Neotropical Biology and Conservation 10(3):123-131, september-december 2015 Unisinos - doi: 10.4013/nbc.2015.103.02

Inferência de padrões de distribuição da família (, ) no Brasil através de base secundária de dados

Distribution patterns inference of the family Veneridae (Mollusca, Bivalvia) in Brazil through secondary database

Valesca Paula Rocha1, 2 [email protected] Resumo Veneridae é considerada uma das maiores famílias do Recente, e também uma das mais Helena Matthews-Cascon1 diversas dentro de Bivalvia, distribuindo-se tanto em ambiente marinho quanto estuarino. [email protected] Estudos de cunho biogeográficos são importantes para manejo e conservação da biodi- versidade. O trabalho tem como objetivo inferir os padrões de distribuição latitudinais e longitudinais, reunindo e listando a composição de venerídeos para a costa do Brasil a partir de base secundária de dados. A composição e distribuição geográfica foram de- terminadas a partir de levantamento bibliográfico, bem como acesso a bancos de dados online, e classificadas em padrões de distribuição atuais (latitudinais e longitudinais). Se- gundo dados da literatura, registram-se 40 espécies para a família no Brasil, sendo obser- vada semelhança na malacofauna de Veneridae entre Brasil, Caribe e Golfo do México. As espécies de venerídeos foram classificadas em oito padrões latitudinais e cinco longi- tudinais. O trabalho aponta uma provável distribuição da família e indica a necessidade de aprofundar o conhecimento da malacofauna no país.

Palavras-chave: biogeografia, , venerídeos, Atlântico Ocidental.

Abstract

Veneridae is one of the largest families of Recent, also one of the most diverse within Bivalvia, being found in marine and estuarine environments. Biogeographic studies are important for the management and conservation of the biodiversity. This paper aims at inferring the latitudinal and longitudinal distribution patterns, gathering and listing Vene- ridae composition for the Brazilian coast through secondary database. The composition and geographical distribution were determined through literature, as well as access to online databases, and classified as current distribution patterns (latitudinal and longitudi- nal). According to the collected data, there are 40 species of the family recorded in Brazil; there were similarities among Brazil, the Caribbean and the Gulf of Mexico. The Veneridae species was classified into eight latitudinal and five longitudinal patterns. This work points to a probable family distribution and highlights the need for better understanding of the malacofauna in the country.

1 Universidade Federal do Ceará, Departamento de Bio- logia, Laboratório de Invertebrados Marinhos do Ceará Keywords: biogeography, heterodonta, clam, Western Atlantic. (LIMCE). Rua Campus do Pici, s/n, Bloco 909, Bairro Pici, 60440-900, Fortaleza, CE, Brasil. 2 Doutoranda do Programa em Ciências Marinhas Tropicais do Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR. Universidade Federal do Ceará. Av. da Abolição, 3207, Meireles, 60165- 081, Fortaleza, CE, Brasil.

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Introdução tras regiões do Atlântico Ocidental gênero mais representativo de Veneri- (Golfo do México, Caribe, Uruguai dae, seguido de Tivela, Globivenus e A família Veneridae RAFINESQUE, 1815 e Argentina), foram determinadas a Chione (Figura 1). é composta por bivalves marinhos partir de levantamento bibliográfico De acordo com o levantamento rea- cosmopolitas, típicos de águas rasas, (Abbott, 1954, 1965; Fischer-Piette e lizado nesse trabalho, 40 espécies de infaunais, filtradores, podendo ser Testud, 1967; Matthews e Rios, 1967a; Veneridae estão registradas para o encontrados também em ambientes Matthews e Rios 1967b; Narchi, 1972; Brasil. Golfo do México e Caribe ain- estuarinos. Presente desde o Cretáceo, Fischer-Piette et al., 1970; Matthews e da apresentaram uma maior riqueza além de considerada uma das maiores Rios, 1974; Fischer-Piette, 1975; Fis- de espécies venerídeos: 48 e 54, res- famílias do Rece nte, é também uma cher-Piette e Vukadinovic, 1977; Lin- pectivamente. Por sua vez, Uruguai e das mais ricas em espécies dentro se, 1999; Rios, 1994, 2009; Scarabino, Argentina (até Região Magalhânica) de Bivalvia – incluindo cerca de 300 2003; Turgeon et al., 2009; Huber, possuem uma menor riqueza de es- espécies fósseis. Possui 500 espécies 2010; Miloslavich et al., 2010; Gordil- pécies de venerídeos, sendo 14 e 13, viventes, compreendidas em 12 sub- lo et al., 2011) e de consultas a bancos respectivamente. famílias e 50 gêneros (Canapa et al., de dados online (Rosenberg, 2009; A compilação feita no presente estudo 1996; Denadai et al., 2006; Mikkelsen eBivalvia, 2014; WoRMS, 2014). A aponta uma semelhança da malaco- et al., 2006; Huber, 2010; Cheng et sistemática utilizada, para diminuição fauna de venerídeos entre Brasil, Cari- al., 2011). Para o Brasil, registram-se de erros por presença de sinonímias, be e Golfo do México, sendo que, das 35 espécies, classificadas em 14 gêne- segue as propostas apresentadas no 40 espécies que ocorrem no Brasil, 27 ros e sete subfamílias (Rios, 2009). site WoRMS (2014). também estão presentes no Caribe e/ Moluscos bivalves possuem relevante Após a observação da composição e ou Golfo do México. A região norte importância para o entendimento de distribuição geográficas, as espécies do Brasil, juntamente com Maranhão, padrões biogeográficos no ambien- brasileiras de venerídeos foram clas- Piauí e Rio Grande do Sul, apresenta- te marinho (Crame, 2000). Estudos sificadas em padrões de distribuição ram o menor número de espécies de como o de Stehli et al. (1976) mos- atuais (latitudinais e longitudinais) venerídeos. Os estados do Amapá e do tram gradientes de diversidade dos bi- segundo a proposta feita por Melo Maranhão apresentaram o menor nú- valves covariando com a latitude em (1985), com alterações sugeridas por mero de registros (Figura 2). nível de espécie, gênero e família. Barroso (2014) (Tabela 1). Neste es- As espécies palmeri FISHER-PIET- Para Veneridae, apesar de sua grande tudo, ainda foram realizadas peque- TE & TESTUD, 1967 e Tivela fulminata diversidade, não são conhecidos tra- nas alterações nas definições de dois (BORY DE SAINT-VINCENT, 1827) apre- balhos de cunho biogeográficos espe- padrões: (i) Padrão Latitudinal Anti- sentaram registros exclusivos para a cíficos para a família. Assim, alguns lhano Contínuo, que Barroso (2014) costa brasileira. Destacam-se também trabalhos trazem apenas um panorama considera “característico de espécies as espécies Leukoma antiqua (KING, biogeográfico parcial, dado que ape- que ocupam de modo contínuo desde 1832), Tawera elliptica (LAMARCK, nas poucos gêneros, dentro de uma a Flórida e Antilhas até o sul do Bra- 1818), Eurhomalea exalbida (DILL- subfamília, são investigados (Roop- sil” – neste trabalho foram considera- WYN, 1817), Eurhomalea lenticularis narine, 1996, 1997, 2001; Roopnarine das “espécies que ocupem de modo (BRODERIP & G.B. SOWERBY I, 1835), et al., 2008). continuo desde a Florida e/ou Anti- Mercenaria mercenaria (LINNAEUS, O trabalho tem como objetivo inferir lhas”; (ii) Padrão Longitudinal Anfia- 1758) e Petricola dactylus G.B. SO- os padrões de distribuição latitudinais tlântico Restrito, que Barroso (2014) WERBY I, 1823, que possuem registro e longitudinais, reunindo e listando a considera “característico de espécies tanto para o Atlântico como para o Pa- composição de venerídeos para a cos- que ocorrem no litoral brasileiro e no cífico Sul. As três primeiras espécies ta do Brasil. Através de base de dados litoral da África Ocidental” – neste possuem registro para o Brasil, sendo secundários, o estudo tem o intuito trabalho foram consideradas “espé- a região Sul do país o limite setentrio- de reunir informações biogeográficas cies que ocorrem no sul do Atlântico nal. primárias que possam contribuir para Ocidental (Brasil e Uruguai) e África A família Veneridae se enquadrou, o entendimento da distribuição da fa- Ocidental” (Tabela 1). em sua maioria, no Padrão Antilhano mília no Brasil. Contínuo (42%), seguido pelo Caro- Resultados liano Contínuo (17%). Os Padrões Material e métodos Argentino e Virginiano Disjunto não Com um total de 84 espécies e 34 gê- foram observados neste estudo. O res- A composição e distribuição geográ- neros para as regiões analisadas (Bra- tante das espécies, em menor número, ficas das espécies de venerídeos que sil, Golfo do México, Caribe, Uruguai foi enquadrado nos demais padrões la- ocorrem no Brasil, bem como de ou- e Argentina) (Tabela 2), Pitar foi o titudinais: Magalhânico (12%), Cen-

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Tabela 1. Tipos de Padrões de Distribuição propostos por Melo (1985) e modificados por Barroso (2014). Foram consideradas as espé- cies que ocorrem na Flórida e/ou Antilhas (*) e no Brasil, sul da América do Sul Ocidental e África Ocidental (**). Table 1. Kinds of Distribution Patterns proposed by Melo (1985) and modified by Barroso (2014). Species that occur in Florida and/or Antilles (*) and in Brazil, South Western South America and West Africa (**) were considered.

Classificação Definição

PADRÕES LATITUDINAIS Característico de espécies que ocupam a plataforma patagônica, Ilhas Padrão Magalhânico Malvinas, litoral Magalhânico, Terra do Fogo e litoral do Chile; limite norte bastante variável (29°– 45°S), podendo raras vezes alcançar a latitude de 21°S. Característico de espécies que ocupam a franja costeira da plataforma da Padrão Argentino Província de Buenos Aires; limites meridionais variando entre 43°– 44°S (no inverno) e 47°S (no verão) e limite setentrional podendo alcançar os 29°S. Característico de espécies que ocupam o litoral sul-americano, com limite norte Padrão Centro-Sul Americano Restrito variando entre 18° – 21°S. Característico de espécies que ocupam de modo contínuo o litoral sul- Padrão Centro-Sul Americano Amplo americano, alcançando algumas vezes a América Central, mas nunca encontradas na Flórida e nas Antilhas. Padrão Endêmico Característico de espécies que só ocorrem na costa brasileira. Característico de espécies que ocupam de modo contínuo desde a Flórida e Padrão Antilhano Contínuo* Antilhas até o sul do Brasil; com algumas exceções, o limite norte pode se estender até a Georgia (EUA). Característico de espécies que ocorrem na Flórida e/ou Antilhas e no litoral Padrão Antilhano Disjunto sudeste brasileiro; apresentando um hiato de pelo menos 30° de latitude. Característico de espécies que se distribuem continuamente desde as Padrão Caroliniano Contínuo Carolinas do Norte e do Sul (EUA) até o sul do Brasil. Característico de espécies que ocorrem nas Carolinas do Norte e do Sul (EUA) Padrão Caroliniano Disjunto e no litoral sudeste do Brasil, do Rio de Janeiro (21°S) para o sul; apresentando um hiato de pelo menos 45° de latitude. Característico de espécies cujo limite norte de distribuição é Massachusetts, Padrão Virginiano Contínuo New Jersey, Delaware ou a Virgínia e limites meridionais entre Rio de Janeiro (21°S) e Argentina. Característico de espécies que apresentam uma área de distribuição norte e Padrão Virginiano Disjunto outra, sul, com um hiato de pelo menos 50° de latitude. Característico de espécie que habitam desde o Canadá até o nordeste dos Terra Nova (Boreal) Estados Unidos (Terra Nova).

PADRÕES LONGITUDINAIS Padrão Atlântico Ocidental Característico de espécies restritas ao Atlântico Ocidental. Característico de espécies que ocorrem no litoral brasileiro e no litoral da África Padrão Anfiatlântico Restrito** Ocidental. Característico de espécies que estão amplamente distribuídas dos dois lados Padrão Anfiatlântico Amplo do Atlântico. Padrão Anfiamericano Característico de espécies que ocorrem dos dois lados da América. Característico de espécies que ocorrem nos oceanos Atlântico, Pacífico e Padrão Cosmopolita Índico. Característico de espécies que ocorrem na Região Tropical dos três oceanos: Padrão Circumtropical Atlântico, Pacífico e Índico. Característico de espécies que ocorrem nas águas frias dos oceanos Atlântico, Padrão Circumpolar Pacífico e Índico.

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Tabela 2. Composição de Veneridae para o Brasil e demais regiões do Atlântico Ocidental analisadas nesse estudo. A letra ‘X’ significa presença da espécie na região. Table 2. Brazilian Veneridae composition and other western Atlantic regions analyzed in this study. The letter ‘X’ means the presence of the species in the region.

Espécies Brasil Golfo do México Caribe Uruguai Argentina Amiantis purpurata (LAMARCK, 1818) X X X Agriopoma texasianum (DALL, 1892) X Anomalocardia brasiliana (GMELIN, 1791) X X X X X Anomalocardia cuneimeris (CONRAD, 1846) X X Anomalocardia puella (PFEIFFER IN PHILIPPI, 1846) X Callista maculata (LINNAEUS, 1758) X X X Callpita eucymata (DALL, 1890) X X X Chione cancellata (LINNAEUS, 1767) X X Chione elevata (SAY, 1822) X X Chione inflata (KING & BRODERIP, 1832) X Chione mazyckii DALL, 1902 X Chione minor NOWELL-USTICKE, 1969 X Chioneryx grus (HOLMES, 1858) X Chioneryx pygmaea (LAMARCK, 1818) X X Choristodon robustu (SOWERBY I, 1834) X X Cooperella atlantica REHDER, 1943 X Cyclinella tenuis (RÉCLUZ, 1852) X X X concêntrica (BORN, 1778) X X Dosinia discus (REEVE, 1850) X X Dosinia elegans (CONRAD, 1843) X X Eurhomalea exalbida (DILLWYN, 1817) X X X Eurhomalea lenticularis (BRODERIP & G.B. SOWERBY I, 1835) X Gemma gemma (TOTTEN, 1834) X X Globivenus foresti (FISCHER-PIETTE & TESTUD, 1967) X X Globivenus lepidoglypta (DALL, 1902) X Globivenus listeroides (FISCHER-PIETTE & TESTUD, 1967) X X X Globivenus rigida (DILLWYN, 1817) X Globivenus rugatina (HEILPRIN,1887) X X Globivenus strigillina (DALL,1902) X X Gouldia cerina (C. B. ADAMS, 1845) X X X Gouldia insularis (DALL & SIMPSON, 1901) X X Hysteroconcha dione (LINNAEUS, 1758) X X Jukesena foveolata (COOPER & PRESTON, 1910) X Lamelliconcha circinata (BORN, 1778) X X X Leukoma antiqua (KING & BRODERIP, 1832) X X X Leukoma granulata (GMELIN, 1791) X Leukoma pectorina (LAMARCK,1818) X X Leukoma subrostrata (LAMARCK, 1818) X X Lirophora latilirata (CONRAD, 1841) X X X Lirophora obliterata (DALL, 1902) X Lirophora paphia (LINNAEUS, 1767) X X X X Lirophora riomaturensis (MAURY, 1925) X Macrocallista nimbosa (LIGHTFOOT, 1786) X X Mercenaria campechiensis (GMELIN, 1791) X Mercenaria campechiensis campechiensis (GMELIN, 1791) X Mercenaria campechiensis texana (DALL, 1902) X Mercenaria mercenaria (LINNAEUS, 1758) X Parastarte triquetra (CONRAD, 1846) X X Periglypta listeri (J. E. GRAY, 1838) X X Petricola dactylus G. B. SOWERBY I, 1823 X X

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Tabela 2. Continuação. Table 2. Continuation.

Espécies Brasil Golfo do México Caribe Uruguai Argentina Petricola inversa MACSOTAY & CAMPOS, 2001 X Petricola lapicida (GMELIN, 1791) X X Petricola serrata (DESHAYES, 1853) X X Petricolaria pholadiformis (LAMARCK, 1818) X X X Pitar albidus (GMELIN, 1791) X X X Pitar arestus (DALL & SIMPSON, 1901) X X X Pitar cf. munda RÖMER, 1861 X (MENKE, 1828) X X X Pitar morrhuanus (LINSLEY, 1848) X Pitar palmeri FISCHER-PIETTE & TESTUD, 1967 X Pitar patagonicus (D’ORBIGNY, 1842) X X X Pitar pilula REHDER, 1943 X Pitar rostratus (KOCH in PHILIPPI, 1844) X X X Pitar simpsoni (DALL, 1895) X X Pitar zonatus (DALL, 1902) X Pitarenus cordatus (SCHWENGEL, 1951) X X Puberella crenata (GMELIN, 1791) X X X Puberella intapurpurea (CONRAD, 1849) X X X Tawera elliptica (LAMARCK, 1818) X X Tivela dentaria (LAMARCK, 1818) X X Tivela fulminata (BORY DE SAINT-VINCENT, 1827) X Tivela geijskesi VAN REGTEREN ALTENA, 1968 X X Tivela mactroides (BORN, 1778) X X X Tivela trigonella (LAMARCK, 1818) X X Tivela ventricosa (GRAY, 1838) X X X Tivela zonaria (LAMARCK, 1818) X X Transenella cubaniana (D’ORBIGNY, 1853) X X X Transennella conradina (DALL, 1884) X X Transennella culebrana (DALL & SIMPSON, 1901) X X Transennella stimpsoni (DALL, 1902) X X X Transenpitar americana (DOELLO-JURADO IN CARCELLES, 1951) X X X Ventricolaria rigida (DILLWYN, 1817) X X X

Figura 1. Representatividade de gêneros observados na composição de Veneridae de regiões do Atlântico Ocidental (Golfo do México, Caribe, Brasil, Uruguai e Argentina). Figure 1. Genera representation observed on Veneridae composition of the western Atlantic regions (Gulf of Mexico, Caribbean, Brazil, Uruguay and Argentina).

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Figura 2. Número de espécies de Veneridae registradas nos estados brasileiros. Figure 2. Veneridae species number recorded in the Brazilian states.

tro-Sul Americano Restrito (12%), A menor quantidade de espécies, A maioria das espécies brasileiras de Centro-Sul Americano Amplo (3%), registradas nos estados do Amapá, Veneridae está distribuída pelo Atlân- Endêmico (5%), Antilhano Disjun- Pará, Maranhão e Piauí, pode ser tico, de acordo com as classificações to (3%), Caroliano Disjunto (3%) e explicada por duas hipóteses: (a) as nos padrões de distribuição latitudi- Virginiano Contínuo (3%). Para os características de baixa salinidade e o nal e longitudinal. Roopnarine (1996, padrões de distribuição longitudinais, fato de o aporte sedimentar da foz do 1997), em estudos com Chione (Chio- as espécies foram classificadas desta- Amazonas influencia a distribuição ninae), observou que elas tiveram ori- cadamente no tipo Atlântico Ocidental desses organismos na área ou (b) o gem no Atlântico tropical, aparecendo (85%), seguido do Padrão Anfiameri- número de espécies está subestimado, no Pacífico antes do fechamento do cano (7,5%). Os padrões Anfiatlântico devido ao menor número de estudos Istmo do Panamá. Assim, as espécies Amplo (2,5%), Anfiatlântico Restrito na região norte do Brasil – fato tam- de venerídeos que ocorrem no Brasil (2,5%) e Cosmopolita (2,5%) foram bém constatado por Simone (2003) possivelmente tiveram origem seme- os menos representativos, não haven- e Amaral e Jablonski (2005) no filo lhante – no Atlântico tropical –, dada do registros dos Padrões Circuntropi- Mollusca em geral. Para solucionar a grande presença de espécies da fa- cal e Circumpolar. As espécies classi- tal impasse, seriam necessários maio- mília na região. ficadas em cada padrão de distribuição res estudos nas áreas, tanto de levan- As espécies com distribuição também encontram-se listadas na Tabela 3. tamento faunísticos como ecológicos para o Pacífico aqui foram classifica- da família para avaliar o número de das como Anfiamericanas, no sentido Discussão espécies, bem como a influência de de terem registros tanto no lado Pa- fatores abióticos nas mesmas. Salini- cífico quanto Atlântico do continente Observando os números de espécies dade e temperatura em geral são os Americano. Barroso (2014) e Gordillo neste trabalho, é possível perceber fatores mais limitantes na distribui- et al. (2011) apontam moluscos regis- uma maior riqueza de espécies de ve- ção de moluscos bivalves (Stanley, trados em ambos os lados do continen- nerídeos no Caribe, corroborando com 1970). Para esses organismos, por te como sendo a mesma espécie, po- dados observados na literatura para os exemplo, a calcificação pode ser um rém, apresentando pequenas diferenças moluscos em geral (Rios, 2009; Mi- custo metabólico, variando sistemati- morfológicas, cuja provável explicação loslavich et al., 2010). Discussões de camente com a temperatura (Clarke, são modificações em resposta às condi- hotspots de diversidade consideram 1993). ções diferentes do ambiente. a Região Caribenha como Centro de Os resultados corroboram também Acredita-se que o extremo sul do con- Especiação, produzindo e exportando com a Regra de Rapoport. Fortes e tinente americano tenha influência de espécies, podendo também acumular Absalão (2004), em estudo com mo- águas sub-antárticas, onde as tempera- espécies oriundas de áreas periféricas, luscos marinhos das Américas, apon- turas das águas variam de 4ºC a 13ºC como o Brasil – um processo chamado tam que, apesar de seu resultado dar durante o ano, estendendo-se ao Ocea- ‘biodiversity feedback’, onde ambos, suporte à Regra de Rapoport, é neces- no Pacífico via Região Magalhânica hotspots e áreas periféricas, seriam sária cautela com generalizações em (Melo, 1985; Gordillo et al., 2011). A beneficiados (Bowen et al., 2013). nível global. região é uma área em forma de ‘U’ que

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Tabela 3. Classificação das espécies brasileiras de venerídeos em padrões de distribuição latitudinal e longitudinal. Table 3. Classification of the Brazilian Veneridae species in Latitudinal and Longitudinal Distribution Patterns.

Classificação Espécies PADRÕES LATITUDINAIS Eurhomalea exalbida, Leukoma antiqua, Pitar patagonicus, Tawera elliptica, Tivela Padrão Magalhânico ventricosa. Padrão Centro-Sul Americano Restrito Petricola serrata, Pitar rostratus, Tivela dentaria, Tivela zonaria, Transenpitar americana. Padrão Centro-Sul Americano Amplo Globivenus lepidoglypta. Padrão Endêmico Pitar palmeri, Tivela fulminata. Anomalocardia brasiliana, Calista maculata, Cyclinella tenuis, Dosinia concêntrica, Globivenus foresti, Lamelliconcha circinata, Leukoma pectorina, Leukoma subrostrata, Padrão Antilhano Contínuo Lirophora paphia, Pitar albidus, Pitar arestus, Pitar fulminatus, Pitarenus cordatus, Puberella crenata, Tivela geijskesi, Tivela mactroides, Vnetricolaria rigida. Padrão Antilhano Disjunto Choristodon robustu, Globivenus listeroides, Transennella cubaiana. Callpita eucymata, Chione cancellata, Gouldia cerina, Lirophora latilirata, Puberella Padrão Coraliniano Contínuo intapurpurea, Transennella stimpsoni. Padrão Virginiano Contínuo Petricolaria pholadiformis.

PADRÕES LONGITUDINAIS Anomalocardia brasiliana, Calista maculata, Callpita eucymata, Chione cancellata, Choristodon robustu, Cyclinella tenuis, Dosinia concêntrica, Globivenus foresti, Globivenus lepidoglypta, Globivenus listeroides, Gouldia cerina, Lamelliconcha circinata, Leukoma pectorina, Leukoma subrostrata, Lirophora latilirata, Lirophora paphia, Pitar Padrão Atlântico Ocidental albidus, Pitar arestus, Pitar fulminatus, Pitar palmeri, Pitar patagonicus, Pitar rostratus, Pitarenus cordatus, Puberella crenata, Puberella intapurpurea, Tivela dentaria, Tivela fulminata, Tivela geijskesi, Tivela mactroides, Tivela zonaria, Transennella cubaiana, Transennella stimpsoni, Transenpitar americana, Vnetricolaria rigida. Padrão Anfiatlântico Restrito Petricola serrata. Padrão Anfiatlântico Amplo Tivela mactroides. Padrão Anfiamericano Eurhomalea exalbida, Leukoma antiqua, Tawera elliptica, Tivela ventricosa. Padrão Cosmopolita Petricolaria pholadiformis.

faz conexão entre os oceanos Atlântico exemplo de adaptação, Mercenaria Petricolaria pholadiformis (LAMARCK, e Pacífico, através do Estreito de Ma- mercernaria (LINNAEUS, 1758) (Chio- 1818), com distribuição original para galhães (Tierra del Fuego), bem como ninae), originalmente distribuída da o Golfo do México e Uruguai (Abbott, pelo Canal de Beagle (Gordillo et al., Flórida até a costa do Golfo dos Esta- 1954), semelhante a M. mercenaria, é 2011). Caracterizada por um sistema dos Unidos, é típica de águas rasas e classificada artificialmente nesse estu- irregular de ilhas e condições adversas, protegidas (e.g. baías) (Abbott, 1954). do como cosmopolita, sendo apontada a coluna de água é fortemente estrati- Atualmente, possui, além de outros re- atualmente como espécie introduzida/ ficada, da superfície a profundidade de gistros para o Atlântico (desde a zona invasora (Budd, 2005; Huber, 2010; 50m, variando na salinidade e na tem- boreal até o Norte do Caribe), registros Nobanis, 2014) justificando sua distri- peratura. Assim, além de considerar- para Califórnia (Pacífico), Inglaterra buição ampla. Segundo Huber (2010), mos uma possível origem tropical da e França (Abbott, 1954; Chew, 2001; há registro no Brasil apenas para o es- família, estudos indicam que, durante Huber, 2010). De fato, devido à sua tado do Ceará, sendo encontrada ainda a glaciação, a fauna bentônica presente grande importância comercial, a espé- na África Ocidental, no Mediterrâneo na região foi significativamente reduzi- cie foi introduzida nesses países, onde, e na América do Norte (tanto no lado da, onde a recolonização e expansão da segundo Chew (2001), não há dúvidas Atlântico como no Pacífico). biota só ocorreu após o fim da última de que pode ser encontrada em várias Apenas duas espécies foram conside- glaciação, de forma gradativa, à medida outras regiões do mundo. O estabeleci- radas endêmicas para o Brasil (Pitar que havia o descongelamento da área mento em outras regiões se deve, pro- palmeri e Tivela fulminata), o que (Crame, 2000; Gordillo et al., 2005, vavelmente, ao fato de a espécie supor- equivale a 5% da família. Segundo Gordillo, 2006; Kilian et al., 2007). tar amplas variações de temperatura e Jablonski (1987), o alcance geográ- Espécies aqui classificadas como An- salinidade (temperaturas de 2ºC a 28ºC fico de uma espécie é determinado fiamericanas apontam a não restrição e salinidade de 17 a 32) (Castagna e por uma complexa interação de fato- de Veneridae à Região Tropical. Como Chanley, 1973). res intrínsecos e extrínsecos, como a

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dispersão larval e as condições am- ser corroborados ou confrontados à American piddock – Petricola pholadiformis. bientais. A dispersão das larvas de medida que o refinamento taxonômi- Disponível em: http://www.marlin.ac.uk/spe- ciesinformation.php?speciesID=4077. Acesso invertebrados sésseis, ou com pouca co e filogenético e os levantamentos em: 18/08/2014. mobilidade, como os bivalves mari- faunísticos forem sendo aprimorados. CANAPA, A.; MAROTA, I; ROLLO, F.; nhos, possui relevante importância na Os resultados aqui apresentados in- OLMO, E. 1996. Phylogenetic analysis of distribuição espacial e temporal, bem dicam a necessidade de ampliar o co- Veneridae (Bivalvia): comparison of molecular and paleontological data. Journal of Molecular como genética de população e bio- nhecimento da malacofauna no país. Evolution, 43(5):517-522. geografia desses organismos (Kinlan Os dados fornecidos a respeito dos http://dx.doi.org/10.1007/BF02337522 e Gaines, 2003). Em Veneridae, ape- padrões de distribuição da família CARRIKER, M.R. 2001. Embryogenesis and sar da escassez de trabalhos sobre os poderão auxiliar em políticas de con- organogenesis of veligers and early juveniles. servação e preservação da biodiversi- In: J.N. KRAEUTER; M. CASTAGNA (eds.), estágios iniciais das larvas (Carriker, Biology of the Hard Clam. Amsterdam/Lon- 2001), estes apresentam, em geral, dade, políticas essas que devem reunir dres/Nova York/Oxford/Paris/Shannon/Tokyo, desenvolvimento larval planctônico, esforços de estudos taxonômicos, de Elsevier Science B.V., p. 77-115. sofrendo metamorfose no substrato sistemática e biogeográficos. Enten- http://dx.doi.org/10.1016/S0167-9309(01)80031-4 (D’asaro, 1967; LaBarbera e Chanley, der como as espécies estão se distri- CASTAGNA, M.; CHANLEY, P. 1973. 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Zoological Scripta, o Brasil poderia ser explicada (i) devi- 40(3):260-271. http://dx.doi.org/10.1111/j.1463-6409.2011.00471.x do a barreiras físicas, como a influên- À Coordenação de Aperfeiçoamento CHEW, K.K. 2001. Introduction of the hard cia do rio Amazonas, ao Norte do país, de Pessoal de Nível Superior (CAPES) clam (Mercenaria mercenaria) to the Pacific e a influência de águas mais geladas, pela concessão da bolsa de doutorado coast of North America with notes on its intro- ao sul, ou (ii) problemas taxonômicos para V.P. Rocha. À pesquisadora C.X. duction to Puerto Rico, England and France. In: J.N. KRAEUTER; M. CASTAGNA (eds.), Bi- e de levantamento faunístico induzin- Barroso pelos comentários na elabora- ology of the Hard Clam. Amsterdam/Londres/ do ao erro (Simone, 2003; Amaral e ção do texto. Nova York/Oxford/Paris/Shannon/Tokyo, Else- Jablonski, 2005; Floeter et al., 2008; vier Science B.V., p. 701-709. Barroso, 2014). 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130 Volume 10 number 3  september - december 2015 Inferência de padrões de distribuição da família Veneridae (Mollusca, Bivalvia) no Brasil através de base secundária de dados

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