El Chavo Del Ocho: O Amuleto Do SBT1
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El Chavo del Ocho: o amuleto do SBT1 BAHR, Michael (mestrando)2 Universidade Tuiuti /Paraná Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo pormenorizar aspectos de como o seriado mexicano El Chavo del Ocho, aqui no Brasil conhecido apenas como Chaves, se tornou base fundamental para a programação do SBT. Pretende-se, também, demonstrar uma breve história da televisão brasileira, seu surgimento, suas principais emissoras e os programas característicos, além de mostrar de que forma o empresário- apresentador Silvio Santos construiu sua emissora, apresentando sua trajetória e estratégias para atrair o público. Demonstrarei as semelhanças do nascimento da emissora mexicana Televisa e da emissora brasileira, o SBT, e como o seriado em estudo, chegou às telas destas duas emissoras. É, ainda, relevante destacar a importância que o seriado mexicano teve para a emissora de Silvio Santos, tornando-se uma espécie de símbolo do canal. Julgo necessário o estudo de um programa tão difundido entre os espectadores de diferentes culturas, considerando-se que a televisão é um dos produtos mais populares nos lares brasileiros. Os autores que serviram como base para esta pesquisa são: Walter Benjamin, Jesús Martin-Barbero, Pierre Bourdie, Marco Roxo, Igor Sacramento e Ana Goulart Ribeiro, além do próprio interprete do seriado, Roberto Bolaños. Palavras-chave: Chaves; Televisão; SBT; Televisa; Silvio Santos Introdução Neste artigo proponho analisar como o seriado mexicano El Chavo del Ocho se tornou base fundamental da programação do SBT, aqui conhecido apenas como Chaves. Explanarei a importância deste acontecimento tecnológico que foi a chegada do televisor nas casas brasileiras, a importância de Silvio Santos para este meio de comunicação no Brasil e de que forma a Televisa, maior rede de televisão do México forma esta “parceria” com o SBT, tendo o seriado proposto como uma das bases da programação diária do canal brasileiro. 1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Audiovisual e Visual, integrante do 9º Encontro Nacional de História da Mídia, 2013. 2 Mestrando em Comunicação e Linguagens - Linha Cinema pela Universidade Tuiuti do Paraná. Especialista em Comunicação Audiovisual pela PUC-PR (2001). Graduado em Desenho Industrial - Programação Visual pela PUC-PR (1998). Professor universitário nas áreas de jogos digitais, produção multimídia, edificações e fotografia. Tem experiência na área de Comunicação e Informática, com ênfase em meios audiovisuais. Endereço eletrônico : [email protected] 1 Como esta comunicação de massa chegou em nossas casas? Mas, afinal, o que é uma massa? Apoio-me nas palavras de Jesús Martin-Barbero (1987) que diz que massa “é um fenômeno psicológico pelo qual os indivíduos, por mais diferente que seja seu modo de vida, suas ocupações ou seu caráter, estão dotados de uma alma coletiva que lhes faz comportar-se de maneira completamente distinta de como o faria cada indivíduo isoladamente”. Esta alma fica livre das interdições morais e o sentimento juntamente com o instintivo começam a dominar, colocando a “massa psicológica” em benefício da sugestão e do contágio. “O que explode na massa está no indivíduo, porém reprimido”.(MARTIN-BARBERO, 1987, p.49) Quando o cinema foi criado no fim do século XIX, estava-se ali instalando uma nova forma de conduta, que depois a televisão contamina, provocando uma metamorfose dos aspectos morais mais profundos. Nessa época, o público alvo do cinema era formado pelas classes populares, sendo que os Estados Unidos era o país com significante número de espectadores devido as massas de imigrantes. Segundo Martin-Barbero: A paixão que essas massas sentiram pelo cinema teve sua ancoragem mais profunda na secreta irrigação de identidade que se processava ali. "Quando o espectador gritava 'bravo!' ou vaiava, não era para expressar seu juízo sobre uma determinada representação, mas sim para demonstrar sua identificação com o destino dos heróis que eram vistos na tela (...); sem fazer julgamentos, o público se apropriava das peripécias dos personagens que eram dotados de um tipo de realidade que transcendia a idéia de representação. (MARTIN- BARBERO,1987, p.198) O cinema conquistou as massas porque conseguiu traduzir e representar a vida social dessa classe tão pouco representada de uma forma interessante e "casual". As pessoas iam ao cinema e identificavam-se com gestos, rostos, modos e ambientes que faziam com que o espectador se visse no filme. E, ao mostrar essas características do povo, o cinema nacionalizou-se. O cinema, assim como o rádio e a música, nasceu popular por ser acessível a todos os públicos, incluindo os não-letrados. Essa arte trazia mensagens explícitas, fundamental para cativar um publico tão ávido e reprimido. Para Walter Benjamin, pensar a experiência é o modo de alcançar o que irrompe na história com as massas e a técnica. Baseado nas experiências vividas pelas massas é capaz de entender essa cultura mais especificamente. Mikhail Bakhtin investiga o que na cultura popular a une ao opor-se à cultura oficial, e aquilo que, ao constituí-a, a segrega. O foco deste estudo está na busca do espaço próprio das massas, onde essa 2 cultura assume a sua própria voz. A cultura popular possui dois eixos mais expressivos; o que traduz as imagens da vida material, das grosserias, blasfêmias e injurias e o corporal que liberta o cômico e o grotesco. A televisão nasce na década de 20 em Londres como um rádio, que produzia uma imagem avermelhada. A Alemanha foi a primeira a transmitir em “alta-definição” - termo que não se enquadra para a tecnologia de hoje - e teve seu grande momento nos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936. Toda esta tecnologia vem para a casa das pessoas com uma opção de desenvolver a união familiar, já que muitos na época, se deslocavam de suas casas, para poder ver este novo aparato de imagem e som, mesmo que muito ruim ainda, mas bem diferente do tradicional e então fascinante rádio. Em 1954, a General Eletrics cria um anúncio dizendo que a “nova ciência” está para trazer a transmissão de imagens em aparelhos domésticos, e o Brasil seria uma das nações a serem beneficiadas, pois, esta tecnologia, insere o país na modernidade. “Imersa numa imagem de sonho, na qual aparece materialmente como próximo ao rádio e ao cinema, um misto dos dois, a televisão antes de ser materialidade povoou o imaginário”. (RIBEIRO, SACRAMENTO, ROXO, 2010, p.16) Este hibridismo de rádio e cinema encantou a todos, ouviam-se falar de televisão, mesmo antes de ver televisão. Foi Assis Chateaubriand, que de maneira pioneira, trouxe a TV para o Brasil. A televisão, logo virou sensação entre a população, que se aglomerava para acompanhar as novidades do nova invenção humana. Assim como os jornais e o rádio, a televisão trazia notícias para os receptores de forma inovadora. Os brasileiros levaram duas décadas para se estruturar nesta nova linguagem ao receptor. Seja em filmes de admirável beleza plástica e grande engenhosidade, seja na versão redundante e barata das mil séries de desenhos animados televisivos, a imagem das "novas" tecnologias educa as classes populares latino- americanas na atitude mais conveniente para seus produtores: a fascinação pelo novo fetiche.(MARTIN-BARBERO, 2009, p.255) O primeiro canal de televisão no Brasil foi a TV Tupi Difusora de São Paulo, que em setembro de 1950, trouxe este aparato para dentro - ainda claro das poucas casas brasileiras - o poder de influência para a opinião pública, estimulando a imaginação fantasiosa de um mundo possível, diminuindo as distâncias entre o telespectador brasileiro e o sonho de um país melhor. Sua programação começava às 17:00 horas até 3 às 22:00 horas, todos ao vivo pelo fato de não existir videotapes na época. A televisão ocupava um lugar coletivo da casa onde era possível reunir a família e os convidados para assistir o que estivesse passando no novo aparelho, nesta período as transmissões eram produzidas em estúdio ou a difusão de filmes. Mesmo depois de uma década da existência da televisão, o imaginário televisual ainda assegurava a possibilidade do sonho, por exibir imagens que representam mais do que uma cópia da realidade presumida. As figuras de artistas, cantores, personagens de teleteatro ou outras criaturas, tornaram-se figuras imaginarias exclusivas de uma utopia midiática. No começo dos anos 60, a TV Excelsior, do grupo Simosen, renovou a maneira de se fazer televisão no país e implantou uma visão empresarial: programação obedecendo a horários; criou seus próprios logotipo e slogan - “ Eu também estou no 9” -; investindo na produção de telenovelas, criando departamentos específicos, como de figurinos e cenografia, oferecendo elevados salários para o elenco artístico e técnico. Em abril de 1965, a Globo nasceu tendo como base a TV Paulista de São Paulo, que já contava com alguns programas, entre eles o programa Silvio Santos. Investiu numa dramaturgia tradicional para concorrer com a TV Tupi. Identificou e classificou os horários de maior e menor audiência para inserir a programação das telenovelas intercaladas com a apresentação do Jornal Nacional, que foi o primeiro telejornal a ser exibido em rede nacional no mês de setembro de 1969. Desde meados dos anos 60 a programação do domingo já era planejada diferentemente das outras, por notar-se que domingo é o dia do descanso familiar e deveria ter uma programação toda voltada a esse fato. Desde o início, a Globo preocupou-se com o planejamento a longo prazo, o que implicava na necessidade de arriscar e arcar com as despesas do fracasso de alguns programas, porém, apresentava um diferencial ascendente, cada vez mais estável de audiência e, consequentemente, conquistando a publicidade. Hygino Corsetti, o então ministro das comunicações, teve profundas preocupações sobre a qualidade televisiva e a necessidade urgente de mudanças. A baixa qualidade dos programas de auditórios era a maior preocupação do governo em relação à televisão, e afirmou: “Não é que os programas de Flávio Cavalcanti, do Chacrinha e do Silvio Santos não prestem.