O Jornalismo Segundo Barbosa Lima Sobrinho Dissertação Apresentada Em Abril De 1999 No Curs
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OLHOS DE JORNALISTA ______________ O jornalismo segundo Barbosa Lima Sobrinho Dissertação apresentada em abril de 1999 no Curso de Pós-Graduação em Comunicação Social da Faculdade de Ciências da Comunicação e da Cultura da Universidade Metodista de São Paulo Autora: ROSEMARY BARS MENDEZ Orientador: Prof. Dr. JOSÉ MARQUES DE MELO RESUMO: O trabalho tem por objetivo descrever e analisar a trajetória de Barbosa Lima Sobrinho. Jornalista, político, historiador, escritor e advogado, o decano dos intelectuais brasileiros apresenta-se como um pesquisador nato e inovador dos estudos da Comunicação no Brasil, tendo como ponto de partida o núcleo de sua atividade profissional: a imprensa e o próprio jornalismo. Barbosa Lima iniciou sua carreira em 1921, no Jornal do Brasil. Dois anos depois, publica seu primeiro livro O Problema da Imprensa, obra na qual já transparecem suas preocupações com as transformações tecnológicas vividas pelos jornais do País. Apesar delas, sua teoria é de que o jornalismo deve ser uma prática que visa a crítica, tendo como bússola o dever do profissional em informar seu leitor, atributo essencial na formação da opinião pública. ABSTRACT: The aim of paper is to describe and analise Barbosa Lima Sobrinho’s path through life. A journalsit, politician, historian, writer and lawyer, a guigind line for Brasizilian intellectuals. Barbosa Lima Sobrinho is a born and innovative researcher in the studies of Communication in 2 Brazil whose starting point is the core of his works: the press nad jornalismo itself. Barbosa Lima stared career in 1921 in Jornal do Brasil. Two years later, his first book O Problema da Imprensa, was published, and in it we can alreadey perceive his concern over the technological transformations suffered by the newspaper in Brazil. In spite of these transformations, it is his belief that journalism should be a practice that aims at criticism, and its guiding principle should be the professional duty to inform the reader and so contribute to the building-up of public opinion. INTRODUÇÃO O contato com a história do jornalista Barbosa Lima Sobrinho, quando comemorou um século de vida, em 1997, possibilitou a reflexão inicial sobre a história do jornalismo, contada por ele em seu livro O Problema da Imprensa. Publicado pela primeira vez em 1923, revisado na segunda edição publicada em 1988 pela Universidade de São Paulo, o livro tem sido apontado como um clássico na literatura brasileira sobre o tema. Nesse trabalho, o autor desponta como um dos pioneiros na análise sobre o papel da imprensa no Brasil contemporâneo. Barbosa Lima Sobrinho estuda a atuação jornalística no Império e as questões do jornalismo em sua época, geralmente panfletário e polêmico, com mais espaço para as opiniões do que para as notícias, mas permanentemente acossado pelo governo com leis de exceção e censura. O livro surgiu no momento em que o Congresso Nacional discutia o projeto de lei de imprensa, restringindo sua liberdade, campanha liderada por Adolfo Gordo em 1922, durante a presidência de Artur da Silva Bernandes, que administrou o país entre 15 de novembro de 1922 e 15 de novembro de 1926. A publicação insere-se na fase inicial da pesquisa sobre a imprensa feita por intelectuais brasileiros, respaldada em estudos históricos e jurídicos, iniciada no fim do século XIX e que se desenvolveu até a década de 30. Por iniciativa particular, para entender a imprensa de seu tempo, o jornalista envolve-se na pesquisa sobre jornalismo, relatando a luta contra a censura, pela liberdade de expressão e pelos procedimentos éticos da profissão. Como profissional, enseja uma crítica ao processo industrial, por inverter as prioridades por ele traçadas: a imprensa, mais do que informar, deve formar opiniões, o que significa deixar de 3 lado a objetividade. Para ele, o profissional deve eliminar a posição de neutralidade pregada pelo jornalismo contemporâneo. Mas para seguir um conselho centenário, é preciso entender o pensamento de seu autor enquanto pesquisador do jornalismo brasileiro. Neste trabalho verifica-se que Barbosa Lima Sobrinho é herdeiro de três linhas de pensamento que influenciaram os intelectuais brasileiros no início do século: 1- O positivismo, pelo papel exercido em sua formação por seu tio Alexandre Barbosa Lima, político pernambucano e ex-aluno de Benjamin Constant, defendendo o desenvolvimento do País sob a ótica da ordem e do progresso; 2- O liberalismo político, como herança de Hipólito da Costa e de Rui Barbosa, jornalistas que defendia a liberdade da imprensa como escudo para as liberdades individuais; e 3- O nacionalismo para a economia, justificando que sua atenção está no interesse econômico da nação, contrário à interferência do capital estrangeiro para a exploração dos bens nacionais. Como presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), entidade que já completou 90 anos, Barbosa Lima ainda reclama os direitos dos cidadãos, utilizando, para isso, os espaços conquistados ao longo de sua profissão, como no Jornal do Brasil, onde começou a escrever em 1921. Como jornalista, Barbosa Lima apresenta um discurso político. O pensamento de Barbosa Lima Sobrinho define-se no campo das Ciências da Comunicação, pela preocupação com os processos comunicacionais, com as investigações das estruturas e funções dos sistemas sociais de comunicação, descrevendo e analisando o processo de interação entre os homens. Sua visão tem o tom do teórico funcionalista, que sempre busca entender as atuações da imprensa e de seu profissional na sociedade, constituindo uma análise global dos meios de comunicação. A essência de seu pensamento é de que o jornalista exerce uma função social, tendo a responsabilidade de informar e de formar opiniões. Embora o pensamento de Barbosa Lima Sobrinho tenha sustentação no funcionalismo, preferimos recorrer à Escola Latino-Americana1 para analisar o trabalho do autor. Essa opção, 1 José Marques de Melo apresenta no texto A Pesquisa em Comunicação: trajetória latino-americana Petrópolis, Vozes, 1998*)a construção desta escola, que tem o respaldo da Unesco e do Ciespal, reconhecendo que “esbarrou muitas vezes numa insuficiência epistemológica” (pág. 33). Apesar dessas dificuldades naturais num processo típico de sedimentação paradigmática, essa escola de pensamento vem criando a consciência latino-americana, com alterações significativas na produção científica a partir da metade da década de 70, concluindo sobre a necessidade de se utilizar a pesquisa como instrumento de transformação da sociedade. “E para transformar as estruturas sócio- 4 decorre do próprio entendimento que o jornalista tem sobre o desenvolvimento do processo de comunicação massiva no Brasil, com uma visão crítica sobre o comportamento da sociedade e de como a imprensa pode influenciar as condições de vida do cidadão, ao ter respeitado seu direito à informação. Ao analisar os problemas da imprensa, Barbosa Lima Sobrinho dá os primeiros passos em direção à escola latino-americana, podendo ser considerado como um precursor das Ciências da Comunicação do Brasil. RETRATO DE UMA VIDA Barbosa Lima Sobrinho nasceu em Recife, em 22 de janeiro de 1897, momento em que o Partido Republicano ganha as ruas do País com força política, enfatizando as mudanças sociais que aconteceram a partir da abolição da escravatura e com a instituição da figura do presidente da República (SODRÉ: 1968, 180). É nesse contexto político, de mudanças de valores, prevalecendo as causas nacionais em decorrência do quadro institucional, que o menino Alexandre cresce. Liberdade e democracia foram as palavras que cercaram sua infância e moldaram sua vida. Conviveu com os anseios jacobinos, herdados da Revolução Francesa, expurgando a interferência estrangeira nos rumos do País. Sua tendência sempre foi a nacionalista, como a de alguém que quer proteger sua nação com princípios baseados em reformas. Com essa tendência, foi simpatizante de Getúlio Vargas, participando de sua administração e recebendo apoio político para sua campanha ao governo de Pernambuco, à Câmara Federal e para presidir o Instituto de Açúcar e Álcool. Durante sua formação intelectual e profissional, Barbosa Lima Sobrinho teve forte influência de sua família, em especial do tio (de quem herdou o nome) Alexandre José Barbosa Lima, ex-governador de Estado de Pernambuco. Sua família era de origem simples. O pai, Francisco Cintra Lima, era tabelião em Recife. Sua mãe era Joana da Cruz Barbosa Lima. econômicas que oprimem os grandes contingentes populacionais da América Latina torna-se indispensável acumular informações que retratem o cotidiano dos seus habitantes e os ajudem a construir novos modelos de produção e distribuição das riquezas de criação e reprodução da cultura” (pág. 37), interferindo do processo democrático de comunicação na América Latina. 5 O avô paterno, Joaquim Barbosa Lima, foi magistrado do Império e era proprietário de um colégio em Recife, mas vendeu a escola porque não tinha o dom de empresário, mas de educador. Acabou fazendo um concurso e, nomeado juiz, foi trabalhar no interior do País - onde hoje é o estado de Tocantins -, em Minas Gerais e em Mato Grosso, lugares em que a presença dos índios era comum entre os brasileiros. O juiz era a autoridade máxima no local. Nesse cenário cresceu o tio do jornalista, Alexandre José Barbosa Lima, que foi estudar numa província em Minas Gerais. Na adolescência, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fez o curso na Escola Politécnica, mas ingressou na Escola Militar por falta de recursos. Seu principal professor foi Benjamin Constant, de quem aprendeu a teoria de Augusto Comte. No século XIX, a elite brasileira se debruçava sobre a teoria positivista, advinda da Europa (CRUZ COSTA, 1967: 69), para sustentar a tese de que o País deveria crescer sob a ótica da ordem e do progresso, baseada na modernização da sociedade, com o desenvolvimento tecnológico, crescimento da indústria, expansão das comunicações e com um poder Executivo forte. Seu desempenho político desencadeou a admiração familiar, em especial do sobrinho que até então se chamava Alexandre José Cintra Lima. Seu pai resolveu que ele deveria adotar o nome completo do tio quando começou a se destacar no ginásio, escrevendo para o jornal do colégio A Verdade.