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VIDA SELVAGEM MUNDIAL

mas de habitações humanas desde que aí encon- tre cavidades adequadas, no cimo de troncos largos. Os casais formam-se para toda a vida que, nestas aves, pode ser relativamente longa Calau- (algumas dezenas de anos). A fêmea incuba sozinha os 2 ovos durante cerca de um mês e meio, sendo alimentada pelo macho. As asas curtas e arredondadas do calau não permitem grandes deslocações e, muito de- menos, migrações, mas são muito eficazes nas manobras aéreas entre a vegetação da floresta. O bico encontra-se adornado por um casco supe- rior oco, muito provavelmente utilizado como câmara de ressonância dos fortes cacarejos e guinchos emitidos em série como chamamento ou Sulu sinal de alarme. Por outro lado, o longo tamanho do bico permite ao recolher, na extremida- de dos ramos, o seu alimento, o qual é depois cortado com ajuda de pequenos entalhes que o bico possui na margem das mandíbulas. A dieta base é constituída por frutos da floresta, mas pode incluir também insectos e pequenos répteis.

Calau-de-Sulu

À beira da extinção, devido à desflorestação e à Reino: Animalia Filo: Chordata insegurança política das ilhas onde vive. Classe: Aves Ordem: () Família: Bucerotidae Género: Espécie: Anthracoceros montani Caracterização Ave de grande tamanho com bico longo e preto, provido de O Arquipélago de Sulu é uma constelação mas também um tão elevado número de espécies um casco superior. Dorso preto com tons esverdeados. com cerca de 900 ilhas, ilhéus vulcânicos e em perigo e sem grandes perspectivas de conser- Cauda completamente branca. Íris do olho, creme no macho, atóis, situada a nordeste de Bornéu. Constituiu vação. Uma dessas espécies é o calau-de-Sulu castanho-escura na fêmea. Comprimento: 70 cm. durante séculos um sultanato muçulmano mais (Anthracoceros montani), uma ave em perigo Distribuição tarde subjugado por espanhóis, americanos e crítico de desaparecer para sempre. Espécie endémica do Arquipélago de Sulu (Filipinas), hoje japoneses, estando, desde 1990, integrado na Outrora bastante abundante por todo o aparentemente reduzida a uma pequena população, com menos de 20 casais, localizada na ilha Tawitawi e, eventual- Região Autónoma do Mindanao Muçulmano arquipélago (à excepção de Basilan, a ilha mais mente, nalgumas pequenas ilhas adjacentes. (Filipinas), embora grupos radicais aí continuem setentrional), esta espécie encontra-se hoje limi- Protecção a lutar pela criação de uma república islâmica tada a Tawitawi e talvez a algumas pequenas Considerada como espécie “em perigo crítico de extinção” independente. A profusão de ilhas, a sua posi- ilhas adjacentes, tendo, tudo o indica, desapare- pelo último relatório da IUCN (2008). Incluída no Anexo II da CITES. ção biogeográfica como ponte entre o Bornéu e cido já de Jolo face à galopante desflorestação as Filipinas e a insegurança política reinante desta ilha. Em Tawitawi, uma ilha cerca de cinco Espécies semelhantes ajudam, em parte, a explicar por que é que esta vezes menor que o Algarve e situada a sul do As únicas outras espécies de calaus que habitam o Arquipé- lago de Sulu são o calau-de-Mindanao (Penelopides affinis) região possui uma tão grande biodiversidade arquipélago, a ave sobrevive nas montanhas e o calau-de-bico-vermelho (Buceros hydrocorax), mas centrais, frequentando as florestas primárias de ambas aí ocorrem apenas na ilha Basilan, uns 300 km a damares (árvores de grande porte pertencentes à nordeste de Tawitawi. Em Sabah, região da ilha de Bornéu família Dipterocarpaceae), cada vez mais escas- vizinha de Tawitawi, vivem 8 outras espécies, entre as quais duas muito próximas do calau-de-Sulu: o calau-negro sas e ameaçadas, nomeadamente, por planta- (Anthracoceros malayanus), de corpo totalmente preto, e o ções de palmeira-de-óleo e outras culturas. Cal- calau-malhado (Anthracoceros albirostris), com ventre e cula-se em menos de 20 casais a população de face inferior da cauda brancos. calaus sobreviventes, numa área florestal de 25- 30 mil hectares em contínuo retrocesso. Ainda por cima, esta ave é tradicionalmente caçada para aproveitamento da carne (sobretudo as crias) ou simplesmente utilizada como alvo de treino de milícias armadas, circunstância que obviamente não favorece a aplicação das ade- Calau-de-Mindanao Calau-de-bico-vermelho quadas medidas de conservação. Estas teriam de passar, antes de mais, pela preservação efectiva das principais manchas florestais ainda existen- tes, complementada com campanhas de informa- ção e sensibilização das populações locais. O calau-de-Sulu depende inteiramente das árvores de grande porte para nidificar, não se importando de ocupar zonas relativamente próxi- Calau-negro Calau-malhado

Bibliografia: Collar, N.J. et al (2001) eds. “Threatened of Asia” (BirdLife International); “Sulu ” (www.birdlife.org). Ilustrações: Desenho - Gonzales, P.C. & Rees, C.P. (1988) “Birds of the Philippines” (Haribon Foundation); Foto - Desmond Allen (www.animalpicturesarchive.com); calau-de-Mindanao - Blake Matheson (Flickr / Creative Commons); calau-de-bico-vermelho - Magalhães (Wikimedia Commons); calau-negro - Neil Phillips (Flickr / Creative Commons); calau-malhado - John Mosesso (NBII / Wikimedia Commons) . Textos: Almargem (2009).

madressilva enciclopédia de biodiversidade (www.almargem.org)