Sc Manuel Vinhas I

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Sc Manuel Vinhas I Meio: Imprensa Pág: 30 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 18,00 x 27,00 cm² ID: 88376159 03-09-2020 Âmbito: Interesse Geral Corte: 1 de 13 • a e• • • I! ' 111111111~.§... e`mis NA, t. a e • "a Meio: Imprensa Pág: 31 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 18,00 x 27,00 cm² ID: 88376159 03-09-2020 Âmbito: Interesse Geral Corte: 2 de 13 MANZVINHAS HISTORIA DE UM MECENAS Foi provavelmente o empresário mais vigiado durante o regime de Salazar. Era um dos grandes acionistas da Central de Cervejas, enquanto geria várias outras empresas. Foi dono da Cuca, em Angola, da Laurentina, em Moçambique e da Skol, no Brasil, A PIDE seguia-lhe os passos. Era uma voz incómoda para a ditadura, porém, convivia de perto com os homens do Estado Novo. Angola era a sua paixão e era lá que queria começar a mudança BOLSA ,-, DE INVESTIGA AO Meio: Imprensa Pág: 32 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 18,00 x 27,00 cm² ID: 88376159 03-09-2020 Âmbito: Interesse Geral Corte: 3 de 13 11111 ali, I Lim I S à • DE MENINO Manuel Vinhas nasceu em 1920, no mesmo ano de Amália Rodrigues, e VI fir A tal como a fadista, de quem era amigo, , HOMEM conseguiu contornar o regime fascista à sua maneira. Em 1964, os dois jun- taram-se a outros empresários para darem apoio financeiro à construção do Teatro Villaret. O empréstimo foi cedi- De menino a homem Dos primeiros anos à vida de estudante no curso do a Raul Solhado, que mais tarde fez de Histórico-Filosóficas e a passagem pela tropa questão de devolver o dinheiro à familia. Raul foi um dos seus grandes amigos, assim como Júlio Pomar, Agostinho da Silva ou Cruzeiro Seixas, tudo nomes —L. Zip-Zip (gravado no Teatro Villaret que fogem ao conluio da ditadura. pelo trio de entrevistadores Fialho Uma das recordações mais em- De seu livre pensamento Gouveia, Carlos Cruz e Raul Solnado) blemáticas da vida de Manuel Vi- foi igualmente financiado pelo mece- nhas é um serão na sua Herdade do Foi a escrita que deu mais voz e nas, assim como peças do Teatro da Zambujal, perto de Setúbal, em que que se revelou ser fonte de mais Comuna, com João Mota e Manuela de Amália Rodrigues e Vinicius de Mo- dissabores para Manuel Vinhas. Freitas à frente do elenco, que tiveram raes cantaram e declamaram poemas Escreveu Para um Diálogo sobre os primeiros ensaios num espaço da pela noite fora. Victor Pinto de Sousa, Angola, dedicado a Adriano Moreira Central de Cervejas. Como principal amigo de Manuel Vinhas, foi um dos e Venâncio Deslandes (ministro do acionista da Sociedade Central de privilegiados que estiveram presentes Ultramar e governador de Angola) Cervejas, grupo que detinha o setor nessa ocasião, assim como na festa e editou mais três sobre a nação de várias bebidas, da cerveja Sagres às organizada em setembro de 1968, africana: Aspectos Actuais de Águas do Luso e refrigerantes como sob sugestão de Salazar, em resposta Angola, Plano do Luso e Conversar a Schweppes, Manuel Vinhas passava a outras duas festas, na Quinta do Amanhã, este último com uma parte do seu tempo nos escritórios do Vinagre e Quinta Patifio, organiza- dedicatória: "A Agostinho da Silva, prédio anexo à Portugália. Muitas ve- das por estrangeiros em Portugal, o melhor homem que conheço." zes convidou amigos para assistirem Pierre Schlumberger e Antenor Pa- O livro Profissão Exilado, o diário às peças da Comuna. Foi um dos ele- tifio. Segundo Victor Pinto de Sousa, que escreveu no Brasil, editado em mentos do corpo-gerente do Centro que teve novamente o privilégio de 1976, é o seu maior legado afetivo, Português de Bailado, organização estar presente, foi a melhor das três que faz a ponte entre o Manuel referida como sendo de esquerda e festas. Manuel Vinhas sabia receber e Vinhas descrito pelos seus amigos subsidiada pela Fundação Calouste sabia fazer diferente. Na Herdade do e o relato íntimo que espelha uma Gulbenkian. Entre os escritores que Zambujal, estrelas como Audrey He- reflexão por vezes filosófica. A admirava, estava Luiz Pacheco, um elegância da escrita, sem o rancor pburn, Givenchy e Capucine beberam que seria de esperar de um exilado. autor que não assertava o passo, mas vinho em copos de barro e comeram é o que mais surpreende neste com uma escrita que deixava Manuel caldo-verde, pormenores rústicos ti- livro, escrito com a clara intenção Vinhas siderado. Durante mais de dez picamente portugueses que acharam de um dia ser lido. Afirma por anos, auxiliou-o com dinheiro, renda muito charmosos, tal como o caris- diversas vezes ser antifascista e de casa, livros e até uma máquina de ma do anfitrião. A festa durou até às anticomunista, e que ambas as escrever. "Nunca tive nem creio que tantas, mas Manuel Vinhas retirou-se posições lhe deram dissabores. venha a ter mecenas tão delicado e cedo, como sempre fazia. O Teatro O humor está sempre presente, escrupuloso", escreveu no posfácio do Villaret foi apenas uma das formas em qualquer das publicações livro Profissão Exilado, o diário pu- de apoio a artistas ou projetos que, da sua vida. blicado por Manuel Vinhas no exílio, de alguma maneira, eram contrários no Brasil, país onde se refugiou um à ditadura. Houve mais. O programa ano após o 25 de Abril. Meio: Imprensa Pág: 33 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 18,00 x 27,00 cm² ID: 88376159 03-09-2020 Âmbito: Interesse Geral Corte: 4 de 13 'Ah 1 r IA ÍL FAM DE VO ARQUI R D S TO FO gi? A grande paixão Maria Alice Carneiro Bustorff Silva, mais conhecida por Concha, com quem se casou e teve oito filhos Morrer aos 56 anos é deixar uma A história de Manuel Vinhas é a tos rapazes da sua geração fizeram? vida pela metade. Nunca saberemos história de uma época, mas é também A explicação pode estar na formação o que teria feito a partir desse mo- o legado pouco conhecido de uma fi- do Ensino Primário e Secundário, que mento, mas sabemos que fez muito. gura portuguesa com um espírito de se deu no Colégio Infante de Sagres, Quem o conheceu diz que tinha uma iniciativa muito particular. Não tinha inaugurado em 1928 por Manuel Silva personalidade única, que era um hu- medo de investir em boas ideias, de Leal, uma instituição que trouxe um manista metódico, com interesses contratar técnicos valiosos ou avançar novo fôlego ao ensino dos alunos que iam além de acumular milhões. para novos negócios, mesmo quando que podiam gozar do privilégio de Apesar da sua pequena estatura física, isso implicava um risco inicial dispen- frequentar uma escola privada. Esta enchia uma sala com a sua graça, a sua dioso (característica pouco habitual era diferente não só pela liderança do maneira de ser. nos seus conterrâneos, facto do qual fundador como também por ser um Parte do seu património e das em- se queixava). Era um viajante incan- colégio misto e pelo conjunto de pro- presas que detinha foi herdada pela sável, um curioso e um devoto à arte. fessores que ali se encontravam. Entre família, mas Manuel Vinhas tinha Juntava um imenso talento para os estes estava Agostinho da Silva, que se um talento raro para os negócios. A negócios, um interesse pela literatu- tornou amigo de Manuel Vinhas para sua fortuna aumentou com o investi- ra e filosofia, um espírito intrépido e o resto da vida. Terá sido a sua forma mento que fez em diversas empresas. uma enorme capacidade de comuni- de ensinar e incentivar os alunos que A Sociedade Central de Cervejas era cação, fosse à mesa de um jantar, num direcionou a escolha de Manuel Vi- um dos pilares da sua gestão, e foi discurso ou na escrita de um livro. nhas para Histórico-Filosóficas. Este com este grupo que avançou para a colégio, apesar de seguir as regras criação da Cuca, em Angola. Tinha SINAIS DE PENSAMENTO CRÍTICO de um regime que dava os primeiros por hábito juntar-se a outras em- A formação académica de Manuel passos, foi sempre marcado por uma presas ou outros sócios para novos Vinhas mostra que, desde cedo, não conduta própria. negócios, principalmente em África. estava alinhado com um modo de vida Foi lá que Manuel Carvalho Brito Dos pais herdou também a Herdade convencional. Sabia que o seu futuro das Vinhas conheceu Maria Alice Car- do Zambujal, entre Setúbal e Alcácer seria a gerir as empresas herdadas neiro Bustorff Silva, com quem veio a do Sal, onde explorava gado e produ- pela familia, contudo escolheu o cur- casar-se. Mais conhecida por Concha, zia cortiça, entre outras coisas, num so de Ciências Histórico-Filosóficas Maria Alice era filha de António Bus- negócio impulsionado em conjunto na Faculdade de Letras. Porque não torff Silva, um dos mais importantes com o seu irmão Mário. Económicas ou Direito, como mui- advogados da época, grande adversário Meio: Imprensa Pág: 34 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 18,00 x 27,00 cm² ID: 88376159 03-09-2020 Âmbito: Interesse Geral Corte: 5 de 13 oh. a qa <ft A w.ab I f- Off - v . 1.1 • ir 1 EI IA PER IL a M FA ÂNIA T DE E D O IV U CIA ÊN ARQ CED DR de Azeredo Perdigão (os duelos entre Vida social À esquerda e à direita, familiares insistem no o, mas na ver- os dois em tribunal ainda hoje são re- Audrey Hepburn e Capucine numa dade o próprio sempre usou u, e é cordados), e homem próximo de Sala- festa realizada na Herdade do por isso que neste artigo se opta pela zar.
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