Patrick Borges Ramires De Souza
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS Patrick Borges Ramires de Souza “BIXA, PRETA, TRANS E PERIFÉRICA”: LINN DA QUEBRADA E AS PERFORMATIVIDADES DE GÊNERO DISSIDENTES COM AS MÍDIAS DIGITAIS Santa Maria, RS 2019 Patrick Borges Ramires de Souza “BIXA, PRETA, TRANS E PERIFÉRICA”: LINN DA QUEBRADA E AS PERFORMATIVIDADES DE GÊNERO DISSIDENTES COM AS MÍDIAS DIGITAIS Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Sociais, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais. Orientador: Prof. Dr. Fernando de Figueiredo Balieiro Santa Maria, RS 2019 Dedico a realização dessa dissertação a todas as pessoas que estão à frente das trincheiras de luta e resistência a condições de precarização de suas vidas e que, ainda assim, burlando as adversidades, atuam politicamente para a construção de uma sociedade na qual as diferenças não sejam um obstáculo, mas um motor para o reconhecimento de vidas plurais em suas especificidades. Dedico, pois, às Bixas, às Afeminadas, às Lésbicas, às Butch, às Travestis, às Transexuais, às Transgêneras, às Drag-Queens, às Drag-Kings, às A-Gêneros, às Não- Binárias, às Andrógenas, às FTM, às Queers, às Espírito-Duplo, e às não heterossexuais. Sujeitos que, ao gozar de seus cotidianos de vida são, para mim, o ultrapassar do muro do preconceito, da discriminação, do ódio e da violência que nos impede de vivermos vidas passíveis de serem vidas vivíveis em sua multiplicidade. A VIDA ACONTECE (AGRADECIMENTOS) Sentados à espera de serem chamados para participarem da entrevista de um processo seletivo de mestrado, estão dois corpos que não se conhecem. Da voz sarcástica e excitada de um deles, em certo momento ecoa o riso no canto da boca, enquanto puxa conversa e menciona: “que curioso... o horário da tua entrevista é às 16h20min. Significativo, néh!?”. Do corpo posicionado do outro lado da sala, emerge o riso de quem “entrega o jogo” e logo responde: “néh?”. Ambas as bocas sorriem. Ali iniciam uma amizade atravessada pelos interesses de pesquisar gênero e sexualidade, e que perdurará até o passar de várias outras 4h20min da madrugada, enquanto duas cientistas sociais conversam sobre a vida, as emoções, os afetos e os gozos dos contatos experienciados com seus campos de pesquisa. Um daqueles corpos era o meu, o outro da amiga e colega profissional, Rafaela Oliveira Borges, que fez sua dissertação de mestrado entre festas, ruas, bares, sambas e perambulações na cidade, buscando acompanhar a construção de uma cena Drag em Santa Maria. O perambular pelas ruas e locais em que as drags estariam performando, aproximou- nos enquanto amigos e nos possibilitou a reflexão conjunta sobre epistemologia e metodologia aplicada para o que pretendíamos desenvolver em nossas pesquisas científicas. Das relações estabelecidas com as pessoas de que compartilhei momentos de vida nos últimos dois anos, passei a entender que não se produz conhecimento, ou teoria e prática política, sem que “uma mão segure na mão da outra”. É necessária uma rede de apoio mútuo, imersa em afetos e emoções, e recheada das contradições cotidianas. Até mesmo àquelas relações inesperadas ou não desejadas, e que nos alçam a viver várias vidas distintas, exóticas ou eróticas. Somos atravessados pelos inesperados da vida real. Aqui quero agradecer aos inesperados e às pessoas que dividiram momentos significativos e que marcam afetivamente a escrita dessa dissertação. Agradeço à Universidade Pública e aos programas de assistência social de ingresso e permanência em uma instituição federal. Entendo que é necessário pautar a permanência enquanto política pública, pois é direito. Tive condições de me manter estudando no mestrado em razão de estar em uma Universidade Federal que me deu suporte, materializado pelas políticas de permanência de que possui, tais quais o alojamento provisório, a casa do estudante, restaurante universitário, e que temos de continuar a defender sua ampliação. Ao ensejo, à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), pela conceção de bolsa, e ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFSM. Com efeito, às profissionais professoras com quem tive contato ao longo do mestrado, e à secretária do curso, Jane, pelo cuidado e profissionalismo. Ao meu orientador, Prof. Dr. Fernando de Figueiredo Balieiro. Em termos profissionais, meu querido Fernando me auxiliou a abrir as gavetas empoeiradas nas quais às vezes escondemos nosso pensamento crítico e capacidade de reflexão complexa sobre a teoria social. Cada um dos seus “balõezinhos” de comentário em meus textos fez-me ter reações diferenciadas, entre risos e pensamentos sobre o que estava a pensar e sobre textos que deveria ler para responder cada qual. Construímos uma relação profissional com dedicação, colaboração, diálogo, e com toques de risada, de atenção e de cuidado. Sou grato, e agradeço. Às colegas de mestrado, em especial Carolina Carvalho, Jessica Cunha e Rafaela Oliveira Borges, e aos momentos em que “o quarteto” se possibilitou estar no bosque da UFSM conversando sobre a vida, trocando afetos, rindo e se apoiando ao longo de percurso de disciplinas, palestras, docência, salas de aula, intervalos e a saidinha para o cigarro. Às minhas famílias. Minha mãe, Suzana e irmã, Bianca, esta que esteve inclusive em minha defesa. E a família do coração, meu irmão da vida, Maique, por termos desde o princípio coabitando em um alojamento provisório da UFSM, e por compartilhar da vida – o politólogo ex-adminstrador, e o antropólogo ex-jurista? À Dani, por ser essa leonina iluminada pela lua. À Gabi, minha ariana em suas intensidades. À Sofia e nossas contações de histórias, criações de personagens e momentos de liberdade de se ser criança; e à Maria e nossas desventuras caninas e animalescas. Também à Alana Gonçalves, Amanda Rodrigues, Tom Pessoa, Melissa Fernanda, Naná, Nara, Guilherme, e o Rodrigo. Ao NEERD (Núcleo de Estudos de Emoções e Realidades Digitais), e às pessoas de que dele fazem parte, pela estrutura física e teórica proporcionada. Também aos encontros, debates de filmes e episódios de séries, mini cursos, palestras e, evidentemente, ao café do prof. Dr. Francis Moraes de Almeida. À Banca, em especial às professoras Dra. Monalisa Dias de Siqueira, por ter feito parte de minha trajetória acadêmica, e ao professor Dr. Tiago Duque, por ter aceitado participar de minha banca e por ter contribuído para minhas reflexões sobre travestilidades brasileiras. Também à Dra. Débora Krischke Leitão, que fez parte de minha qualificação da pesquisa, mas que, por razões pessoais, não pôde participar da banca final. Ao Coletivo VOE, ao Luíz Henrique Coletto, à Gabriela Quartieiro, ao Nei D’Ogum (in memoriam), e demais integrantes, ativistas sociais e defensores dos direitos humanos da cidade. Por fim, à Nação Tutumbaiê, à Ayahuasca, ao Rapé e à Iemanjá. Estou AFET(o)ada Para afetar, é preciso devir Deixas as amarras da identidade Produzir multiplicidades in(de)terminadas Processos inacabados Vulcão ADentrando em LEÃO E desaguando MAR Caminhos que nos SÃOS estranhos queimam a garganta da monotonia O inesperado nos abraça de um lado enquanto o EU é atravessado pela diferença A razão é PRISÃO Então sejamos vento em tempestade Corpo desalinhado Várias vozes habitam o NÓS Dando e produzindo sentidos Que não cabem numa só consCiência petrificada pela certeza De ser quem se nasceu para ser ♀♂ Sem estar SENDO Turbulência Viada Intergalactica RESUMO “BIXA, PRETA, TRANS E PERIFÉRICA”: LINN DA QUEBRADA E AS PERFORMATIVIDADES DE GÊNERO DISSIDENTES COM AS MÍDIAS DIGITAIS AUTOR: Patrick Borges Ramires de Souza ORIENTADOR: Fernando de Figueiredo Balieiro Essa pesquisa analisou a construção performativa da artista de São Paulo/SP, Linn da Quebrada, a partir de sua inserção nas mídias digitais, entre 2016 a 2018. Para tanto, realizei uma etnografia digital por perambulação, buscando compreender os usos de que ela realiza das plataformas de mídias digitais, em especial YouTube, Facebook e Instagram, para a projeção enquanto artista, assim como para a construção de si em relação dialógica com as plataformas e suas audiências. O enfoque se dá a partir das mídias digitais por considerar que fazem parte de um contexto de sociedade digital, e na qual elas atuam a partir de uma lógica de autocomunicação de massas, em termos de que qualquer pessoa passa a ser consumidora e produtora de conteúdo com a internet. Concomitantemente, as plataformas agenciam modos de identificação, razão pela qual por elas perambulo para analisar como Linn as utiliza. A análise foi realizada a partir da intersecção de diferentes categorias que constituem processos de identificação na sociedade atual, tais quais gênero, sexualidade e geração, e que estão presentes nas narrativas produzidas pela performatividade da artista. Lanço mão dos conceitos de precariedade e performatividade, ambos de Judith Butler, para compreender a relação que Linn estabelece entre o paradoxo da visibilidade e do reconhecimento enquanto artista que alcança certa visibilidade a partir de engajamentos performativos promovidos com as mídias digitais, na relação com as mídias hegemônicas. A pesquisa examina esses aparentes paradoxos e reflete sobre o modo como a artista emerge a partir da problematização de questões envolvendo gênero, sexualidade, corpo, o desejo travesti, a (in)visibilidade travesti e narrativas que visam criar condições de existência não precária de um