Jornalismo Desportivo: a Hierarquia Das Modalidades – – Análise Dos Jornais O Jogo, a Bola E Record
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PRISMA.COM n.º 42 ISSN: 1646 - 3153 Jornalismo Desportivo: A Hierarquia das Modalidades – – Análise dos jornais O Jogo, A Bola e Record Sports Journalism: The Hierarchy of Sports – A Review of the newspapers O Jogo, A Bola e Record Maria João Marinho da Silva Faculdade de Letras - Universidade do Porto [email protected] Resumo Abstract Este estudo analisa como os três principais jornais This study reviews how the three main Portuguese sports desportivos – O Jogo, A Bola e o Record – hierarquizam newspapers - O Jogo, A Bola and Record – rank sports as modalidades desportivas na cobertura jornalística. O and its modalities in the journalistic coverage. The main objetivo deste estudo é compreender como a cultura purpose is to understand how the Portuguese culture portuguesa influência a cobertura jornalística, mas context influences the coverage and the primacy of também o impacto que a proximidade geográfica pode football when compared to the other sports, but also the ter nessa mesma cobertura jornalística desportiva. De impact that geographic proximity has on the development forma a compreender este processo, foi feita uma análise of Sports Journalism. In order to achieve this purpose, it diária dos jornais O Jogo, A Bola e Record desde o dia was carried out a daily analysis of O Jogo, A Bola and 11 de maio até ao dia 17 de maio. Os resultados Record from May 11th to May 17th. Results confirm that confirmam que o futebol continua a ser o principal foco football still is the main focus of Sports Journalism, but da cobertura jornalística desportiva em Portugal, also show that FC Porto, SL Benfica and Sporting CP are verificando-se também um domínio do FC Porto, SL the most covered football clubs. This study reflects the Benfica e Sporting CP. need of more diverse coverage in the Portuguese Este estudo reflete a necessidade de uma cobertura mais context, but also the influence that sports have in the diversa no contexto português, mas também o impacto Portuguese culture and in the Portuguese que o desporto tem na cultura portuguesa e no ambiente media/journalistic environment. jornalístico nacional. Palavras-chave: Desporto; Jornalismo Desportivo; Keywords: Sports Journalism; Sports; Media Coverage; Imprensa Desportiva; Modalidades Sports Media; Football PRISMA.COM (42) 2020, p. 58-73 DOI: https:// doi.org/10.21747/16463153/42a4 58 PRISMA.COM n.º 42 ISSN: 1646 - 3153 1. Introdução Com o presente trabalho, pretendo responder à questão: ‘De que forma é que a cobertura noticiosa feita pelos principais jornais desportivos portugueses favorece a primazia do futebol em relação às restantes modalidades?’, tendo como base de informação os principais jornais desportivos portugueses: ‘O Jogo’, ‘A Bola’ e o ‘Record’. Ao longo deste trabalho, pretendo analisar o foco informativo da versão impressa dos principais jornais desportivos portugueses e compreender a hierarquia das modalidades à qual estes jornais obedecem. Ao realizar este estudo, pretendo não só abordar o desenvolvimento do jornalismo desportivo em Portugal, não esquecendo as inúmeras fases pelas quais esta especialização jornalística passou – desde o surgimento do primeiro jornal desportivo até à contemporaneidade – mas também analisar a forma como estes jornais recolhem e tratam informação. No âmbito da compreensão da hierarquia das modalidades, que nos dias de hoje preenche a cobertura noticiosa feita pelos jornais ‘O Jogo’, ‘A Bola’ e ‘Record’, este trabalho tem como objetivo oferecer uma contextualização teórica sobre a cobertura noticiosa especializada em desporto, a imparcialidade dos jornalistas desportivos, a globalização do jornalismo desportivo e a presença de um carácter nacionalista na imprensa desportiva portuguesa. Neste sentido, e de forma a compreender o processo da melhor forma, o meu trabalho terá por base a análise dos conteúdos produzidos através da cobertura feita pela principal imprensa desportiva portuguesa, inserido no estudo de caso que pretendo depreender: a hierarquia das modalidades desportivas feitas pelos jornais ‘O Jogo’, ‘A Bola’ e ‘Record’. Assim sendo, revela-se necessário, na minha perspetiva, a análise deste processo, não só pelo impacto que o desporto tem na sociedade portuguesa e, consequentemente, na imprensa, mas também pelo espaço mediático que este ocupa na imprensa nacional e pelo carácter nacionalista e unificador que o desporto adquire em Portugal. 2. Contextualização Teórica 2.1. Desporto e Jornalismo Desportivo O desporto é algo que está profundamente enraizado na sociedade contemporânea. Apesar desta atividade fazer parte do nosso quotidiano, seja pela sua prática ou até mesmo pela sua observação – ao vivo ou através dos Média – não existe uma definição estanque relativa àquilo que é o desporto. De facto, existem várias perspetivas sobre a definição do desporto, as suas características e objetivos. A Carta Europeia do Desporto Para Todos1, aprovada pelos ministros Europeus nos dias 14 e 15 de maio de 1992 em Rhodes, vê o desporto como: “(…) todas as formas de actividade física que, através de uma participação organizada ou não, têm por objectivo a expressão ou o melhoramento da condição física e psíquica, o 1 http://www.idesporto.pt/ficheiros/file/CartaEuropeia.pdf 59 PRISMA.COM n.º 42 ISSN: 1646 - 3153 desenvolvimento das relações melhoramento da condição física e psíquica, o desenvolvimento das relações sociais ou a obtenção de resultados na competição a todos os níveis” (1992: 6) Segundo Carvalho, esta definição de desporto pode ser encarada tendo em consideração dois tipos de elementos: as capacidades naturais que permitem a prática do desporto e os valores intrínsecos nesta prática, muitas vezes ligada à superação e ao rendimento (2008: 9). Se por um lado há quem veja esta atividade como uma forma da melhoria da qualidade vida, devido ao impacto que a atividade desportiva tem na condição de saúde de quem a pratica (2008: 10), por outro lado, o desporto afirma- se também como um espelho de culturas e nacionalismos, apoiando assim o desenvolvimento de uma paixão sem fronteiras que acaba por abrir portas ao hooliganismo (Wanta, 2012: 78). O sucesso do desporto fez com que este captasse a atenção dos órgãos de comunicação social que viram nesta atividade uma forma de conquistar massas e, consequentemente, uma forma indireta de rendimento. Este fenómeno fez com que o desporto ganhasse uma vertente lúdica devido à sua capacidade de entreter, mas também ao seu lado comercial (Reis, 2016: 19). De facto, o desporto e em particular o futebol, têm-se vindo a tornar numa forma de negócio algo diferente de todos os outros, isto porque o negócio é feito também pelos próprios consumidores de desporto e conteúdos desportivos. O negócio alimenta, para além de paixões, a emergência de um grande setor económico (Cerqueira & Lima, 2019: 3). Isto acontece quando os próprios fãs de desporto partilham conteúdos relacionados com uma determinada modalidade ou clube, fazendo com que o negócio em volta do desporto se desenvolva ainda mais. Contudo, segundo King, ser fã de uma modalidade como a do futebol revela, fundamentalmente, um problema de identidade e não uma participação indireta no negócio desportivo (1997: 237) O jornalismo desportivo não ficou indiferente a esta tendência. Segundo Tunstall (1996), citado por Boyle et al., quase todos os jornais de grande tiragem direcionaram os seus recursos para a cobertura jornalística dedicada ao desporto como tentativa de conquistarem novos leitores (2002: 166). Para além de uma forma de conquista de novos públicos, este foco no desporto e, em particular, no futebol trouxe também alguns desafios aos jornalistas: o tempo para a criação de conteúdos diminuiu, muito devido ao desenvolvimento tecnológico que conduziu também à transformação da tecnologia não só numa ferramenta de trabalho, mas também numa fonte de informação (2002: 167). Se por um lado este processo veio facilitar o trabalho dos jornalistas desportivos aquando o processo de recolha de informação, por outro lado, a tecnologia tornou os clubes, jogadores e agentes independentes a nível comunicacional, dificultando assim a relação dos jornalistas com as suas fontes que agora dispõem dos seus próprios meios de comunicação. Apesar do desporto ser uma temática bastante lucrativa quando trabalhada pelos Média, o surgimento dos Novos Média levantou algumas questões sobre a cobertura jornalística desportiva: a independência comunicacional por parte dos jogadores, clubes e potenciais fontes de informação, mas também a possibilidade do carácter comercial do desporto fazer com que a cobertura jornalística desportiva acabe por se transformar numa mera transmissão de eventos desportivos (Boyle et al, 2009: 4). 60 PRISMA.COM n.º 42 ISSN: 1646 - 3153 O desporto acabou por se tornar num dos maiores focos do jornalismo internacional. A publicidade associada às modalidades fez com que o jornalismo desportivo aproveitasse, não só a atenção dos fãs em determinadas modalidades, mas também o fator lucrativo que o desporto oferece. 2.2. Jornalismo Desportivo em Portugal O Velocipedista surgiu em 1893 e afirmou-se como o primeiro jornal desportivo português. O surgimento deste jornal coincidiu, segundo Pinheiro, com a industrialização do país e, em particular, com a exigência de mais descanso e tempo livre por parte dos trabalhadores. De facto, “a chegada de um novo ciclo e de uma ‘nova época’ conduziu a uma mudança na mentalidade tradicional portuguesa, centrada dos valores monárquicos”2 (Pinheiro, 2012: 3). Essa mudança de pensamento proporcionou não só a popularização do desporto, mas também o desenvolvimento da imprensa desportiva em Portugal. Apesar do primeiro jornal ter surgido em 1893, a imprensa desportiva em Portugal apenas começou a ganhar algum espaço e sustentabilidade noticiosa em 1920. Neste período surgiram 43 novas publicações de carácter desportivo que, para além de refletirem o aumento do tempo livre da população, também representavam a popularização do desporto e o jornalismo nele focado (Pinheiro, 2013). O entusiasmo em relação ao desporto, fez com que surgissem periódicos que acabariam por se destacar e que estariam extremamente ligados à região onde haviam sido fundados: Os Sports, de Lisboa e Sporting do Porto.