UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

LAVÍNIA FAELLI COLUCCINI

MEMORIAL DE FORMAÇÃO

CAMPINAS 2005 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

LAVÍNIA FAELLI COLUCCINI

MEMORIAL DE FORMAÇÃO

Memorial apresentado ao Curso de Pedagogia – Programa Especial de Formação de Professores em Exercício nos Municípios da Região Metropolitana de Campinas da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, como um dos pré-requisitos para a conclusão da Licenciatura em Pedagogia.

CAMPINAS 2005 © by Lavínia Faelli Coluccini, 2005.

Ficha catalográfica elaborada pela biblioteca da Faculdade de Educação/UNICAMP

Coluccini, Lavínia Faelli. C723m Memorial de Formação / Lavínia Fael li Coluccini. -- Campinas, SP : [s.n.], 2005.

Trabalho de conclusão de curso (graduaç ão) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Programa Especial de Formação de Professores em Exercício da Região Met ropolitana de Campinas (PROESF).

1.Trabalho de conclusão de curso. 2. Memorial. 3. Experiência de vida. 4. Prática docente. 5. Formação de prof essores. I. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação. I II. Título.

06-071-BFE

Í N D I C E

INTRODUÇÃO...... 01

Início da minha musicalização...... 02

REFERÊNCIAS...... 39 APRESENTAÇÃO:

Muitas vezes uma imagem, um cheiro, uma música, um objeto provocam uma

reviravolta em nossa vida. Esse memorial permite recuperar lembranças de experiências e

fatos em minha vida. Vivências marcantes, que deram a oportunidade de refletir sobre a

visão do mundo e sua concepção de educação. Assim poderei imprimir novos significados

do passado, compreender o presente e projetar melhor o futuro.

Relatarei nesse memorial as músicas que marcaram minha trajetória que funcionaram

como instrumento de construção da minha profissão.

“A música reúne as pessoas, revela bons segredos e aumenta o desejo de paz. A música ligando as pessoas é o contrário da guerra, refaz e renova a era, gera mais filhos que leva nos trilhos um trem de emoção. E o coração que estava escuta o apito do amor.A música tira minha dor, me faz mais gente e me dá harmonia quando começo a cantar, ela é o desejo de calma, viagem eterna e a alma da alma.”.

(Paulinho Pedra Azul)

INTRODUÇÃO

O presente memorial tem a função de situar a trajetória de construção de conhecimento de uma professora, em constante busca de teorias adequadas à reflexão na prática, trazendo sentido a práxis pedagógica.

Versa sobre suas experiências no campo da escola, da creche, da educação não- formal, da pesquisa (no campo sócio-educacional), da psicopedagogia e na ressignificação de sua prática no momento em que (re)constrói conhecimentos oferecidos na formação acadêmica vivenciada no Curso de Pedagogia.

1 Início da minha musicalização:

Há músicas que contém memórias de momentos vividos. Trazem-nos de volta um passado. Lembro-me de lugares, objetos, rostos, gestos, sentidos... Lembrar-se do passado é triste-alegre...alegre porque houve beleza de que nos lembramos. Triste porque a beleza é apenas lembrança.

A partir desse pequeno pensamento comecei a recordar de como a música esteve presente em todas as etapas da minha vida. Portanto esse é o ponto de partida do meu memorial. “A música”

Acho que tudo começou com a família da minha mãe que era voltada para a arte de um modo geral. Seu pai adorava teatro, rádio e cinema. Mamãe e suas irmãs representavam em peças teatrais que o pai trazia para a pequena cidade em que moravam.

Ele era tão apaixonado pela arte que comprou uma emissora de rádio (em que minha tia era a locutora) e mais tarde um pequeno teatro. Portanto a música e a representação sempre estiveram presentes na família da mamãe. Ela conta que cantava para mim quando ainda estava em sua barriga, e me movimentava como que se estivesse aplaudindo. Quando nasci, ela me embalava em seu colo cantando lindas canções de ninar, dizia que me acalmava ao ouvir sua voz, na hora de comer a música tinha que estar presente também, pois só abria a boca balançando uma caixinha de fósforo, sem o batuque não comia. Ao começar a andar, qualquer barulho era motivo para balançar os braços e as pernas. Nas reuniões familiares todos pediam para que dançasse, e sem cerimônia dava o meu show, era realmente a atração da família. Na hora do sono, mamãe cantava canções como:

Berceuse, Bem longe de mim (Carlos Gomes) e o Sono vai chegar. Depois de rezar e de agradecer ao anjinho da guarda, a música clássica tocava na vitrola bem baixinho.

A paixão pela música e pela dança era tão grande que com 4 anos de idade mamãe me matriculou no conservatório “Carlos Gomes”, para aprender balé. Lá fui uma 2 das primeiras alunas da classe. Dancei na televisão (Gincana Kibon), e no teatro Municipal de Campinas. Mas, aos 7 anos minha “carreira “ foi interrompida com o nascimento da minha terceira irmã, pois mamãe já não podia mais me levar as aulas. Comecei então a ensinar minhas irmãs e vizinhas a dançar e cantar. Essa era a nossa brincadeira preferida.

A música estava também presente em todas as nossas reuniões familiares paternas, pois com o vovô era italiano, em cada ocasião tínhamos determinadas musicas que marcaram nossas vidas. Nas festas de aniversário cantávamos canções italianas, que, infelizmente não sei como escrever; a do revellion era:

“ Adeus ano velho, feliz ano novo Que tudo se realiza No ano que vai nascer Muito dinheiro no bolso Saúde para dar e vender Para os solteiros Sorte no amor Nenhuma esperança perdida Para os casados Nenhuma briga Paz e sossego na vida”

Depois de cantar, vovô pegava a garrafa de champanhe , chacoalhava, abria, apagava as luzes e espirrava em todos. As crianças se escondiam embaixo da mesa, mas vovô percebendo direcionava o jato na direção certa. Após essa bagunça total vovô colocava o champanhe nas taças que continham três uvas brancas, que significavam: amor, saúde e dinheiro.

Quando lembro dessas músicas, recordo de todos meus familiares e da alegria que a música transformava as nossas reuniões, que por sinal bem barulhentas.

Mamãe como toda boa professora e pedagoga, gostava de contar histórias para as quatro filhas, mas durante suas representações colocava músicas para definir os personagens. Lembro-me que não gostava da música dos caçadores que iam pegar o lobo

3 mal na história da Chapeuzinho Vermelho, não sei por que, talvez pelo som forte marcante e seco dos tambores que anunciavam a morte do lobo, mas assim mesmo adorávamos ouvir mamãe e sempre pedíamos mais.

Como a família de mamãe morava em São Carlos, frequentemente íamos visitá-los

Papai tinha uma perua enorme que era capaz de acomodar bem as 6 pessoas da família.

Cada filha ficava numa janela e para evitar brigas e perguntas como “estamos chegando?” mamãe cantava e nós acompanhávamos; papai também entrava na cantoria e era um barulho só. Alguns anos mais tarde papai comprou uma chácara em Jaguariúna e todas as sextas-feiras, á noite íamos para “o meio do mato” como costumava dizer minha mãe. A casa tinha uma varanda bem grande onde mamãe colocava a rede de balanço e, lá ficávamos deitadas e ela balançava e cantava músicas que até hoje lembro com muito carinho. Músicas que marcaram minha infância e que também cantei para meus filhos como: Lampião de gás, Sereno, Fiz a cama na varanda, Não quero outra vida. Bem longe de mim distante (Carlos Gomes). Assim lembrando das músicas, revivo todo aquele momento com todos os detalhes e sinto uma sensação muito gostosa.

Essas músicas também faziam parte do repertório que cantávamos quando saíamos para passear de carro ao redor da chácara. Lembro-me que mamãe, dependendo da música até fazia zigue-zague com o carro, acompanhando a melodia e nós vibrávamos. Logo que saíram as vitrolas portáteis, (que não era assim tão portátil) nós ganhamos uma do papai, junto com uma coleção de discos de musicas folclóricas. Assim, aumentamos nosso repertório e brincávamos de fazer shows na TV com música de fundo. Mas nossas canções não ficavam apenas em discos, pois gostávamos de tocar instrumentos inventados com panelas velhas, garrafas de vidro de varias formas com água em diferentes quantidades(que davam sons maravilhosos). Latas de lixo que mamãe não gostava muito, pois ficavam todas amassadas e latas vazias de cera para assoalho e do queijo palmara que minha vinha

4 numa lata vermelha redonda, formando nossa bateria. Assim, formávamos nosso conjunto e convidando os vizinhos, que naturalmente pagavam ingresso, fazíamos show e teatrinho na garagem de casa. Era muito divertido e lucrativo, pois depois pegávamos as moedinhas e íamos comprar paçoquinha e doce de banana em formato de árvore na venda do Sr.

Pedro.

Papai vendo toda nossa empolgação por música comprou uma gaita, um xilofone de madeira, uma castanhola e um violão, então fomos aprender a tocar violão. Nossa empregada baiana que morava em casa, adorava me ouvir tocar violão e toda vez pedia que eu cantasse, a música “ Gente humilde” ( Vinicius de Moraes e Chico Buarque de

Holanda).

Ficava na porta da cozinha tocando, e ela com aquele avental branco, muito branco cozinhava e cantava comigo. Mais uma vez a música me traz recordações de alguém muito importante que já partiu e que também fez parte da minha família.

Assim, a música foi trilhando todas as fases da minha vida, uma música para cada momento. Quando adolescente tocava violão na , nas instituições de caridade e nas reuniões com amigos. Mas nessa fase as músicas “proibidas” também surgiram como “Jet

Aime”. No colégio que estudava pegávamos à vitrola portátil e levávamos para a sacristia da capela onde escondidas ouvíamos a música que não passava de sucessivos sussurros.

Ao completar 15 anos, mamãe me deu de presente uma festa inesquecível. Foram convidados todos os meus amigos e familiares. O responsável pelo som gravou uma fita com todas as músicas tocadas na festa. Ouvindo hoje essa fita, é como se ao passe de mágica, a música me transportasse áquela época. É, mais uma vez o poder musical mexendo com nossas lembranças. São músicas que nos levam de volta ao tempo passado.

Essa fita contém as seguintes músicas: Ove Tough, Here to Eternity, Dancing on the

5 Ceiling, Tonight will be all Right, Where were you when I palling in love. Don t do that,

Party people, Music man, Call me tonight, Farewelle.

Depois as músicas chamadas de “fossa”, que ouvia quando estava triste, na maioria das vezes por brigas com o namorado, a preferida era “ Do you want to dance” (Johny

Rivers). Quando estava aos pedaços de tanto chorar, deitava no tapete do chão da sala e ouvia músicas clássicas. Ela me estruturava, alterava meu estado de espírito. Tinha também as músicas românticas para dançar e as agitadas das boates do clube que freqüentava. Nessa fase papai também deu sua contribuição na música e na dança, pois achava que como já éramos “mocinhas” tínhamos que aprender a dançar valsa. Então, aos domingos entrava no quarto cedinho abrindo as janelas dizendo que era hora de levantar para aprender a dançar. Ás quatro filhas sentadas no sofá da sala, a vitrola de alta fidelidade tocando valsas e músicas italianas, ele ensinava uma de cada vez os passos corretos das danças e nós com sono, tentávamos aprender e não pisar no seu pé.

Nessa época durante as férias ia para São Paulo ficar na casa de uma prima que tinha seis filhos pequenos. Lá eu contava histórias, brincava e ensinava músicas, cantávamos e brincávamos todos juntos. Minhas irmãs não compreendiam como eu era capaz de trocar as férias aqui em Campinas com nossa turma, para ir para São Paulo ficar com crianças pequenas. Acho que foi nesse momento que pensei em ser professora, pois gostava muito do que fazia com os pequeninos. Percebia a alegria delas em receberem a música, a história, e o brincar. Isso me fazia muito bem, com certeza era melhor do que ficar no clube com os amigos.

E bem, chegou à hora de decidir minha profissão, na formatura da 4° série do curso ginasial (atual 8° série), me despedi do “Colégio Progresso de Campinas” onde estudei por

9 anos cantando seu hino, que recordo com grande alegria, daquele tempo tão gostoso:

6 “Progresso o seu nome é um lema que fala sobre sua história, Progresso..da sua vida de glória, progresso, progresso, progresso.”

Comecei então, uma nova etapa em minha vida, a procura da realização de um sonho; ser professora. No Colégio Ave Maria de Campinas, ingressei no curso de

Magistério. Pela primeira vez num colégio de freiras, com uma disciplina rígida, e um método de ensino totalmente diferente do Colégio Progresso. No qual fazíamos trabalhos em equipe sobre um tema gerador, tendo todas as disciplinas participando juntamente.

Criávamos nossos próprios textos, através de leituras, pesquisas, entrevistas e estudos do meio. Fazíamos sínteses de todas as disciplinas integradas num mesmo tema para o fechamento do bimestre.

Apesar das diferenças de métodos de ensino, me destaquei na classe, pois tinha uma vivência, uma formação anterior diferenciada, que ajudou muito. Mas, além disso, tive que usar um uniforme azul-marinho, com pregas, que fazia me parecer uma freira. Minhas irmãs que estudavam no Colégio Pio XII, achavam muita graça naquela roupa e viviam caçoando também da minha escolha de ser professora. Mamãe me dava a maior força e sempre conversava com elas quando surgia o problema. Mas, não me importando com os comentários, segui meus estudos com muita garra e convicção de que estava no caminho certo. Gostava de tudo que aprendia, e cada dia ficava mais satisfeita com a bela carreira que escolhi.

Nessa época a música também esteve muito presente na minha vida, pois comecei a namorar meu marido, e várias músicas marcaram nossos seis anos de união, até o dia do casamento. Gostávamos de ouvir várias músicas, entre elas, as de Vinícius de Moraes.

Gostava de cantar para ele a música “ Debaixo dos caracóis” de Roberto Carlos, devido á seus cabelos cacheados:

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“ Um dia a areia branca seus pés irão tocar E vai molhar seus cabelos a água azul do mar Janelas e portas vão se abrir pra você chegar E ao se sentir em casa, sorrindo vai chorar

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Uma história pra contar de um mundo tão distante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Um soluço e a vontade de ficar mais um instante (refrão)

As luzes e o colorido que você vê agora Nas ruas por onde anda, na casa onde mora Você olha tudo e nada, lhe faz ficar contente Você só deseja agora voltar pra sua gente Você anda pela tarde e seu olhar tristonho Deixa sangrar no peito uma saudade, um sonho Quero ver você chegando num sorriso Pisando a areia branca que é seu paraíso

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Uma história pra contar de um mundo tão distante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Um soluço e a vontade de ficar mais um instante (refrão)”

Todas as músicas que aprendia no magistério, fazia questão de cantar e ele gostava de ouvir, achava engraçado como eu cantava fazendo gestos. Sua música preferida era:

“ Todos os patinhos, sabem bem nadar, cabeça para baixo, rabinho para o ar, quando estão cansados, da água vão saindo, depois em fila, pra casa quero ir”

Após fazer estágio numa pequena escola de educação infantil decidi que seria professora só de educação infantil e durante esse tempo, fui colecionando todas as músicas infantis que aprendia.

Enfim, chegou a hora de me despedir do Colégio Ave Maria; veio a formatura e com lágrimas nos olhos, cantamos a música “È preciso saber viver”, do Roberto Carlos:

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“Quem espera que a vida Seja feita de ilusão Pode até ficar maluco Ou morrer na solidão É preciso ter cuidado Pra mais tarde não sofrer É preciso saber viver

Toda pedra no caminho Você pode retirar Numa flor que tem espinhos Você pode se arranhar Se o bem e o mal existem Você pode escolher

É preciso saber viver É preciso saber viver É preciso saber viver É preciso saber viver Saber viver saber viver (refrão)”

Iniciou-se outra fase na minha vida, a escolha de um curso superior. Então, decidi prestar vestibular para o curso de professora especializada em educação pré-escolar na PUCCAMP, pois assim, estaria garantindo a permanência na sala de educação infantil.

Cursava á faculdade á noite e no período da manhã dava aula numa EMEI da Prefeitura

Municipal de Campinas, na sala do pré-primário. Foi o primeiro ano que lecionei, lembro da “carinha” e do nome de cada criança. Neste momento, já estava muito feliz e realizada com a minha profissão.

No final do semestre ensaiei com as crianças uma coreografia usando bastões para a música “ Nuvem Passageira” de Hermes de Aquino:

9 “Eu sou nuvem passageira Que com o vento se vai Eu sou um cristal bonito Que se quebra quando cai

Não adianta escrever meu nome numa pedra Pois esta pedra em pó vai se transformar Você não vê que a vida corre contra o tempo Sou um castelo de areia na beira do mar

A lua cheia convida para um longo beijo Mas o relógio te cobra o dia de amanhã Estou sozinho, perdido e louco no meu leito E a namorada analisa por sobre o divã (refrão)

Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva Não quero nem saber do que fazer, vou me matar Eu vou deixar um dia a vida e a minha energia Sou um castelo de areia na beira do mar (refrão)”

Foi uma linda apresentação, percebia-se no olhar das crianças a imensa alegria que sentiam naquela hora.

No período da tarde lecionava no Colégio Progresso de Campinas, também numa sala de pré-escola, mas sentia muita diferença entre dar aula para as crianças de escola pública e particular. Percebia que as crianças de escola pública precisavam mais de mim, do meu carinho, da minha ajuda; eram mais carentes, assim acabava por me sentir mais

útil, mais realizada. As músicas que cantava com essas crianças eram recebidas com grande entusiasmo, pois a maioria nunca havia ouvido uma música de ninar, de roda ou folclórica. Através dessas canções transmitia carinho, alegria e elas percebiam tais sentimentos, e sempre queriam mais.

Este curso da faculdade serviu para abrir mais o caminho que estava percorrendo, me deu suporte teórico e mais vontade de continuar trabalhando com educação infantil.

Bem, já estamos na véspera do meu casamento, nesta época de preparativos a música foi um ponto marcante, pois fizemos questão de escolher uma melodia que ficasse

10 de recordação para sempre daquele momento tão especial. A música escolhida para tocar na igreja, e na cerimônia civil foi uma composição de Elton John, instrumental com solo de piano.

Após o casamento, continuei lecionando até o início da minha primeira gravidez, e infelizmente, devido a pequenos problemas de saúde tive que abandonar temporariamente minha profissão, para se dedicar aos meus filhos.

Durante a gravidez cantava para minha filha, da mesma maneira que mamãe fez comigo, e ela também parecia apreciar muito, pois chutava e empurrava minha barriga como se estivesse agradecendo aquelas canções. Nasceu forte e bonita, era um bebê muito tranqüilo, pouco chorou e ficar doente não era com ela. No seu quarto, coloquei uma vitrola, e a amamentava ouvindo músicas clássicas, celtic e canções infantis. Logo após a refeição, colocava-a em seu berçinho para ouvir músicas, e ela assim, adormecia.

Quando os dentes começaram a nascer, eu a colocava sobre minha barriga e cantava canções suaves para que ela se acalmasse, esquecendo um pouco daquela dor que a incomodava. Fazia a mesma coisa com o meu filho, quando chorava devido a cólicas que sentia. A música que o acalmava era “ O filho que eu quero ter”, do Toquinho:

“É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer Pois eu também dei de sonhar um sonho lindo de morrer Vejo um berço e nele eu me debruçar com o pranto a me correr E assim chorando acalentar o filho que eu quero ter Dorme, meu pequenininho, dorme que a noite já vem Teu pai está muito sozinho de tanto amor que ele tem

De repente eu vejo se transformar num menino igual a mim Que vem correndo me beijar quando chegar lá de onde eu vim Um menino sempre a me perguntar um porque que não tem fim

Um filho a quem só queira bem e a quem só diga que sim Dorme menino levado, dorme que a vida já vem Teu pai está muito cansado de tanta dor que ele tem

11 Quando a vida enfim me quiser levar de tanto que me deu Sentir-lhe a barba me roçar no derradeiro beijo seu E ao sentir também sua mão vedar meu olhar dos olhos seus

Ouvir-lhe a voz a me embalar num acalanto de deus Ouvir-lhe a voz a me embalar num acalento de deus Dorme meu pai sem cuidado, dorme que ao entardecer Teu filho sonha acordado com o filho que ele quer ter”

Cantei e ensinei para os meus filhos todas as canções que aprendi com a mamãe.

Tentei passar a eles o prazer e a alegria que a música transmitia nas mais diversas situações, e culturas. No natal, com toda a família reunida contávamos com a presença de uma pessoa que se vestia com a roupa do Papai Noel, então, cantávamos canções, que com certeza ficarão para sempre na lembrança de todos da família. Como: “ Natal das crianças” e “Quero ver você não chorar”. Espero que todos eles passem essa e outras tradições musicais para as futuras gerações.

Na festa de fim de ano (reveillon), comemorávamos da mesma forma que vovô fazia, levando adiante essa tradição tão prazerosa. Os nossos passeios, e viagens também eram regrados por músicas de diversos estilos, marcando assim, épocas passadas bem como o presente.

Quando minha filha fez três anos, presentiei-a com um aparelho de som chamado

“Meu primeiro Gradiente” no qual ela podia ouvir músicas, cantar com o microfone e ouvir sua própria voz. Na vida dos meus filhos, a música sempre se fez presente, em suas festas de aniversário havia teatrinhos e grupos musicais que animavam as crianças. A festa que mais marcou foi “ O sítio do pica-pau amarelo”, na qual os personagens além de representar cantavam canções infantis.

Fiz questão também que meus filhos conhecessem outras formas de arte, como o teatro, artes plásticas (sobre influencia do meu marido que era amante dessa técnica) e dança. Minha filha dançou balé por seis anos, cada apresentação era acompanhada por toda

12 a família, que fazia questão de prestigiar esse momento. Meu filho, apreciador de músicas, aprendeu a tocar violão e guitarra sozinho, e formou uma banda com seus amigos, no qual era o responsável pelo repertório musical, compondo inclusive.

Na ocasião do falecimento inesperado do meu marido, meu filho compôs uma melodia em homenagem ao pai, onde expressou todo o seu sofrimento e sua saudade daquela pessoa que foi muito importante para a sua formação.

Contento memórias de momentos vividos, foi a música acalmando a dor, sentindo a presença de uma ausência. Quando ouvimos a música “ What a wonderful word” do Louis

Armstrong, que ele adorava, é como se sentíssemos a sua presença, a presença de uma ausência, pois saudade é sempre saudade.

Após esse momento difícil para toda nossa família, pensei em voltar a lecionar.

Passava sempre por uma Escola Municipal de Educação Infantil da Prefeitura próxima a minha casa e lá ficava através da grade observando as crianças, e querendo estar do lado de dentro, brincando e cantando com elas. Então, comecei a trabalhar como voluntária numa instituição onde as crianças ficavam após freqüentar a escola no período contrário. Elas recebiam alimentação, reforço escolar e participavam de atividades variadas como informática, música, artesanato, jogos e brincadeiras. Era responsável pelas atividades de jogos, músicas e mais tarde passei também a organizar os estoques de alimentos. Era, portanto uma escola de educação não formal.

Paralelo á essa atividade, comecei a estudar me preparando para o concurso da

Prefeitura de Campinas a uma vaga de professora de educação infantil. Consegui passar no concurso e de novo realizar meu sonho de voltar a lecionar, de conviver com as crianças,

Escolhi um Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI) para me efetivar, mas percebi que tudo que tinha para ensinar as crianças no momento era pouco e talvez até inadequado, pois a educação esta sempre em movimento, e eu estive afastada por muito

13 tempo. Comecei a fazer vários cursos de atualização, a estudar e ler Paulo Freire , Emilia

Ferreiro e Célestian Freinet. Participei de grupos de formação de músicas infantis, de contadora de histórias e jogos. Estando assim sempre a procura de novos conhecimentos.

Nessa época o grupo musical “Mamonas Assassinas” estava na moda, as crianças cantavam e pediam para que colocasse o disco para elas dançarem, e ao atender o apelo das crianças fui censurada pela diretora , que alegou que aquilo não era música para criança.

Conversamos muito e expliquei que ouvíamos na sala de aula vários tipos de músicas, e que não poderia ficar indiferente ao pedido das crianças. Era a música que eles no momento ouviam no rádio e na Televisão.

No final do ano fizemos uma belíssima apresentação para os pais. As crianças representaram e cantaram a música “Aquarela” ( Toquinho e Vinicius de Moraes). Mas a maior surpresa foi o presente que ganhei de uma aluna, era uma fita cassete gravada por ela, na qual agradece, canta e declama as poesias por mim ensinadas. Nessa fita contém também uma música dedicada aos professores. Toda vez que escuto fico emocionada, e reflito como é gratificante, gostosa e bonita essa minha profissão.

14 Professor: (autor desconhecido)

“Foi você que ensinou Tudo o que hoje eu sei Me ensinou a ser feliz Me mostrou o caminho E como fazer para ser feliz Tudo fica tão bom Doce como o mel Faz a escola até Parecer um pedacinho do céu Toda vez que eu precisei Você me deu a mão Sempre abrindo seu coração Por isso eu amo você Professora porque Que tem que ser assim Um ano me ensina tudo E no aoutro ano se afasta de mim Professora que corrige erros meus Ensina me a ser criança Mas, não me ensina o que é adeus”

Num dos cursos que fiz tive contato com um livro chamado “Quem canta seus males espanta”, elaborado e ricamente ilustrado por crianças a partir de seus entendimentos de cada música da escola infantil. “Bola de neve”, Jardim da infância s/c de São Paulo.

Esse livro contém músicas que fazem parte do folclore infantil brasileiro, apaixonada por esse livro (que acompanha também um CD) comecei a refletir sobre a importância da linguagem musical para a criança. É preciso que aquelas cantigas que antigamente acompanhavam as brincadeiras das crianças na rua tenham hoje seu espaço garantido nas escolas e, que possam assim, cumprir a importante função de transmiti-las a cada nova geração.

E baseando-se nas experiências anteriores, elaborei um projeto de trabalho voltado para a música. Pois nos dias em que vivemos, em meio de uma vida agitada e barulhenta, tendemos a diminuir o hábito de cultivar a música. Raramente ela é praticada em família.

15 A música estereotipada do rádio, televisão, CDs, substituem canções folclóricas das rodas infantis músicas que despertam o gosto pelo belo.

O desenvolvimento desse projeto foi voltado para a realidade e o interesse das crianças, contribuindo para seu desenvolvimento global, proporcionando a construção de conhecimentos significativos de uma maneira interdisciplinar. A música por estar presente em diversas situações, promove interação e comunicação social, pois é uma das formas de expressão humana, que por si só já justifica sua presença no contexto da educação. A música dessa maneira age como recreação educativa , socializando , disciplinando, dando gancho a todas as disciplinas, e desenvolvendo a atenção. Sendo assim sempre aceita com alegria pelos pequeninos.

A procura de novos cursos, fiquei sabendo do vestibular da Unicamp para professora efetivas em exercício para a região metropolitana de Campinas. Seria um curso de pedagogia com duração de 3 anos com o titulo de PROESF. Apesar de já ter cursado pedagogia na PUCC em 1977 me interessei por esse curso e fiz a inscrição. Minha família achou uma loucura, pois dava aula no período da manhã pela Fundação Municipal de

Educação Comunitária (FUMEC) e a tarde no Centro Municipal de Educação Infantil

(CEMEI).

Na FUMEC dava aula para os pacientes do hospital psiquiátrico “Dr. Cândido

Ferreira”. Eles iam até a escola que funcionava dentro de uma casa no distrito de Sousas.

Lá percebi que a música também tem suas virtudes médicas. Ela alterava o estado de espírito dos alunos, despertavam emoções e expressões que não conseguia através de outras práticas. Elaborei o que podemos chamar de uma “dieta sonora” que consistia em vários procedimentos, como: tocar um instrumento, envolver-se em movimentos de dança e praticar vocalizações. Poderiam participar de grupos que cantavam ou simplesmente ouvir música para relaxar, na qual usava técnicas diversas de relaxamento que aprendi com

16 o padre Haroldo Hans. Sons adequadamente selecionados para levar ao equilíbrio orgânico, mental e ajustes de comportamento. Usava músicas do estilo new age, clássicas, celtic, canções de ninar, canções folclóricas e sertanejas. Eles adoravam.

Sentia que nesses momentos havia vida naqueles corpos judiados pela doença e pelos medicamentos. Paralelo a essas aulas, comecei a me preparar para o vestibular.

Chegou o dia do exame, e pela 1° vez entrei nas dependências da Unicamp. Achei tudo muito grande , muita gente , vários caminhos e pensei:“O que estou fazendo aqui!”. Mas, encarando como mais um desafio em minha vida, fui adiante, e passei no vestibular.

Consegui uma vaga para estudar na Unicamp. Mais um sonho que estava começando a se realizar.

Não sabia como iria conciliar as tarefas domésticas, minha família, os dois turnos de aula e a Unicamp á noite. Mas, segui em frente, era isso que queria e nada iria me impedir. Contei com a ajuda dos meus filhos, que tiveram que comandar e organizar as tarefas domésticas.

Começou o semestre, no primeiro dia de aula, lógico que me perdi para achar a sala de aula. Depois de várias voltas pelo mesmo lugar, consegui me localizar. Ao entrar na sala vi que minhas colegas eram todas mais jovens que eu, algumas com idade da minha filha.

Mais uma vez pensei: “ O que estou fazendo aqui!”. Com 48 anos de idade, começando de novo a fazer uma faculdade. Lembrei-me de uma música que se tornou um hino, que cantava todas as vezes que encontrava uma dificuldade pela frente.

17 “Começar de novo – Ivan Lins”

“Começar de novo e contar comigo Vai valer a pena ter amanhecido Ter me rebelado, ter me debatido Ter me machucado, ter sobrevivido Ter virado a mesa, ter me conhecido Ter virado o barco, ter me socorrido

Começar de novo e contar comigo Vai valer a pena ter amanhecido Sem as tuas garras sempre tão seguras Sem o teu fantasma, sem tua moldura Sem tuas escoras, sem o teu domínio Sem tuas esporas, sem o teu fascínio Começar de novo e contar comigo Vai valer a pena já ter te esquecido.”

O primeiro desafio foi conhecer os vários trajetos existentes para chegar até a sala de aula. A cada dia fui traçando um, até achar o que ficava mais próximo da entrada.

Pronto, contente, já dominava os vários percursos existentes, um problema já resolvido, agora vamos para os próximos. Estava ansiosa para começar a estudar de novo, há tempos sonhava estar sentada numa cadeira na sala de aula como estudante.

Para começar, vou escrever as experiências que marcaram minha trajetória durante os três anos de curso. Assim como todas as músicas apresentadas durante os trabalhos realizados no decorrer de todo o curso. Pois, acredito que nós seres humanos somos capazes de simbolizarmos nossos medos, sentimentos e conhecimentos através da música.

Que por sua vez, também pode ser encarada como produtora de significados e dotada de forte valor social, despertando á todo momento, nossa memória. Portanto, mais uma vez a música continua marcando o meu caminho. A partir de um novo referencial; a música, vou relatar a seguir letras e nomes de canções inseridas em algumas disciplinas. Músicas que nos convidam a um estado de introspecção que ao mesmo tempo sugere reflexão e mudança como ser humano e consequentemente na minha prática como professora.

18 A primeira aula foi da disciplina Tecnologia e Educação, iria ser apresentada naquela máquina que me dava medo, que nunca despertou minha curiosidade e nem vontade de chegar perto, me refiro ao computador. Nossa segunda aula ficou marcada para o laboratório de informática. Fiquei apavorada, mas ao mesmo tempo curiosa, e notei que começava a mudar a imagem que tinha do tão falado computador.

Quando entrei no laboratório e sentei diante daquela tela, fiquei olhando sem saber o que fazer, pois não sabia ligar, e nem mexer naquele aparelho com rodinha chamado mouse. Contei com a ajuda de uma colega para os primeiros passos e depois com a da professora. Lembro que me senti realizada, importante, quando consegui entrar na tal da internet e mais ainda quando passei a ter um e-mail. Agora já fazia parte da inclusão digital. Passei a ter meu port fólio e a digitar meu diário de bordo. Tenho ainda muito o que aprender, mas o primeiro passo já foi dado.

No final do semestre fizemos um curta metragem com quatro minutos de duração,

no qual apresentamos as crianças brincando com vários tipos de brinquedo ao som da

música “ Bola de meia bola de gude” do grupo 14 Bis:

“Há um menino, há um moleque Morando sempre no meu coração Toda vez que o adulto balança Ele vem pra me dar a mão Há um passado no meu presente Um sol requinte lá no meu quintal Toda vez que a bruxa me assombra O menino me dá a mão E me fala de coisas bonitas que eu acredito Que não deixarão de existir Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor Pois não posso, não devo, não quero viver Como toda essa gente insiste em viver E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem Ser coisa normal Bola de meia, bola de gude O solidário não quer solidão Toda vez que a tristeza me alcança O menino me dá a mão Há um menino, há um moleque

19 Morando sempre no meu coração Toda vez que o adulto balança ele vem Pra me dar a mão E me fala de coisas bonitas que eu acredito Que não deixarão de existir Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor Pois não posso, não devo, não quero viver Como toda essa gente insiste em viver E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem Ser coisa normal Há um menino, há um moleque Morando sempre no meu coração Toda vez que o adulto balança Ele vem pra me dar a mão Bola de meia, bola de gude O solidário não quer solidão Toda vez que a tristeza me alcança o menino me dá a mão E me fala de coisas bonitas que eu acredito Que não deixarão de existir Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor Pois não posso, não devo, não quero viver Como toda essa gente insiste em viver E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem Ser coisa normal”

E para finalizar a música “ televisão”, do , e

Tony Belloto:

“A televisão me deixou burro muito burro demais agora todas as coisas que penso me parecem iguais o sorvete me deixou gripado pelo resto da vida agora toda noite que me deito é boa noite, querida Ô Cridê fala pra mãe que eu nunca li num livro que o espirro fosse um vírus sem cura e vê se me entende uma vez criatura Ô Cridê fala pra mãe A mãe diz pra eu fazer alguma coisa, mas eu não faço nada a luz do sol me incomoda então deixo a cortina fechada é que a televisão me deixou burro muito burro demais agora vivo dentro desta jaula junto dos animais Ô Cridê fala pra mãe que tudo que a antena captar meu coração captura e vê se me entende uma vez criatura Ô Cridê fala pra mãe”

20 A música deixando lembranças do encerramento dessa disciplina que marcou o início de reflexões sobre a influência da tecnologia na vida das pessoas e também sobre a importância da era digital.

Na disciplina “Pensamento Filosófico e Educação”, o grupo apresentou a fábula: “

A Raposa e a Cegonha”, fazendo o fechamento do trabalho com a música “Caçador de mim”:

“A vida me fez assim Doce ou atroz Manso ou feroz Eu caçador de mim Preso a canções Entregue a paixões Que nunca tiveram fim Vou me encontrar Longe do meu lugar Eu caçador de mim Nada a temer senão o correr da luta Nada a fazer senão esquecer o medo Abrir o peito à força numa procura Fugir as armadilhas da mata escura Longe se vai Sonhando demais Mas onde se chega assim Vou descobrir O que me faz sentir”

Elaboramos na disciplina “ Pensamento Histórico e Educação”, um painel com o objetivo de oferecer informações históricas elementares para o desenvolvimento do tema “

Educação e Exclusão social” no contexto histórico do Brasil. Foram incluídas informações relacionadas á cronologia, aos fatos que dizem respeito a ditadura, personagens, eventos e apresentações de diferentes interpretações sobre o assunto ou época exposta.

E através da música voltamos ao tempo, lembramos as canções da década de sessenta, algumas até censuradas pelo regime político da época da “ditadura”. As músicas foram acompanhando esse painel cronológico. Para cada época havia uma canção,

21 marcando fatos históricos importantes. Canções que expressavam a dor, a tristeza, a

saudade e o sonho por um Brasil livre e democrático.

“Pra não dizer que Não Falei das Flores” – Geraldo Vandré. Essa música estava

inscrita no Festival Internacional da Canção (TV Globo) em 1968:

“Caminhando e Cantando e seguindo a canção Somos todos iguais braços dados ou não Nas escolas, nas ruas, campos, construções Caminhando e Cantando e seguindo a canção Vem, vamos embora que esperar não é saber Quem sabe faz a hora não espera acontecer Vem, vamos embora que esperar não é saber Quem sabe faz a hora não espera acontecer Pelos campos a fome em grandes plantações Pelas ruas marchando indecisos cordões Ainda fazem da flor seu mais forte refrão E acreditam nas flores vencendo o canhão Há soldados armados, amados ou não Quase todos perdidos de armas na mão Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição De morrer pela pátria e viver sem razão Nas escolas, nas ruas, campos, construções Somos todos soldados armados ou não Caminhando e cantando e seguindo a canção Somos todos iguais braços dados ou não Os amores na mente, as flores no chão A certeza na frente, a historia na mão Caminhando e cantando e seguindo a canção Aprendendo e ensinando uma nova lição”

Mas, a direção da Rede Globo foi advertida pelos militares de que essa música não poderia ganhar. Era uma questão de ordem, e pronto. Vandré arrasou. Mas quem ganhou foi

“Sabia”, de Chico Buarque e Tom Jobim.

Canções que também retratavam a dor da guerra, da destruição. Música que o

tempo trás e leva, constrói e destrói.

22 “ Rosa de Hiroshima” – Vinícios de Moraes

“Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas, oh, não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroshima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada.”

Canções que marcaram época....

“ Apesar de você “ – Chico Buarque:

Hoje você é quem manda Falou, tá falado Não tem discussão, não. A minha gente hoje anda Falando de lado e olhando pro chão. Viu? Você que inventou esse Estado Inventou de inventar Toda escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar o perdão. (Coro) Apesar de você amanhã há de ser outro dia. Eu pergunto a você onde vai se esconder Da enorme euforia? Como vai proibir Quando o galo insistir em cantar? Água nova brotando E a gente se amando sem parar. Quando chegar o momento Esse meu sofrimento Vou cobrar com juros. Juro! Todo esse amor reprimido, Esse grito contido,

23 Esse samba no escuro. Você que inventou a tristeza Agora tenha a fineza de “desinventar”. Você vai pagar, e é dobrado, Cada lágrima rolada Nesse meu penar. (Coro2) Apesar de você Amanhã há de ser outro dia. Ainda pago pra ver O jardim florescer Qual você não queria. Você vai se amargar Vendo o dia raiar Sem lhe pedir licença. E eu vou morrer de rir E esse dia há de vir antes do que você pensa. Apesar de você (Coro3)Apesar de você Amanhã há de ser outro dia. Você vai ter que ver A manhã renascer E esbanjar poesia. Como vai se explicar Vendo o céu clarear, de repente, Impunemente? Como vai abafar Nosso coro a cantar, Na sua frente. Apesar de você (Coro4)Apesar de você Amanhã há de ser outro dia. Você vai se dar mal, etecétera e tal, La, laiá, la laiá, la laiá…….

Nessa disciplina fomos também assistir a peça de teatro “Morte e vida Severina”, representada por um grupo de senhoras da terceira idade. A música que marcou essa belíssima representação foi “Funeral de um lavrador”, dos compositores Chico Buarque e

João de Melo Neto em 1965. Sua letra retrata toda a história da peça, sem necessidade de maiores informações.

24 “Esta cova em que estás Com palmos medida É a conta menor que tiraste em vida É de bom tamanho Nem largo nem fundo É a parte que te cabe Deste latifúndio Não é cova grande É cova medida É a terra que querias Ver dividida É uma cova grande Para teu pouco defunto Mas estarás mais ancho

Que estava no mundo É a conta menor que tiraste em vida É a parte que te cabe Deste latifúndio É a terra que querias ver dividida Estarás mais ancho que estava no mundo Mas a terra dada Não se abre a boca É uma cova grande Pra teu defunto parco Porém mais que no mundo Te sentirás largo É uma cova grande pra tua carne pouca Mas terra dada não se abre a boca.”

A educação matemática é o encontro afetivo, cultural e científico entre educadores e educandos na linguagem matemática. Portanto, a música como uma das formas de linguagem artística que homens e mulheres inventaram para conhecerem a si próprios e aos outros, esteve presente na disciplina Teoria Pedagógica e Produção em matemática, nas canções “Tocando em frente” do Almir Sater e Renato Teixeira e “Metamorfose

Ambulante” do Raul Seixas.

“Tocando em frente” - Almir Sater

“Ando devagar porque já tive pressa E levo esse sorriso porque já chorei demais Hoje me sinto mais forte Mais feliz Quem sabe

25 Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei E nada sei Conhecer as manhas e as manhãs O sabor das massas E das maçãs É preciso amor pra poder pulsar É preciso paz pra poder sorrir É preciso chuva para florir Penso que cumprir a vida seja simplesmente Compreender a marcha E ir tocando em frente Como um velho boiadeiro levando a boiada Eu vou tocando os dias pela longa estrada Eu sou Estrada eu vou Conhecer as manhas e as manhãs O sabor das massas E das maçãs É preciso amor pra poder pulsar É preciso paz pra poder sorrir. É preciso chuva para florir Todo mundo ama um dia Todo mundo chora Um dia a gente chega Um outro vai embora Cada um de nós compõe a sua história E cada ser em si carrega o dom de ser capaz De ser feliz...”

Na disciplina Teoria Pedagógica e Produção em língua portuguesa a música

“ O caderno” do compositor Chico Buarque encerrou a apresentação do grupo de trabalho no dia 05 de Dezembro de 2002. Mostrando através dessa canção as diferentes formas de expressão, do desenho, e a importância das letras. Marca o início do letramento.

“ O caderno “ – Chico Buarque

“Sou eu que vou seguir você Do primeiro rabisco até o bê-a-bá Em todos os desenhos Coloridos vou estar A casa, a montanha, duas nuvens no céu E um sol a sorrir no papel Sou eu que vou ser seu colega Seus problemas ajudar a resolver Te acompanhar nas provas bimestrais

26 Você vai ver Serei de você confidente fiel Se seu pranto molhar meu papel Sou eu que vou ser seu amigo Vou lhe dar abrigo Se você quiser Quando surgirem seus primeiros raios de mulher A vida se abrirá num feroz carrossel E você vai rasgar meu papel O que está escrito em mim Comigo ficará guardado Se lhe dá prazer Á vida segue sempre em frente O que se há de fazer Só peço a você um favor Se puder Não me esqueça num canto qualquer”

Na disciplina Pensamento Sociológico e Educação, a música “Another Brick in the wall”, traduzida para o português em “Outro tijolo no muro”, é uma crítica á padronização e a uniformidade cultural imposta pela sociedade conservadora:

“Não precisamos de nenhuma educação Não precisamos de nenhum Controle de pensamento De nenhum sarcasmo sombrio Na sala de aula Professor. Deixe as crianças em paz Ei, professor! Deixe as crianças em paz! Ao todo, isto é apenas Mais um tijolo no muro Ao todo, você é apenas Mais um tijolo no muro Não precisamos de nenhuma educação Não precisamos de nenhum Controle de pensamento De nenhum sarcasmo sombrio Na sala de aula Professor. Deixe as crianças em paz Ei, professor! Deixe as crianças em paz! Ao todo, isto é apenas Mais um tijolo no muro Ao todo, você é apenas Mais um tijolo no muro

“ Errado, faça de novo!” “ Se você não comer carne,

27 não vai ganhar pudim” “Como você quer ganhar pudim Se você não comeu a carne ainda?” “Você ! É, você atrás das bicicletas, você não me escapa!”

Na disciplina “Multiculturalismo e Diversidade Cultural” foi montado um painel com fotos das famílias dos alunos da sala. A música família do grupo “Titãs” foi apresentada para enriquecer esse painel e também para futuras discussões.

“Família, família Papai, mamãe, titia, Almoça junto todo dia, Nunca perde essa mania. Mas quando a filha quer fugir de casa Precisava descolar um ganha-pão Filha de família se não casa Papai, mamãe, não dão nem um tostão,

Família ê, Família a Família

Família, família, Vovô, vovó, sobrinha. Família, família Janta junto todo dia. Nunca perde essa mania Mas quando o nenê fica doente Procura uma farmácia de plantão O choro do nenê é estridente Assim não dá pra ver televisão.

Família ê Família a Família

Família, família Cachorro, gato, galinha Família, família Vivi junto todo dia Nunca perde essa mania A mãe morre de medo de barata, O pai vive com medo de ladrão, Jogaram inseticida pela casa, Botaram cadeado no portão”.

28

Na disciplina Política Educacional e Reformas Educativas as canções ouvidas no decorrer do curso expressaram tudo o que foi lido e discutido durante as aulas. Como a música “Brasil”, do compositor Cazuza:

“Não me convidaram Pra essa festa pobre Que os homens armaram pra me convencer A pagar sem ver Toda essa droga Que já vem malhada antes de eu nascer

Não me ofereceram Nem um cigarro Fiquei na porta estacionando os carros Não me elegeram Chefe de nada O meu cartão de crédito é uma navalha

Brasil Mostra tua cara Quero ver quem paga Pra gente ficar assim Brasil Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio? Confia em mim

Não me convidaram Pra essa festa pobre Que os homens armaram pra me convencer A pagar sem ver Toda essa droga Que já vem malhada antes de eu nascer

Não me sortearam A garota do Fantástico Não me subornaram Será que é o meu fim Ver TV a cores Na taba de um índio Programada pra só dizer sim, sim

Brasil Mostra a tua cara Quero ver quem paga Pra gente ficar assim

29 Brasil, qual é o teu negócio? O nome do teu sócio? Confia em mim

Grande pátria desimportante Em nenhum instante Eu vou te trair Não, não vou te trair”

Uma paródia composta pelo grupo de alunas no dia 14 de Junho de 2004, marcou o encerramento dessa disciplina, que com certeza, mudou, transformou nos “Barracos da

Cidade” nossos olhares:

“Nos barracos da cidade Leve leite, vale gás E o ensino que é bom Vai ficando para trás E o poder da autoridade Se pode, não faz questão Se faz questão não consegue Enfrentar o tio San

Ô-ô-ô, ô-ô Escola pública Ô-ô-ô, ô-ô Escola pobre

O governador promete Vagas para todos, progrsão Bolsa escola, renda mínima O FUNDEF e o provão Mas cadê a qualidade Da nossa educação?

Ô-ô-ô, ô-ô Escola pública Ô-ô-ô, ô-ô Escola pobre Estamos fartos desta história Políticas compensatórias O que queremos é formar È formar o cidadão. Mas por isso precisamos

30 De igualdade de condição

Ô-ô-ô, ô-ô Escola pública Ô-ô-ô, ô-ô Escola pobre”

No decorrer do curso tivemos um dia da semana dedicado ás atividades culturais, com aulas magnas e várias apresentações. Foram aulas ótimas que contribuíram muito para o meu caminho, mas a que marcou foi a apresentação do dia 04/11/03, Prof. Maria Márcia.

Ela fez uma reflexão sobre “ Para onde vai o ensino público”, dando grande enfoque ao olhar dos professores. Para ilustrar e encerrar sua apresentação foi colocado a música

“Daquilo que eu sei “, do Ivan Lins:

“Daquilo que eu sei Nem tudo me deu clareza Nem tudo foi permitido Nem tudo me deu certeza

Daquilo que eu sei Nem tudo foi proibido Nem tudo me foi possível Nem tudo me foi concebido

Não fechei os olhos Não tapei os ouvidos Cheirei, toquei, provei Ah! Eu usei todos os sentidos Só não lavei as mãos E é por isso que eu me sinto Cada vez mais limpo Cada vez mais limpo Cada vez mais... Limpo...”

Na primeira aula de disciplina “Teoria Pedagógica e produção em História”, ouvimos e refletimos sobre as representações e linguagens da letra da música “Construção”, do compositor Chico Buarque de Holanda: “Amou daquela vez como se fosse a última Beijou sua mulher como se fosse a última E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido Subiu a construção como se fosse máquina Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

31 Tijolo com tijolo num desenho mágico Seus olhos embotados de cimento e lágrima Sentou pra descansar como se fosse sábado Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago Dançou e gargalhou como se ouvisse música E tropeçou no céu como se fosse um bêbado E flutuou no ar como se fosse um pássaro E se acabou no chão feito um pacote flácido Agonizou no meio do passeio público Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último Beijou sua mulher como se fosse a única E cada filho seu como se fosse o pródigo E atravessou a rua com seu passo bêbado Subiu a construção como se fosse sólido Ergueu no patamar quatro paredes mágicas Tijolo com tijolo num desenho lógico Seus olhos embotados de cimento e tráfego Sentou pra descansar como se fosse um príncipe Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo Bebeu e soluçou como se fosse máquina Dançou e gargalhou como se fosse o próximo E tropeçou no céu como se ouvisse música E flutuou no ar como se fosse sábado E se acabou no chão feito um pacote tímido Agonizou no meio do passeio náufrago Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina Beijou sua mulher como se fosse lógico Ergueu no patamar quatro paredes flácidas Sentou pra descansar como se fosse um pássaro E flutuou no ar como se fosse um príncipe E se acabou no chão feito um pacote bêbado Morreu na contramão atrapalhando o sábado”

Durante a apresentação do grupo de alunas sobre o texto “Tempo Disciplinar

Escolar” foi colocada a música “ Marcas do que se foi”, do grupo “Os Incríveis” com a pergunta: Será a realidade apresentada pelos homens aquela que vivem, ou será a realidade produzida por suas representações?

Na disciplina “Teoria Pedagógica e Produção em Arte”, guardei de lembrança com grande carinho a apresentação do meu grupo sobre um folguedo folclórico chamado “Boi

32 de Mamão”. Ele se caracteriza pela presença de entrecho dramático em seu desenvolvimento, surgindo assim personagens representativos, acompanhados por música e dança.

Esse folguedo foi representado no teatro de arena do instituto de arte pelos filhos das alunas do grupo.

O Boi de Mamão destaca-se no Sul, mais especificamente em Santa Catarina, por ser um folguedo muito animado. Representado na época natalina também na junina, ou mesmo no carnaval, o auto do boi, possui vários personagens, que contam a história do vaqueiro Mateus e seu boizinho, que de repente adoece, morre e por fim ressuscita.

O teatro do Boi possui outros personagens como: o doutor (médico), a feiticeira, o cavalinho, Dona Maricota (boneco gigante) e a Bernúcia (serpente conduzida por duas crianças). Juntos conseguem do público muita atenção e fascínio em ver esta representação tão bela do folclore sulista.

Na disciplina “Teoria Pedagógica e Produção em Geografia”, descobrimos que através da música “O descobridor dos sete mares”, cantada por Lulu Santos, podemos ensinar a geografia de uma maneira simples e prazerosa.

“Uma luz azul me guia Com a firmeza e os lampejos de um farol E os recifes lá de cima Me avisam dos perigos de chegar

Angra dos Reis e Ipanema Iracema e Itamaracá Porto Seguro, São Vicente Braços abertos sempre a esperar

Pois bem, cheguei Quero ficar bem à vontade Na verdade, eu sou assim Descobridor dos sete mares Navegar eu quero

33 Uma lua me ilumina Com a clareza e os brilhos de um cristal Transando as cores desta vida Vou colorindo a alegria de chegar

Boa Viagem, Ubatuba Uma ilha em Garujá Praia Vermelha, Ilha Bela Braços abertos sempre a esperar

Pois bem, cheguei Quero ficar bem à vontade Na verdade, eu sou assim Descobridor dos sete mares Navegar eu quero

Uma luz azul me guia Com a firmeza e os lampejos de um farol E os recifes lá de cima Me avisam dos perigos de chegar

Angra dos Reis e Ipanema Iracema e Itamaracá Portão e Porto de Galinhas Braços abertos sempre a esperar”

Na disciplina “Temas Transversais”, elaboramos um projeto, e a construção da

“rede”, tendo como tema a vida cultural. O papel de cada um dos grupos foi elaborar uma pergunta para compor a “rede” do projeto e escolher a disciplina que iriam trabalhar .

O grupo que respondeu a questão: o que vem a ser igualdade cultural na área de ciências apresentou a trajetória dos alimentos desde a produção, encerraram a apresentação, cantando a música criada por elas, a comercialização, o consumo e o aproveitamento do que chamamos lixo.

34 “Depois de um sono bom A gente levanta Toma aquele banho Escova os dentinhos E na hora de tomar café É o café seleto Que a mamãe prepara Com todo o carinho Café seleto tem Sabor delicioso Cafezinho gostoso É o café seleto Café seleto... Café seleto...”

O grupo que compartilhou a “rede” na área de história respondeu a questão: “Como levar a vida cultural para os menos favorecidos?”. Falaram sobre a vida e a obra do compositor e maestro Antonio Carlos Gomes. Mostraram o desenho de uma criança que participou da elaboração da rede, identificando tudo o que ela vivenciou, dentro de um aspecto global, ligando todas as disciplinas. Para encerrar a apresentação colocaram a música “Quem sabe”, composta pelo maestro e sendo a letra da poesia do Dr. Bittencourt

Sampaio.

“(...)Tão longe de mim distante, Onde irá, onde irá teu pensamento! Tão longe de mim distante, Onde irá, onde irá teu pensamento, Quisera saber agora Quisera saber agora Se esqueceste, se esqueceste Se esqueceste o juramento(...)”

Na disciplina “Educação da Criança de 0 á 6 anos”, uma música retratou tudo o que lemos e ouvimos durante o semestre; “Deveres e Direitos”, cantada por Toquinho de compositor desconhecido.

35 “Crianças: iguais são seus deveres e direitos Crianças: vivem sem preconceito é bem melhor Crianças: a infância não demora, logo, logo, vai passar, Vamos todos juntos brincar.

Meninos e meninas, Não olhem a religião nem raça. Chamem quem não tem mamãe, Que o papai tá lá no céu, E os que dormem lá na praça.

Meninos e meninas, Não olhem religião nem cor. Chamem os filhos do bombeiro Os dois gêmeos do padeiro E a filhinha do doutor

Meninos e meninas O futuro ninguém advinha Chamem quem não tem ninguém, Pois criança é também O menino trombadinha

Meninos e meninas Não olhem cor nem religião. Bons amigos valem ouro, A amizade é um tesouro Guardado no coração.”

Na disciplina “Teoria Pedagógica em Saúde e Sexualidade”, a música “Homem

Primata”, dos compositores Marcelo Frommer, e cantada pelo grupo Titãs, foi apresentada no dia 8 de outubro de 2004 para finalizar o trabalho realizado sobre literatura infantil, do livro “Lobo Barnabé”.

“Desde os primórdois Até hoje em dia O homem ainda faz O que o macaco fazia Eu não trabalhava, eu não sabia, O homem criava e também destruía Homem Primata Capitalismo Selvagem Eu aprendi A vida é um jogo Cada um por si

36 E Deus contra todos Você vai morrer e não vai pro céu É bom aprender a vida é cruel Homem Primata Capitalsimo Selvagem Eu me perdi na selva de pedra Eu me perdi, eu me perdi”

A música “Canção da Àmerica” dos compositores Milton Nascimento e Fernando

Brant, foi apresentada também no dia 8 de Outubro de 2004 para finalizar o trabalho sobre o livro de literatura infantil “Nós” da escritora Eva Furnari.

“Amigo é coisa para se guardar Debaixo de sete chaves, Dentro do coração, assim falava a canção que na América ouvi, mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir, mas quem ficou, no pensamento voou, o seu canto que o outro lembrou E quem voou no pensamento ficou, uma lembrança que o outro cantou. Amigo é coisa para se guardar No lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância digam não, mesmo esquecendo a canção. O que importa é ouvir a voz que vem do coração. Seja o que vier, venha o que vier Qualquer dia amigo eu volto pra te encontrar Qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar.”

Para encerrar o semestre, lembro que recebemos a letra da música “O que será”, dos compositores Milton Nascimento e Chico Buarque que representa o despertar para a busca do amor, da sensibilidade e do prazer.

37 “ O que será que me dá Que me bole por dentro, será que me dá Que brota á flor da pele, será que me dá E que me sobe ás faces e me faz corar E que me salta aos olhos e me atraiçoar E que aperta o peito, me faz confessar O que não tem mais jeito de dissimular E que nem é direito ninguém recusar E que me faz mendigo, me faz suplicar O que não tem medida e nunca terá O que não tem remédio, nem nunca terá O que não tem receita O que será que será (...)”

Todas essas músicas aqui apresentadas em diversas disciplinas fizeram parte da trajetória da minha vida acadêmica. Pois, deixaram marcas do que se foi. Marcas estas, que serão sempre lembradas quando ouvir qualquer dessas melodias. Afinal, música é recordar,

é vida interior. E quem tem recordações e vida interior jamais estará sozinho.

Esse curso também fez com que eu sentisse mais segurança nos projetos que realizo. Tive a certeza que estou no caminho certo, e assim prosseguirei. Consegui chegar a essa conclusão, após a leitura vários textos, de diferentes autores. Mas, o que realmente me deu certeza foi a leitura dos textos do saudoso Paulo Freire. Penso que seus livros devem ser lidos e relidos sempre que possível. Afinal, seu amor á profissão de professor, e o amor, respeito e humildade aos alunos devem contaminar a todos que, como eu, amo muito a profissão de professor.

Enfim, chego ao final desse sonho que foi realizado com muita dificuldade e sacrifício. Desafios que muitas vezes tive medo de não conseguir resolver. Mas, com certeza tudo valeu a pena. Conheci novas pessoas, ampliei conhecimentos, tive a oportunidade de novas reflexões e elevação a um plano de transformações e emoções mais

“nobres”, porque inefáveis. Pois, acredito que a música fale por si ela consegue comunicar as emoções, que muitas vezes não conseguimos transmitir só por meio de palavras.

38 A música também é capaz de ativer capacidades como a memória, trazendo para o presente, emoções e sentimentos passados. Portanto, se tivesse que escolher uma música para expressar a minha despedida seria “Tô”. Dessa forma, só poderia terminar esse memorial com uma música que expressa tudo o que estou sentindo:

“Tô bem debaixo pra poder subir Tô bem em cima pra poder cair Tô dividindo pra pode sobrar Desperdiçando pra poder faltar Devagarinho pra poder caber Bem de leve pra não perdoar Tô estudando pra sabe ignorar Eu tô aqui comendo pra vomitar Eu tô explicando pra te confundir Tô te confundindo pra esclarecer Tô iluminado pra poder cegar Tô ficando cego pra poder guiar Suavemente pra poder rasgar Olho fechado pra te ver melhor Com alegria pra poder chorar Desesperado pra ter paciência Carinhoso pra poder ferir Lentamente pra não atrasar Atrás da vida pra poder morrer Eu to me despedindo pra poder voltar”

39 REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Theodora Maria Mendes de. Quem canta seus males espanta. São Paulo: Ed. Caramela, 1998

ARAÚJO, Ulisses F. Temas Transversais e a Estratégia de Projetos. Campinas: Ed. Moderna, 2003.

SOLANO, Ribeiro. A História dos Grandes Festivais. São Paulo: Ed. Geração Editorial, 2002.

XAVIER, Elisabete Maria. História da Educação: A Escola no Brasil. SãoPaulo: Ed.FTD, 1994.

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