Quando O Inimigo Ultrapassa a Fronteira: As Conexões Repressivas Entre a Ditadura Civil-Militar Brasileira E O Uruguai (1964-1973)
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA Ananda Simões Fernandes QUANDO O INIMIGO ULTRAPASSA A FRONTEIRA: AS CONEXÕES REPRESSIVAS ENTRE A DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA E O URUGUAI (1964-1973) Porto Alegre 2009 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA Ananda Simões Fernandes QUANDO O INIMIGO ULTRAPASSA A FRONTEIRA: as conexões repressivas entre a ditadura civil-militar brasileira e o Uruguai (1964-1973) Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em História. Orientador: Prof. Dr. Enrique Serra Padrós Porto Alegre 2009 Ananda Simões Fernandes QUANDO O INIMIGO ULTRAPASSA A FRONTEIRA: as conexões repressivas entre a ditadura civil-militar brasileira e o Uruguai (1964-1973) Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em História. Aprovada em 15 de maio de 2009. BANCA EXAMINADORA _________________________________ Prof. Dr. Álvaro Hugo Rico Fernández Universidad de la República _________________________________ Prof. Dr. Helder Gordim da Silveira Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul _________________________________ Prof. Dr. Cesar Augusto Barcellos Guazzelli Universidade Federal do Rio Grande do Sul Canto, que mal me sales cuando tengo que cantar espanto. Espanto como el que vivo como el que muero, espanto. De verme entre tantos y tantos momentos de infinito en que el silencio y el grito son las metas de este canto. Estadio Chile – Somos cinco mil , Víctor Jara Às vitimas da “Segurança Nacional”, por acreditarem em um mundo mais justo e igualitário. Me preguntaron como vivía, me preguntaron; sobreviviendo, dije, sobreviviendo. Sobreviviendo , Víctor Heredia Aos sobreviventes, que carregam consigo as marcas da luta contra o horror. Los desaparecidos que se buscan con el color de sus nacimientos, el hambre y la abundancia que se juntan, el mal trato con su mal recuerdo. Todo está clavado en la memoria, espina de la vida y de la historia. La memoria , León Gieco Aos familiares, pela luta pela verdade e contra a impunidade. Dicen que no están muertos; escúchalos, escucha, mientras se alza la voz que los recuerda y canta. Otra voz canta , Circe Maia - Daniel Viglietti Aos que não se calam e denunciam as ditaduras, impedindo que elas sejam esquecidas. AGRADECIMENTOS À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que possibilitou a realização dessa pesquisa. Aos professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em História desta Universidade, pelo auxílio prestado. Aos pesquisadores que me forneceram documentos, contribuindo para a pesquisa, em especial à Teresa Marques e ao professor Marco Villabos, que de forma tão generosa me emprestaram sua documentação. À professora Clara Aldrighi, pela gentileza com que sempre me tratou, fornecendo-me bibliografia, trocando idéias e materiais. Ao Guillermo Rallo, por compartilhar sua história de luta e sobrevivência nos difíceis tempos no Uruguai. Ao professor Helder Gordim da Silveira, que contribuiu para este trabalho, dando sugestões valiosas durante a qualificação. Ao professor Cesar Guazzelli, meu primeiro orientador, com quem eu iniciei o percurso do estudo da ditadura brasileira, e por ter sempre acreditado em mim. À Ligia, que de forma tão generosa e abnegada, ofereceu-se para corrigir a minha dissertação (isso quando eu ainda estava na graduação!). Porém, os erros que persistiram são meus. Aos funcionários das instituições em que pesquisei. No Uruguai, especialmente ao Álvaro Corbacho, funcionário do Arquivo Histórico-Diplomático do Ministério de Relações Exteriores, e ao Gustavo Espiga, funcionário da Hemeroteca da Assembléia Nacional, por atenderem tão bem a la chica brasileña . No Rio Grande do Sul, à Eliana Fernandes Álvares, funcionária, na época, do Acervo da Luta Contra a Ditadura, e também aos funcionários do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa. Aí, vai um abraço especial para o “Beto”, que, por mais que às vezes não me deixasse pesquisar porque queria conversar sobre os problemas do mundo (e os do museu), sempre me ajudou muito, tanto na época em que fui estagiária do setor de Imprensa, quanto durante a pesquisa da dissertação. À minha família, pelo carinho e incentivo: Sílvia, Brisa e Ishtar. Aos colegas do curso de pós-graduação, em especial aos que se dedicam ao estudo da temática das ditaduras de Segurança Nacional, com quem partilhei várias discussões: Caroline, César, Charles, Fabiano, Gustavo, Jorge, Taiara e Teresa. Aos amigos que fiz no curso de História, e que foi denominada de “Horda da História”. Aos momentos maravilhosos que passamos juntos, maravilhosos exatamente porque eram vocês: Beck, Carla, Charles, Josué, Luciano, Luzia, Paulo, Rafael, Sílvia e Tiago. À Sílvia, que, apesar de já ter sido citada duas vezes, merece essa em especial, pois, além de ser minha mãe e minha colega, é fundamentalmente minha amiga. Entre tantas coisas proporcionadas – amor, carinho, amizade, brigas e discussões – refiro-me a uma especialmente: partilhar comigo “la nuestra gran madre América” . Boa parte da minha formação latino-americana – fundamental para mim – deve-se a ela. Por fim, gostaria de agradecer ao professor Enrique Padrós. Sem ele, esta dissertação seria impensável e inexecutável. Palavras não são suficientes para expressar a minha gratidão a este maravilhoso professor e orientador, exemplo para todos, que coloca seu coração e sua alma em tudo que faz, principalmente quando se trata de temas traumáticos como o das ditaduras de Segurança Nacional. Este trabalho também é teu. Muito obrigada! ¡Muchas gracias! Num tempo página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória Das nossas novas gerações Dormia a nossa pátria mãe tão distraída sem perceber que era subtraída Em tenebrosas transações. Vai passar , Chico Buarque e Francis Hime Cantamos porque el río esta sonando y cuando suena el río suena el río. Cantamos porque el cruel no tiene nombre y en cambio tiene nombre su destino. Cantamos porque el niño y porque todo y porque algún futuro y porque el pueblo. Cantamos porque los sobrevivientes y nuestros muertos quieren que cantemos. […] Cantamos porque llueve sobre el surco y somos militantes de la vida y porque no podemos ni queremos dejar que la canción se haga ceniza. Por qué cantamos , Mario Benedetti e Alberto Favero Ninguna dictadura latinoamericana es autodidacta. Eduardo Galeano RESUMO Esta dissertação tem por objetivo demonstrar as conexões repressivas estabelecidas entre a ditadura civil-militar brasileira e o Uruguai ainda em seu período democrático, desde 1964 até 1973, anos em que esses países sofreram o golpe de Estado, respectivamente. Analisa-se a ditadura brasileira a partir do conceito de Terrorismo de Estado, considerando-se que esta pode ser assim caracterizada tanto pela sua política no plano interno quanto no plano externo. Ou seja, o regime civil-militar promoveu o Terrorismo de Estado ao aplicar as diretrizes da Doutrina de Segurança Nacional na luta interna contra a “subversão”, mas também ao exportar técnicas repressivas para os demais países do Cone Sul, ajudando a cooperar com as ditaduras que seriam instituídas a partir dos golpes de Estado na década de 1970. Desde o golpe de 1964, o Brasil, em cooperação com as forças de segurança do Uruguai, possuía um sistema de informações para averiguar as ações dos exilados brasileiros que se aí encontravam. A partir da decretação do Ato Institucional nº. 5, em dezembro de 1968, começavam os “anos de chumbo” da ditadura brasileira, período de maior repressão e de intensivo intercâmbio de técnicas coercitivas. No Uruguai, neste momento, com o governo Pacheco Areco, iniciava-se a escalada autoritária neste país. Nessa conjuntura, o Brasil passou a se preocupar não somente com o seu “inimigo interno” no Uruguai (os exilados), mas também com o “inimigo interno” deste país ( Movimiento de Liberación Nacional – Tupamaros e Frente Amplio ), levando a ditadura brasileira a contribuir na espiral autoritária desencadeada pelas administrações Pacheco Areco e Bordaberry. Desse modo, o governo brasileiro colaborou para divulgar junto ao Uruguai mecanismos repressivos já experimentados no seu interior e que contribuíram na implantação do Terrorismo de Estado nesse país durante a sua ditadura. PALAVRAS-CHAVE: Ditadura de Segurança Nacional. Brasil. Uruguai. Conexões repressivas. Terrorismo de Estado. ABSTRACT The aim of this study is to demonstrate the repressive connections established between the Brazilian civilian-military dictatorship with Uruguay still in its democratic period, since 1964 up to 1973, yearsin wich countries suffered the coup d’etat , respectively. Brazilian dictatorship was analyzed from the concept of the State Terrorism, which considers the politics aspects in the internal and in the external plan as well. That is, the dictatorship promoted the State Terrorism when applying the lines of direction of the National Security Doctrine in the internal fight against the “subversion”, but also when exporting repressive techniques to the too much countries of the South Cone, cooperating with the State Terrorism that would be instituted in