A UNIÃO ESCOLA DE JORNALISMO Personagens • Dalmo Oliveira • Juvinete de Lourdes deste livro • Denise Vilar • José Carlos dos Anjos • Dandara Costa Wallach • Albiege Fernandes • Domingos Sávio • Luiz Augusto Crispim • Agnaldo Almeida • Edmilson Lucena • Luis Tôrres • Antonio Costa • Evandro da Nóbrega • Linaldo Guedes • Alexandre Nunes • Eduardo Carneiro • Lidiane Gonçalves • Alexandre Macedo • Eloise Elane • Leonardo Andrade • Abelardo Oliveira • Edson Matos • Lucas Campos • Adriana Crisanto • Fernando Moura • Marti nho Moreira Franco • Asti er Basílio • Franco Ferreira • Marcos Pereira • Augusto Magalhães • Fábia Carolino • Marcos Alfredo • Augusto Pessoa • Frutuoso Chaves • Marcos Russo • Ana Lustoza • Fernando Patriota • Maria Helena Rangel • Ademilson José • Felipe Gesteira • Nathanael Alves • Antonio Moraes • Fernando Maradona • Nelson Coelho • Anézia Nunes • Gonzaga Rodrigues • Nonato Guedes • Adrizzia Silva • Gisa Veiga • Nonato Nunes • Antonio David • Gilvan de Brito • Naná Garcez • Alberi Pontes • Geraldo Varela • Napeleão Ângelo • Arnóbio Costa • Guilherme Cabral • Naudimilson Ricarte • Beth Torres • Giovanni Meireles • Orti lo Antonio • Carlos Romero • Geovaldo Carvalho • Petrônio Souto • Cleane Costa • Grygena Targino • Paulo Sérgio Carvalho • Carlos Vieira • Gledjane Maciel • Paulo de Pádua • Carmélio Reynaldo • Hélio Zenaide • Ricardo Couti nho • Cardoso Filho • Heraldo Nóbrega • Rui Leitão • Costa Filho • Iluska Cavalcante • Rafaella Gambarra • Cristi ano Machado • Josélio Carneiro • Rodrigo Caldas • Cícero Félix • José Octávio de Arruda • Ricco Farias • Carlos Pereira Mello • Rogério Almeida • Clelia Toscano • Josinaldo Malaquias • Raquel Almeida • Clóvis Roberto • José Nunes • Roberto Carlos Freire • Clóvis Gaião • José Eufl ávio • Sérgio de Castro Pinto • César Nitão • Joanildo Mendes • Silvana Sorrenti no • Janildes Andrade • Satva Costa • João Evangelista • Thamara Duarte • Jorge Resende • Tião Lucena • Jãmarri Nogueira • Tônio • Joana Belarmino • Virginius da Gama e Melo • Jacinto Barbosa • Wellington Farias • Walquíria Maria • William Costa • Walter Santos • Walter Galvão • Werneck Barreto

FICHA TÉCNICA

Idealização, pesquisa e projeto editorial Jornalista Josélio Carneiro / JCA Edições

Produção Gráfica A União - Superintendência de Imprensa e Editora

Revisão Antônio Moraes

Supervisão Gráfica Jacinto Júnior

Capa e Diagramação Naudimilson Ricarte

Tiragem 300 exemplares

Fotografias: Evandro Pereira, Marcos Russo, Ortilo Antonio, Edson Matos, Antonio David, Walter Rafael, Nyll Pereira, Felipe Gesteira, Augusto Pessoa, Alexandre Dias, Delmer Rodrigues, Roberto Guedes, João Lobo, Juliana Santos e Sônia Belizário. Acervo de A União, arquivos pessoais, além de captação na Internet.

Apoio Cultural: Governo do Estado/Secom-PB | Francisco Caetano | PBGÁS | PainelEletrônico.net

Catalogação na publicação

U58 A União escola de jornalismo / Josélio Carneiro (Organizador). – João Pessoa : A União, 2018. 368 p. : il.

ISBN: 978-85-922930-1-7

1. Historiografia. 2. Memórias - Jornalismo. I. Carneiro, Josélio.

CDU 82-94(813.3)

Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Josélia Oliveira CRB15/113

Nota do editor: As opiniões/informações expressas nos depoimentos são de responsabilidade de cada um dos autores.

Todos os direitos reservados para © by Josélio Carneiro A reprodução de qualquer parte desta obra só é permitida mediante autorização expressa do autor.

João Pessoa - PB, 2018 – Foi feito o depósito legal FALA GOVERNADOR S A ni o s a ser o ornal e o os os arai anos Ricardo Couti nho

RE CIO Jornalista Luis Tôrres - Secretário de Comunicação Insti tucional do Governo da Paraíba U A RESEN A O Jornalista Albiege Fernandes - Superintendente de A União Superintendência de Imprensa e Editora IN ROD O M Josélio Carneiro

DEDICA RIA Capítulo I - Anos Á Capítulo II - Anos

Capítulo III - Anos Capítulo IV - Anos R Capítulo V - Anos

Capítulo VI - Anos Capítulo VII - Anos I Capítulo VIII - Anos a Capítulo IX - ICONO RA IA O

FALA GOVERNADOR N vida queaspessoas têm”. de condição da caminho o então Psicologia, da no caminho no Filosofi Discussões Sociologia, da da caminho a, traz. jornal discussões outro mais nenhum muito que traz União A atemporais. seja, coisas Ou em muito mesmo trabalha ao tempo e notí o cia da verdade busca notí a cia, e contexto da repercussão que do a mais provocar que, jornal um extremamente é e editorial diferenciada qualidade uma diário Um com muito. melhorou União A jornal “o Em entrevista à imprensa país. paraibana Ricardo afi no rmou: pioneiro algo Braille, Imprensa de i asroornal asero s o ni A visitou A União para inaugurar a Sala Sala a inaugurar para União Couti nho A Ricardo visitou governador o feira, o dia 30 de outubro de 2017, uma segunda- o saaanos arai os o e Ricardo Couti nho GOVERNADOR /2011-2018 Já no programa semanal de rádio “Fala Governador”, gerado pela Rádio Tabajara em rede estadual de emissoras, o governador declarou aos paraibanos: “ Eu estou satisfeito por mais esse passo que A União dá em busca de ser o jornal de todos os paraibanos. Quem tem uma história que é a história da Paraíba como A União, não pode fechar. Ao contrário, tem que cada vez mais ser referência, ser a diferença no meio da informação. A União está mudando e mudando para muito melhor. Não tem o compromisso com o governo de plantão, mas com a Paraíba. É um jornal jovem porque consegue colocar um conjunto de informações de boa qualidade. Eu quero agradecer aqui a Albiege Fernandes, superintendente, e em nome dela, a todos que fazem o jornal e editora A União”, destacou.

8 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO L is rres (*)

Ontem, hoje e sempre

m , entre tantos monumentos, assim como

PREFÁCIO acontece em outras nações europeias, existe um Eque representa com maior intensidade o valor que a França confere aos seus mais destacados gênios. É o Panthéon. Lá, onde está escrito “Aos grandes homens, a Pátria é grata”, num só local, de uma só vez, homenageia-se a trajetória dos grandes vultos franceses, entre pensadores, fi lósofos, escritores, arti stas, políti cos. Lá, numa só caminhada, é possível reverenciar a obra e a vida de fi guras como Rosseau, Voltaire, Descartes, Alexandre Dumas, Emile Zola, Louis Braille, e tantos outros homens e mulheres cuja inteligência e a transpiração superaram a média dos viventes de outrora e conti nuam superando a de hoje, sendo condutores de massas e possuindo, cada qual na sua proporção, como disse Bertrand Russel certa vez, o maior de todos os poderes: o poder sobre o pensamento dos outros. O jornal A União, com seus 125 anos de existência, é, por assim dizer, um Panthéon do jornalismo paraibano. E este livro que o leitor tem nas mãos, diante dos olhos, é ao mesmo tempo a prova e o guia para a visita memorial desse patrimônio. Sendo seu idealizador e editor, o jornalista Josélio Carneiro, certamente um dos mais valorosos pesquisadores da história da comunicação paraibana, um habilitado curador. Pela União, passaram os maiores nomes do jornalismo paraibano. Do passado e da atualidade. Por este livro, passeia boa parte deles. Gente que fazia jornalismo num tempo de pouca tecnologia, mas que para cada lauda escrita tinha, pelo menos, dez livros lidos. Não imagine, no entanto, que esta é uma obra para discutir o futuro do jornalismo impresso, o império das novas mídias, a transformação do jornalismo. O fim disso ou daquilo. Se espera que verá isso por aqui, feche a obra e mergulhe em outra bibliografia. Embora não se despreze que são temas importantes, não é este o propósito deste livro. Ao menos, não diretamente. Aqui, se pretende passear pelas deliciosas histórias de alguns dos gênios da profissão de contar histórias e suas relações pessoais com o centenário matutino. E reverenciá-los. Descobrindo a cada linha escrita, (ou seriam versos?), a diferença daqueles que exercem e exerceram o ofício de escrever muito mais por talento do que por sobrevivência, embora essa última seja a “desculpa” que cada um dos gênios d’A União apresenta quando justifica porque começou a escrever. Claro que, com isso, é possível reforçar a importância do jornal A União na atualidade. E perceber que é preciso mantê-lo rodando, contando a história dos fatos da Paraíba, valorizando-a, e, cultivando a memória de seus imortais, preservando a tradição do jornalismo de respeito, de conteúdo e vocacionado. Mesmo que um dia seja apenas pela e para formação, o jornal A União, que já teve um José Lins do Rego como colaborador, deve continuar cumprindo seu papel. E no papel. A história dessa gente que por lá passou e que por lá ainda hoje passeia o protege dos olhares ameaçadores do futuro. Mergulhemos, portanto, nestas narrativas de amor e vício com o jornal A União. E descubramos, nas experiências de mestres como Luiz Augusto Crispim, Hélio Zenaide, Carlos Romero, Frutuoso Chaves, Gonzaga Rodrigues, Agnaldo Almeida, Nonato Guedes, Martinho Moreira Franco, Walter Galvão, Tião Lucena, Walter Santos, Wellington Farias, Naná Garcez, - só pra citar alguns testemunhos aqui presentes -, porque A União é uma escola onde sobram professores e faltam alunos. Eis o que este livro ensina.

______(*) Secretário de Comunicação Institucional do Governo Ricardo Coutinho – novembro de 2017

10 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO APReSENTAÇÃO F pela informação correta, seja através do jornal, do Diário conglomerado de um jornal e gráfi sim, mas, reparti ca, pública, responsável, uma portanto, ção apenas - longe insumos quecompõe aindústria gráfi ca. fi lmes, chapas, cola e todo o arsenal de equipamentos e de impressão, passei a viver o mundo dos papéis, ti ntas, da diretoria. Curiosa, fuçava máquinas, nasala pedia pra conhecer que o gráfiprocesso do da ca dentro tempo mais desafi Passava no o. cabeça de mergulhar então, gráfi Decidi, parque co. num tampouco imprensa), de entrara Nunca frente.numa redação (exerci minha o jornalismo em rádio à e assessoria abriu se novo mundo empresa, antes detratar sobre olivro. nessa pessoal experiência minha para da resumo leitor(a) um fazer ao objeti licença vidade maior peço a Inicialmente, com possível. missão a cumprir espero sobre “ A ESCOLA DE JORNALISMO”. Mas, já que aceitei, falar tarefacomocomplexa uma portanto,paratempo, anos, sete apenas Pouco Superintendência. a recente: ocupando quais dos quatro é UNIÃO A em vivência

oea oéi Crer, e ognzdr Minha organizador. seu Carneiro, do Josélio - Jornalismo” colega de Escola UNIÃO “A - livro este oi com muita responsabilidade que aceitei apresentar oo ned qe UIO ã ea nm de nem – era não UNIÃO A que entendi Logo um 2011, em técnica, diretoria a assumir Ao Superintendente deAUnião l ie Al enn es ernan e Oficial, seja dos livros aqui editados ou impressos. Com 118 anos à época, o jornal há muito se consolidara como porta-voz do governo estadual, tendo agora a missão de abrir seu conteúdo para mais informações a fim de contemplar os interesses de toda a população leitora. Não poderia ser apenas uma compilação de atos de governo - processo que se desenvolveu de maneira suave e gradativa, sendo, ainda hoje, renovado dia a dia. A requalificação da estrutura física da gráfica começou ainda em 2011, quando todo o imenso galpão foi compartimentado e climatizado, proporcionando conforto, fluidez e dignidade ao trabalho dos funcionários. O ano seguinte foi praticamente dedicado à confecção de editais para compra de novas máquinas. E em 2014 inauguramos um moderno sistema elétrico para operacionalizar o maquinário computadorizado do melhor fabricante de máquinas gráficas, a alemã Heildelberg. A partir dessa modernização, voltamos nosso olhar para o jornal propriamente dito, essa “escola de jornalismo” com prática diária desde a redação de uma pequena nota até a intercalação dos cadernos que compõem a edição impressa. Uma sala foi preparada para abrigar a nova redação: ampla, iluminada, bem aparelhada e, principalmente, democrática. Jornalistas “do batente” ou de formação acadêmica ensinam aos novos diplomados e aos estagiários dos cursos de jornalismo das universidades públicas ou privadas o métier de um jornal, favorecendo seus estágios curriculares. Essa parte, reconheço ser a mais prazerosa da minha gestão administrativa: acompanhar e avaliar os estudantes como se professora fosse. É sentir a mesma responsabilidade e alegria vividas em sala de aula no Departamento de Comunicação da UFPB, entre os anos de 2001 e 2003, quando fui aprovada em seleção simples para professora substituta. Atualmente, a redação conta com sete estagiários que aprendem o fazer jornalístico. A cada conclusão do curso, abrem-se vagas para novos aprendizes. Eles chegam com muita vontade de escrever. Ainda que adeptos e usuários frequentes das novíssimas redes sociais, voltam-se para o mundo mágico, palpável e perene do papel. O exercício coletivo do jornalismo e a convivência física na redação são fascinantes para o aprendiz. O acompanhamento diário do editor-geral, as correções, as dicas dos colegas mais experientes e as instigantes brincadeiras com o humor sarcástico tão inerente ao jornalista – esse profissional que precisa ser crítico e cético, em permanente investigação dos fatos – criam o ambiente em que o aluno de jornalismo aprende o “timing” da profissão. 12 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO

“A UNIÃO – Escola de Jornalismo”, chega numa hora significativa, às vésperas do aniversário de 125 anos de existência do jornal, preservando o modelo que alguns incautos insistem em achar que está se exaurindo. Assim como este livro, de papel, o jornal impresso não vai deixar de existir. A inclusão digital ainda está longe de ser total – aqui ou em qualquer outro lugar do mundo. Por isso, não há como os impressos de uma maneira geral acabarem. As populações sempre terão faixas de juventude e de idosos, estes, invariavelmente, sem tantas aptidões para o mundo virtual. A luz intermitente da tela de um computador ou de um smartfone será sempre uma inconveniência para a pessoa idosa, com problemas de visão. Os teclados cada vez menores, as telas reduzidas ao tamanho de uma caixa de fósforo dificultam a leitura virtual, além de ser tudo muito frio, sem cheiro, sem o prazer de passar as folhas molhando o dedo com a língua, sem o charme de um marcador de páginas. Josélio Carneiro fez recentemente o mesmo com a Rádio Tabajara. Deixou em livro a história da emissora através de depoimentos daqueles (as) que dedicaram a vida profissional aos microfones, à interação com o ouvinte, fosse pelo entretenimento, fosse pelo radiojornalismo. Os paraibanos têm, somente este ano, dois bons volumes históricos para seu deleite. Deixo-os(as) agora, recostados(as) ao conforto dos seus travesseiros, ou diante de suas escrivaninhas cheirando a livro, com as páginas de Josélio nas mãos. Acolham-nas como a um amuleto, um objeto sagrado, como uma coleção de bons amigos. Afinal, eles estão todos aqui dentro, com suas belas e saudosas narrativas de tudo o que viveram e experimentaram entre as paredes desse patrimônio histórico e cultural da Paraíba, assim oficialmente reconhecido por recente lei estadual que timbrou com o selo dos Poderes Legislativo e Executivo o que a sabedoria popular já consagrara como a mais completa escola de jornalismo da Paraíba.

14 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro

ideia de produzir esse livro surgiu no fi nal de 2016 e o jornalista Guilherme Cabral foi o Aprimeiro personagem dessa coletânea a me enviar depoimento. Mas, eu estava empenhado na edição do livro R io a a ara a ri nio C l ral a ara a, obra lançada em junho de 2017 durante sessão especial na Assembleia Legislati va. Por isso, somente retomei o projeto A ni o Es ola e Jornalis o em INTRODUÇÃO meados de 2017, quando passei a convidar amigos e colegas jornalistas para relatarem suas trajetórias n’A União. Os capítulos da obra estão divididos por décadas. É a segunda publicação da marca JCA Edições, nesse caso, em parceria com A União Superintendência de Imprensa e Editora. Confesso, essa experiência é a mais rica até hoje em minha vida profi ssional. Convidar uma centena de jornalistas de diversas gerações e receber um si de 99% é algo grati fi cante e isto me comoveu. Creio que não poderia ser diferente. Quem não tem paixão e memórias sobre seus dias, suas idas e vindas no centenário jornal? A princípio pensei em 60 personagens mas surgiram muitos profissionais nos relatos que me chegavam, então convidei mais e mais pessoas. E fiz com muita satisfação. Alguns nomes foram sugeridos por colegas. A tarefa consistia também em ficar lembrando a quase todos sobre prazos para envio dos textos. Uns poucos foram ágeis no envio dos depoimentos, a maioria não, mas jornalista é assim mesmo, o tempo é corrido. No entanto, se o convite partiu de mim, o maior interessado em organizar uma obra envolvendo um número maior de personagens, então fiz com determinação e dedicação os inúmeros contatos presenciais, por telefone, e-mail, facebook, whatsapp. Valeu a pena! Escrevemos todos nós uma coletânea que soma-se às publicações já existentes sobre A União. O fato ousado e inédito é reunir em um único livro tantos jornalistas, tantos profissionais da Universidade paraibana do fazer jornalístico. O sentimento maior é de gratidão a Deus por me permitir realizar mais um projeto editorial. Grato a minha esposa Cida e nossas filhas Cindy e Ana Maria pela colaboração e incentivo. Reconheço e agradeço o apoio fundamental da superintendente de A União, jornalista Albiege Fernandes, que tornou possível esse livro. Grato ainda a Albiege por suas palavras de estímulo em seu texto de apresentação. Grato sobretudo ao apoio da Secom-PB, fundamental à publicação deste livro, nas pessoas do secretário Luis Tôrres, que escreveu o prefácio e do secretário executivo Tião Lucena, personagem e incentivador desta coletânea. Agradecer também à direção do Bradesco, PBGÁS e a PainelEletrônico.net pelo apoio cultural que viabilizou o projeto. Um agradecimento especial a cada um dos 100 personagens nas pessoas de Gonzaga Rodrigues, Carlos Romero, Martinho Moreira Franco, Agnaldo Almeida, Frutuoso Chaves, Nonato Guedes, Gilvan de Brito, José Octávio de Arruda Mello, Petrônio Souto, Wellington Farias, Walter Galvão, Walter Santos, Guilherme Cabral, Naná Garcez, Thamara Duarte, Fernando Moura, Napoleão Ângelo, que repassava os textos que eu enviava, a Moraes (o eterno revisor de A União). Agradecer ainda a William Costa, Evandro da Nóbrega, Felipe Gesteira, Gilson Renato, Marcos Russo, Evandro Pereira, João Evangelista e a José Carlos dos Anjos Wallach, ele que nos ajudou na escolha do título do livro quando sugeriu ‘A União Minha Escola de Jornalismo’. A cada leitura dos textos que me chagavam por e-mail eu viajava no tempo contemplando depoimentos escritos com a paixão de quem verdadeiramente faz jornalismo. Esse processo de chegada e leitura dos relatos, encaminhamento a Napoleão Ângelo na Redação de A União para imprimir e repassar ao revisor Moraes me consumiu horas e horas diárias entre julho e final de outubro de 2017. A fase seguinte foi editar os capítulos por décadas e corrigir alguma coisa com as cópias em mãos revisadas pelo amigo Moraes.

16 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Faltava o depoimento do governador Ricardo Coutinho. No dia 30 de outubro ele inaugurou a Sala de Redação em Braille n’A União. Estive lá e de sua entrevista extraímos seu relato. O tempo avançava e era preciso seguir para A União e entregar os originais a Naudimilson Ricarte para a diagramação. A capa já estava pronta. Acredito que fui ousado em idealizar e coordenar o livro A ni o Es ola e Jornalis o. Memórias escritas por uma centena de profissionais que juntos criaram páginas de uma história que chega aos 125 anos. O fato inovador foi convidar profissionais de gerações diversas, jornalistas que atuaram no jornal em vários governos. Reunimos nessa coletânea renomados profissionais da imprensa paraibana mas também anônimos jornalistas e até estagiários de A União. O propósito foi esse: mostrar que o jornal Patrimônio Cultural da Paraíba, a melhor e mais tradicional Escola de Jornalismo do Estado é órgão estatal mas o diário mais democrático de todos os tempos em nossa Paraíba. Os governos passam, nós passamos, mas A União é uma marca que existirá por séculos, ou sempre. Caro leitor, me permita uma amostra do conteúdo deste livro em frases de alguns dos seus personagens. Vejam o que diz o ícone da imprensa paraibana Gonzaga Rodrigues ao confessar seu amor pela A União: Você precisa estar ao meu lado, caro Josélio, anexar-se ao jornal, para ver como aos poucos, vagarosamente, dou-me ao prazer (voluptuoso mesmo), de levantar o lençol da primeira página e sair escorregando com os olhos, eu e minha vida, por entre esses blocos e colunas que mudam de assinatura e de técnicas a cada geração sem jamais me dispensarem de os aguardar a cada manhã. Martinho Moreira Franco nos conta em ‘uma história que nunca envelhece’ o seguinte: O baú continua repleto de outras lembranças, mas não abusarei outra vez da paciência do distinto público. Até mesmo em homenagem a este monumento histórico e cultural da Paraíba que não vive só de passado, como os museus, mas que prossegue brilhando intensamente por caminhos que ainda hoje, como colunista de variedades, eu percorro na trilha do sol, do tempo, da estrada, do pé e do chão. E conclui seu depoimento com esta confissão: se a vida é amiga da arte, essa é a parte que A UNIÃO me ensinou. Frutuoso Chaves nos conta breves histórias de um celeiro de talentos. O historiador, escritor e professor José Octávio de Arruda Mello, que foi repórter no início dos anos 1960, relata em seu artigo “Meu relacionamento com A União – Os dois planos de uma vivência” o seguinte: Nela, ainda hoje considero-me em casa, junto à direção,

A UNIÃO 17 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro redação, programação de livros e, principalmente, setor de pesquisas, a que, como historiador, compareço, regularmente, para levantamentos destinados às atividades profissionais. O jornalista Agnaldo Almeida afirma que a Paraíba reconhece o papel d’A União. E revela: comandei uma Redação de craques: Sílvio Osias, Luiz Carlos do Nascimento, Tião Lucena, Wellington Farias, Gisa Veiga, Naná Garcez, Bill Barros, Chico Pinto, Lena Guimarães, Antônio Hilberto, Tarcísio Neves, Carlos Aranha e muitos outros. Já sabendo que cometerei o pecado da omissão, prefiro para por aqui. Lembro agora que até o desembargador Alexandre de Luna Freire, na época estudante de Direito, fazia parte dessa turma, junto com Werneck Barreto, Antônio Feitosa, Benedito Maia e José Coelho Lemos Sobrinho. Gonzaga era o chefe e mentor intelectual de todos nós. O clima amigável e até familiar no ambiente de A União é um fato comprovado. Neste livro há relatos de homens e mulheres que, inclusive se tornaram namorados e constituíram famílias. Podemos citar os casais Agnaldo Almeida e Naná Garcez; Jacinto Barbosa e Clelia Toscano; Fernando Moura e Silvana Sorrentino; Wellington Farias e Eloise Elane; João Evangelista e Grygena Targino. Irmãos também marcam presença nesses laços de família: Nonato e Linaldo Guedes; Tião e Edmilson Lucena, Evandro da Nóbrega e Eraldo Nóbrega, Antônio Barreto Neto e Werneck Barreto. Há ainda o caso de pai e filha: Alexandre Nunes e sua filha Anézia Nunes, estagiária. E os primos Josélio Carneiro e Walquiria Maria, Gilson Renato (diretor técnico) e Felipe Gesteira (Editor Geral). Hélio Zenaide e Goretti Zenaide (tio e sobrinha); Como dizem, A União é uma grande família. Convido os leitores a realizarem uma viagem no tempo. Cada um escreveu com o coração os depoimentos sobre suas trajetórias no jornal mais antigo e mais importante da Paraíba.

18 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO DEDICATÓRIA do BradesconaParaíba. e aoamigoFranciscoCaetano, gerenteregional Conceição Coutinho,JoséAlves,TeresaDuarte, Ortilo Antonio,Jair Santos, Marcos Alfredo,EdsonMatos, Marcos Russo,AntonioDavid,EvandroPereira, Petrônio Souto,NapoleãoÂngelo, Rui Leitão,GisaVeiga,EduardoCarneiro, Ana Lustosa,CleaneCosta,JoãoEvangelista, Nonato Bandeira,GuilhermeCabral, Fernando Moura,JoséCarlosdosAnjosWallach, Evandro daNóbrega,AlaricoCorreiaNeto, Nonato Guedes,WalterSantos, Agnaldo Almeida,AntônioMoraes, Wellington Farias,WalterGalvão,NanáGarcez, Frutuoso Chaves,WilliamCosta, Tião Lucena,ThamaraDuarte, José OctáviodeArrudaMello,BiuRamos, Martinho MoreiraFranco, Gonzaga Rodrigues,CarlosRomero, A AlbiegeFernandes,LuisTôrres, Antonio BarretoNeto(InMemoriam). Goretti Zenaide,NathanaelAlves, Luiz AugustoCrispim,ItamarCândido, A LinduarteNoronha,HélioZenaide, e MarinaCarneiro João MariadeAraújo(inmemoriam) Aos meuspais Cindy eAnaMaria e nossasfi lhas A minhaesposaAparecida Minha escola de jornalismo, ou melhor, de escritor, foi A União. Frequentei suas páginas em várias épocas, como colaborador e, quando “ era secretário de Estado, como redator. No Governo eu mesmo redigia minhas notas. Devo à Imprensa Oficial uma contribuição mais eficaz: foi minha primeira editora. Sem esse apoio inicial eu não teria me lançado, ou teria retardado minha carreira literária ”José Américo de Almeida CA LO I anos 40 Carlos Ro ero

Carlos Ro ero

Es e er a é é o

Crônica publicada n’A União, terça-feira, 7 de novembro de 2017

ste cronista que aqui escreve anda meio esquecido. Dizem que é normal depois dos setenta. E haja vitamina B. Mas, esquecer Eé bom ou é ruim? Depende, dirá você. E eu digo o mesmo. Nem sempre esquecer é bom. Afinal, o que devemos ou não esquecer? Comecemos pela gratidão. Jamais esquecer um gesto de bondade ou um ato de amor, de gentileza. Portanto, sejamos gratos. A começar pela vida que nos foi dada. Haverá maior dádiva? Por acaso, somos joguetes do acaso? Será que o homem, como sentenciou o materialista Sartre, é uma “paixão inútil”? Afinal, a quem agradecer a vida que temos? Se tudo surgiu por acaso, então o acaso é inteligente?... Voltando ao esquecimento, quando é que ele é uma terapia? Ora, ora, quando nos faz bem. Esquecer o mal que alguém nos fez, esquecer o passado pelo que ele conte de negativo, esquecer uma dívida. Sócrates, já perto de ser envenenado pela cicuta, pediu que não deixassem de pagar uma dívida que ele havia contraído. Por que o filósofo não esqueceu aquele compromisso? Para ficar em paz com a sua consciência. A única coisa que levamos desse mundo. Não devemos esquecer os deveres para com a vida. Do contrário seremos irresponsáveis. E a pior coisa do mundo é a irresponsabilidade.

A UNIÃO 23 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Quando você cumpre com os seus deveres, fica aliviado, satisfeito, alegre, de bom humor. Alegre consigo mesmo. Esquecer, lembrar, eis o que está ocorrendo, constantemente, em nossa existência. Esquecer as amizades não é correto. Os amigos devem estar sempre no nosso pensamento, na nossa gratidão. Esquecer os desafetos, sim. Para que está lembrando o mal que nos fizeram? Lembrar é dar vida a uma coisa. Portanto, lembrar os males que nos fizeram é vivificá- los. Daí a estupidez da vingança, da mágoa. Não esquecer o inimigo é estar sintonizado com ele. A vingança não resolve nada. Esquecer as coisas negativas e lembrar as positivas, eis a fórmula do bem-viver. Por que é que as crianças estão sempre alegres, sempre descobrindo as coisas boas da vida? Porque não guardam mágoas. Mágoa é uma desgraça. Mágoa é ressentimento, e ressentimento é uma espécie de azia psíquica. Criança triste é criança doente. A má lembrança é um fardo. Livre-se dela. É belo colocar retratos na parede das pessoas que se foram desta vida. Eis aí uma lembrança que faz bem ao que se lembra e ao que é lembrado, caso você acredite na imortalidade do espírito. Caso contrário, pouco valerá a sua lembrança... Lembrar, esquecer, eis aí dois verbos constantes em nossa vida. Mas Deus é tão grande, justo e bom que nos deu esse esquecimentozinho tardio. Também nos deu o sono, uma boa pausa em que nos tornamos inconscientes. Haverá melhor terapia do que esta? Pena que muitos tenham insônia ou pesadelos. Que, muitas vezes, também depende da vida que se levou durante o dia... Acontece que está me chegando a fome. Eis aí uma coisa de que a gente não consegue esquecer. Esquecer de comer. Nem depois dos setenta...

Não devemos esquecer os deveres para com a vida. Do contrário seremos irresponsáveis. A pior coisa do mundo é a irresponsabilidade.

24 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO CA LO II anos 50 on a a Ro ri es e élio enai e

on a a Ro ri es (*)

A mesma colher

osélio Carneiro me pede uma palavra, um escrito breve das minhas bodas entre ouro e diamante com A UNIÃO. Não seria verdade se Jatribuísse ao jornal de toda a nossa vida o encantamento que me enredou nesse hábito, quanto mais antigo, mais renovável. Em verdade, aprendi a gostar de ler com as seletas encomendadas sob o pedagogismo do meu tempo. No mesmo livro em que abriam a nossa cabeça para as primeiras regras da gramática, abriam nossa natureza para o bom gosto e o exercício da leitura. Ao lado da exortação cívica ou moral de um Rui Barbosa (que dizia com outras palavras ou mais solenemente o que nos recomendavam os pais), vinham os feixes lúdicos de metáforas musicais, doces de ler, que nos incutiam como poesia: “Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o Sabiá; As aves que aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá”. O único atrapalho seria perguntar a dona Querubina se gorjeia era a mesma coisa de canto, de cantar. Depois desse banho lustral já não éramos os mesmos, nem muito menos o sabiá. Mais para diante, já no ginasial, recebi do professor João Viana Correia esta sacudidela: “Ler rans or a”. E como passei, cada vez mais, a sentir na mente e na pele o efeito imediato desse aviso, que

A UNIÃO 27 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro valeu para mim como o “pare, olhe, escute!” das velhas linhas do trem. Vem, então, a leitura do jornal, sempre outra a cada novo dia, envolvendo-nos com a vida mais próxima ou mais remota, com o assalto na esquina ou a bomba no Irã, o confuso próximo ou remoto passado a limpo num texto a nosso alcance, que por ser impresso, documental, tem a obrigação de ser verdadeiro. E o trabalho miúdo, de abelha, como o vi ser feito, letra por letra, a dança dos dedos nos caixilhos de tipos lembrando o arabesco veloz e sutil dos dedos de tia Anita no fazimento do croché. Ede repente as palavras em seu trânsito da antiga rama de metal para a folha impressa. A mão de seu Clóvis encaixando a folha no rolo no segundo certo, numa antecipação da máquina automática. Era “O Rebate” do professor Luiz Gil, semanário campinense que tive o prazer de conhecer, entrando em sua oficina com meu colega de ginásio, Wallace Figueiredo, filho do professor, feito depois jornalista. Foi O Rebate, esfumado na distância do tempo, que me deu a primeira injetada sedutora da coca jornalística. Lá publiquei o primeiro artigo (imaginem!) motivado pelo calçamento da rua principal de Alagoa Nova, com louvação ao prefeito Rogério Martins. Mesmo assim, meu nome impresso! Meu nome em letra de forma - a libertação radical do menino cambado, do moleque olhado de viés pelos bem nascidos da elite analfabeta e posuda dos engenhos em falência. Mas a Campina desse tempo, na onda do rádio, não dava emprego em jornal. O semanário do professor mal apurava para pagar ao chapista e ao impressor. Então rumei de ônibus, com seis horas de viagem, para a capital, infestada de jornais: A Imprensa, A União, O Norte reaparecido na campanha de 1950, ao lado dos jornais episódicos Folha Trabalhista, o Estado da Paraíba, A Tribuna, o Estado, não esquecendo A Crítica, cometa dirigido pelo profissionalismo moderno de Dulcidio Moreira. Cheguei nessa festa, o Ponto de Cem Réis não cabendo de jornalistas e leitores em convívio e intimidade com os protagonistas da política e da cultura. Aqui uma roda em torno de Milanez, ali um cerco a Messias Leite, propagador e declamador de peito aberto lusitano, e assim cada assunto com a sua roda. Os cafés com balcões e mesinhas de mármore embaçados de fumo.

28 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Como chegar ao jornal? Entrei pela escada em caracol da portaria principal, mais polida que as dos palácios ao redor, mas não sem antes explicar que trazia carta do deputado Pereira Diniz para o diretor. Esse Pereira Diniz, meu conterrâneo, fora um sarraceno entre os que formaram na campanha de José Américo. - Vem de onde? – inquiriu um negro vistoso, de colete e gravata, com arroubo de dono e senhor. Foi quando entrei na A União para nunca mais sair, esteja dentro ou fora dos seus quadros. Abro o jornal de hoje, sessenta e cinco anos depois, já não digo com a mesma emoção de quem, sozinho, descobre seu caminho e nele prossegue sem o menor arrependimento. Sem a mais leve inveja dos que alçaram outros planos. Você precisa estar ao meu lado, caro Josélio, anexar-se ao jornal, para ver como aos poucos, vagarosamente, dou-me ao prazer (voluptuoso mesmo), de levantar o lençol da primeira página e sair escorregando com os olhos, eu e minha vida, por entre esses blocos e colunas que mudam de assinatura e de técnicas a cada geração sem jamais me dispensarem de os aguardar a cada manhã. Os nomes são outros, o estilo sofre outras concorrências, mas, como dizia o romancista, comunicador, filósofo e jornalista mordaz Umberto Eco, “a colher é a mesma”.

(*) Jornalista, cronista e escritor, L i on a a Ro ri es, autodidata. Nasceu em Alagoa Nova-PB. Sua carreira jornalística começou em A União, no ano de 1951 como revisor. Gonzaga Rodrigues foi secretário de Estado da Comunicação Social, presidente da Associação Paraibana de Imprensa (API) e da Academia Paraibana de Letras. Em 2006 foi Prêmio AETC-JP de Jornalismo. O mestre Gonzaga é Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

A UNIÃO 29 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro

élio enai e (in memoriam)

Nossa Cons i n ia

Crônica publicada n’A União em 4 de novembro de 1998

Não creio na paz sem ação – é apatia. Que paz satisfaz, sem resultados de alegria e consciência do dever cumprido? Buscando o íntimo nosso, em cada dia, podemos averiguar como vai a nossa paz. Podemos ver o nosso estado de ser e sentir a nossa existência. É no sentir que tomamos consciência de como vamos indo. Quem, em sã consciência, vai se admitir em paz, quando o seu íntimo se recusa a isso? Se a consciência diz que não há paz, como podemos dizer que estamos em paz? Vê que a nossa natureza íntima é solidária com Deus e a nossa consciência traduz esse vínculo, que é permanente em nossas vidas. Podemos até querer enganarmos, fazer ouvido de mercador, quando, lá no íntimo, a nossa consciência dispara o alarme. Mas, querendo ou não, o vínculo existe e sabemos disso. Não adianta tentarmos nos enganar. Quando nada escutamos no nosso íntimo, devemos ficar alertas. A nossa consciência é um dispositivo divino em nosso ser onde encontramos a disposição que nos destina para Deus, de caráter evolutivo e de essência divina. Não podemos ignorá-la, se desejamos a nossa paz. Não podemos evoluir tão somente tocando a vida para a frente, dia após dia a mesma vida.

A UNIÃO 31 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Compreendamos de uma vez por todas: a evolução é uma lei universal, irreversível, e, reconhecidamente, a evolução do espírito é patrimônio para a eternidade. Os patrimônios materiais são efêmeros e passageiros: ficam, não vão conosco. Só os patrimônios do espírito são eternos. Há um impulso evolutivo natural, em todos os seres. Ignorar em nós mesmos essa tendência natural é descaso às leis divinas, e sabemos como é a justiça: se a infrigimos, respondemos por isso. Colhe-se o que se planta! A plantação é livre, mas a colheita é obrigatória. Quando tudo nos parecer confuso por demais, busquemos inicialmente, o silêncio de nossa intimidade. Todos nós precisamos de momentos de silêncio para ouvir a nossa voz interior. Pacientemente, busquemos arrumar os ecos que vêm em nosso auxílio, sabendo escutar, com humildade, em nós mesmos, a turbulência de nosso espírito, para que possamos, afinal, com fidelidade, ouvir a consciência a trabalhar em paz. Não é impossível: é só querer. A disposição virá em função de nossa consciência, e daí a nossa ação em favor de nossa paz. Este é o mecanismo, o roteiro; quem quer começar, é só dar o primeiro passo e não voltar atrás. Nos mantermos vigilantes na nossa intimidade é o que evita o acúmulo de problemas sucessivos em nossa vida e nos resguarda da intranqüilidade, da ansiedade, dos constrangimentos, de tudo o que reflete tão somente a nossa sobrevivência em função do mundo dos encarnados. Vivemos porque somos espíritos encarnados, mas sobrevivemos a esta vida porque somos espíritos imortais. A nossa consciência nos prepara como espíritos encarnados para compreendermos a nossa essência espiritual. Quando a escutas, imaginas onde ela está? Ela está em ti? Fora de ti? Ou na essência divina que és? Tua consciência. Eis a Providência divina te erguendo, querendo te ajudar.

32 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO CA LO III anos 60 José O io e Arr a Mello Marti nho Moreira Franco ir ni s a a a e Melo Frutuoso Chaves Nelson Coelho il an e ri o

(*) Historiador de ofício, com doutorado e pós-doutorado pelos USP e IEB. Professor aposentado dos UFPB, UEPB e UNIPÊ, Integrante dos IHGB, IHGP, APL, API e Centro Internacional . Autor de, entre outros, is ria a ara a L as e Resis n ia (13ª Ed., 2014), Res o a is ria a ara a as ori ens a (2017) e Na Saga do Autinho do Amor ou as Peripécias do Macaco Altino (2017).

José O io e Arr a Mello (*)

Me rela iona en o o a A ni o Os dois planos de uma vivência

S rio Na dimensão de uma ambiguidade. Cordialidade e companheirismo de clube. As faces de um jornal. Da GCE à Segunda Guerra. Da redemocratização peloCorreio as Ar es. Suplemento e Pesquisa Histórica. Um jornal de posições corajosas.

mbora efetivo, meu relacionamento com o jornalA ni o é o que se pode considerar ambíguo. Isso porque, apesar de permanente Ecolaborador deste, nunca pertenci, oficialmente, a seus quadros. Na i ens o e a a i i a e – Da única vez em que dispus dessa condição, vi-me objeto de experiência traumática. Em 1963, era seu credenciado junto à bancada de Imprensa da Assembleia Legislativa, exercido por curto espaço de tempo, devido a acidente que me quebrou a perna, na estrada de Rio Tinto. Mesmo assim, o diretor que desejava o posto para apaniguado, não hesitou em me afastar, o que me abalou as finanças. O tempo, porém, encarregou-se de curar essas feridas, de maneira que se existe lugar onde me sinto à vontade para comparecer a colaborar, mesmo informalmente, isto é, de forma não remunerada, é a velha confreira, como a chamamos. Nela, ainda hoje considero-me em casa, junto à direção, redação, programação de livros e, principalmente, setor de pesquisas, a

A UNIÃO 35 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro que, como historiador, compareço, regularmente, para levantamentos destinados às atividades profissionais. Do repressivo diretor dos anos sessenta, quase nem me lembro mais porque quase todos os demais – Barreto Neto, Nathanael Alves, Agnaldo Almeida, Gonzaga Rodrigues, Murilo Sena, Eraldo Nóbrega, Carlos Vieira, Nonato Guedes, Petrônio Souto, Giovanni Meireles, Nelson Coelho, Ruy Leitão, Ramalho Leite, e, principalmente, Hélio Zenaide, que me evitou as complicações de banho de açude, em 1961 – me trataram com elevação, franqueando-me páginas, quer como jornalista ou pesquisador.

Cordialidade e companheirismo de clube. A condião de afeiçoado de A ni o estende-se até nossos dias. Tanto assim que, o ano passado, a atual superintendente Albiege Fernandes, a Bia, convidou-me para a confraternização natalina onde curti agradáveis momentos, na companhia de, entre outros, redatores Hilton Gouvêia, José Nunes e Guilherme Cabral, cronistas Walter Galvão e Martinho Moreira Franco, editores Conceição Coutinho e Alexandre Macedo, cronistas esportivos Ivo Marques e Geraldo Varela, assessor editorial Deijacy Araújo e Diretor de Operações Gilson Renato. Esses dois últimos merecem especial registro. Se o primeiro, pertencente ao Grupo José Honório, assegura condição sempre vantajosa para meus livros, intermediados por Amável Mello, Gilson Renato conhece, por antecipação, o que me interessa quando o procuro na sala. Trata-se do início do ar es era Cr , de Roberto Aldrich, que ele sempre passa para mim, por havê-lo considerado um dos dez maiores filmes da vida. Outrora, antes das modernas tecnologias dos computadores e internet, os jornais funcionavam como espécie de clubes a que a gente comparecia para se inteirar da vida. Nos dias atuais, A ni o ainda conserva algo desse predicamento.

As as ases e ornal - Quando o sempre bem orientado jornalista Josélio Carneiro solicitou estas colocações acerca de A ni o lembrei-me que esta deve ser considerada em dois planos - o histórico e o existencial. Do ponto de vista histórico, A ni o desde a criação em 1893, confunde-se com a trajetória do mundo, Brasil e Paraíba.

36 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Tal poderia parecer um truísmo mas a comprovação sobreveio quando pesquisava sobre três acontecimentos que então me sugestionavam – Revolução de 30, Guerra Civil Espanhola (1936-39) e Segunda Guerra Mundial (1939/45). No tocante à Revolução de 30 que constituiu, durante certo tempo, a preocupação básica do Grupo José Honório Rodrigues, consegui, depois de certo tempo, preparar livro – A Re ol o Estatizada – Um Estudo sobre a Formação do Centralismo em 30 (1983,1992, 2014) – nacionalmente considerado uma das principais interpretações do tema. Pois bem. O que proclamo é que sem A ni o o livro não existiria, tal a amplitude de seu noticiário 1929/30. Mesmo engajado com a experiência da presidência João Pessoa, o órgão oficial não deixava de, a seu modo, abrir espaço para os adversários, o que acabou por assegurar meu anti/maniqueísmo, na largueza de vistas que buscava. De mais a mais, A ni o perfez o que representava novidade para a época. Enviou para o teatro de operações um correspondente, o jovem João Lélis de Luna Freire, cujos despachos rivalizaram com os do Jornal o Co er io assegurados pela perspicácia de Joaquim Inojosa. Anos depois, em 1944, graças a esse empreendimento, Lélis editou, com luminoso prefácio de Osias Gomes, o ensaio A Campanha e rin esa que está para a Paraíba, com base em Princesa, como Os Ser es de Euclides da Cunha, para o hinterland nordestino e brasileiro.

Da CE Se n a erra – Em 1993, A ni o completava cem anos, o que lhe valeu primorosa edição especial organizada pelo diretor Itamar Cândido. Para ele preparei o ensaio “Um jornal centenário e a Guerra Civil Espanhola” onde a finalidade consistia em recapitular esse conflito através de A ni o. Em face da conflagração espanhola, o comportamento do órgão oficial foi o mesmo da Revolução de 30, porquanto, mesmo alinhado com o franquismo, para o qual se voltavam as simpatias da administração Argemiro de Figueiredo, A ni o não deixava de ressaltar, com fotografias, gráficos e mapas, a defesa de Madrid, em julho/agosto de 36, pelas Brigadas Internacionais, os conflitos internos da Frente Popular, na Barcelona de maio de 37, e o contra-ataque legalista da frente do Ebro que, desfechado em agosto de 38, prolongou a Guerra Civil por quase mais um ano.

A UNIÃO 37 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Em matéria de reportagem, o melhor de A ni o sobreveio com a Segunda Mundial. Sob o comando da dupla Octacílio Queiroz/ Ascendino Leite, esse diário compôs tão precisa retomada das operações que o atentado contra Hitler, em quartel general da Prússia Oriental, a 20 de julho de 1944, foi publicado, no dia seguinte, com todos os detalhes. Sobre a Segunda Guerra, não produzi estudo específico mas as colocações unionistas lastrearam o meu Nos e os e éli Ara o – Estado Novo, Guerra Mundial e Redemocratização. 1937/47 (2003), mais, aliás, sobre as circunstâncias de Félix que a respeito deste. Uma delas referiu-se à conflagração universal ondeA ni o publicou cartas dos pracinhas paraibanos que se encontravam na Itália e percebeu a supremacia operacional da FAB de Nero Moura sobre a FEB de Mascarenhas de Morais e Zenóbio Costa.

Da Redemocratização pelo Correio das Artes – Do ponto de vista existencial, A ni o ingressou na minha vida em dois significativos momentos. O primeiro ocorreu em 1975 quando, casado de pouco, dela me vali para reforçar o orçamento doméstico, com os artigos que, até 1970, publiquei no Correio as Ar es sobre Revolução de 30, realidade brasileira e política internacional. O editor, como recriador de suplemento reinaugurado por Sílvio Porto, era Jurandy Moura, como meu colega da Secretaria de Educação de Tarcísio Burity. Como percebido por Hildeberto Barbosa Filho, esses estudos constituíram o núcleo conceitural de Jo o essoa eran e a is ria Textos Básicos e Estudos Críticos (1978), como um de meus livros mais característicos. Em sua esmagadora maioria, eles expressavam época em que meu pensamento combinava com o nacionalismo de Alberto Tôrres e o revisionismo de José Honório Rodrigues, ambos em guarda contra a ditadura militar. Foi assim, por meio de A ni o e a R io Ara an – que colaborei com a redemocratização, que me custou retardamento na Universidade, mas me compensou com anistia política, reconhecida por Comissão do Ministério da Justiça, em 2012.

1.6. Suplemento e pesquisa histórica – Encerrado o consulado castrense, continuei a colaborar com o Correio as Ar es então sob o comando de, sucessivamente, Sérgio de Castro Pinto, João Trindade e Claudio Limeira. Aos três, em conjunto, coube positiva avaliação do

38 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO suplemento, mediante mesa redonda realizada na sede da API. Dela fui um dos expositores. Tal me valeu, em 2013, convocação do diretor Fernando Moura para organizar seminário alusivo aos cento e vinte anos de A ni o (2015), como positivo mergulho sobre a História da Paraíba. Nele, voltando aos arquivos do jornal, assegurado pelos funcionários José Ramos, Zezito, Luzia, Ana Flor, João e Cida, desenvolvi o ensaio “Dimensão Social, Repressão e Apatia em Jornal da Década de Sessenta”. A abordagem consistiu em recompor a trajetória do órgão oficial, de 1960 a 70, quando A ni o flutuou da dimensão social de Hélio Zenaide, que prestigiava as Ligas Camponesas, para a repressão de Antônio Brayner, que expurgou as esquerdas, e apatia de José Souto, recrutado aos Diários Associados. Durante a gestão deste, o Governador João Agripino praticamente congelou o diário fundado por Tito Silva, a fim de fortalecer a Secretaria de Divulgação e Turismo do campinense Noaldo Dantas.

ornal e osi es ora osas – Ressaltando o chamado “gabinete Zenaide”, que se completava com Adalberto Barreto, na Rádio Tabajara, A ni o de 1961/62 culminou com o prestígio infundado ao sacrifício do líder camponês João Pedro Teixeira cujo holocausto motivou antológico discurso do deputado Raymundo Asfora, integralmente reconstituído graças aos pendores taquigráficos de Hélio Zenaide. Dentro desse quadro, o estudo por mim inserido na coletânea A União/Instituto Histórico torna-se relevante por exprimir o comportamento da Imprensa paraibana em dois importantes momentos da vida nacional, tais o Encontro do Presidente Jânio Quadros com os governadores nordestinos, na Paraíba de 1961, e o golpe militar de 64. À margem da maneira como a informação prevaleceu durante a visita de Jânio e primeiras semanas do movimento de 64, a fase de efervescência social 1961/2 serve para demonstrar que, apesar do calo governista, A ni o tornou-se muitas vezes o mais heterodoxo dos jornais paraibanos, como aquele capaz das posições mais corajosas.

A UNIÃO 39 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Martinho Moreira Franco

Uma história que nunca envelhece

requentador habitual dos cines Plaza e Rex, eu tinha 17 anos de idade quando estive pela primeira vez n’A UNIÃO, em 1963. FO jornal completava naquela época 70 anos de fundação. Até já descrevi a cena: era aprendiz de crítico de cinema no borrão mimeografado do Cine Clube Charles Chaplin, do Liceu, e adentrei o set da redação temendo queimar o filme de Linduarte Noronha ou o de Antônio Barreto Neto. A UNIÃO contava então com dois críticos de renome assinando colunas sobre cinema em suas páginas. Barretinho, generoso como os heróis do faroeste, tipos da sua predileção, me disse que eu tinha futuro. Linduarte não largou o cachimbo, mas concedeu a indulgência de um aceno que interpretei como aprovação. Saí dali com um gostinho de happy-end. A cena já revista em outros depoimentos eternizou-se pelo ambiente em que se passou: a antiga redação de A UNIÃO, no histórico prédio da Praça João Pessoa. Serei repetitivo, desculpem, mas continuo resumindo aquele espaço em duas palavras: espaço mágico. Magia cujo fascínio emanava desde o piso corrido em assoalho de tons sépia até o forro em madeira pintada de azul, grifando o décor que mais me impressionou na época: um amplo salão no qual os protagonistas dos meus sonhos de me tornar jornalista compunham um cenário que retenho em minha memória como se fosse hoje. Também sinto uma saudade enorme do tempo em que cheguei a editor geral do jornal em uma das suas melhores fases (apesar do

40 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO editor). Já me referi inúmeras vezes a uma foto de reunião de pauta que guardo vivíssima na lembrança. Na cabeça da mesa, apareço ladeado por Marcone Cabral (chefe de reportagem), Carmelio Reynaldo, Diógenes Brayner, Carlos Aranha, Jorge Medeiros, Kátia de França e Ipojuca Pontes. E saibam que o secretário de redação era simplesmente Antônio Barreto Neto e o diretor, ninguém menos que Biu Ramos, já legendário na imprensa paraibana. Era esse o elenco do filme de A UNIÃO da minha passagem pela editoria. Um elenco de primeira, atuando num filme que marcou época (início da década de 1970) na história de um jornal que nunca envelhece. Um destaque especial: Ipojuca Pontes, sob o pseudônimo Otávio Monjardim, assinava uma coluna de variedades que nada ficava a dever a um Stanislaw Ponte Preta ou a um Carlinhos de Oliveira, ícones desse gênero na chamada grande imprensa nacional. Eu retornaria à redação na fase em que Agnaldo Almeida assumiu a editoria, nos anos 1980. Outra quadra igualmente marcante, na qual se tornou célebre a edição que teve como manchete de oito colunas, na primeira página, o épico título (criação de Gonzaga Rodrigues) “Botafogo vence o Maracanã”, traduzindo a heróica vitória do Botafogo da Paraíba sobre o Flamengo (2 x 1, de virada), pelo Campeonato Brasileiro. Décadas depois, de volta ao jornal, passei a assinar coluna diária que se mantém por distinção de sucessivos dirigentes da empresa. Meu vínculo com A UNIÃO é assim um vai-e- vem que não quer parar. O baú continua repleto de outras lembranças, mas não abusarei outra vez da paciência do distinto público. Até mesmo em homenagem a este monumento histórico e cultural da Paraíba que não vive só de passado, como os museus, mas que prossegue brilhando intensamente por caminhos que ainda hoje, como colunista de variedades, eu percorro na trilha do sol, do tempo, da estrada, do pé e do chão. Se a vida é amiga da arte, essa é a parte que A UNIÃO me ensinou.

A UNIÃO 41 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro ir ni s a a a e Melo (in memoriam)

A s o os An os

Crônica publicada n’A União, edição de 19 de novembro de 1960

ma boa análise literária, esta de Antônio Houaiss sobre Augusto dos Anjos. O poeta, efetivamente, é dos que melhor Use prestam ao exercício da crítica científica, por meio da qual podemos explicar diversas de suas maneiras. O artesanato, no poeta paraibano, é dos mais visíveis. A técnica está evidente no Estilo Augusto dos Anjos que todos reconhecem hoje como dos maiores de nossa literatura. O uso constante dos proparoxítonos, a métrica linear, uma geometria do verso essencialmente gráfica que atingia, porém, uma sonorização rica, onde o compasso sugere, algumas vezes, o arquejar vital, tudo isso fez do poeta de Sapé uma singularidade popular. Bom que Antônio Houaiss destaque nele o sentido de visualização, o imaginismo simbólico, a concretude de suas imaginações. Não foi um sensitivo. Toda emoção nele, se é passível, é sentida pela cabeça. Jamais atingiu a “catarse” poética, o estado mesmo de criação na amplitude duma poesia que se pusesse além das pobres palavras. Mental, puramente mental, buscava no

42 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO grafismo, na visualização e na sonoridade escandida, a obra de arte inteiramente corporal. Repelido da vida, Augusto adquire o pudor de revelar sensibilidade. Infeiz congênito, o poeta reage, normalmente, buscando na arte uma vitória útil de compensação. Egocêntrico, tremendamente egocêntrico, capitula as dores do mundo, todas em si mesmo. Sem a humildade cristã de lamentar-se, ou humildade simplesmente, lamenta e ouve o canto - chão da “energia abandonada”. E sobre imagens mentais, facilmente explicáveis, vai construindo o seu mosaico poético, equilibrando na visualização, na sonoridade e no grafismo, realizando a obra espantosa, técnica da literatura portuguesa. Roendo-se, o gigante rói também as cortinas do mundo e, às vezes, têm previsões admiráveis. Seu filosofismo, seu cientificismo, não possuem maiores indagações - contentam-se com as nações vulgarizadas, do século XIX, a cultura “up-to-date”, o materialismo voltado para endeusamento da energia. Situado em sua época, Augusto dos Anjos perderá muito de sua angústia particular para ficar mais como um intelectualizado de seu tempo do que como ente sofredor. Estudo que sugiro aos interessados.

Capa de um dos exemplares da coleção Nomes do Século

A UNIÃO 43 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Frutuoso Chaves

Breves histórias de um eleiro e alen os

us os pés pela primeira vez na sede d’A União, aquela da Praça João Pessoa, mal ingresso na maioridade. Conduzia na Pbagagem a experiência de contí nuo do jornalzinho “A Tribuna do Povo”, situado na Duque de Caxias, e algum aprendizado da revisão de textos. Conhecera os sinais com um camarada chamado Marcelo, um pouco mais velho do que eu. Apresentei-me ao gerente Costeira com a portaria de nomeação para o cargo de contí nuo, no início do Governo de João Agripino, depois do que fui despachado para o serviço no ambiente do Diário Ofi cial do Estado, também ali impresso. Transcorridos 45 dias, ofereci-me para substi tuir um revisor acostumado à bebedeira e à falta ao trabalho. Rui Rio Branco, o chefe da equipe – com as mãos na cabeça diante da pilha de “provas” desti nadas ao reparo ortográfi co para posterior encadernação – passou-me a incumbência. E fi cou a me acompanhar à distância. Aluno da boa escola pública e prestes a ingressar no Liceu Paraibano (pasme-se: o ensino público já foi bom neste País) não encontrei a menor difi culdade para apontar e corrigir os erros de composição de textos produzidos, em chumbo derreti do, pelo pessoal das linoti pos. A apreensão, quando me bateu, decorreria de um aviso de Rui, não menos temeroso, na ocasião, do que eu: “Cuidado com a

44 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO sacanagem dos linotipistas”. A coisa consistia na omissão, por exemplo, da letra “v” da palavra “Carvalho” (eventualmente inscrita nos atos de gestão de pessoal do governador e secretários) pela turma da oficina insatisfeita com salários atrasados. Coitado daquele colunista social, uma das vítimas do tipo de protesto. A quadrinha que fizera em homenagem a uma debutante (com festa marcada para o Clube Cabo Branco) saiu mutilada na edição domingueira. Engoliram o “e” de “céu” no verso que, se certo estivesse, seria assim: “No seu céu azul”. Soube que foi um corre-corre danado para recolher o jornal distribuído às bancas. Acho que protagonizei o primeiro e único caso de “revisor-contínuo” da história da centenária A União. Por algum tempo, desempenhei a primeira função com o salário da segunda. Na verdade, a coisa assim prosseguiu até José Souto, o diretor que substituiu Antonio Brayner, levar ao governador Ernani Sátyro uma lista de nomes para os quais pretendia a ascensão funcional. Virei, então, noticiarista. A tarefa consistia em dar linguagem fluente para despachos telegráficos oriundos das agências de notícias com sede no eixo Rio/São Paulo. O mesmo Ernani cuidou de modernizar o jornal após a penosa derrubada da velha sede e da transferência da equipe para o atual prédio, no Distrito Industrial. Da equipe. Do equipamento não, porquanto A União com ele entrava na fase de impressão a frio e ganhava o que então era um dos melhores parques gráficos do Nordeste. Vem o governo de Ivan Bichara quando o jornal volta ao comando de Zé Souto. Por essa época fui conduzido do posto de editor do Caderno de Cultura para o de chefe de Reportagem a convite do diretor que ainda chamou para a Editoria o colega Agnaldo Almeida. Impossível não lembrar de gente como Marconi Altamirando, Marcos Tenório, Linduarte Noronha, Barreto Neto, Walter de Souza, Martinho Moreira Franco, Gonzaga Rodrigues, Carlos Aranha, Gilvan de Brito, Kátia de França e Alarico Correa Neto. Ou de expressões então mais novas do jornalismo local, a exemplo de Marconi Formiga, Chico Pinto, Tião Lucena, Wellington Farias, Paulo Santos, José Carlos dos Anjos, Sebastião Werneck e José de Sousa. Estes últimos eu ostive sob comando na Redação instalada em cima do Cartório de Garibaldi, na Praça 1817, onde funcionava a equipe de repórteres. Gente boa o suficiente para voos mais altos a outras posições e outros veículos. Afinal, A União sempre foi um celeiro de talentos.

A UNIÃO 45 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Nelson Coelho

Em entrevista concedida à repórter Teresa Duarte e publicada no jornal em 27 de janeiro de 2013, nas comemorações dos 120 anos de A União, o jornalista Nelson Coelho fez um relato de sua vivência no centenário jornal. Publicamos aqui parte da entrevista que foi reproduzida na íntegra no livro A União 120 anos – Uma viagem no tempo. A obra foi publicada na gestão do superintendente Fernando Moura tendo como organizadores Alarico Correia Neto e Juca Pontes.

A ni o ar o é o a o no es o sé lo

uperintendente de A União por três vezes, o jornalista Nelson Coelho ocupou diversos cargos e ingressou no jornal em fevereiro Sde 1961. Em sua trajetória, várias publicações foram realizadas em A União, a exemplo dos projetos “Paraíba e os 500 anos do Brasil”, Nomes do Século”, “Memória Política” e outros. Em sua última gestão como superintendente, em 2010, foram produzidos 92 cadernos especiais sobre os mais variados assuntos e muitas personalidades. an o oi s a ri eira e eri n ia no ornal A ni o Eu cheguei à União como repórter e fui credenciado no gabinete do governador, em fevereiro de 1961. Nunca perdi o contato com A União, apesar de ter passado quase 10 anos da minha vida

46 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO fora do jornal, em atividade particular. A partir de 1986 me tornei colunista diário de A União, até 2002. Em 1994, logo depois de sua eleição, o então governador Antonio Mariz fez insistentes apelos para que eu assumisse a superintendência do jornal. Eu achei que não era interessante naquela hora porque eu tinha interesse em ser diretor técnico para fazer um jornal como esse que está sendo feito agora. Qual a linha editorial do jornal durante a sua administração? Nós jornalistas somos intermediários entre o povo que quer saber o que o governo tem a oferecer, e o governo quando diz para a sociedade o que pretende fazer ou que está fazendo, então nós jornalistas devemos em primeiro lugar dar a notícia sem que dela se aproveite para tirar qualquer tipo de conotação, isso é o que A União tem feito desde 2009 e vem sendo feito com mais intensidade agora. Acredito que nós estamos no caminho certo. Como o senhor analisa o suplemento literário Correio das Artes? Eu tenho guardado algumas coisas a respeito do Correio das Artes como uma carta do José Midlim, que foi um dos maiores mecenas da cultura nacional, fazendo um rasgado elogio ao Correio das Artes, que já tem 60 anos de existência, e é um patrimônio da cultura e da intelectualidade do povo da Paraíba.

Extraído do livro A União 120 anos uma viagem no tempo.

A UNIÃO 47 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro il an e ri o

A ni o o ornal es ola

rabalhei no jornal A União a partir de 1969, em pelo menos cinco vezes, alternadamente, onde ocupei os cargos de repórter, redator, Tchefe de reportagem e colunista diário. Como periodista assinei a coluna “Em Primeira Mão”, que foi publicada inicialmente na página 2 e depois na página 3, a partir de 1973. Na época em que o jornal funcionava à Rua João da Mata, ao lado do Centro Administrativo, fui o chefe de reportagem, quando, na oportunidade, reuni uma das maiores e melhores equipes de profissionais da imprensa, todos jovens: Anco Márcio, Carlos César, Carmélio Reynaldo, Cátia de França, Marcone Formiga, Adigelson, Josemar e o fotógrafo Unhandeijara Lisboa. Cobríamos, diariamente, todos os segmentos da vida da cidade, sem deixar brechas, na época em que o jornalista Barreto Neto ocupava a diretoria.

A ARRI A DE A NI O

A maior “barriga” (notícia falsa) publicada por um jornal brasileiro ocorreu em João Pessoa, no dia 17 de junho de 1973, quando A União (patrimônio do Governo do Estado criado em 1893) informou em manchete de primeira página a escolha do ministro Orlando Geisel, do Exército, para ocupar a Presidência da República, em substituição do presidente Médici. O general Ernesto Geisel fora o verdadeiro indicado. Isso ocorreu no Governo Ernani Sátyro, um vassalo dos militares que, em reprimenda, puniu com demissão o secretário de Comunicação, Noaldo

48 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Dantas, o diretor Luiz Augusto Crispim e o editor Marcone Carneiro Cabral. Para justificar-se com os militares, aos quais devia o cargo de governador, além das demissões mandou abrir um rigoroso inquérito policial para apurar se houve intenção criminosa na informação. Na oportunidade dois jornalistas escaparam da degola, eu e Carlos Aranha, respectivamente chefe de reportagem e chefe de redação, por não ter nada a ver com o triste expediente. Antes da indicação do novo general-presidente da República disputavam indiretamente o cargo os dois irmãos, generais do Exército. Prevendo o anúncio em horário inconveniente o editor Marcone Cabral mandou fazer duas matérias: uma com Ernesto e outra com Orlando, mas a indicação demorou alguns dias para ser anunciada. O jornal fechava sua primeira página às 22h30, quando Marcone se recolhia a sua casa. Antes de sair, porém, deixava as duas matérias prontas para que o jornalista de plantão publicasse a decisão correta. O que não ocorreu. No dia seguinte o jornal foi motivo de chacota em todo o país, comentários foram feitos na grande imprensa e o governador Ernani Sátyro, que se encontrava em Brasília, acuado pelos telefonemas que recebia ironizando a notícia, ficou uma fera. Dois dias depois desembarcou em João Pessoa “fumaçando”, disposto a se desculpar com os militares através de uma punição exemplar contra os autores do imperdoável feito.

A IOR COISA DO O ERNO

Certa vez eu estava cobrindo a sessão da Assembleia Legislativa para o jornal A União quando o chefe de gabinete do governador, Bartolomeu Fonseca ligou, muito preocupado. - O que foi que você escreveu hoje a respeito do governador no jornal dele? - Não publiquei nada sobre Ernani – disse. - Pois ele está aqui na ponta dos cascos, já convocou quatro secretários e mandou localizá-lo com urgência para uma reunião às 10 horas no salão de despachos (primeiro andar do Palácio da Redenção). Venha imediatamente, ele já subiu com os secretários. Saí apressado da Assembleia Legislativa que funcionava à Praça Aristides Lobo, ao lado da Praça Pedro Américo, cheguei em palácio e subi os degraus de mármore. Lá no fundo da ampla sala havia um grupo reunido em torno de uma mesa. Ao aproximar-me pude identificar os secretários Chico Pereira, da Saúde; Evaldo Gonçalves, da Casa Civil e Otinaldo Lourenço, da Comunicação. Ernani Sátyro ocupava a cabeceira da mesa e havia um lugar reservado ao seu lado. Aproximei-me e vi o

A UNIÃO 49 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro jornal A União aberto na página três, à sua frente, onde eu escrevia a coluna “Em Primeira Mão”. - Aqui, Amigo Velho, sente-se – disse, irado, com a inconfundível voz de barítono, apontando o lugar a seu lado. O governador Ernani Sátyro era péssimo fisionomista e, para disfarçar, chamava todos os auxiliares pelo vulgo de “Amigo Velho”. Sentei-me e cumprimentei a ele e aos secretários, com quem eu me relacionava muito bem. E o governador não perdeu tempo, estirou o jornal à sua frente e começou a descer a mão fechada, repetidamente, sobre a minha coluna. Os olhos arregalados pareciam saltar às orbitas e a voz tonitruante ocupava todos os espaços do ambiente. - Amigo Velho, o senhor foi o responsável pela pior coisa que se fez até hoje no meu governo: elogiou um inimigo pessoal e político meu, esse deputado de Patos que eu me recuso a dizer o seu nome. E, por conta disso, tem a palavra para defender-se. Afastou o jornal, olhou para mim com a certeza de que eu não teria nada para apresentar como justificativa. - Lamento, governador, se eu lhe causei algum transtorno por conta dessa notícia. Mas eu gostaria de dizer que essa matéria não tem nenhum agravante contra a sua pessoa nem contra o seu governo. Permita-me que leia em voz alta para que todos tomem conhecimento e para que possamos discutir esse texto. O governador ficou pensativo por alguns instantes, olhou nos meus olhos e disse. - Interessante, eu li a sua coluna na manhã de hoje e à primeira vista não vi nada demais na informação. Ocorreu que logo cedo o Dr. Chico Pereira me telefonou e disse: “Governador, o senhor, viu o que Gilvan de Brito disse hoje de Ruy Gouveia no seu jornal? E depois o Dr. Evaldo Gonçalves chegou ao meu gabinete e indagou-me se havia lido a coluna do Amigo Velho, e exibiu o jornal. Pairou um tenebroso silêncio no ar, cortado pelo secretário Otinaldo Lourenço, segundos após. - Então, governador, Gilvan de Brito continua com a coluna ou devo substituí-lo? - Não vamos fazer isso agora, porque aquele deputado pode achar que foi por causa dele, e eu não quero lhe dar essa confiança – disse Ernani Sátyro, com resignação. Ao fim da reunião olhei para o rosto dos dois secretários que me denunciaram ao governador, e os vi bastante desconfortados. Até então eu lhes dera boa cobertura na imprensa e recebera como gratidão essa tijolada. Ernani, na sua autenticidade, não procurou esconder esse comportamento dos seus auxiliares diretos.

50 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO CA LO I anos 70

L i A s o Cris i eral o arela erne arre o An onio Da i Sér io e Cas ro in o José C. dos A. Wallach A nal o Al ei a nio i o L ena Na i ilson Ri ar e Josinal o Mala ias J lio César E ilson L ena Carlos Ro er o Cardoso Filho Orti lo Antonio ellin on arias Mara ona e r nio So o An nio Moraes Carlos ieira José Ra os Lan Sei as Car élio Re nal o

L i A s o Cris i (in memoriam)

a a O re o L is

O jornal de Gonzaga é a sua vida. Os amigos paginando velhos sentimentos de fraternidade ao longo dos anos são coisas que ele mesmo imprimiu com suas mãos e suas artes, mas, sobretudo, com sua alma tipográfica. Aqui está impressa a vida do menino Luis. Agora é preciso muito cuidado com esta matéria morena nascida de tão leves toques das linotipos de barro dos massapés brejeiros, onde só se compõem as notícias do mais preciso bem-querer. Correm as linhas escaldantes carregadas de amizade em nuvens de antimônio. É a palavra dos amigos dizendo o que de melhor sabem dizer em branco e em negrito. Dito assim é muito pouco. Feito Luis é muito melhor. O preto Luis tem algo de Irene, Irene preta, Irene boa, Irene do verso do poeta Bandeira. O preto Luis também não precisa pedir licença para entrar solene na casa dos cinqüenta anos. O preto Luis já tem licença de gozar da eternidade que ele nunca pediu a Deus.

A UNIÃO 53 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Nota do editor O poema ‘O preto Luis’ foi publicado na edição de 23 de junho de 1983, de A União, por ocasião dos 50 anos do jornalista e amigo Gonzaga Rodrigues. O poeta, escritor, jornalista, professor, advogado, Luiz Augusto da Franca Crispim foi diretor geral d’A União; presidente da Academia Paraibana de Letras. Além de secretário de Estado da Comunicação em três ocasiões. Faleceu aos 63 anos de idade na noite do dia 6 de dezembro de 2008, em João Pessoa, cidade onde nasceu aos 23 de agosto de 1945.

Placa da redação Jornalista Luiz Augusto Crispim

54 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO erne arre o

A Velha Senhora screver sobre A União é, ao mesmo tempo, fácil e difícil. Fácil porque temos muita coisa para dizer, muitas histórias, muitos fatos. Difícil Eporque juntar tudo em pouco espaço chega a ser realmente uma tarefa hercúlea. Mas procurarei ser o mais informal possível, para não tornar enfadonha a leitura, e contar minha passagem pelo à época “Jornal Oficial do Estado”. Há um time na Itália, de muita torcida (assim mais ou menos como o Flamengo, aqui no Brasil), chamado Juventus, muito conhecido também “A Velha Senhora”. Esse codnome pode ser perfeitamente utilizado para A União, que abraçou, deu chances, ensinou e lapidou tanta gente, gerando um número infinito de excelentes profissionais prontos para o mercado de trabalho. Estou entre esses profissionais (no meu caso específico tira o “excelente”) que foram beneficiados por começar a carreira na Velha Senhora. Cheguei em A União em 1971, com 20 anos, levado pelo meu irmão Antônio Barreto Neto, o Barretim, como era chamado carinhosamente pelos amigos. À época ainda não havia curso de Comunicação na Universidade Federal da Paraíba, e eu me preparava para prestar o Vestibular de Engenharia Civil. Nunca havia entrado numa Redação de jornal. Era algo novo pra mim, e diferente de tudo que eu já tinha feito na vida. Tive sorte, muita sorte, porque A União desta época era uma verdadeira constelação de estrelas do jornalismo paraibano e nacional (sim, porque muitos já eram correspondentes de jornais do Sul e Sudeste do país). Fui apresentado a um time que tinha, além de Barretim, claro,

A UNIÃO 55 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro ninguém menos que Gonzaga Rodrigues, Carlos Roberto de Oliveira, Martinho Moreira Franco, Luiz Augusto Crispim, Carlos Aranha, Marcone Altamirando e Marcone Carneiro Cabral, só pra citar algumas “feras” com quem passaria a conviver. Faço aqui um parêntese para falar do prédio onde funcionava A União desta época. Era uma edificação linda, localizada onde hoje funciona a Assembleia Legislativa. Derrubaram o prédio da Velha Senhora – pra mim um crime contra o patrimônio paraibano – para em seu lugar instalar o Legislativo e tornar Praça João Pessoa, dos Três Poderes – já haviam o Palácio do Governo (Executivo) e o Tribunal de Justiça (Judiciário). O jornal ainda era feito em composição a quente. A Redação ficava no primeiro andar, e a Oficina, como era chamado o local onde as linotipos reinavam ao lado das mesas da tipografia, as impressoras e o laboratório fotográfico, no piso térreo. De cara gostei de tudo. Volto à minha chegada ao jornal e primeira tarefa. Martinho Moreira Franco, o Moringueira, era o chefe de Reportagem e me mandou fazer a cobertura de um evento que se realizava no quartel do15 RI. Penso que ele achava que eu já tinha alguma experiência no ramo, porque a única recomendação que me deu foi “pegue tudo”. Obediente e querendo me firmar no novo emprego, assim o fiz. Anotei tudo o que falaram as autoridades presentes. Cheguei na Redação com umas vinte folhas de papel escritas por inteiro. Convidado a “fazer a matéria”, sentei-me diante da máquina de datilografia (daquelas bem antigas, de ferro, ainda) e taquei o pau. Escrevi três laudas e, achando que estava “abafando”, disse comigo mesmo, caprichei. Entreguei o fruto do meu trabalho ao meu chefe imediato, Martinho, e ele tranquilamente me disse “tudo bem, jornalista, por hoje é só”. No outro dia, ansioso, peguei o jornal para ver a minha matéria impressa. Foi difícil de achar, porque ela tinha sido reduzida a pouco mais que cinco linhas, no cantinho de página escondido. Confesso que me decepcionei. Comigo mesmo. Cheguei a achar que aquela não seria a minha praia. Mas recebi incentivos, ensinamentos e conselhos, e segui em frente. Num dia escrevia e no outro olhava como a matéria tinha sido refeita pelos redatores, função abolida posteriormente pelos jornais, mas que foram muito importantes para mim. Assim aprendi a escrever. Fui crescendo. De repórter, passei a redator, editor de página, secretário de redação e até editor-geral por poucos meses, saindo para assumir a chefia de Redação da então Secretaria de Comunicação Social. A partir daí não parei de crescer profissionalmente, chegando a exercer várias funções até de chefias, na mídia, incluindo aí, jornais, televisão, rádio e revista. E devo tudo a ela. Obrigado, Velha Senhora. Nossos laços nunca serão desfeitos!

56 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Sér io e Cas ro in o (*)

E A io erne A ni o e ernan o Mo ra uem primeiro divulgou os meus poemas foi João Manuel de Carvalho. E o fez no jornal “O Norte”, publicando “Lampião visto Qpor dentro” e “Usina vista de cima”, que mais tarde iriam integrar o meu livro de estreia, “Gestos lúcidos”, publicado em 1967. Contava dezenove anos de idade. Muito antes, porém, “A União” acolhera uma resenha minha, salvo engano sobre “Jeremias Sem-Chorar”, de Cassiano Ricardo, livro que havia se convertido numa espécie de bíblia de minha geração, leitura obrigatória de todos quantos se propunham incorporar o ideário vanguardista. Já nos anos 70, editei o Caderno 2 do órgão oficial do Governo do Estado, dando uma ênfase toda especial à literatura, principalmente à poesia. E como os textos que escrevia eram concebidos no calor da hora, às vezes toscos, alinhavados, procurei me escudar atrás de um pseudônimo: Acácio Werneck, inspirado na personagem de Eça de Queiroz, o Conselheiro Acácio, cujas frases e sentenças eram perpassadas pelo mais ululante óbvio. Certa feita, Acácio Werneck publicou um artigo procurando estabelecer um cotejo entre João Cabral de Melo Neto e Augusto dos Anjos, mais precisamente a respeito de uma declaração do poeta pernambucano numa entrevista que fora concedida a mim, a Luiz Augusto Crispim e a Jomar Souto, na residência do professor Tarcísio Burity. Na oportunidade, o autor de “A Educação pela pedra” confessara-se frustrado em razão de o poema “Morte e vida Severina” ter se restringido às camadas mais cultas, à leitura dos intelectuais, quando ele o desejara na boca do povo, a exemplo dos poemas de Augusto dos Anjos.

A UNIÃO 57 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Pois bem. Anos depois de publicado o artigo “Augusto dos Anjos: o que atuou em duas frentes”, encontro com a poeta Zila Mamede, paraibana de Nova Palmeira, mas adotada pela terra do grande Luiz da Câmara Cascudo. Estava às voltas com uma tarefa hercúlea: proceder um levantamento da bibliografia de João Cabral de Melo Neto. E qual a razão de Zila deslocar-se a João Pessoa? Foi ela mesma quem justificou: “Descobrir quem é um tal de Acácio Werneck, pois, por mais que pergunte, ninguém me dá notícia de quem ele é e muito menos do seu paradeiro”. Foi quando, sentindo-me o próprio Flaubert, ajuntei: “Acácio Werneck sou eu!” Rimos da coincidência. Em 1987, Zila Mamede publica “Civil Geometria – Bibliografia Crítica, Analítica e Anotada de João Cabral de Melo Neto (1942-1982)”, pesquisa de fôlego editada, conjuntamente, pela Nobel/Edusp, Instituto Nacional do Livro e Governo do Rio Grande do Norte. E na página 346, além da transcrição de fragmentos do texto, o verbete: “Pinto, Sérgio de Castro. Augusto dos Anjos: o que atuou em duas frentes. A União, João Pessoa, 21 de abr. 1976. 2. CAD. Il. O autor, na época, editor do Caderno 2 de A União, usou o pseud. de Acácio Werneck”. *** Julio Cortázar, em um dos textos de “Histórias de Cronópios e de Famas”, escreve que o jornal, depois de lido, transforma-se num monte de “folhas impressas”, podendo converter-se de novo em jornal caso outro leitor, encontrando-o num banco de praça, novamente o leia, para, finalmente, transformá-lo outra vez num “monte de folhas impressas”. Cumprido este périplo, suas “hesitantes metamorfoses”, o jornal serve, quando muito – ainda segundo Cortázar –, para “embrulhar um molho de celgas”. Para escritores e pesquisadores como Fernando Moura, o jornal é sempre jornal, jamais recolhe as suas páginas, jamais se converte em um “monte de folhas impressas”. Que o diga este “Jornal de Hontem”, que é de hoje, de agora, de sempre, na medida em que ele soube extrair do breve frêmito de vida das páginas dos jornais antigos, e às vezes do aparente monturo, o inexaurível filão com que se nutriu para corroborar a máxima de Mallarmé segundo a qual “Tudo acontece para terminar em livro”. E que livro, o de Fernando Moura! *** Em tempo: A editoria do suplemento “Correio das Artes” foi outro vínculo que mantive com “A União”. Mas esta é uma história que já contei reiteradas vezes.

Extraído do livro Jornal de Hontem, de Fernando Moura ______(*) Poeta, escritor e professor de Literatura da Universidade Federal da Paraíba

58 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO A nal o Al ei a

A Paraíba reconhece o papel d’A União no que vem, logo em janeiro, devo completar 48 anos de profissão. Entrei no jornalismo no início de 1970, depois de Aaprovado em concurso no antigo Diário da Borborema, de Campina Grande. Tinha saído do seminário Cura D’Ars, lá do Alto Branco, e precisava de dinheiro. Como não sabia fazer nada – passei toda a adolescência rezando e estudando – ocorreu-me de ganhar um dinheirinho escrevendo para jornais. Fiz o concurso, que se resumia a uma redação de tema livre, e acabei aprovado. Eu e mais dois colegas. Quando me apresentei ao secretário de redação do DB, Antônio Levino, não tinha a menor ideia do que iria fazer. Houve uma batida de carro no centro da cidade e ele me mandou pra lá, junto com o fotógrafo Eudes Chaves. Ouvi as pessoas, as autoridades de trânsito e amigos dos mortos. Voltei, redigi o texto, achei que estava uma merda, mas Levino aprovou imediatamente. Umas das minhas maiores glórias, até hoje, foi ver, estampada no Diário da Borborema no dia seguinte, a manchete que eu havia sugerido. E com direito a assinatura. Estava lá: “Reportagem de Agnaldo Almeida”. Meses depois vim pra João Pessoa a chamado de Soares Madruga, diretor do Correio da Paraíba, e com a concordância de Carlos Roberto, secretário de redação, o que equivale hoje à editoria geral. Mal conhecia a cidade, não tinha como ser repórter e deve ter sido por isso que me mandaram para o copidesque. Pra quem não lembra mais,

A UNIÃO 59 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro copidesque era o sujeito que recebia o material bruto dos repórteres, jogava fora um monte de vírgulas e impropérios e repassava o texto final para os editores setoriais. Permaneci no CP por quatro anos. Em abril de 1975, Gonzaga Rodrigues me convocou para assumir a editoria geral de A União. Desafio dos grandes. E grande também foi a experiência que adquiri neste jornal, coordenando o trabalho de uma equipe que reunia craques famosos do jornalismo paraibano. Em 75, os leitores hão de lembrar, o país vivia tempos de ditadura, mas ainda assim A União conseguiu, por iniciativa minha e de alguns companheiros, criar o Jornal de Domingo e abrir espaços para o debate cultural, a discussão de fatos históricos e a apresentação de temas ligados à sociologia, aos costumes e alguns até de caráter filosófico. Comandei uma redação de craques. Sílvio Osias, Luiz Carlos do Nascimento, Tião Lucena, Wellington Farias, Gisa Veiga, Naná Garcez, Bill Barros, Chico Pinto, Lena Guimarães, Antônio Hilberto, Tarcísio Neves, Carlos Aranha e muitos outros. Já sabendo que cometerei o pecado da omissão, prefiro parar por aqui. Lembro agora que até o desembargador Alexandre Luna Freire, na época estudante de Direito, fazia parte dessa turma, junto com Werneck Barreto, Antônio Feitosa, Benedito Maia e José Coelho Lemos Sobrinho. Gonzaga era o chefe e mentor intelectual de todos nós. Ao longo de mais de 40 anos de jornalismo, trabalhei em praticamente todos os veículos de comunicação da Paraíba. Fui do “Diário da Borborema” no início da carreira, passei um bom tempo na redação do “Correio”, lá na Barão do Triunfo; assinei coluna no jornal “O Momento”; integrei a equipe de “A Carta” (uma experiência editorial fascinante) e durante quatro anos exerci a diretoria de redação de “O Norte”. Guardo boas lembranças de todos esses lugares por onde passei. Mas foi em “A União”, desde 1975, que melhor me identifiquei. Aliás, acho mesmo que a minha história profissional tem quase tudo a ver com este centenário órgão da imprensa paraibana. Aproveito o convite de Josélio Carneiro, que me pediu este depoimento, para dar um testemunho: de 1975 até hoje, apenas dois governadores me impressionaram pelo respeito e admiração que dedicaram a “A União”. São eles Ronaldo Cunha Lima e Ricardo Coutinho. E vejam que neste recorte de tempo estão incluídos Ivan Bichara, Tarcísio Burity, Wilson Braga, Antônio Mariz, José Maranhão e Cássio Cunha Lima. Vou tentar explicar porque faço essa distinção a Ronaldo e Ricardo em relação aos demais. Voltemos, então, ao ano de 1991. 60 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Eleito em outubro do ano anterior, o governador Ronaldo Cunha Lima entendeu de me convocar para coordenar a área de comunicação do seu governo. Naquela época a posse dos governadores se dava no dia 15 de março do ano subsequente ao da eleição. O eleito, portanto, dispunha de um bom tempo para arregimentar a sua equipe e discutir com ela os passos administrativos que daria após assumir o comando. Ronaldo promoveu várias reuniões com os futuros auxiliares (e alguns pretendentes) no período entre novembro de 1990 e março de 1991. Num desses encontros, ocorrido na casa do engenheiro Fernando Catão, hoje conselheiro do Tribunal de Contas, estavam presentes, entre outros, Ronald Queiroz, Geraldo Medeiros, Waldir dos Santos Lima, Paulo Soares, Solon Benevides, Gleryston Lucena, Cícero Lucena, eu e o dono da casa. A conversa rolou demorada. Ronaldo pedia e ouvia sugestões sobre o que seria prioritário para o seu governo, segundo a opinião dos técnicos ali presentes. Todo mundo falou. Problemas existentes nas áreas de saúde, educação, agricultura, planejamento e por aí vai, foram abordados. Recordo que a cada intervenção de um desses auxiliares os problemas nas suas devidas áreas de atuação seriam resolvidos sem muita demora. Eu era o único jornalista presente e ouvia, com atenção de repórter, todos aqueles depoimentos. Tinha uma amizade pessoal com o governador e torcia para que tudo aquilo que estava sendo dito se transformasse em realidade. Lá pras tantas, e havia, sim, rodadas de uísque, alguém sugeriu a Ronaldo que ele, tão logo assumisse, precisaria reduzir despesas. Cortar gastos e, sendo possível, extinguir órgãos. Foi quando, para minha suprema surpresa, os secretariáveis começaram a discutir a conveniência, ou não, de se extinguir A União. Ouvi coisas do tipo: “O Estado não precisa de jornal”; “Aquilo lá só dá despesa”; “Ninguém acredita no que sai publicado”; “Que outro Estado brasileiro tem um jornal?”; “Acho que o seu governo deve inaugurar um novo modelo”. No meio dessa conversa, Ronaldo interrompeu o papo e me olhando com ar brincalhão disse: - Acho melhor a gente ouvir Agnaldo. Afinal, ele é da área e tem melhores condições de falar sobre o assunto. E aí, Agui? – perguntou ele, fazendo com que todos os outros me olhassem atentamente. Eu tinha todos os argumentos possíveis para dizer que aquela ideia de fechar A União era uma ideia de jerico. Coisa de tecnocrata que quer mostrar serviço e apresentar alternativas de redução de gastos, desde que isso não implique mexer no seu próprio salário. Ponderei comigo mesmo que não era a ocasião de abrir uma dissidência, até A UNIÃO 61 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro porque tudo ali era uma conversa preliminar, o governo não havia nem começado. Então, me saí com o seguinte argumento: - Ronaldo, pelo que acabo de ouvir, todo mundo aqui tem solução para os problemas do Estado. Supondo que tudo será resolvido, sugiro a você que deixe alguma tarefa ao seu sucessor. Ora, se o novo governo vai solucionar tudo, conforme foi dito aqui, por que não deixar um probleminha só para quem lhe suceder? Se você fechar A União vai entrar para a história como o governador que extinguiu um patrimônio cultural do Estado. Só pra lembrar: José Américo, que você tanto admira, se refere a A União como “a primeira universidade da Paraíba”. Por lá passaram escritores como Carlos Dias Fernandes e José Lins do Rego, além de intelectuais como Osias Gomes, Samuel Duarte e até Ronald Queiróz, aqui presente, quando ainda estava em formação. A União, Ronaldo, é um espaço cultural importante pra nossa gente. E mais do que testemunha é uma personagem da nossa história. Veja o caso de 30. Você vai acabar com isso? Tempo passou e, como se vê hoje, Ronaldo não levou aquelas sugestões a sério. Ao contrário, durante o seu governo jamais deu chance a que este assunto voltasse ao debate. Escolheu bons nomes para dirigir a empresa, entre os quais o jornalista Nonato Guedes que, salvo engano, foi o último dirigente de A União naquele período. Nas minhas conversas particulares com ele, sobre aquela ideia de fechar o jornal, me dizia com evidente generosidade: - Se não fosse tu, Agui, aquele pessoal tinha me criado uma encrenca danada. E o pior é que eu nunca pensei em fechar o jornal.

O a oio e Ri ar o

Egresso da militância política e com atuação notória nos movimentos culturais, o governador Ricardo Coutinho nunca precisou ouvir o que vozes tecnocratas e modernosas disseram a Ronaldo sobre A União. Ao assumir o cargo, depois de toda a sua experiência como parlamentar e prefeito de João Pessoa, sabia exatamente qual a real importância desta escola cultural chamada A União. No seu primeiro mandato indicou para a superintendência da empresa o tarimbado jornalista, escritor e ex-deputado Ramalho Leite, que cuidou de formar uma equipe valiosa e deu início a vários projetos editoriais, além de uma reformulação gráfica no jornal. Ramalho mantinha entendimento direto com o governador e pôs em prática um plano de consolidação financeira do centenário órgão, 62 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO sempre com o apoio do Palácio da Redenção. Foi nesse período que comecei a publicar esta coluna “Deu No Jornal”, que Ramalho não só acompanhava como também colaborava, lembrando episódios e fatos pitorescos da imprensa local. Com a saída do então superintendente, convocado para outras missões, coube ao jornalista Fernando Moura assumir o cargo. Moura já vinha fazendo um excelente trabalho de pesquisa nas velhas páginas do jornal, cuidadosamente preservadas pelo pessoal do Departamento de Pesquisa, Luzia, entre outros. Aliás, desse trabalho resultou a publicação do livro “Jornal de Hontem”. No exercício da superintendência, Fernando reuniu um grupo de jornalistas e professores para planejar as comemorações dos 120 anos de A União. Foi um trabalho muito bem feito e mais uma vez o governador Ricardo Coutinho deu provas de apreço ao jornal, assumindo, ainda neste período uma coluna semanal em que discorria sobre assuntos administrativos, culturais e políticos. Ressalte-se ainda que deu condições a que A União reformulasse, em parte, o seu parque gráfico, modernizando a sua impressora e adquirindo novos equipamentos. Esse trabalho de renovação e modernização do parque gráfico da empresa prosseguiu, (e prossegue) até com mais intensidade neste período atual em que a jornalista e executiva Albiege Fernandes exerce a superintendência. Bia, como carinhosamente a chamamos, atua com reconhecida competência na direção do jornal, juntamente com os demais colegas de diretoria. Há uns três ou quatro anos, Ricardo foi pessoalmente conhecer a Sala de Estudos e Pesquisa Jório Machado, na sede do jornal, de onde se transmitiu o seu programa semanal “Fala, Governador”. Na entrevista, uma de suas primeiras declarações não deixou margem a dúvidas sobre a importância que ele dá ao trabalho feito n’A União. Descartou logo qualquer hipótese de fechamento do jornal, afirmando: “A União é um jornal superavitário e deve, sim, continuar existindo. Mesmo quando não era superavitário – e fazia favores que não estavam dentro da cultura nem dentro de um leque de intervenções que cabe ao Estado fazer – ainda assim cabia a todos nós defender a sua permanência”. Ricardo Coutinho não só descartou este assunto como previu novas formas de atuação do órgão: “O jornal deve dar um passo adiante, ocupando as redes sociais e disputando outro tipo de tempo, que não seja apenas o da publicação impressa”. Na conversa com os jornalistas Albiege Fernandes, Walter Galvão, Gonzaga Rodrigues, A UNIÃO 63 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Sitônio Pinto, Alarico Correia Neto, Marti nho Moreira Franco e este colunista lembrou que na condição de órgão de comunicação mais anti go do Estado (e um dos mais longevos do Brasil) A União cobriu jornalisti camente todos os períodos da república, desde 1893. Este depoimento é de certa forma um agradecimento a dois governadores, Ronaldo e Ricardo, que na minha avaliação fi guram entre os que melhor souberam compreender, na nossa história recente, o papel que este jornal historicamente cumpriu como “primeira universidade do Estado da Paraíba”.

Edição de 1º de julho de 1970

64 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO i o L ena

A ni o oi e ri eiro a or

ntrei para os quadros de A União em 1975, no mês de junho. Nunca tinha imaginado que um dia me tornaria jornalista. EChegara do Sertão, matuto, liso e desnorteado, os cobres do meu velho mal dando para cobrir as despesas, o cursinho pré-vestibular exigindo sacrifícios para a cobertura das mensalidades e eu a cata de um emprego, qualquer um, desde que me pagasse o suficiente para a subsistência. Foi quando apareceu Werneck Barreto, irmão da minha amiga Ivete. Ele, já redator do jornal, o irmão Barretinho diretor-técnico, um vasto conhecimento no meio da imprensa, levando pelas mãos um brocoió de Princesa que mal sabia pegar o ônibus na Lagoa e descer no Lactário da Torre. Estavam precisando de repórter. E foi como candidato a repórter que Werneck me apresentou a Frutuoso Chaves, o chefe de reportagem. Frutuoso me recebeu com muita cortesia, perguntou se eu tinha alguma experiência no ramo, menti que fora correspondente do Jornal do Comércio, ele aceitou a mentira e me deu a pauta. Cumpri a muito custo, redigi com certa facilidade pois dominava bem a máquina de datilografia e ele me mandou retornar

A UNIÃO 65 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro no dia seguinte. Depois de uma semana cumprindo as pautas de Frutuoso e aprendendo com ele como se redigia uma notícia, finalmente fui admitido. Minha carteira profissional foi assinada por José Souto, Superintendente de A União e por Murilo Sena, diretor administrativo. Passei a integrar uma equipe pequena: Eu, Chico Pinto, Renato e um galego do pé torto cujo nome não lembro. Nossos sofríveis textos eram levados, ao final da tarde, para a redação do Distrito Industrial, onde eram copidescados por Rubens Nóbrega, Assis, Josemar Pontes, Werneck Barreto, Marcone Carneiro Cabral, Feitosa e pelo próprio editor, Agnaldo Almeida. Em 78, quando casei, ainda trabalhava na reportagem. Mas, para ganhar uns extras, também trabalhava na redação. Durante o dia ganhava o dinheiro da feira. No expediente noturno, o do aluguel. A União foi minha primeira casa. Nela encontrei régua e compasso. Ganhei conhecimento, graças a isso recebi convites para trabalhar em O Norte e no Correio da Paraíba, alcei voos até na televisão, mas nada disso teria acontecido se não fosse A União e os ensinamentos do professor Frutuoso Chaves. Afirmo, sem qualquer temor, que nenhum jornal da Paraíba teve quadros qualificados e primou pela qualidade de seu noticiário como A União. Pelos seus quadros passaram as figuras mais brilhantes da nossa cultura. A União ensinou muita gente e abrigou aqueles que, sem ela, não teriam saído do anonimato. Quando passeio pelas suas salas e oficinas, ainda sinto as presenças fortes de Freire, de Zé Boró, de Walter Souza, de Mano, de Ferreti, de Pedro Moreira, de Dona Pequena e de outros que se foram para as redações celestiais. E bate aquela saudade no peito, a saudade que denuncia a passagem do tempo, o adeus da juventude e a chegada dos cabelos brancos. Nós envelhecemos, ela não. Parece uma menina, com cheiro de tinta fresca e jeito de quem nasceu ontem.

66 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Josinal o Mala ias

ornal ro an e

contexto em que ingressei em A União era o de um jornal oficial num regime militar. Pairava o fantasma de uma diretoria O deposta por trocar o nome do presidente Ernesto Geisel pelo do seu irmão Orlando Geisel. No entanto, o ambiente era descontraído e agradável, e fazia amarmos o Jornalismo. As limitações eram superadas pelos investimento na cultura e no esporte. A União contava com os melhores jornalistas, poetas, escritores e cronistas da Paraíba. Conseguia alimentar a flama do crepúsculo de um jornalismo romântico que foi esmaecendo sob o impacto da instalação das emissoras de televisão em João Pessoa e das tecnologias interativas provindas da internet. Na época os veteranos eram Gonzaga Rodrigues, Natanael Alves, José Souto, Martinho Moreira Franco, Carlos Aranha e Antonio Barreto Neto. O editor era o jovem descontraído Agnaldo Almeida e o chefe de reportagem o emérito Frutuoso Chaves o eterno mestre dos focas de então Sebastião Lucena, Paulo Santos, Wellington Farias, Edmilson Lucena, Lena Guimarães, Hilton Gouveia, Chico Pinto, Carlos Vieira, José Carlos dos Anjos, Anacleto Reinaldo e do escriba que vos fala. Por trabalhar simultaneamente como fotógrafo e repórter, passei a ser chamado “texto e foto” pela verve de Martinho Moreira Franco. Na parte de imagem dividia as tarefas com o meu irmão de 46 anos de ofício Antonio David Diniz, o melhor fotógrafo que conheço, e Ortilo Antonio.

A UNIÃO 67 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro A redação era dividida em duas partes. A primeira funcionava na Praça 1817, em cima do Cartório Decarlinto. A parti r das 8h da mati na, Frutuoso distribuía as tarefas. A segunda parte era no Parque Gráfi co, no Distrito Industrial. Ali fi cavam os feras. Como era também fotógrafo, ia revelar as fotos no “distrito”, como chamávamos. Ali os redatores experientes a exemplo de Carlos Aranha, Fernando Melo, Sitônio Pinto e Marti nho Moreira Franco lapidavam o texto dos “focas”. O esporte fi cava a cargo dos saudosos Marti ns Neto, Antonio Hilberto e Marciano Soares. O frenéti co barulho das máquinas de escrever, do telex e do teleti po (eita como estou velho) era cortado por uma frase que se tornou uma espécie de cacoete: - Boró, traz uma água e um café. E, com o seu andar lento, sempre sorrindo e solícito, o inesquecível Zé Boró atendia a todos. Ô tempo bom!

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A União foi minha escola, régua e compasso

ano era 1976. Mês de março. Tive uma conversa com o chefe de Reportagem de A União, Frutuoso Chaves, encaminhado por O Barreto Neto, a pedido do meu irmão Tião Lucena. A primeira pauta, uma entrevista com o secretário estadual da Educação, Tarcísio Burity, que, dois anos depois, viria a ser eleito governador do Estado, pela via indireta. Missão espinhosa para um ‘foca’, recém chegado de São Paulo e sem nenhum conhecimento de causa quanto às coisas locais. Mas me saí bem. Burity facilitou meu trabalho, praticamente ditando a matéria. Frutuoso era um chefe de Reportagem exigente e um grande e competente profissional. Foi meu primeiro e o melhor professor que tive. A União, minha escola, meu rumo, régua e compasso. Foi fundamental para mim que, ao contrário de inúmeros colegas, vivia e vivo exclusivamente do jornalismo. Inicialmente, na iniciativa privada e, depois, no serviço público. Mas sempre jornalismo. O jornal tinha como superintendente, à época, o jornalista José Morais de Souto. O diretor administrativo era Murilo Sena, o diretor técnico Antonio Barreto Neto e o editor geral Agnaldo Almeida. Digo sem medo de errar que A União, à época, contava com os melhores textos e a melhor equipe do jornalismo paraibano. Pagava os salários rigorosamente em dia e funcionava como uma máquina bem azeitada. A equipe de reportagem atuava com garra e produzia ótimas matérias, sob o comando de Frutuoso Chaves. Eu, Chico Pinto, Tião

A UNIÃO 69 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Lucena, Wellington Farias, Marcone Cabral, Marcone Formiga, Arlindo Almeida, Renato e tantos outros que me fogem à memória, contribuíamos para que o jornal competisse em igualdade de condições com O Norte e Correio da Paraíba. Cobertura de vestibular, era com a gente. Não tinha para mais ninguém. A União sempre saía na frente. O Estado, proprietário de A União, quando comecei no jornal, era governado por Ivan Bichara. As eleições estaduais na Paraíba ocorreram dois anos antes, em 1974, em duas fases, conforme previa o Ato Institucional Número Três e assim a eleição indireta do governador Ivan Bichara e do vice-governador Dorgival Terceiro Neto ocorreu em 3 de outubro. Posto em função da cultura, como instrumento divulgador, A União conseguiu realizar, desde aquela época até os dias atuais, o milagre da máxima distenção pelo mínimo preço. O jornal é o professor, o jornal é o orador, o jornal é o técnico, graças à variedade da matéria que fornece ao público e à mobilização imediata de todas as aptidões práticas chamadas a colaborar na sua feitura, no menor espaço de tempo. É a literatura, a agricultura, a economia política, a informação de toda espécie, tudo colocado ao alcance do leitor mediante duas ou três cédulas de um real. O jornal informa, o jornal educa, o jornal edifica, se encarado por este aspecto. Sempre foi assim com A União. Dois anos depois de cumprir a primeira pauta como repórter do Jornal Escola de todos nós, em 1978, fui convidado por Marcone Goes, o todo poderoso diretor executivo dos Diários e Emissoras Associados na Paraíba, para assumir a editoria política do jornal O Norte. Aceitei, mas A União permaneceu no meu coração como o mais querido, o mais lembrado e o responsável por todos os êxitos que alcancei em toda a minha trajetória. Em 1987, já como superintendente de Comunicação do Estado, no Governo de Tarcísio Burity II, nossos caminhos novamente se cruzaram. Colaborei de forma decisiva com o então superintendente do jornal, o querido e saudoso Jório de Lyra Machado, no início do processo de modernização do parque gráfico e na melhoria das condições de trabalho e de salário dos jornalistas, gráficos e pessoal da área administrativa. Em 41 anos de jornalismo, 20 foram dedicados à redações. Tempo demais para continuar acreditando na existência da verdade absoluta. Mas sou identificado com A União em todos os sentidos. Minha vinculação com a mais do que centenária é permanente, eterna, até. Um amor imenso!

70 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Cardoso Filho

Re r er oli ial or a aso

er jornalista é um dom. Iniciei na profissão em 1976, como repórter policial, com o jornalista Frutuoso Chaves - meu professor - na SEditoria geral do jornal A União. A reportagem policial foi um acaso. Certo sábado daquele ano cheguei um pouco atrasado e o editor disse que naquele dia estava dispensado. A Redação funcionava na Praça 1817. Ao invés de sair, resolvi conversar com amigos no próprio prédio. Em dado momento, fui chamado por Frutuoso e perguntou “quer ganhar o dia”. Respondi que sim e, a partir daquele dia passei a trabalhar nas reportagens policiais. Acompanhei vários fatos importantes e de repercussão na Paraíba. Um deles foi o assassinato da poetisa Violeta Formiga praticado pelo advogado Rosado Maia no apartamento do casal em um edifício na Rua dos Navegantes, em Tambaú, na capital. O Caso Abiaí, que envolveu vários policiais civis, entre eles delegados e agentes, também foi outro fato que acompanhei em todos os detalhes, inclusive com prisões e condenações dos acusados. Nos quarenta anos de jornalismo, cerca de trinta anos na área policial, a reportagem que mais me comoveu foi de três irmãs, da cidade de Guarabira. Se não falha a memória de 8, 10 e 12 anos, que haviam sido estupradas pelo próprio pai, quando residiam no . O “monstro” estava com AIDS, infectou a mãe das crianças, que

A UNIÃO 71 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro morreu na capital fluminense. As irmãs passaram a morar em um sítio no município de Guarabira com a avó. Infelizmente todas morreram. Outra importante cobertura foi do crime do Abiaí quando foram assassinadas seis vítimas, quatro caçadores e dois suspeitos de envolvimento nos assassinatos que eram funcionários da Fazenda Abiaí, pertencente a importante empresário. A chacina envolveu policiais civis e militares, inclusive delegados. O processo judicial transcorreu na Comarca de Alhandra sob a presidência do juiz Antônio Fernando Santana Lins e o representante do Ministério Público era o promotor Antônio Inácio Neto. Estou no jornal A União pela terceira vez. Como repórter já produzi diversas matérias especiais que enfatizam o trabalho das Polícias Militar, Civil, trabalhos realizados pelos peritos oficiais do Instituto de Polícia Científica, entre tantas outras. Em um dos períodos fui presidente de uma entidade representativa dos funcionários – a ASTRAU. Durante dois mandados realizamos ações em benefício dos servidores da empresa, firmando diversos convênios. O jornal A União, como de muitos jornalistas, foi e sempre será minha escola e onde tive a felicidade de conhecer minha esposa, Maria Adalgiza. Tive o prazer de trabalhar com saudosos jornalistas como Jacinto Barbosa, Gorette Zenaide, Machado Bittencourt, entre tantos outros companheiros que já não se encontram mais em nosso convívio. Outra convivência importante é com os estudantes de Jornalismo que trabalham no jornal A União como estagiários. Vários já passaram por “nossas mãos” e muitos deles foram contratados por outras empresas e também passaram a trabalhar como assessores de órgãos federais, estaduais e municipais e também nas áreas esportivas e empresariais. A empresa proporcionou momentos importantes na minha carreira jornalística.

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Mais que um jornal histórico, a ran e es ola

uando o assunto é A ni o, o clichê é inevitável: “Uma grande escola de Jornalismo”. Ao longo de mais de um Qséculo, o jornal do Governo da Paraíba foi fundamental para a formação profissional de gerações de jornalistas paraibanos. Da minha, inclusive. Ingressei em A União Companhia e Editora dois meses após ter iniciado a minha carreira na R io a a ara, então RI , em 1977. Fui substituir a Paulo Santos, por sugestão dele próprio ao chefe de Reportagem Frutuoso Chaves. Começava a minha história no jornalismo impresso. A empresa, de economia mista, era administrada pelo jornalista José Souto (presidente) e por Murilo Sena (diretor-administrativo). Se não estou enganado, o diretor-técnico era o jornalista Antônio Barreto Neto, que também frequentava a Redação no tempo em que também era correspondente na Paraíba do jornal O Es a o e S o a lo (Estadão). Era editor-geral de A ni o o jornalista Agnaldo Brito de Almeida, campinense radicado em João Pessoa. Saudosismo à parte, este foi um período marcante do jornal, sobretudo para a minha geração, pelos projetos editoriais ali realizados.

A UNIÃO 73 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro As Re a es

Em agosto de 1977, quando ali cheguei, o jornal mantinha duas Redações, além do mais moderno parque gráfico da Paraíba (off- set), inaugurado cerca de três anos atrás, na gestão do governador Ernani Satyro: uma na sede (no Distrito Industrial) e outra na Praça 1817, centro de João Pessoa. Esta servia de apoio aos repórteres que, durante o dia, saiam às ruas de João Pessoa à cata de notícias. Ao final da tarde, um malote com a produção (textos e fotografias) era enviado para a Redação do Distrito Industrial por um motorista da empresa. Naquele tempo, da Redação da 1817 faziam parte: Frutuoso Chaves (chefe de Reportagem); os repórteres de Política Marcone Formiga (setorista na Assembleia Legislativa) e Sebastião Lucena (da Câmara Municipal); o repórter policial Anacleto Reynaldo; os repórteres de cidade: Wellington Farias, Edmilson Lucena, Francisco Pinto e José Carlos dos Anjos Wallach; fotógrafos: Antônio David e Ortilo Antônio. Posteriormente, foi admitido o fotógrafo Josinaldo Malaquias que, anos depois, se tornaria professor titular do curso de Comunicação da Universidade Federal da Paraíba. Detalhe: Josinaldo foi o primeiro repórter da imprensa pessoense a acumular a produção de texto e a de fotos, de modo que produzia as fotos inerentes às suas próprias reportagens. Antônio Hilberto era da equipe de esporte, mas na Redação do Distrito. Da Redação instalada no Distrito Industrial faziam parte, além de Agnaldo Almeida, o editor-geral: Rubens Nóbrega, Francisco de Assis, Sebastião Werneck, Josemar Pontes, Marcone Carneiro Cabral, José Coelho (Coelhinho), entre outros. A colunista social era Sônia Yost. O setor de Arquivo e Pesquisa, coordenado por Luzia de Lima e auxílio de Aparecida Rodrigues, também acompanhou a Redação, a não ser quando esteve na Praça 1817. Eram diagramadores: Land Seixas, Wellington Seixas, Bill Barros e Sebastião (Tião). Em A ni o tive o privilégio de trabalhar com outros grandes nomes do jornalismo paraibano: Gonzaga Rodrigues, Nathanael Alves, Luís Augusto Crispim, Antônio Barreto Neto, Arlindo Almeida, Deodato Borges Filho, ex-diagramador do jornal e hoje um dos mais conceituados desenhistas de histórias em quadrinhos do planeta, sob o pseudônimo de Mike Deodato, que tornou-se mundialmente conhecido. Repórter trabalhava a pé: a não ser em excepcionais situações,

74 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO não havia carro à disposição da Redação. Os carros da empresa ficavam a serviço da Administração, embora ostentando a inscrição Re or a e . Frutuoso Chaves, chefe-de-Reportagem, adotava uma norma: cada repórter tinha que produzir em média cinco notícias, e no mínimo três. A Redação central de A ni o ao longo do tempo “perambulou” por várias áreas de João Pessoa. Da 1817 a equipe somou-se à Redação do Distrito Industrial. Impraticável pela distância da área urbana, tornando difícil o deslocamento dos repórteres às suas fontes. A Redação mudou-se para a Praça Aristides Lobo, no prédio onde funcionou o Cine Brasil e posteriormente a Saelpa. Em seguida, foi para a Rua João Amorim, próximo ao supermercado Bompreço, da Praça Castro Pinto, depois para a Rua General Osório, no prédio da Biblioteca Central do Estado, que havia sido transferida dali. Anos após, voltaria para o Distrito Industrial, onde está atualmente.

Copidesque e texto final

Ainda não havia jornalista diplomado no mercado. O Curso de Comunicação Social da Universidade Federal da Paraíba estava surgindo. Aprendia-se o jornalismo empiricamente, na prática e na marra. Em compensação, havia mais critério e rigor na seleção dos textos a serem publicados: além de um corpo de revisores, na Redação do jornal existia uma bancada de copidesque. A palavrinha deriva do inglês copy desk, que designa o redator que “lapida” textos: corrige e, dependendo da necessidade, até reescreve o que vai ser publicado, seja para torná-lo mais claro e objetivo, ou para dar um enfoque segundo a orientação do editor; sem alterar em nada o sentido da notícia, naturalmente. Dar texto final era o grande desafio dos repórteres; era até motivo de vaidade profissional. Da nossa equipe de repórteres de então, apenas Marcone Formiga, o mais experiente, tinha texto final. O que era escrito por nós outros - jornalistas em início de carreira -, ia direto para a bancada de copi para receber o tratamento necessário. Aí entravam em cena Rubens Nóbrega, Sebastião Werneck, Francisco de Assis e outros. A maior parte do tempo em que atuei no jornalismo impresso foi na área de política. Por A ni o e outros veículos fui setorista na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal de João Pessoa. Mas fiz incursões - algumas demoradas - pelas editorias de cidade, cultura e até

A UNIÃO 75 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro economia. Também fui editor-geral de A União entre 1990 e 1991. Nesse período transcorreu a chamada Guerra do Golfo, um conflito militar travado entre o Iraque e forças da coalizão internacional, liderada pelos Estados Unidos e patrocinada pela Organização das Nações Unidas, com a aprovação de seu Conselho de Segurança que autorizou o uso da força militar para a libertação do Kuwait, ocupado e anexado pelas forças armadas iraquianas sob as ordens de Saddam Hussein.

O Plágio de Zé Ramalho

A reportagem de minha autoria de maior repercussão foi publicada em A ni o: o histórico plágio cometido pelo cantor e compositor paraibano Zé Ramalho. O fato teve repercussão nacional e ocupou generosos espaços dos maiores jornais do país e na maior revista semanal brasileira, a e a. Da lavra da jornalista Ana Maria Bahiana, o jornal carioca O Globo publicou quase página inteira na capa do Caderno 2. Coincidência, ou não, após este fato o artista paraibano ficou sem gravadora por alguns anos. Foi assim: Num domingo de julho de 1982, com pompas e circunstâncias Zé Ramalho lançava no programa Fantástico (Rede Globo) aquele que seria o seu mais festejado LP - em vinil, porque não havia o formato em CD. O título do disco e da faixa principal era or a er e. Quando Zé começou a cantar na televisão, o colecionador de gibis e quadrinista paraibano, Emir Ribeiro, de imediato conheceu a poesia; desconfiou de que aquele texto estaria num dos exemplares da sua coleção. Na mosca: de autoria do poeta e dramaturgo irlandês William Butler Yeats, Prêmio Nobel de Literatura em 1923, o texto era a introdução da estória contada na revista O In r el , número 1, editada pela Abril Cultural. O fato chegou ao meu conhecimento. Caiu como uma bomba na Redação. Encaminhei o assunto para a editoria competente (Cultura). Ninguém se prontificou a fazer a reportagem, tampouco assiná-la. Eu era chefe de Reportagem e sabia da importância da matéria: era um fato jornalístico de grande relevância. Empenhei-me pela sua publicação. Como Zé é um paraibano que estava com a carreira artística nacional em franca ascensão, e sendo A ni o um jornal do Governo do Estado, comprometido com seus valores culturais, foi preciso que o governador Tarcísio Burity fosse consultado e autorizasse a publicação

76 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO da reportagem. O intermediário da negociação foi o jornalista Gonzaga Rodrigues. Burity terminou concordando, mas com uma condição: que a reportagem fosse publicada com assinatura do autor. Como ninguém da editoria competente se dispôs a fazê-lo, eu mesmo topei a parada. E assim foi feito: na primeira página da edição do dia seguinte, dentro de um box saiu a reportagem sob o título O Incrível Zé Ramalho, num trocadilho com o título da revista O In r el . A ilustração (Zé Ramalho magricelo dentro de uma roupa em farrapos, como o super-herói Huck) foi da autoria de Domingos Sávio, um dos melhores ilustradores da imprensa paraibana. Ao longo da produção da reportagem naturalmente tentei entrevistar Zé Ramalho para ouvir dele a explicação sobre o fato. Naquela época não havia internet, whatsapp, messenger, nem aparelho celular. Só telefone e linhas analógicas de péssima qualidade. Mesmo assim, consegui localizar o compositor paraibano, que estava hospedado num hotel de Salvador. Pela boca de um assessor, porém, ele mandou dizer que estava muito ocupado e, portanto, não poderia atender. A reportagem foi publicada sem a versão do artista. Na semana seguinte, porém, A ni o publicaria – em página inteira – uma entrevista que fiz com o advogado José Carlos Éboli, que veio a João Pessoa representando a Emi/Odeon gravadora com a qual Zé Ramalho tinha contrato. Outra matéria de grande repercussão que fiz para A ni o foi uma entrevista com o então governador de Minas Gerais e pretenso candidato à Presidência, Tancredo Neves, que rendeu a manchete de capa: “Viveremos dias de turbulência no Brasil”. Tancredo estava hospedado no Hotel Tropicana e tinha vindo a João Pessoa para fundar o Partido Popular (PP). Outras duas, que geraram burburinho na província: por acaso descobri que Leovegildo Gama, pai de Júnior – o craque do Flamengo e da Seleção Brasileira – estava sepultado em cova rasa e como indigente no cemitério do Cristo, em João Pessoa. Deu o que falar... Pouco tempo depois, a família retirou o corpo do lugar. A personalidade internacional mais relevante que entrevistei, para A ni o, foi o secretário do Sindicato Solidariedade da Polônia, entidade comandada pelo líder sindical polonês Lech Wałęsa, contemporâneo de Luis Inácio Lula da Sila e com trajetórias muito parecidas: operários que promoveram transformações e chegaram à

A UNIÃO 77 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Presidência dos seus países. Wałęsa, na Polônia, com o apoio da ala conservadora da Igreja Católica. Luis, no Brasil, com o apoio da ala progressista da mesma igreja. A entrevista aconteceu por acaso, em Cabedelo, onde estavam atracados navios da chamada “cortina de ferro”. Durante a ditadura militar era esta nomenclatura usada para designar países comunistas. Convidado pelo jornalista Willys Leal, eu tinha ido fazer a cobertura de um evento turístico na praça principal da cidade portuária de Cabedelo, na Grande João Pessoa. Dos navios de bandeira comunista ninguém podia sair nem entrar, em território nacional. Entre nós, porém, estava um sujeito chamado Ítalo. Muito hábil e de boa conversa, a ele se atribuía uma relação muito íntima com os militares... Verdade, ou não, o fato foi que ele conseguiu que os tripulantes de um navio polonês saíssem do navio e fossem até a praça principal da cidade para ver o evento. Dentre eles estava o tal sindicalista, cujo nome não lembro. Afinal, lá se vão mais de 30 anos.

Elizabeth Teixeira

Também fui o primeiro jornalista a dar notícia sobre o reaparecimento da viúva de João Pedro Teixeira: a camponesa Elizabeth Teixeira, natural da cidade de Sapé, que substituiu o marido assassinado pelas mãos do latifúndio no comando das Ligas Camponesas, havia sumido na clandestinidade depois que eclodiu o golpe militar de 1964, adotando o falso nome de Marta Maria Costa. Como repórter, sempre gostei de fazer entrevistas que dessem o que falar. Pedia sugestões sobre pessoas dignas de entrevistas de páginas inteiras. Numa destas, o jornalista João Manoel de Carvalho me revelou que estava voltando à Paraíba a viúva de João Pedro Teixeira, que viveu anos no anonimato pras bandas do Rio Grande do Norte, e me forneceu o endereço onde ela se encontrava, na casa de uma filha, no bairro pessoense de Cruz das Armas. Para esta empreitada, convidei o colega Carlos Tavares, colega de Redação de A ni o e filho do conceituado médico Arnaldo Tavares, que dividiu comigo a tarefa de fazer perguntas a Elizabeth. Vivi momentos muito interessantes e curiosos nas Redações de A ni o. Na Redação de A ni o à época da General Osório, desfrutei de um momento musical ímpar, ao lado do colega Silvio

78 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Osias: um belíssimo solo de sax do internacionalmente festejado músico, compositor, arranjador e autor de trilhas de cinema Moacir Santos. Natural de Flores, em , Moacir mudou-se para Los Angeles em 1967 quando foi convidado para a estreia mundial do fi lme Amor no Pacífi co, de cuja trilha sonora era autor. É ti do como um dos maiores mestres da renovação harmônica da música popular brasileira (MPB). Foi homenageado por – de quem foi parceiro – no “Samba da Bênção”, com Baden Powell. Também foi professor de Baden, Paulo Moura, João Donado, Nara Leão, Roberto Menescal, Sergio Mendes e outros. Foi na Redação de A ni o, da Rua João Amorim, que conheci o menestrel baiano Elomar Figueira Mello, que peregrinava por redações brasileiras divulgando o seu trabalho. Se a memória não me falha era seu primeiro LP inti tulado “Na quadrada das águas perdidas”. Ali também conheci o maestro paraibano, internacionalmente conhecido, José Siqueira. Natural de Conceição, na Paraíba, ele chegou a reger a Filarmônica de Moscou, além de grandes orquestras dos Estados Unidos, Canadá, França, Portugal, Itália, Holanda, Bélgica.

A UNIÃO 79 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro e r nio So o

Pouco tempo, muito trabalho

inha gestão como diretor-presidente de “A União - Companhia Editora” estendeu-se de 7 de abril de 1981 a 26 de maio de 1982. Nessa presidência, sucedi ao saudoso jornalista Nathanael MAlves - e fui sucedido por Etiênio Campos. Durante cerca de 14 meses, procurei colocar em prática minhas ideias sobre como deve funcionar um jornal cuja principal tarefa é ajudar o Governo do Estado a divulgar corretamente suas políticas públicas, suas atividades, sua filosofia política. Mas não cuidei apenas da Política, da Administração como um todo, das atividades do então governador Tarcísio Burity. Sem desejar alongar-me em considerações talvez desnecessárias, irei direto ao assunto, relatando os principais fatos resultantes de minha breve passagem pelo cargo:

1. “O Correio das Artes”, excelente e tradicional suplemento literário do jornal “A União”, vence o Prêmio Nacional da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), na categoria de “Melhor Divulgação Cultural em 1981”. 2. “O Correio das Artes” é incluído na “Modern Language Association of América”, periódico dos Estados Unidos responsável pelo registro das mais importantes publicações culturais do mundo.

80 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO 3. Uma série de ações concretas visando à melhoria da circulação e da distribuição do jornal oficial “A União”. Uma dessas medidas foi a contratação de Chico Ferreira (hoje artista plástico), que fazia excelente trabalho nessa área, no jornal “Correio da Paraíba”. Sua tarefa era estruturar e dinamizar os mesmos setores em “A União”. 4. Aquisição, na República Federal da Alemanha, de duas impressoras rotativas “Kord”, num esforço para aumentar a produção da gráfica. 5. Redução da bitola do jornal: deixamos o exemplar de “A União” alguns milímetros mais estreito, com o único objetivo de economizar papel. 6. Regularização do patrimônio imobiliário da empresa, com a escrituração e o registro do terreno, a fim de possibilitar a averbação do edifício-sede. 7. Com autorização do governador Tarcísio Burity, empreendemos as indispensáveis ações com vistas a transferir “A União” e a Rádio Tabajara para o local onde hoje funciona o TRE-PB (Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba), na Avenida Princesa Isabel, centro da capital. O projeto de arquitetura chegou a ser concluído pelo arquiteto Régis Cavalcanti, mas a ideia foi abandonada pelos sucessores. 8. Ocorreu em minha modesta gestão, para alegria de jornalistas e gráficos do matutino, um fato deveras curioso e que marcou a História do jornal “A União”. Foi em 14 de maio de 1981, o dia em que “A União” vendeu mais que os jornais “O Norte” e “Correio da Paraíba”, colocando nas ruas a edição mancheteando o atentado do turco Ali Agca contra o Papa João Paulo II, na Praça de São Pedro. O jornal divulgou fotos do Pontífice baleado sendo conduzido para o hospital. 9. No campo gráfico-editorial, foi reeditada uma obra básica para conhecer a Paraíba sob o domínio holandês: “Descrição Geral da Capitania da Paraíba”, de Elias Herckmans.

Com a saída do governador Tarcísio Burity para tentar uma vaga na Câmara Federal, ainda se fizeram gestões para minha permanência à frente do cargo em “A União”, na administração do seu sucessor, Clóvis Bezerra. Mas, entendendo que cada governador não só pode como deve colocar no cargo pessoas rigorosamente afinadas com sua orientação, não aceitei que prosperassem essas tratativas. E com muito gosto vi meu amigo Etiênio Campos ascender ao cargo que procurei exercer com dedicação, honestidade, equilíbrio e profissionalismo.

A UNIÃO 81 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Quando fui superintendente de A União estive diante de um desafio. O governador Tarcísio Burity, no seu primeiro mandato, queria transformar A União e a Rádio Tabajara, ambas sociedades de economia mista, em uma única empresa. Queria mais: jornal e rádio deveriam funcionar no mesmo endereço. O governador não se conformava com o fato de A União funcionar no Distrito Industrial, “perto do Abreu e Lima”, mantendo a Redação na Rua João Amorim, no Centro, em imóvel alugado. Também queria dar novas e modernas instalações à Rádio Tabajara. Caí em campo. Primeiro localizei um terreno vazio na esquina da Rua D. Pedro I com Princesa Isabel (onde hoje funciona o TRE). Depois me pus a discutir o projeto arquitetônico com Régis Cavalcanti, da Suplan. O projeto ficou em ponto de maquete. Mas aí Burity resolveu deixar o governo para se candidatar a deputado federal, nas eleições de 1982, e eu deixei o cargo junto com o governador que havia me convidado. Depois, acredito, a Paraíba teve outras prioridades... Gosto sempre de lembrar das coisas positivas que vivi por onde passei. N´A União, relembro uma atitude do editor Agnaldo Almeida que demonstra toda sua criatividade e competência profissional. Ao assumir A União, na época sociedade de economia mista, tratei logo de fazer uma leitura técnica do último Balanço da empresa e me convenci de que teria que me desdobrar para levar o barco com relativa tranquilidade, já que vivíamos inflação “galopante” e forte pressão dos sindicatos dos jornalistas e dos gráficos por reajustes mensais. Confidenciei minhas preocupações com pessoas da equipe, no sentido de que elas compreendessem as razões de algumas medidas. A ideia central, digamos assim, era a famosa contenção de despesa. Foi aí que Agnaldo veio com uma idéia tão genial quanto simples: estreitar o jornal. A União, no modelo tradicional, era um jornal enorme, um verdadeiro lençol, talvez porque na época não houvesse tanta preocupação com custo de produção, muito menos com a tal sustentabilidade, tão badalada hoje em dia. Afinal, papel de jornal vem da derrubada de árvores... O que fez Agnaldo? Manteve o modelo standard, mas estreitando o jornal, reduzindo suas manchas gráficas, tendo o cuidado de imaginar, em paralelo, modificações sutis e profundas no projeto gráfico, o que fez de A União um produto novo, pelo menos aos olhos do pessoal do ramo. Providência simples, criativa e que resultou em grande 82 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO economia para a empresa, que passou a comprar bobinas de papel numa bitola menor, bem mais baratas, o que acabou sendo adotado pelos concorrentes. *** 17 de maio de 1982. Em cerimônia no Teatro Municipal de São Paulo, o editor Sérgio de Castro Pinto recebe o Prêmio Nacional “MELHOR DIVULGAÇÃO CULTURAL EM 1981”, outorgado por unanimidade pela Associação Paulista de Críticos de Arte-APCA ao CORREIO DAS ARTES, “em reconhecimento a contribuição do Suplemento Literário do jornal A União à cultura brasileira através de edições bem cuidadas, visando o alto nível das colaborações assinadas por figuras expressivas da inteligência nacional”. O prêmio é considerado um dos mais importantes do país, conforme testemunho do cronista Artur da Távola, na Revista da Semana do jornal O Globo, edição de 31 de janeiro daquele ano, que assim se expressa: “Em nossa terra, porém, o prêmio de crítica mais alto é o da Associação Paulista de Críticos de Arte. A isenção e o alto nível dos integrantes da APCA deferem aos premiados a certeza de uma escolha criteriosa, séria e independente”. Juntamente com o Correio das Artes foram contemplados intelectuais como Moacyr Félix, Marilena Chauí, , Fernando Tôrres, , Irene Ravache, Tony Ramos, Marina Lima, Marcos Rey, Miguel Jorge, o editor José Olympio e outros nomes representativos da cultura nacional. *** Alguns acham que a famosa ‘barriga’ de A União, que anunciou o general Orlando Geisel, e não o seu irmão Ernesto, como sucessor de Médici, se deu exatamente pela precariedade em que o jornal operava, lá no Distrito Industrial. A mudança foi feita apenas com as instalações físicas concluídas. Abrigando praticamente o sistema de impressão do jornal, assim mesmo sem as máquinas e equipamentos modernas que viriam depois, no começo de 1974, final do governo Ernani Sátyro. Os contemporâneos dizem também que houve falha na comunicação. A comunicação por telefone não era feita nos padrões de hoje. Teria havido falha na comunicação por telefone, é o que sei. Quem estava fechando a edição, lá no Distrito, não conseguiu checar nada, tirar a dúvida. Acho que foi isso que aconteceu. O episódio, de repercussão nacional, resultou na demissão sumária do secretário Noaldo Dantas, do diretor de A União, Luíz Augusto Crispim, e do editor Marcone Carneiro Cabral. Em resumo: equipe competente, mas no momento sem os meios necessários para trabalhar. A UNIÃO 83 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Anos 1980 - Da esquerda para a direita: Wellington Farias, Agnaldo Almeida, Arlindo Almeida e Petrônio Souto entrevistando o então secretário de Segurança Pública, coronel Geraldo Navarro, para o Jornal de Domingo (segundo caderno de A União).

Da esquerda para a direita: Walter Galvão, Agnaldo Almeida (da redação de A União), Petrônio Souto, na época superintendente, Edvaldo do Ó, proprietário do jornal Gazeta do Sertão, de Campina Grande, e dois redatores daquele jornal --Tarcízio Cartaxo e Geovaldo Carvalho. A equipe de A União em visita a Gazeta, em Campina Grande, para conhecer a experiência com o jornal em formato tablóide. Edvaldo do Ó era um homem muito inteligente. Era diretor da Bolsa de Mercadorias de Campina Grande, reitor da FURNe - Fundação Universidade Regional do Nordeste (embrião da UEPB) e proprietário de jornal. Tarcízio Cartaxo, o quinto da esquerda para a direita, era o chefe da sucursal de A União em Campina Grande.

84 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO 1981 – Abertura de temporada da Orquestra Sinfônica da Paraíba. O maestro José Siqueira é convidado pelo governador Tarcísio Burity para reger a OSPB no Teatro Santa Roza. Na época, com 32 anos, Petrônio Souto dirigia o jornal A União. O governador conversa com a soprano Alice Ribeiro, esposa do maestro José Siqueira. Petrônio Souto em conversa com o jornalista Severino Ramos e com a primeira- dama, Dona Glauce Burity.

Pôster assinado pelo artista plástico e cartunista Antônio Gonçalves de Sá (Tônio), criado para comemorar o Prêmio Nacional outorgado pela Associação Paulista de Críticos de Arte - APCP ao Correio das Artes – Melhor Divulgação Cultural em 1981. Desde então, o Correio das Artes foi incluído na Modern Language Association of América (EUA), periódico responsável pelo registro das mais importantes publicações culturais do mundo.

A UNIÃO 85 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro 2 de Fevereiro de 1974 - Solenidade de inauguração das novas instalações de A União - Cia. Editora, no Distrito Industrial de João Pessoa. O secretário de Comunicação já era Otinaldo Lourenço e a diretoria do jornal era composta por Carlos Vieira (diretor-presidente); Carlos Alberto (diretor administrativo-financeiro, funcionário do Banco do Brasil, neto do brigadeiro Firmino Ayres, secretário de Segurança Pública) e o jornalista Luís Ferreira (diretor técnico). Na foto, em primeiro plano, da esquerda para direita: Otinaldo Lourenço, secretário de Comunicação; Milton Vieira (Finanças); governador Ernani Sátyro; Aluísio Afonso Campos; José Américo de Almeida; Carlos Vieira (diretor-presidente de A União, discursando); Lourdinha Luna; Otacílio Silveira e José Alves de Oliveira.

Petrônio Souto e Hélio Zenaide empossados na diretoria d’A União em 1981, pelo secretário Gonzaga Rodrigues

86 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Um papo no DECOM-UFPB sobre o mercado de trabalho. Dalmo Oliveira, Giovanni Meirelles, (Petrônio Souto, Walter Santos (com o microfone), Fábio Cardoso e os professores Alarico Correia Neto e Moacir Barbosa

Governador Tarcísio Burity com o secretário de Comunicação Gonzaga Rodrigues, Petrônio Souto, superintendente e Etiênio Campos, diretor administrativo

A partir da esquerda: Carlos Roberto de Oliveira, Paulo Santos, Gilson Souto Maior, Biu Ramos, Petrônio Souto, Linduarte Noronha, Antônio Barreto Neto e Manoel Raposo, ex-diretores da Rádio Tabajara comemorando os 60 anos da emissora

A UNIÃO 87 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro O secretário de Comunicação, Walter Santos, dá posse conjunta n’A União. Petrônio Souto assumia a Rádio Tabajara e Itamar Cândido, deixava a rádio para assumir a superintendência de A União

Edição de 1º de outrubro de 1970

88 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Carlos ieira

A minha eterna escola

minha passagem pelo jornal A União foi marcada por uma trajetória vitoriosa, apesar das dificuldades que enfrentei Apara alcançar este objetivo. Trabalhei em outros órgãos de comunicação – O Norte e Momento -, mas aqui plantei raízes e criei a minha história que ficará registrada definitivamente. Cheguei ao velho matutino no dia 1º de setembro de 1978 e, neste ano, já era estudante do Curso de Comunicação Social da UFPB, onde terminei graduação em 1981. Na época, o superintendente era José de Morais Souto e tinha como editor Agnaldo Almeida, profissional da mais alta qualificação que dispensa comentários. A União funcionava no regime CLT- Consolidação das Leis do Trabalho. Quando cheguei ao jornal, encontrei profissionais renomados, como Agnaldo Almeida, editor-geral; Josemar Pontes, secretário de Redação; Frutuoso Chaves, chefe de Reportagem, Tarcísio Neves, editor de Esportes; Fernando Melo, editor de Política, além de Antônio Hilberto, Marcondes Brito, Werneck Barreto, Antônio Barreto Neto, entre outros. Inicialmente, fui contratado para trabalhar à noite no teletipo, uma máquina que recebia matérias jornalísticas do Brasil e do mundo de agências de notícias. Eu tinha que fazer correção nos textos, que vinham escritos todos em caixa alta (letras de forma), tendo também que corrigir datas e fazer outras mudanças nas matérias para poder liberá-las para a digitação.

A UNIÃO 89 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Este tipo de trabalho me ajudou bastante na elaboração de uma matéria jornalística, já que os textos vinham prontos das agências de notícias e me davam uma noção exata como redigir uma matéria. Procurei evoluir e não demorei muitos anos no teletipo. Aprendi rápido outras atividades jornalísticas na Redação, como titular e editar páginas. Daí em diante, passei a trabalhar nas funções de repórter e redator, pois adquiri experiência e sabia dominar um texto. Fui repórter de geral, policial, política e esportes. Na área policial, cheguei a ser editor, onde realizei um bom trabalho. No jornal, fiz de tudo um pouco: editei páginas de geral, policial, esportes, política e mundo, além de cadernos especiais. Posteriormente, ocupei os cargos de secretário de Redação, editor-adjunto e editor-geral, sendo que este último por alguns meses. Tive a honra de ocupar o cargo de secretário de Redação no centenário do 4º jornal mais antigo em circulação da América Latina, em 93, ao lado do meu amigo de saudosa memória Jacinto Barbosa, que era o editor-geral. Isso é um orgulho para qualquer profissional. Apesar de carregar o estigma de jornal oficial, já que pertence ao Governo do Estado, A União sempre desenvolveu um jornalismo de primeira linha – com ética e dinamismo - e jamais deixou a dever nada em relação aos demais órgãos instalados na Paraíba. Não é à toa que é considerada a maior escola de jornalismo do Estado, por formar profissionais da mais alta qualificação. Estudantes de Curso de Comunicação chegam aqui para fazer o seu estágio e saem altamente preparados para exercer a profissão de jornalista em qualquer empresa. Nos anos 80 e 90, A União ganhou notoriedade ao formar grandes equipes de profissionais renomados da imprensa paraibana e pagava os melhores salários do mercado. O jornal desenvolveu trabalhos de destaques em todas as áreas: geral, policial, política, esportes, cultura. Foi uma época de ouro em que as edições esgotavam nas bancas de vendas, por conta da qualidade do material jornalístico que era divulgado com assuntos que despertavam o interesse dos leitores. A minha história em A União é de amor e glória, pois jamais a deixei em troca de outras empresas. Trabalhei paralelamente no jornal O Momento, na Secretaria de Comunicação do Estado, Instituto de Terras e Planejamento Agrícola (Interpa) e Secretaria de Cidadania e Justiça do Estado. Nestes dois últimos órgãos, instalei a Assessoria de Comunicação e fui assessor. Aqui sempre foi e será a minha segunda casa, a minha eterna escola de jornalismo. 90 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Nessa longa trajetória, convivi e trabalhei por muitos anos ao lado de jornalistas renomados como Nathanael Alves, Gonzaga Rodrigues, Biu Ramos,Martinho Moreira Franco, Agnaldo Almeida, Frutuoso Chaves, Pedro Moreira, Abmael Morais, Tarcísio Neves, Itamar Cândido, Jacinto Barbosa, Carlos César, Joanildo Mendes, Nonato Guedes, Carlos Aranha, Werneck Barreto, Antônio Barreto Neto, Jório Machado, Fernando Moura, José Euflávio, Geovaldo Carvalho, Cristiano Machado, Chico Pinto, Wellington Farias, William Costa, Rui Leitão, Nelson Coelho, entre outros. Sempre tive um bom relacionamento com todos eles. Não poderia deixar de registrar que três superintendentes marcaram época na nossa centenária A União pela sua gestão eficiente e valorização dos servidores: José de Morais Souto, Deoclécio Moura e José Itamar da Rocha Cândido. Itamar, de saudosa memória, pode ser apontado como maior destaque, pois, por duas vezes, assumiu o órgão em situação crítica financeiramente, cheia de dívidas, sem carro até para a Reportagem e nenhuma credibilidade no mercado para comprar papel para rodar o jornal. Ele recuperou a empresa totalmente e deixou um bom dinheiro em caixa nas duas vezes em que foi superintendente. A nossa querida A União também viveu momentos de grande turbulência em sua estrutura e esteve ameaçada de perder equipamentos de grande valor por não pagar dívidas de contribuição de servidores com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), já que funcionava no regime CLT. O governo da época agiu com rapidez, passou os funcionários para o regime estatutário e negociou o débito com a Previdência. A partir dessa mudança de regime, o calvário dos servidores começou, pois o governo não cumpriu com o compromisso assumido com a empresa e os salários começaram a atrasar. Todos os meses era um sofrimento para o pagamento da folha de pessoal, pois dependia da liberação dos recursos pelo governo. Em outro governo, o jornal viveu outra crise e acabou numa greve histórica dos funcionários comandada pela Astrau – Associação dos Trabalhadores de A União, que durou 19 dias, com paralisação do jornal, Diário Oficial e parque gráfico. A paralisação revoltou o governo por não poder publicar os atos no Diário Oficial e, por conta disso, cogitou a demissão de líderes da Astrau que comandaram o movimento. No entanto, alguns secretários aconselharam o governador a não tomar essa decisão extrema, porque traria repercussão negativa para o governo demitir profissionais de imprensa por conta de salários atrasados e outras A UNIÃO 91 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro reivindicações. Ele recuou, determinou a abertura de diálogo, foi feito acordo e a greve acabou. Outra crise sacudiu a empresa nos anos 90, trazendo graves consequências para todos que trabalhavam no órgão ofi cial. Foi nessa época que Itamar Cândido assumiu a Superintendência de A União pela primeira vez, encontrando-a num verdadeiro caos fi nanceiro. A Reportagem não dispunha de repórteres e nem de carro para desenvolver as suas ati vidades. Sugeri ao diretor Técnico da época convidar alguns jornalistas da Secretaria de Comunicação do Estado para trabalhar no jornal, pagando uma grati fi cação. Ele aceitou a ideia, trouxe vários profi ssionais e A União foi voltando aos poucos à normalidade na produção de notí cias. Itamar se encarregou de fazer o resto e recuperou a empresa, deixando-o saneada fi nanceiramente. Portanto, o jornal já sobreviveu a muitas crises e chegou até ser ameaçado de fechamento. Serviu também de trampolim políti co para muitos. Mas a nossa querida A União sempre foi forte para se sobrepor a todas essas intempéries e conti nuará fi rme na missão de ser a maior escola de jornalismo e patrimônio cultural da Paraíba, esbanjando vitalidade apesar de secular.

92 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Lan Sei as Presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba

A no a e nolo ia o re orno ao re i e r i o es a rio e e i or or ia

jornal A União vai completar 125 anos. Por isso é um grande celeiro da cultura e repercute como grande patrimônio do povo O paraibano, sem sombra de dúvidas. Quem trabalha, há muito tempo nos veículos de comunicação impressos da Paraíba, sabe muito bem do que estou falando. A sua trajetória acumulou histórias, que outros veículos não têm. Fui contratado para trabalhar no jornal em 1974, quando A União exercia as suas funções sob o regime celetista. Não fui só. Dezenas de colegas do jornal O Norte também foram convocados. O Governo do Estado entrava na disputa investindo em novas tecnologias. E, o jornal O Norte, que pertencia ao conglomerado dos Associados tinha sido o primeiro a implantar o sistema de computadores a frio. Não existia mão de obra qualificada para essa nova tecnologia na Paraíba. Com exceção dos Diários Associados. Começava, assim, a guerra tecnológica pela disputa do mercado impresso na Paraíba. Por isso, lembro como se fosse hoje! Faltou pouco para que o jornal O Norte não fechasse as suas portas. Pois, quase cinquenta por cento do seu contingente de trabalhadores foi parar no Distrito Industrial.

A UNIÃO 93 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Na implantação do velho para o novo sistema, do quente para o frio, chegamos a usar o antigo, por diversas vezes. Pois, vez por outra, aconteciam falhas, obrigando a empresa a recorrer às linotipos que usavam a impressão no chumbo quente. Nós, diagramadores tínhamos que trabalhar com fontes e tipos de letras totalmente desconhecidas para suprir o novo modelo tecnológico implantado, através dos novos computadores. Foi difícil, mas depois o sistema engrenou de vez, e o jornal passou a só usar a nova metodologia avançada, que facilitava o trabalho, diminuía o tempo de realização do processo e melhorava significativamente a impressão do jornal. A ol a ara o re i e es a al Em 1974, Carlos Vieira da Silva era o Diretor Presidente de A União – Companhia Editora. Em 1975 assumiu o comando o jornalista José Morais de Souto, sendo sucedido por outro jornalista, Nathanael Alves dos Santos, em 1979, que entregou o cargo a Petrônio Vinício Souto Batista, em 1981. Petrônio Souto, também jornalista, ficou na direção até o ano de 1982, passando a direção da Cia Editora para Deoclécio Moura Filho, que permaneceu no cargo até o ano de 1985. O jornalista Aluísio Moura assumiu em 1985 e, foi o último presidente da empresa no regime celetista. Foi na sua gestão que a empresa voltou ao regime estatutário como A União – Superintendência de Imprensa e Editora. A União voltou a empresa com regime estatal através da Lei Complementar nº 08, de 29 de julho de 1975, nos termos da Lei noº 4.714, de 20 de junho de 1985, a partir de 01 de agosto de 1985. E i or or ia Durante a minha trajetória no jornal estatal, como diagramador, trabalhei com vários editores. Todos grandes profissionais. Mas, dois deles me trazem boas recordações: Rubens Nóbrega, que tenho como um dos melhores profissionais na área de comunicação, pois conhece tudo sobre veículo impresso, e o saudoso Pedro Moreira, irreverente e polêmico, embora dominasse esse campo como ninguém. Quando fui contratado para trabalhar como programador visual do jornal, eu tinha sido aprovado no vestibular da Universidade Federal da Paraíba e, o curso de Odontologia era no expediente da manhã. Trabalhava à tarde no jornal Correio da Paraíba e à noite no jornal A União, que ficava localizado na Rua João Amorim, por trás do Supermercado Bom Preço. Eu era o diagramador da noite. Por isso, tinha que apelar todos os dias para que nada pudesse atrasar o fechamento do jornal. Pois, precisava chegar cedo em casa para estudar, único espaço de tempo de que poderia dispor, e tentar chegar no dia seguinte, às 7h na UFPB. 94 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO O editor do jornal A União era Pedro Moreira, que comandava magistralmente toda a Redação. E, foi numa determinada ocasião, que eu tinha prova no dia seguinte, que a zebra andou solta na Redação. Moreira, nessa noite, chegou um pouco atrasado na Redação. Eu já o aguardava ansioso, na sala da editoria. Pedro entrou, sentou-se, baixou e escorou a cabeça na mesa e adormeceu. As horas começaram a passar. Os plantonistas da noite, que dependiam do nosso trabalho, para dar prosseguimento ao fechamento do jornal, perguntavam de tempo em tempo, pela primeira página, para finalizar o trabalho de todo mundo. Nesse momento tomei uma decisão importante, para mim, para toda a equipe e para o jornal. Fechei a porta à chave e selecionei o material por ordem de importância: primeira, segunda e demais matérias. Diagramei a página, coloquei os títulos e as legendas das fotos. Depois disso, chamei o chefe das oficinas para entregar o material que estava pronto para ser absorvido pelos setores que dariam sequência a sua finalização. No dia seguinte, depois da prova na faculdade, passei no jornal para saber se alguma coisa de errado tinha acontecido. Como ninguém falou nada, peguei um exemplar do jornal, li e conferi toda a primeira página, e saí feliz como se fosse um verdadeiro editor. No expediente da noite, o editor-geral sem ainda entender o que havia acontecido, em particular perguntou quem havia editado a primeira página do jornal. Contei toda a verdade a Pedro. E, a nossa amizade que já era duradoura, ficou mais forte ainda. O ia e e o Es a o aro Podemos dizer que A União possui o jornal mais nômade do país. Começou na Praça João Pessoa, melhor sede e de onde nunca deveria ter saído. Depois, por obra da insensatez de alguns governantes instalou-se no Distrito Industrial, onde está até hoje. Mas, mesmo depois de se instalar na Br 230, km 03, estrada para , longe de tudo, ainda mudaram a Redação do jornal para diversos locais da cidade de João Pessoa: no prédio da antiga Saelpa, que atendia na Rua Guedes Pereira com a general Osório; na rua Prof. Osvaldo Pessoa, no bairro de Jaguaribe; na Biblioteca do Estado localizada na rua General Osório, Centro de João Pessoa; e por trás do Bom Preço, na rua João Amorim. No início todos os setores de A União funcionavam no Distrito industrial, a exemplo da Administração, Redação, Gráfica e o Diário Oficial. Os salários pagos aos funcionários celetistas eram bem atrativos. Todo mundo queria trabalhar n’A União. Lembro que rejeitei

A UNIÃO 95 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro um convite para a Gráfica da Universidade Federal da Paraíba, por ganhar muito bem e por ter orgulho de fazer parte daquela empresa de comunicação. Mas, tudo muda. Como realmente mudou! Os salários começaram a despencar e a insatisfação já era generalizada. Por isso, foi necessário organizar um movimento paredista para combater as transgressões trabalhistas e o achatamento de salários na empresa. A Associação dos Trabalhadores do Jornal A União – ASTRAU foi criada à revelia e sob ameaças do Superintendente Aluísio Moura, com o objetivo de combater as atrocidades que eram cometidas contra os trabalhadores daquela empresa. Quando a Redação foi transferida para a Rua Guedes Pereira, na antiga Saelpa, Centro da cidade, foi realizada a primeira greve geral na empresa, pela associação que era presidida por mim, presidente eleito para a primeira gestão da entidade, que contou com duas chapas. Naquele tempo existiam sucursais em muitas cidades do interior da Paraíba. O jornal A União depois de impresso circulava em quase todo o Estado da Paraíba. Muitos funcionários do interior viajaram para participar da assembleia naquele dia. E a decisão pela aprovação da greve foi por unanimidade. A paralisação foi de cem por cento. Cruzamos os braços em todos os setores da empresa. Até o editor-geral, Josemar Pontes, aderiu ao movimento. Só quem não gostou foi o inquilino do Palácio da Redenção, Dr. Tarcísio de Miranda Burity. Isto porque o jornal A União e o Diário Oficial eram feitos artesanalmente. E o Estado parou porque todos os atos do governador não eram publicados e não havia meios de oficializar os seus atos. Daí, ele não podia governar. Realizamos passeatas pelas ruas do Centro da cidade, com a participação massiva das categorias de trabalhadores. Até Oduvaldo Batista foi para a caminhada. Mas, como sempre acontece em todos os movimentos reivindicatórios, o processo passou a ser ameaçado pelo governador da Paraíba. A promessa era demitir todos os diretores da executiva da ASTRAU. Mas, não arredamos pé. A greve continuou. Então, apareceu do nada, o bom samaritano. O salvador da Pátria. O nome dele era Martinho Moreira Franco, homem da comunicação do Governo do Estado para intermediar o impasse. Pois já tinha dias que o governador não administrava o Estado da Paraíba. De início o jornalista Martinho Moreira Franco nos aconselhou a voltar ao trabalho, com o apontamento de demissão da executiva da ASTRAU. Não arredamos pé. Depois, veio a proposta de conciliação.

96 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Estava marcada uma reunião com Tarcísio Burity. Mas, ele resolveu não tratar diretamente do assunto e, transferi-lo para o secretário Antonio Carlos Escorel da Administração. Pois, o governador estava muito chateado com a interrupção da sua gestão. A reunião com o secretário foi progressiva e conciliadora. E, o fi nal, muito feliz. Ganhamos uma grati fi cação de cem por cento em nossos salários. Houve comemoração em todos os setores da empresa. Mas, tudo isso foi verdade. Houve realmente esse movimento que paralisou o estado da Paraíba. Se quiserem provas perguntem aos trabalhadores de A união. Essa é a pura verdade. A União tem história que nem todos os impressos têm!

A UNIÃO 97 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro eral o arela

A ni o a a or a essa ran e a lia

minha história na União se confunde com a história da minha própria vida. Por enquanto início e meio, o fi m ainda está Adistante. Acredito. Cheguei em 1979 direto pra Redação e pra ajudar no fechamento da página Internacional. Meu pai era amigo de Evandro da Nóbrega, e dessa amizade fui parar no matuti no. O material chegava todo em caixa alta e ti nha a missão de sublinhar as caixas altas. Fiquei pouco mais de ano e fui surpreendido com a demissão em maio do ano seguinte sem maiores explicações. Não ti nha feito nada de errado. Chegaram a me falar em contenção de despesas. Não me convenceu. Estava de casamento marcado. E casei desempregado. Acreditem!. Foi sufoco para as famílias. Mesmo assim a vida seguiu e com muitas difi culdades. Para minha surpresa, cinco meses depois, o carro do jornal foi me buscar em casa. O superintendente Petrônio Souto me chamou na sua sala e pediu desculpas pelo afastamento proporcionado, tecendo elogios a minha pessoa e pedindo pra seguir. Como atleta - joguei em vários clubes como Santos, Palmares, Ibis, Cabo Branco, Atléti co, entre tantos- sempre adorei o esporte e para minha sorte conheci o jornalista Tarcísio Neves que me deu uma oportunidade no caderno de Esportes, o melhor do Estado. Que desafi o! Tarcísio foi o meu professor e toda a minha experiência adquirida devo a ele que, ao sair do jornal, me indicou para ser o

98 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO editor. Deu a maior força e até hoje faço com muita responsabilidade, sempre aprendendo mais e buscando o melhor. A União é uma escola. Mais que isso, uma universidade. Não é à toa que a maioria dos conceituados jornalistas passou pela empresa. Trabalhei e trabalho ainda com excelentes profi ssionais. Não vou citar nomes para não cometer injusti ças, afi nal são quase 40 anos em A UNIÃO. É a minha segunda família. É a minha vida. Me casei, construí família, hoje tenho três fi lhos e quatro netos.

A UNIÃO FAZ A FORÇA DESSA GRANDE FAMÍLIA.

A UNIÃO 99 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Fotógrafo An nio Da i Dini

O talento e a técnica na fotografia de An onio Da i or Josélio Carneiro

experiente repórter fotográfico Antonio David Diniz, nascido em Taperoá, Cariri paraibano, ingressou no jornal A União no O ano de 1977. Antes, havia trabalhado no hoje extinto jornal O Norte, a partir de 1975. “O jornal A União me convidou para eu fazer parte dos quadros da Redação. Fez uma melhor oferta e eu ingressei na equipe”, nos revela Antonio David em entrevista na Redação da Secretaria de Comunicação Institucional, na manhã da segunda-feira, 24 de julho de 2017. Antonio David declarou que tinha interesse em trabalhar n’A União porque o jornal divulgava muita informação cultural, com destaque para o suplemento Correio das Artes. “Era um jornal que tinha espaço para fotografia porque havia montado naquela época seu parque gráfico no sistema de offset e eu fui muito bem aproveitado, principalmente no 2º Caderno, com matérias especiais espelhadas no Jornal do Brasil”, conta o conceituado fotógrafo. Dirigia A União nos idos de 1977, José Souto. Agnaldo Almeida o editor geral e Frutuoso Chaves o chefe de Reportagem. “Foi um tempo áureo do jornalismo paraibano porque A União tinha uma grande equipe e nós saíamos em busca de matérias inéditas”, lembra Antonio David, que acrescenta: “O jornal é referência histórica, fonte de pesquisa sobretudo para historiadores”.

100 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Reportagens sobre os con- flitos de terra na Paraíba Antonio David participou de muitas. Suas fotos ilustraram inúmeras maté- rias. Com o experiente jornalista Hilton Gouvêia o fotojornalista da “República de Taperoá” percorreu o Estado descobrindo histórias ainda não reveladas. David des- tacou ainda as qualidades do tex- to jornalístico e poético de outro grande jornalista e companheiro em muitas reportagens, Pedro Moreira. “Eu achava impressio- nante, quando a gente viajava ele só anotava o nome dos persona- gens da matéria, no mais, obser- vava a pessoa. “No jornal você via uma matéria espetacular, de qualidade de texto poético, bem informativo. Ele sabia expressar através da sua linguagem jornalística o que pensava o nordestino paraibano”. Nos revela Antonio David que além da área cultural, A União também dava show no esporte. O Botafogo paraibano ganhou do Flamengo dentro do Maracanã “e A União saiu com essa manchete feita por Gonzaga Rodrigues: “A Paraíba vence o Maracanã”. A União foi um dos jornais paraibanos pioneiros na publicação de fotografia colorida. A primeira foto colorida, assinada por Antonio David, no início dos anos 1980, ilustrou a coluna social de Ivonaldo Correia. Nessa década a Paraíba sofreu com secas severas e David fotografou gente fazendo saques em feiras livres. O talento de Antonio David produziu inúmeras fotografias no teatro, na música, nos concertos da Orquestra Sinfônica da Paraíba, nas apresentações da Orquestra Tabajara, nas artes plásticas, enfim, em todas as áreas do mundo cultural. Martinho Moreira Franco, Antonio Barreto Neto, Marcone Cabral, Josinaldo Malaquias, são alguns jornalistas contemporâneos de Antonio David em A União. “No período que eu ingressei no jornal quem entrou como foca foram Wellington Farias, Paulo Santos, Sebastião Lucena, Edmilson Lucena, Marcone Formiga. Uma equipe

A UNIÃO 101 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro que passou pelos ensinamentos de Frutuoso Chaves, que era nosso chefe de Reportagem”, conclui. O premiado Antonio David realizou diversas exposições fotográfi cas e é autor dos livros 30 ANOS DE FOTOJORNALISMO e O SER E O MAR. A obra 30 ANOS DE FOTOJORNALISMO, fi nanciada pela Lei Estadual de Incenti vo à Cultura (FIC) – Lei Augusto dos Anjos, do Governo do Estado, foi lançada em novembro de 2006 na Biblioteca Pública do Estado, em João Pessoa. O projeto teve produção da Agência Ensaio, com curadoria do fotógrafo Ricardo Peixoto. Em 2015 David lançou o álbum O SER E O MAR. Obra com mais de 100 fotografi as com enfoque no Litoral paraibano. As fotos foram feitas nas primeiras horas da manhã e ao entardecer, e, em sua maioria, revelam a faina diária dos trabalhadores do mar. O suplemento cultural de A União “Correio das Artes” trouxe o livro como matéria de capa.

102 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO José Carlos dos Anjos Wallach

Eu não ia trabalhar, ia à aula

iu Ramos, Gonzaga Rodrigues, Nathanael Alves, Antônio Barreto Neto, Carlos Aranha, Nonato Guedes, Agnaldo Almeida, Sebasti ão BLucena, Silvio Osias, Wellington Farias. A lista de nomes – muitos deles considerados por mim como mestres, porque me apontaram caminhos e me ensinaram – é grande. Era assim a redação e diretoria de A União, quando passei por lá. Não uso o termo ‘escola’ como força de expressão. Foi isso mesmo que o jornal A União foi para mim durante os meus primeiros cinco anos como jornalista antes de ingressar na graduação da UFPB. Considero que ainda vivi um período, de certa forma, românti co no fazer jornalísti co. Não que não houvesse o viés técnico no dia a dia das Redações daquela época (1978 a 1983). Claro que existi a, e muito. Mas para um garoto de 17 anos, sendo o primeiro emprego uma Redação de jornal é algo um pouco assustador (para mim e minha ti midez, sim). Enfi m, foi assim que comecei. Sendo levado pelo meu pai, Fernando Wallach (jornalista dos Diários Associados, tendo passado pelo Diário da Borborema, TV Borborema e jornal O Norte), a uma Redação. Na verdade, nem foi a A União a primeira visão que ti ve do interior de um jornal, mas sim o Correio da Paraíba, quando a Redação funcionava no primeiro andar de um velho sobrado da Rua Barão do Triunfo. Passei por lá pouco tempo, muito assustado, vendo

A UNIÃO 103 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro tudo passar tão rápido, absorvendo informação e o estresse natural de uma Redação. Mais ou menos um mês depois, cheguei n’A União, e fui apresentado a Frutuoso Chaves, chefe de Reportagem. “É o menino de Wallach?”. Ouvi ali, na Redação da 1817 (outro sobrado antigo na praça mais central da cidade) o que seria por muito tempo a minha identificação no meio.

o as e ensinara Começou, então, um novo processo na minha vida. O estudante secundarista entrava ali na universidade prática de jornalismo, ouvindo muito e lendo também. Tive que correr atrás, preparar a base, me informar, ampliar os horizontes. Posso dizer que dei muita sorte em ter um chefe de Reportagem que também foi o melhor professor que poderia ter escolhido. Frutuoso, ou Frutuca, foi extremamente rígido com o texto: saber identificar o fato, contar de forma clara e sem dúvidas eram tópicos religiosamente cobrados. Frutuca não tinha papas na língua e passava esse ensinamento de uma forma, vamos dizer assim, bem ortodoxa. Fácil ouvir um “esse texto tá uma droga”, seguido de uma ordem muito clara: “Refaz”. Hoje em dia, atitudes assim seriam confundidas com ‘assédio moral’. Mas, a voz enérgica de Frutuca nunca vinha desacompanhada de uma orientação clara. “Você tem que ir por aqui...” ou “Veja como fica mais claro assim...”. Esse tipo de acompanhamento fez toda a diferença para mim. Mais tarde percebi o quanto aquilo foi necessário para manter as antenas ligadas. Ao mesmo tempo em que me ensinava a manter um texto claro, enxuto e informativo, Frutuoso passava a única receita que até hoje – na era digital – pode dar ao jornalista a primazia de ser um técnico da informação: dominar a narrativa. Por isso, invariavelmente, me lembro dessas orientações quando escrevo. Certa vez, imaginava ter escrito um texto irretocável para um iniciante – não me recordo mais sobre o quê – mais julgava ter feito o serviço direito. Entreguei a lauda a Frutuoso (naquela época tínhamos máquinas datilográficas e papel). O fato de ele ter lido o primeiro parágrafo e não ter parado me garantia a certeza de que estava no caminho certo. Leu até o fim e disse: “Tá chegando”. Pronto, ganhei a semana. Em seguida, a observação que me matou de vergonha: “Mas nessa frase aqui você mostrou como é difícil escrever edifício”. Disse

104 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO isso e riu, amistosamente, como um professor, apontando meu erro crasso de português. Grafei ‘edifícil’, querendo me reportar a prédio. Lembro de outras reprimendas que no princípio soavam pesadas, mas que depois achava engraçadas. Entretanto não eram esquecidas, viravam regras de atenção ao texto. “Se você for escrever esse lead sem vírgulas ou pontos, não pode trabalhar no rádio, porque vai matar o locutor”. Isso só ficou engraçado depois, quando eu já dominava a técnica, mas naquele momento...

aro e o o Aprender ao lado de gente como Sebastião Lucena, por exemplo, me deu condições de ver a atuação do legítimo repórter, capaz de enxergar notícia, vasculhar uma boa história. Como ele, também Wellington Farias, que ficou conhecido pelo sugestivo ‘Fodinha’, repórter para qualquer trabalho, autor de excelentes reportagens e entrevistas; Lena Guimarães, que assumiu a chefia de Reportagem, e mantinha o ritmo com sua característica energia. Ver o trabalho do Segundo Caderno feito por Carlos Aranha e Sílvio Osias (na época da Redação da Rua João Amorim) era uma delícia. Densidade na cobertura cultural e, vez por outra, entrevistas na Redação com artistas. O jornal A União, por ser órgão oficial do Governo, tinha que se desdobrar em conteúdo para atrair a leitura. E sua equipe, sob o comando de Agnaldo Almeida em boa parte do tempo que lá estive, soube fazer muito bem. Se era limitado em abordagens de orientação política, o jornal compensava investindo muito nas áreas de cultura, esportes e, sobretudo, em reportagens especiais. Isso valeu à A União, por muito tempo, o título de melhor conteúdo nos finais de semana graças ao suplemento Jornal de Domingo. De terça a sábado, o ‘banho’ era dado pelas equipes de esporte, cultura e cidades. Grandes entrevistas foram levadas às edições do final de semana. Uma delas permaneceu na memória, tal o clima que provocou na Redação. O entrevistado foi Gregório Bezerra, líder da Intentona Comunista de 1935. Pela história que o cercava, justificava-se a cena: toda a Redação parou e ocupou a sala da editoria para assistir a conversa com Gregório. De arrepiar ver aquilo: repórteres, editores, revisores, diagramadores, sentados em cadeiras ou no chão, acompanhando perguntas e respostas. Passar por coisas assim dá formação cultural, técnica e emocional. É essencial ao jornalista e fundamental para o repórter, o cara que traz as histórias para a Redação.

A UNIÃO 105 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro ers i ia e ora e Essa é uma característica inerente à profissão e A União me fez ver isso. Tinha que ser assim, afinal era um jornal de governo num regime militar, e a equipe precisava se desdobrar em criatividade para cobrir e abordar determinados assuntos. Ainda bem que minha vivência da ditadura como profissional de imprensa não foi das mais traumáticas. Isso porque eu já estava vivendo um período de distensão, quando já se desenhava a abertura democrática. Ainda vi polícia batendo em trabalhador, estudante e agricultor por causa de greve, de atos públicos ou ocupações, mas já havia uma resistência social e uma maior divulgação disso. Minha aula de perspicácia foi numa cobertura de conflito por terra e o professor foi o fotógrafo que me acompanhou, Antonio David. Agricultores sem-terra haviam ocupado propriedades de latifundiários na região de Camucim, município de Pitimbu. Os donos das terras revidaram, jogando jagunços contra os trabalhadores: houve extrema violência. Quando chegamos, a polícia estava no local, mas parecia mais defender os donos de terra do que os agricultores agredidos. Eram crianças, velhos e adultos. Nos pusemos a coletar informações: eu entrevistando e anotando o que via e ouvia, e David, com o ‘dedo nervoso’, registrava a cena. Muita fumaça, barracas derrubadas, gente ferida, crianças chorando. Como se podia esperar daquela polícia, ela veio logo sobre nós e os soldados exigiram a câmera. Mas David teve muita presença de espírito e uma ideia genial: correu para um canto enquanto rebobinava o filme (naquela época não havia película e revelação, em laboratórios colados nas redações), colocou no tubo preto e o entregou ao arcebispo Dom José Maria Pires, que imediatamente o guardou sob a batina. David colocou outro filme na máquina, virgem, e foi esse que foi entregue ao policial. Pronto, havíamos preservado nossas imagens. Mais tarde, já na Redação, a pior notícia é que nossa cobertura não ocuparia mais que um registro em duas colunas, sem detalhes do que ocorrera no ‘campo de guerra’ de Camucim. Um registro frio, o máximo que A União conseguiria dar sobre o assunto. Todos sabíamos que havia grande chance dessa cobertura ser censurada, mas em nenhum instante a Redação se deixou levar por isso. Determinou e deu estrutura para a cobertura. Para mim, foram várias lições: o jornal não é do jornalista, muito menos do leitor; o jornalista está para a censura como a água para o óleo; pauta censurada é natimorta; é preciso ter perspicácia.

106 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO iro na a a Outra cena que me marcou ocorreu na primeira grande greve de motoristas de ônibus de João Pessoa, deflagrada após os empresários não aceitarem a proposta de reajuste salarial da categoria (também não recordo data, mas acredito que entre 1979-1980). Várias áreas da cidade viraram praça de guerra entre policiais e grupos de grevistas que faziam piquetes parando os ônibus e mandando motoristas e passageiros descerem. Na frente do Lyceu Paraibano, troncos de árvores foram postos para travar o tráfego. O fato mais agudo nessa greve se deu em frente ao Mercado Central, quando policiais civis prendiam um dos motoristas grevistas e um grupo de colegas veio em seu socorro, confrontando os policiais. Um dos agentes acabou nas mãos dos grevistas e, para se salvar, mesmo caído, conseguiu sacar o revólver e atirou para cima, atingindo no pescoço um dos motoristas que faziam piquete e tentavam linchá-lo. A foto do ano foi feita pelo companheiro Ortilo Antônio e publicada na capa de A União no dia seguinte: o agente da polícia civil de arma na mão, ajudado pelo superior a entrar na viatura, que foi apedrejada e saiu em disparada.

Os companheiros Nos quase dez anos que fiquei no jornal A União fui sempre repórter. Parece muito tempo, mas o volume de informação e aprendizagem é tanto que nem me dei conta. A passagem pela ‘velha senhora’ findou quando a empresa de economia mista passou para o regime jurídico estatutário. Optei por ficar no quadro da Secretaria de Comunicação. A essa altura já trabalhava em jornal privado, O Momento. Claro que não vou lembrar alguns – até porque a redação sempre foi de alta rotatividade e já faz bastante tempo – mas fiz muitos amigos: Gilberto Lopes, Arlindo Almeida, Josemar Pontes, Guilherme Cabral, Sebastião Barbosa (Barbosinha), Silvana Sorrentino, Land e Wellington Seixas, Pedro Moreira, Moraes, Geraldo Varela, Hilton Gouveia, Aparecida, Luzia, Luiz Carlos, Paulo Santos, Walter Galvão, Petrônio Souto, Martinho Moreira Franco, Milton Nóbrega, Domingos Sávio, Domício...

A UNIÃO 107 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro nio (*)

Ingressei na União em 1975, como desenhista o De ar a en o e Ar es

asci em Santa Rita, na Zona da Mata paraibana, em 1952. Em 1970 fiquei em primeiro lugar no concurso de desenho Npromovido pela Prefeitura de Santa Rita. Em 1975 ingressei no jornal A União como desenhista do Departamento de Artes. No ano seguinte, sob o patrocínio do jornal, publiquei seis álbuns com bicos de pena. Em 1984 participei da 1ª Coletiva 84 da Galeria Arte Nossa. Em 1985, das exposições “Todas as Cores”, no Espaço Novo (residência de Adrião e Creusa Pires, na capital, e “O Rito das Cores”, na Galeria Shelly, do Rio de Janeiro. No ano de 1989 conquistei o primeiro lugar no concurso para ilustração da lista telefônica da Listel. Em 1990 estreei na pintura a óleo e logrei ser selecionado para a segunda mostra “Arte Atual Paraibana”. Três anos depois, os meus trabalhos compunham o acervo da exposição “A União nas Artes Plásticas”. No ano de 1997, uma grande conquista: fui classificado para o “Salão Municipal de Artes Plásticas (Samap) promovido pela Prefeitura de João Pessoa. Além do “Correio das Artes”, suplemento literário de A União, ilustrei diversos livros, entre eles, “Historinhas de Nina”, de Anco

(*) Antônio Gonçalves de Sá, artista plástico, designer gráfico, cartunista e desenhista de histórias em quadrinhos.

108 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Márcio; “Histórias de Tempos Idos”, de José Souto; “O Carro de Osíris”, de Terezinha Fialho, e “O Arco e A Fonte”, de Luiz Augusto Crispim. Assino também o desenho de capa de um catálogo publicado no México. No campo das histórias em quadrinhos sou criador de dois personagens que já entraram para a história das HQs na Paraíba: O Conde, com a participação dos saudosos Marcos Tenório e Barreto Neto; e Angie, com texto de Wilma Wanda. As histórias de O Conde e de Angie, foram publicadas em A União. Outra modalidade em que me especializei foi o jogo dos oito erros (desenhos iguais, apenas com algumas sutis diferenças que cabe ao leitor encontrar).

So re o alen o e nio leia o e afirmaram alguns profissionais:

illia Cos a – jornalista e crítico de arte (editor do Correio das Artes) “É possível afirmar, sem margens de erros, que a pintura de Antônio Gonçalves de Sá, o Tônio, merece ocupar posição de maior destaque no cenário contemporâneo das artes visuais paraibanas. Não pelo experimentalismo; por uma estética, digamos assim, iconoclasta, de rupturas. Longe disso. A pintura de Tônio afirma-se pelo esmero técnico”. Mil on N re a – designer: “Dono de um traço personalíssimo, Tônio é também pintor e escritor de raro talento. E, surpreendentemente, é ainda um sujeito muito bem-humorado, irônico e gozador por excelência”. Altimar Pimentel – dramaturgo: “Tônio é um artista nato que aperfeiçoou o traço e a este uniu sensibilidade rara. Insere-se entre os melhores desenhistas da Paraíba, que ainda não lhe fez devida justiça”. Deo a o or es – jornalista e desenhista: “Seus desenhos impressionam logo à primeira vista. Muitas vezes, nos suplementos do jornal A União ou em livros editados na Paraíba, surpreendi-me com a beleza dos seus desenhos, todos eles, sem dúvida, dotados de uma grande força, transmitida a quem os vê, quase que de imediato”.

A UNIÃO 109 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Profissionais da imagem, artes, diagramação, on a e o oli os i ress o re is o e ar i o (dos anos 70 até hoje)

Ortilo Antonio, ascido em João Pessoa, é repórter Nfotográfico de A União há 40 anos, ingressou em 1977 no governo Ivan Bichara Sobreira. “Quarenta anos dentro do jornal A União, sem nunca ter saído para nenhuma outra repartição do Estado. Conheci a Paraíba toda, viajando em reportagens ao longo dessas quatro décadas, tanto agenda de governadores como matérias especiais, com os repórteres Hilton Gouvêia, Carlos Cavalcante, Cardoso Filho, Wellington Farias, e outros”, revela Ortilo. Quando chegou ao jornal a diretoria era a seguinte: diretor- presidente José Morais Souto, diretor-técnico Antonio Barreto Neto, diretor-administrativo Murilo Sena, diretor de operações Afrânio Bezerra. O editor-geral era Agnaldo Almeida e o chefe de reportagem Frutuoso Chaves. Mara ona O diagramador revela: “apesar de 40 anos a gente está sempre aprendendo. “Por incrível que pareça é sempre um aprendizado, a gente sempre está aprendendo alguma coisa nesses anos todos, tudo se renova, então você está sempre aprendendo. Eu sempre acho que A União é a grande escola do jornalismo paraibano”, revela Maradona, nascido em Guarabira. Moraes o re isor Antônio Moraes da Silva, 63 anos de idade, nascido em Mulungu, é revisor n’A União desde junho de 1978. “39 anos n’A União. Nunca saí, mas também trabalhei na Revista A Carta, de Josélio Gondim; na Revista Nordeste, de Walter Santos, além de ter

110 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO revisado muitos livros. A figura do revisor já não existe em muitos jornais, mas A União mantém sua equipe”. Moraes avalia a iniciativa do livro A União Escola de Jornalismo “Josélio, acho um documento importante que vai, digamos, nos imortalizar. É uma iniciativa muito válida e acho louvável. Sobre trabalhar n’A União eu me sinto feliz porque A União é uma família e acima de tudo uma escola de jornalismo que nos ensina a cada dia e o ambiente aqui é maravilhoso”. José Ra os Há 38 anos zela pelo arquivo de A União - José Ramos Borges da Silva, é o chefe da equipe do Arquivo do jornal. “Cheguei aqui em 1979 e estou até hoje na batalha. Uma vida inteira dedicada ao jornal, como arquivista. O nosso dia a dia é gratificante, receber as pessoas nas suas pesquisas, historiadores, estudantes, jornalistas. Livros e mais livros saíram através das pesquisas das edições do jornal e isto é gratificante, estamos cuidando desse acervo para atender as pessoas”, revela. Na i ilson Ri ar e os San os

Ingressou n’A União no ano de 1977. É designer gráfico. Começou nas pranchetas com trabalhos manuais paginando livros, revistas, jornais e na montagem de fotolitos para a impressão. Atualmente usa programas digitais eletrônicos na sua área para a diagramação de livros, “inclusive este A União-Escola de Jornalismo”, e artes finais de outras publicações tipo cartazes, folders, convites, panfletos, capas de livros, etc. Atua também no setor de pré-impressão recebendo os arquivos e preparando-os para a impressão.

J lio César al o e rei as Tem 35 anos no jornal A União e sempre trabalhou no setor de artes da gráfica. “A União faz parte da minha vida ao longo desses anos, uma vida inteira. Fico feliz por ser personagem nesse livro porque A União não se resume só ao jornal, tem a área gráfica, a parte administrativa, é um conjunto, uma soma de valores”.

A UNIÃO 111 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Carlos Ro er o reire Desenhista e montador no setor de artes de A União há 30 anos. É um dos ilustradores mais talentosos da Paraíba.

Ernane o es O repórter fotográfico e cinematográfico, Ernane Gomes, atuou no jornal A União por cerca de 10 anos. Na sua época também trabalhavam no jornal os repórteres fotográficos Antonio David, Ortilo e Arnóbio Costa. Final dos anos 70 para inicios dos anos 80. Nomes de profissionais que trabalharam e trabalham no setor de artes da gráfica A União Nilton Tavares Vieira, Nivaldo Araújo, Antônio Gonçalves de Sá (Tônio) Naudimilson Ricarte, Luzardo Alves, Martinho Sampaio, Noberto Tavares Vieira, Marcelo, Felix Tadeu Lira, Carlos William Tenório, Marcos Tenório, Fred Swendsen, Ubiramar Farias de Araújo, Lúcio Flávio, Domingos Sávio, Jacinto Júnior, Batista Chaves, Charles, Milton Nobrega, Jessé Xavier, Luiz Carlos, Gilson Freire, Marcus Vinícius (sapé), Getúlio, Mourinha, Rosalvo, Zé Paulista, Domício Córdula, Sandro, Sandoval Fagundes, Chico Ferreira, Osias Gomes, Ernani Machado, Domiguinhos, Gutemberg (Berg), Lênin Braz e Felipe Sarino Cestagio (estagiários). Eles fazem A Gráfica O Parque Gráfico de A União imprime por mês cerca de 23 toneladas de papel, na produção de livros, cadernos, diários escolares, similares, o jornal A União e o Diário Oficial. São 30 profissionais talentosos responsáveis pela qualidade dos produtos editoriais. Em reportagem de Hilton Gouveia publicada aos 2 de fevereiro de 2017 ele cita que pelo Departamento de Artes d’A União já passaram o pintor Chico Ferreira, o chargista Luzardo Alves. Os artistas atuais especialistas nesta área nos quadros de A União são Domingos Sávio, Tonio, Naudimilson Ricarte e Carlos Roberto. Em 2016 a gráfica produziu 50 livros de títulos e autores diferentes. 112 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Ja in o J nior gerente da Gráfi ca, vem atuando na área gráfi ca há muitos anos, foi chefe do setor de artes e também trabalha na preparação para a impressão, paginação e artes.

José Carlos ereira, o Zé Pimenta, opera a impressora Kord há anos. A máquina fabricada na Alemanha imprime até em quatro cores.

O encadernador Na ole o o Car o Sil a atua há 31 anos na arte de encadernar livros. Já L s ernan o as Chagas, um veterano cortador, cuida dos cortes milimétricos em papéis em máquina computadorizada. A equipe é gerenciada por Jacinto Júnior.

A UNIÃO 113 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro MARCONE ARA JO IMA SAN OS IMA IDE O RO ER O DOS SAN OS

Na foto Lúcio Flávio, também trabalham no Diário Oficial, , J. Filho, Maurício e Salismar Fernandes na foto abaixo

114 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Car élio Re nal o (*)

A ens ra e a arri a e A ni o

ivíamos os anos mais duros da ditadura. Duas vezes por dia, o responsável pela censura à imprensa visitava a Redação d’A VUnião com a lista dos assuntos proibidos de ser noticiados. Pela manhã e à noite. Justamente os turnos em que eu trabalhava lá, como redator e encarregado do Departamento de Pesquisa. Foi assim na manhã do dia 18 de junho de 1973. O censor apresentou a lista de assuntos proibidos, na qual constava algo assim: “Proibida qualquer especulação sobre sucessão presidencial”. Esta interdição estava lá há tanto tempo, que até parecia o timbre do papel. No dia seguinte o jornal publicaria uma manchete anunciando que o indicado para substituir Garrastazu Médici na Presidência da República seria Orlando Geisel. Esse erro – ou barriga, como se denomina falha involuntária no jornalismo – resultou na queda do Secretário de Comunicação, Noaldo Dantas; do Diretor do jornal, Luiz Augusto Crispim; e do editor Marcone Carneiro Cabral. O jornal, inclusive a Redação, se mudara para o Distrito Industrial há algum tempo. Era então um lugar ermo sem telefone, mal atendido por linha de transporte coletivo e até serviço postal. No repertório de piadas dizia-se fazer jus a diária por deslocamento quem lá trabalhava. Pela manhã eu ia e voltava de carona com Roberto Carlos Alves de Oliveira. À noite, com Werneck Barreto, que usava o fusquinha da irmã. Foi assim também naquele 18 de junho de 1973. À noite, a bordo do fusquinha, o papo corria solto – certamente sobre música,

A UNIÃO 115 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro assunto sobre o qual tínhamos muitas afinidades e divergências – enquanto o rádio ia ligado na Voz do Brasil. Num lampejo, ouvi algo sobre a indicação do sucessor de Médici. Chamei a atenção de Werneck, mas já era o fim da matéria, não conseguimos saber quem havia sido “o eleito”. Chegamos na Redação, contamos a Marcone o que ouvimos e aí ficou aquela angústia. Não havia como checar a informação. Não tínhamos telefone e o único carro disponível para o jornal era uma pick-up Jeep cinza que fora usada nas frentes de emergência no ano anterior. Nessa noite, estava com problema mecânico. No meio dessa agonia, chega o censor. Marcone percebe que a proibição do assunto sucessão presidencial havia sido retirada da lista, puxa conversa com o agente, que confirma o escolhido como “o ministro Geisel”. Ora, Orlando Geisel era a própria encarnação dessa criatura que, naquela época, se devia chamar de “o ministro”. O posto de Ministro do Exército correspondia ao mais poderoso, com exceção do de Presidente. Nessas circunstâncias, quem iria pensar em Ernesto Geisel, Diretor da Petrobras, ministro aposentado do Superior Tribunal Militar? Leve-se em conta também que a interdição do assunto nos deixava completamente por fora dos nomes cogitados para suceder a Médici. Como não tínhamos melhores fontes para elaborar a matéria, foi feita uma “reportagem de gaveta” – uma única novidade e muita pesquisa (biografia, foto de arquivo, etc.) e algumas obviedades. Como responsável pelo Departamento de Pesquisa, dei a minha contribuição, fornecendo recortes de revistas e jornais e elaborando uma curta biografia do escolhido. Muitos exemplares do jornal foram distribuídos antes de a equipe conseguir evitar o estrago, pois a matéria errada era a manchete principal daquele dia. Agora, a distância e a falta de telefone contribuíam para agravar o prejuízo que já tinham causado. Somente no meio da manhã A União voltou a circular com uma edição trazendo a matéria sobre a indicação de Ernesto Geisel como manchete. De Ernani Sátiro veio uma reação aparentemente dura, talvez para dar satisfação aos militares ou agradar o próprio Geisel, de quem fora colega no Superior Tribunal Militar. O fato é que Luiz Augusto Crispim e Marcone Cabral passaram a integrar o time de notáveis da comunicação que assessorava o governador e Noaldo Dantas mudou-se para Maceió, onde pouco depois assumiu a pasta estadual da Comunicação. O que mais me doeu foi a revista Veja tripudiar do jornal. Ocorre que uma semana antes, Crispim, que era correspondente da revista, 116 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO recebera um repórter da Veja interessado em fazer uma pesquisa nas coleções do jornal dos anos 1930. Fui chamado à direção do jornal e encarregado de levá-lo ao arquivo. Perguntei o que pesquisava, mas ele desconversou. Ficou uns dias mexendo nessas coleções e, presumo, nem a Crispim disse o que estava procurando. Na semana seguinte, a Veja veio com uma matéria na qual reproduzia a manchete errada e, ao lado, o recorte de uma notí cia sobre a nomeação do Tenente Ernesto Geisel, em 1934, para Secretário das Finanças do Governo da Paraíba, obti da do arquivo do jornal. Convém ainda registrar a dedicação de Marcone Cabral ao jornal. Durante todo aquele dia, ele se dividiu entre a Redação e a maternidade, onde sua mulher estava em trabalho de parto do primeiro fi lho. Na Redação correu a história de que, no dia seguinte, já com a descoberta do erro na manchete, ele chegou para Antônio Hilberto, Editor de Esportes, e anunciou que era pai. Aí Toinho perguntou: “Vai ser Ernesto ou Orlando”.

(*) Carmélio Reynaldo Ferreira trabalhou no jornal A União de 1971 a 1973 como repórter, redator e chefe do Departamento de Pesquisa. Nos anos 1976 e 1977, manteve uma coluna especializada em teatro, publicada três vezes por semana.

A UNIÃO 117 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro 118 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO CA LO anos 80

i Ra os Ale an re N nes José N nes illia Cos a Nan ar e Eloise Elane Cleane Cos a ernan o Mo ra Na ole o n elo Cristi ano Machado isa ei a Sa a Cos a Guilherme Cabral al er San os Silvana Sorrenti no Joanil o Men es An onio Cos a io anni Meireles Ana L s o a Ja in o ar osa in e oria Nona o e es J eni e e Lo r es José Eufl ávio Maria elena Ran el Mar os ereira Do in os S io Clélia os ano Jo o Lo o Thamara Duarte Nathanael Alves (in memoriam)

Se erino i Ra os

i Ra os iri i A ni o e as o asi es

a tarde de 16 de novembro de 2017, o jornalista Severino Ramos nos recebeu em sua residência, no bairro de Jaguaribe, para Numa breve conversa sobre sua passagem no jornal A União. Em sua trajetória Biu Ramos escreveu e publicou cerca de dez livros. Ex-superintendente d’A União, ao ser indagado a respeito do papel do jornal na imprensa paraibana declarou que A União sempre teve bons quadros, bons jornalistas. “Esse foi um mérito de A União, poder juntar os melhores jornalistas da Paraíba. Eles foram professores das novas gerações que surgiram. Todo mundo vestia a camisa, os jovens e os mais experientes. A contribuição d’A União foi inegável nesse aspecto”, pontuou. O jornalista e escritor elogiou os perfis profissionais de dois amigos também veteranos da imprensa paraibana: Gonzaga Rodrigues e Martinho Moreira Franco. “São dois jornalistas excepcionais, é uma pena que eles não estejam em jornais particulares. São dois dos melhores quadros da imprensa paraibana como Agnaldo Almeida, William Costa, Frutuoso Chaves e muitos outros. Sempre teve bons quadros A União”, destacou. Um outro experiente jornalista destacado por Biu Ramos foi Hélio Zenaide, que faleceu no dia 18 de setembro de 2017 aos 90 anos de idade. Biu lembrou da capacidade taquigráfica do jovem Hélio Zenaide nos anos 1960 quando taquigrafou na íntegra o discurso de

A UNIÃO 121 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Raymundo Asfora, no Ponto de Cem Réis, centro de João Pessoa, por ocasião do assassinato do líder das Ligas Camponesas João Pedro Teixeira. A União publicou na íntegra o discurso de Asfora. Em um dos livros da série Crimes que Abalaram a Paraíba, Biu Ramos publicou o histórico discurso. O jornalista Biu Ramos foi superintendente d’A União duas vezes: em 1971, no Governo Ernani Sátiro, por sete meses, e no ano de 1988 dirigindo o jornal até o final do Governo Burity. Biu Ramos era secretário de Cultura e com a extinção de 12 secretarias, o jornalista foi nomeado superintendente d’A União. É o que declara Biu Ramos no livro A União 120 anos – Uma viagem no tempo, publicado em 2013. Em entrevista a jornalista Rafaela Gambarra, o jornalista afirmou que o antigo prédio do jornal A União, após a transferência para o Distrito Industrial, seria transformado no Museu da Imprensa da Paraíba. O projeto não incluía a derrubada da sede na Praça João Pessoa, que ocorreu nos anos 1970 para a construção da Assembleia Legislativa. “Não, não constava a derrubada do prédio no projeto que nós fizemos para a transferência d’A União para o Distrito Industrial. Pelo Contrário, nós pretendíamos fazer ali um Museu da Imprensa da Paraíba ou aproveitar como outra repartição, um museu do Estado ou qualquer coisa parecida, mas nunca pensamos em derrubá-lo. Foi um crime, um crime inominável derrubar aquele prédio, que datava do século XIX, onde, inclusive, João Pessoa chegou a despachar lá, quando houve a reforma do Palácio da Redenção. Aquele prédio também havia recebido a visita de José Lins do Rêgo e de outros nomes da literatura brasileira que vinham à Paraíba visitar José Américo de Almeida. Não era pra ser derrubado, mas Ernani usou de toda sua autoridade, não ouviu ninguém, e derrubou. Primeiro porque ele estava armado do Ato Institucional número 5, e o AI-5 proibia qualquer crítica a qualquer autoridade do governo, então ninguém era maluco de fazer uma crítica contra uma decisão de Ernani Sátiro, que era um homem vigoroso que não admitia ser contestado muito menos contrariado. No final da entrevista Biu Ramos responde à pergunta: como você analisa os 120 anos d’A União? “São 120 anos gloriosos, porque o simples fato de alcançar essa data e festejá-la já representa um grande passo, um acontecimento muito importante. Somos um dos três jornais na América Latina com mais de 100 anos de circulação ininterrupta, juntamente com O Estado de São Paulo e o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro. Para os paraibanos, é uma glória ter alcançado esse marco. É muito importante para nós termos uma instituição tão importante e tão sólida como A União”.

122 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO José N nes

A es ola e o os

avia atuado de forma experimental durante uma temporada de dois anos como copiador de telegramas no exti nto jornal H“O Norte”, eventualmente fazendo a cobertura noturna de eventos. Um estágio enriquecedor porque ti nha acesso a textos enviados à Redação por agências de notí cias nacional e mundial. Pelas mãos de Nathanael Alves, a quem ti nha ligação de amizade que remontava às nossas cidades Serraria e Arara, fui integrado à equipe de A ni o nos primeiros meses de 1980. Naquele tempo a Redação era comandada por Agnaldo Almeida, sob o olhar de Gonzaga Rodrigues, diretor técnico. Lembro-me das palavras de Nathan ao editor, recomendando “tome conta dele”. Deixei o estágio na Redação onde copiava telegramas no jornal “O Norte”, para atuar na reportagem de rua na nova casa. Integrando ao grupo de repórteres, recolhendo ensinamentos, Agnaldo dava os retoques fi nais às matérias que entregava ao fi nal do expediente, como Nathanael havia pedido. Realmente, A ni o foi minha universidade, como foi para muitos que se destacaram nas artes e na literatura em toda sua história. Sempre manti ve carinho especial por este jornal, não apenas pela consolidação da base de aprendizado de “O Norte”, mas pelos amigos que aqui construí. A ni o esteve presente na vida de minha família, a começar por meu bisavô João Mendes, que durante as cinco primeiras décadas do século passado recebia em Serraria seu exemplar do jornal, que chegava pelo trem.

A UNIÃO 123 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Durante mais de doze décadas A ni o tem sido escola e agasalho para muitos escritores e poetas. Grandes nomes da literatura e das artes brasileiras acomodaram seus sonhos nas suas páginas. Mesmo quando toma partido, faz o registro da história. Entre os muitos suplementos que o jornal criou está o “Jornal da Terra”, dedicado à agropecuária, inclusive trazendo a capa e contracapa coloridas, uma inovação. Talvez pelo jeito de agricultor escolheram-me para ser repórter deste suplemento, do qual alguns anos depois fui seu editor. Em meados da década oitenta do século passado, quando os jornais da Paraíba não abriam espaços para noticiar a vida e o trabalho dos camponeses, em A ni o isso era possível. Modernizava-se e se atualizava para estar em dia com os avanços tecnológicos da imprensa nacional, já que era a tendência mundial. Escola para muitos, foi a pia batismal onde fui aspergido, juntamente com outros jornalistas. Meu encontro com este jornal foi numa tarde de sexta-feira, nos primeiros dias do ano de 1980, quando Nathanael me levou à Redação que ficava na Rua João Amorim, sendo recebido por Agnaldo Almeida com afetuoso aperto de mão. Utilizei a semana seguinte para a adaptação ao novo ambiente que tanto esperava. Aos poucos estava na rua catando notícias. Agnaldo pacientemente revisava o texto, o que muito contribuiu para minha aprendizagem. Algumas vezes saíamos no veículo junto com o fotógrafo, mas na maioria dos dias íamos a pé, quando a fonte de notícia era no centro da cidade. Produzíamos pelo menos cinco matérias por dia. Meu primeiro desafio neste tempo inicial de atividade como repórter foi na UFPB, onde estava fazendo cobertura de uma greve de professores. Impedido de acesso ao auditório onde acontecia a assembleia, Carlos Tavares, que na época trabalhava em “O Norte”, e sequer o conhecia, foi quem interveio. Ao seu modo peculiar de assumir as dores dos outros, interveio dizendo que eu não deixaria o lugar em hipótese alguma e que faria a reportagem para a qual tinha sido escalado.

124 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Na redação do jornal A União, Biu Diagramador, José Nunes, José Carlos dos Anjos, Wellington Farias, Wellington Seixas, Antônio Ortilo e Tia Lucena

Com o surgimento do “Jornal de Domingo”, que se tornou um importante instrumento para publicação de longas entrevistas, sempre com uma personalidade política ou cultural de destaque nacional. Uma destas entrevistas que mais chamou a atenção de todos, não apenas do corpo da Redação, mas de toda a Oficina e a Revisão do jornal foi assistir conversa com Gregório Bezerra. Na sala do editor onde o velho comunista respondia as perguntas, estavam todos sentados ao chão em silêncio. Um momento raro para muitos. Depois sob o auspício de Gonzaga Rodrigues, integrei o grupo fundador do suplemento “Jornal da Terra”, a primeira publicação colorida de A União. A seleção de cores era feita em Recife e a primeira foto utilizada foi de uma algaroba, planta que começava a ser cultivada no Semiárido e recebida com emoção por todos. Anos depois me tornei seu editor. Meu convívio com esta escola do jornalismo paraibano se estendeu por muitos anos, com idas e vindas, mas sem nunca perder o vínculo. Estava sempre presente com uma crônica, um artigo no “Correio das Artes” ou colaborando com a edição de cadernos especiais. Como atualmente, publicando uma crônica semanal. Afinal, foi em A ni o onde construí a minha vida profissional, um simples modelo de vida que certamente ajudou minha filha Angélica Nunes a escolher esta mesma atividade.

A UNIÃO 125 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Nan ar e

E A ni o e o ornalis o

oi em 1º de setembro de 1980 que a minha carteira de trabalho foi assinada por Natanael Alves, conquistando assim o meu primeiro Femprego como repórter. À época ainda estava fazendo o curso de Jornalismo na Universidade Federal da Paraíba. Cheguei à Redação depois que Sílvio Osias, então, redator do jornal e também fazendo o curso, me informou de uma vaga para repórter. Através dele fui apresentada a Agnaldo Almeida, que era o editor-geral e depois a Lena Guimarães, que era a chefe de reportagem. Ali já estavam trabalhando Gisa Veiga, outra colega de faculdade e Luís Carlos Nascimento. E, como toda iniciante, comecei fazendo matérias de rua, na geral. A Redação era movimentada e barulhenta, com as máquinas de escrever (era muito interessante ver a agilidade de Carlos Aranha quando estava redigindo), as conversas e as visitas de pessoas que vinham trazer informação, ou serem entrevistadas, ou ainda sugerir uma pauta. Foi um tempo de bastante aprendizado. Pela manhã, a universidade, e de tarde, o trabalho que ia de acidente de trânsito à entrevista com Dom José Maria Pires, com quem ti ve a primeira matéria publicada com destaque e chamada na primeira página. Pouco tempo depois fi quei cobrindo principalmente o Centro Administrati vo Estadual, percorrendo as secretarias ali instaladas e foi minha uma das primeiras matérias sobre o projeto do Espaço Cultural. Os assuntos de economia do setor público foram se tornando mais próximos: letras do tesouro, operações de antecipação de

126 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO receita orçamentária (ARO), investimentos, orçamento, custo de vida, pagamento dos salários dos servidores, políticas para o setor agrícola, turismo, arrecadação de ICMS, combate à sonegação, construção de conjuntos populares como o Valentina de Figueiredo, atração de indústrias, a seca e seus impactos atenuados por medidas como as frentes de trabalho, a distribuição da cesta básica, e experiências como o Balcão da Economia, um supermercado popular com produtos com preços mais baratos, Setusa, etc. Já setorizada tive a oportunidade de ser escalada para entrevistas e matérias especiais para o Jornal de Domingo, criado por Agnaldo e que tinha um conteúdo mais aprofundado dos temas da época. Assim, comecei a ter matérias assinadas, algo desejado por todos os repórteres. Quando terminei o curso, fui para Brasília, fiquei pouco tempo, e fiz matérias de política, algo que não era a minha seara. Acompanhei a visita do então governador Tarcísio Burity ao Ministério da Justiça, onde teve reunião com o ministro Ibrahim Abi-Ackel em companhia do deputado federal Marcondes Gadelha, até então um autêntico do PMDB, que deixava o partido depois que Antônio Mariz foi escolhido para ser o candidato a governador da Paraíba, pela legenda. Outro momento interessante que presenciei na curta permanência na capital federal foi a incorporação do PP (Partido Popular) ao PMDB, em ato ocorrido no Congresso Nacional e, naturalmente com a presença de Tancredo Neves. Ao retornar à Paraíba, fiquei pouco tempo n’ A União, ingressei na Secretaria de Comunicação do Estado (Secom-PB). No entanto, tive novas oportunidades no jornal, como repórter especial, quando Jacinto Barbosa foi editor, fazendo grandes entrevistas com personalidades de várias áreas, pois o intuito era ter uma memória histórica de deputados, desembargadores, empresários, etc. Em outra fase, fui convidada a fazer uma coluna de Economia, com artigos e pequenas notas. Foram sete anos nesta atividade que me rendeu melhor compreensão da economia estadual, de sua fragilidade e também acompanhei várias mudanças de moeda, de estrutura de governo e de políticas públicas. Há três anos, em função da coluna, fui homenageada pelo Sebrae-PB, um momento muito significativo para mim. Participei, também, como repórter, da Revista Ponto de Cem Réis, criada por Nonato Guedes, quando foi superintendente do jornal. Na Redação de A União convive com experientes e excelentes profissionais, o que me ajudou enormemente para encarar outros desafios no Jornalismo. Mais recentemente, usando a metodologia de

A UNIÃO 127 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro análise de conteúdo, fi z a minha tese de mestrado a parti r do estudo da primeira página do jornal durante um período de três meses. Hoje, considero o jornal uma leitura diária obrigatória. Aliás, para os iniciantes na profi ssão, é muito interessante a leitura da coluna dominical “Deu no jornal”, assinada por Agnaldo Almeida. Com seus erros e acertos, A União ainda é uma boa escola de jornalismo. Naná Garcez, repórter, 13 de agosto de 2017.

Na edição do dia 1º de agosto de 2017 A União prestou homenagem a colunista Goretti Zenaide que faleceu no dia anterior

128 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Cleane Cos a

I as e in as

antenho uma relação de idas e vindas com A União. Não sei se comigo vale o ditado popular “o bom fi lho a casa torna”, mas Mo certo é que, sempre que saio, tenho a sensação de que um dia voltarei. E dessa últi ma vez – há pouco mais de dois anos – não foi diferente. Mas no meu ínti mo nunca saí de lá. A União me recebeu (de braços abertos) quando ainda era estudante de Comunicação Social (primeira turma da Universidade Federal da Paraíba). Estava no últi mo período do curso quando ti ve minha Carteira Profi ssional assinada, em setembro de 1980. Que orgulho! Estava contratada pelo jornal considerado como a verdadeira escola de jornalismo da Paraíba, inclusive pelos próprios professores da universidade. Verdadeiro privilégio. Não foi minha primeira experiência profi ssional (ti ve uma breve passagem pelo jornal O Norte), mas considero A União a minha primeira casa, onde fui bati zada como jornalista e onde aprendi – e conti nuei aprendendo nas minhas voltas – tudo o que levaria na minha bagagem profi ssional. Me deu a régua e o compasso. Fui apresentada a uma Redação bem estruturada, com repórteres ávidos por uma boa pauta e que contava com a fi gura do copidesque para melhorar o texto dos menos experientes e das notí cias que chegavam via telex – nacionais e internacionais. As máquinas (hoje chamadas de pé duro) não paravam de fazer aquele barulho ritmado. Era uma época em que, mesmo sendo um jornal ofi cial, A União era um forte concorrente dos jornais Correio da Paraíba e O Norte,

A UNIÃO 129 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro especialmente nos finais de semana, com o seu caderno Jornal de Domingo, que trazia reportagens de páginas inteiras em diversas áreas, inclusive política, e entrevistas com as mais variadas personalidades. Um verdadeiro banho de jornalismo. Não me tornei repórter do Jornal de Domingo, até porque, logo após o meu ingresso na Redação de A União, tornei-me redatora e, em seguida, editora de página. No entanto, participei de algumas reuniões de pauta na sala do nosso editor-geral, Agnaldo Almeida, e ficava ansiosa para ouvir os ensinamentos do então diretor técnico, mestre Gonzaga Rodrigues, que prendia a atenção de todos com o seu entusiasmo ao falar sobre a realização de alguma reportagem que trouxesse um viés diferente. Ficava boquiaberta! E como aprendia nessas conversas. Eram verdadeiras aulas de como se fazer a apuração de dados para elaboração de uma boa reportagem! Lembro bem dessa concorrência que existia principalmente quando saía o resultado do vestibular. Era uma correria louca para que a edição extra do jornal, com a relação dos aprovados, chegasse nas ruas em primeiro lugar. A União sofria um pouco de desvantagem porque, embora a Redação fosse no centro da cidade – rua João Amorim (por trás do Bompreço) –, o jornal era rodado no Distrito Industrial, em seu parque gráfico, onde hoje funciona todos os setores. Mesmo assim, não fazia feio. Todos ficavam na torcida. Sou suspeita para falar, mas sempre achei que nossa diagramação saía mais bonita, mais limpa... Não lembro bem o ano da minha primeira saída – sou péssima em datas –, acho que foi em 1984. Mas não demorou muito e estava de volta, acredito que dois anos depois. Voltaria a sair pela incompatibilidade de horários, já que em março de 1987 assumi a chefia da Redação da Secom. Dessa vez o retorno demorou um pouco mais. Porém sempre com a mesma emoção de uma filha que, após uma longa viagem, volta para casa. Voltava para uma casa modificada pelo advento das tecnologias. No lugar das nossas máquinas pé duro, que deixei das outras vezes, encontrei um ambiente com várias “ilhas” de computador. Era A União acompanhando a evolução dos tempos sem se importar com a sua longevidade, como tem feito até agora, sobrevivendo a várias ameaças de fechamento. E como aprendi de novo nessa volta! Fazia tempo que não era repórter de rua e reiniciei com a mesma sede de aprendizado dos anos 80. Afinal de contas era um veículo renovado e eu precisava também me renovar e me reinventar como profissional. Só A União poderia me proporcionar isso. Consegui! Porque A União sempre está disposta a ensinar àqueles que desejam aprender, até mesmo os que já não têm mais o vigor da juventude. Um dia eu vou voltar! 130 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Na ole o n elo

elos ias

ano era 1982, eu tinha pouca idade, em relação a que tenho hoje e apenas sonhos de um dia ser também um nome próximo dos que já faziam sucesso nesta profissão. Sonhar é de todos, Oprincipalmente quando você ainda é novo, tem cabelos pretos ou castanhos claros ou escuros, quando tudo é quase totalmente possível. Não que passado o tempo não seja, longe disso. É só querer. E aí, ainda no curso de Jornalismo da antiga Universidade Regional do Nordeste - Urne -, nome pomposo, e que não raro, nos congressos e seminários chamava atenção quando anunciada por algum participante, fui escolhido para compor aquela turma que faz os preparativos para as cerimônias da conclusão do curso, que palpita em tudo. Da feitura do convite impresso aos convidados, previamente “escolhidos”. Convidados para patrono, padrinhos etc. Por isso fomos eu e Cláudio Goes Nogueira Filho, os incubidos de uma conversa informal (entrevista) com o então arcebispo de Guarabira Dom Marcelo Carvalheira, em Guarabira, para patrono da turma. Bem recebidos, ele nos deu boas informações, com o zelo do tamanho que merecia para cada resposta imprudente. A idade tem dessas coisas... Nem lembro mais se essa nossa entrevista foi parar no jornal laboratório do curso, o ‘Por Exemplo’, pois merecia mesmo era um espaço em A União, mas... Mas não esqueço quando perguntamos sobre poder, ter (inclusive um carro, por exemplo, e ele calmamente entre outras palavras na sua resposta soltou (...)”o carro é uma extensão da sua personalidade”. Terminado o curso ainda era funcionário da primeira Ciretran

A UNIÃO 131 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro (Detran) em Campina Grande, depois de trabalhar na Companhia Pró- desenvolvimento de Campina Grande - Comdeca, idos de Enivaldo Ribeiro, então prefeito da rainha da Borborema. O desejo mesmo era ir pro batente, para os jornais que circulavam na Paraíba. O Diário da Borborema já existia e Jacinto Barbosa já era metido lá, ainda, como eu à época, estudante. Mas acabei mesmo ficando pela redação da Secom quando Gonzaga Rodrigues, Luiz Augusto Crispim, Marco Aurélio Cavalcante, (Lélo), Paulo Santos, (à época casado de Baby Neves), Martinho Moreira Franco, Agnaldo Almeida, Arlindo Almeida, Naná Garcez, Werneck Barreto, Carlos Tavares, Anco Márcio, Sílvio Osias, com o seu inseparável guarda- chuvas, Marcos Tavares, Paulo de Tácio, Tarcísio Neves, Alexandre José Guerra Torres, Pedro Moreira (então coordenador da Redação, no meu tempo) e outros. Ah, Josinato Gomes, que não descolava de Gonzaga. Queria por que queria, e conseguiu, entrar no famoso quadro DPS, criado no governo TarcÍsio Burity. O ruim mesmo foi ter que deixar por livre e espontânea pressão do meu tio Manoel Ângelo, político e ex-deputado, que havia conseguido este novo emprego na redação da Secom, pra que não acumulasse dois empregos. Eu era do Detran e fiz a opção para entrar no quadro DPS criado no governo de Tarcísio Burity, ou melhor, pedi demissão (pense num plangente arrependimento) do Departamento Estadual de Trânsito e fui para a Secretaria da Comunicação Social. Nesse tempo não tinha esse nome de hoje, ‘extraordinária institucional. Nesse vai e vem andei pela Assembleia Legislativa fazendo assessoria de imprensa, uma até dividia o $$ com Fábio Cardoso. E ainda soprava algumas infomações na rádio Independência de Catolé do Rocha, sobre o, à época deputado Francisco Evangelista, o dono. E mais que de repente fui parar na TV Tambaú, menina moça, em pleno vigor, ainda afiliada da Rede Manchete. Entrei na produção/ pauta, passei pelas editorias do Caso de Polícia, Tambaú Debate, e Tambaú Notícias e terminei como editor-chefe. Foram longos 15 anos na companhia de Joanildo Mendes, Jacinto Barbosa, Agnaldo Almeida, Denise Vilar, Agenilson Santana (Agê), Rosa Aguiar, Fernanda Medeiros, Romy Schneider, Giovana Rossine, Ana Ponzzi, Carmen Lísia, Marcelo Braga, Lissiane Loureira,Nelma Figueiredo, Aldo Shueller, Jonas Batista, Emmanuel Noronha, Augusto Medeiros, hoje numa afiliada Globo lá nas Minas Gerais, Jaimacy Andrade, também global, a exemplo de Augusto com passagem em Rede Nacional, Marcos Tavares, Naná Garcez, Vall França, Eri Alves, Rachel Sheherazade, tirada da Cabo Branco por mim a “mando” de Cacá Martins, por um salário

132 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO melhor e direto para uma bancada, claro. Foi a condição. O encontro dela comigo foi na casa do meu irmão João de Deus Ângelo, casado com uma tia dela, e, por isso ficou mais fácil. É bom dizer que a TVT batia de frente com a vênus platinada. Jacinto Barbosa dizia sempre: “Vamos derrubar a torre da Cabo Branco”. De Polícia à Política a gente tinha ‘liberdade’ daí o motivo de ficar sempre nos comentários, nas rodas sociais que Gerardo Rabelo fazia muito bem com Gente Fina é outra coisa. O jornal A União anunciava suas manchetes na TVT, todas as noites na voz de Clemilson Sousa, a cara do Caso de Polícia. Mas em empresa privada você não fica no podium sempre. Uma hora ela cansa de você, por mais que você se doe, se mate por ela: vai pra rua. Sem dó nem piedade. Sai de lá depois de 15 anos e meses depois, no Classic, ali na Cruz do Peixe, entre a Central de Velórios São João Batista e a Usina Cultural da Energisa, numa conversa molhada como costuma dizer Agnaldo, Martinho, sentei-me com Itamar Cândido, e com apoio de Agnaldo, fui guindado para A União como chefe de Reportagem quando Carlos Cesar e Cícero Félix (prêmio Esso de Jornalismo pela capa do Diário da Borborema pela foto do atentado das torres gêmeas do Word Trade Center. Tempos depois fui até editor chefe por uma semana, dividindo o cargo com Emmanuel Noronha, por conta daquele ‘puta que pariu’ que foi creditado numa foto. O editor era João Evangelista. Nelson Coelho era o superintendente e me ligou logo cedo pra conversar comigo no Cassino da Lagoa, sobre esse puta que pariu. Lá, encontrava-se o tesoureiro do PMDB Antonio de Sousa quando fui informado que deveria assumir a editoria provisoriamente pois João Evangelista acabara de ser afastado do cargo pelo que havia acontecido. Passados uns meses Agnaldo Almeida me convida para assumir a coordenação de TV da Assembleia Legislativa que tinha sob a presidência o deputado Arthur Cunha Lima. Tudo era difícil. Agnaldo questionava a falta de estrutura, reclamava... enfim. Apesar de tudo fizemos boas produções que depois foram exibidas com outros créditos. Passado este período na Casa Epitácio Pessoa, depois da saída de Agnaldo, eu fui junto. É assim: se você não pede pra sair alguém vem e derruba você, numa boa, tudo “mui amigo”. E aí de novo, felizmente, vim parar na A União quando convivi com o quinto Beatles Sílvio Osias, William Costa, Renata Ferreira, Walter Galvão e agora Felipe Gesteira sob a batuta de Albiege Fernandes que sucedeu Ramalho Leite. Depois veio Bete Torres com uma tropa nova e aqui estamos até agora:

A UNIÃO 133 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro eu, José Napoleão Ângelo, Carlos Cavalcante, (Carlão) Emmanuel Noronha, Carlos Vieira e Marcos Pereira na melhor das oportunidades profi ssionais pelo tamanho e importância de A União, tentando integrar a história deste jornal plural que consegue, como nenhum outro, contar a história políti ca e cultural da Paraíba. Quem trabalhou nesta aqui terá sempre boas lembranças. Vale até repeti r e relembrar aos que o invejam e a vida inteira pediram pelo seu fi m, o que meu professsor de fundamentos cientí fi cos da comunicação Severino Gomes de Sousa Filho (Biu), fez com que colocasse-mos no nosso convite de formatura da velha Urne, em 1982. “Aos que tentaram fazer ciência; aos que não conseguiram; e aos que ainda vão aprender”. Sigam, ela vai longe ainda. A velha escola ainda funciona, os novos, e não raros estagiários, nos dias atuais, que digam.

Capa da edição de 1º de outubro de 1980

134 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO isa ei a

A ri eira re a o a en e n n a es e e

ive a sorte de ter bons professores de Jornalismo, tanto na Faculdade de Comunicação Social da UFPB quanto no jornal TA União, onde ingressei como “foca” ainda no primeiro ano do curso superior, graças à amizade construída com Sílvio Osias e o editor Agnaldo Almeida. Lá aprendi, na prática, a escrever uma notícia obedecendo às regras da objetividade jornalística, a entrevistar com uma certa provocação, buscando sempre arrancar uma declaração inusitada. Aprendi a exercitar o tal “faro”, fui estimulada a me superar, a buscar o “furo”, a surpreender o leitor. Só tinha “fera” no ofício de escrever. E eu lá, nos meusmal completados 19 anos, no meio daquela gente esquisita, inteligente, falante e viciada em cafeína. Meu primeiro chefe de Reportagem foi Arlindo Almeida, na acanhadíssima Redação instalada na Praça 1817. Era extremamente paciente comigo, com a mineira Marília Serra (que depois decidiu ser bancária e cantora) e com a paulista América (não sei que destino tomou). Das três, só eu permaneci trabalhando e aprendendo. Bons anos aqueles em que a Redação mudou-se para a rua João Amorim. Ali concentrava-se o maior número de bons jornalistas e fumantes inveterados por metro quadrado. Era um tempo em que tudo era feito de modo mais lento, porém mais denso. Não havia internet, redigíamos em pesadas máquinas Remington e Olivetti e o trabalho de apuração de uma reportagem levava tempo e exigia paciência -

A UNIÃO 135 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro nossa e dos chefes. Os gravadores eram enormes e, aos poucos, foram reduzindo de tamanho. As páginas do jornal ainda eram em preto e branco. Os fotógrafos também trabalhavam na revelação de suas próprias fotos em laboratórios improvisados no prédio da Redação. Nosso “google” atendia pelo nome de Luzia, que chefiava o setor de pesquisa, instalado numa sala abarrotada de armários que guardavam recortes de jornais e fotos - um horror para alérgicos como eu. Vários momentos foram marcantes naquela época. Para citar um deles, a série de conflitos de terras na região de Alhandra e Pitimbu, especialmente na Fazenda Camucim, que exigiu de mim um amadurecimento profissional mais veloz para encarar momentos de tensão. Fiz várias reportagens. Li tudo o que podia, na época, sobre conflitos agrários. Foi um grande aprendizado. Também houve momentos hilários. Na mesma rua situava-se a sede da organização de direita TFP - Tradição, Família e Propriedade. De vez em quando um enviado da TFP, com fala mansa, sempre bem penteado e vestido sobriamente, contrastando com aquela turma que amava uma algazarra, Ia à Redação entregar um release. Quando saía, antes mesmo de cruzar o portão, vinha a provocação: “Viva o comunismo”, gritava algum jornalista, enquanto todos, em coro, respondiam: “Viva!”, e caíamos todos na risada. Depois a Redação ganhou novo endereço, no prédio da antiga Biblioteca Pública, na Rua General Osório. Ali, com Nonato Guedes no comando, ganhei minha primeira editoria - de Economia. E tomei gosto. Li tudo o que podia sobre o momento econômico do país e da Paraíba, tomei verdadeiras “aulas” com minhas fontes de informação, aprendi a editar uma página e a elaborar pautas. Foram importantes e deliciosas lições. O jornal A União foi, para mim, a primeira e principal escola prática. Lá senti as emoções do primeiro salário, da publicação das notícias que redigi, da primeira manchete, do primeiro “furo”, da primeira reportagem especial domingueira, da ligação com os primeiros colegas de profissão. Também sofri com os primeiros erros, as primeiras broncas, as primeiras rusgas - isso tudo faz parte. Ter começado minha vida profissional em A União foi um grande privilégio. Sem dúvida, foi minha grande escola de jornalismo prático. Meu primeiro emprego, minha primeira paixão profissional. A primeira redação de jornal a gente nunca esquece.

136 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Guilherme Cabral

ri ilé io

oncluído o estágio de alguns meses que realizei na assessoria de imprensa da Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc), Cem João Pessoa, após minha formatura como Bacharel em Comunicação Social na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o qual cursei no período de 1980 a 1982, A União foi o primeiro jornal que confiou, ou apostou, no meu trabalho, pois abriu suas portas para que eu iniciasse - a princípio em caráter experimental - o exercício da minha profissão de jornalista. E, de lá para cá, são mais de três décadas cumprindo a função ora de repórter, ora de editor interino, a exemplo do que vem ocorrendo nos dias atuais, quando se faz necessário substituir o editor titular no 2º Caderno. A princípio, quando ingressei na Redação deste centenário jornal, um dos integrantes da imprensa oficial do Governo do Estado - agora, aos 125 anos de existência, considerado um patrimônio cultural da Paraíba - ainda não tinha noção da sua importância histórica, pois, naquela época, um jovem recém-formado, queria era atuar, embora nutrisse certo receio por entender que essa área de Comunicação Social apresentava, na época, um restrito mercado de trabalho, situação que evoluiu para melhor e assim permanece até hoje. Por isso, só vim me aperceber da dimensão, ou seja, da magnitude de A União com o passar do tempo, quando fui tomando conhecimento das impressões de grandes nomes que tiveram contato com suas páginas, a exemplo

A UNIÃO 137 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro do ex-ministro e escritor José Américo de Almeida, que considerava o jornal como sua Universidade. Sentimento esse também reforçado em mim por profissionais com os quais travei e mantenho comunhão no dia a dia da produção do diário, onde, ao passar por diversas editorias, ao longo do tempo, também pude aprender e lapidar meu texto, baseado na experiência de cobrir vários fatos. Por tudo isso, me considero um privilegiado por trabalhar em A União e sentir a honra de, por intermédio da minha labuta cotidiana como jornalista, ser mais um a contribuir para a grandeza do jornal, ao assentar outro tijolo na histórica trajetória desse diário, onde me sinto maravilhado por estar atuando no 2º Caderno. No entanto, não apenas por isso, mas, também, porque estou ciente da boa repercussão que as reportagens que assino conseguem obter entre os leitores e minhas fontes, assim como dos meus superiores. Os 125 anos de existência de A União, no entanto, não pesam na produção diária de suas páginas. Pelo contrário, o jornal soube acompanhar as inovações tecnológicas advindas, com maior afinco, nas últimas décadas. E, por isso, além da tradicional edição impressa, também se faz presente na internet e nas redes sociais, à disposição dos leitores. Esse mesmo clima jovial se vive na Redação, onde a convivência entre os colegas de batente é mantida de maneira amigável, espontânea e, não raras vezes, bem humorada, mas, contudo, sem que se deixe de cumprir, com seriedade, o exercício da profissão, o que resulta num produto de alta qualidade para a sociedade. É, portanto, reafirmo, um privilégio integrar a equipe que contribui para queo jornal continue a testemunhar, contar e, também, fazer história.

138 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Silvana Sorrentino

Co an as re a es se a ornalis a

lém do curso de Comunicação, iniciado em 78 no campus 1 da UFPB, as redações dos jornais locais foram alicerces à minha escalada profissional. Sem elas, jamais teria adquirido a vivência Anecessária para alçar novos voos. Em 1982, ingressei no serviço público pelas portas de A União, então regida pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), mas alterada para o regime estatutário em 1985, no governo de Wilson Braga. Nunca parei para avaliar se essa mudança regimental teve efeito positivo ou negativo. Pra mim, isso não importava! O que valia mesmo era poder continuar nos batentes da Redação da “velhinha”, que muito me ensinou em sua longeva existência. Fui a convite do então superintendente, Petrônio Souto, com salário dobrado em relação ao meu primeiro emprego como repórter no jornal O Norte. Um êxtase! O convívio com nomes do naipe de Walter Galvão, Wellington Farias, Gonzaga Rodrigues, Zé Carlos dos Anjos, Cleane Costa, Tarcísio Neves, Pedro Moreira, Carlos Tavares, Sílvio Osias, Lena Guimarães, Nonato Guedes, Hilton Gouveia, Biu Ramos, Marcos Tavares, Thamara Duarte, Antonio David, Carlos Aranha, Duda Teixeira, Anete Leal, Jacinto Barbosa, Gisa Veiga, Fernando Moura e tantos e tantos outros ao longo dos anos, ajudaram a moldar minha postura profissional, com perenes descobertas sobre o jornalismo e a vida.

A UNIÃO 139 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro A União sempre foi assim: envolvente em todos os sentidos! Tanto que durante minha permanência na casa, fui repórter, redatora e assumi cargos desafiadores, como a Diretoria Técnica e a Editoria do jornal. Por isso, o título: Com quantas redações se faz um jornalista? No meu caso, foram necessárias umas seis, desde a da João Amorim, onde iniciei, seguindo para a antiga Biblioteca Pública, na General Osório; antiga Saelpa (esquina da General Osório com a Praça Aristides Lobo); depois na Osvaldo Pessoa, em Jaguaribe e, finalmente, na BR 101. Sem desmerecer a primeiríssima, no extinto O Norte. Como uma mãe que acolhe a todos, tive na Redação de A União minhas melhores experiências, com resgates no tempo de alguns episódios. Não dá pra esquecer, quando editora, a morte do bandido “Focinho de Porco”, numa noite de março de 91. Tendo que dar a manchete e sem ter um motorista na Redação, fui eu mesma dirigindo um jipe importado que mais parecia um pequeno trator (de tão duro), com Edilene Muniz, a fotógrafa, para fazer o registro e fechar o jornal. Chegar ao local do crime, no Grotão, e ao velório do “ilustre” marginal, no Cemitério de Cruz das Armas, não foi nada fácil para duas mulheres! Mas todo o sacrifício compensava, para não deixar a “velhinha” levar um furo... Coincidência ou não, iniciei n’A União na mesma época em que me casei. Em seguida, tive meus 3 filhos, gerados entre os anos de 82 e 86. Então, todos participaram desse percurso, seja na barriga da mãe ou num movimento de reivindicação, quando não podia deixá-los em casa. Nesses casos, A União sempre foi abrigo para os rebentos também. Não me deixam mentir Aparecida Rodrigues, Luzia Lima, os irmãos Wellington e Land Seixas e outros contemporâneos desse processo! Ainda como um registro fotográfico, que não me sai da memória, quando ingressei nessa “escola” até o aperto no fusquinha da Redação era bacana! Portanto, não há como desvincular minha vida profissional e pessoal desse matutino que faz história há 120 anos e se renova a cada aniversário. Viva A União!

Texto originalmente publicado na edição comemorativa dos 120 anos do jornal A União, em 02/02/2013

140 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO An nio Cos a

Uma história de amor com olhar histórico

inha história com A União tem o sentimento caloroso do amor. Relações que geraram riquezas acumuladas por laços Mde amizade, pelo jornalismo construtivo e pelo conhecimento em geral. Trabalhei no jornal em dois períodos. Em 1983, a convite do jornalista Nonato Guedes, fiquei até 1990, exercendo cargos de chefia, como secretário e editor geral. Um tempo em que a Redação passou por locais distintos como o bairro de Jaguaribe, o Centro Histórico de João Pessoa e o Distrito Industrial. Em 1996, retornei ao jornal a convite do jornalista Eraldo Nóbrega, para ser o editor geral. Com a Redação estabelecida em definitivo no Distrito Industrial, junto ao Parque Gráfico, A União vivenciou alguns momentos de turbulência, em decorrência de crise financeira por falta de custeio e por mais uma vez ter servido de moeda política partidária durante campanhas ao Governo do Estado. Em janeiro de 2002, então editor geral, deixei o jornal, que passou por renovação administrativa sob o comando do jornalista Itamar Cândido. Mas foi na construção diária do jornal, nesses 13 anos de convivência, que alimentei esse amor pela A União. O ambiente fraternal da Redação fortaleceu esse relacionamento. O melhor ambiente de redações que conheci. E olhe que dirigi muitas redações:

A UNIÃO 141 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro O Norte, Correio da Paraíba, O Momento, A Tribuna. Constituiu-se n’A União, inclusive, a Associação dos Servidores, numa situação solidária e em defesa de direitos. Vivi muitos momentos de alegria, de confraternização; poucos de tristeza. Aprendi muito! O jornalismo e os profissionais com quem convivi, de A União, me deram a confiança de um futuro ascendente. Foi na Redação de A União, a partir da iniciativa dos jornalistas Linaldo Guedes e Robson Nóbrega, que cresceu um movimento gerando minha candidatura e a respectiva eleição para presidente da Associação Paraibana de Imprensa, em 1997. Cheguei a organizar, em 2001, um Manual de Redação para o jornal com o propósito orientador e normativo para repórteres, redatores, revisores e editores. Disse, na apresentação, que as lições do passado continuam na pauta do dia. Que permanece a confiança de um aprendizado contínuo. Que o aperfeiçoamento é sempre necessário. Acredito que o Manual de Redação, publicado em novembro de 2001 com o incentivo do jornalista Luiz Augusto Crispim, contribuiu para o exercício da profissão. Justamente em um jornal considerado uma Escola de Jornalismo. A União tem essa característica única. Um jornal com roupa de empresa estatal que possibilita aos seus profissionais a prática de um jornalismo construtivo. Com olhar histórico.

142 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Ana L s osa

O rio da minha vida

jornal A União apresentou-se na minha vida – profissional e pessoal – como um rio e seus afluentes. Explico: o curso do O rio me indicou o compasso e suas curvas (rio) de como se faz jornalismo e amigos para sempre. Foi assim um amor vivenciado com muita paixão e descobertas mil. Era início da década de 80, eu estudante de Comunicação Social da UFPB, frequentadora da sala preta do DAC (Departamento de Artes e Comunicação), me apresento ao editor do jornal A União, que, por sua vez, sem muita conversa, me encaminhou para o chefe de Reportagem – este já com uma pauta na mão me entregou e desejou boa sorte. Nunca esqueci a emoção: Ufaaa! Lasquei- me (pensei), confesso que essa foi minha primeira experiência. Mas, como o rio tem seus afluentes, cruzei com jornalistas, os quais logo se tornaram colegas e amigos amados, como Barreto Neto, Baby Neves, Thamara Duarte, Cleane Costa, Land Seixas, entre outros que me deram a régua e a cartilha de como se faz reportagem no dia a dia. Confesso que achei difícil..., mas nunca pensei em desistir. O que me salvou (risos) foi a conotação política passada pelo camarada Marcos da Paz Figueiredo, que me fez entender que o jornalismo poderia ser um instrumento para o enfrentamento da injustiça social. Vale ressaltar que não pensava em ganhar e juntar dinheiro, queria mudar as relações. Bom, A União me deu esteio e oportunidade para praticar a teoria que me foi passada no curso de Comunicação Social por

A UNIÃO 143 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro bons professores, a exemplo de Paulo Melo, Luiz Augusto Crispim e Carmélio Reynaldo, entre outros. Então esse conhecimento agregou- se às lições aprendidas e repetidas, por mais de uma década, por jornalistas que faço questão de compará-los aos afluentes do rio da minha vida. Obrigada a cada um de vocês. Aproveito também para agradecer aos meus familiares, que se orgulhavam da minha coragem, mesmo sabendo que o jornalismo não é uma profissão valorizada do ponto de vista salarial. O curso do meu rio profissional, que tem como nascente A União, me deu guarida para eu seguir minha experiência em veículos de comunicação, como O jornal Norte e jornal Correio da Paraíba. Preciso enfatizar que na caminhada ultrapassei muitas barreiras para praticar jornalismo. Claro que, como em todo o curso de nosso profissionalismo, enfrentamos altos e baixos. Nesse sentido, asseguro: o jornalismo foi uma decisão transformadora e pode embalar a minha autoestima e sobrevivência material. Para que eu não deixasse morrer as minhas utopias de que o jornalismo poderia mudar o mundo, resolvi acreditar que ele poderia mudar a visão crítica dos problemas estruturais do país e do seu continente. E assim levei adiante a pauta do dia a dia. Depois disso (dessa trajetória), ganhei um novo cognome: passei de Aninha da União para Aninha da Secom e segui encantada porque permaneci na mesma família – A União, Secom e Tabajara. Pois, assim, na história do jornalismo paraibano, A União foi, sem dúvida, a responsável pela formação de muitos bons jornalistas que por ali passaram e de muitos que atuam lá, uma grande escola de vida profissional, que se desenvolveu pautada em se fazer jornalismo com produção de grandes matérias e que ao longo de sua história tem merecido elogios e críticas pelo seu alcance e pela complexidade de ser um jornal oficial. O que me fez identificar as minhas experiências e aprendizados no jornal A União a um rio é ter observado que, após percorrer um bom trajeto e curvas, o meu rio passou por assessoria de imprensa de instituições privadas, públicas e está desaguando no mar de Tambaú, onde há oito anos pratico o jornalismo na assessoria de imprensa da PBTur (Empresa Paraibana de Turismo).

144 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Nona o e es

ornal e se orno ni ersi a e ara era es na ara a

á um conceito firmado a respeito do jornal A UNIÃO que o sintetiza de forma marcante - é o conceito do jornal-escola, Hespécie de Universidade de formação de profissionais de Comunicação na Paraíba. Difundido desde os primórdios, na sua fundação, esse conceito ganhou visibilidade e se consolidou ao longo dos anos, em diferentes períodos administrativos e editoriais. As eventuais campanhas articuladas para fechar A UNIÃO nunca prosperaram na prática, embora tenham encontrado eco em alguns períodos ou governos. Mas os próprios governantes sempre consideraram temerário abrir mão de um veículo de transmissão do saber e de aprendizado do conhecimento. A parte menos controversa em A UNIÃO é a sua natureza editorial. O fato de ser um órgão de imprensa do governo, de qualquer governo que ascenda ao Palácio da Redenção, ao invés de se tornar um estigma, transformou-se numa qualidade apreciada em A UNIÃO por passar a ideia de um jornal que não mascara sua identidade. Também é certo que nas últimas décadas, com as inovações introduzidas no ensino e na imprensa, o maniqueísmo deixou de ser voz corrente, abrindo espaço para a pluralidade, para a diversidade política-ideológica. O papel cultural de A UNIÃO não se exprime apenas nas matérias

A UNIÃO 145 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro publicadas pelo jornal, mas na função de Editora que é inerente ao organismo, com publicação de um sem número de títulos em circulação no mercado e em mercados distintos, do Brasil e do exterior. Por ocasião dos 30 anos do movimento militar de 1964, A UNIÃO publicou Cadernos Especiais numa Edição Histórica, dando voz a ene protagonistas - a vencidos e vencedores da conflagração vivenciada pelo país. Evoluiu-se, naturalmente, para a confecção de um livro, condensando o supra-sumo do que foram os Cadernos da Edição Histórica. Nasceu, aí, o livro “O Jogo da Verdade”, cujo alcance até internacional pode ser mensurado pelo fato de ter um exemplar numa biblioteca de Washington (EUA) onde brazilianists e historiadores de diferentes lugares do mundo buscam fontes e inspiração para teses, livros e produção acadêmica-intelectual. Tive uma trajetória atípica em A UNIÃO, atuando em três momentos distintos, equivale dizer, em conjunturas diferenciadas e em papéis igualmente diferenciados. Na década de 1980, no governo de Wilson Leite Braga (PDS), que era vinculado ao regime militar já nos estertores, exerci a função de editor do jornal, com liberdade para dar cobertura jornalística a eventos polêmicos como o assassinato da líder camponesa Margarida Maria Alves em Alagoa Grande, no qual estavam envolvidos, como mandantes, proprietários rurais ligados a grupos políticos que se alinhavam com o poder de plantão. Nem por isso o jornal deixou de divulgar livremente os fatos que a crônica policial registrava, tornando-se fonte de consulta e referência para correspondentes de jornais e revistas do exterior e para pesquisadores em geral. No governo Ronaldo Cunha Lima, na década de 90, fui alçado à superintendência do jornal e Editora e procurei dinamizar a produção literária, com parcerias junto a instituições acadêmicas e intelectuais que vitalizaram o segmento no período referenciado. Enfrentei um dilema crucial - o de noticiar o episódio em que o então governador Ronaldo Cunha Lima havia disparado tiros de revólver contra o antecessor e adversário político Tarcísio de Miranda Burity, num restaurante da orla marítima de João Pessoa. O episódio foi noticiado, junto com um editorial em que procurava expender interpretações psicológicas do gesto do então governador, e dentro das limitações que poderiam suceder a tanto. O fato concreto, indesmentível, é que A UNIÃO não se omitiu num momento gravíssimo da sua própria História. Por último, atuei como colunista político do jornal, na gestão de José Maranhão, entre fins da década de 90, começo dos anos 2000. A postura foi

146 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO de aparentemente engajamento ou alinhamento com a filosofia do governo reinante, baseada na solidariedade com os mais pobres, mas preservando-se o espaço para informações de interesse de correntes políticas opostas à do governo. A atuação em fases distintas e em governos diferenciados serviu para plasmar melhor a minha personalidade como agente da informação e, também, como comentarista de fatos. Todo o aprendizado colhido nas três oportunidades em que passei pela Redação ou pela direção de A UNIÃO equivaleu ao Curso de Jornalismo que achei por bem não empreender na Universidade Federal da Paraíba, até em virtude de uma precoce e rica trajetória profissional na delicada ou complexa área da Comunicação e da informação de interesse público. A UNIÃO tem, para mim, esse simbolismo de escola, de máter da educação e do ensinamento sobre as ferramentas inerentes ao jornalismo. Isto, decididamente, contribuiu para enriquecer a minha formação intelectual.

A UNIÃO 147 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro José Euflávio

A ni o e r s e os

ovem, muito jovem, tive a chance dada por Benedito Maia para trabalhar no jornal O Nordeste, de propriedade de Seu Hermógenes JBonfim, na Rua da Areia, em João Pessoa. O tempo andoue terminei na Redação do jornal A União, na Rua João Amorim, no centro da cidade, ali bem próximo onde é o Supermercado Bompreço, na João Machado. Fui trabalhar com gente que conhecia muito pouco. Alguns repórteres eu conhecia: Chico Pinto, Wellington Farias, Tião Lucena, Baby Neves e muitos outros. A União para mim se transformou numa verdadeira escola e depois voltei ao jornal por mais duas vezes. Duas coberturas me chamaram a atenção e me encheram de vaidade: fui escalado por Sebastião Barbosa, o chefe de Reportagem, e Nonato Guedes, o editor, para fazer a cobertura do assassinato de Margarida Maria Alves, tudo por uma simples coincidência. Era um sábado e eu estava na casa de Vânia Rodrigues, em Campina Grande. Simão Almeida ligou para Vânia anunciando que haviam assassinado a líder sindical. No carro de Vânia fomos bater em Alagoa Grande. Colhi informações e mandei, por telefone, uma matéria para a Redação. No domingo o jornal A União divulgou o assassinato de Margarida Maria Alves. Na segunda-feira fui escalado para acompanhar

148 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO o caso, tanto em João Pessoa, como em Alagoa Grande. Durante meses visitei, quase todos os dias a cidade onde Margarida morava. O secretário de Segurança Pública era o deputado Fernando Milanez que, por ordem do então governador Wilson Braga, nomeou um delegado especial para acompanhar o caso. O escalado para o caso foi delegado Gilberto Indruziak da Rosa. Homem experiente, delegado de carreira, fino no trato com as pessoas e outras qualidades, Rosa tinha o perfil perfeito, porque o caso adquiriu repercussão nacional e até mundial, e jornalistas do Brasil todo e de outros países mandaram seus correspondentes à Paraíba. Para mostrar serviço, o delegado prendeu dois ciganos em Nova Cruz, no Rio Grande do Norte, e apresentou à imprensa como sendo os matadores de Margarida. Era uma farsa para desviar a atenção dos verdadeiros assassinos e mandantes do crime. A União denunciou a farsa, o advogado Wanderley Caixe recorreu à Justiça e os ciganos foram liberados. Por pressão externa, acabei sendo demitido do jornal e depois o tempo mostrou que eu estava certo: a morte de Margarida foi tramada pelo Grupo da Várzea, os pistoleiros fizeram o serviço em Alagoa Grande e foram levados na calada da noite para o interior de Alagoas, onde moravam amigos do Grupo da Várzea. Em 2007 estava eu de volta ao jornal. Fui escalado pelo superintendente Itamar Cândido e pelo editor Carlos César para produzir uma matéria sobre a transposição de águas do São Francisco para o Nordeste Setentrional. Porque todos falavam sobre a obra, mas ninguém sabia nada sobre ela. Assim, juntamente com o fotojornalista Augusto Pessoa e o motorista Claudionor Brito percorremos 4.800 quilômetros entre os estados da Paraíba, Pernambuco, Bahia, Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte. O resultado foi a produção de uma primorosa revista de 48 páginas contando o drama dos nordestinos em meio ao turbilhão da seca e a esperança na chegada das águas da transposição. A matéria foi inscrita no prêmio AETC de Jornalismo e pela primeira vez em sua história A União ganhou o primeiro lugar em Jornalismo Impresso.

A UNIÃO 149 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Mar os ereira

A ri eira re or a e a en e n o es e e

e a Velha Senhora, como A União é chamada carinhosamente no meio jornalístico, completou 124 anos de existência em 2017, So meu relacionamento com essa Velha Senhora, que tem muita história para contar, já chega há 34 anos. Claro que durante todo esse tempo aconteceram idas e vindas, mas no final falou mais alto o sentimento de agradecimento pela formação prática que aprendi ao entrar no jornal, coisa que agente só adquire no dia a dia de uma Redação. E lá se vão 11 anos contínuos de convivência diária com meus colegas de trabalho. Recém formado no curso de Comunicação Social, habilitação Jornalismo, na antiga Universidade Regional do Nordeste (URNE), em Campina Grande, hoje Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), comecei a praticar o que tinha aprendido nos bancos da universidade justamente nesse jornal que é conhecido também como uma grande escola de Jornalismo na Paraíba, onde as oportunidades de aprendizado são imensas já que você convive ou já conviveu com os grandes nomes da imprensa paraibana, que de uma forma ou de outra passaram por A União. Vale ressaltar que muitos ainda estão na ativa e contribuindo para o engrandecimento do jornal. A primeira reportagem a gente não esquece. Tendo começado a trabalhar na sucursal de A União, em Campina Grande, em 1983, lembro muito bem quando fui pautado para cobrir a abertura do Festival de Inverno da cidade. Matéria pronta e de página inteira, foi

150 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO grati fi cante ver o nome assinado no início da página. Lógico que até hoje tenho guardado esse jornal, além de outros com matérias que fi z e que guardo como uma forma de relembrar do tempo que passei na sucursal do jornal na Rainha da Borborema, onde fi z muitas amizades e ti ve grande aprendizado. Confesso, que ao chegar em João Pessoa, onde vim morar, fi quei um tempo na Secretaria de Comunicação do Estado (Secom) antes de retornar para A União, já na capital do Estado. A vontade de voltar a trabalhar em A União era grande e no primeiro convite não pensei duas vezes e aceitei o desafi o de vir novamente defender as cores deste centenário jornal. É bem verdade que não parti cipei das mudanças de locais da Redação do jornal, como muitos colegas vivenciaram essa fase e relembram de muitas histórias. Não conheci quando funcionou na Av. General Osório, no Centro, nem no bairro de Jaguaribe. Quando vim para A União, o jornal já estava localizado no Distrito Industrial da capital, no atual endereço. Aqui pude comparti lhar de outras mudanças, tanto no espaço fí sico quanto na linha editorial. Mudanças que aconteceram para melhor. Hoje, o jornal está mais plural, mais informati vo e mais engajado na defesa das causas sociais e na melhoria do bem-estar dos paraibanos. Vida longa para essa Velha Senhora.

A UNIÃO 151 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Thamara Duarte

Uma história para não esquecer...

unca esqueci aquele final de tarde/começo de noite... Subi aquelas escadas com tranquilidade, contemplando cada Ndetalhe das paredes centenárias. O coração, no entanto, estava aos pulos: uma emoção indescritível por visitar a sede de A ni o. Naquela época, o jornal do governo estava instalado no prédio da Biblioteca Pública do Estado. Era o início de 1985 e mal tinha acabado de receber o diploma de Bacharel em Comunicação Social/Habilitação Jornalismo, pela Universidade Federal da Paraíba. Conduzida por Silvio Osias, meu primeiro grande referencial de ética e profissionalismo, adentrei na Redação e tentei guardar cada segundo daquele momento. Fui apresentada a Carlos Aranha, então editor de Cultura, que me instigou a publicar um texto que havia produzido ainda na época do curso. O material descrevia os bastidores de Aruanda. O premiadíssimo curta-metragem de Linduarte Noronha fazia 25 anos e havia utilizado a linguagem da estética da fome, inaugurando, segundo , o revolucionário movimento do Cinema Novo. Naquele mesmo instante, o jornalista foi mais além e me pediu, de supetão, para entrevistar, ali na Redação, os garotos da Limousine 58. A banda fazia umas baladas legais, misturando o pop com o rock, e estava prestes a lançar um “bolachão”. Era a minha primeira vez como jornalista profissional. Era a primeira vez que se produzia um LP na Paraíba. Alguns dias depois, a matéria foi publicada, com

152 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO destaque, na capa do Segundo Caderno. A estreia nas páginas de A ni o foi assim: especialíssima! Hoje, passados mais de 30 anos, devo confessar que, desde aquele dia, me tornei apaixonada! Nos anos que se seguiram, cultivei este amor à primeira vista... Ao fazê-lo eterno, olho para trás e digo sem medo de errar: A ni o é a maior das experiências da minha caminhada jornalística. Jamais esqueci de nenhum daqueles mais de 10 anos, nos quais vivenciei a arte de ser aprendiz, absorvendo, o máximo que pude, dos seus centenários ensinamentos. Oficialmente, comecei em A ni o em maio de 1985. Poucos dias antes de completar 21 anos, fui convidada (seria melhor dizer “convocada”) pelo mestre Agnaldo Almeida. Com ele, aprendi a lição de como conquistar o leitor! Para isto, é preciso lapidar os textos; é não ter pena de cortar os próprios escritos. É saber que menos palavras são muito mais atrativas que redundâncias e exageros linguísticos. Nos primeiros anos, atuei na reportagem do Jornal de Domingo, um suplemento semanal de oito páginas, onde fazia matérias investigativas e entrevistas ping-pong. O editor era Barreto Neto, um ser iluminado. Ele me encantou profundamente! Guiada por sua extrema bondade e luz imensurável, me deixei levar, de maneira irreversível, pelos caminhos do jornalismo... Pacientemente, foi Barretinho o grande responsável por meu alumbramento diante dos textos, diagramações e pesquisas. Na nossa rotina diária, ele não era um “chefe” no sentido literal da palavra. Sempre me deixava livre, para sugerir as pautas, e incentivava a participação em todos os processos de um jornal. Eu, muito jovem, extremamente curiosa e perfeccionista ao extremo, não me contentava em apenas ouvir os entrevistados e a redigir o material. Gostava de aprender com todos os profissionais – os melhores da Imprensa paraibana –,que compunham o quadro da escola A ni o. No início não foi fácil! Utilizava apenas dois dedos para teclar a velha máquina de datilografia. “Catava milho”. A cena causava muito riso entre os colegas... Assim passava horas, até conseguir terminar o texto. E ainda protagonizava mais uma presepada: para evitar ter que bater tudo de novo, fazia uma edição caseira, emendando as partes das páginas com durex. Só então entregava a versão, quase final, a Barreto. Não satisfeita, ainda “exigia” que ele fizesse as correções na

A UNIÃO 153 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro redação, pois adorava vê-lo passar o “lápis vermelho” no texto. Atenta aos mínimos detalhes, eu ia aprendendo as regras do português (muitas eram as vírgulas fora do lugar), a enxugar as informações e a fazer títulos que eram impregnados de humanidade e poesia. No tocante à parte estrutural, foi um pouco mais complicado de administrar. Como repórter especial, era responsável por entrevistar as personalidades paraibanas e de outros estados: fossem eles artistas, filósofos, historiadores, lideranças sindicais ou, até mesmo, pesquisadores e astrônomos. Não havia ainda a setorização dos dias de hoje, mas somente as editoriais de Cultura, Geral e Política. A Redação tinha um ou dois gravadores para atender à demanda. E, muitas vezes, utilizei um gravador enorme, que havia recebido de presente de papai, para fazer as matérias. Também não dispunha do carro e do fotógrafo toda hora, já que a prioridade era que eles atendessem às coberturas do cotidiano da cidade (inclusive as notícias de acidentes e crimes). No entanto, nenhum dos contratempos me desanimava! Com a determinação própria da juventude e motivada pelo amor ao que fazia, o importante era dar certo. A maior das recompensas era ver a manchete, logo cedo, na manhã do dia seguinte. Era sentir uma indisfarçável alegria, após ter dado “um furo” no jornal concorrente! Quando não estava na rua, permanecia na Redação quase o dia inteiro: chegava cedo e saía no começo da noite. Poucos meses depois e já havia aprendido a fazer a “boneca”, utilizando os recursos estilísticos (fotos, ilustrações, chapados, retículas, pontilhados e coordenadas, que davam um “up” à edição). Naquela época, o trabalho dos editores, diagramadores, digitadores, revisores e paginadores era totalmente manual, pois não havia a ajuda da atual tecnologia dos computadores. No entanto, o resultado “enchia os olhos”! Bem de perto, acompanhei a feitura de páginas memoráveis, tão ou mais bonitas do que aquelas que eram estampadas pela Imprensa nacional. Ao pensar nisto, fico nostálgica e tenho o impulso de correr para biblioteca mais próxima, para folhear aquelas maravilhosas páginas de antigamente. Aliás, já naqueles dias, a pesquisa jornalística me fascinava. Toda folga que tinha aproveitava para mexer nos arquivos das fotos (tão cuidadosamente organizadas por Luzia, Cida e Denise) e adorava espanar a poeira e penetrar no universo mágico das antigas coleções, encadernadas ou não, dos exemplares históricos de A ni o. Vivia com alergia e conjuntivite, mas nem me importava...

154 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Ao me transportar no tempo, através das velhas páginas do matutino governamental, conhecia/vivenciava as histórias da Paraíba e do mundo. Foi neste ambiente de arquivo que tive acesso à repercussão da Revolução de 1930 e dos fatos que advieram com a morte de João Pessoa. Fiquei deslumbrada, ao perceber a presença de capas com fotos em página inteira. Um feito e tanto, se lembrarmos que esse recurso não era tão comum, no jornalismo das primeiras décadas do século XX. Ao folhear os antigos jornais que cobriram a luta das Ligas Camponesas, tive acesso a um outro fato inusitado: descobri que meu colega de Redação, Hélio Zenaide, havia sido o único jornalista paraibano a publicar, na íntegra, o discurso do deputado Raimundo Asfora. Com sua experiência de taquígrafo, ele conseguiu reproduzir, palavra por palavra, tudo o que parlamentar disse no ato político que foi realizado no Ponto de Cem Réis, em abril de 1962, logo após o assassinato do camponês João Pedro Teixeira. Cercada por tantos e imensuráveis talentos, nunca senti qualquer discriminação: nem mesmo quando era apenas uma “foca”! Obviamente, ocorreram inúmeras situações de stress, mas que vejo como comuns à correria do dia a dia de um jornal. Daquela Redação, trago somente maravilhosas lembranças. Foi em A ni o que conheci: generosidade, cumplicidade e muito, muito carinho. Alguns colegas já não estão nesta Terra. Mas, de todos, preservo as lições e os aprendizados. Os nomes são incontáveis. Prefiro, então, não citar ninguém, para não ter o risco de ser traída pelo esquecimento. Os dias em A ni o estão preservados no mais profundo do meu ser. Os colegas de profissão são personagens importantes da minha memória afetiva. As saudades são tão presentes, tão fortes, que me parecem: foi ontem que a gente trabalhou/brigou/riu e, principalmente, se tornou amigo. Tudo junto; tudo misturado. Daquilo que foi vivenciado naqueles tempos de juventude, eu reservo tão somente as boas lembranças. Como ensina a canção de , trago tudo dentro do coração... Durante 11 anos, entre 1985 e 1996, fui repórter, redatora e editora. Trabalhei essencialmente em Cultura, mas tive passagens por outras Editorias. Conheci e procurei incentivar o talento de jovens que, assim como eu, amavam A ni o e o exercício do jornalismo.

A UNIÃO 155 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Aprendemos juntos a colocar nas bancas o melhor que poderia se extrair numa cobertura escrita para a Editoria de Serviço (uma página pioneira, que indicava quais os atrativos turísticos da cidade, revelando o cotidiano da velha Philipéia), Geral e, até mesmo, de Política. Durante uma temporada em que permaneci seis meses em São Paulo, atuei como enviada especial. Tive a sorte de realizar a primeira entrevista, do jornalismo brasileiro, com a paraibana Luiza Erundina. Ela nos recebeu em seu apartamento, poucas horas após ter sido eleita prefeita da maior cidade do Brasil. Naquele final de tarde chuvoso em Sampa, falou dos futuros planos administrativos e lembrou suas reminiscências mais profundas: a cidade natal (Uiraúna), o trabalho como assistente social e a atuação ao lado de Dom José Maria Pires na Arquidiocese da Paraíba. Da longa passagem por A ni o preservo outra experiência inesquecível. O ano de 1987 marcava a passagem dos 25 anos da morte do “cabra marcado para morrer”, o líder camponês João Pedro Teixeira. Fui entrevistar a viúva, dona Elizabeth, em sua casa, e pedi que, prioritariamente, ela recordasse a história de amor e as dificuldades para que pudessem se manter unidos. Naqueles tempos, a situação política no Brasil ainda era difícil: muito embora o país já começasse a (re)construir a democracia, após um longo período militar e de violação aos direitos humanos. Durante a conversa, a forte e guerreira dona Elizabeth Teixeira não levantou a voz nenhuma vez. Mas, falou firme e sem titubear! Comentou sobre a necessidade da reforma agrária, do marido e do Brasil dos anos de exceção. Com os olhos marejados, me olhou profundamente por várias vezes e questionou: “Ele era tão bom... Porque mataram ele?” Diante daquela mulher, me vi invertendo os papéis: de entrevistadora passei à condição de entrevistada. Sem palavras fiquei. Muda me mantive diante da grandeza e do inabalável amor daquela mulher excepcional. Marcada pela dor da separação, provocada pela morte brutal, ela nunca perde a esperança. Sim, ainda hoje, com quase 100 anos, dona Elizabeth permanece assim: apaixonada... e apaixonante! Tantos anos depois, como esquecer tamanha emoção? Vivenciada nos primeiros anos da minha profissão de repórter, a

156 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO experiência junto à dona Elizabeth Teixeira fortaleceu minha vida: enquanto cidadã e como defensora da dignidade humana. Outro acontecimento ímpar, que guardo com muito carinho, ocorreu em 1994. Um pouco antes de deixar os quadros de A ni o, fui convidada pelos editores - Nonato Guedes, Evandro da Nóbrega e José Octávio de Arruda Mello - para participar da coletânea Jogo da Verdade. As reportagens foram encartadas num caderno especial e depois publicadas em livro. Eram textos de dezenas de jornalistas, de várias gerações, que lembravam os 30 anos do Golpe de 1964. Fiquei responsável por dois trabalhos. O primeiro foi uma entrevista com Vladimir Carvalho, que lembrou como a equipe do cineasta havia abandonado o material de filmagem de “Cabra Marcado para Morrer” e fugiu para Recife. Também redigi uma reportagem, resultado de uma pesquisa nos antigos jornais A ni o (janeiro a março de 1964), onde revelei como tinha sido “O cotidiano da cidade às vésperas do Golpe”. Por tudo isso, e muito mais, não é exagero quando digo: “A ni o tudo me ensinou”! O jornal foi a minha grande escola! Em sua Redação, tornei realidade o sonho de menina. Nele é que vivenciei o melhor do meu jornalismo e conheci um amor que jamais será esquecido. Instigada a trazer à tona estas antigas memórias, meu coração fica contente. Para você, velha A ni o a gratidão e as lembranças serão sempre eternas. Parafraseando o poeta , A ni o foi um rio que passou em minha vida. E meu coração se deixou levar... Eu não vivo no passado. O passado de A ni o é que vive em mim!

A UNIÃO 157 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Ale an re N nes

E e A ni o

inha história com o jornal A União começa quando descobri o suplemento literário Correio da Artes e passei a ser um Mpequeno colecionador das edições, sonhando um dia publicar alguma coisa, um poema talvez. Um certo dia, por incentivo de amigos, comecei a me aventurar no universo da apreciação crítica das artes plásticas paraibanas. No início escrevia para apresentar os artistas nos folders das vernissagens, que os amigos encaminhavam aos jornais, que publicavam nos cadernos culturais, inclusive em A União. Em abril de 1985, fiz a minha primeira visita à Redação do jornal, para participar de uma reunião entre a direção do jornal e representantes do movimento comunitário da Paraíba. Na reunião que tivemos com o editor Antônio Barreto Neto, e o chefe de Reportagem Wellington Farias, ficou combinado a publicação de uma coluna assinada pelo jornalista Sebastião Barbosa, intitulada Painel Comunitário. Ainda em 1985, passei a frequentar a Redação e a escrever diretamente para o jornal, principalmente para alimentar a coluna, sob a supervisão de Sebastião Barbosa. Lembro o primeiro dia, eu ainda estudante, muito tímido, sentado em frente daquela máquina datilográfica, utilizando apenas dois dedos de cada mão para teclar, com muitas ideias e pouca concatenação na escrita, tendo ao meu lado, feras do jornalismo como Oduvaldo Batista, Barreto Neto e tantos outros. Em 1987, vivi uma experiência bastante significativa para o aprimoramento da minha forma de escrever, ao trabalhar e conviver mais de perto com dois grandes jornalistas, santarritenses como eu:

158 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Alarico Correia Neto e Biu Ramos. Alarico me presenteou com uma bela gramática e algumas dicas inesquecíveis, o que me levou a ajustar o texto e me encaminhou de vez para o jornalismo. Dez anos depois, já na Secom, acompanhando as comitivas governamentais na Paraíba e fora do Estado, continuei contribuindo com material jornalístico para a velha A União. Foram muitas idas e vindas como, por exemplo, em 2009, quando passei a cuidar da página de A União na internet. Na época, o editor geral era João Evangelista e o superintendente era o jornalista Nelson Coelho. Depois, em 2011, passei a atuar como repórter, numa convivência diária, na Redação, com antigos colegas de faculdade, como Conceição Coutinho e Ademilson José. Atualmente, ainda continuo minha relação de amor e trabalho com o centenário jornal paraibano. Em minha trajetória profissional em A União, são muitas emoções vividas em reportagens emocionantes, a exemplo do caderno que escrevi sobre a saga dos ciganos na Paraíba, o caderno sobre os 30 anos do assassinato de Margarida Maria Alves, e principalmente as publicações de minhas reportagens no Correio das Artes, a realização de um sonho antigo, valendo ressaltar aqui as matérias especiais que fiz e que foram capas desse suplemento literário. Tudo isso, graças à oportunidade a mim proporcionada pelo então editor William Costa. Uma dessas reportagens do Correio das Artes foi em homenagem ao grande mestre do jornalismo paraibano, Gonzaga Rodrigues, o que me deu a oportunidade de viajar com ele, o repórter fotográfico Antonio David e o jornalista José Nunes até a cidade de Alagoa Nova, onde vivenciei as emoções de Gonzaga ao rever e entrar nas ruínas da antiga casa dos seus pais, perdida no meio do mato, e recordar os tempos de criança, com os olhos a lacrimejar. Outra matéria especial para o Correio das Artes foi a que escrevi sobre a trajetória do escritor Carlos Romero. Também escrevi outra sobre Félix Araújo e uma sobre as artes plásticas da Paraíba, todas capas do Correio das Artes. Também tive o prazer de escrever um caderno especial para as pessoas com deficiências visuais, o primeiro publicado totalmente em braille pelo jornal A União, em parceria com a Funad. O jornal A União tem me proporcionado, no transcorrer do tempo, a construção de muitas amizades edificantes, todas importantes, a exemplo de Tônio, Zélio Marques, Rui César Leitão, Fred Menezes, Cleane Costa, Teresa Duarte, José Alves, Cardoso Filho, Napoleão Ângelo, Ulisses Demétrio, Paulo Sérgio Azevedo, Salismar Fernandes, Walter Galvão, Gilson Renato, Albiege Fernandes, Marcos A UNIÃO 159 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Pereira, Denise Vilar, Sebasti ão Barbosa, Linaldo Guedes, Ricardo Farias, Beth Torres, Renata Ferreira, Carlos Vieira, Felipe Gesteira, Klécio Bezerra, Geraldo Varela, Fernando Maradona, Antônio Moraes, Marcos Russo, Evando Pereira, Orti lo Antônio, Edson Matos, Fernando Moura, Ramalho Leite, Josélio Carneiro, Wellington Sérgio, Guilherme Cabral, entre outras fi guras importantes que fazem a história do jornal mais anti go da Paraíba. E, para coroar minha trajetória de amor e trabalho com o jornal, ti ve a alegria de ver publicada em A União a primeira matéria assinada por minha fi lha caçula Anézia Nunes, que começa a dar os primeiros passos no jornalismo, na maior escola jornalísti ca de todos os tempos e de muitas gerações.

160 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO illia Cos a Editor do Correio das Artes Breve relato de minha trajetória n’A União

muito difícil, para mim, resumir os mais de vinte anos de trabalho n’A ni o. Conheci pessoas maravilhosas. Fiz uma legião de amigos É entre as centenas de companheiros e companheiras de jornada. Foram tantos momentos bons, que os ruins já nem lembro mais. N’A ni o aperfeiçoei minha técnica jornalística, tanto na produção de texto como na editoração. Foi lá que assinei a primeira coluna e pude experimentar quase todas as possibilidades da crônica. O breve relato que segue tem muitos lapsos, que me perdoem as omissões. Tenho uma tonelada de papel impresso com reportagens, entrevistas, artigos, crônicas, resenhas e editoriais escritos por mim e publicados nas páginas de A ni o. Esse material, junto com os cadernos e revistas que editei, isto sem falar no próprio jornal, dizem mais do que minhas palavras. Para mim, um jornal é importante não apenas como uma instância de geração de conhecimento, mas também pelas extraordinárias experiências que proporciona, no campo das relações humanas. Nele, os erros e acertos são os meus oráculos. Depois de vinte anos de jornal, a gente se sente tripulante de um barco que já deu em belas praias e enfrentou muitas tempestades. Sentimos falta de muitos companheiros que tornaram menos árdua a jornada. Passamos pela alegria das contratações, por exemplo, como também pela tristeza das demissões. Neste momento difícil que o jornalismo impresso atravessa, gratifica saber que a velha nau continua singrando os mares, e que os dias sucedendo as noites, e vice-versa, indicam a possibilidade de novos horizontes, sempre.

A UNIÃO 161 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Só quem trabalha - ou já trabalhou - n’A ni o sabe o encanto que é trabalhar no bom e velho jornal da Imprensa Oficial da Paraíba. Meus dois primeiros e rápidos contatos com este jornal foi durante os anos iniciais de militância no jornalismo, na segunda metade dos anos 80. Na sede da Guedes Pereira com General Osório, Alarico Correia Neto encomendou-me uma reportagem sobre macrobiótica. Mais tarde, na sede de Jaguaribe, convidado por Jacinto Barbosa, cobri a Assembleia Legislativa do Estado, como repórter de política. Em meados da década seguinte – creio que em 1995 -, convidado pelo jornalista Nonato Bandeira - que acabara de assumir a editoria- geral, após deixar a editoria de Cultura do jornal O Norte -, cheguei à sede do Distrito Industrial para assumir o caderno de Cultura. A partir daquele ano desempenhei - e continuo desempenhando - várias funções, a exemplo de editor-geral (duas vezes), editor-geral adjunto, secretário de Redação, editor de cadernos especiais, editor do Correio das Artes (duas vezes), colunista e editorialista. Ao assumir a editoria-geral de A ni o, após eleição inédita realizada pela Redação, o jornalista Eduardo Carneiro convidou-me para ser o seu adjunto, e me deu total liberdade para ampliarmos a cobertura do jornal, na área de Cultura. Além da fantástica experiência que foi a edição vespertina, criamos cadernos que entraram para a história do jornal (Estante, Ideia, Você etc.), isto sem falar que já vínhamos de outras empresas bem-sucedidas, como a série histórica 500 Anos do Brasil e a coleção de biografias Nomes do Século. Tive a sorte de trabalhar com excelentes editores. Depois de Nonato Bandeira, Antônio Costa e Eduardo Carneiro, entre outros, reassumi as editorias de Cultura e do Correio das Artes, convidado pela editora-geral Beth Torres. Criamos o caderno Palco – hoje Segundo Caderno -, e mantivemos a linha editorial histórica doCorreio das Artes. Voltei à editoria-geral em 2012, convidado pelo, à época, superintendente, Fernando Moura, e com os editores-gerais Walter Galvão e Felipe Gesteira permaneci no Correio das Artes. No momento em que escrevemos um memorial, por mais breve que seja, a mente é tomada pelas recordações. O encontro com a filha de Che Guevara. A primeira entrevista com . Enfim. Há uma lista enorme de pessoas que foram e continuam sendo muito importantes, para mim, nesta jornada n’A ni o cujos nomes gostaria de citar aqui, mas prefiro calar para não cometer o terrível pecado da omissão. Não fiz nada sozinho. A minha modesta contribuição sempre teve o amparo de muitas mentes e corações.

162 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Eloise Elane

A ni o A Es ola e e or o re r er

ra 1986. No Brasil, tínhamos o Governo Sarney e o seu Plano Cruzado tentando, in glória, acabar com a inflação. Na Paraíba, governava EWilson Braga, com o seu Projeto Canaã, que levava água aos confins do Estado, para aplacar a seca. Viria, depois, renunciar ao cargo, junto com o vice José Carlos da Silva Júnior, para concorrer ao Senado Federal. Em substituição, era eleito bionicamente pela Assembleia Legislativa, Milton Bezerra Cabral. Foi nesse cenário, que eu, então estudante do quarto período do Curso de Comunicação Social – com Habilitação em Jornalismo, da Universidade Federal da Paraíba, sedenta de uma experiência em um dos jornais diários do Estado, recebi um telefonema do amigo-irmão José Leite Guerra. Poeta e escritor, Guerra escrevia uma coluna em A ni o e soube que o jornal estava precisando de repórter. Ao atender o telefone travamos essa conversa que viria mudar a minha vida: - Eloise, é Guerra. Você está bem? - Oi Guerra, que surpresa. Estou sim. Diga aí! - Eu soube que o jornal A ni o está precisando de repórter e eu me lembrei de você. Se eu indicar o seu nome, você aceita? O meu coração explodiu de alegria e, sem pestanejar, respondi: - Guerra, eu sou estudante e talvez não possa ser aceita como

A UNIÃO 163 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro repórter. Mas se você conseguir, pelo menos, um estágio no jornal, vou ficar muito feliz. - Então me aguarde, que daqui a pouco ligo de novo para você. Cinco minutos depois, José Leite Guerra me retornava a ligação para dizer que eu fosse na sede de A ni o S erin en n ia e I rensa e E i ora, localizada no Distrito Industrial, para falar com o então diretor técnico da empresa, o jornalista Arlindo Almeida. Disse- me que já tinha conversado com ele sobre mim. Não tinha conseguido um emprego, mas um estágio. Não sabia o meu amigo Guerra que ele tinha aberto as portas para a minha vida profissional e que, aquele estágio, era na verdade o meu primeiro emprego em um jornal. Ou melhor, numa das melhores escolas de jornalismo que a Paraíba já teve. A demora foi trocar de roupa, pegar o ônibus a caminho do Distrito Industrial e ser recebida por aquele (falo com lágrimas de gratidão e saudades) que foi o meu primeiro professor no jornal A ni o, Arlindo Almeida. Ele fez uma rápida entrevista comigo. Escreveu um bilhete em punho ao chefe de Reportagem, Walter Galvão, recomendando que eu fosse integrada à equipe. No dia seguinte, à tarde, dirigi-me à Redação do jornal que funcionava na Rua General Osório, no antigo prédio da Biblioteca Pública. Apresentei-me a Galvão, que me pautou para fazer uma reportagem sobre o trânsito de João Pessoa. Mandou-me ir no Detran conversar com o superintendente, entrevistar motoristas na rua. E uma tímida Eloise Elane sai para fazer sua primeira matéria. Ao voltar à Redação, com as anotações, vamos às lambanças de uma “foca”, termo usado para designar o repórter sem experiência,fui até Galvão e contei o que tinha apurado. Ele me mandou escolher uma máquina datilográfica e começar a redigir, com uma cópia, em papel carbono. Quando sentei-me em frente à máquina e ouvi muitas máquinas sendo batidas ao mesmo tempo, espantei-me com o barulho e sai escondidinha. O repórter José Carlos dos Anjos percebeu e me abordou. Tentou me ajudar, mas, com medo, eu fugi da Redação e só voltei no outro dia, com o texto pronto. O chefe de Reportagem leu a minha matéria e me orientou a aprofundar o assunto. Deu novas dicas de abordagem. Pediu que eu escrevesse três laudas, pois queria uma matéria especial para o domingo. Assim eu fiz. Eu entrei no jornal A ni o na última semana do mês de julho de 1986 e, no dia 3 de agosto, saía a minha primeira matéria assinada. Foi uma emoção.

164 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO ro essores e a ari o A minha experiência como “foca” foi invejável. Quando cheguei em A ni o, encontrei como superintendente Raimundo Nonato Batista. Como já foi dito, Arlindo Almeida, diretor técnico; Walter Galvão, chefe de Reportagem; Carlos Aranha, editor, Josemar Pontes, editor adjunto; Oduvaldo Batista, chefe de Redação; repórteres experientes a exemplo de Sebastião Barbosa e Wellington Farias (Política); Sílvio Osias e Thamara Duarte (Cultura); Geraldo Varela e Marconi Ferreira (Esporte); José Carlos dos Anjos Wallach, Gilberto Lopes, Antônio Costa, Silvana Sorrentino, Clélia Toscano, Jacinto Barbosa (Geral e Cidades). Os fotógrafos eram Germana Bronzeado, Ernane Gomes, Ortilo Antônio, Edilson Bezerra e Arnóbio de Sousa Costa. Land Seixas (diagramador). Trabalhei e convivi também com outros grandes nomes do jornalismo paraibano: Zé Souto, Biu Ramos, Raimundo Nonato Batista, Jório de Lira Machado, cuja reportagem de posse foi da minha autoria. Naquela época foram pra lá: Walter Santos, Luis Eduardo Teixeira de Carvalho, Anete Leal, Baby Neves, Marcos Tavares, Deodato Borges Filho (Mike Deodato). Depois vieram Ana Ponzzi, Maria Helena Rangel, Fernando Maradona (diagramador), Dona Irene, Pequena, Lourdes, Glória (de serviços gerais), Castor (Diagramador); Edgar, Aleilton, Ademar e Djair (motoristas). Era um tempo de efervescência política. Ano de eleição para o governador do Estado, e estavam na disputa dois intelectuais, Marcondes Gadelha e Tarcísio de Miranda Burity. Os “shows-mícios” lotavam praças, logradouros. Grandes personalidades do mundo artístico vinham para animar os comícios. Eu já estava há pouco mais de dois meses no jornal. Comigo mais duas estagiárias, Sátva Nélia Costa e Ana Emília Barbosa. Nós dávamos conta da reportagem de Geral e Cidades no turno da tarde e, apesar de termos direito a receber uma gratificação como estagiárias, a então chefe do Setor de Pessoal, se recusava a pagar. Nesse clima de festa política e insatisfação por falta da gratificação, fui pautada para entrevistar ninguém menos que José Abelardo Barbosa de Medeiros, ,animador do mais popular programa de auditório do país e que, se vivo estivesse, neste mês de outubro de 2017 teria completado 100 anos de idade. Chacrinha estava em João Pessoa para animar o comício de Marcondes Gadelha, que era o candidato da situação. Ao entrevistá-lo, Chacrinha fez questão de dizer que estava na cidade por motivos profissionais e que não conhecia nenhum dos candidatos. Pediu que eu fizesse essa ressalva na matéria.

A UNIÃO 165 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro No outro dia, cheguei cedo ao jornal para redigir. Mas, antes, liguei para o Setor de Pessoal para saber se os cheques meu, de Sátva e de Ana Emília estavam prontos. Se iriam deixá-los na Redação. Fui informada que não e que não receberíamos pagamento nenhum. Para desespero do editor, do chefe de Reportagem e do repórter Zé Carlos dos Anjos, decidi fazer greve e só redigir a matéria depois que pagassem os nossos direitos. Carlos Aranha gritava a plenos pulmões na Redação: Eu quero a matéria do Chacrinha! Eu quero a matéria do Chacriiiiiinha! Eu quero a matéria do Chaaaacccriiiiiiiinha! Walter Galvão tentava carinhosamente me convencer: Princesa, eu prometo que amanhã vou no Distrito Industrial só pegar esses cheques de vocês. Faça a matéria. Já Zé Carlos dos Anjos dizia: Minha bichinha, você está doida. Vão te colocar na rua. Passe-me os dados que eu redijo para você. E eu? Eu dizia que não. Sem pagamento não tinha acordo. Resultado: O superintendente do jornal, Raimundo Nonato Batista, chegou na Redação e encontrou toda a confusão. Quis saber detalhes. Ligou para a chefe do Setor de Pessoal e determinou que ela preparasse três cheques, no valor do Salário Mínimo da época, para pagar as três estagiárias. Quando os cheques chegaram era princípio de noite. Passei as informações para Zé Carlos, que redigiu a matéria. Disse para ele sobre as observações feitas por Chacrinha. No dia seguinte, a manchete do jornal era: ‘Chacrinha afirma que Marcondes Gadelha é o melhor nome”. Foram seis anos de trabalho na “vestuta”, como era carinhosamente chamado o jornal do Governo da Paraíba, que já tinha 93 anos de existência quando ali cheguei para fazer estágio.Nesse período, tive a oportunidade de acompanhar, com o olhar jornalístico, acontecimentos que marcaram a história da Paraíba, do Brasil e do mundo. Durante o tempo em que estive no jornal, foram três grandes greves gerais no Brasil, em que o país ficou totalmente parado: 1986/87/89. Um tempo em que o jornalismo era feito para informar. Havia um pacto entre nós repórteres: trabalhávamos para cobrir exclusivamente os movimentos paredistas para dar-lhes mais projeção. Na Paraíba, nós repórteres tínhamos muito que fazer: as greves pipocavam a todo instante; professores, profissionais de saúde, servidores públicos, motoristas de ônibus paravam a cidade. O curioso é que A ni o, apesar de ser um jornal oficial, fazia toda a cobertura e, como manda o figurino, éramos orientados a ouvir todos os lados envolvidos nos fatos. Em se tratando de um veículo oficial, a estratégia era a seguinte: a manchete era extraída da fala da autoridade governamental inerente ao setor em questão. Trabalhei em A ni o

166 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO de 1986 a 1992, indo depois para o jornal O Nor e, Correio a ara a e Ca o ran o.

isan o na ola Por conta da situação econômica e das medidas tomadas pelo Governo Federal para conter a inflação, o congelamento de salários e de preços, começou a faltar produtos essenciais no Brasil, dentre eles a carne. O então presidente Sarney resolveu importar um lote de carne da Ucrânia, então pertencente à União Soviética, e onde aconteceu o maior acidente nuclear da história, na Usina de Chernobyl. A Europa recusava-se a consumir o produto, por questão de saúde pública. Por A ni o, fiz uma reportagem a respeito de um lote dessa carne que veio para a Paraíba, num frigorífico da Cian que ficava no Conjunto Ernesto Geisel. E lá constatei que o público se dividia: uns comemoravam o fato de ter carne, outros protestavam contra o consumo de um produto suspeito de estar contaminado. No dia em que fui pautada para fazer esta reportagem, cometi uma irresponsabilidade da qual nunca me perdoei. Nos sábados, depois de apurados os fatos, eu e outros repórteres saíamos para tomar uma cerveja. Eu, José Carlos dos Anjos, Ortilo Antônio, o motorista Edgar, saímos para tomar uma, depois de apuradas as informações sobre a carne vinda de Chernobyl. Só que eu exagerei na tal cervejinha. De volta à Redação, no terceiro parágrafo (escrito à máquina de datilografia), simplesmente parei, abandonei tudo e fui pra casa. Houve um corre- corre em busca da tal matéria. José Carlos por acaso viu o papel na máquina com apenas três parágrafos, completou a matéria.

reser an o a e ria Não se pode falar do jornal A ni o sem mencionar o seu rico arquivo de fotografias e documentos. Este depoimento ficaria extremamente defasado se não registrasse o empenho e o zelo com que era tratado este setor. Nossa geração - e outras que nos antecederam e sucederam – são unânimes em destacar a importância do trabalho de Luzia e Aparecida, duas dedicadíssimas servidoras do jornal, que não mediam esforços para manter aquele acervo, um dos mais completos da imprensa paraibana. O arquivo era fundamental para nossas eventuais pesquisas para complementar as reportagens, seja com informações, seja com fotografias. Com toda certeza, aquele arquivo, nem de longe, seria o que é não fosse a dedicação destas duas servidoras a quem A ni o deve muito.

A UNIÃO 167 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro ernan o Mo ra

Re or es e a el o Jornal e Se re

oje é quando? É agora ou já foi ontem? Dia desses ou tempos atrás? Amanhã é daqui a pouco ou demora muito mais? Quem Hdesfaz os nós que o tempo dá? Nós. Einstein, primeiro, e o resto do mundo, depois dele. O tempo é relativo. Alternativo. Cada um faz o seu, de forma intransferível e exclusiva. Modelado, dia a dia. Filósofo de cyber café, um amigo antenado conseguiu ajustar e resumir, pragmaticamente, os três níveis de tempo durante um dia de vida de cada um. Como se fosse: “Todo dia, cada pessoa recebe um cartão eletrônico com 24 horas de crédito, em forma de minutos, com direito a gastar do jeito que lhe convier, ilimitado durante aquele período. Quando bate meia- noite, o cartão zera, as ações do dia são arquivadas e você recebe outro cartão, começando tudo de novo”. Batata! É meio assim, né não? Ontem vira lembrança e o amanhã é impalpável. Sobra hoje para preencher, adornar, sonhar... Untar os instantes em que se vive, incluindo o amanhã que virá e o ontem que se foi. Agrupá-los em forma de vivência – a ciência de cada abelha. O tempo é o combustível que move a história. Pra frente e pra trás. A extensão do distanciamento é o que dá a dimensão do fato. Quanto mais próximo, mais impactante, mais jornalismo. Quando jornais são recolhidos das bancas e noticiários saem do ar, a informação vira fonte, se transformando em tempero para o caldeirão 168 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO das inquietações humanas. Quando hoje vira ontem (ou “hontem”), a responsabilidade dos feitos sociais se transferem para a filosofia, arqueologia, economia, antropologia, sociologia e outras ciências que nos ajudam na busca pela compreensão das horas findas e advindas. Vira história. Unir as duas pontas é tarefa para o “jornalismo histórico”, ramo intrínseco à comunicação social em qualquer era. Utilizar o robusto e precioso acervo do jornalA ni o como base histórica para ampliação de entendimentos variados, seria a principal motivação para o surgimento do “Jornal de Hontem”, hoje. Ontem, aliás (olha a relatividade do tempo aí, gente!). De março a dezembro de 2011, ocupando a última página das edições dominicais do centenário e renovado matutino (que também já foi vespertino), tive o privilégio de assinar coluna abordando aspectos do próprio jornal, moldados em outras épocas, revirando e repaginando assuntos, fatos e pessoas que tiveram alguma influência na formação da Paraíba e do Brasil. Pinçando, com olho pessoal, angulações perdidas entre as milhares de folhas adormecidas nos arquivos do resistente periódico. Fuçando, garimpando, escavacando as entranhas de um dos jornais mais antigos do país em circulação, devendo chegar ao topo em algum tempo a frente. Uma mistura meio antropofágica, metalinguística e narcisista. Espelho de belezas e mazelas de uma sociedade em permanente transformação, como a própria “jovem senhora”. Lente de aumento, por assim dizer. Nada de novo, porém. Muitos outros, bem antes, já haviam identificado esse viés histórico incrustado em meio às palavras impressas, liquidificando temáticas anteriores às suas épocas, contribuindo no movimento dos ciclos, com destaque para Walfredo Rodriguez e Ivan Apremont de Lucena, os dois profissionais mais regulares na função de “redatores históricos” da “Velhinha”. O segundo era meu tio. Talvez venha da convivência próxima esse traço de traça, que corrói horas intermináveis de leituras, poeira e prazeres. Está no sangue. Venho de uma “linhagem” de homens de imprensa, cujo avô, pai e tios trilharam antes, em funções diversas, os degraus do jornalismo paraibano. Mas é do bisavô, Alfredo Moura, fazendeiro e “coronel” em Alagoinha, o lastro material – e lúdico – que resultaria na feição do “Jornal de Hontem”, dentro do formato proposto. Letrado, abastado, influente e correligionário do então presidente João Pessoa, teve o cuidado de assinar A ni o, guardar e encadernar todas as edições de 1930, compondo um tesouro de valor inestimável, único legado que chegaria às futuras gerações do seu vasto e esfacelado patrimônio. Sob minha guarda há mais de três décadas, a coleção seria fonte de leitura A UNIÃO 169 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro constante e serviria de estímulo para dividir seu conteúdo com outros interessados em fatos históricos, que um dia foram jornalísticos. Fiz isso algumas vezes, antes do “JH”. Variados artigos, crônicas e contos foram engendrados tendo a coleção privada de 1930 como fonte permanente de consulta. Entre 1992/93, por exemplo, ao lado de Marcos Tavares, Carlos César, Juca Pontes, Jacinto Barbosa, Itamar Cândido e outros redatores convidados, tanto as edições de 1930, como outras coleções guardadas nos arquivos pessoal e do jornal, foram utilizadas para a elaboração do caderno especial do centenário “órgão oficial”. A experiência deixaria um gostinho de “quero mais” e, dez anos depois, faria a primeira tentativa em publicar material com tal enfoque. Jacinto Barbosa era o editor. De novo. Profissional sensível, também amante da história, regente da sinfonia dos 100 anos, enxergaria em “Jacintão” o parceiro certo para endossar o projeto mirabolante. Arriscaria. Redigi e editei uma página, com ilustrações e tudo, no tamanho “standart”, imprimi, dobrei, coloquei em um envelope médio e segui para a Redação do jornal para vender a ideia ao velho companheiro de jornadas. Ele não estava. Resolvo deixar o envelope em cima de sua mesa, com um bilhete dentro, explicando alguns detalhes e pedindo que ligasse quando lesse. Na frente do invólucro, com letras garrafais, apenas uma referência: “Jornal de Hontem”. Demorou dias. Pelo jeito, o intento não vingara. Toca o telefone. Na outra ponta, Jacinto. Às gargalhadas. Só agora havia visto o conteúdo do envelope e estava retornando, como sugerido. Mas só agora? É. Só abrira naquele momento. Antes, não. Quase jogara no lixo, depois de ler a estranha frase do envelope e concluir, irritado: “Quem foi o analfabeto que escreveu ontem com ´h´?”. Havia sido eu. A saída do editor, mantendo a tradicional rotatividade do cargo, retardaria por mais alguns anos o projeto, que seria absorvido com a mesma cumplicidade e entusiasmo por Ramalho Leite e Beth Torres, superintendente e editora de A União, respectivamente. São uma espécie de tios do rebento parido, exatamente dezoito anos depois de concebido. Nasceria jovem, cheio de vigor e curiosidade. Com a tal fome de traça. O espaço não seria, porém, destinado a contar exclusivamente a história d´A ni o, mas de revolver histórias narradas ou proporcionadas por gerações de profissionais que passearam por suas sedes sazonais, até a chegada definitiva no complexo do Distrito Industrial. Ao folhear as páginas que se seguem, sem obrigatoriedade cronológica, o leitor encontrará fragmentos desses instantes, recheados por múltiplas temáticas, ganhando nova roupagem para o que foi publicado em ocasiões 170 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO dispersas e “deletadas” da lembrança coletiva. Uma salada mista, cujos ingredientes e temperos seriam untados e consumidos por vez, a cada semana, “começando” e se “esgotando” a cada degustação periódica. Quem tiver paciência, vai encontrar nas colunas (ou capítulos) alguma informação reprocessada que poderá servir de base para o aprofundamento do enfoque que aprouver a cada um. Quem, no entanto, precisar de uma “linha de tempo” do jornal de forma mais organizada, terá que recorrer aos trabalhos de Eduardo Martins, Fátima Araújo, José Leal, Carlos Dias Fernandes, Gonzaga Rodrigues, Benedito Maia, Wellington Aguiar, Severino Ramos, José Octávio de Arruda Melo, Nathanael Alves e outros expoentes do jornalismo paraibano, com passagens marcantes pelo matutino, detentores de olhos e mãos que ajudaram a compor a historiografia da imprensa paraibana e da própria A ni o. O “Jornal de Hontem”, em forma de livro, chega para ajudá-los nessa tarefa de erguer catedrais de letras. Ainda que cheio de lacunas. Seria este o ponto onde deveria aproveitar e apresentar as tradicionais desculpas esfarrapadas. Faltou isso, faltou aquilo, foi assim e não foi assado. Besteira. Isso é conversa de quem ainda não absorveu que falhas, brechas, hiatos e omissões fazem parte da natureza técnica e humana de qualquer pesquisador, por mais atento e cuidadoso que seja. Ainda bem que é assim, pois do contrário não haveria espaços a conquistar. Sem desculpas, mas com explicações. Entender um pouco a metodologia adotada no trabalho pode ajudar na compreensão do conjunto. O que saiu publicado em jornal e agora reunido em livro, embora redigido semanalmente, levou dias, semanas e até meses para poder ganhar a densidade informativa necessária à feição do texto. Um tema era imaginado ou sugerido pelos leitores e começava a “prospecção” junto ao Departamento de Pesquisa e sua imensa – embora incompleta – hemeroteca. Luzia Lima, José Ramos e João Pereira de Souza, os atuais guardiões dos tesouros escondidos em espaçosas estantes, são acionados para localizar as coleções do ano em questão. Começa a leitura e termina o sossego. Antes de localizar matérias, artigos, editoriais, fotografias e ilustrações relativas ao assunto intencionado, as surpresas e possibilidades de outras abordagens vão se sucedendo numa velocidade estonteante. O primeiro momento, porém, é apenas de rápida leitura, para identificação dos espaços impressos: quando, em qual página, qual formato e autoria do assunto. As áreas “físicas” são fotografadas, separadas por temas e datas. Concluída a pesquisa daquele ano, tem início a leitura das “fotos- matérias” na tela do computador, selecionadas as que são relevantes e que podem lastrear a próxima coluna. Nem sempre a pauta original A UNIÃO 171 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro ganha contornos definitivos naquele momento, por variadas razões, que podem ir do reduzido tempo disponível do redator para engendrar com clareza informativa e estética os documentos localizados, até o grau de complexidade ou escassez de dados, jogando para uma outra ocasião a possibilidade de reproduzir o assunto. Algo mais curioso, impactante ou “fácil” de montar se impõe com força à percepção do instante e o que era pra ser antes, fica pra depois. Um exemplo, para arremate da sistemática: duas prisões, na década de 1940, noticiadas com estardalhaço pelo jornal, com direito a raros clichês, chamaria atenção pelo inusitado dos crimes. Dois cidadãos pessoenses, um deles funcionário público estadual, de ilibada conduta, foram flagrados, após anos e intensas investigações, por ameaçar e chantagear autoridades e figuras da sociedade local, através de cartas anônimas, escritas de próprio punho, sob as mais esdrúxulas ilações, em linguagem chula e repleta de calúnias, injúrias e difamações. Apenas “pelo prazer de fazer o mal”, conforme registraria A ni o, em variados dias. O funcionário desmascarado, de sobrenome famoso, é afastado das funções, processado, achincalhado e... Não sei o desfecho. Os desdobramentos do caso devem estar lá, espremidos entre as coleções, mas ainda não foram “descobertos”. Aliás, nesse caso específico, gostaria de pular o muro do jornal e localizar os inquéritos, policial e administrativo, buscando dados que possam ir além do divulgado, pois há uma forte possibilidade de ter sido mais uma armação da ditadura Vargas para expurgo de desafetos. Dá para sentir, nas entrelinhas, que há algo por trás dos presumíveis desequilibrados mentais. Em respeito à história e ao leitor do “JH”, o tema só virá à tona quando obtiver elementos suficientes para revisitá-lo, sem o risco de cometer uma injustiça histórica e (re)colocar os personagens e suas famílias em situação de desconforto, caso as suspeitas de retaliação se configurem. Na dúvida, o recomendável é não ultrapassar. As “omissões” surgem dessas e outras dificuldades. Sempre haverá mais assuntos do que espaço para relembrá-los de forma inteligível e livre de perigosos anacronismos. Cada contexto deve, pelo menos superficialmente, ser avaliado e incorporado ao novo olhar, buscando frestas ou saliências que ressaltem o assunto ou personagens. São milhares, milhões de possibilidades, que levaria – ou levará – muitos anos para descortinar seguramente. Haja espirro. Profissionais, por exemplo. Embora pretenda, ainda não foi possível localizar ou citar todos os nomes que ajudaram a prolongar a existência do jornal, sejam como repórteres, editores, superintendentes ou outra das dezenas de funções necessárias para 172 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO colocar o produto em circulação. Dia desses, ao relembrar a faceta inteligente e sarcástica do “Jornal do Otávio Monjardim”, pseudônimo de Ipojuca Pontes, cuja coluna foi publicada entre o início e meados de 1971, um leitor de Campina Grande escreve entusiasmado e-mail, pedindo mais “Monjardim” e cobrando a presença de outros nomes que circularam “com graça” pelos espaços renováveis do matutino, como Abmael Moraes (“Perfis de corpo inteiro”), Anco Márcio (“Romance da Cidade”), Marcos Tavares (“Pão & Circo”), Suzana Goreth d´Almeida, Gilton Lira, Tônio, Deodato Borges (pai e filho), Domingos Sávio, Joana Belarmino, Unhandeijara Lisboa e outros refinados cronistas das letras e das artes. Algumas pinceladas sobre parte desses passageiros dos tempos poderão ser encontradas nas próximas páginas. De muitos, o material ainda está no estaleiro. Um dia singrarão os mares revoltos da história futura. Por enquanto, hibernam entre as gélidas paredes do esquecimento involuntário. Mas o forno está esquentando. Para que o trabalho, porém, venha se tornar menos disperso, além das fases distantes, ainda há muito chão a percorrer para dar conta de períodos completos, envolvendo as editorias, pelo menos, de minha geração, a partir de 1980, sob o comando de Agnaldo Almeida (1975- 1982, 1986), Walter Galvão (1982), Pedro Moreira (1982), Werneck Barreto (1983), Nonato Guedes (1984), Antonio Costa (1984, 1996-2000, 2002), Arlindo Almeida (1985, 1996), Barreto Neto (1985), Silvio Osias (1986, 2010), Fernando Melo (1986), Carlos Aranha (1986), Josemar Pontes (1986), Walter Santos (1987), Eduardo Carvalho (1987), Jacinto Barbosa (1988, 1992, 1994, 2003), Anette Leal (1988), Oduvaldo Batista (1988), Rogério Vidal (1988), Silvana Sorrentino (1991), Ademilson José (1992), Carlos Vieira (1992), Baby Neves (1992), Fernando Moura (1993), Luiz Carlos Nascimento (1994), Joanildo Mendes (1995), Carlos César (1996, 2005-2009), Nonato Bandeira (1996), Eduardo Carneiro (2000), William Costa (2002), Patrícia Teotônio (2003), Cícero Félix (2005), João Evangelista (2009), entre outros de passagem relâmpago, como a de Jorge Rezende, editor por 48 horas em 2003, o imbatível recordista (em pitoresco episódio que ainda será narrado, por ele ou pelo “JH”), e de chefes de redação anteriores ao off-set, como Gonzaga Rodrigues, Marcone Cabral, Martinho Moreira Franco e alguns “ancestrais” que a memória esfacela e a pesquisa carece. E as grandes reportagens, os textos rebuscados, o faro para a notícia de um Pedro Moreira, Gilvan de Brito, Diógenes Brayner, Wellington Farias, Hilton Gouveia ou Antonio Hilberto? E os repórteres fotográficos? De Machado Bitencourt a Marcos Russo, passando por Antonio David, Ortilo, Bezerra, Arnóbio, Ernane, Ovídio, Gustavo, Olenildo, Helder, Edmundo, Edilene e tantos outros A UNIÃO 173 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro congeladores de rotinas e retinas? Como contemplar essas variadas facetas? Como descortinar fazeres, saberes e olhares, com a crucial reunião e absorção de dados, se não for com o necessário rigor científico e paciência religiosa? Desconheço outra trilha que não seja a insistência, com a necessária dose de loucura, instigadoras de voláteis prazeres, nos doces segundos que escorrem entre as partes da ampulheta. Elos indivisíveis e nem sempre identificáveis das pontas das horas. “Tempo, tempo, tempo, tempo...”. A rigor, não se trata apenas da reprodução de cenários sociais chancelados em papel, chumbo e tinta, mas do registro de emoções despejadas nos diagramas em branco. Em depoimento a Eduardo Martins, para o livro “A União – Jornal e História da Paraíba”, de 1977, Antonio Barreto Neto resume um pouco as agruras e paixões que sempre moveriam os “fazedores” do jornal, fosse um porteiro, como Antonio Menino (“...amando o humilde cargo como quem está ´gamado´por uma mulher bonita; sempre de colete, gravata, todo de branco...”, segundo relembra Antonio Brayner, no mesmo livro), ou um diretor do porte de Barretinho, que começou na “Velhinha” ainda como revisor, concluindo sua trajetória terrestre como um dos ícones eternos do jornalismo paraibano:

“(...) Durante mais de ano e meio mantive aos domingos um caderno especial onde se podia ler sobre literatura, cinema, histórias em quadrinhos, televisão, artes plásticas etc. Caderno do qual eu mesmo era colaborador, editor, planejador, diagramador e ainda ia para as oficinas paginar. Nas oficinas... quantas vezes varei madrugadas lutando contra a má vontade de uns, o desânimo de outros e a insatisfação da maioria, para superar imprevistos não pouco frequentes, como uma peça quebrada da impressora ou dos linotipos. Na minha gestão, aliás, estive mais nas oficinas do jornal do que no meu gabinete de diretor. (…) Mas, a despeito da amarga experiência do último cargo, não guardo mágoas da velhinha. Afinal, ela foi minha escola de jornalismo e de vida”.

Dessa forma, senhores e senhoras, leitores e leitoras, contumazes ou eventuais, sugando e soprando vida pelos corredores da eterna escola de jornalismo paraibano, que o “Jornal de Hontem” se veste de “Jornal de Agora” e “Jornal de Sempre”, transferindo para o suporte perene episódios marcantes e casos banais, oriundos das variadas visões dos incontáveis segmentos e contingências sociais de cada época registradas pel´A ni o. Sem, necessariamente, buscar agradar ou desagradar, atacar ou defender ninguém nem algo 174 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO específi co, mas trazer, sem amarras ou censuras de qualquer ordem, elementos informati vos que possam ajudar, nos dias que seguem, a estudantes, professores, pesquisadores, jornalistas, historiadores e o público em geral a reunir “pistas” de tudo que possa ser aprofundado e esclarecido, em tantos quantos recortes possam originar tais enfoques neojornalísti cos, com as necessárias pinceladas históricas. Menos pelo que fez e mais pelo que recebeu, A ni o devolve à Paraíba, em forma de presente atemporal, nesta passagem por seus 119 anos de existência – quase – ininterrupta, uma migalha do carinho e respeito amealhados por tantas gerações, entre acertos e deslizes, afagos e açoites, mas invariavelmente compromissada com a formação cultural do povo que decidiu emoldurá-la como patrimônio inquebrantável. Hontem, hoje e pelo tempo que for. Parabéns, leitores! Esta história é de vocês. E ponto parágrafo.

NOTA: Texto extraído do livro ‘Jornal de Hontem – A União e as curvas do tempo’, de Fernando Moura, publicado em 2012

A UNIÃO 175 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Cristiano Machado

N’A União: três etapas distintas

jornalista Josélio Carneiro presta um valioso trabalho à história e memória da cultura paraibana ao compilar depoimentos de O profissionais de imprensa com passagem no mais charmoso órgão de comunicação do Estado, o jornal A União. Idêntico trabalho ele fez recentemente envolvendo a Rádio Tabajara, merecendo os aplausos pela louvável iniciativa. Por sua insistência, abreviamos nossa passagem por aquele órgão oficial, uma verdadeira escola em todos os aspectos. Minha vida em A União foi curta, mas prazerosa. Ocupei cargos distintos em períodos alternados. Fui repórter, ainda muito verde, praticamente no início da carreira, embora já atuasse na mesma função no jornal Correio da Paraíba. Era segunda metade da década de 80 e a Redação da empresa funcionava na antiga sede da Saelpa, no centro da capital. Foi uma passagem rápida, obedecendo a linha editorial do ‘feijão com arroz’ na cobertura política da Assembleia Legislativa, ou seja, prestigiando os parlamentares da bancada governista - os aliados do governador de plantão – e sacudindo brasa no terreiro adversário. Hoje é diferente, claro. Os espaços contemplam todas as correntes de pensamento, mesmo sendo um jornal mantido pelo poder público. Não demoramos muito e retornamos quase dez anos depois, agora na condição de colunista político.

176 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Assinamos uma coluna diária que rendeu processos, ameaças, inveja, mas não em proporção maior que os elogios e reconhecimento no âmbito do Legislativo Federal, Estadual e Municipal, premiações de entidades e, evidentemente, ao contributo contra a teoria dos propagadores da inverdade de que “A União ninguém lê”. Nossa etapa derradeira no jornal A União foi como diretor administrativo, nomeado pelo governador José Maranhão, em 2009. Lisonjeado pela escolha, fizemos por onde honrar a confiança depositada pelo chefe do Executivo, um dos homens públicos mais sérios e respeitados dessa Paraíba. Nada nos faltou enquanto exercemos a direção do órgão. Realizamos um investimento amplo no âmbito da empresa, tanto na sua estrutura física quanto na valorização pessoal dos servidores, oferecendo condições dignas de trabalho e restaurando um parque gráfico até então obsoleto. Adquirimos equipamentos novos de computação, construímos um Auditório, um Centro Administrativo; uma ala de enfermaria para primeiro socorros; reformamos o restaurante; ampliamos a Redação; renovamos toda a rede elétrica e hidráulica, à época comprometida; compramos fardamento para todos os funcionários; enfim, muitas ações positivas, em pouco mais de um ano de governo, que resgataram a vida da empresa e fez aflorar o orgulho dos que nela trabalhavam. Foi um trabalho em conjunto, que tinha Nelson Coelho como Superintendente e Milton Nóbrega e Welinton Aguiar (depois João Pinto) nas duas outras diretorias. Pois bem, no momento em que Josélio não deixa passar em branco os 125 anos de existência do terceiro jornal mais antigo do Brasil, movido pela emoção e certo saudosismo, me associo às todas comemorações, porque guardo com momentos marcantes em todas essas etapas vividas, especialmente pela construção de amizades até hoje consolidadas e pela certeza de que, ao longo dessas décadas, contribuímos de qualquer forma, embora que minimamente, para solidificar essa estrutura invejável que é hoje A UNIÃO.

A UNIÃO 177 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Sa a Cos a

A União, minha escola na prática

ano era 1986. Dois anos antes, eu havia ingressado no Curso de Comunicação Social da UFPB. A redação do Jornal A União O funcionava na General Osório, no Centro, e eu ouvira falar que o jornal estava “pegando” estudante de Jornalismo para estágio não remunerado. Não remunerado? Pensei. Mas eu tinha ouvido falar que A União era a escola e lá se aprendia Jornalismo na prática. Era o que eu precisava. E numa tarde qualquer, envergonhada, entrei naquele ambiente desconhecido cujo silêncio era quebrado pelo barulho das máquinas Olivetti. Não sabia com quem falar nem quem procurar. Cida e Luzia, arquivistas, me socorreram (elas contam melhor essa passagem da minha vida). Me perguntaram o que eu queria e fui logo dizendo: quero trabalhar. Me mandaram falar com Walter Galvão, que era o chefe de Reportagem. A conversa com ele não foi longa, e a partir dali, estava estagiária da melhor escola de Jornalismo da Paraíba. E comigo duas outras estudantes Eloise Elane e Ana Emília Barbosa. Foi um tempo de grande aprendizado e muitos desafios vencidos. Conheci muita gente boa como pessoa e como profissional. Rogério Vidal, Land Seixas, Tião (diagramador), Luiz Eduardo Teixeira de Carvalho, Josélio Carneiro, Thamara Duarte e tantos outros que faz anos que não os vejo, mas, sei, estão bem. Na minha memória, guardo com cuidado Jacinto Barbosa, Biu Galinha, Castor e Wellington Seixas. Que época boa!

178 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO or al er San os

A UNIÃO: história do Jornalismo paraibano, o ras ar ens e ossi ili a es

os jornais impressos da Paraíba, A UNIÃO poderia sempre ser considerado o veículo oficial de Governo com melhor definição Deditorial, como faz a Rádio Tabajara no campo radiofônico. Ao compreender bem esta postura política, fica fácil identificar a linha distinta do jornal diante de outros meios tão alinhados quanto, embora tipificados de independentes. Ao assumir a Editoria do Jornal no Governo Burity em 1987, creio que por indicação de Martinho Moreira Franco, querido amigo, grande pensador e o melhor dos ombudsmans mesmo quando em alinhamento oficial, pude entender melhor as outras possibilidades de A UNIÃO, sobretudo na cultura, nos esportes e outras editorias longe da política em si. Não é à toa que o Correio das Artes sempre esteve como referência nacional de alto nível atraindo os melhores ensaios dos Intelectuais da Paraíba e de fora dela, logo este modelo de abrigar as vertentes longe da política faz de A UNIÃO a sabedoria viva do Estado. Este é o legado que me fez enxergar melhor a vida profissional com sentimento pleno da realidade na qual a liberdade de imprensa

A UNIÃO 179 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro tão decantada nos bancos escolares e universitários não passa de um anseio imortal e longe de realismo factual porque, como diria Cláudio Abramo, “não existe liberdade de imprensa, e sim liberdade de empresa”. Foi este conjunto de valores alinhados aos tantos conceitos de imprensa convivendo com pautas oficiais diárias que melhor me senti na condição de editor geral com uma equipe de profissionais de alto nível porque nunca convivi com traumas conceituais. Em sendo assim, forte mesmo foi aprender com tantos ícones da imprensa de todos os tempos sempre buscando a qualidade no trato da edição das matérias ao final fazendo de A UNIÃO uma grande referência de meio impresso de comunicação. No novo tempo Digital, é importante atestar o esforço especial da nova safra e geração gestora na pessoa de Albiege Fernandes para inserir o Jornal no mesmo patamar de plataforma eletrônica, embora nada diferencie A UNIÃO que não seja pelo papel editorial de veículo governista bem definido sempre investindo em cultura e educação sem igual.

180 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Joanil o Men es

O ia e e Mari e ono o SE e A União fez história

TSE, retrato e imagem das elites brasileiras, pusilânime, torpe, rendeu-se ao fascínio dos holofotes da televisão, “O armados em plena sessão do tribunal, como se aquilo fosse um circo e não a mais alta Corte de Justiça do país. O TSE rendeu- se à pressão dos interesses escusos, dos separatistas que pregam a divisão, a fragmentação do Brasil, para expulsar-nos como párias da nacionalidade – nacionalidade que é mais nossa que deles. O TSE rendeu-se à cruel barbaridade desses interesses, cassou o registro de Humberto. Um único juiz, o ministro Diniz de Andrade, teve a altivez, a hombridade, a coragem moral de ir contra tudo e contra todos, sustentar a lei e proclamar a inocência de Humberto. Esse homem honra a Justiça brasileira e resgata a credibilidade do Poder Judiciário em nosso país”. “Convoco a Paraíba a manifestar-se publicamente contra essa decisão imoral do TSE. Não foi Humberto a vítima dessa violência. Agredida e insultada foi a Paraíba. As elites brasileiras querem fazer do Nordeste a senzala de escravos para a mão de obra de suas indústrias. Querem que o Nordeste seja a África antiga onde se pilhavam escravos. O crime de Humberto é ser paraibano, é ser nordestino, é ter ousado presidir o Senado da República. Uma justiça que só mete na cadeia os negros, os pobres e os nordestinos não merecem o respeito das pessoas decentes”

A UNIÃO 181 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Nonato Guedes, Governador Mariz, Joanildo Mendes e Nelson Coelho.

Esses são alguns trechos do discurso antológico intitulado “Agredida e insultada foi a Paraíba”, feito pelo então senador e candidato ao governo da Paraíba, Antônio Mariz, em defesa do senador paraibano Humberto Lucena na sessão do dia 14 de setembro de 1994 da tribuna do Senado Federal, protestando contra a rejeição do registro da candidatura de Lucena à reeleição e acusando ainda o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de encobrir “corruptos e punir os homens de bem”. Nesta época eu estava na editoria geral do jornal A União, sob o comando do jornalista Nonato Guedes, como superintendente, no governo de Cícero Lucena que havia assumido o poder com a saída do governador Ronaldo Cunha Lima para disputar uma vaga no Senado. Esse discurso foi motivo de apreensão nos meios jurídicos, políticos e de comunicação da Paraíba. Uns defendiam que A União publicasse na íntegra o discurso do senador e outros eram totalmente contrários à sua publicação, uma vez que atingia o alto escalão da Justiça Eleitoral brasileira. O coordenador de comunicação do Estado da época me ligava pedindo para não publicar o discurso, enquanto que o assessor do senador Mariz solicitava que fosse publicada a íntegra da insatisfação

182 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO do senador paraibano de toda maneira. Entre a cruz e a espada, pedi ao diagramador Fernando Maradona, que “descia” a primeira página do jornal comigo, para colocar o discurso em duas páginas, ao mesmo tempo em que solicitava aos editores setoriais que fizessem outras duas páginas de matérias nacionais, uma vez que o tempo passava e não podia ficar com o jornal aberto. Entre ligações de um e de outro, eis que, para minha surpresa, quem me liga é o próprio senador Antônio Mariz pedindo para que fosse publicado o discurso dele. Já com a voz meio embargada, devido ao fumo e à doença que já o acometia, Mariz disse do outro lado da linha: “Joanildo, Humberto não merece o que estão fazendo com ele. A Paraíba não pode se dobrar e A União precisa ser essa voz que ecoa em nome dos paraibanos”. Não precisava dizer mais nada. Ou precisava? Liguei para o coordenador de comunicação e comuniquei que o discurso seria publicado na íntegra a pedido do próprio Mariz. A resposta que recebi foi a seguinte: “Se Mariz quem pediu, quem sou eu para contestar?”. E foi assim que foi escrita uma das páginas, aliás, duas das páginas mais delicadas e históricas do jornal A União. Por duas vezes assumi a editoria geral do jornal, em 1993 e em 2016, nos governos Cícero Lucena e Ricardo Coutinho. Existem outros fatos marcantes e muitas outras histórias para contar que dariam um livro, mas o espaço aqui é do jornalista Josélio Carneiro que mantém viva a história da comunicação paraibana.

A UNIÃO 183 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro io anni Meireles

Jornal “A UNIÃO” minha porta de en ra a na i rensa arai ana

o dia 30 de setembro de 1987, o então superintendente de “A União” – Imprensa e Editora, Jório de Lira Machado (já Nfalecido), me designou para exercer as funções de redator- correspondente no município de Sapé, minha terra natal. Fiquei nessa situação funcional até o dia 22 de fevereiro de 1988, quando todos os colegas da época foram incluídos por decisão do governador Tarcísio de Miranda Burity no Quadro Especial da Secom (Secretaria Extraordinária de Comunicação Social do Estado), passando a condição de Servidores Estatutários Permanentes do Estado da Paraíba. Deve-se este benefício ao presidente do Sindicato dos Jornalistas, Land Seixas, que após muita luta e reivindicação, conseguiu que fôssemos incluídos no Grupo Ocupacional Divulgação e Promoção (DPS), no cargo de Repórter, Classe A, em 08 de maio de 1990. A atriz Cryselide Barros, chefe do Núcleo de Posse e Informações Cadastrais foi quem assinou esta anotação em nossas fichas de serviço. O superintendente Severino (Biu) Ramos foi quem declarou nosso exercício funcional junto à comissão de enquadramento da Secretaria de Administração do Estado, permitindo ganharmos matrícula e lotação no Departamento de Pessoal e consequentemente espaço garantido na Folha de Pagamento do Tesouro Estadual, desde 28 de março de 1990.

184 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO 1988 - A partir da esquerda: Carlos Vieira, Giovanni Meireles, Dinalva Ferreira, Costa Filho e Carlos Cavalcanti

Já na gestão do superintendente José Souto (falecido) tive a honra de substituir meu companheiro de profissão Luiz Carlos do Nascimento Souza, por duas vezes, temporariamente durante suas férias regulamentares, como Chefe de Reportagem, em novembro e dezembro de 1990 e depois entre fevereiro e março de 1991. Em 15 de março deste mesmo ano, tomou posse substituindo Tarcísio Burity, o governador eleito Ronaldo Cunha Lima (lembre- se que a posse naquela época era no dia 15 de março e a data da eleição era 15 de novembro do ano anterior). Em 10 de abril de 1991 fui designado pelo superintendente de saudosa memória José Itamar Rocha Cândido para ocupar efetivamente o cargo em comissão de chefe de Reportagem. O diretor-técnico era Geovaldo Carvalho (depois substituído por Jacinto Barbosa e Anco Márcio de Miranda Tavares, estes últimos, ambos já desaparecidos da face da Terra). Quando cheguei para ser repórter de cidades e notícias gerais, meu chefe e pauteiro era Wellington Farias (#Fodinha), às vezes substituído interinamente por Emmanoel Nazareno de Noronha. Meus parceiros num carrinho Gurgel que mal cabia nossa equipe completa, dirigido por Seu Aleilton (#Madeira), naqueles tempos primordiais quando aprendi a andar pelos mais escondidos buracos recônditos, recantos e reentrâncias da A UNIÃO 185 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro periferia da cidade de João Pessoa, perdendo minha inocência de correspondente no interior do Estado, eram Eloise Elane, José Eugênio, Lílian Moraes, Sandra Vieira, Ernane Gomes (#Bola), Antônio David e Ortilo Antônio (#Serra Pelada), entre outros repórteres e fotógrafos. Quando eu mesmo assumi a chefia de Reportagem, tive o orgulho de contar com a colaboração dos recém-formados jornalistas pela UFPB e alguns antigos colegas de batente, como Maria Helena Rangel, Anna Ponzzi (que então tinha sobrenome Ponce), Jaquilane Medeiros, Walter Rafael, João Evangelista. Turma muito boa e cheia de alegria ao exercer as suas respectivas atividades profissionais. Era tempo de sonhar com melhores dias. Fiquei por lá até o dia 15 de dezembro de 1995, quando fui nomeado pelo governador José Targino Maranhão para assumir a Coordenadoria de Comunicação do Gabinete Civil do Palácio da Redenção, com status de Secretário de Estado, tendo como adjunta Baby Neves. Ficamos nesses cargos até o Dia da Mentira (1º de abril de 1999), quando essa estrutura administrativa foi extinta, sendo substituída pela atual Secom – Secretaria de Comunicação Institucional. Não posso terminar essas minhas lembranças sem falar em companheiros de trabalho que marcaram época junto comigo nas manhãs, tardes e noites da Redação do jornal “A União” na Rua Prefeito Oswaldo Pessoa, localizada no bairro de Jaguaribe, onde anteriormente havia funcionado a churrascaria Marambaia, nos anos 1970 e depois funcionaria a FAC (Fundação de Ação Comunitária) nos anos 1990/2000. De cabeça, rebuscando a memória, me lembro de Mike Deodato Borges (hoje desenhista do Incrível Huk, Batman, Mulher Maravilha, etc, nas editoras norte-americanas DC Comics e Marvel, por exemplo), Thamara Duarte, Silvana Sorrentino, Ademilson José, Rogério Vidal, Hilton Gouveia, Antônio Costa, Ricardo Anísio e os imortais Oduvaldo Batista, Maviael de Oliveira, etc, com quem dividi a editoria de conteúdo do Caderno C e Jornal de Domingo, durante minha passagem pela “A União”.

186 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Ja in o ar osa (In memórian) Uma Rádio chamada Esperança

Reportagem publicada em A União no ano de 1987

inte e cinco anos após a sua emancipação política, a cidade de Esperança, com um pouco mais de 10 mil habitantes, já se Vouvia pelas ondas do rádio. Não era uma Tabajara, Caturité ou a Cariri de antigamente, mas chegava aonde queria. Atingia os ouvidos de quem de fato pretendia. E até que incomodou o regime político da época, ao dar informações do Partido Comunista. “A gente recebia jornais tidos como subversivos e lia os artigos e todas as matérias “, lembra Ernani Santos, o pioneiro da radiodifusão esperancense. Mas essa ousadia lhe custou caro. Uma vez, o Exército de Campina Grande recolheu todos os equipamentos da Rádio Cultura de Esperança, sob a acusação de ser um veículo comunista. Ernani jura que as Forças Armadas estavam enganadas e garante que houve um certo exagero. “A gente fazia uma rádio independente. Eu lia notícias da UDN, do PSB e também do Partido Comunista. Mas o que não agradava aos homens, teria que ser descartado”, recorda. Essa foi uma página negra da radiodifusão de Esperança, mas que não conseguiu matar a sede de comunicação do proprietário. É tanto que hoje, depois de anos e mais anos fora do ar, Ernani sonha em voltar a usar o microfone e informar e prestar serviço à comunidade. Agora, em outros ares, em outra cidade. Um

A UNIÃO 187 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro pouco distante daquela que, pela primeira vez, instalou o Serviço de Alto Falante Voz Livre de Esperança. E que de lá viu seus sonhos sendo carregados nos braços dos homens vestidos de verde-oliva. O silêncio só não foi maior porque, pouco tempo depois, teve seus equipamentos de volta. A rádio renascia, não mais como porta-voz das minorias políticas, mas como um veículo a serviço do povo e ao bem da coletividade. Areial, um ex-distrito, detém hoje em dia o passe do mestre da radiodifusão esperancense. Não por opção, mas por necessidade. “Eu optei por Areial, porque enveredei pelo ramo do comércio”, lembra. Isso, desde 1982, quando a rádio, de fato e de direito, emudeceu. “Era o fim de um trabalho de mais de trinta anos”, assegurou Ernani. Nesse período, a cidade se deixou embalar pelo melhor da Música Popular Brasileira. Por lá, Dalva de Oliveira fez a festa ao interpretar, quase todos os dias, “Bandeira Branca, Francisco Alves, Orlando Silva, Elizete Cardoso e tantos outros, que detinham cadeiras cativas. Parecia a Rádio Nacional”, exagera. Só que essas estrelas surgiam da cera, rodando sem parar, e em até 78 rotações.

AS O ES DA RADIO ONIA

A cidade, em 1952, também tinha poucas ruas. A principal – que até hoje não perdeu a majestade – é a Manoel Rodrigues. Em toda sua extensão, projetores de som foram espalhados a cada 500 metros para levar o melhor da programação de Ernani Santos para a comunidade esperancense. Nos pontos estratégicos da cidade, difusoras potentes, na época, davam as boas-vindas à comunidade. E a voz, inconfundível, era do locutor Pedro Barbosa – o Pedoca, para seus fãs. Ele sempre foi o faz de tudo na comunicação da cidade. É verdade! Foi o primeiro a integrar o elenco do Serviço de Alto Falante Voz Livre e, também, foi a sensação da ACY 7 a adentrar em todas as casas da cidade, com sua voz grave, ora oferecendo música, ora informando. Até nas publicidades, a voz era dele. Nos velórios, também. E ainda hoje Pedro continua sendo ouvido pelos quatro cantos da cidade. Discreto e já não tão jovem como antigamente, Pedoca parece que está com a vida que pediu a Deus. Mora quase na zona rural de Esperança, acorda cedo e vai para o trabalho, a pé. Não tem pressa para chegar; muito menos para sair. Mas sai! Agora, ele tem o seu próprio negócio.

188 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO E assim como Ernani, seu ex-patrão, Pedro Barbosa está começando de novo na radiodifusão. E como não poderia ser diferente, mantém hoje um serviço de alto falante no Mercado Público. A clientela ainda é pequena, mas já é o suficiente para se manter e levar a vida como sempre quis: se comunicando. Uma outra cria de Ernani Santos, hoje está completamente afastada do meio. É Cláudia Ana, famosa também pela voz e pela dedicação ao trabalho. Ela e Pedro sustentavam a Rádio. Desde os 14 anos que Ana se integrou à comunicação. No seu tempo, por exemplo, Benito de Paula explodia de tanto sucesso. Evaldo Braga era o ídolo negro. E Ana parecia a porta-voz deles todos os dias. O seu jeito fácil de fazer rádio lhe rendeu outros empregos. Campina Grande foi seu último porto-seguro. Hoje, está casada e o rádio é coisa do passado. Programas de auditório, talentos revelados e uma saudade que resta. A ousadia ou paixão pelo rádio praticamente consumiu a vida de Ernani Santos. Era só no que ele pensava. Um dia, partiu para o grande desafio como empresário da comunicação: criar um auditório e reunir os artistas da terra. E não deu outra. O local escolhido foi a Rua Epitácio Pessoa, ou Rua do Boi, esquina com a Manoel Cabral. Logo no início, os prêmios eram pequenos brinquedos que mais funcionavam como incentivo. Em poucos dias, a casa estava cheia. Por lá passaram muita gente que fez da música a razão de suas vidas. Euclides Rodrigues, um violonista nascido em Esperança, é um exemplo dessa época. Pepê e Zé Cabugá, que cantavam músicas românticas, encantavam os ouvintes. Às sextas-feiras, na ACY – 7, amanheciam em festa. Difícil imaginar, mas em Esperança era assim. Em 1959, a rádio surgia. O governo era o de Pedro Gondim. A rádio estava chegando ao sexto ano quando foi retirada do ar. Um novo tempo e tudo voltava ao normal. Não mais como uma rádio, mas como um serviço de Alto- Falante. Nascia aí a Voz Independente de Esperança, criada a imagem e semelhança da Voz Livre, tudo como antigamente. Ernani Santos, aos poucos, recuperava o seu maior patrimônio e dava adeus ao regime que, segundo ele, tanto perseguia o comunicador. E como Voz Independente, Esperança foi ouvida até 1982. Daí pra frente, o silêncio tomou conta das ruas. Os quase dois mil e quinhentos discos, muitos deles de cera, foram doados e devem

A UNIÃO 189 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro estar fazendo a alegria de outras comunidades. “O tempo hoje é outro”, assegura Ernani. É! Mais de uma coisa todos podem ter certeza: esse novo tempo começa a surgir com todo o vigor na pequenina Areial, através de uma rádio comunitária que já está no ar. Mas para Ernani isso não é tudo, ele quer mais! Quer uma FM. “Quando eu ati ngir esse objeti vo, acho que estarei realizado”, afi rma. Enquanto esse sonho não vira realidade, Ernani vai tocando a vida em seu mini-mercado, na rua principal da cidade. Mas a lembrança de Esperança, do auge da radiofonia, não lhe sai da cabeça. “As vezes eu até consigo escutar tudo o que a gente fazia, lá naquela cidade, há cinquenta anos, como se fosse hoje”, recorda. - Assim, eu vou matando a saudade!

190 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Clélia os ano

A União: novinha em folha

essa escola de jornalismo chamada “A União” chequei nos idos de 1984, pelas mãos do jornalista Jacinto Barbosa, deixando Npara trás a Secretaria de Estado da Comunicação (SECOM), meu primeiro local de trabalho e emprego. Nascia, a parti r daí, uma grande história de amor e respeito àquela que me acolheu e me ensinou um pouco de tudo e do que seria imprescindível saber dos meandres da ati vidade de jornalismo. Tenho saudades desse tempo e orgulho de ter parti cipado, mesmo por um período não muito longo, de uma história de vida de um veículo de comunicação com mais de cem anos e que conti nuará sendo a escola de muitos que ainda virão. O meu vínculo com o jornal “A União” vem da época de estagiária do Curso Comunicação Social da Universidade Federal da Paraíba. O local era a Rua João Amorim, por trás do Supermercado Bompreço, em Jaguaribe. Da João Amorim, o jornal passou para a Rua General Osório, na anti ga Biblioteca Estadual, onde funcionou por uns tempos. Nessa época, já grávida, de pouco mais de três meses, o pai da criança e meu chefe de Reportagem, Jacinto Barbosa, dava-me a primeira pauta do dia: cobrir uma rebelião na Penitenciária Modelo Desembargador “Flósculo da Nóbrega”, (Presídio do Roger). Escola é escola, professor é professor e aluno nenhum deve ti rar-lhe a autoridade. A presença de uma jornalista grávida em um ambiente hosti l de dezenas de rebelados, assustou os policiais de plantão que tentaram,

A UNIÃO 191 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro a todo custo, impedir minha aproximação. De nada adiantou. No dia seguinte estava lá a notícia, manchete principal de capa do jornal, ‘A União’ competindo como sempre fez e de igual para igual com os demais matutinos da época. Hoje muitos de seus concorrentes já nem existem mais, a exemplo de O Norte, O Momento e do Jornal da Paraíba. O jornal A União passava por mais uma mudança. Ao ser transferido, desta vez para a rua Guedes Pereira(Centro), em um dos pontos centrais da cidade, perto de tudo, dos fatos e da notícia. O prédio era aquele que acomodou por vários anos, a extinta Sociedade Anônima de Eletrificação da Paraíba (SAELPA), hoje Energisa, delá saindo para a Rua Professor Oswaldo Pessoa, em Jaguaribe. Mais uma vez, estávamos na mesma localidade, no mesmo bairro. Não demorou muito e mais um voo era alçado pela mais que centenária A União, na conquista de sua sede própria e última morada: o Distrito Industrial, no Bairro das Indústrias. Os seus alunos, esses, com certeza, vão passar mas, a velha professora de muitos, essa será eternizada, como diria o cantor Belchior, “na parede da memória” daqueles que ainda estiverem por aqui folheando, matinalmente, suas páginas, fazendo e lendo sua história. Neste mês de fevereiro de 2018, seu aniversário, a mais respeitada das professorinhas que se tem notícia por essas bandas, completa 125 anos. A caminhada foi e continuará longa, porém, trilhada e acompanhada por aqueles que verdadeiramente lhes admiram não só pela sua história mas, também, mas pelo propósito que norteou ao longo de décadas: contribuir para a formação de profissionais da comunicação de forma séria competente e responsável. E foi com essas virtudes que ela se expandiu, se modernizou, acompanhou as mudanças tecnológicas entrou na era da informática. Voou alto, coloriu suas páginas como forma de mostrar à Paraíba e ao mundo, a nitidez do azul do céu e o verde do mar das águas das praias do Litoral Sul e Norte do Estado e aonde o sol nasce primeiro. Mudou de visual, ganhou ainda mais o respeito e a admiração de todos. Correu estradas para levar ‘notícias’ aos leitores por meio de suas páginas de Esportes, Lazer, Economia, Cultura, Social, Política e, também, as ‘Notícias Militares´, trazidas pelo então colunista Maviael de Oliveira, na sua coluna diária. Nesta data de festa, leitores de todos os recantos da Paraíba têm, hoje, todos os motivos para aplaudi-la de pé e orgulhosos, como eu, de ainda estar por aqui e poder apagar as ‘velinhas’ e cantar com 192 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO vaidade: Parabéns pra você, nesta data querida. A professorinha mais que centenária é merecedora de congratulações e felicitações pelo seu dia. Na verdade, as nossas histórias se entrelaçam por fatos marcados de bons e maus momentos. Era 19 de maio de 1984, quando tive que amargar a tristeza de ver publicado em uma de suas páginas, a de Política, de ‘A União’, a seguinte notícia: Coração mata no Santa Isabel vereador Toscano Gomes, meu pai. Os corredores da Redação, esses, também, testemunharam sussurros de conversas felizes: momentos bons de adaptação, aprendizado, novos amigos e realização profissional, que ficaram enraizados. Ouviram risos, compartilhamentos meus e de Silvana Sorrentino com a expectativa da chegada de nossos bebês Vinícius e Tiago, prestes a nascerem. Meses depois, para minha tristeza e de Jacinto, veio o nascimento seguido da morte de Vinícius. Aceitamos resignados a vontade de Deus, não perguntamos o porquê? Com o tempo, fomos recompensados com a chegada de Ana Carolina que veio alegrar as nossas vidas. E outro fato que também fez parte, à época, do contexto dessa história contada em uma página de A União foi a publicação de um texto do jornalista Jorge Oscar Fuchs, intitulado: O casamento de Jacinto, que passo a transcrever um pequeno trecho para que ele fique sempre guardado na memória das centenas de amigos. “E o Jacinto vai casar. Não perco por esperar vê-lo entrando na Igreja, ele na porta e o pé no altar, aquele pezinho número 45. Certamente ele estará usando um terno feito por encomenda” e por aí vai. Essa publicação me deu uma certeza que passo a revelar: Jacinto casou-se com ele mesmo pois, pelo menos no texto, não há referência ao nome da preterida. Voltando a aniversariante mais cortejada do mês de fevereiro, tenho a enaltecer que “assim como alguns matutinos que já não circulam mais, fecharam portas e encerraram páginas, muitos jornalistas que passaram pela ‘A União’, também partiram, deixando só saudades. Mas, a professorinha de décadas de existência e a nossa aniversariante, essa, sim, se encontra firme e forte em seu papel de continuar construindo histórias e a ensinar a muitos que ainda virão. E o que é melhor: “Novinha em Folha”.

A UNIÃO 193 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro J ine e e Lo r es

A ni o Escola de Talentos e de Amigos stava na UFPB dando continuidade aos estudos onde entrei graduada. Vinda da Furne (antiga Fundação Universidade ERegional do Nordeste em Campina Grande-PB) entrara agora no Curso de Comunicação Social Jornalismo em João Pessoa. Entre os colegas de turma estava Maria Helena, conversávamos e cogitávamos a possibilidade de estagiarmos no jornal A União. Era início de 1988. Em poucos dias estava lá estagiando na Redação eu, depois entraram Eloise Elane, Jacklane e Maria Helena que logo migrou para TV. Quando estudava na Faculdade de Comunicação em Campina Grande havia passado pelo Jornal da Paraíba que me iniciou precocemente em redação, o Diário da Borborema, a TV, depois a Rádio Caturité. Em Recife havia tido pequenos espaços de estágio no jornal o Globo. Mas em João Pessoa era mesmo principiante. Era como tivesse zerado tudo e apenas começando agora. Meu quase conterrâneo e amigo da família estava superintendente e preconizou a minha entrada em A União, Itamar Cândido. Ademilson José era chefe de Redação. Entrei como repórter e as experiências eram entusiastas, apaixonantes... Verdinha... Verdinha na arte de fazer reportagem... De escre- ver... Entrevistar... Tinha fama de tagarela, de entrona, mas só em casa. Fora de casa era mesmo muito tímida.

194 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Andava de saltos e os meninos da Redação escondiam meus sapatos na lixeira porque tinha mania de ficar descalça... Os dias de chuva nos alagados e barreiras me deixavam atordoada para noticiar; os acidentes, os fatos corriqueiros que se faziam notícias, por vezes me deixavam esfuziantes por novidades quentes. Cada um que estava na Redação ou mesmo em A União naquela época fazia comigo uma união de esforços para que o melhor despontasse no outro dia com uma manchete que fervesse nas bancas. Eu, nada sabia sem todos aqueles ao meu lado. Os colegas mais próximos eram o Land Seixas, Ricardo Anísio, Thamara Duarte, Giovanni Meireles, Marcos Lima, Cardoso, Linaldo Guedes, Varella e tantos outros que faziam aquela Redação ferver de trabalho e de alegria. Corria-se para sair com as pautas e corria-se quando chegava para montar os textos, a matéria. O leque de profissionais era grande e a leva de alunos como eu, que iniciava cheia de ansiedade e vontade de alcançar o êxito de se profissionalizar. Todos em uníssona alegria de se ajudar mutuamente. Despontava no Caderno Especial do Domingo com matérias em diversos campos, mas quando entrei nas especialidades médicas deu o que falar... Foram matéria de páginas inteiras sobre vários assuntos que despertou a curiosidade de uma área pouco visível. Uma matéria que muito lembro foi sobre otorrinolaringologia e outra foi sobre medicina alternativa Homeopatia entre outras. Sobre o trânsito, agricultura, cobertura política, a posse do governador Cassio Cunha Lima foram alguns destaques que tivemos a oportunidade de fazer o registro quando estivemos em A União. O jornal A União era assim uma escola, uma casa de aprendizado, de convivência entre mestres e perseverantes daquela permanente margem de esperança onde vivíamos com um desejo puro de fazer acontecer a notícia, a matéria que gerava a maior alegria quando saía no jornal no outro dia o apurado do que fizemos, A União é o resultado do corpo, mente e coração. Quando o nosso nome estava ali, ainda a alegria flutuava em nosso ser, que silenciosamente agradecíamos com a sensação do dever cumprido. A União é aquela casa que acolhe, abraça, mas, confia e deposita confiança dos iniciantes aos mais maduros, sem concorrência, com um companheirismo inabalável. É o que recito nesses versos trôpegos sobre a casa da felicidade chamada A União. Nos sentimos tão agraciados ao passar por ela que ainda parece nossa, ainda nos sentimos esses filhos e filhas que,

A UNIÃO 195 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro gerados nessa mãe não esquecemos nunca de retornar, não somente para recordar com um saudosismo distante, mas para afi rmar que aprofundamos nossos aprendizados práti cos e a nossa vivência jornalísti ca com vontade de sempre voltar à casa materna. Penso sempre que de A União nunca se volta porque nunca se sai. Ela está em nós e permanecemos nela. É ... A União! Pronto. O que desejamos é a eternização de A União, a perpetuação dessa obra das letras e das artes, da cultura, da religião, do esporte, da escrita, da notí cia, do próprio aprendiz como eu e como tu que por aí andou e navegou nessas páginas. Que permaneça sempre essa ni o de alunos e professores, mestres e amigos que edifi cam pessoas e história. A mãe que amamenta é aquela que deixa a suculência da maternidade. A União é a mãe de fi lhos que não se fi ndam. Obrigada por permiti r ser fruto desta Casa da Felicidade.

196 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Maria elena Ran el

Me e o e A ni o

u estava no terceiro período da faculdade, quando, através de Antonio David e Virgínia Gondim, consegui um estágio no jornal EA União. Era 1989. Entrei encantada com aquele mundo e lembro da primeira matéria, no DNER, sobre placas indicativas. Era uma tarde chuvosa e lembro de voltar ensopada para a Redação, que funcionava em Jaguaribe. Mas aquela chuva, como sempre é na minha vida, era o sinal de um tempo novo e feliz, o começo da minha carreira profissional, onde aprendi o passo a passo do mundo fascinante da notícia. Foram tempos fascinantes, mas também difíceis. Era estudante, morava longe e as dificuldades eram muitas. Mas cada tarde me fazia gostar mais dessa profissão. A pauta, que norteava meus passos, o processo investigativo, a descoberta dos fatos, o aprender sobre coisas diferentes a cada momento e a construção do texto, eram ingredientes perfeitos e nem os dissabores me faziam perder a vontade de seguir esse ofício. Ouvia sempre falar que A União era a grande escola dos jornalistas paraibanos e de fato, foi a minha. Lá aprendi sobre os grandes nomes, sobre como buscar a notícia e levá-la ao leitor. Sobre ser um elo entre o povo e os governos, as instituições, as autoridades e quem produzia as mudanças na sociedade. E principalmente: ser imparcial, me colocando como produtor da notícia e não parte dela.

A UNIÃO 197 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro E não tenho como falar em aprendizado e início de carreira, sem citar nomes como de Eloíse Elane, que com uma paciência de Jó, revisava meus textos, corrigia erros e me conduzia diariamente por esse caminho. Gente como Giovanni Meireles, Ricardo Anísio, Luiz Carlos Nascimento, Wellington Farias, Cardoso e tantos outros que me deram as mãos e o coração solidário. Assim cresci e me fortaleci e fi z daquele tempo, um degrau importante para minha trajetória, que tenho orgulho de ter iniciado na escola A União. De lá saí em 1990, quando ingressei no jornal O Norte.

198 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Do in os S io

As ara anas assa as os os es n o la ra

ou Domingos Sávio Alves Vieira. Nasci em 1960 na cidade de Caiçara, Brejo paraibano. Vim morar na capital aos oito anos de Sidade. Fui alfabetizado no grupo escolar Tomaz Mindelo. Aos 10 anos de idade participei de um concurso de desenho promovido pela Capitania dos Portos, intitulado Operação Juventude, ficando em terceiro lugar. Aos 17 passei a colaborar com tirinhas e capas para o caderno infanto-juvenil O Pirralho, do jornal A União, tendo como editora a minha grande amiga Wilma Wanda a quem sou grato pro resto da vida pelo incentivo. Nessa época passei a receber como serviços prestados. Aos 20 anos após prestar o serviço militar, ingressei nos quadros de A União como desenhista do setor de artes da Gráfica, mais não fiquei muito tempo não pois sob influência de um amigo, o artista plástico Fred Swendsen, passei a ilustrar o suplemento Correio das Artes, saindo assim da Gráfica no Distrito Industrial para a Redação no centro da cidade, tendo como editor o poeta Sérgio de Castro Pinto. Logo passei também a ilustrar matérias no jornal diário inclusive na área de publicidade onde aprendi muito com meu diretor Aroldo Reis. Depois tiveram dois períodos em que eu pude me dar o luxo de

A UNIÃO 199 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro pedir quatro anos de licença sem vencimentos por não comungar com meus comandantes, e hoje, 40 anos depois entra governo sai governo, e eu sigo ilustrando o Correio e fazendo minhas charges. O que A União representa pra mim... A minha escola pra vida. Tem um painel na gráfica com desenhos de vários artistas do setor de artes que nos foi proposto pelo jornalista Itamar Cândido quando de sua passagem como nosso superintendente, e o meu desenho mostra bem o que A União representa pra mim... o pessoal da velha guarda que chegou a trabalhar no antigo prédio que ilustra a capa desse livro dizia o seguinte: “Os bondes passam mas os postes ficam”.

200 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Jo o Lo o

A ni o

odos dizem que A União é uma escola, uma universidade. Eu digo mais: O jornal A União é um laboratório. Um imenso lapidador Tde quilates que engrandeceram e engrandecem à Paraíba. É a história em movimento. É o passado, é o presente. Funde no chumbo quente dos seus linotipos ou na velocidade das suas rotativas, épocas, fatos e gente. É um monumento bem maior do que o material que encerra às suas páginas. É um guardião da memória viva de um povo. É o baluarte que singra os tempos a registrar referências históricas que embasam qualquer estudo ou pesquisa. Recordo o meu pai dizer que o jornal A União era o melhor jornal do Estado da Paraíba. Justificava: “politicamente nós sabemos o conteúdo. Nos outros expedientes é preciso, fiel e abrangente”. Tinha razão. O valor cultural que publica diariamente em seus impressos, sobrepõe todos os gestos administrativos, políticos ou governamental. Eu estive nesta escola por três vezes. No primeiro momento, o início do meu trabalho com fotografia (1986), fui direcionado para a área cultural. Foi justamente aí que consegui desenvolver o aprendizado e apurar a técnica. Depois, levado por outros projetos, segui novos caminhos. Neste período, em pleno processo de criação, amadureci e concretizei o livro “Apesar de sertão” (1996). Voltei à A União em seguida. Desta vez conduzido pelo mestre Machado Bitencourt, comecei a realizar os projetos especiais da empresa. Nesta altura, já A UNIÃO 201 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro escolado e com o conhecimento técnico aprimorado, publiquei o meu segundo livro “Corpo e Alma ” (2000) rodado, numa associação com a Editora Universitária, pelas prensas de A União. Retorno ao corpo funcional da empresa em 2008. A convite, fi quei encarregado das capas do suplemento cultural “Correio das Artes”, onde ti ve a oportunidade de fazer um inventário artí sti co- fotográfi co do que se produzia em termos de artes no Estado da Paraíba. Valoroso material que se encontra nos arquivos do jornal. A importância do jornal A União para a minha carreira, é representada pela verti calização do trabalho que executo como fotógrafo, arti sta ou criador. Nas ofi cinas do jornal eu me criei, na Redação disseminei o aprendizado e fi z a plataforma para o que hoje realizo. Sou um exemplo vivo, como muitos, da escola que formou e conti nua capacitando profi ssionais para o livre exercício da criação: jornal A União.

202 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Nathanael Alves (In memorian)

Es ola e ornalis o

possível que se a União não tivesse publicado as cartas de João Dantas, João Pessoa não fosse assassinado. É possível que se É não houvesse o assassinato ele fosse deposto. Seus amigos, ao que tudo indica, teriam caído nas guerrilhas, pois armas e fardas já tinham para isso. As coisas, no entanto, aconteceram de outra maneira e a morte do presidente acabou empurrando a história noutra direção. Precipitadamente ou não, A União fez jornalismo próprio dessa época, um jornalismo sem medo e sem medida, de tal sorte desassombrado que findou dando no que deu. Desde sua fundação, outros fatos devem ter sido lançados dessa rampa, levando de cambulhada culpados e inocentes, vivos e mortos que este, afinal de contas, é o destino mais ou menos inevitável de quem noticia ou é notícia. Com 84 anos(*), A União tem muito o que contar. Nos seus textos muitas vezes carregados de enfeites, arabescos e volutas, coisas feias e bonitas foram descritas por circunspectos redatores que já não fazem notícia nem são noticiados e por outros que, resistindo ao tempo, conhecem velhos segredos ainda convenientemente encaixotados. Carlos Dias Fernandes, Celso Mariz, Osias Gomes, Nelson Lustosa, nomes pomposos de antigas noitadas jornalísticas, esses falam pouco do que sabem, talvez por saberem demais. A UNIÃO 203 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Quase um século de história da Paraíba desfila nas encadernações desse provecto jornal oficial. Uma história na certa renitentemente palaciana, pois outra não haveria de se esperar de um jornal com as suas atribuições. De qualquer maneira, há as entrelinhas, já que as paredes dos palácios também têm ouvidos... Dessa rampa também foram lançados muitos nomes, sem contar nos Augusto dos Anjos e nos José Américo cujas primeiras edições, de impressão bisonha e papel ruim, encheram o país de uma estranha opinião ainda vigorante e cada vez mais atual. Castro Pinto, pregador tonitroante de tantos púlpitos, dizia que A União era a Universidade Popular da Paraíba, talvez por ter sido um dos seus catedráticos. Entrevisto Osias Gomes e ele me conta coisas dos anos 30 que jamais encontrei em qualquer compêndio de história e que são, talvez, mais decisivos que os narrados acanhadamente por outras pessoas. Mas Osias fala em segredo, baixo, olhando para os lados, não por medo de dizer o que sabe e sim por considerar bom o que já foi dito. As feridas estão mais ou menos cicatrizadas e ele não as pretende abertas há menos de cinquenta anos dos acontecimentos. De tudo o que se sabe, sabe-se principalmente que A União esteve no centro de tudo, como o melhor jornal de várias épocas e como porta-voz de várias gentes. Continua aí nesse mesmo papel, ao lado de quem estiver de cima pela obvia razão de os de cima serem seus donos. Nem por isso, entretanto, os de baixo lhe passam despercebidos. Com essa politica, com esse comportamento, vai a caminho de um século, vidão ilustrada que poucos jornais brasileiros alcançam.

(*) Este texto foi publicado em 2/2/1977.

204 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO CA LO I anos 90

A e ilson José ernan o a rio a Jo o E an elis a E an ro a N re a Costa Filho eral o N re a Geovaldo Carvalho Nona o N nes Linal o e es Ro ério Al ei a Dal o Oli eira R i Lei o A elar o Oli eira ran o erreira Janil es An ra e a lo e a Augusto Magalhães Paulo Sérgio Carvalho 206 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO A e ilson José

Es ola e i a

pesar de, entre 2011 e 2014, eu ter tido nova chance para um período mais ameno, período que, aliás, procurei aproveitar bem Aem termos de aprendizagem, confesso a vocês que não são muito boas todas as minhas lembranças relacionadas ao jornal A União. Ainda hoje sou agradecido aos jornalistas Agnaldo Almeida e Marcos Tavares que me indicaram para a Editoria-Geral, mas, desses 35 anos trabalhando em comunicação (vem desde 1982), os piores dias de minha vida foram mesmo os que vivi de fevereiro a agosto de 1991, primeiro período de trabalho naquele jornal. É, porque, independentemente de jornalismo, aquele foi também exatamente o período de doença e morte da minha mãe. Revezando com minha irmã, sempre varava noites no Hospital Napoleão Laureano, por isso mesmo, só chegava à Redação mal dormido e sem espírito nenhum de trabalho. A exceção da “Desunião Soviética” que se deu naquele período, lembro quase nada de jornalismo não. Nem mesmo das coisas relacionadas ao Governo Ronaldo Cunha Lima que vivia o seu primeiro ano. Era estresse pessoal e existencial demais. As poucas válvulas de escape que eu tinha, eram as companhias e os bate-papos mais descontraídos com Luzia (na Pesquisa), com Pequena (no cafezinho) e, na Redação, com Wilma Wanda e Deodato Borges Filho, o diagramador que, comigo, fechava a primeira página do jornal.

A UNIÃO 207 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro E o mais drástico é que, enquanto minha mãe foi morrendo (13.08.1991), de A União, triste, eu também fui saindo ou sendo tirado sorrateiramente. Já marcado nos outros diários, andei tonto por um bom tempo, até me acordar espantado em Brasília, bem no florescer do Governo Mariz, cuja marca também é de morte. Que período ruim! Nem sei como a gente ainda é provocado a falar disso. Mas dizem que é bom, né, desabafa, relaxa e conspira dias melhores. Aliás, dias melhores até que vieram mesmo, e justamente na mesma A União. Não como Editor-Geral, claro, mas como repórter e editor de Política. Aí sim, graças a um convite do colega William Costa, entre 2011 e 2014 tive sim um período de aprendizagem tranquila, de trabalho sereno e, como noutros tempos de outros jornais, de Redação com calor humano e boas amizades. Sempre escuto falar d`A União como Escola de Jornalismo e concordo. Tudo bem. O problema é que, em face da carga humana do primeiro e da leveza política do segundo período, sempre tive A União foi como uma Escola de Vida mesmo. E por um motivo que já vi e ouvi o colega Linaldo Guedes falar. É que, pensando bem, A União sempre foi o melhor jornal do mundo pra se trabalhar. É, porque, principalmente em termos de política que é o nó, lá, a gente sabe claramente onde está, onde pisar, o que fazer e o que deixar de fazer. É mais ou menos como a rádio e a TV Câmara por onde vivo hoje. O mesmo, no entanto, nós não podemos dizer em relação aos veículos privados de comunicação. Estes têm dias de independência até exagerada e dias mais submissos do que o próprio jornal oficial. Dependem da notícia mais quente chegada ao setor financeiro e não na Redação. Mas não digo isso pra polemizar mais não. Chega, né não. É só pra lembrar que isso faz parte daquelas coisas que a gente só entende melhor com a vida. Especialmente quando, na vida, a gente tem uma escola como A União pra passar por lá.

208 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Jo o E an elis a (*)

O lei e o o e o ornal A ni o

ni o entrou em minha vida por meio dos belos e românticos sons do bairro da Torre do início dos anos 1970, para onde Ame mudei com minha Família em 1971, ainda bem pequeno, aos sete anos de idade, para fixar moradia na casa de número 253 da Avenida Aragão e Melo. Na nova casa, poucos meses depois, passamos a dividir espaço com a nossa bela e gigante“ABC – A Voz de Ouro”, janela mágica para o mundo de “Vila Sésamo”, do “Zorro”, dos “Três Patetas”, da “Viagem ao Fundo do Mar”, do “Daniel Boone”, do “Jerônimo, o herói do Sertão”, e de tantas outras atrações televisivas (em preto e branco) que atraiam para as casas onde havia um aparelho de TV verdadeiras multidões de vizinhos que se amontoavam nas janelas, cadeiras e sofás (“da sala”), indiferentes ao direito de privacidade dos “donos da casa”. Muitas amizades “para o resto da vida” foram construídas assim. Tão atraentes quanto a programação da TV, e também do rádio, eram os sons da Torre. Da frequência AM vinham os belos sons de Gilberto Gil, , , Novos Baianos, , Roberto e , Benito de Paula, , José Ribeiro, Odair José, Altemar Dutra, , Waldick Soriano, Evaldo Braga e de tantos outros excelentes nomes da música brasileira. Da TV vinham as novelas, os filmes, os desenhos, os jornais, os programas especiais e a afirmação de que “Todo dia é dia e toda hora é hora de saber que este mundo é seu”.

A UNIÃO 209 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Mas a mágica maior estava nos sons da rua; do homem que comprava “garrafa, jornal, revista e todo material de ferro velho, além de litro e meio litro”, do outro que vendia “manga espada madurinha e abacaxi”, do que vendia macaxeira (ou simplesmente “Xêra!”), da bêbada Maria, que, com sua voz trêmula e envelhecida,cantava repetidamente “A beleza da Rosa”, dos vendedores de pão, de leite, de “Cuscuz Bondade” e de “Cavaco Chinês” (este último, inspirador da ideia de Luiz Gonzaga de colocar o triângulo no forró, como parceiro da sanfona e do zabumba), e do rapaz que vendia jornais, sujeito este que, ao som de “Olha aêôôô, jornal Diário, Correio, Norte e A União”, sempre deixava gravado na minha mente o nome de A ni o. Sabe como é… A última palavra é a que fica marcada na memória. No meu caso, A ni o se fixou na memória e, posteriormente, marcou a minha vida. No início dos anos 1980 A ni o deixou o plano dos sons e veio se fixar na minha vida de forma presencial/material. Vizinho do bom flamenguista e amigo José Amaro Pinheiro, do Departamento Comercial de A ni o, fui visitar a Redação do jornal, então sediada à Rua João Amorim, no Centro de João Pessoa/PB, e de imediato comecei a ampliar meu ciclo de amizades, começando por Valter de Sousa (do Diário Oficial), Vando, Zezinho “Carrapicho” e José Boró (com seu inseparável cigarro de fumo). Certo dia presenteei “Zé Boró” com um charuto cubano trazido da Ilha de Fidel Castro pelo amigo e então deputado estadual Simão Almeida (PCdoB). Mas isso foi na década de 1990, quando eu já tinha o prazer e o orgulho de compor os quadros jornalísticos da empresa estatal de Comunicação, por cessão da Secretaria de Estado da Comunicação (Secom), onde passei a integrar o Grupo Divulgação e Promoção Social (DPS-1604) após concluir o Curso de Comunicação Social (Habilitação em Jornalismo) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Trabalhando como repórter na Secom/PB, sob a coordenação jornalística da amiga de sempre Cleane Costa, fui convidado pelo então editor geral de A ni o, jornalista e amigo Ademilson José, para “me mudar” para o jornal. Incentivado por Cleane, que viu no convite de Ademilson uma ótima oportunidade (para mim) de novos conhecimentos e crescimento profissional, cheguei à Redação de A ni o nos primeiros meses de 1991, começo do governo Ronaldo Cunha Lima. À época, a Redação estava sediada à Rua Prefeito Osvaldo Pessoa, no Bairro de Jaguaribe. Nas imediações havia o Bar do Marinaldo, o Bar do Ferreti (companheiro de A ni o), as barracas próximas ao Centro Administrativo e outros bons lugares para as muitas reuniões etílicas regadas a muitas discussões jornalísticas (jornalista não consegue se divertir sem falar em jornal), políticas e esportivas de onde saiam excelentes ideias e pautas para o registro histórico

210 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO impresso nas páginas da já bem íntima “Jovem Senhora”, então com 98 anos de idade. Minha primeira semana em A ni o foi marcada por matérias e reportagens da Editoria Geral, que tinha a seu serviço um pequeno Gurgel branco normalmente utilizado por um motorista (ora Aleilton Emiliano, ora Edgar Barbosa), um repórter fotográfico (Ortilo Antônio) e três repórteres. Às vezes cabia um quarto repórter, dependendo da necessidade. E quando o Gurgel quebrava, a opção de transporte para a reportagem era a carroceria coberta de uma velha caminhonete. Puro romantismo (Agora! À época era sofrimento mesmo). Nesta mesma semana, eu e Cleane Costa entrevistamos, o ator “Global” José Wilker. Minha participação na entrevista foi solicitada pela então Editora de Cultura de A ni o, Thamara Duarte. Cleane, por sua vez, representava o jornal Correio da Paraíba. Foi uma entrevista/ diálogo agradável e muito proveitosa, tanto pela capacidade profissional dos entrevistadores quanto pela excelente qualidade intelectual e pessoal do entrevistado. A conversa aconteceu no Espaço Cultural José Lins do Rêgo, e versou especialmente sobre assuntos de cultura e de política. Uma semana de trabalho na Geral e um convite, novamente de Ademilson José: – Editoria de Política. Aceita? – Será que eu dou conta? Pouco tempo de trabalho…Respondi. – Você tem experiência política do Movimento Estudantil, do Sindicato… Dá conta sim. Já falei com Geovaldo e Itamar. Eles concordaram. Geovaldo Carvalho era o diretor técnico. Itamar Cândido era o superintendente. Ademilson José o editor geral e eu (João Evangelista) o editor de política. – E o repórter de Política? Perguntei a Ademilson. – Temos Sebastião Barbosa (Barbosinha) na Assembleia Legislativa. O resto é com você, pelo menos por enquanto. Respondeu o editor. Resposta dada, resposta recebida. E lá foi o editor de Política fazer a cobertura diária das sessões da Câmara Municipal de João Pessoa, da Assembleia Legislativa (junto com Barbosinha), do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), dos eventos políticos do Palácio da Redenção, da Granja Santana e de tantos outros lugares diretamente relacionados à minha área de cobertura jornalística. Depois da cobertura, a redação das matérias. Na sequência, a edição das páginas “AB” e “AC”, ou páginas 02 e 03 do Primeiro Caderno, inicialmente com os diagramadores Tião Leite e/ou Deodato Borges Filho (hoje Mike Deodato – quadrinista da Marvel, nos EUA), depois com Castor (in memórian), Júnior Damaceno, Fernando Maradona, Aurenice, Carlinhos Cardoso, Geraldo Flor, Maurício, Rita, Paulo Maia, Damásio e Luiz Carlos Duarte.

A UNIÃO 211 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Logo nos primeiros meses como editor de Política, tive alguns problemas com a direção do jornal em face da insistência/coragem de abrir espaço nas páginas de A ni o para políticos então não alinhados com o Palácio da Redenção, tendo em vista suas posições políticas e pessoais em defesa dos interesses da coletividade, dentre estes os vereadores Derly Pereira, Renô Macaúbas e Francisco Barreto e os deputados estaduais Simão Almeida, Chico Lopes e Vital do Rêgo Filho. Matérias publicadas e a ordem da direção para que a Editoria de Política mudasse de mãos. Depois o convite para voltar. Três vezes nesta “conversa”, e o tempo transcorreu normalmente durante dez anos seguidos, dentro dos quais oito anos de acúmulo da Editoria de Política com a função de colunista político (ou “de Política”, como queira). Nesse período, acompanhei, comentei (como colunista político) e ajudei a registrar nas páginas de A ni o (como editor de Política) muitos e importantes episódios da vida política local, estadual e nacional, dentre os quais destaco o impeachment do então presidente da República, Fernando Collor de Melo, fato ocorrido em 29 de dezembro de 1992, e a imediata posse do então vice-presidente Itamar Franco no comando do Poder Executivo nacional; o desaparecimento do então deputado federal Ulisses Guimarães (PMDB-SP); os tiros dados pelo então governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima, no seu antecessor Tarcísio de Miranda Burity, quando este almoçava no restaurante Gulliver, em João Pessoa/PB, no dia 05 de novembro de 1993 (ano do Centenário de A ni o); a eleição de Antônio Mariz para o Governo da Paraíba, em 1994, tendo como vice-governador José Targino Maranhão; a eleição de Fernando Henrique Cardoso, no mesmo ano de 1994, para a Presidência da República; a morte de Antônio Mariz, em 16 de setembro de 1995; a posse de José Maranhão como governador do Estado, em 1995, em face da morte de Mariz; a reeleição de José Maranhão, em 1998, para o Governo do Estado, com mais de 80% dos votos válidos; a morte do então senador Humberto Lucena, em 13 de abril de 1998; a reeleição de FHC, em 1998, e a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, para a Presidência da República, após três tentativas sem sucesso nas eleições de 1990, 1994 e 1998. Em 1994, um trabalho em especial veio enriquecer a minha história, e de tantos outros amigos, com A ni o. Sob a superintendência do jornalista Nonato Guedes, foi produzido e publicado por A ni o o livro “O Jogo da Verdade: Revolução de 64, trinta anos depois”, composto de reportagens, entrevistas, análises jornalísticas, compilações de matérias de época, artigos de historiadores etc. Uma obra tão histórica quanto o seu próprio objeto (o golpe de 64). Em “O Jogo da Verdade” coube a mim contar como se comportou a Assembleia Legislativa à época do golpe, com destaque

212 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO para o apoio dado pela maioria dos parlamentares paraibanos aos militares e para as cassações dos mandatos daqueles que se colocaram ao lado da democracia e, por conseguinte, na oposição ao governo militar: os emedebistas José Targino Maranhão, Mário Silveira e Ronald de Queiroz Fernandes (suplente),e os arenistas Francisco Souto Neto, Robson Duarte Espínola e Silvio Pélico Porto (suplente), fato ocorrido em janeiro de 1969. Ressalte-se que, na mesma ocasião, o poder opressor da ditadura também cassou os mandatos dos deputados federais paraibanos Pedro Moreno Gondim e Antônio Vital do Rêgo e do suplente Osmar de Araújo Aquino. Além da cassação, todos políticos cassados (federais, estaduais e também os municipais) tiveram seus direitos políticos violentamente suspensos por dez anos. Durante os dez anos como editor de Política de A ni o, tive o prazer de contar com o trabalho (na minha equipe) de excelentes profissionais e amigos como Sebastião Barbosa (Barbosinha), Linaldo Guedes, Abelardo Oliveira, Nonato Nunes, Walter Nogueira, Raquel Medeiros, Djane Barros, Maria Cristina Dias, Jonas Batista, Eduardo Carneiro, Ângela Costa, Jorge Rezende e Paulo de Pádua. Também contei com a importante colaboração de amigos de outras Editorias como Janildes Andrade e Josélio Carneiro, e tive o prazer de conviver com excelentes pessoas/profissionais como Valcemir Maria, Fátima Guedes, Cida Rodrigues, Luzia, Luiz Soares, Fernando Moura, Joanildo Mendes, Ortilo Antônio, Cristiano Machado, Ernane Gomes, Jacinto Barbosa (in memorian), Baby Neves, Gilsélia (Gil) Figueiredo, Nonato Guedes, Zélio Marques, Carlos Pereira, Lourdinha Aragão, Humberto de Almeida, Hélio Zenaide, Martinho Moreira Franco, Sérgio Botelho, Hélia Botelho, Ricardo Castro, Guilherme Cabral, Fábia Carolino, Gisa Veiga, Jorge Neves, Marcos Lima, Cristina Guedes, Marconi, Sandro, Elosman Nunes, Land Seixas, José Nunes, Conceição Coutinho, Carlos Cavalcanti, Carlos Vieira, Carlos César, Cardoso Filho, Costa Filho, Ângelo Medeiros, Clóvis Gaião, Clóvis Roberto, Michelle Sousa, Socorro Costa, Dinalva Araújo, Deusarina Vidal, Emanoel Noronha, Lúcia Rolim,José Alves, Tereza Duarte, Pedro Jorge, Lucimar, Heraldo Nóbrega, Milton Nóbrega, Geovaldo Carvalho, Nathielle Ferreira, William Costa, Jamarrí Nogueira, Tônio, Domingos Sávio, Antônio Morais e tantos outros nomes igualmente importantes cuja citação demandaria muito mais espaço do que disponho para esta matéria. À época, diziam na Redação de A ni o que foi durante reunião etílica com Morais, no Rio de Janeiro/RJ, que o cantor e compositor Roberto Carlos criou a célebre frase “É uma brasa, Mora!”. Em 2003 voltei para a Secom/PB, e de lá segui para a Superintendência de Obras do Plano de Desenvolvimento do Estado

A UNIÃO 213 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro (Suplan), onde permaneci na Assessoria de Comunicação até fevereiro de 2009, ou melhor, até José Maranhão assumir o Governo da Paraíba após a cassação do mandato do então governador Cássio Cunha Lima. Escolhido para o cargo de secretário executivo de Comunicação, o amigo jornalista Genésio de Sousa me ligou, no final de uma tarde daquele movimentado mês da política paraibana e me falou: – Vai cuidar de A ni o, “caba”! Fui, agora como editor geral, e as edições feitas sob o meu comando estão bem guardadas nos arquivos de A ni o para mostrarem, para mim mesmo, que consegui desenvolver um bom trabalho, além de brigar por boas condições salariais e de trabalho para os meus companheiros de profissão e lutas diárias. Da minha passagem pela editoria geral de A ni o, ressalto com orgulho a reedição, proposta pela Superintendência, da coluna diária de Literatura “Cantinho de Cultura”, assinada pela pedagoga e bacharel em Direito pela UFPB, Grygena Targino; a edição comemorativa pelos 60 anos do Correio das Artes, intitulada “60 anos de resistência e renovação”, editada pelo amigo Antônio Mariano e publicada em maio de 2009; a edição do Correio das Artes que mostrou “Os experimentos altos e rasantes de Fernando Teixeira” (teatrólogo), e vários suplementos especiais semanais contando a história de personalidades políticas, artístico-culturais e jornalísticas (com destaque para João Pessoa, Jackson do Pandeiro, Jório Machado e a dramaturga Lourdes Ramalho), informando sobre as pedras preciosas e o artesanato paraibano, contando a história do “Maior São João do Mundo” (então com 26 anos de existência), homenageando as Mães (“O melhor sinônimo de Amor”) e destacando a história e a programação da quarta edição do Cineport – Festival de Cinema dos Países de Língua Portuguesa, realizado em João Pessoa/PB no período de 1º a 10 de maio de 2009. Em 16 de setembro de 2009 assinei a maior parte das reportagens do caderno especial em homenagem ao ex-governador Antônio Mariz – “um exemplo de político”. Também produzi um caderno especial contando a história do ex-governador Pedro Moreno Gondim, mas este não chegou a ser publicado, permanecendo ainda hoje os originais em meus arquivos.

______( ) João Evangelista da Silva Filho é formado em Comunicação Social (Habilitação em Jornalismo) e em Direito pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e especialista em Psicopedagogia pelo Centro Universitário de João Pessoa (Unipê). Em A ni o, exerceu os cargos de editor de Política, colunista Político e editor geral.

214 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Costa Filho

A é are e e oi on e

az sete anos que produzi minha última matéria para o jornal A ni o, mas, às vezes, tenho a impressão que continuo em plena Fatividade na redação instalada naquele prédio às margens da BR- 101. Sem mais delongas, devo à Velha Senhora grande parte da minha formação profissional. Os professores foram muitos, certamente algumas dezenas. Editores, repórteres, revisores, diagramadores, paginadores e, claro, diretores. Meu pontapé inicial no periódico oficial do governo paraibano se deu quando o Brasil ainda amargava a eliminação da Copa da Itália com aquele gol de Claudio Caniggia... Era julho de 1990. Adentrei a redação de A ni o na rua Pref. Osvaldo Pessoa, em Jaguaribe. Não dispunha de carta de recomendação. Outro detalhe: eu não conhecia nenhum daqueles que viriam a ser meus colegas de trabalho. Eu concluíra a graduação em Jornalismo pela UFPB havia pouco mais de um ano, embora já atuasse profissionalmente na Rádio Tabajara (com carteira assinada!). Tudo o que eu queria naquela tarde era falar com o editor-geral e dizer que o meu sonho era trabalhar com jornalismo impresso. Enquanto eu esperava, fiquei sabendo o nome daquele que brevemente seria meu chefe: Ademílson José. Comecei a labuta no jornal A ni o imediatamente após a conversa com Ademílson, que, logo descobri, conhece como poucos a essencialidade da música popular brasileira. Minha primeira tarefa foi “acompanhar” (compreender e aprender) o trabalho do secretário

A UNIÃO 215 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro de Redação. Quem ocupava o cargo era Carlos Vieira, com o qual fiz uma grande amizade que perdura até hoje. Pouco tempo depois, eu assumiria a responsabilidade de preparar as chamadas da primeira página. Naqueles primeiros dias de trabalho novo, quando estava com tempo livre, ainda na Redação, eu ficava abestalhado assistindo àquelas verdadeiras aulas do pessoal da diagramação. Land Seixas, por exemplo, fazia piruetas com o farto material de diagramação (papel, caneta, régua, esquadro, borracha). Aquele traçado feito de modo firme e rápido pelo então presidente do Sindicato dos Jornalistas não sai da minha mente, ou melhor, da minha memória afetiva. Foram quinze anos de aprendizado, divididos em dois tempos: 1990–2003 e 2008–2010. Trabalhei em quase todas as editorias, inclusive como editor-adjunto do suplemento cultural Correio das Artes. No entanto, a maior parte do meu tempo dentro de A ni o foi dedicada à elaboração daquelas chamadas de primeira página. Ufa, haja responsabilidade! E esse dever era redobrado quando as matérias chegavam carregadas de conteúdo político-administrativo. Nessa lida, eu tratava diretamente com o editor-geral. E foram vários. Aliás, com alguns editores trabalhei mais de uma vez. Com Joanildo Mendes, por exemplo, em três ocasiões. Mas o recordista é o conterrâneo Carlos César (quatro vezes!). O último dos editores com os quais trabalhei foi o armazém cultural chamado Sílvio Osias (amigo e fã de Roberto Carlos). Por falar no rei, matam-me de saudade as lembranças daqueles velhos tempos. Dias de Antônio Moraes, Fátima Guedes, Damásio Roberto... As intermináveis sextas-feiras! Infindáveis dentro e fora do âmbito organizacional. “Velhos tempos, belos dias...” Vale ressaltar que o sentimento aqui exposto não foi obra apenas do encantamento dos primeiros dias. Absolutamente. Agora mesmo, no exato instante em que escrevo estas linhas, imagino que algum estudante egresso da UFPB talvez esteja vivenciando semelhante deslumbramento profissional. Hoje, ao folhear as páginas de A ni o, continuo aprimorando o fazer jornalístico e realimentando a minha gratidão para com essa generosa e centenária senhora.

Costa Filho é repórter da Agência de Notícias da UFPB.

216 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Geovaldo Carvalho

assei ela A ni o e ela n o sai e i

uando comecei a militar como jornalista na Paraíba, de cara, chamou-me à atenção o formato de A União, um “designer Qredondinho” para época, mas que, nem por isso, deixava de emanar a essência da poeira histórica de sua luta e sua importância para a Imprensa e a sociedade paraibana. Muitos anos depois, quis o destino, o Centenário da “Velha Senhoria”, uma data significativa para a história, encontrar-me-ia como seu diretor técnico, em 1993. Ao longo de mais de um século A União vem mantendo seu papel na formação integral do indivíduo e aliado extremo da educação, notadamente, na cultura. Pelo suplemento literário Correio das Artes desfilaram e desfilam o que há de melhor nas artes no Estado e na região - só para citar uma entre tantas contribuições à formação do cidadão paraibano. Para os profissionais que integram o jornal, assim como forma de preservar a história de renomados nomes do passado que evito citá-los para não incorrer no pecado de omissão, é de suma importância para coevos e pósteros, terem consciência do que ele representa para a história da Paraíba e primar por esse legado. Minha história com A União começou em 1991, quando chamado pelo poeta Ronaldo Cunha Lima para assumir a Diretória Técnica do jornal. A princípio, relutei. Havia ignorado um outro convite em 1986. Era muito apegado ao Diário da Borborema, do qual

A UNIÃO 217 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro era superintendente. Mas a convocação era em forma de desafio e acabei aceitando. Devo dizer que, à época, não foi fácil. A situação era das mais difíceis; excesso de pessoas, escassez de recursos e necessidades de apresentar uma reposta imediata à situação. E ela veio paulatinamente, sendo uma das épocas em que o jornal competiu, acho que equivocadamente, com as demais publicações do gênero no estado, com um mix de informação dos mais variados. À época, lembro-me bem, o jornal que tinha como superintendente o falecido jornalista Itamar da Rocha Cândido; prestigiávamos os nomes da terra, cumpríamos a função de divulgar as ações do governo e pontificavam em A União com suas respectivas colunas, nomes como Zózimo Barroso Amaral e Carlos Castelo Branco, o maior colunista político que este país já teve. Entreguei o cargo em 1994, retornando ao mesmo em 2003, permanecendo até 2009, somando, nove anos no cargo de diretor técnico, acho que um dos mais longevos na função de um jornal que é tido como Academia do Jornalismo Paraibano, o que é um honra acima de tudo. Desnecessário dizer que nesse período aprendi muito com os mais antigos; ajudei a formar novos valores que estão hoje na militância, ou seja, concorri para manter a tradição de fazer jornalismo e formar jornalistas. Nesse particular, algumas situações que não esqueço. Quando concorríamos com os outros jornais pela primazia da notícia, dei um rádio ao meu chefe de Reportagem e recomendei: “acompanha a emissora mais noticiosa para a gente saber o que está acontecendo na cidade e cobrir”. Homem afeito às letras, estranhou a ordem “daquele diretor amarelo que veio de Campina”. Passam os anos e o então jovem, hoje meu amigo, passa a ser um dos mais atuantes homens de rádio em João Pessoa, convivendo em perfeita harmonia com o veículo e gosta de relembrar o episódio. Por mais que fique longe de A União, ao abri-la ou acessá- la, lembro-me que ficou alguma coisa do nosso trabalho. O título da coluna UN-Informe foi sugestão nossa durante uma reunião no início dos anos 90. Buscava-se um título para uma coluna de notas que abriria a página de Opinião. Lembrei-me da junção de União e Informação e joguei a deixa: UNinforme. Fez-se um silêncio, mas como Gonzaga Rodrigues, o decano presente à mesa, disse “ótimo!”, não se falou mais no assunto e o título está ativo até hoje.

218 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Igualmente, lamento que outra iniciativa não tenha continuado. Não pelo fato de ser ideia nossa, mas que acho de suma importância para melhorar a qualidade e o incentivo de nossas artes. Ainda em 2003, sugeri ao editor, o talentoso amigo Linaldo Guedes, a criação do Troféu Correio das Artes, que visava a reconhecer valores literários da Paraíba. Lembro que na primeira edição foram premiados Políbio Alves, Sergio Castro Pinto, Marília Carneiro Arnaud, Hildeberto Barbosa, Waldir Porfi rio, dentre outros nomes das artes paraibanas por suas obras, previamente escolhidas por uma comissão técnica. Não sei por que acabou. Não devia. Mas por fi m, valeu ter parti cipado da história desse patrimônio histórico da Paraíba, ao ponto de dizer algo sobre essa passagem. Uma análise mais profunda sobre esse e outros temas no jornalismo está em gestação em rascunhos sobre a carreira desse operário de Redação. Passei pela A União e ela não saiu de mim. Deixou-me amizades, experiência e saudade. Valeu a pena!

Edição de 6 e 7 de dezembro de 2008

A UNIÃO 219 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Linal o e es (*)

enino e se re ol a ara os ra os a e

eu primeiro contato com o jornal A União aconteceu muito antes de frequentar sua Redação. Era menino, ainda, e me Mdeleitava com o desfile de talentos por suas páginas, de pessoas como Carlos Aranha e Antônio Barreto Neto (os textos que mais me fascinavam). Meu irmão (Nonato) era editor de A União e recebia o jornal todos os dias. Também encantava, àquele moleque que corria pelas ruas de Jaguaribe jogando futebol, o tradicional Correio das Artes, a mostrar que a Paraíba tinha poetas e muita poesia. Entrei na Redação de A União pelas mãos de João Evangelista, então editor de Política. O ano, se a memória não me castiga, era 1992 e Baby Neves era editora do jornal. Comecei lá como repórter de Política, trabalhando com nomes como Thamara Duarte, Land Seixas, Giovani Meireles, Jacinto Barbosa, Antônio David, Ortilo Antônio, Guilherme Cabral, entre outros. Neste período, fiz a primeira matéria de fôlego da minha trajetória como jornalista. Já editor geral do jornal, Jacinto Barbosa me enviou em viagem ao interior do Estado com o fotógrafo Antônio David. Objetivo: registrar o quadro de seca nas principais regiões do Estado e também a irrigação em São Gonçalo, próximo a Sousa. A matéria sairia, depois, em um caderno encartado no jornal, com fotos belíssimas de David. Um ano depois sairia de A União para trabalhar no jornal O Norte, mas logo voltaria, agora sob à editoria de Fernando Moura.

220 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Virei chefe de Reportagem e montamos uma equipe com profissionais qualificados, como Jonas Batista, Edson Verber, Dalmo Oliveira e outros. Neste cargo, tive o privilégio de trabalhar com boa parte de profissionais da chamada nova geração da imprensa paraibana, alguns deles começando com a gente. Cito de memória nomes como Anne Shirley, Raquel Medeiros, Célia Chaves, Michele Sousa, Suetoni Souto Maior, Andréa Alves, Petrônio Torres, Fábio Bernardo, Margarete Almeida, Silvana Cibele, Domingos Sávio... Também trabalharia com o talento de Robson Nóbrega, Conceição Coutinho, Eduardo Carneiro, Alexandre Macedo e William Costa. Saí e voltei da União outras vezes. Diversas vezes. E sempre voltava em funções diferentes. Repórter de Cultura, editor de Política, editor Adjunto, chefe de Reportagem (novamente) e editor do Correio das Artes. Trabalhei com editores que muito me ensinaram do ofício: Carlos Tavares, Joanildo Mendes, Luís Carlos, Arlindo Almeida, Antônio Costa, Carlos César e agora Felipe Gesteira. Essa rotatividade de editores no jornal sempre foi, aliás, algo que me impressionava muito. Dizem as más línguas que o que determinava essa rotatividade era a oficina. Quando o editor não agradava aos profissionais da oficina, eles davam um jeito de alterar um título ou uma manchete para provocar a demissão do editor. Nunca acreditei nesta fofoca e se ela aconteceu foi em outros tempos bem antes dessa época onde tudo se resolve no clique do computador. Devo reservar umas linhas aqui para falar sobre minha experiência com o Correio das Artes. Sempre estou, de uma forma ou outra, ligado ao nosso suplemento literário. Quando era chefe de Reportagem na primeira vez, o editor do Correio das Artes era Sérgio de Castro Pinto e eu, com a autonomia que o cargo que ocupava me conferia, agilizava a edição do suplemento dentro da Redação. Encaminhava os textos levados por Sérgio para digitação, depois diagramação (com a “boneca” feita por Sérgio), paginação, revisão, fotolito, etc. Em 1995, saí d’A União para trabalhar na TV Tambaú. Um dia, estava na Redação da TV quando Sérgio de Castro Pinto chegou lá. Veio me pedir para diagramar o Correio. Depois que sai, me contou, os diagramadores começaram a exigir gratificação salarial para diagramar o Correio das Artes e os editores faziam ouvidos de mercador. Disse que topava, desde que o jornal me pagasse pelo menos um salário, já que não era mais funcionário d’A União. Sérgio falou com a diretoria de então e deu tudo certo. Fazia tudo em casa, no meu computador. Digitava, diagramava e revisava e já levava tudo pronto para o jornal, em disquete, deixando em aberto apenas o espaço para fotos e ilustrações. A UNIÃO 221 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Não demoraria e acabaria voltando para A União, agora como repórter de Cultura, depois chefe de Reportagem, até virar editor adjunto. Saí do jornal para trabalhar na Secretaria de Comunicação, atendendo convite de Luiz Augusto Crispim. Voltei para A União em 2003, justamente como editor do Correio das Artes e editor do caderno de Cultura. Como editor do Correio das Artes, empreendemos uma revolução no suplemento. Ao lado de Cícero Félix, responsável pela programação visual do jornal, transformamos o suplemento, que até então saía em formato stand, em revista mensal, com a qualidade gráfica das melhores revistas literárias do país. Também demos um caráter mais jornalístico ao Correio das Artes, com capas para autores contemporâneos. Divulgamos via internet, através de e-mails, blogues e comunidades no orkut e participamos de feiras e bienais de livros em todo o país, atendendo convites para divulgar o suplemento em tais eventos. Onde chegávamos e levávamos o Correio das Artes, a reação era sempre a mesma: de encantamento, “como um suplemento tão antigo resistia com aquela qualidade gráfica e editorial?”, perguntavam. Não posso esquecer de citar Astier Basílio, meu parceiro em alguns embates no Correio das Artes neste período. Em 2009, saí da editoria do Correio das Artes para assumir a Diretoria de Jornalismo da Secretaria de Comunicação do Estado. Depois, rodei por outros órgãos, como jornal O Norte, assessoria do Partido dos Trabalhadores, Coordenação de Radiojornalismo do Sistema Correio de Comunicação, Procon e Secom da prefeitura, até retornar ao jornal A União, justamente para o Correio das Artes, atendendo convite de Albiege Fernandes. Nestas idas e vindas d’A União, passando por diversas funções e cargos, mais importante que os desafios profissionais enfrentados, foi participar dessa imensa família que existe na empresa, desde o jornal até sua gráfica. Pessoas que são amigas-irmãs até hoje, como Walcemi Maria, Fátima Guedes, José Ramos, Zezito, Alailton, Gil, Luzia, Cida, Rosa, Neide, Nevinha, Denise, Alexandre, Carlinhos, Varela, Cardoso, Teresa Duarte, Marcos Lima, Ivo Marques, Pedro Jorge e o saudoso Edgar Barbosa, motorista que só me chamava de “o menino”. Talvez eu vá sempre ser esse “menino”, que se encanta ao subir a rampa do jornal rumo à Redação, ao mundo de A União. ______(*) Linaldo Guedes é jornalista e poeta. Como poeta, lançou quatro livros e prepara para 2018 o lançamento de “Cabo Branco e outros lugares que não estão no mapa”. Graduado em Letras, é mestre em Ciências da Religião pela Universidade Federal da Paraíba.

222 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Dalmo Oliveira

Me ornalis o e A ni o 30 anos de comunicação social

m fevereiro deste 2017 eu inteirei 31 anos de Comunicação Social. Lembro da chegada acabrunhada para as primeiras aulas, num Efevereiro quente de 1986, no antigo Departamento de Artes e Comunicação (DAC), no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) ali no campus 1 da UFPB, encrustado no Castelo Branco. Na verdade, eu já praticava Comunicação profissionalmente, há, pelo menos, três anos antes disso, quando assumi a mesa de controle de som da Rádio Constelação FM, ainda em Guarabira, conquistando meu primeiro contrato de trabalho e inaugurando minha CTPS quando ainda era “de menor”. Foi o veterano jornalista Sérgio Botelho que me ofereceu o primeiro “bico” jornalístico, num periódico impresso que ele editava com foco na comunidade universitária da UFPB, suas pesquisas e seu cotidiano. Um jornal chamadoDois on os, diagramado pelo já falecido arte-finalista Rosemberg Silva. A experiência no jornal universitário foi suficiente para me dar a cancha curricular e migrar para a imprensa “de mermo”, conquistando uma vaga no time de repórteres do extinto jornalO Nor e. Ali da Redação da Pedro II pude colocar em prática boa parte do que vi teoricamente no Curso de Jornalismo, mas aprendi muito, muito mais! Primeiro pelas companhias fabulosas de caras como Walter Galvão, Nara Waluska, Mana Sousa, Gilberto Lopes, Wallack pai, Agnaldo Almeida, Augusto Magalhães, Célia Leal, Ovídio Carvalho, Fátima Farias,

A UNIÃO 223 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Evanice Gomes e outros tantos. Depois, pelos desafios cotidianos de um jornalismo precário, provincianista, rudimentar, tendencioso, mas feito com espírito desafiador, corajoso e inovador. Foram apenas pouco mais de quatro anos “no batente”, entremeados com uma atuação radicalizada à frente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Paraíba. Conduzi greves, operações-tartaruga, negociações de classe, num cenário absolutamente desfavorável, tendo que equilibrar fatores sociais complexos, como o fato de que cerca de 60% dos companheiros e companheiras da Redação não possuírem formação acadêmica na área. Ou estarmos submetidos a editores despreparados, ou (ainda pior) a interventores importados de outras praças que vinham a João Pessoa achando que teriam que coordenar um bando de jornalistas rábulas. Assim era O Nor e da minha época! Antes de me tornar funcionário público, ainda tive a oportunidade de atuar na Redação de um dos jornais mais charmosos do Norte-Nordeste: A NI O, onde assumi o desafio de produzir para uma página temática sobre Educação. É sobre esse rápido quase-estágio que rememoro aqui, nessa coletânea de artigos organizada pelo colega Josélio Carneiro, com quem dividi parte desse período da minha iniciação na profissão. As primeiras matérias escrevi em meados de 1992. Infelizmente, poucas delas foram assinadas, mas, folheando as edições daquele período, facilmente reconheço os textos. A Redação do jornal ainda funcionava em Jaguaribe, na Rua Prefeito Osvaldo Pessoa, ali perto da Associação dos Servidores Municipais e da Praça Dr. Aquiles Leal. Ficava a uns cinco ou seis quarteirões de distância da Redação d’O Norte, que, geralmente, eu percorria a pé. Não lembro ao certo quem me fez o convite para trabalhar n’A ni o mas certamente foi alguém do nosso círculo de jornalistas sindicalistas, como Carlos Vieira, Edson Veber ou Carlos Cavalcanti. Minha experiência com Botelho ajudou no perfil para setorialista de assuntos da Educação. Estávamos em plena vigência do governo de Ronaldo Cunha Lima e o secretário da Pasta era Sebastião Vieira. A missão era relativamente simples: interagir com os assessores de imprensa da Secretaria de Educação e coletar sugestões de pautas, relises e informações que rendessem, ao menos, uma matéria por dia. Moleza! A cobertura especial fora determinada pela cúpula do Governo, que, desde o início da gestão do Poeta, vinha tentando implantar um programa diferenciado para a rede escolar estadual. Havia resistência e bombardeio dos opositores na Assembleia Legislativa e A ni o se ocupava de produzir um discurso público, oficial, para ressaltar as vantagens desse programa, com ênfase no aporte orçamentário, nas parcerias com o MEC etc.

224 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Eu estava empolgado, mesmo sabendo que faria um trabalho “chapa branca”. Mas como se tratava de produzir um noticiário sobre uma área tão nobre da Governança Estatal, eu encarei a proposta como uma missão mais nobre, que fazia daquele jornalismo uma ferramenta para a cidadania e o crescimento social do povo paraibano. Pena que durou pouco! Em 1994 eu já estava do outro lado do balcão, assessorando o Sindicato dos Professores (SINTEP). A passagem pela A ni o, entretanto, foi interessante e bastante produtiva para meu currículo, profissionalmente falando. Pude obter uma fonte de renda extra, num momento em que começava consolidar a primeira geração de filhas. Mas os ganhos maiores ocorreram na perspectiva de me inserir definitivamente na categoria, conhecendo novos colegas jornalistas, repórteres-fotográficos e outros companheiros e companheiras de Redação. Era um período em que os jornalistas formavam uma espécie de “irmandade”, mesmo com aqueles e aquelas que não queriam saber da luta sindical. A Jaguaribe daquela época era um bairro, quase boêmio, o que nos animava ainda mais para a curtição de happy-hours consecutivos, tomando umas com tira-gostos de língua de boi, rabada e/ ou as deliciosas favadas servidas nos botecos localizados no trecho entre a feira e as Trincheiras. Eu estava na Redação d’A ni o quando chegou a notícia de que o governador havia disparado contra seu antecessor, Tarcísio de Miranda Burity. O atentado do Gulliver, como o caso ficou conhecido, ocorreu no início da tarde do dia 5 de novembro de 1993. Os disparos atingiram o maxilar e o tórax de Burity, que, milagrosamente, sobreviveu ao atentado. O clima de alvoroço se instalou imediatamente na Redação. A cobertura do fato pelo jornal oficial se tornou um desafio difícil para os editores e repórteres de plantão. O resultado disso pode ser lido nas edições dos dias posteriores. Mais de 20 anos depois de usar as velhas Remington na Redação de Jaguaribe, eu voltei a colaborar com o jornal A ni o, desta vez como colunista dominical. No início de 2013 o jornal começou a publicar um espaço de duas laudas que batizei de “Elejó”. O termo iorubá significa aquele que conta histórias, ou ainda “o falador”. A ideia é dar vozes aos temas do combate ao racismo, depois que comecei a atuar no Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (CEPIR). Para escrever esse capítulo do livro organizado por Josélio eu precisei fazer uma rápida imersão na história recente deste periódico, que é um dos mais antigos jornais estatais do país. Saí com a sensação nostálgica de como o jornalismo é essencial para uma sociedade feita a nossa. Lendo o cotidiano daquela época, percebemos como uma narrativa

A UNIÃO 225 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro de comunidade se constrói ao longo dos anos. Seus personagens, sua cultura, as mudanças conceituais na própria práxis jornalística. Confesso que depois dessas quase três décadas, ainda sou um aprendiz de Comunicação Social. Mesmo com a fantástica experiência em jornalismo científico que adquiri na Embrapa. Até depois do Mestrado em Comunicação na UFPE e a especialização em Gestão da Informação, pela Universidade de Juiz de Fora. Tendo acumulado, mais recentemente, mais experiência na comunicação popular, com a militância nas rádios comunitárias e webradios. E ainda com as ações na blogosfera, não consigo me sentir pleno no fazer comunicacional. Como se a comunicação fosse, cada vez mais, uma impossibilidade humana, uma utopia inatingível. Ao contrário daquilo que pensava que ela fosse, quando comecei a estudá-la, a Comunicação Social (e toda sua parafernália) funciona, muito mais, como um instrumento desagregador. Uma arma que pode ser muito perigosa na mão de gente mal intencionada. Algo que precisa ser controlado, vigiado de perto. Na prática, a comunicação não passa de uma tentativa. Hoje procuro usar minha competência comunicacional para tentar promover, na minha comunidade, a promoção da igualdade racial. Para fomentar equilíbrios das diversidades. Jornalismo e comunicação como processos facilitadores na emancipação humana e social, portanto, coletiva. É difícil, mas eu tento. Mesmo com os vícios do jornalismo secular, baseado na falácia de uma certa “imparcialidade”.

1993 – Carlos Cavalcanti, João Evangelista, Tião, Cardoso Filho e Carlos Vieira

226 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO A elar o Oli eira

Sa a es e ernas os e os e A ni o

que esperar, profissionalmente, de trabalhar num veículo de comunicação oficial do Governo do Estado? Nada. Era essa a ideia O que eu tinha quando recebi, em janeiro de 1993, uma proposta do meu compadre Sebastião Barbosa - vulgarmente conhecido no submundo da imprensa paraibana como “Good Life” – para trabalhar no Jornal “A UNIÃO”. Naquela época, Barbosinha era mais influente aqui no Estado que âncora da TV Globo em nível nacional, guardadas as devidas proporções. Não me senti nem um pouco tentado, mas em consideração a Barbosinha prometi dar a resposta em 48 horas. Pesei os prós e os contras e falou mais alto o desejo compulsivo de ganhar mais um pouco e poder ‘pegar’ mais gente me fez aceitar o desafio de ser repórter de política do “Jornal Oficial do Estado”, que era produzido numa modesta Redação em Jaguaribe e rodado em suntuosas e nababescas instalações gráficas do Distrito Industrial de João Pessoa. O governador de então era o “poeta” Ronaldo Cunha Lima, que por sugestão de sua assessoria, determinaria em alguns meses a transferência da Redação para o Distrito Industrial. E lá fomos nós, com raiva, mas com a promessa de melhores condições de trabalho – alguns ‘babões’ até especulavam melhores salários. Não entro no mérito das melhorias estruturais e funcionais, mas atesto que ficou muito mais prazeroso trabalhar em “A União” a partir de então. Ampliei o meu leque de amigos na empresa, conheci melhor o processo de impressão do jornal e, principalmente, me

A UNIÃO 227 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro tornei cliente assíduo da “Gauchinha”, nas inesquecíveis tardes e noites de sexta-feira. Durante o período em que trabalhei em “A UNIÃO”, tive o privilégio de conviver com colegas da estirpe de Sebastião Barbosa, João Evangelista (meu editor de Política), Ivanedna Veloso, William Costa, Aguinaldo Almeida, Nonato Guedes, Biu Ramos, Conceição Coutinho, Beto Melo, Marcos Lima, Marcos Tadeu, Barroso Pontes, Hélia Botelho, Costa Filho e Cardoso Filho, entre outros igualmente importantes que me escapam à memória neste momento. Posso afirmar que aquele grupo era uma segunda família. Trabalhávamos com prazer, fazíamos muita bagunça nos breves intervalos e ajudávamos uns aos outros sem as ‘trairagens’ que caracterizam as redações e comitês de imprensa nos tempos atuais. Era muito bom trabalhar naquele ambiente, cercado de profissionais de alto gabarito e, sobretudo de pessoas do bem. Entre os acontecimentos que marcaram a minha curta passagem pelo jornal, destaco o “incidente” do final daquele ano. Exatamente no dia 5 de novembro de 1993 o então governador Ronaldo Cunha Lima (à época no PMDB) atirou duas vezes à queima-roupa no seu antecessor Tarcísio Burity (que estava no extinto PFL, hoje DEM) nas dependências do Restaurante Gulliver, localizado na orla marítima de João Pessoa. Foi a maior frustração que tive na minha vida profissional porque fui ‘convidado’ – junto com os demais repórteres de Política – a ir para casa. Mas como assim, indaguei ao meu editor João Evangelista. E ele, seca e diretamente, respondeu: “Velho, ordem não se questiona se obedece”. Peguei minha trouxa e fui tomar todas na “Gauchinha”, ávido de notícias sobre o acontecimento. Mas, para quebrar o gelo, eu não poderia esquecer de relatar um episódio que quase abalou a minha amizade com o Barbosinha e, por pouco não custou o meu ganha-pão em “A UNIÃO”. Em plena tarde de sexta-feira, por volta das 16 horas, eu estava terminando a última de minha cota diária de quatro matérias quando “Good Life” entrou na Redação, a 100 km por hora, com o bom e velho gravador National Panasonic na mão, dizendo ter um ‘furo’ de reportagem. Entregou o material para o João Evangelista e recomendou (filho de uma égua) que a matéria fosse redigida por mim. Antes, porém, ele revelou que era uma ‘rápida’ entrevista com o desembargador Simeão Cananéia, que acabava de assumir a presidência da Associação dos Magistrados da Paraíba (AMPB). Com um sorriso sádico e falsamente constrangido, Evangelista me entregou o gravador. Fazer o quê? Coloquei o gravador na minha 228 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO mesa, liguei e escutei a primeira e quilométrica pergunta do Barbosinha que, em resumo, tratava das primeiras ações do magistrado à frente da enti dade. Observem a resposta: - Meu nobre e dileto amigo jornalista Barbosinha. Era uma manhã de fevereiro de 1924, no alpendre da casa do pai...” De imediato, desliguei o gravador, me dirigi ao meu editor (que àquela altura exibia um sorriso mais enigmáti co que o da Monalisa) e disse-lhe: “Joãozinho, você é meu chefe e meu amigo, mas tô fora. Daqui que o Cananéia chegue em 1993 já será segunda-feira. Pode me demiti r se quiser!” Não fui demiti do, mas a matéria saiu e até hoje não sei quem foi a víti ma que degravou aquela maldita fi ta cassete. Mas fi cou a lembrança dos tempos em que fui aluno da maior escola do jornalismo paraibano.

A UNIÃO 229 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Janil es An ra e

Jornal A União – Da escola de profissionais à e ens o a a lia

ste é o sentimento que tenho ao falar do período de 8anos em que trabalhei no Jornal A União – Superintendência de EImprensa e Editora. O sentimento de ter passado por uma escola na companhia de profissionais, que se transformaram em amigos, numa empresa onde a relação de família era tão forte, que superava eventuais divergências, quando o profissionalismo e o companheirismo caminhavam juntos, deixando saudades. Foi o meu primeiro emprego formal, em março de 1995. Ao ser avisada pelo colega Carlos Cavalcante, de que tinha uma vaga na Redação fui falar com a então chefe de Reportagem Djane Barros. Minha primeira pauta: uma paralisação dos funcionários do Porto de Cabedelo. Ainda no tempo da máquina de escrever, comecei num estágio de três meses junto com mais dois colegas disputando duas vagas. Fui selecionada pra ficar na empresa, de onde só saí em fevereiro de 2003, por uma determinação de governo que demitiu 149 servidores. Lá tive a oportunidade de trabalhar com colegas, como éo caso do meu primeiro editor Carlos César Muniz, de Joanildo Mendes, Nonato Bandeira, Antonio Costa, Eduardo Carneiro, Linaldo Guedes, Robson Nóbrega, Conceição Coutinho, Cardoso Filho, Carlos Vieira, Clóvis Gaião, Clóvis Roberto, João Evangelista, Paulo de Pádua, Raquel Medeiros, Ângela Costa, entre outros, além dos fotógrafos: Olenildo Nascimento, Ortilo Antonio, João Lobo e Gustavo Maia.

230 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO À época os motoristas dos carros de Reportagem eram Aleilton (conhecido com o codnome de “O jovem”, que apelidava a todos, desde o superintendente ao repórter) e Edgar, que se considerava um privilegiado por dirigir para “intelectuais”, como denominava os jornalistas. Em A União, eu era repórter do caderno de Cidades, mas escrevi também para as páginas de Política, Economia, Cultura e participava dos suplementos e cadernos especiais de Turismo e de registros de datas comemorativas, além de fatos de relevância política como posses de governadores e falecimentos de autoridades, coberturas estas que o jornal fazia tão bem. Nos oito anos em que participei do quadro de servidores da empresa destaco algumas coberturas jornalísticas de tantas não menos importantes, que tive a oportunidade de fazer. Entre elas está uma matéria de invasões de terras pelo Movimento dos Sem Terra (MST), que foi publicada no Jornal do Estado de São Paulo (O Estadão), a cobertura da filmagem do “Auto da Compadecida”, em Cabaceiras, dos velórios: do ex-governador Antonio Mariz e do ex-senador Humberto Lucena e da posse do ex-governador e atual senador José Maranhão. Além destas, tive a oportunidade de escrever sobre vários outros momentos da história da Paraíba, que se transformaram em notícia, desde as ruas da capital, ao antigo lixão do Roger, aos mercados públicos, praias, movimentos de ruas, cemitérios, hospitais, escolas, festas tradicionais, sessões e solenidades no Tribunal de Justiça e Assembleia Legislativa e eventos no Palácio da Redenção, sede do Governo Estadual. Durante o período em que trabalhei como repórter, acompanhei os acontecimentos e muitos deles tive a oportunidade de transformá-los em notícia, por meio da profissão pela qual até hoje sou apaixonada: o jornalismo. O jornal A União foi para mim uma escola ao mesmo tempo em que fez parte de uma faze importante da minha vida. Foi na convivência diária com os colegas que encontrei amigos com os quais tenho contato até hoje. Foi naquela época também que tive meu casal de filhos e fiz do trabalho uma extensão da família, pela acolhida dos colegas. O jornal A União, que completou 125 anos de fundação no dia 2 de fevereiro será sempre uma jovem senhora, formadora de opinião e uma escola para os novos profissionais, assim como uma casa aconchegante para os mais experientes na profissão. Será sempre um meio de comunicação de grande importância no Estado da Paraíba, por se tratar do mais antigo sendo o mais atual, acompanhando os novos tempos.

A UNIÃO 231 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Por Augusto Magalhães

A ni o ornalis o l ra e os is oi os a ri a ao la o

alar - ou escrever - sobre A União é remexer na memória afeti va. É trazer lembranças que mesclam a ansiedade de esperar uma Fresposta na“boca” do fax com o desejo de que tudo se resolvesse ser mais rápido, ao alcance de um touchscreen, como nos dias de hoje. Fui editor de Cultura deste importante diário paraibano no início dos anos 1990. Estávamos trilhando o caminho para a velocidade da internet, mas ainda fi cávamos maravilhados com o “Tijolão” da Motorola que dava os primeiros sinais da telefonia móvel na Paraíba. Era necessário prender uma pochete à cintura para acondicionar a novidade tecnológica, hoje ao alcance de todos, cabendo na palma da mão e com funções que, sequer, poderíamos imaginar naquela época. Falar de “A União” é também abrir a gaveta da memória para a gastronomia e a cultura. Quem passou por lá jamais vai poder negar que fi cava inebriado com o cheiro dos biscoitos e massas produzidos diariamente na fábrica ao lado, já que o parque gráfi co está localizado no Distrito Industrial de João Pessoa. Aliás, um Parque Gráfi co digno de qualquer grande empresa de comunicação, com um dos melhores e mais bem cuidados arquivos que já conheci. Ah! Mas eu ia falar mesmo do Caderno de Cultura! Em minhas gratas recordações do pouco período em que passei à frente do Caderno 2, entre 1994 e 1995, o que me deixava mais entusiasmado era o espaço que o jornal dedicava à cultura.

232 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Por ser o único veículo de comunicação impresso pelo Estado não havia a necessidade prioritária de vender anúncios como nos outros jornais, o que deixava o Caderno 2 com páginas limpas para a realização de grandes reportagens e a possibilidade de um trabalho primoroso de diagramação. Nesse contexto - e na era da nova diagramação digital - nos foi permitido fazer páginas memoráveis com “fios” e “tracejados” modernos para a época. Lembro que os diagramadores adotavam muito os pontilhados de uma foto para outra e as setas para indicar a legenda relacionada a tal fotografia. Como era bom ver também as sombras em tom sobre tom para destacar a coordenada de uma matéria. Como eu admirava ver no dia seguinte o jornal impresso com esses destaques bem arrumados, qual página de revista. Na verdade, o Caderno 2 para mim sempre foi uma revista. Uma revista de variedades, onde o espaço estava disponível para o produtor do espetáculo teatral da Paraíba ou para o show que chegaria a João Pessoa vindo de uma grande turnê nacional. Em “A União” não havia distinção entre as produções ou tipo de espetáculo, bem como se o espetáculo era comercial ou não. Tínhamos espaço suficiente para divulgar a cultura - não só da Paraíba -, mas do mundo. Se em uma edição publicávamos uma página inteira com fotógrafos paraibanos sobre o Dia Internacional da Fotografia, em outra poderíamos trazer o show de Madonna ou de Paul McCartney no Rio de Janeiro, por exemplo. Se “Vau da Sarapalha”, de Luiz Carlos Vasconcelos, estava em cartaz no Teatro Piollin, o espaço do Caderno 2 de “A União” era o mesmo dedicado à peça infantil que estivesse em cartaz no Teatro Ednaldo do Egypto. A possibilidade de tentar equilibrar o espaço midiático independente do comercial nos dava uma sensação de igualdade tão grande que nos fazia sentir um verdadeiro Caderno de Cultura. Esse era o diferencial do Caderno 2 de A União, pelo menos no início dos anos 90, quando eu cuidava da edição e tinha o auxílio da amiga e competente jornalista Thamara Duarte, que editava exclusivamente a Agenda Cultural. Se para muitas gerações A União foi uma verdadeira escola de Jornalismo, para mim foi a sensação de que é possível sentar no banco dessa escola e fazer do jornalismo cultural uma arte... E ainda sair caminhando pelas ruas do Distrito Industrial sentindo o cheirinho dos biscoitos da fábrica ao lado!

A UNIÃO 233 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro ernan o a rio a

Al o a no res io e an a no al io

secular jornal A União, fundado em 1893 e um dos jornais impressos mais antigos em circulação na América Latina, O registrou os principais fatos da história do Brasil e da Paraíba. A União representa, na minha carreira profissional e de muitos outros jornalistas, uma fase de grande experiência prática e teórica. Durante meus 13 anos de A União, como repórter especial, tive a oportunidade de viajar todo o Estado, várias vezes. Conheci de perto os avanços e limitações de um povo forte, sofrido e esperançoso. Durante essas viagens, produzi matérias especiais para o final de semana, com o foco voltado na iniciativa intelectual de artistas ou pessoas comuns espalhadas pelos municípios de todas as regiões. Era gratificante ver o resultado desse trabalho no rosto dos personagens, afinal essa foi uma lição que aperfeiçoei em A União: respeito ao leitor e aos fatos. Sou formado em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), tendo passado pelos jornais O Norte, Correio da Paraíba, Contraponto, e sites, como PBAgora e WScom, onde também aprendi muito com o ritmo das notícias. Na rádio, trabalhei na Tabajara, como apresentador, editor e repórter, do Programa “Justiça Cidadã”, mas foi em A União que minha relação com o texto jornalístico foi ganhando mais corpo e fôlego, com pautas mais investigativas, do ponto de vista social, político e cultural. Uma dessas matérias, onde comparei o Natal de crianças ricas e pobres, me rendeu o reconhecimento materializado, com o Prêmio Aetc-JP de Jornalismo – Categoria Texto (2002). Não

234 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO que me importe com prêmios, mas acho significativo a exposição dos problemas sociais para o máximo de pessoas que se possa alcançar. É gostoso lembrar das viagens com a equipe e das histórias, quando estávamos cruzando os sertões paraibanos. Certa vez, na Serra de Santa Luzia/PB, falava sobre a vida e a morte. Dentro do carro estavam Aleilton, na direção, o fotógrafo Ortilo e eu, como repórter. Quando “filosofávamos” sobre a nossa existência, fiz a seguinte observação: “Vamos todos morrer e essa serra maravilhosa vai continuar no mesmo canto. Em relação à natureza, como somos pequenos”. De imediato, veio um silêncio de cemitério e depois uma gargalhada quilométrica. O clima das viagens quase sempre era assim e quanto mais distante fosse, eu gostava ainda mais. Algumas pautas que caíram no meu colo foram hilariantes. Uma delas, foi a cobertura de um encontro internacional de naturismo, na Praia de Tambaba, município de Conde/PB. Como estava a trabalho, consegui entrar na área reservada aos naturistas apenas de bermuda. Durante a entrevista com um dos participantes do evento, fui abordado por um grupo que exigia que eu tirasse a bermuda. Não adiantou muito minhas argumentações. Para a satisfação da coletividade – brincadeira - o fiz. Foi, também, em A União que participei de entrevistas coletivas memoráveis. Uma delas, no Palácio da Redenção. O então governador Cássio Cunha Lima tinha acabado de ser cassado em primeira instância e uma coletiva foi convocada. Eu fui representando o jornal e tinha uma grande responsabilidade na produção das perguntas e da matéria, já que seria a capa do dia seguinte. Uma das minhas perguntas foi: “E agora, governador, o senhor pensa em se candidatar ao Senado, nas próximas eleições”. Ele sorriu e respondeu: “Calma, Patriota, o processo ainda está tramitando”. O desenrolar da história mostra que minha pergunta tinha todo o sentido. Gosto de lembrar das matérias que fiz para o jornal A União como registro de vida. A dependência química sempre foi um tema palpitante. Sempre haverá “gancho” para esse assunto. Certa vez, estava no Mercado Central, antes da reforma, e percebi uma quantidade significativa de pessoas bêbadas e já passava das 19h, ou seja, aquelas pessoas já estavam bebendo desde o início do dia. Fiquei curioso em saber qual o destino daquele grupo, onde iria dormir, como fazia suas necessidades básicas e qual era a relação que existia ali? No dia seguinte, cheguei no jornal com essa sugestão de pauta, que foi acatada pela editoria. Mas, disse que a matéria teria que ser feita à noite, como realmente foi. Chegamos no Mercado Central por volta das 22h, em local conhecido, na época, como “CTI”. Era A UNIÃO 235 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro nojento e o mal cheiro de urina e vômito estava por todo o canto. Fui olhando o rosto das pessoas e logo percebi que 90% eram homens, acabei por escolher um deles, que estava sentado no fim da fila de um sinistro “corredor polonês”, formado por alcoólatras, em estado quase terminal. Me aproximei dele e me identifiquei como repórter do jornal A União. Perguntei se podia entrevistá-lo e ele disse que sim. Era um homem de estatura mediana, barba negra, magro, inteligente e natural de Belo Horizonte/MG. No desenrolar da entrevista, esse homem revelou ser engenheiro civil e que tinha perdido tudo devido ao álcool, principalmente, a família formada por sua ex-esposa e duas filhas. Comovido com a situação daquele homem, indaguei: “Não tem como reverter esse quadro?”. E ele respondeu dura e secamente: “Não. Elas não me querem mais”. Também tive a honra e o prazer de contribuir com o Correio das Artes, que considero uma das mais importantes publicações culturais do País. Outra experiência que passei em A União, foi a fase da circulação vespertina do jornal. Sim, existiu um período emque o jornal chegava às ruas por volta das 17h. Foi bem interessante, o ritmo era alucinante e eu gostava daquilo. Hoje, sou servidor do Tribunal de Justiça da Paraíba, colaboro com sites, rádios, jornais e TVs. Paralelamente, trabalho como produtor cultural, com foco na Cultura Popular Brasileira, onde fui premiado pelo Ministério da Cultura, na Edição Patativa do Assaré – 2010 e faço consultoria na área de assessoria de imprensa. O Jornalismo nos ensina diariamente. Não trabalhe apenas com pautas, seja criador delas, sugira, investigue, queira saber, não desanime, busque outras formas, outras fontes. Nós, jornalistas, temos um papel fundamental na pirâmide da sociedade, somos o elo entre as classes. O repórter pode almoçar no presídio e jantar com o presidente da República, no mesmo dia, e ainda ir cobrir o melhor show da cidade. Precisamos saber extrair essas informações e transformá- las em notícias que se esteja mais próximo da verdade.

236 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO por Evandro da Nóbrega, escritor, jornalista, editor, historiador e membro do IHGP

ase ses i en en rio eleiro e ran es no es a i rensa o ornalis o a o ni a o

Embora nunca tenha assumido o cargo de superintendente de “A União” (apesar dos honrosos convites que lhe foram feitos), Evandro sempre colaborou direta ou indiretamente com diversos e importantes projetos de vulto desenvolvidos pelo jornal “A União”

ão poderíamos deixar de atender à convocação do jornalista, escritor e pesquisador Josélio Carneiro, que coordena a Npublicação deste livro, “A União, Escola de Jornalismo”, com importantes relatos de mais de 100 profi ssionais da Imprensa cuja trajetória de uma forma ou de outra teve algo a ver com a História desse matuti no ofi cial do Governo do Estado da Paraíba. Esta própria coletânea capitaneada por Josélio, aliás, já passa a integrar, de direito e de fato, a História do jornal “A União”. No presente livro, como já sabe o leitor, mais de 100 profi ssionais da Comunicação falam sobre suas experiências no mais que centenário jornal sediado na capital paraibana, que há décadas tem por razão social “A União Superintendência de Imprensa e Editora” e que vai comemorar seus 125 anos de existência em 2 de fevereiro de 2018.

A UNIÃO 237 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro M CON I E M I RES I IOSO Em nosso caso pessoal, não chegamos a assumir o cargo de superintendente de “A União” - mas apenas porque, embora convidado, não pudemos aceitar a missão, tendo em vista a pletora de atividades que à época desenvolvíamos. Aconteceu assim. Pouco depois de haver assumido o Estado, o governador José Targino Maranhão quis-nos colocar à frente desse bastião estatal da Imprensa, fundado ainda em 2 de fevereiro de 1893, pelo então presidente da Província do Parahyba do Norte, Dr. Álvaro Machado.

IA DR M RIO SIL EIRA De início, o governador José Maranhão enviou seu honroso convite por intermédio do então (super)secretário do Planejamento, Dr. Mário Silveira, tão amigo nosso quanto o chefe do Executivo paraibano e quanto o próprio ex-governador Antônio Marques da Silva Mariz, que falecera há pouco. Explicamos ao Dr. Mário que nos sentíamos altamente lisonjeados com a lembrança, mas, infelizmente (infelizmente mesmo!), não podíamos aceitar a invitação: estávamos às voltas com vários projetos editoriais, jornalísticos e historiográficos nas três frentes em que então atuávamos (jornal O NORTE, UFPB e Poder Judiciário), de modo que, para ser bem sincero e honesto, não poderia dispensar ao Governo estadual toda a imprescindível atenção exigida pela natureza do cargo.

O O ERNADOR COM REENDE Mostrou-se o Dr. Mário até mesmo chocado com nossa recusa. E assim é que o próprio governador Zé Maranhão nos visitou, no apartamento de Manaíra, procurando nos convencer pessoalmente. Mas terminou compreendendo as razões por nós alegadas para recusar o gentil oferecimento. Demonstramos por A mais B, ao governador, que lhe seríamos mais úteis como assessor pessoal (o que já vinha ocorrendo de há muito) do que como secretário de Comunicação, como superintendente da sempre jovem “A União” ou como algo semelhante. Sem os penduricalhos oficiais de tais cargos, poderíamos melhor ajudar o Estado, o Governo e o governador, pois que estaríamos livres do assédio permanente & massacrante dos “aliados” que se julgam merecedores de todo o espaço propagandístico do mundo...

238 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO MA LIS A N LA Para nossa segunda grande surpresa, o governador Maranhão nos pediu o seguinte: apresentássemos a ele uma lista de cinco pessoas que, em nosso entender, deveriam assumir a superintendência de “A União”. No dia seguinte, lhe levamos em Palácio um rol que se iniciava com o nome do jornalista Nonato Guedes (que, inclusive, já exercera esse cargo, com superior êxito) e terminava com o do também jornalista Eraldo Nóbrega (meu oitavo irmão). Nonato foi consultado, mas também não aceitou, por motivos bem parecidos com os nossos, vez que empenhado em complexos projetos profissionais e pessoais. Com o que, então, Eraldo viu-se nomeado para a tarefa.

MOR IN OL N RIO NA OSSE Fato risível, até noticiado então pela Imprensa, aconteceu durante a posse de Eraldo Nóbrega, no Palácio da Redenção. O governador José Maranhão cometeu perdoável deslize ao afirmar, em seu discurso, que estava dando posse “ao competente jornalista Evandro da Nóbrega”. Eraldo riu, algo contrafeito, e quebrou o protocolo: puxou o paletó do governador e lembrou-lhe que “o Sr. não está dando posse a Evandro, não; ele é meu irmão; eu sou Eraldo Dantas da Nóbrega”... O ex-ministro Abelardo Jurema, sentado a uma cadeira próxima, indagou: “Ora, e estão dando posse a toda a família?!”... O médico, deputado e auxiliar direto do Governo, Manoel Alceu Gaudêncio fez blague, na hora, alto e bom som: “Evandro, você já pode começar a contar tempo para a aposentadoria!”... Como seria de esperar, dada a maciça presença de jornalistas à posse de Eraldo, esse microincidente foi tratado com bom humor nas páginas dos jornais do dia seguinte.

M ES I MA DE NASCEN A De sua gestão, que se estendeu entre fins de 1995 e meados de 1997, melhor dirá, claro, no presente livro, o próprio Eraldo Nóbrega (Heraldo Nóbrega na Internet, consoante seu blog “Herald Tribuna”, a primeira coluna eletrônica a surgir na Paraíba). Mas, aqui, registre-se que ele manteve democrático relacionamento com os funcionários, zelou pela saúde financeira da empresa e chegou até a aprovar um plano de salários para os servidores discutido com os próprios interessados. A administração do mano Eraldo à frente daquele que é o quarto mais antigo órgão de Imprensa na América Latina durou cerca de ano e meio: ele não pôde resistir ao “fogo amigo” de parlamentares, secretários de Governo, próceres da Oposição e outros interessados em ganhar mais e mais espaços no órgão oficial do Estado... Desde que surgiu, em fins do

A UNIÃO 239 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro século XIX, “A União” traz esse estigma de ser um jornal obrigatoriamente alinhado com o Governo que esteja no Poder... Aquela velha história de ser mais governista (ou chapa-branca) “que o chumbo de ‘A União’”, explicando-se, para os mais novos, que a antiga composição das colunas do jornal era feita à base desse elemento químico de símbolo Pb, desse metal tóxico, pesado, macio e maleável, desse material derretido que vem sendo trabalhado pelo Homem há mais de 7 mil anos...

AL NS NOMES DE DES A E Mas a excelência dos profissionais que por lá passaram - e não apenas como superintendentes, mas também como diretores, editores- gerais, editores setoriais, secretários de Redação, pauteiros, redatores, noticiaristas etc etc etc - supera em muito esse que poderia ser um incurável defeito de nascença. Tem sido, de fato, uma Escola de Jornalismo, uma Universidade da Imprensa paraibana, uma Graduação/Especialização/ Pós-Graduação em Comunicação Social de qualidade. Esta tradição de nomes de grandes homens e mulheres que fizeram e fazem a excelência de tão especializada Escola Comunicacional iniciou-se mesmo com o primeiro diretor do órgão, o jornalista e industrial Tito Silva. E continuou com a lista de personalidades que a seguir vamos enumerar, aleatoriamente, sem ordem cronológica, à medida que forem surgindo na memória: * Carlos Dias Fernandes, * Celso Mariz, * Nélson Lustosa Cabral, * Octacílio Nóbrega de Queiroz, * Rafael Correia de Oliveira, * Osias Nacre Gomes, * Sílvio Pélico Porto, * João Bernardo de Albuquerque, * Jório Machado, * Hilton Marinho, * Antônio Brayner, * Antônio Barreto Neto, * José Morais de Souto, * Carlos Pereira de Carvalho e Silva, * Gonzaga Rodrigues, * Agnaldo Almeida, * Biu Ramos (Severino Ramos), * Murilo Sena, * Carlos Vieira, * Luís Ferreira (também grande e saudoso cronista, com fino senso de humor!), * Natanael Alves (meu colega em O NORTE e no TRE-PB!), * Petrônio Souto (de 7 de abril de 1981 a 26 de maio de 1982), * Etiênio Campos (de diretor-administrativo para diretor-superintendente), * Nonato Guedes (notável analista político brasileiro!), * Eraldo Nóbrega (com o “defeito” de ser meu irmão de pai & mãe), * Giovanni Meirelles, * Rui Leitão, * Ramalho Leite, * Nélson Coelho, * Albiege Fernandes * e, “last, not least”, o saudoso parente, amigo e extraordinário jornalista, escritor e historiador que foi Hélio Nóbrega Zenaide, recentemente falecido e a quem dedicamos este humilde depoimento. E, à parte os superintendentes, haveria que citar uma extensa relação de jornalistas (a exemplo de Cleane Costa, Tião Lucena, Cristiano

240 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Machado, Juca Pontes, Walter Santos, José Euflávio, Guilherme Cabral, Silvana Sorrentino, Alexandre Macedo, Dalmo Oliveira, Beth Torres, Geovaldo Carvalho, Alexandre Nunes, Marcos Alfredo, José Carlos dos Anjos & Naná Garcez), editores (como a figura paradigmática de Napoleão Ângelo), redatores (sem esquecer Frutuoso Chaves), repórteres (à frente Hilton Gouvêia, Thamara Duarte & Denise Vilar), colunistas (à frente Otávio Sitônio Pinto, Carlos Pereira de Carvalho e Silva, Joana Belarmino, Walter Galvão, Fernando Moura, Fernando Vasconcelos, Gilvan de Brito e José Nunes, também historiador), repórteres-fotográficos, reescrevedores, diagramadores, críticos de cinema (como o próprio Barreto Neto, João Batista de Brito e Martinho Moreira Franco, também cronista), críticos literários (como Hildeberto Barbosa Filho, Sérgio de Castro Pinto, Astier Basílio, Linaldo Guedes e William Costa, entre outros), gráficos, arquivistas, estagiários “et alii”. Citando apenas estes nomes, estamos incorrendo em centenas de omissões imperdoáveis!...

EDSON R IS E O CORREIO DAS AR ES À vista do que acima ficou minimamente exposto, torna-se de todo impossível não reconhecer a contribuição que historicamente vem sendo dada pelo jornal “A União” a todos os aspectos da vida paraibana, em especial no campo da Cultura visto em sua acepção mais lata possível. Um exemplo disto é o suplemento literário da própria “A União”, o “Correio das Artes”. Também esporadicamente (esporadicamente, sim, por absoluta falta de tempo), colaboramos com esse excelente suplemento literário de “A União”, o “Correio das Artes”, que, no entanto, era constante tema de conversas mantidas com nosso grande e saudoso amigo Odilon Ribeiro Coutinho. Esse falecido intelectual, empresário, escritor e político paraibano, Odilon Ribeiro Coutinho, era amigo-irmão do grande jornalista pernambucano Edson Régis de Carvalho e os dois tiveram participação fundamental no surgimento e nos primórdios do “Correio das Artes”. Como referido pelo também jornalista e escritor Luiz do Nascimento, no volume 10 da “História da Imprensa de Pernambuco (1821-1924): Periódicos do Recife (1941-1954)”, Odilon Ribeiro Coutinho (que serviu na Intendência do CPOR em 1947) e Edson Régis de Carvalho (que servira no ano anterior) lutaram bravamente contra a ditadura do Estado-Novo, que tinha como principal representante, em Pernambuco, por escolha pessoal do ditador Getúlio Vargas, o Sr. Agamenon Magalhães, alcunhado “o Malaio”. Casado e pai de cinco filhos, Edson Régis terminou morrendo barbaramente, com um enorme buraco no ventre, quando do insano atentado de 25 de julho de 1966, no saguão do Aeroporto dos

A UNIÃO 241 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Guararapes, em Recife (PE), como uma das duas vítimas fatais da bomba preparada por elementos comunistas, isto é, por membros terroristas da Esquerda radical, mais exatamente da “soi-disante” AP (Ação Popular) - a bomba que também matou (esfacelando-lhe o crânio) o vice-almirante pernambucano Nélson Gomes Fernandes, da reserva, que deixou viúva e dois filhos menores. A bomba ainda deixou gravemente feridas 13 pessoas. Nunca é demais recordar que, nesse infame atentado, ficaram permanentemente aleijados o então coronel do Exército Sylvio Ferreira da Silva (que, além de fraturas expostas, teve amputados quatro dedos da mão esquerda); e o guarda civil Sebastião Tomaz de Aquino, mais conhecido como “Paraíba” e ex-jogador de futebol no time do Santa Cruz recifense, que teve a perna direita amputada.

O A EL DE A NI O EDI ORA De início, as publicações saídas das oficinas gráficas deste jornal eram catalogadas nas bibliografias como “Imprensa Official da Parahyba” ou algo bem semelhante. Muito tempo depois, a citação passou a ser “A União Editora”. Em verdade, a alusão, nas últimas décadas, deveria ser “A União - Superintendência de Imprensa e Editora”. Com este pequeno nariz-de-cera, chegou a hora de dizer: se não assumimos diretamente a Superintendência de “A União”, sempre tivemos o privilégio de colaborar com vários de seus superintendentes, como ocorreu com as administrações de Jório Machado, Hilton Marinho, Antônio Brayner, Antônio Barreto Neto, José Morais de Souto (que me iniciara como redator no jornal O NORTE, em 3 de março de 1963), Hélio Zenaide, Gonzaga Rodrigues, Agnaldo Almeida, Biu Ramos (Severino Ramos), Luís Ferreira (com quem promovíamos autênticas tertúlias literárias!), Natanael Alves, Petrônio Souto (já na década de 1980), Nonato Guedes, Eraldo Nóbrega, Nélson Coelho e tantos outros.

NONA O EDES ERALDO N RE A O maior nível de participação, no entanto, deu-se ao tempo do superintendente Nonato Guedes (que, diga-se “en passant”, não voltou a ser Superintendente de “A União” porque não quis). Juntos, participamos de VÁRIOS projetos não apenas jornalísticos, mas também gráfico- editoriais, a exemplo do exitoso lançamento do livro “Revolução de 1964, 30 anos depois”, cuja segunda edição somente não foi tirada, já agora, em 2016, em virtude do falecimento do jornalista e editor Carlos Roberto de Oliveira. Foi por iniciativa de Nonato Guedes que publicamos DIVERSOS livros, como responsável pela edição do texto e pela editoração eletrônica, a exemplo de “A glândula pineal do urubu”, romance-novela que terminou

242 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO no programa do Jô Soares e inspirou um filme longa-metragem, “O homem mais sabido do mundo”, por alunos da UFPE e jornalistas do “Diário de Pernambuco”... Na administração do superintendente Nélson Coelho, tivemos a oportunidade de lançar diversas obras, especialmente a coleção de mais de 30 volumes semanais intitulada “História da Paraíba em Fascículos”, que se esgotava instantaneamente nas bancas e que de há muito está a pedir reedição. Também muitos outros projetos foram executados ao tempo da gestão do mano jornalista Eraldo Nóbrega, sendo de citar as volumosas edições especiais do “Correio das Artes” dedicadas ao economista e acadêmico Celso Furtado e ao editor Ênio Silveira. Também sobremaneira nos orgulhamos de haver editado, para que fossem impressos na gráfica de “A União”, alguns volumes da magnífica “Coleção Paraibana” (inspirada na “Brasiliana”), do Conselho Estadual de Cultura, que republicou obras já tornadas clássicas e essenciais para o conhecimento da realidade de nosso Estado. De outra parte, como Editor- Geral de O NORTE, sempre tivemos o jornal “A União” como um parceiro igual ao “Diário da Borborema” e o “Diário de Pernambuco” - e não como um concorrente, situação bem diversa, pois, do que acontecia “vis-à-vis” com o “Correio da Paraíba” e o “Jornal da Paraíba”. De forma que, em “A União”, sempre fomos aluno, mas, também, professor de uns poucos. Com muita honra, humildade e espírito de cooperação!

1993 - Carlos César, Thamara Duarte, Linaldo Guedes (em pé), Jaquilane Medeiros, entre outros

A UNIÃO 243 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro eral o N re a

eral o N re a es a a na s a es o e A União o relacionamento democrático com os funcionários, o zelo com a saúde financeira da E resa e a a ro a o e lano e Sal rios

xerci o honroso cargo de Superintendente de A União do finalzinho de 1995 até meados de 1997, portanto durante um Eano e meio. Destaco, sem falsa modéstia, na minha gestão, o relacionamento democrático com os funcionários, o zelo com a saúde financeira da Empresa e a aprovação do Plano de Salários apresentado pelos servidores. Antes de presidir A União, exerci as funções de Editor-geral do jornal associado O NORTE — à época líder em circulação —; editorialista do Correio da Paraíba, quando este matutino já liderava a venda de exemplares; e assessor de imprensa do Ministério Público da Paraíba. Após minha saída de A União, retornei ao Ministério Público, assessorei o senador Ney Suassuna, lancei a primeira coluna eletrônica da Paraíba (a www.heraldtribuna.com.br) e iniciei carreira televisiva: apresento e participo de programas da TVMaster há nove anos. Apenas dois dos muitos episódios ocorridos na minha administração: A União divulgou pela primeira vez o resultado do

244 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO vesti bular da UFPB antes de O Norte e do Correio da Paraíba e lançou o livro A História dos judeus na Paraíba. Não cito nomes de pessoas de expressão da minha época no órgão de comunicação ofi cial para não cometer a deselegância de olvidar algumas. A União não pode ser privati zada nem exti nta porque é um patrimônio cívico e cultural do Estado. E essa coletânea do colega e amigo Josélio Carneiro é um contributo superlati vo para mantê-la viva e pujante.

A UNIÃO 245 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Nonato Nunes

Minha passagem por A União

ão foi muito longa, mas a minha passagem por A União foi bastante profícua. Isso aconteceu lá pela metade da década de N90, quando fui para a Editoria de Política do jornal e fiz o que tinha de fazer num espaço de tempo bastante reduzido, acho lá fiquei por uns dois ou três meses apenas. Não deixava de ser uma satisfação para mim, integrar uma equipe de profissionais de primeira linha do mais antigo jornal da Paraíba, e um dos mais antigos do Brasil. Tenho certeza de que se constitui numa honra para qualquer profissional de Imprensa escrever para o jornal fundado em 1893, pelo então presidente do Estado, Álvaro Machado. Durante esse breve período eu fiz algumas reportagens de política as quais, acredito eu, contribuíram para, à época, fortalecer a posição do jornal como uma publicação que, mesmo sendo oficial, estava apto a fazer boas reportagens. Uma dessas reportagens foi uma entrevista que fiz com o general Antônio Bandeira, o homem que comandava o Quarto Exército, com sede em Recife, à época do movimento militar de 1964. Não deixou de ser uma entrevista antecedida de um certo receio, tanto de minha parte, quanto da parte da própria equipe, composta de três profissionais: o motorista, eu e o fotógrafo. Combinamos a entrevista com familiares do general e após isso feito, viajamos até o município de Mulungu, onde o ex-militar tinha uma fazenda. O receio tinha uma razão de ser: o general Antônio

246 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Bandeira era conhecido pelo seu temperamento arisco e, de certa forma, pouco simpático a jornalistas. Mesmo assim, aceitou conversar conosco. Durante a conversa percebi que algumas das minhas perguntas o deixavam um tanto incomodado, mas mesmo assim ele fazia questão de respondê-las. O general falou sobre diversos assuntos, e um deles dizia respeito à ação do exército contra a guerrilha do Araguaia, para aonde grupos guerrilheiros se deslocaram para realizarem treinamento e convencerem moradores e camponeses da área. Lembro-me de que o general Bandeira revelava uma maneira bem peculiar de responder às perguntas, pois, apesar de demonstrar tranquilidade, era possível perceber certa tendência à rispidez. Isso não me era estranho, uma vez que o ex-militar integrava o grupo que, no jargão militar, se conhece por “linha dura”. No mais publicamos a entrevista e, tal como ocorreu com a do general Victor Fortuna, feita alguns anos antes para o extinto jornal O Momento, o general Bandeira também me enviou, dias depois, um cartão com uma dedicatória de próprio punho. Lembro-me, porém, que ele fizera uma observação sobre o texto da reportagem. Mas nada que tivesse maculado o conteúdo da reportagem. Ao longo do tempo o jornal A União se configurou numa espécie de escola de Jornalismo não apenas para jovens recém-saídos das faculdades, mas também para aqueles que já se encontravam no “batente” (jargão usado no jornalismo para o profissional que não passara pelos bancos universitários). Nesse último caso, a busca era pelo aprimoramento da profissão que exerciam, diuturnamente, nas Redações. E para isso não havia melhor escola que um ambiente onde o som contínuo e ritmado das velhas máquinas Remington ou Olivetti era o dominante. Não seria demais afirmar que os melhores jornalistas do estado da Paraíba tiveram passagem pela Redação de A União em algum momento de suas vidas. Desta forma, a centenária A União permanece viva não apenas como jornal, mas também como escola.

A UNIÃO 247 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Ro ério Al ei a

anos e ornalis o e ris o na NI O

o dia 16 de julho de 1997, este jornalista estreava como jornalista de turismo do jornal A UNIÃO. E lá se vão 20 anos... N Minha trajetória escrevendo no turismo começou pelas mãos da saudosa jornalista Goretti Zenaide, que me convidou para escrever uma coluna sobre turismo para a recém criada Revista em Dia, em julho de 1990. Depois fui para o jornal Correio da Paraíba, com uma coluna de turismo de 1995 a 1997 e de lá cheguei ao Jornal A UNIÃO, como colaborador de turismo e onde permaneço até hoje. O jornal A UNIÃO como é conhecido é como um encontro de amigos. Nestes 20 anos tivemos página de turismo, coluna e até participei com a coluna “Na Bagagem” do suplemento de Turismo, editado por Augusto Pessoa e que chegou a ganhar o Troféu Waldemar Duarte, de destaque do ano no turismo pela Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo- seccional Paraíba, Abrajet PB, da qual tive a honra de ser eleito presidente para dois mandatos. Nestes 20 anos A UNIÃO também realizou cadernos e páginas especiais sobre turismo para congressos nacionais como o da ABAV, Associação Brasileira de Agentes de Viagem, o do Festuris em Gramado (RS) e até em inglês para o Congresso da BNTM ( National Tourism Mart), que foi realizado uma única vez em João Pessoa. E foi como colaborador de turismo de A UNIÃO que tive a honra

248 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO de ser agraciado com a Placa de Prata como incentivador da indústria turística pela Associação Brasileira de Agentes de Viagens - ABAV Seção Paraíba, em 1991. No Recife fui agraciado com a Placa de Prata entregue pelo presidente José Otávio Meira Lins, em abril e 1993, por apoio à Associação Brasileira da Indústria de Hotéis- ABIH Nacional. Em Fortaleza recebi o Troféu O POVO Turismo do jornal O POVO, pelo jornalista de Turismo José Mário Pinto, em 1996. Em 2004, em Belo Horizonte, o Prêmio MG Turismo de Jornalista do Ano pelo Jornal MG Turismo. E no ano seguinte, a Placa de Prata de Reconhecimento pelo trabalho no desenvolvimento turístico da Paraíba pelo Parahyba Convention & Visitors Bureau Na área internacional fui agraciado com a Medalha de Prata pelo Ministério do Turismo da França em abril de 2005, além de concorrer com mais de 200 reportagens de jornalistas de mais de 40 países tivemos a honra de ser vencedor do Travel Writer Award, o maior prêmio de reportagem dos Estados Unidos, entregue em solenidade no centro de convenções de Orlando, (EUA) no dia 1 de junho de 2015, além de diploma, cerca de 1 mil dólares, passando a ser o segundo jornalista brasileiro a receber tal honraria, o primeiro havia sido o Silvio Cioffi da Folha de São Paulo. Em 2015 tive o privilégio de ser também o vencedor do Concurso de Jornalismo da Europa, com direito a Placa de Prata e o Prêmio de uma Viagem à Europa. E ano passado a honra de receber a Medalha e Diploma de Grand Ambassadeur da Divine Academie Française em Paris. Durante estes 20 anos como colaborador de A UNIÃO lembro do privilégio de ter conhecido diversos superintendentes como Nonato Guedes, Joanildo Mendes, Rui Leitão, Itamar Cândido, Ramalho Leite, Fernando Moura, Albiege Fernandes, editores como William Costa e Walter Galvão e colegas para quem sempre enviava a coluna para publicação como José Napoleão Ângelo, Conceição, e atualmente Alexandre Macedo. Não precisa dizer que o jornal A UNIÃO é uma escola, mas acima de tudo uma família, onde se pode contar sempre com o apoio e dedicação de todos. São boas lembranças em vinte anos de colaboração neste terceiro jornal mais antigo em circulação do Brasil e que apesar de toda a ameaça contra a comunicação impressa ainda resiste com a certeza de que muitos anos virão para esta que é a mais antiga e uma verdadeira Escola de Jornalismo da Paraíba.

A UNIÃO 249 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro R i Lei o

Minha passagem pela s erin en n ia e A ni o

a minha história como administrador público destaco com orgulho a passagem pela superintendência de duas insti tuições Nconsideradas patrimônio cultural de nosso Estado: a RÁDIO TABAJARA e o jornal A UNIÃO. Esses dois veículos de comunicação não representam importância apenas pela contribuição oferecida à formação cultural de nossa gente, mas também por terem sido, respecti vamente, a primeira emissora e o primeiro jornal impresso da Paraíba. Por eles passaram os mais conceituados nomes da imprensa paraibana. Podemos dizer que ambos funcionaram como escolas do nosso jornalismo. O governador José Maranhão foi o responsável por me conceder essa honrosa responsabilidade. Cheguei na Superintendência de A UNIÃO às vésperas da virada do milênio. A primeira providência práti ca foi chamar todos os que compunham a equipe da Redação do jornal para que indicassem o novo editor chefe do jornal. Entendia que os profi ssionais que atuavam ali saberiam, democrati camente, eleger quem deveria comandar a editoria do mais anti go periódico da Paraíba. E fui feliz nessa delegação de competência. Por unanimidade me ofereceram o nome do colega Eduardo Carneiro para a função de liderança do trabalho editorial. A recomendação do governador era no senti do de que A UNIÃO exercesse com imparcialidade e competência a sua função de bem informar e de escrever a história do nosso Estado, do Brasil e do 250 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO mundo, mas continuasse atribuindo ênfase ao seu projeto editorial voltado para a cultura. Um mês após tomar posse, fui convocado pelo governador para prestar-lhe o primeiro relatório a respeito da situação da empresa, que compreende o jornal noticioso impresso, o Diário Oficial, a gráfica e a editora. Relatei que tínhamos tudo funcionando a contento, apenas me preocupava o fato de que, em sendo um jornal oficial, encontrávamos dificuldade em disputar a concorrência com os da iniciativa privada. Precisávamos fazer o jornal chegar a todos os paraibanos e não apenas nas repartições públicas. Ele me perguntou o que sugeria. Respondi: “Transformá-lo em vespertino. Sairemos à tarde com notícias quentes e poderemos, inclusive, a partir de então, pautar toda a imprensa paraibana”. Temi que ele reagisse à ideia, em razão do entendimento de muitos de que um jornal que sempre funcionou como matutino, por mais de um século, não poderia, de uma hora para outra, passar a circular como vespertino. Qual não foi minha surpresa quando me respondeu: “Acho uma grande sacada. Está autorizado a promover a mudança que propõe”. E assim procedemos. Na primeira semana, o jornal, encontrado nas bancas de revistas da cidade e vendido por gazeteiros na rua, vendeu mais que todo o ano anterior. Posso afirmar que foi um sucesso. Naquele ano realizava-se na Alemanha a Copa do Mundo de Futebol e os jogos eram todos realizados no período da manhã. Editamos um caderno exclusivo sobre o evento e A UNIÃO era o único jornal do Estado, ou talvez do Nordeste, que trazia todas as informações do certame no dia em que as partidas eram realizadas. Os demais só noticiariam na manhã seguinte. Quando do anúncio da renúncia do senador baiano Antônio Carlos Magalhães, proclamado à tarde no Senado, o jornal circulou poucas horas depois do acontecimento com a íntegra daquele histórico discurso. Por ocasião do atentado terrorista das Torres Gêmeas, na manhã do dia 11 de setembro de 2001, em Nova Yorque, nosso jornal pode ter sido um dos poucos no mundo que documentaram o fato no mesmo dia do fatídico evento. Esses registros me deram a convicção de que estávamos certos quando decidimos transformá-lo em vespertino. Contei com a colaboração eficiente dos que, comigo, integravam a diretoria daquele órgão de imprensa, cada um exercendo a função que lhes competia. Sob a coordenação do jornalista e historiador Nelson Coelho podemos realizar dois grandes projetos culturais: a série histórica NOMES DO SÉCULO, no ano 2000,

A UNIÃO 251 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro com a biografia de quarenta e cinco personalidades paraibanas que se destacaram no século XX, e MEMÓRIA POLÍTICA, onde eram entrevistados por uma mesa redonda integrada por jornalistas convidados, personagens que nos ofereceram como documentos históricos depoimentos que registravam suas participações na vida político-administrativa e cultural da Paraíba. A parte técnica da produção gráfica ficava a cargo do diretor Francisco Pontes e a condução dos aspectos administrativo-financeiros da empresa com o diretor Raimundo Gadelha. Como se não bastasse a honra de ter administrado o mais anti go jornal da Paraíba, outro fato me deixava bastante feliz, dar conti nuidade a ações ali desenvolvidas por meu pai, Deusdedit Leitão, quando ali exerceu o cargo de diretor técnico. Portanto, tenho razões de ordem profi ssional e afeti va para me senti r grati fi cado em ter meu nome inscrito na história deA UNIÃO. Meu currículo, com certeza, foi bastante enriquecido com essa experiência.

252 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO ran o erreira

Co a ores e e se e ro

ois destaques marcaram minha passagem pelo jornal A União: a implantação da informática, com as chegadas dos primeiros Dcomputadores e o atentado terrorista registrado nos Estados Unidos. Foram dez anos de 1995 a 2005, fazendo parte da equipe esportiva, mas também colaborando com matérias de cidades, cultura e política. Quando os computadores chegaram o jornalista Martins Neto ficou desesperado, foi um choque para os mais antigos jornalistas acostumados com a máquina de datilografia. Não foi fácil a adaptação. E os computadores, que para a época eram modernos, hoje estão na sucata, pois ficaram atrasados para os dias de hoje. Os ataques ou atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 foram uma série de ataques suicidas contra os Estados Unidos coordenados pela organização fundamentalista islâmica al-Qaeda. Na manhã daquele dia, a Redação do jornal A União parou. A gente assistia os aviões colidirem contra as Torres Gêmeas do complexo empresarial World Trade Center, na cidade de Nova Iorque. As notícias chegavam a todos os momentos informando as mortes todos a bordo e muitas das pessoas que trabalhavam nos edifícios. Trabalhei ao lado de competentes jornalistas como Geraldo Varela, Martins Neto (in memoriam), Carlos Vieira, Cardoso Filho,

A UNIÃO 253 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Antonio Hilberto, Guilherme Cabral, Agnaldo Almeida, Arlindo Almeida (in memoriam), Fernando Moura, Wiliam Costa, Maradona, Luzia, Almeida, Andrea Alves, Conceição, João Evangelista, Roberto Dinamite, e tantos outros. Foi mais uma época de aprendizagem na minha vida, tanto como profissional, pois eu vinha do rádio, mesmo tendo passado pelo jornal o Momento, e o jornal o Norte, ainda estava dando os primeiros passos nas redações jornalísticas. Mas, passar pelo jornal A União serviu, principalmente, para me qualificar ainda mais como cidadão.

Jornalistas Itamar Cândido e Walter Santos se cumprimentam

254 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO a lo e a (*)

No Jornal A ni o oi on e e comecei a praticar o jornalismo

udo começou na prática na Redação do jornal A União em 1996. Realmente foi minha primeira escola como profissional da área. Me Tlembro como se fosse hoje quando meu pai, Antônio de Pádua Melo (in memoriam), pediu ao superintendente da época, jornalista Eraldo Nóbrega, que me colocasse no jornal como estagiário. Eu ainda estava na Universidade cursando o quinto ou sexto período do curso de Comunicação. Fui contratado e entregue nas mãos da chefe de Reportagem, Conceição Coutinho, que foi a responsável pela minha primeira pauta jornalística, cujo assunto, até hoje cravado na minha memória, era a administração de condomínios na capital. Fiquei tenso e, ao mesmo tempo, maravilhado por, pela primeira vez, estar numa Redação de um dos veículos mais antigos e histórico do Estado. Depois de certo tempo, cobrindo e redigindo matérias para o Caderno de Cidades, tive a alegria e a honra de trabalhar ao lado de um grande companheiro e amigo, que me deu uma grande força no início de carreira: o jornalista Cardoso Filho, que naquela época era o editor do Caderno Policial. Com Cardoso, aprendi um outro lado do jornalismo mais polêmico e investigativo. Isso refletiu muito na minha trajetória, pois adquiri um aprendizado muito mais sólido. O editor naquela época era o jornalista Nonato Bandeira. Na Redação, cujo trabalho era intenso, conheci outros colegas que me ajudaram no ofício, como os jornalistas Fábio Bernardo, William Costa,

A UNIÃO 255 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Geraldo Varella, Emanuel Noronha, Eduardo Carneiro, Fátima Guedes, entre outros. Passei um bom tempo cobrindo reportagens sobre os mais variados crimes e julgamentos. Depois fui convidado pelo também amigo e jornalista João Evangelista, editor do Caderno de Política, a atuar na área, ao lado de companheiras como as jornalistas Ângela Costa e Glaudenice Nunes. Nesse tempo, o editor da Redação já era Antônio Costa. Ainda na A União, eu acompanhei o jornalista Eraldo Nóbrega como superintendente entre 1995 e 1997. Dois anos depois, tivemos a honra de trabalhar com o superintendente Rui Leitão, que, com sua visão empreendedora, adotou medidas de modernização do veículo e expandiu a distribuição do jornal em todo o Estado. Foi na gestão de Rui que eu tive a satisfação de fazer parte de um projeto pioneiro, audacioso e inovador no jornalismo paraibano que foi a implantação do jornal vespertino. Fechado por volta das 10h da manhã, o jornal era distribuído nas bancas e circulava no período da tarde na capital e em outras cidades paraibanas. Apesar de ter sido um projeto com excelente aceitação, durou pouco tempo. Mais foi como repórter do Caderno de Política que tive uma grande experiência de fazer entrevistas exclusivas com políticos, autoridades jurídicas importantes, além de cobrir corriqueiramente o dia a dia da Assembleia Legislativa e Câmara Municipal de João Pessoa. Cheguei a atuar também como repórter e editor do Caderno de Últimas. Deixei o jornal A União em novembro de 2002. O jornal A União é uma empresa admirada e respeitada pela sociedade paraibana. Foi e sempre será uma escola importante de jornalismo que já preparou inúmeros profissionais para o mercado de trabalho. Muita gente boa (intelectuais, escritores, políticos), já passou por este veículo que é um dos mais importantes patrimônios culturais e históricos da Paraíba.

(*) Jornalista Paulo de Pádua Vasconcelos, formado no curso de Comunicação Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB); exerceu a função de repórter nos jornais A União e O Norte; foi editor e repórter também dos Portais ParlamentoPb e WSCOM; fez várias assessorias de imprensa parlamentar, foi assessor de imprensa da vice- governadoria; trabalhou no setor de Jornalismo de várias campanhas políticas; exerceu o cargo de coordenador de Comunicação e do portal da Câmara Municipal de João Pessoa e, atualmente atua como assessor de divulgação da Casa de Napoleão Laureano.

256 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Paulo Sérgio Carvalho Supervisor Gráfico

A evolução gráfica

ano era 1995. O governo era o de Antônio Mariz. O superintendente era Itamar Cândido, que estava na segunda de suas três gestões de A ni o. O Naquele momento, o equipamento usado para confeccionar o jornal A ni o e trabalhos gerais para a gráfica estava entrando em colapso, pouco a pouco o outrora poderoso sistema de fotocomposição Photon, com sua incrível capacidade de ler 25 linhas por minuto, estava inviabilizando a circulação do jornal. Não que a capacidade de leitura dessas máquinas fosse o problema. No caso o que estava inviabilizando a rotina diária do jornal eram as constantes paralisações do equipamento por absoluta fadiga dos componentes eletromecânicos que compunham essas máquinas. Este equipamento, já fora de linha, não tinha no mercado peças sobressalentes que pudessem substituir as que se desgastavam com o uso contínuo e praticamente ininterrupto. As redações dos jornais O Norte e Correio da Paraíba já haviam migrado do sistema de fotocomposição para a editoração eletrônica, usando, para isso, os “modernos” computadores da geração 386 da Intel. Logo que assumiu a Superintendência de A ni o pela segunda vez, Itamar Cândido percebeu a necessidade de uma mudança radical no sistema de composição do jornal, como também a necessidade de modernizar a Redação, substituindo, por computadores, as velhas máquinas Remington e Olivetti que eram as ferramentas de trabalho dos repórteres e redatores naquela ocasião. Reunido com os assessores e colaboradores, recebeu de Walcemi Maria, então supervisora gráfica, a indicação da possível solução: a contratação, através de aluguel, dos equipamentos necessários, para assim se iniciar a

A UNIÃO 257 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro transição da fotocomposição para a confecção digital do jornal, usando-se, para isso, softwares de editoração eletrônica. Walcemi, com “carta branca” de Itamar, apresentou um esboço do projeto que poderia servir de solução, escalando, então, dois colegas já afeitos aos traquejos dos novos horizontes que se descortinavam com o advento dos computadores e seus softwares maravilhosos, pois já traziam na bagagem as experiências vividas com a transição do sistema em O Norte e no Correio da Paraíba. Numa rápida reunião na sala da Superintendência, Paulo Sérgio e Eduardo Félix acertaram as bases do trabalho a ser iniciado. De imediato seriam instalados cinco computadores 386 (esses computadores já estavam ficando obsoletos e já iam sendo substituídos no ávido e emergente mercado da informática pelos poderosos 486, muito caros naquela época), um scaner e duas impressoras a laser. Todo o equipamento era de propriedade dos dois sócios. O compromisso de Paulo Sérgio e Eduardo Félix era entregar o caderno de Cultura pronto, para fotolitografia, até as 14 horas. Os dois profissionais estariam integrados ao expediente diário, com a função de editorar as páginas, acompanhar o desenvolvimento do trabalho e passar o know-how dos softwares, PageMaker, Corel Draw e Photoshop aos membros efetivos do quadro de funcionários. Gradativamente, a empresa iria se equipando, adquirindo equipamentos até poder romper o contrato de equipamentos e serviços prestados por Paulo Sérgio e Eduardo Félix. Nessa transição, foram habilitados como paginadores eletrônicos os funcionários Geraldo Flor, Roberto dos Santos, Júnior Damasceno, Neide Maria, Castor, Joaquim Ideão e outros. A carência de A ni o por novas tecnologias era total. Na Redação, repórteres e fotógrafos saíam para cumprir as pautas e já deixavam, na antiga Casa dos Fotógrafos, o filme para revelação e impressão em papel das fotografias. Isso demandava um tempo e um gasto extraordinário. Procurou- se, como solução, a implantação de um laboratório fotográfico próprio, com capacidade de baratear o processo e agilizar o trabalho. Desse embrião surgiram dois nomes: Alexandre de Figueiredo e Sandro Alves. Oriundos da fotomecânica, os dois profissionais tinham experiência com os laboratórios totalmente escuros e acertaram com isso as pretensões da empresa. Alexandre hoje demonstra sua competência no escaneamento, digitalização e tratamento de imagens no jornal. É um dos poucos remanescentes da intensa revolução por que passou o jornal em apenas poucos meses. A lamentar-se, porém, a extinção de postos de trabalho como fotolitógrafos, retocadores, emendadores e paginadores. São os reveses da tecnologia da automação que consome todo aquele que não se habilita ou que não se atualiza, seja nos jornais, nas oficinas gráficas ou em qualquer setor que está sendo avidamente engolido pela tecnologia da informática.

258 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Foi assim, dessa forma claudicante, que gradativamente A ni o foi se atualizando, se modernizando e, com certeza tem hoje um complexo sistema de composição, editoração e criação, usando, para isso, softwares de ponta e que não deixam nada a desejar a outras empresas de comunicação. Alcançamos o futuro.

is ria Como fato a se contar, não como “causo”, mas, como conquista de uma equipe engajada e coesa que pautava os seus objetivos junto às metas da empresa, posso citar um fato ocorrido no ano de 1997, quando os jornais e rádios promoviam uma verdadeira “guerra santa”, para alcançarem respaldo junto à opinião pública. Naquela época, tinha-se como questão de honra chegar em primeira mão com a edição especial trazendo a listagem dos aprovados no vestibular. A massa estudantil se aglomerava diante das oficinas gráficas dos jornais à espera desta edição especial que não tinha dia nem hora para ser publicada. Por isso, na eminência da notícia, equipes de jornalistas e gráficos ficavam em regime de plantão à espera da liberação da lista pela Coperve. A ni o, deslocada do foco da questão, pois suas instalações gráficas estão muito distantes do centro da cidade, contentava-se em somente trazer no dia seguinte um caderno extra contendo a tal listagem. Já na gestão do então superintendente Eraldo Nóbrega, uma parceria realizada entre A ni o e o Integral Colégio e Curso aguçou o instinto de competição da equipe, e então foi elaborado um ousado e mirabolante plano, para se conseguir satisfazer o ego de dirigentes e membros da equipe (se posso, de forma errada, separar dirigentes e funcionários). Seguimos os mesmos passos na organização tradicional: um motoqueiro estaria plantado na frente da sede da Coperve, que na época estava localizada na Av. Epitácio Pessoa, e lá receberia o disquete com a listagem dos aprovados e tentaria vencer os obstáculos de sinais e trânsito engarrafado. Nessa corrida maluca tentaria chegar à sede de A ni o no mais breve espaço de tempo possível. Em paralelo, Paulo Sérgio, Eduardo Félix e o professor Dantas, do Curso Integral, bolaram um plano de malucos. Seríamos os precursores de uma ideia arrojada para os padrões de então. Este é o fato relevante no caso. A ideia pioneira de plantar na frente da Coperve em uma casa comercial um computador conectado a outro computador na sede de A ni o. Isso, modem a modem, via linha telefônica, já que naquele tempo não tínhamos as vantagens da Internet que conecta você a qualquer parte do mundo em segundos. Feito isso, duas equipes estavam de prontidão esperando a listagem para ser montada, gravada em chapa e depois impressa no papel. A equipe tradicional estava sob os cuidados de Walcemi Maria e a dos “loucos sonhadores” estava

A UNIÃO 259 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro com Paulo Sérgio. Era evidente o nervosismo, quando percebemos que o arquivo começava a chegar (perceba que eu não estou dizendo “baixar” o arquivo). Este arquivo estava sendo copiado do disquete lá na Epitácio Pessoa e gravado no HD do computador instalado na sede de A ni o. Terminada a gravação, começamos a paginar a listagem e a cada página pronta uma impressão em papel vegetal já ia sendo encaminhada para a montagem. Com o processo já quase concluído, chegou o motoqueiro. Foi evidente o desânimo do rapaz quando foi informado de que toda aquela correria ti nha sido em vão. A listagem já estava nas últi mas gravações e a rotati va já pronta para começar a rodar. Havíamos vencido e posto em práti ca um sonho. A tecnologia fi nalmente se fi rmara e agora tudo estaria nas mãos competentes de Gilvan, impressor chefe, e de Ademir, encarregado da circulação – ambos já falecidos. Fechando com chave de ouro todo este empreendimento, o professor Dantas e a gerente comercial de A ni o, Lúcia Rolim, haviam fretado, no aeroclube, uma aeronave, que levou exemplares do jornal a Campina Grande, Patos e Cajazeiras. Hoje, o vesti bulando acessa em qualquer parte do mundo a listagem pela Internet de forma quase que instantânea, com a liberação da Coperve.

260 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO al iria Maria

Minha história com A União

inda estava no último período do curso de Comunicação quando cheguei n’A União, em 1993. Trabalhava de dia numa Aagência de Comunicação de Fernando Moura e Alarico Correia (meu professor na faculdade) e à noite numa escola da rede estadual de ensino. Até que um dia Fernando me perguntou por que sendo funcionária do Estado eu ainda trabalhava na educação em vez de estar no Jornal A União ou na Rádio Tabajara? Eu não tinha resposta. Não sabia que poderia ficar à disposição de outra secretaria, não sabia tanta coisa, acho mesmo que não sabia era nada. Só sabia que queria ser jornalista. E foi assim, pelas mãos de Fernando Moura que fui procurar o então editor de A União, o saudoso e querido Jacinto Barbosa, que me acolheu e solicitou à Secretaria da Educação, através do Gabinete Civil (não havia Secretaria de Comunicação na época) que eu ficasse à disposição do jornal. Diferente de todos que começavam fazendo matérias de esporte ou policial, comecei como redatora das chamadas de capa, depois fui pra reportagem e numa segunda passagem pelo jornal fazia matérias especiais e editava entregando as páginas prontas. Ou seja, foi lá que aprendi tudo. Aprendi com a ajuda de colegas maravilhosos como Carlos Vieira, Jaquilane Medeiros, Linaldo Guedes, meu amigo/irmão Joanildo

A UNIÃO 261 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Mendes, que também foi editor enquanto esti ve lá. E tantos outros, que cometerei o pecado de omiti r, mas já peço perdão. Não posso deixar de registrar que foi lá que conheci Nonato Guedes, que muito me ensinou não só sobre jornalismo, mas também o gosto pela leitura e os basti dores da políti ca. Deixei A União em 1995, quando fui pro jornal O Norte, porque o então editor não aceitava que os jornalistas trabalhassem em mais de um jornal. Funcionária efeti va do Estado há dez anos pedi demissão. Pouco tempo depois o tal editor foi demiti do e eu voltei para A União, só que desta vez como prestadora de serviços. Essa é a minha história com A União. Um lugar onde só ti ve alegrias e aprendizado. A verdadeira escola de jornalismo.

262 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO CA LO II anos 2000

A riana Crisan o Asti er Basílio r ena ar ino Mar os Al re o Cl is ai o C ero éli Jor e Resen e A s o essoa E ar o Carneiro Ja arri No eira Cl is Ro er o Josélio Carneiro ia Carolino Mar os R sso le ane Ma iel E an ro ereira

A riana Crisan o Mon eiro

r s l ras na ira a o il nio

inha experiência no jornal A União aconteceu no ano de 2000 a 2002. O século mudava e eu entrava de cabeça nesta onda Mgigante do mundo da cultura que naquele momento passava a ser escrita. Conhecia o jornal A União das pesquisas que realizava no curso de Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Considerava o maior e melhor jornal, mas nunca imaginei que um dia pudesse escrever para um jornal diário, pois os “homens da alta escrita” me diziam que por lá só entrava mesmo quem gostasse e soubesse escrever. Achava impossível porque minha base escolar não havia sido das melhores, mas a UFPB acabou me dando “régua e compasso” para que a “burrinha” que me achava pudesse fortalecer, ganhar asas e voar. O ano de 2000 era de total incerteza, inclusive para o jornalismo, que começava a trocar suas máquinas de datilografar por computadores 386 e depois 486 da Microsoft. Sempre frequentei os guetos culturais da cidade de João Pessoa, convivi com artistas, com cantores e músicos locais. Conhecia a metade dos jornalistas paraibanos por causa da minha irmã, Mônica Valéria Crisanto Nóbrega, hoje também jornalista formada, e boa parte deles trabalhavam ou escreviam no jornal A União. Até que um dia, faltando pouco mais de um mês para terminar o curso de Jornalismo fui instigada pelo jornalista Wagner Lima, também repórter deA União, a deixar meu currículo com Eduardo Carneiro, que na época era A UNIÃO 265 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro o editor-geral do periódico e o subeditor era o jornalista William Costa, supervisionados pela superintendência de Rui Leitão. Quando cheguei existia apenas o caderno “Dois”, que tinha oito páginas destinadas essencialmente à cultura local. Mas, não fui direto para editoria de Cultura, antes recebi o tratamento primoroso de Conceição Coutinho, secretária de Redação e chefe de Reportagem, que acreditava eu não ter muita paciência com que escrevia na Geral ou em “cidades”. Até que Célia Leal, jornalista de grande experiência na área, havia saído para trabalhar em outro jornal local, e foi quando passei a escrever para o caderno “Dois”, que na época tinha como editor o jornalista Juneldo Moraes. Era o caderno que mais tinha repórter de cultura: Eu, Renato Félix, Clóvis Gaião, Patrícia Braz e ainda tinha estagiários que chegavam a todo momento no caderno como: Isabele Galdino, Ana Carolina Abihay e Eduardo Cury, este último vindo de São Paulo para estagiar no caderno voluntariamente. Tínhamos primorosas reuniões de planejamento de pauta. As pautas eram discutidas, rediscutidas, analisadas uma a uma para verificar se rendia de fato uma boa reportagem ou matéria cultural. Os anos de 2000 a 2002 foi o período em que mais se produziu e falou-se de cultura paraibana. Percebendo essa efervescência cultural local os editores Eduardo Carneiro e William Costa criaram o caderno “Ideias”, um caderno de quatro páginas, em formato “stand” que dava espaço para os intelectuais e professores da academia, além de conter resenhas críticas e algumas entrevistas com personalidades da cultura regional e nacional. No caderno Ideias conheci profundamente o universo dos poetas e suas gerações, mergulhei no mundo das letras como nunca havia mergulhado. Entrevistei grandes personalidades, a exemplo de Jormard Morais Souto, Ariano Suassuna (que era primo da minha mãe e foi entrevistando n’A União que descobri nosso parentesco), Sérgio de Castro Pinto, Sivuca, Severino Vilô, Jessier Quirino, , Andreas Kisser, Jorge Vercilo, Djvan, Lya Luft, , Maria Bethânia, Fernanda Takai, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Massaude Móises e tantos outros nomes da música, literatura e artes em geral. Foram anos também em que a cultura local começava a despontar no cenário nacional, como espetáculo “Vau da Sarapalha”, do grupo de teatro Piollin, o cinema paraibano também ganhava prêmios nacionais e internacionais nos festivais de cinema, evidenciava cada vez mais a Paraíba para o resto do mundo.

266 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO A música também despontava com nomes como Chico César e Renata Arruda que se destacavam no cenário nacional. Na cultura alternativa tinham produções do coletivo cultural “Las Lusineides”, a banda A Cabruêra saía do gueto para conquistar a Europa. A cultura popular descobria Isabel da Loca, a tocadora de pífano que morava numa gruta. Nas artes plásticas Sérgio Lucena, Dyogenes Chaves, Clóvis Júnior, Tito Lobo, Fabiano Gonper, Flávio Tavares e tantos outros ganhavam registro nas páginas dos caderno culturais do jornal A União deste período. Éramos quase que condicionados a ler os livros que chegavam aos montes na Redação para fazer resenhas, entrevistar e comentá- los nos textos que produzíamos. Paralelo ao “Ideias” tinha também o menino dos olhos d’A União, o “Correio das Artes”, que também vinha carregado de poesia e poemas ilustrados como em aquarela de opções. Também neste período 2000 a 2002 me debruçava na especialização de jornalismo cultural. O desejo de me aperfeiçoar crescia a cada texto escrito, a cada matéria, a cada entrevista realizada. Neste tempo escrever sobre a cultura da minha terra e do meu povo já fazia parte do corpo, da cabeça e da mente. Até que um dia o sonho de fazer um jornalismo de cultura pulsante e visceral era interrompido pela entrada do novo governo Cassio Cunha Lima, que reduziu três cadernos de Cultura em agendão cultural em formato “tabloide” de apenas uma página. Em junho de 2002 me desligava do jornal A União e começava uma outra etapa da minha carreira profissional no caderno Show do jornal O Norte, grupo do Diários Associados da Paraíba. A União fica sempre no coração de quem busca o jornalismo pela arte de escrever, o jornalismo pelo jornalismo, o jornalismo valor- notícia, o jornalismo romântico, talvez, mas o jornalismo escrito com ética. A União é e sempre será a eterna escola do ser e do fazer pessoas mais humanas.

A UNIÃO 267 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro r ena ar ino (*)

Canti nho de Cultura: a anela li er ria e A ni o

onheço e admiro A ni o desde que era criança. Entretanto, a minha relação direta com este importante jornal começou Cexatamente no ano 2000, quando comecei a namorar o meu atual esposo João Evangelista, bacharel em Comunicação Social e em Direito pela UFPB, que à época exercia as funções de editor de Políti ca e de colunista Políti co na “Centenária e bela Velhinha”, como ele carinhosamente tratava o seu local de trabalho e de grandes amizades. A parti r daquele ano, eu e minha mãe, assistente social Lúcia Targino, passamos a ler diariamente e a comentar as matérias das várias editorias do jornal, com destaque e atenção especial para os bons e bem escritos textos assinados por João Evangelista. Lembro- me bem que sempre comentávamos sobre como ele, além de cuidar da produção e edição de duas páginas de Políti ca, “arranjava” tanto assunto para sua bem escrita e bem fundamentada coluna. Não sabia eu que um dia iria viver a mesma experiência de ver todos os dias uma coluna por mim produzida e assinada diariamente ser publicada depois de “muito frio na barriga” e de muito pensamento sobre o que deveria trazer de novo e atraente para os nossos leitores. Pois bem, essa oportunidade“caiu em minhas mãos” numa tarde tranquila de fi ns de março de 2009, quando João Evangelista, então no cargo de editor geral de A ni o, me ligou e me “inti mou” a assinar uma coluna diária de Literatura que havia sido proposta pela

268 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Superintendência da empresa estatal e que traria para a atualidade da época (2009) um trabalho homônimo publicado em A ni o durante vários meses do ano de 1964, sob o patrocínio do Programa de Extensão Cultural do Governo Pedro Gondim. Referi-me à tarde do convite formulado por João Evangelista como “tranquila”, mas confesso que a minha tranquilidade, naquele dia, deu lugar ao já mencionado “friozinho na barriga” no momento em que disse “sim” à proposta do meu amor e, de imediato, comecei a me apaixonar pelo trabalho que me permitiria abrir em A ni o uma janela para a vida literária do meu país. A partir de então, me dei conta de que poderia oferecer aos leitores a oportunidade de conhecer e entender importantes produções das várias escolas da Literatura Brasileira, desde a época de Literatura de Informação, em que a Carta de Pero Vaz de Caminha (Carta do Descobrimento) se destaca como primeira obra literária produzida no Brasil, até a terceira fase do movimento modernista, contemporânea da coluna “Cantinho de Cultura”. Abracei o novo desafio como uma oportunidade de estimular as pessoas a buscarem o conhecimento literário a partir do acesso às principais obras de autores das diversas fases do Brasil quinhentista ao Brasil contemporâneo, passando também por obras de renomados autores estrangeiros e ainda por produçõesjornalísticas e musicais com interesse literário. Criamos, então, um espaço de leitura obrigatória composto de sinopses das principais obras produzidas durante os períodos da Literatura de Informação e Literatura Jesuítica(época que marcou o descobrimento do Brasil), do Barroco, do Arcadismo (Neoclassicismo), do Romantismo (na poesia e na prosa), do Realismo Naturalismo, do Parnasianismo, do Simbolismo, do Pré-Modernismo e finalmente do Modernismo em suas três fases, até as tendências da prosa brasileira contemporânea. Em cada edição, os resumos estavam acompanhados de comentários sobre a obra em destaque, seu autor e o momento histórico-literário em que ela estava inserida, e ainda sobre como se relacionava o movimento literário brasileiro com o momento histórico- literário vivido na Europa, considerando que a nossa literatura sofreu forte influência europeia, notadamente na fase do Romantismo do século XIX. No espaço que denominamos “Café pequeno”, publicamos textos breves, especialmente dos estilos poesia e prosa. A coluna “Cantinho de Cultura” ocupou a página 15de A ni o (então no formato tabloide) durante o período de 4 de abril de A UNIÃO 269 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro 2009 (com a edição de apresentação) a 4 de janeiro de 2011, quando publicamos e comentamos sinopse de “A Moratória”, peça teatral encenada pela primeira vez em 1955 que figura entre as principais obras do jornalista, prosador e dramaturgo paulista Aluízio Jorge Andrade Franco, integrante da terceira fase do Modernismo brasileiro (iniciada em 1945) que dividiu espaço, em nível de importância, com nomes como Guimarães Rosa (autor de Grande Sertão: Veredas”), (autora de “Perto do Coração Selvagem”) e João Cabral de Melo Neto (autor de “Morte e Vida Severina”). Durante exatos um ano e nove meses,garantimos aos leitores de A ni o o acesso, dentre muitas outras excelentes obras, a produções literárias de nomes da linhagem de João Guimarães Rosa, Gregório de Matos, Augusto dos Anjos, Orígenes Lessa, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Lêdo Ivo, Bento Teixeira, Padre Antônio Vieira, Tomás Antônio Gonzaga, , Cláudio Manoel da Costa, Paulo Mendes Campos, Gonçalves Dias, Luís Fernando Veríssimo, Cassimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Castro Alves, Antônio de Alcântara Machado, José de Alencar, , Manoel Antônio de Almeida, Carlos Drummond de Andrade, João Ubaldo Ribeiro, Bernardo Guimarães, Joaquim Manoel de Macedo, Franklin Távora, José Américo de Almeida, Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Domingos Olímpio, Manuel de Oliveira Paiva, Clarice Lispector, Adolfo Caminha, Raul Pompéia, Rudyard Kipling, Alphonsus de Guimaraens, Edgar Allan Poe, Volteire, Franz Kafka, Dalton Trevisan e Cecília Meireles. E ainda:Olavo Bilac, Marina Colasanti, Alberto Oliveira, Raimundo Correia, Eça de Queirós, , Cora Coralina, Vinícius de Moraes, , Cruz e Sousa, Paulo Setúbal, Artur Azevedo, Zé da Luz, João Cabral de Melo Neto, Artur da Távola, Mário Prata, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Monteiro Lobato, Graça Aranha, Platão, João Simões Lopes Neto, Armando Nogueira, Federico Garcia Lorca, Gilberto Freire, Manuel Bandeira, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida, Cassiano Ricardo, Menotti Del Picchia, Raul Bopp, Plínio Salgado, Cassimiro de Abreu, Juó de Bananére, Tasso da Silveira, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Mário Quintana, José Lins do Rêgo, Graciliano Ramos, , Érico Veríssimo, Cornélio Penna, Cyro dos Anjos, Patrícia Galvão (Pagú), Herberto Sales, Otávio de Faria, Ribeiro Couto, Álvaro Lins, José Geraldo Vieira, Ariano

270 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Suassuna, , Elisa Lispector, , Mauro Mota, Domingos Carvalho, Geraldo de Camargo Vidigal, Geir Campos e Aluísio Jorge Andrade Franco. Também disponibilizamos e comentamos belas produções de autores locais como Antonio Mariano, Yanko Cyrillo, Ricardo Anísio e João Evangelista, e de ilustres personalidades da música brasileira como Luiz Gonzaga, Roberto e Erasmo Carlos, Caetano Veloso, , Raul Seixas, /Paulo Coelho e , e garantimos aos leitores de A ni o a oportunidade de sugestão de leitura, das quais destacamos duas em especial: “O Pássaro Pintado”, de JerzyKosinski, sugerido pelo jornalista João Evangelista, e “O Guardião de Memórias”, de Kim Edwards, sugerido pelo jornalista José Napoleão Ângelo. e os ara sere ole iona os Com a coluna “Cantinho de Cultura”, tivemos a honra e o prazer de oferecer aos leitores deA ni o um conjunto de obras comentadas capaz de inseri-los de corpo e alma no apaixonante mundo da literatura – espaço que, mesmo colocado por muitas pessoas apenas no plano do sonho e da impessoalidade, está diretamente ligado à vida de todos nós, seja para alimentar as conversas, os sonhos, as relações sociais, familiares ou românticas, seja para abrir portas nos mais variados campos da intelectualidade humana. Correio as Ar es Também tive a honra de participar, com dois textos (“Machado de Assis e a Academia Brasileira de Letras” e “João Ribeiro: os clássicos e a língua”) da Edição Especial do Correio das Artes, publicada em outubro de 2009, que homenageou o criador e primeiro presidente da ABL, Joaquim Maria Machado de Assis, ou simplesmente Machado de Assis.

(*) r ena ar ino Moreira Ro ri es é formada em Pedagogia (Licenciatura) e em Direito (Bacharelado) pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); é especialista em Psicopedagogia, pelo Centro Universitário de João Pessoa (Unipê), e em Orientação e Supervisão Escolar, pelo Centro Integrado de Tecnologia e Pesquisa (Cintep), e graduanda do Curso de Licenciatura em Letras. Produziu e assinou a coluna diária de Literatura “Cantinho de Cultura”, em A ni o, no período de 4 de abril de 2009 a 4 de janeiro de 2011.

A UNIÃO 271 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Cl is ai o

O ri eiro a or a en e n n a es e e

inha chegada ao jornal A União se deu no ano de 2001, ainda muito jovem, como estagiário e cursando Jornalismo Mna UEPB, em Campina Grande. Aproveitei umas férias em João Pessoa e o convite do então editor-geral Eduardo Carneiro, que considero fundamental na minha carreira, para aprender, trabalhar na profissão que escolhi. Após o final das férias coloquei minha disposição a Eduardo de continuar mesmo tendo que ir e vir diariamente de Campina Grande para João Pessoa, meu esforço foi recompensado e fui contratado como repórter de Cultura do já centenário jornal dirigido à época por Rui Leitão. Mesmo tendo uma inclinação pelo jornalismo político fui rapidamente seduzido pela área cultural onde escrevia no Caderno Dois ao lado de mestres como William Costa, Juneldo Morais, Linaldo Guedes, Renato Felix, Adriana Crisanto, Patrícia Braz e, posteriormente, com Astier Basílio meu contemporâneo de curso e de vivência na Praça da Bandeira e no antigo Parayba Café. O jornal A União não era apenas uma escola, mas uma universidade tendo na época grandes profissionais do jornalismo, que prefiro não citar para não pecar pelo esquecimento. Foram quase três anos no jornal que considero um dos melhores momentos

272 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO na minha carreira profissional e que dei os primeiros passos no jornalismo me especializando na área musical, artes plásticas e das reportagens especiais com as rendeiras do Cariri e das ceramistas de Serra Branca, que me renderam na época votos de aplausos na Assembleia Legislativa da Paraíba. Era um tempo de transição nos meios de comunicação em que a internet ainda era embrionária, e que fazíamos jornalismo de verdade apurando a notícia e buscando sempre o furo ou a exclusividade da informação. Lá, podíamos acompanhar de perto desde o nascimento da notícia, até o final do processo com a impressão dos jornais na gráfica pelas madrugadas. O momento mais marcante na minha passagem pela A União foi o meu primeiro reconhecimento público com a premiação como Jornalista Revelação em jornal impresso no ano de 2002, espécie de Oscar do jornalismo paraibano, realizado pelo Sindicato dos Jornalistas da Paraíba. Escolha feita pelos próprios jornalistas da época, o que muito me orgulha e demonstra uma acolhida generosa dos companheiros de profissão. Meses depois vivenciei também com a primeira decepção que foi o meu afastamento e de dezenas de bons profissionais do jornal A União devido a mudança no governo estadual. Mas algo que de certa forma me possibilitou buscar outros horizontes e respirar novos ares como produtor de jornalismo na TV Tambaú a convite do saudoso Jacinto Barbosa e outras funções essenciais para minha formação profissional e humana. Nestes meus quase 15 anos de jornalismo impresso, TV e assessoria de comunicação vivenciei muitas histórias, fiz amigos, chorei, sorri, mas o tempo no jornal A União ficará guardado nas minhas melhores lembranças com muita ternura, assim como o meu primeiro beijo, como aquele primeiro amor que a gente nunca esquece. Mas entre chegadas e partidas A União se mantém viva, conectada com o novo contexto da comunicação como uma jovem senhora, disposta a continuar escrevendo a história do Brasil e da Paraíba.

A UNIÃO 273 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Jor e Resen e (*)

a ren i a o e r s a os

inha experiência em A União pode ser dividida em três atos. Momentos separados e distintos no tempo e em Mcircunstâncias totalmente adversas umas das outras. Na maior parte, momentos agradáveis e satisfatórios. Todavia, nem tudo foram flores, mas os espinhos fazem parte da história e acrescentaram – e acrescentam – pontos importantes para a minha trajetória profissional no campo da comunicação social na Paraíba. A minha primeira passagem pela A União ocorreu no início dos anos de 2000, quando o superintendente da autarquia era Rui Leitão, no governo de José Maranhão (PMDB). Aceitei o convite duplo feito pelo colega Eduardo Carneiro, então editor-geral, e pelo diretor Nélson Coelho. Assumi a Editoria Adjunta de Política, que tinha à frente o jornalista João Evangelista, e fiquei responsável pelas entrevistas para o projeto ‘Memória Política’. Foi um grande aprendizado. Um jeito novo de fazer jornalismo em meio a uma equipe espetacular. Depois do Curso de Comunicação na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), fui “formado” nas redações do jornal Correio da Paraíba; e chegava à A União vindo da Redação e “escola” do jornal O Norte. Já contando com quase uma década de experiência, me sentia decepcionado com o jornalismo paraibano. Planejava mudar de ramo. E foi justamente nessa passagem pela A União que fez renascer o meu prazer pela profissão.

274 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Até a minha saída, em meados de março ou abril de 2001 para assumir a Editoria Adjunta de Política do Jornal da Paraíba, posso garantir que o período em que atuei na Redação de A União (numa primeira experiência) foi um dos melhores da minha vida. Pela manhã cobria a Assembleia Legislativa e a Câmara Municipal de João Pessoa; à tarde redigia o material; ajudava o editor de Política a descer as páginas; e fazia as entrevistas do projeto ‘Memória Política’. O ‘Memória Política’, idealizado por Nélson Coelho e iniciado comigo, trazia semanalmente, em tamanho tabloide e encartado na edição de domingo de A União, as histórias de personagens importantes da política paraibana contadas por eles mesmos. O interessante era que, cada uma das entrevistas feitas por mim, era acompanhada por um âncora. Por exemplo: na entrevista com Joacil de Brito Pereira, o âncora foi Dorgival Terceiro Neto. A minha segunda passagem pela A União não foi nada agradável. Costumo dizer que fui o editor-geral mais rápido da história desse jornal. Fui um editor Roque Santeiro... “Fui sem nunca ter sido”. Foram dois dias que marcaram a minha vida e história na imprensa paraibana. Era início do ano de 2003. O então governador Cássio Cunha Lima (PSDB) assumia o governo do Estado. Eu havia acabado de sair da assessoria de imprensa do então deputado estadual Ricardo Coutinho, ainda no PT. Foi quando, indicado pelo jornalista Agnaldo Almeida (um dos meus eternos mestres), aceitei o convite para assumir a editoria-geral de A União. De imediato, deixei algumas outras assessorias que fazia no momento e a editoria-geral da revista A Semana, de Neno Rabello. Apresentei-me no jornal e fiquei dois dias praticamente internado na sala do então superintendente da autarquia, Itamar Cândido. Recebi orientações para que estudasse, analisasse e formasse uma “nova” equipe para todas as editorias do jornal. O esboço (para a reforma editorial e gráfica) estava em andamento. Em dois dias, praticamente a equipe de profissionais já estava esquadrinhada (eu traria poucas pessoas de fora; todos da Redação permaneceriam na equipe, com algumas mudanças de funções). Foi quando, no raiar do terceiro dia, Itamar Cândido, extremamente constrangido (ele não teve culpa alguma), me informava que os “planos haviam mudado”. Eu não seria o editor-geral do jornal. Outra pessoa seria indicada, mas que eu “não ia ter nenhum prejuízo”: iria receber o mesmo salário de editor-geral, “atuando como repórter especial”.

A UNIÃO 275 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Ou seja: eu não sabia os motivos e os porquês, mas estava sendo “cassado” politicamente e iam “me dar um dinheiro (sem trabalhar, porque repórter especial nesse caso era sinônimo de fazer nada)”. Na verdade, era um “cala-boca”, um “toco oficial” para eu não espernear. Havia largado meus empregos e fiquei na “rua-da-amargura”, sem lenço, sem documento, sem trabalho e sem nenhum ganho... Mesmo assim, não aceitei o “cala-boca” e, ao contrário, coloquei a “boca- no-trombone”. Demorei um pouco para me levantar psicologicamente, financeiramente e profissionalmente... Mas tudo passou. Há males que vêm para o bem. Apesar do drama, ainda bem que não continuei naquele projeto, pois o que veio a seguir, caso estivesse na editoria, eu não iria aceitar e sairia de qualquer maneira do jornal. O novo governo protagonizou uma das maiores demissões em massa na autarquia e “transformou” a centenária A União em um tabloide que quase leva o diário à extinção. Anos mais tarde, me foi revelada a verdade sobre o que ocorreu na minha “cassação”. Momentos antes do governador Cássio assinar minha nomeação para editor-geral, o então prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PSDB), teria “pedido a minha cabeça”, alegando que o governador iria colocar na editoria um “espião do então deputado Ricardo Coutinho”. Por fim, a minha terceira experiência em A União está começando agora, em setembro de 2017. Aceitei o convite da superintendente Albiege Fernandes e assumo a responsabilidade pelo site de A União. Novos tempos, novas aprendizagens nesta eterna escola do jornalismo paraibano.

(*) Jor e Re en e – Mineiro da cidade de Três Corações, nascido a 19 de agosto de 1966, militando na imprensa paraibana desde agosto de 1989. Com passagens pelos jornais O Combate, Correio da Paraíba, O Norte e A União, editou a revista A Semana e atuou na Rádio Sanhauá. Foi secretário de Comunicação de João Pessoa (Secom-JP), secretário de Comunicação da Câmara Municipal da capital (CMJP), coordenou a Assessoria de Imprensa do Ministério Público da Paraíba (MPPB) e com passagem pela equipe de Assessoria de Imprensa da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB).

276 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO E ar o Carneiro

Desafi os de um vesperti no que fez história

oi na redação do jornal A União que assisti o mundo mudar. Nada seria como antes depois daquela manhã fria de 11 de setembro Fde 2011, quando terroristas colidiram intencionalmente com dois aviões contra as Torres Gêmeas do complexo empresarial do World Trade Center, na cidade de Nova Iorque, matando todos a bordo e muitas das pessoas que trabalhavam nos edifí cios. Acompanhei tudo de uma TV da sala da editoria ao lado de Robson Nóbrega, Conceição Couti nho, William Costa e Linaldo Guedes. Todos de olhar esbugalhado e sem acreditar no que estava acontecendo. Nosso desafi o era um pouco maior do que os nossos concorrentes, já que tí nhamos pouco mais de 4 horas para colocarmos uma edição nas ruas: sim, o jornal A União nessa época era vesperti no. O desafi o ou missão, seja lá como quiserem chamar, nos foi confi ada pelo então superintendente da época, Rui Leitão. Ao assumir o comando do centenário jornal paraibano, ele decidiu inovar: fez uma espécie de eleição indireta na Redação, que me apontou como editor-geral, e logo em seguida anunciou que a intenção dele era mudar radicalmente as feições gráfi cas do centenário jornal matuti no e transformá-lo em vesperti no, sendo às 13h o horário programado para distribuição. “Vamos conquistar um mercado até então pouco explorado, além de furar os jornais tradicionais da Paraíba”, argumentou. Ele ti nha razão! Conseguimos aumentar a circulação e a procura. A União voltava a fazer parte das rodas de conversa e, em alguns casos, a pautar os concorrentes.

A UNIÃO 277 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Mudar um jornal tradicionalmente matutino para vespertino não seria tão fácil. Sem investimentos, era necessário nos adaptar a uma nova realidade. Utilizando equipamentos obsoletos, tínhamos que reduzir o tempo de produção e mudar a linguagem. A primeira decisão veio rápida, investir em gente nova, sem vícios de linguagem, gente recém-saída da universidade e com muita garra para trabalhar em algo novo. Assim contratamos os “focas” Helen Almeida, Suetoni Souto Maior, Andrea Alves, Wagner Lima, Petrônio Torres e Clovis Gaião. Eles se juntaram a uma equipe experiente e ficaram sob a tutela da nossa chefe de Redação, Conceição Coutinho. Mudamos também a forma de fazer jornal. O caderno de Cultura, que tradicionalmente era preparado pela manhã passou a ser executado à tarde. Precisávamos atrair novos leitores e para isso novas secções foram criadas, Estante – tratava exclusivamente de literatura e Você – Cidadania e Saúde. Ampliamos o caderno de Esporte, reduzimos o tamanho dos textos e tratamos de dar mais leveza a cada um deles. A ideia era pensar que o nosso leitor, o nosso público-alvo, iria pegar o jornal na hora do almoço ou na hora do descanso e precisa completar ou renovar as informações que o matutino trazia mais cedo. A regra principal era “não repetir o que já tinha sido publicado, mas repercutir as notícias mais lidas ou fazer manchete os assuntos que ganharam destaque durante a madrugada ou pela manhã logo cedo”. E no dia 11 de setembro de 2001 o desafio era ainda maior. Sabíamos que estávamos vivendo um momento histórico e o exemplar deste dia tinha que ser especial. Logo após assistir as torres desaparecerem, decidimos explorar o impacto daquele momento no Brasil. Escalamos repórteres para ir às ruas entrevistar pessoas, historiadores e políticos. A partir daí nos concentramos na Capa. Decidimos a manchete “O IMPÉRIO EM CHAMAS”! Com o título principal aprovado, tudo ficava mais tranquilo. Paulo Sérgio, nosso diagramador, e o Negão Moraes, nosso revisor, a postos, fechamos a edição. Mas talvez o maior desafio do vespertino A União nem tenha sido esse. As Torres Gêmeas caíram no início da manhã, mas como colocar na capa de um jornal que vai às ruas às 13h um fato que só iria acontecer às 12h30. Essa foi a principal pergunta que fizemos no dia 30 de maio de 2001, quando o então senador Antônio Carlos Magalhães, mergulhado em escândalos de corrupção, anunciou o discurso de despedida do Senado para o final da manhã. Depois de muito esquentar a cabeça veio a solução. Decidimos preparar o jornal e rodá-lo na prensa por completo deixando apenas a capa e a página de Últimas em aberto. O jornal rodava em policromia, ou

278 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO seja, quatro cores, quatro chapas, que eram montadas de forma quase artesanal uma sobre a outra para no fi nal se obter as cores. Qualquer deslize, qualquer milímetro fora do lugar poderia colocar tudo a perder, dando a sensação de tremido e impedindo a leitura. Nesse dia, iríamos cobrar e exigir um pouco mais de habilidade da ofi cina de máquinas e da montagem. Rodamos o jornal em três cores, excluindo o branco. Colocamos a foto de ACM em um fundo preto que dominou a mancha completa da Primeira Capa. Era lá que entraria o discurso de renúncia e a matéria principal do jornal. Assim dito, assim foi feito. Meia hora depois do discurso de despedida de ACM do Senado, o jornal já rodava pelas principais ruas de João Pessoa. Trabalhar no jornal A União sempre me rendeu muito orgulho. Hoje me rende saudades. Saudades de um tempo em que Redação de jornal era construída de amizade, cumplicidade e amor pela profi ssão. O jornal escola, me ensinou muito mais do que exercer o jornalismo. Foi lá, muito mais do que em qualquer outra Redação, que entendi o verdadeiro signifi cado da amizade e da cooperação. Na velha A União, todos os desafi os, todas as barreiras, todos os problemas, se tornam pequenos e são vencidos com troca de experiências e muitas gargalhas.

A UNIÃO 279 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Cl is Ro er o

A ni o e r s a os

m três momentos, três instantes, três cenários, o jornal A União cruzou com o meu caminho jornalístico. Foram duas passagens pela Redação Edo periódico e, antes disso, a pesquisa para o trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) feito no arquivo da “Velhinha”. E os jornais para mim são como um ser vivo, possuem entendimento próprio. Cada um tem sua alma, seu jeito, sua forma, seus perfumes e vozes. Quando fui apresentado ao jornal A União eu era um estudante de Jornalismo. O jornal foi meu campo de pesquisa do projeto final do curso. Uma análise sobre as notícias da participação brasileira na II Guerra Mundial. Era meados dos anos 90 e eu mergulhei no arquivo e nos históricos exemplares em busca das notícias sobre os pracinhas da FEB no front italiano. Foi fascinante viajar pelas páginas de A União impressas ainda na primeira metade da década de 40. Uma máquina do tempo feita de papel. Ao final da pesquisa me despedi de A União, sem saber que seria um até breve. O reencontro? Já era o século XXI quando retornei à sede do jornal no Distrito Industrial. Eduardo Carneiro, que tinha assumido a editoria do jornal, fez o convite para trabalhar como repórter. Em A União pude conhecer e aprender mais no jornal que sempre foi uma escola. Vi uma nova geração de jovens surgir sob a batuta de Conceição Coutinho na chefia de Reportagem. E tive os primeiros contatos com o mestre William Costa. Pude me deliciar fazendo matérias especiais para o antigo caderno dominical “Você”, onde a maioria das reportagens era feita a quatro mãos,

280 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO o que possibilitou em uma ocasião dividir a pauta e assinar com a minha irmã Hellen Almeida, que iniciava ali, a sua carreira em jornalística. E ainda teve a experiência de atuar num jornal que se tornou vespertino. Até que chegou a hora de me despedir mais uma vez de A União. E ali não percebi que aquilo era mais um até breve. O Norte havia fechado no dia 1 de fevereiro de 2012. Eu buscava uma recolocação, cobria férias de colegas no hoje também extinto Jornal da Paraíba, quando recebi um telefonema. Era Beth Torres que editava A União me perguntando se eu topava assumir a editoria de Cidades. Mal sabia eu que o convívio em Redação com Beth Torres no jornal seria, infelizmente, brevíssimo, apenas uma semana. Era um sábado quando anunciou a saída do jornal. Incertezas à parte, na segunda-feira o telefone tocou e William Costa pediu que eu comparecesse à Redação. A surpresa: ele era o novo editor de A União e, como não poderia contar com Nara Valuska para a editoria adjunta porque ela iria ocupar uma diretoria do jornal, convidava para eu ser o segundo no comando da Redação. Ao invés de ser demitido, era promovido. Foram mais dois anos em A União. Novo aprendizado, novas experiências. De brinde, o prazer de dividir ótimas conversas com William Costa, ganhar uma colega de trabalho e amiga, Renata Ferreira. E pude reencontrar velhos colegas de A União, assim como conhecer e aprender com mais uma nova geração talentosa de jornalistas. Até que a vida me levou a mudar de endereço novamente. Mas fica o agradecimento ao jornal A União e um sentimento, não de adeus, mas de até breve. Quem sabe, agente se encontra logo ali na frente.

Alguns profissionais na Redação Jornalista Luiz Augusto Crispim

A UNIÃO 281 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro ia Carolino (*)

A r la i a e A ni o

maior qualidade de um repórter é sempre a inquietude. É uma lembrança efetiva que carrego desde os tempos dos bancos Ada academia. Quando estudante de Jornalismo, ficava me questionando como seria trabalhar com uma equipe com uma grande bagagem de conhecimento e estilo? Naquela época, me parecia um sonho profissional inalcançável. Ainda estudante secundarista, em Cajazeiras, me vinha lampejos de como seria trabalhar no jornal A União. Depois, já cursando Jornalismo em Campina Grande, comecei a utilizar o diário como material de consulta e análise de textos. Revirava, frequentemente, as páginas de cultura, artigos, colunas políticas e reportagens especiais, por procura seletiva de temas que sempre me interessavam. Ler Nonato Guedes, Agnaldo Almeida, Martinho Moreira Franco, Gonzaga Rodrigues, Marcos Tavares, Carlos Aranha (e tantos outros) era um privilégio. Como muitos profissionais do jornalismo, fui galgando os batentes do mercado e, em março de 2002, com cinco meses de gravidez, recebi um convite da então primeira-dama Fátima Paulino, para assumir uma diretoria do jornal oficial, referenciado como um patrimônio do próprio Estado. Assumi a Diretoria Técnica de A União, em substituição a Nelson Coelho, que ascendeu à Superintendência. Lembro que ainda resisti, por estar grávida. Mas, logo, lembrei do sonho que me acalentava desde a adolescência lá na terra de Padre

282 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Rolim. E ele, o sonho, estava ali, ao meu alcance. O jornal que eu mais admirava, por toda história que se mistura com a própria história da Paraíba, me receberia de braços abertos. De pronto, aceitei o honroso convite. Cumpri a missão até 2003. Trabalhar no jornal A União foi algo muito especial. Ainda mais num ano marcado por grandes alegrias, quando fui abençoada pela segunda maternidade, pois Beatriz estava chegando para fazer companhia ao primogênito João Luiz. Assumir a diretoria era encarar mais um desafio, com uma marca registrada: seria a primeira mulher a assumir a diretoria técnica de A União. A União projetou [e continua a projetar] grandes profissionais. Minha admiração pelo jornal continua. Vi de perto a garra e o talento dos seus profissionais, a pujança de sua Redação e um irrequieto parque gráfico que teima a se reinventar, mesmo vivendo a brutal concorrência tecnológica, onde uma tela de cinco polegadas desafia um jornal impresso. É fato. O bom jornalismo segue como prática de uma relação democrática em todas as instâncias da sociedade. Continuará sendo, sempre, instrumento de transformação. É inevitável a adaptação nos moldes e na velocidade que veículos digitais impõem ao mercado. A missão do jornalismo, porém, seguirá preservada. Ninguém ainda inventou uma fórmula para ter um veículo qualificado sem jornalistas qualificados. A fórmula de A União é mágica, por misturar todos esses ingredientes, de forma muito atual.

(*) Fábia Carolino - Formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande. Tem graduação em Marketing Estratégico e Marketing Digital (MBA), pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Jornalista, com atuação em diversos veículos de comunicação, como Rádio Difusora de Cajazeiras, Rádio Tabajara, Jornal O Norte e assessorias de imprensa em Instituições públicas (Secretaria de Estado da Comunicação Institucional do Governo do Estado e Ministério Público Estadual). Atualmente coordena a Assessoria de Comunicação do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, onde trabalha desde 2012.

A UNIÃO 283 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro le ane Ma iel

l ar ara a ren er a on ar boas histórias

uito aprendizado e boas lembranças! É assim que recordo as duas passagens pela Redação do jornal A União. Ela foi a Mprimeira casa que acolheu minhas tímidas palavras. Em 2002, ao chegar na Redação tive a sorte de ter como chefe de reportagem Conceição Coutinho. Uma profissional que com paciência e maestria conseguiu mostrar o lado bom do jornalismo ensinando a arte de contar boas histórias. Entre erros e acertos fui construindo minhas matérias no Caderno de Cidades, aprendendo a amar a profissão que abracei anos antes e por questões particulares ainda não tinha conseguido exercer. No início de 2003, eu e vários outros profissionais da Redação, na época, comandada pelo editor geral Antônio Costa, fomos exonerados. Em 2012, voltei para o jornal e trabalhei no Caderno de Política com a editora Nara e tendo como editor geral William Costa. Reencontrar alguns colegas de trabalho foi muito bom e mais uma vez gratificante contribuir e aprender. Aprender, diariamente, faz parte da nossa profissão e o jornal A União foi, e continua sendo uma empresa que contribui muito para a formação de jovens profissionais. Ser jornalista é antes de mais nada ser um grande contador de boas histórias.

284 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Asti er Basílio

Es ola e i a e e ornalis o

ua Tavares Cavalcante. A rua que cortava com a Floriano Peixoto e a Feira Central. Era lá. Numa casa, com batentes, que fi cava a primeira RRedação do jornal A União. Minha primeira Redação. Era 2003, mas ainda havia uma máquina de dati lografi a, usada, não pela Redação, composta apenas do colega Xico Nóbrega, instalado no único computador disponível. Quem chefi ava a sucursal era Deusarina. Com porte de mama italiana, voz grave, olho sombreado a lápis, e o indefectí vel cigarro entre os dedos. “Meu fi lho...” - era como sempre me chamava. Como sói ocorrer em seccionais do interior, reclama-se da capital, que muito exigia, embora pouco provesse em recursos para se realizar as tarefas. Não tí nhamos carro e era uma complicação conseguir um fotógrafo. Eu ia lá para conversar com Deusarina. Fazia meus textos de casa. Mas não me demorei muito. Recebi um telefonema de Linaldo Guedes, à época, editor do caderno de Cultura. Perguntou o que era preciso para eu vir. Não era a primeira vez que se tratava de minha ida a João Pessoa. Desde 2000, eu, ainda sendo estudante, de Letras na então UFPB, de Campina, e de Comunicação Social da UEPB, colaborava com críti cas literárias para o jornal. Dividia meus escritos com a elite do jornalismo e da academia paraibana. Mesmo muito novo, antes de ser repórter, fui críti co. Foi o primeiro estágio dessa escola. Estava ao lado de Hildeberto Barbosa Filho, João Bati sta de Brito, Andrea Chiacci, entre tantos outros. Escrevia para o caderno Ideias, editado por William Costa, com quem tratei da possibilidade de ir trabalhar como repórter, mas que não foi possível.

A UNIÃO 285 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro O vai-e-vem dos governos a cada quatro anos causa abalos sísmicos nas estruturas de todas as autarquias públicas e com A União não foi diferente. Tão logo Linaldo assume o posto de editor, me liga. Ao escutá-lo, confesso, que não acreditei que seria possível minha ida. Porém, meses depois, quando já estou integrado à equipe, em Campina, e Linaldo novamente me liga, a oferta me pareceu plausível. Devo ter ido no dia seguinte. Havia pressa. A editora geral, Sony Lacerda, queria um bom caderno de Cultura e Linaldo fez o seu pedido: queria que eu fosse transferido. Foi em sua casa, um apartamento em Água Fria, que passei meus primeiros dias em João Pessoa, já como repórter de A União, até me mudar para um caixote quixotesco em Jaguaribe. Em A União se aprende. É um lema. E tive a alegria de cursar aquela pós-graduação. Escrever sob os limites de um patrão chamado governo, com chefes distribuídos em todo o imenso arsenal hierárquico do Estado não era - e não é - tarefa fácil. Mas Linaldo foi o meu orientador nestes e em tantos outros melindres. Na Redação de A União fiquei ao lado do amigo Cícero Félix, de Arara, que conhecia dos tempos do curso e das minhas idas ao Diário da Borborema, onde também colaborava com crítica literária. Foi lá, na Redação localizada num complexo construído no distrito Antártica, a qual ia em um ônibus quase mítico, que quase nunca passava, que comemorei meus grandes acertos. Uma parceria da qual me orgulho, não só no caderno de Cultura, onde desempenhei as funções de colunista e crítico de cinema - Linaldo já o era de literatura - como também fizemos, Linaldo na condição de editor, eu de repórter, o Correio das Artes se atinar com as novas tecnologias e ficar sincronizado com o debate nacional. Mas nada era fácil. Questionamentos havia. Interferências, nem sempre bem-vindas de quem não conhecia de cultura, mas conhecia de poder - redação, e em A União não se foge à regra - é uma estrutura hierárquica: há quem mande e deve haver quem obedeça, mas nessa dialética havia muito o argumentar, o negociar. O dizer não. O ter de dizer sim. Foi em A União que cometi também meus primeiros erros. Não só os motivados pela pressa, de se fazer várias matérias no mesmo dia, de se fechar páginas - foi onde me iniciei na marra como editor - mas erros de entender como funcionar questões como vaidade, orgulho, disciplina e de como lidar com o poder e suas sofisticadas instâncias. Fui censurado. Não como repórter, mas como poeta. Um poema meu que seria publicado na edição que calhava de sair no dia do aniversário de João Pessoa. Era um poema, podemos dizer, marginal. Vanguardista. Eu falava da decadência do centro. E mencionava o nome

286 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO de João Pessoa. Da cidade, não o personagem - que à época, eu ainda não aprendera a admirar - Talvez eu mencionasse a estátua na praça de mesmo nome. Não lembro. E o preview com as anotações a lápis do secretário de Redação com as letras de forma “CUIDADO” está em uma pasta como um dos meus troféus até hoje. Para valer-me do clichê, não foram só flores. Quando quis me transferir para o Jornal da Paraíba, em 2005, cometi uma série de erros. Não entendi que havia uma norma tácita e não escrita de como negociar a possibilidade de estar no jornal estatal e em outro - como tantos colegas meus faziam à época. Jovem, não me importei com as questões da hierarquia. E onde há hierarquia há vaidade. E a vaidade de quem tem poder é exercida, sem peias nem bridas, contra quem pode pouco. Lembro que a superintendência à época tentou me punir e encontrou a melhor das formas para isso. Não me demitiu. Mas reduziu meu salário. Eu fiquei um bom tempo recebendo menos que qualquer repórter. Menos que o piso. Embora além de repórter, era responsável por editar duas páginas. Fiquei lá por orgulho. Para não dar o braço a torcer. Coisas da juventude. Saí e voltei. Embora houvesse me prometido que não retornaria. Mais uma vez no vai-e-vém dos governos. Em 2009. Novo governador havia por força da justiça. E novas mudanças na Redação. Recebo o convite do amigo e mestre Sílvio Osias para editar o Correio das Artes. Era a realização de um sonho. Sonho esse que durou apenas poucos meses. 2010. Ano novo. Governo novo. E velhos sentimentos. Expectativa de se manter no cargo. Incerteza. Insegurança. Amigos que decepcionam. Expurgos. Em 2010 corri o risco. Me recusei a participar de atos de campanha do então governo, embora fosse convocado para tal. Mais de uma vez. Ainda assim, me mantive neutro. E doeu ouvir de uma amiga que “eu havia feito escolhas e teria de arcar com elas”. E fiquei a pensar que caso houvesse reeleição, eu também seria dispensado de minhas funções. Por minhas escolhas - estas, sim, reais e não as da que fui acusado. Medo e sentimento comuns em quem trabalha para órgãos do governo, em funções comissionadas, com contrato precário. Falar em A União e não tocar nesse ponto é não enfrentar a história de que ela é feita. A conversa que tive com a amiga, que ascendera, foi uma das tantas conversas que existem, de 4 em 4 anos, em mudanças de todo e qualquer governo. Mudam-se os personagens. Mudam-se as posições nas cadeiras de quem está tendo esse tipo de conversa, mas a história de A União ficaria incompleta se eu não mencionasse isso. É uma escola, sim. Mas não só de jornalismo. De vida também.

A UNIÃO 287 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Mar os Al re o

Um breve encontro com a velha senhora

eu encontro profi ssional com o jornal A União foi relati vamente breve - mais breve do que projetei e desejei. No início de M2004, fui convidado pelo então superintendente Itamar da Rocha Cândido para integrar a equipe do veículo centenário, com um desafi o inédito: ajudar a consolidar um projeto ousado, polêmico e sobretudo corajoso diante do reconhecido perfi l conservador de um jornal peculiarmente tradicional. Minha missão em A União durou apenas quatro meses, lamentavelmente. Fui convidado para assumir a Coordenadoria de Jornalismo da Secom (posteriormente transformada em Diretoria de Jornalismo), para substi tuir o colega Levy Soares, que deixava o cargo por conta de convite para um desafi o profi ssional em São Paulo. Em termos práti cos, a ideia básica de Itamar Cândido foi impactar o mercado e a própria história de A União com uma revolucionária proposta gráfi co-visual que alterava não apenas o formato stand de sempre para o tabloide, mas também o conceito e conteúdo do veículo, com uma abordagem mais moderna e jovem, nunca perdendo a perspecti va de que, como toda e qualquer mudança, tempestades de polêmicas estavam reservadas pela frente. Foi, romanti camente, uma tentati va de reenergizar um veículo ofi cial sempre visto de soslaio pelo seu meio, embora nunca tenha perdido o respeito e as merecidas homenagens. Nunca engolimos, por exemplo, o conceito que alguns segmentos descontentes da mídia tabajara tentaram emplacar de que a transformação do formato de

288 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO stand para tabloide evidenciava uma “diminuição” da importância de “A União”. Por quatro meses, me dediquei à tarefa de elaborar o projeto e recebi o sinal verde para formar uma equipe básica que daria suporte ao novo projeto. A confecção do projeto gráfico-editorial, que ousou migrar A União para o formato tabloide, ficou sob a responsabilidade do designer Cícero Félix, competente profissional que foi simplesmente o único no Brasil a ganhar um Esso de Jornalismo pela produção de uma capa histórica: a que registrou o ataque às torres do World Trade Center, nos Estados Unidos, no fatídico atentado de Osama Bin Laden, em 11 de setembro de 2001. Um outro profissional estratégico contratado foi o fotógrafo Augusto Pessoa, que passou a responder pela editoria do novo caderno de Turismo. Um dos fotógrafos mais premiados da Paraíba, Augusto tem colaborações importantes no Correio da Paraíba (1997- 1999), Meio Norte do Piauí (2000-2002), Jornal do Cariri, no Ceará (2002-2004). Atualmente trabalha como repórter e fotógrafo free- lance para as Revistas NationalGeographic, Vida Simples, Continente, Nordeste, na Poltrona, Fotografe Melhor, Caminhos da Terra, Horizonte Geográfico, entre outras. Tive a alegria de contar, também, com o entusiasmo e as ideias do colega Linaldo Guedes, um veterano do caderno de Cultura que ajudou na composição de um suplemento imprescindível na criação da identidade de um dos mais antigos jornais do Brasil. Com o núcleo básico formado, passamos a organizar o novo projeto, mas, tal como o bíblico Moisés, não tive o direito de pisar na “terra que emana leite e mel”, a nossa “Canaã” profissional daquela fase ousada de A União. Como citei acima, houve o fator “Levy Soares”, que me levou diretamente para o Centro Administrativo do Governo do Estado, acabando de vez com aquela rotina excitante de pegar a BR-101, rumo ao Distrito Industrial e a um insucesso incerto. O “Josué” em nossa breve história foi um colega que, profissionalmente, não deixava dúvidas sobre a própria capacidade de tocar o projeto com competência e zelo: Jacinto Barbosa, que posteriormente foi substituído por Cícero Félix na chefia de Redação. O projeto do novo A União foi mantido até o fim prematuro do segundo Governo Cássio Cunha Lima (fevereiro de 2009). Foi uma experiência e tanto, um sonho tornado possível pela força de um executivo ousado, uma equipe enlevada pelo desafio do novo e expectativa de fazermos história. E valeu muito a pena!

A UNIÃO 289 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro C ero éli

O n o A ni o

ra maio de 2003. Estava a menos de três meses na sucursal do Jornal da Paraíba, depois de uma temporada de três anos no Diário Eda Borborema – ambos em Campina Grande. Sob a supervisão de Bastos Farias, chefe da sucursal, eu iniciava uma ati vidade nova na Redação, pautando e editando conteúdo quando Marcos Alfredo me ligou. O jornal A União ia passar por uma reforma gráfi ca-editorial. Ele fora convidado para assumir o cargo de editor geral e estava formando sua equipe. O desafi o era modernizar, de forma criati va e ousada, o centenário e tradicional jornal do Governo do Estado, que fi cava em João Pessoa. Titubeei, confesso. Não estava preparado para tanta mudança. Mas era uma oportunidade sem igual. Eu, fi nalmente voltaria para a área do design gráfi co do jornal, da notí cia e com toda liberdade para ousar dentro das condições técnicas da gráfi ca. Não esqueço da alegria na mesa na primeira reunião na sala do superintendente Itamar Cândido. Ali conheci Juca Pontes, Marcos Tavares, José Eufl ávio, revi Agnaldo Almeida, Geovaldo de Carvalho e outros que agora me fogem à lembrança. Daquele encontro surgiram as primeiras diretrizes do novo projeto, uma delas foi mudar o tamanho do jornal de standard para berliner, acompanhando a tendência dos jornais impressos no mundo. À equipe, foi integrada Sony Lacerda – competente chefe de Reportagem –, Roberto Matos, arti sta gráfi co de mão cheia importado do Crato (CE) e Augusto Pessoa, grande irmão, grande fotógrafo! Contemporâneo da Faculdade de Comunicação da UEPB em meados 290 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO dos anos 1990. Profissionalizou-se no jornalismo antes de completar dois anos de curso. Nos juntamos ao pessoal que já trabalhava no jornal: Linaldo Guedes, Robson Nóbrega, Moraes, Russo, Noronha, Zé Alves, Tia Guedes, Varela, Josélio, Guilherme, Tereza, Paulo Sérgio, Sávio, Hilton e outros que não lembro mas igualmente fundamentais, compunham o quadro de pessoal que resultava no jornal impresso no dia seguinte. No entanto, dias antes do lançamento do novo projeto gráfico, Marcos Alfredo informou que havia sido chamado para a Secretaria de Comunicação do Governo do Estado e que, infelizmente, iria deixar o jornal. O jornalista Jacinto Barbosa assume seu lugar. No dia 9 de setembro de 2003, com 110 anos, o novo jornal A União é lançado com a manchete “Quintais produzem milhões”, sinalizando a proposta editorial que tinha por objetivo colocar em evidência o fazer do povo paraibano, sua criatividade, música, alegria, empreendedorismo; tudo isso, é claro, além de divulgar a agenda política do governo. A partir daquela edição, até o início de fevereiro de 2009, quando o governador do Estado Cássio Cunha Lima foi cassado pelo TSE, eu vivi uma das experiências mais ricas na minha vida profissional. Estávamos imbuídos de fazer um jornalismo dinâmico, graficamente atraente, com gráficos e infografia, valorizando a informação na imagem, buscando a melhor estética e estrutura que pudesse oferecer ao leitor a notícia mais clara, a informação mais didática. Foram quase seis anos atravessando a BR-230 com destino ao parque gráfico do jornal A União, no Km 3 da BR-101. Minha primeira escola depois da faculdade foi o Diário da Borborema, onde ganhei, com menos de dois anos de formado, o Prêmio Esso de Jornalismo. Lá, trabalhei com colegas inestimáveis. No entanto, minha maior escola no jornalismo foi n’A União. Apesar das limitações técnicas e editoriais, conseguíamos frequentemente surpreender o leitor. E isso era fundamental. Lembro que Sony Lacerda saiu pouco tempo depois. Patrícia Teotônio entrou em seu lugar, depois ela saiu e veio Conceição. Sávio, Robson e Jacinto saíram mais tarde. Galdino, Astier Basílio e Bastos Farias chegaram. Itamar, que tinha um temperamento intempestivo, propôs que eu assumisse o cargo de editor-geral e por lá fiquei quase dois anos, até Carlos César chegar. Essa rotatividade não era boa, mesmo assim conseguíamos manter a dinâmica do novo projeto. E,

A UNIÃO 291 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro pessoalmente, encontrei em Carlos César um grande amigo. Entre os produtos especiais que acompanhavam o jornal nos fi ns de semana, tí nhamos a revista sobre o turismo, editada por Augusto Pessoa, e o Correio das Artes, editada pelo jornalista e poeta Linaldo Guedes. Duas publicações especiais também marcaram minha passagem pela A União. Uma foi um caderno com dicas sobre as novas regras ortográfi cas, em parceria com a gráfi ca ofi cial do governo de Pernambuco; outra, foi uma revista sobre a transposição do Rio São Francisco, que levou o Prêmio AETC de Jornalismo na época. Quanto essa experiência n’A União me foi rica. Em 2009, com a cassação do governador, fui sacado do jornal. Em seguida, recebi um convite para dar aula de jornalismo em uma faculdade em Barreiras, no Oeste da Bahia. Aceitei. Um ano e meio depois lancei uma revista de variedades na região, Revista A. Em 2015, ingressei no magistério público superior, na Universidade Federal do Oeste da Bahia, e fui morar em Santa Maria da Vitória, onde está instalado o campus de comunicação e artes. Dirijo o centro e dou aulas no curso de Publicidade e Propaganda. Infelizmente, a publicação da Revista A foi suspensa, mas o jornalismo não saiu de minha veia. Vivi, n’A União, momentos de alegria e aprendizado que carrego para toda minha vida, quer sejam profi ssionais ou pessoais.

1º edição no formato tablóide em 9 de setembro de 2003

292 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO A s o essoa fotojornalista freelancer

Da beira-mar à Caatinga... in o e ol an o

orria - e isso não é apenas força de expressão - o já longinquo ano de 2003, quando fui convidado para editar o Caderno de Turismo Cdo Jornal A UNIÃO, o mais antigo da Paraíba, Estado onde nasci e que há cinco anos frequentava apenas como visitante. O convite veio do amigo Marcos Alfredo, professor em matéria prática de jornalismo, cujo cargo vitalício de “meu primeiro chefe” havia sido adquirido quando - corajosamente - me contratou para integrar a equipe de fotojornalistas da sucursal do Correio da Paraíba, em Campina Grande, quando ainda cursava Jornalismo, em 1997. De repórter fotográfico, limitado à Rainha da Borborema e arredores, agora adquiria o cobiçado passaporte para viajar até os confins do território paraibano. Do litoral ao Sertão, do Brejo ao Agreste, do Cariri ao Curimataú, o limite seria apenas a quantidade disponível de rolos de filme fuji vélvia, uma película em cor cuja capacidade de saturação ainda hoje não vi sensor capaz de reproduzir. Moraria, dali em diante, na estrada! Posso dizer, sem medo de errar, que embora tenha tido uma experiência valiosa nos anos que integrei a equipe do Correio, transcendendo em muito aquilo que recebia em sala de aula, foi no comando do Caderno de Turismo de A UNIÃO que eu verdadeiramente conquistei o meu “diploma”. Quando escrevo “no comando”, vou muito além da vaidade inerente a todo jornalista que se preza. Naquele pequeno território em formato A4, quem ditava as regras, de fato, era eu! Claro

A UNIÃO 293 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro que Marcos Alfredo, na sua capacidade supervisionária, acompanhava todo o processo e era quem, no final das contas pautava e - principalmente - despautava os meus delírios jornalísticos. Mas no que se refere à construção propriamente dita do caderno, recebi uma liberdade quase que surreal em se tratando de um veículo governamental. Me disponibilizaram um carro devidamente adesivado, diárias solicitadas e recebidas e nada menos que 30 páginas em branco para que eu explorasse de acordo com a minha criatividade. Dirigia, apurava, fotografava, escrevia e diagramava. Aprendi, ali, que liberdade é, também, responsabilidade. Além de acompanhar de perto o processo de feitura editorial do caderno, já que era eu mesmo quem cozinhava, aprendi muito também sobre a tinta e o papel, os temperos fundamentais e que faziam toda a diferença para um fotógrafo disfarçado de jornalista. Na gráfica de A UNIÃO, o forno de toda aquela diversidade de receitas, desconstruí para mim mesmo o significado da expressão “a primeira impressão é a que fica”. Se não me falha a memória, a primeira impressão jamais foi a que ficou. Creio que até hoje os impressores de A UNIÃO, artistas que aprendi a admirar, lembram da minha extrema capacidade em não me satisfazer até que as fotografias atingissem o nível mínimo de qualidade. Um pouco desse zelo se dava ao fato de eu ter concebido a capa de cada edição como uma espécie de obra de arte fotográfica, influência direta da grande admiração que ainda hoje tenho pelas capas das edições da centenária National Geographic. Guardadas as devidas e gigantescas proporções, aquele caderno era mesmo a minha national particular. Nos anos que produzi essa revista e pude conviver com uma talentosa equipe de jornalistas, revisores, editores, fotógrafos e impressores, fiz mestrado e doutorado em matéria de fotojornalismo. Conheci lugares e pessoas que talvez não tivesse o merecimento de nem ao menos tomar conhecimento da existência. Pessoas anônimas que encontrei em pautas pelos interiores do interior e que hoje vejo que auxiliaram a forjar a minha veia profissional. Em resumo, ainda hoje faço exatamente aquilo que aprendi a fazer quando estive em A UNIÃO.

294 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro

E re r er e a eiro n A ni o

u atuei na Redação de A União no período de julho de 2008 a fevereiro de 2014 (exceto no intervalo de janeiro a abril de E2011). Retornei ao jornal no mês de maio daquele ano. Nesse período em A União eu também era repórter da Secretaria de Estado da Comunicação Institucional onde atuei de 1995 a junho de 2017 à disposição em cargo comissionado, cedido pela Rádio Tabajara onde era repórter desde 1989. Talvez eu tenha sido o único jornalista a ter atuado simultaneamente nos três órgãos da imprensa oficial, porém, tudo dentro da legalidade. Na Secom-PB, onde trabalhei por 22 anos, tive a confiança dos governadores Antonio Mariz, José Maranhão, Roberto Paulino, Cássio Cunha Lima, e Ricardo Coutinho. Sem qualquer indicação política, esses gestores tanto me nomearam como também me exoneraram uma meia dúzia de vezes. Dos repórteres comissionados fui quem mais tempo permaneceu e saí porque pedi exoneração. Graças a Deus fui nomeado servidor efetivo via concurso público para a Secretaria de Administração Penitenciária. Em junho de 2017 pedi exoneração da Secom, demissão da Tabajara e da Assembleia Legislativa. Fui repórter do Poder Legislativo dois anos e meio (2015 a junho de 2017). Na Secom cobria agenda dos governadores e as demais pautas eram demandas das secretarias e órgãos da administração indireta. Ao chegar n’A União fiquei cobrindo pautas de governo já que era um dos

A UNIÃO 295 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro repórteres mais ligados às coberturas das ações da gestão estadual e permanecia na Comunicação no outro expediente. No entanto, também recebia algumas pautas de cidades e cheguei a sugerir algumas que acabaram rendendo boas Reportagens. Nos 22 anos de Secom tive a oportunidade de conhecer todos os 223 municípios paraibanos nas coberturas das agendas dos governos Mariz/Maranhão, José Maranhão/Roberto Paulino; Cássio Cunha Lima/Lauremília Lucena; Cássio Cunha Lima/José Lacerda Neto; José Maranhão/Luciano Cartaxo; Ricardo Coutinho/Rômulo Gouveia; Ricardo Coutinho/Ligia Feliciano. Nessas duas décadas também fiz coberturas de agendas dos presidentes Fernando Henrique Cardoso (Sudene, João Pessoa e Sertão paraibano); Luiz Inácio Lula da Silva (inauguração do terceiro trecho da duplicação da BR-230 – Campina/ João Pessoa, ao lado do governador Maranhão; visita às obras da Transposição de Àguas do São Francisco em Pernambuco); Dilma Rousseff (entrega de moradias em João Pessoa e ato público no Espaço Cultural contra o golpe – nesse último caso como repórter da ALPB. Pela Secom também cobri agenda do presidente Michel Temer, em Monteiro, quando inaugurou as obras da Transposição de Àguas do São Francisco. Dias depois, também em Monteiro, pela Secom, cobri o ato público de inauguração popular da mesma obra, desta vez com os ex-presidentes Lula e Dilma, na companhia do governador Ricardo Coutinho. Esse foi um dia histórico na Paraíba. Bom, a ideia da coletânea A ni o Es ola e Jornalis o surgiu após o lançamento do livro Rádio Tabajara - Patrimônio Cultural da Paraíba, obra que organizei e lançei durante sessão especial do deputado Hervázio Bezerra na Assembleia Legislativa. Naquele 12 de junho de 2017 o parlamentar e a ALPB homenageavam os 124 anos de A União e os 80 anos da Tabajara. Antes, em 17 de novembro de 2016, lancei no salão rosa do Palácio da Redenção o livro ara a o ernos e Cena. Uma homenagem aos fotógrafos do Governo do Estado, autores de milhares de fotografias dos anos 1930 a 2016. O livro com apresentação do secretário de Comunicação Luis Tôrres, prefácio do professor Damião Ramos Cavalcanti, além de texto do historiador, escritor e professor José Octávio de Arruda Mello, e cinco crônicas de Carlos Pereira de Carvalho, reúne mais de 100 fotografias de governadores. A iniciativa de alguma forma resgata 85 anos da história político-administrativa de nosso Estado.

296 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Em três ocasiões fui notícia n’A União. No lançamento desses dois livros e no ano de 2002 quando o Governo do Estado lançou a coletânea que organizei a a ara A R io a ara a. Ainda fui notícia quando a reportagem de A União destacou o livro que eu organizava sobre alunos do Liceu Paraibano que se destacaram na vida pública. Ainda sobre o Liceu escrevi e o jornal publicou matéria especial nos seus 173 anos. A plaquete sobre o Liceu ainda não foi concluída. A convivência na Redação de A União foi uma experiência especial porque, apesar de jornalista, ainda não havia trabalhado em jornal impresso. Além das matérias comuns lembro de alguns projetos especiais a exemplo da revista sobre os 75 anos da Rádio Tabajara publicada em 2011; que organizei com Neide Nonato um caderno especial sobre o Hospital Edson Ramalho; um outro sobre o Liceu Paraibano; matéria especial destacando as mulheres na Polícia Militar e no Corpo de Bombeiros; um caderno especial sobre os 10 anos da Rádio Tabajara FM. Nesse período desses cadernos o jornal era impresso no formato tabloide, uma iniciativa ocorrida no governo Cássio Cunha Lima. Na gestão do superintendente Rui Leitão, na 3ª gestão do governo Maranhão, ocorreu algo também inovador, o jornal passou a circular à tarde. Noticiava hoje o que os demais trariam amanhã. Vendeu bem nessa fase como único jornal vespertino. Redigi algumas matérias na área de turismo a exemplo do destaque para os 59 municípios turísticos paraibanos, publicada em 12 de outubro de 2009. Uma outra, pauta inclusive sugerida por mim, traçou a rota turística da BR-230, de Cabedelo a Cajazeiras, 500 quilômetros de extensão. Na reportagem mostrei o comércio de algumas cidades cortadas pela rodovia, com destaque para Soledade, parada tradicional dos viajantes para refeições. Outra pauta que sugeri e rendeu matéria especial, capa do 2º Caderno, edição de 15 de julho de 2012, foi Patrimônios Musicais. No texto enfatizei a importância do maestro Severino Araújo e a Orquestra Tabajara. Mostrei que a Paraíba e o Brasil tinham uma dívida enorme com o pernambucano genial. Na edição do dia 26 de julho de 2012 a capa do 2º Caderno, assinada por mim, lembrava os 92 anos de nascimento do grande paraibano, Celso Furtado, cidadão do mundo. Outro texto que assinei foi A Trajetória de um historiador, pauta que criei destacando a vida

A UNIÃO 297 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro e obra do professor, escritor, historiador, acadêmico José Octávio de Arruda Mello, um grande amigo que admiro há anos, e parceiro em meus livros. A ONG Uma Nota Musical que Salva me despertou interesse pela importância do trabalho de um casal humilde do bairro Mandacaru que literalmente livrou e até hoje livra das drogas muitas crianças e adolescentes atraindo-os para a música. Essa foi uma reportagem que me emocionou, pela proposta social. Nas minhas andanças pelo interior da Paraíba, em viagens da Secom cobrindo agenda do governador Ricardo Coutinho, encontramos, eu e o fotógrafo Roberto Guedes, uma família que cultivava uma centena de espécies de cactos e sucolentas. Isto em 2013. No Sítio de Pedra, em Pombal, seis irmãos faturavam à época, seis mil reais por mês com a venda de plantas ornamentais. Eles decidiram trocar a plantação de culturas de subsistência por mudas originárias do México, Estados Unidos e Argentina. Por fim, produzi mais recentemente, já como colaborador do jornal, entrevista com a arquiteta e engenheira mineira Isabel Caminha, a autora do projeto arquitetônico e paisagístico do Centro de Convenções Poeta Ronaldo Cunha Lima, em João Pessoa. Para mim foi um aprendizado e tanto ter integrado por cinco anos a equipe de repórteres de A União, a escola de jornalismo que chega aos seus 125 anos de existência escrevendo a história da Paraíba e sendo uma grande janela, uma vitrine para a cultura. Pouco se fala sobre seu parque gráfico. Alguém precisa escrever um livro sobre o papel da Gráfica A União que em mais de um século imprimiu centenas, talvez milhares de títulos. A União é, historicamente, uma usina cultural, também produtora de livros de conteúdos diversos: política, economia, educação, saúde, poesia, literatura, cinema, história, geografia, enfim, a gráfica e o jornal são universidades do conhecimento. Por fim, dizer aqui da satisfação de idealizar e materializar esse livro que reúne uma centena de nomes da imprensa de nosso Estado, gerações e gerações de profissionais apaixonados pelo jornalismo e por essa escola de todos.

298 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO J arr No eira

Quer trabalhar no jornal A União?

scutei essa pergunta após atender a um telefonema do amigo jornalista Linaldo Guedes. Em poucos segundos passou por minha Ecabeça que eu poderia vivenciar a experiência dos meus grandes mestres do jornalismo (maior parte deles passou pela A União). E sempre imaginei que minha carreira necessitava de uma passagem pelo jornal mais antigo da Paraíba (o quarto mais antigo do Brasil). Necessitava mesmo! Quando estudante cansei de ouvir que A União não era um jornal... era uma escola. Eu já tinha mais de 15 anos de batente quando do telefonema de Linaldo Guedes sobre a possibilidade de trabalhar naquela Redação. E ter a oportunidade de lá estar era como respirar ações quânticas de Martinho Moreira Franco, Gonzaga Rodrigues, Barretinho e tantos outros que por lá passaram... Voltando ao telefonema de Linaldo Guedes, claro que dei a resposta com a velocidade de quem – no deserto – encontra um oásis... E parti para assumir a Editoria de Cultura em um jornal onde eu sonhava trabalhar. O ano era 2010. Primeiramente com João Evangelista como editor-geral e depois com Silvio Osias nessa função, pude aprender mais sobre jornalismo e realizar um sonho dos tempos de faculdade. Orgulho gigante de pertencer a essa história.

A UNIÃO 299 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Editar o caderno seja – quiçá – o ‘menor prazer’. O aprendizado através das conversas intermináveis com Silvio Osias pagavam o dia. Ainda ti ve a honra de assisti r ao ‘show da bandinha de Moraes’... A convivência com Júnior Damasceno, Cleane Costa, Teresa Duarte, Russo e tantos outros que compunham a equipe da época foi profundamente grati fi cante. A União foi para mim aquilo que já fora para os grandes do jornalismo: uma escola.

300 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Mar os R sso

repórter fotográfico Marcos Russo, é servidor do Estado há 35 anos e do jornal A União há O15 anos. Sobre sua trajetória no centenário diário Russo declarou: “é uma experiência ímpar, mais um aprendizado. Comecei no jornal O Norte, passei quinze anos fora de jornal e em 2003 tive a oportunidade e estou muito satisfeito em fotografar para A União, onde inclusive ganhei o Prêmio AETC de Fotojornalismo”. Marcos Russo revela que em pautas do jornal percorreu a maioria dos municípios paraibanos. Ele destaca o gosto por fotografias na área cultural.

E an ro ereira

repórter fotográfico Evandro Pereira, natural de Santa Rita, é funcionário do OGoverno da Paraíba há 33 anos. No jornal atua há 7 anos. “É um trabalho gratificante por ser bastante dinâmico com resultados positivos que nos põe praticamente todos os dias em evidência nas manchetes do jornal. Por isso então é gratificante trabalhar no jornal A União”.

E son Ma os

dson Vieira Matos, natural de João Pessoa, Efotógrafo desde os dez anos de idade como amador, e profissional desde maio de 1983, nascido em 16-04-1959, e contratado pelo jornal A União desde 01-06-2014. Pra mim, defino o jornal A União como uma escola de alto nível com seus conhecimentos aprimorados na função de fotojornalismo, onde aprendi mais um estilo na fotografia.--

A UNIÃO 301 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Al eri on es

repórter fotográfico Alberi Pontes O atuou n’A União de 2000 a 2002. Participou da montagem do sistema de imagens digitais. É fotógrafo na Se- cretaria de Comunicação Institucional do Governo há vários anos e integra a Assessoria de Imprensa do deputado João Bosco Carneiro Júnior, na Assem- bleia Legislativa da Paraíba.

Arn io Cos a

atural de Guarabira-PB, o fotógrafo Arnóbio Sousa Costa, foi notícia Nno Jornal A União, edição do domingo 10 de abril de 2016, capa do caderno Almanaque, em reportagem de Josélio Carneiro. Arnóbio aprendeu a fotografar no Rio de Janeiro, cidade onde trabalhou 17 anos na antiga TV Tupi fundada pelo paraibano Assis Chateaubriand. Desde 1992 ele atua na Assembleia Assembleia Legislativa e já trabalhou alguns anos no jornal A União. Hoje, aos 75 anos de idade continua no exercício da profissão. Chegou no Rio em 1963 aos 19 anos. Na Tupi integrou a equipe do Repórter Esso. Aqui em João Pessoa seu primeiro emprego como fotógrafo foi no ano de 1979 no jornal Correio da Paraíba. “Quando saí do Correio da Paraíba passei um período de dois anos no jornal A União como operador de rádio foto, no Rio eu havia feito esse curso, no Jornal do Brasil e em seguida me contrataram como fotógrafo”, conta Arnóbio. Também trabalhou um curto período no jornal O Momento.

302 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO CA LO III anos 2011 / 2017

al er al o Ro ri o Cal as Beth Torres Dan ara So a Cos a Li iane on al es César Ni o Estagiários Ra aela a arra Dani Fechine Ale an re Ma e o Il s a Ca al an e eli e es eira A ri ia Sil a Ri o arias Ané ia N nes Denise ilar Leonar o An ra e Joana elar ino Ra el Al ei a Carlos ereira L as Ca os

al er al o

O asso i i al

lugar e o tempo de onde escrevo mais um capítulo deste livro sobre A União e as implicações históricas, psicossociais, O econômicas e culturais da trajetória do jornal na vida paraibana constituem um campo conflagrado. Refiro-me ao espaço-tempo do jornalismo impresso enquanto fonte de informações e notícias, enquanto caldo de cultura para a formação da consciência crítica, enquanto meio de acesso ao entretenimento e à cotidianidade que faz a história enquanto a história acontece. Nele se encontram as tensões resultantes das transformações tecnológicas que impulsionam o jornalismo e suas práticas na perspectiva das novas formas de consumo características à geração dos millennials, e também a crescente pressão na conjuntura atual da obsolescência de práticas culturais e meios materiais para a realização da comunicação de massa e do jornalismo que se fizeram centralidade na definição do que seria a opinião pública no século XX das grandes transformações culturais, científicas e tecnológicas. As tensões por mudanças originárias dos ciclos mercadológicos ativados por renovações e inovações técnicas do capitalismo com suas imposições para fundar, expandir e fidelizar mercados atingiram frontalmente o jornalismo paraibano. Elas transformaram em escombros, não mais que meras referências simbólicas para uma geração nostálgica, nada menos que três das mais importantes publicações jornalísticas nordestinas impressas diárias.

A UNIÃO 305 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Publicações que em seus contextos específicos referenciaram e legitimaram a presença de A União e sua especificidade identitária de publicação oficial: os jornais O Norte, Diário da Borborema e Jornal da Paraíba, este último mantido em versão online. O mercado em agonia para o jornalismo impresso viu morrer nos últimos 10 anos outras publicações no país, a exemplo de A Gazeta Mercantil (SP), Jornal do Brasil (RJ), O Estado do Paraná, Jornal da Tarde (SP), Diário do Povo (Campinas, SP), Diário do Comércio (SP), O Sul (RS), Brasil Econômico (SP), Diário de Natal (RN), Jornal do Commércio (RJ), Gazeta do Oeste (Mossoró, RN), A Região (Itabuna, BA), Correio de Uberlândia (MG), entre outros jornais, alguns com mais de 100 anos de existência. Os mais novos circulavam no mínimo há 20 anos. A explicação para o fenômeno do fechamento dos jornais é simples e óbvia: mudança de hábitos da comunidade leitora provocada pela massificação da Internet. As implicações relativas às novas tecnologias, ao contrário, são de grande complexidade, estão relacionadas à reengenharia dos padrões de tempo e do seu uso pelas pessoas conectadas, à disponibilidade de novas tecnologias, a diversidade dos dispositivos, a telefonia móvel, ao perfil demográfico e níveis de renda da população, têm também a ver com o dinamismo dos deslocamentos de capital, mas principalmente com a superação na produção de um noticiário que realmente desperte interesse, que seja capaz de se converter em mercadoria, das etapas industriais da produção dos meios impressos. As publicações que resistem no mundo inteiro, com capacidade de investimento em tecnologia e logística específica para o meio físico, mas em detrimento dos quadros técnicos especializados, a exemplo de diários como Folha de S. Paulo e The New York Times, tiveram as receitas fortalecidas pelas vendas também de serviços online. A receita das assinaturas digitais do New York Times, US$ 83 milhões, no segundo trimestre de 2017, superou pela primeira vez a receita publicitária do jornal impresso, de US$ 77 milhões. Uma lógica, essa da sustentabilidade dos jornais impressos, que obrigatoriamente indagaria sobre o porquê da continuidade da edição física de A União. Da discussão sobre se o Governo do Estado deveria ou não manter a operação da edição física de A União, que de terça-feira aos

306 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO domingos imprime o jornal e distribui em bancas e aos assinantes, participei mais diretamente quando do meu regresso ao seu quadro de jornalistas em 2014, novamente na função de editor-geral, cargo que eu havia exercido, entre outras funções, nos anos 1980, e no cargo de diretor técnico a partir do ano seguinte. O Governo, no entanto, manteve, até o segundo semestre de 2017, o posicionamento mais acertado aos interesses da população através de uma política pública de comunicação social, o de preservar a versão física do jornal que abriga em seu acervo um manancial de histórias que são um monumento à memória nacional. E fez mais através da direção de A União Superintendência de Imprensa e Editora: criou as condições a que fossem implantados um portal para acolher a empresa e o conjunto dos seus principais produtos e serviços, o jornal, o Diário Oficial, a gráfica e a editora. A mim me coube planejar e coordenar o projeto que resultou no portal já em atividade. Foi o primeiro passo para uma vivência dinâmica interativa do tradicional jornal no universo virtual. Os defensores do fim do impresso, e migração definitiva para o universo virtual, argumentam sobre o caráter econômico-financeiro deficitário do jornal, que não consegue conquistar através de venda avulsa, assinantes e anúncios uma receita capaz de assegurar seu funcionamento. Nas oportunidades que tive, sempre argumentei em defesa da permanência do impresso por razões que passo a explanar. O jornal não é deficitário. Hoje, ele é um dos produtos da superavitária A União Superintendência de Imprensa e Editora, órgão da administração indireta do Estado, com faturamento mensal capaz de absorver os gastos com a operação do jornal impresso e do Diário Oficial sem gerar prejuízo ao erário. A permanência do impresso tem objetivo cultural preservacionista quanto à natureza referencial de uma atividade, a leitura em papel, ainda expressiva na definição da mentalidade contemporânea. Na perspectiva de uma política pública de comunicação social, ao Estado cumpre expandir e não comprimir as opções de leitura disponíveis aos cidadãos e cidadãs. O jornal impresso permanece com seu potencial de laboratório para as práticas técnicas, seja através de convênios com instituições de ensino para jornadas de EduComunicação, ou no acolhimento de

A UNIÃO 307 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro projetos comunitários para a formação de comunicadores populares. No trânsito dos padrões múltiplos de temporalidades que se entrecruzam na atual conjuntura da globalização pós-industrial, a manutenção do jornal impresso realiza e atende uma demanda legítima cognitiva da população com seus recortes de geração adeptos desse tipo de suporte para leitura. Há ainda a perspectiva da preservação de documentação museológica. A manutenção da edição impressa garantirá ao jornal a organicidade do seu acervo material, em fase de digitalização, edições histórias já se encontram disponíveis ao público no portal eletrônico, acrescentando-se a isso a preservação também de todo o ciclo tecnológico. Foi nessa mesma perspectiva que participei da implantação, como coordenador e primeiro editor, no ano de 2016, da edição de A União em Braille, um projeto experimental em parceria com a Funad - Fundação Centro Integrado de Apoio à Pessoa com Deficiência, uma publicação que enfrenta os mesmos desafios, principalmente a possibilidade de extinção das publicações táteis devido às soluções informatizadas para a comunicação das pessoas cegas, dos enfrentados pelo jornal impresso A União. Manter ou não a edição física de A União será sempre uma decisão política. Mas o Estado merece manter preservado, nas formas eletrônica e física, o jornal que simboliza a modernidade e a evolução na pós-modernidade da comunicação social de massa e do jornalismo como patrimônio social a serviço da transparência pública e do controle social inteligente e democrático.

308 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Beth Torres

O as nio ela A ni o

Jornal A União sempre me despertou muito fascínio. Ainda na faculdade era encantada pelo periódico centenário, cuja O história se confunde com a da Paraíba. Colecionava os seus suplementos, inclusive, ainda tenho alguns comigo até hoje. Também foi fonte de pesquisas, entre elas de um projeto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica (Pibic) que participei e que avaliou como a imprensa paraibana estava tratando a questão da seca nordestina. Apaixonada por impresso, lia e relia, textos e artigos, pois na A União estavam ou passaram todos aqueles jornalistas que admirava e que queria seguir os passos. Sempre pensava comigo: quando ‘crescer’ quero escrever assim. Me encantava com cada texto, com a forma de começar as matérias e com os temas que nem sempre estão presentes nos jornais comerciais. Gosto de histórias bem contadas e elas sempre estavam presentes nas páginas do jornal. Em 2011, no primeiro Governo de Ricardo Coutinho, recebi o convite do então secretário de Comunicação Nonato Bandeira de me juntar a Ramalho Leite, Bia Fernandes e Arthur Teixeira nesse novo projeto de A União. Bateu um frio na barriga de editar um jornal ao lado de pessoas que admirava e de tocar o impresso quando todos falavam do seu fim. Aceitei o desafio. Tivemos exatos 15 dias para criar o novo projeto gráfico e montar uma equipe. Foi uma fusão da velha guarda com a nova geração, que resultou em um jornal de muita qualidade

A UNIÃO 309 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro e que apesar de governamental dava espaço para todos, até para os adversários. Isso causou estranhamento e críticas, mas o que mais me animava era que as pessoas estavam lendo e falando do jornal. Era cansativo, desgastante, mas acordava todos os dias muito animada para ir trabalhar, para colocar o jornal na rua e levar à população um bem precioso que é a informação. Foram noites e noites, movidas a muito café, boas conversas e muitas risadas, para que o centenário chegasse à casa das pessoas. Só levei alegria e aprendizado da minha passagem pela A União. Fiz amigos, convivi com meus ídolos dentro do jornalismo, tive a oportunidade de conhecer de perto todo o processo para confecção de um jornal, desde a pauta, diagramação, passando pela impressão e a logística de distribuição. A ‘Velha Senhora’ encanta a todos que por lá passam. É realmente um jornal escola, não só para os que estão se formando, mas para todos os jornalistas que tiveram a oportunidade de fazer parte dos seus quadros. A União marcou minha trajetória, me transformou e me tornou uma profissional mais sensível para ouvir e entender o outro. Compreendi que não somos perfeitos, que erramos todos os dias tentando fazer o melhor e que um jornal é feito pela união de pessoas. Me sinto honrada em fazer parte da história de A União e de contar a todo mundo como foi a dura e doce tarefa de editar esse jornal centenário. Fascinação é a palavra que resume o meu sentimento pela ‘Velha Senhora’ que vem se reinventando ano após ano e que continua viva!

310 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Li iane on al es

Fazendo parte da história o ornalis o arai ano

ra 9 de abril de 2013. Eu já estava em A União há mais de dois anos. Já havia me formado há quase 10 anos e há 12 já Etrabalhava na imprensa. Mas, até hoje aquele 9 de abril me marca profundamente. Fui pautada por Conceição Coutinho para fazer a matéria sobre o encontro do corpo de Fernanda Ellen. Há três meses, desde que haviam surgido os apelos nas redes sociais, eu fazia matérias sobre o seu desaparecimento. Acompanhada do fotógrafo Evandro Pereira cheguei ao local. Até hoje sinto aquele cheiro de morte, até hoje lembro o desespero e a tristeza da família, vizinhos e amigos daquela menina de 11 anos que foi morta por um vizinho, para ter o celular trocado por quatro pedras de crack. Indiscutivelmente A União proporcionou a matéria mais emocionante da minha vida. Tive a liberdade de escrever o que quisesse, como quisesse, do tamanho que fosse necessário. Tive que ter a maturidade para balancear a técnica da jornalista e a emoção do ser humano. E na edição do dia seguinte aquela tragédia estava estampada na capa e em outras duas páginas do jornal. Foi esta mesma A União que publicou a matéria “Acidentes de trabalho ameaçam saúde de crianças e adolescentes”, que ficou em terceiro lugar no II Prêmio Criança.PB, em 2012. A matéria pontuava as péssimas condições de um trabalho que nem deveria existir: o trabalho infantil.

A UNIÃO 311 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Todo estudante de jornalismo (pelo menos era assim no meu tempo) sonhava em um dia ter a oportunidade de trabalhar em A União. O jornal sempre foi considerado uma escola, uma grande faculdade. Eu já havia trabalhado por quatro anos em um grande jornal e há dois chefiava a equipe de comunicação de uma secretaria municipal. Em janeiro de 2011 recebi o convite de Beth Torres, diretora técnica e Editora do jornal, para fazer parte da equipe. Dois dias depois eu estava lá, conversando com Neide Donato, sobre como seria esse trabalho. E por quase um mês trabalhamos para que o jornal retomasse de cara nova, voltando ao formato standard, com um novo projeto gráfico. A União completaria 118 anos, mas voltaria renovada. No dia que de fato comecei a trabalhar em A União foi uma alegria enorme pela oportunidade e também veio um turbilhão de boas lembranças. Quando meu pai – Mildo Nascimento - era chefe de Gabinete de Giovanni Meireles, me levou para conhecer a Redação. Eu era uma adolescente. E foi nessa oportunidade que conheci Teresa Duarte, com quem mais tarde dividiria a Redação e passaria a ser amiga. Reencontrei também Cleane Costa, a primeira pessoa que entrevistei na vida. Incrivelmente aquelas pessoas cujos textos eu admirava, que eram amigas do meu pai, se tornaram minhas amigas. A Redação “Jornalista Luiz Augusto Crispim”, local onde fiz inúmeros textos durante os três anos de trabalho é uma homenagem a um homem que sempre admirei a inteligência e por isso, para mim, o fato de estar ali, exercendo a profissão que escolhi, era motivo de honra. No dia 2 de fevereiro de 2011 oficialmente A União estava de volta. E eu estava ali, presente nesse momento histórico, fazendo uma das matérias sobre o acontecimento.

As a as Sempre gostei de sugerir pautas. E Conceição Coutinho sempre gostou de aceitá-las e repassá-las para mim. Às vezes minhas ideias davam um trabalho enorme. E uma dessas pautas foi sobre a fé. Conversei com religiosos, ateus e agnósticos. Passei a compreender mais sobre a fé em Deus e sobre o porquê que algumas pessoas não sentem necessidade dessa referência. Passei a respeitar mais quem pensa diferente de mim neste aspecto. E a oportunidade de aprender todos os dias é um dos motivos pelos quais eu amo o jornalismo.

312 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO As minhas melhores pautas sempre foram acompanhadas pelo fotógrafo Evandro Pereira. Somos de gerações bem diferentes, pensamos diferente, mas sempre houve sintonia e respeito pelo trabalho e pela história de vida do outro. A parceria era para que a foto sempre casasse com o texto, da pauta mais importante àquela corriqueira.

No as e eri n ias A União realmente foi uma segunda faculdade. Foi lá que tive a oportunidade de escrever sobre política. Que desafio foi para mim! Acostumada a escrever sobre o cotidiano, sobre moda, sobre comportamento, recebi a missão de tirar férias do repórter de política. Desistir diante do desafio? Nunca pensei, mas o incentivo dado por Beth Torres e por Renata Ferreira só me fortalecia diante da novidade. Mas o maior desafio mesmo era quando tinha que substituir Conceição Coutinho na pauta. Era por um ou dois dias no máximo, mas como substituir a jornalista mais dinâmica e mais querida de todas as Redações do Estado? Todas as vezes que recebia esse desafio eu me enchia de coragem e ia dar o melhor de mim.

Redação democrática Fiquei em A União de janeiro de 2011 a dezembro de 2013. E durante todo esse tempo, a Redação foi muito democrática. Homens e mulheres de várias gerações trabalham lá. Eram cabeças diferentes e opiniões divergentes, mas todos sempre se comportavam como uma grande família. Aprendi muito sobre jornalismo nesse período, mas também aprendi muito sobre a vida e fiz muitos amigos. Convivi com Hilton Gouveia, cujos textos recontando a história do Estado sempre foram leitura certa para mim. Mas também convivi com André Maia, o estagiário que se tornaria meu amigo e um grande jornalista. Juneldo Moraes, Evandro Pereira, José Alves, Teresa Duarte, Cleane Costa, William Costa, Neide Donato, Conceição Coutinho, Renata Ferreira, Beth Torres, Geraldo Varela são alguns dos profissionais com quem convivi.

A UNIÃO 313 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro César Ni o

ro e o Ser o i eren ial e s esso no ser o arai ano

m meados de junho de 2011, após sair do jornal “Correio da Paraíba”, onde trabalhei na página “Vale do Piancó”, fui convidado Epor Ramalho Leite, superintendente do jornal “A UNIÃO”, para fazer parte de um projeto que visava a expansão da circulação do jornal no interior do Estado da Paraíba. Diante da ideia, marcamos uma reunião com a editora chefe da época, Beth Torres, e, logo após essa conversa, ficou decidida a criação da página de coluna social “SERTÃO”, que teve o projeto de designer gráfico desenvolvido por Fernando Maradona. Ficou decidido que a página iria circular nas quartas-feiras e noticiaria os fatos e os acontecimentos que ocorreriam no sertão paraibano. Com o projeto em execução, pudemos contar com o apoio decisivo de grandes nomes do Estado, tal como Nonato Bandeira, até então secretário de Comunicação da Paraíba. Dado o pontapé inicial, traçamos diversas metas a fim de atender todos os interesses e as necessidades do cenário jornalístico paraibano. Assim, com muita dedicação, conseguimos atingir todas as metas estabelecidas, fazendo com que nos tornássemos a diferença na imprensa estadual. Diferentemente dos outros jornais circulantes, quebramos vários tabus que, até então, não eram explorados. Foi a primeira vez

314 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO que uma página de jornal, bancada pelo governo, passou a exibir anúncios comerciais em sua estrutura, por exemplo. Foram feitos como esse que fizeram com que estivéssemos de igual pra igual na guerra pela preferência dos leitores. Guerra essa que contava com grandes e tradicionais meios de comunicação como o “Jornal da Paraíba” e o “Correio da Paraíba”. Em consequência do trabalho competente e honesto, logo chegaram os bons frutos desse esforço árduo. Com a alta aceitação na sociedade e com o sucesso de vendas, chegamos a realizar uma tiragem de 1.400 exemplares, os quais contavam com 200 assinaturas apenas no Sertão, além das vendas avulsas realizadas. O projeto esteve em execução, com sucesso, durante um ano e meio. Com o término, fui convidado por Gutemberg Cardoso para trabalhar no “Jornal da Paraíba” com a página “ITAPORANGA”, inspirada, inicialmente, nos moldes da página “SERTÃO”. Diversos foram os desafios que passamos nessa jornada. Tivemos que criar páginas especiais para o aniversário de diversas cidades, cobrir eventos de importantes empreendimentos e, além disso, fizemos a cobertura de acontecimentos históricos no estado, os quais exigiram total zelo e compromisso de nossos esforços. Fruto de um trabalho realizado com muita dedicação e união, a página, com certeza, deixou um grande legado no cenário jornalístico paraibano. Com ele, nossa equipe teve a oportunidade de ver o nome “A UNIÃO” disseminado de João Pessoa a Cajazeiras, abrangendo todas as partes do estado, e, acima de tudo, de ver nossas notícias, de cunho político e social, alcançando os leitores de forma expressiva. Por fim, posso concluir dizendo que foi muito gratificante trabalhar nesse projeto da “A UNIÃO”. Nele tive a oportunidade de me desenvolver profissionalmente, adquirindo conhecimentos e contatos que foram extremamente importantes na minha vida pessoal e profissional. Sou eternamente agradecido por todas as pessoas que convivi, em especial Ramalho Leite, Beth Torres e Nonato Bandeira. Tenho orgulho de dizer que trabalhei com profissionais extremamente competentes que compõem essa grande escola chamada “A UNIÃO”.

A UNIÃO 315 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Ra aela a arra

Os ri eiros assos na ran e es ola

inha experiência n’A União começou, curiosamente, no dia 15 de outubro de 2012 - quando é celebrado o dia do professor. MAcredito que clichês, por mais pavorosos que pareçam, existem por alguma razão, e a razão d’A União ser sempre lembrada como a escola do Jornalismo paraibano é porque ela, de fato, faz jus a esse título. Para mim, que estava começando minha caminhada no jornalismo, foi um verdadeiro presente ter a oportunidade de trabalhar com profissionais tão éticos e que tinham tanto a me oferecer. Meu primeiro contato com um profissional da Redação se deu na semana anterior ao meu início. Cheguei à Redação pela manhã, a convite de William Costa, então editor do jornal. À época, eu estava concluindo o curso de Jornalismo e louca para ter a experiência de trabalhar em uma Redação. Durante o curso, havia estagiado em alguns locais, mas nunca em uma Redação - essencialmente, em assessorias. O contato com William foi revelador. Nele, encontrei um chefe que era, sobretudo, humano. Conversamos sobre o futuro do jornalismo, a importância de A União, os anseios - e medos - de um repórter que estava iniciando seu percurso naquele mundo em que a crise, já ali, permeava todos os lados da profissão. Lembro-me que saí da Redação após a conversa com William com a sensação de estar no lugar certo, na hora certa, com os profissionais certos: seria ali que eu iria me jogar, de corpo e alma, à prática da profissão.

316 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Durante os primeiros dias da minha jornada, pude contar, sobretudo, com o apoio da então chefe de Reportagem do jornal: Conceição Coutinho, a quem devo os meus primeiros passos. Tal qual William, ela também se mostrou uma profissional extremamente humana, consciente da importância da ética e do papel do jornalismo mas, também, do jornalista e do personagem como ser humano. A “Ceiça”, sempre vou ter gratidão. Ela que me guiou nas primeiras matérias e, em pouco tempo depois, passou a confiar a mim a produção de especiais, sempre dando a motivação e entusiasmos necessários, sem jamais deixar de fazer críticas construtivas quando pertinentes. Foi n’A União também que passei pelas primeiras experiências inusitadas na profissão. Como o dia em que entrevistava um senhor, na comunidade do Timbó, após um longo período de chuvas, e fui surpreendida pela picada de uma abelha ao passar uma mão na cabeça, estando a outra segurando o gravador, exatamente no momento da entrevista. Com um “ai” caloroso, recebi um saco de gelo do entrevistado, coloquei no lugar da picada e dei continuidade à entrevista, como se nada tivesse acontecido, até chegar à Redação e ver meu dedo cada vez mais inchado. Mas produzi a matéria. Ou como no dia em que estava produzindo uma reportagem especial sobre as quadrilhas juninas de João Pessoa e, tendo passado mal o dia inteiro, acabei desmaiando no momento em que o fotógrafo começou a disparar flashes para realizar as fotos que iriam ilustrar a matéria. Eu estava doente - e sabia, mas era um compromisso que eu tinha de produzir aquela reportagem. Hoje, vejo o exagero da entrega. Na época, era apenas uma jovem repórter contagiada pelo amor à reportagem e, também, por uma equipe fantástica que integrava o jornal à época. Tive a oportunidade de conhecer e contar histórias incríveis enquanto estava no jornal. Das matérias do dia a dia, de quem estava enfrentando o trânsito ou os problemas cotidianos, às histórias de partir o coração, como as de crianças que haviam sido violentadas pelos próprios pais. N’A União, aprendi mais que ser jornalista, aprendi a ser mais humana. Saí do quadro d’A União no dia 31 de dezembro de 2013. Recebi a notícia no primeiro dia de 2014, quando os profissionais comissionados não tiveram seus contratos renovados. Mais uma vez, uma conversa com o sempre sensível editor William Costa me deram a confiança de que, para o mundo lá fora, embora ele fosse assustador, eu estava bem mais preparada após aquele período no jornal. A União foi, para mim, afinal, minha mãe no jornalismo. E carinho de mãe a gente nunca esquece.

A UNIÃO 317 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Ale an re Ma e o - Editor de Cultura

Agregando conhecimento, checando fatos e isse inan o in or a es

centenário jornal A União é, acima de tudo, o registro da história viva, narrada cotidianamente e eternizada nas tintas de um dos O diários mais antigos do Brasil ainda em funcionamento. Fazer parte da equipe de um equipamento desta natureza, por si só, já se constitui como um grande marco na carreira de qualquer jornalista, entretanto, o dia a dia da Redação, a inquietude das pautas urgentes, a dinâmica da vida moderna e a instantaneidade das novas mídias apimentam ainda mais a rotina do jornalista. Não exito em comparar a minha experiência no jornal A União com a própria graduação em Jornalismo, concluída na UFPB, por serem instituições que me proporcionaram uma visão mais aguçada dos fatos, uma amplitude na concepção das idéias, a construção de novas opiniões e a mudança de algumas posturas que foram sendo reavaliadas ao longo dos anos. Foi na Redação do jornal A União que tive a oportunidade de conviver com grandes profissionais da imprensa paraibana e que tanto me ensinaram sobre a arte de narrar os acontecimentos marcantes dos nossos dias de forma ética e coerente com a realidade, e no meu caso, em especial, realizar o registro das manifestações culturais e a trajetória dos nossos artistas, numa missão difícil e ao mesmo tempo desafiadora, que é editar o conceituado caderno de Cultura, objeto de desejo diário dos amantes das artes que é acompanhado pelo olhar atento e clínico

318 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO dos intelectuais do nosso Estado e apreciado pelos leitores do periódico que recentemente se transformou em Patrimônio Cultural da Paraíba. Após o encantamento inicial com a grandeza e magnitude daquele espaço de trabalho e principalmente, com o conteúdo produzido naquela fábrica de conhecimento instalada no Bairro das Indústrias, fui adentrando as artérias do complexo de comunicação e descobrindo a magia e a riqueza material e imaterial de um organismo composto por tantas mentes pensantes, corações pulsantes e pautas excitantes. A memória dessa engrenagem continua viva e bem cuidada pelas mãos de Ana Flôr e Luzia Lima, pessoas sensíveis e comprometidas com a nossa história e que cuidam do arquivo da entidade com tanto esmero e que merecem registro neste livro. Foi naquele ambiente saudosista do arquivo onde absorvi muito sobre o cotidiano da Paraíba no século XX, embrenhado naquele cheiro de jornal antigo e com uma grande satisfação por estar diante talvez de um dos espaços que melhor guarda a nossa identidade e os fatos que marcaram a vida e a política da Paraíba. Durante a minha passagem em A União, fui testemunha de uma gestão bem-sucedida da jornalista Albiege Fernandes, a primeira mulher a chegar ao cargo de superintendente da instituição, num momento crucial para a afirmação das mulheres como protagonistas no mercado de trabalho, assim como em outras funções da vida moderna. Também participei desta nova fase do jornalismo com o advento das novas mídias, quando se exige uma apuração mais eficaz dos fatos nesta avalanche de informações para o desempenho do bom jornalismo, mas ao mesmo tempo, pude apreciar as velhas máquinas de linotipo que embelezam os jardins de A União, conhecer alguns personagens que manusearam aquelas máquinas que outrora produziam o nosso periódico e com o passar dos anos, se transformaram em obras de arte no olhar das pessoas mais sensíveis. O ilustrador Tônio e o chargista Domingos Sávio também fazem parte deste patrimônio imaterial, assim como tantos outros. Portanto, o jornal A União foi a maior escola de Jornalismo que frequentei, onde pude aprender muito com os mais antigos da casa e compartilhar um pouco deste aprendizado aos mais novos que estavam chegando e que pude acolher e tentar ajudá-los durante os primeiros passos de uma longa e gratificante jornada. Finalizo com uma citação de Gabriel Garcia Marques, que procuro implementar no meu trabalho e na minha vida todos os dias. “A ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro”.

A UNIÃO 319 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro eli e es eira - Editor Geral

A ni o s ra a o e rso

ntrei em A União pela porta do concurso público. Foi logo de cara a realização de um sonho, pois ser aproveitado no jornal Eera o cenário ideal para mim como servidor do Estado recém- empossado. Vinha de quatro anos em que fui feliz no saudoso Jornal da Paraíba, e ainda com mais algumas experiências fora do impresso, em comunicação para gestão pública e coordenação de Jornalismo em campanha política. Neste diário encontrei laços, descobri afetos, vivi e vivo um novo momento em minha carreira de jornalista. Logo no primeiro dia de trabalho fui recebido por Gilson Renato, um dos diretores da Superintendência de Imprensa e Editora. Figura ímpar na comunicação do Estado. Meu primeiro contato com ele havia sido na Prefeitura de João Pessoa. Era o mestre de cerimônias com as sacadas mais geniais que a gestão da capital já teve, até hoje. Pessoa que reverbera sua alma de artista, tem visão de comunicador e é dono de um texto literário primoroso. Curiosamente, um ano depois da minha chegada em A União, descobri, durante uma edição do Festival de Artes de Areia, que somos primos. Mas a história é longa, fica para outra pauta. Gilson me levou para conhecer a chefe de Reportagem, Conceição Coutinho. Um amor de pessoa, minha primeira professora em A União, sempre atenta às fragilidades de cada um e disposta a apontar caminhos por onde poderíamos melhorar como profissionais. Me dispus a servir como fosse necessário, fotografando ou escrevendo. Queria na verdade fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Ceiça, como

320 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO a chamamos carinhosamente, me disse naquele encontro que a necessidade maior era para o texto. A rotina como repórter está entre as melhores coisas no Jornalismo. Contar histórias é fascinante. Conhecer pessoas, revelar seus dramas, e ajudar um pouco, da forma que a profissão nos permite. Aprimorar minha experiência na reportagem em texto foi um desafio que me motivava a cada pauta, e percebia como eu aprendia um pouco mais com todos aqueles professores com quem convivia, dia após dia. Cresci um pouco como profissional a cada saída. Aprendi com meus entrevistados. Para alguns eu disfarçava minha condição de fã, como o sociólogo José de Souza Martins, o cineasta Vladimir Carvalho, o repórter fotográfico Evandro Teixeira e ainda, por mais que conviva com ele não deixo de ser fã, meu orientador na academia, Claudio Cardoso de Paiva. Em outras entrevistas, a condição era diferente. Imparcialidade por dentro e por fora. Somente em uma titubeei, com Cristovam Buarque. Até aquele momento o admirava como político que levantava a Educação como prioridade. Mesmo assim fui crítico, e questionei o porquê de o governo federal ter investido tanto pagando mensalidades nas instituições de ensino superior privadas, e esse boom ter acontecido justamente em sua gestão como ministro. Ele respondeu, mas não convenceu. Ao final da entrevista, me perguntaram se não queria tirar uma foto com ele. Pensei que sim, e em um centésimo de segundo me veio a possibilidade de um dia me arrepender por aquela foto. Na dúvida, respondi que não. Anos depois o senador se revelou um golpista, e eu mantenho minha consciência tranquila por não tietar políticos. Outras entrevistas foram muito interessantes. Com Bernardo Cabral, consegui engatar três perguntas sobre sua vida pessoal, englobando o apelido “Boto de Tucuxi” e seu caso com Zélia Cardoso de Mello. A pauta fora sugerida pelo então editor-geral William Costa, e Clóvis Roberto, adjunto à época, me deu a ideia de cutucar a história com Zélia. Alto risco, pois a entrevista poderia morrer ali. Por pouco não foi assim. Das dez perguntas que fiz, abri as questões pessoais na sexta, e quando vi que a antipatia do meu entrevistado beirava o limite, retomei as questões sobre sua participação como ministro de Collor. A parte mais pitoresca, no entanto, aconteceu antes. A entrevista havia sido marcada no prédio do Ministério Público da Paraíba. Cheguei lá na hora prevista, e Bernardo Cabral já estava com uma comitiva de políticos na sala do procurador-geral de Justiça. Fiquei na antessala, tomando um chá de cadeira, até que o historiador

A UNIÃO 321 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro e professor José Octávio de Arruda Mello sai da sala, até hoje não sei o motivo, e me pergunta por que eu não havia entrado ainda. Respondi que fora impedido. Ele me pega pelo braço, olha para a secretária e diz: “Minha filha, ele é de A União”, e assim entramos. Ainda de braços dados com José Octávio, me deparo com a sala cheia. Estavam lá o anfitrião, alguns deputados estaduais, pelo menos dois federais, outros políticos, e meu entrevistado, Bernardo Cabral. Sem dar tempo para que ninguém entendesse a situação, José Octávio usou seu outro braço para puxar Cabral, e disse a todos, em voz alta: “Senhores, com licença, mas ele precisa conceder uma entrevista para A União”, e nos conduziu, um em cada lado, até uma mesa, dentro da sala, mas afastada dos sofás, onde estava a comitiva. Eu até achei graça da situação, mas não me atrevi a rir. A partir daquele dia percebi a dimensão de fazer parte do jornal A União.

O re r er a ser se i o Um ponto que muito me preocupava no meu início de carreira como servidor público efetivo era o cuidado em não me acomodar. Logo nos primeiros dias encontrei uma figura para me espelhar. Eu trabalhava no período da manhã, chegava às 7h45 e ele já estava lá. Sozinho, com sua pauta. Certa vez cheguei antes dele e encontrei uma Redação estranhamente vazia. Apesar de ser muito introspectivo, sua presença preenche aquele espaço com uma vivacidade incomum. Me senti perdido na sala escura e abafada após uma noite trancada. Às 7h30 ele chega, como quem cumpre um ritual. Carregava algumas edições do jornal do dia debaixo do braço, distribuiu nas mesas dos editores, ligou o ar-condicionado - me salvando do calor - e sentou-se para o início de mais uma jornada. Há mais de 30 anos no mercado, Guilherme Cabral detém larga produção no jornalismo cultural e trabalha com a mesma vibração de um repórter recém-formado.

A ori e o o ol nis a Na antiga Redação, por um determinado período eu me sentava de costas para a porta da editoria-geral, onde ficavam, nessa época, William Costa e Clóvis Roberto. A porta estava sempre aberta, como permaneceu nos tempos de Walter Galvão, e permanece até hoje. Certo dia, atolado com duas pautas especiais, a um dia do deadline para a entrega de ambas, William começa a conversar com outras duas pessoas, ainda na sua sala, e saem de lá, os três, dando continuidade à conversa. O assunto era sobre o desligamento de um dos colunistas de Cultura, que escrevia sobre mídias. Havia a necessidade de preencher

322 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO o espaço. William tocou meu ombro e perguntou: “Você não quer?”. Na hora fiquei nervoso, não sabia o que dizer. Negar poderia fechar uma porta. A resposta óbvia era sim, claro! Afinal, quem não gostaria de entrar para o time dos imortais de A União, que abriga colunistas como Hildeberto Barbosa Filho e Gonzaga Rodrigues? Eu respondi que não era colunista, não sabia se estava preparado. Ele, como um pai, mais que professor, me disse: “Se eu pedir que cada pessoa nesta sala escreva sobre um mesmo tema, nenhum dos textos será igual. Você vai escrever seu ponto de vista sobre algum fato, e será só seu”. A partir dali virei colunista. Cheguei a produzir três colunas por semana, em Cultura, Esportes e Política. Hoje escrevo somente em Política, e agradeço a William pelo pontapé inicial.

ro ress o na arreira e nos es os No início fui repórter de Cidades. Sofria um pouco com a falta de experiência, é uma área bem específica, apesar de sua amplitude, e por muitos considerada como ‘geral’. Ceiça estava sempre lá, com a mão estendida para me ajudar. Depois fui passando por outras editorias, sempre atendendo à demanda do jornal. Fiquei um tempo com as pautas, de fim de semana, onde me sentia mais à vontade, e ainda passei pelas entrevistas pingue-pongue, período de muito aprendizado. Até que fui chamado para a última editoria por onde passei como repórter: Política. No meio jornalístico é uma editoria erroneamente vista com certo status, talvez porque seus repórteres circulam no epicentro do poder. Encarei com o mesmo compromisso que teria em qualquer outra editoria, sem a preocupação de me contaminar. Na primeira semana cobrindo uma sessão na Assembleia Legislativa da Paraíba, um fato particularmente curioso chamou minha atenção. O deputado Raniery Paulino me abordou perguntando se eu ainda estava no Jornal da Paraíba. Respondi que estava em A União, e de pronto ele rebateu: “Foi promovido!”. Em A União cresci como profissional de comunicação e como pesquisador. Tive espaço para cursar uma especialização em Fotografia, sem atrapalhar a rotina no jornal, e ainda publicar alguns textos referentes aos meus estudos. Também durante a minha estada em A União ingressei no mestrado em Computação, Comunicação e Artes, na UFPB. Mas tão instigantes quanto as aulas no ambiente acadêmico eram as lições que eu recebia na Redação. Dos professores que A União me presenteou, alguns já citados, passando por colegas repórteres, editores, Renata Ferreira,

A UNIÃO 323 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro em especial, editora-geral adjunta sempre tão paciente e atenciosa, teve um que mais perturbei, e ele por sua vez, sempre dedicava parte do seu tempo para me ensinar um pouco. O período em que Walter Galvão foi editor-geral foi extremamente proveitoso para mim. Todos os dias eu entrava em sua sala. Na maioria das vezes era para atender um chamado dele, e estando lá eu aproveitava a ida para tirar dúvidas e conversar a respeito do nosso fazer jornalístico. Eram aulas diárias, que só não se estendiam aos ambientes fora da Redação. No refeitório ou na cantina, com Dona Neves, os assuntos eram mais triviais. Mas na volta ao nosso recanto sagrado eu puxava de volta, e ele reassumia o posto de professor. Com Galvão virei editor e segui meus estudos na maior escola de jornalismo da Paraíba. Certa vez ele me disse, diante de outras pessoas, lá mesmo, que eu um dia seria editor-geral do jornal. Pouco tempo depois que assumi o cargo, ele me ligou e disse: “Viu que profetizei?”, e respondi: “Você fez mais que isso, amigo, me ensinou o que eu precisava aprender e me preparou para quando chegasse a hora”. Em A União fui feliz como repórter. Aprendi nos dois anos como editor de Política que é possível sim trabalhar com ética, sem tentar fazer parte do poder, sem encontros escondidos com políticos nem verba complementar em blog pessoal. Não existe almoço grátis. Sou grato ao jornal A União pelo espaço que tive e tenho para crescer como profissional e pesquisador, pela liberdade que temos para fazer o melhor jornalismo possível e pela oportunidade de acompanhar o nascedouro da plataforma digital. Apesar de ser um veículo ligado ao Governo do Estado, temos um gestor que nunca interferiu na pauta, nem questiona nosso trabalho. É gratificante trabalhar com Ricardo Coutinho. Muito. Prossigo aprendendo com todos na Redação, e com a querida Albiege Fernandes, nossa superintendente que também é jornalista e faz com que cada encontro seja uma doce e engrandecedora aula sobre comunicação e gestão. Se entrei em A União com diploma de jornalista e, todos os dias, entre o registro biométrico da entrada e da saída aprendo mais, digo que esta escola, nossa escola de jornalismo, é minha maior pós-graduação.

324 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Ri o arias Editor do UNInforme Entrei em A União pela ‘porta’ da história

inha ‘história’ no jornal A União, quando nele ingressei, em 2013, tem uma relação direta com a ‘história’ desse que é o Mmais anti go diário em circulação da Paraíba. Assumi, àquele ano, a editoria do caderno especial comemorati vo dos 120 anos. Um desafi o magnífi co – assustador até, face à importância da efeméride, que fechava um ciclo de doze décadas. Numa manhã ensolarada, me pus a caminho da sede de A União, no Distrito Industrial, para a primeira reunião com os diretores do jornal, profi ssionais com os quais havia trabalhado em outros jornais ou convivido nos espaços de existência/experiência coleti va – Fernando Moura, Albiege Fernandes e Gilson Renato. Dirigindo na BR 230, nesse percurso, me perguntava se o projeto editorial que havia concluído na noite anterior estava à altura da demanda que moti vara a minha convocação. Ao tempo em que me convencia que tal questi onamento merecia um ‘sim’, refl eti a sobre o que um ‘não’ do qualifi cado corpo diretor poderia causar à minha enraizada convicção de que ti nha acertado na escolha comunicati va. Ao fi nal da reunião – ufa! –, deram-me a aprovação para seguir em frente. A União é uma espécie de ‘cápsula do tempo’. Como condensar 120 anos de história em apenas 10 cadernos especiais, sem negligenciar o foco em fatos marcantes da nossa história, sem olvidar detalhes e perspecti vas que moldaram a própria trajetória do jornalismo da Paraíba, da qual A União é protagonista? Obviamente, pela exiguidade de espaço – eram cadernos de oito páginas –, seria impossível cobrir

A UNIÃO 325 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro essa extensão de tempo sem deixar de fora fatos intrínsecos à formação de nossa identidade cultural, em níveis mundial, nacional e regional. E, sendo assim, precisei construir pautas que pudessem, dentro dessa limitação, oferecer um panorama essencial de décadas de cobertura jornalística, enfatizando não somente a notícia enquanto fato histórico impresso com todas as tintas no secular diário, mas também personagens notáveis que estiveram – ou ainda estavam – atrelados às rotativas de A União. O que havia se passado no mundo e, especificamente, na Paraíba, de 1893, quando o governador Álvaro Machado fundou A União, até aquele ano de 2013? Conflitos armados pelo poder, aqui e alhures, inclusive duas guerras mundiais; assunção e queda de Getúlio Vargas; a corrida espacial, protagonizada por EUA e União Soviética; assassinato do presidente norte-americano John Kennedy e dos líderes camponeses paraibanos, João Pedro Teixeira e Margarida Maria Alves; assassinato do governador da Paraíba, João Pessoa, que deflagrou a Revolução de 1930, e os fatos subsequentes que terminaram por contribuir para a morte de João Dantas e de sua namorada, a poeta Anayde Beiriz, e também para o assassinato do governador João Suassuna, pai do escritor Ariano Suassuna; o golpe Militar de 1964, que afugentou vários líderes da resistência ao novo regime para o exílio; a passagem da Coluna Prestes pelo Nordeste; a trajetória de Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros célebres pela espinhosa flora nordestina. E como não referir ao intelectual, poeta e escritor Carlos Dias Fernandes que, até a década de 1920, trouxe a modernidade, estética e de conteúdo, ao jornal A União? Como não se reportar a fatos marcantes protagonizados por governadores da Paraíba como José Américo de Almeida, Argemiro de Figueiredo, Ernani Sátyro, Ivan Bichara, Pedro Gondim, João Agripino, Ronaldo Cunha Lima, Antônio Mariz, Ricardo Coutinho e tantos outros? E o Correio das Artes, criado em 1949, suplemento que tem incisiva, porque decisiva, participação na vida cultural da Paraíba? Augusto dos Anjos, o mais singular poeta brasileiro de todos os tempos, quase unanimidade pela fortuna crítica nessa classificação adjetiva, qual espaço deveria ter na publicação? Para compensar a falta de espaço, que era empecilho ao registro de todos os fatos relevantes que passaram pelo ‘olhar’ de A União, vislumbrei uma solução. Criei uma ‘linha do tempo’, sob o nome ‘O Tempo e o Evento’, na qual inúmeros acontecimentos eram sintetizados em poucas linhas, com o reforço iconográfico pertinente ao assunto – uma espécie de rodapé que permeava, de modo temporal, todos os cadernos. Na parte superior das páginas, a edição privilegiava fatos

326 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO emblemáticos que mereciam matérias mais contextualizadas. Entre tantos, um deles que estava relacionado ao fazer jornalístico. O jornal, em 17 de julho de 1973, deu uma ‘barriga’ – no jargão jornalístico, um grave erro de informação. Em manchete principal, disse que Orlando Geisel seria o novo presidente do Brasil. Como sabemos, foi outro general o escolhido, Ernesto, irmão daquele que o jornal havia alçado a tal condição. Resultado: devido ao equívoco, o então governador Ernani Sátyro demitiu todo o staff de comunicação do governo, inclusive os diretores de A União. Com todo respeito aos profissionais que atuaram em edições comemorativas anteriores àquela dos 120 anos, observei que precisávamos ter melhor resultado no que diz respeito à opção estética. Assim, tentei fazer uma edição ‘arejada’, evitando a poluição visual sem comprometer a necessária abrangência de conteúdo. Associado a isso, reproduzi nas capas dos cadernos, em página integral, pinturas e esculturas de artistas plásticos e/ou visuais da nossa contemporaneidade, o que reforçou o aspecto estético da edição. E também informativo, pois havia texto interno com sucinta biografia dos artistas. A edição saiu em 2 de fevereiro de 2013, um sábado. Não precisa dizer que fui dormir, no dia anterior, satisfeito com o trabalho realizado, mas apreensivo quanto à repercussão que ele iria ter. Logo cedo, recebi vários telefonemas de ‘personas’ do jornalismo – e do meio cultural, segmento tão caro à existência do jornal – dizendo, em linhas gerais: “Parabéns, você fez a melhor edição comemorativa de A União de todas que já li”. Redundante talvez seja aqui afirmar o quanto isso me deixou exultante. Não tenho dúvida: foi um dos melhores sábados da minha vida. Senti que, entre erros e acertos, estes últimos tinham sido mais protagonistas do que os outros. José Américo de Almeida, que foi redator-chefe de A União, disse num artigo de 1973, quando o jornal completava 80 anos, que “Minha escola de jornalismo, ou melhor, de escritor, foi A União”. Após aquele ‘périplo’ que fiz em 2013 por inúmeras edições do jornal, absorvendo a poeira e a poesia do seu tempo, entendi melhor a assertiva do autor de ‘A Bagaceira’. Nesse agora de 2017, assino a coluna diária UNIforme de A União. E, assim, continuo na escola, lendo mestres como Gonzaga Rodrigues. E acreditando que essa pedagogia vai deixar muitas impressões nas atuais e nas futuras gerações de leitores, seja pelas edições físicas seja pelas publicações on-line. A os o e

A UNIÃO 327 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Denise ilar

Es ola se lar

u não esperava mais entrar na principal escola de jornalismo da Paraíba após os 30 anos de profi ssão. Não pensava que teria Eem mãos o meu trabalho impresso nas páginas do jornal que mais admirava quando dei meus primeiros passos no jornalismo. Os melhores profi ssionais e os melhores textos estavam em A União no início da década de 80 e a nossa admiração pelos autores de textos factuais ou literários só crescia. E não é que um dia, no recente 2014, eu também vi meu nome no expediente do jornal que já era chamado de escola por José Américo de Almeida? A palavra que veio em minha mente foi honra! Eu estava trabalhando, não na, mas para “a velha senhora”. Voltar a conviver com velhos amigos de Redação de TV, a exemplo de Emmanuel Noronha e José Napoleão Ângelo, foi uma alegria à parte. Walter Galvão, que já era uma fera d’A União quando eu iniciei na profi ssão e um dos que eu já admirava na época, foi outro feliz reencontro. Ele era o editor-geral e Renata Ferreira, que já conhecia do mundo das assessorias, a adjunta, cargo que ainda ocupa em A União. Conceição Couti nho na chefi a de Reportagem completa o quadro de chefes respeitáveis. Me juntei ao naipe dos editores, ficando responsável pelo caderno Paraíba. Para mim, preparar cada página, a cada dia, é como lapidar um diamante, com um toque mais refinado nas

328 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO especiais, me deliciando com as histórias contadas pelos repórteres nas edições de domingo. De cara, percebi um diferencial na Redação de A União: o companheirismo. Colegas que respeitam o espaço e colaboram com o trabalho do outro, sem competição ou briga de ego. O título de escola é referendado também com a presença dos estagiários. Jovens estudantes que admiram os mais velhos e que, mesmo estando ali pra aprender, nos ensinam a cada dia. Afinal, o jornalismo se reinventa e nós, antigos, temos ainda muito aprendizado pela frente. Um momento especial pra mim foi, incentivado pelo editor Felipe Gesteira, escrever a minha primeira crônica depois de tantos anos no jornalismo. Um prazer!! Prazer multiplicado por mil, por ter meu texto publicado no Correio das Artes, espaço literário histórico, desejado por dez entre dez escritores e/ou pretensos escritores paraibanos. Meu troféu! Lá estavam meus escritos em meio aos papas da escrita paraibana. Eu, que sempre trabalhei com o factual, seja em tv, rádio ou jornal, tive meu momento foca aos 31 anos de jornalismo. Essa abriu caminho e me animei a escrever outras, publicadas em outro espaço nobre, a página de opinião. Me sinto ainda nos bancos escolares. Essa taça, a União nunca vai perder. Pelo contrário. Cada vez mais a “velha senhora” abraça novos e antigos jornalistas e os coloca sob as suas asas seculares. Tim Tim! Que venham mais 125 anos. Vida longa a nossa mais respeitada escola.

A UNIÃO 329 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Joana elar ino (*)

Jornalis o o ini o e er a e en on ro ne ess rio

jornalismo vive uma crise profunda, não apenas no seu clássico modelo de venda de notícias, mas sobretudo na forma como Oproduz e distribui a informação. O jornal em papel tem escasseado, e, poucos são os jornais que mantêm sua periodicidade diária. A União é um raro exemplo de resistência, financiado pelo Governo do Estado da Paraíba, faz jornalismo que transita entre os moldes do modelo comercial clássico, mas, aplica-se no exercício de uma espécie de jornalismo público, preocupado com a pluralidade das vozes, com a divulgação da opinião, do jornalismo informativo, cultural e de serviços. Escrever no jornal, como colunista de opinião, já há quase dois anos, tem sido ao mesmo tempo um exercício prazeroso e reflexivo. Uma pergunta que sempre se me impõe, quando me sento diante do computador, é: O que dizer na era atual, quando quase toda a sociedade agora pode dizer, narrar, falar sobre tudo e qualquer coisa? E, tão importante quanto essa primeira pergunta, é pensar sobre o como dizer, numa sociedade em que ruíram completamente as fronteiras entre o público e o privado, o particular e o universal, quando as narrativas, em sua maioria, são acima de tudo fruídas como espetáculo e entretenimento. Minha formação universitária me ensinou a colocar o jornalismo no centro do mundo atual, mediando conflitos, narrador

330 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO primeiro dos acontecimentos, formador de uma opinião pública competente e inteligente. Um narrador preocupado ao mesmo tempo com ética e objetividade, com zelo pelas fontes, mas sobretudo um fiel depositário dos anseios e interesses do leitor. Aprendemos com autores como Lippmann, Park, Genro Filho e Grot, que o jornalismo é forma de conhecimento do presente, lâmpada nervosa e curiosa a tentar iluminar os fatos mais importantes. O jornalismo como um vigia dos cidadãos, da democracia, da cidadania. Pergunto-me se esse ideário clássico terá sido esquecido, por entre as cadeias de produção, alimentando correias transmissivas de sensacionalismo, tragédia, sangue, dor alheia servida em páginas e páginas de jornal. Um jornalismo divorciado da conquista de audiências competentes, um jornalismo empenhado em vender espaço publicitário e informação para o entretenimento e o espetáculo. Todas as vezes em que me sento diante do computador, penso nesses dilemas, ainda que de maneira telegráfica, mas todas as vezes, experimento emoção por pesar as palavras, escolher esta ou aquela e recusar outras. Sinto que o ato de escrever é talvez uma das tarefas mais fundamentais da cultura humana. O ato de escrever é ao mesmo tempo escrita, leitura, interpretação, opinião. Os dilemas do jornalismo estão intrinsecamente ligados à sua prática, mas, ao mesmo tempo, é ainda o jornalismo que nos permite compor a sua crítica, que nos permite perseguir esse ideário clássico, todos os dias. E o tema da verdade, tão caro ao jornalismo, na sua era clássica e na era atual, quando a pós-verdade parece estar vencendo como um padrão dramático, cuja fórmula subverte completamente os ingredientes da apuração, da checagem e da investigação? Penso sobre isso também, enquanto escrevo cada uma das minhas colunas, certa de que não há como alcançar uma verdade final, mas ela deve ser perseguida, na sua provisoriedade, na sua limitude, na sua ínfima parcela, na têia dos acontecimentos do presente. A verdade deve ser tão cara ao jornalista, quanto à qualidade do texto que escreve, que assina, que publica. E os leitores, onde eles estão? Creio mesmo que o jornalismo, ao longo da sua trajetória, tem se preocupado pouco com seus leitores. Esse é talvez um dos grandes equívocos do jornalismo. Pensar somente num tipo de leitor, apressado, louco por fruir sensações epidérmicas enquanto desdobra o jornal e contempla suas imagens prontas para

A UNIÃO 331 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro um consumo mercanti l, esse é um grande equívoco que precisa ser reparado. Há leitores para todas as narrati vas. O jornal, por sua vez, é um grande campo de formação de leitores. Leitores do mundo, das suas agonias, dos seus mistérios, da sua vida cultural e políti ca. Penso em tudo isso quando me sento para escrever e sei que as vezes consigo fi sgar meus leitores, outras vezes falo comigo própria, mas sei que quando meus textos deixam de ser opinião fugaz e viram história, quando são contemplados no seu conjunto, meus textos falam desse padrão de defesa de um jornalismo éti co, comprometi do com a busca da verdade. Eu às vezes entrego aos meus leitores um naco de literatura, porque é por dentro da literatura que o jornalismo pode respirar e ousar.

(*) Prof.ª Associada dos cursos de Jornalismo da UFPB Pesquisadora líder do grupo de pesquisas em jornalismo, mídi a, acessibilidade e cidadania – GJAC

332 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Carlos ereira

Cento e vinte e quatro anos de história

bem da verdade, ninguém completa cem anos de vida à toa – seja gente, bicho ou instituição. Cento e vinte, então, nem Apensar. Gente, para chegar perto dos cem, já é quase milagre. É preciso, além de boa dose de sorte, ter conduzido a vida com aprumo, com vigilância no que come e no que bebe e, principalmente, no cuidado para não ser vítima dos males que o mundo causa – estresse, obesidade, diabetes, complicações cardiovasculares e vai por aí... Dos bichos, sabe-se que a tartaruga – que não se esforça nem pra botar o pescoço pra fora – chega fácil aos 120 anos, mas é uma rara exceção na fauna que ainda resiste às tentativas de extinção por parte do homem... E as instituições? Bem, essas, nas mais das vezes morrem sem completar dez anos, outras sequer comemoram o primeiro lustro. Não é o caso deste jornal que ultrapassa o seu primeiro centenário e já vai a mais 24 anos e que, pode-se dizer, começou acertando na escolha do nome. Quem se der ao trabalho de consultar o dicionário, há de ver que União, além do ato de unir(-se), também é pacto, aliança. E aí é que entra e bem desempenhado, o papel do periódico que, no dia 2 de fevereiro de 2017 com honra e glória, completou 124 anos. Sempre com rumo bem definido, funcionando como atributo de direção para milhares de leitores, polêmico às vezes, noutras

A UNIÃO 333 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro bastante questionado por defender o governo, A UNIÃO tem, ao longo de todo esse tempo, preenchido o lugar que o destino e as mãos e a inteligência dos seus fundadores lhe impuseram. Para lembrar alguns dos nomes mais importantes da história do jornal, me remeto a Antônio Barreto Neto, nos tempos mais remotos e Luiz Gonzaga Rodrigues mais recentemente. Enquanto o primeiro foi secretário do jornal por um bom tempo exercitando a função com equilíbrio e descortino, sendo uma referência no jornalismo nordestino - também porque foi um dos melhores críticos de cinema da região -, o segundo nos brindou com suas crônicas que eram assunto obrigatório dos comentários da cidade. Dos dois, guardo lembranças que o tempo não apagou e, com eles, toda a Paraíba se fez credora do prestígio que ambos granjearam para a nossa imprensa, mercê das lições que ensinaram no dia a dia da profissão que prazerosamente abraçaram. Sobretudo o grande Barretinho que - sem ser professor - ensinou muita gente a fazer jornal e muitos dos seus alunos depois se transformaram em outros grandes mestres no ofício. Ao longo dos últimos cinco anos escrevo uma crônica semanal que é publicada aos sábados e que me faz mais importante do que alguns cargos públicos de certo destaque que exerci. Ocupo parte do espaço livre em que tento transmitir aos leitores alguma coisa do passado já meio distante vivido principalmente no bairro de Jaguaribe, cuja lembrança me acompanha ao longo de toda a vida. E ao escrevinhar estas linhas, o faço com justificado orgulho, por integrar a equipe que hoje faz A UNIÃO. Um jornal que, ao completar os seus 124 anos, se destaca não somente como um dos mais antigos do país, mas principalmente porque se mantém na linha de coragem, de altivez e de resistência às várias tentativas que, no passado e até em tempos mais recentes, foram feitas para apagar suas letras para sempre. Por isso tudo e pelos seus cento e vinte e quatro anos de verdade, A UNIÃO permanece, também, até hoje como relíquia histórica da Paraíba e como marco e referência de jornal para os seus leitores, paraibanos ou não, que diariamente folheiam suas páginas e que nele acreditam.

334 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Ro ri o Cal as - colunista

A es ri a a lei ra o an o o lei or o a a ala ra

minha experiência com A União começou na Academia, quando um colega de mestrado me convidou a colaborar com o jornal. AAté então nunca tinha escrito nada veiculado em mídia alguma, fora postagens que ninguém lê, nas redes sociais. A dúvida, naquele momento, era se daria conta de um artigo novo a cada semana, sem me repetir. A oportunidade de escrever para A União promoveu, no meu caso, um encontro: o do leitor com a escrita. Escrever e toda semana publicar um artigo, promoveu o encontro entre o leitor que sempre fui, com a escrita como desafio de criação. Minha experiência, assim, constitui-se de um diálogo entre o leitor que sou e o escritor que tento ser. Do encontro de ambos, tento construir um diálogo com um terceiro: o leitor ideal para quem escrevo. Ao escrever, tomo a palavra que até então era um signo sedutor que decodificava, libertando significados, construindo cadeias interpretativas mas sem o sentido criativo de quem, como escritor, ativamente modela e constrói signos e significados. Assim, minha experiência com a União tem sido a de um leitor privilegiado, que pode tomar a palavra e falar o que pensa e sente. A leitura é o ato que precede a escrita. É não apenas o seu inverso, mas seu pressuposto. Assim, entre esse diálogo da leitura com a escrita, entre o leitor que sou e o escritor que tento ser, escrevo para um terceiro, um leitor imaginário. Ao elaborar um artigo, penso e tento me colocar na A UNIÃO 335 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro situação do leitor. Parto de uma premissa ética, antes de tudo. O leitor para quem escrevo, embora não possa vê-lo, saber quem é, se muitos ou poucos, deve ser tratado com respeito. Presumo sua inteligência, daí o cuidado com o que transmito. Se meu leitor imaginário- uma construção ideal como o tipo ideal de Max Weber na sociologia- não é um ente individualizado e concreto, ele me permite, partindo de uma premissa ética, encontrar o fundamento estético do texto. Ao escrever cada artigo para o jornal, tendo como referencial um leitor ideal, sinto- me desafiado a encontrar a forma, o estilo de composição que seduza esse leitor ideal à experiência da leitura. Minha ideia, desde o dia em que comecei a colaborar com A União, foi: vou tentar escrever algo que eu, como leitor, gostaria de encontrar em um jornal. Tento, em cada artigo, trazer para a linguagem jornalística a literatura e a filosofia, apesar de ser advogado e de ter formação jurídica, sempre fui literato e filósofo por paixão, e é com essa paixão que tento trazer para a linguagem do jornalismo duas grandes tradições, dentro das minhas limitações: a estética do verbo e a dialética da ideia filosófica. Imaginação e ideia, forma e conteúdo são as matérias-primas com as quais tento, como um leitor privilegiado, compor os artigos que A União veicula em suas páginas, semanalmente. A União me ensinou que jornalismo é historiografia do cotidiano. Ao ler as matérias e artigos publicados, vejo também a arqueologia da escrita de um jornal que há mais de cem anos registra a história do povo paraibano. E o jornalismo faz a historiografia que a História não faz, a historiografia da microfísica do cotidiano, dos pequenos fatos, das coisas miúdas que pululam no dia a dia, de que a linguagem jornalística promove um recorte, registro e interpretação. Embora não seja jornalista de formação, sendo apenas um leitor privilegiado que toma a palavra e escreve, penso o discurso jornalístico como o encontro dessa historiografia do cotidiano com a experiência do leitor que deseja encontrar um texto literariamente sedutor e, se possível, filosoficamente fundamentado. Não creio que o jornal escrito morrerá com a revolução das novas mídias. Ainda que o suporte físico sofra suas metamorfoses, o prazer da leitura do jornal, o desvendar dessa historiografia do cotidiano, na medida em que promova sua renovação e diálogo com outras tradições e discursos como a literatura e a filosofia, têm o potencial de render muitas e boas histórias.

336 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Dan ara So a Cos a

Pelas boas-vindas, gratidão

ou nova na Redação. Cheguei em agosto de 2017, bem de repente. Entrei substituindo alguém deveras querida, que deixou muita Ssaudade e que agora se encontra em um lugar melhor. Comecei sabendo que seria um grande desafio assinar uma coluna em substituição a uma jornalista tão séria e renomada como Goretti Zenaide, no entanto esta nova empreitada se tornou fácil e prazerosa graças à equipe maravilhosa com quem estou tendo a sorte de dividir minhas tardes, manhãs e, por vezes, noites. Sem dúvida alguma, afirmo que o trabalho que vem sendo feito há mais de um século no jornal A União é fruto do esforço, tanto intelectual como braçal, de um grupo de pessoas cujo propósito é mostrar, todo os dias, nada além de fatos aos paraibanos. Pessoas que diariamente se dedicam ao máximo, de modo tal que, ainda este ano, fizeram A União se tornar, por lei, Patrimônio Cultural da Paraíba. Queria aproveitar esta oportunidade para agradecer aos meus colegas de ofício, que me receberam tão bem e que não se importam em me ajudar nesta etapa ainda nova para mim, tendo em vista que é a primeira vez que trabalho com colunismo social. De verdade, obrigada a todos pela paciência; por me incluírem nos intervalos para café – e boa conversa -; pelos lanches; pelas companhias nos almoços; sobretudo por me inspirarem a crescer como jornalista. Ainda na minha primeira semana integrando a Redação da União, fui incumbida de entrevistar Erasmo Carlos. Não sabia eu que a surpresa ainda estava por vir. Tônio, a mente criativa por trás da belíssima arte que ilustrou minha matéria, presenteou-me com o desenho original do cantor.

A UNIÃO 337 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Também quero destacar os nomes de Albiege Fernandes e Felipe Gesteira, os quais tomei como mentores. Foram eles que acompanharam e guiaram os primeiros passos da Coluna do Meio. Moraes, dono da personalidade mais alegre que já conheci na vida, não me deixa passar vergonha e sempre que encontra alguma grafi a errada ao revisar meus textos, chama de “erro de digitação”. Ana Raquel Almeida e Louise Tonet, obrigada pela fofura. Klécio Bezerra, aquele que aperreio todos os dias e com quem, em apenas uma aula, aprendi a diagramar mais que no próprio curso de Jornalismo. Sei que deveria agradecer individualmente a um número bem maior de pessoas, a exemplo do próprio Josélio Carneiro, pelo convite a mim feito de parti cipar deste livro e pela boa vontade em cobrar minha lauda, mesmo eu tendo perdido o primeiro deadline; pelo acolhimento, pelos sorrisos, pelos votos de confi ança, mas me faltou espaço.

1ª edição da Coluna do Meio, assinada por Dandara Costa

338 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Dani Fechine

A es ola e e or o

ntrei no curso de Jornalismo querendo realizar um sonho. A paixão pela leitura e pela escrita eram os meus grandes incentivadores Epara estar ali dentro. No primeiro dia de aula, lembro que me perguntaram quem era o meu maior ídolo. Machado de Assis. Na lata. Era tudo que eu tinha para dizer sobre uma menina que desde criança nutria a necessidade de escrever para não implodir. Por certo, entrei querendo ganhar o mundo. Ou melhor, querendo ganhar o jornal impresso. As discussões sobre o seu fim já estavam afloradas, mas dizem que a gente cega um pouco diante do sonho, não é? Quem já havia passado pelo jornal A União me dizia o que hoje repito: é uma escola. E era lá que eu queria estudar. Gilson Renato foi peça fundamental nesse tabuleiro. Ajudou- me a chegar na seleção, pois na época era difícil ficar sabendo dessas vagas. Passei com mais três colegas e comecei a brilhar os olhos diariamente ao ver meu nome impresso nas páginas do jornal. Sentia-me em outro tempo. E era exatamente isso que o veículo proporcionava a cada um que ali colocasse os pés. Aprendi de tudo um pouco. Entrei para o caderno de Cidades, mas invadi as páginas de Cultura, Diversidade, Opinião... Só me faltou o de Esportes, porque o de Política me foi vendido como sendo um caderno com horizontes abertos. E foi. Com a ajuda de Felipe Gesteira,

A UNIÃO 339 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro na época editor do caderno, escrevi as minhas melhores reportagens. E conheci em mim veias abertas que jamais avistei. Foi um ano de aprendizado diário. A distância entre a universidade e o jornal era recompensada pelas pautas de Ceiça, que me permitiam viajar em mundos diferentes e contar histórias do jeitinho que eu gostava. Saí de lá com uma carga enorme nas costas, querendo que todos pudessem ter a honra de aprender com A União. Walter Galvão me ensinou a ser crítica com as resenhas de filmes e livros, Ceiça me mostrou que o caderno de Cidades é um mundo a se desbravar, Denise me apresentou os erros e, com eles, os acertos, Napoleão abriu as portas dos textos de Opinião para que eu escrevesse algumas besteiras, Alexandre Macedo me fez conhecer pedaços lindos da cultura de João Pessoa... Aprendi com tanta gente e com tanta gente me formei. Levo comigo, no coração e na memória, o talento de Russo, Edson, Ortilo e Evandro. E, como esquecer? A cachaça de Carlão, que animou - e anima - muitas tardes dos meus sábados. Afinal, dizem que o jornalismo é isso, não é mesmo? Uma cachaça.

Es a i ria en re e

340 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Il s a Ca al an e (*)

Uma escola chamada “A União”

ntes mesmo de começar o curso de Jornalismo tinha o desejo de trabalhar escrevendo. Escolhi essa profissão e esse sonho Afoi ganhando forma e se tornando uma grande vontade de trabalhar em um jornal impresso. Quando comecei em A União nunca pensei que seria capaz de escrever matérias como as que escrevi, e nem de vê-las publicadas com o meu nome assinado, mas vi isso acontecer inúmeras vezes. Fui agraciada em trabalhar com pessoas incríveis, que confiaram em mim e me presentearam com pautas humanizadas e que me trouxeram experiências que não sei se seria capaz de colocá-las em palavras. Cada semana era um novo desafio. Uma das experiências mais marcantes foi uma matéria que fiz sobre mulheres que sofreram violência doméstica. Lembro de ter ficado a noite sem conseguir dormir após ouvir os seus relatos. Nenhuma foi identificada na matéria, mas todas abriram o seu coração e, impulsionadas pelo desejo de ajudar outras mulheres com os seus relatos, contaram os abusos, estupros e espancamentos que, por anos, sofreram de seus companheiros. Mesmo apenas como uma estagiária, tive a responsabilidade de receber a dor dessas mulheres e de tentar transmiti-la em palavras.

A UNIÃO 341 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Ainda tenho muito que aprender, mas em um ano e sete meses como estagiária de A União posso dizer que sei como é ser uma boa repórter. A família que foi construída nesse período, entre outros estagiários, editores, chefes de reportagem e diagramadores, fazia com que a ida ao trabalho não fosse um fardo, mas uma alegria. Impossível não me sentir grata por todo o apoio e ensinamentos que recebi. Entrei com medos e receios, mas também com muita vontade de aprender. Errei inúmeras vezes, e recebi feedbacks que me ensinaram. E, nas vezes que acertei, recebi incentivos que me motivaram a continuar tentando. Em poucos lugares se vê estagiários tendo a oportunidade de “colocar a mão na massa” como se vê nesse jornal. Foi a minha primeira experiência com a profissão de jornalista. Em dois anos de faculdade, a teoria não havia me mostrado nem metade do que é ser um repórter. Como estagiária, poderia me decepcionar com o jornalismo e nunca mais querer voltar em uma Redação, como também poderia querer ficar e nunca mais me ver em outro lugar. O ambiente e os profissionais que trabalharam comigo contribuíram em boa parte para que a segunda opção se tornasse verdade na minha vida. Acredito que em outros relatos isso já deve ter sido dito, mas acredite, A União é uma escola de jornalismo.

(*) Iluska Cavalcante – 23 anos. Estagiou em A União de novembro de 2015 à junho de 2017. Estudante do oitavo período de Jornalismo na Faculdade Maurício de Nassau. Estagiária na assessoria de comunicação do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB)

342 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO A ri ia Sil a

E eri n ia e re ara o ara o mercado de trabalho”

u já iniciava o sexto período do curso de Jornalismo, quando o “desespero” por estagiar “bateu na minha porta”. Não é novidade Eque a oportunidade de estágio proporciona experiência e prepara o estudante para o mercado de trabalho. Eu sabia que precisava passar por isso o quanto antes. Na época, eu não imaginava que essa conciliação de teoria e práti ca principiaria pelo jornal impresso, e isso aconteceu por essas ironias que a vida nos prega. Muitos já decretaram a morte do jornal impresso. Há décadas alegaram que o rádio o substi tuiria; depois, a televisão. Hoje, o seu suposto carrasco é a internet. O jornal A União, porém, conti nua saudável, acorda cedo todos os dias e é responsável por pautar muitos dos telejornais que assisti mos, pela maioria das notí cias do rádio que ouvimos e também pelas que lemos nos online, em toda a Paraíba. A União é um referencial histórico que, ao longo dos seus 124 anos, fi cou conhecido como “a escola do jornalismo paraibano” e preconiza esse “então clichê” coti dianamente. Ele não apenas transmite informações, mas também se preocupa com a qualidade profi ssional dos estudantes, responsáveis por várias páginas do que é veiculado. A credibilidade é, sem dúvida, o maior patrimônio desse jornal. Sua Redação nos proporciona um ambiente profi ssional, cujo trabalho é sério e as cobranças também não faltam, o que nos possibilita, como estagiários, crescimento pessoal eprofi ssional. Além da oportunidade de conviver com jornalistas experientes, renomados

A UNIÃO 343 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro e generosos, e sugerir ideias que contribuem com a disseminação dos nossos próprios conhecimentos e dos leitores. Estagiar no jornal em que nomes importantes escreveram em suas páginas é um privilégio e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade. Esta, atenuada pelo ambiente humanizado descontraído e desprovido de competições, algo que não é muito comum em outros veículos. Com isso, a nossa verdadeira obrigação é sempre encontrada indo em direção dos nossos mais dignos desejos, respaldados pela ética e pela dinâmica do aprender, fazer e transformar. Como estagiária aprendo a cada dia que, no fazer jornalístico, sempre existem desencontros, choques de informação e o descaso da fonte com o jornalista. Mas que apesar disso, tenho a oportunidade de contar histórias, de fazer a diferença na vida das pessoas e prestar serviço para quem realmente precisa. Estou há um ano e meio n’A União e, passar pelas editorias de Esporte, e principalmente Cidade, contribui para minha formação como uma futura profissional mais versátil. O meu crescimento pessoal e profissional na A União decorre de aprendizados e experiências nem sempre bem-sucedidos, portanto, de erros e acertos, lapidados por uma equipe altruísta, bondosa e voluntária. Todos estão sempre dispostos a colaborar com o exercício do próximo, o que nos motiva e desafia a buscarmos sermos sempre melhores. Não é à toa que A União é lembrada com muito carinho e prestígio pelos ex- estagiários, cuja convivência diária faz jus ao nome. Pela oportunidade única, à minha gratidão eterna e o desejo de fazer parte de sua história.

344 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Ané ia N nes

A ni o a es ola on e se a ren e a a er ornalis o

jornal A União é uma grande escola de conhecimentos e aprendizado, principalmente para nós iniciantes nessa O carreira. Cada dia que se passa aumentamos a nossa bagagem de conhecimento e experiência, na convivência com colegas mais experientes, do restaurante à Redação. Quando me perguntavam em qual área eu gostaria de atuar no jornalismo, a última coisa que vinha em minha cabeça era a Redação. Achava uma área de muito esforço e que eu não teria a capacidade de fazer parte. Mas hoje, colocando em prática e tendo essa experiência em A União, sinto que é algo possível e totalmente diferente do que imaginava. Lembro bem do dia em que vi a minha primeira matéria publicada no jornal A União, senti um misto de ar de riso, com a certeza de dever cumprido. Não tem sensação melhor do que ver a matéria publicada com nossa assinatura. Quem pensa que vida de jornalista é fácil, precisa saber que não é não, e o nosso incentivo é o público, principalmente quando nos elogiam e reconhecem o nosso trabalho. É isso que nos dá estímulo para continuar, melhorar e aperfeiçoar, a cada dia, nossa atuação nessa área. A união nos dá o privilégio de nos aprofundar no Jornalismo, tirar nossas dúvidas e sermos o melhor possível que podemos, é realmente uma grande escola. Não poderia deixar de falar de um grande jornalista que eu admiro e que pretendo ter a mesma desenvoltura ou até mesmo

A UNIÃO 345 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro ser melhor; um jornalista que também faz parte da família A União: Alexandre Nunes, meu pai. Tenho certeza que ele está passando por uma felicidade tremenda por saber que sua filha, no começo de sua carreira, está se desenvolvendo nessa área e aprendendo com a grande escola na qual ele também faz parte. Agradeço a ele por toda paciência e aprendizado que tem comigo, agradeço a todos os que formam a família A União, pois cada um, de sua forma, me estimula, me ajuda e quer o meu crescimento. Quero agradecer a Felipe Gesteira por cada conselho e orientação para o meu bem; Conceição Coutinho pelos puxões de orelha e orientação de mãe; Cardoso Filho que me socorre quando preciso e está sempre presente; Denise Vilar que é como uma segunda mãe que me orienta e me dá dicas sempre muito útil ao meu aprendizado; aos amigos estagiários que trocam conhecimentos e dicas entre si e comigo, sem contar com a alegria permanente de Moraes animando a Redação, junto com outros veteranos de batente. Destaco ainda o cuidado fraterno e paternal de João do Arquivo, um grande amigo e companhia protetora das longas viagens de ônibus, quando retorno do trabalho para Santa Rita, onde moro. O jornal A União continua e vai continuar sempre sua missão de formar jornalistas, sempre se renovando e continuando atual, por acreditar na juventude e também oportunizar espaço para os mais experientes, numa mistura que tem dado certo em mais de um século de existência do matutino. É gratificante fazer parte dessa história.

346 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Leonar o An ra e

A I or n ia o Jornal A ni o

azer parte de um dos principais jornais do estado da Paraíba é gratificante. Poder está tendo a oportunidade de aprender com os Fcolegas jornalistas a contribuir na transmissão de informações para com os leitores. Ser inserido neste período de 1 ano como estagiário no caderno de cultura, me faz transbordar o sentimento imensurável de fazer parte da família A União. Onde o nome do jornal traduz o que de fato é verdade, unidos com alegria e o prazer de contar histórias, vivenciar e abordar temas diversos, trazendo as principais notícias de tudo o que acontece em nossa região, seja Cultura, Esporte, Política ou Cidades. Editorias onde os profissionais vêm cumprindo esta tarefa em seus 125 anos de responsabilidade e compromisso. Uma frase é utilizada pelos jornalistas que já atuam no mercado de trabalho, que em sua maioria falam. “O jornal A União é uma escola, passando por lá, conseguirá trabalhar em qualquer veículo de comunicação”. Tudo isso é bem verdade, com a prática diária em produzir matérias, você se capacita, produzindo textos e reportagens, seja para TV, Rádio, Online ou Impresso. Cabendo ao estagiário, buscar o interesse em crescer e se dedicar ao máximo obtendo êxito em seus desafios. Com esta obtenção de crescimento profissional na área que almejo trabalhar desde a infância, o momento aqui no jornal está sendo único. Dia a dia vou me aperfeiçoando, e detalhes vão sendo

A UNIÃO 347 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro corrigidos e melhorados. A academia utilizando suas atividades práticas e teóricas, vão te dando um embasamento, mas o estágio te faz decolar mais rápido, melhorando sua agilidade e cuidado com todas as informações reproduzidas. A alegria em ver seu nome sendo divulgado em matérias publicadas nas páginas dos jornais é satisfatório, porém aumenta a responsabilidade e a cobrança em sempre fazer melhor. No meu caso falando sobre histórias de artistas regionais, eventos e tudo o que envolve a cultura. As matérias veículadas me inspiram por sua qualidade ética e compromisso com o que está sendo reportado. Por isso a importância do jornal A União, que transforma a vida de todos nós estagiários. Não tem como um aprendiz sair deste local sem um crescimento ou amadurecimento, essa experiência que levarei por toda minha caminhada, atribuirá em tudo que for produzido em outros trabalhos. O fazer jornalismo é buscar informações, correr atrás do que é inédito, é apurar os fatos, sendo ponte para repassar o que é verdade. A busca pelo conhecimento continua, e os passos à frente que estarei dando dentro deste jornal vão me ensinando e me incentivando a pôr em prática esta rica experiência, que modifica qualquer facilitador da comunicação. Quero aqui expressar minha gratidão, pela oportunidade concedida em fazer parte da família A União a todos, em especial ao meu editor-chefe Alexandre Macedo.

348 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Ra el Al ei a (*)

E eri n ia alé as ala ras

ealizar o sonho de ingressar na vida acadêmica foi, sem dúvida, muito gratificante, principalmente pelo fato de iniciar o curso de RJornalismo pouco tempo depois de terminar o ensino médio, com apenas 17 anos. Mas, ter a oportunidade de trabalhar como estagiária no jornal A União foi uma experiência que ficará marcada para sempre em minha vida. Apesar de me identificar muito com a leitura e a escrita não me imaginava trabalhando em um jornal impresso, no entanto, quando tive o primeiro contato com a Redação do jornal A União foi como me descobrir na profissão e entender o motivo de estar no curso. “Quebrar paradigmas”. Com certeza essa frase define o jornal A União. Um deles foi os rumores sobre as Redações, de que toda Redação de jornal era um lugar com muita pressão, com clima pesado em que ninguém se suportava. Na verdade, ao chegar na Redação de A União eu vi pais e mães postiças que não mediam esforços para aconselhar, orientar e ajudar. Prepotência e desdém são palavras que não existem no dicionário desse jornal que mais se preocupa em formar jornalistas competentes do que nos deixar inseguros com o mercado de trabalho. Ver meu nome nas páginas em preto e branco de um jornal que tem 125 anos de história e que é considerado por muitos profissionais da área como uma escola de jornalismo séria e responsável foi um privilégio que não tenho palavras para descrever. Do diagramador ao chefe de Reportagem era possível aprender um pouco mais sobre o dia a dia e desafios da profissão, e apesar das exigências e algumas vezes “puxões de orelha carinhosos” o carinho, o cuidado e o desejo

A UNIÃO 349 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro de ver nosso desenvolvimento sempre estavam presentes em cada conselho e repreensão. Da pauta do dia à matéria especial fui aprendendo com o tempo a ter um olhar diferenciado a cada história que era entregue a mim. Quando chegava no jornal A União e recebia da chefe de Reportagem a pauta com as explicações da matéria que iria fazer comecei a entender a responsabilidade que estava em minhas mãos. Entendi que ser jornalista ia muito além de apenas descrever um fato. Na verdade, em cada externa que fazia pude perceber que jornalista é um ouvinte e contador de histórias que são muitas vezes invisíveis para a sociedade. E no jornal A União era perceptível observar que os espaços de cada caderno eram preenchidos com essas histórias, e que elas não deviam se limitar a dados e estatísticas. Sobre os editores, posso dizer que mais do que colegas de trabalho eles se tornaram amigos de alma. Foi no jornal A União onde trabalhei pela primeira vez como jornalista, e não poderia ter sido diferente. Mesmo com muita inexperiência e erros sempre tive todo apoio de todos da Redação, e em cada matéria que fazia eles me motivavam a superar meus limites a cada dia. Cada personagem e história me marcaram de uma forma diferente. Os desafios de escrever matérias com assuntos difíceis ou pautas com cunho de uma manchete de jornal me fizeram crescer como profissional, e perceber que com dedicação e força de vontade para aprender podemos ir muito longe.

(*) Rachel Almeida – 21 anos. Estagiou no jornal A União de abril de 2016 até dezembro de 2017. Estudante do oitavo período de Jornalismo na Faculdade Maurício de Nassau

350 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Lucas Campos

A ni o é ais o e e resa é lar

difícil falar de A União. Não porque faltam palavras para descrever o jornal, mas porque há uma profusão delas – algo que é perfeitamente Énatural quando o apreço por algo está envolvido no discurso. Pode soar clichê, mas realmente acredito que não há uma outra forma que eu consiga imaginar para começar esse texto. Assim, a principal palavra que elenco é a gratidão. Quando comecei meu estágio em A União, era só um estudante cheio de inseguranças e com timidez de sobra. Todos os dias eram um desafio, porque eu precisava lidar com essas questões da minha personalidade ao mesmo tempo em que tentava cumprir minhas pautas. Entretanto, nunca encarei minhas atividades de uma forma negativa. Isso porque sempre houve uma equipe muito compromissada a me ensinar os melhores caminhos para produzir uma boa matéria, que realmente não eram abusivos quando eu errava e que, de forma muito nítida, desempenharam um papel fundamental no meu amadurecimento como profissional e como pessoa também. Elencar tudo que aprendi com estas pessoas também é difícil, porque foram realmente muitas as lições. Porém, cito aquela que julgo a mais importante: a de realizar um jornalismo humanizado, que deixa os números e especialistas um pouco de lado – mas sem esquecê-los, porque são fundamentais - para dar voz ao cidadão e contar suas histórias de vida. Ao apurar algumas matérias e realizar

A UNIÃO 351 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro certas entrevistas, percebi o quanto é necessário ouvir e dar voz a essas pessoas que normalmente não são vistas. Há algumas matérias que são impossíveis de esquecer, por exemplo: a visita ao Porto do Capim, cuja reforma proposta pela prefeitura ameaçava retirar os habitantes da comunidade desta parte da cidade; e uma conversa com mães apenadas sobre passar o dia das mães longe de seus filhos. Ouvir essas pessoas foi difícil, porque era doloroso saber que passavam por situações tão difíceis. Por outro lado, foram experiências extremamente enriquecedoras. Mais do que companheiros de trabalho diário, encontrei amizades que espero levar por toda a vida. Muitas vezes, o dia a dia é maçante e difícil, especialmente quando você está intercalando estudo, estágio e as responsabilidades de casa; mas era só chegar no estágio que tudo isso parecia desaparecer. Claro, eu não podia deixar meus problemas influenciarem no trabalho, mas para além do prazer que eu sentia em atuar como repórter, eram as pessoas que faziam da rotina algo realmente agradável. Essa equipe, desde as pessoas que estavam na Redação, até o pessoal da limpeza, do Diário Oficial, da Gráfica e da Administração; é especial. Em minhas poucas experiências de trabalho, não havia me deparado com uma atmosfera tão harmônica, positiva e coesa no que diz respeito às pessoas. Penso que cada uma delas tem uma importância ímpar e, por estarem tão empenhadas, fica fácil entender porque A União é uma empresa que, ao longo dos anos, conquistou tanto respeito e admiração – vindo a tornar-se patrimônio cultural. Pretendo guardar tudo que vivi e todos que conheci em A União para sempre na memória. Quando cheguei, disseram-me que o jornal era como uma escola do jornalismo e acabei confirmando isso. Para mim, entretanto, tornou-se uma espécie de lar, onde encontrei segurança, bem-estar, apoio e espaço para crescer. Aliás, lar é um lugar que costumamos amar e afirmo, é impossível não amar A União e as pessoas que lá trabalham.

352 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO CA LO I ICONOGRAFIA Capa da 1ª edição do jornal – quinta-feira 2 de fevereiro de 1893 Extinto prédio-sede de A União que era situado na Praça João Pessoa, entre a Praça 1817 e a Rua Duque de Caxias

A União, em 1942 Antigo prédio de A União, em 1933. Ao fundo, a Lagoa

Antiga sede de A União. Prédio da Biblioteca Pública do Estado, na Av. Gal. Osório (1982)

Antes da sede definitiva, uma rápida passagem pela João da Mata, 100

Nova sede de A União, na Av. Gal. Osório - antiga Biblioteca Pública. Em 1984 Nova sede de A União em jaguaribe na Osvaldo Pessoa, em 1988 Sede definitiva de A União, em 1994.

Construção da Sede Tito Silva, primeiro presi- definitiva, no Distrito dente de A União Industrial (1972).

Antonio Ferreira, ex-funcionário, linotipista de A Setor de artes da gráfica, tônio, Naudimilson União, e na época, Alai, Pinto, Nelson e Brandão e Jessé, nos anos 80

Governador Wilson Braga em evento n’A União, presenças de Luiz Augusto Crispim, Deoclécio Moura, Hilton Gouveia, Lúcia Braga, deputado Soares Madruga

Biu Ramos - Ex-superintendente Abmael Moraes Sebastião Barbosa (Barbosinha) Líder comunista Gregório Jornalista Hilton Gouveia Antônio Barreto Neto Bezerra

Jornalistas Linduarte Noranha, Petrônio Souto, Biu Ramos e Antonio Barreto Neto

Osias Gomes, ex- Walfredo Rodriguez Eduardo Martins superintendente A UNIÃO 357 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Máquinas Off -set, servidores Anselmo, José A União à venda nos jornaleiros Pimenta, Chico Mamede e Ivaldo

Ano 2000 – Funcionários na campanha Basta, eu quero paz!

Deijaci Araújo, diretor Capas dos livros de Eduardo Marti ns, a obra mais comercial e diretor de completa sobre A União operações, no período de 1983 a 1987 Colunista Social Goretti Zenaide. A jornalista faleceu na madrugada de 31 de julho de 2017 aos 67 anos. Goretti conquistou uma legião de amigos e amigas sobretudo no meio jornalísti co Capa do Correio das Milton Nóbrega, ex- Artes, ilustração de Tônio diretor de A União Nonato Bandeira Nonato Guedes Oduvaldo Batista

Lourival Ferreira Carlos Aranha

Ramalho Leite, ornalis a e es ri or e s erin en en e e A ni o e e e a o es a al

Fotógrafo Arnóbio Costa é homenageado na ALPB pelo deputado Branco Mendes

Fachada da sede de A União inaugurada aos 2 de fevereiro de 1974 Jornalista, escritor e pesquisador, Fernando Moura, ex- Juca Pontes superintendente de A União

Biu Ramos, Nonato Guedes e Fernando Moura, os três Itamar Cândido, ex-superin- dirigiram o jornal tendente de A União Governador Ricardo Coutinho inaugurou em 30 de o ro e a Sala e I rensa raille n A ni o Marcos Russo, Evandro Pereira, Alberi Pontes Josélio Carneiro ao lado de uma antiga e Antonio David, com outros fotógrafos do impressora Linotipo, nos jardins de A União Governo na Praça João Pessoa

Redação Jornalista Luiz Augusto Crispim Parte da equipe da Redação

José Carlos Cardoso, tratador de imagens

De mãos dadas, jornalistas simbolizam Geraldo Varela, Tônio e Guilherme Cabral A ni o A UNIÃO 361 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Antonio Menino, de acordo com Eduardo Martins no livro A União Jornal e História da Paraíba sua evolução gráfica e editorial, foi em 1936 que ele chegou às oficinas de A UNIÃO, de onde somente sairia 18 anos mais tarde, em 1954 Antiga Linotipo, peça de museu exposta no jardim de A União

Alexandre, Josélio e a Linotipo

Logo dos 100 anos do jornal. Arte de Milton Nóbrega

Lançamento do livro Jornal Fátima Guedes e Antônio Moraes, Gil Figueiredo e Gilson Renato na Mul- de hontem, de Fernando revisores tfeira Brasil Mostra Brasil - 2017 Moura

Palestra de Gonzaga Rodrigues nos 90 anos Domingos Sávio, Marcus Vinícius, Nilton Tavares Vieira, d`A União, 2 de fevereiro de 1983 Naudimilson Ricarte, Milton Nóbrega e Jessé Xavier S erin en en e Dire ores e E i or

Al ie e Lea ernan es Murillo Padilha Câmara Neto Superintendente Diretor Administrati vo

ilson Rena o e Oli eira eli e es eira Diretor de Operações Editor-Geral PUBLICAÇÕES DE A UNIÃO

364 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Livros de Josélio Carneiro

2002

2016

2017

2018 A UNIÃO 365 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Diri en es e A ni o e i o Sil a a Al ie e ernan es

No livro “A União Jornal e História da Paraíba Sua Evolução Gráfica e Editorial”, obra de Eduardo Martins publicada na década de 1970, consta a relação dos dirigentes de A União a partir de Tito Silva em 1893 até José Moraes de Souto em 1975. Eis a lista acrescida dos demais superintendentes até 2018 com a jornalista Albiege Fernandes que entra para a história do jornal por ser a primeira mulher a assumir o cargo e se destaca como excelente gestora. Alguns assumiram a direção do jornal por mais de uma vez. Algumas datas foram repassadas pela equipe do arquivo de A União.

A União Tito Silva – 2.2.1893 - 20.10.1904 / 20.10.1904 - 22.01.1912

Imprensa Oficial Tito Silva – 22.11.1894 – 20.10.1900 João Casado – 21.10.1900 – 3.11.1900 Souza Rangel – 3.11.1900 – 5.11.1900 Francisco Coutinho – 5.11.1900 – 22.1.1902 Anastácio Peregrino – 22.1.1902 – 10.2.1903 Matheus de Oliveira – 10.2.1903 – 3.11.1905 Tito Silva – 3.11.1905 – 22.11.1912 Bernabé Gondim – 21.10.1912 – 13.2.1913

A União e Imprensa Oficial Carlos Dias Fernandes – 13.2.1913 – 4.3.1925 Nelson Lustoza – 5.3.1925 – 22.10.1928 Celso Mariz – 23.10.1928 – 3.6.1929 Nelson Lustoza – 11.6.1929 – 27.2.1930 Osias Gomes – 128.2.1930 – 7.10.1930 Raphael Corrêa de Oliveira – 8.10.1930 – 24.10.1930 Antonio Galdino Guedes – 25.10.1930 – 1.3.1931 Samuel Duarte – 20.3.1931 – 27.12.1934 José Leal – 27.12.1934 – 28.3.1935 Orris Barbosa – 28.3.1935 – 30.7.1940 Abelardo Jurema – 31.7.1940 – 2.8.1940 José Leal – 18.8.1940 – 12.8.1941 Ascendino Leite – 15.8.1941 – 20.2.1943 Octacílio Nóbrega de Queiroz – 23.2.1943 – 27.4.1944 Severino Alves Ayres – 28.4.1944 – 24.3.1945 João Lelis – 25.3.1945 – 4.11.1945 Sabiniano Maia – 9.2.1945 – 13.2.1946 José de Cerqueira Rocha – 20.2.1946 – 20.10.1946 F. de A. Vidal Filho – 21.10.1946 – 28.2.1947 Wilson Madruga – 1.3.1947 – 10.3.1947

366 A UNIÃO Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO Synésio Guimarães – 10.3.1947 – 13.2.1949 Sílvio Porto – 13.2.1949 – 14.7.1950 Hilton Marinho – 14.7.1950 – 9.12.1950 Dulcídio Moreira – 9.12.1950 – 30.1.1951 Juarez da Gama Batista – 1.2.1951 – 1.21956 Sabiniano Maia – 2.2.1956 – 21.8.1957 José Barbosa de Souza Lima – 27.8.1957 – 14.1.1958 Octacílio Nóbrega de Queiroz – 15.1.1958 – 30.7.1958 Hilton Marinho – 31.7.1958 – 20.7.1959 Hercílio Farias Brito – 21.7.1959 – 1.8.1959 José Barbosa de Souza Lima – 2.8.1959 – 18.3.1960 João Bernardo de Albuquerque – 9.4.1960 – 20.1.1961 Antonio Feitosa – 25.1.1961 – 31.1.1961 Hélio Zenaide – 6.2.1961 – 30.7.1962 Antonio Brayner – 2.8.1962 – 31.1.1966 José Moraes de Souto – 2.3.1966 – 21.3.1971 Severino Ramos – 23.3.1971 – 19.9.1971 Antonio Barreto Neto – 21.9.1971 – 26.1.1973 Luiz Augusto Crispim – 27.1.1973 – 21.6.1973 Luiz Ferreira da Silva – 23.6.1973 – 9.11.1973

10.11.1973 / 3.4.1975

Carlos Vieira da Silva – 10.11.1973 – 3.4.1975 José Moraes de Souto – 14.9.1990 – 18.3.1991 Nathanael Alves – 4.1979 – 7.4.1981 Petrônio Souto – 7.4.1981 – 26.5.1982 Etiênio Campos – 1982 - 1984 Aluísio Moura – 1984 - 1985 Deoclécio Moura – 12.1984 – 7.1986 Raimundo Nonato Batista – 1985 – 1986 Renato Mesquista – 3.7.1986 – 19.8.1986 Jório Machado – 1987 – 1º.7.1988 Biu Ramos – 23.3 / 19.3.1971 e 1988 - 1990 Nonato Guedes – 04.11.1993 – 14.11.1995 Itamar Cândido – 1991/1993 e 2003/ a março 2009 Eraldo Nóbrega – 15.11.1995 a meados de 1997 Zélio Marques – 4.4.1997 – 5.4.2000 Rui César Leitão – 6.4.2000 – 4.4.2002 Nelson Coelho – 5.4.2002 – 31.12.2002 e 2009 a 2010 Ramalho Leite – 2.1.2011 – 4.4.2012 Fernando Moura – 5.4.2012 – 4.12.2013

Albiege Fernandes, a primeira mulher a assumir o cargo, tomou posse em 5.1.2015, a superintendente do jornal e editora A União na data de publicação dessa primeira edição.

A UNIÃO 367 ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro Sobre o livro

Projeto Gráfico Josélio Carneiro (JCA Edições) Editoração/Capa Naudimilson Ricarte (Design Gráfico) Imagem da capa Acervo da A União

Formato 15,5 x 22,5 Mancha gráfica 12,0 x 19,0 Tipologia utilizada Calibri Papel do miolo Offset 75 g/m2 Papel da capa Duo Design 250 g/m2 - Plastificação Fosca

Produzido nas oficinas gráficas A UNIÃO — Superintendência de Imprensa e Editora Br 101 — KM 03 — Distrito Industrial — 58.082-010 João Pessoa — Paraíba — Brasil