OLHOS DE JORNALISTA ______O jornalismo segundo Barbosa Lima Sobrinho

Dissertação apresentada em abril de 1999 no Curso de Pós-Graduação em Comunicação Social da Faculdade de Ciências da Comunicação e da Cultura da Universidade Metodista de São Paulo

Autora: ROSEMARY BARS MENDEZ Orientador: Prof. Dr. JOSÉ MARQUES DE MELO

RESUMO:

O trabalho tem por objetivo descrever e analisar a trajetória de Barbosa Lima Sobrinho. Jornalista, político, historiador, escritor e advogado, o decano dos intelectuais brasileiros apresenta-se como um pesquisador nato e inovador dos estudos da Comunicação no Brasil, tendo como ponto de partida o núcleo de sua atividade profissional: a imprensa e o próprio jornalismo. Barbosa Lima iniciou sua carreira em 1921, no Jornal do Brasil. Dois anos depois, publica seu primeiro livro O Problema da Imprensa, obra na qual já transparecem suas preocupações com as transformações tecnológicas vividas pelos jornais do País. Apesar delas, sua teoria é de que o jornalismo deve ser uma prática que visa a crítica, tendo como bússola o dever do profissional em informar seu leitor, atributo essencial na formação da opinião pública.

ABSTRACT:

The aim of paper is to describe and analise Barbosa Lima Sobrinho’s path through life. A journalsit, politician, historian, writer and lawyer, a guigind line for Brasizilian intellectuals. Barbosa Lima Sobrinho is a born and innovative researcher in the studies of Communication in 2

Brazil whose starting point is the core of his works: the press nad jornalismo itself. Barbosa Lima stared career in 1921 in Jornal do Brasil. Two years later, his first book O Problema da Imprensa, was published, and in it we can alreadey perceive his concern over the technological transformations suffered by the newspaper in Brazil. In spite of these transformations, it is his belief that journalism should be a practice that aims at criticism, and its guiding principle should be the professional duty to inform the reader and so contribute to the building-up of public opinion.

INTRODUÇÃO

O contato com a história do jornalista Barbosa Lima Sobrinho, quando comemorou um século de vida, em 1997, possibilitou a reflexão inicial sobre a história do jornalismo, contada por ele em seu livro O Problema da Imprensa. Publicado pela primeira vez em 1923, revisado na segunda edição publicada em 1988 pela Universidade de São Paulo, o livro tem sido apontado como um clássico na literatura brasileira sobre o tema. Nesse trabalho, o autor desponta como um dos pioneiros na análise sobre o papel da imprensa no Brasil contemporâneo.

Barbosa Lima Sobrinho estuda a atuação jornalística no Império e as questões do jornalismo em sua época, geralmente panfletário e polêmico, com mais espaço para as opiniões do que para as notícias, mas permanentemente acossado pelo governo com leis de exceção e censura.

O livro surgiu no momento em que o Congresso Nacional discutia o projeto de lei de imprensa, restringindo sua liberdade, campanha liderada por Adolfo Gordo em 1922, durante a presidência de Artur da Silva Bernandes, que administrou o país entre 15 de novembro de 1922 e 15 de novembro de 1926.

A publicação insere-se na fase inicial da pesquisa sobre a imprensa feita por intelectuais brasileiros, respaldada em estudos históricos e jurídicos, iniciada no fim do século XIX e que se desenvolveu até a década de 30. Por iniciativa particular, para entender a imprensa de seu tempo, o jornalista envolve-se na pesquisa sobre jornalismo, relatando a luta contra a censura, pela liberdade de expressão e pelos procedimentos éticos da profissão.

Como profissional, enseja uma crítica ao processo industrial, por inverter as prioridades por ele traçadas: a imprensa, mais do que informar, deve formar opiniões, o que significa deixar de 3

lado a objetividade. Para ele, o profissional deve eliminar a posição de neutralidade pregada pelo jornalismo contemporâneo.

Mas para seguir um conselho centenário, é preciso entender o pensamento de seu autor enquanto pesquisador do jornalismo brasileiro. Neste trabalho verifica-se que Barbosa Lima Sobrinho é herdeiro de três linhas de pensamento que influenciaram os intelectuais brasileiros no início do século: 1- O positivismo, pelo papel exercido em sua formação por seu tio Alexandre Barbosa Lima, político pernambucano e ex-aluno de Benjamin Constant, defendendo o desenvolvimento do País sob a ótica da ordem e do progresso; 2- O liberalismo político, como herança de Hipólito da Costa e de Rui Barbosa, jornalistas que defendia a liberdade da imprensa como escudo para as liberdades individuais; e 3- O nacionalismo para a economia, justificando que sua atenção está no interesse econômico da nação, contrário à interferência do capital estrangeiro para a exploração dos bens nacionais.

Como presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), entidade que já completou 90 anos, Barbosa Lima ainda reclama os direitos dos cidadãos, utilizando, para isso, os espaços conquistados ao longo de sua profissão, como no Jornal do Brasil, onde começou a escrever em 1921. Como jornalista, Barbosa Lima apresenta um discurso político. O pensamento de Barbosa Lima Sobrinho define-se no campo das Ciências da Comunicação, pela preocupação com os processos comunicacionais, com as investigações das estruturas e funções dos sistemas sociais de comunicação, descrevendo e analisando o processo de interação entre os homens. Sua visão tem o tom do teórico funcionalista, que sempre busca entender as atuações da imprensa e de seu profissional na sociedade, constituindo uma análise global dos meios de comunicação. A essência de seu pensamento é de que o jornalista exerce uma função social, tendo a responsabilidade de informar e de formar opiniões. Embora o pensamento de Barbosa Lima Sobrinho tenha sustentação no funcionalismo, preferimos recorrer à Escola Latino-Americana1 para analisar o trabalho do autor. Essa opção,

1 José Marques de Melo apresenta no texto A Pesquisa em Comunicação: trajetória latino-americana Petrópolis, Vozes, 1998*)a construção desta escola, que tem o respaldo da Unesco e do Ciespal, reconhecendo que “esbarrou muitas vezes numa insuficiência epistemológica” (pág. 33). Apesar dessas dificuldades naturais num processo típico de sedimentação paradigmática, essa escola de pensamento vem criando a consciência latino-americana, com alterações significativas na produção científica a partir da metade da década de 70, concluindo sobre a necessidade de se utilizar a pesquisa como instrumento de transformação da sociedade. “E para transformar as estruturas sócio- 4

decorre do próprio entendimento que o jornalista tem sobre o desenvolvimento do processo de comunicação massiva no Brasil, com uma visão crítica sobre o comportamento da sociedade e de como a imprensa pode influenciar as condições de vida do cidadão, ao ter respeitado seu direito à informação. Ao analisar os problemas da imprensa, Barbosa Lima Sobrinho dá os primeiros passos em direção à escola latino-americana, podendo ser considerado como um precursor das Ciências da Comunicação do Brasil.

RETRATO DE UMA VIDA

Barbosa Lima Sobrinho nasceu em , em 22 de janeiro de 1897, momento em que o Partido Republicano ganha as ruas do País com força política, enfatizando as mudanças sociais que aconteceram a partir da abolição da escravatura e com a instituição da figura do presidente da República (SODRÉ: 1968, 180). É nesse contexto político, de mudanças de valores, prevalecendo as causas nacionais em decorrência do quadro institucional, que o menino Alexandre cresce.

Liberdade e democracia foram as palavras que cercaram sua infância e moldaram sua vida. Conviveu com os anseios jacobinos, herdados da Revolução Francesa, expurgando a interferência estrangeira nos rumos do País. Sua tendência sempre foi a nacionalista, como a de alguém que quer proteger sua nação com princípios baseados em reformas. Com essa tendência, foi simpatizante de Getúlio Vargas, participando de sua administração e recebendo apoio político para sua campanha ao governo de Pernambuco, à Câmara Federal e para presidir o Instituto de Açúcar e Álcool.

Durante sua formação intelectual e profissional, Barbosa Lima Sobrinho teve forte influência de sua família, em especial do tio (de quem herdou o nome) Alexandre José Barbosa Lima, ex-governador de Estado de Pernambuco. Sua família era de origem simples. O pai, Francisco Cintra Lima, era tabelião em Recife. Sua mãe era Joana da Cruz Barbosa Lima.

econômicas que oprimem os grandes contingentes populacionais da América Latina torna-se indispensável acumular informações que retratem o cotidiano dos seus habitantes e os ajudem a construir novos modelos de produção e distribuição das riquezas de criação e reprodução da cultura” (pág. 37), interferindo do processo democrático de comunicação na América Latina. 5

O avô paterno, Joaquim Barbosa Lima, foi magistrado do Império e era proprietário de um colégio em Recife, mas vendeu a escola porque não tinha o dom de empresário, mas de educador. Acabou fazendo um concurso e, nomeado juiz, foi trabalhar no interior do País - onde hoje é o estado de Tocantins -, em Minas Gerais e em Mato Grosso, lugares em que a presença dos índios era comum entre os brasileiros. O juiz era a autoridade máxima no local.

Nesse cenário cresceu o tio do jornalista, Alexandre José Barbosa Lima, que foi estudar numa província em Minas Gerais. Na adolescência, mudou-se para o , onde fez o curso na Escola Politécnica, mas ingressou na Escola Militar por falta de recursos. Seu principal professor foi Benjamin Constant, de quem aprendeu a teoria de Augusto Comte. No século XIX, a elite brasileira se debruçava sobre a teoria positivista, advinda da Europa (CRUZ COSTA, 1967: 69), para sustentar a tese de que o País deveria crescer sob a ótica da ordem e do progresso, baseada na modernização da sociedade, com o desenvolvimento tecnológico, crescimento da indústria, expansão das comunicações e com um poder Executivo forte.

Seu desempenho político desencadeou a admiração familiar, em especial do sobrinho que até então se chamava Alexandre José Cintra Lima. Seu pai resolveu que ele deveria adotar o nome completo do tio quando começou a se destacar no ginásio, escrevendo para o jornal do colégio A Verdade.

A única divergência teórica entre eles era que o tio Alexandre José, apesar de ser positivista e de ter trabalhado com o marechal Floriano Peixoto, um jacobino, era simpatizante das teorias de Hebert Spencer e de Adam Smith, que atacavam a interferência estatal na economia, propondo o livre mercado, baseado na oferta e na procura. Barbosa Lima Sobrinho já demonstra a sua contrariedade à teoria liberal para a economia, defendida pela Inglaterra. Mas não era apenas a política que lhe chamava a atenção. Sempre foi um esportista, praticando futebol, e era remador, além de ter sido o dirigente o Náutico Capibaribe.

Formado em Direito na Faculdade de Recife, em 1917, Barbosa Lima Sobrinho foi nomeado promotor público substituto enquanto escrevia suas crônicas para o Jornal do Recife, onde assinou a coluna “Crônica de Domingo” de outubro de 1919 a abril de 1921, em substituição a Teotônio Freire. Também colaborou com artigos para o Diário de Pernambuco e para o Jornal Pequeno; escrevia para A Gazeta, de São Paulo; Correio do Povo, de Porto Alegre; 6

Revista Americana, Revista de Direito e Jornal do Comércio, estes três últimos do Rio de Janeiro.

Barbosa Lima Sobrinho começava a construir sua carreira para ser professor de Direito. Queria ingressar na cadeira de Direito Constitucional, Direito Internacional Público e Direito Internacional Privado. Mas o concurso foi cancelado por interferência do juiz federal Sérgio Loreto, que conseguiu a nomeação de seu filho para o cargo. Sem perspectivas profissionais, desembarca no Rio de Janeiro em abril de 1921, iniciando um novo ciclo de vida, voltada para o jornalismo. Chegou à redação do Jornal do Brasil com carta de recomendação do Barão de Suassuma, amigo de seu pai, ao Conde Ernesto Pereira Carneiro, que dirigia a parte comercial e financeira da empresa.

Com 27 anos, Barbosa Lima foi promovido a redator-chefe do Jornal do Brasil, após a morte de Nuno de Andrade - o mesmo cargo ocupado por Rui Barbosa entre 1893 e 1894. Aos 30 anos assina a coluna “Coisas da Política”, publicada aos domingos, com comentários sobre os acontecimentos na Câmara dos Deputados. O diretor de redação era Aníbal Freire.

Dois anos depois de iniciar a sua carreira no Jornal do Brasil, publica, em 1923, o seu mais célebre livro sobre a imprensa brasileira, O Problema da Imprensa, buscando, para isso, subsídios na literatura internacional, a fim de entender a legislação que vigorava na Europa e nos Estados Unidos. O Brasil vivia sob estado de sítio decretado pelo presidente Artur Bernardes e a imprensa estava sob censura2. Apesar de ser um defensor de reformas, não há indicações de que tenha sido simpatizante de qualquer proposta radical. Mesmo assim, denuncia as diferenças sociais: “na verdade vivemos num mundo dividido em dominantes e dominados, orgulhosos estes de sua sujeição em face dos donos do capitalismo onipotente” (LIMA SOBRINHO: 1923, 135).

O jornalista conviveu de perto com duas grandes transformações na vida brasileira: a Revolução de 19303, liderada por Getúlio Vargas, e o movimento de 1964, protagonizado pelos

2 Com a vitória sobre a revolução tenentista, o presidente Arthur Bernardes inicia sua política de repressão à imprensa, começando com as prisões de jornalistas que apoiaram o movimento. Em 1923, “o Congresso votara a Lei de Imprensa, em discussão desde 1922, instalando processos contra jornalistas de injúrias e calúnias”. (Nelson Werneck Sodré, História da Imprensa no Brasil, São Paulo: Martins Fontes, página 361, 1983). A lei 4.743, de 31 de dezembro de 1923, regulamentou o funcionamento da imprensa. 3 Barbosa Lima Sobrinho conta a sua versão sobre a Revolução de 30 em livro que publicou em 1933. A partir de sua própria experiência de jornalista, acompanhou as modificações vividas na época de Getúlio Vargas, que tinha propostas estreitas para a construção de um Estado nacional forte. O jornalista faz uma análise da conjuntura 7

militares. Assistiu, não como um mero espectador, mas como um articulista atuante, as oscilações governamentais, as decisões políticas e econômicas que foram tomadas durante todos esses anos. Presenciou o governo de João Café Filho (até 1956); conheceu de perto a propaganda desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek de Oliveira (até 1960) e viu implodir o mandato de Jânio Quadros (em 1961) com a celebre frase de que renunciava pressionado por “forças terríveis”. Afastado da vida política partidária, se envolve de corpo e alma na vida pública. Como presidente da ABI, entidade onde pôde demonstrar suas convicções sobre a liberdade de expressão, candidatou-se a vice-presidente da República, em 1974, ao lado de Ulisses Guimarães,. Atuou como líder em várias campanhas contra o regime militar e se destacou no movimento nacional pelas Diretas-Já, em 1984, quando milhões de pessoas foram às ruas conclamando por eleições4. Foi o primeiro a aderir ao impeachment de Fernando Collor e hoje é um dos principais críticos contra o governo de Fernando Henrique Cardoso por causa das privatizações das empresas estatais.

O homem - Barbosa Lima Sobrinho tornou-se símbolo de admiração e respeito público, não apenas pela idade mas pelas idéias que sempre defendeu ligadas à liberdade de expressão e de imprensa. É um homem coerente em seus objetivos e em suas lutas. É o homem que reuniu

nacional, sobre as sucessões presidenciais e o descontentamento regional com o governo de Washington Luiz, o que acredita ter aberto terreno para a revolução. Com olhos de jornalista, relata episódios revolucionários que ocorreram em todo o país e assinala o comportamento de governadores confiantes na força do governo federal. Descreve as articulações dos generais que enviam um ultimato a Washington Luiz e aponta uma contradição no movimento, afirmando que os militares acreditaram ter tomado o poder para eles e não para a Aliança Liberal. Barbosa Lima analisa a invocação dos princípios liberais como uma manobra para atrair as forças populares. Nesse conflito, verifica que existem tendências regionalistas, que buscam o equilíbrio dos estados federados. O livro termina sem uma análise sobre a ocupação formal da Presidência da República em 1930 e os conflitos existentes até a promulgação da primeira Constituição, após a revolução, em 1933 (A Verdade sobre a Revolução de Outubro - 1930. São Paulo, Alfa-Omega, 1975). 4 O movimento nasce com as eleições de 1982 para presidente da República, quando os partidos de oposição começam a mobilizar a população, resultando num ato suprapartidário, em 1983, reunindo no estádio do Pacaembu, em São Paulo, cerca de dez mil pessoas. O ato foi transmitido pela TV Cultura, com autorização do então governador paulista Franco Montoro e com cobertura da Folha de S.Paulo, fato relatado por Ciro Marcondes Filho no próprio jornal em edições da época. Os acontecimentos que antecederam o movimento pelas Diretas-Já até a eleição de Tancredo Neves são relatados nos jornais da Associação Brasileira de Imprensa - Boletim da ABI, edições de janeiro/fevereiro de 1983; março/abril de 1983; julho/agosto de 1983; setembro/outubro de 1983; janeiro/fevereiro de 1984; março/abril de 1984; setembro/outubro de 1984 e março/abril de 1985. 8

qualidades do escritor, consagrando-se na literatura após ser aceito pela Academia Brasileira de Letras; atuou como professor, sem se esquecer de ser pai e companheiro. Em 1993 atendeu a um pedido especial de sua mulher, Maria José, e foi fazer a primeira- comunhão, numa cerimônia que também batizou seu primeiro bisneto, Pedro, e comemorou o 62o. aniversário de casamento de Maria José e Alexandre (José Barbosa Lima Sobrinho). Chegou a declarar para a imprensa que sua esposa o fez acreditar em anjos5. Estão casados ha 68 anos e moram no mesmo endereço, no Rio de Janeiro, desde 1938, onde criaram seus quatro filhos. Roberto, o primeiro filho, que já faleceu, chegou a dirigir o Instituto de Resseguros do Brasil. O segundo, Fernando Barbosa Lima, herdou do pai a vocação jornalística. O terceiro filho, Carlos Eduardo, tem inclinações de intelectual, escrevendo romances. A caçula é a Lúcia Maria. Barbosa Lima tem três netos e três bisnetos.

O jornalista - A principal influência que Barbosa Lima Sobrinho recebeu foi a do jornalismo panfletário, que manteve no século XVIII ligações estreitas com os ideais da Revolução Francesa, buscando mudanças no regime e opondo-se à censura da imprensa. Na profissão, consegue ter projeção nacional no Rio de Janeiro, escrevendo para o Jornal do Brasil, mas não se esquece da lição que aprendeu com a imprensa pernambucana6, com Hipólito da Costa e Rui Barbosa, a de sempre apresentar a sua opinião, fugindo da teoria de que jornalismo deve ser objetivo, neutro, isento da crítica de seu autor. Barbosa Lima assume o perfil do articulista que se expõe em seus textos, procurando formar opiniões, apesar de nunca ter sido adepto da linguagem virulenta dos jornais panfletários.

5 A declaração saiu na reportagem feita pelo jornalista Cícero Sandroni, publicada na Revista Imprensa, em janeiro de 1997, quando completou 100 anos. A história do casal foi reconstituída pelas biógrafas de sua mulher Ana Arruda Callado e Denilde Leitão (In: Dona Maria José - retrato de uma cidadã brasileira. Rio de Janeiro: Dumará Distribuidora de Publicações Ltda, 1995). 6Alfredo de Carvalho analisa que o periódico Preciso, publicado pelos republicanos em 1817, pode ser considerado como um precursor do jornalismo pernambucano, pela postura editorial ao “movimento constitucional que alvoroçou o Brasil inteiro nas proximidades da Independência”. O periódico, que se denominava como “primeiro fructo da nova imprensa, que óra se intitulava Officina Typographica da 2a. Restauração de Pernambuco”, surgiu em 28 de março e foi fechado com a derrota da Revolução, pelo governo de Pernambuco, em 15 de setembro de 1817”. (Annaes da Imprensa Periódica Pernambucana - 1821 a 1908. Recife: Jornal do Recife, 1908, página 33). Alfredo Carvalho afirma que “em todo longo transcurso do período colonial, não houve no Brasil, talvez, manifestação alguma de progresso que a metrópole deixasse de corresponder com medidas prohibitivas ou providencias vexatórias, ditadas por uma política suspicaz” (página 27). 9

O mais novo e o mais velho presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Barbosa Lima tinha 29 anos quando sua candidatura foi lançada pelo então presidente Raul Pederneiras, a quem veio suceder em 1926. A imprensa caminhava ocupando todos os espaços na sociedade, que procurava representar nas páginas dos jornais. “A nação voltava aos dias de inquietação vividos no tempo de (Artur) Bernandes. O presidente Washington Luís seguia política surda ao clamor público, governando de uma torre de marfim, sem perceber os descontentamentos que iam crescendo, valendo-se pela incompreensão dos governos” (MOREL: 1985, 94).

No início de seu mandato, Barbosa Lima Sobrinho conseguiu unir a categoria que até então estava dividida em três entidades diferentes: além da ABI, havia o Clube de Imprensa e a Associação da Imprensa Brasileira. Aglutinador da classe, Barbosa Lima Sobrinho7 é apontado por Fernando Segismundo como um eficaz administrador. “Ele enxerga na ABI, além da casa do jornalista, um espaço aberto ao povo e em condições de funcionamento a qualquer hora” (SEGISMUNDO, 1988: 106). O segundo mandato começa em 19308, sendo reconduzido à presidência na eleição de 1978; depois em 1980 e em 1984, permanecendo até os dias de hoje. Na década de 60, foi

7 Em artigo publicado no Jornal da ABI, edição de aniversário da entidade, Balanço da Comunicação, Barbosa Lima Sobrinho recorda-se do acordo feito por ele, representando a ABI, por Rodolfo Motta, do Clube da Imprensa e por Alvim Horcades, da Associação de Imprensa Brasileira, para a unificação da categoria em uma entidade apenas. Todos renunciaram aos cargos que ocupavam e elegeram a ABI como a única entidade da categoria, com a presidência para Hebert Moses, que era diretor-tesoureiro de O Globo, sendo que eles deveriam ser eleitos membros permanentes do Conselho Administrativo. Porém, o nome de Horcades foi excluído na assembléia. “O que me obrigou ao afastamento da entidade para que Horcades nunca pudesse supor que eu havia concordado com a sua exclusão” (05). Nesse período, até a morte de Alvim Horcades, Barbosa Lima Sobrinho se envolve em sua carreira política, apoiado por Getúlio Vargas. 8 Barbosa Lima Sobrinho renuncia à presidência da ABI em abril de 1931, com o propósito de unir a categoria que estava dividida em três entidades. Herbert Moses assume e logo depois enfrenta as leis ditadoriais de Getúlio Vargas contra a imprensa, que passa a sofrer com a censura. Edmar Morel (A Trincheira da Liberdade, Rio de Janeiro: Record, 1985) ao descrever a administração de Moses, não deixa de descrever a ligação que a ABI manteve com o ditador, recebendo-o na sede da entidade em várias solenidades, e que por isso enfrentou oposição de conselheiros que exigiram o rompimento da ABI com Vargas. “O Brasil, na época, fora dividido em capitanias e seus donatários eram os tenentes, que mandavam e desmandavam. Promoveram o empastelamento de jornais e prendiam jornalistas... O livre-arbítrio era exercido pelas esporas e patas de cavalo (página 121). (...), relata Morel ao se lembrar que as agressões aos jornalistas era uma rotina no governo de Vargas. Em meio às conturbações políticas, a ABI consegue, com o auxílio de Barbosa Lima, em 1932, que o prefeito do Rio de Janeiro, Pedro Ernesto, assinasse a escritura do terreno doado à entidade em 1921, para a construção de sua sede. A construção foi subsidiada pelo governo federal, ajuda que Moses consegue pelo relacionamento que mantém com Getúlio Vargas, rendendo-lhe mais críticas por receber favores do governo que “esmagava a liberdade de imprensa”(página 131). As obras chegaram a ser vistoriadas pelo presidente “sendo vaiado à saída do edifício...pelas esposas e filhos dos confinados em Fernando de Noronha e Ilha Grande, nas catacumbas das ruas e Relação”(página 135). Fernando Segismundo, no livro ABI 80 anos (Rio de Janeiro: Unigraf, 1988, página 85) descreve Pedro Ernesto, Getúlio Vargas e o general Eurico Gaspar Dutra como “amigos certos da instituição, à qual asseguraram terreno e 10

conselheiro da ABI, que viveu momentos históricos contra a repressão e a opressão vividos pelos jornalistas por causa da censura e da falta de liberdade de imprensa . “O golpe de Estado de 1964 trouxe-o de novo à nossa velha entidade. Barbosa Lima compreendeu que estava em causa a necessidade da unidade de toda a classe” (MOREL: 1985, 97). Nesse período Barbosa Lima Sobrinho atuou no Conselho de Defesa dos Direitos Humanos, com sede em Brasília, sob a presidência do Ministério da Justiça. A Associação Brasileira de Imprensa transformou-se numa entidade em defesa da liberdade de imprensa. Nos anos 40 e 50, seus boletins informativos registraram as perseguições políticas aos jornalistas, publicando vários artigos contra a repressão engendrada pelo governo federal. Em 1974 assume a presidência do Conselho Administrativo da entidade, colocando em pauta a luta pela liberdade de expressão e contra a censura. O trabalho reafirma seu compromisso e o da própria entidade em contrapor-se à repressão aos profissionais na época da ditadura militar. Nesse ano é instalada a Comissão Permanente de Defesa da Liberdade de Imprensa, que acaba por desenvolver diversos debates públicos contestando as perseguições nos anos 70 e 80. Sua trajetória na direção da ABI, até os dias de hoje, revela um caminho de muitas discussões políticas contra a repressão que existia durante o governo militar. Barbosa Lima Sobrinho transforma-se no ícone referencial para as manifestações de entidades e profissionais que repudiavam a perseguição à liberdade de expressão. E é justamente pela experiência de vida acumulada, pelas palavras que sempre pronunciou em defesa da liberdade do indivíduo e de seu direito à informação e à expressão, que Barbosa Lima Sobrinho se transforma num mito. “Dos tempos terríficos do obscurantismo até o presente, atua Barbosa Lima Sobrinho como um dos mais alumiados, sobranceiros e persuasivos defensores dos direitos humanos” (SEGISMUNDO: 1988, 107).

HISTÓRIA DO JORNALISMO

fastígio”. Em 1935, Herbert Moses instituiu a Comissão da Defesa de Liberdade de Imprensa, que também funcionou em 1964. “A ABI estava manietada pela censura. Jornais fechados, jornalistas assassinados e espancados eram atos de rotina da ditadura. Os protestos da ABI não ecoavam. Morriam nas cestas de lixo das redações” (página 132). Os mesmos fatos se repetiram no governo de Eurico Gaspar Dutra, que ao assumir “prometeu liberdade de imprensa (...). Depois caiu de rijo sobre a imprensa, retornando o país ao clima de violência contra a liberdade de pensamento.” (Edmar Morel. A Trincheira da Liberdade, Rio de Janeiro: Record, 1985, página 140). 11

O desenvolvimento da imprensa para Barbosa Lima Sobrinho não é apenas uma questão econômica, mas de liberdade. Busca na história indícios sobre o progresso conquistado pelo jornalismo, não em sua modernidade e transformação técnica, mas nas idéias. Por isso, a necessidade da imprensa ser livre, tendo meios de interferir nos fatos públicos através da opinião pública, o que só acontece com o fim da censura. Para reforçar sua teoria, Barbosa Lima recorre ao processo político desencadeado pela imprensa no cenário mundial e seus reflexos na imprensa brasileira. No momento em que a imprensa conquista a liberdade, soltando-se das garras do absolutismo, conquista o poder de influenciar as decisões políticas e econômicas, deixando à mostra o governo, que passa a ser analisado e, até censurado, pela opinião pública. Inverte-se o jogo: até o Antigo Regime, a imprensa é o alvo principal dos governos, que a policiam para evitar a divulgação dos fatos; depois, com as amarras desfeitas, pondo fim à censura, os governos são vigiados pela população através da imprensa e suas ações tendem a ser orientadas pelo público. Dessa forma, Barbosa Lima Sobrinho procura mostrar a necessidade da imprensa se envolver nas decisões governamentais, reprimindo, criticando e protestando contra as posturas contrárias ao desenvolvimento da Nação. Com a notícia impressa, a circulação das informações avança a passos largos. Os impressos de livros passam a dar mais atenção aos fatos que marcaram a época, como as guerras européias e a expansão marítima, acontecimentos militares e políticos que envolviam várias nações, despertando a curiosidade do público.

Apesar do controle, a imprensa se desenvolve. Vive momentos de censura e de liberdade, de acordo com os acontecimentos políticos e econômicos e interesses dos governos. A prática do jornalismo vai se alastrando por toda a Europa, rompendo barreiras e atropelando as críticas. Para Barbosa Lima Sobrinho, as investidas contra a atuação da imprensa reforçam sua teoria de que a censura é a forma mais arbitrária de inibir a discussão e avançar as idéias políticas, enquanto sistema de governo e de direitos sociais: “(...) a legislação relativa à imprensa traduz uma batalha entre o governo e os jornais, que viram surgir diferentes medidas, como a censura prévia, a autorização do rei para a fundação do jornal, cauções elevadíssimas dadas em depósito, a suspensão da publicação das gazetas. (...) Os governos universalmente se esforçaram por impedir o desenvolvimento do prestígio da imprensa” (LIMA SOBRINHO: 1923, 09). 12

A imprensa se expande na Europa acompanhando a velocidade da expansão comercial. “A grande transformação viria naturalmente desde que os jornais se permitissem as críticas das gazetas manuais e foi o que se deu com a imprensa inglesa, logo em começo do século XVIII e assim se fez sentir a influência de seus ensaistas. A autoridade dos escritores e a moderação de seus críticas conseguiriam vencer a severidade do sistema restritivo, mantendo jornais que se atribuíam a função das gazetas manuais e, estas, naturalmente depois de perdida a sua única razão de ser, desapareceram, sem retorno. O jornalismo começou a ganhar terreno, a desenvolver-se, a multiplicar-se, aperfeiçoando constantemente os seus recursos e intensificando a sua função de crítico da sociedade e principalmente da política e da administração pública” (LIMA SOBRINHO: 1923, 05). A imprensa inglesa foi a primeira a perceber e a utilizar os benefícios dos anúncios comerciais, iniciando, já no século XVI, as primeiras propagandas com a divulgação de ofertas, idéia que é importada pela colônia americana. O processo não foi tranqüilo, já que a desobediência ao governo levava aos crimes de imprensa, julgados por um corpo de jurados nomeado pelo governador. Mas acima da lei, que permitia a censura velada aos periódicos em decorrência dos patrocínios e permissões para suas publicações, os norte-americanos percebem a importância da liberdade de imprensa. Os jornais tornaram-se uma necessidade nacional, expandindo-se em todos os estados norte-americanos. O mercado principal do periódico, no início do século XIX, eram os homens de negócios que queriam um jornal de notícias, de utilidade imediata. Nesse período da história da imprensa, a única que gozava de liberdade no século XIX, na Europa, era a da Inglaterra, que a conquista em meados do século XIX. O governo advertia que a imprensa era menos perigosa do que a oposição inglesa ou grupos clandestinos da Irlanda do Norte. A liberdade era percebida pelo progresso da imprensa, que se expande no interior do País, com periodicidade regular, inclusive aos domingos. Com isso, atraia e concentrava mais a opinião pública sobre os acontecimentos políticos e se fortalecia, em detrimento da imprensa de outros países que viviam sob o regime da censura. Enquanto, os demais países europeus se debatiam sobre a liberdade de imprensa, os americanos avançam na técnica do fazer jornal, com novos investimentos em equipamentos. À 13

medida que havia a expansão do jornalismo norte-americano, as condições técnicas de produzí-lo iam melhorando. Barbosa Lima Sobrinho admite que, diante de tantas dificuldades políticas e econômicas, o jornalismo conseguiu “um sucesso formidável”. “De criatura a imprensa evoluiu a criador e tão grande passou a ser a sua força que os homens avisados a batizaram como ‘quarto poder’, aquele que vinha incorporar-se aos outros poderes do Estado - o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Mas em verdade ela não veio a ser um poder complementar e sim um poder à parte, aquele capaz de influir sobre todos os outros, pois podia contra eles formar a irresistível corrente da opinião pública” (LIMA SOBRINHO: 1923, 13).

Jornalismo brasileiro - No Brasil, a imprensa recebe as influências das idéias liberais que circulavam na Europa, tecendo os fios que formaram a intelectualidade brasileira, que utiliza o jornal para a expressão de seu pensamento, ajustando-se à realidade nacional. O principal cenário é o Rio de Janeiro, pela concentração política da época. As transformações vividas pela imprensa começam no século XIX, a partir da importação de máquinas para os jornais, acelerando o processo industrial na imprensa nacional. A pesquisa realizada por Barbosa Lima Sobrinho mostra que, com o desenvolvimento da imprensa somente no século XIX, o Brasil pode ser apontado como um país em que o jornalismo demorou para se expandir. Barbosa Lima busca em Alfredo de Carvalho a avaliação para esse atraso em relação a outros países da América. Os dados apontam que no México o alemão Cromberg instala a primeira tipografia em 1539. No Peru, a imprensa começa a funcionar em 1583 e nos EUA, em 1630.

O funcionamento tardio da imprensa no Brasil está calcado em dois fatores: a política determinada pela monarquia e as questões educacionais da população. “A imprensa demora a ser instalada no Brasil por razões essencialmente políticas. Portugal, resguardando os seus interesses de metrópole colonizadora, utiliza todos os recursos disponíveis para impedir o funcionamento de qualquer tipografia na colônia americana” (MARQUES DE MELO, 1983: 95). A colônia era habitada principalmente por uma “população do campo, analfabeta, constituída na sua maioria por escravos (...) empecilhos para a consolidação da imprensa” (CAPELATO, 1988: 38). 14

Barbosa Lima Sobrinho garante que o primeiro jornal brasileiro apareceu em Pernambuco, em 17069. No Rio de Janeiro, sob a direção de Isidoro da Fonseca, aparece o primeiro jornal em 1747. Na cidade de Vila Rica (MG) o padre Viegas de Menezes introduz a imprensa em 1807. Todos, porém, suprimidos pela censura do governo português.

O controle da Coroa Portuguesa sobre a colônia representava a contra-mão do desenvolvimento da imprensa. A presença da Imprensa Régia fundada por D. João VI, em 1808, na então colônia, ampliou os espaços a serem ocupados pelos jornalistas, que faziam da prática da profissão um meio para se alcançar um ideal político. A iniciativa abre oportunidade para que em 10 de setembro de 1808 nasça o primeiro jornal publicado no País, A Gazeta do Rio de Janeiro, que por estar muito ligado aos poderes monárquicos “não exerceu nenhuma, ou quase nenhuma influência sobre os negócios do Brasil”, como constata Barbosa Lima.

Para o jornalista, uma das dificuldades para a concretização da independência do Brasil foi a falta de um trabalho efetivo da imprensa sobre a opinião pública, apesar de reconhecer que a

9 Apesar de citar nomes de jornais, datas, localização e linhas políticas, Barbosa Lima Sobrinho não apresenta, em seu livro O Problema da Imprensa, de 1923, referência que esclareça a pesquisa que realizou para relacionar o aparecimento da imprensa no Brasil. José Marques de Melo, em seu texto A Constituição da Comunidade Acadêmica Brasileira no Campo das Ciências da Comunicação, apresentado no XX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado pela Intercom, em setembro de 1997, recupera a trajetória de pesquisadores brasileiros sobre o surgimento da imprensa. Definindo essa fase como a dos “desbravadores”, Marques de Melo aponta que o trabalho de pesquisa começa em 1859 com a publicação de um artigo do cônego Fernandes Pinheiro, atribuindo aos holandeses a iniciativa da implantação, no século XVII, da imprensa no Brasil, mais especificamente em Pernambuco. A referência chamou a atenção de historiadores, principalmente pernambucanos. “Em 1891, Pereira da Costa divulga os resultados das suas pesquisas sobre as clandestinas tipografias pernambucanas de 1706 e 1816, imediatamente seqüestradas pelo governo português. Apesar dessa atitude censória, o historiador ressalta a precedência lusitana na história da nossa imprensa, minimizando assim a iniciativa dos holandeses, ousada mas não consumada. Para reforçar sua argumentação, menciona a existência de impressos que comprovam a atividade da tipografia de 1706, principalmente orações devotas e letras de câmbio. No entanto, ele encontrou maiores evidências documentais sobre a tipografia de 1816, a qual ficou inativa até o ano seguinte, quando os revolucionários republicanos de 1817 a utilizaram para editar seus proclamos ao povo pernambucano”. A controvérsia, porém, continuou a ponto de Alfredo de Carvalho retomar as pesquisa, como aponta Marques de Melo. “Consultando a correspondência oficial trocada entre os governantes holandeses no Brasil e a direção da Companhia das Índias Ocidentais, conservada no Arquivo Real de Haia, o jornalista/historiador encontrou inúmeras referências ao pedido (de envio de um prelo de Amsterdam para Pernambuco, realizado pelo governo Maurício de Nassau) (...). Não há qualquer comprovação de que Amsterdam tenha atendido ao pleito, apesar dos dirigentes holandeses no Brasil continuarem reclamando a tipografia. Esta nunca chegou ao Brasil. No entanto, circularam folhetos na Europa supostamente impressos no Recife, datados de 1645. Estes haviam sido originalmente escritos no Brasil, mas concluídos na Holanda, onde foram impressos. A indicação de Recife como local de publicação representou estratagema para evitar sanções legais aos autores pelo caráter denunciativa dos opúsculos”. 15

atuação de Hipólito da Costa, que edita o Correio Braziliense em Londres, exerce influência entre aqueles que têm acesso às suas edições.

O Correio foi o primeiro periódico redigido em português, que buscou em Londres a liberdade necessária para sua circulação. “O jornal de Hipólito destinava-se a conquistar opiniões.(...) Mensalmente, reunia em suas páginas o estudo das questões mais importantes que afetavam a Inglaterra, Portugal e Brasil (...)” (SODRÉ, 1983: 26). Juarez Bahia aponta que a intenção de Hipólito da Costa era o debate de idéias sobre as relações políticas que envolviam os três países. “Hipólito da Costa luta no Correio por princípios liberais e democráticos, contra as práticas obscurantistas e despóticas. Defende mudanças substanciais no sistema político, administrativo, econômico e social vigente no Brasil e em Portugal (...) por meios legais” (BAHIA, 1990: 27).

Por isso, Hipólito da Costa é apontado por Barbosa Lima Sobrinho como o pioneiro no movimento da independência de Portugal: “se pensarmos nos aplausos ao Fico e na análise excelente dos debates das Cortes portuguesas, bem que poderemos concluir que ninguém fez mais do que o Correio Braziliense, no encaminhar e defender a causa da independência do Brasil” (LIMA SOBRINHO: 1996, 87). A pesquisa de Barbosa Lima Sobrinho revela que os jornais da época despertaram e mantiveram a agitação popular em favor da independência política de Portugal. A princípio pleiteada como autonomia administrativa, sem a interferência de Portugal nos negócios internos. Mas os interesses entre colônia e metrópole foram se distanciando, resultando no 7 de setembro.

“À imprensa coube atuação preponderante. Ela tornou possíveis os encontros de idéias e, pois, as divergências; ela multiplicou os atritos, as incompatibilidades e as antipatias, ela manteve essa atmosfera calorosa de exaltação em que amadureceram facilmente os ideais autonômicos. Foi ela ainda que arrastou Pedro I para esse papel de príncipe liberal, generoso e protetor. A imprensa agiu nos fatos de independência como um de seus artífices mais poderosos. Sem a imprensa, a independência não teria sido possível, nem tão cedo, nem tão facilmente. E por isso os fatos, que desde muito se 16

haviam esboçado, tomaram súbito incremento desde que a abolição da censura permitiu o jornalismo de combate” (LIMA SOBRINHO: 1923, 58).

Para o jornalista, a imprensa é o canal para o fortalecimento da opinião pública em defesa das causas nacionais. Com isso, o debate das idéias e ideais que prevaleceram na época acaba se fortalecendo pelo poder da imprensa em escoar as manifestações políticas, numa ampla discussão sobre o que seria o progresso do Brasil. A imprensa exerceu influência junto à opinião pública e despertou paixões nativistas e ressentimento nacional contra a presença portuguesa, fortalecendo o sentimento popular. Muitas dessas campanhas resultaram em leis restritivas à liberdade de expressão, com perseguições e prisões. Toda a agitação política no Brasil ficou mais exaltada com os reflexos da Revolução Francesa, tendo na imprensa o principal aliado para divulgar o espírito liberal que existia em 1830.

A disputa política da época refletia na linguagem utilizada pela imprensa, que viveu períodos de marasmo e de empolgação, principalmente na época das eleições parlamentares. Esses excessos, acredita Barbosa Lima Sobrinho, acabaram repercutindo na sociedade e nessa polêmica surgem os adeptos da lei da imprensa, para conter o que se chamava de “a violência da linguagem”. Segundo Barbosa Lima, o período teve os grandes e os pequenos jornais, de acordo com os assuntos políticos. Quando não havia questão que apaixonasse, prevalecia a imprensa de grande “formato, moderada e discreta”. Quando os assuntos refletiam interesse nacional, surgem as folhas denominadas pasquins, nas vésperas de eleição, durante lutas partidárias, sem destinguir a vida pública da vida privada dos políticos, com linguagem injuriosa (LIMA SOBRINHO: 1923, 87).

Imprensa e tecnologia - Barbosa Lima Sobrinho utiliza a liberdade conquistada pela imprensa inglesa e o jornalismo praticado nos Estados Unidos, que se baseia na profissionalização, para uma análise comparativa com o jornalismo praticado no Brasil. Dessa forma, registra as transformações ocorridas no início do século, diagnosticando os problemas do setor. O processo de alfabetização nas cidades permitia ampliar o público leitor, fazendo crescer o mercado para os jornalistas que buscavam aprimoramento técnico para a produção do jornal. 17

Com mais agilidade e mais exemplares impressos reduzia-se o custo do jornal, que se tornava mais popular. Com isso, o perfil do repórter também se altera, iniciando o século XX com ênfase para as grandes reportagens. O formato da notícia se modifica e os jornalistas aprendem a descobrir com precisão o que viam, com um mínimo de palavras e um máximo de interesse. É a objetividade do jornalismo norte-americano que invadem as redações e começam a fazer escolas em várias lugares do mundo. O resultado imediato é o desaparecimento do romantismo existente no espírito liberal em se praticar o jornalismo de sacerdócio, pobre e sem lucros. O conceito de modernidade da imprensa começa a tomar conta das redações e o jornalista, que se entregava às causas nacionais de corpo e alma perde, aos poucos, seu espaço. No Brasil, as modificações são assimiladas gradualmente. Segundo Barbosa Lima Sobrinho, existe uma diferença no objetivo e na finalidade da imprensa em informar e doutrinar, numa verdadeira disputa de espaço na sociedade. “Havia fases e momentos em que predominava a informação. Mas outras vezes o que passa a ter importância era a propaganda, senão de idéias, pelo menos de posições definidas, em que se extremavam as facções” (LIMA SOBRINHO: 1980, 149), explica, referindo-se aos jornais que circularam pelo país durante o império. Barbosa Lima Sobrinho aponta que o jornalismo da época se descuidava da notícia. Os jornais se envolviam em questões políticas e literárias. Havia no jornalismo romântico a exaltação das doutrinas e a fascinação das idéias, mas algumas vezes surgido de pruridos vaidosos, criadores da ambição de renome e de evidência. Não existe neutralidade das idéias, que circulavam com abundância pelas páginas dos jornais, tomando partido das questões nacionais. Uma nova fórmula editorial começa a valer nas páginas dos jornais. Mas essa modernização para o fazer jornalismo recebe uma sombra de crítica de Barbosa Lima Sobrinho.

“Com a industrialização da imprensa o artigo político quando muito conservou a primeira coluna; mas em redor, como leitura de maior sensação, se foi distribuindo e colocando o noticiário. E cedendo a esse impulso, as empresas jornalísticas se tornaram infinitamente complexas. Chegou a vez do fotografo, veio também o gravador, quando estampa fascinadora firmou seu prestigio; o telégrafo impôs despesas com que atender às 18

informações de todo o mundo e que permitiam aos leitores acompanhar sem trabalho os acontecimentos universais. Pouco e pouco foi a colaboração deixando de ser gratuita e obtida por obséquio dos diretores da folha. Quando recomendava ao jornal, pagava-se o artigo, exceção feita de alguns plumitivos animados com a esperança de pagamentos futuros, e de outras dotadas de fúrias escrevinhantes” (LIMA SOBRINHO: 1923, 31).

Com essa análise, o autor deixa claro como a industrialização interferiu no conjunto da imprensa, que virou empresa. Ele demostra como o colaborador apaixonado, que dedicava horas a fio num artigo opinativo, cede lugar para o profissional. Explica como as notícias invadiram as páginas do jornal, juntamente com a foto e com as informações internacionais, adquiridas através de agências de notícias. “Tudo pareceu, de momento, antiquado. Linotipos que haviam provocado manifestações de espanto, rotativas que já davam a impressão de que estavam vomitando jornais, pela rapidez com que trabalhavam” (LIMA SOBRINHO: 1984, 01). O objetivo da imprensa também se transforma. O que antes era praticado como meio de orientação, adquire uma nova finalidade. A conquista do público tornou-se um negócio, consumando o novo papel da imprensa como indústria de comunicação. A transformação tecnológica vivida pela imprensa brasileira deixa o velho jornalista atônito. Em aula inaugural que ministrou em 1984, na Faculdade da Cidade, no Rio de Janeiro, confessa ser difícil assimilar as modificações. “Para um jornalista antigo, como é o meu caso, que ainda tenho, na memória, as antigas oficinas de tipos de metal, tudo isso chega a dar a impressão de uma viagem ao País das fantasias” (LIMA SOBRINHO: 1984, 02). Fantasia ou não, a tecnologia tornou-se mais forte do qualquer vocação jornalística. A imprensa recebe nova roupagem, modelando-se para assumir as características de uma empresa de comunicação de massa. Com o progresso tecnológico há o aumento de despesas. O jornal tornou- se mais um problema para obtenção de dinheiro do que de credo político, literário. É o fim da ideologia. Com essas modificações, Barbosa Lima Sobrinho constata que, como na guerra, o nervo da imprensa é o dinheiro, o cerne de sua existência no século XX. A ação imediata dos empresários da comunicação, assinala, é o aumento do valor do anúncio, a matéria paga nos editoriais e servir as tendências populares, em vez de orientar a opinião pública. 19

Nessa avaliação, o jornalista constata que, com o jornalismo moderno, a imprensa perde seu papel de educadora e formadora de opinião. A conquista do público não se dá mais pela idéia, mas como um negócio. A imprensa já é uma indústria, que prioriza a notícia objetiva. Com as novas técnicas da industrialização, o grande noticiário afasta o leitor das preocupações políticas. “O artigo solene, o artigo de fundo metido em austeridade, vale menos do que um fato corriqueiro, com um título de sensação” (LIMA SOBRINHO: 1923, 33). Invertem-se as prioridades no jornalismo: primeiro conquista-se o leitor com as notícias para depois apresentar-lhe a opinião. “Quando uma folha atinge esse ponto de industrialização, está muito longe da vida romântica de sacerdócio. Preocupam-na os negócios. É uma empresa comercial como outra qualquer, exigindo medidas especiais por causa de sua maior influência social” (LIMA SOBRINHO: 1923, 33). Atento às mudanças tecnológicas, Barbosa Lima Sobrinho, na aula inaugural na Faculdade da Cidade, em 1984*, busca subsídios no livro de McLuhan, A Galáxia de Gutemberg, para entender os desafios postos aos profissionais que chegam ao mercado de trabalho com os novos instrumentos para se exercer a profissão. O texto, apesar de não ter sido publicado, é referência à sua preocupação para com os problemas vividos pela imprensa. Como um pesquisador que procura entender a comunicação, Barbosa Lima se debruça sobre a tese de que os satélites permitem a aproximação do homem, aceitando, em princípio, o conceito de McLuhan de um universo que se transforma numa aldeia global. Porém, encontra fragilidades nessa teoria. “A impressão de McLuhan não seria diferente daquela do nordestino que, espantado com as viagens de um conhecido, que viera e voltara do sul em menos de 48 horas, exclamava, aturdido, que o mundo havia encolhido” (LIMA SOBRINHO: 1984*, 03). O jornalista verifica que, apesar da aproximação dos povos através dos satélites, numa única aldeia de informação, continuam distantes em decorrência da geografia política que os separa, responsável pelas fronteiras e divisões diversas, como os padrões culturais, que mantém o mundo fatiado. Divisão esta que se torna o noticiário nosso de cada dia. Na análise que faz sobre o desenvolvimento tecnológico da imprensa, num momento da história em que os conflitos políticos estão latentes, Barbosa Lima Sobrinho reconhece a ligação do mundo pelo satélite, da globalização da informação, decorrência da agilidade dos meios em transmitir a mensagem. 20

Porém, refuta a idéia de que o mundo é uma aldeia. “Na verdade, as ondas electromagnéticas, a que devemos esse esforço formidável de aproximação dos povos, e da integração de todos eles numa humanidade solidária, conhecem, de certo, e muito bem, a Geografia Física. Mas, feliz ou infelizmente, ignoram a Geografia Política, e esquecem as raízes profundas em que mergulham as tradições e se elabora, lentamente, a história de todos os povos” (LIMA SOBRINHO: 1984*, 06). Para o jornalista, a tecnologia que expande a comunicação em massa pode aproximar o homem tendo a informação como meio de integração social, porém, existe um elo mais forte que mantém as distâncias nesse mundo globalizado: as heranças culturais de cada nação. Barbosa Lima, como um nacionalista fiel, não se dobra às tendências da aldeia global. “O poder das ondas eletromagnéticas se detém diante desses muros intransponíveis, em que se afirma a unidade das nações” (LIMA SOBRINHO: 1984*, 06).

A imprensa e o profissional - A atividade editorial se consolida como profissão na Europa no início do século XIX, em decorrência da necessidade de informação que vinha se impondo pela sociedade européia e norte-americana, protagonistas de várias evoluções técnicas na comunicação como a implantação do correio, do telégrafo e do telefone. As informações vão se consolidando nas páginas dos jornais que na sua origem privilegiavam a opinião. Com o desenvolvimento industrial da imprensa altera-se o perfil do jornalista. Torna-se o escritor ligeiro, com estilo ágil e de escassa cultura geral. “É a era dos tópicos superficiais”, qualifica Barbosa Lima Sobrinho, criticando a falta de discussão aprofundada sobre os temas nacionais. Para enfrentar esse novo mundo impresso, Barbosa Lima Sobrinho defende a formação do profissional “escudada e fortalecida num curso universitário”, para que não caia nas garras do empresário, escrevendo o que ele manda, “sacrificando a sua sinceridade, escrevendo tudo o que mandam fazer”. Para ele, a formação cultural ampara o profissional, que terá comportamento para moderar e corrigir a linguagem da imprensa (LIMA SOBRINHO: 1923, 39). A idéia é recuperada em 1981, em artigo que escreve para o Boletim da ABI, edição de novembro/dezembro, reforçando a defesa para a profissionalização do jornalista, pelo aprimoramento da atividade em benefício do público. 21

Barbosa Lima Sobrinho, quando defende o diploma para quem atua na redação, pensa como o homem de sua época: o importante era o papel que a academia desempenhava na formação cultural do homem que atuaria na imprensa. A justificativa é de que formado culturalmente, o profissional deixaria as limitações do ofício e poderia discutir a ética patronal, em favor de suas concepções sobre os acontecimentos políticos da época. Como um jornalista autodidata, com formação em Direito na Faculdade de Recife, Barbosa Lima Sobrinho defendia que, como todo profissional, o jornalista deveria freqüentar as escolas para ter acesso às disciplinas teóricas e práticas, inerentes a quem precisa ter uma visão global do mundo. Sua postura, porém, passa por uma revisão, principalmente quando está à frente da direção da Associação Brasileira de Imprensa, que se empenhou para a fundação de escolas de Jornalismo no Brasil. Reconhecendo no diploma a proteção para o trabalho profissional, defende em artigo publicado 1981 que a formação universitária na área é um privilégio que estimula o candidato a se dedicar à área. “Servirá também para que ele conheça e aprenda a ética da profissão, matéria restrita aos cursos de jornalismo”. A mesma tese é reapresentada em 1982, quando o Conselho Federal de Educação promove vários debates para discutir a formação do profissional da imprensa e a necessidade do diploma. A postura do jornalista vem ao encontro da nova realidade da formação social da categoria, com a existência do sindicato, e com a profissionalização específica, normatizando a vida e o trabalho do jornalista. O boêmio e o literato cederam lugar ao processo industrial, que exigia novas equipes, com organização para o fluxo da notícia. No Brasil, as escolas começam a tomar corpo após a década de 40, sendo que os primeiros cursos são implantados de acordo com o modelo europeu, que possibilita a formação ao nível de graduação. A consagração da profissão, os estudos e as pesquisas realizadas pelas universidades passam a completar um novo quadro, o das Ciências da Comunicação, constituindo-se num longo caminho percorrido durante as últimas décadas10.

10 José Marques de Melo aponta que o interesse brasileiro pelo estudo científico da comunicação remonta a 1883, quando os historiadores começam a desvendar os bastidores da imprensa. No entanto, essa atividade se fortalece em meados do século XX, como conseqüência da implantação da indústria cultural e da inclusão do jornalismo como área de estudos universitários. “São jornalistas-professores Carlos Rizzini, Danton Jobim, Luiz Beltrão, Pompeu de 22

Nesse despertar dos cientistas para as modificações motivadas pela prática do jornalismo a pesquisa em comunicação passa a integrar o estudo científico dos elementos que estão envolvidos no processo comunicativo. O objetivo é o de compreender os fenômenos relacionados ou gerados pela transmissão de informações, com pesquisas que se preocuparam com o conhecimento produzido pelo jornalismo, “reflexo direto da ação do Ciespal, órgão da Unesco, que tem desenvolvido um trabalho continuo para difundir a mentalidade da investigação científica na região latino-americana” (MARQUES DE MELO, 1978: 103). CONCEITO DA FUNÇÃO DO JORNALISMO

Definindo jornalismo como um magistério, Barbosa Lima Sobrinho compara a função do professor com a do jornalista em seu dever de informar, definindo que o jornalismo é uma variação do magistério. Nesse sentido, Barbosa Lima Sobrinho concebe a informação como meio de atualização do conhecimento do receptor, compreendendo o papel do jornalista como o de educador e de civilizador, podendo realizar campanhas junto ao público, como as liberais, feitas pela imprensa em defesa da abolição da escravatura e da República. O maior mal para a imprensa, afirma, é atuar num país com alta taxa de analfabetismo. Por isso, a importância de seu papel educativo, como formadora da opinião pública e estimuladora de discussões sociais, com um papel mais amplo, mais popular do que o desempenhado pelo livro. Seu raciocínio é o de que a imprensa exerce um papel vital para a sociedade, permitindo a interação social a partir da informação, através da qual “formam as comunidades, surge e se consolida a consciência de um interesse comum, não como um monólogo, mas no diálogo a que não é estranha a contestação, a discordância, a critica” (LIMA SOBRINHO: 1980: 161). Com a sua função informativa, representando o direito privado de se obter a informação, a imprensa cumpre com sua função de transformar a informação em domínio público, cumprindo com seu dever de informar. Acreditando no potencial da imprensa em formar a opinião pública, Barbosa Lima Sobrinho atribui à imprensa o papel de ajudar a estimular o desenvolvimento do País, defender a

Souza os responsáveis pelo estímulo à pesquisa nos cursos recém-criados em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Brasília. (...) A configuração de uma comunidade científica dedicada às questões da imprensa ganha corpo na década de 70 e sua consolidação se dá com a presença da Intercom, valorizando a diversidade intelectual e 23

poupança interna, os interesses nacionais, dar estímulos ao capital nacional, contra a especulação estrangeira. “O desenvolvimento econômico se desdobra em opções urgentes e entre fórmulas contraditórias. Por isso mesmo, é importante o papel ou a função da imprensa no estudo dos problemas e situações, para fundamento de decisões de que depende, não apenas o desenvolvimento econômico, como o próprio destino nacional” (LIMA SOBRINHO: 1984, 186). A opinião pública, segundo o pensamento de Barbosa Lima, deve ser interpretada como a média da opinião de quem lê o jornal. Para ele, os jornais têm a estrutura necessária para formar a opinião de cada cidadão.

“A função da imprensa continua a ser essencial no debate dos problemas, na escolha das soluções. Basta que conte os fatos. As conclusões, os leitores irão, pouco a pouco, tirando eles próprios, pois que na verdade, é um jornalista que o confessa, não sem alguma amargura, que o que acaba importando em última instância, é a opção, não dos jornais, mas de seus leitores esclarecidos, e que acabam encontrando as opções necessárias no fundo de suas consciências” (LIMA SOBRINHO: 1984, 189).

O jornalista, assinala, é o canal para a reflexão social e deve ser o condutor da informação crítica, para intervir na sociedade. O jornalista tem que ter uma ação política em sua área de atuação, em defesa das causas nacionais. A maior utilidade da imprensa, aponta, é a crítica à administração pública. “Há prevaricadores, há dilapidadores dos dinheiros públicos e impedir que a imprensa lhes revele as falcatruas implica desserviço à cousa pública e benefício à gatunagem e à corrupção” (LIMA SOBRINHO: 1923, 163). Dessa forma, ensina, o jornalista deve esta atento às tendências políticas em vigor para saber identificar qual o papel da imprensa.

“Numa função vanguardeira, cabe ao jornalismo antecipar soluções, e saber combater pelas fórmulas necessárias ao desenvolvimento brasileiro. Esse é o primeiro dos seus deveres e a maior de suas responsabilidades, tanto mais quando o profundo

propiciando um diálogo instigante sobre as mutações da cultura brasileira”. ( In: Teoria da Comunicação: Paradigmas latino-americanos. Petrópolis: Vozes, 1998, págs. 172 e 173). 24

desequilíbrio regional do desenvolvimento brasileiro cria problemas tão graves e ameaças tão perigosas quanto a própria condição do subdesenvolvimento. E o Brasil não é, afinal, uma região. O Brasil é uma nação que precisa estar atenta ao desenvolvimento de todas as suas regiões, aproximando-se cada vez mais dos ideais, que devam orientar o processo do desenvolvimento a igualdade regional da renda per capita, porque o desenvolvimento que mais se recomenda é o que, na verdade, sabe caminhar no sentido de uma aproximação maior com esses dois ideais fundamentais: a igualdade regional e a igualdade da renda per capita” (LIMA SOBRINHO: 1984, 192).

O papel básico da imprensa é o compromisso com a informação que tenha utilidade para seu público leitor. O jornalista Barbosa Lima Sobrinho credencia a imprensa como o canal para a manifestação da opinião pública, concedendo-lhe o poder político de dirigir uma nação pela força de sua repercussão junto à sociedade. O jornalista consegue fazer a diferenciação de que à imprensa cabe a função de divulgar idéias, formar opiniões, conscientizar a população; enquanto que seu papel é o de integrar as causas nacionais. Portanto, a imprensa tem nas mãos a responsabilidade de estimular o desenvolvimento econômico brasileiro. Essa missão só pode ser desempenhada pela imprensa pelo poder que ela adquire na sociedade, por todas as discussões que ela suscita diante dos acontecimentos, polemizando e debatendo as idéias de uma época. A atuação abrangente da imprensa só é possível pelas próprias características do jornal, que se sobrepõe a qualquer outra publicação impressa. Barbosa Lima acredita que o jornal é o veículo de informações mais adequado ao caráter da vida moderna, pela vivacidade de seus assuntos e pela facilidade de sua leitura. Assim, ele estabelece as quatro missões da imprensa, ao assinalar que ela “ensina, educa, dirige, inspira” (LIMA SOBRINHO: 1923, 12) os sentimentos do povo, formando-lhe a opinião e ajudando na construção da nação. Numa concepção patriótica, estabelece a necessidade da imprensa em se envolver na vida nacional, guiando a opinião pública. Nesse contexto encontramos o espírito do jornalismo, que tende a ser essencialmente o espírito público, não devendo exagerar em seu papel de noticiar, onde está a sua capacidade de 25

fazer o bem e o mal, já que sua principal missão está ligada às questões éticas, corporificada na responsabilidade social e moral. Para isso, ensina que o jornalista deve ter toda a segurança possível na hora de transmitir a informação, fazendo a ponte entre as questões técnicas, críticas, culturais, morais e políticas. O objetivo é o de atender ao leitor, que é o credor da informação, buscando sempre a garantia de que a divulgação do fato constitui-se da aura da verdade. “O jornalista terá o cuidado de procurar adaptar a informação à mentalidade e às preferências de seu leitor, ou para torná-las mais sensacionais ou para acomodá-las ao senso de moderação da maioria de seus leitores” (LIMA SOBRINHO: 1980, 173) Na avaliação que Barbosa Lima Sobrinho faz da imprensa, o jornalismo, apesar de todos os inconvenientes e vícios apontados durante a história de sua existência, tem sido um elemento de educação e civilização. A função educadora da imprensa paira acima de quaisquer dúvidas ou contestações, devendo elevar o espírito público. O papel do jornal é ainda civilizador, pela própria característica que carrega de promover mudanças nas idéias de uma comunidade, a partir da moldura educativa presente na opinião pública. Para demonstrar sua tese exemplifica com as nossas campanhas liberais desencadeadas ao longo do século XIX e início do século XX, que tiveram no jornal o principal aliado, como a campanha pela Abolição. A função de maior utilidade da imprensa, aponta, é a crítica à administração pública, afirmando que o jornal fiscaliza o governo e serve-lhe de freio e estorva a desonestidade, por isso deve ter ações independentes para agir contra a arbitrariedade dos governos. Assim, poderá ser a eterna guardiã da opinião pública. Comparando o papel da imprensa como a de uma purificadora da pátria, Barbosa Lima Sobrinho acredita que só ela detém as fúrias ditadoriais. “Se quisermos evitar o absolutismo, defendamos a imprensa, que substituiu em verdade os poderes falidos e vale como único freio independente contra a arbitrariedade dos governos” (LIMA SOBRINHO: 1923, 102). Dessa forma, teme os danos de uma intervenção na imprensa. O remédio para os males da imprensa começa na opinião pública. “Esclareça-se o espírito público, difunda-se a instrução e entregue-se à educação (...); à medida que esse esforço venha atuando, a imprensa naturalmente se elevará” (LIMA SOBRINHO: 1923, 171). Para ele, não 26

basta uma lei, e se apoia no exemplo americano que instituiu escolas para jornalistas, para o preparo dos profissionais, para combater um dos principais males da imprensa: a ignorância.

O jornalismo e seus problemas - Com a fragilidade com que os assuntos são tratados pela imprensa, em decorrência do imediatismo que cerca o jornalismo, Barbosa Lima Sobrinho aponta que há abusos que podem ser cometidos. O comportamento da imprensa, afirma, influencia o comportamento do povo, numa relação dinâmica e dialética entre opinião pública e imprensa, um refletindo o que o outro pensa, acredita ou debate. Barbosa Lima mostra-se preocupado com a linguagem utilizada pela imprensa, um dos problemas identificados por ele, por causa da invasão patrocinada pelos jornalistas na vida privada dos políticos. Sua constatação é a de que a violência da linguagem é uma tendência universal do jornalismo, justificado com a psicologia popular de que “o jornal se faz para o povo e precisa por isso falar a linguagem apropriada ao elemento a que se dirige” (LIMA SOBRINHO: 1923, 26). E é essa linguagem sensacional, não no sentido estético, mas ético, que acompanha a imprensa desde seus primeiros passos. O autor concorda que a linguagem credencia o jornal junto ao público, permitindo-lhe o acesso à opinião pública, constituída pela massa popular na indústria da informação. “Todas as seduções e todos os motivos excitam a imprensa à linguagem violenta. Só excepcionalmente e por força de circunstâncias especiais precisará da moderação como elemento de vitória. Escrita para o povo, escraviza-se às suas paixões e cede a essa impetuosidade invectivante que faz delícias dos instintos por que a massa se orienta” (LIMA SOBRINHO: 1923, 27). De forma esquemática, Barbosa Lima Sobrinho resume em quatro itens os problemas que compreendem a complexidade da imprensa moderna. O primeiro deles está restrito ao respeito que a imprensa deve conceder ao que ele chama de espírito público. Nesse aspecto está a necessidade de se respeitar a cultura e o costume de um povo, formando uma opinião pública coerente, mas não única, já que o leitor deve ter a sua própria opinião, tendo condições de saber criticar e posicionar-se diante dos fatos. O jornal deve apresentar-se como um vanguarda das idéias, mas deve conviver com um universo de opiniões divergentes: a dele e a do povo. 27

O segundo ponto está restrito à linguagem, já descrito nesse capítulo, e que se constituiu numa das preocupações fundamentais de Barbosa Lima Sobrinho, pelo poder que as palavras possuem: o de construir e ou de destruir a imagem de alguém, que se pode transformar numa vítima da imprensa. A imprensa submetida ao capital, característica da era da industrialização, na classificação de Barbosa Lima Sobrinho, elimina a possibilidade de o povo formar a sua opinião e ao mesmo tempo não se preocupará com a linguagem a ser utilizada, simplesmente para não correr o risco de perder leitores. “Usam conceitos rudes, sensacionais, para impressionar o público”, descreve desta forma o terceiro problema da imprensa. “Quando as opiniões de um jornal começam a pesar, ele as deixa de ter” (LIMA SOBRINHO: 1923, 31), diz, referindo-se à necessidade da imprensa em se manter inserida no sistema industrial da comunicação de massa. Como conseqüência dos três problemas citados está em jogo a tradição da imprensa, refletida em sua linha editorial. Segundo ele, a recepção do público para a imprensa dependerá muito do espírito público, enquanto cultura, tradição, educação e politização da sociedade. “Para se impor diante dessas classes, o jornal precisa polir a sua linguagem manifestando os seus conceitos. A imprensa reflete a coletividade que dirige” (LIMA SOBRINHO: 1923, 38). Nas reflexões do jornalista está clara a sua opinião de que somente o povo pode curar essas feridas, através de seu aprimoramento cultural, repudiando os abusos da imprensa. Barbosa Lima Sobrinho acredita que nenhuma lei pode resolver esses problemas, sanear os costumes. Não há remédio para esses males, que não seja a cultura. Uma lei de imprensa, opina, atua como uma operação mental, mas não evita, não atenua a violência que possa ser praticada contra a liberdade de expressão e de opinião. Barbosa Lima Sobrinho admite que em alguns momentos a imprensa comete erros, mas não aconselha a intervenção receando os prejuízos que possa causar. “Uma legislação arbitrária destruirá a imprensa e isso representa um mal infinitamente maior do que a licenciosidade do jornalismo; enquanto que uma lei sensata conterá a imprensa sem anular o direito da crítica” (LIMA SOBRINHO: 1923, 171). Para sustentar sua argumentação, Barbosa Lima Sobrinho lembra que a força do jornal vem do público, para quem se faz o jornal, que se transforma num espelho da paixão do público, 28

suas tendências e suas idéias. Dentro da concepção de modernidade, o jornal tem que se aproximar de seu leitor, encurtar a distância para que possa ter seu espaço na atual sociedade. Outra força que impele o jornal ou o próprio jornalista a cometer equívocos, na lista preparada por Barbosa Lima, é a atuação do governo, que se utiliza das prerrogativas para conceder subvenção e favores, ou oferecer empregos. Com essas armas de origem oficial, a imprensa perde o seu poder da crítica. A responsabilidade dos profissionais está em não aceitar as negociações que resultem em privilégios, benefícios próprios, esquecendo-se de sua função social. O excesso da linguagem ou a dedicação política, também se constitui em força maligna que repercute no mau jornal, já que as causas públicas ficam em segundo plano. Sua conclusão é de que o jornalista é punido pelo que faz, pela culpa do público a que serve e do governo que o corrompe. Nessa perspectiva, a lição que fica é a de que os homens que estão à frente dos meios de comunicação de massa devem ter consciência da força de seus palavras e do compromisso que possuem junto ao público leitor. A fidelidade não deve ser maculada. Com esses princípios em evidência, o trabalho do jornalista torna-se o principal ponto de apoio para as manifestações sociais, para o aprimoramento do saber social. É o intelectual que faz a ponte entre a informação e o leitor, tendo como meio a própria imprensa, influenciando na formação cultural, política e econômica de uma comunidade. Por isso, a necessidade de ter noção sobre a sua responsabilidade, constituindo-se numa referência para o comportamento de seu público.

Jornalismo e literatura - A análise mais profunda sobre as diferenças e as aproximações entre as duas categorias está no texto O Jornalismo e a Literatura. O artigo é um dos mais densos produzidos pelo autor, com análise profunda sobre a característica do jornalismo, suas deficiências e funções. Ao fazer o paralelo com a literatura, do qual o jornalismo pode ser considerado um filho, mesmo que rebelde, Barbosa Lima Sobrinho consegue aproximar os gêneros que os compõem, apresentando a harmonia existente entre as duas categorias. A literatura visa criar ou despertar o sentimento estético, através de seu meio de expressão que é a palavra; desperta o prazer estético. É uma obra individual, no ato de sua criação. 29

A definição de jornalismo para Barbosa Lima Sobrinho acompanha o critério técnico da profissão, com preocupação essencial de informar e, quando muito, discutir teses, opiniões, interesses, que constituam assunto do momento e possam, por isso mesmo, despertar a atenção do público. Jornalismo, descreve, é uma obra coletiva, no sentido de traduzir menos a opinião do indivíduo que escreve, que a do grupo social com que se identifica, ou a da empresa que o divulga. Acima de tudo, jornalismo constitui-se em uma indústria, não da informação, mas da estrutura física necessária para sua existência, como as máquinas para processá-lo e os investimentos para sua montagem e para seu funcionamento. Tem no jornal, como empresa, sua realidade última, aquela que lhe traça os rumos de acordo com o cotidiano. O papel exercido pela imprensa na sociedade e a própria evolução da imprensa no País, com as modificações sofridas pelo exercício do jornalismo, chamaram a atenção dos intelectuais, que iniciaram estudos a fim de entender o processo evolutivo dos meios de comunicação de massa, pela dimensão social alcançada pela prática do jornalismo na sociedade. O jornalismo chama a atenção por ser a materialização do processo informativo, satisfazendo as necessidades humanas de comunicação. Na concepção de Barbosa Lima Sobrinho, o jornalismo encontra várias utilidades para a palavra, que pode ter fins estéticos ou fins práticos; enquanto que a literatura tem a preocupação, o objetivo estético. Por ser uma empresa, o jornalismo depende muito mais dos editores do que do jornalista, que pode ser o articulador das idéias dentro da empresa, sem necessariamente escrever. No jornalismo há o elemento pessoal de quem escreve, o estilo. “O cunho literário da produção jornalística resulta da confluência de dois elementos: a qualidade do escritor e o gênero da atividade jornalística” (LIMA SOBRINHO: 1958, 15). O autor deixa para a literatura as manifestações da arte, onde a predominância é o estético. O que não quer dizer que não possa existir finalidade estética no jornalismo ou sentido econômico na literatura. A literatura, reconhece, pode ser traduzida como uma matéria para ao jornal. “A linha divisória entre as duas manifestações é, assim, como estamos vendo, uma fronteira móvel, sujeita à influência de numerosos fatores, dependentes da natureza do assunto, como dos predicados e da inspiração dos seus autores. (LIMA SOBRINHO: 1958, 13). Pode-se fazer um 30

excelente jornalismo sem o sentido literário; como pode ser feito um péssimo jornalismo com alta qualidade literária. Barbosa Lima Sobrinho afirma existir uma interdependência entre jornalismo e literatura e a interação acontece pelos valores opostos: jornalismo representa o interesse atual, o fato novo; a literatura se constitui pelo interesse permanente. Nas páginas dos jornais, as duas categorias se encontram: com exceção da notícia informativa, os demais espaços são ocupados por trabalhos mais elaborados, como as críticas, as crônicas e o conto, filhos diretos da literatura. Jornalismo é uma técnica, a técnica da divulgação. “Não lhe cabe a pesquisa, a investigação, o estudo das questões, mas antes encontrar e aproveitar os especialistas, chamá-los à cena, estimulá-los a intervir nos debates, para que deles venha a palavra de cultura e de informação segura. Ao jornalista cabe aquela tarefa, a elaboração desses ensinamentos e dessas conclusões dos especialistas, de modo que se tornem acessíveis ao leitor comum e venham a constituir o ponto de partida para um pronunciamento público. Sob esse aspecto, o jornalismo exerce a função mediadora entre os especialistas e o povo em geral” (LIMA SOBRINHO: 1958, 19). A literatura, aponta, se constitui de elaboração, de seleção, de recusa, de vida em imagens, em ritmos e em palavras. A rapidez do trabalho jornalístico nem sempre exclui a intensidade ou a profundidade da reportagem. “A lei da duração é caprichosa e pode receber a influência das qualidades do escritor que as redige ou, que é mais importante, do relevo dos acontecimentos a que se referem. Esse relevo pode decorrer de um interesse histórico ou de um interesse humano” (LIMA SOBRINHO: 1958, 38). Para o autor, o jornalista é o tradutor, o profissional que apresenta as informações mastigadas, diluídas, compreensíveis ao público leitor. O jornalista tira os especialistas do mistério de um saber, algumas vezes hermético, para que suas idéias sejam conhecidas não somente do povo, como de outros especialistas, que possam também opinar a respeito das teses expostas, representando o intermediário da sociedade em busca da notícia, transformando o jornal num simpósio, permanentemente, aberto ao debate público, incumbindo aos jornalistas a tarefa dos intérpretes do povo do saber técnico dos especialistas. Após acentuar as diferenças entre as duas categorias, Barbosa Lima Sobrinho determina que o jornalismo exerce influência na literatura e vice-versa, a partir do momento em que 31

estabelece a hierarquia de produções dentro do jornal. O ponto de partida é a categorização dos gêneros jornalístico e literário: noticiário; comentários político, econômicos e religiosos, e os escritos literários, como a crônica, conto, crítica, ensaio e a narrativa, traduzida pela reportagem. Na concepção informativa do jornalismo, encontra o significado da produção contínua e regular e para o estilo jornalístico. A linguagem do jornalismo permite acompanhar a vida moderna, estando mais próxima do povo. Atua com força de vanguarda no trabalho da acomodação da linguagem às variações e aos novos aspectos da vida moderna, (LIMA SOBRINHO: 1958, 27), um ponto contra a linguagem utilizada pela literatura, que sempre foi privilégio da nobreza. Desta forma, conclui que jornalismo não pode ser comparado ao gênero literário. O jornalismo deixa o profissional mais alerta e mais ágil, devendo despertar interesse para diversos assuntos de interesse coletivo. Mas no jornal, que é comparado a um livro coletivo, estão as duas categorias - jornalismo e literatura -, lado a lado, pela composição de páginas inteiramente literárias, pelo tratamento que os assuntos recebem; pelas páginas literárias, quando vêm de escritor, exercendo a profissão de jornalista; por espaços não literários, onde estão o noticiário, com seções informativas. A imprensa periódica deu expansão e relevo para os gêneros crítica, conto, romance e para a própria reportagem, filhos da literatura que encontram no jornalismo o respaldo necessário para suas divulgações. Com suas argumentações, a conclusão que se chega é que jornalismo e literatura podem se confundir de acordo com a qualidade do texto com que é apresentado ao público. A qualidade jornalística de uma reportagem é sinônimo de perenidade aos olhos da literatura.

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