Sexta-feira 6 Novembro 2009 www.ipsilon.pt

O outsider que veio da televisão e incomodou o documentário Jorge Pelicano, realizador de “Pare, Escute e Olhe” ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 7157 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE EDIÇÃO Nº 7157 DO PÚBLICO, INTEGRANTE DA PARTE FAZ ESTE SUPLEMENTO ENRIC VIVES-RUBIO VIVES-RUBIO ENRIC Pedro Cabrita Reis Mocky Erri de Luca Major Lazer Broadcast Matias Aguayo

O cartaz da exposição da National Portrait Gallery

Roger Corman aventura-se na internet com uma mini-série interactiva realizada pelo velho amigo Joe Dante RUI GAUDÊNCIO RUI VocêVocê DosDBtlB Beatles a Bowie, i decide uma história pop em fotografia quem Joe A fotografia do cartaz mostra-nos que é ainda possível ver os Beatles Dante e Flash numa pose fotográfica que desconhecíamos: os Fab Four num Roger cenário de chuva abrigados por dois guarda-sóis, fotografados por Corman Robert Whitaker, em 1964. Mas há também num retrato inesperado, a preto-e-branco, de David Bowie vão matar (David Wedgbury, 1966), com um penteado que mais parece uma a seguir em touca dos guardas da rainha de Sumário Inglaterra... Dos Beatles a Bowie se faz a viagem “Splatter” Jorge Pelicano 6 ao passado glorioso dos Sixties, que Chegou, viu e venceu, com a National Portrait Gallery (NPG) Era a fronteira que faltava “Pare, Escute e Olhe”, e o propõe aos seus visitantes, desde ao mestre da série B e do mundo do documentário em meados de Outubro e até 24 de cinema de “exploitation”: Janeiro. É uma boa forma de Portugal fi cou à beira de um assinalar, nesta aproximação ao ano Roger Corman aventura-se ataque de nervos de 2010, o pretexto para a evocação na internet com uma mini- da passagem de meio século sobre o série interactiva realizada Pedro Cabrita Reis 12 início da década que, a partir da pelo velho amigo Joe Dante Vamos redescobri-lo “Swinging London”, iria mudar o (sim, o realizador de mundo. Esse imaginário pop, se se fez principalmente pela música, “Piranha”, “O Uivo da Paris Review 16 fez-se também pela criação de uma Fera” e “Gremlins”), que Visitámos a maior pequena nova estética na moda, nos gestos e começou a trabalhar revista do mundo comportamentos. E tudo isso consigo nos anos 1970. passou muito pela fotografia, para “Splatter” é o nome da ao texto possibilitando ao declinou a oferta, mas Erri de Luca 20 além do cinema e da televisão. É o papel que a fotografia experiência, em três espectador escolher quais sugeriu o filho, Richard O ex-militante revolucionário desempenhou nesse percurso e “webisódios” de dez as que vão ser eliminadas Christian Matheson. O fala da felicidade nessa revolução estética e minutos “encomendados” no episódio seguinte. No primeiro episódio foi para sociológica que a NPG agora pelo Netflix, o video-clube caso, o testamento é o da o ar a 29 de Outubro, Mocky 28 reconstitui numa exposição de mais virtual que aluga DVDs pelo estrela rock Jonny Splatter mesmo a tempo do O proto-rapper é agora um de centena e meia de imagens, dois terços das quais inéditas. É claro correio mas que passou (Corey Feldman), e os Halloween, permitindo aos bossa-moço que aí estão Cliff Richard e os também recentemente a “amigos” que se reunem espectadores escolher no Shadows, os Who e os Kinks, os propor o visionamento de para ouvir o testamento são final as personagens que Major Lazer 30 Stones e os Pink Floyd. Mas há filmes online. o psiquiatra, o empresário, vão ser eliminadas no Música para dançar,r, em também a referência a figuras “Splatter”,“Splatter”, rodarodadodo em o guitarrista, a groupie e a segundo episódio, qqueue ou fficaramicaram Kingston, Londres oouu video digital em apenasap rival. Produzida por disponibilizado online Portugal oito ddias,ias, conta uumam das Corman e pela sua esposa quinta, 5 de Novembro. E o Bowie fotografado mmaisais velhas hhistórias Julie, a mini-série quase foi grande final, onde serão por David Wedgbury Ficha Técnicaa do cinema uma “reunião de antigos eliminadas mais duas fantástico alunos” do produtor que personagens escolhidas por Director Bárbara Reis Editor Vasco Câmara, Inêsnês NadaNadaisiss e de deu a primeira voto popular no final do (adjunta) mistériom oportunidade a gente como segundo webisódio, vai Conselho editorial Isabelbel – cinco Jack Nicholson, Peter entrar no site na sexta Coutinho, Óscar Faria, CristinaCristina pepersona- Bogdanovich ou James seguinte — Fernandes, Vítor Belancianociano ggensen que se Cameron: a primeira apropriadamente, sexta- Design Mark Porter, Simonmon Esterson, Kuchar Swaraa ddirigemiri a escolha para o guião foi feira 13... Está tudo no Directora de arte Sónia MatosMatoss umumaa mansão Richard Matheson, o endereço http://splatter. Designers Ana Carvalho,ho, iisoladasola para escritor e argumentista que netflix.com que também Carla Noronha, Marianaa aassistirssist à adaptou a maior parte das inclui entrevistas com Soares leiturleituraa de um obras de Edgar Allan Poe Corman e Dante e um Editor de fotografi a Miguel Madeira ttestamentoestam – para o lendário “ciclo Poe” pequeno “making of”. E-mail: mamass dá a volta dos anos 1960. Matheson Jorge Mourinha [email protected]

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 3 Flash

pelo caminho ou não chegaram a novo concerto-motim em quee o ilusões,ilusões, “parece“ ter sido “chocar os burgueses”. ultrapassar as fronteiras da movida rock’n’roll mais desviante e esvaziadaesvaziada de todo o seu Biolay surgiu com “Rose britânica da época, como The John perigoso (no fundo o rock queue sangue”, e chegam os Kennedy” (2001), mas foi Barry Seven, Adam Faith ou Billy respeita a sua matriz inicial ddee médicos parap a levar para o “Négatif” que começou a valer- Fury. E há aqueles que, como os rebeldia) será rei e senhor. asilo. EstEstaa é uma encenação lhe as atenções da imprensa e Walker Brothers ou Jimi Hendrix, Veteranos do garage, cultoress ddoo dede Liv UUllmann.llm Que adopta algum crédito comercial. As chegaram de fora, dos EUA, para “riff” e da confusão, os Lips ttêmêm umauma posturapostu despojada, ao canções que escreveu para experimentar e engrossar a onda um novo disco, “200 Million ccontrárioontrário ded outras Henry Slavador (velha glória da pop britânica. Thousand”. eencenaçõesncenaçõe que apostaram canção francesa), Keren Ann e Mas nenhuma destas “stars” No dia 14, reduz-se a na decoradecoraçãoç de ambientes Françoise Hardy entronizaram- atingiria tanto “glamour” sem a electricidade das guitarras e ddaa NNovaova OOrleães dos anos no como rei da “nouvelle encenação que os fotógrafos abre-se o Museu do Chiado àss 40. E se qquandou pensamos chanson”, denominação que a fizeram deles e para eles. A canções avant-pop de Samaraa emem “Streetcar...”“Street pensamos imprensa encontrou para um exposição “Beatles to Bowie. The Lubelski. Com diversas aventurasturas nono KowalskiKow de Marlon conjunto de compositores – com 60s exposed” é também uma experimentais no currículo BBrando,ra fantasma Biolay, Arthur H e Vincent homenagem a estes: David Bailey e (pertenceu aos míticos Towerr ccomo que todos os Delerm à cabeça – que Gerer Mankovitz, Robert Whitaker e Recordings, pioneiros do aactoresc se têm de recuperaram a mística da Brian Dufy, John French e Tony casamento entre folk e conconfrontar há mais canção pop francesa. Frank e tantos outros... experimentação que deu quee ddee 50 anos, o Biolay detesta a denominação falar nesta década), tem “W“Washington Post” tanto quanto detesta as editado discos a solo entretidosdos cconsideraon que Joel perseguições da imprensa, que Aproximam-se em explorar a pop como os EEdgertondg debate-se começaram quando editou concertos de Black Velvet Underground a com isso melhor do “Home” (2004), a meias com a ensinaram em “Sunday qqueue muitos. sua então mulher, Chiara Lips, Six Organs e Morning”. “Future Slip”, o Mastroianni: era um disco Kurt Vile quinto disco, foi editado em Cate Blanchett íntimo, feito de guitarras Setembro. é Blanche DuBois acústicas e pianos hiper- A recta final de 2009 promete ser No dia 24, no Cinema Nimas, numa encenação melódicos, álbum de casal a animada no que à música ao vivo Ben Chasny, Elisa Ambrogio, do “Eléctrico...” discutir quem limpava o pó nas diz respeito e uma parte da culpa Andrew Mitchell e Alex de Liv Ulmann prateleiras e a acabar nu em disso é da Filho Único, associação Nielsen, formação actual ao frente à lareira - mas o real não que tem trazido alguma da música vivo dos Six Organs of teve complacências para com a das margens mais interessante ao Admittance, vão recriar as arte e o divórcio veio pouco nosso país. Destacamos alguns dos canções de “Luminous Night”.”. depois. concertos programados, a grande Nele, Chasny pousa por instantesantes a Desde então Biolay ficou tão maioria deles em Lisboa. guitarra e dá mais espaço a outrosutros conhecido pelas grandes Na próxima quarta-feira, na Caixa instrumentos e convidados – é o BenjaminBenj canções como pela sua vida EEconómicaconómica OOperária,perária, em LLisboa,issboa, os didiscosco mamaisaisis ccheioheio e ddiversificadoiversificadoadd ddee dasda liras e das haharpasrpas boémia. “La Superbe” tem tudo aamericanosmericanos Black Lips voltvoltamamm Six OrOOrgansgans of AdAAdmittance.mittance. e que se crêêth que tenha para o legitimar finalmente a PortugalPoorttugugala para um A 9 ddee DezDezembro,emmbro, ddá-seá-se a surgisurgidodo hháá cercercac de três mil anos. BiolayBiolay: como compositor e não apenas estreiaese treia dede KurtKuurt Vile,Vile, nova Pedro Rios como cara bonita em revista sensaçãoses nsação dada Matador,Matador, o sexo, a cor-de-rosa. Em entrevista à quequq e editoueditouo em Outubro revista “Les Inrockuptibles”, “Childish“Childisi h ProdigProdigy”,y”, CateCate BlanchettBlan burguesia um mais ponderado Biolay dizia em PPortugal.oortugal. ViVilele arrasa comoco Blanche que agora o seu modelo é lembralembbra cclássicoslássicos Gatsby, do romance de Scott comococ mom ooss DDuboisubois e Gatsby Fitzgerald, porque “em todas as FleetwoodFlFleeettwood Mac e situações mantém uma certa NeilNeill YounYoung,g, A crítica americanaameric diz que se Cate Até hoje os franceses ainda não dignidade”. fiffiltradoslttrar dos à luz BlanchettBlanchett ccomoomo Blanche DuBois não se decidiram se o magnífico Biolayyg digno: pgpagamos ppara dod rrockock aanti-nti- fizerfizer ffiguraigura de fufuracão sobre a Benjamin Biolay é o menino oouvir.uvir. JoãoJoão BonifáciBonifácioo oroortodoxotoodoxo ddaa sensibilidadesensibilidade do espectador, então bonito ou o menino feio da peperiferia.riiferia. nãonão há nada quque esse espectador “nouvelle chanson”. Pois bem, A fecharfechhar o ano possapossa esperar ddo palco. “A mais agora vão ter nova ddaa FilFilhohoh Único, emocionante BBlanche que oportunidade para se AAlèmulèmu Aga actua presenciei”presenciei” – istoist é a opinião de decidirem: Biolay acaba de nnoo TeatroTeatrt o MariaMaria Peter MarMarksks ddoo “Washington Post” lançar novo disco, que, tal como MMatos,atos, eemm sobresobre a proproduçãoduç de “Um Eléctrico o óptimo e desequilibrado LiLisboa,sboa, e nan ChamadoChamado DeseDesejo”j pela Sydney “Négatif” (2003), é duplo e, CuCCulturgestlturgestt do TheatreTheatre CompCompanya - um mês de consta, grandioso. Chama-se PPorto,orto, a 17 e 18 de actuações, esgotadas,esgo no “La Superbe”, e deve o seu DDezembro,ezembro, EisenhowerEisenhower TTheaterh do Kennedy nome à faixa de abertura, resrespectivamente.pectivamente. O CenterCenter em NovNovaa Iorque. “Isto é o homónima: uma extraordinária etíoetíopepe é um dos poucospop ucos tipotipo de noite quque queremos que as canção, guiada por um mmestresestres da bebegena,gena, pessoaspessoas vejam parap lhes lembrar a sumptuoso manto dourado de instrumento que se capacidadecapaciidadee ddee ddeslumbramento do cordas banhadas em angústia, apaproximaroxima da teatro, a sua hahabilidade para nos por sob o qual Biolay canta em fafamíliamília arrancararrancar ao nnossoos natural registo crooner de macho cepticismo”.cepticismo” O crítico confessa ferido: um assombro. tterer sido arrasado na cena Segundo a imprensa francesa, final ddeste espectáculo de no resto do disco Biolay canta trêstrês horas e um quarto – os seus temas de sempre, quandoqu a espectral nomeadamente o amor, o sexo, heroínahe de Tennessee as mulheres ou, para variar um Williams,W pouco, as relações que correm No dia 24, no Nimas, Ben Chasny, Elisa Ambrogio, Andrew Mitchell completamente mal. Diz-se que a escrita é mais Biolay acaba de lançar novo e Alex Nielsen, formação actual ao vivo dos Six Organs of Admittance, desapossada das crua que nunca, mas Biolay disco, que é duplo e, consta, recriam as canções de “Luminous Night”. suas fantasias e garante que não é sua intenção grandioso

4 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon APRESENTAÇÃO AO VIVO LANÇAMENTO EXPOSIÇÃO AGENDA CULTURAL FNAC entrada livre

AO VIVO ANTÓNIO PINHO VARGAS Solo II Solo II reúne trechos inéditos das sessões do aclamado Solo (2008) e versões de músicas de José Afonso e Bob Dylan e composições do próprio Vargas.

09.11. 19H30 FNAC CHIADO 12.11. 21H30 FNAC COLOMBO

AO VIVO SWELL Be My Weapon David Freel continua a escrever das melhores canções jamais saídas da Califórnia, assistido por Rob Ellis (PJHarvey) e Nick Lucero (QOTSAge), assumidos apreciadores dos Swell.

09.11. 22H00 FNAC NORTESHOPPING 13.11. 16H00 FNAC CHIADO

AO VIVO MARCELO D2 A Arte do Barulho Neste último trabalho conta com colaborações de "peso" como Seu Jorge, Aori, Roberta Sá, Mariana Aydar ou o rapper norte-americano Medaphor, entre outros. No Fórum Fnac, Marcelo D2 apresenta-se com os companheiros de longa data Dj Nuts e o Mc Fernandinho Beat Box.

12.11. 16H00 FNAC CHIADO

APRESENTAÇÃO ENCONTRO COM ROBERT MCKEE A Fnac recebe Robert McKee, um dos mais conhecidos e respeitados especialistas na área da escrita de argumentos.

12.11. 18H30 FNAC CHIADO

EXPOSIÇÃO FOTOGRAFIAS DE RODAGEM DO CINEMA PORTUGUÊS Composta por material do Arquivo Fotográfico da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, esta série de fotografias, feitas entre os anos 20 e os anos 70, focaliza-se sobretudo em dois períodos: o período clássico do cinema português, nos anos 30 e 40, e o do Cinema Novo, nos anos 60. 27.10. - 27.11.2009 FNAC COLOMBO

Consulte a agenda cultural Fnac em http://cultura.fnac.pt/Agenda

Apoio: O docume que agitou

Um fi lme – “Pare, Escute e Olhe”, de Jorge Pelicano – e os três prémios que ganhou no DocLisboa abriram a polémica: está o festival de cinema documental contaminado pela televisão e a premiar um produto de TV? Não, dizem os defensores: o fi lme não só é cinema como tem uma capacidade de comunicar com o público, coisa que muitos não têm. Está sim, contrapõem os críticos, quando o que devia fazer era valorizar quem experimenta fora dos formatos. Que festival deve ser o Doc? Alexandra Prado Coelho Capa

Ainda a sessão para mostrar o filme premiado na competição nacional do festival de documentários DocLisboa ia a meio, no domingo a seguir à en- trega de prémios, e já a polémica ti- nha rebentado. “Pare, Escute e Olhe” é um “programa de televisão?”. Cabe neste festival? Devia sequer ter sido seleccionado? E, mesmo sendo aceite na competição, merecia os três pré- entário mios que conquistou? Está o DocLis- boa a “ficar contaminado pela lingua- gem televisiva”? Documentaristas, produtores, crí- ticos, espectadores dividiam-se, uns em defesa do filme de Jorge Pelicano – sobre a desertificação do interior e em defesa da linha de comboio do Tua que corre o risco de ficar submer- sa debaixo de uma barragem – outros classificando-o como “reportagem de televisão”. Houve até quem saísse da sala ao fim de pouco tempo. Enquan- to muito do público aplaudia o filme ou o Doc na sessão e discutia com o realizador o futuro da linha do Tua, no Facebook abria-se um debate sobre o que deve ser o programa editorial de um festi- val de documentário: serve para ver cinema ou para ver televisão? “O DocLisboa é um festival de do- cumentário. E o documentário ou é cinema ou não é documentário. [O filme vencedor] não é um documen- tário, é um produto de televisão”, afirma o produtor Pedro Borges, da Midas Filmes. “É grave as pessoas acharem que já não há diferença entre um documentário e um programa de televisão”. “O filme do Jorge Pelicano não é um produto televisivo típico”, diz, por seu lado, Sérgio Tréfaut, director do Doc. “Recusamos imensos programas de televisão, feitos para um canal de te- levisão. Este é um filme, é um traba- lho que demorou três anos a ser fei- to”. Não há dúvidas, para Tréfaut, de que “‘Pare, Escute e Olhe’ não tem uma duração televisiva, nem formato clássico de televisão – tão caracterís- tico das últimas décadas de retratos de artistas. É um documentário polí- tico, engajado, com linguagem pro- vocadora, directa e informativa, her- dada da televisão mas pouco habitu- al em Portugal”. Catarina Alves Costa é documen-

Jorge Pelicano, realizador de”Pare, Escute e Olhe” ENRIC VIVES-RUBIO

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 7 Come Jorge Pelicano diz q “dos q

O primeiro “post” é das 13h36 de sábado, 24 de Outubro de 2009: “Olá a todos. O nosso documentário ‘Pare, Escute e Olhe’ venceu o Prémio Internacional, Prémio Lusofonia e Prémio da Juventude do Festival Cine Eco, em Seia”. O “post” seguinte é das 23h45 do mesmo dia: “Olá a todos. O nosso documentário ‘Pare, Escute e Olhe’ conquistou três prémios no DocLisboa. Venceu a Competição Portuguesa, sendo a melhor longa-metragem da competição nacional, Prémio para melhor montagem e o Prémio Escolas atribuído por um júri jovem”. Foi um sábado fora do vulgar para Jorge Pelicano e a sua equipa. O que é que um documentário sobre o risco de encerramento defi nitivo da linha de comboio do Tua, em Bragança, e do seu “afogamento” numa barragem, tem de tão especial para ganhar seis prémios num dia? O próprio confessa ter difi culdade em tarista. E o que a surpreendeu não mes, em que não existem salas e Documentaristas, responder. “É um fi lme com foi a presença do filme no festival, que poucos saem em DVD, e em que há humor, que trata bem as considera legítima; foi o facto de ter um esforço enorme de uma nova ge- produtores, críticos, personagens, a nível técnico ganho três prémios. “Não acho que ração para tentar fazer coisas diferen- é bem cuidado, e é um fi lme de seja um programa de televisão e não tes, o festival não opte por premiar o espectadores picos: tão depressa as pessoas acho que o facto de estar no festival que se faz de mais experimental, de se estão a rir como se comovem seja um problema. O que acho estra- mais arriscado”. dividiam-se, uns em com a história, como quando nho é ter ganho logo os três prémios. O Doc mostra de tudo, contesta Tré- aparecem os políticos sente-se Porque é um filme que vem de uma faut, embora “exclua regularmente defesa do filme – sobre um burburinho na sala, e mais linha de reportagem, sem uma relação documentários feitos apenas para te- a desertificação do à frente estão a rir-se outra vez. de proximidade com as pessoas, sem levisão”. Mas, na opinião do director, Há um misto de emoções”. uma atitude cinematográfica clara. É “o pior é quando se nota que alguém interior e em defesa Foi isso que sentiu no público um acumular de provas. É a lógica da quer apenas ‘ser artista’ ou ‘ter estilo’ que assistiu ao fi lme, quer reportagem, que mostra que há um sem entrar em diálogo com ninguém”. da linha de comboio em Seia quer na Culturgest, problema e aponta uma solução”. Acha “deprimente ver que alguém se e foi isso que ouviu do júri E então?, pergunta Tréfaut. Não preocupa mais com a sua aparência, do Tua que corre do Doc. “Disseram-me que acontece o mesmo com muitos filmes com o estilo da sua assinatura, com ‘o há ali elementos que fazem estrangeiros mostrados no Doc? Ca- que está na moda’, do que com o sen- o risco de ficar parte do cinema e também do tarina Alves Costa concorda que so- tido, o valor e o interesse da obra que submersa debaixo documentário, que há humor, há bretudo na secção Investigações hou- está a tentar produzir”. partes tocantes, há revolta, há ve muitos filmes com esse perfil. “E O festival que organiza está “vivo, de uma barragem – intervenção”, conta ao Ípsilon, se estão lá os internacionais porque não está mumificado ou preso a cate- em frente a uma chávena não hão-de estar os nacionais? Não gorias estéreis”. E dá como exemplo outros classificando-o de café, numa esplanada vou criticar essa opção”. Mas lamen- quatro filmes da competição nacional, da Fábrica da Pólvora na ta que “no panorama actual do docu- com características muito diferentes como reportagem Barcarena, Oeiras, perto do local mentário em Portugal, que é dramá- – uns mais experimentais, outros me- onde vive. tico em termos de circulação dos fil- nos – mas que, acredita, têm todos de televisão Acredita que o facto de usar imagens de arquivo e trazer para a tela políticos – Mário Soares nos anos 80 a dizer que é preciso apoiar o interior, e que a linha do Tua é muito importante; Cavaco Silva a falar também da interioridade nos tempos em que era primeiro- ministro e a interrogar-se já como Presidente sobre “o que é que temos que fazer para que nasçam mais crianças”; José Sócrates, mais recentemente, a dizer no local onde vai ser construída a nova barragem de Foz-Tua que “só falta aqui o cimento” – faz a diferença. “Ver estes responsáveis políticos na tela da Culturgest foi [para o público] uma grande surpresa”, diz Pelicano. “Aprendo a fazer fi lmes” “Acho que há realizadores que se iniciam vendo muitos fi lmes e depois tentam fazer inspirando- se num ou noutro autor. Eu sinto- me ao contrário: aprendo a fazer

8 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon meta Pelicano ENRIC VIVES-RUBIO z que não é o Michael Moore português e que quis apenas fazer o fi lme s que fi caram esquecidos”. Alexandra Prado Coelho

fi lmes”, explica. Reconhece não sou do cinema”, que num fi lme anterior, “Ainda confessa. Enviou “Ainda Há Pastores”, tinha uma Há Pastores” ao Doc, em “abordagem muito televisiva”. 2006, e o fi lme não foi Mas acha que no fi lme que seleccionado. Mas o Cine Perfil venceu o Doc e o festival Eco, de Seia, aceitou-o. de Seia já se afastou dessa “Quando entrámos na linguagem. “É um fi lme que não sala era simplesmente tem entrevistas, que tem uma um fi lme sobre pastores, quando fotografi a mais próxima do saímos fi cámos surpreendidos cinema, tem uma banda sonora com a reacção do público. De original [de Manuel Faria e repente toda a gente queria Frankie Chaves]”. falar connosco, pedir autógrafos De onde vem este ao pastor, e a mim próprio. documentarista português Interroguei-me:’O que é que eu que chegou, viu e venceu? fi z?’ e percebi que o fi lme tinha É operador de imagem da de facto impacto”. SIC, e é um autodidacta. E A partir daí os prémios um persistente. “Comecei do sucederam-se: no Play-Doc 2007 zero”. Depois de um curso em Tui, Melhor Filme no FICA, de Comunicação e Relações no Brasil, Melhor Documentário Públicas e de um mestrado em no MIVICO em Ponteares, Galiza, Jornalismo, viu-se a trabalhar o Green Award em Turim, Itália, num “cash and carry”. “Não e outros no Nepal, Eslováquia, gostava e despedi-me”. Foi Canadá. fi lmar casamentos, ganhou Quis continuar a fi lmar técnica, e quando se sentiu a interioridade e partiu à pronto foi “bater à porta procura das linhas de comboio das televisões”. Teve uma encerradas no interior do país. oportunidade para começar Parou no Tua porque achou a trabalhar em Coimbra e “a que tinha encontrado ali pouco e pouco foi surgindo uma todas as histórias que queria hipótese de começar a fazer uma fi lmar. “Comecei em Bragança, reportagem aqui, outra ali”. passei por Mirandela, fui até Apesar disso ainda se sentia ao Foz-Tua. Fui à procura das desassossegado. Queria fi lmar histórias ao longo da linha”. mais. Foi assim que em 2001 se Encontrou estações de comboios lançou no seu primeiro fi lme, abandonadas e invadidas pelas “Ainda há Pastores”. “Sentia silvas, velhotes que perderam muito a necessidade de fi lmar, o único meio de transporte que de pegar na câmara e ir”. tinham, um país esquecido. Interessavam-lhe os problemas “Não me interessavam as do interior – o despovoamento, pessoas que têm carro. Este o isolamento. Decidiu fi lmar é o fi lme dos que fi caram pastores – e entre os poucos que esquecidos. São poucos? Mas ainda existem procurou o mais também são portugueses, novo, Hermínio Carvalhinho, 27 também são pessoas, e precisam “Se calhar pensam “prazer ver que as pessoas Acredita que o anos na altura. do comboio para ir comprar saíram da sessão do Doc facto de usar “Normalmente as pessoas medicamentos, para registar o ‘vem aí um tipo que espicaçadas e a dizer ‘temos que imagens de não têm a possibilidade de Euromilhões ou simplesmente ir fazer qualquer coisa, isto não arquivo e fazer uma coisa destas: passar passear”. acredita que consegue pode fi car assim’”. Tal como lhe trazer para a tempo com um pastor, perceber Pouco depois de começar a dão prazer os emails que recebe tela políticos a vida dele numa sociedade fi lmar no Tua deu-se o primeiro mudar o mundo’. a perguntar ‘o que é que eu – Mário Soares moderna. Enquanto nós temos de uma série de acidentes na posso fazer para ajudar?’. nos anos 80 a internet, uma namorada, a linha e isso só reforçou a sua Não é nada disso. Fez um fi lme com uma tese, dizer que a possibilidade de sair à noite, ele convicção de que aquela era a É apenas uma visão. defendendo uma ideia. Isso é linha do Tua é vive num mundo à parte, com história que queria mostrar ao assumido. Mas para ele é esse importante; a vida centrada naquele vale país. Mas acho que é uma o espaço que o documentário Cavaco Silva a onde passa o dia todo sozinho. oferece. Rejeita no entanto o falar da Fui procurar esses mundos “Mentiram às pessoas” visão importante” que lhe têm repetido: que é “o interioridade distantes que me fascinam”. Um episódio deixou-o Michael Moore português”. “Nos nos tempos de indignado: “Contaram-me a fi lmes a narrativa é centrada primeiro- “O que é que eu fi z?” história da noite do roubo dos nele, ele intervém nas situações. ministro; José Durante cinco anos fi lmou os comboios [em 1992]. Foi um acto morrer de pé”. O meu fi lme não tem nada a ver Sócrates a últimos pastores da Serra da muito triste. [Os responsáveis Surgiu, entretanto, o anúncio com isso”. Não partiu para o dizer no local Estrela e passou muito tempo do caminho-de-ferro] foram à da construção da barragem do Tua cheio de certezas, garante. onde vai ser num vale a ouvir Hermínio e estação de Bragança buscar Foz-Tua e Pelicano fi lmou as Teve dúvidas, mas tudo o que foi construída a os outros. “Sou um realizador os comboios, mas foram de reacções das pessoas, os debates vendo e ouvindo reforçou a sua nova de documentários em ‘part- noite com medo da revolta no café Lucky Luke – e, sempre, convicção. Foi buscar números, barragem de time’. Ao longo desses cinco das populações”. O que mais o tio Abílio sentado à porta de comparou quilómetros de Foz-Tua que anos continuei o meu trabalho o choca é que “mentiram às uma das velhas estações, a linha de comboio encerrada e “só falta aqui o normal de reportagem na SIC e pessoas, disseram-lhes que os bocejar e a olhar para o relógio. quilómetros de auto-estradas, cimento” – faz fui fazendo o documentário nas comboios voltavam e nunca “O tio Abílio representa aquela foi à Suíça fi lmar uma linha a diferença. férias e folgas. Pego em todas as mais voltaram”. coisa muito portuguesa de ‘estar transformada em atracção Mas diz que folgas que tenho e parto”. Enfi ou-se nos arquivos a ver passar os comboios’. O turística para mostrar que é não é o Demorou algum tempo a da televisão e encontrou as que eu queria era mostrar um possível. Michael perceber que podia ter um fi lme imagens de uma e outra visita Portugal que está parado, que Diz sem falsas modéstias: Moore em mãos. “Fui aprendendo de políticos à região, investigou está a ver passar os comboios”. “Fascina-me trazer algo de português com os erros, até que decidi e encontrou registo de várias Não se quer tornar um novo para o documentário em que tinha material para um das promessas que fi caram activista da causa da linha Portugal. Se calhar pensam documentário”. Mesmo assim por cumprir. “Quando comecei do Tua, quer apenas que “as ‘vem aí um tipo que acredita não acreditava que tivesse um a descer a linha reparei que pessoas vejam o fi lme e ajam”. que consegue mudar o mundo’. documentário para apresentar deixaram tudo ao abandono. “Não vou assumir uma frente Não é nada disso. É apenas uma em festivais. “Nunca tinha Até os carris foram roubados. de luta. O meu trabalho é o de visão. Mas acho que é uma visão

FILIPPO MONTEFORTE/ AFP FILIPPO MONTEFORTE/ participado num festival, Aqui as estações estão de facto a realizador”. Por isso, deu-lhe importante”.

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 9 potencial para estrear em salas e “juntos fazerem dezenas de milhares de espectadores”: “Pare, Escute e Olhe”, “Com Que Voz”, de Nicholas Oulman, “Lisboa Domiciliária”, de Marta Pessoa, e “48”, de Susana Sou- sa Dias. Este último, acrescenta, “pro- vavelmente o mais ousado e vanguar- dista que recebemos, foi ovacionado pelo público e até reconhecido como uma obra prima pela imprensa brasi- leira, como é o caso de Amir Labaki na ‘Folha de São Paulo’”. Falta de produtores? E, no entanto, foi o filme de Pelica- no que o júri entendeu premiar. Por- quê? Guy Knafo, francês e ligado à distribuição televisiva a nível mundial através da sua empresa 10 Francs, era um dos três membros do júri e expli- ca ao Ípsilon, por telefone a partir de França, as razões da sua opção. Quan- do ouve falar de dúvidas sobre o pré- mio lança: “Alguém se deu ao traba- lho de ver até que ponto o filme tem ritmo, fala de histórias humanas e universais, até que ponto a montagem é boa, poderosa, ao serviço de uma causa verdadeira, universal?” Desa- bafa: “Que felicidade quando uma história nos é bem contada!”.

Serge Tréfaut

O Doc “não é um cineclube de arte para os amigos” Director do DocLisboa

O entusiasmo é partilhado por ou- realizador “está menos desenvolvido so pode ser feito em Portugal, mas é tro membro do júri, o holandês Ray- em Portugal do que na Holanda e isso isso que querem? Uma linguagem uni-

DANIEL ROCHA ROCHA DANIEL mond Walravens, director e progra- tem um efeito negativo na qualidade forme e televisiva?”. mador do Rialto, sala de Amsterdão dos filmes”. especializada em cinema indepen- Não entende isso como forma de Uma visão do mundo dente. Reconhece várias qualidades limitar a criatividade do autor. “Se Para alguns dos críticos, a questão aos diferentes filmes apresentados na alguém quer escrever um livro ou mais importante não é a de saber co- competição nacional. Mas considera pintar um quadro, óptimo, não está mo é que o filme de Pelicano ganhou que muitos tinham fragilidades. “Nem a gastar o dinheiro dos contribuintes. três prémios. É, antes, saber como foi todos tinham o ritmo, o tema, ou a Mas se quer fazer um filme deve pen- forma de contar a história suficiente- sar que o que está a fazer custa di- mente forte para manter a audiência nheiro”. Um festival como o Doc tem do cinema atenta durante 90 minu- uma estratégia para tentar chegar ao Pedro Borges tos”. maior número de pessoas. “Porque é E isso leva a outro problema que que há-de tanta gente estar a esforçar- Walravens identifica no documentá- se para que um filme seja visto por “O cinema tem Nas redes rio português: “Os realizadores têm mais pessoas e o único que não se uma História, o sociais abriu- material muito interessante mas per- preocupa com isso há-de ser o reali- documentário tem se um debate cebe-se que não há um produtor ou zador?”. sobre o que um editor que lute com eles para ten- Vê, por outro lado, como positivo uma História, e quem deve ser um tarem fazer o melhor filme para a au- que no caso do filme de Jorge Pelica- nunca viu nada não festival de diência”. Este trabalho de um produ- no haja o financiamento de uma tele- pode falar disso” documentário tor que participa, discute e orienta o visão (a SIC) mas que “deu ao realiza- Distribuidor dor a liberdade de fazer o que que- ria”. Este filme, acrescenta, “provou que não interessa quem paga, inte- ressa que o realizador tenha o tempo que precisa para fazer o melhor filme possível”. Mas há quem considere que esse tipo de intervenção dos produtores, defendida por Walravens, está muitas vezes condicionada pelas exigências do formato televisivo, normalizando os produtos. “Se calhar”, diz Catarina Alves Costa, “há uma especificidade do documentarismo português e se calhar não queremos fazer igual ao que se faz em todo o lado. O cinema português sempre teve uma identi- dade muito forte e o documentário também está dentro disso”. Nos festivais europeus “há muita coisa igual, e isso tem a ver com o poder das televisões”, é também a opinião de Daniel Blaufuks, fotógrafo e autor do documentário “Um Pouco Mais Pequeno do que o Indiana”. “Is-

10 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon Catarina Alves Costa Comen- O velho casal tário s críticos de cinema, assim como a “É um fi lme que generalidade das pessoas que gostam de vem de uma linha cinema, usam com frequência este adjectivo: O“televisivo”. Invariavelmente, é um de reportagem, queixume. Serge Daney, que escreveu sem uma relação imenso sobre televisão (mesmo se, ou sobretudo porque, de proximidade a considerava “incriticável”), observou melancolicamente: “Como um velho casal, o cinema e a com as pessoas, televisão acabaram por fi car parecidos um com o outro”. sem uma atitude Era um queixume. As pessoas que gostam de cinema não cinematográfi ca gostam que o cinema se pareça com a televisão. Há uma primeira explicação, muito rápida: as clara. É um acumular pessoas que gostam de cinema, de ir ao cinema, que de provas. É a lógica se dão ao trabalho de sair de casa, de enfrentar a da reportagem, que chuva, os transportes públicos ou a escassez de lugares mostra que há um para estacionar, não gostam de chegar e verem-se confrontados com o mesmo tipo de coisa a que teriam problema e aponta direito se tivessem fi cado em casa e ligado a torneira da uma solução” televisão. Documentarista A segunda explicação não é tão rápida mas formula-se de maneira simples: o cinema não é a televisão. Não é a televisão má (embora seja, nos casos mais felizes, “má televisão”) e também não é a televisão boa (embora seja, demasiadas vezes, “boa televisão”). Porque não se trata de implicar que toda a televisão é má. Há coisas interessantes na televisão. E o trânsito entre a televisão e o cinema já conheceu muitos episódios produtivos. No cinema americano, por exemplo, realizadores tão estimáveis como Robert Mulligan ou Sidney Lumet tiveram a televisão como escola. E muitos cineastas - nalguns casos, como

DANIEL ROCHA ROCHA DANIEL Hitchcock ou Renoir, vindos do mudo - se interessaram pela televisão, com respeito e seriedade intelectual. O caso de Roberto Rossellini é crucial. Nos anos 60 anunciou que abandonava o cinema, agastado com o que ele via como futilidades (e “futilidades” eram tanto o “negócio” como a “arte”). Acreditava na utilidade da televisão, como ferramenta científi ca e didáctica, posta ao serviço do saber e da investigação. Concretizou vários projectos e alimentou o sonho - certamente insano - de uma grande “enciclopédia audiovisual”. Mas quem tomou o poder sobre a televisão em Itália foi Berlusconi e a realidade vingou-se do idealismo rosselliniano. É importante não confundir coisas feitas para a seleccionado para o Doc. Maria João toda uma escola de documentário considerou que o filme tinha “uma televisão com a televisão, Madeira fez parte do comité de selec- militante”. A verdadeira diferença é certa honestidade de olhar e procu- como ideia, como entidade e ção (como em anos anteriores) e as- que um documentário “transporta rava sair da snobeira nacional, não Se ainda há festivais de como prática geral. Os fi lmes sume a escolha colectiva que inclui o um olhar e tem uma pulsão cinema- ostentando uma atitude de superio- de Frederick Wiseman têm “Pare, Escute e Olhe”. No entanto, tográfica”, há nele “uma relação que ridade sobre nada”, sem “os tiques cinema deviam propor em canais de cabo regionais nota que “grande parte dos filmes que se estabelece com o tempo e com o formais de alguns documentários por- uma revolta conjugal os seus principais modos de surgem são nitidamente contamina- espaço”. tugueses que querem ser muito inte- divulgação na América. Mas dos por um discurso televisivo, o que É disso que, como espectador do lectuais e profundos e às vezes não [entre cinema e televisão] não passa pela cabeça de em parte tem a ver com o apoio das Doc, vai à procura Daniel Blaufuks. chegam a nada”. Acompanhou depois ninguém confundi-los com televisões, a esperança [dos realiza- “O que se pede é que as coisas tenham o realizador ao Brasil, onde o filme “televisão”, tão longe eles dores] de que os filmes venham a qualidade”. Dito isto, considera o Doc passou no FICA, em Goiás, e confessa estão dos modelos comuns da produção televisiva. Pode- passar na televisão”. um festival “mais virado para a polí- que nunca tinha visto “uma reacção se até defender que eles infl uenciaram alguma dessa Um documentário “tem um olhar, tica do que para a poesia, mais para tão entusiasta em relação a qualquer produção, se quisermos pensar na hipótese de estar propõe uma visão do mundo. É dife- o real, para as coisas a quente, do que filme português”. neles a raiz de séries de TV (como “Hill Street Blues” rente de estar a escalpelizar um as- para a introspecção”. Ressalva aquilo O documentário “é um género ou as séries hospitalares) centradas em “lugares de sunto de uma forma mais próxima da que faz a diferença em relação a esta aberto, de fronteiras largas”, afirma convergência”. Que, por sua vez, ninguém confundiria prática jornalística”. O ter ou não uma opção: a secção Riscos, programada Sérgio Tréfaut. Documentário é cine- com um fi lme de Wiseman: o cinema não é a televisão. tese a defender não é a questão. “Há por Augusto M. Seabra, que “vai es- ma, insiste Pedro Borges. E a diferen- E no entanto a confusão existe, e é aqui que surge o colhendo produtos mais artísticos, ça, avança, entre cinema e televisão adjectivo “televisivo”. Que não se queixa da televisão, mais próximos do cinema”. é clarissíma. “É a mesma que há entre queixa-se do cinema. Do cinema que tem o horizonte “Os realizadores Em 2006 o Doc rejeitou o anterior livros e literatura e que 2500 anos de limitado pela televisão ou, quando muito, da televisão [do documentário filme de Pelicano “Ainda Há Pasto- História ajudam a explicar. O cinema que se faz passar por cinema. O documentário, género res”. Ana Isabel Strindberg fazia par- tem uma História, o documentário fragilizado pela sua reduzida implantação nos circuitos portugugês] têm te da direcção do festival nessa altura tem uma História, e quem nunca viu da distribuição cinematográfi ca comercial, e em e revela que o filme não foi aceite pre- nada não pode falar disso”. Estar a consequência muitíssimo dependente da televisão, é material muito cisamente por “ter uma linguagem falar de documentário televisivo não pasto fértil para esta confusão. Demasiadas vezes se toma audiovisual e não cinematográfica”, faz, para este produtor, qualquer sen- a “reportagem televisiva” por “cinema documental”. interessante mas algo que não se integrava “no Doc, tido. E “é uma ideia que durante anos Algum jornalismo pode ser posto a par da melhor que é um festival de cinema”. A dife- matou o documentário”. O futebol literatura, mas mesmo nesses casos há uma diferença percebe-se que não rença? “A linguagem audiovisual quer que passa na televisão “não é jogado de natureza, preocupações, práticas e funções distintas. há um produtor dar muita informação de forma mui- ‘à maneira da televisão’, é futebol e a A reportagem é presidida por um tema, no cinema o to rápida. E por vezes não há um pon- televisão é apenas o difusor”. “tema” surge através da criação de um ponto de vista ou um editor que to de vista”. O Doc “não é um cineclube de arte construido com o tempo, com o espaço, com o real. Os A contribuição do crítico e realiza- para os amigos”, remata Sérgio. Tem recursos formais, a respiração e o ritmo são diferentes. lute com eles para dor Lauro António para este debate a ambição de “falar sobre o que se Quando se confundem, é “televisivo”. No seu registo tão é a prova de que se pode olhar para passa no mundo, interferir sobre a devedor de procedimentos (e de efeitos) importados da tentarem fazer o o mesmo objecto de uma perspectiva sociedade, alterar costumes, enrique- televisão, é caso de “Pare, Escute e Olhe”. Eventualmente oposta. Programou o “Ainda Há Pas- cer o debate público.” Sim, mas Ca- é um programa de TV interessante, bem acabado, com melhor filme para a tores” para o Cine-Eco, em Seia, no tarina Alves Costa lamenta que quan- um “tema” de interesse público, fácil de ver. Posto audiência” Raymonf mesmo ano em que foi recusado no do “se quer ser [um festival] para o dentro de um festival de cinema documental, estas Doc e assistiu ao primeiro grande su- grande público acabe por se standar- qualidades parecem magras - e desajustadas. Daney tinha Walravens, membro cesso público de Pelicano. “Seleccio- tizar o que se mostra”. E se há fragi- melancólica razão quando falava do “velho casal”, mas nei-o porque achei que era um exce- lidades nos filmes portugueses, se se ainda há festivais de cinema estes deviam propor uma do júri que premiou lente documentário sobre uma reali- faltam produtores criativos, “isso revolta conjugal e talvez pensar no título de um fi lme de dade portuguesa [os pastores], com resolvia-se com mais exibição, mais Maurice Pialat: “Não envelheceremos juntos”. “Pare, Escute e Olhe” grande solidez de construção”. Na discussão.” O problema é que “neste Luís Miguel Oliveira altura, sem conhecer o realizador e momento há falta de discussão no no DocLisboa sem qualquer ideia preconcebida, meio do documentário.”

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 11 Um labirinto, e, lá dentro, nós, suga- Sabrina van der Ley dirá isto: “Há uma tentativa após outra; este seu in- dos de ambiente em ambiente, sem artistas que, a dada altura, escondem Casas inteiras finito espaço de ausência que (isso noção exacta de onde viemos nem períodos da sua obra onde sentem traçadas a luz vemos agora) acompanha no espaço para onde vamos. que não estiveram tão bem. É uma tridimensional o que já antes tinha Casas inteiras traçadas nada mais das coisas que aprecio no Pedro: ele fluorescente, janelas acontecido na sua pintura, retendo a do que a luz fluorescente, janelas ce- não faz isso. Tudo tem a sua impor- intensidade, mas tornando-se cada gas ou a abrir para o vazio, paredes tância. Talvez não uma peça concre- cegas, paredes vez menos figurativo, cada vez mais de tijolo partido, portas fechadas so- ta, mas o contexto de que surgiu, depurado, cada vez mais abstracto, bre lado nenhum e escadas soltas no sim.” de tijolo partido, cada vez mais um esboço, um desenho ar, inclinadas, inúteis. Uma cadeira Sabrina van der Ley é a nova cura- fugaz traçado no ar, chegando a ser vazia, uma lâmpada suspensa sobre dora da ala contemporânea do Ham- portas fechadas sobre apenas luz onde já foi cor e textura. um jarro de água, cabos de electrici- burger Kunsthalle – a Galerie der Ge- lado nenhum Estão lá as narrativas – tanto as da dade à vista. Ninguém. Tudo ausência genwart. “One after another, a few história da arte como as da inquieta- e nós a avançar, sozinhos. Até trope- silent steps” (qualquer coisa como e escadas soltas no ar, ção, da aventura individual de cada çarmos numa pequena sala onde a “um após outro, uns quantos passos peça. Estão lá, porém em articulações distância percorrida nos rebenta na silenciosos”) é a primeira exposição inclinadas, inúteis. cada vez mais simples. Como nesta cara como um soco. que comissaria desde que tomou pos- sala em que agora entramos, com as Há outros objectos em volta, mas se no cargo, vinda da direcção da Art Tudo ausência e nós paredes pintadas em planos de laran- há, sobretudo, no chão, junto aos nos- Forum Berlin, a agora bem conhecida ja e percorridas apenas por um tra- Exposições sos pés, esta presença castanha a feira internacional da capital alemã. a avançar, sozinhos çado de lâmpadas fluorescentes de parecer-se com nada, quase informe, É também a primeira exposição indi- calhas expostas e cabos à vista, soltos um relevo tridimensional quase ab- vidual que Cabrita Reis faz num mu- pelo espaço – “I Dreamt Your House jecto, pouco mais do que massa, uma seu alemão desde 1996, apesar das Was a Line” (“sonhei que a tua casa volumetria irregular pontuada por muitas colectivas, da Documenta IX, não cronológica; a luz fluorescente; era uma linha”), 2003 – ou na série rugosidades vagas, cambiantes de de 1992, e de, à época, a Alemanha se a série de salas de dimensões e carac- de grandes auto-retratos no estúdio tons escuros e, no cimo, a insinuação ter transformado na sua principal pla- terísticas variáveis a insinuar um per- (“Self-Portrayed in the Studio”, 2008) de um recorte de arestas suaves. taforma de afirmação internacional, curso circular, sem princípio nem fim; – o braço dele, uma manga de roupa Pedro Cabrita Reis há-de entrar nes- após a afirmação portuguesa dos anos os acessos amplos em contraste com negra com uma mão a aparecer na ta mesma sala, olhar para o chão, he- 1980. Esta é talvez também a maior corredores terrivelmente exíguos co- ponta, em tensão contra fundo bran- sitar e, por fim, dizer a sorrir: “O ho- exposição de Pedro Cabrita Reis de mo aquele através do qual contorna- co, a segurar uma trave ou uma tábua mem só pode lidar com o mar e o sempre, incluindo cerca de 70 traba- mos uma enorme caixa-túmulo aca- de madeira, uma lâmpada, um tijolo, deserto. São as paisagens que têm a lhos de 1985 até hoje. bada de construir (esconde um núcleo um cabo de electricidade (os elemen- sua mesma dignidade, a sua mesma de obras do escultor norte-americano tos básicos do vocabulário do artista linha do horizonte. As montanhas têm Em vertigem Richard Serra que não puderam ser que se representa). a ver com Deus. É por isso que as su- Portugal vai ter oportunidade de retiradas)... –, tudo, dizíamos, a con- “A inteligência pura. Em arte as bimos, que as tentamos conquistar, conhecê-la numa versão revista, am- tribuir para esta sensação de deslo- ideias não contam. As ideias são apa- para tentar chegar mais perto. E foi pliada e adaptada ao espaço do Mu- camento e falta de orientação, a ver- nágio da literatura. Um objecto de por isso que fiz esta peça. É uma mon- seu Colecção Berardo de Arte Moder- tigem vaga por entre a qual redesco- arte tem sobretudo um olhar que tem tanha. Fiz esta peça para poder olhar na e Contemporânea, no Centro Cul- brimos Pedro Cabrita Reis. a inteligência toda. Um objecto de ar- uma montanha de cima.” tural de Belém, em Lisboa. A terceira Redescobrir, de facto. Porque va- te olha, percebe e devolve. Uma obra Esta é uma viagem para trás no tem- apresentação, prevista para a Prima- mos redescobrir Pedro Cabrita Reis, de arte perfeita deverá encher-nos, po. Com tudo o que isso implica. In- vera de 2011, depois do Carré d’Art o mesmo Cabrita Reis de grandes mo- como uma coisa absoluta”, disse-nos cluindo o soco do confronto com as – Musée d’Art Contemporain, de Nî- mentos mais ou menos recentes como Cabrita Reis um dia, há anos. “Parte- coisas do passado que os sucessivos mes, no Sul de França. o da instalação que fez para os 50 se de um vocabulário básico, elemen- presentes foram fazendo esquecer. E Três exposições, na verdade, mais anos da Fundação Calouste Gul- tar, para o remontar de uma forma aquilo para que estamos a olhar, este do que uma itinerância, dado o carác- benkian (“Fundação”, 2006) ou das aparentemente inócua. Quanto mais volume quase repelente, definitiva- ter arquitectónico marcadamente obras para a representação oficial simplesmente são articuladas as for- mente faz parte do passado: uma es- distinto dos museus programados. portuguesa na Bienal de Veneza de mas do jogo, mais complexas são as cultura em fibra de vidro intitulada O Carré d’Art, por exemplo, foi ins- há cinco anos (“Viagens cada vez mais leituras possíveis. Devemos fazer tudo “Muito tempo” e datada de 1989. talado em 1993 num edifício assinado longas” e “Nomes Ausentes”, 2003), de uma forma aparentemente inócua Vinte anos podem ser nada, um pelo arquitecto inglês Norman Foster mas que, em Portugal, vimos em olhar porque é a mais duradoura.” piscar de olhos, mas também podem (o mesmo das galerias Sackler da retrospectivo pela última vez em 1994, Disse-nos isso. E também isto: “To- ser imenso, uma eternidade. Aqui, Royal Academy of Arts, de Londres) na Gulbenkian. das as grandes obras da história são não há dúvida: os últimos 20 anos fo- – uma geometria de linhas puras nu- Uma espécie de redescoberta feita sempre olhares que queimam, olha- ram uma eternidade, o mundo a acon- ma estrutura octogonal a jogar com em território familiar – este seu infini- res que abrasam. Um olhar que resul- tecer uma e outra vez, a reinventar-se a luz do dia e a pedir, porventura, me- to espaço de ausência em que os mais ta de uma (e numa) exaustão do que sobre si mesmo até chegar ao lugar a nos obras, distribuídas por uma se- simples, frequentemente banais, ele- está em redor dele. As obras têm uma que chamamos agora e que, enquan- quência linear de salas amplas e de mentos de construção feitos gesto inteligência própria que nos é trans- to não nos parecer também distante, pé-direito alto. Já em Hamburgo, tudo poético vão configurando possíveis mitida pelas impossibilidades que se tem a luz plena de uma revelação. – a quantidade de obras; a montagem modelos de compreensão do mundo, levantam ao olhar para elas.” Vamos redescobrir Pedro Cabrita Reis

RAUL LADEIRA RAUL SãoSã cerca de 70 trabalhos, de 1985 à actualidade. “One after another, a few sobre a retrospectiva da Gulbenkian. No Kunsthalle de Hamburgo, onde

12 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon FOTOGRAFIAS DE PEDRO CABRITA REIS/HAMBURGER KUNSTHALLE REIS/HAMBURGER CABRITA DE PEDRO FOTOGRAFIAS

Falling, 2004 e Self-portrayed in the Studio The White Room (About T.S. Eliot), 2006

Les dormeurs, 2009 A casa do silêncio branco, 1990 e Unframed #3

Cabinet d’Amateur #1, 1999 e ao fundo Les Heures Oubliées, 2004 Echo der Welt I, 1993

w silent steps” chega a Lisboa em 2011, a maior exposição de Cabrita Reis até hoje, 15 anos passados e foi inaugurada na semana passada, é um labirinto a sugar-nos. Vanessa Rato em Hamburgo

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 13 I dreamt your house was a line, 2003

É certamente a isto que se refere cia da nossa nudez essencial enquan- perseguida pela arquitectura”: “Uma artistas minimalistas. O Pedro Cabri- António Lobo Antunes, um dos au- to, ao mesmo tempo, nos mostra as pedra sobre outra, traçar um círculo ta Reis é um artista da minha geração tores da série de textos incluídos no máscaras que a cobrem.” no chão, dispor uma caixa, a nunca e acho que, para nós, a questão é o belíssimo catálogo da exposição – Frank Sinatra entra aqui a dizer: ser aberta, sob uma mesa sem cadei- que fazer depois deles. Acho que é mais de 300 páginas com 200 ima- “Quando canto, acredito. Sou hones- ras à volta, e usar tudo isso para de- muito difícil lidar com esta herança e gens a cores, edição em inglês com to.” Que Lobo Antunes parafraseia senhar a casa como conhecimento do acho que ele encontra soluções au- “insert” na língua do país de apre- assim: “Pedro Cabrita Reis pode ter mundo, sabendo sempre que isto po- tênticas de lidar com esse passado sentação. muitos defeitos, na verdade, espero de ser igualmente verdade num verde recente. Hoje em dia é preciso olhar Nesta sua incursão ímpar na escri- que tenha, já que nunca vai ser ama- monocromático.” para trás como observador e encon- ta sobre arte, Lobo Antunes manda do pelas suas qualidades, mas quan- trar a resposta poética adequada. Sair uma carta a Cabrita Reis, retratado do cria, é inteiramente honesto, co- Resposta poética deste grande dilema.” ali, de um lado, numa fotografia em mo Vermeer ou Mondrian ou Velás- Saímos do labirinto e estamos agora Schwarz usa a palavra “sofistica- que nos olha de frente, duro, fato es- quez: a integridade da coisa criada é a tentar fazer-nos ouvir por entre o ção” para tentar aproximar-se das curo riscado a branco, charuto na a primeira virtude de um artesão ex- burburinho do restaurante do Ham- soluções encontradas desses dese- mão direita, de botas de trabalho, cepcional.” burger Kunsthalle em noite de inau- nhos abertos no espaço que são al- mas que está também ali, noutra ima- Um artesão, pois – a mão por detrás guração. Dieter Schwarz, director do guns dos trabalhos mais recentes de Lobo Antunes gem, parado no meio de um campo de gestos imemoriais. Estamos agora Kunstmuseum Winterthur, na Suíça, Cabrita Reis e recorda Mallarmé, pa- escreve no árido, de erva rasteira e cascalho, ca- a ler Cabrita Reis, num texto compos- que emprestou várias obras para a ra quem a obra de arte seria uma re- catálogo da ra desviada para o lado, a ver qual- to a partir de notas soltas escritas exposição e tem escrito com frequên- construção do mundo a partir dos exposição: quer coisa ao longe. entre 4 e 5 de Setembro deste ano no cia sobre o trabalho de Cabrita Reis, escombros da história (a do próprio um texto sobre Um texto sobre arte, ou, na verda- quarto 254 do Grand Hotel de Lotz, lança-nos o seu sorriso tranquilo: “Te- mundo, tanto quanto a da arte). arte, ou sobre de, sobre a impossibilidade de escre- na Polónia: “No desenho há uma qua- nho trabalhado muito com grandes O poder da associação livre, das a impossibili- ver sobre arte, nomeadamente a de lidade inata (ou deveria antes dizer perguntas sem resposta: “Prefiro a dade de Cabrita Reis: “Um grande artista no- ‘natureza’?) de rigor e imponderabi- lucidez da incoerência aparente e escrever meia, e porque haveríamos de nome- lidade que parece originar de uma prefiro aprender, na cacofoniafonia dos sobre arte ar o já nomeado? Ele trabalha com antecipação eminente, que, com al- Portugal vai conhecer rumores e sussurros que nosos trazem um material que vem antes das pala- guma simplicidade forçada, poderia de volta, em cada trabalho,, ao sisilên-lên- vras, teoricamente impossível de co- ser ilustrada dizendo apenas que a esta exposição numa cio do princípio, à claridadee queque de-de- municar na linguagem quotidiana, o mão conhece os seus caminhos e sa- vemos ter sentido no primeiroro encan-encan- que é o mesmo que dizer numa lin- be para onde ir, ao que tudo indica versão revista, tamento. Afinal, um trabalhoho não guagem que não a sua própria”, es- sem se fazer notar pelos sentidos, em ampliada e adaptada é um objecto de conhecimen-en- creve Lobo Antunes. Continuando: geral. Algumas esculturas são aparen- to, revela-se.” “Vejo o trabalho dele e ocorre-me a temente feitas segundo esta mesma ao espaço do Museu ideia de alguém a tentar lembra-se inspiração.” As citações do catálogo são de um número de telefone: 3514, não, É o mesmo texto onde, uma vez Colecção Berardo traduções livres da autora do 3614, não, também não é isso, 3314 mais, Cabrita Reis recusa a colagem texto a partir do inglês [...] Pedro Cabrita Reis permite-nos de anos do seu trabalho “ao acto po- de Arte Moderna e ver, mas também ouvir, cheirar, to- lítico de organização do espaço colec- A jornalista viajou a convite car, perceber subitamente a evidên- tivo que parece ser a utopia última Contemporânea, CCB do Hamburger Kunsthalle

14 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon

As conversas das noss Hemingway, Borges, Capote, Rushdie, Pamuk, Didion, todos passaram pela “Paris Review”. Nós p na maior pequena revista do mundo – onde se aperfeiçoou a arte de fazer perguntas a e

I. A arte de tirar ou não tirar notas O homem agarra na caneta – uma ca- neta de tinta permanente de estima- ção –, desastrado, um dos dedos imo- bilizado numa tala. A seguir, sem uma palavra, tira-me do colo o bloco de notas. Poderia ser mais um com uma com- pulsão para tirar notas, para além do escritor que está a falar neste momen- to, e os outros dois escritores que o estão a entrevistar e provavelmente mais umas quantas pessoas presentes na sala. Mas não é. O homem devolve o bloco de notas: “VOCÊ SABE MUITO SOBRE ESTE AUTOR?” Eu encolho os ombros. O autor em questão é o jornalista Gay Talese, e os entrevistadores são Philip Gourevitch, editor da revista americana “Paris Review”, e Katie Roiphe, que entre- vistou recentemente Talese para a “Paris Review”. Eu nunca li nenhum livro de Talese nem nenhum artigo para além de “Frank Sinatra had a cold”, publicado em Abril de 1966 na “Esquire” e considerado, por muitos, como o primeiro artigo do Novo Jor- nalismo americano. Eu não sei mais sobre o Gay Talese do que aquilo que li na entrevista publicada na edição da “Paris Review” deste Verão. Mas provavelmente não é possível saber mais sobre ele do que aquilo que está na entrevista da “Parisasee Review”. .U Umama entrevista da “Parisris Review” – a TintTintaa da China lança agoraora em PortugalPortugal um livro com dez entrevistasrevistas cclássicaslássicas ddaa publicação, “Entrevistasrevistas da Paris Re-Re- view”, selecção ddoo jornalista Carlos Vaz Marques– é, quaseuase sempre, o mais próximo que chegaremosegaremos ddee um escritor. II. Brooklynooklyn – Manhattanan – MundoMundo No bloco escrevoo “ANTÓNIO LOBO ANTUNES” e a seguirguir arranco a folha.folha. Outro dia, mesmoo espaçoespaço – o escritóescritó-- rio da “Paris Review”iew” –, eu no lugarlugar do louco. Philip GGourevitchourevitch gguardauarda a folha e sorri educadamente.adamente. Talvez isto seja ccoisaoisa ddee todas as manhãs,, ainaindada mal acabou de comermer o “muffin” e já lhe estão a passar nomes. Uma entrevista a um mestreestre por número, ediçãoição quadrimestral, mmaisais de 55 anos, a históriaória da literatura aquii é coisa de todos aass manhãs. Atravessa a ponte de Ma- nhattan vindo de Brooklyn, per- corre a distânciaa da estação de me-e- tro ao escritório comom passo nova-iorquino,uino, Gay Talese foi a fi gura principal “muffin” na mão,, o saco de uma festa em Nova Iorque verde-seco a tiracolocolo a úniúni-- que celebrou a sua entrevista Philip Gourevitch, editor

(JOYCE TENNESON (JOYCE ca pista de que nãoão vai pparaara à “Paris Review” da “Paris Review”

16 • Ípsilon • Sexta-feiraa-feira 6 NovNovembroemmmbro 200200909 Encenação e Interpretação Gonçalo Waddington SÃO Tiago Rodrigues Dramaturgia ssas fantasias LUIZ João Canijo NOV~O9 s passámos pela “Paris Review” para saber como é o trabalho a escritores. Susana Moreira Marques, em Nova Iorque

um escritório na “downtown”, mas para um “loft” em Tribeca, diz olá aos “Quando lês um livro, jovens editores e entra no seu gabine- te para começar a fazer história. pensas, este escritor Todas as manhãs há manuscritos está a falar comigo, para ler de autores por descobrir. To- das as manhãs, há boa escrita para e fantasias uma

publicar de autores já descobertos. WWW.TEATROSAOLUIZ.PT Todas as manhãs, a felicidade de pen- conversa com aquele sar a que escritor queremos pergun- escritor. Quase

tar como se levanta de manhã e o que Livros faz durante o dia para fazer acontecer de certeza, ficarias o mundo numa página em branco? Em cima da sua secretária, Goure- desapontado. 6 A 22 NOV vitch tem o IV volume da antologia das entrevistas da “Paris Review”. De Ias tomar um copo

O QUE SE LEVA © Rita Carmo capa roxa, este volume inclui Marian- ne Moore, Jack Kerouac (presente na com o escritor e ele ia antologia portuguesa), Philip Roth, DESTA VIDA Paul Auster, Orhan Pamuk, David contar-te os MUNDO PERFEITO m prato O número 1 da Grossman, só para citar alguns entre problemas QUARTA A SÁBADO ÀS 21H00 “U “Paris os dezasseis. Saiu “agora!”, anuncia DOMINGO ÀS 17H30 conta sempre a história SALA PRINCIPAL M/12 Review” Gourevitch, estará nas livrarias ame- financeiros ou falar de quem o cozinhou” ricanas no dia seguinte. Para já, este será o último volume do seu divórcio. Aqui O MUNDO PERFEITO APOIOS APOIO À É UMA ESTRUTURA DIVULGAÇÃO de antologia. Para já, Gourevitch vai FINANCIADA POR concentrar-se em publicar aqueles [na ‘Paris Review’] que um dia todos os leitores, de Nova Iorque a Pequim, passando por Lis- tens a conversa que boa, quererão conhecer numa entre- fantasiavas”, Philip CHE COSA vista da “Paris Review”. 5 E 6 NOV Gourevitch, editor SÃO JARDIM DE INVERNO Penúltima III. As Festas da “Paris QUINTA E SEXTA ÀS 23H30 APOIO À RESIDÊNCIA GDA edição, com Review” PRODUÇÃO ESTÚDIO PERFORMAS (ACTO) LUIZ CO-PRODUÇÃO INTRUSA E DUPLACENA / TEMPS D’IMAGES entrevista a Não consigo sair da casa da banho, Para a “Esquire”, em 1960, Talese CO-APRESENTAÇÃO SLTM OUT/NOV~O9 M/3 Gay Talese, e porque as paredes estão cheias de observou com sarcasmo o ambiente notas do quadros com capas emolduradas, boémio do círculo da “Paris Review” escritor quase todas de primeiros números. e Plimpton não gostou. A reportagem 1: “The New Paris chamava-se “À procura de Hemin- Literary Magazi- gway”, contava a história da fundação …Real, remake, retake. ne”; 3: “Graham da revista em 1953 em Paris, e termi- O certo e o errado são Greene on the Art nava com um comentário de um perversamente relativos e desde of Fiction”; Prima- “compagnon de route” dos fundado- sempre. O que desejas sentir? vera de 56: entre- res: “Eles costumavam ir lá [a Mon- Cegueira ou profana luz. vista a William tparnasse] e ficavam pelos cafés du- Faulkner; 20: a es- rante horas e horas à procura de He- treia de Philip Ro- mingway. Eles não pareciam perceber th. Também é na que Hemingway tinha partido há mui- casa de banho que to tempo.” está uma carta assinada por Bill Clin- No seu fato de três peças, o cabelo ton, datada de Outubro de 2003, oca- branco imaculado, Talese continua a sião dos 50 anos da revista. Na carta, cumprimentar os convidados. Esta é Clinton lamenta a morte do editor a sua festa, uma celebração da sua George Plimpton, e faz votos para que entrevista à “Paris Review”, o que é a revista viva, para além do seu editor- o mesmo que dizer, a sua consagra- fundador, muitos mais anos. ção. Talese senta-se entre Katie Ro- A festa é tão discreta que não chega phie e Philip Gourevitch. “Vamos en- espectáculo ao fundo do corredor, onde fica a ca- tão fazer aquela coisa à ‘Paris Review’: Um sa de banho. O tom é civilizado, sério, como é o seu processo? Como é o seu de Elsa Aleluia e intimista. Patronos, “amigos” da dia de trabalho?”, pergunta Rophie. O mais recente revista, editores, e alguns convidados E Talese começa a falar, satisfeito. número da fazem fila para cumprimentar Gay Plimpton, apesar de tudo, encon- revista Talese. Talese cumprimenta todos, trou Hemingway: “Começaste às seis cada um com a mesma elegância. da manhã, por exemplo, e podes con- As festas de Plimpton – na sua casa tinuar até ao meio-dia ou um pouco e antigo escritório da “Paris Review” antes. Quando páras estás vazio e ao no Upper East Side - eram muito di- mesmo tempo não estás vazio mas ferentes, e talvez Gay Talese seja o preenchido como quando se faz amor único que verdadeiramente saiba com uma pessoa que amamos. Nada quanto. nos pode magoar, nada pode aconte- Há 40 anos, uma festa da “Paris cer, nada significa coisa nenhuma até Review” já era um lugar onde o mun- ao dia seguinte, quando começamos O volume IV, do literário de Manhattan queria es- de novo.” A entrevista, três anos de- www.tempsdimages-portugal.com acabado de tar, se bem que a “Paris Review” não pois de ter começado a “Paris Re- SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL BILHETEIRA DAS 13H ÀS 20H editar, da era, ainda, a “maior pequena revista view”, foi talvez o mais próximo que RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38 / 1200-027 LISBOA T: 213 257 650; [email protected] [email protected] / T: 213 257 640 BILHETES À VENDA NA TICKETLINE antologia de do mundo”, como mais tarde lhe cha- Plimpton esteve de Hemingway, e não E NOS LOCAIS HABITUAIS entrevistas mou a revista “Time”. estavam em Paris.

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 17 Talese, é claro, tinha razão. Se não Como deve ser numa entrevista- de quando eu tinha 33. Ver como é estivessem à procura de Hemingway, “Paris-Review”, Talese não só expli- que me sentia. Às vezes, tinha uma Plimpton e os outros jovens ameri- ca o seu processo de criação como o constipação. Frank Sinatra tinha uma canos em Paris nunca teriam criado mostra: saca da algibeira interior do constipação, mas às vezes, eu tinha a revista. A revista – com contos, po- casaco, e exibe como um jogador de uma constipação.” emas e os segredos dos mestres – era póquer um maço de cartões rectan- A conversa abre-se ao público e não Paris sobre papel. gulares com as arestas arredondadas. é ideal. Para a versão impressa, Katie Estão inteiramente preenchidos com Rophie falou com Gay Talese durante IV. A conversa fetiche letra miúda e coloridos com marca- 15 horas. Eles não conseguem concor- “Eu gosto de pensar nas entrevistas dores. Na mesa onde estão alguns dar quanto ao número de vezes que da Paris Review assim”, continua livros de Gay Talese, estão também se encontraram: entre quatro (segun- Gourevitch. “Quando lês um livro, fotocópias a cores do plano detalha- do Talese) e 10 (segundo Rophie). um óptimo romance, pensas, este do da sua “memoir” “Unto the Sons”. Nathaniel Rich, um dos editores da escritor está a falar comigo, e fanta- Têm a mesma letra, os mesmos mar- equipa da “Paris Review”, sabe em sias uma conversa com aquele escri- cadores de cores. São fotocópias de número de palavras. Começou por tor. Quase de certeza, ficarias desa- cartões de camisas quando chegam ter entre 80 mil e 100 mil. Rophie pontado. Ias tomar um copo com o engomadas da lavandaria. Talese faz trabalhou numa versão de 40 mil pa- escritor e ele ia contar-te os proble- o gesto com a mão: tesoura como um lavras. Depois, os editores reduziram mas financeiros ou falar do seu divór- alfaite e desses mesmos cartões de para cerca de vinte mil. A entrevista cio. Aqui [na ‘Paris Review’] tens a camisa onde planeia os livros saem foi enviada – neste caso, por fax, por- conversa que fantasiavas.” os cartões de notas, que volta a guar- que Talese não usa email – para ser dar no bolso junto do peito. Como revista pelo autor. A entrevista passa V. O processo do processo… estes cartões há muitos mais, guar- de mão em mão até que todos: entre- Gay Talese fala durante uma hora, dados num “bunker”, na cave de uma vistador, entrevistado e editor, achem apenas pontuado pelos entrevistado- mansão no Upper East Side de Ma- que aquele é o retrato mais completo res Katie Rophie e Philip Gourevitch, nhattan. Aí, guarda todas as notas do escritor. Normalmente, o proces- como deve ser numa entrevista-Paris- desde que começou a tomar notas. so de uma entrevista demora cerca Review. “Aos 77 anos sabe bem ler as notas de um ano. Escritores p “Entrevistas da Paris Review” revela os autores por trás de livros, as suas o

Pensemos em alguns dos seleccionadas e traduzidas pelo EUA. “Depois de avaliado o grandes autores da língua jornalista Carlos Vaz Marques. interesse dos leitores [por estas inglesa dos últimos 50 anos. T.S. “Quis que o livro começasse pelo entrevistas] logo se verá se é Eliot, William Faulkner, Aldous princípio e achei que a primeira caso para reincidir.” Nos EUA, a Huxley, Ernest Hemingway, entrevista [a E.M. Forster], que publicação, a cargo da editora Henry Miller, Graham Greene, viria a dar o tom para todas Picador, começou em 2006 e a Sontag, Philip Roth. E nos as outras, não poderia faltar. reincidência chegou aos quatro outros: Jorge Luis Borges, Pareceu-me interessante que tomos que reúnem dezenas de Günter Grass, José Saramago, esta escolha viajasse da cultura entrevistas. Julio Cortázar, Milan Kundera, pós-vitoriana encarnada Italo Calvino, Céline. Estão todos por Forster à contracultura Retrato dos artistas lá, no arquivo de entrevistas da transgressora de Jack Kerouac, Se pedimos a Carlos Vaz “Paris Review”. numa entrevista em que Marques que eleja uma das Um pequena parcela do acervo entrevistado e entrevistadores conversas que traduziu, a da revista criada nos anos tomam anfetaminas”, explica escolha recai em Jorge Luis 1950950 porpou um grupog upode de jovensjove s VazVa Marques. a ques. Borges. “Talvez a minha iintelectuaisntelectuais nnorte-orte- O livrolivro cobre um períodoperíodo de predilecção por Borges ajude. americanos chega- 15 anos (de 1953 a 1961968) Mas creio que a personagem nonoss nono volumevolume e temtem entrevistasentrevistas captada pela ‘Paris Review’ é “Entrevistas da comcom Greene, tão literária, tão desconcertante ParParisis Review”,Review”, TrumanTruman Capote e tão híbrida no cruzamento de ededitadoitado ppelaela ou LawrenceLawrence factos e fi cção como a própria Tinta dada Durrel,Durrel, todos jájá obra do autor.” CChina,hina, queque desaparecidos.desaparecidos Borges foi entrevistado por rreúneeúne dez “Pareceu-me queq Ronald Christ em 1967, no conconversas,versas, certoscertos nomes seu escritório da Biblioteca dodo ppanteãoanteão ddaa Nacional da Argentina. O autor literaturaliteratura dodo séculosécu de “O Aleph” já via mal – “Vivo XX não podiampodiam faltar.falt num mundo cinzento, um pouco EstouEstou a referir-mereferir-me a como um ecrã de cinema. Mas Faulkner,Faulkner, HemingwayHemingway o amarelo resiste”. A conversa ou BorBorges”,ges”, aponta o revela-se um passeio pelos seus jornalistajornalista da TSF. Para logolo livros e os de outros, fi lmes e avisar queque “a ideia nunca foi memórias em que o autor diz esgotar todo o potencipotenciala coisas como: “Se não tivesse dodo arquivo da ‘Paris batido com a cabeça, talvez Review’Review’ e este volume,volum nunca tivesse escrito contos” em momento aalgum,lgum ou “Não gosto nada de Tom foifoi ppensadoensado como uum Sawyer. Acho que Tom Sawyer ‘best‘best of’”. Certamente,Certamen estraga os últimos capítulos de porqueporque num “best of”o ‘Huckleberry Finn’.” seriaseria difícil deixar A postura destes dez Carlos Vaz Marques, de fora entrevistasentrevistas a entrevistados diverge. Faulkner o seleccionador e tradutor SimoneSimone de BeauvoBeauvoir,ir, revela-se um mestre da de “Entrevistas da Paris VladimirVladimir NabokovNabokov oouu palavra, controla a conversa Review” Harold Pinter, feitas e está seguríssimo de si. durantedurante o mesmo Ignora os críticos, não sente período.período. necessidade de discutir a sua O volume, tambétambémm obra com ninguém e, quando prefaciadoprefaciado pporor Vaz o entrevistador lhe diz que há Marques,Marques, ppodeode ser o quem não entenda a sua escrita primeiroprimeiro de vários, mesmo após uma terceira à semelhança do leitura, Faulkner atalha: “Que que aconteceuaconteceu nos leiam quatro vezes.” LUIS RAMOS /ARQUIVO LUIS

18 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon Gourevitch mencionou Nathaniel Para a introdução do último vo- “Se juntarmos estas cia a próxima reunião. Gourevitch saro de chapéu, quase tão elegante Rich como uma das pessoas da equi- lume, Salman Rushdie foi buscar os podia passar a manhã toda a dar como o chapéu que Gay Talese põe pa que se revelou como entrevista- seus exemplares antigos da revista entrevistas, elas exemplos de entrevistas específicas. agora que se despede: dor. Um dia, Nathaniel Rich, como e colocou-os a seu lado enquanto Mas mais importante é o conjunto, “No outro dia, ia a caminhar na qualquer jovem escritor, estava a ler escrevia: “Lembrei-me que na pri- formam uma escola e é isso que é dado a ver numa anto- Madison Avenue, ia comprar mar- as entrevistas da “Paris Review” a mavera de 1979, quando estava a logia: cadores e ouvi o meu mome. Olhei Saul Bellow ou Martin Amis. Outro trabalhar no meu segundo roman- de escrita incrível. “Se juntarmos estas entrevistas, à volta e era o embaixador Hol- dia, estava a entrevistar Stephen King ce, ‘Midnight’s Children’, li a entre- elas formam uma escola de escrita brooke [enviado especial americano para a “Paris Review”. De repente, o vista a John Gardner na ‘Paris Re- Mas o que elas nos incrível. Mas o que elas nos dizem é para o Afeganistão e Paquistão]. ano passado, estava a uivar à namo- view’ e pensei que se algum dia dizem é que não há que não há uma forma de escrever a Chovia e ele estava acompanhado rada do escritor James Ellroy, acom- esta revista dissesse de alguma coi- não ser a forma de cada um.” de outro homem, que ia debaixo do panhando-o numa sonata, para con- sa que eu escrevera que represen- uma forma de guarda-chuva com ele. ‘Gay’, disse seguir a entrevista publicada este tava uma ‘fase nova e entusiasman- VII. E se há coisas Holbrooke, ‘eu adorei aquela entre- Outono, no mais recente número da te na literatura moderna’, como na escrever a não ser mais importantes do que vista’. E começa a contar ao outro “Paris Review”. Tudo para conquistar entrada da entrevista a John Gard- o Afeganistão homem que saiu esta entrevista... E a confiança do escritor. Tudo para ner, então, eu poderia morrer um a forma de cada um” “AS MINHAS DESCULPAS, NÃO CO- eu disse para mim próprio – não lhe nos fazer sentir o mais próximo de homem feliz.” NHEÇO, QUAL É O TEMA PRINCIPAL disse a ele, claro – ‘Sr. Embaixador, entender o que faz o escritor quando Salman Rushdie foi entrevistado Philip Gourevitch, DO LIVRO DESTE SENHOR EM UMA não deveria estar no Afeganistão a o leitor não está lá. em 2005 e aparece no terceiro volu- editor OU DUAS PALAVRAS.” proteger-nos do Talibãs? E afinal es- me da antologia. Eu pego no meu bloco de notas. tá aqui a falar de uma entrevista da VI. A escola “Paris Review” “Seja Orhan Pamuk ou Salman Consigo pensar em duas palavras ‘Paris Review’, uma revista que não “Eu lia estas entrevistas porque ado- Rushdie ou Joan Didion, seja quem para lhe escrever mas sou demasia- deveria ter tempo para ler!’” rava os livros daqueles escritores e for que entrevistamos em anos re- do bem educada. Volto a encolher Por baixo da bandeira, numas pra- queria aprender os seus segredos”, centes, ao contrário do que aconte- os ombros e tento ignorá-lo. Olho teleiras, estão caixas e caixas etique- escreve o turco Orhan Pamuk na in- cia nos anos cinquenta, eles cresce- para o tecto, onde estão pendurados tadas. Os convidados vão saindo do trodução ao segundo volume da an- ram a ler a ‘Paris Review’”, explica vários pássaros que um dia voaram. escritório da “Paris Review” para a tologia das entrevistas da “Paris Re- Philip Gourevitch. Na parede, uma bandeira tamanho noite amena de Outono e ninguém view” editada por Gourevitch. Um assistente bate à porta e anun- XL da “Paris Review” exibe um pás- repara nos manuscritos. s pelo buraco da fechadura s obsessões, os outros escritores que amam. Carlos Vaz Marques escolheu e traduziu dez conversas para este volume. Hélder Beja

A conversa com Borges revela-se um passeio William Faulkner não sente necessidade de Hemingway não se importa de ser bruto Vaz Marques diz que a maior difi culdade pelos seus livros e os de outros, fi lmes e discutir a sua obra com ninguém e, quando o para o entrevistado, só tem vontade de foi traduzir a entrevista a Jack Kerouac. memórias em que o autor diz coisas como: entrevistador lhe diz que há quem não entenda acabar com a conversa e voltar a escrever os “Embora não tenha chegado a tomar “Se não tivesse batido com a cabeça, talvez a sua escrita mesmo após uma terceira leitura, seus livros de pé, como sempre fez anfetaminas para entender a conversa, nunca tivesse escrito contos” atalha: “Que leiam quatro vezes” aceitei que a maior parte não é para perceber”

Hemingway não se importa nos a cometer um pecado sem acreditar que os autores como o traço que as distingue. de ser bruto para o entrevistado, perdão” (pp. 119). Diz Carlos nos estão a contar quem são Para Vaz Marques, um não está ali para fazer fretes e Lawrence Durrell é dos mais realmente fora dos livros que entrevistador deve ter só tem vontade de acabar com divertidos – “Leio como um Vaz Marques escrevem. Entra em acção um sobretudo “um agudo sentido de a conversa e voltar a escrever jornaleiro e, quando vejo um que todos os que outro mecanismo fi ccional oportunidade”, o que signifi ca os seus livros de pé, como bom efeito, estudo-o e tento e, mais uma vez, eles podem nunca ser apanhado em falso, sempre fez (ao contrário de reproduzi-lo. Talvez eu seja, entrevistam mentir-nos que nós gostamos.” saber sempre de que está a Truman Capote, que se declara portanto, o maior ladrão que é O próprio jornalista falar o entrevistado e ter a “um escritor completamente possível conceber. (…) ‘Panic escritores devem vem revelando muita da presença de espírito necessária horizontal”, que não consegue Spring’ era uma antologia, intimidade de alguns à intervenção certa no momento pensar a não ser que esteja está a ver, com cinco páginas alguma coisa à “Paris escritores portugueses através certo. “Também de saber que o deitado). de Huxley, três páginas de das entrevistas que faz, protagonista da entrevista é o O autor de “O Adeus às Armas” Aldington, duas páginas de Review” particularmente as publicadas entrevistado e não ele”, lembra. diz ao entrevistador George Robert Graves e por aí adiante”. na revista “Ler”. E sente-se A fechar, o tradutor fala Plimpton que certa questão E Saul Bellow é, nas palavras devedor desta tradição do da maior difi culdade que “não era lá muito interessante” de Vaz Marques, “aquele género de entrevista literária, encontrou: a entrevista a Jack e prossegue: “Quando as em que se sente uma maior trabalho, de como começaram que parte da “Paris Review”. Kerouac, autor de “Pela Estrada perguntas são velhas e gastas proximidade em relação à sua a escrever, da técnica, do estilo “Todos nós, aqueles que Fora” e símbolo da geração beat você arrisca-se a receber de voz narrativa; está lá um certo e dão muitíssimas referências entrevistam escritores tendo que a “Paris Review” encontrou volta respostas gastas e velhas.” espírito analítico e um sentido biográfi cas, neste livro em conta o que eles escreveram um ano antes da sua morte, Há também uma urgência de de humor que lhe são muito enquadradas por exemplares (também é possível entrevistá- em 1969. “Embora não tenha isolamento no seu discurso, característicos.” notas de rodapé. los sem ter lido uma linha dos chegado ao ponto de tomar mais ou menos comum a todos Carlos Vaz Marques acha seus livros, como é sabido), lhes anfetaminas para entender os entrevistados. “Quanto mais Leitores voyeuristas que esta atracção pelo que os somos devedores.” E aponta por completo aquela conversa, avançamos na escrita mais A curiosidade de um leitor escritores dizem tem algo de o facto de as conversas se aceitei, pura e simplesmente, sozinhos estamos (…) o tempo de pode ser infi nita. Ainda mais voyeurista. “É como se nos debruçarem sobre o trabalho que a maior parte do que eles trabalho é cada vez mais curto; quando, como aqui, os autores sentíssemos a espreitar pelo dos autores, e não sobre dizem ali não é mesmo para se o desperdiçamos sentimo- falam dos seus métodos de buraco da fechadura. Fingimos trivialidades do quotidiano, perceber.”

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 19 DANIEL ROCHA DANIEL Erri de Luca a mastigar um caroço de azeitona e a falar da felicidade É um bodo para os leitores de Erri de Luca: dois livros do escritor italiano publicados em Portugal de uma assentada. O autor de “Montedidio” esteve em Lisboa para explicar que a felicidade não é um passeio e para dizer porque mastiga a Bíblia como caroços de azeitona. António Marujo

Erri de Luca, 59 anos, fez de tudo na Esse era o dia antes da felicidade? vida: militante revolucionário a tem- Não, era o dia da obediência, obede- ainda mais, tem um valor acrescen- po pleno, operário, motorista em ci à ordem do dia do meu tempo. Era tado num tempo charlatão. comboios de ajuda humanitária, exi- uma coisa que eu precisava de fa- Fala sempre de memórias da lado na Jugoslávia a ser bombardeado zer. guerra e conta histórias dentro pela NATO. Agora, é escritor de uma É depois dessas experiências de histórias. O rapaz deste livro seda pura, com uma palavra rigorosa, que pode escrever: “Esquecemo- Não vejo pais [“O Dia Antes da Felicidade”] que nunca tem uma letra a mais. Por nos do mal assim que chega um diz que a história da cidade é isso é devorado pelos leitores, tendo- pouco de bem”? que contem a sua própria história. Temos se tornado escritor de culto. Entre as Sim, a nossa natureza, especialmente necessidade da memória para seis dezenas de títulos que já escre- a meridional, está pronta a esquecer histórias... encontrar a identidade? veu, havia quatro publicados em por- todo o mal sofrido logo que sucede Não, precisamos de uma geração que tuguês: “Montedidio” e “Três Cava- qualquer coisa de bom. No pós-guer- Talvez não conte à geração seguinte a sua expe- los”, na Âmbar, “Tu, Meu” e “Em ra houve esta pressa de esquecer, de riência. E que a conte de viva voz, não Nome da Mãe”, na Quetzal. As suas ultrapassar as cinzas, as ruínas. com o cinema ou a televisão, mas histórias regressam muitas vezes a Neste livro identifica a felicidade tenham nada envolvendo-se com o corpo. Precisa- Nápoles, cidade onde nasceu e viveu com a liberdade e o amor. mos de uma geração que conte e até aos 18 anos, num pós-guerra mar- Há duas felicidades: uma, a felicidade para contar, transmita de viva voz e que o faça sem cado pela pobreza e pela reconstru- política, popular, da maioria que se nenhum objectivo didáctico, porque ção – mas esse retorno não é feito de desfaz debaixo da opressão. Nós usa- excepto as férias assim passa o tempo, os seus serões, nostalgia, antes nos devolve futuros mos a expressão tirar as bofetadas da contando a sua vida e aventuras. roubados, iludidos, esperançados. face. Esse foi um momento de felici- que se fazem e as A II Guerra, do ponto de vista dos Também a sombra do Vesúvio, jun- dade desejado, pago, conquistado. O sobreviventes, foi uma imensa maté- to à cidade, e Ischia, a ilha onde pas- amor é esta possibilidade de felicida- fotografi as que ria narrativa. A memória que me che- sava os Verões, são paisagens dessas de. Mas a felicidade e sempre um pe- gou pertencia a esta árvore de trans- fugas de Erri de Luca. Agora, a Ber- rigo, não é um passeio. tiraram num missão do conhecimento de viva voz. trand publicou “O Dia Antes da Feli- Mesmo no amor? Transmitir a memória não era um ob- cidade” e trouxe o escritor a Lisboa. Mesmo no amor a felicidade contém passeio de barco. jectivo. Hoje, a memória tornou-se Há mais de vinte anos, Luca decidiu zonas movediças. uma pílula na televisão para recordar Livros começar a ler a Bíblia e aprender he- As suas histórias têm pessoas Há um défi ce de um acontecimento. Isso não é memó- braico (também sabe russo e já tradu- concretas. Escreve: “Se lhes ria, é aceder a um arquivo. ziu Puskin). Tornou-se assim tradutor chamas gente, não fazes caso transmissão, de Não temos experiências que de livros bíblicos (e vão sete) e crítico das pessoas.” Isto também valham a pena contar às de muitas das traduções que se fazem tem relação com o amor e a tempo... gerações seguintes? da Bíblia – e disso dá exemplos, nesta necessidade de um rosto? Não vejo pais que contem histórias... entrevista. No seu “Caroço de Azeito- Claro que há necessidade de um ros- Talvez não tenham nada para contar, na”, agora também editado pela As- to concreto. Também os escritores do excepto as férias que se fazem e as sírio & Alvim, ficamos a conhecer chamado doce estilo novo [Petrarca fotografias que tiraram num passeio histórias e interpretações acerca de e outros] tinham necessidade de diri- de barco. Há um défice de transmis- personagens bíblicas. Caroços para gir-se a uma figura feminina concreta. são, de tempo... trincar depressa. O amor tem essa necessidade. Na fra- Naquela época eram uma escolha prá- No “Caroço de Azeitona”, se que citava, há um momento em tica. escreve: “Não traz fruto a Há quinze anos, era motorista que, de repente, a multidão à volta e Nos seus livros regressa sempre Revolução quando é só política. da ajuda humanitária na Bósnia. à qual não se liga, fica formada por ao Vesúvio, à ilha de Ischia, a Os fracos, os pobres, os Esse era também era o dia pessoas singulares. Todos os que têm Nápoles, de onde saiu aos 18 ofendidos devem armar-se com antes da felicidade, antes da uma identidade dizem-nos respeito anos, à infância e à adolescência. outra coisa.” Isto é fruto de uma libertação? pessoalmente. São lugares e tempos desilusão política? Há dez anos estive em Belgrado, sob As suas personagens são também importantes? Não, não. É fruto da minha experiên- os bombardeamentos da NATO. Fui gente pobre, austera, mas nobre Sim, há momentos, na adolescên- cia. Fui durante 11 anos militante re- desertor do meu país, que bombar- e íntegra. Pretende com isso cia e na infância, em que a vida corre volucionário a tempo completo. Sem deava a cidade. Considero o bombar- exaltar a pobreza perante uma mais veloz, em que se condensam ter ambição de tomar o poder ou de deamento de uma cidade o acto ter- sociedade de aparências? acontecimentos. Agrada-me regressar fazer uma revolução política, mudá- rorista por excelência, que quer des- Eu conheci a cidade [Nápoles] do pós- aquele ponto para contar e compre- mos o modo de pensar da nossa so- truir e aterrorizar o maior número de guerra, a pobreza. A honestidade, a ender. ciedade. vidas. Assim estive em Belgrado, do integridade eram necessárias. Eram Falamos de personagens que Fizemos uma revolução não políti- lado do alvo. uma técnica social para resistir e viver são também parcas em palavras. ca, uma revolução de mentalidade Na Bósnia, foi depois de ter sido melhor, porque comportavam uma Estamos cheios de palavras? num país que vinha da guerra, com abatida a ponte de Mostar, magnífica rede, um vínculo a todas as pessoas. Sim, de palavras que não têm conse- um governo de um mesmo partido construção em pedra branca que ca- Faziam comunidade, era como uma quência, que podem ser desmentidas durante 40 anos. O nosso país era valga o Neretva. Trabalhei como pe- família alargada. E isto era possível no dia seguinte. A palavra política atrasado, a única democracia provi- dreiro muitos anos. Os muros servem com a honestidade, a integridade, a tornou-se uma palavra publicitária, sória num Mediterrâneo cheio de fas- para dividir. A única construção que lealdade, a generosidade. São dotes não mantém aquilo que diz. Estamos cismos: do vosso até à Turquia, pas- serve para unir, em vez de separar as que não são apanágio da pobreza, num tempo de palavras ligeiras. sando por Espanha e Grécia. pessoas, é a ponte. A destruição da mas desenvolvem-se melhor na po- Isto é uma vantagem para um es- Era um tempo em que não bastava ponte de Mostar impeliu-me a ir para breza. critor: ele tem o monopólio das pala- uma revolução política, era necessá- a Bósnia. Fiz 40 viagens com os com- Vivemos num mundo em que estas vras mais pesadas, das palavras com ria uma transformação das pessoas. boios de ajuda, mas eu era só moto- técnicas sociais já não são necessá- consequência, uma vez pronuncia- E nós estávamos felizes com essa rista, os camiões não eram meus. rias, tornaram-se uma escolha moral. das. A palavra literária, e a poética transformação.

20 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon Escreve que se pode vencer mais com os salmos de David do que com as armas. O que quer dizer? Que aquela pessoa de quem estou fa- lando, aquele Jesus na época da ocu- pação militar romana, baralhava as cartas, forçava os limites. Havia revolucionários a esmo em Israel. Morriam como moscas nos pa- tíbulos da cruz dos romanos. Ele que- ria introduzir uma variante, fundada também nos salmos de David, que dizia respeito aquele tempo e aquela pessoa. Não saímos ainda fora do âm- bito dos salmos. É verdade que começa o dia lendo versículos da Bíblia “para que o dia tenha um fio condutor”? Acordo todos os dias estudando o he- braico antigo. Não sou crente. Tenho necessidade disso para despertar, co- mo algo que acompanha o café, para forçar a caixa fechada do meu crâ- nio. Mas o hebraico da Bíblia ou de outros livros? O hebraico antigo da Bíblia. Porquê esse fascínio pelo texto bíblico? Porque aquele é o formato original do qual descende toda a nossa civilização religiosa. Para mim aquele é um texto obrigatório. E aproveito de maneira escandalosa do facto de só eu o co- nhecer. E de poder desmascarar todas as traduções péssimas, ruins e mal intencionadas. Aproveito o talento que tenho, mas o texto deveria ser conhecido por todos. É nesse sentido que fala da Bíblia como um caroço de azeitona? Sim. As palavras que lia de manhã, quando trabalhava como operário, tinha-as como companhia para todo o resto do dia. Remastigava-as no tra- balho das obras e fazia como se fosse um caroço de azeitona que me ficava na boca. Quando fala de caroço de azeitona, quer dizer que a Bíblia é, como dizem os cristãos, um alimento? Um aperitivo. Já traduziu vários livros da Bíblia, escreveu “Em Nome da Mãe”, uma das mais belas narrativas ficcionadas do nascimento de Jesus. Há um livro ou uma personagem da Bíblia

Erri de Luca fez de tudo na vida: militante revolucionário, operário, motorista em comboios de ajuda humanitária, exilado na Jugoslávia a ser bombardeado pela NATO Adão não se contentará com o fruto espontâneo, mas esforçará a terra, irá afadigá-la também com o seu suor, irá DANIEL ROCHA DANIEL desfrutá-la para tirar o maior lucro. A terra será maldita por causa do es- gotamento dos recursos. Acordo todos os Não há, então, um castigo? Vê-se que não há intenção punitiva, dias estudando porque logo a seguir a divindade faz vestes de peles para cobrir aqueles o hebraico dois nus. Este é o gesto mais afectuo- so. Há mais de antigo. Tenho A palavra hebraica que aqui é tra- vinte anos, duzida como dor, aparece outras cin- Luca decidiu necessidade co vezes: quatro nos Provérbios e uma começar a ler nos Salmos. Cinco vezes em seis é tra- a Bíblia e disso para duzida como esforço e fadiga. Ali, aprender metem na boca da divindade uma hebraico condenação. E sobre isto baseou-se Tornou-se despertar, toda a subordinação feminina, a cul- assim pa de Eva. tradutor de como algo que Publicou há pouco em Itália um livros bíblicos livro com o título “Penúltimas (e vão sete) e acompanha o Notícias sobre Jesus”. Que crítico de notícias são essas? muitas das café, para forçar São todas tomadas das histórias do traduções que Novo Testamento, do evangelho. São se fazem da a caixa fechada penúltimas porque as últimas, as res- Bíblia peitantes ao seu regresso, ao cumpri- do meu crânio mento da promessa, essas estão em de que goste mais? estranha criatura aparecida no meio suspenso. O cristianismo vive num José. Nenhum dos evangelhos diz que deles, Jesus, Yeshu em hebraico. Ele intervalo entre o anúncio do fim, fei- era velho, podemos imaginá-lo jovem, contribui e muito para esta história. to por Jesus, e o cumprimento deste belo e enamorado. No evangelho não é tido em conta anúncio. São dois mil anos de inter- O seu nome vem do verbo hebraico mas nesses nove meses deu um con- valo, de tempo suplementar. yasaf, que quer dizer acrescentar. Yo- tributo enorme. E quem é esse Jesus? sef, à letra, é aquele que acrescenta. Dê um exemplo das más “Vocês tornaram-se outra coisa, não É um Jesus em carne e osso, um Jesus E o que acrescenta ele? Para já, a sua traduções da Bíblia de que falou. pertencem já a nenhuma espécie ani- ainda vivo, que está um tempo na ofi- fé. Ele acredita na versão da sua noi- No original hebraico, não está a con- mal; nenhuma espécie animal sabe cina de carpinteiro do seu pai, até va, grávida mas não dele. Acrescenta denação de Eva de parir com dor. A que está nua; aconteceu uma mudan- começar a sua missão. Vive num ter- a sua fé à fé da rapariga que tinha aco- palavra hebraica é esforço, fadiga. ça total.” ritório ocupado militarmente por lhido aquela notícia. Não é dor, porque ali não há intenção Está dizendo que a facilidade, a agi- uma nação hostil, a maior potência Acrescenta-se ainda como esposo punitiva da divindade. Há apenas lidade de parto ou a naturalidade com militar. E pode dizer “dai a César o daquela rapariga, impedindo assim a uma verificação. que os animais têm os filhos não acon- que é de César”, porque nada naque- condenação à morte, porque ela, pe- Àqueles dois, que comeram da ár- tecerá mais. E Adão diz logo: “Maldi- la moeda tem poder sobre o mundo. rante a lei, era adúltera. E acrescenta- vore do conhecimento do bem e do ta a terra.” Porquê, se a terra não lhe Por isso, é uma figura em carne e os- se enquanto segundo pai daquela mal e que se encontraram nus, diz: fez nada? Porque há outra verificação: so. Um hebreu daquele tempo.

22 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon ORGANIZAÇÃO PATROCÍNIOS APOIO À DIVULGAÇÃO Música

Trish à “Wire”: “Até agora senti sempre que tentei dar sentido ao mundo. Agora sinto que tenho muita gente dentro de mim e quero deixá-la sair” Broadcast: o mal, versão kitsch distorcida Até agora foram sempre meninos bonitos, quase pop. Mas “Broadcast and The Focus Group Investigate Cult Witches of The Radio Age” prova que algo vai mal na cabeça deles. João Bonifácio

Quando se escolhe como nome para habituais medos de assumir influên- rada. É quase, quase falado, e é isso os Stereolab depois de “Broadcast citando “Repulsa”, de Roman Po- uma banda a palavra Broadcast à par- cias, assumiam: “a nossa maior influ- que eu gosto”. and The Focus Group Investigate Cult lanski: “Há uma cena em que Cathe- tida está a admitir-se que se quer che- ência são os United States of Ameri- Pelo que se pode dizer que era co- Witches of The Radio Age”, primeira rine Deneuve canta uma pequena gar ao maior número de pessoas. Mas ca”. As palavras são de James Cargill, mo se os Broadcast fossem uma ban- edição dos Broadcast depois de “Ten- melodia enquanto um corpo apodre- não no caso dos ingleses Broadcast: um dos elementos sobreviventes da da de apoio marada a uma Sylvie Var- der Buttons”, o último disco, de ce em fundo e ela está a passar a ferro. à medida que avançam o seu univer- banda, juntamente com Trish Kee- tan que se portava mal. A produção 2005. Ela está a cantar e a melodia está a so é cada vez mais rarefeito. nan, a voz feminina. Os United States era cuidadíssima, e o ruído e os ecos Reduzidos a Trish e James – que são atravessá-la. Adoro esta ideia de não O EP “Broadcast and The Focus of America que tanto admiravam não eram colocados com cuidado. Psica- um casal – os Broadcast foram de ca- ser a cantora, de não se ser si pró- Group Investigate Cult Witches of The são o país – mas sim um combo dos delismo era combinado com graça, o valo para burro: abandonaram Bir- prio”. Radio Age” é uma prova disso: em 23 anos 60 que começou a experimentar charme dava mãos à dissonância e mingham, onde viviam e foram viver Polanski é, aliás, nome que citam temas curtíssimos há apenas seis que com a electrónica, criando uma psi- havia sempre uma procura de equilí- para uma terrinha minúscula, Hun- com alguma regularidade. Em 2003, se aproximam do formato canção. cadélia negra e sedutora, como se os brio que os tornava pop sem serem gerford, perto de Berkshire. Não se quando questionados sobre que in- Quase todas as peças são compostas Silver Apples tivessem como vocalis- propriamente populares. sabe se é da proximidade de Sto- fluências havia na sua música, James por sons estranhos, como se fossem ta Buffy Saint-Marie. Claro que já havia ali algo de acos- nehenge, mas a verdade é que em desviou respondendo: “Lembro-me micro-interlúdios pejados de estática Era óbvio que havia uma certa “co- sado. Quando os Radiohead demons- parceria com os The Focus Group, os de ver uma entrevista com o Polanski saídos do tempo em que na frequên- olness” à volta dos Broadcast. O som traram a sua paixão pela música dos Broadcast fizeram o seu disco mais e o entrevistador perguntava-lhe co- cia AM da rádio se podia dar de caras vivia muito de órgãos analógicos de Broadcast, Tim, o guitarrista que en- estranho. mo é que todo aquele caso à volta de com uma estação polaca devotada ao finais de anos 60, a voz não procura- tretanto saiu, respondeu dizendo que Para perceber a origem deste novo Sharon Tate e Manson influenciava Dia das Bruxas. Há trechos que lem- va melodias óbvias, vivia de uma es- os Radiohead eram “muito profissio- som, é preciso andar a respigar infor- os seus filmes e ele dizia que não in- bram filmes de terror, sons concretos tranha ambiguidade entre inocência nais”. “Por norma são uma boa ban- mação que eles deixaram espalhada fluenciava – ele apenas continuava a (de golfinhos e, porque não dizê-lo?, e drogadice. Trish dizia que as vozes da”, acrescentou James Cargill – mas por aí. fazê-los. O Polanski era provavelmen- do diabo a quatro) que se unem com de que gostava eram “vozes peque- este, como é óbvio, não é o melhor Por exemplo, um dos filmes prefe- te a única pessoa que não via como é órgãos de cuja existência já nem o seu nas. É por isso que gosto muito das passo para quem quer ser grande. No ridos de James é “Valeria and Her We- que aquilo tinha influenciado os seus criador se lembra. cantoras pop francesas dos anos 60, entanto, e em última instância, James ek of Wonders”, filme de horror che- filmes”. Um dos mais estranhos discos do porque aquilo é tão fácil, é só deitar dizia que os Broadcast eram “muito co, de culto. Ele contava, em 2003, Podemos agora brincar ao Polanski ano e que abre o apetite para o longa- cá para fora, não há nenhum grande pop”. que passava a vida a gravar filmes de com os Broadcast. Eles citam filmes duração que se seguirá no final de esforço nem linha vocal sobre-elabo- E havia o assunto Stereolab. Talvez vídeo estranhos. À “Wire”, há pouco de terror como “The Curse of Crim- 2009: depois disto, o que raio sairá à conta da voz de Trish Keenan os tempo, Trish dizia que gravava “sem- son Affair” (1968), ou o romance dali? Broadcast eram comparados com os pre as banda-sonoras directamente “Margarida e o Mestre”, de Mikael Um dos mais Stereolab em todo o santo texto. do filme em vez de comprar o disco” Bulgakov. O que quer que haja lá den- Pop sem serem populares Trish, em 2003, à revista online “Mi- porque assim “tem-se a canção e um tro deles a influenciá-los envolve mais Ponhamos os dados em cima da mesa: estranhos discos lk Factory” respondia, agastada: “O som qualquer, como um carro a pas- negrume do que lhes imagináramos quando começaram os Broadcast que os jornalistas parecem não per- sar e depois volta a canção”. ao início. eram cinco. Viviam em Birmingham do ano e que abre ceber é que já houve um milhão de É esse o universo que habita “Bro- Talvez tudo se resuma a uma frase e mesmo possuindo um charme que o apetite para o jornalistas a escrever isso antes, e que adcast and The Focus Group Investi- que Trish disse à “Wire”: “Até agora lhes augurava todos os hypes do mun- temos de aturar sempre a mesma per- gate Cult Witches of The Radio Age”: senti sempre que tentei dar sentido do comportavam-se em entrevistas longa-duração que gunta: ‘Não estão fartos da compara- o da música feita para produzir sen- ao mundo. Agora sinto que tenho mui- como gente vagamente acessível. ção aos Stereolab?’ Mas será que não sações extremas, não pensada para ta gente dentro de mim e quero deixá- Numa conversa com a BBC por al- se seguirá no final de percebem que já nos perguntaram funcionar em regime canção, música la sair”. A ideia é ser outro, nem que turas do lançamento de “Ha Ha isso um milhão de vezes antes?” que foi esquecida dos compêndios da o outro seja uma ideia esquecida e Sound”, segundo disco, de 2003, di- 2009: depois disto, pop. “kitsch” do mal. ziam, descomplexadamente, que pre- Roman Polanski Nessa entrevista Trish dava um óp- cisavam de “mais dinheiro”. Sem os o que raio sairá dali? Não haverá mais comparações com timo exemplo do que lhes interessa, Ver crítica de discos págs. 44 e segs.

24 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon

Não é daquelas evidências que nos Viajar Alusões a África, de diferentes vozes e sons, algo que entra pelos olhos dentro, mas está lá, É natural. A sua música não é eviden- é expresso de forma, simultaneamen- inscrita naquilo que Matias Aguayo é. te. Canções construídas a partir de América e Europa. te, abstracta e orgânica. “Não me in- Na sua música. Na sua personalidade. cantilenas estruturadas em camadas, teressa criar música que soe acústica Na forma como olha para o mundo. ritmos entorpecidos e percussivos, e Elementos de pop, ou simplesmente digital, mas algo na É um vagabundo. Personagem em ambientes psicadélicos. Há alusões a fronteira, um híbrido compactado, trânsito. Nasceu no Chile, país que África, América Latina e Europa, mas tecno, dub, folk, que seja capaz de gerar um resultado abandonou cedo, com os pais, por nunca de forma declarada. Há ele- novo.” razões políticas. A infância foi passa- mentos de várias músicas, pop, tecno, mas indissociáveis Apesar de parecer um processo da entre Lima, no Peru, e Karlsruhe, dub, folk, mas são indissociáveis do do mesmo corpo auto-consciente, Aguayo nega-o. na Alemanha. Iniciou-se como DJ em mesmo corpo sonoro, de tal forma Aquilo que lhe interessa é a dimensão cidades como Dusseldorf e Colónia, que o seu segundo álbum solitário, sonoro. “Ay Ay Ay” física do som, o suor, a sensualidade, entrando no circuito electrónico ger- “Ay Ay Ay”, é um bloco coeso de can- mesmo quando está escondido por mânico pela mão de Michael Mayer ções como já é raro ouvir-se hoje em é um bloco coeso várias roupagens. “Na música que es- da editora Kompakt. dia. cuto existe essa dimensão, mas não Actualmente vive entre Paris e Bue- Aos 35 anos, depois de várias cola- de canções como é de forma explícita, não enquanto po- nos Aires. Hoje em dia passa até mais borações, com Michael Mayer, Marcus se, seja na música ska, nos Talking tempo na capital da Argentina por- Rossknech e Dirk Leyers, nos Closer raro ouvir-se hoje Heads, no house de Chicago, no rock que, dizia num entrevista recente, Musik, e de um primeiro álbum a so- & roll de Bo Diddley, nos B-52’s ou na “existe hoje mais imaginação, mais lo mediano (“Are You Really Lost”, de música kwaito da África do Sul.” inspiração, mais desejo de aventura 2005), parece ter encontrado defini- fizesse canções pop, Micachu sem Ao contrário de muitos outros pro- na América Latina, do que na Euro- tivamente o seu caminho. Há algures fosse tecno), sem ser nenhuma em dutores da música electrónica actual, pa.” Isto aos dias de semana, porque na sua música uma precisão – prove- particular. não se deixa maravilhar pelas ferra- aos fins de semana qualquer outra niente da ciência tecno alemã com a De onde surge a inspiração? De via- mentas tecnológicas ao seu dispor. A infância foi grande cidade do globo pode ser o qual conviveu desde cedo – que se jar, claro. “Sinto que realmente sou Utiliza-as, claro. Mas tenta sempre passada entre seu destino de trabalho – ainda em conjuga na perfeição com a sujidade um privilegiado. Durante algum tem- fazê-lo da forma menos óbvia. “Quan- Lima, no Peru, Setembro actuou no Lux, em Lis- e desordem da rua, patente nas invul- po vivi essas constantes mudanças do leio os procedimentos técnicos é, e Karlsruhe, boa. gares aplicações vocais e nos muitos como conflito, mas passados estes precisamente, para tentar procurar na Alemanha. É DJ, produtor, “performer”, can- ruídos exóticos. anos percebo que é um privilégio po- ir por outro lado.” Iniciou-se tor. Nas sessões como DJ canta, mur- Não é um álbum vulgar na produ- der conhecer o mundo através da mi- Há hoje novos e maravilhosos re- como DJ em mura, respira e suspira. A sua voz ção pop electrónica actual, até na nha actividade. É desse contacto com cursos tecnológicos para fazer músi- cidades como mistura-se com subtileza e sensuali- forma como se apropria de emblemas diferentes pessoas, com muitas cida- ca, mas ele não quer ser apenas mais Dusseldorf e dade nos sons minimalistas. Tem uma da cultura de massas, como a canção des, que a minha música surge. Estou uma cobaia para testar programas de Colónia, etiqueta própria, a Coméme, mas con- “From Russia with love”, de John Bar- sempre à procura de experiências edição musical. Criar, é outra coisa, entrando no tinua a pertencer aos quadros da in- ry, pertencente ao filme de O07 do musicais quando viajo. Alimento-me diz. “A liberdade e as possibilidades circuito fluente editora alemã Kompakt e, mesmo nome. Aqui surge, apenas, disso. Na América Latina, em parti- que os empresários de software pro- electrónico portanto, é conotado com linguagens como “Desde Rusia” e só ouvidos cular neste momento, sinto que exis- metem não estão nos programas em germânico como o tecno e o house. Mas atenção: mais atentos descobrirão as seme- te uma riqueza enorme de sons e de si, mas na fantasia de quem faz a mú- pela mão de possui o tipo de características que lhanças com o original. Todo o disco formas de operar que permitem outro sica.” Ouvindo “Ay Ay Ay” ninguém Michael normalmente levam aqueles que não é feito deste tipo de subtilezas, pare- tipo de procura e de experimenta- dúvida. Mayer da gostam de música de dança electró- cendo várias coisas (TV On The Radio ções.” editora nica a abraçar sons de dança. em versão dub, Ricardo Villalobos se A sua música surge da combinação Ver crítica de discos págs. 44 e segs. Kompakt Música

Um vagabundo chamado Matias Aguayo Chileno, cresceu na Alemanha, vive entre Paris e Buenos Aires e acabou de lançar “Ay Ay Ay”, excelente álbum de canções mundanas. Matias Aguayo é um nómada dos dias de hoje. Vítor Belanciano

26 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon SÁB 21 NOV 18:00 SALA SUGGIA | € 25

Obras de HAYDN BEETHOVEN TAKÁCS BRAHMS

Apresentou–se pela primeira vez sob a direcção dos lendários maestros Karajan e Furtwangler, há 50 anos. Da sua longa discografia, sobejamente conhecida e premiada, sobressaem integrais de diversos compositores austríacos como Mozart, Haydn ou Schubert. Aqui, o pianista vienense apresenta–se com um programa composto por obras da sua eleição. www.casadamusica.com | T 220 120

SÁB 22:00 SALA SUGGIA € 25

JOÃO BOSCO voz e guitarra RICARDO SILVEIRA guitarra KIKO FREITAS bateria NEY CONCEIÇÃO baixo

RICARDO SILVEIRA guitarra RÔMULO GOMES baixo ANDRÉ TANDETA bateria

O mineiro João Bosco é um dos músicos mais originais do Brasil, com canções que são autênticos hinos da MPB. Ricardo Silveira, guitarrista de excepção com carreira internacional, transita por vários estilos, particularmente entre a música brasileira e o jazz. www.casadamusica.com | T 220 120

SEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE DUPLO PARA ESTE CONCERTO. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES. Mocky o bossa-moço Durante anos este canadiano residente em Berlim foi Há meia dúzia de anos Mocky um proto-rapper da electrónica dançável. Com “Saskamodie” e amigos – Jamie Lidell, Peaches, Gonzalez – pareciam tornou-se um bossa-moço. João Bonifácio prestes a tomar o “mainstream” pelos cornos, munidos de um sampler, um conhecimento enciclopédico da música que ficou fora das enciclopédias e uma atitude satírica que só pode cair bem neste mundo cínico

“Agora sou um líder de banda bate- rista”, diz. “O que, se pensarmos nis- so, é algo de muito tradicional, muito jazzy”. Eram umas onze horas da noite de sexta-feira passada e Mocky estava sentado num dos sofás vermelhos de um mal iluminado MusicBox, ao Cais do Sodré, em Lisboa. Ia emborcando uma Coca-Cola fresquinha para acor- dar e a meio da conversa o telemóvel tocou à hora marcada para o desper- tar: como efeito das digressões, o ca- Música nadiano andava cansado, com os ho- rários meios trocados. Sessenta ou 120 minutos depois su- biria ao palco e cumpriria à risca o que afirmara antes: sentado à bateria dirigiu um combo que inclui percus- são adicional, contra-baixo, flauta e teclas. Pela descrição pode adivinhar- se que som se fez naquele estreito palco: soul acetinada, aproximações à bossa, tangentes ao jazz melódico tal como Chet Baker o prescreveu, apenas que sem metais. Música instrumental, com balanço mas sem agitações profundas, meló- dica e em constantes ramificações harmónicas, com basculações surpre- endentes mas sem magoar os rins. Esta é a música de “Saskamodie”, o seu mais recente de disco, que, face à sua produção anterior, é uma curva de 180 graus. Antes Mocky produzia uma espécie de electrónica funk que colava os restos esquecidos da música negra. O ritmo era o seu Senhor, o kitsch o seu Anjo Gabriel e, nas poucas vezes em que abria a boca, rapava. Mas este Mocky de “Saskamodie” é contemplativo e toma o seu tempo à procura da beleza, mesmo que ao vivo balance mais. É, diz, “retro-clás- sico com um toque moderno”. Agora, quando abre a boca, canta em voz de doçuras, como um “soul man” sem excesso de testosterona, como um moço-bossa que gosta dos peixinhos do mar. Terá o homem envelhecido? O que se passou aqui? Terá o homem envelhecido? Ia lançado para ser uma estrela pop alternativa e agora, assim de repente e tomando em conta como o mercado funciona, pode estar a ar- riscar o suicídio comercial. Quer di- zer: aqui está um tipo que transpira charme de “prankster” da cena artís- tica berlinense e em digressão dorme numa pensão na Rua Nova do Carva- lho, no Cais do Sodré. Isto não é a ideia habitual do estrelato. Porque há meia dúzia de anos Mo- cky e amigos pareciam prestes a to- mar o “mainstream” pelos cornos,

28 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon munidos de um sampler, um estranho “Os fãs dos meus Teve aulas de piano, de bateria e mais piano, etc”. Queria ter uma “paisa- miúdo da pop”. E diz que as melhores conhecimento enciclopédico de toda tarde conseguiu uma bolsa para a Uni- gem sonora que imaginava”, chegar canções lhe “vêm a andar na rua: uma a música que ficou fora das enciclo- discos anteriores versidade de Berkeley. Tocou o pri- a uma espécie de “visão cromática melodia aparece, começo a assobiá-la pédias e uma atitude satírica que só meiro concerto profissional aos 14 que tinha tido: algo azul com veios ou a cantá-la e gravo-a logo no tele- pode cair bem neste mundo cínico. nem sabem que eu anos. dourados”. móvel”. Ele, Jamie Lidell, Peaches, Gonzalez, Conta que sempre teve o seu estilo Algo azul com veios dourados cor- “São essas que se tornam as mais um deles – pensávamos – havia de es- sou capaz de tocar bem marcado. “Quando tinha dez responde, musicalmente, a “um som apelativas – porque não vêm de sítio petar uma seta no coração dos tops. anos andava a ouvir Talking Heads e suave”. “Saskamodie”, diz, sem falsas nenhum e não temos de pensar ne- Mas depois amansaram, o que se um instrumento. Stevie Wonder” e se por acaso ouvís- humildades, é o que Mocky quer “ou- las”. “Por vezes”, completa, “vêm-me tornou notório quando Gonzalez de- E isso está muito semos as tais “cassetes que fazia quan- vir num disco de jazz para o século logo com a letra e tudo”. E dito isto, satou a fazer discos calmos ao piano. do tinha 16 anos” o seu estilo já lá XXI”. e para exemplificar, canta o refrão de A idade, pensámos. longe da verdade. estava. A vinda para a Europa – vive Afirmação auto-explicativa e com “Birds of feather”, single de “Saska- “Não me parece que ‘Saskamodie’ há anos em Berlim – “serviu para en- a devida arrogância: “É um universo modie” com uma melodia bonita, seja uma opção comercial tão arris- Porque eu sou acima contrar a [sua] forma de chegar às paralelo onde o jazz e a música dos toda sedas. cada assim”, diz. É tipo de fala fácil pessoas”, o que é diferente de ques- anos 60 podiam ter ido parar”. “Os meus discos anteriores”, expli- que se entusiasma quando conhece- de tudo um músico” tões de estilo. Conclusão decorrente da anterior: ca antes de se levantar para ir prepa- mos os mesmos discos que ele ou A necessidade de mudança de Mo- “Este é o caminho que o jazz devia ter rar o concerto, “eram muito ‘poppy’, percebe que uma ideia sua foi bem cky era tão grande, que este trabalha- tomado”. com refrões muito ‘catchy’. Queria compreendida. dor compulsivo, entre produções pa- Diz que “com o jazz descobri[u] as mostrar outro lado. Queria mostrar Exemplifica: “Sabias que o disco do ra Kevin Blechdom, Jamie Lidell, Feist, harmonias e o romantismo”. E har- que não sou apenas um tipo que ra- Gonzalez ao piano, ‘Soft Power’, foi a diva Jane Birkin e uma digressão com monias é o que mais há em “Saska- pa”. Diz que puxou “fios obscuros do o que mais vendeu dos discos dele?” Gonzalez para “Soft Power”, ainda modie”, influência indirecta do louco novelo das músicas perdidas para Não, não sabíamos, não fazíamos a encontrou tempo para escrever “cer- brasileiro Hermeto Pascoal: “Não o criar um disco que já devia ter sido mínima ideia. “Pois é, por vezes o que ca de cem canções para este disco”. trabalho dele a solo, mas as canções criado”, um disco “que atravessasse parece a forma mais óbvia de ganhar Queria-o fazer “todo instrumental”, que escreveu para o Miles Davis. Para o cérebro e fosse direito ao cora- atenção não funciona”. mas “não queria fazer um disco de mim são como baladas sob a influên- ção”. Acontece que, verificadas as contas, jazz”: “queria fazer um disco de jazz cia de heroína e eu queria isso”. Fiquem a saber: nada o faz sentir-se Mocky tem razão quanto a Gonzales sem os solos”. Isto não quer dizer que tenha rejei- mais feliz que dizerem-lhe que os seus e também parece ter razão quanto se Para tal escolheu “com muito cui- tado a acessibilidade da pop. Admite discos “podiam ter saído em 1971”. refere a si mesmo: “Nos meus discos dado” a instrumentação: “Queria ter ser uma espécie de “totó do jazz”, anteriores fiz electrónica e rap e acho as flautas, queria ter os sons certos de mas assume ser “acima de tudo um Ver crítica de discos págs. 44 e segs. que estou a conseguir trazer mais gen- te com este disco mais jazzy”. Pelo menos em termos críticos está: “Saska- modie” tem sido extremamente bem recebido por todo o lado. Ao contrário do que pensávamos, a mudança não teve nada a ver com a idade, “a idade não [o] adocicou”. Segundo Mocky, muito antes de editar discos de electrónica ele “já fazia dis- cos suaves gravados em cassetes”, discos que nunca editou. O problema foi outro. Foi a electró- nica: “Cheguei a um ponto em que tocar no botão de ‘play’ num sampler e rapar por cima já não me satisfa- zia”. Desde os primeiros tempos em que a electrónica começou a lutar contra o protagonismo do rock que a discus- são surge: há ou não mais “humani- dade” em tocar um instrumento ou em programar um sequenciador ou um computador? Mocky não tem cartilhas para ven- der ao povo, mas duma coisa está certo: do ponto de vista da interpre- tação “é muito mais satisfatório fazer um instrumento vibrar numa sala”. “Com um sampler, o ataque [ao “ins- trumento”] é sempre o mesmo, a du- ração da nota é sempre a mesma, o tempo é sempre o mesmo”. E é aqui que entra o “pequeno caos” que acha que faltava à sua música, o erro: “Com um instrumento não é assim. Uma simples tarola pode ser atacada de milhares de maneiras diferentes, é sempre diferente de cada vez que to- cas um instrumento. Podes introduzir um break de bateria a qualquer ins- tante. É uma questão de dinâmica”. O que se passa, explica Mocky com a expressão de cansaço a dar lugar à vivacidade de quem está a querer fa- zer entender-se e ao fazer entender-se tirar um peso das costas, é que as pes- soas tinham uma percepção errada dele. Era visto como um “rapper prankster” electro-soul-qualquer- coisa. E ele, afirma com um quê de revolta, não é nada disso. “Os fãs dos meus discos anteriores nem sabem que eu sou capaz de tocar um instrumento. E isso está muito longe da verdade”, explicita, chegan- do finalmente à ideia principal, a fra- se que lhe estava entalada na gargan- ta: “Porque eu sou acima de tudo um músico”. Algo azul com veios dourados A biografia valida-o. Tem quatro ir- mãos mais velhos que tocavam e des- de cedo que foi aprendendo música.

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 29 A festa dos Major Lazer é confusa e multicultural “Guns Don’t Kill People, Lazers Do”, a estreia dos Major Lazer, lembrou que a estranheza e a confusão estão no código genético do . Música para dançar, em Kingston, Londres ou Portugal. Pedro Rios

Estas ruas costumam ser calmas – munidade imigrante de Trindade e rua onde ficamos bloqueados duran- uma paz de espírito dentro do bulício Tobago, como uma reacção contra O que têm Buraka te uns intermináveis dez minutos. generalizado de Londres. Mas não os ataques racistas que aconteceram, Uma alegre e saudável confusão, uma nesta altura do ano: estamos no úl- anos antes, naquela zona. Os “soun- e Major Lazer ponte natural entre a tradição e os timo dia de Agosto, altura de Carnival dsystems” jamaicanos vieram pouco em comum?”, múltiplos e confusos sinais da con- em Notting Hill. É o segundo maior depois e, mais tarde, chegaram ou- temporaneidade pop. carnaval do mundo, depois do do Rio tros sons, como o drum’n’bass e o perguntamos a Diplo. Com estes ingredientes, é o sítio de Janeiro. O caminho faz-se a custo grime. perfeito para os Major Lazer – a dupla por entre a multidão – o melhor é As comunidades de imigrantes e “Todos nós formada por Diplo e Switch – se estre- juntarmo-nos à marcha lenta dos ca- descendentes estão cá, mas também arem no Reino Unido. Afinal, foram miões com imponentes sistemas de está a juventude londrina, “hipster”, exportamos a nossa eles (ambos estão na equipa de pro- som a disparar música. As estações atenta à moda e às tendências. Há música” dução de “” e “Kala”) que aju- Música do metro da zona foram fechadas, música a surgir de todos os lados: daram a elevar M.I.A. à posição de há polícia por todo o lado. O cheiro samba, dancehall, e géneros embaixadora da fusão sem complexos da comida, servida em churrascos e criados em Inglaterra como o dubstep das músicas do mundo com o hip-hop tascas improvisadas, cruza-se com o e o UK funky. Mistura é a palavra- e a pop que anima alguma da música da erva. chave para entender o Carnival: há de dança do século XXI. Dentro dos camiões seguem rapa- linhas de baixo vigorosas cruzadas zes e raparigas, muitos oriundos de com a percussão do samba, algo ar- A mesma comunidade centros comunitários ou associações raçado de baile funk a sair de colunas Os Major Lazer não actuam no meio caribenhas, a dançar e a puxar pelo gigantes, um grupo de vocalistas dan- da rua, mas numa festa privada, de- povo. A festa surgiu em 1964 pela co- cehall num exíguo palco numa exígua baixo de um viaduto ferroviário, jun-

30 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon to à estação de Ladbroke Grove, da concessões à melodia) e ao sexo, me- “Metade dos convidados já estavam podem fazer o que querem. É por is- qual foram anfitriões. O elenco é de nos política e religiosamente empe- planeados e procurámos por eles. Os so que é poderoso”, atesta. Tem ra- luxo: além dos Major Lazer, há Rusko, nhado. Na década seguinte, deixou-se outros apareceram no estúdio. Havia zão: um clássico como “Under Me senhor do dubstep, J-Wow (Lil John contaminar pelas produções digitais, algumas pessoas que queríamos e não Sleng Teng” (1986), de , dos Buraka Som Sistema), o cruza- afastando-se mais do reggae original. estavam disponíveis”, conta. Os con- o primeiro tema dancehall com ritmo mento da música latina com a elec- Diplo e Switch são fãs de longa data vidados “puderam fazer o que quise- computorizado, tem muito pouco em O Carnival de trónica de Maluca (nova sensação da do género, que hoje tem em Sean ram”. “Não impusemos nada. Fize- comum com as canções dos Major Notting Hill Mad Decent, editora de Diplo), Jillio- Paul, porventura, o seu mais conhe- mos com que o processo fosse o mais Lazer, mesmo que ambas possam ser surgiu em naire, músico inspirado pela soca de cido representante. aberto possível. Não vamos ensinar etiquetadas de dancehall. Tal como 1964, Trinidade e Tobago, e Paul Devro, um os tipos do dancehall a fazerem as nas ruas em festa de Notting Hill, em organizado dos cérebros da Mad Decent, entre Não há purismos coisas - é a cultura deles”. que tudo é confusão e o novo e o ve- pela outros. Para fazer “Guns Don’t Kill People, O resultado foi um disco que cruza lho se cruzam, “não há uma cena pu- comunidade Os Major Lazer, autores de “Guns Lazers Do”, estreia do duo, Diplo e o dancehall digital dos anos 80 com rista na Jamaica. Tudo é um enorme de Trindade e Don’t Kill People, Lazers Do”, um dos Switch foram a Kingston, Jamaica. “riffs” de baixo inspirados nos Black desastre sonoro”, diz, em tons elogio- Tobago, como discos mais excitantes do ano, lan- Gravaram o disco no estúdio-institui- Flag; que põe Santigold em confronto sos. “Qualquer coisa na Jamaica é uma reacção çam-se num “set” que cruza êxitos ção Tuff Gong (por onde já passaram com o jamaicano Mr. Lexx, desconhe- cópia da cultura americana ou ingle- contra os seus como “Keep it going louder”, nomes grandes da música jamaicana, cido no Ocidente, toques de telemóvel sa. Foi isso que foi o rocksteady, o ataques com “Cockney Thug”, de Rusko, reg- como Bob Marley e os seus Wailers) e guitarras à Ennio Morricone numa dub, a mistura do hip-hop com o es- racistas que gae clássico, “Kalemba (Wegue We- e rodearam-se de estrelas do dan- hiperactiva “Hold the Line”; que não tilo jamaicano. Sempre foi assim e aconteceram gue)”, dos Buraka Som Sistema, e o cehall, como Mr. Vegas, mas também tem medo de ser descaradamente tentámos manter o disco dessa forma anos antes. refrão de “Blinded By The Lights”, de artistas menos conhecidos, como a pop (“Keep It Goin Louder”, presen- o mais possível”, acrescenta. Basta Os “sound- The Streets, transformado em matéria provocante Miss Thing. ça constante no tope da Billboard pa- lembrar que o ritmo de “Under Me systems” dubstep. Thom Yorke era um dos que jamaicanos o estava entre o público, segundo vários drum’n’bass e relatos (incluindo do próprio Diplo). o grime “O que têm Rusko, Buraka e Major vieram Lazer em comum?”, perguntamos a depois. Foi o Wesley Pentz, Diplo. Está em Nova SOFIA MARQUES ANA sítio perfeito Iorque e interrompe durante 20 mi- para os Major nutos uma sessão de gravação (é um Lazer se dos mais requisitados DJ e produtores estrearem no da actualidade). “Todos nós exporta- Reinono UnidoUnido mosmos a nossanossa música.música. No CarnivalCarnival ten-ten

tamos pôr estes estilos de música do ra as melhores canções de dança) ou Sleng Teng”, que acabaria por surgir gueto e ‘bass music’ num contexto em “Qualquer coisa de explorar o reggae clássico. “Ten- num sem número de outras canções que qualquer miúdo possa entrar. támos ter o máximo de novos artistas dancehall, foi, provavelmente, pilha- Não representamos apenas o gueto na Jamaica é uma e representar o melhor possível o no- do a “Somethin’ Else” do pioneiro angolano e português, nem a comu- cópia da cultura vo som e a nova cultura, misturando- rock’n’roll Eddie Cochran. nidade jamaicana: representamos os com o nosso som e sabor, que é Com o seu sucesso e apelo trans- toda a gente. A nossa música é feita a americana ou inglesa. abstracto”, explica. Ou seja: o álbum versal, “Guns Don’t Kill People, La- partir da mistura. Todos estes tipos tanto pode agradar aos fãs de Sean zers Do” pode ajudar a colocar os são da nova escola: todos aprende- Foi isso que foi Paul e do dancehall mais popular, co- holofotes em cima do dancehall? “Es- mos sobre música a partir do hip-hop mo a quem segue o percurso de Diplo pero que sim, espero que os miúdos e da MTV, mas temos raízes mais fun- o rocksteady, o dub, e Switch, repleto de bizarrias e cruza- comprem os discos do novo dan- das. As dos Buraka vêm do estilo an- a mistura do hip-hop mentos. cehall. É um género que não se pro- golano, as minhas do Miami Bass, as Na Jamaica, encontraram gente co- move a si mesmo muito bem”, diz do Rusko do dub e do drum’n’bass. com o estilo mo Skerrit Bwoy, excêntrico anima- Diplo. “O dancehall sempre teve uma Todos temos as nossas raízes, mas dor de serviço das actuações dos Ma- voz importante na comunidade cari- somos parte da mesma cena neste jamaicano. Sempre jor Lazer e figura importante nos te- benha, jamaicana, seja em Londres, momento. Somos parte da mesma lediscos do grupo (tem uma garrida Nova Iorque, Miami, Atlanta, mesmo comunidade”. foi assim e tentámos crista amarela e é praticante da dança em Espanha. Há sempre coisas a acon- O que os Major Lazer exportam – e “daggering”, em que se simulam actos tecer, comunicação, música nova. O também por isso é que ficaram tão manter o disco dessa sexuais ao ritmo da batida). “Ele re- que se passa é que o dancehall ficou bem no contexto do Carnival – é o forma o mais presenta o lado estranho do dan- muito ‘underground’ porque não há dancehall jamaicano. Nascido no fim cehall”, diz Diplo. Mas, na verdade, artistas populares, nem indústria pa- dos anos 1970, o dancehall é um filho possível” Diplo nada é normal no dancehall – ou no ra promover novos artistas. Acho que do reggae, mais dado à estranheza dancehall que Diplo e Switch quise- o nosso disco é importante porque (muitas produções centram-se no bai- ram mostrar. “Fizemos este disco captou muita atenção para os artistas xo e em vocalistas que fazem poucas porque o género é flexível. Os artistas tornarem-se maiores”.

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 31

Agora os Sticks até têm Os Sticks e o rock’n’roll: Mark E Smith a aprovar as suas descargas eléctricas de minuto e meio energia Música

TOM SHEEHAN/ ROUGH TRADE ROUGH SHEEHAN/ TOM rudimentar Classifi cam-se como orgulhosamente amadores. Interessa-lhes a energia que qualquer um, armado de guitarra e baquetas, consegue criar. Vêm de Brighton. Tocam dia 11 na Caixa Económica Operária, Lisboa. Mário Lopes

“Ah, não mais de 25 minutos, meia- dores. Com orgulho, porque é isso hora”. Stuart Cartland, que é um dos mesmo que somos”. Tal declaração, Sticks, banda de Brighton que dia 11 como veremos de seguida, é tanto actuará na Caixa Económica Operá- acto de resistência quanto manifesta- ria, em Lisboa, com os nossos ção de independência. rock’n’rollers tresloucados favoritos, os Black Lips, falava-nos dos seus con- Gente criativa certos quando lhe saiu aquele “não Os Sticks nasceram em 2002, quando demoram mais de meia-hora”. Expli- Stuart Cartland chegou a Brighton, cou porquê. Duas razões. Porque as “cidade presa entre mar e montanhas, suas canções são curtas de dois mi- muito diferente do resto de Inglater- nutos e “bandas que tocam canções ra”. De facto, considera que “as pes- curtas não podem fazer grandes sets”, soas se mudam para Brighton para sob pena de aborrecer o público mais fugir de Inglaterra”. Apesar da agita- entusiasta. E porque, de qualquer ção turística, descreve-a como um modo, não conseguiriam tocar mais: pólo de concentração de gente cria- “ficamos arrasados no final dos con- tiva, disposta a colaborar entre si – certos”, confessa. Iain Paxton, baixista dos Sticks, mora Jacques Brel também ficava arrasa- com um elemento dos Go! Team e do, alagado em suor, nos seus concer- Stuart Cartland farta-se de “tropeçar” tos que nunca tinham encore, mas o em Nick Cave quando sai à rua. Foi cansaço dos Sticks tem outra origem. portanto em Brighton que nasceram A Brel, extenuava-o tudo o que punha os Sticks. A história habitual. na interpretação, como se a carga dra- Stuart Cartland conheceu James mática daquilo que cantava fosse des- Tramner, ocuparam o sótão do café carregada sobre o corpo. Nos Sticks, onde aquele trabalhava e pegaram no o cansaço é todo ele rock’n’roll: do que tinham à mão. Duas guitarra e frenesim rítmico, da forma como uma tarola e uns tubos de plástico compactam em minuto e meio a elec- para percussão. As referências: The tricidade garageira dos proto-punks Monks, Shadows Of The Knight, The de 1960 e a vertigem frente ao abismo Sonics e demais filhos bastardos da “O nosso som pode álbum, já são trio – entretanto chegou afastam desse “lixo sem alma” que do pós-punk da década seguinte. De “British Invasion” de 1960. A origina- Iain Paxton, o baixista de “gosto ex- nos vendem em larga escala como “o resto, mais que canções, os Sticks lidade: “Não tendo noção da fórmula ser uma algazarra, cêntrico” que “até ouve prog-rock” presente da música” - e depois saem- criam uma sensação. Sensação antiga: de construção de uma canção e fal- – e a sua música é uma centrifugado- lhes “boutades” como “os Killers são, “Todos podem fazer música. Pegas tando-nos o ‘know-how’ para emular o nosso virtuosismo ra de riffs anfetaminados e ritmo sal- sozinhos, responsáveis pela destrui- numa baqueta, bates numa tarola e o que quer que seja, isso aliado à nos- titante, frenético, como se a adoles- ção da música indie” (foi James Tram- fazes música. Arranhas uma guitarra sa abordagem rudimentar à música, pode ser inexistente, cência do rock’n’roll embatesse de ner que o afirmou à imprensa ingle- e fazes música. O nosso som pode ser origina uma energia especial”. frente com a ferocidade iconoclasta sa). Citamos a frase a Stuart e ele sol- uma algazarra, o nosso virtuosismo Quando começaram, quando eram mas isso não é o mais de uns Fall. Acaso feliz, agora até têm ta uma sonora gargalhada. Primeiro: pode ser inexistente, mas isso não é duo a saltar entre guitarras e percus- importante: Mark E Smith a aprovar as suas des- “Foi uma provocação”. Em seguida: o mais importante: o importante é sões, interessava-lhes o ruído, o im- cargas eléctricas de minuto e meio. “Não são só os Killers. São todas estas que o podes fazer”. Sem se deter, pacto no público da electricidade das o importante é que Aconteceu no início deste ano. bandas incrivelmente ‘mainstream’ acrescenta: “Se nos definíssemos de guitarras e da cadência anárquica do Eles a tocar na primeira parte dos que se vendem como rebeldes e in- algumama forma, diria queque somos ama-ama ritmo. AgoraAgora qqueue editam o prprimeiroimeiro o podes fazer”faz dois concertos que o senhor The Fall dependentes quando são nada mais deu em Brighton, em Janeiro deste que uma imagem sem conteúdo”. ano, e a pensarem que o homem po- Note-se que não o irrita a sua existên- dia entrar palco dentro, enfurecido cia, irrita-o “querer ter distância des- com aquilo que ouvia, e dar-lhes com se mundo e não o conseguir”. “Ao uma guitarra nos costados (não seria ditarem como as pessoas se devem a primeira vez que exerceria assim o vestir e aquilo que devem ouvir, aca- seu direito à crítica). Nada disso, Sti- bam por contaminar tudo à nossa cks aos saltos em palco e Mark E Smi- volta. É repugnante”. Os Sticks, th, na cozinha instalada nos bastido- Os Sticks, que pegam numa guitar- que pegam res, a dançar felicíssimo a música que ra e fazem música, que pegam numa numa ouvia. Esta aprovação é importante baqueta e fazem música, procuram guitarra e para Stuart Cartland. Porque Mark E algo de diferente. O regresso a uma fazem música, Smith é um “herói”, um “true origi- certa ideia de pureza criativa, gesto que pegam nal” num mundo onde eles escas- intuitivo em busca de algo essencial: numa seiam. um rudimento sónico que transporte baqueta e Da actualidade, interessam-lhes consigo algo impossível de emular. fazem música, bandas como esses Black Lips com Bastam 25 minutos, meia hora para procuram quem partilharão palco na Caixa Eco- o revelar. algo de nómica Operária – porque mantém diferente um “sentido de verdade”, porque se Ver agenda de concertos pág.41 e segs.

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 33 Nada acontece por acaso. É tão ver- está de folga e não vai sair de casa. suas notas sobre “Ana”. “É o facto de ra tenho de tratá-lo como se fosse o dade que podemos perceber melhor Está ali para passar o dia com Paulo, o espectador não poder identificar os Shakespeare”. certos significados de “Ana”, texto do mas este está preocupado, a ouvir vários tempos de ‘Ana’ (o que aconte- Estamos no Teatro da Politécnica, dramaturgo José Maria Vieira Mendes sons que Ana diz não ouvir. ceu primeiro, o que aconteceu depois? onde os AU ensaiaram. José Vieira e encenado por Jorge Silva Melo (Ar- Ela resolve fazer um chá, mas quan- Quem é este? Quem é aquele)”, con- também está a ver “Ana”. É a segunda tistas Unidos), depois de sabermos do volta encontra o Homem (António tinua José Maria, que permite “espaço vez que assiste ao ensaio. Normal- que escreveu a peça sozinho em Fran- Simão), que outrora também fez parte para mais leituras do que as certezas mente, diz Silva Melo, ele acompanha ça, no Inverno, “no meio do nada”. da sua vida. Ana não entende porque e conhecimento”. mais o trabalho de preparação do es- “Estava muito solitário a pensar na é que ele está ali, no lugar daquele que Neste sentido, a protagonista Ana pectáculo. Mas neste momento o dra- escrita. Estava a fechar completamen- lhe era mais íntimo. Aqui estabelece-se pode ser encarada como tendo “mui- maturgo não tem muito tempo para te o universo e a repetir as mesmas um vácuo entre passado e presente. tas vidas”. Até mesmo porque Ana 2 se dedicar aos AU, está a dar aulas nos palavras”. Foi entre essa experiência Quem será o primeiro homem na vida – interpretada pela jovem Rita Brütt EUA. de escrever numa “residência de es- de Ana? Quem será este que entra em – é indicada por Silva Melo como a “Leda e o José Maria diz que os actores de crita” e a procura de um novo modo cena de repente? A névoa aumenta personagem central do texto. Mas Cisne”, de “Ana” devem estar zangados com ele, de falar em palco (criação de diálogos quando aparece Ana 2. A filha de Ana? deixando um espaço para a ambigui- Correggio: o porque no texto há muitas repetições. compostos por grandes monólogos) E quem será o pai dela? dade, acrescenta: “Ana é uma palavra jogo com o Para o encenador a dificuldade de que nasceu “Ana”. É este jogo com o tempo - e a pos- simétrica”, pode ter o mesmo signifi- tempo, com a “Ana” é a falta de referências cénicas, Vai circular pelo país até chegar à sibilidade de diversas interpretações cado, seja pelo início ou pelo fim. Pa- decomposição de imagens ou definição das persona- Lisboa. Hoje está em Guimarães, no - que norteou a escrita de José Maria. ra José Maria, “a protagonista é Ana, da narrativa gens. Não há certeza de nada e os ac- Centro Cultural Vila-Flor. Amanhã Dominado por esta ideia, falou dela enquanto Ana 2 é um desdobramen- tores tiveram de se deparar com ques- estará em Coimbra, na Oficina Muni- a Jorge Silva Melo. Que lhe falou, por to da Ana, mas também outra perso- Quem será o primeiro tões como “quem são e o que estão a cipal do Teatro. Estreia no CCB, em sua vez, de um quadro do italiano nagem, a sua filha”. fazer. Quais são as relações entre as Lisboa, no dia 13, onde fica em cena Correggio [1489 – 1534], “Leda e o Cis- homem na vida de personagens?”. até 22. Depois desloca-se para o Tea- ne”. Na interpretação de Silva Melo Encenador vs. aprendiz “É difícil representar, porque um tro Municipal de Almada no dia 26. (depois de ter “namorado” a tela vá- José Maria Vieira Mendes escreve pa- Ana? Quem será este actor” pergunta: “Eu sou quem? Faço rios dias), Zeus disfarçou-se de cisne ra os Artistas Unidos (AU) há doze de engenheiro ou médico”, exempli- Elemento apaziguador e foi divertir-se com as Ledas. O en- anos. No início, Silva Melo (director que entra em cena fica o encenador. Em “Ana” não há As referências do Inverno francês, cenador visualiza a cena decomposta dos AU) foi o mestre que ensinou o respostas. “É um desafio literário vivido pelo autor, são claras. Quatro como narrativa: a aproximação do aprendiz. “Fui sempre sugerindo-lhe de repente? E Ana 2. curioso, que me faz lembrar o norue- personagens vestem pesadas roupas cisne, a violação e o voo. “Mas tam- coisas” – na adaptação de uma peça, A filha de Ana? guês Jon Fosse, autor de quem gosto de Inverno. O chá é o elemento apa- bém podemos optar por ver três cines em mudanças nos textos. Até que che- muito”. Um actor não pode represen- ziguador num contexto sombrio e e três mulheres”, contrapõe. gou o momento que já estava “cres- É este jogo com o tar, continua, a ambiguidade que é distante e funciona como marca da “Se o tempo da narrativa deixa de cidinho e incentivei-o a escrever uma permitida na literatura. No palco, um passagem do tempo. Entre tílias, jas- ser identificável, o tempo do espectá- peça”, brinca Silva Melo. tempo que norteou a “actor está sentado ou está de pé”. mins e a mísera luz de um candeeiro, culo conquista o protagonismo. Ape- O diálogo continuou com “Ana”, “Não é como na literatura em que é a oferta e o pedido do chá repetem-se nas a ele podemos nos agarrar. O prin- mas já com uma maturidade solidifi- escrita de José Maria possível estar sentado e em pé ao em cadência. O espectáculo inicia-se cípio e o fim. O tempo entre o abrir e cada. “Eu já não tenho o papel de mesmo tempo com Ana (Sylvie Rocha) e Paulo (Pedro o fechar da boca. Entre a primeira e professor de escrita teatral. Ele [José Vieira Mendes Lacerda) num dia de descanso. Ana última frase”, diz o dramaturgo, em Maria Vieira Mendes] é o autor e ago- Ver agenda de teatro págs. 36 e 37 Teatro JORGE GONÇALVES JORGE GONÇALVES JORGE

Ana e Ana 2 Escrita de

O Inverno demora a chegar. Masinverno antes dele temos José Maria Vieira Mendes, as roupas pesadas e o chá para nos aquecer em “Ana”. Encenação de Jorge Silva Melo, vai correr o país. Hoje está em Guimarães. Dia 13 chega ao CCB, em Lisboa. Cláudia Silva

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aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Velho Chico. “Tive de encontrar um caminho para não me perder entre diversas possibilidades de escolha.” Natália descobriu este percurso no único rio que nasce e desagua no RAQUEL ESPERANÇA RAQUEL Brasil. Além disso, continua, do ponto de vista da Literatura e da Semiótica “o rio é assemelhado à própria vida. É o caminho da vida que desagua num sítio imenso, que não sabemos onde é. Que ao mesmo tempo é tudo e nada, é o mar”. O rio São Francisco atravessa cinco Estados: Minas Gerais (nascente), Bahia, Alagoas, Pernambuco e Sergipe. A pesquisa literária foi feita com base na pergunta: que autores destes Estados emprestariam a escrita a esta viagem que o Teatro Meridional propõe aos portugueses? Foram escolhidos nove nomes consagrados, mas não foi escolhido um autor do Teatro Estado de Sergipe. A maioria é mineira: Adélia Prado, João Guimarães Rosa, Affonso Romano de Sant’Anna e Carlos Drummond de Gonçalo vai confeccionar gel de perdiz com gelatina de grelos e granizado Andrade. São acompanhados por de pão com uma chip de pele de porco e Tiago irá fazer gelado de carne de pato... dois baianos: Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro; dois câmara em palco que vai filmando a explica Tiago. “De repente há uma pernambucanos: Mauro Mota e João A cozinha confecção dos pratos e isso é peça de teatro que começa a sair dos Cabral de Melo Neto; e pelo alagoano projectada em ecrãs. subterrâneos dessa cozinha”. Lêdo Ivo. como arte A ideia do espectáculo e de Uma peça com “um lado A proposta deste ciclo “Contos em montar uma cozinha num palco vagamente documental e Viagem” é fazer uma viagem pela surgiu quando Waddington e expositivo” que mostra um pouco do literatura dos países lusófonos. da vida Rodrigues rodaram “Mal Nascida”. universo da “haute cuisine”. Em “O “Vamos passar por muitas vilas de Canijo, e nas folgas faziam que se leva desta vida” os pequeninas. Vamos encontrar Os espectadores podem périplos gastronómicos pelo Norte espectadores conseguem ver tudo lugares vazios e diferentes pessoas”, do país e Galiza. “A conversa sobre aquilo que não vêem quando vão ao diz Natália. A linha que costura os assistir a tudo, menos comer. a ideia de realizarmos um projecto restaurante. “A única coisa que não textos, de certa forma, é o humor, Isabel Coutinho em conjunto acontecia sempre lhe oferecemos é sentar-se na sala e sobretudo a ironia. “O humor está quando estávamos à mesa e por isso comer um bom prato”, dizem os lá, mas é uma espécie de ironia O Que se Leva Desta Vida achámos que o tema devia ser a actores que esperam que os cansada” que prevalece. De Gonçalo Waddington, João gastronomia”, conta Gonçalo. espectadores saiam do S. Luiz com “Contos em Viagem” apoia-se no Canijo, Tiago Rodrigues. Com Partiram para a Catalunha e País fome. trabalho do contador de histórias e Gonçalo Waddington, Tiago Basco e pediram a colaboração dos no trabalho do actor - dualidade Rodrigues. cozinheiros de restaurantes com incorporada pela actriz brasileira três estrelas Michelin como Santi Gina Tocchetto, que declama e canta Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Antº Maria Rumo Cardoso, 38-58. De 06/11 a 22/11. 5ª, 6ª e Sáb. às 21h. Santamaria, Martín Berasategui, o texto (o músico António Pedro cria Dom. às 17h30 (no dia 15/11, às 17h30, sessão com Juan Mari Arzak e Carme “paisagens sonoras”, com interpretação em língua gestual portuguesa). Tel.: Ruscalleda. Comeram nesses ao Brasil instrumentos como uma pinha 213257650. restaurantes – o menu de amplificada com microfones Quando os espectadores se degustação – e entrevistavam os O projecto “Contos em especiais, um alguidar com água, sentarem na plateia do São Luiz, em cozinheiros sobre a arte de cozinhar um tronco de árvore com cordas). Lisboa, para assistir a “O que se leva e ainda fizeram um estágio nas Viagem” ruma ao Brasil. Explica Natália que habitualmente desta vida”, de Gonçalo Waddington cozinhas de Arzak e de Berasategui, Cláudia Silva o contador de histórias “tem a e Tiago Rodrigues com dramaturgia em San Sebastian. particularidade de ter um texto livre, de João Canijo, devem ir bem O texto foi escrito por Canijo e Contos em Viagem: alimentados. É que durante o pelos dois actores. Um texto sobre Brasil - Outras Rotas espectáculo vão assistir à confecção dois cozinheiros com duas maneiras Encenação: Luz Miguel Seabra. Com de vários pratos “gourmet” e terão à diferentes de ver a sua profissão, Gina Tocchetto (texto), António frente o frenesi que se vive numa “um cozinheiro platónico e um Pedro (música). cozinha de um restaurante agraciado aristotélico, ou seja um muito mais Lisboa. Teatro Meridional. R. do Açucar, 64 - Poço com estrelas Michelin – além dos pela cozinha imanente, pelo prazer do Bispo. Até 19/11. 4ª, 5ª e 6ª às 22h00. Sáb. às dois actores está em palco uma da vida, pelo prazer de cozinhar no 17h00 e 22h. Tel.: 218689245. 10€ e 5€ (-25, +65 equipa de cinco cozinheiros. E momento, e o outro muito mais anos, grupos + 10 pessoas, profissonais do sairão dali a ter a certeza de que as transcendente, pelo prazer das espectáculo e estudantes de artes cénicas). grandes questões da vida se ideias, da criação”, explica Gonçalo. A língua portuguesa chegou aos resolvem à mesa. A discussão entre os dois começa lugares mais recônditos sempre Entre outras coisas Gonçalo vai por causa de um produto português: através das águas. Eis por que a confeccionar “gel de perdiz com a alheira. actriz Natália Luíza seleccionou os gelatina de grelos e granizado de “Há um jogo que nos interessa que autores de “Brasil Contos em Viagem pão com uma chip de pele de é o de um espectáculo que começa Outras Rotas”- no Teatro Meridional porco” e Tiago irá fazer “gelado de com um gesto desconcertante até 19 de Dezembro - tendo como carne de pato, areia de temperos e artisticamente que é que basta uma critério escritores nascidos nos água de grelos numa caixa de cozinha a funcionar em palco para Estados brasileiros nos quais corre o fumos”. E há um operador de haver uma proposta performativa”, rio São Francisco – conhecido por

36 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon Eunice Muñoz será Joan Didion “Norma” em “O Ano do Pensamento Mágico” “Emilia Galotti” enquanto aqui o texto é um gesto, uma sugestão do sapato, o trabalho cénico de pegar nestes condicionado, reveste-se do trabalho de uma bengala. Mas cada um tem textos excepcionais e torná-los uma do actor”. Por outro lado, “há de construir a sua bengala, porque matéria de prazer à vista e à escuta”. personagens que são sugeridas pelo ao mesmo tempo que o actor esboça O projecto “Contos em Viagem”, actor, tal como o contador de o movimento respeita a literalidade que visa contemplar o universo histórias o faz”. Neste caso, Gina do cada texto”. literário de cada um dos países que leva-nos “para imensos sítios, Para Miguel Seabra o facto de se expressa na língua portuguesa, porque nos sugere” imagens e estar a encenar textos que vêm da começou em 2006 (Brasil), diferentes sotaques. “É o tipo de literatura (feito para ler em voz baixa continuou em 2007 (Cabo Verde) e espectáculo em que é exigido ao ou no interior) foi uma dificuldade agora voltou ao Brasil. Terá público uma grande participação, acrescida, mas a tarefa foi aliviada continuidade em 2011, tendo como porque há uma parte de construção pela capacidade de Natália torná-los fonte literária autores de da personagem que não está lá. Há fluidos para o ouvido. “O desafio foi Moçambique.

Agenda Teatro Lisboa. A Barraca - Teatro Cinearte. Lg Santos, 2. Albano Jerónimo, Ana Bustorff, De 07/11 a 20/12. 4ª, 5ª e 6ª às 10h e 14h (para Carlos Pimenta, Dinarte Branco, escolas). Sáb. às 15h30. Dom. às 11h. Tel.: 213965360. 10€ (adultos) e 7,5€ (-12 anos). Rita Calçada Bastos, Teresa Tavares, Estreiam Reservas: 218885093/912916231. David Santos. Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. Até O Ano do Pensamento Mágico Cinderela 08/11. 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às De Joan Didion. Encenação: Diogo Companhia: Teatro de Marionetas 16h00. Tel.: 223401905. 15€ e 10€. Infante. Com Eunice Muñoz. do Porto. Encenação: João Paulo Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II. Pç. D. Pedro IV. Vai-se Andando De 12/11 a 20/12. 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às Seara Cardoso. Com Sara Henriques, De Alberto Gonçalves, Eduardo 16h. Tel.: 213250835. 7,5€ a 16€ (sujeitos a Sérgio Rolo, Shirley Resende. Madeira, Filipe Homem Fonseca, Porto. Balleteatro Auditório. Pç. 9 de Abril, 76. De descontos). José Pedro Gomes, Marco Horácio, Na Sala Garrett. 07/11 a 29/11. 3ª, 4ª, 5ª e 6ª às 10h30 e 15h. Sáb. às 16h e 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 225508918. Nilton, Nuno Artur Silva, Nuno Limiar M/4. Markl, Henrique Dias. Encenação: Encenação: João Silva. Com Estela Balleteatro Audtório, no Porto. António Feio. Com José Pedro Gomes, Henrique Dias, Luísa Costa Augusto, Filipe Carmo, Manuel O Senhor de La Fontaine Almeida, Noé Domingos, Olga Gomes. De Abel Neves. Encenação: Maria Lisboa. Casino Lisboa. Alameda dos Oceanos Lote Varandas, Pascoal Barros, Sandra João Trindade. Com Maria João 1.03.01 - Parque das Nações. Até 31/12. 3ª, 4ª, 5ª, 6ª Santos, Vítor Correia. Trindade, Ana Enes, Sylvain Peker. e Sáb. às 22h00. Dom. às 17h00. Tel.: 218929070. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II. Pç. D. Pedro IV. Lisboa. Museu da Marioneta. Rua da Esperança, 18€. De 12/11 a 15/11. 5ª, 6ª e Sáb. às 21h45. Dom. às 146 - Convento das Bernardas. De 07/11 a 06/12. 3ª e 16h15. Tel.: 213250835.12€ (sujeitos a descontos). 4ª às 10h30 e 14h30. 5ª e 6ª às 10h30. Sáb. às 16h. Peso Certo A Dama de Copas e o Rei de Cuba Dom. e Feriados às 11h30. Tel.: 213942810. Com Fernando Mendes, Cristina Areia, António Vaz Mendes, Luís De Timochenko Wehbi. Encenação: O Duplo Portugal. Juvenal Garcês. Com Alexandra Encenação: Jorge Andrade. Com Ana Lisboa. Teatro Villaret. Av. Fontes Pereira de Melo, Sargento, Cristina Basílio, Pedro Brandão, Bruno Huca, Jorge 30-A. Até 08/11. 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às Saavedra. Andrade. 16h00. Tel.: 213538586. 20€ (sujeitos a descontos). Lisboa. Teatro-Estúdio Mário Viegas/Companhia Lisboa. Centro Cultural de Belém. Praça do Teatral do Chiado. Lg. Picadeiro, 40. De 12/11 a Império. De 06/11 a 07/11. 6ª e Sáb. às 21h. Tel.: Rapariga(s) 31/12. 5ª, 6ª e Sáb. às 21h. Tel.: 707302627. 213612400. 8€. De Neil Labute. Encenação: Almeno 20€. Festival Temps d’Images 2009. Gonçalves. Com André Nunes, Falar Verdade a Mentir Jéssica Athayde, Marta Melro, Núria George Dandin De Almeida Garrett. Madruga, Helena Laureano. São João da Madeira. Paços da Cultura. Rua 11 de De Molière. Encenação: Elisabete Lisboa. Teatro da Comuna. Pç. Espanha. Até 31/12. Outubro, 89. Dia 11/11. 4ª às 15h30. Tel.: 256827783. Martins. Com Afonso Dias, Bruno 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: 217221770. 15€. Martins, Elisabete Martins, Glória Na Sala das Novas Tendências. História da Ilha do Tesouro de Fernandes, Luís de A. Miranda, Informações e reservas: 214121797 Stevenson Mário Spencer, Pedro Mendes, Tânia ou 963958551. De Jorge Louraço Figueira. Silva. Norma Encenação: José Leitão. Com Flávio Portimão. Teatro Municipal de Portimão. Largo 1.º Hamilton, Teresa Alpendurada. de Dezembro. Dia 06/11. 6ª às 21h30. Tel.: De Ricardo Alves, Salgueirinho Porto. CACE Cultural do Porto. Rua do Freixo, 1071. 282402475. M/6. Maia. Companhia: Palmilha De 10/11 a 15/11. 3ª, 4ª, 5ª e 6ª às 21h30. Sáb. e Dom. Dentada. Encenação: Ricardo Alves. às 16h e 21h30. Tel.: 225191600. 5€ e 3€ (-12 anos). O Deus da Matança Com Ivo Bastos, Rodrigo Santos. M/6. De Yasmina Reza. Encenação: João Porto. Teatro Sá da Bandeira. R. Sá da Bandeira, 108. Até 15/11. 4ª, 5ª, 6ª, Sáb. e Dom. às 21h46. Tel.: Ana Lourenço. Com Joana Seixas, Paulo Pires, Sérgio Praia, Sofia de Portugal. 222003595. 9,99€ (4,49€ com desconto). De José Maria Caldas da Rainha. Centro Cultural e Congressos das Informações e reservas: 915000464. Vieira Mendes. Caldas da Rainha. Rua Doutor Leonel Sotto Mayor. Encenação: Jorge De 06/11 a 07/11. 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: Hedda Gabler De Henrik Ibsen. Encenação: Celso

JORGE GOLÇALVES JORGE Silva Melo. Com 262889650. António Simão, Cleto. Com Sofia Alves, Ana Rocha, Pedro Lacerda, Continuam Elisa Lisboa, Guilherme Filipe, Rita Brütt, Sylvie Maria Dulce, Paulo Rocha, Vítor de Rocha. Sabina Freire Sousa. Coimbra. O Teatrão. Rua De Manuel Teixeira-Gomes. Oeiras. Auditório Municipal Eunice Muñoz. R. Pedro Nunes. Dia 07/11. Companhia: Companhia de Teatro Mestre de Aviz. Até 20/12. 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Sáb. às 22h. Tel.: 239714013.Pequeno Auditório. Dom. às 16h00. Tel.: 214408411. M/16. Reservas: Guimarães. Centro Cultural Vila Flor. Avenida D. de Braga. Encenação: Rui Madeira. 960272519 ou [email protected]. Afonso Henriques, 701. Dia 06/11. 6ª às 22h. Tel.: Com Solange Sá, André Laires, Jaime 253424700. 7,5€ e 5€. Pequeno Auditório. Soares, Carlos Feio, Thamara Thaís, A Bicicleta de Faulkner De Heather McDonald. Encenação: Ver texto pág. 34 Sílvia Brito, António Jorge, Ricardo Kalash, Miguel Magalhães, Lina Rita Lello. Com Maria do Céu Conto de Natal Nóbrega. Guerra, Rita Fernandes, entre De Charles Dickens. Companhia: Braga. Theatro Circo. Av. Liberdade, 697. Até 13/11. outros. Cenografia: Miguel Companhia da Esquina. Encenação: 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h00. Tel.: Figueiredo. Compositor: Bernardo 253203800. 5€ e 10€. Jorge Gomes Ribeiro. Com Nuno Sassetti. Encenação: Miguel Bernardo, Pedro Martinho, Quimbé, Emilia Galotti Figueiredo. Lisboa. A Barraca - Teatro Cinearte. Lg Santos, 2. Rita Fernandes, Ruben Santos, Sónia De Gotthold Ephraim Lessing. Até 29/11. 5ª, 6ª e Sáb. às 22h00. Dom. às 17h00. Neves, Sérgio Moura Afonso. Encenação: Nuno M Cardoso. Com Tel.: 213965360. 10€ a 12,5€ (5€ à quinta).

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 37 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Jorge Molder: jogar com a variedade de imagens de si, que acabam sempre por ser as imagens de outro sem nunca deixarem de o representar

desde 1993. Jogos de Durante essese período, nãoão prestidigi- expôs nas instalações desta instituiçãouição tação o seu trabalholho dede fotografia, queque A auto-representação como tem vindo a possibilidade de descoberta desenvolverr com persistênciaa e da alteridade dentro de si. qualidade. EmEm 1999 Luísa Soares de Oliveira foi o representanteentante de Portugal à Bienal de Veneza, o queque A Interpretação dos Sonhos atesta o prestígioestígio e a De Jorge Molder. opinião consensualnsensual sobre a qualidadealidade dada Lisboa. Centro de Arte Moderna - José de Azeredo Perdigão. R. Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.: sua obra. Entretanto,ntretanto, e

Expos 217823474. Até 27/12. 3ª a Dom. das 10h às 18h. já no início do corrente Fotografia. ano, doou aaoo Centro de Arte Modernana dduasuas séries “A interpretação ddosos sonhos”-sonhos”- mmmmm suas de fotografias:ografias: “O queque compõemcompõem a mostra a decorrerdecorrer pequeno mundo” (2000) e “Não no edifício da sede. Há cerca de um ano Jorge Molder tem que me contar seja o que for” E, se por razões éticas não era cessou as funções de director do (2006-2007). São estas duas séries, possível até agora visitar uma Centro de Arte Moderna da a que se junta uma terceira, recente, exposição individual deste fotógrafo Gulbenkian, que tinha exercido com o mesmo título da exposição – nas instalações da Fundação, a sua

Agenda Inauguram Roland Fischer, José Lourenço, Aitor 2009. Inaugura 12/11 às 22h. “Brrrrain”, António Olaio admissão às 18h30). Sáb., Dom. e Feriados das 14h00 Ortiz, Manuel Saro, Richard Schur. Instalação, Outros. às 20h (última admissão às 19h30). Lisboa. Carlos Carvalho - Arte Contemporânea. Rua Vídeo, Escultura, Fotografia. Hors Sujet Portrait/Vue Image Fulgurator (UM.09) Portraits Joly Braga Santos, Lote F - r/c. Tel.: 217261831. Até 09/01. 2ª a 6ª das 10h30 às 19h30. Sáb. das 12h às De Julius Von Bismark. Sem Saída, Ensaio Sobre o De Luciana Fina. 19h30. Inaugura 11/11 às 21h30. Lisboa. ECV Fiat Garage. Av. 24 de Julho, 60. Até Optimismo Lisboa. Espaço Alkantara. Calçada Marquês de Pintura, Escultura, Fotografia. 27/11. 2ª a 6ª das 12h às 19h. UM: Festival De Augusto Alves da Silva. Abrantes, 99 - Santos. Tel.: 309978184. Até 06/12. 3ª Internacional de Intermedia Experimental 2009. Porto. Museu de Serralves. Rua Dom João de Castro, a Dom. das 14h às 23h. Festival Temps d’Images 09. David Claerbout Inaugura 12/11 às 22h. 210. Tel.: 226156500. De 23/10 a 31/01. 3ª a 6ª das 10h Inaugura 6/11 às 19h. Lisboa. MNAC - Museu do Chiado. Rua Serpa Pinto, Instalação, Outros. às 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h. Instalação. 4. Tel.: 213432148. Até 28/02. 3ª a Dom. das 10h às Fotografia. 18h. Festival Temps d’Images 09. Inaugura 12/11 às Monitor Photography (UM.09) Portraire, Notas nas Margens de 19h. De Sandra Dick, Lukas Hartmann. Anos 70 - Atravessar Fronteiras um Retrato Instalação, Vídeo, Fotografia. Lisboa. ECV Fiat Garage. Av. 24 de Julho, 60. Até Lisboa. Centro de Arte Moderna - José de Azeredo De Luciana Fina. 27/11. 2ª a 6ª das 12h às 19h. UM: Festival De CADA. Perdigão. Rua Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.: Lisboa. Rentagallery #24. R. da Esperança, 24. Tel.: Trigger Happy (UM.09) Internacional de Intermedia Experimental 2009. 217823474. Até 03/01. 3ª a Dom. das 10h às 18h. Lisboa. ECV Fiat Garage. Av. 24 de Julho, 60. Até 214010437. Até 15/11. 3ª a Dom. das 14h às 23h. De André Gonçalves. Inaugura 12/11 às 22h. Pintura, Escultura, Fotografia, Festival Temps d’Images 09. Inaugura 6/11 às 19h. 27/11. 2ª a 6ª das 12h às 19h. UM: Festival Lisboa. ECV Fiat Garage. Av. 24 de Julho, 60. Até Outros. Internacional de Intermedia Experimental 2009. Instalação, Outros. Instalação. 27/11. 2ª a 6ª das 12h às 19h. UM: Festival Entropy (UM.09) Inaugura 12/11 às 22h. Internacional de Intermedia Experimental 2009. Outros. Jesper Just O Sol Morre Cedo Inaugura 12/11 às 22h. De Terike Haapoja. Lisboa. Centro de Arte Moderna - José de Azeredo De Ana Manso, André Romão, Joana Instalação, Outros. Lisboa. ECV Fiat Garage. Av. 24 de Julho, 60. Até Crying My Brains Out Perdigão. Rua Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.: Escoval, Nuno da Luz. 27/11. 2ª a 6ª das 12h às 19h. UM: Festival De António Olaio. 217823474. Até 18/01. 3ª a Dom. das 10h às 18h. Lisboa. Museu da Cidade de Lisboa. Campo Artifi cial Smile (UM.09) Internacional de Intermedia Experimental 2009. Lisboa. Galeria Filomena Soares. Rua da Vídeo, Instalação. Grande, 245. Tel.: 217513200. Até 10/01. 3ª a Dom. Inaugura 12/11 às 22h. De Andreas Schmelas, Stefan Stubbe. Manutenção, 80. Tel.: 218624122. Até 16/01. 3ª a Sáb. das 10h às 18h. No Pavilhão Branco. Inaugura dia Lisboa. ECV Fiat Garage. Av. 24 de Julho, 60. Até Vídeo. das 10h às 20h. Inaugura 12/11 às 21h30. Works on Paper 6/11 às 22h. 27/11. 2ª a 6ª das 12h às 19h. UM: Festival Pintura. De Michael Biberstein. Pintura, Vídeo, Instalação, Outros. Internacional de Intermedia Experimental 2009. Extracts of Local Distance Lisboa. Appleton Square. Rua Acácio Paiva, 27 - r/c. Inaugura 12/11 às 22h. (UM.09) Moby Dick Tel.: 210993660. Até 21/11. 3ª a Sáb. das 14h às 19h. Não Sou Veado, Não! Fundação Instalação, Outros. De Torsten Posselt, Benjamin Maus, De João Pedro Vale. Pintura. Orgasmo Carlos Frederic Gmeiner. Singing Bridges (UM.09) Lisboa. Galeria Filomena Soares. Rua da De Manuel João Vieira, entre outros. Lisboa. ECV Fiat Garage. Av. 24 de Julho, 60. Até Manutenção, 80. Tel.: 218624122. Até 16/01. 3ª a Sáb. Obras de Paula Rego Lisboa. Museu Nacional de História Natural. Rua De Jodi Rose. 27/11. 2ª a 6ª das 12h às 19h. UM: Festival das 10h às 20h. Inaugurag 12/11/ às 21h30. De Paula Rego. da Escola Politécnica, 58. Tel.: 213921800. Até 29/11. Lisboa. ECVV Fiat GaraGarage.ge. Av. 24 de Julho, 60. AtAtéé InternacionaInternacionall ddee IntermeIntermediadia ExperimentaExperimentall 2009. Outros. Cascais. Casa das Histórias - Paula Rego. Av. da 3ª a 6ª das 10h às 17h. Sáb. e Dom. das 10h às 18h. 27/11. 2ª a 6ªª das 12h às 19h. UM: Festival InauInauguragura 12/11 às 2222h.h. República, 300. Tel.: 214826970. Até 18/03. 2ª a Dom. Na Sala do Veado. Inaugura 6/11 às 21h. Internacionalal de InteI Intermediarmedia Fotografia.Fotografia. Objectos, Outros. Experimentalal 2009. ContinuamCoC ntinua Inaugura 12/112/11 às Time Machine ((UM.09)UM.09) Favelas 22h. BrrrrainBBrrrrain De Pedro Lobo. Instalação,ão, DeD AntónioAntónio OOlaio. Lisboa. 3 + 1 Arte Contemporânea. Rua António Escultura,a, Lisboa.Lisboa. CulturgestCulturgest. Rua Arco do Cego Maria Cardoso, 31. Tel.: 210170765. Até 05/12. 3ª a Outros. - Edifício da CGDCGD.. Tel.: 217905155. De Sáb. das 12h30 às 20h. Inaugura 6/11 às 22h. 23/1023/12 0 a 23/12. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das Fotografia. The Greateat 11h111 às 19h (ú(última admissão às Game 18h30).18h31 0). SSáb., Dom. e Travessia. Evidência. O Monte (UM.09)) FeriadosFeriF ado das 14h às Rosa 20h(última20h(2 últ admissão às De John 19h30).19h31 0) De Pedro Tropa. Klima. Pintura,Pintu Vídeo. Porto. Galeria Quadrado Azul Q1. R. Miguel Lisboa. ECVV Jos De Gruyter e Harald Thys Bombarda, 435. Tel.: 226097313. Até 18/12. 3ª a 6ª Fiat Garage.. Jos De Gruyter e das 10h às 19h30. 2ª e Sáb. das 15h às 19h30. Av. 24 de HaHHaraldr Thys Inaugura 7/11 às 16h. Julho, 60. AAtété Desenho, Fotografia. Lisboa.Lisbo Culturgest. Rua 27/11. 2ª a 6ªª Arco ddo Cego - Edifício da das 12h às 19h.9h. Building Rooms CGD.CGD. Tel.: 217905155. De UM: Festivall 23/10 a 23/12. 2ª, 4ª, 5ª e De José Bechara, Pedro Duarte Internacionalal ddee 66ªª das 111h às 19h (última Bento, Isidro Blasco, Manuel Caeiro, Intermedia Experimentalal

38 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon própripróprioo usada com toda a ambiguidade duas séries mais antigas, há pparadoxoaradox da semântica que permite. fotografias onde o sujeito-artista se vidvida:a: é elee E as três séries (como, noutro esconde por detrás de um vidro ppróprio,róprio, mas registo, a excelente exposição fosco, apenas imprimindo as suas sesemprempre “Pinocchio” que pudemos ver há mãos ou o seu perfil em contra-luz: memediadodiado por meses no edifício Mundial é aqui que o significado deste OOutrem,utrem, queq a Fidelidade, em Lisboa) confirmam a trabalho se traduz de um modo fotografifotografiaa revela. capacidade de Molder jogar com a talvez mais teatral e conciso. E a palavrapalavr infinita variedade de imagens de si, Contudo, esta teatralidade, que é “revelaçã“revelação”o é que acabam sempre por ser as acentuada pelos contrastes fortes prpresençaesença nesteneste ttambémambém aqui,aq imagens de outro sem nunca entre a luz e a sombra (ou, melhor, momomentoomento ficafica eevidentemente,videnteme deixarem de o representar... nas entre as luzes e as sombras, já plplenamentelenamente justificada.justificada. O conceitoconceito centralcentral queque ffundamenta toda a oobra deste autor está intimamente ligado à ffotografiao como mmediumedium artístico:artíst a auto- rrepresentaçãoepresentação como possibilidade ddee descobertadescoberta da alteridade dentro ddee si. JorgeJorge MolderMo encena-se a si ppróprioróprio em situaçõessit que convocam uma narrativa subjacente que, afinal, nunca se concretiza. E, nessa representação (entendida aqui esta palavra no seu sentido mais teatral), concretiza permanentemente o

Augusto Alves da Silva

das 10h às 22h. Entrada livre. Desenho, Pintura. Lourdes de Castro Algés. Centro de Arte Manuel de Brito - Palácio dos Anjos. Alameda Hermano Patrone. Tel.: 214111400. Até 17/01. 3ª a Dom. das 11h30 às 18h (última 6ª do mês encerra às 00h). Pintura, Outros. The Great Curve De Rui Toscano. Lisboa. Chiado 8 - Arte Contemporânea. Largo do Chiado, 8 - Edifício Sede da Mundial-Confiança. Tel.: 213237335. Até 31/12. 2ª a 6ª das 12h às 20h. Vídeo, Outros. Diários Gráfi cos. Desenho em Cadernos De vários autores. Lagos. Centro Cultural de Lagos. R. Lançarote de Freitas, 7. Tel.: 282770450. Até 31/12. 2ª a Sáb. das 10h às 20h. Desenho. Rui Sanches Castelo Branco. 102-100 Galeria de Arte. R. de Santa Maria, 100. Tel.: 933180211. Até 19/01. 3ª a 6ª das 15h às 19h. Sáb. das 10h30 às 19h. Escultura, Desenho. Naturalia/Artifi cialia De Isabel Pereira. Lisboa. Galeria Pedro Serrenho. Rua Almeida e Sousa, 21A. Tel.: 213930714. De 31/10 a 28/11. 3ª a Sáb. das 11h às 20h. Desenho.

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 39 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Exposição [“Sem é sexo, pelo sexo,

Expos Saída. Ensaio sobre é naturalidade, Espaço o optimismo”] muito nada mais que Público interessante com isso. Parabéns a momentos fotográfi cos Serralves, Parabénsns tremendamente ao autor oportunos. E com Augusto Küttner um corredor – para de Magalhães, 59 Maiores – em que é anos, gestor de mostrada a beleza do Recursos Humanoss Corpo Feminino. Não

que a iluminação é quase sempre da imagem acentuado em mármore; as ornamentações etc. As figuras não se sucediam multidireccional), está pelo trabalho de pós-produção. As A voz das escultóricas, etc. –, para seleccionar numa ordem cronológica particular, constantemente presente, e fotografias que compõem esta série as imagens apresentadas, as quais eram antes dispostas tendo em sobretudo na caracterização possuem uma qualidade quase pedras são instaladas numa espécie de conta as suas relações de acentuada que o artista imprime à imaterial: com os contrastes entre progressão onírica. As figuras da intensidade – um dos textos escritos sua própria imagem. luz e sombra saturados, esbatem os arte grega clássica, com os seus por Kurt W. Forster, um dos A série que dá o nome à contornos e transformam a O edifício da Culturgest- drapeados, ecoam não só a alegoria especialistas neste labiríntico exposição, um conjunto de 21 personagem–autor num espectro. O Porto torna-se a do teatro, um dos alto-relevos projecto intitula-se mesmo “Aby fotografias em tiragem digital jogo, presente nos acessórios e nos presentes no átrio do edifício, mas Warburg, cartógrafo das paixões.” pigmentada, retoma o título pormenores acentuados nesta ou encadernação de luxo para também a pedra omnipresente em As relações estabelecidas por Batia da obra de Freud onde se enuncia o naquela fotografia, é uma constante as páginas do livro da obra todo o espaço expositivo: há uma Suter são de outro tipo, sobretudo método de análise psicanalítica em toda a série. Jogo de de Batia Suter. Óscar Faria espécie de continuidade entre os de ordem formal, o que as afasta dos conducente à cura da neurose. prestidigitação, adivinhará o elementos evocados nas fotografias, aspectos “patéticos” essenciais para Freud, num estilo quase coloquial, visitante cujo olhar é solicitado Batia Suter a escultura e a paisagem, a leitura histórica formulada pelo define neste livro o processo de permanentemente entre o que vê, o apontando-se para a origem teórico alemão. Esta situação, construção do sonho e as mecânicas que não vê e o que adivinha lá estar, Porto. Culturgest. Av. dos Aliados, 104 - Ed. da CGD. geológica da vida, dos sublinhe-se, não afasta a Tel.: 222098116. De 30/10 a 09/01. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das de que o inconsciente se socorre mesmo não vendo. Ou seja, jogo 11h às 19h. (última admissão às 18h30) Sáb., Dom. e acontecimentos, da história – na proximidade desta mostra “site para fabricar a narrativa sonhada. entre aquele que é, e aquele que, Feriados das 14h às 20h (última admissão às 19h30). exposição são várias as fotografias specific” ao modelo estabelecido Molder apropria-se do título do embora parecendo não o ser já, Outros. provenientes de livros científicos. por Warburg: as associações livro, mas retira-lhe a possibilidade ainda o é. Em “Surfaces Series”, a artista oníricas, simbólicas, convocadas de se dar a ler como citação ao De Lisboa, a exposição seguirá mmmmm coloca ainda em paralelo as imagens pela artista de forma a dar um omitir as maiúsculas. Em vez dessa para Paris, também para as tiradas de livros com fotografias sentido à sucessão de algumas citação, à maneira do Surrealismo, instalações da Gulbenkian. Refira-se A exposição de Batia Suter (Bülach, suas. A distinção faz-se pela escala, fotografias permite tal leitura. por exemplo, oferece-nos a ainda que foi editado um excelente 1967) desenvolve-se formalmente a sendo as de Batia Suter as de maior Outras podem ser as vias literalidade do significado livro a acompanhar a exposição, partir de duas linhas paralelas dimensão: no caso desta exposição, aproximação ao trabalho de Batia da frase “a interpretação dos com texto contextualizador da situadas à altura dos olhos do três grandes planos de pedras Suter, como as noções de arquivo e sonhos”, e um esbater comissária, Leonor Nazaré. espectador: de um lado, a castanha, fotografadas individualmnente nas de colecção ou o diferendo entre da terra, do outro, a branca, da neve; proximidades de um rio, na Suíça, e natureza em bruto e natureza cores que, em termos metafóricos, uma vista nocturna de uma parede domesticada, a primeira visível em podem ser interpretadas como de neve. O diálogo entre muitas das imagens, a segunda instrumentos de pintura – na instantâneos alheios e próprios definida pelo contexto de Culturgest-Porto vêem-se apenas potencia e complexifica a apresentação das fotografias, o ampliações fotográficas, fotocópias a interpretação desta mostra com uma edifício. Uma outra hipótese de laser em formato A0. Existem, montagem exemplar: o edifício da abordagem é de ordem literária: contudo, ligeiros apontamentos, Culturgest-Porto torna-se a moldura uma bibliografia onde figurassem a marcas quase imperceptíveis numa ideal para as páginas deste livro trilogia em que Roger Caillois toma tonalidade rosa, com que a artista aberto, a sua encadernação de luxo. como assunto as pedras, os poemas pontua as imagens escolhidas de A propósito da exposição, de Francis Ponge, o conto “Objectos antigos livros: indicações para um comissariada por Miguel Sólidos”, de Virginia Woolf ou o caminho possível de realizar através Wandschneider, não deve esquecer- texto “A voz das pedras”, de Álvaro de paisagens, obras de arte, se o atlas de imagens – obra Lapa. Finalmente, a “Parallel formações geológicas, gelos – essa inacabada, denominada Mnemosyne Encyclopedia”, obra concebida pela “enciclopédia paralela” desenvolvida – a que Aby Warburg (1866-1929) se artista entre 2004 e 2007 e editada pela criadora suíça, com dedicou nos últimos anos de vida: pela Roma Publications. A este apresentações públicas desde 2004. em cerca de quarenta painéis, o volume, formado apenas por No caso da Culturgest-Porto, Batia fundador da iconologia, dispôs cerca imagens de outros livros, foi Suter inspirou-se na superfície dos de mil imagens em grupos temáticos atribuído, há dois anos, o Best Dutch objectos, na envolvente em torno de conceitos como pathos, Book Design. arquitectónica – as colunas e chão ninfa, astrologia oriental, redenção,

Uma montagem exemplar

40 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon Este espaço vai ser sobre ele, concordando seu. Que fi lme, peça de ou não concordando Espaço teatro, livro, exposição, com o que escrevemos? Público disco, álbum, canção, Envie-nos uma nota até concerto, DVD viu e 500 caracteres para gostou tanto que lhe [email protected]. E apeteceu escrever nós depois publicamos.

Mark Mcguire: minimalismo, krautrock e new age na ZDB

Pop will.i.am (“Get Out” é reminiscente maestro e violoncelista Jaques 70). David Keenan, na revista “Wire”, dos Black Eyed Peas). Também não Morelenbaum. É essa partilha, desejo chamou “hypnagogic pop” à música muda a aura de desbocada: em de ambos após uma digressão que estes artistas produzem: música A quarentona “Okay” fala sobre trair um homem e italiana com orquestra, em 2005, que que parece feita num limbo, entre o em “Strange Behavior” canta sobre se concretizou este ano, primeiro no sonho e a lucidez, e que bebe de matar o cônjuge pelo dinheiro do Brasil (apresentou-se no Rio, em fontes não legitimadas do ponto de desbocada seguro. Outubro) e agora numa tournée vista do “underground”. Com tanto tempo passado sobre europeia, que inclui Porto (domingo) A solo, Mark Mcguire tem-se O vozeirão não ortodoxo “Big”, é possível que nos Coliseus de e Lisboa (terça-feira). Mas Gil e focado na guitarra eléctrica, Lisboa e Porto se atire aos seus êxitos Jaques não vêm sós. O cantor incluiu lembrando, como os Emeralds, actua nos Coliseus de Lisboa – o disco mais fresco é a compilação neste projecto também o seu filho artistas do krautrock como Cluster e e Porto, sem álbum novo “I Try: The Macy Gray Collection”, Bem Gil, com quem acaba de Popol Vüh, mas numa versão mais para apresentar, mas muitos onde estão sucessos como “I Try” e o partilhar um DVD onde recria, a dois, despida – não é certo que tal dueto com Erykah Badu, “Sweet em formato acústico (o que já não é aconteça na Zé dos Bois, já que êxitos. Pedro Rios Baby”. Em Dezembro, anunciou que novidade na sua carreira), muitas das também já lançou discos baseados Macy Gray iria começar a gravar um quinto canções marcantes do seu em sintetizadores. Steve Hauschildt disco, que poderá incluirá “Slap a reportório. Gravado a 29 de move-se por águas semelhantes, Lisboa. Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Antão, 96. 3ª às 22h00 (abertura de portas às 21h00).. Tel.: Bitch”, a última canção que lançou, Setembro na antestreia de Teatro lembrando as incursões estelares de 213240580. 25€. com letras gráficas (“First time I Bradesco em São Paulo, o DVD, que uns Tangerine Dream, recorrendo a Porto. Coliseu do Porto. R. Passos Manuel, 137. 4ª às came was when I masturbated/When se intitulará “Bandadois” e foi sintetizadores antigos. Stellar Om 22h00 (portas abrem às 21h). Tel.: 223394947. 25€ a I was eight/It was so great”), batida filmado pelo cineasta Andrucha Source, o projecto solo de Christelle 30€. seca e frémito inédito em Gray. Quem Waddington, inclui temas como Gualdi, parisiense fixada na Holanda, Em criança, gozavam com a sua voz sabe se não está aqui um novo “Esotérico”, “A linha e o linho”, é igualmente cultora destas músicas ríspida, mas seria esse característica caminho para a menina de voz “Saudade da Bahia”, “Refavela”, ou escapistas, encontrando nos teclados que a ajudaria a lançar-se numa ríspida. “Expresso 2222”, além de inéditos uma via para alcançar uma torrente carreira de sucesso. A californiana como “Quatro coisas” e “Pronto pra de som infinito, sem princípio nem Natalie McIntyre é, desde o álbum de preto”. Com Jaques e Bem, Gil fim, que vive de pequenas variações estreia, “On How Life Is” (1999), Gil, Bem retoma algumas destas canções, texturais e subtilezas. Gualdi une os Macy Gray, nome artístico da mulher devendo juntar-lhes outras como pontos em comum entre de 42 anos com mais de 20 milhões “Domingo No Parque”, “Palco”, minimalismo, krautrock e new age. de discos vendidos e habituadíssima e Jaques “Drão”, ou os mais recentes Para ouvir com os olhos fechados e a a nomeações e prémios da indústria. “Despedida de Solteira”, “A Faca e o imaginação a inventar um céu. Está naquela prateleira de mercado Portugal já ouviu muitas Queijo” ou “Banda Larga Cordel”. Pedro Rios que funde soul, jazz, r&b, com Gilberto Gil, para quem “o mundo algumas pitadas de hip-hop, dirigido vezes Gilberto Gil em palco, encantado da música é feito com o a um público adulto - ou seja, nunca mas nunca num projecto milagre do encontro dos criadores”, Liz Harris na sala de passa de moda. com Jaques Morelenbaum. diz que neste caso esse encontro será pânico “Big”, o seu último álbum, lançado feito “a três”: “Eu, Jaquinho e Bem, em 2007, não trouxe grandes Nem com Bem Gil, fi lho de meu filho que começa a sua busca do Gilberto. Nuno Pacheco Grouper, Inca Ore, Tiny Vipers e novidades, apesar da produção de encontro musical. Será, por certo, Norberto Lobo will.i.am, membro dos Black Eyed com imenso prazer que nos Peas: Gray continua com aquele encontraremos para levar, a todos Plano B. Porto. Plano B. Rua Cândido dos Reis, 30. Gilberto Gil (voz e violão), Jaques Quarta, dia 11, às 21h30. Tel.: 222012500. Bilhetes a vozeirão não ortodoxo, Morelenbaum (violoncelo) e Bem que vierem nos assistir, um pouco 10 euros (venda antecipada) e 12 euros (no dia) acompanhada por orquestrações Gil (violão e percussão) desse eterno milagre da canção.” O Galeria Zé dos Bois. Lisboa, R. da Barroca, 59 - Bairro Alto. Concertos luxuriantes, funk “mid tempo”, mais Brasil já viu e gostou. Muito. Porto, Sala Suggia da Casa da Música, dom. 8, às sensual que sexual, se bem que deixe 22h. Bilhetes a €30. Quinta, dia 12, às 22h00. Tel.: 213430205. Bilhetes a €12. entrar alguma da eficiência pop de Lisboa, Grande Auditório do CCB, ter. 10, às 21h. Bilhetes de €20 a €50. Inventores de céus

Portugal já ouviu muitas vezes Mark Mcguire, Steve Hauschildt GilbertoGilberto Gil em e Stellar Om Source palco,pap lco, em Galeria Zé dos Bois. Lisboa, R. da Barroca, 59 - concertosconcertos Bairro Alto. eléctricoseléctricos Amanhã, às 23h00. Tel.: 213430205. Bilhetes a €8. ouou acústicos, Na música popular as tendências são masmas cada vez mais nítidas, mas também nuncanunca mais rápidas e autofágicas. O numnum “underground” não escapa a este projectoprojecto movimento. Nos últimos tempos, conjuntoconjunto tem-se assistido a dois movimentos Liz Harris/Grouper: comcom o com alguns pontos de contacto: por um segredo bem um lado, artistas como Ariel Pink e guardado da música actual James Ferraro encontraram na pop da década de 80, nos genéricos de filmes duvidosos e noutros objectos Liz Harris, conhecida musicalmente culturais esquecidos ou desprezados como Grouper, é um segredo bem inspiração para uma música entre a guardado da música actual. pop e o abstracto; por outro, grupos Provavelmente, nunca será popular: como os Emeralds (nos quais militam a sua música é demasiado dada ao Mark Mcguire e Steve Hauschildt) e negrume e ao isolamento para isso. veículos a solo como Stellar Om Ouça-se “Hold the Way” (voz quase Source têm encontrado na new age espectral, sem esforço, de Harris, de sintetizadores um território uma guitarra numa melodia simples), repleto de possibilidades e há muito “Vessel”, que se assemelha a um inexplorado (e facilmente cruzável cântico religioso, mas é mais um Gilberto Gil com o fi lho com a música cósmica que a lamento sem deus, ou “Heavy Macy Gray, a meninda da voz ríspida Bem e com Morelenbaum Alemanha produziu nos anos 60 e Water”, com a voz de Harris a

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 41

Concertos

JP Simões

flutuar em cima da guitarra próprio à guitarra, que lembra Carlos estreava-se em público com um acústica. Dir-se-ia que as canções Paredes, John Fahey e outros génios programa preenchido com música de Agenda estão dentro de uma redoma de do instrumento. P. R. sua autoria. Aluno do lendário nevoeiro: quem se dispuser a cerrar Heinrich Neuhaus no Conservatório Barroca Casa da Música os olhos para as melhor avistar, será de Moscovo, venceu nos anos 60 três Sexta, 6 Direcção Musical: Yves Abel (ONP), Daniel Sepec (Orquestra Barroca). recompensado com alguma da Clássica concursos internacionais — Van João Pedro Pais música mais bela da actual cena Cliburn (1966), Enescu (1967) e Leeds Porto. Coliseu do Porto. R. Passos Manuel, 137, às Com Daniel Sepec (violino), Andreas independente. (1969) — que lhe abriram as portas 22h00. Tel.: 223394947. 12,5€ a 27,5€. Staier (pianoforte). A sóbria Porto. Casa da Música. Pç. Mouzinho de Inca Ore, que já partilhou um dos grandes centros musicais Andrew Thorn Albuquerque, às 18h00. Tel.: 220120220. 17€. Jantar- disco com Grouper, tanto se dedica à internacionais e dos principais Porto. Plano B. R. Cândido dos Reis, 30, às 23h00. concerto: 30€. Bilhete conjunto dias 6 e 7: 26€. Passe mesma linhagem de canções- poesia de festivais de música da Europa e dos Tel.: 222012500. Festival: 55€. Na Sala Suggia. ... fantasma da amiga Harris, como aos EUA. A sua ampla discografia inclui Apresentação de “Brutes on The Passando por Haydn. Festival À Volta do Barroco. “drones” e à música mais concertos para piano e orquestra de Quiet”. Radu Lupu Projecto electro-folk de João Pedro inclassificável. Em “Silver Sea Surfer Beethoven, Mozart, Brahms, Grieg e Gomo Coimbra (Mesa). School”, o seu disco mais recente, há Schumann e registos a solo com Porto. Casa da Música. Pç. Mouzinho de Albuquerque, Carmina Burana às 22h00. Tel.: 220120220. 10€. Na Sala 2. cânticos em loop, vozes alienígenas e O pianista romeno em obras de Beethoven, Brahms, Apresentação de “Nosy”. “feedback” utilizado como matéria recital a solo. Cristina Schumann ou Schubert, sendo as Com Staatsooper Bourgas. Lisboa. musical. suas interpretações das obras dos Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Antão, 96. 6ª e Tcheka Fernandes Sáb. às 21h30 (portas abrem às 20h30). Tel.: Torres Novas. Teatro Virgínia. Lg. São José Lopes dos As noites da ZDB e do Plano B dois últimos compositores 213240580. 20€ a 49€. Camarotes: 90€ a 216€. Santos, às 21h30. Tel.: 249839309. 10€. ficam completas com Tiny Vipers consideradas importantes Radu Lupu Orquestra Nacional do Porto e II Encontros de Lusofonia. (projecto de Jesy Fortino a meio Obras de Janacék, Beethoven e referências. Orquestra Barroca Casa da caminho entre a folk e a De regresso à Gulbenkian, Radu Zoetrope Schumann Música Com Rui Horta, Micro Audio Waves. experimentação, que, segundo o Lupu propõe um programa duplo Direcção Musical: Yves Abel (ONP), Lisboa Grande Auditório Gulbenkian, dia 11, às 19h. Aveiro. Teatro Aveirense. Pç. “New York Times”, “procura o que permitirá ouvi-lo a solo e com Daniel Sepec (Orquestra Barroca). República, às 21h30. Tel.: 234400922. Orquestra Gulbenkian eenencantamentocantamento e o transe”)transe ) e o orquestra num repertório Com Marc-André Hamelin (piano), 8€ a 10€ (sujeito a descontos). Na Sala Principal. pportuguêsortuguês Norberto Lobo, autor LisbLisboa,oa, GranGrandede AuAuditórioditório GuGulbenkian,lbenkian dia diversificado que inclui alguns dos Daniel Sepec (violino). CANT - Ciclo Arte e Novas Tecnologias. ddee “Pata Lenta”Lenta”,, um ddosos 13, às 19h, e dia 14, às 21h. seus compositores de eleição. Na Porto. Casa da Música. Pç. Mouzinho de Albuquerque, às 21h00. Tel.: 220120220. 17€. Maria João e Mário Laginha mmelhoreselhores discosdiscos Para aalémlém ddoo seu excelenteexcele quarta-feira toca o ciclo “Nas Jantar-concerto: 30€. Bilhete conjunto dias 6 e 7: Arcos de Valdevez. Casa das Artes. Jardim dos pportuguesesortugueses do ano. Nele, domínio técnico, o piapianistan Brumas”, de Janacék, a Sonata op. 26€. Passe Festival: 55€. Na Sala Suggia. Centenários, às 22h00. Tel.: 258520520. 12€. No LLoLobobo cavacava mmaisais fundfundoo RRaduadu LuLupupu é conhecido pela 23, “Appassionata”, de Beethoven, e De Häendel a Mozart. Festival À Auditório. e encontraencontra um ssuaua sensibilidsensibilidadeade duas peças de Schumann (a Volta do Barroco. Apresentação de “Chocolate”. ddiscursoiscurso mais introsintrospectivapectiva e ppelaela ppoesiaoes e “Arabesque” op. 18 e a Fantasia op. Madredeus & A Banda Cósmica JP Simões llirismoirismo dodo seu estiloestilo ded 17) e nos dias 13 e 14 dará o seu Sintra. CC Olga Cadaval. Pç. Dr. Francisco Sá Castelo Branco. Cine-Teatro Avenida. Av. General execuexecução,ção, preferindopreferin contributo num programa que Carneiro, às 22h00. Tel.: 219107110. 15€ a 25€ Humberto Delgado, às 21h30. Tel.: 272349560. (sujeito a descontos). No Auditório Jorge Sampaio. a profundidade eem pretende mostrar a perspectiva que Apresentação de “Metafonia”. M/6. Luís Lopes Humanization 4Tet llugarugar do os intérpretes romenos têm da Com Luís Lopes (guitarra), Rodrigo bbrilhantismorilhantismo música húngara do século XX. Este Cristina Branco Amado (saxofone), Aaron González Faro. Teatro Municipal de Faro. Horta das Figuras (contrabaixo), Stefan González eextrovertido.xtrovertido. inclui o Concerto para Piano nº3, de - EN125, às 21h30. Tel.: 289888100. 10€ a 15€. NascidoNascido em 11945, Bartók, e a Rapsódia para violino e (bateria). Apresentação de “Kronos”. Seixal. Fábrica Mundet - Espaço Cultural. Lg. 1º de cocomeçoumeçou a orquestra nº2, do mesmo Maio, às 23h00 e 24h. Tel.: 212226413. Entrada livre. estudar pianopia compositor, tocada pela jovem Couple Coff ee Portimão. Teatro Municipal. Lg. 1.º de Dezembro, aosaos seseisis ananos e romena Mihaela Costea. O “Concerto Carlos Barretto Trio às 22h00. Tel.: 282402475. Entrada livre. Seixal. Galeria Augusto Cabrita. Fórum Cultural - aos dozed Romeno”, para orquestra, de Ligeti, The Original Glenn Miller Quinta dos Franceses. Sáb. às 18h00. Tel.: 212226412. Radu Lupu: a poesia e lirismo de um estilo e as duas mais famosas obras de No âmbito da exposição Solo Orchestra Zoltán Kodály (Suite “Háry Janos” e Pictórico. Seixal Jazz 2009. Direcção Musical: Ray McVay. “Danças de Galanta”) completam um Leiria. Teatro José Lúcio da Silva. R. Dr. Américo Gaiteiros de Lisboa mosaico onde se cruzam algumas das Cortez Pinto, às 21h30. Tel.: 244834117. 30€ a 35€. Sesimbra. Cine-Teatro Municipal João Mota. Av. linhas de força do universo musical Sten Sandell Trio Liberdade, 46, às 21h30. Tel.: 212288715. 10€. da Hungria, incluindo a música da Com Sten Sandell (piano; voz e Carlos do Carmo & Orquestra tradição popular. A direcção musical electrónica), Johan Berthling Sinfonietta de Lisboa será de Lawrence Foster, filho de pais (contrabaixo), Paal Nilssen-Love Seixal. Fórum Cultural. Qta. dos Franceses, às 21h30. romenos, embora nascido nos (bateria). Tel.: 210976100. 20€. No Auditório Municipal. Estados Unidos. Seixal. Fábrica Mundet - Espaço Cultural. Lg. 1º de Maio, às 23h00 e 24h. Tel.: 212226413. Entrada Domingo 8 livre. Rammstein + Combichrist Carolin Widmann, I Mudmu Clubbin’: Zero 7 + Lisboa. Pavilhão Atlântico. Parque das Nações, às Heartbreakerz + Wasteyouth + 20h00 (portas abrem às 18h30). Tel.: 218918409. 30€ a embaixadora da Deep Sleep a 42€. Na Sala Atlântico. Porto. Estádio do Bessa Séc. XXI. R. 1º Janeiro, às nova música 22h30. Tel.: 226071004. 15€. Pré-venda: 12€ (oferta The Original Glenn Miller de welcome drink). Porta 21 (pisos 3 e 4). Orchestra Informações: 220996331. Direcção Musical: Ray McVay. Orquestra Sinfónica Portuguesa Mário Laginha e Bernardo Lisboa. Coliseu. R. Portas St. Antão, 96, às 18h00 Carolin Widmann (violino) (portas abrem às 17h). Tel.: 213240580. 10€ a 45€. Sassetti Camarotes: 90€ a 216€. Peter Rundel (direcção) Carnaxide. Auditório Municipal Ruy de Carvalho. Obras de Haydn, Berg e Beethoven Centro Cívico de Carnaxide - R. 25 de Abril, lote 5, Coro Casa da Música às 22h00. Tel.: 214170109. 7€. Lisboa, Centro Cultural de Belém, dia 6, às 21h. Direcção Musical: Paul Hillier. Com The Original Glenn MMilleriller JJonathanonathan AAyerstyerst Depois de se ter apresentado em Orchestra (órgão).(órgão). Setembro com a Orquestra Nacional Porto. Casa da MMúsica.úsica. Direcção Musical: Ray McVay. Pç.Pç. MouzinhoMouzinho ddee do Porto na Casa da Música, a Figueira da Foz. Centro de Artesees e EspectácuEspectáculos.los. R. AAlbuquerque,lbuquerque, às violinista Carolin Widmann será a Abade Pedro, às 21h30. Tel.: 233407200.3407200. 3232,5€.,5€. No convidada do próximo concerto da Grande Auditório. M/6. Orquestra Sinfónica Portuguesa no Pedro Moutinho Centro Cultural de Belém. Com uma Espinho. Auditório. R. 34, 884, às 2121h30.h30. TeTel.:l.: predilecção pelo repertório do 227340469. 12€ (sujeito a descontos).ontos). Apresentação de “Um Copo de Sol”. século XX e pela música contemporânea, esta intérprete Orquestra Nacionall do alemã será dirigida pelo seu Porto e Orquestra compatriota Peter Rundel, também Gomo na Casa da Música

42 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon Carolin Widmannt interpreta o “Concerto à memória de um anjo” de Alban Berg

Mário Laginha e Maria João

ele especializado nestes universos e Bauhaus. Esta notável partitura da 2ª JörgJörg WiWidmanndm e Erkki-Sven Tüür, actual maestro titular do Remix Escola de Viena surge a par de duas que lhe foram for dedicadas. Tem Ensemble. criações de dois dos mais reconhecimento pelos serviços também trabalhado com outras 12h00. Tel.: 220120220. 5€. Passe Festival: 55€. Caroline Widmann interpreta o importantes representantes da prestados no âmbito da música figuras cimeiras da música Na Sala Suggia. Festival À Volta do belíssimo Concerto para violino e primeira Escola de Viena: Haydn, de contemporânea, Carolin Widmann é contemporânea como é o caso de Barroco. Bach Revisitado - obras de orquestra, de Alban Berg, também quem ouviremos a Sinfonia Nº 31 (“O uma presença assídua nas maiores Gyorgy Kurtág, Pierre Boulez ou Villa-Lobos, Palestrina, Bach e Kagel. conhecido como “Concerto à sinal da trompa”), e Beethoven, salas de concertos e festivais a nível Salvatore Sciarrino. O seu CD de Orquestra Metropolitana de memória de um anjo”, já que foi representado pela famosa Sinfonia mundial. O seu repertório estende-se estreia (“Reflections I”) foi “Escolha Lisboa escrito na sequência da morte, aos 18 nº6 (“Pastoral”). desde o classicismo vienense até ao do Ano” pela Associação de Críticos Direcção Musical: Augustin Dumay. anos, de Manon Gropius (1916-1935), Vencedora do Prémio Yehudi século XXI, incluindo obras de da Alemanha e no ano passado Com Eleonora Karpukhova (piano), filha de Alma Mahler e do arquitecto Menuhin (1998) e do Belmont Prize compositores tão importantes como lançou um registo com as Sonatas de Augustin Dumay (violino). Walter Gropius, fundador da da Fundação Forberg Schneider em Wolfgang Rihm, Matthias Pintscher, Schumann na editora ECM. C. F. Lisboa. CCB. Pç. do Império, às 17h00. Tel.: 213612400. 10€ a 17,5€ (sujeito a descontos). No Grande Auditório. Obras de Chausson e Saint-Säens. Carmina Burana Com Staatsooper Bourgas. Porto. Coliseu do Porto. R. Passos Manuel, 137, às 21h00. Tel.: 223394947. 15€ a 59€. Dia 9, é a vez do Coliseu do Porto. Kimi Djabaté Lisboa. Cinema São Jorge. Av. Liberdade, 175, às 22h00. Tel.: 213103400. 10€. Na Sala 2. Apresentação de “Karam”. Quarta 11 Kind Of Blue At 50 Com Jimmy Cobb (bateria), Wallace Roney (trompete), Vincent Herring (saxofone), Javon Jackson (saxofone), Larry Willis (piano), Buster Williams (contrabaixo). Lisboa. CCB. Pç. do Império, às 21h00. Tel.: 213612400. 15€ a 40€. No Grande Auditório. Black Lips + The Sticks Lisboa. Caixa Económica Operária. R. Voz do Operário, 64, às 22h00. Tel.: 218862836. 10€. Ver texto pág. 33

Zoetrope Com Rui Horta, Micro Audio Waves. Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Ed. da CGD, às 21h30. Tel.: 217905155. 20€ (sujeito a descontos). No Grande Auditório. Quinta 12 Extrawelt + Fiasco + Pinkboy & Pan Sorbe + Tiago Lisboa. Lux Frágil. Av. Infante D. Henrique, Armazém A, às 23h00. Tel.: 218820890. Consumo mínimo. Kind Of Blue At 50 Com Jimmy Cobb (bateria), Wallace Roney (trompete), Vincent Herring (saxofone), Javon Jackson (saxofone), Larry Willis (piano), Buster Williams (contrabaixo). Guimarães. Centro Cultural Vila Flor. Avenida D. Afonso Henriques, 70, às 22h00. Tel.: 253424700. 17,5€ a 20€ (sujeito a descontos). Passe Festival: 90€. No Grande Auditório. Guimarães Jazz 2009. Há cinquenta anos, o jazz via nascer uma das suas obras-primas: “Kind Of Blue”, de Miles Davis. Essa edição é celebrada num concerto liderado pelo baterista Jimmy Cobb, um dos músicos originais. Depois de passar pelo CCB (Lisboa), a 11 de Novembro, abre o Guimarães Jazz, dia 12.

A Orquestra de Glenn Miller em digressão

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 43 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

“Logos” é o disco de alguém que se parece querer despedir

Pop A morte, mesmo aqui

Canções fantasmagóricas, íntimas, habitadas pela ideia de morte, pelo americano Bradford Cox dos Deerhunter. Vítor Belanciano

Atlas Sound Logos XL Recordings, distri.PopStock mmmmn Discos Não é segredo que o americano Bradford Cox, líder do grupo Sadier dos Stereolab. Mas mesmo descomprometida) que teve depois tom diletante dos Doors, mas deriva Deerhunter e quando canta o amor, como em da dupla “Rejoicing in the para hard rock desavergonhado mentor do projecto “Sheila” (“You’ll be my wife and Hands”/”Niño Rojo”, de 2004. E (parece a versão “light” dos Led solitário Atlas share my life / We will grow old / nem precisou de mudar a banda que Zeppelin, e isso soa bem), enquanto Sound, sofre de uma doença And when we die we’ll bury o acompanha. “Foolin’” é um óbvio e feliz decalque genética rara, sem cura, síndroma ourselves / ‘Cause no one wants to Repare-se em “Angelika”, que se de “Revolution Rock” dos Clash. de Marfan. Normalmente os die alone”), é um rumor de morte, faz de uma enternecedora frase de Longe de ser um disco indivíduos com esta doença mais do que de vida, que se faz guitarra acústica, coros inocentes, fundamental, como é “Rejoicing in apresentam anomalias a nível ouvir. guitarra eléctrica a polvilhar a the Hands” (um dos melhores da esquelético. Quando se olha para a melodia principal. Canção dois-em- década), num mundo ideal “What capa de “Logos”, com uma foto de um, na primeira metade mete-se Will We Be” substituíria Jack Johnson Cox, percebe-se isso. Devendra pop pelo registo primaveril do melhor e os seus clones nas “playlist” das Ou seja, o próprio não faz segredo Donovan, deixando para a segunda rádios. O novo Devendra pop, que se do assunto e resolveu expô-lo. O parte cântico em espanhol e piano estreia numa multinacional, ficaria intrigante é que, em algumas Continua encantado com de bar de jazz de terceira categoria. certamente feliz e os cafés junto ar entrevistas que antecederam este os muitos caminhos da pop, Tudo coisas boas. lugares mais aprazíveis. disco, disse que este iria ser um Devendra vai saltando de mas soube conter-se e fazer objecto menos pessoal que o influência em influência, unindo Broadcast and The Focus Group primeiro, “Let The Blind Lead Those um bom disco radiofónico. tudo pela sua habitual atitude Investigate Witch Cults of The Radio Who Can See But Cannot Feel”, preguiçosa e veraneante. “16Th & Pedro Rios Age editado o ano passado. Valencia, Roxy Music” emula o glam Warp; distri. Symbiose Não é. “Logos” é o disco de Devendra Banhart rock da banda de Bryan Ferry, na alguém que se parece querer sua encarnação mais acelerada – no What Will We Be mmmmn despedir. É um disco interno. É o Warner inícioc o da década nãoão imaginaríamosag a a os disco de alguém que corre contra o o então trovadortrovador Ao contrário do que tempo – nos últimos dois anos, é o mmmnn barbudobarbudo o título do disco quinto álbum onde participa, para envolvidoenvolvido possa dar a além das inúmeras gravações “Hippie”,“Hippie”, o lugarlugar-- nestes entender, os originais que regularmente deixa no ccomumomum qqueue debochesdeboches Broadcast e o Focus seu blogue pessoal. E é um álbum aassociamosssociamos a dede ritmoritmo,, o Group não resgatam belo. DDevendraevendra que, só ccânticosânticos folk inóspitos, antes se É inevitável não pensar num outro BBanhart,anhart, e por si, é ddedicamedicam a reproduzir os sons longa-duração de recantos privados, “d“disci-isci- de vvagamenteagamen fantasmagóricos que em disco solitário de quarto, “Person plina” não são palavrasvras qqueue saudar.saudar. ttemposempos ssurgiam na rádio, numa Pitch” de Panda Bear dos Animal costumem andar dee mãos “Rats”““Rats” ccolecçãoolecção de vinte e tais micro-temas, Collective, até porque este colabora dadas. Mas, assumindondo o risco ddee lembralel mbra o qque,ue, na maiorm parte das vezes, não num dos temas. Com essa obra sermos apelidados ddee se aproximaaprox do registo canção: partilha o desejo de procurar novas reaccionários, proclamemos:clamemos: pproduzem-seroduze sons estranhos ou soluções sónicas, compostos de bendita disciplina. É graças a elaela ddissonantes,issonan linhas mínimas que melodias, psicadelismos, ruídos, que “What Will We Be” é o DUKOFF LAUREN ppodiamodiam tert pertencido a bandas- guitarras em alegre distorção e que “Smokey Rolls Down sonoras de terror, etc. Mesmo crepitações difíceis de catalogar, Thunder Canyon” nãonão qquandouando háh instrumentos suficientes para moldar canções vaporosas e conseguiu ser. Faltavamavam papparara crcriari harmonias, estas não são fantasmagóricas. direcção e ideias fortesrtes conduzidascondu à perfeição formal É um disco habitado pela ideia de ao disco anterior. traduzíveltrt adu na palavra “canção”. E morte, como se Bradford Cox a Devendra encontroutrou quandoquq an há canções, tudo é projectasse, mesmo quando parece uma nova concisão pop deixadodeix num estado semi- ser o sentido luminoso da existência e uma forma mais indeterminado,ind como um que nos é devolvido. Mesmo quando coerente de agarrarr a casacoca que permanecesse ouvimos as harmonias solarengas de explosão criativa (àà folfolkk comc os alinhavos e sem as “Walkabout”, magnífica canção com juntou a Música Popularpular costurasc finais. Cria-se, Panda Bear, ou galope obsessivo de Brasileira, o funk, a pop portanto,p uma psicadélia “Quick canal”, com a voz de Laetitia mais Devendra encontrou uma nova concisão pop estilhaçada,es um compêndio

44 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon Broadcast and The Focus Group: um compêndio de bizarria assombrada

Mocky:uma improvável associação entre música de elevador, o legado de Chet Baker e a bossa instrumental

de bizarria assombrada servido por uma interminável paleta sónica onde cabe tudo, desde flautas a sons de gaivotas passando por emuladores de theremin. Isto é pouco? Não: para quem tem verdadeiro prazer nas arcas perdidas do som, isto é muito. Mas fica a sensação de que com um pouco mais de trabalho estaria aqui um espantoso disco pop. João Bonifácio essencial, embora trabalhada em como o delicioso “Golden dream”. camadas – às vezes como se fosse Os instrumentos de base são o Matias Aguayo mais um, ou vários, instrumentos – piano, órgãos, flautas e percussões, por entre cânticos, ambientes, a sonoridade de fundo é um jazz Ay Ay Ay Kompakt, distri. Flur ritmos e elementos exóticos. O que é lounge, suave e lânguido. Por vezes mais incrível é a justeza emocional resulta em cheio, como em mmmmn com que tudo é feito. É uma música, “Pepecito”, progressão de piano simultaneamente, de celebração e dobrada por órgão vintage, na Em tempo de contenção aquela que se nos bossa-jazz de “Music to my ears”, ou transformação na apresenta. Reconhecemos traços, na soul tépida com assobio de “Birds forma como é nada evidentes, de outras músicas of a feather”. Da delicada melodia de produzida, (Villalobos, Panda Bear, Talking xilofone “Little journey” pode dizer- consumida e Heads, AR Kane, TV On The Radio, se que devia ter sido escrita há distribuída a M.I.A.) e de diferentes continentes muitos anos de modo a ser usada música, é cada vez mais difícil (África, Europa, América Latina) como BSO de um filme com Audrey encontrar álbuns que se ouvem sem se fixar em nenhum lado em Hepburn. Mas aqui e ali Mocky como obra inteira. Quando se ouve particular. Como o errante Matias resvala para molezas excessivas, e um disco com essas características, Aguayo, é um disco em trânsito, mas “Saskamodie” fica em fundo, proveniente de alguém conotado de consistência inabalável. Uma discreto, como um papel de parede com o universo tecno, a surpresa é grande surpresa. Vítor Belanciano a que nos habituamos mas que não maior. É verdade que o chileno nos apraz sobremaneira. J. B. Matias Aguayo não é o vulgar DJ e Mocky produtor que se limita a animar Saskamodie The Sticks pistas de dança ao fim de semana. Crammed; distri. Megamúsica The Sticks Mas mesmo assim é difícil não se Upset The Rhythm ficar de boca aberta depois de se mmmnn ouvir “Ay Ay Ay”, o seu magnífico mmmnn novo álbum. É muitas vezes Em “Saskamodie”, comparado ao compatriota Ricardo Mocky deu uma Imagine-se que Villalobos, pela forma como cruza volta de 180 graus: uma banda elementos da electrónica alemã com substituiu samples contratada para motivos percussivos que associamos e laptops por animar um baile de à América Latina. Mas as instrumentos finalistas de liceu comparações ficam-se por aí. Isto é analógicos, criando uma improvável decidisse, à última outra coisa, obra total, intrigante, associação entre música de elevador, hora, rasgar os fatinhos janotas, canções semi-electrónicas de o legado de Chet Baker e a bossa trucidar as covers que tinham estrutura pop, onde a voz é instrumental, notória em temas preparado para animar a boa juventude e subir a palco com trajes bizarros, um olhar sardónico no olhar e canções que faziam a festa, mas não exactamente aquela que o povo atónito que os fitava esperava. Os Sticks, em canções de minuto e meio, dois minutos, revolvem com inegável prazer e iconoclastia controlada – a sua música é dança, furiosa, mas dança – a energia primordial do garage “Nuggets”, o negrume subterrâneo do pós-punk e a exuberância rock’n’roll de uns Cramps. Num momento temos perante nós o groove desértico que Captain Beefheart legou à Humanidade, no segundo seguinte ergue-se um “rave up” orgástico, posto este atiram-nos para paisagens Matias Aguayo: uma música, sónicas de neurótica desolação. simultaneamente, de celebração e contenção Tudo muito intenso, tudo a

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 45 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Discos

The Sticks: tudo muito intenso, tudo a passar-nos Clássica pelos ouvidos em fl ashes sucessivos A arca dos instrumentos

Um mesmo projecto artístico, com base numa colecção histórica de instrumentos, resulta em registos que oscilam entre a excelência e a mediocridade. Rui Pereira

Rameau passar-nos pelos ouvidos em agora nenhuma dessas tentativas Les Indes Galantes flashes sucessivos. A mutação é (Electronic, Other Two, Revenge, Christophe Rousset, constante e não há tempo para nos Monaco, etc) surtiu grande efeito e cravo acomodarmos onde quer que seja. não parece que os Bad Lieutenant Ambroisie AM152 Extenuado, o público do baile de venham contrariar essa tendência. finalistas imaginário ainda não sabe Ideia de , na mmmmm bem ao que acabou de assistir. A companhia de Phil Cunningham banda sente que, desta vez, fez o seu (que substituíra Gillian Gilbert nos Le Salon de trabalho. Não mais vestirá fatinhos New Order), o álbum conta ainda Musique de janotas. M.L. com as colaborações do baterista Marie-Antoinette dos New Order Stephen Morris e de Sandrine Chatron, dos Blur. Os Bad Bad Lieutenant harpa e direcção Lieutenant são assim uma espécie de Never Cry Another Tear Ambroisie AM179 Triple Echo, distri. Nuevos Medios New Order, sem o baixo de Peter Hook e, principalmente, sem a mmnnn mmnnn inspiração e as canções daqueles. “Never Cry Another Tear” é um A ideia, seguindo os princípios da Periodicamente os disco assente em canções pop interpretação historicamente New Order electrónicas com guitarras, que tem informada, é excelente. Dar a desencantam-se sido a marca registada do grupo de conhecer a colecção do Museu de uns com os outros Manchester nos últimos anos, mas Instrumentos da Cité de la Musique, – em particular numa veia inconsequente e em Paris, através de gravações de Bernard Sumner e fastidiosa. Uma espécie de New repertório ajustado a esses mesmos Peter Hook – e desactivam o grupo, Order, mas em versão exemplares. Acontece que, encetando outros projectos. Até requentada. V.B. dependendo do repertório e dos

[email protected] Bad Lieutenant: uma espécie de New Order, mas em versão requentada

46 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon Tinha tudo para correr mal. em modo loop, de uma coisa aos XX. “XX” é um disco monumento colossal dos Quatro teenagers – ou perto estou certo. O prémio para com doses tripartidas Young Marble Giants e onde Espaço disso – ainda perseguidos a melhor estreia do ano de de hipnose, celebração e delírios fílmicos de David Público pelo acne juvenil, o aspecto 20092009 deve ser entregue melancolia,mela onde um groove Lynch são projectados em Emo que faz lembrar uns sonambulescoson se deixa paredes nuas. Um curto Cure só que bem vestidos, levarlel por teclados que poema, atravessado por uma formação tradicional arranhama e guitarras lágrimas e risos, a que – bateria, baixo, teclas, queq parecem estar num ofereço 9 letras X (em 10). guitarras e vozes – e mais praiap longínqua a domar Pedro Miguel Silva, Técnico um daqueles discos de ondaso de uma altura de Comunicação, 35 anos lamentos sobre o estado respeitável.re Penso numa Blog: http://fusco-lusco. do mundo e a dor da alma. casaca assombrada pelas blogspot.com Porém, depois de dias guitarrasgui lacrimejantes de passados a escutar “XX” ChrisChr Isaac, vigiada pelo

nossos dias assemelha-se a uma O baterista Marco Franco audição escolar de um conservatório secundário. A música, essa, varia de qualidade. Petrini (solo de harpa), Gluck (com harpa e tenor), Krumpholtz (soprano, violino e harpa), Cardon, Dauvergne, uma curiosa Sonata para harpa e flauta do Cavaleiro de Saint-George (conhecido como o Mozart negro e geralmente associado à estreia das Sinfonias Paris, de Haydn, que dirigiu), um romance da própria rainha, uma chanson célebre de Mozart, um pouco mais de Dusik, de Paisello, Martini, Grétry… e uma Uma das curiosa peça de Mozart para grandes obras harmónio de vidro. Tudo muito instrumentais interessante mas, para quem do período aguentar até ao fim, apenas isso. Barroco, a ópera-bailado “Les Indes Jazz Galantes” de Jean-Philippe perfeitamente funcionar como de horário nobre. Por outro lado, Rameau Lounge-pop- genéricos de programas televisivos, esta música corre o risco de ser desde séries românticas dos anos eventualmente confundida com jazz-qualquer- 80, até desenhos animados “música de elevador”, mas vale a coisa irreverentes ou mesmo concursos pena arriscar nesta corda-bamba. iintérpretes,ntérpretes, o rresultadoesultado é muito variávevariável,l, Um inclassificável projecto ooscilandoscilando entre a exceexcelêncialência e o nacional de instrumentais amadorismo. a “Nouvelle entrée: les Sauvages”, Coube a Christophe Rousset dar a demonstra um refinamento lúdicos. Nuno Catarino conhecer o cravo do construtor Jean- polifónico e um domínio rítmico que Mikado Lab Henry Hemsch, construído em Paris demonstram a genialidade da obra e Coração Pneumático em 1761, através da transcrição para a excelência do instrumento na qual Ed. autor tecla de uma das grandes obras a reproduz. instrumentais do período Barroco, a Sandrine Chatron, por sua vez, mmmnn ópera-bailado “Les Indes Galantes” teve que retratar um sarau musical de Jean-Philippe Rameau. O no salão de Marie-Antoiniette. Os Mikado Lab são primeiro facto que ressalta desta Parecendo ser esta uma ideia um original gravação é a excelência da escrita de encantadora, a verdade é se projecto liderado Rameau que mantém intactas as transforma rapidamente num serão pelo baterista texturas orquestrais originais na sua aborrecido e difícil de digerir. Marco Franco, versão para cravo. Rousset é um Porventura, é próximo do que onde participam intérprete magnifico e, ao longo dos seriam os serões musicais da Ana Araújo (teclados), André Matos quatro concertos e nobreza francesa no (guitarra eléctrica) e Pedro século XVIII, mas a Gonçalves (contrabaixo). Os músicos experiência vêm do jazz - até o contrabaixista transposta dos Dead Combo por lá passou - mas para os esta música não se fica por aí. As referências são múltiplas e juntam- se numa caldeirada onde há pop, electrónica, rock e, claro, também jazz. Seria inevitável falar em “fusão”, mas esta música foge a etiquetagens fáceis: na maior parte das vezes os ambientes criados pelos teclados funcionam como base sobre a qual entram os complexos desenhos rítmicos, sobrando para a guitarra uma função complementar de “coloração”. A presença dos convidados vem acrescentar um brilho especial: o jovem saxofonista José Pedro Coelho Sandrine Chatron tem um bom solo (“Apanha retratou um sarau Monstros”), Bernardo Sassetti musical no salão cintila ao piano no tema “O de Marie-Antoiniette Passado foi Agora” e até o cineasta Edgar Pêra entra na brincadeira, acrescentando “efeitos especiais” à última música do disco. Lúdicas, as músicas dos Mikado Lab poderiam

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 47 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Entrevista canaliza as doações que permitem a 74 anos, falava de “Passagem para a Ficção subsistência da “Paris Review”, cujo Índia” (1924) como se tivesse actual editor é Philip Gourevitch. acabado de o escrever na véspera, O círculo O melhor da “Paris Review” acaba discorrendo sobre as grutas de O fi m das coligido em volume. E foi a partir Marabar com a desenvoltura dos das duas compilações de entrevistas, iniciados. Quinze anos mais tarde, de George feitas em 2006 e 2007, que Carlos Kerouac não tem telefone em casa. A ilusões Vaz Marques seleccionou, traduziu e entrevista (a mais longa do volume) Plimpton anotou as dez que compõem esta tem de ser marcada com meses de É um clássico moderno das edição: E. M. Forster, Graham antecedência. É o exacto oposto do Greene, William Faulkner, Truman estilo “controlado” de Forster. letras nórdicas. Oscilando A “Paris Review” inventou Capote, Ernest Hemingway, Verdade que Kerouac tinha apenas entre a sátira social e a a entrevista literária, Lawrence Durrell, Boris Pasternak, 46 anos e era obrigado a aturar tragédia, o autor aborda a síntese da inteligência e do Saul Bellow, Jorge Luis Borges e Jack Stella. À laia de justificação da solidão que sobra quando as “glamour”. Dez amostras Kerouac. Tenho pena que Elizabeth torrente confessional, Kerouac cita Bishop, T. S. Eliot, Dorothy Parker e Goethe e Dostoievski, precursores, ilusões acabam. José Riço exemplares. Eduardo Pitta Vladimir Nabokov não façam parte diz ele, de Neal Cassady, o amigo Direitinho da selecção, mas não se pode ter imortalizado como Dean Moriarty, Entrevistas da “Paris Review” tudo. Carlos Vaz Marques escolheu personagem central de “Pela Estrada Pudor e Dignidade VV.AA. bem, apesar de ter deixado de fora Fora” (1957). Sucede que o Dag Solstad

Livros /Selecção, trad. e notas de Carlos todas as mulheres: Bishop, Parker, manuscrito da “Carta de Joan (trad. do norueguês por Liliete Vaz Marques) Didion, Morrison, Welty, etc. Anderson” foi literalmente pela Martins) Tinta da China Também é pena que cada entrevista borda fora. Aspecto desconcertante Ahab Edições, € 16, 60 não venha antecedida de breve nota é verificar como Kerouac já estava mmmmm biobibliográfica. Afinal, quantos “datado” em 1968: “Allen [Ginsberg] mmmmm leitores portugueses sabem, hoje, já tinha escrito no jornal que eu não Ao contrário do que quem foi Edward Morgan Forster ou estava a dormir lá porque andava a Os primeiros três o título sugere, mesmo Boris Pasternak? tentar comê-lo, mas era ele que me títulos de uma nova “The Paris Review” Logo a abrir, Carlos Vaz Marques andava a tentar comer a mim. Mas editora – Ahab é uma revista anota: “As entrevistas da ‘Paris naquela altura, de facto, estávamos Edições, com sede literária de Nova Review’ são o mais extraordinário só a dormir. Depois disso ele no Porto – Iorque, fundada em arquivo do fascínio que uma arranjou uma almofada...” chegaram 1953 por um grupo entrevista literária pode alcançar. Nos antípodas dos estilos recentemente às de amigos (Harold Mais do que isso: são a invenção “bloomsberrie” (Forster) ou “beat” livrarias. E o L. Humes, George desse fascínio.” Exactamente. Como (Kerouac), Truman Capote faz prova catálogo começa Plimpton, William Pène du Bois e poucas, estas conversas fazem a de precocidade: aos 10 anos bem: “A Ilha”, de Giani Stuparich, outros) que convenceu o príncipe síntese da inteligência com o concorreu a um concurso de escrita “Pergunta ao Pó”, de John Fante, e Sadruddin Aga Khan a financiar o “glamour”. A edição portuguesa infantil com uma espécie dee “roman “P“Pudorudor e Dignidade”,Dignidade” projecto. Não cabe aqui fazer a sua cobre os 15 anos que vão de 1953 à clef” que apresentava comomo ficçãoficção dod noruenorueguêsguês história. Dizer apenas que foi nas (Forster e Greene) a 1968 (Kerouac). um escândalo local. A tramóiaóia foifoi DagDaD g Solstad.Solstad. suas páginas que, entre muitos mais, Embora houvesse muito por onde descoberta, o prémio foi à vida.vida. Este últimúltimoo se estrearam Adrienne Rich, Philip escolher, nenhum autor vivo foi Nessa altura percebeu que qqueriaueria ser título é jájá umum Roth, V. S. Naipaul, Peter contemplado. É, digamos, uma escritor. Em adulto, tirou desforra.esforra. clássico Matthiessen, Jeffrey Eugenides e selecção clássica. Não é por acaso que destacoaco modernomoderno da Truman Capote é um dos Italo Calvino. O mesmo se diga das Um dos aspectos mais Forster, Kerouac e Capote. DDosos trtrês,ês, literaturaliteratura 10 entrevistados da “Paris primeiras traduções de Samuel interessantes da leitura é a Capote consegue ser o mais escandinava,escandinava, e o Review” seleccionados Beckett em língua inglesa. O Círculo percepção da passagem do tempo. transgressor e, do mesmo passo,asso, seuses u autorautor – por Carlos Vaz Marques George Plimpton, entretanto criado, Em 1953, ainda Forster, então com o mais didáctico. Forster e tambémtat mbém Kerouac estão ambos, cada dramaturgodrd amaturg um à sua maneira, ocupadoss com o próprio umbigo. Capote disfarça muito bem. Disfarça tão bem que parece ser ele (e não Forster) o autor de “Aspects of the Novel” (1927). Ouvi-lo discretear sobre “as rédeas estilísticas e emocionais” doo texto, a técnica do conto, as primícias literárias, influênciascias e desaires, releva do puro virtuosismo. Clichés óbvios?? Seja. Repetir as vezes todas queque forem precisas: “Encontrar a forma certa para a nossa história é pura e simplesmentente descobrir qual o modo maiss natural de a contar. [...] A escrita tem as suas próprias leis da perspectiva, de luz e de sombra, tal como a pintura ouou a música.” Estas “Entrevistas da Pariss Review” pertencem à Dag Solstad não escreve para categoria de livros que lemosos o grande público dos “best-sellers”, uma e outra vez, as suas histórias, bem pensadas descobrindo sempre coisas e arquitectadas, pedem novas a cada leitura. tempo de leitura

48 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon – é um dos mais reconhecidos e continuar o raciocínio que achara da “mudança dos tempos”, que mais Ciberescritas premiados das letras nórdicas. Dag ter descoberto no início. Entretanto, não são do que o da morte das Solstad (n. 1941) não escreve para o os alunos começaram a sair da sala ideologias, das utopias, a notícia de A Turma da Mónica grande público dos “best-sellers”, as sem lhe darem qualquer que o Homem ficou privado de suas histórias, bem pensadas e importância, apesar de ele estar esperança, mas não sem exercitar o arquitectadas, pedem tempo de ainda a falar. Para se acalmar iria sair seu lado de crítico social e político. leitura; contudo, não é um autor da escola. Começara a chover, e ao “Para encontrares aquilo que tem lguém se lembrou de misturar a Turma da hermético nem difícil. Até aos anos atravessar o pátio decidiu abrir o algum significado para ti, tens de Mónica (sim, aquelas histórias de BD que se 80 foi membro do AKP, o partido guarda-chuva – que não funcionou. vasculhar no meio de uma compravam nos quiosques e estavam ao lado comunista maoísta norueguês, e “Agora tinha atingido o limite. estrumeira de interesses económicos Ados Tio Patinhas) com as potencialidades da alguns dos seus livros chegaram a Apressou-se em direcção ao (…) E chamam a essa estrumeira Internet e assim nasceu “o primeiro editor gerar forte controvérsia. As suas bebedouro e bateu com o guarda- democracia. (…) E pode ser que online de histórias em quadradinhos do Brasil”. No personagens habituais são quase chuva na pedra num acesso de fúria tenham razão, reflectiu. Talvez já portal a Turma da Mónica “fãs de todas as idades” sempre professores, filósofos, selvagem. Bateu e bateu com o não acredite na democracia.” podem criar as suas próprias histórias, usando escritores, homens solitários à guarda-chuva contra o bebedouro Elias Rukla é um homem Isabel personagens, cenários, objectos e “balões” do universo procura de um sentido para a vida, (...) atirou o guarda-chuva ao chão e anacrónico que, preso à sua rotina e Coutinho da Turma da Mónica. vidas a que, na bem organizada começou a saltar-lhe em cima antes a uma certa mediocridade, não se As histórias, depois de lidas, podem ser votadas por sociedade escandinava, auto- de usar o calcanhar para tentar apercebeu que o discurso do mundo todos os visitantes do portal e as melhores poderão até satisfeita, aparentemente nada falta. desfazê-lo.” À sua frente estava uma estava a mudar. Que aquele mal- ser publicadas nas “revistas da Turminha”. É a glória Mas que por outro lado parece viver rapariga que o olhava admirada. Ele estar que sentia não se devia a ter para qualquer aspirante a autor de BD. numa ilusão controlada, numa gritou-lhe: “Imbecil! Come a tua ficado até tarde na noite, entre E avisam: “Para criar suas histórias, não é preciso espécie de hipocrisia piedosa em comida, gorda sebosa!” cervejas e “aquavit”, mas que era pagar nada: um pacote de imagens gratuito está sempre que a célebre frase do dramaturgo Era o fim de vinte e cinco anos de um sinal. “É terrível, mas não há disponível para todos os participantes cadastrados. Henrik Ibsen (tornada central por actividade como professor. Não mais caminho de volta.” E para ler e votar nas histórias do portal, não há Dag Solstad) continua a fazer sentido voltaria a leccionar. Caíra de forma necessidade nem de cadastro!” No portal Máquina século e meio depois de ter sido irremediável. Como iria ele contar à de Quadrinhos têm disponíveis assinaturas (mensais escrita: “Prive o homem comum da mulher?, foi um dos seus primeiros Paradoxo do ou anuais) e para esses haverá pacotes com imagens sua mentira vital e ter-lhe-á roubado pensamentos. Mas o autor não nos exclusivas. Criar uma história no “site” é muito fácil, vão a felicidade.” diz e dá início a uma longa analepse explicando passo a passo. Em “Pudor e Dignidade”, Solstad (até ao final do livro) em que nos comediante O criador da Turma da Mónica, Maurício de Sousa, 74 conta-nos a história de um dia (o conta a vida de Rukla nos últimos 30 anos, está este ano a comemorar os 50 anos de carreira decisivo) da vida de Elias Rukla, um anos. Por vezes, a estrutura A ficção é uma ilusão, e algumas das tiras que foram feitas já pelos leitores professor de norueguês no ensino narrativa parece acompanhar o referem isso e também dizem coisas como “aprendi a secundário, com pouco mais de 50 pensamento em movimento, em uma forma de imitação da gostar de ler com suas histórias”. de idade, ancorado na rotina diária, “danças de roda” em que as frases realidade, mas em “Ilusão” O portal inaugurou há um mês e até agora já foram ligeiramente alcoólico e (ou segmentos destas) se repetem a própria realidade é uma criadas 57 mil histórias e os internautas acederam ao amargurado, obediente à como se fossem parte de uma “site” a partir de 62 países diferentes. E a votação dos engrenagem social, casado com uma estrutura musical, obsessiva e imitação barata. Pedro internautas já fez com que dois dos trabalhos ali criados mulher que foi “indescritivelmente circular, muito à maneira do Mexia fossem publicados na revista da “turminha”. bela” e a quem já pouco mais diz do austríaco Thomas Bernhard, O ano passado, Maurício Sousa lançou a Turma da que “tem um bom dia”. Numa levando a que, por vezes, narrador e Ilusão (ou o que quiserem) Mónica Jovem. No “site” dedicado ao projecto, o autor segunda-feira de Outubro, caminha personagem se confundam num Luísa Costa Gomes de BD explica que eram os habituais minutos entre a casa e a processo muito próximo do “fluxo Dom Quixote Quem estiver inscrito muitos os leitores que lhe escola, e diante de uma turma do de consciência”. Mas também Knut pediam para ver a Turma último ano começa a analisar a obra Hamsun – um dos pilares da mmmnn no site pode mais “crescidinha”. Fez “O Pato Selvagem”, de Ibsen. Havia literatura europeia, e nórdica em pesquisas e estudou “para vinte e cinco anos que ensinava particular – está presente, não “Ilusão (ou o que descarregar um PDF e unir” o estilo mangá com o do aquele drama, mas naquele dia teve apenas em referências feitas no quiserem)” traz a seu estúdio e fi cou bastante a fugaz sensação de estar a descobrir texto, mas nas privações (modernas) seguinte indicação: ver a edição número feliz com o resultado. qualquer coisa que nunca tinha vividas pela personagem central nas “romance (ou o que Decidiu fazer histórias a notado nas suas anteriores análises. suas deambulações ao acaso, quiserem)”. Este “o zero da Turma da preto-e-branco (como na Nunca compreendera bem o que quando atormentado pela sua que quiserem” Mónica Jovem. Há BD japonesa) mantendo as uma das personagens (o “Dr. condição de ser social que já nada representa a fluidez principais características das Relling”) tinha a ver com a peça. Os tem para dizer. “Já nem sequer sabes do romance como imagens inéditas personagens (Mónica, Magali, alunos olhavam-no aborrecidos. falar, porra. Quando foi a última vez género já pouco Cebolinha, Cascão, Franjinha) Para Elias Rukla isso não era que tiveste uma conversa? Deve ter codificado e a propensão lúdica, mas com algumas mudanças. Avisa que Mónica “já não estranho, apenas uma consequência sido há anos, pensou, duas características que é mais aquela menininha de vestidinho vermelho que natural da sua imaturidade. A aula meditabundo.” conhecemos dos romances de Luísa corria atrás dos garotos com um coelhinho. (...) Ainda prosseguiu quase até ao fim, até ao Dag Solstad, neste romance, Costa Gomes. Lembremos que a é um pouco dentucinha, mas deixou de ser baixinha e momento em que ele se apercebeu assume o papel de uma espécie de escritora alternava a narrativa de gorducha faz muito tempo.” que não estava em condições de cronista que vai anotando os sinais “Olhos Verdes” (1994) com um Máquina de “É preciso estar atento aos jovens à nossa volta”, Quadrinhos escreve Maurício Sousa na mensagem de boas-vindas. http://www. “Com o tempo, pretendemos abordar questões maquinadequa- pertinentes à adolescência, como namoros, sexo e até drinhos.com.br drogas. Mas de uma maneira muito bem estudada. Como se fosse de pai para fi lho”, concluía. Turma da Móni- Quem estiver inscrito no site pode descarregar um ca Jovem PDF e ver a edição número zero da Turma da Mónica http://www. Jovem. Há imagens inéditas turmadamonica- Ao jornal brasileiro “Folha de São Paulo” explicou que jovem.com.br/ em 2010 vai diminuir a carga de trabalho. “Quero fazer outras coisas. Montar uma empresa de pesquisa, uma (Ciberescritas fábrica de ideias, um escritório de invenções, marcas e já é um blogue patentes, alguma coisa não ligada a quadrinhos”, disse à http://blogs. “Folha de São Paulo”. publico.pt/cibe- rescritas) [email protected]

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 49 estas mais parecem mais estas mas criativa, escrita frequenta aulas de escrever e umapeça vão. Jorge tenta 19-20). Tudoem (págs. educar” entreter e que pudesse mesmo cómica, divertida, também reflexiva, mas profunda, séria, grave, enfim, umapeça queríamos, não elitistas; contemporâneos, mas queríamos conteúdos trabalho decorpo; podíamos deixarparatráso da palavra, masnão daelocução, ao nívelnosso trabalhodepesquisa o público;queríamos continuar o experimental, masque nãoafastasse subsídios: “Queríamos algo beckettianas” dos eadança companhia, entre “coisa infrutíferossérie de“projectos” da patuscos, eoverdadeiro teatro éa falhadose comediantes igualmente um grupodeteatro, constituídopor locuções, anúncios. Jorge coordena quarentão que vive debiscates, vida deJorge actor Cochonilha, descosidos eimplausíveis, cenasda eprogressivamentemenos pícaros, ou mais sucessão deepisódios Oromance barata. éuma imitação própria e realidade éumaimitação, realidade, masem“Ilusão” a da ilusão, umaformadeimitação por ondequiserem. liberdadesenão umatotal deirem Gomes dos romances Costa deLuísa devemos Nunca esperar feminista. aventuras, vagamente emreescrita é umpastichedosromances de recenteque omais “A (2006) Pirata” 50 participantes alarves deconcursos televisivos iletrados, actores denovela ineptos,manequins semexpressão, Portugal, naescrita deLuísa Costa Gomes,éumpaísdefutebolistas m v e fl r c cre of É evidente que a ficção éuma É evidenteque aficção o n ensaio sobre ofilósofoBerkeley, e o u •ÍpsilonSexta-feira 6Novembro 2009 t f e e e 2 q b as mais as mais • Í ertida ia, smo c im, uma peça im, umapeça rita criativa, mas criativa, rita re exiva, mas exiva, . Jorge tenta tempor e pu r ríamos conteú 0). Tudoem car” (págs. car” bém uenta aulasuenta de alho decor unda, í p v t amos, l g itistas; itistas; er e silon •Sexta er Livros d rave, esse um ó ,

mica p â arecem neos, mas a p , p eça

o; -f d ffe e e e e os iirair rar a 6 6 NovNNo ov embem mbm b ro ror o o Público Espaço 200220 000 0 9 tornou tudoumarepresentação, aliás, já Second Life.Atecnologia, no mesmo umafamíliavirtual amantes, paixões inconclusivas, e teatro. da aula”. Teatro, teatro, tudoé construtiva noambiente deinserção interdisciplinar [uma] estratégia “operacionalizar transversalmente redundância) etemdeaprender a (passea liceal problemática porque éprofessora deumaturma oseuteatrotambém doquotidiano, mulher deJorge, Teresa, vive reiki Deresto, eamacrobiótica. a elanãoseentretémenquanto como mas umcontratodeentediados, credível. sexual, Nãoéumafantasia comonumaoportunas, peça verdade efrases emocional bom desenhodapersonalidade, um psicológica, motivação preciso É que osmantenhamcasados. “guião”. estratagemas Cozinham de com aesposaumaespécie oprotagonista combina por isso narotina enodesinteresse,caiu e vive omaiorteatro. Ocasamento sessões deterapiaparasuburbanos. Enquanto isso,Enquanto Jorge vaitendo vida,porém,É nasua que Jorge toda agente manda“e-mails” e toda agente manda“e-mails” e massificação mais a mais massificação massifica capitalismo éa capitalismo c mensagens detelemóvel a me apita electricidade, o electricidade, el toda ahora,andapelo to ectrici nsa mundo e percorreu que jornalista França, vive em actualmente libanês que Amin Maalouf sem regras”, de O livro “Um mundo televisivos. Seo t sovietes a mais comunismo eraos s co elevisiv Youtube, tem YoY ov d alarves deconcursos alarves al Internet. Etodos Internet. I l nternet. Et nternet. ismo éa ismo a mun participantes participantes avatares. Portugal, participantes avatares. Portugal, g a utu i expressão, deLuísa na escrita expressão, n ç ens rves etes ma manequins sem é Gomes, Costa mane Gomes Costa ão mais a ão mais de novela ineptos, iletrados, actores de um país de novela ine iletrados, actores u a escrita deLuísa a escrita futebolistas futebolistas f d h uteb m país m país b a ora, an i d sm o d e, tem d e te s. e, o q e c o o u S list i er s a e l i o emóve ns sem d o d ncurs o a e a d a pe

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p é l tos, o l o a s chega aserreflexiva.chega Nopalcotenho enão demais presentes, ouécurta aperplexidade entrelança os e Ouélongademais oportunidade. pausa. Nãotenhoosentidoda Eunãofaçobema imperfeita. própria vida:“Tive umapausa interpretar bemasua conseguiu teatros,tantos Jorge, oactor, nunca topo nemrecuperou aalma.Entre aotopo enãochegou ao para chegar comediante éque vendeu aalma domicílio. Oparadoxo do e umaempresa deteatro ao multimédia” numa terreola duriense incluindo um“centro cultural e todososteatros fracassaram, deJarry.tradução aofim Chegamos (notável) fezasua enquanto escreveuGomes esteromance vezes Costa pensamosque Luísa anarquicamente construídos,às último terço exagera, comcapítulos masno continuidade dramática, escolhida. interpretam elesmesmosapeça e osactores burgueses dispensam 177-178). que Enofimdisto, os eis deixado espaçoentre asfalas”(págs. contrapôs opai.Falavam baixo, porEurípidesaosoitenta’ escrita ‘Compare com“Ifigénia emÁulis”, produção póstuma’ ofilho. disse primeiro prémio. Também escreveu aosnoventa anos.Também “Édipo emColono”, que Sófocles prémio’ opai.‘Compare disse com “Ifigénia emÁulis”, primeiro primeiro“Bacantes”, prémio; “Hipólito”, primeiro prémio; palmarés deEurípides.’ ‘Mas Troianas”, prémio; o segundo eis “Medeia”, terceiro prémio; “As ‘“Alcestis”,ataque: prémio; segundo “O velho filhomais voltou ao que que querem peça discutir ver: burguesiaa umafamíliadaalta Eis estapafúrdias eastiradasinsólitas. asdiscussões falas misturadas, cómicos, sobretudo ojogo comas e dominaosdiferentes registos conheceomeioqueGomes satiriza, divertidas.peripécias Costa Luísa Isso ébom,contemporâneo.” “Você temqueda paraogrotesco. dizaprofessoraComo deJorge: e“‘outputs’“valências” criativos”. de falam umanovilíngua feita tantos teatr tantos topo nemr p comediante d e umaem m i e todosost de tradução en Go vezes pensa a ú continuidad esc i b 1 che p lan oportunida p i p i conseguiu pelas costas. Otextopelas costas. faz-memedo. p mper nc nterpretam Provavelmente étudoassimna Provave 77-178). En narquicam esse mesmíssimo problema,esse mesmíssimo em esse mesm ur omicílio. l resentes, ró ara c ausa. Não elas costa timo terç u minha vida” (págs.153-154). min “Ilusão” abdica à partida da “Ilusão” àpartida abdica O alvo éjusto, eas mesmosefácil, “ q virtude doque serei nunca virtude um v mes escr l ç o l Ilusão” p g g uin uanto fe uanto timé irtu a per lhid ueses grande actor –nãodominoa grande actor g a ser ria vid que euquero sobretudo évê-lo q rande h f h ue eu eita. eita. ansiedade que o silêncio me ansiedade que osilêncio a d a vid e d nsie o Ocidente, éumbom que sente oOriente e o u a d g l causa. Mal acabo umafrase, causa. Malacabo ca e m . ar i p prazer que ele medê,o pr já me está asairoutra, já meestá já a O do d u o p o a e r a e e s d n não consigo representar n m o ” t r e E o m uma pausa. Ouparaliso u e z í

presente, maspormais e façopausas que se tentar manterotextotentar No palco, estousóa parecem combrancas. começo para se saber como “agarrar novas regras”, como tentarmos todos sair deste desregrado pântano de Recursos Humanos Magalhães, 59 anos,gestor Augusto Küttner de enquanto étempo. a Oriental. Mãosàobra a Ocidental ea“deles” duas civilizações anossa com basenorespeito por em quenosatolámos, Assírio &Alvim e MariaJoão Branco eprefácio de Philip CabauSelecção Manuel Castro Caldas Dar Coisas aosNomes Oliveira de Soares português. artístico domeio fulcrais actores para conhecerumdos Caldas: umaoportunidade deManuelentrevista Castro comuma completa-se deensaios Uma antologia sobre arte Escrever Arte mmmmm docente noAr.Co; esabe-se de Teresa Seabra(também ostextoscaso sobre asjóias decorativas). neste Estão eartes belas-artes entre(ou, sequisermos, maioresartes ou menores entreda divisão clássica condições que seafastam ou sobre disciplinas de textos que sedebruçam naorigem estará amizade, convivência epela pela sedimentada e sempre frutodoacaso característica, esta noensino.colegas E escreve foramousão daqueles sobre quem por exemplo. Muitos Sanches, Jorge Queiroz, Chafes, Croft, Rui Caldas: AnaJotta, Rui serem aCastro caros autoresdestacar que sabemos entrevistadores, quedois souberam daresponsabilidade dos também dostextosBranco. Aselecção é porPhilipCabaufeita eMariaJoão comumaentrevista que secompleta Caldas duranteosúltimos20anos, artigos, todosredigidos porCastro recolha de32 prefácios eoutros estelivroqual testemunha. sobre que éraro, arte escrita edo cultura aprofundada eumdomda sabem éque uma detémtambém Oque nemtodos pouco consensual. acontece emmeiosprofissionais, comosempre E, português. artístico nomeio Caldas éfiguraconhecida “Dar Coisas aosNomes”éuma “Dar Coisas Manuel Castro Desenvolvimento, parao Americana Luso- Fundação da colecção curador da director doAr.Co, comissário, professor,Artista, m M d e e m m - e m ias s Luísa Luísa xtos é é xtos souberam se

ade dos aria João mos Ficção Livreiros Top Bulhosa Não-Ficção 4 5 4 5 3 2 1 3 2 1 Asa R. Goscinny eA.Uderzo Obélix –OLivro deOuro O Aniversário deAsterix e Caminho José Saramago Caim Gradiva José Rodrigues dos Santos Fúria Divina Bertrand Dan Brown O SímboloPerdido Uma Longa Viagem com Livros d’Hoje João José Brandão Em Nome daPátria NGV Naumann andGöbel Verso daKapa Nuno LoboAntunes Mal- entendidos Objectiva Dâmaso Medina Carreira eEduardo Portugal QueFuturo? Dom Quixote António LoboAntunes que Fazem Sombra noMar? Que Cavalos sãoAqueles – CaixadeReceitas verdadeiros apreciadores Chocolate para os A António LoboAntunes PortoPorto Editora Editora João Céu eSilva nt ó ni C éu eSilv o g L obo Dan Brown

g Ant a u aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente MUSEUMUSEU DO DO ORIENTEORIENTE Festa da indonÉsia 6 a 17 novembro

Amália Rodrigues olhada agora como estrela de cinema

Saídas Ficção

Netherland- Terra de Sombras A capacidade de ver, Joseph O’Neill e de escrever sobre o que Betrand se vê, está directamente A publicidade ligada ao saber fazer aproveita-se do presidente – Castro Caldas foi, Obama: “O durante anos, artista melhor livro que profi ssionalizado li em 2009”. Do “Guardian” ao “Observer”, a directamente ligada passando pela “New York Times importância e ao saber fazer (Castro Book Review” (“A obra de ficção a qualidade que o Caldas foi, durante anos, mais inteligente, furiosa, precisa e curso de Joalharia adquiriu nesta artista profissionalizado) e à desolada que já tivemos acerca da escola); e a belíssima reflexão sobre exigência do ensino de projecto vida nas cidades de Nova Iorque e Londres depois da queda do World o amador, a propósito da pintura de artístico. Exposição de Fotografia • Orquestra de Gamelão Trade Center”), este finalista do Manuel Costa Cabral. Neste ensino, o autor destaca, a Teatro de Sombras Booker Prize, o irlandês Joseph Conferência: Indonésia e Portugal - Passado, Presente e Futuro Na realidade, há duas maneiras de par da aquisição de procedimentos O’Neill, é altamente recomendado. ler este livro. Uma, a mais prática, e técnicas, o seu acompanhamento Artesanato • Workshop de Batik Um romance americano com um Danças da Indonésia • Gamelão para Escolas e Famílias consiste em tomá-lo como “por um discurso ilustrativo, europeu no centro: um inglês, instrumento de trabalho: há aqui problematizante, informativo, abandonado pela mulher que Gastronomia • Surf Fest • Cinema • Keroncong textos fundamentais sobre a obra questionante” (p. 13). Tudo é do parte para Londres, fica sozinho dos artistas considerados, sempre domínio da aventura, muito mais do em Nova Iorque – sozinho mas Consulte a programação em www.museudooriente.pt apoiados por leituras exigentes e que das certezas. Por isso, Castro acompanhado pelos seus certeiras. Destes, destaco dois, bem Caldas não vê grandes diferenças fantasmas e pelas sombras da exemplificativos do rigor da análise entre ensinar, fazer uma colecção ou cidade. Perde-se nela, e no jogo da da obra de arte. Do primeiro, sobre escrever. Neste sentido também é sua infância, o críquete, e descobre Nova Iorque. ESPECTÁCULO os desenhos de Jorge Martins (do que se pode compreender a catálogo da exposição antológica na preferência do autor pelo desenho: SOLISTAS DA METROPOLITANA Gulbenkian, em 1988), ressalta a é uma disciplina que, longe da Cinema importância do suporte na realidade dada pelos sentidos, Quarteto de cordas constituição do desenho: “(…) uma trabalha com o racional e o intuitivo, Ver Amália- Os Filmes de Amália implicação do fundo a partir de uma o “invisível”, o “possível”, o Rodrigues figura que, ao mesmo tempo, deduz “virtual”, o “mental”, o “teórico”, o Tiago Baptista dele a sua natureza” (p. 43), o que “intelectual”. No seu cerne, não há Tinta da China tem como consequência a tentativa muitas diferenças entre o desenho e A abordagem, sistemática de expulsão da a leitura de um texto de Deleuze, por um conservador do organicidade do gesto da forma Barthes ou Foucault, alguns dos Arquivo Nacional desenhada. O segundo, a propósito autores que o apoiam das Imagens em da poesia visual de Ana Hatherly constantemente. Movimento, onde tem (também a propósito da Mas, de todas, a actividade desenvolvido pesquisas sobre a retrospectiva feita na Gulbenkian, preferida, aquela a que dedicou boa história do cinema português – em 92), sobre o estatuto do parte da sua vida parece ser o falamos de Tiago Baptista, 33 anos calígrafo: “O calígrafo teme, não ensino. O livro termina aliás com um –, ao trabalho da actriz Amália exactamente o palavroso da folha inédito onde faz o balanço de 35 Rodrigues. Os mecanismos de em branco, ou mesmo a excessiva anos do Ar.Co. E ao falar dessa fabricação de uma imagem: “No formalização do espaço e das coisas escola, que foi e é a única alternativa cinema podemos ver de que modo que o habitam e modelam, mas sim convincente ao ensino universitário Amália Rodrigues, a mulher, a 20 Novembro • 21.30 a perda de poder da palavra, da arte, serve-se da palavra actriz, se transformou em ‘Amália’, €10,00 quando esta se dissocia da imagem” incubadora. Adiante, afirma que a diva, o mito, ou para usar um termo mais cinematográfico, a (p. 69) e vice-versa. “aqueles que ensinam estrela”. INFORMAÇÕES E RESERVAS: 213 585 244 A segunda forma de considerar o experimentam de perto o que há na 707 234 234 (TICKETLINE) www.ticketline.sapo.pt BILHETES À VENDA: MUSEU DO ORIENTE, WORTEN, FNAC, BLISS, livro, tão importante como a educação de clandestino, de acção à LOJAS VIAGENS ABREU, LIV.BULHOSA (OEIRAS PARQUE E C.C. CIDADE DO PORTO) primeira e talvez mais fascinante, é distância, de registo de quase- Crónicas E PONTOS MEGAREDE. como auto-retrato ou autobiografia. segredo (…)” (p. 200). Entendido Novas Crónicas da De facto, a entrevista que Philip desta forma, o ensino podee Boca do Inferno Cabau e Maria João Branco preocupar-se com a Ricardo Araújo conduzem ao autor no início do singularidade, coisa quasee Pereira Mecenas principal: Mecenas dos espectáculos: Mecenas do serviço educativo: Parceria: livro é reveladora não só do impossível na época de Tinta da China processo de trabalho que preside à massificação de diplomas de As crónicas que Ricardo Araújo escrita de um prefácio de exposição, todos os graus que vivemos.os. Pereira publicou Apoios: como da própria autoformação de Este é assim um excelentente na revista “Visão” Castro Caldas. É notório, ao longo livro. Feito com a qualidadede entre 2007 e do livro, que o autor articula a gráfica e técnica habituais 2009. Com reflexão sobre obras plásticas com a na Assírio & Alvim, ilustrações de João atenção extrema à sua forma e à sua contou com o apoio da Fazenda. E, for construção. O texto sobre arte – e é Direcção-Geral do Livro something Museu do Oriente assim que deve ser – parte da obra, e das Bibliotecas. Não é completely Av. Brasília justifica-se com a obra, encontra o habitual a edição de ensaiosos different, inclui Doca de Alcântara (Norte) www.museudooriente.pt seu interlocutor primeiro na sobre arte em Portugal, e eesteste ““Crónia do Ikea” a 1350-352 Lisboa plasticidade que é traduzida pelo é também um dos motivoss ccoreso para montar. Tel: 213 585 200 olhar. E a capacidade de ver, e de para nos regozijarmos comm a E-mail: [email protected] escrever sobre o que se vê, está sua publicação.

Ípsilon • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • 51 Jorge Luís M. Mário Vasco As estrelas do público Mourinha Oliveira J. Torres Câmara Andando mmmmn mmmnn nnnnn mmmmn Birdwatchers nnnnn a mnnnn mnnnn O Dia da Saia mmmnn nnnnn mmnnn mnnnn Distrito 9 mmmmn mmnnn mmmnn mmnnn O Delator mmmnn mmnnn mmmnn mmmnn Os Irmãos Bloom mmmmn nnnnn nnnnn nnnnn Morrer como um Homem mnnnn nnnnn mmmmn mmmnn Os Substitutos mmmnn nnnnn nnnnn nnnnn New York I Love You mnnnn nnnnn nnnnn nnnnn This is It mnnnn mnnnn nnnnn mnnnn

Estreiam Uma vida (tudo menos) normal

Dois irmãos vigaristas românticos tentam enganar uma herdeira solitária que espatifa Lamborghinis. E isto é só o princípio de um filme assombroso sobre as histórias que contamos a nós próprios. Jorge Mourinha

Os Irmãos Bloom The Brothers Bloom De Rian Johnson, com Adrien Brody, Rachel Weisz, Mark Ruffalo. M/12

MMMMn “Os Irmãos Bloom”: uma elegantíssima metáfora para a fi cção, o teatro, a representação Cinema Lisboa: CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 9: 5ª 6ª três palavras o filme todo, sem Leste e burguesia europeia do contrabandista e se vem com 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h20, 18h35, 21h45, 24h Sábado contar com o karaoke? princípio do século XX. “Os Irmãos trovoadas. “Brick” não foi um Domingo 11h50, 14h05, 16h20, 18h35, 21h45, 24h; CinemaCity Campo Pequeno Praça de Portanto, por trás do filme de Bloom” leva desde o primeiro fogacho e “Os Irmãos Bloom” - que, Touros: Sala 8: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 14h25, 16h40, vigarices o que temos aqui é uma momento a suspensão da descrença como se diz às tantas, é uma 18h55, 21h20, 23h40 Sábado Domingo 12h, 14h25, velhinha comédia romântica muito mais longe do que aquilo que “mentira que revela a verdade” - é 16h40, 18h55, 21h20, 23h40; Medeia Saldanha Residence: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª “screwball”. Nós não queríamos outros filmes tomam por dado um filme maravilhoso que tem 4ª 13h, 15h15, 17h30, 19h45, 22h, 00h30; UCI citar “As Duas Feras” de Hawks, mas adquirido, e outra coisa não seria de entrada directa para o top-10 do ano. Cinemas - El Corte Inglés: Sala 5: 5ª 6ª Sábado 2ª pronto, vamos fazê-lo - não porque esperar de um realizador que, como 3ª 4ª 14h10, 16h35, 19h10, 21h45, 00h20 Domingo 11h30, 14h10, 16h35, 19h10, 21h45, 00h20; ZON “Os Irmãos Bloom” queira estar primeira obra, assinou o sublime New York, I Love You Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª nessa liga, mas só para terem uma filme negro em versão liceu De Mira Nair, Shekhar Kapur, Fatih 3ª 4ª 13h40, 16h20, 18h50, 21h20, 23h55; ZON ideia do ambiente que se constrói californiano que foi “Brick” (2005). Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª Akin, Natalie Portman, etc., 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h20, 21h20, 24h; ZON muito rapidamente no segundo “Os Irmãos Bloom” é um filme com Robin Wright Penn, Natalie Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado filme de Rian Johnson. muito mais ambicioso, cujo conceito Portman, John Hurt, Kevin Bacon, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h50, 18h40, 21h45, E, já agora, vamos também dizer central - um jogo de espelhos 00h20; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Ethan Hawke, Isabelle Adjani. M/12 Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h30, que, para além de comédia cruzado de bonecas russas que se 21h10, 23h50 “screwball”, “Os Irmãos Bloom” é desenrola sempre em areias Mnnnn Porto: Arrábida 20: Sala 11: 5ª 6ª Sábado também uma elegantíssima movediças, com um pé na Domingo 2ª 14h, 16h35, 19h15, 21h55, 00h30 3ª 4ª metáfora para a ficção, o teatro, a metaficção e outro no Lisboa: CinemaCity Campo Pequeno Praça de 16h35, 19h15, 21h55, 00h30; ZON Lusomundo representação... a necessidade de entretenimento puro, mas Touros: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 14h, 16h10, 18h20, NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h30, 24h Sábado Domingo 11h55, 14h, 16h10, 13h10, 16h, 18h50, 21h40, 00h30 contar histórias que o ser humano continuamente piscando o olho ao 18h20, 21h30, 24h; Medeia Monumental: Sala 4 parece ter, de definir a sua vida espectador com cumplicidade - - Cine Teatro: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª No papel, é um filme de vigaristas. como uma narrativa. ( Já dissemos exige uma maturidade invejável que 13h40, 15h45, 17h50, 19h55, 22h, 00h30; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 12: 5ª 6ª Sábado 2ª Dois irmãos especialistas em contos que uma das inspirações de Johnson não se esperaria forçosamente a um 3ª 4ª 14h20, 16h45, 19h10, 21h30, 23h55 Domingo do vigário “à la longue” fingem-se foi o “Ulisses” de James Joyce e outra segundo filme. Em vez de se 11h30, 14h20, 16h45, 19h10, 21h30, 23h55; ZON antiquários para convencerem uma a “Odisseia” de Homero?) E, na estampar, Johnson ergue-se à altura Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª herdeira órfã recatada e reclusa a verdade, o que Bloom, o irmão do desafio com um virtuosismo abrir mão do seu dinheiro. Nada de sonhador (e mais novo) quer é viver quase vergonhoso, entre o respeito particularmente novo, dirão. Só que “uma vida que não esteja escrita”, mais absoluto pelo classicismo e a herdeira órfã (Rachel Weisz em escapar (se quisermos) ao destino e uma vontade rebelde de o dinamitar modo Julie Christie-meets-Twiggy) ser ele a escrever a sua própria por dentro, conseguindo o difícil recatada e reclusa sabe karaté, fala história em vez daquela que os equilibrismo de tom que evita a francês e russo, toca violino, harpa, outros lhes escrevem. Em suma, queda quer na fantasia xoninhas guitarra e banjo, espatifa tomar as rédeas da sua própria vida. quer na pretensão pedante, Lamborghinis como quem deita fora Até lá chegarmos, contudo, Rian entrando pontualmente em tinteiros de impressora e faz Johnson leva-nos numa levitação transcendental. E o elenco malabarismo com serras eléctricas. surpreendente e fantasista embarca a fundo no jogo como se Depois, o irmão que elabora as montanha-russa ambientada numa nunca tivesse feito outra coisa na vigarices (Mark Ruffalo cool até à mítica Europa retro-intemporal, vida - o que faz todo o sentido quinta casa), planifica-as em para a qual as personagens viajam quando sabemos que, no fundo no homenagem aos grandes escritores num barco cujo título vem de um fundo, “Os Irmãos Bloom” é um russos como Dostoievski ou Tolstoi, romance de Herman Melville (e que filme sobre o teatro que há na vida e com arcos narrativos e subtextos é apenas uma das múltiplas a vida que há no teatro (ou não psicológicos. E o irmão que as piscadelas de olho Fellinianas num terminasse tudo naquele cenário executa (Adrien Brody sensível- filme onde as citações sonoras de maravilhoso do teatro abandonado recatado) apenas quer viver uma Nino Rota são inúmeras), onde não de S. Petersburgo). vida normal. Esquecemo-nos de há telemóveis nem computadores e E ainda não falámos nem do “New York, I Love You”: falar da ajudante japonesa (uma onde elas vestem feminismo pop camelo alcoólico nem da fotógrafa uma curiosidade diletante chaplinesca Rinko Kikuchi) que diz anos 1960 e eles sofisticação Costa epiléptica que quer ser que se esquece

52 • Sexta-feira 6 Novembro 2009 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente BRASIL CONTOS EM VIAGEM OUTRAS ROTAS

Textos Adélia Prado Affonso Romano de Sant’Anna Carlos Drummond de Andrade João Cabral de Melo Neto João Guimarães Rosa João Ubaldo Ribeiro Jorge Amado Lêdo Ivo Mauro Mota 3ª 4ª 13h50, 16h20, 19h, 21h50, 00h20; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h50, 18h25, 21h15, 23h55 Tel 21 868 92 45 Porto: Arrábida 20: Sala 12: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h20, 16h40, 19h10, 21h45, 00h25 3ª Rua do Açucar, 64 4ª 16h40, 19h10, 21h45, 00h25 4ª a 6ª às 22h Poço do Bispo Segundo compêndio de curtas Sáb. às 17h e 22h Autocarros 28, 210, 718 temáticas na série “Cidades do até 19 DEZ www.teatromeridional.net Amor” depois de “Paris, Je t’aime” (2006), a sensação que fica de “New ESTRUTURA FINANCIADA APOIOS York, I Love You”, é, 2009 paradoxalmente, a de que nenhuma M/12M/12 destas pequenas histórias de amor “O Delator”: Soderbergh é um dos mais interessantes sediadas em Nova Iorque é e criativos realizadores americanos contemporâneos especificamente nova-iorquina em Continuam Morrer Como Um Homem tema, tom ou concretização. E assim De João Pedro Rodrigues, lá vai à vida a lógica unificadora da com Alexander David, Gonçalo encomenda do produtor Emmanuel O Delator! Ferreira De Almeida, Jenni La Rue. Benbihy a dez realizadores de todo o The Informant! M/18 mundo, com o desafio de terem um De Steven Soderbergh, máximo de dois dias para filmar e com Matt Damon, Lucas McHugh MMMnn uma semana para montar: se estas Carroll, Eddie Jemison, Melanie Lisboa: Medeia Monumental: Sala 3: 5ª 6ª Sábado histórias podiam decorrer em Nova Lynskey. M/12 Iorque como em Paris, Londres, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h20, 18h55, 21h30, 24h; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Tóquio, Moscovo ou Xangai, se em MMMnn Domingo 2ª 3ª 4ª 13h55, 17h, 21h15, 00h10 nenhum momento (para lá das transições dirigidas por Randy Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 3: 5ª 2ª Quando “Morrer como um Homem” Balsmeyer) sentimos algo de local 3ª 4ª 16h, 18h50, 21h10 6ª 16h, 18h50, 21h10, 23h50 parte em viagem, com António Sábado 13h30, 16h, 18h50, 21h10, 23h50 Domingo em jogo, de que serve juntá-las sob o 13h30, 16h, 18h50, 21h10; Castello Lopes - Londres: Variações no carro e em direcção a título “New York, I Love You”? Dito Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h45, 19h15, Baby Dee no bosque, João Pedro isto, deste caldeirão vale-tudo 21h45 6ª Sábado 14h15, 16h45, 19h15, 21h45, 00h15; Rodrigues aventura-se: é o pedaço CinemaCity Beloura Shopping: Sala 7: 5ª 6ª razoavelmente anónimo, há três Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h35, 18h, mais livre, mais arriscado da sua segmentos que merecem atenção: o 20h05, 22h10, 00h15; CinemaCity Campo Pequeno obra, um pedaço de cinema que vem japonês Shunji Iwai com o flirt Praça de Touros: Sala 5: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 14h10, do “underground”, na estética, no 16h20, 18h40, 21h25, 23h55 Sábado Domingo 14h10, telefónico entre Orlando Bloom 18h40, 21h25, 23h55; Medeia Monumental: Sala 1: gesto, na desarmante frontalidade de como um compositor de bandas- 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h40, tudo... (E é uma ilha de afectos – por sonoras e Christina Ricci como a 19h10, 21h40, 00h15; UCI Cinemas - El Corte Inglés: ali andam os fantasmas de Fassbinder, Sala 14: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h30, secretária do realizador; Mira Nair 18h50, 21h35, 00h05 Domingo 11h30, 14h05, 16h30, Kenneth Anger, Jack Smith...) À volta com a “reunião de trabalho” que 18h50, 21h35, 00h05; ZON Lusomundo Amoreiras: desta ilha, em que uma personagem, deriva para fantasia romântica entre 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h10, Tonia, tem o seu momento de 17h50, 20h50, 23h10; ZON Lusomundo Colombo: 5ª dois negociantes de diamantes, o 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h55, 18h30, encantamento e perdição, uma Alice indiano Irrfan Khan e a judia 21h30, 00h15; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª que espreita o lado de lá do espelho hasídica Rachel Portman; e, 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 18h10, 21h20, 23h50 (como em “O Fantasma”, a primeira sobretudo, a “história de fantasmas” Porto: Arrábida 20: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo longa do realizador), está o resto do 2ª 13h40, 16h20, 19h10, 22h, 00h50 3ª 4ª 16h20, entre uma Julie Christie imperial e 19h10, 22h, 00h50; ZON Lusomundo filme: menos abstracto, enrolado um irreconhecível Shia LaBeouf NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª numa dramaturgia que se coloca dirigida por Shekhar Kapur 13h40, 16h20, 19h, 21h50, 00h40 sempre à frente das personagens, (substituindo o falecido Anthony Em “O Delator”, Steven Soderbergh quando não fora delas - por isso há Minghella, que escreveu o segmento permanece como um dos mais mais convenções de escrita e de mas faleceu antes de o realizar). Mas interessantes e criativos realizadores género do que figuras habitadas. Mas mesmo esses não chegam para fazer americanos contemporâneos, um se nisso “Morrer como um Homem” de “New York, I Love You” mais do pouco na esteira do seu “O Falcão pisa d mastiga os caminhos de que uma curiosidade diletante que Inglês” ou em rima cruzada com o “Odete”, a segunda longa do se esquece rapidamente. J.M. universo de outro dos grandes, realizador, escolhemos ficar dentro Michael Mann. Se o filme parte de da “ilha” (quase um filme dentro do uma história “real”, o tratamento do filme...), esse tira-teimas existencial tema passa por uma complexa onde um corpo que se construiu, o reelaboração, por um exercício travesti Tonia, se confronta com a inteligente de ficções labirínticas, de natureza e é desafiado, encantado e, mentiras tornadas matéria fílmica, finalmente, derrotado por ela – uma como em “Sexo, Mentiras e Vídeo”, tragédia portuguesa, triste como o a sua obra de estreia, embora aqui fado, de contornos menos olímpicos e mais comedido. A energia da ofegantes do que a das personagens, imagem que se confronta com a por exemplo, de David Cronenberg, banda de som, o modo como sempre ávidas da superação dos seus reformula o humor negro, a limites, da sua natureza. constante presença de uma visão Vasco Câmara crítica do mundo à sua volta, tudo faz deste filme aparentemente em tom menor uma radical intervenção na modernidade. Sem rejeitarmos as suas aventuras mais “comerciais”, www.ipsilon.pt do comovente “Erin Brokovich” às piruetas da saga de Ocean, preferimos este Soderbergh, mais prospectivo e mais audaz, se bem que com as noções dos limites a atingir. Mário Jorge Torres “Morrer Como Um Homem”

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Cinema Cinemateca Portuguesa R. Barata Salgueiro, 39 Lisboa. Tel. 213596200 Berlim, Sinfonia de Uma Capital 07/11, 21h30 - Sala Félix Ribeiro Lions Love O pequeno Berlin: Die Sinfonie der Ervas Flutuantes De Agnès Varda. Com Peter Großstadt Ukigusa Bogdanovich, Richard Bright, Carlos Clarens. 110 min. . M0. De Walter Ruttmann.. 66 min. . M0. De Yasujiro Ozu. Com Ganjiro paraíso 05/11, 21h30 (em complemento, a curta: O Nakamura, Machiko Kyô, Ayako 10/11, 19h - Sala Félix Ribeiro Programa Apresentado pelos Irmãos Wakao. 119 min. . M0. Toâ Duvivier Skladanowsky no Jardim de Inverno, de Max e Emil 07/11, 19h - Sala Félix Ribeiro DVD Skladanowsky) - Sala Félix Ribeiro Simone Barbés ou la Vertu A Ambição do Ouro Um serviço inestimável para De Marie-Claude Treilhou. Com Ingrid The Call of the Wild Bourgoin, Martine Simonet, Michel a revelação do muito que De William A. Wellman. Com Clark Delahaye. 77 min. . M0. Gable, Jack Oakie, Loretta Young. 95 nos falta descobrir sobre a 07/11, 15h30 (em complemento, a curta: Tango, de min. . M0. Zbigniew Rybszynski) - Sala Félix Ribeiro história do cinema. 05/11, 15h30 - Sala Félix Ribeiro Mário Jorge Torres L’Annonce Faite à Marie A Mulher Desejada L’Annonce Faite à Marie The Woman on the Beach De Alain Cuny. Com Roberto De Jean Renoir. Com Joan Bennett, O Ruivo Benavente, Christelle Challab, Alain Julien Duvivier Robert Ryan, Charles Bickford. 71 Cuny. 90 min. . M0. min. . M0. 07/11, 19h30 - Sala Luís de Pina 05/11, 19h - Sala Félix Ribeiro mmmnn Le Jeu des Voyages Os Carabineiros Extras De Jean-André Fieschi.. 165 min. . M0. Les Carabiniers 07/11, 22h - Sala Luís de Pina mmmnn De Jean-Luc Goddard. Com Geneviève Golée, Albert Juross, A Sua Melhor Missão Marino Mase, Catherine Ribeiro. 95 A Foreign Aff air min. . M0. 05/11, 22h (em complemento, a curta: Les Affiches en Goguette, de Georges Méliès) - Sala Luís de Pina O Paraíso La Chienne De Sacha Guitry. Com Sacha Guitry, das Damas De Jean Renoir. Com Michel Simon, Lana Marconi, Mireille Perrey. 85 Janie Marese, Georges Flamant. 100 min. M0. mmmmn min. . M0. 09/11, 19h30 - Sala Luís de Pina Extras 05/11, 19h30 (em complemento, a curta: Passeio Casamento Escandaloso com Johnny Guitar, de João Monteiro) - Sala Luís de The Philadelphia Story mmmmn Pina De George Cukor. Com Cary Grant, Duas Horas na Vida de Uma James Stewart, Katharine Hepburn. Divisa Home Video Mulher 112 min. . M12. Cléo de 5 à 7 10/11, 19h30 - Sala Luís de Pina De Agnès Varda. Com Corinne Na Presença do Palhaço Quando se mencionam as obras Marchand, Dominique Davray, Loye Larmar och gör sig till capitais do cinema francês do mudo Payen. 90 min. . M16. De Ingmar Bergman. Com Börje vêm à liça os nomes de Louis Delluc, 06/11, 19h - Sala Félix Ribeiro Ahlstedt, Pernilla August, Marie Germaine Dullac, Marcel l’Herbier ou Abel Gance, incensados como a Adivinha Quem Vem Jantar De Billy Wilder. Com Jean Arthur, John Richardson, Erland Josephson. 115 Guess Who’s Coming to Dinner Lund, Marlene Dietrich, Millard min. . M12. primeira vanguarda gaulesa pelo De Stanley Kramer. Com Katharine Mitchell. 116 min. . M0. 10/11, 22h - Sala Luís de Pina influente magistério da geração dos Hepburn, Sidney Poitier, Spencer 09/11, 19h - Sala Félix Ribeiro O Expresso de Berlim “Cahiers du Cinéma” que originou a Tracy. 108 min. . M12. Nouvelle Vague. De fora, ficam O Pecado de Ter Nascido Berlin Express 06/11, 21h30 - Sala Félix Ribeiro sempre René Clair, Jacques Feyder The Helen Morgan Story De Jacques Tourneur. Com Charles Falam as Más Línguas De Michael Curtiz. Com Ann Blyth, Korvin, Merle Oberon, Paul Lukas, ou Julien Duvivier, precisamente os People Will Talk Paul Newman, Richard Carlson. 118 Robert Coote, Robert Ryan. 86 min. . que melhor resistiram ao advento do De Joseph L. Mankiewicz. Com Cary min. . M0. M12. sonoro, identificados, quantas vezes 11/11, 19h - Sala Félix Ribeiro Grant, Jeanne Crain, Finlay Currie. 09/11, 15h30 - Sala Félix Ribeiro de forma injusta, com um cinema 110 min. . M0. Noite de Estreia académico, o famigerado “cinéma 06/11, 15h30 - Sala Félix Ribeiro Lisboa Cultural De Manoel de Oliveira.. 61 min. . M0. Opening Night de papa”. O Anjo Exterminador 09/11, 21h30 (em complemento, a curta: As Pinturas De John Cassavetes. Com Ben A recente edição em DVD de duas El Ángel Exterminador do Meu Irmão Júlio, de Manoel de Oliveira) - Sala Gazzara, Gena Rowlands, John das obras iniciais de Duvivier, pela De Luis Buñuel. Com Claudio Brook, Félix Ribeiro Cassavetes. 144 min. . M12. Divisa, vem repor a justiça que lhe é Enrique Rambal, Jacqueline Andere, 11/11, 21h30 - Sala Félix Ribeiro devida, independentemente da The Life of Juanita Castro Silvia Pinal. 95 min. . M12. O Maior Espectáculo do Mundo enorme importância de “La 06/11, 22h (em complemento, a curta: A Estrela de The Life of Juanita Castro De Andy Warhol. Com Marie Menken, The Greatest Show on Earth Bandera” (1935), “La Belle Equipe” Charlot, de Charles Chaplin) - Sala Luís de Pina Ultra Violet, Waldo Díaz Balart. 66 De Cecil B. DeMille. Com Betty ou “Pépé le Moko” (1936), pólos Homens de Gelo min. . M0. Hutton, Cornel Wilde, Charlton fundamentais do chamado realismo Day of the Outlaw 09/11, 22h - Sala Luís de Pina Heston. 153 min. . M0. poético, e apesar de a sua posterior 11/11, 15h30 - Sala Félix Ribeiro De André De Toth. Com Robert Rio Grande produção se perder, por vezes, em Ryan, Burl Ives, Tina Louise. 92 min. De John Ford. Com Ben Johnson, Ydessa, les Ours et etc... inúteis aventuras de um padre . M0. Claude Jarman Jr., John Wayne, Ydessa, les Ours et etc... populista (“Don Camilo”, 1952), ou 06/11, 19h30 (em complemento, a curta: The Maureen O’Hara. 105 min. . M12. De Agnès Varda.. 44 min. . M0. em veículos menores para estrelas Female of the Species, de D. W. Griffith) - Sala Luís 10/11, 15h30 - Sala Félix Ribeiro 11/11, 22h (em complemento, a curta: Cléo de 5 à 7 como Brigitte Bardot (“A Mulher e o de Pina Souvenirs et anedoctes, de Agnès Varda) - Sala Luís Os Últimos Dias do Paraíso de Pina Fantoche”, 1959) após ter assinado Os Contos dos Crisântemos Medicine Man olvidáveis filmes em Hollywood e no Tardios De John McTiernan. Com José Wilker, Ser Ou Não Ser Reino Unido, na década de 40. Zangiku Monogatari Lorraine Bracco, Sean Connery. 106 To Be Or Not To Be “Poil de Carotte” (1925) – estreado De Kenji Mizoguchi. Com Shôtarô De Ernst Lubitsch. Com Carole min. . M0. entre nós como “O Ruivo”, tal como Hanayagi, Kôkichi Takada, Gonjurô 10/11, 21h30 - Sala Félix Ribeiro Lombard, Jack Benny, Robert Stack. Kawarazaki, Kakuko Mori. 142 min. . 99 min. . M0. o seu “remake” sonoro (1932) do M12. O Amor de Leão 11/11, 19h30 - Sala Luís de Pina mesmo realizador (a legendagem portuguesa incorre numa

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cinematográfica) e ao discutível conferência sobre a história da demonização constante. Mas Russo triunfo das grandes superfícies, representação da homossexualidade nunca veria o filme acabado — faleceu premonitórias da globalização. O no cinema de Hollywood, em 1990, e seriam ainda precisos que fica, contudo, na retina do acompanhada por excertos de filmes quatro anos para Epstein e Friedman espectador moderno é o vortex da americanos que iam desde os tempos reunirem o financiamento imagem em movimento, a do mudo até à abertura do cinema a necessário, que acabaria por vir da alucinação de uma magia temas tabu nas décadas de 1960 e TV (do Channel Four inglês, do canal celebratória da montagem. 1970. Essa conferência, que tinha franco-alemão ARTE e da poderosa Trata-se de uma cópia impecável, uma agenda activista de devolver o HBO) e de cerca de quatro mil complementada com extras do orgulho a uma comunidade indivíduos que contribuiram a título mesmo teor, mas ainda mais úteis estigmatizada pelas imagens particular, com os múltiplos excertos para entender o seu valor histórico: negativas perpetuadas no cinema de filmes utilizados a serem cedidos novo comentário introdutório de “mainstream”, seria convertida num gratuitamente pelos estúdios Bromberg, o produtor do projecto, livro com o mesmo nome, publicado proprietários. “O Cinema no sob a chancela do canal Arte, uma em 1981 e revisto em 1987, que serve Armário” acabaria por ser concluído descrição da feitura e execução da de ponto de partida ao filme de em 1995, o que explica a ausência de banda musical e, sobretudo, um Epstein e Friedman. Mas desde o filmes mais recentes como “O curioso documentário de época, “O princípio que Russo achava que a sua Segredo de Brokeback Mountain” ou Ventre dos Armazéns” (11 minutos), a adaptação cinematográfica teria de o “Milk” de Gus van Sant. contextualizar a sequência do ter uma abordagem diferente, menos Já a ausência de muito do cinema refeitório no filme principal. Ou seja: activista e mais próxima do “queer” independente um serviço inestimável para a entretenimento. contemporâneo, assinado por “O Paraíso das Damas” e “O Ruivo”; revelação do muito que nos falta E é aqui que entra a tal definição nomes como Van Sant, Gregg Araki repor a justiça em relação a Julien Duvivier descobrir sobre a história do cinema. de “Isto É Espectáculo!” gay, com “O ou Todd Haynes (e do qual apenas Cinema no Armário” a ser uma existe uma breve montagem com espécie de “greatest hits” da imagens de, entre outros, “Veneno” Um século representação da homossexualidade ou “A Caminho do Idaho”), é opção (entendida aqui nas vertentes gay e deliberada. Epstein e Friedman lésbica) no cinema “mainstream” explicam que o projecto fora sempre de imagens produzido pelos grandes estúdios ao sobre a história das imagens da longo do século XX. Epstein e homossexualidade no cinema Em pouco mais de hora Friedman traçam um arco que vai da “mainstream”, e essa vaga de coexistência inofensiva herdada do cineastas reveladas nos anos 1980 e e meia, “O Cinema no teatro de vaudeville à restrição dos 1990 saía já fora do âmbito do Armário” desenrola homossexuais a papéis marginais ou trabalho iniciado por Russo. com virtuosismo um imorais, e que só a partir dos anos E, se se saúda a disponibilização do 1970 e de “The Boys in the Band”, filme entre nós, já é pena que a século de imagens da adaptação da peça “off-Broadway” edição não esteja à altura daquilo a homossexualidade de Mart Crowley por William que a Midas nos habituou. A capa no cinema comercial Friedkin, deixou entrar a imagem da anuncia o formato 1:1.85... mas a americano. Jorge Mourinha homossexualidade como algo de imagem está em 4:3 televisivo. O aceitável e não ameaçador. interessante comentário audio – O Cinema no armário Iniciado com um teste primordial realizado para o DVD americano de The Celluloid Closet de Thomas Edison onde se vêem dois 2001, onde participam ainda a Documentário de Rob Epstein homens a dançar e culminando na narradora Lily Tomlin, o montador e Jeffrey Friedman “abertura” “mainstream” de Arnold Glassman e o produtor Midas Filmes “Filadélfia”, de Jonathan Demme, “O executivo Howard Rosenman – não contradição ao registar o literal “O adaptado de um romance de Zola, Cinema no Armário” segue os está inexplicavelmente legendado em Cenoura”, enquanto a capa opta transposto para os loucos anos 20, mmmmn trâmites dos documentários português. E o outro extra disponível pelo título correcto) –, adapta o passa ainda por mais arrojadas televisivos, alternando “cabeças - “Rescued from the Closet”, uma romance de Jules Renard e, embora experiências visuais: vertiginosos Extras falantes” (Tony Curtis, Tom Hanks, hora de excertos de entrevistas que se concentre numa narrativa linear, “travellings”, caleidoscópios de mmnnn Shirley MacLaine ou Susan Sarandon) ficaram de fora da montagem final com destaque para uma análise algo imagens multiplicadas, picados e com imagens de arquivo. E é nessas onde se incluem Kenneth Anger, naturalista das personagens, possui contrapicados que percorrem o Em 1974, a MGM imagens de arquivo, um trabalho Gregg Araki ou Gus van Sant — surge o interesse acrescido de integrar cenário das Galerias Lafayette (são teve um êxito espantoso de pesquisa e montagem, não apenas com problemas sérios de muitos dos processos que notórias as influências dos soviéticos colossal com um que se sente a tradução da intenção cor mas também com erros de identificamos com a estilística Eisenstein, Vertov ou Dovjenko), documentário de original de Russo de mostrar como a legendagem inaceitáveis para um vanguardista dos anos 20: câmaras lentas, acelerandos e o arquivo chamado evolução da comunidade editor que se tem pautado pelo rigor sobreimpressões, câmara subjectiva desejo manifesto do som numa “Isto é homossexual foi marcada pela (chamar a Burt Lancaster “Burt (um fabuloso plano filmado através época em que o sonoro já imperava. Espectáculo!”, ausência de imagens e modelos Lencaster” é um dos exemplos do cano de uma espingarda), criativa Aliás a estreia efectuou-se em cópia viagem pela positivos, substituidos por uma menos graves). montagem paralela, abundantes sincronizada, embora só se conserve história dos “travellings” e ambientes de cabaret, a primeira versão, brilhantemente “musicais da Metro” que, na cabeça entre fumos e desfocagens. A cópia musicada pela mesma equipa que dos cinéfilos, se haviam tornado na restaurada é magnífica, recuperando trabalhou sobre o filme própria definição de filme musical. tintagens originais, com eficaz banda anteriormente referido, sublinhando O que é que isto tem a ver com “O sonora moderna, composta e ruídos do camartelo ou os claxons Cinema no Armário”? Tudo, porque, dirigida pelo canadiano Gabriel dos automóveis e optando por uma no comentário audio que Thibaudeau e apresentando curtos, estrutura jazzística que integra uma acompanha o documentário de Rob mas importantes, extras: um canção-pastiche reminiscente de Epstein e Jeffrey Friedman, os seus prefácio do crítico Serge Bromberg; Éric Satie ou Henri Duparc. A crítica autores dizem que Vito Russo aspectos da gravação da música; um ao consumismo desenfreado dos insistiu muito para que “O Cinema esclarecedor excerto de “Visages grandes armazéns não ilude o gosto no Armário” fosse um “Isto É d’Enfants” (1924), de Jacques Feyder, pelas coordenadas melodramáticas, Espectáculo” gay. a atestar a relevância, desde cedo, patentes na morte trágica do tio ou Russo, historiador cinematográfico da tradição dos filmes sobre a no ambíguo final feliz, com o par e activista gay da primeira hora, infância no contexto francês. amoroso reunido num hino ao desenvolvera originalmente “The “The Boys in the Band”, de Friedkin: “O Paraíso das Damas” (1930), progresso da técnica (também Celluloid Closet” como uma decisivo para a imagem do homossexual no cinema americano

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