Relatório Técnico Final Do Projeto Tudo
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Relatório técnico final do projeto Tudo bem – A negociação das identidades nacionais e transnacionais nas co-produções luso-brasileiras (1995 – 2007) de Carolin Overhoff Ferreira Bolsa CNPq pós-doutoramento sênior Realizado no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão, Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo Supervisão: Prof. Dr. Ismail Xavier Agosto 2008 – Julho 2010 1 Relatório técnico final do projeto Conteúdo Atividades de pesquisa programadas .............................................................. 3 Objetivo principal ........................................................................................... 3 Metodologia: .................................................................................................. 5 Atividades realizadas: ..................................................................................... 7 Lista de trabalhos realizados e publicados durante a vigência da bolsa de pós-doutoramento sênior .............................................................................. 14 Lista de trabalhos em publicação ................................................................. 17 2 Relatório técnico final do projeto Atividades de pesquisa programadas Objetivo principal O projeto “Tudo bem – A negociação das identidades nacionais e transnacionais nas co- produções luso-brasileiras (1995 – 2007)” foi desenvolvido para contribuir para um maior entendimento das inter-relações e negociações de identidade e discursos identitários nas 24 co-produções luso-brasileiras realizadas entre 1995 e 2007, produções estas que resultaram do protocolo assinado entre ambos os países em 1994. Desta forma, o estudo teve como final objetivo oferecer novas perspectivas para a atual discussão e definição do conceito de transnacionalidade nos estudos de cinema e, ainda, para um esclarecimento do conceito de identidade transnacional nos discursos sobre luso- tropicalismo e lusofonia que ocorrem presentemente em várias áreas do conhecimento relacionadas com os estudos culturais brasileiros e portugueses. O corpo de análise consistiu nos seguintes filmes luso-brasileiros: Nome do Filme Realizador País Ano 1 O Judeu Jom Tob Azulay B 1995 2 Terra Estrangeira Walter Salles B 1995 3 Bocage, O Triunfo do Amor Djalma Limogi Batista B 1997 4 Tentação Joaquim Leitão P 1997 5 O Testamento do Senhor Napumoceno Francisco Manso P 1997 6 Amor & Cia Helvécio Ratton B 1998 7 O Rio do Ouro Paulo Rocha p 1998 8 O Xangô de Baker Street Miguel Faria Jr. B 1999 9 Hans Staden Luiz Alberto Pereira B 2000 10 Palavra e Utopia Manoel de Oliveira P 2000 11 Estorvo Ruy Guerra 2000 11 A Mulher Polícia Joaquim Sapinho P 2001 12 Tudo isto é Fado Luís Galvão Teles P 2003 13 Portugal SA Ruy Guerra B 2003 3 Relatório técnico final do projeto 14 A Selva Leonel Vieira P 2003 15 Desmundo Alain Fresnot B 2003 16 O Diabo a Quatro Alice de Andrade B 2004 17 O Veneno da Madrugada Ruy Guerra B 2004 18 Diário de um novo mundo Paulo Nascimento B 2005 19 Um tiro no escuro Leonel Vieira P 2005 20 Viúva rica solteira não fica José Fonseca e Costa P 2006 21 Sonhos e Desejo Marcelo Santiago B 2006 22 O Céu de Suely Karim Ainouz B 2006 23 A Ilha dos Escravos Francisco Manso P 2008 Em um segundo passo, o projeto almejou também esclarecer melhor a influencia dos modos de produção sobre estes filmes. Assim, pretendemos comparar as co-produções com os filmes nacionais que lidam com as mesmas temáticas (migração e colonialismo). A comparação poderia elucidar se as produções luso-brasileiras resultam principalmente de interesses unilaterais (ideológicos e financeiros), ou se a transnacionalidade oferece possibilidades de refletir em conjunto sobre as identidades lusófonas, ultrapassando deste modo velhos mitos e perspectivas binárias. Sendo que não existe filme português que se debruça sobre questões relacionadas com a época colonial, apresentamos os seguintes filmes brasileiros como corpo de análise para a comparação: Título do filme Realizador Ano 1 O Guarani Laura Bengell 1996 2 Tiradentes Oswaldo Caldeira 1998 3 Brava Gente Brasileira Lúcia Murat 2000 4 Caramuru Guel Arraes 2001 O fato de Portugal não ter realizado filmes sobre a época colonial resulta da história recente do país: a problemática das colônias portuguesas em África é mais presente e, por isso, a necessidade de debater e narrar o envolvimento com as “províncias ultramarinas” de maior importância, pois está fortemente relacionado com a nova identidade portuguesa no 4 Relatório técnico final do projeto contexto europeu, ou seja, como membro da União Européia. Mesmo assim, consideramos que a comparação dos filmes transnacionais com os filmes nacionais brasileiros oferecer pistas sobre as diferenças entre co-produções e produções nacionais. Fez parte da análise a reflexão sobre o fato de que Portugal encontrou nas co-produções uma oportunidade de discutir o passado colonial brasileiro, que, muito provavelmente (e isto nos indica a falta de filmes em nível nacional) jamais teria ocorrido. Metodologia: O estudo consistiu em um primeiro momento na análise de um corpo de 24 co-produções de ficção e, em um segundo, na comparação destes com quatro produções nacionais brasileiras que desenvolvem discursos sobre a identidade nacional e transnacional nos contextos do colonialismo e pós-colonialismo. Devido à longa história dos vínculos entre ambos os países e derivando da constante revitalização destes discursos, é possível assinalar cinco aspectos que guiaram nossas análises: 1. Os discursos sobre os relacionamentos entre o Brasil e Portugal e a afirmação ou reformulação destes nos filmes; 2. Os discursos sobre a constituição da identidade brasileira e dos seus mitos fundadores desde a chegada dos primeiros portugueses até os dias atuais e a afirmação ou reformulação destes nos filmes, 3. A representação de personagens em trânsito transatlântico, tanto de personagens brasileiros quanto de portugueses que se deslocam antes e depois da independência brasileira; 4. A discussão da lusofonia nas adaptações de literatura portuguesa, brasileira ou luso- brasileira ou através de filmes sobre autores canônicos da língua portuguesa; 5. As diferentes categorias de transnacionalidade nos filmes (questões ideológicas, financeiras, geográficas e sócio-culturais); 6. A comparação dos filmes luso-brasileiros com os filmes portugueses que a) possuem personagens que migram entre Portugal e o Brasil em um contexto colonial ou neo- 5 Relatório técnico final do projeto colonial e b) que possuem personagens imigrantes em um contexto pós-colonial, elaborando assim os pontos 1) e 3). Estes seis aspectos resultaram da revisão bibliográfica que demonstrou a importância dos seguintes conceitos para os filmes realizados entre o Brasil e Portugal: a identidade nacional e transnacional, a lusofonia e o lusotropicalismo, isto é o legado lingüístico, étnico, cultural e histórico. Autores que guiaram a escolha dos aspectos foram: Gilberto Freyre (1933), Caio Prado Júnior (1942), Sérgio Buarque de Holanda (1947), Benedict Anderson (1989), Andrew Higson (1989), Alfredo Bosi (1994), Walter D. Mignolo (1998), Eduardo Lourenço (1999), Philip Schlesinger (2000), Boaventura Souza Santos (2001), Bela Feldman- Bianco (2002), Robert Rowland (2002), Onésimo de Almeida (2005), entre outros. 6 Relatório técnico final do projeto Atividades realizadas: 1. No contexto do ponto 1 (Os discursos sobre os relacionamentos entre o Brasil e Portugal e a afirmação ou reformulação destes nos filmes) e 3 (A representação de personagens em trânsito transatlântico, tanto de personagens brasileiros quanto de portugueses que se deslocam antes e depois da independência brasileira), especificamente sobre o trânsito de personagens portuguesas para o Brasil, organizamos uma mesa no Congresso Narrating the Portuguese Diaspora (1928-2008): International Conference on Storytelling na Universidade de Lisboa em Outubro de 2008 com o título “Identidade portuguesa em trânsito – o cinema nacional e trans-nacional na era da globalização”. A nossa comunicação “Em trânsito – a negociação da identidade portuguesa nas produções transnacionais luso-brasileiras desde 1995” foi depois submetida e aceite como capitulo de livro para a publicação que resultará do encontro com o título “Brothers or Strangers – The construction of identity discourses in contemporary Luso-Brazilian co-productions with Portuguese migrating characters”. Resumimos os resultados da nossa comunicação da seguinte forma: Podemos concluir que as co-produções analisadas apostam na sua maioria em discursos identitários que apresentam a imigração portuguesa como referência histórica positiva e elemento de identificação. Esta identidade híbrida luso- brasileira possui como maior característica a audácia ou mesmo a virilidade que ocultam, na verdade, ou paternalismo ou desprezo pelo Outro e apagam os verdadeiros protagonistas da imigração portuguesa, além de dar relevo à imigração branca. Apenas Desmundo reconhece que a formação da identidade brasileira com base na identidade portuguesa resulta da opressão do Outro. O modo de produção transnacional estimula certamente o encontro de portugueses e brasileiros na produção cultural, quando comparado com a usual ausência do Outro na literatura, e negocia a identidade dos imigrantes de forma que esta ultrapasse os velhos preconceitos. Ao mesmo tempo, resulta em filmes comemorativos que parecem ser feitos para agradar ambos os lados do Atlântico, indiferente da origem do realizador, porém, perdem a complexidade das relações 7 Relatório técnico final do projeto