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74 - Revista Poiésis, n 16, p. 74-85, Dez. de 2010 trumental. pintura, escultura, óperaseatémesmomúsicains- literatura e,nocasodamúsica,cantatas, nosmaisvariados inspiraramnumerososartistas domínios: abandono darainhadeCartago 1 ainda maisparaapermanênciadessestemasnasartes. de amantestraídasesuasdiversas traduções,sobretudo apartirdoséculoXVI,contribuindo deHeroínasOvídio, configurou-se umvastomórdios daópera.JánasCartas repertório o conflitoentreasobrigaçõesdoamoreosdeveres cívicosfoi temacentraldesdeospri- emóperas,constituindosentadas umdosgrandesfilõesparaosespetáculoscommúsica; Mulheres abandonadaspermeiamasnarrativas mitológicaseforamrepre- constantemente dedicaram-se a esse tema e, como se sabe, a ópera de Purcell, com libreto de Nahum Tate, artes visuaiseamúsica. sobreasrelações entre aspreceptivas,a históriadaóperanosséculosXVIIIeXIX, sobreateoriadaóperanomesmoperíodoetambém as 1995 éprofessor do Instituto de Artes da UNICAMP, onde atua nasáreasde história da arte ehistóriada ópera. Suas pesquisasversam sobre e realizou deMúsicadaNew suapesquisadepós-doutoramento juntoaoDepartamento York University (Bolsa Desde CAPES, 2007-2008). *Paulo M.KühléBacharel emFilosofia(USP-1987), Mestreem Históriada Arte edaCultura (UNICAMP-1992), DoutoremHistória(USP-1998) agosto de2009. Umaversão preliminardestetexto foi lidono “Colóquio DidoeEnéias”, realizadonoInstituto de Artes –UNICAMP, em20e21de “A RainhadeCartago, queodiamos...”: Sobre os mo- tivos esignificadosdoabandononaópera Didoe eEnéias,H.Purcell, N. Tate, mulheresabandonadas libreto deNahum Tate. Dido, eseusdiversos significados,naóperaDidoeEnéiasdeH.Purcell, com presente trabalhoéinvestigar comoéconstruído dramaticamenteoabandonode antiguidade eaópera,desdesuasorigens,sempreexplorou isso. do A proposta O abandonoéumdosacontecimentoscentraisnasvidasdasváriasheroínasda 2 Maisespecificamente,naInglaterra, deShakespearediversos aDryden, poetas Enéias deH. Purcell eNahum Tate 1 OsamoresdeDidoeEnéiaso Paulo M.Kühl* 1 * 1 Feeney, “esta dupla interrupção éumnotórioescândalo para ainterpretação” vezes dequedeve ecumprirseudestinonafundaçãodeRoma. partirdeCartago Para Denis Em primeiro lugar vale que, na obra de destacar Virgílio, daação,masamaneiracomoosfatosespecialmente oresultado sedesenrolam. na óperadePurcell, outroselementosdramáticosemusicaisaparecem, transformando não o livroIVdaEneida,comepisódiopartidadeEnéiaseaconsequentemorteDido;mas, Dido. Sabe-semuitobemqueopúblicodaépoca(eposterior)conheciaemdetalhes analisar omodocomo Tate ePurcellosmotivos apresentam quelevam Enéiasaabandonar é um dos pontos altos dessa trajetória. O que interessa mais especificamente neste artigo é certa desconfiança,permanecendoadúvidasemanifestaçãocerta divinaéounãogenuína mesmo autorrecordaaindaqueavisãodeumdeus,nomaisdasvezes, vem acompanhadade ridade sempre se interrogou sobre os motivos que levaram Enéias a esquecer sua missão. O da. Mercúrio apenasindicaaEnéiasumcaminhocom gestoquesugereocomandodaparti- no quadrodeMarcantonioFranceschini (Figura 1)enoafrescodeG.B. Tiepolo (Figura 2 ): aparição dodeusparaoheróitroianoé,emgeral,relativamente simples,comoporexemplo, aquelada dependendo dasvariantesdomitoedosepisódiosrepresentados, deinterpretação maisadiante).SeaiconografiadeDidopodesermuitocomplexa, paraaargumentação tante autencidade daaparição,oquepoderiaterlevado Enéiasaduvidar doqueviu(istoseráimpor- te próprias linhasdaEneida(IV, vv. 556-559)lemos que “a forma dodeus”, “em tudo semelhan- cando asfeiticeiras: primeiro ato(To theHillsand Vales ), eosegundoinicianuma caverna, comaBruxa invo- entrega aoamante(apesar denãosesaberexatamentequando).Umcorotriunfal encerra o somente através dosconselhosdeBelinda edos avanços dopríncipe troianoquearainhase traçado. Noiníciodoprimeiro ato,Didoaindarelutava emcederaosencantosdeEnéias e é É nosegundoatodaobrade Tate ePurcell queodestinodospersonagenscomeçaaser rece apenasdistraí-lodesuamissão,vindodaíanecessidade daduplaapariçãodeMercúrio. o início, que o herói deve fundar um novo pa- império na Hespéria e a passagem por Cartago tradicionais, éMercúrioomotordaaçãoquerecoloca Enéiasemseudestino.Sabe-se,desde binação dediversas açõesquepodemexplicitarosmotivos doabandono. Nas representações aMercúrio”, apareceuparaEnéias. Assim, asemelhançanãogarantirianecessariamente 5 O problema não é exatamente a representação dospersonagensenvolvidos, Oproblemanãoéexatamentearepresentação masacom- Enéias precisa ser lembrado duas Enéias precisa ser lembrado duas 3 , jáqueaposte- 4 . Nas . Nas

75 - “A Rainha de Cartago, que odiamos ...”: Sobre os motivos e... 76 - Revista Poiésis, n 16, p. 74-85, Dez. de 2010 Mercúrio” himself ”] [“Inform ofMercury ram”. Oplano malévolo éoseguinte: depois dacaça,umelfo aparecerá “na forma dopróprio apenasdeumtipoódioa ousetrata a Rainha deCartago, “todos osqueprospe - Através dolibreto,nãoépossível seexiste estabelecer ummotivo específicoparaseodiar Cho. Ho,ho,&c. Deprived of Fame, ofLife andLove. E’re Sunsetshallmostwretched prove, As we doallinprosperousState, Sorc. The QueenofCarthage,whomwe hate, destruir arainha. No casoespecíficodaóperaDidoeEnéias,aBruxa manifesta seuódioporDidoetramapara (Wayward Sisters) na invocação queaBruxa faz deMacbethShakespeare direta outras fontescena:umacitação paraproduzirtodaesta Na tradiçãoantiga,nãoexiste mençãoaesteepisódioesabe-se que Tate inspirou-seem […] The Lonely Traveller by Night. Sorc. Weyward Sistersyou thatFright. Enter Sorceress Scene theCave Act theSecond TheDance Triumphing […] and theMountains Cho. To theHillsand Vales, totheRock […] Act theFirst seu próprioBrutusof Alba(1678) 6 8 ; asdiversas cenasdebruxaria presentesnoteatroinglês. e ordenaráa partida deEnéias.Note-se comose Coro. Ho,ho,etc. Desprovida defama, devidaeamor. Antes dopôrsolsofreráasmaioresmisérias, Como odiamosatodososqueprosperam, Bruxa. queodiamos, A Rainha deCartago, […] O viajantesolitárioànoite. Bruxa. Irrefreáveis irmãs,queassustais Entra aBruxa Cena nacaverna Ato II Dança Triunfante […] e àsmontanhas Coro. Àscolinaseaosvales, aorochedo […] Ato I 7 ; abruxa de Ragusa e acenadatempestade Num artigode1976, Roger Savage propôsumaleitura diversa: essa chave interpretativa. leitura éumadasmaislembradase,jánaépocada estreia,aóperafoi percebidasegundo Roma pelaBruxa. essa católica representada portodososespecialistas, Apesar denão aceita versus a associadaaocasalprotagonista se deumaoposiçãoentreaInglaterra protestante abandonadas evencidas paraotriunfo romanoetroiano,nocasodaópera dePurcell, trata- diversos níveis deveriam designificaçãoquesesuperpõem:naEneida,DidoeCartago ser que, noteatroinglês,usualmenteasbruxas existem erammulheres católicasecertamente destruir (enocaso,consegue)afelicidade eMary). docasalreinante(William Purcell e Tate umaalegoriapolítica,naqualaBruxa aIgrejaCatólicaquetenta representaria alegórica daóperajáfoi maisdeumavez invocada, especialmenteaquelaquevênaobrade mente sugeridaporoutrosautores.Emprimeirolugar, ofato destaca-se dequeumaleitura deproporagoraumaleitura medida,foiGostaria arespeitodoabandonoque,emcerta parcial- motivo suficientepararepudiá-lo? exatamente por que ela não aceitou a oferta de Enéias; seria a traição em pensamento um não existe indicaçãoalgumadamorte,sóseuanúncio).Dentro daaçãoédifícilcompreender plesmente desapareceeDidoprepara-separamorrer (énecessáriolembrarque,naópera, resolve ficar. porque ele Dido repudia a proposta, “pensou uma vez em deixá-la”. Enéias sim- de fato oqueaconteceu;alémdisso,Enéiasdizque, “a despeito docomandodeJúpiter”, com o fim iminente de Dido (Elisa’s ruined). O diálogo final entre a rainha e Enéiasnão explica No Ato III, osmarinheiros preparam-se para apartida e aBruxa e suasfeiticeiras regozijam-se ser obedecido”, pensandoapenasnaspalavrassobresuapartidaaDido. queusarápara contar O falso Mercúrioapareceedásuaordem,Enéiaslembraque o “comando deJúpiterdeve ela, defato, trazparasiomotordaação:éelaquemdetermina oardilquelevará Didoàruína. como Mercúrio. A Bruxa lembraque “por destino,Enéiasdeve procurarosoloitaliano”, mas é genuínaounão. Até aqui,nenhumanovidade, anãoserpelo fato deserumelfo aaparecer constrói oenganodoherói,que,nocasodaópera,emnenhummomentoduvida seaaparição sombras pesadélicas deBelinda edasegundamulher. iminente desastre,porseuenvolvimento em uma relaçãopessoalprofunda;easduasbruxas, Bruxa, umformidável anti-self,incorporandotodasassuasinseguranças eapreensõesdeum de Dido:Belinda easegundamulher, projeçõesde seuclamorporumarealizaçãoerótica;a rinheiro -solo, todos os personagens na ópera são realmente aspectos personificados Poder-se-ia, de fato, que, deixandode lado Enéiase sua contrapartida bufa, argumentar o ma- 10 9 Lembre-se

77 - “A Rainha de Cartago, que odiamos ...”: Sobre os motivos e... Marcantonio Franceschini Mercúrio despertando Enéias, 1713-14, óleo sobre tela, 246 x 147 cm, Urbino, Galleria Nazionale delle Marche [?]–Dido,Belinda eSéquito.Enéias. Ato III–Navios (The Ships)–Marinheiros.Bruxa efeiticeiras Bruxa efeiticeiras, coro. Bosque (Grove Ato II–Caverna (Cave Enéiaseséquito. Ato I–Palácio (Palace) –Dido,Belinda eséquito. qualidades luminosaseescuras: emcena,conformerefletem as tão juntas podeservistonoslugaresdaação,quetambém inclusive pela própria estrutura do libreto, já que as figuras “olímpicas” e “ínferas” nunca es- do aspectoínfero, por oposiçãoàqualidadeolímpicaeluminosa. Tal sejustifica interpretação Bruxa comoumaespéciedeDido-ctônica,assimHadespodeserZeus-ctônico. Trata-se culpa eoreconhecimentodequeDestinoproíbesua‘relação’ comEnéias” Burden fala daBruxa comoum sua “alter egodeDido,seudemônionegro,representando a Bruxa. Podemos, éclaro,leresteespelhamentocomoumaquestãopsicológica:Michael encontrar elementosestruturais quemostrassemumarelaçãodesemelhançaentreDidoe Não devemos doautoreraade nosenganarcomalinguagempsicologizante;proposta ação. A distribuição dospersonagens,nos diferentes lugares daação,revela uma simetria: perior”, outrodaação “inferior”, a alémdaqueleque pronunciamáximasmorais,comentando o coro “diabólico”, amboscompostos pelosmesmoscantores:umcoroparticipa daação “su- podeserverificadonos aleatória,oquetambém nadivisãoentreocorodecortesãos versus (no Ato I),poroposiçãoàBruxa+Primeira Feiticeira+Segunda Feiticeira (no Ato II)étudo me- para depoisdacenano “bosque”). Além disso,adistribuição Dido+Belinda+Segunda mulher vés deumelementonatural exacerbado, (quenaóperaestádeslocada nocaso,atempestade E, comotradicionalmenteocorre nasóperas,amanifestação dosobrenatural aconteceatra- [Cupidosaparecemnasnuvens sobreotúmulodeDido] ou pelaperfídia” todestruição, mais do que, como diria Curtis Price, pelo destino “as circunstâncias impostas eadesconfiançaéquecorroem eaconduzem adúvida,suspeita àau- autossabotagem: segundo oautor, haveria umaespéciedeconspiraçãoDidocontrasimesma,umcaso 12 . A linguagemnovamente soacomo “psicológica”, massepodeentendera ) –Bruxa, Feiticeiras, coro. ) –Enéias,DidoeBelinda, eséquito.Didosai,entraoElfo. 13 11 . Dessemodo,

79 - “A Rainha de Cartago, que odiamos ...”: Sobre os motivos e... G. B. Tiepolo Mercúrio aparece a Enéias num sonho, 1757, afresco, 230 x 145 cm, Vicenza, Villa Valmarana desempenhados pelamesmacantora. tão suficientementepróximas,oque,nolimite,significaqueosdoispapéispoderiamser tensão vocal eatessitura deDidoedaBruxa podemnãoser exatamenteiguais,mases- Podemos aproximação: lembraraindaoutroselementosmusicaisquejustificariamtal aex- [Máximas morais] Enter Dido,Belinda, and Train) Coro deCortesãos(aindicaçãocênicaé: Segunda mulher Belinda Dido Palácio Bruxa Caverna A conspiração deDidopoderiamuitobem serresumidanopenúltimo corodaópera: do teatroinglêsdaépoca. Dido, elementosmágicos que jáexistiam em Virgílio, combinadoscomumatradiçãoprópria gança. Pode-se assim compreender que Tate traz para dentro da ação, e comoum espelho de invoca oSol, eatemível Hécate,nummomentodedespeito,desesperoesedevin- O segundomomento (vv. 607-610), troianapartir e quandoDido, desesperada, vêafrota aparecem: oprimeiro(vv. 480ess.),quandoDidofaz mençãoàsacerdotisadeMassila: giliano. Devemos recordarduas passagens nolivro IV daEneida Vale lembrarqueelementosdemagianãoestavamausentesnopoemavir- completamente fundo, diferentes aspectos deumamesmaconstituição: Dido-Bruxa. mas, sim, que deliberadamente criaram uma simetria entre os dois mundos, a qual revela, no nessesmoldesserpossívelprático), maneira (apesardeumaapresentação dopontovista duas feiticeiras. Não pretendo comissoafirmarquePurcell e Tate conceberamaóperadessa mete asalmasliberar, pararaáguadosrios,reverter ocursodasestrelas. sagrados guardava, espalhando mel resplandecente e soporosa papoula. Ela com cantos pro- Guardiã dotemplodasHespérides,aquelaquealimentava osramos odragãoesobreaárvore 14 OmesmoparaoparBelinda-Segunda mulhereas Coro “diabólico” Segundafeiticeira Primeira feiticeira em quepoderes mágicos

81 - “A Rainha de Cartago, que odiamos ...”: Sobre os motivos e... 82 - Revista Poiésis, n 16, p. 74-85, Dez. de 2010 XVII e também dos espetáculos realizados na Inglaterra. Metastasio, alémdisso,seguemuito dosespetáculos realizadosnaInglaterra. Metastasio, XVII etambém rias característicasqueseparam achamada datradição daóperadoséculo óperasériaitaliana (1375 versos contra328),háseispersonagens enãohácoros;enfim,estãopresentesas vá- ra reformada” deautoriaMetastasio. diversa,completamente a saber, adodrammaseriopermusica,eexemplo primeirode “ópe- Nápoles, commúsicade Andrea Sarro. Trata-se deuma óperaquepertenceaumatradição pelaprimeiravez apresentada nocarnaval dePietroMetastasio, de1724,abbandonata em definalizar, apartirdaíquegostaria É justamente combreves sobreaDidone observações de umaescolaelite. cantes” paraumaóperaquetradicionalmentefoi apenascomoumafábulaparameninas vista em queDido teria sucumbido aosavanços deEnéias, iluminando aspectos muitopouco “edifi- pouco sutil. Andrew Pinnock finalizaseuartigocomumadiscussãosobreomomentoexato erotizavamclassicamente antisséptico,mastambém vezes osepisódios,muitas demaneira timentos nãoapenastraziamaspectoscômicospara dentrodoquepoderiaserlidocomo Vênus eJuno, paraoespetáculo,além, é claro,deapelarparaogostodopúblico.Ostraves- forte apelocômicoeenfatizariam oobjetivo detrazer osobrenatural, queantespertenciaa desprezado pelosestudiosos. chave Nesta interpretativa,aBruxa esuascompanheirasteriam E, como recorda o mesmo autor, este é um aspecto usualmente minimizado ou até mesmo exclusivamente deste)–oschamados travestimentos. Comolembra Andrew Pinnock: quecido: aóperadePurcell e Tate pertenceaumatradiçãoespecíficadoteatroinglês(enão Contudo, discussão,oqualgeralmenteées- háaindaoutroelementoasersomadonesta poderia satisfazer abusca porumaexplicação sobreoqueocorreu comarainhadeCartago. explicaçãoEsta final,quepodeserlidacomoumreforço dahipótese daautossabotagem, And shunthecurethey mostdesire. conspire, Cho. theThird Act Great mindsagainstthemselves escape atravéssuapressão. daqualoqueeraclassicamentetiranizadopodiasoltar –agindo comoumaespéciedeválvula comentário, quesugeriamoutrospontosdevista repetição [dasdiversas traduçõesdisponíveis]. [...]Eramostravestimentos queforneciam um uma versão oficialdafábulaestava fixadanasmentesdaspessoasatravés deumaconstante 16 Odramaémuitomaislongo doqueDidoeEnéias E fogem dacuraquemaisdesejam. conspiram, Coro. Grandesmentescontrasimesmas Ato III 15 musicais próprias dogênero. A ênfase natristeza do lamento,associadaaosucesso juntoao a últimaexclamação deDido(“Remember me,butah!forget my Fate”), comasconvenções mais lembradaeanalisada é,emgeral,ofamoso lamento(“WhenIamlaidinEarth ”) e o dever, ahonraefama atraem-noparaaItália. t’abbandoni”) XVII, domesmoato,EnéiasfinalmentedizaDidoquedeve partir(“Vuole ildestino...ch’io Selene informa DidoqueEnéiaspretendeabandoná-la(“Eipensaabbandonarti ”). Enacena tre osdiversos personagens,comumasérie de equívocos edúvidas;masjáno Ato I,cenaIII, – naverdade, desdeotítulo –equearainhabuscaráprópriadestruição. A tensãoécriadaen- pelos maisdiversos compositores. seus textos demaiorsucesso,tendo sido musicadodurantetodooséculoXVIIIepartedo XIX, deummesmoespetáculo. pretação Vale éumde apenalembrarqueDidonedeMetastasio parte do espetáculo operístico, revelando leituras para diversos que apontam níveis de inter- mostracomodiferentesEste desviopelatradiçãoitaliana espéciesdocômicopodemfazer traços dacomédia. oscila,masosintermezzi trazem para oespetáculo–nãoparaaóperaemsi metastasiana de exclusão doselementoscômicosdasobrassérias,nocasodaDidone,nãosóalinguagem e satiriza o que foi na ópera, na mesma noite. menta apresentado Apesar da recomendação nointermezzoprópria açãodaDidone.Dessemodo,aquiloqueéapresentado , anuncia,co- para apresentar umaóperanasilhasCanárias. para apresentar Canarie, no qual dois personagens, um empresário e uma cantora, discutem as condições dos atos, o intermezzo e Sarro, foi nos intervalos apresentado, Metastasio É necessárioaindamencionarmaisumaspectopoucolembrado:dosmesmosautores, formas” desdeofinaldoséculoXVII. porquepassouaóperaitaliana pelas comopropostas de óperaséria,comasseparaçõesdogênerosérioecômico,tal “re- é perceptível especialmentenalinguagemutilizadanosdiálogos. Contudo, sempre trata-se na ópera. mais depertoomodelovirgilianoenoargumentolemosumgranderesumodoqueacontece apontam que Metastasio, naDidone,aindaoscilava queMetastasio, entre aspectos sériosecômicos apontam feita porNetuno. estãopresentes:diversos Nãosóelementosdaespetacularidade autores funesto, fora dasconvenções dogênero,édecertomodocompensadopelalicençafinal que sechega aofinalemqueDidosejogasobreaschamas Ofinal queconsomemCartago. tativo deCleópatra(Ceppi,barbariceppi.Ombrefuneste! 17 Assim, desdeantes do inícioespetáculo,sabe-sequeEnéiasabandonaráDido e explica seusmotivos: Júpiter, oespíritodopai,apátria,oscéus,promessa, 22 Voltando à Voltando 20 Dido dePurcell eNahum Tate, apartedaobra Dorina, a cantora, às tantas, canta umreci- canta Dorina,acantora,àstantas, 18 Hádiversas intrigasetramasparalelasaté 21 ), que,naverdade, nosremeteà L’Impresario delle 19 , oque

83 - “A Rainha de Cartago, que odiamos ...”: Sobre os motivos e... 84 - Revista Poiésis, n 16, p. 74-85, Dez. de 2010 3 mero émenordoqueasobrasdefato existentes. Frankfurt: dapublicaçãodolivro,1420 Peter Oautorcompilou,atéadata estenú- 2005. obras queusamotema;certamente Lang, cf. 2 Para extensa,deobrasquetêmcomotemaosamoresDidoeEnéiasemliteratura umalista masnuncacompleta, emúsica, Bestandsaufnahme, Geschichte, Kritik einerhumanistich-barocken Literaturgattung. Berlim: Walter deGruyter &Co.,1968. sobreaimportânciaepermanênciadotemapodemserencontradosemDÖRRIE,H.Derheroisch1 Detalhes Brief – Notas versão,nesta sãoassim,maispluraisdoqueseimagina. e sobreasconvenções doprópriotema.Osmotivos quelevaram EnéiasaabandonarDido, a própria destruição, ela é igualmente um comentário satírico sobre a seriedade do drama série designificadosestãoalicontidos.SeaBruxa podeserumalter-egodeDido,quebusca paraopúblicodaépocadePurcell,que, tanto quantoparaleitoreseouvintes atentos,uma porém,mostra apenascomoumagrandetragédia.Umaanálisemaisdetalhada, sempre vista juntoaosestudiosos, maneirafezpúblico etambém de certa comqueaóperafosse quase deep personalrelationship, andthetwosolowitches nightmarish shadows ofBelinda andtheSecond Woman.” SAVAGE, R.Producing Sorceress aformidable anti-selfembodying allherinsecuritiesandapprehensionsofdisastercontingentoninvolving herself inany are reallypersonifiedaspectsofDido: Belinda andtheSecond Woman projections ofheryearning towards eroticfulfilment,the 10 “It couldbearguedinfact that,leaving aside andhisbuffo counterpartthetenor-solo sailor, allthecharacters intheopera Essays inHonourof Winton Dean.Cambridge:CambridgeUniversityPress, 1987, p.1-30. 9 Cf. Price,Curtis.Political inLateSeventeenth-century EnglishOpera.In:FortuneAllegory , 8 TATE,Nahum. P. 1674. Chetwin, 7 Naversãode1678: adaptada Macbeth, a Tragædy. With allthealterations, amendments, additionsandnewsongs.Londres: p.97-169.Press, 2000, 6 HenryPurcell’sA ediçãodolibretoaquiutilizadaéadeBURDEN,M.(org.). : The Complete Texts. Oxford: Oxford University p.16-23. (2007), 2006 diunrarosoggettorappresentazione virgiliano.In:Bulletindel’Association desHistoriens del’Art Italien.: A.H.A.I., v. 12, Orazio Samacchini noMuseudoLouvre. Cf. Moreschini,Benedetta. “L’ambasciata diMercurioaEnea”. Motiviedesempidella daapariçãodeMercúrioaEnéiastorna-semaisproblemáticaquandoDidoestápresente,comonoquadro 5A representação 4 idem,p.120. Responses to theDidoMyth.Londres: Faber andFaber, 1998, p.105. Feeney Kailuweit , Denis. The andtheMotivations of Appearance(s) ofMercury Aeneas. In: , Thomas. Brutus of Alba ortheEnchanted Lovers. A Tragedy. Londres: Jacob Tonson, 1678. Dido -DidonDidone: EineKommentierte Bibliographie ZumDido-mythos inLiteratur undMusik. B urden A Woman Scorn’d., Michael (org).AWoman ui andTheatre Music Nigel. (org.). 15 PINNOCK, Andrew. Book IVinplainbrown wrappers: Translations and Travesties ofDido.In: nutos). Direçãoecoreografiade Wayne McGregor. Orchestra Solistas, ofthe Age ofEnlightenment,regênciadeChristopherHogwood. and Aeneas. Londres: em:Purcell Royal podeservista ,Henry.montagem Dido OperaHouse,BBC/Opus 1DVDArte, 2009. (72mi- II começacomaBruxa colocadaexatamentenomesmolocal,escuro. A encenaçãopareciareforçar aidentificaçãoDido-Bruxa. A Didoestava, noScaladeMilão),emmarço-abril2009, finaldo 2006, Ato I,nocentrodopalco,quandoasluzes seesvaíam. O Ato que, na produção de 14 foicelebrações paraPurcell Oanode2009 muitas ediversassuasóperasforamdestacar montagens realizadas.Gostaria 13 NãoficaclaroseodiálogoentreDidoeEnéiasfinaldaóperaocorrem juntoaosnavios. Price,Curtis.HenryPurcell andtheLondonStage . Cambridge:CambridgeUniversityPress,12 1984, p.246. Londres: Macmillan,1997. v. 3,p.351-361. isso semlevar Pietro.In:SADIE, asrevisões. Stanley. emconta NEVILLE, Don.Metastasio, TheNewGrove Dictionary ofOpera. noverbete22 apresentada A lista “Pietro Metastasio”, deThe New GroveofOpera , contémonomede63compositores, Dictionary 21 A ediçãoaquiutilizada éadeParma: MontiinBorgo Stamperia Riolo,1749. liana nelSettecento. Roma: Aracne, 2001, p.305-324. Elena; CAIRA LUMETTI, R. M. (org.). 20 Para umexame dasrelaçõesentreaDidone eoImpresario,cf. VAZZOLER, Franco. Didoneel’Impresario.In:SALA DIFELICE, della “”.In: musica. Módena:Mucchi Editore,2001, p.237-323eabibliografiaalicontida.Emespecial,GAVANEZZI, F. Le disiguaglianze stilistiche 19 Veja-se ACCORSI, el’amorerelativo. In:Amore MariaGrazia.Genioe merito:Metastasio emelodramma. Studi suilibretti per idem.,p.94. 18 PietroAnna Laura(org.). Metastasio. Drammi perMusicaI. Ilperiodo italiano–1724-1730. Veneza: p.69. MarsilioEditori,2002, una nuova Troia. Partì siuccise).METASTASIO, Enea eDidonedisperatamente (argomento).In:BELLINA, Pietro.Didoneabbandonata affetto,di tale sitrattenea pressolei,glifudaglideicomandatoche proseguisseilsuocamminoversodove Italia, glipromettevano allespondedell’Africa,una tempesta furicevuto eristoratodaDidone,laqualeardentementeseneinvaghì. compiacendosi Mentr’egli, caminho paraaItália,ondelheprometiamumanova Tróia. EnéiaspartiueDidodesesperadamatou-se”. Eneada portato ([...]Intanto apaixonou. Enquantoele,comprazendo-seafeto, detal ficoujuntocomela,foi-lhe comandadopelosdeusesqueprosseguisseseu 17 “[...] Levado àspraiasdaÁfrica,foi Enéias,porumatempestade, recebidoecuidadoDido,que poreleardentementese Seicento. Bolonha: IlMulino,1990. Musicological Society,v. 21,n.3,1968, p.321-341eF ros sérioecômicadeoutrostemas,cf. Freeman,Robert. Apostolo Zeno’s Reform oftheLibretto. In:Journal ofthe American 16 Sobreachamada da “reforma” seguindoalgumaspropostas Arcádia Romana daóperaitaliana, arespeitodaseparaçãodosgêne- 11 ‘Greatmindsagainstthemselves conspire’: Purcell’s DidoasaConspiracy Theorist. In: ThePurcell(org.). Companion.Portland (Oregon): Amadeus Press, 1995, p.445-468. to theGrove Scene.In:Early , Music Vol. 4,No.4(Oct.,1976), p.397. Umaversão revistadoartigofoi publicadaemBURDEN,Michael “”: An Investigation intoSixteenProblems with aSuggestiontoConductorsintheForm ofaNewly-Composed Finale Studi Metastasiani.Pádua:Liviana,1964. Dido andÆneas, sob a direção de Wayne McGregor, no Convent Garden em Londres (a versão havia estreiado em Il melodramma di Pietro Metastasio. La poesia la musica la messa in scena e l’ ita- abbri, Paolo. IlSecoloCantante -Per unastoria dellibretto d’opera nel B urden B , 1998, p.242. urden , 1998, p.255.

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