UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA CONTEMPORÂNEAS

JOSÉ AFONSO DA SILVA JUNIOR

UMA TRAJETÓRIA EM REDES: MODELOS E CARACTERÍSTICAS OPERACIONAIS DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS, DAS ORIGENS ÀS REDES DIGITAIS, COM TRÊS ESTUDOS DE CASO.

Salvador Junho de 2006 Agência Estado 2

JOSÉ AFONSO DA SILVA JUNIOR

UMA TRAJETÓRIA EM REDES: MODELOS E CARACTERÍSTICAS OPERACIONAIS DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS, DAS ORIGENS ÀS REDES DIGITAIS, COM TRÊS ESTUDOS DE CASO.

Tese de doutorado apresentada ao programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas, Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Comunicação Social.

Professor Orientador: Prof. Dr. Marcos Silva Palacios.

Salvador Junho de 2006

Agência Estado 3

Biblioteca Central Reitor Macedo Costa - UFBA

S586 Silva Junior, José Afonso da. Uma trajetória em redes : modelos e características operacionais das agências de notícias, das origens às redes digitais, com três estudos de caso / José Afonso da Silva Junior, 2006. 408 f. Inclui apêndices.

Professor Orientador: Prof. Dr. Marcos Silva Palacios. Tese (doutorado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Comunicação, 2006.

1. Agências de notícias - História. 2. Jornalismo - Redes de computação. 3. Comunicações digitais. 4. Internet ( Redes de computação). 5. Agências de notícias - Estudo de casos. I. Palacios, Marcos Silva. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Comunicação. III. Título

CDU - 070.431.2 CDD – 070.43 Agência Estado 4

TERMO DE APROVAÇÃO

JOSÉ AFONSO DA SILVA JUNIOR

UMA TRAJETÓRIA EM REDES: MODELOS E CARACTERÍSTICAS OPERACIONAIS DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS, DAS ORIGENS ÀS REDES DIGITAIS, COM TRÊS ESTUDOS DE CASO.

Tese aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas, Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

Prof. Doutor Marcos Silva Palacios – Orientador.

______(Faculdade de Comunicação - Universidade Federal da Bahia).

Prof. Doutor Othon Fernando Jambeiro Barbosa – Examinador Interno.

______(Faculdade de Comunicação - Universidade Federal da Bahia)

Prof. Doutor Cláudio Guimarães Cardoso – Examinador Interno.

______(Faculdade de Comunicação - Universidade Federal da Bahia)

Prof. Doutor Carlos Eduardo Franciscato – Examinador Externo.

______(Universidade Federal de Sergipe)

Prof. Doutor Rubens Ribeiro Gonçalves da Silva – Examinador Externo.

______(Instituto de Ciência da Informação - Universidade Federal da Bahia)

Salvador, ____ de ______de 2006 Agência Estado 5

DEDICATÓRIA

À Minha Filha, Helena: alegria de minha vida. Aos meus sobrinhos: Beatriz, Ana Luíza, Lucas, Júlia e Eduardo: notícias boas no meu caminho.

- Porque a esperança é um bem gratuito. Agência Estado 6

AGRADECIMENTOS.

“Amigo é o que quando você vai lá ele já vem vindo”.

- Millor Fernandes.

Toda tese é um trabalho escolar. De nível aprofundado, de percurso longo, de inquietações constantes e de pequenos oásis de tranqüilidade. Mesmo com essas ressalvas, permanece sendo um trabalho escolar. É um convite, feito em modo de desafio, para investigar e estabelecer relações com idéias e pessoas, com momentos e lugares do mundo onde experienciamos e nos aperfeiçoamos. Se para as idéias e conceitos, uma forma possível de agradecimento é colocar os mesmos a serviço da tese, para as pessoas, ao contrário, temos que explicitar através da nossa a gratidão, pois foi um privilégio conviver com elas.

Sou profundamente grato:

Ao Prof. Dr. Marcos Palácios, orientador do trabalho, pela competência, lucidez, estímulo constante, compreensão e, sobretudo, pela paciência e diálogo aberto presente em todos estágios desta pesquisa. Por colocar os ‘iis’ nos pingos.

Ao Professor Elias Machado. Pela inquietude do pesquisador, pela responsabilidade com o grupo de pesquisa em jornalismo on-line, GJOL, e pela indicação das várias referências de leituras e estímulo às discussões.

A reitoria da UFPE, Em especial ao Professor Yony Sampaio. Por acreditar nesta pesquisa e apoiar incondicionalmente minha ida à Salvador. Aos coordenadores do Projeto

Virtus UFPE, André Neves, Paulo Cunha e Marcos Galindo. Por abrirem as primeiras portas.

E nunca fecharem. Agência Estado 7

A Pró-Reitoria de pesquisa, PROPESQ – UFPE, por viabilizar, através do programa PICDT da CAPES, a bolsa, sem a qual essa pesquisa seria impossível. Ao seu corpo de funcionários, fica o reconhecimento do apoio prestado.

Ao corpo de funcionários das três agências analisadas nesta tese. Em Especial à

Mario Andrada, diretor da América Latina, Inês Migliaccio, Editora da Agência

Estado e José Roberto Garcez, Diretor de jornalismo da Agência Brasil, pela disponibilidade e acesso para a observação e pesquisa nessas instituições.

Aos professores e funcionários do Programa em Pós-Graduação da FACOM–

UFBA, em especial a Itania, Benjamin, Jéder, Henrique. Pela contribuição à convivência acadêmica na FACOM.

Aos examinadores desta tese, professores Othon Jambeiro, Carlos Eduardo

Franciscato, Rubens Ribeiro e Cláudio Cardoso. Pelo interesse e disponibilidade para participação na banca.

Aos Colegas do Departamento e Pós-Graduação em Comunicação da UFPE. Pela compreensão da importância de realização desta pesquisa.

Aos colegas da Póscom, em especial a: Jamil, Sivaldo, Júlio, Leandro, Cacau

Pantoja, Messias, Franciscato, Graciela, Josenildo, Suzi; e no Gjol: Luiz Lordelo, Luti, Carla,

Beatriz, Suzana, Janalyne, Leila, Lia, Paulo Munhoz. Pela singularidade das suas personalidades e na tradução luminosa disto em: amizade, diálogo, inteligência coletiva, aprofundamento de questões, carinho, solidariedade e companheirismo. Vocês são do meu time!

À André Lemos e Zé Carlos. Mais que colegas, amigos. Mais que amigos, irmãos de fé em qualquer lugar e hora.

A Caco e Patrícia, anfitriões e porto-seguro em Salvador. A Flávio Rocha e

Clarissa Lima, que fizerem das suas casas, em Brasília e São Paulo, extensões na minha. Agência Estado 8

Aos meus auxiliares de pesquisa Nilson Soares e Ana Maria, pelo interesse, cooperação e ajuda nas etapas de trabalho mais insano desta tese.

À Javier Diáz-Noci pelo interesse intelectual transparente e ajudas dadas para o encadeamento desta tese. Gracias!

À Viviane Fontoura, amiga de quase 20 anos, especialista na língua de

Shakespeare. Pelas traduções e apoio. Hugs! A Ignez: já que tudo é erro na vida de um revisor, fazer disso um ofício de precisão e paciência.

Aos amigos de Recife. Iara, Rafael Medeiros, Rafael Pimenta, Guigo, Paulinho,

Nicolau, Aninha Luiza, Florilton (in memorian. - Você está em algum lugar bem bonito e luminoso desta tese, viu!), por repartirem bons e maus momentos, por entenderem o sacrifício momentâneo da convivência.

Aos meus pais. José (in memorian) e Ana. Respectivamente, motor e leme, razão e sensibilidade do meu percurso. Por tudo que não cabe aqui, mas está em mim.

À Adriana. Por calçar botas de chumbo, para que eu pudesse voar.

Ao meu tio João Augusto, uma luz distante que, mesmo sem sentir, é inspiradora da formação intelectual, da retidão do caráter e da infinita capacidade de gerar afeto.

Aos meus irmãos: José Augusto, Silvana e Carlos Eduardo. Pelos exemplos de vida de cada um. De longe (e de perto também!) grandes amigos, eternos irmãos.

A Bárbara. Namorada, mulher e amiga. Por suportar os momentos mais difíceis desta tese em mim. Agradeço por tudo que foi presente (força, apoio, broncas, tranqüilidade) para que eu terminasse este trabalho, e lhe peço perdão por quando esqueci disso.

Por fim, mas não sem menos importância, à FACOM-UFBA. Pelo acolhimento proporcionado, por ser meu segundo lar acadêmico e que, como a Bahia …“não me sai do pensamento”. Agência Estado 9

O fim do mundo1

No fim de um mundo melancólico os homens lêem jornais. Homens indiferentes a comer laranjas que ardem como o sol.

Me deram uma maçã para lembrar a morte. Sei que cidades telegrafam pedindo querosene. O véu que olhei voar caiu no deserto.

O poema final ninguém escreverá Desse mundo particular de doze horas. Em vez de juízo final a mim me preocupa o sonho final.

- João Cabral de Melo Neto.

1 MELO NETO, João Cabral, 1945. Agência Estado 10

RESUMO

Esta tese organiza-se em três níveis de estudo. O primeiro tenta estabelecer uma recuperação de elementos históricos da estruturação das agências para identificar e delimitar características operacionais e de fluxo de informações. O segundo nível visa apresentar três casos relevantes de agências de notícias: a Agência Brasil, a Agência Estado e a Reuters, de modo que, através dos estudos de caso de cada uma, possamos aplicar as reflexões teóricas sobre as características elencadas. Como o desenvolvimento e difusão das tecnologias digitais e de redes é um fenômeno de ampla presença na atualidade, as agências de notícias não se excluem desses condicionamentos. Assim, o terceiro nível de estudo procura estabelecer o debate de como as características de operação e de fluxo de informação são configuradas segundo a lógica da sociedade em rede. No sentido de estabelecer desdobramentos entre as características operacionais e de fluxo com os casos elegidos, adota-se os procedimentos a seguir: acompanhamento dos casos estudados, através da recuperação de percurso e estruturação dessas organizações; observação dos serviços existentes e sua articulação na dinâmica de operação; entrevistas com os editores e principais responsáveis pela gestão dessas organizações e observação dos modelos de produção in-loco. Com essa estratégia estabelecida, foi possível delimitar as características operacionais e de fluxo presentes nos casos estudados e, em um nível subseqüente, mapear as possibilidades existentes para as agências de notícias no momento contemporâneo.

Palavras-Chave: Agências de notícias, jornalismo na web, características operacionais, fluxo de informações, redes, redes digitais, Internet. Agência Estado 11

ABSTRACT

The present thesis is organized in three study levels. The first one tries to establish a recovery of historical elements of the agencies structuring to identify and delimit operational and information flow characteristics. The second one aims to present three relevant cases of news agencies: Agência Brasil, Agência Estado and Reuters, in order to, through each case study, we can apply the theoretical reflections about the characteristics listed. As the development and dissemination of digital and network technologies are phenomena of massive presence in current days, the news agencies are not excluded of these conditionals. Thus, the third study level seeks to establish a debate about how the operational and information flow characteristics are configured according to the logic of network society. In the sense of establishing an unfolding between the operational and flow characteristics and the elected cases, we have adopted the following procedures: monitoring of the cases studied, through the recovery of the organizations history and structuring; observation of the existing services and their articulation in the operation dynamics; interviews with the editors and main personnel in charge of the management of these organizations and observation of the models of in loco production. With the established strategy, it was possible to delimit the operational and flow characteristics present in the cases studied and, in a subsequent level, to map the existing possibilities for the news agencies in the contemporary moment.

Keywords: news agencies, web journalism, operational characteristics, information flow, networks, digital networks, internet.

Agência Estado 12

LISTAS DE FIGURAS.

Figura 01 Redes de Cabos submarinos da Reuters, em torno de 1870. 91 Figura 02 Matriz de decisão e elasticidade do conteúdo. 114 Figura 03 Grau de elasticidade de conteúdos. 115 126 Figura 04 Representação da intersecção que delimita a área das características de fluxo nas agências de notícias. 131 Figura 05 Exemplo de matéria da Reuters atualizada com contextualização. Figura 06 Tela do serviço Brasil Agora. 151 Figura 07 Tela do serviço Economia da Agência Brasil. 152 Figura 08 Tela do serviço Política da Agência Brasil. 153 Figura 09 Tela do serviço Nacional da Agência Brasil. 154 Figura 10 Tela do serviço café com o presidente. 155 Figura 11 Telas do serviço em inglês e espanhol da Agência Brasil. 156 Figura 12 Tela do serviço de fotografias da Agência Brasil. 157 Figura 13 Tela do serviço da Radioagência da Agência Brasil. 158 Figura 14 Tela do serviço da TV Brasil Canal Integración. 159 Figura 15 Organização dos fluxos internos e distribuição de conteúdos da Agência 161 Brasil. Figura 16 Núcleos de operação da Agência Estado em relação aos produtos 170 oferecidos e plataformas de distribuição. Figura 17 Tela do Sistema Broadcast da Agência Estado. 172 Figura 18 Tela do AE Sistema de Informação da Agência Estado. 173 Figura 19 Tela da Agenda em integração com o AE Sistema de Informação da 174 Agência Estado. Figura 20 Tela dos Artigos em integração com o AE Sistema de Informação da 174 Agência Estado. Figura 21 Tela de notícias em integração com o AE Sistema de Informação da 175 Agência Estado. Figura 22 Tela de Análises e Cenários em integração com o AE Sistema de 175 Informação da Agência Estado. Figura 23 Tela de Cotações e Taxas em integração com o AE Sistema de 176 Informação da Agência Estado. Figura 24 Tela do serviço em inglês em integração com o AE Sistema de 177 Informação da Agência Estado. Figura 25 Tela da ferramenta de busca interna da Agência Estado. 178 Figura 26 Telas da do AE Mídia Texto e Foto da Agência Estado. 181 Figura 27 Tela inicial do AE Mídia da Agência Estado. 181 Figura 28 Telas do AE Conteúdo da Agência Estado. 182 Figura 29 AE Newspaper em versão impressa. 183 Figura 30 Tela do serviço AE Data da Agência Estado. 183 Figura 31 Página da Agência Estado na Internet. 184 Figura 32 Sistema Reuters 3000Xtra. 209 Figura 33 Tela do sistema Reuters 3000Xtra, no caso apresentando o serviço 209 “agriculture overview”. Figura 34 Tela do sistema Reuters 3000Xtra, apresentando o serviço “energy 209 overview”. Figura 35 Telas do sistema Reuters Trader. 210 Figura 36 Tela do sistema Trader com o serviço Reuters desktop. 211 Figura 37 Tela do Reuters Knowledge. 211 Figura 38 Tela do Reuters Wealth. 212 Figura 39 Tela do Kondor+. 213 Figura 40 Tela de matéria no IDS. 215 Agência Estado 13

Figura 41 Variáveis que compõem a oferta de serviços da Reuters. 218 Figura 42 Esquema de distribuição dos produtos e serviços nas plataformas da 220 Reuters. Figura 43 Tela do Reuters Messenger compartilhando um aplicativo do Windows. 223 Figura 44 Tela do Reuters 3000Xtra incorporando o Reuters Messenger. 224 Figura 45 Telas do Reuters Dealer. 225 Figura 46 Primeira página da Reuters na Internet. 226 Figura 47 Página atual da Reuters na Internet. 227 Figura 48 Telas de dois posts de Blog da Reuters. 228 Figura 49 Página inicial na Internet da Reuters Brasil. 229 Figura 50 Delimitação progressiva das terminologias na relação entre o jornalismo 247 e as tecnologias digitais e em rede. Figura 51 Linha de tempo dos sistemas de transmissão de informação utilizados 259 pelas agências de notícias. Figura 52 Modelo de agência em fluxo centralizado. 278 Figura 53 Modelo de agência em fluxo Descentrado (parcialmente 278 descentralizado). Figura 54 Nota de snap, disseminando a notícia com os elementos factuais. 283 Figura 55 Nota de atualização. 283 Figura 56 Nota de consolidação. 284 Figura 57 Republicação da nota da Reuters no UOL. 284 Figura 58 Republicação de notícia da Reuters no UOL. 285

Agência Estado 14

LISTAS DE QUADROS

Quadro 01 Resumo dos aspectos metodológicos para a observação dos casos. 36 Quadro 02 Aspectos de contribuição para a escolha dos casos. 38 Quadro 03 Tarifas, por palavra, (em francos) das mensagens telegráficas da 51 França para a América do Sul. Quadro 04 Tempo de transmissão de um telegrama da Inglaterra para outros 51 países. Quadro 05 Tempos para publicação das cotações de fechamento de bolsas entre a 52 cidade de origem e a publicação no jornal inglês The Economist no século XIX. Quadro 06 Ocorrência e atividades das características de fluxo nas etapas de 143 apuração, tratamento e distribuição de material nas agências de notícias. Quadro 07 Quadro do percentual de jornalistas trabalhando na Reuters em 193 comparação ao número total de empregados. Quadro 08 Divisão dos pacotes de serviços em cada núcleo de produção da 205 Reuters. Quadro 09 Oferta de produtos de acordo com a disponibilidade geográfica – I 207 Quadro 10 Oferta de produtos de acordo com a disponibilidade geográfica – II 208 Quadro 11 Produtos do núcleo de mídia da Reuters em relação as sub –áreas e 216 plataformas utilizadas. Quadro 12 Delimitação das etapas no jornalismo em relação às características 245 tecnológicas empregadas. Quadro 13 Delimitação das etapas tecnológicas empregadas nas agências de 249 notícias. Quadro 14 Implicações das características operacionais e de fluxo na etapa 250 analógica/eletrônica das agências de notícias. Quadro 15 Implicações da características operacionais e de fluxo na etapa 251 digital/ciber das agências de notícias. Quadro 16 Implicações das características operacionais e de fluxo na etapa 252/ online/web das agências de notícias. 253

Agência Estado 15

SUMÁRIO

Introdução 19

I Apresentação 19 II Razão da escolha do tema. 20 III Delimitação da pesquisa em torno das características operacionais e de 22 fluxo. IV Delimitação conceitual das agências de notícias. 25 V Antecedentes e estado atual da pesquisa. 26 VI Hipóteses e objetivos da pesquisa. 28 VII Método de pesquisa utilizado. 31 VIII Estrutura da tese. 39

Parte I Estruturação histórica, operação em rede e fluxos de informação. 44

1 Estruturação histórica das agências de notícias. 45

1.1 O contexto tecnológico e social no surgimento das agências de notícias 45 1.1.1 Fatores tecnológicos e sociais. 48 1.1.2 O uso do telégrafo no surgimento das agências de notícias. 57 1.2 A relação com o jornalismo no surgimento das agências de notícias. 60 1.3 Fatores e condições para a implementação de serviços. 72 1.3.1 A organização da informação em torno de serviços. 77

2 Redes e Agências de Notícias 82

2.1 As redes no tecido social. 82 2.2 Redes de comunicação e territorialidade. 86 2.3 Territorialidade e agências de notícias. 89 2.4 As redes como cerne operacional das agências. 91 2.5 Modelos de organização segundo a territorialidade. 95 2.5.1 As quatro-grandes agências (big – four) e a circulação de informações. 98 2.5.2 Territorialidade e Cartelização do mercado 99 2.5.3 Delimitação de mercados no cartel 100 2.5.4 O desmonte do cartel. 101 2.5.5 Desdobramentos do cartel no perfil operacional. 103 2.6 Características da infra-estrutura tecnológica aplicada às agências. 105 2.6.1 Embutimento. 107 2.6.2 Transparência. 107 2.6.3 Extensão. 108 2.6.4 Tomada como parte de uma associação 108 2.6.5 Vinculação com práticas 108 2.6.6 Incorporação de padrões 108 2.6.7 Existência de uma base instalada 109 2.6.8 Visibilidade em situações de falha 110

3 Características de fluxos informacionais nas agências de notícias. 109

3.1 O fluxo nas agências de notícias. 109 3.2 O encadeamento dos fluxos nas agências de notícias: elasticidade, fluxo 112 e onda. 3.2.1 Elasticidade de conteúdo e disseminação nas agências de notícias. 113 3.2.2 Fluxo e onda nas agências 116 Agência Estado 16

3.2.3 A multiplataforma nas agências de notícias 119 3.3 Problematização do conceito de espaços de fluxo em relação às agências 120 de notícias 3.4 As camadas do espaço de fluxos e as agências de notícias 123 3.5 Proposição das características do fluxo de informações nas agências de 125 notícias. 3.5.1 Volume de informações. 127 3.5.2 Escala de informações. 128 3.5.3 Intermitência de informações. 129 3.5.4 Distribuição de informações. 130 3.5.5 Prospecção de informações. 132 3.5.6 Filtragem de informações. 132 3.5.7 Alcance das informações. 134 3.5.8 Penetração de informações. 135 3.6 Particularidade das atividades de apuração, tratamento e distribuição nas 137 agências de notícias segundo as características dos fluxos de informação. 3.6.1 O modelo de apuração 137 3.6.2 O modelo de tratamento 138 3.6.3 O modelo de distribuição 141

Parte II Apresentação e detalhamento dos casos estudados 144

4 Agência Brasil 145

4.1 Delimitação e estruturação. 145 4.2 O estágio atual. 147 4.3 Serviços da Agência Brasil. 150 4.3.1 Brasil Agora 150 4.3.2 Economia 151 4.3.3 Política 152 4.3.4 Nacional 153 4.3.5 Agenda do Presidente da República 154 4.3.6 Brazilian news 155 4.3.7 Fotografia 156 4.3.8 Radioagência Nacional. 157 4.3.9 TV Brasil 158

5 Agência Estado 162

5.1 Delimitação e estruturação. 162 5.2 O estágio atual. 164 5.3 Serviços da Agência Estado. 168 5.3.1 O sistema AE Broadcast. 170 5.3.2 AE Sistema de Informação. 173 5.3.3 AE Mídia Texto e Foto. 178 5.3.4 AE Conteúdo. 181 5.3.5 AE Newspaper. 182 5.3.6 AE Data. 183 5.3.7 Distribuição de Releases. 184 5.3.8 Agência Estado on-line. 184

6 Agência Reuters 185

6.1 Delimitação e estruturação. 186 6.1.1 Jornalismo ou serviços de informação financeira? 188 Agência Estado 17

6.2 O estágio atual. 194 6.3 Serviços da Reuters. 203 6.3.1 Organização por área de atuação. 204 6.3.2 Organização por produtos tecnológicos. 206 6.3.3 Organização por Plataformas de disseminação. 213 6.3.4 A área de mídia. 215 6.4 Organização dos serviços da Reuters. 217 6.5 Demais serviços da Reuters. 222 6.5.1 Reuters Messenger. 223 6.5.2 Reuters mobile celular e PDA. 224 6.5.3 Reuters Dealer 224 6.5.4 Reuters na Internet. 225 6.5.5 Joint-ventures de informação com terceiros. 230 6.6 Comentário sobre a abordagem dos casos estudados. 230

Parte III As agências nas redes digitais. 232

7 Características e modelos das agências em redes e sistemas digitais. 233

7.1 Redes, sistemas digitais e condicionamentos sobre o modelo de operação 233 das agências de notícias. 7.2 Condicionamentos gerais das redes e sistemas digitais sobre o 237 jornalismo. 7.3 Posicionamento das agências de notícias nas redes e sistemas digitais. 239 7.4 A hibridização nas agências em modo de midiamorfose. 241 7.5 Etapas de desenvolvimento das agências em redes e sistemas digitais. 244 7.5.1 Recuperação das delimitações existentes acerca do jornalismo e as 245 tecnologias digitais e em rede. 7.5.2 Problemas iniciais de categorização das etapas de desenvolvimento 247 para as agências de notícias. 7.6 Etapas do desenvolvimento das agências de notícias. 249 7.6.1 A etapa analógica/eletrônica. 249 7.6.2 A etapa digital/ciber. 251 7.6.3 A etapa on-line/web. 252 7.7 Desdobramentos da interação das agências de notícias com a Internet. 253 7.7.1 A Internet como canal de transmissão de informação. 253 7.7.2 A Internet como ferramenta de trabalho. 254 7.7.3 A função de memória. 254 7.7.4 A Internet como mídia. 255 7.8 A hibridização de etapas tecnológicas nas agências de notícias. 257

8 Continuidade, Rupturas e Potencializações nas agências de notícias. 263

8.1 Aspectos gerais da tríade: continuidade, potencializações e rupturas. 263 8.2 Desdobramentos da tríade continuidade, rupturas e potencializações 267 sobre as características específicas das agências de notícias. 8.2.1 Continuidade e potencializações na formatação de serviços. 268 8.2.2 Continuidade e potencializações na dissociação entre informação e 271 suporte. 8.2.3 Continuidade e potencializações na descentralização operacional. 274 8.2.4 Continuidade e potencializações na velocidade operacional. 279 8.3 Rupturas nas dinâmicas das agências de notícias. 286 8.3.1 Rupturas por abandono. 286 8.3.2 Ruptura por criação. 288 8.4 Possíveis rupturas com a operação na Internet. 293 Agência Estado 18

9 Conclusões 301

10 Referências 328

11 Apêndices 345

Apêndice A Lista das agências em operação. 346 Apêndice B Lista dos serviços da Reuters. 355 Apêndice C Associações de agências. 372 Apêndice D Linha do tempo dos desenvolvimentos tecnológicos nas 375 agências de notícias. Apêndice E Correspondentes e editorias de internacional. 381 Apêndice F Glossário de termos usados. 386 Apêndice G Transcrição das entrevistas realizadas durante a observação de 389/407 campo.

12 Anexos 394

Anexo A Texto de matéria. 395 Anexo B Mapas dos sistemas de transmissão e de fluxo de informação. 402 Anexo C A replicação de uma notícia originada da Reuters em três sites 405 jornalísticos.

13 Termo de autorização para comutação 406

Agência Estado 19

INTRODUÇÃO

I – Apresentação.

Este trabalho de tese tem como orientação principal o estudo das características operacionais e de fluxo informativo presentes nas agências de notícias. De modo mais concreto, essa observação se faz em modo de percurso, recuperando elementos constitutivos para a formatação do modelo de operação das agências. No entanto, é ambição desta tese, estabelecer vínculos entre o caminho histórico e o momento contemporâneo. Trata-se, portanto, de um trabalho que procura indicar em que proporções ocorrem continuidades, e como, à luz de contextos tecnológicos digitais, há condicionamentos de novas dinâmicas.

A importância das agências pode ser percebida durante toda a sua história através da ação de circular notícias. É um cenário que remonta ao século XIX, quando o interesse dado pela expansão dos mercados, do público leitor, e a potencialidade de uma rede de comunicação, o telégrafo, reúnem condições de emergência das agências na intermediação de notícias e informações.

É, portanto, um fenômeno de comunicação, intimamente vinculado ao jornalismo e atrelado a uma lógica operacional em redes. Isso suscita algumas conjecturas. A primeira Agência Estado 20

delas é uma lacuna de abordagens que atualize o objeto de pesquisa das agências para o ambiente das redes digitais.

Nos últimos dez anos, aproximadamente, o fenômeno do acesso público à rede mundial de computadores promoveu uma potencialização sem precedentes na história da comunicação ao acesso à informação das mais diferentes naturezas. Gerou-se assim uma série de problemas para a pesquisa.

No caso do jornalismo na web, uma recente e diversificada bibliografia é produzida, sistematizando aspectos vinculados aos condicionamentos, que o jornalismo – uma prática aceita, reconhecível e historicamente consolidada –tem absorvido, ao transportar-se para o novo entorno tecnológico, gerando características específicas. No entanto, a atenção dada a estes processos não tem privilegiado, num volume proporcional, as pesquisas dedicadas ao jornalismo nas redes digitais, justamente um dos problemas que se situa de modo central na dinâmica de circulação de notícias: as agências.

A segunda, é que não há também uma preocupação de se identificar, sistematizar e relacionar as características específicas emanadas desses órgãos na formação de um modelo de operação. Assim, elencamos para esta pesquisa dois núcleos principais de investigação: as características operacionais e as de fluxo de informações. Na verdade, poderá ser verificado, durante o texto, que essas duas esferas são vinculadas e se interpenetram nas análises.

II – Razão da escolha do tema.

Por que estudar as agências de notícias? A motivação inicial para responder a esta pergunta surgiu durante a fase final do mestrado, concluído em 2000 na FACOM-UFBA, que redundou na dissertação: “Jornalismo 1.2: características e usos da hipermídia no jornalismo, com estudo de caso do Grupo Estado de São Paulo”. Durante o processo de pesquisa Agência Estado 21

observacional, chamou-nos a atenção o papel que a Agência Estado, pertencente ao grupo o

Estado de São Paulo, desempenhava na estrutura organizacional da empresa. Brevemente, a relevância se dava em torno de alguns aspectos;

a) potencialização de distribuição de um mesmo núcleo de conteúdos em

plataformas, modalidades e dispositivos distintos de acesso à informação;

b) busca de uma velocidade operacional;

c) elaboração de serviços destinados a uma circulação diferenciada, que não

contemplavam somente o jornalismo;

d) desenvolvimento próprio de soluções de tecnologia da informação (TI) para

integrar, otimizar e obter retornos diretos em função de uma operação

crescentemente complexa.

O desdobramento desta curiosidade estava presente na primeira proposta do projeto de doutorado. No entanto, era limitada a uma abordagem das agências como fornecedoras de conteúdo, e quais modelos tecnológicos estariam envolvidos nisso. Com o avanço da pesquisa, percebemos que este aspecto era uma parte restrita de um contexto amplo, que se traduzia na presença de características ligadas às atividades das agências. Ao expandir a perspectiva de pesquisa, percebemos que a importância de estudar a vinculação destes organismos se devia a três razões;

a) estarem interagindo com a produção de notícias para o jornalismo há, pelo

menos, 160 anos;

b) historicamente, a sua estruturação como modelos de negócios e geração de

notícias se deu em rede; Agência Estado 22

c) fornecem grandes parcelas de conteúdos que circulam nos jornais, sites de

notícias e agentes do mercado.

Com esses motivos em mente, a preocupação inicial buscava perceber de que modo se articulava o problema no contexto das redes digitais, como poderia haver condicionamentos e atualizações que pudessem contribuir para a compreensão do que se obtém ou materializa na operação desses organismos contemporaneamente.

III – Delimitação da pesquisa em torno das características, operacionais e de fluxo.

A definição das características a serem exploradas na delimitação desta tese se deu por algumas razões. Normalmente, nas pesquisas sobre características nascidas de ambientes tecnológicos determinados, a tendência se debruça sobre os problemas existentes no transporte de um conjunto de práticas específicas e seu conseqüente assentamento em novos contextos, como, por exemplo, a Internet. No caso do jornalismo na web, a resultante, nesse sentido, foi a delimitação de parâmetros (i.e.: hipertextualidade, multimidialidade, interatividade, atualização contínua, personalização e memória) presentes, por exemplo, nos trabalhos do grupo de pesquisa em jornalismo on-line da FACOM (Faculdade de comunicação) da Universidade Federal da Bahia, onde realizamos esta pesquisa. Esses parâmetros sincronizam-se com abordagens construídas em espectro internacional

(ARMAÑANZA,1996; BASTOS, 2000; PAVLIK, 2001; NOCI, 2003; SALAVERRIA, 2003,

BARDOEL e DEUZE, 2000) e terminam por consolidar, nos últimos 10 anos, o grupo da

FACOM como referência sobre o assunto em âmbito nacional e internacional.

O que nos parece válido indicar é que as características podem ser percebidas e reunidas em dois grupos distintos que não eram identificados como tal. O primeiro grupo se relaciona aos aspectos de cunho mais discursivo e/ ou narrativo, (DEUZE, 2001) no que toca Agência Estado 23

à formatação de conteúdo para a web, envolvendo, de modo mais direto a hipertextualidade, a multimidialidade e a interatividade.

O segundo grupo formar-se-ia em torno de características de cunho operacional, como, por exemplo, a renovação constante da informação pela velocidade; os diferentes tratamentos da informação; o acúmulo de dados para consulta ou combinação de informações e a produção sincrônica ou assíncrona no que toca à pulverização de uma prática em um espaço definido (LÓPEZ, 2005). São aspectos, pois, relacionados à organização da informação, e próximos dos trabalhados pelo grupo da FACOM, em torno de conceitos, como a atualização contínua, a personalização e memória (PALACIOS, 2002 e MIELNICZUK,

2003).

Assim, no nosso ponto de vista, ocorre a possibilidade de distinção entre essas esferas. Ao migrar essa diferenciação para a delimitação desta pesquisa, era necessário particularizar, em função do objeto estudado, pois se percebia que a singularidade estava concentrada mais na esfera operacional, na geração, circulação e estabelecimento de fluxos de informações. Assim, nas agências, a preocupação em elaborar formatos próprios para o seu conteúdo seria uma conformação secundária. Somente com o advento da Internet é que esse quadro muda um pouco de figura, quando as agências experimentam as primeiras iniciativas de disponibilizar parcelas de seu conteúdo na web.

Isso delineia, face ao percurso histórico das agências, o surgimento, razoavelmente definido, de quatro características operacionais que nomeamos como: a formatação de serviços, a velocidade operacional, a produção descentralizada e a dissociação entre conteúdo e suporte; além de oito características de fluxo de informações, que nomeamos como: o volume, a escala, a intermitência, a distribuição, a prospecção, a filtragem, o alcance e a penetração. Agência Estado 24

Entendemos que, voltarmo-nos para o estudo das características operacionais e de fluxo, estamos estabelecendo uma problematização mais urgente e mais próxima da realidade das agências, justamente por serem modelos estruturados para a geração e circulação de conteúdos em escalas globais.

Desse modo, aspectos discursivos e/ ou narrativos não consistem em objetos sobre os quais esta pesquisa estará debruçada de modo prioritário. Isso não significa, contudo, que abordagens que procurem analisar a formatação das agências à luz das reflexões existentes sobre as características dos jornais on-line, não sejam importantes. Na verdade, poderão ser percebidas possíveis articulações desse contexto com o recorte da tese. Porém, no nosso entendimento, suscitam um horizonte a ser deflagrado de modo particular, em momentos e pesquisas posteriores.

A justificativa para isso é que, no caso das agências, a discussão contribuiria teoricamente pouco ao debate e volume já existentes sobre essas características. Estaria, neste caso, mais voltada para a aplicação de um modelo teórico sobre um objeto específico.

Preferimos, devido a esse quadro, estabelecer um conjunto de análises mais delimitado aos processos vinculados ao percurso das agências de notícias, além de provocar e aprofundar reflexões sobre as características operacionais e de fluxo.

IV – Delimitação conceitual das agências de notícias.

Em geral, pode-se delimitar conceitualmente as agências de notícias como sendo organizações que elaboram e distribuem material para um universo de receptores Agência Estado 25

determinado. A Unesco, em 1953, define-as como “empresas que procuram e distribuem notícias às empresas jornalísticas e a outras entidades, privadas ou públicas, com o fim de lhes assegurar um serviço de informação tão completo quanto possível” (SOUSA, 2004, p.90)

Atualmente, no contexto complexo de configuração das redes digitais, não se pode categorizar, como sendo somente notícias, a natureza dos informes das agências. Desse modo, preferiu-se tratar nesta tese o produto gerado pelas agências, como material. Por vezes utiliza- se também o termo conteúdo, quando se busca uma vinculação mais próxima existente entre o produto gerado e direcionado para órgãos de cunho jornalístico. Utiliza-se se também os termos boletins, informes e despachos como semelhantes entre si e para designar as unidades de alimentação do material das agências para os seus clientes.

Assim, o material normalmente obedece a uma lógica que o direciona para dois setores: o de mídia (em tempo: entendida mídia aqui como o aportuguesamento do latim media, plural de medium, significante de meio de comunicação) e o de não-mídia. Esse direcionamento duplo está presente em uma definição revisada da própria Unesco (1980) sobre as agências de notícias:

Empresa que tem principalmente por objeto, qualquer que seja a sua forma jurídica, obter notícias e documentação de atualidades, que sirvam para exprimir ou representar os fatos, distribuindo-os a um conjunto de empresas de informação e, excepcionalmente, a particulares, mediante o pagamento de determinada importância, de acordo com as leis e usos comerciais, sempre à base de um serviço ser o mais completo e imparcial possível.

Como setor de mídia, compreende-se a vinculação existente entre as agências de notícias na alimentação de conteúdo para órgãos de comunicação. Normalmente, os órgãos assinantes tendem a ser empresas de comunicação, como veículos jornalísticos, redes de televisão, rádios, portais e jornais na web.

Como setor não-mídia, compreende-se a vinculação das agências no fornecimento de informação para organismos que não concentram sua operação no setor de comunicação, Agência Estado 26

como, por exemplo, bancos, bolsas de valores, corretoras, órgãos de gestão governamental e comércio.

Outra delimitação diz respeito à organização jurídica das agências de notícias, que podem ser privadas, estatais, comerciais, cooperativas e especializadas. Nesses modelos, permanece, razoavelmente homogênea, a atividade das agências no fornecimento de material e na subseqüente assimilação para um horizonte de consumo.

V – Antecedentes e estado atual da pesquisa.

No panorama recente de pesquisas, que abordam as agências de notícias como objeto central de estudo, observam-se, no âmbito brasileiro, algumas tendências. Assim, temos estudos voltados para a presença da informação gerada pelas agências em veículos específicos, normalmente abordando a relação de dependência no fornecimento de conteúdos

(FALCIANO, 1999; RIBEIRO, 2001). Há ainda abordagens sobre o papel das agências no direcionamento de informações para os meios de comunicação (AZEVEDO, 1992; PAIVA e

SILVA, 2002; SAAD, 2003), ou para agentes do mercado financeiro (CRUZ, 1999; LIMA,

1999; ARRUDA, 2001; CARVALHO, 2001; NARDELLI, 2003); enfoque sobre os aspectos organizacionais de distribuição de conteúdos (SILVA JR, 2000) e reconfiguração interna de políticas editoriais (ROCHA, 2004).

Nas pesquisas em que as agências se inserem de modo tangencial, não são o objeto central da pesquisa, emergem aproximações que colocam as mesmas como alimentadoras da notícia em tempo real (ARANHA, 2001; BRANDÃO, 2000; BRIGOLINI,

2001; MORETZSOHN, 2002; SOUZA, 2005) e da apropriação de material para uso em jornais (SANTANA, 2005).

No âmbito internacional, podem-se indicar abordagens históricas (COOPER,

1941; MORRIS, 1957; READ, 1992; STOREY, 1951), ao lado de trabalhos mais específicos Agência Estado 27

sobre a organização internacional de serviços (FENBY, 1986); perfis de agências específicas no contexto atual (SATOKAR, 2001; MOONEY e SIMPSON, 2003) e os estudos sobre o equilíbrio e balanceamento de notícias entre contextos locais e internacionais (WILLIAMS,

1972; UNESCO, 1980, 2001; SANCHA, 2005; SCHULZ, 2005; RUIZ, 2006).

Vale destacar especialmente a extensa produção de Oliver Boyd-Barrett, que remonta aos anos 80, abordando as agências à luz da Economia Política da Comunicação.

Esse debate pertinente às perspectivas da globalização das notícias foi atualizado recentemente, juntamente com outros autores (BOYD-BARRETT e RANTANEN, 1998;

KUNCZIK, 2000, MOSCA; 2002, MURO BENAIAS, 2006). São percebíveis ainda estudos nucleados em torno da atuação das agências nos efeitos do agendamento (MALEK e

KAVOORI, 1999; WU, 2000; GIFFARD e RIVENBURGH, 2000; NOSSEK, 2004;

FERNANDEZ, 2004; CAUDILL e MIXON, 2005); no processo de gatekeeping (FAHMI,

2005; KRUEGER, e SWATMAN, 2003, ROSENGREN, 2004); na produção da notícia

(PALMER,1998, 2003);e na vinculação com os serviços para os setores financeiro e de mercado (LYONS; 1997, PALMER, 1998b, KUNCZIK, 2000, BARTRAM, 2003; BERGER,

CHABOUD, e CHERNENKO, 2005; FLORES, 2005).

O que nos parece razoavelmente claro é que, no conjunto de pesquisas acima, permanece a lacuna sobre os condicionamentos que levem em conta a articulação dos aspectos operacionais com a prática das agências. Esta tese, portanto, procura descrever a indissociabilidade existente entre o conjunto de práticas das agências em torno de uma atividade em rede. Entenda-se rede nesse cenário como a interligação de diversos conjuntos de ações, pessoas, dinâmicas e objetivos que estão organizados em relações de comunicação sendo apoiadas, no caso desta tese, em infra-estruturas tecnológicas que dão suporte ao conjunto de fluxos de informação capaz de estabelecer uma determinada coesão operacional justaposta a uma amplitude territorial. As agências de notícias se configuram em modo de Agência Estado 28

rede, e somente através dessa formatação são capazes de assegurar a sua singularidade operacional e cumprir satisfatoriamente o seu contrato social estabelecido com os órgãos de comunicação em reunir, sistematizar, encaminhar e distribuir volumes significativos de informação com agilidade e alcance em escalas diferenciadas.

Há, no entanto, uma carência de bibliografia que aborde especificamente o viés das características operacionais e de fluxo, delimitado nesta tese. O nosso esforço foi, diante dos enfoques diversificados presentes no estado da arte da pesquisa, mapear os aspectos presentes de modo tangencial através de artigos, relatórios, para construir um quadro que permitisse referenciar e particularizar configurações em rede por parte das agências tendo em conta o seu papel na circulação de informações e notícias.

VI – Hipóteses e objetivos da pesquisa.

A elaboração das hipóteses desta tese surgiu nas reflexões proporcionadas durante a recuperação bibliográfica clássica e recente sobre o objeto, e também pelo estabelecimento de concatenações entre a recuperação do estado da arte e o quadro percebido do estado da prática. Ou seja: elementos que foram mapeados durante a pesquisa bibliográfica e na etapa de observação dos casos escolhidos para a construção do corpus empírico da tese.

A formulação das hipóteses está baseada no pressuposto que as alterações observadas nas agências de notícias são atreladas a desenvolvimentos tecnológicos, conforme assinala Machado (2003, p.64):

A evolução tecnológica marca as etapas do processo de trabalho e das relações sociais e, ao mesmo tempo, assinala as particularidades dos sistemas de circulação da notícia. É em consideração às funções do espaço e dos processos como as redes são ativadas no tempo que um sistema jornalístico se distingue dos outros. Como ao largo do tempo um sistema de circulação atua em consonância a um sistema de técnicas, o aparecimento dos satélites digitais, por exemplo, supôs para as agências de notícias novas formas de ações. Em um mercado aberto à competição mundial, a agência, por um lado, perde a exclusividade da venda no atacado das notícias externas Agência Estado 29

para cada país, que passa a disputar com as cadeias mundiais de televisão ou os sistemas regionais de intercâmbio, e por outro lado, entra nos mercados de varejo internos e externos.

Esses desenvolvimentos, por sua vez, promovem a criação de um cenário de circulação diferenciado, oferecendo condições e possibilidades necessárias para o aparecimento de novos arranjos para a sua operação.

Nesse sentido, coincidimos com algumas tendências teóricas. Destacamos as elaboradas por Fidler (1998), que aborda a progressão dos meios de comunicação como um todo, através da interpenetração e transposição de modelos preexistentes, conforme o conceito de midiamorfose; Palacios (2002, 2003), onde a progressão de fenômenos comunicacionais em rede se orienta por uma ação tríplice de continuidades, potencializações e rupturas; e

Castells (1999), onde os processos midiáticos estão inseridos numa dinâmica mais ampla, conceituada em torno da sociedade em rede. Diante deste quadro, as hipóteses propostas são;

a) a estruturação das agências de notícias configura características operacionais e

de fluxo próprias, que surgem na articulação entre a ação de agenciamento e

os dispositivos tecnológicos envolvidos;

b) a inserção das agências no ambiente de circulação de notícias e informações

está diretamente ligada à sua capacidade de estabelecer fluxos de informações

constantes, regulares e ajustáveis, bem como à potencialização das suas

características operacionais;

c) quando da interação das agências de notícias com as redes digitais, há uma

permanência do modelo de operação mais geral de agenciamento, ocorrendo,

em paralelo, hibridizações e o estabelecimento de dinâmicas de continuidades,

potencializações e rupturas; Agência Estado 30

d) surgem, na interação das agências com as tecnologias digitais, características

novas, vinculadas às suas características originais, que reorientam,

parcialmente, aspectos das suas operações.

Durante a elaboração desta tese, traçaram-se alguns objetivos que estão vinculados ao trabalho em torno das hipóteses. São eles;

a) recuperação dos elementos do percurso histórico das agências de notícias e

interação com dinâmicas tecnológicas e sociais nos modelos presentes no seu

surgimento;

b) perceber como esse primeiro momento das agências contribui para a

configuração de características operacionais ao longo do seu desdobramento

histórico;

c) indicar aspectos da estruturação em modelos de redes primitivas, como o

telégrafo, e as conseqüências desse modelo na operação das agências;

d) estabelecer os desdobramentos das características operacionais nos fluxos de

informação e indicar os elementos constitutivos do fluxo na circulação de

informações;

e) eleger casos significativos, representativos e atuais para a análise das

discussões elaboradas e que sejam capazes de alimentar as reflexões entre o

estado da prática e as hipóteses;

f) verificar, através de comparações dos casos estudados, as particularidades de

organização em torno das características operacionais e de fluxo de

informações; Agência Estado 31

g) identificar os movimentos de adaptação e hibridização das características

operacionais das agências face ao contexto das redes digitais;

h) indicar aspectos de continuidade, potencializações e rupturas nas

características das agências e nos casos estudados;

i) propor um modelo de investigação, capaz de mapear possíveis tendências,

possibilidades e desdobramentos para análise das agências e para áreas afins

com as quais esta pesquisa intersecciona.

VII – Método de pesquisa utilizado.

Em face dos objetivos e hipóteses indicados, a metodologia adotada para esta tese

é a de estudo de casos. Este método surge nos Estados Unidos, na Universidade de Harvard, para o ensino na área de Administração. Segundo Gil, o estudo de caso atualmente “é adotado na investigação de fenômenos das mais diversas áreas do conhecimento” (1991, p.59), pois tratam de:

[...] procedimentos relativamente sistemáticos para a obtenção de observações empíricas e/ou para as análises de dados podem ser usados. Tanto descrições qualitativas como quantitativas do fenômeno são freqüentemente fornecidas e o investigador caracteristicamente conceitualiza as interrelações entre propriedades do fenômeno observado. Uma variedade de procedimentos de coleta de dados pode ser empregada no estudo relativamente intensivo de um pequeno número de unidades de comportamento. Os métodos empregados incluem, entre outros, entrevista, observação participante e análise de conteúdo. (GIL, 1991, p. 65).

Para alguns autores, entre eles Rodríguez (1996), a principal característica dos estudos de casos está no descobrimento de novas relações e conceitos, surgidos a partir do exame dos dados coletados. Assim, para alcançar os objetivos, é preciso que, antes de preocupar-se com o caráter representativo do caso a ser escolhido, o investigador detenha suas atenções para o caráter peculiar, subjetivo e idiossincrático do caso. Agência Estado 32

Se trata de selecionar aquel diseño que nos permita aprender lo más posible sobre nuestro objeto de investigación, sobre el fenómeno en cuestión y sobre el que el caso, o casos, concreto nos ofrece una oportunidad de aprender (Rodríguez, 1996, p.99)2.

Em adição, ao buscar uma observação exaustiva acerca de determinado objeto de pesquisa, o estudo de caso permite ao pesquisador uma descrição mais detalhada de como o fenômeno se manifesta, fornecendo elementos para a criação de modelos ou matrizes de análise para estudos posteriores (RODRÍGUEZ, 1991, p.45). Em Lopes (1994, p.112), o estudo de caso é indicado como um procedimento de levantamento de dados que implica a vinculação de processos teóricos a um objeto de conhecimento verificável. Nesse sentido, o estudo de caso permite o desvelamento de novas relações e conceitos, em função do objeto a ser estudado. Por sua vez, Yin (2005, p.32) define que o escopo de um estudo de caso baseia- se numa recuperação empírica que investigue um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites e remetimentos entre o fenômeno e o contexto mais amplo não são claramente definidos.

Assim, elegemos três casos representativos e atuais que tivessem potencial de proporcionar uma maior possibilidade de comparações válidas entre os casos observados e derivações mais precisas para análises de outros casos e estudos futuros que tenham objetos de investigação semelhantes. Os casos escolhidos foram: a Agência Brasil, A Agência Estado, pertencente ao grupo Estado de São Paulo, e a Agência Reuters.

Se o estudo de casos possui limites na generalização de suas conclusões, optamos por três casos justamente para se ter um espectro maior de observação. Em Yin (2005, p.33), abre-se a possibilidade de estudo de casos múltiplos ou únicos. Os casos múltiplos, ainda

2 Trata-se de selecionar um desenho que nos permita aprender o máximo possível sobre nosso objeto de pesquisa, sobre o fenômeno em questão e sobre o que o caso, ou casos, concreto nos oferece na oportunidade de aprender (Tradução do autor).

Agência Estado 33

segundo o autor, são mais adequados à formação de estudos comparativos, por serem possíveis de estabelecer relações comuns e distintivas.

Recorte observacional.

O caráter das hipóteses levantadas nesta tese aponta para a aplicação de técnicas de investigação que sejam capazes de mapear o surgimento das características operacionais e de fluxo. Devido a essa perspectiva complexa, o método do estudo de caso é aplicado em três estratégias: Estudo descritivo, estudo exploratório e estudo explanatório (YIN, 2005, p.23).

Essas estratégias não são mutuamente exclusivas, podendo ser aplicadas em momentos distintos da pesquisa e de acordo com a relevância que cada etapa suscita (YIN, 2005, p.28).

A estratégia descritiva visa demonstrar a presença do fenômeno no contexto em que ocorre. Aplicamos esse viés para recuperar os aspectos envolvidos no surgimento das agências, de modo a estabelecer eixos causais entre o que ocorre historicamente e a formação das características analisadas.

A estratégia exploratória busca indicar aspectos da intervenção em curso de um fenômeno sobre um caso e que não está demonstrada claramente em forma de resultados

(YIN, 2005, p. 35). Esse viés foi usado na observação dos casos devido a não se ter certeza de como ocorria a aplicação das características operacionais mapeadas pelo estudo descritivo. A exploração era necessária de modo a verificar o estado da prática de determinados conjuntos de ações e atualizar com os dados da base descritiva.

Na estratégia explanatória, procura-se descrever a incidência ou predominância do fenômeno, ou quando ele for previsível sobre certos resultados (YIN, 2005, 25). Para a pesquisa, procurou-se estabelecer vínculos que recuperassem e atualizassem para o momento contemporâneo os aspectos descritivos e exploratórios. Agência Estado 34

Podemos assim afirmar que a pesquisa que gera esta tese teve três abordagens envolvidas: uma, de caracterização histórica e sociológica, presente de modo mais claro na etapa descritiva do trabalho; outra de estudos de casos comparativos presente na etapa exploratória; e por fim, uma abordagem compreensiva que objetiva atualizar o problema para o momento contemporâneo e que se percebe de modo mais claro no estudo explanatório.

As técnicas de investigação aplicadas na pesquisa através de estudo de caso constituem-se basicamente em;

a) recuperação do percurso do objeto;

b) visita aos locais de produção, com vistas a observar os modelos de operação;

c) entrevistas semi-estruturadas com pessoas da operação e direção dos órgãos

envolvidos;

d) observação dos procedimentos e critérios de distribuição dos serviços

produzidos.

Os procedimentos de coleta de informações para a pesquisa definiram-se em torno de técnicas de obtenção de dados para cada uma das estratégias envolvidas, como pode ser verificado no quadro a seguir. Agência Estado 35

Estratégias Delimitação em face aos casos Técnica de coleta Objetivos de estudo de estudados de dados caso (Agência Brasil, Agência Estado, Reuters)

Descritiva Os modelos de organização e Pesquisa Recuperação do percurso histórico. surgimento de características bibliográfica. Perceber as primeiras configurações operacionais. das características operacionais e de fluxo.

Exploratória Estruturação histórica de cada caso Pesquisa Verificar as peculiaridades de estudado. bibliográfica, organização dos casos em torno das observação in-loco, características. Observação do estágio atual de cada observação de caso. produtos e Observação do conjunto de práticas entrevistas. em cada caso estudado.

Explanatória O estado da prática de cada caso Pesquisa Estabelecer relações entre os casos estudado bibliográfica, estudados e as redes digitais. entrevistas e Os resultados de cada caso estudado Indicar aspectos nos casos observação. estudados de continuidades, potencializações e rupturas

Quadro 01 - Resumo dos aspectos metodológicos para a observação dos casos.

Escolha dos casos estudados.

Objetivando escolher casos representativos, a opção foi orientada de modo que os três casos escolhidos oferecessem aspectos complementares, de acordo com a sua configuração. Os casos escolhidos: a Agência Brasil, a Agência Estado e a Reuters, estabelecem esse grau de complementariedade. Isso pode ser afirmado nos termos da área de atuação, da organização jurídica e do modelo de organização, além, naturalmente, dos percursos históricos bastante diferenciados das três empresas analisadas. Descartou-se a possiblidade de um estudo por amostragem eventualmente gerada de modo aleatório, que poderia ser sugerido graças a profusão de um número significativo de agências existentes atualmente. Essa opção se deu não em modo de pré-julgamento da importância das agências Agência Estado 36

de notícias envolvidas na pesquisa, mas sim na percepção que a singularidade de cada uma delas fornece elementos através dos quais os seus resultados emanados de cada uma e apontados na pesquisa são extremamente similares aos que poderiam ser elegidos de modo aleatório.

Temos, relativa à área de atuação, a Reuters como uma agência de presença internacional, e a Agência Brasil e Agência Estado com atuação voltada, sobretudo, mas não exclusivamente, para o alcance nacional. Quanto à organização jurídica, temos uma agência estatal, a Agência Brasil, ligada ao aparelho da administração federal; e as duas outras, a

Agência Estado e Reuters, constituídas como empresas comerciais. No que toca ao modelo de organização, temos uma agência não vinculada a grupos editoriais, a Reuters; outra comercial, porém formada de modo a atuar em sinergia com um grupo editorial, a Agência Estado e, por fim, a Agência Brasil, que atua fornecendo notícias para outros órgãos de imprensa, ligados ao aparelho do estado brasileiro.

A Agência Brasil, por sua vez, fornece todos seus conteúdos de modo gratuito e através de uma única plataforma: a Internet. A Reuters e Agência Estado, ao contrário, atuam disseminando conteúdos em plataformas diferenciadas e gerando serviços, na maioria, pagos.

Estas duas últimas dispõem de sites abertos na Internet, porém estes não apresentam a totalidade do volume que elas geram.

Por fim, temos, na Agência Brasil, um modelo que trabalha voltado para conteúdos e serviços, exclusivamente direcionados para a mídia, enquanto que a Agência

Estado e a Reuters atuam tanto no mercado de mídia, como de não-mídia.

Outro aspecto que levou à essa escolha foi o fato das três agências terem passado, ou estarem em processos de reorganização de modelos de operação, em face às tecnologias digitais. A escolha também se deu em função de aspectos presentes em cada uma das agências, conforme indica o quadro a seguir. Agência Estado 37

Agência Brasil. a) É um caso clássico de agência constituída no modelo estatal;

b) Possui um percurso histórico significativo;

c) Apresenta um alto índice de assimilação dos seus serviços em nível nacional, com aproveitamento em diversos órgãos;

e) É um caso relevante de migração dos serviços para o ambiente digital.

Agência Estado. a) É a maior e mais antiga agência, no âmbito jornalístico e comercial dentro do contexto brasileiro;

b) Apresenta um razoável histórico de uso e desenvolvimento de dispositivos e plataformas digitais para circulação de serviços;

c) Oferece um número significativo de serviços distribuídos em alternativas tecnológicas diferenciadas, o que potencialmente enriquece a análise;

d) Atua no binômio de notícias e informação de mercado no âmbito nacional, praticamente de modo isolado, o que permite paralelos com a Reuters.

Reuters. a) É a maior do mundo, no tamanho da rede, no número de funcionários e de serviços, e uma das mais antigas em atividade contínua;

b) É pioneira no estabelecimento de uma operação de agenciamento de notícias;

c) Possui um longo histórico de desenvolvimento e aplicação de recursos tecnológicos de comunicação;

d) Criou alguns padrões de operação em redes e sistemas digitais para o universo das agências de notícias;

e) Atua no provimento de informações no binômio de notícias e informações de mercado em contextos transnacionais. Quadro 02 - Aspectos de contribuição para a escolha dos casos.

O período de observação in-loco dos casos foi realizado entre 12 de abril e 20 de maio de 2005, nos escritórios da Agência Brasil, em Brasília, e da Agência Estado e Reuters, estas em São Paulo. Para a obtenção de dados posteriores, as informações eram obtidas através de e-mail e de programas de conversação por texto, como o MSN.

VIII – Estrutura da tese

Além desta introdução, esta tese é composta por oito capítulos, uma conclusão, sete apêndices e três anexos. Dividimos a sua estruturação de acordo com as técnicas de Agência Estado 38

pesquisa adotadas e os objetivos propostos. Temos assim três partes: uma descritiva, uma exploratória e por fim, uma explanatória.

Na parte descritiva constam três capítulos. Eles procuram explorar contextos históricos, interações das agências de notícias com as primeiras redes de dados e a criação de fluxos de informações.

No capítulo 1, Estruturação histórica das agências de notícias, procuramos recuperar, identificar e concatenar elementos do contexto histórico, social e tecnológico que, no surgimento das agências, ainda no século XIX, contribuem para a configuração das características operacionais. Dedicamos uma atenção especial ao uso do telégrafo e aos fatores e condições de implementação dos serviços de informação. Procuramos, ainda, enfatizar a discussão teórica de modo a projetar elementos que pudessem subsidiar a observação dos casos específicos de estudo.

No capítulo 2, Redes e Agências de Notícias, indicamos, através de uma abordagem de cunho sociológico e histórico, como as agências se estuturaram em torno da concepção de rede, ainda em modelos analógicos; que desdobramentos essa associação oferece para a configuração da sua operação; que modelos de organização territorial surgem; e, por fim, as particularidades do uso de infra-estruturas para estabelecer uma atuação ampla e em escalas transnacionais.

No capítulo 3, Características de fluxos informacionais nas agências de notícias, problematizamos o fluxo de informações, recuperando aspectos elencados por

Castells (1999) em torno dos espaços de fluxo, aplicando essa reflexão ao caso das agências.

Dessa abordagem, propomos uma conceituação das características de fluxo. Há ainda, neste capítulo, uma problematização de como os modelos de apuração, tratamento e distribuição se configuram segundo os fluxos. Agência Estado 39

Na parte exploratória, temos os estudos de caso, sendo um capítulo para cada caso observado. O capítulo 4 é dedicado à Agência Brasil, o 5 à Agência Estado e o 6 à Reuters.

Em cada capítulo adotamos a mesma estrutura, que se apresenta da seguinte maneira: uma recuperação dos percursos da estruturação de cada uma das agências, o estágio atual de práticas e a configuração dos serviços em curso. Procuramos, assim, fornecer elementos que permitam tanto a análise da manifestação das características operacionais e de fluxos, como o desdobramento para o contexto contemporâneo.

Na parte explanatória, temos os capítulos 7 e 8. Nesses, refletimos o estado da prática das agências no contexto das redes digitais e, paralelamente, já concatenamos com os resultados da observação dos casos. Procuramos, através dessa opção, tanto estabelecer vinculações mais evidentes entre as esferas envolvidas (os casos e o estado de práticas nas redes digitais) como também poupar a necessidade de um capítulo exclusivo dedicado aos resultados, o que avolumaria excessivamente a tese.

O capítulo 7, Características e modelos das agências em redes e sistemas digitais analisa o posicionamento das agências permeado pelo ambiente da comunicação digital no momento contemporâneo. Nessa abordagem, procuramos nos deter sobre aspectos da hibridização e como se podem categorizar etapas de desenvolvimento tecnológico das agências. A partir dessa delimitação, indicamos como as agências reconfiguram dinâmicas das características operacionais e que diferenciais surgem em face dos novos contextos tecnológicos. Em paralelo, há o remetimento dos elementos problematizados com os dados obtidos nos casos estudados.

O capítulo 8, Continuidade, Rupturas e Potencializações nas agências de notícias, problematiza os fatores envolvidos na manutenção, ampliação e abandono de elementos e dinâmicas das agências ligados às características operacionais e de fluxos. Como Agência Estado 40

no capítulo 7, procuramos aproximar as reflexões trabalhadas com dados obtidos na pesquisa dos casos.

A conclusão está elaborada em dois níveis. O primeiro diz respeito aos aspectos mais gerais, relativo às características operacionais e de fluxos e como as mesmas se traduzem em possibilidades de continuidades, potencializações e rupturas da prática das agências de notícias. No segundo nível, procuramos estabelecer conclusões mais específicas em relação ao recorte observacional dos casos estudados, indicando como se articulam e se configuram, em cada caso, as características presentes.

Como se percebe, na estruturação dos capítulos, não dedicamos tópicos específicos para a definição das características operacionais. Optamos por esse caminho devido ao fato dessas características estarem, como será observado na leitura da tese, interligadas, dependentes e interpenetradas umas às outras, além de, no desenrolar do texto, ser possível estabelecer relações e mapeamentos mais diretos com o percurso de desenvolvimento das agências, explorado na etapa descritiva da tese.

Nos apêndices e anexos, temos uma série de informações complementares sobre a tese. Eles são relevantes por não somente complementarem aspectos associados a tese, como também fornecem dados importantes para futuras investigações. O apêndice A consiste numa lista das agências de maior importância em atividade atualmente. Indicamos ainda nesta lista, o país de atuação, o modelo de organização jurídica, o endereço na Internet e as republicações que cada um faz de outros órgãos ou agências. Não é um apêndice sem falhas. Houve limites de ordem idiomática que permitissem uma classificação mais precisa (agências com páginas sem versão em inglês, e construídas em línguas as quais não dominamos, como: tailandês, romeno, farsi, etc), e de acesso, pois há casos onde o site de determinadas são acessíveis em alguns momentos e, em outros, não. Contudo, acreditamos que a lista é válida por permitir o Agência Estado 41

remetimento a aspectos trabalhados no corpo da tese, além de servir como fonte parcial para estudos futuros.

O apêndice B é uma lista dos serviços da Reuters, categorizada por área de atuação. Adotamos colocar a lista completa em um apêndice pelo fato do grande número de serviços desta agência (mais de 500). Isto avolumaria excessivamente o capítulo dedicado à mesma.

O apêndice C é uma lista das associações mais ativas, formadas entre agências internacionais. Indicamos, neste caso, o nome das associações e as agências que participam de cada uma. É uma lista sujeita a falhas, pelo fato de nem todas elas possuírem fontes de verificação dos membros, nem as agências, nas suas páginas, indicarem de modo claro se são associadas e a qual grupo pertencem.

O apêndice D é uma linha do tempo dos desenvolvimentos tecnológicos nas agências de notícias. Achamos interessante dispor tais informações de modo a complementar mais claramente algumas das informações presentes no percurso do texto e também sanar a curiosidade sobre determinados dispositivos empregados.

O apêndice E é uma lista de correspondentes estrangeiros, tanto os brasileiros que estão fora do país, como os estrangeiros que trabalham no território nacional. É uma indicação dos profissionais que atuam não somente nas agências, mas em jornais e canais de televisão, rádios e veículos da web. Consta também uma lista das editorias do setor internacional, dos principais jornais brasileiros. A intenção é fornecer um dado paralelo, para possíveis contatos suscitados por interesses de pesquisas futuras.

O apêndice F é um pequeno glossário dos termos usados nesta tese oriundos do jargão da informática e também da cultura interna das agências que, nem sempre, são de conhecimento corriqueiro pelos leitores da área de Comunicação. O apêndice G consta de transcrição das entrevistas realizadas durante a observação de campo. Optamos por incluir as Agência Estado 42

entrevistas em formato digital de texto, pelo fato de que conjuntamente, totalizam 170 páginas, o que aumentaria o volume desta tese imensamente. Em adição, optamos por deixá- las na integra de cada declaração, respeitando o contexto dos depoimentos e permitindo assim que os mesmos possam servir de subsídio para outras pesquisas.

O anexo A reproduz textualmente uma matéria à qual fazemos menção na tese. A matéria é: “EUA montam nova Internet para usar como arma. Meta é dar ‘perspectiva de

Deus’ aos americanos durante guerras”, publicada em 13 de janeiro de 2004 no The New York

Times e republicada no UOL.

O anexo B consiste em quatro mapas que ilustram a distribuição e concentração dos sistemas de transmissão e de dados relacionados a fluxo de informação. Esses mapas contribuem para exemplificar graficamente alguns dos pontos trabalhados na tese.

O anexo C ilustra a replicação de uma notícia gerada pela Reuters em web sites jornalísticos brasileiros. Trata-se de uma ilustração de exemplo trabalhado na tese.

Mostramos, na introdução desta tese, os aspectos através dos quais se buscou orientar a condução desta pesquisa. Dessa forma, procurou-se delimitar o modelo de análise para que pudesse não somente dar conta do problema proposto aqui, mas também, posteriormente, encaminhar enfoques que possam contribuir para pesquisas futuras a respeito das agências de notícias. O produto de tal esforço coloca-se a seguir. Agência Estado 43

Parte I - Estruturação histórica, operação em rede e fluxos de informação. Agência Estado 44

1 Estruturação histórica das agências de notícias.

“Jornais (em lugar de orações diárias) estradas de ferro, telégrafo”. - Martin Heidegger.

1.1 – O contexto tecnológico e social no surgimento das agências de notícias.

A compreensão do papel complexo desempenhado atualmente pelas agências de notícias tem sua configuração justaposta a uma seqüência de eventos que remonta ao século

XIX. Desse modo, começaremos este trabalho recuperando os elementos principais, existentes no contexto social e tecnológico daquele momento. Essa perspectiva se justifica pelo fato de que as agências, ao se estabelecerem como fontes alimentadoras, configuraram modelos diversos de circulação de notícias e de informação. Porém, essa relação situa-se dentro de um espectro mais amplo de fatores sociais e tecnológicos condicionantes.

Os condicionantes podem ser compreendidos, de modo geral, como processos deflagrados pela revolução industrial. Esta, segundo Ellul (1968, p.37-44), caracteriza-se pela estabilização do sistema técnico, onde ocorre menos um progresso direcionado às invenções e mais notadamente uma aceleração no ritmo das inovações da eficiência produtiva. Nesse cenário, ocorre a combinação das inovações tecnológicas de produção, somadas à formação de arranjos sociais particulares em torno da industrialização progressiva. Agência Estado 45

No cenário social, os desdobramentos desse conjunto de mudanças implicam, em termos mais gerais, no desaparecimento cada vez mais acelerado dos últimos vestígios feudais; o fim do absolutismo e a consolidação dos estados-nação; na progressiva secularização da sociedade influenciada pela revolução francesa e na mudança da autoridade epistemológica de construção de um modelo de conhecimento, que saía de uma razão mística e mágica, para outra, orientada pelo cientificismo e pela tecnologia3. Este último ponto, segundo Lemos, encontra raízes no Renascimento:

[...] é pelo conjunto de revoluções técnicas que o Renascimento cria também uma revolução epistemológica que prepara o imaginário social para o surgimento da modernidade. [...] Onde o homem ocupa o papel central na substituição de uma ordem divina pela razão científica. (LEMOS, 2002, p.48).

Conseqüentemente nesse quadro houve desdobramentos diretos nas atividades relacionadas ao jornalismo de então, na sua produção e circulação de notícias. O pano de fundo, na primeira metade do século XIX, apresentava a vida social envolvida por um movimento de mudança. No entanto, para o jornalismo, a passagem, de um modelo de circulação de notícias mais irregular para outro, mais aperfeiçoado, deu-se de modo gradativo.

Conforme indicam alguns autores (CHARTIER, 1998, p.9; EISEINSTEIN, 1998, p.299), o que se cunha como cultura impressa é um processo de longo prazo, onde, ao aperfeiçoamento dos sistemas de impressão mecânicos, incorporam-se uma nova cultura, novos modos de acesso e circulação da informação e, conseqüentemente, modos inéditos de pensar e de produzir.

Franciscato (2005, p.39), indica que, para alguns autores, a relação entre a revolução da cultura impressa e os aperfeiçoamentos no jornalismo não é uma unanimidade

3 É justamente nos locais onde, por exemplo, o caráter de controle da Igreja estava mais neutralizado com a reforma protestante, que a imprensa reconheceu avanços significativos. Para detalhar tal relação, cf. Eisenstein (1998, p.167-170). No trabalho, a autora delineia a importância da imprensa na Alemanha e na Holanda no papel de divulgação das teses de Lutero e na consolidação da Reforma. Bem como da expansão das obras científicas no período. Agência Estado 46

tão direta. A hipótese paralela é que o jornalismo ganhou seu espaço de circulação no meio social a partir dos boletins, dos informes e das correspondências que traziam notícias, modelos assistemáticos de produção e circulação.

No entanto, os desdobramentos do cenário da produção industrial sobre o jornalismo daquele momento deflagrava um progressivo desaparecimento desses modelos.

Através dos sistemas mecânicos e industriais, a produção de jornais pode se estabelecer em série, em tiragens maiores, de modo regular e periódico. Isso distingue cada vez mais o jornalismo como uma forma distinta culturalmente reconhecível e diferenciada de modelos híbridos de circulação da informação (FRANCISCATO, 2005, p.26-32).

A possibilidade de se ter à mão recursos de produção mais sofisticados e eficientes deve, todavia, ser observada dentro de uma delimitação. Ao se substituírem modelos artesanais, a mecanização uniformiza o processo de impressão, ampliando a possibilidade de leitura e penetração nas camadas sociais. Contudo, as tecnologias de impressão não aumentam, por si só, a velocidade de circulação das notícias. Isto só vai ocorrer quando, ao desenvolvimento de técnicas de impressão, se justapuser a expansão das redes de transporte, estabelecendo possibilidades para o alargamento da circulação de notícias. Todavia, a existência de um padrão técnico de produção colabora para estabelecer uma regularidade editorial.

Para um jornal, a idéia de produção de notícias, no que tange à sua vinculação geográfica, remete-se a acontecimentos que podem ocorrer em esferas locais, nacionais ou internacionais. Como indica Franciscato (2005, p.41), cada uma dessas esferas vai exigir modos específicos de produção, onde as notícias de caráter nacional ou internacional presumem necessariamente a existência de sistemas de transporte e de comunicações. Assim, a distribuição e fluxo das informações demandadas pelos jornais de então, podem ser observadas através de três balizadores; Agência Estado 47

a) o estabelecimento de um território nacional, que delimita a área de

responsabilidade de cobertura de um periódico, segundo padrões específicos

como, língua, ação de um estado institucional e de direito, ações políticas,

econômicas e sociais e, claro, a ocorrência de identidade nacional-cultural

(MACHADO, 1998);

b) a existência de uma estrutura para distribuição (estradas, ferrovias, canais)

desses periódicos, aliada ao interesse do contato do cidadão dos centros mais

distantes com as comunicações oficiais, as questões comerciais e as de caráter

político-nacional;

c) através da revolução industrial, a expansão do capital comercial e industrial,

possibilitou também a aquisição de meios tecnológicos. Isso foi, de forma

central, responsável pelo povoamento de oficinas de arte gráfica e,

posteriormente, jornais, criando uma base consolidada do sistema de produção

de material editorial e jornalístico (SODRÉ, 1998, p.9).

1.1.1 – Fatores tecnológicos e sociais.

Com a expansão dos meios de transporte e comunicações, há uma potencialização sem precedentes de uma necessidade e prática já existentes desde a antiguidade: o trânsito de informações através de extensas parcelas territoriais. Antes desse período, a coleta de notícias era uma tarefa irregular, no que toca aos métodos, e difícil, no que tange aos recursos envolvidos. Os métodos envolviam a republicação presente em jornais estrangeiros, relatos de viajantes, coleta de informações em portos (RIZINNI, 1968, p.73) (ROSEWATER, 1930, p.37 apud HESTER, 1980, p.49), correspondentes pagos e mensageiros (EINSENSTEIN, Agência Estado 48

1998, p. 112, 118). Tal quadro era assistemático e de inerente dificuldade para cumprir, de modo regular, a alimentação de notícias.

A necessidade de se criar modelos de comunicação mais eficientes e sistematizados era, pois, de central relevância para os interesses em torno das notícias. O século XIX tem importância nesse contexto enquanto catalizador do fenômeno das redes de comunicação. O diferencial é que essa rede se constituiu em escalas que poderiam ser colocadas como globais, para a época, e não mais circunscritas a delimitações territoriais locais.

O telégrafo foi a primeira aplicação prática do potencial da eletricidade para o campo da comunicação (THOMPSON, 2002, p.137). De desenvolvimento incipiente em fins do século XVIII e começo do século XIX, foi a partir de 1837, na Inglaterra, e em 1844 nos

Estados Unidos, que se desenvolveram modelos consistentes que exploravam sua característica de modo mais efetivo4.

O século XIX foi o século da comunicação, tanto do ponto de vista do ideal histórico, como do plano de desenvolvimento técnico, com a conquista do mundo pelo trem, abertura de rotas marítimas, o telégrafo e o telefone. (WOLTON, 2004, p.93).

A cisão que essas tecnologias proporcionaram foi, sobretudo, a separação entre o transporte físico e a circulação e transmissão de informação. As distâncias podiam ser, pela primeira vez, compactadas, permitindo uma circulação de informação rápida e eficiente em grandes extensões geográficas5. Possibilitou-se, assim, a transmissão de mensagens de naturezas diversas (comerciais, governamentais, financeiras, militares, políticas, etc.)

4 Já nos primeiros experimentos de Whetherstone na Inglaterra, e de Morse, nos Estados Unidos, podia se ter uma cadência de 1500 palavras/hora (STANDAGE, 1998, p.65). 5 Apesar de ser um advento de ordem tecnológica, os interesses que motivaram e criaram as demandas para a circulação de informações eram principalmente de caráter político (os interesses dos impérios) comerciais (a atualização de informações acerca de atividades e mercadorias de outros centros comercias) e militares (FENBY, 1986, p.29). Tal perfil de implementação repete-se na origem da internet, através de redes como a ARPANET e a NSFNET, que eram redes de dados militares. Agência Estado 49

poupando, em parte, cada uma dessas esferas institucionais de ter que desenvolver estruturas próprias de comunicação.

A ressalva a se observar é que, paralelo ao seu surgimento, o telégrafo necessitou ser popularizado. Antes de se tornar um modo acessível e confiável de transmitir mensagens, houve esforços para aumentar a sua penetração no meio social. Em Standage (1998, p.72) indica-se que, nos primeiros anos de seu invento, as resistências principais eram sobre a eficiência e funcionalidade do telégrafo e sua real utilidade, além dos custos elevados de envio das mensagens. Talvez por conta dessa resistência inicial, que, de certo modo, alijava o cidadão comum do uso, os primeiros a utilizarem os serviços do telégrafo foram o governo, as empresas e o comércio. A imprensa, claro, era uma boa cliente e respondia com um uso mais intenso do sistema, por produzir mensagens mais longas (as notícias) e em intervalos mais curtos (FRANCISCATO, 2005, p.45; STANDAGE, 1998, p.54).

Esse quadro está inserido como um dos desenvolvimentos chave entendidos como presentes e necessários para a expansão das redes de comunicação no século XIX. Conforme indica Thompson (2002, p.137), ele se combina também ao desenvolvimento posterior dos cabos submarinos pelas potências imperiais européias; ao estabelecimento de agências de notícias de operação internacional, e à formação de organizações que visavam à exploração do espectro eletromagnético. Porém, havia alguns impedimentos para a expansão. Um deles era o fato de o telégrafo ser inicialmente apenas terrestre. O limite era a contigüidade continental, pois os cabos submarinos não haviam ainda logrado uma operação confiável. É a partir de 1850 que o telégrafo submarino começa a ser desenvolvido, levando cerca de quinze Agência Estado 50

anos para se tornar confiável.6 Depois de estarem operando, os cabos submarinos ligavam, por exemplo, o reino unido à Índia, ao sudeste da Ásia, à China e à Austrália.7

A crescente interdependência dos países europeus envolvidos no processo da revolução industrial e consolidação dos estados-nação traziam para os governos o problema de desenvolvimento de um sistema de comunicação. Existindo então uma rede de transmissão entre continentes, houve a expansão da área de influência do fluxo da informação das potências industriais e coloniais da época, criando um senso de espaço vinculado ao fenômeno de emanação de notícias (RANTANEN, 2003).

Na outra ponta do processo, materializa-se a emergência de um conjunto de dispositivos de comunicação onde a circulação da informação em tempo mais ágil estava diretamente ligada a interdependência dos centros mais desenvolvidos e aparelhados tecnologicamente.

The emergence of the steamship for long distance traveling and undersea telegraph were major innovations which had a considerable impact on transatlantic communications. Although there have been major works on technological improvements on financial development between Europe and the United States, the literature on this issue for South America is less abundant (FLORES, 2004, p.05)8.

Desse modo, as redes de cabo instauravam a dinâmica pela qual, estar em um centro urbano desenvolvido e ter a capacidade de transmitir/receber mensagens, operava uma

6 Os primeiros cabos submarinos foram colocados entre Dover, na Inglaterra e Calais, na França. Apenas em 1870 os sistemas de cabos submarinos entre a Europa e os Estados Unidos conseguiram operar com consistência. (ARANDA, 2004, p.84; READ, 1992, p.59). 7 A estimativa é que por volta de 1870, havia 300.000 milhas de cabos submarinos. Uma metragem equivalente a 15 voltas no globo terrestre no seu ponto de maior perímetro, a linha do equador. (READ, 1992) 8 O surgimento do barco a vapor para viagens de longa distância e do telégrafo submarino foram grandes inovações que causaram um impacto significativo nas comunicações transatlânticas. Embora trabalhos importantes tenham sido escritos sobre as melhorias tecnológicas no desenvolvimento financeiro entre a Europa e os Estados Unidos, a literatura sobre o assunto, no que diz respeito à América do Sul, é menos abundante (Tradução do autor). Agência Estado 51

clivagem entre o tempo e o transporte, no consumo e disseminação da informação, tendo, contudo, limites de custo para a transmissão das mensagens9.

Quadro 03 - Tarifas, por palavra, (em francos) das mensagens telegráficas da França para a América do Sul. Fonte: Laurencin, Paul. Le Télégraphe (1877 apud FLORES, 2004, p.07).

Quadro 04 - Tempo de transmissão de um telegrama da Inglaterra para outros países. Fonte: Wünschendorff, Eugene (1898 apud FLORES, 2004, p.07).

9 Entre 1850 e 1860 uma mensagem internacional escrita entre Inglaterra e Índia, por exemplo, levava até seis semanas para chegar ao destino, pois era enviada por navio e transmitida na primeira cidade que disponibilizasse o serviço de telégrafo (READ, 1992, p.31). Ainda no século XIX, a partir de 1864, isso levava minutos com a implementação dos cabos submarinos para o oriente (STANDAGE, 1998, p.87,102). Nos anos 50 do século XX, uma transmissão intercontinental de uma agência, levava cerca de um minuto e meio, do momento em que era transmitida pelo conjunto de circuitos, até ser recebida numa redação de jornal (MORRIS, 1957, p.338).

Agência Estado 52

Quadro 05 - Tempos para publicação das cotações de fechamento de bolsas entre a cidade de origem e a publicação no jornal inglês The Economist no século XIX. Fonte: The Economist (Apud FLORES, 2004, p.07)

A telegrafia fornecia, no século XIX, muitas respostas aos limites da velocidade da informação para as questões de ordem comercial, política e governamental. Nos Estados

Unidos, onde o processo de implementação de largas redes de telégrafo também se deu em tempo concomitante (STRAUBHAAR e LAROSE, 2004, p.253), o problema era estabelecer um sistema que atendesse a expansão do país em direção ao oeste. Em ambos os casos, na

Europa e nos Estados Unidos, mesmo com o significativo crescimento de redes ferroviárias, a exigência por informações rápidas estava numa escala que tornava o transporte de mensagens em meios físicos algo, senão totalmente obsoleto, pelo menos, cada vez mais insuficiente para cobrir a demanda por tais informações (LOMBARDI, 1987, p.163).

Além dos aspectos tecnológicos da transmissão e da demanda por informações mais imediatas, houve, nos fatores sociais, um aspecto fundamental que pode ser indicado como a universalização do direito à alfabetização nos países industrializados. Conforme aponta Hoggart (1957, p.320), os desdobramentos do acesso à educação elementar foi um dos pilares que ajudaram a massificação da imprensa, da venda de livros e jornais. Na Grã-

Bretanha, leis como o british education act10, de 1870, criaram condições para a formação de

10 Esta lei consolidava uma série de outras leis que remontam até 1833, visando no seu conjunto, uma universalização do acesso à educação. A lei de 1870 determinava a oferta de educação elementar gratuita e compulsória até a idade de 12 anos, depois sendo expandida até a idade de 14 anos. Em 1902, a lei ampliou o acesso, tornando gratuito também o ensino secundário. Cf. Agência Estado 53

um universo consumidor de impressos e, conseqüentemente, jornais. Nesse processo, houve uma reconfiguração da classe trabalhadora, que deixava de ser somente força de trabalho para ser consumidora de bens culturais. A retroalimentação dessa conseqüência para o mercado de jornais foi o desenvolvimento de publicações populares, como o penny press, que, além do preço mais baixo, tinham uma série de apelos para se aproximar da classe operária. A clareza de estilo textual, a escolha de temas vinculados à realidade dos seus leitores, a predominância de temáticas urbanas e internacionais faziam parte de uma definição de linha editorial concomitante ao esforço de atrair partes significativas da baixa classe-média e operária

(HOGGART, 1957, p.244).

Um dos resultados dessa simbiose entre mercado editorial e a formação de um público leitor em escalas massivas foi a multiplicação dos periódicos. Em um intervalo de pouco mais de cem anos11, o número de jornais que circulavam de modo regular na Grã-

Bretanha saltou de aproximadamente mil para algo em torno de cinco mil jornais. Richard

Hoggart considera que esse crescimento deve ser visto dentro de um espectro onde um grande número de pessoas tornaram-se letradas devido à universalização do acesso à educação em paralelo à industrialização (HOGGART, 1957, p.331).

De modo mais detalhado, esse cenário interage diretamente com o desenvolvimento tecnológico e social das cidades ainda na primeira metade do século XIX.

Nesse período de tempo há a compreensão em torno das invenções aplicadas à indústria que envolvem vapor e energia mecânica, por exemplo, como sendo apenas originadas dentro do contexto da revolução industrial. Como coloca Usher (1993, p.318), a imprensa é uma das primeiras atividades que substitui o trabalho artesanal e assistemático pela uniformização e mecanização, requerendo simultaneamente fluxo de matéria prima e mão-de-obra constante, algo também observado por Einseinstein (1998, p.23-24) como um movimento contínuo, http://www2.rgu.ac.uk/publicpolicy/introduction/historyf.htm e http://en.wikipedia.org/wiki/Education_in_England 11 Richard Hoggart situa esse intervalo aproximadamente entre 1830 e 1940. Agência Estado 54

desde o surgimento da primeira imprensa, entre os meados do século XV até o início do século XVI, quando, de modo inédito até então, tinha-se a possibilidade de produção seriada de uma mesma matriz de conteúdo12.

Esse quadro complexo exige a convergência de diversas tecnologias como o papel, a tinta, a mecanização e a disponibilidade de estruturas para o escoamento da produção.

Claro que esses fatores interagem com a demanda social, possibilitada a partir do momento em que a alfabetização permite o surgimento de um público consumidor.

Foi justamente nas cidades industriais que esse conjunto de condições poderia se firmar. A busca por centros urbanos como núcleos da produção de impresso visava, também, ao acesso à mão de obra especializada no ofício e arte da impressão. Como apontado por

Einseinstein (1998, p.118), a mudança, nesse sentido, é que o modo tecnológico de produção impressa estabelece uma cadeia formada entre tecnologia de produção, conteúdos a serem sistematizados para a produção, redes de circulação e, por fim, público consumidor. Em outras palavras, além das condições técnicas presentes em torno dos centros urbanos, havia o acúmulo de mão-de-obra para a composição da cadeia de produção e público para consumo dos produtos (BAHIA, 1967). Assim, na simbiose entre a imprensa e a cidade, esta, enquanto lugar de aglutinação das esferas da vida política, comercial, industrial e de convivência dos cidadãos (LEMOS, 2001, p.9), estabelece condições propícias para o aparecimento da imprensa como indústria.

Logo, sobre a cadeia de circulação da imprensa se sobrepõem os três pontos principais da atividade industrial em modelos capitalistas: a produção, a distribuição e o consumo (MACHADO, 2000, p.34). Obviamente esses três fatores são interdependentes e se desdobram sobre a expansão comercial do jornalismo, quando se investe em uma circulação

12 De certo modo isso coopera para o estabelecimento, mais tarde, de um dos elementos do conceito de comunicação massiva, ou seja: a indiferenciação de uma mesma mensagem, na forma e no conteúdo, diante de uma audiência. Nesse sentido, ver também MacLuhan (1972, p.124), onde o teórico e ensaísta canadense é ainda mais agressivo, ao colocar a imprensa como sendo o primeiro modelo de linha de produção em massa, antecipando-se como modelo embrionário de produção industrial. Agência Estado 55

mais ampla. As redes de transporte e comunicações contribuem para estabelecer essa expansão (SMITH, 1980, p.43), através da crescente ampliação das ferrovias e canais no século XIX. Isso permitia que essas redes fossem utilizadas tanto quanto como um dispositivo de distribuição, ampliando o horizonte de alcance e leitura do jornal, como gerava também o alargamento das alternativas de apuração de notícias mais diversificadas.

Em paralelo, devido ao crescimento do público leitor, houve a diversificação de conteúdos como forma de acompanhar o horizonte de interesses temáticos e garantir a expansão em função das demandas locais. Assim, por ser um fenômeno eminentemente da cidade, é no quadro do jornalismo do século XIX que temos, por exemplo, o jornalismo, atuando tanto no papel de estender a zona de influência dos centros urbanos mais desenvolvidos, como também descobrindo a cidade como fonte de informações (MACHADO,

2000, p.91).

Se, por uma lado, resolvia-se o ponto da produção, os outros dois aspectos - redes de transmissão e meios de transporte - necessitavam acompanhar esse desenvolvimento, sob pena de estabelecer um descompasso entre a apuração do material, que se transformará em notícia, e a conseqüente distribuição geográfica do material impresso (POTTER, 2003, p.193).

Ao mesmo tempo em que o jornalismo expande sua área de influência para outros centros urbanos, mantém o vínculo existente desde o seu surgimento no século XVII, com as dimensões comerciais e financeiras (ALVAREZ, 2004, p.29), porém, assume um papel de importância central na delimitação e consolidação dos estados-nação, algo, grosso modo, ocorrido entre 1800 e 188013. Com a necessidade de unidade nacional, foram criadas

13 Até o século XVIII, predominava um modelo de organização política fragmentado em diversas cidades-estado, aliado a um modo de autoridade política ligado, sobretudo à Igreja, aos vínculos pessoais e familiares. Com fatores como a Revolução Francesa, a crescente industrialização e o cientificismo assumindo a autoridade epistemológica da época, fica patente a impotência dessas instituições continuarem a manter esse papel no quadro do estado moderno e, com o crescente espaço político conquistado pela burguesia industrial, essa tarefa foi destinada a outras categorias institucionais, como a escola e, aproximando do nosso objeto, o jornalismo. Agência Estado 56

estruturas comunicacionais bastante amplas para permitir o fluxo de notícias, por vezes com controle explícito do aparelho estatal.

it was more important to increase the total volume of news flowing around the empire, even if this meant establishing a single, state-controlled channel through which that news would flow. Government intervention was an acceptable substitute for private sector plurality. (POTTER, 2003, p.201)14.

Nesse momento, o jornalismo encontra um dos mais importantes delimitadores do seu campo de ação: a noção de território vinculado ao Estado Nacional e a importância da sua inserção na tarefa de geração de uma opinião pública e de um espaço de argumentação e tomada de conhecimento dos eventos. (HABERMAS, 1987, p.14). Com isso, muda o próprio jornalismo, que graças ao campo tecnológico disponível e à malha de distribuição proporcionada pela infra-estrutura de transportes, insere-se como um produto industrial, com cadeias sistematizadas de produção, distribuição e consumo.

1.1.2 – O uso do telégrafo no surgimento das agências de notícias.

O telégrafo elétrico já tinha as suas propriedades de transmissão de informação conhecidas desde 1746, quando se demonstrou, pela primeira vez, a possibilidade de transmissão de pulsos elétricos através de cabos metálicos. Houve ainda experimentos práticos realizados entre 1790 e 1799, mas ainda não tinham se viabilizado tecnicamente, algo que só ocorreu em 1837 na Inglaterra, através de Weatherstone e em 1844, nos Estados,

Unidos, através de Samuel Morse (CASTELLS, 1999, p.56; STANDAGE, 1998, p.1,6).

Quando as primeiras aplicações do telégrafo elétrico surgem, ampliam a interdependência de informações entre os centros urbanos mais desenvolvidos da época. O

14 Era mais importante aumentar o volume total de informações transmitidas no império, mesmo que isto significasse estabelecer um canal único, controlado pelo estado, através do qual as notícias seriam veiculadas. A intervenção do governo era um substituto aceitável para a pluralidade do setor (Tradução do autor). Agência Estado 57

jornalismo segue esse movimento, compreendendo a importância do advento tecnológico em estabelecer fluxos mais ágeis de circulação de notícias. No entanto, como observado anteriormente, os custos envolvidos eram altos, e terminaram por configurar a adoção de um estilo de texto compacto, fragmentado (FRANCISCATO, 2005, p.45) e segmentado, à medida em que as informações complementares a um determinado evento fossem surgindo. Esse aspecto tem um impacto direto na formatação da linguagem jornalística, que adquire um modo mais compacto de texto.

A introdução do telégrafo condiciona ainda no século XIX, uma determinada organização do texto em torno da idéia de lead, onde as principais informações devem compor o cabeçalho, justamente para privilegiar os elementos factuais da notícia. Segundo Carey

(1992, p. 201, 210), essas modificações devem-se à própria estrutura tecnológica de produção da notícia através da tecnologia do telégrafo. Por ter um custo alto de transmissão, cobrado por palavra, as informações principais deviam compor o início do texto, para que, no caso de uma eventual queda da transmissão, essas informações deveriam ter uma probabilidade maior de ser utilizada.

A agência, nesse contexto, representava uma maneira de otimização dos custos de apuração, produção do conteúdo (BOYD-BARRETT, 1980, p.181; MACHADO, 2000, p.164) e de racionalização interna dos recursos humanos dos jornais, para se obterem notícias.

Através do pagamento dos clientes, a agência poderia manter um correspondente em um local favorável à apuração e obtenção de informações (SOUSA, 2004, p.91).

With staffing costs regularly being trimmed, the temptation for news editors is to turn the agency copy more frequently, particularly for foreign news where the costs of maintaining large numbers of foreign correspondents had become prohibitive for many news organizations (MANNING, 2001, p.56) 15.

15 Com os custos em pessoal sendo regularmente cortados, a tentação dos editores de notícias é recorrer à cópia dos materiais de agências mais freqüentemente, particularmente no caso de notícias do exterior, desde que os custos para manter números altos de correspondentes estrangeiros se tornaram proibitivos para muitas organizações de notícias (Tradução do autor).

Agência Estado 58

Devido ao fluxo de informações acompanhar os interesses por notícias de eventos, com localização geográfica distante dos centros de decisão (FLORES, 2004, p.11), é, justamente, no espaço existente entre a demanda por informações em escalas mais imediatas, e a capacidade de fornecê-las, que surge a razão de ser das agências de notícias.

Como indicam Burke e Briggs (2004, p.142) e Machado (2000, p.162), com a comunicação telegráfica e através de serviços regulares e confiáveis como os correios é que, em meados do século XIX, pode se estabelecer, para o jornalismo, modos mais estáveis, constantes e sistemáticos de apuração, recolhimento de dados, circulação de informação e fluxo de notícias entre centros urbanos.

Porém, o diferencial significativo do telégrafo foi percebido à medida que dava consistência, imediaticidade e precisão a uma série de informações de caráter variado.

Informações relativas a governos, guerras, cotações de bolsas de valores, informes de negócios, condições climáticas, tragédias naturais ou sociais, tinham rápida assimilação e podiam facilmente receber um tratamento que as colocasse num patamar de notícia.

Ao oferecer serviços regulares e periódicos, as agências de notícias estabelecem um contrato em torno da atualidade dos eventos, os órgãos de imprensa e a assimilação de material, gerando um tipo particular de fonte alternativa àquelas que os jornais possuíam. Isso contribui para o jornalismo sair progressivamente de um modelo de gestão centralizado no que toca os processos de apuração, para, paulatinamente, condicionar suas práticas de obtenção da informação em uma perspectiva mais descentralizada.

A superação de distâncias com a instauração de um modelo de transmissão imediato e o estabelecimento de serviços informativos regulares cooperam para a sistematização da prática jornalística enquanto atividade periódica cada vez mais fixa em intervalos regulares e menores (MACHADO, 2000, p.159). Ao mesmo tempo em que Agência Estado 59

fornecem a ferramenta que alimenta o jornal com notícias mais imediatas de centros urbanos mais distantes, as agências de notícias criam a rede pela qual seus serviços poderão ser obtidos. A crescente interdependência dos centros urbanos de então fornecia e era, ao mesmo tempo para o mercado de notícias, a sede e a água por informações. Não é à toa que as primeiras agências de notícias surgem exatamente nos centros urbanos de caráter comercial, político e econômicos mais nevrálgicos de então: Londres (a Reuters), (a Havas, posteriormente France Presse), Berlim (a Wolff, depois DPA – Deustsche Press Agentur) e

Nova Iorque (a ). Isso se desdobra no condicionamento de modelos de operação das agências na sua relação com os jornais, como exploraremos no tópico seguinte.

1.2 – A relação com o jornalismo no surgimento das agências de notícias.

Perceber o contexto de surgimento das agências de notícias e seus desdobramentos sobre o campo das práticas jornalísticas de então, presume, de certo modo, entender o modelo de produção dos jornais em meados do século XIX. Até esse momento, a coleta de informações se configurava em alternativas assistemáticas que remontam ao século

XIII, quando banqueiros e as principais casas de comércio mantinham pessoas nas principais capitais da Europa. O envio de boletins aos principais clientes visava, sobretudo, reportar os eventos mais relevantes e sua conseqüente significação à ordem política, econômica e comercial (BURKE e BRIGGS, 2004, p.35-36; DANTAS, 1996, p.23; FLORES, 2004, p.11).

Mais adiante, no século XVI, bolsas de valores importantes passaram a ter um serviço regular de informes das suas atividades (MACHADO, 2000, p.23).

Como é assinalado por diversos autores (BOYD-BARRETT, 1980, p.113,153;

ERBOLATO, 2002, p.201; FENBY, 1986, p.23; READ, 1992, p.9,16), a origem comum das principais agências de notícias possui um cenário similar, herdando em parte essa natureza de Agência Estado 60

serviço, atuando na coleta direcionada a fornecer informações, principalmente, a órgãos do horizonte comercial, financeiro16 e governamental do que propriamente suprindo um serviço de notícias para jornais. O setor da imprensa só foi contemplado após alguns anos de operação das principais agências, em fins da década de 50 do século XIX.

No surgimento do primeiro escritório do que seria posteriormente a primeira agência de notícia (a Havas), em 1835, o serviço básico consistia em fazer traduções de notícias dos jornais estrangeiros para serem fornecidas a órgãos administrativos franceses e clientes privados através de boletins regulares (FRÉDÉRIX, 1959, p. 134; FENBY, 1996, p.27). Os motivos principais para esses clientes contratarem os serviços de uma agência eram o custo elevado do telégrafo (STANDAGE, 1998, p.115), além de poupar investimentos em uma infra-estrutura própria de comunicação (READ, 1992, p.18; POTTER, 2003, p.191).

Porém, para as agências, o serviço de tradução de boletins e envio para clientes parecia nitidamente uma subutilização. O passo seguinte dado por Havas, foi a criação de escritórios em centros políticos, bancários e comerciais mais importantes, para que os boletins já seguissem para Paris traduzidos. Depois disso, estabeleceu-se uma dinâmica autônoma de apuração, sobretudo de informações de caráter comercial e financeiro significativo que podiam ser obtidas nas bolsas de valores desses centros.

Houve assim a formação dos primeiros serviços das agências: o resumo de notícias, publicadas em jornais estrangeiros que fossem de caráter relevante e de interesse do país de origem da agência para serem direcionados a clientes específicos. Para a operação dessa tarefa, a agência Havas lançava mão de uma estratégia de recursos complexa, que envolvia carruagens, mensageiros, pombos-correio, o telégrafo óptico e depois o elétrico17.

16 Obviamente esse horizonte encontrou, nos clientes dos campos financeiros, governamentais e comerciais, os primeiros interessados. Não à toa, um dos primeiros clientes da agência Reuters foram os banqueiros da família Rotschild (READ, 1992, p.17). 17 Essa teia de alternativas permitia que em Paris, no início da tarde de um dia ainda na década de 40 do século XIX, estivesse disponível o resumo das notícias e cotações de bolsa de valores surgidas em cidades como Bruxelas, Londres e Berlim pelo período do começo da manhã (FENBY, 1986, p.37). Agência Estado 61

A presteza e confiabilidade do serviço fizeram com que não somente os clientes de caráter privado e comercial reagissem com entusiasmo ao serviço, agora despertavam também o interesse de um setor ávido por notícias: os jornais. O suprimento de notícias assentava-se na expansão dos jornais no atendimento à demanda cada vez mais diversificada do público leitor. Machado (2000, p.94) assinala que, quando essa ação das agências começa a ocorrer, amplia a dinâmica de cobertura, alargando o remetimento entre o jornal e a espacialidade à qual se dirige, deixando de ter um contexto eminentemente local para assimilar questões nacionais e internacionais, como se verifica na passagem a seguir:

Havas’s managing director Edouard Lebey put matters thus: “The earlier despatch of the telegrams summarising the morning papers” is “a question of life and death to prevent Parisian papers from establishing special services … All the news from America, Africa and Asia together has not half the interest than an earlier service based on London papers” (PALMER, 2003, p.483)18.

Para as agências, ocorria a ampliação da oferta de notícias em um duplo fluxo: na entrega das notícias internacionais para os jornais de caráter nacional e local e, no sentido inverso, capturando notícias surgidas em âmbitos locais que tivessem um apelo e interesse internacional para uma escala de consumo que expandia a importância original do evento, configurando algo a ser recomendado inclusive nos primeiros manuais das agências:

Bureaus should be alert to find in their territories stories which are susceptible of development. Some story which a paper in your territory regards as worth only a few lines, may, with proper treatment and research be developed into an outstanding story for national use. (Manual de normas da United Press de 1929, apud NELSON, 2002, p.523)19.

18 O diretor administrativo de Havas, Edouard Lebey, afirmou o seguinte: “O envio, ainda bem cedo, dos telegramas resumindo os jornais de Londres" é "uma questão de vida ou morte para evitar que os jornais parisienses estabeleçam serviços especiais. Todas as notícias da América, África e Ásia juntas não despertam metade do interesse de um serviço matutino baseado nos jornais londrinos” (Tradução do autor). 19 As sucursais deveriam estar em alerta para encontrar, em seus territórios, histórias que tenham perspectivas de desenvolvimento. Uma história que um jornal, no seu território, considera merecedora de apenas umas poucas linhas, pode, com tratamento e pesquisa apropriados, transformar-se em uma história excepcional para uso nacional (Tradução do autor). Agência Estado 62

No entanto, havia controvérsias. Na Inglaterra, por exemplo, a dicotomia era localizada no seguinte eixo: os jornais não viam a agência que operava no território britânico

(a Reuters) como vinculada ao jornalismo, e sim, ao mercado financeiro. Esta situação criou uma resistência dos jornais britânicos, que continuaram a manter correspondentes no exterior.

A instalação do serviço de cabo submarino entre Dover e Calais, em 1851 (STANDAGE,

1998, p.73), é que refreou a resistência. Como os jornais britânicos passaram a usar essa linha de cabo como forma de acelerar as comunicações entre a ilha britânica e o continente, a

Reuters viu a oportunidade de, nesse movimento, formatar os primeiros boletins direcionados

à imprensa (FENBY, 1986, p.32).

O boletim básico da Havas em 1853, por exemplo, consistia em três páginas de quatro colunas cobrindo, geralmente, eventos de interesse doméstico e internacional, cotações de bolsa de valores, resumos de jornais e anúncios oficiais (READ, 1992 p.29). Com o surgimento de eventos de impacto internacional, como a guerra da Criméia (1853-1856), as agências perceberam, no acontecimento, a possibilidade prática de um mesmo evento gerar serviços informativos diferenciados, podendo ser endereçados, aos setores de governo, para os jornais e para o mercado:

Financial or business news is of highest importance today. Stories of mergers, special dividends, actions and opinions of proeminent business men, all fall into this categoriy. There shoud be an effort to develop at least one outstanding financial story every day in your territory along with the outstanding national and international stories. (Manual de normas da United Press de 1929, apud NELSON, 2002, p.520)20.

A percepção do jornalismo como um terreno de assimilação de materiais das agências não deve ser entendida apenas como uma relação causa/conseqüência da

20 Notícias financeiras ou relacionadas com negócios são da maior importância hoje em dia. Histórias sobre fusões, dividendos especiais, ações e opiniões de homens de negócios proeminentes, todas elas se encaixam nesta categoria. Deveria haver um esforço para desenvolver pelo menos uma história financeira de destaque todos os dias no seu território, juntamente com os fatos marcantes nacionais e internacionais (Tradução do autor). Agência Estado 63

configuração de troca ou diversificação de conteúdo. Se isso emergiu no século XIX, deve-se a uma teia complexa de interação entre essas partes.

Do lado das agências, o contexto de assimilação do material foi favorecido pela comodificação da atividade jornalística como uma profissão estabelecida e um negócio

(KUNCZIK, 2002, p.21)21. Do lado dos jornais, vale assinalar que é na segunda metade do século XIX que se consolida o que Kunczik (2002, p.23) aponta como sendo as quatro características dos jornais modernos: a publicidade (a possibilidade de abordar publicamente assuntos e eventos), atualidade (relatar acontecimentos com informação que simultaneamente se relaciona com o presente e o influencia), universalidade (não exclusão de temas) e periodicidade (estabelecimento de distribuição regular e periódica).

Essas quatro características configuravam um quadro que permitia a combinação com a realidade de operação das agências. Do lado destas, o que permite essa articulação são três elementos: a amplitude de cobertura, o envio de material de modo constante e a atualidade dos boletins.

A primeira, de certo modo, sana a impossibilidade estrutural de um jornal possuir correspondentes em todos os lugares significativos para uma cobertura efetiva, mas, ao mesmo tempo, abre a possibilidade de uma cobertura universalizada dos temas e aponta as primeiras bases para uma produção descentralizada.

A segunda estabelece, através do telégrafo, a alimentação dos despachos, várias vezes ao dia, disponibilizando material numa escala contínua e sucessiva, indicando possíveis caminhos de estruturação da velocidade operacional como característica.

A terceira insere os boletins em uma rede sincronizada com o fechamento diário dos jornais, onde “a imprensa mecânica aliada ao telégrafo e à fotografia gerou essa

21 Em 1855, por exemplo, o Daily Telegraph tinha uma vendagem de 141 700 cópias, o Times possuía uma tiragem média durante a semana de 50 mil cópias (READ, 1992, p.19-20). Esses números, de certa maneira exprimiam a consolidação da diversidade do público leitor, e, conseqüentemente, o interesse por notícias de outros contextos que não apenas o local.

Agência Estado 64

linguagem híbrida: a do jornal, testemunha do cotidiano, fadada a durar o tempo exato daquilo que noticia” (SANTAELA, 2004, p.29).

Para os jornais, a combinação das suas características com esses elementos operacionais das agências permite ampliar o seu caráter de atualidade, ao menos no que toca ao volume de material que não pode ser apurado pelo seu próprio corpo de repórteres.

Como aborda Franciscato, (2003, 2005), o jornal constrói um tipo específico de experiência social do tempo presente e conhecimento do mundo. As agências se encaixam nesse sistema através da alimentação contínua de informações e, conseqüentemente, por fornecer um tipo de material (notícias frescas, disponibilizadas de modo consecutivo à sua apuração), que atua no reforço da atualidade.

Através dos serviços de notícias, as agências emprestam ao termo “novidade”

(news) uma dimensão que indica o acompanhamento dos eventos surgidos ao redor do mundo. Franciscato (2005, p.147) defende que, se o fluxo de acontecimentos e de notícias são elementos inevitáveis, constantes e previsíveis, na escala de trabalho regular do jornalismo, isso gera desdobramentos. O primeiro deles é que garante, ao menos parcialmente, para o jornalista, a sua ação no tempo presente como condição necessária para a sua atuação. O segundo, é precisamente perceber que, para além do limite de alcance da atividade do jornalista ou do jornal em obter informações, esse sentido de atualidade é fornecido por

órgãos suplementares.

As agências de notícias são justamente um dos modelos que criam o binômio da informação disponível e serviço prestado dentro da cadeia de atualidade exigida pelo jornalismo para o alcance de notícias que estejam além da capacidade de obtenção de um

órgão específico. Agência Estado 65

O fato das agências estabelecerem um fluxo de informação constante, sistematizado e regular gera conseqüências nos jornais que estão vinculadas aos processos de alimentação e disponibilidade de material. São elas;

a) sintonia do tempo da periodicidade dos jornais com os acontecimentos dos

eventos. Assim, o jornalismo, enquanto gerador de relatos sobre eventos, cria

um interesse pelo que está em evidência e desperte relevância na sua

abordagem, problematização e debate público. Nesse sentido, a única janela de

tempo de retardo só é aceitável se acontecer entre a ocorrência do evento e a

produção do seu relato. Franciscato (2005, p.136-144) aponta que, à medida

que o jornalismo alia a tecnologia de produção disponível com o advento da

periodicidade dos jornais, passa a predispor no público uma demanda para

conhecer a realidade de modo mais ágil. É essa “presentificação” da cobertura

que empresta a noção de atualidade ao jornalismo e que, vinculada aos

aspectos tecnológicos, busca mecanismos mais eficientes de estreitar o tempo

existente entre relato e cobertura, lança mão de dispositivos mais eficientes

para o cumprimento dessa tarefa;

b) com o crescente aumento do público leitor, a discussão de temas passa a não

ser somente dos assuntos ligados à dinâmica local, mas também dos assuntos

que colocavam o dia-a-dia em sinergia com outros centros urbanos. Ampliam-

se, desse modo, as teias de circulação de notícias, de interesse mútuo e

interdependência;

c) ao configurar-se como um dispositivo de apoio à produção da cadeia

jornalística, as agências de notícias assumem o papel de alimentador de

notícias, como modelo de negócios. Isso implica a criação de um modo de Agência Estado 66

fornecimento, em que o material é distribuído para diversos assinantes dos

serviços, assim, o conteúdo não está vinculado diretamente a estratégias

editoriais específicas. Este aspecto permite que a notícia fornecida por uma

agência possa se situar de maneira mais independente dos contextos e pressões

existentes em função do local da produção;

d) insere a produção de certas categorias de notícias (bolsas de valores, finanças,

comércio, noticiário internacional, etc.) em um fluxo constante. Essa torrente

de informação é de certo modo ditada tanto pela institucionalização da ordem

moderna e industrial, emergente no século XIX, como também pela própria

ordem periodicizada de apuração, produção e circulação dos jornais dentro

desse contexto.

O campo aberto por essas quatro conseqüências pode ser notado quando as agências começam a delinear modelos de fornecimento de conteúdo em função da periodicidade e necessidade dos jornais por fontes suplementares de material, sincronizando o tempo da notícia com o tempo dos eventos.

Além da sincronização com os eventos, o telégrafo permitia ainda a circulação em largas escalas geográficas, coletando e distribuindo informações. Esse aspecto tem uma conseqüência importante que é, justamente, a ruptura com o jornalismo partidário, ou sitiado em contextos extremamente regionalizados. Através das agências permite-se modelos de organização da notícia menos circunstanciais, menos partidalistas evitando regionalismos e coloquialismos, justamente pelo fato da notícia ter de ser compreendida em diferentes lugares, com contextos e significações sociais mais amplos, mais objetivos.

Essas conseqüências foram percebidas de modo prático ainda no início das atividades das agências. Foi a Reuters, em 1855, que percebeu a importância de sincronizar o Agência Estado 67

envio dos boletins dentro de uma dinâmica sistemática. Até então, o modelo de envio consistia nas notícias serem passadas de cliente a cliente, conforme acordos firmados e que variavam de caso a caso. Reuters inova ao colocar a distribuição de material orientada sob um princípio único e simples: que todos clientes que assinem determinado serviço deviam recebê- lo ao mesmo tempo (FENBY, 1986, p.31).

Sob o ponto de vista tecnológico, esta operação ocorria em um cenário dado pelas possibilidades operacionais existentes à época, que permitia, através de uma distribuição, apoiada em uma lógica de redes, enviar os informes a endereçamentos múltiplos.

O endereçamento pulverizado das agências pode ser compreendido como uma ação de mão dupla. É um processo de produção condicionado também pelo ritmo dos jornais.

As agências através da expansão dos serviços de notícias e incrementos na velocidade do fluxo de informações têm, de certo modo, de cumprir o papel de estabelecer a alimentação dos informes dentro de uma expectativa de rapidez para diversos clientes, entre eles, os jornais.

A atuação nessa escala cria no modelo de operação a característica de fornecimento contínuo e regular de informes entre a agência e os assinantes. Pode-se afirmar isso em quatro sentidos;

a) por colocar, através da organização da produção, a notícia em um estado onde

a mesma, assim que consolidada, estivesse disponível para ser pulverizada

dentro de uma rede de assinantes de acordo com semelhanças e

direcionamentos específicos, formando assim, o conjunto de condições para a

organização de serviços;

b) por dispor a notícia a ser disseminada através dessas redes em uma

proximidade temporal, senão simultânea, ao menos consecutiva ao evento

ocorrido, estreitando o processo de sincronia entre a ocorrência e sua Agência Estado 68

respectiva publicação, naquilo que Machado (2000, p.20) classifica como

“unificação do tempo da notícia com o tempo dos eventos”, e Alsina (1996,

p.89) indica como a “atuação da informação sobre o próprio acontecimento”.

Esse aspecto configura a velocidade como uma característica operacional

ligada às agências;

c) põe o conteúdo em um estágio de “disponibilidade” de uso22, à mercê de ser

utilizado pelo jornal da forma como este melhor entendesse, materializando a

possibilidade de separar as esferas do conteúdo e do suporte, por vezes,

criando problemas no processo de edição devido ao desequilíbrio entre o

volume de notícias disponíveis e as efetivamente utilizadas (KUNZICK, 2002,

p.220);

d) contribui na resolução, ao menos parcialmente, do limite presente nos jornais

no que toca à cobertura de eventos em lugares distantes: a obtenção das

informações pela possibilidade de presença em múltiplos lugares. Isso

contribui na formação do caráter descentralizado de operação.

Mesmo o material sendo pago, o contrato de serviço entre o jornal e a agência, aponta que, ao se apelar para o material como “meio indireto” 23 de informação, o jornal assume a presença de uma pluralidade existente no seu recorte de notícias apresentadas em

22 É certo, nesse terceiro ponto, que as redes primitivas de telégrafo funcionavam mais dentro de uma lógica radial, onde quem recebia determinado informe não tinha, como nas tecnologias atuais de redes digitais, a possibilidade tão larga de acesso e escolha. 23 Erbolato (2002, p.197) classifica como “meio direto” a ação de um meio, no caso o jornal, assumindo a totalidade da cadeia de produção, tratamento e circulação da notícia entre o acontecimento e o leitor. Nessa mesma classificação, as agências seriam “meios indiretos” de informação, pelo fato do material que as mesmas distribuem não ir diretamente ao consumidor/leitor do jornal. Ao chegar em um jornal, por exemplo, este por sua vez se encarrega de publicá-la. Evidentemente, no contexto atual, essa divisão entre “meios diretos” e “meios indiretos”, para o caso das agências de notícias, só é possível enquanto categoria teórica de análise. Isso se deve ao fato de que, graças à diversidade de alternativas e serviços pelos quais as agências de notícias distribuem conteúdo nos dias atuais, uma mesma notícia da agência pode estar sendo recebida por um jornal, que pode retrabalhá-la; diretamente a um cliente; ou ainda, estar presente no site da agência e estar sendo acessada de forma aberta por um internauta. Todavia, a categorização é válida para contextualizar o caráter de descentralização da produção dos jornais posto pela relação com as agências, ainda no século XIX. Agência Estado 69

uma determinada edição. As implicações de uso de meios indiretos, contudo, suscita reflexões. Há nos jornais, o estabelecimento de um ritmo cada vez mais frenético de produção em função das exigências de estabelecer um elo com a atualidade bem como da pressão concorrencial. Em Manning (2001, p.55), indica-se que a relação com meios indiretos é provocada por duas tendências presentes no cotidiano das redações.

A primeira é a formação de cadeias de dependência, pela pressão do deadline.

Considerando o deadline como parte da atividade diária dos jornalistas, há a propensão de se garantir, para o cumprimento do contrato diário de fechamento das edições, o suprimento de um certo volume de notícias recentes e atuais. Um dos caminhos adotados para executar com eficiência essa exigência é estabelecer relações estáveis com fontes externas (assessorias de imprensa, órgãos governamentais, etc.) e agências. Na alternativa de se apoiar em meios indiretos, garante-se o tipo de informação que pode facilmente ser aplicado ao conjunto da edição.

A segunda é o estabelecimento de canais seguros, constantes e confiáveis de alimentação de notícias, sincronizados com os constrangimentos de tempo da atividade jornalística. Diferentemente de assessorias de comunicação, que, por exemplo, não executam a alimentação de informes de modo ininterrupto, as agências fornecem o material para as notícias em modo prêt-à-porter, alimentado várias vezes ao dia.

Indica-se, desse modo, uma demanda surgida dentro das organizações jornalísticas, na época de aparecimento das primeiras agências, que ocorreu em paralelo aos limites existentes na obtenção de uma parcela específica de notícias demandada pela nova configuração de consumo dos jornais. Esse volume de informações passa a ser adquirido através de serviços. É, portanto, um tipo de informação que compõe a produção do jornal de maneira diferenciada. Os informes das agências não se orientam como um conteúdo gerado a partir do próprio corpo do jornal. Agência Estado 70

Ao apelar para um recurso ou “meio indireto”, o jornal adquire um serviço, o fornecimento de material sobre o qual tem o direito de reprodução, sem ter tido, porém, participação na sua elaboração. Desse modo, as notícias não têm mais no jornal o centro único de surgimento. Ao se assimilar o material das agências o que ocorre é uma descentralização24 através dos usos de materiais fornecidos através meios indiretos.

A combinação entre as agências e jornais e a assimilação de material pode ser estabelecida, como visto aqui, através do conjunto de necessidades existentes nos jornais que possibilitam a aceitação dos serviços como viabilizadores das edições diárias. No entanto, tal dinâmica pode ser compreendida também como surgida da capacidade de as agências de notícias organizarem a gama de informações recolhidas em torno de formatações específicas: os serviços.

1.3 – Fatores e condições para a implementação de serviços.

Os modos como o material das agências é reunido, organizado e distribuído através de suas redes podem ser entendidos como “serviços”. Essa classificação do material das agências pode ser corriqueira nos dias atuais. Há, contudo, uma diferença entre a natureza dos conteúdos gerados pelas agências e os que têm a sua origem própria dentro das organizações dos jornais. Para a o primeiro caso, pode-se indicar que são serviços, ao passo que no segundo são denominados como produtos.

Buscando a definição etimológica da palavra, no dicionário Houaiss da língua portuguesa (2002), serviço, numa rubrica econômica, corresponde ao resultado da atividade humana destinado à satisfação de necessidades, mas que não apresenta o aspecto de um bem

24 Evidentemente não se pode confundir a descentralização do surgimento das informações presentes em um jornal, enquanto análise da origem do material, com a descentralização da produção do jornal no que toca ao processo de política editorial e de tomada de decisões a respeito do conteúdo de cada edição. Ao tratar-se aqui a descentralização, está se situando a mesma dentro de limites de origem, organização e circulação do material.

Agência Estado 71

material permanente e a organização de certas instituições públicas ou privadas, encarregadas de uma função particular.

Na perspectiva econômica, a discussão sobre a distinção entre serviço e produto é bastante extensa. No entanto, para os fins desta tese, adotamos a perspectiva que caracteriza o serviço como sendo a “Prestação de assistência ou realização de tarefas que contribuem para a satisfação das necessidades individuais ou coletivas, de outro modo que não seja pela transferência da propriedade de um bem material”25.

O serviço é, portanto, uma atividade de prestação delimitada entre partes, quando

é contratada ou estabelecida por um período específico, podendo ser renovado através de pagamento e sem o compromisso de continuidade no caso de quebra dos padrões, ou contrato entre as partes envolvidas. Pode ser o fornecimento de um bem material ou intangível, sem estabelecer a transferência permanente da propriedade do que se fornece. (GOLDFINGER,

1994, p.13-15; RIFKIN, 2001, p.13) No caso de serviços gratuitos, fica descartada a relação comercial, todavia, permanece o aspecto de não transferência da propriedade entre o fornecedor e quem o usa na formatação de um produto.

No caso do conjunto de informações organizadas e enviadas pelas agências aos seus clientes, a delimitação dos serviços adquire aspecto próprio. O serviço é, ao mesmo tempo, um recurso e um conjunto de informações a ser utilizado dentro de uma estrutura de produção, sem, contudo, ter envolvimento com a mesma. O serviço é, no caso das agências, o seu produto, resultado do trabalho dos recursos técnicos, humanos e intelectuais envolvidos.

Em meados do século XIX, o serviço de notícias surge através de estruturas paralelas às cadeias comercial e jornalística, com vistas a satisfazer demandas específicas que não estavam ao alcance de serem solucionadas pelos clientes. As agências concentravam o esforço no modelo de fornecimento específico de serviços. Era um aspecto inovador, em

25 Cf. Dicionário de Termos econômicos da UNB. Escola de Economia – Universidade de Brasília. < http://www.unb.br/face/eco/inteco/dicionario.htm > Acesso em 09 jan. 2006. Agência Estado 72

contraste com a tendência da era industrial, onde a ênfase situava-se na venda de bens

(RIFKIN, 2001, p.05).

Com isso, as agências assumem a ênfase na geração de informação. Para os jornais, os serviços das agências são, neste caso, uma dissociação entre o conteúdo

(parcialmente fornecido pelas agências) e a materialidade do suporte (no caso, o jornal impresso)26. A notícia, dentro do eixo de relação entre agência e jornal, situa-se no eixo de fornecimento de uma mercadoria, a rigor, intangível.

A agência assume, ao categorizar um determinado conjunto de informações em torno de um serviço, um caráter de especialização a respeito de determinado horizonte temático. Os serviços tinham que ter, de alguma maneira, similitudes entre os assuntos, ou entre os clientes que os assinavam ou ao uso a que se destinavam. A idéia, a princípio, era organizar “pacotes” de informação, ajuntados em torno de temas similares ou inter- relacionados.

Ao se atender a uma gama diversificada de jornais e clientes, tem-se a implicação de se manter, dentro da natureza dos serviços prestados, um padrão editorial uniforme para todos os assinantes. Isso levava as agências a tratarem as informações, surgidas de modo homogeneizado, de maneira que o material pudesse ser apropriado pelos assinantes como estes preferissem.

But most Parisian and provincial dailies were heavily dependent on news and other copy (including advertising) provided by Havas. Many provincial papers—and not a few Parisian titles—were little more than cut-and-paste jobs, composed of material from Havas or lifted from the press; “cut-and- paste” is misleading—since a growing number of provincial daily

26 Até o surgimento das agências de notícias a correspondência entre as esferas do conteúdo e do suporte material, era, para os jornais, uma vinculação mais próxima. Porém, ressalve-se que mesmo os jornais tendo a totalidade dos conteúdos gerados por si mesmos de forma direta, a história da imprensa mostra que o espaço dos jornais esteve disponível para boletins oficiais, notas governamentais, relato de atividades comerciais convivendo em paralelo com conteúdos do próprio jornal (RIZZINI, 1968, p.126). Agência Estado 73

subscribers to Havas, “se faisant télégraphiment”, received material over the wire (PALMER, 2003, p.482)27.

Fenby (1996, p.83) indica que, no princípio das suas operações, orientada pela idéia de estabilidade, ou ao menos, de prestação de um serviço dentro de parâmetros de confiabilidade, no mercado de notícias, a agência sofria duas pressões principais;

a) por atuar, em diversos epicentros informativos, a sua atividade não poderia ser

agressiva a ponto de pôr em cheque os valores vigentes de apuração das

informações. Por isso, é compreensível que a “objetividade” e neutralidade

atribuídas ao conteúdo das agências tenham surgido nesse contexto

(AMARAL, 1996, p. 27);

b) por atender uma gama de clientes com orientações editoriais diversificadas, a

agência não poderia – sob pena de inviabilizar o modelo de sua operação –

diversificar o tratamento dado a uma mesma informação para satisfazer uma

ou outra facção de jornais. O material era único para quem pudesse pagar

(NELSON, 2002, p.518).

Os serviços das agências obedeciam não apenas a predisposições manifestas na formatação de seus boletins. A criação e divisão da informação em serviços eram regidas principalmente pela dinâmica da localidade e do interesse despertado enquanto fonte de informações (FENBY, 1996, p.84). A importância da localidade se manifestava na relevância

27 Mas a maioria dos diários, parisienses e provinciais, era bastante dependente de notícias e outras cópias (incluindo anúncios) fornecidas por Havas. Muitos jornais de províncias - e não apenas uns poucos títulos parisienses - foram pouco mais do que trabalhos do tipo copie-e-cole, compostos de materiais de Havas ou retirados da imprensa; "copie-e-cole" pode ser um termo enganoso, desde que um número crescente de assinantes provinciais do Havas, "fazendo-se telegraficamente", recebiam materiais via cabo (Tradução do autor). Agência Estado 74

do local como potencialidade de geração de eventos e na destinação, lugares onde uma notícia tenha mais potencialidade de ser assimilada.

O que se demonstra, de certo modo, é que as agências de notícias organizam-se de acordo com prioridades de interesse que o horizonte de notícias possa ter, justapondo e direcionando as informações coletadas segundo a especificidade de cada serviço28. É, no fundo, uma particularização que amplia o fator de noticiabilidade. Por não ter um limite de espaço definido para publicação mas, ao invés disso, uma malha de distribuição, a informação sofre um efeito dado pela espacialidade de ordenamento para onde se endereça, gerando o que

Alsina (1996, p.89) indica como sendo a capacidade de um evento poder ter referência e interesse a qualquer parte do mundo. Assim, essa “noticiabilidade dirigida”, no que toca à operacionalização da agência, incorpora tensões para equilibrar o que seja de interesse local, nacional ou global, para orientar seus serviços a nichos específicos e potencializar os retornos.

Há, portanto, determinantes da presença das agências em escala global. Boyd-

Barrett (1980, p.152,153) aponta cinco fatores que moveram as agências a expandirem as suas operações geograficamente. O que se sugere é que os analise tanto de modo isolado como em inter-relação com os demais que, conjuntamente, podem direcionar os processos de alocação de recursos e pessoal em diferentes pontos. Vale ressaltar que esses fatores se desdobram na definição dos fluxos de informações, bem como se atrelam ao uso de infra-estruturas necessárias à operação29. Os fatores são;

28 A título de exemplo, a cobertura da coroação de um rei britânico seria provavelmente alimentada para vários serviços de modo indistinto. Por sua vez, um conflito armado em uma colônia britânica seria endereçado para serviços direcionados para a comunidade britânica e, por fim, uma informação sobre o preço do algodão na África seria direcionada dentro de uma escala mais estreita de interesse, talvez para investidores. 29Trabalharemos com mais detalhes nesta tese as características do fluxo de informações no capitulo 3: A operação em rede: Modelos e características de fluxos informacionais. Pertinente às infra-estruturas, uma exploração mais aprofundada é feita no capítulo 2: Redes e Agências de Notícias. Agência Estado 75

a) históricos, tanto no sentido da importância do lugar como das relações

remanescentes das práticas das agências dentro de uma seqüência de processos

vinculados ao passado;

b) logísticos, referente às diferentes características entre os lugares e sua

importância como ponto de fluxo ou como centros nodais de comunicação de

áreas geográficas largas;

c) políticos, resultante de facilidades ou limitações de cobertura existentes em

determinadas localidades, sobre a presença e operação de correspondentes

estrangeiros;

d) comerciais, resultante da relação de viabilidade existente entre a capacidade

de assimilação e distribuição de material direcionado e apurado;

e) conjunturais, representados por uma miríade de causas que se transformaram

em fatores decisivos para implementação de uma operação de uma agência em

determinado contexto de tempo e lugar. Por exemplo: guerras, conflitos civis,

eleições especificamente importantes em um lugar periférico e crises de uma

forma geral, que representem uma possibilidade de afetar o horizonte de

notícias.

1.3.1 – A organização da informação em torno de serviços.

Na sua origem, principalmente no cenário europeu, as agências pioneiras, como a

Havas, a Wolff e a Reuters, perceberam que havia informações que suscitavam mais interesse que outras (PALMER, 2003, p.484; WILKE, 2003) e que os setores de negócios estavam dispostos a pagar por um tipo de informação que poderia gerar diferenciais na tomada de decisão (STANDAGE, 1998, p.151). Agência Estado 76

Nesse aspecto, os serviços já sofreram uma cisão de acordo com o direcionamento.

Havia serviços que poderiam ser encaminhados aos jornais, e serviços para os negócios, o que suscitava orientações para a geração de informações concernentes a esse horizonte. Para os setores de negócios, ainda na década de 1850, os principais boletins eram formatados para informar especificamente o movimento de ações, cotações, participações acionárias e taxas de câmbio. Como o modelo de operação se mostrou estável e funcional, posteriormente (por volta da década de 1860), os serviços foram sendo formatados para acompanhar a movimentação das cotações de produtos agrícolas, matérias primas, commodities e comércio nas colônias.

Para a operação direcionada aos jornais, a cobertura das agências categorizou os primeiros serviços em torno de política local, da sociedade civil, interesse humano e social e fait-divers. Desse modo, como apontado por Palmer (1998, p.62) e Flichy (1995, p.136), a demanda inicial de interesses por notícias que podiam ser alimentadas pelas agências em sua fase inicial pode ser agrupada em quatro núcleos principais;

a) informações financeiras e comerciais;

b) informação de relevo político ou pertencendo ao interesse do que pode chamar

de “sociedade cívil” ou “esfera pública”;

c) por notícias de interesse “humano ou social”, como catástrofes, crimes, fait-

divers;

d) informação relativa a esportes, tanto para os aficionados, como para as bolsas

de apostas.

Tanto pela amplitude dos temas alcançados pelas agências, como pelo horizonte distinto da clientela, é inseparável a noção da formação de um contexto noticioso que engloba Agência Estado 77

os conceitos de notícias gerais, políticas, e econômicas30. No entanto, fazia-se necessária a formatação que fosse pertinente a cada um desses tipos de clientes (jornais, clientes de mercado) aos quais eram endereçados os informes. Por sua vez, as relações complexas presentes em um horizonte de notícias de caráter político e econômico têm interferência direta em negócios e/ou transações financeiras.

Relativo ao jornalismo, apenas por volta do fim da década de 1850, percebeu-se que poder-se-ia se recorrer às agências enquanto fonte noticiosa confiável. Isso ocorreu no contexto onde os serviços elaborados pelas agências tinham a capacidade de serem

“encaixados” ou “empacotados” dentro de um formato de apresentação mais cognoscível ao jornalismo, suscitando um tratamento mais adequado e próximo das suas características de apresentação da informação. Tenha-se em mente que, no momento em que as agências se constituíam em organizações de alcance internacional para o mercado de informação jornalística (BOYD-BARRETT e RANTANEN, 1998, p.33; UNESCO, 1980, p.12,98), houve a percepção que a diversificação dos serviços atendia a necessidade de compatibilizar um espectro igualmente amplo de material apurado.

Havia situações extremamente diferentes de disponibilização do serviço que, quando precárias, restringiam fluxos mais volumosos (STANDAGE, 1998, p.165). A discrepância tecnológica impunha uma variação na qualidade, na quantidade e diversificação dos serviços oferecidos.. As disparidades refletiam grandemente no processo de coleta de notícias, favorecendo os locais onde as infra-estruturas ofereciam um melhor aparelhamento.

Falando de outro modo: a maior quantidade possível de tecnologias de transmissão gera uma alteração na qualidade e diversidade do que é possível oferecer. De um modo geral, segundo

30 Há autores (NATALI, 2004, p.19; ÁLVAREZ, 2004, p.32) que apontam o próprio surgimento do gênero “jornalismo internacional” em países europeus, e também nos Estados Unidos, como algo ligado a uma melhor condição infra-estrutural sob ponto de vista dos recursos de comunicação ajuntados nos grandes centros urbanos, bem como à simbiose com a lógica de mercado, localizando e fixando bases onde poderia ter retornos mais palpáveis e rápidos. Agência Estado 78

Boyd-Barrett (1980, p. 50-59), os serviços se diversificavam segundo algumas condições apresentadas a seguir;

a) variedade. No que toca à diversidade de temas alcançados pela cobertura da

agência e fornecidos através de serviços aos clientes;

b) tecnologia. Aplica-se à variedade no grau de infra-estrutura tecnológica

existente nas cadeias de produção e circulação do material das agências.

Assim, ao se dispor de recursos tecnológicos mais desenvolvidos, obtinham-se

ganhos diretos na velocidade da transmissão para os clientes, satisfazendo a

ânsia por informações em uma escala de distribuição mais imediata, ao passo

em que esses aportes tecnológicos permitiam também um diferencial tanto na

qualidade do serviço (maior rapidez e confiabilidade, por exemplo), como na

criação de serviços diferenciados que pudessem ser viabilizados em uma

escala de fluxo de informação ampliada;

c) disponibilidade. Diz respeito aos acordos existentes entre agências de notícias

e clientes de troca de material. A agência, ao passo em que fornecia material

para um jornal assinante de um serviço, por exemplo, coletava esse material

para ser utilizado dentro de sua cadeia de produção e distribuição. Assim,

ampliava-se o raio de ação e repartição de custos de produção entre os jornais

e as agências;

d) relevância. Diz respeito à ampliação do horizonte de cobertura dado pela

agregação do alcance de apuração da agência. O alcance não é uma ampliação

apenas territorial, mas uma simbiose entre clientes e agências na formatação

de serviços para atender às necessidades existentes em função de informações

específicas; Agência Estado 79

e) linguagem. Esse parâmetro envolve congregar clientes situados em regiões

que possuam a língua vernácula como um fundo comum de ordem cultural

e/ou política e mercadológica. Esse recorte ajudou a configuração de unidade

de ação da agência em uma região dada, ou em regiões diferentes que, no

entanto, falassem a mesma língua (BOYD-BARRETT, 1980, p.65).

A presença desses condicionantes, tanto isoladamente quando interagindo de modo complexo uns com os outros, ou com os fatores citados (históricos, logísticos, políticos, comerciais e conjunturais), contribui para a compreensão das agências de notícias no seu movimento de estabelecimento e expansão dos seus serviços. No entanto, esse conjunto de elementos que emergem dentro da prática histórica das agências de notícias não são condições suficientes da geração dos modelos de operação. A organização das agências em uma rede complexa de coleta e distribuição é, de certo modo, outro poderoso balizador das configurações que permitem entender a singularidade das agências de notícias. É o que será abordado no capítulo seguinte. Agência Estado 80

2 Redes e Agências de Notícias

“Follow the cable”31. - Julius Reuter.

2.1 – As redes no tecido social.

Observar conseqüências da interpenetração entre redes e dinâmicas sociais suscita importância no âmbito desta tese pelo fato dessas esferas conjuntamente condicionarem possibilidades que se projetam sobre o ambiente de atuação das agências. Os desdobramentos mais sensíveis desses condicionamentos estão presentes, por exemplo, na demarcação de mercados em função de questões como a territorialidade e também no apelo a infra-estruturas como condição necessária ao conjunto de dispositivos para realizar sua operação.

Desse modo, pensar como as agências se estruturaram em rede é, de certo modo, refletir também sobre a própria estruturação das redes tecnológicas no tecido social como um dos modelos de organização das práticas sociais, comerciais e urbanas como um processo iniciado em meados do século XIX.

31 Siga o cabo (Tradução do autor). Agência Estado 81

Se comparado ao estágio anterior, fim do século XVIII e início do século XIX, o desenvolvimento de diversos tipos de redes, como por exemplo, as de transporte (ferrovias, canais e estradas) de energia (eletricidade) de distribuição (água) e de informação (correios, telégrafo, jornais) indica impactos sensíveis.

Antes da disponibilidade de redes de transporte terrestres efetivas e sistemáticas, o fluxo de mercadorias e mensagens era lento e irregular. As estradas eram precárias e perigosas, o que favorecia que o transporte fosse, na maioria, feito por navios, favorecendo as cidades portuárias. Segundo Hobsbawn (2004, p.28), o que se pode denominar de centros urbanos da Europa, nessa época, era uma cidade com um milhão de habitantes (Londres), outra com 500 mil habitantes (Paris), e uma série de 20 cidades pulverizadas pelo continente tendo entre 100 e 200 mil habitantes. Era, portanto, uma organização social ainda predominantemente rural.

As redes, em linhas gerais, materializavam os desdobramentos do cientificismo e tecnicismo, existentes no século XIX, sobre os sistemas de organização social, entre eles, as comunicações. “As mudanças de aplicação dos artefatos técnicos tornam-se cada vez mais globais, e a trilogia do novo sistema expande-se pelo mundo ocidental, formada agora pela tríade metal, carvão e máquina a vapor” (LEMOS, 2002, p.50). O surgimento das primeiras estradas e linhas férreas segue essa mesma tendência, ligando centros urbanos, por já apresentarem entre si uma troca mais efetiva e interdependente de mercadorias e serviços.

O telégrafo e os transportes se combinam, assim, ao modelo da técnica vinculada

à aplicação do trabalho, do industrialismo e como ferramenta de gestão das informações e mercadorias e da remoção de barreiras espaciais (HARVEY, 1993, p.212). É representativo da época o trabalho de Claude Saint-Simon. O processo de industrialização em relação à sociedade seria uma aliança entre a ciência e a indústria na “reorganização do corpo político”

(SAINT-SIMON, 1821; MATELART, 2002, p.34). A perspectiva era, de certo modo, tratar a Agência Estado 82

sociedade como uma grande indústria, onde a idéia de organização estaria delegada ao conjunto de organismos presentes na “fisiologia social” que também configurava o sistema industrial. A concepção de rede, nesse aspecto, define, no território, o espaço onde são dadas as conexões para que ocorra a circulação. Assim, era compreendida como material

(transportes) ou imaterial (dinheiro, comunicações), e seria o vetor necessário para permitir a organização social através de fluxos (MUSSO, 2004, p.23).

No entanto, esses fluxos se estabeleciam em função da troca e capacidade de produção de bens e serviços. Antes das redes de transporte e da máquina a vapor, produzir algo exigia uma sincronia entre disponibilidade de matéria prima, energia e mão-de-obra, de modo que esses componentes estivessem situados proximamente uns dos outros. Com a máquina a vapor, a energia poderia ser produzida em qualquer lugar onde houvesse disponibilidade de carvão e água, e, não mais, à mercê de condições físicas ou climáticas justapostas aos ambientes de produção, como os moinhos de vento e as quedas d’água. Assim, permite-se a alocação de força motriz em qualquer lugar, e, não mais, exclusivamente na proximidade do ambiente de produção (CASTELLS, 1999, p.56). Em adição à máquina a vapor, quando aplicada aos transportes (locomotivas, estradas de ferro), permite uma circulação sistemática, com tempos mais breves, de matérias primas, bens produzidos e de comunicação entre os locais envolvidos.

O que ocorre é a maior flexibilidade das fontes de energia, que podem ser entendidas, até o cenário da Revolução Industrial, como sendo primordialmente quedas d´água, ventos e tração. Com a energia a vapor combinada com as estradas de ferro, a disponibilidade de fontes de energia pode se situar em lugares não somente próximos aos locais de produção. Desse modo, a localização das fontes de energia se dá justamente onde há a disponibilidade de outro capital necessário para a produção, a força de trabalho. É no âmbito das cidades que isso ocorre. Pela abundância de trabalhadores, estes se constituem numa Agência Estado 83

oferta barata de força de trabalho. Do modo que isto se combina com as fontes de energia e a maior facilidade de transportes (ferrovias, portos), gera-se as concentrações urbanas de perfil industrial, tendo em cidades como Manchester e Liverpool exemplos bem acabados desse momento, além da economia de escala.

Gera-se, assim, a capacidade de uma maior quantidade de mercadorias com a mesma quantidade de trabalho, conseqüentemente baixando o custo de produção do produto pelo crescimento da mais-valia e ampliando suas potencialidades de consumo (MARX,

197832, p.105-106). Com a eletricidade, na segunda revolução industrial, temos um modelo em rede que combina a distribuição de energia e comunicação. Ocorre, desse modo, tanto o desenvolvimento de setores da produção, como a possibilidade efetiva de interconexão, o que funda a crença de uma religação entre organismos, através de um conjunto de dispositivos baseados na tecnologia e ciência da época.

Nessa religação, haveria uma crescente ruptura entre a concepção de tempo e espaço da modernidade e a dos tempos feudais. No modelo feudal, as cidades, por exemplo, tinham intercâmbio limitado umas com as outras, gerando um cenário socialmente homogêneo, situado geograficamente e dominado por atividades localizadas (GIDDENS,

1991, p.27). A relação de correspondência entre tempo e espaço era dada de modo mais direto, pela sobreposição existente entre uma atividade e as condições de sua viabilização.

A ruptura nessa relação ocorre a partir do momento em que os lugares distintos são moldados por influências sociais situadas de modo interdependente, intensificando as relações sociais entre os centros urbanos, de tal modo que os acontecimentos são influenciados ou passam a influenciar eventos que ocorrem a centenas ou milhares de quilômetros. Uma das concepções que motivam a manipulação dos constrangimentos existentes entre o tempo e o espaço era, justamente, a diminuição das distâncias através de

32 Publicado originalmente em 1847. Agência Estado 84

dinâmicas de cunho tecnologicamente determinista, em que prevalecia a noção de domesticação do espaço por meio de redes (MATTELART, 2002, p.36).

2.2 – Redes de comunicação e territorialidade.

A expansão das redes de comunicações dependia do uso das redes físicas de transporte, estruturadas previamente, como recursos infra-estruturais de implementação

(ARANDA, 2004, p.83). A partir do momento em que a rede de telégrafo se amplia, há a progressiva substituição de algumas dinâmicas de transporte (HOBSBAWN, 2004, p.26). O envio e recebimento das mensagens, por exemplo, permaneceu por muito tempo sendo realizado através dos correios, porém, para satisfazer a demanda por informações mais urgentes, o telégrafo era a opção adotada, sobretudo, para setores em que a informação assumia um caráter estratégico, como as áreas do governo, do mercado e das finanças

(FLORES, 2004, p.6; STANDAGE, 1998, p.150).

Nesse sentido, os estudos de Innis (1951, p.33) iluminam a questão, ao vincular a eficiência do controle em largas áreas geográficas com as características materiais dos dispositivos envolvidos. Innis divide os dispositivos de comunicação em dois grupos: os vinculados ao tempo, e os vinculados ao espaço. No primeiro caso, haveria um privilégio de materiais como a argila, a pedra e o pergaminho, como forma de registro. No segundo caso, materiais mais frágeis, como o papel, podiam ser flexibilizados de modo mais amplo, difundindo mais adequadamente mensagens sobre áreas mais extensas. A hipótese é que meios de comunicação mais flexíveis podiam se prestar com mais eficiência para setores da administração, governo e negócios. Assim, determinados modelos de comunicação podem ser assimilados em modos mais ou menos hierárquicos de organização. Os meios vinculados ao Agência Estado 85

tempo seriam menos hierarquizados e, os vinculados ao espaço, através da flexibilização das modalidades de trânsito de informação, seriam mais hierarquizados.

O que se percebe, numa primeira instância, é uma mudança na base que condiciona os fluxos de informações, na medida em que se repõe um modelo de circulação de informação de tempo mais lento por outro mais ágil. Ao se comparar a circulação estabelecida em torno do telégrafo com a informação vinculada aos meios de transporte, observa-se como isso se altera. O telégrafo fornecia, através da sua tecnologia, uma possibilidade de circulação mais descentralizada, o que poderia desvincular seu uso do caráter monopolista da época

(ÁLVAREZ, 2004, p.29,37).

Outro impacto era a redução do tempo de circulação da informação entre o evento e o seu relato. Com o telégrafo há a primeira perspectiva de se aproximar a instantaneidade para os jornais. Porém, como indica Franciscato (2005, p. 116) esse potencial era limitado, pois apenas a transmissão era simultânea. Havia uma demora para a transmissão da mensagem, para a preparação dos códigos de transmissão e permanecia o limite de não ser possível uma conversação simultânea capaz de elucidar possíveis imprecisões do relato. É com as primeiras aplicações do uso do telefone na esfera dos jornais que esse limite começa a ser superado. Ainda no século XIX, o repórter passa a transmitir diretamente para o jornal o que representou um novo ganho na aceleração dos modelos de produção do jornalismo

(FRANCISCATO, 2005, p. 118). Contudo, o uso do telefone não se deu de modo massificado, pois era limitado aos locais onde estivesse disponível a infra-estrutura de linhas e aparelhos para a transmissão.

No entanto, a despeito dessa possibilidade, o que houve foi uma expansão do monopólio do uso da rede dos cabos submarinos pelos estados-nação emergentes, vinculando essa tarefa com a operação das agências de notícias. Isso consolidou um modelo hegemônico Agência Estado 86

e condicionante do fluxo da informação internacional concentrado, sobretudo, em torno das agências, como é notório no caso da Reuters:

Reuters ensured not only that British papers were well informed about events across the empire, but also that newspapers in the colonies received news from a British perspective, gathered and edited by British and Dominion journalists. Indeed, while it remained a private, profit-seeking commercial concern throughout this period, Reuters was keen to identify itself as an imperial organization, partly in order to cultivate links with the British and colonial governments (POTTER, 2003, p.196)33.

O jogo de interesses de permissões e benefícios entre agências e governos era simbiótico. Para os governos, permitia-se o controle de informações sobre uma extensão territorial. Para as agências, a contrapartida era a ampliação da sua área de mercado. Esse modelo, no entanto, sofre ligeiras variações. No caso norte-americano, por exemplo, o monopólio recai sobre uma empresa, a Western Union, que formata, para autores como Carey

(1992, p. 201, 205) um modelo de império de comunicações, ou seja, um modelo de empresa que exemplificou um padrão de comunicação baseado em tecnologia, e numa lógica industrial. Nesse sentido, a organização das agências nos Estados Unidos, se deu de modo diferente que na Europa, optando por uma ação complementar entre agências e jornais se dando de modo cooperativo e, sobretudo, separando as tarefas de geração de conteúdo (papel das agências) e de transmissão das mensagens.

2.3 – Territorialidade e agências de notícias.

Com a aceleração da velocidade de circulação de notícias, Innis também indica que a mudança no conceito de tempo provoca especialização na produção de notícias para

33 A Reuters assegurava não apenas que os jornais britânicos estivessem bem informados sobre os fatos ocorrendo através do império, mas também que os jornais nas colônias recebessem as notícias sob uma perspectiva britânica, coletadas e editadas por jornalistas britânicos. Sem dúvida, enquanto permanecia como uma instituição privada e comercial, com fins lucrativos, durante todo aquele período, a Reuters tinha o interesse de estabelecer a identidade de uma organização imperial, parcialmente de modo a cultivar as conexões com os governos britânico e coloniais (Tradução do autor). Agência Estado 87

atender demandas diferenciadas da circulação34. Ao se combinar esse aspecto com a questão do monopólio, as agências geram uma externalidade importante: o surgimento do controle de cadeias e escalas de circulação de material, ao mesmo tempo, em dinâmica acelerada e monopolística. Retomando a própria hipótese, de que meios de comunicação mais flexíveis são mais favoráveis ao domínio do espaço, as agências de notícias, através do telégrafo e do cabo submarino garantiam para si a difusão do conjunto de suas mensagens.

Conforme indica Williams (1972, p.40,43), a geração de informações vinculada a um alcance ampliado cria formas de circulação de conteúdos diferenciadas, que orientam a produção de material. Para a agência, isso significa um aumento da base de consumo de suas informações, sem um acompanhamento na mesma proporção do volume de custos envolvidos

(HERSCOVICI, 2002), existe um custo de apuração e tratamento da informação que permanece razoavelmente fixo, tendo na outra ponta do processo, a distribuição, um retorno maior de aportes financeiros numa etapa que infra-estruturalmente, depois de instalada, não onera a operação em excesso pelo fato de ter um número maior de assinantes.

A niche was thereby created for organisations that could spread transmission costs between multiple recipients. […] News from these sources was generally compiled at offices in the major regional centres before being sent to London by cable. There, services were edited in the head office and then telegraphed to the major London newspapers and other subscribers and handed over to the United Kingdom Press Association for distribution to provincial newspapers. The service was also cabled back to many of the company’s overseas agencies, where reports were re-edited for local consumption (POTTER, 2003, p.197)35.

34 Conforme cita Machado (2004, p.61,62), ao passo em que a homogeneidade de circulação se dava, a alternativa para os jornais era diversificar a massa de conteúdos presentes numa edição justamente com o reforço de notícias e material como colunistas, quadrinhos e caricaturas que tivessem, no caráter local, a perspectiva de vinculação entre a publicação e a comunidade. 35 Um nicho foi assim criado para as organizações que pudessem distribuir os custos de transmissão entre recipientes múltiplos. [...] Notícias destas fontes eram geralmente compiladas em escritórios nos principais centros regionais, antes de serem enviadas para Londres via cabo. Lá, os serviços eram editados no escritório central e então telegrafados para os principais jornais de Londres e outros assinantes, e enviados para a Associação de Imprensa do Reino Unido para distribuição para jornais nas províncias. O serviço era também enviado de volta, via cabo, para muitas das agências da companhia do outro lado do Atlântico, onde as reportagens eram reeditadas para o consumo local (Tradução do autor).

Agência Estado 88

Retomando as hipóteses de Innis, a importância das redes como expansão do raio de ação das agências contribui para a geração de duas resultantes;

a) a expansão tecnológica para áreas marginais leva à aceleração da sincronia

entre o acontecimento e a notícia, criando reconfigurações no jornalismo local,

o que gera demandas diferenciadas no consumo de jornais em intervalos mais

estreitos, regulares e especializados (a segmentação de mercados e conteúdos),

como no surgimento de conteúdos desvinculados da dinâmica local;

b) a circulação através de dispositivos monopolistas contribui para a

homogeneização de parcelas do conteúdo distribuído pelas agências. Por

consolidar notícias através de uma distribuição radial, para vários jornais, a

agência gerava um mecanismo de massificação e uniformidade do tratamento

(UNESCO, 1980, p.106,109) no tocante ao consumo do seu material. Isso

verifica-se num velho manual da United Press de 1929:

A well-balanced 500 word pony will give the publisher the lead story of the day with sufficient detail with which to smash a story and make a favorable showing compared with a leased wire report. It will also carry in sufficient volume the second and third stories of the day and then will deliver a comprehensive resumé of others developments of the world in near tabloid form (Manual de normas da United Press de 1929 apud NELSON, 2002, p.521)36.

O que se apresenta, em linhas gerais, nesse modelo de rede é o privilégio da operação em um caráter de extensividade, no que toca ao alcance; de aceleração da transmissão, no tocante à circulação e, na contrapartida, a consolidação de centros

36 "Um resumo equilibrado, de cerca de 500 palavras, dá ao editor a história principal do dia com detalhes suficientes para dar impacto a ela e fazer uma apresentação favorável, comparada com um relatório assinado, via cabo. Ele também traz, em volume suficiente, a segunda e terceira histórias do dia e então fornece um resumo abrangente dos outros desenvolvimentos de fatos ao redor do mundo, num formato próximo do tablóide (Tradução do autor). Agência Estado 89

gerenciadores dos fluxos de mensagens37. Era, portanto, uma rede que procurava ser sincrônica aos interesses de consolidação dos estados-nação, da expansão colonial, e da manutenção dos recursos tecnológicos em círculos restritos (LOMBARDI, 1987, p.157).

Esse é um cenário que vincula aspectos sociais e políticos com a territorialidade, o que, por sua vez, condiciona, em parte, a configuração das características operacionais.

Justamente por “ser preciso então que elas (as agências) oferecessem um produto capaz de atender às necessidades específicas de cada cliente, refletindo o caráter social do mercado e levando em conta seus interesses, valores e preconceitos” (AMARAL, 1996, p.28).

2.4 – As redes como cerne operativo das agências.

A formação paradigmática desse tipo de estruturação, envolvendo o estado, dispositivos tecnológicos e atendimento dos interesses de mercado, pode ser vinculada ao caso da agência Reuters, no seu uso dos cabos submarinos38. A partir de 1857, a Reuters deixava de ser um usuário do telégrafo para ser empresa que operava o telégrafo como negócio.

Através de um acordo com a coroa britânica, a agência teria o monopólio de uso dos cabos submarinos (STANDAGE, 1998, p.150-151,154). Na contrapartida, forneceria cópias dos telegramas e boletins regulares ao alto gabinete real, incluindo aí a própria Rainha

Vitória (STOREY, 1951, p.277). A coroa inglesa passa a ter uma ação decisiva nos cenários políticos e diplomáticos para facilitar a implementação da infra-estrutura de cabos pela

Reuters (FLORES, 2005, p.11; READ, 1992, p.283-311). Porém, além dos elos políticos, a

Reuters soube estabelecer vínculos com a elite comercial e financeira da Inglaterra da época,

37 Cf. Anexo B. 38 A partir de 1851, a primeira linha de cabo submarino ligando a Inglaterra ao continente começa a funcionar em 13 de novembro do mesmo ano, depois de duas tentativas malogradas em 1847 e 1850 (READ, 1992, p.13). Agência Estado 90

colocando-se estrategicamente no tríptico comercial, político e financeiro; posicionando-se assim no eixo valioso às inter-relações entre essas esferas39.

A estreita interdependência tecnológica e política entre a Reuters e a coroa britânica se repete em outros casos de agências da época. O modelo era, em breves termos, estabelecer uma díade entre as políticas colonialistas de determinados países e as estratégias de obtenção de informação. Know-how este dado pelas agências respectivas a cada nação.

Para as agências, essa ligação permitiu que o envolvimento entre as disposições do mercado e de interesse governamental, de um lado, e a estruturação tecnológica na forma das redes de telégrafo, do outro, colocassem nas suas mãos a responsabilidade, e também os frutos, de concentrarem boa parte dos fluxos de informação. Contudo, nesse cenário, permaneciam os limites de ordem tecnológica:

By 1876 a network of undersea telegraph cables had been created that linked Britain and the settler colonies. This certainly facilitated communication within the British world. However, the impact of the new technology was by no means as straightforward as some recent writers have suggested. There was no “Victorian internet”, if by that term we mean an infrastructure of information exchange that made large amounts of news available at little or no cost to people separated by vast distances. Telegraphic communication was limited in terms of carrying capacity, as chronic congestion of the cable network (POTTER, 2003, p.195)40.

39 Evidentemente, o cenário de relações entre agências e estados requer por si só um estudo mais extenso e rigoroso, envolvendo análises de fundo político. Devido à delimitação desta tese remeter-se ao estudo de características operacionais e de fluxo, não contemplaremos de modo aprofundado esse viés. Todavia, análises sobre implicações políticas presentes no desenvolvimento das agências podem ser consultadas em: GERBNER, 1977; MUSA, 1997; PALMER, 1981; SCHILLER e NORDENSTREG, 1993. 40 Por volta de 1876, uma rede de cabos telegráficos submarinos havia sido criada entre a Grã-Bretanha e suas colônias. Isto certamente facilitou a comunicação dentro do mundo britânico. Contudo, o impacto da nova tecnologia não foi, de forma nenhuma, tão direto quanto alguns escritores mais recentes têm sugerido. Não houve uma "internet vitoriana", se este termo significa uma infra-estrutura de troca de informações que disponibilizava uma grande quantidade de informações, a custo baixo ou zero, para pessoas separadas por grandes distâncias. A comunicação telegráfica era limitada, em termos de capacidade de transmissão, como no caso do congestionamento crônico da rede de cabos (Tradução do autor). Agência Estado 91

Figura 01 - Redes de Cabos submarinos da Reuters, em torno de 1870, onde a mesma possuía 60% da rede de telégrafo existente e a quase totalidade dos cabos submarinos. Fonte: Read (1992, p.45).

Investir na base tecnológica era e é, de certa forma, um modo de consolidar o caminho de acesso a uma determinada informação através de uma rede própria. O “poder de fogo” das agências, ao se colocarem avidamente na ponta dos desenvolvimentos tecnológicos, e a sua adaptação aos serviços informativos devem ser entendidos, menos no campo da ousadia, do experimentalismo, e mais numa percepção pragmática do mercado. A implicação

é óbvia: se uma agência não dispuser de um serviço por limitações tecnológicas, outra o fará

(READ,1992, p.295).

Se o uso das redes analógicas de telégrafo pelas agências de notícias se dava em um caráter fechado, a formação desse modelo, tanto sob o ponto de vista tecnológico, como da inserção social das agências, cria um quadro complexo de concentração de fluxo da informação. Boyd-Barrett (1992, p.32) aponta que, desse quadro, emergem algumas características, categorizadas em seis pontos principais;

a) as agências de notícias foram e são um dos principais usuários dos recursos de

comunicação, concomitantemente, também, clientes principais das redes Agência Estado 92

estatais e privadas de comunicação, com isso, têm um alcance em escala

internacional;

b) as agências, por elas mesmas, têm sido ativas no papel de criação de modelos

de operação das redes de telecomunicação, atuando na pesquisa e

desenvolvimento dessas tecnologias e, por vezes, sublocando esses recursos

para usos de terceiros;

c) o envolvimento das agências no investimento em tecnologias de comunicação

está diretamente ligado às possibilidades de intensificação da velocidade de

operação;

d) através dessas tecnologias, desenvolvem-se novas formas de comunicação

que, por sua vez, geram outras naturezas de serviços dirigidos a contextos

específicos;

e) o envolvimento da agência com o desenvolvimento de plataformas de

comunicação atua em dependência tecnológica e de interesses com setores que

demandam informações de caráter estratégico (finanças, mercado, governos);

f) essas tecnologias têm agilizado modelos nos quais as notícias foram

diretamente alimentadas no mercado de varejo jornalístico, deixando pouca

margem de intervenção editorial do jornal local41.

Nesse cenário têm-se algumas resultantes. A primeira delas é a criação de fluxos suficientemente volumosos e estáveis, permitindo a sustentação dos sistemas de rede de telégrafos enquanto modelo de negócios42.

41 O problema remonta à discussão da NOMIC (Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação). A partir de fins dos anos 1960 (SAVOIE, 1995, p.34), através de diversas reuniões de cúpula dos países não- aliados, se buscam formas para reorganizar os sistemas de comunicação, de modo a estabelecer alternativas de contra-fluxos (BOYD-BARRET, 1992) ao “monopólio” do fluxo informativo entre as agências internacionais até os veículos períféricos, o que limita a estes ter atendidas as suas especificidades locais. Agência Estado 93

Assim, a criação de volumes de informação, postos em uma atuação em rede, poderia gerar, subseqüentemente, diferenciais de ordem qualitativa. Tais como: uma velocidade de transmissão mais ágil; a sistematização de uma operação em pontos geográficos diferentes; e a consolidação de uma massa de material de origem dispersa através de modelos centralizados de tratamento da informação coletada.

2.5 – Modelos de organização segundo a territorialidade.

Na organização face à territorialidade de operação, houve duas tendências principais. Na Europa, a predominância foi estabelecer a agência como um negócio próprio, independente de grupos editoriais ou de modelos cooperativos. Essa relação, até certo ponto autônoma, era diferenciada do modelo estabelecido pelos americanos, que era mais gregário entre os jornais.

Nos Estados Unidos, da necessidade de se dispor de informação de modo abundante e contínuo, nasceu o acordo entre os donos de seis jornais de Nova Iorque, através do qual se colocavam em cooperação para obter uma informação de modo mais barato

(MACHADO, 2000, p.120). No ano seguinte, esse acordo foi formalizado em torno da

Associated Press. Em 1851, juntou-se à associação o The New York Times, e a AP passa a vender material para outros jornais fora de Nova Iorque. Em seguida, jornais regionais se agruparam, formando diversas AP regionais43. Nos anos 1870, estas diversas redes menores se fundiram, em torno da AP de Nova Iorque, ampliando o alcance, volume e distribuição da

42 No momento da implementação dos cabos submarinos, por exemplo, Standage (1998, p.114) indica que cerca de 90% das mensagens de longa-distância eram relativas a negócios e finanças. Burke e Briggs (2004, p.145), coincidem com esse percentual, ao indicarem que a fatia ocupada pelas agências no fluxo de informações era superior a 70%, cifra relativa ao trânsito de dados dos mercados de ações. Informações comerciais tinham uma participação de 13%, a imprensa, 4% e o governo 2%. Essas parcelas eram de responsabilidade sobretudo, das agências. O restante dizia respeito a comunicações particulares e de cunho privado.

43 Havia, nesse período, a Western Associated Press, a Philadelphia Associated Press, a do Meio-Oeste, de Illinois, entre outras. Essas associações eram formadas de modo independente entre si. Agência Estado 94

associação e, conseqüentemente, incrementando sua importância como agência do novo mundo e seu poder diante das agências européias.

A estruturação dos modelos das agências, em torno da realidade européia e norte americana, coloca dois perfis de uso de redes. O padrão europeu delineia-se em torno de redes complementares. Era uma rede de redes, mas com alcance limitado, pois a área de disseminação ou apuração de uma agência terminava quando começava a outra. Esse modelo

é reforçado, quando, mais tarde, as agências da Europa constituem um cartel que visa garantir a operação em áreas geográficas exclusivas44.

No padrão americano o que se tinha era a idéia de uma rede expandida, ou ao menos expansível à medida que se amealhasse novos sócios. Nesse molde, os membros associados repartiam o custo operacional da agência. A troca de informação intermediada pela agência se dava de modo parcialmente livre entre os membros, desde que se assinasse o serviço e se alimentasse o sistema, poder-se-ia receber e enviar material (COOPER, 1942, p.89) 45. Segundo alguns autores (FENBY, 1986, STOREY, 1951), esse modelo se aproximava do que seria uma forma mais pura de uma agência voltada para a informação de notícias, pois, o próprio conjunto de assinantes eram jornais, fornecendo e se servindo do material de modo cooperativo.

Além dos custos envolvidos, a preocupação de estabelecer uma agência cooperativada era justificada por três motivos;

a) primeiro, por ser um país de extensas áreas de território, o que dificultava, em

muito, uma apuração satisfatória de eventos no território nacional;

44 Cf. Item . 45 Esse aspecto muda em 1900, quando a AP estabelece no seu estatuto uma divisão entre os membros da associação, que podiam ser regulares e associados. A diferença entre eles é que os membros regulares eram obrigados a fornecer conteúdos, e para os associados isso era facultativo, além de não terem direito a voto no conselho da agência (SAVOIE, 1995, p.259). Agência Estado 95

b) segundo, os Estados Unidos estavam implementando, em larga escala, tanto

um sistema de estradas de ferro como de telégrafo, o que fornecia as bases

infra-estruturais de circulação dos serviços de notícia;

c) terceiro, o fato de se trazer notícias do exterior era caro para os jornais

americanos, se os mesmos mantivessem a assinatura dos serviços das agências

européias, além da questão da dependência unilateral destes informes.

A diferença entre os modelos americano e europeu, manifestado nas distinções observadas entre a organização autônoma ou cooperativada, pode ter validade por indicar a adequação de um conjunto de configurações pertinentes à realidade geográfica e política existente no contexto de nascimentos das agências. Evidentemente esses dois modelos se interpenetram, posteriormente, quando da necessidade das agências formadas em modelos cooperativos expandirem seus negócios em escalas internacionais. Do mesmo modo, essa mescla acontece quando as agências de cunho comercial e autônomo direcionam-se ao mercado de notícias para a imprensa (FENBY, 1996, p.26). De qualquer maneira, o relevante

é que esses modelos delineiam a conformação das características operacionais e de fluxos que se projetam de acordo com a organização das agências.

2.5.1 - As quatro-grandes agências (big – four) e a circulação de informações.

A importância do estabelecimento de modelos de organização segundo a territorialidade e os desdobramentos para a configuração de características presentes nas agências, deve-se também a uma presença predominante de quatro agências de alcance global durante boa parte da história e percurso desses órgãos. Agência Estado 96

Historicamente, são: Reuters (atualmente com capital transnacional, mas principalmente inglês e americano), France Presse, (AFP, francesa, originária da antiga agência Havas, privatizada em 1987, mas com permanência de participação acionária do governo francês), Associated Press (AP), United Press International (UPI). Essas duas

últimas formadas em modelo cooperativado46.

Nos últimos anos, contudo, pode-se notar uma reconfiguração na presença internacional das agências. Percebe-se que, na atualidade, o provimento de notícias em escalas internacionais para os jornais impressos e na web, portais, TVs e rádios, permanece como um setor condicionado principalmente pela AFP, AP, Reuters e World News Television

(MANNING, 2001, p.56). Pode-se incluir como agências de crescente penetração, a EFE, espanhola, fundada em 1939, mas com sua presença ampliada nos anos 1980 devido à participação elevada obtida na América Latina (ROJEL e BELTRÁN, 2003, p.233-245), e a

Xinhua, a agência estatal chinesa, que tem alimentado significativamente o volume de notícias envolvendo o boom econômico daquele país.

Em paralelo, desde o fim dos anos 1980, observou-se uma menor presença da UPI na distribuição de notícias47. Todavia, o modelo, historicamente constituído pelas quatro grandes, ilustra a aplicação de modelos cooperativados ou autônomos que resulta na

46 Há ainda a presença de numerosas agências regionais ou nacionais. Atualmente, segundo a Unesco existem em torno de 170 agências de notícias de alcance internacional, entre privadas e ligadas a órgãos de governo em 118 países. No último congresso internacional das agências de notícias, em Moscou, em janeiro de 2004, estiveram representantes de 120 agências de 99 países. Cf. em: [http://portal.unesco.org/ci/en/ev.php- URL_ID=17327&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html] Acesso em 24. jan.2005. Para uma lista das mais relevantes na atualidade, confira o Apêndice A – Lista das agências em operação. Em alguns casos, há ainda a presença de agências de notícias de capital privado voltadas para o mercado interno, como no caso brasileiro pode-se apontar a Agência Folha, a Agência JB (ligada ao jornal do Brasil) e a Agência Estado. 47 A débâcle da UPI se deu por fatores diversos. Vários problemas na gestão interna, somados a investimentos equivocados em plataformas tecnológicas e uma crescente perda na participação no varejo jornalístico levaram à venda da mesma, em 1982 para a Media News Corporation, baseada no Tenesse, que assumiu uma dívida acumulada em 24 milhões de dólares em troca do controle acionário da UPI. A agência foi vendida pelo preço simbólico de US$ 1,00. Posteriormente, houve tentativas da Reuters em comprar a UPI, tendo, a agência inglesa, conseguido “apenas” o serviço de fotografias, o que foi suficiente para situá-la como segunda maior agência do setor de fotografias, atrás apenas da France Presse. Depois, a seqüência de “passagem de mãos” incluiu: a Christian Broadcast Corp, de um tele-pastor evangélico; a Middle East Broadcast Center, ligada à família real da Arábia Saudita, e por fim, a UPI terminou, em maio de 2000, nas mãos de empresas ligadas à seita religiosa do Reverendo Moon (NELSON, 2002, p.515; SAVOIE,1995, p.243-257). Agência Estado 97

estimativa que, entre 75% a 85% das notícias internacionais distribuídas para os jornais diariamente, circulavam nas redes das big-four, tornando decisivo o condicionamento dessas agências sobre os meios de comunicação de caráter massivo (BOYD-BARRETT, 1980, p.15;

FENBY, 1986, p.6,11; HESTER, 1980, p.75; PORTAS, 2002, p.205; WILLIAMS, 1972, p.81)48.

2.5.2 – Territorialidade e Cartelização do mercado.

Ainda no século XIX, as três principais agências européias (Havas, Reuters e

Wolff) passaram a ter áreas de cobertura que se sobrepunham. Em 1859, foi subscrito um acordo pelas três, através do qual cada uma assumiu uma zona de influência e não poderia entrar na área de operação das outras duas (BOYD-BARRETT, 1980; BOYD-BARRETT e

RANTANEN, 1998; FENBY, 1986; HESTER, 1980; MATTELART, 2000; PALMER, 2003;

READ, 1992; SCHILLER, 1980; UNESCO, 1980). A partir de 1870, consolidou-se uma série de alianças entre as três agências européias, incluindo os chefes de governo da época na negociação (ARANDA, 2004, p.102). Esse acordo, nomeado cartel das agências de notícias, visava, principalmente, impedir uma competição alheia, reduzir custos de apuração, bem como restringir as interferências mútuas (PALMER, 2003, p.482). Em adição, a formação do cartel previa o acordo para a troca de conteúdo entre as três, sem, no entanto, permitir a coleta de material nas áreas que fossem da competência direta da respectiva agência.

2.5.3 – Delimitação de mercados no cartel.

48 Essa tendência continua a existir. Em pesquisas recentes ((BOYD-BARRETT, 1997, p.135; WU, 2000; SANCHA, 2005; SILVA JR, 2002) indica-se que para os jornais na web, nas editorias de internacional, o fornecimento de material pelas agências continua a ocupar percentuais altos (acima de 80%) do volume de notícias publicado. Agência Estado 98

A situação do cartel pode ser percebida de modo mais nítido com a entrada no mercado internacional da Associated Press. Com isso, o território norte-americano passou a ser exigido por esta como campo exclusivo de atuação. Havia um choque, delineado da seguinte maneira: de um lado, a Inglaterra (Reuters), com contrapontos estabelecidos entre as duas principais potências continentais (França e Alemanha) através da Havas e Wolff; do outro lado, nos EUA, a Associated Press.

Estas grandes agências logo compreenderam que tal concorrência era inútil e preferiram fazer entre si acordos de troca de informações, primeiro esboço de uma “divisão de mundo” em que cada qual se reservou um domínio geográfico exclusivo. Nessa associação, a agência Havas, a decana, assegurava uma espécie de presidência (ALBERT e TERROU, 1990, p.34).

O “loteamento” do mundo em áreas exclusivas era assim: a Reuters se encarregava do império britânico, das suas colônias, dos Países Baixos, da Austrália, das

Índias Orientais e Extremo Oriente. A Havas ficava com a França e suas colônias, Itália,

Espanha, Portugal, Oriente Médio, Indochina e América do Sul49. Esta, dividida, posteriormente, com a Reuters. A Wolff direcionava-se à Europa setentrional, Alemanha,

Bálcãs e Europa oriental, pelo menos até a tomada da Rússia pela revolução de 1917, e depois da primeira guerra mundial, quando os seus mercados lhe são tomados. A Associated Press comandava o fluxo bilateral de notícias originadas e destinadas para os Estados Unidos, sendo moldada prioritariamente para e pelo mercado interno de notícias (MATTELART, 2000, p.48). Alguns territórios, com pouca participação no volume de notícias para a época

49 No Brasil, as agências montam base a partir de 1874, numa associação entre a Reuters e a Havas. A chegada do primeiro cabo submarino permitiu a interligação com a Europa a partir de Recife. Progressivamente, as principais cidades foram interligadas. Em 1880, o telégrafo por cabos submarinos interligava Belém, São Luis, Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Santos, Florianópolis e Porto Alegre (FLORES, 2005, p.12; READ, 1992, p.68). A presença inicial foi possível por haver, desde 1860, operações de telecomunicações através do telégrafo no Brasil. Em paralelo, a expansão foi facilitada pelo fato de, apenas em 1917, ser criado o primeiro decreto regulador de comunicações à distância que definia como sendo “da exclusiva competência do Governo Federal os serviços radiotelegraphico e radiotelephonico no território brasileiro” (JAMBEIRO et All., 2002). Esse decreto foi complementado em 1931 e 1932 por decretos que estabeleciam exigências específicas para a operação de telefonia, telégrafo e transmissão de dados em geral, que facultava a possibilidade de concessão a terceiros de serviços internacionais. Agência Estado 99

(América Central, norte da África, Império Otomano, Rússia e Ásia Central), são incluídos em um acordo de “exploração comum”, ou são declarados “neutros”50.

O “loteamento” embutia um conflito silencioso entre os países onde as agências se localizavam. Apesar de juridicamente não serem estruturas estatais, principalmente a Reuters e a Wolff contavam com consistentes políticas de apoio dos governos locais, de forma a garantir a defesa de interesses correspondentes a cada país (BOYD-BARRETT, 1998, p.27;

PALMER, 2003, p.482). Esse loteamento era formalizado de tempos em tempos. Os acordos foram revistos em 1880, em 1890 e em 1910, quando ocorreram ajustes em relação aos territórios de exclusividade (ARANDA, 2004, p.103) 51.

2.5.4 – O desmonte do cartel.

As pressões das agências norte-americanas minaram progressivamente a sustentação do cartel devido à limitação que isso impunha à operação (SCHILLER, 1980, p.102; COOPER, 1942, p.163). O cabo-de-guerra entre o cartel europeu e a AP e UPI apoiava-se em três razões principais;

a) com o cartel, mantinha-se a concorrência americana afastada nas zonas

exclusivas;

50 Essa neutralidade em relação à América do Norte só foi levada em conta pelas agências européias, pelo menos até a estabilização das operações internacionais das agências americanas. 51 Salvo algumas exceções, que podem ser incluídas como “exploração comum” e “neutralidade”, os membros do cartel eram proibidos de vender o seu material em territórios que não lhes “pertenciam”, podendo, em momentos posteriores (começo do século XX), instalar escritórios de apuração nesses lugares. Em adição, havia geralmente um acordo padrão com as agências nacionais: estas recebiam as notícias de uma determinada agência, assinando o serviço por uma quantia determinada, em troca, a agência internacional recebia o material da agência local, cerrando um acordo de exclusividade. Assim, a coleta e a distribuição de material eram exercidas de forma rígida e os canais de dependência configuravam in-loco a estrutura global acertada entre as agências de notícias.

Agência Estado 100

b) as agências do cartel tinham o horizonte favorável no sentido de apresentarem

as notícias americanas em tons descomprometidos ou, quando o caso

permitisse, deliberadamente depreciativos;

c) as agências do cartel podiam apresentar as notícias dos seus países ou áreas de

domínio, com um campo de controle maior, evitando contradições e

divergências comprometedoras em relação ao conteúdo do material.

O cartel perdura quase intocável até a primeira grande guerra, mas entra em xeque com o enfrentamento no campo de batalha da França, Inglaterra e Alemanha,onde as agências cartelizadas baseavam suas operações. As agências participaram no esforço do conflito, tendo até mesmo cortado as redes de comunicação da agência alemã Wolff para impedir que esta se comunicasse de modo adequado (SCHNEIDER, 2004, p.202).

O desmantelamento do cartel estava em processo com o rescaldo da guerra, a ordem política internacional vigente e o surgimento do rádio, que migra o telégrafo elétrico para o eletromagnético. O rádio agiu como um desestabilizador da manutenção dos acordos do cartel, pois a rede podia deixar de se representar como uma contigüidade física, ligada por cabos. A transmissão prescindia de uma infra-estrutura de rede física, e podia ser recebida, teoricamente, em qualquer ponto além das fronteiras.

Em adição, a complexidade do trânsito internacional de notícias levou à aparição de uma gama diversificada de agências em muitos países. Em parte, por perceberem a ferramenta que uma agência podia ser na gestão da comunicação transnacional e, em parte, pela existência de um clima político arraigado ao nacionalismo dos anos 1920 (SCHNEIDER,

2004, p.203). Em 1934, finalmente, todos os acordos foram rompidos.

2.5.5 – Desdobramentos do cartel no perfil operacional.

Agência Estado 101

Para as agências européias, o fim do cartel foi sentido por estabelecer uma concorrência em áreas sobrepostas. Em casos, como, por exemplo, o da agência Havas, o governo francês passou a intervir diretamente na gestão do órgão, subsidiando a implementação de sucursais, de equipamentos e cobrindo gastos de modo a permitir a continuidade de suas operações (FENBY, 1986, p.51-53). Por outro lado, as agências norte- americanas, notadamente a AP, encontram a possibilidade de expandir a sua operação, ao mesmo tempo em que implantava uma série de sucursais para coletar e distribuir seus materiais nas novas praças.

O fim do cartel, de certo modo, atenua o quadro de monopólio, pois permite que ocorram dimensões diversificadas de fluxo informativo52. Porém, mesmo com a abertura para um estágio de livre circulação de material, não se pode descartar a presença de traços de práticas constituídas durante os mais de cinqüenta anos de vigência do cartel. Isso cria resultantes que permanecem até hoje no modelo das agências: a Reuters, ligada mais ao mercado financeiro, a AP e UPI com mais ênfase no jornalismo e a AFP permanece de modo próximo vinculada ao governo francês.

De qualquer forma, o processo de desmantelamento do cartel contribui para a diversificação da natureza organizacional das agências. Esse alargamento das possibilidades de atuação ajuda na adoção de parâmetros diferenciados de operação, o que formata alternativas de organização distintas. Desse modo, Erbolato (2002, p.205) propõe uma classificação das agências de acordo com a sua organização jurídica. Podem ser;

52 Essa externalidade, em muitos casos, tornava dependentes continentes inteiros de uma mesma fonte, no caso de obtenção de informações internacionais. É famoso o caso da Austrália e países da Oceania que, durante o período do cartel, tinham a quase totalidade das notícias internacionais alimentadas pela Reuters. A saída de informações desse continente para o mundo, apesar de ser reunida por agências locais, também era filtrada e intermediada pela mesma agência (BOYD-BARRETT e RANTANEN, 1998). Agência Estado 102

a) particulares ou comerciais. Surgidas por iniciativa não-oficial e

administradas como um órgão ou empresa privada (exemplos, a Reuters a

Agência Estado);

b) cooperativas. Empresas surgidas e gerenciadas como um consórcio de vários

jornais que contribuem na sua manutenção (exemplos, a AP e UPI);

c) estatais. São criadas pelos governos, (exemplos, a Agência Brasil, a antiga

TASS, soviética) ou eram particulares e foram agregadas ao capital público do

país em que estava sediada. Por vezes, essa absorção é feita no modelo de

gestão de capital misto53.

Boyd-Barrett (1980) coloca ainda outras duas categorias:

a) regionais. São organizações criadas em torno de interesses comuns de uma

determinada região com características ou interesses homogêneos, como, por

exemplo, a agência CANA (Caribean Área ), PANA (Pan

African News Agency), ACAN (Agencia Centro-americana de Notícias),

FANA (Federação Árabe de Agências de Notícias), entre outras;

b) especializadas. São focadas em núcleos informativos específicos como, por

exemplo, a Bloomberg e a Down-Jones o são para o horizonte dos negócios.

Evidentemente, os parâmetros emergidos de cada um desses tipos de organização tenderam a se interpenetrar, assimilando parcelas de práticas presentes em outras formas de estruturação. A preocupação aqui, nesse sentido, foi mapear a origem dos perfis e o seu papel

53 e.g. a AFP, que foi privatizada em 1987, tendo, contudo, o governo francês mantido participação acionária. Agência Estado 103

na formação das características da operação e de fluxo, mesmo que presentes em momentos posteriores do desenvolvimento das agências.

2.6 – Características da infra-estrutura tecnológica aplicada às agências.

Poucos modelos de circulação de notícias têm recursos para estabelecer uma atuação ampla e em escalas transnacionais como realizam as agências (BOYD-BARRETT e

RANTANEN, 1998, p.33). Esse resultado deve-se à conformação histórica desses órgãos, como ao uso das infra-estruturas de transmissão (UNESCO, 1980, p.16), pois, como vimos ao longo deste capítulo, a prática das agências e as redes de circulação são aspectos vinculados, ajustando o desenvolvimento tecnológico a um conjunto de práticas capazes de operar a demanda por informação em escalas satisfatórias.

Nessa perspectiva, há uma relação direta entre as características operacionais e de fluxos e infra-estruturas de transmissão. Ao se dispor de condições mais eficientes de circulação, geram-se alterações na qualidade e diversidade da oferta. A dinâmica entre agências e infra-estruturas de ordem tecnológica situa-se no quadro onde as estruturas são bases necessárias de dinâmicas que nelas se apóiam (STAR e BOWKER, 2003, p.152).

Contudo, a infra-estrutura não deve ser considerada como absoluta, e sim, ajustável às condições com as quais se relaciona. Seria assim um conjunto de dispositivos incorporado ao campo tecnológico e social, assimilando-se em um determinado conjunto de práticas e dando sustentação à estruturação das características de fluxo e de operacionalização das agências.

Os autores Star e Bowker (2003, p.155) apontam oito pontos54 que, ao nosso ver, podem ser aplicados ao delineamento das atividades das agências. Essa projeção permite observar as ações necessárias para a circulação de material, manifestada, por exemplo, nas

54 Os pontos são: embutimento, transparência, extensão ou alcance, parte de uma associação, vinculação com práticas, incorporação de padrões, existência de uma base instalada e visibilidade em situação de falha. Agência Estado 104

características de produção descentralizada, dissociação entre conteúdo e suporte e aceleração da velocidade operacional. Descreveremos a seguir cada ponto e os desdobramentos específicos para o caso das agências.

2.6.1 - Embutimento.

Presume que as infra-estruturas, ao serem implementadas, estão ou agregadas ou diluídas em outras estruturas ou arranjos tecnológicos precedentes. Assim, ao surgir determinado recurso tecnológico, o mesmo apresenta aspectos de continuidade com estruturas previamente existentes. No caso das agências, percebe-se o embutimento em dinâmicas de implementação de serviços agregados a desenvolvimentos anteriores55. Em um momento posterior, haveria a maximização do horizonte de serviços em função de uma melhor infra- estrutura disponível.

2.6.2 - Transparência.

As infra-estruturas não precisam ser reinventadas a cada inovação de artefatos.

Assim, no caso das agências, a cada nova onda de recursos tecnológicos adotados, os artefatos automatizariam etapas tecnológicas anteriores.

2.6.3 - Extensão.

55 A título de exemplificação, a adoção massiva, no século XIX do telégrafo como recurso de distribuição pressupunha a consolidação de uma rede elétrica operativa, de um sistema de codificação/decodificação de mensagens (o código Morse), bem como o rádio telégrafo, já agrega as operações consolidadas da telegrafia e também da transmissão eletromagnética. Agência Estado 105

Seria a área de operação de uma infra-estrutura. Para as agências, esse ponto é fundamental, pois está diretamente associado à expansão dos seus serviços e à manutenção da sua área de influência e, conseqüentemente, à possibilidade de uma produção descentralizada.

2.6.4 - Tomada como parte de uma associação.

A infra-estrutura é condição necessária para o estabelecimento de um caráter organizacional de um determinado grupo ou prática. Para o caso das agências, os mais diversos sistemas de apuração, tratamento e distribuição de material, bem como a sua interligação, consistem, pois, na sobreposição dos recursos a serem aplicados, com a conseqüente infra-estrutura de apoio.

2.6.5 - Vinculação com práticas.

As infra-estruturas têm uma ação de viabilização de um conjunto de práticas. Se, por um lado, são projetadas e configuradas por demandas de determinada área, assimilando convenções e necessidades presentes; por outro, ao serem implementadas, terminam por assimilar novas possibilidades para além da realidade para a qual foram desenhadas. Nas agências, por exemplo, na relação com os jornais, o uso de redes visa à adaptação aos modelos de produção de notícia e informação vigentes(STANDAGE, 1998, p.146), gerando condicionamentos nas características operacionais e de fluxos56.

56 A título de exemplo, na relação com o jornalismo, as agências tiveram que sincronizar o fluxo dos seus boletins informativos em função da periodicidade dos jornais, criando procedimentos de alimentação intermitente.

Agência Estado 106

2.6.6 - Incorporação de padrões.

As infra-estruturas, para suprir um conjunto de operações, devem modificar ações objetivando a superação de conflitos entre padrões. De certo modo, a incorporação complementa as características da transparência e do embutimento, no sentido da integração de níveis tecnológicos diferenciados, existentes no sistema como um todo. Assim, no caso das agências de notícias, temos a incorporação como sendo a capacidade de se adequar a sistemas diferentes, graças a padrões técnicos estabelecidos. É um elemento necessário para adequar, por exemplo, conteúdos com níveis de complexidade diferentes devido a realidades também desniveladas de assimilação.

2.6.7 - Existência de uma base instalada.

Concilia a herança de uma base tecnológica pré-existente, potencializando seus limites de operação. Assim, determinada ação deve ser elaborada para ter compatibilidade com sistemas menos desenvolvidos. No caso das agências, objetiva-se à compatibilização dos sistemas tecnológicos de ponta com os sistemas em vias de obsolescência. Isso procura garantir a manutenção de parcelas do mercado onde o horizonte de clientes eventualmente não disponha do mesmo nível de acesso a um conteúdo ou serviço. Em adição, cria alternativas de circulação de material em forma de redundância. Desse modo, se um canal falhar, outro, mesmo que não tão sofisticado, poderia manter o fluxo57.

57 Atualmente, as agências de notícias mantêm sistemas de entrega interligados através das seguintes tecnologias: satélites, ondas de rádio, telefonia fixa e móvel, redes digitais em VPN (redes privadas virtuais) internet, WBI (sistema que utiliza o intervalo ocioso do pulso de transmissão de TV entre um quadro e outro de imagem) e CRF (Radiofreqüência criptografada, onde os assinantes recebem dados para o computador, depois de passarem por um decodificador que “quebra” a criptografia).

Agência Estado 107

2.6.8 - Visibilidade em situações de falha.

As infra-estruturas, normalmente naturalizadas pelo uso, têm uma qualidade de

“invisibilidade”, aparecendo apenas nos casos de falha. As práticas e modelos das agências apóiam-se em diferentes infra-estruturas (eletricidade, telégrafo, rádio, redes de telecomunicação, satélites, redes digitais, protocolos e procedimentos de circulação, etc), não deixando perceptível, muitas vezes, o conjunto de elementos que sustentam a sua operação.

De um modo geral, nesse capítulo, procuraram-se recuperar os elementos presentes nos primeiros modelos de operação em rede e como atuam na formatação de características operacionais e de fluxo. Os oito pontos supracitados estão presentes na dinâmica histórica das agências com a finalidade de acelerar a sincronia entre os eventos e a elaboração do material a ser distribuído.

A importância de se indicar os pontos infra-estruturais é, justamente, apontar como eles emergem de um conjunto de práticas constituídas nas origens das agências e que não são evidentes em uma observação direta, baseada no contexto contemporâneo das operações.

Se isso indica uma vinculação entre as características operacionais em relação à infra-estrutura das agências, a possível resultante dessa simbiose é também o posicionamento do fluxo de informações, como um segundo núcleo de características das agências. É uma importância que suscita um aprofundamento que exploraremos mais detalhadamente no próximo capítulo: “Características de fluxos informacionais nas agências de notícias”.

Agência Estado 108

3 Características de fluxos informacionais nas agências de notícias.

“O fluxo é a sucessão de algo ao longo do tempo, é preciso acompanhá-lo detidamente. Fazê-lo é o aspecto mais importante da nossa operação”. - Manual de operações editoriais da Reuters.

3.1 – O fluxo nas agências de notícias.

Como vimos no último capítulo, juntamente com as demandas sociais, os fatores tecnológicos são elementos justapostos à consolidação das áreas de alcance das agências.

Apoiar-se em um modelo de redes, então, faz parte da operação estruturante da circulação de informações entre os cenários nos quais as agências atuam (BOYD-BARRETT, 1980;

FENBY, 1986; READ, 1992; STOREY, 1951). O horizonte de condicionantes presentes através da consolidação das redes de comunicação, atrelado ao uso de infra-estruturas complexas tende a gerar, com o aperfeiçoamento tecnológico, a otimização das características operacionais e de fluxos de informações nas agências de notícias.

Nas concepções clássicas da teoria da informação, a idéia de fluxo se refere à quantidade de informação que flui entre variáveis de origem e destino, durante a execução de um processo de modo a se determinar a capacidade necessária dos recursos ou canais envolvidos para transmitir a informação (SHANNON, 1948, p.49). A ressalva a ser feita, Agência Estado 109

nesse caso, é que o fluxo é designado dentro de uma perspectiva matemática, que envolve aspectos de análise logarítmica, probabilidade e grau de caoticidade com fins a mensurar a informação presente em um sistema.

Em uma perspectiva comunicacional, o conceito de fluxo de informação diz respeito às proporções de quantidade e qualidade da informação que é estabelecida entre agentes, que podem ser organizações, países, grupos de mídia, etc. Tal definição orientou, sobretudo no pós-guerra, pesquisas que, através de observações quantitativas e qualitativas, detectaram que o fluxo de informações se dá de modo mais intenso num sentido estabelecido entre os países desenvolvidos e os não desenvolvidos (UNESCO, 1980, p.45-46; VARIS,

1994)58.

O fluxo pode ser compreendido como o fenômeno necessário para a circulação entre quem emite/dispõe e quem recebe/acessa um conjunto de informações. Com a comodificação do fluxo entre agência, enquanto fonte de notícias e órgãos de imprensa, dá-se origem a uma rede, que, por parte dos veículos jornalísticos [...] “leva à concentração dos recursos da empresa num número relativamente pequeno de agentes, cuja posição em certas organizações ou instituições particulares valoriza ao máximo a informação que recebem”

(TRAQUINA,2004, p.190). A dinâmica presente entre as agências e o jornalismo apresenta uma complexa relação de vínculo e dependência no estabelecimento do recorte noticioso, que se apresenta muitas vezes como uma situação naturalizada.

Criam-se fluxos que são sinérgicos aos processos e práticas das agências e jornais, que, de modo direto, são necessários para a compreensão dos condicionamentos presentes através dos conteúdos gerados pelas agências. Desse modo, configura-se um fluxo de notícias

58 A preocupação em estabelecer um fluxo de informação menos desigual desdobrou-se para a criação nos anos 1970, da criação da NOMIC, Nova Ordem Mundial da Informação e Comunicação, criada pelos países não- alinhados e que teve apoio da Unesco. A comissão dessa organização gerou o relatório MacBride, que, de modo geral, propunha mudanças para redistribuir e equilibrar os fluxos de informação entre países ricos e subdesenvolvidos (MELO, 2005, p.42-56; RUIZ, 2005, p.56-67).

Agência Estado 110

que, enquanto canal de informações, combina-se às alternativas tradicionais como fonte suplementar de notícias. Isso não anula o espaço físico como território de apuração em caráter primário. O que surge é uma camada adicional de informações, que amplia e complementa a atividade de produção dos jornais, como aliás, indica Smith:

It is important to realize that the complex welter of grades, crafts, and Professional relationships of which a newspaper is composed are the products of earlier sets of historical changes that were themselves generated by changes in society’s flow of information. One can imagine a society as consisting of a vast number of information cycles with the newspaper spanning them, constantly interposing itself into more of them, and adapting it’s organization to capture the flows of information and reduce them to a form suitable for the medium of the printing press (SMITH, 1980, p.79)59.

A observação de Smith é pertinente por indicar o fluxo de informações como um recurso inerente à cadeia de produção. São condicionamentos que, nas agências, se dão na organização de informações em torno de conjuntos razoavelmente homogêneos que delimitam os serviços de informação, através dos perfis e interesses em determinados informes, pelas possibilidades e/ou limites de ordem tecnológica presentes entre a disponibilização e assimilação.

3.2 – O encadeamento dos fluxos nas agências de notícias: elasticidade, fluxo e onda.

59 É importante perceber que a complexa mistura de graus, artes e relações profissionais das quais um jornal se compõe é o produto de conjuntos anteriores de mudanças históricas, que foram, elas mesmas, geradas por mudanças no fluxo de informações entre a sociedade. Pode-se imaginar uma sociedade como consistindo de um vasto número de ciclos de informação, com o jornal servindo como distribuidor e se interpondo constantemente dentro deles, e adaptando a sua organização para captar os fluxos de informação e reduzi-los a uma forma adequada para o meio da imprensa escrita (Tradução do autor).

Agência Estado 111

Se o sentido mais amplo de agenciamento envolve a idéia de estabelecer uma ação de intermediação entre extremos de um processo (HESTER, 1980, p.79), o eixo entre agências e clientes deve ser compreendido sob a lógica de organização dos informes que concernem a eventos e sua posterior distribuição em situações específicas.

No processo de intermediação dos conteúdos entre agências e jornais, por exemplo, ocorrem variações em torno do sentido centro – periferia60. Há, no entanto, no caráter periférico, desníveis. Estes ocorrem, no caso dos jornais, de acordo com as possibilidades financeiras e disponibilidade de recursos tecnológicos - numa mesma territorialidade, pode haver níveis de situação periférica diferentes.

O caráter periférico dos órgãos de imprensa e a disponibilidade maior ou menor de recursos tecnológicos geram fluxos diferenciados. Essas variações ocorrem pela capacidade das agências em gerar pacotes mais ou menos volumosos de material e entregá-los de modo mais ou menos rápido. O que temos, de modo ilustrativo, na dinâmica entre agências e clientes, é um balcão escalonável entre o que a agência gera e disponibiliza e, em contrapartida, o que os clientes podem ter, enquanto recursos que garantam o acesso ao conjunto de informações.

3.2.1 – Elasticidade de conteúdo e disseminação nas agências de notícias.

60 Entenda-se o caráter periférico como a disposição de veículos que recebem a informação da agência de notícias, segundo a lógica de fontes indiretas, ou seja: há o repasse de material dentro de uma cadeia, em que a agência atua como pólo emissor, e os jornais, por exemplo, perifericamente, atuam como assimiladores de conteúdo. Desse modo, situam-se, dentro de uma lógica radial de distribuição da informação, no sentido agência- veículos, sendo, portanto, periférica ao epicentro gerador de material. Agência Estado 112

Dentro dessa escala variável entre o que é disponibilizado e acessado, pode-se relativizar a natureza do material que as agências fornecem. No conjunto total de temas abordados pelas agências, bem como em órgãos de imprensa, alguns núcleos de assuntos ou eventos são colocados em prioridade. Em Kotler, (1979, p.134) e Saad (2003, p.110) elabora o conceito de elasticidade de conteúdos. Neste conceito o valor do conteúdo é determinado mais pelo contexto do que pelo mérito em si - para a díade disponibilidade/acesso, por exemplo, não compõem, no ajuste do fluxo entre essas partes, apenas os critérios de noticiabilidade. Na composição do contexto, existiriam outras variáveis, como tempo, lugar, equipamento, audiência, conteúdos complementares, bem como a sua vinculação de acordo ao foco da publicação ou linha editorial do órgão.

Aplicado esse conceito às agências de notícias, temos, exemplificado na figura a seguir, uma situação onde o conteúdo pode ganhar endereçamentos diversos. O contexto para as agências pode ser, em função do tempo, uma maior ou menor agilidade (velocidade operacional); do lugar, na obtenção e entrega de material específico (produção descentralizada); do equipamento, o conjunto de dispositivos e infra-estrutura existentes; da audiência, as particularidades de um horizonte de clientes (dissociação entre conteúdo e suporte); dos conteúdos complementares, e, por fim, o volume agregado aos serviços.

Alta

ZONA DE COMÉRCIO ESTRELAS DO CONTEÚDO Viagens, presentes, Esportes, entretenimento, musica, equipamentos informações para executivos, de informática, saúde, jogos, serviços financeiros comércio local

“ALMAS PENADAS” CONTEÚDO DE ELITE Notícias, matérias Material para adultos, investigativas, eventos pay-per-view, educacionais, sobre treinamento, dados em negócios públicos, tempo real Capacidade de geração transações

Baixa Potencial de pagamento pelo conteúdo Alta

Agência Estado 113

Figura 02 - Matriz de decisão e elasticidade do conteúdo. Fonte: Forrester Research (Apud SAAD, 2003, p.111)61.

Isso abre a perspectiva do material da agência a ser reunido e/ou fracionado, de

acordo com a característica de elasticidade que possua. Saad (2003, p.111) complementa que

a elasticidade pode ser definida em função do posicionamento do conteúdo, segundo três

variáveis: a exclusividade de produção, sua vida útil no mercado e a velocidade de

disseminação. Desse modo, haveria, por conseqüência, três níveis de disseminação. Um

primeiro, de caráter amplo e rápido; um segundo, de caráter exclusivo e seletivo; e um

terceiro, de caráter lento e programado.

Previsão do tempo Cotações de ações Manchetes Entretenimento adulto Livros Jogos Interativos Jogos para Análise de dowload noticias

Relatórios sobre Seriados e sitcoms investimentos Exclusividade

Revistas Literatura Esportes

Conteúdo sobre Filmes estilos de vida Música

Vida útil do conteúdo

Disseminação ampla e rápida

Disseminação exclusiva e seletiva

Disseminação lenta e programada

Figura 03 - Grau de elasticidade de conteúdos. Fonte: Forrester Research (Apud SAAD, 2003, p.112).

61 Nota de tradução. O termo “alma penada” é uma tradução aproximada da expressão “lost soul”. No contexto utilizado, essa expressão refere-se a uma gíria, existente na cultura de Marketing norte-americana, que designa mercadorias de difícil circulação. Agência Estado 114

Tanto a elasticidade dos conteúdos como os níveis de sua disseminação são aplicáveis à realidade das agências, pois a sua característica de operação orienta-se mais por uma idéia matricial, em que o processo de decisão em relação ao material não é homogêneo, como em um órgão que distribui conteúdos massificados, como, por exemplo, em um jornal impresso. Uma agência, pelo contrário, por não dispor de um suporte específico e concentrar sua ação no estabelecimento de fluxos de informação, possui a característica de trabalhar os conteúdos dentro de uma dinâmica de elasticidade, tanto no que toca à sua consolidação, como à disseminação para os seus clientes. Essa orientação matricial é o que encaminha determinado conteúdo para ser “encaixado” no contexto das agências, segundo o potencial comercializável e sua demanda, conforme indicam as figuras 02 e 03.

3.2.2 – Fluxo e onda nas agências.

Patrice Flichy (1980, p.38) oferece uma análise originada no campo da economia política da comunicação, que define o modelo de produção da indústria editorial com uma produção caracterizada como cultura de onda. Nessa análise, o autor indica que a cultura de onda possui quatro características, a saber: a continuidade da programação, a amplitude de difusão, a obsolescência instantânea e a intervenção do estado.

As características são direcionadas, principalmente, à análise da indústria audiovisual. Porém oferecem subsídios que podem ser aplicados à realidade das agências.

Nessas condições, realizamos uma aproximação entre o modelo de fluxos das agências e a cultura de onda, devido ao fato de apresentarem semelhanças entre as características apontadas por Flichy e as ações das agências em estabelecer um espaço de circulação de informações. Agência Estado 115

Quanto à presença do estado, a ligação é evidente, pelo modo como a participação desta esfera se combina ao percurso das agências. Isso se deve a um vasto horizonte de fatos (MATTELART, 2000, p.47; READ, 1992, p.40; UNESCO, 1980, p.107) que mapeiam a presença de interesses de estados na formação original das agências. No caso das agências comerciais, a promiscuidade com o estado se deu logo no início de operação das três agências mais importantes do século XIX, a Reuters, a Havas e a Wolff, através de privilégios concedidos pelos respectivos governos, embebidos por um ambiente de desregulamentação, liberalismo e expansionismo. Em contrapartida, benefícios da simbiose eram colhidos :

El gobierno inglés no retrasa para percibir las posibilidades del alcance de noticias propagadas por la agencia Reuters y hacer de su propietario un súbidto británico, un servidor confiable, sin carpeta. És innecesario decir que el servicio de noticias de Reuters tomó cuidado de decir, en los momentos cruciales, o qué el gobierno británico deseó que era dicho62 (LEIGH e WHITE, 1967, p.87).

Mesmo desmentindo essa perspectiva, a Reuters reafirma que houve pressão, interesse e intervenção da coroa britânica no decorrer de suas ações, como afirma no seu site:

During both World Wars, Reuters came under pressure from the British government to serve British interests. In 1941 Reuters deflected this pressure by restructuring itself as a private company. The new owners, the British national and provincial press, formed the Reuters Trust, with independent trustees. The Trust preserves Reuters independence and neutrality. The principles of the Trust were maintained and the power to enforce them was strengthened when Reuters became a public company in 1984 (http://about.reuters.com/aboutus/history/)63.

62 O governo inglês não demorou para perceber as possibilidades do alcance das notícias veiculadas pela agência Reuters e fazer de seu proprietário um súdito britânico, um servidor de confiança, sem pasta. É desnecessário acrescentar que o serviço de notícias da Reuters cuidou para dizer, nos momentos cruciais, o que o governo britânico desejava que fosse dito (Tradução do autor). 63 Durante as duas guerras mundiais, a Reuters sofreu pressão do governo britânico para servir aos interesses da Grã-Bretanha. Em 1941, a empresa contornou essa pressão privatizando-se. Os novo proprietários – a imprensa nacional e regional britânica – formaram o Reuters trust, com participantes independentes. O trust preserva a independência e a neutralidade da Reuters. Seus princípios foram mantidos e o poder de fazê-los vigorar se fortaleceu quando ela se tornou uma empresa pública em 1984 (Tradução do autor). Agência Estado 116

Além disso, alianças entre essas esferas continuam sendo firmadas. É o caso da parceria entre o pentágono e uma série de empresas64, incluindo a Reuters, para formação do que se denomina Global Information Grid (grade global de informação), ou GIG. Essa rede objetiva, em breves termos, ser uma internet para aplicações em situações de conflito bélico e/ ou espionagem.

Na continuidade de programação, pode-se indicar, como equivalente, o fluxo de informações em um sentido bilateral: tanto na alimentação da cadeia de produção, através dos correspondentes, como na distribuição de informes para os assinantes, através da maleabilidade do horizonte de entrega dos seus informes.

Na característica de amplitude de difusão, a equivalência acontece numa seqüência de dois passos. Primeiro, pela diversidade de clientes, permitindo o direcionamento específico em face à particularidade dos serviços. Segundo, pelos desdobramentos que a informação da agência gera, quando deflagrada, por exemplo, nos jornais, o que leva a um efeito multiplicador do material distribuído. É certo que, nas análises de Flichy, a tendência era encarar o material dessa difusão ampla como homogêneo, afinal, as análises eram voltadas para o mercado audiovisual, em que o caráter de variação do conteúdo é menor, devido à massificação.

Em relação às agências, a obsolescência instantânea pode ser detectada na sincronia que se estabelece em torno de notícias imediatas e que possuem o caráter da rapidez agregado às necessidades das organizações para as quais fornecem serviços, como mesas de operação financeira, bolsas de valores e serviços de últimas notícias (SOUZA, 2002, p.48).

64 As empresas envolvidas são grupos já conhecidos do setor militar e criadores de tecnologia da informação geralmente não associados a sistemas de armas. O consórcio foi formado em 28 de setembro de 2004 para desenvolver uma rede aplicável a situações de guerra. O grupo inclui as principais empresas com contratos militares e potências de tecnologia: Boeing; Cisco Systems; Factiva, uma joint venture da Dow Jones e Reuters; General Dynamics; Hewlett-Packard; Honeywell; IBM; Lockheed Martin; Microsoft; Northrop Grumman; Oracle; Raytheon; e Sun Microsystems. Cf. Apêndice A – “EUA montam nova internet para usar como arma” ou http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2004/11/13/ult574u4726.jhtm e http://www.midiaindependente.org/pt/green/2004/11/294763.shtml Agência Estado 117

No binômio estabelecido entre a obsolescência do material e a dupla característica da sua clientela (simultaneamente massiva e segmentada), pode-se associar o conceito de conteúdo elástico, enquanto capacidade de uma informação ser desdobrada para diferentes demandas. Opera-se, assim, a lógica de potencialização do retorno de um conteúdo em função do seu encaixe na escala de fluxos de informação. Com isso, estabelece-se uma dinâmica que, mesmo de modo embrionário, pode ser compreendida como segmentação de conteúdo65.

Na dicotomia entre a elasticidade de conteúdo e as agências, teríamos assim duas hipóteses. Na primeira, haveria a possibilidade do que comumente é rotulado no jargão da imprensa e também nas discussões sobre os jornais na web, como “reempacotamento” de conteúdo em diferentes circunstâncias editoriais. Trata-se, assim, de uma reutilização de uma informação previamente existente e fornecida (KRUEGER, e SWATMAN, 2004).

A segunda hipótese é o múltiplo endereçamento do material. Há, portanto, na elasticidade, uma ação que procura sua otimização enquanto unidade de negócio. Ocorre, para exemplificar a questão, não somente um reempacotamento, mas também um “multi- empacotamento”.

3.2.3 – A multiplataforma nas agências de notícias.

O que permite a compreensão mais precisa do fenômeno é o conceito de publicação em multiplataforma (MPP, na sigla em inglês de Multi-Platform Publishing). O

MPP é, basicamente, a geração de núcleos de conteúdo capazes de serem encaixados em suportes midiáticos distintos, graças à sua interação com sistemas, gerando modalidades diferentes de acesso (LEVY, 1999, p.65). A MPP atua como uma oportunidade de alavancar

65 O conceito de segmentação, no caso das agências, deve ser compreendido como a dedicação de canais de transmissão de informação a sub-grupos específicos de acordo com seus perfis e interesses, aproximando-se da definição de narrowcasting (que pode ser traduzido como “transmissão específica”, ao contrário de broadcasting, que é entendido como transmissão geral) (STRAUBHAAR & LAROSE, 2004, p.13). Agência Estado 118

ganhos, redistribuindo o mesmo em plataformas diversas, como celulares e PDAs, ampliando seu alcance a audiências novas e distintas (HALL, 2005, p.1-2).

A MPP, para as agências, tem uma configuração ligeiramente diferente. O reaproveitamento e potencialização dos conteúdos pertencem à mesma lógica: estabelecer um ganho maior em função de um mesmo volume de informações. A diferença é que, ao invés da

MPP, direcionada ao acesso público, o encaminhamento é majoritariamente realizado para

órgãos de imprensa e clientes do setor comercial. Esse quadro perdura e se amplifica, quando se observa a alimentação de materiais para jornais da web e portais, bem como as iniciativas das agências em formatarem parcelas do seu conteúdo para acesso direto ao público consumidor66.

Se pensarmos estritamente no caráter de distribuição de um mesmo conteúdo para cenários distintos, podemos observar que, no caso das agências, esse aspecto se dá antes da aplicação do conceito de MPP, em relação às tecnologias de informação e comunicação

(TICs). O processo dava-se em bases analógicas, sendo, contudo, conceitualmente semelhante ao que se faz nas redes e sistemas digitais.

Na dinâmica das agências, o conceito da MPP combinado com a elasticidade de conteúdos de Kotler, amplia não só o direcionamento do material, mas também contempla a possibilidade de combinação de conteúdos para ambientes de assimilação variáveis e distintos. Desse modo, o fluxo não é uniforme no que toca à circulação, pois os perfis variam de agência a agência, porém, estão razoavelmente presentes no modelo mais amplo de operação de agenciamento de notícias existente nessas organizações.

3.3 – Problematização do conceito de espaços de fluxo em relação às agências de notícias.

66 Esse aspecto estará de modo mais detalhado nos capítulos 4 a 6, quando apresentamos os casos estudados nesta tese. Agência Estado 119

Por se tratarem de processos atuantes na base de organização social contemporânea, o conceito de espaços de fluxo definido por Castells (1999), quando direcionado às TICs, gera desdobramentos também para o jornalismo (SILVA JR, 2000).

Contudo, a proximidade teórica do modelo de Castells permite compreender a organização das próprias agências em relação ao estabelecimento de fluxos, mesmo se referindo ao modelo historicamente constituído em redes analógicas. Perceber o fluxo de notícias em rede

é um aspecto justaposto ao próprio desenvolvimento das primeiras redes tecnológicas.

Segundo o autor da teoria dos espaço de fluxos, este:

[...] caracteriza-se pela capacidade organizacional e tecnológica de separar o processo produtivo em diferentes localizações, ao mesmo tempo em que reintegra sua unidade por meio de conexões de telecomunicações (CASTTELS, 2000, p.412).

À luz da perspectiva de Castells, a dinâmica das agências no fornecimento de material reúne os elementos do fluxo devido à sua operação em rede. A separação do processo produtivo, em estratégias descentralizadas, ocorre pela pulverização dos locais de apuração e geração de material, normalmente em torno de epicentros informativos. A reintegração, por sua vez, ocorre pela consolidação e tratamento dessas informações, emanadas em torno dos centros de operação dessas agências. Por fim, as conexões, através das telecomunicações, assumem a ligação necessária entre as dinâmicas de produção e consumo, constituindo, assim, o espaço de fluxo presente na circulação do material das agências. Segundo Castells:

O espaço de fluxos é a organização material das práticas sociais de tempo compartilhado que funcionam por meio de fluxos [...] Por fluxos eu entendo sucessões propositadas, repetitivas, programáveis de troca e interação entre posições fisicamente deslocadas seguradas por atores sociais nas estruturas econômicas, políticas, e simbólicas de sociedade (CASTELLS, 2000, p.436).

Agência Estado 120

Ainda em Castells (2000, p.437), a teoria do espaço de fluxo, caracteriza-se em três camadas condicionantes;

a) uma primeira, pertinente à infra-estrutura técnica que envolve sistemas de

transmissão e transporte de informação, constituindo-se na base material que

sustenta os processos em rede. É, portanto, uma relação com o espaço de

modo análogo ao que a “cidade” ou “região” representa para a obtenção de

informações vinculadas à territorialidade de circulação;

b) uma segunda, ligada à projeção e interconexão de características locais nos

nós e centros de comunicação estabelecidos. Apesar de estarem apoiados em

uma estrutura em rede, que a princípio poderia ser vista como horizontal e

igualitária, suas operações e práticas não são desvinculadas totalmente dos

aspectos territoriais, pois conecta a rede a funções e operações

estrategicamente situadas segundo características sociais, culturais, físicas e

funcionais;

c) uma terceira camada é associada ao uso hegemônico da estrutura da rede por

elites gerenciais dominantes. Isso se reflete nas sociedades organizadas em

modelos de redes que são assimetricamente dispostas, de acordo com

interesses dominantes específicos de determinada estrutura social. Nesse

sentido, o espaço de fluxos não seria a única lógica espacial da sociedade,

sendo, contudo, a lógica dominante por refletir um uso do espaço coincidente

com a lógica dos interesses e funções de domínio presentes.

Mesmo a ênfase de Castells estando direcionada aos fenômenos globais de organização da sociedade em torno das redes tecnológicas – notadamente as digitais – a Agência Estado 121

observância dessas camadas sobre a dinâmica das agências de notícias nos parece válida, no sentido da delimitação desta tese, em que a consolidação desse espaço ocorre pela continuidade histórica de atividades das agências. A preocupação aqui é estabelecer elos de como essas três camadas se articulam às características operacionais e de fluxo das agências.

3.4 – As camadas do espaço de fluxos e as agências de notícias.

A primeira camada dos espaços de fluxos, apontada por Castells, refere-se à base material como condição necessária para circular informação. Conforme explorado no capítulo 2, estabelecem-se pontos de operação, consoante a uma adequação à infra-estrutura em rede sobre um espaço que corresponda ao potencial de geração de informação. Os usos das infra-estruturas tecnológicas absorvem os lugares virtualmente significativos de emanação de material noticioso, ligando-os a lugares igualmente potenciais de assimilação do mesmo material.

A segunda camada dos espaços de fluxos diz respeito à importância dos lugares na ocupação de pontos-chave na rede. Haveria uma projeção de características locais, vinculadas a cenários territoriais específicos e situados em condições mais ou menos favoráveis para o estabelecimento do trânsito de informações. Assim, apesar da lógica em redes poder configurar uma dinâmica que, ao menos potencialmente, é capaz de promover uma possibilidade de dissociação dos espaços físicos, não há, na prática, uma irrelevância do lugar nas operações. A razão para esse aparente paradoxo é a sociedade informacional, através da capacidade técnica da rede, permitir conexões menos hierarquizadas, conectando-se preferencialmente a lugares que estão em permanente jogo interacional com o restante, de acordo com os interesses manifestos. Agência Estado 122

Assim, a rede é passível de totalizações. Porém, sem que haja nesse processo uma anulação total das inter-relações existentes fora do modelo hegemônico. Permite-se tanto uma rede múltipla e aberta, como a internet, enfatizada sob uma lógica de apropriação social das

TICs (LEMOS, 2002, p.258), como também modelos orientados dentro de uma lógica hierarquizada, onde, no jogo dinâmico das redes, há uma organicidade presente, apontando vantagens e desvantagens para determinados posicionamentos em função de alocações mais ou menos estratégicas para o estabelecimento de fluxos.

Observa-se o desdobramento da importância dos lugares na relevância, dada a determinado recorte de assuntos e na sua potencialidade de ser convertido em serviços. Não à toa. A maior parte dos recursos tecnológicos, humanos e infra-estruturais das agências de notícias estão ligados à obtenção, tratamento e distribuição de material ligado à conjuntura financeira e de mercado.

Com a rede mundial, a Reuters finalmente percebeu que era uma companhia global. Desse modo passou a situar partes de suas atividades, conforme for mais vantajoso e tiver menor custo. O desenvolvimento de Tecnologias da Informação (TI), por exemplo, migrou da Inglaterra para Bangalore na Índia. Por quê? Porque na Inglaterra tinha-se um engenheiro desenvolvendo sistemas a um custo de £ 2 000,00 de salário, enquanto que na Índia é possível encontrar um PhD, com a mesma capacidade de produção, recebendo US$ 500,00 por mês e feliz da vida! Com o serviço de notícias em espanhol, estamos fazendo a mesma coisa, migrando a mesa que era em Miami, para Santiago, no Chile, onde os custos são muito mais baixos. Quer dizer, a rede é o nosso negócio, mas também passamos a usá-la a nosso favor67.

Em um transporte direto do que foi declarado acima, a terceira camada refere-se à organização espacial das elites gerenciais dominantes. Assim, haveria um reforço das dinâmicas presentes nas primeira e segunda camadas, para permitir uma fusão de interesses dos setores hegemônicos em transacionar em um espaço de circulação de informação que se mostre adequado às suas atividades.

67 Depoimento gravado de Mário Andrada, editor-chefe da Reuters América Latina, concedido para a pesquisa em 16 de maio de 2005. Agência Estado 123

Isto está presente nas agências através de ações de manutenção e suporte da organização interna e da criação de serviços específicos68. Há, em paralelo, a capacidade de desarticular demais grupos no estabelecimento de alternativas eficazes de circulação, como, por exemplo, as iniciativas nacionais em estabelecer agências estatais como alternativas de contra-fluxo informacional (BOYD-BARRETT e THUSSU, 1992, p.28, 1993, p.182).

A análise das três camadas dos espaços de fluxo contribui para a compreensão da ampliação da área de influência das agências na sua relação com o jornalismo e também com o mercado (MURCIANO, 1992, p.74). a dinâmica estabelecida entre essas três camadas propõe uma visão de como o papel das agências permanece como um dos fatores centrais do que vai ou não vai ser despejado no fluxo das notícias internacionais (RANTANEN, 1998, p.46; ROJEL e BELTRÁN, 2005, p.237). Há, contudo, a necessidade de se particularizar as características específicas dos fluxos, e como as mesmas se configuram nas atividades das agências.

3.5 – Proposição das características do fluxo de informações nas agências de notícias.

Se existem implicações específicas ao modelo de operação e aos fatores que delineiam a localização das agências nos espaços territoriais69, para o espaço de fluxo, essas implicações são, no nosso ponto de vista, desdobramentos de cada camada problematizada por Castells. Indo por partes, relativo à primeira camada, os fluxos recaem de modo geralmente invariável em torno de lugares possuidores de um conjunto de dispositivos capazes de garantir uma operação satisfatória. A segunda camada vincula-se mais nitidamente

à continuidade de relações remanescentes e como se projetam atualmente. A terceira camada

68 Como se verifica, no caso da Reuters e também da Agência Estado, através das largas parcelas de fornecimento de dados do mercado financeiro (MACHADO, 2000, p.150,308). Cf. também o Capítulo 6 – Agência Reuters. 69 Conforme já trabalhado, no capítulo 1 esses fatores são: históricos, logísticos, políticos, comerciais e conjunturais. Agência Estado 124

remete-se mais aos fatores políticos, como componentes da tomada de decisões e peculiaridades conjunturais 70.

Se ocorre um ajuste às camadas dos espaços de fluxos de acordo com aspectos das atividades das agências, temos a hipótese de que essa sobreposição desdobra-se em características particulares.

Fatores de encadeamento: Elasticidade, fluxo e onda.

Fatores de Camadas dos espaços posicionamento: de fluxo: Histórico, logístico, Organização espacial, comercial, político, importância dos pontos-chave conjuntural. na rede, base material

Características do fluxo de informação nas agências de notícias

Figura 04 - Representação da intersecção que delimita a área das características de fluxo nas agências de notícias.

Através da interseção estabelecida entre os fatores de posicionamento das agências e as camadas dos espaços de fluxo, podem-se definir, de modo mais preciso, elementos presentes na circulação da informação que, por sua vez, permitam a criação de uma base de análise. A nossa hipótese é que através da conceituação dos pontos específicos, permitir-se-á uma observação mais precisa dos elementos presentes na circulação, que complementa e interage com as características operacionais. O detalhamento é feito em torno de oito pontos, colocados a seguir.

70 Isso se manifesta, por exemplo, na presença de recursos significativos das agências de notícias em locais com nítida presença nos processos de tomada de decisão, como Washington, Brasília, etc. onde, por sua vez, não se configuram atividades comerciais ou financeiras significativas. Agência Estado 125

3.5.1 – Volume de informações.

Como volume, definimos a capacidade de se juntar uma quantidade de material e o resultado do esforço de reunião de informações necessárias para se alimentar os serviços a serem distribuídos. O volume envolve a localização em lugares favoráveis à captação de material. Em adição, há o uso de infra-estruturas e recursos tecnológicos para operar os espaços de fluxo de modo a gerar informações.

Assim, justifica-se, por exemplo, duas derivações principais dessa relação;

a) a proximidade histórica de operação, existente entre as agências, e os sistemas

comerciais e financeiros. Estas instâncias assimilavam as informações

sinérgicas às suas atividades e, em contrapartida, ofereciam uma quantidade

suficientemente grande para que as agências formatassem serviços com

características específicas;

b) a presença territorial das agências, aliada à sua expansão, através dos espaços

de fluxo, visa gerar uma maior quantidade de material e, em paralelo, gera

também diferentes qualidades de informação que podem ser agrupadas em

torno dos serviços. Trata-se, portanto, de um aspecto quantitativo que, pelas

necessidades de maximização do retorno dos investimentos das agências,

desdobra-se em aspectos qualitativos, pois formata serviços diferenciados.

Agência Estado 126

O volume é mais que um gerador de quantidades de conteúdos. Decorre, também, dessa característica, a potencialidade de se detectar em possíveis diversidades entre as informações, gerando uma classificação para serviços distintos71. É, no caso, a escala de informações.

3.5.2 – Escala de informações.

Definimos escala como a proporção referente a capacidade de mapear o volume do material obtido na implementação das agências em busca de afinidades temáticas que possam constituir um serviço. Situam-se, como balizadores, as diferentes alternativas de disponibilidade tecnológica, como também a pluralidade de interesses sobre uma mesma informação, que, desse modo, pode estar presente em mais de um serviço72. No ponto de vista tecnológico, a maior ou menor capacidade de estabelecer fluxos de informações direciona a escala para determinados serviços. Informações às quais se tem uma necessidade de acesso mais ágil, como, por exemplo, as dos mercados financeiros, são direcionadas a serviços disponibilizados em dispositivos tecnológicos mais ágeis.

Temos, assim, na escala de informações, três elementos que a compõem;

a) a similaridade entre informações;

b) a potencialidade da informação ser endereçada para serviços diferentes;

71 A título de exemplo, pode-se indicar a interligação da Reuters com seus postos na Índia, ainda no século XIX. O interesse, nesse sentido, era triplo: tanto por ser uma área de interesse colonial, quanto por consistir em um importante lugar de produção de matérias primas e, por fim, como mercado de consumo de bens e serviços do império inglês. Esse montante de demandas gerou a implementação de pontos de trabalho da agência nas principais cidades da Índia, que representavam, por sua vez, os locais mais importantes de emanação de informação. Dessa demanda, gerou-se um volume de informações de diferentes características. Sobre matérias- primas, especiarias, comércio, política local, finanças e assim por diante. O passo seguinte era agrupar esses materiais em categorias onde os mesmos tivessem afinidades comuns que permitissem serem reunidos, no caso, em serviços que dissessem respeito tanto à Índia de um modo geral, como a categorias de mercado, como o preço do chá, que, por exemplo, poderia ser consolidado com outras cotações ao redor do mundo. 72 Como exemplo, uma informação sobre uma mudança na taxa de juros do Banco Central do Brasil pode constar de um serviço de foco econômico, ou outro de foco financeiro, ou ainda de abordagem política. Pode também ser formatado para um serviço de últimas notícias direcionado a jornais ou portais de internet. Agência Estado 127

c) o condicionamento da operação de determinados serviços às características

tecnológicas presentes no fluxo.

3.5.3 – Intermitência de informações.

A intermitência diz respeito à freqüência do fluxo de alimentação pelas agências.

Varia, adequando-se de acordo com a característica do serviço e com as particularidades tecnológicas envolvidas. Essas adequações podem ser relativas;

a) aos serviços, ajustando-se à necessidade de ser ininterrupto ou não. Há

serviços que se caracterizam por ininterrupção, como, por exemplo, os

direcionados ao monitoramento de capitais que são acompanhados de acordo

com a seqüência de fechamento e abertura de bolsas de valores ao redor do

mundo (BASS, 1996);

b) à dinâmica de alimentação de informações em relação ao horário. Nesse

sentido, visa adequar a alimentação de material a intervalos mais ociosos da

rede. São serviços de informação de material mais frio, como variedades e

curiosidades. Ou, ao contrário, onde é necessário se adequar serviços a

horários específicos, quando se necessita um fluxo maior de informação sobre

determinado assunto;

c) à ocorrência de eventos de cunho específico e pontual. A cobertura de uma

final de campeonato mundial de futebol, ou a votação de uma lei importante

no congresso nacional, por exemplo, pode gerar a criação de serviços

específicos mais ágeis.

Agência Estado 128

3.5.4 – Distribuição de informações.

Como distribuição definimos o horizonte de operações distintas que objetivam o atendimento da demanda de canais ou veículos de comunicação que recebem a informação das agências. Como na intermitência, a distribuição é um fenômeno em que há variações nos seus padrões e pode se dar de modo não uniforme por algumas razões;

a) entre a gama dos serviços e a realidade dos assinantes há desníveis, o que gera

variações no endereçamento de determinada informação;

b) os serviços são dirigidos a clientes com necessidades específicas, podendo

haver fluxos mais volumosos e ágeis para determinados serviços:

Tem serviços que são mais pesados, mais carregados, aí tem que distribuí-lo por link de dados. Você tem as taxas de transmissão variadas via cabeamento, via provedor. Nós trabalhamos com Telefônica, Metroverde, Embratel e, dependendo do serviço que vai ser oferecido, nós consultamos os provedores e, a partir daí, começa com o processo de aluguel de links dedicados. Tem links de 64k, de 128k, dependendo do serviço. Por exemplo, serviços de tempo real, cotações, são mais robustos 73;

c) a contextualização que se relaciona ao tratamento que um determinado

conteúdo necessita para ser encaixado em uma condição de assimilação

diferenciada74;

73 Depoimento gravado de Priscila Braga, supervisora de telecomunicações da Reuters, concedido para a pesquisa em 17 de Maio de 2005. 74 A contextualização ainda pode ser relativa ao local, no caso de aparelhar o material com parcelas de conteúdo que expliquem elementos presentes nos informes, como por exemplo, questões culturais específicas do local do evento, que interferem na compreensão da notícia. Pode ser relativa às línguas faladas no local do evento, Agência Estado 129

Figura 05 - Exemplo de matéria da Reuters atualizada com contextualização. Fonte: Serviço "Notícias do Brasil" da Agência Reuters

d) informações que são distribuídas em caráter exclusivo, para um universo

restrito de clientes em conjunturas de informação estratégica, requerendo, por

vezes, dispositivos e aparatos tecnológicos específicos para acessar

determinado serviço.

O nosso serviço “E-broadcasting” alcança todo o mercado financeiro e empresas e setores, por exemplo. Ele já se estende aos principais executivos das empresas. Alimentos e bebidas, transporte, tecnologia e informação, telecomunicações, informática, construção, siderurgia, energia, petroquímica, enfim, isso são alguns setores que têm prioridade de entrega 75.

levando a necessidade de tradução do material para os locais de consumo. Pode se direcionar à recuperação de material: na busca de materiais prévios com vistas a tornar mais eficiente a distribuição.

75 Depoimento gravado de Inês Migliaccio, editora da Agência Estado, concedido para a pesquisa em 12 de maio de 2005. Agência Estado 130

3.5.5 – Prospecção de informações.

Definimos a prospecção como uma técnica aplicada a sondagem, ou método de localização de elementos de fluxo de distribuição e captação que permitem estimar a possibilidade de configuração de novos serviços de acordo com o fluxo entre a distribuição e obtenção de informações 76.

A prospecção possui limites de ordem tecnológica, onde a possibilidade de se ter mais ou menos material são fatores dependentes da qualidade dos dispositivos e infra- estruturas. A assimilação de material também é limitada em “áreas de sombra” - locais de pouco interesse para a agência enquanto fonte de notícias e não-viáveis enquanto operação permanente77.

Por outro lado, a relação entre a prospecção e a disponibilidade para estabelecer uma relação de troca com fontes em potencial, gera novos perfis de serviços. Um exemplo é o

Reuters Alert Net78. Esse serviço é estabelecido entre a agência e as organizações não- governamentais, sendo distribuído gratuitamente via internet, desde que as ONGs também alimentem o sistema.

76 Essa estratégia é nascida no modelo cooperativo de agência. Para poder ter acesso aos serviços fornecidos, o jornal tinha que disponibilizar o seu conteúdo. Assim, essa lógica opera a mesma função dupla: receber e alimentar o fluxo de informação. Esse ajuste se repete atualmente, por exemplo, na relação de jornais conglomerados em grandes portais. O Jornal do Commercio de Recife, na sua versão on-line, possui um acordo com o portal Universo On-line em moldes cooperativos. Ele pode usar material do portal e da Agência FolhaPress, oferecendo, em contrapartida, o seu conteúdo. Em ambos os casos de utilização, a creditação de origem é exigida. 77 Esse fator se torna claro em eventos como o ataque terrorista na escola de ensino fundamental, em Beslan, na Rússia, em setembro de 2004. Nos primeiros momentos da configuração do problema, nenhuma grande agência ocidental conseguiu estabelecer uma dinâmica de prospecção satisfatória com os órgãos de imprensa da cidade. Apenas com quase um dia de atraso de iniciada a crise, as agências de notícias tinham se estabelecido no local, agora sim, com equipamentos móveis que davam conta de estabelecer um fluxo contínuo sobre o tema. 78 Cf. http://www.alertnet.org/ Agência Estado 131

3.5.6 – Filtragem de informações.

De maneira breve, a filtragem pode ser definida pela oferta de seleção existente na escolha do que “passa” e do que não “passa” em um determinado fluxo de notícias no percurso entre a deflagração na agência até o consumo no varejo noticioso, como, por exemplo, os jornais e sites na internet. Como definido nesta tese, as agências são meios indiretos de informação, o que pressupõe o consumo da informação através de uma intermediação entre as agências e os meios massivos (SERRA, 2004, p.110). A filtragem pode ser compreendida como seleção no fluxo de alimentação de informação, não deixando de lado que esse direcionamento está vinculado aos processos presentes em análises de gatekeeping79:

A cobertura das agências alerta as redações para tudo o que acontece no mundo e é a partir desse conhecimento que elas constroem a sua própria cobertura. Assim, mesmo os órgãos de informação que podem enviar correspondentes, para cobrirem as notícias do estrangeiro, dependem da seleção das agências na escolha das “notícias a cobrir por conta própria”. As agências funcionam, portanto, como uma primeira campainha de alarme para as redações, cuja ação é determinada pelo controle dos despachos (GOLDING-ELLIOT, 1979, p.105).

Evidentemente, em cenários de fluxos complexos e múltiplos, como a internet, essa perspectiva tem que ser relativizada em dois sentidos;

a) nos casos em que o usuário pode acessar diretamente a página web da agência,

realizando, nesse caso, um corte de etapas no processo de filtragem, porém,

esse não é o modelo predominante de acesso, ao se levar em conta que a

79 A abordagem aqui proposta não ignora o viés manifestado comumente nas análises sobre o papel do gatekeeper em filtrar e selecionar informações. Preferimos, contudo, deter-nos ao escopo da tese, concentrando o foco na relação de filtragem nas agências vinculadas ao fluxo de notícias. Agência Estado 132

norma é algo mais próximo e centrado do consumo de jornais impressos, na

web e portais jornalísticos80;

b) esse problema também se manifesta na relação com os jornais mais periféricos

em relação ao material internacional, pois possuem poucas alternativas para

obtê-lo. Logo, há uma relação de dependência. Com a proliferação de modos

de acesso como a internet, os jornais podem também estabelecer um quadro

mais amplo de prospecção de informação (FERRARI, 2003, p. 56-57). Isso,

no entanto, não retira a importância das agências no sentido de fornecimento

de informação em primeiríssima mão, agindo como um termômetro do que

está em relevância no horizonte da cobertura.

3.5.7 – Alcance das informações.

O alcance é a capacidade da agência, de dentro dos limites postos pelo espaço, tempo de distribuição e recursos técnicos disponíveis, de atingir um determinado horizonte de circulação.

Em outro nível, o alcance da agência também está condicionado à velocidade pela qual ocorre o fluxo da informação. Este aspecto, obviamente, relaciona-se diretamente com a questão das plataformas disponíveis. Mesmo operando historicamente dentro de uma tendência de atualização contínua (MORRIS, 1957, p.37), esse processo sofre condicionamentos da velocidade em que se procede. Há uma sincronia entre a finalidade ou valor da informação e a natureza do sistema na qual ela irá circular. Isso envolve, por parte das agências, estratégias que visam tornar o acesso a um dado o mais imediato possível. Essa

80 Fator que se reforça pela relação de proximidade que os jornais estabelecem com os leitores em função do lugar de origem e também por limites, como o eventual não domínio da língua pelo usuário, na qual a agência disponibiliza o material.

Agência Estado 133

imediaticidade, conforme lembra Moretzsohn (2002, p.34), não é para quem coletou e tratou/ processou a informação, e sim, para quem a busca.

3.5.8 – Penetração de informações.

A penetração de informações é definida como uma maior ou menor inserção em órgãos periféricos do material fornecido pelas agências. Através da penetração, pode-se observar uma maior ou menor relação de autonomia ou dependência, em função das informações alimentadas pelas agências (PEREIRA, 2002). Evidentemente, o cenário das redes digitais torna a análise da dependência algo mais complexo. Com a realidade dos jornais na web se configurando em torno da atualização contínua, promove-se, nesses veículos, o fim dos limites temporais da edição impressa, permite-se assim uma flexibilização do fechamento, que passa a ser contínuo.

La utopía más sólidamente instalada y compartida en las redacciones digitales es el fin de los condicionantes temporales en la actualización de la información. Su materialización en las rutinas de trabajo se concreta en el objetivo de conseguir la actualización constante de las noticias: en el momento en que un acontecimiento tiene lugar, tiene que publicarse en la web. Esta utopía perseguida se ha convertido en el principal valor rector del trabajo de los periodistas digitales y tiene importantes implicaciones en la organización del trabajo en las redacciones digitales (DOMINGO, 2005, p.6)81.

A atualização contínua por si só implica mudanças nas estruturas de produção dos jornais. A perspectiva de imediaticidade surge como o valor a ser adotado para garantir a atualização de modo acumulativo (no caso de notícias em camadas, dadas em prosseguimento aos eventos), ou em substituição (no caso de notícias que ocupam nos web jornais, o espaço

81 A utopia mais solidamente instalada e compartilhada nas redações digitais é o fim dos condicionantes temporais na atualização da informação. Sua materialização nas rotinas de trabalho se concretiza no objetivo de conseguir a atualização constante das notícias: no momento em que um acontecimento tem lugar, tem que ser publicado na web. Esta utopia perseguida se converteu no principal valor do trabalho dos jornalistas digitais e tem importantes implicações na organização do trabalho nas redações digitais. (Tradução do autor). Agência Estado 134

de notícias anteriores). A atualização contínua é, na verdade, mais um fechamento contínuo, que exige uma escala de produção diferenciada.

La urgencia de la publicación diaria manda, así que el periodista está obligado a escribir rápido. […] En los cibermedios, los periodistas están obligados a escribir cada vez más rápido, ya que trabajan en un sistema de cierre continuo y de competencia para que su medio sea el primero en publicar las noticias. En los cibermedios, el reloj manda (SALAVERRÍA, 2005, p.75-76)82.

Tendo a atualização contínua, de um lado, e a exigência de se “escrever mais rápido”, do outro, a penetração das informações das agências se dá à medida em que fornecem informações prontas que servem ou como matéria prima para compor textos (SALAVERRÍA,

2005, p.43) ou como base de notícias para integrar a edição dos jornais. Ao se perceber que os serviços de últimas notícias dos jornais na web têm se tornado uma tendência em larga escala como forma de reduzir o intervalo de tempo entre os eventos e sua publicação, o que ocorre é a ampliação dos dutos de fornecimento de material entre agências e órgãos de notícia.

La apuesta por los contenidos originales se tradujo, en particular, en una súbita multiplicación de las informaciones de última hora. De la noche a la mañana, los periódicos digitales eliminaron de sus portadas las noticias procedentes de sus ediciones impresas y, en su lugar, comenzaron a publicar noticias de última hora tomadas de agencias y más o menos editadas (SALAVERRÍA, 2005, p.53)83.

Estabelece-se, dessa forma, um processo de continuidade, já existente entre agências e jornais quando do fornecimento de notícias para impressos. O que varia é o grau de assimilação dos conteúdos. Podendo ser;

82 A urgência da publicação diária determina assim que o jornalista está obrigado a escrever rápido. […] Nos cibermeios, os jornalistas estão obrigados a escrever cada vez mais rápido, já que trabalham em um sistema de fechamento contínuo e de competência para que seu meio seja o primeiro a publicar as notícias. Nos cibermeios, o relógio manda (Tradução do autor). 83 A aposta pelos conteúdos originais se traduziu, em particular, em uma súbita multiplicação das informações de última hora. Da noite até a manhã, os jornais digitais eliminaram de suas primeiras páginas, as notícias procedentes de suas edições impressas e, em seu lugar, começaram a publicar notícias de última hora, tomadas das agências mais ou menos editadas (Tradução do autor). Agência Estado 135

a) publicado na íntegra, o que gera, por vezes, um cenário de homogeneidade

entre publicações distintas (SANCHA, 2005, p.19-24; SILVA JR, 2003,

p.152) ;84

b) publicado segundo reduções ou contextualizações efetuadas pelos editores dos

jornais;

c) a hibridização das alternativas acima listadas, com práticas de consolidação da

informação exercidas pelo jornal.85

A ocorrência desses elementos nos conteúdos de diferentes órgãos, publicados na

íntegra, reduzidos ou contextualizados, indica que a origem do material foi provavelmente a mesma, o que reforça a indicação de Alsina (1996, p.89), que a diversidade é mais relativa aos temas, nos jornais que assimilam materiais de agências, do que como o assunto se enuncia para o leitor. A diversidade de acesso, nesse caso, deve ser compreendida com a ressalva que nem sempre à multiplicidade de fontes sobre um evento correspondem a informações diferenciadas sobre o mesmo.

3.6 – Particularidades das atividades de apuração, tratamento e distribuição nas agências de notícias segundo as características dos fluxos de informação.

3.6.1 – O modelo de apuração.

84 Além da questão da homogeneidade temática, em ambos os trabalhos citados a repetitividade do conteúdo aparece como sintoma da penetração dos conteúdos das agências em diferentes órgãos de imprensa. No artigo de Silva Jr, a repetitividade classifica-se como a presença do mesmo fato em órgãos diferentes, com semelhanças na redação do texto, seqüência dos elementos da notícia com ordem inalterada e similitude dos dados apresentados. 85 Neste caso, a possibilidade da hibridização ocorre no sentido de consolidar a informação da agência com outras fontes, como outras agências internacionais ou locais, sites de jornais que também tenham noticiado o mesmo evento, fontes primárias, como assessorias, fontes governamentais e materiais genericamente presentes, por exemplo, na internet. Agência Estado 136

As agências no seu surgimento operaram, de um modo geral, em um modelo baseado no binômio: escritório central e correspondentes. Esse posicionamento leva ao estabelecimento de uma dinâmica de fluxos no sentido centro-periferia. Esse modelo, relativo

às características dos fluxos, condiciona-se em função de cada uma das etapas de operação das agências.

Assim, no que toca à apuração, combinada às características de fluxo, temos a predominância da coleta de informações em torno das características de volume, intermitência, prospecção, filtragem e alcance. Essa perspectiva reflete a tendência à capilarização da rede de operações das agências. O estabelecimento das técnicas de apuração de material pelas agências se assenta, pois, tanto pela importância das fontes em questão

(volume), como pela capacidade de alcançá-las (prospecção), de estabelecer critérios de seleção e encadeá-las segundo uma exigência de atualidade dos eventos através de dispositivos tecnológicos (filtragem e intermitência).

3.6.2 – O modelo de tratamento.

Nas mesas de operação das notícias86, o tratamento não deve ser entendido como sinônimo de edição. O processo de edição envolve, de modo geral, procedimentos de seleção, corte e organização de um conjunto de informações existentes para o encaminhamento de um produto final (RABAÇA e BARBOSA, 2002, p.249). Na concepção de tratamento das agências, está envolvido o direcionamento do material editado para plataformas distintas.

Coexistem, então, duas dinâmicas. A primeira estabelece, segundo um conjunto de procedimentos e normas da própria agência, a produção dos informes. A segunda atua no

86 É como são chamadas, no jargão próprio, as redações centrais das agências. Agência Estado 137

encaixe desse material que, uma vez produzido e editado, é lançado em uma escala, de acordo com o universo de serviços.

No jornalismo, os valores/notícia são componentes centrais da noticiabilidade através dos processos de controle, priorização e seleção do material para elaboração de notícias. Tais valores que irão destacar, no horizonte de eventos da prática jornalística, as características de relevância do fato, a necessidade de sua cobertura e o grau de suficiência dos aportes alocados para definir a noticiabilidade de cada evento, ou “aptidão” para se transformar em notícia (WOLF, 1994, p.195). Nas agências, como o tratamento é relacionado a modelos de produção específicos, o quadro possui particularidades.

Boyd-Barrett (1980, p.77) elenca algumas particularidades sobre as diretrizes do processo de edição e tratamento em uma agência de notícias. Segundo o autor, no sentido de quando e para onde o material deve ser encaminhado e que forma ele deverá assumir, há uma tendência consolidada de se envolver esse tratamento com parcelas massivas de automação e recursos tecnológicos. Porém, as diretrizes que orientam o funcionamento desses dispositivos refletem, em boa parcela, práticas sedimentadas em torno da idéia de centralização do controle editorial;

a) o controle editorial é, sobretudo, um processo de eliminação direcionado.

Algumas notícias são entregues para alguns serviços, outras não. É improvável

que um cliente tenha todos os serviços assinados (devido ao custo), e também

é improvável que um serviço possua uma abrangência na qual possa caber

toda diversidade de informação da agência;

b) o processo de edição por “eliminação direcionada” ocorre em ritmos

acelerados, devido ao intenso fluxo a se dar conta. As variáveis para priorizar

determinada notícia sobre outras existem em função de; Agência Estado 138

- a relevância cultural/política/econômica do local ou acontecimento e em

função da sua concatenação com o mercado de notícias da agência;

- a dimensão da história em evidência, que personagens estão envolvidos,

etc;

- a pertinência do conteúdo: certas categorias de notícia possuem

tradicionalmente uma atenção das agências, outras, não;

- a adequação técnica do conteúdo no tocante à sua combinação com os

dispositivos de tratamento e distribuição de material.

Se a matéria não preencher todos esses critérios, poderá ser eliminada. Caso

não preencha o último critério, geralmente é retrabalhada para poder ser

aproveitada, dentro, claro, dos limites de tempo e operação da agência;

c) nos casos em que o controle editorial necessita de uma intervenção mais

consistente, geralmente trata-se de assuntos onde uma revisão mais cuidadosa

é demandada, como se indica abaixo:

Isso se dá a partir de uma política editorial forte. Nenhuma matéria da Reuters vai pro ar sem o que eles chamam de “Second pair of thoughts”. Na dúvida a gente não dá a matéria. A gente só dá com duas fontes em off ou uma em on. [...] esse é o melhor padrão, porque a gente tem esses esquemas. Na dúvida não dá, a gente não arrisca nada.87

A noção de noticiabilidade, para um jornal e para uma agência, assume critérios ligeiramente diferentes. No caso das agências, a preponderância do alcance e disseminação do conteúdo coloca a noticiabilidade em vínculo mais estreito de dependência da infra-estrutura tecnológica entre as partes envolvidas no fluxo, o que leva, por vezes, à manifestação de

87 Depoimento gravado de Mário Andrada, editor-chefe da Reuters América Latina, concedido para a pesquisa em 16 de maio de 2005. Agência Estado 139

uniformidade de parcelas das edições, caracterizando o que Golding-Elliott (1979, p.105) chama de “tirania do fornecimento”.88

Em paralelo, a dinâmica presente nas características de escala, intermitência, distribuição, filtragem e alcance, atuam mais como um fator de encaminhamento do que propriamente de seleção. Assim, o tratamento das agências em relação aos seus informes visa

à consolidação de um material dentro da sistemática operacional para, em seguida, haver a alimentação de outros subsistemas dessa massa de informação.

3.6.3 – O modelo de distribuição.

Em relação às categorias de fluxo, observamos que a distribuição em caráter radial se dá em função do direcionamento dos serviços para os clientes, não sendo regido, portanto, por uma ordem massificada. Em adição, a contextualização da informação em função da praça onde será distribuída e a exclusividade dos serviços prestados, em alguns casos, indica critérios ponto-a-ponto entre a distribuição pela agência, e o recebimento dos serviços pelos clientes.

Quando o material é opinativo a gente tem exclusividade. Então, na hipótese do Correio Brasiliense ter a Dora Kramer, por exemplo, o Jornal de Brasília não tem. A coluna “Direta da Fonte”, noutro caso, se o Jornal do Commercio tem, o Diario de Pernambuco não tem. É uma exclusividade para não ter sobreposição. Imagina a Folha e o Estadão na banca com as mesmas coisas? 89.

Assim, em cada uma das etapas de apuração, tratamento e distribuição, o modelo assume direcionamentos que são vinculados aos fluxos de informação e também às características operacionais. Não se trata de perceber o sistema de operação das agências

88 Cf. Anexo C. 89 Depoimento gravado de Renata Aguiar, gerente de produtos de mídia da Agência Estado, concedido para a pesquisa em 12 de maio de 2005. Agência Estado 140

como sendo somente centralizador, ou descentralizador. Ambas as dinâmicas acontecem em circunstâncias diferenciadas. É o fluxo que concilia essa aparente dicotomia de circulação através de uma lógica polimórfica. Trata-se de um modelo de três faces, que assume sentido de acordo com a etapa que estiver em andamento (apuração, tratamento e distribuição).

Assim, estabelece-se, em moldes centralizados, no que toca às atividades de tratamento; capilarizado, no tocante à apuração; e radial, na distribuição. Assim, tentamos indicar, no quadro da próxima página, como as características de fluxo e operacionais se manifestam nas etapas de apuração, tratamento e distribuição de informação pelas agências.

Nesse sentido, propomos que se observe, em paralelo, tanto os aspectos do modelo constitutivo das agências, enquanto estrutura de circulação de notícias e informação, como também se analise as características específicas que a mesma adquire em função de comportamentos circunstanciais da sua escala de desenvolvimento. Tais aspectos orientarão os estudos de casos, que veremos a partir do próximo capítulo. Agência Estado 141

Característica Características Implicações na Implicações na Etapa Implicações na Etapa de fluxo operacionais Etapa de Apuração de Tratamento de Distribuição implicadas Volume - Produção - Reunião de - - descentralizada informação, geração de quantidades e qualidades diferentes de material Escala - Serviços - - Mapear afinidades - Escalonamento em - Velocidade temáticas de função da agilidade do operacional informação para serviço e demanda dos geração de serviços clientes Intermitência - Velocidade - Priorização na coleta - Tratamento mais ou - Níveis diferenciados, operacional de determinada menos ágil de acordo de acordo com o - Serviços informação com o serviço ou serviço oferecido, a natureza da natureza da informação informação e demanda do cliente - Fornecimento em primeiríssima mão Distribuição - Dissociação - - Tratamento de - Direcionamento, conteúdo/plataforma informações para contextualização e direcionar de acordo exclusividade de com a realidade de serviços cada cliente Prospecção - Produção - Operação baseada no - - descentralizada binômio apuração e entrega de informação, inspirado em estruturas cooperativas Filtragem - Serviços - Recorte pela - “Reempacotamento”, - Condicionamento de - Dissociação relevância do evento tradução, adições ou órgãos periféricos do conteúdo/plataforma cortes de conteúdo horizonte de cobertura para contextualizar de eventos Alcance - Velocidade - Posicionamento em - Imediatismo no - Velocidade do fluxo operacional pontos de emanação tratamento em função - Limites de ordem - Produção de notícias do que é exigido por técnica descentralizada quem compra a - Serviços informação Penetração - Serviços - - - Dependência dos - Velocidade órgãos periféricos do operacional material das agências - Dissociação conteúdo/plataforma Quadro 06 - Ocorrência e atividades das características de fluxo nas etapas de apuração, tratamento e distribuição de material nas agências de notícias. Agência Estado 142

Parte II - Apresentação e detalhamento dos casos estudados Agência Estado 143

4 Agência Brasil

“O progresso realiza-se através de uma série de mutações históricas que englobam os esquemas antigos sem os anularem”. - Pierre Francastell.

4.1 – Delimitação e estruturação.

O surgimento da agência Brasil remonta à década de 1930, no período da ditadura do Presidente Getúlio Vargas. Através do DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda, foi criada a Agência Nacional, ligada ao gabinete presidencial. Era uma atividade orientada pelo momento político da época regido pelo regime centralizador e de organização controlada pelo

Estado. Segundo Jambeiro (2003), esse período se caracteriza para as comunicações no Brasil pelo início do processo de regulamentação, onde o papel do Estado é orientado por uma oposição ao liberalismo clássico, passando a ter uma presença de intervenção na economia e nas atividades de mercado.

A Agência Nacional surge, portanto, na inspiração de um Estado forte e centralizador, que assume a elaboração e aplicação de políticas públicas, entre estas, a comunicação. A agência operava com boletins enviados para jornais e rádios, noticiando, sobretudo, as atividades presidenciais. Essa denominação permanece até março de 1979, quando o presidente João Figueiredo cria a Empresa Brasileira de Notícias (EBN). Nesse estágio, a EBN passa a cobrir não somente a Presidência da República, mas também os Agência Estado 144

Ministérios, Banco Central, Congresso Nacional, Poder Judiciário e órgãos da administração federal. Concentra-se, nessa época, nas atividades de produção de textos, ficando a distribuição de material radiofônico e televisivo a cargo da Rádio Nacional e TV Nacional, abrigadas pelo guarda-chuva da Radiobrás. Durante o período de 1979 a 1985, coexistiram estruturas semelhantes: de um lado a EBN e do outro a Radiobrás. Nesse período a EBN tinha um corpo aproximado de 30 repórteres e redatores, somente para Brasília, com sucursais em

Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Belém, além de correspondentes em todas as demais capitais. A EBN respondia pela coleta e encaminhamento de material para serem produzidos os noticiários da Radiobrás como, por exemplo, o programa “A Voz do Brasil”.

Em 1985, no Governo do presidente José Sarney, a Radiobrás se funde com a

EBN, que deixa de existir com essa denominação. Atualmente, a Radiobrás se constitui juridicamente como uma Sociedade Anônima (S/A) da qual o Tesouro Nacional é o único sócio.

Como empresa, ela possui nove departamentos, distribuídos em dois canais de TV fechados (a TV Câmara e a TV Senado), transmitidos por concessionárias de Televisão por assinatura; uma TV de sinal aberto, a TV Nacional que opera no canal 2 de Brasília; duas rádios AM, a Rádio Nacional de Brasília e a do Rio de Janeiro; duas rádios em ondas curtas, a

Rádio Nacional da Amazônia e a Rádio Nacional do Brasil; uma Rádio FM, a Rádio Nacional de Brasília e a Agência Brasil.

A Agência Brasil é, portanto, um departamento da Radiobrás, que além da cobertura regular dos três poderes e dos ministérios e órgãos federais em Brasília, possui sucursais no Rio de Janeiro e São Paulo e correspondentes em Porto Alegre, Curitiba, Recife,

Fortaleza, São Luís, Manaus e Macapá.

Agência Estado 145

4.2 – O estágio Atual.

A atuação da Agência Brasil consiste em preparar materiais que são distribuídos tanto para órgãos de mídia comerciais, assim como alimentar também a cadeia produtiva interna da Radiobrás, sem, contudo, ser a única provedora de conteúdos para estes departamentos, que possuem, respectivamente, suas estruturas próprias de produção.

Externamente, o fornecimento de conteúdos é gratuito e adota a internet como a única plataforma de distribuição, através de sua página na web.

O processo de migração para as plataformas digitais foi progressivo. Começa em

1987, com a adoção da redação informatizada, porém, com a permanência de estruturas de distribuição analógicas. O sistema de produção era baseado na plataforma DOS, sendo o material impresso, para posteriormente ser transmitido por fax e telex. Nessa época, a agência tinha apenas cinco clientes fixos para recebimento do material, entre eles, a estatal chinesa

Xinhua e a cubana .

A partir de 1997, esse modelo de produção começa a hibridizar-se com a distribuição na internet, porém, de modo precário. Havia um corpo de técnicos que coletavam o material produzido em DOS, e o reformatavam para HTML. Era um processo feito manualmente que somente em 1999 passa a ser automatizado, porém, permanecendo a redação na plataforma DOS. Em 2000, já com a internet, esta passou a ser a única plataforma de distribuição de conteúdo, enquanto fonte para outros órgãos. Foram descontinuados os serviços de entrega por fax, telex e o sistema de clientes cadastrados para receber material.

Em paralelo, houve uma redefinição do papel da agência, que intenta passar de um modelo eminentemente estatal para uma concepção de agência de informação pública, focada no Governo Federal. Atualmente, conta com 26 repórteres em Brasília e dez editores, seis repórteres em São Paulo, oito no Rio de Janeiro e mais seis correspondentes fixos em capitais. Agência Estado 146

A mudança se reflete na diversificação dos serviços e, sobretudo, na penetração que o material passa a ter.

Só começamos a ser mais utilizados pelas outras agências e veículos quando entramos na internet. [...] Depois que a Agência Brasil entrou na internet, houve um trabalho interessante porque conseguimos ganhar espaço como uma agência oficial de governo. Se as pessoas quisessem saber exatamente o que o governo achava sobre isso ou aquilo, estava ali [...] o que fazia com que fôssemos monitorados por outras agências. Nós chegamos a ter sete milhões de acessos ao mês 90.

O Editor-chefe da Agência Brasil, Flávio Diegues, justifica a mudança da penetração da agência depois da operação na internet:

A capilaridade, o alcance da nossa cobertura, é muito grande porque quem entra no meu site são outras publicações que reproduzem as nossas informações e muitas dão crédito. Eu tenho um levantamento e o que se observa é o seguinte: não tem nenhuma cidade do país que não tenha algum veículo reproduzindo a nossa matéria. Ao se entrar no Infolink91, para você ter uma idéia, O Estadão dá uma média de 40 a 50 notícias por dia. A Folha dá um pouco mais, 80. Nós damos 100. O Infolink nesse dia tava com 399 notícias. Dessas 399, 22% eram de notícias da Agência Brasil. A gente chega em lugares onde ninguém chega. 92

Os desdobramentos gerados em função da internet passaram também a atingir a modelo de reportagem. Com a nova diretoria, empossada juntamente com a nova Presidência da República em 2002, os repórteres da Agência Brasil são designados como multimídia - normalmente produzem material em texto e também em áudio, para ser repassado para a

Radiobrás, em um esquema de fornecimento interno.

90 Depoimento gravado de Marizete Mundim, chefe da divisão de clipping da Agência Brasil, concedido para a pesquisa em 27 de abril de 2005. 91 O sistema de notícias do Infolink funciona capturando notícia de outros órgãos. 92 Depoimento gravado, concedido para a pesquisa em 25 de abril de 2005. Agência Estado 147

Isso significa que os repórteres têm que fazer a notícia para os três veículos. A televisão não conta muito porque, como ela depende de imagem e não tem equipamento pra fazer muitas matérias, não adianta você botar o pessoal pra produzir matéria pra TV, mas o rádio sim. Todos os repórteres gravam tudo o que apuram e aquilo é transformado pro rádio93.

Vale citar que tal tarefa ainda é realizada de modo manual - não é integrada dentro de um sistema único de produção. Mesmo para a geração de matérias em texto, o sistema adotado na Agência Brasil possui limitações de ordem técnica. O primeiro desses limites é sistema de publicação. Apesar de se operacionalizar dentro de um programa de navegação na web, o que permitiria uma atualização remota, isto não ocorre. A rigor, por ter “furos” na segurança, o sistema atua apenas dentro da rede interna da agência, no prédio da Radiobrás.

Com isso, a norma de produção para sincronizar o tempo dos eventos ao relato, ocorre no binômio repórter transmitindo informações verbalmente via telefone celular, e redator ou editor, copiando e alimentando o sistema de publicação94.

Outra limitação é a utilização na redação da tecnologia ASP, que permite a atualização dinâmica das páginas. Atualmente, do modo como está em funcionamento, a utilização dessa tecnologia é parcial. A página inicial tem que ser atualizada como um todo mesmo quando se trata da edição de apenas uma chamada ou nota curta, por exemplo. O sistema abre o script95 de todos os campos de conteúdo, colunas e células que compõem o lay- out fixo e o editor altera somente a parte em questão. Ou seja, a página sempre tem a mesma aparência, variando apenas o conteúdo. Outro limite: nos níveis subseqüentes de navegação, onde normalmente há o detalhamento da matéria, não há a possibilidade de se editar links de

93 Depoimento gravado de Flávio Diegues, Editor-chefe da Agência Brasil, concedido para a pesquisa em 25 de abril de 2005. 94 Atualmente, as sucursais podem editar os conteúdos diretamente no sistema, mas os correspondentes, não. Neste último caso, o material é enviado através do e-mail [email protected], que é monitorado pelos editores durante todo o dia, de onde o material é sacado e colocado no sistema manualmente. É válido considerar que a operação de reportagem nesses moldes se dá também pela cultura interna da redação. Há uma confiabilidade em torno da prática (telefone e redator) a ponto de, para coberturas que exigem um relato dos fatos de modo imediato, esse arranjo, sob certo ponto até improvisado, prestar mais agilidade do que se deslocar para um computador ligado à rede, para criar uma nota e alimentar o sistema de notícias remotamente. 95 Neste caso, o termo designa-se dentro do linguajar da informática, e refere-se à seqüência de instruções fornecidas ao sistema ou programa para que ele execute uma tarefa definida determinada. Agência Estado 148

modo automático. Caso o editor necessite vincular essa matéria a outras da agência, ou a sites externos, o processo é operado de modo manual, exigindo que o editor domine os comandos em linguagem HTML.

Essas limitações ampliam bastante o trabalho dos editores. Levando-se em conta que a Agência Brasil gera uma média de 120 chamadas ou notas por dia96, é muito comum observar os editores revendo a publicação da página na web, e corrigindo os erros que se apresentam devido aos problemas de script do sistema de publicação.

4.3 – Serviços da Agência Brasil.

Atualmente, a Agência Brasil oferece 11 serviços disponibilizados na internet. São eles:

4.3.1 – Brasil Agora.

Consiste na página onde são publicados todos os informes em texto, independentemente do tema, se político, econômico ou nacional. A convergência dos demais serviços relativos à Economia, Política e Nacional, faz com que as matérias do Brasil Agora estejam presentes também em cada serviço respectivo. As matérias são alimentadas de modo contínuo, caracterizando o serviço como de tempo real.97

96 Por exemplo: cada entrada ou chamada é considerada como uma nota. Se um evento ou fato gera cinco textos, serão consecutivamente cinco notas. Esta foi a média aproximada registrada durante o período de observação in- loco. 97 Cf. http://www.radiobras.gov.br/brasilagora_2004.htm . Agência Estado 149

Figura 06 - Tela do serviço Brasil Agora

4.3.2 – Economia.

Consiste nas notícias obtidas nos ministérios, órgãos governamentais, e também

em fontes não-governamentais, como a FIESP98, confederações sindicais, da indústria, do

comércio, dados estatísticos, etc. que apresentem notícias relacionadas com aspectos da

economia nacional99.

98 Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. 99 Cf. http://www.radiobras.gov.br/brasilagora_2004.htm?editoria=EC . Agência Estado 150

Figura 07 - Tela do serviço Economia (notar notícias que estão presentes também no serviço Brasil Agora)

4.3.3 - Política.

Cobre o setor de política federal, envolvendo os três poderes no âmbito nacional, as relações exteriores e com os estados da União e com os movimentos sociais100.

100 Cf. http://www.radiobras.gov.br/brasilagora_2004.htm?editoria=PO Agência Estado 151

Figura 08 - Tela do serviço Política (notar notícias que estão presentes também no serviço Brasil Agora)

4.3.4 – Nacional.

Cobre os fatos relacionados ao poder público federal que ocorrem fora do âmbito do Distrito Federal, bem como o acompanhamento de atividades dos três poderes e órgãos federais que ocorram no país101. É um material gerado pelas sucursais e correspondentes, abordando temas mais diversificados e de interesse da sociedade civil e dos movimentos sociais. Neste serviço, manifesta-se de modo mais nítida a atuação, mesmo que parcial, no sentido de ser uma agência de informação pública, e não somente de cobertura governamental

(ROCHA, 2004). Claro que com a presença de alguns conflitos:

O Estado produz diariamente centenas de fatos que interferem na vida do cidadão e ele tem que saber disso até pra exercer os seus outros direitos. [...] Ela (a Agência Brasil) tende a atender essa concepção de fazer o jornalismo buscando atender o direito à informação do cidadão, mas ela ainda está vinculada ao Poder Executivo. Eu defendo a comunicação estatal. Tem que

101 Cf. http://www.radiobras.gov.br/brasilagora_2004.htm?editoria=NA . Agência Estado 152

haver, mas ela não pode se confundir com a pública. Por mais que a gente se abra, como a gente tem feito o esforço, tem a busca de fontes, é contraditório... Mas temos que partir de um pressuposto de que temos um vínculo com o aparelho estatal102.

Figura 09 - Tela do serviço Nacional (notar notícias que estão presentes também no serviço Brasil Agora)

4.3.5 – Agenda do Presidente da República.

Indicação das atividades diárias do Presidente da República103. Café com o

Presidente: consiste num boletim em notas em texto e programa para a Rádio Nacional, do programa semanal de entrevista com o Presidente da República104. As notas, normalmente fracionadas, também são publicadas no serviço Brasil Agora.

102 Depoimento de José Roberto Garcez, diretor de jornalismo da Radiobrás. Em 25 de abril de 2005. 103 Cf. http://www.radiobras.gov.br/presidente/agenda/listagen.html . 104 Cf. http://www.radiobras.gov.br/cafepresidente/cafepresidente_capa_2005.htm . Agência Estado 153

Figura 10 - Tela do serviço café com o presidente.

4.3.6 – Brazilian News.

É o noticiário em espanhol e inglês, selecionado da produção da agência. Oferece, através de um recorte editorial, um resumo das notícias mais relevantes, que possam ter interesse no cenário internacional105. Os limites dessa operação são causados pelo intervalo de tempo para tradução. Os repórteres e redatores, que possuem domínio de espanhol e inglês, não traduzem diretamente o que foi produzido. Há uma equipe que seleciona, traduz o material e o dispõe no serviço internacional. Isso impõe um retardo na intermitência, o que gera uma velocidade desigual em comparação à distribuição para o território nacional em tempo real. Inexistem nas versões em língua estrangeira os serviços: Brasil Agora, Agenda do

Presidente e Café com o Presidente. É igualmente disponibilizado o serviço de fotografias.

105 Durante o período de observação na agência, foi verificado que a proporção aproximada das notícias aproveitadas para os serviços em língua estrangeira em relação às notícias presentes nos serviços regulares em português é de 18%. A observação quantitativa foi realizada durante uma semana, levando-se em conta a totalidade da produção da Agência Brasil disponibilizada na internet. Agência Estado 154

Figura 11 - Telas do serviço em inglês e espanhol da Agência Brasil.

4.3.7 - Fotografia.

Consiste no serviço que disponibiliza fotografias produzidas pela Agência

Brasil106. O acesso e descarga do material para republicação é gratuito, mas exige-se cadastro e citação da fonte e do fotógrafo autor. O serviço possui uma ferramenta de busca, relacionada aos itens da foto-legenda, o que permite localizar por pessoas fotografadas, datas, ocasiões e eventos. O acervo está sistematizado desde novembro de 2003, tendo um bom número de acessos, principalmente quando a cobertura de determinado evento é de exclusividade da

Agência Brasil, o que suscita polêmicas na relação com outras agências:

Você pega, por exemplo, uma solenidade, Lula vai receber no gabinete dele o rei Juan Carlos e só o fotógrafo da Agência Brasil entra. E isso é exibido

106 Cf. http://img.radiobras.gov.br/ . Agência Estado 155

pra todo mundo sem nenhum custo. É lógico que afeta o nosso negócio. Mas o maior problema que eu vejo é que você só tem uma versão da informação: se a Condoleezza (Secretária de Estado dos EUA, que visitou Brasília) escorrega e cai sentada, que é uma foto que daria a capa de qualquer jornal do mundo, aqui no Brasil a gente não teria acesso a essa foto porque a Agencia Brasil não a distribuiria. Ela só distribuiria a foto da Condoleezza sentadinha 107.

Figura 12 - Tela do serviço de fotografias

4.3.8 – Radioagência Nacional.

Disponibiliza notícias veiculadas nas rádios do sistema Radiobrás108. Os informes podem ser acessados de forma sincrônica - no acompanhamento da programação que está indo ao ar - ou de modo assincrônico, por demanda, através de matérias em formato de áudio

MP3. O acesso é gratuito, com cadastro. No caso do serviço da Radioagência, percebe-se que boa parte do material (em torno de 65%) é gerado pelos “repórteres multimídia” da Agência

Brasil.

107 Depoimento gravado de Eduardo Mattos, Editor-chefe de notícias da Agência Estado, concedido para a pesquisa em 13 de maio de 2005. 108 Cf. http://www.radiobras.gov.br/radioagencia/ . Agência Estado 156

Figura 13 - Tela do serviço da Radioagência.

4.3.9 – TV Brasil.

Trata-se da disponibilização, através da internet, da programação brasileira do

Canal Integracíon109. Atualmente encontra-se em fase de testes para implantação de boletins em vídeo por demanda, mas já disponibiliza a programação em tempo real. No Brasil a iniciativa cabe a um pool formado pelas TV Nacional, TV Justiça, TV Senado e TV Câmara.

O Canal Integración objetiva funcionar como uma janela de exibição da produção audiovisual na América do Sul, ao veicular produções tanto de entidades parceiras, como de produtores independentes (ABERT, 2005)110.

109 O Canal Integracíon é uma iniciativa formada entre países sul-americanos: Universidad Três de Febrero e Canal 7 (Argentina); TV Ciudad (Uruguai); Fundación Patrimônio Fílmico (Colômbia) e Telesur (Venezuela). Com a participação da Asociación de Televisión Educativa Iberoamericana - Atei (Espanha). 110 Além da disponibilização na internet, A transmissão também é feita por um segmento do satélite NSS-806, que cobre as Américas do Sul, Central e do Norte e parte da Europa (http://streaming.tvbrasil.tv.br/ie.html). Agência Estado 157

Figura 14 - Tela do serviço da TV Brasil Canal Integración.

Atualmente, a opção da Agência Brasil é viabilizar todos os serviços em uma

única plataforma de disseminação (a internet). Desse modo, passa por uma reformulação do

CPD, para suportar de modo satisfatório a demanda de acessos e também aperfeiçoar o sistema interno de publicação e gestão de conteúdos.

Temos um problema tecnológico muito grande na Agência Brasil por conta da obsolescência das tecnologias empregadas na produção [...] Sobre, especificamente, a questão da tecnologia, a agência opera num sistema de publicação de notícias que foi desenvolvido em 2001 e 2002. É um sistema proprietário, em ASP, que também é bastante obsoleto hoje em dia, precisa ser revisto, ou talvez precisa ser feito um novo sistema pra dar conta das demandas que a gente tem criado para o posicionamento da agência111.

A preocupação em implementar um sistema de modo a agilizar o processo de publicação objetiva, em paralelo, mensurar com mais precisão quem acessa o material da agência e, desse modo, mapear possibilidades de integração de conteúdos mais efetivas.

111 Depoimento gravado de Rodrigo Savazonni, redator chefe da Agência Brasil, concedido para a pesquisa em 25 de abril de 2005. Agência Estado 158

Porque desenvolvendo um gerenciador de conteúdos, que nos permita criar um software livre, poderia gerar diferenciais pra nós, tanto do ponto de vista de gestão como também customizar e distribuir esse software pra África, pra América Latina, de criar uma rede integrada de agências públicas. Isso tem um potencial monstruoso112. A organização atual da Agência Brasil em relação aos fluxos internos e distribuição de conteúdos pode ser expressa através da figura seguinte.

Serviços Agência Brasil

Economia Departamento Política Internacional

Nacional Serviço em inglês e espanhol Brasil Agora

Rádios

Fotografia Radioagência Agenda do Presidente Canais de TV Café com o TV Brasil Canal Integración Presidente

Banco de Banco de Notícias imagens

Disseminação: internet

Figura 15 - Organização dos fluxos internos e distribuição de conteúdos da Agência Brasil. Em linha contínua: fluxo integral de volume. Em linha tracejada: fluxo parcial. Em sombreado: serviços fornecidos pela Agência Brasil.

112 Depoimento gravado de Rodrigo Savazonni, redator chefe da Agência Brasil, concedido para a pesquisa em 25 de abril de 2005. Em março de 2006, a Agência Brasil estabelece o primeiro passo nesse sentido, ao firmar um convênio de uso de conteúdo com a agência portuguesa LUSA. Agência Estado 159

5 Agência Estado

"Não é necessário renunciar ao passado ao entrar no porvir. Ao mudar as coisas, não é necessário perdê-las". - John Cage.

5.1 – Delimitação e estruturação.

A Agência Estado começa a se estruturar em fins da década de 1960, sendo fundada efetivamente em 1970, como uma empresa do grupo Estado de São Paulo. Com o crescimento do grupo Estado (que tinha criado, em 1966, o Jornal da Tarde) a idéia era criar um órgão de suporte editorial e operacional aos demais órgãos do grupo (Jornal Estado de

São Paulo, fundado em 1875, e Rádio Eldorado, fundada em 1958).

Pouco tempo após sua fundação, em 1971, passa a atender clientes externos, geralmente jornais pequenos e médios e emissoras de rádio. Contudo, no final dos anos 1980, a agência se reorganiza estruturalmente, tornando-se mais autônoma em relação ao grupo

Estado e, progressivamente, direciona-se ao fornecimento de informações para o mercado.

O processo histórico da Agência Estado nasceu na década de 70, [...]da necessidade de coordenar e controlar os correspondentes fora do país e das sucursais, ou seja, fora do estado de São Paulo. Em seguida, percebeu-se que era vantagem capitalizar as notícias excedentes do grupo - tudo aquilo que não fosse exclusivo para o JT ou para o Estadão, tendo em vista o foco, a profundidade e a extensão da cobertura do grupo Estado de São Paulo no país. Aí nasceu a agência de notícias 113.

No fim dos anos 1980, foi implementada uma reforma administrativa mais radical, com vistas a reduzir a questão familiar na administração do grupo e também fornecer uma agilidade maior no processo de decisão (MIELNICZUK, 1998, p.22).114

O que está acontecendo na empresa de três anos pra cá é que ela está deixando de ser uma empresa familiar pra adquirir uma gestão profissional. É uma passagem pro esquema profissional de governança. É evidente que quando a família deixa o negócio e executivos passam a gerir, você perde um pouco do patrimônio que existia, os métodos mudam. Mas é um processo que acontece em qualquer empresa 115.

A partir daí, o grupo passa a ter dez áreas administrativas distintas, com metas anuais comandadas pelos herdeiros ou executivos profissionais116. Nessa mesma época, inicia-se a digitalização da sua redação, adquirindo e ampliando a infra-estrutura informacional necessária que levaria à implementação de modelos em redes digitais, no início dos anos 1990.

Com o reaparelhamento tecnológico e gerencial do grupo, a Agência Estado concentra-se no desenvolvimento e fornecimento de sistemas direcionados ao horizonte de mercado de diversos setores da economia brasileira. Esse posicionamento, além de gerar uma gama de serviços de informação para setores não-mídia, agregava a massa de conteúdos jornalísticos, criando um modelo de negócios para a agência, formatado no mix de clientes dos setores da mídia e não-mídia, bem como de conteúdos e informações das duas naturezas.

113 Depoimento gravado de Inês Migliaccio, editora da Agência Estado, concedido para a pesquisa em 12 de maio de 2005. 114 Cf. também: http://www.ae.com.br/institucional/institucional_h.htm . 115 Depoimento gravado de Eduardo Matos, Editor-chefe de notícias da Agência Estado, concedido para a pesquisa em 13 de maio de 2005. 116 As dez áreas são: O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, Rádio Eldorado, Estúdio Eldorado, OESP Gráfica S.A, OESP Mídia Direta, Unidade de Negócios Vendas Gráficas, OESP Distribuição e Transportes S.A., Agência Estado e Broadcast Teleinformática. O Grupo Estado de São Paulo ainda atua como acionista controlador da PISA, Papel de Imprensa S.A. e como acionista minoritário do consórcio Claro, de telefonia celular. Como um todo, o grupo emprega aproximadamente cinco mil pessoas. 161

À época, o mercado financeiro no Brasil não tinha ferramentas capazes de dar conta da complexidade de operações envolvidas. Assim, a agência visava obter um status operacional capaz de captar, selecionar, refinar, combinar e transmitir informações relevantes para esse setor. Era uma atividade centrada na produção de serviços específicos, inspirada, de certo modo, em modelos como a Reuters e em provedores de serviços especializados em informações para o setor financeiro, como a Dow Jones.

5.2 – O estágio atual.

Em 1991, a agência comprou a Broadcast, empresa de soluções para a transmissão de cotações das bolsas nacionais e internacionais situada em São Paulo. A tecnologia envolvia sistemas proprietários que operavam em redes fechadas. A marca Broadcast foi mantida, ao passo que se desenvolveram aplicações para a plataforma, ampliando sua capacidade de fluxo e organização de novos serviços.

O resultado pode ser medido pelo crescimento da base de terminais instalados, que em nove anos saltou de 200 (1991) para mais de 9 mil (2004), fazendo do serviço

Broadcast o líder nacional no setor de informações financeiras. O site da Agência Estado começou a operar em fevereiro de 1995, sendo a primeira agência de notícias brasileira na

Web, antes mesmo da entrada da internet comercial no Brasil. Nessa época, havia somente um endereço com final ".com" e o serviço não era hospedado no Brasil. Menos de um ano depois, era inaugurado o Brazil Financial Wire, primeiro serviço informativo em inglês sobre a economia brasileira na internet. Ainda em 1995, foi lançado o Agrocast, um sistema similar ao Broadcast, mas especializado nas áreas de produção, beneficiamento, processamento e comercialização dos principais produtos agropecuários. Na metade de 1999, o Agrocast 162

também começou a ser transmitido através da internet, para atingir os pequenos e médios produtores rurais e os associados das principais cooperativas agrícolas.

O serviço da Agência Estado na internet não funciona como um portal dos serviços da agência, constitui-se mais como um site de destino, que apresenta parcelas do conteúdo da agência. No entanto, uma das vantagens trazidas para a agência, com o site, foi o aumento da visibilidade junto ao público, o que coloca a Agência Estado parcialmente atuando no varejo da informação. Segundo Robson Pereira, diretor da versão web da agência:

Muita gente passou a tomar conhecimento da agência via internet [...] provavelmente são pessoas que jamais ficariam sabendo da existência da Agência Estado – embora a agência seja líder nesta área de informações especializadas – o site é nosso primeiro serviço de massa, voltado para o usuário final (CRUZ, 1999).

Em 1996, com a internet, a Agência reorganizou sua atuação no mercado de mídia, criando o Midiacast, um serviço de informações para jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão. Até o final de 1996, mais de 200 empresas assinam o serviço, que é oferecido via satélite e internet.

Em 1998, lançam o Infocast, um sistema de informações on-line (via satélite ou internet) voltado para a gestão de negócios e a prospecção de mercados, incluindo notícias, dados e análises de entidades empresariais, consultorias e organizações de fomento aos negócios. Em 2000, lança o serviço AE Conteúdo, dirigido para veículos da internet, que permite o fornecimento de conteúdo de modo personalizado.

Para a distribuição de conteúdo para a internet, a agência possui acordos de fornecimento para cerca de 200 sites e/ou portais. Em 2005, a agência desenvolve um serviço compacto de notícias, mais barato e que objetiva atingir jornais de pequena circulação (até dez mil exemplares). 163

Além da sede em São Paulo, possui sucursais em Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, com correspondentes fixos em Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Salvador e

Recife. No exterior, conta com correspondentes em Londres, Nova York, Bruxelas, Shangai,

Paris, Washington e Genebra. Atualmente conta com 175 jornalistas. Tem uma carteira que varia em torno de 350 clientes do setor de mídia.

A importância da agência para o grupo Estado pode ser percebida através da aplicação de recursos na base tecnológica de operação, de modo a sistematizar o modelo de trabalho. Como indica Saad (2003, p.41), as estratégias de empresas de comunicação envolvem adequação ao segmento de mercado em que atuam. Essa adequação envolve, por sua vez, a decisão sobre os produtos e tecnologia a serem desenvolvidos e/ou absorvidos; a seleção do mercado e tipo de clientes a serem atingidos e a manutenção da vantagem competitiva (SAAD, 2003, p.38).

O aspecto estratégico da Agência Estado é notado justamente nas ações que se estabelecem em três eixos: o desenvolvimento de soluções tecnológicas, a geração de informações e distribuição das mesmas. Esses eixos estão interligados, gerando possibilidades informativas de modo a garantir o posicionamento de liderança entre as agências comerciais no cenário brasileiro. Especificamente, as disposições estratégicas na agência concernem aos seguintes aspectos;

a) desenvolvimento tecnológico. Migração das atividades para plataformas

digitais, substituindo dinâmicas analógicas por numéricas, trocando átomos

por bits, viabilizando o trânsito do conteúdo em diferentes mecanismos de

acesso e disponibilização. Na agência, esse aspecto se manifesta de duas

formas principais; 164

- no desenvolvimento de plataformas e tecnologias de disseminação,

assumindo, em paralelo, as funções de braço tecnológico do Grupo Estado

de São Paulo117;

- disseminação em plataformas distintas. Desde 1988, com a adoção de

alternativas digitais para a circulação de informação, a Agência Estado

implementou sistemas de transmissão de dados através de diferentes

plataformas de modo a diversificar seus modelos de alimentação de

material;

b) geração de informações. Delimitação de especificidades produtivas de

conteúdo, aliado aos recursos de gestão e alimentação dos bancos de

informações digitais. Pode ser percebida na agência em dois aspectos;

- integração com os outros órgãos do Grupo. O aproveitamento e

potencialização do conteúdo, que é utilizado pelos jornais e rádios do

grupo, bem como no sentido inverso, materiais produzidos pelos órgãos

são assimilados parcialmente na agência;

- captação de dados e informações de agências estrangeiras. Há o convênio

com órgãos estrangeiros pelo qual a Agência Estado publica informações

de teor internacional. No sentido inverso, alimenta órgãos informativos de

outros países;

c) distribuição de informações. É percebida pela criação de pacotes informativos

(os serviços), direcionados e customizados a setores e clientes específicos,

manifestando-se em dois aspectos, no fornecimento de informação para órgãos

afiliados e na elaboração de serviços específicos personalizados.

117 Vale também observar que, através da Agência Estado, o grupo mantém convênio como o Massachussets Institute of Technology, MIT, no projeto news in the future, que basicamente intenciona o desenvolvimento de plataformas midiáticas. 165

Para a distribuição de material, a Agência Estado adota duas alternativas no que diz respeito às plataformas utilizadas. Uma, para os setores financeiro, corporativo e mídia, que envolve satélite e internet. Outra, para o serviço Broadcast, que é operado por transmissão de dados via rádio. Para sistemas de acesso através de dados via wi-fi118 (wireless, para dispositivos móveis como PDAs) e SMS (mensagens de texto curtas, via telefonia móvel), estes serviços são distribuídos por sub-rotinas de protocolos de internet. Assim, a seguir serão detalhados os serviços, e sua integração com os respectivos recursos.

5.3 – Serviços da Agência Estado.

A estruturação dos serviços da Agência Estado se dá dentro de uma grade complexa, envolvendo, em primeiro lugar, os núcleos temáticos de atuação, que, na nomenclatura da agência, denominam-se mercados. Num nível de interação subseqüente, temos os produtos, as plataformas de distribuição e os serviços existentes.

Os núcleos de atuação principal são quatro: Financeiro, Corporativo,

Agronegócios e Mídia. Na estrutura da agência, pode-se dizer que tais núcleos funcionam como editorias, gerando material, dentro de delimitações específicas de tema e abordagem.

Desse modo, o direcionamento de cada núcleo pode ser enquadrado da seguinte forma;

a) financeiro. Os produtos são destinados a corretoras e instituições financeiras,

gestores de fundos, operadores da bolsa, analistas de investimentos,

executivos financeiros, dirigentes da área pública, investidores, executivos e

analistas de recursos de informação;

118 Cf. Apêndice F, glossário de termos. 166

b) corporativo. Gera conteúdos para empresas e entidades públicas, analistas e

executivos das áreas de marketing, comunicação, produtos, vendas e novos

negócios, pesquisa, business intelligence (informações estratégicas de

mercado), finanças, tecnologia da informação, recursos humanos, operações e

relações públicas;

c) agronegócios. Envolve a preparação de informação para o setor de agricultura,

pecuária e mercados vinculados. É direcionado a executivos e analistas da

agroindústria, cooperativas, produtores agrícolas, corretoras do mercado

físico, corretoras do mercado de futuros e dirigentes da área pública;

d) mídia. Gera conteúdos para serem distribuídos para jornais, revistas, rádios,

TVs, sites, portais, intranets e sistemas digitais (SMS, wi-fi, PDAs).

Na conjunção que envolve esses quatro núcleos há, em um nível subseqüente, o direcionamento a produtos da agência. Esses produtos são combinados, organizados e distribuídos em serviços específicos, de acordo com a produção própria e a republicação de material de agências estrangeiras.

As informações vão chegando pelas agências internacionais, elas são bastante carregadas pelo fuso horário, elas já estão a mil por hora quando nós começamos pela nossa manhã. Vão caindo no sistema e cada produtor passa para o produto específico da Agência Estado. Falei produtor, mas isso significa editor porque, às vezes, é um coordenador de reportagem, às vezes, é um editor final, que joga naquele produto específico para o qual trabalha 119.

Os produtos no caso são: AE Broadcast, AE Sistema de Informação, AE Mídia

Texto e Foto, AE Estudos, AE Data, AE Newspaper, AE Conteúdo e AE Releases. Desse

119 Depoimento gravado de Inês Migliaccio, editora da Agência Estado concedido para a pesquisa em 12 de maio de 2005. 167

modo, o material produzido em cada núcleo pode alimentar produtos diferenciados. Como se pode ver na figura a seguir.

Núcleos de operação Produtos Plataformas de distribuição AE Broadcast Sistema Broadcast

Financeiro Dados em tempo ‘ AE Sist.de Info. real codificados via ondas de rádio.

AE Conteúdo Corporativo AE Estudos internet Inclui: Acesso à intranet da agência, e geração de AE Mídia Texto e Foto conteúdos para Agronegócios SMS, PDAs, e Wi-fi.

AE Newspaper

AE Data Satélite Usado isoladamente Mídia ou em redundância com a internet. AE Releases

Figura 16: Núcleos de operação da Agência Estado em relação aos produtos oferecidos e plataformas de distribuição120.

5.3.1 – O sistema AE Broadcast.

O AE Broadcast é um terminal dedicado121 que acessa dados em tempo real através de um computador ligado a um decodificador. Esse produto, portanto, consiste simultaneamente em um conjunto de serviços e uma ferramenta técnica que visa atingir, de

120 No gráfico acima, demonstra-se que alguns produtos, como o AE Data e o AE Releases, têm um posicionamento diferenciado em relação aos demais. De um modo geral, eles são gerados a partir das bases de dados dos núcleos de operação (AE Data) e do serviço, que a Agência Estado oferece a empresas para distribuição de releases. Não sendo, portanto, um produto direto dos núcleos de operação. 121 Como terminal dedicado define-se um tipo de hardware que está vinculado a softwares específicos e ao processamento e acesso a tipos restritos de informações. Ao contrário de um computador pessoal, que permite o uso de programas diversos e execução de múltiplas tarefas, um terminal dedicado trabalha no processamento de tarefas exclusivas. 168

modo mais específico, parcelas de clientes. O sistema abriga um conjunto de serviços de informação centrado em torno de análises, índices, cotações, estudos de gráficos, commodities, juros, câmbio, além de relatórios de consultorias de mercado.

Não é só a questão de você ter a ferramenta da rede disponível. Existem redes e redes. Eu sei que existem redes abertas como a internet, existem as redes semiabertas e existem as redes privadas. O serviço de Broadcasting, por exemplo, é distribuído a partir de protocolos específicos, justamente por isso. É uma forma de, como eu posso dizer, azeitar, potencializar o modelo de produção que o jornalismo aberto em rede não tem 122.

Os informativos são segmentados para a peculiaridade de cada negócio, gerando assim os serviços específicos, que, em breves termos, são:

- AE News. Trata-se de uma produção de caráter jornalístico, em formato de notícias, centrada na cobertura político-econômica, análises e tendências do setor financeiro e fatos ligados à economia brasileira, sejam os eventos ocorridos no Brasil ou no exterior;

- AE Mercado. É direcionado aos mercados brasileiro e emergentes. Tem, como sub serviços, um banco de dados relativos às oito economias desenvolvidas (o grupo G8), com recuperação de 55 indicadores de mercado relevantes. Oferece ainda o Monitor de

Política Monetária e a Pesquisa Pré-Copom, que antecedem as decisões de juros do Banco

Central;

- AE Newspaper. Clipping dos principais jornais do país, com análise do mercado financeiro, principais indicadores, agenda dos acontecimentos do dia, destaques dos programas jornalísticos da noite anterior na TV e um plantão com informações da madrugada que normalmente só sairão nos jornais no dia seguinte;

- AE Brazil. Noticiário em inglês sobre o Brasil. Contém análises e tendências sobre a política econômica brasileira e a movimentação do mercado financeiro;

122 Depoimento gravado de Inês Migliaccio, editora da Agência Estado, concedido para a pesquisa em 12 de maio de 2005. 169

- AE Empresas e Setores. Noticiário sobre as principais empresas atuantes nas bolsas de valores, como comentários e análises de conjuntura. Subdivide-se em nove serviços, vinculados a setores da economia: Alimentos e Bebidas, Automotivo, Comércio, Construção

Civil, Energia, Mineração e Siderurgia, Química e Petroquímica, Tecnologia da Informação,

Transportes e Logística.

No sistema Broadcast são disponibilizados os serviços: Análise Política Online

(com análises sobre política, pesquisas e previsões sobre votações no Congresso), Tendências

(em tempo real sobre o ambiente político-econômico), Dinheiro Vivo (sobre o fechamento dos mercados), Noticiário Internacional (em tempo real sobre os mercados financeiros e agrícolas internacionais; é elaborado pela Dow Jones), Cotações e Taxas (cotações em tempo real das bolsas de valores), Índices e Ativos Internacionais (cotações de moedas, títulos governamentais, ouro, prata, petróleo, títulos de dívidas, etc), Gráficos (gráficos, podendo resgatar dados de até cinco anos).

Figura 17: Tela do Sistema Broadcast

170

5.3.2 – AE Sistema de Informação.

O AE Sistema de Informação é um produto dirigido ao mercado profissional ligado à economia, finanças, política, agronegócios, empresas e setores. São serviços similares aos da Broadcast, porém, sendo uma alternativa de custo mais barato, e sem a atualização das informações na mesma velocidade. O tempo é diferido, ou seja, os informes são alimentados depois de estarem disponíveis para o Broadcast.

Figura 18: Tela do AE Sistema de Informação

Os serviços que o AE Sistema de Informação oferece são: Agenda, Artigos,

Notícias, Análises e Cenários, Cotações e Taxas, Áudio, Recados, Serviço em inglês,

Ferramentas de Busca e Estudos.

Na Agenda, oferecem-se serviços de acompanhamento diário dos cenários de

Agronoegócios, Conjuntura e Finanças e Empresas e Setores.

171

Figura 19: Tela da Agenda em integração com o AE Sistema de Informação.

Os Artigos são materiais escritos por articulistas com análises sobre tendências e interpretações das reações do mercado ao horizonte dos negócios. Estão divididas por sub

áreas: Agronegócios, Conjuntura e Finanças, Empresas e Setores e Gestão e Carreiras.

Figura 20: Tela dos Artigos em integração com o AE Sistema de Informação.

O setor de notícias do AE Sistema de Informação oferece serviços de cobertura de

Agronegócios, Conjuntura e Finanças, Empresas e Setores, Gestão e Carreiras, Comunicação

Institucional e Sinopse Geral. Nos serviços Empresas e Setores e Conjuntura e Finanças são disponibilizados sub serviços.

172

Figura 21: Tela de notícias em integração com o AE Sistema de Informação.

O setor de Análises e Cenários do AE Sistemas de Informação oferece análises gerais e detalhadas do setor de Agronegócios, Conjuntura e Finanças, Empresas e Setores.

Para o Agronegócios, oferece: Agrovip, Cenário, Climatempo e Análises Cepea, entregues semanalmente cobrindo cotações de café, açúcar, álcool, trigo, algodão, boi, suínos, aves, cítricos, soja e milho. Para Conjuntura e Finanças, oferecem-se cenário financeiro e mercados globais, para Empresas e Setores, Mercado Corporativo e Mercado de Capitais.

Figura 22: Tela de Análises e Cenários em integração com o AE Sistema de Informação.

O serviço de cotações e taxas no AE Sistema de Informação possui as mesmas informações que estão presentes no serviço homônimo do Broadcast. A diferença é a operação com tempos diferidos de 30 minutos para a cobertura das bolsas e 15 minutos para 173

os demais serviços. Oferece serviços de cotação de Agronegócios (Fretes, Ceagesp e Bolsas de Cereais e produtos agrícolas em geral), Conjuntura e Finanças (ações, bônus, commodities, fundos e indicadores) e Empresas e Setores (Indicadores e Ações relacionadas aos setores de:

Alimentos e Bebidas, Automotivo, Comércio e Serviços, Construção, Energia, Mineração e

Siderurgia, Química e Petroquímica, Telecom e TI e Transporte e Logística).

Figura 23: Tela de Cotações e Taxas em integração com o AE Sistema de Informação.

O serviço de áudio do AE Sistema de Informação consiste em uma seção que contém entrevistas e teleconferências, realizadas pela Agência Estado, ficando disponível em repositório.

O serviço de recados é a área de comunicação institucional e editorial dos clientes com a agência, onde se colocam observações, dicas, sugestões e críticas.

O serviço em inglês do AE Sistema de Informação consiste no resumo das informações de relevância no cenário internacional, relativas ao mercado brasileiro. É subdividido em News, Glossary (glossário em inglês das principais nomenclaturas utilizadas nas "news" e também no mercado brasileiro), Tutorials (guias de como funciona o mercado financeiro, o sistema político e como fazer negócios no Brasil), Maps (detalhamento demográfico e estatístico do Brasil e também de cada Estado, com as principais atividades 174

econômicas), Links (links para sites do governo; dos reguladores governamentais; das organizações industriais; dos bancos federais; das bolsas de valores; das agências econômicas e dos principais jornais do Brasil), Markets (índices das bolsas nacionais e internacionais, as ações que compõem o índice Bovespa, empresas brasileiras listadas na Bolsa de Nova Iorque, cotação do dólar x real, títulos da dívida do Brasil, etc.), Indicators (dados atuais e históricos dos principais índices do Brasil: inflação, PIB, balança comercial, índice de desemprego, etc.), e Articles (são matérias de aspecto mais abrangente, sobre temas do campo político, macroeconômico ou empresarial do Brasil).

Figura 24: Tela do serviço em inglês em integração com o AE Sistema de Informação.

Ferramenta de busca: permite a localização de informes dentro do horizonte de serviços contratados pelo cliente.

175

Figura 25: Tela da ferramenta de busca interna da Agência Estado.

Estudos: são serviços de estudos e relatórios setoriais, conjunturais e políticos, elaborados por institutos nacionais e internacionais associados à Agência Estado.

5.3.3 – AE Mídia Texto e Foto.

O AE Mídia Texto e Foto consiste no conjunto de serviços da Agência Estado, direcionado ao fornecimento de conteúdo para mercado de mídia, excetuando os veículos on- line, para os quais há um serviço próprio. O AE Conteúdo organiza-se em torno do fornecimento de cinco núcleos de informação: Noticiários, Fotografias, Colunas, e

Suplementos.

No noticiário, os serviços são: Nacional (atualização diária dos principais fatos do país, organizados por área de interesse: política, geral, economia, esportes e variedades. É a

íntegra do que a agência produz, direcionado ao jornalismo em cooperação com o jornal

Estado de São Paulo e Jornal da Tarde, mais as sucursais123), Internacional (cobertura dos fatos internacionais, em acordo com a agência Associated Press124), Noticiário Compacto125

123 Fornece em média, 250 notícias diariamente. 124 O material da Associated Press é traduzido e editado pela Agência Estado, gerando cerca de 100 notícias diariamente para o serviço internacional, fora o material enviado pelas sucursais da agência no exterior. 125 Fornece pacotes variáveis de 100 a 130 notícias diariamente. 176

(pacote resumido do noticiário completo, de custo mais acessível e dirigido a jornais de pequena circulação), Econômico (atualizado de segunda à sexta; concentra-se sobre economia, agronegócios, finanças e negócios, com análise dos acontecimentos econômicos; fornece ainda indicadores financeiros, cotações das bolsas de valores e o noticiário Empresas e Setores, que também é fornecido pelo sistema Broadcast; a média é em torno de 70 matérias por dia).

Relativo às fotografias126, a subdivisão se dá em seis serviços: Imagens do Dia

(oferece imagens em fotos produzidas pela Agência Estado, com visualização prévia pela rede, e direito de uso mediante pagamento), Fotos Internacionais (com convênio com as agências internacionais Associated Press, France Presse e EFE), Infográficos (tabelas, mapas e gráficos com base nos noticiários, elaborados na forma de artes para complementar material de texto e foto), Suplementos (direcionado ao uso da agência, contém fotos editadas especialmente para ilustrar os pacotes da Agência Estado: Reportagens Especiais, Pacote TV,

Banco de Matérias, entre outros), Pacotes Especiais (edições de temas que estejam em relevância na mídia, como copa do mundo, morte do Papa, Fórmula 1, etc) e destinados exclusivamente para impressos e Arquivo (disponibilização para a venda, de mais de 10 milhões de imagens feitas entre 1875-2006)127.

Nos serviços de colunas, a ênfase é direcionada para textos de jornalistas e ou especialistas voltados para assuntos específicos. As colunas versam sobre: Economia (diária e semanal), Política (diária e semanal), Educação, Cultura, Esporte, internet (semanais), Grade de Programação da TV e Variedades (diárias).

126 Este serviço disponibiliza diariamente cerca de 600 imagens do Brasil e do mundo. Além dos acordos com as agências internacionais, trabalha com jornais e correspondentes nacionais congregados por meio de parcerias (nesse sistema, no caso da foto ser comercializada, a Agência Estado fica com 50% do valor, e o órgão ou fotógrafo associado fica com os outros 50%). Recentemente, em 2005, se dá início ao experimento foto-repórter, (Cf. http://www.estadao.com.br/imagens/fotoreporter/index.htm ) que consiste na disponibilização de fotografias produzidas por leitores e/ ou usuários. Esse material pode ser usado em qualquer veículo do grupo e passa a ser agregado ao arquivo da Agência Estado, podendo ser comercializado. 127 O arquivo de fotografias da Agência Estado funciona com uma parte on-line e outra bem maior, por consulta. Para as fotos organizadas na base de dados, o acesso e compra é imediato, para as demais fotos, o cliente tem que consultar por e-mail ou telefone e solicitar a foto. 177

Nesses serviços, há embargos de tempo e de praça, onde jornais impressos numa mesma cidade não podem receber o conteúdo de um mesmo colunista. Quanto ao embargo de tempo, dependendo da coluna em questão, o material é distribuído com alguns dias de antecedência, com a exigência de ser publicado em datas específicas. Há colunas que têm permissão de publicação imediata.128

Isso se deve à sinergia do grupo estar bastante institucionalizada, hierarquizada, organizada e programada. Aí diz aqui: “Atenção, não editar em sites abertos”. O embargo é esse aqui. Só os pagos vão receber, esse é o nosso diferencial. A gente está acompanhando a evolução da informação e do próprio mercado, mas enquanto há pessoas interessadas em pagar por uma informação especializada, por que eu vou divulgar em grandes parâmetros? 129.

Os Suplementos são serviços para produção de cadernos inteiros, especializados em determinados assuntos, para a venda dos mesmos aos jornais afiliados e órgãos assinantes.

São: Reportagens Especiais (material para o fechamento das edições de final de semana; fornece cerca de 40 matérias por semana, sobre TV, cinema, música, livros, ciência, turismo, comportamento, educação, saúde e tecnologia.), Pacote TV (reportagens sobre televisão, resumo de novelas, filmes na TV e destaques da programação), Pacote Semanal (dirigido a semanários, contém seções fixas de vídeo, saúde, moda, estética, horóscopo, palavras cruzadas, semana na TV, resumo de novelas, sinopses de filmes na TV e turismo), Página

Agrícola (reportagens, artigos assinados, resultados de leilões, cotações dos produtos agrícolas e agenda de exposições e cursos), Informática (material dirigido ao usuário leigo),

Jornal do Carro (análises do mercado de carros novos e usados nacionais), Sua Vida (textos sobre qualidade de vida: saúde, alimentação, estética, comportamento; em média 10 matérias

128 Cf. http://www.ae.com.br/midia/produtos/colunas.htm . 129 Depoimento gravado de Renata Aguiar, gerente de produtos de mídia da Agência Estado, concedido para a pesquisa em 12 de maio de 2005.

178

semanais, incluindo colunas fixas), e Turismo (conteúdo prêt-à-porter para um caderno semanal de 12 páginas em formato tablóide).

Nos serviços de suplementos, também ocorrem embargos de intervalo de tempo e de praças, semelhante ao que ocorre nos serviços de colunas.

Figura 26: Telas da do AE Mídia Texto e Foto

Figura 27: Tela inicial do AE Mídia

5.3.4 – AE Conteúdo.

É o produto da Agência Estado dirigido para o fornecimento de conteúdo para o ambiente da internet. Destina-se a jornais na web, portais jornalísticos, portais corporativos, extranets e intranets. O conteúdo possui um embargo de tempo para publicação, dependendo 179

do serviço, em relação aos produtos AE Broadcast e AE Mídia. Os serviços disponíveis são:

Empresas e Setores; Agronegócios; Finanças, Economia e Política; Internacional; Notícias em inglês; Gráficos; Geral e Esportes. O produto oferece a escolha de serviços específicos pelo cliente, dentro do leque de oferta. Fornece ainda o serviço de mensagens curtas, envio para celulares e dispositivos móveis como PDAs.

Figura 28: Telas do AE Conteúdo

5.3.5 – AE Newspaper.

O AE Newspaper é um serviço gerado pela internet com possibilidade de ser impresso através da tecnologia PDF. É um noticiário de leitura rápida, com no máximo quatro páginas, direcionado a eventos corporativos, congressos e assinantes que o solicitem.

180

Figura 29: AE Newspaper em versão impressa.

5.3.6 – AE Data.

É o serviço de banco de dados da Agência Estado direcionado a informações financeiras e econômicas. É de acesso restrito a assinantes que contratam este serviço, permitindo que os dados possam ser conferidos por módulos, séries históricas ou isoladamente.

Figura 30: Tela do serviço AE Data 181

5.3.7 – Distribuição de Releases.

Serviço que disponibiliza um canal de distribuição para as assessorias de imprensa. Simultaneamente, a agência recebe e repassa o material. A atuação é intermediária, sem alterar a disposição e conteúdo dos releases, mantendo o nome e assinatura do jornalista e citação dos órgãos responsáveis. É um serviço onde as assessorias pagam para colocar material, sendo a distribuição agregada de modo gratuito para os clientes.

5.3.8 – Agência Estado on-line.

É o site da agência na internet, sendo atualizado em média, com cerca de 200 notícias por dia. A sua produção encontra-se integrada aos jornais e rádios do Grupo Estado de São Paulo e aos órgãos afiliados. A sua disseminação, em paralelo à atualização do site, também é direcionada a pagers, telefones celulares, satélites, ondas de rádio e fax. O acesso pela internet, para usuários domésticos, é gratuito, sendo cobrado de empresas e entidades que usem suas informações.

Figura 31: Página da Agência Estado na internet 182

6 Agência Reuters

“É preciso conhecer o passado, para poder construir o futuro”. - Federico Felinni.

No horizonte das agências de caráter transnacional atuantes no mundo, a Reuters

é, provavelmente, o caso mais prototípico. Isso se deve ao fator histórico, por ela existir há mais de 150 anos de modo contínuo, atuando de modo regular no provimento de notícias e serviços e, também, pela contribuição na criação do modelo de agência comercial como entendemos, tornando-se um padrão adotado também por outras agências de caráter comercial

(LIMA, 1999; ARRUDA, 2001; CARVALHO, 2001; NARDELLI, 2003).

Seria, portanto, redundante indicar, nesta parte de estudo de caso, dados da estruturação histórica da agência que, ou já estão presentes no corpo desta tese, ou podem ser consultados de modo mais específico em trabalhos anteriores e reconhecidos como bibliografia de referência130. Assim, a intenção aqui é delimitar aspectos de sua atividade em redes digitais, recuperando de modo mais efetivo a trajetória, a partir de fins dos anos 1970, quando a mesma passa a operar em função desta base tecnológica.

6.1 – Delimitação e estruturação.

130 O enfoque histórico pode ser verificado por exemplo, nos detalhados estudos de Donald Read (1992), Graham Storey (1951) e Mooney e Simpson (1993), além de fontes complementares, como os trabalhos de Oliver Boyd- Barrett (1980,1992,1998) e Jonathan Fenby (1986), sobre estruturação de agências internacionais. 183

O período de mudanças que situa a operação da Reuters em redes digitais é iniciado na primeira metade dos anos 1960. Mais precisamente em 1963, a Reuters se direciona para duas esferas principais: uma aproximação mais agressiva com o mercado financeiro e o investimento em dispositivos mais ágeis de transmissão e circulação de informação.

A motivação para essa reorientação estratégica deve-se ao fato da Reuters vir acumulando sucessivas perdas financeiras (READ, 1992, p. 285,286). Isso se deu pela concorrência de diversas agências regionais e nacionais surgidas após a Segunda Guerra

Mundial, que forneciam mais barato boa parte das notícias circunspetas a cenários locais, esvaziando parcialmente um nicho de mercado da Reuters. Em paralelo, a agência inglesa não conseguia captar investimento entre as organizações acionistas131 de modo a responder satisfatoriamente a essa pressão concorrencial (SAVOIE, 1995, p.274).

Nessa época, em 1962, os 19 contratos fixos de fornecimento garantiam a entrada constante de recursos em torno de 700 mil libras (SAVOIE, 1995, p.275), mas também limitava as pretensões em ocupar mais espaço no mercado. Com a posse de Gerald Long (que assumiu a presidência da Reuters de 1963 até 1981), foi elaborado um relatório que detectava a necessidade de investimentos da ordem de 250 mil libras. A solução foi captar recursos junto aos bancos132. Segundo aponta Donald Read (1992, p.287), a argumentação para captar o investimento se apoiava principalmente na justificativa de entrada da Reuters no mercado de notícias financeiras.

131 Depois da Segunda Grande Guerra, em 1947, a Reuters passa a ter sua propriedade repartida entre quatro associações: a Newspaper Publish Association, que representava os jornais londrinos e os de circulação nacional; a Press Association, representando os jornais regionais; a Australian Associated Press e a New Zealand Press Association (READ, 1992, p.286). 132 O empréstimo foi contraído junto aos bancos Morgan Guaranty Trust e Credit Suisse de Zurich, entre 1965 e 1967. 184

Há divergências entre autores sobre esse momento. Segundo Read, a opção de comprar agências menores, bem como companhias de tecnologia, deu-se pela exigência de melhorias tecnológicas na operação (1992, p.287). Já em Fenby (1996, p.76), a entrada nesse mercado ocorreu por pressão dos bancos que, ao fornecerem os empréstimos, exigiram que a agência atuasse no provimento de informações de mercado através de um conjunto de recursos que possibilitasse a recuperação mais rápida do capital investido, como também permitir ganhos diretos aos financiadores.

Todavia, independentemente da real motivação que determinou o novo horizonte de atuação da agência, a Reuters passa a intercambiar informações entre agentes do mercado financeiro, através de uma rede privada, algo inédito até então. As primeiras ações práticas foram o aluguel e depois compra de circuitos proprietários e exclusivos, para, progressivamente, ir substituindo as transmissões por rádio, que eram mais instáveis, sujeitas a interferências e também à pirataria do conteúdo por outros órgãos e, por vezes, por países inteiros, como no caso de Cuba (READ, 1992, p.313).

Esse quadro vincula a Reuters aos movimentos de capitais do mundo ocidentalizado. Em outras palavras, os seus serviços passam a ser projetados para servir à realidade do capital interligado em redes de informação. Esse cenário termina por desdobrar- se no quadro atual, onde a venda de informações para esse setor responde por mais de 95% de seu faturamento. Os 5% restantes correspondem, majoritariamente, a parcela de serviços vendidos para órgãos de mídia.

185

6.1.1 – Jornalismo ou serviços de informação financeira?

O condicionamento da Reuters em potencializar seus serviços para o setor não- mídia teve três etapas tecnológicas claras, que foram o Stockmaster, o Videomaster e o

Monitor.

Na primeira etapa, houve a associação da Reuters com a Ultronic Sistems, uma empresa de Nova Jersey que fabricava o Stockmaster, um pequeno aparelho, semelhante a uma calculadora mecânica com três janelas onde o usuário poderia recuperar os preços de ações, pressionando uma seqüência de botões referente aos códigos do que queria obter

(MOONEY e SIMPSON, 2003, p.9; READ, 1992, p.297)133. Com isso, formou-se uma cooperação entre a Ultronic e Reuters, onde a agência entrava com os circuitos da sua rede e a malha de distribuição já estabelecida. Em paralelo, a Reuters desenvolveu o ADX (Automatic

Data Exchange – troca de dados automática), um sistema criado para automatizar o endereçamento das notícias aos serviços e clientes. Esse sistema funcionava a partir de uma chancela dada por um controlador, que permitia que uma informação fosse multi-endereçada, eliminando o trabalho de reprogramar cada notícia em função de cada serviço. Cada cliente tinha um código de entrada da informação. Se o código da notícia conferisse com tal entrada, essa era repassada diretamente (BOYD-BARRETT, 1980, p.81; READ, 1992, p.291).

O Stockmaster foi adotado largamente como solução padrão de informação para transações do mercado financeiro. Em 1968, o sistema oferecia mais de 10 mil cotações que podiam ser obtidas com um tempo de resposta de dois segundos, ao invés dos 15 segundos necessários na implementação em 1964 (SAVOIE, 1995, p.279-280). Isso permitiu à Reuters duas atitudes: a primeira, terminar o acordo de 30 anos134 com a Dow Jones para o

133 Cf. Apêndice D. 134 Nesse momento de ruptura, a Dow Jones se associa à concorrente da Reuters, Associated Press, que passa a fornecer serviços de informação financeira. 186

fornecimento de dados financeiros; a segunda, a própria absorção da Ultronic, que passou, em

1972, a se chamar Reuters Financial Report.

Um pouco antes, em 1970, já se tinha desenvolvido a plataforma do Videomaster, também da Ultronic, que substituiria o Stockmaster por terminais de vídeo. O sistema atuava como terminal remoto, e permitia o acesso de 9 500 dados de cotações, através de algo inédito até então: a entrega de notícias através de terminais eletrônicos.

O passo seguinte foi a adoção do Reuters Monitor135. Lançado em 3 de agosto de

1973, o sistema oferecia, ao mesmo tempo, acompanhamento dos boletins econômicos, ações de corretagem de valores, editor de texto e recuperação de informações disponíveis na base de dados. Comparado aos sistemas existentes antes, em bases puramente analógicas, o Monitor oferecia a possibilidade de acompanhamento de cerca de 10 mil cotações em tempo real, ao invés das 15 que eram possíveis no final dos anos 50 (SAVOIE, 1995, p.280).

O êxito do sistema foi balizado na sua origem por dois acontecimentos: o fim do sistema de câmbios fixos para as taxas monetárias, determinado pelo acordo de Bretton

Woods, e a crise do petróleo de 1973. Ambos colocaram a paridade das moedas e preços de petróleo e derivados em variações que se davam ao ritmo de minutos, ou mesmo de segundos.

Isso demonstrou que os sistemas de acompanhamento através de telefone ou teletipos eram insuficientes. Dessa maneira, a necessidade dos agentes e instituições financeiras desenvolverem com eficiência o seu trabalho encontrava, na oferta de dados em tempo real do

Monitor, a resposta mais efetiva.

A Reuters tomou ainda uma atitude para agilizar o sistema: os próprios clientes poderiam introduzir seus dados em serviços específicos, o que, no início da operação, provocou reação de estranheza de alguns assinantes (SAVOIE, 1992, p.282). Com isso, a agência passava a oferecer ferramentas que permitiam a negociação entre agentes do mercado.

135 O nome do dispositivo é tomado do deus romano Juno, em cujo templo, segundo a mitologia romana, eram cunhadas as moedas – Moneta. Assim, etimologicamente, está na raiz das palavras moeda, monetário, dinheiro. 187

O que, a princípio, não estava dentro do seu horizonte de proposições, terminou sendo uma vantagem para os agentes financeiros que puderam obter com mais velocidade os dados em tempo real.

No final dos anos 1970, o sistema já estava consolidado, gerando cerca de 137 mil páginas diárias de informação. O impacto causado por essa mudança suscita alguns questionamentos. A agência, a partir do momento em que tem posse desses dados, geraria notícias a partir deles, evidenciando ou neutralizando determinado cenário da realidade financeira ou comercial? Ao disponibilizar para os agentes financeiros a possibilidade de introduzirem dados no sistema, estaria ou não criando um mecanismo especulativo on-line de caráter internacional?

A resposta da primeira pergunta é sim. Na própria organização da Reuters, há uma série de serviços destinados a oferecer relatórios (reports) sobre a movimentação do mercado136. Isso leva em conta tanto a movimentação em órgãos financeiros, como também a sistematização do que ocorre na própria rede da agência.

Para a segunda questão, na visão da agência, o Monitor e sistemas posteriores não estimulam a especulação ao aportar tantos dados. O sistema simplesmente criaria um mercado puro e mais ágil, onde o comportamento dos agentes permaneceria sendo da responsabilidade de cada um deles (SAVOIE, 1995, p.283). Ora, seria ingênuo aceitar que a penetração do

Monitor se prestou apenas para o acompanhamento da movimentação dos mercados. Ao passo que emprestava muito mais agilidade, tornava-se um diferencial qualitativo na operação dos agentes.

O sistema permitia flexibilização sob o ponto de vista tanto de hardware como de aplicativos. A partir de 1975, a Reuters já estudava criar um serviço que permitisse a

136 Cf. http://about.reuters.com/productinfo/financial/?user=1 . 188

negociação direta entre agentes envolvidos. Assim, entre 1979 e 1980, acelerou-se o desenvolvimento de uma solução que possibilitasse essa atividade.

Em fevereiro de 1981, o sistema Reuters Monitor Dealing Service entra em operação, com 145 clientes. A princípio, houve resistências devido ao custo alto do contrato e pelo temor de que o sistema deixaria exposto e vulnerável quem transacionasse através dele.

No entanto, os ganhos na velocidade de negociação foram sensíveis. Com o Dealing em ação, uma transação poderia ser fixada, entre a observação e negociação, em apenas quatro segundos contra os 50 segundos necessários, no mínimo, em sistemas anteriores. Dois anos após seu lançamento, o Dealing possuía 400 clientes em 24 países, totalizando 40 mil transações/dia (SAVOIE, 1995, p.284).

Para a Reuters, fica claro que o caminho estratégico para ocupar mais espaço no negócio da informação financeira era investir em soluções de TI. Por vezes, isso se deu no desenvolvimento de sistemas através dos seus próprios departamentos tecnológicos, ou pela compra de empresas possuidoras de determinado expertise137.

No entanto, a agência tinha o crescimento ainda limitado pela capacidade de investimento. A solução encontrada por Glen Renfrew, sucessor de Long em 1981, foi fazer algo sem precedentes: abrir o capital acionário da agência numa bolsa de valores, o que se deu em junho de 1984138.

137 Nos anos 1980, a Reuters comprou, por US$ 60 milhões, a Rich inc, um fabricante de sistemas de encaminhamento de dados. Essa aquisição gerou o desenvolvimento do Triarch, um sistema de personalização de dados, configurável pelos usuários do Monitor. Com a compra do Instinet, em 1989, a agência gera um sistema que permite aos clientes transacionarem através do Monitor de modo anônimo, comprando e vendendo ações. Outras aquisições significativas foram a Scwartzaton, um sistema de integração de bases de dados, seguida da compra de várias bases de dados para o mercado financeiro, como a IP Sharp e a Finsbury Data, bem como da London News Database, dedicada a recuperação de históricos de notícias. Até 1994, a Reuters ainda adquiriu mais vinte e cinco companhias, algumas por demanda interna da companhia, outras para impedir que concorrentes o fizessem, como a Bloomberg (MOONEY e SIMPSON, 2003, p.9,21-22; READ, 1992, p.296,400-401). Cf. também: lista das empresas que a Reuters possui participação acionária, disponível em: http://about.reuters.com/aboutus/overview/1_Feb_2006.xls 138 O valor do capital aberto, através de ações em 1984, foi de um bilhão de libras. Porém, com as restrições impostas pelo Board Trustee, (espécie de controladoria interna) as ações não tiveram uma venda dentro do que se esperava. De qualquer maneira, a agência conseguiu captar um volume de recursos (242 milhões de libras) 189

Os receios existentes em torno dessa operação eram que algum grupo midiático ou os concorrentes pudessem comprar ações a ponto de se tornarem controladores acionários. A solução foi a formação de um Board Trustee, cuja atividade é garantir que nenhum grupo possua mais de 8% das ações totais. Outra preocupação era que o processo de abertura do capital fosse conduzido como um assunto de interesse público. A pressão era do governo britânico, através da então primeira ministra, Margareth Tatcher, e também do parlamento:

La recomendación es que el gobierno reconozca su responsabilidad e intervenga para assegurar que Reuters permanecerá siempre bajo control britanico, que el interés público se respetará completa y permanentemente y que la integralidad e independencia de su servicio de noticias no podrá ser afectado por los intentos de algunos proprietários de periódicos de hacer un dinero rápido (EL PAÍS, 2 de julho de 1984 apud SAVOIE, 1995, p.354) 139.

As preocupações também atingiam os princípios editoriais, aos quais o Board

Trustee teve que ficar atento. As resoluções nesse sentido foram: garantir o padrão editorial, a uniformidade dos serviços de informação financeira, e a independência editorial através de restrições de compra.

O que se observa é a progressiva diminuição do papel dos jornalistas envolvidos na operação da empresa (ver quadro 07), pois fica claro, nessas diretrizes, o direcionamento da agência para serviços de mercado. Reforçam esse aspecto os investimentos destinados a cada setor, onde, desde o ano 2000, os núcleos encarregados da produção jornalística recebem cerca de 25% do investimento, enquanto os de informação financeira recebem 75%140.

que permitiu a expansão tecnológica. Apenas em 1990 a meta de um bilhão de libras de capital acionário foi obtida (BOYD-BARRETT, 2002, SAVOIE, 1995). 139 A recomendação é que o governo reconheça sua responsabilidade e intervenha para assegurar que a Reuters permanecerá sempre sob o controle do governo britânico, que o interesse público se respeitará completa e permanentemente e que a integridade e independência do seu serviço de notícias não poderá ser afetada pelas intenções de alguns proprietários de jornais em fazer dinheiro rápido (Tradução do autor). 140 Fonte: Depoimento gravado com Mário Andrada, Editor-chefe da Reuters América Latina, concedido para pesquisa em 16 de maio de 2005. 190

Ano Total de empregados jornalistas Número de países em atuação Percentual de jornalistas 1980141 3 600 600 73 16,66% 1986142 6 850 1 040 80 15,18% 1990143 10 810 1 177 74 10,88% 2004144 18 082 1 730 91 9,56%

Quadro 07 - Percentual de jornalistas trabalhando na Reuters em comparação ao número total de empregados.

Observe-se ainda o fato de que entre os executivos-chefes das principais divisões

da agência, nenhum tem formação jornalística, sendo todos vindos da área de negócios. No

segundo escalão, o panorama é semelhante: entre os oito executivos, apenas um vem do setor

de mídia145.

Se for observado, ao isolar o volume de faturamento em função do setor de mídia,

a agência ocupa o segundo lugar, atrás da Associated Press. Em 2004, por exemplo, o

faturamento da Reuters na venda de material para o setor de mídia, foi o equivalente a

aproximadamente 235 milhões de dólares146, menos da metade do que a Associated Press

obteve (514 milhões de dólares)147.

A divisão entre as duas naturezas de serviços, no entanto, não cria inquietações na

agência, sobre a pertinência de cobertura de cada área, conforme pode ser percebido em uma

declaração de Gerald Long:

If someone assassinates the American President is that general or market news? The increasing importance of financial markets had created an insatiable (and profitable) appetite for news likely to affect those markets; this ranged from assassinations to politics, to economic industrial news and the weather. These styles initially remained distinct for the two markets but they gradually became blurred, only the driest market reports were sent just to the economic services and most political and general interest stories were

141 Fonte: International organization of journalists, 1986. 142 Fonte: Unesco. Cf. World Comunication Report 1988. 143 Fonte: Savoie, 1992. 144 Fonte: Reuters. Cf. http://about.reuters.com/aboutus/overview/facts/index.asp . Obs. Os números incluem também cinegrafistas, editores de imagem, e fotógrafos. 145 Cf. http://about.reuters.com/aboutus/overview/board.asp . 146 Fonte: Reuters. Cf. http://about.reuters.com/aboutus/overview/facts/index.asp . Em 08 fevereiro de 2006. 147 Fonte: Associated Press. Cf. http://www.ap.org/pages/about/about.html . Em 08 fevereiro de 2006. 191

filed simultaneously for both. These editorial issues were important, as the style and quality of the news files were a factor in sales of the company’s products against increasingly stiff competition (BARTRAM, 2003, p.389)148.

O que acontece é a criação de um modelo de negócios hibridizado entre o jornalismo e serviços de informação que, aliado ao desenvolvimento tecnológico, coloca de modo tênue o limite entre ser uma agência de notícias ou uma agência de informação ou empresa de TI, mais que isso, indica que essas esferas da sua operação situam-se de modo interpenetrado e interdependente.

6.2 – O estágio atual.

A partir dos anos 1990, a Reuters se viu envolvida no ambiente onde as tecnologias de comunicação são apontadas como um pré-requisito vital e facilitador dos movimentos globais de capital (CASTELLS, 1999). Era um cenário de aparente tranqüilidade, pois a agência era atuante nesse âmbito desde os anos 1970 e 1980 e, mesmo com a concorrência, como a Dow Jones, o patamar da Reuters, no início dos anos 1990, parecia inabalável, como indica um ex-editor de finanças da Reuters:

Competitors emerged but never broke Reuters stranglehold and by the mid- 1990s an estimated one-half of the world’s daily foreign exchange trades worth $1.2 trillion took place on and through Reuters screens (BARTRAM, 2003, p.388)149.

148 Se alguém assassinar o presidente americano, essa notícia é geral ou financeira? A importância cada vez maior dos mercados financeiros tem criado um apetite insaciável (e lucrativo) pelos fatos que podem, mais provavelmente, afetar esses mercados; eles variam de assassinatos à política, das notícias industriais e econômicas ao clima. Esses estilos, inicialmente, permaneceram distintos para as duas editorias, mas eles gradualmente se misturaram; apenas as reportagens financeiras mais específicas eram enviadas apenas para os serviços econômicos, e a maioria das estórias políticas e de interesse geral eram preenchidas simultaneamente por ambos. Essas questões editoriais eram importantes, já que o estilo e a qualidade das noticias eram um fator importante nas vendas dos produtos da companhia, lutando contra uma competição cada vez mais acirrada (Tradução do autor).

149 Competidores apareceram, mas jamais quebraram o controle da Reuters, e em meados dos anos 1990, cerca de metade das transações estrangeiras diárias no mundo, no valor de 1.2 trilhão de dólares, aconteciam em ou através de telas da Reuters (Tradução do autor). 192

Esse aspecto comercial se espelhava na expansão dos serviços da agência. No auge da sua diversidade, a Reuters contava com 350 serviços financeiros, alguns extremamente específicos150.

Reuters Monitor provides, in real-time on-line communication, the most comprehensive batteries of data. Marshall McLuhan’s global village has arrived, but the village houses are financial houses and the villagers are dealers (TUNSTALL e PALMER, 1991, p.60)151.

Nesse momento, a Reuters tinha a definição clara dos seus principais concorrentes. Nos serviços de informação financeira, tratava-se da Dow Jones; para notícias, era a Associated Press. Era um quadro competitivo, mas até certo ponto estável. No entanto, como alguns autores citam (BARTRAM, 2003; MOONEY e SIMPSON, 2003), a Reuters parece não ter percebido de modo preciso as mudanças que estavam prestes a ocorrer nos cenários financeiro e tecnológico. Desse modo, permitiu o aparecimento de modelos de negócios mais eficazes. O principal novo oponente da Reuters se materializou na forma da

Bloomberg. Criada em 1981, por Michael Bloomberg, um operador de seguros da bolsa de

Nova Iorque, essa empresa não pode ser caracterizada como uma agência de notícias, mas sim, como um fornecedor que reunia informações existentes em bases de dados e as apresentava em sistemas mais fáceis de usar do que, por exemplo, os da Reuters.

Isso implicava em interfaces que permitiam a manipulação de dados complexos, porém de modo simples. Sem entrar em detalhamentos técnicos, o sistema da Bloomberg

150 Vale conferir, por exemplo, o catálogo de serviços financeiros da Reuters na época. Há por exemplo, somente na cobertura a respeito do comércio da erva do chá, uma totalidade de 16 sub-serviços; café 28, sub-serviços; cacau, 18; e açúcar, 29. Fonte: Reuters International Commodities News Directory, 1991. Reuters, Londres: 1991. 151 O Reuters Monitor fornece, via comunicação on-line em tempo real, os boletins de informações mais abrangentes. A aldeia global de Marshall McLuhan chegou, mas as casas da aldeia são empresas financeiras, e os aldeões são negociadores (Tradução do autor).

193

permitia eliminar cálculos complexos, deixando os operadores mais livres e concentrados na ação de negociar. Nas palavras do próprio Michael Bloomberg:

All I had to do was find a value added service not currently available. I conceived a business built around a collection of securities data, giving people the ability to select what each individually thought the most useful parts and then providing computer software that would let non- mathematicians do analysis on that information (BLOOMBERG, 2001, p.41)152.

Segundo Brian Mooney e Barry Simpson, dois ex-jornalistas da Reuters, não foi por falta de aviso que a agência não reagiu de modo ágil à Bloomberg. Em um relato aos dois jornalistas, David Muhall, um executivo de marketing aposentado da Reuters, afirma que houve doses de arrogância diante do crescimento do concorrente:

Reuters saw him as anything more than a brash, self-praising niche-player, a minor irritant about whom the company’s most senior British managers would often crack jokes. “I told them over and over again that you´ve to watch this guy Bloomberg and they would do everything they could to throw orange peel at me […] they respond by saying it was an amateur system, and he was just an arrogant trader” (MOONEY e SIMPSON, 2003, p.44)153.

A Reuters tinha ainda uma grande vantagem sobre a Bloomberg nesse momento: as notícias. O mercado de serviços para a mídia, mesmo sendo de retorno minoritário para o faturamento, servia como visibilidade e penetração dos conteúdos gerados pela agência. O contra-golpe de Bloomberg veio em duas ações: a primeira, desenvolver um sistema que gerava notícias textuais a partir de dados do mercado de modo automático, envolvendo

152 Tudo o que eu precisei fazer foi encontrar um serviço que agregasse valor e que não estivesse presentemente disponível. Eu imaginei um negócio construído em torno de uma coleção de dados de segurança, dando às pessoas a capacidade de selecionar individualmente as partes mais úteis, e então, fornecendo programas de computador que levassem os não-matemáticos a fazer análises daqueles dados (Tradução do autor). 153 A Reuters o via como nada mais do que um ousado e arrogante agente de nichos de mercado, uma causa sem- importância de irritação, sobre quem a maioria dos gerentes-sênior britânicos freqüentemente faziam brincadeiras. "Eu dizia a eles, várias e várias vezes, vocês precisam observar esse Bloomberg, e eles faziam todo o possível para fazer pouco de mim […] eles respondiam dizendo que era um sistema amador e ele era apenas um negociador arrogante" (Tradução do autor). 194

softwares154; e a segunda, numa estratégia dupla: ele forneceria os terminais gratuitamente, com um número limitado de serviços, para os jornais que tivessem interesse. Na troca, os jornais cederiam algumas notícias para distribuição exclusiva através do terminal, abrindo mão de assinar a autoria desse conteúdo, que ficaria como sendo gerado pela Bloomberg.

É sem dúvida uma estratégia polêmica e agressiva, que, no seu lançamento, foi rechaçada pelos grandes jornais americanos, como o The New York Times e o Washington

Post. No entanto, as notícias eram agregadas aos serviços financeiros, combinando dados com análises e textos pertinentes aos assuntos associados. Além disso, o terminal permitia que usuários conectados “conversassem” através de um programa que pode ser considerado o avô do ICQ e do Messenger, o que possibilitava uma interação maior entre os agentes envolvidos155.

A Reuters não tinha nada parecido, pois separava, desde 1972, as coberturas em general news e market news. Um mesmo evento poderia até estar presente em diferentes serviços, mas tinham de ser acessados em telas diferentes:

There’s never been anything like the Bloomberg. For depth and breadth of information and ease of use it blows away the old Quotron and Telerate156 services. The Reuters business terminals in some newsrooms now collect dust if they’re even there (BARTRAM, 2003, p.391)157.

Outro aspecto decisivo diz respeito à opção de hardware que cada uma dessas organizações utilizava. Na Reuters, a tradição pesava, e a opção era insistir em sistemas de hardware proprietários e fechados. Para um cliente acessar um serviço, tinha que comprar ou

154 Essa tecnologia, razoavelmente comum atualmente, é baseada em agentes inteligentes, que são programas específicos, de elaboração de conteúdo a partir de dados, gerando sumários e sínteses de texto. Como exemplo, o Newsblaster (http://www.newsblaster.com/) e o News in Essence (http://www.newsinessence.com/). 155 Somente em 2002, com mais de 10 anos de retardo, a Reuters lança o seu messenger, numa adaptação do messenger da Microsoft, para uso em rede privada da agência. 156 Duas das tecnologias proprietárias da Reuters. 157 Nunca houve nada parecido com o Bloomberg. Para profundidade e amplitude de informações e facilidade de uso, ele supera de longe os velhos serviços Quotron e Telerate. Os terminais de negócios da Reuters, em algumas salas de notícias, agora acumulam poeira, se é que eles ainda estão lá (Tradução do autor). 195

alugar o terminal que receberia e processaria exclusivamente material da Reuters. No início dos anos 1990, já haviam se popularizado os PCs, tecnologia mais adaptável e flexível. Foi essa vertente que a Bloomberg adotou. Com isso, seus serviços tornaram-se mais baratos e maleáveis à realidade dos clientes.

Numa sondagem interna realizada em julho de 2000, indicou-se que mais da metade dos funcionários apontava que a cultura profissional da Reuters era conservadora e pouco encorajadora a inovações e alterações na maneira de condução das atividades

(BARTRAM, 2003, p.392,398).

Outros equívocos foram cometidos, como o Decision 2000, lançado em 1992. Em breves termos, foi um projeto para fazer frente à Bloomberg, copiando características operacionais da concorrente. A Reuters depositou muito esforço e dinheiro nesse projeto que se mostrou deficiente e inoperante158. Porém, o maior equívoco tecnológico da Reuters talvez tenha sido o lançamento da RFTV (Reuters Financial Television), em 1994. Consistia em uma rede de TV com estúdios nos principais epicentros econômicos do mundo, fornecendo transmissões ao vivo para os terminais da Reuters. Era, portanto, uma iniciativa pioneira de colocar sinal de vídeo, com abordagem jornalística, numa rede de dados. Na época, em 1994, a tecnologia de dados para efetuar tal façanha era primária e necessitava de grossos aportes de investimentos em hardware, capazes de processar as imagens em tempo real, além de um esforço hercúleo para capacitar a infra-estrutura de redes a suportar tamanho volume de fluxo.

Com a equação: alto custo de instalação e distribuição + limitações tecnológicas + baixo número de assinantes + concorrência de canais dedicados ao jornalismo (como a CNN), a conta nunca fechou. Com o slogan “you can´t get faster than live”159, o projeto era caríssimo e, na verdade, nunca decolou, sendo abandonado em 2002.

158 Mooney e Simpson (2003, p.55) relatam uma piada feita no período, que, quando o Decision 2000 era levado para demonstração a um cliente, eram necessários dois profissionais: um para explicar como ele funcionava e outro pra distrair o cliente, evitando que ele percebesse os problemas. 159 Você não pode ir mais rápido do que ao vivo (Tradução do autor). 196

A partir de 1996, a agência desenhou uma série de estratégias para se reestruturar diante da perspectiva da internet. Foram elaborados dois sistemas: o IDS (internet Delivery

System), que ficaria com os serviços de mercado, e o Reuterspace, elaborado como um mega- portal, para onde convergiriam tudo o que não fosse informação de mercado, incluindo mídia tradicional, material para new-media, televisão e finanças de varejo.

No entanto, o desenvolvimento do IDS levou mais tempo que o previsto e quando isto aconteceu, a crítica, inclusive interna, era que se tratava de um sistema que pecava pelo gigantismo, ser superdimensionado, o que tornava os produtos do IDS difíceis de serem comercializados.

Relativo ao Reuterspace, o problema foi, sobretudo, o momento infeliz do lançamento do sistema, em 8 de fevereiro de 2000. Em menos de dois meses, em abril de

2000, o fenômeno da queda abrupta dos preços das ações das empresas de tecnologia começava a se apresentar. O efeito da explosão da bolha pode ser compreendido, no caso da

Reuters, pelo fato de se oferecer serviços redundantes aos de outros fornecedores. O inchaço da bolha foi dado, sobretudo, por uma alta especulativa sobre as ações das empresas de tecnologia e internet, em que o excesso de valorização acionária não correspondia à assimilação proporcional dos serviços das companhias de TI. Com isso, o Reuterspace não se viabilizou como se esperava, foi atingido mais pelo próprio superdimensionamento do que pelo conjunto de recursos que oferecia.

Pelo fato de também ser uma empresa de TI, seus negócios foram afetados centralmente. Em 2002, pela primeira vez em mais de 30 anos, a Reuters anunciou um prejuízo da ordem de 344 milhões de libras no grupo como um todo. Este resultado começou a ser revertido em 2003 (lucro de 56 milhões de libras), e em 2004 (lucro de 434 milhões)160.

As ações públicas da companhia, que, no auge da bolha, chegaram a ter um valor unitário de

160 Cf. Reuters Annual Report 2004. Os números disponíveis em 10 de fevereiro de 2006, data da consulta, cobrem até os resultados de 2004, por sua vez, disponibilizados em 2005. Cf. http://about.reuters.com/investors/data/companyreports/Reuters_2004_annual_report_form20f.pdf 197

17 libras, em janeiro de 2000, chegaram a 95,5 pence, em março de 2003 (MOONEY e

SIMPSON, 2003, p.211). O valor mais baixo, desde que a empresa colocou suas ações na bolsa, em 1984161.

Os anos 1990 representaram a quebra, para a agência, de uma continuidade.

Dentro do horizonte de equívocos de políticas tecnológicas mais evidentes, podem-se enumerar cinco aspectos;

a) a opção por tecnologias fechadas de hardware e software. Provavelmente, ao

fazer esta opção, a Reuters preocupava-se, sobretudo, pelo controle sobre a

produção e circulação da sua informação. Porém, com o avanço da

microinformática, computadores pessoais mais flexíveis e baratos, tal padrão

de tecnologia proprietária engessou a inovação e criação de produtos que

pudessem ter um maior alcance no mercado;

b) como se tratava de plataformas próprias, normalmente o desenvolvimento e

lançamento dos sistemas ocorria, presumindo-se o que a clientela desejaria.

Ao optar, provavelmente por razões de segredo profissional, em manter os

sistemas fechados até o lançamento, geralmente ocorriam desníveis entre o

produto e a real capacidade de assimilação deste pelo mercado, como, por

exemplo, nos casos da RFTV, do Decision 2000 e do Reuters IDS;

c) concentrou-se por tempo mais que necessário no uso hardware próprio, sem

dedicar na mesma escala e proporção o desenvolvimento de sistemas de

informação, já que gerar e dar fluxo é o core-business da empresa:

161 Com essa queda brutal no valor acionário da agência, atualmente a organização de distribuição de informação e serviços que tem maior valor em ações é a Bloomberg, permanecendo a Reuters com o maior número de clientes, maior rede privada e maior presença em diferentes países. Para ter um panorama instantâneo do valor das ações da Reuters cf.: http://investing.reuters.co.uk/stocks/quote.aspx?symbol=RTR . 198

Reuters role in introducing the Monitor service was “the IBM of financial and economic information”. IBM, of course, provided a textbook case of a company that wrongly thought that it was producing hardware, not information, and whose market was subsequently swallowed up by Bill Gates rampant Microsoft (TUNSTALL e PALMER, 1991, p.61)162.

Esta comparação parece demonstrar o erro da escolha de associar o fluxo da

informação à própria infra-estrutura como modelo de controle, por dar ênfase

ao binômio entre hardware e informação;

d) desenvolvimento de negócios sem o devido know-how, como no caso da

RFTV. Até o início dos anos 1990, o envolvimento da Reuters com televisão

envolvia a venda de informações e imagens em vídeo para cadeias de

televisão. Sair desse patamar para o de geração de programação própria e

veiculação em redes de dados foi, além de um erro de avaliação das

possibilidades tecnológicas existentes, uma entrada em um universo estranho

ao da agência;

e) mega dimensionamento de sistemas que não souberam equilibrar a

potencialidade de volumes de informações com a demanda dos clientes. O

resultado foi, por vezes, sistemas extremamente complexos, difíceis de usar e

de pouca aceitação no mercado.

De qualquer forma, mesmo com os solavancos sofridos no fim do século XX, a

Reuters permanece como a agência de maior presença mundial. Segundo os dados da agência, seus serviços alcançam cerca de 330 mil usuários profissionais, através de seus terminais de acesso por assinatura. Possui 191 escritórios em 130 países, alcançando, direta

162 O papel da Reuters na introdução do serviço Monitor era "a IBM da informação financeira e econômica". A IBM, naturalmente, forneceu um caso de estudo, de uma companhia que pensava erroneamente que estava produzindo hardware, não informações, e cujo Mercado foi subseqüentemente engolido pela exuberante Microsoft de Bill Gates (Tradução do autor).

199

(através de reprodução dos seus clientes) e indiretamente (através de citações de seus materiais por terceiros) 209 países.

O total de notícias gerados mundialmente para o mercado de mídia gira em torno de 30 mil páginas por dia, sendo produzido em 19 diferentes línguas. Em 2004, foram cerca de 440 mil alertas, ou flashes/dia.

Relativo ao mercado financeiro, a Reuters fornece acesso em tempo real a cerca de 5 milhões de registros de finanças e comércio, incluindo aí cotações de bolsas, bônus, participações, commodities e informes sobre cerca de 35 mil empresas e organizações ao redor do mundo. Dentro desse cenário, em torno de 4 mil clientes colaboram informando e alimentando o sistema.

O seu site aberto na internet163 é visitado por cerca de 80 milhões de usuários/mês, gerando em torno de 200 milhões de page-views/mês e é o 241º site mais visitado na internet e possui 6 721 sites vinculados a ele164. Nesse universo, a maioria dos usuários alcança a página da Reuters a partir do portal Yahoo! (65%).

6.3 – Serviços da Reuters.

A organização dos serviços da Reuters pode ser classificada através de variáveis, múltiplas como núcleos de produção, áreas de atuação, produtos tecnológicos, serviços e plataformas de distribuição. Cabe aqui, portanto, a delimitação dessas variáveis.

Como núcleos de produção, entende-se o conjunto delimitado de pessoas, recursos tecnológicos e sistemas especializados na geração de um determinado tipo de informação, ou conteúdo, de acordo com a natureza da informação coletada e clientes interessados. Na

Reuters, existem dois núcleos principais: Mídia e Mercado.

163 Cf. http://www.reuters.com . 164 Cf. http://www.alexa.com/data/details/main?q=&url=www.reuters.com acesso em 13 de fevereiro de 2006. 200

Como área de atuação definem-se os setores de direcionamento da informação da agência. Na Reuters, são duas: a área de mídia (fornecimento de informação para jornais, revistas, TVs, rádios, portais e sites da internet) e de não-mídia, (direcionada ao fornecimento de informações para corretoras, agentes da bolsa de valores, bancos, empresas, órgãos governamentais, etc).

Como produtos tecnológicos, definem-se os sistemas de ordem técnica, que envolvem tanto recursos de hardware como softwares dedicados a suportar determinado horizonte de serviços.

Como plataforma de distribuição, entendem-se as diferentes alternativas infra- estruturais utilizadas para distribuição dos serviços específicos.

Essa compreensão da organização interna da Reuters amplia a caracterização simplesmente através dos serviços. Um serviço está atrelado à disponibilidade do produto tecnológico, de pessoal e das condições de circulação que o viabilizam. Desse modo, serão detalhados os modos de organização, conforme mencionados acima, e sua inter-relação com os serviços.

6.3.1 – Organização por área de atuação.

Na Reuters permanece a organização definida em 1972, quando do lançamento do sistema Monitor. São dois núcleos principais de atuação: Mídia e Mercado financeiro165, este

último subdividido em três áreas de atuação;

a) Vendas e Comércio (Sales & Trading). Corresponde ao maior mercado da

Reuters. Os serviços são dirigidos para a comunidade do comércio

165 Cf. http://about.reuters.com/aboutus/overview/organisation/index.asp . 201

internacional. Envolvem dados em tempo real sobre a movimentação e

cotação de mercadorias, participações acionárias, energia e mercados

relacionados166;

b) Pesquisa e Gerência de Recursos (Research & Asset Management). É

concentrado no gerenciamento de portfólios de corretores, banqueiros,

investidores, analistas e executivos. São serviços para subsidiar decisões

financeiras que estão fora do ambiente de negociação das bolsas;

c) Empresas (Enterprise). É direcionado ao acompanhamento das empresas em

tempo real no mercado. Oferece também aplicativos que permitem monitorar e

controlar a movimentação e riscos. No caso da área de mercado financeiro,

ocorre a vinculação entre os pacotes de serviços e os três núcleos de produção,

gerando uma subdivisão, como se pode ver abaixo.

Núcleo (área de mercado) Pacotes de serviços167 Vendas e Comércio (Sales & Trading) Commodities & Energia Participações Institucionais Títulos Renda Fixa Pesquisa e Gerência de Recursos (Research & Asset Pesquisa e Gerenciamento de investimentos Pesquisa e Investimentos Bancários Management). Setor Corporativo Gerenciamento de Ganhos Fundos Mobiliários Empresas (Enterprise). Informação Empresarial Gerenciamento de Informação Conectividade de Empresas Gerenciamento de Riscos de Comércio Quadro 08 - Divisão dos pacotes de serviços em cada núcleo de produção da Reuters.

166 Segundo a agência, os serviços da transação são neutros (broker-neutral), permitindo compradores e vendedores envolvidos agirem sem intervenção da agência. Há, no entanto controvérsias neste aspecto. Em 1997, a Reuters esteve sob investigação do FBI por suspeita de duas denúncias: a primeira, de ter obtido de modo ilegal o código fonte de operação da Bloomberg, o que permitia fazer downloads dos seus dados e acompanhar o que e como a concorrente fornecia serviços semelhantes. A segunda, que estaria havendo vazamento das informações do sistema de negociação direta entre agentes (o dealing) que era reaproveitado na agência para enfatizar a oscilação de movimento de determinadas ações. O resultado das investigações foi inconclusivo, em ambos os casos (MOONEY e SIMPSON, 2003, p.92-98,210). 167 Para se ter uma lista completa dos serviços da área de mercado financeiro da Reuters, cf. Apêndice B. 202

Na divisão por núcleos de produção, há ainda a área de Mídia. Esta fornece material para jornais, redes da televisão abertas e a cabo, as estações de rádio, web sites e portais jornalísticos aos usuários comuns através dos seus sites na internet.

Há, portanto, sobre esses núcleos de atividades, ações específicas, procurando harmonizar a produção de conteúdo com as soluções tecnológicas da agência. Essas soluções são produtos que, por sua vez, organizam essas informações em serviços específicos.

6.3.2 – Organização por produtos tecnológicos.

No modelo adotado pela Reuters para a disponibilização dos serviços, as plataformas tecnológicas são organizadas em “famílias”, que reúnem níveis diferentes de recursos. No total, a Reuters disponibiliza mais de 50 sistemas de dados pelos quais podem ser acessadas as informações disponíveis168. Tal número reflete assim, a extrema complexidade de como os serviços podem se apresentar.

Para a área de mercado, as “famílias” são duas: produtos financeiros e produtos empresariais. Na “família” de produtos financeiros, os principais sistemas são: o Reuters

3000Xtra, Trader, Knowlwdge e Wealth Manager. Os produtos empresariais principais, por sua vez, são: Datafeeds, Market Data Systems, Enterprise Information e Risk Management.

Na “família” de produtos financeiros, o Reuters 3000Xtra se destaca. Trata-se do sistema mais sofisticado da Reuters, que pode ser disponibilizado em terminal próprio ou através de computadores da linha PC que o cliente possua, desde que preencha os requisitos técnicos exigidos para o funcionamento. Abriga, por sua vez, vários produtos, tendo sido

168 Ver quadros nas páginas seguintes, dos produtos oferecidos e respectiva disponibilidade de acordo com a localização geográfica. 203

lançado em 1999. É conhecido também como Reuters Terminal. Pode ser configurado de modo flexível, permitindo-se acessar dados do mercado, notícias e vídeo. Permite tanto o acesso restrito aos serviços da Reuters, em modo decodificado, como também à internet. Os produtos vinculados ao 3000Xtra, são o Reuters Station (dedicado a cobertura de ativos) e o

Reuters First (acompanhamento de dados em tempo real), Reuters Fundamentals, Reuters

Estimates, Interests e Investor. 204

Quadro 09 - Oferta de produtos de acordo com a disponibilidade geográfica – I Fonte: Reuters (www.reuters.co.uk). 205

Quadro 10 - Oferta de produtos de acordo com a disponibilidade geográfica – II Fonte: Reuters (www.reuters.co.uk) 206

Figura 32 - Sistema Reuters 3000Xtra

Figura 33 - Tela do sistema Reuters 3000Xtra, no caso apresentando o serviço “agriculture overview”.

Figura 34 - Tela do sistema Reuters 3000Xtra, apresentando o serviço “energy overview”. 207

Por sua vez, o Reuters Trader é direcionado para agentes que atuam concentrados nos mercados domésticos e regionais nas atividades de transação. É uma plataforma mais simples e barata que o 3000Xtra, e tem a compatibilidade funcional de operar tanto através de software próprio como também nos navegadores de internet. Porém, se comparado ao

3000Xtra, possui limitações de produtos e serviços disponíveis. Os produtos vinculados ao

Trader são dedicados com mais ênfase à serviços de mercados específicos. Assim, há vários

Reuters Trader: América do Norte, Reino Unido, Alemanha, Europa, Ásia, China, América

Latina, Commodities, Metais, Energia, etc. Bem como o Reuters Eletronic Trading, que informa sobre o comércio em bolsas eletrônicas.

Figura 35 - Telas do sistema Reuters Trader. O sistema permite desdobrar-se em outras telas para detalhamento de informações.

208

Figura 36 - Tela do sistema Trader com o serviço Reuters desktop. Notar na parte inferior, chamadas de notícias relacionadas a serviços financeiros específicos.

O Reuters Knowledge é um produto que visa ao acompanhamento de informações de negócios focado na pesquisa de setores industriais e empresariais específicos. Os produtos vinculados são: o Reuters Corporate (dirigido à cobertura coorporativa), Investiment Banking

(mercado de investimento em bancos), Investiment Management (indicativos e gerenciamento de investimentos) e Research on Demand (demandas emergentes de investimentos) e

Bussiness Inteligence.

Figura 37 - Tela do Reuters Knowledge, apresentando um serviço dedicado ao acompanhamento da companhia Lockheed Martin.

209

No Reuters Wealth, o produto é focalizado para consultores privados e corretores do mercado de ações e inclui ferramentas de gerenciamento de portfólios de empresas e fundos de capitais. Os produtos vinculados são o Reuters Plus (combinado de dados em tempo real com histórico de comportamento) e o Bridge Channel (panorama geral com tendências do mercado).

Figura 38 - Tela do Reuters Wealth.

Na família de produtos empresariais, os produtos são: Datafeeds, Market Data

Systems, Enterprise Information e Risk Management. Datafeeds é um sistema de alimentação de dados máquina-a-máquina, através do qual o cliente, de posse desse volume de dados, utiliza-os de diferentes maneiras de acordo com suas necessidades. Já o Market Data Systems

é um sistema que oferece o acompanhamento, em tempo real, de cotações agregadas aos históricos. Captura informações pré-selecionadas pelo usuário, filtrando, combinando e comparando informações de diversas fontes, como a rede da Reuters e a internet. O produto vinculado é o Reuters Portfolio Management. 210

Enterprise Information. É um aperfeiçoamento com mais detalhes de operação que o sistema anterior. Permite a combinação de modo relacional das várias bases de dados fornecidas pela Reuters além de poder se integrar a bases de dados do próprio cliente. O produto vinculado é o Reuters Data Scope.

Risk Management. É um sistema que fornece análises de riscos para determinados investimentos de empresas. Os produtos vinculados são o Kondor+ e o Reuters Kondor

Global Risk.

Figura 39 - Tela do Kondor+, com serviço de análise de riscos.

6.3.3 – Organização por Plataformas de disseminação.

A Reuters disponibiliza seus serviços para os clientes através de três alternativas: links de dados transmitidos por antena, que, no caso, podem ser via satélite ou microondas; redes privadas com linhas dedicadas entre a Reuters e os clientes e pela internet, através de acesso protegido por senha. Há ainda os serviços abertos na internet, disponibilizados de modo gratuito para o usuário comum. 211

No escalonamento de quais serviços serão disponibilizados em quais plataformas, o critério é flexível. Normalmente, o Reuters 3000Xtra suporta serviços em tempo real que exige conexões mais ágeis. Nesse caso a oferta de acesso é feita em redundância: o mesmo volume de dados segue pelo sinal de antena e através de redes dedicadas.

Para outros sistemas, o acesso é feito através de uma linha de dados privada e dedicada, alugada junto à provedora de serviços de telecomunicações. Nesses casos, a largura de banda varia de acordo com as necessidades do cliente e dos serviços que ele assina. Em maio de 2005, por exemplo, nas atividades da Reuters no Brasil, observadas nesta pesquisa, havia links privados e dedicados que variavam de 64 a 512 kbps. No caso, é o conjunto de serviços assinados, ao lado da característica de cada serviço e da possibilidade técnica de implementação que determina a velocidade de acesso que o cliente terá169.

Serviços de baixa velocidade que ocupam bandas estreitas são, geralmente, de acesso a históricos, de conversação (o Reuters Messenger) e de transação entre agentes como o Dealer e o Trader, que exigem estruturalmente poucos recursos de rede. As larguras de banda maior são destinadas ao acompanhamento dos serviços em tempo real.

Ou você transmite via satélite ou linha dedicada. O cliente compra o serviço da Reuters, e se ele pede para nós o serviço, passamos para todas as provedoras de telefonia: o endereço, o número, para elas analisarem o local, com aquele tipo de circuito, tudo direitinho e pedimos uma cotação de custo. Pelo serviço que o cliente está contratando já sabemos qual vai ser a taxa de transmissão, a plataforma e o custo ()170.

Uma outra alternativa é o IDS (internet Delivery System). No caso, há algumas restrições no que toca a serviços que são exclusivos, por exemplo, do Reuters 3000Xtra, e sua

169 O processo de venda dos serviços da Reuters é por terminal. A agência cobra por cada terminal de acesso, oferecendo normalmente um pacote com 30 códigos de serviços escolhidos pelo cliente. Para obter mais serviços, o cliente paga adicionalmente por um determinado pacote que contém os códigos de acesso. No período de observação desta pesquisa, a Reuters contava, no Brasil, com uma carteira de aproximadamente 500 terminais. 170 Depoimento gravado de Priscila Braga, supervisora de telecomunicações da Reuters, concedido para a pesquisa em 17 de maio de 2005. 212

disponibilização na internet. Essas restrições vão desde a não disponibilização de algumas informações ou de serviços inteiros, ou mais comumente, um retardo entre a entrega em um serviço Premium e no IDS.

Figura 40 - Tela de matéria no IDS. Observa-se a nota de texto que é inserida no rodapé de cada matéria. Normalmente alertando que as cotações estão com retardo em relação ao tempo real 171.

6.3.4 – A área de mídia.

Como foi visto anteriormente, o fornecimento de serviços para a mídia corresponde tanto a um núcleo de produção como a uma área de atuação. No núcleo de mídia os serviços são divididos, no que toca à destinação, em quatro grandes sub-áreas: Impressos,

171 O texto acima, já traduzido, é: “As cotações da bolsa de Nova Iorque e AMEX estão atrasadas em pelo menos 20 minutos. Nasdaq e todas as outras cotações estão atrasadas em pelo menos 15 minutos. A Reuters não endossa os pontos de vista ou opiniões dadas por qualquer outro provedor de conteúdo. © Reuters 2006”. (Tradução do autor). (http://today.reuters.com/stocks/QuoteCompanyNewsArticle.aspx?view=CN&symbol=DELL.O&storyID=9020 7+20-Feb-2006+RTRS) 213

on-line, broadcasting (TV e rádio) e acesso aberto172. Para essas áreas, constam cinco produtos: Televisão e Vídeo, Notícias (Newswire), Fotografias, Gráficos e Serviços On-line.

Tais produtos são disponibilizados através de cinco plataformas principais, o Reuters

3000Xtra, o Reuters Trader, o Datascope, o IDS e internet.

Sub-áreas Produtos destinados Número de serviços Plataformas disponíveis173 Impressos Notícias (Newswire) 13 Reuters 3000Xtra Fotografias 6 Reuters Trader Gráficos 2 Datascope Total = 21 internet Delivery System (IDS) On-line Televisão e vídeo 17 Reuters 3000Xtra Fotografias 6 Reuters Trader Gráficos 2 Datascope Serviços on-line 142 IDS Total = 167 Broadcasting Televisão e vídeo 17 Reuters 3000Xtra Notícias (Newswire) 13 Reuters Trader Fotografias 6 Datascope Gráficos 2 IDS Total = 38 Acesso 1 (Site da Reuters) internet aberto Quadro 11 - Produtos do núcleo de mídia da Reuters em relação às sub-áreas e plataformas utilizadas.

Um sexto produto é denominado General and Spot News, no qual os serviços de notícias podem ser adquiridos como um todo ou isoladamente174. Esses serviços podem ser incorporados à plataforma que o cliente escolher para o acesso.

Desse modo, o total de serviços da Reuters para o setor de mídia perfaz o número de 199, sendo 18 da área General e Spot News e 181 para as sub-áreas de impressos, on-line, broadcasting e acesso aberto. É certo que esse número é variável, de acordo com o cenário internacional de eventos. Assim há, na lista de serviços atual, por exemplo, produtos dedicados à cobertura da copa 2006. Quando esse evento terminar, certamente o serviço será

172 Cf. também: http://about.reuters.com/media/ 173 Para ter a lista completa de serviços do setor de mídia da Reuters, cf. Apêndice B. 174 Cf. Apêndice B - Lista dos serviços da Reuters. 214

descontinuado. De qualquer forma, o cenário nos últimos cinco anos aponta para números razoavelmente estáveis da quantidade de serviços para o núcleo de mídia (em torno de 200) e para o setor de mercado (em torno de 350).

6.4 – Organização dos serviços da Reuters.

Na complexa inter-relação das variáveis presentes na dinâmica da Reuters, o modo mais claro de percebermos a formatação dos serviços é ter em mente que os mesmos se originam a partir da relação entre os núcleos de produção, a área de atuação, a viabilização em algum produto tecnológico e sua conseqüente disponibilização numa plataforma específica.

Como se pode ver na figura a seguir.

215

Núcleos de Áreas de Atuação Produtos Plataformas de Produção Tecnológicos Disseminação

Mercado Reuters Satélite Mercado 3000Xtra, Microondas Vendas e Trader, IDS Comércio Mídia Dealer, internet Knowledge, Linha Privada Pesquisa e Datafeeds, Gerência de etc. Recursos

Empresas

Mídia

Impressos On-line Broadcasting internet

Formatação dos serviços

Figura 41 - Variáveis que compõem a oferta de serviços da Reuters175.

A título de exemplo será indicado o caso hipotético do serviço Brazil Domestic

Soy (serviço focado na movimentação do mercado de soja brasileiro). O caminho de sua disponibilidade será;

a) produção no núcleo de mercado;

b) serviço direcionado à área de vendas e comércio;

175 Cf. lista dos produtos da Reuters nas páginas 206 e 207.

216

c) disponibilidade possível nos produtos: Reuters 3000Xtra, Trader Agriculture,

Station e Dealing;

d) disseminação através de: satélite, microondas, IDS, internet, linha privada.

Analogamente, noutro exemplo, tomamos o serviço Brazil On-line Report - Sport

(destinado a cobrir eventos esportivos relativos ao Brasil), sua disponibilidade se dará da seguinte forma;

a) produção no núcleo de Mídia;

b) serviço direcionado à área de Mídia;

c) disponibilidade, através dos produtos on-line, broadcasting e para impressos

onde a notícia for encaminhada;

d) disponibilidade possível nos produtos: Reuters 3000Xtra, IDS e site da

Reuters;

e) disseminação através de: satélite, linha privada e internet aberta.

Assim, não há como estabelecer uma grade geral de que serviço estará disponível e como ele se viabiliza. As possibilidades são praticamente infinitas, se observarmos os números envolvidos: dois núcleos, quatro áreas de atuação, 50 produtos tecnológicos, cinco alternativas de disseminação e cerca de 200 serviços de mídia e 350 de mercado. A estrutura flexível da agência ilustra uma produção segmentada e direcionada por um jogo constante de fatores em permanente combinação entre as possibilidades existentes.

217

Evento

Núcleo de Mídia Produção Mercado

Produção de Dados material complementares (texto, foto, vídeo, (bases de dados, gráficos, dados) cotações, etc)

Encaminhamento aos produtos e serviços Mídia Mercado (6 produtos) (50 produtos) Necessidades, preferências e poder de compra Mídia do cliente Mercado (200 serviços) + (350 serviços) Adequação à Plataforma tecnológica disponível

Formatação do Pacote: produtos, plataforma tecnológica e serviços

Figura 42 - Esquema de distribuição dos produtos e serviços nas plataformas da Reuters.

A distribuição dos pacotes de produtos e serviços nas plataformas tecnológicas ocorre devido ao caráter flexível existente entre o material e a plataforma. Na verdade, esse aspecto já está incorporado na própria ferramenta de produção interna da agência, baseada em

OLE176 onde a produção de um determinado conteúdo pode ser multiplamente endereçada, já

176 OLE, sigla de Object Linking & Embedding, que significa Incorporação e Vinculação de Objetos. É um conjunto de códigos de alimentação de informações baseada na tecnologia de orientação a objeto, onde a criação, manutenção e manipulação de dados podem ser dados de modo descentralizado e flexível. Os principais elementos do OLE são: a herança (aproveitamento de dados de rotinas anteriores), polimorfismo (capacidade de uma informação responder a comandos diferentes aos quais é sensível), embutimento (permite uma informação ser usada em situações diferentes, dentro de rotinas maiores) e ligação (quando uma informação se conecta a outra que possua similaridades) (http://www.geocities.com/walterchagas/oop.html). 218

se dando em modo elástico e, podendo assim, ser destinada para vários produtos e/ou serviços distintos. O lay-out da tela do sistema de produção é aproximadamente assim:

++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

Comment ______

Created From ______

Source ______Basket ______

Adr. Prod. ______

Page Codes ______

Slug ______

GHead ______

+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

Text ______

Onde cada uma dessas entradas equivale a;

a) Comment – Descrição breve do assunto sobre o qual a matéria trata, se é para

ter prioridade, destaque, se é continuação de outra matéria, etc. É de âmbito

interno e não aparece nos serviços;

b) Created From – Indica o escritório ou redação onde o informe foi produzido.

Por exemplo, Reuters Brasil;

c) Source – Indica o núcleo e área de produção;

d) Basket – Indica, para que “cestas” ou diretórios de notícias, a nota será

encaminhada. Uma mesma notícia pode ir para várias “cestas” - alimentar

diferentes serviços; 219

e) Adr. Prod. – Indica o código da pessoa que produziu o informe;

f) Page Codes – Direciona o informe para códigos que alimentam serviços

específicos, permitindo expandir o alcance de uma nota para além das

“cestas”;

g) Slug – É a entrelinha, ou sub manchete, complementando a chamada principal;

h) GHead – Manchete ou chamada do texto. Tem um limite de composição de 80

toques, incluindo espaços;

i) Text – Corpo do texto. Nesse campo, devem ser colocados os códigos de

acesso que, por ventura, as companhias citadas possuam nos serviços da

Reuters, de modo a criar links para integrar a notícia com dados

complementares.

Desse modo, o próprio projeto do sistema de publicação é baseado em tecnologia que está em sinergia com as características operacionais da agência (ASCHAUER, 2001), permitindo uma recuperação de dados e a preparação dos mesmos para diferentes formatações de serviços.

6.5 – Demais serviços da Reuters.

Além dessa miríade de possibilidades maleáveis entre núcleos de produção, áreas de atuação, produtos tecnológicos, serviços e plataformas de distribuição, a Reuters apresenta alguns serviços que podem ser encaixados em qualquer plataforma que a agência disponibiliza. São eles:

6.5.1 – Reuters Messenger. 220

É a versão para uso na rede da Reuters do sistema de conversação por texto da

Microsoft, o MSN Messenger. Permite o mesmo nível de recursos que seu similar de uso aberto na internet. Além desses recursos básicos, o sistema da Reuters permite incorporar dados de aplicativos de outros produtos, como gráficos, cotações, planilhas, notícias, etc.

Desse modo, por exemplo, dois agentes podem compartilhar a análise de um determinado dado, comentar e tomar decisões.

Figura 43 - Tela do Reuters Messenger compartilhando um aplicativo do Windows. O programa também é compatível com aplicativos dos produtos da Reuters.

Outra possibilidade é a integração do Reuters Messenger dentro de aplicativos. O

Messenger se integra a um determinado produto ou serviço, podendo ser compartilhado entre usuários que visualizam a mesma tela. Os acordos firmados pelo Messenger podem ser gravados eletronicamente e têm valor de comprovação da transação entre os agentes envolvidos177.

177 Depoimento gravado de Priscila Braga, supervisora de telecomunicações da Reuters, concedida para a pesquisa em 17 de maio de 2005. 221

Figura 44 - Tela do Reuters 3000Xtra incorporando o Reuters Messenger (à direita).

6.5.2 – Reuters mobile celular e PDA.

É o serviço de disponibilização de informações geradas pela Reuters, destinado a aparelhos de telefonia móvel e PDAs (http://reuters.m-qube.com/reuters/). Fica subordinado aos serviços destinados à internet da agência. Atualmente está disponível somente para

Europa e Estados Unidos. Fornece notas breves sobre três áreas de cobertura: top news, alertas de negócios e fechamento de mercado. É cobrado por mensagem enviada.

6.5.3 – Reuters Dealer.

É, ao mesmo tempo, um produto e serviço vendido à parte. Pode-se integrar à qualquer plataforma de distribuição da agência, inclusive à internet. É uma ferramenta destinada à venda e compra direta no mercado financeiro. A transação é feita de forma anônima, onde quem oferta uma determinada ação, bônus, participação, ou volume de moeda, não sabe quem está comprando, e vice-versa. Permite ainda uma pré-programação de compra e venda. Nesse caso, o usuário configura o sistema para executar uma operação no momento em que determinada cotação atingir um patamar programado. 222

Figura 45 - Telas do Reuters Dealer ilustrando uma transação de compra e venda de Dólares por Euros

6.5.4 – Reuters na internet (acesso aberto).

Desde 1996, a Reuters inicia suas atividades na internet. A princípio, disponibilizava material de modo resumido, oferecendo apenas uma pequena parte do conteúdo produzido. Isto se dava por entender que esse mercado não se constituía no seu núcleo central de negócios.

223

Figura 46 - Primeira página da Reuters na internet, de 14 de novembro de 1996178.

Atualmente, o enfoque dado à internet na Reuters consiste prioritariamente na compreensão desta plataforma como uma das alternativas de disseminação de serviços, que são pagos e acessados através de redes virtuais, as VPNs.

De qualquer modo, a agência oferece na internet um site179 com boa parte do seu material. A ressalva a ser aplicada nesse caso são duas: o site não oferece a totalidade dos serviços, pois é focado num resumo, ou showcase dos principais núcleos de produção

(negócios, investimentos e notícias gerais) que são disponibilizadas com um intervalo em relação à distribuição nos serviços fechados, de modo a priorizar os serviços pagos.

Assim, o núcleo de negócios disponibilizado na internet é subdividido em: Top

News (que inclui informações sobre: bancos e finanças, produtos de consumo e varejo, recursos naturais, tecnologia, transporte e telecomunicações), indústrias, companhias e pequenos negócios.

178 Página recuperada através do site Wayback Machine (Cf. http://web.archive.org) em 22 de fevereiro de 2006. 179 Cf. http://today.reuters.com/news/home.aspx . 224

No núcleo de investimentos, a subdivisão compreende: notícias, mercados, indústrias, ações, fundos, opções, commodities, bônus, contratos, opções, pesquisa e análise e portfólio de ações.

Figura 47 - Página atual da Reuters na internet

No núcleo de notícias, a subdivisão é: negócios, E.U.A., internacional, política, entretenimento, tecnologia e ciência, esportes, saúde, crises mundiais, oddly enough (fait- 225

divers, variedades, algo como “suficientemente estranho”), vida e lazer, clima, vídeos

(notícias em formato de vídeo por demanda), News Room (espaço dedicado à interação com usuários, críticas, erratas, etc), fotografias (dividido em esportes, notícias e entretenimento) e

Blogs (espaço para blogs de jornalistas da Reuters, geralmente aborda aspectos laterais das cobertura em que estão envolvidos, ou matérias curiosas; o material está sujeito ao crivo de controle da agência, e normalmente é vinculado por link a outros materiais da Reuters).

Figura 48 - Telas de dois posts de Blog da Reuters

É interessante observar que algumas das páginas presentes na internet têm o mesmo nome de serviços que são oferecidos em plataformas fechadas. Na verdade, nesses casos, a duplicidade deve-se ao fato de ser o mesmo material, gerado pelo mesmo núcleo de produção. As diferenças começam a aparecer quando se levam em conta as alternativas de distribuição presentes e os serviços oferecidos. Nos produtos dedicados e pagos, o cliente pode encontrar a informação que deseja na íntegra e em intervalos de tempo significativamente menores que na internet. Na internet, geralmente a notícia é apresentada já consolidada, sem o fracionamento através da seqüência: alerta – atualiza – consolida, oferecido nos serviços pagos. Além disso, o horizonte do que é disponibilizado em relação ao que é produzido pela agência é bem menor. 226

Há ainda páginas de edições regionais, alimentadas pelos escritórios da Reuters180.

Em casos como o escritório da Reuters no Brasil, há a disponibilização de conteúdo local mesclado com os fornecidos globalmente pela agência. Esse mesmo modelo se replica nas páginas onde a Reuters possui versões.

Figura 49 - Página inicial na internet da Reuters Brasil

6.5.5 – Joint-ventures de informação com terceiros.

180 A Reuters possui versões regionais direcionadas aos seguintes países: Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, Itália, Arábia Saudita, Argentina, Brasil, Canadá, China, França, Índia, México, América Latina (responsabilidade do escritório brasileiro), Rússia, África do Sul e Espanha. 227

Além dos núcleos de produção da própria agência, a Reuters estabeleceu, ao longo dos últimos 30 anos, contratos para fornecimento de informações em caráter terceirizado ou em parceria. Esses acordos alimentam tanto os produtos de mídia como de mercado, podendo ser incorporados às informações ou fornecidos separadamente181. Chama a atenção o acordo entre a Reuters e a Dow Jones, tradicionais e ferrenhas concorrentes no fornecimento de informações de mercado para a criação do Factiva. No caso, trata-se de um serviço baseado na internet, que captura e organiza o conteúdo de 9 mil jornais ao redor do mundo, oferecendo a busca por notícias e recuperação de material publicado anteriormente.

6.6 – Comentário sobre a abordagem dos casos estudados.

Na delimitação de apresentação dos casos desta tese, pode-se perceber nitidamente um espaço maior dedicado à Reuters. Acreditamos que isso é justificável por uma importância relativa das três agências estudadas em relação ao horizonte de atuação respectivo a cada uma. Particularmente, no caso da Reuters a própria relevância histórica e operacional suscitou uma investigação de maior volume, proporcional a posição que esta agência ocupa. Juntamente a isto, não deve ser ignorada a maior disponibilidade de fontes de pesquisa sobre a Reuters, que permitiu uma abordagem mais extensa e aprofundada sobre este caso de estudo, que no nosso entender, é paradigmático como modelo de organização de agência.

Na próxima parte da tese procuraremos estabelecer relações entre os perfis de cada caso abordado, recuperando exemplos e ilustrando situações de como as agências assumem determinadas configurações nas redes digitais.

181 A lista das parcerias pode ser consultada no Apêndice B - Lista de serviços da Reuters. 228

Parte III - As agências nas redes digitais. 229

7 Características e modelos das agências em redes e sistemas digitais.

“Yes, young man,” a famous statesman said to a reporter who sought to interview him some years ago, “I’ll be glad to prepare a statement for you. Just tell me when is your… - what do you newspaperman call it – your deadline.” “I’m from the United Press,” he replied. “Our deadline is now. Someplace around the world at this instant a newspaper is going to press. We’ve got a deadline every minute” 182. - Joe Alex Morris, 1957.

7.1 – Redes, sistemas digitais e condicionamentos sobre o modelo de operação das agências de notícias.

No fim do século XX, o ambiente baseado em processos de digitalização aliado a modelos organizativos em rede configuram um cenário comunicativo complexo em que se insere o desenvolvimento de uma sociedade da informação. A vinculação e identificação das bases tecnológicas em interação com o cenário social são, por vezes, problemáticas, devido à multiplicidade de perspectivas teóricas. Nos conceitos mais difundidos que trabalham a contemporaneidade em relação à tecnologia (i.e: sociedade da informação, do conhecimento,

182 “Sim, jovem”, um famoso homem de estado falou para um repórter que o procurou para entrevistá-lo alguns anos atrás, “eu ficarei grato em preparar uma declaração para você. Diga-me apenas quando é o seu... – o que vocês jornalistas chamam – seu deadline”. “Eu sou da United Press”, respondeu. “Nosso deadline é agora. Em algum lugar ao redor do mundo neste instante um jornal está sendo impresso. Nós temos um deadline a cada minuto (Tradução do autor).

230

pós-industrial, pós-fordista, em rede) levam-se em conta as dinâmicas de produção e circulação da informação.

Segundo Castells (2001, p.77), a convergência entre informática e telecomunicações, aliada ao alcance global, comodifica as condições essenciais para a nova sociedade em rede. Essa, segundo o autor, é estabelecida pela vinculação e integração de processos de comunicação em rede com atividades de produção e circulação de bens e serviços, tornando-se a base através da qual ocorrem modificações na cultura e nas atividades centradas no fluxo de informação. Esse processo constitui-se em um modelo de produção no qual a tendência é a justaposição da informação e conhecimento aos fatores determinantes de capital e trabalho (BELL, 1976). A informação permitiria, por sua vez, processos de maximização e gerenciamento dos capitais envolvidos e, nessa relação, conforme afirma

Castells, não haveria a determinação de dinâmicas sociais a reboque da perspectiva tecnológica, pois os dispositivos tecnológicos deixaram de ser as ferramentas aplicadas às atividades de produção para se tornarem a própria base generalizada das dinâmicas sociais contemporâneas.

É claro que a tecnologia não determina a sociedade. Nem a sociedade escreve o curso da transformação tecnológica, uma vez que muitos fatores, inclusive criatividade e iniciativa empreendedora, intervêm no processo de descoberta científica, inovação tecnológica e aplicações sociais, de forma que o resultado final depende de um complexo padrão interativo (CASTELLS, 1999, p.25).

Na síntese dialética, entre sociedade e tecnologia, ocorreria uma relação interpenetrável entre dinâmicas de produção e os recursos técnicos que transformam determinados conjuntos de dados circulando nessas redes. Isso viabilizaria a costura entre os fluxos de informação e o conhecimento (CASTELLS, 1999, p.405) em escalas globais, compondo elos entre práticas e os interagentes nela envolvidos. A rede seria, assim:

231

[...] um conjunto de nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta. Concretamente, o que um nó é depende do tipo de redes concretas de que falamos. São mercados de bolsas de valores e suas centrais de serviços auxiliares avançados na rede de fluxos financeiros globais [...] São equipes para cobertura jornalística e equipamentos móveis gerando, transmitindo e recebendo sinais na rede global da nova mídia no âmago da expressão cultural e da opinião pública, na era da informação (CASTELLS, 1999, p.498).

A alteração consistiria na passagem de um modelo serial e de fundamento industrial, baseado em rotinas rígidas de produção, para um modelo flexível, de base informacional, sincronizado com o cenário, no qual a produtividade está associada ao processamento e fluxo da informação em níveis complexos, como, por exemplo, na organização em forma de rede e na utilização descentralizada dos recursos computacionais.

A perspectiva da generalização do uso do computador nos chama particular atenção. Esse fenômeno pode ser compreendido a partir do barateamento dos custos de produção dos chips, deixando-os mais rápidos e avançados e, progressivamente, mais acessíveis183, permitindo, assim, a penetrabilidade em diferentes níveis sociais (CASTELLS,

1999, p.59). Se a capacidade de se processar informação pudesse ser instalada em computadores menores, saía-se do binômio: dados processados centralmente por mainframes e acessados remotamente por terminais, para o modelo no qual a capacidade de processamento era alocada de modo pulverizado. A importância desempenhada pela microinformática na multiplicação de alternativas de produção e circulação de conteúdo, consiste, assim, na capacidade de vincular a descentralização com a capacidade de trabalho.

Um paralelo pode ser indicado ao movimento ocorrido na primeira revolução industrial, em que o fator central que vincula a importância da máquina a vapor ao cenário social ocorre por se tratar de uma tecnologia que permitia a implantação da força motriz de

183 É creditada a Gordon Moore, presidente da Intel no começo dos anos 1970 – a gigante do setor de microprocessadores – uma lei que, largamente aceita no setor na eletrônica e informática, detecta a duplicação da capacidade de processamento dos chips a cada dezoito meses, com a manutenção do preço. É o que normalmente se atribui como “Lei de Moore”. 232

modo múltiplo. Isso viabilizava, conseqüentemente, a alocação de energia em lugares que não precisavam mais estar numa relação de proximidade de onde havia matérias-primas

(CASTELLS, 1999, p.56). Com isso, gerava-se tanto a flexibilidade dos locais de produção, como a necessidade de interconexão entre esses lugares, como vimos nos capítulos 1 e 2.

Estabelecer paralelos entre esse momento histórico e a microinformática contribui para observar a geração de práticas mais descentralizadas de produção que, no caso das redes digitais, podem ser flexibilizadas e integradas através da circulação de dados. Assim, o processo de descentralização se apresenta como uma conseqüência permitida pela interconexão dos recursos digitais (CASTELLS, 1999, p.404).

O que ocorre, segundo Lemos (2002, p.110,112), é um movimento que leva a capacidade de processamento de uma instância fechada (sistemas militares, industriais e científicos) para uma adoção mais autônoma, inserindo os computadores na cultura contemporânea e viabilizando sua progressiva adoção nas dinâmicas cotidianas. O autor define a cultura tecno-social em bases digitais como surgida na segunda metade dos anos

1970, e isso se deu em duas frentes:

Ou prolongando e multiplicando a capacidade dos (meios) tradicionais (como satélites, cabos, fibras ópticas) ou criando novas tecnologias, na maioria das vezes híbridas (computadores, minitel, celulares, pagers, TV digital, PDAs etc). Podemos dizer que o termo multimídia interativa expressa bem o espírito tecnológico da época, caracterizando-se por uma hibridação de diversos dispositivos, infiltrados em chips e memórias eletrônicas. As novas tecnologias são o resultado de convergências tecnológicas que transformaram as antigas através de revisões, invenções ou junções (LEMOS, 2002, p.84).

233

Há, nessa perspectiva, uma sobreposição de três níveis;

a) o primeiro, pela popularização dos microcomputadores na teia social, levando

ao surgimento de dinâmicas sociais próprias como formas de sociabilidade; 184

b) o segundo, pela migração para esse novo ambiente tecnológico e cultural de

práticas dos modelos tradicionais e prévios, como, por exemplo, a migração de

formas culturais para o ambiente das redes, através de transposições dos

modelos preexistentes (FIDLER, 1997);

c) o terceiro, pelo aparecimento de modos específicos de produção de formas de

comunicação, face às condições das redes digitais, que não são mais

transposições de modelos prévios e buscam um uso efetivo dos recursos

dispostos (MIELNICZUK, 2003).

7.2 – Condicionamentos gerais das redes e sistemas digitais sobre o jornalismo.

Aproximando a discussão para o jornalismo, como indica Lage (2001, p.32), a técnica de se fazer jornais responde “às necessidades criadas pelas mudanças sociais” – vinculam-se ao conjunto de procedimentos, imerso no ambiente social e tecnológico, de cada

época. Em Nerrone e Barnhurst (2001, p.214,250), indica-se que a produção e materialização assumida pelos jornais está ligada a um campo de interferências simultâneas das esferas tecnológicas, industriais, corporativas e o aspecto social da profissão. Dessa maneira, as conseqüências da base informacional manifestam-se de modo múltiplo, incluindo tanto o modelo de organização em forma de rede, como a utilização dos recursos computacionais.

Para isso, basta observar os desdobramentos acontecidos, nas redações de jornais, quando da

184 Podemos indicar, nesse caso, os chats, listas de discussão, comunidades virtuais, consumo (comércio eletrônico) e comunicação interpessoal (blogs, e-mail, programas de mensagens instantâneas como o ICQ e o MSN). 234

adoção de tecnologias digitais (ABREU, 2002; DIZZARD Jr, 1998; LINS e SILVA, 1988;

QUINN, 2002; RANDALL, 1996; SMITH, 1980; VIANNA, 1992), e os esforços envolvidos na adaptação às alterações proporcionadas por tal cenário.

Com a internet, essa perspectiva de mudança se mantém e se amplia como uma rede que emerge com aspectos múltiplos. De um lado, pode ser compreendida como o ambiente agregado aos demais meios de comunicação (PALACIOS, 2003b). Em outra perspectiva, pode ser observada como ferramenta de produção justaposta a modelos já vigentes (MACHADO, 2003), ou ainda, transformando-se no suporte de disseminação de incontáveis veículos jornalísticos na web. De qualquer viés, percebe-se que a adoção e generalização da internet sobre os meios de comunicação levou a modelos diferenciados que reconfiguram a prática jornalística em torno de conceitos, como jornalismo digital, on-line ou na web, gerando desdobramentos que atingem diversas dinâmicas:

Se trata de una nueva modalidad profesional del periodismo porque modifica los tres procesos básicos en los que se basa esta profesión: la investigación, la producción y la difusión. Las redes interactivas y los fondos documentales digitalizados han supuesto una revolución en los métodos de investigación y acceso a las fuentes. En segundo lugar, los procesos y formas de producción de los contenidos periodísticos también han experimentado profundos cambios gracias a las herramientas digitales. Por último, en lo que se refiere a la difusión, los nuevos medios emplean plataformas digitales, especialmente internet, para publicar sus contenidos (SALAVERRÍA, 2005, p.15)185.

Porém, estabelecer a análise apenas à luz dos processos convergentes entre a digitalização e as telecomunicações possui um limite histórico, ao afirmar como “novos”,

185 Trata-se de uma nova modalidade profissional do jornalismo porque modifica os três processos básicos em que se baseia essa profissão: a investigação, a produção e a difusão. As redes interativas e os fundos documentais digitalizados têm proporcionado uma revolução nos métodos de investigação e acesso às fontes. Em segundo lugar, os processos e formas de produção dos conteúdos jornalísticos também têm experimentado profundas mudanças, graças às ferramentas digitais. Por último, no que se refere à difusão, os novos meios empregam plataformas digitais, especialmente internet, para publicar seus conteúdos (Tradução do autor).

235

“revolucionários” processos que se estruturam inicialmente há décadas ou, por vezes, há mais de um século (LIVINGSTONE e LIEVROUW, 2003, p.6).

7.3 – Posicionamento das agências de notícias nas redes e sistemas digitais.

Para o caso das agências, os desdobramentos da sociedade de redes podem ser relativizados em, pelo menos, dois sentidos.

O primeiro, mais óbvio, por tratar-se, nos modelos de trabalho com uma dinâmica em parte jornalística e em parte dedicada ao fornecimento de serviços com endereçamento não necessariamente jornalístico. Portanto, no que diz respeito às parcelas jornalísticas das atividades das agências, elas estão sujeitas às mesmas conseqüências indicadas no tópico anterior.

O segundo diz respeito à contribuição que as agências têm, em função de possuírem um histórico próprio do uso de redes. No processo de compreensão das especificidades das agências em redes digitais, há tanto a contribuição do desenvolvimento das mesmas em modelos de rede, como também os desdobramentos dados através da sociedade da informação. É, portanto, um espaço de complementação entre o prolongamento de atividades históricas das agências e busca de maximizações permitidas pelas redes digitais.

Porém, não consideramos o estágio atual das agências como pertencendo a um momento intermediário, como normalmente se situa o debate específico sobre o jornalismo da web, entre modelos tradicionais do passado e as possibilidades que a tecnologia oferecerá no futuro:

El actual periodismo on line no se basa en muchas ideas nuevas, sino que es más bien la combinación de ideas antiguas, pero realizadas mejor: más rápido, com acceso más logrado, con un diseño más innovador, con contenidos personalizados y con elementos comunicativos ajenos a la prensa tradicional. […] A los servicios informativos on line hay que verlos como lo 236

que son: el paso intermedio entre los medios tradicionales y los futuros medios que realizarán comunicación multimedia (PÉREZ-LUQUE e PEREA, 1997, p. 12). 186

A perspectiva que adotamos é que, ao menos para as agências, ao invés do momento atual ser apenas uma passagem entre-tempos tecnológicos, a organização em redes digitais reflete um condicionamento permanente de suas dinâmicas. Há uma interação de elementos surgidos no modelo histórico, como a sociedade industrial, a mecanização, e o consumo de massas, com uma coabitação com outros ambientes tecnológicos. A intersecção criada entre o prolongamento do antigo e a assimilação do novo reconfigura constantemente o modo de gestão e circulação dos fluxos das agências.

Isso se desdobra tanto nas circunstâncias internas das agências, como na interação dessas com outros órgãos. Como exemplo, imaginemos que, para se manter uma agência interagindo com formas culturais (WILLIAMS, 1990) como o jornal impresso há, atualmente, a necessidade óbvia de se lançar mão de recursos da ordem digital. Em que pesem as diferenças entre as dinâmicas de um jornal e de uma agência, o que se ilustra, nesse cenário, é a existência de sobreposições tecnológicas que se hibridizam (FIDLER, 1997), procurando localizar espaços de conciliação que mantenha a necessidade constante de fluxos de informação. Isso permite, de certo modo, uma sobrevida, ou permanência combinada entre processos tecnológicos de bases diferenciadas.

186 O atual jornalismo on-line não se baseia em muitas idéias novas, é mais a combinação de idéias antigas, mas realizadas melhor: mais rápido, com acesso mais fácil, com um desenho mais inovador, com conteúdos personalizados e com elementos comunicativos alheios à imprensa tradicional. […] Os serviços informativos on- line devem ser vistos como o que são: o passo intermediário entre os meios tradicionais e os futuros meios que realizarão a comunicação multimídia (Tradução do autor).

237

7.4 – A hibridização nas agências em modo de midiamorfose.

Fidler (1997, p.21), desenvolve a idéia que na convergência midiática atual ocorre a interpenetração das características, denominando esse processo como mediamorfosis. O autor afirma que, contemporaneamente, vive-se uma terceira midiamorfose, que se iniciou com a aplicação da eletricidade para a comunicação no início do século XIX, sendo a invenção do telégrafo elétrico uma das responsáveis pelas grandes transformações e expansões de todos os três domínios dos meios. 187

O núcleo desse pensamento lança luzes importantes sobre a interação de soluções digitais na dinâmica das agências, apesar de esse não ser o objeto central da abordagem do autor. Para Fidler, a mediamorfosis diz respeito à progressão dos meios de comunicação como um todo, para o cenário da nova mídia. O fenômeno se daria dentro de uma complexa interação das necessidades percebidas, as pressões sociais e políticas e a concorrência das inovações propostas pelos desenvolvedores tecnológicos. Nesse sentido, cria-se uma teia de interdependência entre as soluções adotadas com soluções existentes no passado, atualmente e nas emergentes, criando uma coexistência das relações específicas entre cada uma delas. Uma das características apontadas por esse autor é que o surgimento de modalidades emergentes não levaria a uma relação sine-qua-non de desaparecimento dos suportes anteriores. Esses, por sua vez, continuariam evoluindo e se adaptando à nova realidade.

Assim, Fidler propõe uma tríplice categoria de princípios que seriam a base da midiamorfose. São elas, a co-evolução, a convergência e a complexidade.

A co-evolução seria a hipótese de que um determinado modelo faz parte do tecido de um sistema de comunicação mais amplo e, à medida que o modelo emerge, influi no

187 Esses domínios estão relacionados à linguagem oral, primeira midiamorfose; à linguagem escrita, segunda midiamorfose; e à linguagem digital, correspondendo à terceira midiamorfose. 238

desenvolvimento de outros existentes. Haveria assim uma co-evolução que não seria seqüencial, através de uma reposição imediata, e sim em paralelo e por coexistência.

A convergência seria derivada diretamente da capacidade, dada pela digitalização, de possuir diferentes modalidades de mensagem apoiadas em uma mesma tecnologia, tornando-se a “língua franca” da base de codificação tecnológica das formas culturais contemporâneas.

A complexidade se coloca como um sistema adaptativo onde os modelos e práticas teriam a capacidade de auto-organização intrínseca ao novo ambiente dado por uma nova tecnologia. O que se relativiza, nesse sentido, são os “componentes” desse ambiente. O caminho por onde ocorre essa mudança gradual se dá de acordo com seis hipóteses, que projetamos para o cenário das agências;

a) evolução compartilhada e coexistência. Os meios de comunicação coexistem e

evoluem dentro de um sistema complexo e adaptativo em expansão. Para o

campo das agências, isso alarga a ação sobre a rede e se percebe através da

adoção de possibilidades, dadas pela digitalização, condicionando os modelos

de apuração, tratamento e distribuição, como, por exemplo, nos sistemas de

publicação de conteúdos que incorporam na sua arquitetura a complexidade de

encaminhamento dos serviços;

b) metamorfose. Os novos meios não aparecem de modo espontâneo e

independente, emergem gradualmente da metamorfose de modelos antigos. É

o caso, nas agências, do que observamos como a permanência de um

determinado serviço em situações subseqüentes, ora sendo absorvido por

plataformas mais avançadas, ora se diluindo em serviços mais complexos,

assimilando as tecnologias prévias existentes; 239

c) propagação. As formas emergentes propagam traços das formas dominantes

anteriores. Trata-se, no caso, da permanência do próprio modelo de

agenciamento de notícias e informações; d) sobrevivência. Os meios de comunicação são compelidos a adaptar-se e

evoluir para sobreviver em um ambiente de constantes mudanças e períodos

de transição. Esse aspecto ilustra, nas agências, por vezes, a adoção de

soluções intermediárias, situadas entre bases tecnológicas diferentes, de modo

a conciliar a transição entre os modelos envolvidos; e) oportunidade e necessidade. Os novos modelos não se adaptam somente em

função da tecnologia. Há, em paralelo, razões sociais, políticas e econômicas

como motivadoras para o desenvolvimento de novos meios. Isso parece

particularmente claro quando as agências, para maximizarem seus resultados,

adotam estratégias como a elasticidade de conteúdos, de modo a

compatibilizar o teor dos informes a contextos específicos; f) adoção postergada. As novas tecnologias têm que esperar, ao menos um

intervalo de tempo, para serem adotadas de forma generalizada. Isso se

manifesta na priorização, pelas agências comerciais, de parcelas de clientes

preferenciais (setor financeiro, comercial) devido, sobretudo, à capacidade dos

mesmos de retornarem com maior rapidez os investimentos colocados nos

dispositivos tecnológicos. Na outra ponta do processo, são poucos os clientes

do mercado do varejo jornalístico que podem pagar e manter essas estruturas

ativas, existindo aí um intervalo de tempo para as novas tecnologias se

expandirem para a totalidade das operações.

240

7.5 – Etapas de desenvolvimento das agências em redes e sistemas digitais.

Para se abordarem modelos de organização das agências em ambientes de redes digitais, é natural que se observem aspectos resultantes da própria configuração das agências em modelos precedentes. O problema é definir como, dentro do ambiente da sociedade da informação, a permanência de elementos nos modelos de apuração, tratamento e distribuição podem ser indicados, já que foram, em grande parte, absorvidos das suas dinâmicas históricas para modelos subseqüentes.

Nesse sentido, torna-se importante a definição de etapas tecnológicas, justamente por, através de uma observação mais nítida das particularidades existentes em cada momento, poder encontrar elementos que permitam rastrear a permanência, substituição ou amplificação das práticas existentes.

Ao procurar essa alternativa de análise, é inevitável a comparação com as categorizações em etapas realizadas sobre o jornalismo na web, em que a delimitação do desenvolvimento é necessária para compreensão mais precisa dos fenômenos de migração de uma prática tradicional para o digital.

Porém, se há toda uma caracterização clara que indica a delimitação progressiva das etapas para o jornalismo na web, o mesmo não ocorre para as agências de notícias.188 Para estas, não há uma delimitação semelhante às suas características operacionais e de fluxo.

Desse modo, propõe-se aqui categorizar o desenvolvimento das agências em função das etapas tecnológicas existentes no seu desenvolvimento. Para isso, o primeiro passo que faremos é recuperar as problematizações existentes sobre características do jornalismo na

188 De um modo razoavelmente homogêneo (Bardoel e Deuze, 2000; Bastos, 1999; Milenickzuk, 2003; Palacios, 2002; Pavlik, 2001), as características aplicadas no jornalismo on-line ou na web são compreendidas como originadas de uma síntese entre duas esferas. A primeira, relativa às práticas do próprio jornalismo. A segunda, pelo fato da denominação ser pertinente a um ambiente específico (a web, internet). Desse modo, inferem-se características para o jornalismo na web, ou mais amplamente, para a interação do jornalismo com as tecnologias de rede, emergidas da confluência, da prática jornalística com as redes digitais, em um movimento dado, sobretudo, a partir dos anos 1970 e 1980.

241

web, para, com os devidos ajustes pertinentes à peculiaridade operacional das agências, criar um modelo de análise.

7.5.1 – Recuperação das delimitações existentes acerca do jornalismo e das tecnologias digitais e em rede.

No esforço de delimitação da inserção do jornalismo nas tecnologias digitais,

Mielniczuk (2003, p.20-22) indica que as terminologias para determinar as práticas jornalísticas em torno da base tecnológica digital são diversas. Isso se deve tanto a abordagens de diferentes autores, enfatizando etapas distintas do processo, como também à própria mutabilidade do jornalismo em redes digitais, adquirindo novas possibilidades à medida que os recursos disponíveis vão sendo progressivamente aplicados à sua dinâmica.

Levando em conta o aspecto tecnológico para delimitar a justaposição do jornalismo diante dessas práticas, a autora apresenta uma categorização progressiva, que procura vincular a existência do jornalismo com modos tecnologicamente infra-estruturados, que vão da utilização de recursos eletrônicos até a aplicação na web. Assim, a autora apresenta um quadro (MIELNICZUK, 2003, p.27) que sintetiza a discussão apresentada em torno das nomenclaturas utilizadas, colocando-as em etapas consecutivas umas às outras.

Nomenclatura Definição Jornalismo eletrônico Utiliza equipamentos e recursos eletrônicos. Jornalismo digital ou Emprega tecnologia digital, todo e qualquer procedimento que implica no tratamento Jornalismo multimídia de dados em forma de bits. Ciberjornalismo Envolve tecnologias que utilizam o ciberespaço. Jornalismo on-line É desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em rede e em tempo real. Webjornalismo Diz respeito à utilização de uma parte específica da internet, que é a web. Quadro 12 - Delimitação das etapas no jornalismo em relação às características tecnológicas empregadas

O quadro ajuda a perceber que, por exemplo, na etapa mais aperfeiçoada, no caso, o jornalismo na web, existe a permanência de elementos presentes no on-line, que, por sua 242

vez, assimila características do ciberjornalismo e, assim, sucessivamente, até o nível inicial, que seria o jornalismo eletrônico. Isso ofereceria ao leitor na web possibilidades diferenciadas de consumo do conteúdo. Assim, por exemplo, a interatividade permite uma dinâmica, não somente técnica com os dispositivos, mas também amplia a relação entre redatores e repórteres com o público (GUNTER, 2003, p.167; MIENICKZUK, 1998; SILVA, 1997, p.255; WARD, 2002, p.24); a personalização permite que o leitor escolha os seus núcleos de interesse específicos dentro da publicação (BASTOS, 2000, p.118; PAVLIK, 2001, p.22;

RECIO, 1999, p.91; SILVA JR. 2000, p.94); a multimidialidade permite ao leitor uma complementação de conteúdos com modalidades distintas (vídeo, áudio, texto, gráficos)

(BAIRON, 1995), possibilitando uma apresentação da notícia de modo mais complexo

(PAVLIK, 2001, p.03,05,16; QUINN, 2002, p.17; WARD, 2002, p.23); a hipertextualidade possibilita tanto uma adequação e organização do material jornalístico on-line como também uma exploração de possibilidades narrativas em modelos mais complexos (BASTOS, 2000, p.146; HALL, 2001, p.67; MIELNICZUK, 2003, p.174; NOCI e SALAVERRÍA, 2003, p.119; PAVLIK, 2001, p.14; QUINN, 2002, p.133; WARD, 2002, p.121); e a memória possibilita o acúmulo e organização da massa de conteúdos em formato digital em bases de dados que podem ser acessados pelo usuário (ARRUTI e VIVAR, 2001, p. 187; COLE, 2002, p.22; GUNTER 2003, p.90; KOCH, 1991, p.63; PALACIOS, 2002; QUINN, 2002, p.128;

SMITH, 1980; WARD, 2002, p.19.).

Mielniczuk (2003, p.28) propõe uma classificação progressiva e concêntrica que delimitaria as etapas existentes entre a prática jornalística e os aportes tecnológicos. Como a própria autora deixa claro, as delimitações não são excludentes. Isso leva à perspectiva que, em um mesmo caso de um jornal na web, indiquem-se hibridizações entre as etapas.

243

Figura 50 - Delimitação progressiva das terminologias na relação entre o jornalismo e as tecnologias digitais e em rede. (Fonte: MIELNICZUK, 2003, p.28).

7.5.2 – Problemas iniciais de categorização das etapas de desenvolvimento para as agências de notícias.

Recuperando as etapas de desenvolvimento do jornalismo na web indicadas por

Mielniczuk (2003), as delimitações dizem respeito a circunstâncias tecnológicas sucessivas, que se aperfeiçoam e geram desdobramentos para o jornalismo na web.

Então, propõe-se aqui uma aproximação dessa escala com o caso das agências de notícias. A ressalva cabível é que, entre a prática das agências e dos jornais na web, existem distinções.

No caso dos jornais, a categorização entre etapas pressupõe um encaixe em suportes progressivamente mais sofisticados, que permite a categorização em gerações sucessivas. A análise é realizada por contraste com modelos cognoscíveis, consolidados como formas culturais, como, por exemplo, o jornal impresso. Assim, ao se analisar o conjunto de características presentes no jornalismo na web como sendo a multimidialidade/convergência, 244

interatividade, hipertextualidade, personalização do conteúdo, memória e instantaneidade

(MIELNICZUK, 2003; PALACIOS, 2002; PAVLIK, 2001; SILVA JR. 2000), essas mesmas são perceptíveis, sobretudo, por se manifestarem de modo mais claro nos formatos que o jornalismo assume quando nas redes digitais. Há, dessa maneira, a possibilidade de comparação entre conjunturas diferenciadas, que permitem observar as possíveis ocorrências de rupturas, continuidades e potencializações de modo mais nítido.

No caso das agências, a ênfase é colocada nas características operacionais e na geração de fluxos de informação, em que não se apresenta, de modo geral, um encadeamento sucessivo de suportes que permita um estabelecimento de categorias de análises baseadas em torno de formas culturais definidas189. Em breves termos, as agências, a priori, não operam na lógica de serem uma “mídia-container” (LIH, 1999), onde estabeleceriam um vínculo entre conteúdo e uma conseqüente forma cultural. Portanto, nesse estado de coisas, o que as agências teriam a transpor, a adaptar ou a metaforizar? Restaria à consolidação das práticas das agências somente a dinâmica de potencializar suas próprias causas, amplificando os seus efeitos?

Desse modo, apontar gerações de desenvolvimento para as agências, de maneira análoga ao que se faz com o jornalismo na web, centrando a observação em critérios de comparação com formatos anteriores, seria um esforço com poucos retornos proporcionais.

No entanto, para aplicar etapas classificatórias para o caso das agências, é necessária a ressalva de aproximar essa classificação à luz das características próprias de operação e fluxo

189 É certo que há exceções, como o caso da Reuters Television, que fornece material para canais de televisão. Porém nesse caso, a lógica é a mesma: as imagens são fornecidas numa relação de conteúdo a ser disseminado entre diversos órgãos diferentes. Da mesma forma, os sites das agências de notícias na internet, por exemplo, não se remetem a modelos prévios, de modo que se possa, por exemplo, estabelecer regras de comparação através de categorias de transposição ou adaptação. A ressalva, nesse sentido, cabe ao desenvolvimento de sites das agências que adotam, em alguns casos, a internet como único canal de disseminação, como na Agência Brasil. Nessa situação, cabe observar que o uso da internet, dado pela agência, atua como um canal de distribuição a mais. 245

de informações. Em outras palavras: como e por quê, em cada momento ou marco tecnológico mais abrangente, essas características surgem e são potencializadas.

7.6 – Etapas do deenvolvimento das agências de notícias.

Para os fins desta tese, as etapas serão analisadas de modo cruzado. De um lado, levando-se em conta o aspecto distintivo de cada etapa no que envolve determinado conjunto de dispositivos e, do outro, as características de fluxos de informação. Será levado em conta, ainda, em cada ponto da análise, a projeção das características de operação específicas das agências, e os desdobramentos causados nas etapas de apuração, tratamento e distribuição de informações. Para fins de sintetização e também de aproximação da peculiaridade operacional das agências, as etapas serão agrupadas em três pares: etapa analógica/eletrônica, etapa digital/ciber e etapa on-line/web. Assim, temos a seguinte quadro-resumo:

Nomenclatura Definição para o caso das agências de notícias Etapa Analógica-Eletrônica • Uso de redes de transporte e redes elétricas primitivas, como o telégrafo. • Utilizam-se equipamentos e recursos eletrônicos; Etapa Digital-Ciber • Emprega tecnologia digital, todo e qualquer procedimento que implica no tratamento de dados em forma de bits; • Envolve tecnologias que utilizam o ciberespaço. Etapa On-line-Web • É desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em rede e em tempo real; • Diz respeito à utilização de uma parte específica da internet, que é a web. Quadro 13 - Delimitação das etapas tecnológicas empregadas nas agências de notícias.

7.6.1 - A etapa analógica/eletrônica.

No período compreendido na etapa analógica/eletrônica, pode-se indicar o momento da aparição das agências de notícias em 1835, com a francesa Havas, depois 246

renomeada de AFP.190 A etapa compreende o intervalo a partir do qual se dá o uso de recursos elétricos de comunicação pelas agências como, por exemplo, o telégrafo a cabo em operação híbrida com mensageiros, transporte ferroviário e marítimo e outros métodos. Posteriormente, os recursos passam a ser de ordem eletrônica, através de transmissão por rádio, linhas telefônicas e satélites, e indo até o uso dos primeiros sistemas digitais, nos anos 1960.

Características operacionais Etapa analógica e eletrônica. e de fluxo Volume • Definição dos locais de geração de notícias em torno dos epicentros Produção descentralizada informativos; • Operação no modelo de redes fechadas e proprietárias; • Ênfase das agências comerciais na obtenção de informações em função da movimentação comercial e financeira; • Alternativas como a formação de agências em modelo cooperativo, de modo a ampliar os volumes de informação. Escala • Surgimento da concepção de serviços destinados a clientes específicos; Serviços • Definição de similaridades temáticas para constituição de serviços; Velocidade operacional • Encaixe de informações sobre um mesmo evento em serviços diferentes; • Surgimento do binômio de serviços para a mídia e serviços para o mercado. Intermitência • Definição da entrega de um mesmo informe ao mesmo tempo para todos Serviços clientes que assinavam um determinado serviço; Velocidade operacional • Adequação de serviços para operar em horários ociosos das redes de transmissão; • Definição de serviços mais ágeis em função de fatos ou eventos pontuais. Distribuição • Contextualização de determinadas informações em função de cenários Diss. conteúdo/ plataforma geográficos, políticos, econômicos e culturais específicos. Prospecção • Limitação ao alcance da rede em bases eletrônicas. Produção descentralizada Filtragem • Agência como elo necessário entre os eventos e órgãos locais que não têm Serviços capacidade de efetuar a cobertura. Diss. conteúdo/ plataforma Alcance • Uniformização do alcance devida às poucas variações tecnológicas Serviços disponíveis para a entrega. Velocidade operacional Produção descentralizada Penetração • Estabelecimento de relações de dependência mais evidentes dos órgãos Serviços periféricos em relação ao material das agências; Velocidade operacional • Menor autonomia dos órgãos periféricos na escolha de um cenário de Diss. conteúdo/ plataforma informes pouco diversificado.

Quadro 14 - Implicações das características operacionais e de fluxo na etapa analógica/eletrônica das agências de notícias. (Obs. Em negrito as características operacionais envolvidas e combinadas com cada característica de fluxo).

7.6.2 - A etapa digital/ciber.

190 Cf. http://www.afp.com/english/afp/?pid=history . 247

Essa etapa pode ser compreendida como o tratamento da informação de modo numérico, ou em bits. Em um segundo momento, pode ser delimitada a partir da criação das primeiras redes de trocas de dados, sendo essas redes interligadas ou não (LEMOS, 1997), criando assim um espaço de fluxo de informação digital. Nas agências de notícias, o tratamento de informações em bases digitais foi implementado inicialmente a partir dos anos

1960, e no início dos anos 1970, com o uso de terminais de vídeo.

Características operacionais Etapa digital/ciber. e de fluxo Volume • Organização de serviços em função de bases de dados, ou conteúdos Produção descentralizada produzidos anteriormente e sistematizados para acompanhamento, ou complementação de eventos em questão. Escala • Automatização do endereçamento de notícias para serviços (p.ex. ADX). Serviços Velocidade operacional

Intermitência • Estabelecimento de serviços mais ágeis que outros; Serviços • Ajuste da velocidade de acordo com o serviço e as plataformas tecnológicas Velocidade operacional disponíveis; • Ênfase na agilização de serviços vinculados ao ambiente financeiro, comercial e bancário. Distribuição • Direcionamento de serviços em função de estruturas tecnológicas específicas. Diss. conteúdo/ plataforma Prospecção • Utilização de bases de dados para criar serviços relativos à memória do que já Produção descentralizada foi produzido. Filtragem • Estabelecimento de centros regionais das agências em modelo mais Serviços autônomo em relação às mesas centrais de operação. Diss. conteúdo/ plataforma Alcance • Possibilidade do cliente acessar informações específicas, armazenadas em Serviços bases de dados, sem esperar o envio da informação pela agência. Velocidade operacional Produção descentralizada Penetração • Ampliação e presença das agências comerciais no setor econômico e Serviços financeiro. Velocidade operacional Diss. conteúdo/ plataforma Quadro 15 - Implicações das características operacionais e de fluxo na etapa digital/ciber das agências de notícias. (Obs. Em negrito as características operacionais envolvidas e combinadas com cada característica de fluxo). 248

7.6.3 – A etapa on-line/web.

A etapa on-line, no caso das agências, pode ser indicada como o momento no qual se iniciam as práticas de alimentação contínua de informes, através de redes digitais. Em

1973, o Reuters Monitor foi o primeiro sistema de caráter jornalístico, e um dos primeiros mundialmente, fora do escopo militar e acadêmico, a constituir uma rede própria para fluxo de informações em tempo real. Na Agência Estado, a utilização de redes digitais para distribuição se deu em fins dos anos 1980, com a aquisição da Broadcast. Já na Agência

Brasil, pode-se dizer que as etapas on-line e web se sobrepõem, pois só com a adoção da internet como plataforma única de entrega de material, a partir de 2000, é que se iniciam as atividades utilizando redes digitais.

Características operacionais Etapa on-line/web. e de fluxo Volume • Interligação das bolsas de valores internacionais através de redes privadas Produção descentralizada para o acompanhamento e transação de ações; • Possibilidade de clientes inserirem informações no sistema; • Criação de bases de dados gigantescas, como o factiva, para armazenamento e acompanhamento da produção jornalística em escalas mundiais. Escala • Capacidade de detalhamento e especificação maiores dos serviços; Serviços • Salto significativo na quantidade de serviços; Velocidade operacional • Encaixe dos serviços em plataformas distintas.

Intermitência • Estabelecimento de níveis variados de atualização, de acordo com os serviços Serviços e plataformas disponíveis; Velocidade operacional • Estabelecimento do tempo real na alimentação de informes.

Distribuição • Estratégias de distribuição em multiplataforma, de acordo com o perfil da Diss. conteúdo/ plataforma clientela e das possibilidades tecnológicas disponíveis; • Exclusividade ou priorização de entrega de serviços para setores específicos, também conforme a característica tecnológica existente; • Replicação de serviços existentes para plataformas on-line e web. Prospecção • Estabelecimento de estratégias de criação de serviços em modelos Produção descentralizada cooperativos, através da web. Filtragem • Complementação com outras fontes presentes na web. Serviços Diss. conteúdo/ plataforma Alcance • Potencialização do alcance devido à multiplicidade de possibilidades Serviços tecnológicas disponíveis para a entrega. Velocidade operacional 249

Produção descentralizada Penetração • Maior autonomia de escolha dos informes, por parte dos clientes, devido à Serviços uma maior diversidade de fontes informativas on-line e na web. Velocidade operacional Diss. conteúdo/ plataforma

Quadro 16 - Implicações das características operacionais e de fluxo na etapa online/web das agências de notícias. (Obs. Em negrito as características operacionais envolvidas e combinadas com cada característica de fluxo).

A etapa web pode ser compreendida com a entrada das agências na operação no ambiente da rede mundial de computadores. A partir de 1995, em movimento análogo aos jornais, diversas agências começaram a colocar na web alguns dos seus serviços. Esses, por sua vez, obedeciam a lógicas diferenciadas. Alguns serviços eram de acesso aberto aos usuários comuns, e outros de caráter fechado, para usuários que pagavam pelo uso.

7.7 – Desdobramentos da interação das agências de notícias com a internet.

Para a realidade das agências, a internet se apresenta como um ambiente tecnológico múltiplo, em que se evidencia principalmente quatro possíveis aplicações dessa tecnologia (KUCINSKI, 2004, p.73): uma rede de transmissão de dados; uma mídia ou como mais um formato, como o rádio, a televisão e o impresso; uma ferramenta de trabalho; uma função de memória (PALACIOS, 2002). Em função de cada uma dessas quatro aplicações, as agências manifestaram, de um modo geral, os seguintes posicionamentos:

7.7.1 – A internet como canal de transmissão de informação.

A organização histórica das agências em torno de tecnologias fornece um modelo inicial de operação em redes. Obviamente, ao se adicionar o uso de redes digitais, desde os anos 1970 e depois, a complexidade da internet, há o crescimento significativo da expansão e alcance das suas atividades. Isso é particularmente sensível em dois aspectos. Primeiro, nas 250

agências comerciais, como os casos da Reuters (através do IDS) e da Agência Estado (através do AE mídia), onde a internet se soma às alternativas prévias para entrega de conteúdo ou obtenção de informações. No caso das agências estatais, como a Agência Brasil e outras ao redor do mundo191, essa possibilidade representou um canal extremamente viável para ampliação do alcance e penetração das informações.

7.7.2 – A internet como ferramenta de trabalho.

Nesse ponto, as agências interagem com a internet na aplicação de recursos de modo a aperfeiçoar a interação interna e também na incorporação de práticas em tempo real entre membros das suas equipes para a gestão da produção de conteúdo. Assim, ocorrem processos de sincronia mais estreita nos moldes pré-redes digitais. Pode-se indicar, como ferramenta de trabalho, além do e-mail, que é largamente usado nos três casos estudados, a adaptação de ferramentas de Chat, como o Messenger, que, no caso da Reuters, opera dentro da rede interna da agência, permitindo ao corpo de funcionários o estabelecimento de interações durante o processo de geração dos informes.

7.7.3 A função de memória

No uso de bancos de dados, para as agências, há casos de potencialização dessas bases tanto internamente, de modo a subsidiar a geração de informes, como externamente ao se gerar serviços a partir de uma massa de dados depositada. É justamente este último aspecto que se nota com clareza nas operações da Reuters, em que o uso de bancos de dados é recorrente para a criação de boa parte dos serviços, sobretudo, o de históricos. Em um nível

191 Cf. Apêndice A. 251

subseqüente de uso de bases de dados, a chegada da internet permite tanto a aceleração do acesso a bases de dados externas, como a viabilização de sistemas que integram a disponibilização de conteúdos de vários órgãos. É o caso específico da joint-venture entre duas agências concorrentes, a Dow-Jones e a Reuters, que, a partir de 1999, uniram as suas bases de dados relativas aos conteúdos dos jornais no sistema Factiva. Esse banco de dados reúne conteúdo de cerca de 8 mil jornais do mundo inteiro, inclusive brasileiros, e um número similar de web-sites de serviços financeiros (MOONEY e SIMPSON, 2003, p.108).192 No caso da Agência Estado, os bancos de dados recuperam informações desde a digitalização da redação dos jornais do grupo estado, em 1988. Na agência Brasil, a recuperação pode ser feita somente até o ano de 2000, quando a mesma passa a atuar na internet. Nesse sentido, há intenções, como a do Grupo Estado, de digitalizar todo o acervo do jornal O Estado de São

Paulo. Porém, esse projeto parece estar paralisado, visto que se comenta internamente esse processo desde 1999 (SILVA JR, 2000, p.141).

7.7.4 – A internet como mídia.

A adoção da internet como mídia ocorre de modo mais complexo. Em uma primeira observação, o fato de o caráter das agências atuarem historicamente como

“atacadistas” da informação em interação com a nova rede digital, tende a se atenuar e capilarizar mais o campo de distribuição dos seus informes.

Clients who have a positive experience of news agencies when they access news agency services directly will also be attracted to media which make prominent use of such services. What this comes down to, of course, is brand-imaging; brand-image is becoming even more important with the erosion of the difference between “wholesale” and “retail” operation: the future opens up the possibility of delivery of information services, not just to

192 Cf. também: http://www.factiva.com/products/index.asp?node=menuElem1491 . 252

media, but direct to millions if not billions of clients (BOYD-BARRETT, 2000, p.06)193.

Se a internet apresenta um campo a mais para escoamento das informações das agências, ampliando o horizonte de penetração de seus conteúdos, no novo ambiente da web, não somente os jornais transpostos de suas versões impressas passam a continuar a assimilação dos informes das agências. A esses se juntam novos tipos de veículos: os jornais exclusivamente on-line e os portais (BARBOSA, 2003). Na visibilidade obtida pelas agências através dos seus sites na internet, de modo geral, inclusive as estudadas mais atentamente nesta tese, esse aspecto permite algo inédito: a formatação de conteúdo para o público on-line.

Com isso, há a presença em larga escala de sites de agência, sobretudo as regionais e estatais194 que, de outra forma, não teriam como atingir parcelas de público leitor de modo direto. Para essas agências ligadas ao aparelho estatal, como a Agência Brasil, a internet representa não somente a possibilidade de um acesso direto dos usuários, como também amplia a malha de penetração e alcance. Se comparados aos quatro mil clientes195 atuais, os cinco, que assimilavam de modo fixo o material, parecem nitidamente, um número pífio.

A nossa informação é pública em todos os sentidos, ela é gratuita, pra todo mundo independente do uso que se está fazendo. Muita gente me liga aqui dizendo “olha, agora ficou fácil fazer jornal, não preciso nem mais de repórter”. Simplesmente porque o conteúdo é nosso, e provavelmente vende.196

193 Clientes que têm uma experiência positiva com agências de notícias quando acessam diretamente os serviços dessas agências serão também atraídos por uma mídia que faça um uso proeminente de tais serviços. Isto trata- se, naturalmente, da imagem da marca; a imagem da marca está se tornando ainda mais importante com a erosão da diferença entre operações de "atacado" e "varejo": o futuro abre a possibilidade do fornecimento de serviços de informações, não apenas para a mídia, mas diretamente para milhões, senão bilhões, de clientes (Tradução do autor). 194 Cf. Apêndice A. 195 Número aproximado e estimado, pela própria Agência Brasil, de órgãos brasileiros e estrangeiros que acessam e republicam o seu material. 196 Depoimento gravado de Flávio Diegues, Editor-chefe da Agência Brasil, concedido para a pesquisa em 25 de abril de 2005. 253

Mesmo para agências comerciais, como a Estado, a entrada na internet gera desdobramentos significativos pelo fato de se ter uma visibilidade junto ao leitor final. Esse aspecto abre para a agência possibilidades inéditas, como, por exemplo, agregar publicidade aos seus informes. No caso da Reuters, a entrada na internet ocorreu numa estratégia dupla.

Tanto como plataforma de distribuição (através do IDS), como formatação de conteúdos da

área de mídia, através do Reuterspace. Nesse último caso, a tentativa de lançar um mega- portal direcionado ao público não logrou os resultados esperados.

7.8 – A hibridização de etapas tecnológicas nas agências de notícias.

Evidentemente, a classificação em etapas e as manifestações percebidas, principalmente em relação à internet, podem ser situadas mais como um indicativo da sincronia entre condições tecnológicas e as práticas das agências, do que como limites rígidos que possam indicar uma mudança estrutural profunda nas ações dessas organizações

(PALACIOS, 2004, p.1,2). Trata-se, portanto, de mais uma divisão no sentido historiográfico e sociológico que visa mapear a aplicação tecnológica do que estabelecer marcos rígidos de rupturas nas práticas envolvidas. O que, se não é uma exclusividade do quadro relativo às agências, parece ser uma tendência mais geral manifestada nos processos midiáticos contemporâneos:

More specifically for new media, however, such shaping is recombinant. That is, new media systems are products of a continuous hybridization of existing technologies and innovations in interconnected technical and institutional networks. […] They are not determined by an independent, inevitable causality or evolutionary process unique to technology itself; rather, designers, users, regulators, and others can take advantage of the current state of technological knowledge and recombine technologies and 254

new knowledge to achieve their particular goals or purposes (LIVINGSTONE e LIEVROUW 2003, p.8).197

Tal sobreposição recombinante indica que, no desenrolar das atividades das agências, o modelo de operação aponta para um cenário preponderante de hibridização tecnológica.

Convergence has been a fashionable concept for quite a few years, but only now is it becoming a significant reality, and national news agencies control important software product that could be attractive to the giant players (BOYD-BARRETT, 2000, p.15).198

Se a adoção e desenvolvimento de dispositivos tecnológicos diferenciados torna- se mais evidente no cenário, permeado por tecnologias digitais, há também uma ação constante de uso de tecnologias variadas (READ, 1992, p.406). Trata-se, portanto, de uma adequação que objetiva a manutenção da vantagem competitiva (SAAD, 2003, p.38) que, por sua vez, envolve a decisão sobre os produtos e tecnologia a serem adotados e/ ou absorvidos para atingir uma determinada delimitação de mercado.

Nos casos observados na pesquisa, essa regra não visa, em geral, à substituição dos recursos quando do surgimento de dispositivos mais avançados. De modo ilustrativo, na figura 51, indica-se aproximadamente o início do uso de determinada tecnologia e sua continuidade durante a linha de tempo das agências de notícias.

197 Mais especificamente para a nova mídia, contudo, tal formatação é recombinante. Isto é, novos sistemas de mídia são produtos de uma contínua hibridização de tecnologias existentes e inovações nas redes técnicas e institucionais interconectadas. […] Elas não são determinadas por uma causalidade independente, inevitável ou um processo evolutivo único da própria tecnologia; ao invés disso, designers, usuários, reguladores e outros podem tirar vantagem do presente estado do conhecimento tecnológico e recombinar tecnologias e novos conhecimentos para alcançar seus objetivos e propósitos particulares (Tradução do autor). 198 A convergência tem sido um conceito em moda por alguns anos, mas apenas agora está se tornando uma realidade significativa, e agências de notícias nacionais controlam importantes produtos de software que podem ser atraentes para os grandes conglomerados (Tradução do autor). 255

Figura 51 - Linha de tempo dos sistemas de transmissão de informação utilizados pelas agências de notícias.

O mais evidente no gráfico é que, através da diversificação há um ajuste para adequar sistemas de informação em níveis diferentes da dinâmica de fluxos. Isso concilia os conteúdos em uma escala elástica de distribuição, como se observa, sobretudo, nos casos da

Reuters e da Agência Estado, em que se verifica a presença de uma mesma informação em plataformas e produtos diferenciados.

Em paralelo, com o advento de tecnologias mais eficientes, abrem-se possibilidades para a exploração e criação de perfis informativos, que permitem complexificar a natureza dos serviços (BOYD-BARRET, 1980, p.209-210, 2000, p.07).199 Com essas externalidades, as agências ampliam a aplicação das características de fluxo, devido a uma

199 A ressalva a ser feita é que os modelos analógicos (telégrafo, rádio, satélites) já permitiam uma velocidade maior e quase imediata de alimentação de informes. Mas, se, desde os primeiros modelos operacionais das agências, a possibilidade de alimentação constante de notícias para os jornais era possível, isso não era em absoluto uma norma generalizada para todas as notícias. Normalmente, o apelo a essa possibilidade se justificava em função da importância do fato, de sua noticiabilidade e interesse das praças que receberiam o material. O “deadline a cada minuto”, citado na epígrafe deste capítulo, era possível, mas, nem sempre, era a norma.

256

qualidade operacional mais eficaz. Prova disso é o salto que acontece no número de serviços gerados quando as agências passam a atuar no ambiente das redes digitais. Na agência Brasil, mesmo com um período de tempo relativamente curto de digitalização, os serviços saltaram de 3 para 11. Na Agência Estado, o número atual de cerca de 60 serviços limitava-se a pouco mais de 10, em meados dos anos 1980. Na Reuters, os atuais 550 eram, nos anos 1960, apenas

16.

Através da sobreposição de etapas permitida pela hibridização, pode-se perceber, conforme apontado nos estudos de caso, a absorção ou transporte de atividades da operação em modelos subseqüentes, como o da Agência Brasil, em que serviços, como a pauta do governo, já existiam em bases analógicas e migraram para serviços atuais:

Nós tínhamos um produto que era a pauta do governo. Na verdade, uma agenda do governo que era vendida pra vários órgãos de imprensa. Acho que a maior parte deles era assinante da pauta, mas não do noticiário, porque o nosso noticiário ainda era muito fraco e com uma forma de distribuição muito precária (informação verbal).200

Já na Agência Estado, o aspecto de migração de serviços situa-se na própria fundação da agência, no sentido de agregar os conteúdos gerados pelos demais órgãos do grupo e redistribuí-los. Nos três casos estudados, observa-se a migração para a base digital de todos os serviços que circulavam através de teletipos, telex e fax.201 Esses passam a ser disponibilizados em forma digital. Há casos que, mesmo em formatos totalmente digitais, como o AE Newspaper, da Agência Estado, o nome é mantido como uma alusão metafórica ao momento de surgimento do serviço. Na Reuters, o próprio uso do ADX é uma aplicação tecnológica de transição, pois visava ao uso de sistemas computacionais para ajustar a demanda de informações à rede disponível ainda em modelos analógicos. A partir do

200 Depoimento gravado de Marizete Mundim, chefe da divisão de clipping da Agência Brasil, concedido para a pesquisa em 27 de abril de 2005. 201 Esses dispositivos tiveram um uso até 1999, na Agência Brasil. 257

aperfeiçoamento, nos anos 1970, das bases de dados que operam essa função, o ADX integra- se, sendo diluído e assimilado no fluxo em plataformas mais sofisticadas.

Percebe-se ainda, na prática dos três casos estudados nesta tese, a presença de departamentos tecnológicos para o desenvolvimento de soluções de TI, que ajustem os dispositivos à realidade das agências. De modo geral, a tendência é concentrada em dois níveis: adaptar tecnologias existentes ao uso próprio e potencializar os sistemas envolvidos para a operação da agência (MACHADO, 2000, p.166).

Na Reuters, isso é notado de modo mais evidente pela série de aquisições de companhias de tecnologia, de bases de dados e de sistemas de transmissão. Na Agência

Estado, isso é mais perceptível pela compra, em 1991, da Broadcast, para aperfeiçoar o setor tecnológico. De modo mais modesto, a Agência Brasil vem buscando soluções presentes, por exemplo, em tecnologias de software livre, para gerir de modo mais consistente o seu fluxo e criar parâmetros para acompanhar o aproveitamento do material que distribui.

Esse espaço ocupado pelas agências através de “braços tecnológicos” detecta uma expansão da complexidade proporcionada pela convergência, pois as mesmas tornam-se organismos que mesclam a prestação de serviços, a geração de notícias e atuação como companhias de TI. Assim, as resultantes geradas pelos processos de hibridização são possíveis devido ao caráter maleável que caracteriza o percurso das agências em diferentes fases de desenvolvimento de suas atividades. Há um jogo permanente, nesse quadro, que é ajustado de modo circunstancial e tem, como condicionantes, diversas esferas.

Podemos citar que, no campo de configuração da prática das agências, uma série de elementos, (as características operacionais e de fluxo, o conjunto de dispositivos e infra- estruturas necessárias, as pressões concorrenciais, os limites e possibilidades presentes na capacidade de implementação e inovação tecnológica) que são, para as agências, o território que permite, como indica Fidler, meta (mídia) morfosear-se. O esforço nesse sentido visa, em 258

cada caso, equilibrar a tensão entre manter a atividade de agenciamento e moldarem-se ao conjunto novas perspectivas.

Nesse balanceamento de adaptação e modificação constante, permanece a pressão de se endurecerem os objetivos em torno do agenciamento, em que pese a flexibilização dos meios e estratégias para isso. A busca por esse ajuste é o que permite, numa pletora de variedades de modelos de informações existentes, continuar a perceber o funcionamento das agências como unidades singulares de análise.

São, em resumo, aspectos que estabelecem uma dinâmica tríplice que condiciona o que deve ser mudado, o que pode ser potencializado e o que permanece como núcleo identificável das agências, ou seja: como se articulam os processos de rupturas, continuidades e potencializações nas agências e que serão observados no próximo capítulo. 259

8 Continuidade, Rupturas e Potencializações nas agências de notícias.

“The table was laid, and he took his place at it. Within reach of his hand was placed a series of taps, and before him was the curved surface of a phonotelephote, on which appeared the dining-room of his home in Paris. Mr and Mrs Bennett had arranged to have lunch at the same time - nothing could be more pleasant than to be face to face in spite of the distance, to see one another and talk by means of the phonotelephotic apparatus”202. - Julio Verne. The Day of an American Journalist in 2889.203

8.1 – Aspectos gerais da tríade: continuidade, potencializações e rupturas.

Pensar no desenvolvimento das agências na perspectiva de um hibridismo que se manifesta de modo constante envolve, de certo modo, aceitar um movimento gradual de passagem de uma base tecnológica à outra. Esse gradualismo propõe, no mesmo movimento, a procura de uma eficiência maior, como também a articulação e absorção de práticas surgidas em contextos tecnológicos diferentes:

202 A mesa estava posta, e ele ocupou seu lugar nela. Ao alcance da sua mão, foi colocada uma série de teclas e, na frente dele, estava a superfície curva de um fonotelefoto, na qual aparecia a sala de jantar de sua casa em Paris. O sr. e a sra. Bennett haviam combinado de almoçar ao mesmo tempo - nada poderia ser mais agradável do que estar cara-a-cara apesar da distância, para ver um ao outro e conversar por meio do aparelho fonotelefótico (Tradução do autor). 203 Cf. http://eastoftheweb.com/cgi-bin/version_printable.pl?story_id=DayAmer.shtml

260

No final do século XX e início do século XXI, vive-se um desses intervalos na história cuja característica é a transformação da cultura material pelos mecanismos de um novo paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação [...] Uma característica dessa revolução tecnológica é a crescente convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente integrado, no qual trajetórias tecnológicas antigas ficam literalmente impossíveis de se distinguir em separado. Assim a microeletrônica, as telecomunicações, a optoeletrônica e os computadores são todos integrados nos sistemas de informação (CASTELLS,1999, p.51,78).

Se a perspectiva da convergência, no momento atual, aponta tanto para a combinação de tecnologias específicas, como para a absorção de dinâmicas antigas, em que sentido, efetivamente, a integração com sistemas de informação apresenta possibilidades de alteração das características das agências? Trata-se de uma reflexão complexa, que já foi problematizada para o jornalismo na web:

As características do Jornalismo na Web aparecem majoritariamente como Continuidades e Potencializações e não, necessariamente, como Rupturas com relação ao jornalismo praticado em suportes anteriores. Com efeito, é possível argumentar-se que as características elencadas anteriormente como constituintes do Jornalismo na Web podem, de uma forma ou de outra, ser encontradas em suportes jornalísticos anteriores, como o impresso, o rádio, a TV, o CD-ROM (PALACIOS, 2002).

Essa abordagem indica que nem todas as características204, identificadas como sendo do jornalismo na web, representam aspectos realmente novos. Muitos deles já existiam em outras mídias e sua utilização, no novo suporte, são revestidas de aspectos de continuidades. O autor exemplifica:

A Multimidialidade do Jornalismo na Web é certamente uma Continuidade, se considerarmos que na TV já ocorre uma conjugação de formatos mediáticos (imagem, som e texto). No entanto, é igualmente evidente que a Web, pela facilidade de conjugação dos diferentes formatos, potencializa essa característica. O mesmo pode ser dito da Hipertextualidade, que pode ser encontrada não apenas em suportes digitais anteriores, como o CD-ROM, mas igualmente, e avant-la-lettre, num objecto impresso tão antigo quanto

204 i.e. hipertextualidade, multimidialidade, interatividade, personalização, memória e atualização contínua. 261

uma enciclopédia. A personalização é altamente potencializada na Web, mas já está presente em suportes anteriores, através da segmentação de audiência (públicos-alvos). No jornalismo impresso isso ocorre, por exemplo, através da produção de cadernos e suplementos especiais (cultural, infantil, feminino, rural, automobilístico, turístico, etc); no rádio e na TV a personalização tem lugar através da diversificação e especialização das grades de programação e até mesmo das emissoras (PALACIOS, 2002).

Transportando a análise das continuidades, potencializações e rupturas, para a realidade das agências, há possibilidades de aplicação. O que aproxima e torna possível a análise é que se trata, ambos (o jornalismo na web e as agências), de práticas de circulação de informação em modelos de redes tecnológicas. As distinções, porém, podem ser indicadas no uso que cada um desses conjuntos, especificamente, operam. Nessa clivagem, o que diferencia os jornais na web e as agências de notícias são três aspectos: a projeção de características de formatos precedentes, a configuração no uso da rede, a orientação da disponibilização de conteúdo.

Como já trabalhado nessa tese, excetuando-se o momento em que estabelecem presença na internet, as agências não tiveram como objetivo a adaptação de material em formas culturais específicas, por não terem formatos precedentes. No contexto das redes digitais, ocorre a ênfase das agências em adaptar, justamente, suas características operacionais e de fluxo.

Quanto à configuração de uso de redes, a história das agências concentra-se na aplicação de ferramentas tecnológicas dedicadas, por vezes exclusivas, e redes proprietárias.

O jornalismo na web, por sua vez, opera em uma rede aberta, a internet, variando a estratégia de acesso ao material.205 Uma distinção mais nítida é que a internet aponta, para esses jornais, a tendência a uma relação mais próxima com os leitores e/ou receptores (SILVA JR, 2000;

205 Esse, pode ser configurado em três variantes: gratuito, semi-gratuito, e pago. Como gratuito, define-se o jornal que disponibiliza a íntegra do seu conteúdo sem custo direto para o usuário. Para um exemplo, cf. http://www.folhape.com.br/ Como semi-gratuito, parcelas desse conteúdo são acessíveis mediante pagamento. Para um exemplo, cf. http://www.pernambuco.com/diario/index.html Como pago, todo o conteúdo só pode ser acessado mediante pagamento. Para um exemplo, cf. http://jc.uol.com.br/jornal/ 262

MOHERDAUI, 2005). Assim, esse uso de redes levaria à passagem de um modelo massivo e indiferenciado (um-todos), para um patamar descentralizado e universal (todos-todos)

(LEVY, 1993, 1999; LEMOS, 1997; PALACIOS, 1996). No caso das agências, a passagem ao modelo todos-todos, dá-se, porém, de modo diferenciado.

A ponderação a ser feita é que a expressão todos-todos se insere segundo a lógica interacional presente no ambiente comunicacional das redes de dados. Nesse caso, o entendimento é mais no sentido do modelo ser “de qualquer um para qualquer outro”, desde que presente numa rede específica. No caso da internet, essa ponderação pode ser feita em função das limitações de acesso e o caráter ainda não-inclusório do processo de acesso à informação em largas escalas sociais. No caso das agências, o aspecto “de qualquer um para qualquer outro” deve ser atenuado, pois o uso de redes proprietárias e fechadas permanecem como majoritário, ainda que se somem possibilidades de acesso pela internet.206 Essa, por vezes, é usada em lógica de redundância, para, no caso de haver queda ou falha técnica de outros canais de circulação, garantir-se o funcionamento dos terminais de acesso.207

No que diz respeito à lógica de disponibilização de conteúdo, há uma diferença entre a operação em rede das agências e a dos jornais na web. Wolton (1999, p.85) estabelece uma distinção entre uma lógica de oferta, caracterizada, por exemplo, nas mídias tradicionais

(rádio, televisão, impressos) e a lógica da demanda, baseadas no binômio disponibilização/acesso.

206 Ressalve-se, naturalmente, para esse caso, as agências de notícias públicas que passam a utilizar apenas a Internet como única plataforma de disponibilização dos informes, como é o caso, por exemplo, da Agência Brasil, ligada à Presidência da República (http://www.radiobras.gov.br/). 207 No entanto, o uso de redes múltiplas também estava presente no desenvolvimento das agências, como se indica, por exemplo, no Manual da United Press de 1929: “In case of total wire failure, bureaus should arrange to Broadcast a bulletin service from local radio stations. Every bureau manager should be in touch with both the commercial radio stations and amateur stations in his city, contact being established when wire conditions are normal and understanding reached regarding service to isolated districts in time of emergencies” (NELSON, 2002, p.523). Tradução: “Em caso de uma falha total dos cabos, as sucursais devem organizar a transmissão de um serviço de boletins a partir das estações de rádio locais. Cada gerente de escritório deve estar em contato tanto com as estações de rádio comerciais quanto com as estações amadoras da cidade, contato esse estabelecido quando as condições dos cabos estão normais e chegando a um entendimento a respeito do serviço prestado a distritos isolados em casos de emergência” (Tradução do autor). 263

A lógica da oferta se orientaria por um tipo de emissão de uma mesma mensagem dentro de um espectro largo de receptores, aproximando-se do padrão um-todos. O contraponto, estabelecido por Wolton, na lógica da demanda, seria o modelo todos-todos, em que os níveis de hierarquização entre produção e consumo da informação seriam mais reduzidos, permitindo, ao menos hipoteticamente, usuários diferentes terem um mesmo potencial de acesso.

A lógica da oferta é mais próxima da operação das agências. Próxima, mas não idêntica. Nesse caso, a oferta se dá, mas de modo segmentado, através dos serviços, que são pagos e restritos. Sendo, no entanto, um serviço específico entregue a assinantes ao mesmo tempo e de modo indiferenciado. Trata-se, portanto, de uma oferta seletiva e direcionada, condicionada a pagamento.

8.2 – Desdobramentos da tríade continuidade, rupturas e potencializações sobre as características específicas das agências de notícias.

Nos desdobramentos das práticas das agências, dentro do contexto informacional, as características de formatação de serviços, dissociação entre informação e suporte, descentralização e velocidade operacional, estão presentes no modelo de distribuição de informação em redes. Contudo, isso indica que as mesmas tanto permanecem estruturadas no desenvolvimento das agências, como sofrem condicionamentos face às potencialidades assumidas no contexto das redes digitais. Desse modo, serão aprofundados, a seguir, os aspectos específicos das continuidades, potencializações e rupturas pertinentes às características operacionais das agências. 264

8.2.1 – Continuidade e potencializações na formatação de serviços.

A formatação de serviços é uma característica clássica das agências, bem como a divisão entre os dois principais núcleos de produção: informações para negócios e notícias.

Porém, a divisão, entre a natureza dos eventos, de um modo geral, e seus direcionamentos para os serviços, não devem ser compreendidos como inflexível. Como o horizonte de assuntos é diversificado e maleável, ocorrem dinâmicas relacionadas ao multi-empacotamento por conta da elasticidade de conteúdos. O que gera aproveitamentos mútuos de um núcleo de produção a outro.

A nossa missão para o serviço de finanças é antecipar todas as notícias que vão ao ar nos jornais do dia seguinte e ser primeiro nas notícias financeiras em tempo real. A Reuters, como qualquer agência, funciona como uma fábrica. A gente brinca que funciona como uma salsicharia. Empacota e manda. [...] O segredo financeiro de uma agência como a Reuters é vender a mesma notícia em diferentes formas porque se ganha diferentes dinheiros da mesma informação. [...] Eu vendo em tempo real para o mercado financeiro, aí no fim da tarde eu entrego pra mídia e vendo pros jornais, aí eu vendo a mesma notícia em vídeo para as TVs. A mesma notícia em imagens para as fotos. A minha principal missão é reportar. Ser o mais rápido possível nessa entrega de notícias para o mercado financeiro.208

O depoimento acima ajuda a compreender como se potencializa a capacidade da agência em estabelecer um maior retorno financeiro em face da apuração de uma mesma notícia. Os fatos dos jornais receberem uma notícia com um atraso em relação ao mercado, como se ilustra nesse caso, deve-se, sobretudo, ao tipo de informação em questão e ao apelo à imediaticidade da notícia em si. Por esse motivo, o mercado de informações em tempo real demanda serviços que requerem plataformas tecnológicas mais complexas e ágeis.

Nós temos vários produtos. [...] A Broadcast é um produto de informação financeira em tempo real. Então quem são os clientes? São bancos, operadores de bolsa de valores, gente de mercado financeiro. O cara fica

208 Depoimento gravado de Mário Andrada, Editor-chefe da Reuters América Latina, concedido para a pesquisa em 16 de maio de 2005. 265

sabendo que a Petrobrás descobriu um poço gigante de petróleo na Bacia de Campos. Ele vai ter essa informação um minuto antes de todos os outros operadores [...] A Broadcast vai dar cinco linhas sobre isso: Petrobrás acaba da anunciar poço gigante na bacia de Campos. Aí ela manda outra linha: poço da Petrobrás é o maior do mundo. Tem tantos metros cúbicos de gás. Aí ela fala: diretor de operações da Petrobrás vai dar entrevista em cinco minutos. Aí ela vai dando um conjunto de flashes, uns maiores e outros menores, de maneira que o operador que está do outro lado pode ter todas as informações sobre aquilo. Eu vou transformar isso num texto para publicação em jornal. É um outro formato e serviço para as mesmas informações. Já o serviço ´financeiro´ é um produto muito parecido com o Broadcast , só que em internet. Qual que é a diferença entre ele e o Broadcast ? É dinheiro. Ele é mais barato. O Broadcast você recebe no mesmo momento 209.

Isso reflete na organização, o direcionamento da natureza especial do serviço em relação ao mercado que o absorve. O fator tempo, nesse caso, tem um valor específico por permitir que, para diferentes escalas de urgência, a mesma informação possa ser vendida várias vezes (SEIB, 2001, p. 97; LOPEZ, 1985, p.93). Essa orientação de distribuição dos informes, pelas agências, é, de certo modo, uma constante no desenvolvimento das mesmas.

No entanto, há potencializações em função das redes digitais.

Isso surge de modo prototípico, nas agências de notícias, em 1973, através da criação do Reuters Monitor (MOONEY e SIMPSON, 2003, p.84). O interessante a ser notado

é que a interligação das informações do sistema financeiro tem, nesse caso, a particularidade de ter sido tomada por uma agência de notícias, e não por uma eventual congregação de membros do sistema financeiro em si. Com isso, a agência descobre um filão que irá representar o grosso de seus retornos de capital investido. Não à toa, o faturamento do conjunto de serviços vendidos ao setor financeiro se reflete no número de terminais dedicados a essa tarefa. Atualmente, o Reuters Terminal (RT) tem cerca de 300 mil unidades no mundo

(MOONEY e SIMPSON, 2003, p.127), na Agência Estado, o Broadcast opera com cerca de

10 mil terminais (ADGHIRNI, 2001, p.4) .

209 Depoimento gravado de Eduardo Matos, Editor-chefe de notícias da Agência Estado, concedido para a pesquisa em 13 de maio de 2005.

266

O diferencial da operação em redes, nesse caso, é tanto uma geração maior de volumes de fluxo, como a transferência de parcelas de geração desses volumes para outros agentes, em que a alimentação de dados da rede passa a ser co-operada pelos agentes do sistema financeiro e intermediada pelas agências, identificando informações de cunho semelhante e encaixado-as em escalas de serviços.

Segundo Fenby (1986, p.86), a maioria da imprensa internacional recebeu essas assimilações de modo mais lento, pois no momento em que essas redes começavam a ser implementadas os jornais não estavam suficientemente prontos com redes de tempo real: parte pelo custo envolvido, parte pela ausência de uma infra-estrutura que alcançasse esses órgãos.

Durante um bom tempo, até fins dos anos 1980, boa parte da imprensa mundial continuou a ser alimentada pelos despachos das agências através das redes obsoletas de transmissão, e por aparelhos como o fax e o telex.

De um modo geral, os fenômenos de potencialização de serviços conseqüentes da operação em redes digitais são: um aumento na geração de volumes; a possibilidade dos clientes incluírem dados no sistema e a entrega em tempo real da informação requerida. Essa potencialização reconfigura ligeiramente o perfil de atuação das agências. O que se obtém, nesse quadro complexo, é a tendência das agências comerciais serem não somente uma agência de notícias, mas uma agência de informação. É um modelo implementado pela

Reuters, que foi seguido, de modo diverso, por algumas agências: a AFP, a AP e UPI passaram, ao cobrirem mais enfaticamente a movimentação desse setor, porém, sem a mesma elasticidade que a concorrente inglesa e direcionando os serviços de cobertura, sobretudo, para abastecer o setor de mídia (FENBY, 1986, p.109).210 Esse aspecto se desdobraria na

210 A passagem para a operação com ênfase no mercado financeiro causou resistência em algumas agências. Em parte pela mudança de foco de concentração da cobertura, em parte pela resistência em se trabalhar com sistemas de redes digitais. Na AFP, por exemplo, houve um boicote aos terminais de computadores em 1975, pelos jornalistas, por se considerarem ameaçados pela inovação tecnológica, bem como pelo uso limitado das possibilidades da nova tecnologia (LINS e SILVA, 1988, p.57, 62). 267

existência de um núcleo duro, de difícil penetração para agências que não tivessem no fornecimento de serviços financeiros a sua especialidade.

Less than five per cent of Reuters' revenue was generated from the sale of general news to traditional news media. Most of the rest came from its specialized services, especially in the money, commodities and securities markets […] In considering whether news agencies could venture into financial services, it was argued that Reuters had made such inroads in this field that it was just impossible for smaller news agencies to capture market share, even in the context of their own domestic markets (SHATOKAR, 2001, p.34).211

Esse modelo foi repetido parcialmente, no Brasil, pela Agência Estado, do grupo

Estado de São Paulo. Em 1989, através da compra da Broadcast, que praticamente monopoliza essa área de atuação.

8.2.2 – Continuidade e potencializações na dissociação entre informação e suporte.

Conforme estudos anteriores apontam (SILVA JR, 2000, p.52), as tecnologias digitais nas agências têm a capacidade de ser uma língua franca entre distintas modalidades de organização de conteúdo e permitem assim a disseminação de um mesmo núcleo de informação para diferentes suportes, como o impresso, o eletrônico e o digital.

No entanto, ao se observar a estruturação histórica das agências, pode-se dizer, com tranqüilidade, que elas nunca tiveram a prioridade do estabelecimento de veículos ou suportes próprios para a assimilação dos seus informes.212 Trata-se, portanto, de um

211 Menos de cinco por cento dos lucros da Reuters foi gerado da venda de notícias gerais para mídias tradicionais de notícias. A maior parte do restante veio de serviços especializados, especialmente nos mercados de dinheiro, commodities e seguros […] Ao se considerar que as agências de notícias poderiam se aventurar em serviços de negócios, foi discutido que a Reuters tinha se entranhado tanto nesse campo que era simplesmente impossível, para as agências de notícias menores, capturar uma parte do mercado, mesmo no contexto de seus próprios mercados domésticos (Tradução do autor). 212 A norma é que essa vinculação, entre a informação prestada pelas agências e um suporte ou forma cultural específica, dê-se num momento subseqüente, quando um órgão assinante, por exemplo, publica esse material. No telégrafo a cabo, a rádio, no telex ou fax, os boletins eram transmitidos para os órgãos periféricos, que podiam 268

assentamento entre duas dinâmicas: a informação, produzida prêt-à-porter, e uma subseqüente formatação em diversos suportes específicos.

É, de certo modo, a dissociação, entre conteúdo e plataforma de publicação, que contribui para a superação de limites presentes em, por exemplo, jornais, manter sistemas de apuração próprios e permanentemente ativos. Nesse quadro há, nas agências, uma flexibilização da geração do conteúdo, ao passo que não se abre mão dos objetivos de propagação dos mesmos. Através desse modelo, as agências antecipam, em pelo menos cem anos, a tendência, cristalizada com a internet do desencaixe entre conteúdo e plataforma de disseminação ou, falando de outro modo, da geração de publicação em multiplataforma (MPP, na sigla em inglês de Multi-Platform Publishing).

O limite existente é colocar a MPP apenas como surgido através da tecnologia das redes digitais. Esse último estágio, sem dúvida, amplia e potencializa essa característica.

Amplia no sentido em que pode ser utilizada por diversos órgãos situados em rede.

Potencializa, no caso das agências, por diversificar o horizonte de assimilação desses conteúdos.

Desse modo, mesmo havendo a permanência do modelo dissociado entre conteúdo e plataforma, há, no contexto digital, a formatação de material também segundo o seu direcionamento para que tipo de horizonte de clientes se destina. Pode-se indicar, nesse momento, a distinção entre material de caráter hardcopy e softcopy (MIELNICZUK, 2003, p.174).

Como material hardcopy temos conteúdos que seguem uma lógica menos flexível, em que, mesmo sendo produzidos em bases digitais, têm como destino formas culturais não necessariamente digitais. Trata-se, por exemplo, dos informes direcionados exclusivamente

usá-los conforme os seus critérios de seleção e noticiabilidade, segundo seus interesses específicos dentro da massa de conteúdos fornecidos pelas agências. 269

para jornais impressos e que possuem uma indistinção da sua formatação, assim, não variam de assinante para assinante, como ocorre na Agência Estado:

Aqui nós enviamos213 o que é mais importante para aquele cliente que não tem aquele editor pra olhar esse material e ver o que é mais importante para, eventualmente, corrigir uma coisa ou outra. Nós mandamos o material pré- selecionado. […] Mas a regra é não liberar isso aqui pra internet. [...] Se eu vender pra um site, ele vai receber isso agora e fura o jornal de amanhã, no dia seguinte, na banca. Temos uma outra gama de conteúdo que é feita especialmente pra comunicação em internet.

No caso de conteúdos preparados para a internet, temos o que se pode caracterizar como sendo o conteúdo softcopy - um material para ser usado em contextos digitais, já com um tratamento que envolve, por exemplo, links, matérias relacionadas que tenham eventualmente sido publicadas, etc.

Esse guarda-chuva de serviços pra internet chamamos de “AE Conteúdo”[...] Para a internet são vários produtos. Temos o noticiário de economia também, tem de política, de internacional, [...] são vários produtos, enfim, tudo com uma linguagem de internet, nada de jornal. 214

Nesse sentido, a dissociação entre conteúdo e plataforma, na operação das agências em redes digitais, tem práticas distintas que envolvem a utilização de canais diferenciados, bem como o tratamento específico relativo à disseminação. Podem-se indicar duas correntes principais de práticas;

213 Nessa etapa do depoimento para a pesquisa, Renata Aguiar, gerente de produtos de mídia da Agência Estado, está falando especificamente do AE Mídia – Serviço da Agência Estado de fornecimento de notícias para o mercado exclusivamente de jornais em suporte impresso. Depoimento gravado, coletado em 12 de maio de 2005. 214 Depoimento gravado de Renata Aguiar, gerente de produtos de mídia da Agência Estado, concedido para a pesquisa em 12 de maio de 2005.

270

a) modelo hardcopy: onde se mantém a cadeia de produção em bases digitais,

porém, na distribuição, há limites de enquadramento de como e em que

veículos e suportes o material deverá ser utilizado. Trata-se de uma estratégia

que diversifica a potencialidade de geração de conteúdo, porém determina

formas específicas de consumo e disponibilização;

b) modelo softcopy: amplia o modelo do hardcopy, à medida que ocorre uma

adaptação dos conteúdos aos suportes digitais. Com isso, conseqüentemente,

amplia-se o potencial de consumo dos conteúdos produzidos, pois, colocando

formas distintas de disponibilização, possibilita-se o acesso por usuários e

clientes heterogêneos.

O oferecimento do mesmo serviço e, normalmente, dos mesmos conteúdos distribuídos em estratégias diferenciadas, presume não somente a capacidade técnica instalada nas agências no sentido de formatação e encaminhamento dessas matérias.215 Nesse caso, a múltipla possibilidade de acesso, pelo cliente, aponta também para uma multiplicidade de modos de alimentação do sistema de informações das agências em modo de produção descentralizada.

8.2.3 – Continuidade e potencializações na descentralização operacional.

A descentralização envolve o afastamento e dissociação das estruturas produtivas em direção a um quadro mais independente e eqüitativo, tendo uma relação mais autônoma na gestão do sistema. É um modo de operação, na qual não se tem um centro único de controle, e sim uma distribuição horizontalizada das atividades. Trabalharemos aqui, no cenário das

215 Um exemplo disso são os serviços da agência comerciais, como a Reuters e a Estado, que tanto podem ser acessados pela Internet, como por alternativas, como satélites, transmissão de dados por rádio e redes privadas.

271

agências nas redes digitais, com um conceito ligeiramente diferenciado de descentralização: a descentralidade, de modo a particularizar sua aplicação para o caso das agências.

A definição de descentralidade é compreendida como a qualidade que caracteriza o que não está no centro de uma determinada operação. Esta acepção se aproxima do que

Levy (1993, p.25) indica como sendo, nas redes de informação, o princípio da mobilidade dos centros. O autor categoriza a rede como não possuindo centros fixos, e sim, diversos centros perpetuamente móveis, que se conectam de um nó ao outro. A essa referência concerne também o princípio da multiplicidade e de encaixe das escalas, ocorrendo à organização das ações de modo fractal “onde qualquer nó ou conexão, quando analisado, pode revelar-se como sendo composto por toda uma rede, e assim por diante, indefinidamente ao longo da escala com graus de precisão” (LEVY, 1993, p.26). Esse aspecto se apóia na capacidade de processamento e organização da informação em locais múltiplos. A ressalva é que a descentralidade indica não necessariamente uma descentralização total e sem hierarquias, mas a ocorrência de vários centros, com autonomia relativa e capacidade de coleta de informações.

Portanto, esse modelo é co-operativo com dinâmicas centralizadas.

A descentralidade reconfigura o eixo clássico de “administração central” e “ação periférica”, relativos ao modelo de organização das agências. Desse modo, escritórios regionais das agências passam a ter uma área de influência local, pertinente à cobertura de eventos relevantes, adquirindo uma certa autonomia de distribuição de serviços. Às vezes, numa mesma estrutura, observa-se esse quadro, como no caso da Reuters, em que coexistem dinâmicas descentradas:

No Brasil, os epicentros informativos são: São Paulo, Rio e Brasília. Em Brasília, nossa equipe cobre: política, congresso 70%, planalto 30%. Banco Central, Secretaria da Fazenda, Secretaria do Tesouro. Cerca de 70% das notícias de Brasília são econômicas e 30% são políticas, pelo volume. No Rio de Janeiro, nossa presença se justifica pelo IBGE, Vale [Companhia Vale do Rio Doce], Petrobrás e Varig. Sendo que os mais importantes são a Vale e, segundo, a Petrobrás. Em São Paulo o jogo é outro. São Paulo tem 272

mercados. Tem Bovespa, dólar e futuros. [...] Muita atenção em juros futuros, muita atenção no que vem pela frente. Empresas são os cinco grandes bancos. Empresas têm 20 targets. Gerdau, Embraer... Ou por terem presença no exterior ou por serem importantes. Votorantim não tem tanta notícia, mas a gente coloca por ser a maior de todas. 216

Neste caso, a descentralidade é relativa à obtenção da informação, tendo as praças de atuação uma significação vinculada à capacidade de gerar informações pertinentes ao enfoque nos serviços. Por outro lado, permanecem dinâmicas centralizadas, como é o caso da

Reuters para a distribuição de fotografias.

Antigamente a Reuters trabalhava com três desks: um em Washington, um em Cingapura e um em Londres. Agora, há um mês atrás, exatamente em primeiro de maio, começou a funcionar só um desk em Cingapura. Ele é 24 horas. Antes se você quisesse mandar uma foto na hora que Washington tava fechado, você mandava pra Cingapura. Agora todas as fotos do mundo inteiro são mandadas pra Cingapura e Cingapura distribui para os clientes. Mesmo um cliente brasileiro, quando baixa uma foto, ele está baixando do servidor de Cingapura, pode até nem saber... 217

Em outros casos, como o da Agência Estado, há uma predominância de parcelas centralizadas:

A proposta da Agência Estado é ser a sucursal no Brasil e no mundo, contando que o regional quem tem que fazer é ele [o pequeno cliente]. Eu cubro muito bem Brasília, Rio de Janeiro, que são estratégicos no Brasil. Mais São Paulo e Brasília. Inclusive quando o cliente liga e fala: “poxa, vocês fazem pouquíssimo conteúdo pra cidade de Piraporinha”. Eu não tenho condição de cobrir, quem tem que cobrir é ele. Eu tenho condição de cobrir o Brasil, mas aquilo que é relevante pra cidade dele é ele que tem que fazer, a não ser que seja uma coisa mega importante, e aí a gente faz, claro. 218

216 Depoimento gravado de Mário Andrada, editor-chefe da Reuters América Latina, concedido para a pesquisa em 16 de maio de 2005. 217 Depoimento gravado de Paulo Whitaker, editor de fotografia da Reuters América Latina, concedido para a pesquisa em 17 de maio de 2005. 218 Depoimento gravado de Renata Aguiar, gerente de produtos de mídia da Agência Estado, concedido para a pesquisa em 12 de maio de 2005.

273

Na Agência Brasil, o quadro também é semelhante, ocorrendo uma produção que

é distribuída, e uma consolidação através do site da agência, que é a única plataforma de distribuição:

A Agência Brasil só coloca no ar o conteúdo que ela produz. Ela tem uma equipe hoje de 26 repórteres em Brasília, seis repórteres em São Paulo, seis correspondentes espalhados pelo Brasil e mais oito repórteres no Rio de Janeiro. Toda produção que ela puser no ar é uma produção dessa equipe de reportagem que a gente distribui e aí é um outro passo. [...] Eles já colocam no próprio sistema. No Rio de Janeiro e em São Paulo, que são sucursais, eles colocam no sistema, os correspondentes, eles enviam para um e-mail que é o [email protected], que fica sendo monitorado pelos editores durante todo o dia, que pegam esse material, colocam no sistema e aí ele vai pro ar. 219

No exemplo das três agências observadas nesta pesquisa, temos a ocorrência híbrida de parcelas em caráter de descentralidade com parcelas centralizadas no tratamento.

Isso indica a existência da relação entre a capacidade pulverizada de obtenção de informações e a disseminação da informação em redes simultâneas de operação. Em outras palavras, os critérios de atuação de uma agência em determinado ponto, explicam razoavelmente esse aspecto, no que toca à produção, pela percepção da capacidade de um lugar gerar mais informações que outros. É certo que, com as redes digitais, esse binômio se altera no sentido do alcance das agências, através de plataformas distintas e mais flexíveis, como a internet, contudo permanecem combinações entre parcelas de centralização e descentralização. A seguir, procura-se ilustrar os modelos centralizados e parcialmente descentralizados, ou descentrados.

219 Depoimento gravado de Rodrigo Savazoni, redator chefe da Agência Brasil, concedido para a pesquisa em 25 de abril de 2005.

274

Fontes, Escritórios Escritório Agências locais Clientes, mídia eventos, dados, regionais ou central das (reempacota- a “varejo”. etc. nacionais das agências mento) agências

Figura 52 - Modelo de agência em fluxo centralizado

Fontes, Escritório central das Agências locais Clientes, mídia eventos, dados, agências (reempacota- a “varejo”. etc. mento)

Escritórios regionais ou nacionais das agências

Figura 53 - Modelo de agência em fluxo descentrado (parcialmente descentralizado)

Machado (2003, p.87) indica que a flexibilização da tecnologia digital permite a criação de sistemas descentralizados, adaptados à demanda dos usuários, como também aumenta a produtividade da empresa jornalística. Contudo, como o próprio autor critica, a flexibilização e aplicação de alternativas digitais raramente altera, no jornalismo, o modelo de produção centralizada devido à sua aplicação ocorrer na mesma lógica de verticalização, que caracteriza o jornalismo historicamente.

Especificando o debate para o caso das agências, o quadro muda ligeiramente de figura, pois há a tendência de superação dos limites impostos pela centralização, justamente pelo fato de possuírem uma ação capaz de conectar epicentros informativos dispersos e com uma extensão de clientes situados em lógicas pulverizadas. No entanto, essa superação é parcial, devido à operação delas situar-se como um jogo circunstancial de descentramentos e recentramentos, em parte porque a realidade de cobertura das suas áreas de interesse está em 275

constante mutação, orientando a ação das agências no sentido de onde atuar e para onde se dirigir futuramente.

8.2.4 – Continuidade e potencializações na velocidade operacional.

Pertinente à velocidade, diversos autores (BOYD-BARRETT, 1980, p.24;

ERBOLATO, 2002, p.197,198; MORRIS, 1957, p.16) indicam esse aspecto como diretamente associado à dinâmica das agências. Na relação com as redes digitais, ocorre a sinergia de três dinâmicas: a busca das agências por uma aceleração de acordo com a sua própria lógica de produção, a simultaneidade de tráfego de dados digitais permitida pelas redes e espaços de fluxo e, por fim, a própria exigência do jornalismo em reduzir o tempo entre o que ocorre e a publicação, constituindo-se em um dos “valores-notícia” do jornalismo contemporâneo (MORETZSOHN, 2002).

Os mercados dependem da "notícia", tal como entendida pelo jornalista, ou seja, "a informação que, uma vez revelada, afeta as expectativas do cidadão, do consumidor, do homem e da mulher comuns quanto ao mundo que os cerca, quanto ao futuro e quanto ao passado. Notícia não é apenas uma novidade, é uma novidade que altera o arranjo dos fatos, dos poderes, ou das idéias em algum nível. [...] para não falar no extraordinário crescimento do "tempo real", cujo predomínio "esfriou" definitivamente a notícia trazida pelos jornais do dia seguinte, que passou a ser, et pour cause, predominantemente análise (FRANCO, 2002, p.24,26)

O paroxismo dessa triangulação entre velocidade, agências e informação, percebe- se na passagem do estágio de alimentação contínua, pelo lado das agências, para uma cadeia de tempo real. Na definição proveniente da informática, o tempo real se caracteriza na relação homem – computador, no modelo de processamento que visa a simultaneidade de entrada e saída de dados em um sistema. O tempo real, nesse sentido, aproxima-se do conceituado por 276

Castells (1999, p.461) como “tempo atemporal”,220 um tempo instantâneo, capaz de suprimir o espaço existente entre os eventos e seu relato. Trata-se de uma escala de tempo colocada em termos de simultaneidade, possível dentro da dinâmica das redes, e não de um tempo cronológico. Levy, por sua vez, indica que a relação com a imediaticidade baseia-se na automatização de dados, em que tão importante quanto organizar é a ação de disponibilizar de modo instantâneo.

Não se trata tanto de difundir as luzes junto a um público indeterminado, mas sim de colocar uma informação operacional à disposição dos especialistas. Estes desejam obter a informação mais confiável, o mais rápido possível, para tomar a melhor decisão. Ocorre que essa informação operacional é essencialmente perecível, transitória (LEVY, 1993, p.114).

A velocidade é, pois, uma concepção de tempo técnico, que se ajusta ao padrão de cobertura e distribuição através da intermitência. Isso se dá para se cumprir uma exigência dos jornais e clientes de modo escalonável (os primeiros buscando notícias frescas, os segundos buscando diferenciais na tomada de decisão) que estão assimiladas no papel das agências de estabelecer o fluxo da informação (DANTAS, 1996, p.23).

O que varia são os níveis de atualização. Assim, indicamos aqui uma classificação desses níveis, de modo a ilustrar as possíveis diferenças no fornecimento de serviços;

a) o primeiro nível de atualização seria o parcial. Ele envolvia as primeiras

estratégias de entrega, através de mensageiros ou da combinação do telégrafo

público mais o uso de outras alternativas (STOREY, 1951, p.52, 54);

b) o segundo nível seria o consecutivo, através do uso de redes próprias de

telégrafo, mas envolvendo ainda a combinação de técnicas de entrega manual;

220 No original em inglês essa expressão é definida como timeless time. 277

c) o terceiro nível seria o simultâneo, a partir do momento em que as agências

interligam seus escritórios aos clientes, poupando o apelo a terceiros;

d) o quarto nível seria o tempo real, em que a informação já é redigida dentro de

sistemas automatizados de processamento de dados.

Assim, para o caso das agências, a velocidade através da intermitência não se dá numa escala uniforme. Para o setor financeiro, trata-se de um fator crítico vinculado à transação, levando, do lado das agências comerciais, a uma busca por soluções tecnológicas que proporcionem velocidades ainda maiores:

A priorização para o setor de mercado e finanças existe por que um minuto é muito tempo, falamos aqui em três, quatro segundos. Temos que ser rápidos porque temos que ganhar nas ações. [...] No ano passado (2004), estávamos perdendo todas nos EUA e descobrimos por que a Dow Jones e a Bloomberg estavam ganhando [...] eles tinham um programa que pegava o release e transformava em matéria automaticamente. Colocava o título, copiava os três primeiros parágrafos e estava no ar. A gente fez um igual, chama Wire Range, que mais ou menos custou um milhão de dólares, que é destinado a salvar três ou quatro segundos no final. Você vai falar para o cliente: eu ganho em 70% das vezes. É um segundo que vale 250 mil dólares! Aí se pode dizer ao cliente: tá aqui a lista, ó! De todas as notícias importantes desse ano e desse mês eu ganhei em 70%. Então se foi uma vitória por um segundo, por meio segundo, por gol de mão ou se foi impedido, não interessa. 221

Contudo, as variações existentes nos processos de velocidade podem ser compreendidas como práticas possíveis dentro de determinados contextos. No nível do tempo real, há, por exemplo, a correspondência entre as ações das agências com o mercado financeiro que, em parte, ocorrem por tratar-se de um conjunto de sistemas tecnológicos semelhantes.

A Reuters, por exemplo, contribui de forma decisiva para a criação do mercado financeiro mundial, com a conexão em tempo real de bolsas de

221 Depoimento gravado de Mário Andrada, editor-chefe da Reuters América Latina, concedido para a pesquisa em 16 de maio de 2005. 278

valores, centros financeiros e investidores. [...] Em 1995, o faturamento obtido pela Reuters através do mercado de transações em tempo real atingiu o percentual de 25% do faturamento total da empresa, enquanto que a venda de notícias no varejo para as empresas jornalísticas representou um percentual de apenas 6% (MACHADO, 2003, p.69).

Um fator que potencializa a velocidade é o fracionamento dos elementos de informação de um evento. Assim se alimenta o sistema de modo gradual, à medida que se desenrolam os fatos, complementando, posteriormente, com informações vinculadas.

As operações da Reuters são medidas com base em alguns itens. [...] Nosso objetivo é ganhar 70% dos tempos contra Bloomberg e Dow Jones. [...] A média anual tem que dar mais que 70%. Isso chamamos de “snap gaps”. O snap é o que a Agência Estado chama de alerta. Essa informação em vermelho é uma informação dada como urgente para o cara já sair operando. Ela precisa ter só o fato, a fonte e os quantitativos. Está vendo? (mostra a tela do Reuters Terminal) 11:12h e 11:20h. Oito minutos. Por que tem que ser menos de dez minutos? Porque o cara sabe que o petróleo caiu um dólar. Ele opera com isso. Petróleo está caindo, mas ele precisa saber por que está caindo. Ele não pode ficar esperando muito tempo. O máximo que ele pode esperar, achamos, é dez minutos. [...] Essa estrutura que vai para o RT é o que a gente chama de file contínuo. [...] depois em menos de uma hora você tem que colocar o “atualiza”, que resolve todo aquele problema, conta toda aquela história.222

A seguir, temos um exemplo de como isso ocorre na prática, através da disponibilização de uma notícia através da Reuters. Na primeira nota, o “snap” traz apenas os dados factuais da notícia (Figura 54), para depois ser contextualizado, como se pode ver na segunda nota (Figura 55), e aprofundado, como está na terceira nota, essa, já complementada com uma declaração oficial (Figura 56).

222 Depoimento gravado de Mário Andrada, Editor-chefe da Reuters América Latina, concedido para a pesquisa em 16 de maio de 2005.

279

Figura 54 - Nota de snap, disseminando a notícia com os elementos factuais.

Figura 55 - Nota de atualização, já indicando a fonte e uma justificativa, seis minutos após o primeiro flash.

280

Figura 56 - Nota de consolidação, com um detalhamento maior da notícia, disponibilizada uma hora após o primeiro snap. Fonte: http://about.reuters.com/dynamic/countrypages/brazil/1129123376nN1298664.ASP

Por sua vez, as notas, tanto ainda no estágio parcial como já consolidadas, são replicadas quase de imediato nos portais on-line, como no caso das “últimas notícias” do

Universo On-line - UOL, ilustrado a seguir:

Figura 57 - Publicação da nota no UOL, 59 minutos após a distribuição da Reuters. 281

Figura 58 - A mesma notícia, disponibilizada com uma hora e três minutos de retardo.

De qualquer modo, esse fenômeno indica que a simultaneidade das características operacionais das agências em redes digitais situa-se num cruzamento de fatores, em que, de um lado, temos a operação das agências com sua alegada onipresença e velocidade e, do outro, as alternativas de escoamento existentes. Há, no entanto, o aspecto da limitação tecnológica, ou dos recursos disponíveis para operar satisfatoriamente:

A primeira homepage da Agência Brasil não tinha um gerenciador de conteúdo que a atualizasse. Ela era feita à mão no Dreamweaver, que é um programa proprietário. E todas as vezes que a gente precisava atualizar a página, que não são poucas com o fluxo de informação que a gente produz, a gente tinha que refazer a página como um todo. O que na verdade quase que inviabilizava a agilidade [...] Você tinha ali um problema seríss(informação verbal)imo de uniformidade inclusive na relação com o leitor, que não sabia o que esperar da página da Agência Brasil diariamente. 223

223 Depoimento gravado de Rodrigo Savazonni, redator chefe da Agência Brasil, concedido para a pesquisa em 25 de abril de 2005. 282

Contudo, pensar uma atualização em tempo real para a totalidade dos serviços é algo que esbarra não na possibilidade tecnológica das redes digitais, mas sim no compromisso diferenciado existente nas políticas de gestão das agências comerciais em estabelecerem graus de intermitência variados.

8.3 – Rupturas nas dinâmicas das agências de notícias.

Estabelecer marcos relativos a rupturas envolve perceber as mesmas como a interrupção ou rompimento deliberado de ações vigentes até um certo momento, ou uma cessão voluntária de determinada atividade devido a novas possibilidades que se instauram:

A ruptura estaria na quebra de um certo padrão, a qual é proporcionada por um grau elevado da potencialização do uso de determinada característica que acaba acarretando em uma mudança de funções ou criação de novas possibilidades (MIELNICZUK, 2003, p.156).

Os indicativos de rupturas são, deste modo, vinculados a aspectos da continuidade e de potencialização. Há, assim, a presença e manutenção de características que sofrem condicionamentos diante de um modelo gerado por uma nova base tecnológica. Nas agências, as rupturas se dão no prolongamento das características originadas historicamente, articuladas, subseqüentemente, com o ambiente das redes digitais. Podemos indicar dois níveis principais de rupturas: pelo abandono voluntário de modelos arcaicos ou tecnologicamente obsoletos e pela criação de práticas e modelos não existentes previamente.

8.3.1 – Rupturas por abandono.

Nesse nível, pode-se indicar a descontinuação de serviços baseados em tecnologias arcaicas, quando da substituição por dispositivos mais eficientes. Normalmente, 283

dá-se a partir do momento em que se tem uma cadeia de fluxos suficientemente estável e capilarizada que mantém ou aperfeiçoa a atividade de distribuição, reduzindo custos e tempo envolvidos no processo. Trata-se menos de uma ruptura de prática do que de criação de uma nova atividade, conforme o exemplo a seguir:

Nós temos essa linha de papers. [...] ela é chamada de papers ainda hoje porque ela nasceu com o fax. Na época o fax era uma plataforma. A gente fazia uma clipagem dos principais jornais do Brasil do dia. [...] Isso era feito de madrugada. Ainda é feito de madrugada. De manhãzinha, cinco da manhã, é só passar o fax. Quando o cara chegava lá no escritório, estava lá o fax. Ou seja, era um serviço que antigamente era feito pelas assessorias de imprensa das empresas. Nós passamos a fazer isso. Hoje logicamente que ele é feito por e-mail. É um serviço que a plataforma mudou. Virou digital.224

Em outra perspectiva, o abandono de determinadas plataformas para a adoção de redes digitais muda o alcance das agências e o perfil de quem as acessa:

Há uns oito anos atrás, [...] as matérias eram enviadas por telex e fax. Nós tínhamos apenas cinco clientes, entre eles a Agência Xinxua, da China. [...] No momento que entramos na internet esses serviços foram descontinuados e a agência passou a estar disponível gratuitamente. Na verdade foi o grande salto que demos naquele momento porque você deixou de ter apenas cinco clientes e passou a ter um acompanhamento de outras agências; Globo, JB, Folha; que aproveitavam parte do nosso material.[...] Nós chegamos a ter sete milhões de acessos ao mês. 225

A ressalva a ser feita, nesse caso, é que a Agência Brasil é um órgão que fornece gratuitamente seus informes, assim, a adoção de uma plataforma tecnológica de larga penetração, como a internet, possibilita a ampliação do seu alcance.

Nos casos acima, percebe-se que o abandono de determinado conjunto tecnológico tanto pode transferir as práticas vigentes de um contexto a outro

224 Depoimento gravado de Eduardo Matos, editor-chefe de notícias da Agência Estado, concedido para a pesquisa em 13 de maio de 2005. 225 Depoimento gravado de Marizete Mundim, chefe da divisão de clipping da Agência Brasil,concedido para a pesquisa em 26 de abril de 2005. 284

tecnologicamente mais eficiente, como cria alternativas de fazer circular a informação. É, portanto, uma ruptura tecnológica que gera conseqüências na operação.

Trata-se, tipicamente, de um desdobramento do terceiro estágio da Midiamorfose, o digital (FIDLER, 1997, p.71), em que ocorre o processo de identificação de novas formas e práticas emergentes ampliando as anteriores através de inovações que permitem a migração das mesmas para contextos mais complexos. Nesse sentido, é possível se compreender o segundo nível de rupturas.

8.3.2 - Ruptura por criação.

A ruptura por criação mais evidente nas agências é a materialização das bancos de dados em característica de memória. Isso se deve, ao menos teoricamente, pela “quebra de limites físicos” pré-definidos (PALACIOS, 1999, 2002) do espaço digital disponível, através da agregação de material produzido anteriormente, e sua organização em formato de arquivos digitais. Esse acesso, sob o ponto de vista técnico, pode se dar tanto de modo interno, como externo, na sua consoante disponibilização, integral ou parcial, para os usuários (FIDALGO,

2003) e, no caso das agências, os clientes.

Em Manovitch (2001, p.45), a lógica operacional do computador é compreendida como modelo de organização de informações em bancos de dados, tornando-se parte central da criação de alternativas midiáticas digitais, através da vinculação das unidades de informação existentes segundo critérios particulares de indexação, recuperação e apresentação.

Qualitativamente, o que se pode inferir, na convergência entre banco de dados e tecnologias de redes digitais, é a agregação de potencialidades que surgem no momento em que a base de informações passa a ser disponibilizada (COLLE, 2002). Dessa maneira, cria-se 285

um conjunto de recursos onde se pode buscar e resgatar informações pertinentes a interesses específicos. Caritá (1994, p.317) cita três características dos bancos de dados que reconfiguram o papel do usuário da informação;

a) a construção de arquivos de grande capacidade, com possibilidades de

alimentação e consulta imediatas;

b) a rápida seleção da informação exata, no momento desejado dentre uma

quantidade crescente de dados disponíveis;

c) um acesso tanto local como à distância, com velocidades mais rápidas que o

acesso a meios tradicionais.

No caso das agências, adicionamos;

d) a possibilidade de combinações particulares de conteúdo, segundo

similaridades temáticas;

e) a viabilização de serviços que agregam informações de caráter complexo,

através do uso relacional entre dados armazenados.

Machado (2004, p.02) indica que os bancos de dados desempenham, para o jornalismo na rede, três funções simultâneas e complementares. Um formato para a estruturação da informação, um suporte para modelos de narrativa multimídia e memória dos conteúdos publicados.

Aproximando essas funções para as agências, temos, principalmente na formatação da informação e na memória, as rupturas mais perceptíveis. Como formato para a 286

estruturação da informação, os bancos de dados permitem a associação de informações similares que podem ser vinculadas para um mesmo informe.

Nós temos um banco de dados único onde entram todos os textos produzidos por jornalistas do grupo Estado. Cada um vai lá e faz uma cópia desse texto e faz uma matéria, por exemplo, sobre a inflação. Cada um usa da maneira que for mais pertinente. Então muitas vezes eu faço a fusão desse material com uma outra entrevista que também está no banco de dados dada por um economista comentando isso tudo. 226

Já como memória dos conteúdos publicados, os bancos de dados permitem a agregação de informações existentes no histórico das agências, que podem ser vinculadas aos serviços. Nesse último aspecto temos, conforme indica Palacios (2002), a memória múltipla, instantânea e cumulativa atuando de modo vital para a organização, classificação e diversificação do horizonte de serviços existente nas agências.

Nós temos seguramente o maior e mais importante banco de dados histórico desse país. [...] Nós tivemos correspondentes na primeira guerra. Na segunda guerra a mesma coisa. É muito fácil fazer isso por causa da história do jornal (O Estado de São Paulo). É um jornal secular. Até por isso há o aproveitamento do material que a gente tem no banco de dados, mas é uma recuperação parcial... O nosso banco de dados está em meio digital desde 1990, que é uma coisa ínfima em relação ao tamanho do jornal. O jornal foi criado no século XIX, né? […] O New York Times fez recentemente a digitalização de toda a sua história. A gente trouxe as pessoas que fizeram isso pra cá para fazer um estudo do nosso banco de dados, mas isso é uma coisa de alguns milhões de dólares. É quase impraticável agora fazer isso.227

A utilização de bancos de dados nas agências pode ser compreendida em dois níveis. O primeiro de uso interno, atuando na função de tratar informação e distribuição para

226 Declaração gravada de Eduardo Matos, editor-chefe de notícias da Agência Estado, concedido para a pesquisa em 13 de maio de 2005. 227 Declaração gravada de Eduardo Matos, editor-chefe de notícias da Agência Estado, concedido para a pesquisa em 13 de maio de 2005. 287

os clientes. Normalmente, esses serviços eram endereçados ao mercado financeiro e existem desde o início dos anos 1970 (BASS, 2001, p.03). O segundo nível, também desde os anos

1970, caracteriza-se pelo acesso das informações pelos assinantes. Isso começa com a adoção, no Reuters Monitor, de um sistema que acumulava as cotações e também as notícias publicadas. Na Associated Press, o uso se dá desde 1977, com o sistema DataFeature

(BOYD-BARRETT, 1980, p.147). Nesses casos, a informação presente em bancos de dados, tanto poderia acompanhar conteúdos alimentados regularmente, complementando-os

(MOONEY e SIMPSON, 2003, p.78), como constituírem um serviço distinto, de recuperação da memória do que foi produzido.228 Assim, estabelece-se tanto uma ação cooperativa e descentralizada de alimentação das bancos de dados, como do acesso à gama de informações disponível.

Paralela à ruptura proporcionada pelo uso da memória, podemos indicar outra: a entrega digital de informação combinada aos bancos de dados. Na verdade, são aspectos vinculados, que sofrem desdobramentos em função de serem dinâmicas apoiadas de modo relacional, através da justaposição de informação acumulada com perfis de endereçamento de informações.

A ruptura não consiste somente em disponibilizar, mas na combinação das bancos de dados pelas agências com a entrega de conteúdo, o que permite uma sinergia entre as informações e a demanda específica. Pelo potencial de combinar, armazenar, classificar, indexar, conectar, buscar e recuperar (BARBOSA, 2004), os bancos de dados ampliam a

228 Nos casos das agências estudadas nesta tese, os limites de recuperação são variados. A Agência Estado disponibiliza informações desde 1990. A Reuters, dependendo do serviço, oferece um acompanhamento agregado que cobre de forma contínua os últimos 380 dias, e permite recuperações em bancos de dados desde 1989. Na Agência Brasil, a recuperação alcança até o ano de 1997, através das sinopses do material da agência republicado em outros órgãos. Como sistema de busca, a banco de dados alcança até 2002. (Fonte: observação in loco). Há ainda, no caso da Reuters, o sistema factiva (http://www.factiva.com/sources/contentwatch.asp?node=menuElem1522), operado juntamente com a Dow Jones, que possibilita recuperação de notícias de jornais, agências governamentais e outras agências nacionais, totalizando mais de 9000 fontes que, em alguns casos, alcançam notícias publicadas até o ano de 1974 (http://www.factiva.com/collateral/files/factiva_research_brochure_F-1323.pdf) 288

capacidade de organização e identificação de nichos de mercado e mídia para onde os conteúdos podem ser agrupados e, por conseguinte, enviados em estratégias específicas. “On- line news publishing experiments may also be geared toward selling tailored subsets of their information to specific market subgroups while retaining control over the full database (e.g.

Reuters)” (GUNTER, 2003, p.43).229

Isso geraria uma potencialização de um aspecto de personalização primitivo, presente desde que as agências organizam o volume de informações em torno de serviços específicos. Seria, no caso, uma customização orientada pelo serviço (PALACIOS, 1999) em paralelo à personalização de fontes e conteúdos.230

O que configura, no caso das agências, a personalização é a produção nucleada dos conteúdos e seu posterior aproveitamento, de acordo com os serviços oferecidos o processo segue uma lógica de automação, dada pelos bancos de dados, que concilia a distribuição em diversas plataformas com as estratégias de circulação existentes.

A combinação entre a entrega e formatação de conteúdos e as bancos de dados terminam por configurar uma ruptura mais ampla que possibilita a ampliação de aspectos do fluxo de informações, como, por exemplo, a escala, através da identificação de informações em comum; a distribuição, pelo direcionamento de informações de acordo com a realidade dos endereçamentos; a filtragem, através do recorte e relevância do evento; e a intermitência, por um percurso mais ou menos ágil na entrega de serviços.

As bancos de dados são, portanto, uma combinação que se desdobra, causando rupturas em seqüência, tanto através da característica de memória, como potencializador das articulações presentes nas características operacionais e de fluxos.

229 Experiências com a publicação de notícias on-line podem também ser dirigidas para subconjuntos específicos de informações, para subgrupos específicos de mercado, e, ao mesmo tempo, mantendo o controle sobre o banco de dados completo (Tradução do autor). 230 A análise aqui ficará mais detida sobre a personalização de serviços. Para maiores detalhamentos sobre a personalização de fontes e conteúdos, cf. PALACIOS, 1999; SILVA JR, 2000, p.73. 289

8.4 – Possíveis rupturas com a operação na internet.

Na interação das agências comerciais com a internet, há a presença mais óbvia de duas alternativas: o uso da rede como canal adicional de entrega de conteúdos e a abertura de um novo mercado para assimilação dos informes. No uso como canal de entrega, esse se subdivide em duas possibilidades. A primeira, como modo de circulação de conteúdo para clientes que, antes da internet, não podiam arcar com os custos envolvidos na contratação de serviços.

Eu participei de um seminário de uma associação que reúne alguns jornais do estado de São Paulo e eu percebi que a grife Agência Estado era associada a produto caro. [...] E se a gente pré-editasse essas matérias, se a gente mexesse nessas matérias e vendesse mais barato e você mandasse as melhores coisas que acontecessem num dia? “Ah, aí seria bem melhor”, foi a reação dos pequenos jornais. Criamos o noticiário compacto, para envio pela internet, que também é mais barato. [...] Ele tem: as dez notícias mais importantes de esportes, economia, política, internacional e dia-a-dia. [...] Ao invés de receber 120 matérias de economia por dia, ele recebe 10. [...] O preço é evidentemente menor. Não é um produto que entre na pauta de um grande jornal. Nós só vendemos pra jornais que têm tiragem de até cinco mil exemplares.231

A segunda, como canal de redundância que atua em paralelo às outras tecnologias de entrega, de forma a garantir que, no caso da falha de um dos canais, a continuidade do fluxo de dados seja mantida.

231 Depoimento gravado de Eduardo Matos, editor-chefe de notícias da Agência Estado, concedido para a pesquisa em 13 de maio de 2005. 290

Estamos percebendo uma migração muito grande para o satélite combinado com a internet. Mas os grandes jornais estão usando a internet como back- up. Eles usam mais o satélite. O satélite caiu, aí usa a internet. Aí você tem Correio Braziliense, Estado de Minas... 232.

Na alternativa de abertura de um novo mercado para assimilação dos seus informes, o aspecto mais sensível se estabelece entre a intermitência das agências e a atualização contínua dos sites e portais jornalísticos, sobretudo, para os setores denominados de “últimas notícias” (PRADO, 2002). Isso, conforme se aponta (PAVLIK, 2001, p.126), ocorre pela ampliação da capacidade de sincronia de uma massa de informações produzida já no contexto de fluxo contínuo. Não é à toa que no cenário que no primeiro momento aderiu às agências da internet, envolvia alianças com grandes portais, como Yahoo!, AOL, Starmedia,

Lycos (MOONEY e SIMPSON, 2003, p.175) e, no Brasil o UOL, Terra e IG (VIEIRA, 2003, p.83).

Essa vinculação foi proveitosa para ambos, pois, para os portais, garantia material prêt-à-porter sem ter o custo de investimento em estruturas próprias de apuração e produção.

Para as agências, garantia-se a penetração no ambiente da informação jornalística on-line em escalas muito mais amplas, sem ter que demandar estruturas complexas de entrada nesse mercado. Além, claro, da visibilidade proporcionada, por tratar-se, geralmente, de portais que concentravam grandes quantidades de usuários.

Como indica Gunter (2003, p.25), e também observado na pesquisa de campo desta tese, o processo de uso do material das agências é facilitado por serem incluídos nos contratos de fornecimento de conteúdo, o pacote tecnológico de softwares, para o acompanhamento constante do que é fornecido. Com isso, a ampliação de alcance do conteúdo das agências, através de sites e portais, foi bastante significativa. A Reuters atinge cerca de 1 400 sites na web (MOONEY e SIMPSON, 2003, p.123); a Agência Estado, no

232 Idem. 291

Brasil, tem presença direta em 350 web sites233. No caso da agência Brasil, não há números precisos, mas estimativas da agência avaliam que o conteúdo atinge cerca de quatro mil

órgãos de comunicação, sendo cerca de 400, baseados na internet.234

As agências também ocupam a internet com sites próprios. Porém, esse aspecto deve ser contextualizado em relação à atuação comercial, estatal, cooperativa ou especializada de cada agência. No caso da Agência Brasil, por exemplo, uma estatal focada na informação pública, aberta e gratuita, a presença na internet, como única plataforma tecnológica, assimila a totalidade dos conteúdos produzidos. Nas agências comerciais, como a Reuters e na Agência

Estado, as versões das páginas desses órgãos contêm parcelas dos conteúdos produzidos. No entanto, essa disponibilização corresponde apenas a uma parte do montante de informes gerados a cada dia e, normalmente, atuam como um showcase dos demais produtos (MOSCA,

2002, p.05).

No caso das agências comerciais, isso se justifica por dois fatores. O primeiro é que os núcleos de produção direcionados aos veículos jornalísticos na web são setores que contribuem financeiramente com percentuais pequenos do montante do faturamento, quando se aborda a venda direta aos órgãos do setor de mídia. O segundo fator diz respeito à própria absorção de conteúdo das agências pelos sites e portais jornalísticos presentes na internet.

Com isso, a agência possui um ambiente de escoamento dos seus informes de modo automatizado, que potencializa a presença do seu material e o conseqüente alcance do público.

233 Número fornecido em entrevista gravada com Renata Aguiar, gerente de produtos de mídia da Agência Estado, concedida para a pesquisa em 12 de maio de 2005. 234 Além dos sites na Internet, segundo o chefe de redação da Agência Brasil, Rodrigo Savazonni, nesse número de quatro mil órgãos, a maioria é de pequenas rádios e jornais que utilizam o conteúdo da agência. Esse número, segundo a mesma fonte, foi quase multiplicado por dez, depois que a Agência Brasil adotou a web como alternativa de publicação única. Os motivos para tal penetração se deve ao fato de que, para esse universo de pequenos órgãos de comunicação, como rádios comunitárias, pequenas rádios de cidades do interior do Brasil, jornais de pequena tiragem, etc. a Agência Brasil se constitui, provavelmente, na única fonte de conteúdo possível de ser acessado a custo baixo (requer apenas uma linha de conexão com a web, e um PC). Isso simplifica o processo de alimentação para esses órgãos. 292

Se há uma certa disponibilidade de sites que espelham o conteúdo das agências, isso poderia justificar parcialmente o não desenvolvimento de estratégias para um público aberto e situado na internet. A outra parcela de justificativa deve-se, acreditamos, à concentração das operações sobre bases de agenciamento, procurando estabelecer a disponibilidade prioritariamente no eixo agências/órgãos de mídia, do que no eixo agência/público consumidor. Como pode ser percebido na declaração de Andy Nibley, Vice- presidente executivo da Reuters: “Don’t mention internet word in public. We don’t care about consumers. We are for business professionals. We were trying to put Reuters on business map and it was discouraged all the way” (MOONEY e SIMPSON, 2003, p.124).235

Em breves termos, não é o público consumidor final que paga a conta, ao menos diretamente, do custo dos serviços, e mesmo assim, o setor de mídia responde, como vimos, a um percentual pequeno de pagamentos à agência.236 Isso justifica, ao menos parcialmente, a adoção das tecnologias de internet mais como um recurso do que como um fator que reoriente a organização das agências comerciais.

Nem tudo que vai pra internet vem pra cá [refere-se ao RT – Reuters Terminal] e nem tudo que está aqui vai pra internet. O que for mais exclusivo vai pro RT porque o cara não está pagando uma grana pra ver ao mesmo tempo que no UOL. Também não pode ser assim tão fácil senão o cliente não vai mais pagar. Apesar do que aqui tem umas vantagens da área técnica, questão de segurança. Na internet vira e mexe tem essa coisa de hacker e até onde eu sei esse é um sistema seguro. 237

235 Não mencione a palavra Internet em público. Nós não nos importamos com os consumidores. Nós estamos do lado dos profissionais de negócios. Nós estávamos tentando colocar a Reuters no mapa dos negócios, e isto foi desencorajado durante todo o processo (Tradução do autor). 236 Como forma de ter uma idéia aproximada e comparativa dos volumes envolvidos, o maior cliente mundial da Reuters é o banco Goldman-Sachs, num negócio que envolve US$ 70 milhões por ano, no uso de serviços da agência. Na América Latina, os maiores clientes de informação jornalística, da mesma agência são as organizações Globo e a Televisa, mexicana. Cada uma paga em torno de um milhão de dólares por ano pelos serviços jornalísticos. Informação fornecida por Mário Andrada, editor-chefe da Reuters América Latina, (depoimento gravado concedido para a pesquisa em 17 de maio de 2005). 237 Depoimento gravado de Alexandre Caverne, coordenador de política e notícias gerais da Reuters no Brasil, concedido para a pesquisa em 16 de maio de 2005. De um modo geral, todos os serviços podem estar no RT, inclusive os presentes no IDS. Porém, o IDS não recebe a contrapartida, por ser um serviço desenvolvido para ser mais barato, ele esbarra no compromisso da agência em prestar informações em primeira mão para os clientes do Reuters Terminal. No IDS as informações 293

Porém, esse “recurso a mais” está no sentido de se agregar à malha de distribuição própria das agências, constituindo mais um campo de estratégias específicas do que um terreno de exploração e experimentação de alternativas para se formatar conteúdos ao público final.

Além da questão dos serviços, tem todo um outro problema que é uma questão de plataforma. Nós temos o IDS, que é uma rede privada de distribuição. Temos, em paralelo, a antena, que é uma delivery por satélite. Para o satélite vão os produtos clássicos que são os “premiums” [sic], mas tem os produtos mais baratos que são os “internet paste”. [...] É uma estratégia comercial. O cliente opta se quer antena, se der pra colocar, tem outros que preferem IDS. A gente (a Reuters) em geral não se preocupa muito com o tipo de plataforma em que o serviço vai, a gente procura soltar as matérias pra todas as plataformas. Tem uma discussão em termos de produtos se isso vai pra internet ou se isso vai pra RT. RT é “Reuters Terminal”, internet é o resto.238

Mas se os limites desse tipo de ação se configuram assim, isso se deve a um ajuste, sobretudo, após a explosão da bolha das empresas ponto com em 2000. Até antes desse momento, o posicionamento das agências comerciais estava definido para a entrada na internet como modo de ampliar o alcance e penetração, mesmo para consumidores finais:

Reuters’ chief executive, Peter Job, said in the company's half-year report, July 2000, that “our strategy to make Reuters fully internet ready is gaining great momentum”. And: “We see the internet as a fast and deep current running through all our activities […] Whereas we have historically dealt with customers in the hundreds of thousands, we will now be able to serve tens or even hundreds of millions of people”. In the company's 1999 annual report Job had referred to Reuters’ “strategy to accelerate its use of internet technologies, open new retail markets, and migrate its core business to an internet-based model”. Hoover’s Online report for Reuters in August 2000 noted that the company had recently announced that it would invest US$ 800 million over four years for the conversion of its core business to an internet model (BOYD-BARRETT, 2001, p.53).239 que aparecerem no RT serão mostradas com uma intermitência retardada. É o que na Reuters se chama de “tempo diferido”. 238 Depoimento gravado de Mário Andrada, editor-chefe da Reuters América Latina, concedido para a pesquisa em 16 de maio de 2005. 239 O diretor-executivo da Reuters, Peter Job, declarou no relatório semestral da empresa, em julho de 2000, que “nossa estratégia para tornar a Reuters totalmente preparada para a Internet está ganhando bastante impulso”. E: 294

Mas, se a estratégia particularizada no caso da Reuters, é prototípica das agências comerciais, no modelo de agência estatal o problema ganha outro perfil. No caso da Agência

Brasil, mesmo o conteúdo sendo gratuito, há a preocupação em definir estratégias mais precisas de alcance e direcionamento do material.

Com a web foi possível que ela [a Agência Brasil] se transformasse numa agência de conteúdo livre […] O que aconteceu foi que, como fizemos um cadastro muito pouco detalhado, não conseguíamos nem mensurar que tipo de público acessava. Porque tinha os que se cadastravam como leitores até jornais de interior [...] A idéia agora é separar esses canais. O canal de distribuição e relacionamento com os jornais e veículos das agências on-line para um determinado espaço e criar um espaço para o cidadão, para o leitor, porque existe uma indefinição sobre o papel da Agência Brasil que é um pouco essa indefinição que surge com a possibilidade da web, do on-line. 240

Há mais ou menos um ano [2004], nós extinguimos as editorias tradicionais. Economia, política, internacional... [...] e tentamos colocar em prática um modelo novo onde fazemos uma divisão do noticiário em termos do que é de interesse social, aquilo que tem interesse econômico e aquilo que é política. O plano de governo propicia esse tipo de separação [...] O nosso objetivo é chegar numa divisão de editorias que fosse assim: cidadania; desenvolvimento, ao invés de economia pensar desenvolvimento; e política onde a gente pensaria mais em torno de direitos públicos, o ideal republicano, uma coisa assim. Mas isso está parado.241

Se para as agências estatais a explosão da bolha pouco interferiu no modelo de operação para a web, para as comerciais representou uma perda de capacidade de investimento para ingresso no mercado do consumidor final. Além disso, significou a perda do momento ótimo para a entrada no mercado da internet como órgão de varejo informativo.

“Nós vemos a Internet como uma corrente rápida e profunda, percorrendo todas as nossas atividades […] Enquanto que nós temos, historicamente, lidado com clientes em termos de centenas de milhares, nós agora seremos capazes de atender dezenas, ou até mesmo centenas, de milhões de pessoas”. No relatório anual da empresa em 1999, Job havia se referido à “estratégia da Reuters para acelerar o seu uso das tecnologias de Internet, abrir novos mercados de varejo, e migrar o seu núcleo de negócios para um modelo baseado na Internet”. O relatório on-line Hoover para a Reuters em agosto de 2000 destacou que a empresa havia recentemente anunciado que investiria 800 milhões de dólares em quatro anos para a conversão do seu núcleo de negócios para um modelo de Internet (Tradução do autor). 240 Depoimento gravado de Rodrigo Savazonni, redator chefe da Agência Brasil, concedido para a pesquisa em 25 de abril de 2005. 241 Depoimento gravado de Flávio Diegues, Editor-chefe da Agência Brasil, concedido para a pesquisa em 25 de abril de 2005. 295

Quando houve essa definição para a entrada definitiva dos produtos direcionados à internet, a bolha do mercado eletrônico estava prestes a explodir (MOONEY e SIMPSON, 2003, p.123).

Esse fenômeno agiu esvaziando a demanda dirigida a públicos específicos pretendidos e estreitou a possibilidade de aceitação de serviços jornalísticos que, de alguma forma, já estavam sendo supridos por órgãos estabelecidos na web há mais tempo. Diante desse quadro, a alternativa das agências comerciais foi menos se tornarem atuantes na geração de conteúdos para a internet, do que usar a mesma como uma plataforma adicional dos seus produtos clássicos.

Permanecer com ênfases dirigidas ao mercado indica, nas agências comerciais, uma continuidade advinda do seu caráter atacadista em concentrar esforços na intermediação entre fontes, ampliação da velocidade de entrega, direcionamento e aplicação dessas informações no binômio mercado de mídia e não-mídia.

A notícia é muito relevante pro cliente, que precisa dela com muita pressa. Por outro lado, pra mídia ou pra internet, se você tiver isso mais tarde, com mais informações, vai ser melhor do que soltar uma coisa tão crua assim. Para o mercado financeiro você tem que ser muito rápido. É meio assim: você não precisa ter um incêndio, no primeiro sinalzinho de fumaça você já dá. Pode não dar em nada, mas pro mercado é importante o cara estar informado de tudo que está acontecendo.242

Dentro do contexto de relações das agências comerciais com a internet, a integração de operações geram, de modo mais evidente, duas dinâmicas de possíveis rupturas.

Primeiro, a entrada em um novo campo de atuação, pela extrema capilaridade oferecida pela internet combinada com as redes das agências, ampliando, nos canais de fluxo, a distribuição e penetração do conteúdo no ambiente dos jornais na web. Segundo, pelo surgimento de novos canais de alimentação para as agências. Com a internet, emerge uma série de horizontes

242 Depoimento gravado de Alexandre Caverne, coordenador de política e notícias gerais da Reuters no Brasil, concedido para a pesquisa em 16 de maio de 2005.

296

informativos que antes seria impossível. Nesse aspecto, temos os serviços gerados a partir da internet. Por exemplo, o serviço da Reuters direcionado ao universo das ONGs, como já indicado nesta tese. Seria improvável que, em modelos de rede privada ou analógicas esse sistema pudesse operar de modo eficiente, devido às limitações envolvidas.

No caso das ONGs é um aspecto de ruptura que pode ser notado de modo mais nítido na esfera da produção da informação que, pelos agentes externos envolvidos, insere nas agências, a possibilidade de geração de material em uma escala que, de certo modo, já ocorre nas práticas de jornalismo participativo (BOWMAN e WILLIS, 2003). Evidentemente as agências fizeram uso, através dos modelos cooperativos, de estratégias de geração de conteúdo em interação com agentes externos. Contudo, acreditamos que neste caso trata-se de uma ruptura, pois se trata não somente de uma evolução da geração de material por múltiplos agentes, e sim, de um modelo de operação que abre a possibilidade de uma mão-dupla, entre agências e mecanismos de alimentação de conteúdo que não tinham participação prévia no desenvolvimento histórico no que diz respeito a ter uma interoperabilidade com as agências.

Pode-se deduzir, contudo, que as limitações impostas de modo repentino pela explosão da bolha impediram, de certo modo, que as agências canibalizassem mercados locais de notícias. Esse cenário, de qualquer maneira, não se apresentou. Se aconteceria ou não, pertence ao campo das hipóteses que, embora possíveis, mostraram-se imponderáveis. Essa externalidade pode ter uma leitura positiva, pela preservação de nichos de mercado, vinculados aos jornais locais. Permanece, desse modo, uma complementação de papéis exercidos por esses órgãos e as agências. Estas mantêm a sua circunstância de operação em

âmbitos complementares, atuando como agenciadora e fonte indireta daquilo que não está ao alcance de espaço e de tempo impostos a quem assimila suas informações.

297

CONCLUSÕES

“O futuro tem um coração antigo”. - Carlo Levy.

Esta trabalho de tese doutoral é resultado de um esforço de delimitação de algumas características presentes nas agências de notícias. Compreendemos que, apesar dos esforços de indicar as conseqüências de cada uma dessas características, não se devem observá-las isoladamente. É necessário entendê-las como interpenetráveis, complementares e sobrepostas. São definições que perpassam diferentes estágios da atividade, tornando-se inadequado o enquadramento do que seja a particularidade operacional das agências em função de apenas uma ou outra característica.

De acordo com o desdobramento desse percurso, pudemos indicar que essas características são a formatação de serviços, a dissociação entre conteúdo e suporte, a descentralização e a velocidade operacional. Apresentamos, ainda, uma conceituação dos fluxos de informação pertinente e sincrônicos à realidade das agências, objetivando caracterizá-lo de modo mais específico.

Como indicado na introdução desta tese, iremos trabalhar dois níveis de conclusões. O primeiro, são conclusões mais gerais e preocupa-se em como as características 298

operacionais e de fluxos configuram perspectivas e possibilidades a serem aplicadas para as agências de notícias como um todo. O segundo, são conclusões mais específicas, direcionadas para os estudos de caso desta tese, procurando compreender em que dimensões e âmbitos as possibilidades das características indicadas se ajustam para esses órgãos.

Nível 1 – As características operacionais e de fluxo: entre a permanência e o transitório.

Durante a execução da pesquisa, pudemos verificar que não existe um padrão consolidado de atuação das agências que demonstre a aplicação das características de modo uniforme. O quadro apresenta-se, isso sim, com variações que adaptam de modo particular o ajuste a esses elementos. No entanto, a combinação e interpenetração das características em conjunto identificam-se como formadoras de um quadro particular conformado nas agências, que articula a sua dinâmica de circulação. Isso se deve, acreditamos, aos condicionamentos e buscas de soluções dadas pelo próprio agenciamento.

Se o conjunto de características das agências são elementos que permitem um ajuste das suas práticas em função de sistemas com os quais se relaciona (sociais, mercadológicos, noticiosos, tecnológicos), podemos concluir que se trata de uma aplicação de um conjunto menos variável (as características) sobre modelos flexíveis. Nesse sentido, a intenção ao se estabelecer um percurso histórico, foi atender ao primeiro e segundo objetivos definidos: recuperar elementos que estão em sincronia com os condicionantes e a configuração das características operacionais.

Tendo a preocupação de perceber as configurações das características em função de sistemas tecnológicos, a abordagem que efetuamos contemplou a estruturação das agências em forma de rede. Com isso, procuramos atender ao terceiro objetivo, observando a organização inicial das agências que, em meados do século XIX, dava-se em torno de redes de 299

comunicação e transporte e se aliava às dimensões de expansão do comércio, do cientificismo, da compactação de distâncias, driblando os constrangimentos do tempo e do espaço, e oferecendo soluções aos interesses demandados à época.

Se as características são assumidas como a parte mais fixa da dinâmica, como modelos entendemos as parcelas variáveis, pertinentes a um momento e cenário específico.

Seria o ambiente onde as características se adaptariam de modo a estabelecer uma coexistência com a circunstância mais ampla. Portanto, os modelos são vinculados a ajustes da operação que, dentro do desenvolvimento das agências, são necessários para a continuidade dos seus percursos.

Mas, certamente, quando afirmamos que a geração de serviços, a produção descentralizada, a dissociação entre conteúdo e suporte e a velocidade operacional são características ligadas à atividade das agências, temos que, contudo, fazer relativizações.

Essas características se manifestam em diversos setores da vida social. Assim, as mesmas, apesar de específicas, não são exclusivas. Pensar conclusões em torno das características envolve um enquadramento que indique os desdobramentos das mesmas na teia de atuação para as agências, ou seja, a conciliação da sua necessidade social, a extensão da sua presença, o fornecimento de informações em sincronia com os eventos e a multiplicidade de seus serviços.

Percebemos a formatação de serviços como uma característica essencialmente atrelada ao papel de agenciamento, pelo qual podemos perceber a justaposição das outras características. Conjuntamente, essas características se articulam para a criação de fluxos de informação constantes que conciliam os apelos à universalidade, no que diz respeito ao interesse amplo pelos conteúdos e pela diversidade dos próprios serviços, com a particularização, no que toca ao direcionamento e personalização de materiais específicos. 300

A formatação de serviços se mantém no escopo das agências tanto por uma permanência de estruturas de produção previamente existentes, como em função do agenciamento. No cenário atual, continua a tendência predominante das agências em fornecerem conteúdos para montagem ou encaixe em modalidades distintas. O serviço não é somente uma resultante da organização do material em pacotes de informação. Trata-se também de um elemento estruturante que atravessa toda a organização das agências, condicionando mutuamente as demais características. É, portanto, algo que pode ser compreendido como uma matriz, uma “característica-valise”, capaz de atuar como um núcleo organizador das estratégias de organização dos fluxos de informação.

Quando definimos a situação de dissociação entre informação e suporte, atentávamos, sobretudo, para as possibilidades dadas, no modelo de agenciamento, para o encaixe de uma mesma informação em contextos de circulação e assimilação diferenciados.

Evidentemente, se essa é uma característica presente na própria atividade de intermediação de informações, situada num percurso histórico, ela se amplia pela capacidade dada pelos dispositivos informatizados.

As agências são órgãos cuja a ênfase é mais direcionada para a coleta e produção de conteúdo por não possuírem um formato específico, como por exemplo, o impresso.

Novamente, com a internet, temos uma ruptura, em que as agências mudam de figura, pois, pela primeira vez, elas configuram conteúdos para formatos baseados na web.

O que se configura é uma flexibilidade inerente presente entre o que se produz como conteúdo e as formas culturais que os assimilam. A dissociação entre conteúdo e suporte, permite assim, uma potencialização de retorno de cada unidade de informação que é crescente à medida que se gere recipientes múltiplos de assimilação. Nesse sentido, com a informatização, se apresentam mudanças dadas pela capacidade de se ter um maior volume de 301

dados que geram alterações qualitativas nos serviços, que podem, potencialmente, gerar configurações diferenciadas, com mais diversidade e especificidade de direcionamento.

A nossa opção em adotar o termo produção descentralizada nos permitiu explorar o padrão da pulverização da produção em áreas dispersas, ao passo em que estabelece modos de reorganização e consolidação da informação. Procuramos também identificar algumas especificidades, sobretudo quando da adoção de sistemas digitais e a criação de áreas de atuação mais autônomas em relação a circunstâncias territoriais específicas. Desse modo, entendemos que a descentralização é parcial e combina-se de acordo com o interesse presente no agenciamento.

Em que pese a possibilidade de, através da tecnologia digital, haver uma circulação mais eqüitativa, as agências permanecem adotando uma apuração e obtenção radial, uma consolidação centralizada e uma distribuição pulverizada e dirigida. Mesmo quando trabalhamos uma variação, em torno da descentralidade, esse matiz aponta preponderantemente para uma multiplicidade de centros que se combinam no tocante à apuração. Trata-se, portanto, de uma característica que se manifesta mais através de continuidades.

Quando definimos a velocidade operacional, ela se combina com os serviços de modo a condicionar soluções de disseminação, capazes de estreitar o processo de sincronia entre os eventos e seus relatos, e a manutenção da atualidade como um elemento necessário à sua cadeia de circulação. Isso se estabelece também em paralelo à dimensão espacial, trabalhada na produção descentralizada, pois permite uma assimilação dos serviços com informações originadas em condições territoriais diversas, que, no entanto, exigem uma rapidez em relação à dimensão temporal.

Em adição, a velocidade garante um fluxo regular e previsível, já encadeado com o modelo de produção de quem assimila os informes (clientes, jornais, sites). Ao se articular 302

com os serviços, formatados em modo prêt-à-porter, a velocidade condiciona o aparecimento de parcelas de conteúdos de maneira constante e com tendência à uniformidade entre órgãos receptores distintos. Mesmo tratando do problema em redes digitais, a velocidade é uma característica em que, basicamente, ocorrem continuidades e potencializações, pois a busca de tempos menores visa não somente manter essa característica atrelada ao padrão das agências, como representam diferenciais e vantagens competitivas. Na relação específica com os jornais na web, por exemplo, em que se tem a possibilidade da atualização em tempo real, o caráter de penetração dos fluxos das agências se amplia, principalmente nas sessões de últimas notícias. Estas, em boa parte, já operam com sistemas automatizados que estão apontados para os servidores das agências, coletando de modo ininterrupto o que é prontamente disponibilizado. Portanto, mesmo não sendo as únicas fontes indiretas, as agências oferecem uma sincronia entre o seu modelo de operação e os modelos de assimilação, que estão comodificados no processo de elaboração de um jornal, seja impresso ou na web.

O que temos é que as agências estabelecem diferentes modos de circulação adequando sua atividade em função das possibilidades dadas pelas características operacionais e se ajustando para diferentes contextos de assimilação de conteúdos e informações. Isso pressupõe níveis diferenciados de aplicação dos seus recursos. Por conta de perceber essa variabilidade, preocupamo-nos em problematizar a projeção das características justamente em relação aos fluxos e à circulação baseada em tecnologias de redes. Assim, buscamos identificar a priorização ou não do ajuste da operação com determinadas parcelas de fluxo e percebemos que essas opções correspondem à existência de critérios, aos quais denominamos características de fluxo.

Com isso, procuramos dar solução ao quarto objetivo, que é estabelecer vínculos entre o fluxo e as características operacionais. A nossa preocupação em especificar os pontos de volume, escala, intermitência, distribuição, prospecção, filtragem, alcance e penetração foi, 303

precisamente, eleger elementos que permitissem entender como o padrão de agenciamento se estrutura para conciliar seus objetivos. Com essa primeira recuperação do conjunto de conclusões, podemos abordar as duas primeiras hipóteses;

a) a estruturação das agências de notícias configura características operacionais e

de fluxo próprias, que surgem na articulação entre a ação de agenciamento e

os dispositivos tecnológicos envolvidos;

Para essa primeira hipótese, a confirmação é parcial. Isso se deve à ressalva que as características operacionais não são exclusivas das agências. Elas se manifestam em outros fenômenos da comunicação e do jornalismo. O que as agências configuram são usos particulares dessas características atrelados à sua dinâmica. A exceção que cabe nessa ressalva são os serviços. Certamente eles se constituem no núcleo central das operações das agências no sentido de organizar e canalizar os esforços de produção. Todavia, a manifestação da descentralização, da dissociação entre conteúdo e suporte e da velocidade, são elementos dados nas agências em momentos históricos que se configuram de modo mais evidente quando em redes digitais.

No tocante às configurações das características de fluxo, a hipótese se confirma, pois esses são elementos invariantes que estão presentes em qualquer padrão de agenciamento que se observe. Isso se infere através da ligação necessária entre as dinâmicas de produção e consumo, conciliadas pelas peculiaridades das agências em constituir um espaço propício para a circulação de informações.

A perspectiva é que o agenciamento é uma atividade apoiada na intermediação e na disponibilidade de um conjunto de condições que combinem as esferas sociais e tecnológicas, procurando otimizar sua operação em cenários sucessivos. Isso condiciona e 304

orienta a delimitação de atividade das agências em ambientes variados, ora mantendo seu padrão, ora hibridizando-se com possibilidades existentes, tornando-se, assim, um aspecto vital para a sua sobrevivência. Tal reflexão nos permite confirmar a segunda hipótese formulada;

b) a inserção das agências no ambiente de circulação de notícias e informações

está diretamente ligada à sua capacidade de estabelecer fluxos de informações

constantes, regulares e ajustáveis, bem como a potencialização das suas

características operacionais;

As conseqüências da confirmação dessa hipótese indicam tanto permanências de padrões como a capacidade maleável de adaptação a cenários subseqüentes. Com isso, procuramos atingir o sétimo objetivo - identificar as adaptações e hibridizações das características das agências em face aos contextos digitais.

Pudemos perceber que a adoção generalizada das tecnologias de informação exerce uma pressão nos diferentes setores de prática das agências, o que gera configurações necessárias para a inserção das mesmas em um mundo cada vez mais digitalizado.

Observamos que o aperfeiçoamento tecnológico dos sistemas de informação foram, nos ciclos recentes das agências, fatores condicionantes de novas articulações na organização das atividades.

Em adição, podemos concluir que, entre a manutenção de atividades e as novas demandas, há um direcionamento das ações para o ambiente da internet, ora utilizando esta rede como uma infra-estrutura de distribuição e produção, ora como suporte para apresentação de informes. No entanto, a internet é apenas uma parte visível, para uma nova parcela de 305

audiência que são os usuários. É uma espécie de ponta de iceberg de um processo significativamente mais amplo que ocupa redes de diversas configurações.

Se compararmos, dentro do percurso histórico, notamos que a internet representa uma evolução em função de sistemas predominantemente centralizados, especializados para metamorfoseare-se em sistemas distribuídos, mais abertos e acessíveis. Há, contudo, entre esses sistemas, uma determinação de interoperabilidade de manter a atividade de agenciamento diante de conjunturas tecnológicas diferentes, que por vezes se apresentam de modo desnivelado.

Nesse momento do trabalho, demos ênfase à classificação das etapas sobre as características operacionais e à geração de fluxos de informação. A opção visou aproximar o modelo de agenciamento, não priorizando a relação com formatos justamente por as agências, a priori, não operarem com o vínculo entre conteúdo e uma conseqüente forma cultural. Desse modo, pudemos obter um painel de como, em cada fase, a capacidade tecnológica dos dispositivos empregados poderia implicar no surgimento de dinâmicas presentes nos modelos de operação.

No nosso entendimento, trata-se mais de um balizamento para indicar marcos de início de determinadas atividades do que propriamente divisões rígidas. Estabelecer marcos inflexíveis seria, de certo modo, ignorar as estratégias de diversificação e ajuste que adequam os sistemas de informação a realidades elásticas de circulação. Não damos ênfase em classificar uma ou outra agência em função dela pertencer a uma etapa mais ou menos avançada, pelo motivo de que o próprio conjunto de atividades atuais se apresenta com parcelas advindas de um histórico de usos de aparatos diversos, que se absorve e se dilui através de metamorfoses tecnológicas.

Por isso, trabalhamos as fases no estabelecimento de alterações que procuram hibridizar os modelos de operação com os ambientes tecnológicos sucessivos e diferenciados 306

de modo a garantir uma manutenção de atividades. Uma questão que perpassa o capítulo 8 é: se há um padrão de operações que tende a conservar um conjunto de características, de que modo as inovações tecnológicas existentes se articulam com o agenciamento e que modelos são gerados a partir disso? Assim, procuramos atender o oitavo objetivo - indicar as dinâmicas de continuidades, potencializações e rupturas existentes nas características estudadas. No entanto, podemos concluir, com tranqüilidade que, em torno do conjunto de características operacionais das agências, o que se configura são predominantemente continuidades e potencializações mais do que rupturas.

No caso dos serviços, as continuidades se manifestam pela permanência dos elementos que designam a sua elaboração, identificando alternativas de coleta, ajuntamento e distribuição dos mesmos. Porém, as potencializações são detectáveis de modo mais claro, quando, na integração com as redes digitais, há o alargamento das relações com o mercado financeiro e a conseqüente ampliação de serviços dedicados a essa esfera.

Na dissociação entre conteúdo e plataforma, as potencializações ocorrem de modo mais pronunciado devido à maior complexidade possibilitada pelas redes e sistemas digitais, o que permite uma elasticidade maior dos conteúdos e, por conseqüência, encaixes em plataformas diversas. O que podemos concluir é que, nesse quadro há, nas agências, uma flexibilização da geração do conteúdo, ao passo que não se abre mão dos objetivos de propagação dos mesmos. Através desse modelo, as agências antecipam, em pelo menos cem anos, a tendência, cristalizada com a internet, do desencaixe entre conteúdo e plataforma de disseminação ou, falando de outro modo, da geração de publicação em multiplataforma. Em adição, as agências antecipam em décadas aspectos da personalização de conteúdo, tão em voga nos debates sobre o jornalismo na web, pelo menos no que toca a personalização de fontes e serviços. 307

Na descentralização operacional, percebemos que, com as redes digitais, podemos reconceitualizar essa característica em função do termo descentralidade. Esse, por sua vez, potencializa a emanação de centros múltiplos, capazes de estabelecer raios de ação mais circunspectos e particularizados. Em paralelo, podemos dizer que, apesar de possível sob o ponto de vista tecnológico, a descentralidade ocorre de modo particularizado a cada caso.

Esse quadro coincide com a abordagem desta tese, em que a efetivação de soluções não é dada exclusivamente pelo aspecto tecnológico. Apesar de disponível, as possibilidades de uma ação mais horizontalizada e participativa também são condicionadas pelos direcionamentos e políticas das agências, conforme verificamos também nos casos estudados.

Certamente, nenhuma das características pode ser tão enquadrada como potencialização como a velocidade operacional. Ela se dá pela própria lógica de operação das agências em estabelecer uma cadeia de fluxos, e se amplia com a possibilidade do tempo real dada pelas redes digitais. Foi notado também que, em face à pressão concorrencial, a velocidade operacional se acelera em sincronia com o mercado financeiro e se desdobra para a área de mídia. Porém, não, sem desníveis. Ocorrem velocidades mais rápidas e mais lentas que, podemos dizer, são diretamente proporcionais aos custos dos serviços e ao interesse demandado por informações específicas.

Quando procuramos identificar rupturas, os aspectos mais evidentes surgem em duas frentes: com a entrada na internet e o aprimoramento de bases de dados, ou característica de memória. Esses aspectos podem ser caracterizados como tal por inaugurarem dinâmicas inexistentes em modelos precedentes.

Entendemos que a operabilidade com a internet se apresenta como uma ruptura no momento em que inaugura para as agências a possibilidade de formatarem conteúdo diretamente para apresentação ao público leitor. Com isso, ela deixa de ter uma ação puramente ligada à intermediação entre as fontes primárias e órgãos de divulgação como os 308

jornais. Isso, para as agências, é algo inédito. Antes desse quadro, para o público tomar conhecimento da presença das agências no processo de elaboração da notícia, era perceber a remissão das mesmas como fontes, e nunca através de um acesso direto a mecanismos disponibilizados pelas agências. Essa ruptura amplia o grau de penetração dos informes por também se sincronizarem de modo mais efetivo a outros órgãos que operam em rede, como os jornais na web e os portais. Esse aspecto é especialmente sensível se considerarmos que, devido à característica de atualização contínua, possibilitada pela internet, muitos jornais na web fazem uso direto, e às vezes indiscriminado, dos alertas das agências em seus canais de

“ultimas notícias”, ficando refém de uma certa “confiabilidade” dada pelos serviços das agências em situações onde se exige uma alta velocidade de disponibilização de notícias.

Outra ruptura pode ser indicada no sentido que a internet passa a apresentar um novo campo de exploração e obtenção de informações, um novo espaço ou uma camada de prospecção inédita.

No entanto, a internet também atua como potencializadora, por ser uma nova camada de circulação das informações, um arranjo de rede que se soma às alternativas desenvolvidas pelas agências. Isso tende a flexibilizar as possibilidades de acesso, gerando uma diversificação de serviços e produtos mais acessíveis. Na verdade, o excesso de fontes informativas, proporcionado pela internet, poderia neutralizar o papel das agências na circulação de conteúdos. Entretanto, na díade entre eventos e órgãos da imprensa (eletrônica, impressa, digital), pode ser percebida a permanência das agências como importantes norteadores da cobertura e do agendamento dos temas em voga. Para a imprensa, elas representam um mecanismo estabilizado que reúne condições minimamente aceitáveis para a assimilação de notícias. Se fôssemos transformar esse aspecto em formato de pergunta, a provocação seria no seguinte sentido: que alternativas de alimentação de informações, em caráter sistemático, regular e previsível, com extensividade territorial e preocupações de 309

precisão e confiabilidade, poderiam cumprir satisfatoriamente esse contrato senão as agências?

Certamente é um modelo que traz a reboque dessas competências uma série de problemas. A homogeneização, a unilateralidade, a vinculação a interesses econômicos e políticos são críticas comuns e que se acumularam historicamente em torno das agências.

Acreditamos que atualizar esse debate específico para o quadro atual é um dos desdobramentos possíveis para esta pesquisa. A constatação desse quadro tríplice de continuidades, potencializações e rupturas contribui para a confirmação da terceira hipótese desta tese que afirma;

c) quando da interação das agências de notícias com as redes digitais, há uma

permanência do modelo de operação mais geral de agenciamento, ocorrendo,

em paralelo, hibridizações e o estabelecimento de dinâmicas de continuidades,

potencializações e rupturas;

Indicamos que um segundo patamar de ruptura ocorre com a utilização das bases de dados e da característica da memória. Esse fator tecnológico tem a princípio uma dimensão interna, ao permitir a organização e estruturação da informação de acordo com similaridades e permitir a recuperação de dados para criação de serviços. Numa dimensão exterior, na relação das agências com demais órgãos, percebemos uma aplicação das tecnologias de bancos de dados de modo a estabelecer e administrar uma grande variedade de perfis e, portanto, gerar serviços mais específicos e detalhados. É uma aplicação que transforma os dispositivos e infra-estruturas já instaladas, integrando-as de modo a serem capazes de estabelecer uma operabilidade entre redes distintas, e que, através dos serviços, gerem alcances diferenciados com o mercado. 310

A utilização de bancos de dados tem, portanto, dois impactos. Um, na otimização de modelos internos de trabalho, outro, na sua combinação com as demais características operacionais e de fluxo. É, nesse último caso, uma ruptura que, em termos gerais, estabelece potencializações para o restante do cenário das agências. Assim, por permitir a recuperação de dados de modo a complementar a produção interna e por viabilizar a articulação com as demais características, acreditamos que a quarta hipótese pode ser confirmada:

d) surgem, na interação das agências com as tecnologias digitais, características

novas, vinculadas às suas características originais, que reorientam,

parcialmente, aspectos das suas operações.

Podemos concluir que é precisamente o posicionamento das bases de dados, que atua como uma nova característica, ou meta-característica, devido à sua particularidade combinatória e assimilável em outros elementos, potencializando-os e abrindo perspectivas mais extensas de aplicação, e estabelecendo um diferencial operacional e competitivo para as agências.

Nível 2 – Conclusões sobre os casos estudados.

Ao propor o estudo detalhado dos três casos abordados nesta tese, procuramos atender ao quinto e sexto objetivos, de se elegerem casos representativos e de se estabelecerem comparações entre as particularidades das organizações observadas. Nesse momento da pesquisa, abordamos casos de destaque, através dos quais recuperarmos a estruturação e delimitação de atividades. Procuramos ainda analisar particularidades existentes na elaboração de soluções aplicadas às redes digitais de modo a compreender os 311

percursos de integração entre as tarefas de agenciamento e os sistemas de informação utilizados e as transformações sobre as formas de condução das agências.

O que parece claro nos três casos é a existência de um triângulo, formado pelas tecnologias da informação, a dinâmica de agenciamento e a atuação em rede. Os limites percebidos em todos os casos observados parecem nascer de uma certa angústia em renovar- se diante desse cenário, procurando substituir antigos conjuntos de dispositivos e práticas que são insuficientes para dar conta da crescente complexidade existente no padrão de trabalho.

Trata-se de um ambiente de modificações e mudanças de rumo que se dão em um ritmo muito mais acelerado que em estágios anteriores, criando, simultaneamente, novas possibilidades e desafios para essas organizações.

Todas as agências que visitamos demonstraram claramente a preocupação em aplicar soluções de tecnologia de informação aos seus modelos de trabalho. Nenhuma delas ignora a importância da internet como um novo território de atuação, por vezes configurando inteiramente o parâmetro de atividade. Podemos concluir que, para as agências observadas, a internet já superou o estágio de novidade, já não é mais uma moda que influencia ações dirigidas segundo o calor do momento ou seguindo o comportamento de manada.

Porém, em que pese a generalização da internet e a tendência irreversível de informatização da sociedade, os processos de adaptação a essa nova realidade não se dão sem problemas. Embora os casos estudados tenham perfis bem distintos entre si, eles retratam uma clara percepção que a internet é um elemento central nas estratégias de organização para os modelos e cadeias de operação.

A Agência Brasil optou de modo radical em incorporar na rede a totalidade dos seus serviços, ampliando a quantidade existente e adotando a internet como única plataforma de distribuição. Também tenta criar aberturas para novos fluxos, criando serviços em língua estrangeira e buscando parcerias para o provimento de conteúdo. Percebe-se, no caso da 312

agência estatal, um esforço de reorganização do modelo de trabalho em função de soluções na web, procurando racionalizar custos, ampliar a capacidade do seu corpo produtivo, otimizar os fluxos de informações e agilizar os serviços.

Contudo, limitações de ordem tecnológica atuam como freios para uma potencialização mais ampla da atuação dessa agência. Se, graças à internet, a Agência Brasil pode obter uma penetração sem comparações dos seus informes, isso se deve primordialmente ao caráter gratuito da sua disponibilização e à própria capilarização e popularização da web.

Os limites existentes, por exemplo, nos sistemas de publicação e organização da base de dados da agência, no controle efetivo de quem acessa e utiliza seu material e na gestão integrada das sucursais, poderiam, se superados, ampliar mais ainda o alcance dos informes e complementar de modo mais efetivo o atual objetivo da agência em ser mais uma agência de caráter público que meramente estatal.

Entretanto, trata-se de um modelo exemplar, e seguramente o mais típico entre os casos estudados, de uma reorganização de práticas em função de uma circunstância tecnológica, no caso, a internet, que é capaz de manter o conceito de agenciamento e atualizá- lo para um contexto diferenciado. A resultante, no nosso ponto de vista, é o fortalecimento da sua presença, que é capaz de responder com mais agilidade, se comparado aos estágios anteriores, às demandas de uma clientela que exige uma circulação sincronizada com a velocidade das redes digitais contemporâneas. Podemos dizer que as quatro hipóteses levantadas nesta tese encontram na Agência Brasil um cenário por onde podem ser confirmadas, a despeito das limitações existentes nesse órgão.

No caso da Agência Estado, percebemos de modo claro uma preocupação em se manterem os núcleos de informação para negócios e mídia, incorporando em um compasso mais cuidadoso a adoção de soluções baseadas na internet. Entretanto, a adoção de sistemas 313

de informação próprios, como o Broadcast, revela a intenção de se atingir toda uma área de interesse do setor não-mídia.

No entanto, essa agência possui a singularidade de ser simultaneamente uma agência comercial e um órgão de atuação interna do grupo Estado de São Paulo. Nesse modelo misto, em parte comercial e em parte corporativo, surge um perfil que delineia seu campo de atuação. Os seus serviços tendem a potencializar a produção de conteúdo em dois sentidos. O primeiro, através da coleta pela agência de informações, que alimenta os serviços da própria Agência Estado e dos órgãos do grupo, como o jornais Estado de São Paulo, Jornal da Tarde, Rádio Eldorado e Portal Estadão. O segundo, no sentido inverso, potencializa as informações coletadas nesses órgãos para um reaproveitamento na agência.

O que se destaca de modo imediato nessa simbiose é a utilização de um banco de dados que atua como uma grande cesta de conteúdos que são aproveitados e distribuídos, interna e externamente. Mas permanece como uma base de dados que atua mais na articulação e reenpacotamento de possibilidades, do que propriamente como memória, ou recuperação entre informações para a complementação de novos conteúdos.

Em paralelo, podemos verificar que permanece uma larga subutilização do potencial de memória. O grupo, através do jornal O Estado de São Paulo tem um volume de material que remonta a 1875, data de início da circulação. No entanto, a recuperação é limitada até 1990, quando do início do uso de tecnologias digitais na redação. Permanece pendente, devido aos custos envolvidos, o projeto de digitalizar os demais 115 anos de produção do jornal, de modo a agregar um valioso manancial de conteúdos e redistribuí-lo em serviços que, no âmbito nacional, não teria similares.

Quanto ao núcleo de atividade direcionada aos negócios, percebemos de modo claro a integração de ferramentas digitais aos processos de operação da agência. Isso é particularmente perceptível quando se observa a ampliação de serviços a partir da integração 314

com as redes digitais, ainda em fins dos anos 1980 e que vem incrementando progressivamente a capacidade de definir novos métodos de organização, ordenamento, classificação e disponibilização das informações produzidas.

Continuando com a atuação no cenário digital, com a internet a agência passa a ter uma presença na rede mundial em três frentes: a alimentação de informes para órgãos afiliados, a criação de serviços a serem distribuídos através da web, de modo a criar alternativas de custo mais acessível para pequenos e médios jornais, e, finalmente, formatando uma parte do seu conteúdo para acesso livre.

No entanto, esse aspecto triplo continua a enfatizar os laços tradicionais da agência em provimento de informação para o mercado, seja de mídia ou não-mídia, mais do que propriamente um direcionamento para o usuário final. Na concepção do grupo Estado, a relação com o público leitor e os usuários é um papel que deve ser cumprido pelos órgãos jornalísticos do grupo, ficando a agência com a função de alimentadora de serviços em âmbito interno e externo, no caso do direcionamento ao horizonte de clientes.

Devido a esse posicionamento duplo, percebemos que a Agência Estado permanece com dinâmicas mais centralizadas, posto que assume um papel de núcleo aglutinador da sistemática produtiva do grupo. De certo modo, é uma contingência inevitável pelo fato de se se tratar de uma atividade atrelada a uma organização editorial.

Percebemos que a possibilidade de distribuição de conteúdos, apesar de potencialmente poder se dar de modo indistinto, graças às plataformas digitais é restringida por alguns fatores. O primeiro, a priorização dos órgãos internos do grupo, que dependendo do conteúdo, são favorecidos por embargos que permitem o privilégio da veiculação em primeira mão, em caráter interno. Segundo, pela política de embargos também ser percebida no direcionamento externo. Em praças específicas, onde, havendo um jornal que assine determinados serviços da Agência Estado, por exemplo, esses são vetados a outros jornais que 315

atuem na mesma praça. A justificativa para tal é criar áreas de exclusividade do conteúdo da

Agência Estado, de modo que os jornais não reproduzam a mesma matéria.

Relativo à velocidade, a Agência Estado segue o padrão das agências comerciais, priorizando a alimentação mais ágil dos serviços direcionados ao mercado. Para os serviços de mídia, há ainda uma série de critérios que estabelecem uma ordem de priorizações para os jornais do grupo, os jornais externos e os veículos na internet e demais sistemas de acesso, como celulares, PDAs, etc. A justificativa é garantir a vinculação de determinadas notícias de acordo com o seu peso, ou noticiabilidade, para determinados circuitos, tentado delimitar a ocorrência de ‘furos’ em determinados veículos, ou, entendendo de outra forma, canalizando a possibilidade do ineditismo de um relato ocorrer dentro de um controle mais rígido.

Desse modo, são aspectos que, sob o ponto de vista estrutural, limitam uma aplicação mais ampla das potencialidades da descentralização e da velocidade. Mais que simplesmente ser uma deficiência, podemos concluir que tal resultante é produto do modelo de operação existente na Agência Estado em vinculação a uma série de amarrações com a política editorial e de circulação de serviços do grupo. Os limites estão mais associados a um desenho e projeto específico de uso do conjunto de dispositivos tecnológicos atrelado a uma política de negócios, mesmo que, para isso, o preço seja a subutilização da potencialidade tecnológica e a capacidade real, porém, latente, da agência em extrair das características operacionais a totalidade das possibilidades.

Atualmente, somente no data center da Reuters, em Londres, há uma quantidade de cabos que se fosse colocado de modo contíguo, seria capaz de dar uma volta no globo243, porém, essa tarefa a agência já cumpriu há 130 anos atrás. Para a Reuters, a sua capacidade de alcance é uma dinâmica que tradicionalmente se dá em escala mundial, e esse aspecto condiciona o posicionamento dessa organização no provimento de notícias e serviços de

243 Cf. http://about.reuters.com/productinfo/datafeeds/material/Reut_DataFeedDirect_v3.pdf 316

interesse global. Contudo, a era dos cabos e redes proprietárias é um estágio superado e, atualmente, a agência estabelece a sua teia de alcance apoiada em uma miríade de alternativas e plataformas de circulação.

Desde os anos 1970, a Reuters reconfigurou sua atuação, de modo que hoje não é apenas uma agência de notícias. O fornecimento de conteúdo para órgãos da mídia representa uma das pontas de um triângulo que se completa com o desenvolvimento de tecnologias de informação e prestação de serviços para o mercado. Se pensarmos a delimitação existente entre essas três extremidades, podemos concluir que a empresa é, sobretudo, uma agência de informação, onde as notícias são um dos conjuntos possíveis que emanam das práticas.

O gigantismo dessa atividade pode ser detectado quando constatamos que cerca de

1,2 trilhão de dólares, que são movimentados diariamente nos mercados financeiros globais, tem o seu local de comercialização situado em um espaço que é a rede de serviços de transação da Reuters (Bartram, 2003).

Prosseguindo, adicione-se a isso os serviços de informação que orientam esses negócios e as notícias direcionadas ao núcleo de mercado. Diante deste volume significativo de dados que transitam em rede, fica difícil estabelecer limites rígidos do que é informação de mercado que se transforma em notícia e o que é notícia que tem desdobramentos para os serviços de mercado. Na verdade, trata-se de uma simbiose cada vez mais interdependente, em que a agência potencializa os ganhos que são possíveis na intersecção entre essas esferas.

Podemos concluir que a concentração em torno de serviços financeiros, bem como a insistência em plataformas tecnológicas proprietárias e com pouca compatibilidade com outros sistemas de dados, foi parcialmente responsável pelos erros crassos cometidos pela agência quando da entrada na internet. A Reuters não era vista no seu core business como uma organização voltada para usuários comuns. Ao elaborar uma estratégia para esse ambiente, cometeu equívocos, superdimensionando um sistema que não foi assimilado na 317

escala pretendida. Com isso, os ajustes foram feitos no sentido de utilização da internet mais como uma rede adicional de circulação, de integração de dinâmicas de trabalho e de uma formatação parcial de seus conteúdos para acesso aberto.

Nesse sentido, a internet representou também o surgimento de um novo horizonte de distribuição para os seus serviços, que se estabeleceu na relação com os portais e sites jornalísticos, sobretudo na justificativa de emprestar para esses últimos mais agilidade no abastecimento de últimas notícias.

O que se percebe é que há um potencial de crescimento da oferta de serviços que é proporcional ao crescimento da complexidade da própria internet, gerando modelos diferenciados de consumo de conteúdos e informações. Nesse aspecto, as agências Estado e

Reuters confirmam as quatro hipóteses levantadas nesta tese para o quadro particular das mesmas, enquanto casos observados. Obviamente essa confirmação ocorre em escalas variáveis em cada caso. São agências que possuem similaridades operacionais, mas que apresentam dimensões e modelos de organização significativamente distantes um do outro.

Perspectivas.

O que concluímos, apesar das possíveis discrepâncias entre os padrões de agências estudados, é a possibilidade de aplicação de um modelo de análise baseado nas características operacionais e de fluxo que indiquem as particularidades e as variações do agenciamento de notícias, informações, dados, conteúdos e serviços. Com isso, esperamos ter atendido o nono objetivo, que é a proposição de um modelo de análise capaz de abordar as configurações, tendências e possibilidades de articulação das agências no cenário contemporâneo. 318

Podemos detectar que, diante do ambiente das redes digitais, ocorrem basicamente duas tendências de adaptação das agências. A primeira, tende a prolongar padrões remanescentes de operação, projetando um modelo de modo a adaptá-lo às circunstâncias e possibilidades presentes em redes mais abertas e capilarizadas, como a internet. A segunda, tende de uma maneira mais radical a reorganizar suas dinâmicas internas, utilizando a internet como uma espécie de vetor organizacional, que altera configurações pré-existentes de modo mais sensível.

Ambas as tendências têm seus motivadores e possíveis méritos. O que fica claro é a possibilidade de adaptação dos modelos de organização. Nesse processo, contudo, perdas e equívocos podem ser notados devido à tensão existente entre alcançar espaços mais amplos e a limitação existente no potencial de flexibilizar soluções. Essas limitações são de ordem tecnológica, mas também são de ordem social e cultural refletidas na delimitação e atuação de cada agência.

Um elemento adicional que torna esse quadro mais complexo é, sem dúvida, o surgimento, nos últimos 20 anos, de redes de notícias de alcance mundial, como a CNN; de agências nacionais fortes, como a EFE; de organizações internacionais baseadas na internet como os Centros de Mídia Independente, e por vezes, de iniciativas como os blogs.

Comparado a um quadro de 30 anos atrás, esses fenômenos tendem a atenuar o papel hegemônico que as agências tinham sobre a gestão dos fluxos internacionais de notícias e informações (FAHMY, 2003). Esses fenômenos não aniquilam a importância das agências. O que há é uma sobreposição de redes, que não se orientam mais em um padrão hegemônico.

São formas complementares de apreensão do mundo que não são substitutas dos modelos estabelecidos de circulação de notícias. São mais orientadas por uma demanda específica

(SHIBUTANI, 1966, p. 57-58), dada em modelos mais livres e alternativos e modelos mais sistematizados e dirigidos a necessidades específicas. 319

Ao pensarmos um fenômeno de aproximação com as ONGs, coletando e distribuindo material para essas organizações, podemos pensar que, para as agências, é um papel que tem mudado sutilmente o centro de gravidade nos últimos anos. A sociedade da informação impõe alguns condicionamentos que as obriga a sair do seu espaço específico formado em torno do agenciamento e consolidado durante um século e meio. Isso as desafia a mostrarem-se e serem competitivas, em um terreno mais aberto e não somente a serem atuantes nos bastidores de circulação da notícia. Na nova realidade, as agências tendem a atuar também como provedores de conteúdo, para utilizar um termo de assimilação mais fácil ao cenário contemporâneo, e também atenuando o seu papel de meio indireto, buscando alternativas de redução do caminho entre o material que produz e o público que acessa, identificando novos horizontes de interesse, e também, novos modelos de geração e circulação de conteúdo.

É um período regido pela idéia de ajuste, que, no entanto, requer uma afinação entre a base clássica das agências e o novo cenário, por contingência, maleável, movediço. É um horizonte que procura inter-relacionar temas tão díspares como os conflitos armados, os atentados à bomba, os negócios de interesse global e/ ou específico, a política de gabinetes, a agenda multicultural, a transnacionalização das organizações e da cultura, a interpenetração entre mercado e instituições e as contradições entre esferas privadas e públicas.

Com esse cenário complexo em tela, o trabalho junto a novas áreas de emanação de informação, como as ONGs, reflete a necessidade das agências em assumir pautas que tratem dessas e de outras relações complexas, recriando seus processos de circulação de informação segundo novos valores postos. Por vezes, esse ajuste explicita os conflitos não somente externos, presentes na sociedade, mas também as próprias contradições existentes nas práticas das agências. 320

Se são perspectivas que surgem como contradições, são também choques que, para o quadro da pesquisa, refletem as próprias necessidades conflitantes, as indefinições, as oscilações presentes no próprio deslocamento veloz desse estado de coisas, dado na sociedade da informação. Nesse sentido, procuramos sintetizar a seguir algumas tendências presentes para as agências de notícias para a situação que ora se desdobra;

a) uma maior flexibilização das alternativas de circulação de serviços e

conteúdos, de acordo com a variedade de soluções, plataformas e produtos

disponíveis e ajustados à capacidade de assimilação e acesso do universo de

clientes;

b) menor dependência ou influência, no caso das agências estatais, ou pelo

menos no caso da Agência Brasil, do papel do governo em determinar núcleos

de trabalho, de geração de conteúdos e de distribuição dos serviços das

agências, tendência a se tornar mais agências de interesse público, com um

raio maior de penetração e aceitação dos seus serviços;

c) nas agências comerciais, estabelecimento de graus mais elevados de

especificidade, de direcionamento e delimitação dos serviços, consoante a

capacidade de combinação e associação de informações, através de bancos de

dados;

d) surgimento de um terceiro núcleo de produção nas agências comerciais. Além

dos serviços para os setores de mídia e não-mídia, há a tendência de criação de

modalidades de acesso direcionadas ao público aberto, como as páginas na

web das agências, mesmo que pesem as limitações existentes nessas

alternativas se comparadas aos serviços preferenciais, pagos e direcionados a

nichos específicos; 321

e) criação progressiva de mais serviços, em face de uma maior capacidade de

processamento de dados e também pela circulação de informação em infra-

estruturas mais ágeis, como as redes em banda-larga;

f) uso crescente da internet como rede de distribuição e, em paralelo, como rede

de trabalho e rede de obtenção de material para apuração e criação de novos

serviços;

g) menor dependência de redes de infra-estrutura própria, com o crescimento da

capacidade técnica e confiabilidade operacional da internet;

h) manutenção das vinculações entre agências e órgãos de imprensa no

provimento de notícias, predominância do material das agências nos sites e

portais on-line, sobretudo nas sessões de últimas notícias e notícias

internacionais.

Essas tendências, na verdade, refletem um quadro que exigirá uma atenção redobrada dessas organizações para perceber configurações que mantenham a função de agenciamento, harmonizada com necessidades crescentemente distintas de troca de informações em modelos que são cada vez mais flexíveis e mutáveis. Esse é o pano de fundo que, de certo modo, torna difícil o reconhecimento e tomada de decisão para continuidade do percurso.

Em modo de ponto final.

Acreditamos que o percurso estabelecido nesta pesquisa representa uma contribuição para o estudo das agências de notícias. Reconhecemos que a pesquisa é importante por problematizar em extensão e profundidade um tema que não tem sido contemplado recentemente no Brasil, com abordagens que o coloquem no centro do problema 322

de investigação. Nesse recorte, é uma pesquisa inédita no país, que procura estabelecer modelos e características estruturais da presença das agências de notícias no cotidiano dos fluxos de notícias e informações.

Defendemos que o trabalho também ganha relevância por apontar elementos que podem contribuir para a compreensão dessas organizações, como atuantes em processos diversos da comunicação. Nesse sentido, a pesquisa pode se articular e se desdobrar para investigações subseqüentes, que contemplem, por exemplo, as relações centro-periferia existentes na alimentação de conteúdos nos veículos de imprensa; o papel exercido pelas agências na globalização da notícia; a interdependência entre os contextos de notícias de mercado e de notícias gerais; o debate sobre a necessidade de mecanismos regulatórios para o fluxo de informações; o estudo do modelo de trabalho das agências como gênero jornalístico, dentre tanto outros.

Contudo, sem parecer que procuramos uma justificativa escapista, preferimos pesquisar a estruturação de aspectos constitutivos existentes no percurso das agências. Uma leitura possível é que a investigação estabelecida através dessa seqüência seja falsamente compreendida como uma abordagem conservadora. É exatamente o contrário. Trata-se de identificar a operação das agências e sua configuração, ainda no século XIX, como um conjunto de iniciativas de vanguarda para aquele momento que indica as mesmas como atores e co-formatadoras presentes nas primeiras redes tecnológicas de circulação de notícias e não somente como usuárias de desdobramentos condicionados a reboque de práticas situadas, por exemplo, nas redes digitais. Isso seria dar crédito a um triunfalismo tecnológico

(PALACIOS, 2003) unilateral, como um libertador de limites existentes em estágios anteriores.

A importância desse viés tem um desdobramento peculiar: ilustrar a existência, entre o percurso histórico das agências e as práticas contemporâneas, como, por exemplo, o 323

jornalismo na web, de possíveis paralelos que podem ser traçados de modo a buscar um aprofundamento contemporâneo sobre a manifestação de elementos presentes no estado da prática. Talvez esta tese faça parte de uma tendência mais ampla, manifestada atualmente nos estudos de jornalismo, em se buscar dados históricos para estabelecer leituras menos deterministas sob o ponto de vista tecnológico. Todavia, defendemos que esse percurso pode ser mais enriquecedor, mais substancial e menos unilateral do que uma delimitação apenas circunstanciada e em sincronia com as tecnologias da era digital.

Por fim, gostaríamos de atentar para o contexto de origem desta tese. Ela foi possível por se situar em um centro de pesquisas de crescente referência sobre as relações entre tecnologia e jornalismo. A produção do Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-line da

FACOM-UFBA (GJOL) e da linha de Cibercultura, da mesma faculdade, foi decisiva para o estabelecimento de muitas bases que aqui se colocam. É importante “dar nomes aos bois”.

É particularmente necessário observar que se trata de uma instituição pública, que foi uma pesquisa realizada por um professor de uma universidade pública (UFPE) e financiada com recursos também públicos (CAPES-PICDT). É importante indicar que as investigações sobre a importância do jornalismo na era das redes digitais têm o debate situado, com destaque, na Universidade pública brasileira.

Ao longo dos últimos quatro anos, foi nosso objetivo indicar a importância das agências de notícias no mundo atual. Uma presença, às vezes, contraditória nas vidas do homem contemporâneo, ao mesmo tempo tão intensa, e tão silenciosa, tão constante e tão desapercebida do nosso dia-a-dia. Esta tese é o resultado de tal esforço. Oxalá seja compreendida como espero que seja.

Fim.

- Várzea do Capibaribe, Recife, quinta-feira 15 de junho de 2006, às 23:38h. 324

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APÊNDICE A – Lista das agências em operação. 342

ÁFRICA Agência País de Organização URL Republicações origem Agence Algérienne Argélia Estatal http://www.aai-online.com (francês) - d'Information (AAI) Agence Benin de Benin Cooperativa http://www.afrikinfo.com - Presse Agence Burundaise Burundi Estatal http://www.abp.info.bi/ - de Presse Agence d'Information Burkina Faso Estatal http://www.aib.bf/ (francês) - du Burkina (AIB) Agence de Presse Senegal Estatal http://www.aps.sn/ (francês) AFP, APS, Xinhua, Sénégalaise MAP (APS) Agence Djiboutienne Djibouti Estatal http://www.adi.dj/actualites.htm (francês) - d'Information Agence Gabonaise Gabão Estatal http://www.agpgabon.net/ (francês) - de Presse (AGP) Agência Bissau Guiné-Bissau Estatal http://www.agenciabissau.com/ (portugês) - Media e Publicações (ABMP) Agence Ivoirienne de Costa do Estatal http://www.un.org/french/Depts/dpi/Abidjan9 - Presse Marfim 9/aip_cotedivoire

Agência de Moçambique Estatal http://www.sortmoz.com/aimnews/ SADC, PALOP, Informação de (português) CPLP, UE/ACP Moçambique (AIM) Agence Mauritânia Estatal http://www.mauritania.mr/ami/ - Mauritanienne de l'information Agência Noticiosa de Cabo Verde Estatal http://www.inforpress.cv/ (português) - Cabo Verde (Inforpress) Algeria's News Algéria Estatal - http://www.aps.dz (francês) - Agency (APS) - http://www.aps.dz/an/ (inglês) All Africa Global África do Sul Regional/ http://allafrica.com/ (inglês) Possui acordos de Media (AllAfrica) Cooperativa troca de conteúdo com cerca de 130 organizações de notícias africanas Angola Press Angola Estatal http://www.angolapress-angop.ao/ - (Angop) (português) Ghana News Agency Gana Estatal http://www.ghana.com/republic/gna/ -

Documentation et Congo ONG - Ligada à http://www.peacelink.it/dia/ (francês) - Information igreja católica Africaines (DIA) (propriedade da “Conférence Episcopale du Congo”) Ethiopian News Etiópia Estatal http://www.ena.gov.et/ (inglês) - Agency (ENA) Jamahiriya News Líbia Estatal/ http://www.jamahiriyanews.com/ (inglês, IRNA e outras Agency (JANA) francês e árabe) agências árabes, africanas e internacionais Lesotho News Lesoto Estatal http://www.lena.gov.ls/ (inglês) Agency (LENA) 343

Maghreb Arabe Marrocos Estatal/ http://www.map.ma/ (inglês, francês e - Presse (MAP) Cooperativa espanhol) Namibia Press Namíbia Estatal http://www.nampa.org (inglês) REUTERS, AFP, Agency (NAMPA) AP, SAPA, , PTI Pan-Africa News Toda África Regional/ - http://www.panapress.com (inglês) ZANA, IINA, Agency Cooperativa MENA (Panapress) Rwanda News Ruanda Estatal http://www.ari-rna.co.rw/ (francês) - Agency (RWA) Sierra Leone News Serra Leoa Estatal http://www.sierra- - Agency leone.gov.sl/slnewspages.htm Smart News Network Malásia e Regional/ - http://www.snni.org - International (SNNI) países do Cooperativa - http://www.snni.org/cgi- Sudeste da bin/snni2/list_item.cgi (inglês) África South Africa Press África do Sul Estatal http://www.sapa.org.za (inglês) - Agency (SAPA) Sudan News Agency Sudão Estatal http://www.suna-sd.net/ - Zambia News Zâmbia Estatal http://www.zana.gov.zm/ (inglês) Reuters, Xinhua, Agency (ZANA) DPA, Panapress, AIM, SABA

AMÉRICA DO NORTE Agência País de Organização URL Republicações origem Associated Press EUA Cooperativa/ http://www.ap.org (inglês) - (AP) Comercial Bloomberg EUA Comercial/ http://www.bloomberg.com (inglês) especializada Canadian Press, The Canada Cooperativa/ http://www.cp.org/english/hp.htm (inglês) AP (CP) Comercial Down Jones EUA Comercial/ http://www.downjones.com - Especializada United Press EUA Cooperativa/ http://www.upi.com (inglês) - International (UPI) Comercial

AMÉRICA LATINA Agência País de Organização URL Republicações origem Agence Haitïenne de Haiti Estatal http://www.ahphaiti.org/ (francês) - Presse (AHP) Agencia Bolivariana Venezuela Estatal http://www.abn.info.ve/ (espanhol) - de Noticias (ABN) Agencia Boliviana de Bolívia Estatal http://www.comunica.gov.bo/cgi- - Información (ABI) bin/index.cgi?g (espanhol) Agência Brasil (ABr) Brasil Estatal http://www.radiobras.gov.br/ (português) LUSA

Agencia Cubana de Cuba Estatal http://www.ain.cu/ (espanhol) - Noticias (ACN) Agencia Diarios y Argentina Comercial http://www.dyn.com.ar (espanhol) - Noticias (DYN) Agência Estado Brasil Comecial http://www.estadao.com.br/agestado/ - (português) Agencia Latina de Argentina Cooperativa http://www.alia.com.ar/ (espanhol) - Información Alternativa (ALIA) 344

Agência Latino- América Cooperativa - http://alainet.org (inglês) - Americana de Latina - http://alainet.org/index.phtml.pt Informação (ALAI) (português) Agencia Venezuela Cooperativa http://www.alia2.net/ (espanhol) - Latinoamericana de Información y Análisis 2 (ALIA2) Agencia Peruana de Peru Comercial http://www.andina.com.pe/ (espanhol) - Noticias (Andina) Agencia Púlsar América Regional/ http://www.agenciapulsar.org/ (espanhol) - Latina Cooperativa Argenpress.info Argentina Estatal http://www.argenpress.info/ (espanhol) TELAM, Prensa Latina, AIN, Deutsche Welle, Novosti, VENPRES, VNA, BRECHA, UTPBA ANC, ALAI Bolívia Estatal http://www.bolpress.com/ (espanhol) - Mercopress Uruguai Comercial http://www.mercopress.com/ (inglês) - New Colombia News Colômbia Estatal http://www.anncol.org (espanhol) - Agency (ANNCOL) Noticias Argentinas Argentina Comercial http://www.noticiasargentinas.com (NA) (espanhol) Notimex México Comercial http://www.notimex.com.mx/ (espanhol) - Prensa Latina (PL) Cuba Estatal http://www.prensalatina.com.mx/ (espanhol) -

ÁSIA Agência País de Organização URL Republicações origem Antara Indonésia Cooperativa/ - http://www.antara.co.id/ , AAP, Estatal - http://www.antara.co.id/en (inglês) Reuters, AFP, DPA, Xinhua, Kyodo Asia News Network Bangladesh, Regional/ http://www.asianewsnet.net (inglês) - (ANN) China, Índia, Cooperativa Japão, - Patrocinada pela Malásia, Fundação Konrad Indonésia, Adenauer Filipinas, Singapura, Coréia do Sul, Sri Lanka, Tailândia, Vietnã Associated Press of Paquistão Estatal http://www.app.com.pk (inglês) - Pakistan (APP) Azerbaijan State Azerbaijão Estatal - http://www.azertag.com ITAR-TASS, ANA, Telegraph Agency - http://www.azertag.com/en (inglês) Xinxua, Rompres, (AzerTAj) , BTA, ANSA Bangladesh Sangbad Bangladesh Estatal http://www.bssnews.net/ (inglês) Reuters, AFP, PTI, Sangstha (BSS) APP, Xinhua, TransData, Bernama Berita Nasional Malásia Estatal http://www.bernama.com/ (inglês) BSS, AFP e outras Malaysia (Bernama) agências da AsiaNET Central News Agency Taiwan Estatal - http://www.cna.com.tw/ (tailandês) Possui acordos de 345

(CNA) - http://www.cna.com.tw/eng/ (inglês) troca de notícias com aproximadamente 20 agências Chinanews.cn China Estatal www.chinanews.cn (inglês) - Jiji Press Japão Comercial www.jiji.co.jp (japonês) Reuters, LEXIS/NEXIS, FTI, UMI, AGI e outros Kazakh Information Cazaquistão Estatal http://www.inform.kz/ (inglês) ITAR-TASS, Agency () Novosti, Xinhua, BBC Newws, Kabar, BelTA, UkrInform Khabar Agency Cazaquistão Estatal / - http://www.khabar.kz (inglês e russo) Possui acordos de (Khabar) Cooperativa troca de notícias com algumas das maiores agências do mundo Khaosan Pathet Lao Laos Estatal http://www.kpl.net.la/ (lao, francês e inglês) - (KPL) Korean Central News Coréia do Estatal - http://www.kcna.co.jp (coreano) Desenvolve Agency (KCNA) Norte - http://www.kcna.co.jp/index-e.htm (inglês) relações de cooperação com agências de notícias estrangeiras (Kyodo) Japão Comercial - http://www.kyodo.co.jp/ (japonês) Possui acordo de - http://home.kyodo.co.jp/ (inglês) troca de notícias com 70 agências estrangeiras Kyrgyz National Quirguízia Estatal http://www.kabar.kg/eng/ (inglês) - News Agency (KABAR) Mongólia Estatal http://www.montsame.mn/ Reuters, Yonhap, http://www.montsame.mn/index.php (inglês) ITAR-TASS, Kyodo, Novosti Philippines News Filipinas Estatal http://www.pna.gov.ph (inglês) Xinhua, Kyodo, Agency (PNA) PTI, CNA Índia Comercial http://www.ptinews.com (inglês) AP, AFP e mais de (PTI) 100 agências de notícias espalhadas pelo mundo Rastriya Nepal Comercial http://www.rss.com.np/ (inglês) - Samiti (RSS) Tamil News Service Sri Lanka Estatal http://www.tamilnet.com/ (inglês) - (TNS) Thai News Agency Tailândia Estatal http://www.mcot.or.th - Índia Comercial/ http://www.uniindia.com/ (inglês) Reuters, DPA, (UNI) Cooperativa Xinhua, UNB, BNA, WAM, KUNA, ONA, QNA Uzbekistan National Uzbequistão Estatal http://www.uza.uz/news/ - News Agency Vietnam News Vietnã Estatal http://www.vnanet.vn/ (vietnamita) - Agency (VNA) http://www.vnanet.vn/default.asp?LANGUA GE_ID=2 (inglês) http://www.vnanet.vn/default.asp?LANGUA GE_ID=4 (espanhol) China Estatal - http://www.xinhua.org (chinês) - 346

(Xinhua) - http://www.chinaview.cn (inglês) Yonhap News Coréia do Sul Comercial - http://www.yonhapnews.co.kr/ (coreano) AP, Reuters, UPI, Agency - http://english.yna.co.kr/ (inglês) AFP, Xinhua, Kyodo, ITAR- TASS, DPA

EUROPA Agência País de Organização URL Republicações origem AdnKronos Itália Comercial http://www.adnkronos.com (italiano) - AFX News Ltda. Inglaterra Comercial http://www.afxnews.com (inglês) AFP, ANP, APA, AWP, DPA, XFN, SDA-ATS Agence France Press França Comercial - http://www.afp.com (francês) - (AFP) - http://www.afp.com/english/home/ (inglês) - http://www.afp.com/portugues/home (português) Agência de Notícias Portugal Estatal http://www.lusa.pt (português) - de Portugal (LUSA) Agencia de Noticias Espanha Estatal http://ania.eurosur.org/ (espanhol) - e Información Alternativa (ANIA) Agencia EFE (EFE) Espanha Comercial http://www.efe.es/ - Agenzia di Stampa Itália Comercial http://www.ipse.com (italiano) - Italiana di Economia e Politica (IPSE) Vaticano Estatal - http://www.fides.org (italiano) - - http://www.fides.org/por/index.html (português) Agenzia Giornalistica Itália Comercial http://www.agenziaitalia.it (italiano) Reuters, EFE, Italia (AGI) ITAR-TASS, AFP, Xinhua, Jiji Press Agenzia Nazionale Itália Comercial http://www.ansa.it (italiano) - Stampa Associata (ANSA) Agenzia Stampa Itália Comercial http://www.asca.it/ (italiano) - Quotidiana Nazionale (ASCA) Albanian Telegraphic Albânia Estatal - http://www.ata-al.net (albanês) - Agency (ATA) - http://www.ata-al.net/index.aspx?lang=e (inglês) Algemeen Holanda Comercial - http://www.anp.nl (holandês) Reuters, DPA e Nederlands - http://www.anp.nl/anp_english.html AFP Persbureau (ANP) (inglês) Alternativna Sudeste Regional/ http://www.aimpress.ch (inglês) - Informativna Mreza Europeu Comercial (AIM) Armenian News Armênia Estatal http://www.armenpress.am (inglês, russo e ITAR-TASS, Agency armênio) Reuters, Xinhua (ArmenPress) News Agency Grécia Estatal http://www.ana.gr/anaweb (inglês) Reuters, AFP, (ANA) DPA, ITAR-TASS, EPA e agências locais gregas Austrian Press Áustria Comercial - http://www.apa.co.at (austríaco) - Agency (APA) - http://apa.cms.apa.at/cms/site/home/HOME setDETAIL.htm?englisch.htm (inglês) 347

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Reuters Inglaterra Comercial - http://www.reuters.com (inglês) Possui parcerias de conteúdo com cerca de 185 agências de notícias ao redor do mundo Ritzau Dinamarca Comercial http://www.ritzau.dk (dinamarquês) Reuters, DPA, AFP Russian Information Rússia Comercial http://www.rian.ru (russo) - Agency (Novosti) Schweizerische Suíça comercial - http://www.sda.ch/f/index.php (francês) - Depeschen Agentur - http://www.sda.ch/i/index.php (italiano) (SDA) Slovene Press Eslovênia Estatal - http://www.sta.si (esloveno) APA, ANSA, HINA, Agency (STA) - http://www.sta.si/en/ (inglês) TANJUG, MTI, DPA, AFP, AP, IRNA, ATA, TASR, ITAR-TASS, Xinhua, MIA, MAKFAX, MINA Suomen Finlândia Comercial - http://www.stt.fi (finlandês) - Tietotoimisto (STT) - http://www.stt.fi/index3.php (inglês) Telegraphic Agency Sérvia e Estatal http://www.tanjug.co.yu (inglês) - of New Yugoslavia Montenegro (TANJUG) Tidningarnas Suécia Comercial - http://www.tt.se (sueco) Reuters, AFP Telegrambyrå (TT) - http://www.tt.se/utl/eng.asp (inglês) Ukrainske Ucrânia Estatal - http://www.dinau.com/eng/ - ITAR-TASS, Natsionalne Xinhua, TANJUG, Informatsiyne DPA, AFP, AP. Agentstvo

OCEANIA Agência País de Organização URL Republicações origem Australian Associated Austrália Comercial/ http://aap.com.au (inglês) - Press (AAP) Cooperativa New Zealand Press Nova Comercial/ http://www.nzpa.co.nz/ (inglês) - Association (NZPA) Zelândia Cooperativa

ORIENTE MÉDIO Agência País de Organização URL Republicações origem (AA) Turquia Estatal - http://www.anadoluajansi.com.tr (turco) - - http://www.anadoluajansi.com.tr/index.php? option=com_haber&Itemid=67 (inglês) Bahrain News Bahrain Estatal - http://www.bna.bh - Agency (BNA) - http://english.bna.bh/ (inglês) Cyprus News Agency Chipre Estatal - http://www.cna.org.cy ANA, SANA, (CNA) - Reuters, AFP, http://www.cna.org.cy/website/english/index Xinhua, ANSA, .asp (inglês) ITAR-TASS, IRNA, APS, ATA, KYODO Dar Al Hayat Líbano Comercial - http://www.daralhayat.com - - http://english.daralhayat.com/ (inglês) Emirates News Emirados Estatal http://www.wam.org.ae (árabe e inglês) SUNA, Bernama, 349

Agency (WAM) Árabes Novosti, Xinhua, Unidos KUNA, PETRA, SABA International Islamic Sede na Regional/ - http://www.islamicnews.org.sa/ (árabe) Antara, Bernama, News Agency (IINA) Arábia Cooperativa - http://www.islamicnews.org.sa/en/ (inglês) APP, PANA, Saudita, MENA, WAM, SPA envolve vários países: Egito, Líbia, Marrocos, Tunísia, Catar, Paquistão, Kwait, Emirados Árabes Unidos e Indonésia Islamic Republic Irã Estatal - http://www.irna.ir AFP, AP, UPI, News Agency (IRNA) - http://www.irna.ir/en/ (inglês) Reuters Israel Internet News Israel Comercial http://www.israelnewsagency.com/ (inglês) - Agency (IINA) Jordan News Agency Jordânia Estatal http://www.petra.gov.jo/main.asp (inglês) - (Petra) Kuwait News Agency Kuwait Estatal - http://www.kuna.net.kw (árabe) - (KUNA) - http://www.kuna.net.kw/home/Default.aspx? Language=en (inglês) Middle East News Egito Regional/ http://www.mena.org.eg/ (árabe, inglês, Tem acordos de Agency (MENA) Cooperativa francês) cooperação e troca de notícias com 25 agências de notícias regionais e internacionais National News Líbano Estatal http://www.nna-leb.gov.lb/ (inglês) - Agency (NNA) Oman News Agency Sultanato de Estatal http://www.omannews.com/ (árabe e inglês) - (ONA) Oman Palestine News Palestina Estatal http://english.wafa.ps/ (inglês) - Agency (WAFA) Qatar News Agency Catar Estatal http://www.qnaol.com (árabe e inglês) Tem acordos de (QNA) trocas de notícias com diversas agências de notícias árabes e internacionais Saudi Press Agency Arábia Estatal - http://www.spa.gov.sa (árabe) - (SPA) Saudita - http://www.spa.gov.sa/newsen.htm (inglês) Syrian Arab News Síria Estatal http://www.sana-syria.com (árabe, inglês e - Agency (SANA) francês) Yemen News Agency Iêmen Estatal http://www.sabanews.net/ (inglês) - (SABA)

350

APÊNDICE B – Lista dos serviços da Reuters. 351

Lista dos serviços da Reuters.

Núcleo Mídia. 199 serviços.

Área do serviço: Notícias (13 serviços)

Arabic News Service Asian Business News Service Brazil Essential News Service European Business News Service French Economic News Service French General News Service German Economic News Service German General News Service North American Business News Service North American News Service Spanish Language News Service Washington Daybook World Service

Área dos serviços: On-line. (142 serviços)

Arabic (Middle East) Online Report - Entertainment Arabic (Middle East) Online Report - Internet, Technology & Environment Arabic (Middle East) Online Report - Sport Arabic (Middle East) Online Report - Top News Arabic (Middle East) Online Report - World Asia Online Report- Business Asia Online Report- Entertainment Asia Online Report- Sport Asia Online Report- Technology Asia Online Report- Top News Asia Online Report- World Belgian Soccer Results Service Brazil Online Report - Business Brazil Online Report - Entertainment Brazil Online Report - Health Brazil Online Report - Oddly Enough Brazil Online Report - Sport Brazil Online Report - Technology/Internet Brazil Online Report - Top News Brazil Online Report - World Canada Online Report - Business Canada Online Report - Country News Canada Online Report - Entertainment Canada Online Report - National Canada Online Report - Sport Canada Online Report - Technology Canada Online Report - Top News Canada Online Report - World 352

Champions League News Service Chinese Online Report - Business Chinese Online Report - Entertainment Chinese Online Report - Sport Chinese Online Report - Technology Chinese Online Report- World Cricket News Service Dutch Soccer Results Service France Online Report - Business France Online Report - Entertainment France Online Report - Oddly Enough France Online Report - Sports France Online Report - Technology France Online Report - Top News French Soccer Results Service Germany Soccer Results Service Global Markets Reports Service - Australia Global Markets Reports Service - Brazil Global Markets Reports Service - Chinese Simplified Global Markets Reports Service - Chinese Traditional Global Markets Reports Service - English Global Markets Reports Service - Germany Global Markets Reports Service - Italy Global Markets Reports Service - Japan Global Markets Reports Service - Korea Global Markets Reports Service - Spain Golf News Service Health Health eLine Health Industry Briefing Health Medical News Health US Online Report Health Vertical Newswires India Online Report - Business India Online Report - Entertainment India Online Report - Sports India Online Report - Technology India Online Report - Top News India Online Report - World Italian Soccer Results Service Italy Online Report - Business Italy Online Report - Internet/Technology Italy Online Report - Lifestyle Italy Online Report - Top News Japan Online Report - Business Japan Online Report - Entertainment Japan Online Report - Sports Japan Online Report - Technology Japan Online Report - Top News Japan Online Report - World Latin American Online Report - Business 353

Latin American Online Report - Entertainment Latin American Online Report - Internet Latin American Online Report - Sports Latin American Online Report - Top News Latin American Online Report - US/World Motor Sports News Service Olympic News Service Rugby News Service Russia Online Reports - Business Russia Online Reports - Oddly Enough/Lifestyle Russia Online Reports - Top News Russian Online Reports - Sports Soccer News Service Soccer World Cup 2006 Interactive Graphics Package Soccer World Cup 2006 News Service Soccer World Cup 2006 Pictures Service South Africa Online Reports - Business South Africa Online Reports - Sports South Africa Online Reports - Top News Spain Online Reports - Business Spain Online Reports - Entertainment & Culture Spain Online Reports - Internet Spain Online Reports - Sport Spain Online Reports - Top News Spanish Soccer Results Service Sports Extra News Service Tennis News Service UK Online Report - Business UK Online Report - Entertainment UK Online Report - Internet UK Online Report - Oddly Enough UK Online Report - Sports UK Online Report - Top News UK Online Report - World UK Soccer Results Service US Online Report - Business US Online Report - Entertainment US Online Report - Health US Online Report - Internet US Online Report - Lifestyle US Online Report - Oddly Enough US Online Report - Politics US Online Report - Science US Online Report - Sports US Online Report - Technology US Online Report - Top News US Online Report - World US Online Report PLUS VNU Entertainment News VNU Entertainment Online Report 354

VNU Entertainment Online Report- Billboard Charts VNU Entertainment Online Report- Box Office Charts VNU Entertainment Online Report- Business VNU Entertainment Online Report- Film VNU Entertainment Online Report- Music VNU Entertainment Online Report- People VNU Entertainment Online Report- Premium Charts VNU Entertainment Online Report- Reviews VNU Entertainment Online Report- Stage VNU Entertainment Online Report- TV Weather Advanced Weather Basic Weather Lite Weather Premium

Área dos serviços: Gráficos (2 serviços)

Soccer World Cup 2006 Interactive Graphics Package Reuters News Graphic Service

Área dos serviços: Televisão e video (17 serviços)

Africa Journal Asia News Service Business Video Online Desk Top Library Europe News Service Financial Reports Financial Video German News Service Latin America News Service LIFE! News Video Online Reports Showbiz Sports News Service Subcontinent News Service World News Express World News Service

Área dos serviços: Fotografias (6 serviços)

Entertainment Picture Service News Pictures Service Online Pictures Photobase Pictures Archive (RPA) Soccer World Cup 2006 Pictures Service 355

Área do serviço: General News and Spot News (18 serviços)

Serviços: Crime, law enforcement Diplomacy; International relations Disasters; accidents; natural catastrophes Education Environment; Natural world; Conservation Labour; Employment; unemployment Human interest War Domestic politics Biographies; Personalities; People Politics Religion Leisure; Travel; Tourism Civil War; Urban Violence; Violence World Crisis Elections Non-Governmental Organizations; Reuters Alert Net Blogs (Reuters correspondents blogs)

356

Núcleo de Mercado. 346 serviços.

Área do serviço: Key market reports.

Serviços: New York Wall Street daily outlook Amex Nasdaq London London weekly outlook US Stocks in London Frankfurt Tokio

Área do serviço: Key news displays.

Serviços: World stock marketing glance Equities news glance All Reuters equities international equities news Most actives shares Company results Company results forecasts Full equities diary G7 economic forecasts Polls/ Survey index

Área do serviço: News by topic

Serviços: Dividends Broker Research Derivatives Economic indicators Equity-linked bonds Fast analysis of economic data Mergers and acquisitions News issues Credit ratings Advertising Stock markets

Área do serviço: Investiment/ Mutual funds news

Serviços: All news on investments/ mutual funds Investiment fund industry views US Asset allocation survey 357

Asia Asset allocation survey UK Asset allocation survey Europe Asset allocation survey

Área do serviço: Industry

Serviços: Advertising Aerospace and military technology Appliances and household durables Automobiles Banking Beverages and tobacco Broadcasting and publishing Business and public services Building materials and components Chemicals Construction and housing Data processing and reproduction Electrical and electronics Electronic components and instruments Energy equipment and services Energy sources Financial services Food and househood products Forest products and paper Health and personal care Industrial components Insurance Leisure and tourism Machinery and engineering Merchandising Metals – non ferrous Metals – ferrous Metals – steel Miscellaneous materials and components Recreation/ consumer goods Telecommunications Textiles and apparel Transport – airlines Transport – road and rail Transport – shipping Wholesale international trade

Área do serviço: Key North American market reports

Serviços: (os mesmos do key market report) US outside hours US equities futures 358

US Stock options US Stocks – Toronto

Área do serviço: Key equities news in the Americas.

Serviços: Reuters North American equities news Latin America US financial news glance US corporate results Today in US equities US stocks and dividends Americas equities diary Top Latin America news glance US asset allocation survey

Área do serviço: Key Latin America Market Reports

Serviços: Bogota Lima Buenos Aires Caracas Mexico City Santiago São Paulo

Área do serviço: London Stocks Reports

Serviços: Latest London report London weekly outlook US Stocks in London Japan stocks in London

Área do serviço: London Stocks Information

Serviços: UK company results forecasts UK takeovers and mergers Main FTSE technical indicators Asset Allocation Survey Insights

Área do serviço: European Stock Market Reports

Serviços: Amsterdam Athens 359

Bratislava Copenhagen Dublin Frankfurt Helsinki Istanbul Ljublijana Madrid Milan Paris Prague Sofia Stockholm Vilnius Zagreb Zurich

Área do serviço: Asian Stock Market Reports

Serviços: Tokyo stocks/ weekly outlook Bombay Dhaka Hong Kong Hong Kong stocks/ weekly outlook Hong Kong equities news analysis Karachi Manila Shangai Singapore Nikkei index futures Equities news analysis Australia equities news analysis 360

Wellington

Área do serviço: Africa/ Middle East stock market reports

Serviços: Abidjan (weekly) Accra Amman Beirut Casablanca Cyprus Johannesburg Kuwait Lagos Malta Port Louis Tel Aviv

Área do serviço: Regional groupings

Serviços: Group of seven European Union Europe IMF/ World Bank OPEC Asia Eastern Europe Nordic countries Latin America Middle East Africa

Área do serviço: Money/ Forex* News (foreign exchange)

Serviços: All Alerts All Money news All Treasury news Forex News Money market activity Central bank activity Federal Reserve news International trade issues Economic indicators Interest rates 361

IMF Financial services Gold/ Precious metals Derivatives Dollar Overview European Forex report Asia Forex report North America Forex report Forex Reports by country Insight Currency by country: Forecast and analysis

Área do serviço: International treasury news

Serviços: Treasury news Debt News Money markets (48 countries) Debt Diary Today in debt markets Central Banks Eurobonds Euro Loan Markets Mortgage-backed debt US corporate bonds Debt Derivatives Emerging markets Government Debt Soft loans/ government aid Government bonds spread Gilt Outlook

Área do serviço: North American treasury news

Serviços: North American treasury news Municipal bonds news Revenue bonds Legislative matters General obligation multi bonds Municipal bonds insurance Regulatory matters

Área do serviço: US treasury/ Corporate bond reports

Serviços: Latest report US corporate report US corporate outlook 362

Treasuries – London US credit market Outlook Treasuries calendar Treasuries – New York Treasuries – Tokyo US Bill auctions US Bill results US Debt futures US Debt options

Área do serviço: Insight debt forecast and analysis

Serviços: Insight report G7 economic indicator forecast Gilts Bunds/ Euro Notionnel BTPs US treasuries

Área do serviço: Fund management

Serviços: Fund management news European asset allocation Japanese asset allocation US asset allocation UK asset allocation Área do serviço: International Commodities

Serviços: All commodities news All metals news All grains/ oilseeds news All softs news Grains Oilseeds and edible oils Livestock Meals and feeds USDA Weather Cotton and silk Shipping Wool Coffe news (+27 sub serviços) Cocoa news (+18 sub serviços) Tea news (+ 16 sub serviços) Sugar news (+ 28 sub serviços) Rubber news (+ 14 sub serviços) 363

Citrus news (+ 8 sub serviços) Corn news (+ 110 sub serviços) Wheat news Rice report Oats report Grain Australia (+ 4 sub serviços) Grain China – Philiphines – Taiwan (+ 8 sub serviços) India – Sri Lanka – Thailand – Others (+ 7 sub serviços) Europe grain (+ 21 sub serviços) Oilseed news americas (+ 39 sub serviços) Oilseed news China – Taiwan – South Korea (+ 6 sub serviços) Oilseed news India Malaysia – Philiphines – Thailand (+ 6 sub serviços) Daily commodities market summary Specialist commodities summary Commodities news glances Polls/ survey index Livestock news Livestock weather Australia Livestock report weekly Australia meat exports montly Australia meat exports weekly US-Canada meat crossings Canada prices weekly Canada cattle exports to US Mexico cattle exports to US Japan Pork supply/demand US beef price Australia beef price Japan weekly slaughter New Zealand meat/ wool week export US meat import trade Livestock Americas (+55 sub serviços) Cotton and wool news (+33 sub serviços) Precious metals news (+21 sub serviços) Base metal news (+5 sub serviços) Base metal news Europe-Americas (+22 sub serviços) Base metal news Ásia (+23 sub serviços)

Área do serviço: International energy

Serviços: All Reuters energy news Energy news highlights Energy diary of events Crude oil OPEC Oil products Natural Gas Energy companies 364

Energy equipments/ services North Sea Crude oil reports (+14 sub serviços) Natural gas reports (+5 sub serviços) Electricity reports (+4 sub serviços) Jet reports (+3 sub serviços) Gasoline reports (+2 sub serviços) Shipping (+8 sub serviços) Naphtha report (+3 sub serviços) Gas oil report (+2 sub serviços) Fuel oil report (+4 sub serviços) Bunker fuel reports (+4 sub serviços) General and Outlook reports (+12 sub serviços) Energy futures reports (+6 sub serviços) Stocks and import statistics (+2 sub serviços) Swaps (+4 sub serviços) Production statistics (+4 sub serviços) OPEC (+5 sub serviços) Rig counts and maintenance (+6 sub serviços) Refinery maintenance reports (+8 sub serviços) European reports on crude oil, gas, naphtha, gasoline, gasoil, jet fuel and heavy fuel (+17 sub serviços) Asian reports on crude oil, naphtha, distillers (+15 sub serviços) American reports on crude oil, gas, naphtha, gasoline, gasoil, jet fuel and heavy fuel (+19 sub serviços)

Serviços ou companhias em parceria.

Agence presse medical Amsterdam stock exchange Atriax Australian stock exchange Austrian regulatory announcements Bernama news Business Wire Canada Newswire Chinese infotimes El financiero Factiva Finnish regulatory news FISCO French regulatory announcements Gazeta Mercantil Genex commodities German regulatory announcements Instinet Istambul stock announcements Japanese bond rates 365

Jiji News Johannesburgh stock exchange news Lipper inc. Loan Pricing corp. Market news service Multex investor Europe News Zealand stock exchange announcements Nikkei news O Globo Platow brief PR newswire Radianz Youmiuri Sila Communications TIBCO software Tower Group Yankee group 366

APÊNDICE C – Associações de agências. 367

Associação Agências participantes

AMAN - Aliança de Agências de Notícias do Jamahiriya News Agency (JANA) – Líbia Mediterrâneo. Albanian Telegraphic Agency – Albânia CNA – Chipre

ABNA – Associação de Agências de notícias dos Albanian Telegraphic Agency – Albânia Balcãns AIM BTA – Bulgária HINA – Croácia SRNA – Sérvia e Montenegro Slovakia on line – Eslováquia Tanjug – Iugoslávia

ANEX – Asian News Exchange Antara – Indonésia Thai News Agency – Tailândia Montsame – Mongólia Philippines News Agency – Filipinas Uzbekistan National News Agency – Uzbequistão AzerTAj – Azerbaijão Bernama – Malásia BSS – Bangladesh SABA - Yemen

CANA – Aliança de agências da área do Caribe Guyana Information Service – Guiana Francesa Prensa Latina - Cuba ABN - Venezuela EAPA – Aliança Européia de Agências de Notícias Albanian Telegraphic Agency – Albânia AIM Czech News Agency – República Tcheca HINA – Croácia CNA – Chipre ELTA – Lituânia LETA – Letônia MTI – Hungria TASR – Eslováquia STA – Eslovênia

FANA – Federação das Agências de Notícias Árabes Jamahiriya News Agency (JANA) – Líbia WAM – Emirados Árabes Petra – Jordânia MAP – Marrocos QNA – Quatar SPA – Arábia Saudita. SANA – Síria

OANA – Organização Ásia-Pacífico de Agências de Antara – Indonésia Notícias WAM – Emirados Árabes Khabar Agency – Cazaquistão KYODO – Japão Rastriya Samachar Samiti - Nepal – Vietnã

PANA – Aliança Pan-Africana de agências Agence Benin de Presse – Benin http://www.africanews.org/PANA Agence Burundaise de Presse – Burundi Agence Djiboutienne d'Information – Djibouti Agence Ivoirienne de Presse – Costa do Marfim Agence Mauritanienne de l'information – Mauritânia Ghana News Agency – Gana 368

Lesotho News Agency – Lesoto Sierra Leone News Agency – Serra Leoa Sudan News Agency – Sudão ZANA - Zambia

MENA – Aliança de Agências do Oriente Médio QNA - Quatar Palestine News Agency – Palestina Dar Al Hayat – Líbano KUNA – Kwait Oman News Agency - Oman

369

APÊNDICE D – Linha do tempo dos desenvolvimentos tecnológicos nas agências de notícias 370

1850: As agências Reuters e Havas usam uma combinação de métodos de transporte para entregar cotações acionárias e notícias à imprensa e casas de finanças na Europa Ocidental. Nesse momento, há o uso regular do telégrafo para este propósito, com uso conjugado de pombos-correio para ligar redes que estavam desconectadas, ‘remendando’ as redes de telégrafo da época.

1851: Uso do primeiro cabo submarino entre Inglaterra e França que dá oportunidade para troca mais rápida de notícias e preços de ações entre Londres e os centros políticos e empresariais de Europa.

1863 - 1866: Com os investimentos regulares em redes de telégrafo tanto por parte dos países como pelas agências de notícias, há o incremento das redes internas dos países bem como o incremento das redes entre a Inglaterra e a Europa continental.

1882: Primeiras transmissões eletrônicas. As notícias e informações são transmitidas a clientes que usam um dispositivo de fita perfurada e coluna impressora, substituindo a necessidade de entrega por mensageiro. (Foto abaixo: impressora de coluna: fonte Reuters)

1923: Primeiro uso de ondas de rádio para transmitir internacionalmente notícias em código Morse. Até 1939, 90% das notícias das agências seriam transmitidas através de rádio de ondas-curtas.

1927: O aparelho de telex é introduzido para transmitir notícias para jornais. Nesse ano, o serviço estréia para os jornais de Londres. A partir deste momento o aparelho de telex é a ferramenta mais importante das agências como meio de receber e enviar informação escrita no 371

mundo inteiro a grande velocidade. (Foto: mensagem de Telex que é recebida. Fonte: Reuters: 1950).

1953: As agências iniciam o sistema de rádio-escuta para monitorar transmissões de rádio de outros países. Esse método torna-se importante como forma de receber informação atualizada particularmente dos países comunistas.

1962: Início das atividades de envio de notícias por satélite. O elo é entre os EUA e a Europa, através do satélite Telstar. (Foto: Correspondentes que usam comunicações de satélite portáteis no campo para transmissão de texto e fotografias. Fonte Reuters: 1990).

1968: Inicia-se o uso de computadores na automação de transmissão de dados financeiros internacionalmente com o lançamento de ferramentas como o Stockmaster.

1970: Inicia-se a operação do Videomaster. Esse sistema da Reuters fornece através de telas de terminais as cotações de ações e preços do mercado de commodities.

1973: O Reuters Monitor é lançado. Seus avanços são significativos pois permite, além do monitoramento (como faziam os sistemas Stockmaster e videomaster), realizar operações de compra e venda de ações. Isto permite transações que põem na obsolescência sistemas baseados em telefones e telex. Em adição, é o primeiro sistema que utiliza editores de texto digitais integrados à plataforma para produção e transmissão de notícias. Pela primeira vez, Jornalistas usam terminais de computadores ao invés de máquinas de escrever. (foto: Reuters monitor: 1973) 372

1981: O Reuters Monitor é aperfeiçoado e aberto para operadores em outros pontos que não exclusivamente a bolsa de valores, permitindo a conclusão de negócios através de terminais de computadores. Com o corte de etapas intermediárias entre corretores e compradores/ vendedores, em média, o tempo de operacionalização de uma transação isolada caiu de 40 para dois segundos. (Fotos: Esquerda: uma mesa de operações pré-era do Reuters monitor :1972; Direita: mesa de operações pós Reuters monitor: 1982. fonte: Reuters).

1986: Lançamento do primeiro sistema de monitoramento de dados em agências de notícias que utilizam ferramentas hipertextuais e processamento em janelas. No caso o ART (Advanced Reuters Terminal).

1994: Agências de notícias fazem parcerias com desenvolvedores de softwares. A Reuters adquire a TIBCO, tornando-se um dos principais fornecedores de software para gestão de informações jornalísticas em rede.

1996: As agências desenvolvem as primeiras aplicações para a web. A justificativa para o atraso nesse mercado (aberto comercialmente alguns anos antes), deve-se, sobretudo, ao 373

desenvolvimento de protocolos de segurança para transações e acesso a dados privados. Essas Inovações incluem acesso a bancos de dados de noticias e cotações. Sites da Web da Associated Press, United Press International e Reuters são lançados. Agence France Presse lança seu site no início de 1997.

1997: Aplicações web para as agências são desenvolvidas para acesso em sistemas de intranet e extranet.

1998: sistemas de envio de notícias são diversificados. Através de pagers, aplicativos de tecnologia push, telefones celulares etc. são fornecidos caminhos para a disseminação de conteúdo. No Brasil, nessa época, a Agência Estado inicia usos semelhantes dessas tecnologias. Sistemas de rede ligados diretamente a satélites, como o wavelan, iniciam sua operacionalização. Essa tecnologia mostra-se particularmente eficaz para a transmissão de fotografias, permitindo que, em menos de cinco minutos, uma imagem do momento em que foi tomada chegue na mesa de operações da agência (foto: fotógrafo transmitindo imagens através do Wavelan na copa do mundo da França: 1998).

2002: Sistemas de acesso a serviços através do protocolo wireless, que permite o acesso à Internet sem fio, são lançados. A Reuters lança o Reuters Messaging, um programa de gerenciamento de mensagens imediatas, especificamente criado para a indústria de serviços financeiros, O dispositivo integra informações agregadas em pacotes de serviços com a possibilidade de comunicação interpessoal entre pessoas em grupos de trabalho. Desenvolvido pela Reuters, Microsoft e mais de 30 instituições financeiras, o serviço permite aos profissionais comunicarem-se imediatamente com os colegas e clientes. Funciona de modo análogo ao ICQ e ao Windows Messenger.

374

Ilustração da demonstração de funcionamento do Reuters Messaging. Disponível em : http://about.reuters.com/productinfo/messaging/demo/index.html

375

APÊNDICE E – Correspondentes e editorias de internacional. 376

377

CORRESPONDENTES BRASILEIROS NO EXTERIOR em 22 de novembro de 2005 Veículo Correspondente País Cidade BandNews João Carvalho Reino Unido Londres BandNews Márcio Resende Jr. Argentina Buenos Aires BandNews Mário Sérgio Conti França Paris BandNews Michel Gawendo Israel Tel-Aviv BandNews Pablo Toledo EUA Nova York BandNews Regina Beltrão EUA Washington BBC Brasil Carolina Glycerio EUA Miami BBC Brasil Denize Bacoccina EUA Washington BBC Brasil Paulo Cabral Egito Cairo Carta Capital Eduardo Graça EUA Nova York Carta Capital Elisa Byington Itália Roma Carta Capital Gianni Carta Reino Unido Londres Carta Capital Leneide Duarte França Paris Correio do Brasil Denise Martins Reino Unido Londres Correio do Brasil Rui Martins Suíça Berna Direto da Redação Antonio Tozzi EUA Miami Folha de São Paulo Érica Fraga Reino Unido Londres Folha de São Paulo Fabiano Maisonnave EUA Nova York Folha de São Paulo Pedro Dias Leite EUA Nova York Folha de São Paulo Sérgio Dávila EUA Los Angeles Folha de São Paulo Silvana Arantes Argentina Buenos Aires Globonews Ariel Palacios Argentina Buenos Aires Globonews Edgar Júnior EUA Washington Globonews Jader de Oliveira Reino Unido Londres Globonews Jorge Pontual EUA Nova York Globonews Munir Safatli Líbano Beirute Isto É Osmar Freitas Jr. EUA Nova York Jovem Pan Caio Blinder EUA Nova York O Dia Eliane Carvalho EUA Boston O Estado de São Paulo Jamil Chade Suíça Genebra O Estado de São Paulo Paulo Sotero EUA Washington O Globo Deborah Berlinck França Paris O Globo Fernando Duarte Reino Unido Londres O Globo Gilberto Scofield Jr. China Pequim O Globo Graça Magalhães-Ruether Alemanha Berlim O Globo Helena Celestino EUA Nova York 378

O Globo Janaína Figueiredo Argentina Buenos Aires O Globo José Meirelles Passos EUA Washington O Globo Priscila Guilayn Espanha Madri O Globo Vivian Oswald Bélgica Bruxelas Rádio Eldorado Roseli Forganes França Paris SBT Guilherme Aquino Milão Itália SBT Marcelo Torres Reino Unido Londres SBT Yula Rocha EUA Nova York TV Globo Alberto Gaspar Argentina Buenos Aires TV Globo Beth Lima Reino Unido Londres TV Globo Caco Barcellos França Paris TV Globo Cristina Serra EUA Nova York TV Globo Heloisa Vilela EUA Nova York TV Globo Ilza Scamparini Itália Roma TV Globo Lucas Mendes EUA Nova York TV Globo Luiz Fernando Silva Pinto EUA Washington TV Globo Marcos Uchôa Reino Unido Londres TV Globo Marcus Losekann Israel Jerusalém TV Globo Roberto Kovalick EUA Nova York TV Globo Sonia Bridi China Pequim TV Record Gilberto Smaniotto EUA Nova York TV Record Paulo Panayotis Reino Unido Londres Valor Econômico Assis Moreira Suíça Genebra Valor Econômico Paulo Braga Argentina Buenos Aires Valor Econômico Tatiana Bautzer EUA Washington Veja Raul Juste Lores Argentina Buenos Aires Zero Hora Marcelo de Oliveira Alemanha Berlim

CORRESPONDENTES ESTRANGEIROS NO BRASIL em 22 de novembro de 2005 Veículo País Correspondente E-mail Telefone Cidade (21)2262 Rio de AFP França Nacif Elias [email protected] -2824 Janeiro (61)323- AFP França Pablo Rodríguez [email protected] Brasília 1542 (11)3171 São AFP França Yana Marull [email protected] -3093 Paulo (11)3168 São ANSA Itália Oliviero Pluviano [email protected] -9474 Paulo (11)3168 São ANSA Itália Santiago Farrel [email protected] -9474 Paulo 379

José Harold (21)3288 Rio de AP EUA [email protected] Olmos -5000 Janeiro Rio de AP EUA Michael Astor Janeiro Edmar (21)3288 Rio de APTN TV EUA [email protected] Figueiredo -5010 Janeiro Asahi (11)3884 São Japão Satoshi Izumi [email protected] Shimbun -1263 Paulo Reino [email protected] (21)2205 Rio de BBC Brian Sewell Unido m.br -3128 Janeiro Reino isabel.murray@bbcbrasil. (11)2175 São BBC Isabel Murray Unido co.uk -7777 Paulo Reino BBC Jan Rocha Unido (11)3048 São Bloomberg EUA Charles Penty [email protected] -4500 Paulo (21)2125 Rio de Bloomberg EUA Jeb Blount [email protected] -2531 Janeiro Fabiana Rio de CNN EUA [email protected] Frayssinet Janeiro Corriere della (21)3201 Rio de Itália Rocco Cotroneo [email protected] Sera -3991 Janeiro Diana Renée [email protected] (21)2494 Rio de DPA Alemanha Brajterman m -9015 Janeiro Daily Reino (21)3816 Rio de Robet Shaw [email protected] Telegraph Unido -4683 Janeiro (21)2275 Rio de Der Spiegel Alemanha Jens Glusing [email protected] -1204 Janeiro Diário de Sergio Barreto (21)2431 Rio de Portugal [email protected] Notícias Dantas Motta -1602 Janeiro (61)226- EFE Espanha Eduardo Davis [email protected] Brasília 4802 Francisco Rubio (21)2553 Rio de EFE Espanha [email protected] Figueroa -6355 Janeiro [email protected] (21)2553 Rio de EFE Espanha Omar Lugo .br -8823 Janeiro Lucia (11)4447 São El Mercurio Chile [email protected] d'Albuquerque -5217 Paulo [email protected] (61)346- Expresso Portugal Sônia Mossri Brasília m.br 1792 Financial Reino (11)3284 São Raymond Colitt [email protected] Times Unido -7659 Paulo Kazushige (21)2553 Rio de Kyodo Japão Motokura -5561 Janeiro Les Echos França Thierry Ogier Los Angeles (21)2521 Rio de EUA Henry Chu [email protected] Times -0992 Janeiro (61)425- Lusa Portugal Carla Mendes [email protected] Brasília 2025 (11)3159 São Lusa Portugal Marco Antinossi [email protected] -8799 Paulo 380

doug_mcmillan@hotmail. (21)2262 Rio de NHK Japão Douglas McMillan com -9514 Janeiro Kunihiro (21)2262 Rio de NHK Japão [email protected] Yamamoto -9777 Janeiro Reino Metal Bulletin Diana Kinch Unido New York Rio de EUA Larry Rohter Times Janeiro [email protected] (21)2541 Rio de Newsweek EUA Mac Margolis om.br -1903 Janeiro (21)2265 Rio de Prensa Latina Cuba Abel Sardiña [email protected] -7614 Janeiro Reino (61)426- Reuters Axel Bugge [email protected] Brasília Unido 7000 Reino (21)2223 Rio de Reuters Denise Luna [email protected] Unido -7127 Janeiro Reino [email protected] (11)5644 São Reuters Raquel Stenzel Unido om.br -7500 Paulo (21)2556 Rio de SIC Portugal Ivani Flora Paulo [email protected] -1247 Janeiro Süddeutsche (21)3826 Rio de Alemanha Bernd Radowitz [email protected] Zeitung -6814 Janeiro (21)3329 Rio de TASS Rússia Ilia Dmitriatchev [email protected] -1221 Janeiro The Reino [email protected] (11)3845 São Brooke Unger Economist Unido r -4767 Paulo Reino (21)2285 Rio de The Guardian Gareth Chetwynd [email protected] Unido -9217 Janeiro (21)2247 Rio de Time EUA John Maier [email protected] -0944 Janeiro Wall Street [email protected] (21)2274 Rio de EUA Matthew Moffet Journal m -7942 Janeiro Washington Phylis Lilian (21)2521 Rio de EUA [email protected] Post Ciurariu -4801 Janeiro (21)2524 Rio de Xinhua China Chen Jiaying [email protected] -6588 Janeiro (61)248- Xinhua China Yang Limin [email protected] Brasília 5489 381

EDITORIAS DE INTERNACIONAL BRASILEIRAS em 22 de novembro de 2005 Editor de Veículo Website E-mail Telefone UF Internacional http://cartacapital.terr (11)3262 Carta Capital Antonio Luiz SP a.com.br -3545 Correio http://www.correiowe mundo@correioweb. (61)3214 João Cláudio DF Braziliense b.com.br com.br -1100 Diário de Marilene http://www.pernambu [email protected] (81)2122. PE Pernambuco Mendes co.com/diario m.br 7537 Estado de http://www.estaminas internacional.em@uai (31)3263 José Carlos MG Minas .com.br .com.br -5036 Folha de São http://www1.folha.uol. [email protected] (11)3224 Vinícius Mota SP Paulo com.br m.br -3252 http://www.ondarpc.c mundo@gazetadopo (41)3321 Gazeta do Sandra PR Povo Gonçalves om.br/gazetadopovo/ vo.com.br -5000 Cláudio http://istoe.terra.com. [email protected] (11)3618 Isto É SP Camargo br .br -4356 Jornal de http://www.jornaldebr paulogusmao@jbronli (61)3343 Paulo Gusmão DF Brasília asilia.com.br ne.com.br -8100 Jornal do Marcelo http://www.jb.com.br [email protected] (21)3233 RJ Brasil Ambrósio .br -4406 Jornal do http://jcrs.uol.com.br internacional@jornald (51)3213 RS Comércio ocomercio.com.br -1362 Jornal do http://www.jornaldoco (21)2223 Andrea Freitas [email protected] RJ Commercio mmercio.com.br -9522 Jornal do (81)3413. Pedro Moura http://jc.uol.com.br [email protected] PE Commercio 6184 http://www.odia.com. (21)2222 RJ O Dia Marcelo Torres br -8262

O Estado de Paulo Eduardo http://www.estado.co (11)3856 [email protected] SP São Paulo Faria m.br -2393 http://www.oglobo.co [email protected]. (21)2534 O Globo Sandra Cohen RJ m.br br -5000 Nubya http://opopular.globo. (62)3250 O Popular GO Cirqueira com -1181 TV http://www.band.com. [email protected] (11)3745 Priscila Manni SP Bandeirantes br r -7387 http://www.redeglobo. [email protected] (21)2540 TV Globo Eric Hart RJ com.br m.br -2000 Tribuna da http://www.tribunadai (21)2224 Paula Cabral RJ Imprensa mprensa.com.br -0837 Zero Hora Luciano http://www.zerohora.c (51)3218 RS Fernandes om.br -4345

382

Apêndice F – Glossário de termos usados na tese. 383

GLOSSÁRIO DE TERMOS

ADSL (Asymmetric Tecnologia de transmissão de dados através de linhas telefônicas Digital Subscriber Line) comuns, mas com uma largura de banda maior que a dos modems tradicionais. ASP (Active Server Tecnologia da Microsoft para páginas de internet geradas Pages) dinamicamente. Backbone Estrutura principal de uma rede (espinha dorsal). Constituída por conexões de alta velocidade, que conectam circuitos geralmente mais lentos. Banda larga Ver “broadband”. Banner Formato de publicidade presente na Internet que utiliza uma imagem em modelo de faixas horizontais e estreitas para exibir o conteúdo publicitário. Geralmente, os banners não são estáticos, e possuem recursos de animação. Backup Cópia de segurança, feita para ser usada no caso dos dados originais se perderem. BBS (Bulletin Board Precursoras da internet, as BBSs eram computadores que permitiam System) outros usuários conectarem-se remotamente para desenvolverem uma série de atividades sociais e recreacionais. Ao contrário da internet, eram redes relativamente pequenas, não interconectadas, de alcance local. Big-four Jargão criado entre os funcionários e pesquisadores de agências de notícias para designarem as quatro agências mais importantes sob o aspecto histórico. São elas a Reuters, a Agence France Presse, a United Press Interanational e a Associated Press. Bit Consiste em uma variação entre dois valores (1 e 0, verdadeiro e falso, ligado e desligado). Os bits são usados como unidade básica de armazenagem, transmissão e processamento de dados digitais. Um bit representa um dígito, no sistema numérico binário. Blog Website com recursos simplificados e facilidade de atualização. É composto de vários artigos exibidos em ordem cronológica invertida, dos mais novos aos mais antigos. A maioria dos blogs são temáticos, tratando de temas como tecnologia, cinema ou outros assuntos. Alguns funcionam como diários pessoais. O blog típico combina texto, imagens, links e outras mídias relacionadas ao tema de interesse. Broadband Na comunicação de dados, refere-se a uma velocidade de transmissão relativamente alta, quando comparada à taxa máxima de transmissão alcançada por um modem tradicional ligado a uma linha telefônica (64kb/s). Browser Programa que permite a visualização e navegação de documentos estruturados em linguagens de rede. Cabos submarinos Cabos que passam por baixo da superfície da água de um mar ou oceano. Em 1850 foi colocado o primeiro cabo telegráfico submarino, passando pelo Canal da Mancha; dois anos depois, um cabo conectava Londres à Paris. No ano de 1858, o primeiro cabo telegráfico submarino transatlântico ligou a Inglaterra aos Estados Unidos por um mês, até se partir. Não foi até 1865 que a outro cabo 384

ligou os dois países novamente. Em 1866, dois cabos submarinos faziam a ligação entre o continente europeu e a América do Norte. CD-ROM Plataforma de armazenamento de dados em discos compactos de leitura a laser, que oferece possibilidade apenas de leitura dos dados. O CD-ROM-R, por sua vez, além da leitura, permite uma única gravação dos dados. O CD-ROM-RW permite várias gravações e regravações. Chat Comunicação textual em tempo real via internet. Clipagem Ver “clipping”. Clipping Prática presente em diversas empresas e departamentos de comunicação. Originalmente consistia no, literal, recorte de determinadas notícias ou artigos em jornais e revistas para uso posterior. Atualmente, abrange desde a gravação de partes de noticiários à seleção e armazenagem de notícias presentes na internet. COPOM Comitê de Política Monetária do Banco Central, instituído em 1996, tem como responsabilidade estabelecer as diretrizes da política monetária e definir a taxa de juros. CPD Centro de processamento de dados. Deadline Hora limite para o fechamento de uma edição jornalística. Desk Ver “mesa de operações”. Domínio Uma parte da hierarquia de nomeação. Sintaticamente, um domínio consiste em uma seqüência de nomes ou outras palavras separadas por pontos. DOS Abreviação de “MS-DOS”, sistema operacional da Microsoft para computadores do tipo IBM PC. Não possuía interface gráfica e a interação com o usuário era feita através de um prompt de comando. Dreamweaver Ferramenta para o desenvolvimento de websites, criada pela Macromedia e, hoje, propriedade da Adobe Systems. G8 Grupo dos oito países com as economias mais desenvolvidas: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia. Juntos, esses países representam mais de 66% da economia mundial. Hipertexto De forma superficial, qualquer texto em suporte digital, que se organize de maneira não seqüencial e seja associado através de vínculos – os links – que possibilitam as conexões entre as léxias. Como léxias, podemos, a grosso modo, entender os arquivos de textos, imagens ou sons. Hipermídia Possibilidade de agregar na mesma plataforma, modalidades midiáticas distintas, associando-as através de uma lógica hipertextual. Possibilidade de produção de um núcleo informativo único, e sua posterior disseminação em plataformas e contextos midiáticos distintos. Homepage - home page Possui vários significados, entre eles, a primeira página de acesso a um determinado site; ou um único arquivo de hipertexto que integra um site. Host Computador que hospeda sites e simultaneamente permite a comunicação com outros computadores em rede. 385

Hotspot Área que permite, a dispositivos digitais, acesso público à internet, através do sistema Wi-Fi. Pode significar uma área tão pequena quanto um quarto e um ponto de acesso, como vários pontos de acesso abrangendo bairros inteiros. HTML (HyperText Linguagem de marcação em hipertexto, usada como padrão para a Markup Language) criação de homepages. ICQ Programa de mensagens instantâneas lançado em 1996 pela empresa israelense Mirabilis, comprada pela América Online (AOL) em 1998. IDS (Internet Delivery Sistema da Reuters para entrega de material jornalísticos via Internet. System) Interface Pode ser usado em dois sentidos, o primeiro como um dispositivo que permite a comunicação entre dois sistemas que não utilizam a mesma linguagem. O segundo, diz respeito ao espaço de contato e transição de informações entre o homem e a máquina. Internet Conjunto de várias redes de dados em uma única rede, graças ao uso dos mesmos protocolos e sistemas de endereçamento. Intranet Modelo de rede interna que funciona integrada à Internet e nos mesmos moldes de endereçamento e protocolo de dados. Javascript Linguagem de programação em multimídia que permite a construção de modalidades narrativas que podem ser executadas em rede. Uma rotina em javascript possui a característica de poder ser executada em qualquer plataforma computacional, não importando o sistema operacional que utilize. Link 1) Conexão entre documentos de hipertexto. 2) Conexão qualquer com a internet ou uma rede privada, geralmente mensurada pela largura de banda (e.g.: link de 64k, link de 128k...). Mainframe Computadores grandes e dispendiosos usados para tarefas que requerem funcionalidade ininterrupta e segura. Nos mainframes, o fator “confiabilidade” pesa mais que o desempenho. São acessados através de terminais e a maioria deles consegue rodar vários sistemas operacionais ao mesmo tempo, através de máquinas virtuais. Mesa de operações No jargão das agências é o equivalente a redação, ou sucursal em determinado território. Minitel Sistema de teletexto utilizado na França a partir do fim dos anos setenta até começo dos anos noventa. Foi uma das primeiras redes públicas de acesso a dados digitais. Com recursos limitados, se comparados à Internet, o minitel tornou-se uma mania na França, gerando toda uma atividade virtual em função do seu uso. Mouse Dispositivo inventado em 1968 que revolucionou a computação por possibilitar o comando de instruções ao computador de maneira visual. Funciona através de manipulação manual e atualmente seu uso é indissociável dos computadores. MP3 MPEG-1 Audio Layer 3, formato digital de compressão de áudio desenvolvido em 1991. Funciona descartando partes do áudio que não são consideradas importantes para a audição humana. MPP (Multi- Publicação em multiplataforma. É a geração de núcleos de conteúdo Plataform capazes de serem encaixados em suportes midiáticos distintos, graças Publishing) à sua interação com sistemas, gerando modalidades diferentes de acesso. 386

MSN Messenger Programa de mensagens instantâneas da Microsoft, lançado em 1999. Nó Computador que está ligado por um meio físico a uma rede, também pode ser chamado de host. OLE (Object Linking Sistema de objetos e protocolo criado pela Microsoft. Tem como and Embedding) função permitir o uso de arquivos compostos, incluindo formatos e mídias diferentes, como arquivos HTML com arquivos de música ou vídeo embutidos. Também, permite a troca de informações entre aplicativos diferentes, como a possibilidade de colar uma imagem do Paint no Word. On-line Pressupõe a conexão do sistema ou máquina em rede. Off-line Diz respeito às máquinas ou sistemas que não estão conectados em rede. Page views Metodologia de contagem de fluxo de usuários que leva em conta as páginas visitadas. Page Ver “homepage”. Pager Aparelho usado para receber mensagens de texto. Para enviar uma mensagem, alguém deveria contatar uma central por telefone e ditar a mensagem para que a mesma fosse enviada ao destinatário. Populares durante os 80 e 90, os pagers caíram em desuso devido ao crescimento da popularidade dos telefones celulares. PDA (Personal Digital Assistente pessoal digital, computador com alto grau de Assistant) portabilidade, podendo ser levado dentro do bolso sem grandes dificuldades. Os PDAs foram criados no intuito de serem organizadores pessoais, mas vêm oferecendo cada vez mais recursos, apesar da usabilidade limitada, se comparados aos computadores de mesa. Não é incomum encontrar, hoje, modelos que permitem conexão sem fio com a internet. PDF (Portable Formato de documento portátil, criado pela Adobe Systems. Um Document Format) arquivo PDF não inclui informações específicas do sistema operacional ou programa onde foi gerado, por isso oferece fidelidade de exibição não importando onde seja aberto ou o sistema de origem. Por se preocupar especificamente com a fidelidade de exibição e portabilidade, não inclui grandes capacidades de edição, servindo mais como um meio de divulgação ou transporte de trabalhos já conclusos. Prêt-à-porter Pronto para uso. Entrega de material já formatado. Protocolo Conjunto de rotinas que permite a troca de dados entre dois computadores em rede. Provedor Computador que permite o acesso remoto, geralmente por acesso via telefonia, do usuário a algum sistema de rede. Scanner Equipamento utilizado para a digitalização de imagens ou textos.

Servidor É o computador que compartilha os seus recursos com os outros computadores da rede. Site Do ponto de vista técnico, indica um diretório, em um computador servidor, onde constam arquivos (documentos) a serem disponibilizados na WWW e outros protocolos de navegação. No sentido usual, indica um endereço virtual pertinente a certo conteúdo em específico. 387

SMS (Short Message Serviço de mensagens curtas, disponível na maioria dos telefones Service) celulares digitais. Permite o envio de mensagens curtas de texto para outros celulares (às vezes até mesmo para telefones fixos). Spam Prática presente, e abominada, na Internet, que consiste em enviar conteúdo que não foi solicitado, quebrando as regras de netiqueta. Telégrafo elétrico Sistema de transmissão de dados através de cabos. O aparelho de telégrafo emitia uma série de ruídos específicos (posteriormente apareceram modelos com indicadores visuais), que eram decodificados segundo o Código Morse. O primeiro sistema prático de telégrafo elétrico foi desenvolvido por Samuel Morse, em 1837. O sistema alcançava grandes distâncias com custo relativamente baixo. Telégrafo óptico Invenção do francês Claude Chappe. Consistia em três braços mecânicos, articulados, montados em cima de torres. As torres eram construídas em seqüência, com uma distância entre 12 e 25km entre si, e possuíam um telescópio apontado para a torre anterior e outro para a torre seguinte. Os braços permitiam um código com 196 combinações diferentes e a velocidade média de transmissão de duas palavras por minuto. A rede criada por Chappe funcionou na França entre 1792 e 1846, o último serviço comercial de telegrafo óptico parou de funcionar em 1880, na Suécia. Teletipo Tipo de máquina de escrever mecânico-elétrica que podia, através de cabos, transmitir mensagens digitadas de um ponto a outro. Telex Evolução dos teletipos, a maior diferença entre o telex e o seu antecessor é a presença de um discador semelhante ao usado em telefones. De fato, os aparelhos de telex podiam se comunicar fazendo uso de linhas telefônicas comuns, dispensando cabos específicos, apesar de aparelhos conectados através de links de rádio não serem incomuns. Existiram duas grandes redes que interligavam aparelhos de telex ao redor do mundo: a Telex Network e a Teletype Wide-area eXchange (TWX). Terminal Hardware utilizado para fazer interface entre um usuário e um computador ou sistema computacional remotos. TI Tecnologia da Informação. Lida com o uso de computadores e softwares para converter, proteger, armazenar, processar, transmitir e conseguir informações. TIC Tecnologia da Informação e Comunicação. Ver “TI”. VPN (Virtual Private Rede de computadores privada que se comunica fazendo uso de uma Network) rede pública, como a internet. Web Ver “WWW”. Website Ver “site”. Wi-Fi (Wireless Fidelity) Fidelidade sem fio. É um sistema de transmissão de dados via ondas de rádio, pensado para facilitar a conexão de notebooks a redes locais. Ganhou outros usos com o tempo, como possibilitar conexão com a internet, quando dentro de um hotspot, ou apenas entre dois aparelhos com função Wi-Fi. Atualmente é usado em vários dispositivos, como computadores de mesa, PDAs, telefones, aparelhos de DVD e videogames. WWW (World Wide Espaço global para visualização e inserção de informação, deve ser Web) acessado através de um navegador. Sendo frequentemente confundida com a própria Internet, a World Wide Web é, na verdade, apenas 388

parte da rede global de computadores, assim como o e-mail, o FTP, entre outros.

389

APÊNDICE G – Transcrição das entrevistas realizadas durante a observação de campo.

As transcrições das entrevistas se encontram na íntegra a partir da página 407.

Exclusivamente nessa versão eletrônica, o apêndice G consta no corpo da tese.

390

ANEXO A – Texto da matéria “EUA montam nova Internet para usar como arma

Meta é dar "perspectiva de Deus" aos americanos durante guerras”

391

Matéria “EUA montam nova Internet para usar como arma Meta é dar “perspectiva de

Deus" aos americanos durante guerras”.

Autor: Tim Weiner.

Publicação Original: The New York Times.

DATA: 13.11.2004

Disponível em português: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2004/11/13/ult574u4726.jhtm http://www.midiaindependente.org/pt/green/2004/11/294763.shtml

TEXTO:

O Pentágono está construindo sua própria Internet, uma rede mundial militar de computadores para as guerras do futuro.

A meta é dar a todos os comandantes e soldados americanos um quadro em movimento de todos os inimigos estrangeiros e ameaças --"um ponto de vista de Deus" da batalha.

Esta "Internet no céu", disse Peter Teets, subsecretário da Força Aérea, ao Congresso, permitirá a "marines em um jipe Humvee, em uma terra distante, no meio de uma tempestade, abrirem seus laptops, requisitarem imagens" de um satélite espião e "obter seu download em segundos".

O Pentágono chama a rede segura de Global Information Grid (grade global de informação), ou GIG. Concebida seis anos atrás, suas primeiras conexões foram feitas seis 392

semanas atrás. Poderá levar duas décadas e centenas de bilhões de dólares para construir a nova rede de guerra e seus componentes.

Os céticos dizem que os custos são chocantes e os obstáculos tecnológicos imensos.

Vint Cerf, um dos pais da Internet e um consultor do Pentágono para a rede de guerra, disse se perguntar se o sonho dos militares é realista. "Eu quero me certificar de que o que pretendemos é uma visão, não uma alucinação", disse Cerf.

"Este é um tipo de Guerra nas Estrelas, na qual a política era: 'Vamos lá construir este sistema', mas a tecnologia estava muito atrasada", disse ele. "Não há nada errado em ter metas ambiciosas. Só é preciso temperar com física e realidade."

Os defensores dizem que computadores em rede serão a arma mais poderosa no arsenal americano. Unindo armas, inteligência secreta e soldados em uma rede global --o que chamam de guerra net-cêntrica-- mudará, segundo eles, as forças armadas da mesma forma que a Internet mudou os negócios e a cultura.

"Possivelmente, o elemento mais transformador em nossa força", disse o secretário de

Defesa, Donald H. Rumsfeld, "não será um sistema de armas, mas um conjunto de interconexões".

As forças armadas americanas, formadas para combater países e exércitos, agora enfrentam inimigos sem Estado e sem jatos, tanques, navios ou quartéis-generais centrais. O envio instantâneo de inteligência secreta e estratégias para soldados em batalha tornará, em teoria, as forças armadas uma força mais rápida e mais forte contra um inimigo sem rosto.

Robert J. Stevens, executivo-chefe da Lockheed Martin Corp., a empresa com mais contratos com as forças armadas, disse que prevê uma "Internet altamente segura na qual atividades militares e de inteligência estarão fundidas", que moldará a guerra do século 21 da mesma forma que as armas nucleares moldaram a Guerra Fria. 393

Todos os membros das forças armadas teriam "um quadro do espaço de batalha, um ponto de vista de Deus", disse ele. "E isto é um grande poder."

Mas os tradicionalistas do Pentágono perguntam se a guerra net-cêntrica é apenas um modismo caro. Eles apontam para os combates de rua em Fallujah e Bagdá, dizendo que poder de fogo e blindagem ainda são mais importantes que cabos de fibra óptica e conexões sem fio.

Mas o maior desafio na construção de uma rede de guerra pode ser a burocracia militar. Por décadas, Exército, Marinha, Força Aérea e Corporação Marine têm construído suas próprias armas e tradições. Uma rede, disseram defensores, superaria este antigo modelo.

Os ideais desta nova guerra estão orientando muitos dos planos de gastos do

Pentágono para os próximos 10 a 15 anos. Alguns custos são secretos, mas bilhões já foram gastos.

Fornecer as conexões para administrar uma rede de guerra custará pelo menos US$ 24 bilhões nos próximos cinco anos --um custo superior, em dólares atuais, ao do Projeto

Manhattan para criação da bomba atômica. Além disso, a encriptação de dados será um projeto de US$ 5 bilhões.

Centenas de milhares de novos rádios provavelmente custarão US$ 25 bilhões.

Sistemas de satélite para inteligência, vigilância, reconhecimento e comunicações custarão dezenas de bilhões de dólares adicionais. O programa de guerra net-cêntrica do Exército por si só está orçado em US$ 120 bilhões.

Ao todo, sugerem documentos do Pentágono, US$ 200 bilhões ou mais poderão ser gastos em equipamento e software para a rede de guerra na próxima década.

"A questão é de custo e tecnologia", disse John Hamre, um ex-vice-secretário de Defesa, atualmente presidente do Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos, em Washington. 394

"Nós queremos saber tudo o que se passa o tempo todo em toda parte do mundo?

Ótimo", disse Hamre. "Nós sabemos que este olho que tudo vê é o que colocaremos no espaço? Não."

Os militares querem saber "tudo de interesse para nós, o tempo todo", nas palavras de

Steven A. Cambone, subsecretário de Defesa para inteligência. Ele disse ao Congresso que a inteligência militar --incluindo cobertura de vigilância secreta por satélite de grande parte da

Terra-- será disponibilizada na rede de guerra e compartilhada com as tropas.

John Garing, diretor de planejamento estratégico da Agência de Segurança da

Informação da Defesa, que está começando a construir a rede de guerra, disse: "A essência da guerra net-cêntrica é nossa capacidade de posicionar uma força de combate em qualquer lugar, a qualquer hora. Tecnologia da informação é chave para isto".

Nova teoria da guerra.

As empresas com contratos militares --e criadores de tecnologia da informação não geralmente associados a sistemas de armas-- formaram em 28 de setembro um consórcio para desenvolver a rede de guerra.

O grupo inclui as principais empresas com contratos militares e potencias de tecnologia: Boeing; Cisco Systems; Factiva, uma joint venture da Dow Jones e Reuters;

General Dynamics; Hewlett-Packard; Honeywell; IBM; Lockheed Martin; Microsoft;

Northrop Grumman; Oracle; Raytheon; e Sun Microsystems. Elas estão trabalhando para unir armas, inteligência e comunicações em uma rede inconsútil.

O Pentágono já tentou isto duas vezes.

Seu Sistema Mundial de Controle e Comando Militar, construído nos anos 60, freqüentemente falhava em crises. Um sucessor de US$ 25 bilhões, o Milstar, foi concluído em 2003, após duas décadas de trabalho. As autoridades do Pentágono dizem que ele já está 395

datado: mais mesa de controle do que servidor, mais discado do que banda larga, ele não suporta a tecnologia do século 21.

Os cientistas e engenheiros do Pentágono, desde quatro décadas atrás, inventaram os sistemas que se transformaram na Internet. Ao longo da Guerra Fria, seu poder de computação estava bem à frente do restante do mundo.

Então o mundo os superou. Os serviços militares e de inteligência do país começaram a ficar para trás quando a Internet explodiu no cenário comercial uma década atrás. A rede de guerra é "uma tentativa de tirar o atraso", disse Cerf.

Ela tem evoluído lentamente nos últimos seis anos. Em 1999, autoridades do

Pentágono disseram ao Congresso que "esta tarefa monumental exigirá um quarto de século ou mais". Neste ano, a visão ganhou foco, e as autoridades do Pentágono começaram a explicá-la em mais detalhes para o Congresso.

Sua amplitude foi descrita em julho pelo Government Accountability Office, a divisão de investigação do Congresso.

Muitas novas armas e satélites multibilionários estão "criticamente dependentes da futura rede", informou a agência. "Apesar dos enormes desafios e riscos --muitos dos quais ainda não foram superados com sucesso em esforços de menor escala", como a defesa antimísseis-- "o Pentágono está dependendo da GIG para promover uma transformação fundamental na forma como as operações militares são conduzidas".

Segundo Art Cebrowski, diretor do Escritório de Transformação da Força do

Pentágono, "o que estamos realmente falando é de uma nova teoria de guerra".

Linton Wells 2º, diretor chefe de informação do Departamento de Defesa, disse que os princípios net-cêntricos estão se tornando o "centro de gravidade" dos planejadores de guerra. 396

"Os fundamentos são amplamente aceitos por todo o Departamento de Defesa", disse

Wells, que dirige o Escritório de Redes e Integração de Informação. "A alta liderança pode articulá-los. Nós ainda temos margem para justificar o motivo de gastarmos X bilhões de dólares em um certo programa. Na luta entre dispositivos e dígitos, os dispositivos tendem a vencer."

Ele disse que US$ 24 bilhões serão gastos nos próximos cinco anos para construir novas conexões da rede de guerra. "Sem dúvida elas são caras", disse Wells.

"Desenvolvimentos tecnológicos sempre são."

Os defensores reconhecem que unir os serviços militares e de inteligência americanos em um sistema unido é um enorme desafio.

As forças armadas estão repletas de "representantes tribais por trás de estações de trabalho tribais interpretando hieróglifos tribais", nas palavras do general John Jumper, o chefe do Estado-Maior da Força Aérea. "E se as máquinas falassem umas com as outras?" ele perguntou.

Esta é a visão da nova rede: máquinas de guerra com uma linguagem comum para todas as forças militares, emitindo instantaneamente enciclopédias de informações letais contra todos os inimigos.

Para realizar tal visão, as forças armadas precisam resolver um problema persistente.

Tudo se resume a largura de banda.

A largura de banda mede quantos dados podem fluir entre os dispositivos eletrônicos.

Muito pouco para civis significa uma página de Internet demorar uma eternidade para carregar. Muito pouco para os soldados significa que a rede de guerra não funcionará.

As necessidades de largura de banda parecem sem fim. As forças armadas precisarão de 40 a 50 vezes mais do que a que foi utilizada no ápice da guerra no Iraque no ano passado, 397

estima um estudo da Rand Corp. -o suficiente para dar aos soldados na linha de frente uma largura de banda suficiente para o download de três filmes de longa metragem por segundo.

O Serviço de Pesquisa do Congresso disse que o Exército, apesar dos planos de gastar

US$ 20 bilhões para resolver o problema, poderá terminar com um décimo da largura de banda necessária.

O Exército, em seu relatório de "lições aprendidas" do Iraque, publicado em maio, disse que "provavelmente nunca haverá recursos suficientes para estabelecer uma rede completa e funcional de comunicações, sensores e sistemas em todas as partes do mundo".

O gargalo já é grande. No Iraque, os comandantes e soldados na linha de frente enfrentaram freqüentes travamentos de software. "Para tornar realidade uma guerra net- cêntrica", disse Tony Montemarano, o chefe de expansão de largura de banda da Agência de

Segurança da Informação da Defesa, "nós teremos que ampliar enormemente a largura de banda". 398

ANEXO B - Mapas dos sistemas de transmissão e de fluxo de informação. 399

Rede de telégrafo por cabos submarinos na década de 1880. Fonte: Reuters.

Sistemas de telégrafo por ondas de Rádio em meados dos anos 60. Cada ponto equivale a 5 estações. Fonte: unesco, 1972.

400

Principais linhas de telégrafo e transmissão de dados em fins dos anos 60. Fonte: Unesco, 1972.

Concentração de fluxo de informação através da Internet em fins dos anos 90. Fonte: MIDS, 1999.

401

ANEXO C – A replicação de uma notícia originada da Reuters em três sites jornalísticos. 402

Figura: Notícia original da Reuters. 403 404

Figura: Replicação da notícia da Reuters no site do Jornal do Commercio. 405

Figura: Replicação da notícia da Reuters no site do IG. 406

Termo de autorização para comutação

SILVA Junior, José Afonso da. Uma trajetória em redes: modelos e características operacionais das agências de notícias, das origens às redes digitais, com três estudos de caso. 408 f. il. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas) Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Comunicação, Salvador/BA.

Autorizo a reprodução [parcial ou total] deste trabalho para fins de comutação bibliográfica.

Salvador, 25 de Julho de 2006.

______José Afonso da Silva Junior 407

Apêndice G: entrevistas realizadas durante a pesquisa

(em ordem alfabética de entrevistados) 408

Entrevista com Alexandre Caverne, coordenador de política e notícias gerais da Reuters.

Hoje é 16 de maio de 2005. Você estava me falando um pouco da rotina de encaminhamento de material das plataformas da Reuters e retrabalhando alguns textos e falando um pouco dos critérios de escala (...)

É que nem todas as notícias que a gente manda pra cá vão pra Internet, uma boa parte. Olha aquilo que eu te falei: essa aqui mesmo entrou errado, espero que depois entre certo, mas não ta certo. Ficou faltando uma letrinha. Aqui é de graça né?! Qualquer um...

Ta no pacote que você paga pra acessar o UOL.

Não, não, nem isso, aqui nem precisa entrar com a senha. É gratuito mesmo. Quer dizer, o

UOL está pagando pra gente. O leitor do UOL entra normal, não é uma parte que precisa...

Agora o que tem aqui no terminal da Reuters — você paga e não paga pouco. Varia de pacote pra pacote. Eu não sei exatamente quanto é porque ai varia de notícia pra notícia. O cloiente quer uma notícia de mercado financeiro, mas ele quer só de Europa, ou ele quer só emerging markets ou ele quer só commodities. Tem uma série de pacotes e ai a gente alimenta só a parte em português. Tem uma série de códigos que você tem. Então só pra dar alguns exemplos: aqui você tem o “G”, que é o código geral. Então eu tenho tudo o que é general news aqui em inglês. Aqui você tem o “E”, que é equities. Então tudo o que tem a ver com empresas, com as principais notícias de economia que afetam as bolsas de valores vai entrar nessa parte aqui de equities em inglês de novo. Aqui é “M” de money, então é a mesma coisa.

Tem algumas notícias que não vão estar aqui e vice-versa. Por que aqui é mais mercado de dinheiro e aqui de capitais. Mas a boa parte é igual. Você vê aqui, por exemplo... 409

O mesmo serviço pode disparar em serviços diferentes...

A operação de distribuição depende só de você colocar os códigos. Então quando você cria o arquivo para escrever a matéria, conforme os códigos que você definir ele vai pra lugares diferentes. Aqui a matéria vai para os códigos dos países. Então BR, por exemplo, são as notícias do Brasil em qualquer língua. Então o cara da Suécia está escrevendo alguma coisa da Volvo – a Volvo é sueca, se eu não me engano – ai vai aparecer SE, se ele quiser que a matéria saia... Se tem a ver com o Brasil, se ele quiser que apareça aqui no Brasil, ele coloca o

BR no código da matéria e vai entrar automaticamente aqui. Ai pode estar em inglês, pode estar em sueco, pode estar em russo, pode estar em chinês...De vez em quando, acho que agora vai demorar pra aparecer, mas às vezes aparece coisa em chinês. Aqui está em qualquer língua. Por exemplo, se você quer saber as notícias da Argentina, olha em AR.

É o mesmo código da web.

Ai eu não sei. Não, como assim? Da Reuters?

Não, não. O código de terminação das notícias é parecido com o código da web. BR é Brasil...

É. Ta vendo?! Todas as notícias sobre a Alemanha, na importa a língua, vão entrar nesse código. O cara vai poder comprar o pacote do país que ele quiser e ai vão vir as notícias.

Agora tem coisas diferentes, por exemplo, você têm lá Pan. Pan é de América Latina você vê língua não importa, o que importa é o foco da notícia. O BRS é o nosso código pras notícias em português, incluindo traduções. Não é só a nossa produção local. São todas as matérias 410

que nós traduzimos em português aqui no Brasil. Porque tem o serviço em Portugal também.

Aqui só vão entrar as traduzidas ou produzidas por nós. Se a matéria foi escrita por um repórter nosso, mas foi escrita em inglês ela não vai aparecer aqui. Ela vai aparecer lá no BR.

Agora a questão do fluxo de notícias e da definição é normal. A gente tenta definir, todo dia de manhã a gente tem uma reunião de pauta, se pré-agenda. Tem aquela coisa. Muita coisa é prevista, mas tem o imponderável. Com relação ao previsto se define já umas prioridades. A gente tem uma equipe que pra Reuters, fora dos EUA, é grande. Mas pra cobrir todas as áreas então é uma equipe pequena. Por exemplo, política a gente tem Brasília com três repórteres — um especial e outros dois repórteres—. Os outros jornais têm muito mais gente.

Macroeconomia a gente tem uma pessoa em Brasília.

O staff de vocês aqui são quantos? Mário me falou que são em torno de 60...

Não dá menos, bem menos...

Pra jornalismo, você diz. Pro pessoal de finanças...

Dá mais de 100. Acho que ao todo a Reuters Brasil tem 140 pessoas mais ou menos.

Fotografia a gente tem dois aqui em São Paulo, a gente tem um chefe de foto pra América

Latina. No Rio a gente tem um e em Brasília a gente tem um freela, acho que não é nem...

Basicamente isso. De jornalista brasileiro efetivo acho que a gente tem 22 ou 24.

E imagem em vídeo?

411

Tem TV também. A equipe fica no Rio de Janeiro, eu não acompanho. Então a gente tem a equipe internacional também, o trabalho é conjunto, mas eles são muito mais focados.

Interessa muito menos pro cara lá de fora cobrir os assuntos que a gente cobre. Então tendo definido mais ou menos as prioridades a gente vai atrás. Quer dizer, o que eu costumo dizer, que e acho que é uma virtude, uma vantagem, é que a gente não tem um projeto editorial que nem os outros veículos. Então a muito grosso modo...

(...) O cliente de um terminal nosso é o cliente do mercado financeiro. Então o que é notícia é o que move o mercado financeiro ou o que tem potencial de mover ou influenciar o mercado financeiro. Então são notícias econômicas e notícias políticas e ai a gente tenta definir o que é importante, o que vai afetar o mercado. Como a gente ta apoiado em cotação de dólar, a gente tem uma pessoa que ta lá na outra ponta acompanhando a cotação do dólar o tempo todo, falando com os operadores o tempo todo, então a gente ta vendo o que ta pegando e o que não ta pegando. Mas a cobertura visa atender esse público especifico quando a gente ta falando daqui. Como a gente tem Internet também a gente pode ta cobrindo cinema, pode ta cobrindo esportes de uma maneira mais focada porque a gente tem uma equipe muito reduzida. Na tradução a gente acaba funcionando como um provedor de notícias de fora. Mesmo na parte de tradução a gente traduz muita coisa de fora pra dentro. Notícias do mundo que podem ter um impacto sobre o Brasil. E claro, não só stricto senso que impacta o mercado, mas também coisas importantes e que são curiosas.

Você tem idéia de quanto ta esse enfoque de Reuters em mercado financeiro e de jornalismo?

E dentro da cobertura jornalística tem também uma ênfase pra cobertura desses setores: financeiro, comércio, mercado, política. Você tem idéia dentro do bolo de volume de notícias e dentro do bolo de arrecadação quanto isso representa? 412

Coisa de grana da Reuters eu não tenho a menor idéia. Ai o Mário pode te falar melhor. As matérias a gente solta aqui em português mais ou menos...Eu acho que são... Varia né?! Tem dia mais fraco, dia mais forte, mas pode chegar a 120, 140, 200 por dia. Acho que é mais em torno de 120, 140. A gente funciona das 7h a meia noite, não é 24h o serviço. Nem tudo que vai pra Internet vem pra cá (referindo-se ao RT – Reuters Terminal) e nem tudo que ta aqui vai pra Internet. O que for mais exclusivo vai pro RT porque o cara não está pagando uma grana pra ver ao mesmo tempo que no UOL. Também não pode ser assim to fácil senão o cliente não vai mais pagar. Apesar do que aqui tem umas vantagens da área técnica, questão de segurança. Na Internet vira e mexe tem essa coisa de hacker e até onde eu sei esse é um sistema seguro.Nenhum sistema é perfeitamente seguro, isso eu devo imaginar, mas acho que os caras não têm muito interesse. Não deve ser nada simples entrar nisso e a velocidade é maior. Aqui no Brasil isso não é nem tão dramático, mas lá nos EUA, falando agora de jornalismo on line... A questão de um ou dois segundos pode fazer a diferença pra alguém. Na hora de dar uma ordem de compra ou de venda, ter a informação antes nesse microsegundo pode fazer a diferença. Então a gente seleciona os principais indicadores e procura ser extremamente competitivo nessa questão do timming. Ta vendo esses vermelhinhos aqui? É o chamado snap, é o flash. É o alerta. Aqui só entrou o flash, ainda não ta a cobertura. O

Dowjones subiu 1%, então deu um flash. O cara que tava meio desatento, que não tava acompanhando, aqui você tem o sinal da bolsa de Nova York. Mas se o cara ta com a janelinha aberta e pra ele isso é importante, ele vai falar: “Opa, deixa eu ver isso!” E isso aqui

é uma história mais besta. Quando você tem os principais indicadores... E sempre é aquela história do preço do barril de petróleo... Mas não é sempre, deixa eu ver... “O partido governista da Etiópia diz que conseguiu votos suficientes para formar no governo”. Assim, você vai falar: “Po, mas isso não interessa pra mim”. Mas pra alguém pode interessar. Esse 413

aqui é o “G” né?”. General News. Cinco minutos já é mais do que necessário pra você já ter mais informação. Depois de algum tempo vai ter o atualiza, com um pouco mais contexto. E ai esse atualiza vai se atualizando. Aliás esse é um sistema bem legal. Quando você solta um flash, você tem dez minutos pra dar a cobertura, porque o ideal é quanto menos melhor. Pra o operador, às vezes só o flash já resolveu. Dependendo de onde o cara trabalha ele precisa de mais informação e dependendo também ele precisa de uma análise a respeito do fato. Aqui olha! O “Instant View” é uma repercussão. Esse nem ta legal. Deixa eu pegar um outro melhor. Deixa eu fazer diferente, pegar um em português pra você ver. Você me dá um minuto? (...)

Alexandre, no caso dessa matéria ai da CPI que os senadores Álvaro e Bonhausen estão pedindo... Ela foi direcionada pro serviço RT. Esse serviço não é destinado pro mercado de mídia, nem pra sites nem pra jornais. Isso se deve a uma estratégia interna da Reuters no sentido de direcionar isso pra uma questão muito específica, uma questão de mercado, bolsa...

É isso. É mais ou menos assim. A notícia é muito relevante pro cliente que precisa dela com muita pressa. Pro outro lado, pra mídia ou pra Internet, se você tiver isso melhor, mais tarde, com mais informações, vai ser melhor do que soltar uma coisa tão crua assim. Pro mercado financeiro você tem que ser muito rápido. É meio assim: você não precisa ter um incêndio, no primeiro sinalzinho de fumaça você já dá. Pode não dar em nada, mas pro mercado é importante o cara estar informado de tudo que está acontecendo. A gente nem tem equipe nem

é o escopo de dar tudo tipo: “Lula chega num negócio”, “Lula torce”... Dependendo do veículo tem essa preocupação, a gente procura filtrar o que é mais relevante, mais palpável.

414

Eu vi que do momento que você atendeu a ligação da Brasília até você entrar no sistema você demorou cerca de sete minutos.

Foi bastante. Era pra ser menos...

Entre redigir, deflagrar... Normalmente essas janelas são mais curtas do que isso?

Depende, depende muito da informação. Você vê que teve o problema do título que demorou, tive que checar o cara do partido, muitas vezes a gente sabe quem é o cara do partido, fiquei na dúvida lá com ela de quando era e tal. Se a coisa vem mais redonda isso pode ser bem mais rápido. Ou não. Porque assim, se a gente tivesse decidido que não valia uma notinha a gente ia ter que ter feito uma nota mais elaborada. Então ia gastar bem mais tempo e ia entrar com mais informação.

Os critérios estão em cima dos personagens envolvidos...

Se fosse um flash era coisa pra gastar menos de um minuto. Mas o flash é muito fácil porque

é um dado objetivo acontecendo. “Congresso instala CPI mista dos correios”. Ai é um flash.

Não tem o que processar muito. E daí você vai trabalhando daquele jeito que a gente viu, da cobertura, do atualiza e tudo mais.

Como vocês tratam com um material que é muito, principalmente no caso de Brasília, a informação que vem principalmente de Ministérios, de assessoria de Planalto, aquele material que vem com um embargo. Ele vem já preparado. Ai vocês fazem uma apuração paralela? Vocês procuram consolidar a partir de que mecanismos? 415

Você diz embargo ou off?

Embargo, material que ele pré-passa... Por exemplo, o pronunciamento vai ser amanhã...

Ah ta, é mais ou menos tranqüilo. Os caras não usam muito isso. A gente prepara o material e espera sair pra checar se era aquilo lá mesmo. E daí solta. É outra coisa que no Brasil você não tem tanto. Nos EUA tem muito mais a cultura do embargo. De os caras soltarem antes, de o pessoal respeitar o embargo. Aqui no Brasil de vez em quando tem um Zé Mane apressadinho que...

Essa questão do embargo ela é respeitada inclusive pro material que vai pra RT?

Se é material pro embargo, é material pro embargo. Se todo mundo já rompeu com o embargo, eventualmente a gente pode dar. Mas vai dar depois. O embargo é respeitado aqui.

Agora se for uma informação em off, ai é outra coisa. Tem que checar com mais fontes, tem que ver, tem que fazer cruzamento e tudo, aquilo que o bom jornalismo requer. Mas ai não vai ser uma coisa... Se é uma notícia assim, não vai ser uma coisa pra você fazer correndo... A

Reuters tem uma preocupação, acho que o Mário falou isso muito. Tem a questão da velocidade, mas também tem a questão da precisão. Credibilidade é o maior patrimônio. Se você começar a falar um monte de besteira, pra que os caras vão ler? E a Reuters tem muita credibilidade, então você tem que ficar esperto.

416

Alexandre, a gente estava discutindo um pouco sobre essa questão da idéia de filtragem.

Então me explique duas coisas: a filtragem do material externo pra cá e como você observa também a filtragem do material produzido no Brasil. Como ele repercute também lá fora?

Por exemplo, aqui o serviço internacional não traduz tudo que a gente produz. É tudo subjetivo. Nem tudo que é notícia pra nós aqui vai ser notícia pro cara lá de fora interessado em notícia sobre o Brasil. Então embora nós não só damos notícias para os serviços financeiros, você acaba dando notícias gerais, acaba sendo um pouco reduzido. Ai tem um pouco a questão do estereotipo, ou melhor, o que dá leitura lá fora. Se você tem uma boa matéria de Amazônia, por exemplo, desmatamento, seja de meio ambiente ou coisas do tipo, você vai ter leitura lá fora. MST vai ter leitura lá fora. Isso são assuntos que eles vão estar cobrindo. O dia-a-dia do congresso, por exemplo, eles não vão dar as coisas pequenas. Eles gostam da expressão “big picture” que é pro cara lá de fora saber, mas não precisa dos detalhes. Só pra ter noção do que está rolando. Pra nós, imagina, eu não sei ai quantas... Eu acho que são duas mil notícias que a Reuters produz por dia. Ou mais. No mundo inteiro.

Duas mil ou três mil. Obviamente que a gente não vai traduzir... A gente traduz uns 10%. Vai pra parte de economia, que é bem focada. Vai pra parte dos mercados, enfim. É bem focado.

Você vai dar vários indicadores econômicos americanos que são super importantes porque eles vão ter impacto na bolsa (...) Só as notícias que a gente julga relevantes pro mercado financeiro. E na parte geral são as notícias mais relevantes. Um dos critérios que a gente tenta pensar é o que vai ser capa nos jornais no dia seguinte. Quando você tem duas mil matérias pra escolher, complica... Agora tem os próprios critérios, por exemplo, tem o “Talk News”, que são os editores falando o que eles consideram “front page”. O que eles consideram mais relevante no dia. Só que lógico né?! Essa é a visão britânica da coisa. É mais uma visão de país desenvolvido. Mas mesmo assim você acaba tendo muitas vezes notícias que não são de 417

países desenvolvidos. Aqui você vai ver oh: uma de Casa Branca, uma de Iraque, uma sobre

Nações Unidas, outra sobre União Européia, Coréia do Sul, furacão, temporada de furacões,

Uzbesquistão, esse aqui eu já não lembro mais quem é o cara, mas acho que é o ministro da

Rússia lá... Ah não, não é um ministro, é um magnata russo que tá envolvido com óleo, petróleo. Isso também ajuda como um norte da coisa. E claro, as coisas que acabam tendo maior destaque aqui também. Porque não adianta a gente querer dar. Mas não adianta dizer assim: “eu me interesso por notícias sobre o Nepal”. Você vai ter notícias sobre o Nepal, de vez em quando o Nepal vai ser capa. Se tem um massacre, aquela coisa né?! Infelizmente notícia de desgraça e tal. Não sei se eu te respondi?

Não, tranqüilo.

É que é tudo tão subjetivo que os critérios... Agora você vê ai que as nossas matérias é a coisa de procurar ser rápido, de...

Essa agora você levou... Era mais complicada, você levou 20 minutos.

É você ver que, se você for ver o tamanho dela em relação à outra... O contexto... Né?!

Essa foi pra plataforma da Reuters na Internet e também replica pros sites que assinam esse serviço?!

É.

OK.

Olha, e também tem essa... Daqui a pouquinho você pode ir até lá... Vai aparecer aqui né?!

Ainda não entrou, mas daqui a pouco entra. Oh, ta em mundo. 418

Entrevista com Aparecido Marcondes, assistente administrativo de fotos da Agência Estado.

Vamos dar uma olhada geral pra gente entender como é o processo seu de distribuição de fotos, de tratamento de captação desse material. Vamo lá.

A fotografia da Agestado ela existe não só pra trabalhar não apenas na produção dos dois jornais do grupo, o JT e o Estadão. Isso seria uma produção diária. Nós pegamos o material e trabalhamos ele através de uma edição jornalística de imagens, um tratamento digitalizado, muita coisa que já vai direta pro nosso site, sempre passando pelo crivo do jornalista que vai verificar as matérias, colocar a legenda, completar as informações. A partir desse tratamento é que vai parar num site, que é o nosso principal veículo de comercialização da imagem. Não é o único, mas é o principal.

Quais são os outros?

Os outros são o e-mail, enviar a foto pessoalmente por e-mail, vir pegar pessoalmente a imagem, mas o forte, o quente, em torno de 70% concentra-se na plataforma web. Os dois jornais são focados em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, portanto, no resto do Brasil a gente precisa formar parcerias. A gente tem parceria desde Porto Alegre, no Sul, até Pará, no

Norte. A gente procura fechar com os principais veículos. A gente tem um documento, o fotógrafo, a agência, o jornal preenche dando um OK às condições e a gente repassa um valor em cima da foto vendida. A gente coloca em consignação. A imagem é disponibilizada por nós. A gente faz parceria com várias partes do Brasil pra complementar esse nosso material.

Existe um pessoal que produz o nacional e o jornalista responsável pelos passeios, que é esse material que vem de fora. Fotógrafos, agências do resto do país. Então são duas editorias. A 419

nacional é dividida em parceiros e dia, que é a produção da casa. Existe uma outra editoria que é a internacional, são os fornecedores internacionais, formados pelas grandes agências.

AFP, Reuters...

Exatamente. A gente faz um repasse e complementa. Obviamente que nós temos o arquivo, com mais de 100 anos de existência, que é outra fonte riquíssima que a gente usa pra vender.

Independente ou não da nossa produção diária, existe a nossa produção de arquivo.

É bastante procurado o arquivo?

Sim, mas não é o nosso carro chefe de vendas, mas chega a ser 30%. As fotos do nosso arquivo têm que passar por um processo de digitalização para serem vendidas.

Se eu preciso de uma foto da inauguração de Brasília, com JK, vocês têm essa foto aqui com certeza. Mas como não ta digitalizada ela não ta em pronta entrega...

Não, não estão ainda prontas para pronta entrega. Essa busca direta no site ainda não existe, está sendo trabalhada. Estamos em transição. Então eu quis fornecer pra você os fornecimentos, onde eles se situam e de que forma a gente coloca isso no site. As editorias que recebem, conferem a notícia, colocam legenda e disponibilizam no nosso site. Site esse que os clientes têm uma senha, com login e password. Aqui a gente está dividido entre imagens do dia, ou seja, o que está acontecendo hoje; suplementos, que é algo especial, tem uma temática. É dividido em serviços. Tem a produção dos jornais da Agestado, tem das 420

agências internacionais, enfim, a gente acaba distribuindo serviços onde o cliente pode buscar direto. Tem aqui, por exemplo, de Recife o Jornal do Commercio...

Só com chuva...

Só. Bastante chuva.

No caso do material dos parceiros ai está claro como é o sistema de alimentação. Isso deve ser um FTP...

Exatamente.

Que eles carregam a foto. Mas no caso da produção de vocês, como é a atualização da rua pra cá? Vocês têm alguma estratégia além do transporte físico da informação? Que estratégia seria essa?

Existe sim. Num programa chamado “Wired Centure” (?). O Rio também faz. Esse “Wired

Centure”, que é uma espécie de banco de imagens, alimenta também um banco que nós criamos, que é o Sistema de Monitoração de Fotos. Eu posso te mostrar que eles trabalham muito nisso. As imagens vão entrando no sistema, eles vão baixando e trabalhando a imagem.

Existe esse banco de imagens onde essas imagens feitas no dia vão chagando. Como nós somos uma agência de notícias e estamos preocupados em vender essas imagens, nós temos que vender uma idéia e priorizar o que deve entrar ai. Os parceiros mandam por WEBTP (?) e outros mandam até por e-mail. (MUITO BAIXO. INAUDÍVEL)

421

São Paulo, Rio, Brasília têm escritórios autônomos, não é isso?!

Sim.

Vocês têm tecnologia pra mandar material em circunstâncias móveis?

A gente aqui não usa, mas existe sim. Tem gente que sai com laptop, wi-fi. Mas isso acontece quando tem uma viagem pra fora do país, que fica difícil de transmitir. Caso contrário, não se justifica tanto. É FTP, eles mandam e acabou.

Você sabe dizer se existe aqui ou não algum direcionamento da imagem? Por exemplo, ela está ai no banco de dados, mas qualquer cliente, em tese, acessa, compra, tem o direito de uso, você repassa o direito de uso pro autor, mas tem algum critério de uso?

Tipo assim, existe algum tipo de filtro? Algo do tipo: não, essa ai a gente não passa pra tal cliente.

Existem alguns jornais que proíbem a gente de vender... JC é um caso, ele não permite a venda em Recife. Pois é. Ai o que é que acontece?! Você fala: “puxa, eu tenho o Jornal do

Commercio aqui. Eu tenho um sistema de permissionamento onde eu não libero pra outros jornais. Por exemplo, qual que é o outro de lá? Diário de Pernambuco e Folha de Pernambuco.

Eles não visualizam o que você está vendo aqui.

Tem um embargo de praça...

Exatamente. Tem um embargo de praça. A gente respeita. A Tarde da mesma forma. 422

Você considera o serviço de vocês, em intermitência de atualização, rápido, eficiente, deixa algo a desejar? Em termos de distribuição da imagem...

Olha tem que pegar vários momentos. Tem que pensar na hora que a foto é feita, ai na hora que ela chega aqui, essa foto já está no ar... Eu não sei como você está falando. É no geral?!

Eu digo um evento, assim... Em quanto tempo, na média, vocês conseguem... Num evento que seja quente, que seja bem observado, por exemplo, a Daniela Cicareli que se separou do Ronaldinho. Deve ter alguém caçando ela querendo fazer foto e deve ter gente interessada nesse material. Acontecendo algum evento dentro desse guarda-chuva, você acha que é rápido esse processo de deflagração?

Olha, Nós temos uma velocidade muito boa. Pelo menos comparando com as outras agências,

Globo, Folha, tem 18 imagens dela aqui. Nós temos uma disponibilidade boa, pra disponibilizar até a ponta, que é o jornal. As vezes que a gente talvez falhe é na ponta. É que o fotógrafo tenha tido algum problema, seja tecnológico, atraso, qualquer coisa. Mas se a imagem é feita, quando ela chega aqui ela é disponibilizada praticamente na hora. Porque toda essa equipe aqui está voltada pra isso. Por isso que eu falei: nós temos a editoria internacional com parceiros pra priorizar exatamente a área deles, não tem essa mistura. O papa morreu.

Internacional vai ser o foco.

No caso do papa, qual foi a estratégia que vocês armaram?

O papa foi o fotógrafo daqui e o jornalista daqui, além de terem as agências internacionais.

Então a gente ficou praticamente 12 horas disponibilizando fotos novas. Direto. Então você 423

procura colocar mais gente no período maior porque você quer mostrar a Itália, outro horário e tal. Mas em termos de rapidez eu creio que no mercado a gente seja um dos tops. Agora você não pode comparar porque se você pensar, por exemplo, a agência O Globo, se você pensar numa pauta voltada pra um acontecimento da TV Globo, eles com certeza vão sair na frente. Mas tirando essas situações mais específicas, como um jogo onde todas estejam lá, uma coisa assim que ninguém tenha vantagem em nada, nós realmente somos os primeiro a colocar essa foto no ar.

Pra minha pesquisa, além da Agência Estado, eu estou pegando os casos da Reuters e da

Agência Brasil. No caso da Agência Brasil, eu sei que tem um campo de conflito com as outras agências com respeito a fotografia, porque normalmente acontecimentos relativos

à Presidência da República, a Radiobrás é quem tem exclusividade pra gerar foto. Como

é que vocês lidam com isso? Eu não estou falando só do custo não, porque eu sei que ela sai a custo zero. Mas que estratégias vocês usam pra tentar driblar isso? Porque isso já vem de uma forma muito pré-determinada.

Isso vem muito forte pra cima da gente. Teve um período que a gente foi confiscado, saiu até matéria no jornal sobre essa coisa toda. Até o responsável pela imprensa saiu, não está mais lá. O Kotscho, Ricardo Kotscho. Então é ir mantendo o contato com eles, conversando, porque até hoje a imprensa é pega de surpresa, assim: “Olha, esse evento é fechado. Nós vamos fazer a foto e vocês vão distribuir”. O que existe é uma conversa com muito grande com a assessoria de imprensa do governo, mas eles são irredutíveis, em vários momentos, em vários eventos eles não abrem mão. Pra gente como agência de notícia, como empresa que leva isso a diante, isso é muito ruim. A relação é conflitante, principalmente porque a gente não sabe quando vai ser barrado. Esse é o problema. De vez em quando chega a informação 424

aqui: “olha, a gente não vai ter porque foi fechado. A Agência Brasil é quem vai”. Ai os clientes vão ter a imagem da Agência Brasil, mas nós não.

No caso de vocês dispararem um material, lógico que tudo depende do direcionamento da matéria, vocês têm um banco de imagens onde vocês têm a produção interna e a produção externa do JT e do Estadão. Obviamente há critérios, por exemplo, uma matéria que esteja sendo feita só pelo Estadão com esse tratamento, porque vocês não vão disponibilizar uma imagem que possa ser um trunfo para furarem o próprio jornal.

Quais são os critérios de embargo dessa imagem, dela ser distribuída ou não?

Não tem mais, principalmente no Estadão. A produção do Estadão é colocada a disposição dos nossos clientes. Raras as vezes, não me lembro a última, o Estadão bloqueou.

O Estadão falou: é nossa, é da nossa matéria...

Eu vou te falar uma coisa: está difícil hoje você ter essa imagem exclusiva. Está cada vez mais raro. O Jornal da Tarde, que se preocupa muito com a cidade de São Paulo, talvez você tenha a limitação para os jornais daqui de São Paulo. Restrições. Mas praticamente os nossos clientes sempre ficam... A gente só tem um ou dois no interior do estado. Pra gente o embargo passa a existir na produção do JT na cidade de São Paulo.

Você acha que esse fenômeno das assessorias está pautando todo mundo ao mesmo tempo?

425

Todo mundo está cobrindo tudo. Sinceramente, é raro você cobrir uma pauta exclusiva. A foto... Hoje, a digitalização... Todo mundo com câmera digital, não tem mais esse valor todo.

Antigamente tinha muito, hoje não tem mais. Então nós não temos esse embargo, hoje não.

Porque o Estadão vai querer sair primeiro com essa imagem. 426

Entrevista com Cleber Sampaio, coordenador de sucursais e correspondentes da

Agência Brasil.

Eu sou Cleber Sampaio, sou coordenador das sucursais e correspondentes da Agência Brasil.

Eu sou jornalista, tenho 54 anos de idade e 37 de profissão. Sou baiano de Salvador e moro em Brasília desde 64. Eu comecei, não na profissão, eu sou jornalista desde 68, mas em 74 eu ingressei na Agência Nacional. A Agência Nacional era, pra aquele período, o que a

Radiobrás é hoje. A diferença era que a Agência Nacional era a agência do governo ligada ao gabinete da presidência da república. Como tal, a Agência Nacional foi criada pelo DIP, na

época da ditadura do Vargas, e sobreviveu até 79. Então, a ditadura do Vargas, se não me engano, começou na década de 30, depois 40, depois ele saiu, continuou e a Agência Nacional permaneceu como disse seu destino em 1979. Ele assumiu em dezembro... Em março de 79, o

Figueiredo criou a empresa brasileira de notícias, EBN, com uma estrutura bem maior, nós tínhamos naquela época algo em torno de 30 repórteres só em Brasília cobrindo toda a

Esplanada dos Ministérios. Banco Central, todos os ministérios, Palácio do Planalto,

Congresso Nacional e os tribunais superiores. Tínhamos também um excelente corpo de redatores na redação funcionando como retaguarda. Ao mesmo tempo produzíamos uma agência de notícias, que era a EBN, e a EBN produzia também um noticiário chamado Voz do

Brasil. Paralelamente existia a Radiobrás. Então coexistiu pacificamente a Radiobrás e a

EBN. Em 85, houve uma crise interna na extinta EBN e o governo Sarney extinguiu a EBN.

Só que, ao faze-lo, ele foi aconselhado em não extinguir e sim fundira EBN com a Radiobrás.

Então o que nós somos hoje é um produto do que se chamou durante muito tempo de Empresa

Brasileira de Notícias. Hoje, a Radiobrás – Empresa Brasileira de Comunicação S.A. cobre

Brasília, os três poderes, temos sucursais do Rio e São Paulo e correspondentes em Recife,

São Luiz, Manaus, Curitiba e outras capitais. 427

Mas com essa denominação Agência Brasil ela funciona desde quando?

Não, ai veja bem... A Agência Brasil é um departamento da Radiobrás porque a Radiobrás tem duas TVs a cabo, uma TV aberta, cinco rádios AM e FM, e também a Agência Brasil.

Essa em que você está agora é a Agência Brasil.

Eu tava falando com Flávio e Rodrigo e eles estavam me dizendo... Isso ai já não é mais histórico da agência, isso é uma dúvida que eu tenho... E você me falou que você é coordenador de sucursais. Como é que você estabelece critérios de não só haver o fluxo da agência pros jornais, rádios e quem o site alimenta, mas como você estabelece o contra-fluxo das sucursais pra agência? Quais os critérios de noticiabilidade? Como é que essa informação

é tratado?

Aqui de Brasília nós pautamos as sucursais e os correspondentes. Eu chego aqui cedo, umas sete e quinze da manhã, e passo e-mail pra todos os correspondentes com a pauta do dia. Nós vamos cobrir hoje o ministro X que está em São Paulo ou senão a ministra Y que está em

Salvador e tal. Tem outros eventos também, principalmente eventos ligados aos índios, aos...

Enfim, movimentos sociais. Então, respondendo à sua pergunta: as sucursais e os correspondentes fazem as coberturas nas capitais e mandam esses materiais pra cá. Aqui os editores publicam e jogam na rede. Você pode estar em Belém, em Macapá, Porto Alegre,

Salvador, você acessa a Internet, sendo jornalista ou não você tem acesso às nossas matérias.

O uso de texto e fotos é inteiramente sem ônus.

Como você está aqui há algum tempo, quais as mudanças que você percebeu mais claras a partir do momento em que a agência começou a orientar a produção para a Internet? 428

A agência já atua na Internet desde o governo passado. A Agência Brasil foi informatizada, na verdade, num processo que vem desde 89 e informática é como vídeo cassete, a cada produto novo você tem que se incorporar pra não ser engolido por aquilo que é mais novo que você.

Então, na verdade, a Internet aqui já não é uma novidade, existe desde 89. O que está sendo feito agora é justamente a modernização do nosso CPD para que possamos atingir cada vez mais um maior número de clientes. Nós temos aqui, se você for a outros setores da empresa, nós temos uma ouvidoria que recebe e-mails não só do Brasil como também do exterior, o que atesta uma aceitabilidade da Agência Brasil. É uma agência que cobre os três poderes e cobre também os movimentos sociais. MST, índios, garimpeiros, etc, etc. É uma agência voltada para o povo.

429

Entrevista com Daniela Franchin, gerente de vendas e mídia para a América Latina.

Qual é o tratamento conceitual e operacional que tem aqui na Reuters para o campo das imagens? Fotografia, imagens em vídeo e etc.

Você já chegou a conversar um pouco na redação com o Paulo Whitaker? Ele é o cara que fica responsável pela parte de fotografia como um todo que é basicamente o que toma decisão do ponto de vista editorial de cobrir um determinado assunto e tirar imagem, tirar fotos sobre aquele determinado acontecimento. Após isso acontecer, a decisão editorial tem que ser tomada, do tipo: “Vamos cobrir”, “Estamos mandando um fotógrafo”. Isso é uma coisa que o

Mário decide com ele. Após essa tomada de decisão entramos nós, que ai é o seguinte: todo o material que eles coletam, seja numa copa do mundo entra num servidor e vai ser alimentado assim como as notícias como se fosse um serviço de tempo real normal.

É jogado na base de dados.

É, só que ao invés de texto é fotografia. É editado com o que a gente chama de “capturing”, que é uma legenda e quem é o fotógrafo e etc. Após essa edição, isso vai pra um grande servidor onde diversos clientes, um jornal, uma revista, um portal de Internet, que sejam permissionados pra aquele serviço possam estar recebendo também em temo real.

Basicamente isso é tudo digital, a maioria das câmeras tem... Na guerra do Iraque eles já passavam wireless, eles já entravam no servidor da Reuters, a imagem já era digitalizada, transformada em XML, e jogada no IDS, que é o nosso servidor, serviço de entrega. Então o 430

que vai diferenciar do ponto de vista de eu como cliente é o tipo de plataforma que eu tenho e o tipo de serviço que eu assino. Quanto mais abrangente o cliente for, quanto mais serviços mundiais de notícias ele tiver, obviamente mais cobertura ele vai ter de diversos assuntos diferentes. Então, um serviço que se chama “Reuters News Picture Service” vai pegar justamente todo o serviço de fotos que a Reuters está coletando no mundo inteiro e colocando nessa base de dados. Quando a gente fala de “Atam Fotos” ou “US Fotos” são as fotos que estão acontecendo na América Latina ou nos EUA. Seriam as “Top News” daquela região.

Então isso tudo a gente faz mais por um sistema administrativo nosso. Dependendo do que o cliente assina, ele vai estar recebendo aquela imagem. O que ele vai publicar no site, na revista ou no jornal é uma decisão dele. Nós mandamos, mas é decisão deles. Os portais maiores, por exemplo, o IG, o UOL, o Terra, eles publicam basicamente tudo o que a gente manda.

Então a partir do momento que a imagem é disponibilizada vocês já não têm mais o controle editorial sobre o uso dela?

Não, não. A partir do momento que eu joguei aquilo pro cliente, eu to dizendo pra ele que ele pode usar tudo que está ali.

Ele pode usar indistintamente a imagem, mas essa imagem, por exemplo, se ela for reutilizada e tudo mais...

No caso do site, o cliente tem até 30 dias pra manter aquela foto utilizada. Em contrato a gente não deixa mais do que isso. Ai essas imagens todas são armazenadas num grande banco de dados da Reuters. No caso de um cliente ou não cliente necessitar de uma foto que já 431

passou, ai ele vai acessar o nosso arquivo e vai pagar por fora. E dependendo do tipo de utilização da foto, esse preço varia. Vamos supor: eu posso ser de um portal e querer reutilizar uma foto, obviamente o preço vai ser menor, porque você já é cliente e tal. Eu posso ser cliente, mas eu quero uma foto, por exemplo, na capa de uma revista. Obviamente que essa foto vai ser mais cara. Ou eu posso utilizar uma imagem pra fazer uma propaganda, pra fazer uma campanha publicitária seja lá qual for impressa ou em vídeo. E os preços também vão variar.

Sobre essa questão operacional depois eu falo com...

É, não é nem operacional. É a decisão editorial. Se cobrir ou não, obviamente essa é uma grande decisão. Por exemplo, copa do mundo, óbvio que a gente vai estar. Mas assim, se acontece alguma coisa... Nós estamos nas grandes capitais do mundo inteiro. Obviamente não vão deslocar alguém daqui pra ir pro Iraque cobrir, mas a gente ta recebendo os nossos próprios fotógrafos de lá e ta sendo alimentada a nossa base também. Agora, se acontece alguma coisa em Porto Alegre, que é nossa região e que não tem um repórter específico lá, a gente pode tomar a decisão... Ou então ele chegar e dizer: Eu to querendo que o Paulo

Whitaker vá e cubra o evento. Ou então vai ter Fashion Week só que vai ser em Buenos Aires.

Nós temos a nossa equipe lá. Essas decisões são editoriais, agora o processo como um todo é o mesmo. Eles enviam isso pra um grande servidor, esse servidor vai editar e o cliente na ponta vai estar recebendo aquilo. Via Internet, via satélite, depende da plataforma que ele tem final.

Existem critérios específicos para a produção de fotografia? Por exemplo, como as pessoas devem aparecer... 432

Ah, isso é o Paulo, porque ele que é o editor. Eu seria mais a parte “como é que a gente empacota e venda pra os nossos clientes”, “como é que eu forneço isso pra os nossos clientes”, “como funciona todo o processo”, “por que eles estão interessados”, “quantos por cento do que a gente manda eles usam entro do portal ou do jornal”. Esse é o tipo de informação que eu posso te dar. Todo o processo de imagem e definição gráfica, isso ai são os fotógrafos...

Esses dados ai, você pode me passar?

Por exemplo, todos os portais considerados de grande porte basicamente utilizam todas as fotos dos “Top News” que a gente manda e eles também têm outras agências. Algumas específicas de alguma região. Eles colocam dentro de um grande servidor que eles têm interno, ai eles misturam tudo e a primeira que vem chegando eles vão publicando. Teve a morte do Papa. Quem estava mandando na frente... Ele estava publicando. A gente mede por ai o sucesso que a gente ta tendo de cobertura ou não porque a gente fica monitorando quanto de foto de Reuters ta entrando ali e a gente olha e a gente vê que eles estão usando bastante.

Então eu te digo que, nesses dois grandes portais que têm basicamente todos os nossos concorrentes, 80% do tempo você vai abrir e a chance de a foto da capa da home ser da

Reuters é enorme. Isso pra qualquer assunto. Obviamente que pra assuntos mais locais, não é o conceito da Reuters cobrir. A gente não vai ter essa cobertura, por isso que elas acabam tendo outras agências regionais. Pra poder dar esse balanço porque nem todo usuário vai querer olhar notícia mundial.

433

A grande fatia de produção de vocês é uma produção própria ou vocês também trabalham com uma produção terceirizada?

A gente tem alguns free-lancers, mas eu posso te dizer que a maior parte dos fotógrafos são

Reuters. É o “corner” Reuters. Toda a parte noticiosa deve-se ao funcionário Reuters. Seja ele um editor de notícias, seja ele um fotógrafo... Na época de guerra, por exemplo, nós perdemos alguns funcionários infelizmente que eram mesmo da Reuters no campo de batalha.

Funcionários que eram baseados no nosso escritório de Bagdá e foram cobrir guerra. E alguns outros que foram relocados de algumas outras regiões do Oriente para regiões de batalha pra poder fazer a cobertura de guerra. Infelizmente. Eram pessoas que já estavam com a gente há muito tempo, inclusive já tinham um histórico de guerras. Nós perdemos um especificamente naquele bombardeio do hotel que mataram alguns jornalistas, esse câmera man ele tinha uma experiência de guerra que você não tem noção, de campo de batalha. Mas é isso, a parte de vídeo é assim também. Nós temos câmeras do mundo inteiro. Só é um pouquinho diferente. A gente ta falando de um canal por satélite de televisão. Tem antena, tem edição, é mais trabalhoso. Vamos supor, a Globo é nosso cliente. Ai ela fica recebendo imagem em tempo real sem edição primeiro, alguns minutos depois ela já recebe o script e em seguida a gente já tem a edição. Coisa de minutos. Ela pode pegar a gente como referência e fazer a própria edição, que é o que normalmente os telejornais fazem. Ana Paula Padrão, Fátima Bernardes, elas acabam pegando as nossas imagens, mas elas editam. Como os outros também,

Bandeirantes... Todos eles são clientes nossos.

Ta. Essa parte de imagem já deu pra ter uma idéia. Agora vamos voltar pra 1999, você trabalhando nos Estados Unidos.

434

Não, na verdade eu trabalhei nos Estados Unidos há dois anos atrás. Eu fiquei de 2002 a 2004.

Então vamos voltar pra 99, na época que a Reuters entra nos serviços de entrega de conteúdo pela Internet. O Andrada me falou e ele avalia na perspectiva dele que a

Reuters demorou pra entrar na Internet. Isso no sentido de colocar uns serviços mais consistentes. Ele diz que vocês entraram praticamente na hora que a bolha estourou.

Como foi aquele momento? Ele forçou alguma reestruturação de operação da empresa pra entrega desses conteúdos?

Eu não concordo totalmente com essa posição porque eu acho que a gente estava bem posicionado. Eu acho que isso é verdade pros serviços em língua portuguesa. Mas a gente já estava bem posicionada do ponto de vista global pra fazer as coberturas de Internet dos serviços em inglês. Infelizmente a gente acabou sendo afetado porque os investimentos em espanhol e português acabaram ficando em segundo plano. Mas ocorreu, a gente fez o investimento, e ele próprio dividiu a redação dele —não sei se ele comentou isso com você—

... É, existem os nossos serviços de mercado financeiro terminal em tempo real e a parte de on line. Antes era uma redação só. Nesse momento foi feita uma redação para o on line apenas.

Apenas dedicada à criação de conteúdo para mídia on line. Ou seja, totalmente fora do terminal. Apenas pros portais e sites de Internet. Hoje a gente categorizou também. Fez em língua portuguesa. Foram contratadas pessoas. Em termos de reestruturação houve uma mudança não só do ponto de vista editorial, mas do nosso ponto de vista comercial também.

Eu passei a ser apenas dedicada a mídia pra focar exatamente nesse mercado. E houve adaptação do tipo: as nossas fotos sempre foram um serviço a parte do nosso texto pra qualquer outro serviço de mídia que não seja o portal. Nesse momento criou-se uma demanda por parte dos nossos clientes que era a de ter a notícia e já a foto linkada. Que era pra ele não 435

ter que ficar perdendo tempo procurando. Ou mesmo clientes como o Yahoo. Eles não tinham uma redação, alguém pra ficar procurando: “Ah, essa foto é desse texto então eu vou juntar”.

Eles não tinham esse tipo de estrutura, então demandavam um produto pronto, algo de uma fonte que eles confiassem, de uma fonte que eles não tivessem que rever absolutamente nada, num sistema de entrega que fosse rápido o suficiente pra que ele publicasse aquilo a tempo de o usuário abrir o site e ter uma notícia quente na tela. Era uma junção de coisas. Nós fizemos esse produto pra atender exatamente a esse mercado. Nós passamos não só a entregar automaticamente dentro do site do cliente como também já linkar a foto pra ele. Ele não tinha que ficar buscando a foto, isso já foi um diferencial porque hoje, se você olha no jornal, é totalmente diferente. Ele tem aqui um sistema de foto e aqui um sistema de texto. Ele vai procurando a foto que eles quer. De um mesmo assunto ele vai receber às vezes três, quatro ou cinco fotos diferentes e ele vai escolher. Isso não acontece no on line. Ele pode até ter serviços complementares de fotos de ele quiser, mas a gente já manda. Passa a foto já linkada pra facilitar a vida dele. Na época que alguns portais já tinham oito jornalistas trabalhando numa mesa, num editorial, hoje em dia isso já não existe. Esse número já é bem reduzido.

Cada vez mais isso virou uma realidade e uma realidade que a gente não precisou readaptar.

Desde a época do boom da Internet, quando a gente mudou foi uma tendência que continuou.

Hoje essa demanda por ter algo pronto, linkado ainda existe. Ai quem for um pouco mais sofisticado, mais incrementado, demandar mais conteúdo vai assinar outros serviços que ele possa adicionar o que ele quiser, mas isso é simplesmente pelo fato de ele ter mais gente trabalhando, mais jornalista. Ele pode se dar ao luxo de ter um trabalho assim. Você pega sites automáticos como o Yahoo, não há jornalista. Eles praticamente usam a gente 100%.

Como é a relação de fluxo de material e foto internacional pro Brasil e também a contrapartida? Como é que os clientes internacionais da Reuters assimilam o Brasil? 436

Imagina que exista um grande servidor pra tudo. Ai o que a gente faz? A gente divide ele em

“on line report”, que é o que a gente chama. E os serviços de fotos dividido em partes chamadas “focus”, só que depois disso eles entram na mesma coisa, no mesmo servidor com o mesmo formato pra diversas plataformas de entrega. A diferença nesse sentido é assim:

Vamos supor, o que é “Top News” hoje pro Brasil, dentre as 200 matérias que a gente mandou, o que vai interessar pro público lá fora são de repente duas ou três. O editorial de

Nova York, por exemplo, vê essas duas pautas importantes que normalmente são de economia, vão traduzir e jogar pro editorial deles. E vice-versa. A gente não vai traduzir tudo que ta saindo de la, mas a gente vai ver o que é importante e vai fazer na língua portuguesa.

Então é ai que dá a diferença de balanço de peso de notícias de um determinado pacote pro outro, mas, na verdade, todas as notícias e todas as fotos estão disponíveis pra todos os editoriais da Reuters. A gente tem uma mesa aqui internacional e você vai ver que as pessoas estão escrevendo em inglês porque eles estão olhando o que está acontecendo aqui e só estão mandando pra lá o que é interessante pro estrangeiro saber. Daqui eles estão traduzindo o que vem de lá que é interessante pro brasileiro saber. É como se estivesse tudo dentro de uma grande cesta e eles fossem colhendo o que fosse importante pra cada um. Essa decisão do que

é importante é o que faz a gente ter a tradição de ser a maior agência do mundo e de todo mundo confiar. A gente não vai pegar uma matéria sem antes checar, sem antes ela estar sendo muito bem lapidada por todo mundo. Na hora que a gente publica é realmente um negócio que você pode ir atrás, que todos os editores estão olhando. Então imagina uma grande mesa de redação onde as pessoas vão pegando o que é interessante para cada região.

Pra resumir bem, obviamente não é tão simples. Existem vários sistemas distintos de editoração, na hora que ele aperta a teclinha e joga a matéria dele, ele cai num recipiente.

437

Entrevista com Eduardo Matos. Editor-chefe de notícias da Agência Estado.

Primeira pergunta: A Agência Estado trabalha dentro de uma dualidade, dentro de dois mercados bem definidos. Um direcionado pra mídia e outro pra não-mídia, pra toda essa parte de informação financeira, de comércio, da banco, de cotações, de bolsa de valores, etc. A sua abrangência de atuação aqui é no caso na produção do setor jornalístico?

É um serviço tradicional de notícias, que é, inclusive, por onde começou a Agência

Estado. Nós fornecemos conteúdo pra jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão.

Conteúdo em texto. Então eu forneço conteúdo de política, economia, esportes, saúde, educação, cultura, qualidade de vida, todo o conteúdo que de alguma forma possa ajudar a editoras que tenham publicações.

Como você concilia a dinâmica de obtenção desse volume de informações. No jornal a gente sabe que a prática do dia-a-dia, o jornalista às vezes só sabe a pauta na hora que ele chega no jornal. Na agência e diferente, vocês podem ter um acompanhamento mais processual da pauta? E como vocês lidam com o material de chegada, por exemplo, é release, é rádio escuta de outras agências e de outras fontes? O que é que diferencia isso?

Olha, qual que é a nossa grande preocupação como uma agência de notícias que é provedora de conteúdo de jornais? A gente tem clientes como o Zero Hora, o Correio

Brasiliense, o Diário de Minas, assim como eu tenho pequenos jornais, jornais de pequeno porte que são jornais de circulação diária, que têm lá os seus cinco ou seis mil exemplares e são jornais bem feitos, feitos com o cuidado, o rigor jornalístico. Então o primeiro lugar né?! A nossa preocupação é servir como uma sucursal de cada cliente 438

nosso, ou seja, de cada jornal que assina a Agência Estado no país, em cada capital, em cada cidade do interior do país onde esteja acontecendo um fato jornalístico importante.

Que é um princípio muito parecido com o que faz a Reuters, a Associated Press, a EFE, a ANSA. Qual que é a diferença entre nós e elas né?! É a geografia, a área de atuação. O nosso foco de atuação é o território nacional e essas agências internacionais mantêm sucursais em cada capital do mundo e cidades importantes de todo o planeta. Dessa maneira a gente cobre... Mandar com antecedência todos os dias uma pauta prévia de cada editoria, de cada serviço que a gente tem. Eu vou falar por exemplo, pra te exemplificar, o maior serviço que a gente tem o noticiário nacional. Na pauta prévia de cada editoria nós antecipamos assuntos que nós vamos trabalhar naquele dia. Isso permite que os jornais, principalmente os de maior porte que têm uma estrutura organizacional maior, possam já aproveitar o que iremos fazer nas primeiras reuniões de pauta da manhã. Ou seja, são os assuntos que nós efetivamente estamos cobrindo durante o dia. Pra reunião de fechamento da capa, que os jornais fazem por volta das cinco, cinco e meia da tarde, cada editor de área pode trabalhar com essa nossa pauta pra trabalhar os assuntos ele terá na sua editoria no dia seguinte. E além disso, durante todo o dia, isso desde o período da manhã, nós vamos ir vendo flashes de assuntos que aconteceram naquele momento. Vamos supor que caia um avião no aeroporto de

Brasília depois que eu mandei a pauta consolidada. Imediatamente eu mandei um flash.

Acaba de cair um avião Boeing 737 no aeroporto de Brasília, não há informações ainda de qual era a procedência do vôo, em seguida eu mando um flash sabe: “o avião tinha

200 passageiros a bordo e 8 tripulantes, ai eu notícia sobre mortos e feridos. A gente vai atualizando, ou seja, isso, na mesma medida que eu vou atualizando o editor de um fato novo, eu to suplementando a pauta consolidada. Ou seja, que aconteceu aquilo e que eu terei uma matéria consolidada mais tarde sobre aquele assunto. A gente se preocupa 439

muito com fazer isso com rapidez que é pra facilitar o trabalho de edição do jornal. A gente sabe como é complexo o trabalho de edição e como hoje em dia o rigor industrial, os horários impostos pela área industrial, complicam o fechamento de uma edição.

Então o nosso norte é trabalhar com muita agilidade, prover a informação o mais rápido possível. Agora você me perguntou também sobre como nós editamos esse material, o que entra e o que não entra.

No sentido de dois pontos: No sentido de um serviço direcionado por uma agência de notícia.

Por exemplo, pra um cliente da área de finanças, é uma informação que ela tem um tratamento jornalístico, mas que ela não tem um tratamento às vezes de publicização. Eu to dizendo nesse sentido. Um mesmo evento, ele tem tratamentos diferentes dependendo pra qual serviço a notícia está sendo deflagrada?

Certamente. Isso é um conceito antigo nosso. A gente trabalha com uma matéria bruta.

Imagine um texto. A broadcast, os serviços de informação rápida, eu aproveito aquilo que leva pro noticiário do jornal. O outro filé é aproveitado pelo Estado e pelo Jornal da

Tarde. Na verdade a informação é uma só. Subiu o salário mínimo. Isso é apresentado de uma maneira pro mercado financeiro. Pros produtos que atendem são voltados pro público final. O meu serviço não é voltado pro público final. Os produtos do meu cliente são voltados pro público final e eu apresento pro meu cliente de uma outra maneira.

Algumas informações, evidentemente, elas são tão... Como eu posso te dizer... A importância delas, o impacto delas muitas vezes é tão óbvio que você não tem como apresenta de maneira diferente. Quando você apresenta o reajuste do salário mínimo pra um público que o marcado financeiro, ele pode mexer co as cotações nas ações da bolsa de valores. Mas pro lado de cá, de um jornal, a apresentação de uma notícia não é 440

um... A notícia do salário mínimo no jornal é uma notícia dirigida a quem ganha salário mínimo e a quem paga salário mínimo. Então é evidente que a notícia ela tem um olho diferente dependendo do produto que a usa. Agora sobre volume, o que eu tenho a dizer

é: nossos volumes de informações são muitas vezes exagerados.

Você trabalha numa faixa de quantas entradas por dia? Quantos textos, porque uma notícia pode ter uma ou cinco entradas. Como você falou ai naquela da queda do avião.

O noticiário nacional nosso, que o nosso maior, ele tem cerca de 230, 250 textos por dia nessas cinco editorias que eu te disse. Evidente que nem o Estado de São Paulo consegue publicar tudo isso. Certamente 40% desse material que a gente distribui não entra nem no Estado de São Paulo. Qual a razão e como você distribuir um volume tão grande de texto sabendo que gera do outro lado uma dificuldade de gente pra manipular aquilo? O problema é que nós somos uma agência de abrangência nacional. Eu tenho clientes tanto em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, como em Macapá. Uma notícia como um jogo entre Grêmio e Internacional em Porto Alegre é de interesse do jornal de Santa

Catarina. Eu tenho que cobrir esse jogo, distribuir 30 linhas sobre esse jogo, porque o jornal de Santa Maria vai publicar. É muito provável que o jornal de Macapá não vá dar nada sobre esse jogo porque o futebol do Rio Grande do Sul não vale nada pra eles.

Um jornal do interior de São Paulo só vai dar o resultado do jogo do placar de lá. Mas eu tenho que fazer isso...

Dentro dessa relação de como se encaixam nos serviços, como fica a relação com os órgãos do mesmo grupo de o Estado? Tanto no sentido da apuração, ou seja, como se dá o aproveitamento do conteúdo gerido a partir do Estadão, se esse material é retrabalhado, e 441

como se dá no caso a distribuição de material pro Estadão? A agência trabalha com um conteúdo diferenciado ou é todo mundo ao mesmo tempo e as duas coisas juntas? Não tem um critério diferenciado em função da clientela interna, digamos assim...

Nós temos o comando editorial do grupo é único, o Sandro Maia é diretor editorial do

Grupo Estado e também diretor de redação do jornal Estado de São Paulo. Como é que a gente trabalha do ponto de vista operacional? Nós temos um banco de dados único onde entram todos os textos produzidos por jornalistas do grupo Estado. Cada um vai lá e faz uma cópia desse texto e faz uma matéria, por exemplo, sobre a inflação. Cada um usa da maneira que for mais pertinente. Então muitas vezes eu faço a fusão esse material com uma outra entrevista que também está no banco de dados dada por um economista comentando isso tudo. O Jornal da Tarde não se interessa por essas entrevistas, ele usa a matéria. O Estado não, pega o repórter ali e amplia ali. Cada um dá o seu tratamento ao material desse banco de dados.

Me diga uma coisa: como está a cultura na redação de usar essa base de dados como forma de recuperação ou referenciação de notícias? Tem aquela coisa de “vamo olhar no banco de dados ver isso, recuperar isso”?

Isso é o lance da pauta né?! Veja, o Grupo Estado é privilegiado. Nós temos seguramente o maior e mais importante banco de dados histórico desse país. Não sei se você teve a oportunidade de ver agora o caderno que a gente fez no domingo passado sobre os 60 anos da rearticulação alemã? Sabe, isso pra gente é muito fácil fazer. Nós tivemos correspondentes na primeira guerra. Na segunda guerra a mesma coisa. É muito fácil fazer isso por causa da história do jornal. É um jornal secular. Até por isso 442

há o aproveitamento do material que a gente tem no banco de dados mas é uma recuperação parcial...

O banco automatizava até que ano...

Não, a gente... Isso é uma coisa complicada. A gente já estudou... O New York Times fez recentemente a digitalização de todo a sua história. A gente trouxe as pessoas que fizeram isso pra cá pra fazer um estudo do nosso banco de dados, mas isso é uma coisa de alguns milhões de dólares. É quase impraticável agora fazer isso O nosso banco de dados está em meio digital desde 1990, que é uma coisa ínfima em relação ao tamanho do jornal. O jornal foi criado no século XIX né?! Então é muito pouco. Mas ele em papel

é relativamente bem organizado. Você consegue achar as coisas. Você tem índices remissivos dos arquivos velhos. Facilita muito o trabalho de quem ta manuseando.

Ontem quando eu tava fazendo a entrevista com a Inês eu me lembrei do bate-papo com a

Renata Aguiar, que é gerente de conteúdo. Ela é gerente de produtos de mídia. E ela me falou de um processo de rearticulação que ta tendo em função da própria escala de produção da empresa que ta procurando um caminho mais profissional, saindo mais do escopo do ponto de vista familiar. Sobre o ponto de vista tecnológico, nesse reestruturação você ta percebendo algum incremento, alguma mudança de rumo? Como é que você está vendo esses desdobramentos aqui dentro da agência?

O que está acontecendo na empresa de três anos pra cá é que ela ta deixando de ser uma empresa familiar pra adquirir uma gestão profissional. É uma passagem pro esquema profissional de governança. É evidente que quando a família deixa o negócio e executivos passam a gerir, você perde um pouco do patrimônio que existia, os métodos mudam. 443

Mas é um processo que acontece em qualquer empresa que você analisou. De qualquer setor, a não ser da área comercial.

Agora na prática jornalística, ontem nesse período aqui a tarde o Mário me mostrou que o pacote nacional, com aquelas editorias, ta sendo elaborado um nacional compacto, que seria assim um pacote mais reduzido justamente pra esses pequenos jornais...

Ele não ta sendo elaborado, ele já existe esse pacote. Como eu te disse...

Quais são so critérios de filtragem, além simplesmente do aporte do cliente completo e o pacote compacto, mas do lado de cá, quais são os critérios de noticiabilidade que se tem para direcionar essa compactação?

Eu participei de um seminário de uma associação que reúne alguns jornais do estado de

São Paulo e eu percebi que a grife Agência Estado era associada a produto caro. É como falar num Audi, se fosse carro. Ai as pessoas falavam assim: porra, ta caro o material.

Mas e se fosse barato? Deixa eu ver o que você pensa. “Se você barato era muita coisa pra mim, eu não tenho gente pra mexer nisso tudo”. E se a gente pré-editasse essas matérias, se a gente mexesse nessas matérias e vendesse mais barato e você mandasse as melhores coisas que acontecessem num dia. “Ah, ai bem melhor”. Isso numa conversa informal. O noticiário compacto o que é que ele tem: As dez noticias mais importantes de esportes, economia, política, internacional e dia-a-dia. Isso permite ao cara a fazer uma página do jornal com fotos. É só escolher. Ao invés de receber 120 matérias de economia por dia, ele recebe 10. Quais são essas dez? As dez mais importantes do dia. A inflação, a reunião do Copon, o Henrique Meireles sendo investigado pelo STF, isso 444

tudo. O preço é evidentemente menor. Não é um produto que entre na pauta de um grande jornal. Nós só vendemos pra jornais que tem tiragem de até cinco mil exemplares. Não existe uma grande equipe de jornalistas...

A plataforma, por exemplo, do Brasil Full, que é o seu geral, ela pode estar presente no broadcasting, no i-midia?

Você ta falando de produtos. Plataforma é o meio por onde a informação circula. Quais são as nossas plataformas? Hoje são só duas: Internet e satélite.

E broadcasting.

Isso não é uma plataforma. Broadcasting não usa satélite. Broadcasting usa onda de rádio. Imagine a revista Super Interessante e a TV Globo, o Jornal Nacional, são dois produtos circulando em plataformas diferentes. Papel e mídia eletrônica. Então é assim oh: o noticiário nacional é um produto dirigido apenas aos jornais só vendendo e distribuindo para jornais. Nenhum tipo de... Eu não vendo esse produto pra site. Eu não vendo esse produto pra clientes da broadcast. Eu não vendo esse produto para Intranets.

Ele é um produto concebido e formatado para jornais.

A questão da formatação de material pra jornais é pra não ser furado por uma edição no dia seguinte?

Também. Eu não posso vender esse produto pra sites de internet por quê? O site da

Internet vai dar hoje e o Estadão amanhã. Agora quais são as nossas plataformas? 445

Como é que a gente envia? A gente tem o satélite, eu envio e o cara pega o sinal, desce na antena parabólica, cai no computador dele e dentro da rede de edição dele.

Depois eu queria saber só pra ter uma idéia, uma visão, porque pra que produtos tem uma determinada...

Isso é fácil.

Essa dicotomia se arruma num modelo de informações?

Isso eu arrumo uma pessoa que te explique. A própria Inês sabe como é transmitido cada serviço. Então as nossas plataformas são essas satélite e Internet. Estamos percebendo uma migração muito grande para o satélite combinado com a Internet. Mas os grandes jornais estão usando a Internet como backup. Eles usam mais o satélite. O satélite caiu ai usa a Internet. Ai você tem Correio Braziliense, Estado de Minas...

Eu estive em Brasília no mês passado, há três semanas atrás e vi a operação da Agência

Brasil. Eu analiso três casos, a Agência Brasil, vocês e a Reuters. Inclusive a Agência Brasil trabalha com uma informação pública. É uma noção de informação que surgiu depois da

Segunda Guerra Mundial e... Eles viram º.. Que aconteceu na Alemanha Nazista, que todo o aparato da propaganda de Estado e do governo inglês e era um modelo de informação a princípio estatal e que se pulverizou e que hoje em dia talvez o grande desafio seja descolar isso da idéia de agência chapa branca...

446

A Agência Brasil eu acho que extrapola a questão da informação pública. Eu acho que eles chegam a fazer coisas absurdas né?! Eu já vi entrevista com o Felipão quando ele era técnico da seleção brasileira. Isso não é papel de uma agência pública. Ela ta ali pra noticiar informação...

De interesse do Estado. Estado, comunidade e governo.

Ela hoje impede o trabalho da... É uma coisa muito complicada. Você pega, por exemplo, uma solenidade, Lula vai receber no gabinete dele o rei Juan Carlo, só o fotógrafo da Agência Brasil que entra. E isso é exibido pra todo mundo sem nenhum custo. É lógico que isso, em certa medida, afeta o nosso negócio. Mas o maior problema que eu vejo nisso é que você só tem uma versão da informação. Você chegou a ver uma foto do Serra tomando vacina contra a gripe?

Não. Mas eu tava lá em Brasília quando a Condoleza tava lá e chiadeira foi geral.

Pois é. Ou seja, se a Condoleza escorrega e cai sentada, que é uma foto que daria a capa de qualquer jornal do mundo, aqui no Brasil a gente não teria acesso a essa foto porque a Raiobrás, a Agencia Brasil não distribuiria essa foto. Ela só distribuiria a foto da

Condoleza sentadinha. Esse é que é o problema que a gente encontra. A gente divagou um pouco né?! A gente tava falando sobre plataforma...

Eu queria, na verdade foi erro meu porque quando eu estava lá... Numa outra etapa da pesquisa Eduardo, eu to visitando os jornais nas cidades aonde eu vou pr ver como eles usam nos jornais o conteúdo das agências. Como é que chega, como é que usa como é o critério de 447

consolidar esse material... Eu fui no Correio Brasilienses e vi lá o layout de como chega o material de vocês. Ele chega, vai pra um setor, ai prepara um diretório de links, e dali vai pra editoria e o acesso é livre e quando você usa já dispara o target lá dizendo olha esse material já ta sendo usado em tal editoria e quem liberou esse material foi o jornalista x. Quer dizer, se você quer usar esse material, procura essa pessoa pra te responder se você pode reutilizar. E a coisa que eu perguntei por que o satélite e por eu a web. Ai ele disse assim: porque existem

áreas de sombra. E porque é raro acontecer áreas de sombra simultâneas nessas duas plataformas, mas acontece ou numa ou noutra. Cada vez mais a web funciona mais confiável nesse sentido. A questão da intermitência, ou seja, você tem conteúdos, serviços, produtos e plataformas. Tudo bem, nesse conjunto ai você tem essa escala de eventos internos. Existem conteúdos que são favorecidos ou não para terem uma atualização mais rápida? Em função do serviço, por exemplo o conteúdo de economia ter prioridade...

Olha, evidente que por conta dos nossos serviços de tempo real, a gente tem grupos de repórteres preparados pra passar a notícia com a maior velocidade possível pra cá por causa de (...) principalmente por causa das informações econômicas e políticas que possam influir no mercado financeiro. Então um repórter nosso ta acompanhando uma coletiva do Banco Central, com o Henrique Meireles que vai anunciar os juros. Ele dá um flash: Henrique Meireles acaba de chegar pra coletiva. Nós mandamos pro nosso cliente, o seja, fica espero, vão sair os juros. Ele soltou os juros, saiu: juro subiu meio por cento, vai pra 18,50. Cai, é um stress. É uma linha de informação. Eu não solto assim. Essa é diferença, eu reúno informações que me permitam escrever um texto básico. Por exemplo, Banco Central, Henrique Meireles acaba de anunciar a nova taxa de juros que vigora pros próximos 50 dias. Será de 18,50%, o que significa um acréscimo de meio ponto percentual em relação à taxa anterior. Ai precisa de 448

velocidade. Porque uma informação dessa, no mercado financeiro, o cara que usa é o operador de mesa. Ele pode ganhar ou perder milhões...

Em dois ou três minutos de delay...

Se ele tiver a informação mais cedo.

Então é um critério de priorização não só pelo critério de notícia do evento.

Pelo serviço. Eu recebo essa informação também. A mesma informação que vai pro banco de dados eu... Tendo conhecimento dessa informação, você pode ir, no caso nosso, já ir buscando fontes pra repercutir o caso do juro. Ou seja, já avançar em relação à informação que vai sair daqui a pouco, mas essa informação vai sair em forma de notícia.

Eu vou pegar o caso que você ta falando. A reunião do Copon sobre juros é mais ou menos uma bola cantada. Você sabe possíveis variações que podem dar daquela reunião. Como é que vocês trabalham conciliando agilidade e embargo pelas assessorias de ministérios? Porque quando chega numa reunião dessa, com todos os repórteres, já ta o papelzinho... olha, embargue porque a reunião vai acontecer e a coisa pode mudar. Como é que vocês ficam atentos...

Não tem embargo a esse tipo de informação. Existe embargo no discurso do Lula, mas isso é uma coisa que acontece... O presidente no encerramento da cúpula com os países

árabes, o editor de broadcast vai acompanhando e se ele fala alguma coisa importante ele produz o flash dali mesmo. A broadcast não vai dar na integra, até porque nós 449

respeitamos o embargo. Eu posso distribuir o texto indagado. Esse é o pronunciamento do Lula, lembramos que ele está embargado até o final do pronunciamento público. Ou seja, um cara que vai colocar num site, eles vão ver no site antes de autorizar. E os nossos clientes respeitam o embargo, como é feito no mundo todo.

Acordo de cavalheiros...

A Folha de vez em quando não respeita alguns embargos. Ela quebrou um embargo recente ai que era um embargo da ONU no Brasil. Mas também não vem ao caso...

E em relação às agências internacionais que vocês têm, vocês têm quais?

Eu tenho o noticiário internacional que é feito em parceria com a EFE (Fê???). A gente recebe todo o material da EFE, edita esse material, ou seja, eu escolho o que eu vou mandar pro meu cliente de acordo com aquele evento, aquele fato para o Brasil, com o foco no Brasil e ai traduzo.

Ta certo. E no sentido contrário? Vocês fornecem conteúdo a respeito desses serviços do

Brasil pra quem?

A própria AP assina o noticiário nacional nosso e produz matéria para os assinantes dela no mundo todo a partir do noticiário nosso. O crédito é segundo informou hoje a

Agência Estado.

450

Tem algumas perguntas que eu queria fazer a vocês com respeito à editoria de fotografia que tem alguns diferenciais...

Ai é bom você conversar com a Mônica.

Eu vou conversar com ela.

Isso.

Olha eu só tenho a te agradecer. Queria que você mostrasse um pouco a dinâmica como é...

Você quer que eu te mostre, te explique um pouquinho o serviço?

Pode ser.

Me pareceu que você está um pouco confuso entre produto e plataforma.

Não, é bom explicar porque de qualquer maneira...

Veja, isso aqui são produtos que nós temos. Nós vendemos todos esses, cada um desses é um produto. A broadcast é um produto de informação financeira em tempo real. Então quem são os clientes? São bancos, operadores de bolsa de valores, gente de mercado financeiro. O cara fica sabendo que a Petrobrás descobriu um Poço gigante de petróleo na bacia de Campos. Ele ter esse informação um minuto antes de todos os outros operadores... 451

Ele compra ação da Petrobrás...

E ai você já viu o que acontece né?! Então esse é o propósito do broadcast. Ele é uma ferramenta de trabalho pra quem opera na bolsa, pra quem trabalha no mercado financeiro.

Pergunta: vamos trabalhar com três categorias então. Conteúdo, que é o que é gerado, produto e plataforma.

Veja, nós somos geradores, uma empresa de conteúdo. O que nós produzimos aqui de informação. Plataforma a gente descobre. Nós já vedemos aqui informação por fax. Se algum dia alguém disser que tampinha de garrafa de água é um lugar pra botar informação que vai dar dinheiro, nós vamos dar um jeito de produzir informação formatada pra... O nosso negócio é produzir informações e usar plataformas disponíveis pra levar essa informação até o consumidor.

Vamos dizer um conteúdo. Vamos supor: o poço de petróleo da Petrobrás. Esse conteúdo ele pode ser deflagrado aqui no broadcast, no financeiro...

Sim, de várias maneiras. A broadcast vai dar cinco linhas sobre isso. Ela vai dar primeiro: Petrobrás acaba da anunciar poço gigante na bacia de Campos. Ai ela manda outra linha: poço da Petrobrás é o maior do mundo. Tem tantos metros cúbicos de gás.

Ai ela fala: diretor de operações da Petrobrás vai dar entrevista em cinco minutos. Ai ela vai dando um conjunto de flashes, uns maiores e outros menores, de maneira que o 452

cara que ta do lado pode ter todas as informações sobre aquilo. Eu vou pegar essa matéria. Eu vou transformar isso num texto para publicação em jornal. É um outros formato das mesmas informações.

Então o critério não é de automação de multi plataforma onde o conteúdo chega e é diferenciado. Esse conteúdo chega e ele é retrabalhado, consolidado de acordo com o tema.

De acordo com o tema. De acordo com o mercado para o qual ele vai ser oferecido.

OK. Ta claro.

O financeiro é um produto muito parecido com o broadcast, só que em Internet. Qual que é a diferença entre ele e o broadcast? É dinheiro. Ele é mais barato. O broadcast você recebe no mesmo momento porque se o Lula está dando uma entrevista, se o

Henrique Meireles está dando uma entrevista, pra falar o juro ta subindo meio por cento, vai ter um repórter aqui ouvindo, um editor aqui ouvindo pra falar... O juro subiu meio por cento, pegou e mandou. Ou seja, quinze segundos depois de o Henrique

Meireles ter dito que o juro tinha subido meio por cento o pessoal soube. Aqui não. No financeiro não. Ele vai saber 15 ou 20 minutos depois.

Então a cereja do bolo da Agência Estado é a broadcast?

Pro mercado financeiro sim. Veja, a cereja depende do caso que eu possa estar falando.

Pros jornais não, você percebe?! É como eu te disse, nós somos uma empresa de informação. A cereja no nosso bolo é a informação que a gente precisa. A informação 453

que a gente precisa produzir e pra quem. A cereja no nosso bolo, na verdade, não é nossa. É de quem precisa. Ele vem buscar...

Sem querer eu posso dizer que... Eu posso desligar o gravador pra essa informação. É o serviço mais caro da agência, o broadcast?

Ô rapaz, eu não sei te informar isso. Isso você teria que ver na área comercial. Preços eu realmente não sei. Eu sei por alto os preços do meu serviço. Bom, o AE Brasil é um noticiário em inglês sobre a economia brasileira. É montado pra investidores que estão no exterior e que investem em títulos e bônus da dívida externa brasileira. Esse que é o propósito. É fazer um acompanhamento da economia brasileira...

Pra web também?

Esse é web também.

O agro?

Agro. É Agrobuisiness. É um serviço de economia em tempo real, de agronegócio e de tudo que está no entorno do agronegócio. Ele é voltado pra traders, pra gente que trabalha com o mercado de soja, café, milho, essas coisas.

Notícias também, por exemplo, de...

Tecnologia, transgenia... Sim, sim, sim. Tudo isso é aqui. 454

Como é a preparação do seu corpo de repórteres para cobrir essas áreas?

Ai é gente altamente especializada porque cada produto desse aqui por exemplo tem pessoa própria.

Ah ta. Mas é formado dentro da cultura da empresa? Vocês catam no mercado, vocês fazem um headhunting dessas pessoas?

Não. São profissionais que já atuam na área. Você tem no mercado jornalistas especializados. E depois eles são treinados aqui quando vêm de fora. Ai nós temos o setorial que é um serviço desse mesmo tipo do agronegócio só que voltado pra o mercado corporativo, ou seja, pra empresas. Todas as informações quede alguma maneira interessas à empresa sabe?! A discussão da MP 232, redução de PIS...

Economia, política...

Exatamente. Os papers. A gente tem essa linha de papers nossa e ela é chamada de papers ainda hoje porque ela nasceu com o fax. Na época o fax era uma plataforma. A gente fazia uma clipagem dos principais jornais do Brasil do dia. Então pegada o

Estado, a Folha, o Grobo, o Jornal do Brasil e fazíamos um clipping com as principais notícias desses quatro jornais. Isso era feito de madrugada. Ainda é feito de madrugada.

De manhãzinha, cinco da manhã, é só passar o fax. Quando o cara chegava lá no escritório, tava lá o fax. Ou seja, era um serviço que antigamente era feito pelas assessorias de imprensa das empresas. Nós passamos a fazer isso. Hoje logicamente que 455

ele é feito por e-mail. É um serviço que a plataforma mudou. Virou digital. A mídia que eu já te expliquei como é que é, o nosso produto é voltado pra jornais, embora a gente tenha emissoras de rádio e televisão que assinam, ele é voltado pra jornais.

Comunicação empresarial...

O comunicação empresarial é um produto que é feito pela Dani. Ele faz um acompanhamento do desempenho de todas as companhias abertas de estado... É uma ferramenta da trabalho pra quem trabalha no mercado financeiro. Então o cara fica sabendo: ali oh, o balanço da SPFL, ela deu lucro de tanto, pa, pa, pa, pa, pa, pa. A Vale do Rio Doce vai fazer uma captação no exterior de tantos milhões pra fazer isso, isso e isso. Embraer anunciou a venda de 12 aviões pra não sei onde. O cara vai trabalhando com essa massa de informações de companhias que são abertas. Compra, vende. A fotografia é u serviço que ta muito associado ao nosso, embora ela tenha um espectro maior. Nós vendemos também imagens pra editoras, pra livros, pra exposições de foto, enfim pra qualquer tipo de uso. Pra agência de publicidade. Mas o maior apelo nosso, o maior uso do nosso acervo fotográfico é nos jornais que são assinantes nossos. Aqui oh, é o seguinte: ele reuniu aqui um conteúdo. Outros dois produtos que a gente tem são o AE

Noticiário e o Short Message.

Certo. Pra celular e...

É. A gente produz informação para celulares, o short message, os pay-per-views né?! E temos um noticiário que é produzido para a Internet. Se você tem um site e quer colocar informação no seu site, informação do dia, nós vendemos pra você. Economia, política, 456

variedades, esporte. Você recebe lá dez notas de casa editoria por dia e tem informações de coisas que aconteceram no Brasil e no mundo.

Data?

É o nosso arquivo.

A base de dados né?!

É o nosso arquivo.

Bom, falamos quase cinqüenta minutos.

457

Entrevista com Flávio Diegues, chefe da Agência Brasil em Brasília

Você pode me dizer um pouco qual a dinâmica da Agência Brasil no sentido da cobertura do governo e quais são os pontos de priorização que vocês têm no dia-a-dia?

Aqui a gente trabalha com uma idéia que é manter o foco no cidadão pra que a gente não fique circunscrito somente à área do governo Estado, que seriam as áreas digamos assim precípuas de uma agência oficial. Por estatuto, nós pertencemos ao Tesouro nacional. É uma sociedade anônima com um único sócio, que é o Tesouro Nacional, e a nossa função é dar vasão à divulgação do governo, mas o nosso objetivo é ir além da divulgação. Nós fazemos jornalismo. E a gente encara o nosso trabalho como uma cobertura jornalística dos atos do governo. Nós mantemos o governo como nosso foco principal... O Estado e a cidadania, o que a gente chama de cidadania, que dizer... As ações da sociedade civil, os movimentos populares e manifestações espontâneas da sociedade que visem à questão da cidadania em todos os aspectos, encarando, como o próprio governo encara, que desenvolvimento econômico e desenvolvimento social são coisas complementares. Você não pode ter um sem ter o outro. O governo trabalha, sempre que é possível, dentro dessa perspectiva. Então a gente procura o que a gente chama de tangenciamento das ações da cidadania com as ações do governo. Ai a gente fica dentro da nossa área de cobertura. A nossa dinâmica é ditada muito pelo governo porque o governo ta aqui na nossa cara. O movimento social, o movimento da sociedade civil, ele não ta a nossa porta como está o governo. Então o governo tem uma participação hoje da ordem de 60% da nossa cobertura. Talvez chegue a isso. É claro que ai, dentro dessas ações do governo, tem, por exemplo: “vamo lá ver a reserva Raposa Serra do

Sol. Evidentemente os movimentos populares estão presentes. Então a gente cobre o movimento popular e social um pouco a partir da cobertura do governo também. Mesmo 458

assim, se você pegar matéria por matéria você vai ver que não tem metade da nossa cobertura.

O ideal não é ficar só nisso. O ideal é aumentar mais a mensagem da sociedade civil, dos movimentos sociais. Bom, agora isso é difícil porque a nossa dinâmica, como você ta colocando, é muito colocada pelo governo. Então, são 37 ministros, 35 ministros. Tem ministério, tem secretário. E a gente cobre praticamente tudo. Então qualquer ação do governo a gente está em cima. Do governo federal. Isso nos dá uma cobertura de uma boa... Existe procura pelo material que nós produzimos porque a gente chega na frente nessa área que é de interesse de todo mundo, que é o Governo. Então nós temos uma boa reprodução, embora...

Eu fiz uma conta recente, um dado que não merece muita confiança, mas que não deve fugi muito disso, que há 10 mil máquinas que se ligam à Agência Brasil. Qualquer blog tem um acesso dessa ordem...

Mas vocês têm algum dado, alguma coisa quantificada precisa, sobre quem usa especificamente vocês?

Precisa não. Eu tenho algumas informações que eu posso te dar. Eu tenho um levantamento e o que se observa é o seguinte. A capilaridade, o alcance da nossa cobertura é muito grande porque quem entra no meu site são outras publicações que reproduzem as nossas informações e muitas dão crédito. Eu fiz uma busca só com quem deu crédito —eu não tinha um programa capaz de identificar as nossas matérias sem crédito— e você pega assim... Não tem nenhuma cidade do país que não tenha algum veículo reproduzindo a nossa matéria. Eu entrei no

Infolink. O Infolink é um servidor que ele alinha... A única coisa que ele faz é copiar a notícia dos outros. Pra você ter uma idéia do que isso significa, a Folha, por exemplo, O Estadão... O

Estadão dá uma média de 40 a 50 notícias por dia. A Folha dá um pouco mais, 80. Nós damos

100. O Infolink nesse dia tava com 399 notícias. Dessas 399, 22% eram de notícias da 459

Agência Brasil. Então o nosso alcance é muito grande. A gente chega em lugares onde nenhuma outra agência chega. Em Roraima. A nossa força vem daí.

O caminho contrário dessas informações, ou seja, vocês têm uma capilaridade de penetração efetiva, como você falou, significativa. E como é o caminho de apuração disso? Porque você cobre as instâncias do governo e, como você mesmo falou, isso não significa cobrir apenas Brasília. Quais são as estratégias que vocês usam pra ter essa capilaridade no sentido contrário? Como é que vocês estabelecem essa dinâmica de prospecção?

Nós temos sucursais em São Paulo e Rio de Janeiro. Nós temos correspondentes em Porto

Alegre, Curitiba, Recife, Fortaleza, São Luiz do Maranhão e Macapá. E agora acabamos de abrir uma sucursal em Manaus e estamos trabalhando na abertura de uma outra sucursal no

Piauí. A gente faz cobertura de rádio e o rádio te dá um retorno, em termos de... Quer dizer, pra encurtar a conversa, a nossa busca por informação regionalizada é frágil. Na verdade o nosso interesse é aumentar. E temos trabalhado pra aumentar isso. O rádio nos serve um pouco nesse sentido, por exemplo, a Rádio Nacional da Amazônia é uma rádio que é vista assim como... O pessoal da Rádio Amazônia tem uma certa familiaridade com esse pessoal e eles nos retransmitem muita informação relevante, o que nos permite ir aos Estados sem ir aos

Estados porque nós não temos dinheiro pra viajar. A gente só viaja quando o governo viaja, mesmo assim precisa ver se não tem diária, algum custo. É barato, mas... Mesmo quando o governo nos oferece o transporte, ou algum ministério, pra nós é complicado viajar. Mas a gente tem esse retorno via rádios. Esse é um fator importante que se deve levar em consideração porque as rádios tão crescendo bastante. Essa sucursal lá na Amazônia é basicamente voltada para a Rádio Nacional da Amazônia. E o objetivo é regionalizar a 460

informação que nós temos e que o pessoal da Amazônia nos propicie notícias, que eles escrevam as notícias deles. É claro que tem o crivo da nossa pauta e tal, mas a idéia é que, nesse modelo de gestão que foi adotado —é um modelo de gestão que tem uma parceria entre o banco Basa, com dinheiro, mas também com algum aporte tecnológico; as universidades, uma série de universidades que nos fornecem alunos que se dispõem a produzir notícias dentro desse modelo, eles também participam da gestão administrativa do negócio. Essa parceria tem um modelo de gestão participativa. Você tem palpite de todo mundo nessa gestão, não é uma coisa centralizada, dependente. Isso pode ter um potencial importante.

A preparação desse material segue um modelo espelhado em modelos de editorias ou ela segue um modelo espelhado em modelos de serviços, ou seja, as informações, determinadas naturezas de informações, são canalizadas pra determinados serviços?

A gente trabalha em cima de um tratamento jornalístico. Agora, tem uns serviços também, principalmente em “A Voz do Brasil”. “A Voz do Brasil” dá muito recado do governo em casos típicos de serviço. Que é: começa a vacinação dos idosos, restituição do dinheiro da receita federal... Enfim, uma série de avisos pra população que são característicos de serviços.

Mesmo assim a gente dá um tratamento jornalístico, a gente procura dar um tratamento jornalístico. É a nossa base... Quer dizer, a nossa idéia é que a gente não seja simplesmente uma fonte de divulgação de atos do governo, mas de apuração. Nós apuramos. Todas as informações que o governo propicia são apuradas num modelo jornalístico. Porque o padrão que a Radiobrás teve durante muito tempo... Eu não sei dizer pra você, eu não sou estudioso da Radiobrás, mas o que a gente pode apreender com as informações disponíveis, é que a

Radiobrás, de uma maneira muito forte, atuou como um olheiro de divulgação de atos do governo. Então tinha muito release, pra você ter uma idéia. Nós fomos eliminando os releases 461

se possível totalmente. É que é impossível, muito difícil você eliminar totalmente, mas nós estamos trabalhando pra eliminar ao máximo. Já não damos mais nenhum release sem apuração. Quer dizer, o release chega do ministério, ele não é publicado como ele está. Há uma checagem mínima, tipo assim, essas informações estão corretas? Quem se responsabiliza por isso?

E como tem sido essa transição, aliás... de tentar estabelecer, manter uma função de formação pública, porém, ao mesmo tempo, tentar dar um tratamento que não fica parecendo que a informação é “chapa branca”. Ou seja, uma informação pública no sentido de que ela a todos pertence até porque ela está sendo produzida pelo poder público e pelo dinheiro público. Então, quais seriam os crivos, quais seriam os critérios de você trabalhar com a informação pública e não ser estatal, o que seria um grande desafio.

O principal critério é trabalhar jornalisticamente. É o critério mais amplo. Porque as características da informação jornalística pressupõem certas ações, certos métodos que excluem a possibilidade de você atuar de maneira “chapa branca”, de maneira oficial, digamos assim. Você tem apuração, você tem objetividade na informação, você tem a necessidade de ouvir o outro lado, a preocupação principalmente de não... Existe um receio muito grande, entre os profissionais da casa, quando nós assumimos ai, de falar mal do governo. Então se alguém lá em São Paulo fala que o governo é ruim, o repórter fica com medo de dar. Então isso é uma batalha que agente está levando. O nosso critério é um critério jornalístico, portanto temos que ser objetivos. Você toma muito cuidado para não transmitir recado, pra você não comprar informação da fonte sem querer. Pra você não se policiar de alguma maneira pra não dar determinadas informações. Isso tudo evidentemente não é uma 462

coisa fácil de fazer. Muito difícil porque, embora o governo tenha interesse que essa seja a característica do governo, e o Ministro se pronunciou recentemente muito claramente a nosso respeito, nem todos os setores do governo compreendem. Tem muita gente que liga pra cá e fala: “Ah, mas vocês são do governo. Então como é que vocês não vão dar a informação do jeito que a gente quer?” E ai é uma conversa que você tem que ter e explicar que nós temos o maior interesse em divulgar as ações do governo, evidentemente, é a nossa missão, mas nós temos um método, nós temos um tripé onde o que vale e o método jornalístico. Então não dá pra um ministro me convidar pra ir fazer uma cobertura e ele determinar a pauta, o que eu devo cobrir e o que eu não devo. Nessa batalha a gente tem avançado bastante, agora existe um resíduo dessa situação que é o que a gente ta com mais dificuldade de eliminar que é o seguinte. Um dia veio uma moça fazer um trabalho aqui recentemente e ela me chamou a atenção para isso. É aquilo que eu já coloquei pra você que é que o governo domina um pouco a pauta e muitas vezes é muito difícil. Por exemplo: intervenção do Ministério da Saúde no

Rio de Janeiro. De cada 10 notícias que nós demos de lá, sete eram do governo falando. Quer dizer, no fim quando você põe na balança e pesa, você vai ver que você foi parcial pro governo simplesmente pelo fato de você... Pelo volume. Puramente volume. Por mais sério que tenha sido a apuração e tal, quem tava falando né?! Isso é muito mais difícil de resolver porque envolve uma questão econômica. É preciso ficar claro que a gente não é independente do governo economicamente. A BBC é.

A BBC tem uma administração pública porém não estatal...

É. A propriedade não é estatal.

463

Vocês têm muito esse, como eu posso dizer... Esse conflito, esse choque com as assessorias ministeriais?

Tem. Como eu te disse, muitas assessorias não entendem que a Radiobrás possa fazer jornalismo. Há uma crença ainda importante de que... Essas informações são confidenciais.

Eu não queria falar isso em público porque você deve entender que essa é uma situação politicamente delicada. Tem gente que não entende e, na verdade, não quer entender. Ai é mais complicado. Isso existe e a gente tem trabalhado contra. Não é trabalhar contra porque no nosso caso não é uma questão de posição política. No nosso caso a questão é a seguinte, é muito simples. O presidente e a direção do governo acreditam que é importante você ter transparência na administração pública. Pra ele, pro governo é muito mais interessante que...

Você pega um caso, por exemplo, Reforma Agrária. O MPA. Eles precisavam de um release, soltar um release, queriam divulgação para uma ação qualquer do Ministério. Eu não sei qual era, não me lembro. E a repórter que tava de plantão naquela hora pegou aquele release e falou: “Vou botar na pauta. Não, mas a gente tem que dar isso agora”. Era mais importante.

Ai ela falou: “Mas a gente não tem ninguém pra cobrir isso, não, mas faz uma força e tal”. Ai sentou, pegou o release, confirmou os dados todos, reescreveu o release de uma forma jornalística e publicou. No dia seguinte, todos os jornais reproduziram a nossa notícia e ninguém reproduziu o release do Ministério. Ai o ministério ligou pra cá e disse: “Poxa, que coisa interessante, o que é que ouve?” Ai contaram. Todo mundo sabe o que ouve, todo jornalista sabe o que é um release e nenhum jornalista vai dar release. Agora, se ele pega uma matéria, se aquilo está jornalisticamente apresentável, se eles sentem, e no caso não era nem verdade que tivesse havido uma apuração muito consistente. E não é isso que queremos fazer.

Não é simplesmente apurar se as informações do release estão corretas. Nós queremos apurar se elas não só estão corretas do ponto de vista da fonte, mas se elas estão corretas do ponto de 464

vista da verdade, se aquilo que o Ministério está falando é fato ou não. Mas o impacto que isso tem sobre a imprensa é muito maior do que um release propriamente dito. Então, esse é o interesse do governo. É um governo que entende que a sociedade brasileira está suficientemente desenvolvida pra não aceitar propaganda como não sendo propaganda. Eu não acho que o governo não pode ter propaganda. O governo pode. Só não pode confundir propaganda com informação.

A questão desse volume de material que chega de fontes do governo e às vezes de outros

Estados, como você falou das sucursais e dos correspondentes. Como esses materiais são alocados? Por exemplo, existem editorias específicas na agência? Tipo assim, uma notícia de, vamos supor, de minas e energia que tenha uma iniciação específica, um interesse específico dentro de um determinado campo... Ou essas notícias são colocadas de maneira mais generalista ou elas são direcionadas para órgãos específicos, como é o direcionamento do material da agência?

Nós estamos passando por uma transição agora, por uma modificação importante e bastante difícil, que começou o ano passado, em março, há mais ou menos um ano atrás, nós extinguimos as editorias tradicionais. Economia, política, internacional... Nós excluímos a cobertura de cultura comercial, lançamento de disco, esportes. O esporte comercial, tipo

“Vasco e Flamengo estão jogando”, não é notícia para a Agência Brasil. E tentamos colocar em prática um modelo novo onde a gente fazia uma divisão do noticiário em termos assim, aquilo que é de interesse social, aquilo que tem interesse econômico e aquilo que é política. O plano de governo propicia esse tipo de separação. Você pensa, por exemplo, numa revista como “Cláudia”, ela não tem um setor de economia. Ela direciona a sua cobertura às áreas de interesse de seu público. No caso o nosso público vai ser o cidadão brasileiro, a gente tenta 465

enxergar aquilo que deve ser informado porque é importante para o cidadão brasileiro, porque

é importante para a formação da sua cidadania, porque é importante para a sua eventual luta pela cidadania, né, porque você sabe que é importante, que tem gente com uma cidadania um pouco menor e gente com uma cidadania um pouco maior. Eu nem digo infelizmente porque essa é a situação real da história, a história é assim. Você tem sempre gente entrando e saindo, o que se considera cidadania em cada momento, dependo muito da forma que o Estado tem, depende muito da linha política que o governo adota, e a gente procura acompanhar isso com a maior fidelidade possível. Agora, o plano do governo tem uma facilidade maior porque dentro do governo existe uma concepção de que economia e sociedade, desenvolvimento social e econômico são complementares. Quer dizer, você ta fazendo uma cisterna pra resolver o problema econômico de uma população no Nordeste e, ao mesmo tempo, você ta dando a eles condições de pleitear uma cidadania mais plena. Porque se o sujeito ta lá catando lixo pra sobreviver, evidentemente que ele é um cidadão, ele sequer tem condições de aspirar

à dignidade. É um camarada que ta excluído da dignidade, do respeito próprio. Então a gente tenta colocar e é muito difícil porque muitas ações que têm efeito claro dentro dessa questão da cidadania e com as questões de direito tal e direito tal, ela ta alocada, na verdade, dentro de planejamento porque se você rever as cadeiras produtivas do país, no sentido de incluir o trabalho de gente que pode, não é, mas pode vir a fazer parte de uma pauta de exportações, isso ta alocado no Ministério do planejamento mas tem evidentemente reflexos importantes sobre a questão da cidadania. Agora como você faz essa separação no dia-a-dia? É muito difícil, as ações vêm misturadas, o dado que o Ministério do Planejamento joga na nossa mão

é um dado que a princípio não tem informações suficientes pra você desvendar isso. Com a separação das editorias ficou um pouco complicado, nós estamos agora em um meio termo tentando achar uma solução pra esse impasse. O nosso objetivo é chegar numa divisão de editorias que fosse assim: cidadania; desenvolvimento, ao invés de economia pensar 466

desenvolvimento; e política onde a gente pensaria mais em torno de direitos públicos, o ideal republicano, uma coisa assim. Mas isso ta parado. Nós estamos passando agora por uma reforma muito grande, inclusive uma reforma tecnológica até um certo aspecto. Estamos passando pra Linux. Estamos trocando todo a cabeamento de modo que essa questão da rede vai se colocar mais presente pra nós porque por enquanto a gente tava meio que sobrevivendo nesse aspecto. Os nossos programas são todos programas feitos a mão, são precários, pesados, qualquer veleidade que você tenha ele cai. A rede cai, ela não suporta. Ela internamente fica lenta e pra fora ela cai. É o problema que a gente tem tido. Agora com o Linux você vê duas necessidades, por exemplo, manter um programa de antivírus muito pesado, no Linux chega muito vírus. Trocando o cabeamento você tem uma agilidade maior na rede interna e, em cima do Linux, a idéia é fazer programas novos de gerenciamento interno e externo de sistemas. Vamos dar uma pausa aqui...

Eu ia até te pedir um pra acompanhar...

Eu acho que a nossa equipe deve ser equivalente às maiores, ou até talvez seja a maior. A gente tem 23 repórteres, mais de 10 editores.

A cobertura é setorizada ou generalista?

Em que sentido?

Assim, o repórter cobre um determinado núcleo governamental ou não tem divisão?

467

Pois é, essa pergunta tem a ver com você estar preso ao governo. Nós queremos sair fora do setorial, mas é difícil porque alguém tem que estar lá na porta do ministério da fazenda, alguém tem que estar no Planalto porque não pode perder o Lula de jeito nenhum. Então é difícil. Nós temos confundido umas bolas porque estamos mexendo em algumas coisas. Essa equipe, apesar de grande, é uma equipe mal treinada. Ela não ta acostumada.

Por quê?

Eu não quero entrar em detalhe, mas é meio público. A gestão anterior não investiu muito e o pessoal... Tem gente que ta aqui há vinte, trinta anos, e se acostumou com um ritmo de trabalho que não pode ser... Sabe, se você pretende competir. Se você quer simplesmente fazer release do governo você ta com tudo bem. Então o grande esforço que a gente ta fazendo é o de treinar essa equipe, de dar condições competitivas pra ela, criar uma equipe que trabalhe a notícia da mesma maneira que a Folha, que o Estado, a Reuters.

Você falou ai da uniformidade do trabalho no sentido assim, do mesmo jeito que algumas agências trabalham, mas... Eu vou lhe falar um caso, que eu observei na minha pesquisa, e talvez eu queira falar sobre isso. A pergunta é assim: qual é o nível de relação que vocês têm com essas outras agências, o reaproveitamento de conteúdo?

Porque eu já vi notícias originárias da AgB entrarem em serviços, entrarem em outras agências, que eles citam as fontes né?! Mas entrar em serviços que são pagos. Eles pegam o material e colocam em pacotes que são pagos nessas agências. Qual a relação que vocês têm com relação a isso? Porque é uma utilização privada de uma informação pública. Isso causa algum tipo de impasse?

468

Não. Por enquanto não, mas eu acredito que isso deva fazer parte de um debate porque de fato acontece isso. A nossa informação é pública em todos os sentidos, ela é gratuita, pra todo mundo independente do uso que se está fazendo. Muita gente me liga aqui dizendo “olha, agora ficou fácil fazer jornal, não preciso nem mais de repórter”. Simplesmente porque o conteúdo é nosso, e provavelmente vende.

Eu já vi material em informe do serviço internacional da Agência Estado...

É.

Eles citam fontes do próprio governo brasileiro, a AgB.

É, eles usam direto né?! Às vezes nem mexem na matéria, ela vai na integra e tá no site do

Globo On line, que tem assinatura. Então isso realmente...

Você percebe o aproveitamento do conteúdo mais nessa sentido de ele entrar com vocês repassam ou sofrendo alguma recontextualização?

Tem dos dois tipos. Eu não saberia mapear, eu não teria como fazer uma avaliação até porque eu não tenho como rastrear as matérias que não têm nenhum tipo de crédito. Os grandes sites dão crédito. Mesmo quando eles mexem na matéria, no pé eles colocam “com Agência

Brasil”. A Folha On Line faz muito isso, então ai eu ainda tenho como rastrear. E o nosso sistema de buscas também não é bom né?! Eu tenho feito buscas via Google. É a maneira mais pobre de fazer. Nós estamos trabalhando agora um programinha que faça isso, uma busca bem feita. 469

Tem as duas coisas: matéria sem crédito e crédito sem matéria.

Como assim?

Outro dia um fazendeiro me ligou dizendo que tinha visto em sites de várias agências, inclusive o Terra, uma informação atribuída à Agência Brasil e que não parecia verdadeira porque prometia uma vacinação em massa do boi, do gado bovino do Mato Grosso do Sul no mês passado, e lá o mês de vacinação é maio. Então ele achou estranho, ficou preocupado e me ligou. Eu liguei pro Ministério e o Ministério me confirmou que não tinha dado essa notícia. Eu olhei no meu site e eu não tinha dado essa notícia. Mas essa notícia apareceu com o nosso crédito. A gente precisava talvez também checar isso né, porque você vai ficando com a sua credibilidade prejudicada quando aparecem notícias que nós não demos atribuídas a nós, na Internet você sabe que... Uma vez até aconteceu um dado interessante. Ta gravando?

Eu peguei na Internet, um sujeito teria feito um estudo que dizia que a mesma bitola usada numa nave espacial americana, não me lembro qual que era, acho que um ônibus espacial, que a origem dessa bitola era a bitola das carruagens romanas. Esse treco eu comecei a achar de monte. Eu achei numa página e depois comecei a procurar e achei um monte. Eu achei a história interessante e ai eu resolvi escrever sobre isso e procurei a fonte daquela informação.

Achei. Liguei pro cara e falei “olha, eu vi aqui na Internet o seu estudo, achei interessante...”

Ele falou “que estudo?”. E eu “o seu estudo sobre a bitola. Ele “eu nunca escrevi sobre bitola.

Olha o seu nome ta aqui. Ele falou “eu vou processar você” e eu falei “não, eu só achei na

Internet”.

470

Flávio, vocês aqui recebem material de outras agências?

Não, a gente não dá. Quer dizer, a gente tem dado... Agência Câmara a gente dá. A gente copia alguma coisa na íntegra. Ai tem TV Justiça, enfim, órgãos próximos do governo, vamos dizer assim. Ou diretamente de governo ou de alguma maneira ligados à administração, do legislativo... Mas na cobertura do Fórum Social Mundial nós colocamos links pra alguns fóruns que nós consideramos que tinham uma cobertura próxima da nossa. O critério que nós utilizamos na escolha desses sites era uma cobertura assídua, freqüente, regular das ações de imprensa no Fórum Social Mundial. E ai colocamos um link nesses sites. Teve no site do

MST, na própria TV Câmara, Carta Maior, alguns sites... E que não se importassem também

—nós fizemos um anúncio público— que não se importassem de suas matérias serem reproduzidas gratuitamente porque se tava entrando no nosso site passava a ser gratuito. Então quem aceitou a gente deu essa... Mas a gente não usa.

Vocês trabalham aqui com que plataforma de matéria de saída? Texto, rádio, que é pra

Radiobrás, e televisão. Mas na plataforma de texto a alimentação que vocês fornecem é contínua?

É contínua.

É contínua através do site?

É.

471

E as plataformas mais arcaicas, por exemplo, vocês ainda trabalham com emissão de telex, fax?

Nós cancelamos agora o último serviço. Era um serviço de agenda dos Ministérios que a gente fornecia de manhã. Era um produto, inclusive esse era vendido, e em parte eu acabei com ele porque ele era vendido, porque não faz sentido você vender... Pode até acontecer de a gente vendar, mas não é o caso isso ai de a gente querer vender. Nós vamos dar essas informações agora diretamente no site.

Quer dizer que as matérias de texto estão sendo concentradas na plataforma web né?!

É.

Certo. E as matérias de rádio, a própria Radiobrás.

A gente tem um produto agora, que vai começar a funcionar agora daqui a uns dias provavelmente, que é uma espécie de uma Newsletter que vai por e-mail. É a única coisa que a gente ta saindo fora da página.

E no rádio é basicamente a Radiobrás. E televisão?

A gente tem duas televisões, a NBR e a TV Nacional. Funciona tudo com o mesmo equipamento, o mesmo chefe, mas são diferentes. A NBR é basicamente uma emissora do executivo. A TV Nacional não, ela é mais ampla. A Voz do Brasil tem esse mesmo diferencial com relação a esse noticiário da rádio. As rádios, além de não só cobrirem o executivo, nem 472

só o governo, dá muita informação também do público, da sociedade civil, movimentos organizados. Movimentos que eu falo ai não só políticos, mas também culturais. Agora A Voz do Brasil não. A Voz do Brasil é encarada como um programa do Executivo. Ela fica dentro da Rádio Nacional, em Brasília, na AM, mas ela tem essa característica editorial diferente. Ela

é o executivo falando. É a voz do presidente. Claro que ai você precisa tomar muito mais cuidado porque a informação, nesse caso, é vista muitas vezes, embora a gente não considere isso, ela é vista como fonte, quer dizer, aquilo que A Voz do Brasil noticia é considerado palavra do executivo e isso nem sempre é verdade porque a gente noticia e a gente apura informações pra A Voz do Brasil também. A gente só fecha o foco muito mais em cima da

Presidência da República. Não entram notícias do judiciário, não entram notícias do legislativo, não entram notícias da sociedade civil. Só entra quando tem um agenciamento muito claro com relação a um ato do executivo, um movimento que responde a um ato do executivo.

Em relação à Internet, quais foram as dinâmicas que você percebe que ficaram modificadas com relação a isso? Dinâmicas de produção, dinâmicas de tratamento...

Desde a nossa posse?

É.

Dinâmicas que mudaram por causa da nossa posse ou que mudaram por outro motivo?

Desde a posse de vocês aqui. Que tratamento vocês têm dado à Internet, não só no sentido... Você falou que a alimentação do material que vocês passam tem fluxo 473

contínuo. Você dá carga no servidor, a matéria está lá. Mas como vocês estão estabelecendo estratégias ou dinâmicas de produção e de tratamento também, consolidação com outras fontes, comparação de material baseadas em rede? Você está atendo pra isso ou ainda não tem...

Nós temos algumas coisas acontecendo. Por exemplo, o estabelecimento de que as matérias...

Uma coisa que caracteriza bem o site da agência Brasil como um site de web, uma agência de web, é o fato de que a notícia tem que ser curta, a alimentação tem que ser mais rápida —ela era mais lenta, ela tinha horários de pico, você não tinha notícia nenhuma das seis da manhã até as 10, 11 horas da manhã e ai, de repente, caia um monte de notícia e depois ficava vazio de novo. Eu to tentando colocar notícia o dia inteiro, com uma regularidade muito alta, do tipo uma matéria em cada cinco minutos. Nós temos um plano de aumentar a produção de imediato pra 150 notícias por dia e chegar a 300 num prazo razoável. Ninguém dá tanta notícia assim né?! A BBC dá 40. Mas outra coisa também é que as notícias têm que ser curtas, não podem ser longas. Por exemplo, se você entra no site da “xxxx”, você vê que eles não ligam pra isso, embora seja uma agência procurada por web, mas eles não se preocupam. Eu, por exemplo, sou assinante da “xxxx”. Toda vez que eu pego um texto da “xxxx”, eu imprimo e leio impresso, porque me cansa ler uma matéria longa no computador. A gente ta tomando esse cuidado. As nossas matérias têm 25, 30 linhas no máximo e são “linkadas”. Quer dizer, se você faz uma matéria de 100 linhas, você quebra ela em quatro pedaços e “linka” pra avisar ao leitor que aquilo é continuação do texto e tal. Nós temos feito um trabalho agora porque a gente trabalha no esquema de multimídia, isso significa que os repórteres têm que fazer a notícia pros três veículos. A televisão não conta muito porque, como ela depende de imagem e ela não tem equipamento pra fazer muitas matérias, não adianta você botar o pessoal pra produzir matéria pra TV, mas o rádio sim. Todos os repórteres gravam tudo o que apuram e 474

aquilo é transformado em notícia pro rádio e a gente adotou um esquema de retro-alimentação que consiste no seguinte: a rádio dá primeiro e a gente vai e copia da rádio. Tem uma equipe que faz degradação de matérias que saíram da rádio e são aproveitadas na agência. A agência, muitas vezes, por outro lado, pauta a rádio porque faz matérias mais longas, mais de fundo. A maior parte dos repórteres ta na agência. A agência tem 23 repórteres e a rádio tem quatro, pra você ter uma idéia, aqui em Brasília. É claro que lá no Rio a situação é mais equilibrada. A rádio tem mais porque a Rádio Nacional do Rio de Janeiro é uma rádio característica do Rio de Janeiro, dá muito noticiário local, e a agência não dá noticiário local, a agência só dá noticiário nacional. Então só aquilo que acontece no Rio que tem alguma implicação nacional, a nível nacional que a gente aproveita. Então lá tem um pouco mais, lá é meio a meio. Deve ter oito repórteres de rádio e oito que fazem agência.

E o uso da rede pra produzir informação, você acha que entre o acontecimento de um determinado evento e a deflagração da prática de um repórter trabalhar e a atualização disso no site de vocês, você acha que isso, que a velocidade é satisfatória, é rápida?

Ela é relativamente lenta, a gente teria que melhorar ainda bastante. Nós temos matérias que na média dá uma hora, uma hora e meia entre o evento e a publicação. O que é uma coisa demorada e, além disso, você tem um maior aproveitamento ainda do noticiário. Quer dizer, você pega um seminário. Num seminário um reporter pode fazer, sei lá... Digamos que o seminário dure uma hora, duas horas. Nesse período ele poderia fazer umas dez matérias tranqüilamente. Se ele tiver uma técnica um pouco melhor. É porque é um juízo de imprensa ainda que a gente não conseguiu traduzir bem ainda essa questão do multimídia. O repórter começa a ouvir o seminário, ai quando ele tem alguma coisa pra passar ele vai e grava uma sonora pro rádio e escreve uma matéria pra agência. Nesse meio tempo, ele perdeu a 475

continuidade do que o cara tava falando no seminário. Quando ele chega, ele não tem segurança pra fazer uma segunda matéria de imediato, ele demora um tempo. Acaba no fim acontecendo assim: o cara faz uma notícia rápida, um flash que a gente chama, bem na hora que começa o seminário, e fica esperando o fim do seminário pra fazer uma consolidada, uma matéria maior, mas isso é ruim porque sobrecarrega os editores, enfim... Mas essa dinâmica toda a gente tem que mudar com muito cuidado porque o nosso modelo não é pra ser como o modelo da Folha On Line, do Estado, onde você tem poucos repórteres na rua, passando coisa pelo telefone o tempo todo e uma equipe muito maior de editores, que se encarrega de dar forma para as matérias. Ai eles não têm essa sobrecarga pro rádio também. Então tudo isso é uma coisa que a gente ta trabalhando com muito afinco e pequeno resultado, o resultado é devagar. Até porque a equipe não é uma equipe... Se fosse uma equipe de profissionais de mercado, de primeira linha, seria uma coisa um pouco mais rápida. Quando você tem que treinar a equipe e, ao mesmo tempo, mudar a forma de trabalho, uma coisa que é nova, inédita, nem a BBC faz isso... Tem uma agência canadense, não sei se... O cara teve aqui recentemente e me falou que eles implantaram, mas não sei quantos. Todo o aporte tecnológico ajudou muito. Você tem câmeras que já editam pra rádio, já editam pra própria televisão, é fácil tirar um texto dali, porque já ta tudo digitalizado. Vai no computador e transforma a matéria do rádio em matéria da agência rapidamente. Nós aqui temos que gravar e depois que sai no rádio...

Vocês não têm um sistema de tratamento automatizado?

Não tem. Aqui a gente trabalha com pouco dinheiro e muita criatividade. A gente é uma operadora oficial na prática da Rádio Justiça. Nós fizemos a reinauguração da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Fizemos uma rádio agência que disponibiliza via Internet, no próprio site 476

da Agência Brasil, você tem um link onde você pega matérias de rádio já prontas. O potencial dela é pegar três mil rádios, não sei quantas delas já estão definitivamente cadastradas, mas o potencial é da ordem de três mil rádios, que é mais ou menos o total de rádios que o país tem.

Todo mundo ta querendo se cadastrar. Então, a Radiobrás, como um todo, ta crescendo muito e você tem que adequar o passo de cada uma de suas partes a esse crescimento geral da empresa.

Uma coisa que me preocupa: com a entrada de todo mundo na Internet, os jornais entrando na Internet, as agências principalmente. Um dos fatores que forçam as agências a se organizarem internamente é a questão da memória delas no sentido assim do dado, da transformação das notícias em bases de dados. Vocês estão indo nesse sentido, de criar uma base de dados que possa recuperar materiais produzidos há algum tempo atrás tipo dois anos, três anos e com isso você oferecer também em paralelo uma consistência maior de informação, uma cobertura mais processual e menos pontual?

Nós temos agora um... Já existe, não foi feito agora, já existia quando essa gestão chegou aqui, o sistema de busca dos materiais arquivados. Em matérias até 1999, se não me engano, você pode recuperar isso, se não me engano. Agora o sistema de busca é ruim, em primeiro lugar. Ele sobrecarrega muito o sistema. E pra quem ta vindo de fora procurar, a dificuldade de achar é grande.

Ele é um sistema de busca apenas interno da agência?

Não, ele é aberto. Mas você tem um agravante que é o seguinte: o nosso sistema tem uma hora, a meia noite, que ele muda o dia. Quando ele muda o dia, apaga todas as matérias que 477

estão na página e começa uma página nova. Ele pra achar esse material que saiu da página, ele tem que pegar, abrir a página, vai no Brasil Agora, vai lá em baixo e tem escrito “Dias

Anteriores”. Ele clica ali e vem o material dos dias anteriores. Isso é muito ruim porque pouca gente tem essa sacada, esse discernimento. A nossa idéia é facilitar a vida do leitor que quer fazer busca no nosso site dessa maneira. A gente tem um centro de imprensa também que desativamos, mas estamos trabalhando na reformulação dele, deve entrar no ar e começar a funcionar de novo dentro de um ou dois meses. Nesse centro de imprensa a gente coloca matérias de mais peso. A gente pega dez matérias pequenas produzidas, mas que na verdade fazem parte de um único assunto, uma única notícia, e ai você monta de novo a matéria grande e coloca na sessão de imprensa. O objetivo disso é abastecer jornais, principalmente da imprensa escrita, que preferem uma notícia grande, que enche mais espaço, do que ficar o dia inteiro coletando as matérias da Agência Brasil. O cara quer fechar o jornal e não quer saber se tem duas páginas pra encher e não quer saber. Ele quer uma matéria de 20 laudas ao invés de uma de duas. Então a gente vai fazer um abastecimento por ai também. E Esse abastecimento ele tem uma vantagem que ele pode ser feito em cima de eventos que sejam muito mais marcantes do que outros, ou seja, matérias especiais. É no que dá essa contextualização que você faz. Além disso, estamos começando a trabalhar agora num programa que melhora a contextualização no sentido mais prático. O cara ta lendo uma matéria. Você bota um link ali em baixo que joga ele pra uma matéria de um ano atrás, dois anos atrás. Um pouco como a Folha já faz, a Folha aproveita bem esses recursos e o sujeito vê lá “veja tudo o que foi publicado e não sei o quê”. A gente quer fazer uma coisa parecida, mas isso é uma coisa que a gente vai demorar mais um tempo pra fazer porque vai depender de uma reestruturação de todo o departamento de informática, acabamos de reformular a direção, agora recentemente, há dois meses atrás. Com a vinda do Linux houve uma certa resistência 478

não passiva, digamos assim. Com a implantação do Linux eu não tive outra saída se não mudar a direção pra garantir que a operação fosse feita direito.

479

Entrevista com Inês Migliaccio, editora da Agência Estado

Como ocorrem os processos de condução de informação aqui dentro da agência. OK.

Como eu te disse eu começo por uma etapa, porque o sistema sobrecarrega os terminais, apesar de toda a tecnologia avançada, ainda há seus limites no desenvolvimento da ferramenta de trabalho. Então esses são os moldes pelos quais eu me comunico dentro e fora do país. Eu acabei de fazer uma limpeza, mas aqui chegam todos os correspondentes nacionais e internacionais, as pautas e as pré-pautas, então o fax acabou na redação. Ele só é utilizado quando você tem que mandar um documento assinado. Em termos tecnológicos, e-mail é tudo hoje, é a sua conexão total com o mundo. Representantes de fora do país, sucursais, assessorias de imprensa.

Ainda tem alguns serviços que você entrega aos clientes via fax?

Não, ele está em extinção. Só pra alguma necessidade especial de entendimento particular a gente ainda usa, mas não é o normal. Depois pelo “notes” eu tenho uma conexão com as assessorias de imprensa... No mundo inteiro. Depois também nós temos esse sistema chamado Phoenix, que é como uma sacola de notícias onde vão pingando todo o material produzido ao longo do dia. Então, como você pode observar, nós temos aqui desde as 3h25 da madrugada a captação da radio escuta, que conecta as principais rádios nacionais o interesse nacional. Eles passam sinopses. Então, por exemplo:

“engenheiro da Volks morre durante assalto na zona sul”. Normalmente é de madrugada que você encontra. OK. E ai você vai subindo, tudo isso é praticamente rádio escuta. Nós temos uma equipe de plantão que faz uma sinopse do que passou na 480

TV principalmente do que é relacionado com economia e política. O processo histórico da Agência Estado nasceu na década de 70, [...]da necessidade de coordenar e controlar os correspondentes fora do país e das sucursais, ou seja, fora do estado de São Paulo.

Em seguida se percebeu que era vantagem capitalizar as notícias excedentes do grupo, ou seja, tudo aquilo que não fosse exclusivo para o JT ou para o Estadão, tendo em vista o foco, a profundidade e a extensão da cobertura do grupo Estado de São Paulo no país.

Ai nasceu a agência de notícias.

O foco é o jornalismo no caso?

Como assim?

Porque uma das características das agências que trabalham com o foco de processos de operação em redes próprias é operar com um núcleo de jornalismo e um núcleo de informações estratégicas, serviços financeiros, esse tipo de coisa. Isso que você está falando é parte relativa à estruturação em torno do jornalismo.

Do jornalismo que eu chamo generalista. Então você tem cultura, esportes, cidade...

A cobertura do padrão jornalístico.

O padrão jornalístico. Eu estranhei um pouco a sua pergunta Afonso porque não deixa de ser também jornalístico econômico, político, financeiro coberto por outros produtos da agência que você sabe que viriam ao mundo na década de 80, que é a Broadcasting, hoje estendida para várias gavetas como a “Agrocasting”, do “Empresas e Setores”, 481

OK?! Então isso também é jornalismo especializado em econômico e financeiro, que envolve política desde que tenha ligação com economia.

E que é direcionado não só pra jornais ou pra clientes de mídia que assinam o serviço, mas clientes de não-mídia também né?!

Com certeza, principalmente clientes de não-mídia. O nosso serviço “E-broadcasting” alcança todo o mercado financeiro e “Empresas e Setores”, por exemplo, ele já se estende aos principais executivos das empresas. Alimentos e Bebidas, transporte, tecnologia e informação, telecomunicações, informática, construção, siderurgia, energia, petroquímica, enfim, isso são alguns setores que tem prioridade de entrega. Então, a agência nasceu no final da década de 70, cuidou dos correspondentes e sucursais, no segundo momento criou o AE Mídia, que é propriamente agência de notícias, que oferece informações pra cerca de 200 veículos brasileiros. Rádio, televisão, jornais, com essa cobertura generalista em todas as editorias. Na década de 80 já se incorpora todo o sistema econômico-financeiro de cobertura, com um canal tecnológico específico intranet, agora também com Internet.

Voltando agora ao Phoenyx...

Há uma cobertura sobre o que aconteceu na TV focada na economia e na política atendendo à demanda dos produtos que trabalham na área de mercado financeiro na

Agência Estado. O newspaper, você me perguntou, às vezes ele é impresso também. Vai por fax, pode ser que vá por fax, mas é tudo mais pela plataforma tecnológica. Então 482

esse newspaper faz uma sinopse das publicações nacionais e algumas internacionais.

Temos agências de notícias, a nossa é a Dowjones.

Vocês têm esse contrato com a Downjones. O contrato é unilateral, ou seja, vocês apenas recebem material ou vocês também fornecem?

A gente também fornece. Como eu atendo a todos esses produtos, mais tarde você vai ter informações mais específicas sobre todos esses detalhes. Eu to te tando aqui a visão mais generalista.

Certo.

A gente também tem a Ansa, EFE, France Press, a Lusa, enfim... Toda uma conexão. É o mundo no seu computador, é impressionante a visão geral que se pode ter. As informações vão chegando pelas agências internacionais, elas são bastante carregadas pelo fuso horário, eles já estão a mil por hora quando nós começamos pela nossa manhã.

Vão caindo no sistema e cada produtor passa para o produto específico da Agência

Estado. Falei produtor mais isso significa editor porque às vezes é um coordenador de reportagem, às vezes é um editor final, que joga naquele produto específico para o qual trabalha. Eu vou abrir pra você uma outra gavetinha... Olha, são meio dia e 11, essa foi a última notinha que chegou. Quando eu mexo nessa clave, eu caio na coordenação de reportagem da Agência Estado. Se você me permite agora eu vou te falar um pouquinho desse trabalho de coordenação muito importante. Agora eu passo a te falar da coordenação de reportagem da Agência Estado. Ao redor das seis da manhã, um coordenador chamado Milton da Rocha Filho chega à agência e trabalha com uma pré- 483

pauta que o coordenador da noite deixou. Sai daqui mais ou menos umas 9, 10 horas. O

Roberto Camargo deixa uma pré-pauta, que a gente levanta daquele mailing, os e-mails todos recebidos, das assessorias de imprensa, dos veículos de comunicação, das empresas e formula a pré-pauta, além da agenda do governo, que a gente segue e também a própria sugestão do repórter, que é o cara que está na ponta do processo. Tudo bem

Afonso?

To entendendo. Você tem um processo de consolidação da pauta.

Consolidação da pauta. A gente junta Rio de Janeiro, sucursal de Brasília e os nossos correspondentes em Belo Horizonte, Buenos Aires, Londres, Nova York, então a pautinha está aqui. Nós temos correspondentes em: Londres; Nova York; Bruxelas, por conta das questões da ONU; Genebra. Fundamentalmente a gente trabalha com esse triângulo externo. Temos também um correspondente na China, que é um historiador e tem todo esse comércio na China que está muito quente e que nos ajuda muito.

Eventualmente nós deslocamos Reali Júnior, que trabalha preferencialmente para o jornal, de Paris para o resto da Europa. E temos um em Buenos Aires. O nosso correspondente de Londres é espetacular, ele viaja com muita freqüência a outros lugares. No Brasil a sucursal de Brasília é forte. Significa quantidade e qualidade, por conta do governo. Rio também é bastante razoável, chega a ser metade de Brasília.

Depois nós temos Belo Horizonte, Porto Alegre, Ribeirão Preto, pra cobrir agricultura e demais cidadezinhas a gente também aciona quando necessário. Essa pauta dá um pouco a abertura... A produção da Agência Estado, apesar de que ela funciona como uma grande distribuidora de notícias, é generalista, a produção própria do grupo é econômico-financeira pra atender àqueles demais produtos. As demais editorias são 484

atendidas devido a uma sinergia com os demais serviços da casa. É próprio que você utiliza para distribuir na Agência Estado notícias de geral produzidas pelos repórteres do jornal impresso. Cultura a mesma coisa. Esporte a mesma coisa. Você tem um foco mais direcionado a economia, com produção própria...

Num certo sentido a produção do setor econômico-financeiro, negócios a Agência assume esse papel e o material, digamos assim, de jornalismo mais geral, mais padrão, é uma potencialização do conteúdo gerado pelos órgãos internos do grupo.

Da sua visita até o dia de hoje, que eu diria que é um acréscimo à sua tese de doutorado, qual seria o grande foco? Num determinado momento, quando você nos visitou, a equipe do portal tava aqui na sede da agência?

Eu acho que não. O que aconteceu foi o seguinte: no momento que eu tava fazendo a pesquisa, estava se estruturando o portal. Ai eu escrevi toda a minha dissertação, em um certo momento, baseada na estruturação do portal. Quando eu tava terminando, aparece o portal já pronto. Ai meu orientador disse: “Reescreva!”. Então eu não acompanhei o processo de implementação aqui. Eu troquei muita idéia com Robson e com Pelegrino depois por e-mail.

Eles me disseram que eu teria que atualizar porque o produto portal Estadão não é um produto que está sendo elaborado, ele já existe nesse formato novo. O portal Estadão foi lançado 2000 e a estruturação que eu peguei aqui foi em setembro de 1999.

Mas o seu foco hoje não é o portal em si, é a agência.

É a agência. 485

Desse capítulo do portal eu só te digo isso: ele nasceu muito ligado ao jornal.

Praticamente é uma equipe que desmembra ali e atua no portal. Num determinado momento viu-se que era interessante conecta-los nesses produtos de nível tecnológico, ou seja, tudo o que envolvia Internet e Intranet era desenvolvido na Agência Estado. Ou seja, essa equipe do portal migrou para a agência. Como o que interessava era a velocidade da informação, além da qualidade que é sine qua non no bom jornalismo, se viu que em economia isso era atingido porque a agência tem outros produtos online que otimizam a cobertura para o portal.

Por exemplo...

Por exemplo a coletiva de imprensa, que você tem a cobertura de forma imediata, o

índice de inflação em segundos, passado pelo celular, com jornalista especializado captado também pra flash, enfim... Em economia isso existia, mas nas outras editorias não. Faz um ano e pouco que subiu novamente a redação do portal para a redação do

Estado de São Paulo para criar sinergia entre as demais editorias. Você sabia disso?

Não.

Pois subiu. Nós estamos aqui em cima.

É uma mudança do ponto de vista organizacional né?!

486

Total e absoluta. O critério já não é mais apenas tecnologia, senão também editorial, principalmente baseado na necessidade da velocidade que o público tem pedido hoje.

Como a Agência Estado tem esse foco econômico para atender os produtos deste mercado, essa agilidade já existe. Então pra esticar essa cultura pras demais editorias.

Então o critério passou a ser não só tecnológico, é também editorial.

Mesmo o impresso vai receber influências do processo de estruturação lógica que vem do modelo web, que vem do modelo de rede, que vem do modelo de conciliar a produção de conteúdo à produção editorial?

Sem dúvida nenhuma. Agora, porque toda essa explicação né Afonso?! Quando eu recebi o presidente da Fiat aqui no grupo, ele até usou uma expressão em italiano que é como: “isso aqui é uma loucura”. Por quê? Não é uma agência típica como a ANSA, como uma Reuters, porque a gente tem um vínculo grande com o jornal, que é o eixo da casa, continua sendo. O carro chefe é ele, em termos de receita a agência é a segunda, depois tem o JT, a Rádio Eldorado, o West Mídia.

Quem é o líder?

O jornal impresso O Estado de São Paulo. É peculiar porque a gente tem uma ligação com produtos próprios. A Reuters oferece aos veículos pura agência de notícias. Você sabe que nós somos a primeira, pioneira do país, e reconhecidamente como líder de mercado. O fato de ter vínculos com publicações próprias não desmerece todo um trabalho que ainda é o melhor do país.

487

Esse foco de pegar vocês, a Reuters e a Agência Brasil se dá por um motivo muito simples.

Eu tenho ai um modelo que trabalha com comunicação pública.

Por sinal, muito bom.

É. Eles estão fazendo um esforço enorme, com uma limitação técnica terrível, mas eles fazem um esforço enorme pra descolar dessa imagem de “agência chapa branca”. Mesmo coisas controvérsias do governo, eles sempre fazem a cobertura, tendo muito cuidado, diga-se de passagem. A agência de vocês que trabalha num modelo híbrido no sentido de ter produtos e a necessidade de atender a uma clientela interna. E a Reuters que seria um pure player, que seria uma consolidação mais... A segunda agência de notícias do mundo, trabalha desde 1851, tem rede própria desde 1870 e trabalha muito nesse sentido de ser o atacadista da informação.

Exatamente.

Eu pego esses três exemplos porque ai eu tenho como definir modelos específicos em função das características de operação. Vocês têm um modelo híbrido de jornalismo, negócios, serviço e também atendendo o órgão... A Reuters como purê player que não tem essa questão mercadológica... Eu estou usando esses três casos pra tentar traçar uma matriz que possa ser utilizada inclusive pra outros modelos de agência. Se você perguntar qual é o escopo metodológico... É esse. A tese tenta definir quais são os modelos de produção e qual é o campo, a matriz metodológica em que eu possa analisar outras formas de agência futuramente. Todo mundo fala de jornalismo online, todo mundo fala de emissão de informação, recepção, ninguém fala de agência como um problema de comunicação, de 488

distribuição de informação e ninguém fala da categoria clássica da agência, que é estabelecer fluxos de notícia. Você está entendendo aonde eu quero chegar?

To.

A grande hipótese é: existem categorias de fluxo, e quão mais a agência será eficiente quanto mais ela estabelecer o funcionamento dessas categorias de fluxo. Ai eu tenho uma metodologia de oito pontos. Depois eu posso te mostrar se você quiser.

Legal. É o seguinte: você tem essa categoria que você fala, agência de notícias, fluxo de informação, porque, claro, quando você tem ferramentas, você pensa mais. Isso é um antes dos buscadores de Internet e é outro depois deles. A agilidade de pesquisas que você tem. É tanta quantidade que você tem que ter um índice de qualidade muito grande pra não cair numa falcatrua. Não tem trabalho científico que se sustente apenas com uma pesquisa de Internet. É inegável a eficácia de uma pesquisa. Se eu tenho acesso a tanta notícia sem uma agência, pra quê ter uma agência? Você já se perguntou na sua tese isso?

Já.

Se a busca garante uma quantidade tal de informações, para que uma agência?

Por algumas características muito pertinentes que a agência garante na sua operação. Presteza, velocidade, precisão, capacidade de distribuir e coletar informação, capacidade de consolidar essa informação com um histórico de informações anteriores. Tudo isso que credibiliza a 489

assinatura que você tem de uma agência. E não ter sido fulaninho que produziu o seu próprio jornal e que falou a mesma coisa. Isso eu observei quando fiz a primeira visita à Reuters em janeiro de 2003, no escritório de Nova York, eu tinha um conhecido lá. Ele disse que 90% do faturamento de Reuters vem dessa área de mercado, finanças. 10% é jornalismo, o que a gente não tira porque credibiliza as informações. Dá aceitação. Então eu acho que é por isso.

Então, você já acertou tudo. Não é só a questão de você ter a ferramenta da rede disponível.

Existem redes e redes. Eu sei que existem redes abertas como a Internet, existem as redes semiabertas e existem as redes privadas. O serviço de Broadcasting, por exemplo, é distribuído a partir de protocolos específicos, justamente por isso. É uma forma de, como eu posso dizer, azeitar, potencializar o modelo de produção, o que o jornalismo aberto em rede não tem.É por isso que a agência existe, sem contar que ela conta com a credibilidade do grupo Estado. Isso é muito importante. Com toda essa estrutura informacional, você diz assim: é um canal que potencializa, que vem consolidando informações há mais de um século. Isso faz muita diferença. Porque dá a credibilidade que o leitor espera, dá a informação que o consumidor espera quando tem uma gama de opções e canais de formar... Quer dizer, por que esse e não aquele? Porque esse me dá credibilidade, esse sabe o que faz, há anos que informa e faz diferença no rumo pessoal e do país. Essa é a diferença da Agência Estado. Caímos nesse assunto falando da dinâmica de cobertura, que se recebe no radio escuta, ai tem a pré-pauta ta certo?! Eu te disse isso por que?

Essa pré-pauta é muito focada na economia porque a produção da Agência Estado é pra economia. Agora eu tenho uma pergunta a te fazer: você se interessa em saber mais sobre esse sistema de cobertura próprio da agência ou já quer passar pra como é a distribuição de todas as notícias?

490

Vamo trabalhar na ordem clássica: captação, processamento e distribuição.

Você vai ter comigo aqui essa análise de produção específica da Agência Estado, que se identifica, por sua vez, com todo o grupo. O que eu vou te explicar é um processo de captação comum ao jornal O Estado de São Paulo... E vou diferenciar um pouquinho ao

JT, à Rádio Eldorado. Eu comentei com você que o Milton da Rocha Filho entra bem cedo pela manhã e sai dessa reação a umas 13h, mais ou menos. Eu até o mês passado vinha das 10h às 18h como coordenadora, chegava o Bob Camargo a 1h e saia às 9h. Se criou uma figura de editor executivo, que ta nesse meio termo, e eu hoje tenho outras funções, por conta das necessidades que se abriram. O Milton capta a pré-pauta fechada pelo Bob Camargo e esquenta com a própria leitura dos jornais e a dinâmica daquela manhã. Então se o Lula até ontem disse que ia jantar só em São Paulo, mas ele chega no café da manhã inesperadamente, esse coordenador de reportagem é responsável pela cobertura desse evento. Então, os repórteres normalmente saem daqui já acionados para a cobertura do dia seguinte porque o foco nosso é economia, coisa que não acontece quando é cidade, saber qual é a pauta de amanhã.

A cobertura é mais processual. Ela não é tão pontual como no jornalismo.

Exatamente. Afonso você está usando o termo jornalismo, mas tudo é jornalismo.

Eu sei, mas como categoria...

Da tua tese ai...

491

Eu to contaminado com uma... eu digo, da produção do jornal.

Você está aflito comigo porque eu defendi uma tese definindo bem as coisas e pra mim uma coisa é o especializado e outra coisa é que não seja jornalismo.

É. Mas assim... Na produção do jornal, na produção do JT, a produção do Estadão, que é uma produção mais pontual. Cobrir uma pauta que é dada num determinado momento. E a dinâmica de produção de jornalismo da Agência Estado vamos dizer que seja uma dinâmica mais processual. O encarregado de fazer o acompanhamento de um evento já tem uma condição de ter um follow up mais aprimorado, mais aprofundado daquilo que ele está cobrindo.

É, pela própria especialização da cobertura. Ele interage com as fontes de uma forma constante e cria uma especialização. Ele sabe a agenda do setor, ele sabe os principais eventos co antecedência, porque a própria fonte está interessada que ele saiba e fornece tudo isso. Um buraco de rua e ele não avisa a hora. Uma ponte cai. Um carro bate. E...

Olha vou bater tal dia. Parece ridículo, mas. como disse o Roberto Civita num evento, em jornalismo algumas verdades que parecem ser obvias precisam ser ditas, confirmadas até pra estruturar um pouco o pensamento lógico. É típico da nossa cobertura ser mais processual. De qualquer forma, essa pré-pauta é lançada a noite, pela manhã o coordenador de reportagem ativa o que for necessário de acordo com a dinâmica do jornal e ai já se começa a cobertura. Ao redor das 10h até umas 11h30 o coordenador de reportagem sobe pro sexto andar pra reunião em conjunto, onde ele conta, depois de ter passado por e-mail, as principais matérias que estão sendo desenvolvidas pela Agência Estado naquele dia. E ai todas as editorias do jornal 492

discutem: o nosso é esse, aquele e aquele outro. O fechamento a Agência Estado é contínuo. Às 16h, o coordenador Roberto Camargo passa pros coordenadores do Estado de São Paulo os principais destaques já feitos. Fica a critério do jornal o seu uso ou não.

Até porque os editores da Agência Estado são responsáveis pela produção dos nossos produtos. É apenas uma sugestão, fica a cargo dos editores do próprio jornal esse fechamento. Cada dia a gente está mais organizado nisso Afonso. Então muitas vezes há espaços fixos que a Agência Estado tem ocupado. Eu, por exemplo, ainda consigo, com todo o trabalho de coordenação, ainda manter uma coluna no caderno de empregos. Ela

é fixa e trata da movimentação dos executivos no mercado e é uma sinopse de muito trabalho online e de textos muito mais complexos e maiores produzidos para a Agência, que vai para uma sinopse no papel. Eu fecho essa página na quinta. Hoje eu vou fechar antes de sair daqui. No caderno de economia há cenários sob a responsabilidade da

Agência Estado, há um Box chamado “Companhias Abertas” sob a responsabilidade da

Agência Estado. Isso se deve a sinergia do grupo estar bastante institucionalizada, hierarquizada, organizada e programada. Ai diz aqui: “Atenção, não editar em sites abertos”.

O embargo é esse aqui. Só os pagos vão receber, esse é o nosso diferencial. A gente está acompanhando a evolução da informação e do próprio mercado, mas enquanto há pessoas interessadas em pagar por uma informação especializada, por que eu vou divulgar em grandes parâmetros?

Essa informação ela tem uma característica diferenciada. Não é jornalismo aberto, essa informação é estratégica inclusive.

Você vê: São Paulo, Porto Alegre, Londres, São Paulo, Buenos Aires. É essa equipe atuando. Eu to aqui sentadinha com você e enquanto isso só isso que foi pro sistema por 493

repórter próprio da Agência Estado. Se você compara com... Olha aqui na tela a quantidade de material produzido só por gente do grupo inteiro entre rádio escuta, informações que vêm de Brasília, das sucursais. Tudo bem?

Tudo bem.

Eu recebo tudo aqui. Olha, Nova York acabou de chegar. Pra quem chegou? Pros editores do broadcasting e pros coordenadores de reportagem. Como eu to nos dois, eu ainda continuo recebendo tudo e mais um pouco. Esse mundo dá tantas voltas, dentro desse grupo eu já fiz de tudo Afonso. Você tem alguma dúvida Afonso?

Não não. Você tem o sistema Phoenyx que é o sistema interno, mas você também tem o sistema normal. O e-mail...

É. Eu tenho a particularidade de fechar o jornal... Isso eu não vou poder fazer agora porque vai misturar tudo. Eu até vou fazer isso e depois a gente volta. Eu acho interessante você ver que as nossas funções se mesclam no jornal, mas eu não quero me perder. Agora eu vou te mostrar uma particularidade que é como o próprio jornalista do papel fecha, pra você ver a sinergia. Por outro lado, mais do que entender, é uma alerta de como o profissional hoje é polifacético. É uma exigência cada vez maior do profissional da comunicação, principalmente de uma agência, eu diria, que tem um jogo... mundial. Você tem essa sacola de notícias, cada editor pega o seu, eu to te mostrando todas essa notícias que vão chegando e eu também consigo fechar isso no papel, além de todas as agências de notícias. Vou fechar o Phoenyx. Esse é o documento do Word que eu trabalho. Eu fico ligada no estadao.com.br, no últimas notícias. Depois a gente tem um produto que eu vou te mostrar e você vai me entender já já. 494

Ai é setorial.

Você conhece? Ele está se transformando numa gavetinha chamada “Empresas e

Setores”, dentro da Broadcasting. Então, dentro da setorial tem nove setores de economia que a gente tem com repórteres especializados que servem também à agência, que é i-midia. A partir de agora eu vou te falar de i-mídia, que é a agência de notícias da

Agência Estado. O nosso canal se chama i-mídia. Eu escrevo com esse bichinho aqui. Já escrevi com mais profundidade, eu não tenho tempo hoje. A única coisa que eu consigo muitas vezes é fazer pequenas notas. Lento né?!

É.

Essa nota chegou de Brasília. Então você faz a sinopse e o que eu vou te mostrar, se der tempo, é como é fechada a diagramação.

Vocês estão usando o “Hermes” como sistema de gereciamento interno?

É o próprio Hermes. Você conhece? Você já viu um repórter puxando isso de uma página?

Eu vi utilizando aqui. Eu não sei se já tem um pacote novo do Hermes.

Então eu não vou precisar mostrar nada pra você. Eu vim pra esse departamento pra formar essa sinergia e pra colocar em prática o “Projeto de Formação de Executivos”, 495

que é o outro lado a Agência Estado. Então a gente tem um ciclo de conferências para executivos, eu bolo o texto e esse cara do meu lado é o designer e é uma cobertura jornalística. Essa moça do meu lado tirou essa foto com uma máquina digital. Ai tem uma bela matéria pra esse caderno. Eu sou alocada pra isso. Total sinergia. Essa matéria tava on line no mesmo dia, que dizer, no dia seguinte. Na manhã seguinte, foi à noite. No domingo seguinte, foi acontecer numa quinta-feira. Perdão, numa terça. No domingo tava a matéria aqui. Através de um evento como esse você vê que o profissional hoje faz o anúncio, tira a foto. Não é sempre assim, se o profissional lida 100% do seu dia nesse nível, como a atividade vai se prejudicar. Melhor um fotógrafo especializado.

De qualquer forma essa sinergia e essa exigência do profissional existe mesmo e sem duvida nenhum o Brasil inteiro, pela Agência Estado, recebeu essa nota, que já foi pra todos os jornais. Tudo bem? Eu dei uma pequena voasinha pra você ver a amplitude do que serve a Agência Estado. O papel, o “Empresas e Setores”...

Ela tem uma produção mas ela pode ser empacotada pra qualquer suporte.

A Agência Estado pode ser empacotada pra qualquer suporte. E isso exige do profissional uma adaptação para qualquer suporte. Você pensou um pouquinho no perfil do profissional que trabalha na agência por on line? Discutiu isso já bastante no mestrado? Ta interessado nisso?

Não, na verdade eu não me interesso não. Porque eu to mais no estrutural no sentido de rotinas de funcionamento e modelos de tratamento de informação. A formação do profissional

é importante, é necessária pro entendimento, mas o escopo da tese está mais voltado pra essa questão dos processos institucionais de tratamento de informação. 496

Sem me deter nesse perfil, a gente falou de uma pré-pauta, de uma pauta e de um coordenador de reportagem. Como não falar um pouco do sistema dessa reportagem em si. Diferente é, por exemplo, o comprometimento com um determinado número de linhas para a agência. Como é esse fechamento da notícia para a agência? Qual o interesse?

Quais as regras do jogo? Isso faz parte do processo. Como são 12h43 a gente podia ir subindo e eu ia te contando isso, o que você acha?!

Tudo bem. 497

Entrevista com José Robert Garcez, diretor de jornalismo da Radiobrás

Por que você acha que no Brasil não se aplica o conceito de agência de informação pública?

É que no Brasil, a rigor, não há comunicação pública, a não ser em algumas experiências de rádios comunitárias, algumas experiências muitos escassas. Grosso modo, se começa a falar em comunicação pública no Brasil a partir da constituição de 1988, quando lá o artigo 121 e o

122 falam da complementaridade entre o sistema público, privado, estatal. Primeira vez que aparece, eu tenho pesquisado, eu tenho conhecimento que... Onde aparece o conceito de comunicação pública. Mas ai vamos ver o que temos na prática. Temos na prática algumas emissoras, alguns veículos, principalmente emissoras de TV e hoje algumas de rádio também, que são estatais, mas que praticam um chamado —ai não tem nem uniformidade— um jornalismo público, um jornalismo cidadão, várias determinações para o quê? Para veículos que tenham seu noticiário voltado para atender o direito a informação do cidadão mantendo o vínculo estatal, mas não tendo o compromisso apenas com a promoção e a divulgação desse lado estatal. Na década de 90 a gente tem algumas experiências. Principalmente a TV Cultura começa a fazer muito isso, isso se espalha por algumas emissoras de TV e algumas de rádio.

Rádios comunitárias, pelo menos que eu conheça, inclusive na própria academia, algum estudo, não exatamente um consenso, do que seria comunicação pública, do conceito de comunicação pública no Brasil, não existe. E existem poucos estudos também acadêmicos trabalhando isso ai, aprofundando isso ai. Então também é aberto definir o que é que comunicação pública? Então a partir dos critérios que eu próprio coloca, que seriam eles o quê: o financiamento público —como dizia minha velha e sábia avó, quem paga manda.

Ou então, quem contrata a orquestra faz a música. 498

Pois é. Então assim, então todas as empresas que se dizem públicas, seu financiamento vem do orçamento estatal. Em outro requisito, um segundo requisito, essas empresas não têm controle da sociedade. Algumas têm uma espécie de conselho deliberativo, umas fundações, uns conselhos, mas são conselhos que não têm poder efetivo sobre a gestão dessas empresas e nem essas empresas prestam contas à sociedade não há nenhum mecanismo de controle social. Um outro requisito especialmente ai na área da televisão é o seguinte: uma emissora pública tem que ter essa relação, ela tem que atender a sociedade, portanto vai ter que ser plural, ter uma diversidade de fontes o maior possível. No caso da televisão, o modelo brasileiro, em especial a Globo que é seguida por todas as emissoras, inclusive as educativas, que se dizem públicas, elas seriam o modelo do: eu exibo aquilo que eu produzo. Não há uma abertura pra produção chamada independente ou externa. Ela depende. Na minha concepção, não há requisito... Mas se pode pensar modelos pra outras partes... Seja, tenha... É um requisito da pluralidade, ao meu ver, a veiculação de material externo. E tu tem que ter, um quarto requisito que eu colcaria, algo que eu inclusive coloraria como o quarto item... Tu tem que ter autonomia, ou melhor, autonomia quer dizer mais a financeira... Independência editorial né?! Isso se dá pelo conjunto desses outros três requisitos, mas, para isso, tem que estar consolidada a estrutura econômica do governo. Vamos pegar então a Agência Brasil, ela não é um exemplo de comunicação pública. Ela é se tu atender essa concepção de que tu faz o jornalismo buscando atender a essa concepção de direito à informação do cidadão. Usa critérios do jornalismo... Mas ainda ela está vinculada ao poder executivo.

Eu acho que é necessário. Eu não quero recorrer ao caminho de... Eu acho que o modelo constitucional é perfeito, é a complementaridade realmente privada, pública e estatal. Eu defendo a comunicação estatal. Tem que haver. Agora ela é humana, ela não pode se 499

confundir com a pública. Então eu acho que o estatal tem que ter sua forma de divulgação, precisa ter, é uma obrigação, é um dever do Estado informar. Agora ele vai estar sempre, não adianta a gente querer... Não é público. Por mais que a gente se abra, como a gente tem feito o esforço, tem a busca de fontes, é contraditório... Mas a gente tem que partir de um pressuposto de que nós somos uma agência que tem um vínculo com o aparelho estatal. A gente faz um esforço aqui, que eu diria que, em alguns casos, é “inédito” até. Por exemplo, nós estamos fazendo um projeto lá na Amazônia agora. Estamos implantando emissoras de rádio lá. Lá na fronteira com a Colômbia. Mas nós estamos implantando, assinamos na semana passada o convênio, estamos esperando os recursos, em maio começamos a implantação de conselhos municipais que vão gerir essas emissoras de rádio. Então tu começa a ter efetivamente mecanismos de controle da sociedade. A sociedade vai ter controle, mas assim... Abstraindo o momento que eu estou, o governo em que eu estou, a posição que eu defendo, a solidariedade que eu tenho com esse governo que faz, que está avançando nesse sentido de ter a informação como um direito, um bem público, um direito do cidadão. É algo que está garantido nesse momento pelo presidente da república, pelo ministro da secretaria de comunicação, está garantido pelo presidente da Radiobrás, ou seja, a estrutura onde estão. Mas não é nada formal, e no serviço público que não está formalizado não existe meio como os altos no direito... Se amanhã eu quiser voltar a ser uma agência de divulgação apenas do governo, não há nada que a gente possa voltar a fazer.

Garcez, quais são os produtos que, no caso a Agência Brasil, e quais são as diretrizes que você enfatiza na prática da Agência Brasil? Quais são as suas preocupações dentro da manutenção da operação da agência? O que você prioriza e que a agência tem que cumprir? 500

A agência tem que procurar, diariamente, distribuir ao seu usuário, seja de um veículo de comunicação, seja um leitor final, no final do dia, o nosso usuário tem que estar bem informado, eu diria até: tem que estar completamente informado sobre as ações de governo que ocorreram naquele dia. Não ação de governo, deixando claro, a partir da visão exclusivamente da autoridade, mas sim informado contando com todas as circunstâncias que envolveram esse fato. Ou seja, nós temos feito o esforço de, nesses últimos dois anos da nossa gestão, de, entendendo o nosso trabalho fundamentalmente como um serviço para atender ao direito à informação do cidadão e vendo que o poder executivo produz diariamente centenas de fatos que interessam ao cidadão, desde aqueles da grande política até muitas vezes o do pequeno exercício diário do poder, da implantação de um serviço de distribuição de bolsa de estudo... Controlar a bolsa escolar pra atender ao bolsa família. O Estado produz diariamente centenas de fatos que interferem na vida do cidadão e ele tem que ter direito de saber disso até pra exercer os seus outros direitos. Nós temos que no final do dia ter dado a mais completa cobertura possível do que aconteceu naquele dia. Repito: com a visão do governo, com a informação do próprio governo, mas com as circunstâncias em que isso aconteceu, vendo esse fato sempre como um processo. Nós temos procurado fazer um esforço de ver o fato sempre com as suas causas e conseqüências, procurando entender o fato jornalístico como um processo que tem que estar permanentemente acompanhado. Esse é um esforço, por exemplo, de notificar pauta. Em Brasília, especialmente, a pauta é muito ditada pela agenda oficial. As audiências dos ministros, sessões do congresso, plenária e comissões, as solenidades e os eventos oficiais. Quer dizer, esse evento em geral é a culminância do processo de abertura...

E como é que você estabelece essa dinâmica pra não, por exemplo, ficar na dependência unilateral dessas fontes? Porque como você falou a gente sabe que fonte é fonte. Ela está 501

dentro do mesmo guarda-chuva que você está, mas ela pode ter um interesse de ter uma propagação ou disseminação de notícia que, por exemplo, como você fala, pode não ser processual. Quais os filtros que você aplica nesse sentido?

Nós estamos procurando e esse é o grande desafio que se vê aqui nesse momento... Estamos procurando criar esses mecanismos internos pra que a gente possa ter um melhor controle da nossa condição. A gente tem procurado e ele começa basicamente na definição da pauta. O jornalismo é sempre fazer escolhas né?! A gente faz escolhas todo o tempo. E a primeira escolha que determina o nosso ponto de vista dentre todos os demais é a escolha da pauta.

Quais são aqueles fatos, aqueles eventos que merecem, que têm maior relevância pro cidadão?

A partir disso, é preciso ser feito um esforço enorme para que nós tenhamos o controle. Nós temos que saber, tem que ter um processo, um fluxo interno, uma rotina diária que nos garanta que os nosso veículos... Que nós podemos dar a qualquer momento tudo aquilo que os nossos veículos estão acompanhando, os nossos repórteres estão acompanhando para divulgar seja nas emissoras de rádio, seja nas televisões ou na agência, especificamente na agência. A agência é o meio mais fácil de controlar isso porque ele não tem, embora... Tem tudo de

Internet, quer dizer... Ela deixa de ter aquele serviço impresso pra ter a instantaneidade de

Internet, embora a gente tenha essa... Esteja trabalhando pra que a agência seja assim um veículo que tem instantaneidade, ou o mais perto possível disso. Ela é muito mais fácil de controlar esse fluxo. Na verdade, é o veículo mais fácil de controlar esse fluxo, mas ele ainda se revela imperfeito. O modo de fazer o jornalismo como um todo se burocratizou muito, mas

Brasília é a rainha disso. Brasília é feita assim, é feita pra ser assim. A intimidade das fontes com o repórter é muito diferente. Então a gente quer criar, o grande barato de a gente estar aqui é justamente esse. Em alguns momentos nós temos que criar novo. Não tem referencial pra buscar, não existe, um deles, o primeiro, inclusive, é essa questão do jornalismo público. 502

Eu estou falando do conceito geral da empresa, mas mesmo se fizer outro recorte pra o que é o jornalismo público e o que é o interesse do cidadão. O que é o interesse do cidadão? Isso ainda é muito vago, muito vago. Então a gente precisa suar neurônio, como dizia um amigo meu. A gente tem que pensar o que é esse processo.

O processo entra na pauta. Ele garante o processo porque na pauta você já indica o processo.

Você tem uma coisa que está andando, todo fato tem uma história, se você acompanha a história você sabe pra onde aquele fato, em que contexto ele intervém.Onde ele modifica ou não um certo processo. Ai na pauta você indica isso. Por exemplo, a gente sabe que certas ações são polêmicas. Então você já vai preparado pra cobrir os vários fatos. Transposição do rio São Francisco, a questão dos hospitais no Rio, evidentemente é uma coisa muito rápida, é surpreendente, mas era possível você adivinhar alguns aspectos. De onde poderia vir uma informação relevante, por exemplo, um usuário do sistema federal colocou no Rio de Janeiro nós fizemos isso. Mas e ai, ta funcionando bem? Os hospitais tão na campanha e tal. E dá um outro lado ao fato. Não é só o cara do governo falando.

Tem um mecanismo da pauta que eu acho que a gente tem que desenvolver ainda bastante, eu particularmente acho, é a informatização no processo que vai nos ajudar nisso. O que nós queremos aqui dentro é que nós tenhamos uma estrutura, uma espécie de central de pauta para todos os veículos, com responsáveis de cada um deles, a agência, as rádios e a televisão. Cada um deles ter um responsável pela pauta e um alguém que faça a supervisão de tudo isso. Isso constitui um núcleo que passa permanentemente, todo o dia, o dia inteiro, através de um mecanismo... Pode ser o computador aberto no messanger, enfim. Criar um mecanismo onde permanentemente eles estejam trocando informação, recebendo as informações de fora. “O ministro tal vai falar agora pra falar de tal coisa que aconteceu”. Que sejam permanentemente 503

informados e realimentando os repórteres. Isso pode se tornar mais tarde um forte elemento de pesquisa, que alimenta isso ai.

Você está já falando ai de alguns modelos estratégicos pra rede. É basicamente onde eu estou querendo chegar, já que você antecipou...

É, mas se estabelece exatamente isso. Como é que a gente faz.

Quais seriam então, no caso, dentro dos aportes tecnológicos de rede e da flexibilidade de produção, tudo o que se fala de jornalismo, como você acha que seria possível implementar e que diferenciais seriam obtidos através disso pra rotina da... mais especificamente da agência?

Com esse mecanismo encontrado, onde a gente passa a ter um controle dessa pauta e a alimentação permanente disso, tu vai ter que buscar, elementos da pesquisa que eu estava falando, ter, nós temos já, núcleo de pesquisa. Nós temos já, mas é um embrião ainda, mas que tem que estar ligado a essa central de pauta e que esteja, não só alimentando, mas buscando novos elementos, novas fontes. Tentar fazer uma pesquisa rápida na Internet. Quem

é que está falando sobre isso? Vai fazer uma busca de fontes e rapidamente... Quando tu fizesse a pesquisa, tu vai ver imediatamente quantas pesquisas no mundo estão sendo feitas.

Se eu estou fazendo essa matéria sobre essa notícia, eu vou buscar rapidamente outras quatro fontes no mundo que estão falando sobre isso. A pesquisa alimentar essa central de pauta. O ideal seria que o repórter estivesse permanentemente “linkado” com isso. Ta lá com seu lap top podendo estar sendo alimentado na hora da coletiva pra poder receber informação da fonte, passar ali e joga pra esse núcleo central de pauta. 504

No estágio atual, como você considera, na Agência Brasil, a rede de distribuição, a penetração dos boletins, dos despachos da Agência Brasil. Que a gente não pode nem mais chamar de despacho. Como você considera isso e se é satisfatório ou se não é e que problemas você detecta, por exemplo, no uso de material da Agência Brasil que às vezes não é citado e que é apropriado dentro de outros contextos?

Isso é muito de impressão. Isso é um impressionismo quase que total porque o rigor que a gente possa ter na apuração disso ai é mínimo. O que a gente percebe por depoimentos dos nossos repórteres ou de pessoas de outras redações é que a Agência Brasil é respeitada e acompanhada por quase todos os grandes veículos de comunicação do Brasil como uma fonte bem situada sobre assuntos que dizem respeito ao poder executivo. Isso poderia ser diferente, mas, só pra confirmar, a gente tem esse conceito. A minha impressão é que a gente ainda...

Ainda falta muito pra que a gente atinja um grande número de outros veículos pequenos, pequenas emissoras de rádio, mesmo veículos impressos, jornais de bairros que poderiam ter acesso ao nosso produto, aos nossos noticiários e que ou desconhecem ou não têm estrutura para absolver. Isso é uma das coisas que me incomoda porque é esse veículo, muitas vezes, que vai realmente formar a população num ciclo afastado.

Lá na ponta...

Lá no Rio Grande do Sul, que é um Estado relativamente bem provido de boas redes de informação, fizeram uma pesquisa que mostrou que o segundo maior veículo na formação da opinião pública ou como meio de informação era a rádio local. Essa era uma pesquisa do governo do Rio Grande do Sul. O primeiro, lógico, era a emissora da Rede Globo lá, a RBS

TV, e o segundo era a emissora de rádio local. Para as populações do Norte e até mesmo do 505

Nordeste que têm pouco acesso, o rádio é um veículo fundamental na inclusão da informação.

Então essas emissoras poderiam estar muitas vezes se servindo do nosso noticiário e utilizar todo o nosso mecanismo aqui, todo o potencial... E a impressão que eu tenho é que isso é pouco utilizado. Ele é mais utilizado pelos grandes veículos, que têm acesso já, já têm costume de usar, do que por esses. Isso é uma coisa, agora outra coisa que eu acho que é muito falha é o retorno.

A imagem que eu tenho, e me corrija por favor se eu estiver errado, é que você tem a imagem da Agência Brasil dentro de uma estrutura radial. Vocês têm um papel de consolidar as fontes do poder público e repassar essa informação. Mas como se dá a atuação dela no sentido de ter um papel de prospecção, fora desse eixo do poder público, ainda mais aqui em Brasília porque é até uma posição estratégica ela estar aqui, ter São

Paulo e Rio como sucursais e ter correspondentes nas principais capitais. Mas como se dá esse contra fluxo, vamos dizer assim? E você vê problemas de equilíbrio entre o fluxo que vai e o contra fluxo que vem?

Sem dúvida esse é um dos problemas estruturais da agência porque ela herdou a estrutura da

EBN, acho que com mais informação, mas acho que é importante perceber. A EBN tinha uma estrutura racional muito mais capitalizada. Lá em Porto Alegre, por exemplo, chegou a ter uma estrutura que chegou a ter... Era uma das maiores estruturas de sucursal lá. Se chamava sucursal da EBN. Tinha oito ou nove repórteres, tinha uma estrutura grande lá. Nós temos até hoje prédio em Porto Alegre, Florianópolis, Belo Horizonte, prédio não sei mais onde, em um monte de lugar, sem nem ter mais correspondente. Então era realmente fazer jus ao nome,

Agência Nacional. Ela conseguia ter uma visão e, embora pra época tivesse muito mais voltada a acompanhar apenas a visita da autoridade, o ministro que chegava lá, a recepção, o 506

encontro de autoridades, hoje, por exemplo, se a gente tivesse uma estrutura como essa, capilarizada e tal, a gente poderia estar sentindo muito melhor o reflexo da política pública determinada aqui e da ação pública lá na ponta. Bom, lançou-se um programa de farmácias populares. Nós fizemos uma matéria nacional, consolidada, indicando onde é que elas estão realmente, quais foram os benefícios, quantas pessoas tiveram, quais foram as informações, o que é que está faltando, em retrato muito mais perto do que a informação que a gente vai servir aqui na fonte oficial... Agora recentemente a gente, na reestruturação da Agência Brasil, a gente criou uma coordenação muito específica das sucursais e correspondentes que senta diariamente e discute pauta. Envia a pauta pra todos os correspondentes, eles têm que saber o que está se fazendo aqui em Brasília, eventualmente repercutir lá, dar o reflexo da notícia lá e buscar pautas da região de políticas públicas que estejam relacionadas ao poder executivo federal, mas nós trabalhamos ainda com uma estrutura limitada. Uma das carências e necessidades é ela voltar a ser realmente uma agência de notícias do Brasil.

To entendendo. Você acha que ela cumpre, dentro de uma escala de alcance de tempo e espaço, você acha que ela consegue ser ágil entre a deflagração de um evento e esse evento estar circulando, estar sendo distribuído, ele está caindo numa cadeia de fluxo, por exemplo?

Essa é uma das coisas, eu falei pra você, que a gente percebeu e que paramos de ver. Durante muito tempo a gente trabalhou na agência com a lógica do veículo impresso e não com a lógica de um veículo que é distribuído para o impresso. As mudanças que nós temos vontade de fazer na estrutura, lá desde o organograma até as condições, caminham pra que a gente possa atender a essas necessidades. A gente tem procurado atender isso, é uma lacuna... Com a criação, com o estímulo dos repórteres a exercer a multimídia. Além da vantagem de estar 507

abastecido mais completamente, as rádios especificamente, mas a gente passou a poder atender melhor essa necessidade da agência de ter essa rapidez de acompanhamento dos fatos, rapidez de informação e distribuição da notícia, com a atividade que tradicionalmente eu acho que tinha né?! Acredito que era a sua principal característica e que vai continuar mantendo.

Não competem, são complementares, mas a agência tem que ter isso. Então a gente ta buscando isso, buscando criar, mudar essa cultura interna primeiro... A gente tem um grande número de pessoas que vêm da EBN. Uma das coisas que a gente tem procurado trabalhar na cultura interna é essa. A agência não é pra ser a agência de governo que consolida matéria. Ai

é outra característica, as nossas matérias aqui têm que ter 20 linhas, 30 linhas. É isso que é uma notícia pra ser lida pela Internet. No final do dia pode se consolidar o conjunto daquelas pequenas. Vai ser a matéria consolidada que pode ser usada pelo veículo impresso na íntegra.

A Internet oferece caminhos pra você obter informação. Como é a relação de vocês com as assessorias? Porque as assessorias também têm seus aportes, a princípio tecnológicos, e vamos supor: um assunto que provavelmente vai entrar em pauta de maneira contundente, em breve, transposição do Rio São Francisco. Ai vai ter lá: assessoria de

Minas e Energia, Ministério da Integração etc. Como é esse equilíbrio para tentar, ao mesmo tempo, manter a informação pública e não gerar conflito? Esse problema existe?

Existe sim. Existe por vários fatores. Vou pegar um deles pra explicar, que é o papel da

Radiobrás. No momento em que a gente determinou essa inflexão aqui, que a Radiobrás e a

Agência Brasil como um todo, passassem a ter o texto voltado para o cidadão e não mais para a autoridade, quebrando uma rotina histórica, a estrutura interna, que a gente tem infrentado aqui de compreensão, ou externa à assessoria do Ministério estava acostumada a ver na

Radiobrás um veículo de difusão da sua versão, da notícia segundo a sua visão. Nós tivemos, 508

no começo dessa gestão, muitos conflitos, por exemplo, quando nós paramos de utilizar o release. Como assim, release não é mais fonte de informação? Não, não é fonte de informação. É uma das coisas que nós vamos fazer. Nós paramos porque isso confundia claramente. Essa mudança determinou o não uso do release como fonte pública exclusiva, a checagem muitas vezes da informação da assessoria. Bom, mas isso é um processo educativo.

É pedagógico. Como eu disse antes, se nós temos o aval do presidente da república, em várias manifestações públicas, do ministro-chefe da secretaria de educação, enfim... É uma questão de perceber que há uma política de comunicação no governo como um todo que dá à

Radiobrás esse papel. É um processo que está caminhando e a gente tenta lá. Agora isso, por outro lado, nesse processo pedagógico há uma outra interface com as assessorias. No momento em que cresce a nossa credibilidade junto aos veículos, ao jornal lá da região, à rádio lá da região, à televisão lá da região de região... Se nós passarmos a ter credibilidade como a fonte de informação confiável, não apenas por vender as ações do governo, mas por procurar acompanhar aquele fato com todas as ações, nós damos credibilidade, inclusive, de informações de órgãos públicos... Que tenha exatidão, precisão, profundidade. Então nós acabamos impressionando de uma outra maneira com uma credibilidade do meu modo de ver ainda maior. Nós passamos a dar a informação, como nós passamos a dar não só o release, que eventualmente vem do ministério, que nós queremos sim divulgar, há muita informação nos ministérios que a gente precisa transmitir. O veículo lá vai usar com muito mais... Sem o pudor de estar transcrevendo apenas uma fonte oficial. Pudor que a gente sabe que não há, eles usam mesmo, mas, enfim, em termos ideais, um veículo que trata as suas informações com seriedade a rigor não divulgaria uma informação direto da fonte. Se a Radiobrás empresta essa credibilidade, ela aumenta a possibilidade de o veículo ter a divulgação... Não se pode acusar nem assessoria, nem estruturas políticas de não atentarem para esse princípio de direito à informação... Essa não é uma cultura brasileira, a informação é sempre 509

instrumentalizada. Quando tu passa a trabalhar com esses conceitos, evidentemente que surge uma diferença de visão daquilo que você estava construindo, de consenso e tal. Um dos meus papéis aqui, talvez o mais importante, seja esse de procurar harmonizar eventuais conflitos, construir consensos de coberturas que a gente possa ter. Agora, por exemplo, nós discutimos aqui, temos uma coisa amadurecida sobre o uso de transporte e até de subsídio total de um

órgão público pra deslocamento de uma equipe nossa. Você está lá em Roraima, no conflito da reserva indígena lá. Nós estamos buscando que a Funai nos leve lá, providencie transporte, sirva alimentação, hospedagem na época dos nossos repórteres lá. O que é um assunto bem resolvido em boa parte dos veículos de comunicação privada, comercial evitando, na maior parte das vezes, isso, ou nos casos em que isso é impossível assim tão claramente. Nós ficamos muito tempo discutindo se nós devíamos ou não aceitar e está pra sair agora uma norma por escrito dizendo que devemos aceitar sempre em acordos formais entre órgãos, nesse acordo formal ressaltando a nossa autonomia editorial na busca de fontes, no compromisso eventual com a divulgação. O governo preza por isso. Nós entendemos que, muitas vezes, isso pode ser uma economia de um recurso público porque nós viajamos com recurso orçamentário. Se vai outro avião que tem lugar disponível, e que a gente vai estar lá economizando passagem e tal... Mas garantindo a nossa autonomia editorial. Às vezes eu fujo né?!

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Entrevista com Mário Andrada, editor-chefe da América Latina Reuters

Você estava falando rapidamente em duas coisas: o foco em negócios e o foco em informação jornalística de maneira geral. Como seria essa dicotomia de trabalho como seriam essas duas frentes de trabalho aqui na Reuters? E você também reforçou a questão dosviews, dos timings de atualização. Explica um pouco mais essa dinâmica.

A nossa missão pro serviço de mídia e pro serviço de finanças, que a gente chama aqui serviço de tela porque vai na tela do terminal. A nossa missão é antecipar todas as notícias que vão estar nos jornais do dia seguinte e é ser primeiro nas notícias financeiras em tempo real. A Reuters, como qualquer agência, funciona como uma fábrica. A gente brinca que funciona como uma salsicharia. Empacota e manda. Empacota e manda. Empacota e manda.

O segredo financeiro de uma agência como a Reuters é vender a mesma notícia em diferentes formas porque ai eu ganho diferentes dinheiros da mesma informação.

Você potencializa o produto.

Eu vendo em tempo real o mercado financeiro, ai no fim da tarde eu entrego pra mídia e vendo pros jornais, ai eu vendo a mesma notícia em vídeo pras TVs. A mesma notícia em imagens pra fotos.

Vocês não trabalham com áudio?

Não, pra rádio não. 511

É texto, imagem estática, que é foto e imagem de dados né?!

E gráficos. Tem os gráficos pra jornal, mas inclui no produto de mídia. A minha principal missão é reportar. Se é o mais rápido possível nessa entrega de notícias para o mercado financeiro. Se é o mais fiel possível porque quando você está vendendo notícias pro mercado financeiro as pessoas ganham ou perdem dinheiro com essa informação. Então quando mais credibilidade você conquista, mais segurança você tem, mais fidelidade você tem. Pra garantir que essa operação teórica básica que é ter todas as notícias primeiro —até tem um slogan engraçado da Reuters que é: “Get it first, but first get it right”. Você tem que correr pra ser o mais rápido, mas você não pode correr a ponto de comprometer a credibilidade. Pra garantir que uma operação desse porte funcione, a gente tem que ser medido e tem que basear a nossa produção em elementos que sejam mensuráveis porque o jornal pode dizer assim “o jornal de hoje está melhor do que o de ontem”. Em geral é a opinião do editor. Ou se subir mais a venda aqui, ou descer ali. Então todas as operações da Reuters são medidas com base em alguns itens. Eu vou te mostrar aqui. A gente tem medido mensalmente e anualmente e a medição anual faz-se um bônus de todo mundo. Aqui eu vou pegar só pra você ter uma idéia.

Vamos lá. Nosso objetivo é ganhar 75% dos tempos contra Boomberg e Dowjones. Me desculpa, aqu tem uma operação multimídia, eu tenho que fazer três coisas.

É o messenger privado de vocês né?!

É o messenger privado da gente. A gente tem que ganhar 70% das vezes. No Brasil a gente não tem medição contra a Bloomberg, porque a empresa que faz ainda não está organizada para isso, mas a gente tem contra a Downjones. A gente recebe mensalmente um relatório que diz o seguinte: “Notícia da Ford suspendendo vendas: Reuters 12’02” e ele dá o tempo da 512

Downjones”. E ele indica se a gente ganhou ou perdeu. No mês passado a gente foi 68%, no mês anterior foi 85%. A média anual tem que dar mais que 70%. A gente tem medido também por isso aqui, chama “snap gaps”.

Janela de...

O snap você sabe o que que é. O snap é o que a Agência Estado chama de alerta. Essa informação dada em vermelho é uma informação dada como urgente pra depois o cara já sair operando.

E depois ela é retrabalhada...

Ela precisa ter só o fato, a fonte e os quantitativos. Esse não é um bom exemplo porque não tem a fonte, mas tudo bem. Está vendo? 11’12” e 11’20”. Oito minutos. Por que tem que ser menos de dez minutos? Porque o cara sabe que o petróleo caiu pra um dólar. Ele opera com isso. Petróleo está caindo, mas ele precisa saber por que está caindo. Ele não pode ficar esperando muito tempo. O máximo que ele pode esperar, a gente acha, é dez minutos. Então a gente tem que ter o “snap gaps” com uma média inferior a dez minutos. Isso dá agilidade à redação. Tem umas vezes que você está traduzindo... Vamos dizer que o snap veio de

Londres. Então a gente vai cobrir: “Londres tem dez minutos pra cobrir a nota”. Só que você soltou o snap, o alerta, logo em seguida aqui, você também tem dez minutos pra cobrir ela aqui. Então se Londres gastar dez minutos lá, você deu um minuto depois, você só vai ter um minuto pra traduzir o de Londres aqui. Então você vai ter que fazer alguma coisa pra não atrasar. Não é uma coisa que o cara fala assim: “Pesquisador da universidade da Bahia vem aqui hoje a tarde”. E ai eu dou o snap. E Londres vai começar a preparar, pegar seu nome e tal 513

e eu não tenho o seu nome e tenho que dar o snap em dez minutos. Então eu tenho que enrolar e dizer: “Mais uma vez a Reuters se abre pra estudo...”

Como é que você faz esse follow up? Já tem uma política interna ou...

Já está todo mundo super treinado e cobrado em cima disso. Isso é o “bê a ba” da agência.

Isso são as questões maiores que a gente tem. Finalmente a gente tem que ter uma precisão, uma “accurance”, como eles chamam, uma confiabilidade de 99.5. A gente tem a meta. O limite de correção nosso é de 0.5 de falho. Ou seja, em cada 100 matérias, a gente só pode errar em meia. E a gente erra mais ou menos por ai. O Brasil estava com 0.6 no ano passado e agora a gente baixou pra 0.4. Isso tem uma coisa muito curiosa: ninguém no mercado é tão bom quanto a gente porque ninguém no mercado tem esse tipo de medição.

Você acha que isso se deve a quê? Uma política editorial interna forte, a rede de apurações consistente?

Eu acho que se deve a uma cultura estabelecida a partir de uma política editorial forte.

Nenhuma matéria da Reuters vai pro ar sem o que eles chamam de “Second pair of thoughts”.

Na dúvida a gente não dá. A gente só dá com duas fontes em off ou uma em on. Todo padrão de agência de notícia, o melhor do padrão que se tem em agência de notícia hoje em dia, eu estou dizendo que a gente é a melhor agência, o melhor padrão, porque a gente tem esses esquemas. Na dúvida não dá, a gente não arrisca nada.

Isso está escrito em algum lugar ou isso faz parte da cultura interna?

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Está escrito no manual de operações internas, é batido e rebatido nos cursos. Eu me lembro o meu choque cultural, quando eu entrei, na primeira semana, eu era só da parte doméstica do

Brasil. Eu estava super preocupado com os tempos. Vamos melhorar os tempos que a gente se dá bem. E o Pinochet tava voltando ao Chile. Foi um exagero, mas ilustra a cultura. A gente estava aqui na redação, TV ligada quando eu falei: “Pode soltar”. Ai uma estagiária falou:

“Mas nós não vimos o Pinochet ainda”. Ai eu: “Como não vimos? Está o avião, está a CNN, está uma banda de música”. Ai ela: “E se não for o avião do Pinochet?” Bom, então ta. Ai ele saiu do avião, era ele e a gente deu. Isso às vezes dá atraso, por exemplo no “nine eleven” a gente entrou atrasado na brincadeira. Mas muitas vezes é o que salva a nossa reputação.

Concordo em a gente dar os números o tempo inteiro exatos. Então no começo tinha aquela coisa “mais de 300” e a gente não, estamos no 120, que era exatamente o número que a gente tinha. Esse ano a gente mexeu muito no texto. A estrutura de texto da Reuters, essa está bem próxima: é o lead —e o lead tem que ter duas coisas a mais do que os outros. tem que ter

“Why am I reading this?”, porque a gente é uma agência internacional, tem que ter uma explicação pro cara que ta a fim de ver o Lula, porque que tem que ter uma matéria do MST; e

“What´s next?” ou “What´s the following look?”, que é o que vai atrair o cara pra clicar de novo—. No máximo no terceiro parágrafo já vem uma fonte em on falando. Essa é clássica:

“Pelo menos três pessoas num avião e tal, tal, tal... Vírgula, alguém falou isso. “Military official said”. Ai tem a “quote”, tem as aspas que sustentam o lead. Ai tem o resto da matéria.

Essa cultura nós no Brasil estamos tentando mudar porque como a gente teve a Internet a gente está tentando ter um texto mais solto e está tentando fazer mais leades que atraiam a atenção do investidor, que é uma versão moderninha dos textos clássicos da Reuters. A gente tem um padrão de texto que é básico numa fábrica. Tem que ter o molde. Você vai fazer sandália sempre do mesmo jeito. Se você tiver esse molde, você faz melhor a sandália. Se cada sandália você for fazer de um jeito, você vai produzir menos e mais lento. Então tem 515

esse aspecto como qualquer fábrica a gente tem um gabaritão que põe lá pra acelerar a produção e ganhar tempo. A gente tem os parâmetros, você vê que é tudo em inglês. E a gente tem a cultura da excelência. A gente é a maior agência do mundo. A gente virou a maior agência do mundo porque a gente erra menos e é mais rápido. Então essas coisas são inegociáveis. Tem uns padrões que são os “Trust Principals” da Reuters. Todo jornalista fala, todo jornalista respeita. Que é speed, acuracy and primal (??). Independência, precisão/exatidão e velocidade são os lemas da Reuters e todo jornalista tem que seguir.Tem umas coisas que chegam até a ser irritantes, por exemplo, você fez uma entrevista hoje com o

Lula. Você tem 24h para colocar isso no ar, se não ela já não pode ir como entrevista. Ela tem que ir como matéria. Se o Lula te falou alguma coisa você não pode demorar pra colocar no ar. Porque você tanto pode alterar o mercado mandando muita informação quanto mandando pouca informação. Você sabe uma notícia ruim, você não distribui, você está operando marcado.

Me fala um pouco dessa escala de produção. Você está me falando ai dos critérios internos e do encaminhamento dessa informação pros clientes. OK! Como se dá a relação entre obtenção de conteúdo, serviços pra onde esses conteúdos são encaminhados e as plataformas pra esses conteúdos. Tipo assim, uma coisa como essa que é uma entrevista do Lula ou uma marcha do MST em Brasília que ta na pauta de hoje, isso é formatado em que categorias de serviços e depois é disparado em que plataformas?

Começa o dia com uma reunião de pauta às nove da manhã. O serviço começa a funcionar às seis. Ai o que acontece?! Todo mundo aqui já tem uma noção do que serve pra qual serviço.

Além dos quatro serviços, tem todo um outro problema que é uma questão de plataforma. A 516

gente tem a IDS, que é uma rede interna de distribuição, a Internet Delivery System. A gente tem a Antena, que é uma delivery por satélite. Tem os produtos clássicos que são os

“premiums”, mas tem os produtos mais baratos que são os “Internet paste”.

Isso é o que, VPS?

Antena, satélite e alguns alimentados por IDS.

Se você oferece ele por VPN ou por IDS. Isso é uma estratégia de redundância? Se um canal falhar você tem o outro?

Exatamente. É uma estratégia comercial. O cliente opta se quer antena, se der pra colocar, tem outros que preferem IDS. Depende. A gente em geral não se preocupa muito com o tipo de plataforma que ele vai, a gente procura soltar as matérias pra todas as plataformas. Tem uma discussão em termos de produtos se isso vai pra Internet ou se isso vai pra RT. RT é “Reuters

Terminal”, Internet é o resto. Café?

Sim.

Descola um café pra mim. Quer dizer, pra ele. Então vamo lá: Reunião de pauta. Tem um membro de cada serviço na reunião de pauta e por ali já fica mais ou menos estabelecido quais vão ser os destaques de cada serviço. Isso vai pro inglês, isso vai pro espanhol isso não interessa. O editor de inglês no Brasil é escocês.

É o xxx? 517

Isso.

Minha fonte primária aqui seria ele porque eu cheguei aqui através do Anthony

Boldin...

Sim, que é o cara de Cuba.

Ele é cliente do meu orientador. A minha fonte foi por ele

A gente tenta definir uma pauta do dia em cada editoria. A gente trabalha com editoria também. A gente tem uma editoria de commodities, political news, treasure, que é mais ou menos economia, e equaties, que é mais ou menos empresa. Então é tudo girando em torno desses caras. Tem os coordenadores de cada editoria que são os caras que batem o chicote e o tambor. A gente tem um problema sério do ponto de vista estrutural que é fazer uma pauta bem feitinha justamente pra evitar evaporação de esforços, perda de energia.

Você está tentando fazer uma sinergia entre o foco da editoria e o evento.

Exato. MST, Banco Central, cada editoria sai com a sua prioridade e duas sub-prioridades mais ou menos. A gente tem muita capilaridade, a gente tem jornalista em cada capital. Mas em relação os conteúdo que a gente produz, a equipe é enxuta. A gente tem 60 pessoas no

Brasil e produz, em média, 140 matérias em português, 60 em inglês e umas 20 ou 30 em espanhol. A média de trabalho da Reuters é sempre beirando 10 matérias por jornalista por 518

dia, o que é um absurdo. Claro que dessas dez, seis são traduzidas do inglês. Eu tenho muita sinergia nesse aspecto, mas é uma quantidade impressionante.

Você está se referindo ai... Quando você fala matérias são entradas de textos ou eventos?

Dez textos, dez headlines. Não é textinho. Mínimo de um texto que a gente faz é três parágrafos. A gente mede mais por parágrafo do que por linhas. E as nossas coisas são discutidas em termos de qualidade de texto. Tipo assim, por que as primeiras aspas só aparecem no terceiro parágrafo? Então tem muito essa gíria “entrou lá em baixo”, ou “lá em cima”, “sobe um pouco isso”. Mesmo por texto que vai pros jornais tem essa discussão. Olha, sobe um pouco a quote do José de Alencar na matéria da Vale. Essa estrutura que vai pro RT

é o que a gente chama de file contínuo. Então você pressupõe que o cara vai ler aquilo a qualquer momento. Então você tem o alerta; ai você cobre o alerta, que é aquela história dos dez minutos com a primeira matéria; depois em menos de uma hora você tem que colocar o atualiza, que resolve todo aquele problema, conta toda aquela história.

Então quando surge o alerta manda pro RT e depois...

Você completa a informação que estava no alerta com o que a gente chama de “urgent”, que são dois parágrafos que cobrem aquilo. Então já tem tudo que o cara precisa. Ai você vai acabar a reportagem inteira, você vai fazer s famosas 60 linhas de matéria. Isso é o atualiza 1.

Vocês vão fazendo as layers.

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Esse seria o atualiza 1. A morte do papa teve atualiza 6, atualiza 7. Em outras matérias no primeiro atualiza você fecha. Por exemplo, eleição. Você começa de manhã, ai você faz o

Serra votando, a Marta votando, o Lula votando... Ai pra fechar você faz o “Consolida” ou

“rap”. Esse conceito de matéria em português chama “central”. Ai você gera tudo que você tem e joga tudo na central. Em inglês chama trunk. Pro cara do mercado financeiro, se ele for ler uma coisa sobre o tema, ele vê aquela matéria e ele tem tudo. Em português a gente em geral divide. Aqui a gente faz, além da central, algumas laterais. Então faz algumas laterais do

Lula votando, uma com a Marta votando e uma com o Serra. Três materinhas mais a central da eleição.

O conteúdo que está na RT está na web ou tem um delay? Ou ele tem filtros?

Tem tudo. Tem filtros e delays. O conteúdo que a gente faz está na RT. O que a gente faz de melhor ta na RT. Só não enche muito de esportes pra não atrapalhar e, por exemplo, lançamento do livro do Paulo Coelho você não vai pôr aqui. Se você tem um exclusivo com o

Paulo Coelho você até põe. Porque senão começa a embaçar.

Imagino.

O cara lê a matéria, edita e manda pra RT. Ai o mesmo cara já manda pro estagiário que manda pra Internet.

Esse serviço de Internet é pago?

520

Pago. Não, não, Internet que eu digo é mídia já. Já vai pra UOL, IG, esses cantos. A maioria desses veículos têm um sistema que a gente chama de robozinho...

Já pega do servidor de vocês...

E já põe a matéria na página do IG do lado. Direto. Eles também têm um serviço contínuo, embora menor. Mas o pessoal de web não tem os alertas.

Porque já é uma priorização pra mercado.

Exato. Um minuto é muito tempo, a gente ta falando em três, quatro segundos. A gente tem que ser rápido porque a gente tem que ganhar nas ações. Não que o cara vá vender ou comprar ações nessa velocidade, mas é que a gente precisa ganhar. O ano passado a gente tava perdendo todas nos EUA e descobrimos que a Downjones e a Bloomberg estavam ganhando todas porque eles tinham um automático. O computador pegava o release, lê o release e publica a notícia. Nos EUA tem uma indústria muito grande de release. As empresas mandam releases pra bolsa. A comunicação empresarial é muito forte. A comunicação das empresas com o mercado, com os releases é muito forte. Então nas três grandes agências tem um sistema que você vê se o release vale notícia e põe no ar.

Como uma newsletter?

É. A gente tinha um manual em cascata. E as boas iam em texto. A gente descobriu esse programa deles que pegava a notícia e transformava o release em matéria automaticamente.

Punha o título, copiava os três primeiros parágrafos e estava no ar. A gente fez um igual, 521

chama Wire Range (??), que mais ou menos custou um milhão de dólares que é destinado a salvar três ou quatro segundos no final. Você vai falar pro cliente: eu ganho em 70% das vezes.

Um segundo valendo 250 milhões.

Por ai. Ai você vai dizer: ta aqui a lista oh! De todas as notícias importantes desse ano e desse mês eu ganhei em 70%. Então se foi uma vitória por um segundo, por meio segundo, por gol de mão ou se foi impedido não interessa. Então tem esse foco centralizado em tempo também.

Então o critério fundamental que você tem, depois de ter dimensão do volume de informações, é primeiro o trabalho do RT, depois estabelecer um trabalho em camadas, encaixar essa informação em outros serviços pra potencializar o custo da operação...

Saindo da pauta, vamo pro trabalho. A pauta era “IBGE divulga números do desemprego”.

Tem um repórter pro IBGE e dois repórteres aqui, um pra português e outro pra inglês. No rio tem espanhol. Três ou quatro minutos antes de sair o resultado o repórter que está lá liga e foi in conference com três editores, um de cada sistema. Olha, no desemprego foi 18,5. Ai um só grita: Repete! Ai: dezoito virgula cinco. Ai pum, sai o alerta! Ai o mesmo repórter conta alguma coisa. “Diz aqui que foi porque estão construindo muitas estradas”. Ai pum, foi o newsletter. Ai o repórter participa da coletiva do IBGE e explica todos os números e escreve a primeira matéria. Esse repórter pode ser inglês, português ou espanhol, depende do dia. Então o idioma que ele fez já manda pro ar, os outros já traduzem. Ai é financeiro com certeza...

Entra no financeiro. Dentro do financeiro tem cinco ou seis códigos, ai você escolhe. Vamo lá: Ronaldinho separou da Cicarelli. Vamos pro RT? Não, não vamos pro RT. Então prepara 522

umas matérias menos compridas, um pouco mais soltinha, que vai só pra Internet. E meios.

Internet é mídia.

Vocês estão com quantos serviços hoje em dia?

Nós temos 220 serviços.

Alocados nessas plataformas? Serviços podem ser...

Pode ter serviço francês, pode ter serviço chinês, pode ter serviço sueco, pode ter serviço português. Tem um monte. Tem serviço de commodity, de energia.

No Brasil, na operação de vocês, quais são os epicentros informativos? São Paulo claro...

São Paulo, Rio e Brasília.

Em Brasília, com poderes em geral...

Política, congresso 70%, planalto 30%. Banco Central, Secretaria da Fazenda, Secretaria do

Tesouro. Cerca de 70% das notícias de Brasília são econômicas e 30% são políticas, pelo volume.

Rio de Janeiro...

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IBGE, Vale e Petobrás e Varig. Sendo que o mais importante Vale e segundo Petrobrás. Vale e Petrobrás o C.E.O. foi no banheiro. Trinta linhas: “O C.E.O. foi no banheiro”. Saiu do banheiro mais quinze linhas. É o que tiver.

São Paulo, Bovespa?

Não. Em São Paulo o jogo é outro. São Paulo tem mercados. Tem Bovespa, dólar e futuros, tem a coluna da Jô Bittencourt, que amarra isso tudo. Muita atenção em juros futuros, muita atenção no que vem pela frente. Empresas são os cinco grandes bancos. Empresas tem 20 targets. Gerdau, Embraer... Ou por terem no exterior ou por serem importantes. Votorantim não tem nada em lugar nenhum, mas a gente coloca por ser a maior de todas. Commodities a gente cobre um monte de coisa. Grãos: soja, milho e trigo são fortes. Depois a gente cobre algodão, suco de laranja, carne e café. Mas café com relatório de tempo, relatório de embarque, relatório diário de mercado físico com tudo que você tem direito. Na safra, a gente sabe onde a safra ta o tempo inteiro. Então sai uma matéria dizendo “30% da safra não foi colhida; dos 70% colhidos, 40% está em caminhões, 10% em armazém, 5% sendo demarcado nesses navios e tem esses navios esperando”. A gente tem um relatório diário e super completo. Commodities é a editoria mais especializada que a gente tem. Commodities e energia. Energia também. A gente monitora o movimento diário da Petrobrás. Não sai um barril de petróleo de lá sem a gente saber. Não por nosso mérito, todo mundo faz isso, mas é o tipo de cobertura que a gente faz. No inverno é engraçado porque o cara de commodities, o cara de café ligam pra algumas fazendas “ta geando? Não? Brigado!”, “ta geando? Não?

Brigado!” Então tem umas coisas de high tech, tem umas coisas de low tech.

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Sobre essa observação de low tech, essa é a terceira observação que eu estou fazendo na minha pesquisa... Deixa eu colocar pause aqui porque ai eu te explico um pouco.

(...) Uma série de ferramentas pra passar a matéria depois que ela está pronta. Não é uma invenção da roda do jornalismo velho. O jornalismo se faz como o jornalista na rua apurando.

E é engraçado porque a gente tem uma graduação de fontes. Então uma em on vale duas em off tal, tal, tal. Mas a melhor fonte é o olhar de um repórter da Reuters. Então, por exemplo, aqui nos alertas você tem que sempre dar a fonte, a não ser que você tenha visto. Então se você viu o concorde pegar fogo, você escreve o concorde pegou fogo. Eu vi! Agora reportagem é evidentemente low tech, não tem conversa. Eu vou fazer o seguinte agora: eu vou pular uma janela, vou colocar você na redação...

Mário, você falou que dentro do pacote da Reuters tem um pacote de informação e de serviços que é prestado pra clientes dentro de uma estratégia mais compacta, mais simplificada. Qual é o nome desse produto e qual é o foco de mercado que a agência ta procurando atingir com isso?

O nome do produto é “Company & Markets News” e o foco é, por exemplo, Peugeot. Tem um sitezinho lá pra lhe dar com os clientes deles, gostaria de ter notícias nesse site. Não todas, mas as manchetes. Então esse produto têm um número limitado de notícias, por isso ele é muito mais barato que o outro, e ele atende a sites que não são profissionais em notícias, mas que precisam ter notícias como parte integrante do site. Porque o pacote profissional de notícias é muito caro. Então, por exemplo, o IG tem o pacotão pra umas áreas e o pacotinho pra outras áreas. É como se fosse uma versão light do RT.

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(...) então quer dizer que o “bird” é uma espécie de controladoria interna com a objetivação de você evitar uma hegemonia acionária por parte da...

Tanto é que ninguém tem mais de 8%, isso garante o nosso princípio de independência. É tão básico o princípio da independência, é tão ativamente cultuado dentro da empresa, que eles assumem como uma coisa natural. Então naturalmente quando se pensou em fazer uma plataforma de delivery já se pensou em fazer uma plataforma fechada. Agora isso não quer dizer que você não podia comprar na Microsoft o messenger, por exemplo, é comprado da

Microsoft, é montado pela Microsoft. Havia uma tendência ao exagero nessas coisas. Sem pensar já se fazia isso com outras pessoas. Então internamente pra... Mas não manter o controle editorial naquele termo clássico. “As agências controlam a informação do mundo e tal e tal”.

Isso é uma coisa de que eu to querendo fugir na tese.

É que ta embebido nisso ai. Faz parte da raiz da empresa esse tipo de postura.

526

Entrevista com Marizete Mundim, chefe da divisão de clipping da Radiobrás/Agência

Brasil.

Marizete como foi a estruturação da Agência Brasil? Ela surgiu a partir de que estrutura?

Bem, a partir do momento que eu entrei aqui, que foi há uns oito anos atrás, a Agência

Brasil já existia, mas ela existia muito precariamente. Nós ficávamos num prédio que até ganhou o apelido de Titanic, porque toda vez que chovia a Defesa Civil era chamada porque ele começava a afundar. Trabalhávamos num esquema DOS ainda. De computação não gráfica ainda. E as matérias eram enviadas por tele-fax. Nós tínhamos apenas cinco clientes, entre eles a Agência xxx, da China. Então eram pouquíssimos clientes. A gente tinha uma estrutura montada, mas pra atender a cinco clientes basicamente.Como não existia Internet ainda, isso tudo não era aberto. Então tinha aquela estrutura toda trabalhada pra isso e já era uma agência de notícias, mas com uma produção muito baixa e muito precária. A partir daí começou-se um esforço para moderniza-la e coloca-la na Internet. Isso foi um trabalho de uns dois anos e meio mais ou menos.

Há seis anos atrás mais ou menos...

É, não... Ai já pra colocar na Internet foi há uns cinco anos atrás. Então o que aconteceu, nos mudamos pra esse prédio aqui, foram comprados computadores, mas o sistema ainda continuava DOS. Então a gente tinha um problema. Como a gente ia jogar aquilo na Internet por que são dois sistemas que não se falam né?! A Agência Brasil 527

começou manualmente na Internet. Como isso era feito? Tinham três pessoas que copiavam esse material do DOS, transformavam isso em HTML pra poder jogar na

Internet. Então era um tempo real meio fajuto, era tudo meio manual até que a gente conseguiu desenvolver um programa que capturasse esse material em DOS e jogasse pra

Internet. Isso até que a gente conseguisse passar pra um outro ambiente gráfico porque ai ficaria tudo tranqüilo. Mas era uma agência que cobria basicamente governo. O objetivo da agência era esse, cobrir atos e fatos do governo. Depois que a gente entrou na

Internet houve um trabalho interessante porque a gente conseguiu ganhar espaço como uma agência oficial de governo. Se as pessoas quisessem saber exatamente o que o governo achava sobre isso ou aquilo, estava ali. E a gente tinha um tempo real muito ágil o que fazia com que a gente fosse monitorado por outras agências. Nós chegamos a ter sete milhões de acessos ao mês.

Você tem idéia de hoje quantos milhões de acessos está por mês? Tem idéia disso?

Não tenho essa informação, talvez o Flávio possa te passar. Mas então era uma agência com o foco bem limitado, a gente cobria governo.

Você falou que quando a agência ainda não era pela Internet ela tinha poucos clientes e o trabalho era muito restrito a esse horizonte ai de clientes. Nessa época vocês distribuíam material como? Por telex, fax?

Era por telex nessa época. A gente tinha um produto, que era a pauta, na verdade uma agenda do governo, que essa era vendida pra vários órgãos de imprensa. Acho que a maior parte deles era assinante da pauta, mas não do noticiário, porque o nosso 528

noticiário ainda era muito fraco, na verdade, e numa forma de distribuição muito precária. Então nessa época o produto nosso que realmente despertava o interesse dos outros órgãos de comunicação era a agenda, o nosso agendão. Nós só começamos a ser mais utilizados pelas outras agências quando entramos na Internet, porque ai realmente ficou mais fácil.

E quando vocês entraram na Internet esses outros serviços foram descontinuados?

Não. A pauta continuou sendo vendida da mesma forma. Mas você diz aqueles cinco clientes né?!

Esses cinco clientes e os meios de distribuição por telex, fax...

No momento que a gente entrou na Internet esses serviços foram descontinuados ai a agência passou a estar disponível gratuitamente na Internet. Na verdade isso ai foi o grande salto que a gente deu naquele momento porque você deixou de ter apenas cinco clientes e passou a ter um acompanhamento que a gente verificava que as outras agências; Globo, JB, Folha; aproveitavam parte do nosso material, mas é como eu te disse, a gente só cobria governo, era uma coisa bem ligada ao poder. A gente cobria governo apenas. Não havia essa preocupação que há hoje, que eu acho que até enriqueceu bastante o noticiário, que é cobrir a sociedade. Naquele momento não. A gente se posicionava mesmo como uma agência de notícias do governo.

Como foi essa virada da cultura interna da agência pra produção de sair desses modelos mais arcaicos tecnologicamente falando pra Internet. Que aspecto você acha que mudou? 529

No início era um trabalho de concentração porque assim, aqui é uma empresa pública, boa parte das pessoas é concursada então tem aquela cultura de trabalhar pouco, digamos assim né?! Quando a gente entrou na Internet, era necessário agilidade. Era preciso fazer flash, e as pessoas estavam acostumadas a cobrir um assunto, voltar no final da tarde, escrever uma matéria. Na Internet tem aquela coisa de você ter que estar alimentando continuamente. Foi uma guerra isso ai. Foi uma luta pra gente poder dar esse novo ritmo de produção. A gente passou bem uns oito messes tendo que, enfim...

Estar cobrando, tivemos que até promover algumas demissões pra pessoas sentirem que aquilo dali tinha que mudar. Esse foi um processo que acho que levou de seis a oito meses. É aquele negócio de pegar no tranco, mas depois que pegou então... Os repórteres passaram a se estimular vendo que seu material estava aparecendo na Internet, estava sendo reaproveitado por outras agências e ai acho que foi uma coisa que foi motivando as pessoas.

Mas o ano do começo de funcionamento da Agência enquanto agência você sabe?

Antes da Internet?

Sim, antes da Internet.

Isso a Graça pode te dizer, porque na verdade a Agência Brasil é originariamente a

EBN, Empresa Brasileira de Notícias. Havia a Radiobrás, uma empresa, e havia a EBN, outra empresa estatal que trazia... Curiosamente a frase era agência de notícias e fazia a

Voz do Brasil, apesar da Radiobrás ser uma empresa de rádio. A Voz do Brasil veio da 530

EBN. Então a agência Brasil, na verdade, é a EBN depois que incorporada pela

Radiobrás. Mas o início mesmo quem pode te contar é a Graça porque esse período eu não acompanhei. 531

Hoje é 17 de maio, eu to falando com Paulo Whitaker, fotógrafo da Reuters, editor de fotografia da Reuters Brasil.

Quais são os critérios de diferenciação de fotografar pra uma agência e de fotografar pra fotojornalismo de uma maneira geral? O que a agência pede na tua prática cotidiana?

Pra fotografar pra uma agência internacional de notícias primeiro a notícia tem que ter interesse internacional. Tem que ser notícia fora do Brasil. Segunda coisa quando se faz um trabalho desses, é fazer um trabalho diferenciado. Mais específico. Você não pode ir lá e fazer o café com leite. Você tem que estar sempre imaginando, pensando, tentando fazer uma coisa diferente. Uma foto mais fechada, um ângulo diferente, um detalhe. Você tem sempre que ficar ligado nessas coisas.

Essas implicações estéticas... Existe uma norma, uma padronização ou é mais uma cultura interna da empresa? Pra cobrir, vamos supor, um evento esportivo. Existe alguma padronização ou algum enquadramento de como essa imagem deve ser gerada?

Existir não existe, mas é muito parecida a linha que as agências usam. Futebol, por exemplo, jamais você vai mandar uma ação sem bola. São coisas básicas, mas primeiro você tem que editar o material superbem editado pra enxugar bastante e não ficar mandando muita foto porque se você começar a mandar muita foto os caras da mesa vão ficar loucos porque se todos os fotógrafos do mundo inteiro mandarem muita foto eles vão ficar perdidos lá e ai dá um congestionamento.

532

Qual é a sua dinâmica da mesa? Você falou que tem três mesas e que agora elas foram modificadas, centralizadas, como é isso ai?

Antigamente a Reuters trabalhava com três desks: um em Washington, um em Cingapura e um em Londres. Agora, há um mês atrás, exatamente em primeiro de maio, começou a funcionar só um desk em Cingapura. Ele é 24 horas. Antes se você quisesse mandar uma foto na hora que Washington tava fechado, você mandava pra Cingapura. Agora não, acho que por economia. Não sei qual o critério. Agora todas as fotos do mundo inteiro são mandadas pra

Cingapura e Cingapura distribui para os clientes. Mesmo um cliente brasileiro, quando baixa uma foto ele está baixando do servidor de Cingapura, pode até nem saber....

Dentro da tua rotina de produção... A Dani me falou que às vezes você é escalado pra lugares onde a Reuters não tem escritório. Imagino que isso seja até comum. Esse processo de atualização, de geração da imagem, de projeção, que plataforma você usa?

É wireless? É modem? Quais são as alternativas que você usa sempre?

Aqui em São Paulo a gente ta usando pela placa da Vivo...

Wi-fi?

Não, não é wi-fi. Wi-fi também a gente usa, mas o que eu tenho usado mais é aquele G-Tram, que é um telefone modem que tem uma plaquinha que você põe no computador e funciona superbem. Senão o celular, senão o wireless. Quando a gente viaja, por exemplo eu fui pra

França na Copa de 98, usei um telefone que funcionou perfeitamente. Era usado pra transmitir treino, num jogo é um sistema completamente diferente. A Reuters, em 98, foi a primeira 533

agência a mandar foto por ondas de rádio do campo. Então a gente trabalhava do campo com um laptop lá e um anteninha e mandava descarregar as fotos direto pro centro de imprensa, ali no estádio mesmo. Lá cada editor ficava com o fotógrafo, tratava a foto, cortava, editava, fazia legenda e mandava pros clientes. O satélite era direto. Então a Copa de 98 pra Reuters foi um arraso. Nunca se publicou tanta foto da Reuters como na Copa de 98.

Você percebe desníveis entre o modelo de operação de vocês aqui no Brasil e os de outros países? Tem alguma coisa que peca na operação de vocês aqui de foto? Eu tava vendo modelos de produção de agências, eu não estava pesquisando só vocês, e ai eu cheguei aqui e perguntei: E o setor de fotos? E todo mundo: “O setor de fotos é aquele cantinho ali”. E eu achei tão pequeno. Isso não causa nenhuma limitação?

Na verdade eu acho que o departamento de foto aqui não tem que ser grande. Foto você tem que estar na rua trabalhando. Foto, se você está aqui, você não está fazendo nada.

Vocês contam com quantos fotógrafos?

Aqui no Brasil a gente tem três fotógrafos do staff e dois freelas. Dois em São Paulo, dois no

Rio e um em Brasília. Eu acho que já está na hora de a Reuters se preocupar mais com a

América Latina, tipo fazer um sub-desk em algum país aqui. Eu acho que seria o Brasil, que é o maior. Na verdade existe mais ou menos isso porque o outro fotógrafo que trabalha aqui comigo é o chefe da América Latina. Ele coordena a América Latina. Mas, por exemplo, tem outras agências... A France Press tem uma mesa em Montevidéu. Porque às vezes fica muito difícil um cara em Cingapura saber o que é o Brasil, o que está acontecendo, se a notícia é importante ou não. 534

Essa mesa tem poder de corte?

Tem, total. Não só de corte, mas como de por foto num serviço ou não. Mas do meu material

99% passa e do jeito que eu mando. Dificilmente eles cortam uma foto. E também dificilmente não botam ela num serviço. Eu trabalho há oito anos na Reuters e já trabalhei uns cinco anos na France press. A gente sabe mais ou menos a limitação. Não mando muita foto mesmo. Só filé.

O que o pessoal do desk da Reuters pede de imagem do Brasil?

Não pedem nada, quase não falam com a gente. Liberdade total. Eu que me pauto. 90% das fotos eu que tenho que ir atrás, pesquisar, ler jornal. Tinha muito, agora não tem mais, uns tais de “Special Request”. Você está fazendo uma corrida de Fórmula 1 ai tem um cliente do

Japão que quer foto de um corredor e não sei onde. Então a gente faz esse tipo de serviço também, mas muito pouco.

Amazônia?

Não. A Reuters, pelo que eu vejo, é o melhor lugar pra trabalhar porque não existe muita cobrança, é super tranqüilo, o pessoal te trata bem. Isso eu falo porque a gente sempre conversa com os colegas da AP e da France press. Tem um stress total. A AP principalmente

é incrível. Os caras estão fazendo a foto e ai já tem cara lá em Nova York —porque a mesa deles é á em Nova York— reclamando. Vou te dar um exemplo: na cobertura da posse do

Lula, um fotógrafo da France press fez uma foto do Lula com a mão na cara, enxugando o 535

suor porque tava um puta calor na hora que ele tava discursando. Ai o cara da France press que é meio maluquinho, faz umas legendas meio criativas, fez uma legenda que o Lula tava chorando e era mentira. Ai não deu cinco minutos e a AP ligou pro fotógrafo daqui e disse: “É essa foto que nós temos que ter”. Porra! Ele ligou pra mim pra perguntar se ele tinha chorado.

Ele enxugou o rosto, tirou o suor, mas não chorou. Ai ele foi perguntar pro fotógrafo que fez a foto e ele falou: “Realmente ele não estava chorando. Eu não pus isso na minha legenda, o cara que mudou aqui”. Ai você vê o tipo de cobrança. A AP já começou a stressar o cara. A

Reuters é super tranqüila e acho que das três... Bom, eu nunca trabalhei na AP, mas eu acho que a Reuters é mesmo a melhor de se trabalhar. 536

Entrevista com Priscila Braga, supervisora de telecomunicações da Reuters.

Os serviços que a Reuters oferece, em que plataformas eles são distribuídos?

Depende muito do serviço. Tem serviços que são mais pesados, mais carregados, ai você vai distribuir ele por link de dados e ai vai depender do serviço. Você tem as taxas de transmissão variadas.

Link de dado você diz o quê?

O cabo mesmo. Via cabeamento, via provedor. A gente trabalha com Telefônica,

Metroverde, Embratel e, dependendo do serviço que vai ser oferecido, a gente consulta os provedor e, a partir daí, começa com o processo de aluguel de links.

Links dedicados. Tem links de 64k, de 128k, dependendo do serviço. Por exemplo, serviços de tempo real. Cotações são mais robustos.

São links mais robustos.

Serviços de tempo real, que são os “Três Mil Extra”, que é um serviço da Reuters, também. É 64K. Então dependendo do serviço você tem uma taxa de transmissão e ai a gente pode alugar pra uma provedora já com a taxa de transmissão daquele serviço. 537

Uma rede privada?

Isso, uma rede privada. Você usa a rede pública pra ter acesso ao cliente, mas você não pode estar esticando muito. A gente aluga da provedora, mas é um link dedicado. Então a gente tem os IPs, tem todo um procedimento. Na hora que você contrata um link, você tem que respeitar um check list que a gente manda. Esse check list vai ter os IPs que a gente vai ter aqui dentro pra máquina acessar.

Dependendo do serviço a gente escolhe a taxa de transmissão pro link. Tem via satélite também. O tempo real também é via satélite. Você tem delivery, entrega de dados via satélite também como um respaldo de um link. Se faltar a broadcast a gente tem ai a entrega via link.

Tu terias uma lista dos serviços?

Tem. Dependendo do local que a gente ta, tem uma provedora que aborda. Quando a gente vai contratar um link, ou o cliente vai contratar, a gente pede mesmo... Dependendo da resposta, ou do custo .

Você sabe dizer se o serviço é taxado por terminal ou por aplicativo? Por quantidade de serviços... De produtos, aliás.

Bom, a Reuters cobra por terminal. Só que assim: dependendo do serviço tradicional, em cima daquele aplicativo... Ele tem acesso a trinta códigos. Se ele 538 quiser mais trinta códigos, tem uma taxa que eu não sei te explicar bem. Ele pode te explicar bem melhor. Você faz o que Afonso?

Eu sou professor da Federal de Pernambuco e sou aluno de doutorado da

Federal da Bahia. Eu to fazendo um curso na Bahia e ensino no curso de jornalismo de Recife, eu ensino as cadeiras comunicação e tecnologia e jornalismo em web... Jornalismo para novos meios.

Ah, a interação entre os dois. Por isso que você está interessado na agência.

Exato, porque o foco é esse.

Basicamente a parte de circuito é: a gente analisa o circuito, analisa o programa que vai estar sendo trabalhando e, em cima dele, a gente decide se vai ser meta... Isso tudo tem a ver com as taxas de transmissão. Aplicativos mais pesados exigem taxas maiores.

Espera um minuto pra eu entender. Então quais são as linhas? Isso... Dealing 2000.

Qual?

O primeiro da lista.

539

Esse aqui é um serviço da Reuters. Dealing é de programação da web. O aplicativo

“xxx” é como se fosse um Messanger, um chatezinho. Se eu sou do Banco de

Boston e sou assinante Reuters, você é do Bradesco e também assina. Eu tenho como puxar. É como se fosse um manualzinho. O do Banco de Boston é, se não me engano, DKBL. Eu tenho como puxar a conversa. E o documento da conversa

é um documento. Esse chat é feito via link.

Quais são os serviços que exigem banda larga?

Os HT.

Ele faz o que se ele é HT?

Os HT são em tempo real, histórico, ou seja, um monte de coisa junta. São vários serviços agregados nessa plataforma. No produto a pessoa puxa várias informações. Só que o que acontece: em tempo real você não pode ter atrasos, delays, porque senão você não vai estar garantindo o tempo real. Então é usada pra esse tipo de serviço a antena. Você tem o equipamento que tanto chega no back link, por rede privada, que a gente aluga de provedora.

É sempre assim. Ou você transmite via satélite ou linha dedicada. O cliente comprou o serviço da Reuters. Se ele pediu pra gente comprar o serviço, a gente passa pra todas as provedoras que a gente conhece o endereço, o número, tudo direitinho e pede pra eles o quê? Custo, pelo serviço que ele ta contratando a gente já sabe qual vai ser a taxa. Então a gente pede pras provedoras pra elas analisarem o local, com aquele tipo de circuito, e qual o custo. Ai você faz uma pesquisa. Dessas uma aborda o local ai você começa a taxa de negociação. Ai aqui chega, por exemplo, dependendo do serviço... Na verdade é assim, cabinho por cabinho ta no 540

cliente. Chega na provedora que é uma rede e junta tudo isso num E1, que é um cabo só que consegue concentrar todas as informações. Ele é multiplex, pega todas as informações dos circuitos dedicados aos clientes e põe numa fibra ótica só. Todas esses clientes chegam aqui pra gente numa fibra. E lá cada cliente é um diretório mesmo. É como se fosse uma rede pública, mas não é. A gente ta usando a rede pública pra chegar no cliente, só que ela é totalmente privada.

Tô entendendo. Ai é HT.

Os serviços são: DM, que é só tempo real; LHT, a gente tem o “Section Server”, que é só histórico. Então ele também é um circuito que exige pouca banda. É meia quatro. Então vamo lá: serviço de transação de moeda é serviço que exige pouca banda, então a gente usa um link alugado e DM, que é “real time”, você está fornecendo dados que devem ter uma certa integridade mesmo que qualquer tipo de mídia dê um certo atraso. Mas pra garantir a credibilidade a gente faz um teste com o cliente via satélite. É um equipamento, com uma placa, onde você vai ter uma antena e você também tem uma placa chegando ao circuito.

Começa com 128 e dependendo do cliente chega até 512.

541

Entrevista com Renata Aguiar, gerente de produtos de mídia da Agência Estado.

Renata, fale em linhas gerais qual é a atuação específica da mídia dentro da Agência Estado e como está se dando, no nível subseqüente, essa reestruturação que você está me mostrando ai na tela e que objetivos a agência pretende atingir com isso?

O trabalho do mídia basicamente é fornecer conteúdo pra jornais do Brasil inteiro. A proposta da Agência Estado é ser a sucursal desse jornal no Brasil e no mundo. Como agência internacional a gente tem uma parceria com a Associated Press, a gente trabalha em parceria com Associated Press, a gente recebe conteúdo, a gente tem uma mesa de editores que recebe esse conteúdo, traduz e edita e ai a gente manda pro cliente com a qualidade editorial da Agência Estado, com uma visão jornalística brasileira sobre o que está acontecendo no mundo. Quando recebem um conteúdo direto de agência internacional, sem passar por uma mesa de editores aqui do país, isso vem tudo com uma visão internacional, de fora. E a gente vê esse conteúd aqui, passa pela mesa de editores, ele passa e isso chega no cliente final. A gente trabalha o noticiário nacional, que é todo o conteúdo do Estadão e do JT, das editorias de política, economia, variedades, esportes e geral. Então tudo o que o Estadão vai publicar no dia seguinte a gente recebe aqui na mesa, tem uma equipe de editores, que eu não sei agora de cabeça quantos são, que pegam esse material, mexem numa coisa ou outra que precisa de ajuste, colocam numa linguagem temporal que vai atender ao nosso cliente lá na ponta.

A diferencial da Agestado no mercado hoje, com as agências que tem aqui no Brasil e com as outras agências nacionais é justamente a preocupação da Agência Estado com o cliente que está na ponta porque nem tudo que o Estadão produz ou nem tudo com o linguajar do Estadão vai interessar ao nosso cliente na ponta. Todos os editores aqui, o 542

trabalho deles é ter essa visão externa. É fazer com que a coisa fique atrativa para o cliente na ponta. Então a gente tem um trabalho que a gente depende do conteúdo do

Estadão, mas o Estadão enxerga a Agência Estado com um respeito muito grande porque e gente eventualmente divide custos de coberturas com eles. A Agência Estado também tem interesse que isso chegue rápido pro cliente, que a gente possa produzir e entregar o melhor material possível. A gente é parceiro do Estadão, em algumas coberturas especiais tipo Olimpíada, Copa do Mundo, a gente está sempre junto.

O maior fornecedor de material para o setor de mídia jornalística da Agência Estado é o

Estadão?

Sim.

Porque tem toda uma produção, uma análise econômica que é própria da agência...

É assim. No noticiário nacional, que eu te falei que são essas editorias, é tudo do

Estadão. Eventualmente alguma coisa que a gente produz aqui pros outros produtos que são online, os serviços setoriais, o broadcasting, enfim. Tem muita coisa que o Estadão não publica que a gente manda pro cliente. Se a gente publicou uma matéria no setorial durante o dia e se a gente acha que aquilo vai interessar praquela mídia, se não tiver embargo, a gente coloca no canal mídia por cliente acessar lá na ponta. Então, por exemplo, além do noticiário e economia que dentro desse noticiário aqui olha, que é economia, esporte, geral, variedades, a gente tem um noticiário econômico. Muitos jornais têm os dois, apesar de ter economia dentro do nacional, assinam os dois, assinam o econômico porque ele é um produto mais analítico. A gente fala do balanço de 543

empresas, enfim. E é um material todo produzido aqui na agência. A gente pega algumas coisas do Estadão, mas a maioria é da Agência Estado, que não tem embargo.

Como fica a política editorial de vocês nesse caso de um material que não é publicado no

Estadão ser reaproveitado pra cá? E também como é o processo de negociação de o material de vocês ser distribuído pelo Estadão? É a mesma política que vocês têm com clientes externos, por exemplo, com um jornal da Paraíba que assina o serviço de vocês?

A gente não costuma, mesmo que o Estadão tenha uma matéria muito importante e tal...

O que as outras agências fazem é: elas mandam esse conteúdo num horário em que o cliente não vai poder publicar. Por exemplo, o Diário de Pernambuco tem um horário de fechamento que é diferente do nosso. Então as outras agências fazem isso num horário que elas sabem que o cliente não vai aproveitar, que vai chegar na redação, que vai olhar no dia seguinte no jornal e vai dizer: “Puxa a agência não me mandou esse conteúdo aqui”. Ai ela vai dizer assim: “Mandei sim, é que você já tinha fechado o seu jornal e não colocou”. A Agência Estado não faz isso.

Quer dizer que o critério de seleção e de velocidade...

A Agência Estado não tem isso. A partir do momento que a matéria está liberada a gente já manda pro cliente na hora. Aqui na Agência Estado a gente é conhecido por isso, pela qualidade, pela agilidade, por não prender conteúdo só pro Estadão publicar e o Jornal do Commercio e o Diário de Pernambuco não publicarem. Esse é o nosso diferencial e a gente é muito respeitado por isso. E a Agência Estado tem um comprometimento muito grande com o cliente. A gente tem uma equipe de atendimento 544

que trabalha no fim de semana pra tirar dúvidas editoriais inclusive. Nosso editor aqui, vira e mexe liga jornal e pedindo sugestão de primeira página. A gente ainda dá uma certa consultoria no final das contas. Então o cliente tem esse valor percebido fortemente. Então quando um jornal ta em crise, precisa cortar custos, demitir gente, o jornal liga aqui, pergunta o que a gente pode fazer pra melhorar, pra diminuir a fatura dele porque ele não quer ficar sem a Agência Estado, porque o diretor do jornal que não entende de conteúdo editorial quer cancelar, mas ele não quer. E a gente é a agência mais cara do mercado nacional. Mas é que eu ofereço uma estrutura pro meu cliente que nenhuma outra agência oferece. E o cliente sabe disso, isso é muito claro no mercado.

Você pode não me responder e eu respeito completamente, mas o pacote full da Agência

Estado está em torno de quanto?

Eu não gostaria de falar sobre pacote de preços, enfim, até porque a gente não trabalha com pacote full. A gente tem um noticiário. O cliente pode assinar o noticiário nacional, pode assinar o noticiário econômico, pode assinar só o internacional, enfim. Ele pode só assinar o compacto. O noticiário compacto foi um jornal que a gente fez pra atender a jornais menores. Porque no noticiário nacional a gente manda cerca de 300 matérias por dia.

De cada um? Economia, política...

Não, nele completo. Entre economia, geral, política. A gente manda cerca de 300 matérias dentro do noticiário nacional. Se o cara quer só política, ou só economia, eu não posso vender esse produto. É o geral. É o pacote completo, até porque pro jornal é 545

interessante ter tudo, a não ser que seja um veículo especializado. Por exemplo, só de economia. Se for só de economia, ele vem aqui e compra o noticiário econômico só.

Então esse noticiário compacto foi um produto para um jornal pequeno, com vendagem abaixo de 10 mil exemplares. Para um jornal de 10 mil exemplares, ele não tem gente na redação o suficiente pra receber 300 matérias por dia e editar isso.

Ai pra esse noticiário compacto você tem a aplicação de um critério de noticiabilidade que obedece a um critério mais rigoroso no sentido de compactar mais as notícias...

Exatamente. Só que já vai pré-selecionado pro cliente. Aqui a gente manda tudo e a gente já manda o que é mais importante praquele cliente que não tem aquele editor pra olhar esse material, ver o que é mais importante, eventualmente corrigir uma coisa ou outra. A gente já manda o material pré-selecionado. Então quando o editor de economia vai apertar o botãozinho pro editor de economia ele já decide se aquilo é importante pra ir pro compacto. Se for, ele aperta os dois botõezinhos...

Ai gera duas pagininhas né?!

É. Ai manda pra duas gavetas diferentes.

OK. Ah, ta claro. Na verdade é muito simples...

Isso. É por isso que eu estou te falando que não existe um pacote completo. Olha a lista de colunistas que eu tenho. Se o jornal assinar essa lista de colunistas aqui ele vai se tornar um templo grego que tem tanta coluna que nossa mãe. Então o jornal depende do 546

perfil dele. Se ele é um jornal mais popular, eu tenho aqui uma coluna mais popular, se ele tem uma abordagem de política muito grande, eu tenho uma coluna de política pra oferecer pra ele, que é a Dora Kramer. Depende do perfil do jornal.

OK. Uma dúvida: vocês são uma agência ligada ao grupo Estado, portanto vocês têm uma rede própria de apuração, uma capilaridade de distribuir essas informações como também de consolidar essas informações. Quando acontece um evento que, por algum motivo está fora desse raio de atuação de vocês, vocês fazem acordos com jornais pra eles fornecerem material pra vocês ou não?

Não porque a gente tem um correspondente no Brasil inteiro. Nas praças de Rio de

Janeiro, Brasília, BH e São Paulo a gente tem sucursal. Mas nos outros lugares a gente tem correspondentes nacionais e internacionais.

Você tem idéia do número de assinantes da agência?

Em torno de 350, por ai. Sobre essa seleção editorial o Edu vai poder até te falar melhor do que eu.

Isso é o centro da minha pesquisa, como eu estou te falando. Isso vai ser importante porque, por exemplo, quando você cria um noticiário compacto em função do noticiário nacional, quais são os critérios editorias da casa pra operar essa compactação?

O que a gente julga que vai ser melhor por cliente na ponta. Mas sobre isso o Edu pode falar melhor do que eu, porque é ele que pilota aquela mesa de editores que fazem essa 547

seleção. Eu tenho condição de falar sobre o produto como um todo. E ai é isso, esse conteúdo aqui não pode ser vendido pra Internet. Tem alguns critérios, por exemplo, se ele estiver com delay, no ia seguinte quando já está na banca o jornal, a gente libera o conteúdo ou não, dependendo do cliente. Mas á regra é não liberar isso aqui pra

Internet. Sempre conversar a respeito. É porque está tudo que vai sair no Estadão no dia seguinte aqui. Então se eu vendo isso on line aqui... Olha, acabou de entrar uma matéria. Isso aqui pode ser extremamente importante. Ai se eu vendo pra um site, o site vai receber isso agora e fura amanhã, no dia seguinte na banca. Então a gente tem esse critério. A gente tem uma outra gama de conteúdo que é feita especialmente pra comunicação em Internet.

Você pode dizer qual é?

São vários produtos. A gente tem o noticiário de economia também, tem de política, de internacional, mas tudo com uma linguagem e uma visão pra Internet. Tudo com aquela agilidade, são vários produtos, a gente tem coluna, tem material agrícola, o financeiro, enfim. Tudo com uma linguagem de Internet, nada de jornal.

Tem algum nome esses serviços?

Esse guarda-chuva de serviços pra Internet a gente chama de “AE Conteúdo”. Quando é pra Internet a gente fala que tem que olhar na vitrine do AE conteúdo e ai a gente já olha o perfil do cliente.

A categorização é semelhante essa ai? 548

É, mas tem vários outros produtos. Tem produtos reempacotados de outros daqui da casa também. Têm clientes que querem um conteúdo setorizado, por exemplo, só de tecnologia da informação. A gente empacota e manda.

O sistema permite que você personalize cliente a cliente?

Não. Ai depende de um monte de coisa. Depende do estudo de viabilidade econômica do cliente, depende da logística que a gente tem na casa pra que isso seja feito. Eu tenho os produtos de prateleira, mas se o cliente me vem com alguma coisa que eu não tenho, eu tenho gente pra criar isso aqui. E, se eu não tiver, eu contrato alguém pra fazer.

Se o aporte que o cliente exigir justificar.

Sim, se precisar. Os noticiários, de maneira geral, não têm exclusividade de praça. Então tanto o Jornal do Commercio quanto o Diário de Pernambuco podem assinar esses dois noticiários daqui. Mas as colunas e os suplementos têm restrição. Isso aqui é factual né?!

Então aquilo está acontecendo e todo mundo tem essa informação que está aqui.

Quando é opinativo muda.

Exatamente. Agora quando o material é opinativo a gente tem exclusividade. Então, por exemplo, se o Correio Brasiliense tem Dora Kramer, por exemplo, o Jornal de Brasília não tem. A coluna “Direto da Fonte”, por exemplo, se o Jornal do Commercio tem, o

Diário de Pernambuco não tem. É uma exclusividade pra não ter sobreposição. Imagina 549

a Folha e o Estadão na banca com as mesmas coisas? Agora ambas têm as agências internacionais. Então vamos supor que a gente assine a Reuters, não sei se a gente assina, mas imagino que sim...

Vocês assinam a Dowjones.

Mas se agente tem a Folha também, tudo bem, porque a gente usa a matéria como referência. A gente vai reescrever.

Renata, nesses critérios de direcionamento, vocês têm conteúdos que são direcionados a praças específicas? Vamos supor que o Rio Grande do Sul tenha características que justifiquem um serviço exclusivo pra lá. Isso acontece?

Não.

Em função da praça não.

Não, porque foi o que eu te falei. A proposta é ser a sucursal no Brasil e no mundo, contando que o regional quem tem que fazer é ele. Eu cubro muito bem Brasília, Rio de

Janeiro, que são estratégicos no Brasil... Mais São Paulo e Brasília. Inclusive quando o cliente liga e fala: “Poxa, vocês fazem pouquíssimo conteúdo pra cidade de

Piraporinha”. Eu não tenho condição de cobrir, quem tem que cobrir é ele. Eu tenho condição de cobrir o Brasil, mas aquilo que é relevante pra cidade dele é ele que tem que fazer, a não ser que seja uma coisa mega importante, e ai a gente faz, claro. Se for de 550

interesse nacional a gente faz. Cobrir o time de futebol de Piraporinha não tem condições.

Uma pergunta pontual: um dos casos que eu estudo é a Agência Brasil que é uma agência que lhe dá com informação pública, gratuita, com uma única exigência de citação da fonte. Vocês obviamente têm acesso ao material da Agência Brasil porque é uma agência que tem uma penetração em 4 mil veículos no Brasil inteiro —eu vi a planilha deles lá, pelo fato de ser gratuito e tal—. Obviamente pelo fato de ter um suporte único que é a web, que é barata e tal.

Enfim, no caso de utilização desse conteúdo, qual o tratamento que vocês dão a ele? Há uma contextualização em função dele estar sendo inserido dentro da Agência Estado? Vocês não usam esse conteúdo?

Não, não usamos de forma alguma. A Agência Brasil é a visão do governo. Nenhum jornal quer ter a visão do governo em seu veículo, imagina. A gente não tem nenhum tipo de interferência, a gente não usa conteúdo da Agência Brasil, pode ser que a redação faça alguma consulta eventual, eu não sei também se faz ou não... Mas a gente não... Inclusive na área de texto a Agência Brasil também nem tem tanta interferência assim, pra te falar a verdade. Ela vende a visão do governo e o jornal tem que ter imparcialidade. Os jornais olham, usam, mas não sei se tem tanta utilização assim. Eles podem ter cadastrados quatro mil jornais, mas eu duvido muito que todos esses jornais usem a Agência Brasil. Não sei, é a minha opinião. Mas eu já vi muito site na Internet publicando conteúdo deles, porque eles, no começo, se propuseram a cobrir governo, mas eles cobrem tudo, cultura, esportes.

551

Eles estão tentando fazer uma coisa que é descolar a imagem da agência de ser um imagem estatal, eles estão tentando implementar um sentido de informação pública, ou seja, a informação como bem público. A idéia é que o jornal possa usar isso livremente e não ter uma cobertura tão unilateral do governo, o que é muito difícil porque a Agência Brasil vem com a cúpula da Presidência da República. Então vai direto...

Pois é, o que eu posso falar da Agência Brasil é que, impactar nas vendas da Agência

Estado, ela não impactou em absolutamente nada.

OK. Olha eu vou fazer o seguinte, eu sei que você está num tempo corrido...

552

Entrevista com Rodrigo Savazoni, redator chefe da Agência Brasil.

Eu cheguei aqui na Agência e você estava falando que estava dentro de um processo de reestruturação de algumas políticas de gestão aqui da agência. Eu sei que isso é uma coisa ampla, mas, especificamente com relação aos aportes tecnológicos e ao uso da rede, no que consistem essas políticas?

Eu cheguei aqui na agência no ano passado, em fevereiro de 2004, e logo depois assumi a chefia da Radiobrás. Assumi numa transição, quando Flávio Diegues estava assumindo a chefia da redação, e eu estava trabalhando no jornalismo assessorando o José Roberto Garcez, que é o diretor de jornalismo, desci pra agência pra gente dar alguns passos além na redefinição inclusive do perfil editorial da Agência Brasil que naquele momento vinha passando... Que vem passando nesses últimos dois anos e alguns meses, desde que o Eugenio

Bucci assumiu a Radiobrás, por um processo longo de reestruturação em todos os aspectos, por assim dizer. Tanto editorial, quanto tecnológico, de gestão. E ai foi nesse contexto que a gente começou a trabalhar na tentativa de não só redefinir, reestruturar a agência, mas também moderniza-la, depois eu quero te mostrar com calma, você vai ver que a gente tem um problema tecnológico muito grande na Agência Brasil por conta da obsolescência das tecnologias empregadas na produção jornalística nossa. Eu costumo brincar que na Agência

Brasil, quando a gente chegou, a gente estava na pré-história da Internet. Lá por 1996 assim, se você pegar a estrutura do site, pra você ter idéia era a primeira página. A primeira homepage da Agência Brasil ela não tinha um gerenciador de conteúdo que a atualizasse. Ela era feita na mão no Dreamweaver, que é um programa proprietário. E todas as vezes que a gente precisava atualizar a página, que não são poucas com o fluxo de informação que a gente produz, a gente tinha que refazer a pagina como um todo. O que na verdade quase que 553

inviabilizava a agilidade, nos finais de semana a página perdia o padrão. Ela ficava completamente, sei lá... Você tinha ali um problema seriíssimo de uniformidade inclusive na relação com o leitor, que não sabia o que esperar da página da Agência Brasil diariamente.

Era quase como uma página nova todos os dias, o que ficava bastante complicado. Sobre especificamente a questão da tecnologia, a agência opera num sistema de publicação de notícias que foi desenvolvido em 2001, 2002. É um sistema proprietário, desenvolvida em

Asp, que também é bastante obsoleto hoje em dia, precisa ser revista, refeito talvez, ou talvez precisa ser feito um novo sistema pra dar conta das demandas que a gente tem criado pra o posicionamento da agência. Esse programa gerencia o conteúdo. A gente conseguiu atualizar ele e colocar um gerenciador que remeta à primeira página, um gerenciador que hoje está integrado, mas ele ainda... Depois eu quero te mostrar, eu acho legal você ter acesso, navegar nele e ver como ele funciona. Você vai ver que tem muita coisa obsoleta, que não é mais necessária, muitos filtros até que a publicação seja feita numa rotina de produção que era bastante... Quase fordista mesmo, de etapas...

Esses filtros são de que natureza?

Eles são filtros... É bom retomar, na verdade, o que era antes, qual era o modelo de publicação da agência. Na etapa de publicação a agência tinha os repórteres, que produziam os conteúdos; digitadores, que eram profissionais sem, nenhum deles jornalistas, a maior parte deles com uma formação muito aquém da necessária pra se envolver numa rotina de produção jornalística, eram digitadores que tinham até a oitava série, concursados; tinham os redatores, que davam o tratamento inicial; os editores que liberavam as matérias pro ar e por fim um editor de primeira página que fazia a atualização da primeira página. Mas pensando no fluxo da produção ela passava por quatro etapas: Então o repórter produzia informação —quando 554

essa informação era on line, uma informação que precisava ser passada por telefone, por exemplo, de caráter dinâmico, eles ligavam pros digitadores, que, captavam essa informação e, por sua vez, passavam para os redatores, que davam um tratamento à informação e que daí passavam pros editores que davam a última formatação pra ela ir pro ar. Esse processo era muito longo, muitas vezes um flash, que era uma coisa que tinha acontecido instantaneamente

às dez horas da manhã e que a informação precisava estar no ar naquele momento, ela demorava uma, duas horas pra chegar no ar. Então uma das primeiras medidas que a gente tomou foi acabar com a figura do digitador, tirar essa etapa, até porque chegava a ser engraçado... Como eram pessoas que não acompanhavam o noticiário, não tinha como cobrar delas que elas tivessem esse envolvimento, o repórter tinha que ligar e soletrar a matéria. Tipo

“o presidente Luiz Inásio Lula da Silva... Luiz com Z, Inácio com acento no A”. Sabe, quer dizer?! Isso era um dos grandes pontos de erros gritantes que iam pro ar, acabava indo pro ar muitas vezes. Na matriz do processo, até porque o processo de checagem do redator era um processo falho. O redator não tinha contato com um repórter pra, por exemplo, checar uma informação, pra pedir a esse repórter às vezes uma informação econômica que precisasse de uma certa tradução... Não existia diálogo entre as partes. Até tinha um problema de responsabilização do conteúdo produzido, porque ninguém se responsabilizava por aquilo que ia ao ar. No final, o editor fazia isso, mas com uma grande dificuldade de retomar o processo.

E pelo volume muito grande e como você ia centralizando demais, o número de editores eram quatro ou cinco no máximo e o volume que chegava naquele momento a umas 200 notícias diárias. Era um processo que se inviabilizava numa rotina de produção on line de acordo com todos esses critérios que você enumerou ai no início da nossa conversa. A gente então inicialmente acabou com os digitadores e começou um processo de transição que vinha da gestão anterior. Quando o Eugênio assumiu foi montada uma nova equipe que era o Leandro

Forts (??), que era um jornalista aqui de Brasília e ele digeriu... Como vinha de uma 555

experiência em jornal impresso, ele trouxe algumas rotinas do jornal impresso pra dentro da agência e organizou a agência mais em cima de uma estrutura de jornal do que propriamente em cia de uma estrutura de agência de notícia. Quando a gente chegou a gente ainda deu um passo além na tentativa de seguir o que ele estava fazendo, mas já sabendo que a gente ia ter que rever tudo aquilo. Nesse momento a gente centralizou ainda mais os editores, mas deu a eles outro caráter. Os editores passaram a ser três... Eram grandes editores. A idéia era que fossem do modelo antigo de jornais, daquele editor que acompanha a produção do conteúdo desde a pauta, passando pela elaboração, o diálogo com o repórter, acompanhando a execução, mas não era o editor que fechava as matérias. Era o redator que fechava e ele acompanhava e supervisionava esse processo e quando necessário corrigia... Bom, a princípio esse modelo também se mostrou equivocado e mais ou menos em novembro do ano passado a gente começou um processo de adequação e foi ai que a gente foi se inspirar, ou estudar um pouco mais e tentar captar outros referenciais de agências de notícias. Agências internacionais, a EFE, a Reuters, a France Press, mas a gente bateu de fato com as limitações em acessar informações sobre essa rotina, de fluxo. A gente não tinha muita informação a respeito disso. Eu tive uma experiência na Agência Estado, logo no início da carreira também, mas há uma peculiaridade da Agência Brasil que é a seguinte: — a gente foi perceber isso nesse processo de tentar entender como funcionam as outras agências de notícias brasileiras

— grande parte das agências, as quatro maiores, trabalham com o conteúdo produzido pelos jornais...

Até pra repartir os custos e realimentar o próprio sistema e criar um subproduto que pode ser vendido...

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Exato... Com a entrada do on line, em alguns casos houve essa, existiam as agências, a Folha, que virou Folha Press, a Agência Estado, a Agência JB, que acabou né?! Ela não existe mais como estrutura por conta das limitações. E a agência O Globo, que na verdade é assim...

Tanto a Agência Estado, como a O Globo, como a Folha Press, apesar de terem equipes próprias, elas são, na maioria, uma grande editor dos conteúdos produzidos pelos veículos dos grupos. Paralelamente à estrutura deles, dessas agências que notícias que produzem conteúdo dos grupos de comunicação, eles têm o aproveitamento das agências de notícias internacionais e inclusive do nosso material, que eles também usam pra abastecer o portal deles, o site deles.

A Agência Brasil só publica, na verdade, só coloca no ar o conteúdo que ela produz. Ela tem uma equipe hoje de 26 repórteres em Brasília, seis repórteres em São Paulo, seis correspondentes espalhados pelo Brasil e mais oito repórteres no Rio de Janeiro. Toda produção que ela puser no ar é uma produção dessa equipe de reportagem que a gente distribui e ai é um outro passo. Já existia essa peculiaridade: todo o conteúdo que a gente produzia era um conteúdo nosso, o que nos dá um caráter de um grande editor de conteúdos, o que também nos aproxima do modelo de trabalho como é a Reuters, a France Press, a EFE e nos distancia um pouco do que são as agências de notícia brasileiras. Todo o conteúdo da

Agência Brasil só é disponibilizado on line na página da Agência Brasil.

Você só tem uma plataforma...

A gente só tem uma plataforma de distribuição desse conteúdo.

Do conteúdo escrito. E do conteúdo em áudio e...

557

Então, uma das medidas que foi tomada logo de cara, e inicialmente pelo Eugênio, foi a transformação desses repórteres em repórteres multimídia. Eles não produzem apenas pra

Agência Brasil, não só em texto, passaram a ser repórteres de texto e áudio. Eles abastecem todo o sistema de rádio da Radiobrás que é composto por quatro grandes emissoras: A rádio

Nacional, AM Brasília, que a partir das seis horas transmite; a Rádio Nacional FM, em

Brasília também, é uma rádio metropolitana; a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que foi recuperada no início da gestão, é uma rádio metropolitana também, AM; e a Rádio Nacional da Amazônia, que é uma rádio de ondas curtas com toda uma série de especificidades. Então esses repórteres abastecem todo o sistema de produção dessas quatro emissoras.

Pergunta: O fluxo da Agência Brasil pra essas emissoras se dá como uma cadeia de distribuição pelo site ou pelas ondas eletromagnéticas. Há contra-fluxo? Ou seja, essas estruturas alimentam em conteúdo a Agência Brasil?

A gente ta começando a trabalhar isso, desde um tempo a gente criou uma coisa chamada

Núcleo de Captação de Notícias, que tem um serviço de clippping, de banco de notícias que é feito na Radiobrás, que abastece o serviço do governo que inclusive está sendo reformulado e entrando no ar agora. Eles fazem uma clippagem das quatro maiores rádios, dos quatro grandes jornais. E ai a gente criou em paralelo a esse grupo, um núcleo de captação de notícias. O que eles fazem? Eles transcrevem o material produzido pelas rádios, qualquer material produzido pelas rádios, principalmente entrevistas feitas no meio da programação, e também o material das emissoras de TV. Ai sim há um aproveitamento desse material que vai ao ar e ele recebe um tratamento em linguagem e execução pra se adequar às necessidades da agência. Essas entrevistas são disponibilizadas na integra, dependendo da importância e da qualidade da entrevista, e às vezes elas são disponibilizadas na forma de matéria. Ai é feito 558

um trabalho que a gente tentou organizar, mas ainda está em fase de organização, que é um trabalho que a gente tentou organizar, mas ainda está em fase de organização, ainda precisa de um tratamento. Então muitas vezes, por exemplo, a entrevista não responde por critérios mínimos de abordagem. Vamos supor que a gente coloque: Um membro do MST falando sobre o Abril Vermelho no ar e a certa altura ele deu um pau no governo no ar. A gente vai dar isso como notícia, mas, pra transformar em notícia, é preciso aquele critério mínimo jornalístico. A gente vai ter que ouvir o outro lado interessado na história. Então você já está dando um outro tratamento àquela informação pra que ela tenha então condições técnicas para ser distribuída pela Agência Brasil. Basicamente hoje esse contra-fluxo é esse. É ainda bastante inicial e ainda carece de...

O sistema de atualização dos correspondentes e das sucursais, pra eles mandarem material é através de uma plataforma on line de atualização ou é através de e-mail...

Eles já colocam no próprio sistema. No Rio de Janeiro e em São Paulo, que são sucursais, eles colocam no sistema, dos correspondentes eles enviam pra um e-mail que é o [email protected], que é o e-mail que fica sendo monitorado pelos editores durante todo o dia e eles pegam esse material, colocam no sistema e ai ele vai pro ar.

Dentro do material disponibilizado, existem alguns produtos específicos? Alguma canalização de determinada informação? Vamos supor: questão agrária. Ela é canalizada para algum produto específico dentro do on line ou as informações são tratadas de maneira mais genérica dentro de um fluxo contínuo?

Ainda de maneira genérica dentro de um fluxo contínuo. 559

Existe um planejamento futuro?

Dentro do planejamento futuro a idéia é que isso mude. A idéia, na verdade, é a seguinte.

Basicamente o que eu posso te dizer hoje é o seguinte: Todo o conteúdo acaba saindo por um

único canal. Você tem lá o “Brasil Agora” onde você tem todas as notícias que foram produzidas num dia publicadas. E ali, então, o usuário tem acesso àquele material ou pra leitura ou pra reprodução. É só por ali. E até essa filtragem ainda não é muito depurada. São três canais: nacional, política e economia e dentro desses três canais você tem os assuntos mais variados. Tem a cobertura do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional, tem os movimentos sociais da sociedade civil com relação ao governo, tem o nacional, que é aquele rótulo que não explica nada e economia que são as notícias do ministério econômico, basicamente Banco Central, Fazenda, transporte, comunicações, tecnologia, entra um pouco por ai. Bom, dentro do futuro o que a gente espera? Houve uma experiência inicial, no primeiro ano da gestão, que foi a criação do centro de imprensa. Ele inclusive está lá no ar ainda, só aberto a cadastros. Esse cento de imprensa era a tentativa de preparar melhor essa mediação com os veículos que reutilizam material produzido pela Agência Brasil. A gente oferecia a pauta pela manhã do que estava previsto, oferecia um serviço de reportagens especiais, com um embargo com foto e texto...

O embargo em que sentido?

O embargo pra publicação, por exemplo: quarta-feira a gente colocava no ar uma matéria e dizia: embargo pra publicação na sexta-feira. Em se tratando de uma viagem do presidente que ia acontecer na sexta-feira, então tinha embargo pra publicação por jornais. Só que a gnt 560

não tinha nem como controlar isso. Se os jornais puxassem e publicassem antes, era opção dos jornais, mas existia essa tentativa de estabelecer um acordo tácito de interesse. A gente só publicaria na sexta-feira e queria que ele publicasse no mesmo dia. E também tinha um envio das principais matérias por e-mail pra esses e-mails cadastrados no final do dia, por volta das sete, oito horas da noite. Por que a gente freou esse trabalho? Primeiro porque dentro da nossa avaliação ele estava sendo feito de uma forma equivocada. Ele não tinha constância e a gente tinha um grave tecnológico muito grande. Pra você ter uma idéia, a gente não tinha um servidor capaz de enviar todo aquele conteúdo pra todos aqueles que se cadastrassem. Na

época que eu assumi tinham três mil e quinhentos cadastrados e o boletim das pautas consolidadas ia pra oitocentos. Então a gente recebia reclamação. Por que uns recebem e outros não recebem? Decidimos por segurar até ter condição de prestar um bom serviço pro usuário. Nas reportagens especiais, tinha um grande problema que era o formato em que se podia disponibilizar. O conteúdo era disponibilizado diagramado. As imagens eram diagramadas, numa página de web, de forma bastante improdutiva até. Quando se sabe que para o conteúdo ser reutilizado por alguém, você tem que colocar no formato mais simples. O texto em txt. As imagens precisam estar no tamanho necessário pra o cara fazer um download sem problemas e isso não acontecia. Também foi outra coisa que fez a gente segurar um pouco. A idéia agora é a gente reformular e reorganizar esse serviço de mídia. Primeiro definir melhor o público que a gente quer atingir com isso. Porque o que aconteceu foi que, como a gente fez um cadastro muito pouco detalhado, a gente não conseguiu nem mensurar que tipo de público acessava. Porque tinha eu e você, que se cadastravam como leitores pra receber esse tipo de material, até jornais de interior, rádios que reaproveitavam conteúdo. A idéia agora é que a gente consiga separar esses canais e voltar esses canais... O canal de distribuição e relacionamento com os jornais e veículos das agências on line para um determinado espaço e criar um espaço pro cidadão, pro usuário, pro leitor porque existe uma 561

indefinição sobre o papel da Agência Brasil que é um pouco essa indefinição que surge com a possibilidade da web, do on line. Antes ela era uma agência de distribuição pra o uso de outros, o grande filão dela que aquele material fosse aproveitado.

Ela atuava como atacadista...

Atacadista.

E os jornais no varejo...

Exatamente. E ai com a Internet acabou que a agência começou a ter a possibilidade de também atuar no varejo, ir direto pra disputar o leitor, entre aspas. Não é a idéia de disputar com ninguém, mas a de se consolidar como referência para o leitor, o internauta que costuma ler na web e possa buscar diretamente na Agência Brasil as informações que ele quer ali.

Agora essa indefinição, na verdade, não é uma indefinição propriamente, mas a gente está tentando trabalhar isso. Tem a questão da tecnologia, é justamente através da tecnologia que você consegue criar essa diferenciação. Criar, por exemplo, canais específicos, formas de distribuição específicas pro jornal, pra rádio, que não vão ser dadas... Por exemplo, a gente não conseguiu ainda colocar o XML, que é um recurso que todas as agências internacionais estão colocando...

RSS né?!

RSS. E que é uma maneira de se trabalhar pra quem realmente utiliza, a partir desses softwares de recepção de conteúdo, quem utiliza a informação num volume e numa rapidez 562

que o usuário comum não utiliza. Então agora que a gente está recomeçando essa discussão pra tentar profissionalizar esse serviço de relacionamento e ai é que vêm inclusive as limitações tecnológicas nossas de conseguir fazer isso. A gente acabou de instalar agora, pra conhecer mesmo, o serviço da Reuters, que o serviço que o usuário da Reuters tem acesso.

Qual?

Aquela interface, o software.

O 3000?

Acho que é. Eu não conheço ainda, acabei de receber, eu te mostro lá... Pra ver como eles fazem. Lá eles têm toda a produção da Reuters canalizada que converge pra um software que o usuário tem lá na sua máquina e vai puxando pra ali.

Ai você não tem mais uma distinção entre produção e circulação. Ele consolidou e já está ali.

É como o Broadcast faz também. A gente está começando a olhar pra essas coisas agora, mas a gente também não sabe quais são as condições que a gente vai ter pra executar isso. O olhar

é esse mesmo de se adequar.

Você já respondeu várias de minhas perguntas. O papo ta bem produtivo. A gente já converou sobre os produtos, sobre o sistema interno, sobre a web.

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É interessante também falar sobre a fotografia também né?! Porque a agência tem essa produção fotográfica.

Assim, só uma pergunta: dentro dessas características de limitações tecnológicas que você enunciou ai e tendo já passado por uma experiência na Agência Estado, como você falou, como você compara a relação de alcance que você tem aqui na Agência Brasil — alcance no sentido da penetração da informação, mas alcance com relação ao tempo, o acontecimento do evento, a deflagração dele no processo de produção e isso estar disponibilizado. Como é que você observa isso? Você acha que está marcando em cima do lance? Não está? Por que não está? Enfim, sua avaliação.

Acho que tem dois elementos que a gente tem que levar em consideração. O fato de a gente ser uma agência especificamente on line faz que a gente se volte rápido para fazer um bom trabalho na Internet. Então, com relação a isso, a gente consegue sair na frente de veículos sim, que inclusive tem esse esmo perfil. Paralelamente a isso, e ai é um dado engraçado, á até pra levantar ele, esse processo de cauterização das agências on line, por assim dizer, demissões em massa, redução de quadro, fez com que a gente, nos últimos tempos, acompanhando o noticiário, perceba que, cada vez mais, a nossa agilidade tem batido a agilidade dessas outras empresas. A Folha on line, por exemplo, era um veículo, até pelo próprio perfil da Folha, um pouco relutante em utilizar os nossos conteúdos. Recentemente, por conta dessas experiências de tentar compreender o funcionamento das outras agências de notícias, a gente teve a oportunidade de conversar com o pessoal da Folha on line e eles foram categóricos, taxativos em dizer que hoje praticamente dependem do nosso conteúdo, não só pra reproduzir, mas muitas vezes pra se orientar, orientar as suas coberturas a partir da nossa.

Então assim, ao mesmo tempo que a gente tem uma agilidade... 564

Esse é o critério que eu chamo de penetração. Por penetração eu defino a relação de dependência do periférico pra fonte da agência...

Ai é um outro elemento que eu queria te falar só dessa questão da gratuidade do conteúdo.

Isso é um diferencial muito grande do ponto de vista dessa penetração porque, por exemplo, o

IG e o Terra têm serviços de captação apontados para o nosso servidor. Tudo que entra no ar da Agência Brasil vai com crédito e é republicado com um robozinho no IG e no Terra. Isso ouros portais, outros sites espalhados pelo Brasil que não têm a tecnologia do IG e do Terra têm procurado. E isso é uma tecnologia que a gente tem discutido como fazer. Um caminho é o RCS (??), outro é o XML e outro é você colocar aquele velho recurso de colocar um espaço, abrir um canal da Agência Brasil dentro desses sites, notícia nossa entrando ali pro cara também...

Um problema que eu acho é o seguinte: você, em comparação com as outras agências, trabalha com a noção de informação pública. Então ai vem o debate se essa informação é pública ou estatal, mas isso não vem ao caso. Mas de qualquer maneira esse conteúdo está disponível ao custo perto de zero pra esses organismos e eu já vi, já presenciei na Agência

Estado informações da Agência Brasil presentes dentro de serviços pagos. Por exemplo, o

Agronews, aquele boletim da Agência Estado, às vezes tem notícias relativas ao Ministério da

Agricultura, ao da Reforma Agrária e tudo mais. Isso está sendo colocado dentro de um produto que está sendo vendido.

Exatamente. Apropriação de conteúdo público.

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E não está tendo uma recompensação mínima que seja da utilização disso ai? Não pagar nem a parcela que esse conteúdo ta dentro desse conteúdo pago e ter algum tipo de compensação.

A questão da propriedade intelectual da informação entraria nisso, na discussão da propriedade desse conteúdo. A gente tem trabalhado cada vez mais com a idéia de que o nosso conteúdo é copyleft.

Conteúdo copyleft dentro de uma dimensão estatal.

Não deixa de ser. Na verdade, a gente sempre foi copyleft, mas nunca reivindicou isso pra si.

Mas durante a cobertura do Fórum Social Mundial, que nós fizemos com seis repórteres e produzimos mais informação em volume do que a Agência Carta Maior, por exemplo, que é uma agência especificamente voltada para os movimentos sociais e que estava lá com uma equipe de 25 repórteres — tudo bem que a gente não pode comparar o tamanho dos textos de um e de outro — mas em volume a gente foi maior, com seis repórteres e como era um Fórum

Social Mundial, lá em baixo a gente colocou “Copyleft Agência Brasil. Todo conteúdo pode ser reproduzido desde que a fonte seja citada”. Ela sempre foi, em princípio o público é esse né?! Agora isso gera esse tipo de distorção. A Folha On Line credita as matérias da Agência

Brasil da mesma forma que eles creditam matérias de agências internacionais. Aparece lá “da

Folha On Line”, a mesma matéria, o mesmo texto...Ai, em baixo, “com Agência Brasil”. Esse conteúdo costuma ser maciçamente reproduzido pelos outros sites da forma como fez a Folha

On Line. Empacotado.

Traduzido pra fora nos serviços internacionais...

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Pois é, com crédito pra Folha On Line. E a gente... Eu já cheguei a conversar com o jurídico da Radiobrás e, cá entre nós, a gente está montando um “dossiêzinho” que é pra mandar e conversar com os donos da Folha On Line pra pedir a eles que revejam esse modelo de tratamento da informação da Agência Brasil. No dossiê tem mais de 400 matérias num período de dois ou três meses. É um volume grande de material e eles ganham dinheiro com isso. Não é interessante pra ninguém que as coisas sejam feitas dessa maneira. O que a gente quer, na verdade, é que os créditos sejam dados da maneira correta. Nesse caso, só pra lembrar mais uma vez essa questão do conteúdo, na redefinição editorial que a gente fez... A

Agência Brasil é uma agência hoje segmentada. Ela era uma agência que tinha um perfil editorial muito indefinido quando a gente chegou. Foi a partir de fevereiro de 2004 que a gente redefiniu o perfil da agência. Ela passou a ser uma agência que, basicamente, ainda que a gente não use essa expressão, ela forma o espaço público político em todas as suas dimensões. E ai uma conceituação que o Eugênio trabalhou que é um triângulo entre cidadania, Estado e governo. Dentro desse triângulo estão todos os interessas da sociedade.

Então a gente se foca nisso. Então com a redefinição, essa segmentação mais política, a gente começou a oferecer um conteúdo que os jornais não ofereciam. Há uma diferenciação da nossa pauta.

Como é que você não cai na tentação de ser uma agência de formação pública ligada a esferas governamentais e políticas e não ser “chapa branca”?

O Flávio Diegues tem uma formulação que eu acho muito interessante que é assim: Não existe objetividade que seja... O Flávio é um jornalista formado na base da ciência né?! Foi criador da Super Interessante né?! Tem uma ligação com a ciência e ele faz uma ligação com a química. Uma solução neutra é uma solução que tem base, ácido e alcalido e tal. Dentro 567

dessa mistura, quanto mais um ou outro, ela vai aproximando-se da neutralidade e ai ela se torna estável. Nós estamos tentando fazer um pouco isso. Recompor, dentro desse triângulo, as origens dessa informação pra que ela ganhe esse neutralidade de que ela não é “chapa branca” e que ela não se reporta a um interesse de um ou outro público. Ela tenta trabalhar esse princípio e naturalmente que ai tem todas essas afinações, tem toda essa experiência que não deixa de ser pioneira e também não é calcada em nenhum modelo pregresso. A partir de agora nós vamos adotar o modelo BBC. Não.

Um amigo meu que trabalha na BBC disse “olha, Lula quando chegou à Inglaterra, só da BBC rádio e da BBC TV, ele recebeu 46 solicitações de entrevista”. Então não pense que a BBC é um modelo de organização porque não é. A BBC vai cobrir um conflito, sei lá, ai vai um cara da BBC rádio, outro da BBC TV, no mesmo vôo, um vai de primeira classe e outro de classe econômica. Não existe essa uniformidade. Você pensa que a BBC

é rica, mas existem problemas pronunciados.

E até o próprio conteúdo, a própria pauta. Um conteúdo que seria público... A discussão de conteúdo público é um pouco abstrata. É um pouco disso que eu estou te falando. Essa teoria das soluções neutras do Flávio desenvolveu com bases internas aqui é interessante por causa disso. Isso cria pra nós uma justificativa para poder contra-balancear a estrutura da agência...

Enfim, uma estrutura que nós herdamos, que existe há muito tempo, que vem desde a Agência

Nacional, na década de 70, passa pela EBN, nos anos 80, foi fechada com uma canetada do

Sarney e chega à Agência Brasil em meados da década de 90 e que ai, enfim...Estava pra ser fechada a Agência Brasil. A Marizete, que foi a chefe da agência anteriormente, pode até te contar essa história. Ela não era rentável e com o advento da web, o que aconteceu? Foi possível que ela se transformasse numa agência de conteúdo aberto porque antes ela vendia 568

conteúdo. As tecnologias de aporte não permitiam, eram muito caras. Com a web foi possível que ela se transformasse numa agência de conteúdo livre. Não tinha essa clareza ainda, mas já era. Agora tem essas problemas de como você mensura. A gente tem uma falha muito grande nessa mensuração. O serviço de mídia por exemplo, o cadastro, poderia nos ajudar a perceber quem é o usuário. Agora se você pensar, sem medo de errar, a agência tem uns 400 clientes.

Eles dizem que é sigilo de negócio. A Folha também diz. Segundo dados da ANJ, existem quatro mil jornais no Brasil, você acha que é isso? Muito mais jornais acessam a Agência

Brasil, temos um problema de mensuração do nosso público. (...) O Roberto na verdade cuida do portal da Agência Estado. Eles fizeram um gerenciador de conteúdo muito bacana lá.

O Webs né?!

É uma variação do “Webs” (??), na verdade. Na época que eu trabalhava lá eles usavam o “X”

(??). Na época que eu trabalhava lá o conteúdo da Agência Brasil era vetado, você não podia republicar. A mudança de modelo fez com que eles passassem a sentir a qualidade do conteúdo. Eu, na época, usava a Agência Brasil pra me orientar, nunca pra ir pro ar. Era proibido, vetado, até porque misturaram. Uma das primeiras medidas foi abolir o uso release.

A Agência Brasil não publica mais release. Isso foi já uma revolução no sentido de dizer olha o conteúdo que tem agora recebe um tratamento de jornalismo. Agora não é mais aquela coisa o Ministério manda, você põe no ar.

Ninguém aceita mais release.

É esporadissíssimo e é restrito. Mas esse gerenciador de conteúdo foi financiado por recursos do Finesp e agora eu quero ir atrás porque eu quero que o Finesp desenvolva. Eu quero desenvolver também em parceria com eles, com recurso deles. Porque desenvolvendo um 569

gerenciador de conteúdos, desenvolvendo uma tecnologia dentro da ABR que permita a gente criar um software livre, isso pode gerar pra nós, tanto do ponto de vista de gestão e costumizar e distribuir esse software pra África, pra América latina, de criar uma rede integrada de agências públicas. Isso tem um potencial monstruoso.