Fundação Biblioteca Nacional

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Fundação Biblioteca Nacional Fundação Biblioteca Nacional Ministério da Cultura Programa Nacional de Apoio à Pesquisa 2010 2 Programa Nacional de Apoio à Pesquisa Fundação Biblioteca Nacional - MinC Patrícia de Souza França “Livros para leitores”: a atuação de Benjamin Costallat para a ampliação do público leitor no Rio de Janeiro dos anos 20 2010 Programa Nacional de Apoio à Pesquisa – FBN/ MinC2 3 MINISTÉRIO DA CULTURA FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL PROGRAMA NACIONAL DE APOIO À PESQUISA “Livros para leitores”: a atuação literária e editorial de Benjamim Costallat no Rio de Janeiro dos anos 1920 PATRÍCIA DE SOUZA FRANÇA Rio de Janeiro Junho de 2011 Programa Nacional de Apoio à Pesquisa – FBN/ MinC3 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 05 CAPÍTULO 1 A atuação literária do popular e polêmico conteur dos anos loucos...................................... 08 CAPÍTULO 2 A Benjamim Costallat & Miccolis e o cenário editorial carioca dos anos 1920.................... 34 CAPÍTULO 3 “Uma campanha pelo livro nacional”:projeto estético e editorial de Benjamim Costallat..... 77 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 107 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................................109 Programa Nacional de Apoio à Pesquisa – FBN/ MinC4 5 INTRODUÇÃO A presente pesquisa tem como objetivo examinar a atuação de Benjamim Costallat, enquanto escritor e editor, no Rio de Janeiro dos anos 1920, tendo em mente sua preocupação com a ampliação de um público leitor no país. Benjamim Costallat foi um dos escritores de maior sucesso e prestígio da década de vinte. Seus livros, marcados pela linguagem fácil e por polêmicos e ousados enredos, esgotavam-se rapidamente. Edições sucediam-se. Em 1923, o literato lançou-se a uma nova empreitada, inaugurando a editora Benjamim Costallat & Miccolis, que se tornaria uma das mais atuantes no cenário cultural carioca do período, publicando títulos e autores de grande sucesso. Apesar de sua grande relevância no cenário intelectual da capital republicana nos anos 1920, Benjamim Costallat foi excluído do cânone literário e, atualmente, pouco se conhece de sua produção literária e atuação editorial. Para Beatriz Resende, essa exclusão deve-se em parte ao sucesso da estética modernista que resultou na desqualificação de autores que não se enquadravam perfeitamente em suas propostas. 1 Uma das principais conseqüências desta exclusão teria sido o anonimato atual de escritores que atingiam grande público leitor nos anos 1920, como Theo Filho, Patrocínio Filho e Benjamim Costallat. Nos últimos anos, estudos historiográficos buscaram requalificar a década de 1920 do ponto de vista cultural, assinalado a existência de outras tendências literárias e artísticas além do Modernismo. Dessa forma, estas pesquisas questionaram a idéia largamente difundida que caracteriza o cenário cultural deste período exclusivamente pelo Movimento Modernista, cujo marco inicial foi a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo no ano de 1922, por uma vanguarda intelectual paulista. Questionados o marco de 1922 e o papel da vanguarda paulista como referenciais exclusivos da cultura brasileira da década de 1920, abriu-se espaço para estudos de diversas vertentes artísticas e literárias produzidas nas mais diversas localidades brasileiras, notadamente na capital republicana. Alguns destes estudos privilegiaram a análise de autores e tendências literárias distintas do programa defendido pela vanguarda. Outros atentaram para a diversidade de modalidades e dinâmicas assumidas pelo movimento modernista ou 1 RESENDE, Beatriz. Construtores de paraísos particulares. In: RESENDE, Beatriz (org.) Cocaína . Literatura e outros companheiros de ilusão. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2006, p17. Programa Nacional de Apoio à Pesquisa – FBN/ MinC5 6 buscaram analisar outros sinais de modernidade no conjunto da sociedade brasileira, questionando a Semana de Arte Moderna como marco da instauração da modernidade brasileira nas artes. Entre esses estudos, incluem-se aqueles que buscaram estudar a intelectualidade carioca na década do modernismo, como Essa gente do Rio, de Ângela Castro Gomes, e Modernismo no Rio de Janeiro , de Mônica Pimenta Velloso, que buscaram identificar, na capital brasileira, traços de um modernismo carioca, além dos inúmeros estudos sobre o pré- modernismo, como Gregos e Baianos , de José Paulo Paes, e Sobre o pré-modernismo , organizado por José Murilo de Carvalho. É válido ressaltar que, na década de 1990, nesta revisão do cânone literário em voga, dois famosos livros de Costallat foram reeditados: o livro de crônicas Mistérios do Rio , pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, em 1995; e o romance best-seller Mademoiselle Cinema , pela Casa da Palavra, em 1999. Em 2006, a Fundação Biblioteca Nacional realizou, sob a curadoria dos pesquisadores Irineu Corrêa e Lia Jordão, o projeto Medeiros e Albuquerque, João do Rio e Benjamim Costallat: pequena exposição de livros , no qual foram expostas ao público algumas obras de Costallat pertencentes ao acervo da instituição. Atualmente, pode-se ter acesso à exposição pela página eletrônica da Fundação. A importância de um estudo sobre Benjamim Costallat, escritor e editor de grande sucesso na década de 1920, justifica-se, portanto, por sua relevância no cenário cultural carioca deste período. A preocupação com a recepção do texto e a aproximação entre público e obra norteou a atuação literária e editorial de Costallat. Enquanto autor, assinou, na ágil linguagem das crônicas jornalísticas, polêmicas narrativas sobre o submundo da moderna capital brasileira. Tornando-se editor, buscou dedicar a seus livros um tratamento que lhes tornassem atraentes a uma ampla gama de leitores. Privilegiou a publicação de autores nacionais conhecidos do grande público; e de títulos e enredos sensacionais, em especial sobre aspectos mundanos da cidade do Rio de Janeiro. Além disso, dispensou um cuidadoso tratamento gráfico às suas edições, investindo nas encadernações em brochura, nos formatos menores e nas capas ilustradas. Também conferiu grande importância à divulgação das publicações, adotando Programa Nacional de Apoio à Pesquisa – FBN/ MinC6 7 diversas estratégias, como a divulgação nos principais jornais da época dos milheiros vendidos e a assinatura de polêmicos artigos sobre o teor das obras. No decorrer de nossa pesquisa junto ao acervo da Fundação Biblioteca Nacional, tornou-se clara a importância de nos debruçarmos sobre a atuação de Benjamim Costallat enquanto proprietário da editora Benjamim Costallat & Miccolis. Apesar da duração efêmera – a sociedade foi rompida em 1927 -, a empresa teve uma atuação marcante na paisagem intelectual da cidade do Rio de Janeiro naqueles anos. E, enquanto editor, Costallat pôde conferir a seus livros o tratamento que desejava e julgava necessário para alcançar seu objetivo: atingir um amplo público leitor. Por isso, sua atuação editorial será privilegiada nesta monografia. Inicialmente, buscaremos apresentar a trajetória literária de Benjamim Costallat, destacando a sua atuação na imprensa e o contrato com o Jornal do Brasil , a publicação de seus primeiros livros, o seu estilo literário, suas fracassadas tentativas de ingresso na Academia, entre outros. Também será alvo deste primeiro capítulo a recepção de sua produção literária no Rio de Janeiro dos anos 1920. A editora fundada pelo escritor em 1923, Benjamim Costallat & Miccolis, será tema do segundo capítulo. Nele, será examinado o cenário editorial brasileiro do período, destacando as transformações então em voga; e, em seguida, o tratamento editorial dispensado por Costallat e seu sócio às suas edições. Além do levantamento da produção editorial, destacando os principais autores e títulos publicados, também serão identificadas as principais características textuais e tipográficas das obras editadas. Finalmente, a partir de sua atuação literária e editorial, buscaremos descrever a proposta estética e editorial de Costallat, identificando sua concepção de literatura e caracterizando seu público alvo. Programa Nacional de Apoio à Pesquisa – FBN/ MinC7 8 CAPÍTULO 1 A atuação literária do popular e polêmico conteur dos anos loucos Trajetória e atuação literária de Benjamim Costallat Filho do General José Alípio Macedo da Fontoura Costallat, diretor do Colégio Militar do Rio de Janeiro, Benjamim Delgado de Carvalho Costallat nasceu a 26 de maio de 1897 no colégio dirigido por seu pai. Os primeiros anos de sua infância foram vividos na tranqüila e pacata Ilha de Paquetá. Adolescente, seguiu o destino de grande parte dos filhos das abastadas famílias cariocas, indo estudar em Paris, cidade vista como o grande modelo de civilização. Na capital francesa, o jovem saído de Paquetá seguiu o curso de humanidades no Lycée de Janson. Aos dezesseis anos, foi premiado com medalha de ouro pelo Conservatório de Música de Paris, onde se destacara como solista de violino. E foi lá, na capital francesa, onde ficou por cerca de dez anos, que sua vocação literária se manifestou pela primeira vez. Em 1920, em entrevista a um jornalista da revista Fon-Fon , Costallat descreveu sua primeira experiência enquanto escritor: Desde cedo, cursando o Lycée Janson em Paris já escrevia. Lembro-me do primeiro que rabisquei. Uma historieta de um violinista de cinema. Meu professor levou para ser publicado no Humanité – que o grande socialista francês
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