Analise Da Ruptura Da Submissão Feminina No Cinema Da Década De Cinquenta, Incorporadas Nas Personagens De Marilyn Monroe1
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Analise da ruptura da submissão feminina no cinema da década de cinquenta, incorporadas nas personagens de Marilyn Monroe1 SANTOS, Tássio2 FERREIRA, Maria de Fátima3 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Resumo: O papel midiático nas décadas de 50 e 60 não era meramente o de entreter uma burguesia conformista pertencente ao mundo social pós-guerra. A revolução eletrônica contemplou a mídia com um forte poder de formação cultural e subjetivo, como a influência que exercia nos padrões cotidianos das populações urbanas e a produção intensa de questionamentos sobre a feminilidade em função do doméstico. Portanto, o presente trabalho propõe resgatar a importância dos meios de comunicação preocupados em transmitir o comportamento dos jovens não-conformistas de diversas idades. Essa pesquisa é uma análise da ruptura da submissão feminina no cinema americano, a partir do novo foco que a mulher ganha nas representações cinematográficas. Será analisado a postura, comportamento e aparência das personagens representadas pela atriz Marilyn Monroe, seu pioneirismo em comunicar a sensualidade feminina na mídia e sua inserção no mundo que antes era considerado dos homens. Foi possível perceber que o protagonismo de Marilyn Monroe, além de inspirar a sociedade em outros campos, reforçou a discussão sobre o “ser mulher” na época. Palavra-chave: Mídia; cinema; feminismo; Marilyn Monroe Introdução Dentre a vasta produção do cinema hollywoodiano na década de 1950, assistimos películas que transmitiram filmes protagonizados por consagradas estrelas. Entre elas estava Marilyn Monroe, uma atriz que começava a trilhar sua carreira na área cinematográfica. Seu expressivo lado feminino e sua valorização corporal a legitimaram como um símbolo sexual e de consumo da época. Mesmo depois de completar 51 anos de sua morte, a atriz continua sendo lembrada nas peças publicitárias, tomada como 1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Audiovisual e visual, integrante do 9º Encontro Nacional de História da Mídia, 2013 2 Tássio Santos é estudante do curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, do Centro de Humanidades, Artes e Letras – CAHL, em Cachoeira /BA, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB. E-mail: [email protected] 3 Professora Adjunto II do Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, do Centro de Humanidades, Artes e Letras – CAHL, em Cachoeira /BA, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB. E-mail: [email protected] inspiração na criação de cosméticos e tendo seu ideal de beleza reproduzido por todo o mundo. Mas quem realmente foi essa mulher que é tão referenciada pela mídia? Qual sua posição enquanto mulher na época em que viveu? Que tipo de mulher suas personagens representava? Inicialmente é preciso compreender todas as transformações sociais que começava a eclodir no mundo ocidental após a segunda guerra mundial e contextualizar o modelo de sociedade vigente para então entendermos o papel pioneiro que Marilyn Monroe exerceu nos cinemas. Para tanto, ao longo deste trabalho, recorrerei a alguns sociólogos que se propuseram a estudar esse cenário de transformações sociais profundas. Dentre as já conhecidas consequências da segunda guerra mundial (1939-1945) – entre elas a hegemonia econômica dos EUA – e a estrutura política internacional que deu início a guerra fria, observa-se um período de “paz” e prosperidade no qual acionou o descontentamento de novos grupos e atores sociais que mostraram revolucionárias tendências e novas formas de ler o mundo. A narrativa sociológica que usamos para compreender hoje esse período começa com a transição da sociedade de produção para a sociedade do consumo, nos países desenvolvidos e identificados como capitalistas; a revolução eletrônica; e o novo papel que a mídia exercia na construção da cultura e da subjetividade. Ao contextualizar a época, é imprescindível não revelar a questão de gênero no comportamento da sociedade e o modelo disciplinar que as famílias brancas de classe média – no qual a posse de bens, como carro e eletrodomésticos, colocava-se como elemento primordial para o bem estar individualista – onde era nitidamente determinado a posição que a mulher iria ocupar, e até então, sem nenhum questionamento de novos arranjos familiares que abririam para o campo da liberdade na escolha. Esse modelo de família nuclear “era uma das instituições fundamentais que banalizavam a propriedade privada e um estilo de vida altamente consumista, no qual, cada família mantinha seus status e seu senso de privacidade através do uso e acumulação de um máximo de bens materiais” (ADELMAN, 2009, p.55) As indagações a essa ordem social que aprisionava a mulher à domesticidade foi o embrião para a “segunda onda feminista” 4. 4O que foi chamado de segunda onda do movimento feminista começou a dar seus primeiros passos no final da década de 60 nas primeiras conscientizações das mulheres e principalmente suas observações “Porém nos meios de comunicação, que cada vez mais influenciavam os padrões cotidianas das populações urbanas, os anos posteriores à conquista do sufrágio feminino se caracterizaram pela intensa produção discursiva de uma feminilidade definida em função do doméstico – o que por sua vez era como já que viu aqui, um dos grandes suportes do status quo e de um conformismo social vinculado à reprodução de papéis sociais rígidos e bastante policiados (...) No entanto, estes mesmos meios de comunicação (...) vinham, por outro lado, criando e espalhando novas imagens, por mais contraditórias e ambivalentes que fossem, sobre a sexualidade feminina e a inserção das mulheres no mundo que antes era reservado aos homens.” (ADELMAN, 2009, p.35). A mulher era rendida aos trabalhos domésticos, abdicadas de sua sensualidade e tinham seus destinos como mães provedoras da educação dos filhos sendo traçados desde longa data5 – essa imagem é muito bem transmitida nos meios de comunicação de massa, sobretudo no cinema em filmes produzidos na época, como Juventude Transviada (1955). Mas, ao passo que as mulheres engatinhavam para desprender de seu personagem nessa sociedade pós-guerra, os meios de comunicação também desempenharam importante influência no padrão cotidiano das populações urbanas. O cinema foi o primeiro grande comunicador de massas do século XX e retratou também em suas produções imagens de uma nova maneira de “ser mulher”, além de ajudar a criar um espaço de aspiração feminina que extrapolasse o papel de esposa e vocação materna (ADELMAN, 2009). “A mulher é vista nos filmes da década de 50 da mesma maneira que nas décadas anteriores, ou seja, uma mulher que políticas estruturais dentro do movimento dos direitos civis dos negros, o que facilitou no estabelecimento de comparações entre suas posições em uma segunda classe. 5As mulheres nessa época eram vistas como opressoras porque tinham um papel importante na manutenção dessa ordem social estável financeira. Eram elas responsável para transmitir a educação normativa da época. Porém, os jovens se votam contra essas mulheres e por isso mesmo excluíram as mulheres dos primeiros movimentos sociais, já que eles não acreditavam em uma preparação para a vida externa. renuncia aos seus próprios desejos em favor do desejo masculino. E os filmes a caracterizam como um objeto de desejo domesticável. Sempre precisando de um homem que a deixe “segura” contra suas próprias fraquezas femininas e que, além do mais, seja vulnerável economicamente. Ela ainda é representada nos filmes como um ser que não pode ser dono de seu prazer e de sua vida, é totalmente dependente do homem para satisfazer-se, sendo inserida nos filmes como fetiche, algo belo e inacessível, causando assim um imenso prazer visual ao homem, que se coloca como um voyeur diante de tais imagens.” (CARDOSO & FREITA JUNIOR, 2009, p.11) A trajetória de Marilyn Monroe se desprende um pouco dessas características e leva essa essência para suas personagens. A valorização de sua aparência ganha força nos filmes e seu corpo passa a ser objeto de deleite masculino. “Os corpos curvelíneos são valorizados e falam tanto quanto os rostos e os lânguidos gestos, celebrizados pelo cinema noir” (Ullmann, 2004, p. 95). Como veremos a diante, as personagens da atriz sempre via em um homem rico um estado de segurança e conforto, mas durante todo seu percurso houve ações feministas que a destacaram e por muitas vezes fora criticada. Dessa forma, faz-se então imprescindível pesquisar em que posição estavam encaixadas as personagens da atriz, com o propósito de conceituar sociologicamente a submissão feminina ao gênero masculino, analisando a ruptura do engessamento da a qual estava submetida a vida das mulheres. Este trabalho tem como objetivo estudar as personagens da atriz a partir das teorias do cinema e de gênero, identificando as ações feministas de Marilyn Monroe e compreendendo a importância de seu pioneirismo em comunicar o lado sensual da mulher no cinema, a “mulher liberta” (BEBIANO & SILVA, p.6), analisando não só sua postura nos filmes, mas também outros indicadores, tais como comportamento e aparência, que influenciaram não só o campo social, mas também o artístico. Para a construção do presente trabalho foram analisados dois filmes: Os Homens Preferem As Loiras (1953) e O Pecado Mora ao Lado (1955), pois serviram de exemplo representativo da posição feminina retratada no cinema hollywoodiano. Entre aparições e protagonismo, a filmografia de Marilyn Monroe abrange mais de 50 trabalhos, portanto, em um momento posterior pode-se incorporar outros filmes. A escolha dos dois filmes foi dada porque além de envolver o comportamento da mulher, reflete traços de uma sociedade preconceituosa que posicionava o homem no pico da hierarquia social sob “um viés masculinista que permeia todo o pensamento social ocidental” (Adelman, 2009, p.85). Ainda sobre a importância dos filmes, eles são altamente expressivos em seus devidos gêneros – comédia, musical e romance - e os que mais carregam o sucesso da protagonista6. Eles alcançaram um sucesso maior do que as outras produções estreladas pela atriz, sendo premiada pela sua performance em Os Homens Preferem As Loiras (1953) pelo Globo de Ouro e eternizando cenas como a do vestido esvoaçante em O Pecado Mora ao Lado (1955).