Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas

Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas

APOIO

Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas Este relatório é uma publicação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

PRESIDENTE Dom Erwin Kräutler

ENDEREÇO SDS - Ed. Venâncio III, sala 309-314 CEP 70.393-902 – Brasília-DF Tel: (61) 2106-1650 – Fax: (61) 2106-1651 www.cimi.org.br

Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas

ORGANIZADORES Saulo Ferreira Feitosa Clóvis Antônio Brighenti

SELEÇÃO DE IMAGENS Aida Cruz/Setor de Documentação do Cimi

PESQUISA José Roberto Saraiva, Luiz Carlos Brito Teixeira, Otto Mendes, Marluce Ângelo, Saulo Ferreira Feitosa, Clóvis Antônio Brighenti.

SISTEMATIZAÇÃO DE DADOS Marluce Ângelo da Silva/Setor de Documentação do Cimi

REVISÃO Carolina Fasolo

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO Licurgo S. Botelho

APOIO Misereor

FOTOS DA CAPA Indígena em canteiro de obras de Belo Monte – Foto: Eden Magalhães (foto principal) Hidrelétrica de Santo Antônio - Rio Madeira II – Foto: J. Rosha Desmatamento próximo à terra indígena – Foto: Gilberto Vieira / Cimi Máquina em colheita de soja – – Foto: Egon Heck / Cimi Trem com carregamento de minérios corta terra indígena Awá-Guajá – Foto: Rosana Diniz / Cimi Maranhão Garimpo ilegal na terra indígena Sararé, povo Nambikwara – Foto: José Luis Medeiros / Arquivo Cimi Transposição do rio São Francisco – Eixo Norte – Foto: Equipe Cimi PE Tratores enterram grande quantidade de peixes – Foto: O Eco Desmatamento – Foto: Arquivo Cimi

Dados internacionais de catalogação na Publicação

Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas. Feitosa, Saulo Ferreira; Brighenti, Clóvis Antônio (organizadores) – Brasília: Cimi – Conselho Indigenista Missionário, 2014 - 76p.

ISBN 978-85-87433-07-7

1. Povos Indígenas - Brasil 2. Mineração 3. Hidrelétricas 4. Cimi CDU 39(=981) Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas

APOIO Garimpo em terra indígena no Pará – Foto: Alice Kohler. Sumário

PARTE I

Apresentação ...... 9 – Dom Erwin Kräutler

1. Com a palavra, os impactados...... 11

PARTE II

2. Os povos indígenas, o governo Dilma e o mito da modernidade...... 17 – Saulo Ferreira Feitosa

3. Contribuição a uma crítica da definição da área de influência de empreendimentos em avaliações de impacto socioambiental...... 23 – Maria Fernanda Paranhos e Deborah Stucchi

4. Impactos ambientais sobre comunidades indígenas: necessidade de revisão metodológica e construção de novos referenciais de análise...... 39 – Clóvis Antônio Brighenti

5. A fundamental e obrigatória observância dos direitos dos povos indígenas nos projetos e execução de grandes empreendimentos hidrelétricos: A consulta livre, prévia e informada como pressuposto de validade dos atos do poder público que afetem os povos indígenas...... 45 – Maria Resende Capucci

PARTE III

6. O petróleo: uma nova ameaça...... 53 – Renato Santana

7. Os empreendimentos em números...... 57

8. Terras e povos indígenas impactados...... 59

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 5

PARTE I Desejamos que a divulgação e socialização“ das informações aqui reunidas, sistematizadas e analisadas, possam contribuir com a justa e corajosa luta dos povos indígenas em defesa de seus territórios tradicionais.”

Hidrelétrica de Belo Monte: símbolo atual do autoritarismo estatal contra os povos indígenas

8 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas Apresentação

Erwin Kräutler Bispo do Xingu e Presidente do Cimi

Conselho Indigenista Missionário informações junto a órgãos públicos como (Cimi) sempre entendeu que é uma Funai, Ibama e Ministério do Meio Ambiente, de suas finalidades essenciais e parte dentre outros. Os textos que contribuem para integranteO de sua missão promover a boa um maior aprofundamento das discussões informação aos povos indígenas e à socie- foram produzidos por membros do Cimi, uma dade nacional e internacional. Por essa razão, procuradora da República e duas assessoras disponibilizamos agora ao público interessado da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do e preocupado com a vida dos povos indígenas, Ministério Público Federal. Com isso queremos mais um instrumento informativo e analítico evidenciar o caráter coletivo e solidário próprio cujo conteúdo merece uma atenção especial deste documento construído em mutirão. em face da grande dimensão dos impactos Com o intuito de favorecer uma melhor causados sobre os territórios tradicionais dos compreensão dos dados, fizemos uso de tabelas povos originários do país. Tratamos, outrossim, com a listagem dos empreendimentos que são dos grandes empreendimentos que afetam as apresentados a partir de uma classificação terras indígenas e, por isso, atentam contra os (tipos de investimentos) e suas respectivas direitos territoriais, humanos e socioculturais localizações, identificando a área de incidência destes povos. Aqui consideramos apenas os para saber quais são as terras indígenas e os empreendimentos em situação de conflito povos impactados por empreendimentos emergente. Infelizmente há inúmeras outras específicos. Dessa forma, a publicação se situações de conflito provocadas nas décadas torna também um importante documento- passadas que se arrastam sem solução até hoje, denúncia sobre a violação dos direitos indí- como por exemplo a Rodovia Transamazônica genas e reafirma assim a dimensão profética (BR 230) e as Hidrelétricas de Balbina, Tucuruí, que caracteriza a nossa luta e pertence à Itaparica, Itaipu e tantas outras. identidade do Cimi. Para produzir esse material, fizemos Desejamos que a divulgação e sociali- uso de uma metodologia participativa que zação das informações aqui reunidas, sistema- envolveu indígenas e missionários no levanta- tizadas e analisadas, possam contribuir com a mento das informações. Os dados que conse- justa e corajosa luta dos povos indígenas em guimos foram coletados em fichas especí- defesa de seus territórios tradicionais. Essa ficas, preenchidas durante as realizações de luta de mais de cinco séculos começou com quatro encontros regionais e um encontro as guerras de resistência nos primeiros anos da nacional, nos quais procuramos alcançar a implantação do projeto colonizador europeu maior abrangência possível do número de nas terras ameríndias. A resistência continua e povos participantes. Chegamos a identificar se transformou hoje numa militância vigorosa um total de 519 empreendimentos, o que e organizada, através das disputas políticas ainda não corresponde à totalidade. Além da no campo institucional. consulta às comunidades, coletamos também Altamira, 5 de março de 2014.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 9 Os detentores do poder sabem que na “maioria das vezes são protegidos pela impunidade que existe no país e não se limitam a disputar judicialmente, apelam para as agressões e violência física.”

“Que desenvolvimento é esse?”, questionam os povos indígenas – Foto: Egon Heck

10 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas 1. Com a palavra, os impactados(*)

1.1. Palavras indígenas sobre a boca, gritando e pedindo socorro! O que queremos, terra, meio ambiente e é resolver os problemas, desenvolvimento para evitar que os nossos filhos, nossos netos, venham derramar o seu sangue, para s povos indígenas no Brasil são os maiores acabar temos que resolver O atingidos pelos projetos de “desenvolvi- esses problemas. mento”, porque os projetos, além de afetar o meio em Nailton Muniz, que esses povos vivem, afetam também o modo de vida, a Povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, cultura e as relações dos povos com seu meio. O universo simbólico, chamado de cosmologia, depende da relação Muitas lideranças sentem na pele a violência. Os com o meio ambiente e quando essa relação é alterada detentores do poder sabem que na maioria das vezes abruptamente por uma estrada, por uma hidrelétrica, são protegidos pela impunidade que existe no país e por uma linha de transmissão é a saúde espiritual do não se limitam a disputar judicialmente, apelam para as povo que fica afetada. Não há indenização que consiga agressões e violência física. Pior ainda quando o Estado mitigar, diminuir ou suavizar o impacto, não há dinheiro brasileiro, através de suas forças de repressão, participa das que dê conta de pagar esse tipo de prejuízo, acontece agressões às comunidades. a morte do povo. Cientes destas situações, os indígenas vêm se Em 2008 quando a antropóloga foi à aldeia para organizando e buscando formas de se fazer ouvir, de entregar o estudo, dois dias depois a Polícia Federal fazer com que seus direitos sejam respeitados. Percebem estava com 180 homens e helicóptero e tudo. Então, com indignação que os direitos não são respeitados. não pode dizer que não foi uma ação do governo diretamente contra nós. O relatório é entregue e nós Os nossos direitos são negados sofremos um ataque. E aí começa a criminalização pelos órgãos oficiais que em massa, quando sabe que o povo é guerreiro e trabalham a parte fundiária luta pela sua terra. Depois com o relatório publicado como a Funai. E nós como entraram as contestações. Aí, os fazendeiros come- povo, temos um sonho de çaram a se organizar em associações, começaram um dia ter justiça, liberdade a arrecadar dinheiro, e dizer valor financeiro pelo e paz . assassinato das lideranças. Eu fui uma liderança Augusto Ope da Silva, ameaçada, vocês sabem que foi publicado em Povo , Rio Grande do revista e tudo, o valor de meu assassinato, de minha Sul cabeça. Parece que quando acontece com um não índio, Para fazer valer seus direitos os povos indígenas tudo é altamente grave. E com sabem que a luta é árdua, mas necessária para o futuro nós índio? O que aconteceu nos dos povos: 500 anos, nos 511 anos, diaria- mente isso acontece, e isso Lutamos muito pelo direito do índio na Constituição não consideram crime, não Federal de 1988. Os artigos com os seus parágrafos, consideram coisa horrorosa. não estão sendo respeitados. As nossas lideranças Cacique Babau, vêm derramando sangue, vêm perdendo suas vidas Povo Tupinambá, Bahia e por isso nós estamos aqui hoje lutando, abrindo

(*) As sábias palavras dos povos indígenas foram colhidas por ocasião do Encontro Nacional dos Povos Indígenas em Defesa da Terra e da Vida que ocorreu em Luziânia/GO de 29/04 a 01/05/2011.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 11 Situação semelhante vivem outros povos, a tem que chegar pra o povo, não para as empresas, exemplo dos e Guarani Kaiowa que vêem não para um pequeno grupo. suas lideranças sendo mortas por pistoleiros a mando Antonio, Povo Apinajé, de fazendeiros. Hoje nós temos grandes Como eu faço parte das reto- projetos do governo se desen- madas, sou o pivô das reto- volvendo com o nome do madas lá do povo Potiguara, desenvolvimento do Brasil, que os usineiros querem a minha é o Programa de Aceleração do cabeça de todo o jeito, mas Crescimento. Existem vários graças ao meu Deus Pai, e ao projetos, projetos grandes, que meu Deus Tupã, eu to vivo! atingem diretamente as nossas Porque os fazendeiros lá e os comunidades. Muitas vezes usineiros pagaram lá os pisto- esses projetos negociam com as nossas comunidades leiros pra me matar. Eu levei quatro tiros, três tiros na fazendo acordos pra conseguir o aval de nossas cabeça e um na costela, mas na costela não entrou, comunidades, para esses empreendimentos aconte- e nem na cabeça. Que Deus Tupã, existe pra isso! cerem. E fazem acordos tipo Termo de Ajustamento Aníbal, Povo Potiguara, Paraíba de Conduta – TAC pra poder realizar as obras, mas muitas vezes os acordos não são cumpridos pelas empresas que vão fazer o empreendimento. O nosso 1.2. O que pensam os direito não tá sendo reconhecido. Parece que em nome do desenvolvimento as obras do governo têm indígenas das obras do atropelado nossos direitos, têm passado por cima desenvolvimento dos nossos direitos tradicionais que são garantidos pela Constituição. É comum comunidades indígenas serem surpreen- Maurício Gonçalves, Povo Guarani, Rio Grande do Sul didas pela chegada de máquinas para realização de obras para o “desenvolvimento do país”, centenas delas atingem as comunidades, que rapidamente vão Como os governos estão assistindo matas transformarem-se em canaviais e fazendo esses projetos grandes, sojais; rios transformarem-se em hidrelétricas; estradas nós e nossos parentes que e ferrovias rasgarem a terra; fios elétricos de linhas de moramos dentro da região alta tensão riscando o céu e, quando percebem, estão onde vai a água, vai matar encurralados pelas obras. muitas matas, os pássaros, os bichos que estão sobrevivendo A gente não aceita esse modelo em cima das terras. Por que a predador do desenvolvimento, gente quer defender as matas? que não chega desenvolvi- As matas são nossa vida. A mento pra nós. Afinal de mata sempre vem com a gente, a gente sobrevive em contas, o que nós temo de cima dessa mata, em cima das matas virgens pros retorno, de saúde, de educação nossos filhos, pros filhos que vêm passando depois de qualidade, de sustentabili- de nós, e depois dos filhos que vão sobreviver em dade? Nada! A região tá aban- cima dessa terra. donada, com pouca presença Xere, Povo Kayapó, Pará do estado. As empresas estão chegando com toda a força, as empresas de outros Até usinas nucleares estão atingindo comunidades países estão chegando pra explorar, pra ganhar indígenas, como é o caso dos Guarani no Rio de Janeiro dinheiro, e o governo nem sequer fiscaliza as terras, com a Usina Angra III. Estão previstas ainda pelo menos as terras indígenas. Então, cadê a Funai? Cadê a 06 novas usinas nucleares nas margens do rio São Fran- saúde de qualidade? Então se é desenvolvimento, cisco, no Nordeste.

12 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas Não queremos a usina nuclear bonita, a estrutura do rio. Com o passar do tempo no município de Itatiba. A se for construído esse empreendimento vai acabar ameaça da extinção dos peixes, o rio, e também não é só o rio, como nós também porque ela vai super aquecer vamos acabar junto, perdendo a cultura, o nosso por causa da radiação a água, modo de vida. porque precisam da água para Josinei, Povo , Pará o resfriamento. Lá é o cria- tório que poderá ficar impos- Indiretamente ou diretamente sibilitado nas proximidades. Os todos nós vamos... já estamos peixes desse criatório a gente sofrendo a falta do peixe, a não vai poder estar consumindo porque pode adoecer. quantidade de chuva descon- A vegetação pode sofrer esse processo de radiação, o trolada em Guajará Mirim, plantio também fica impossibilitado, por ele também quando não chove muito, ta sofrer esse processo de radiação da usina. Então fica seco demais. Então, tudo isso, muito mais difícil a sobrevivência por causa da usina. é prejudicial pra nós seres Ela poderá pegar parte da terra indígena que a gente humanos e pras plantas reivindica. também. Então, já são os Lucélia, Povo Pankará, impactos que nós estamos vivenciando antes mesmo da obra ser terminada. As usinas hidrelétricas de grande ou pequeno porte Eva, Povo Canoé, Rondônia (chamadas Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCH) estão destruindo o que resta de rios no Brasil. A luta dos povos Porque quem é expulso da beira do rio perde o rumo indígenas contra essas vem de longa data, mas o governo da vida, nunca mais ele vai encontrar, eles podem dar e as empresas interessadas apenas no lucro mudam até uma terra num outro lugar, eles podem dar, mas ele as leis pra que essas obras possam ser construídas. nunca mais vai encontrar o sentido da vida, porque ele deixou toda a sua vida naquele local. Se for construído Belo Monte Antonio, Povo Apinajé, Tocantins o rio Xingu será um esqueleto, não é mais nem um rio, um Para os povos indígenas a terra é a fonte de vida. esqueleto igual tem na terra A natureza preservada em equilíbrio com as pessoas seca mesmo. Porque ele é um é que vai garantir a continuidade dos povos e não as rio muito grande, enorme, o rio obras, o dinheiro e o desenvolvimento. Sabem que a Xingu é grande, bonito dá até garantia das terras só é possível com muita luta, na gosto de ver agora, a natureza esfera administrativa e também na justiça.

Em várias oportunidades os povos indígenas disseram NÃO a Belo Monte – Foto: Lunaé Parracho

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 13 O povo tá brigando atrás da terra é um direito, e a pras beira de estradas mesmo. Pras beiras das rodo- policia não pode simplesmente impedir manifestação, vias, morando debaixo de lonas pretas. Muitas vezes simplesmente, colocar uma pessoa, imputar um em condições que nenhum ser humano pode viver. crime, porque a pessoa, uma liderança ta buscando Maurício Gonçalves, Povo Guarani, Rio Grande do Sul o direito à vida! Que é o direito à terra! O povo indígena, sem a terra não tem vida. Como é que ele fazer a cultura, fazer a sua vida, e a futura geração Na continuidade a gente como é que fica? também vai ter que ir pra Antonio, Povo Apinajé, Tocantins rua, a gente vai ter que fazer alguma coisa pra ter E aí, o que a gente quer, é que seja feito esse estudo, a nossa terra demarcada, essa demarcação, pra que a gente tire o nosso sustento porque os nossos parentes de dentro da nossa área, pra que a gente continue estão passando necessidade, mantendo as nossas tradições, os nossos encontros é por causa da falta dessa tradicionais, a nossa cultura, os ensinamentos pros demarcação. mais jovens, pra que quando a gente não esteja lá, Lucila, Povo Nawa, eles possam continuar com essa luta. Lucélia, A gente quer fazer um Povo Pankará, Pernambuco mapa preciso, tanto da situação fundiária, quanto da As terras não são demar- situação da criminalização cadas, e as terras que estão e dos grandes e pequenos demarcadas e homologadas empreendimentos dentro estão na justiça! do nosso território, de norte Léa Aquino, Povo Guarani-Kaiowá, Mato a sul do país. Então a gente Grosso do Sul tem feito um mapeamento da situação, e percebe que As nossas terras que não estão demarcadas, muito a criminalização de norte a sul do país aumentou delas, estão na mão de particulares. Hoje estão nas bastante. Aurivan dos Santos Barros (Neguinho), mãos de empresas. Muita das nossas famílias têm ido Povo Truká, Pernambuco

Apesar das dificuldades, continuar lutando

Apesar da violência, da criminalização e do Eu vou até o fim, enquanto Deus me der vida. desrespeito aos direitos, os povos indígenas têm Porque eu tenho orgulho muito de ser índio, e consciência que a luta não é em vão. Apesar do lutar pelo meu povo. sofrimento, os povos indígenas vêm resistindo e Antonio, Povo Apinajé, Tocantins construindo uma nova vida. Apesar de tanto sofrimento, o nosso povo vem A gente quer o povo unido, junto lutando, bata- resistindo a tudo isso. Resistindo contra empresas, lhando na comunidade, todos unidos lá dentro contra o próprio governo, que muitas vezes da área, da terra, nós precisamos da terra, resistem em reconhecer o nosso direito, que é porque sem a terra a gente não existe. um direito sagrado, que é a terra. Lucélia, Povo Pankará, Pernambuco Maurício Gonçalves, Povo Guarani, Rio Grande do Sul

14 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas PARTE II A ocupação dos canteiros da obra, realizada várias“ vezes e sempre de forma pacífica, tem se constituído no único recurso disponível aos povos indígenas para tornarem-se visíveis perante a opinião pública, na esperança de que assim possam vir a ser escutados pelo governo.”

Aumento dos índices de criminalidade e serviços públicos, como saúde e educação, em colapso: alguns dos efeitos da construção de Belo Monte – Foto: Eden Magalhaes

16 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas 2. Os povos indígenas, o governo Dilma e o mito da modernidade

Saulo Ferreira Feitosa Membro do Cimi Regional Nordeste

os últimos quatro anos a luta do movimento entender por que isso ocorre, Engels nos fará recordar N indígena contra a Usina Hidrelétrica de Belo que “como o Estado nasceu da necessidade de conter Monte, localizada no município de Altamira, estado do o antagonismo das classes, e como, ao mesmo tempo, Pará, região Norte do Brasil, tem se constituído num nasceu em meio ao conflito delas, é, por regra geral, o dos principais símbolos da resistência indígena contra Estado da classe mais poderosa, da classe economica- os empreendimentos que impactam seus territórios mente dominante, classe que, por intermédio dele, se tradicionais. A ocupação dos canteiros da obra, reali- converte também em classe politicamente dominante zada várias vezes e sempre de forma pacífica, tem se e adquire novos meios para a repressão e exploração constituído no único recurso disponível aos povos indí- da classe oprimida”. genas para tornarem-se visíveis perante Alguns poderão contestar essa tese a opinião pública, na esperança de que alegando haver diferença entre o Estado assim possam vir a ser escutados pelo Por que o governo que Engels conheceu e o da atualidade. governo. Nessa compreensão, no dia 02 “se nega a escutar os Sustentarão que “o Estado, seu aparelho e de maio de 2013 o movimento indígena indígenas? O Estado não sua ordem jurídica não são mais a simples protagonizou mais uma ocupação. é responsável por cuidar forma de exercício do poder pelas classes Os 160 representantes dos nove dos interesses de todos dirigentes; são também instrumentos povos que participaram da ação apre- os cidadãos? Embora de emancipação social” (Sousa Santos, sentaram uma pauta simples de reivin- a resposta à segunda 2004). Entretanto, o sociólogo peruano dicação: a suspensão das obras e estudos pergunta teoricamente Aníbal Quijano, a partir de seus estudos de hidrelétricas nos rios Xingu, Teles pudesse ser afirmativa, a sobre o ‘pensamento decolonial’ elaborou Pires e Tapajós, até que fosse realizada experiência histórica iria o conceito de ‘colonialidade do poder’ a consulta prévia sobre a construção de contestá-la, nos fazendo que nos ajuda a compreender como o grandes projetos que impactem territó- perceber que o Estado processo de colonização/dominação rios indígenas. Em síntese, tratava-se de sempre esteve a serviço de iniciado no Século XVI pelos países euro- uma única reivindicação: o direito de alguns poucos cidadãos, o peus se perpetua até os dias atuais, tendo serem escutados. A reivindicação não grupo dos privilegiados. como principal executor e mantenedor foi atendida e o consórcio NESA, respon- dessa colonialidade o aparelho estatal. sável pelo empreendimento, conseguiu ” Embora vinculada ao colonia- na Justiça Federal uma decisão de reintegração de posse lismo, a colonialidade se diferencia dele. O colonialismo que resultou na saída dos indígenas do local no dia 9 refere-se a uma situação em que a dominação política e de maio1, através da mediação de representantes do econômica de uma determinada nação é exercida por Ministério Público Federal. outra de diferente jurisdição territorial, a exemplo do Por que o governo se nega a escutar os indígenas? que ocorreu com o processo de colonização do Brasil O Estado não é responsável por cuidar dos interesses por Portugal, com as várias colônias espanholas na de todos os cidadãos? Embora a resposta à segunda América Latina, as colônias inglesas na África etc. Já a pergunta teoricamente pudesse ser afirmativa, a expe- colonialidade, nas palavras do próprio Quijano “é um riência histórica iria contestá-la, nos fazendo perceber dos elementos constitutivos e específicos de um padrão que o Estado sempre esteve a serviço de alguns poucos mundial de poder capitalista. Se funda na imposição cidadãos, o grupo dos privilegiados. E para nos ajudar a de uma classificação racial/étnica da população do mundo como pedra angular daquele padrão de poder, 1 No dia 27 de maio de 2013 os indígenas voltaram a ocupar o e opera em cada um dos planos, âmbitos e dimensões, canteiro de obras da UHE de Belo Monte.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 17 materiais e subjetivas, da existência cotidiana e da escala reproduzir internamente o mesmo padrão de poder social”. Dessa forma, a colonialidade continua presente capitalista forjado pelas relações anteriormente esta- hoje naqueles países que passaram por um processo de belecidas com base no sistema centro-periferia. Essa independência política como no caso do Brasil. lógica da colonialidade do poder tornou-se perene, Uma das poderosas armas para manter a colonia- por isso é sempre atual. Dessa maneira, na atualidade, lidade do poder é o controle sobre o saber. A imposição os governos administram os respectivos Estados com do saber europeu como a única forma de conhecimento a mesma visão de mundo inventada pela Europa no válida se perpetua desde os tempos coloniais. Assim Século XVI, sustentada pela classificação racial etno- sendo, opera junto com a colonialidade do poder a cêntrica que divide os seres humanos entre superiores colonialidade do saber. Foi com base no saber produ- (desenvolvidos) e inferiores (subdesenvolvidos). No caso zido pela Europa que o mundo foi ideologicamente e do Brasil, a reprodução interna desse padrão de poder politicamente dividido em duas categorias: Superior e capitalista coloca os povos indígenas, quilombolas, Inferior. Geograficamente essa divisão corresponde aos populações tradicionais e outras na categoria de seres hemisférios Norte e Sul, respectivamente. No primeiro, inferiores ou subdesenvolvidos. localizam-se os países da Europa e América do Norte, e no segundo os demais países do mundo. Aqueles A colonialidade do localizados na parte Norte do globo terrestre passaram a ser considerados países centrais por entenderem-se governo brasileiro desenvolvidos, enquanto aqueles localizados na parte Três dias antes do Tribunal Regional Federal da 1ª Sul foram considerados como periféricos por serem Região conceder a reintegração de posse ao consórcio entendidos – pelos centrais – como subdesenvolvidos. NESA, a Secretaria-Geral da Presidência da República Essa separação entre centro e periferia tornou mais fácil divulgou uma nota cujo titulo indicava tratar-se de a dominação dos últimos pelos primeiros e, para admi- “Esclarecimentos sobre a consulta aos e a nistrar todos, foi instituído o Estado-nação, um modelo invasão de Belo Monte”. Redigida em tom autoritário, concebido pelo Norte que é estruturalmente uninacional, preconceituoso e desrespeitoso com os indígenas, ela monocultural, branco, capitalista e masculino. revela como a colonialidade é algo intrínseco ao modus Após o processo de independência das colônias, operandi governamental. Ancorada em um perverso ocorrido a partir do Século XIX, os novos estados foram cinismo retórico, a tessitura textual é arquitetada de apropriados pelas elites locais (nativas) e passaram a maneira tal que um leitor desavisado chegará ao fim do

Cratera causada pela mineração em terra indígena – Foto: Arquivo Cimi

18 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas texto convencido de que os povos indígenas no Brasil As expressões “autodenominadas lideranças” e são os responsáveis diretos por toda a desgraça que “pretensas lideranças” aparecerão outras oito vezes ao se abateu sobre eles após a violenta invasão de 1500 longo do texto e, depois de ter desqualificado os inter- impetrada pelo colonizador europeu. Ficará também locutores, afirmando que sua pauta de reivindicações convencido de que o Estado brasileiro está impossibi- é “insincera e inaceitável”, os arautos da Presidência da litado de assegurar a proteção e os devidos cuidados República dizem o que eles acreditam serem de fato aos indígenas e seus territórios tradicionais por causa reivindicações sinceras dos indígenas: “Na verdade, nos de suas incapacidades de compreender os benefícios parece que o que mais desejam é que o governo federal, oferecidos por esse “Estado protetor e benevolente”. o Estado e as políticas públicas continuem ausentes Essa estratégia colonialista de transformar a vítima daquela região do Brasil onde, infelizmente, o garimpo inocente em culpada e o criminoso em inocente foi ilegal do ouro está bastante presente, [...] Diversos definida pelo filósofo argentino Enrique Dussel como indígenas praticam diretamente o garimpo ilegal na “O Mito da Modernidade”, visto que esta fora apresen- Bacia do Tapajós.” tada como um projeto de emancipação Em qualquer livro sobre História do global, mas em realidade se converteu A estratégia colonialista Brasil se pode constatar que a mineração num instrumento de dominação dos se constituiu numa das fases da expansão de transformar a vítima estados ditos desenvolvidos sobre o resto “ do projeto colonizador do país e que inocente em culpada e o do mundo. O ponto de partida para a através dela o Estado brasileiro praticou criminoso em inocente se construção desse mito é a “falácia do a escravização dos povos indígenas e o desenvolvimento” que sustenta haver converteu num instrumento esbulho de suas terras, deixando um uma cultura superior, a branca, européia, de dominação dos estados rastro de mortes de pessoas, extinção que desenvolveu um sistema de vida ditos desenvolvidos sobre o de povos e comunidades, devastação civilizada, devendo o mesmo ser imposto resto do mundo. O ponto de ambiental etc. Na atualidade ela continua a todos os povos do Planeta para que partida para a construção a ser uma das atividades econômicas possam sair da condição de selvageria desse mito é a ‘falácia do mais valorizadas e subvencionadas pelo e barbárie. desenvolvimento’, devendo governo da presidenta Dilma, razão pela Foi com base na falácia desen- o mesmo ser imposto a qual esse mesmo governo enviou ao volvimentista que, adotando um estilo todos os povos do Planeta Congresso Nacional um anteprojeto de lei textual ditatorial, os escribas do poder, ao para que possam sair da no intuito de regulamentar a exploração redigirem seus “esclarecimentos”, devem condição de selvageria e mineral em terras indígenas. Diante disso, ter pretendido formular uma espécie de barbárie. como se pode imputar aos povos indí- ‘Súmula antropológica governamental’ genas a responsabilidade da chegada do que fosse capaz de descrever a compreensão que tem garimpo” em suas terras? Se o garimpo chegou lá através o governo sobre os povos indígenas, suas formas de do Estado e este os ensinou que a exploração mineral é organização social, política, econômica etc. e identificar uma forma de promover o “desenvolvimento”, como é as “deficiências” culturais nelas existentes para depois possível que esse mesmo Estado possa criminalizar os corrigi-las (consertá-las), tendo como parâmetro a indígenas por terem se submetido aos seus ensinamentos cultura branca européia desenvolvida. e acreditado em suas promessas? No intuito de comprovar essas afirmações, repro- A Constituição Federal assegura aos indígenas o duzimos algumas citações da referida nota. Iniciamos direito de garimpar em suas próprias terras, portanto, não pelo tratamento dispensado às lideranças indígenas. Já é a garimpagem que se constitui em uma prática ilegal, na primeira linha do primeiro parágrafo há a seguinte mas a forma de fazê-la. A ilegalidade é consequência do afirmação: “Indígenas de várias etnias, coordenados por processo da mecanização do garimpo, e quanto a isso, a autodenominadas lideranças do povo Munduruku”. responsabilidade é única e exclusivamente do Estado. Não No terceiro parágrafo, após elencar um grande rol de foram os indígenas que levaram as retro-escavadeiras, enunciados que visam deslegitimar o poder de represen- dragas e outras máquinas para suas terras, foram os tação das lideranças é apresentada a primeira cláusula empresários do garimpo, com autorização do Estado. da pretensa súmula: “Para a Secretaria-Geral, as condi- A mecanização da garimpagem no Brasil somente teve ções apresentadas pelas autodenominadas lideranças início nos anos 1980 e já na primeira metade dessa Munduruku são insinceras e inaceitáveis”. década, no ano de 1985, havia, pelo menos, 537 alvarás

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 19 de pesquisas minerais em terras indígenas – mesmo seja, a construção de hidrelétricas em suas terras, aquelas sendo proibidos por lei – concedidos pelo Departa- que não contestam o poder estatal, tampouco os atos mento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM)2. Será de violência e covardia dos agentes desse poder, como que os redatores do Palácio do Planalto desconhecem o ataque da Força Nacional e Polícia Federal a uma esses fatos? aldeia Munduruku em 7 de novembro de 2012, quando Retornando à nota palaciana, mais especifica- Adenilson Kirixi foi assassinado por um delegado da mente ao seu 12º parágrafo, nos deparamos com aquela Polícia Federal, fato que vergonhosamente foi silenciado que pode ser considerada a cláusula principal da “Súmula pelos arautos da presidência em sua nota. antropológica governamental”. Mesmo considerando os Apesar de terem se passado mais de 500 anos indígenas como ilegítimos representantes de seus povos, da invasão européia, os povos originários do Brasil não acreditando em suas sinceridades, acusando-os continuam a perceber o Estado como uma herança da prática de garimpo ilegal, dentre outras acusações, colonial, um ente castigador que ainda hoje persegue afirma que “o governo federal mantém sua disposição e mata sua gente. É, portanto, compreensível que de dialogar com os Munduruku para a pactuação de continuem a manter uma permanente desconfiança um procedimento adequado de consulta a esse povo”. em relação a ele e seus interlocutores. A mensagem Contudo adverte: “Mas queremos dialogar com lide- enviada pela Secretaria-Geral da Presidência, além de ranças legítimas, que expressem os verdadeiros reforçar essa desconfiança, atesta o grau de colonia- anseios das comunidades Munduruku, [...] e que lismo na atualidade. suas propostas sejam incorporadas ao processo de No dia 8 de maio de 2013, enquanto os indígenas tomada de decisão do governo no que diz respeito ainda ocupavam a UHE de Belo Monte, a ministra aos possíveis aproveitamentos hídricos da região” da Casa Civil, Gleisi Hoffman, durante uma audiência (grifo nosso). ocorrida na Comissão de Agricultura da Câmara dos Na citação acima fica por demais explicitada a Deputados, deixou explícita, mais uma vez, a visão compreensão de lideranças “legítimas” para o Palácio governista a respeito dos povos indígenas ao fazer a do Planalto: aquelas que se submetam à vontade do seguinte afirmação: “Não podemos negar que há grupos governo, as que aceitem o aproveitamento hídrico, ou que usam os nomes dos índios e são apegados a crenças irrealistas, que levam a contestar e tentar impedir obras 2 cf. Almeida e outros, 1986.

Tida como redenção para matar a sede dos nordestinos, as obras da transposição do rio São Francisco não levaram sequer uma gota de água aos sertanejos – Foto: José Cruz/ABr

20 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas essenciais ao desenvolvimento do país, como é o caso aportes do dinheiro público para investimento no capital da hidrelétrica de Belo Monte”. privado nacional. Aos pobres são dispensados alguns Ao reproduzir, sem qualquer senso crítico, o programas assistenciais, como o bolsa família, algumas discurso colonial do “Mito da Modernidade”, reafirmando políticas de ações afirmativas, pequenos incentivos o modelo desenvolvimentista estatal, a ministra reproduz para agricultores e micro empreendedores, tudo isso a ideia difundida pelo Estado branco capitalista de que devidamente adaptado ao modelo de desenvolvimento os indígenas são “relativamente incapazes”, reduzindo que continua a promover e consolidar a concentração assim os violentos conflitos que atentam contra a vida de renda, a ampliação dos latifúndios, da agricultura dos povos originários a supostas manipulações de grupos agroexportadora, do extrativismo mineral etc. externos. Embora na área de política exterior o discurso Talvez seja pela mesma razão – a consideração governamental aponte para a construção de uma geopo- da relativa incapacidade indígena – que a presidenta lítica que altere as relações de poder fundadas na antiga Dilma tem se recusado terminantemente a receber dominação centro-periferia, internamente reproduz representantes dos povos originários do país. Desde sua a velha lógica, mantendo no centro as antigas elites posse, em janeiro de 2010, vários pedidos de audiências econômicas e fortalecendo suas supremacias políticas. foram protocolados pelos indígenas no gabinete da O encantamento da presidenta, seus ministros e asses- presidenta, mas todos foram negados. Por outro lado, sores pelo “Mito da Modernidade”, os converteu em como observou o Secretário-Executivo do Cimi, Cleber obstinados servidores sistêmicos do capital. Assim Buzatto, em artigo intitulado “Agenda de Dilma Revela sendo, transformaram-se em meros serviçais da elite Opção de Governo”, apenas no mês de maio de 2013, a branca do país (ruralistas, empreiteiros, mineradores, Presidenta da República esteve reunida por cinco vezes banqueiros), que os reconhece como competentes com diferentes representações do seguimento do agro- administradores estatais visto que estão conseguindo negócio no Brasil, que é controlado pelos descendentes ajudá-los a multiplicar seus capitais. das antigas famílias da aristocracia rural brasileira, e que Para não cair no conceito da avaliação das elites reproduzem na atualidade a mesma violência praticada brancas, o governo precisa utilizar todo seu aparato contra os povos indígenas no período colonial: invasão autoritário, a exemplo da força de repressão criada de suas terras e assassinato de suas lideranças. através do Decreto presidencial nº 7957, em março No que pese ter sido o atual governo eleito com de 2013, para agir contra qualquer grupo social que o apoio de grupos sociais historicamente ignorados se oponha às grandes obras de interesse do capital, pelo Estado brasileiro - dentre eles os camponeses, mesmo que estas destruam o meio ambiente, as terras populações tradicionais, quilombolas, indígenas etc., indígenas ou de comunidades tradicionais. Convicto suas prioridades continuam sendo aquelas que dizem de sua condição servil, a cada dia o governo Dilma se respeito à manutenção do poder do capital, privilegiando revela um eficiente operador e mantenedor da colo- a elite econômica do país, inclusive com generosos nialidade do poder.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUZATTO, Cleber. Agenda de Dilma revela Opção de Governo. a-consulta-aos-munduruku-e-a-invasao-de-belo-monte/view. Disponível em: www.cimi.org.br. Pesquisa realizada em 30 de Pesquisa realizada em 08/05/2013. maio de 20133. Quijano, Aníbal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y DUSSEL, Enrique. 1492: O encobrimento do outro. A origem do América Latina. In: LANDER, Edgardo (Ed.). La colonialidad Mito da Modernidade. Petrópolis: Vozes, 1993. del saber: Eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas Latinoamericanas. Caracas: CLACSO, p. 201-245, 2000. ENGELS, Frederic. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1978. SOUSA SANTOS, Boaventura de. Poderá o Direito ser Emanci- patório? Disponível em: http://www.visionvox.com.br/biblio- PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Esclarecimentos sobre a teca/p/Poder%C3%A1-o-direito-ser-emancipat%C3%B3rio- consulta aos Munduruku e a invasão de Belo Monte. Disponível -Boaventura-de-Sou-sa-Santos.doc. em: http://www.secretariageral.gov.br/clientes/sg/sg/noticias/ ultimas_noticias/2013/05/06-05-2013-esclarecimentos-sobre- Pesquisa realizada em 30 de maio de 2013.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 21 Os pareceres produzidos pelas equipes periciais do Ministério “Público Federal, nas esferas ora consideradas, demonstram que os processos de mudanças sociais desencadeados por grandes empreendimentos atingem predominante – mas não exclusivamente – o meio rural, envolvendo distintas coletividades relativamente invisibilizadas na dinâmica sociopolítica do Brasil.”

Desmatamento causado pela hidrelétrica de Belo Monte – Foto: Movimento Xingu Vivo para Sempre

22 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas 3. Contribuição a uma crítica da definição da área de influência de empreendimentos em avaliações de impacto socioambiental(*)

Maria Fernanda Paranhos Antropóloga – 6ª Câmara de Coordenação e Revisão

Deborah Stucchi Antropóloga – Procuradoria da República em São Paulo

Introdução planejamento, implantação e operação de projetos de desenvolvimento públicos e privados que afetam povos e territórios reconhecidos como tradicionais. Objetivam ste documento é resultado do esforço interpre- ainda dimensionar as transformações antrópicas e os E tativo de duas diferentes experiências analíticas conflitos sociais desencadeados em territórios tradi- construídas a partir de uma mesma prática pericial, cujo cionais em decorrência da implantação e da operação objetivo é prestar assessoria qualificada e especializada de empreendimentos, ou das expectativas geradas em à atuação judicial e extrajudicial do Ministério Público torno deles, bem como identificar se medidas de miti- Federal no dever de defender interesses e direitos de gação e compensação propostas por empreendedores e povos indígenas, quilombolas e outros segmentos popu- exigidas por agentes licenciadores, de fato, alcançariam lacionais denominados, no âmbito deste texto, como as finalidades previstas nas normas vigentes. tradicionais. Mais especificamente, interessa refletir, Tratam-se tais documentos periciais, enfim, de a partir da prática pericial antropológica e, em base à análises críticas dos próprios procedimentos adminis- perspectiva de um dos elementos da atuação do Minis- trativos de licenciamento ambiental junto aos órgãos tério Público Federal, destacado do seu vasto campo federais e estaduais, considerando, sobretudo, o conteúdo de atuação, sobre o acompanhamento e a fiscalização dos estudos de impacto ambiental (EIA/RIMA) e tendo de empreendimentos tendentes a provocar alterações em conta os efeitos de natureza socioambiental produ- significativas sobre o meio ambiente e sobre a vida social zidos por grandes empreendimentos. Para obter os de determinados grupos humanos. As experiências ora resultados esperados pelo órgão ministerial, as equipes retratadas baseiam-se no conjunto de trabalhos periciais periciais, além da análise documental, participam de 1 elaborados pelas equipes de analistas/peritos da 6ª CCR audiências públicas e de reuniões com os grupos afetados, 2 e da Procuradoria da República em São Paulo , as quais realizam vistorias em que promovem levantamentos as autoras integram desde meados da década de 1990. de campo para recolher dados diretos, destinados a Os pareceres produzidos pelas equipes mencionadas têm complementar ou a confrontar informações constantes por objetivo central analisar criticamente as avaliações dos EIA/RIMA, com o intuito de compreender os efeitos de impacto socioambiental no âmbito de processos de dos empreendimentos – ou das expectativas por eles geradas - sobre as coletividades afetadas, sob o ponto

1 Composta por cinco integrantes, com nível de graduação e de vista dos conflitos sociais envolvidos e das alterações mestrado na área de antropologia, da Coordenadoria Antropológica socioambientais por eles provocadas. da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão da Procuradoria Geral da República – 6ª CCR. A reflexão sobre o conjunto de documentos 2 Composta por onze integrantes com formação de graduação, permitiria não somente melhor conhecer e compreender especialização, mestrado e doutorado em Antropologia, Biologia, Engenharia Florestal, Engenharia Sanitária, Engenharia Civil, os processos de elaboração dos próprios pareceres Contabilidade e Economia da Seção Pericial da Procuradoria da periciais (tendo em vista a necessidade de seu contínuo República em São Paulo.

(*) Este texto corresponde à versão revista de documento produzido em 2008, em atendimento à solicitação do Grupo de Trabalho Grandes Empreendimentos da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 23 aprimoramento), como também possibilitaria identi- tação e operação de qualquer empreendimento gerador ficar tendências recorrentes nas avaliações de impacto de impactos requer a identificação e a caracterização ambiental, com a sistematização de alguns de seus da sua abrangência temporal e espacial, isto é, da sua elementos em base a observações e críticas sobre os área de influência. processos sociais ocorridos nas áreas afetadas pela A expressão área de influência é empregada na implantação dos empreendimentos. Resolução CONAMA nº 01/1986, que define os critérios básicos e as diretrizes gerais para a elaboração, o uso e a 3.1. Universo de análise: implementação da Avaliação de Impacto Ambiental. A normativa mencionada exige a delimitação da área de empreendimentos em debate influência no âmbito do Estudo de Impacto Ambiental Os pareceres considerados neste texto foram - EIA e no Relatório de Impacto Ambiental – RIMA do elaborados por solicitação dos membros do Ministério empreendimento, sem contudo haver uma explicação Público Federal – Subprocuradores na Procuradoria Geral precisa sobre o significado da expressão. da República, Procuradores Regionais e Procuradores da A recorrência da expressão área de influência República nos Estados e Municípios – para subsidiar a independentemente de uma definição clara que elimine atuação da instituição na defesa dos direitos coletivos as ambiguidades tem contribuído para obscurecer os e difusos. A amostra analisada, composta por mais de critérios adotados pelas consultorias ambientais e duzentas experiências analíticas diferentes, abrange pelos empreendedores na sua delimitação no âmbito diversidade de empreendimentos agrupada segundo os dos estudos prévios de impacto. A expressão área de seguintes tipos: energia, sistema viário, infra-estrutura, influência – segregada de sua definição conceitual – mineração e agronegócio. Cada um dos tipos pode ser torna-se terminologia vazia e inútil como ferramenta especificado, conforme tabela abaixo: metodológica, prestando-se apenas para nomear, designar ou classificar áreas, sem contribuir efetivamente para a estratégia de investigação dos estudos prévios Tipo de Empreendi- Especificação do Empreendimento ambientais. O emprego da expressão esvaziada de seu mento conceito não permite adequado recorte da realidade social a ser investigada, informação central na avaliação Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica (usina hidrelétrica, linha de impactos socioambientais não apenas nos estudos de transmissão, subestação de energia, prévios, mas em todas as etapas do empreendimento, Energia rede elétrica); Gás (gasoduto, base e do projeto à operação. subestação); Vazamento de Óleo, Usina Os pareceres produzidos pelas equipes periciais Termoelétrica. do Ministério Público Federal, nas esferas ora consi- Transporte Rodovia, Ferrovia, Hidrovia, Aeroporto. deradas, demonstram que os processos de mudanças Mineroduto, Base de Lançamento, Inte- sociais desencadeados por grandes empreendimentos gração de Rio com Bacia Hidrográfica, Infraestrutura atingem predominante - mas não exclusivamente - o meio Barragem, Açude, Estação e Lançamento rural, envolvendo distintas coletividades relativamente de Esgotamento Sanitário. invisibilizadas na dinâmica sociopolítica do Brasil. Para Mineração Exploração Mineral, Extração Marinha. referência a estas comunidades de forma agrupada e Agronegócio Eucalipto, Pinus, Carcinicultura distintiva utiliza-se nos pareceres - e adota-se neste trabalho - a noção genérica de povos tradicionais. Esta noção abarca uma diversidade de configurações socio- culturais com trajetórias históricas específicas. A noção 3.2. Área de influência e as de povos tradicionais adotada pela Política Nacional do coletividades afetadas Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais3 corresponde a: Os empreendimentos analisados no escopo dos “grupos culturalmente diferenciados e que se reco- trabalhos periciais ora considerados, bem como qualquer nhecem como tais, que possuem formas próprias empreendimento realizado, incidem de modo diferente de organização social, que ocupam e usam terri- em territórios compostos por características físicas e humanas das mais diversas. Isto posto, o dimensiona- 3 Decreto nº 6040, de 7 de fevereiro de 2007 – publicado no DOU mento das alterações antrópicas causadas pela implan- de 8-2-2007.

24 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas tórios e recursos naturais como condição para sua lação tradicional é aqui empregado para tratar de forma reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e agrupada um leque de diferentes grupos sociais que econômica, utilizando conhecimentos, inovações guardam semelhanças no que toca à situação fundiária e práticas gerados e transmitidos pela tradição”. diferenciada, às formas específicas de usar e manejar recursos naturais, a ocupar posição periférica face à O termo tradicional, conforme entendido pelas economia de mercado e fundamentalmente à necessi- autoras, que caracteriza algumas coletividades atingidas dade de lutar pela defesa dos recursos essenciais à sua por empreendimentos, afasta-se da visão etnocêntrica reprodução física e cultural. que os classifica como grupos que se distinguem dos Sem pretender esgotar o espectro dessas dife- demais por atender a padrões e regras definidos externa- renças, classificam-se aqui os povos indígenas, os quilom- mente e que supostamente determinariam o seu espaço bolas, os extrativistas, os seringueiros, os ribeirinhos, os adequado, a sua referência histórica e uma forma correta pescadores artesanais, os sertanejos, as quebradeiras de de viver totalmente harmoniosa com seu ambiente. A coco, os ciganos, os caiçaras, os vazanteiros, os faxina- designação adotada segundo nossa perspectiva visa a lenses e os pomeranos. A equipe pericial do Ministério afastar a expectativa de que esses grupos permaneçam Público Federal depara-se com a presença dessa diver- estagnados ao longo do tempo, reproduzindo e sendo sidade de coletividades apresentada em escala e forma reproduzidos pelo suposto idêntico contexto local e diferenciadas nos estudos de impactos de empreendi- detentores de uma forma de viver ecologicamente correta mentos objetivados em seus trabalhos de análise. e positiva para a conservação da natureza. Interessa A principal tipologia observada nos trabalhos aqui identificar e afastar posturas tendentes a negar a desenvolvidos pela 6ª CCR divide-se em índios, quilom- dinâmica da experiência histórica, que inclui ajustes às bolas e outros povos tradicionais, no entanto, em pressões econômicas e políticas, externas e internas aos contextos altamente urbanizados verificados no Sudeste grupos, a autonomia das coletividades para determinar, brasileiro, especialmente na região metropolitana de a partir da sua cosmovisão ao longo da sua história, a São Paulo, populações urbanas, especialmente alguns sua forma de se organizar, ocupar e usar o seu território. segmentos empobrecidos (ocupantes clandestinos de A partir da compreensão da tradição como terras públicas, sem-teto, moradores de favelas), têm processo de atualização constante da leitura feita pelo sido objeto das análises empreendidas por serem signi- grupo da sua experiência histórica, o conceito de popu- ficativamente impactados. Estes setores, muitas vezes

Direito a consulta prévia, livre e informada tem sido negada em todas as obras que afetam as terras indígenas – Foto: Egon Heck

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 25 politicamente menos organizados, têm sido sub-repre- coletividades classificadas como índios, quilombolas, sentados em relação a diversos grupos indígenas ou outros povos tradicionais, populações rurais e urbanas. quilombolas, reunidos em entidades civis próprias ou Assim, alguns dos setores atingidos por empreendimentos apoiados por organizações não-governamentais. socioambientalmente impactantes submetidos à análise Entre as populações atingidas pelos empreendi- pericial em São Paulo, extrapolam a tipologia das comu- mentos aqui referidos encontram-se também aquelas nidades ditas tradicionais. Tratam-se, no entanto, de que mesclam características rurais e urbanas, geral- populações que estão sob ameaça de sofrer violações mente habitantes das periferias de grandes cidades, em direitos fundamentais, como o acesso à moradia. sem explicitar um viés auto-classificatório peculiar Elemento importante a ser extraído da tendência descrita que lhes confira a denominação “tradicional” e que é que a complexidade da composição populacional dos tendem a ser menosprezadas nas avaliações de impacto setores atingidos vem acompanhada da necessidade cres- ambiental. Nos empreendimentos estudados observa-se cente de utilizar instrumentos metodológicos e teóricos uma mescla crescente entre os tipos populacionais atin- apropriados que permitam a compreensão das relações gidos, representando uma minoria aqueles que atingem sociais e dos conflitos postos nas situações em disputa. somente índios, somente quilombolas ou outros povos tradicionais. 3.3. Procedimentos analíticos As características do processo de ocupação nas grandes cidades do sudeste brasileiro permitem que um Para melhor compreensão da natureza do trabalho empreendimento impacte, ao mesmo tempo, setores pericial produzido no Ministério Público Federal é urbanos, grupos indígenas e outras coletividades tradi- importante ressaltar que, diferentemente da pesquisa cionais, como é o caso dos anéis viários implantados acadêmica, na qual o pesquisador elabora as questões nos limites da mancha urbana e de empreendimentos que orientam a investigação, a abordagem pericial portuários, ao passo que usinas hidrelétricas impactam, origina-se dos problemas percebidos, construídos e ao mesmo tempo, quilombolas, índios, povos tradicio- definidos na esfera jurídica em contextos de conflitos nais e coletividades urbanas. Em São Paulo, nenhum dos sociais pré-existentes. Frequentemente o problema e as empreendimentos analisados impactou isoladamente questões precedem à solicitação do parecer e são apre- essas três categorias. A maior concentração das análises sentados aos analistas pelos Procuradores da República está no impacto distribuído, ao mesmo tempo, entre as como o norte da produção do conhecimento e dos

“Nós existimos”, lembram os povos indígenas – Foto: Rosana Diniz

26 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas argumentos aplicáveis ao atendimento de demandas as especificidades socioculturais de cada coletividade pontuais e concretas relacionadas a disputas por inte- tratada, contribuindo para a proteção e a preservação resses e direitos. dos direitos associados a tais identidades diferenciadas. A abordagem pericial tende a evidenciar que a Os peritos no Ministério Público Federal, que atuam ciência é apenas uma das formas de conhecimento e a partir deste lugar institucional, distanciam-se igual- que, para as ciências humanas, torna-se impossível a mente de uma atuação militante ou ancorada nos separação total entre o pesquisador e os objetos da inves- ecos dos movimentos sociais, das causas e interesses tigação, pois na análise da realidade social os objetos de localizados, embora ambos possam – e até devam – estudo são sujeitos e, com o pesquisador, compartilham senão referenciar, ao menos, repercutir sua produção de o mesmo ambiente de pesquisa. Diferentemente de conhecimento. Pode-se classificar os procedimentos de outras ciências, nesta, investigador e sujeitos de pesquisa pesquisa realizados pelos peritos em antropologia aqui pensam, agem e reagem, dialogam, influenciam e são considerados em três tipos, desenvolvidos de maneira influenciados uns pelos outros. O sucesso da investi- isolada ou conjuntamente: gação depende, em certa medida, do envolvimento e da • A pesquisa documental, que consiste na análise confiança entre o pesquisador e os sujeitos, devendo a do material escrito. É composta pelo conjunto de dados distinção e o distanciamento entre eles ser construído registrados, considerados fontes secundárias, encontrados metodologicamente. Cientes e parte nos documentos oficiais, nos autos dos integrante da complexidade envolvida procedimentos administrativos ou judi- As características do nas análises de impacto, cabe aos peritos ciais, bem como em relatórios e estudos do Ministério Público Federal introduzir processo“ de ocupação nas de avaliação ambiental relacionados ao a problemática sociológica no contexto grandes cidades do sudeste fenômeno estudado; do problema que lhes é dado, escolher e brasileiro permitem que um • A pesquisa de campo, consi- explicitar os instrumentos metodológicos empreendimento impacte, derada pelos antropólogos a abordagem adotados para se aproximar da realidade ao mesmo tempo, setores essencial à investigação de manifestações pesquisada. urbanos, grupos indígenas sociais que permite entender a ação social Os procedimentos metodológicos e outras coletividades em um contexto interacional. Permite adotados na produção dos pareceres tradicionais, ao passo a utilização de ferramentas metodoló- não estão previamente determinados. O que usinas hidrelétricas gicas apropriadas para coletar os dados analista, a partir do contexto específico impactam, ao mesmo empíricos, considerados as fontes primá- da demanda e do fenômeno social em tempo, quilombolas, rias que permitem acessar as opiniões e questão, tem autonomia para escolher índios, povos tradicionais e observar o comportamento dos sujeitos o conjunto de métodos e linhas teóricas coletividades urbanas. da pesquisa com mais espontaneidade. que melhor captem e expressem esta Compreende a presença do pesquisador realidade. Além de escolher os proce- ” in loco independentemente de media- dimentos metodológicos e considerar as limitações dores, interagindo socialmente e fazendo parte dos da postura teórica adotada, cabe ao perito atentar eventos sociais do ambiente pesquisado. As manifesta- aos significados e aos sentidos que, eventualmente, ções dos próprios atores sociais, tomadas no universo de escapem às suas estratégias de investigação. No âmbito suas experiências concretas, permitem ao pesquisador dos pareceres elaborados estão explicitadas e reconhe- uma análise do contexto dessas expressões e suas rela- cidas as reflexões e as interpretações realizadas tanto ções com as esferas sociais que as produzem. A inserção em momentos metódicos, como em momentos não do pesquisador em dado sistema de relações sociais, metódicos do processo de investigação. Os pareceres em políticas e culturais possibilita a ele, como observador, questão resultam de abordagens diversas, reunidas por detalhar as ações sociais que ocorrem no ambiente e tipos de investigação, análises, interpretações, explicações formar uma compreensão sobre as formas de a coleti- e compreensões, de modo a produzir sentido explicativo vidade estudada conhecer o mundo, organizar-se, viver, a partir de um olhar disciplinado pelas ciências sociais sentir os problemas e as mudanças que ocorrem naquele e, particularmente, pela antropologia. ambiente; Ao reconhecer os limites de sua posição, sobretudo • Finalmente tem-se a pesquisa situacional, a a partir da crítica à enganosa condição de neutralidade mais recorrente nos pareceres produzidos. Analisa-se a científica, os peritos empenham-se em compreender situação social, sendo o foco da investigação as condi-

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 27 ções objetivas e subjetivas do contexto social em que as por profissionais com formação em biologia, engenharia disputas e conflitos de direitos são produzidos. Procura-se florestal, civil e sanitária. No segundo caso, quando o compreender as relações e as perspectivas dos diferentes objeto é a apuração das situações sociais envolvendo atores políticos envolvidos, as alianças, os confrontos, demandas específicas ou conflitos, é frequente a ida a as ligações e as interações complexas estabelecidas no campo apenas do antropólogo. contexto da realidade social enfocada. Os dados são Uma análise mais detalhada e profunda sobre as obtidos por meio de diferentes técnicas qualitativas características da atividade pericial desenvolvida em de coleta de informações. A categorização dos atores cada uma das experiências aqui relatadas é necessária e dos demais elementos da análise dependerá de cada para a compreensão do alcance, das consequências e situação, problema e contexto em que estão inseridos. dos sentidos das distinções verificadas, considerando as Esta etapa do trabalho permite estabelecer, categorizar peculiaridades da atuação do Ministério Público Federal e qualificar, entre os diversos agentes presentes em dado nas várias instâncias. Essa análise deve incorporar novos cenário, os atingidos, os beneficiários diretos e indiretos, dados comparativos, quantitativos e qualitativos, que as instituições públicas, as administrações federal, esta- permitam discussão ampliada sobre as consequências duais e municipais, as entidades não-governamentais, práticas e os efeitos sociopolíticos da atuação institucional. com seus respectivos papeis, estratégias e objetivos. Por ora, o reconhecimento das distinções exis- Como exposto, os procedimentos analíticos tentes entre as experiências periciais e institucionais é disponíveis à produção de um conhecimento que seja interessante para chamar a atenção sobre a multiplici- operativo para a tarefa de auxiliar nas condutas adotadas dade de possibilidades de condutas presente no âmbito pelos membros do Ministério Público Federal incluem a do próprio Ministério Público Federal, o que pode ser pesquisa documental e os registros diretos obtidos pelos enriquecedor para o aprimoramento do trabalho em levantamentos de campo e pela pesquisa situacional. defesa de interesses e direitos aqui referidos. Também fica explícito que a escolha da abordagem mais apropriada pelos antropólogos depende, em grande medida, do momento do empreendimento em que se 3.4. O trabalho pericial nas etapas inicia a intervenção do órgão ministerial. Em todas as do empreendimento e do situações, entretanto, a análise preliminar dos estudos socioambientais aparece como exigência inafastável licenciamento para que se possa estimar a magnitude das alterações Os trabalhos periciais considerados neste texto esperadas nos ambientes físicos, biológicos e sociais em evidenciam que as demandas por análises dos estudos questão, conjugada com a obtenção de informações de impacto socioambiental, considerando a adequada reunidas diretamente sobre as realidades atingidas. definição da área de influência dos empreendimentos, A característica principal dos estudos críticos a identificação de povos tradicionais atingidos e a realizados acerca dos empreendimentos considerados eventual violação de direitos, não se restringem à fase assenta-se sobre a coleta de dados baseada no tripé prévia à implantação dos projetos, quando os proce- campo-situação-documento. Em dadas situações ocorre dimentos administrativos de licenciamento as exigem, levantamento direto para apreensão dos contextos locais mas também nas etapas subsequentes, quando as trans- e verifica-se dois tipos de abordagem: a primeira, que formações socioculturais resultantes das interferências reúne equipe multidisciplinar em campo, destinada à dos empreendimentos já fazem parte da realidade social. apropriação das condições do ambiente social, físico Grosso modo, pode-se considerar que 44% das análises e biológico a ser atingido pelo empreendimento4; e a solicitadas à Coordenadoria de Antropologia da 6ª segunda, relacionada à ciência das questões e conflitos CCR ocorreram na fase preliminar à instalação e que sociais implicados, frequentemente reduzida a expedições 66% das análises ocorreram nas fases de implantação e do antropólogo. No primeiro caso, são realizadas vistorias operação dos empreendimentos5. Pela Seção Pericial da em campo por equipes compostas, além do antropólogo, PR/SP, 70% dos pareceres foram emitidos na fase prévia à instalação, 20% durante a instalação e 10% durante 4 A abordagem crítica multidisciplinar é viabilizada pelo Ministério Público Federal em duas situações: quando, no caso da Seção Pericial em São Paulo, existem peritos com formação acadêmica 5 Ressalte-se que o número de pareceres considerados nessa que os capacitam à análise crítica dos estudos ambientais ou, proporção não corresponde exatamente à mesma quantidade quando, são compostas equipes periciais pelas diversas Câmaras de empreendimentos, pois diferem entre si os processos sociais de Coordenação e Revisão do MPF com o objetivo específico de e a consequente demanda por pareceres referentes a cada atuar em conjunto. empreendimento.

28 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas a fase de operação dos empreendimentos. Em apenas significa necessariamente a análise de EIA/RIMA e o dois empreendimentos houve alguma participação da acompanhamento das fases de licenciamento. Em grande equipe pericial na fase de elaboração do termo de refe- parte das avaliações realizadas as etapas de licenciamento rência dos estudos ambientais, em que pese a opinião estavam em curso ou já haviam sido superadas, em que técnica emitida pelo setor pericial nessa fase não ter pese a constatação de que o EIA/RIMA não houvesse assegurado a incorporação de suas contribuições pelo incluído adequadamente em suas análises os impactos órgão licenciador. sobre os povos tradicionais. Esses dados evidenciam que significativa parcela As avaliações de impactos, tema comum a todos de trabalhos periciais foi solicitada durante fases em os pareceres ora considerados, se produzidas segundo que o empreendimento já estava em implantação ou parâmetros adequados, representam um eficiente instru- operação e, consequentemente, que a avaliação dos mento à disposição do poder público para balizar deci- impactos socioambientais realizada não se baseou na sões fundamentadas na perspectiva do planejamento crítica do estudo prévio de impactos, mas na análise do e prevenção do dano socioambiental. Noções desgas- processo de transformações e conflitos socioambientais tadas como “desenvolvimento” e “sustentabilidade” têm em curso, decorrentes da implantação ou da operação seu conteúdo e sentido atualizados se ancoradas em do empreendimento. processos de decisão que levem em conta informações baseadas em fontes seguras e confiáveis e, porque não 3.5. O trabalho pericial e a dizer, democrática e qualificadamente postas à disposição dos diferentes grupos sociais interessados. análise de Estudo de Nesse campo, assumem especial importância as avaliações de impactos socioambientais comprometidas Impacto Ambiental – EIA não somente a atender às exigências determinadas É importante esclarecer e ressaltar que apenas pelas regras do procedimento de licenciamento, mas uma parte das análises tem sido solicitada objetivando envolvidas pelo seu principal objetivo, o de identificar a crítica preliminar dos Estudos de Impacto Ambiental e dimensionar impactos de modo que o poder público – EIA e do Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, em possa atuar de maneira planejada e avaliar a viabilidade fase de procedimento administrativo de licenciamento. socioambiental da implantação dos projetos de desen- Esta constatação demonstra que a análise prévia não volvimento propostos.

Hidrelétricas são planejadas, construídas e postas em operação sem que os povos indígenas sejam ouvidos

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 29 É a partir da prática pericial de equipes multidisci- suas dimensões política, econômica e cultural - está plinares estabelecidas pela análise reiterada de avaliações sujeito a um conflituoso campo de embates e disputas, de impactos socioambientais relativas a variados tipos em que grupos sociais são qualificados como excluídos de empreendimentos que se pode extrair a importância ou incluídos nos limites da área de influência, modu- de bem definir a sua área de influência. Sobretudo, lando sua ausência ou presença, com maior ou menor quando se conclui que as omissões quanto à adequada visibilidade no decorrer dos processos decisórios. definição da área de influência estão presentes nos estudos socioambientais, afetando praticamente todas 3.6. Parâmetros e definições as disciplinas envolvidas em sua elaboração. Apesar dos diversos instrumentos metodoló- A área de influência da implantação de um projeto gicos disponíveis, dos preceitos legais e constitucionais de desenvolvimento é definida pela literatura especia- existentes, as avaliações de impacto socioambiental lizada como sendo aquela que, potencialmente, sofre a continuam a oferecer dados insuficientes, a minimizar as incidência dos impactos em graus variados de magnitude transformações e os conflitos sociais e a subdimensionar e duração. A relação entre área de influência e impacto a definição das áreas de influência na implantação dos é, portanto, direta, devendo ela ser delimitada a partir projetos de desenvolvimento. da identificação dos impactos que o empreendimento A divulgação de dados insuficientes e defasados causa ou irá causar. Nesta concepção, em primeiro pelos órgãos públicos tem sido um eficiente meio de lugar devem ser caracterizados os impactos presentes negar o acesso à informação imprescindível para a ou esperados para que posteriormente seja confirmada participação democrática das comunidades e dos grupos a delimitação espacial da área de influência do projeto. atingidos nos processos de licenciamento, sobretudo nas A prática de análise dos estudos ambientais demonstra audiências públicas, consideradas um dos componentes que nem sempre é assim que ocorre. do mecanismo de controle social sobre as políticas A definição das escalas espacial e temporal de socioambientais. análise é etapa fundamental para a identificação dos O desafio de bem delimitar a área de influência no impactos e a delimitação da área de influência. A escala âmbito das relações do chamado meio socioeconômico espacial adotada para o estudo decide o grau de porme- assume características peculiares, dada a natureza mais norização da área a ser analisada e consequentemente subjetiva de seus componentes. O ambiente social – em os fenômenos sociais que serão incluídos ou não na

Em Rondônia, povos indígenas sem contato foram afetados pela construção de hidrelétricas – Foto: Marline Dassoler

30 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas investigação. A escala revela ou omite fenômenos, isto o “meio antrópico”, que deverá considerar “as forças e é, a opção pela escala a ser adotada é uma decisão tensões sociais, os grupos e movimentos comunitários, qualitativa do estudo e não quantitativa. as lideranças comunitárias, as forças políticas e sindicais Os pareceres considerados neste texto demons- atuantes e as associações do local a ser afetado”. Segundo tram que na avaliação de impactos socioambientais essa orientação, o espaço seria composto por relações as escalas espacial e temporal adotadas devem revelar sociais que estão em constante interação e disputa. Essa toda a dinâmica que envolve os bens naturais e culturais percepção é fundamental para que se construa uma visão analisados e a visualização dos cenários nos diferentes tanto social como geográfica do espaço a ser alterado estágios da implantação e da operação do empreendi- pelo empreendimento. mento possibilitando classificar e mensurar os impactos No entanto, a orientação explicitada no manual positivos e negativos dele decorrentes. referido também não esgota a questão. Em parcela Apesar de a bacia hidrográfica ser a unidade de significativa dos pareceres para fins de elaboração deste análise estabelecida pela Resolução CONAMA nº 001/866 texto, encontramos críticas a estudos prévios nos quais como referência geográfica inafastável da análise do a área referente aos impactos sobre as populações local de implantação do empreendimento, a definição humanas e suas interações sociais foi delimitada a partir clara do conceito e sua especificação estão longe de de recortes administrativos, baseada apenas na lógica esgotar o problema da delimitação da dos empreendimentos. área de influência que abrange o meio Os estudos prévios de impacto A definição das escalas socioeconômico. ambiental tendem a definir de maneira Os pareceres que contém análises “espacial e temporal de precoce a área de influência dos empreen- de impacto socioambiental sobre o análise é etapa fundamental dimentos, já na fase de elaboração do meio socioeconômico convergem na para a identificação dos termo de referência, adotando limites reafirmação de que a bacia hidrográfica impactos e a delimitação da administrativos, segundo o critério arbi- representa importante referencial como área de influência. A escala trário das fronteiras ficcionais. A adoção unidade de planejamento e elemento revela ou omite fenômenos, de limites, divisas e fronteiras como parâ- norteador das investigações acerca das isto é, a opção pela escala a metros substitutivos à bacia hidrográ- relações e das estratégias das popula- ser adotada é uma decisão fica desconsidera o caráter relacional do ções que usam e manejam os recursos qualitativa do estudo e não espaço. Relações sociais e econômicas que naturais da área em estudo. Esta escala, quantitativa. se verifiquem concretamente para além quando bem definida, além de propiciar das divisões administrativas consideradas a percepção de como os grupos utilizam e manejam os – ou” das distâncias georreferenciadas – poderão sofrer recursos naturais, permite identificar também os conflitos impactos decorrentes da implantação de projetos de socioambientais relacionados aos usos e apropriações desenvolvimento, que não serão mensurados e nem dos bens existentes na área. Entretanto, apenas este sequer conhecidos. referencial analítico como parâmetro para a delimitação A adoção de critérios administrativos como os das áreas de influência de projetos de desenvolvimento limites entre bairros, as divisas entre municípios e as não é suficiente, sendo necessárias outras investigações fronteiras entre estados podem não fazer qualquer baseadas em dados de fontes primárias e secundárias. sentido para grupos transfronteiriços, considerando que Visando a enfrentar as dificuldades inerentes à eventuais impactos não acabam para essas populações preparação de estudos de impacto ambiental, a Secretaria ao cruzar as linhas imaginárias das divisões administra- de Estado do Meio Ambiente de São Paulo publicou o tivas. O resultado prático da adoção destes critérios nos Manual de Orientação para a Realização de EIA/Rima7. estudos prévios de impacto sobre os grupos sociais é a Nele, percebe-se um avanço relativo no que diz respeito minimização dos efeitos negativos – e, até mesmo, de aos critérios de delimitação da área de influência para alguns positivos – decorrentes do empreendimento. É comum observar que vários estudos estipulam 6 Em seu Art. 5º inciso III, determina que é necessário “definir os como área de influência, direta ou indireta, faixas lineares limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de influência do projeto, e contíguas ao empreendimento independentemente de considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual justificativas quanto ao motivo da escolha do perímetro se localiza” 7 Secretaria do Meio Ambiente -. Coordenadoria de Planejamento estabelecido. Não há razão técnica que evidencie, sem Ambiental. Estudo de Impacto Ambiental-EIA, Relatório de Impacto uma explicação, por exemplo, que uma população Ambiental-Rima: Manual de Orientação. São Paulo, 1991.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 31 distante quinhentos metros das faixas de rolamento de sociais específicas, a organização local, a construção de uma rodovia sofrerá determinados impactos e, conse- seus direitos específicos sobre terras e recursos, suas quentemente, seja objeto de programas de mitigação, relações com a economia nacional, regional e local assim enquanto o grupo que vive a quinhentos e cinquenta como sua posição em relação à economia de mercado. As metros do mesmo empreendimento não sofra qualquer análises devem, por isso mesmo, abranger os impactos transformação, apenas por não se enquadrar na área de previstos sobre as práticas coletivas produzidas naquele influência pré-determinada pelo estudo. território, a exemplo dos conhecimentos, das inova- Nesses casos, em que foram utilizados critérios ções, das redes de relações econômicas, políticas e de administrativos ou os denominados métricos para definir sociabilidade; ou seja, integrar a vida social aos outros a área de influência, busca-se ilustrar a opção metodo- campos que compõem determinado espaço geográfico lógica invertida e equivocada que estabelece a área de afetado é condição para identificar os impactos e sua influência antes de pesquisar os efeitos da implantação área de abrangência. do projeto sobre o espaço, seu uso e apropriação. O Incorporando esta perspectiva, a Constituição recorte utilizado deixa de ser dimensionado por critérios trata de uma forma integrada o patrimônio natural e de relações socioculturais, passando a estabelecer-se a cultural. Tanto os bens ambientais materiais, os terri- partir dos limites formais e administrativos adotados pelo tórios, os recursos naturais, os objetos e etc., quanto poder público para orientar o seu campo os bens imateriais, os modos de viver, a de atuação. Em vez de limites desenhados saúde, os valores, os costumes, as línguas, Para avaliar as hipoteticamente nos termos de refe- as crenças, as tradições, os conhecimentos rência que deveriam ser confirmados ou consequências“ específicas sobre sistemas ecológicos, as técnicas infirmados pelos estudos socioambien- de um processo violento e de manejo, os métodos de caça e pesca, tais propriamente ditos, as definições intenso de transformações as representações sociais, culturais e os precoces das áreas de influência acabam sobre um espaço social, é demais são bens passíveis de proteção. por congelar os limites de investigação preciso conhecê-lo como Dessa forma, a delimitação da área dos EIA/RIMA. produto histórico, parte da de influência de um projeto de desen- Os pareceres analisados demons- dinâmica que o gera e é volvimento não pode estar restrita aos tram a necessidade de transpor a visão gerada por ele. As análises impactos incidentes sobre a natureza, dualista natureza-cultura, na qual a natu- devem, por isso mesmo, vista como externa às relações sociais e reza é vista como dado objetivo ao qual abranger os impactos atinentes aos bens materiais. É necessário cada sociedade se adapta e confere signi- previstos sobre as práticas conhecer as diversas experiências sociais ficados culturais. É necessário conhecer a coletivas produzidas naquele pertencentes aos grupos atingidos e iden- dinâmica coevolutiva das inter-relações território. tificar todo o processo deflagrado pelo entre os povos e seus habitats locais. Os empreendimento, bem como suas conse- ambientes focalizados pelas avaliações ” quências sobre as dinâmicas econômicas, de impactos resultam de complexas interações entre políticas, culturais e ambientais. Os pareceres analisados forças físicas, biológicas e sociais ao longo de histórias demonstram que as interferências de empreendimentos específicas. Segundo a perspectiva antropológica é consideradas externas ao grupo frequentemente causam impossível compreender os bens integrantes da cultura impactos em todos os setores da vida dos povos ou material sem considerar os valores neles investidos e o comunidades atingidos. que representam. Assim como não se pode tratar da A delimitação das áreas de influência de projetos dinâmica do patrimônio imaterial desconhecendo a de desenvolvimento preliminarmente à identificação cultura material que lhe dá suporte. dos impactos e a restrição dos limites de estudo apenas Para avaliar as consequências específicas de um à área fisicamente ocupada pelo empreendimento e processo violento e intenso de transformações sobre ao espaço de interação com as atividades construtivas um espaço social, é preciso conhecê-lo como produto têm resultado em diagnósticos que não abrangem o histórico, parte da dinâmica que o gera e é gerada por entrelaçamento das diferentes experiências sociais com ele. É necessário conhecer a dinâmica interna do grupo, a biodiversidade. Dessa forma, os diagnósticos são suas práticas em relação ao uso e manejo dos recursos insuficientes para possibilitar a análise e a avaliação da naturais condicionadas pelo ecossistema local, suas complexidade dos processos socioculturais deflagrados noções e relações com o tempo e espaço, as experiências pelos mesmos empreendimentos.

32 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas 3.7. Delimitação de área de vidade submetida à lógica capitalista, que privilegia a maximização dos lucros e a acumulação de riquezas. A influência e invisibilidade definição negativa desses grupos a partir da ausência social: um enfrentamento da produtividade capitalista é relacionada como sua característica intrínseca. metodológico da questão b) “São populações ignorantes”. Restringe-se a As avaliações de impactos socioambientais decor- noção de saber apenas às formas de organizar a expe- rentes da implantação de projetos de desenvolvimento riência valorizada pela ciência moderna e pelos saberes realizadas independentemente da adoção de uma meto- formais. O conhecimento que esta ciência não abrange dologia apropriada para investigar a diversidade de é desacreditado e considerado inexistente. processos de mudança sociocultural e a real dimensão c) “São grupos atrasados, pouco desenvolvidos, espacial da área de influência dessas transformações primitivos”. Desqualificam-se os conhecimentos, as insti- contribuem para invisibilizar especialmente povos e tuições e as formas de sociabilidade dos grupos afetados. comunidades tradicionais, assim como suas identidades. Reduzem-se estas experiências sociais à condição residual, Os pareceres ora considerados evidenciam que classificando-as ao final da escala linear e hierárquica as avaliações de impactos socioambientais analisadas com base na temporalidade da modernidade ocidental têm servido aos objetivos de “produzir a não existência” capitalista, segundo a qual as práticas dos países centrais 8 (Boaventura 2004) de alguns grupos atingidos e assim são consideradas “avançadas” e superiores. Dessa forma, negar a sociodiversidade existente. Têm servido ainda à nega-se a contemporaneidade desses grupos em relação imposição de suposta homogeneidade de espaços e de à sociedade ocidental e “seus empreendimentos”. experiências sociais por meio da explicitação de juízos d) “São populações com capacidade para de valor, entre os quais destacamos: compreender apenas contextos locais”. Numa escala a) “São populações pouco produtivas”. Descon- hierárquica de vivência e de compreensão, os grupos sideram-se os processos históricos específicos e suas afetados tendem a ser desqualificados por sua suposta formas de produção, utilizando-se a noção de produti- capacidade de conhecimento limitada que os permite experimentar e compreender apenas contextos espe-

8 SANTOS, Boaventura de Souza (org). Conhecimento prudente cíficos e realidades locais. Os contextos específicos e para uma vida decente - um discurso sobre as ciências revisitado. as realidades locais são compreendidos como particu- São Paulo: Cortez Editora, 2004.

O “perigo” ronda comunidades indígenas, ribeirinhos, quilombolas e outras comunidades tradicionais – Foto: Equipe Cimi Nordeste

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 33 laridades em oposição às ocorrências que podem ser outras situações. Além de os recursos naturais possuírem globalizadas, tidas como fora do universo cognitivo dinâmica interrelacionada ao espaço social em que estão desses grupos. inseridos, os grupos apresentam diferentes estratégias As assertivas acima fundamentam-se no pressu- de adaptação, reação e resistência às mudanças. posto de uma única forma possível de racionalidade, Os direitos territoriais e culturais dessas cole- lógica esta frequentemente adotada por muitas consul- tividades, seus bens materiais e imateriais, inclusive torias que, no exercício exorbitante do poder de perícia os saberes tradicionais associados à biodiversidade, – ou dos limites contratuais - não permite aos seus estão estruturalmente relacionados e protegidos pelo consultores identificar e valorizar nenhuma experiência sistema jurídico brasileiro. Identificar impactos e suas distinta das suas. Utilizando a mesma lógica, consideram complexas inter-relações, de maneira a incluir atores evidentes tais assertivas e consideram-se livres para não e grupos sociais entre os atingidos por determinado demonstrar, não argumentar e não comprovar hipóteses empreendimento, implica reconhecer a sua existência, lançadas como conclusões, especialmente aquelas que os a sua identidade e sua contemporaneidade. Este reco- permitem afirmar inexistência de grupos sociais especí- nhecimento legitima não só os direitos individuais codi- ficos ou a não contemporaneidade de povos efetivamente ficados pelo sistema jurídico nacional, mas também os presentes na área de influência analisada. Na prática, o direitos coletivos, que podem ser exercidos e exigidos pressuposto de que intervenções aparentemente idên- pela totalidade do grupo. ticas e tipos semelhantes de empreendimentos produzem As implicações sociais e legais decorrentes das impactos com características e abrangência similar em conclusões das avaliações de impacto socioambiental qualquer universo social ignora a multiculturalidade esclarecem porque, mesmo face ao ordenamento jurídico presente no país, estudada pelas ciências humanas, baseado em conceitos e paradigmas compartilhados reconhecida e protegida pela Constituição. pelas ciências sociais e naturais, as escalas adotadas A abrangência dos processos sociais desenca- para a delimitação prévia das áreas de influência têm deados pela implantação de dado projeto de desenvol- reduzido o recorte da realidade sociocultural investigada, vimento em determinado grupo social, sob determinado omitindo diversos sistemas sociais e consequentemente contexto, não serve de padrão para desenhar limites em os impactos que podem recair sobre eles.

Indígena observa alterações no Rio Xingu, causadas pelas obras de Belo Monte – Foto: Lunaé Parracho

34 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas 3.8. Os impactos e a realidade das intervenções, as percepções do grupo e a natureza tomada como dado externo. Território define-se como o social investigada espaço de reprodução física e cultural associado a cada É simbiótica e indissociável a relação entre os povo, considerando suas especificidades de apropriação efeitos da ação humana sobre o meio biofísico e os e de uso. Trata-se de um espaço socialmente construído, impactos sobre o meio social decorrentes de qualquer usado e ocupado, investido de padrões culturais. A empreendimento: a natureza, os ciclos e os recursos construção, o uso e a ocupação de um território, além naturais estão integrados nas formas a partir das quais de gerar uma comunhão entre vida, natureza externa as populações constroem seus modos de vida. e local, geram identificações e vínculos simbólicos. A As práticas sociais e, consequentemente, os reprodução social do grupo decorre dessa identificação impactos sobre elas recorrentes só podem ser deter- e desses vínculos. O raio de atuação de tais vínculos e os minados caso sejam assumidas por determinado grupo. impactos que podem incidir sobre eles frequentemente Por isso, as experiências, as interações socioambientais ultrapassam os limites locais, pelo fato de produzirem e o dimensionamento de impactos somente tornam- círculos de cooperação e de reciprocidade mais amplos se passíveis de identificação a partir da que a área fisicamente delimitada. Por perspectiva própria dos atingidos, isto é, Nas condições peculiares isso, a dinâmica de seus espaços territo- riais e suas formas sociais de apropriação dos sujeitos sociais envolvidos. “ aos povos tradicionais Entre as ciências humanas, a são bens culturais que fazem parte do encontram-se formas antropologia é uma das disciplinas que patrimônio da comunidade e têm para específicas de organização possuem aporte teórico e metodológico estes grupos uma importância estru- sociocultural, de inter- que permite prever e avaliar impactos no tural. Quando estes territórios – consi- espectro da dinâmica dos grupos sociais relação com o seu habitat, derados no sentido amplo das relações atingidos. Considerando que a realidade de construção de direitos que abrigam – são invadidos, alterados social é condicionada e não determi- específicos sobre terras e, pior ainda, nas situações de deslo- nada, podemos investigar as condições e recursos. A vivência camento compulsório, identificam-se objetivas e subjetivas da realidade inves- de uma mesma dinâmica irremediavelmente impactos e perdas tigada e visualizar o processo histórico histórica, uma memória na dinâmica específica das organizações de mudanças. compartilhada e a relação naturais, sociais, econômicas e culturais A análise frequentemente inicia-se com um determinado destas coletividades. pela realidade dada, como ponto objetivo território constituem a base No seu sistema produtivo, grande de partida, e caminha pela percepção da identidade de cada um parte das técnicas e dos sistemas de uso da capacidade política da ação coletiva. desses grupos e de suas e manejo transmitidos e reelaborados Como condições objetivas, consideramos especificidades. pelas gerações é composta por constru- as formas regulares de acontecer dentro ções próprias a partir de investigações de sua dinâmica, as maneiras típicas, as características e experimentações” sistemáticas dos ciclos da natureza demográficas, a divisão sexual, a ambiência física, ecoló- no ecossistema em que vivem. Desse modo, a possibili- gica, a desigualdade social, entre outras. No âmbito das dade de generalização desse conhecimento é limitada, condições subjetivas surge a capacidade do grupo de porque refere-se a uma área específica e a um conjunto criar e de optar em seu próprio contexto. de variáveis que agem sobre ela. Nas condições peculiares aos povos tradicionais encontram-se formas específicas de organização socio- 3.9. Conclusões cultural, de inter-relação com o seu habitat, de cons- trução de direitos específicos sobre terras e recursos. A A delimitação subdimensionada das áreas de vivência de uma mesma dinâmica histórica, uma memória influência na implantação de projetos de desenvolvi- compartilhada e a relação com um determinado território mento, conforme verificado nos estudos de impactos constituem a base da identidade de cada um desses socioambientais considerados, acarreta a exclusão de grupos e de suas especificidades. A noção de território vários atores sociais da arena dos debates públicos que é um dos instrumentos valiosos desenvolvidos pelas envolvem o processo de avaliação e decisão sobre a Ciências Sociais e utilizados nos pareceres críticos para viabilidade, o interesse e a justificativa para a execução demonstrar as relações entre a dinâmica coevolutiva dos empreendimentos.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 35 As práticas periciais dos antropólogos aqui comen- micamente atingidas pela implantação e operação do tadas reafirmam a necessidade de uma abordagem empreendimento, bem como as populações que façam sistêmica e interdisciplinar, tanto por parte das equipes parte dos espaços geográficos que recebem grupos que realizam os estudos prévios de impactos socioam- deslocados de seus modos de vida originais. bientais quanto daquelas envolvidas em seus processos Os pareceres analisados evidenciam que a de análise crítica. A perspectiva da interdisciplinaridade iminência de intensas mudanças sociais, a possibilidade deve ir além da intersecção das disciplinas em torno do de desarticulação de circuitos produtivos, de desapare- tratamento de determinado tema, já que a avaliação cimento de áreas agrícolas, florestais e pesqueiras, de de impactos socioambientais remete a um conjunto redução dos empregos, de empobrecimento e degra- de problemas cujo tratamento só pode ser concebido dação das condições materiais e imateriais de vida, bem a partir da abordagem integrada. como de suas consequências, o aumento das desigual- Cada parte pode, para fins analíticos, ser desta- dades sociais, a piora nas condições de habitação, de cada do todo, desde que não se perca a perspectiva da educação, de saúde – efeitos reconhecidamente desen- visão global e das soluções conjuntas. A análise prévia cadeados por grandes empreendimentos implantados de impactos socioambientais requer a reflexão lúcida agravados pelas omissões do poder público no que e sem competitividade ou hierarquias diz com minimizar e compensar - têm disciplinares sobre conceitos, princípios, provocado fortes reações e acirramento noções e relações da vida em sociedade, É necessário identificar e de conflitos sociais. Estes impactos são que perpassam transversalmente todas “compreender até que ponto potencializados pela falta de estudos as áreas do conhecimento humano. as definições utilizadas e as socioambientais abrangentes e pela Considerando que a área de análises realizadas nesses produção de informações não qualifi- influência é resultante de impactos inci- estudos prévios de impacto cadas. dentes em diversos graus de magnitude ambiental interessam É de acrescentar ainda que os pare- e temporalidade, as avaliações prévias a determinados grupos ceres analisados buscam apresentar uma de impactos socioambientais devem enquanto excluem outros. visão crítica sobre as formas como são ser construídas a partir de hipóteses É fundamental, ainda, assumidas as ideias de desenvolvimento, lançadas como parâmetros de trabalho refletir sobre a autonomia, a meio ambiente e as condições impostas com vistas a delimitar apropriadamente independência e o alcance ao meio socioeconômico nas avaliações a área de influência do empreendimento, do compromisso intelectual de impactos socioambientais. Analisam- que se confirmariam ou se corrigiriam das consultorias ambientais se também as concepções e as escalas ao longo das pesquisas efetivamente face aos empreendedores, adotadas pelos agentes que elaboram realizadas. Esta perspectiva inverte aos órgãos licenciadores e as avaliações de impacto, no sentido de radicalmente a lógica apriorística mostrar não só o que elas revelam, mas aos grupos afetados. frequentemente adotada nos estudos também o que elas buscam ocultar. socioambientais, que não têm apre- ” Todas estas definições básicas sentado resultados confiáveis para amparar a tomada adotadas para pensar o meio ambiente, os grupos responsável de decisões. afetados e os impactos integram como parte e produto o Aspecto importante na delimitação da área de processo social resultante de uma participação desigual, influência é noção de atingido. Para alcançar o objetivo referindo-se a conflitos sociais, a poderes econômicos de uma definição adequada, devem ser considerados e, porque não dizer, ideológicos. É necessário identificar atingidos9 todos aqueles grupos direta ou indiretamente e compreender até que ponto as definições utilizadas e afetados pela implantação do projeto de desenvolvi- as análises realizadas nesses estudos prévios de impacto mento. A adoção da noção de atingido nos estudos ambiental interessam a determinados grupos enquanto socioambientais implica em reconhecer a amplitude do excluem outros. É fundamental, ainda, refletir sobre a universo de afetados, de maneira a incluir não somente autonomia, a independência e o alcance do compro- aquelas populações fisicamente transferidas para dar misso intelectual das consultorias ambientais face aos lugar às obras, mas também aquelas que são econo- empreendedores, aos órgãos licenciadores e aos grupos afetados. 9 A propósito, consultar trabalhos de Carlos B. Vainer, professor Todo esse movimento insinua também uma do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – IPPUR/UFRJ. reflexão ainda mais complexa, qual seja a que se refere

36 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas à efetividade dos procedimentos de licenciamento críticos não pretendem harmonizar os conflitos e ocultar ambiental: constituem-se como espaço para a tomada de assimetrias de poder colaborando para a implementação decisões em base à participação democrática dos setores dos empreendimentos a um baixo custo social. Parte-se, interessados – que pode ser toda a coletividade – ou ao contrário, do reconhecimento dos conflitos existentes. como mera sequência de atos formais desvinculados Os pareceres buscam demonstrar que o conheci- da realidade, instrumentos burocráticos facilitadores mento sobre esses grupos e sobre seus modos de viver a de grandes intervenções, definidos pelos interesses contemporaneidade permitiria vislumbrar formas real- daqueles que “promovem o desenvolvimento”? mente efetivas de evitar a degradação socioambiental e Os pareceres analisados buscam contribuir para de colaborar para a promoção de uma sociedade mais que se identifiquem os limites e as formas distintas de se sustentável e justa. fazer e usar a ciência, e abordam as formas assimétricas A menos que os paradigmas de produção e análise dominantes nos processos de tomadas de decisões, em das avaliações de impacto socioambiental sejam radical- que pese os distintos funcionamentos das instituições mente revistos, os estudos prévios seguirão como maciços dos diferentes povos. Defendem que, além dos conhe- registros, porém inúteis e inoperantes para subsidiar cimentos atualmente catalogados como científicos, a tomada de decisões fundamentadas em práticas de os saberes e as práticas desenvolvidos e aplicados por precaução e de planejamento, continuando a servir diferentes grupos também sejam valorizados, façam como instrumento cientificamente frágil, porém poli- parte e influenciem os debates e as decisões. ticamente eficaz para que determinados setores econô- Dessa forma, ao contribuir para o reconhecimento micos possam impor como hegemônica ao conjunto das especificidades sociológicas dos atores presentes da sociedade brasileira sua visão parcial e estritamente no foco das investigações, os autores desses pareceres desenvolvimentista do mundo.

Em várias oportunidades, o Poder Judiciário determinou a ampliação dos estudos de EIA/RIMA de obras do governo federal

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 37 Se os setores empresariais consideram a legislação“ rígida demais, para os povos indígenas e comunidades tradicionais a legislação é demasiada permissiva e não contempla a inclusão de todos os impactos que as obras geram.”

Desmatamento: um dos primeiros impactos causadas pelos grandes empreendimentos no interior e ao redor de terras indígenas

38 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas 4. Impactos ambientais sobre comunidades indígenas: necessidade de revisão metodológica e construção de novos referenciais de análise

Clóvis Antônio Brighenti Membro do Cimi Regional Sul

m 21 de novembro de 2006 em discurso Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA esta- E durante a inauguração de uma usina de beleceu as responsabilidades, os critérios e as diretrizes biodiesel no Mato Grosso, ao comentar a necessidade gerais para avaliação de impacto ambiental. Portanto, de crescimento e desenvolvimento do país, o presidente a legislação específica é recente e avançou pouco nos Lula afirmou que queria levantar todos os entraves que últimos anos para se tornar de fato protetora do meio eu tenho com o meio ambiente, todos os entraves com ambiente e das populações indígenas, mesmo assim, o Ministério Público, todos os entraves com a questão para os defensores do “desenvolvimento”, qualquer lei dos quilombolas, com a questão dos índios brasileiros, atrapalha. Os empresários e empreiteiras pressionam ou seja, para Lula os povos indígenas são entraves ao o poder público para flexibilizar as normas de licen- “desenvolvimento”. Manifestações como essa não são ciamento ambiental, para assim ser mais fácil e ágil novidade para os povos indígenas, afinal desde o período construir obras de seu interesse. Exemplo dessa pressão colonial os indígenas são vistos como entraves, mas o é a publicação da Portaria Interministerial nº 419/2011 que causou perplexidade aos indígenas e a setores da assinada pela presidente Dilma, que alterou drastica- sociedade nacional foi ter ouvido essa frase do chefe mente as regras de licenciamento, lesando comunidades da nação e em pronunciamento público, externando indígenas, quilombolas e a sociedade de maneira geral sua posição exatamente para os setores da sociedade ao prejudicar o meio ambiente. contrários aos povos indígenas. A questão levantada pelos povos indígenas era a 4.1. Limites do licenciamento que “desenvolvimento” o presidente se referia? Afinal, no Brasil “desenvolvimento” sempre esteve associado ambiental a transformar a natureza em produto de consumo. Se os setores empresariais consideram a legislação Durante os governos militares na década de 1970 havia rígida demais, para os povos indígenas e comunidades o “Milagre Brasileiro”, no governo Fernando Henrique tradicionais a legislação é demasiada permissiva e não Cardoso o processo de “desenvolvimento” chamava- contempla a inclusão de todos os impactos que as se “Avança Brasil” e no governo Lula era denominado obras geram. O Estudo de Impacto Ambiental – EIA e “Programa de Aceleração do Crescimento- PAC” com o Relatório de Impacto Ambiental – RIMA são impor- continuidade no governo Dilma, grande parte deles tantes instrumentos de avaliação, mas da forma como com incidência direta sobre territórios e comunidades são aplicados atualmente não dão conta de identificar indígenas em todo Brasil. e evitar que obras sejam realizadas. No mesmo discurso citado acima, Lula também O processo de licenciamento ambiental é consi- se referia à legislação ambiental como “penduricalhos” derado apenas uma etapa burocrática, que visa unica- que precisam ser superados. A legislação ambiental que mente obter licença por parte do “empreendedor”. dispõe sobre a política nacional do meio ambiente e que, Quando já há decisão de construir determinada obra, pela primeira vez, mencionou a necessidade do Estudo realiza-se o licenciamento como um meio de fazer de Impacto Ambiental – EIA e Relatório de Impacto alguns pequenos ajustes e determinar medidas miti- Ambiental – RIMA, é recente, vem de 1981 (Lei 6.938/81), gadoras. Nesse momento aos atingidos resta a nego- mas foi somente em 1986, através da resolução 01 que o

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 39 ciação e barganha sobre indenizações decisão tomada, quando não podem Ao não consultar as e mitigações. Mudanças de traçado ou mais interferir. Resta às comunidades a comunidades indígenas no adequações somente são possíveis com “ negociação a partir disso, mas as reivin- muitos esforços e pressões, porque no momento da elaboração dicações raramente são aceitas, apenas geral o projeto já está finalizado e não do projeto, estas se veem as que incidem em pequenas mitigações. comporta alterações substanciais. Os forçadas a participar a As audiências públicas, também órgãos ambientais responsáveis pelo licen- partir do fato consumado, previstas no processo de licencia- ciamento não consideram a possibilidade da decisão tomada, quando mento ambiental, e que deveriam ser da não implantação do projeto, no geral não podem mais interferir. um momento importante de consulta, solicitam alternativas variáveis de “menor Resta às comunidades a informação e participação da sociedade impacto”, mas parte-se do pressuposto negociação a partir disso, sobre a viabilidade da realização da obra que todo e qualquer projeto é possível. O mas as reivindicações tornaram-se algo extremamente burocrá- acesso às informações para garantir uma raramente são aceitas, tico e pro-forma. O que menos acontece efetiva participação só chega às comuni- apenas as que incidem em é consulta, uma vez que a linguagem dades quando não há mais possibilidade pequenas mitigações. técnica utilizada para apresentar a obra, de interferência no projeto. A existência diferente das formas de linguagem das do projeto em licenciamento é, no geral, ” comunidades, dificulta o entendimento desconhecida pelas comunidades, que somente vão do que de fato será construído. A metodologia empregada tomar conhecimento quando os técnicos responsá- de poucas manifestações orais e a obrigação de ter que veis pelo EIA-RIMA se apresentarem à comunidade, o se manifestar por escrito torna o ato de apresentação que implica que o projeto já está pronto, e não pode da obra uma legitimação do desconhecido. Porém, mais sofrer alterações, mesmo que legalmente essa pior que a metodologia da apresentação é o arcabouço possibilidade esteja garantida. É como se a opinião e a ideológico, fazer crer que a obra é vital para sobrevi- vontade das comunidades fossem menor que a vontade vência das pessoas daquele lugar, que trará emprego e do “empreendedor” e a ideia de “desenvolvimento”, a “desenvolvimento”. Os possíveis danos são encobertos desigualdade na relação não possibilita um processo pela propaganda da obra. democrático de participação efetiva. Quando se trata de obras licenciadas pelos órgãos Ao não consultar as comunidades indígenas no ambientais estaduais raramente consideram as comu- momento da elaboração do projeto, estas se veem nidades indígenas como potenciais impactadas, estas forçadas a participar a partir do fato consumado, da são praticamente ignoradas.

Empreendimentos ligados ao agronegócio afetam a biodiversidade, com consequências para as comunidades indígenas – Foto: Gilberto Vieira

40 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas 4.2. Área de influência Além de preocupação com a área de influência em termos geográficos, tem preocupado as comunidades Dimensionar a área de influência, o espaço geográ- indígenas a definição contida na Portaria Interminis- fico e a abrangência social dos impactos são elementos terial 419/2011 sobre a definição de Terra Indígena. O importantes de enfrentamento das comunidades indí- artigo 2º que trata de definir alguns conceitos, como genas com o empreendimento. ‘estudos ambientais’, ‘Termo de Referência’ dentre outros, A Portaria Interministerial nº 419/2011 estabeleceu define no Inciso 10 o que é Terra Indígena passível de limites em Km para identificar possíveis interferências às ser considerada. X – Terra indígena: as áreas ocupadas comunidades indígenas. Essa decisão do governo brasileiro por povos indígenas, cujo relatório circunstanciado é uma afronta à construção de um processo democrático de identificação e delimitação tenha sido aprovado de identificar impactos e uma agressão à organização por portaria da FUNAI, publicada no Diário Oficial da social das comunidades indígenas. A inter-relação entre União, ou áreas que tenham sido objeto de portaria de povos, no interior de cada povo, a relação com seu habitat, interdição expedida pela FUNAI em razão da locali- a territorialidade, a organização social e a mobilidade zação de índios isolados. Essa definição retrocede a Lei de cada povo devem ser considerados no momento de 6001/1973 conhecida como “estatuto do Índio”, porque definir a área de influência e impactos. Mas não é isso que concebe como TI apenas aquelas áreas ocupadas e que ocorre. No geral se observa que o Termo de Referência já tenham sido objeto de estudo aprovado pela Funai emitido pelo órgão ambiental já faz recortes sobre o e publicadas no DOU. A Lei 6001/73, conhecida como que o órgão entende por área de influência, dificultando Estatuto do Índio, define no Art. 25 que o reconheci- que as comunidades possam livremente manifestar-se mento do direito dos índios e grupos tribais à posse sobre quais comunidades serão impactadas pela obra. O permanente das terras por eles habitadas, nos termos ponto de vista do órgão ambiental é a preocupação com do artigo 198, da Constituição Federal, independerá de mitigações e não propriamente perceber a dimensão de sua demarcação, e será assegurado pelo órgão federal de impactos que a obra criará para depois decidir, inclusive, assistência aos silvícolas, atendendo à situação atual e se a obra pode ou não ser construída. ao consenso histórico sobre a antiguidade da ocupação, Além dos limites em km, há também delimitações sem prejuízo das medidas cabíveis que, na omissão ou da área de influência a partir da organização política do erro do referido órgão, tomar qualquer dos Poderes da Estado brasileiro. É comum adotar o limite do município República. ou do estado como elemento básico delimitador da Ora, se no Brasil 30% das terras indígenas ainda área de influência. não foram objeto de estudos de identificação ou não

Linhas de transmissão e estradas cortam terras indígenas no país – Foto: Liliane Luchin

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 41 tiveram seus relatórios aprovados, não serão conside- influência sobre uma determinada região e sobre povos radas segundo essa portaria. Isso implica que muitas indígenas já na primeira etapa de implantação (...) pelo comunidades sequer poderão ser consideradas como simples anúncio de que tal empreendimento poderá vir impactadas mesmo que a obra passe sobre a aldeia. a ser ali realizado (IPARJ, 1989). Essa concepção também induz a considerar a área Pelo levantamento realizado, percebe-se que de influência a partir do conceito do espaço jurídico e algumas comunidades são impactadas por diversas não da dimensão humana, da dimensão de impacto obras com mesma finalidade ou por diversos tipos sobre pessoas. Como bem observa Paranhos, (2008, de obras em tempos diferentes. Essa situação leva as p.18) analisar a vida social é condição para identificar comunidades a permanecer continuamente realizando o os impactos e sua área de abrangência. difícil diálogo do com o setor empresarial, com os órgãos de licenciamento com o Ministério Público Federal e 4.3. Impactos globais na maioria das vezes serem mal vistos pela sociedade regional que deseja a obra. Essa situação é geradora As metodologias de estudos de impacto ambiental de desgastes sociais e emocionais que raramente são geralmente utilizam conceitos de “impactos diretos considerados nos estudos pontuais de uma única obra. e indiretos”. Essa perspectiva limita a capacidade de Faz-se necessário realizar estudos que contemplem a análise de uma obra sobre determinada população. noção de impactos cumulativos e sinérgicos, ou seja, a Já em 1989 antropólogos reunidos no Rio de Janeiro sobreposição de projetos e a relação entre eles e seus propuseram ao setor elétrico brasileiro o conceito de efeitos sobre as comunidades. “Impacto Global”, ou seja, o empreendimento causa danos globais, isto é, influência, em geral deletéria, em 4.4. Palavras finais todos os setores da vida de um povo indígena, desde a sua população e as suas concepções de vida e visões A partir desse estudo é possível concluir que os de mundo. Por sua vez, esses danos raramente são estudos de impactos ambientais precisam ser modifi- exclusivos a um número populacional, mas atingiam a cados para haver equilíbrio entre necessidade de construir um povo como um todo, a uma etnia, a uma cultura obras e o cuidado com o meio ambiente e as populações integrada (IPARJ, 1989). Afirmam que um impacto indígenas. classificado como indireto pode causar danos em graus Uma primeira mudança passa pela necessidade de mais profundos do que um classificado como impacto desconstruir alguns conceitos como - “desenvolvimento” direto. Observam ainda que uma obra poderá causar ou “etnodesenvolvimento”. Estes são conceitos criados

A navegação nos rios e a pesca, fundamentais para comunidades indígenas e populações locais, são afetadas pelas hidrelétricas – Foto: Arquivo cimi

42 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas pra classificar as sociedades a partir de e as Avaliações Ambientais Integradas - A dimensão territorial é suas relações econômicas de consumo. AAI. Esses instrumentos são essenciais um aspecto fundamental a São conceitos de mão única que implicam “ para avaliar impactos conjuntos numa em explorar ao máximo o meio no qual ser observado nos EIA das bacia hidrográfica, por exemplo, e não se vive para atingir um estágio de “bem obras. Cada povo indígena simplesmente avaliar pontualmente cada estar”. Ocorre que este estágio de bem tem um território específico empreendimento, como se costuma fazer. estar nunca é atingido, e dessa maneira a e sobre ele estabelece Eles têm papel fundamental no plane- sociedade precisa estar em permanente relações específicas. jamento não só de empreendimentos e desenvolvimento. Nessa visão, quanto Portanto, a análise de atividades, mas para gestão econômica e mais uma sociedade estiver ligada ao impactos de uma obra ambiental que possa garantir a proteção meio ambiente, mais atrasada e menos deve ser um esforço de da biodiversidade e dos direitos da socie- desenvolvida ela é considerada. Associado profissionais capacitados dade como um todo. Aliás, o setor elétrico a este conceito existe outro chamado para estabelecer uma é onde se verifica o maior número de “sustentabilidade”, que é tão perverso abordagem interdisciplinar agressões ao meio ambiente, especial- quanto o de desenvolvimento, porque ele e identificar a perspectiva mente com as Pequenas Centrais Hidrelé- cria uma ilusão de que é possível ampliar cultural do povo mais do que tricas – PCH, que estão transformando os infinitamente o consumo preservando as pressões conjunturais pequenos rios e cursos d’água em lagos, o meio ambiente. Sem uma redefinição impõem. apenas com “licenciamento simplificado”, desses conceitos os povos indígenas sem o EIA-RIMA. Nas margens desses sempre serão considerados atrasados e um empecilho rios” menores é onde se encontra o maior número de ao desenvolvimento do país. comunidades indígenas no Brasil, exatamente porque Uma segunda mudança passa pela necessidade sobre a várzea dos grandes rios foram expulsos ainda de participação dos povos indígenas em todas as no período colonial. etapas do processo, o que implica em poder opinar A dimensão territorial é um aspecto fundamental a sobre a obra. Não podem ser consultados apenas ser observado nos EIA das obras. Cada povo indígena tem depois que o projeto estiver definido para não serem um território específico e sobre ele estabelece relações meros objetos de medidas mitigadoras. Em 2011 o específicas. Território é mais que um espaço geográfico, movimento indígena entregou ao governo brasileiro é um espaço de reprodução física e cultural, construído um documento onde solicita a Consulta Prévia, Livre e socialmente onde estabelecem sua cosmovisão. Ele Informada - CPLI, e segundo os indígenas essa consulta se configura a partir da relação homem e natureza e prévia deve ser entendida como um processo e não gerado a partir de vínculos simbólicos que precisam como um evento. Reivindicação que já é um direito ser contemplados na decisão de construção ou não de garantido aos povos indígenas, que necessita, no uma obra. Portanto, a análise de impactos de uma obra entanto, ser implementado. deve ser um esforço de profissionais capacitados para Outro aspecto importante que vem sendo deba- estabelecer uma abordagem interdisciplinar e identificar tido por entidades que cuidam da vida do planeta é a a perspectiva cultural do povo mais do que as pressões necessidade de Avaliações Ambientais Estratégicas – AEE conjunturais impõem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRACK Paulo. Avaliação Ambiental Integrada – AAI. A impor- povos indígenas do Brasil. Relatório Final. Rio de Janeiro. tância de AAIs encabeçadas pelo órgão ambiental e que Eletrobras/IPARJ, 1989. respeitem os marcos legais na proteção da biodiversidade e PARANHOS, Maria Fernanda; STUCCHI, Deborah. Definição dos direitos dos ribeirinhos. Porto Alegre, Instituto Gaúcho de área de influência de empreendimentos em avaliação de de Estudos Ambientais INGÁ. impacto socioambiental. MPF 6ª CCR. São Paulo-Brasília. 2008. IPARJ – Instituto de Pesquisa antropológica do Rio de Janeiro. RBJA – Rede Brasileira de Justiça Ambiental. Boletim Justiça Diretrizes para o relacionamento do setor elétrico com os Ambiental. Número 4. Edição especial. Rio de Janeiro, Nov-2009.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 43 Em razão da importância de seu caráter instrumental como “garantia de efetivo respeito à autodeterminação, é que a consulta foi prevista não só na Constituição Federal de 1988 mas, também, em inúmeros outros documentos e tratados internacionais, dentre os quais se destaca a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT.”

Recursos estatais são usados para garantir a execução de empreendimentos megalomaníacos, como a hidrelétrica de Belo Monte – Foto: Arquivo Cimi

44 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas 5. A fundamental e obrigatória observância dos direitos dos povos indígenas nos projetos e execução de grandes empreendimentos hidrelétricos: a consulta livre, prévia e informada como pressuposto de validade dos atos do poder público que afetem os povos indígenas

Maria Rezende Capucci Procuradora da República no Município de São Miguel do Oeste/SC

números são os direitos das populações indí- lados não só o direito à organização social, costumes, I genas que encontram suas garantias distribuídas línguas, crenças e tradições dos Povos Indígenas e, por por todo o texto constitucional e demais normas inter- óbvio, porque o mais fundamental, os direitos originários nacionais que alcançaram este mesmo grau hierárquico, sobre as terras que tradicionalmente ocupam. constituindo o que se poderia definir como “O estatuto Garante-se às comunidades indígenas, neste constitucional dos Povos Indígenas”. mesmo arcabouço normativo, o direito ao usufruto Dentre estes direitos, em sua maioria albergados exclusivo dos recursos naturais destes territórios, dentre nos artigos 2311 e 232 da Carta Constitucional, são tute- eles o aproveitamento dos potenciais energéticos dos recursos hídricos. Quanto a estes potenciais, entretanto, o texto 1 Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários constitucional excepciona a regra de exclusividade e sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à permite, mediante autorização do Congresso Nacional, União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. o que, desde já, evidencia o caráter excepcional da § 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por medida, a exploração por terceiros, desde que, é claro, eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas após a oitiva destas comunidades e atendidos diversos atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as neces- requisitos, que pela sua importância e inafastabilidade, sárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. foram também previstos na própria Constituição e § 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam- nas normas internacionais que ingressaram em nosso se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo ordenamento pátrio com este mesmo status, e cuja das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. inobservância implica, necessariamente, a nulidade do § 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas ato do poder público. minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com Dois são os requisitos constitucionalmente autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da previstos à exploração dos potenciais energéticos em lavra, na forma da lei. terras indígenas: autorização do Congresso Nacional, e § 4º - As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indis- poníveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis. que essa autorização se dê mediante um procedimento § 5º - É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, de consulta às comunidades atingidas. salvo, “ad referendum” do Congresso Nacional, em caso de Expressão da Democracia Participativa, do Plura- catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso lismo Jurídico e Político, e da busca pela construção de Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco. § 6º - São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os § 7º - Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das 3º e § 4º. terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e relevante interesse público da União, segundo o que dispuser interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a processo. indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé. (sem grifos no texto original)

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 45 uma sociedade pluri étnica, opções políticas adotadas Mais que isso, a amplitude da norma alcança, pelo Estado Brasileiro, a consulta a estas comunidades também, os demais espaços necessários à vida em sua instrumentaliza o direito à Autodeterminação dos Povos, integralidade, estejam eles ou não dentro dos limites entendido, no caso da exploração dos recursos hídricos, reconhecidos pelo Estado como terra indígena, desde que como o direito de cada Povo decidir, informada e cole- indispensáveis à manutenção dos recursos ambientais tivamente, sobre o futuro de seu espaço territorial dos quais as comunidades se valem para viver, em seu que, para eles, não se resume ao conceito privatista de modo tradicional de ser. E dentre eles, por certo, estão propriedade, mas constitucional e coletivo de território, compreendidos os recursos hídricos. cuja relação com aquele povo é a sua própria razão de ser. No que se refere especificamente a estes recursos, E é exatamente por isso que o direito de autode- como já assinalado, a consulta às comunidades afetadas terminação dos povos, e seu instrumento, a consulta às sobre a realização (ou não) do empreendimento se comunidades, ocupam papel principal no ordenamento coloca como instrumento indispensável à efetividade jurídico nacional e internacional e informam todas do princípio da Autodeterminação dos Povos, senão a as demais regras integrantes destes sistemas, dentre sua própria materialização. Garante, assim, o equilíbrio elas o dispositivo que autoriza a utilização de recursos entre a possibilidade de exploração, por terceiros, dos hídricos em terras tradicionalmente ocupadas pelos recursos hídricos em terras indígenas, e o direito da Povos Indígenas. comunidade de ver respeitada a sua soberania como Importante lembrar sobre este aspecto territorial, Povo a fim de que decida, no seu tempo, e dentro de sempre, que no conceito de terras tradicionalmente suas instituições representativas, o melhor caminho ocupadas pelos índios se incluem, como o próprio para aquela comunidade. texto constitucional traz, não somente aquelas por eles Em razão da importância de seu caráter instru- efetivamente habitadas mas, também, aquelas utilizadas mental como garantia de efetivo respeito à autodeter- para suas atividades produtivas, as imprescindíveis minação, é que a consulta foi prevista não só na Cons- à preservação dos recursos ambientais necessários a tituição Federal de 1988 mas, também, em inúmeros seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física outros documentos e tratados internacionais, dentre e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições, os quais se destaca a Convenção 169 da Organização o que desde já afasta o frágil argumento de que estes Internacional do Trabalho – OIT. procedimentos especiais a seguir analisados devem ser É também em razão da sua natureza jurídica e observados somente em casos em que o empreendimento importância da sua finalidade que a consulta às comuni- seja no interior da terra indígena. dades se reveste de inúmeros requisitos, cuja observância

Indígena Kayapó em uma das ocupações da obra de Belo Monte – Foto: Eden magalhães

46 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas é imperiosa sob pena de não alcançar o de diálogo destas comunidades com o objetivo previsto pelo legislador cons- No conceito de terras Estado, no qual este ente, por meio de tituinte e, em consequência, macular tradicionalmente“ ocupadas suas instituições, preste as informações todo o processo levado a efeito sem a pelos índios se incluem, de forma clara, verídica, e em momento participação das comunidades afetadas. como o próprio texto oportuno, a respeito de todos os questio- Como expressão e garantia desta constitucional traz, não namentos que possam ser trazidos pelas democracia participativa é necessário, somente aquelas por eles comunidades a fim de subsidiar-lhes as primeiramente, que a consulta por meio efetivamente habitadas decisões. da qual se busca a manifestação da comu- mas, também, aquelas Dentro deste processo dialógico nidade sê dentro de um procedimento, utilizadas para suas devem ser observadas e respeitadas as e não de forma isolada; é fundamental, atividades produtivas, formas de representatividade adotadas também, que neste procedimento as as imprescindíveis à pelos próprios povos, e em seu próprio comunidades discutam, de forma livre preservação dos recursos tempo, não cabendo ao Estado escolher e informada, as consequências do ambientais necessários os representantes indígenas no processo empreendimento para aquele povo e, a a seu bem-estar e de negociação, tampouco pressionar partir destas discussões, cheguem a uma as necessárias a sua as comunidades para que alcancem conclusão a respeito do que querem para reprodução física e cultural, de forma rápida um consenso sobre a aquela comunidade. questão que lhes é submetida. São as segundo seus usos, A discussão de forma livre e infor- próprias comunidades, e somente elas, costumes e tradições. mada, por sua vez, presume que os indí- que decidem por quem, em que tempo, genas tenham acesso a estudos fieis dos ” e de que forma, elas estarão represen- diferentes impactos que o empreendimento causará tadas durante todo e em cada etapa do processo de em seus territórios, nas suas mais diversas faces; exige, consulta. Da mesma forma, somente a comunidade, e ainda, que as discussões entre os povos ou comunidades ninguém mais, pode manifestar-se nos termos exigidos afetadas seja procedida mediante assessoria escolhida pelas normas que instituem a consulta, donde se afasta por estas mesmas comunidades, e que sejam custeadas qualquer pretensão em ver aceita como legítima a mani- pelo Estado, responsável pela busca da manifestação festação da FUNAI como suficiente ao cumprimento da legítima daquele povo. obrigação de consultar as comunidades. Da mesma forma, indispensável que haja, além das Não só as comunidades são interlocutoras exclu- discussões entre a própria comunidade, um processo sivas deste diálogo, mas também o próprio Estado,

Obras atuais seguem a mesma lógica autoritária de empreendimentos realizados no período militar, a exemplo da hidrelétrica de Balbina – Foto: Arquivo Cimi

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 47 representado pelo Congresso Nacional, e somente por relação ao objeto principal da discussão: a realização ele, são as partes legítimas para integrar os dois lados do empreendimento. A escolha dos interlocutores, o deste diálogo sobre o empreendimento. Ninguém processo adequado de busca de informações, a duração pode ser substituído neste processo. Como brilhan- da consulta, o local da oitiva, entre inúmeros outros temente afirma a Desembargadora Federal Selene de fatores que envolvem o próprio procedimento de Almeida no voto proferido nos autos da Apelação Cível consulta devem ser previamente levados ao conheci- 2006.39.03.000711-8/PA2, “a consulta é ´intuito personae´. mento e discussão da comunidade para que, desde o Assim como a comunidade indígena não pode ser subs- início, tenham a possibilidade de determinar, em conjunto tituída por outrem na consulta, o Congresso Nacional com o Estado, as diretrizes que balizarão a tomada desta também não pode delegar o ato. É o Congresso Nacional importante decisão. quem consulta porque é ele que tem o poder de outorgar E é fundamental, em todo este processo, desde a a obra. Quem tem o poder tem a responsabilidade pelos pré-consulta até a decisão final que todos os atos, por seus atos”. parte das comunidades e por parte do Estado, sejam A FUNAI, o IBAMA, entre outras representações pautados pela boa-fé, em especial tendo em vista a de órgãos podem – e devem – participar das discus- finalidade do instituto e as consequências da decisão sões com os Povos Indígenas. Mas isto não é a consulta da comunidade. prevista na Constituição Federal que deve ser levada a Neste sentido, como bem esclarece o Relator Espe- efeito pelo responsável pela autorização constitucional- cial da ONU James Anaya, no workshop realizado pela mente exigida: o Congresso Nacional. É este órgão que da FUNAI em Setembro 2011 para tratar do Direito de tem a missão constitucional de ouvir as comunidades Consulta previsto na Convenção 169 da OIT, a finalidade indígenas a respeito dos empreendimentos hidroelétricos do instituto é “alcançar o consentimento livre, prévio e em suas terras. informado das comunidades indígenas. Portanto, trata- Por fim, é indispensável que haja também um se de um diálogo de boa-fé onde se busca um consenso. procedimento de pré-consulta para que sejam defi- Não se trata de um mero SIM ou NÃO, nem do Estado nidas as melhores formas de realizar a consulta em nem do lado dos povos indígenas, mas de um processo (de diálogo) que leve a um acordo”. 2 Rel. Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida, Rel. Neste procedimento de diálogo a boa-fé tem Acor. Desembargador Federal Fagundes de Deus, Quinta Turma, D-DJF1 p. 566 de 25/11/2011. papel fundamental não só para garantir a validade

As várias ocupações dos canteiros de obras de Belo Monte não sensibilizaram o governo federal – Foto: Agência Raizes

48 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas do consentimento, mas também para afetados “Não é pura e simplesmente ouvir que se estabeleça uma indispensável Por ser um elemento para matar a curiosidade. (…) É ouvir para relação de confiança entre o Estado e as crucial“ a ser considerado condicionar a decisão. (…) Até mesmo comunidades indígenas, há muito frágil na decisão do Congresso porque, como dito acima, as orientações e desgastada. Relação de confiança esta Nacional, a consulta da comunidade devem estar refletidas na que deve orientar as tomadas de decisões deve anteceder a decisão decisão do Congresso Nacional, sob pena da comunidade, e também do Estado, a parlamentar, sob pena de de ter-se, em caso contrário, um procedi- respeito do empreendimento. perder sua razão de ser. mento meramente formal e violador das É somente a partir da construção Conforme esclarece o jurista determinações constitucionais. desta relação, orientada pelos princípios Dalmo Dallari no informe Neste sentido, continua Dalmo acima trazidos, em especial pela boa-fé, jurídico da Comissão Pró- Dallari ao afirmar que “se as comunidades incluída neste conceito, também, a boa-fé Índio Ano II, nºs 9 a 13, abril indígenas demonstrarem que será tão objetiva, como obrigação especial de a agosto de 1990, consultar violento o impacto da (…) construção da todos de trazer à discussão, em tempo os povos afetados ‘‘Não é hidrelétrica, será tão agressivo que poderá hábil, de forma clara, verdadeira, opor- pura e simplesmente ouvir significar a morte de pessoas ou a morte tuna e suficiente, todas as informações para matar a curiosidade. da cultura, cria-se um obstáculo instrans- que se relacionem com o empreendi- (…) É ouvir para condicionar ponível à concessão da autorização”. mento. Aptas, portanto, a atingir uma E é exatamente por ser a expressão a decisão’’ (…). Até mesmo decisão legítima e efetiva ao fim a que do Direito à Autodeterminação que a porque, as orientações da se propõe. manifestação da comunidade obtida a comunidade devem estar E se por um lado o princípio da partir do processo de consulta tem, em refletidas na decisão do boa-fé exige esta atitude por parte do alguns casos, verdadeira natureza vincu- Estado, a exige, igualmente, das comuni- Congresso Nacional, sob lante, em especial quando, no entender dades indígenas, que têm o reflexo dever pena de ter-se, em caso da comunidade, coloca-se em risco a sua de fundamentar suas decisões, não lhes contrário, um procedimento própria forma de vida. sendo válida a mera negativa vazia de meramente formal e Neste sentido, e conforme bem justificativas, caso em que o Estado tem violador das determinações esclarece o Professor Anaya3, “um impacto a prerrogativa de exigir a justificação constitucionais. significativo e direto sobre a vida dos povos da comunidade, sob pena de, inclusive, indígenas estabelece uma forte presunção levar a efeito o empreendimento não obstante a não de que” a medida proposta não deve avançar sem o concordância dos povos afetados. consentimento dos povos indígenas. Em certos contextos, As conclusões atingidas após um procedimento na ausência de consentimento indígena, esta presunção que assim se paute serão, por certo, legítimas, e facili- pode se tornar uma proibição da medida ou do projeto”. tarão a compatibilização entre os interesses envolvidos Segundo o resumo do workshop realizado com o a fim de subsidiar e, mais que isso, orientar a decisão professor e relator da ONU, “A declaração sobre Direitos do Congresso Nacional, na qual deverão refletir-se as dos Povos Indígenas identifica duas situações em que é conclusões das comunidades a respeito dos diversos necessário obter o consentimento dos povos indígenas fatores que envolvem o empreendimento, tais como a interessados antes de avançar com a iniciativa proposta: participação, sugestões quanto a medidas e ações miti- situações que envolvem a remoção de um grupo indígena gadoras e reparadoras dos danos que serão causados, de suas terras tradicionais (art. 10); e situações que entre inúmeros outros aspectos e conteúdos que podem envolvem o armazenamento de materiais perigosos em fazer parte das discussões levadas a efeito durante o terras de povos indígenas (art. 29). O Relator acrescenta procedimento de consulta. a esses exemplos a exploração de recursos naturais e Neste ponto, imperioso destacar, embora pareça outras situações em que os projetos possam ter signifi- óbvio, que por ser um elemento crucial a ser conside- cativos impactos sociais ou culturais na vida dos povos rado na decisão do Congresso Nacional, a consulta deve indígenas afetados. anteceder a decisão parlamentar, sob pena de perder sua razão de ser. Conforme esclarece o jurista Dalmo Dallari no informe jurídico da Comissão Pró-Índio Ano 3 Workshop realizado pela Funai em Setembro de 2011 para a II, nºs 9 a 13, abril a agosto de 1990, consultar os povos discussão do Direito de Consulta.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 49 Nestas hipóteses, em não se chegando a um vinculante dessas diretrizes nos estudos realizados com consenso obtido por meio do real processo de consulta, vistas à discussão sobre a consulta. e estando devidamente demonstrado, por meio da mani- Estas diretrizes preveem expressamente que nos festação das comunidades, o grave risco que correm em procedimentos para a obtenção do consentimento sua existência física e cultural, busca-se por alternativas prévio e informado as diversas fases de avaliação de locacionais ao projeto a fim de verem respeitados os impactos devem considerar “os direitos, conhecimentos, direitos dos Povos Indígenas, em especial o de Auto- inovações e práticas das comunidades indígenas e locais; determinação, bem como os demais princípios que o uso de idiomas e processos adequados; a alocação de orientam o Estatuto Constitucional dos Povos Indígenas tempo suficiente e o fornecimento de informação precisa, e a própria Carta que fundamenta o Estado Social e factual e legalmente correta”6. Democrático de Direito no Brasil. Como se vê, a ausência de participação efetiva É a consulta, pois, instrumento indispensável à das comunidades em todas as fases do processo de garantia do direito de participação dos Povos Indígenas tomadas de decisões a respeito de empreendimentos na construção de um Estado que, mais que tudo, é que possam afetar as suas vidas tem encontrado, no seu território originário e tradicional. E se a consulta ordenamento jurídico interno e internacional, respal- é indispensável, é também fundamental e essencial à dados pelas decisões do Poder Judiciário, proteção e validade do ato do poder público que sejam rigorosa- garantia de efetivação. mente observados os requisitos que lhe são inerentes Ao lado de inúmeros outros direitos dos Povos em razão de sua finalidade, sob pena de, como dito, Indígenas garantidos pelo ordenamento jurídico brasi- invalidar qualquer decisão tomada em desrespeito a leiro, o direito à participação efetiva, como corolário estes preceitos. do próprio direito à autodeterminação destes povos, Neste sentido, registre-se decisões do Poder Judi- mostra-se como indispensável à consecução das políticas ciário que invalidaram procedimentos de licenciamentos públicas constitucionais em relação aos Povos Indígenas em fases avançadas por não terem obedecido, de forma e ao respeito à sua soberania como Povos autônomos efetiva, aos ditames que norteiam a realização da consulta e diferenciados. às comunidades, a exemplo da decisão da Excelentíssima Mais que isso, o respeito a esses povos e aos seus Desembargadora Selene de Almeida proferida nos autos direitos fundamentais são o próprio exercício, pelo já mencionada Apelação Cível 2006.39.03.000711-8/P4. Estado, da opção política do constituinte originário Da mesma forma, a jurisprudência da Corte Intera- que elegeu, como fundamentos da República Federativa mericana de Direitos Humanos, da qual o Brasil faz parte do Brasil, entre outros, a construção de uma sociedade e, portanto, se submete, incorporou as diretrizes ADWE: justa, fraterna e pluriétnica, a fim de garantir aos que KON5 para realizar avaliações das repercussões culturais, aqui vivem a dignidade inerente a todo ser humano. ambientais e sociais de projetos de desenvolvimento previstos em terras ou em águas ocupadas ou utilizadas tradicionalmente pelas comunidades indígenas e locais ou que possam afetar estes lugares, o que confere caráter

6 Secretaria del Convenio só bre la Diversidad Biologica (2004). 4 Rel. Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida, Rel. Directrices Akwe-kon voluntarias para realizar evaluaciones delas Acor. Desembargador Federal Fagundes de Deus, Quinta Turma, repercusines culturales, ambientales y sociales de prouetctos de D-DJF1 p. 566 de 25/11/2011. desarrollo que hayan de realizarse em lugares sagrados o em 5 Corte IDH. Caso del Pueblo Saramaka Vs. Surinam. Interpretación tierras o aguas ocupadas o utilizadas tradicinalmente por las de la Sentencia de Excepciones Preliminares, Fondo, Repara- comunidades indigenas y locales, o que puedam afectar a esos cionnes y Costas. Sentencia de 12 de agosto de 2008. lugares. Montreal, 27p. (Directrices del CDB).

50 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas PARTE III Apesar do governo afirmar que a exploração do petróleo“ não acontecerá dentro de terra indígena, o bloco AC-T-8, já arrematado pela Petrobras, fica a poucos metros dos territórios Nukini, Poyanawa e Nawa e a poucos quilômetros do Vale do Javari, que tem a maior concentração de povos isolados do mundo.”

Foto retirada de lindomarpadilha.blogspot.com

52 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas 6. O petróleo: uma nova ameaça

Renato Santana Jornalista, editor do Jornal Porantim

exploração de petróleo e gás na Amazônia (Funai), apoiadores e da sociedade de Cruzeiro do Sul, A entrou de vez na pauta das mobilizações indí- que pressente os efeitos negativos da iminente explo- genas. Não se trata mais de uma preocupação residente ração de petróleo e gás na região. Durante três dias, as no outro lado da fronteira com o Peru, onde a retirada lideranças vislumbraram a tragédia que poderá se abater do óleo afeta há algum tempo indígenas em situação de sobre seus povos se o óleo e o gás começarem a ser isolamento voluntário, que circulam no lado brasileiro. retirados debaixo das terras que consideram sagradas. Depois de estudos sísmicos, executados por empresas (Leia o manifesto final do encontro na página 10). terceirizadas, e do leilão da Agência Nacional do Petróleo (ANP), em novembro do ano passado, quase ao mesmo Os blocos não arrematados tempo em que o Pré-Sal atlântico foi negociado, povos no raio de impacto de extrações almejadas pelo arre- “Eu não vou concordar nunca com essa ideia de mate da Petrobras no bloco AC-T-8 se reúnem para petróleo. Pensando comigo eu vejo que hoje o índio dizer que não aceitam petrolíferas em seus territórios não depende só da mata, mas do que o branco nos tradicionais, muitos deles em processo de demarcação obrigou a depender. Agora não vamos aceitar tudo ou revisão de limites. que branco impõe. Temos que proteger o que restou Tão logo a Petrobras arrematou o bloco AC-T-8, desse grande território que a gente dividiu e o branco com extensão de 1.630 km2, na 12ª Rodada de Licita- destruiu. Sinto que se tirarem petróleo vão acabar ções da ANP, os seis povos da Terra Indígena Vale do com nossos rios”, defende Paulo Nukini. Além dos Javari (Marubo, Mayoruna, Kanamari, , Nukini, o encontro no Acre contou com a presença e Madja) se reuniram na aldeia Maronal, no início de dos povos Arara, Swandaw, Nawa, Ashaninka (do Rio dezembro, para tratar dos impactos que sofrerão em Breu), Huni Kui, Apolima-Arara, Marubo, Katukina, suas terras caso o petróleo e o gás sejam explorados. Poianawa e Jaminawa-Arara. Mesmo que nem todos os Os outros oito blocos ofertados na 12ª Rodada não povos sejam afetados pelo AC-T-8, o único arrematado, foram arrematados, o que não impede que eles sejam a preocupação é compartilhada por todos. Tal como oferecidos pela ANP num próximo leilão. O lado norte fantasmas, os blocos assombram porque existem nos do AC-T-8 mira o Vale do Javari e na porção sul e planos do governo federal. sudeste o bloco se confunde, numa linha tênue, com O povo Poyanawa ficou espremido entre os blocos os territórios Nukini e Poyanawa, no Acre. O estado, AC-T-8 e os AC-T-14 e 15, além de estar a poucos quilô- aliás, divide com o Amazonas os outros blocos, ainda metros do AC-T-9. Já o território dos Jaminawa do Igarapé não arrematados, que chegam a manter terras indí- Preto se tornou uma ilha, cercado por todos os lados genas sitiadas. pelos AC-T-14, 15 e 22. Os Naua agora estão com o terri- Se por um lado no Amazonas a resposta foi inci- tório ameaçado pelos blocos AC-T-8, 14, 22 e 30. No caso siva, de Cruzeiro do Sul, cidade acreana banhada pelo dos Arara do Igarapé Humaitá, são as áreas AC-T-22 e 30 Rio Juruá, cerca de 100 lideranças indígenas, vindas de que preocupam, assim como para os parentes Jaminawa aldeias do Vale do Juruá, com a presença dos Marubo do Arara do Rio Bagé, que estão próximos do AC-T-30. A Vale do Javari, se reuniram no final de março para afirmar terra indígena Campinas, dos Katukina, que tem uma que não vão tolerar petroleiras em seus territórios. O porção territorial no Amazonas, é fronteiriça com o encontro contou com a participação de organizações AC-T-16, próxima ainda de outras terras indígenas. São indigenistas, professores da Universidade Federal do nove blocos que afetam milhares de indígenas e dezenas Acre (Ufac), servidores da Fundação Nacional do Índio de povos, incluindo isolados.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 53 “Os peixes e os outros animais não falam, mas nós “No Acre se desmata, mas se diz que é manejo entendemos. Tal como a gente, eles também não querem florestal. O governo mantém acordos de REDD [Redução deixar de existir. Se eles falassem, estariam gritando. Se de Emissões por Desmatamento e Degradação] e mercado não fizermos nada, nossa água doce vai virar salgada. de carbono, sem regularização no país, escravizando Nossos filhos e netos vão sofrer. A dor é muito forte e comunidades ao regime de empresas poluidoras mundo por isso que eu choro. As terras do meu povo hoje já são afora; tem a concessão de florestas públicas; estradas cortadas por uma estrada (BR 317) e ninguém perguntou rasgam terras indígenas; e agora a exploração do petróleo se a gente queria. Tanto tempo se passou e a cabeça do e gás. Alguém discute como o óleo e o gás serão reti- branco não muda: acham que terra de índio é terra que rados do meio da floresta? Onde serão armazenados?”, eles podem entrar e fazer o que querem”, se emociona questiona o professor da Universidade Federal do Acre Fernando Katukina. (Ufac), Helder Andrade de Paula. Tal como em outros grandes empreendimentos Para Tião Viana, no entanto, o que conta são os que afetam terras tradicionais, caso de estradas e usinas royalties e conforme ele declara amiúde aos jornalistas hidrelétricas, os órgãos responsáveis são incisivos quando esse dinheiro será investido do “jeito socioambiental” afirmam que a exploração de petróleo e gás na região não do Acre se desenvolver. “O governo não está preocu- ocorrerá em terras indígenas. Sendo assim, não afeta a vida pado com os povos indígenas. Sempre dizem que vai das comunidades o que, por sinal, deslegitimaria as críticas ser bom, que não vai ser prejudicial para nós. Daqui da falta de consulta prévia. O que se vê, no entanto, é que a pouco vão começar a oferecer dinheiro. O que paga o bloco AC-T-8 fica a poucos metros de algumas terras nossa terra ancestral? Será que o governo vai terminar indígenas, caso dos territórios Nukini, Poyanawa e Nawa, de demarcar nossas terras agora com esse bloco da e a poucos quilômetros de outras, como do Vale do Javari. Petrobras?”, pontua Lucila Nawa. Apesar das palavras de alento do governador, Royalties socioambientais órgãos federais como a Funai e o Grupo de Trabalho Interministerial de Atividades de Exploração e Produção O governador do Acre, Tião Viana, é um entusiasta de Óleo e Gás (GTPEG), instituído pelo Ministério do da exploração petrolífera no estado. Desde que entrou no Meio Ambiente, alertaram a ANP para a presença de Senado, em 1999, defende a ideia. Hoje em dia mantém povos isolados, bem como sobre terras em processo de a robusta publicidade de que o Acre é um estado que demarcação e áreas de conservação ambiental, inclusive promove o desenvolvimento sustentável. E, para isso, a serem criadas, nas áreas estipuladas aos blocos para utiliza, indiscriminadamente, a figura de Chico Mendes. leilão. Como ocorreu em outros empreendimentos, a Desse modo, grandes empreendimentos amadurecem retórica política venceu os estudos técnicos e a vontade verdes na mesa do governador. das populações impactadas.

Sem informações ou qualquer tipo de consulta aos povos tradicionais, Petrobras entra em áreas indígenas e inicia acampamento e perfuração de poço no meio da floresta, deixando moradores locais inseguros e indignados

54 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas “O petróleo é nosso! Deixem-no na terra! manifesto Fora da Amazônia, petroleiras!” ós, povos da floresta do Vale do Juruá, reunidos ignoram completamente nosso modo de vida porque trazem N no Seminário “Petróleo, você compra, a natu- um modelo sabidamente fracassado de progresso, que bene- reza é quem paga: Vale do Juruá, construindo alternativas”, ficia grupos cada vez menores, detentores do grande capital organizado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e e porque numa lógica inversa, mas igualmente perversa, se realizado de 19 a 21 de março de 2014, viemos manifestar arrogam de especialistas da biodiversidade, minando nossos nossa prioridade de defender a todo custo a vida, estando, saberes e vivência, ao impor um modelo trazido pronto. portanto, preocupados com a exploração de petróleo e gás Tendo por base os parágrafos 6 e 7 da Convenção 169 na nossa região, bem como com a implementação de projetos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que confere de pagamentos por serviços ambientais, a exemplo do REDD aos povos indígenas e tradicionais a consulta, “mediante (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação procedimentos apropriados” e “o direito de escolher suas florestal). próprias prioridades no que diz respeito ao processo de Depois de debatermos e trocarmos experiências e desenvolvimento, na medida em que afete suas vidas, crenças, opiniões não apenas entre os povos da floresta, mas com instituições e bem estar espiritual, bem como as terras que universitários, estudantes de ensino médio e representantes ocupam ou utilizam de alguma forma e de controlar, na de movimentos sociais localizados na cidade, pudemos medida do possível, seu próprio desenvolvimento econômico, perceber que, ao contrário do que nos tem sido passado, social e cultural”, consideramos ilegítima a implementação de o chamado ‘desenvolvimento sustentável’ tem contribuído obras que viabilizarão a exploração do petróleo no Vale do significativamente para a degradação não apenas do meio Juruá, assim como a criação da Lei 2308, de 22 de outubro de em que vivemos, como dos nossos modos de vida, excluindo- 2010, que cria o Sistema Estadual de Incentivos por Serviços nos de participação efetiva nesses processos. Os “Planos Ambientais (Lei Sisa). Tivemos nossos direitos violados e de Manejo Florestal Sustentável” nos servem como claro exigimos revisão imediata desse processo, pois o que se exemplo da falência deste conceito, ao reprimir e crimina- chama de consulta, não atendeu aos critérios estabelecidos lizar os povos da floresta, enquanto, de fato, barganham pela mencionada Convenção. seus meios de subsistência, pois entregam os bens naturais Queremos ainda reiterar o posicionamento presente para o consumo das sociedades industrializadas, em troca na Carta do Acre, de 11 de outubro de 2011, e a Carta da do lucro de poucos empresários. União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), que, É preciso compreender que serviços básicos de assis- tal como nosso manifesto, rechaçam o modelo desenvolvi- tência aos povos da floresta são de inteira responsabilidade mentista com suas falsas soluções da Economia Verde. do Estado, tal como garante nossa legislação. Estes serviços Dado que nossas lutas históricas foram as únicas nos estão sendo oferecidos como moeda de troca por tais responsáveis pelas conquistas que tivemos até hoje, nós, projetos. Representantes do governo e de instituições privadas os povos da floresta, nos comprometemos a firmar aliança condicionam a realização daquilo que já é do nosso direito coletiva, para o enfrentamento deste modelo de morte, que à nossa aceitação de tais projetos. vem invadindo nossos espaços de vida. Após tomarmos conhecimento das consequências Desta forma, nos posicionamos veementemente desastrosas e irresponsáveis da exploração petroleira em contra a exploração petroleira, tanto no Vale do Juruá quanto outros lugares da Amazônia, como Bolívia, Peru e Equador em toda a Pan Amazônia, por entendermos que os grupos (Parque Nacional Yasuní), entendemos que a vida na floresta afetados não estão restritos à floresta, mas incorporam os está iminentemente ameaçada nos seus alicerces, uma vez núcleos urbanos e todas as áreas nas proximidades deste que o risco mais evidente é a contaminação das nossas ecossistema. Queremos convocar toda a sociedade do Vale nascentes, o que afetaria drasticamente a vida de todos os do Juruá que certamente será afetada por uma exploração seres não apenas da região amazônica, mas de todo o mundo. que apenas retirará nossas riquezas e trará transformação É evidente que a riqueza da floresta não apenas foi daquilo que temos de mais precioso: o nosso modo de vida preservada, mas foi produto de uma coevolução com os ainda bastante diverso dos grandes centros insustentáveis. povos que originalmente nela habitaram. Até há muito Cruzeiro do Sul, 21 de Março de 2014 pouco tempo, éramos autossuficientes e não necessitávamos da produção capitalista. Hoje, pouco nos beneficiamos dos Lideranças dos povos Apolima-Arara do Amônia; Ashaninka do artigos oriundos deste modo de produção. Ao contrário, Breu; do Breu, do Jordão e do Envira; Nawa e Nukini do Môa; Shawandawa do Cruzeiro do Vale; Katukina; Jaminawa Arara somos vítimas de discursos que nos desqualificam enquanto do Bagé e Igarapé Preto; Jaminawa do Bagé; Apurinã do Purus aqueles que cuidam do próprio espaço: ou significamos (AM); Marubo do Ituí (AM); Ribeirinhos do Val-Paraíso; Conselho entraves para o progresso (no caso da exploração petroleira) Indigenista Missionário (Cimi); Diocese de Cruzeiro do Sul; Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Cruzeiro do Sul; estudantes universitários ou nos tornamos possíveis destruidores da biodiversidade e secundaristas; professores; agentes de pastorais; jornalistas e vendida como mercadoria (no caso do REDD). Os discursos membros da sociedade civil organizada.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 55 Na prática, essa política se traduz em empreendimentos, “a maioria deles na forma de mega projetos que, ao mesmo tempo em que ampliam a territorialização do capital, promovem mais um processo de desterritorialização das populações regionais, sobretudo dos povos indígenas, quilombolas, pescadores e populações tradicionais.”

Milhares de reais foram usados em obras que hoje se encontram paralisadas ou sucateadas, caso da transposição das águas do São Francisco – Foto: Equipe Cimi Nordeste

56 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas 7. Os empreendimentos em números

partir do ano 2003, com a chegada do presi- 60 linhas de transmissão, além de outros investimentos, A dente Lula ao Palácio do Planalto, o Brasil como as termoelétricas, em números bem inferiores. Em passou a vivenciar uma nova onda desenvolvimentista, segundo lugar está o setor de infraestrutura com 196, agora continuada pela presidenta Dilma. Obstinados estando as rodovias em maior número (88), seguidas pela ideia de projeção do país no mercado global, esses de obras para aproveitamento de recursos hídricos governantes empreenderam – através de uma política (33), hidrovias (25) e ferrovias (21), dentre outras de de privilegiamento de grandes empresas ditas nacionais características distintas e em menor quantidade. Na – um processo de expansão do capital brasileiro para terceira e quarta posição estão a mineração (21) e o o exterior, sobretudo para os países do Sul1, ao mesmo agronegócio (19), vindo logo depois o Ecoturismo (9) tempo em que intensificaram em âmbito interno a e Outros Empreendimentos Turísticos (7)2. marcha do capital para as regiões do país Tomando como referência as consideradas não plenamente inseridas principais regiões geográficas3 do país, o na economia capitalista. Nesse sentido, o As informações Centro-Oeste aparece com 183 projetos, o Centro-Oeste e o Norte, em face de suas levantadas“ pelo Cimi Sul com 139, o Norte com 120, o Nordeste grandes reservas de recursos naturais, mostram que o setor com 64 e o Sudeste com 33. Dessa forma, tornaram-se territórios de exploração de energia é o que as regiões Norte e Centro-Oeste corres- do agronegócio (produção de grãos e mais impacta as terras pondem a cerca de 56% do total dos agrocombustíveis), exploração mineral indígenas. do total de 519 empreendimentos, com predominância e produção de energia hidráulica, dentre empreendimentos os da nas áreas de energia, especialmente a outras atividades econômicas. área energética somam 267. hidráulica, e de infraestrutura. No total, Por outro lado, as regiões já consi- Entre esses se destacam esses empreendimentos impactam 437 deradas completamente inseridas ao 131 pequenas centrais terras indígenas que correspondem aos sistema econômico capitalista passaram hidrelétricas, 67 usinas territórios tradicionais de 204 povos. a receber novos investimentos na área hidrelétricas e 60 linhas de Os dados revelam que a hidrele- de transportes, portos, indústrias etc. transmissão, além de outros tricidade é a principal fonte de geração para tanto, o governo dispõe de vultosas investimentos, como as de energia do país, de acordo com o dotações orçamentárias asseguradas pelo termoelétricas, em números Plano Decenal de Expansão de Energia Programa de Aceleração do Crescimento (PDE 2010-2020), elaborado pela Empresa bem inferiores. (PAC) e pelo Banco Nacional de Desen- de Pesquisa Energética (EPE), a capaci- volvimento Econômico e Social (BNDES). ” dade de produção de energia hidráulica Na prática, essa política se traduz em empreendi- passará de 83 GW em 2010 para 115 GW em 2020, o que mentos, a maioria deles na forma de mega projetos que, demanda investimentos de cerca de R$ 190 bilhões nas ao mesmo tempo em que ampliam a territorialização do denominadas fontes energéticas renováveis. Segundo o capital, promovem mais um processo de desterritoria- presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, “entre 2016 lização das populações regionais, sobretudo dos povos e 2020, deverão ser viabilizados cerca de 19 GW em indígenas, quilombolas, pescadores e populações tradi- projetos hidrelétricos. Desse total, 15,5 GW, ou seja, cionais em geral, causando grandes impactos danosos 82% estarão situados na Região Norte do país. Merece para suas vidas. destaque a Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, com uma As informações levantadas pelo Cimi mostram capacidade da ordem de 7.000 MW”. Essa informação que o setor de energia é o que mais impacta as terras explica toda a violência praticada pelo governo brasi- indígenas. do total de 519 empreendimentos os da área leiro contra os Munduruku nos últimos anos, visto que energética somam 267. Entre esses se destacam 131 pequenas centrais hidrelétricas, 67 usinas hidrelétricas e 2 Demanda construção de local para hospedagem. 3 A soma dos números por região totaliza 539, embora o total de 1 Sul aqui entendido como a parte do globo terrestre que é empreendimentos seja 519. Essa diferença deve-se ao fato de considerada economicamente periférica, os denominados países um mesmo empreendimento (como rodovias ou ferrovias) poder subdesenvolvidos. aparecer em mais de uma região, gerando duplicidade.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 57 esse povo representa a principal força de oposição à primários, sobretudo de extrativismo. Notícia divulgada construção da UHE de São Luiz do Tapajós que impacta pela Agência Latino-americana de Informação (ALAI), no seu território tradicional. dia 10 de maio de 2013, aponta o Brasil como o maior Por outro lado, as rodovias e ferrovias lideram produtor e exportador de minério da América Latina. os investimentos na área de infraestrutura. No dia 15 Em 2011 o Brasil produziu 410 toneladas de minério, de agosto de 2012, durante uma cerimônia de lança- enquanto todos os demais países da América do Sul mento do Programa de Investimento em Logística, produziram apenas 147 milhões. Constata-se assim iniciativa governamental que tem como fim a concessão uma verdadeira reprimarização da economia brasileira. de rodovias e ferrovias para a iniciativa privada, através A luta dos povos indígenas contra os grandes da parceria público-privada (PPP), a presidenta Dilma empreendimentos que impactam suas terras é uma anunciou investimentos de R$ 133 bilhões em 25 anos demonstração de que existem outras formas de pensar e para ferrovias e rodovias, com a finalidade de “melhorar conceber o país diferente daquela pensada por Dilma e a infraestrutura de transportes do Brasil e aquecer a Lula, como um grande mercado. A resistência indígena, economia”. iniciada durante a invasão europeia do Século XVI e Não obstante o discurso governamental de indus- sustentada por mais de 500 anos, é a certeza de que há trialização, hoje, como na Colônia, o país se mantém seres humanos que acreditam e lutam por outras formas em evidência como um grande exportador de produtos de vida que não estejam submetidas ao julgo do capital.

Enquanto bilhões são destinados ao agronegócio, condicionantes impostas aos empreendimentos não são atendidas – Foto: Egon Heck

58 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas Complexos industriais atingem comunidades indígenas – Foto: Equipe Cimi Nordeste 8. Terras e povos indígenas impactados

8.1. 519 empreendimentos de 8.2. Empreendimentos diversos tipos afetam povos e distribuídos por regiões terras indígenas geográficas(*)

(*) A soma dos números por região totaliza 539, embora o total de empreendimentos seja 519. Essa diferença deve-se ao fato de um mesmo empreendimento (como rodovias ou ferrovias) poder aparecer em mais de uma região, gerando duplicidade.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 59 8.3. Os povos atingidos: 204

Aikanã Jururey Makurap Poynawa Aikapu Kadiwéu Makuxi Purubora Aikewar Kaimbé Manairisu Sakirabiar Akrãtikatêjê Kaingang Marubo Sakurabiat Amondawa Kaixana -Nahukwa Saterê-Mawe Anacé Kalankó Matis Anambé Matse (Mayoruna) Surui Apiaká Kamayurá Mawayana Apinajé Kambeba Maxakali Apurinã Kambiwá Mayoruna Tapirapé Arapaço Kampé Maytapu Tapuia Arara Kanamari Tariano Araweté Kanela Miqueleno Taurepang Arikapú Kanoé Miranha Tchukaramãe Aruá Kantaruré Miriti Tembé Asurini Kapivari Morcego Tenetehara Karafawyana Munduruku Avá-Canoeiro Karajá Mura Terena Awá-Guajá Karapanã Myky Tikuna Karapotó Nahukwá Tiriyo Kararahô Nambikwara Torá Baré Karipuna de Rondônia Nambikwara-Alantesu Truká Borari Karipuna do Amapá Nambikwara-Waikisu Trumai Kariri-Xokó Negarotê Tukano Canoé Nukini Tukuna Cao Oro Waje (Oro Wari) Karuazu Ofayé- Tumbalalá Cassupá Katokim Oro At Tupari Katuena Oro Jowin (Oro Wari) Tupinikim Deni Katukina Oro Mon Tuyuka Desano Kaxarari Oro Waram (Oro Wari) Uru Diahoi Kaxinawá Oro Waram Xijein (Oro Enawenê-Nawê Kaxuyana Wari) Erikbatsa Kayabí Oro Win Galibi Kayapó Pakaa Nova Gavião Kayapó Gorotire Gavião Parkateje Kayapó Krenhakorare Panará Geripankó Kayapó Menkragnoti Pankararé Kinikinawa Pankararu Guarani Kiriri Parakanã Guarani Kaiowá Kokama Paresi Guarani Mbya Krahô Parintintin Guarani Nhandeva Krenak Parkateje Guató Krikati Patamona Hixkaryana Pataxó Holotesu Kujubim Pataxó Hã-Hã-Hãe Ingarikó Kulina Paumari Irantxe Kuripako Pipipã Jabuti Kuruaya Piraha Kwazá Piratapúya Javaé Kyikatêjê Povos em situação de isolamento voluntário Jiahui Latundê Potiguara Juruna Maku

60 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas 8.4. As terras indígenas atingidas: 437

Água Grande Cachoeira Seca Guaimbé Kaingang de Iraí Aldeia Campestre Cachoeirinha Guapenu Kalankó Aldeia Kondá Cacique Doble Guaporé Kambiwá Aldeinha Cacique Doble II Guapuku Kampé Alto Rio Negro Cacique Fontoura Guarani Araponga Kanain Alto Tarauacá Caiapucá Guarani Barra do Ouro Kanamari do Rio Juruá Amambai Caieiras Velhas Guarani da Barragem Kandóia Anacé Caititu Guarani de Águas Brancas Kanela Anambé Cajuhiri Atravessado Guarani de Itaporanga Kantaruré Andira-marau Cambirela Guarani do Aguapeu Karajá Aningal Camicuã Guarani do Araça’i Karajá de Aruanã I Apiaká - Pontal (São Tomé) Campo Bonito Guarani do Bracuí Karajá de Aruanã III Apiaká / Kayabi Campo Seco Guarani do Rio Pequeno Karajá Santa Maria das Apinayé Cana Brava/Guajajara Guarita Barreiras Apipica Canauanin Guató Karajá Xambioá Apucarana Canoé Guyraroka Karapotó Apurinã Igarapé São João Capivara Ibirama - La Klãno Kararahô Apurinã Igarapé Taumirim Caramuru Catarina Icatu Karipuna Apurinã km 124 BR-317 Paraguaçu Igarapé Grande Kariri-Xokó Apyterewa Carazinho Igarapé Lage Karitiana Araçá Carretão I Igarapé Lourdes Karuazu Arara Carretão II Igarapé Paiol Karugua Arara da Volta Grande do Carreteiro Igarapé Ribeirão Katokim Xingu Cassupá Katukina / Kaxinawá Arara do Rio Branco Cerco Grande Ilha da Cotinga Kaxarari Araribá Cerrito Ilha do Camaleão Kaxinawa do Rio Humaitá Araribóia Cerro Peron Imbaa Kayabi Arary Cobra Grande Inãwébohona Kayapó Araweté Igarapé Ipixuna Comboios Ipixuna Kiriri Areões Conquista Iquirema Km 20 - Barrero Guasu Arikapu Coroa Vermelha Irantxe Km 43 Ariramba Coxilha da Cruz Irapuá Koatinemo Arroio Divisa Cunhã/Sapucaia Itaitinga Kokue’y (Mosquiteiro) Arroio do Conde Curi’y Amaral Itanhaém Krahô/Kanela Arroio Korá Curupaity Itanhaém / Morro da Palha Kraolândia Ava Tovilho Deni Itaóca Krenak Avá-Canoeiro Diahui Itapoa Takuaremboiy Krikati Banawa Dourados Ituna / Itata Krukutu Barão de Antonina Enawenê-nawê Ivaí Kujubim Barreira da Missão Erikbaktsa Jacareuba / Katawixi Kulina do Médio Juruá Barreirinha Espadim Jaquiri Kulina do Rio Uerê Batelh’ie Botelha Gasu Estivadinho Jaraguá Kuruaya Batovi Evaré I Jarawara / Jamamadi / Kwazá do Rio São Pedro Baú Evaré II Kanamari Lago Capanã Boa Vista Farropilha Jarudori Lago do Barrigudo Boca do Acre Fazenda Canto Jatei Kue Lago do Beruri Borari Alter do Chão Figueiras Jatuarana Lago do Limão Borboleta Fortaleza do Patuá Jauary Lago Jauari Bragança Funil Javaé Lagoa dos Brincos Buriti Galibi Javevyry Laguna Perui Buritizinho Gavião Jeripankó Lajeado Caarapó Goiaba / Monte / Primavera Juininha Lalima Cabeceira Comprida Governador Juminá Laranjeira Nhãnderu Cacau do Tarauacá Gua Y Viri (Lima Campo) Kaakaikue Laranjinha Cachoeira dos Inácios Gua’ay Kadiwéu Las Casas

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 61 Ligeiro Padre Rancho Jacaré Tikuna de Feijoal Ligeiro II Pakaas Novas Raposa Serra do Sol Tirecatinga Limão Verde Palmas Recreio/São Félix Toldo Chimbangue Limeira Panambizinho Reta/Itaju Toldo Chimbangue II Lomba do Pinheiro Panará Rio Biá Toldo Imbu M´Byguaçu Panará do Arauató Rio Branco Toldo Pinhal Mãe Maria Pankararé Rio dos Índios Torá Makurap Pankararú Rio dos Pardos Toro Piré Malacacheta Paquiçamba Rio Juma Trincheira Mangueirinha Parabubure Rio Manicoré Trincheira / Bacajá Manoki (Irantxe I) Paracuhuba Rio Mequéns Trocará Marãiwatsedé Parakanã Rio Negro Ocaia Trombetas Mapuera Marajai Parati - Mirim Rio Omerê Truká Marechal Rondon Pareci Rio Pindaré Tubarão Latundê Marituba Parque do Araguaia Rio Tea Tujukua Marrecas Parque Indígena do Aripuanã Rio Urubu Tukuna Umariaçu Massaco Parque Indígena do Roosevelt Tumbalalá Massarará Tumucumaque Sagarana Tupã Supé Massiambu Parque Indígena do Xingu Sai - Cinza Tupari Arua Mata da Cafurna Passo da Estância Salto Grande do Jacui Tupiniquim Mato Castelhano Passo Grande Sambaqui Turé / Mariquita Mato Preto Passo Grande da Forquilha Sangradouro/Volta Grande Uaça Mawétek Patauá São Domingos Uirapuru Maxakali Pau Brasil São Jerônimo Médio Rio Negro I Paumari do Cuniuá São Leopoldo Urubu Branco Médio Rio Negro II Peneri/Tacaquiri São Luis do Tapajós Uru-Eu-Wau-Wau Menkragnoti Pequizal São Marcos Utiariti Menku Perigara São Pedro Vale do Guaporé Meriá Peruíbe Sapotal Vale do Javari Merure Petim / Atraçaty Sararé Valiente Kue Miguel/Josefa Piaçaguera Serra da Moça Valparaiso Miquelenhos do Rio São Pilad Rebua Serra do Itatins Vargem Alegre Miguel Pimentel Barbosa Serra Morena Varzinha Miratu Pimentel São Luis Serrinha Ventarra Monte Pinatuba Seruini Marienê Votouro Monte Caseros Pindoty Sete de Setembro Vya Monte Caseros II Pinhal Setema Waimiri-Atroari Morro Alto Pipipã Sororó Wassu Cocal Morro da Palha Piraí Sucuriy Wayoro Morro do Osso Pirineus de Souza Tabalascada Xambioá Morro dos Cavalos Poique Tadarimana Xapecó Munduruku Ponciano Taihantesu Xapecó Glebas A e B Munduruku Takuara Ponta da Formiga Tajukua Murutinga Porto Desseado Takarity / Ivykwarusu Xikrin do Rio Cateté Nambikwara Porto Lindo (Paraguassú) Xipáya Ñande Ru Marangatu Porto Praia Tapeba Xukuru Natal/Felicidade Portrerito Tapesu’aty Yaká Porã Nhamundá / Mapuera Potiguara - Monte Mor Tapirapé/Karajá Nonoai Potiguara (São Miguel) Tarumã Ypo’i e Triunfo Nonoai / Rio da Várzea Potrero Guaçu Taunay / Ipegue Yvy Katu Nova Jacundá (Aldeia) Poyanawa Tawaí Yvype Nove de Janeiro Praia do Índio Tekohá Dju Mirim/ Amâncio Zo’é Npuku Praia do Mangue Tekoha Ytu Zuruahã Nukini Puruborá Tenharim Marmelos Ofayé-Xavante Queimadas Tereré Ouro Verde Quinze de Agosto Tereza Cristina Pacheca Raia Pires Tibagy Mococa

62 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas 8.5. Os empreendimentos e as terras atingidas

Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Usina de açúcar e álcool - Nivirai/MS Javevyry Usina de cana de açúcar - Brasilândia/MS Ofayé-Xavante Buriti Ava Tovilho Usina de açúcar e álcool - Sidrolândia/MS Buritizinho Caarapó Tereré Campo Seco Buriti Gua’ay Usina de açúcar e álcool - Sidrolândia II Buritizinho Guyraroka Tereré Kaakaikue Usina de açúcar e álcool Rio Brilhante Laranjeira Nhãnderu Usina de cana de açúcar - Caarapó Km 20/Barrero Guasu Curupaity Laguna Perui Dourados Npuku Gua Y Viri (Lima Campo) Poique Guapuku Porto Desseado Usina de álcool e açúcar - Dourados/MS Jatei Kue São Pedro Panambizinho Yvype Toro Piré Cerrito Usina de cana de açúcar - Eldorado/MS Tujukua Laguna Perui Usina de álcool e açúcar - Maracaju II Sucuriy Porto Lindo Usina de cana de açúcar - Iguatemi/MS Usina de álcool e açúcar Yvy Katu Laranjeira Nhãnderu - Rio Brilhante/MS Usina de cana de açúcar - Maracaju/MS Sucuriy Curupaity Usina de cana de açúcar - Navirai/MS Javevyry Dourados Guaimbé Gua Y Viri (Lima Campo) Kokue’y (Mosquiteiro) Guapuku Usina de cana de açúcar - Ponta Porã/MS Usina de biodiesel - Dourados/MS Ouro Verde Jatei Kue Rancho Jacaré Panambizinho Buriti Usina de cana de açúcar Toro Piré Buritizinho - Sidrolândia II/MS Tujukua Tereré

Desmatamento causado pela hidrelétrica de Belo Monte – Foto: Lunaé Parracho

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 63 Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Usina de cana de açúcar Angélica/MS Quinze de Agosto Linha de transmissão 500 kv Javae - Serra da Mesa/GO - Valadares/MG/ Avá-Canoeiro Criação de gado de corte/TO Karajá de Aruanã I Mangabeira/BA Exploração de celulose - expansão da Linha de transmissão Raposa Serra do Sol Tupiniquim fábrica da Aracruz Celulose/ES - corta terra indígena São Marcos / Raposa Serra do Sol/RR São Marcos Ecoturismo na aldeia Kamayura/MT Parque Indígena do Xingu Linha de transmissão Ecoturismo na terra indígena Trocará Parabubure - corta terra indígena Trocará/PA Parabubure/MT Linha de transmissão Empreendimento de ecoturismo na terra Yaká Porã Barão de Antonina - Joinville norte - Curitiba indígena Barão de Antonina/PR Juininha Projeto de ecoturismo na terra indígena Perigara Perigara/MT Nambikwara Pirineus de Souza Projeto diagnóstico socioambiental terra Linha de transmissão 230 kv Guató Taihantesu indígena Guató/MS - Samuel/RO - Jauru/MT Potiguara - Monte Mor Tubarão Latundê Projeto renascer Potiguara/PB Potiguara (São Miguel) Uirapuru Projeto tape na Aldeia Morena Vale do Guaporé Parque Indígena do Xingu - Xingu/MT Linha de transmissão 230 kv Guarita Projeto Xingu Refúgio Amazônico Turismo - Trecho Guarita Kaingang de Iraí Parque Indígena do Xingu e Preservação/MT Linha de transmissão 230 kv Guarita Proposta de convênio de ecoturismo em - Trecho Guarita/RS - Foz do Chapecó - Médio Rio Negro I terra indígena/AM Xanxare/SC Kaingang de Iraí Criação de parque turístico indígena Avá-Canoeiro Ilha da Cotinga Linha de transmissão 230 kv - Trecho Tekowã Pará - Ilha da Cotinga/PR Niquelândia/GO e UHE Serra da Mesa/GO Avá-Canoeiro Morro Alto Linha de transmissão 500 kv Avá-Canoeiro Pindoty - Serra da Mesa/GO - Samambaia/DF Empreendimento turístico Piraí Jarudori Linha de transmissão 500 kv - Costa do Encanto/SC Reta/Itaju Tadarimana - Cuiabá - Ribeirãozinho - Rio Verde Tarumã Tereza Cristina Yaká Porã M’Byguaçu Linha de transmissão 525 kv Empreendimento turístico na aldeia Morro da Palha Kiriri - Campos Novos / Blumenau / C2/SC Mirandela terra indígena Kiriri/BA Tekoha Dju Mirim / Amâncio Empreendimento turístico na terra Farropilha Rio dos Índios Linha de transmissão 525 kv indígena Rio dos Índios/RS Mato Preto Projeto de um pier turístico na terra - Itá / Caxias/RS Coroa Vermelha Ventarra indígena Coroa Vermelha/BA Cacique Doble Gasoduto Juruá-Urucu/AM Kulina do Rio Uerê Carreteiro Poliduto Urucu-Coari/AM Cajuhiri Atravessado Ligeiro Jarudori Linha de transmissão Campos Novos - Mato Castelhano Karitiana Nova Santa Rita/SC Monte Caseros Pequizal Passo Grande da Forquilha Rio Omerê Interligação Madeira - Porto Velho - São Leopoldo Araraquara (circuito 2) - lotes F, E e G - Sararé Ventarra GO/MG/MT/RO/SP Tadarimana Linha de transmissão Celpe / Chesf sobre Pankararu Tubarão Latundê terra indígena Pankararu/PE Umutina Linha de transmissão Cemar - Trecho Araribóia Vale do Guaporé Grajuaú - Arame/MA Linha de distribuição 500 kv Jarudori Cacique Doble - Itumbiara/GO - Cuiabá/MT Carreteiro Linha de distribuição Comodoro - Nambikwara Linha de transmissão de Campos Novos - Ligeiro Noroagro - Estância Miranda/MT Santa Marta/SC Mato Castelhano Linha de distribuição na Aldeia Passo Liso Mangueirinha na terra indígena Mangueirinha/PR Mato Preto Linha de distribuição rede de Ventarra energia elétrica terra indígena Lagoa dos BRincos Cambirela Lagoa dos Brincos/MT Cury Amaral Igarapé Lage M’Byguaçu Linha de transmissão de reforço energético Igarapé Ribeirão Massiambu Linha de transmissão 230 kv - Rio Branco/ de Santa Catarina AC - Porto Velho/RO e 138 kv - Abuanã/ Karipuna Morro da Palha RO - Guajará Mirim Karitiana Morro dos Cavalos Kaxarari Tekoha Dju Mirim / Amâncio

64 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Linha de transmissão em 500 kv Limeira Trocará - Tucuruí - Xingu Jurupari Central geradora hidrelétrica (CGH) Toldo Imbu Linha de transmissão Figueira - Apucarana Evangelista/SC Xapecó Apucarana/PR Figueiras Xapecó, Glebas A e B Linha de transmissão Guri São Marcos Aldeia Kondá - Venezuela e Boavista/RR Serra da Moça Central geradora hidrelétrica (CGH) Guarani do Araça’i Guarani da Barragem Lontras/SC Toldo Chimbangue Linha de transmissão Itaberá Jaraguá Toldo Pinhal - Tijuco Preto III/SP Tekoha Ytu Toldo Imbu Linha de transmissão Ivaiporã Central geradora hidrelétrica Abrasa/SC Xapecó Queimadas - Itaberá III - 750 - PR/SP Xapecó, Glebas A e B Linha de transmissão na terra indígena Rio Omerê Kantaruré Pequena central hidrelétrica - Cascata/RO Kantaruré/BA Tubarão Latundê Linha de transmissão na terra indígena Pankararé Pequena central hidrelétrica - Cassol/RO Rio BRanco Pankararé/BA Toldo Imbu Linha de transmissão na terra indígena São Pequena central hidrelétrica São Marcos Xapecó Marcos/MT - Foz do Chapecozinho Xapecó, Glebas A e B Curupaity Pequena central hidrelétrica - Hercílio/SC Ibirama - La Klãno Dourados Pequena central hidrelétrica Alto Rio Negro Gua Y Viri (Lima Campo) - Iauaretê/AM Linha de transmissão Porto Primavera - Guapuku Cacique Doble Pequena central hidrelétrica - Ouro/RS Dourados - Imbirussu/MS Jatei Kue Cacique Doble II Panambizinho Pequena central hidrelétrica/Pardos/SC Rio dos Pardos Tajukua Aldeia Kondá Toro Piré Pequena central hidrelétrica/Rodeio Toldo Chimbangue Kujubim Bonito/SC Toldo Chimbangue II Massaco Toldo Pinhal Miquelenhos do Rio São Pequena central hidrelétrica - Santa Cruz Linha de transmissão Porto Velho/RO - Miguel - Monte Negro - São Benedito e Rafael no Uru-Eu-Wau-Wau Araraquara/SP Puruborá Rio Jamari/RO Monte Caseros Rio BRanco Pequena central hidrelétrica - São Paulo Wayoro Monte Caseros II Linha de transmissão Santa Helena de Pequena central hidrelétrica Maxakali Juininha Minas - Bertópolis/MG - Teo Duarte do Vale/MT Linha de transmissão Serra da Mesa Aldeia Kondá Avá-Canoeiro Guarani do Araça’i Samambaia - 1º circuito/GO/DF Pequena central hidrelétrica - Xanxerê/SC Linha de transmissão trecho Imperatriz/ Toldo Chimbangue Apinayé MA - Tocantinópolis/TO Toldo Pinhal Linha de transmissão UHE Salto Corgão - Cacique Doble Juininha UHE Pontes Lacerda/MT Cacique Doble II Linha de transmissão 230 kv Mãe Maria Carreteiro - Tacaiúnas - Carajás, c3/PA Pequena central hidrelétrica Abauna/RS Ligeiro Linha de transmissão 500 kv - Colinas do Ligeiro II Tocantins/São João do Piauí - Interligação Kraholândia Elétrica Norte e Nordeste S.A. Monte Caseros Linha de transmissão 500 kv - Jurupari - Passo Grande da Forquilha Oriximiná e 230 kv - Jurupari - Laranjal Kandóia Cobra Grande do Jari/Macapá (interligação Tucuruí/ Pequena central hidrelétrica Nonoai Macapá/Manaus (lotes A e B) Albano Machado/RS Serrinha Linha de transmissão 500 kv Rio Urubu Votouro - Oriximiná - Cariri - AM/PA Aldeia Kondá Linha de transmissão Boa Vista/RR - Waimiri-Atroari Guarani do Araça’i Manaus/AM Pequena central hidrelétrica Aldeia/SC Toldo Chimbangue Aldeia Kondá Toldo Pinhal Central geradora hidrelétrica (CGH) Carlos Guarani do Araça’i Aldeia Kondá Hacker/SC Toldo Chimbangue Pequena central hidrelétrica Guarani do Araça’i Toldo Pinhal Alto Irani/SC Toldo Chimbangue Toldo Imbu Central geradora hidrelétrica (CGH) Toldo Pinhal Xapecó Pequena central hidrelétrica Celso Ramos/SC Roosevelt Xapecó, Glebas A e B Apertadinho/RO

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 65 Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Pequena central hidrelétrica Cacique Doble Serrinha Apucaraninha/PR Cacique Doble II Aldeia Kondá Carreteiro Pequena central hidrelétrica Guarani do Araça’i Ligeiro Pequena central hidrelétrica Arvoredo/SC Bernardo José/RS Toldo Chimbangue Ligeiro II Toldo Pinhal Monte Caseros Pequena central hidrelétrica Monte Passo Grande da Forquilha Autódromo/RS Pequena central hidrelétrica Guarita Cacique Doble Bico de Pato/RS Cacique Doble II Pequena central hidrelétrica Boa Fé/RS Monte Caseros Carreteiro Pequena central hidrelétrica Bocaiúva/MT Manoki (Irantxe I) Pequena central hidrelétrica Avante/RS Ligeiro Cacique Doble Ligeiro II Cacique Doble II Monte Caseros Carreteiro Passo Grande da Forquilha Pequena central hidrelétrica Bonança/RS Ligeiro Cacique Doble Ligeiro II Cacique Doble II Monte Caseros Carreteiro Passo Grande da Forquilha Pequena central hidrelétrica Barração/RS Ligeiro Cacique Doble Ligeiro II Cacique Doble II Monte Caseros Carreteiro Passo Grande da Forquilha Pequena central hidrelétrica Bruna/RS Ligeiro Cacique Doble Ligeiro II Cacique Doble II Monte Caseros Carreteiro Passo Grande da Forquilha Pequena central hidrelétrica Bela Vista/RS Ligeiro Nonoai Pequena central hidrelétrica Cabrito/RS Ligeiro II Nonoai/Rio da Várzea Monte Caseros Aldeia Kondá Passo Grande da Forquilha Guarani do Araça’i Pequena central hidrelétrica Caju/SC Pequena central hidrelétrica Toldo Chimbangue Marrecas Bela Vista I e II - PR Toldo Pinhal

Vale: eleita a pior empresa do mundo pelos danos causados ao meio ambiente. Isto vale? – Foto: Egon Heck

66 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Pequena central hidrelétrica Nonoai Toldo Imbu Cascata das Andorinhas/RS Nonoai/Rio da Várzea Xapecó Cacique Doble Pequena central hidrelétrica Xapecó, Glebas A e B Cacique Doble II Faxinal dos Guedes/SC Limeira Carreteiro Toldo Imbu Pequena central hidrelétrica Ligeiro Xapecó Cerquinha II/RS Ligeiro II Pequena central hidrelétrica ferradura/RS Guarita Monte Caseros Cacique Doble Passo Grande da Forquilha Cacique Doble II Cacique Doble Carreteiro Cacique Doble II Pequena central hidrelétrica Forquilha Ligeiro Carreteiro Ligeiro II Pequena central hidrelétrica Ligeiro Monte Caseros Cerquinha III/RS Ligeiro II Passo Grande da Forquilha Monte Caseros Cacique Doble Passo Grande da Forquilha Cacique Doble II Cacique Doble Carreteiro Pequena central hidrelétrica Cacique Doble II Ligeiro Forquilha II/RS Carreteiro Ligeiro II Pequena central hidrelétrica Ligeiro Monte Caseros Chimarrão/RS Ligeiro II Passo Grande da Forquilha Monte Caseros Cacique Doble Passo Grande da Forquilha Cacique Doble II Pequena central hidrelétrica Colinas/GO Avá-Canoeiro Carreteiro Pequena central hidrelétrica Ligeiro Enawenê-Nawê Forquilha IV - Apuaê Inhandava Erikbaktsa Ligeiro II Pequena central hidrelétrica Menku Monte Caseros Consórcio Juruena/MT Nambikwara Passo Grande da Forquilha Pareci Cacique Doble Toldo Imbu Cacique Doble II Pequena central hidrelétrica Dalapria/SC Xapecó Carreteiro Pequena central hidrelétrica Ligeiro Xapecó, Glebas A e B Foz do Apuaê/RS Cacique Doble Ligeiro II Cacique Doble II Monte Caseros Carreteiro Passo Grande da Forquilha Pequena central hidrelétrica Ligeiro Pequena central hidrelétrica Guarita Guarita Despraiado/RS Ligeiro II Pequena central hidrelétrica Juba I e II/MT Pareci Monte Caseros Pequena central hidrelétrica Juína/MT Serra Morena Passo Grande da Forquilha Toldo Imbu Borboleta Pequena central hidrelétrica Kaingang Xapecó Pequena central hidrelétrica Dreher/RS Salto Grande do Jacui Xapecó, Glebas A e B Pequena central hidrelétrica Edelweis/RS Guarita Cacique Doble Cacique Doble Cacique Doble II Cacique Doble II Carreteiro Carreteiro Pequena central hidrelétrica Ligeiro/RS Ligeiro Pequena central hidrelétrica Eliane/RS Ligeiro Ligeiro II Ligeiro II Monte Caseros Monte Caseros Passo Grande da Forquilha Passo Grande da Forquilha Pequena central hidrelétrica Nonoai Cacique Doble Linha Aparecida/RS Nonoai/Rio da Várzea Cacique Doble II Pequena central hidrelétrica Nonoai Carreteiro Linha Jacinto/RS Nonoai/Rio da Várzea Pequena central hidrelétrica Esmeralda/RS Ligeiro Toldo Imbu Ligeiro II Pequena central hidrelétrica Ludesa/SC Xapecó Monte Caseros Xapecó, Glebas A e B Passo Grande da Forquilha Toldo Imbu Pequena central hidrelétrica Marema Pequena central hidrelétrica Xapecó Nambikwara (Rio Chapecozinho)/SC Esperança no Rio Piolinho/MT Xapecó, Glebas A e B

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 67 Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Pequena central hidrelétrica Nonoai Toldo Imbu Pequena central hidrelétrica Mata Cobra/RS Nonoai/Rio da Várzea Xapecó Salto do Passo Velho/SC Arikapu Xapecó, Glebas A e B Canoé Pequena central hidrelétrica Estivadinho Diahui Salto Maciel/MT Kampé Apucarana Pequena central hidrelétrica na Makurap Pequena central hidrelétrica Queimadas Bacia do Rio Branco/RO Rio BRanco Salto Mauá/PR São Jerônimo Rio Mequéns Tibagy Mococa Tupari Arua Pequena central hidrelétrica Xapecó Wayoro Salto Voltão/SC Xapecó, Glebas A e B Cacique Doble Palmas Cacique Doble II Pequena central hidrelétrica Toldo Imbu Carreteiro Santa Laura/SC Xapecó Pequena central hidrelétrica Nicole/RS Ligeiro Xapecó, Glebas A e B Toldo Imbu Ligeiro II Pequena central hidrelétrica Xapecó Monte Caseros Santa Luzia Alto/SC Passo Grande da Forquilha Xapecó, Glebas A e B Pequena central hidrelétrica Cacique Doble Parque Indígena do Xingu Paranatinga II/MT Cacique Doble II Cacique Doble Carreteiro Pequena central hidrelétrica Ligeiro Cacique Doble II Santa Rosa/RS Carreteiro Ligeiro II Pequena central hidrelétrica Ligeiro Monte Caseros Passo do Buraco/RS Ligeiro II Passo Grande da Forquilha Monte Caseros Toldo Imbu Pequena central hidrelétrica Xapecó Passo Grande da Forquilha Santa Rosa/SC Toldo Imbu Xapecó, Glebas A e B Pequena central hidrelétrica Xapecó Pequena central hidrelétrica Borboleta Passo Ferraz/SC Xapecó, Glebas A e B Santo Antônio do Jacuí Salto Grande do Jacuí Pequena central hidrelétrica Pequena central hidrelétrica Nonoai Estivadinho Pinhalzinho – RS Nonoai/Rio da Várzea Sepotuba/MT Aldeia Kondá Cacique Doble Cacique Doble II Pequena central hidrelétrica Guarani do Araça’i Carreteiro Plano Alto/SC Toldo Chimbangue Pequena central hidrelétrica Ligeiro Toldo Pinhal Sossego/RS Toldo Imbu Ligeiro II Pequena central hidrelétrica Xapecó Monte Caseros Prainha/SC Xapecó, Glebas A e B Passo Grande da Forquilha Pequena central hidrelétrica Tambau/RS Guarita Pequena central hidrelétrica Nambikwara Presente de Deus/MT Uirapuru Pequena central hidrelétrica Nonoai Taquaruçu/RS Pequena central hidrelétrica Nonoai/Rio da Várzea Kwazá do Rio São Pedro Borboleta Primavera/RO Pequena central hidrelétrica Tio Hugo/RS Pequena central hidrelétrica Salto Grande do Jacuí Nonoai Rio dos Índios Cacique Doble Cacique Doble Cacique Doble II Cacique Doble II Carreteiro Carreteiro Pequena central hidrelétrica Touros II/RS Ligeiro Pequena central hidrelétrica Saltinho/RS Ligeiro Ligeiro II Ligeiro II Monte Caseros Monte Caseros Passo Grande da Forquilha Passo Grande da Forquilha Cacique Doble Pequena central hidrelétrica Nonoai Cacique Doble II Salto Barroso/RS Nonoai/Rio da Várzea Carreteiro Pequena central hidrelétrica Irantxe Pequena central hidrelétrica Touros III/RS Ligeiro Salto Belo - (Sacre 2)/MT Tirecatinga Ligeiro II Pequena central hidrelétrica Monte Caseros Ivaí Salto Cristalino/PR Passo Grande da Forquilha

68 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Cacique Doble Apinayé Cacique Doble II Avá-Canoeiro Carreteiro Recursos hídricos - plano estratégico - Karajá de Aruanã I Bacias hidrográficas dos rios Araguaia e Pequena central hidrelétrica Touros V/RS Ligeiro Tocantins Kraholândia Ligeiro II Xambioá Monte Caseros Xerente Passo Grande da Forquilha Areões Toldo Imbu Merure Pequena central hidrelétrica Tozzo Xapecó AHE Água Limpa/MT Pimentel Barbosa Industrial Ltda/SC Xapecó, glebas A e B Sangradouro/Volta Grande Cacique Doble São Marcos Cacique Doble II AHE Estreito do Parnaíba Kanela Carreteiro AHE Uruçuí no rio Parnaíba/MA Kanela Pequena central hidrelétrica Ligeiro Apiaká - Pontal (São Tomé) Três Marias/RS Ligeiro II Aproveitamento hidrelétrico Colíder/MT Kayabi Monte Caseros Munduruku Passo Grande da Forquilha Aproveitamento hidrelétrico e da Apiaká / Kayabi Cacique Doble Bacia do Rio dos Peixes/MT Aproveitamento hidrelétrico na Cacique Doble II Tadarimana Carreteiro Bacia Tadarimana ou Prata/MT Pequena central hidrelétrica Ligeiro Andira-Marau Usina do Posto/RS Ligeiro II Munduruku Pimentel São Luis Monte Caseros Aproveitamentos hidrelétricos Praia do Índio Passo Grande da Forquilha - Cachoeira dos Patos/PA Praia do Mangue Pequena central hidrelétrica Nonoai Várzea do Sul/RS Nonoai/Rio da Várzea Sai - Cinza Toldo Imbu São Luis do Tapajós Pequena central hidrelétrica Victor Xapecó Andira-Marau Baptista Adami (ex Passos Maia)/SC Xapecó, Glebas A e B Munduruku Pimentel São Luis Aldeia Kondá Aproveitamentos hidrelétricos - Praia do Índio Guarani do Araça’i Jamanxim/PA Pequena central hidrelétrica Xavantina Toldo Chimbangue Praia do Mangue Toldo Pinhal Sai - Cinza AHE Apiaká-Kayabi/MT Apiaká / Kayabi São Luis do Tapajós Exploração de água mineral na terra Aproveitamentos hidrelétricos Apinayé Laranjinha indígena Laranjinha/PR - Serra Quebrada/MA/TO Krikati

Ferrovia atravessa terra indígena Awá-Guajá, povo de recente contato – Foto: Rosana Diniz

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 69 Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Barragem do Rio Itinga Arara do Rio BRanco Coroa Vermelha Usina hidrelétrica Dardanelos/MT - Coroa Vermelha/BA Serra Morena Construção de barragem/Massacara/BA Massarará Apyterewa Nhamundá / Mapuera Arara Inventário UHE do Rio Jatapu/AM Waimiri-Atroari Arara da Volta Grande do Zo’é Xingu Nhamundá / Mapuera Arawete Igarapé Ipixuna Inventário UHE Rio Erepecuru/AM Trombetas Mapuera Cachoeira Seca Zo’é Usina hidrelétrica de Belo Monte/PA Ituna / Itata Nhamundá / Mapuera Kararahô Inventário UHE Rio Trombetas/AM Trombetas Mapuera Koatinemo Zo’é Kuruaya Pequena central hidrelétrica Lagoa dos BRincos Paquiçamba Dr. Romualdo/MT Trincheira / Bacajá Usina hidrelétrica Aimorés/MG Krenak Xipáya Usina hidrelétrica - Cana Brava/GO Avá-Canoeiro Munduruku Usina hidrelétrica de Cotingo/RR Raposa Serra do Sol Usina hidrelétrica - Jatobá/PA Sai - Cinza Guarani do Araça’i Cassupá Usina hidrelétrica de Iraí/RS Kaingang de Iraí Igarapé Lage Rio dos Índios Igarapé Ribeirão Guarani de Itaporanga Jacareuba / Katawixi Guarani do Araça’i Usina hidrelétrica - Jirau/RO Karipuna Usina hidrelétrica de Itapiranga/SC Guarita Karitiana Kaingang de Iraí Kaxarari Rio dos Índios Uru-Eu-Wau-Wau Apinayé Apinayé Governador Usina hidrelétrica Estreito/MA/TO Mãe Maria Kraholândia Usina hidrelétrica - Marabá/MA/PA/TO Parakanã Krikati Sororó Aldeia Kondá Andira-Marau Kandóia Km 43 Nonoai Usina hidrelétrica Pimentel São Luis Nonoai/Rio da Várzea - São Luiz do Tapajós/PA Praia do Índio Usina hidrelétrica Foz Chapecó/SC Serrinha Praia do Mangue Toldo Chimbangue São Luis do Tapajós Toldo Chimbangue II Apiaká - Pontal (São Tomé) Toldo Pinhal Usina hidrelétrica São Manoel/MT/PA Kayabi Votouro Munduruku Aldeia Kondá Sangradouro/Volta Grande Usina hidrelétrica Água Limpa/MT Usina hidrelétrica Itá/RS Toldo Chimbangue São Marcos Toldo Chimbangue II Areões Usina hidrelétrica Jamanxim/PA Munduruku Merure Funil Usina hidrelétrica Barra do Peixe/TO Pimentel Barbosa Usina hidrelétrica Lajeado/TO Xerente Sangradouro/Volta Grande Kandóia São Marcos Nonoai Usina hidrelétrica Cachoeira Porteira/PA Nhamundá / Mapuera Usina hidrelétrica Manoel Monjolinho Nonoai/Rio da Várzea Apucarana Energética S.A./RS Queimadas Serrinha Usina hidrelétrica Cebolão/PR São Jerônimo Votouro Queimadas Tibagy Mococa Usina hidrelétrica Mauá/PR Areões Tibagy Mococa Merure Usina hidrelétrica Mirador/TO Avá-Canoeiro Usina hidrelétrica nos rios Velho Usina hidrelétrica Couto Magalhães/TO Pimentel Barbosa Rio BRanco Sangradouro/Volta Grande - Branco - Figueira/RO Truká São Marcos Usina hidrelétrica Pedra Branca/BA/PE Usina hidrelétrica Krenak e Tumbalalá Krenak UHE Resplendor Usina hidrelétrica Porto Primavera/MS Ofayé-Xavante

70 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Toldo Imbu Merure Usina hidrelétrica Quebra Queixo/SC Xapecó Pimentel Barbosa Usina hidrelétrica Toricoejo/MT Xapecó, Glebas A e B Sangradouro/Volta Grande Truká São Marcos Usina hidrelétrica Riacho Seco/BA/PE Tumbalalá Anambé Apinayé Mãe Maria Karajá Santa Maria das Usina hidrelétrica Tucuruí/PA Parakanã Barreiras Sororó Usina hidrelétrica Santa Isabel/PA/TO Karajá Xambioá Trocará Funil Mãe Maria Usina hidrelétrica Tupiratins/TO Sororó Kraholândia Xambioá Arroio do Conde Igarapé Lage Usina termelétrica MPX Sul/RS Irapuá Igarapé Ribeirão Pacheca Usina hidrelétrica Santo Antonio/RO Karipuna Arroio Divisa Arroio do Conde Karitiana Usina termelétrica Pampa/RS Apucarana Irapuá Pacheca Queimadas Usina hidrelétrica São Jeronimo/PR Guarani Araponga São Jerônimo Guarani do BRacuí Tibagy Mococa Usina termonuclear - UTN Angra III/RJ Guarani do Rio Pequeno Gavião Usina hidrelétrica Serra Quebrada/MA/PA Parati - Mirim Krikati Aeródromo - Kadiwéu/MS Kadiwéu Igarapé Lourdes Usina hidrelétrica /AM Aeródromo/RR Raposa Serra do Sol Tenharim Marmelos Aeródromo Surucucu/RR Yanomami Igarapé Lage Aeroporto de Tabatinga - Ampliação/AM Tukuna Umariaçu Igarapé Lourdes Inãwébohona Igarapé Ribeirão Aeroporto Palmas/TO Parque do Araguaia Usina hidrelétrica Tabajara/RO/AM Karitiana Morro Alto Kaxarari Pindoty Tenharim Marmelos Piraí Projeto complexo intermodal catarinense Uru-Eu-Wau-Wau Reta/Itaju Apiaká / Kayabi Usina hidrelétrica Teles Pires/MT/PA Tarumã Munduruku Yaká Porã

Fundos estatais foram usados para a construção da hidrelétrica de Belo Monte... – Foto: Arquivo Cimi

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 71 Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Caieiras Velhas Ferrovia contorno ferroviário São Morro Alto Caramuru Catarina Paraguaçu Francisco do Sul/SC Reta/Itaju Gasoduto Cacimbas - Catu/BA/ES Comboios Areões Pau BRasil Batovi Gasoduto Urucu trecho Coari/AM Cajuhiri Atravessado Enawenê-Nawê - Porto Velho/RO Ikpeng Imbaa Gasoduto Uruguaiana - Porto Alegre/ Irantxe RS - Trecho II Lomba do Pinheiro Lagoa dos BRincos Guarani da Barragem Marechal Rondon ALL - trecho ferroviário Itirapina Jaraguá Menku - Cubatão: duplicação Krukutu Nambikwara Tekoha Ytu Ferrovia de Integração do Centro-Oeste / GO/MT/RO Kanain Parabubure Ferrovia - duplicação da Estrada Mãe Maria Parque Indígena do Xingu de Ferro Carajás/PA Xikrin do Rio Cateté Pequizal Guarani do BRacuí Pimentel Barbosa Ferrovia - trem de alta velocidade entre Jaraguá Pirineus de Souza São Paulo - Rio de Janeiro Krukutu Taihantesu Avá-Canoeiro Tirecatinga Ferrovia Centro Atlântica - AL/GO/ES/SP/ Carretão I Utiariti BA/MG Carretão II Vale do Guaporé Karajá de Aruanã III Ferrovia de Integração Oeste-Leste - (EF Vargem Alegre Morro Alto 334) trecho Figueiropolis/TO a Ilhéus/BA Pindoty Guarani do Araça’i Ferrovia contorno ferroviário Joinville/SC Piraí Ferrovia do Frango (Leste - Oeste)/SC Toldo Chimbangue Tarumã Toldo Chimbangue II

...mesmo com a sociedade dizendo não à usina – Foto: Arquivo Cimi

72 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Cachoeira dos Inácios Evaré I Cambirela Evaré II Terminal hidroviário de Benjamin Conquista Sapotal Constant/AM Cury Tikuna de Feijoal Itanhaém Zuruahã M’Byguaçu Ilha do Camaleão Massiambu Terminal hidroviário de Beruri/AM Ferrovia litorânea sul - DNIT/SC Lago do Beruri Morro Alto Camicuã Morro dos Cavalos Terminal hidroviário de Boca do Acre/AM Peneri/Tacaquiri Pindoty Seruini Marienê Piraí Arary Reta/Itaju Cunhã/Sapucaia Tarumã Terminal hidroviário de Borba/AM Yaká Porã Lago do Limão Amambai Setema Curupaity Terminal hidroviário de Canutama/AM Banawa Dourados Terminal hidroviário de Carauari/AM Rio Biá Gua Y Viri (Lima Campo) Cacau do Tarauacá Guapuku Deni Ferrovia Mato Grosso do Sul ao Ilha da Cotinga Kanamari do Rio Juruá Terminal hidroviário de Eirunepé/AM Porto de Paranaguá/PR Jatei Kue Kulina do Médio Juruá Karugua Mawétek Marrecas Vale do Javari Panambizinho Ariramba Toro Piré Ipixuna Tujukua Lago Capanã Apinayé Terminal hidroviário de Humaitá/AM Lago Jauari Avá-Canoeiro Nove de Janeiro Carretão I Ferrovia Norte-Sul/GO/MA/TO Rio Manicoré Kraholândia Xambioá Torá Mawétek Xerente Terminal hidroviário de Ipixuna/AM Apinayé Vale do Javari Melhoria na hidrovia do Tocantins: Krikati Terminal hidroviário de Itacoatiara/AM Panará do Arauató derrocagem e sinalização/TO Mãe Maria Banawa Apinayé Caititu Kraholândia Terminal hidroviário de Lábrea/AM Jarawara / Jamamadi / Melhoria na hidrovia do Tocantins: Krikati Kanamari dragagem e sinalização/TO Mãe Maria Paumari do Cuniuá Xerente Fortaleza do Patuá Terminal hidroviário de Manacapuru/AM Apipica Jatuarana Boa Vista Terminal hidroviário de Manaquiri/AM Igarapé Paiol Capivara Terminal hidroviário de Manicoré/AM Pinatuba Gavião Terminal hidroviário de Maués/AM Andira-Marau Guapenu Terminal hidroviário de Nhamundá/AM Nhamundá / Mapuera Itaitinga Médio Rio Negro I Terminal hidroviário de Jauary Médio Rio Negro II Miguel/Josefa Santa Izabel do Rio Negro/AM Rio Tea Murutinga Terminal hidroviário de Autazes/AM Terminal hidroviário de Médio Rio Negro I Natal/Felicidade São Gabriel da Cachoeira/AM Médio Rio Negro II Padre Evaré I Paracuhuba Patauá Evaré II Ponciano Terminal hidroviário de Tabatinga/AM Sapotal Recreio/São Félix Tikuna de Feijoal Rio Juma Zuruahã São Pedro Apurinã Igarapé São João Terminal hidroviário de Tapauá/AM Trincheira Apurinã Igarapé Taumirim

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 73 Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Barreira da Missão Baú Igarapé Grande BR-163 - restauração e pavimentação: Cachoeira Seca Santarém/PA – Guarantã do Norte/MT Jaquiri (trecho 1, trecho 2, trecho 3)/PA/MT Menkragnoti Marajai Terminal hidroviário de Tefé/AM Panará Meriá Apyterewa Miratu Arara Porto Praia Arara da Volta Grande do Tupã Supé Xingu Anacé Complexo industrial e portuário do Pecém Araweté Igarapé Ipixuna Tapeba Cachoeira Seca Construção de terminal portuário Morro Alto Kararahô Mar Azul/SC Reta/Itaju Km 43 Morro Alto BR-230 - construção e pavimentação Koatinemo Pindoty - divisa PA/TO/Marabá - Altamira - Porto Laranjeira - São Francisco do Sul/SC Kuruaya Piraí Medicilândia - Rurópolis/PA Mãe Maria Tarumã Nova Jacundá (Aldeia) Terminal portuário Pontal do Paraná Ilha da Cotinga - Canal Galheta/PR Sambaqui Paquiçamba Adutora (implantação) terra indígena Parakanã Xukuru Xukuru/PE Sororó Fazenda Canto Trincheira / Bacajá Jeripankó Trocará Kalankó Xipáya Canal do sertão alagoano/AL Karuazu BR-364 - adequação de capacidade - Katokim Candeias do Jamari - unir, incluindo Karitiana Mata da Cafurna travessia de Porto Velho/RO BR-364 (Rondonópolis/Rosário do Oeste) Tadarimana Integração de bacias - (quatro) - Projetos Kambiwá - obras de duplicação de integração do Rio São Francisco com Pipipã Tereza Cristina as bacias hidrográficas do nordeste Truká Massaco setentrional/BA/PE/RN/PB/CE Tumbalalá BR-429 - Construção Presidente Médici Puruborá Recursos hídricos - Estudos de regimes Parque Indígena do Aripuanã - Costa Marques/RO Rio BRanco hídricos nas terras indígenas Aripuanã e Uru-Eu-Wau-Wau Parque do Xingu/MT/PA Parque Indígena do Xingu Canauanin Abertura da estrada/MT - 235, trecho BR-432 - construção e pavimentação - Vila Uirapuru Malacacheta entr./MT (Campo Novo Pareci)/MT Novo Paraíso - entr. BR-401/RR Abertura de estrada vicinal ilegal na terra Tabalascada Sai - Cinza indígena Sai Cinza divisa com BR-163/PA BR-080/MT - construção e pavimentação Parque do Araguaia Abertura estrada ligando Pin - Kankrokó e – div. GO/MT - entr BR-158, incluindo Parque Indígena do Xingu Xikrin do Rio Cateté área do plano de manejo/PA ponte sobre o Rio das Mortes/MT Pimentel Barbosa BR-135 - duplicação - trecho ma/Acesso Rio Pindaré Borari Alter do Chão rodoviário ao Porto de Itaqui/MA BRagança BR-135 - duplicação: trecho MA Rio Pindaré - Etiva - Bacabeira/MA Marituba BR-153 - ponte sobre o rio Araguaia, BR-163/PA/MT - trecho 1/Pavimentação Munduruku Takuara divisa PA/TO (0 km), Porto das Balsas - Sororó Rurópolis - Santarém/PA Pimentel São Luis Xambioá/PA/TO Praia do Índio BR-155 - adequação de capacidade - Las Casas Praia do Mangue Redenção - Marabá/PA São Luis do Tapajós Galibi BR-156 - construção de ponte Construção de estrada vicinal na terra Enawenê-Nawê Juminá internacional sobre o Rio Oiapoque/AP indígena Enawenê-Nawê/MT Uru-Eu-Wau-Wau Uaça Anacé Cacique Fontoura Duplicação da rodovia - BR-222 Inãwébohona Tapeba Krahô/Kanela Aldeinha BR-158 - construção e pavimentação - Marãiwatsedé Guarani do Aguapeu Ribeirão Cascalheira - divisa/MT/PA/MT Parque do Araguaia Duplicação de rodovia SP-55 Itaóca São Domingos - trecho Itanhaém/Peruíbe/SP Peruíbe Tapirapé/Karajá Piacaguera Urubu BRanco Serra do Itatins

74 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Cachoeira dos Inácios Massaco Cambirela Duplicação de rodovia BR-421 - trecho Puruborá Campo Bonito RO-110 - Nova Mamoré/RO Rio BRanco Duplicação de Rodovia BR-101 Guarani Barra do Ouro - trecho entre Palhoça/SC e Osório/RS Uru-Eu-Wau-Wau Massiambu Duplicação de rodovia BR-SP-294 - trecho Araribá Morro dos Cavalos Bauru - Marília/SP Varzinha Duplicação de rodovia TO-210 - trecho Apinayé Água Grande Tocantinópolis – BR-230/TO Arroio do Conde Karapotó Duplicação rodovia BR-101 - trecho entre Coxilha da Cruz Kariri-Xokó Palmares/PE e São Miguel dos Campos/AL Guarani de Águas BRancas Wassu Cocal Duplicação de rodovia BR-116 - trecho Passo da Estância Porto Alegre - Pelotas Alto Tarauaca Estrada em terra indígena/AC Passo Grande Kaxinawá do Rio Humaitá Petim / Atraçaty Estrada em terra indígena/MT Parque Indígena do Xingu Ponta da Formiga Estrada vicinal - abertura de estrada Raia Pires ligando terra indígena Sete de Setembro Sete de Setembro Duplicação de rodovia BR-222 /CE Tapeba ao Distrito de Boa/MT/RO Morro Alto Estrada vicinal - reivindicação da Karitiana Duplicação de rodovia BR-280 - trecho Pindoty comunidade para abertura de estrada/RO Jaraguá - São Francisco do Sul/SC Estrada vicinal AM-254 Autazes / Nova Piraí Itaitinga Tarumã Olinda do Norte/AM Estrada vicinal ilegal na terra indígena Aldeia Campestre Tukuna Umariaçu Duplicação de rodovia BR-384 - trecho Tukuna de Umariaçu/AM Cabeceira Comprida Antonio João - Bela Vista/MS Estrada vicinal na terra indígena Parque do Ñande Ru Marangatu Parque do Araguaia Araguaia/TO Carazinho Estrada vicinal na terra indígena Xukuru/ Xukuru Farropilha PE Lajeado Duplicação de rodovia BR-386 RS - trecho Estrada vicinal nas terras indígenas são Raposa Serra do Sol Lajeado - Tabaí Lomba do Pinheiro marcos e Raposa Serra do Sol/RR São Marcos Morro do Osso Obras de duplicação das rodovias BR-364/ Tadarimana São Leopoldo GO (Jataí - Santa Rita do Araguaia), Duplicação de rodovia BR-401 - trecho Raposa Serra do Sol BR-364/MT (Alto Araguaia a Cuiabá) e Tereza Cristina Bonfim/RR - Normandia/RR BR-163/MT (Várzea Grande e Sinop)

Indígenas pedem apenas respeito à Constituição! – Foto: Ruy Sposati

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI 75 Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Nome do empreendimento Terra(s) Atingida(s) Pavimentação da rodovia BR-010 - trecho Cambirela Xerente Aparecida do Rio Negro/TO Curi’y Amaral Galibi Pavimentação da rodovia BR-156 Itanhaém / Morro da Palha Juminá - Ferreira Gomes - Oiapoque/AP M´Byguaçu Uaça Rodovia contorno viário de Massiambu Kayapó Florianópolis/SC Pavimentação da rodovia BR-163/MT/PA Morro dos Cavalos Munduruku Tawaí Pavimentação da rodovia BR-226/MA Cana BRava/Guajajara Tekoha Dju Mirim / Amâncio Pavimentação da rodovia BR-230 - Transamazônica trecho Aguiarnópolis Apinayé Vya - Luzinópolis/TO Arroio Divisa Rodovia entroncamento BR-290 com Pavimentação da rodovia BR-242 - trecho Parque do Araguaia Arroio do Conde BR-293 e fronteira Brasil/Argentina/RS divisa BA/TO e TO/MT - trecho travessia Irapuá na Ilha Bananal/TO Parque Indígena do Xingu Cerco Grande Apurinã Km 124 BR-317 Rodovia Litorânea Interpraias - PR - entre Ilha da Cotinga Boca do Acre PR-412 (Guaratuba) - entr – PR-407 Sambaqui Caiapuca Pavimentação da rodovia BR-317/AM/AC Rodovia municipal estrada Emade/AM Barreirinha Camicuã trecho Boca do Acre/AM - Rio Branco/AC Goiaba / Monte / Primavera Araçá Iquirema Rodovia SC-484 - trecho entre Pinhal Paial e Chapecó Valparaiso Toldo Chimbangue Apurinã Igarapé Taumirim Toldo Chimbangue II Pavimentação da rodovia BR-319 - trecho Cunhã/Sapucaia Diahui Manaus - Porto Velho/RO Rodovia Transamazônica (BR-230) Lago do Barrigudo Tenharim Marmelos Pavimentação da rodovia BR-364 Aldeinha Katukina / Kaxinawá - trecho Feijó e Taraucá/AC Cachoeirinha Guaporé Icatu Igarapé Lage Lalima Igarapé Ribeirão Limão Verde Pavimentação da rodovia BR-421 Karipuna - ligação “D” trecho RO-110 Nova Mamoré Gasoduto Gasbol - Brasil/Bolívia/MS/PR/ M’Byguaçu Pakaas Novas - Ariquemes/RO RS/SC/SP Massiambu Rio Negro Ocaia Morro dos Cavalos Sagarana Pilad Rebua Uru-Eu-Wau-Wau Piraí Pavimentação da rodovia BR BA 220 Kiriri trecho Ribeira do Pombal/Banzê/BA Tarumã Pavimentação da rodovia BR-GO 132 Taunay / Ipegue Avá-Canoeiro trecho entre Colinas do Sul e Minaçu/GO Exploração - Projeto de mineração Kayapó Arroio Korá Onça Puma/PA Exploração - retirada de cascalho de terra Batelh’ie Botelha Gasu Guaimbé Cerro Peron indígena/MS Nukini Espadim Exploração de gás (Petrobras) Itapoa Takuaremboiy Poyanawa Exploração de pedreira na terra indígena Pavimentação da rodovia BR-MS 295 Portrerito Kaxarari Kaxarari/AM/RO trecho Paranhos entre MS-156 Potrero Guaçu Exploração mineração de seixo e areia na Takarity / Ivykwarusu Médio Rio Negro I terra indígena Médio Rio Negro/AM (Paraguassú) Exploração mineral - estudo de potencial Tapesu’aty Kayapó hidromineral/PA Valiente Kue Exploração mineral - mineroduto nos Ypo’i E Triunfo limites da terra indígena Turé Mariquita Turé / Mariquita Pavimentação da rodovia do contorno do no município de Tomé-Açu/PA São Marcos anel viário no município de Pacaraíma/RR Exploração mineral na terra indígena Sararé Pavimentação da rodovia MA-280 - trecho Sararé/MT Krikati Montes Altos - Sítio Novo/MA Extração de areia na terra indígena Tapeba Guarani da Barragem Tapeba/CE Pavimentação da rodovia Rodoanel Jaraguá Extração de diamante na terra indígena Mário Covas - trecho sul/SP Enawenê-Nawê Krukutu Enawenê-Nawe/MT Regularização ambiental da BR-174/MT - Nambikwara Projeto de redimensionamento da Kanain trecho Cáceres/MT - Vilhena/RO Vale do Guaporé Serra do Igarapé Salobo/PA Xikrin do Rio Cateté

76 Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas

Empreendimentos que Impactam Terras Indígenas ISBN 978-85-87433-07-7 www.cimi.org.br CEP 70.393-902 – Brasília-DF 70.393-902 CEP SDS – Ed. Venâncio III – Salas 309/314 SDS – Ed. Venâncio Tel: (61) 2106-1650 – Fax: (61) 2106-1651 Tel: