considerando uma me- lhor distribuição de renda e acesso a serviços

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 65 V. Modelos de Educação e Escolas

Ementa da semiplenária Modelos de Educação e Escolas A educação formal é um componente crucial para eliminação do trabalho infantil, pois é fundamental para o desenvolvimento da cidadania plena da criança e oferece as habilidades necessárias para uma inserção apropriada no mercado de trabalho. ‹‹ Quais são os desafios para a implementação de um sistema educacional compulsório e de tempo integral? ‹‹ Qual é o papel dos profissionais da educação na identificação e no combate ao trabalho infantil? ‹‹ Como os modelos educacionais podem ser mais sensíveis às culturas locais e às questões de gê- nero, de modo a tornar o tempo gasto pela criança na escola mais atrativo e valioso que o tempo dedicado ao trabalho? ‹‹ Como aprimorar a transição entre a escola e o mercado de trabalho? De que forma as políticas ca- pacitação profissional e de aprendizagem podem prevenir o trabalho infantil?

A semiplenária foi moderada por Marlova Nole- futuro, entendem a importância da educação e to, Coordenadora da Unidade de Ciências Sociais de mantê-las longe do trabalho infantil. A capa- e Humanas da UNESCO no Brasil, e teve parti- citação dos profissionais de educação, o investi- cipações de Susan Bissell, chefe da Divisão de mento nos professores, sua remuneração justa e Proteção Infantil do UNICEF, Dominique Marlet, a garantia de oportunidades e de condições dig- coordenadora sênior de direitos humanos e sin- nas de trabalho são fundamentais. Ela também dicais na Education International (IE), Gustavo afirmou que a ação conjunta das escolas, alunos, Leal, diretor de operações do Serviço Nacional professores e comunidades deve ser parte das de Aprendizagem Industrial (SENAI), do Brasil, e estratégias de sensibilização. o maestro Leonardo Panigada, da Fundação Mu- Referindo-se a políticas públicas amplas e integra- sical Simon Bolivar, da Venezuela. das, Bissel convidou os países a incluir a preven- Susan Bissel destacou que o papel do sistema ção e a erradicação do trabalho infantil em suas de educação como aliado no combate ao traba- agendas políticas e em seus planos nacionais de lho infantil. Quando as famílias percebem que as educação. Citando dados de 2009 da UNESCO, crianças estão aprendendo na escola e que, con- informou que apenas oito planos de educação sequentemente, conseguem bons empregos no em 44 mencionavam o trabalho infantil. Os pro-

66 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS aula bem equipada; tamanho razoável da turma; As abordagens em educação que favorecem o desenvol- currículo inclusivo e relevante; a importância de vimento infanto juvenil ajudam a lutar contra o trabalho considerar o uso da língua e dos costumes lo- infantil cais na escola; a elaboração de programas com Os debates da semiplenária reconheceram que a educação infantil a colaboração de grupos da comunidade; a se- é a base do sistema de educação e deve ser parte de um sistema gurança na escola, que se inicia desde o cami- mais amplo e abrangente, que se iniciam mas vão além do acesso nho de casa; a adaptação dos tempos da escola a creches. As crianças que passam pela educação infantil tem me- com os tempos da colheita; o cuidado com o lhor desempenho nas escolas primárias e secundárias, diminuindo uso de pesticidas e o acesso para crianças com possíveis situações de evasão que as tornam mais suscetíveis às deficiência. possibilidades de inserção precoce no trabalho. Para Marlet, há muito que os professores podem A educação básica deve formar habilidades para a vida, não só fazer. A Nicarágua tem um programa que envolve ensinar a matemática e a escrita. Deve ter como base o pensa- professores que foram trabalhadores infantis e mento crítico e a busca de soluções para problemas práticos. estão mais aptos a identificar situações similares. Sobre a educação profissional, reconheceu-se que é uma alter- Em Gana, professores vão às escolas fazer a lista nativa interessante para a educação clássica, desde que não im- do que necessita ser feito e a repassam para as peça a continuidade dos estudos. Deve oferecer conhecimentos autoridades educacionais. Em Burkina Faso, as práticos que possam ser importantes em um mercado de tra- crianças receberam bicicletas para irem à esco- balho com menos empregos, mas no qual novas oportunidades la. Já em Uganda, os sindicatos dos professores possam ser vislumbrados para os que tem acesso à informação. ajudam nas refeições das crianças na escola. Na Jamaica, os professores se articularam para que as escolas passassem a oferecer uma refeição gramas de transferência de renda conectados a de frango na sexta-feira, o que resultou em maior condicionalidades educacionais, como matrícula frequência escolar neste dia quando, tradicional- escolar e presença na escola, também são ferra- mente, as crianças faltavam para trabalhar com mentas importantes. suas famílias. No Marrocos, os sindicatos passa- Dominique Marlet apontou que a educação é ne- ram a conceder óculos para as crianças com pro- cessária na prevenção do trabalho infantil e, para blemas de visão a fim de melhorar seu desempe- isso, é preciso ouvir os professores e envolvê-los nho escolar. na elaboração de políticas de educação. Assim, Gustavo Leal trouxe a experiência de 71 anos aumentará sua conscientização e a capacidade qualificando profissionalmente pessoas para de implementar processos centrados nas neces- o mercado de trabalho do Serviço Nacional de sidades de crianças excluídas. Aprendizagem Industrial (SENAI), do Brasil, com A especialista enfatizou a necessidade de fer- o desafio de contribuir para aumentar a compe- ramentas e infraestrutura adequadas: sala de titividade industrial do país através da educação.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 67 Leal explicou que o Sistema S é composto por qualificação profissional, habilitação técnica, en- organizações e instituições que apoiam setores sino fundamental associado à educação profis- produtivos e de serviços, tais como a indústria, sional, aperfeiçoamento e especialização profis- o comércio, a agricultura, o transporte e as coo- sional, ensino superior e certificação profissional. perativas, tendo, entre seus objetivos, a oferta de Tudo isso atuando com pessoas de todas as ida- programas de educação profissional continuada, des e níveis de escolarização. cursos técnicos e à distância, gratuitos ou pagos, O maestro Leonardo Panigada apresentou a ex- conforme às demandas do mercado de trabalho. periência venezuelana do projeto EL SISTEMA. O O SENAI, que atua na formação profissional para projeto emprega a música como uma ferramenta a indústria, está organizado de forma descentrali- de desenvolvimento de liderança, capacitação, zada para melhor identificar problemas e fornecer senso de compromisso, generosidade, contribui- soluções locais, contando com 23.000 funcioná- ções coletivas, fortalecimento da auto-estima e rios, dos quais 18.000 são professores. Mais de segurança, além de ter um impacto positivo so- 58 milhões de trabalhadores já foram certificados bre a esfera social, família e comunidade. A edu- em 71 anos de atuação. O financiamento da for- cação musical promove valores éticos, estéticos mação profissional, até 2010, vinha de contribui- e educativos, dando as mesmas oportunidades a ções pagas pelas indústrias e coletado pelo Esta- todas as crianças. O estudo da música mantém do, correspondendo a 1% da folha de pagamento. as crianças ativas e longe de atividades prejudi- Para manter sua efetividade, o SENAI acompa- ciais, inclusive do trabalho infantil. nha e analisa o comportamento do emprego in- A Fundação prioriza o bem-estar das crianças e dustrial e estima a tendência de crescimento do adolescentes sobre em vez da técnica, além de número de empregos no setor industrial. Com promover exposições coletivas para fomentar os este mapa, a instituição analisa as necessidades líderes e apresentações musicais em diversos de profissionais qualificados para cada setor e lugares da Venezuela. A orquestra trabalha em define currículos e as habilidades necessárias, coordenação com o sistema de proteção à crian- com apoio de comitês técnicos setoriais nos ça, iniciando seus trabalhos com 11 membros e, quais participam instituições relacionadas a cada em 2013, já incluindo 400.000 pessoas, em 200 segmento. Com o perfil de competências neces- localidades em todo o país. A meta é atingir um sárias definido, o SENAI passa para a formação milhão de crianças e adolescentes nos próximos de professores e gestores, a padronização dos cinco anos, segundo informou o maestro. laboratórios e demais instalações das escolas e a construção flexível dos programas dos cursos. Os estudantes envolvidos nesse tipo de forma- Com este conjunto de procedimentos, tem sido ção evoluem para a profissionalização de forma possível oferecer diferentes tipos de formações: gradativa, com o apoio de gestores e professores da iniciação profissional, aprendizagem industrial, habilitados, junto com suas famílias e comunida-

68 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS des, unindo esforços para superar suas vulnerabi- eliminar o trabalho infantil, mas ficou clara a ne- lidades. Em alguns casos, as crianças que fazem cessidade de uma abordagem integrada (entre parte deste processo podem não continuar liga- níveis e modalidades educacionais), garantindo das a profissões musicais, mas adquirem habi- qualidade e levando em conta o ponto de vista lidades para a vida, sendo a disciplina uma das de alunos, professores e comunidades para que mais importantes. seu desenho inove, inclusive na transição escola- A semiplenária debateu com os participantes o mercado de trabalho, voltando a atrair a atenção papel-chave desempenhado pela educação para dos adolescentes para esta etapa.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 69 VI. Produção de Estatísticas

Ementa da semiplenária Produção de Estatísticas A construção de base científica sólida e a disponibilidade de informações e estatísticas confiáveis com recortes de gênero, idade, etnia e classe social são fundamentais para possibilitar melhor compreensão do trabalho infantil e elaboração de políticas públicas adequadas para seu enfrentamento. Informações e dados mais precisos também possibilitam a realização de campanhas de sensibilização direcionadas a grupos com distintos níveis de vulnerabilidade e abordagens culturais. ‹‹ Quais as consequências trazidas pela dificuldade de obtenção de informações confiáveis sobre o trabalho infantil no mundo? ‹‹ Que podemos fazer, nacional e internacionalmente, para aperfeiçoar a coleta e a análise de informa- ções sobre o trabalho infantil e de suas piores formas em todos os países do mundo, independente de seu grau de desenvolvimento? ‹‹ Em que medida os registros administrativos podem ser utilizados como ferramenta que permite precisar a dimensão quantitativa e qualitativa das piores formas de trabalho infantil?

A semiplenária Produção de Estatísticas foi mo- A importância de dados sólidos para as ações de derada por Yacouba Diallo, especialista em esta- erradicação do trabalho infantil tísticas da OIT, e contou com a participação de Sebastién Ndjomo Ndongo, estatístico sênior do A III CGTI reforçou o consenso de que é fundamental cons- Instituto Nacional de Estatística de Camarões, e truir uma sólida base de dados que disponibilize informa- Wasmalia Bivar, presidenta do Instituto Brasileiro ções estatísticas confiáveis desagregadas por sexo, ida- de Geografia e Estatística (IBGE). de, etnia e classe social. Tanto para permitir uma melhor compreensão do fenômeno do trabalho infantil, como para Sébastien Ndjomo Ndongo relatou a experiência a elaboração de políticas públicas adequadas para o enfren- do Instituto Nacional de Estatística (INS) de Ca- tamento do problema, adequando assim campanhas de sen- marões na coleta nacional e produção de esta- sibilização aos grupos com diferentes níveis de vulnerabili- tísticas sobre o trabalho infantil em Camarões. A dade e referências culturais, em cada sub-região ou país. Há experiência desenvolvida no país, em 2007, con- que pensar práticas de financiamento compartilhado para a tribuiu para a definição de políticas e estratégias geração continuada de informações sobre situações de tra- específicas na luta contra a exploração de crian- balho infantil. ças. Nesse processo, foi adotado o conceito do

70 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS trabalho infantil como parte das atividades pro- Para enfrentar as dificuldades do processo de co- dutivas de acordo com a resolução para as esta- leta de dados, Ndongo destacou a importância da tísticas sobre o trabalho infantil, adotada na Con- adoção de estratégias de sensibilização e cons- ferência Internacional de Estatísticos do Trabalho cientização das famílias sobre os direitos e os pe- em novembro de 2008. rigos do trabalho infantil. Recomendando o envol- vimento em conjunto do Estado, bem como de Os desafios que os gestores enfrentaram no pro- empregadores, trabalhadores e organizações da cesso se relacionaram ao perfil do público a ser sociedade civil em campanhas intensivas de mo- contatado: além da definição de amostras válidas, bilização e conscientização social sobre o tema. há grande dificuldade das crianças serem entrevis- tadas longe dos olhares de seus pais ou responsá- Especificamente para as ações de investigação, o veis, isso se deve ao fato de muitas crianças não estatístico camaronês recomendou que se encon- viverem em domicílios residenciais ordinários. Ele trem estruturas adequadas que possam ser res- considerou como desafios concretos a pluriativi- ponsáveis pela coleta regular de dados. É possível dade das crianças, a predominância delas no setor também envolver organizações da sociedade civil informal no mercado do trabalho e a invisibilidade que trabalhem o tema neste processo, desde que de muitas situações de trabalho infantil. trabalhem considerando as boas práticas de esta-

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 71 tísticas preconizadas pelas reuniões internacionais mico brasileiro e tem sido o principal veículo de de estatísticos. É importante ainda realizar capa- investigação sobre o trabalho infantil. citações para as equipes sobre as abordagens de Segundo informou Bivar, a PNAD tem abrangên- campo na coleta de dados, para evitar que visões cia nacional e os temas captados são: as carac- pessoais influenciem o processo. terísticas gerais dos moradores, educação, mi- Seguiu-se a palestra de Wasmalia Bivar sobre a gração, trabalho e rendimento trabalho, inclusive experiência brasileira, que tem duas linhas prin- de crianças e adolescentes, fecundidade e habi- cipais de pesquisa domiciliar sobre o trabalho tação. Desde a década de 1970, a PNAD passou infantil: os censos demográficos e as pesquisas a abranger a população com 10 anos ou mais de nacionais por amostra de domicílios (PNAD). Esta idade, auxiliando a identificação do trabalho das última produz informações anuais utilizadas para crianças e adolescentes a partir dos 10 anos. A o planejamento do desenvolvimento socioeconô- partir da década de 1990 foi incluído um tópico suplementar sobre o trabalho das crianças de 5 a 9 anos de idade.

O desafio de abordagens para medir as piores formas No Brasil foram realizados módulos suplementares de trabalho infantil nos anos de 2001 e 2006, direcionadas às carac- terísticas do trabalho de crianças e adolescentes A semiplenária sinalizou que, ainda que tenha havido pro- de 5 a 17 anos, proporcionando um entendimen- gressos na padronização de critérios para medir o trabalho to mais abrangente da situação socioeconômica, infantil perigoso, a medição das piores formas de trabalho infantil continua a ser um desafio. envolvendo os aspectos do trabalho realizado, dos afazeres domésticos e de educação. O uso de metodologias como avaliações rápidas e outros instrumentos que combinam aspectos quantitativos e qua- Avançando nos processos de coleta e análise de litativos permanecem necessárias, ainda que insuficientes. informação, por meio do Projeto de Reformula- ção das Pesquisas Domiciliares do IBGE, surge Bases de dados que envolvem registros administrativos (re- gistros de fiscalização, processos judiciais, informações das o Sistema Integrado de Pesquisas Domiciliares, policias rodoviárias, informações das escolas e dos hospi- que fez com que a PNAD passasse a ser uma tais) são fundamentais para apoiar ações de prevenção e pesquisa contínua e que já trouxe, em 2013, o eliminação das piores formas de trabalho infantil. trabalho infantil como parte dos temas comple- mentares no escopo da investigação, garantindo Registros administrativos podem apoiar as ações direciona- a continuidade do monitoramento do tema na das às piores formas, mas é preciso maior capacitação dos agentes públicos e recursos, inclusive orçamentários, para agenda nacional de combate ao trabalho infantil. garantir sistemas contínuos de monitoramento para a pre- Em relação ao Censo Demográfico Brasileiro, venção da reincidência de trabalho infantil. pesquisa decenal que permite uma visão territo- rializada de múltiplas informações sociais para o

72 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS país, Bivar acrescentou que seus dados recebe- infantil, reconhecendo que o custo econômico ram tratamento para gerarem produtos, em 2010, das medidas específicas para seu enfrentamento que permitissem o monitoramento e mapeamen- torna necessário incorporar módulos específicos to do tema do trabalho infantil, alcançando até os de levantamento de dados. Contudo, é evidente níveis descentralizados das gestões municipais. que, para muitos países, a coleta e análise de da- Entre estes produtos especiais estão mapas, grá- dos continua a ser um desafio, devido à falta de ficos e tabelas que facilitam a visualização e com- capacidade técnica instalada e de recursos finan- paração dos dados entre diferentes unidades de ceiros. Neste sentido, é relevante não apenas o gestão pública de governo no Brasil. apoio técnico e financeiro da comunidade interna- O debate da semiplenária concluiu destacando cional, mas igualmente a parceria de empregado- a importância de garantir a sustentabilidade do res, trabalhadores e governo para compartilhar os monitoramento periódico da situação do trabalho custos da produção dessas informações.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 73 VII. Trabalho Infantil Urbano

Ementa da semiplenária Trabalho Infantil Urbano Nos últimos anos, tem-se observado um crescimento do trabalho infantil em áreas urbanas devido ao en- volvimento de crianças e adolescentes em atividades informais, especialmente nos setores comercial e de serviços. Por um lado, este fenômeno está relacionado à evasão escolar e à falta de alternativas ofere- cidas pelo mercado de trabalho aos membros adultos da família. Por outro, relaciona-se às demandas da atual sociedade de consumo e ao processo de construção de identidades por meio da aquisição de pro- dutos, cenário que leva crianças e adolescentes a ingressar precocemente no mercado de trabalho em busca de autonomia econômica. Situações de desemprego dos chefes de família agravam o problema. Soma-se a isso o caso de empreendimentos familiares urbanos nos quais o trabalho infantil está rela- cionado, além disso, aos custos de formalização destes empreendimentos, ao desemprego dos chefes de família, aos baixos salários, à falta de acesso a serviços públicos de qualidade, assim como à dificul- dade de inspeção por parte das autoridades competentes. ‹‹ Como as políticas de proteção social e as legislações específicas podem apoiar a formalização do mercado laboral e substituir a mão de obra informal da criança e do adolescente pelo trabalho adul- to registrado? ‹‹ Como a implementação de políticas voltadas para o mercado de trabalho e de formação profissional podem contribuir para a eliminação do trabalho infantil em empreendimentos urbanos? ‹‹ Como as políticas de promoção da formalização dos empreendimentos familiares podem auxiliar no enfrentamento do trabalho infantil em áreas urbanas? ‹‹ Como as políticas e a operação do sistema de educação podem tornar a escola mais atraente que o mundo do trabalho, respeitando as especificidades da realidade urbana? Como aprimorar os me- canismos de transição escola trabalho?

A semiplenária Trabalho Infantil Urbano programas da iniciativa Understanding Child Work teve como moderadora Amelia Espejo, da (UCW), Nguyen Thi Bich Hien, do Departamento Organização Internacional de Empregado- de Trabalho da Província de Lao Cai, Vietnã, e Ma- res (OIE), e contou com a participação de Sherin ría del Carmen Velasco, gerente do programa de Khan, especialista sênior em trabalho infantil da erradicação do trabalho infantil do Ministério de OIT (Sul da Ásia), Furio Rosati, coordenador de Relações Trabalhistas do Equador.

74 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS com apoio à transição escola-trabalho; desenvol- O uso da internet nas áreas urbanas na luta contra o vimento de capacidades para o trabalho e capa- trabalho infantil citação profissional para os adolescentes que já alcançaram a idade adequada. O debate da semiplenária apontou a importância da internet para facilitar o acesso a informações e alertas sobre explora- Compreender o problema, sua escala e a natu- ção, bem como o acesso aos direitos por crianças e adoles- reza da pobreza e da exclusão que afetam as centes em contextos urbanos. crianças em áreas urbanas é fundamental. Assim O envolvimento pró-ativo com os meios de comunicação como são imprescindíveis à construção de uma de massa é importante, mas também é inegável o quanto base ampla, diversificada e específica de parcei- a internet é cada vez mais utilizada para atrair e envolver ros, a remoção de barreiras para a inclusão social, crianças nas piores formas de trabalho infantil, inclusive a a liderança de iniciativas pelos gestores locais exploração sexual comercial. Com a devida atenção, apoio e urbanos, incluindo a sua necessária inserção no monitoramento, centros de acesso à internet permitem que orçamento público, a transversalizaçao do tema crianças utilizem os computadores para o aprendizado e a do trabalho infantil integrado no planejamento recreação. urbano, de infraestrutura e desenvolvimento, e a O avanço na luta contra o trabalho infantil deve considerar entrega de programas e serviços. também a promoção de uma interface regular com crianças na internet de forma a estimular o diálogo. Neste sentido, blo- Furio Rosati apresentou amplo panorama do per- gueiro(a)s conhecido(a)s podem ser convidado(a)s a colocar fil do trabalho infantil urbano, mencionando que mais informações sobre o tema em seus blogs e informações a importância relativa do trabalho infantil é geral- sobre o acesso ao mercado de trabalho para os jovens. mente maior em países de renda média, onde a agricultura desempenha um papel menos pre- ponderante. Além disso, a grande maioria das Sherin Khan destacou alguns dos elementos do crianças trabalhadoras urbanas se concentra contexto urbano que justificam a atenção ao tra- no trabalho informal, no trabalho doméstico, balho infantil na no Sul da Ásia: o contínuo cresci- no comércio, em hotéis e restaurantes. Rosa- mento populacional, com 60 milhões de pessoas ti sinalizou que nas manufaturas as crianças a mais nas cidades a cada ano; aumento das mi- realizam trabalhos em setores de baixa tecno- grações oriundas de áreas rurais; ausência e/ou logia; que na América Latina há predomínio de baixa implementação dos marcos legais. crianças trabalhadoras urbanas que são pagas, Dentre os caminhos para a erradicação do traba- enquanto que em outras regiões do mundo a lho infantil a palestrante ressaltou a combinação maioria não é remunerada no trabalho urbano; e de proteção social e trabalho decente para as que há também maior número de crianças que famílias; de migração protegida e produtiva; de trabalham com suas famílias na América Latina transversalização e fortalecimento da educação em comparação com outras regiões.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 75 especialmente nas áreas urbanas, por atender as Trabalho infantil urbano e crianças com deficiência diferentes fontes de vulnerabilidade. As políticas ou filhos e filhas de pessoas com deficiência de transferências de renda têm-se revelado efica- zes, embora pareça haver espaço para melhorias Um importante aspecto foi trazido pelos participantes: a ex- em termos de segmentação do público, valores ploração laboral de crianças com deficiência. Por sua condi- das transferências e condicionalidades. ção peculiar, se reconheceu que as respostas de programas e projetos específicos ainda necessitam considerá-las em suas Como a economia informal aquela que mais absor- estratégias, e se adaptar às suas necessidades e particularida- ve o trabalho de crianças em áreas urbanas, o es- des. Observou-se que essa é uma área para a qual ainda não há tímulo à formalização das empresas contribui para pesquisas suficientes. No entanto, onde foram realizadas inicia- o enfrentamento do problema. Rosati apontou os tivas com este foco, como no Panamá e Equador, percebeu-se potenciais efeitos indesejados de programas des- a relevância do tema e a importância de considerar estratégias tinados a apoiar o desenvolvimento dos negócios mais específicas, inclusive sobre a dimensão familiar do proble- domésticos, que podem abrir oportunidades para ma do envolvido precoce no trabalho urbano de crianças com deficiência, ou dos filhos e filhas de pessoas com deficiencia. as crianças trabalharem, substituindo a atividades de trabalho de um adulto em seus empregos ante- riores ou na realização de tarefas domésticas. Rosati elencou como principais causas do traba- Em relação às piores formas de trabalho típicas lho infantil urbano: a pobreza das famílias, a falta de áreas urbanas, ele sugeriu processos de mobi- de oportunidades de trabalho decente e produ- lização e capacitação dos atores governamentais tivo para os adultos e o desemprego entre os e não governamentais locais que atuam próxi- jovens já formados. Ele afirma que é necessário mos a estes fenômenos (assistentes sociais, po- facilitar o acesso dos adolescentes e jovens ao liciais, equipes de saúde locais, organizações não mercado, especialmente na busca de sintonia en- governamentais locais etc.); o reforço dos servi- tre suas habilidades e os tipos mais adequados ços e equipamentos para abrigamento de emer- de trabalho, apoiando-os com aconselhamento, gência, avaliação e encaminhamento, assistência por meio da atuação de agências de emprego e médica, aconselhamento psicossocial, apoio jurídi- de programas de estágio. A percepção de adoles- co, reintegração familiar, monitoramento contínuo. centes de que a educação resulta em melhores Destacou, neste sentido, a importância do estabe- salários futuros influencia positivamente sua de- lecimento de marcos regulatórios para definir pa- cisão e vontade de permanecer na escola. drões mínimos de atendimento para trabalhadores Em termos das políticas necessárias para o en- infantis retirados dessas situações e para outras frentamento ao trabalho infantil, Rosati acredita crianças vulneráveis, especificando os papéis dos ser importante considerar a proteção social inte- vários atores no processo de atenção necessária e gral, entendida como um sistema integrado e não o cumprimento das proteções legais previstas nos como uma composição de programas isolados, protocolos e convenções internacionais.

76 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS Nguyen Thi Bich Hien, da Província de Lao Cai, no Vietnã, relatou a experiência de um programa Integração de políticas e transversalização da temáti- público no setor do turismo combinando preser- ca do trabalho infantil são boas ideias para uma luta vação cultural com geração de renda como forma efetiva contra a exploração laboral urbana de crian- de evitar o trabalho infantil. O programa foi de- ças e adolescentes senvolvido por dois anos, pelo Departamento do Entre as ideias surgidas debatidas na semiplenária, ressal- Trabalho do Governo Provincial, com apoio finan- tou-se a importância de sistemas integrados entre as polí- ceiro adicional da OIT-IPEC. ticas públicas para a atenção continuada às crianças explo- radas nas áreas urbanas. Como a mobilidade humana é um O programa ofereceu assistência educacional para fenômeno bastante comum em tais ambientes, faz-se neces- as crianças da Província considerando os diferen- sário que os programas possam realizar avaliações progres- tes grupos étnicos aos quais pertenciam as crian- sivas periodicamente, mapeando as situações de trabalho ças e adolescentes, promoveu o desenvolvimento infantil e as mudanças nos setores, que possam ter surgido de habilidades para adolescentes, formou profes- por diferentes razões, relacionadas à pobreza, migrações, sores e jovens, aumentou a conscientização entre crises econômicas ou dimensões diversas da vulnerabilidade crianças e adolescentes, famílias, escolas e comu- familiar. Citou-se a preocupação no Brasil de construir uma nidades sobre educação e sua relação com o tra- efetiva unificação do sistema de serviço social para tentar balho infantil. Essa experiência levou à conscienti- chegar a todas as crianças, incluindo a oferta de serviços zação das comunidades, famílias e escolas sobre continuados mesmo para aqueles que migram para as áreas os impactos do trabalho de crianças; ao aumento rurais. Neste caso, o monitoramento e o acompanhamento das taxas de frequência escolar; à formação pro- das famílias é um requisito fundamental, além do diagnósti- co detalhado do perfil e situação dessas crianças paraenca- fissional de adolescentes em idade de trabalhar; e, minhá-los para centros de assistência escolar ou outros ser- principalmente, à redução significativa do trabalho viços. Um plano nacional de erradicação do trabalho infantil, infantil urbano, em especial entre os muitos que integrando diferentes atores responsáveis nacionalmente atuavam como vendedores ambulantes. pelas políticas de assistência social, trabalho e emprego, Para Hien, o projeto também resultou em uma saúde, educação e justiça, pode representar uma abordagem melhor coordenação entre as várias autoridades bastante exitosa de transversalização da temática. locais e os atores interessados na proteção das crianças, permanecendo em vigor mesmo depois de encerrado o ciclo do programa. urbanas. O trabalho de coleta de resíduos urba- nos era realizado em grande parte por famílias María del Carmen Velasco apresentou a experiên- pobres de alguns de grupos indígenas excluídos cia do programa de promoção de trabalho decen- e discriminados. A abordagem sistemática come- te para os trabalhadores dos aterros municipais do Equador como forma de erradicar o trabalho çou com uma pesquisa de base em 20 cidades, infantil na coleta e classificação do lixo em áreas o que permitiu uma compreensão mais aprofun- dada sobre a natureza e a extensão do problema.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 77 Os esforços de conscientização resultaram em um outras iniciativas para o combate ao trabalho in- alto nível de compromisso político, incluindo a insti- fantil urbano dentre as quais: tuição de decreto para a eliminação do trabalho in- ‹‹ O modelo de inspeção em empresas informais fantil em aterros urbanos, a criação de um Comitê em Bangladesh, que resultou em uma vigilân- de Coordenação em níveis nacional e local para me- cia mais próxima das violações de direitos e lhorar a articulação entre os atores, a constituição exploração do trabalho infantil e da implemen- de redes locais e a adoção de um protocolo para o tação de mecanismos de referência para as encaminhamento de serviços de atenção às crian- crianças encontradas em situação de trabalho; ças, e seu posterior monitoramento, além de ações para apoiar as famílias na geração de renda. ‹‹ A iniciativa do Paquistão, com a implantação de uma taxa específica para os fabricantes que Esta estratégia multifacetada resultou na remoção exportam tapetes, cujos fundos obtidos foram de mais de duas mil crianças do trabalho infantil em aterros sanitários para resíduos sólidos (lixões), investidos no monitoramento preventivo do com a prestação de serviços educacionais, ativida- trabalho infantil; des de sensibilização e acompanhamento. O proje- ‹‹ A experiência da Índia de implementação uni- to ajudou na criação de cooperativas de reciclagem versal de uma taxa de 2% ao setor privado para os trabalhadores adultos, levando a uma maior para efeitos de responsabilidade social das rentabilidade deste tipo de empreendimento. empresas, oferecendo uma oportunidade de A semiplenária, motivada pelas experiências promover os esforços de erradicação do tra- apresentadas, considerou relevante compartilhar balho infantil.

78 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS VIII. Trabalho Infantil nas Cadeias Produtivas

Ementa da semiplenária Trabalho Infantil nas Cadeias Produtivas Cada vez mais aumenta a preocupação com a presença de trabalho infantil nas cadeias produtivas, isto pelo fato de poder representar uma inconsistência com valores e uma ameaça à imagem das empre- sas, comprometendo uma maior produtividade e melhores relações comerciais. Sabe-se que o trabalho infantil pode ser encontrado em todos os estágios das cadeias produtivas – incluindo na agricultura, nas manufaturas e no setor de varejo – e que não se restringe às relações comerciais estabelecidas pelas empresas no âmbito doméstico. O tema da eliminação do trabalho infantil passa também pelas pressões internacionais que buscam impor restrições comerciais a empresas que utilizam mão de obra infantil em suas cadeias produtivas. ‹‹ Quais são os obstáculos enfrentados pelas empresas para a eliminação do trabalho infantil em suas cadeias produtivas, tanto no âmbito doméstico quanto no internacional, e para a implementação dos marcos legais nacionais e internacionais? ‹‹ Como políticas de controle social e certificação das cadeias produtivas podem contribuir para a eliminação do trabalho infantil? ‹‹ Que medidas podem facilitar a troca de experiências e a construção de abordagens cooperativas entre empresas (nacionais e multinacionais) sobre como eliminar o uso do trabalho infantil em suas cadeias produtivas?

A mesa de debates foi coordenada por Simon Steyne, Chefe de Diálogo Social e Parcerias do A responsabilidade social das empresas Programa Internacional para Eliminação do Traba- Os debates destacaram que a responsabilidade social em- lho Infantil da OIT, e contou com os especialistas presarial vai além de cumprir a legislação trabalhista. Ser Jeff Morgan, diretor de programas globais da ICI/ socialmente responsável implica assumir o problema com Mars, e Tim Ryan, diretor do Programa Asiáti- coragem, diagnosticando e implementando políticas para co Regional do Centro Americano para Trabalho enfrentá-lo. Na hora de escolher um fornecedor, que não se Solidário Internacional (ACIL), USA. Além disso, veja apenas o menor preço, porque assim existirá trabalho participaram da plenária com exemplos de boas informal, trabalho degradante e trabalho infantil, argumen- práticas Maria Del Pilar Rey Mendes, presiden- taram. As empresas não são responsáveis diretas por tudo, ta da Comissão Nacional para a Erradicação do mas fazem parte da solução. Trabalho Infantil (CONAETI) da Argentina, e Rosa

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 79 Rodriguez, diretora executiva da Fundação do ressaltar que a lei não é aplicável à criança que Açúcar (Fundazúcar), de El Salvador. esteja trabalhando em âmbito familiar. Os debates na semiplenária “Trabalho Infantil nas Rosa Rodriguez apresentou a experiência no com- Cadeias Produtivas” focaram-se na responsabili- bate ao trabalho infantil e responsabilização social dade das empresas por toda a cadeia produtiva, no setor açucareiro de El Salvador. O trabalho da incluindo seus fornecedores. Além disso, tam- Fundazúcar foi motivado pela maior consciência bém trouxe à tona a fragilidade das certificações do consumidor, abertura dos mercados, exigên- de bens produzidos sem a utilização de mão de cia de proteção de direitos trabalhistas, sobretu- obra de crianças e adolescentes. do pela Europa e Estados Unidos, e criação de políticas sustentáveis para a indústria açucareira. María Del Pilar Rey Méndez compartilhou a expe- O primeiro passo foi reconhecer a existência do riência da Rede de Empresas Contra o Trabalho problema e assumir o compromisso de erradicar Infantil da Argentina, uma articulação público-pri- o trabalho infantil por parte da cúpula empresarial vada formada em 2007 com quase cem empre- da Fundazúcar. Depois disso foi feito o diagnósti- sas e assessoria da OIT e do UNICEF. Por meio co sobre a situação das crianças, o levantamento da Rede, houve incorporação de cláusulas nos dos recursos técnicos e financeiros necessários, contratos com os fornecedores das empresas, o reconhecimento dos parceiros públicos e priva- que vetam o uso de mão de obra infantil, inclusi- dos, e a sistematização de ações e boas práticas. ve com possibilidade de rompimento do contrato caso tal situação seja constatada. A incorporação desse conceito como um com- Boas ideias nas relações produtivas que melhoram a promisso evita que as próprias empresas utilizem vida da comunidade trabalho infantil, além de realizar auditorias em Nos debates da semiplenária os participantes sinalizaram seus fornecedores, complementou Méndez. Me- que a solução passa pelo aumento da renda das famílias das recem destaque também as alterações da legis- crianças exploradas pelo trabalho infantil. É importante circu- lação argentina como o aumento da idade mínima lar a informação sobre trabalho infantil de forma transparen- para o trabalho de 14 para 16 anos, a regulamen- te entre todos os elementos da cadeia produtiva e entre os tação do trabalho infantil nas empresas familiares consumidores, para que os benefícios cheguem às famílias em condições de vulnerabilidade. Também foi mencionada a e o estabelecimento, de espaços de atendimento importância da disponibilização de mais recursos das empre- para crianças e adolescentes, no setor agrícola, sas para pagar seus fornecedores. Ao nível da comunidade, enquanto seus pais trabalham. Com isso foi pos- ressaltou-se a necessidade de investimentos em tecnologia sível criminalizar do uso de mão de obra infan- para aumentar a produtividade, a construção de escolas e de til para todo o setor formal da economia, e este centros de saúde e o empoderamento da comunidade para passou a ser um crime inafiançável com penas que esta aumente sua renda e possa investir em si própria. de três a quatro anos de prisão. É importante

80 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS Segundo Rodriguez, a Fundazúcar introduziu cláusulas nos contratos de compra e venda, Recomendação para o empoderamento dos pequenos proibindo que a cana-de-açúcar seja cortada por agricultores crianças ou adolescentes. Além disso, a funda- Como a maioria das indústrias não compra diretamente dos ção padronizou a cadeia produtiva com protoco- produtores agrícolas, mas de fornecedores no meio da ca- lo de atuação único para os casos de trabalho deia produtiva, nem sempre há uma relação direta entre as infantil para evitar a concorrência desleal entre empresas e os produtores, especialmente os pequenos. As- compradores que, por exigirem menos, teriam sim, os participantes da plenária acreditam que seja neces- mais opções de fornecedores, e desenvolveu sário empoderar os pequenos agricultores. Acreditam que, um plano de sensibilização permanente com ad- embora não seja função das empresas, é importante apoiar ministradores, cooperativas e toda a comunida- os agricultores para que aumentem sua renda, promovam de que mora nas proximidades dos engenhos. uma melhor organização de classe e possam colocar seus filhos nas escolas. Jeff Morgan apresentou a experiência da ca- deia produtiva do chocolate, com um sistema comunitário de combate ao trabalho infantil na Timothy Ryan, da ACIL nos Estados Unidos, mos- Costa do Marfim, maior produtor de cacau do trou a função social das organizações trabalhistas mundo. Para aplicar o princípio de responsabi- e da responsabilidade social das empresas em lidade mútua pela cadeia de fornecimento, a fomentar o movimento sindical. Para ele, é vital Mars decidiu conhecer melhor como viviam os a criação de organizações de trabalhadores que produtores de cacau naquele país e apresentou lutem por condições dignas de trabalho e, assim, aos consumidores vídeos daquelas condições contribuam para erradicar o trabalho infantil. de vida. Ryan entende que a Marcha Global contra o Tra- Foi realizado um trabalho em conjunto com o go- balho Infantil é exemplar, por envolver sindicatos, verno local e a própria comunidade, focado na ONGS e governos. Sua efetividade ao promover proibição do trabalho infantil, no aumento da co- sensibilização e negociação tem obtido mais re- bertura dos serviços educacionais e no aumento sultados que processos de certificação, que, de produtividade. Com o conjunto de medidas além de mais caros, tendem a deixar descober- adotadas, os atores envolvidos esperam dimi- tos segmentos mais vulneráveis. nuir a pobreza que persiste no local. O suces- so dessas ações depende do envolvimento do O sistema de certificação de empresas “livres de governo e da comunidade no sistema de moni- trabalho infantil” merece uma cuidadosa revisão, toramento do uso de mão de obra infantil e na especialmente por duas razões: a certificação não formação de cooperativas entre os agricultores, deve celebrar algo que já é obrigação legal formal que esperam melhorar produção e capacidade das empresas; as situações certificadas em re- de negociação. lação ao trabalho infantil são muito dinâmicas e

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 81 podem variar com o tempo, não tendo valor para à tona a fragilidade das certificações de bens as práticas futuras da empresa para além do mo- produzidos sem a utilização de mão de obra de mento específico em que recebeu a certificação. crianças e adolescentes, propondo que as ações Os debates na semiplenária Trabalho Infantil nas que envolvem todos os segmentos sociais – co- Cadeias Produtivas focaram-se na responsabili- munidade, trabalhadores, empresas e governo dade das empresas por toda a cadeia produtiva, devem ser privilegiados na construção de solu- incluindo seus fornecedores. Trouxe também ções mais duradoras.

82 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS IX. Papel do Sistema Judicial no Combate ao Trabalho Infantil

Ementa da semiplenária Papel do Sistema Judicial no Combate ao Trabalho Infantil Os sistemas de justiça e os operadores do Direito têm desempenhado papel fundamental na preven- ção e eliminação do trabalho infantil. Destaca-se a diversidade de experiências em nível mundial, não só internas ao próprio Sistema de Justiça como também aquelas com ele correlacionadas. ‹‹ A partir da experiência normativa dos diversos Estados, da experiência concreta de atuação dos sis- temas de justiça nacionais e de seu impacto social, quais estratégias são necessárias para estimu- lar e fortalecer o papel dos sistemas nacionais de justiça na luta pela eliminação do trabalho infantil? ‹‹ Como integrar o sistema de justiça de cada país no esforço de eliminação das piores formas de trabalho infantil? ‹‹ Como promover o intercâmbio de experiências bem-sucedidas, tanto no espectro normativo quan- to de implementação de ações?

A semiplenária sobre o Papel do Sistema Judicial trabalho infantil. Esta foi uma iniciativa inédita nas no combate ao trabalho infantil foi moderada pela conferências globais sobre o tema e envolveu os Ministra Kátia Magalhães, do Tribunal Superior do sistemas judiciais lato sensu – poder judiciário, Trabalho do Brasil, e contou com a participação de advocacia, ministério público. Vitit Muntarbhorn, especialista internacional em Vitit Muntarbhorn buscou responder a seguinte direitos humanos e professor de direito da Uni- questão: há criatividade nas Cortes e Tribunais? versidade Chulalongkorn em Bangkok, Tailândia; E quanto às leis religiosas, se houver tribunais de Pierre Lyon-Caen, jurista francês; de Altamas religiosos ou de costumes, qual o papel desses Kabir, ex-chefe de justiça da Índia; de Eleonora tribunais em relação ao trabalho infantil? Isto foi Slavin, Juíza do Tribunal do Trabalho do Departa- pensado citando os casos da Tailândia e da Índia, mento judicial de Mar Del Plata, Argentina; e de onde o sistema formal de justiça convive com o Rafael Dias Marques, procurador do Trabalho e sistema informal nas comunidades e persiste a Coordenador Nacional de Combate à Exploração importância das lideranças locais. do Trabalho de Crianças e Adolescentes do Minis- As dificuldades de coexistência entre a legislação tério Público do Trabalho, do Brasil. internacional e as comunidades tradicionais tra- A Ministra Kátia Magalhães esclareceu os partici- zem desafios significativos e que não podem ser pantes sobre o papel do judiciário no combate ao desconsiderados, pois, mesmo que os países não

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 83 leis penais extraterritoriais para coibir e punir as O desafio da atuação do sistema de justiça no violações cometidas em outro país. Em geral, os ambiente intra-domiciliar países não gostam de extraditar seus nacionais. Como conciliar a questão de que a casa é o local onde a Por isso, Muntarbhorn explicou ser necessária a criança mora, mas também é onde é explorada? A semiple- jurisdição internacional, como no caso dos meni- nária sinalizou que não há incompatibilidade entre a invio- nos soldados. Nos casos de trabalho infantil, re- labilidade do domicílio e a ação da fiscalização do trabalho, correr a Cortes Internacionais, como a Corte Inte- tendo em vista que se sabe que há oficinas clandestinas nas ramericana de Direitos Humanos na Costa Rica, residências. Não falta à fiscalização instrumentos legais a Corte Europeia de Direitos Humanos ou a Corte para cumprir seu papel: quando há suspeitas de que em uma Criminal Internacional também deve ser conside- residência há crianças trabalhando, o fiscal do trabalho pode rado como parte da estratégia para enfrentar o se dirigir ao juiz e pedir uma autorização para entrar na re- problema. sidência privada. A Constituição ou o marco legal maior se sobrepõem às demais leis. Há exemplos de países em que Vitit Muntarbhorn finalizou afirmando que é ne- comissões de direitos humanos fazem visitas de monitora- cessário que os sistemas de justiça nacional, mento a diferentes espaços e comunidades para oferecer regional e internacional atuem de forma comple- apoio e complementar a justiça formal. mentar para que sejam dadas soluções nos níveis civil e criminal para os casos de trabalho infantil. Disse que, embora a justiça não esteja sempre aceitem os tratados internacionais, há a necessi- presente, quando se trata de crianças ela deve dade de coibir as piores formas de trabalho infantil, ser aplicada a todos os casos: justiça para todos proteger as crianças, garantir acesso à escola e es- e para todas as crianças. tabelecer idade mínima para o trabalho. Pierre Lyon-Caen propôs examinar os desafios Lembrando as diferenças entre os países em para a atuação da Justiça dentro de limites possí- relação à legislação internacional, Muntarbhorn veis em cada país. Reconhecendo que há países considerou que há possibilidade dos juízes dos não enfrentam o tema do trabalho infantil, reafir- países com legislação mais fragil buscarem inspi- mou o papel de atores internacionais que podem ração no Direito Internacional, aplicando uma in- gerar pressão para que medidas em relações ex- terpretação a favor do melhor interesse da crian- ternas gerem alguma mudança no enfrentamen- ça, sendo sempre entendida como vítima e não to ao trabalho infantil internamente. como agressora. O jurista alertou sobre outra dificuldade, a de Ele trouxe outro aspecto ao debate que é a no- que a justiça possui uma abordagem individual, ção de “expansão da jurisdição”, ou seja, quando e não coletiva. No entanto, cabe à Justiça asse- alguém explora o trabalho infantil fora do seu país gurar proteção e punir abusos dos quais as crian- de origem, alguns sistemas nacionais adotam ças são vítimas. Para que isto ocorra, crianças e

84 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS adolescentes devem buscar os procuradores ou veriam realizar inspeções em grandes empresas juizados de menores, sem formalismos. Nesse internacionais onde se sabe que o trabalho infantil caso, o juiz pode pedir uma medida de proteção, ocorre, aplicando sanções à altura para ressarcir o seja levar o jovem à Corte, ou à autoridade poli- que foi obtido com a exploração das crianças. Cam- cial, ou mesmo levar ao juiz do serviço de pro- panhas de sensibilização devem ser feitas junto ao teção infantil para os devidos procedimentos em público, polícias, juízes, procuradores, bem como relação ao caso. É fundamental a existência de a criação de um programa de capacitação perma- canais de comunicação gratuitos para pedidos de nente sobre esse assunto, sugeriu o jurista. ajuda ou denúncias, estimulando as crianças viti- O juiz Altamar Kabir lembrou a todos dos desa- madas a se informarem por outras pessoas sobre fios para a eliminação das piores formas do tra- sua situação. balho infantil até 2016, mesmo em países em O papel dos inspetores do trabalho é primordial, que a legislação existe há muito tempo, uma vez Lyon-Caen lembrou ao final, tanto no setor formal que a legislação necessita ser aplicada, além de como no informal. Ele afirmou que os juízes de- promulgada.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 85 das convenções, o que resultava em sentenças A atuação integrada do sistema de justiça com outros que diziam que as garantias trabalhistas pode- atores favorece a efetividade do enfrentamento ao riam prejudicar os negócios com outros países. trabalho infantil Slavin conta que a partir de 2006 foi lançado o Os participantes sugeriram que o sistema de justiça atue em plano nacional de erradicação do trabalho infantil, iniciativas que promovam maior sensibilização dos seus dife- com modificação da lei de proteção ao trabalho rentes atores. Além disso, destacaram a importância de ir ao e da lei da aprendizagem. Além disso, a lei pe- encontro da sociedade e escutá-la, da atuação em conjunto, nal impôs penas de um a quatro anos de prisão compartilhando boas práticas, ouvindo experiências de ou- para quem ocupar crianças ou adolescentes no tras instituições e das pessoas afetadas pela exploração trabalho, salvo se não implicar em violação mais laboral de crianças e adolescentes. A semiplenária alertou sobre a importância de sensibilizar o olhar do juiz que irá se grave, além de inspirar uma profunda mudança posicionar sobre o trabalho infantil. Algumas iniciativas do na inspeção trabalhista. Em caso de contrato de Tribunal Superior do Trabalho no Brasil podem ser úteis para menores de 16 anos em empresas que recebem inspirar projetos em outros países no processo de integração investimento público, há a previsão de prisão e, com as ONG e os poderes executivo e legislativo. em caso de trabalho escravo, implica registro pú- blico e repressão fiscal. Isto alterou rapidamente a situação.

No caso da Índia, há avanços no marco legal que Com isso, os papéis desempenhados pelo pro- proíbe o trabalho infantil (incluindo atividades pe- curador nos tribunais, pela defensoria pública e rigosas) e que estabelece o limite da idade mí- pelos fiscais ganharam mais autonomia e muitas nima para iniciar atividades laborais. O Tribunal empresas mudaram seus procedimentos. Foi Superior usa a lei do litígio de interesse público dada atenção às pessoas de grupos vulneráveis. nesses casos. Houve avanços para esse tipo de O sistema judicial, no entanto, é a última instân- intervenção com a culpabilização efetiva dos em- cia para garantir a normativa internacional e, por pregadores que usam trabalho infantil. isso, é necessário um judiciário forte e com co- nhecimento da legislação. É fundamental o pa- Eleonora Slavin discorreu sobre as leis laborais pel das defensorias públicas junto aos interesses regressivas que passaram a vigorar nos anos 90 e trouxeram de volta o trabalho infantil à Ar- coletivos de crianças, adolescentes e populações gentina. Como a Justiça do Trabalho era consi- vulneráveis. derada uma justiça menor, não eram nomeados Rafael Dias Marques reconheceu haver muitas juízes ou estes estavam sub-rogados por juízes causas para a existência do trabalho infantil e, cíveis que não viam o trabalhador infantil como por esta razão, serem necessários muitos atores hipossuficientes. Segundo ela, esses juízes não para enfrentá-las e chegar a bom termo. Frente a se compadeciam nem respeitavam a hierarquia essa constatação, disse que o sistema de justiça

86 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS deve se unir aos demais atores à causa comum e prejuízo ao patrimônio ético da sociedade, de todos. que é o direito fundamental da criança ao não trabalho; O procurador discorreu sobre a experiência do projeto do Ministério Público do Trabalho do Bra- ‹‹ No processo de monitoramento e avaliação, sil com o Projeto Políticas Públicas, realizado des- com uma metodologia específica para isso. de 2012 em todo o país. A estratégia do projeto Ao todo, foram 53 municípios investigados no foi elaborada em três dimensões: Brasil e mais de 70 mil crianças e adolescen- tes beneficiados pelo projeto. ‹‹ No processo de planejamento, com a coleta de estatísticas para mapear onde estão os O procurador relatou que o grande aprendizado vinte municípios com piores índices de de- da experiência diz respeito ao valor do trabalho in- senvolvimento humano (IDH) e com a iden- tegrado entre os diferentes atores: muitas ações tificação dos parceiros para executar os ser- foram realizadas em conjunto com equipes da viços e programas para as famílias desses polícia, da área de saúde, de assistência social. municípios; Além disso, muitas outras parcerias institucionais são buscadas para fazer a cobertura dos progra- ‹‹ No processo de execução, com o início da mas e serviços chegarem às casas das pessoas inspeção in loco. Assim, caso o procurador que mais precisam. Marques entende que o pro- do trabalho entenda que o poder público se jeto pode ser desenvolvido em outros lugares e encontra omisso na prestação dos serviços que leis e convicções já existem. para as crianças e suas famílias, com base no resultado dessas inspeções instaura o in- A partir das experiências apresentadas os juízes quérito civil público. Abre-se a oportunidade do trabalho do Brasil propuseram que os Estados- para que o município possa voluntariamente Membros da OIT fomentem fóruns nacionais e adotar nova conduta, por meio da assinatura internacionais de cooperação, difusão e forma- de um Termo de Ajuste de Conduta no qual ção da cultura de erradicação do trabalho infantil. ele se compromete a atuar na proteção das Essa ação deve promover a troca de informações crianças e adolescentes. A seguir, inicia-se o e experiências entre os sistemas de justiça dos ajuizamento das ações civis públicas pedindo diversos países e sobre experiências institucio- a implementação de um programa de atua- nais de interlocução com a sociedade civil, por ção geral para enfrentar o trabalho infantil em intermédio de programas interssetoriais e globais nível local, e pedindo a indenização por lesão de combate à exploração do trabalho infantil.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 87 TEMÁTICAS E PROGRAMAÇÃO DA III CGTI

1° DIA: 8 DE OUTUBRO DE 2013 (TERÇA-FEIRA) 10:30 – 11:00 - Coffee Break 08:00 – 09:30 - Credenciamento com café da manhã de 11:00 – 12:30 – SESSÕES PLENÁRIAS (Ministros, Emprega- boas-vindas dores, Trabalhadores e Sociedade Civil) 09:30 – 11:30 - Abertura de alto nível com apresentação da 12:30 – 14:00 Almoço Orquestra de Heliópolis 14:00 – 15:45 – SESSÕES SEMIPLENÁRIAS `` Dilma Rousseff - Presidenta do Brasil 1. Modelos de Educação e Escolas `` Guy Ryder - Diretor Geral da Organização Internacional 2. Produção de Estatísticas do Trabalho das Nações Unidas 3. Trabalho Infantil Urbano 11:30 – 13:00 - SESSÃO PLENÁRIA 4. Trabalho Infantil nas Cadeias Produtivas `` A Erradicação Sustentável do Trabalho Infantil: um 15:45 – 16:15 Coffee-Break desafio global 16:15 – 18:00 – SESSÕES SEMIPLENÁRIAS 13:00 – 14:00 - Almoço 1. Modelos de Educação e Escolas (Continuação) 14:00 – 15:45 - SESSÕES SEMIPLENÁRIAS 2. Papel do Sistema Judicial no combate ao trabalho 1. Violação de Direitos de Crianças e Adolescentes em infantil Atividades Ilícitas 3. Trabalho Infantil Urbano (Continuação) 2. Trabalho Infantil e Migrações 4. Trabalho Infantil nas Cadeias Produtivas (Continuação) 3. Trabalho Infantil Doméstico e Gênero 18h00 - Programação Cultural 4. Trabalho Infantil na Agricultura 16:15 – 18:00 - SESSÕES SEMIPLENÁRIAS 3° DIA: 10 DE OUTUBRO DE 2013 (QUINTA-FEIRA) 1. Violação de Direitos de Crianças e Adolescentes em 09:30 – 10:45 - Reunião de chefes de delegações governa- Atividades Ilícitas (Cont.) mentais, representantes de empregadores e trabalhadores 2. Trabalho Infantil e Migrações (Cont.) sobre a Declaração de Brasília sobre o Trabalho Infantil 3. Trabalho Infantil Doméstico e Gênero (Cont.) 10:45 – 11:15 - Coffee-Break 4. Trabalho Infantil na Agricultura (Cont.) 11:15 – 12:00 - SESSÃO PLENÁRIA `` Como acelerar a luta contra o trabalho infantil 2° DIA: 9 DE OUTUBRO DE 2013 (QUARTA-FEIRA) 12:00 – 13:30 – Cerimônia de Encerramento de Alto Nível + 08:00 – 09:00 - Cadastramento Adolescentes + Declaração de Brasília 09:00 – 10:30 - SESSÕES PLENÁRIAS (Ministros, Emprega- 13:30 - Almoço dores, Trabalhadores e Sociedade Civil)

88 SESSÕES SEMI-PLENÁRIAS DE DEBATES TEMÁTICOS o Trabalho Infantil e Sessão de Encerramento Sessão Plenária - Como Acelerar a Luta contra

Sessão Plenária - Como Acelerar a Luta contra o Trabalho Infantil e Sessão de Encerramento 90 SESSÃO PLENÁRIA - COMO ACELERAR A LUTA CONTRA O TRABALHO INFANTIL E SESSÃO DE ENCERRAMENTO SESSÃO PLENÁRIA “COMO ACELERAR A LUTA CONTRA O TRABALHO INFANTIL” e ENCERRAMENTO DA III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL

sessão teve início com a apresentação Os adolescentes afirmaram que essa foi uma do grupo de adolescentes brasileiros grande experiência que os permitiu expandir A que, representando crianças e adoles- conhecimentos e participar de importantes dis- centes do mundo, realizaram debates sobre cussões globais, culminando com a construção as diferentes formas de eliminar o trabalho in- da Declaração dos Adolescentes Participantes fantil durante o ano 2013. Iniciando as discus- (veja pág. 93). Conclamaram os governos para sões em suas cidades de origem, esse grupo que assumam um compromisso com a ratifica- prosseguiu para os respectivos encontros esta- ção da Convenção nº 182 da OIT, particularmente duais, para o encontro nacional brasileiro, e por os nove países que ainda não aderiram. Por fim, fim, a III CGTI. agradeceram aos organizadores da Conferência Empregando metodologias participativas, os por entenderem que, sem a sua participação di- adolescentes brasileiros expressaram sua com- reta não se pode avançar na construção de um preensão do problema e das ações que podem mundo melhor para as crianças e adolescentes. efetivamente proteger crianças e adolescentes Na plenária de encerramento da III Conferência e erradicar o trabalho infantil. Durante a Confe- Global sobre Trabalho Infantil o Ministro das Re- rência, estes jovens conversaram com represen- lações Exteriores do Brasil, o embaixador Luiz tantes de muitos países e buscaram sintetizar Alberto Figueiredo, celebrou que o resultado da seu aprendizado em linguagem direta, reprodu- conferência tenha se estendido para além da zindo este material para que sua compreensão adoção da Declaração de Brasília, tendo trazido ganhasse materialidade no cotidiano do evento a Brasília e ao Brasil uma importante convergên- para outras pessoas que não estiveram presen- cia de vontade entre trabalhadores, emprega- te. Entrevistas e opiniões de diferentes países, dores, governos e representantes da sociedade como Índia, Iraque e Zâmbia foram divulgadas. civil destinada a combater o trabalho infantil. O

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 91 Ministro congratulou a todos que elaboraram a O diretor-geral da Organização Internacional do Declaração pelo esforço de flexibilidade, em um Trabalho (OIT), Guy Ryder, aprovou o sucesso da longo processo de trabalho que foi finalizado na Conferência em termos da participação de paí- manhã do último dia da Conferência. ses, instituições, acadêmicos, representantes de sistemas judiciais e adolescentes, congratulan- Seguiram-se as palavras de Jeroen Beirnaer, re- do a liderança da Ministra do Desenvolvimento presentante da Confederação Sindical Internacio- Social e Combate à Fome, Tereza Campello, que nal (CSI), agradecendo ao Governo do Brasil e aos permitiu alcançar a Declaração de Brasília. trabalhadores que tornaram possível o encontro. Ele convidou todos os presentes para que assu- Ryder reconheceu que hoje entendemos melhor o mam a necessidade de materializar os compro- problema do trabalho infantil, sabemos o que fun- missos de combater o trabalho infantil a fim de ciona e o que não funciona na batalha para erradi- que, em 2017, possamos celebrar a eliminação cá-lo. Disse também que, para diminuir o trabalho das piores formas de trabalho infantil. infantil, deve-se ir aos casos mais difíceis, como a exploração sexual infantil, os conflitos armados, o O representante da Organização Internacional trabalho infantil doméstico e as atividades agríco- de Empregadores (OIE), Octavio Carvajal, afir- las, que exigem a criação de estratégias efetivas. mou que a Declaração de Brasília sobre Trabalho A OIT, no âmbito do sistema das Nações Unidas, já Infantil oferece diretrizes claras para orientar está pronta para iniciar os trabalhos preparatórios a implementação de ações, no menor tempo pela IV Conferência em 2017 e manteve o desafio possível, para atacar as razões que geram a de levar os números do trabalho infantil a zero. exploração de crianças e adolescentes. Reafir- mou que o caminho para uma solução eficaz Após a intervenção do diretor da OIT, o ministro para as piores formas de trabalho infantil impli- Luiz Alberto Figueiredo anunciou que a República da Argentina sediará a próxima Conferência Mun- ca no envolvimento de todos os interessados, dial em 2017, que representada pela Presidente na troca de experiências e de boas práticas, no da Comissão Nacional de Prevenção e Eliminação uso de avanços em tecnologia, no aumento da do Trabalho Infantil da Argentina (CONAETI), Ma- consciência e no compromisso dos emprega- ría del Pilar Rey Méndez, agradeceu ao Governo dores com a erradicação das piores formas de do Brasil pela recepção. Retomando os desafios trabalho infantil. enumerados pelo ex-presidente Luis Inácio Lula Kaylash Satyarthi, presidente da Marcha Global da Silva, Méndez afirmou que até 2017 um novo contra o Trabalho Infantil, celebrou a grande ener- salto será dado na erradicação do trabalho infantil. gia para combater o trabalho infantil reunida na III A Ministra Tereza Campello, então, encerrando o Conferência, convidando todos, munidos de ou- encontro, entregou à representante da Argentina sadia, a encontrar novas maneiras de lutar contra o catavento, símbolo da Conferência Mundial so- o trabalho infantil. bre o trabalho infantil.

92 SESSÃO PLENÁRIA - COMO ACELERAR A LUTA CONTRA O TRABALHO INFANTIL E SESSÃO DE ENCERRAMENTO DECLARAÇÃO DOS ADOLESCENTES PARTICIPANTES

Caros colegas presentes na III Conferência Glo- Após muita discussao, chegamos a cinco pontos bal sobre Trabalho Infantil, que gostariamos que as delegaçoes dos paises aqui presentes dessem uma atençao especial, Durante esses três dias de encontro estivemos pre- que irao incentivar nossa participaçao em luga- sentes para reforçar a ideia de que temos um papel res onde ocorre a formulaçao de politicas, as- fundamental na construçao de politicas publicas sim como as conferências, como tambem nas para acabar com o trabalho infantil no mundo. proprias politicas para a erradicaçao do trabalho Temos um jeito diferente do adulto de ver e sentir infantil em nosso planeta. o mundo,assim como o idoso. Muitas vezes, os Estas sao nossas afirmaçoes: adultos so lembram do que fizeram de ruim e feio quando eram adolescentes. ‹‹ Mobilizaçao e articulaçao do poder publico, da sociedade civil, inclusive crianças, adolescen- Nos temos muita energia e vontade, mas ainda tes e jovens para o fortalecimento de politicas precisamos de adultos que nos incentivem e publicas voltadas ao enfrentamento do traba- criem outras formas de nos incluir na formulaçao lho infantil, em especial do trabalho infantil de politicas para nos adolescentes. Para estimu- domestico e na agricultura. lar a nossa participaçao e necessario criar espa- ços para que isso venha acontecer. ‹‹ Ampliaçao de programas sociais de transfe- rência de renda para contribuir com a erra- Muitas vezes, em nossa propria casa, somos in- dicaçao da miseria no mundo e do trabalho centivados a trabalhar desde muito cedo. E o que infantil. fazer em uma situaçao como essa? Quando con- seguimos entender e acessar nossos direitos, ‹‹ Estabelecimento de compromissos com go- tambem conseguimos interferir em pensamen- vernos para garantir a participaçao de crian- tos e condutas de nossas familias que, embora ças e adolescentes em politicas publicas de queiram o melhor para nos, as vezes podem nao educaçao integral, cursos profissionalizantes, estar certos o tempo todo. cultura, esporte e lazer. Se serei o gestor do amanha, tambem preciso ‹‹ Integraçao das politicas de educaçao, saude e quebrar barreiras criadas pelos adultos de hoje assistência social para identificaçao de situa- para repetir os acertos, mas nao repetir os mes- çoes de trabalho infantil e o atendimento das mos erros. demais situaçoes de violaçao de direitos.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 93 ‹‹ Garantia da participaçao de crianças, adoles- sem a nossa participaçao nao se pode avançar na centes e jovens nos espaços de decisoes po- construçao de um mundo mais justo para crian- liticas, em especial na 4ª Conferência Global ças e adolescentes. sobre do Trabalho Infantil em 2017, desde as Assinam esta Declaraçao dos Adolescentes: fases preparatorias ate a etapa final. Italo Meotti (DF), Rafael Lima (CE), Rogerio Sil- Gostariamos de pedir, em nome de todas as va (RS), Sarah Suzane (AC), Thailane Oliveira (RJ), crianças e adolescentes, o compromisso de assi- Wesley Busatto (ES), Marco Antônio do Nasci- natura da convençao nº 182 da Organizaçao Inter- mento Gama (TO), Hilamy Moreira (AM), Lais- nacional do Trabalho ate a 4ª Conferência Global nanda Sousa (MA), Daniel Vonmuller (SC), Laiana sobre do Trabalho Infantil pelos nove paises que Souza (BA), Danielle Fiel (PB), Matheus Farias ainda nao aderiram para que as crianças e ado- (RN), Dayana de Araújo Lima (PA), Fabio José do lescentes desses paises sejam protegidos das Espírito Santo Souza (AP), Julio Cesar (MG), We- piores formas de trabalho infantil. verson Antônio (MT), Alanna Santos (SE), Thami- Por fim, queremos agradecer a comissao orga- res Rozendo (AL), Lucas Soares de Oliveira (MS) nizadora desta Conferência por entender que e Suzana Silva (PE).

94 SESSÃO PLENÁRIA - COMO ACELERAR A LUTA CONTRA O TRABALHO INFANTIL E SESSÃO DE ENCERRAMENTO sobre Trabalho Infantil Declaração de Brasília

Declaração de Brasília sobre Trabalho Infantil 96 DECLARAÇÃO DE BRASÍLIA SOBRE TRABALHO INFANTIL DECLARAÇÃO DE BRASÍLIA SOBRE TRABALHO INFANTIL

ós, representantes de governos, organi- tão importante para o desenvolvimento e para os zações de empregadores e trabalhadores direitos humanos; que participaram da III Conferência Global N Reconhecendo os esforços e os progressos reali- sobre Trabalho Infantil, reunidos em Brasília, Bra- zados e ainda em andamento, a despeito da crise sil, entre os dias 8 e 10 de outubro de 2013, jun- econômica e financeira global, por governos em tamente com Organizações Não-Governamentais todos os seus níveis, por organizações de em- (ONGs), outros atores da sociedade civil e orga- pregadores e de trabalhadores, por organizações nizações regionais e internacionais, para avaliar o regionais e internacionais, por ONGs e por outros progresso alcançado desde a Conferência Global atores da sociedade civil, para a erradicação do sobre Trabalho Infantil realizada na Haia, em 2010, trabalho infantil, mas reconhecendo a necessida- analisar obstáculos remanescentes e acordar de de acelerar os esforços em todos os níveis medidas para o fortalecimento de nossas ações para erradicaá-lo, em particular suas piores for- para a eliminação das piores formas de trabalho mas até 2016; infantil até 2016, bem como para a erradicação de Tendo em conta a dimensão e a complexida- todas as formas de trabalho infantil: de dos desafios enfrentados pelos países para Relembrando que trabalho infantil é o trabalho combater o trabalho infantil, como o impacto de realizado por criança que tenha idade inferior à desastres naturais e situações de conflito e pós- mínima para aquela espécie de trabalho, tal como conflito; estabelecida pela legislação nacional, em conso- Cientes de que a eliminação das piores formas de nância com a Declaração da OIT sobre os Princí- trabalho infantil até 2016 e a erradicação do tra- pios e Direitos Fundamentais no Trabalho (1998) e balho infantil podem ser melhor alcançadas por com as Convenções nº 138 e 182 da OIT; meio do aprofundamento da cooperação entre Convencidos de que o objetivo de erradicar o tra- países e da coordenação entre governos, orga- balho infantil une todos os países, uma vez que o nizações de empregadores e de trabalhadores, trabalho infantil prejudica a realização dos direitos ONGs, sociedade civil e organizações regionais da criança e que sua erradicação constitui ques- e internacionais.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 97 Levando em consideração que crianças que so- ternacional para a Eliminação de Trabalho Infantil frem qualquer forma de discriminação merecem (IPEC), para fornecer assistência técnica e coope- atenção especial no curso de nossos esforços ração a governos e organizações de empregado- para prevenir e eliminar o trabalho infantil; res e trabalhadores, a fim de erradicar o trabalho infantil; Considerando que o respeito, a promoção e a realização dos Princípios e Direitos Fundamentais Acolhendo o Relatório da OIT “Medir o Progresso no Trabalho, que incluem a abolição efetiva do na Luta contra o Trabalho Infantil”: trabalho infantil, é um dos pilares da Agenda de 1. Reafirmamos nossa determinação de eliminar Trabalho Decente da OIT; as piores formas de trabalho infantil até 2016, Acolhendo o progresso feito pelos Estados na ra- ao mesmo tempo em que reiteramos o obje- tificação das Convenções nº 138, sobre Idade Mí- tivo mais abrangente de erradicar toda forma nima de Admissão ao Emprego, e nº 182, sobre a de trabalho infantil, ao aumentar imediata- Proibição e Ação Imediata para a Eliminação das mente nossos esforços em nível nacional e Piores Formas de Trabalho Infantil, da Organização internacional. Reiteramos nosso compromis- Internacional do Trabalho (OIT), reiterando a impor- so de implementar integralmente o Roteiro tância de promover sua ratificação universal e sua para Alcançar a Eliminação das Piores Formas efetiva implementação, bem como da Convenção de Trabalho Infantil até 2016, adotado na Con- das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança e ferência Global sobre Trabalho Infantil na Haia de seus Protocolos Adicionais, convidando os paí- em 2010. ses a considerar a ratificação de outros instrumen- 2. Reconhecemos a necessidade de reforçar, no tos relevantes, como a Convenção nº 189, sobre seguimento dessa Conferência, a ação nacio- Trabalho Decente para Trabalhadores Domésticos, nal e internacional relativa a respostas espe- bem como a Convenção nº 129, sobre Inspeção cíficas para as questões de idade e gênero do Trabalho na Agricultura e a Convenção nº 184, em relação ao trabalho infantil, com foco na sobre Segurança e Saúde na Agricultura; formalização da economia informal e no for- Reconhecendo a relevância dos princípios e di- talecimento da ação nacional, conforme for retrizes internacionalmente reconhecidos sobre apropriado, de monitoramento e avaliação, empresas e direitos humanos, como os Prin- bem como o foco contínuo onde for mais ne- cípios Orientadores das Nações Unidas sobre cessário. Ressaltamos a importância da assis- Empresas e Direitos Humanos e a Declaração tência técnica e da cooperação internacional Tripartite da OIT de Princípios sobre Empresas nesse campo. Multinacionais e Política Social; 3. Reconhecemos que os governos tem o pa- Reconhecendo os esforços contínuos realizados pel principal e a responsabilidade primária, pela OIT e, em particular, pelo seu Programa In- em cooperação com as organizações de em-

98 DECLARAÇÃO DE BRASÍLIA SOBRE TRABALHO INFANTIL pregadores e trabalhadores, bem como com que as respectivas políticas devem ser desen- ONGs e outros atores da sociedade civil, na volvidas em conjunto com as organizações de implementação de medidas para prevenir e trabalhadores por meio do diálogo social. eliminar o trabalho infantil, em particular em 7. Reconhecemos que fortalecer essas políticas suas piores formas, e para resgatar crianças e serviços públicos é essencial para a erradi- dessa situação. cação sustentada do trabalho infantil, em par- 4. Reconhecemos, ademais, que medidas para ticular em suas piores formas até 2016, bem promover o trabalho decente e o emprego como para o desenvolvimento sustentável. pleno e produtivo para adultos são essen- 8. Instamos os governos a assegurar acesso à ciais, a fim de capacitar famílias a eliminar justiça a crianças vítimas de trabalho infantil, sua dependência dos rendimentos prove- a garantir seu direito à educação e a ofere- nientes do trabalho infantil. Além disso, são cer programas de reabilitação, como forma necessárias medidas para ampliar e melho- rar o acesso à educação gratuita, obrigatória de promover e proteger seu bem estar e sua e de qualidade para todas as crianças, bem dignidade e de assegurar o gozo de seus di- como para a universalização progressiva reitos, com foco em crianças particularmen- da proteção social, em consonância com a te expostas às piores formas de trabalho in- Convenção nº 102 da OIT, que estabelece fantil em razão de discriminação de qualquer padrões mínimos de segurança social, e a espécie. Recomendação 202 da OIT, relativa a pisos 9. Encorajamos os Estados a estabelecer e in- nacionais de proteção social. crementar, conforme o caso, o arcabouço 5. Defendemos o uso efetivo, coerente e in- legal e institucional necessário para prevenir tegrado de políticas e serviços públicos nas e eliminar o trabalho infantil. Encorajamos, áreas do trabalho, da educação, da agricultu- ademais, as autoridades responsáveis pela ra, da saúde, do treinamento vocacional e da aplicação da lei, a fazer avançar a responsabili- proteção social, como forma de capacitar e zação dos perpetradores de casos de trabalho empoderar, a fim de que todas as crianças, infantil, incluindo a aplicação de sanções ade- inclusive aquelas nas áreas rurais, completem quadas contra eles. a educação obrigatória, bem como treinamen- 10. Reconhecemos a importância da administra- to, sem se envolver em trabalho infantil. ção do trabalho e, em particular, das inspeções 6. Enfatizamos que os trabalhadores sociais e do trabalho, no que concerne a erradicação do das áreas de educação e saúde devem ter o trabalho infantil, e buscaremos desenvolver e direito a condições de trabalho decentes e a fortalecer, conforme o caso, nossos sistemas um treinamento inicial e contínuo relevante, e de inspeções trabalhistas.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 99 11. Encorajamos, onde for o caso, as autoridades papel chave. Promoveremos o diálogo social responsáveis pela aplicação da lei e dos re- bem como ação concertada entre os setores gulamentos relativos ao trabalho infantil, in- público e privado, no que concerne à erradica- cluindo os serviços de inspeção trabalhista, ção do trabalho infantil. a cooperar entre si no contexto da aplicação 15. Decidimos tomar as medidas adequadas para de sanções penais ou, conforme o caso, de auxiliar-nos mutuamente no que concerne ao outras sanções relacionadas a casos de tra- respeito, à promoção e à realização dos pa- balho infantil, especialmente em suas piores drões trabalhistas internacionais e dos direi- formas. tos humanos, em especial por meio do apro- 12. Promoveremos ações efetivas das diversas fundamento da cooperação internacional, partes interessadas para combater o trabalho inclusive cooperação Sul-Sul e Triangular. infantil, inclusive nas cadeias de produção, 16. Enfatizamos a necessidade de oferecer apoio abordando tanto a economia formal quanto a e fortalecer as capacidades de países em informal. situações de conflito e de pós-conflito, em 13. Buscaremos desenvolver e fortalecer a coleta especial em relação a Países de Menor De- e a divulgação, conforme for apropriado, de senvolvimento Relativo, a fim de combater o mais e melhores estatísticas e informações trabalho infantil, inclusive por meio de progra- nacionais relativas a crianças que trabalham, mas de reabilitação e reintegração, onde for tanto na economia formal quanto na informal, apropriado. com dados desagregados, preferencialmen- 17. Observamos que a violação de princípios e te por ocupação, ramo de atividade, gênero, direitos fundamentais no trabalho não pode idade, origem e rendimento, de modo a me- ser invocada nem de outra maneira utilizada lhorar sua visualização e a auxiliar a melhor como uma vantagem comparativa legítima e elaborar e implementar políticas públicas para que as normas trabalhistas não devem ser uti- erradicar o trabalho infantil. lizadas para fins comerciais protecionistas. 14. Continuaremos a promover o engajamento de 18. Buscaremos ativamente engajar a mídia nacio- todos os setores da sociedade na criação de nal e internacional, as redes sociais, a Acade- um ambiente propício para prevenir e eliminar mia e os órgãos de pesquisa como parceiros o trabalho infantil. Para tanto, o engajamento na sensibilização para a erradicação sustenta- de Ministérios e de outros órgãos do Estado, da do trabalho infantil, inclusive por meio de de Parlamentos, dos sistemas judiciais, de or- campanhas sobre os danos à dignidade, ao ganizações de empregadores e trabalhadores, bem-estar, à saúde e ao futuro das crianças, de organizações regionais e internacionais e causados pelo seu envolvimento no trabalho de atores da sociedade civil desempenha um infantil, em particular nas suas piores formas.

100 DECLARAÇÃO DE BRASÍLIA SOBRE TRABALHO INFANTIL 19. Decidimos promover esforços para encorajar 22. Ressaltamos que o combate ao trabalho in- mudanças sociais ao tratar das atitudes e práti- fantil e a Agenda de Trabalho Decente devem cas que desempenham um papel significativo receber a devida consideração na agenda de na aceitação e tolerância do trabalho infantil, in- desenvolvimento pós-2015 das Nações Uni- clusive no que diz respeito a violência e abuso. das. 20. Decidimos apoiar o desenvolvimento contí- 23. Expressamos nossa gratidão ao Governo do nuo do movimento mundial contra o trabalho Brasil por sediar esta Conferência e acolhe- infantil, por meio de parcerias, cooperação, mos a decisão do Governo do Brasil de levar promoção e ação, baseadas nas normas inter- esta Declaração à atenção do Conselho Admi- nacionais do trabalho e nos direitos humanos. nistrativo da OIT, para consideração e segui- mento. 21. Convidamos o IPEC a realizar reuniões, em 2014, 2015 e 2016, no âmbito das reuniões de 24. Aceitamos a gentil oferta do Governo de Ar- seu Comitê Gestor, a fim de avaliar o progres- gentina para sediar uma Conferência Global so alcançado por países em relação à elimina- sobre a Erradicação Sustentada do Trabalho ção das piores formas de trabalho infantil. Infantil em 2017.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 101 102 DECLARAÇÃO DE BRASÍLIA SOBRE TRABALHO INFANTIL ANEXOS ÍNTEGRA DO DISCURSO DA PRESIDENTA DA REPÚBLICA DO BRASIL, DILMA ROUSSEFF

Eu queria iniciar quebrando um pouco o protocolo Queria cumprimentar o ministro Carlos Alberto e dizendo para vocês da minha emoção ao escu- Reis de Paula, presidente do Tribunal Superior do tar essa extraordinária orquestra tocando Tico-Ti- Trabalho. co no Fubá. Queria dar os parabéns para cada um Queria cumprimentar o senhor Luís Antonio Ca- deles e para cada uma delas. Esse negócio de margo de Melo, procurador geral do Trabalho. levantar é muito bonito, viu! E vou cumprimentar, cumprimentei no início a or- Cumprimentando o diretor geral da Organização questra, agora vou cumprimentar o nosso maes- Internacional do Trabalho, o senhor Guy Ryder. tro, o Edílson Ventureli. Cumprimento todos os Cumprimentando as senhoras e os senhores em- integrantes, todas as pessoas que dão suporte a baixadores acreditados junto ao meu governo. essa Orquestra Sinfônica Infanto-Juvenil de He- As senhoras e os senhores ministros de Estado liópolis. E queria cumprimentar também os se- que me acompanham: Tereza Campello, Alberto nhores jornalistas, as senhoras jornalistas, fotó- Figueiredo e Manuel Dias. A Tereza, do Ministé- grafos e cinegrafistas. rio do Desenvolvimento Social; o ministro Luiz Em nome do governo e do povo brasileiro eu dou Alberto Figueiredo, das Relações Exteriores, e o as boas-vindas à Brasília aos integrantes dessa III Manoel Dias, do Trabalho e Emprego. Ao cumpri- Conferência Global sobre Trabalho Infantil. Esse mentar os três eu cumprimento os demais minis- evento representa um momento ímpar para o tros aqui presentes. fortalecimento e globalização da luta contra um Queria dirigir um cumprimento especial aos vice- dos maiores desafios do nosso tempo: o traba- ministros, aos ministros, aos chefes de delega- lho infantil. Nós devemos às crianças uma infân- ções que nos honram com a sua presença nessa cia sem violência, sem medo e sem exploração. Conferência Global sobre Trabalho Infantil. Que- Uma infância com carinho e acolhimento. Deve- ria cumprimentar aqui… cumprimentando todos mos, às que vão nascer, a garantia de um futuro os deputados, cumprimentar a deputada federal de plena proteção, de desenvolvimento de direi- Sandra Rosado. tos e, sobretudo, de autoafirmação. Cumprimentar também, cumprimentado todos os A erradicação do trabalho infantil exige compro- deputados, o deputado federal Paulo Teixeira. misso de todas as nações. Ela só será possível

104 ANEXOS pela ação articulada dos setores aqui represen- e permanentes, é possível colocar em operação tados: governo, trabalhadores, empregadores e a força transformadora da cooperação que nos sociedade civil. Ações articuladas para cooperar levará à erradicação do trabalho infantil. Entre e construir soluções concretas é o que deseja- 2000 e 2012, nós reduzimos em 67% o núme- mos e queremos e lutamos por. A comunidade ro de crianças entre 5 e 14 anos envolvidas em internacional avançou muito na proteção jurídica trabalho infantil. Esse ritmo foi um ritmo mais à criança e ao adolescente. Nós dispomos de intenso do que a redução que ocorreu na media um amplo conjunto de tratados, de convenções global, que foi de 36%. Tal resultado deve-se à com elevado nível de ratificação pelos estados. articulação abrangente de políticas setoriais de A amplitude desse arcabouço legal contrasta, diferentes áreas do governo. Deve-se, principal- no entanto, com a dura realidade cotidiana de mente, ao modelo de desenvolvimento inclusivo milhões de crianças. Quase 11% da população que adotamos e à prioridade que vimos confe- infantil mundial, um contingente, como disse o rindo à educação. presidente da OIT, um contingente de 168 mi- Fizemos opção pelo desenvolvimento no qual o lhões de crianças, são vítimas da exploração do crescimento econômico ocorre acompanhado do trabalho. Combater essa chaga é, talvez, uma emprego, da ampliação do emprego formal, da das grandes tarefas morais, éticas, sociais e valorização do salário mínimo, do fortalecimento econômicas que nos cabe. É um imperativo mo- da agricultura familiar, do incentivo ao pequeno ral, sim, pois as crianças são o segmento mais empreendedor. O modelo de desenvolvimento vulnerável e indefeso de nossa sociedade, e que incentiva também a nossa indústria e a ino- são sempre o nosso presente e o nosso futuro. vação decorrente da necessidade de entrarmos É também um desafio global. E o trabalho in- na economia do conhecimento e que dá suporte fantil não corresponde a uma diferenciação, ou a produtores de alimentos e de energia. Uma na- melhor, uma clivagem entre o Norte e o Sul do ção onde todos os brasileiros são parte dos pro- mundo, não há região do mundo, rica ou pobre, jetos como beneficiários e atores ativos, mas que que esteja totalmente livre desse problema. percebe que é fundamental focar e ter priorida- No entanto, nós sabemos que a fragilidade da des para aqueles mais pobres, mais vulneráreis. situação infantil tem uma situação muito mais perversa nos países mais pobres do mundo. Por Nesse modelo, a construção de uma robusta isso, eu tenho certeza que a questão do traba- rede de proteção social permite ao estado ga- lho infantil, ela é também uma questão de cada rantir direitos e oportunidades a todos, permite, homem e de cada mulher desse nosso planeta. sobretudo, eleger a superação da miséria como prioridade, com importantes reflexos sobre o Senhores delegados, senhoras delegadas, trabalho infantil. Porque se a miséria não é úni- O Brasil é um exemplo de que com vontade po- co determinante do trabalho infantil, ela é, cer- lítica e ações consistentes, ações continuadas tamente, um dos principais determinantes. Em

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 105 apenas um ano, entre 2011 e 2012, reduzimos creches e nas pré-escolas. Para essas creches e em 15% o trabalho infantil na faixa de 5 e 15 pré-escolas que têm uma participação dominante anos. E isso coincide, exatamente, com o pe- de crianças oriundas do programa Brasil sem Mi- ríodo em que o programa Brasil Sem Miséria séria Bolsa Família, o governo federal acrescenta ampliou a renda das famílias com crianças que 50% a mais de recursos. viviam na extrema pobreza. Estamos também engajados na alfabetização na Para essas famílias com crianças e que viviam na idade certa. As crianças têm que saber ler, inter- extrema pobreza, nós asseguramos, a cada uma pretar e fazer as quatro operações aritméticas na das pessoas dessa família, uma renda mínima, um idade certa, para que não acumulem um passivo renda per capita mínima. Porque sem que suas fa- na sua vida. E também na universalização da edu- mílias saiam da pobreza, as crianças não saem da cação em dois turnos, em tempo integral, que pobreza. Iniciou-se assim um processo de retirada hoje já abrange 50 mil escolas no nosso país. da miséria dos 22 milhões de brasileiros que ainda No caso dos adolescentes, nosso desafio é estavam na miséria e que estavam cadastrados no ampliar seu interesse pelo processo educativo nosso programa nacional. Esses 22 milhões saí- para mantê-los na escola. Um de nossos es- ram da miséria porque nós estendemos o progra- forços está sendo expandir a oferta de cursos ma para todas as famílias brasileiras. técnicos e tecnológicos para que os jovens vi- Um aspecto que nos orgulha muito da nossa po- venciem no ensino médio, com uma perspec- lítica de transferência de renda é o fato dela ser tiva de futuro profissional. Estamos cientes, acompanhada da obrigatoriedade de frequência contudo, que outras referências precisam ser das crianças na escola, e isso é submetido a um construídas para que o dinamismo do merca- rigoroso acompanhamento e controle. As crian- do de trabalho, com a oportunidade,a oferta de ças devem estudar para que possamos evitar a trabalho e renda no curto prazo, não leve os repetição entre gerações do ciclo de pobreza. adolescentes a saírem antecipadamente para o trabalho. Alternativas como o acesso mais fácil Para nós, e essa é uma convicção profunda, o ca- à universidade através de programas específi- minho que leva à superação da miséria para as cos e, sobretudo, com a política de cotas para crianças é renda e trabalho para os adultos da sua os mais pobres, os negros e os oriundos do família e educação para elas. Esse é o caminho. ensino público, torna a chegada à universidade, O Brasil já praticamente universalizou o acesso mesmo para o estudante de baixa renda, uma ao ensino fundamental para meninas e meninos. nova e promissora perspectiva. Agora, estamos priorizando a ampliação do aces- Senhoras e senhores delegados, so à educação infantil, com incentivos financei- ros aos municípios para a inclusão de crianças No Brasil o compromisso com a erradicação do de famílias de baixa renda, as mais pobres, nas trabalho infantil está também assentado em uma

106 ANEXOS rede de instituições e em normativos que muito de erradicar o trabalho infantil. Hoje, é com orgu- contribuem para orientar nossa ação. Temos um lho que compartilhamos nossas experiências por sistema de inspeção do trabalho que é referên- meio da Cooperação Sul-Sul em benefício dos cia internacional e tem tido e sido continuamente países da América Latina, da África e da Ásia. fortalecido. A participação ativa do Legislativo, do Merece, senhores delegados, senhoras delega- Judiciário e do Ministério Público do Trabalho nas das, nossa especial atenção uma das piores for- políticas de combate ao trabalho infantil nos pro- mas de trabalho infantil que atinge milhões de porciona a certeza de que a lei será aplicada com crianças em todo o mundo. Refiro-me à explora- rigor e agilidade. ção sexual e à pornografia infantil que estão entre O Brasil foi um dos primeiros países a ratificar a as mais abomináveis e perversas violações dos Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU, direitos humanos de crianças e adolescentes. O em 1990, e é signatário das convenções da Orga- enfrentamento desses crimes apenas terá êxito nização Internacional do Trabalho, organismo com com ação firme e coordenada de todos nós. o qual nós temos uma muito profícua parceria. O III Congresso Internacional de Enfrentamento Desde 2011 está em vigência o Plano Nacional da Exploração Sexual de Crianças e Adolescen- de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil tes, realizado no , em 2008, resul- e Proteção ao Adolescente Trabalhador, elabo- tou na elaboração de importantes compromis- rado por representantes do poder público, dos sos para combater a pornografia infanto-juvenil empregadores, dos trabalhadores, da sociedade na internet e o tráfico de crianças e adolescente civil organizada e de organismos internacionais. para fins de exploração sexual. Entre os países Políticas efetivas de combate ao trabalho infantil do Mercosul, nós criamos uma das principais ini- precisam ser adequadas a contextos específicos. ciativas internacionais para coibir essas práticas O trabalho infantil, senhoras e senhores, pode ilícitas e vergonhosas. A estratégia regional de existir tanto em períodos de crescimento e pros- luta contra o tráfico de crianças e adolescentes peridade quanto em momentos de crise e estag- para fins de exploração sexual nas zonas de fron- nação. Seguramente ele é extremamente fragili- teiras comuns, já atende hoje 15 cidades vizinhas zado em períodos de crise e estagnação. nas fronteiras entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. O Brasil mudou muito nos últimos anos. Nós te- mos um desafio que é aprimorar constantemen- O Brasil realizou também importantes mudanças te as nossas políticas, a nossa vigilância, a nossa em sua legislação nacional para enfrentar qual- fiscalização e adequá-las às novas manifestações quer resquício de impunidade aos crimes sexuais, de trabalho infantil. Nós sabemos que não há em geral, e em relação às crianças, em particular. fórmulas acabadas. O que deve ser permanente Aprimoramos a nossa capacidade e das polícias é a determinação política de enfrentar o desafio para identificar, desarticular e punir as redes de

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 107 exploração sexual de crianças. Dispomos de um rar uma política de aumento do crescimento e do canal para o recebimento de denúncias e encami- emprego. O Brasil tem sofrido também, como nhamento de medidas de proteção que funciona todos os países do mundo, as consequências ininterruptamente. da crise. Mas nesse período nós geramos mais de 1 milhão de empregos formais, só no período Como me referi antes, senhores delegados, se- de janeiro a agosto deste ano e,desde que tomei nhoras delegadas, o fim do trabalho infantil de- posse em 1º de janeiro de 2011, geramos 4,7 mi- pende de oportunidades de emprego e de gera- lhões de empregos. ção de renda para os adultos das famílias com as nossas crianças. Há pouco mais de um mês, na Nós nos orgulhamos muito de chegar a esta Cúpula de São Petersburgo, os líderes do G-20 re- conferência com o trabalho infantil decrescen- conheceram que a situação da economia mundial do. E com essa rede de proteção às crianças e continua frágil, e uma das demonstrações dessa aos jovens., fragilidade são os altos níveis de desemprego. Quero, senhoras e senhores, concluir lembrando Os dados da OIT registram a existência de 200 uma das pioneiras na luta pelos direitos da crian- milhões de desempregados em todo o mundo. ça, Eglantyne Jebb, a fundadora da ONG “Save Número que poderá seguir crescendo. the Children”, em 1919. Ela é autora de uma sin- Nesse contexto, os principais efeitos da crise gela, simples constatação, mas uma constata- tendem a recair muito sobre as crianças, os jo- ção cheia de significado. Essa constatação é a vens, justamente, a quem nós devemos os nos- seguinte, citando: “A única língua efetivamente sos maiores esforços de proteção. Desde a eclo- universal é o choro de uma criança. Se os que são da crise em 2008, a mensagem do Brasil tem precisam de nós falam em uníssono uma língua sido clara. A saída da crise não virá pela redução universal, é nosso dever também responder com da renda dos trabalhadores, pela diminuição do uma só voz”. Que nosso idioma comum seja a er- emprego formal, pela restrição às liberdades sin- radicação do trabalho infantil em todas as suas dicais ou pela degradação das políticas sociais. formas e em todas as regiões do mundo. Acreditamos e praticamos políticas consistentes Muito obrigada a todos, muito bem-vindos ao com essa mensagem que é necessário assegu- Brasil.

108 ANEXOS ÍNTEGRA DO DISCURSO DO DIRETOR-GERAL DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, GUY RYDER

Senhora Presidenta Dilma Rousseff, senhores Senhora Presidenta, ministros, representantes dos trabalhadores e Obrigado pelo seu convite e pela hospitalidade empregadores, representantes da sociedade ci- do Brasil. Obrigado também pelo exemplo e que vil, caros amigos, a senhora nos proporciona. E parabéns a você e Permitam-me dar as boas-vindas a todos vocês a aos seus ministros por suas realizações. esta III Conferência Global sobre Trabalho Infantil. Senhoras e Senhores, Juntos, vocês vieram de nada menos do que 152 Eu vejo a nossa Conferência como um marco im- países membros da Organização Internacional do portante na longa marcha para um mundo livre do Trabalho (OIT). trabalho infantil. Muitos governos estão representados aqui, 37 A mais recente etapa dessa Marcha nos trouxe deles por ministros. Os empregadores e traba- da última Conferência Global, em Haia, em maio lhadores participantes da OIT estão aqui para de 2010, até ao Brasil, aqui, hoje. conhecer seus representantes e mostrar seu compromisso; e nós contamos com a presen- Nós percorremos uma distância considerável ça dos nossos parceiros da sociedade civil, cuja neste ano e permitam-me apontar a presença cooperação é tão importante para o trabalho que do ministro Ploumen, da Holanda, e a liderança fazemos. Obrigado a todos por estarem aqui. demonstrada por seu país, que culminou com a construção do Roteiro de Haia para nos ajudar a E não é por acaso que estamos nesta cidade, encontrar um caminho. a capital de um país que fez da eliminação do Mas o que precisamos alcançar nesta semana trabalho infantil um componente central das é uma visão clara do que fazer a seguir, e o suas políticas nacionais para criar um Brasil compromisso comum para chegar lá. Vamos sem miséria, e de seu Plano Nacional de Tra- à Declaração Brasileira aqui conosco e acre- balho Decente. dito que essa será uma relevante ferramenta Este país é a demonstração viva dos resultados de importação para todos nós. Mas as nossas que a vontade política, as políticas certas, com- perspectivas de levar nossa longa Marcha com promissos bipartidários e liderança global podem sucesso a seu destino dependem de mais do alcançar na luta contra o trabalho infantil. que isso:

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 109 Elas dependem de nossa capacidade de mobili- Para focar nossas mentes no trabalho infantil, re- zar nossos governos, nossas organizações, nos- fletir sobre as tendências, trocar experiências e sos cidadãos para fazer o que sabemos que pode lições aprendidas e proporcionar direção e impul- ser feito. so para enfrentar os desafios futuros. Nos próximos anos o Brasil sediará eventos es- O notável progresso que fizemos juntos nestes portivos que vão chamar a atenção de todo o últimos anos indica que a) podemos não apenas mundo – aumentar as esperanças, servir de ins- pensar, mas podemos pensar profunda e estra- piração, entusiasmar alguns, desapontar outros. tegicamente; b) somos capazes de agir; e c) so- mos capazes de agir em conjunto de modo a fa- Precisamos que esta conferência faça o mes- zer uma diferença profunda, não apenas para um mo. Nós não podemos ser menos ambiciosos. pequeno número de crianças, mas para a vida de A maioria de vocês já leu o último relatório da centenas de milhões de meninas e meninos em OIT de estimativas e tendências globais sobre o todo o mundo. trabalho infantil de 2000 a 2012. E se você leu já sabe a conclusão – o novo número é de 168 Apenas reflita: há vinte anos, muitos países ne- milhões de crianças trabalhadoras. Essa é a má gavam completamente que tinham um proble- notícia: em 2013, 168 milhões de crianças ain- ma de trabalho infantil. Vinte anos atrás, fomos da estão presas ao trabalho infantil, a metade informados que a Convenção nº 138 da OIT so- delas em suas piores formas, que é de apenas bre a idade mínima para o trabalho – a Conven- 27 milhões a menos do que a população inteira ção básica da OIT sobre trabalho infantil – não do Brasil. É, 168 milhões é muito. Estas crianças era ratificável. Agora ela tem 166 ratificações. A constituem 168 milhões de razões para a nossa Convenção nº 182 sobre as piores formas tem presença aqui no Brasil hoje. 177 – faltam apenas nove para alcançar a ratifi- cação universal. Porém, há ainda 168 milhões de crianças em tra- balho infantil, mas isso é um terço menos do que Pela primeira vez, as estimativas globais de tra- quando nós contamos pela primeira vez, mais de balho infantil são apresentadas para diferentes uma década atrás; 78 milhões a menos que em níveis de renda nacional. O maior percentual está 2000. Mas, o mais notável, é que são 47 milhões nos países mais pobres. No entanto, quando a menos que em 2008. Nos quatro anos, de 2008 vistos em termos absolutos, os países de renda a 2012, o trabalho infantil caiu 22 por cento. Essa média abrigam o maior número de crianças traba- é uma notável aceleração no progresso – não me- lhadoras. Portanto, a luta contra o trabalho infantil nos porque a queda nos últimos quatro anos foi não é de forma alguma limitada aos países mais de apenas 7 milhões – um número que muito nos pobres, e nem mesmo às famílias mais pobres. E preocupou e nos fez pensar – e ajudou a construir todos os países devem manter salvaguardas para a última Conferência Global de Haia. evitar o trabalho infantil.

110 ANEXOS Vamos olhar para a diminuição que os números balho infantil, com uma em cada cinco crianças recentes nos revelam. Houve uma pequena re- em trabalho infantil. Então, a boa notícia é que dução no percentual de crianças trabalhadoras em todas as regiões houve um declínio, inclusive na agricultura. Houve também um aumento na na África. Na América Latina e no Caribe a queda proporção do trabalho infantil no setor de ser- foi relativamente pequena. viços. Isso é uma má notícia. E lembre-se que Então o que estamos fazendo melhor e por quê? mais de um quinto daquelas no setor de servi- Bem, nós temos o Plano de Ação Global da OIT, ços são crianças em trabalho infantil no trabalho que incorpora o Roteiro de Haia. Organizações in- doméstico. ternacionais irmãs da ONU, como a FAO, expan- Mais uma boa notícia: há 40 por cento menos diram programas relevantes. O Programa Inter- meninas no trabalho infantil. Esta é uma boa nacional para a Eliminação do Trabalho Infantil, da notícia para lembrar nesta sexta-feira, o Dia da OIT, se manteve forte na assessoria técnica e de Criança do Sexo Feminino. Dois terços das crian- cooperação, as ONGs têm permanecido vigilantes ças de 5 a 14 anos de idade que estavam em no seu trabalho de apoio. Os doadores tornaram- trabalhos perigosos não estão mais com a sua se mais estratégicos. O mais importante é que saúde e vidas em risco por causa das piores for- cada vez mais governos assumiram as suas res- mas de trabalho infantil (sim, eu disse de CINCO ponsabilidades, em cooperação com os parceiros. a 14 anos de idade – não se esqueça que muitas Estamos vendo as preocupações com o traba- destas as crianças são muito jovens). Uma re- lho infantil sendo integradas nas políticas pú- dução de dois terços das crianças mais jovens blicas em áreas múltiplas e relevantes. Vemos nas piores formas de trabalho infantil: isso é um uma maior clareza sobre a necessidade de uma progresso. melhor transição da escola para o trabalho, e de Mas ainda temos mais a fazer pelos meninos, habilidades correspondentes. Vemos um novo bem como pelas meninas: a taxa de declínio do consenso global sobre a necessidade de garantir trabalho infantil dos meninos mais novos foi de pisos de proteção social para todas as pessoas. apenas 25 por cento. E os meninos mais velhos, Vemos uma maior compreensão de que o traba- como as meninas mais jovens, são ainda mais lho decente para adultos e jovens em idade de suscetíveis de estarem em trabalhos perigosos. trabalhar é uma necessidade se quisermos ga- Assim, as políticas sensíveis ao gênero devem rantir uma renda familiar que não se baseia no atender às necessidades de todas as crianças. trabalho infantil – e, além disso, de que o trabalho infantil prejudica o trabalho decente e salários de- Do ponto de vista regional, o maior número de centes para os trabalhadores adultos. crianças trabalhadoras é encontrado na região da Ásia e Pacífico, mas a África Subsaariana conti- Vemos uma compreensão muito maior de que nua sendo a região com maior incidência de tra- o trabalho infantil existe predominantemente no

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 111 trabalho familiar não remunerado na agricultura, qualificação. Precisamos fazer da escola um lugar tanto formal como informal, e em vários outros seguro e feliz para as crianças. setores da economia informal. Isso não significa Estamos, portanto, vendo o desenvolvimento que devemos ignorar as crianças em trabalho as- de mais planos de ação nacionais sobre o traba- salariado e autônomo, mas isso é importante. lho infantil e eles estão cada vez mais ligados às Vemos que as empresas e os sindicatos come- agendas nacionais de trabalho decente e desen- çam a levar em conta, de forma mais substancial volvimento. Trabalho decente, aplicação das leis, do que antes, os desafios da economia informal proteção social, educação para todos: estes são com as empresas compreendendo melhor como os alicerces sobre os quais podemos construir suas cadeias de valor chegam à economia infor- uma ação efetiva. É esta ação nos níveis nacio- mal, onde o trabalho, por definição, está des- nal e comunitário que está realmente fazendo a protegido e não regulamentado, e assumindo o diferença. A ligação de aproximações que vem de desafio de como limpar suas cadeias de valor e baixo para cima com decisões políticas e progra- proteger e respeitar os direitos humanos no tra- mas sólidos. balho e corrigir as violações. Vamos ser claros. Em nosso curso atual não va- Vemos serviços de inspeção do trabalho e de mos atingir esse objetivo e isso está diante de extensão agrícola enfrentando melhor o desafio. nós. Como fracasso coletivo. Como Martin Lu- Vemos ministérios da Educação que trabalham ther King falou para nós quando disse “o arco da para cumprir a obrigação dos Estados e garantir história é longo, mas se inclina para a liberdade”. o acesso universal a uma educação formal e obri- Esse é o NOSSO TRABALHO. gatória para todas as crianças até a idade mínima Então, devemos dedicar-nos a eliminar as pio- para o trabalho e para melhorar a qualidade da res formas de trabalho infantil e o trabalho in- educação – para garantir a “aprendizagem decen- fantil em todas as suas formas. Aproveito esta te” para crianças e o trabalho decente para os oportunidade para chamar os poucos Estados- professores. membros restantes que ainda não ratificaram as Nosso caro amigo Kailash disse várias vezes Convenções da OIT nº 138 e 182 a fazê-lo. Eu “Não vamos eliminar o trabalho infantil até que esperava que fôssemos comemorar a ratificação tenhamos a educação universal. E nós não vamos universal da Convenção nº 182 em Brasília – en- conseguir colocar todas as crianças na escola até tão eu chamo os 9 países a acelerarem os seus eliminarmos o trabalho infantil”. Isso significa que processos de ratificação para que isso possa ser um grande investimento é necessário. Precisa- realizado em 2016. mos de, pelo menos, mais 1,7 milhão de profes- Nada disto é utópico hoje. Nós não estamos so- sores qualificados. Precisamos treinar e qualificar nhando. Estamos aqui para colocar em prática a o grande número de professores que estão sem ação estratégica que vai acabar com o trabalho in-

112 ANEXOS fantil. Estamos preparando nossos planos e não peração e/ou assistência internacional, incluindo as nossas desculpas. o apoio ao desenvolvimento social e econômico, programas de erradicação da pobreza e educa- Deixe-me terminar, fazendo uma última observa- ção universal”. ção, que eu acredito ser particularmente impor- tante para a OIT. É verdade que cada participante Esse também é o significado do Programa Interna- aqui: Ministro, sindicato, ou empregadores, ati- cional para a Eliminação do Trabalho Infantil, da OIT. vistas da sociedade civil, tem responsabilidades Há perigo, mesmo quando acreditamos que pode- individuais,,mas, acima disso, todos nós temos mos entrar na fase final de nossa longa marcha, uma responsabilidade coletiva global. Precisa- que a comunidade internacional dirija a sua atenção mos agir em uníssono e em solidariedade para para longe da luta contra o trabalho infantil. avançar juntos. Esse é o sentido do artigo 8 da Isso seria trágico e não deve acontecer. Convenção nº 182, que fala que os “membros tomarão as medidas adequadas para ajudar um Assim, o chamamento de Brasília deve ser por um ao outro a dar cumprimento às disposições da esforço coletivo renovado. Por favor, façam isso. presente Convenção através de uma maior coo- Desejo todo o sucesso à III Conferência Global.

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 113 114 ANEXOS ÍNTEGRA DO DISCURSO DO EX-PRESIDENTE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA NA CERIMÔNIA DE ENCERRAMENTO DA III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL

Saúdo fraternalmente os representantes dos de trabalho infantil, de acordo com a classificação mais de 150 países presentes à Terceira Confe- da OIT. rência Global sobre o Trabalho Infantil, que o Bra- São aqueles que, além de ter a infância roubada, sil tem a honra de sediar. Quero cumprimentar expõe-se ao risco de morte e amputações, a de- o diretor geral da Organização Internacional do formações físicas e degradação moral, trabalhan- Trabalho, Guy Ryder, os ministros de Estado, os do em carvoarias, salinas, minas e garimpos. São dirigentes sindicais, empresariais e das organi- os que lidam com fornos, destilarias e explosi- zações não governamentais aqui presentes. A vos. Os que ferem as mãos e gastam os dedos, composição dessa conferência demonstra que a até perder as impressões digitais, na colheita de tarefa de erradicar o trabalho infantil no planeta laranjas e cana-de-açúcar ou na extração de si- exige a articulação de governos nacionais, orga- sal. São as crianças e adolescentes que execu- nismos internacionais e todos os setores da so- tam funções em cabarés e prostíbulos, e as que ciedade. Saúdo a OIT pelo esforço em aprofundar se tornam vítimas diretas da prostituição. Cada essa articulação e pelos resultados alcançados na uma dessas milhões de crianças tem sua própria liderança do trabalho conjunto. história de vida, tão breve e tão cruel, que pode- Ao final desta Conferência, já são bem conhe- mos contribuir para alterar numa corrida contra cidos os números que mostram avanços e os o tempo. Temos pouco mais de três anos para desafios da luta contra o trabalho infantil. O fato cumprir o roteiro estabelecido na Conferência de de termos reduzido em um terço a quantida- Haia, para acabar com o trabalho infantil em suas de de crianças trabalhadoras até os 14 anos de piores formas. idade, nos últimos 12 anos, é um estímulo para Esta meta é mais do que um compromisso for- enfrentar a grande tarefa que temos pela fren- mal entre os representantes dos países aqui pre- te. Neste momento, 168 milhões de crianças e sentes. É um dever de consciência em qualquer adolescentes clamam à consciência do mundo. sociedade que reconheça a Declaração Universal São pequenos seres humanos que nos pedem dos Direitos Humanos. Vencer esta batalha signi- ação urgente. A situação é ainda mais dolorosa fica devolver àqueles seres humanos o direito bá- para 85 milhões que lidam com as piores formas sico de viver plenamente a infância e a adolescên-

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 115 cia, períodos fundamentais ao desenvolvimento estruturas econômicas tradicionais e conjunturas individual e ao processo de socialização. Se es- políticas injustas. Mas a miséria e a fome são tamos aqui reunidos é porque acreditamos que é determinantes. Não há pai que, podendo prover possível vencer esse desafio, como já vencemos o sustento da família com um mínimo de digni- tantos outros. Mas para tanto é necessário, além dade, exponha os filhos ao trabalho penoso. Não de solidariedade, ter a coragem política de adotar há mãe que não se comova com o sacrifício dos as ações necessárias. filhos, quando queria vê-los crescer com saúde, brincando e aprendendo, como deveria ser com Meus amigos, minhas amigas, o trabalho preco- todas as crianças. ce é uma experiência pela qual passei, pessoal- mente, movido pela necessidade de contribuir O mapa do trabalho infantil no mundo coincide para o sustento de nossa numerosa família. Na rigorosamente com o mapa da fome e da misé- infância, fui vendedor de laranjas, engraxate, en- ria – e isso vale para as grandes cidades e para o tregador, antes de adquirir, ainda adolescente, campo. As estatísticas de crianças e adolescen- minha primeira qualificação profissional como tes trabalhadores se encaixam, seguramente, torneiro mecânico. Compreendo, por isso, que nos 870 milhões de pessoas que passam fome pobreza e desigualdade são as causas principais ou estão subnutridas no mundo. Por isso, a pri- da existência de trabalho infantil, em qualquer meira tarefa para acelerar o combate ao trabalho de suas formas. infantil, nas suas piores formas, é coordenar cada vez mais as ações de distribuição de renda nas Não apenas pela experiência pessoal, mas tam- regiões mais pobres do planeta. E não é menos bém em minhas viagens pelo mundo, pude tes- importante coordenar ações de promoção da temunhar até que ponto a fome pode degradar o saúde, educação, cultura e esporte, criar redes ser humano. Eu vi, no Haiti, crianças mastigan- de assistência e promoção social. do bolachas de argila, na falta de um pedaço de Meus amigos, minhas amigas, quero comparti- pão. Eu vi o mesmo desespero, sob outras for- lhar alguns aspectos da experiência brasileira, no mas, na face de crianças da África, da Ásia, da sentido de contribuir para a troca de informações América Latina. Nas caravanas que fiz pelo inte- entre os muitos atores dessa luta. O Brasil, como rior do Brasil, quando me preparava para dispu- sabem, acumulou um enorme passivo de injus- tar as eleições, vi crianças lambendo folhas de tiça e desigualdade, que começou pelo genocí- palma forrageira para enganar a fome. Não por dio dos indígenas e pela escravização dos povos acaso, meu primeiro compromisso, quando che- africanos. A história do nosso país foi marcada guei à presidência da República, foi acabar com a pela concentração de renda nas mãos de poucos fome no país. e pela exclusão das camadas mais amplas dos Há certamente outras razões para a existência seus direitos básicos. Faz apenas 25 anos que de trabalho infantil – fatores de ordem cultural, reconquistamos a ordem constitucional demo-

116 ANEXOS crática, no bojo de intensa mobilização social e Família. É o maior programa de distribuição de disputa política. A redemocratização do país se renda do mundo, que garante renda mínima a 14 deu num processo de luta por direitos sociais, milhões de famílias, cerca de 54 milhões de pes- fortalecendo a consciência e a organização das soas. A renda está condicionada à verificação de camadas antes excluídas. frequência mínima de 85% das crianças na esco- la, ao cumprimento do calendário de vacinação e, Em consequência, a legislação brasileira avan- no caso das mulheres grávidas, à realização dos çou em relação aos direitos humanos e direitos exames de pré-natal. sociais, incluindo a proteção à infância. A idade mínima de 16 anos para o trabalho, exceto como O Bolsa Família adota práticas republicanas para aprendiz, autorizado a partir dos 14 anos, foi incluí- garantir sua universalidade, evitar desvios, buro- da entre as garantias constitucionais em 1998. O cracia e clientelismo. Construímos um cadastro trabalho noturno, insalubre ou perigoso é vedado nacional único das famílias mais pobres, que é antes dos 18. As convenções da OIT nº 138, so- permanentemente revisto e atualizado. O Minis- bre idade mínima, e nº 182, sobre os piores traba- tério Público atua diretamente na fiscalização, em lhos, foram recepcionadas e regulamentadas no convênio com Ministério do Desenvolvimento país. Adotamos em 1990 o Estatuto da Criança Social, responsável pelo programa. e do Adolescente, que permitiu a instalação dos O dinheiro do Bolsa Família é recebido por meio Conselhos Tutelares, atuando diretamente nas de cartão eletrônico de um banco público, a Cai- comunidades. xa Econômica Federal, dispensando intermediá- A Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho rios. O cartão eletrônico é emitido em nome das Infantil do Ministério do Trabalho promove, desde mulheres, favorecendo que o dinheiro seja efeti- 2002, ações de fiscalização coordenadas com o vamente gasto na alimentação e nas necessida- Ministério Público, que afastaram 125 mil crian- des das crianças da família. Além de proporcionar ças do trabalho infantil. Além disso, as primeiras a renda básica, o Bolsa Família está articulado ações do Programa de Erradicação do Trabalho com ações de segurança alimentar, políticas de Infantil (PETI), a partir de 1996, mostraram a im- educação, saúde, esportes, cultura, assistência portância das políticas de renda mínima condicio- social e formação profissional, dentre outras. nadas à frequência escolar das crianças pobres. Essa articulação é o segredo do êxito do Fome Zero no Brasil. Meus amigos, minhas amigas, o Programa Fome Zero, que adotamos em 2003 para erradicar a Mas o maior desafio que enfrentamos para pobreza extrema no país, tornou mais efetivas e implantar esse programa foi o preconceito. Al- ampliou o alcance das políticas contra o trabalho guns diziam que o Bolsa Família não passava de de crianças e adolescentes. No âmbito do Fome esmola; outros que ia criar uma geração de in- Zero, que incorporou o PETI, criamos o Bolsa dolentes; e outros que não passava de recurso

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 117 eleitoreiro. Os pobres se incumbiram de respon- porque colocamos os trabalhadores, os pobres e der ao preconceito, incorporando o programa os desamparados, inclusive as crianças, no cen- como um direito que os torna mais cidadãos, tro das atenções. Estes, que eram considerados numa sociedade ainda muito desigual. O pro- um grande problema, passaram a fazer parte es- grama Brasil Sem Miséria, da presidenta Dilma sencial das soluções. Rousseff, aprofundou as políticas do Fome Zero Meus amigos, minhas amiga, a experiência bra- e ampliou os valores e faixas de atendimento do sileira demonstra que é possível enfrentar a Bolsa Família. miséria e a fome, com determinação política, O Bolsa Família e o Brasil sem Miséria garantem diálogo social e promoção do desenvolvimento. que 36 milhões de brasileiros estejam fora da po- Da mesma forma conseguimos reduzir em dois breza extrema. Além de programas sociais e de terços a quantidade de crianças e adolescentes distribuição de renda, adotamos uma política de trabalhadores, no período de maior mobilidade valorização do salário mínimo, que cresceu 74% social positiva que este país já assistiu. Vemos em termos reais nesses 10 anos. A renda média com muita satisfação que o combate ao trabalho das famílias cresceu 33% e a renda das famílias infantil evoluiu em muitos outros países, espe- mais pobres cresceu o dobro. Implantamos me- cialmente na América Latina, aonde muitos go- didas para democratizar o acesso ao crédito, para vernos vêm adotando o modelo de desenvolvi- trabalhadores e aposentados, para a agricultura mento com inclusão. familiar e empresarial, a indústria, os serviços, a habitação e o ensino. Por tudo isso, nós podemos e devemos sonhar com um mundo livre da fome, da pobreza e do O volume de crédito disponível no país passou trabalho infantil. Devemos apoiar todos os pro- de 380 bilhões de reais em 2002 para mais de gramas capazes de levar o desenvolvimento e a 2 trilhões e 500 bilhões atualmente, ou seja: de geração de empregos às regiões mais pobres do 24% do PIB para 55%. A combinação de mais planeta. Nesse aspecto se insere a cooperação renda, mais salários e mais crédito gerou uma entre países do Sul, na qual o Brasil tem se em- nova dinâmica na economia, num ciclo virtuo- penhado, para a troca de experiências, apoio ao so que fez o país crescer de forma sustentada, desenvolvimento e transferência de tecnologias sem abrir mão. Em dez anos, foram criados 20 sociais. Mas quero destacar o papel central dos milhões de novos empregos formais – para jo- governos nacionais, especialmente nos progra- vens e adultos – e mais de 40 milhões de pes- mas sociais, na definição de leis e na fiscalização. soas chegaram ao padrão de classe média. Essa mobilidade social sem precedentes certamente A grandeza de qualquer país se mede pela capa- contribuiu para liberar centenas de milhares de cidade que ele tem de proteger e cuidar de suas crianças e adolescentes da necessidade de traba- crianças. O combate ao trabalho infantil deve ser, lhar pelo sustento. Chegamos a esses resultados portanto, uma política de Estado, de caráter per-

118 ANEXOS manente, com legislação específica e verbas pre- mais extenso, mais qualificado e atraente. Volto vistas nos orçamentos nacionais. Deve se basear a compartilhar a experiência brasileira neste sen- em marcos legais claros, que incluam o ponto de tido. Nestes dez anos, o investimento público vista das crianças e adolescentes. Deve engajar em Educação no país passou de 4,8% do PIB em todas as esferas do poder público e contar com o 2002 para 6,1% em 2012, e continua crescen- apoio de rigorosa fiscalização. do. Esse investimento foi direcionado para todas as formas de ensino, da creche à universidade, A eficácia das políticas públicas será maior na da alfabetização de adultos aos centros de pes- medida em que forem construídas com base quisa, porque tudo é prioridade quando se trata em amplo diálogo, comprometendo a socieda- de Educação. de com a realização dos objetivos. Essa não é uma tarefa de alguns – é de todos. Neste sen- Ampliamos o número de creches para mais de tido, destacam-se os compromissos assumidos 50 mil, um crescimento de 50% em relação ao pela União Internacional dos Trabalhadores em que havia até 2005. Temos 98% das crianças em Alimentação (IUF) e das empresas que atuam idade escolar matriculadas no ensino fundamen- globalmente na Agricultura, para reduzir o traba- tal. Iniciamos em 2008 a ampliação da jornada lho infantil neste que é o setor econômico em nas escolas públicas, e hoje temos quase 50 mil que ele mais se verifica. escolas com ensino em tempo integral. Esta é uma medida essencial para manter as crianças Também é necessário construir estratégias, com afastadas do trabalho – e quero mencionar dois base no diálogo, para garantir os direitos da infân- brasileiros que muito lutaram por isso: Leonel Bri- cia sem desvalorizar culturas e tradições locais, zola e Darcy Ribeiro. De fato, temos de ter como mas sempre colocando o bem-estar da criança meta a universalização do ensino em tempo in- em primeiro lugar. Reforço ainda a importância de tegral, se queremos realmente afastar todas as consolidar a Democracia como forma de gover- crianças do trabalho infantil. no. A Democracia permite à maioria da população Precisamos investir na formação profissional, lutar e organizar-se para enfrentar seus grandes pois não basta retirar as crianças e adolescentes problemas, dentre os quais estão a pobreza e o do trabalho precoce: é preciso oferecer a opor- trabalho infantil. As instituições democráticas ga- tunidade de inserção qualificada no mercado de rantem a legitimidade e a estabilidade das políti- trabalho, na idade certa. Por isso criamos, desde cas públicas, de médio e longo prazo, destinadas 2003, 306 escolas técnicas profissionalizantes, a preservar os direitos da infância. que capacitam atualmente mais de um milhão de Meus amigos, minhas amigas, há uma tarefa fun- jovens. Para dar a medida desse investimento, ao damental nessa etapa do combate ao trabalho in- longo de quase cem anos haviam sido feitas 140 fantil, no Brasil e em outros países. Trata-se de escolas técnicas no país. Nenhum adolescente tornar o ensino público cada vez mais acessível, estará totalmente livre da situação de trabalho se

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 119 não oferecermos a ele, além de uma vida digna internacionais. Espero, sinceramente, que cada em família no presente, a esperança de um futu- um dos aqui presentes saia desse encontro com ro melhor por meio da Educação. mais clareza sobre o que é preciso fazer, imedia- tamente, para alcançar nossa meta. Meus amigos, minhas amigas, quero concluir parabenizando a todos pela realização desta III Reforço a intenção de continuar colaborando com Conferência, e pelos esforços que cada um vem todos que estão nessa luta por uma infância me- fazendo em prol da infância digna ao redor do lhor, livre do trabalho precoce em qualquer con- mundo. O conhecimento mútuo e a troca de dição que se apresente. Reitero a convicção de conhecimentos que este encontro proporciona que, para tanto, é fundamental fortalecermos a fortalecem nossa unidade em torno da causa Democracia, o desenvolvimento e a luta pela re- comum. dução da desigualdade entre os países e dentro de cada país. Vamos seguir juntos, por um mun- Agradeço a oportunidade de aprender com ex- do livre do trabalho infantil. periências desenvolvidas em outros países, pe- los governos, organizações sociais e organismos Muito obrigado.

120 ANEXOS LISTA DE PARTICIPANTES

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 121 PARTICIPANTES

PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR

Afeganistão Fazal Ellahi Ibrahimi Sociedade Civil Austrália Brett Anthony Hacket Governo Mohammad Daoud Shabrang Trabalhador Quinton Ross Devlin Governo Mr. Wasil Noor Muhmand Governo Áustria Eva Mastnak Governo África do Sul Dumisani Mthalane Sociedade Civil Marianne Feldmann Governo Gyan Dwareka Governo Herbert Mkhize Governo Azerbaijão Aynur Sofiyeva Governo Katishi Masemola Trabalhador Elnur Sultanov Governo Mathilda Bergman Governo Kamala Hagverdiyeva Governo Methew Oliphant Governo Rehyan Huseynova Sociedade Civil Michael Bongumusa Zondi Governo Sabuhi Kerimov Governo Mildred Nelisiwe Oliphant Governo Mokgadi Pela Governo Bangladesh Alauddin Vuian Governo Mphakama Mbete Governo Begum Monnujan Sufian Governo Mthunzi Mdwaba Empregador Eashak Governo Myrtle Ruth Delene Witbooi Trabalhador Faiyaz Murshid Kazi Governo Nditsheni Maxwell Selotolo Governo Farooq Ahmed Empregador Ofentse Daniel Setimo Governo Gazi Monibur Rahman Governo Pamela Priscilla Salusalu Governo Humayun Kabir Governo Phumzile Rebecca Mlangeni Governo Mashudur Rahman Governo Sipho Ndebele Governo Md. Shahriar Rahman Bhuiyan Trabalhador Vanessa Phala Empregador Meher Afroze Governo Virgil Seafield Governo Nazneen Hussain Sociedade Civil Serajul Islam Governo Albânia Stavri Liko Trabalhador Shahabuddin Ahmed Governo Shameem Ahsan Governo Alemanha Annika Wörsdörfer Governo S M Latif Governo Antje Weber Sociedade Civil Sultan Ahmed Governo Klaus Günther Governo Manfred Brinkmann Trabalhador Barbados Resa Layne Governo Michael Bergstreser Trabalhador Yvette Goddard Governo

Angola Aderito Manuel Oliveira da Silva Governo Belarus Aleksandr Tserkousky Governo Ana Paula do Patrocínio Rodrigues Governo Aliaksandr Yarashuk Trabalhador Ana Teresinha Governo Leonid Krupets Governo Angélica Costa Jesus Governo Pavel Urbanovich Governo Arnaldo Camolacongue Sociedade Civil Fátima da Conceição Costa Empregador Bélgica Dominique Marlet Trabalhador Francisco Komba Governo Kris Lapiere Governo Jerónimo Fernandes Governo Jeroen Beirnaert Trabalhador João de Paula Ventura Neto Governo Jozef Smets Governo Luis Antonio Luis Machado Governo Mar Candela Lopez Trabalhador Manuel Viage Trabalhador Nadia Benini Governo Nelson M. Cosme Governo Paulo Seque da Ressurreição dos Mártires Mateta Governo Belize Ion Cacho Trabalhador Ruth Madalena Mixinge Governo Sebastião Constantino Luquinda Governo Benin Eric Mehou Sociedade Civil Fulbert Macaire Adjovi Governo Arábia Saudita Ibrahim Aleisa Governo Isidore Monsi Governo Hisham Alqahtani Governo Laure Irenée Adoukonou Empregador Marcelllin Dansoukpevi Governo Argélia Ahmed Bourbia Governo Noel Chadare Trabalhador Akerroum Messaoud Governo Raphaël C. Mensah Governo Chafik Kellala Governo Djamel Edinne Governo Bolívia (Estado Plurinacional da) Pablo Ezedin Alarcon Prado Governo Haddid Said Trabalhador Khiat Mohamed Governo Botsuana Bernadette S. Rathedi Governo Mourad Boukadoum Governo Doreen Kelebogile P. Kgabi Governo Yacine Ould Moussa Empregador Goitseone Kokorwe Governo Kebalemogile Mokopi Governo Argentina Alejandro Negro Governo Thandiwe Tsheko Governo Anahí Julia Aizpuru Governo Carlos A. Tomada Governo Bulgária Sonya Torlova Governo Carolina Eymann Governo Tchavdar Nikolov Governo Carolina Marta Abrales Trabalhador Maria del Pilar Rey Mendez Governo Burkina Faso Alain Francis Gustave Ilboudo Governo María del Rosario Varela Governo Alassane Traore Governo Mariano Vergara Governo Nobila Paul Kabore Trabalhador Sinopoli Governo Ouedraogo Claude François Governo Susana Santomingo Trabalhador Philomène Yamèogotou Empregador Vanesa Fernanda Paz Governo Robert Zouma Sociedade Civil Soulemane Ouedraogo Governo Armênia Ashot Yeghiazarian Governo Stella Sylviane Some Governo Danniel Lucas dos R. O. Alves Governo Sylvain Yamtiguimda Yameogo Governo Hakob Sargsyan Governo Vincent Zakane Governo

122 ANEXOS PARTICIPANTES

PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR Burundi Bénita Kwizera Governo Ricardo Montenegro Coral Governo Boniface Ndayiragije Governo William Velandia Puerto Trabalhador Cyprian Ntamirukiro Trabalhador Gaudence Sindayigaya Governo Comores Ali Abdou Ahamada Trabalhador Nadine Dusabe Sociedade Civil Dramsi Firozali Empregador Théodore Kamwenubusa Empregador Sitti Echa Tamou Governo Zainaba Attoumani Sociedade Civil Cabo Verde Daniel António Pereira Governo Janira Isabel Almada Governo Congo Arlette Olga Mbani Governo João Osvaldo Coelho de Carvalho Governo Gustave Fulgence René Adicolle-Goum Governo Júlio Ascenção Silva Trabalhador Hubert Yobo Governo Luís Olegário Monteiro Sanches Governo Joseph Bivihou Governo Marilena Catunda Baessa Governo Laguerre Nganga-Bouka Governo Louis Sylvain Goma Governo Camarões Batamack Dieudonné Governo Marie-Céline Tchissambou Bayonne Governo Essola Pierre Didier Governo Wilfrid David Mba-Nzoo Governo Koundi Charles Alain Empregador Kwamu Nana Sociedade Civil Costa Rica Ana María Rojas Pacheco Governo Martin Agbor Mbeng Governo Gabriela Bonilla Trabalhador Mebiane Tangono Epse Ekgan Trabalhador Iris Arias Ângulo Governo Ndjomo Sébastien Governo José Andr´s Navas Brenes Governo Ngono Scholastique Governo Juan Manuel Cordero González Governo Ntube Nzubepie Governo Marcia Watson Loockwood Governo Owona Grégoire Governo Rosaura María Molina Romero Governo Wamba Fidèle Governo Rosaura Molina Romero Trabalhador Victor Manuel Monge Chacón Governo Camboja Chuon Mom Thol Trabalhador Teh Sing Empregador Costa do Marfim Bakayoko Check Ibrahim Governo Veng Heang Governo Bomoi Raymond Daniel Governo Evelyne Adom Sociedade Civil Canadá Ambra Dickie Governo Konan Amany Michel-Ange Governo Andrea Khan Governo Konien Ayenon Frédéric Governo Anik Blais Governo Kouassi Kouakou Désiré Governo Karine Asselin Governo Lamine Kanté Governo Jamal Khokar Governo Marie-Jeanne Kombo N’zoré Trabalhador Olivia Lecoufle Sociedade Civil N’Guettia Kouakou Kra Martin Governo Sylvestre Aka Governo Cazaquistão Bakytzhan Ordabayev Governo Yao Patricia Sylvie Governo

Chade Adjia François Djongdang Trabalhador Croácia Diana Strkalj Governo Solmem Zara Nodjinan Governo Drago Stambuk Governo Oyal Ngarassal Epouse Adoum Sociedade Civil Cuba Carlos Rafael Zamora Governo Chile Camila Olate Campos Governo Edgardo Valdes Governo Delia Escorza Pavéz Governo Raciel Proenza Governo Fernando Berguño Governo Rafael Hidalgo Fernandez Governo Fernando Schmidt Governo Isabel Margarita Farías Oliva Governo Dinamarca Frederik Petersen Governo Jaime Chomali Governo Svend Roed Nielsen Governo Priscila Muñoz Castillo Governo Rodrigo Zegers Quiroga Governo Djibuti Ali Mohamed Kamil Trabalhador Olga Alarcón Benavides Sociedade Civil Mohamed Omar Dabar Empregador

China He Jing Governo Egito Hossam Zaki Governo Li Feng Governo Tamim Khallaf Governo Wei Xiaoli Governo Xu Zhida Governo El Salvador Francisco Arturo Quijano Clará Trabalhador Zhu Qingqiao Governo Rosa Vilma Rodriguez Sociedade Civil

Chipre Martha Mavromattis Governo Equador Ana Cecilia Cordero Cueva Governo Horacio Sevilla Governo Cingapura Sumaya Baqavi Governo Maria del Carmen Velasco Governo María Gloria Barreiro Sociedade Civil Colômbia Camilo Ándres Domínguez Gutiérrez Governo Laura Donoso Governo Carlos Enrique Rivas Segura Trabalhador Claudia Liliana Aparicio Yañez Sociedade Civil Eslováquia Milan Cigan Governo Diana Gomez Trabalhador Peter Prepiak Governo Eduardo Bejarano Hernández Governo Jairo Arenas Acevedo Trabalhador Eslovénia Andreja Simenc Governo José Noé Ríos Muñoz Governo Milena Smit Governo Libardo Enrique Ballesteros Hernández Trabalhador Luis Alberto Grubert Ibarra Trabalhador Espanha Carmelo Angulo Barturen Governo Luis Alberto Mendoza Periñan Trabalhador Emilio Gilolmo López Empregador Luis Alfonso Chala Lugo Trabalhador Eva Buendía Sánchez Governo Luis Ricardo Fernández Restrepo Governo Fernando Castillo Badal Governo Rafael David Cuello Ramírez Trabalhador Jesús Molina Vázquez Governo

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 123 PARTICIPANTES

PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR

Manuel de la Cámara Hermoso Governo Georgios Panagiotidis Governo Matias Figueroa Empregador Pablo Figueroa Dorrego Governo Guatemala Julio Armando Martini Herrera Governo Luisa Bonilla Galvão de Queiroz Governo Estados Unidos da América Benjamin Medina Governo Mynor David Maldonado Mazariegos Empregador Benjamin Wyatt Medina Governo Cindy Sawyer Empregador Guiana Charles Joseph Ogle Governo Dorothy Rozga Sociedade Civil Kenneth Oscar Joseph Trabalhador Eileen Muirragui Governo Jairam Petam Empregador Elizabeth Wolkomir Governo Nanda Gopaul Governo Eric Duncan Trabalhador Jeffrey Noble Morgan Empregador Guiné Aboubacar Bangoura Empregador Jessica Slattery Governo Bafodé Keita Governo JUDITH AGNES GEARHART Sociedade Civil Camara Koumba Diop Governo Lorretta Johnson Trabalhador Diaka Diakite Governo Marcia Eugenio Governo Mohamed Youla Governo Mark Mittelhauser Governo Tamba Kourouma Sociedade Civil Norma Flores Lopez Sociedade Civil Taibou Diallo Trabalhador Reid Charles Maki Sociedade Civil Socorro Leal Governo Guiné Equatorial Montserrat Bonkanka Tabares Governo Socorro P. Leal Governo Timothy Ryan Trabalhador Guiné-Bissau Aureliano Marcelino Gomes Empregador Estevão Gomes Có Trabalhador Estônia Urmas Eigla Governo Haiti Diem Pierre Governo Etiópia Kassahun Follo Trabalhador Gina Georges Trabalhador Siraj Abdella Ahmedie Governo Jackson Bien-Aime Governo Tadesse Eyassu Asfeha Empregador Lourdes Edith Delouis Joseph Trabalhador Taddese Hegena Sebro Sociedade Civil Madsen Cherubin Governo Wuletaw Nigussie Hailemariam Governo Nathalie Hermantin Empregador Zerihun Kebede Wude Governo Renan Hedouville Sociedade Civil Stephane Bastien Governo Filipinas Daphne G. Culanag Sociedade Civil Dayana Divevar Ingga Sociedade Civil Holanda Alexandra Valkenburg-Roelofs Governo Eric P. Valenzuela Governo Herman van Gelderen Governo Eva G. Betita Governo Jan Vos Governo Rodrigo Catindig Trabalhador Kees Rade Governo Lauris Beets Governo Finlândia Jari Luoto Governo Leonardo Luciano Silva Santos Governo Salla Sammalkivi Governo Lilianne Ploumen Governo Mariëlle van der Linden Governo França Céline Giusti Governo Marten van de Berg Governo Cyril Cosme Governo Robert van de Hum Governo Denis Pietton Governo Sara Cohen Governo Gaël de Maisonneuve Governo Sofie Ovaa Sociedade Civil Pierre Lyon-Caen Governo Trudy Kerperien Trabalhador Patrick Risselin Governo Vincent Storiman Governo

Gabão Bernadette Biyoghé Governo Honduras Blanca Margarita Lopez Ardon Trabalhador Christ Cédric Nguéma Ndong Governo Lina José Mejia Galo Empregador Honorine Nzet Biteghé Governo Isabelle Mbazoo Ondo Governo Hungria Csaba Szíjjártó Governo Mihály Dudás Governo Gâmbia Faal Pa Momoudou Trabalhador Pansaw Nyassi Empregador Iêmen Esmail Mohammed Ali Ataifi Trabalhador Sambou K Barrow Governo Khadiga Al-Hersi Sociedade Civil Mohammed Abdullah Mousa Empregador Gana Alex Frimpong Empregador Nabeel Taher Alsohybe Governo Barima Akwasi Amankwah Sociedade Civil George Achibra Sociedade Civil Ilhas Salomão Josiah Manehia Governo Jacob Kwamena Anderson Trabalhador Sika Manuopangai Empregador Joseph Zaphenat Amenowode Governo Tony Kagovai Trabalhador Kingsley Ofei-Nkansah Trabalhador Nii Armah Ashietey Governo Índia Altamas Kabir Governo Paul Kwaw Cudjoe Governo Priyanka Ribhu Sociedade Civil Peter Akyea Governo Purva Gupta Sociedade Civil Robert Safro-Mensah Governo Rohit Sharma Sociedade Civil Sampson NiiTrebi Governo Shantha Kumar Trabalhador shirley anita Governo Shri A. K. Khachi Governo Visty Banaji Empregador Geórgia Barbare Makharadze Governo Otar Berdzenishvili Governo Indonésia Achmad Marzuki Governo Adji Dharma Governo Granada Ray Roberts Trabalhador Anisa Farida Governo Debbi Oktarossa Governo Grécia Dimitri Kalaitzakis Governo Mochammad Rizki Safary Governo Dimitri Alexandrakis Governo Mudji Handaya Governo

124 ANEXOS PARTICIPANTES

PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR

Roni Febrianto Trabalhador Mohamed Abdallah Elghawail Governo Sudaryomo Hartosudarmo Governo Mohamed Ali Alfiture Governo Sri Danti Governo Mohamed Ali Almabrouk Governo Mohamed Elmhade Gmahe Tennish Governo Irã (República Islâmica do) Abbas Yazdani Governo Mohamed Hander Governo Ali Rabiei Governo Mohamed Suwalem Governo Davoud Eskandari Rezaei Governo Masud Ahmed Ali Assas Governo Mahdi Rounagh Governo Nureddin Mansura A. Saber Governo Mehdi Agha Mohammad Zanjani Governo Ramadan Salem Ibrahim Ferjani Governo Mohammad Ali Ghanezadeh Governo Shaban Almentaser Governo Mohammad Hossein Moniri Shamsi Governo Shaban Ibrahim Almutasa Governo Mohammad Taghi Hosseini Governo Wafic Youssef Raad Governo Monir Pour Aslani Sociedade Civil Seyed Hassan Eftekharian Empregador Madagascar Faly Rakotomanana Governo Sussan Gholamrezaei Governo José Bertin Randrianasolo Trabalhador Josephine Noro Andriamamonjiarison Empregador Iraque Khalid Hantoosh Sachit Al-Mohammedawi Sociedade Civil Dunya Obiss Abdulhassan Al-Abody Governo Malásia Ahmad Salman Bin Mansor Governo Raghad Wadood Dawood Governo Shamsul Nizam Bin Shamsuddin Governo Thanaa Abbas Salman Hilmi Governo Sudha Devi K.R. Vasudevan Governo

Irlanda Frank Sheridan Governo Malaui Christopher Misuku Sociedade Civil Janice McGann Governo Clement Thindwa Empregador Dalitso Baloyi Sociedade Civil Itália Gabriele Annis Governo Eunice Makangala Governo Raffaele Trombetta Governo Francis Kwenda Governo Silvana Cappuccio Trabalhador Francis Moto Governo Hlerwayo Nyangulu Governo Jamaica Clayton Orlando Hall Trabalhador Juvencio Aubrey Chaguzika Trabalhador Desreine Antoinette Taylor Governo Kayira Wezi Governo Mark Nicely Trabalhador Nitta Chinguwo Governo Paul Gondwe Governo Japão Nozomi Ohno Governo Rafael Chritopher Sandramu Trabalhador Satoshi Katahira Governo Satoshi Ito Governo Maldivas Mauroof Zakir Trabalhador Takashiro Nakamae Governo Mohamed Mahid Shareef Governo Thiago Gusman Governo Yuka Onoe Iwatsuki Sociedade Civil Mali Bourama Mounkoro Empregador Cheickna Keita Governo Jordânia Abdullah Al-Khatib Governo Diarra Kadiatou Samoura Governo Khaled Habahbeh Trabalhador Hamadou Albachir Toure Governo Rania Kataw Empregador Soumeila Hamida Maiga Trabalhador Shereen Mekhled salameh Altayeb Governo Tidiani Sy Governo

Kiribati Kiata Kabure Empregador Marrocos Abdelouahad Souhail Governo Kireata Meauke Governo Hmida Nahhass Trabalhador Mimoun Bentaleb Governo Kuwait Ayadah Alsaidi Governo Miriam Ragala Governo Jassem Al Moubaraki Governo Mohamed Loulidi Governo Moulay El Housseine El Idrissi Mendili Governo Omar El Kindi Sociedade Civil Omar Alkandari Governo Salem Abuhadida Governo Maurício Dewan Quedou Trabalhador

Lesoto Mamphaphathi Molapo Governo Mauritânia Abdallahi Mohamed Abdallahi Sociedade Civil Lindiwe Sephomolo Empregador Dereghly Mohamed Lemine Empregador Ronald Kory Masitha Sociedade Civil Khairou Mahmoud Trabalhador Marieme Mint Habott Governo Líbano Nazha Chalita Governo Maty Mint Hamady Governo Mohamed Bedde Governo Libéria Edwin Cisco Trabalhador Moulaye Mohamed Ould Moulaye Governo F. Juah Lawson Governo Massa R. Lansanah Empregador México Adriana Arreola Rodriguez Trabalhador Alberto Pérez Blas Governo Líbia Abdulaziz A. Khalifa Juha Governo Alfonso Navarrete Prida Governo Aimen Mohamed Mohamed Bai Governo Barbara Gabriela Magaña Martínez Governo Ahmed Mohamed Elsnosi Ahmed Governo Beatriz Paredes Rangel Governo Ahmed Rida Lamine Elhuni Governo Carlos Prado Brutón Governo Ala Omran Ali Edhim Governo Carmen Yadira de los Santos Robledo Governo Ali Mohamed Abdalla Haddad Governo Eva María Hamilton Vélez Governo Basm Dref Haje Bskall Governo Ignacio Rubí Salazar Governo Bobker Mohamed Faraj Elbarghty Governo Jasiel Enrique Curiel Díaz Governo Elmabruk Rajab Etwibi Governo José Luis Stein Velasco Governo Farag Mohamed Farag Alfaghi Governo José Valenti Manzo Monjarás Governo Faraj Hadi Embark Albay Governo Linda Marina Dolores Munive Temoltzin Governo Faraj M. Yousif Omar Governo Lorena Dizett Ramirez Governo Khalifa Mohamed Abubdieda Governo Luis Augusto Espadas Torre Governo Hussein Hassan Tantoush Governo Manuel Cadena Morales Governo

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 125 PARTICIPANTES

PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR

Manuel Sobrino Durán Governo Jeffrey McAlister Governo Octavio Carvajal Bustamante Empregador Yadira de los Santos Robledo Governo Omã Ali Khalfan Al Whibi Governo Fernanda Baldo Governo Mianmar Aye Aye San Governo Fahad Ahmed Al N aimi Governo Htin Aung Governo Khalid Al Jaradi Governo Htin Linn Maung Governo Nasser Juma Al Falahi Governo Min Lwin Trabalhador Said Mohammed Al Mamari Governo Moe Myint Kyaw Empregador Myo Lynn Aung Governo Palestina Ahmed Majdalani Governo Okkar Thein Governo Ibrahim Alzeben Governo Thiripyanchi U Tun Nay Lin Governo Jalal Makharza Empregador Khawla Dosouqi Governo Moçambique Albino Maria Francisco Sociedade Civil Alexandre Candido Munguambe Trabalhador Panamá Alma Lorena Cortés Aguilar Governo Amina Marisa Ibraimo Abudo Governo Carmen Taitt Trabalhador Arnovo Xavier Vilanculos Governo Gabriela García Carranza Governo Euclides Jeremias Timana Governo German Batista Empregador Jafar Buana Governo Jorge Luis Abrego Governo Jaime Nicols Governo Juan José Montero Batista Governo Joaquim Moisés Siúta Governo Juan Zelaya Empregador Juvenal Arcanjo Dengo Governo Marisol Linero Blanco Empregador Manuel Lubisse Governo Melinda de Anguizola Sociedade Civil Maria Helena Taipo Governo Noris Delgado Vergara Governo Nordestina Felicidade Sitole Governo Rosa del Carmen Carrasco Valdespino Governo Romualdo Lodino do Carmo Johnam Governo Vielka Montenegro de Abrego Governo Victor Miguel Governo Paquistão Abdul Waheed Sandal Empregador Mongólia Badamdamdin Battuvshin Governo Aneeq Ahmed Cheema Sociedade Civil Davaa Khishignyam Governo Kundho Khan Sociedade Civil Tsedevsuren Enkhtuya Governo Kundho Khan Sociedade Civil Munir Qureshi Governo Namíbia Alpheus Muheua Governo Rashad Aziz Sociedade Civil David Katjaimo Governo Felix Musukubili Governo Paraguai Andreza Ortigoza de Medina Sociedade Civil George Simataa Governo Cecilia Inés Acha Palumbo Governo Ingrid Celeste Feris Governo Cynthia Lucia González Rios Governo Job Muniaro Trabalhador Graciela Inocensia Congo Caceres Trabalhador Lineekela J. Mboti Governo Selma Nghinamundova Governo Peru Carlos García Palacios Governo Siluka B. Kabuku Governo Edgardo Sergio Balbin Torres Governo Guillermo Rivera Ponce Sociedade Civil Nepal Hari Prasad Neupane Governo Isaac Ruiz Sánchez Sociedade Civil Jagat Sikhada Trabalhador Jackeline Yalán Leal Governo Krishna Hari Pushkar Governo Jorge Bayona Medina Governo Pradhumna Bikram Shah Governo José Antonio Gutiérrez Alata Empregador Sharad Raj Aran Governo Mario Coronado Barriga Empregador Udaya Raj Pandey Empregador Paola Egusquiza Granda Trabalhador Youraj Roka Sociedade Civil Polônia Andrzej Maria Braiter Governo Nicarágua Inti Zambrana Governo Marceli Minc Governo Jose Antonio Zepeda Lopez Trabalhador Lorena Martinez Governo Portugal Francisco Ribeiro Telles Governo Marvin Ortega Governo Patrícia Cadeiras Governo

Níger Amadou Arouna Maiga Trabalhador Quênia Damaris Muhika Trabalhador Dounama Abdou Governo Franklin Mulembo Esipila Governo Mahamadou Moussa Sociedade Civil Irene Leshore Sociedade Civil Jacqueline Mugo Empregador Nigéria Augustine Etafo Trabalhador James Ndegwa Ndiho Governo Babatunde Muideen Abdulrahaman Trabalhador Jarso Boru Governo Bede Opara Trabalhador Leah Ambwaya Sociedade Civil Bobboi Bala Kaigama Trabalhador Peris Wangari Kariuki Murage Governo Benjamin Okewu Sunday Trabalhador Peter Katana Angore Governo Dutsinma Hassan Lawal Trabalhador Emmanuella maha Apoio Reino Unido da Grã-Bretanha Alexander Ellis Governo Isaac Balami Trabalhador e Irlanda do Norte Indranil Chakrabati Governo Juliana Anti Adebambo Governo Martin Badham Governo Musa Lawal Mohammed Trabalhador Sue Longley Trabalhador Olasanoye Oyinkan Trabalhador Ruth Bukar Sociedade Civil República Árabe da Síria Ghassan Nseir Governo Sunday Olusoji Salako Trabalhador Mariam Naasan Governo Riyad Khaddour Governo Noruega Aud Marit Wiig Governo Dag Kjetil Øyna Empregador República Centro-Africano Nemekon Magloire Karal Trabalhador

Nova Zelândia Andrew Gillespie Governo República Checa Jirí Havlík Governo

126 ANEXOS PARTICIPANTES

PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR

Viktor Dolista Governo Nemat Ahmed Hassan Abdelgadir Governo Mohamed Abdelrahman Yasin Mohamed Sociedade Civil República Democrática do Congo Christian Kalonda Ngoyi Empregador Henriette Tshimuanga Minchiabo Governo Sudão do Sul Hellen Achiro Lotara Governo Jotaba Penny Nandole Empregador República Democrática Popular de Laos Chongchith Chantharanonh Governo Ngor Kolong Ngor Governo Phongsaysack Inthalath Governo Nyawiir Mayen Achuil Sociedade Civil Vilay Vongkhaseum Trabalhador Pasqueala Michael Apai Willing Trabalhador

República Dominicana Cristian Milagros Herrera Villalona Governo Suécia Johanna Lindquist Governo Daysi Mercedes García de Peregrín Governo Magnus Robach Governo Eligia Isabel Tejada Gallardo Trabalhador Jaime O. González Hernández Empregador Suíça Amelia Espejo Empregador Jonathan Baró Gutiérrez Governo Ana Claudia Bertolazi Governo Maria Eugenia Dargam de Blasi Governo Daniel Grünenfelder Governo Martiza Hernández Governo Jean-Pierre Governo

República Unida da Tanzânia Aggrey K. Mlimuka Empregador Suriname Marlon F. Mohamed-Hoesein Governo David Enosh John Mwakanjaki Governo Michael H.S. Miskin Governo Gaudentia Mugosi Kabaka Governo Mrs. Doelwijt Empregador Mkama J. Nyamwesa Governo Natasha Eugenie Maria Halfhuid Governo Nicholas Ernest Mgaya Trabalhador Rita Henry Governo

Roménia Diana Anca Radu Governo Tailândia Juckarin Chareonphuk Governo Elena Tudor Governo Pakawat Srisukwattana Governo Gabriela Alexandrescu Sociedade Civil Vihit Powattanasuk Governo Vitit Muntarbhorn Sociedade Civil Ruanda Anna Mugabo Governo Ukrish Kanchanaketu Empregador Clemence Murekatete Empregador Mpakanyi Gaspard Trabalhador Timor-Leste Aniceto Leto Soro Governo Fernando Afonso da Silva Empregador Rússia Natalia Sentenkova Governo Honorio de Almeida Sociedade Civil José da Conceição da Costa Trabalhador Samoa Isaia Lameko Governo Osana Julie Liki Empregador Togo Komlan Nouwossan Trabalhador Koublanou Akoko Sociedade Civil Santa Lúcia Callistus Vern Gill Empregador John Siabi Kwamé-Koumah Aglo Governo Tchatcha Bassowa Governo São Tomé e Príncipe Balbina Rodrigues Tiny da Trindade Sociedade Civil Cíntia Maria da Graça Lima Governo Trinidad e Tobago Candice Wallace-Henry Governo João Sousa Pontes Tavares Trabalhador Judy Williams-Martinez Governo Jorge Dias Correia Empregador Nicha Cardinez Governo Leonel Pontes Governo Paul Byam Governo Vilma Loreiro Pinto Governo Sheryl-Anne Haynes Governo

Senegal Abdou Aziz Ndiaye Governo Tunísia Hayet Ben Ismail Mselmi Governo Amadou Massar Sarr Empregador Mohamed Ben Naceur Sociedade Civil Doudou Sow Governo Mouldi Jendoubi Trabalhador Ibra Ndoye Governo Nada Meslameni Ben Naceur Governo Ndiaga Diop Trabalhador Néjib Boujnah Sociedade Civil Niokhobaye Diouf Governo Sabri Bachtobji Governo Raoul Ferdinand A. Diandy Governo Tuvalu Faoua Maani Governo Serra Leoa Hawa Kailey Governo Joseph Tekman Kanu Governo Ucrânia Anatoly Tkach Governo Leslie Thomas Empregador Oleksii Liashenko Governo Matthew Teambo Governo Rostyslav Tronenko Governo Victoria Baby Renner Sociedade Civil Vasyl Pasichnyi Governo

Sérvia Branko Markovic Governo Uganda Harriet Auma Empregador Harriet Luyima Governo Seychelles Erna Hellen Athanasius Governo Juliet Wajega Sasagah Trabalhador Peter Christopher Werikhe Trabalhador Somália Abdul Mohamed Empregador Omar Faruk Osman Nur Trabalhador Uruguai Carlos Daniel Amorin Governo Emilio Bonetti Sociedade Civil Sri Lanka Ananda Wimalaweera Governo Fernando Arroyo Governo Gamini Lokuge Governo Juan Andrés Roballo Governo k. Velayudam Trabalhador Juan Pablo Martinez Governo Visakha Tillekeratne Sociedade Civil Marcelo Blanco Governo

Sudão Abd Elghani Elnaim Awad Elkarim Governo Vanuatu Lionel Kaluat Governo Aisha Babou Rafai Trabalhador Sakiusa Kalsakau Trabalhador Amna Mohamed Saleh Drar Governo Bannaga Badawi Ibrahim Abdalla Governo Venezuela (República Bolivariana da) Beatriz Prada Empregador Khalaf alla Ismail Mohamed yousif Governo Edita Fernandez Trabalhador Nagat Abdelsadig Mohamed Saeed Elassad Governo Gilberto Sánchez Empregador

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 127 PARTICIPANTES

PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR Jose Leonardo Panigada Nuñez Governo Organização Internacional do Trabalho Stanley Gacek OI (Organização Internacional) Mauricio Enrique Blanco Acosta Governo Organização Internacional do Trabalho Yoshie Nogushi OI (Organização Internacional) Organização Internacional do Trabalho Jose Maria Ramirez OI (Organização Internacional) Vietnã Nguyen Hai Huu Governo Organização Internacional do Trabalho Deepa Rishkesh OI (Organização Internacional) Nguyen Thi Bich Hien Governo Organização Internacional do Trabalho Minoru Ogasawara OI (Organização Internacional) Tran Khang Ninh Governo Organização Internacional do Trabalho Guillermo Dema OI (Organização Internacional) Tran Chi Dung Empregador Organização Internacional do Trabalho Faustina Van Aperen OI (Organização Internacional) Vu Hong Quang Trabalhador Organização Internacional do Trabalho Elena Montobbio OI (Organização Internacional) Organização Internacional do Trabalho Vera Perdigão OI (Organização Internacional) Zâmbia Harrington Chibanda Empregador Organização Internacional do Trabalho Victoria Cruz OI (Organização Internacional) Katete Jackson Jones Sociedade Civil Organização Internacional do Trabalho Constance Thomas OI (Organização Internacional) Roy E. Mwaba Trabalhador Organização Internacional do Trabalho Manuela Tomei OI (Organização Internacional) Venus Seti Governo Organização Internacional do Trabalho Guy Ryder OI (Organização Internacional) Organização Internacional do Trabalho Elizabeth Tinoco OI (Organização Internacional) Zimbabwe Arthur Mataure Governo Organização Internacional do Trabalho Paulo Barcia OI (Organização Internacional) Fiona Gandiwa Magaya Trabalhador Organização Internacional do Trabalho Marcia Pole OI (Organização Internacional) Nicolas T. Goche Governo Organização Internacional do Trabalho Saw Sar Ka Baw OI (Organização Internacional) Poem Mudyawabikwa Governo Organização Internacional do Trabalho Noortje Denkers OI (Organização Internacional) Portia Ngundu Governo Save the Children Wendy Blanpied OI (Organização Internacional) Sithokozile Siwela Trabalhador Save the Children Daniela Reale OI (Organização Internacional) Thomas S. Bvuma Governo Understanding Children’s Work Maria Gabriella Breglia OI (Organização Internacional) Toendepi Amos Chinake Governo Understanding Children’s Work Furio Camillo Rosati OI (Organização Internacional) Unicef Maria de Salete Silva OI (Organização Internacional) ASEAN Mega Irena ASEAN Unicef Mario Volpi OI (Organização Internacional) CPLP Cristina Molares d’Abril CPLP Unicef Carin Leinig Cavalcanti Corrêa OI (Organização Internacional) CPLP Carlos Gonçalves CPLP Unicef Nadine Perrault OI (Organização Internacional) CPLP Manuel Lapão CPLP Unicef Pedro Ivo de Morais Alcantara OI (Organização Internacional) Mercosul - Secretaria Executiva Ivan Ramalho Mercosul - Secretaria Executiva Unicef Casimira Benge OI (Organização Internacional) Nações Unidas Marta Santos Pais Nações Unidas Unicef Joost Kooijmans OI (Organização Internacional) Nações Unidas Cecilia Anicama Nações Unidas Unicef Susan Lynn Bissell OI (Organização Internacional) Nações Unidas Ana Victoria Riano Quijano Nações Unidas Unicef Munir Mammadzada OI (Organização Internacional) Nações Unidas JULIETTA RODRIGUEZ GUZMAN Nações Unidas Unicef Dihego Luk Mendes da Silva OI (Organização Internacional) Nações Unidas Alec Wargo Nações Unidas Unicef Maria Estela Caparelli OI (Organização Internacional) Nações Unidas Leila Zerrougui Nações Unidas Unicef Cecilie Modvar OI (Organização Internacional) Nações Unidas Márcia Cristina Gomes da Rocha Nações Unidas Unicef Gary Stahl OI (Organização Internacional) Nações Unidas Frank la Rue Nações Unidas Unicef Ludimila Palazzo OI (Organização Internacional) OEA María Claudia Camacho OEA Unicef Michelle Barron OI (Organização Internacional) Food and Agriculture Organization Jacqueline Demeranville OI (Organização Internacional) Unicef Alexandre Magno de Aguiar Amorim OI (Organização Internacional) Food and Agriculture Organization Sergio Faiguenbaum OI (Organização Internacional) Unicef Maria Antonia Scolamiero OI (Organização Internacional) Food and Agriculture Organization Bernd Seiffert OI (Organização Internacional) Unicef Michelle Barron OI (Organização Internacional) International Labor Rights Forum Jacqueline Tudor Starr OI (Organização Internacional) Unicef Yin Yin Han OI (Organização Internacional) International Labor Rights Forum Judy Gearhart OI (Organização Internacional) Unicef Niklas Stephan OI (Organização Internacional) International Organization for Migration Diego Beltrand OI (Organização Internacional) Anti-slavery International Aidan Joseph McQuade ONG Internacional International Organization for Migration Carmem Lussi OI (Organização Internacional) ChildFund International Gerson Pacheco ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Erik Ferraz OI (Organização Internacional) Defence for Children International Virginia Murillo ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Natanael Lopes OI (Organização Internacional) Eliminating Child Labour in Tobacco Sonia Velazquez ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Piyasiri Wickramasekara OI (Organização Internacional) Growing Foundation Organização Internacional do Trabalho Guillermo Dutra Gimenez OI (Organização Internacional) Eliminating Child Labour in Tobacco Nicholas McCoy ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Sherin Khan OI (Organização Internacional) Growing Foundation Organização Internacional do Trabalho Paula Fonseca OI (Organização Internacional) Global March Against Child Labour Kailash Satyarthi ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Yacouba Diallo OI (Organização Internacional) Human Rights Watch Jo Becker ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Maria Cláudia Falcão OI (Organização Internacional) International Cocoa initiative Matthias Lange ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Antônio Carlos Mello OI (Organização Internacional) International Cocoa initiative Nathalie Perroud ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Renato Mendes OI (Organização Internacional) Latin American and Caribbean Network for Welinton Pereira da Silva ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Andréa Bolzon OI (Organização Internacional) Children / REDLAMYC Organização Internacional do Trabalho Cynthia Ramos OI (Organização Internacional) Plan International Anette Trompeter Curi ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Fernanda Barreto OI (Organização Internacional) Plan International Flávio Antunes Debique ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Pedro Américo Furtado de Oliveira OI (Organização Internacional) Plan International Lyda Patricia Guarin Martinez ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Andrea Riveiro de Araújo OI (Organização Internacional) Terre des Hommes Talinay Strehl ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Marcelo Moreira Vilela Rocha OI (Organização Internacional) Winrock International Vicki Sheila Walker ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Pedro Brandão OI (Organização Internacional) World Vision International João Helder Alvez da Silva Diniz ONG Internacional Organização Internacional do Trabalho Anita B. N. Amorim OI (Organização Internacional) PNUD Maristela Baioni PNUD Organização Internacional do Trabalho Jean Pierre Granados OI (Organização Internacional) PNUD Romulo Paes PNUD Organização Internacional do Trabalho Thaís Faria OI (Organização Internacional) PNUD Jorge Chediek PNUD Organização Internacional do Trabalho Márcia Soares OI (Organização Internacional) PNUD Romolo Antonio Tassone PNUD Organização Internacional do Trabalho Janaina Galvao Viana OI (Organização Internacional) Unasul Maria Fernanda Silva Unasul Organização Internacional do Trabalho Thaís Fortuna OI (Organização Internacional) Unesco Marlova Jovchelovitch Noleto Unesco Organização Internacional do Trabalho César Mosquera OI (Organização Internacional) Unesco Manuela Pinheiro de Moraes Rêgo Unesco Organização Internacional do Trabalho Laís Abramo OI (Organização Internacional) Unesco Maria del Carmen Paz Portales Unesco Organização Internacional do Trabalho Maria Olave OI (Organização Internacional) Unesco Soleny Hamu Unesco Organização Internacional do Trabalho Sinomar Fonseca OI (Organização Internacional) Unesco Rosana Sperandio Pereira Unesco Organização Internacional do Trabalho Luis Cordova OI (Organização Internacional) União Europeia Lea Reichert União Europeia Organização Internacional do Trabalho João Sabino Amaral de Aguiar OI (Organização Internacional) União Europeia Jerôme Poussielgue União Europeia Organização Internacional do Trabalho Simon Benedikt Steyne OI (Organização Internacional) União Europeia Dounia El Aflahi União Europeia Organização Internacional do Trabalho Cecilia McKenna OI (Organização Internacional) União Europeia Lena Sund União Europeia Organização Internacional do Trabalho Anne Caroline Posthuma OI (Organização Internacional) União Europeia Maria Rosa Sabattelli União Europeia Organização Internacional do Trabalho Simrin Singh OI (Organização Internacional) União Europeia Erik Von Pistohlkors União Europeia

128 ANEXOS PARTICIPANTES

PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR União Europeia Simone Pieri União Europeia Brasil Carmen Lúcia Miranda Silvera Governo União Europeia Humberto Netto União Europeia Brasil Carolina Vanderlei Castro de Almeida Governo União Europeia Ana Paula Zacarias União Europeia Brasil Catarina Soares Martins Governo União Europeia Concha Fernandez de la Puente União Europeia Brasil Cecília Malaguti do Prado Governo União Europeia Francisco Fontan União Europeia Brasil Célia Romeiro Governo Brasil Cimar Azeredo Pereira Governo Brasil Adriana Barufaldi Bertoldi Empregador Brasil Cíntia Bastos Bemerguy Governo Brasil Adriana Giuntini Viana Empregador Brasil Cíntia Santana Pires de Saboia Governo Brasil Alexandre Herculano Coelho de Souza Furlan Empregador Brasil Claudia de Almeida Gomes Governo Brasil Alexandre Tadeu Schuh Empregador Brasil Claudia de Borba Maciel Governo Brasil Ana Cláudia de Macedo Santoro Empregador Brasil Claudia Gasser Governo Brasil André Masotti Lorenzetti Empregador Brasil Cláudia Laureth Faquinote Governo Brasil Cláudia Pinheiro Empregador Brasil Cleia Lima Martins Governo Brasil Daniella Chaves Padilha Empregador Brasil Clélia Brandão Alvarenga Craveiro Governo Brasil Joicy Damares Pereira Empregador Brasil Daniel Plech Garcia Governo Brasil Maria Antonieta Dias Faisal Empregador Brasil Daniella Rocha Governo Brasil Maria Clara Calderon Almeida de Oliveira Rodrigues Empregador Brasil Danielle Chalub Martins Governo Brasil Mirian Barros Empregador Brasil Danival Lima Falcão Governo Brasil Natasha Tavares dos Santos Empregador Brasil Danyel Iório de Lima Governo Brasil Regiane Ataide Costa Empregador Brasil Denise Ratmann Arruda Colin Governo Brasil Reinaldo Damacena Empregador Brasil Diana Bernardes Rocha Governo Brasil Renata Caroline da Costa Vaz Empregador Brasil Dimas Ximenes Governo Brasil Rodrigo Hugueney Empregador Brasil Dionara Borges Andreani Barbosa Governo Brasil Sergio Talocchi Empregador Brasil Dúbia Beatriz Oliveira Campos Governo Brasil Vania Rodrigues de Carvalho Brenner Empregador Brasil Duncan Semple Governo Brasil Rafael Lucchesi Empregador Brasil Edson Soares da Silveira Governo Brasil Adelino Silva Neto Governo Brasil Eduardo Alcebiades Lopes Governo Brasil Adriana Braz Governo Brasil Eduardo Guilherme Reiner Governo Brasil Adriana Miranda Governo Brasil Eduardo Monteiro Martins Governo Brasil Adriana Scorza Guimaraens Governo Brasil Edvaldo dos santos souza Governo Brasil Adrianna Figueiredo Soares da Silva Governo Brasil Eliana Zugaib Governo Brasil Alan Coelho de Séllos Governo Brasil Eliane Araque dos Santos Governo Brasil Alberto de Souza Governo Brasil Elisiane dos Santos Governo Brasil Alessandro Soares Governo Brasil Elvira Mirian Veloso de Mello Cosendey Governo Brasil Alex Kleyton Rodrigues Barbosa Governo Brasil Eridan Moreira Magalhães Governo Brasil Alexandre Marin Ragagnin Governo Brasil Euclides Santa Cruz Oliveira Junior Governo Brasil Alexandre Peña Ghisleni Governo Brasil Eunice Borges Alves Governo Brasil Alice Watson Cleto Governo Brasil Evelize Carvalho Governo Brasil Amanda Guedes Governo Brasil Fabiana Pontes de Albuquerque Governo Brasil Ana Carolina Paranhos de Campos Ribeiro Governo Brasil Fábio Farias Governo Brasil Ana Cláudia Nascimento Governo Brasil Fábio Macario Governo Brasil Ana Cristina Santos Governo Brasil Fábio Meirelles Governo Brasil Ana Estela Haddad Governo Brasil Fabrício Araújo Prado Governo Brasil Ana Paula Cristalino Governo Brasil Fátima Cristina Chammas do Nascimento Governo Brasil Ana Paula Fayão Governo Brasil Felipe Gastão Bandeira de Mello Governo Brasil Ana Paula Siqueira Governo Brasil Fernanda Sucharski Matzenbacher Governo Brasil Ananias Pereira da Cruz Governo Brasil Fernando Kleiman Governo Brasil André Luís Quaresma de Carvalho Governo Brasil Flávia Calumby Barreto Mota Governo Brasil André Luíz Machado Governo Brasil Flavio Sapha Governo Brasil André Luiz Silva Gomes Governo Brasil Flora Lúcia Marin de Oliveira Governo Brasil André Mattana Governo Brasil Francisco Antonio de Sousa Brito Governo Brasil Andréa Saint Pastous Nocchi Governo Brasil Gabriel Napoleão Velloso Filho Governo Brasil Andrea Velasco Rufato Governo Brasil Ganesh Inocalla Governo Brasil Anelise Borges Souza Governo Brasil George Luís Bonifácio de Sousa Governo Brasil Angela Cristina Santos Guimarães Governo Brasil Gioconda Ramalho Governo Brasil Anna Rita Scott Kilson Governo Brasil Glaucia Danielle C. Gonçalves Governo Brasil Anne Thuareg Xavier de Souza Governo Brasil Graciela Eleonora Slavin Governo Brasil Antonio de Oliveira Lima Governo Brasil Guilherme Guimarães Feliciano Governo Brasil Antonio Jose Angelo Motti Governo Brasil Guilherme Pereira Larangeira Governo Brasil Arielma Galvão Dias dos Santos Governo Brasil Gustavo Leal Sales Filho Governo Brasil Arlinda Barbosa Carvalho Governo Brasil Heitor Menezes Governo Brasil Arthur Rosa Machado Governo Brasil Heloisa Siqueira de Jesus Governo Brasil Bárbara Pincowsca Cardoso Campos Governo Brasil Herculano Ricardo Campos Governo Brasil Benício Marques Governo Brasil Hugo Lins Gomes Ferreira Governo Brasil Bianca Sotelino Dinatale Governo Brasil Hur Bem C. da Silva Governo Brasil Brenda Ferreira Silva Governo Brasil Inge Ranck Governo Brasil Brenno Gomes da Silva Mauro Governo Brasil Iraides Quirino Xavier Vieira Governo Brasil Camila Castro Governo Brasil Ironi do Rocio Vieira de Camargo Governo Brasil Camila Moreira de Castro Governo Brasil Israel Luiz Stal Governo Brasil Camila Santana Governo Brasil Ivanildo Tajra Franzosi Governo Brasil Cândice Gabriela Arósio Governo Brasil Jaciara Ribeiro de Araujo Governo Brasil Carlos Alberto Reis de Paula Governo Brasil Jadir de Assis Governo Brasil Carlos Daniel Dell Santo Seidel Governo Brasil Jailson Silva Flor Governo Brasil Carlos Fernando Gallinal Cuenca Governo Brasil Jalson Jácomo do Couto Governo Brasil Carlos Frederico Bastos Peres da Silva Governo Brasil Jamile Almeida Governo Brasil Carlos Henrique Zimmermann Governo Brasil Jandyr Ferreira dos Santos Jr Governo Brasil Carmelita de Oliveira Domingues Governo Brasil Jarbas Antonio Ferreira Governo

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 129 PARTICIPANTES

PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR Brasil Jean Karydakis Governo Brasil Marisa Rodrigues da Silva Governo Brasil Jeferson Luiz Pereira Coelho Governo Brasil Maristela Leitão Governo Brasil Jefferson Aparecido Dias Governo Brasil Marluce Pereira Silva Governo Brasil João Augusto Sobreiro Sigora Governo Brasil Maura Luciane Conceição de Souza Governo Brasil João Tabajara Governo Brasil Maurício Gasparino da Silva Governo Brasil Joaquim Alves São Pedro Filho Governo Brasil Melissa Popoff Scheidemantel Governo Brasil Joaquim Travassos Leite Governo Brasil Mirian Cristina Eisenhut Carravetta Governo Brasil José Roberto Dantas Oliva Governo Brasil Mônica Aparecida Rodrigues Governo Brasil Jucelino Moreira Bispo Governo Brasil MURILO VIEIRA KOMNISKI Governo Brasil Julia Segatto Governo Brasil Natascha Rodenbusch Valente Governo Brasil Juliana de Moura Gomes Governo Brasil Nelma de Azeredo Governo Brasil Juliana Fernandes Governo Brasil Nívia Maria Polezer Governo Brasil Juliana Marques Petroceli Governo Brasil Norberto Moretti Governo Brasil Juliano Pimentel Duarte Governo Brasil Ofélia Ferreira da SIlva Governo Brasil Karina Andrade Ladeira Governo Brasil Olga Maria P Jacobina Governo Brasil Karla Naves Governo Brasil Olímpio Antônio Brasil Cruz Governo Brasil Katia Cristina Favilla Governo Brasil Otávio Briones Governo Brasil Katia Ozorio Governo Brasil Patrícia Barcelos Governo Brasil Kátia Simone Medeiros Rodrigues Governo Brasil Patrícia Bezerra Governo Brasil Katleem Maria Pires de Lima Governo Brasil Patrícia Kalil Governo Brasil Killian Grippon Governo Brasil Paula Cristina Pereira Gomes Governo Brasil Larissa Daniela da Escóssia Rosado Governo Brasil Paula Montagner Governo Brasil Larissa Karydakis Governo Brasil Paula Moreira Neves Pereira Governo Brasil Laura Aparecida Pequeno da Rocha Governo Brasil Paulino Franco de Carvalho Neto Governo Brasil Laura Delamonica Governo Brasil Paulo Alexandre Carmo Lins Governo Brasil Lea Lúcia Cecílio Braga Governo Brasil Paulo Domingues Governo Brasil Leandro da Costa Fialho Governo Brasil Paulo Luiz Schmidt Governo Brasil Leonardo Soares de Oliveira Governo Brasil Paulo Sérgio de Almeida Governo Brasil Lígia Girão Governo Brasil Pedro Ivo Ferraz Governo Brasil Ligia Margaret Kosin Jorge Governo Brasil Philip Carvalho Ferreira Leite Governo Brasil Liliane Elias Governo Brasil Platon Teixeira de Azevedo Neto Governo Brasil Liliane Neves do Carmo Governo Brasil Pollyanna Rodrigues Costa Governo Brasil Lis Jannuzzi Weingartner Governo Brasil Priscilla Hoffmann Mercadante Governo Brasil Lisiane dos Santos Governo Brasil Rafael Dias Marques Governo Brasil Lizandra Borges da Silveira Valim Governo Brasil Rafael Leme Governo Brasil Lodear Carlos Hahn Governo Brasil Raimunda Sueli das Neves Mendonça Governo Brasil Lucas Frota Verri Pinheiro Governo Brasil Regina Duarte da Silva Governo Brasil Lucia Helena Menezes Negri Nilson Governo Brasil Rejane Guimarães Pitanga Governo Brasil Luciana de Fátima Vidal Governo Brasil Renata Lu Rodrigues Governo Brasil Luciana Jaccoub Governo Brasil Renato Pena de Araújo Governo Brasil Luciano de Paula Miranda Governo Brasil Rhaiana Rondon Governo Brasil Luciano Milhomem Governo Brasil Roberto Menezes Rodrigues Governo Brasil Luis Otavio Farias Governo Brasil Roberto Padilha Guimarães Governo Brasil Luiz Claudio Monteiro Morgado Governo Brasil Ronilson Marinho Barbosa Governo Brasil Luiz Eduardo Gonçalves Governo Brasil Rosali Alves Barroso Governo Brasil Luiz Henrique Ramos Lopes Governo Brasil Rosemeire Lopes Fernandes Governo Brasil Macaé Maria Evaristo dos Santos Governo Brasil Samuel Cláudio da Silva Governo Brasil Manoel Gomes Pereira Governo Brasil Saulo Tarcísio de Carvalho Fontes Governo Brasil Marcelo Nascimento Governo Brasil Séfora Alice Rôla do Carmo Governo Brasil Marcelo Saboia Governo Brasil Ségismar de Andrade Pereira Governo Brasil Márcia Helena Carvalho Lopes Governo Brasil Sérgio Araújo Sepúlveda Governo Brasil Márcia Hora Acioli Governo Brasil Sérgio Nunes Ferreira do Amaral Governo Brasil Marcia Muchagata Governo Brasil Silvana Abramo Marguerito Ariano Governo Brasil Marcio André Silveira Guimarães Governo Brasil Silvia Carla Macedo Cardoso Furtado Governo Brasil Márcio Lopes Corrêa Governo Brasil Silvia Severiano da Silva Governo Brasil Márcio Oliveira Gomes Governo Brasil Sônia Maria Laurindo da Silva Governo Brasil Marco Túlio Scarpelli Cabral Governo Brasil Sônia Moraes Governo Brasil Marcos Henrique Sperandio Governo Brasil Sueli Teixeira Bessa Governo Brasil Marcos Lacerda de Almeida Filho Governo Brasil Tainá Guimarães Alvarenga Governo Brasil Marcos Neves Fava Governo Brasil Tatiana Segovia Tobias Michel Governo Brasil Margarida Munguba Cardoso Governo Brasil Telma Maranho Gomes Governo Brasil Maria Amelia Souza Reis Governo Brasil Teresa Sacchet Governo Brasil Maria América Menezes Bonfim Hamu Governo Brasil Thalma Rosa de Almeida Governo Brasil Maria Cristina Rodrigues do Paraiso Governo Brasil Thássia Alves Governo Brasil Maria de Fatima Pereira Alberto Governo Brasil Thiago Poggio Pádua Governo Brasil Maria de Lourdes Magalhães Governo Brasil Thiago Thobias Governo Brasil Maria Izabel da Silva Governo Brasil Thor Saad Ribeiro Governo Brasil Maria Rosangela de Jesus Lucena Governo Brasil Ubirajara da Costa Machado Governo Brasil Maria Senharinha Soares Ramalho Governo Brasil Valdiosmar Vieira dos Santos Governo Brasil Maria Teresa Calabrich Campos Governo Brasil Valéria Cristina da Trindade Feitoza Governo Brasil Mariana Ulhoa de Faria Quintaneiro Governo Brasil Valeria Maria de Massarani Gonelli Governo Brasil Mariane Josviak Governo Brasil Valesca de Morais do Monte Governo Brasil Marinalva Cardoso Dantas Governo Brasil Vanessa Dolce de Faria Governo Brasil Mário dos Santos Barbosa Governo Brasil Vanidia Kreibich Governo

130 ANEXOS PARTICIPANTES

PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR Brasil Vera Lúcia Campelo da Silva Governo Brasil Maria Luiza Moura Oliveira Sociedade Civil Brasil Warley Lima de Oliveira Governo Brasil Matheus Gomes Santana Sociedade Civil Brasil Wasmália Bivar Governo Brasil Mirian Cristina Norberto Sociedade Civil Brasil Wellington Fávaro Governo Brasil Nathalia Gomes de Freitas Sociedade Civil Brasil Zéu Palmeira Sobrinho Governo Brasil Nilson Caetano Bezerra Sociedade Civil Brasil Presindete Dilma Rousseff Governo Brasil Noé Soares Moreira Sobrinho Sociedade Civil Brasil Luiz Alberto Figueiredo Machado Governo Brasil Paulo Henrique Americo Lucindo Sociedade Civil Brasil Eduardo dos Santos Governo Brasil Rafael Alves da Silva Sociedade Civil Brasil Carlos Antonio Paranhos Governo Brasil Rafael Custódio de Lima Sociedade Civil Brasil Tovar da Silva Nunes Governo Brasil Raimunda Nonata Mesquita Bezerra Sociedade Civil Brasil Fernando Igreja Governo Brasil Regina Maria da Silva Moreira Sociedade Civil Brasil Manoel Dias Governo Brasil Renata de Fátima Oliveira Sociedade Civil Brasil Gilson Alceu Bittencourt Governo Brasil Rogério Conceição da Silva Sociedade Civil Brasil Marcelo Cardona Rocha Governo Brasil Rosiane Patrícia Maciel Barbosa Sociedade Civil Brasil Tereza Campello Governo Brasil Rosinete Veloso Camelo Sociedade Civil Brasil Nilton Fraiberg Machado Governo Brasil Sarah Nunes Farhat Sociedade Civil Brasil Luís Antônio Camargo de Melo Governo Brasil Sarah Susane Ferreira Rodrigues Sociedade Civil Brasil Sandra Rosado Governo Brasil Suelem Caroliny Ferreira da Costa Sociedade Civil Brasil Maria do Rosário Nunes Governo Brasil Suellen Caroliny Ferreira Da Costa Sociedade Civil Brasil Diogo de Sant’Ana Governo Brasil Suzana Gabriele Balbino da Silva Sociedade Civil Brasil Carlos Bezerra Jr. Governo Brasil Tânia Sleyne Pacheco Cellet Sociedade Civil Brasil LUCIANA SANTOS Governo Brasil Tânya Pacheco Sociedade Civil Brasil Governo Brasil Thailane Soares de Oliveira Sociedade Civil Brasil Agnelo Queiroz Governo Brasil Thamires Rozeno da Hora Sociedade Civil Brasil Maria do Rosário Nunes Governo Brasil Vera Lúcia Rozendo da Hora Sociedade Civil Brasil Gleisi Helena Hoffmann Governo Brasil Wesley Pizzol Busatto Sociedade Civil Brasil Governo Brasil Weverson Antônio da Silva Sociedade Civil Brasil Governo Brasil Leidiane da Silva Gomes Sociedade Civil Brasil Miriam Belchior Governo Brasil Adriana Duarte Araujo Sociedade Civil Brasil Gilberto Carvalho Governo Brasil Alethéia Vieira Sociedade Civil Brasil Paulo de Martino Jannuzzi Governo Brasil Ana Lucia Kassouf Sociedade Civil Brasil Nilmario Miranda Governo Brasil Anderson Lucas da Silva Novaes Sociedade Civil Brasil Carlos Alberto Reis de Paula Governo Brasil Andrea Dayse Bochi Sociedade Civil Brasil Antonio Ribeiro Ferreira Governo Brasil Caio Luiz Carneiro Magri Sociedade Civil Brasil Gustavo Ponce de Leon Soriano Governo Brasil Carlos Eduardo Moreira de Souza Sociedade Civil Brasil Helena Concepción Felip Salazar Governo Brasil Denise de Carvalho Campos Sociedade Civil Brasil Kátia Magalhães Arruda Governo Brasil Denise Maria Cesario Sociedade Civil Brasil Lelio Bentes Corrêa Governo Brasil Elizabeth Serra Oliveira Sociedade Civil Brasil Ricardo Tadeu Marques da Fonseca Governo Brasil Françoise Trapenard Sociedade Civil Brasil Tiago Falcão Silva Governo Brasil Fu Kei Lin Sociedade Civil Brasil Paulo Luiz Schmidt Governo Brasil Gilbert Scharnik Sociedade Civil Brasil Jeferson Luiz Pereira Coelho Governo Brasil Glícia Thais Salmeron de Miranda Sociedade Civil Brasil Paulo Sérgio de Almeida Governo Brasil Isa Maria de Oliveira Sociedade Civil Brasil Sérgio Araújo Sepúlveda Governo Brasil Lisandra Nazaré Roma Assunção Leite Sociedade Civil Brasil Carlos Alberto Reis de Paula Governo Brasil Lourdes Marinho Sociedade Civil Brasil Duncan Semple Governo Brasil Magda de Lourdes Barbosa Sociedade Civil Brasil Alanna Mangueira Santos Sociedade Civil Brasil Maria América Ungaretti Sociedade Civil Brasil Bruno de Oliveira Ferreira Sociedade Civil Brasil Maria Célia Giudicissi Rehder Sociedade Civil Brasil Carlos Alberto Oliveira Moraes Sociedade Civil Brasil Maria Gabriella Bighetti Thomaz da Silva Sociedade Civil Brasil Claudete Conceição da Silva Sociedade Civil Brasil Marilza Aparecida de Lima Sociedade Civil Brasil Clemildo Vasconcelos de Lima Sociedade Civil Brasil Marli Helms Demuner Sociedade Civil Brasil Daniel da Silva Mendes Sociedade Civil Brasil Miriam Maria José dos Santos Sociedade Civil Brasil Danielle Fiel de sousa Sociedade Civil Brasil Moisés Barbosa Ferreira Costa Sociedade Civil Brasil Dayana de Araújo Silva Sociedade Civil Brasil Nilton Lopes Sociedade Civil Brasil Elisangela Nunes Cordeiro Sociedade Civil Brasil Patrícia Mara Santin Sociedade Civil Brasil Fábio José do Espírito Santo Souza Sociedade Civil Brasil Paula Cerquino Faria Lemos da Fonseca Sociedade Civil Brasil Fellipe Gabryel Maciel Xaud Sociedade Civil Brasil RAFAEL LUCCHESI Sociedade Civil Brasil Filipe Campos Borges Sociedade Civil Brasil Roselaine Bonfim de Almeida Sociedade Civil Brasil Harllas Tais Santos de Souza Ramos Sociedade Civil Brasil ROSEMARI MOTA COLDIBELLI Sociedade Civil Brasil Hilamy Mar Moreira Sociedade Civil Brasil Solange Nunes Sociedade Civil Brasil Ítalo Carlos Meotti Sociedade Civil Brasil Welinton Pereira da Silva Sociedade Civil Brasil Janayna Crepaldi da Silva Sociedade Civil Brasil Luiz Inacio Lula da Sailva Sociedade Civil Brasil Jerusa Nascimento Ferreira Gama Sociedade Civil Brasil Alana Ferreira de Lima Sociedade Civil Brasil José Antônio da Silva Sousa Sociedade Civil Brasil Andrea Simi Sociedade Civil Brasil José Eduardo de Souza Machado Sociedade Civil Brasil Angelo Antonio Mugia Sociedade Civil Brasil Júlio César Evangelista de Araújo Sociedade Civil Brasil Antonio Marcelino Alves Oliveira Cabral Sociedade Civil Brasil Kássia Cristina Soares Barbosa Sociedade Civil Brasil Beatriz Rodrigues de Oliveira Sociedade Civil Brasil Laiana de Jesus Sousa Sociedade Civil Brasil Bruno Macedo Andrade Sociedade Civil Brasil Laisnanda da Silva de Sousa Sociedade Civil Brasil Cristiano de Souza Miranda Sociedade Civil Brasil Leidiane da Silva Gomes Sociedade Civil Brasil Dayane Nunes de Freitas Sociedade Civil Brasil Lucas Matheus Farias Silva Sociedade Civil Brasil Débora Vieira de Souza Sociedade Civil Brasil Lucas Soares de Oliveira Sociedade Civil Brasil Diego Boscolo Madureira Sociedade Civil Brasil Marco Antônio do Nascimento Gama Sociedade Civil Brasil Edilson Ventureli Sociedade Civil Brasil Maria Julia Ferreira Soares Sociedade Civil Brasil Edmilson Venturelli Sociedade Civil

III CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE TRABALHO INFANTIL - RELATÓRIO FINAL 131 PARTICIPANTES

PAIS / ORGANIZAÇÃO NOME SETOR

Brasil Erick David dos Santos Sociedade Civil Brasil Everton Saint Clair Soares Sociedade Civil Brasil Fabiana Ribeiro da Silva Sociedade Civil Brasil Fernando Martins Sociedade Civil Brasil Francis Bueno da Silva Sociedade Civil Brasil Geiziane de Oliveira Souto Sociedade Civil Brasil Giselle Sanches de Almeida Sociedade Civil Brasil Gustavo Filippe de Souza Sociedade Civil Brasil Ivanildo Oliveira Jesus Sociedade Civil Brasil Janaina de Sousa Santos Sociedade Civil Brasil Jean Carlos Martins Sociedade Civil Brasil Jessica Alves Oliveira Sociedade Civil Brasil Joandra Ribeiro Gomes Sociedade Civil Brasil Joelson de França Ferreira Sociedade Civil Brasil Juan Rogers Soares Rodrigues Sociedade Civil Brasil Kaique Marangoni Brito Sociedade Civil Brasil Karla Cristiny Moraes da Silva Sociedade Civil Brasil Kimayr Rodrigues dos Santos Sociedade Civil Brasil Lucas Andrade Lacerda Diniz Sociedade Civil Brasil Lucas Fiuza Martins Sociedade Civil Brasil Lucas Moraes de Souza Sociedade Civil Brasil Mariana Soares Freires Sociedade Civil Brasil Marina Mello Andrade Sociedade Civil Brasil Mário Alves Guimarães Sociedade Civil Brasil Marivanerson dos Santos Silva Sociedade Civil Brasil Mateus Lucas da Silva Lucena Sociedade Civil Brasil Micaele Gomes Neri Sociedade Civil Brasil Moisés Cavalcanti Sociedade Civil Brasil Monique Alves da Costa Sociedade Civil Brasil Nayanecéia dos Santos Silva Sociedade Civil Brasil Pedro Henrique Nascimento de Souza Sociedade Civil Brasil Rafael Negrini de Sá Ferreira Sociedade Civil Brasil Rafaela Santos Nawoé Sociedade Civil Brasil Raphael Henrique dos Santos Silva Sociedade Civil Brasil Raquel Porangaba Sociedade Civil Brasil Roberton Rodrigues de Paula Sociedade Civil Brasil Tainan Cristina Santos Gabriel Sociedade Civil Brasil Thaynara Sepulveda de Jesus Sociedade Civil Brasil Viviane Marques da Silva Sociedade Civil Brasil Wagner Esperidião Felipe Sociedade Civil Brasil Ana Cláudia de Macêdo Trabalhador Brasil Angelo Anderson Andrade Coimbra Trabalhador Brasil Antonio de Lisboa Amancio Vale Trabalhador Brasil Antonio Mario Galvão da Veiga Trabalhador Brasil Carlos Rogerio Nunes Trabalhador Brasil Claudir Mata Magalhães Sales Trabalhador Brasil Expedito Solaney Pereira de Magalhães Trabalhador Brasil Fatima Da Silva Trabalhador Brasil Gabriela Cristhina Teixeira de Avila Trabalhador Brasil José Vanilson Cordeiro Trabalhador Brasil Jovenilson Alves de Souza Trabalhador Brasil Laerte Teixeira da Costa Trabalhador Brasil Lourdes Aparecida de Jesus Vasconcelos Trabalhador Brasil Maria José Morais Costa Trabalhador Brasil Paulo Dante Trabalhador Brasil Paulo Henrique de Melo Lago Trabalhador Brasil Rumiko Tanaka Trabalhador Brasil Sonia Regina Faustino Trabalhador Brasil Tânia Dornellas Trabalhador Brasil Valclecia Trindade Trabalhador

132 ANEXOS