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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Belo Horizonte - MG – 7 a 9/6/2018 A rota inversa dos descobrimentos: a naturalização em Portugal de futebolistas brasileiros e suas representações no Jornal Folha de S. Paulo1 Jaqueline Alves da Silva2 José Carlos Marques3 Unesp – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Resumo O presente trabalho mostra como o jornalismo impresso no estado de São Paulo retratou jogadores que disputaram Copas do Mundo contra o Brasil. Analisaremos textos publicados no jornal Folha de S. Paulo entre as semanas que antecedem e precedem a naturalização dos brasileiros – Deco, Pepe e Liedson – como portugueses e sua presença em Copas do Mundo. Também como retratou o treinador Luiz Felipe Scolari no comando da seleção portuguesa na Copa do Mundo de 2006. Esta pesquisa se apoiou em conceitos da Análise do Discurso (AD) Francesa. Pretende-se verificar como os discursos do jornal repercutiram o fato de jogadores e treinador brasileiros terem deixado seu país para defender outro. É importante observar como tais fatos repercutiram na imprensa, uma vez que o futebol é uma fonte de sentimentos de nacionalismo pelo brasileiro. Palavras-chave Análise do Discurso; Copa do Mundo; Naturalização; Brasil; Portugal. 1. Introdução Nos últimos anos vem ocorrendo um aumento no processo de migração e naturalização de jogadores de futebol pelo mundo. Estudo realizado em 2017 (IG, 2017) pelo CIES (Centro Internacional de Estudos do Esporte) apontou que cerca de 1.200 brasileiros jogam futebol fora do país. Destes, Portugal é o país que mais tem brasileiros atuando em suas diferentes ligas, com 221 jogadores. Esses números tornam o Brasil o país com mais futebolistas atuando fora do próprio país. O fluxo migratório de brasileiros para o futebol português cresceu muito no início do século XXI. Além do grande número de jogadores atuando na liga portuguesa, no final de 2002, o treinador brasileiro Luiz Felipe Scolari, passou a treinar a seleção de Portugal. Tal fato gerou repercussão na imprensa brasileira, uma vez que o futebol é um esporte que provoca grande sentimento de nacionalismo nas pessoas. Isso tudo é ainda maior com 1 Trabalho apresentado na IJ 8 – Estudos Interdisciplinares da Comunicação do XXIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, realizado de 7 a 9 de junho de 2018. 2 Graduada em Comunicação Social Relações Públicas, FAAC – Unesp, e-mail: [email protected] 3 Orientador do trabalho. Professor Dr. do Docente no Departamento de Ciências Humanas (DCHU). FAAC – Unesp, e-mail: [email protected] 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Belo Horizonte - MG – 7 a 9/6/2018 o brasileiro em época de Copa do Mundo, que gera um patriotismo não visto em outras épocas. Durante a Copa do Mundo o torcedor brasileiro se deixa levar pela vontade de torcer pela seleção, veste a camisa e se enche de vontade de se ver novamente campeão do mundo e exibe com orgulho sua brasilidade, todo seu patriotismo, por vezes esquecidos (AGOSTINO, 2002; ANTUNES, 2004). O futebol é um esporte que mexe com a emoção do torcedor, então se faz necessário entender como a mídia, sobretudo o jornal Folha de S. Paulo colabora para que seja criada a imagem de jogadores e técnico, que deixam o Brasil para defender outra nação. O técnico Luiz Felipe Scolari foi campeão da Copa do Mundo com o Brasil em 2002, ficando no comando da seleção brasileira até agosto de 2002. Logo após, Luiz Felipe Scolari aceitou o convite da Federação Portuguesa de Futebol para dirigir o time português. Em 2004, o técnico levou o time à final da Eurocopa, ficando em segundo lugar, pela primeira vez na história. Além disso, na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha chegou a semifinal. Portugal perdeu para a França na semifinal e para a Alemanha na disputa pelo terceiro lugar, no entanto, esses reveses não foram suficientes para tirar Felipão do comando da equipe, permanecendo no cargo até 2008. No comando da seleção portuguesa Felipão enfrentou o Brasil duas vezes: em 2003, em um amistoso, em que venceu por 2 a 1; e em 2007, vencendo novamente desta vez por 2 a 0. Treinar outro país e vencer o Brasil nas disputas diretas não foi suficiente para acabar com o amor que a torcida brasileira tinha pelo técnico, que era continuamente solicitado para voltar ao comando do Brasil, o que aconteceu em novembro de 2012. Deco, Anderson Luiz de Sousa nasceu em São Bernardo do Campo (SP) e em março de 2003, após seis anos morando em Portugal, naturalizou-se português. Inicialmente tanto os portugueses como até mesmo companheiros de seleção, foi contra a convocação do brasileiro. No entanto, esse cenário começou a mudar quando em seu primeiro jogo com a camisa de Portugal, justamente um amistoso contra o Brasil, Deco fez o gol da vitória para o time luso. Após isso, o brasileiro foi bem aceito pela torcida e jogou duas Copas do Mundo defendendo a seleção portuguesa, em 2006 e 2010. Outro jogador brasileiro natualizado português foi Képler de Lima. Nascido em Maceió (AL), tornou-se português em agosto de 2007. Pepe disputou as Copas do Mundo de 2010 e 2014 por Portugal, sendo que em 2010, enfrentou o próprio Brasil. 2 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Belo Horizonte - MG – 7 a 9/6/2018 Por fim, em agosto de 2009, Liedson da Silva Muniz ganhou nacionalidade portuguesa. Nascido em Cairu, o atacante disputou com Portugal a Copa do Mundo de 2010, e depois disso não foi mais convocado. Esses jogadores deixaram seu país de origem e foram defender outro país nos campos, o que causa sentimentos na torcida e na mídia. Por isso, esta pesquisa buscou entender através da metodologia proposta pelos estudiosos da Análise do Discurso (AD) Francesa como o discurso jornalístico representou esses jogadores. Além disso, para que se justifique a aplicação da AD na análise dos textos do jornal Folha de S. Paulo sobre a naturalização desses jogadores e participações em Copas do Mundo, é válido ressaltar que acreditamos no futebol como uma importante fonte de identidade nacional e noção de brasilidade sobretudo, em períodos de Copa do Mundo de Futebol. Procuramos verificar também se o jornal Folha de S. Paulo – no recorte em questão – “condena” ou se opõe aos jogadores que deixam seu país para defender o antigo colonizador, ou se, ao invés disso, apoia-os e forma uma imagem positiva deles. Deste modo, pretende-se chegar a uma resposta para o seguinte problema de pesquisa: como o jornal paulista operou os níveis de recorte e de reconstrução sobre a presença de futebolistas brasileiros atuando pela Seleção de Portugal em competições internacionais, principalmente em Copas do Mundo. 2. Objetivos O objetivo central desta pesquisa foi verificar e identificar a representação do técnico brasileiro Luiz Felipe Scolari (Felipão) nos textos do jornal Folha de S. Paulo na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Assim como dos jogadores Deco, Pepe e Liédson nos períodos de suas naturalizações e nas Copas do Mundo de 2010, na África do Sul e 2014, no próprio Brasil. 3. Metodologia Para a pesquisa buscou, as edições do jornal Folha de S. Paulo nos seguintes períodos: 1 a 31 de março de 2003, mês de naturalização de Deco e presença de Luiz Felipe Scolari no comando da seleção portuguesa; 1 de junho a 10 de julho de 2006, realização da Copa do Mundo na Alemanha com Deco e Felipão defendendo Portugal. 1 a 31 de agosto de 2007, naturalização de Pepe. 1 a 31 de agosto de 2009, naturalização 3 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Belo Horizonte - MG – 7 a 9/6/2018 de Liedson. 1 a 30 de junho de 2010, realização da Copa do Mundo na África do Sul, com os jogadores Deco, Pepe e Liedson defendendo Portugal e, por fim, 1 a 30 de junho de 2014 com a realização da Copa no Mundo no Brasil, com Pepe na seleção portuguesa. Para a análise, buscou-se verificar o discurso textual do jornal Folha de S. Paulo: foram examinados artigos reportagens e editoriais encontrados no jornal. A metodologia utilizada na pesquisa foi prioritariamente qualitativa e apoiou-se na leitura bibliográfica das obras literárias, na leitura de textos conceituais da Análise do Discurso (AD) Francesa, e na leitura dos textos do corpus selecionado. A metodologia utilizada no presente trabalho é prioritariamente qualitativa, baseando-se em leitura bibliográfica de obras literárias, de textos conceituais e dos textos do corpus selecionado. A Análise do Discurso, por si só, já estabelece uma forma própria de reflexão sobre o objeto (ORLANDI, 1997, 2001; PINTO, 1999; BRANDÃO, s/d). 4. Referencial teórico e revisão bibliográfica 4.1 Análise do Discurso Francesa A análise do discurso (AD) é um instrumento metodológico da análise textual que surgiu durante as décadas de 1960 e 1970, na França, como uma metodologia que rompeu a tradição da análise literária Estruturalista que dava importância à própria língua como objeto de estudo. A AD francesa, por sua vez, as condições de produção e contexto passam a fazer parte importante da análise. A Análise de Discurso possibilita descrever e interpretar escolhas feitas pelo escritor, assim podendo evidenciar o real conteúdo de um enunciado. Determinar a significação de um discurso é exatamente extrair o seu sentido e desvelar as razões de sua enunciação (GILL, 2002). A Análise do Discurso procura explorar como os discursos são construídos e tem o objetivo evidenciar as funções ou atividades dos textos.