UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

A ASPECTUALIZAÇÃO TEMPORAL EM TEXTOS JORNALÍSTICOS ON-LINE: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA

Caroline da Silva Paquieli

Rio de Janeiro 2018 A ASPECTUALIZAÇÃO TEMPORAL EM TEXTOS JORNALÍSTICOS ON-LINE: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA

Caroline da Silva Paquieli

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Regina Souza Gomes

Rio de Janeiro Agosto de 2018

A ASPECTUALIZAÇÃO TEMPORAL EM TEXTOS JORNALÍSTICOS ON-LINE: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA

Caroline da Silva Paquieli Orientadora: Professora Doutora Regina Souza Gomes

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Aprovada por:

______Presidente Professora Doutora Regina Souza Gomes (Orientadora – UFRJ)

______Professora Doutora Norma Discini de Campos (USP)

______Professora Doutora Maria Aparecida Lino Pauliukonis (UFRJ)

______Professora Doutora Eliete Figueira Batista da Silveira (UFRJ), Suplente

______Professora Doutora Renata Ciampone Mancini (UFF), Suplente

Rio de Janeiro Agosto de 2018 DEDICATÓRIA

A meus pais, por tudo que são; por tudo que sou; por tudo. AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar e acima de tudo, agradeço a Deus, força única inexplicável que me move e que me dá a certeza de que não estou sozinha. Agradeço por ter conduzido meu caminho e, em meio a tantas dificuldades enfrentadas na travessia, ter me trazido de volta à Universidade.

A minha orientadora Regina, agradeço pelo companheirismo e pela parceria desde a graduação. Obrigada por ter me incentivado, durante todos esses anos, a retornar à pesquisa e por ter sempre me acolhido de portas abertas. Seu sorriso constante, sua calma nos momentos de maior tensão e seu olhar atento ao trabalho deixaram as coisas menos árduas. Muito obrigada!

A Norma Discini, pela generosidade em aceitar participar da banca (quanta honra!) e pela inspiração como pesquisadora. A Aparecida Lino, por, na graduação e no mestrado, transmitir, junto aos conteúdos, lições sobre o fazer docente.

Aos meus pais, agradeço por serem minha base e meu refúgio. A minha mãe Adriana, sou grata por ser meu exemplo de força e por me ensinar, na prática, sobre calma e fé nos momentos mais conturbados que já enfrentou. A meu pai Paulo, agradeço por ser o meu maior motivador desde que me entendo por gente, por mostrar todo seu amor em forma de cuidado e por me fazer acreditar que tudo iria dar certo. Vocês são meu tudo! Amo vocês!

A Rodrigo, meu amor, meu companheiro, sou grata por tanto. Agradeço por ter sido o primeiro a crer nessa empreitada e por ter contribuído com o pontapé inicial ao pesquisar, sem nunca antes ter ouvido falar em “aspectualização”, uma bibliografia para a preparação do anteprojeto. Obrigada por ter se feito presente em toda a jornada, pelas suas sinceras tentativas de entender semiótica e por ser o dono do abraço-abrigo que me acalma. Como é bom caminhar ao seu lado e ter seu amor! Sigamos juntos.

Ao Heitor, meu presente, por ter contribuído tão significativamente, mesmo sem saber. Seus olhinhos brilhantes, seu sorriso farto, seus gritos de “dinda” e suas batidas na porta do quarto, durante os meus momentos de reclusão para escrita, me renovaram e me encheram de luz durante o processo.

Aos amigos que me acompanham na vida, agradeço por me proporcionarem necessários momentos de descontração e por serem tão especiais. A Ulli, minha duplinha, que chegou para somar e para ficar, sou grata pela troca, pelas conversas, pelas partilhas. A Grazi, minha amiga mais que amiga, agradeço por me mostrar, com atitudes, que amizade é dedicação e cuidado.

Por fim, agradeço ao Colégio Pedro II, divisor de águas, e a todos aqueles que contribuíram, ainda que inconscientemente, para que eu pudesse concluir essa intensa e enriquecedora jornada.

RESUMO

A ASPECTUALIZAÇÃO TEMPORAL EM TEXTOS JORNALÍSTICOS ON-LINE: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA

Caroline da Silva Paquieli Orientadora: Professora Doutora Regina Souza Gomes

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

O presente estudo tem como objetivo tecer, a partir da teoria semiótica de linha francesa, uma análise da aspectualização do tempo em textos jornalísticos sobre a política nacional. Para tanto, examinaremos trinta e duas notícias, veiculadas nos periódicos on-line O Globo e O Dia, durante os meses de dezembro de 2015 e de abril de 2018. Com esse corpus investigamos os procedimentos aspectuais mais reincidentes nos dois períodos, averiguamos o modo como cada jornal apreende o processo temporal dos fatos políticos, observando seus efeitos de sentido, e identificamos as propriedades aspectuais que caracterizam desse tipo de notícia. De acordo com o escopo teórico da semiótica, a aspectualização pode ser entendida como um procedimento do nível discursivo que, a partir do ponto de vista de um observador, avalia como um processo, uma marcha, as categorias de pessoa, de tempo e de espaço (GREIMAS; COURTÉS, 1979, 29). Acolhemos também, na análise, algumas contribuições da semiótica tensiva (ZILBERBERG, 2006; 2011), principalmente ao levar em conta, na percepção do tempo, o acento e as graduações abarcadas pelo sensível. Buscando comprovar a hipótese de que a aspectualização temporal manifesta nas notícias uma orientação argumentativa, demonstramos que a gestão aspectual do tempo, ora alongando a duração das ações políticas, ora abreviando-as, inscrevendo iterações ou rupturas, a imperfectividade ou perfectividade, está relacionada a conteúdos ideológicos, como a manutenção ou a ruptura de um governo, e não é a mesma nos dois periódicos, o que acaba permitindo o reconhecimento de certas particularidades dos discursos de cada jornal. Palavras-chave: Semiótica; Aspectualização; Tempo; Jornalismo Político on-line; Discurso.

ABSTRACT

THE TEMPORAL ASPECTUALIZATION IN ONLINE JOURNALISTIC TEXTS: A SEMIOTICS ANALYSIS

Caroline da Silva Paquieli Orientadora: Professora Doutora Regina Souza Gomes

Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

This paper aims to compose an analysis, from the perspective of the Theory of French Semiotics, of the aspectualization of time in journalistic texts about national politics. In order to do so, thirty-two news items, published in the online newspapers “O Globo” and “O Dia” during December 2015 and April 2018, have been analyzed. Having this corpus, we have investigated the most recurrent aspectual procedures within both periods; we have ascertained the way that each newspaper apprehends the temporal process of political facts, observing their meaning effects; and we have identified the aspectual specificities that characterize this kind of news item. According to the theoretical scope of Semiotics, aspectualization can be understood as a procedure of the discursive level in which, from the viewpoint of an observer, evaluates the categories of person, time, and space, as a process, as a march (GREIMAS; COURTÉS, 1979, p. 29). We have also used, in the analysis, some contributions of tensive semiotics (ZILBERBERG, 2006; 2011), especially when taking into account, in the perception of time, the accent and the rankings covered by the sensitive. Seeking to prove the hypothesis that the temporal aspectualization manifests an argumentative orientation in the news items, we have demonstrated that the aspectual management of time, sometimes lengthening the duration of political actions, sometimes shortening them, registering iterations or ruptures, imperfectiveness or perfectivity, is related to ideological contents, such as maintenance or rupture of a government, and is not the same on both newspapers, which allows the recognition of certain particularities of the discourses of each newspaper.

KEYWORDS: Semiotics; Aspectualization; Time; Online Political Journalism; Discourse.

EPÍGRAFE

Compositor de destinos Tambor de todos os ritmos Tempo Tempo Tempo Tempo Entro num acordo contigo [...]

Por seres tão inventivo E pareceres contínuo Tempo Tempo Tempo Tempo És um dos deuses mais lindos [...]

Que sejas ainda mais vivo No som do meu estribilho Tempo Tempo Tempo Tempo.

Caetano Veloso – “Oração ao Tempo”

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 14

1. O DISCURSO JORNALÍSTICO ...... 18 1.1 A relação enunciador-enunciatário: os jornais e suas estratégias persuasivas ...... 22 1.2 O jornalismo político: relação entre discurso e poder ...... 28 1.3 O jornal on-line: a intensidade e a extensidade em questão ...... 32 1.3.1 O perfil das obras analisadas ...... 36 1.3.1.1 O Globo on-line ...... 36 1.3.1.2 O Dia on-line ...... 38

2. FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS: A TEORIA SEMIÓTICA ...... 40 2.1 O percurso gerativo de sentido ...... 42 2.1.1 O nível discursivo ...... 47

3. A ASPECTUALIZAÇÃO EM SEMIÓTICA ...... 56 3.1 Aspectualização como procedimento do nível discursivo ...... 57 3.1.1 Aspectualização temporal no nível discursivo: categorias de análise ...... 64 3.2 Aspectualização como um procedimento metodológico: a semiótica tensiva ...... 76

4. A ASPECTUALIZAÇÃO TEMPORAL NOS TEXTOS DO JORNALISMO POLÍTICO ...... 84 4.1 Metodologia ...... 84 4.2 A aspectualização do tempo em O Globo on-line ...... 89 4.2.1 A duração das ações ...... 90 4.2.1.1 A duração estendida ...... 90 4.2.1.2 A duração breve ...... 96 4.2.1.3 Entre continuidade e ruptura: um olhar aspectual para a solução da crise ...... 102 4.2.2 A iteratividade dos eventos políticos ...... 107 4.2.3 A incompatibilidade aspectual na voz do narrador ...... 111 4.3 A aspectualização do tempo em O Dia on-line ...... 114 4.3.1 A duração nos textos de O Dia on-line ...... 114 4.3.1.1 O início e o desenvolvimento das ações: uma apreensão incoativo-durativa ...... 115 4.3.1.2 A duração alongada das tramitações políticas ...... 118 4.3.1.3 A duração breve e seus efeitos de sentido nos textos ...... 123 4.3.1.4 Entre continuidade e ruptura: tensões aspectuais sobre a crise e o impeachment ...... 128 4.3.2 A iteratividade ...... 132

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 136

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 142

ANEXOS ...... 148

ÍNDICE DE QUADROS, FIGURAS E GRÁFICOS

QUADRO 1: As instâncias da enunciação (adaptado de BARROS, 2001 [1988], p. 75) ...... 50 QUADRO 2: Tipologia do aspecto (CASTILHO, 2002, p. 87) ...... 66 QUADRO 3: Quadro aspectual do Português (TRAVAGLIA, 2016 [1981], p. 84) ..... 66 QUADRO 4: Sistema aspectual do tempo (GOMES, 2018, p. 110) ...... 72 QUADRO 5: Tipos de correlação resultantes da intersecção entre subdimensões intensivas e subdimensões extensivas (adaptado de ZILBERBERG, 2011, p. 70) ...... 79 QUADRO 6: Subvalências do andamento resultantes do cruzamento entre os foremas e as categorias aspectuais (ZILBERBERG, 2011, p. 85) ...... 79 QUADRO 7: Subvalências da tonicidade resultantes do cruzamento entre os foremas e as categorias aspectuais (ZILBERBERG, 2011, p. 85) ...... 80 QUADRO 8: Subvalências da temporalidade resultantes do cruzamento entre os foremas e as categorias aspectuais (ZILBERBERG, 2011, p. 86) ...... 80 QUADRO 9: Subvalências da espacialidade resultantes do cruzamento entre os foremas e as categorias aspectuais (ZILBERBERG, 2011, p. 86) ...... 80 QUADRO 10: Distribuição das notícias recolhidas na etapa de seleção aleatória segundo o jornal e o período de tempo ...... 85 QUADRO 11: Síntese das notícias do corpus, extraídas de O Globo on-line ...... 86 QUADRO 12: Síntese das notícias do corpus, extraídas de O Dia on-line ...... 87

FIGURA 1: Representação gráfica do desenvolvimento das ações aspectualizadas temporalmente (adaptado de TRAVAGLIA, 2016 [1981], p. 45.) ...... 65

GRÁFICO 1: Correlação entre andamento e temporalidade (adaptado de ZILBERBERG, 2011) ...... 82

14

INTRODUÇÃO

O que merece, o que vale a pena ser dito — seja esse dizer endereçado a outrem ou a si mesmo? Que “que” é esse? Quem, no âmago dessa “alguma coisa”, convoca, de forma irresistível, o dizer, o fazer-saber? Em virtude de que condições sou levado a pensar enfim que alguém me será grato por lhe comunicar essa “alguma coisa” em troca do quantum de atenção que ele me concede? (ZILBERBERG, 2007, p. 14, grifo do autor).

A mídia jornalística, dia após dia, traz uma avalanche de textos em seus noticiários sob a ótica de estar fazendo, com isso, o relato dos eventos do mundo. Nos meios de informação on-line, em especial, o volume de conteúdo é ainda mais elevado, devido à velocidade que esse suporte exige para ser julgado como competente e atualizado. No entanto, o que vira notícia? Por que algo é selecionado como um episódio digno da atenção e do conhecimento do leitor? Retomando as indagações de Zilberberg (2007, p. 14), “O que merece, o que vale a pena ser dito”?

Gomes (2012a, p. 17), também em referência ao questionamento feito por Zilberberg (2007), afirma que “A escolha dos fatos a serem publicados nos jornais, entre tantas ocorrências mundanas, de certa forma faz ver um julgamento de um observador”. Nesse sentido, os eventos com os quais nos deparamos cotidianamente nas mídias de informação só chegam até nós porque alguém decidiu noticiá-los e, sobretudo, porque alguém decidiu noticiá-los de alguma maneira.

É com o intuito de entender determinadas estratégias utilizadas pelos jornais para dizer o que dizem que este estudo se estrutura. Por isso, especificamente, a presente pesquisa busca, com o apoio teórico e metodológico fornecido pela semiótica de linha francesa, analisar os mecanismos de aspectualização do tempo em textos jornalísticos on- line sobre política nacional. Com este exame, o que pretendemos é averiguar quais efeitos de sentido os procedimentos aspectuais constroem nos discursos do chamado jornalismo político1, bem como investigar de que modo a aspectualização do tempo é utilizada como um recurso para a defesa do posicionamento argumentativo dos textos.

A escolha de notícias veiculadas em periódicos de internet para este trabalho decorre de dois diferentes motivos. Primeiramente, encontramos um significativo número de estudos, inclusive semióticos, que tomam os jornais impressos como objeto de análise.

1 Nomenclatura utilizada no meio jornalístico em referência a textos que versem sobre política enquanto poder instituído, conforme mostram os estudos de Marques de Melo (2000), Seabra & Sousa (2006) e Leal (2007).

15

Em segundo lugar e como ponto mais importante de nossa decisão, o interesse pelas mídias digitais foi consequência do seu amplo crescimento registrado nos últimos anos, conforme apontam pesquisas, divulgadas em 2017, pela Associação Nacional de Jornais2.

A decisão por textos que tratam de assuntos referentes à política nacional, por seu turno, veio do desejo de desenvolver um exame aspectual do tempo em material ainda não descrito por investigações semióticas. Além disso, em um momento tão marcado por polarizações políticas cada vez mais notórias, consideramos que pensar, mais analiticamente, esse tipo de texto jornalístico é, de algum modo, uma forma de refletir discursivamente sobre as visões de mundo que nos cercam, dado o poder ideológico dos veículos de comunicação.

Para tecermos, então, este exame, algumas escolhas teóricas referentes ao tratamento da aspectualização pela semiótica tiveram de ser realizadas. Isso porque, assim como mostra Gomes (2018), o conceito vem sendo estudado, na teoria, tanto de acordo com as postulações inicialmente apresentadas por Greimas e Courtés (1979) – em que o procedimento envolve a instância de um observador que, no nível discursivo, toma o tempo, a pessoa e o espaço como um “processo”, uma “marcha” (cf. GREIMAS; COURTÉS, 1979, p. 29) –, quanto como uma forma de análise metodológica, que abrange o sensível e o discurso como um todo, realizada a partir das contribuições fornecidas por Zilberberg (2006; 2011) com a semiótica tensiva.

Como nossa intenção é realizar um estudo aspectual da categoria do tempo, abordaremos a aspectualização de forma mais restrita, em consonância com a proposição de Greimas e Courtés (1979). Contudo, consideramos que a tensividade agrega contribuições importantes nessa análise mais específica. Por esse motivo, acolheremos em nossa pesquisa algumas categorias aspectuais apresentadas por Zilberberg, com a finalidade de explicarmos as modulações afetivas aplicadas na avaliação e na percepção do tempo por parte do observador.

Buscando estruturar uma averiguação mais geral e abrangente dos procedimentos de aspectualização temporal que se manifestam nos textos sobre política nacional, compomos nosso corpus a partir de trinta e duas notícias veiculadas por dois jornais on- line diferentes, O Globo on-line e O Dia on-line, em dois recortes temporais distintos – o primeiro referente ao mês de dezembro de 2015 e o segundo relativo a abril de 2018. A

2 Pesquisas disponíveis em http://www.anj.org.br/maiores-jornais-do-brasil/ 16 seleção desses periódicos foi determinada pela consolidação e pela credibilidade já construída por ambos, visto que a versão impressa dos dois veículos está em circulação há mais de cinquenta anos, e, principalmente, pelo fato de eles serem jornais destinados a público de leitores diversos, conforme se verá no capítulo 1 desta dissertação.

Com a intenção de fazer um estudo comparativo entre os dois veículos de comunicação, esta pesquisa parte das seguintes hipóteses: (i) por se voltarem a leitores diferentes, esses jornais fazem, majoritariamente, uso de estratégias de aspectualização do tempo distintas; (ii) há divergências na perspectiva aspectual pela qual esses dois periódicos apreciam o processo temporal dos mesmos eventos; (iii) o uso de determinadas noções aspectuais revela a imagem que cada periódico faz das ações e dos actantes políticos; (iv) o modo como cada jornal apreende aspectualmente o tempo indica suas orientações ideológicas.

Por ser a aspectualização, seja do tempo, da pessoa ou do espaço, um procedimento ainda pouco investigado por semioticistas, o presente estudo tem ainda o objetivo de fazer uma sistematização do conceito de aspectualização temporal, a partir de uma revisão bibliográfica de trabalhos que apresentam importantes reflexões sobre o tema. Além disso, examinar se há, entre os dois jornais investigados, recorrências de noções aspectuais de tempo que permitam identificar características do jornalismo político, assim como contrastar os usos aspectuais mais frequentes em cada periódico, para averiguar se o ponto de vista aspectual dos observadores deixam marcas capazes de evidenciar os direcionamentos argumentativos dos jornais, são outros objetivos que norteiam este trabalho.

Para alcançar tais propósitos, esta dissertação divide-se em quatro capítulos. No primeiro, faremos discussões sobre a natureza persuasiva dos textos jornalísticos. Com o embasamento de pesquisas que evidenciam diferentes estratégias utilizadas pelos periódicos para o convencimento de seu público, pontuaremos os meios de que os jornais se valem para atrair a atenção e para construir um pacto de fidelidade com seu leitor. Como nosso foco está nos periódicos on-line, também neste capítulo, faremos exposições sobre as características particulares desse tipo de mídia, atentando, especialmente, para sua configuração temporal veloz, repleta de atualizações diárias, e para sua maior expansão espacial, uma vez que, mesmo jornais regionais, passam a poder ser acessados de qualquer lugar do mundo. 17

No segundo capítulo, serão apresentadas as bases teóricas da semiótica de linha francesa. Nesta seção, trataremos de conceitos que se relacionam à aspectualização, como os de modalização e de paixões, e de recursos pelos quais a aspectualização pode se discursivizar nos textos, como as figuras e os temas.

No terceiro capítulo, por sua vez, reteremos nosso olhar no procedimento de aspectualização. A partir de explanações mais gerais sobre as três formas aspectualização – temporal, actorial e espacial –, será realizada a definição desse conceito e apresentado detalhadamente o duplo viés que o estudo da aspectualização vem tendo na semiótica. Com o apoio de trabalhos anteriores sobre a aspectualização do tempo, em particular, também evidenciaremos quais as categorias e quais as noções aspectuais sustentam esta pesquisa.

Por fim, no capítulo quatro, inicialmente, especificaremos qual a metodologia utilizada para a composição de nosso corpus. Na sequência, faremos o exame dos mecanismos aspectuais do tempo presentes no enunciado dos textos aqui selecionados para investigação, intencionando, por meio de um exame comparativo, perceber as particularidades e as sutilezas que atuam na construção de sentido dos discursos de O Globo on-line e de O Dia on-line. A partir dessas discussões, anseia-se, portanto, que este estudo contribua com as pesquisas semióticas sobre aspectualização e que, especialmente, incentive novas colaborações e desenvolvimentos sobre o conceito.

18

1. O DISCURSO JORNALÍSTICO

As pessoas apenas enxergam o mundo através de uma moldura de uma janela. Se a moldura da janela é muito pequena, as pessoas somente enxergarão uma pequena parte do mundo. Se a janela na parede é voltada para o oeste, as pessoas apenas enxergarão o oeste. Em outras palavras, a mídia pode mostrar apenas uma pequena parte do mundo a partir de um particular ponto de vista. (PARK, 2003, apud LEAL, 2008, p. 193)

A influência da mídia na vida cotidiana das pessoas é inegável. Fontes de lazer, entretenimento e informação, os discursos midiáticos fazem-se presentes nos mais diversos contextos. É principalmente através de notícias e de reportagens, gêneros específicos do universo jornalístico, que o conhecimento sobre o que nos cerca é veiculado todos os dias. No entanto, como aponta Leal (2008) a partir de Park (2003), os fatos noticiados, percebidos como acesso ao mundo, são, na verdade, um recorte subjetivo da realidade, uma vez que estão permeados das escolhas e das interpretações de um sujeito enunciador.

Nesse sentido, ao fazer a seleção do que vai noticiar, do que receberá maior destaque dentro de uma edição e do que será silenciado, o jornal acaba, conforme já assinalado, por revelar seu posicionamento e interesse, mostrando-se como um instrumento parcial, ao contrário da ideia de objeto noticioso neutro que os manuais jornalísticos defendem ser alcançável3. Conforme menciona Castilho, a própria disposição das centrais de correspondências e as parcerias com outras agências de comunicação “define que acontecimento deve ser coberto pela imprensa e aqueles que devem ser ignorados” (CASTILHO, 2005, p. 69).

Para além da subjetividade manifestada nesse exercício diário de triagem realizado pela imprensa jornalística, a construção de uma notícia é também, e sobretudo, marcada pelas escolhas discursivas de um enunciador. Isso porque, se entendemos o próprio discurso como “a narrativa ‘enriquecida’ pelas opções do sujeito da enunciação que assinalam os diferentes modos pelos quais a enunciação se relaciona com o discurso que enuncia” (BARROS, 2008, p. 85), assumimos inevitavelmente sua impossibilidade de isenção.

3 Segundo o Manual de Redação e Estilo de O Estado de S. Paulo, “o jornal expõe diariamente suas opiniões nos editoriais, dispensando comentários no material noticioso” (MARTINS, 1997, p. 17). Já os Princípios Editoriais das Organizações Globo afirmam que “Os veículos jornalísticos das Organizações Globo devem ter a isenção como um objetivo consciente e formalmente declarado” (MARINHO et al., 2011, p. 5). 19

Desse modo, o que o jornal faz é produzir um discurso que pretende, a todo tempo, apagar as marcas da enunciação no enunciado. Em especial nos periódicos que se assumem como “sérios” e “moderados”, em oposição aos “sensacionalistas” (cf. DISCINI, 2004), há um enunciador esforçado em simular um efeito de neutralidade no discurso.

Produzindo um distanciamento dos fatos narrados, esse enunciador vale-se de estratégias, como, por exemplo, o uso de terceira pessoa, do discurso direto e da voz passiva, para fazer parecer com que as notícias se enunciem a si mesmas, o que, segundo Fiorin (2004, p. 21), “gera um efeito de sentido de verdade”. Nesse âmbito, a verdade no texto jornalístico, assim como em qualquer discurso, é algo construído, já que é fruto de uma recriação linguística que revela uma determinada perspectiva sobre o real.

Ao difundir a realidade a partir de um prisma subjetivo sob a camuflagem de uma abordagem que busca a imparcialidade, o discurso jornalístico atua diretamente no fazer interpretativo do público. Mais que isso, apoiado em uma aparente despretensão, ele cumpre o papel de persuadir o leitor, comum a todo ato de comunicação. Como afirma Gomes (2008a, p. 15), “ao construir um simulacro do mundo [...], o jornal também difunde um conjunto de valores, crenças, comportamentos, pontos de vista que constituem as ideologias”.

Devido a seu caráter universal de abordar uma gama variada de assuntos – que vão desde economia e política a temas esportivos, televisivos e cotidianos – e a sua grande circulação entre as mais diversas classes sociais, o jornal torna-se um meio eficaz e abrangente de propagação dos pensamentos e da perspectiva de um determinado grupo. Dessa maneira, é, por natureza, um instrumento ideológico, em se entendendo, neste trabalho, em consonância com a noção adotada por Barros (2001 [1988], p. 148) e seguida por Hernandes (2005, p. 32), o conceito de ideologia como “visão de mundo” 4.

Essa associação entre discurso jornalístico e ideologia é explicada por Fiorin como algo próprio do que chama de “ordem da linguagem” (FIORIN, 2009, p. 160). Segundo o autor, “a linguagem não é a representação transparente de uma realidade, mas é a criação de diferentes realidades, de diversos pontos de vista sobre o real”. Com isso, todo

4 Barros (2001 [1988], p. 150) esclarece que emprega “o conceito de ideologia como visão de mundo, mas com as ressalvas de que se levam em conta o caráter desequilibrado dos diferentes sistemas de representação e as distorções e ilusões produzidas ideologicamente”. De igual modo, o presente trabalho não ignora tais observações. 20 discurso, ao reelaborar a realidade com vistas a produzir um efeito de sentido de verdade, vai necessariamente estar pautado e veicular um determinado posicionamento ideológico.

Em diálogo com essa visão, Hernandes (2005), ao fazer um estudo semiótico de jornais brasileiros de grande circulação nos domínios impresso, televisivo e on-line, também aponta a intensa relação entre verdade, realidade e ideologia:

Um dos recursos do destinador para persuadir o destinatário a crer na verdade enunciada é elaborar uma representação da realidade que deve ser aceita pelo destinatário. Isso é possível se destinador e destinatário, entre outros fatores, partilharem de uma mesma visão de mundo, de uma ideologia, questão que se relaciona à competência semântica e exige uma espécie de cumplicidade na maneira de recortar e dar sentido aos acontecimentos, à realidade. Verdade, realidade e ideologia são, portanto, assuntos profundamente relacionados. (HERNANDES, 2005, p. 31)

Compreende-se, então, que se faz totalmente necessário que jornal e leitor compartilhem de certos valores para que o fazer persuasivo de seu discurso obtenha a adesão de seu enunciatário. Longe de ser resultado de uma escolha ingênua, os textos veiculados em periódicos são direcionados a um determinado público, o que evidencia uma construção representativa de quem é esperado como enunciatário. É o que defende Gomes (2008a, p.113-114), afirmando que “ao produzir o texto, [o enunciador] já antecipa as possíveis interpretações e deduções a serem feitas pelo enunciatário a partir dos fatos enunciados”.

Nesse mesmo caminho, o jornal também acaba por concretizar um enunciador específico, revelado em vestígios presentes no discurso, ainda que através de sua diversidade de vozes e linguagens. Constituído por um grande conjunto de matérias, divididas em gêneros discursivos e temas diversos, narradas por variados narradores, empregando as linguagens verbal e visual que, geralmente, atuam de forma sincrética, o discurso jornalístico é fundamentalmente alicerçado em uma unidade. Isso se dá, pois, para a veiculação de uma dada visão de mundo e para o sucesso da persuasão pretendida, o jornal organiza a multiplicidade de vozes que nele circulam, criando um efeito de homogeneidade na ideologia por ele difundida.

A construção da conciliação entre as linguagens e as vozes dos diferentes narradores dos textos que formam um periódico é realizada pela atuação efetiva de um sujeito da enunciação. Nas palavras de Faria (2014, p.30), essa “multiplicidade ganha unidade por meio de uma enunciação poderosa, que subsume as diferenças para assegurar o efeito de unidade enunciativa, que parece emanar de um enunciador /jornal/”. 21

Criando uma imagem de si e do outro, esse sujeito da enunciação desdobra-se em um enunciador (“eu”, que fala) e em um enunciatário (“tu”, a quem se fala) que vão entrar em jogo na interação comunicativa. Sendo, para a teoria semiótica, actantes discursivos, enunciador e enunciatário de um jornal constituem, respectivamente, seu destinador e destinatário pressupostos.

Ao refletir sobre a ação do sujeito da enunciação, Fiorin (2004, p. 16) diz que “o primeiro [enunciador] produz o enunciado e o segundo [enunciatário], como uma espécie de filtro, é levado em consideração pelo ‘eu’ na construção do enunciado”. Nessa perspectiva, o autor mostra que o enunciatário é parte ativa na construção do texto pelo enunciador.

Desse modo, ao se pensar na participação do enunciatário no discurso jornalístico, há de se atentar para um ponto específico. Devido ao seu caráter inerentemente coletivo, é exatamente o recurso de projeção de variados narradores que tenta atingir o enunciatário múltiplo, ainda que com certa partilha ideológica, de um jornal:

Um jornal, enunciado estruturado pelos diversos textos que se organizam em uma unidade, constitui-se como um enunciador, que projeta discursivamente diferentes narradores, com variados papéis temáticos: o repórter, o cronista, o articulista, o entrevistador etc. A cada narrador corresponde um narratário, o leitor inscrito também no enunciado. Nas matérias não assinadas, o narrador se firma nas características de cada gênero, havendo diferenças, por exemplo, entre o repórter e o editorialista, narradores concretizados em papéis temáticos (FARIA; TEIXEIRA, 2014, p. 197).

Mais que dar conta de seu enunciatário, projetado nos narratários de seus diferentes textos, a diversidade de narradores em um mesmo periódico produz também um efeito de heterogeneidade de pontos de vista ao discurso jornalístico. Dessa maneira, acaba por reforçar a ideia de que os jornais são pautados em uma isenção e neutralidade, já que seu enunciatário se vê diante de narradores distintos, que, em um olhar menos técnico, apontam para uma multiplicidade de visões sobre o mundo.

No entanto, como anteriormente exposto, o que se tem é uma unidade enunciativa. Sem construir um enunciador fragmentário e plural, as vozes que ecoam nas matérias reforçam a ideologia defendida pelo jornal em que são veiculadas, tudo isso a partir dessa aparente diversidade de perspectivas.

A variedade de narradores também fortalece a tese de que o discurso jornalístico é pautado na verdade. Contudo, para além do ser verdadeiro, o jornal emprega, em seu 22 discurso, o parecer verdadeiro, elaborado por meio de um contrato de veridicção, consoante afirma Barros:

O reconhecimento do dizer-verdadeiro liga-se a uma série de contratos de veridicção anteriores, próprios de uma cultura, de uma formação ideológica e da concepção, por exemplo, dentro de um sistema de valores, de discurso e seus tipos. O contrato de veridicção determina as condições para o discurso ser considerado verdadeiro, falso, mentiroso ou secreto, ou seja, estabelece os parâmetros, a partir dos quais o enunciatário pode reconhecer as marcas da veridicção. A interpretação depende, assim, da aceitação do contrato fiduciário e, sem dúvida, da persuasão do enunciador para que o enunciatário encontre as marcas de veridicção do discurso e as compare com seus conhecimentos e convicções, decorrentes de outros contratos de veridicção, e creia, isto é, assuma as posições cognitivas formuladas pelo enunciador (BARROS, 2001 [1988], p. 93 e 94).

Dessa maneira, percebe-se que o esforço maior de um jornal gira em torno da construção de sua credibilidade. Isso porque é ela que vai garantir que o seu público aceite o contrato fiduciário e que haja adesão ao seu discurso. Todo empenho em desenvolver credibilidade tem como fim a criação de um hábito pelo destinatário em recorrer a um dado jornal em busca de informações fidedignas.

Nesse sentido, a estruturação discursiva de um texto jornalístico tende a obedecer à racionalidade mercadológica de um objeto que é feito para ser consumido. Em uma descrição do que chama de “gerenciamento do nível da atenção”, Hernandes (2005) expõe estratégias de persuasão dos periódicos para atrair, manter e fidelizar seus leitores. Em linhas gerais, esses mecanismos serão tratados na próxima seção.

1.1 A relação enunciador-enunciatário: os jornais e suas estratégias persuasivas

Os estudos voltados à análise do discurso já realizaram amplas discussões a respeito da intencionalidade persuasiva de qualquer ato de comunicação. Como vimos no item anterior, os textos jornalísticos não fogem a essa regra. Ao contrário, o que fazem é simular uma imparcialidade para levar seu enunciatário a crer em seu discurso, a partilhar de sua ideologia e, principalmente, a consumir seu produto diariamente.

Desse modo, o que se percebe é que o jornal tem como objetivo final o desenvolvimento de um vínculo de fidelidade com seu público. Para isso, como afirma Hernandes (2005), apoiando-se em Marcondes Filho (1989), a produção da notícia tem como objetivo final

[...] motivar o consumo: “(...) A própria produção da notícia significa a adaptação do fato social a alguma coisa mais rentável. Ele não só é 23

embelezado, limpado, pintado de novo, como ocorre com outras mercadorias na prateleira para atrair a atenção do comprador; o fato social aqui é também acirrado, exagerado, forçado. De qualquer maneira, mudado para vender” (HERNANDES, 2005, p. 61).

É exatamente o reconhecimento dos mecanismos envolvidos na captação da atenção, na persuasão e na formação da fidelidade do leitor com um jornal que nos interessa nesta seção. De acordo com Hernandes,

[...] Os jornais precisam manipular a atenção de telespectadores, ouvintes, internautas ou leitores nos níveis sensorial, passional e inteligível para que se instaurem e se perpetuem os tão necessários laços com o público-alvo. E também para que o público assuma determinados valores (HERNANDES, 2005, p. 50, grifos do autor).

Em seu estudo, cuja base teórica está na semiótica de linha francesa, o autor esclarece que a relação entre jornal-destinador e leitor-destinatário ocorre em dois níveis: um que corresponde às unidades noticiosas e outro que se manifesta na própria relação público- jornal. Segundo ele, a enunciação jornalística é em si uma narrativa que revela um determinado modo como o destinatário deve ver o mundo e reconhecer-se nele (cf. HERNANDES, 2005, p.51).

Esses dois níveis de que trata Hernandes (2005) envolvem o conceito de narratividade, proposto pela semiótica. Ao explicar que é algo comum a todo e qualquer texto e não apenas aos textos narrativos, a teoria entende a narratividade como “uma transformação situada entre dois estados sucessivos e diferentes” (FIORIN, 2005 [1989], p. 27).

Podendo ocorrer tanto no nível textual quanto no nível da enunciação, a narratividade configura-se como uma transformação de conteúdo, caracterizada por um estado inicial, uma mudança e um estado final. De acordo com a semiótica, em cada estado, há um sujeito5 que busca entrar em conjunção ou em disjunção com um objeto de valor.

Ao descrever de que modo a narratividade opera nos mais variados textos, a teoria explica ainda que as produções textuais não são narrativas simples, mas complexas, estruturadas a partir de enunciados organizados hierarquicamente. O encadeamento lógico dessas narrativas obedece, segundo a semiótica, a uma sequência canônica –

5 Sujeito e objeto são considerados, na semiótica, papéis narrativos. Como afirma Fiorin (2005 [1989], p. 29), “Não se pode confundir sujeito com pessoa e objeto com coisa. Sujeito e objeto são papéis narrativos que podem ser representados num nível mais superficial por coisas, pessoas ou animais”. Além disso, o valor é o significado inscrito em um dado objeto para um determinado sujeito.

24 brevemente exposta aqui e mais detalhada na seção seguinte desta pesquisa – composta de quatro fases: manipulação, competência, performance e sanção.

A manipulação, que pode ocorrer por tentação, por intimidação, por sedução e por provocação6, identifica-se pela etapa em que um sujeito (destinador-manipulador) age sobre outro (destinatário-manipulado) com o intuito de levá-lo ao querer e/ou dever fazer algo. A competência, por sua vez, é a fase de atribuição das habilidades e capacidades de um saber e/ou poder ao sujeito a realizar a transformação narrativa. A performance é a etapa em que se dá a mudança de estado central da narrativa, fase em que o sujeito parte em busca de seu objeto de valor. A sanção, por fim, manifesta-se como o reconhecimento da realização ou da não realização da ação. Ao constatar o cumprimento ou descumprimento do fazer acordado na etapa de manipulação, segundo os valores assumidos, pode haver um julgamento positivo ou negativo por um sujeito sancionador (cf. FIORIN, 2005 [1989], p. 27-41).

Quando se analisa a narratividade da própria enunciação no discurso jornalístico, correspondente ao que Hernandes (2005, p.51) chama de “relação público-jornal”, examina-se a transformação exercida no destinatário, que passa de um estado inicial, em que se encontra em disjunção com as informações trazidas pelo jornal, a um estado final, em que está em conjunção com os saberes fornecidos.

Em outras palavras, a narratividade na enunciação de um periódico é explicada por um sujeito destinador, o jornal, que leva seu destinatário, o perfil de leitor idealizado e pressuposto, a querer/dever entrar em conjunção com um objeto de valor, as informações por ele veiculadas. Para isso, o sujeito /jornal/ mostra-se competente a fornecer o objeto a seu destinatário, caracterizando-se como aquele que detém o saber. O sucesso das etapas de manipulação e de competência desencadeiam a performance, que é o próprio consumo do jornal. Após isso, o sujeito manipulado recebe a sanção positiva ao entrar em conjunção com os saberes sobre o mundo (cf. HERNANDES, 2005, p. 52-55).

O interessante é observar que, conforme discutido na seção anterior, o jornal divulga os eventos a partir de uma recriação linguística, o que necessariamente implica na propagação de uma ideologia. Com isso, mais que estar em conjunção com as

6 A tentação e a sedução são estratégias de manipulação que se baseiam em valores positivos: ou em oferecer um objeto atrativo ao sujeito, no caso da tentação, ou ao atribuir uma imagem positiva ao sujeito, fazendo- o aceitar os valores transmitidos pelo manipulador. A intimidação e a provocação, ao contrário, se baseiam na ameaça ao sujeito de obtenção de um valor negativo, no primeiro caso, e na atribuição de uma imagem negativa do sujeito, no segundo. 25 informações sobre os fatos, o destinatário de um jornal entra em conjunção com determinado ponto de vista pelo qual “deve ver o mundo e enxergar-se nele (dever-ser)” (HERNANDES, 2005, p.51). É, então, essa identificação entre jornal, que constrói um discurso para o fazer crer, e leitor, que interpreta as informações recebidas como verdadeiras, que impulsiona a repetição da narrativa para a performance diária de consumo de um periódico.

O desenvolvimento desse vínculo entre jornal-destinador e leitor-destinatário, estruturado pela credibilidade construída discursivamente, evidencia a identificação recíproca entre os actantes discursivos, enunciador e enunciatário. Isso significa, de acordo com o que expõe Discini (2004, p. 119), que o leitor escolhe o seu jornal, aquele enunciador julgado como o mais competente e com o qual partilha de uma mesma ideologia, e, de igual modo, o jornal também seleciona seu perfil de leitor almejado, o enunciatário com quem dialoga e imprime seu ponto de vista.

Como explica a autora, ao se reconhecer em um jornal, o leitor cria uma “ilusão discursiva de auto-inclusão numa certa identidade, de pertencimento a um determinado corpo, de auto-reconhecimento” (DISCINI, 2004, p. 118-119). Por esse motivo, Landowski (1992, p. 119) afirma que, ao eleger seu jornal, o leitor tende a “permanecer fiel a ele”, como se isso caracterizasse “em suma, permanecer fiel a si mesmo”.

Para atingir seu leitor e obter sua fidelidade, os jornais empenham grande esforço, revelado em suas marcas de enunciação. Junto à estruturação de um discurso crível, “para serem consumidos, os jornais precisam principalmente reter a atenção por meio da apresentação das unidades noticiosas, pela distribuição delas na edição e no conjunto de edições” (HERNANDES, 2005, p.62).

Dessa maneira, de acordo com Hernandes, o elo entre enunciador e enunciatário de um periódico é produto do que chama de “gerenciamento da atenção”, mecanismo que ocorre através de três níveis, distintos e complementares. Segundo o autor, por meio desses níveis, que envolvem aspectos sensoriais, passionais e inteligíveis:

1. É preciso obter, “fisgar”, a curiosidade do sujeito. 2. O sujeito deve, em seguida, se interessar pelas histórias das unidades noticiosas. 3. Finalmente, ele deve querer repetir a experiência nas edições seguintes (ou atualizações, no caso da Internet), ou seja, o consumo deve desencadear um hábito (HERNANDES, 2005, p. 62).

26

Cada uma dessas etapas, abordadas por Hernandes, corresponde a uma fase do processo de captação, manutenção e constância da atenção de seu enunciatário. Representando, respectivamente, a estratégia de arrebatamento, de sustentação e de fidelização, esses níveis apresentam características específicas que entram em jogo no fazer persuasivo dos jornais.

A estratégia de arrebatamento refere-se à curiosidade instantânea que o material noticioso de um periódico, como estímulo, procura causar no leitor. Com o intuito de captar, ou, como nomeia Hernandes (2005, p. 70), “fisgar” a atenção de seu destinatário pelo plano da expressão7, essa estratégia está relacionada ao sensível8, ao não racional, a “algo que deve ser sentido como instigante, que impõe ao sujeito um querer-saber na forma de um querer entender” (HERNANDES, 2005, p.71).

Gama (2015), em uma pesquisa semiótica das coberturas de mortes trágicas pelas capas do jornal O Globo, acrescenta à definição da estratégia de arrebatamento de Hernandes (2005) a contribuição, já antecipada pelo autor, da semiótica tensiva, proposta por Zilberberg (2006), que será revisitada mais detalhadamente na seção de fundamentação teórica da presente pesquisa. De acordo com Gama (2015, p. 26), nesta fase “a manipulação é regida predominantemente pela intensidade, pelo impacto do insólito, pelo irrompimento de um valor no campo de presença do sujeito. No limite, configura um acontecimento”.

Ao fornecer exemplo de estratégias de arrebatamento utilizadas pelos jornais, Hernandes (2005) cita o uso de cores fortes, inusitadas, narração acelerada e fotos que ocupam grande espaço em uma página. Pensando no corpus utilizado neste estudo, podemos perceber a estratégia de arrebatamento nas atualizações repentinas nas páginas dos jornais on-line, no destaque espacial de uma matéria na janela de abertura, a “capa”, de um jornal de internet, nas fontes espessas que dão títulos às notícias e ainda nas fotografias de políticos conhecidos.

O segundo nível de gerenciamento de atenção do leitor diz respeito à estratégia de sustentação. Nesta etapa, há a transformação de um sujeito arrebatado em um sujeito

7 Para a teoria semiótica, o texto é resultado da junção do plano da expressão, que corresponde à manifestação textual, com o plano do conteúdo, construído no percurso gerativo de sentido. (cf. BARROS, 2001 [1988], p. 152) 8 De acordo com Zilberberg, sensível e inteligível correspondem a dimensões que explicam a tensividade. Segundo o autor, a relação entre sujeito e objeto é baseada na tensividade, que é um “lugar imaginário em que a intensidade – ou seja, os estados de alma, o sensível – e a extensidade – isto é, os estados de coisas, o inteligível – unem-se uma à outra” (ZILBERBERG, 2011, p. 66). 27 tenso, “interessado em decodificar um estímulo” (HERNANDES, 2005, p. 70). Por meio de uma manipulação por tentação, depois de um contato inicial mais acelerado9 e mais próprio ao plano da expressão, o leitor tem sua atenção sustentada pelo plano do conteúdo.

Envolvendo um aspecto mais passional10, a estratégia de sustentação motiva o sujeito, que é surpreendido pelo seu não saber, a querer saber os fatos noticiados por inteiro. Podemos perceber a estratégia de sustentação atuando quando, ao ser atraído por uma manchete com destaque repentino na página de um jornal on-line, o leitor, ao fazer sua leitura, tenta entender a ênfase dada à notícia e clica para lê-la por completo, transformando o estímulo recebido em um conteúdo inteligível.

Dessa maneira, ao ser arrebatado por uma chamada com grande destaque no momento de sua publicação e ainda construída a partir de elementos verbais mais tônicos, como o uso de adjetivo em, por exemplo, “Abandonado pelo PT, Cunha acata impeachment de Dilma Rousseff” (O Dia on-line, 02/12/15), o destinatário sente uma disforia11 em relação à informação e, consequentemente, fica mais atento ao conteúdo noticiado.

A estratégia de fidelização, terceiro e último nível do gerenciamento de atenção do leitor pelo jornal, tem a finalidade de fazer do sujeito curioso um sujeito fiel. Por esse motivo, depende do sucesso das estratégias de arrebatamento e de sustentação para proporcionar ao sujeito a vontade de repetir as experiências de contato com um dado periódico. Embora envolva componentes do sensível, esta etapa é mais da ordem do inteligível, como salienta Gama (2015, p. 28) ao afirmar que “na fidelização, a manipulação é regida preferencialmente pela extensidade, pelo conforto do conhecido”.

Desse modo, a fidelização apoia-se na, já citada, partilha e identificação ideológica entre jornal e público. O jornal precisa, nesta etapa, convencer seu destinatário de que é competente em fazer saber, por meio do efeito de sentido de verdade, as notícias sobre o mundo. Conforme destaca Hernandes,

9Aqui, o vocábulo “acelerado” é utilizado tecnicamente, de acordo com a perspectiva da semiótica tensiva, cujos conceitos serão desenvolvidos mais detalhadamente no capítulo teórico da presente pesquisa. No trecho, o termo diz respeito a um andamento mais intenso, mais veloz, relacionado ao sensível, produzido pela estratégia de arrebatamento. 10O termo “passional”, em teoria semiótica, refere-se ao conceito teórico ligado ao estudo das paixões, que também será retomado no capítulo teórico deste trabalho. Como afirmam LATTE e MATTE (2009, p. 8), “No quadro da semiótica, a paixão é entendida como efeitos de sentido de qualificações modais que alteram o sujeito de estado”. 11 Em semiótica, “disforia” corresponde a um traço semântico negativo. 28

Se as estratégias de arrebatamento e sustentação vinculam-se ao poder das unidades noticiosas, a estratégia de fidelização resulta do contato com a edição inteira. O jornal deve convencer de que é “completo”, realiza uma eficaz triagem e organização da realidade na qual o enunciatário se insere e se apresenta de maneira clara, possibilitando prazeres e um consumo fácil e eficiente. A satisfação deve motivar o desejo de tomar contato com a edição seguinte (HERNANDES, 2005, p. 89).

Somadas a um discurso que faz crer por parecer verdadeiro, as estratégias de gerenciamento da atenção, propostas por Hernandes (2005), explicitam procedimentos que promovem a adesão do enunciatário ao discurso jornalístico. Ao construir uma manipulação através dos níveis sensorial, passional e inteligível, o enunciador /jornal/ atrai, sustenta e, principalmente, fideliza seu enunciatário, levando-o a fazer seu consumo diariamente em busca de novas experiências que promovam seu saber.

1.2 O jornalismo político: relação entre discurso e poder A noção de que o repórter está invariavelmente comprometido com a verdade, não se subordinando a nenhum outro interesse que não seja o público, forneceu historicamente as condições de aceitabilidade do discurso jornalístico. A “missão social” permaneceu como marca distintiva da imprensa, ainda que, na prática, ela atuasse como porta-voz de grupos políticos em razão das especificidades do contexto jornalístico brasileiro e seus vínculos com o poder (CASTILHO, 2013, p.43).

Ainda que estudos sobre o discurso já tenham desmistificado a existência da neutralidade jornalística e inserido o jornal em uma perspectiva mercadológica que visa o consumo, conforme discutido nas seções anteriores, há de se atentar para o lugar que a imprensa ocupa cotidianamente na formação de opinião de nossa sociedade. Nesse sentido, quando analisamos o discurso jornalístico como uma ferramenta com grande poder persuasivo e como um canal de propagação de uma dada ideologia, inevitavelmente esbarramos em uma questão: até que ponto a imprensa tem o poder de interferir na vida política de um país?

Certamente, responder com exatidão qual é a influência atual do jornalismo na atividade política em nosso território não é tarefa simples e extrapola os interesses do presente estudo. No entanto, o que nos motiva é refletir, em linhas gerais, sobre a função e o espaço do jornalismo político hoje vigente e sobre sua relação com a formação da opinião pública de nossa nação. Entendendo que essa associação entre imprensa e política não ocorre inexplicavelmente de uma hora para outra, nosso intuito é também examinar, de forma resumida, as motivações históricas que promoveram o uso do discurso jornalístico como instrumento de poder político. 29

Essa associação entre imprensa, política e opinião pública não é inédita, nem tampouco desmotivada. Analisando essa relação tríade em um âmbito mais local e específico, não se pode negar o histórico uso do jornalismo como fonte de legitimação de ações políticas em nossa sociedade.

Desde seu nascimento, que ocorre, segundo Seabra (2006), junto à instalação da Corte portuguesa em terras brasileiras, o jornalismo nacional apresenta forte vínculo com os interesses políticos. Amparados pela Coroa, os primeiros jornais editados no Brasil destinavam-se à divulgação e à defesa dos feitos do reinado português em nosso território.

Com a promessa de levar aos leitores “as notícias políticas sempre da maneira mais singela”, como aponta a epígrafe, recuperada por Seabra (2006, p. 115), de um jornal de Salvador, o Idade de Ouro do Brasil, do ano de 1811, o que se percebe é que o jornalismo político é o primeiro tipo de jornalismo a se fixar no país. Sua configuração, todavia, era bem diferente da estruturação do jornalismo político atual. Enquanto no momento contemporâneo todo o esforço dos jornais está em construir um texto que simule isenção e neutralidade, o início do jornalismo político foi marcado pelo comprometimento, pela clara tomada de posição, consoante afirma Seabra:

A Independência, como se sabe, consumou-se em setembro de 1822. As disputas políticas que marcaram os primeiros anos do Brasil livre refletiram- se na imprensa política. A separação definitiva de Portugal exigia uma imprensa atuante. Entretanto, forças antagônicas [...] forçaram uma guerra ideológica que transformou os jornais da época em verdadeiras trincheiras. Foi um período violento, marcado por agressões a donos de jornais [...] (SEABRA, 2006, p. 116).

Sobre essa atuação não velada do jornalismo na política brasileira desde seu surgimento, Pereira (2006) declara que se tratava de uma regra. Segundo o autor, o ideal de um fazer jornalístico que procura desvincular informação de opinião só surge em território nacional na década de 1950, com Pompeu de Sousa que, além de outras técnicas, introduz o lead 12 nas matérias jornalísticas:

Até aquele momento, na década de 1950, os jornais utilizavam uma linguagem engajada e panfletária. Os fatos não eram tratados com isenção e imparcialidade, como recomenda hoje o bom jornalismo. Ao contrário, o texto das matérias era carregado de adjetivos – às vezes elogiosos, às vezes depreciativos, dependendo da tendência do jornal. Se o tema era a política nacional, jornais de oposição faziam matérias e editorias sempre críticos ao governo. E vice-versa, jornais governistas sempre criticavam as iniciativas da oposição. A regra era o engajamento, e não a isenção (PEREIRA, 2006, p. 90).

12 Expressão em inglês que designa o parágrafo inicial de síntese de um texto jornalístico, que deve conter as principais informações sobre o assunto abordado na notícia, procurando responder às questões: quem, o quê, quando, onde, como e por quê. 30

No entanto, essa tendência à neutralidade e à imparcialidade na abordagem dos fatos, apontada por Pereira como característica dos jornais a partir de 1950, na verdade, diz respeito a uma tentativa linguística, como vimos, de construir esse efeito no texto por meio de técnicas discursivas. Como bem ratifica Seabra,

Essa mesma imprensa que em duas décadas [final nos anos de 1940 até o golpe militar de 1964] construiu um novo modelo jornalismo político, juntando informação, análise e interpretação dos acontecimentos, não conseguiu se livrar completamente do jogo político dos interesses privados (SEABRA, 2006, p. 130).

É o que apontam também os estudos de Castilho (2013; 2014). Ao recuperar a cobertura da imprensa dos fatos políticos em um passado mais recente, pós-golpe militar, Castilho (2013) mostra que, seja em posição de ataque, convencionalmente chamada de esquerda, seja em posição de defesa, ou de direita – posições essas nem sempre estanques –, “a imprensa e outras instituições da sociedade civil não estiveram à margem do processo de transformações no cenário político-nacional” (CASTILHO, 2013, p. 47).

Sendo, portanto, um fato constante na história de nosso país, a relação entre jornalismo e vida política brasileira sempre foi muito além da informação dos fatos. Considerada um poder paralelo, ou um “Quarto Poder”, como afirma Albuquerque (2000), a imprensa tem, ainda hoje, uma grande influência sobre a atividade governamental da nação e, em especial, sobre a formação da opinião pública de nossa sociedade.

Apresentando, por vezes, seções específicas sobre o assunto – como é o caso dos jornais Folha de São Paulo on-line e Estadão on-line, que possuem uma coluna intitulada “Política” – ou trazendo o tema em seções, que, embora apresentem matérias sobre outros conteúdos, se destinam majoritariamente a notícias políticas, como ocorre na seção “Brasil”, de O Globo na versão on-line, os periódicos nacionais caracterizam-se pelo espaço dado à divulgação desse tema em suas páginas. Ainda que com menor número de notícias sobre política nacional, até mesmo os jornais populares de nosso país, como O Dia, são marcados pela presença do assunto em suas edições diárias.

Segundo Marques de Melo, essa abordagem do jornalismo político como um subgênero ou como uma categoria “espacial/ocupacional, ou seja, território demarcado na morfologia dos jornais/revistas” (MARQUES DE MELO, 2008, p. 91) não é uma ocorrência generalizada no atlas do jornalismo contemporâneo. De acordo com o autor, a 31 presença do jornalismo destinado à política é mais intensa em “sociedades onde a democracia representativa ainda está em fase de sedimentação” e mais “residual ou nula nas democracias consolidadas”.

Ainda que não apresentem espaço destinado especificamente a esse tema e sejam vistas como sociedades em que tal categoria do jornalismo está ausente, não se pode negar a associação entre imprensa, política e opinião pública nos mais diversos territórios ao redor do mundo. Examinando tal vínculo para além das influências em nosso país – em uma concepção mais ampliada, portanto –, encontramos nos estudos de Landowski uma abrangente reflexão sobre a interferência da mídia na opinião pública de uma sociedade.

Considerando a opinião pública um argumento discursivo, construído pela linguagem como um “discurso de persuasão destinado tanto a fazer agir a classe política quanto a fazer assumir ao público uma certa visão da sua própria identidade” (LANDOWSKI, 1992, p. 26), o autor destaca o duplo poder de intervenção da imprensa:

[...] é apenas no interior do sistema de representação “midiático” que são produzidas as diferenciações estruturais de que tentamos dar conta: só há “silêncio do público” em função da emergência do “discurso da opinião”, isto é, no âmbito de uma teatralização da comunicação social. Monopolizando a competência emissiva, cabe às duas instâncias mediadoras, situadas no espaço imaginário que corresponde ao da “orquestra” grega, desempenhar, então uma dupla função de retransmissor, ora voltando-se para a “cena”, a fim de interpelar a “classe política” (em nome do público que representam), ora voltando-se para as “arquibancadas”, a fim de se dirigirem, se necessário, ao próprio público (LANDOWSKI, 1992, p. 26).

Nesse jogo entre classe política e povo, a mídia, vista como “porta-voz” da opinião pública, como aquela que vai mediar a relação entre o “discurso político” e a sociedade a quem este se dirige, adquire amplo poder sobre esses dois polos.

A regulação midiática sobre o povo é percebida pelo fato de a opinião pública, divulgada pela imprensa sob forma de representação coletiva, corresponder necessariamente à voz de um determinado grupo social, por ser fruto de uma criação linguística e argumentativa, conforme abordado no tópico 1 deste trabalho. Dessa forma, a estruturação de um ponto de vista como opinião do povo abarca o que Fiorin (2009. p. 155) chama de silenciamento “constitutivo do discurso”, uma vez que, ao dar espaço a uma ideologia, a mídia silencia outras posições e manipula seu enunciatário à adesão de seu dizer.

A influência da imprensa sobre a classe política, por sua vez, pode ser observada por uma via dupla. Primeiramente, ao privilegiar determinado posicionamento, a 32 imprensa acaba por atrair a atenção dessa classe para aquele ponto destacado. Dessa forma, o político, conhecidamente como aquele que estrutura seu discurso pela “ordem do saber, uma vez que [...] se dirige ao eleitorado e se apresenta como um conhecedor dos problemas da unidade político-administrativa que pretende dirigir e da maneira de resolvê-los” (FIORIN, 2013, p. 24), volta-se aos problemas e às necessidades evidentes de uma determinada “opinião pública”. Por outro lado, a imprensa também adquire certo poder sobre a política por ser ela seu espaço de divulgação, uma vez que lhe confere noticiabilidade, e ainda por ser o lugar de julgamento discursivo intrínseco das ações e dos sujeitos da classe política, sob a ótica de verdade e de “opinião pública”.

Com isso, a mídia, ao transformar “seu discurso, que é sempre particular, um dentre os que constituem o mesmo campo discursivo, em discurso universal” (FIORIN, 2009, p. 153-154), assume-se como um instrumento de poder político. Por esse motivo, atua como importante elemento na configuração da vida política de uma sociedade.

Quando pensamos, em especial, no contexto contemporâneo, em que a esfera política sempre fornece inúmeros materiais noticiosos, com tantas investigações, processos, delações e consolidação de um novo governo pós-impeachment, podemos notar o esforço discursivo dos veículos midiáticos para a construção de uma opinião pública. Mais adiante, na análise de nosso corpus de pesquisa com base no conceito de aspectualização semiótica, poderemos observar que, embora os dois jornais analisados muitas vezes relatem o mesmo fato, por vezes, cada periódico aponta para uma opinião pública diferente e contrária, que, por exemplo, ora vê o governo presidencial de Dilma Rousseff em seus últimos momentos, como na notícia “Temer mira na base aliada e acena com espaço num eventual governo” (O Globo on-line, 13/12/2015), ora aprecia esse governo em seu pleno desenvolvimento, como em “Cunha rebate Dilma e afirma que presidente mentiu quando diz que não barganhou” (O Dia on-line, 03/12/15).

Antes, contudo, passemos a uma caracterização dos jornais on-line e de cada periódico aqui examinado para que seja possível, posteriormente, reconhecer as motivações que os levam à construção de uma opinião pública distinta.

1.3 O jornal on-line: a intensidade e a extensidade em questão

Os jornais de internet são, comprovadamente, instrumentos cada vez mais constantes na busca pelo acesso à informação por parte dos brasileiros. A última pesquisa 33 com o ranking dos maiores jornais impressos e digitais com circulação paga no Brasil, divulgada pelo site da Associação Nacional de Jornais (ANJ), que toma como referência a variação entre os anos 2014 e 2015, mostra que a média de circulação dos jornais on- line atingiu elevados e significativos índices, chegando a se aproximar de suas versões impressas13.

Mais recentemente, em alusão a uma pesquisa sobre onze grandes periódicos nacionais, auditada pelo Instituto Verificador de Comunicação (IVC), a ANJ voltou a divulgar os avanços dos jornais digitais que, entre dezembro de 2015 e dezembro de 2016, registraram crescimento de 16,6% em suas assinaturas, ao passo que as assinaturas dos jornais impressos tiveram queda de 15,13% no mesmo período analisado. Nessa mesma matéria, a Associação, ainda tomando como fonte o IVC, também anunciou que, em fevereiro de 2017, o jornal Folha de São Paulo chegou a ter um número maior de assinaturas de sua versão digital que de sua versão impressa14.

Devido ao grande lugar que esses veículos vêm ocupando em nossa sociedade, o intuito aqui, ao escolher notícias retiradas de jornais on-line como corpus de trabalho, também envolve pensar quais são as características que dão forma a esse objeto. Para isso, fatores como sua estrutura discursiva, seus critérios de noticiabilidade e sua atualização serão analisados com a finalidade de conhecer suas especificidades.

O exame da construção discursiva das notícias revela que as propriedades do gênero são mantidas e amplamente respeitadas nos jornais on-line15. De igual forma ao que ocorre nos jornais impressos, esses periódicos recorrem a estratégias de objetividade, com apagamentos das marcas da enunciação, como o uso da terceira pessoa do singular e da voz passiva, por exemplo, para construir o esperado efeito de sentido de verdade nos textos, conforme já mencionado na primeira seção desta pesquisa.

Um ponto diferenciador do gênero notícia na internet está na anexação, ao corpo da notícia, de hiperlinks para outros textos com afinidades temáticas e na maior multiplicidade de linguagens utilizadas para a estruturação do fazer crer em uma mesma matéria, que pode conter, além de fotografias e de gráficos, frequentes no jornalismo impresso, vídeos, áudios e infográficos. Essa estrutura das notícias on-line cria o que

13 Informações disponíveis em http://www.anj.org.br/maiores-jornais-do-brasil/ 14 Pesquisa divulgada e disponível em http://www.anj.org.br/2017/04/05/jornais-brasileiros-consolidam- crescimento-em-suas-assinaturas-digitais/ 15 Neste trabalho, não consideramos eventuais blogs cujo intuito é divulgar notícias jornalísticas. 34

Antunes (2016) chama de um processo de leitura em “abismo”, no qual o leitor, por meio de hiperlinks, pode acessar vários textos.16

Nesse aspecto, é interessante observar de que maneira as configurações do discurso jornalístico on-line se aproximam e se afastam dos demais discursos característicos dos meios digitais. Em um estudo sobre as manifestações textuais intolerantes na internet, Barros (2014), ao retomar a distinção que a semiótica faz entre os tipos de discurso construídos a partir da debreagem enunciativa (enunciação enunciada) e da debreagem enunciva (enunciado enunciado)17, descreve quais mecanismos são mais próprios dos discursos circulantes on-line, seja em e-mails ou em bate-papos.

Segundo a autora, a enunciação enunciada mostra-se como a principal estratégia discursiva dos textos de internet. Isso porque ela estabelece relação mais dialógica entre os sujeitos, com constante alternância entre os interlocutores. A partir da projeção do “eu- aqui-agora”, a debreagem enunciativa é, então, a responsável por produzir interações mais da ordem do sensorial e do emocional, típicas do contexto on-line (cf. BARROS, 2014, p. 3662).

No entanto, quando analisamos os discursos utilizados pelos jornais de internet, o que se percebe é que sua base está, ao contrário, no enunciado enunciado, ao menos em relação às categorias de pessoa e de espaço. Ainda que destinem um lugar para comentários dos leitores ao final de cada notícia – o que simula maior interatividade e se alinha aos discursos definidos por Barros (2014) como próprios da internet – as notícias dos jornais on-line em si, ao projetar suas categorias de pessoa e espaço pela debreagem enunciva, acabam por manter os efeitos de distanciamento e de “monologismo”18, que caracterizam os jornais impressos. Nesse sentido, a estrutura dos jornais de internet proporciona interações mais de ordem racional ou intelectual, o que corrobora, inclusive,

16 No entanto, segundo Gomes (2014, p. 75), essas possibilidades abertas pelos hiperlinks não “evitam certa circularidade, um retorno ao mesmo, uma vez que apresentam várias entradas e caminhos para uma mesma página”. 17 De acordo com a teoria semiótica, na sintaxe discursiva, situam-se as estratégias de instauração de tempo, espaço e pessoa nos textos, que ocorrem pelos mecanismos de debreagem enunciva e enunciativa e de embreagem. Em linhas gerais, a debreagem enunciativa refere-se à projeção no enunciado de um “eu-aqui- agora”; a debreagem enunciva caracteriza-se pela instauração de um “ele-alhures-então”; e a embreagem é o efeito de retorno à enunciação pela neutralização das categorias de pessoa, tempo e espaço (cf. FIORIN, 2005 [1989]). 18 Barros (2014) emprega o termo ao caracterizar o enunciado enunciado, ressaltando o efeito de sentido de distanciamento da enunciação que a debreagem enunciva constrói em oposição à enunciação enunciada. Segundo a autora, a debreagem enunciativa, ao contrário, produz “efeitos de sentido de aproximação da enunciação e de relação dialógica entre sujeitos” (BARROS, 2014, p.3662). 35 para a construção de sua credibilidade e, consequentemente, para a ampliação de seu consumo, evidenciada pelas pesquisas acima citadas.

Nota-se, assim, que a variação do suporte pelo qual o jornal é veiculado não afeta sua natureza mercadológica e persuasiva. Com isso, o material noticioso do discurso jornalístico, independentemente de se tratar de um jornal on-line ou impresso, tende sempre a obedecer a critérios que, como afirma Gomes (2008a), estão na tensão entre o inesperado, que desperta curiosidade no público e motiva a leitura diária do jornal, e o cotidiano, que visa manter as normas sociais dominantes (cf. GOMES, 2008a, p. 27).

Contudo, se, por um lado, o dialogismo próprio da internet e a seleção do conteúdo a ser publicado não interferem diretamente nas propriedades do gênero notícia e na configuração dos jornais on-line, a relação com o tempo e o espaço, por outro, atua de maneira incisiva em sua elaboração.

Dada a dinamicidade e a velocidade peculiares da internet, a busca pela agilidade na cobertura dos fatos, motivadora de todo e qualquer fazer jornalístico, é bastante ampliada nos jornais on-line. Ao passo que um jornal impresso vivencia a ânsia para o fechamento de uma edição publicada diariamente, o jornal on-line é um instrumento que experiencia a necessidade de atualizações constantes, múltiplas em um mesmo dia, sempre com o intuito de fazer crer que ele é capaz de cobrir o que há de mais recente no mundo.

Assim, o tempo nos jornais de internet é regido pela categoria tensiva da intensidade, que resulta em um andamento acelerado de sua estruturação e renovação (cf. ZILBERBERG, 2006). Essa agilidade para a publicação de notícias também está presente na possibilidade de se fazer revisões, erratas e reestruturações textuais. Enquanto os jornais impressos precisam esperar a próxima edição para pontuar uma ressalva, os jornais on-line podem, mais rapidamente, modificar o primeiro texto publicado, o que fica pontuado para o leitor na forma de notícia “atualizada”.

Ainda em relação à atuação do tempo nos jornais de internet, há de se considerar seu regimento também pela extensidade. Longe de apresentar uma incompatibilidade com a categoria da intensidade, tão característica desses veículos, sua extensidade temporal é explicada pela desaceleração que estende a duração de seus textos.

Ao contrário dos jornais impressos, em que se perde a publicação anterior, sendo muito difícil de recuperá-la, os jornais de internet podem a todo momento ser revistos, 36 retomados pelos links de suas matérias ou por buscas realizadas na internet. No entanto, convém esclarecer que, devido ao grande volume de conteúdo produzido pelo número elevado de publicações diárias nos jornais on-line, decorrente de sua necessidade de atualização constante, essa recuperação dos textos apenas por meio de pesquisas, sem o apoio dos links das publicações, nem sempre é fácil e imediata.

Ainda assim, mesmo exigindo uma pesquisa mais minuciosa e detalhada, há constantemente a possibilidade de releitura das matérias anteriores. Sobre essa particularidade dos jornais on-line, Barros (2014), fazendo referência a uma declaração da Folha de São Paulo, afirma que “na internet tudo é para sempre”, visto que há uma “longa duração de seu conteúdo” (BARROS, 2014, p. 3662).

É a extensidade que rege também a espacialidade dos periódicos de internet. Se no caso dos impressos, o leitor tem acesso apenas aos jornais de seu estado, nos on-line, há uma “grande extensão de seu alcance” (BARROS, 2014, p. 3662), o que possibilita que leitores de diferentes lugares tenham contato com um mesmo jornal.

Dessa maneira, embora os jornais produzidos para os meios digitais tenham bastante proximidades com aqueles feitos para a distribuição impressa, não se pode negar as especificidades que os compõem. Entretanto, mais que características que diferenciam seus discursos, as singularidades dos jornais on-line residem, em sua maioria, nas novas possibilidades e exigências de um fazer jornalístico que a própria internet impõe.

1.3.1 O perfil das obras analisadas Tendo explicitado algumas das propriedades do jornalismo on-line, passaremos a caracterizar as especificidades de cada um dos veículos noticiosos com que iremos trabalhar.

1.3.1.1 O Globo on-line

Reconhecido como um dos jornais brasileiros de internet com maior acesso, O Globo on-line pertence ao grupo das Organizações Globo – a Infoglobo. Além de O Globo impresso e O Globo na versão on-line, o grupo conta ainda com outros dois jornais impressos – Extra e Expresso –, com a Agência Globo e com os sites Extra e Globo, sendo este último o local em que circula O Globo on-line e outros sites de notícias, como o G1. 37

Segundo Faria, o jornal O Globo, fundado em 1925,

[...] é um dos jornais mais lidos no Brasil e sua popularidade se dá pela confiabilidade que apresenta diante do público. Um fator que promove a credibilidade desse veículo é a relação direta com as redes de rádio e TV das Organizações Globo. [...] Esse jornal tornou-se uma grande empresa, que não só imprime a informação em larga escala, mas a produz, buscando-a não só nas fontes tradicionais, mas também em novos meios de produção de notícia, como as redes sociais. (FARIA, 2014, p.27).

Regido pelos “Princípios Editoriais das Organizações Globo”, o Globo on-line, assim como os outros produtos do grupo, considera como foco de seu fazer jornalístico, para uma “informação de qualidade”, a isenção, a correção e a agilidade (cf. MARINHO et al., 2011, p. 5). Por isso, embora com maior interatividade – como, por exemplo, por meio da possibilidade de inserção de comentários por parte dos leitores ao final de cada notícia e da participação do público no próprio fazer jornalístico com fornecimento de materiais na seção “Eu-repórter” –, a estruturação do jornal segue a linha do “jornalismo sério” (cf. GAMA, 2015) através da busca de uma enunciação moderada, em que a isenção seja “um objetivo consciente e formalmente declarado” (MARINHO et al., 2011, p. 5).

A visualidade da versão produzida para internet do jornal O Globo, por sua vez, dialoga, em muitos aspectos, com sua versão impressa. Faria (2014), ao analisar a página inicial do jornal on-line em comparação com a capa jornal impresso, publicadas no mesmo dia 02/01/2014, ratifica que ambas apresentam muitas semelhanças, “especialmente no que diz respeito a uma identidade visual criada por cores, topologia da organização visual da informação e marcas gráficas” (FARIA, 2014, p. 32). Com essa simetria entre as duas versões de O Globo, toda a confiança e credibilidade já edificada pelo impresso acaba, por analogia, sendo atribuída também ao on-line.

Do mesmo modo, a seleção do material noticioso a ser publicado nos dois jornais é também bastante coesa. Abordando, em suas edições diárias, conteúdos que classifica como “assuntos de interesse de todos” (MARINHO et al., 2011, p. 19), O Globo on-line, tal como O Globo impresso, alinha-se ao “jornalismo de referência”19, já que, além do nível de linguagem, da escolha lexical e dos conhecimentos pressupostos tomados como base no contrato fiduciário entre enunciador e enunciatário, seus conteúdos são, em sua maioria, voltados a uma esfera social e coletiva (cf. SILVA, 2010).

19 Terminologia adotada por Amaral (2006) e retirada por Silva (2010) em oposição à expressão “jornalismo popular”. 38

Por esse motivo, matérias consideradas de cunho mais abrangente, como as que, por exemplo, versem sobre a política nacional – nosso foco neste estudo – ou sobre a economia do país, são bastante numerosas em O Globo on-line e, frequentemente, ganham destaque em sua primeira página. Com isso, assim como o jornal impresso (cf. ANTUNES, 2010), a versão on-line de O Globo caracteriza-se por se destinar às classes A e B da sociedade, uma vez que suas notícias não se voltam, em grande parte, à prestação de serviços ou ao relato do cotidiano de um público mais regional, como ocorre no “jornalismo popular”. Para além do que revela esse crivo em relação ao que vira assunto e ao que ganha ênfase nas edições do periódico, O Globo on-line também evidencia a projeção que faz de seu público-alvo ao limitar o número de acesso diário às notícias para não assinantes.

Para a constituição de nosso corpus de pesquisa, foram coletadas matérias da seção “Brasil”, de O Globo on-line. Com título bastante abrangente, esse espaço do periódico destina-se, em grande parte, a notícias sobre a política nacional, apresentando também notícias sobre eventos de outras partes do país, geralmente ocorridos fora do Rio de Janeiro, que tem seus eventos relatados na seção “Rio” do jornal. Como característica típica do jornalismo on-line, o próprio texto de algumas notícias selecionadas já atua como caminho, por meio de um link, para outras notícias sobre assuntos semelhantes e, em alguns casos, infográficos ajudam a compor o todo significativo dos textos.

1.3.1.2 O Dia on-line

Sob controle do Grupo Ejesa (Empresa Jornalística Econômico SA), desde 2010, a versão on-line de O Dia não fornece muitas informações sobre seus princípios editoriais ou sobre suas características organizacionais em sua página institucional na internet. Assim como O Globo on-line, O Dia on-line também é um produto derivado de uma versão impressa, o jornal O Dia, fundado em 1951.

Essa versão impressa, embora já no mercado há bastante tempo, tem, ainda hoje, circulação estadual restrita ao Rio de Janeiro. Com a versão on-line, O Dia adquire maior extensão espacial. Entretanto, o periódico continua a apresentar maior interesse no local para a seleção de seus assuntos. Por isso, apresenta seções como “Rio de Janeiro”, “O Dia no Estado” e “O Dia na Baixada”, em que são publicadas notícias bem específicas sobre os fatos ocorridos nesses espaços. 39

Nesse sentido, O Dia coaduna com o “jornalismo popular” por se caracterizar como “um tipo de imprensa que se define pela sua proximidade e empatia com o público- alvo, por intermédio de algumas mudanças de pontos de vista, pelo tipo de serviço que presta e pela sua conexão com o local e o imediato” (AMARAL, 2006, p. 16). Essa identificação mais popular pode ser confirmada na página de assinaturas de suas versões impressa e digital, em que há descrição de que “com enorme credibilidade, O DIA faz parte da vida dos leitores, publicando suas mazelas, lutando contra as injustiças e difundindo suas conquistas”20.

Com interesse, portanto, em assuntos que sejam mais próximos do cotidiano de seu leitor, as matérias sobre política nacional em O Dia on-line são menos numerosas que em O Globo on-line. Segundo Amaral (2006, p. 10), ainda que notícias com esse tema venham se instalando no jornalismo popular, elas ainda possuem menor destaque nesse tipo de mídia, importando mais notícias sobre políticas que tenham influência direta na vida e na rotina de seu público-alvo.

As notícias que compõem o corpus deste estudo, retiradas da versão on-line do jornal O Dia, foram publicadas em uma seção também intitulada “Brasil”21, espaço destinado a veicular notícias sobre a política nacional e sobre os fatos de destaque externos ao Rio de Janeiro. De modo semelhante ao que ocorre nas notícias de O Globo, algumas notícias apresentam links para outras matérias sobre assuntos semelhantes e para infográficos. Com a observação das notícias desse periódico, no entanto, pôde-se constatar que, por vezes, O Dia on-line retira suas notícias sobre política nacional de outros veículos de comunicação (como Estadão ou IG, por exemplo). Apresentando sempre qual é a fonte de onde a notícia foi extraída ou adaptada, o jornal, em alguns casos, transcreve ipsis litteris os textos publicados por outras agências, em outros, faz uma compilação das informações de diferentes periódicos em um único texto.

Após traçarmos, em linhas gerais, as particularidades de cada jornal com que trabalharemos, sintetizaremos, a seguir, a base teórica com que serão analisadas as notícias jornalísticas que compõem o corpus desta pesquisa.

20 Disponível em https://www.ejesa.com.br/index.php?pag=product&id=1 21 No jornal O Dia on-line, os textos de dezembro de 2015, devido ao distanciamento temporal da data de conclusão desta pesquisa, aparecem agora identificados pelo título de “Legado_Brasil”. Os links recolhidos em nossa primeira seleção do corpus, contudo, ainda são válidos e encaminham para as mesmas notícias, apenas com essa mudança no título da página.

40

2. FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS: A TEORIA SEMIÓTICA

A partir das discussões realizadas no capítulo anterior deste trabalho, pudemos perceber que o discurso jornalístico, embora tente simular isenção e neutralidade, constitui-se, de fato, como um instrumento com grande poder persuasivo em nossa sociedade. Com base nos aparatos teóricos, mostrados de forma bem resumida, da semiótica francesa, procuramos demonstrar que os fatos noticiados como verdades são, basicamente, frutos de efeitos de sentido construídos discursivamente.

Também no capítulo precedente, ao debatermos sobre a propagação de uma dada ideologia pelos jornais, objetivamos evidenciar a intrínseca associação entre discurso e poder, tão atuante no jornalismo político. Ainda por meio da semiótica e com as contribuições de seu desdobramento tensivo, buscamos explicitar quais os mecanismos envolvidos no vínculo, já duradouro, entre jornal e seu leitor e de que forma as categorias zilberberguianas de extensidade e de intensidade podem melhor explicar as configurações temporais e espaciais dos jornais on-line, suporte do corpus da presente pesquisa.

Nesse sentido, ainda que não fosse o foco primeiro do capítulo anterior, o que se observou até aqui foi a ampla possibilidade fornecida pela teoria semiótica para a análise de textos, seja em uma esfera mais linguística, concernente aos elementos que produzem um simulacro de objetividade em uma notícia, por exemplo, seja em uma esfera mais discursiva, referente à relação de manipulação na disseminação de uma determinada ideologia por parte do jornal-destinador a seu leitor-destinatário.

Após essa abordagem inicial das noções da teoria, cumpre apresentar, neste capítulo, de forma mais desenvolvida e estruturada, as considerações da semiótica no exame dos elementos que engendram a construção de sentido dos textos. Antes, porém, de nos voltarmos à definição de seus componentes teóricos, convém esclarecer alguns de seus postulados básicos.

Iniciada por Greimas e, por isso, também chamada de greimasiana, a semiótica tem como proposta central uma análise imanente, relacional e estrutural do sentido. Ao conceber um modelo que tem os mais diversos tipos de textos – verbais, não verbais ou sincréticos – como objetivo e fim, a teoria já foi alvo de muitas críticas por parte de especialistas de outras correntes de estudo do discurso. 41

Grande parte das objeções feitas à semiótica apontava para a ausência de um exame textual que promovesse a articulação entre o discurso e as suas condições sócio- históricas de produção. No entanto, principalmente com o desenvolvimento das pesquisas sobre a enunciação, a semiótica voltou seu olhar para as marcas que o sujeito acaba por deixar no texto no momento de sua construção, podendo, assim, observar as influências da dita “exterioridade” discursiva, sem, contudo, abandonar a imanência que lhe é característica. Como afirma Barros (2009),

- a semiótica discursiva não trata a “exterioridade” discursiva como “exterioridade”, ou seja, como algo exterior ao texto ou ao discurso, mas não deixa de examinar, sob outro prisma e com outros nomes, aquilo que, em outros quadros teóricos, é denominado “exterioridade”, pois, para a teoria semiótica, os procedimentos que constroem os sentidos de um texto são de dois tipos: procedimentos linguístico-discursivos e relações com a sociedade e a História (BARROS, 2009, p. 351-352).

Nesse sentido, para a teoria, os vínculos estabelecidos entre sujeito e o contexto de produção do discurso estão inscritos no texto e podem ser apreendidos através da análise de sua estrutura interna. Voltando-se menos para o que o texto diz e mais para o como o texto diz, “À Semiótica não interessa propriamente o significado, que pode ser obtido por uma paráfrase, mas a arquitetura textual que produz sentido” (FIORIN, 2008, p. 21).

Entendendo que o texto, em seu todo de significação, é resultado da união de dois planos da linguagem – o plano da expressão e o plano do conteúdo –, a semiótica toma como cerne a investigação e a descrição das leis que regem diferentes discursos. Para isso, concebe o percurso gerativo de sentido, um modelo teórico e metodológico de análise que se destina a averiguar os usos que variados textos fazem de uma mesma estrutura para construir seu sentido específico.

Em linhas gerais, os principais conceitos dos três níveis, que formam o percurso gerativo de sentido, serão expostos na seção a seguir. Na sequência do capítulo, voltaremos nossa atenção ao nível discursivo, mais importante no presente estudo por comportar o conceito de aspectualização. Esse breve norteamento sobre as bases teóricas gerais da semiótica será importante para que possamos desenvolver adiante o conceito de aspectualização com o qual trabalharemos nesta pesquisa.

42

2.1 O percurso gerativo de sentido

Compreendendo a geração de sentido como fruto de uma relação entre níveis com graus de profundidade e de abstração diferentes, a teoria semiótica entende que o texto passa por um processo de enriquecimento semântico para sua construção significativa. Por isso, postula que o percurso gerativo de sentido é formado por três níveis, nomeados fundamental, narrativo e discursivo. Sendo cada um composto por uma sintaxe e uma semântica específicas, esses níveis englobam desde estruturas mais simples e abstratas até estruturas mais complexas e concretas.

O primeiro e mais profundo desses níveis é o fundamental. Nele, abrigam-se as oposições semânticas que organizam o sentido geral do texto. Estabelecidas, necessariamente, a partir de um traço em comum, capaz de explicar sua contrariedade por meio de uma relação de pressuposição recíproca, a negação de cada termo contrário faz surgir os termos contraditórios, caracterizados pela presença ou pela ausência de determinado traço.

Cada um dos elementos que atua na oposição de base de um texto recebe, na semântica do nível fundamental, a qualificação fórica da euforia, considerada um valor positivo e atrativo, ou da disforia, tomada como um valor negativo e repulsivo. Como observa Fiorin (2005 [1989], p. 23), “Euforia e disforia não são valores determinados pelo sistema axiológico do leitor, mas estão inscritos no texto”. Desse modo, um texto centrado na oposição alegria x tristeza, por exemplo, pode ter a tristeza como valor eufórico e a alegria como valor disfórico.

A sintaxe do nível fundamental, por sua vez, explica a passagem de um polo a outro, realizada por um proto-sujeito. Podendo ocorrer pelas operações de negação e de asserção, a transitividade fundamental de uma categoria a outra – a título de exemplo tomadas como a e b – resulta em dois percursos lógicos básicos:

1- afirmação de a, negação de a, afirmação de b; 2- afirmação de b, negação de b, afirmação de a (cf. FIORIN, 2005 [1989], p. 23).

Com isso, percebe-se, portanto, que o nível fundamental, ao estabelecer uma oposição semântica abstrata e a transitividade entre os termos, procura compreender e explicar as configurações mais profundas que constroem o sentido do texto. Assim, essa etapa inicial do percurso gerativo volta-se a promover o entendimento da organização estrutural global e abstrata de um dado discurso. 43

O segundo nível operante no processo enriquecimento semântico dos textos, que ainda trata de pressuposições lógicas, mas apresenta maior concretude que o fundamental, é o narrativo. Sendo o patamar intermediário do caminho para a geração de sentido, esse nível concebe a narratividade como um componente próprio de todos os textos.

Conforme já exposto no capítulo 1, a narratividade é entendida pela semiótica como uma transformação ocorrida entre dois estados, sucessivos e diferentes, operadas pelas ações de um sujeito que age em busca de valores investidos em objetos (cf. BARROS, 2001 [1988], p. 28). Nessa perspectiva, já se observa a principal característica desse nível, que, inclusive, é a responsável pela conversão das operações lógicas do nível fundamental em transformações narrativas: a antropomorfização pela inscrição de um sujeito.

Cabe ressaltar que não se deve entender sujeito e objeto como pessoa e coisa, respectivamente. Nesse nível intermediário da geração de sentido, sujeito e objeto, ou actantes narrativos, são papeis que podem se relacionar de diversas formas em um mesmo texto. Dessa maneira, uma única produção textual pode ser composta por mais de um programa de transformação de estado de seus actantes.

Ao explicar os vínculos entre sujeito e objeto ou entre dois sujeitos e suas transformações que podem ocorrer em um texto, a sintaxe narrativa é organizada a partir de dois tipos de enunciados elementares, os enunciados de estado e os enunciados de fazer. Segundo o que aponta Fiorin, os enunciados de estado “são os que estabelecem uma relação de junção (conjunção ou disjunção) entre um sujeito e um objeto” (FIORIN, 2005 [1989], p. 28), ao passo que os enunciados de fazer “são os que mostram as transformações, os que correspondem à passagem de um enunciado de estado a outro”.

Sendo o responsável em operar a transformação narrativa, a passagem de um enunciado a outro, o sujeito de fazer leva o sujeito de estado a entrar em conjunção ou em disjunção com um dado objeto-valor. Por vezes, esses sujeitos, embora diferentes, podem estar em sincretismo nas narrativas. O fato é que, para operar a transformação, o sujeito de fazer tem de estar manipulado, convencido de que deve ou movido pelo desejo de efetuar uma ação, além de estar suprido de uma competência para a sua realização. Para a teoria semiótica, o sujeito que “determina a competência e os valores do sujeito que age” (BARROS, 2001 [1988], p. 18) é chamado de destinador. Complementarmente, o sujeito que recebe a competência tem o nome de destinatário. 44

Quando nos referimos à necessidade da manipulação e da competência para o fazer da ação, acabamos por explicitar quase toda a sequência canônica, que, segundo a semiótica, compõe as narrativas complexas. Resultante da organização hierárquica dos enunciados em programas narrativos, em que um enunciado de fazer rege um enunciado de estado, e de seus encadeamentos para formar os percursos narrativos, as fases de uma narrativa seguem as, também já anteriormente citadas, etapas de manipulação, competência, performance e sanção. Essas fases não aparecem sempre todas discursivizadas, mas podem e devem ser pressupostas para o entendimento do percurso narrativo realizado pelos sujeitos.

Na manipulação, um sujeito, manipulador e destinador, persuade outro sujeito, manipulado e destinatário, a agir de determinado modo. Para isso, ele pode se valer de variadas estratégias, como a tentação, a intimidação, a sedução e a provocação. Esses artifícios para o convencimento do outro nem sempre são utilizados separadamente e sozinhos, atuando, muitas vezes, de forma combinada. Entretanto, para que a manipulação seja bem-sucedida, sendo capaz de convencer o outro a querer e/ou dever agir, destinador e destinatário devem partilhar de um mesmo conjunto de valores, ou seja, o sujeito manipulado tem de aceitar a persuasão.

Na fase da competência, por seu turno, temos a dotação do sujeito de fazer por um saber e/ou por um poder. Passa-se, então, à fase da performance, fase em que ocorre a transformação central da narrativa, que marca a mudança de um estado a outro. Nesta etapa, o sujeito de fazer, manipulado e dotado de competência, parte para a efetuação da ação.

Na sanção, última etapa da sequência narrativa canônica, dá-se a constatação da realização da performance e o julgamento daquele que operou a ação. De acordo com Barros (2001 [1988], p. 39-40), essa etapa da sanção envolve uma operação cognitiva em que se instala outro ponto de vista na narrativa através da certificação da realização ou da não realização da performance. Segundo a autora, nessa fase de reconhecimento, modalidades veridictórias (parecer) e modalidades epistêmicas (crer) sobredeterminam o ser do sujeito, interpretando os estados resultantes do fazer assumido na etapa da performance.

Quando a semiótica detalha toda a sequência canônica que envolve o nível narrativo, não está defendendo que essas etapas serão sempre apresentadas, na 45 textualização da narrativa, de forma sucessiva e linear nos mais variados textos. Desse modo, um texto pode, por exemplo, manifestar textualmente apenas a performance, deixando as demais fases necessárias à realização da transformação narrativa implícitas, devendo ser pressupostas para a compreensão de sua narratividade.

Tomando nosso corpus a título de exemplo, podemos ver, pelo título da notícia “Cunha aceita pedido de impeachment contra Dilma” (O Globo on-line, 02/12/2015), que o sujeito /Cunha/ realizou a performance narrativa. Embora a motivação que o levou a agir, bem como a sua competência para o fazer da ação não estejam textualizados na manchete do texto, pode-se depreender que, para aceitar o “pedido de impeachment contra Dilma”, o sujeito /Cunha/ necessariamente foi manipulado a isso, ou por um querer ou por um dever, e teve um poder e um saber para concluir tal ato.

Contudo, para além de examinar e de explicar o fazer dos sujeitos, a teoria semiótica também lançou seu olhar sobre o ser com o estudo das Paixões. Resultados de arranjos modais, de uma aspectualidade (mais durativa ou mais pontual, p. ex., como a melancolia e a ira, respectivamente) e de uma tensividade (átona ou tônica), as paixões, na teoria greimasiana, são definidas como

uma modulação dos estados do sujeito, provocados pelas modalidades investidas nos objetos (desejável, detestável, temível, etc.) que definem, comovendo-o, o ‘ser’ do sujeito (GREIMAS & COURTÉS, 2008, p.425).

A depender de suas configurações, as paixões são classificadas como simples ou complexas. Segundo Barros (1990), as paixões simples caracterizam-se pela relação do sujeito com o objeto e por não pressupor um percurso modal anterior, ao passo que as paixões complexas, por outro lado, são decorrentes de um estado de espera que origina novos percursos com outros arranjos modais, podendo ocorrer na relação entre sujeito e objeto ou na relação entre sujeitos.

Presentes na organização de sentido do texto, as paixões podem ainda recair sobre a enunciação e sobre o enunciado. Quando relacionadas à enunciação, tem-se o discurso apaixonado, revelado no tom passional presente na composição do próprio texto. Aliadas ao enunciado, as paixões associadas aos seus actantes, podendo ser lexicalizadas ou apenas pressupostas.

A semântica narrativa, por sua vez, ocupa-se do exame dos valores inscritos nos objetos. Podendo ser de dois tipos, objetos de valor modal e objetos de valor descritivo, Fiorin (2005 [1989], p. 37) esclarece que os primeiros são necessários para a realização 46 da transformação central da narrativa, enquanto os segundos são os objetos com os quais se entra em conjunção ou em disjunção. Nesse sentido, o objeto de valor modal é relativo ao querer, ao dever, ao saber e ao poder, essenciais para obtenção de outro objeto, e o objeto de valor descritivo é o fim último de um sujeito, podendo ser /identidade/, por exemplo.

O terceiro e último nível do percurso gerativo de sentido é o discursivo. Assim como a passagem do nível fundamental para o nível narrativo é marcada pela ação do sujeito de fazer, a passagem do nível narrativo para o discursivo é regida pela “intervenção do sujeito da enunciação” (BARROS, 2001 [1988], p. 16). Nas palavras de Barros,

A mediação entre estruturas narrativas e estruturas discursivas é tarefa da enunciação: os esquemas narrativos são assumidos pelo sujeito da enunciação, que os converte em discurso e nele deixa “marcas”. Dessa forma, o exame da sintaxe e da semântica do discurso permite reconstruir e recuperar a instância da enunciação, sempre pressuposta (BARROS, 2001 [1988], p. 72).

Com isso, o nível discursivo caracteriza-se por ser o lugar em que se revelam, pela sua sintaxe, as propriedades da enunciação e, pela sua semântica, os valores que sustentam o texto. Sendo o nível mais complexo e mais próximo da manifestação textual, é nele que se estabelece a relação entre enunciador e enunciatário e que se podem analisar as estratégias argumentativas atuantes nessa relação. É ainda, nesse nível, que os esquemas narrativos mais abstratos são revestidos semanticamente, tornando-se mais concretos.

Segundo Matte e Lara,

Diz respeito [o nível discursivo] à aspectualização, a recursos de verossimilhança, à debreagem, aos percursos temáticos e figurativos, às isotopias (ou planos de leitura), procedimentos que conferem ao texto unidade semântica e o “ancoram” na instância da enunciação, sempre pressuposta e apenas atingível indiretamente por marcas deixadas no texto (MATTE; LARA, 2009a, p. 16).

Por comportar o conceito de aspectualização, foco deste trabalho, e a interação enunciador-enunciatário, tão fundamental no estudo de textos jornalísticos, o nível discursivo é, dentre os três níveis que formam o percurso gerativo de sentido, o mais importante para esta pesquisa. Por esse motivo, uma descrição mais detalhada de suas estruturas será desenvolvida na seção a seguir, com o interesse de fundamentar a discussão sobre a aspectualização a ser realizada posteriormente.

47

2.1.1 O nível discursivo

Conforme pontuado, a principal marca da sintaxe do nível discursivo é a instauração de um sujeito da enunciação no texto. Sendo sempre pressuposto e possível de ser recuperado apenas indiretamente pelos seus vestígios deixados, como destacado por Barros (2001 [1988]) e por Matte e Lara (2009a) nos trechos anteriormente reproduzidos, esse sujeito da enunciação é tomado pela teoria semiótica como uma instância inerente a todos os discursos, mesmo aqueles cujas marcas da enunciação não estão evidentes.

Para a teoria, o sujeito da enunciação desdobra-se, como já apontado, em enunciador (“eu” que diz) e em enunciatário (“tu” a quem se dirige), ambos igualmente actantes da cena enunciativa. Cabe ressaltar, contudo, que, quando se fala em enunciador como produtor do enunciado e em enunciatário como destinatário, não se está pensando em autor e leitor como pessoas no mundo. Partindo do princípio da imanência, à semiótica importa a imagem do enunciador e do enunciatário construída no texto, que pode ser apreendida através de uma análise textual, sendo, por isso, imagens pressupostas, conforme destacado acima.

Ao se pensar na enunciação pelo viés da atuação desses dois actantes, o que se defende, portanto, é que o enunciatário não é apenas um receptor passivo do enunciado. Longe disso, o enunciatário é, na verdade, um co-enunciador, alguém que “determina escolhas linguísticas do enunciador” (FIORIN, 2008, p. 154), já que qualquer texto é produzido para a persuasão daquele a quem se destina. Assim sendo, pode-se dizer que o perfil projetado do enunciatário é uma condição coercitiva para a construção de um dado discurso.

Por esse motivo, um mesmo jornal, por exemplo, produz, seja pelas escolhas linguísticas ou pelas estratégias argumentativas empregadas, enunciados distintos se compararmos as matérias da seção política com os noticiários dos suplementos televisivos, por exemplo. De igual modo, a depender do seu público-alvo esperado, jornais diferentes vão estruturar enunciados com direcionamentos argumentativos diversos, ainda que se trate do mesmo fato anunciado.

Nesse sentido, o conhecimento do enunciatário a quem se dirige é fundamental para a estruturação de qualquer texto, porque, conforme expõe Fiorin, “[...] não é a mesma coisa produzir um texto para um especialista numa dada disciplina ou para um leigo” 48

(FIORIN, 2005 [1989]), p. 56). Em um jornal, a identificação do público-alvo torna-se ainda mais determinante, devido a sua natureza mercadológica. Uma vez que é feito para ser consumido, é imprescindível que o discurso jornalístico possa ser aceito pelo enunciatário, que naquele enunciado tem de se reconhecer e tem de acreditar.

Por isso, aliado ao fazer persuasivo estruturado pelo enunciador, o enunciatário precisa realizar um fazer interpretativo, em que o discurso seja tomado como crível e verdadeiro. Consoante afirma Barros,

A interpretação depende, assim, da aceitação do contrato fiduciário e, sem dúvida, da persuasão do enunciador, para que o enunciatário encontre as marcas de veridicção do discurso e as compare com seus conhecimentos e convicções, decorrentes de outros contratos de veridicção, e creia, isto é, assuma as posições cognitivas formuladas pelo enunciador (BARROS, 2001 [1989], p. 94).

A adesão ao discurso necessita, então, de uma organização do conteúdo, por parte do enunciador, de modo que o seu dizer pareça verídico e de uma crença, por parte do enunciatário, de que se trata da verdade. Somado a isso, ainda de acordo com Barros (2001 [1988, p. 94), há também a influência do contexto cultural em que um determinado discurso está inserido. Isso significa dizer que um mesmo texto pode ser interpretado como verdadeiro em um dado contexto e como falso em outro, posto que são as formações ideológicas e culturais do enunciatário que atuam nesse julgamento.

Nessa perspectiva, a semiótica vê no fazer persuasivo do enunciador e no fazer interpretativo do enunciatário, realizados no nível discursivo, uma identidade com as estruturas modais, veridictórias do parecer ser e epistêmicas do crer ser. Para alcançar o tão necessário efeito de sentido de verdade e para levar o enunciatário a aderir a seu discurso, a enunciação configura-se a partir de três diferentes níveis, resultantes das instâncias enunciativas que se instalam nos textos.

Ao definirmos e debatermos aqui sobre as configurações do enunciador e do enunciatário, explicitamos o primeiro nível da enunciação, que compreende, portanto, o destinador e o destinatário pressupostos no texto. O segundo nível, por sua vez, abarca o destinador e o destinatário projetados pelo sujeito da enunciação, em um primeiro grau, no interior do enunciado, revelados respectivamente pelas instâncias do narrador e do narratário. Definido como aquele que assume a voz e por meio de que se tem acesso ao texto, a semiótica concebe que o narrador é o actante responsável pela organização e pelo 49 relatar das estruturas discursivas. De modo complementar, o narratário é a imagem de seu destinatário concretizada no texto.

Junto à projeção do narrador, ocorre também a instauração de um observador nos textos. De acordo com Greimas e Courtés (1979, p. 313-314), o observador é “um sujeito cognitivo delegado pelo enunciador e por ele instalado [...] no discurso-enunciado”.

Autores como Barros (2001 [1988]) e de Fiorin (2016 [1996]) divergem na definição sobre as categorias de narrador e de observador. De acordo com Barros, em consonância com o que expõem Greimas e Courtés (1979, p. 294), o termo “narrador” deve ser reservado “apenas para os casos de explicitação do sujeito que assume a palavra no discurso” (BARROS, 2001 [1988], p. 81). Com esse posicionamento, a autora delega a instância do narrador somente às chamadas narrativas em primeira pessoa, pois, segundo ela, o narrador deve ser “entendido como um ator que engloba os papéis actanciais de Sujeito e Destinador discursivos e os papéis temáticos da “narração”, também discursivos” (BARROS, 2001 [1988], p. 81).

Para as narrativas em terceira pessoa, por seu turno, Barros defende que o fio discursivo é conduzido pelo observador, uma vez que não há o papel temático de narrador exposto claramente no texto. Desse modo, para a autora, o observador, instalado no enunciado pela enunciação, acumula, nas narrativas em terceira pessoa, a função de imprimir seu ponto de vista ao discurso, exposto, dentre outras estratégias, pela aspectualização, e a função de também apresentar os fatos narrados.

Fiorin, entretanto, considera o narrador como o resultado da projeção, feita em primeiro grau pelo enunciador, da instância da enunciação, que pode estar posto de forma explícita ou implícita no enunciado. Considerado como aquele que conduz os fatos, o narrador, de acordo com Fiorin, está presente tanto nas ditas narrativas em primeira pessoa, quanto nas narrativas em terceira pessoa. Isso porque, segundo ele, “a rigor, não existe narrativa em terceira pessoa”, já que “Na medida em que o narrador pode intervir a todo instante como tal na narrativa, toda narração é virtualmente feita em primeira pessoa” (FIORIN, 2016 [1996], p. 92).

A partir dessa perspectiva, o autor esclarece que a diferença entre narrador e observador é relativa à função de cada um. Apoiado em Fontanille (1989), Fiorin evidencia que ao narrador cabe uma função pragmática, relativa à verbalização, e ao 50 observador cabe uma função cognitiva, referente ao fazer receptivo e ao fazer interpretativo dos textos:

[...] as funções do narrador dizem respeito ao dizer, ao relatar. A função de falar é do narrador; a de ver ou, às vezes, a de ouvir, ou, em termos menos metafóricos, a de encarregar-se da dimensão cognitiva da narrativa, isto é, da compreensão dos fatos pertence ao observador (Fontanille, 1989: 16). Os dois actantes podem estar em sincronismo, mas são completamente distintos em sua função. Cabe lembrar, no entanto, que o narrador só pode relatar o que o observador sabe (FIORIN, 2016 [1996], p. 95).

Com essa distinção a partir das funções de cada instância, a abordagem de Fiorin distancia-se da postulação de Barros basicamente pelo entendimento do primeiro de que narrador e observador, como elementos diferentes, vão atuar em todos os textos. Por entendermos que narrador e observador são instâncias distintas, inclusive nas chamadas narrativas em terceira pessoa, neste trabalho, adotamos a concepção teórica defendida por Fiorin. Por isso, consideramos que as notícias de nosso corpus contam com a presença de narrador e de observador, que atuam, muitas vezes, em sincretismo.

Diferentemente do enunciador/enunciatário, instâncias pressupostas, e do narrador/narratário, projeções da enunciação no enunciado, que são necessários a todos os discursos, o terceiro nível da enunciação só se concretiza quando o narrador dá voz a um actante do enunciado. Instaurando um interlocutor e um interlocutário nos textos, o narrador simula, assim, no enunciado uma situação de diálogo.

Com o intuito de ilustrar graficamente o modo como a semiótica define os diferentes níveis das instâncias enunciativas que operam nos textos, reproduzimos a seguir um quadro adaptado de Barros (2001 [1988], p. 75):

INSTÂNCIAS DA ENUNCIAÇÃO PRESSUPOSTA ENUNCIADOR ENUNCIATÁRIO 1° GRAU NARRADOR NARRATÁRIO

2° GRAU INTERLOCUTOR INTERLOCUTÁRIO

QUADRO 1: As instâncias da enunciação. Fonte: adaptado de BARROS, 2001 [1988], p. 75.

Esses três níveis da enunciação descritos pela teoria evidenciam, portanto, as vozes possíveis de serem projetadas nos textos. Mais que a instalação dessas diversas categorias de pessoa, a enunciação também instaura no discurso marcas de tempo e de espaço. 51

A depender de seu uso, as projeções enunciativas de pessoa, de espaço e de tempo produzem variados efeitos de sentido nos textos. Ora criando um simulacro de objetividade, ora estruturando um simulacro de subjetividade, os mecanismos de projeções de elementos da enunciação no enunciado são estudados pela semiótica através dos conceitos de debreagem e de embreagem.

A debreagem caracteriza-se pela separação da instância da enunciação de si, já que projeta para fora elementos relacionados a sua estrutura original. Podendo ser de dois tipos, debreagem enunciativa e debreagem enunciva, esses mecanismos distinguem-se pelos efeitos de aproximação e de afastamento gerados em relação à enunciação.

Também chamada de enunciação enunciada, a debreagem enunciativa caracteriza-se pela instauração de um eu-aqui-agora no discurso. Dessa forma, a categoria de pessoa é marcada pela projeção de um narrador que se assume como um eu (narrador em 1° pessoa) e as categorias de espaço e de tempo são projetadas, respectivamente, por um aqui e agora relativos ao momento da enunciação. A partir disso, a debreagem enunciativa mostra-se como aquela responsável em gerar um discurso permeado de marcas subjetivas e pessoais, com maior proximidade entre narrador e narratário.

A debreagem enunciva, por outro lado, configura-se pela instalação de um ele- alhures-então no discurso. Recebendo o nome de enunciado enunciado, essa estratégia de debreagem apresenta, quanto ao procedimento de projeção de pessoa, um narrador ele (narrador em 3° pessoa) e, com referência às categorias espaço-temporais, um tempo e um lugar diferentes ao momento da enunciação. Por isso, os discursos produzidos pela debreagem enunciva simulam maior objetividade e imparcialidade, já que o narrador não se mostra claramente no texto, fazendo parecer que os fatos se narram sozinhos.

Cabe ressaltar, porém, que esses mecanismos de debreagem enunciativa e enunciva não aparecem sempre de forma separada e distinta nos textos. Como afirma Fiorin (2005 [1989], p. 58), “A partir desse esquema básico, podem-se fazer inúmeras combinações”. Desse modo, uma debreagem enunciativa de tempo, por exemplo, pode ser discursivizada junto a uma debreagem enunciva de pessoa e de espaço.

É exatamente isso que ocorre nos textos jornalísticos. Objetivando demonstrar isenção e neutralidade em relação aos fatos noticiados e simultaneamente uma atualidade quanto ao momento de relato dos eventos, o jornal, na maioria das vezes, faz uso da 52 debreagem enunciva para projetar a pessoa (ele) e o espaço (alhures) e da debreagem enunciativa para a instauração da categoria do tempo (agora):

Jornais do mundo noticiaram a decisão do presidente da Câmara dos Deputados nesta quarta Rio - O início de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff teve ampla repercussão internacional e ganhou as manchetes dos principais jornais ao redor do mundo. A decisão que foi tomada no final da tarde dessa quarta-feira pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, rapidamente repercutiu nos jornais do planeta (Imprensa internacional repercute processo de impeachment de Dilma, O Dia on-line, 03/12/2015, grifos nossos).

Com esse exemplo, extraído de nosso corpus de análise, podemos perceber, a partir das expressões destacadas, que o enunciador, pressuposto, projeta um narrador em terceira pessoa, que faz o relato dos fatos a partir do ele – “Imprensa internacional”, “Jornais do mundo”, “manchete dos principais jornais”. De igual forma, o espaço instaurado no enunciado é também outro, que não o da enunciação – “ao redor do mundo”. No entanto, o tempo enunciativo concretizado no enunciado é o agora, próximo ao momento da enunciação, percebido pela expressão “No final da tarde desta quarta-feira”.

A embreagem, por seu turno, é vista como a operação que cria o efeito de retorno à enunciação por meio da suspensão das categorias de pessoa e/ou de tempo e/ou de espaço. Esse mecanismo, então, neutraliza as projeções enunciativas e evidencia que tempo, espaço e pessoa são, na verdade, criações da linguagem (cf. FIORIN, 2005 [1989], p. 74).

Na notícia “Cunha aceita pedido de impeachment contra Dilma” (O Globo on- line, 02/12/2015), por exemplo, encontramos o uso da embreagem pela anulação da categoria de pessoa. Por meio de uma passagem em discurso direto, o ator Eduardo Cunha afirma o seguinte:

O juízo do presidente da Câmara é única e exclusivamente de autorizar a abertura, e não de proferir o juízo de mérito, que será a comissão especial que irá fazê-lo, que poderá acolher ou rejeitá-lo. E o processo seguirá o seu curso — afirmou Cunha (Cunha aceita pedido de impeachment contra Dilma, O Globo on-line, 02/12/2015, grifos nossos).

Ao utilizar a terceira pessoa para se referir a si mesmo, Eduardo Cunha, presidente da Câmara à época da notícia, suspende a oposição entre essas pessoas do discurso, empregando, com isso, o procedimento de embreagem. Esse uso produz um efeito de sentido de objetividade, destacando o papel social, e não subjetivo, do deputado Eduardo Cunha, conferindo-lhe maior credibilidade. 53

Ao lado de um enunciador que faz projeções da enunciação no enunciado, a sintaxe discursiva analisa também as avaliações que um observador, instaurado no texto, faz das categorias de tempo, de espaço e de pessoa. Para o estudo dos julgamentos dessas três categorias realizados pelo observador no discurso, a teoria semiótica lança mão do conceito de aspectualização.

Sem tomar a enunciação como referência (e, por isso, diferenciando-se dos mecanismos de debreagem e de embreagem), a aspectualização caracteriza-se, a partir de Greimas e Courtés, por ser um procedimento, “a disposição, no momento da discursivização, de um dispositivo de categorias aspectuais mediante as quais se revela a presença implícita de um actante observador” (GREIMAS; COURTÉS, 1979, p. 28-29). Desse modo, ela é responsável por transformar, no nível discursivo, as “funções narrativas, de tipo lógico, em processo, graças ao observador colocado no enunciado” (BARROS, 2001 [1988], p.91, grifos do autor). Nesse sentido, a aspectualização vai imprimir no discurso, sob a perspectiva de um observador que pode estar em sincretismo com um actante do enunciado ou com o narrador do texto, o julgamento de um sujeito cognitivo que apreende o tempo de uma ação por sua duração, o espaço por sua trajetória e a pessoa pela qualidade de realização de uma performance22.

Além do estudo de uma sintaxe discursiva, que investiga as projeções de pessoa, de tempo e de espaço, bem como as interações entre enunciador e enunciatário, conforme expusemos até aqui na presente seção, o nível discursivo também abrange uma semântica, que analisa o revestimento semântico das estruturas narrativas pelos procedimentos de tematização e de figurativização.

Para a teoria semiótica, os temas são os conceitos mais abstratos que explicam o funcionamento do mundo. Por esse motivo, estão presentes em qualquer texto. As figuras, por outro lado, são os elementos concretos que remetem ao mundo natural e revestem os temas. Por isso, “Todos os textos tematizam o nível narrativo e depois esse nível temático poderá ou não ser figurativizado” (FIORIN, 2005 [1989], p. 90).

Quando aliados a sujeitos, os procedimentos de tematização e de figurativização convertem o actante em ator. Nas palavras de Barros,

O actante pertence à sintaxe e define-se pelos papéis actanciais que engloba: o actante Sujeito subsume, entre outros, os papéis de sujeito do querer, de sujeito

22 O conceito de aspectualização e as particularidades da aspectualização temporal serão desenvolvidos detalhadamente no próximo capítulo deste estudo. 54

competente, de sujeito realizador. Na instância do discurso, o actante converte- se em ator, ao receber investimento semântico, temático e/ou figurativo. O ator resulta, assim, da combinação de papéis da sintaxe narrativa com um recheio temático e/ou figurativo da semântica do discurso. [...] Os actantes do discurso instalam-se como projeções da enunciação e simulam os papéis actanciais assumidos pelo sujeito da enunciação (sujeito e destinador/destinatário) (BARROS, 2001 [1988], p. 80).

Pensando em nosso corpus de análise, temos na notícia “Cunha rebate Dilma e afirma que presidente mentiu quando diz que não barganhou”, veiculada em O Dia on- line, em 03 de dezembro de 2015, um bom exemplo do investimento semântico das estruturas narrativas em temas e figuras. Trazendo o relato do clima tenso instalado no governo federal com a aceitação do pedido de impeachment da então presidente, a matéria apresenta o tema da relação política figurativizado por expressões negativas, que remetem à ideia de disputa e de confronto entre os membros do governo:

Dilma faltou com a verdade em seu pronunciamento, ao dizer que não faz barganha política. [...] Cunha falou que tem "atrito constante" com o PT, cujo "conjunto" é seu adversário (Cunha rebate Dilma e afirma que presidente mentiu quando diz que não barganhou, O Dia on-line, 03/12/2015).

Através de termos como “barganha” e “adversário”, a notícia vai reafirmando que a relação entre esses dois atores, Dilma e Cunha, figurativizações de políticos brasileiros, não é nada amistosa naquele momento. Essa reincidência semântica compõe o que a semiótica chama de isotopia. Definida por Fiorin (2005 [1989], p. 112-113) como “a recorrência de um dado traço semântico ao longo de um texto”, a isotopia constrói a coerência textual e fornece plano de leitura de um texto ao seu leitor.

Cumpre ressaltar aqui que a utilização das figuras para concretizar determinados temas não é ingênua, nem tampouco aleatória. Conforme afirma Barros (2001 [1988], p. 124), “As figuras são, por excelência, o lugar do ideológico no discurso”. É por meio da relação entre os procedimentos de figurativização e de tematização que os valores ideológicos defendidos nos textos são apreensíveis.

Nos discursos, as figuras e os temas podem ainda manifestar os procedimentos de aspectualização inscritos no enunciado. Nesses casos, revestem semanticamente o julgamento aspectual feito do tempo, do espaço e da pessoa e igualmente expressam a visão de mundo concretizada nos textos, como veremos nas análises, em capítulos posteriores. 55

A partir dessas exposições gerais feitas sobre as bases teóricas da semiótica greimasiana até aqui, o que se procurou demonstrar foi que, mais que nos possibilitar um método de análise que parte da regularidade estrutural para toda a complexidade discursiva, a teoria permite um exame global e imanente do texto. Perpassando por diferentes níveis, o percurso gerativo proporciona o entendimento das relações lógicas de que um discurso faz uso para produzir seus variados efeitos de sentido. Como afirmam Matte e Lara, “se a semiótica oferece modelos (enunciativos, narrativos, figurativos e passionais) para a análise, esses modelos não são dados de uma vez por todas, mas convocados ou revogados pelo exercício concreto do discurso” (MATTE; LARA, 2009a, p. 7).

56

3. A ASPECTUALIZAÇÃO EM SEMIÓTICA

Após a apresentação das bases teóricas gerais da semiótica greimasiana, bem como de sua importante contribuição metodológica para a realização de um estudo imanente, relacional e estrutural do sentido dos textos, neste capítulo, nosso objetivo é expor, mais detalhadamente, o conceito de aspectualização, suporte da análise de nosso corpus. Para isso, retomaremos alguns pontos já tratados no capítulo anterior, sempre com o intuito de ampliar as discussões e de promover uma sistematização das categorias aspectuais que utilizaremos em nossa análise.

Conforme previamente explicitado, as pesquisas semióticas sobre aspectualização ainda não se encontram muito desenvolvidas. Ao realizarmos uma averiguação sobre os trabalhos que abordam o tema, entretanto, notamos que o conceito tem sido investigado por um duplo viés na teoria, assim como adiantamos já em nossa introdução.

De acordo com o que mostra Gomes (2018), a aspectualização vem sendo vista ou como um procedimento próprio do nível discursivo, tal como apresentado por Greimas e Courtés (1979) e superficialmente introduzido no capítulo anterior, ou tem sido tomada como uma nova forma de análise metodológica, envolvendo o discurso em seu todo, apoiando-se nas fundamentações fornecidas por Zilberberg (2006) com a semiótica tensiva.

Na presente pesquisa, por seu turno, como decidimos tratar especificamente da aspectualização que incide sobre a categoria do tempo, coadunamos com a abordagem apresentada por Greimas e Courtés e analisaremos o conceito de maneira mais restrita. Nesse sentido, interessa-nos aqui averiguar os julgamentos que um observador aspectual faz do tempo nos textos sobre política nacional veiculados em jornais on-line.

No entanto, consideramos que as postulações de Zilberberg podem também ser acolhidas estudo da aspectualização temporal. Por isso, tomamos como escolha metodológica o aproveitamento da tensividade na investigação do nosso corpus. Desse modo, ao examinarmos as apreensões que um observador faz do tempo das ações nos textos, julgando-o por sua duratividade ou pontualidade, perfectividade ou imperfectividade, também atentaremos para as avaliações que envolvem um acento afetivo. Nessa perspectiva, investigaremos se o tempo é apreciado, por exemplo, por um andamento desacelerado, que leva à percepção das ações por seu desenrolar, causando, 57 em certos casos, até a monotonia, ou se, por outro lado, é percebido por uma alta aceleração que, ao condensar muito a duração de um evento, pode gerar, até mesmo, o espanto (cf. ZILBERBERG, 2006).

Com o intuito de expor mais detalhadamente o escopo teórico que fundamentará nossa análise, nesse momento, serão apresentadas as principais particularidades dessas duas vertentes de estudo da aspectualização pela teoria semiótica. Partindo de trabalhos anteriores, nem sempre estruturados com referência específica a esse conceito, objetivamos expor quais as categorias sustentarão o exame de nosso corpus e esclarecer por quais definições elas são entendidas no presente trabalho.

3.1 Aspectualização como procedimento do nível discursivo

Assim como demonstrado no capítulo relativo à fundamentação teórica desta pesquisa, a aspectualização foi inicialmente abordada pela teoria semiótica como um procedimento inerente ao nível discursivo do percurso gerativo de sentido. Nesta concepção, ela é apreendida tanto na discursivização das ações narradas como um “processo”, uma “marcha”, um “desenvolvimento” (cf. GREIMAS; COURTÉS, 1979, p. 29), recaindo no enunciado, quanto no próprio modo como os eventos são relatados, recaindo na enunciação, sempre revelando o ponto de vista de um observador instalado no texto.

Quando analisada no nível discursivo, a aspectualização abrange, como já mencionado, as mesmas categorias envolvidas na projeção enunciativa, as categorias de tempo, de pessoa e de espaço. De acordo com o que afirma Barros,

a aspectualização assim entendida não se limita a recortar o tempo da ação, fazendo dele um desenvolvimento ou uma duração, com começo e fim; ela determina também o espaço enquanto limite, distância, extensão, etc., e qualifica o ator pela “elegância” de suas realizações e pela “quantificação”, excessiva ou insuficiente, de seu modo de agir (BARROS, 1995, p. 69).

Ainda que envolvendo as mesmas categorias, a aspectualização diferencia-se da temporalização, da actorialização e da espacialização, implicadas nos mecanismos de embreagem e de debreagem, por não tomar a enunciação como referência, caracterizando- se, portanto, como um mecanismo desvinculado das formas dêiticas relativas à enunciação. Contudo, conforme aponta Gomes (2012b), a distinção entre a projeção 58 enunciativa e a aspectualização não é tão bem delimitada em todos os casos. Nas palavras da autora,

[...] nem sempre se pode distinguir muito categoricamente a diferença entre esses procedimentos discursivos, não havendo oposição absoluta entre o valor dêitico do tempo, espaço e pessoa e o não dêitico da aspectualização. É possível identificar uma variação gradual que pode aproximar ou distanciar os procedimentos de projeção enunciativa e aspecto (GOMES, 2012b, p. 167).

Isso significa que, a depender da configuração do observador instalado no texto por meio do sujeito da enunciação, ocorre uma aproximação ou um afastamento entre a aspectualização e as marcas dêiticas da enunciação. Também Gomes (2012b), citando Greimas e Fontanille (1991), afirma que, quanto mais próximo é o observador do sujeito da enunciação e quanto mais este é comprometido na aspectualização, mais os procedimentos aspectuais vão abarcar efeitos de sentido temporais, espaciais e actoriais (cf. GOMES, 2012b, p. 167).

E é por envolver a pessoa e o espaço, não se limitando somente ao tempo, que o estudo do aspecto proposto pela semiótica se amplia quando comparado às análises tradicionais sobre o assunto. Embora algumas destas abordagens também entendam seu exame, com relação ao tempo, como uma possibilidade de averiguar o “ponto de vista sobre o estado de coisas” (CASTILHO, 2002, p. 83), o que evidencia um diálogo entre estas pesquisas e a teoria greimasiana, a semelhança entre as duas concepções é muito mais semântica, revelada, em especial, na utilização de categorias correspondentes para a análise aspectual.

Ao conceber o aspecto no espaço, na pessoa e no tempo, a semiótica examina a aspectualização de forma mais discursiva, e não apenas gramatical. Por esse motivo, os valores aspectuais na teoria podem ser apreendidos não só nos sintagmas verbais, como é característico das pesquisas linguísticas tradicionais, mas em qualquer outra estrutura.

Nesse caso, valores aspectuais arrolados na análise do tempo, como, por exemplo, os valores de perfectividade e de imperfectividade – mencionados tanto por Greimas e Courtés (1979), quanto por Castilho (2002) e por Travaglia (2016 [1981]) – podem, na semiótica, ser discursivizados por uma grande variedade de possibilidades, percebida somente com a análise do texto. Ao passo que os trabalhos tradicionais se ocupam da investigação desses valores principalmente na morfologia dos tempos verbais e nos adjuntos adverbiais, a teoria greimasiana admite que a perfectividade e a imperfectividade têm a possibilidade de se concretizar no texto também em figuras ou em temas, 59 explicitados por meio de substantivos e de adjetivos, ou em muitos outros procedimentos discursivos, materializados por diversas classes de palavras e estruturas sintáticas.

Independente da forma linguística pela qual a aspectualização aparece expressa, ela é sempre resultado do julgamento de um observador inscrito no discurso. Ao avaliar o tempo, o espaço e as ações dos actantes, o observador toma essas categorias como um desenvolvimento em marcha, considerando seus limites, suas extensões, seus intervalos e suas etapas, fatores também não considerados pelas abordagens tradicionais. Por ser consequência da perspectiva de um observador instalado no texto, a aspectualização, entendida como um procedimento do nível discursivo, pode se configurar como um recurso argumentativo atuante na relação entre enunciador e enunciatário.

Embora se estabeleça no nível mais superficial e concreto do percurso gerativo de sentido, esse mecanismo apresenta forte relação com as estruturas lógicas e mais abstratas que organizam o nível narrativo. Tal associação aparece sinalizada na própria definição do conceito de aspectualização, feita por Greimas e Courtés (1979) no Dicionário de Semiótica. Ainda que apontando explicitamente para a ligação entre o nível narrativo e o discursivo apenas quanto à produção da aspectualização temporal, os pesquisadores já evidenciam que esse conceito, no nível discursivo, pode se revelar pela conversão dos enunciados narrativos em enunciados aspectuais:

A conversibilidade dos enunciados narrativos (de natureza lógica) em enunciados processuais (de caráter temporal) permite-nos compreender, de modo geral, a relação que existe entre as transformações diacrônicas e suas manifestações temporais (ou históricas) [...] Essa interpretação facilita sobremaneira, na análise textual, o reconhecimento das organizações narrativas, subjacentes às formulações processuais (GREIMAS; COURTÉS, 1979, p. 29).

Na mesma linha, Barros, ao descrever a aspectualização em trecho já citado no capítulo precedente, afirma que o observador inscrito no discurso enunciado “transforma as funções narrativas, de tipo lógico, em processo” (BARROS, 2001 [1988], p. 91, grifos do autor). Com essa definição, mesmo sem expor diretamente o modo como ocorre a passagem das estruturas narrativas lógicas a um processo aspectual, a autora evidencia a associação entre esses dois procedimentos.

Mais tarde, em outro estudo, Barros novamente faz questão de salientar o vínculo entre essas estruturas:

Uma última observação a ser feita é a de que a aspectualização que está em jogo no plano do conteúdo é a das relações modais que ligam os actantes da 60

situação enunciativa, segundo uma análise narratológica da enunciação. Aspectualiza-se a organização narrativa da enunciação, mais especificamente aspectualizam-se os laços modais que prendem os actantes enunciativos e que produzem efeitos de sentido ditos “passionais” (BARROS, 1995, p. 74).

Nesse sentido, embora sem apresentar exemplos dessa relação aplicados à análise textual nessas obras, Barros aponta para a necessidade de se averiguar a aspectualização na interface com a modalização e, ainda, com as paixões, que são resultados de arranjos modais. E é exatamente isso o que fazem algumas pesquisas posteriores, dentre as quais destacamos os trabalhos de Gomes (2008b; 2010; 2012a; 2018), de Paquieli (2009)23, de Magalhães (2011) e de Antunes (2016).

Com os corpora compostos por diferentes seções dos jornais, esses estudos, desenvolvidos por pesquisadores de um mesmo projeto24, tecem discussões sobre os variados efeitos de sentido que a aspectualização, produzida a partir da discursivização das modalidades e das paixões, pode produzir em um texto. Mais que isso, tais trabalhos demonstram como esse conceito contribui para o entendimento da organização argumentativa do discurso jornalístico. Por esse motivo, retomaremos aqui determinadas discussões e conclusões obtidas por algumas dessas pesquisas.

Em um artigo que examina, em textos da mídia impressa, a aspectualização temporal como resultado da conversão de modalidades do nível narrativo, Gomes (2010) mostra que, a depender de quais são as modalidades discursivizadas e de qual perspectiva os eventos vão ser relatados, diversos são os julgamentos feitos por parte do observador inscrito no enunciado, sempre com o intuito de persuadir seu destinatário:

[...] Muitas vezes apresentadas como ações desejadas, possíveis ou hipotéticas, instituem uma certa aspectualidade na sucessão temporal dos eventos, imprimindo um ponto de vista a partir do qual se faz ver seu processo em direção à concretização (ou, em retrospectiva, pressupor o processo a partir da ação acabada). A modalização dos enunciados que descrevem os atos pode abrir para um leque de desdobramentos possíveis, a serem imaginados pelo leitor ou atualizados em outras edições do jornal, ou propiciar seu fechamento, tornando os fatos disponíveis para julgamento do narrador e do leitor. Para este, aderir a essa posição indicada pelo enunciador é condição para a leitura do texto e sua compreensão, propiciando uma identificação e também uma “[…] captura do leitor pelo discurso: para ler, o leitor [...] deve tomar posição em relação ao campo de discurso, adotar um ponto de vista, desenvolver uma atividade perceptiva etc. Desse modo, ele já partilha, ao menos parcialmente,

23 Trabalho intitulado “Modalização e aspectualização em textos jornalísticos”, apresentado por Caroline da Silva Paquieli, na XXXI Jornada Giulio Massarani de Iniciação Científica, realizada na Faculdade de Letras da UFRJ, e no Centro de Letras e Artes (UFRJ, 2009). O resumo do trabalho encontra-se disponível no Caderno de Resumos do evento. 24 Projeto “Aspectualização em textos jornalísticos” (2014-2017), coordenado por Regina Souza Gomes (UFRJ), no âmbito do Grupo de Pesquisa NUPES-RJ (Núcleo de Pesquisas em Semiótica – UFRJ). 61

da identidade modal e passional dos actantes do discurso” (Fontanille, 2007: 185) (GOMES, 2010, p. 201).

Magalhães (2011), por sua vez, expõe em seu estudo que diferentes formas de aspectualização temporal relativas a um mesmo fato são comuns em textos de divulgação científica nos jornais. De acordo com a análise apresentada, é uma característica desse tipo de texto a presença de mais de um observador que julga os fatos de maneira diversa.

Segundo a autora, muitas vezes, os textos de divulgação científica são marcados por uma incompatibilidade entre a aspectualização temporal produzida pelo observador em sincretismo com o narrador/jornalista e a produzida pelo observador em sincretismo com o interlocutor/cientista das notícias. Nessa perspectiva, um mesmo evento pode aparecer tomado em seus momentos iniciais pelo cientista e em sua conclusão pelo narrador do texto.

A partir do exame de algumas notícias, Magalhães (2011) conclui que esse conflito entre os pontos de vista instaurados nos textos acaba por revelar a crença do narrador na realização dos fatos. Desse modo, ao passo que o cientista em uma notícia escolhe, por exemplo, discursivizar as modalidades sem apresentar o saber e, com isso, o fazer da ação como acabado, o narrador dessa mesma notícia pode sobremodalizar o poder e o saber da ciência pela modalidade epistêmica do crer, aspectualizando a ação já em sua completude, uma vez que crê na competência para sua realização (cf. MAGALHÃES, 2011, p. 5-10).

Diferentes modos de aspectualização temporal referentes ao mesmo fato narrado também foram encontradas no trabalho de Paquieli (2009). Ao examinar a notícia “Lixo tóxico começa a ser retirado de prédio”, publicada na seção Rio, do jornal O Globo, em 22 de setembro de 2008, Paquieli mostra como uma incompatibilidade aspectual pode ser realizada por um mesmo observador:

As 17 toneladas de lixo químico armazenadas no prédio desativado do laboratório Enila, no Jacaré, começaram a ser retiradas ontem, numa operação coordenada pela secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, com o apoio do presidente da Feema, Axel Grael. O trabalho deve ser concluído em três dias. [...] A ação foi realizada em conjunto por técnicos da Feema, do Grupamento de Operação de Produtos Perigosos, da Coordenadoria Integrada de Combate aos Crimes Ambientais (Cicca) e da Defesa Civil. O lixo químico está sendo retirado e transportado [...] será levado e armazenado [...] em Magé. (O Globo, 22/09/08).

62

Como se pode perceber, a retirada do lixo químico aparece inicialmente no texto como uma ação ainda em suas fases iniciais de realização e como um evento que vai se estender por “três dias” até sua conclusão. No entanto, na sequência da notícia, a mesma ação é vista como acabada, como já efetuada.

Em ambos os casos, o observador que aspectualiza a ação relatada está em sincretismo com o narrador do texto e discursiviza a compatibilidade entre as modalidades – um sujeito de fazer está dotado do querer, do dever, do saber e do poder fazer a retirada do lixo, o que garante o começo da ação. Contudo, ao tomar o processo como concluído ao final da notícia, longe de tornar o texto incoerente, esse observador sobremodaliza essas modalidades pelo crer, o que evidencia o posicionamento de um narrador que vê como certa a completude do recolhimento do lixo tóxico.

O estudo de Antunes (2016), por seu turno, examina as paixões pelo prisma das modalidades, da aspectualização e da tensividade. Com a pesquisa, a autora discute sobre a maneira como as paixões atuam na construção da aspectualização do ator nos textos de suplementos televisivos de jornais cariocas.

O que nos chama a atenção em seu trabalho, por conta de nossos interesses com este estudo, é a uniformidade da aspectualização dos atores tomados pela paixão do amor, a mais constante no corpus averiguado, pela justa medida, sem insuficiências ou exageros, independente dos arranjos modais que a organizam. Isso nos demonstra que, apesar da diversidade de observadores – decorrente, inclusive, do fato de os textos serem veiculados por diferentes jornais – e das distintas formas de concretização da paixão do amor por variadas estruturas, há inexoravelmente um componente cultural que atua na perspectiva adotada para a aspectualização do ator nos textos.

Essa relação entre a aspectualização do ator e as paixões também é apontada por Bertrand (2003) e retomada por Gomes (2012a). A autora recorre ao exemplo que Bertrand utiliza ao averiguar e comparar os modelos culturais do comportamento de motoristas americanos e franceses a partir da perspectiva do aspecto para mostrar de que maneira as paixões se vinculam à aspectualização do ator, instalada no texto a partir de um julgamento social e coletivo das ações realizadas:

“Podem-se, por exemplo, analisar as formas culturais do comportamento ao volante de um carro, sob o ponto de vista do aspecto: o motorista americano se instala no durativo; já o francês, obcecado desde a partida pelo final da viagem, “vive” o percurso segundo o aspecto terminativo. Esse exemplo mostra a ligação entre o aspecto e a apreensão das paixões, que são fenômenos 63

fortemente aspectualizados (paixões iterativas, incoativas, terminativas etc.)” (Bertrand, 2003, p. 416). Tomando como objeto a citação de Bertrand, pode-se perceber que a aspectualização não diz respeito apenas a elementos que circunscrevem ou descrevem, no nível discursivo, as ações dos sujeitos, mas também se estende às estruturas modais que alteram os enunciados de ser, explicando os percursos passionais dos sujeitos (GOMES, 2012a, p. 13).

Fiorin (1989), em um estudo que similarmente trata da aspectualização actorial, também ressalta essa caracterização social do observador:

Cabe lembrar que esse observador não expede um julgamento individual, pois, embora seu ponto de vista diga respeito a uma ação particular, os pontos de vista sobre cada ação são sociais. Numa formação social, não se valorizam apenas as ações, mas também a maneira como elas são realizadas (seu aspecto) (FIORIN, 1989, p. 350).

Embora estejamos aqui voltados para a aspectualização temporal, é interessante observar, por meio desses estudos, a influência do fator social e cultural no ponto de vista do observador dos textos que serão aqui analisados. Pensando, especificamente, na atuação da modalização e das paixões na produção da aspectualização no discurso, é relevante notar como “As variações modais e aspectuais, suas compatibilidades e suas incompatibilidades se entrecruzam, portanto, para construir no discurso diversos efeitos de sentido” (GOMES, 2012a, p. 16).

Conforme foi dito, a conversão dos enunciados modais em enunciados aspectuais pode se discursivizar nos textos através de variados procedimentos discursivos. Junto de estruturas sintáticas, de traços semânticos de certas expressões, também verbais, as figuras e os temas são constantemente recursos pelos quais a aspectualização se mostra no enunciado.

Por serem compreendidos como mecanismos que explicitam o modo como “Os valores ideológicos se constituem no texto” (MORAIS, 2012, p. 26), os temas e as figuras podem revelar o julgamento feito pelo observador do discurso em relação a um dado fato, como procuraremos ilustrar na seção de análise de nosso corpus.

Por outro lado, a aspectualização como um procedimento do nível discursivo não é decorrente apenas da discursização das modalidades e das paixões, ao contrário do que possa ter ficado subentendido até aqui. Gomes (2012b), em uma análise de poesias eletrônicas realizada também com o apoio teórico da semiótica tensiva, demonstra a aspectualização temporal e espacial resultantes da exploração do plano da expressão, ou seja, de recursos sonoros e visuais, da possibilidade de intervenção digital do leitor nos 64 textos, da utilização de unidades gráficas e de animação eletrônica e ainda de outros recursos.

Além disso, a aspectualização pode recair também na enunciação. Nesse caso, a ela é apreendida pela maneira como os eventos são relatados. O uso de um período longo, por exemplo, que se estende por várias linhas pode evidenciar uma aspectualização temporal contínua, de ação em duração, de um processo não acabado. Do mesmo modo, o discurso jornalístico aspectualiza sua própria enunciação por uma avaliação positiva, na justa medida com o efeito de imparcialidade esperado de seu discurso, ao fazer recorrentemente questão de mencionar a versão de todos os envolvidos no fato relatado, chegando a pontuar quando o contato com algum citado no evento não foi possível.

Dessa maneira, o que se percebe é que o tratamento dado à aspectualização como um procedimento do nível discursivo pela semiótica greimasiana vai muito além das abordagens tradicionais. Por isso, a necessidade de seu estudo como um recurso que auxilia o próprio entendimento dos textos.

Entretanto, por conta do pouco desenvolvimento das pesquisas que têm a aspectualização como objeto de análise, faz-se necessário sistematizar quais as categorias aspectuais de tempo serão aqui consideradas no exame das notícias que compõem nosso corpus. Isso porque, dada a amplitude adquirida pelo conceito na teoria semiótica, a ausência de uma estruturação categórica pode, em vez de contribuir, tornar complexa e exaustiva sua análise.

3.1.1 Aspectualização temporal no nível discursivo: categorias de análise

Conforme assinalado em momentos anteriores deste trabalho, as pesquisas sobre aspectualização ainda não se encontram muito desenvolvidas nos estudos semióticos, necessitando de maior investigação e análise. Ainda que, quando comparada à aspectualização do ator e do espaço, a aspectualização temporal já tenha, mais frequentemente, sido objeto de estudo, sua estruturação teórica está longe de se encontrar acabada.

No Brasil, trabalhos como os de Gomes (2008b; 2010; 2012a; 2018), de Paquieli (2009) e de Magalhães (2011), citados na seção precedente, assim como os artigos de Castro da Silva, de Lima e de Paula, reunidos em Gomes (2014), e o estudo de Silva (2009) possuem a análise da aspectualização do tempo como principal interesse. Além 65 dessas pesquisas, Barros (2001 [1988]) e Fiorin (2016 [1996]), embora não tenham a aspectualização temporal como objetivo primeiro, trazem importantes reflexões sobre o tema. No entanto, sistematizações referentes às noções e às categorias aspectuais arroladas na apreensão do tempo, bem como discussões em relação aos valores semânticos envolvidos em cada categoria, inicialmente apontados por Greimas e Courtés (1979), necessitam ainda de maior organização teórica.

Resultante da inscrição de um observador que avalia o tempo em uma escala de medida antropomórfica, a aspectualização temporal como procedimento do nível discursivo toma as ações enunciadas em seu “desenrolar”, como uma “marcha”. Nesse sentido, as etapas de uma ação podem ser apreendidas pelo actante observador, dentre outras maneiras, de forma incoativa ou terminativa, perfectiva ou imperfectiva, durativa ou pontual (cf. GREIMAS; COURTÉS, 1979, p. 29).

Isso significa que o processo temporal de um evento pode ser tomado anteriormente ao seu começo – como uma ação não começada, uma prospectiva, um projeto–; durante seus momentos iniciais ou finais – em seus primeiros ou em seus últimos períodos–; em seu desenvolvimento, tendo o fim como seu alcance ou como algo indeterminado; ou ainda após sua conclusão, como um processo apreendido em sua globalidade (cf. GOMES, 2012a, p.12). Graficamente, essa possibilidade de aspectualização de uma ação em qualquer um desses momentos temporais pode ser representada pela Figura 1 abaixo: α A A’ B’ B β ------[ ______] ------FIGURA 1: Representação gráfica do desenvolvimento das ações aspectualizadas temporalmente. Fonte: adaptado de TRAVAGLIA, 2016 [1981], p. 45.

Podendo ser inscrita em diferentes pontos entre os limites α e β, com ou sem tendência a um fim, ou ainda podendo ser apreendida em seu todo completo, sem considerar suas etapas, sempre na dependência do ponto de vista do observador que julga a cena enunciativa, a ação aspectualizada temporalmente é compreendida, conforme exposto, como uma categoria mais independente das marcas dêiticas da enunciação. Neste ponto, assim como na já sinalizada utilização de categorias correspondentes para a análise aspectual, a perspectiva semiótica da aspectualização do tempo acaba por se aproximar e por apresentar convergências com os estudos tradicionais sobre o aspecto. 66

Contudo, mesmo quanto a esse último item, pode-se observar uma diferença entre as abordagens. Apesar de apresentarem uma grande variedade de categorias, os trabalhos tradicionais, em alguns momentos, não dão conta de certos aspectos temporais construídos nos textos.

Apenas com o intuito de ilustrar tal afirmativa, uma vez que nosso interesse aqui não reside nas análises linguísticas tradicionais, apresentaremos, a seguir, duas propostas de tipologias aspectuais, retiradas, respectivamente, dos trabalhos de Castilho (2002) e de Travaglia (2016 [1981]).

Face qualitativa Imperfectivo Perfectivo Inceptivo, cursivo, termitativo Pontual, resultativo

Face quantitativa Semelfactivo25, iterativo

QUADRO 2: Tipologia do aspecto. Fonte: CASTILHO, 2002, p. 87.

NOÇÕES ASPECTUAIS ASPECTOS A. Contínua a. Limitada Durativo

b. Ilimitada Indeterminado

ação 1. Duração B. Descontínua a. Limitada Iterativo

Dur

-

I b. Ilimitada Habitual

2. Não duração ou pontualidade Pontual

A. Por Começar Não-começado A’. Prestes a começar (ao lado do aspecto há uma opção temporal) B. Não-acabado ou Começado Não-acabado ou 1. Fases de realização Começado C’. Acabado há pouco (ao lado do Acabado aspecto há uma opção temporal)

C. Acabado

Fases A. Início (No ponto de início ou nos Inceptivo

- primeiros momentos)

II 2. Fases de B. Meio Cursivo desenvolvimento C. Fim (No ponto de término ou nos Terminativo últimos momentos) 3. Completamento A. Completo Perfectivo B. Incompleto Imperfectivo Ausência de noções aspectuais Aspecto não- atualizado QUADRO 3: Quadro aspectual do Português. Fonte: TRAVAGLIA, 2016 [1981], p. 84.

25 Para Castilho, o aspecto semelfactivo faz referência a ações que ocorreram apenas uma vez. Por isso, diferencia-se do aspecto iterativo, que marca a repetição das ações. 67

A partir desses quadros, nota-se que, embora tentem descrever as possibilidades de representação dos “graus do desenvolvimento do estado de coisas” (CASTILHO, 2002, p. 83) ou a “duração da situação” (TRAVALGLIA, 2016 [1981], p. 43), aliados às propriedades semânticas inerentes aos verbos, aos tempos e aos sintagmas verbais, os aspectos arrolados pelos estudos tradicionais não compreendem, por exemplo, a suspensão de uma ação ou o julgamento de seu desenvolvimento mais rápido ou mais lento que o esperado.

Mais que isso, quando analisadas comparativamente, percebe-se que não há homogeneidade entre as noções aspectuais consideradas na sistematização de cada proposta. Enquanto Castilho (2002) estrutura seu quadro a partir de aspectos compostos, marcados por mais de uma noção aspectual, Travaglia (2016 [1981]) propõe-se a organizar seu quadro por meio de aspectos simples, dotados de uma única ideia aspectual26 (cf. CASTILHO, 2002, p. 87; TRAVALGLIA, 2016 [1981], p. 74).

Em um estudo mais específico e apurado dessas propostas, é possível observar que, ainda que fazendo uso de nomenclaturas iguais para a referência a determinadas categorias, Castilho e Travaglia – tomados aqui apenas a título de exemplo, já que esta não é uma característica isolada de suas pesquisas, mas uma constante nos estudos sobre aspecto – não apresentam consenso sobre a interpretação semântica atribuída a elas. Ao passo que Castilho postula que o aspecto perfectivo, visto como pontual ou resultativo, é identificado pelo completamento e pela telicidade, em que a duração não seria considerada, uma vez que “decorre de uma inferência, constituindo uma significação de segunda ordem” (CASTILHO, 2002, p. 105), Travaglia, ao contrário, entende e enfatiza que o perfectivo pode se mostrar também de forma durativa, e não somente pontual, devendo, com isso, ser entendido como “um aspecto simples caracterizado apenas pelo completamento” (TRAVAGLIA, 2016 [1981], p. 79).

O problema da interpretação sobre a perfectividade e a imperfectividade entre os estudiosos tradicionais é, na verdade, um ponto que se repete em grande parte da bibliografia sobre o aspecto. Raposo (2013) ressalta, em seu estudo sobre o tema, a

26 A consideração de que é quadro aspectual de Castilho (2002) é formado a partir de aspectos compostos também é exposta por Travaglia (2016 [1981]). Nessa proposta, um mesmo aspecto acumula mais de uma noção aspectual. Por exemplo, o aspecto inceptivo compreende por si só, de acordo com Castilho, a ideia de se referir ao ponto de início ou aos momentos iniciais de uma ação e o traço de imperfectividade. Para Travaglia, ao contrário, em uma proposição aspectual simples, cada aspecto tem apenas uma noção aspectual. Desse modo, o inceptivo somente faz referência ao ponto de início ou aos momentos iniciais de uma ação. 68 ausência de consonância na literatura para a descrição desses termos. Definindo o aspecto perfectivo de maneira muito mais relacionada aos tempos verbais, o autor indica que este aspecto se refere a uma situação “perspectivada a partir do seu exterior, como um todo completo, incluindo a totalidade das suas porções constitutivas” (RAPOSO, 2013, p. 617).

Com essa definição, Raposo reforça o traço descritivo comum, apontado tanto por Travaglia quanto por Castilho, de que o aspecto perfectivo é marcado pelo completamento, pela totalidade, o que parece não gerar dúvida entre os estudiosos do aspecto. Todavia, não faz qualquer referência à característica de pontualidade ou de duratividade do aspecto perfectivo – principal ponto, conforme apontado, de divergência entre Castilho e Travaglia –, sinalizando, talvez, que tal distinção não seja importante para a identificação da perfectividade.

No entanto, não são apenas os aspectos perfectivo e imperfectivo que geram dissonância entre os estudos tradicionais. A iteratividade também é mais um exemplo de diferença interpretativa entre esses autores. Distinguindo a repetição habitual da repetição simples, o que o faz considerar dois aspectos distintos – o aspecto habitual e o aspecto iterativo, respectivamente –, Travaglia propõe uma divisão não abordada por Castilho, que compreende a repetição por si só como iteratividade. Por outro lado, Raposo, além de diferenciar a repetição simples da repetição habitual, entende que a iteração é ainda um terceiro um padrão de repetição (cf. TRAVAGLIA, 2016 [1981], p. 48-49; cf. CASTILHO, 2002, p. 106-115; RAPOSO, 2013, p. 586).

Se nos detivermos a examinar internamente um quadro aspectual específico, também encontraremos certas lacunas e/ou ambiguidades quanto à organização estrutural proposta. Tomando o sistema do aspecto do tempo sistematizado por Travaglia como exemplo, é possível perceber que a maior variedade aspectos, resultante da sua escolha por trabalhar com aspectos simples, acaba por gerar divisões e diferenciações entre noções aspectuais semanticamente muito próximas.

É o que ocorre na separação que Travaglia faz entre o aspecto começado e o aspecto cursivo. Compreendendo que o primeiro se refere à fase de realização da ação e o segundo, à fase de seu desenvolvimento, o autor apresenta frases muito semelhantes para ilustrar cada aspecto, fazendo parecer que essa distinção não é tão evidente e, a nosso 69 ver, nem mesmo tão necessária. Os exemplos expostos por Travaglia (2016 [1981], p. 51- 52) como (38) e (49) estão reproduzidos respectivamente em (1) e (2) abaixo:

(1) Os rapazes continuam jogando apesar da chuva. Aspecto começado ou não-acabado (ibidem, p.51, grifo do autor) (2) Jorge continua falando apesar do avançado da hora. Aspecto cursivo (ibidem, p.52, grifo do autor)

Para além da similaridade entre os exemplos, por vezes, o autor usa a mesma oração para ilustrar aspectos distintos. É o que acontece com a frase (41) – “Pedro pulara o muro com facilidade” (TRAVAGLIA, 2016 [1981], p. 85, p. 97, grifo do autor) –, utilizada igualmente na exemplificação do aspecto perfectivo e na exposição do aspecto acabado. Mais que revelar a proximidade entre algumas noções aspectuais, esse caso evidencia a necessidade de um exame mais completo e abrangente do aspecto, mesmo dentre os estudos tradicionais.

Até mesmo uma divergência de entendimento sobre quais elementos linguísticos expressam o aspecto na língua pode ser encontrada se confrontarmos os trabalhos de Travaglia e de Castilho com o de Raposo (2013). Enquanto os primeiros entendem que o sentido aspectual é expresso principalmente pelo verbo e por elementos que atuam no sintagma verbal, Raposo expõe que “fatores contextuais” também podem interferir e modificar a interpretação sobre a classificação aspectual de determinadas frases:

Existem casos em que somente fatores contextuais, que se prendem com o conhecimento geral do mundo ou com as circunstâncias particulares que envolvem a produção linguística, se revelam capazes de resolver uma certa vaguidade em termos de classificação aspectual inerente a certas frases (RAPOSO, 2013, p. 605, grifo do autor).

Embora reduza a influência discursiva na configuração aspectual dos textos a casos específicos de resolução de uma “vaguidade”, definida pelo autor como uma “certa indefinição ou subespecificação quanto à classe final de uma dada situação” (RAPOSO, 2013, p. 605), Raposo acaba por demonstrar a insuficiência que uma análise estritamente gramatical produz no exame do aspecto. O autor admite ainda que o aspecto pode ser revelado “desde as diferentes classes de palavras [...] até a elementos gramaticais de que são exemplo os verbos de operação aspectual ou os tempos verbais” (ibidem, p. 619). Nessa perspectiva, ressalta, mesmo que indiretamente, a demanda de um estudo mais discursivo desse procedimento. 70

Sendo exatamente este o interesse e o objeto da teoria greimasiana, as pesquisas semióticas buscam conferir maior abrangência às análises textuais. Ainda que refém do problema da metalinguagem relativa às categorias aspectuais, tomadas em diálogo com diversos estudos tradicionais e, por isso, inevitavelmente, entendidas de maneira divergente em relação a alguns autores, a semiótica procura estruturar sua proposta em valores aspectuais mais amplos, que buscam abarcar suas variadas formas de manifestação.

Essa preocupação em organizar as categorias aspectuais em sistemas aplicáveis às mais diversas análises está associada, principalmente, a dois fatores que podem dificultar o estudo da aspectualização temporal como um procedimento semântico-discursivo: (a) a possibilidade de sua concretização por meio de diferentes estruturas linguísticas e discursivas, tornando complexa a sua delimitação; (b) a enorme variedade de julgamentos do tempo feitos pelos observadores dos textos, resultando em diferentes aspectos.

Por esse motivo, torna-se fundamental entender o que perpassa o ponto de vista do observador na aspectualização não só do tempo, mas também do espaço e da pessoa. Barros (1995), em uma análise da aspectualização no texto falado, apresenta uma reflexão sobre isso e aponta que essas três formas de aspectualização são, na verdade, “ocorrências de uma mesma propriedade semântica, que se torna diferente quando aplicada ao tempo, ao espaço ou ao ator” (BARROS, 1995, p. 69).

Ainda de acordo com a autora, a categoria que aspectualiza, de igual maneira, ator, tempo e espaço é articulada em continuidade versus descontinuidade. Ao considerá-la como o par que aspectualiza o discurso, Barros (1995) defende que a aspectualização é, inclusive, uma instância que atua como uma pré-condição da significação, do próprio ato de enunciar, já que qualquer texto se manifesta como uma descontinuidade na continuidade (cf. BARROS, 1995, p. 70).

Especificamente quanto à aspectualização no nível discursivo, Barros expõe que a continuidade e a descontinuidade podem produzir diferentes efeitos de sentido nos textos. Nas palavras da autora, “Do lado da continuidade tem-se a duração temporal, a não-determinação espacial, o excesso actorial; no da descontinuidade, a pontualidade temporal, a delimitação espacial, a insuficiência actorial” (BARROS, 1995, p. 69).

Como se pode ver, no recorte do tempo, Barros mostra que essa categoria comum firma a aspectualização temporal a partir da oposição entre durativo versus pontual. De 71 certa maneira, a autora também já apontava para a articulação entre esses valores em um estudo anterior, realizado em Teoria do discurso: fundamentos semióticos. A organização aspectual proposta nessa obra, entretanto, apresenta uma interpretação um pouco distinta, como pode ser vista no esquema abaixo, reproduzido a partir de Barros (2001 [1988], p. 91):

Duratividade vs. Pontualidade

descontinuidade vs. continuidade incoatividade vs. terminatividade (aspecto iterativo) (aspecto durativo) (aspecto incoativo) (aspecto terminativo)

Conforme se nota, a primeira e principal diferença entre os dois estudos de Barros pode ser observada quanto à própria compreensão do par continuidade vs descontinuidade. Na obra Teoria do discurso: fundamentos semióticos, a autora expõe esse par não como a categoria mais geral que aspectualiza tempo, ator e espaço, mas como um recorte da categoria de duratividade.

Neste ponto, Barros dialoga com o apontamento feito por Greimas e Courtés (1979), no Dicionário de Semiótica. Ao definirem os conceitos “contínuo” e “descontínuo” sob a perspectiva da semiótica discursiva, os estudiosos ressaltam a articulação dessas categorias com o aspecto durativo, que se desdobraria, segundo os autores, em durativo contínuo e durativo descontínuo, tal como propôs Barros (2001 [1988]).

Ainda comparando dos dois estudos de Barros, outra diferença, mais específica, reside no julgamento da descontinuidade. Enquanto na obra de 1988 a descontinuidade aparece como uma propriedade da duratividade, assim como proposto por Greimas e Courtés (1979), em Barros (1995), porém, a descontinuidade abarca o sema da pontualidade, conforme explicitado anteriormente.

Essa reformulação feita por Barros corrobora com a perspectiva que adotamos nesta pesquisa. Partindo dos trabalhos de Gomes, o par continuidade vs descontinuidade é aqui tomado por nós como o mais adequado para o tratamento da aspectualização. Considerando-as como as categorias mais abrangentes para a análise desse conceito, Gomes afirma que

Tomada de forma gradual, a continuidade pode se realizar no discurso sob a forma da aspectualidade cursiva ou durativa (no tempo), como uma trajetória, 72

um deslocamento (no espaço), ou como uma transformação em curso (do ponto de vista do sujeito), sem que se deva tomar como horizonte um término, um estado ou ponto de chegada definido. A não continuidade pode ser concretizada como uma suspensão ou interrupção do contínuo, uma parada, sem que necessariamente se identifique com um fim ou conclusão de um evento, de uma trajetória ou de uma transformação. A descontinuidade pode se apresentar como um limite irreversível, uma demarcação a partir da qual o evento pode ser tomado em sua totalidade, externamente. Pode ser considerada como uma ação conclusa, um ponto exterior no espaço, a transformação de estado realizada, relativa à perfectividade. A não descontinuidade pode ser concretizada como uma modulação, uma segmentação, como a passagem de fronteiras (GOMES, 2012b, p. 167-168, grifos do autor).

Dessa maneira, assim como em Barros (1995), a organização aspectual aqui defendida parte das categorias de continuidade e de descontinuidade e, ainda, entende a pontualidade como consequência de uma descontinuidade temporal, diferentemente do que foi exposto por Barros (2001 [1988]) e por Greimas e Courtés (1979).

Em relação ao tempo, esses valores aspectuais podem ser dispostos em sistemas mais amplos, capazes de abranger a variedade de aspectos que se concretizam nos textos, tal como disposto no quadro a seguir, retirado de Gomes (2018):

Sistema aspectual do tempo: continuidade descontinuidade duratividade/imperfectividade pontualidade/perfectividade

não-descontinuidade não-continuidade

segmentação em etapas suspensão/interrupção (início, meio, fim) QUADRO 4: Sistema aspectual do tempo. Fonte: GOMES, 2018, p. 110. Organizada por um sistema aspectual composto, a maior contribuição dessa proposta, tomada como base de nossa análise, é sua possibilidade de explicar a variedade que caracteriza a aspectualização temporal no discurso, possível de se concretizar nos textos de diversas formas. Com o intuito de simplificar e de não fazer diferenciações aspectuais por vezes quase imperceptíveis, dada a proximidade dos valores semânticos arrolados, esse quadro apresenta diálogos e divergências com diferentes estudos tradicionais sobre o aspecto.

Embora Gomes (2018) não apresente uma definição ou mesmo um exemplo para cada um dos valores envolvidos no quadro, é possível perceber, em linhas gerais, o que é 73 considerado em cada componente do sistema aspectual disposto. Uma leitura e um exame atento de outras obras da autora – como Gomes (2008b; 2010; 2012a) – também acabam por fornecer mais indícios para o entendimento descritivo de certos aspectos.

Cientes da necessidade de um estudo mais teórico e específico da aspectualização, arriscamos aqui iniciarmos considerações mais gerais, construídas por nossas análises e por interpretações das obras que sustentam esta pesquisa, das definições sobre os aspectos presentes na proposta que adotamos como referência. Considerando os limites deste trabalho, por ora, nos deteremos apenas aos aspectos mais reincidentes em nosso corpus cujas nomenclaturas são mais polêmicas, sempre sinalizando um dentre variados pontos de vista.

Como primeiro ponto, pensaremos e delimitaremos os valores aspectuais envolvidos nas categorias de continuidade e de descontinuidade. Por conta da polissemia que as noções de perfectividade e de imperfectividade possuem na literatura sobre o aspecto, começaremos esses esclarecimentos pelo que, nesta análise, entendemos sobre esses conceitos.

Partindo da postulação de Greimas e Courtés (1979, p. 228) e da definição de Gomes (2012b, p. 167-168) de que a descontinuidade implica em um limite irreversível, em uma ação tomada em sua totalidade, o aspecto perfectivo será compreendido, neste estudo, pela noção de completamento, de acabamento, portanto. Em consonância com o que afirmam Greimas e Courtés (1979, p. 328), consideramos que o sema aspectual da perfectividade – que, para nós, resulta no aspecto perfectivo – pode trazer como pressuposto o termo durativo.

Dessa maneira, discordamos de Castilho (2013) que entende o aspecto perfectivo sempre como pontual, defendendo que eventuais leituras que considerem a duratividade a partir do aspecto perfectivo constituem, na verdade, inferências e significações de segunda ordem (cf. CASTILHO, 2002, p. 105). Simultaneamente, a definição aqui adotada para a perfectividade aproxima-se da proposta de Travaglia (2016 [1981]), que concebe os aspectos perfectivo e pontual como categorias distintas.

Assim, na presente abordagem, perfectividade e pontualidade, embora sejam valores compreendidos na descontinuidade, são distintos entre si. A pontualidade caracteriza-se pela percepção de ausência de duração, pelo efeito de neutralização entre dos limites de início e de fim de um evento. Nessa perspectiva, um mesmo evento pode 74 reunir os traços de perfectividade e de duratividade pressuposta, bem como os traços de perfectividade e de pontualidade, mas não pode nunca articular concomitantemente a duratividade e a pontualidade.

Em contrapartida e como complementaridade da descrição do aspecto perfectivo, o aspecto imperfectivo é visto, então, como uma ação tomada em sua incompletude, em seu inacabamento. Trazendo a “ausência de uma relação de pressuposição com o aspecto terminativo” (GREIMAS; COURTÉS, 1979, p. 228), a imperfectividade tem intrinsecamente uma correspondência com o aspecto durativo. O que distingue esses dois semas aspectuais, contudo, é, como vimos, a possibilidade de a duratividade ser apreendida como uma totalidade, em uma ação já perfectiva.

Ainda na categoria da descontinuidade estão também os limites de um processo. Nesse sentido, tanto a fase anterior ao início de uma ação – geralmente o momento em que ocorre a manipulação e a competencialização do sujeito a agir – quanto a fase posterior à realização de um determinado evento são descontinuidades em relação à continuidade que marca sua duração. Assim, caso a ação seja vista em um momento anterior ao seu início, mas em que haja intenção ou certeza de sua realização, a discursivização da descontinuidade resulta no aspecto não começado, tal como entendido também por Travaglia (2016 [1981], p. 50). Por outro lado, quando a ação se encontra nos momentos após o seu término, consideramos que a descontinuidade se concretiza pelo, já definido, aspecto perfectivo.

Contrariamente ao que Travaglia (2016 [1981]) expõe em sua obra, não consideramos aqui que haja diferenças capazes de marcar produtivamente a distinção entre os aspectos perfectivo e acabado. Conforme discutimos anteriormente, o próprio autor, embora opte por distinguir os dois aspectos, acaba tornando ambígua a definição e revelando, ao usar exatamente o mesmo exemplo para ilustrar as duas noções aspectuais, que essa diferenciação é realmente muito tênue e desvantajosa.

No valor da não-descontinuidade, referente à segmentação temporal das etapas das ações, Gomes (2018) evidencia que diferentes aspectos podem ser discursivizados, a depender do ponto pelo qual a ação for julgada. Correspondendo à percepção de divisões feitas na continuidade, a não-descontinuidade permite que uma ação seja aspectualizada pelo seu início, pelo seu meio ou pelo seu fim. 75

Em sendo a ação vista em seu ponto de início ou, mais durativamente, em seus momentos iniciais, o aspecto produzido é o incoativo, referente ao momento A ou ao momento A’, da figura 1. Nesse sentido, o aspecto incoativo também pode se combinar tanto com o valor da duratividade, quanto com o valor da pontualidade, conforme assinalam Greimas e Courtés (1979). Ainda que autores como Travaglia (2016 [1981], p. 55) defendam que a incoatividade não é aspectual, já que indica a mudança de estado, e que o aspecto que marca o início do desenvolvimento da ação é o inceptivo, aqui concordamos novamente com Greimas e Courtés (1979) e com Barros (2001 [1988]) que consideram tal aspecto como incoativo. Por fim, para as ações que estão em seu ponto de término ou em seus momentos finais, o aspecto correspondente é o terminativo, referente ao momento B’ ou ao momento B da figura 1, que, tal como o aspecto incoativo, pode se manifestar de maneira pontual ou durativa.

Finalmente, a não-continuidade coloca em discurso a suspensão, a interrupção de uma ação, sem que implique sua terminatividade ou seu acabamento. A percepção, pelo observador, de que o processo está interrompido, por uma parada, não impede que possa ter sua continuidade retomada.

O par continuidade vs descontinuidade e seus contraditórios produz ainda aspectos através da recursividade e de suas combinações. Gomes (2012b, p. 168) explica que a sobredeterminação da continuidade na descontinuidade, por exemplo, revela a reversibilização do irreversível, um aspecto não abordado pelos estudos tradicionais, ao passo que a sobredeterminação da descontinuidade na continuidade produz a iteratividade.

Com essa definição para o valor iterativo, Gomes (2012b) dialoga tanto com as considerações de Greimas e Courtés (1979, p. 248), que entendem a iteratividade como “a repetição das mesmas grandezas no interior de um intervalo tempo”, quanto com a proposição de Barros (2001 [1988], p. 91), que toma a iteratividade como uma descontinuidade expressa na duratividade. Nessa perspectiva, percebe-se que o próprio conceito de iteratividade, ao manifestar a recorrência de ações pontuais ou durativas em um intervalo temporal, traz como pressuposta a noção de continuidade, de duratividade das ações, que, pela repetição, podem ser percebidas como longas no tempo.

Por compreendermos, portanto, que o sema aspectual iterativo envolve sempre um processo descontínuo reincidindo em uma continuidade, aqui não tomamos como 76 diferentes a repetição habitual e a simples, como fazem Travaglia e Raposo. Entretanto, ações marcadas por uma única ocorrência, negando qualquer traço de iteratividade, são por nós consideradas, em consonância com Castilho (2013), como semelfactivas.

Dessa maneira, variações aspectuais diversas podem surgir a partir de atualizações dessas categorias mais gerais. Por isso, o estudo semiótico da aspectualização temporal mostra-se, a nosso ver, muito mais econômico, sem, contudo, deixar de ser geral e abrangente. Por esse motivo, é a partir de tais categorias que estruturaremos a análise de nosso corpus quanto à aspectualização do tempo tomada como um procedimento do nível discursivo do percurso gerativo de sentido.

3.2 Aspectualização como um procedimento metodológico: a semiótica tensiva

Compreendida como um procedimento que pode recair no discurso como um todo, o estudo da aspectualização, sob o prisma da semiótica tensiva, tem se mostrado, conforme afirma Gomes (2018, p. 113), “um princípio concernente à metodologia de análise”. Não se restringindo a apenas um nível do percurso gerativo de sentido ou às categorias de tempo, de pessoa e de espaço, esse conceito torna-se, nessa perspectiva, ainda mais geral e abrangente.

Tal característica é reafirmada também pelo fato de o exame da aspectualização pela semiótica tensiva acolher a análise das graduações e do acento constitutivos dos discursos. Desse modo, de acordo com o que postula Zilberberg, a aspectualização nada mais é que a “análise do devir ascendente ou descendente de uma intensidade [que fornece] aos olhos do observador atento, certos mais e certos menos” (ZILBERBERG, 2006, p. 164, grifos do autor).

Com essa definição, a aspectualização na semiótica tensiva dialoga com o conceito greimasiano, uma vez que, em ambos os casos, ela é vista como um processo, constituído de fases e segmentações. A principal diferença entre as duas abordagens, no entanto, reside no fato de a aspectualização, para a semiótica tensiva, ser independente de qualquer conteúdo, relativa, portanto, a toda e qualquer grandeza do discurso, “já que nenhuma grandeza pode ter realmente a pretensão de escapar ao devir” (ZILBERBERG, 2006, p. 173).

Por esse motivo, Zilberberg (2006; 2011) propõe que o exame da aspectualização deve ser realizado com base em categorias que possam dar conta de explicar todo o 77 dinamismo do sistema discursivo. Antes, porém, de apresentarmos aqui quais são, segundo o autor, essas categorias e de pontuarmos quais as categorias que consideraremos em nossa análise, é preciso esclarecer previamente alguns conceitos fundamentais dessa vertente teórica.

Com o intuito de entender de que modo os valores transmitidos a um sujeito por meio de um texto acessam seu campo de presença, sua arena perceptiva, a semiótica tensiva, para além dos conteúdos inteligíveis, volta-se à investigação dos conteúdos sensíveis (GOMES; MANCINI, 2007, p. 5). Dessa forma, acrescenta como contribuição à semiótica iniciada por Greimas a possibilidade de uma análise da gradação, dos intervalos pelos quais se constitui o sentido dos fenômenos.

Partindo dessa proposta de um modelo investigativo gradual, a semiótica tensiva não considera o inteligível e o sensível como dimensões excludentes, mas, ao contrário, as avalia como instâncias presentes em toda grandeza discursiva. Para dar conta de uma análise que contemple tanto o exame do afeto, quanto da forma, essa vertente teórica propõe a tensividade, um lugar imaginário em que ocorre a união da dimensão da intensidade, referente aos estados de alma, ao sensível, ao afeto, e a dimensão da extensidade, referente ao estado de coisas, ao inteligível, à forma (ZILBERBERG, 2011, p. 66).

Tomadas como dimensões, intensidade e extensidade não estão em um mesmo nível hierárquico. Privilegiando o estudo do afeto, Zilberberg postula que a intensidade rege a extensidade, de modo que, assim, o estado de coisas, o inteligível, é dependente do estado de alma, do sensível.

De acordo com o autor, a intensidade explica o acesso de um objeto no campo de presença de um sujeito por uma gradação que vai do tênue ao impactante e tem como subdimensões o andamento e a tonicidade. A subdimensão do andamento diz respeito à velocidade com que um objeto penetra no campo de presença, ao passo que a subdimensão da tonicidade está relacionada à força da percepção, ou seja, à força com que um dado objeto adentra o campo de presença de um sujeito.

A extensidade, por outro lado, refere-se à extensão do campo controlado pela intensidade, que, em uma gradação, vai do concentrado ao difuso, e possui como subdimensões a temporalidade e a espacialidade. A temporalidade descreve a apreensão 78 subjetiva do tempo pelo qual os fatos são compreendidos pelo sujeito e a espacialidade relaciona-se à percepção do espaço de extensão de um evento.

Segundo Zilberberg (2011, p. 70), assim como há uma relação de dependência entre as dimensões tensivas, similarmente há também uma relação de controle entre suas subdimensões. Dessa maneira, as subdimensões intensivas sempre regem as subdimensões extensivas.

Para explicar essas relações, o autor esclarece que elas podem se dar por meio de uma correlação conversa, do tipo “quanto mais... mais” ou “quanto menos... menos”, e por uma correlação inversa, do tipo “quanto mais... menos” ou “quanto menos... mais”. Várias são as possibilidades de cruzamento entre as subdimensões e, em cada caso, é um tipo de relação que se estabelece.

Conforme esclarece Zilberberg, a relação entre as subdimensões de uma mesma dimensão ocorre sempre por uma correlação conversa e faz surgir um produto. O produto do andamento e da tonicidade é o impacto, enquanto o produto da temporalidade e da espacialidade é a universalidade.

Nesse sentido, quanto maior for o andamento e a tonicidade de acesso de um conteúdo ao campo de presença de um sujeito, maior o impacto produzido, maior sua intensidade, seu estado sensível, e menor sua capacidade de intelecção. Do mesmo modo, quanto menor for o andamento e a tonicidade pela qual um conteúdo adentra na arena perceptiva do sujeito, menor é seu impacto e maior é o conforto trazido pelo conhecido, pela universalidade, por isso, maior é a capacidade de sua intelecção.

Ao discutirmos, no capítulo 1, sobre as estratégias persuasivas utilizadas no processo de captação, de sustentação e de fidelização do leitor a um jornal, vimos que o arrebatamento ocorre pelo impacto do insólito. Contudo, quanto mais uma mesma notícia vira assunto de edições seguidas de um periódico, contando apenas com algumas novas informações, menor é seu impacto e maior é sua universalidade, seu entendimento inteligível.

Quando se pensa na relação entre as subdimensões de dimensões distintas, todavia, a relação pode, segundo o que propõe Zilberberg, ser do tipo conversa ou inversa. Entre andamento e temporalidade, de acordo com o autor, há uma correlação inversa. Isso significa que quanto mais elevado for o andamento, a velocidade de algo, menos longa é a sua temporalidade. Em contrapartida, quanto menos elevado for o andamento de um 79 fato, maior é sua temporalidade. Para ilustrar e resumir as relações entre as subdimensões intensivas e extensivas, estruturamos o quadro a seguir, a partir de Zilberberg (2011, p. 70):

SUBDIMENSÕES INTENSIVAS E TIPO DE CORRELAÇÃO SUBDIMENSÕES EXTENSIVAS Andamento x Temporalidade Inversa Andamento x Espacialidade Inversa Tonicidade x Temporalidade Conversa Tonicidade x Espacialidade Conversa QUADRO 5: Tipos de correlação resultantes da intersecção entre subdimensões intensivas e subdimensões extensivas. Fonte: adaptado de ZILBERBERG, 2011, p. 70.

Assim, partindo das subdimensões intensivas e extensivas, as contribuições de Zilberberg (2006; 2011) buscam analisar todas as variações e vicissitudes que afetam a significação e a percepção do sentido dos textos. Também é com o intuito de compreender os intervalos, o acento, o devir, a segmentação em fases que agem nos textos que o autor estabelece as categorias aspectuais. Declarando ser mais tributárias da retórica que da linguística, “dado que a retórica tem por objeto o discurso, e até mesmo a veemência do discurso” (ZILBERBERG, 2011, p. 82), Zilberberg propõe como categorias aspectuais a minimização, a atenuação, o restabelecimento e a exacerbação. Podendo cada uma delas ser cruzada com os foremas27 da direção, da posição e do elã, doze subvalências são produzidas para o exame de cada subdimensão intensiva e extensiva.

O resultado dessa sobredeterminação das categorias aos foremas em cada subdimensão, por sua vez, é um conjunto de quarenta e oito subvalências aplicáveis à análise da aspectualização, reproduzido a seguir, (cf. ZILBERBERG, 2011, p. 85-86):

O andamento: aspecto minimização atenuação restabelecimento recrudescimento foremas direção “trainer” desaceleração aceleração precipitação [ir muito lentamente] posição anacronismo atraso adiantamento prematuridade elã inércia lentidão rapidez vivacidade QUADRO 6: Subvalências do andamento resultantes do cruzamento entre os foremas e as categorias aspectuais. Fonte: ZILBERBERG, 2011, p. 85.

27 Foremas são, de acordo com Mancini (2007), grandezas que organizam os movimentos tensivos mais abstratos da significação e que determinam o fluxo fórico de um dado discurso (cf. MANCINI, 2007, p. 88). 80

A tonicidade:

aspecto minimização atenuação restabelecimento recrudescimento foremas direção extenuação atonização tonificação avultação posição nulo inferior superior excessivo elã estado repouso movimento golpe QUADRO 7: Subvalências da tonicidade resultantes do cruzamento entre os foremas e as categorias aspectuais. Fonte: ZILBERBERG, 2011, p. 85.

A temporalidade:

aspecto minimização atenuação restabelecimento recrudescimento foremas direção retrospecção apreensão foco antecipação posição obsoleto anterior posterior imortal elã efêmero breve longo eterno QUADRO 8: Subvalências da temporalidade resultantes do cruzamento entre os foremas e as categorias aspectuais. Fonte: ZILBERBERG, 2011, p. 86.

A espacialidade:

aspecto foremas minimização atenuação restabelecimento recrudescimento direção hermético fechado aberto escancarado posição estranho exterior interior íntimo elã fixidez repouso deslocamento ubiquidade QUADRO 9: Subvalências da espacialidade resultantes do cruzamento entre os foremas e as categorias aspectuais. Fonte: ZILBERBERG, 2011, p. 86.

Com essa rica variedade de grandezas, capazes de explicar as subdimensões em uma gradação que vai do mínimo ao máximo, da minimização ao recrudescimento, Zilberberg (2006; 2011) atribui ao estudo aspectual um exame mais atento e detalhado das modulações e dos acentos de sentido dos fatos. No entanto, esse número elevado de valores resultantes das quatro categorias aspectuais básicas fazem, de acordo com Gomes (2008),

[...] surgir uma variedade rica de valores aspectuais aplicáveis à análise dos textos, tanto no nível do enunciado, quanto no nível da enunciação, abrangendo o estudo do sentido em diversos níveis de pertinência e nos diferentes planos da linguagem. Se isso é uma vantagem, também se corre o risco de tornar 81

abrangente demais o conceito, dificultando sua operacionalidade, acentuando as misturas (GOMES, 2008, p. 114). Como o nosso intuito com a presente pesquisa é, conforme já enfatizamos, realizar um exame mais restrito da aspectualização, relativo apenas à categoria do tempo, resolvemos não acolher, em nossa análise, toda essa variedade fornecida pela proposta tensiva à averiguação aspectual. Contudo, tal como afirma Gomes (2018), algumas das subvalências zilberberguianas, bem como os conceitos envolvidos nas dimensões intensivas e extensivas e nas suas subdimensões podem, quando aplicados à investigação específica da aspectualização do tempo, explicar tanto os valores aspectuais atuantes no nível discursivo, quanto a regulação que o observador faz desses valores, que acolhe o sensível como um componente dos textos.

A contribuição de Zilberberg (1991; 2006; 2007; 2011) permite explicar os valores aspectuais anteriormente estudados (a duração e a pontualidade, a perfectividade e a imperfectividade, etc., concernentes ao tempo; [...] como produtos de categorias consideradas pressupostas a estas, como o andamento (aceleração ou desaceleração) e a tonicidade (tonificação e atonização), do eixo da intensidade, regentes, e as regidas da temporalidade e da espacialidade, do eixo da extensidade, produzindo então os efeitos aspectuais (GOMES, 2018, p. 114).

Assim, para nosso exame da aspectualização temporal, aproveitaremos principalmente as contribuições de Zilberberg relativas aos valores resultantes da relação entre andamento e temporalidade. Embora reconheçamos que categorias aspectuais aliadas à tonicidade e à espacialidade, como movimento e repouso ou abertura e fechamento, por exemplo, também poderiam enriquecer a investigação do tempo de desenvolvimento das ações tomadas como processos, neste estudo, optamos por estruturar uma análise mais específica, atentando, em especial, para o fato de que

[...] a inserção da temporalidade no espaço tensivo deixa-se declinar da seguinte maneira: [...] (ii) o andamento dirige a temporalidade segundo uma correlação inversa, isto é, a rapidez abrevia e concentra, ao passo que a lentidão alonga e distribui (ZILBERBERG, 2011, p. 124).

Nesse sentido, o aporte da semiótica tensiva nos servirá ao entendimento da apreensão da duração dos eventos por parte de um observador. Como a correlação entre andamento e temporalidade é inversa, temos, pelas palavras de Zilberberg, que “A velocidade crescente, vivida pelos homens, abrevia a duração de seu fazer [...] o ser, nesse caso, seria um efeito da extrema lentidão” (ZILBERBERG, 2011, p. 70-71, grifos do 82 autor). Em termos de ilustração, esse dinamismo da percepção da duração das ações pode ser representado graficamente da seguinte maneira:

GRÁFICO 1: Correlação entre andamento e temporalidade. Fonte: adaptado de ZILBERBERG, 2011.

Conforme revela o gráfico, a relação entre andamento e temporalidade não é linear, mas instável, fruto de modulações afetivas. Na investigação dos textos que compõem o nosso corpus de estudo, averiguaremos essas variações pelo ponto de vista do observador inscrito nos enunciados. Nessa perspectiva, procuraremos identificar o modo como a duração de uma ação é percebida pelo sujeito e quais efeitos de sentido cada forma de apreensão da duração produz nos discursos.

Para isso, tomaremos como embasamento mormente as subvalências das categorias aspectuais de atenuação e reestabelecimento derivadas das subdimensões do andamento e da temporalidade que permitem entender a duração. Isso porque, conforme assinala Zilberberg (2011, p. 106, 132), com essas grandezas, podemos entender, por exemplo, que a aceleração de um evento, que corresponde ao reestabelecimento da velocidade, faz abreviar sua duração, que, no limite, pode produzir efeito de efemeridade. Por outro lado, a desaceleração, a lentidão, acarreta o prolongamento, que, no limite, pode chegar a efeitos de eternidade da duração.

Conjugando essas categorias tensivas com as categorias aspectuais vistas para o estudo da aspectualização do tempo como um procedimento do nível discursivo, podemos entender que a aceleração do processo de um evento pode concretizar nos discursos uma duração breve, que, em graus máximos, gera o efeito de pontualidade. Contrariamente, a desaceleração, a lentidão, pode fazer surgir a duração longa e a imperfectividade. 83

O que se observa, portanto, é que, com as contribuições da semiótica tensiva, o estudo da aspectualização do tempo não precisa se limitar à oposição de categorias como duratividade e pontualidade, ou perfectividade e imperfectividade. Sendo “produto de um estado de alma e um estado de coisas” (GOMES, 2008, p. 114), os valores aspectuais tensivos proporcionam melhor entendimento dos afetos e de suas graduações que modulam e constroem o sentido dos textos.

84

4. A ASPECTUALIZAÇÃO TEMPORAL NOS TEXTOS DO JORNALISMO POLÍTICO

Até aqui, procuramos demonstrar tanto a finalidade persuasiva do discurso jornalístico na visão de mundo de seus leitores, como também buscamos apresentar, em linhas gerais, a contribuição que a teoria semiótica, principalmente pelo exame dos mecanismos de aspectualização temporal, pode fornecer ao entendimento da construção de sentido dos textos. Neste capítulo, nosso intuito é, então, aplicar especificamente nossas escolhas teóricas à análise das notícias que formam o corpus deste trabalho.

Antes, porém, de iniciarmos as discussões sobre os efeitos de sentido que diferentes valores aspectuais do tempo podem causar nos discursos e de debatermos sobre o modo como esse procedimento pode atuar como uma estratégia argumentativa, cumpre detalhar a metodologia aqui utilizada para a composição de nosso objeto de análise.

4.1 Metodologia

Assim como já pontuado em passagens precedentes deste trabalho, a proposta norteadora desta pesquisa abarca o estudo dos procedimentos de aspectualização temporal em textos jornalísticos com tema sobre a política nacional, publicados nos jornais on-line O Globo e O Dia, em dois períodos temporais distintos – dezembro de 2015 e abril de 2018. Para atingir tal objetivo, a metodologia utilizada nesta dissertação envolveu diferentes etapas.

Primeiramente, foi realizada uma recolha aleatória de notícias políticas da seção “Brasil”, nos periódicos O Globo on-line e O Dia on-line, durante o mês de dezembro de 2015. Após esse levantamento inicial, notamos que, por conta do momento político vivido pelo país nesse período – o acatamento do pedido de impeachment contra a então presidente em exercício, Dilma Rousseff – a maior parte das notícias selecionadas versava sobre o tema do impedimento contra Dilma, uma recorrência temática que poderia prejudicar o alcance mais geral e abrangente das conclusões aqui encontradas.

Além disso, dado o caráter dinâmico que caracteriza os jornais de internet, o distanciamento temporal de mais de dois anos entre as notícias de dezembro de 2015 e a análise dos textos com a estruturação dos resultados obtidos foi também, por nós, visto como um problema. Por isso, decidimos ampliar nosso corpus a partir de uma nova 85 escolha aleatória de notícias dessa mesma seção nos dois periódicos, realizada no decorrer do mês de abril de 2018.

Depois dessas duas etapas de seleção dos textos, chegamos a um volume total de 161 notícias, distribuídas da seguinte maneira:

Jornal O Globo on-line O Dia on-line Dezembro de 2015 62 notícias 20 notícias Abril de 2018 52 notícias 27 notícias QUADRO 10: Distribuição das notícias recolhidas na etapa de seleção aleatória segundo o jornal e o período de tempo

Como se pode observar, tanto em dezembro de 2015, quanto em abril de 2018, o número de notícias recolhidas foi maior em O Globo on-line. Resguardada qualquer coincidência que pode ter atuado reincidentemente nesses dois períodos temporais e em novos exames feitos por nós para confirmar o dado, essa diferença numérica foi decorrente da menor quantidade de notícias diárias publicadas na seção “Brasil” de O Dia on-line. Longe de nos causar estranhamento, tal fato corroborou com a descrição de Amaral (2006), apresentada em nosso primeiro capítulo, de que textos com essa temática política mais abrangente e menos imediata ainda são menos frequentes no chamado “jornalismo popular”.

Na sequência dessas etapas de coleta aleatória de notícias, refinamos o nosso corpus, com o fim de igualar o número de textos analisados dos dois periódicos. Desse modo, selecionamos oito notícias de cada jornal para cada período, fechando nosso objeto de estudo em um total de trinta e duas notícias.

Para além de proporcionar um equilíbrio na análise, que não tem como intuito privilegiar o estudo de um jornal em específico, esse enxugamento da quantidade de notícias a serem examinadas foi possível também porque, dentre o volume total de textos selecionados, notamos certas recorrências entre os procedimentos aspectuais utilizados pelos periódicos. Por esse motivo e por conta dos limites da presente pesquisa, consideramos que, com este número, já é possível desenvolver uma investigação que dê conta de contemplar os recursos mais comuns empregados por essas mídias na abordagem do tema política nacional.

A fim de que não precisemos fazer interrupções ao longo de nossa análise para o detalhamento das principais informações contidas nos textos que formam nosso corpus, 86 serão expostos a seguir dois quadros destinados à apresentação do título e do assunto de cada texto a ser averiguado. Como não nos propomos a realizar um exame individual, notícia a notícia, uma vez que isso tornaria nossa investigação segmentada e pouco generalizante, e como nosso intuito é, na verdade, identificar a invariância dos procedimentos aspectuais do tempo a partir da variabilidade de recursos que o texto comporta, os quadros – referentes aos textos extraídos, em ordem cronológica, respectivamente, dos jornais O Globo on-line e O Dia on-line – servem aqui de apoio para o reconhecimento dos temas das trinta e duas notícias que formam nosso objeto de estudo.

TÍTULO DA NOTÍCIA RESUMO DO CONTEÚDO

“Em dia tenso, Dilma faz reuniões para Negociações realizadas por Dilma Rousseff e avaliar clima no Congresso” sua equipe com o intuito de garantir a aprovação de um projeto de lei do Executivo (PNL 5), que autorizava a mudança da meta fiscal do ano de 2015. “Cunha aceita pedido de impeachment contra Anúncio feito pelo Presidente da Câmara, Dilma” Eduardo Cunha, sobre a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff. “Aliados preparam ofensiva para levar Negociações entre líderes políticos para PMDB ao comando do país” garantir o impeachment e um futuro e governo de , vice-presidente à época. “Impeachment: Quando Dilma encontra Semelhanças entre o período do processo de Collor” impeachment vivido por Dilma com o momento de impeachment vivenciado pelo presidente deposto em 1992, Fernando Collor. “Placar parcial da comissão daria vitória a Adiamento da divulgação completa dos nomes Dilma” dos componentes da comissão que decide sobre a autorização ou não do pedido de impeachment contra Dilma Rousseff porque ainda não há votos necessários para garantir prosseguimento do processo. “Lula compara momento vivido pelo Brasil a Análise do ex-presidente Lula sobre o período ‘trem descarrilado’” enfrentado pelo governo Dilma após o acatamento do pedido de impeachment. “Oposição diz que carta de Temer é sinal de Dirigentes do PSDB analisam a relação entre ruptura irreversível” Temer e Dilma (ex-presidente e presidente à época), depois de Temer enviar a Dilma uma carta em que revela sua disposição de se manter distante da presidente durante o processo de impeachment. 87

“Temer mira na base aliada e acena com Negociações entre líderes políticos para espaço num eventual governo” acertos de cargos em um futuro e eventual governo de Michel Temer. “Decisão do STF sobre Lula repercute na Maneira de divulgação da imprensa imprensa internacional” internacional sobre a decisão do STF em negar o pedido de habeas corpus de Lula. “Aliados de Lula criticam rapidez do pedido Declarações de apoiadores e de opositores de de prisão de Lula” Lula sobre o decreto de seu pedido de prisão realizado pelo juiz Sérgio Moro. “Atos pró-Lula acontecem em ao menos 22 Manifestações ocorridas pelo Brasil em apoio estados e no DF” ao ex-presidente Lula, após seu pedido de prisão ser decretado pelo juiz Sérgio Moro. “Ministro de Temer foi ao Qatar tratar de Relato de várias viagens realizadas pelo Carlos temas privados com diárias da Câmara” Marun enquanto era apenas deputado federal e durante os quatro meses em que assumiu o cargo de ministro no governo de Temer. “Temer vê ‘momento difícil’ na política e Pronunciamento do presidente Temer após a prega cumprimento da Constituição” prisão de Lula. “Em busca de união na base aliada, Temer Articulação do governo para votação de recebe líderes no Planalto” matérias, como a privatização da Eletrobras, no Congresso.

“Governo quer destinar R$ 1,3 bi para cobrir Preparação de projeto de lei que destina calote de Venezuela e Moçambique” recursos para o pagamento de dívidas da Venezuela e de Moçambique.

“Com avanço de inquérito, Temer cancela ida Desistência de Temer de viajar para ao Sudeste Asiático” compromissos presidenciais na semana em que sua filha Maristela prestará depoimento à Polícia Federal. QUADRO 11: Síntese das notícias do corpus, extraídas de O Globo on-line

TÍTULO DA NOTÍCIA RESUMO DO CONTEÚDO

“Abandonado pelo PT, Cunha acata impeachment de Anúncio do Presidente da Câmara, Eduardo Dilma Rousseff” Cunha, sobre a abertura de processo de impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff. Declaração feita logo após a decisão de deputados petistas votarem a favor do prosseguimento de processo de cassação de mandato de Eduardo Cunha. “Imprensa internacional repercute processo Maneira de divulgação da imprensa de impeachment de Dilma” internacional sobre o pedido de impeachment contra Dilma Rousseff. 88

“Cunha rebate Dilma e afirma que presidente mentiu Declarações de Cunha sobre ações realizadas quando diz que não barganhou” por Dilma Rousseff e relato sobre o processo de Cunha no Conselho de Ética. “Dilma diz que vai defender mandato e volta a atacar Declarações de Dilma sobre a idoneidade de Cunha” seus atos políticos e encontro da então presidente com o presidente argentino,

Maurício Macri. “Eduardo Cunha adia definição de nomes para Adiamento da definição dos nomes dos comissão do impeachment” componentes da comissão que decide sobre a autorização ou não do pedido de impeachment contra Dilma Rousseff. “Abertura de pedido de cassação de Eduardo Cunha Sétimo adiamento da decisão do Conselho de fica para o dia 15” Ética sobre a abertura do processo de cassação de Eduardo Cunha. “Cunha diz que operação da PF quer tirar foco do Ação da Polícia Federal em propriedades de impeachment de Dilma” Eduardo Cunha e de outros integrantes do PMDB. “Para Cunha, escapar do impeachment não dará a Declarações de Cunha sobre as consequências Dilma governabilidade” que ele considera resultantes do processo de impeachment de Dilma, caso a presidente permaneça no cargo. “Imprensa mundial repercute negativa de habeas Maneira de divulgação da imprensa corpus a Lula no STF” internacional sobre a decisão do STF em negar o pedido de habeas corpus de Lula. “Temer faz reunião com interventor, ministro Reunião entre Temer e outras autoridades para da defesa e general do Gabinete de tratar sobre questão orçamentária para ações da Segurança” intervenção federal no Rio de Janeiro “Prisão de Lula fora do prazo” Não cumprimento de Lula do prazo estipulado para sua entrega à Polícia Federal.

“Cármen Lúcia vai assumir a Presidência da República Presidente do Supremo Tribunal Federal hoje” assume interinamente a Presidência da República. “Temer se reúne com Maia para tratar de Eletrobras e Reunião entre Presidente da República e reoneração da folha” Presidente da Câmara para conversa de questões em tramitação no Congresso. “Temer reúne ministros para debater pauta do Reunião entre agentes políticos para conversa Congresso Nacional” de assuntos em tramitação no Congresso Nacional. “Objetivo é superar barreiras regulatórias entre Brasil e Assinatura de Acordo de Cooperação e Chile, diz Temer” Facilitação de Investimentos entre Brasil e Chile. “Michel Temer adia novamente viagem à Ásia, que Desistência de Temer de viajar para ocorreria em maio” compromissos presidenciais na Ásia. QUADRO 12: Síntese das notícias do corpus, extraídas de O Dia on-line 89

Após a seleção dessas 32 notícias, utilizamos os fundamentos teóricos da semiótica como nossa metodologia para análise qualitativa dos procedimentos de aspectualização temporal nesses textos. Em cada texto jornalístico, apreciamos: (1) as avaliações, as graduações e os acentos relativos ao ponto de vista do observador sobre a categoria do tempo, apreendido como um processo, no enunciado; (2) os recursos textuais pelos quais cada procedimento aspectual foi discursivizado; (3) os efeitos de sentido que a aspectualização temporal produz nos discursos. Por fim, examinamos quais foram as estratégias mais frequentes em cada jornal e fizemos um estudo comparativo dos dois veículos de comunicação examinados.

Sabendo que o objeto de análise não é nunca “fechado nem exaustivo, mas representativo apenas” e cientes de que “os modelos com cuja ajuda se procurará explicá- los serão hipotéticos, projetivos e preditivos” (GREIMAS; COURTÉS, 1979, p. 89), não há a pretensão de que essa amostra promova o esgotamento do assunto. Nossa intenção aqui é, antes, averiguar de que modo os procedimentos aspectuais de tempo atuam na construção de sentido dos textos jornalísticos sobre política nacional. Além disso, objetivamos também perceber se há recorrências, semelhanças e/ou diferenças entre os textos e os jornais analisados capazes de indicar tanto certas características que marcam o gênero notícia sobre política nacional, quanto indícios da visão de mundo defendida por cada veículo.

4.2 A aspectualização do tempo em O Globo on-line

A partir de agora, nossas discussões estarão voltadas ao reconhecimento e à análise dos mais recorrentes procedimentos de aspectualização temporal utilizados nas notícias de O Globo on-line. Neste estudo, atentaremos tanto para quais os efeitos de sentido que a apreensão aspectual do tempo produz nos textos sobre política nacional, bem como para de que modo esse recurso pode atuar nos discursos como uma estratégia argumentativa. Com o intuito de dar unidade a esta pesquisa, não realizaremos aqui um exame pontual da aspectualidade nos enunciados isolados das notícias. Ao contrário, a presente investigação pretende-se mais geral e abrangente, a fim de indicar de que forma a aspectualização do tempo colabora com a estruturação e a organização dos conteúdos mais relevantes dos textos.

90

4.2.1 A duração das ações

Após o exame das notícias extraídas de O Globo on-line, pudemos perceber, no que diz respeito ao ponto do processo temporal pelo qual o observador estrutura as cenas enunciativas, uma recorrência que nos chamou bastante a atenção. Em onze das dezesseis matérias desse periódico que formam nosso objeto de estudo – o que corresponde a quase 70% do corpus aqui analisado –, o observador imprimiu uma avaliação28 sobre a duração das ações desenvolvidas. Nesses onze textos, a duração foi ora considerada breve, como decorrente de intervalo de tempo encurtado por conta de um andamento mais acelerado, ora foi tomada como longa, estendida no tempo, revelando diferentes modulações nos discursos. São exatamente esses usos aspectuais que veremos detalhadamente a seguir.

4.2.1.1 A duração estendida

Para que um observador apreenda a duração de um evento como longa, é preciso sempre que ele parta de um julgamento que define qual é sua expectativa para duração das ações, ou seja, qual é a duração que ele considera como justa para cada evento. Relacionando-se, então, ao modo subjetivo pelo qual um determinado observador vai avaliar os fatos, a apreciação de que um dado evento se estendeu ou ainda se estende excessivamente no tempo faz surgir nos textos, mesmo jornalísticos, diferentes efeitos de sentido, que, muitas vezes, atuam, inclusive, como uma estratégia argumentativa para a defesa de um ponto de vista do enunciador ou de um actante do discurso.

De acordo com as contribuições de Zilberberg (2006; 2011) com a semiótica tensiva, a duração, conforme salientamos em nosso terceiro capítulo, é modulada a partir da relação inversa entre a subdimensão intensiva do andamento, regente, e a subdimensão extensiva da temporalidade, regida. Tal como afirma Gomes,

[...] o andamento rápido ou lento, ao recair sobre a temporalidade, produz a duração, que pode ser mais ínfima ou extensa, fazendo surgir a pontualidade ou a eternidade, a depender da velocidade do processo. Se o andamento é acelerado, ocorre o sobrevir: há uma condensação do tempo, uma antecipação iminente, o acontecimento é apreendido concessivamente, como um espanto – a perfectividade, a descontinuidade e a pontualidade explicam esse processo tônico. Se o andamento é desacelerado, a duração se desenrola implicativamente, as etapas são percebidas em seu desenrolar – a

28 Neste trabalho, ao fazermos referência à avaliação sobre a duração das ações, estamos considerando um crivo perceptivo aspectual do tempo, estruturado a partir da expectativa de um observador inscrito no enunciado, que julga, por exemplo, se a temporalidade das ações é longa ou breve ou se os eventos são antecipados ou adiados. 91

imperfectividade, a continuidade e a duratividade são o modo de expressão da aspectualidade mais extensa (GOMES, 2018, p. 114).

Nesta seção, trataremos de eventos do segundo tipo, ou seja, de eventos tomados pelos observadores como desacelerados, o que faz alongar sua temporalidade. Em O Globo on-line, essa forma de apreciação do tempo mostrou-se reincidente em sete notícias, o que corresponde a mais de 40% do corpus extraído desse periódico. Nesse conjunto, a aspectualização temporal por uma duração estendida foi realizada preponderantemente por observadores em sincretismo com interlocutores debreados no texto, mas também se fez presente pela perspectiva de observadores em sincretismo com o narrador das notícias.

Em todos esses sete textos, as ações avaliadas como muito alongadas pelos observadores foram apresentadas como ainda inacabadas, não se encontrando, portanto, concluídas. No entanto, por vezes, o observador, apesar de julgar que o tempo do desenrolar das ações foi estendido, avalia que o evento já está próximo do fim:

— Um dia histórico para o Brasil. Finalmente está sendo preso o ex-presidente Lula, chefe de uma das maiores organizações criminosas com o dinheiro público. [...] – disse [o líder do PPS, deputado Alex Manente (SP)] (Aliados de Lula criticam rapidez do pedido de prisão de Lula, O Globo on-line, 05/04/2015, grifos nossos). Como se pode ver, o ator, figurativizado como o deputado Alex Manente, considera que o processo jurídico contra Lula sobre o suposto recebimento de propinas e de vantagens pelo ex-presidente está em seus momentos finais, uma vez que, após a condenação do ator Lula e a negativa de seu habeas corpus, ele “está sendo preso”, nesse “dia histórico para o Brasil”. Contudo, embora tome essa ação pelo aspecto terminativo, referente a seus últimos momentos, o interlocutor Alex Manente faz questão de expor seu crivo de que a duração de toda a ação até a prisão do ex-presidente foi, segundo sua perspectiva, demasiadamente longa, como explicita o advérbio “Finalmente”, em que fica clara a ideia de fim a um evento considerado com uma temporalidade extensa.

Por outro lado, em todas as outras seis notícias de O Globo on-line cuja duração de um evento é julgada como mais longa, o observador apreende as ações após seus primeiros momentos, mas ainda distante de seu término, enfatizando, então, a sua longa continuidade. Podendo ser apreendidos com perspectiva télica ou não, esses eventos têm, nas notícias, uma duração mais arrastada do que a que é considerada justa por seus observadores. 92

Curiosamente, é essa a forma de apreciação das ações em um conjunto de cinco notícias de nosso corpus que igualmente tratam do tema da crise. Assunto recorrente nos dois períodos temporais aqui examinados, a crise, ou as dificuldades econômicas e políticas vividas pelo país, foi avaliada pelos observadores por uma duração tão estendida que chegou a produzir nas notícias um efeito de imperfectividade:

Apesar da crise aguda que o governo enfrenta, participantes da reunião com a presidente relataram que ela estava serena e confiante de que o projeto será aprovado [...]. Além desse projeto, o governo ainda precisa aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias e o Orçamento de 2016, a Desvinculação de Receitas da União, e o projeto que legaliza ativos enviados irregularmente para o exterior até o recesso parlamentar que se iniciará dia 22 de dezembro. Outro problema a ser resolvido por Dilma é decidir quem assumirá a liderança do governo no Senado após a prisão de Delcídio Amaral (PT-MS). (Em dia tenso, Dilma faz reuniões para avaliar clima no Congresso, O Globo on-line, 01/12/2015, grifos nossos).

[...] Se Collor lidou com atos [populares] apenas no auge de sua derrocada, Dilma arrasta essa situação há, ao menos, um ano. (Impeachment: quando Dilma encontra Collor, O Globo on-line, 06/12/2015, grifos nossos).

— É um momento de enorme gravidade e é muito importante que oposições estejam unidas para enfrentar esse momento de enorme turbulência, essa crise moral, econômica e social sem precedentes na qual o governo do PT e presidente Dilma mergulharam o país. — disse [Aécio Neves]. (Oposição diz que carta de Temer é sinal de ruptura irreversível, O Globo on-line, 08/12/2015, grifos nossos).

— É inaceitável a prisão de Lula por uma razão simples: é mais um capítulo do golpe [...]. [discurso do deputado Marcelo Freixo, do PSOL]. (Atos pró- Lula acontecem em ao menos 22 estados e DF, O Globo on-line, 06/04/2018, grifos nossos).

— Nós precisamos saber que nós saímos de um momento difícil do país (na questão econômica). Continuamos num momento difícil também sob o foco político e temos que seguir adiante. E seguir adiante significa cumprir exatamente a normatividade nacional, cumprir a Constituição, cumprir rigorosamente o sistema normativo constitucional — discursou Temer [...] (Temer vê ‘momento difícil’ na política e prega cumprimento da constituição, O Globo on-line, 09/04/2018, grifos nossos).

Em todos esses trechos, principalmente pelas passagens destacadas, é possível perceber que o observador toma a “crise” ou o “momento difícil” como um evento cuja duração é bastante alongada. Seja pelo uso do verbo no presente – em “crise aguda que o governo enfrenta” (no primeiro trecho), em “Dilma arrasta essa situação” (no segundo exemplo) e em “continuamos num momento difícil” (no quinto trecho transcrito) – ou pela própria semântica de palavras como “continuar”, “arrastar” e “ainda”, notamos que todos os observadores consideram os eventos por uma duratividade ampliada. 93

Expressões como “outro problema a ser resolvido por Dilma” (primeiro exemplo) e “mais um capítulo do golpe” (quarto exemplo), presentes nos trechos destacados, também manifestam a ideia de uma delonga na duração do evento. Isso se dá, pois, ao indicarem uma sequência de fatos da mesma natureza, essas construções trazem a ideia de continuidade para a crise, já que as ações vão se desenrolando em “capítulos” e apresentando “outros problemas”.

Mesmo quando há o uso do pretérito perfeito, como em “crise [...] na qual o governo do PT e presidente Dilma mergulharam o país” (terceiro trecho transcrito), não há qualquer avaliação de que a crise está já concluída. Ao contrário, o verbo no pretérito perfeito, nesse contexto, evidencia tanto a concretização do problema enfrentado, que se encontra já instalado na realidade do país, quanto a sua maior temporalidade, uma vez que a noção semântica do verbo “mergulhar”, nesse caso, faz referência a uma ação que foi se acentuando com o passar de um tempo, necessariamente, durativo.

Por todas essas passagens discursivizarem a perspectiva de observadores que tomam a crise por um intervalo temporal estendido, sem a consideração de bordas, de limites ou de conclusão, há, nessas cinco notícias com trechos acima transcritos, a apreensão do problema econômico e/ou político em andamento no país por uma imperfectividade. É interessante, contudo, identificar que essa forma de aspectualização do tempo atua nos textos, na verdade, como uma estratégia argumentativa utilizada para a defesa dos pontos de vistas do narrador e dos actantes das matérias jornalísticas.

Figurativizados nos textos como oposição ao governo vigente em cada época, os interlocutores Aécio Neves, em “Oposição diz que carta de Temer é sinal de ruptura irreversível” (O Globo on-line, 08/12/2015), e Marcelo Freixo, em “Atos pró-Lula acontecem em ao menos 22 estados e DF” (O Globo on-line, 06/04/2018), tomam a duração estendida e imperfectiva da crise, ou do “golpe” político, como justificativa para suas objeções aos governos de Dilma e de Temer, respectivamente. Desse modo, as críticas feitas por eles ao poder em exercício são postas como consequência da longa duração do problema político e/ou econômico do país, o que evidencia suas interpretações disfóricas à atuação dos governantes, que não produz o efeito necessário para dar fim à crise.

Também a avaliação da crise pela imperfectividade por parte do narrador das notícias “Em dia tenso, Dilma faz reuniões para avaliar clima no Congresso” (O Globo 94 on-line, 01/12/2015) e “Impeachment: Quando Dilma encontra Collor” (O Globo on-line, 06/12/2015) concretiza a perspectiva defendida no texto. Ambas referentes ao governo de Dilma, essas matérias, ao explicitarem a subjetividade nos discursos jornalísticos, indicam, de certo modo, a apreciação do enunciador de O Globo on-line sobre o governo desenvolvido por Dilma.

Ao expor reincidentemente o julgamento de que a gestão de Dilma Rousseff está marcada por uma crise alongada – “crise aguda que o governo enfrenta” (Em dia tenso, Dilma faz reuniões para avaliar clima no Congresso, O Globo on-line, 01/12/2015) e “Dilma arrasta essa situação [atos populares] há, ao menos, um ano” (Impeachment: Quando Dilma encontra Collor, O Globo on-line, 06/12/2015) –, o narrador dessas duas notícias mostra que o governo em exercício tem sérios e durativos problemas. Assumidas pela voz do narrador, essas avaliações da crise por uma duração alongada e imperfectiva parecem marcar o ponto de vista defendido pelo jornal nesse período, que julga negativamente o mandato presidencial de Dilma.

Por fim, a duração estendida pela qual uma ação política foi apreciada pôde ser vista ainda, dentre as notícias de O Globo on-line, como resultante de ações intencionalmente realizadas por actantes dos enunciados. Na matéria “Placar parcial da comissão daria vitória a Dilma” (O Globo on-line, 07/12/2015), os sujeitos, parecendo ignorar regimentos legais, prazos normativos ou determinações institucionais, propositalmente, desaceleram o andamento do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, estendendo a temporalidade de algumas de suas etapas:

BRASÍLIA — O placar parcial da Comissão especial que irá analisar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff apresenta vitória para ela. Da lista de 65 deputados, 23 são contra, 13 a favor e 29 ainda são indefinidos. A lista completa deveria ter sido apresentada nesta segunda-feira, até às 18h, mas o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), adiou para o início da tarde de amanhã a formação da comissão. Ainda sem a adesão necessária para levar o impeachment adiante, líderes da oposição vão protelar o máximo possível a escolha dos nomes. A avaliação dos dirigentes é que, se o processo andar muito rápido, "o governo leva". O melhor cenário para integrantes do PSDB e DEM é que a análise do processo só fique para depois do Carnaval, em fevereiro. O que os daria tempo suficiente para mobilizar as ruas e, assim, pressionar parlamentares. - Estamos enrolando para embolar essa nomeação. Queremos que todo o processo demore para garantir que a análise fique para depois do Carnaval. Vamos tocando sem pressa alguma. Porque, se for muito rápido, o governo leva essa - disse um dirigente tucano. (Placar parcial da comissão daria vitória a Dilma, O Globo on-line, 07/12/2015, grifos nossos).

95

Conforme se pode constatar, com o intuito de alongar a duração do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, atores, figurativizados como “líderes da oposição”, atuam de modo a desacelerar a temporalidade dos ritos do impedimento. Para isso, deixam, inclusive, de cumprir prazos estipulados, fazendo com que a duração do processo de impeachment seja estendida.

É o que pode ser visto, por exemplo, no trecho “deveria ter sido apresentada nesta segunda-feira, até às 18h” (Placar parcial da comissão daria vitória a Dilma, O Globo on-line, 07/12/2015, grifos nossos). Nessa passagem, o emprego do futuro do pretérito e da preposição “até” mostra que a ação que concretizaria o término obrigatório de uma etapa não foi realizada. Também o gerúndio na expressão “– Estamos enrolando”, a semântica dos verbos “enrolar”, “protelar” e “adiar” e a negação da pressa, em “sem pressa alguma”, expressam todo o esforço desses “líderes da oposição” para assegurar a maior duração no desenrolar do processo de impeachment.

O interessante, porém, é o motivo pelo qual esses sujeitos agem de forma a alongar esse evento. Conforme assinala o narrador, em “Ainda sem a adesão necessária para levar o impeachment adiante, líderes da oposição vão protelar o máximo possível”, e um interlocutor, caracterizado como um “dirigente tucano”, debreado no discurso, em “Porque, se for muito rápido, o governo leva essa – disse um dirigente tucano” (Placar parcial da comissão daria vitória a Dilma, O Globo on-line, 07/12/2015, grifos nossos), a causa para a duração alongada do processo de impeachment é a falta de votos necessários para a garantia de um desfecho segundo o que esses “líderes da oposição” desejam.

Ao estenderem, intencionalmente, o desenvolvimento de um evento apenas com o interesse de ter um desfecho que lhes agrade, esses sujeitos evidenciam que, em alguns casos, ações políticas são baseadas em motivações mais pessoais que coletivas, o que em nada se relaciona com democracia.

Desse modo, percebe-se que, ao tomar as ações por uma duração que se alonga no tempo, os actantes acabam por construir nos textos diferentes efeitos de sentido. Seja revelando seu posicionamento político, mesmo no caso de narradores jornalistas que tendem a simular isenção, ou demonstrando os interesses pessoais como motivadores de atitudes políticas, o estudo desse procedimento aspectual do tempo nos textos sobre política nacional possibilitou que entendêssemos mais tanto sobre como os jornais 96 discursivizam as estratégias presentes nos meios políticos, quanto sobre os recursos aspectuais utilizados com finalidade argumentativa.

4.2.1.2 A duração breve

Assim como adiantamos em passagem precedente desta análise, a duração das ações narradas nos textos extraídos de O Globo on-line, nos dois períodos temporais aqui averiguados, também foi percebida por um encurtamento, por uma condensação de suas etapas. Nesses casos, o observador, em sincretismo tanto com actantes do enunciado, quanto com o narrador das notícias, julga que o desenvolvimento dos eventos se dá em um tempo menor que o esperado ou considerado justo para sua realização.

Aplicando a perspectiva da semiótica tensiva a este estudo aspectual mais restrito que nos propomos a fazer, a duração breve dos fatos pode ser explicada, conforme já sinalizado, como resultado de uma modulação afetiva feita pelo observador dos textos. Baseado em suas expectativas particulares e no modo como sente o processo das ações, o observador imprime um andamento mais acelerado aos eventos, o que, implicativamente, faz diminuir sua temporalidade.

Nas notícias de O Globo on-line presentes em nossa amostra, essa maneira de aspectualização revelou formas peculiares de apreensão do tempo por parte dos observadores. Tal como visto nos textos políticos em que as ações foram avaliadas por uma duração estendida, também para os casos em que as ações são apreciadas como encurtadas, a maneira como certos actantes julgam os eventos varia totalmente a depender de quem são esses sujeitos, se apoiadores ou opositores de um governo ou de um actante, se protagonistas ou antagonistas das ações:

Aliados de Lula criticam rapidez do pedido de prisão de Lula [...] BRASÍLIA — Imediatamente após a publicação da notícia da decretação da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aliados dos petistas conclamaram nas redes sociais os apoiadores a reagirem e reclamaram da rapidez da decisão do juiz federal Sergio Moro, da 13ª Vara de Curitiba. [...] O líder do PCdoB na Câmara, deputado Orlando Silva (SP), disse que a decisão foi um "atropelo completo". Para ele, a decisão surpreendeu a todos, e significa uma "sanha" para prender o ex-presidente. — Surpreendente a decisão do TRF-4 e do juiz Moro. Ontem mesmo o país inteiro assistia ao julgamento do Supremo Tribunal Federal e no mesmo dia em que o julgamento é concluído o TRF toma essa decisão? É um atropelo completo. É uma sanha para prender o presidente Lula. É o fim da picada, uma sanha que não há limite disse Silva. 97

[...] O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), em vídeo publicado nas redes sociais, declarou que "não aceita" a decisão do juiz Sérgio Moro e que participará de uma "grande vigília" em São Bernardo do Campo (SP): — Isso é algo extremamente grave, inaceitável, nós não esgotamos todos os recursos no TRF-4 e isso significa uma enorme violência institucional, uma violência contra o maior líder popular da História deste país — disse Paulo Pimenta. O líder do PSB na Câmara, deputado Júlio Delgado (MG), disse que a decisão foi estranhamente célere, e que contribui para acirrar o clima beligerante que se viu ao longo de quarta-feira durante o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) do habeas corpus do ex-presidente. — Botaram os pés pelas mãos. Ontem o Brasil estava tomado por um clima de disputa beligerante em torno da prisão. Ainda restavam recursos a serem analisados, ninguém esperava que essa prisão fosse ser decretada ainda hoje. Todos imaginavam que o TRF 4 e Moro esperariam a poeira baixar. Não esperaram nem o prazo de publicação da decisão do STF. Houve uma celeridade fora do comum. Quiseram executar a pena rapidamente, e isso só agudiza o sentimento de beligerância — afirmou (Aliados de Lula criticam rapidez do pedido de prisão de Lula, O Globo on-line, 05/04/2015, grifos nossos).

Figurativizados, no título e no subtítulo da notícia, como “aliados de Lula” ou “aliados dos petistas”, os atores, cujas vozes são debreadas no texto, criticam a “rapidez” da ação de pedido de prisão do ex-presidente Lula, após a negativa de seu habeas corpus no STF. Segundo o interlocutor Orlando Silva, caracterizado como um “líder do PCdoB na Câmara”, e o interlocutor apresentado como Júlio Delgado, “líder do PSB na Câmara” e apoiador de Lula, a atitude do sujeito Sérgio Moro foi realizada tão rapidamente, ou seja, teve um andamento tão acelerado depois da decisão do STF, que só pode ser considerada por eles, respectivamente, como um “atropelo completo” e com uma “celeridade fora do comum” (Aliados de Lula criticam rapidez do pedido de prisão de Lula, O Globo on-line, 05/04/2015).

Enfatizando a velocidade com que, de acordo com suas perspectivas, esse evento foi concluído pelo substantivo “atropelo” e “celeridade”, cujas noções semânticas indicam aceleração, esses interlocutores mostram que o decreto da prisão de Lula não era esperado por ninguém naquele momento (“ninguém esperava que essa prisão fosse ser decretada ainda hoje”), porque a ação de Sérgio Moro não esperou “nem o prazo de publicação da decisão do STF” e porque “Ainda restavam recursos a serem analisados”.

O que o texto nos mostra, contudo, com a figurativização dos atores cujas perspectivas são expostas no enunciado como “aliados de Lula”, é que seus julgamentos são decorrentes do apoio subjetivo, particular, que cada um presta ao ex-presidente. Também ao discursivizar na notícia a perspectiva de atores (como o deputado Alex 98

Manente, conforme discutido na seção anterior) que aspectualizam todo o evento que culminou no mandado de prisão de Lula por uma duração estendida, o enunciador acaba por evidenciar que a apreensão aspectual do tempo de uma ação é algo subjetivo e decorrente de modulações afetivas de cada sujeito.

No entanto, essa subjetividade não fica, conforme já foi debatido e demonstrado, restrita a atores dos enunciados. Também o narrador das notícias inscreve no enunciado uma avaliação particular do tempo de duração de um evento:

Desde que se tornou ministro, em dezembro do ano passado, Marun já fez ao menos sete encontros oficiais com autoridades do Kuwait, da Líbia, da Tunísia, do Iraque e do Líbano. O GLOBO solicitou os registros dos encontros do ministro com esses embaixadores por meio de Lei de Acesso à Informação, mas em nenhuma dessas reuniões foi produzida uma ata. Na última semana, Marun também esteve com o presidente Michel Temer no Fórum Econômico Brasil-Países Árabes, em São Paulo. Seu antecessor no cargo, o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), não registrou agendas com essas autoridades ao longo de quase um ano (Ministro de Temer foi ao Qatar tratar de temas privados com diárias da Câmara, O Globo on-line, 07/04/2018, grifos nossos).

[...] Na última quarta-feira, horas antes do anúncio da decisão de Eduardo Cunha de acatar o pedido de impeachment, Temer recebeu senadores do PSDB e do DEM. Os tucanos já discutem com setores do PMDB um eventual governo de transição. (Aliados preparam ofensiva para levar PMDB ao comando do país, O Globo on-line, 05/12/2015, grifos nossos).

[...] Além das sinalizações de compartilhamento do poder, integrantes da base relatam que interlocutores de Michel Temer já começaram a fazer acenos com cargos em um eventual governo do peemedebista. (Temer mira na base aliada e acena com espaço num eventual governo, O Globo on-line, 13/12/2015, grifos nossos).

Conforme se pode perceber por esses trechos transcritos, nessas três notícias é o narrador que julga o tempo de desenvolvimento de determinadas ações dos actantes nos textos. Considerando, nos três textos, que as ações são realizadas em um intervalo de curta duração temporal, o narrador imprime seu ponto de vista nos discursos, já que a duração de cada evento é analisada como breve a partir do que, segundo a visão de cada narrador, seria considerado adequado.

Em “Ministro de Temer foi ao Qatar tratar de temas privados com diárias da Câmara” (O Globo on-line, 07/04/2018), o narrador apreende o tempo do ator no cargo de ministro como muito breve para que tenham sido realizados tantos “encontros oficiais”. Isso fica claro quando o narrador sinaliza o ponto em que as atividades do ator Marun como ministro se iniciaram, textualizado pela conjunção incoativo-durativa “desde que” (cf. FIORIN, 2016 [1996], p. 158), e quando apresenta a 99 avaliação de que esse período, começado “em dezembro do ano passado”, compreende uma grande quantidade de ações oficiais concluídas, manifestado pelo emprego do advérbio “já”.

Além disso, a iteratividade expressa por “ao menos sete” eventos dessa natureza é apreciada por esse narrador como incomum para uma temporalidade tão breve de sua atuação como ministro, uma vez que o ministro antecessor no cargo “não registrou agendas com essas autoridades ao longo de quase um ano” (Ministro de Temer foi ao Qatar tratar de temas privados com diárias da Câmara, O Globo on-line, 07/04/2018). Com a comparação entre os mandatos dos dois ministros, o narrador dessa notícia reforça a ideia de que a quantidade de eventos realizados por Marun é muito elevada para o tempo em que esse ator está em seu cargo político.

Revelando, então, um ponto de vista que toma os eventos desenvolvidos por Marun nesse curto período de tempo como fora de uma regularidade, o narrador, ao expor que em “nenhuma dessas reuniões foi produzida uma ata” (Ministro de Temer foi ao Qatar tratar de temas privados com diárias da Câmara, O Globo on-line, 07/04/2018), acaba por sugerir que não só a duração para a ocorrência de tantos encontros oficiais está fora dos padrões políticos, mas que também o modo como as próprias ações desse ator se realizam pode estar em desacordo com os parâmetros exigidos para o cargo público. Dessa maneira, esse narrador aspectualiza o intervalo de tempo do mandato de Marun como breve em relação à iteratividade de suas viagens para fazer crer que esse político pode agir de forma não idônea nesses “encontros oficiais” não registrados em documentos.

Nas duas outras notícias, “Aliados preparam ofensiva para levar PMDB ao comando do país” (O Globo on-line, 05/12/2015) e “Temer mira na base aliada e acena com espaço num eventual governo” (O Globo on-line, 13/12/2015), que fazem referência a negociações principiadas por opositores de Dilma para um governo de sucessão ao seu mandato, realizadas dias após o acatamento que deu origem ao processo de impeachment pelo qual a então presidente foi julgada, o narrador de cada texto avalia as ações dos “tucanos” e de “interlocutores de Michel Temer” como antecipadas, conforme sinaliza o advérbio “já” presente nos dois trechos das transcrições das notícias citadas anteriormente. 100

Por considerar que é cedo para o início de ações de “discutir com setores do PMDB um eventual governo de transição” (Aliados preparam ofensiva para levar PMDB ao comando do país, O Globo on-line, 05/12/2015) e de “começar a fazer acenos com cargos em um eventual governo” (Temer mira na base aliada e acena com espaço num eventual governo, O Globo on-line, 13/12/2015), o narrador de cada notícia julga que esses atores abreviam demasiadamente o fim do governo Dilma, ainda em desenvolvimento.

Contudo, esse mesmo narrador da notícia do dia 13 de dezembro de 2015 acima citada, que avalia as ações dos atores de discutir sobre um novo governo como antecipadas para o momento, também abrevia o mandato de Dilma, gerando a interpretação de que ele já está em seus momentos finais.

Representantes partidários que estiveram em conversas com Temer nos últimos dias dizem que o mais importante agora é ficar claro que será um governo de “união nacional”, e não apenas do PMDB. (Temer mira na base aliada e acena com espaço num eventual governo, O Globo on-line, 13/12/2015, grifos nossos).

Em “o mais importante agora é ficar claro que será um governo de ‘união nacional’, e não apenas do PMDB”, o narrador, embora em referência, pelo discurso indireto, a afirmações de “representantes partidários”, ao empregar o modo indicativo no verbo “ser”, faz surgir um efeito de certeza em relação ao futuro governo de Temer, ainda em um período em que o impeachment estava em seus primeiros momentos. Ao não utilizar, nesse trecho, nenhum modalizador indicativo de possibilidade ou mesmo de probabilidade, como, por exemplo, o uso do adjetivo “eventual” qualificando “governo”, como aparece no título, ou o emprego do futuro do pretérito do verbo, o narrador também parece estar certo de que o mandato de Dilma se encontra nas suas etapas finais.

Também é o narrador de “Decisão do STF sobre Lula repercute na imprensa internacional” (O Globo on-line, 05/04/2018) que, pela debreagem que instala no enunciado, constrói no texto uma noção de que a carreira política de Lula está em seu fim:

O "Le Monde", [...] "Lugar onde, para o antigo operário da fábrica Volkswagen, tudo começou, e onde tudo terminou abruptamente". Já o "Le Figaro" foi mais direto em seu título: "Lula nas portas da prisão". Essa mesma ideia de término da carreira foi adotada pelos jornais "La Repubblica", da Itália, e "Washington Post", dos Estados Unidos. Para formar a primeira frase da reportagem que repercute a decisão do STF, bastou apenas para o italiano dizer: "Acabou", seguido de: "Luiz Inácio Lula da Silva acabará na cadeia". 101

Já o americano afirmou que o STF decidiu que o ex-presidente deve ser preso antes que possa apelar de uma condenação por corrupção, "extinguindo efetivamente a carreira de 40 anos de um dos políticos mais influentes da história moderna do Brasil". (Decisão do STF sobre Lula repercute na imprensa internacional, O Globo on-line, 05/04/2018, grifos nossos).

Como se pode ver, nessa notícia, os observadores em sincretismo com os interlocutores figurativizados como jornais da imprensa mundial apreciam que a carreira política de Lula está, com a negativa de seu habeas corpus pelo STF, acabada. Ao utilizarem verbos com valor semântico aspectual terminativo e perfectivo, como “terminar”, “acabar” e “extinguir”, esses interlocutores debreados na notícia julgam como abreviada subitamente a duração da atividade política do sujeito Lula.

O uso do pretérito perfeito pelo interlocutor Le Monde, em “terminou abruptamente”, e pelo interlocutor “La Repubblica”, em “Acabou”, também geram no texto a ideia de acabamento, de conclusão, de perfectividade, para a vida de Lula como político. De igual modo, o advérbio “efetivamente”, presente no trecho “extinguindo efetivamente a carreira de 40 anos de um dos políticos mais influentes da história do Brasil” (Decisão do STF sobre Lula repercute na imprensa internacional, O Globo on- line, 05/04/2018), concretiza a noção de que, de acordo com o interlocutor “Washington Post”, após a decisão do STF, a atuação política de Lula chega a seu fim irreversível.

Embora delegando a apreensão do tempo por uma abreviação da duração, que chega até a produzir um efeito de terminatividade da carreira do ator Lula a outros interlocutores pelo recurso da debreagem interna, há uma unidade nas visões que esse narrador seleciona e projeta nos textos, indicando uma orientação argumentativa no discurso. Longe de ser aleatória, essa triagem de quais jornais citar no texto é balizada pelo ponto de vista do narrador. Dessa forma, ao parecer ser imparcial por não mostrar explicitamente sua avaliação sobre o episódio relatado, o narrador, na verdade, expõe a própria ideologia que orienta seu discurso.

Nesse sentido, o modo pelo qual os fatos são tomados nas notícias muito dizem sobre as perspectivas defendidas nos textos. Ora evidenciando que algumas ações são precipitadas e que o tempo para o desenvolvimento de determinados eventos foi muito curto, ora condensando a duração de um evento a ponto de produzir um efeito de sentido de antecipação de seu fim e até de perfectividade, a análise da aspectualização da duração das ações por um encurtamento permitiu que apreendêssemos, nos textos de O Globo on- line, que tanto as posições ideológicas dos atores políticos quanto as convicções do 102 narrador das notícias atuam diretamente nas avaliações temporais realizadas nos discursos.

4.2.1.3 Entre continuidade e ruptura: um olhar aspectual para a solução da crise

Conforme foi possível perceber pelas discussões realizadas na primeira seção desta análise, o tema da crise, envolvendo dificuldades econômicas e/ou políticas, apresentou-se com certa recorrência nos textos de nossa amostra. Assim como se procurou demonstrar em debates precedentes, o modo pelo qual esse assunto foi apreendido temporalmente se revelou nas notícias como uma estratégia argumentativa utilizada por alguns interlocutores para a defesa de seus pontos de vista.

Com um estudo mais atento sobre as particularidades dos procedimentos aspectuais nas notícias que envolvem esse tema, contudo, notou-se que a solução para o problema, apresentado como uma “dificuldade”, um “momento” complicado, foi concretizada nos textos por diferentes perspectivas temporais. Desse modo, a depender de quem é o ator do enunciado, a superação da crise só seria possível ora por uma continuidade, representada pela manutenção de um governo, ora por uma ruptura em uma dada continuidade, representada pela mudança política.

Essas divergências aspectuais entre observadores que, igualmente, julgam o olhar sobre o tempo de um mesmo evento por perspectivas distintas podem ser verificadas pela comparação entre as notícias “Lula compara momento vivido pelo Brasil a ‘trem descarrilado’” (O Globo on-line, 07/12/2015), “Aliados preparam ofensiva para levar PMDB ao comando do país” (O Globo on-line, 05/12/2015), “Oposição diz que carta de Temer é sinal de ruptura irreversível” (O Globo on-line, 08/12/2015) e “Temer vê ‘momento difícil’ na política e prega cumprimento da Constituição” (O Globo on-line, 09/04/2018). Publicados nos dois períodos temporais aqui examinados, esses quatro textos mencionam as dificuldades que o país vinha enfrentando, tanto com o governo de Dilma, quanto com o governo de Temer:

— É como se nós estivéssemos andando num trem que tivesse descarrilado. Não temos agora que ficar brigando para saber em qual vagão cada um vai entrar. A gente tem que colocar o trem outra vez no trilho. Quando ele estiver no trilho, a gente vai brigar. Mas para a gente construir esse direito de brigar outra vez, não podemos permitir que haja um golpe de estado via impeachment — discursou Lula (Lula compara momento vivido pelo Brasil a ‘trem descarrilado’, O Globo on-line, 07/12/2015, grifos nossos).

103

— [...] 2015, um ano que se perdeu na queda de braço entre a presidente Dilma e Eduardo Cunha, e de retomarmos o esforço de criar condições para que possamos sair da maior crise econômica da História — afirmou Moreira (Aliados preparam ofensiva para levar PMDB ao comando do país, O Globo on-line, 05/12/2015, grifos nossos).

— É um momento de enorme gravidade e é muito importante que oposições estejam unidas para enfrentar esse momento de enorme turbulência, essa crise moral, econômica e social sem precedentes na qual o governo do PT e presidente Dilma mergulharam o país. [...] – disse [Aécio Neves] (Oposição diz que carta de Temer é sinal de ruptura irreversível, O Globo on- line, 08/12/2015, grifos nossos).

— Nós precisamos saber que nós saímos de um momento difícil do país (na questão econômica). Continuamos num momento difícil também sob o foco político [...] (Temer vê ‘momento difícil’ na política e prega cumprimento da constituição, O Globo on-line, 09/04/2018, grifos nossos).

A partir dessas passagens, pode-se notar que, nessas quatro matérias jornalísticas, os observadores, em sincretismo com os atores cujas falas são debreadas no texto, tomam a crise, econômica ou política, por uma continuidade. No primeiro exemplo, referente à notícia “Lula compara momento vivido pelo Brasil a ‘trem descarrilado’”, isso fica claro pelo uso das expressões com gerúndio, “andando” e “ficar brigando”, presentes na fala do interlocutor Lula, que sugerem uma duratividade temporal. Ainda nesse trecho, a metáfora do “trem descarrilado” também indica continuidade em desenvolvimento para esse período difícil, “fora dos trilhos”, vivenciado pelo país.

De igual forma, nas falas dos interlocutores Moreira, em “Aliados preparam ofensiva para levar PMDB ao comando do país”, Aécio Neves, em “Oposição diz que carta de Temer é sinal de ruptura irreversível”, e Temer, em “Temer vê ‘momento difícil’ na política e prega cumprimento da Constituição” (O Globo on-line, 09/04/2018), há elementos que permitem perceber que a crise é, por eles, apreendida também pela duratividade. Seja pelo discurso do interlocutor Moreira de que todos estão vivendo a “maior crise econômica da História”, seja pela referência feita por Aécio Neves a que “É um momento de enorme gravidade” (em que o verbo ‘ser’, no presente do indicativo, expressa um intervalo de tempo maior que o do momento da enunciação), seja ainda pela alusão de Temer que “continuamos num momento difícil”, é possível constatar que, assim como Lula, na notícia anteriormente citada, os atores Moreira, Aécio Neves e Temer, do mesmo modo, julgam a crise como um evento em desenvolvimento.

No entanto, apesar de concordarem quanto à duratividade ainda contínua desse período de dificuldade, não há concordância unânime entre esses quatro textos quanto ao 104 que é necessário para o término da crise. Por isso, os atores dessas notícias avaliam que o fim desse problema ocorrerá por uma gestão aspectual do tempo diversa.

— Se há uma certa dificuldade, a possibilidade de a gente recuperar é com a companheira Dilma na Presidência. Não é com Eduardo Cunha, não é com Aécio (Neves, presidente do PSDB). O modelo de política econômica deles é governar o país para 1/3 da população. (Lula compara momento vivido pelo Brasil a ‘trem descarrilado’, O Globo on-line, 07/12/2015, grifos nossos).

— O impeachment está posto e certamente será uma grande contribuição para que possamos recuperar 2015, [...] e de retomarmos o esforço de criar condições para que possamos sair da maior crise econômica da História — afirmou Moreira. [...] (Aliados preparam ofensiva para levar PMDB ao comando do país, O Globo on-line, 05/12/2015, grifos nossos).

– [...] É uma hora em que precisamos ter muita serenidade, mas nós queremos que a população brasileira participe ao lado do PSDB nesse esforço de botar fim a esse ciclo perverso de governo do PTpara iniciarmos outro ciclo virtuoso. Esse é o papel das oposições nesse momento — disse [Aécio Neves] (Oposição diz que carta de Temer é sinal de ruptura irreversível, O Globo on- line, 08/12/2015, grifos nossos).

— Nós precisamos saber que nós saímos de um momento difícil do país (na questão econômica). Continuamos num momento difícil também sob o foco político e temos que seguir adiante. E seguir adiante significa cumprir exatamente a normatividade nacional, cumprir a Constituição, cumprir rigorosamente o sistema normativo constitucional — discursou Temer [...] (Temer vê ‘momento difícil’ na política e prega cumprimento da constituição, O Globo on-line, 09/04/2018, grifos nossos).

Ao passo que os interlocutores Lula e Temer julgam que a continuidade do poder vigente pode possibilitar a “recuperação” da dificuldade, os atores Moreira e Aécio Neves defendem, respectivamente, que essa “recuperação” é possível apenas com a ruptura do governo em desenvolvimento. Dessa forma, o que se verifica é que esses sujeitos não concordam quanto à forma de resolução da crise.

Na notícia “Lula compara momento vivido pelo Brasil a ‘trem descarrilado’” (O Globo on-line, 07/12/2015), o interlocutor Lula não coloca a “dificuldade”, a crise, como algo concreto, indubitável. Ainda que utilize a já citada metáfora do “trem descarrilado” para caracterizar o período vivido pelo país, ele faz alusão à “dificuldade” em curso por meio de uma expressão condicional, “Se há uma certa dificuldade” (grifo nosso). Esse modo pelo qual Lula se refere ao assunto faz com que haja uma minimização dos problemas enfrentados pelo país durante o governo de Dilma. Por esse motivo, a permanência da “companheira Dilma na Presidência” não se mostra como um fator que pode prejudicar ou inibir a recuperação da crise, uma vez que ela nem é posta como algo concreto, efetivo. 105

Assim, a fala de Lula demonstra que, em havendo “certa dificuldade”, a única forma de superar é com a continuidade do governo vigente. O singular e o artigo definido pelo qual Lula marca o sintagma “a possibilidade de a gente recuperar” exclui a consideração de qualquer outra forma de solução dessa crise, corroborando com a perspectiva de que apenas a manutenção, a continuidade de Dilma no cargo pode garantir a terminatividade dessa “dificuldade”, caso ela exista.

De igual maneira, o interlocutor Temer, figurativizado como presidente em exercício, toma a solução da crise também por uma continuidade. Indicando que é preciso “seguir adiante”, em que o verbo “seguir” dá ideia de sequência, de continuação, e o advérbio “adiante” traz a noção semântica de prosseguimento, esse ator coloca a continuidade como saída para esse momento político complicado. Ao ressaltar ainda que a crise econômica é já perfectiva em seu governo – “saímos de um momento difícil no país (na questão econômica) (Temer vê ‘momento difícil’ na política e prega cumprimento da constituição, O Globo on-line, 09/04/2018) –, Temer acaba também por defender sua continuidade no poder, ao mostrar que é capaz de trazer soluções a problemas “difíceis”.

Já os interlocutores de “Aliados preparam ofensiva para levar PMDB ao comando do país” (O Globo on-line, 05/12/2015) e de “Oposição diz que carta de Temer é sinal de ruptura irreversível” (O Globo on-line, 08/12/2015), embora estejam analisando o mesmo período temporal que o ator Lula, em “Lula compara momento vivido pelo Brasil a ‘trem descarrilado’” (O Globo on-line, 07/12/2015) – no caso, o período em que Dilma Rousseff está na presidência da República –, expõem uma perspectiva bem diferente tanto para a crise vivida nesse período, quanto para sua solução. A princípio, Moreira e Aécio Neves, além de não colocarem em dúvida a existência de um problema no país, como faz Lula, ainda atribuem uma alta tonicidade a esse momento complicado. Os dois interlocutores, respectivamente, avaliam as dificuldades em continuidade no país como “a maior crise econômica da História” ou como um fato “sem precedentes”. Por isso, Moreira e Aécio, similarmente, apreciam o fim dessa crise tão grave apenas pela ruptura com a continuidade vigente.

Conforme se pôde notar nos trechos anteriormente transcritos, Moreira vê o processo de “impeachment”, uma ação de natureza aspectual terminativa não só em relação ao mandato da presidente mas também da crise, como “uma grande contribuição para que possamos recuperar 2015” e como a possibilidade “de retomarmos o esforço de criar condições para que possamos sair da maior crise econômica da História” (Aliados 106 preparam ofensiva para levar PMDB ao comando do país, O Globo on-line, 05/12/2015). Nessa mesma linha, Aécio Neves revela que é a hora de “botar fim a esse ciclo perverso de governo do PT” (Oposição diz que carta de Temer é sinal de ruptura irreversível, O Globo on-line, 08/12/2015), o que, mais uma vez, sugere a ruptura com a continuidade em desenvolvimento como a solução para o problema da crise.

Ainda pela fala de Aécio Neves, percebe-se que, para além da ruptura, é também a instalação de uma nova continuidade, a que ele pertença ou com a qual ele concorde, que pode garantir o encerramento da crise. Marcando que essa nova continuidade tem de se instaurar por ações que o incluam, como se observa pelo uso do verbo na primeira pessoa do plural do futuro do indicativo, “iniciarmos”, Aécio projeta um “outro ciclo virtuoso” para a superação total de toda a dificuldade vivida durante o período de governo do PT.

O interessante, todavia, é examinar quem são esses atores do enunciado das notícias para entender as discrepâncias existentes entre seus pontos de vista em relação à solução para o tema da crise. Se, em certo ponto, eles concordam que, havendo algum problema, ele é durativo, está em desenvolvimento e precisa ser superado, por que eles projetam soluções tão diferentes em relação ao tempo e à forma de realização das ações de recuperação?

O interlocutor Lula, que vê a continuidade como a única maneira para o término de qualquer dificuldade, apresenta-se no texto como um aliado de Dilma, como um integrante de seu partido político (o PT) e como alguém que vê todo o governo do PT, iniciado com seu mandato, “em 2003”, como um só intervalo temporal:

– [...] Foi esse país que chegou ao poder (em 2003). É esse país que eles querem tirar. Não querem a Dilma por causa da Dilma. Eles querem tirar a Dilma porque sabem que enquanto ela estiver lá, os pobres vão continuar tendo direto à universidade, as cotas vão ser defendidas, o Bolsa Família vai continuar, o Minha Casa Minha Vida vai continuar. Querem acabar com essa história de que o povo pode governar. (Lula compara momento vivido pelo Brasil a ‘trem descarrilado’, O Globo on-line, 07/12/2015, grifos nossos).

Ao tomar esse período de 12 anos, desde 2003 até 2015, como um intervalo ininterrupto de tempo, Lula defende as ações do governo de Dilma como uma continuidade de seu próprio governo. Por isso, a manutenção de Dilma no cargo representa, para Lula, a duração de um governo com o qual concorda e se reconhece. 107

Tal como Lula, o ator Temer, em “Temer vê ‘momento difícil’ na política e prega cumprimento da Constituição” (O Globo on-line, 09/04/2018), identificado como “presidente”, representa o poder vigente. Por esse motivo, é sua continuidade no cargo que aparece como possibilidade para o país “seguir adiante”.

Por outro lado, tanto Moreira, quanto Aécio Neves, projetados como interlocutores nas notícias, assumem o papel de “oposição” a Dilma e ao seu governo. Dessa forma, por não compactuarem com o modelo político vigente e, em especial, por não se identificarem com ele, justificam que apenas sua ruptura pode dar fim à crise instalada durante o mandato da então presidente.

Portanto, depreende-se que o papel actancial assumido pelos atores do enunciado é um fator com atuação fundamental para as avaliações aspectuais do tempo referentes ao tema da crise. Conforme se procurou demonstrar, por ser um procedimento que depende do julgamento ético e da apreensão afetiva dos sujeitos, a aspectualização temporal realizada sobre esse assunto revela nos textos um modo de identificação com determinados governos em vigência ou de oposição a ele.

4.2.2 A iteratividade dos eventos políticos

Tal como apresentado em nosso capítulo teórico, o valor aspectual da iteratividade, no presente estudo, é entendido, consoante a proposta de Gomes (2011; 2012b), como uma relação complexa de sobredeterminação das categorias gerais básicas de continuidade e de descontinuidade. Nessa perspectiva, é a sobredeterminação da descontinuidade em relação à continuidade a responsável em fazer surgir o valor iterativo nos textos.

A partir dessa definição, ao realizarmos a análise dos textos que compõem nosso corpus de estudo extraído de O Globo on-line, pudemos encontrar a iteração como um valor presente em alguns textos. Sempre expressando a repetição de eventos, seja por conta da similaridade, tomada como reincidência, de períodos históricos, seja por ações desenvolvidas reiteradamente por alguns actantes, esse valor aspectual foi fundamental para a construção de determinados efeitos de sentidos nos discursos.

Em um grupo de quatro notícias, publicadas nos dois recortes temporais aqui examinados, percebeu-se que observadores, ora em sincretismo com o narrador dos textos, ora em sincretismo com algum interlocutor debreado no discurso, apreenderam 108 pela iteratividade ações referentes à firmação de acordos políticos. Nos textos “Em dia tenso, Dilma faz reuniões para avaliar clima no Congresso” (O Globo on-line, 01/12/2015), “Temer mira na base aliada e acena com espaço num eventual governo” (O Globo on-line, 13/12/2015), “Em busca de união da base aliada, Temer recebe líderes no Planalto” (O Globo on-line, 17/04/2018) e “Governo quer destinar R$ 1,3 bi para cobrir calote de Venezuela e Moçambique” (O Globo on-line, 26/04/2018), as atitudes de alguns atores, caracterizados como autoridades governistas, destinadas ao convencimento de outros sujeitos, também identificados como políticos ou como instituições governamentais, são avaliadas pela repetição:

Em dia tenso, Dilma faz reuniões para avaliar clima no Congresso Desde sexta-feira, o ministro Ricardo Berzoini está disparando telefonemas aos senadores e deputados aliados (Em dia tenso, Dilma faz reuniões para avaliar clima no Congresso, O Globo on-line, 01/12/2015, grifos nossos).

BRASÍLIA — Mais do que cargos, deputados e presidentes de partidos da base aliada têm recebido acenos de que passarão a ter poder político real para influenciar diretamente decisões em um eventual governo do vice-presidente Michel Temer (Temer mira na base aliada e acena com espaço num eventual governo, O Globo on-line 13/12/2015, grifos nossos).

O encontro é mais uma investida do governo para tentar reunificar sua base e articular uma estratégia para a votação no Congresso de matérias que são consideradas prioritárias para o governo, entre eles a privatização da Eletrobras (Em busca de união na base aliada, Temer recebe líderes no Planalto, O Globo on-line 17/04/2018, grifos nossos).

Na saída de uma cerimônia, no Palácio do Planalto, em um movimento atípico, o presidente - que não costuma falar com jornalistas ao final das cerimônias — reforçou o pedido feito mais cedo aos líderes do Congresso e convocou parlamentares para participar da votação no dia 2 de maio. — Eu quero aproveitar essa oportunidade para solicitar mais uma vez o apoio do Congresso Nacional para que no dia 2, que é uma quarta-feira, nós possamos ter presença para votar um projeto de lei que trata de recursos financeiros para a União cumprir compromissos que são indispensáveis que sejam cumpridos nesse período (Governo quer destinar 1,3 bi para cobrir calote de Venezuela e Moçambique, O Globo on-line 27/04/2018, grifos nossos).

Conforme se pode perceber a partir desses exemplos, as ações em busca de apoio para votações no Congresso ou para formação de uma base aliada em um novo governo, foram apreendidas pelos observadores dos textos a partir de uma iteratividade. Por vezes, essa iteratividade é expressa por locuções adverbiais quantitativas, como “mais uma”, em “mais uma investida do governo para tentar reunificar sua base” (Em busca de união na base aliada, Temer recebe líderes no Planalto, O Globo on-line 17/04/2018), e como “mais uma vez”, em “solicitar mais uma vez o apoio do Congresso Nacional” (Governo 109 quer destinar 1,3 bi para cobrir calote de Venezuela e Moçambique, O Globo on-line 27/04/2018).

Segundo Fiorin (2016 [1996], p. 150), advérbios como “mais uma vez” – ou como “uma vez mais”, “mais de uma vez”, entre outros – são, na verdade, advérbios de aspecto que possuem valor durativo iterativo como seu componente intrínseco. Nesse sentido, de acordo com o autor, há, então, em “mais uma investida” e “solicitar mais uma vez o apoio”, para além da ideia de as negociações políticas serem ações recorrentes, a noção de que elas têm também certa duração temporal.

Nessas notícias, porém, não só os advérbios expressaram a iteratividade. Em “deputados e presidentes de partidos da base aliada têm recebido acenos de que passarão a ter poder político real [...] em um eventual governo” (Temer mira na base aliada e acena com espaço num eventual governo, O Globo on-line, 13/12/2015, grifos nossos), é a locução verbal “têm recebido” somada à utilização do plural do substantivo com valor semântico pontual, “acenos”, que gera a interpretação iterativa.

Do mesmo modo, em “Desde sexta-feira, o ministro Ricardo Berzoini está disparando telefonemas” (Em dia tenso, Dilma faz reuniões para avaliar clima no Congresso, O Globo on-line, 01/12/2015, grifos nossos), a iteratividade também é concretizada pela união de expressões com noção durativa e pontual concomitantes, que, neste contexto, produzem a ideia de reincidência de ações. Primeiramente, a preposição “desde” – que, segundo Fiorin (2016 [1996, p. 154), tem o aspecto incoativo-durativo – marca o início de um processo contínuo, com uma duração. A noção de duratividade também está presente na locução verbal em gerúndio, “está disparando”. No entanto, por “disparar” ter um valor semântico pontual e pelo argumento desse verbo estar no plural (“telefonemas”), a interpretação é iterativa, pois mostra que essa ação (de “disparar telefonemas”) ocorreu muitas vezes “desde sexta-feira”.

Cumpre destacar, entretanto, que a iteratividade pode se concretizar nos textos, até mesmo, por expressões que, quando descontextualizadas, não trazem o significado iterativo por si só. É este o caso, por exemplo, do substantivo “reuniões”, discursivizado no título da notícia “Em dia tenso, Dilma faz reuniões para avaliar clima no Congresso” (O Globo on-line, 01/12/2015). Nessa passagem, é apenas o plural do vocábulo “reuniões” que marca a iteratividade das ações de busca de acordo político realizada por Dilma ao longo de um “dia tenso”. 110

Desse modo, o que se percebe é que a aspectualização pela iteratividade é recorrente nos textos de O Globo on-line em referência a acordos políticos. Indicando também, como foi visto nos casos examinados, uma duratividade, pressuposta ao próprio valor aspectual iterativo, e uma imperfectividade desses atos de negociações, que se repetem durante um intervalo de tempo, o aspecto iterativo confere aos textos um efeito de sentido de que os processos de apoio e de decisões políticas, por serem durativos e iterativos, não são frutos de decisões pontuais e instantâneas, mas requerem um trabalhoso processo de negociações.

No entanto, a iteratividade também foi encontrada nesse periódico em notícias cujo assunto principal não versava sobre acordos políticos. Em “Impeachment: Quando Dilma encontra Collor” (O Globo on-line, 06/12/2015) e em “Com avanço de inquérito, Temer cancela ida ao Sudeste Asiático” (29/04/2018), o valor iterativo aparece em referência a ações tomadas como reincidentes, ora pela semelhança com um evento de um outro período histórico, ora pela repetição de um evento realizado pelo mesmo ator.

Popularidade em baixa, retração da economia, inflação e insatisfação no Congresso. O retrato da situação do governo da presidente Dilma Rousseff bem que poderia ser a descrição de um outro momento difícil da política brasileira: 1992, o ano do impeachment de Fernando Collor (Impeachment: quando Dilma encontra Collor, O Globo on-line, 06/12/2015, grifos nossos).

Essa é a segunda vez que a viagem ao Sudeste Asiático é cancelada. Em janeiro, Temer suspendeu a ida à Ásia por problemas de saúde. A visita havia sido remarcada, então, para maio (Com avanço de inquérito, Temer cancela ida ao Sudeste Asiático, O Globo on-line, 29/04/2018, grifos nossos).

No primeiro texto, é a avaliação do narrador de que um mesmo ato político, ainda que em momentos históricos diferentes, têm traços em comum que produz a noção de iteratividade, conforme manifesta a construção “outro momento difícil”. Ao tomar o período vivido pelo governo de Dilma, com a instauração do processo de impeachment, em 2015, como uma reincidência de um período do governo de Collor, outro presidente brasileiro que também enfrentou um processo de impedimento, em 1992, esse narrador atribui à Dilma as mesmas características negativas que recaíram sobre o governo de Collor, “Popularidade em baixa, retração da economia, inflação e insatisfação no Congresso”. Dessa forma, vale-se da aspectualização temporal iterativa para expor seu posicionamento subjetivo de que o governo de Dilma está imerso em um momento bastante difícil, avaliando-o negativamente. 111

Na notícia “Com avanço de inquérito, Temer cancela ida ao Sudeste Asiático” (29/04/2018), por seu turno, é a reiteração das ações de cancelamento igualmente realizadas pelo ator Temer, expressa pela locução adverbial “segunda vez”, que manifesta o valor iterativo no discurso. Embora o texto mostre que o motivo da não realização da viagem foi consequência, “Segundo integrantes do Palácio do Planalto”, da “importância de votações e decisões tomadas nos próximos dias”, o título da notícia evidencia que o motivo do cancelamento da viagem pode ser decorrente de “avanço do inquérito” que alcançam familiares de Temer. Com isso, o narrador sugere que a iteratividade da suspensão da viagem pode ter acontecido em decorrência de motivações outras, que não as votações no Congresso.

Desse modo, tanto em “Com avanço de inquérito, Temer cancela ida ao Sudeste Asiático” (29/04/2018), quanto em “Impeachment: Quando Dilma encontra Collor” (O Globo on-line, 06/12/2015), a aspectualização do tempo pela iteratividade mostra-se como uma importante estratégia argumentativa utilizada pelo narrador para imprimir seu ponto de vista no discurso. Para além de atuar como um recurso que evidencia a orientação defendida no texto, também quando avaliamos, mais detidamente, as notícias em que a iteratividade se manifestou como uma forma de apreensão das ações políticas, percebemos que esse valor aspectual produz, nos textos de O Globo on-line presentes em nossa amostra, efeitos capazes de caracterizar o modo como esse periódico entende as ações de acordos entre políticos.

4.2.3 A incompatibilidade aspectual na voz do narrador

Assim como pontuado no capítulo precedente, a aspectualização temporal não se concretiza nos textos sempre de forma compatível, demonstrando um único ponto de vista na apreensão dos eventos. A inscrição de diferentes observadores nos discursos pode fazer com que o processo temporal seja avaliado por perspectivas até mesmo contrárias, a depender do ponto pelo qual cada observador julga as ações.

Tal como assinalaram os já referidos estudos de Magalhães (2011), para os textos jornalísticos de divulgação científica, e de Gomes (2018), para textos da seção sobre economia, a não compatibilidade na forma como distintos observadores apreendem o desenrolar do tempo constrói nos discursos efeitos de sentido que muito dizem sobre o modo como os jornais tomam determinados temas. Segundo Gomes (2018, p. 110), essas 112 discrepâncias relacionadas à avaliação da aspectualidade temporal por observadores em sincretismo com o jornalista das matérias e os observadores em sincretismo com outros actantes do discurso chegam, até mesmo, a indicar, em alguns casos, características do gênero ou do subgênero a que esses textos pertencem.

Ao analisarmos os textos jornalísticos sobre política nacional em O Globo on-line, pudemos constatar que uma marca desse tipo de notícia é o julgamento aspectual se manifestar nos textos através da perspectiva de diferentes observadores. Mais interessante ainda foi verificar que as divergências aspectuais sobre o modo como apreendem o tempo de um mesmo evento está, muitas vezes, relacionada a quem é o ator que imprime um olhar sobre o processo temporal das ações. Dessa maneira, recorrentemente vimos que, se o ator é, no texto, um integrante ou um apoiador do governo, ele tende a apreciar alguns eventos, até mesmo, de forma oposta à visão de atores opositores ao governo.

No entanto, a incongruência aspectual não se manifesta apenas por meio da instauração de observadores diversos nos discursos. Conforme demonstrou a pesquisa de Paquieli (2009), também anteriormente citada, a incompatibilidade na aspectualização do tempo é possível de ser percebida, por vezes, na fala de um mesmo actante, apresentando- se como uma aparente incoerência local. É exatamente isso o que ocorre em duas notícias de O Globo on-line presentes entre os textos que selecionamos para esta análise.

Embora a baixa ocorrência em nosso corpus nos impeça de fazer generalizações sobre ser essa uma marca também dos textos jornalísticos sobre política nesse periódico, é interessante atentar para o fato de que a incompatibilidade aspectual na voz de um mesmo actante aqui encontrada pôde ser vista, em ambos os casos, na fala do próprio narrador das notícias. Tanto na notícia “Em dia tenso, Dilma faz reuniões para avaliar clima no Congresso” (O Globo on-line, 01/012/2015), quanto na notícia “Cunha aceita pedido de impeachment contra Dilma” (O Globo on-line, 02/012/2015), os observadores em sincretismo com o narrador aspectualizam as mesmas ações de maneiras diferentes em distintas passagens dos textos:

Em dia tenso, Dilma faz reuniões para avaliar clima no Congresso BRASÍLIA — Num dia que promete trazer tensão para o ambiente político e econômico, a presidente Dilma Rousseff se reuniu no Palácio da Alvorada com líderes da base aliada na Câmara e no Senado, o vice Michel Temer e os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Nelson Barbosa (Planejamento). [...] Na reunião que manteve com 32 parlamentares aliados, a presidente Dilma Rousseff pediu mobilização da base para votar o projeto de lei do Executivo (PLN 5), que autoriza o governo a mudar mais uma vez a meta fiscal deste 113

ano.[...] (Em dia tenso, Dilma faz reuniões para avaliar clima no Congresso, O Globo on-line, 01/12/2015, grifos nossos).

BRASÍLIA — O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), anunciou na noite desta quarta-feira que vai abrir o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. [...] [...] Cunha já havia rejeitado 27 deles [pedidos de impeachment], e hoje acatou um e rejeitou outros quatro (Cunha aceita pedido de impeachment contra Dilma, O Globo on-line, 02/12/2015, grifos nossos).

Conforme se pode notar, nessas notícias, a fala do narrador expõe avaliações diversas relativas ao tempo das ações. No texto “Em dia tenso, Dilma faz reuniões para avaliar clima no Congresso” (O Globo on-line, 01/012/2015), inicialmente, por seu título, o narrador apresenta, com o uso do plural no substantivo “reuniões”, como iterativa a ação de Dilma em realizar encontros com intuito de “avaliar de clima no Congresso”. Isso porque, ao enfatizar que houve mais de um evento caracterizado como uma “reunião”, o que legitima a utilização do número plural, o narrador afirma que essa foi uma ação que se repetiu ao longo de “um dia tenso”, conforme discutimos na seção anterior.

Com a leitura do primeiro e do segundo parágrafos da notícia, contudo, pode-se perceber que o próprio narrador do texto apresenta, pelo singular da expressão verbal “se reuniu” e da construção “Na reunião”, que houve apenas um encontro feito por Dilma nesse dia de que trata o texto. Essa divergência entre a apreensão aspectual da ação do ator Dilma por parte do observador em sincretismo com o narrador da notícia, de certa forma, é uma estratégia argumentativa utilizada pelo enunciador.

Junto a outros recursos argumentativos (como a discursivização de diferentes formas de manipulação utilizadas por Dilma para que outros actantes, os parlamentares aliados, possam agir conforme seu desejo, aprovando um projeto de lei que altera a meta fiscal do ano de 2015), a iteratividade pela qual a ação da então presidente é tomada, no título da notícia, revela a perspectiva do narrador de que ela estaria realizando muitos e repetidos esforços para garantir a obtenção de uma votação favorável à nova meta fiscal. Nesse sentido, ao ressaltar uma repetição que depois nega, o narrador faz crer que Dilma precisa muito da aprovação dessa nova meta e evidencia, ainda, sua dificuldade em alcançar sucesso na empreitada.

Já na notícia “Cunha aceita pedido de impeachment contra Dilma” (O Globo on- line, 02/012/2015), por sua vez, percebe-se que o narrador, primeiramente, toma a ação de abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff como ainda não começada, conforme sinaliza a locução verbal, indicativa de futuro, “vai abrir”. 114

Entretanto, na sequência da notícia, o observador em sincretismo com o narrador do texto apreende a abertura do processo de impedimento contra a presidente em exercício como já realizada, concluída, conforme mostra o verbo no pretérito perfeito “acatou”.

Desse modo, ao passo que inicialmente o observador toma a resolução de Eduardo Cunha sobre o acatamento do pedido de impeachment por um ponto anterior a sua realização, ao final do texto, esse mesmo observador avalia essa ação pela perfectividade, uma vez que o ato de “acatar” o pedido é compreendido por sua completude.

A partir dessas poucas recorrências em que se pôde averiguar a incompatibilidade aspectual nos textos sobre política nacional da seção “Brasil”, de O Globo on-line, o que notamos, ao contrastarmos nossos textos com as conclusões de trabalhos anteriores a que fizemos referência no início da presente discussão – como os de Paquieli (2009), de Magalhães (2011) e de Gomes (2018) –, é que essa incongruência na apreensão temporal de um mesmo fato não é um procedimento incomum em textos jornalísticos, mas, ao contrário, repete-se em variadas seções dos jornais. Longe de marcar incoerências insuperáveis e de prejudicar a comunicação, essas divergências aspectuais expõem interessantes efeitos de sentido nos textos, podendo funcionar, inclusive, como um recurso argumentativo, como se procurou demonstrar.

4.3 A aspectualização do tempo em O Dia on-line

Tal como procuramos realizar no exame tecido a partir das notícias de O Globo on-line, neste momento, buscaremos apresentar os procedimentos de aspectualização temporal mais recorrentes em O Dia on-line e seus efeitos de sentido mais gerais. Como nosso propósito é estruturar um estudo comparativo entre esses periódicos, a partir de agora, também já apontaremos determinadas aproximações e afastamentos relativos ao modo como a aspectualização temporal se manifesta nos textos sobre política nacional nos dois jornais.

4.3.1 A duração nos textos de O Dia on-line

Assim como em O Globo on-line, a avaliação da duração das ações também foi a estratégia aspectual mais recorrente nos textos extraídos de O Dia on-line. Manifestando- se em doze notícias, o que representa 75% do corpus extraído desse jornal, esse 115 julgamento demonstra ter importante papel na construção no sentido global dos textos jornalísticos sobre política nacional. Essas notícias demonstram ora uma apreciação de que a duração de um evento tem uma duração média, resultante do tempo necessário para o desenrolar das ações, ora uma avaliação de que a duração é muito longa, gerando efeito de prolongamento, de demora no desenvolvimento dos fatos, e ora apreciam a duração como breve, como algo que ocorreu mais aceleradamente que as expectativas do observador.

4.3.1.1 O início e o desenvolvimento das ações: uma apreensão incoativo- durativa

Com a análise das notícias de O Dia on-line que compõem o nosso corpus de estudo, pudemos constatar uma reincidência na forma como observadores de diferentes textos apreenderam uma mesma ação. Em um conjunto de cinco notícias, publicadas em dezembro de 2015, os observadores, em sincretismo tanto com actantes do enunciado, quanto com narradores dos textos, imprimiram igualmente uma aspectualidade incoativo- durativa ao processo de impeachment contra a então presidente em exercício, Dilma Rousseff:

Brasília - Horas depois da decisão do PT de votar contra ele no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou que aceitou o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff formulado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal com o apoio dos partidos de oposição. Agora, será formada comissão especial integrada por deputados para analisar se a petista realmente cometeu crimes. [...] Cunha contou que assinou à tarde o pedido de abertura de impeachment com base na tese de que Dilma cometeu crime de responsabilidade fiscal no atual mandato ao editar decretos de abertura de crédito sem autorização que somam R$ 2,5 bilhões. [...] (Abandonado pelo PT, Cunha acata impeachment de Dilma Rousseff, O Dia on-line, 02/12/2015, grifos nossos).

Rio - O início de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff teve ampla repercussão internacional e ganhou as manchetes dos principais jornais ao redor do mundo. A decisão que foi tomada no final da tarde dessa quarta-feira pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, rapidamente repercutiu nos jornais do planeta. [...] O The Washington Post afirmou que a presidente enfrenta o risco de impeachment em meio a outras “desgraças”, destacou. [...] Ainda de acordo com a publicação, a maioria dos analistas políticos diz ser improvável que se alcance dois terços dos votos na Câmara dos Deputados O francês Le Monde destacou que “a ameaça de impeachment ronda sobre o Brasil”. [...] (Imprensa internacional repercute processo de impeachment de Dilma, O Dia on-line, 03/12/2015, grifos nossos).

116

O presidente da Câmara acatou na quarta-feira pedido de abertura de processo de impeachment contra Dilma elaborado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal, com apoio da oposição. [...] Cunha convocará ainda nesta quinta uma reunião extraordinária para dia 7, às 18h, para eleição da comissão especial que vai analisar a denúncia contra Dilma e receber a defesa da presidente. [...] (Cunha rebate Dilma e afirma que presidente mentiu quando diz que não barganhou, O Dia on-line, 03/12/2015, grifos nossos).

Brasília - Em um discurso em que voltou a se referir ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a presidenta Dilma Rousseff disse que vai fazer a defesa de seu mandato "com todos os instrumentos previstos" no estado democrático de direito. Dilma disse que não tem conta na Suíça, prometeu lutar contra o pedido de impeachment contra ela acatado esta semana por Cunha. [...] (Dilma diz que vai defender mandato e volta a atacar Cunha, O Dia on-line, 04/12/2015, grifos nossos).

Depois de deixar o governo, o ex-ministro (PMDB-RS) disse que o vice-presidente Michel Temer está consultando dirigentes de todo o PMDB para definir sua posição sobre o impeachment. Segundo Padilha, Temer está há dez anos no comando do PMDB porque aprendeu a ouvir e identificar a ala majoritária da sigla. “O PMDB está dividido nessa questão (o afastamento de Dilma)”, disse. “É preciso ver onde está o posicionamento majoritário do partido. Nesse momento ele está iniciando essa aferição”, afirmou. (Eduardo Cunha adia definição nomes para a comissão do impeachment, O Dia on-line, 07/12/2015, grifos nossos).

Como se pode perceber, os quatro textos marcam concretamente o processo de impeachment contra Dilma, instaurado após a “decisão” do ator Eduardo Cunha, como uma ação recém-começada e em continuidade. Diversos são os elementos linguísticos e as construções textuais que manifestam a aspectualidade incoativo-durativa nessas notícias.

Primeiramente, a noção de incoatividade aparece concretizada nesses textos por expressões que indicam ou o ponto em que a ação do processo de impeachment se principiou, como o substantivo “início”, no segundo exemplo, ou o curto intervalo de tempo transcorrido após o começo da ação, como em “no final da tarde dessa quarta- feira”, no segundo trecho, e em “esta semana”, no quarto exemplo. Por meio dessas expressões, os observadores, nesses casos sempre em sincretismo com o narrador das notícias, marcam a instauração do inquérito de impedimento contra Dilma como um evento que está em seus primeiros momentos de desenvolvimento.

Do mesmo modo, o narrador destes textos também toma a ação do processo de impeachment contra a então presidente por uma continuidade. Seja evidenciando as próximas ações a serem realizadas para o prosseguimento do rito do impeachment – como explícito em “Agora, será formada comissão especial”, no primeiro trecho, e “Cunha 117 convocará ainda nesta quinta uma reunião extraordinária”, no terceiro exemplo –, seja pela reprodução da fala de Dilma, com o uso do discurso indireto, que evidencia prosseguimento do inquérito de impeachment e seu compromisso de “lutar contra” ele – em “[Dilma] prometeu lutar contra o pedido de impeachment”, no quarto trecho –, o narrador das notícias expressa a duratividade, e ainda a imperfectividade, da ação contra a presidente.

Até mesmo quando outros observadores são instalados no enunciado, como é o caso da notícia “Imprensa internacional repercute processo de impeachment de Dilma” (O Dia on-line, 03/12/2015), é essa aspectualização que aparece no texto. Pela fala de um interlocutor, figurativizado como um jornal internacional, debreada no discurso, em “O francês Le Monde destacou que ‘a ameaça de impeachment ronda sobre o Brasil’”, é possível perceber, através do verbo no presente do indicativo, a perspectiva desse interlocutor quanto à continuidade e ao não completamento do processo de impeachment contra Dilma Rousseff.

Ao estabelecermos uma comparação entre essas notícias de O Dia on-line com textos de O Globo on-line que igualmente versam sobre a instauração do processo de impeachment contra a presidente, podemos notar que não há unidade na forma pela qual os dois jornais apreendem a ação do inquérito de impedimento contra Dilma Rousseff. Ao passo que, em O Dia on-line, o narrador de diferentes textos de nosso corpus toma o processo contra Dilma sempre por seus primeiros momentos de desenvolvimento, fazendo surgir um efeito de unidade nas vozes que ecoam no periódico, em O Globo, a abertura do processo de impeachment é percebida pelos observadores com mais modulações afetivas. Por isso, tanto observadores em sincretismo com actantes do enunciado, como observadores em sincretismo com o narrador dos textos, chegam a apreciar, no jornal O Globo, o processo de impeachment contra a então presidente por uma duração tão encurtada, que, inclusive, produz efeito de terminatividade em relação ao mandato presidencial de Dilma, como visto na notícia “Temer mira na base aliada e acena com espaço num eventual governo” (O Globo on-line, 13/12/2015), analisada na seção 4.2.1.2 deste estudo.

Com isso, a forma como cada jornal aspectualiza o processo de impeachment instaurado contra a presidente Dilma expõe uma clara divergência na maneira como esses dois periódicos apreciam esse evento. Ao mostrar o evento em sua etapa inicial, numa duração que corresponde à expectativa do observador, sendo seu desenrolar julgado, 118 portanto, como próprio ao estado de coisas, O Dia on-line deixa a conclusão do inquérito de impedimento em aberto, sem que se pudesse prever seu resultado. Em O Globo on- line, ao contrário, a apreensão do ato de acatamento do impeachment é vista até como se o governo Dilma estivesse em seus momentos finais, antecipando o desfecho do processo de impedimento, mostrando certa crença dos narradores e dos actantes sobre qual seria o fim do inquérito. Marcando mais que distintas perspectivas aspectuais, essa diferença na apreensão do tempo desse evento indica também os posicionamentos argumentativos e ideológicos defendidos nos discursos.

4.3.1.2 A duração alongada das tramitações políticas

Nas notícias de O Dia on-line, eventos que envolvem actantes figurativizados como políticos brasileiros também foram apreciados pelos observadores inscritos nos textos por uma perspectiva que toma como alongadas suas durações, tendo isso ocorrido em oito textos, o que corresponde a 50% do corpus extraído desse jornal. Nesse ponto, há certa aproximação entre os usos aspectuais mais frequentes nos dois jornais examinados no presente estudo, uma vez que este também foi o procedimento mais reincidente nas matérias de O Globo on-line aqui analisadas. Entretanto, por mais que a aspectualização das ações por uma longa duração tenha sido frequente nos dois veículos, os efeitos de sentido construídos em cada periódico demonstraram algumas diferenças.

Ao passo que, em O Globo on-line, a aspectualização do tempo pela duratividade expôs os crivos de alguns actantes e, até mesmo, de narradores dos textos sobre temas como a crise, expondo seus posicionamentos em relação ao governo vigente (cf. item 4.2.1.1), em O Dia on-line, a apreensão do tempo das ações por uma duração alongada mostrou-se tanto como consequência de exigências necessárias às negociações e às votações de projetos governamentais, quanto como resultado das ações intencionais de actantes políticos em benefício próprio.

Quando associada aos acordos desenvolvidos para acertos de decisões de governo ou de ajuste de cooperação política entre países, a duratividade dos eventos aparece nos textos como produto de um andamento desacelerado e de uma longa temporalidade das etapas de discussões que antecedem o completamento dessas ações:

Rio - O presidente Michel Temer está reunido neste momento, no Palácio do Planalto, com o interventor da segurança no Rio de Janeiro, General Braga Netto, e o ministro da Defesa, General Silva e Luna. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional da 119

Presidência (GSI), General Sérgio Etchegoyen, também participa do encontro, que foi incluído há pouco na agenda oficial. De acordo com fontes, a reunião deve tratar sobre questão orçamentária para ações no Rio (Temer faz reunião com interventor, ministro de defesa e general do Gabinete de Segurança, O Dia on-line, 05/04/2018, grifos nossos).

Brasília - O presidente Michel Temer (MDB) se reuniu, na tarde deste domingo, com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no Palácio do Jaburu, onde o emedebista mora com a família. [...] Temer e Maia trataram de projetos como o que viabiliza a privatização da Eletrobras e o que reonera a folha de pagamento para alguns setores da economia. Ambas as propostas tramitam na Câmara e enfrentam resistência não só de parlamentares da oposição como de deputados de partidos da própria base aliada (Temer se reúne com Maia para tratar de Eletrobras e reoneração da folha, O Dia on-line, 15/04/2018, grifos nossos).

Brasília - O presidente Michel Temer reuniu-se hoje, no Palácio do Jaburu, em Brasília, com o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, o ministro de Minas e Energia, , e o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). [...] A assessoria de imprensa da Presidência da República disse que um dos assuntos tratados foi a pauta da semana no Congresso Nacional. Tramitam no Congresso medidas econômicas consideradas pelo governo como prioritárias. A proposta de privatização da Eletrobras também está em tramitação. [...] [...] Na Câmara, a discussão está sendo feita em comissão especial. A última sessão contou com a maioria de deputados contrários ao projeto, que temem energia mais cara com a privatização (Temer reúne ministros para debater pauta do Congresso Nacional, O Dia on-line, 22/04/2018, grifos nossos).

Brasília - O presidente Michel Temer e o presidente do Chile, Sebastián Piñera, defenderam nesta sexta-feira, a integração e eliminação de barreiras comerciais entre os dois países. [...] O presidente Sebastián Piñera destacou que foram feitos acordos importantes com o Brasil e que os dois países caminham para eliminar barreiras tarifárias. [...] As duas nações assinaram um protocolo de Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFI). O protocolo faz parte de uma geração de acordos internacionais que o Brasil começou a assinar em 2015, que oferecem uma proteção adicional a companhias que investem no exterior (Objetivo é superar barreiras regulatórias entre Brasil e Chile, diz Temer, O Dia on-line, 27/04/2018, grifos nossos).

Conforme se pode verificar, nessas quatro notícias, as ações de negociação, de acordos e de debates entre actantes figurativizados como lideranças políticas são avaliadas pelos observadores, sempre em sincretismo com o narrador dos textos, por uma delonga. Nos três primeiros exemplos, o narrador insistentemente marca a transação entre os actantes ocorrendo em “reuniões”, como mostram os trechos com o verbo “reunir-se” (“O presidente Michel Temer está reunido neste momento [...] com o interventor da segurança no Rio de Janeiro, [...]”,segundo exemplo; “O presidente Michel Temer (MDB) se reuniu, na tarde deste domingo, com o presidente da Câmara dos Deputados, [...]”, terceiro exemplo, e “O presidente Michel Temer reuniu-se hoje [...] com o ministro-chefe da Casa Civil, [...] o ministro 120 de Minas e Energia [...]”, quarta notícia). Com o emprego desse verbo, o narrador de cada texto expressa que as negociações políticas comportam sempre uma duração, já que há sempre uma fase de debates e de acertos anteriores à conclusão das ações governamentais.

Se averiguarmos mais detida e comparativamente as notícias “Temer se reúne com Maia para tratar de Eletrobras e reoneração da folha” (O Dia on-line, 15/04/2018) e “Temer reúne ministros para debater pauta do Congresso Nacional” (O Dia on-line, 22/04/2018), por seu turno, podemos notar ainda que o narrador de cada notícia expõe a realização de diferentes “reuniões” entre Temer e outras autoridades políticas para tratar das mesmas pautas de projeto em votação no Congresso. Isso porque, igualmente em referência a reuniões realizadas para debater temas como a “privatização da Eletrobras”, essas duas notícias mostram um primeiro encontro entre Temer e Rodrigo Maia, este figurativizado como “presidente da Câmara dos Deputados”, para a discussão de propostas em tramitação no Congresso, e uma segunda reunião também com Temer, Maia e mais alguns “ministros” com o mesmo objetivo. Marcando, então, uma iteratividade desses encontros para negociação, percebida apenas com a leitura de distintas edições do jornal, essas duas notícias explicitam que as atividades governistas são desaceleradas e têm uma maior temporalidade porque são resultantes de discussões e negociações que envolvem diversos sujeitos.

Essa mesma ideia de duração alongada por conta de debates realizados entre actantes que, por vezes, possuem opiniões divergentes e, com isso, impõem “resistência” para o completamento do evento, estendendo sua duração, fica explícito também nessas duas notícias pela reincidência do lexema “tramitar” e seus cognatos, em “Ambas as propostas [privatização da Eletrobras e reoneração da folha] tramitam na Câmara e enfrentam resistência” (no terceiro exemplo) e em “Tramitam no Congresso medidas econômicas consideradas pelo governo como prioritárias. A proposta de privatização da Eletrobras também está em tramitação” (no quarto trecho transcrito).

Definido como “os procedimentos ou atos legais e obrigatórios para obter o resultado de uma ação”29, esse vocábulo inscreve nos textos a ideia de que uma ação tem seu desenvolvimento alongado por precisar passar por variadas etapas, ou, no caso dos

29 Definição presente no Dicionário Online de Português, disponível em https://www.dicio.com.br/tramitar/.

121 projetos em tramitação no Congresso, exigir debates em diversas sessões entre líderes políticos, para sua conclusão.

Mesmo quando faz referência a negociações firmadas entre países, que não passam por votação no Congresso e dependem apenas do acerto entre as autoridades máximas de cada nação, como ocorre na notícia “Objetivo é superar barreiras regulatórias entre Brasil e Chile, diz Temer” (O Dia on-line 27/04/2018), o narrador faz questão de salientar a delonga das negociações. Em alusão a um acordo de “Cooperação e Facilitação de Investimentos” entre Brasil e Chile, colocado no texto como algo perfectivo, já concluído, o narrador faz questão de salientar que, tal trato está inserido em uma “geração de acordos internacionais que o Brasil começou a assinar em 2015”.

Ao apontar a incoatividade do evento de “acordos internacionais”, dada no ano de 2015, e ao utilizar o substantivo “geração”, que, no contexto da notícia, indica uma fase temporal que agrupa os eventos pela similaridade entre eles, o narrador enfatiza que essa negociação acertada entre Brasil e Chile faz parte de um evento maior, com duração estendida, já que se iniciou há um tempo e ainda continua em desenvolvimento, relativo a acertos entre o Brasil e outras nações internacionais. Desse modo, o que se percebe, ao averiguarmos essas quatro notícias acima referidas, é que as ações políticas são, com frequência, em O Dia on-line tomadas por uma longa duração.

Estando, nesse grupo de textos, sempre associada à perspectiva do narrador dos textos, essa forma de aspectualização temporal parece evidenciar um modo recorrente pelo qual o enunciador desse periódico aprecia as atividades governamentais. Por vezes, no entanto, em O Dia on-line, o julgamento de uma ação pela duração estendida se manifesta não pela quantidade excessiva de etapas necessárias para o completamento de uma ação governamental, mas como resultado, de acordo com a perspectiva do observador, de uma desaceleração proposital do andamento dos eventos por parte dos atores com o único intuito de postergar a conclusão das ações:

A ação de Cunha foi considerada uma represália à decisão da bancada de deputados federais petistas de votar pelo prosseguimento da cassação de seu mandato. O peemedebista é alvo de processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara. Pela quarta vez, o Conselho adiou a votação que irá decidir se o processo seguirá adiante ou será arquivado. A próxima reunião do Conselho está marcada para terça-feira que vem, dia 8. (Abandonado pelo PT, Cunha acata impeachment de Dilma Rousseff, O Dia on-line, 02/12/2015, grifos nossos).

O processo ainda está em fase de debates porque aliados de Cunha têm recorrido a brechas regimentais para postergar uma decisão e a conclusão do 122

processo para 2016 (Cunha rebate Dilma e afirma que presidente mentiu quando diz que não barganhou, O Dia on-line, 03/12/2015, grifos nossos).

A sessão desta quinta chegou até a ter briga entre deputados por causa dos constantes pedidos de ordem por parte da tropa de choque de Cunha, que acabam atrasando o trâmite das reuniões (Abertura de pedido de cassação de Eduardo Cunha fica para o dia 15, O Dia on-line, 10/12/2015, grifos nossos).

Brasília - A expectativa foi grande, mas, ao final, aconteceu muito pouco ontem. Às 17h, se encerrou o prazo dado pelo juiz Sérgio Moro para que Lula se entregasse, com manifestantes fazendo contagem regressiva em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Do lado de dentro, o líder petista, que dormiu no prédio e continuava ali na noite de ontem [...]. Enquanto isso, a defesa do ex-presidente tentava novos recursos para barrar a prisão. À noite, foi impetrada uma reclamação no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender a prisão até que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) acabe de julgar todos os recursos. [...] Até a ONU foi acionada. [...] Segundo a petista [Gleisi Hoffman], Lula aguarda as manifestações do STF e da ONU (Prisão de Lula fora do prazo, O Dia on-line, 07/04/2018, grifos nossos).

Nos três primeiros trechos acima transcritos, o narrador de cada texto, de igual modo, avalia a duração da etapa de debates que antecede a votação pelo arquivamento ou pelo prosseguimento de um processo de cassação enfrentado pelo ator Eduardo Cunha no Conselho de Ética como longa, tal qual indicam os verbos “adiar”, “postergar” e “atrasar” e o advérbio “ainda”, grifados nos textos. Sempre assumidos pela voz do narrador das notícias, esses termos evidenciam seus julgamentos de que as discussões sobre o processo contra Cunha são demasiadamente lentas por conta das atitudes de atores figurativizados como “aliados de Cunha” (segundo exemplo) ou como deputados da “tropa de choque de Cunha” (terceiro trecho). Ao indicar que os “aliados de Cunha têm recorrido a brechas regimentais para postergar uma decisão”, o narrador explicita que as ações se alongam não em decorrência de questões burocráticas inerentes a processos investigativos como o enfrentado por Eduardo Cunha, mas que são motivadas apenas por seus interesses pessoais para adiar “a conclusão do processo para 2016” (Cunha rebate Dilma e afirma que presidente mentiu quando diz que não barganhou, O Dia on-line, 03/12/2015).

Conforme discutiremos mais detalhadamente adiante, em uma seção destinada a tratar especificamente da aspectualização pela iteratividade em O Dia on-line, o narrador dessas três notícias reincidentemente também aprecia que a duratividade alongada das discussões sobre o processo contra Eduardo Cunha, que estão “ainda” inacabadas, imperfectivas, se dão por conta de ações iterativas, repetitivas, de seus aliados. Esse julgamento do enunciador desse periódico também fica evidente na iteratividade e na 123 duratividade que o assunto recebe em diferentes edições do jornal, sempre pontuando a longa duração do processo contra Cunha, acima de qualquer expectativa que poderia ser considerada justa.

No texto “Prisão de Lula fora do prazo” (O Dia on-line, 07/04/2018), por sua vez, é exatamente o inacabamento, a falta de conclusão de uma ação, que faz com que o narrador avalie o evento como uma delonga. Ao salientar que, apesar do término do prazo “dado pelo juiz Sérgio Moro para que Lula se entregasse”, o encarceramento do ex-presidente Lula não foi realizado, o narrador aprecia que o intervalo de tempo entre a decisão do juiz Moro e a concretização da sanção de Lula, com sua prisão, é mais longo que o esperado.

Ao explicitar que, no decorrer de um dia cuja expectativa era de completamento da narrativa do processo movido contra Lula, com a efetivação de sanção, “aconteceu muito pouco”, esse narrador evidencia sua apreensão de que o evento está se desenvolvendo lentamente no tempo. Isso também fica marcado pelo emprego dos verbos “continuar” e “aguardar”, que têm traço semântico aspectual de duratividade, utilizados em referência às ações praticadas pelo ator Lula, em “o líder petista, que dormiu no prédio e continuava ali na noite de ontem” e “Lula aguarda as manifestações do STF e da ONU” (grifos nossos).

Assim, depreende-se que, por meio dos diferentes recursos textuais de que o narrador lança mão para manifestar a duração alongada de um evento, é possível perceber variadas nuances de sentido capazes de expor o posicionamento argumentativo defendido pelo jornal. Como se procurou demonstrar, ao apreciar as ações como desaceleradas e com uma temporalidade mais extensa, mais difusa, reiteradamente pela perspectiva do narrador dos textos, o enunciador de O Dia on-line expõe que as ações que envolvem actantes políticos se prolongam tanto pela demora nas negociações de acordos e de votações governamentais, tidas como complexas por envolver diferentes actantes e seus posicionamentos particulares sobre os fatos políticos, quanto pela lentidão, conseguida por meio de “brechas regimentais” ou de “recursos” jurídicos, com que os atores cumprem os ritos legais.

4.3.1.3 A duração breve e seus efeitos de sentido nos textos

Diferentemente do que foi percebido em O Globo on-line, a apreciação da duração de um evento pela brevidade em O Dia online mostrou-se bem menos recorrente, sendo 124 concretizada em apenas duas notícias deste corpus. No entanto, assim como pôde ser identificado naquele periódico, aqui a curta duração também produziu nos discursos efeitos de sentidos, capazes, até mesmo, de marcar significativas distinções entre os dois jornais.

Os únicos dois textos de O Dia que demonstraram a apreciação de que a temporalidade das ações se deu de forma mais concentrada, apesar de publicados em diferentes períodos temporais, possuem uma semelhança em relação aos assuntos narrados. Ambos relatam a divulgação de um fato referente à política nacional na imprensa internacional.

Entretanto, a depender do texto, o julgamento aspectual é ora feito por um observador em sincretismo com o narrador da notícia, ora realizado por observadores em sincretismo com distintos actantes inscritos no enunciado:

Rio - O início de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff teve ampla repercussão internacional e ganhou as manchetes dos principais jornais ao redor do mundo. A decisão que foi tomada no final da tarde dessa quarta- feira pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, rapidamente repercutiu nos jornais do planeta. Ainda sobre a presidente, o Washington Post diz que "ela mesma não enfrenta acusações de irregularidades no escândalo de corrupção". [...] A reportagem [do The New York Times] lembra que "dezenas de políticos, incluindo Cunha", têm sido implicados em um escândalo de corrupção na estatal Petrobras. [...] De acordo com o espanhol [El País], "o ultraconservador está envolto no escândalo da Petrobras e é dono de supostas contas milionárias na Suíça, que tudo aponta que tenham sido alimentadas graças a subornos" (Imprensa internacional repercute processo de impeachment de Dilma, O Dia on-line, 03/12/2015, grifos nossos).

Rio - Os principais jornais ao redor do mundo estão repercutindo a derrota na Suprema Corte que deixou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais perto da prisão da Lava Jato. [...] O jornal [The New York Times] ressaltou que a Corte deu "sua resposta" à questão: decidiu manter o status quo, "em que condenados podem ser encarcerados após decisões de segunda instância". "Com a decisão nas mãos, é esperado de Sérgio Moro, o juiz federal que conduziu as investigações contra Lula, que expeça um mandado de prisão contra o ex-presidente em questão de dias". Já o "El País", da Espanha, afirmou que, apesar de o Brasil ser o "reino do imprevisível, dos meandros burocráticos, das reviravoltas de última hora, tudo indica que Lula está a ponto de ser tornar um presidiário nos próximos dias". [...] A BBC de Londres também chamou atenção para a proximidade de uma eventual prisão de Lula e sobre os impactos que ela terá nas eleições desde ano. (Imprensa mundial repercute negativa de habeas corpus a Lula no STF, O Dia on-line, 05/04/2018, grifos nossos).

125

No primeiro texto, o narrador avalia que o intervalo de tempo entre a decisão de Eduardo Cunha em abrir o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, “tomada no final da tarde dessa quarta-feira”, e a sua repercussão internacional “nos jornais do planeta” foi muito breve. Para emitir esse julgamento de que tal evento teve um andamento mais acelerado e, como consequência, teve uma menor temporalidade, o narrador, necessariamente, precisa apoiar-se em uma expectativa de qual andamento e temporalidade seriam considerados próprios para o desenvolvimento de um estado de coisas.

No caso específico de que trata o texto, é possível perceber que o narrador considerou a repercussão da notícia sobre o acatamento do pedido de impeachment de Dilma como tendo uma duração mais curta que a esperada, em especial, pelo uso do advérbio “rapidamente”, no parágrafo de introdução da notícia. Trazendo, como traço semântico inerente, a noção de uma velocidade aumentada, esse advérbio evidencia que, do ponto de vista do narrador do texto, a divulgação da notícia se deu de forma mais célere que o previsto.

Embora não seja nosso foco no presente trabalho fazer quaisquer reflexões sobre a aspectualização espacial, cumpre ressaltar que, nessa notícia, há ainda o julgamento, por parte do observador em sincretismo com o narrador, de que, além de ter repercutido de forma acelerada em pouco tempo, a propagação da aceitação do pedido de abertura de impedimento contra a então presidente atingiu também muitos espaços, ou – mais uma vez com o embasamento das categorias zilberberguianas – teve uma maior espacialidade, uma grande difusão, uma vez que virou manchete “nos jornais do planeta” (Imprensa internacional repercute processo de impeachment de Dilma, O Dia on-line, 03/12/2015).

Desse modo, ao mostrar que foi um assunto cuja disseminação na imprensa internacional teve uma duração muito breve e ao enfatizar que “jornais ao redor do mundo” noticiaram o fato, o narrador constrói um simulacro de que a ação de abertura do impeachment contra Dilma despertou o interesse de todo o mundo, principalmente pela singularidade, reiterada na reprodução das notícias dos jornais mundiais pelo narrador no enunciado, de o próprio presidente da Câmara estar envolvido em um “escândalo de corrupção” e de a própria presidente não enfrentar “acusações de irregularidades” (Imprensa internacional repercute processo de impeachment de Dilma, O Dia on-line, 03/12/2015). Segundo Zilberberg (2006; 2011), com isso, o anúncio do início do processo de impeachment contra Dilma adquire, nessa notícia, maior tonicidade, maior acento de 126 sentido. Por ser posto, então, como um assunto tônico, com “ampla repercussão [...] ao redor do mundo”, sua divulgação tem, na perspectiva do narrador do texto, um andamento acelerado que, em um curto intervalo de tempo, possibilita sua propagação em diversos lugares.

No texto “Imprensa mundial repercute negativa de habeas corpus a Lula no STF” (O Dia on-line, 05/04/2015), por outro lado, o julgamento de que a temporalidade das ações é breve é apreendido pela perspectiva dos actantes do enunciado. Figurativizados como jornais internacionais, os atores que, por vezes, têm suas vozes debreadas no texto pelo discurso direto, avaliam que o intervalo temporal entre a recusa do Supremo Tribunal Federal em relação ao pedido para que o ex-presidente Lula pudesse continuar a responder processo em liberdade e a efetivação de um eventual encarceramento de Lula seria curto, abreviado.

Isso fica bem explícito pelo uso constante, por diferentes interlocutores, de expressões que indicam a brevidade no intervalo de tempo para a efetivação da ação, como em “é esperado de Sérgio Moro [...] que expeça um mandado de prisão contra o ex- presidente em questão de dias", “[...] Lula está a ponto de ser tornar um presidiário nos próximos dias” e “a proximidade de uma eventual prisão de Lula” (Imprensa mundial repercute negativa de habeas corpus a Lula no STF, O Dia on-line, 05/04/2018, grifos nossos). Ao indicarem a “proximidade”30 da prisão de Lula, essas expressões evidenciam também que os observadores em sincretismo com os atores identificados como “jornais do mundo” apreciam que o encarceramento do ex-presidente, apesar de ainda não efetivado, não acabado, é uma ação provável e a se realizar em um curto intervalo de tempo, conforme demonstram os trechos “é esperado”, “tudo indica”, “eventual prisão”.

Se, no entanto, compararmos “Imprensa mundial repercute negativa de habeas corpus a Lula no STF”, de O Dia on-line, com a notícia “Decisão do STF sobre Lula repercute na imprensa internacional”, de O Globo on-line, instigantes diferenças podem ser identificadas. Aparentemente semelhantes, já que são destinadas a relatar a divulgação pela imprensa internacional da negativa de habeas corpus a Lula no STF, as duas notícias, em um primeiro olhar, parecem discursivizar a mesma avaliação aspectual sobre o evento da prisão de Lula, depois do julgamento do STF. Isso porque, como vimos anteriormente nesta seção e como debatido no item 4.2.1.2 desta pesquisa, os observadores em

30 Há, na notícia, um sincretismo espaço-temporal para as expressões “proximidade” e “próximos”. Nesse caso, esses termos trazem a noção semântica de um intervalo de tempo breve entre as ações. 127 sincretismo com actantes do enunciado, do mesmo modo, julgam como breve o intervalo de tempo entre a decisão e a efetivação da prisão, mas não o fazem na mesma medida, já que a notícia de O Globo imprime uma maior rapidez e maior brevidade a essa duração.

Empregando verbos no pretérito perfeito do indicativo, com valor semântico terminativo e perfectivo, como “Acabou” e “tudo terminou abruptamente” (Decisão do STF sobre Lula repercute na imprensa internacional, O Globo on-line, 05/04/2018), para fazer referência à carreira política de Lula após a sessão em que foi julgado seu habeas corpus, a notícia de O Globo on-line acaba por imprimir maior aceleração ao andamento de todo o evento. A prisão é, então, vista como iminente, e o texto já antecipa as consequências da realização da sanção.

Em O Dia on-line, diferentemente, como pudemos ver nesta seção, embora haja uma avaliação de que o intervalo entre a decisão do STF e a prisão do ex-presidente tem uma curta duração, há, comparativamente, um julgamento menos acelerado para toda a ação. Apesar de julgar como prestes a acontecer, a prisão de Lula aparece como uma previsão, não há antecipação de suas consequências. Por isso, diversamente do que ocorre em O Globo on-line, em O Dia on-line, não há qualquer referência de que a prisão do ex- presidente indica o término de sua carreira política.

É, todavia, intrigante notar que as avaliações aspectuais dos dois textos são percebidas pela perspectiva de actantes inscritos no enunciado, igualmente figurativizados como “imprensa internacional” ou “imprensa mundial”. Reproduzindo, por vezes, a forma como o assunto foi divulgado nos mesmos jornais internacionais, como é o caso do jornal The New York Times e da rede britânica BBC, cujas matérias são reportadas nas notícias dos dois periódicos aqui analisados, cada jornal acaba por construir no texto um diferente efeito de sentido.

Longe de realizar uma escolha aleatória, cada narrador decide inscrever em seu enunciado actantes com perspectivas semelhantes às que defendem. No caso específico de nosso objeto de estudo, é interessante examinar que os periódicos selecionaram trechos veiculados por outros jornais que coadunam com as avaliações aspectuais que fazem dos eventos. Para além de expor divergências entre as visões dos diversos jornais do mundo, essa diferença entre os dois periódicos nacionais aqui examinados evidencia a distinção ponto de vista defendido por cada um deles.

128

4.3.1.4 Entre continuidade e ruptura: tensões aspectuais sobre a crise e o impeachment

Conforme já foi sinalizado anteriormente, ao realizarmos um exame das notícias de O Dia on-line, percebemos recorrência de determinados assuntos por várias edições do jornal. Com uma análise mais específica desses temas, pudemos notar que há, por vezes em um mesmo texto, uma constante tensão em relação ao julgamento aspectual entre os diferentes observadores instalados nas notícias, figurativizados como distintos atores no enunciado.

De forma similar ao que vimos em O Globo on-line, foi possível constatar que certos assuntos são tomados por divergentes graduações aspectuais do tempo, a depender de qual é o papel temático do actante que os avaliam. Assim como foi percebido em O Globo on-line, também em O Dia on-line, apoiadores do governo vigente, ao tratar de momentos difíceis política e/ou economicamente para o país, instauraram uma aspectualização temporal bastante distinta dos opositores ao governo em exercício:

[...] Durante o discurso, a presidenta prometeu que fará o País voltar a crescer e gerar mais empregos. [...] Dilma citou os 13 anos de governo do PT, desde o primeiro mandato do ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ela, "o que está em jogo" são as escolhas políticas feitas na última década, "em favor da soberania do Brasil, do emprego, da renda e da oferta de serviços de qualidade". [...] "Quero dizer a vocês que nós estamos juntos nessa luta que vai exigir muito diálogo e trabalho. Até 2018 eu e meu governo seremos incansáveis na tarefa de construir saúde de qualidade para cuidar bem dos brasileiros", afirmou (Dilma diz que vai defender mandato e volta a atacar Cunha, O Dia on-line, 04/12/2015, grifos nossos).

Brasília - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, acredita que a presidente Dilma Rousseff pode até conseguir os 171 votos de que precisa para barrar a abertura do processo de impeachment, mas que isso não significa assegurar a governabilidade após o embate. [...] “Você dizer se o governo terá 1/3 dos votos para impedir o impeachment é uma coisa. Dizer que o governo vai ter governabilidade com esse terço para poder conduzir mudanças é outra realidade. Mesmo que o governo consiga impedir, ele vai impedir com uma margem muito estreita e vai mostrar que não tem uma maioria”, avaliou Cunha. “Se o governo tem condição de amealhar um terço para impedir o impeachment? Pode. Se o governo tem condições de governabilidade com um terço, é difícil”, acrescentou ao dizer que Dilma terá três anos de “governo capenga”. (Para Cunha, escapar do impeachment não dará a Dilma governabilidade, O Dia on-line, 29/12/2015, grifos nossos).

Como se pode ver, no primeiro texto, o ator identificado como “presidenta”, ou seja, dirigente com o poder vigente, apreende que é a sua continuidade do cargo que possibilitará fazer o “País voltar a crescer e gerar mais empregos” (Dilma diz que vai defender mandato e volta a atacar Cunha, O Dia on-line, 04/12/2015). De forma 129 pressuposta a essa afirmação, Dilma assume que enfrenta dificuldades econômicas, mas que é apenas uma suspensão momentânea de uma continuidade iniciada num período anterior de crescimento, emprego e escolhas políticas em favor da soberania nacional, o que se comprova pelo emprego da preposição desde, de valor incoativo-durativo, englobando todos os governos do PT (“Dilma citou os 13 anos de governo do PT, desde o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”). Sugere, então, que a continuidade das escolhas políticas até o prazo de seu mandato é a saída possível (“Até 2018 eu e meu governo seremos incansáveis na tarefa de construir saúde de qualidade para cuidar bem dos brasileiros").

De forma oposta, no segundo texto, o ator Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, opositor da presidente em exercício, Dilma Rousseff, e por ter aberto o processo de impeachment contra ela, avalia que a continuidade de Dilma no cargo, após a votação do impeachment, não assegura “a governabilidade” (Para Cunha, escapar do impeachment não dará a Dilma governabilidade, O Dia on-line, 29/12/2015). Considerando ser “difícil” que o governo de Dilma possa “conduzir mudanças” no país depois do processo de impedimento, ainda que ela se mantenha no cargo, esse ator não vê a duratividade do mandato de Dilma como uma solução para qualquer problema, uma vez que, segundo sua perspectiva, o governo pode ficar “mais capenga”, “mais fraco” com a votação do impeachment.

Com isso, o que se nota é que, para o ator Cunha, apenas uma ruptura nessa continuidade, possível com a aprovação do impedimento, garantiria uma governabilidade adequada. Tal como identificado em O Globo on-line, em O Dia on-line, essas diferentes formas de aspectualização temporal nos discursos é dependente de quem eram os actantes a emitir suas avaliações aspectuais.

O mesmo pode ser percebido com a avaliação de notícias que abordam o tema do impeachment de Dilma Rousseff. De acordo com actantes figurativizados como oposicionistas ao governo da então presidente, o início e a duração do processo de impedimento seguem um desenvolvimento normal, segundo as expectativas do regramento constitucional, com uma duração justa:

Segundo Cunha, a decisão de acatar o pedido de impeachment foi de “natureza técnica”. “O juízo do presidente da Câmara é única e exclusivamente de mérito. A mim, não tenho nenhuma felicidade de aprovar este ato”, afirmou Cunha, em entrevista coletiva. “Infelizmente não consegui encontrar alguém que desmontasse a tese aceita hoje.” 130

Para o presidente da Câmara, Dilma Rousseff cometeu crime de responsabilidade [...] (Abandonado pelo PT, Cunha acata impeachment de Dilma Rousseff, O Dia on-line, 02/12/2015, grifos nossos)

Ficou para esta terça-feira a instalação da comissão especial que irá analisar o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. [...] Ele [Eduardo Cunha] explicou que não havia condições técnicas de realizar a votação para a eleição da comissão especial ontem porque dissidentes do PMDB anunciaram, com o apoio da oposição, uma chapa alternativa. [...] “Tem um processo complexo, está havendo dissidência nos partidos. Adiei porque não teria quórum, não houve mobilização dos parlamentares. Acho injusta a essa acusação (de manobrar), ele (Guimarães) é que não pôs quórum. Eles não queriam era que eu adiasse o prazo de inscrição (das chapas). Não há regramento claro. Como impedir que uma chapa se inscrevesse até amanhã? Temos que ter cuidado para que o processo não seja judicializado por erro nosso”, disse Cunha (Eduardo Cunha adia definição nomes para a comissão do impeachment, O Dia on-line, 07/12/2015, grifos nossos).

Como se pode verificar, o interlocutor Eduardo Cunha, em diferentes textos de O Dia on-line, afirma que o rito de impeachment ocorre de acordo com o rito jurídico. Primeiramente, é o fato de a presidente ter cometido “crime de responsabilidade” (Abandonado pelo PT, Cunha acata impeachment de Dilma Rousseff, O Dia on-line, 02/12/2015) a motivação para a incoatividade do processo de impedimento. Além disso, as ações seguintes, inclusive o ato de adiar a “o prazo de inscrição (das chapas) [para analisar o pedido de impeachment]” (Eduardo Cunha adia definição nomes para a comissão do impeachment, O Dia on-line, 07/12/2015), são julgadas por esse ator como eventos com durações adequadas, já que, por não haver “regramento claro”, ele não poderia “impedir que uma chapa se inscrevesse”.

Nesse sentido, ao salientar, até mesmo, que não há uma definição exata na Constituição sobre o prazo de inscrição das chapas em casos de impeachment, Eduardo Cunha aprecia que o processo de impedimento contra Dilma se desenvolve com uma duração pautada na duração apropriada do processo, não sendo, portanto, segundo ele, nem longa nem breve. Essa não é, contudo, a perspectiva de actantes identificados como a própria presidente ou como apoiadores de seu governo:

Os petistas classificaram a atitude de Cunha como “revanchismo” e “golpe”. No Twitter, o presidente da sigla, Rui Falcão, afirmou: “Golpistas não passarão. Não vai ter golpe. Dilma fica”. (Abandonado pelo PT, Cunha acata impeachment de Dilma Rousseff, O Dia on-line, 02/12/2015, grifos nossos)

[...] "Para a saúde da democracia, a gente tem que enfrentar desigualdades, o preconceito contra mulheres, negros, populações indígenas. E para a saúde da democracia, nós temos que defendê-la contra o golpe", declarou. [...] 131

Antes das palavras de Dilma, a presidente do Conselho Nacional de Saúde, Maria do Socorro de Souza, já havia classificado a presidenta como a "maior autoridade deste País" e acompanhado, fazendo movimentos com o punho levantado, os coros de "Não vai ter golpe". (Dilma diz que vai defender mandato e volta a atacar Cunha, O Dia on-line, 04/12/2015, grifos nossos)

O presidente da Câmara reagiu à acusação feita pelo líder do governo, José Guimarães (PT-CE), de que ele estaria “manobrando” para protelar a criação da comissão (Eduardo Cunha adia definição nomes para a comissão do impeachment, O Dia on-line, 07/12/2015, grifos nossos).

Nesses textos, o ator Dilma e os atores figurativizados como “petistas”, mesmo partido político de Dilma, classificam o pedido de impeachment como “golpe”. Com o uso desse substantivo de forma reiterada em distintos textos, o que se percebe é que os governistas avaliam a incoatividade do processo de impedimento como uma tentativa de imprimir uma ruptura brusca, uma descontinuidade, na continuidade do mandato de Dilma.

Com uma perspectiva bem diversa da que foi apontada pelos opositores de Dilma, os atores caracterizados como políticos que se identificam com o governo vigente julgam que o processo de impeachment é uma ação para antecipar o término de um governo democraticamente eleito. Assim, para esses sujeitos, a duração do processo de impedimento não segue os ritos constitucionais, já que é fruto de uma ação que visa apenas causar uma ruptura em uma continuidade.

Por isso, a duração do inquérito contra Dilma, segundo os atores caracterizados como governistas, é resultado de uma gestão do tempo de acordo com o interesse dos opositores. Dessa maneira, o ator José Guimarães, um político do PT do Ceará, em “Eduardo Cunha adia definição nomes para a comissão do impeachment” (O Dia on-line, 07/12/2015), por exemplo, entende a ação do ator Eduardo Cunha como intencional, como uma “manobra”, para estender, para “protelar”, a duração do processo de impeachment.

Essas tensões aspectuais na apreensão de um só evento, concretizadas, por vezes, em um mesmo texto, como é o caso da notícia “Abandonado pelo PT, Cunha acata impeachment de Dilma Rousseff” (O Dia on-line, 02/12/2015), podem ser explicadas, com o apoio de Zilberberg (2011, p. 106), como a manifestação de andamentos distintos de uma ação a partir da perspectiva de diferentes sujeitos. Principalmente em relação a assuntos que atingem diretamente o governo vigente, como a crise ou o processo de impeachment, o embate entre o julgamento aspectual dos observadores figurativizados 132 como políticos fica bastante evidente. Configurando-se, portanto, como uma marca desse gênero do discurso jornalístico, uma vez que teve recorrência nos dois periódicos aqui analisados, a identificação ou a oposição dos actantes inscritos no texto com o governo em curso acaba por determinar a apreensão aspectual que fazem sobre determinados eventos.

4.3.2 A iteratividade

Dentre os textos recolhidos de O Dia on-line, a apreensão aspectual do tempo pela iteratividade mostrou-se, assim como em O Globo on-line, com certa recorrência. Ao efetivarmos um estudo mais detalhado dessas notícias, atentando para os efeitos de sentido que a iteratividade produz nos textos de O Dia, pudemos perceber semelhanças e diferenças em relação ao que vimos no exame do procedimento naquele periódico.

Ao contrário do que foi observado preponderantemente em O Globo, em O Dia on-line, a iteratividade não foi encontrada como marcação de reincidência de eventos relativos à negociação e a acordos entre políticos. O que constatamos neste periódico, então, foi o uso do valor aspectual iterativo em referência a ações desenvolvidas por políticos, ora por conta da semelhança entre atividades realizadas em momentos históricos diferentes, ora em decorrência de repetições de um mesmo evento em uma única continuidade temporal.

Percebemos que, em todas as seis notícias de O Dia em que a iteratividade se mostrou recorrente, o julgamento do tempo pela sobredeterminação de uma descontinuidade na continuidade sempre partiu da perspectiva de um observador em sincretismo com o narrador do texto. No entanto, ainda que tendo se manifestado nos dois períodos em que fizemos a seleção de nosso corpus, as avaliações que os narradores fizeram quanto à iteração foi bem diferente se compararmos os textos de dezembro de 2015 com os de abril de 2018.

Nas notícias de 2015, a iteratividade foi encontrada em quatro textos, todos relativos ao adiamento, ou à tentativa de adiamento, da votação sobre admissibilidade ou não do processo de cassação de Eduardo Cunha, no Conselho de Ética:

O peemedebista [Eduardo Cunha] é alvo de processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara. Pela quarta vez, o Conselho adiou a votação que irá decidir se o processo seguirá adiante ou será arquivado. A próxima reunião do Conselho está marcada para terça-feira que vem, dia 8 (Abandonado pelo PT, 133

Cunha acata impeachment de Dilma Rousseff, O Dia on-line, 02/12/2015, grifos nossos).

O colegiado já tentou, quatro vezes, apreciar e votar o parecer do deputado Fausto Pinato (PRB-SP), que pede a continuidade do processo contra o presidente da Casa. O processo ainda está em fase de debates porque aliados de Cunha têm recorrido a brechas regimentais para postergar uma decisão e a conclusão do processo para 2016 (Cunha rebate Dilma e afirma que presidente mentiu quando diz que não barganhou, O Dia on-line, 03/12/2015, grifos nossos).

Brasília - Pela sétima vez, o Conselho de Ética da Câmara adiou ontem a decisão sobre a abertura do processo de cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Mais uma vez, a sessão foi tumultuada, com bate-boca de deputados e até troca de sopapos. [...] A sessão desta quinta chegou até a ter briga entre deputados por causa dos constantes pedidos de ordem por parte da tropa de choque de Cunha, que acabam atrasando o trâmite das reuniões (Abertura de pedido de cassação de Eduardo Cunha fica para o dia 15, O Dia on-line, 10/12/2015, grifos nossos).

Sobre a tentativa de impedir, pela oitava vez, que o Conselho de Ética vote o parecer favorável ao prosseguimento da representação contra ele, por quebra de decoro, Cunha disse que "até parece que só têm aliados" dele na Casa (Cunha diz que operação da PF quer tirar o foco do impeachment de Dilma, O Dia on-line, 15/12/2015, grifos nossos).

Como se pode ver, nessas quatro notícias, o narrador das notícias reafirma a reiteração das ações por meio de expressões quantitativas como “quatro vezes”, “pela sétima vez”, “pela oitava vez” ou “mais uma vez”, para pontuar o número de vezes em que houve em esforço, por parte de atores, para adiar o evento de votação sobre “a abertura do processo de cassação do presidente da Câmara” (Abertura do processo de cassação de Eduardo Cunha fica para o dia 15, O Dia on-line, 10/12/2015).

Chegando, até mesmo, a manifestar, em um só parágrafo, dois marcadores iterativos, tanto pelas expressões quantitativas quanto pelo emprego do pretérito perfeito composto (“têm recebido”) o narrador desses textos evidencia, conforme debatemos na seção 4.3.1.2, a avaliação de que a reincidência das ações de tentativa de interrupção do processo de cassação contra Cunha já ultrapassou qualquer limite razoável em relação à expectativa do observador.

Ao atribuir, claramente, a Cunha e a seus aliados, figurativizados como sua “tropa de choque” (Abertura do processo de cassação de Eduardo Cunha fica para o dia 15, O Dia on-line, 10/12/2015), a responsabilidade pela repetição do adiamento do processo, o narrador das notícias explicita que a iteratividade, nesses casos, é resultado de uma gestão 134 subjetiva do tempo, baseada apenas nos interesses pessoais de Eduardo Cunha, de modo a inviabilizar ou ao menos postergar a sua cassação.

Nessas quatro notícias, a iteratividade aparece como uma forma de alongar a duração da etapa que antecede a decisão pela abertura ou pelo arquivamento do processo contra Eduardo Cunha. Embora os textos não esclareçam o porquê da intenção em adiar a decisão sobre o pedido de cassação “para 2016”, o narrador dos textos deixa evidente que toda a iteratividade e duratividade pelas quais o processo de Eduardo Cunha no Conselho de Ética está sendo marcado são decorrentes de seu interesse pessoal, imprimindo uma orientação argumentativa ao texto, desfavorável a esse ator do enunciado, desqualificando-o.

Nas duas outras notícias que apresentam o valor aspectual iterativo em O Dia on- line, por outro lado, a reincidência das ações é percebida pelo narrador dos textos por uma perspectiva que toma eventos como semelhantes:

Brasília - Pela segunda vez na história do Brasil, uma mulher presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) assume interinamente a Presidência da República. Cármen Lúcia ocupará o posto nesta sexta-feira assim que o presidente Michel Temer deixar o espaço aéreo brasileiro, na viagem que fará a Lima, no Peru, para participar da 8ª Cúpula das Américas. A previsão é de que Temer embarque para a capital peruana às 11h. A primeira presidente do STF a assumir o cargo foi a ex-ministra do STF Ellen Gracie, em maio de 2006, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou à Argentina acompanhado das três autoridades que, na época, estavam em sua linha sucessória: o vice-presidente José Alencar; os então presidentes da Câmara, Aldo Rebelo (SD-SP), e do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL). Como desde a posse de Temer, após o impeachment de Dilma Rousseff, o Brasil não tem vice, caberia ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumir o cargo. Mas tanto Maia quanto o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), se tornariam inelegíveis para as próximas eleições caso assumissem. Diante disso, eles optaram por sair do país até o retorno de Temer. Maia viaja para o Panamá e Eunício para o Japão. (Cármen Lúcia vai assumir a Presidência da República hoje, O Dia on-line, 13/04/2018, grifos nossos).

Michel Temer adia novamente viagem à Ásia, que ocorreria em maio Brasília - A viagem que o presidente Michel Temer faria para o sudeste asiático foi adiada pela segunda vez. O presidente iria para Cingapura, Tailândia, Indonésia e Vietnã a partir do dia 7 de maio. A informação foi confirmada pelo Palácio do Planalto e pelo Itamaraty no fim da tarde de domingo. A justificativa, segundo o Itamaraty, é que a viagem do presidente poderia prejudicar a pauta de votações no Congresso Nacional. [...] O governo quer evitar que uma eventual ausência de Maia e Eunício do país atrase votações consideradas importantes. Dentre elas estão a privatização da Eletrobras, a reoneração da folha e o cadastro positivo. É a segunda vez que a viagem de Temer para a região é adiada. No início do ano havia a previsão de uma visita a Timor Leste, Vietnã, Cingapura e Indonésia, entre os dias 5 e 13 de janeiro. Mas em razão de uma cirurgia a que Temer precisou se submeter no final do ano passado para desobstrução, a agenda não ocorreu. (Michel Temer adia 135

novamente viagem à Ásia, que ocorreria em maio, O Dia on-line, 30/04/2018, grifos nossos).

Como se pode perceber, nessas duas notícias tanto a assunção da Presidência por uma mulher presidente do Supremo Tribunal Federal quanto o adiamento da viagem à África são sentidos como iterativos pelo narrador, manifestados pelas expressões adverbiais “pela segunda vez” e “novamente”. No entanto, ao passo que, no primeiro exemplo, a repetição é decorrente de eventos semelhantes realizados por sujeitos distintos, em momentos históricos diversos – Ellen Gracie, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e Cármen Lúcia, durante a gestão de Michel Temer, em 2018 –, no segundo exemplo, o valor iterativo é utilizado para marcar a reincidência de ações feitas por um mesmo ator, o presidente Michel Temer, no decorrer de seu mandato presidencial.

Desse modo, na primeira notícia (O Dia on-line, 13/04/2018), a iteratividade marca uma excepcionalidade, um fato que somente se repetiu duas vezes na história do Brasil, dada a singularidade do período em que ocorre, um ano eleitoral que, por questões regimentais, exige, com o afastamento do Presidente da República, que seus sucessores também deixem o país para não se tornarem inelegíveis. Na segunda notícia (O Dia on- line, 30/04/2018), por outro lado, a iteração evidencia uma decisão do actante do enunciado em não cumprir seu compromisso presidencial por interesse em votações de projetos governamentais.

Nesse sentido, ao contrário do que foi visto nas notícias de dezembro de 2015, nesses textos de abril de 2018, a iteratividade não foi um recurso utilizado por algum ator com o interesse de alongar a duratividade de um determinado evento. Dessa forma, como se procurou demonstrar, a iteratividade em O Dia on-line aparece nos textos ora como consequência de ações realizadas por actantes do enunciado, geralmente motivadas pelos jogos políticos relacionados ao poder instituído, ora como uma aproximação entre eventos apreendidas pelo narrador como repetições.

136

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a análise dos procedimentos de aspectualização temporal em cada jornal on- line aqui tomado como objeto de estudo, foi possível depreender tanto algumas características intrínsecas dos textos do chamado jornalismo político, ao menos daqueles textos cujos temas se referem a ações e a líderes políticos nacionais, bem como certas propriedades e visões de mundo dos periódicos em particular. Se, por um lado, como vimos em nosso primeiro capítulo, muito já se tenha discutido sobre a natureza persuasiva do discurso jornalístico e não haja mais dúvidas de seu poder de atuação como um instrumento ideológico em uma sociedade, por outro, a realização de um exame que visa compreender as sutilezas da construção de sentido desses textos, que nos cercam cotidianamente sob um simulacro de ser um eficaz meio de acesso ao conhecimento sobre o mundo, não deixa de ser, tal como afirma Gomes (2008a, p. 173), uma “maneira de refletir sobre nossa inserção no mundo numa época em que a informação tem um papel cada vez mais fundamental”.

Partindo dos embasamentos teóricos e metodológicos fornecidos pela semiótica greimasiana, principalmente quanto ao conceito de aspectualização temporal, e com o respaldo de algumas contribuições da semiótica tensiva, conforme debatemos em nosso segundo e terceiro capítulos, a presente pesquisa pôde constatar que, apesar de se destinarem a grupos de leitores distintos, O Globo on-line e O Dia on-line frequentemente fazem uso das mesmas categorias aspectuais para a avaliação do tempo nas notícias sobre política nacional, contrariando nossa hipótese inicial de que os jornais utilizariam preponderantemente estratégias distintas de aspectualização do tempo. Embora, como discutimos no capítulo 1, o primeiro se alinhe ao “jornalismo sério”, de estilo moderado, e o segundo se aproxime mais do “jornalismo popular”, os dois periódicos, de igual modo, apreenderam predominantemente, em nosso corpus investigado, os eventos pela duratividade alongada e pela iteratividade, marcando as ações políticas por meio de negociações demoradas, de conflitos custosos e de tomadas de decisões que conciliam interesses de grupos políticos dotados de poder, independentemente de estarem na posição de situação governamental ou não.

Outro tópico de aproximação entre os dois veículos de comunicação está na reincidência dos conteúdos apresentados no decorrer das edições dos jornais. Como apontamos em nossa análise, durante os dois períodos temporais aqui examinados, 137 constatou-se que um mesmo tema – como o tema do impeachment, o tema de determinadas votações no Congresso Nacional ou o tema do processo do ex-presidente Lula – foi retomado em uma sequência de publicações, em edições sucessivas do jornal.

Tal forma de abordagem dos conteúdos expõe o modo como os jornais gerem os assuntos sobre política. Por meio de uma enunciação que noticia, por vezes, o mesmo fato, apenas com pequenas novidades, os jornais alongam a cobertura das mesmas ações, reiterando as informações. Conforme mostra o estudo de Gomes (2012a), essa é uma característica, em geral, presente na enunciação jornalística, não se restringindo, portanto, ao jornalismo político. De acordo com a autora, os periódicos mesclam diariamente, em suas edições, notícias que “inscrevem, por uma aspectualização incoativa, uma narrativa que só chegará a termo em edições posteriores do jornal” (GOMES, 2012a, p. 14) – e que, por isso, vão ser publicadas iterativamente – com notícias que se esgotam e não retornam às próximas edições do periódico, mesmo que a principal ação narrativa relatada apareça somente como uma virtualidade, uma intenção.

Gomes (2012a, p. 18) afirma que a extensão de uma mesma notícia por várias edições é mais “comum quando os fatos são muito inesperados ou traumáticos”. Em nossa pesquisa, a iteratividade e o alongamento na cobertura do impeachment contra Dilma Rousseff ou do processo contra o ex-presidente Lula – fatos que irrompem no cotidiano como ações incomuns, não frequentes – confirmam essa evidência apontada pela autora. Entretanto, o que se mostrou como uma característica peculiar do jornalismo político foi o fato de, mesmo temas mais corriqueiros, típicos do dia a dia do Congresso Nacional – como reuniões para acordos políticos sobre votações parlamentares – igualmente figurarem como assunto reincidente e contínuo em diferentes edições dos dois periódicos. Com isso, pela própria enunciação, O Globo on-line e O Dia on-line expressam a longa duração e a iteratividade das negociações políticas, além de acabarem por fazer o destinatário assumir como verdade, pela repetição, os valores ideológicos veiculados pelas mídias noticiosas.

A análise minuciosa dos efeitos de sentido que a duração estendida e a iteratividade produziram nos textos, todavia, para além das semelhanças, evidenciou também algumas diferenças entre esses veículos de comunicação. Primeiramente, as ações de acordos e de negociações governamentais foram, em O Globo, majoritariamente avaliadas pela iteratividade, ao passo que, em O Dia, foi a aspectualização por uma longa duração que mais se fez presente em notícias com esse tema. 138

Contudo, ainda que por meio de valores aspectuais distintos, pôde-se perceber que ambos os jornais apreendem os acertos políticos como consequentes de ações realizadas, de forma iterativa ou com duração estendida, em uma continuidade. Nesse sentido, os dois periódicos concordam que os acordos governamentais não decorrem de uma atuação pontual ou desenvolvida em um intervalo breve de tempo, mas que envolvem adiamentos e demoras, de modo a responder aos interesses do grupo político que possui um poder efetivo para influenciar as decisões, mais que aos ritos próprios das gestões democráticas.

Ainda em relação às similaridades encontradas entre os dois jornais no que se refere à aspectualização do tempo, percebemos também a variação do crivo aspectual a depender de quem são os atores que realizam a avaliação do processo temporal dos eventos. Tanto em O Globo on-line, quanto em O Dia on-line, o papel actancial dos atores no enunciado foi um fator determinante na forma como eles apreenderam aspectualmente certas ações e temas.

Foi o que nos demonstrou, por exemplo, a apreciação do tema da crise nos dois periódicos. Atores figurativizados como aliados do governo vigente, em ambos os jornais, de igual modo consideraram a solução da crise como algo possível pela continuidade do governo com o qual coadunam, enquanto os atores identificados como oposicionistas imprimiram nos textos uma perspectiva de que apenas a ruptura na continuidade em desenvolvimento e a instalação de uma nova continuidade seriam os caminhos para a superação do problema.

A mesma divergência aspectual pôde ser verificada nos dois jornais quanto a outros assuntos, não sendo, então, uma característica restrita a um tema específico. Embora a crise tenha sido um conteúdo mais recorrente nos textos de nossa amostra e, por isso, abordada em seções específicas, notamos que essas incompatibilidades na forma de apreciação de um dado evento se manifestaram também quanto ao episódio da expedição do mandado de prisão contra o ex-presidente Lula, no jornal O Globo on-line, e quanto ao processo de impeachment contra Dilma Rousseff, em O Dia on-line. Nesses dois casos, respectivamente, atores simpatizantes ao político Lula e ao governo de Dilma inscreveram avaliações aspectuais de tempo totalmente opostas aos julgamentos realizados por atores que divergiam desses sujeitos, como se observou com o exame dos textos. 139

No entanto, conforme adiantamos, o exame da aspectualização temporal revelou diferenças significativas entre os dois periódicos. Inicialmente, o que nos chamou a atenção foi o fato de a apreciação do andamento acelerado das ações ter se dado de forma mais recorrente em O Globo on-line. Isso porque, embora a reincidência desse valor aspectual tenha sido baixa nos dois jornais, em O Globo, ele se manifestou em quatro textos, o dobro do que foi visto em O Dia on-line.

Todavia, para além da maior presença em O Globo on-line, o que, com o desenvolvimento da investigação, mais se mostrou, para nós, relevante foi o encurtamento temporal ter recaído, em três notícias desse conjunto, sobre o mandato presidencial de Dilma, em um momento em que o processo de impeachment havia acabado se ser instaurado, e sobre a carreira política do ex-presidente Lula, em uma notícia voltada apenas a relatar a divulgação na imprensa internacional da negativa de habeas corpus a favor de Lula pelo STF. Nesses textos, como buscamos demonstrar com a análise, a aceleração do andamento dos eventos e o consequente encurtamento de sua temporalidade acabou por gerar, nos discursos, um efeito de que o mandato presidencial de Dilma, ainda em desenvolvimento, e a vida política de Lula estavam, respectivamente, em seus últimos momentos e acabada, concluída.

A reiteração desse andamento mais acelerado recaindo sobre os fatos políticos negativos envolvendo esses dois atores que, igualmente, pertencem a um mesmo partido político e que, por isso, exercem um mesmo modelo de governo, acaba por nos revelar indícios de uma ideologia contrária ao que esses atores representam, defendida pelo jornal O Globo on-line. Tal afirmação torna-se mais evidente ao compararmos esses textos de O Globo com notícias com temáticas semelhantes veiculadas por O Dia on-line.

Contrariamente ao que ocorre em O Globo, em O Dia, o processo de impeachment contra Dilma Rousseff só foi avaliado, em nosso corpus, pela aspectualidade incoativo-durativa, não havendo, portanto, qualquer sinal de uma avaliação de que seu mandato como presidente já estava nos momentos finais. Quanto ao episódio da repercussão da recusa de habeas corpus na imprensa internacional, por sua vez, apesar de também haver no texto de O Dia um julgamento que apreende como curta a temporalidade entre a decisão do STF e uma futura e eventual prisão deste ator, não há qualquer antecipação do término da carreira e da força política do ex-presidente Lula. 140

Outra diferença percebida na investigação comparativa entre os dois periódicos foi o insistente uso da iteratividade, pelo jornal O Dia on-line, para fazer referências a ação de adiamento da votação pelo prosseguimento ou não do processo de cassação enfrentado pelo então deputado Eduardo Cunha no Conselho de Ética. Não manifestada nos textos extraídos do jornal O Globo que formam o nosso corpus, mesmo quando estes noticiam fatos que envolvem o adiamento do processo contra o então presidente da Câmara, a iteratividade atribuída, em O Dia, às ações de Cunha e de seus aliados para impedir o desenvolvimento de seu processo – concretizada, por vezes, por dois índices textuais em um mesmo parágrafo, conforme vimos no exame das notícias – demonstrou um julgamento disfórico desse jornal quanto aos atos políticos de Eduardo Cunha, julgamento este não percebido em O Globo.

Nesse sentido, nota-se que, assim como apontado por uma de nossas hipóteses, não há unidade na perspectiva aspectual dos dois jornais quanto à avaliação do processo temporal dos mesmos eventos. Também como comprovação de outra hipótese por nós levantada, os diferentes usos aspectuais são capazes de expor a imagem e a avaliação que cada jornal constrói sobre certas ações políticas e sobre determinados actantes políticos.

Assim sendo, depreende-se que, ainda que se apoiem mais recorrentemente nas categorias aspectuais de duratividade e de iteratividade, os jornais O Globo on-line e O Dia on-line também manifestam nos textos julgamentos distintos sobre o processo temporal das ações. Para além de revelar diferentes pontos de vista de percepção dos fatos, essas divergências aspectuais confirmam mais uma de nossas hipóteses iniciais ao mostrarem que os periódicos, a depender do modo como apreendem aspectualmente o tempo de determinados eventos, expõem e defendem em seus textos suas orientações ideológicas. Mesmo que em O Dia não haja um posicionamento favorável, é evidente que não abraça com a mesma intensidade que O Globo uma posição crítica em relação ao governo petista, nem deixa de emitir julgamentos negativos relativos a ações reprováveis de atores políticos de outros partidos.

Portanto, embora este estudo tenha identificado características que se revelam como típicas dos textos sobre política nacional, como a avaliação de que as negociações políticas se estendem no tempo e a constante incompatibilidade aspectual discursivizada pelos atores do enunciado, as conclusões aqui encontradas também muito dizem sobre as configurações específicas de cada periódico. Longe de esgotar as discussões sobre a aspectualização temporal, a presente pesquisa buscou demonstrar não só as contribuições 141 do estudo desse procedimento para uma compreensão da organização e gestão do tempo como um processo dinâmico, modular e gradual nas mídias on-line, mas também mostrou o seu importante papel na construção dos sentidos mais globais e estruturantes dos textos e na sua orientação argumentativa e ideológica.

142

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, Afonso de. Um outro “Quarto Poder”: imprensa e compromisso político no Brasil. Contracampo (UFF), Rio de Janeiro, v. 4, p. 23-57, 2000.

AMARAL, M. F. Jornalismo popular. São Paulo: Contexto, 2006.

ANTUNES, Tiana Andreza Melo. Estados de alma e suplementos televisivos: uma análise semiótica. Tese de doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, 2016.

BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria do discurso: fundamentos semióticos. São Paulo: Humanitas, 2001 [1988].

______. Paixões e apaixonados: exame semiótico de alguns percursos. Cruzeiro Semiótico. Porto: Associação Portuguesa de Semiótica, n. 11/12, p. 60-73, 1990.

______. Procedimentos de desqualificação de discursos. ITINERARIOS, n.3, p. 149-164, 1992.

______. Procedimentos de construção do texto falado: aspectualização. In: Língua e Literatura. São Paulo: USP, v. 21, p. 67-76, 1995.

______. L'aspectualisation des discours oraux. In: Revue Linx, Paris, v. 1, p. 109-120, 1998.

______. Interações em anúncios publicitários. In: PRETI, Dino (org). Interação na fala e na escrita. São Paulo: Humanitas, p.25-53, 2002.

______. A publicidade na cidade: construção etransformação de sentidos. In: MATTE, Ana Cristina Fricke (org). Lingua(gem), texto, discurso: entre a reflexão e a prática. Volume ii. São Paulo: Lucerna, p. 215-228, 2006.

______. Teoria Semiótica do Texto. São Paulo: Ática, 2008.

______. Uma reflexão semiótica sobre a “exterioridade” discursiva. In: Revista Alfa. São Paulo, n. 53, v. 2, p. 351-964, 2009.

______. Política e intolerância. In: FULANETI O. N.; BUENO, A. M. (orgs.). Linguagem e política: princípios teórico-discursivos. São Paulo: Contexto, p. 71-92, 2013.

______. O discurso intolerante na internet: enunciação e interação. In: XVII Congresso Internacional da Associação de Linguística e Filologia da América Latina - ALFAL, 143

2014, João Pessoa - PB - Brasil. Estudos linguísticos e filológicos. João Pessoa - PB - Brasil: UFPB/Ideia, 2014. v. 1. p. 3660-3671.

BERTRAND, Denis L. Caminhos da semiótica literária. São Paulo: EDUSC, 2003.

______. Política e concessão. In: FULANETI O. N.; BUENO, A. M. (orgs.). Linguagem e política: princípios teórico-discursivos. São Paulo: Contexto, p. 11-20, 2013.

CASTILHO, Marcio de Souza. A morte de Costa Silva e a ascensão de Médici nas narrativas de O Globo. Revista Brasileira de História da Mídia, v. 2, p. 39-48, 2013.

______. Os trabalhos de memória e o papel de O Globo no golpe de 1964. Lumina (UFJF. Online), v. 8, p. 1-16, 2014.

CASTILHO, Ataliba T. de. Aspecto verbal no português falado. In: ABAURRE, Maria Bernadete M.; RODRIGUES, Angela C. S. (orgs.). Gramática do Português Falado, vol. VIII. Campinas: Editora da Unicamp, p. 83-117, 2002.

CASTRO DA SILVA, Caio Cesar. A construção do impacto por meio da aspectualização temporal. In: GOMES, R. S. (org). Aspectualização pela análise de textos. Rio de Janeiro, 2014.

DISCINI, Norma. A imprensa dita séria e a imprensa dita sensacionalista. In: O estilo nos textos: história em quadrinhos, mídia, literatura. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2004.

FARIA, Karla Cristina de Araújo. Clique na notícia: análise semiótica de jornais on-line. Tese de Doutorado. Universidade Federal Fluminense, Niterói: 2014.

______; TEIXEIRA, Lucia. Interações no jornalismo on-line. In: TEIXEIRA, L. e CARMO JR. J. R. (orgs.) Linguagens na cibercultura. São Paulo: Estação das Letras e

Cores, 2014.

FIORIN, José L. A lógica da neutralidade: um caso de aspectualização do ator. In: Estudos Linguísticos XVIII, 1989, Lorena, São Paulo. Anais... Lorena. São Paulo: Prefeitura Municipal de Lorena, pp. 348-355, 1989.

______. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, tempo e espaço. 3. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2016 [1996].

______. Semiótica e comunicação. In: Galáxia – Revista transdisciplinar de comunicação, semiótica, cultura, n. 8. São Paulo: EDUC; Brasília: CNPq, p. 13-30, 2004. 144

______. Elementos da análise do discurso. 15. ed. São Paulo: Contexto, 2005 [1989].

______. Em busca do sentido: estudos discursivos. São Paulo: Contexto, 2008

______. A Semiótica discursiva. In: Análises do discurso hoje. São Paulo: Nova Fronteira, p. 21-44, 2008.

______. Língua, discurso e política. ALEA, v. 11, p. 148-165, 2009.

______. A sacralização da política. In: FULANETI O. N.; BUENO, A. M. (orgs.). Linguagem e política: princípios teórico-discursivos. São Paulo: Contexto, p. 21-38, 2013.

______. Argumentação e discurso. Bakhtiniana, São Paulo, n.9, v. 1, jan/jul. 2014, p. 53- 70

FONTANILLE, Jacques. As modalidades. In: Semiótica do discurso. São Paulo: contexto, 2007.

GAMA, Raiane Nogueira. A cobertura de mortes trágicas e/ou violentas por O Globo: uma abordagem semiótica. Dissertação de mestrado. Universidade Federal Fluminense: Instituto de Letras, 2015.

GOMES, R. S.; MANCINI, R. C.. Textos midiáticos: uma introdução à semiótica discursiva. In: Atas do IX FELIN. Rio de Janeiro: UERJ, 2007. Disponível em: . Acesso em: 10 de dezembro 2017.

GOMES, Regina Souza. Relações entre linguagens no jornal: fotografia e narrativa verbal. Niterói: EdUFF, 2008a.

______. A Modalização em Reportagens Jornalísticas. In: Diadorim: revista de Estudos Linguísticos e Literários. Rio de Janeiro: UFRJ, Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas, n. 4, 2008b.

______. Uma abordagem semiótica da modalização na mídia impressa. In: Estudos Linguísticos/Linguistic Studies, n. 5, Edições Colibri/clunl, Lisboa, 2010, pp. 195-212.

______. Aspectualização em poemas publicados em sites de poesia. Paris, 2011. [texto inédito]. 145

______. Aspectualização e modalização no jornal: expectativa e acontecimento. Estudos Semióticos. [on-line] Disponível em: . Editores responsáveis: Francisco E. S. Merçon e Mariana Liz P. de Barros. Volume 8, Número 2, São Paulo, Novembro de 2012a, p. 11-20. Acesso em: 10 de dezembro 2017.

______. Aspectualização em poesias eletrônicas. In: PORTELA, J. C.; BEIVIDAS, W.; LOPES, I.; SCHWARTZMANN, M. N. (orgs.). Semiótica: identidade e diálogos. 1ed.São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012b, v. 1, p. 165-180.ed.

______(org). Aspectualização pela análise de textos. Rio de Janeiro, 2014.

______. Interação e aspectualização na poesia digital. In: RODRIGUES, M. G. et al. (orgs.). Discurso: sentidos e ação. São Paulo: Universidade de Franca, 2015, p. 51-69.

______. Sites de poesia: aspectualização e práticas interativas. In: TEIXEIRA, L.; CARMO JR, J. R. Linguagens na cibercultura. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2014.

______. Um olhar semiótico sobre a atualidade: a aspectualização a partir de Greimas. Estudos Semióticos. [on-line], volume 14, n. 1 (edição especial). Editores convidados: Waldir Beividas e Eliane Soares de Lima. São Paulo, março de 2018, p. 108–116. Disponível em: . Acesso em 21 de março de 2018.

GREIMAS, A. J. Da imperfeição. Tradução de Ana Claudia de Oliveira. São Paulo: Hacker Editores, 2002. ______; COURTÉS, Joseph. Dicionário de semiótica. São Paulo: Editora Cultrix, 1979. ______. Dicionário de Semiótica. São Paulo: Editora Contexto, 2008.

HERNANDES, Nilton. SEMIÓTICA DOS JORNAIS Análise do Jornal Nacional, Folha de São Paulo, Jornal da CBN, Portal UOL, revista Veja. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2005.

LANDOWSKI, Eric. A sociedade refletida: ensaios de sociossemiótica. São Paulo: Pontes, 1992.

LEAL, Plínio Marcos Volponi. Jornalismo Político Brasileiro e a Análise do Enquadramento Noticioso. In: II Compolítica - Congresso da Associação Brasileira dos Pesquisadores de Comunicação e Política, 2007, Belo Horizonte, MG. Anais do II Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política, 2007. 146

______. Análise do Enquadramento Noticioso na Cobertura do Escândalo Político dos Sanguessugas: Uma abordagem do jornalismo impresso. In: QUEIROZ, A. C. F.; MACEDO, R. G.. (orgs.). A Propaganda Política no Brasil Contemporâneo. São Paulo: Editora Metodista, p. 193-202, 2008.

LIMA, Felipe. Londres-2012: modalização e aspectualização no caderno especial do jornal folha de São Paulo. In: GOMES, R. S. (org). Aspectualização pela análise de textos. Rio de Janeiro, 2014.

MANCINI, Renata. A semiótica tensiva e o nouveau roman de Nathalie Sarraute. In: Gragoatá – Publicação do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense, n. 23. Niterói: EdUFF, 2007, p. 79-93.

MAGALHÃES, Jéssica Teixeira. Aspectualização e modalização em textos de divulgação científica em jornal impresso. São Paulo: Linguasagem, v. 17, p. 2/4-13, 2011.

MANUAL DE REDAÇÃO DA FOLHA DE SÃO PAULO. Vários colaboradores. São Paulo: Publifolha, 2001.

MATTE, Ana Cristina F.; LARA, Glaucia Muniz P. Ensaios de semiótica: aprendendo com o texto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009a. (Série Língua e ensino: reflexões e propostas).

______. Um panorama da semiótica greimasiana. Alfa, São Paulo, nº 53, vol. 2, 2009b. p. 339-350.

MELO, José Marques de. Jornalismo político: democracia, cidadania, anomia. Porto Alegre: Revista FAMECOS, n° 35, p. 90-94, 2000.

MENDES, Conrado Moreira. Semiótica tensiva: fundamentos teóricos. Revista Línguas & Letras, Unioeste, Vol. 16, Nº 34, p. 321-342, 2015.

MORAIS, Marcia Andrade. A polifonia em redações de alunos sob o ponto de vista da semiótica. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, 2012.

PAULA, Mayara Nicolau de. Análise semiótica da aspectualização do discurso da presidente Dilma Rousseff. In: GOMES, R. S. (org). Aspectualização pela análise de textos. Rio de Janeiro, 2014. 147

PEREIRA, Vicente Luís de Castro. Entre o sensível e o inteligível: o estilo no limiar entre a semiótica e a fenomenologia da percepção. Revista metalinguagens, v.3, p. 177-181, 2015.

RAPOSO, Eduardo Paiva et alii (orgs). Aspecto. In: Gramática do Português – Volume I. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 586-619, 2013.

SANTOS, Juliana Oliveira dos. O enunciador e o enunciatário na revista Megazine: uma abordagem semiótica. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, 2014.

SEABRA, Roberto; SOUSA, Vivaldo (orgs.). Jornalismo político: teoria, história e técnicas. Rio de Janeiro: Record, 2006.

SILVA, Odair Jose Moreira da. O observador no desenrolar do processo: a aspectualização qualitativa do tempo no discurso cinematográfico. ALFA: Revista de Linguística. São Paulo: v. 53, n. 2, p. 557-573, 2009.

SILVA, Fernanda Gomes da. Modalização em notícias do Jornal Extra: uma abordagem semiótica. Dissertação de estrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, 2010.

TEIXEIRA, Lucia; CARMO JR., J. R. (orgs.) Linguagens na cibercultura. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2014.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. O aspecto verbal no português: a categoria e sua expressão. 5. ed. Uberlândia: EDUFU, 2016 [1981].

______. Gramática e interação: uma proposta para ensino de gramática. 11. ed. – São Paulo: Cortez, 2006.

ZILBERBERG, Claude. Síntese da Gramática Tensiva. In: Significação: Revista Brasileira de Semiótica, n. 25. São Paulo: Annablume, 2006, p. 163-204.

______. Louvando o acontecimento. In: Revista Galáxia, 2007, n. 13, p. 13–28.

______. Elementos de Semiótica Tensiva. Trad. Ivã Carlos Lopes, Luiz Tatit e Waldir Beividas, São Paulo: Ateliê editorial, 2011.

148

ANEXOS

149

ANEXO 1 – Notícias de O Globo on-line

Notícia 1: Em dia tenso, Dilma faz reuniões para avaliar clima no Congresso Link: http://oglobo.globo.com/brasil/em-dia-tenso-dilma-faz-reunioes-para-avaliar-clima-no- congresso-1818

Em dia tenso, Dilma faz reuniões para avaliar clima no Congresso Presidente pede empenho de parlamentares para aprovar mudanças na meta fiscal POR CHICO DE GOIS, CATARINA ALENCASTRO E SIMONE IGLESIAS – 01/12/2015 9:23 / ATUALIZADO 01/12/2015 17:33 BRASÍLIA — Num dia que promete trazer tensão para o ambiente político e econômico, a presidente Dilma Rousseff se reuniu no Palácio da Alvorada com líderes da base aliada na Câmara e no Senado, o vice Michel Temer e os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Nelson Barbosa (Planejamento). A sessão de hoje no Congresso é chave para que o governo possa sair da situação de shut down, quando são suspensos os pagamentos de despesas não obrigatórias, como água, luz e fiscalização. Na reunião que manteve com 32 parlamentares aliados, a presidente Dilma Rousseff pediu mobilização da base para votar o projeto de lei do Executivo (PLN 5) , que autoriza o governo a mudar mais uma vez a meta fiscal deste ano. Foi apresentada uma conta mostrando que o governo tem votos para aprovar o texto e o pedido feito no Palácio da Alvorada, onde ocorreu o encontro, é para que todos os aliados registrem presença e não deixem o plenário antes do início da sessão do Congresso. Dilma fez uma fala em que apelava para o senso de responsabilidade com o país, por parte dos parlamentares, dizendo que a votação de hoje não é um problema do governo, mas do país. Aos presentes, ela pontuou que quando sua equipe econômica estabeleceu a meta fiscal, no início do ano, a situação econômica era uma e que isso foi mudando ao longo do tempo, daí a necessidade de fazer essa nova alteração agora. O assunto, disse Dilma, segundo um parlamentar presente, é técnico e não político. De acordo com participantes da reunião, a prisão do líder do governo, senador Delcídio Amaral, não foi tratada, tampouco a hipótese de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, deflagrar a abertura de 150 processo de impeachment contra Dilma, a depender da decisão do Conselho de Ética sobre seu próprio mandato. Também foi colocado na reunião que, mais do que as obstruções que a oposição ameaça fazer durante a sessão, o problema do governo é a manutenção da união da base. Segundo as contas apresentadas, Dilma contaria com 50, dos 80 votos no Senado e 360, dos 513 votos na Câmara dos Deputados. A sessão de hoje é conjunta. A presidente também explicou aos líderes sua decisão de assinar decreto bloqueando todos os pagamentos do governo. Segundo relatos de participantes da reunião, ela comparou a situação do Brasil a dos Estados Unidos, lembrando que o presidente Barack Obama fez o mesmo em 2013. Ela disse que a decisão não se deu por falta de dinheiro ou porque o país estaria quebrado, mas “para colocar um freio” nos gastos. A ordem do governo é para que os partidos da base compareçam em peso a sessão e não saiam até que o projeto esteja aprovado. Na avaliação dos governistas, a oposição tentará impedir a votação, mas a determinação é aprovar a nova meta fiscal de qualquer forma. — A orientação é que todos estejam no plenário e lá se mantenham — disse um auxiliar presidencial. Apesar da crise aguda que o governo enfrenta, participantes da reunião com a presidente relataram que ela estava serena e confiante de que o projeto será aprovado por uma questão de responsabilidade com o país. Houve discussão entre os parlamentares se o governo deve ou não tentar um acordo com a oposição. A maioria defendeu uma tentativa de aproximação, com o argumento de que com a manutenção do bloqueio nos pagamentos todos perdem, não só o governo. A sessão para analisar a autorização para o governo acomodar um déficit de R$ 120 bilhões este ano está marcada para as 19h. Antes, o governo enfrenta uma dura batalha no Conselho de Ética da Câmara. Às 14h30m os deputados se reúnem para votar o relatório de Fausto Pinato (PRB-SP) que recomenda a abertura de processo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB- RJ) por quebra de decoro. De acordo com as contas de aliados do peemedebista, para se salvar e escapar da instauração do processo — o que, se acontecer, impede que ele renuncie para escapar da cassação — Cunha necessita dos três votos dos petistas que estão no Conselho. Dilma não quer passar a impressão de que irá se envolver diretamente na questão. Mas o Palácio do Planalto, por meio dos ministros Jaques Wagner e Ricardo Berzoini , têm procurado convencer os petistas de que, mais importante do que cassar Cunha, neste momento, é dar governabilidade à presidente. O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, também se reuniu com Dilma no Alvorada mais cedo. Ao todo, participam da reunião com Dilma 32 líderes e vice-líderes de partidos aliados na Câmara e no Senado: deputados José Guimarães (PT-CE),Sibá Machado (PT-AC), (PMDB-RJ), Rogério Rosso (PSD-DF), Eduardo da Fonte (PP-PE), Maurício Quintela (PR, AL), Afonso Motta (PDT-RS), Jovair Arantes (PTB-GO), Rubens Pereira (PCdoB-MA), Carlos Gomes (PRB-RS), Givaldo Carimbão (Pros-AL), Marcelo Aro (PHS-MG), Domingos Neto (PMB-CE), Paulo Teixeira (PT-SP), Jandira Feghali (PCdo-RJ), RIcardo Barros (PP-PR), José Rocha (PR-BA), Orlando Silva (PCdoB-SP), Silvio Costa (PSC-PE), Paulo Pimenta (PT-RS), Diego Garcia (PHS-PR), Carlos Andrade (PHS-RR) e senadores José Pimentel (PT-CE), Humberto Costa (PT-PE) Eunício Oliveira, Benedito de Lira, Wellington Fagundes, Vanessa Grazziotin, Douglas Cintra, Telmario Mota, Hélio José, Carlos Andrade e Paulo Rocha. AUTORIZAÇÃO É PRIORIDADE Desde sexta-feira, o ministro Ricardo Berzoini está disparando telefonemas aos senadores e deputados aliados. A ordem do Palácio do Planalto é que a base governista dê prioridade absoluta à sessão para tentar aprovar a autorização do Legislativo para fechar as suas contas com um rombo recorde de até R$ 120 bilhões. Só com a aprovação da nova meta, o governo poderá restabelecer a normalidade do pagamento de suas despesas. 151

Além desse projeto, o governo ainda precisa aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias e o Orçamento de 2016, a Desvinculação de Receitas da União, e o projeto que legaliza ativos enviados irregularmente para o exterior até o recesso parlamentar que se iniciará dia 22 de dezembro. Outro problema a ser resolvido por Dilma é decidir quem assumirá a liderança do governo no Senado após a prisão de Delcídio Amaral (PT-MS). O cargo vem sendo ocupado interinamente por quatro vice-líderes, os senadores Paulo Rocha (PT-PA), Wellington Fagundes (PR-MT), Hélio José (PSD-DF), e Telmário Motta (PDT-RR), mas o governo quer escolher para o cargo alguém mais representativo, o que é uma tarefa nada fácil. Diante do impasse, a possibilidade que se apresenta no momento é o líder do governo no Congresso, José Pimentel ( PT-CE), acumular os dois postos.

Notícia 2: Cunha aceita pedido de impeachment contra Dilma Link: https://oglobo.globo.com/brasil/cunha-aceita-pedido-de-impeachment-contra-dilma- 18202665

Cunha aceita pedido de impeachment contra Dilma Presidente da Câmara descarta retaliação e diz que decisão é de 'natureza técnica' POR CHICO DE GOIS E LETÍCIA FERNANDES – 02/12/2015 18:40 / ATUALIZADO 02/12/2015 21:40 BRASÍLIA — O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), anunciou na noite desta quarta-feira que vai abrir o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O pedido, feito pelos juristas Miguel Reale Júnior, Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Flávio Costa, foi protocolado por líderes da oposição em outubro. O documento baseia-se nas pedaladas fiscais, que, segundo o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), se repetiram em 2015. Cunha descartou que a medida seja uma retaliação e afirmou que a decisão é de "natureza técnica". Em breve pronunciamento no Palácio do Planalto nesta noite, Dilma disse que reagiu com "indignação" ao pedido e, sem citar o nome de Cunha, afirmou que não possui "conta no exterior". — Quanto ao pedido formulado pelo doutor Hélio Bicudo e advogados que o acompanham, contra esse proferi a decisão com o acolhimento da denúncia. São 22 páginas de parecer levados à publicação hoje, trata-se da argumentação de 2014, porém, a argumentação para o ano de 2015 traz a edição de decretos sem número no montante de R$ 2,5 bilhões que foram editados em descumprimento à lei orçamentária — afirmou Cunha. — Não faço isso por motivação política e 152 rejeitaria (o pedido) se estivesse em desacordo com a lei. É uma decisão de muita reflexão e dificuldade. Nunca na história de um mandato houve tantos pedidos de impeachment. Não tenho nenhuma felicidade no ato que estou praticando. Dizendo-se descontente com a decisão que acabava de tomar, o presidente da Câmara começou sua fala lembrando que, durante os dez meses em que está à frente da presidência, foi cobrado inúmeras vezes para que se posicionasse a respeito dos 34 pedidos de impeachment que chegaram a suas mãos. Cunha já havia rejeitado 27 deles, e hoje acatou um e rejeitou outros quatro. Ainda há dois pedidos pendentes de análise. Cunha disse que, por, na sua opinião, Dilma ter cometido crime de responsabilidade, a aprovação do projeto de lei que muda a meta fiscal de 2015 — ocorrida em sessão do Congresso Nacional nesta tarde — não corrige a irregularidade cometida. No texto da nova meta fiscal, o governo incluiu na conta as chamadas pedaladas. — Mesmo o PLN5 aprovado e sancionado, não supre a irregularidade de ter sido editada a norma em afronta à lei orçamentária. O embasamento disso é única e exclusivamente de natureza técnica. O juízo do presidente da Câmara é única e exclusivamente de autorizar a abertura, e não de proferir o juízo de mérito, que será a comissão especial que irá fazê-lo, que poderá acolher ou rejeitá-lo. E o processo seguirá o seu curso — afirmou Cunha. PARA ALIADOS, MUDANÇA DO PT INFLUENCIOU A opção de Cunha de abrir o processo de impeachment levou em conta, segundo aliados, o posicionamento do PT durante o dia. Aliados de Cunha afirmaram que o presidente da Câmara se sentiu enganado, uma vez que, pela manhã, o Palácio do Planalto havia acenado que o PT estaria unido a ele. À tarde, no entanto, os representantes do partido no Conselho de Ética afirmaram que votariam pela admissibilidade do processo contra Cunha dentro do Conselho. O presidente da Câmara vai constituir uma comissão especial para avaliar o impeachment. Cunha também vai estudar a possibilidade de suspender o recesso parlamentar apenas para que a comissão funcione. Aliados de Cunha também disseram que estão convictos de que, com a ação do presidente, ele vai reverter os votos do PSDB e do DEM no Conselho de Ética. O PSDB tem uma reunião de emergência marcada para esta quarta-feira para falar sobre o assunto. A reação no PT foi imediata. O deputado Wadih Damous (PT-RJ) afirmou que vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão de Cunha. Segundo ele, o presidente da Câmara desrespeitou o rito definido para estes casos. No plenário da Câmara, a atitude foi classificada como "revanchismo" e "golpe". No Twitter, o presidente da sigla, Rui Falcão, afirmou: "Golpistas não passarão. Não vai ter golpe. Dilma fica". O jurista MIguel Reale Júnior, um dos autores do pedido, disse que Cunha "escreve certo por linhas tortas" e que sempre usou o impeachment como "instrumento de barganha". Já os líderes da oposição comemoraram a decisão do presidente da Câmara. REGIMENTO DEFINE IMPEACHMENT O Artigo 218 do Regimento Interno da Câmara define os passos do processo de impeachment: - Do recebimento da denúncia será notificado o denunciado para manifestar-se, querendo, no prazo de dez sessões. - A Comissão Especial se reunirá dentro de quarenta e oito horas e, depois de eleger seu Presidente e Relator, emitirá parecer em cinco sessões contadas do oferecimento da manifestação do acusado ou do término do prazo previsto no parágrafo anterior, concluindo pelo deferimento ou indeferimento do pedido de autorização. - O parecer da Comissão Especial será lido no expediente da Câmara dos Deputados e publicado na íntegra, juntamente com a denúncia, no Diário da Câmara dos Deputados e avulsos. - Decorridas quarenta e oito horas da publicação do parecer da Comissão Especial, será o mesmo incluído na Ordem do Dia da sessão seguinte. 153

- Encerrada a discussão do parecer, será o mesmo submetido a votação nominal, pelo processo de chamada dos Deputados. - Será admitida a instauração do processo contra o denunciado se obtidos dois terços dos votos dos membros da Casa, comunicada a decisão ao Presidente do Senado Federal dentro de duas sessões. (Colaboraram Cristiane Jungblut, Isabel Braga, Sílvia Amorim e Sérgio Roxo)

Notícia 3: Aliados preparam ofensiva para levar PMDB ao comando do país Link: https://oglobo.globo.com/brasil/aliados-preparam-ofensiva-para-levar-pmdb-ao-comando- do-pais-18230393

Aliados preparam ofensiva para levar PMDB ao comando do país Dilma diz confiar em Temer para enfrentar o processo de impeachment POR SIMONE IGLESIAS / JÚNIA GAMA / EDUARDO BRESCIANI, ENVIADO ESPECIAL – 06/12/2015 7:00 / atualizado 06/12/2015 9:12 BRASÍLIA E RECIFE - A saída do ministro Eliseu Padilha do governo na última sexta-feira foi vista pela ala pró-impeachment do PMDB como a senha para que se iniciem abertamente os trabalhos para garantir o vice-presidente Michel Temer no comando do país. Nas horas que se sucederam à notícia do pedido de demissão, a frase mais proferida pelos peemedebistas resume o espírito da saída: “Padilha é o Temer”. Mas o abismo criado entre os palácios da Alvorada — residência oficial da presidente Dilma Rousseff — e do Jaburu — a de Temer — vem sendo cavado há meses. Padilha é apenas o último dos aliados mais íntimos do vice-presidente a se distanciar do governo. Os outros há muito já se movimentavam pela abertura do processo de impeachment. Em Recife, onde esteve ontem, Dilma disse contar com a “confiança” de Temer para enfrentar o processo de impeachment no Congresso: — Eu espero integral confiança do Michel Temer e tenho certeza que ele a dará. Ao longo desse tempo, eu desenvolvi a minha relação com ele e conheço o Temer como pessoa, como político e como grande constitucionalista. Enquanto a presidente discursava no Recife, Temer se encontrava com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), em almoço organizado pelo empresário Jorge Chammas, do 154

Moinho São Jorge. Amanhã, os dois estarão juntos novamente, em evento público no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Segundo aliados, Temer e o tucano conversaram brevemente. Na última quarta-feira, horas antes do anúncio da decisão de Eduardo Cunha de acatar o pedido de impeachment, Temer recebeu senadores do PSDB e do DEM. Os tucanos já discutem com setores do PMDB um eventual governo de transição. Em Belo Horizonte, durante um congresso do PDT, o ex-ministro da Integração Nacional no primeiro governo Lula, Ciro Gomes, acusou Temer de estar à frente do movimento pelo impeachment de Dilma. — Eu acuso o senhor Michel Temer de ser o capitão do golpe — disse Ciro, acrescentando que o impeachment é um “remédio grave”. A estratégia do grupo peemedebista pró-impeachment é manter Temer na retaguarda, enquanto eles ocupam a linha de frente. — Temer não precisa se mover agora. Tem que deixar as ondas baterem nas pedras para ver a espuma que fará, como as ruas vão se manifestar, como as forças no Congresso vão se aglutinar. Ele foi menosprezado pelo PT o tempo inteiro, e agora vem o senhor Jaques Wagner querendo ganhar no grito para cima dele. Ele não vai aceitar constrangimento de ninguém — disse o ex- deputado (PMDB-BA), um dos integrantes do núcleo político de Temer. Perguntado se Temer vai segurar o grupo para não trabalhar pelo impeachment, Geddel respondeu: — Ele não tem condições de segurar o grupo. Tem só que ficar na dele. PADILHA CUIDARÁ DO MAPEAMENTO DE VOTOS A ala pró-Temer diz que Padilha, expert em planilha e controle de votos desde a Constituinte, começa a trabalhar a partir de amanhã no gabinete da presidência do PMDB, que fica na Câmara dos Deputados. Outro membro atuante do grupo do vice-presidente é o ex-governador e ex-ministro Moreira Franco, autor do “Plano Temer”, apelido que ele mesmo deu ao programa de governo elaborado pelo PMDB no mês passado, contendo medidas opostas às adotadas por Dilma. O documento, escrito após consultas a vários economistas próximos ao partido, foi interpretado como um programa de transição a ser adotado após a saída da presidente e, ao mesmo tempo, como um sinal para o mercado financeiro e o setor produtivo. Ao ser apresentado aos peemedebistas, em um congresso da Fundação Ulysses Guimarães, presidido por Moreira, o vice-presidente da República foi recebido com um coro de “Temer, veste a faixa já”. Na base do partido, o sentimento há muito tempo é pela ruptura. — O impeachment está posto e certamente será uma grande contribuição para que possamos recuperar 2015, um ano que se perdeu na queda de braço entre a presidente Dilma e Eduardo Cunha, e de retomarmos o esforço de criar condições para que possamos sair da maior crise econômica da História — afirmou Moreira. Geddel sempre resistiu à manutenção da aliança com o PT no governo Dilma. Aliado de Aécio Neves em 2014, ele circula em Brasília entre o Palácio do Jaburu e o gabinete do irmão, o deputado Lúcio Vieira Lima. Não por coincidência, Lúcio é um dos 22 deputados peemedebistas que trabalham abertamente pelo afastamento da presidente. Nesse grupo está também o deputado (RS) — que, tão logo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu andamento à ação contra Dilma, foi ao Jaburu conversar com a cúpula partidária. — Geddel é o nosso Estado Islâmico, o homem-bomba do partido — resumiu um peemedebista da cúpula ao GLOBO sobre a atuação do baiano quando o assunto é impeachment. Fora do núcleo mais próximo de Temer, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) defende abertamente o impeachment desde o início do ano. Com presença menos frequente nas reuniões quase diárias que ocorreram nas últimas semanas à noite no Palácio do Jaburu, o peemedebista se 155 reaproximou. Nos bastidores, Jucá atua entre políticos, empresários e representantes do mercado financeiro na defesa de que só com uma mudança de ares seria possível recuperar a economia do país. Em meio à crise política, interlocutores da presidente sondaram uma possível volta de Jucá à liderança, ao que o peemedebista ironizou a aliados: — O Titanic está afundando, e querem me dar um camarote? Tô fora. Apesar de afastado do núcleo do vice, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, teve o papel decisivo de abrir o processo do impeachment. No partido, é considerado um “outsider” por peemedebistas históricos. Provocou atritos com diversas raposas do PMDB, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), com quem mantém relação protocolar. Dizem ainda que ele “forçou” proximidade com Temer, mas que o vice sempre manteve uma “distância de segurança”. Na quarta-feira, minutos antes de dar entrevista coletiva anunciando que acolheria o pedido de impeachment, Cunha telefonou a Temer. Segundo relatos, o vice- presidente nada fez para impedi-lo. Na oposição ao grupo pró-impeachment, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), trabalha para manter o apoio do partido a Dilma. Picciani articula a ocupação pela bancada do PMDB na Câmara das pastas que venham a ser deixadas pelo grupo de Temer, o que reforçaria a base de sustentação de Dilma na Casa. — Se as ruas se engajarem, o senhor Picciani não vai segurar o impeachment. Já vimos esse filme antes — atacou Geddel. Já Moreira evitou a referência direta: — O voto para decidir o impeachment será aberto e evidentemente fruto de uma avaliação pessoal de cada parlamentar. E a população vai avaliar o voto de cada um. A presidente Dilma disse que como não conversou com Padilha, não considera a saída do peemedebista definitiva: — Eu me esforcei bastante para manter na reforma ministerial o ministro Padilha no governo. Por quê? Porque achava, e acho ainda, que o ministro Padilha está fazendo um trabalho muito importante. Eu não recebi nenhuma comunicação do ministro Padilha e eu ainda conto com a permanência do ministro no governo. QUEM SÃO: Moreira Franco - Manteve uma postura governista até ser demitido pela presidente Dilma na virada do primeiro para o segundo mandato. Foi o coordenador do programa de governo divulgado pelo PMDB no mês passado, contendo medidas opostas às adotadas por Dilma. O documento foi interpretado como um programa de transição a ser utilizado após a saída da presidente por um possível impeachment. Eliseu Padilha - Um dos mais fiéis aliados de Temer, deixou o governo na sexta-feira. Ele mantém planilhas sobre a fidelidade dos partidos da base aliada nas votações e, quando atuou na articulação política, mapeou e ajudou a nomear os ocupantes dos cargos que cada partido tem em Brasília e nos estados. Segundo peemedebistas, a partir de amanhã ele começa a trabalhar com esses dados na sede do partido. Geddel Vieira Lima - Ministro da Integração Nacional durante o governo do ex-presidente Lula, afastou-se do PT em 2010. Apesar de ter assumido uma vice-presidência da Caixa no primeiro mandato de Dilma, a pedido de Temer, ele sempre resistiu à manutenção da aliança com o PT. Ano passado, aliou-se a Aécio Neves (PSDB-MG) e tornou-se um dos mais duros críticos da presidente. Romero Jucá - Ex-líder do governo Lula e do primeiro mandato de Dilma Rousseff, externou seu rompimento com o governo no ano passado e apoiou Aécio Neves à Presidência da República. Nos últimos meses, no entanto, reaproximou-se de Temer e passou a frequentar o Palácio do 156

Jaburu, residência oficial do vice. Defende que só com uma mudança de presidente seria possível a economia voltar a crescer.

Notícia 4: Impeachment: Quando Dilma encontra Collor Link: https://oglobo.globo.com/brasil/impeachment-quando-dilma-encontra-collor-18230686

Impeachment: Quando Dilma encontra Collor Recessão, impopularidade e crise com Parlamento são semelhanças entre os períodos POR SILVIA AMORIM 06/12/2015 7:00 / ATUALIZADO 06/12/2015 20:21

Popularidade em baixa, retração da economia, inflação e insatisfação no Congresso. O retrato da situação do governo da presidente Dilma Rousseff bem que poderia ser a descrição de um outro momento difícil da política brasileira: 1992, o ano do impeachment de Fernando Collor. Embora separados por 23 anos, são diversas as semelhanças. O cenário sob Dilma se encontra com o de Collor, por exemplo, na dificuldade econômica de um país assolado pelo crescimento negativo do PIB e na distante relação com partidos e políticos. Mas também há diferenças. Dilma tem o PT e uma base aliada maior do que tinha Collor. Os tempos também são outros nas ruas. Os partidos já não controlam os protestos populares. Se Collor lidou com os atos apenas no auge de sua derrocada, Dilma arrasta essa situação há, ao menos, um ano. DO EMBATE EM 1992 À CAMPANHIA NO SENADO Dois personagens que estavam em trincheiras opostas em 1992 durante o processo de impeachment estão hoje lado a lado no Senado. Fernando Collor (PTB-AL) e Lindbergh Farias (PT-RJ) se reencontraram também na lista de políticos sob suspeita de terem se beneficiado do esquema de corrupção na Petrobras. Num processo de impeachment que levou quatro meses, Collor foi destituído da Presidência da República em 30 de dezembro de 1992. Mais do que perder o cargo, ficou inelegível por oito anos. Voltou à cena política em 2006, elegendo-se senador por Alagoas. Na disputa do ano passado, Collor conquistou nas urnas o direito de permanecer mais oito anos no Senado. 157

Na lista de investigados da Lava-Jato, o senador teve a casa em Brasília vasculhada pela Polícia Federal. Ele é suspeito de receber R$ 26 milhões em propinas, entre 2010 e 2014. Collor nega. Personagem que ganhou fama em 1992 na luta pelo impeachment, Lindbergh Farias era presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e liderou o movimento dos caras pintadas. Com a popularidade em alta, iniciou a carreira política no Rio de Janeiro. Lindbergh elegeu-se senador em 2010 e, na eleição passada, concorreu ao governo fluminense, sem sucesso. Hoje, o senador também está na lista dos políticos suspeitos de envolvimento no esquema da Petrobras.

Notícia 5: Placar parcial de comissão daria vitória a Dilma Link: https://oglobo.globo.com/brasil/placar-parcial-de-comissao-daria-vitoria-dilma-18237934

Placar parcial de comissão daria vitória a Dilma Ala do PMDB contra presidente quer chapa alternativa para a comissão do impeachment POR EVANDRO ÉBOLI , JÚNIA GAMA E LETICIA FERNANDES – 07/12/2015 14:54 / ATUALIZADO 07/12/2015 22:25 BRASÍLIA — O placar parcial da Comissão especial que irá analisar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff apresenta vitória para ela. Da lista de 65 deputados, 23 são contra, 13 a favor e 29 ainda são indefinidos. A lista completa deveria ter sido apresentada nesta segunda- feira, até as 18h, mas o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), adiou para o início da tarde de amanhã a formação da comissão. O adiamento fará com que a instalação da comissão ocorra perto do horário previsto para que a sessão do Conselho de Ética finalmente vote o relatório pela admissibilidade do processo de cassação do mandato de Cunha, marcada para 14h. Ainda sem a adesão necessária para levar o impeachment adiante, líderes da oposição vão protelar o máximo possível a escolha dos nomes. A avaliação dos dirigentes é que, se o processo andar muito rápido, "o governo leva". O melhor cenário para integrantes do PSDB e DEM é que a análise do processo só fique para depois do Carnaval, em fevereiro. O que os daria tempo suficiente para mobilizar as ruas e, assim, pressionar parlamentares. 158

- Estamos enrolando para embolar essa nomeação. Queremos que todo o processo demore para garantir que a análise fique para depois do Carnaval. Vamos tocando sem pressa alguma. Porque, se for muito rápido, o governo leva essa - disse um dirigente tucano. O PSDB, que tem direito a seis nomes, ainda não fechou a lista dos integrantes da comissão do impeachment. Há duas correntes no partido: aqueles que acham que é dispensável a participação dos líderes, que já possuem um protagonismo natural na política, dando lugar assim a outros quadros tucanos; e os defensores de que os líderes participem sim da comissão, fazendo uma "simetria" com o PT no campo oposto. Os petistas colocaram no órgão não só o líder do partido na Câmara, deputado Sibá Machado (AC), como o líder do governo, José Guimarães (CE). Mas a indefinição no campo da oposição é mais para fazer com que o processo se alongue do que propriamente pela dificuldade de nomear os integrantes. Entre os tucanos, a tendência majoritária é que participem os líderes da minoria, Bruno Araújo, e o líder tucano na Câmara, Carlos Sampaio. PMDB O grupo dentro do PMDB que é contrário à presidente Dilma Rousseff está articulando a construção de uma chapa alternativa para disputar as vagas a que o partido tem direito dentro da comissão do impeachment. A ideia é evitar que os nomes indicados pelo partido sejam todos alinhados com o Planalto. Isso poderia provocar uma reviravolta na contagem de apoios do Palácio do Planalto. No PMDB, as escolhas - para a irritação de aliados de Cunha - cabem ao líder Leonardo Picciani (RJ), próximo do Palácio do Planalto. Segundo o deputado Washington Reis (RJ), as escolhas de Picciani serão em peso a favor de Dilma. Ele disse que, além de Picciani, já foram escolhidos para integrar a comissão o deputado José Priante (PA) e o próprio Reis. E que ambos votarão contra o impeachment, seguindo o líder. — Apoiamos o presidente Eduardo Cunha, no partido isso é unânime. Mas não é porque ele é contra a Dilma que a gente vai ser também. No campo das ideias é tiro, porrada e bomba — disse Reis ao GLOBO. — O Picciani está cumprindo o seu papel como aliado do governo. Ele fez essa coalizão com o governo e a tendência é ficar ao lado dele. Se o Lucio (Vieira Lima), que perdeu por um voto, tivesse virado líder, ia montar da forma oposta. É do jogo — afirmou o deputado. Eduardo Cunha teria dito a aliados que, caso Picciani faça escolhas muito pró-governo, haveria uma crise "sem precedentes" no PMDB. Segundo disse um peemedebista ao GLOBO, no partido, os deputados Sérgio Souza e João Arruda, ambos do Paraná, também farão parte da comissão. PT NÃO FAZ QUESTÃO DE PRESIDENCIA DA COMISSÃO Ao anunciar os nomes da lista do PT, o líder do partido na Câmara, Sibá Machado, disse que a legenda não fará questão de ocupar a presidência ou a relatoria da comissão que julgará o impeachment de Dilma. - O PT não vai fazer questão da relatoria nem da presidência. Vamos negociar entre os partidos da base aliada - disse Sibá. Há uma avaliação entre os deputados de que os dois postos não deveriam ficar nas mãos de PT nem PMDB, legendas diretamente interessadas no resultado da deliberação do órgão. No PSD, se fala no nome do deputado Paulo Magalhães (BA) para assumir a presidência da comissão. Ele é considerado o parlamentar mais governista da bancada do PSD. O líder do partido, Rogério Rosso, também deve integrar a comissão. O petista defendeu novamente a celeridade no processo, voltando a dizer que é a favor da suspensão do recesso parlamentar, que começa no dia 22 de dezembro. E afirmou que o país não aguentará um "quarto golpe": 159

- O povo não tem nada a ver com essa futrica que o PSDB inventou. Quem pensa sério tem que decidir isso logo, portanto, não pode ter recesso. O que houve é uma grande mentira contra a presidente dizendo que ela cometeu crime e não está escrito isso em lugar nenhum - criticou. PSB É FAVORÁVEL AO IMPEACHMENT O PSB já definiu os quatro parlamentares que representarão o partido na Comissão do Impeachment. O último nome definido por votação foi o do deputado Bebeto (BA), que teve o apoio de nove colegas da legenda. Ele disputou a vaga com Luiza Erundina (SP) e João Fernando Coutinho (PE), que foram eleitos como suplentes, juntamente com José Stédile (RS) e Paulo Foletto (ES). Bebeto disse que não vai votar isoladamente na comissão e pretende "seguir a orientação do partido enquanto instituição". Mais cedo, o PSB já havia anunciado os nomes do líder Fernando Coelho (PE), Danilo Forte (CE) e Tadeu Alencar (PE) como titulares da Comissão. Fernando Coelho disse que, na bancada, prevalece a posição favorável ao partido votar pelo afastamento de Dilma. Dos 34 deputados, em torno de 20 teriam essa opinião. Mas a decisão se dará na próxima quarta-feira, quando a Executiva do partido se reúne, em Brasília. PLACAR PARCIAL DO IMPEACHMENT: 23 CONTRA, 13 A FAVOR E 29 INDEFINIDOS CONTRÁRIOS AO IMPEACHMENT: PT (8 TITULARES) Titulares: José Guimarães (CE), Sibá Machado (AC),Wadih Damous (RJ), Henrique Fontana (RS), Arlindo Chinaglia (SP), Paulo Teixeira (SP), José Mentor (SP) e Vicente Cândido (SP) Suplentes: Afonso Florence (BA), Benedita da Silva (RJ), Carlos Zarattini (SP), Leo de Britto (AC), Maria do Rosário (RS), Paulo Pimenta (RS), Pepe Vargas (RS)e Valmir Assunção (BA) PDT (2 TITULARES) Titulares: Afonso Motta (RS) e Dagoberto (MS) PR (4 TITULARES) Titulares: Maurício Quintella Lessa (AL), Aelton Freitas (MG), Márcio Alvino (SP)e Lúcio Vale (PA) Suplentes: Miguel Lombardi (SP), Altineu Cortes (RJ), João Carlos Bacelar (BA) e Wellington Roberto (PB) PSOL (1 TITULAR) Titular: Ivan Valente (SP) Suplente: Chico Alencar (RJ) PCdoB (1 TITULAR) Titular: Jandira Feghalli (RJ) PROS (2 TITULARES) Titulares: Givaldo Carimbão (AL) e Hugo Leal (RJ) Suplentes: Beto Salame (PA) e (DF) PMDB (5 TITULARES) Leonardo Picciani (RJ), Washington Reis (RJ), José Priante (PA), João Arruda (PA) e Hildo Rocha (MA) 160

FAVORÁVEIS AO IMPEACHMENT PSDB (6 TITULARES) Titulares: Carlos Sampaio (SP), Bruno Araújo (Pe) + 4 indefinidos DEM (2 TITULARES) Rodrigo Maia (RJ) + 1 indefinido PSC (2 TITULARES) Titulares: Eduardo Bolsonaro (RJ), Marco Feliciano (SP) Suplentes: Irmão Lázaro (BA), Delegado Marcos Reategui (AP) SOLIDARIEDADE (2 TITULARES) Titulares: Arthur Maia (BA), Paulinho da Força (SP) Suplentes: Genecias Noronha (CE), Fernando Francischini (PR) PPS (1 TITULAR) Titular: Alexandre Manente (SP)

INDEFINIDOS PMDB ( 3 TITULARES) Nomes ainda não definidos PSD (4 TITULARES) Rogério Rosso (DF), Júlio César (Pi), Paulo Magalhães (BA) + 1 nome não definido PP (4 TITULARES) Nomes ainda não definidos PSB (4 TITULARES) Titulares: (PE), Danilo Forte (CE)Tadeu Alencar (PE) + Bebeto (Ba) PTB (3 TITULARES) Nomes ainda não definidos PRB (2 TITULARES) Titulares: Vinicius Carvalho (SP), Jhonatan de Jesus (RR) Suplentes: Cleber Verde (MA)Ronaldo Martins (CE) PMB (1 TITULAR) Titular: Valtenir Pereira (MT) Suplente: Major Olimpio (SP) PV (1 TITULAR) Titular: (MA) Suplente: Evair de Melo (ES) REDE (1 TITULAR) Nome ainda não definidos PHS (1 TITULAR) Nomes ainda não definidos 161

PTN (1 TITULAR) Titular: Bacelar (BA) Suplente: Delegado Edson Moreira (MG) PMN (1 TITULAR) Antônio Jácome (RN) PEN (1 TITULAR) Titular: Júnior Marreca (MA) Suplente: André Fufuca (MA) PTC (1 TITULAR) Uldurico Júnior (BA) PTdoB (1 TITULAR) Nome ainda não definidos

Notícia 6: Lula compara momento vivido pelo Brasil a ‘trem descarrilado’ Link: https://oglobo.globo.com/brasil/lula-compara-momento-vivido-pelo-brasil-trem- descarrilado-18238163

Lula compara momento vivido pelo Brasil a ‘trem descarrilado’ Ex-presidente pediu apoio das centrais sindicais para defender governo Dilma POR SÉRGIO ROXO –07/12/2015 15:15 / ATUALIZADO 07/12/2015 15:38

SÃO PAULO - Cinco dias depois da abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula avaliou nesta segunda-feira que o momento no país é de um “trem descarrilado” e apelou às centrais sindicais para que evitem ataques ao governo. Num ato organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), em São Paulo, Lula disse ainda que 162 a oposição “quer tirar o pobre do poder” e que o processo aberto pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é motivado por “ódio e preconceito”. Embora tenha pedido apoio às centrais, a primeira reunião para definir um calendário em favor do mandato da presidente Dilma revelou que as centrais não pretendem atender ao apelo de Lula. Líderes sindicais e de entidades de esquerda já avisaram que não vão deixar de lado os pedidos por mudança nos rumos da economia. Lula revelou que Dilma quer se reunir ainda nesta semana com os movimentos dispostos a lutar contra o impeachment. — É como se nós estivéssemos andando num trem que tivesse descarrilado. Não temos agora que ficar brigando para saber em qual vagão cada um vai entrar. A gente tem que colocar o trem outra vez no trilho. Quando ele estiver no trilho, a gente vai brigar. Mas para a gente construir esse direito de brigar outra vez, não podemos permitir que haja um golpe de estado via impeachment — discursou Lula. O ex-presidente evitou mencionar o nome do vice-presidente Michel Temer. — Se há uma certa dificuldade, a possibilidade de a gente recuperar é com a companheira Dilma na Presidência. Não é com Eduardo Cunha, não é com Aécio (Neves, presidente do PSDB). O modelo de política econômica deles é governar o país para 1/3 da população. Para Lula, ao embarcar no impeachment a oposição quer, na verdade, tirar os pobres do poder, que, de acordo com o petista, assumiram esse lugar com a sua eleição em 2002. — Se a gente pudesse colocar pobres na bolsa de valores durante a eleição, as ações iriam estourar. Depois das eleições, cairiam outra vez. Foi esse país que chegou ao poder (em 2003). É esse país que eles querem tirar. Não querem a Dilma por causa da Dilma. Eles querem tirar a Dilma porque sabem que enquanto ela estiver lá, os pobres vão continuar tendo direto à universidade, as cotas vão ser defendidas, o Bolsa Família vai continuar, o Minha Casa Minha Vida vai continuar. Querem acabar com essa história de que o povo pode governar. O presidente do PT, Rui Falcão, disse que o momento exige uma “grande coalização nacional”. O ato reuniu representantes de outras sindicais, como a Força Sindical, a UGT e a CTB, de movimentos sociais, como a UNE, o MST e a Central de Movimentos Populares, e partidos políticos, como o PT, PDT, PCdoB e PCO. Em encontro reservado antes do ato oficial, os líderes dos movimentos definiram que o movimento terá três bandeiras: não ao golpe, fora Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e por mudanças na política econômica. Os movimentos vão ainda definir na tarde desta segunda-feira, a data do primeiro ato em São Paulo, que deve ocorrer na quarta-feira ou quinta-feira da semana que vem. Lula voltou a dizer que não há motivação para o pedido de impeachment. — No caso da Dilma, não há uma motivação a não ser o ódio, preconceito. O ex-presidente contou ter recebido no sábado uma ligação do ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, em que ele revelou a intenção de a presidente se reunir com os movimentos sociais. Para Lula, além de mobilizar a sociedade, é importante fazer um acompanhamento diário do posicionamento dos deputados. Ele comparou a situação com a das Direitas Já, quando o povo foi às ruas, mas a proposta de eleições diretas para presidente foi derrotada no Congresso.

Notícia 7: Oposição diz que carta de Temer é sinal de uma ruptura irreversível Link: https://oglobo.globo.com/brasil/oposicao-diz-que-carta-de-temer-sinal-de-uma-ruptura- irreversivel-18245053 163

Oposição diz que carta de Temer é sinal de uma ruptura irreversível Aécio pede a unidade dos partidos para pressionar pela aprovação do impeachment POR MARIA LIMA – 08/12/2015 12:16 / ATUALIZADO 08/12/2015 17:49 BRASÍLIA — Reunidos na manhã desta terça-feira com dirigentes estaduais da legenda, integrantes do comando do PSDB se disseram incrédulos com o agravamento da crise que envolve a presidente Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, que em uma carta enviada ontem a companheira de chapa revelou sua disposição de se manter distante no momento em que ela enfrenta um processo de impeachment. Os tucanos avaliaram que a carta significa uma ruptura profunda e irreversível entre os dois principais atores na linha de comando do governo. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, aproveitou para conclamar a unidade dos partidos e a sociedade para pressionar pela aprovação do impeachment. — É um momento de enorme gravidade e é muito importante que oposições estejam unidas para enfrentar esse momento de enorme turbulência, essa crise moral, econômica e social sem precedentes na qual o governo do PT e presidente Dilma mergulharam o país. É uma hora em que precisamos ter muita serenidade, mas nós queremos que a população brasileira participe ao lado do PSDB nesse esforço de botar fim a esse ciclo perverso de governo do PT para iniciarmos outro ciclo virtuoso. Esse é o papel das oposições nesse momento — disse. Presidente da Comissão de Relações Exteriores, o senador Ferreira (PSDB-SP), avalia que a carta de Temer foi uma ruptura grave, um sinal verde para o PMDB aprovar o impeachment da presidente Dilma. — O vice presidente é latinista e ele começa a carta com uma frase em latim que significa : as palavras vão, mas os escritos ficam. Ele poderia completar com outra célebre frase latina: Alea jacta est , a sorte está lançada. Acho que esse é um movimento sem volta, uma ruptura grave. A presidente Dilma cometeu a imprudência de tentar dividir o PMDB e isso não está certo. Eu penso que essa carta é sinal de uma ruptura irreversível, sinal de consequências muito graves para a presidente — avaliou Aloysio Nunes. O líder do Democratas, senador Ronaldo Caiado (GO), disse que a carta de Temer é uma declaração a favor do impeachment de Dilma. — Houve uma posição sem rodeios, onde expõe, além da incapacidade administrativa, a falta de apoio político da presidente. O foco principal do Democratas é tirar o País dessa situação. Dilma 164 perdeu todas as condições de continuar. Mas o Democratas só vai discutir apoio a nomes depois que o impeachment for sacramentado. Depois será uma nova etapa, onde vamos optar por um projeto que recoloque o País nos trilhos e arrume a bagunça e o estrago da era PT — disse Caiado. JARBAS VASCONCELOS DECLARA APOIO A TEMER Afastado de Michel Temer e do comando do partido há 10 anos por causa da aliança com o PT, o deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) disse que vai se colocar a disposição do vice- presidente para ajudá-lo no que puder. Jarbas disse que avalia o episódio da carta encaminhada a presidente Dilma como positivo, pois explicita uma relação que vinha sofrendo um stress visível há muito tempo. Jarbas criticou também a “violação” de uma correspondência privada por parte da presidente e acha que o caso vai impulsionar a participação do PMDB no impeachment. — Temer resolveu explicitar esse stress num momento muito importante, em que o Brasil precisa de uma definição. Isso vai ajudar muito a união do PMDB, que estava muito fragmentado, e vai avançar para o impeachment. Vou me colocar a disposição de Temer para ajudá-lo no que puder dentro do PMDB. Estou afastado dele há 10 anos por causa do PT, mas agora Temer está sob fogo do mesmo PT e estarei ao seu lado — declarou Jarbas Vasconcelos. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, disse que o desabafo de Temer não lhe causou surpresa, porque conhece bem o modo de operar do PT com os partidos aliados. — Essa sempre foi a forma de o PT tratar seus aliados. A visão exclusivista desse partido sempre esteve presente nas suas relações políticas e isto é reflexo de uma visão autoritária de poder. As consequências, como diria o conselheiro Acácio, vem sempre depois. De modo que não fiquei surpreso com teor da carta, pensava até que tivesse havido coisas ainda piores — observou Siqueira. LÍDER ACUSA DILMA DE CHANTAGEM Ainda sem uma posição oficial do partido sobre a convocação do Congresso durante o recesso, para agilizar o processo do impeachment como quer a presidente Dilma e o empresariado nacional, o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB) diz que todas as dificuldades que o País está vivendo decorrem da paralisia do governo. A bancada do PSDB na Câmara também se reuniu para cobrar uma posição institucional do partido sobre o recesso. Cássio acusou a presidente Dilma Rousseff de chamar os governadores a Brasília para discutir a crise da microcefalia, para fazer chantagem em busca de apoio. — Vamos dar a celeridade que for preciso. Hoje a presidente convoca governadores para discutir o problema da microcefalia, quando ela já deveria ter agido em relação a esse problema que é muito grave, há muito tempo. E faz desse tema mais um instrumento de chantagem e pressão junto aos governadores para tentar encobrir os malfeitos, a roubalheira e a grave crise de corrupção. A presidente tem instrumentos legais para convocar o Congresso e se o Congresso for convocado nós estaremos, como sempre estivemos, atentos e vigilantes, trabalhando pelo Brasil — disse Cunha Lima. Sobre as conversas do PSDB com o vice Michel Temer sobre um eventual apoio a um governo de transição, Aécio disse que primeiro é preciso resolver o problema do impeachment. E depois caberá a Temer, se assumir o cargo, apresentar seu programa de governo. Aécio disse que são duas questões e dois momentos distintos, nesse instante o que está em jogo é a aprovação ou não do impeachment. — O PSDB tem um projeto para o País. Apresentou esse projeto como deveriam ter feito outras forças políticas durante a campanha eleitoral. Discutiu esse projeto com a sociedade brasileira e quase que venceu as eleições. Nós obviamente estaremos sempre ao lado do que interessa ao Brasil. Quanto a participação em eventual futuro governo, isso ainda está absolutamente distante de qualquer pensamento do PSDB. Nesse instante é garantir que o rito do impeachment seja cumprido adequadamente e a partir daí, aqueles que tiverem a responsabilidade de exercer a Presidência, é quem tem que apresentar o seu projeto ao país — finalizou. 165

Notícia 8: Temer mira na base aliada e acena com espaço num eventual governo Link: https://oglobo.globo.com/brasil/temer-mira-na-base-aliada-acena-com-espaco-num- eventual-governo-18282964

Temer mira na base aliada e acena com espaço num eventual governo Na execução da estratégia estão os ex-ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco POR SIMONE IGLESIAS E JÚNIA GAMA 13/12/2015 6:00 / ATUALIZADO 13/12/2015 8:29 BRASÍLIA — Mais do que cargos, deputados e presidentes de partidos da base aliada têm recebido acenos de que passarão a ter poder político real para influenciar diretamente decisões em um eventual governo do vice-presidente Michel Temer. Em conversas que se intensificaram nas últimas semanas, parlamentares de partidos que compõem o “centrão” da base aliada, como PR, PP e PSD — aqueles que tradicionalmente apoiam todos os governos, à exceção de PT e PCdoB — se tornaram alvo de investidas do grupo do vice, que busca votos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na linha de frente da execução dessa estratégia estão os ex- ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco e os ex-deputados peemedebistas Rodrigo Rocha Loures, Geddel Vieira Lima e Sandro Mabel, este último o mais ativo da equipe nas conversas dentro da Câmara. Os principais argumentos usados são os estilos diferentes de Dilma e Temer na convivência política; a ampliação de espaços no governo, e a garantia de que os compromissos assumidos serão cumpridos. Sempre “muito discreto”, contam os políticos que tiveram encontros recentes com o vice, Temer fala em respeito ao Parlamento e cita que irá incorporar aos programas dos ministérios as emendas dos deputados, garantindo sua execução, e fazendo sair do papel a obrigação de o governo cumprir o orçamento que for aprovado pelo Congresso — levando ao que ele próprio chamou na sexta-feira de “semiparlamentarismo”. — Não se fala em distribuição fria de cargos, “você vai ser ministro disso ou daquilo”. As conversas giram em torno da ideia do governo de coalizão e que espaço não é problema, haverá para os que chegarem e será ampliado aos que já estão — disse ao GLOBO um dos deputados participantes das reuniões. 166

Nos últimos 15 dias, o vice conversou com presidentes de partidos da base aliada, como Marcos Pereira, do PRB; dirigentes do PSB e até o presidente do oposicionista Solidariedade, Paulo Pereira da Silva. Além das sinalizações de compartilhamento do poder, integrantes da base relatam que interlocutores de Michel Temer já começaram a fazer acenos com cargos em um eventual governo do peemedebista. MINISTÉRIOS NAS ESPECULAÇÕES Ministérios hoje ocupados por defensores de Dilma Rousseff estão no centro dessas especulações, especialmente aqueles que alojam representantes de parcelas de bancadas que já não são maioria, como Saúde e Ciência e Tecnologia. Os respectivos ministros dessas duas pastas, os peemedebistas Marcelo Castro e Celso Pansera — ambos contrários ao impeachment —, foram indicados ao cargo por Leonardo Picciani (PMDB-RJ), destituído da liderança do partido na semana passada. Governistas que tentam recompor o apoio no Congresso para barrar o processo de impeachment dizem que enfrentam hoje uma dupla dificuldade na disputa pelos votos dos deputados. Primeiro, a falta de credibilidade do Planalto pelo descumprimento de acordos firmados anteriormente com a base aliada. E, para completar, o ex-ministro Eliseu Padilha carrega consigo uma planilha do tempo em que ocupou a articulação política de Dilma com um amplo mapeamento sobre os pedidos dos parlamentares em diversas esferas, com respostas sobre o que foi ou não contemplado. — O governo não tem dinheiro para liberar emendas, e muitas nomeações estão travadas. Em vez de jogar com transparência e dizer que alguns casos não podem ser resolvidos e oferecer uma alternativa, o governo quer continuar fazendo reuniões para marcar novas reuniões — resume um líder governista. O que mais tem atraído a atenção dos parlamentares é a possibilidade de ter um presidente de postura menos hostil do que Dilma. Deputados relembram nas conversas a relação que tinham com Temer nas três vezes em que ele presidiu a Câmara e acreditam que seu estilo “educado”, “gentil” e “agradável” integrará os aliados. — Ninguém aguenta mais ser escrachado em reunião com a presidente. Temer é um lorde, e este é o maior ponto fraco de Dilma dentro da Câmara — disse um líder aliado pedindo reserva ao GLOBO. Por trás de tantas conversas e promessas de um governo de real coalizão está a busca por votos para derrubar Dilma. Na semana passada, a votação secreta para a escolha da chapa que iria compor a comissão do impeachment serviu como um termômetro: a oposição teve 272 e o governo, 199. Os líderes dos partidos da base identificaram imediatamente defecções nas bancadas, situação que irá se repetir em todas as votações sobre o tema. Faltam à oposição 70 votos para atingir os 342 necessários (dois terços) para aprovar a admissibilidade da ação contra Dilma. Representantes partidários que estiveram em conversas com Temer nos últimos dias dizem que o mais importante agora é ficar claro que será um governo de “união nacional”, e não apenas do PMDB.

Notícia 9: Decisão do STF sobre Lula repercute na imprensa internacional Link: https://oglobo.globo.com/brasil/decisao-do-stf-sobre-lula-repercute-na-imprensa- internacional-22558852 167

Decisão do STF sobre Lula repercute na imprensa internacional Jornais estrangeiros como 'Le Monde', 'El País' e 'The Guardian' noticiaram o resultado do pedido de habeas corpus POR O GLOBO – 05/04/2018 6:27 / ATUALIZADO 05/04/2018 11:38 RIO — "Brasil é o reino do imprevisível", assim começa a matéria do jornal espanhol "El País" sobre o resultado do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o pedido de habeas corpus feito pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que durou quase 11 horas. Por seis votos a cinco, o STF rejeitou, já na madrugada desta quinta-feira, a solicitação da defesa do petista. Diversos outros jornais estrangeiros repercutiram a decisão sobre seu destino. (CONFIRA AS ANÁLISES DOS VOTOS) O jornal britânico "The Guardian" considerou a escolha dos ministros uma "virada extraordinária de eventos", ou seja, um acontecimento surpreendente. A matéria, que esteve na manchete do site no início da manhã desta quinta-feira, frisou ainda que Lula, "o político mais popular do Brasil", deixou a presidência em 2010 com uma aprovação de mais de 80%. O alemão "Bild" também destacou a popularidade de Lula, ao chamá-lo de "superstar", enquanto estava no governo. No título, descreveu os últimos acontecimentos no Brasil como um "terremoto político". De forma semelhante, o jornal americano "The New York Times", chamou a decisão do STF de "explosiva", e uma análise da rede britânica "BBC" escreveu que o julgamento aconteceu em meio a uma "atmosfera altamente carregada". "Enquanto os brasileiros estão acostumados a frequentes atrasos e divagações nos tribunais, essa deliberação de dez horas pareceu particularmente longa nessa atmosfera altamente carregada", diz o trecho. O "Le Monde", por sua vez, começou a notícia com a descrição de como Lula assistiu o julgamento no prédio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. "Lugar onde, para o antigo operário da fábrica Volkswagen, tudo começou, e onde tudo terminou abruptamente". Já o "Le Figaro" foi mais direto em seu título: "Lula nas portas da prisão". Essa mesma ideia de término da carreira foi adotada pelos jornais "La Repubblica", da Itália, e "Washington Post", dos Estados Unidos. Para formar a primeira frase da reportagem que repercute 168 a decisão do STF, bastou apenas para o italiano dizer: "Acabou", seguido de: "Luiz Inácio Lula da Silva acabará na cadeia". Já o americano afirmou que o STF decidiu que o ex-presidente deve ser preso antes que possa apelar de uma condenação por corrupção, "extinguindo efetivamente a carreira de 40 anos de um dos políticos mais influentes da história moderna do Brasil".

Notícia 10: Aliados de Lula criticam rapidez do pedido de prisão de Lula

Aliados de Lula criticam rapidez do pedido de prisão de Lula Adversários comemoram e falam em cumprimento da Constituição POR CATARINA ALENCASTRO / MARIA LIMA / BRUNO GOÉS – 05/04/2018 18:51 / ATUALIZADO 06/04/2018 10:04 BRASÍLIA — Imediatamente após a publicação da notícia da decretação da prisão do ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aliados dos petistas conclamaram nas redes sociais os apoiadores a reagirem e reclamaram da rapidez da decisão do juiz federal Sergio Moro, da 13ª Vara de Curitiba. Enquanto isso, adversários comemoraram e disseram que a Constituição foi cumprida. A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) defendeu, em sua conta no Twitter, que Lula não se entregue em Curitiba, como foi determinado por Moro. Presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse que a ordem de prisão "reedita os tempos da ditadura". O líder do PCdoB na Câmara, deputado Orlando Silva (SP), disse que a decisão foi um "atropelo completo". Para ele, a decisão surpreendeu a todos, e significa uma "sanha" para prender o ex- presidente. — Surpreendente a decisão do TRF-4 e do juiz Moro. Ontem mesmo o país inteiro assistia ao julgamento do Supremo Tribunal Federal e no mesmo dia em que o julgamento é concluído o TRF toma essa decisão? É um atropelo completo. É uma sanha para prender o presidente Lula. É o fim da picada, uma sanha que não há limite disse Silva. O líder da Minoria no Senado, Humberto Costa (PT-PE) disse que a determinação é um "declarado abuso nessa caçada política". 169

Mais indignada, a senadora Vanessa Grazziotin (PcdoB-AM) conclamou os aliados de Lula a reagirem e ironizou, dizendo que Lula só será preso porque não é do PSDB. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), em vídeo publicado nas redes sociais, declarou que "não aceita" a decisão do juiz Sérgio Moro e que participará de uma "grande vigília" em São Bernardo do Campo (SP): — Isso é algo extremamente grave, inaceitável, nós não esgotamos todos os recursos no TRF-4 e isso significa uma enorme violência institucional, uma violência contra o maior líder popular da História deste país — disse Paulo Pimenta. O líder do PSB na Câmara, deputado Júlio Delgado (MG), disse que a decisão foi estranhamente célere, e que contribui para acirrar o clima beligerante que se viu ao longo de quarta-feira durante o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) do habeas corpus do ex-presidente. — Botaram os pés pelas mãos. Ontem o Brasil estava tomado por um clima de disputa beligerante em torno da prisão. Ainda restavam recursos a serem analisados, ninguém esperava que essa prisão fosse ser decretada ainda hoje. Todos imaginavam que o TRF 4 e Moro esperariam a poeira baixar. Não esperaram nem o prazo de publicação da decisão do STF. Houve uma celeridade fora do comum. Quiseram executar a pena rapidamente, e isso só agudiza o sentimento de beligerância — afirmou. ADVERSÁRIOS DO PETISTA COMEMORAM Em um vídeo postado no Twitter, o senador Álvaro Dias (Podemos-PR), pré-candidato do Podemos a presidência, disse que a impunidade perdeu. — É lastimável ver um ex-presidente ser conduzido à prisão, mas é um avanço. A impunidade perdeu, o Estado de direito prevaleceu. As leis estão governando os homens nesse momento e estamos caminhando para a inauguração de uma nova Justiça. É assim que se constrói uma grande nação — disse Álvaro Dias. Também em vídeo, o líder do PPS, deputado Alex Manente (SP), disse que hoje é um dia histórico porque passa a mensagem de que a Justiça chega para todos. — Um dia histórico para o Brasil. Finalmente está sendo preso o ex-presidente Lula, chefe de uma das maiores organizações criminosas com o dinheiro público. Não tenho dúvida de que isso deixa todos nós com a sensação de justiça, de que ela chega para todos, de que não se pode cometer crimes em qualquer escala de poder. Mas também nos deixa envergonhados perante o mundo ver um ex-presidente preso. É assim que temos que construir o Brasil, com esse exemplo de que quem comete corrupção tem a sua punição. Isso é um novo país — disse. O líder do DEM, senador Ronaldo Caiado (GO), ressaltou o fato de Moro ter dado a Lula um tratamento diferenciado. “Tudo pronto para a prisão do condenado por corrupção. Moro dá a Lula a oportunidade de se apresentar voluntariamente até amanhã, 17 horas na Polícia Federal de Curitiba. Moro determina prisão de Lula para cumprir pena no caso do triplex em Guarujá”. escreveu, também no Twitter Depois, em nota, Caiado disse que o Brasil mudou e vive um novo momento e quem não se conscientizar disso estará fora da política e preso respondendo pelos seus crimes. “A prisão de Lula mostra a força e a conscientização do povo brasileiro em não aceitar quem usa o cargo público para corromper e ser corrompido. É uma quebra de paradigma, pois ninguém imaginava que um dia um ex-presidente corrupto iria para a cadeia. Os “intocáveis” vieram para a ala dos comuns e receberão tratamento igualitário da justiça, que reergueu a autoestima do brasileiro e reacendeu a esperança de um país mais justo. Nosso povo passou a acreditar que o Brasil tem solução. E tudo isso graças a pessoas do quilate do juiz Sérgio Moro, que começou essa transformação exercendo seu trabalho de forma isenta e eficaz. Sempre com garra, determinação, respeitando as leis e a Constituição”, diz a nota” 170

A senadora Ana Amélia (PP-RS), escreveu apenas que “ninguém está acima da lei”. No mesmo tom de Ana Amélia, o Ataídes Oliveira (PSDB-TO) comentou que a prisão de Lula é constitucional. “É o que diz a Constituição: todos são iguais perante a lei”. Vice-presidente nacional do PSDB, o deputado Carlos Sampaio afirmou, em vídeo postado no Facebook, que a notícia era "uma alegria": — Para mim, que faço oposição a ele e ao PT desde que fui eleito deputado federal, em 2002, significa o fim de uma era para o chefe de um dos maiores esquemas de corrupção que esse país já teve. Parabéns ao juiz Sérgio Moro!!

Notícia 11: Atos pró-Lula acontecem em ao menos 22 estados e no DF Link: https://oglobo.globo.com/brasil/atos-pro-lula-acontecem-em-ao-menos-22-estados-no-df- 22566255

Atos pró-Lula acontecem em ao menos 22 estados e no DF No Rio, manifestantes caminham em direção à Cinelândia POR O GLOBO – 06/04/2018 18:17 / ATUALIZADO 06/04/2018 19:59 RIO — Ao menos 22 estados brasileiros e o Distrito Federal registram, nesta sexta-feira, em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja prisão foi decretada na quinta pelo juiz Sergio Moro. No Rio, um grupo de manifestantes se concentram na região central da cidade e planeja uma caminhada. Em São Bernardo do Campo (SP), a militância petista se reúne nos arredores do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde o ex-presidente permanece desde a noite de quinta. Lula não cumpriu a ordem judicial de se entregar à Polícia Federal (PF) em Curitiba até as 17h desta sexta. Além de Rio e São Paulo, foram registrados atos em Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Sergipe, Tocantins. Na Paraíba, uma mulher de 35 anos foi baleada durante o protesto na BR-101 pela manhã. O ato no Rio teve início por volta das 18h. Manifestantes se concentraram na Praça da Candelária e tinham o objetivo de seguir em direção à Cinelândia. O grupo carrega placas e bandeiras de 171 partidos políticos e movimentos sociais, enquanto representantes discursam e gritam palavras de ordem. Adesivos com a frase "Lula Livre" são distribuídos entre os presentes. Devido ao movimento, a circulação do VLT entre a Candelária e o aeroporto Santos Dumont está suspensa. Um pequeno comboio do Exército passou pela Avenida Presidente Vargas e recebeu vaias dos manifestantes. Em discurso contra a prisão de Lula, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) defendeu a união dos representantes da esquerda: — É inaceitável a prisão de Lula por uma razão simples: é mais um capítulo do golpe. Eu respeito o judiciário, mas o papel que eles estão cumprindo hoje, é um papel ideológico que não cabe a eles. Esse é um momento significativo. A esquerda está unida em praça pública para dizer que não abre mão da democracia porque na ditadura quem pagou com suas vidas foram os companheiros e companheiras da esquerda. OUTROS ESTADOS Em Maceió, cerca de 200 manifestantes se encontraram na Praça do Centenário, segundo informações dos organizadores e da PM. Já no Rio Grande do Norte, um grupo queimou pneus na BR-101, sentido Parnamirim-Natal, durante a manhã. Agentes do Corpo de Bombeiros apagaram o fogo, e o trecho foi liberado às 6h20. Situações semelhantes se repetiram em outros estados. Emm Minas Gerais, militantes atearam fogo em galhos secos na Rodovia Fernão Dias, sentido Belo Horizonte. Na capital mineira, participantes do protesto se reuniram na Praça Sete de Setembro. Em Alagoas, estradas também tiveram trechos interditados por manifestantes. Na Bahia, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra bloquearam estradas em cidades do interior.

Notícia 12: Ministro de Temer foi ao Qatar tratar de temas privados com diárias da Câmara Link: https://oglobo.globo.com/brasil/ministro-de-temer-foi-ao-qatar-tratar-de-temas-privados- com-diarias-da-camara-22566506

172

Ministro de Temer foi ao Qatar tratar de temas privados com diárias da Câmara Marun viajou com diretor comercial da empresa de sua mulher POR JULIANA DAL PIVA – 07/04/2018 9:00 / ATUALIZADO 07/04/2018 9:13 RIO - Quando ainda era apenas deputado federal, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, viajou em missão oficial da Câmara dos Deputados para os Emirados Árabes e Qatar, acompanhado do diretor financeiro da Brazilian Opportunities Assessoria Empresarial, ou Bropp, empresa da qual sua mulher, Luciane Marun, é sócia majoritária. A viagem ocorreu entre os dias 18 a 23 de dezembro de 2016 e ele recebeu R$ 1.577,40 para cinco diárias no período. As informações foram publicadas em reportagem da revista Época, que chegou às bancas nesta sexta- feira (6). O ministro confirmou que esteve em Dubai no banco SG Morgan com Mário Fernando Calheiros, diretor comercial da Bropp. “Ele (Calheiros) que fez esse contato desse banco comigo”, admitiu. Marun sustenta, no entanto, que não há conflito de interesses entre sua atuação pública e a Bropp. “Torço para que ela tenha sucesso. Ela é uma mulher que trabalha, não é uma dondoca, e, dando certo os negócios que ela está conduzindo, isso vai ser bom para o Brasil também”, disse Marun. Desde que se tornou ministro, em dezembro do ano passado, Marun já fez ao menos sete encontros oficiais com autoridades do Kuwait, da Líbia, da Tunísia, do Iraque e do Líbano. O GLOBO solicitou os registros dos encontros do ministro com esses embaixadores por meio de Lei de Acesso à Informação, mas em nenhuma dessas reuniões foi produzida uma ata. Na última semana, Marun também esteve com o presidente Michel Temer no Fórum Econômico Brasil-Países Árabes, em São Paulo. Seu antecessor no cargo, o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), não registrou agendas com essas autoridades ao longo de quase um ano. No relatório de prestação de contas da viagem ao Qatar, o então deputado escreveu que as visitas serviram para “discutir temas de cooperação econômica” e informou que esteve na embaixada brasileira em Abu Dhabi e no Ministério de Relações Exteriores do Qatar. Sobre a reunião em Dubai no banco de investimentos SG Morgan, ele disse que fez exposição sobre “oportunidades no Brasil”. A revista Época publicou fotos desse encontro, no qual estavam Marun, Calheiros e Shaun Gregory Morgan, CEO do banco. Morgan nasceu na Nova Zelândia, mas já foi condenado e preso em dois países por fraudes. Primeiro na Suíça, após uma fraude de US$ 30 milhões, e em Utah, nos EUA, quando se declarou culpado por dirigir um banco falso e passar cheques falsos para comprar 40 propriedades. Os casos foram revelados pelo jornalista Matt Nippert, do NZ Herald, jornal de maior circulação de Auckland, na Nova Zelândia. Em 2013, depois de cumprir pena, ele foi deportado para a Nova Zelândia e se envolveu em novos casos de fraude na Austrália. Em seu site, o SG Morgan afirma, genericamente, que faz diversos investimentos, mas não apresenta clientes ou empreendimentos que trabalharam com o banco. Segundo Marun, as conversas entre o banco e a Bropp não evoluíram. Com versão de seu site em português, inglês e até em árabe, a empresa diz que o Brasil vive um “momento especial” da vida política e econômica. “A chegada definitiva do presidente Michel Temer ao poder traz a estabilidade necessária para que este imenso país se transforme no desaguador de investimentos internacionais.” A atividade da Bropp é bastante ampla. Assessora investidores interessados desde em mineração até em turismo, incluindo energia renovável, agronegócios, mineração, siderurgia, infraestrutura e projetos residenciais de alto padrão. Luciane diz que não faz “nada com empresa pública”. Dentro do quadro de sócios está Aldemir Almeida, um dos antigos assessores de Marun no gabinete da Câmara. Desde o início de 2016, Marun teve vários encontros com autoridades e empresários de países do Oriente Médio. Luciane Marun se apresenta agora como uma corretora de imóveis de “alto luxo". Mas naquela época, transformou uma empresa que fazia “atividades de cobrança e informações cadastrais”, a Luana Assessoria de Crédito Empresarial Ltda, na Bropp - focada em assessoria empresarial para empresas do mundo árabe. 173

Em 1º de agosto daquele ano, Marun registrou em seu Facebook um encontro com o então embaixador dos Emirados Árabes, Khalid Khalifa, no qual estava acompanhado de Luiz Alberto Sperotto, à época diretor comercial da Bropp. Na legenda da foto, Sperotto foi apresentado apenas como “economista”. Antes disso, Marun tinha feito duas viagens em missão oficial da Câmara para países árabes. Em junho de 2015, foi para o Líbano com um grupo de deputados. No ano seguinte, repetiu presença no Líbano. Segundo a professora de Direito da FGV Silvana Battini, especialista em improbidade administrativa, esclareceu o que a legislação prevê, em tese, nesses casos. “Se essa pessoa gastou dinheiro público a que ela tinha acesso em função do cargo em benefício próprio ou de terceiro, isso poderia caracterizar sim um crime, de peculato. Além disso, improbidade administrativa. Em tese”, disse. O ministro é réu na Justiça estadual de Mato Grosso do Sul por improbidade devido a contratos com uma empresa de tecnologia da época em que era titular da Pasta da Habitação.

Notícia 13: Temer vê ‘momento difícil’ na política e prega cumprimento da Constituição Link: https://oglobo.globo.com/brasil/temer-ve-momento-dificil-na-politica-prega- cumprimento-da-constituicao-22573029

Temer vê ‘momento difícil’ na política e prega cumprimento da Constituição Presidente diz que Brasil saiu da crise econômica e que sociedade se desorganiza se não cumprir norma jurídica POR JEFERSON RIBEIRO – 09/04/2018 17:18 / ATUALIZADO 09/04/2018 18:53 RIO — Dois dias após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente Michel Temer disse que o país continua num "momento difícil" na política e que é preciso cumprir rigorosamente o "sistema normativo constitucional", porque isso é que dá estabilidade à sociedade. Sem citar o petista, que se entregou à Polícia Federal no sábado, 26 horas depois do fim do prazo estabelecido pelo juiz Sergio Moro, Temer disse que, se a lei não for cumprida, a sociedade se desorganiza. — Nós precisamos saber que nós saímos de um momento difícil do país (na questão econômica). Continuamos num momento difícil também sob o foco político e temos que seguir adiante. E seguir adiante significa cumprir exatamente a normatividade nacional, cumprir a Constituição, cumprir rigorosamente o sistema normativo constitucional — discursou Temer durante a posse 174 do novo presidente do Banco Naconal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dyogo Oliveira, na manhã desta segunda no Rio de Janeiro. Essa foi a primeira reação pública do presidente após a prisão do líder petista, com quem Temer manteve aliança política por muitos anos, se tornando vice-presidente da afilhada política de Lula, a ex-presidente Dilma Rousseff. — É isso (o respeito à Constituição) que dá estabilidade ao país. Nós só temos organização quando se tem o cumprimento estrito da norma jurídica. Quando se acha que não precisa cumprir a norma jurídica você desorganiza a sociedade. A sociedade é organização e a organização é dada pelo direito, pela Constituição — finalizou Temer.

Notícia 14: Em busca de união na base aliada, Temer recebe líderes no Planalto Link: https://oglobo.globo.com/brasil/em-busca-de-uniao-na-base-aliada-temer-recebe-lideres- no-planalto-22600851

Em busca de união na base aliada, Temer recebe líderes no Planalto Governo tenta articular estratégia para votação de matérias prioritárias no Congresso POR KARLA GAMBA – 17/04/2018 15:17 / ATUALIZADO 17/04/2018 15:40 BRASÍLIA - O presidente Michel Temer recebeu líderes da base aliada nesta terça-feira para um almoço no Palácio do Planalto. O encontro é mais uma investida do governo para tentar reunificar sua base e articular uma estratégia para a votação no Congresso de matérias que são consideradas prioritárias para o governo, entre eles a privatização da Eletrobras. Ao todo, 17 deputados participam do encontro, além dos ministros Carlos Marun, da Secretaria de Governo, e Eliseu Padilha, da Casa Civil. Antes do almoço, os líderes fizeram uma reunião prévia com o ministro Marun. Participaram do almoço com o presidente os deputados: Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), André Moura (PSC-SE), Darcísio Perondi (PMDB-RS), Lelo Coimbra (PMDB-ES), Baleia Rossi (PMDB-SP), Nilson Leitão (PSDB-MT), Rodrigo Garcia (DEM-SP), Aluisio Mendes (PODE- MA), Jovair Arantes (PTB-GO), Felipe Bornier (PROS-RJ), Wladimir Costa (SD-PA), Celso Russomano (PRB-SP), Gilberto Nascimento (PSC-SP), José Rocha (PR-BA), Junior Marreca (PEN-MA), Luis Tibe (AVANTE-MG), e Cacá Leão (PP-BA).

175

Notícia 15: Governo quer destinar R$ 1,3 bi para cobrir calote de Venezuela e Moçambique Link: https://oglobo.globo.com/economia/governo-quer-destinar-13-bi-para-cobrir-calote-de- venezuela-mocambique-22629965

Governo quer destinar R$ 1,3 bi para cobrir calote de Venezuela e Moçambique Marun justifica que o Brasil se tornaria inadimplente e sofreria consequências POR KARLA GAMBA / LETÍCIA FERNANDES – 26/04/2018 13:20 / ATUALIZADO 26/04/2018 18:46 BRASÍLIA - O ministro Carlos Marun, da Secretaria de Governo, anunciou nesta quinta-feira que o governo enviará ao Congresso um projeto de lei para incluir no Orçamento cerca de R$ 1,3 bilhão em recursos para que o Fundo Garantidor de Exportação cubra o não pagamento de dívidas da Venezuela e Moçambique. O assunto foi discutido nesta manhã em uma reunião no Palácio do Planalto que contou com a presença do presidente Michel Temer, dos ministros Carlos Marun e Eliseu Padilha (Casa Civil), e de lideranças da Câmara e do Senado. — Nós redigiremos e apresentaremos entre hoje e amanhã um PLN (Projeto de Lei do Congresso Nacional) que vai garantir cerca de R$ 1,3 bilhão, R$ 1,2 bilhão, para que o Fundo Garantidor possa honrar com esses compromissos, que infelizmente não foram honrados por esses países que eu destaquei, Venezuela e Moçambique — afirmou Marun. De acordo com Marun, as dívidas feitas pelos dois países junto ao BNDES e ao Credit Suisse precisam ser pagas até o dia 8 de maio. O valor total da dívida é de R$ 1,5 bilhão, mas o governo já teria R$ 200 milhões. O governo trabalha com a data do dia 2 maio, próxima quarta-feira para que votação do projeto no Congresso. — Nós temos que efetuar esses pagamentos até o dia 8 de maio. O Brasil dispõe dos recursos, mas não existe obviamente previsão orçamentária para tanto, até porque se trata de uma inadimplência desses dois países. Nós temos a necessidade de fazer esse pagamento para que continuemos gozando da real condição de bons pagadores. Por isso, reunimos os lideres, solicitando que eles motivem e convoquem os parlamentares para que na próxima quarta-feira, dia 2 de maio, estejamos todos aqui para cumprir com essa missão — disse o ministro. O ministro demonstrou preocupação com o impasse e afirmou que o não pagamento poderia acarretar em consequências indesejáveis para o país: 176

— O não pagamento teria consequências completamente indesejáveis, o Brasil se tornaria até inadimplente perante a banca internacional, já que um dos bancos que financiou a exportação desse serviço é o Credit Suisse, e também estaríamos inadimplentes perante o BNDES, mesmo sendo um banco público, nessa questão é tratado como se fosse da mesma forma que um banco privado — concluiu Marun. TEMER FOI PEGO DE SURPRESA No começo da tarde, o presidente Michel Temer também comentou o assunto. Na saída de uma cerimônia, no Palácio do Planalto, em um movimento atípico, o presidente - que não costuma falar com jornalistas ao final das cerimônias — reforçou o pedido feito mais cedo aos líderes do Congresso e convocou parlamentares para participar da votação no dia 2 de maio. — Eu quero aproveitar essa oportunidade para solicitar mais uma vez o apoio do Congresso Nacional para que no dia 2, que é uma quarta-feira, nós possamos ter presença para votar um projeto de lei que trata de recursos financeiros para a União cumprir compromissos que são indispensáveis que sejam cumpridos nesse período. São compromissos assumidos no passado, portanto não no nosso governo, mas que este governo tem que cumprir. Portanto eu aproveito para pedir mais uma vez o apoio do nosso Congresso para a reunião que se dará no dia 2, penso que no período da tarde — disse o presidente Temer. O presidente e os seus ministros mais próximos foram pegos de surpresa com a informação sobre o calote. Temer foi avisado pelo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, de que os países não pagariam as dívidas. Ao longo do dia, líderes da base aliada no Congresso estiveram no Palácio do Planalto para conversar com o presidente e com Eliseu Padilha e Carlos Marun, que se esforçam agora para conseguir quórum no Parlamento para que haja sessão na semana que vem, plano dificultado por conta do feriado do Dia do Trabalhado. — Obviamente fomos pegos de surpresa, quem imagina que vai levar um calote? — afirmou um dos ministros palacianos. Apesar do esforço para que o projeto seja enviado ao Congresso ainda nesta sexta-feira, assessores de Temer admitem que, diante da surpresa, é possível que ele só seja enviado na segunda-feira.

Notícia 16: Com avanço de inquérito, Temer cancela ida ao Sudeste Asiático Link: https://oglobo.globo.com/brasil/com-avanco-de-inquerito-temer-cancela-ida-ao-sudeste- asiatico-22639714

177

Com avanço de inquérito, Temer cancela ida ao Sudeste Asiático Presidente desiste de viagem na semana em que sua filha Maristela prestará depoimento à Polícia Federal POR KARLA GAMBA / BÁRBARA NASCIMENTO – 29/04/2018 19:29 / ATUALIZADO 29/04/2018 22:00 BRASÍLIA — O presidente Michel Temer cancelou a viagem que faria pelo Sudeste Asiático a partir de 5 de maio. A desistência ocorre no momento em que as investigaçõesdo inquérito que apura supostas irregularidades em um decreto sobre regras para o setor portuário alcança familiares do presidente. Nesta semana, a filha de Temer Maristela prestará depoimento à Polícia Federal. Segundo integrantes do Palácio do Planalto, o presidente decidiu ficar no país em razão da “importância de votações e decisões tomadas nos próximos dias”. O governo tem que votar e sancionar antes do dia 8 um projeto de lei que permite a liberação de R$ 1,16 bilhões no Orçamento do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) para cobrir calote da Venezuela e de Moçambique ao Brasil. Essa é a segunda vez que a viagem ao Sudeste Asiático é cancelada. Em janeiro, Temer suspendeu a ida à Ásia por problemas de saúde. A visita havia sido remarcada, então, para maio. VOLTA ANTECIPADA A BRASÍLIA O embarque do presidente estava marcado para o dia 5, e a volta, para o dia 14. O foco da viagem era a abertura do mercado para exportações brasileiras. Além de desistir da visita à Ásia, o presidente também antecipou seu retorno a Brasília para a noite deste domingo. Segundo o governo, o intuito era permitir que Temer participasse pessoalmente da articulação para aprovar o projeto de lei capaz de cobrir o calote da Venezuela e Moçambique. Com agenda cheia de eventos públicos durante o final de semana e o feriado, Temer só retornaria à capital na terça-feira, mas acabou optando por cancelar um compromisso que teria nesta segunda-feira em Ribeirão Preto (SP). Temer foi pego de surpresa com a informação sobre o calote dos países, que não pagarão suas dívidas com bancos e, por conta disso, poderiam deixar o Brasil inadimplente, já que o país é uma espécie de fiador dessas operações. O presidente foi avisado nesta semana pelo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, de que as dívidas não seriam pagas. O cancelamento da viagem de Temer desobriga os presidentes da Câmara e do Senado de saírem do país, como ocorreu este mês. Candidatos, Maia e Eunício tiveram que viajar para não assumir a Presidência na ausência de Temer, o que os deixaria inaptos para disputar cargos eletivos.

178

ANEXO 2 – Notícias de O Dia on-line

Notícia 1: Abandonado pelo PT, Cunha acata impeachment de Dilma Rousseff Link: https://odia.ig.com.br/noticia/brasil/2015-12-02/eduardo-cunha-aceita-pedido-de-abertura- de-processo-de-impeachment.html

Abandonado pelo PT, Cunha acata impeachment de Dilma Rousseff Anúncio aconteceu após os petistas decidirem votar a favor da cassação do deputado peemedebista Por O DIA-02/12/2015 20H44 Atualizado às 03/12/2015 02H34 Brasília - Horas depois da decisão do PT de votar contra ele no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou que aceitou o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff formulado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal com o apoio dos partidos de oposição. Agora, será formada comissão especial integrada por deputados para analisar se a petista realmente cometeu crimes. A ação de Cunha foi considerada uma represália à decisão da bancada de deputados federais petistas de votar pelo prosseguimento da cassação de seu mandato. O peemedebista é alvo de processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara. Pela quarta vez, o Conselho adiou a votação que irá decidir se o processo seguirá adiante ou será arquivado. A próxima reunião do Conselho está marcada para terça-feira que vem, dia 8. INFOGRÁFICO: Entenda o que acontece a partir da abertura do rito de impeachment Cunha contou que assinou à tarde o pedido de abertura de impeachment com base na tese de que Dilma cometeu crime de responsabilidade fiscal no atual mandato ao editar decretos de abertura de crédito sem autorização que somam R$ 2,5 bilhões. O presidente da Câmara rejeitou os outros quatro pedidos de afastamento da presidenta por problemas formais. Segundo Cunha, a decisão de acatar o pedido de impeachment foi de “natureza técnica”. “O juízo do presidente da Câmara é única e exclusivamente de mérito. A mim, não tenho nenhuma felicidade de aprovar este ato”, afirmou Cunha, em entrevista coletiva. “Infelizmente não consegui encontrar alguém que desmontasse a tese aceita hoje.” Para o presidente da Câmara, Dilma Rousseff cometeu crime de responsabilidade e, por isso, a aprovação do projeto de lei que muda a meta fiscal de 2015 — ocorrida em sessão do Congresso 179

Nacional à tarde — não corrige a irregularidade cometida. O texto da nova meta fiscal permite que o governo possa registrar um déficit de R$ 119 bilhões este ano, com o pagamento das chamadas “pedaladas fiscais”. O presidente da Câmara disse que havia 34 pedidos de impeachment e que ele rejeitou todas as denúncias que tratavam de fatos ocorridos em 2014. Antes, ele já havia rejeitado 27 deles, e hoje acatou um e rejeitou outros quatro. Ainda há dois pedidos pendentes de análise. “Meu posicionamento sempre foi não considerar atos de mandato anterior”, explicou. “O processo seguirá seu curso normal, com direito à defesa.” Mas se na entrevista coletiva o presidente da Câmara dos Deputados teve uma postura comedida, nas redes sociais ele comemorou a abertura do processo de impeachment. Na publicação do Facebook e no Twitter, Cunha disse que “as manifestações populares não foram em vão!” “Atendendo ao pedido das ruas, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acolheu o pedido de impeachment”, escreveu. Oposição deve salvar presidente da Câmara Com a deflagração do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deverá ser salvo da cassação no Conselho de Ética. A avaliação é que, agora, o DEM e o PTB vão apoiar o arquivamento do processo. E para atrair os votos dos deputados federais do PSDB, o peemedebista fez questão de acolher o pedido apoiado pelo partido dos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr e Janaína Paschoal. Em troca, Cunha aposta que o líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), vai convencer os dois deputados tucanos no Conselho a mudar de posição e a votar pelo engavetamento do pedido de cassação. Os petistas classificaram a atitude de Cunha como “revanchismo” e “golpe”. No Twitter, o presidente da sigla, Rui Falcão, afirmou: “Golpistas não passarão. Não vai ter golpe. Dilma fica”

Notícia 2: Imprensa internacional repercute processo de impeachment de Dilma Link: https://odia.ig.com.br/noticia/brasil/2015-12-03/imprensa-internacional-repercute- processo-de-impeachment-de-dilma.html

Imprensa internacional repercute processo de impeachment de Dilma Jornais do mundo noticiaram a decisão do presidente da Câmara dos Deputados nesta quarta 180

Por O DIA 03/12/2015 12h08 Atualizada às 03/12/2015 12h18 Rio - O início de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff teve ampla repercussão internacional e ganhou as manchetes dos principais jornais ao redor do mundo. A decisão que foi tomada no final da tarde dessa quarta-feira pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, rapidamente repercutiu nos jornais do planeta. O The Washington Post afirmou que a presidente enfrenta o risco de impeachment em meio a outras “desgraças”, destacou. O jornal americano classificou o congresso brasileiro como "inimigo jurado da líder sitiada". Ainda de acordo com a publicação, a maioria dos analistas políticos diz ser improvável que se alcance dois terços dos votos na Câmara dos Deputados. "Rousseff contesta fortemente as acusações", diz, ainda, o periódico. Ainda sobre a presidente, o Washington Post diz que "ela mesma não enfrenta acusações de irregularidades no escândalo de corrupção". O The New York Times também destacou em sua página online a situação da presidente. O jornal considera Cunha como "um parceiro rebelde da coalizão governista", e diz que ele próprio está "lutando pela sobrevivência política em face dos pedidos de sua expulsão" e várias investigações por corrupção. A reportagem lembra que "dezenas de políticos, incluindo Cunha", têm sido implicados em um escândalo de corrupção na estatal Petrobras. Para o Times, o Brasil está "estilhaçando sob o peso da pior recessão do Brasil em 25 anos e de um escândalo de corrupção maciça". Já o espanhol El País, diz que o governo Dilma está ofuscado pela crise política e econômica na qual o Brasil está imerso. O jornal ressaltou a fala de Cunha, que disse que a decisão não foi feita por "motivação política", chamando-o de "todo-poderoso líder da Câmara". De acordo com o espanhol, "o ultraconservador está envolto no escândalo da Petrobras e é dono de supostas contas milionárias na Suíça, que tudo aponta que tenham sido alimentadas graças a subornos". O El País chama a economia brasileira de "moribunda" e diz que ela é afetada pela crise política que se apoderou do país. O La Nácion da Argentina destacou que a crise política no Brasil chegou nesta quarta ao seu ponto de ebulição. De acordo com o argentino, Cunha “encurralado com a perspectiva de perder seu cargo por acusações de corrupção no escândalo de suborno da Petrobras”, surpreendeu ao aceitar um dos pedidos de impeachment contra o presidente Dilma Rousseff”. O jornal relembrou também o último caso de um presidente que passou por esse processo foi Fernando Collor de Mello, em 1992. Outro jornal argentino que destacou o processo de impeachment de Dilma, foi o Clarín. Para o jornal a presidente Dilma estava de “costas para a parede” e que o governo deverá recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra a decisão. O Clarín afirmou que a decisão de Cunha foi uma “chantagem”. O francês Le Monde destacou que “a ameaça de impeachment ronda sobre o Brasil”. O jornal da França afirmou que Cunha, já foi aliado da presidente, agora é o “seu principal rival”. O jornal seguiu dizendo que “nas ruas de São Paulo, o anúncio da abertura do processo de impeachment foi bem acolhida por manifestações que vêm exigindo há meses que a (presidenta) saída do comando”.

Notícia 3: Cunha rebate Dilma e afirma que presidente mentiu quando diz que não barganhou Link: https://odia.ig.com.br/noticia/brasil/2015-12-03/cunha-rebate-dilma-e-afirma-que- presidente-mentiu-quando-diz-que-nao-barganhou.html 181

Cunha rebate Dilma e afirma que presidente mentiu quando diz que não barganhou Aos jornalistas Dilma falou que não aceitaria fazer barganhas com o deputado Por O DIA 03/12/2015 13h51- Atualizada às 03/12/2015 14h35 Brasília – Horas depois da presidente Dilma Rousseff partir para o ataque contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ), após ele aceitar o pedido de abertura do processo de impeachment, o chefe da Câmara concedeu entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira e afirmou que Dilma faltou com a verdade em seu pronunciamento, ao dizer que não faz barganha política. Segundo Cunha, o deputado André Moura (PSC-SE) participou de reunião com Dilma na quarta- feira de manhã em que o governo quis vincular apoio de deputados do PT a ele em processo no Conselho de Ética da Câmara à aprovação da CPMF no Congresso. “A presidente [Dilma] mentiu”. Ela mentiu quando disse que não autorizava qualquer barganha. Ela simplesmente estava participando de uma negociação lá. A presidente queria que tivesse o comprometimento para aprovar a CPMF", afirmou. O presidente da Câmara acatou na quarta-feira pedido de abertura de processo de impeachment contra Dilma elaborado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal, com apoio da oposição. Ele afirmou que a acusação explica claramente as razões do pedido de impeachment. "Apenas me ative aos fatos", disse, citando os decretos que afrontaram a lei orçamentária de 2015. Cunha reiterou que cumpriu um "papel constitucional" ao acolher a denúncia de cassação. De acordo com o peemedebista, ele se recusou a atender o ministro Jaques Vagner para tentar demovê-lo de autorizar a abertura do processo de impeachment. Cunha falou que tem "atrito constante" com o PT, cujo "conjunto" é seu adversário. "Eu prefiro não ter os votos do PT no Conselho (de Ética)", disse. Ele reiterou que não tem a intenção de fazer um "embate pessoal" e falou que não vai emitir sua opinião pessoal sobre o processo. Eduardo enfatizou que a formação da base do governo é feita através de barganhas. No entanto, negou que tenha feito algum tipo de acordo o governo. Ele afirmou ainda que uma possível convocação extraordinária do Congresso, pedida pela oposição, tem que passar pela concordância do presidente do Senado, Renan Calheiros. Eduardo afirmou que sua decisão [de aceitar o pedido de abertura de processo de impeachment de Rousseff] já estava tomada antes dessa quarta-feira. Cunha convocará ainda nesta quinta, uma reunião extraordinária para dia 7, às 18h, para eleição da comissão especial que vai analisar a denúncia contra Dilma e receber a defesa da presidente. 182

Essa comissão, que ainda não foi formada, terá 66 deputados titulares e mesmo número de suplentes, todos indicados pelos líderes partidários. Conselho de Ética No Conselho de Ética, Eduardo Cunha é investigado pela suspeita de receber propina em esquema investigado pela Operação Lava Jato e por manter contas secretas na Suíça, segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Cunha também é acusado de mentir ao negar a existência das contas durante um depoimento na CPI da Petrobras. O colegiado já tentou, quatro vezes, apreciar e votar o parecer do deputado Fausto Pinato (PRB- SP), que pede a continuidade do processo contra o presidente da Casa. O processo ainda está em fase de debates porque aliados de Cunha tem recorrido a brechas regimentais para postergar uma decisão e a conclusão do processo para 2016. Oposição deve salvar presidente da Câmara Com a deflagração do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deverá ser salvo da cassação no Conselho de Ética. Ele é alvo de processo na casa. A avaliação é que, agora, o DEM e o PTB vão apoiar o arquivamento do processo. E para atrair os votos dos deputados federais do PSDB, o peemedebista fez questão de acolher o pedido apoiado pelo partido dos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr e Janaína Paschoal. Em troca, Cunha aposta que o líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), vai convencer os dois deputados tucanos no Conselho a mudar de posição e a votar pelo engavetamento do pedido de cassação. Os petistas classificaram a atitude de Cunha como “revanchismo” e “golpe”. No Twitter, o presidente da sigla, Rui Falcão, afirmou: “Golpistas não passarão. Não vai ter golpe. Dilma fica”. Com informações das Agências Brasil e Reuters

Notícia 4: Dilma diz que vai defender mandato e volta a atacar Cunha Link: https://odia.ig.com.br/noticia/brasil/2015-12-04/dilma-diz-que-vai-defender-mandato-e- volta-a-atacar-cunha.html

183

Dilma diz que vai defender mandato e volta a atacar Cunha Presidenta voltou a afirmar que não tem conta na Suíça e prometeu lutar contra o pedido de impeachment Por O DIA 04/12/2015 16h01 Atualizada às 16h24 Brasília - Em um discurso em que voltou a se referir ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a presidenta Dilma Rousseff disse que vai fazer a defesa de seu mandato "com todos os instrumentos previstos" no estado democrático de direito. Dilma disse que não tem conta na Suíça, prometeu lutar contra o pedido de impeachment contra ela acatado esta semana por Cunha, e voltou a defender sua biografia, durante evento em Brasília que marcou sua primeira agenda externa depois que o processo foi deflagrado. "Nada fiz que justifique esse pedido, e principalmente porque tenho compromisso com essa população que me elegeu", afirmou, em meio a uma plateia que gritou em coro palavras de ordem como "Não vai ter golpe" e "Fora, Cunha". "Eu reafirmo aqui o que disse na quarta. As razões que fundamentam essa proposta são inconsistentes, improcedentes. Eu não cometi nenhum ato ilícito previsto na Constituição Federal. Não tenho conta na Suíça. Não tenho na minha biografia nenhum ato de uso indevido do dinheiro público", disse. Durante o discurso, a presidenta prometeu que fará o País voltar a crescer e gerar mais empregos. Em uma referência ao tema do evento, a 15ª Conferência Nacional de Saúde, ela falou em "movimento saudável da democracia". "Para a saúde da democracia, a gente tem que enfrentar desigualdades, o preconceito contra mulheres, negros, populações indígenas. E para a saúde da democracia, nós temos que defendê-la contra o golpe", declarou. Dilma citou os 13 anos de governo do PT, desde o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ela, "o que está em jogo" são as escolhas políticas feitas na última década, "em favor da soberania do Brasil, do emprego, da renda e da oferta de serviços de qualidade". Ela enumerou ações do governo de combate ao Zika vírus e disse que assim como participou da conferência desta sexta-feira, viaja neste sábado a Recife para participar de uma reunião sobre o tema. "Vou continuar dialogando com todos os segmentos da sociedade para mostrar que essa luta não é em favor de uma pessoa ou de um partido ou grupo de partidos, é uma luta em defesa da democracia desse País construída com muito esforço ao longo das últimas gerações", afirmou. Antes das palavras de Dilma, a presidente do Conselho Nacional de Saúde, Maria do Socorro de Souza, já havia classificado a presidenta como a "maior autoridade deste País" e acompanhado, fazendo movimentos com o punho levantado, os coros de "Não vai ter golpe". Ao terminar o discurso, Dilma Rousseff disse que o evento ficará para a história pois tratou da "saúde dos brasileiros" e "da nossa democracia". "Quero dizer a vocês que nós estamos juntos nessa luta que vai exigir muito diálogo e trabalho. Até 2018 eu e meu governo seremos incansáveis na tarefa de construir saúde de qualidade para cuidar bem dos brasileiros", afirmou. Visita do presidente argentino Mais cedo, Maurício Macri disse que a presidenta Dilma Rousseff está tranquila quanto à abertura do processo de impeachment que foi deflagrada esta semana pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e que a tensão política pela qual passa o Brasil não causa preocupações quanto a uma possível interferência no Mercosul. Após se encontrar com Dilma em Brasília, Macri disse que este é “claramente” um tema que não o diz respeito, mas afirmou que a presidenta explicou a ele a situação que está ocorrendo no Brasil. “Ela está tranquila. Confio plenamente nas instituições do Brasil, que é um país forte, sólido, tem demonstrado ao longo nas últimas décadas uma consolidação sistemática do sistema democrático”, afirmou. A situação política interna do Brasil não preocupa Macri no que diz respeito às atividades do grupo Mercosul, formado, além de Argentina e Brasil, por Uruguai, Paraguai e Venezuela. “A presidenta me manifestou seu compromisso, ela fala piamente em retomar uma agenda do 184

Mercosul. Temos um trabalho ativo de retomar essa agenda do Mercosul. Se o Brasil é melhor, a Argentina também”, declarou. O argentino confirmou a presença de Dilma em sua posse, no próximo dia 10, quando ambos terão uma bilateral, e disse que ambos estão em negociações para que ele faça uma visita de Estado ao Brasil. Reportagem de Paulo Cruz Fonte: IG

Notícia 5: Eduardo Cunha adia definição de nomes para comissão do impeachment Link: https://odia.ig.com.br/noticia/brasil/2015-12-07/eduardo-cunha-adia-definicao-de-nomes- para-comissao-do-impeachment.html

Eduardo Cunha adia definição de nomes para comissão do impeachment Reunião do Conselho para votar processo contra peemedebista pode não ocorrer Por O DIA –07/12/2015 20h32 - Atualizada às 08/12/2015 00h08 Brasília - Ficou para esta terça-feira a instalação da comissão especial que irá analisar o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Decidido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o adiamento foi interpretado como uma manobra para dificultar a reunião do Conselho de Ética, também prevista para essa terça à tarde. Nessa reunião será votado o relatório pela admissibilidade do processo de cassação do mandato de Cunha. Ele explicou que não havia condições técnicas de realizar a votação para a eleição da comissão especial ontem porque dissidentes do PMDB anunciaram, com o apoio da oposição, uma chapa alternativa. O presidente da Câmara reagiu à acusação feita pelo líder do governo, José Guimarães (PT-CE), de que ele estaria “manobrando” para protelar a criação da comissão. “Tem um processo complexo, está havendo dissidência nos partidos. Adiei porque não teria quórum, não houve mobilização dos parlamentares. Acho injusta a essa acusação (de manobrar), ele (Guimarães) é que não pôs quórum. Eles não queriam era que eu adiasse o prazo de inscrição (das chapas). Não há regramento claro. Como impedir que uma chapa se inscrevesse até amanhã? Temos que ter cuidado para que o processo não seja judicializado por erro nosso”, disse Cunha. Depois de deixar o governo, o ex-ministro Eliseu Padilha (PMDB-RS) disse que o vice-presidente Michel Temer está consultando dirigentes de todo o PMDB para definir sua posição sobre o impeachment. Segundo Padilha, Temer está há dez anos no comando do PMDB porque aprendeu 185 a ouvir e identificar a ala majoritária da sigla. “O PMDB está dividido nessa questão (o afastamento de Dilma)”, disse. “É preciso ver onde está o posicionamento majoritário do partido. Nesse momento ele está iniciando essa aferição”, afirmou. A presidenta Dilma Rousseff defendeu que o recesso do Congresso seja suspenso para julgar o pedido de impeachment e outros “assuntos pendentes”, como medidas do pacote de ajuste fiscal.

Notícia 6: Abertura de pedido de cassação de Eduardo Cunha fica para o dia 15 Link: https://odia.ig.com.br/noticia/brasil/2015-12-11/abertura-de-pedido-de-cassacao-de- eduardo-cunha-fica-para-o-dia-15.html

Abertura de pedido de cassação de Eduardo Cunha fica para o dia 15 Deputados saem no tapa no Conselho de Ética Por O DIA – 10/12/2015 23h53 - Atualizada às 10/12/2015 23h53 Brasília - Pela sétima vez, o Conselho de Ética da Câmara adiou ontem a decisão sobre a abertura do processo de cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Mais uma vez, a sessão foi tumultuada, com bate-boca de deputados e até troca de sopapos. Depois da manobra de Cunha para destituir o relator Fausto Pinato (PRB-SP), o Conselho oficializou Marcos Rogério (PDT-RO) para a relatoria. Ontem, ele anunciou que apresenta seu relatório na próxima terça-feira, dia 15. Segundo ele, o parecer será a favor da abertura de processo de cassação de Cunha. “Os pressupostos de admissibilidade estão presentes. Não há surpresa. O mérito é outro debate, com respeito ao contraditório”, disse. A sessão desta quinta chegou até a ter briga entre deputados por causa dos constantes pedidos de ordem por parte da tropa de choque de Cunha, que acabam atrasando o trâmite das reuniões. No início da sessão, os deputados Zé Geraldo (PT-PA) e Wellington Roberto (PR-PB) trocaram tapas, depois que Zé Geraldo disse: “a turma do Cunha quer bagunçar”. Nesse momento, Wellington Roberto, que estava sentado atrás dele, avançou em direção a ele e o agrediu com tapas. “Aceito tudo, mas me tocar, não”, berrou o petista. “Macho nenhum vai tocar em mim, não. O senhor é moleque”, rebateu Roberto. Vários parlamentares interferiram para que a briga não ficasse mais violenta. O presidente do Conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), suspendeu a sessão. “Moderem-se e ajam como parlamentares do Conselho de Ética, respeitem essa Casa”, disse Araújo. 186

IMPEACHMENT Com o apoio de Eduardo Cunha, deputados e líderes do PMDB favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff iniciaram articulação para antecipar para janeiro convenção nacional do partido para decidir sobre o rompimento da legenda com o governo federal. A antecipação da convenção é uma retaliação a movimento do Palácio do Planalto para restituir Leonardo Picciani (PMDB-RJ) na liderança da bancada do partido. Dirigentes e parlamentares mobilizam diretórios estaduais a ingressarem na semana que vem com pedido na Executiva Nacional do PMDB solicitando o adiantamento do encontro nacional. A estimativa é que 15 estados estariam dispostos a solicitar a antecipação da convenção.

Notícia 7: Cunha diz que operação da PF quer tirar foco do impeachment de Dilma Link: https://odia.ig.com.br/noticia/brasil/2015-12-15/cunha-diz-que-operacao-da-pf-quer-tirar- foco-do-impeachment-de-dilma.html

Cunha diz que operação da PF quer tirar foco do impeachment de Dilma Sobre votação, Cunha ironizou e disse que 'até parece que só têm aliados' dele na Casa. Para ele, Lava Jato mira no PMDB Por O DIA – 15/12/2015 17h01 - Atualizada às 15/12/2015 17h23 Rio - Após ação da Polícia Federal (PF) nesta terça-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse em entrevista coletiva que a operação tem o objetivo de desviar a atenção do processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff. "Querem tapar o verdadeiro processo em decisão no país", afirmou Eduardo Cunha na tarde desta terça-feira depois de ter suas casas e escritório vasculhados, em Brasília e no Rio de Janeiro, pela PF e Ministério Público Federal (MPF Para Cunha, a Operação Lava Jato tem como alvo políticos do PMDB, poupando o PT. "Todo dia tem a roubalheira do PT sendo fotografada e de repente fazem uma operação do PMDB. Tem alguma coisa estranha no ar", afirmou. Sobre a tentativa de impedir, pela oitava vez, que o Conselho de Ética vote o parecer favorável ao prosseguimento da representação contra ele, por quebra de decoro, Cunha disse que "até parece que só têm aliados" dele na Casa. "Estou sujeito como qualquer brasileiro", disse Cunha sobre ser julgado. Cunha, no Condomínio Park Palace, na Barra da Tijuca 187

Pouco antes da entrevista coletiva, Eduardo Cunha se reuniu com lideranças partidárias. Ele recebeu, às 12h30, a visita do ex-deputado federal pelo PMDB de Goiás Sandro Mabel, que acabara de se encontrar com o vice-presidente Michel Temer. Mabel deixou a casa de Cunha às 13h30, após a chegada dos líderes Marcelo Aro (PHS-MG), Domingos Neto (PROS-CE), Paulinho da Força (SDD-SP), Eduardo da Fonte (PP-PE), André Moura (PSC-SE), Rogério Rosso (PSD-DF), Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Maurício Quintella (PR- AL). Por 11 a 9, os deputados do Conselho de Ética decidiram não aceitar o pedido de vista do parecer emitido pelo relator do processo contra Cunha e dar sequência à votação do que vai definir o destino do presidente da Câmara. As ações desta terça-feira também aconteceram nas residências do ministro de Ciência e Tecnologia, Celso Pansera (PMDB-RJ), em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, do deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE) e do senador Edison Lobão (PMDB-MA). Agentes da PF também cumpriram mandados na Diretoria-Geral da Câmara dos Deputados.

Notícia 8: Para Cunha, escapar do impeachment não dará a Dilma governabilidade Link: http://odia.ig.com.br/noticia/brasil/2015-12-29/para-cunha-escapar-do-impeachment-nao- dara-a-dilma-governabilidade.html

Para Cunha, escapar do impeachment não dará a Dilma governabilidade Presidente da Câmara diz não duvidar de que Planalto consiga votos para se salvar, mas acredita que governo terá maioria "capenga" e pode sair ainda mais fraco mesmo que vença Por Marcel Frota IG Brasília – 29/12/2015 12h48 - Atualizada às 29/12/2015 13h34 Brasília - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, acredita que a presidente Dilma Rousseff pode até conseguir os 171 votos de que precisa para barrar a abertura do processo de impeachment, mas que isso não significa assegurar a governabilidade após o embate. Cunha promoveu na manhã desta terça-feira um café da manhã com jornalistas em seu gabinete na presidência da Casa e falou que em fevereiro entrará com embargos no Supremo Tribunal Federal contra decisões a respeito dos ritos do impeachment, que enfraqueceram politicamente seu papel nesse trâmite. “Você dizer se o governo terá 1/3 dos votos para impedir o impeachment é uma coisa. Dizer que o governo vai ter governabilidade com esse terço para poder conduzir mudanças é outra realidade. 188

Mesmo que o governo consiga impedir, ele vai impedir com uma margem muito estreita e vai mostrar que não têm uma maioria”, avaliou Cunha. “Se o governo tem condição de amealhar um terço para impedir o impeachment? Pode. Se o governo tem condições de governabilidade com um terço, é difícil”, acrescentou ao dizer que Dilma terá três anos de “governo capenga”. Cunha diz acreditar que a reeleição do vice-presidente Michel Temer para a presidência do PMDB não deverá ter surpresas. “(Temer) Nunca foi (contestado) até hoje em eleição em que ele disputasse. Se ele quiser disputar será reeleito mesmo que tenha chapa adversária. O único momento em que tentaram contestá-lo foi quando lançaram a chapa do ex-ministro Nelson Jobim, com apoio do presidente da República (Lula) com o próprio apoio do PMDB do Rio na época, e na hora desistiu e não tinha voto nem para começar a composição de uma chapa na convenção”, lembrou. O deputado relativizou a força do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que andou se estranhando com Temer desde que o vice-presidente da República enviou a Dilma uma carta expondo seus ressentimentos com relação à presidente. “Ele (Renan) também foi bastante duro na candidatura do Jobim e na hora nem compareceu. Alagoas não tem oito votos na convenção nacional. Em relação a 800 delegados, tem 1% da votação”, afirmou. “Acho que o rompimento do PMDB com o governo está a cada hora aumentando. Aí sim esse impacto das eleições municipais vão acabar facilitando um pouco o processo de rompimento porque andar com o PT não vai dar voto para ninguém”. Liderança na Câmara Cunha criticou de forma mais clara o líder da bancada do PMDB e seu antigo aliado, Leonardo Picciani, a quem comparou com um assessor do governo no partido, e disse que pretende se envolver na disputa pela escolha do novo líder. Picciani se coloca como candidato à reeleição. Por trás dessa disputa está uma dividida para saber qual será a tendência majoritária do partido na Câmara, já que Cunha é oposição e Picciani governista. “Isso vai ser uma disputa, voto secreto, normal. Obviamente vai ter disputas, discussões, campanha. Vai ter um mês de campanha. E defendo que tenhamos um líder que não seja nem contra e nem a favor do impeachment. Ou seja, nem contra, nem a favor do governo. Um líder que represente a bancada”, afirmou Cunha, que admitiu um distanciamento do antigo parceiro. “Obviamente (nossa relação) é mais distante do que antes." “Se ele tiver dois terços da bancada ele tem legitimidade. Foi isso que a bancada aprovou quando elegeu ele. Ele tem de legitimar. A Campanha é importante para isso, porque tem de assumir compromisso. Mesmo que ele ganhe, ele terá de assumir compromisso, que não é o compromisso de ser o líder do governo na bancada”, disse o presidente da Câmara. Para derrubar as pretensões de Picciani, Cunha diz que dessa vez vai votar na escolha interna do partido. Ele justificou a nova posição com uma série de críticas ao correligionário. “Tomei essa decisão primeiro por descumprimento que houve por parte do Picciani em relação à lista que ele mandou para (a comissão) do impeachment que ele não compôs com a bancada inteira. Em segundo lugar, por ter atuado como assessor da liderança do governo naquele processo de votação, estimulando a briga no Plenário. Tem imagens de brigas e agressões em que ele fazia parte. O principal assessor dele estava coordenando a agressão. E terceiro pele descumprimento dele do acordo quando ele se elegeu, de que a reeleição se daria por dois terços da banca e que ele apoiaria um nome de Minas Gerais. Então vou cumprir o acordo dele. Se Minas Gerais tiver um candidato único da bancada, vou votar nesse candidato”, completou. 'Peça teatral' Em mais uma cena da saga de poder e intrigas na Praça dos Três Poderes, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, desqualificou ontem o processo de afastamento aberto contra ele pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “Esse pedido é uma peça teatral. Já rebati, eu mesmo escrevi dez páginas rebatendo”. Para ele, trata-se também de peça política e não jurídica.

189

Notícia 9: Imprensa mundial repercute negativa de habeas corpus a Lula no STF Link: https://odia.ig.com.br/mundo-e-ciencia/2018/04/5528589-imprensa-mundial-repercute-negativa-de-habeas- corpus-a-lula-no-stf.html#foto=1

Imprensa mundial repercute negativa de habeas corpus a Lula no STF O americano 'The New York Times' ressaltou que o julgamento forçou os juízes a enfrentar questão que alcança poderosos, inclusive o presidente Temer Por ESTADÃO CONTEÚDO – Publicado às 08h38 de 05/04/2018 - Atualizado às 12h50 de 05/04/2018 Rio - Os principais jornais ao redor do mundo estão repercutindo a derrota na Suprema Corte que deixou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais perto da prisão da Lava Jato. Os veículos chamam atenção para o possível encarceramento do petista após a rejeição do habeas corpus preventivo no qual ele pedia para exaurir recursos a todas as instâncias em liberdade. O norte-americano "The New York Times" lançou ao ar em seu portal a manchete: "Ex-presidente brasileiro, 'Lula', pode ser preso, decide Corte". O tradicional jornal afirmou que o julgamento do habeas de Lula "forçou os juízes a enfrentar uma questão com implicações de longo alcance para muitas outras figuras poderosas enredadas na investigação de corrupção em grande escala conhecida como Lava Jato, incluindo o atual presidente, Michel Temer: Em que ponto do processo de apelação pode o réu ser preso?" O jornal ressaltou que a Corte deu "sua resposta" à questão: decidiu manter o status quo, "em que condenados podem ser encarcerados após decisões de segunda instância". "Com a decisão nas mãos, é esperado de Sérgio Moro, o juiz federal que conduziu as investigações contra Lula, que expeça um mandado de prisão contra o ex-presidente em questão de dias". Já o "El País", da Espanha, afirmou que, apesar de o Brasil ser o "reino do imprevisível, dos meandros burocráticos, das reviravoltas de última hora, tudo indica que Lula está a ponto de ser tornar um presidiário nos próximos dias". O veículo destaca que a prisão do ex-presidente terá "enormes consequências políticas" levando em consideração que Lula "encabeçava as preferências de voto para as eleições presidenciais de outubro". A BBC de Londres também chamou atenção para a proximidade de uma eventual prisão de Lula e sobre os impactos que ela terá nas eleições desde ano. Sobre o julgamento, a emissora ressaltou a "maratona" do Supremo que terminou na madrugada desta quinta-feira, 5. 190

A emissora também relembrou aos britânicos sobre do que se trata a Operação Lava Jato. "A investigação, nomeada Operação Lava Jato, revelou uma enorme teia de corrupção envolvendo políticos da alta cúpula em um amplo espectro de partidos pegando propinas".

Notícia 10: Temer faz reunião com interventor, ministro da defesa e general do Gabinete de Segurança Link: https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2018/04/5528687-temer-faz-reuniao-com-interventor-ministro- da-defesa-e-general-do-gabinete-de-seguranca.html

Temer faz reunião com interventor, ministro da defesa e general do Gabinete de Segurança Esta é a primeira vez que eles se reúnem após o governo enviar ao Congresso, na semana passada, a Medida Provisória liberando R$ 1,2 bilhão para ações da intervenção Por ESTADÃO CONTEÚDO – Publicado às 15h49 de 05/04/2018 - Atualizado às 15h49 de 05/04/2018 Rio - O presidente Michel Temer está reunido neste momento, no Palácio do Planalto, com o interventor da segurança no Rio de Janeiro, General Braga Netto, e o ministro da Defesa, General Silva e Luna. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), General Sérgio Etchegoyen, também participa do encontro, que foi incluído há pouco na agenda oficial. De acordo com fontes, a reunião deve tratar sobre questão orçamentária para ações no Rio. Esta é a primeira vez que eles se reúnem após o governo enviar ao Congresso, na semana passada, a Medida Provisória liberando R$ 1,2 bilhão para ações da intervenção. A verba poderá ser usada na compra de equipamentos e infraestrutura logística, como armas e viaturas para polícias Civil e Militar. O dinheiro não pode custear o passivo de salários em atraso, nem servir para a contratação de concursados Polêmica Na terça-feira, Braga Netto endossou, por meio de postagem nas redes sociais do Gabinete de Intervenção Federal, a mensagem em que o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, repudiou a impunidade, na véspera do julgamento de um recurso contra a prisão do ex-presidente Lula no Supremo Tribunal Federal. A equipe de Braga Netto redistribuiu no Twitter as postagens do comandante do Exército: "Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?", questionou Villas Bôas numa delas. 191

Braga Netto afirmou: "Soldado, líder e cidadão: nosso comandante!", em comentário de apoio a Villas Bôas.

Notícia 11: Prisão de Lula fora do prazo Link: https://odia.ig.com.br/brasil/2018/04/5529332-prisao-de-lula-fora-do-prazo.html#foto=1

Prisão de Lula fora do prazo Ontem, terminou o tempo determinado por Moro para que o ex-presidente se entregasse, em meio a negociações. Expectativa é que petista se apresente hoje Por O Dia – Publicado às 03h00 de 07/04/2018 - Atualizado às 03h00 de 07/04/2018 Rovena Rosa/Agência Brasil Brasília - A expectativa foi grande, mas, ao final, aconteceu muito pouco ontem. Às 17h, se encerrou o prazo dado pelo juiz Sérgio Moro para que Lula se entregasse, com manifestantes fazendo contagem regressiva em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Do lado de dentro, o líder petista, que dormiu no prédio e continuava ali na noit de ontem, recebia aliados e promovia sucessivas reuniões com advogados e lideranças políticas. Emissários do PT e a Polícia Federal negociaram ao longo de todo o dia. Um avião foi mantido no Aeroporto Internacional de São Paulo à espera de Lula. Enquanto isso, a defesa do ex-presidente tentava novos recursos para barrar a prisão. À noite, foi impetrada uma reclamação no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender a prisão até que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) acabe de julgar todos os recursos. O ministro Edson Fachin foi sorteado relator. Mais cedo, um pedido similar havia sido feito ao Supremo Tribunal de Justiça - e negado. Até a ONU foi acionada. A defesa do petista protocolou no Comitê de Direitos Humanos da organização, em Genebra, um pedido de liminar para evitar a prisão. À noite, após a Polícia Federal informar que não faria nada para prender Lula ontem, fontes petistas afirmavam que Lula se entregará hoje, em São Paulo, após uma missa em homenagem à mulher dele, Marisa Letícia, que morreu no ano passado e faria 68 anos hoje. Entre os petistas em São Bernardo, ao longo do dia, a disposição era de que o ex-presidente não se entregasse. Um dos que defendiam essa posição era o ex-minisro Gilberto de Carvalho. "É para resistir, claro. Quero que o povo faça um cordão humano para impedir a prisão. É o que nos resta fazer", disse, ao Estado de S. Paulo. 192

Lula não fala Ao longo do dia, houve rumores de que o petista discursaria no palanque em frente ao Sindicato. Seria ao meio-dia e não aconteceu; depois, às 17h, o prazo fatal dado por Moro para a rendição voluntária. No entanto, apenas acenou para os seguidores pela janela. Lideranças de inúmeros segmentos discursaram, diante de cerca de 30 mil manifestantes. A presidente do PT, Gleisi Hoffman, foi porta-voz de Lula e falou sobre a missa que será às 9h30. Segundo a petista, Lula aguarda as manifestações do STF e da ONU. No mundo virtual, a expectativa tornou a hashtag #OcupaSaoBernardo a mais popular do Twitter no Brasil e no mundo. O petista foi manchete na versão digital do argentino Clarín. Já o The New York Times, nos EUA, chamou o petista de "um dos mais transformadores líderes de sua geração na América Latina". Apoios no Brasil e no exterior Pré-canditado do PDT à presidência, Ciro Gomes, que estava em Nova York e disse que espera que a liberdade de Lula seja estabelecida em próximos recursos na Justiça. O presidenciável do Psol, Guilherme Boulos, que esteve perto de Lula em São Bernardo, disse que a prisão não seria assistida passivamente. "Haverá resistência democrática!", garantiu o líder dos sem-teto. A pré-candidata pelo PC do B, Manuela D'Ávila, também esteve em São Bernardo. Já o pré-candidato do PSL, Jair Bolsonaro, disse que "o Brasil marcou um gol contra a impunidade e contra a corrupção" mas que "o inimigo ainda não está eliminado". Presidentes e ex-presidentes de países vizinhos nas Américas manifestaram apoio ao ex-presidente no Twitter. Cristina Kirchner, atualmente senadora da Argentina, disse que Lula vai ganhar as próximas eleições. Evo Morales, da Bolívia, afirmou: "A direita nunca vai perdoá-lo por ter tirado 30 milhões de pobres da miséria". O venezuelano Nicolás Maduro comentou que "a injustiça dói na alma" e falou em incapacidade da direita de ganhar o poder democraticamente. Tinta no prédio de Cármen Manifestações, bloqueios de estradas e até casos de depredação aconteceram ontem em todo o país em reação à ordem de prisão contra Lula. No Centro do Rio, defensores do ex-presidente se manifestaram no Centro. A multidão se concentrou na Candelária às 17h e marchou rumo ao Largo da Carioca por volta das 18h50. Alguns manifestantes picharam a fachada de um prédio da Justiça Federal, na Avenida Rio Branco; e a Câmara Municipal, na Cinelândia, com palavras de ordem como "Lula Livre" e "Pela Democracia". Em Belo Horizonte, integrantes do MST jogaram tinta vermelha no prédio em que a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, tem um apartamento. O coordenador do MST no estado, Silvio Netto, alegou que foi uma forma de mostrar que os trabalhadores estão dispostos a lutar. Protestos mobilizaram defensores de Lula em centenas de cidades em todos os estados. O MST bloqueou dezenas de estradas. Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Mato Grosso, Rio Grande do Norte e São Paulo tiveram rodovias afetadas. Os defensores da prisão de Lula também se manifestaram. Encerrado o prazo para o petista se entregar, um grupo começou a gritar em frente à sede da Superintendência da PF em Curitiba: "Lula foragido".

Notícia 12: Cármen Lúcia vai assumir a Presidência da República hoje Link: https://odia.ig.com.br/brasil/2018/04/5531143-carmen-lucia-vai-assumir-a-presidencia-da- republica-hoje.html 193

Cármen Lúcia vai assumir a Presidência da República hoje A presidente do Supremo Tribunal Federal vai ocupar o posto de Temer interinamente enquanto ele estiver no Chile para participar da 8ª Cúpula das Américas Por Agência Brasil – Publicado às 09h48 de 13/04/2018 Brasília - Pela segunda vez na história do Brasil, uma mulher presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) assume interinamente a Presidência da República. Cármen Lúcia ocupará o posto nesta sexta-feira assim que o presidente Michel Temer deixar o espaço aéreo brasileiro, na viagem que fará a Lima, no Peru, para participar da 8ª Cúpula das Américas. A previsão é de que Temer embarque para a capital peruana às 11h. A primeira presidente do STF a assumir o cargo foi a ex-ministra do STF Ellen Gracie, em maio de 2006, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou à Argentina acompanhado das três autoridades que, na época, estavam em sua linha sucessória: o vice-presidente José Alencar; os então presidentes da Câmara, Aldo Rebelo (SD-SP), e do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL). Como desde a posse de Temer, após o impeachment de Dilma Rousseff, o Brasil não tem vice, caberia ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumir o cargo. Mas tanto Maia quanto o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), se tornariam inelegíveis para as próximas eleições caso assumissem. Diante disso, eles optaram por sair do país até o retorno de Temer. Maia viaja para o Panamá e Eunício para o Japão. Ainda não está definido se Cármen Lúcia cumprirá a agenda no cargo de presidente da República despachando do STF ou do Planalto. Estão previstas reuniões com a advogada-geral da União, Grace Mendonça, às 13h; com o ministro da Defesa, general , às 13h30; com o presidente da Federação Interestadual das Empresas de Transporte de Cargas, José Hélio Fernandes, às 15h; e com o governador de Rondônia, Daniel Pereira, às 15h30. Às 16h, Cármen Lúcia receberá a antropóloga Débora Diniz, com quem tratará de alguns projetos em tramitação no Congresso. Às 18h, vai se reunir com o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, Jayme de Oliveira.

Notícia 13: Temer se reúne com Maia para tratar de Eletrobras e reoneração da folha Link: https://odia.ig.com.br/brasil/2018/04/5531821-temer-se-reune-com-maia-para-tratar-de- eletrobras-e-reoneracao-da-folha.html 194

Temer se reúne com Maia para tratar de Eletrobras e reoneração da folha Ambas as propostas tramitam na Câmara e enfrentam resistência não só de parlamentares da oposição como de deputados de partidos da própria base aliada Por ESTADÃO CONTEÚDO – Publicado às 17h47 de 15/04/2018 Brasília - O presidente Michel Temer (MDB) se reuniu, na tarde deste domingo, com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no Palácio do Jaburu, onde o emedebista mora com a família. Segundo a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, eles discutiram sobre a agenda legislativa. Temer e Maia trataram de projetos como o que viabiliza a privatização da Eletrobrás e o que reonera a folha de pagamento para alguns setores da economia. Ambas as propostas tramitam na Câmara e enfrentam resistência não só de parlamentares da oposição como de deputados de partidos da própria base aliada. Maia e Temer não se encontravam reservadamente havia algumas semanas. O afastamento começou desde o início de março, quando o presidente da Câmara lançou pré-candidatura à Presidência da República pelo DEM com discurso de independência em relação a Temer, que já declarou que quer disputar reeleição. O presidente da Câmara se afastou ainda mais de Temer após a Operação Lava Jato atingir amigos próximos do emedebista, no início de abril. A ação fez aumentar rumores sobre uma possível apresentação de uma terceira denúncia contra o presidente da República pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Notícia 14: Temer reúne ministros para debater pauta do Congresso Nacional Link: https://odia.ig.com.br/brasil/2018/04/5534005-temer-reune-ministros-para-debater-pauta-do-congresso- nacional.html 195

Temer reúne ministros para debater pauta do Congresso Nacional Tramitam no Congresso medidas econômicas consideradas pelo governo como prioritárias Por Agência Brasil – Publicado às 20h30 de 22/04/2018 - Atualizado às 20h30 de 22/04/2018 Brasília - O presidente Michel Temer reuniu-se hoje, no Palácio do Jaburu, em Brasília, com o ministro- chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, e o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Padilha e Maia chegaram por volta das 17h. Cerca de uma hora depois, Maia deixou a residência oficial. Moreira chegou após a saída de Maia. A reunião seguiu com Moreira e Padilha até as 19h30. A assessoria de imprensa da Presidência da República disse que um dos assuntos tratados foi a pauta da semana no Congresso Nacional. Tramitam no Congresso medidas econômicas consideradas pelo governo como prioritárias. A proposta de privatização da Eletrobras também está em tramitação. A meta do governo é realizar o leilão de privatização das distribuidoras da Eletrobras, que devem ser adquiridas pelo valor simbólico de R$ 50 mil, e a capitalização das ações da empresa pertencentes ao governo, até que a União se torne sócia minoritária. A estimativa é que sejam captados cerca de R$ 12 bilhões com a operação. Na Câmara, a discussão está sendo feita em comissão especial. A última sessão contou com a maioria de deputados contrários ao projeto, que temem energia mais cara com a privatização.

Notícia 15: Objetivo é superar barreiras regulatórias entre Brasil e Chile, diz Temer Link: https://odia.ig.com.br/brasil/2018/04/5535428-objetivo-e-superar-barreiras-regulatorias-entre-brasil-e-chile-diz- temer.html 196

Objetivo é superar barreiras regulatórias entre Brasil e Chile, diz Temer O presidente brasileiro afirmou ainda que houve concordância em fazer a integração entre o Mercosul e a Aliança para o Pacífico Por ESTADÃO CONTEÚDO –Publicado às 13h21 de 27/04/2018 - Atualizado às 13h21 de 27/04/2018 Brasília - O presidente Michel Temer e o presidente do Chile, Sebastián Piñera, defenderam nesta sexta- feira, a integração e eliminação de barreiras comerciais entre os dois países. "Brasil e Chile são parceiros históricos e com valores. Nosso papel é continuar aprimorando essa reação entre Brasil e Chile", afirmou Temer em declaração à imprensa após a reunião com Piñera. Temer afirmou que, com os acordos assinados nesta sexta, há um estímulo de investimentos entre os dois países. "Agora nosso objetivo é superar barreiras regulatórias entre o Brasil e o Chile", disse, destacando que o Chile é o maior parceiro do País na região. O presidente brasileiro afirmou ainda que houve concordância em fazer a integração entre o Mercosul e a Aliança para o Pacífico. Durante o encontro com Piñera, segundo Temer, foi discutida ainda a questão da Venezuela. "Expressamos ambos nossa preocupação com o destino político para aquele país. Cheguei a mencionar o problema que temos no Brasil dos imigrantes venezuelanos", afirmou, destacando que a preocupação é com o povo venezuelano. "Concordamos que não há alternativa na região que não seja para um regime democrático", completou. Temer aproveitou para comentar o movimento do líder norte-coreano, Kim Jong-un, e do presidente sul- coreano, Moon Jae-in, que prometerem trabalhar pela "desnuclearização completa da península coreana", durante a primeira cúpula intercoreana em mais de uma década. "Esperamos estar assistindo uma etapa que levará a paz na península coreana. Isso terá repercussões em outros conflitos regionais", comentou. O presidente Sebastián Piñera destacou que foram feitos acordos importantes com o Brasil e que os dois países caminham para eliminar barreiras tarifárias. Ele destacou o desejo do Chile e Brasil liderarem o processo de integração na América Latina e, não só de comércio de bens, serviços e investimentos, mas também na área da segurança. Acordos As duas nações assinaram um protocolo de Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFI). O protocolo faz parte de uma geração de acordos internacionais que o Brasil começou a assinar em 2015, que oferecem uma proteção adicional a companhias que investem no exterior. 197

O protocolo financeiro complementa um acordo mais amplo assinado entre Brasil e Chile em 2015, que protege investimentos nos demais setores da economia. Na época decidiu-se que os bancos teriam um capítulo à parte, por se tratar de uma atividade altamente regulada. Além do Chile, o Brasil já tem Acordos de Cooperação e Facilitação de Investimentos com Peru, Colômbia, México, Angola, Moçambique e Malaui. Um protocolo com as mesmas finalidades foi formalizado no Mercosul (Argentina, Paraguai e Uruguai) em dezembro passado. Durante a visita, também foi assinado um Acordo de Contratação Pública, pelo qual empresas dos dois países poderão participar das licitações públicas em igualdade de condições. Após a declaração à imprensa, os dois presidentes seguiram para o Palácio do Itamaraty, para um almoço oferecido ao presidente Piñera.

Notícia 16: Michel Temer adia novamente viagem à Ásia, que ocorreria em maio Link: https://odia.ig.com.br/brasil/2018/04/5536035-michel-temer-adia-novamente-viagem-a-asia-que-ocorreria-em- maio.html

Michel Temer adia novamente viagem à Ásia, que ocorreria em maio A justificativa, segundo o Itamaraty, é que a viagem do presidente poderia prejudicar a pauta de votações no Congresso Nacional Por Agência Brasil – Publicado às 08h21 de 30/04/2018 - Atualizado às 08h21 de 30/04/2018 Brasília - A viagem que o presidente Michel Temer faria para o sudeste asiático foi adiada pela segunda vez. O presidente iria para Cingapura, Tailândia, Indonésia e Vietnã a partir do dia 7 de maio. A informação foi confirmada pelo Palácio do Planalto e pelo Itamaraty no fim da tarde de domingo. A justificativa, segundo o Itamaraty, é que a viagem do presidente poderia prejudicar a pauta de votações no Congresso Nacional. “Tendo em vista o calendário eleitoral, a concentração de votações no Congresso, essenciais ao programa de reformas do governo, e a necessidade da ausência simultânea do país dos presidentes das duas Casas legislativas, durante o período da visita, por exigência da lei eleitoral, a pauta de votações no Congresso ficaria prejudicada”, disse a chancelaria, em nota. Isso ocorre porque, como desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o Brasil não tem vice, caberia ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assumir o cargo. E na ausência de Maia, a responsabilidade seria do presidente do Senado, Eunício Oliveira. Mas tanto Maia quanto Eunício se tornariam inelegíveis para as próximas eleições caso assumissem. Diante disso, eles precisam deixar o país até o retorno de Temer. 198

O governo quer evitar que uma eventual ausência de Maia e Eunício do país atrase votações consideradas importantes. Dentre elas estão a privatização da Eletrobras, a reoneração da folha e o cadastro positivo. Com o recesso parlamentar, de 17 de julho a 1º de agosto, e o período de campanha eleitoral, o governo teme não conseguir votar as medidas. Na última viagem internacional do presidente, para o Peru, Maia foi para o Panamá e Eunício viajou para o Japão. Quem assumiu a presidência da República interinamente foi a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia. Adiamentos É a segunda vez que a viagem de Temer para a região é adiada. No início do ano havia a previsão de uma visita a Timor Leste, Vietnã, Cingapura e Indonésia, entre os dias 5 e 13 de janeiro. Mas em razão de uma cirurgia a que Temer precisou se submeter no final do ano passado para desobstrução, a agenda não ocorreu. Na viagem que ocorreria no início da próxima semana, estavam previstos encontros bilaterais – quando seria recebido por chefes de Estado – em todos os países. Além disso, Temer se encontraria com investidores na Tailândia e em Cingapura. Já na Indonésia e no Vietnã, estavam marcadas reuniões para firmar acordos comerciais entre o Brasil e esses países.