Revista de audiências públicas do Senado Federal Ano 4 - Nº 18 - novembro de 2013

MOBILIDADE URBANA Hora de mudar os rumos Excesso de carros, má qualidade do transporte público coletivo e falta de investimento desafiam o futuro das grandes cidades brasileiras O SENADO VOTOU. AGORA É LEI Aposentadoria especial de pessoas com deficiência Lei Complementar 142/13 S e n a d o F r l | c m C i ç ã M k t g

Um justo direito para quem percorre esse caminho

O Senado aprovou a lei que reduz o tempo de contribuição e a idade para a aposentadoria de pessoas com deficiência.

É o Congresso Nacional colaborando para a Saiba mais em: conquista da cidadania. www.senado.leg.br/agoraelei s manifestações de ­junho ­ônibus e de metrô foi muito supe- Aos leitores Ade 2013 tiveram um ­grande rior à média da inflação da década impacto na esfera política bra- passada. Com o dobro de carros em sileira e fizeram com que o circulação, os congestionamentos au- Palácio do Planalto e o Senado mentaram nas cidades, diminuindo a alterassem as agendas para dar res- eficiência do transporte público. postas às ­demandas identificadas A solução do problema, agora, nos ­protestos das ruas. envolve planejamento e altos inves- Foi assim que a mobilidade ur- timentos públicos. Mas escolher qual bana subiu de prioridade na pauta a melhor opção para que milhões de nacional. Afinal, entre os problemas brasileiros possam ir de casa para o urbanos que mais afetam a rotina dos trabalho todos os dias não é tão sim- brasileiros, o tempo cada vez maior ples. Para cada tamanho de cidade, gasto no trânsito entre casa e traba- para cada bairro, para cada orçamen- lho é um dos que mais deterioram a to, existe uma solução diferente, seja qualidade de vida, principalmente nas o metrô, o bonde ou o corredor de grandes cidades. ônibus. Este, aliás, com novas tecno- O Senado, além de aprovar pro- logias e rebatizado de BRT (bus rapid jetos diretamente voltados para a transit), sendo escolhido em redução do preço da tarifa de trans- diversas cidades brasileiras. A boa no- porte coletivo urbano, realizou uma tícia é que, além de diminuir o tempo audiência pública, na Comissão de de deslocamento, a melhoria da in- Serviços de Infraestrutura (CI), jus- fraestrutura pode significar ainda a tamente para discutir como melhorar redução dos custos de operação e até o tráfego de pessoas nas grandes mesmo da tarifa. cidades. A reunião aconteceu na ma- Em suma, a revista traz um his- nhã de 19 de junho, horas depois das tórico das opções de transporte maiores manifestações daquele mês. público no país e apresenta experi- O diagnóstico mostra que os ências bem-sucedidas no Brasil e no ­incentivos para o brasileiro migrar do mundo, sem esquecer os pedestres e transporte público para o privado,­ as bicicletas, ainda alvo do preconcei- ou seja, carros e motos, foram mui- to de quem anda de carro. tos. Até a inflação das passagens de Boa leitura! SUMÁRIO

Mesa do Senado Federal Presidente: Renan Calheiros Primeiro-vice-presidente: Jorge Viana Contexto Mundo Segundo-vice-presidente: Romero Jucá Primeiro-secretário: Flexa Ribeiro Segunda-secretária: Ângela Portela Terceiro-secretário: Ciro Nogueira Quarto-secretário: João Vicente Claudino Tempo no trânsito Europa e China Suplentes de secretário: Magno Malta, Jayme CADU GOMES/AGÊNCIA SENADO afeta economia e Campos, João Durval e Casildo Maldaner priorizam pedestre e qualidade de vida transporte coletivo Diretor-geral: Helder Rebouças 6 52 Secretária-geral da Mesa: Claudia Lyra Baixa velocidade do transporte Carros enfrentam restrições para eleva preço da tarifa 14 circular em áreas urbanas Expediente 56 Em 15 anos, cidade chinesa construiu Secretaria de Comunicação Social Realidade Brasileira maior metrô do mundo 62 Soluções de Bogotá são exemplo para metrópoles latino-americanas 63 Diretor: Davi Emerich Diretor-adjunto: Flávio de Mattos KEVIN JIANG Diretor de Jornalismo: Eduardo Leão

A revista Em Discussão! é editada pela Coordenação Jornal do Senado Propostas

Coordenador: Flávio Faria Editor-chefe: João Carlos Teixeira Senado muda agenda para dar Editores: Joseana Paganine, Sylvio Guedes e Thâmara Brasil resposta a manifestações Reportagem: João Carlos Teixeira, Joseana Paganine, 66 Raíssa Abreu, Sylvio Guedes e Thâmara Brasil Capa: Diego Jimenez sobre foto de Greg Morland Incentivos fiscais podem reduzir tarifa Diagramação: Bruno Bazílio e Priscilla Paz CAMPANA BLOG FABIO de ônibus e metrô em até 10% Arte: Bruno Bazílio, Cássio Sales Costa, 68 Diego Jimenez e Priscilla Paz Congresso analisa gratuidade para Revisão: Fernanda Vidigal, Juliana Rebelo, Excesso de carros paralisa cidades estudantes e famílias de baixa renda Pedro Pincer e Tatiana Beltrão 20 Pesquisa de fotos: Bárbara Batista, Braz Félix 70 e Leonardo Sá Menos de um terço vai de transporte coletivo Cidades começam a discutir e a Tratamento de imagem: Roberto Suguino 26 Circulação e atendimento ao leitor: implantar planos de mobilidade 72 Shirley Velloso (61) 3303-3333 Já ruim, mobilidade é pior para mais pobres 29 Tiragem: 2.500 exemplares Paulistano perde mais de 2 horas por dia nas ruas 39 Site: www.senado.leg.br/emdiscussao EMBARQ BRASIL E-mail: [email protected] Metrôs são eficientes, mas muito caros Twitter:@jornaldosenado 41 Saiba mais Veja e ouça mais em: www.facebook.com/jornaldosenado 78 BRT combina baixo custo e bom desempenho Tel.: 0800 612211 44 Fax: (61) 3303-3137 Praça dos Três Poderes, Anexo 1 do Antes inovadora, Curitiba tem mesmos problemas A tramitação dos projetos Senado Federal, 20º andar — 45 pode ser acompanhada 70165-920 — Brasília, DF no site do Senado: Bicicleta e caminhada são opções sustentáveis 48 Impresso pela Secretaria de www.senado.leg.br Editoração e Publicações — Seep CONTEXTO

processo de urbani- dos brasileiros. Somente em São zação transformou Paulo, calcula-se que os gastos

Para manter REPRODUÇÃO rapidamente o Bra- anuais com os congestionamen- sil. Hoje, as cidades tos cheguem a R$ 40 bilhões (leia Oconcentram cerca de 85% da po- mais na pág. 32). pulação. Algumas delas, como Esse problema crescente ga- São Paulo e Rio de Janeiro, estão nhou maior prioridade na agenda o Brasil em entre as maiores do mundo. Tudo nacional — e na do Senado Fede- aconteceu rapidamente e, pior, ral — a partir de junho, quando sem planejamento. milhões de brasileiros foram às Um dos principais impactos ruas nas grandes cidades protestar desse processo está no trânsito. O por melhores serviços públicos. tempo de deslocamento nas gran- Sintomaticamente, as manifesta- movimento des capitais aumentou progressi- ções foram iniciadas por protestos vamente nas últimas décadas (����sai� em São Paulo que pediam a re- Tempo excessivo gasto por brasileiros em ba mais nas págs. 29, 30 e 31). A dução do preço das passagens de deslocamentos nas cidades afeta qualidade de vida e cada dia a circulação das pessoas ônibus, que haviam sido reajusta- Protestos contra aumento da tarifa de dentro das cidades está mais difí- das em R$ 0,20. produtividade da economia. Mobilidade urbana vem ônibus iniciaram manifestações em São Paulo, em junho de 2013. Acima, cartaz cil, reduzindo o tempo livre e útil Assim, a mobilidade urbana — ganhando prioridade na agenda política, especialmente resume reivindicação: transporte público dos cidadãos, a produtividade da ou seja, a capacidade de as pessoas depois das manifestações de junho de 2013 deve ter prioridade sobre o privado ­economia e a qualidade de vida irem de um lugar a outro dentro MARCELO CAMARGO/ABR ARTE: PRISCILLA PAZ ARTE:

6  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  7 SUMÁRIO Contexto

das cidades nas diferentes modali- Transporte Urbano da Esco- no imediato, o tempo de deslo- dades de transporte, seja de carro la Politécnica­ da Universidade camento de carros e motos dimi- ou moto particular, ônibus, me- de São Paulo (USP) Orlando nui, estimulando o transporte in- trô, a pé ou de bicicleta —, cada Strambi acredita que não adian- dividual, que, por sua vez, leva a vez mais, deixa de ser um concei- ta “reclamar de falta de espaço, congestionamentos piores, maior to acadêmico para ganhar as ruas. mas decidir que destinação dar poluição, mais acidentes e, con- Mas, se há tantas pessoas nas ci- ao espaço que temos e pensar sequentemente, à ineficiência do JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA SENADO

dades e o espaço é limitado, o que que espaço adicional a gente GERALDO MAGELA/AGÊNCIA SENADO transporte público (leia mais na é possível fazer? Para tentar res- precisa colocar nas cidades”. A pág. 10). ponder a essa pergunta, a Comis- decisão, que envolve infraestru- Com efeito, o estudo Tempo são de Serviços de Infraestrutura tura, associada aos investimen- de Deslocamento Casa-Trabalho (CI) do Senado, presidida pelo se- tos, teria, inclusive, grande im- no Brasil (1992–2009): diferenças nador Fernando Collor ­(PTB-AL), pacto na redução das tarifas e na entre regiões metropolitanas, níveis realizou no dia 19 de junho de maior eficiência do sistema de de renda e sexo, dos pesquisadores 2013 — pouco depois do recru- transporte urbano. Rafael Henrique Moraes Pereira descimento dos protestos — uma e Tim Schwanen, divulgado pelo audiência pública para discutir o Receituário pronto Instituto de Pesquisa Econômi- assunto, dando sequência a outros Para que decisões adequadas ca Aplicada (Ipea) em fevereiro debates, que já haviam resultado sejam tomadas, Strambi deu de 2013, confirma que os efeitos Fernando Collor presidiu, na Comissão de Senadores aprovam na CCJ, em dezembro de 2011, o projeto que resultou na na aprovação, em dezembro de grande ênfase à PNMU. Se- Infraestrutura, debate para buscar soluções positivos dos investimentos reali- PNMU, lei que estabelece princípios e instrumentos de gestão para a mobilidade 2011, da Política Nacional de Mo- gundo ele, diversos princípios e para a mobilidade urbana no Brasil zados nos sistemas de transporte bilidade Urbana — PNMU (Lei instrumentos de gestão já foram urbano no Rio de Janeiro e no 12.587/2012). colocados à disposição pela nova ­Distrito Federal sobre a redução esse espaço adicional que nova es- maior: o grande preconceito com A partir de junho, os senadores legislação. anos a partir da promulgação). dos tempos de viagem diminuem trutura viária pode criar”, observa relação ao usuário do transporte decidiram acelerar a aprovação de Entre os princípios, destaca-se a Caso contrário, ficarão de fora de com o passar do tempo, à medi- Orlando Strambi. público, ao pedestre e ao ciclista. diversas propostas em tramitação prioridade do transporte não mo- programas federais de investimen- da que os sistemas de transporte Para o professor da USP, os pro- que tentam melhorar o transporte torizado (a pé ou de bicicleta) so- to em projetos de mobilidade (leia se reaproximam da capacidade- Preconceito e atraso jetos em andamento escondem o nas cidades — e diminuir o cus- bre o motorizado e do transporte mais a partir da pág. 72). -limite. Nessa nova realidade, o carro, termo “ônibus” por conta da dis- to para os cidadãos (leia mais na ­ coletivo sobre o individual. A PNMU, proposta inicial- O alívio momentâneo no con- alvo preferencial dos investimen- criminação com relação ao trans- pág. 67). “Temos o receituário para um mente em 2007 pelo Ministério gestionamento, de acordo com tos públicos e privados ao longo porte coletivo. Um dos convidados para o ‘projeto Brasil’. A nossa Política das Cidades, tem como base a o documento Premissas para um dos tempos, vem sendo apontado Afinal, na cultura nacional, debate na CI, o professor de Nacional de Mobilidade Urbana experiência acumulada no desen- Plano de Mobilidade Urbana como grande vilão dos congestio- até por uma questão de status, o contém todos os elementos para volvimento urbano de diversas (2012), da Associação Nacional namentos. A prioridade da nova automóvel é muito mais atraen- cuidarmos da questão da mobili- cidades espalhadas pelo Brasil e de Transportes Públicos (ANTP) lei é o transporte coletivo, a bici- te quando comparado ao ônibus, dade e das cidades. Cada cidade em outros países (leia mais a par� e da SPTrans, leva ao efeito con- cleta e a caminhada. como observou estudo A Mobili� terá suas necessidades, mas, se os tir das págs. 29 e 52). “Fazer valer trário, por incentivar “indireta- Dessa forma, diferentes pro- dade Urbana no Brasil, publicado princípios constantes na lei forem a lei não significará nada além de mente a migração para o trans- postas de mobilidade urbana pro- pelo Ipea em 2011. A continu- observados, estaremos seguindo­ seguir os bons exemplos”, insiste porte ­individual”. liferam pelo país, a ritmo menos ar nessa linha, se nada mais der no caminho certo”, afirma Strambi. “O aumento de carros é mui- acelerado, porém, do que o pro- certo, Strambi apresentou outra ­Orlando Strambi. Uma das constatações é de que to maior do que a construção de blema demanda. As obras de mo- ­proposta:

GERALDO MAGELA/AGÊNCIA SENADO A lei ainda não está plenamen- a infraestrutura viária tem limites ruas e avenidas”, reforça o estudo bilidade prometidas para a Copa “A melhor forma de resolver te em vigor. As cidades com mais e, portanto, não adianta simples- Mobilidade Urbana nas Grandes do Mundo de 2014, por exemplo, um congestionamento é encher de 20 mil habitantes têm mais um mente aumentar a oferta de vias Cidades Brasileiras: um estudo so� são as mais atrasadas, quando não de avenidas, ocupar todos os espa- ano e meio para elaborarem pla- para resolver o problema. Apesar bre os impactos do congestionamen� foram retiradas do plano que ha- ços com capacidade viária para os nos diretores (o prazo foi de três de historicamente a preferência ter to (2009),������������������������ dos pesquisadores Pau- via sido apresentado inicialmen- automóveis. O congestionamento sido dada à construção de viadu- lo Tarso Vilela de Resende e Pau- te para o evento (leia mais na ­ vai desaparecer não porque tenho tos e novas faixas de rolamento, a lo Renato de Souza, da Fundação pág. 37). muito espaço viário, mas porque Senador Wilder Morais e professor Orlando Strambi na audiência da CI visão atual é de que, somente com Dom ­Cabral de Minas Gerais. Mas, para que a situação me- não tenho nada mais naquele lu- sobre infraestrutura e mobilidade essas ações, o problema não será “Não basta infraestrutura. É lhore, Orlando Strambi adverte gar que atraia as pessoas para urbana, em 19 de junho resolvido. Pelo contrário, já que, preciso saber como vamos usar que há outro problema, talvez irem para lá”.

Carros ocupam as ruas e são menos eficientes Compare o espaço necessário para transportar 50 pessoas em cada tipo de transporte 50 bicicletas 1 ônibus 33 carros 50 pedestres 1 pessoa por veículo média de 50 passageiros média de 1,5 passageiro por veículo

SUMÁRIO Contexto

na maioria das vias públicas das Rival do transporte público, cidades brasileiras. O Ipea esti- mou que, nas cidades com mais de 60 mil habitantes, se metade carro congestiona as cidades dos carros que estacionam fora de casa não pagam para parar o

carro nas ruas, R$ 7 bilhões dei- PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO Visivelmente, a cada dia que ­Urbana no Brasil, publicado pelo pode pagar a prestação de uma xam de ser arrecadados todo ano. passa, o carro ocupa mais espaço Ipea. moto ou de um carro. Quando comparado ao trans- nas ruas brasileiras. Nos últimos Como consequência, princi- porte coletivo oferecido no Bra- anos, em um movimento contrá- palmente a partir do Plano Real, Ciclo vicioso sil, de alto custo, ineficiente e rio ao que preconiza a PNMU, em 1994, contando também com Paralelamente, o aumento desconfortável, então, as vanta- os estímulos para que o brasileiro o aumento progressivo do poder do custo do transporte públi- gens do automóvel, em que as migrasse do transporte público aquisitivo da população e a faci- co foi superior à média da in- pessoas viajam sentadas e so- para o individual foram muitos. lidade de financiamento, a frota flação oficial e ainda maior que zinhas, são consideradas supe- Alguns deles, como as renúncias brasileira de carros e motocicletas o reajuste de preços dos carros, riores. “A grande maioria dos fiscais para estimular a produ- cresceu a taxas muito superiores à novos ou usados (leia mais nas ­ compradores de motocicletas ção de carros e motocicletas, fo- de crescimento da economia (veja págs. 33 e 34). optou por esse transporte como ram dados pelo próprio governo, infográfico abaixo). Esse encarecimento e inefici- Edição nº 13 de Em Discussão!, substituição ao transporte públi- ­federal ou estaduais. O último dado divulgado, a ência do transporte público le- de novembro de 2012, abordou co, cada vez mais precário, caro “As políticas públicas de trans- Pesquisa Nacional por Amostra varam à perda de passageiros, o aumento do uso de motos no e sem cumprir horários”, diz a porte e trânsito têm, ao longo da de Domicílios (Pnad) 2012, con- que, em geral, migraram para país, inclusive em substituição senadora Ana Amélia (PP-RS), ao transporte coletivo. Conflitos história, investido mais recursos firmou que o percentual de do- o transporte privado (leia mais com base em pesquisa na qual Transporte público ineficiente, caro e no apoio ao deslocamento por micílios com automóveis e moto- a partir da pág. 20), o qual, em no trânsito mataram mais de 15 40% dos compradores de motos desorganizado é um incentivo a mais para os automóveis, tornando precá- cicletas não para de subir. Afinal, movimento inverso, fica mais mil motociclistas em 2012 revelam que deixar o transporte cidadãos migrarem para o transporte privado, rias as condições de circulação a com a mesma quantia que o cida- barato. Num ciclo vicioso, com público é o principal motivo da notadamente a moto, diz Ana Amélia pé, em bicicleta ou em ônibus”, dão pagaria para se locomover no menor demanda, a arrecadação compra. afirma o estudo A Mobilidade transporte coletivo em um mês, do transporte público diminui, “Governantes precisam incluir Tarso Vilela de Resende e Paulo levando a aumentos de custos e a do ­congestionamento provocado na quantificação dos custos os Renato de Souza, da Fundação Frota nacional triplicou nos últimos 15 anos pressões para a elevação da tari- pelos automóveis. A gente preci- impactos decorrentes da utili- Dom Cabral. fa, desestimulando a adesão dos sa reconhecer que há pessoas que zação massiva do automóvel. As O transporte coletivo continua Existem 51 carros circulando para cada ônibus ou micro-ônibus. ­passageiros. estão causando ônus ao custo dos políticas para o transporte pú- a não se apresentar como alterna- Motocicletas experimentaram explosão de vendas no período O estudo do Ipea observa que transportes coletivos nas cida- blico promovem noções de soli- tiva para a maioria da população. as vantagens do transporte indi- des”, afirma Strambi. dariedade, integração e inclusão. Resende e Souza citam apenas os 1998 79.261.065 vidual, associadas ao encareci- À medida que o automóvel ba- moradores de São Paulo como Estacionamento grátis Existem 75 carros mento do transporte coletivo, são ratear, maior será o preço para a exceção, já que, pelo menos na 2013(*) e motos para cada responsáveis pela deterioração da Outra forma de subsídio indi- sociedade, pelo aumento do con- capital paulista, já é nítido que mobilidade urbana nas cidades e reto aos automóveis é o estacio- gestionamento e da poluição”, o aumento do uso do carro é ônibus/micro-ônibus Crescimento todas as suas consequências nega- namento gratuito, como acontece alertam os pesquisadores Paulo ­inviável. em circulação no Brasil tivas, como “congestionamentos, poluição, acidentes de trânsito 207,6% Em dez anos, transporte coletivo subiu mais que inflação nacional, enquanto carro até caiu de preço Variação do e até reforço da exclusão social para aqueles que não podem ad- PIB entre Boa parcela da população preferiu assumir, com o dinheiro da passagem, financiamentos de automóveis e motos, migrando do 44.257.654 quirir um veículo privado e veem transporte público para o privado, o que aumentou o trânsito e piorou o desempenho dos ônibus 1998 e 2013 o transporte público perdendo 120 58,45% qualidade e ficando cada vez ônibus metrô 148,4% mais caro”. 100 Strambi também aponta uma IPCA 25.765.939 20.805.603 relação direta entre o aumen- 80 gasolina to dos carros nas ruas e a pio- carro novo 17.819.843 ra do transporte público. “Em 60 motocicleta 583,9% 153,1% 234,1% São Paulo, há 7 milhões de veí- carro usado culos, enquanto temos dezenas 40 3.042.050 533.370 331.063 de milhares de ônibus. Ao se 20 210.748 99.077 provocar o congestionamento, Inflação acumulada no período (%) Automóveis Motos e Ônibus Micro-ônibus Frota total reduz-se a produtividade dos 0 motonetas equipamentos de transporte pú- blico, em particular os ônibus. -20 dez./2002 dez./2003 dez./2004 dez./2005 dez./2006 dez./2007 dez./2008 dez./2009 dez./2010 dez./2011 dez./2012 ago./2013 * Dados até julho. Frota total supera soma das colunas anteriores, pois nela estão Então, parte do custo do serviço contidos diversos outros veículos, como caminhões. Fonte: Denatran e IBGE do transporte público é oriunda Fonte: Estadão Dados

10  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  11 SUMÁRIO Impopular, desestímulo ao carro está entre soluções

Levadas em consideração a o professor Orlando Strambi. ­significa proibir. “Essa seria a me- PNMU e as observações das pes- Algumas dessas medidas têm dida mais burra, porque passamos quisas sobre os efeitos negativos recebido suporte em outros luga- décadas construindo um capital do transporte individual, um res do mundo, como em Londres de infraestrutura urbana que prevê dos instrumentos para melhorar e Estocolmo (leia mais nas págs. a circulação de veículos”, ­esclarece. a mobilidade é o desestímulo à 60 e 64). “Uma vez conhecidos Da mesma forma, a Diretoria- circulação de automóveis, o que os benefícios, há apoio. Para uma -Geral para Meio Ambiente da geralmente envolve medidas con- cidade como São Paulo, é um ab- Comissão Europeia reconhece, no sideradas impopulares, como re- surdo enfiar a cabeça embaixo da documento Reclaiming City Streets dução da área para circulação de terra e fingir que essa solução não for People: chaos or quality of life? carros (com faixas exclusivas para deve ser considerada”, observa o (Reivindicado as Ruas da Cidade ônibus, por exemplo), cobran- professor da USP. para as Pessoas: caos ou qualidade ça de estacionamento, aumento De acordo com as conclusões de vida?, em tradução livre), que de taxas como o IPVA, rodízio de técnicos do Ipea, a medida é há necessidade de convivência (como já implementado em São fundamental também para que o com os automóveis, mesmo evi- Avenida Paulista recebe ciclistas no Dia Mundial sem Carro: restrições ao transporte Paulo) e pedágio urbano. transporte público passe a apre- denciando as prioridades. “Está individual motorizado são instrumentos “Se reduzíssemos a quantidade sentar vantagens comparativas re- claro que, ainda que as condições sugeridos para melhorar o trânsito de automóveis, veríamos o tráfego levantes para que seja adotado pela para a mobilidade em automó- fluir. Essa é a principal ideia por ­população. “O mercado futuro do veis continuem a ser uma parte MARIANA CAVALCANTE trás do desestímulo à redução do transporte público não é promis- importante do gerenciamento de uso de automóveis. Em janeiro, sor, a não ser que políticas muito trânsito, encontrar maneiras para em São Paulo, uma redução de favoráveis a ele — incluindo res- aumentar o uso de modos alter- Senado propõe incentivos ao 10% ou 20% do tráfego provoca trições ao uso do automóvel — se- nativos de transporte (transporte tal diferença que a sensação é que jam implantadas”, alerta o Ipea. público, bicicleta e caminhada) é todo mundo foi para a praia e só Ao mesmo tempo, ­Strambi o objetivo de qualquer política ur- transporte coletivo e alternativo você ficou trabalhando”, ilustra­ destaca que desestimular não bana sustentável”.­ Apesar de a execução das polí- ­Incentivos para o Transporte Co- de Constituição, Justiça e Cidada- ticas de transporte público estar letivo Urbano e Metropolitano de nia (CCJ) do Senado. nas mãos dos municípios ou, no Passageiros (Reitup). O texto foi Baseado em sugestão da Frente caso de regiões metropolitanas, dos aprovado pela Comissão de Assun- Nacional dos Municípios (FNM), Ônibus circula por corredor exclusivo ao estados, há cada vez mais envolvi- tos Econômicos (CAE) do Sena- o senador Antonio Carlos Rodri- lado de engarrafamento na Avenida 23 mento do governo federal na ela- do em julho e enviado à Câmara. gues (PR-SP) apresentou projeto de Maio: investimento para tornar mais vantajoso o transporte coletivo boração de programas que possam A expectativa é de que a medida (PLS 11/2013) para garantir que melhorar a mobilidade urbana, provoque redução de até 10% no pelo menos 5% da arrecadação da além dos financiamentos às obras preço das passagens do transporte Cide (cobrada sobre o combustí- realizadas nas cidades com vistas à público. vel) seja aplicada em projetos de FÁBIO ARANTES/PREFEITURA DE SÃO PAULO Copa do Mundo de 2014. Já o PLS 248/2013, do senador infraestrutura urbana de transpor- O Senado trabalha em proje- Renan Calheiros (PMDB-AL), tes coletivos ou não motorizados. tos para desonerar a operação do institui o passe livre estudantil. Por sua vez, o senador Inácio transporte coletivo e diminuir os O projeto assegura gratuidade no Arruda (PCdoB-CE) propõe in- custos para a população. Entre sistema de transporte público co- cluir na Constituição federal a res- eles, destacam-se a desoneração letivo local para o estudante do ponsabilidade comum da União, da cadeia produtiva do transporte ensino fundamental, médio ou su- dos estados e dos municípios coletivo e a gratuidade para estu- perior regularmente matriculado quanto à segurança e ao confor- dantes (leia mais na pág. 68). e com frequência comprovada em to dos pedestres e ciclistas (PEC O principal caminho proposto instituição pública ou privada de 24/2011). pelo Congresso Nacional para ba- ensino. O senador Randolfe Rodrigues ratear a tarifa são os incentivos­ tri- A iniciativa, apresentada em 25 (PSOL-AP), porém, considera que butários da União, estados e mu- de junho, tramitou em regime de a lei deve ser mais específica para nicípios às empresas, como prevê urgência, mas o exame do projeto estimular o transporte por bici- substitutivo do senador Lindbergh­ foi adiado a pedido de líderes, para cletas e apresentou projeto (PLS Farias (PT-RJ) ao projeto que a análise do impacto econômico. 262/2013) que obriga municípios institui o Regime Especial de O texto encontra-se na Comissão a implantar sistemas cicloviários.

12  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  13 SUMÁRIO Contexto Soluções se completam

A escolha sobre a melhor forma de ­transporte disponíveis, sempre ­coordenação tanto nos projetos de transporte para cada cidade e tendo em vista que gastos e de- como na operação do transpor- cada bairro não é fácil. O Banco sempenhos variam de localidade te coletivo, principalmente nas Mundial reconhece que, mais que para localidade, de acordo com regiões metropolitanas. “A ação a obra, o maior desafio é identi- projeto, tempo de execução, nú- demanda um planejamento efi- ficar os objetivos e visualizar os mero de paradas, cultura local caz, uma forte liderança política meios de implantação que assegu- etc. (veja infográfico abaixo). local e um grau de estabilidade rem os melhores benefícios, que Porém, como o Banco Mun- e ausência de clientelismo polí- sejam estruturais. dial atesta, na prática, os benefí- tico dificilmente encontrados”, A lista de opções — bus rapid cios almejados nem sempre são ­diagnostica o Banco Mundial. transit (BRT), veículo leve sobre atingidos. “Os custos são, com No estudo A Mobilidade Urba� trilhos (VLT), metrô, ciclovia frequência, subestimados, e os na no Brasil, o Ipea reconhece que etc. — é longa. E, ainda assim, o fluxos de passageiros, superesti- “a falta de integração do planeja- BRT de Curitiba, problema não é resolvido quando mados”, afirma documento do mento leva a vários problemas es- o primeiro do mundo: investimento se seleciona apenas uma delas. É órgão multilateral, com base em truturais”. Tão grave, diz o docu- em velocidade melhora preciso escolher também a me- experiências avaliadas em todo o mento, é a ausência de um modelo qualidade do trânsito, lhor combinação de tecnologias mundo. regulatório adequado e também a diminui custos e valoriza para expandir a capacidade de falta de contratos e instrumentos áreas periféricas todo o sistema de transporte de Falta coordenação jurídicos que permitam um me-

MARIO ROBERTO DURAN ORTIZ MARIO ROBERTO massa. Outro fator importante é Outro problema crôni- lhor controle da operação do trans- que a escolha caiba no bolso dos co no Brasil é a ausência de porte por parte do poder público. ­usuários e no orçamento público. “Portanto, em vez de simples- Mais eficientes, metrôs são mais caros Mais velocidade, menor tarifa mente defender uma estratégia universal de transporte de massa BRT é opção para menores investimentos. Com estações, pagamento antecipado, faixa A Política Nacional de Mobi- quilômetros por hora com a im- ­seriam ­praticadas com sistemas rápido, a ênfase deve recair em segregada e veículos longos, capacidade pode chegar a 40 mil passageiros por hora lidade Urbana (PNMU), estudos plantação de corredores de ônibus. ­adequados”. questões que precisam de respos- e especialistas são unânimes: o “Ao dobrar a velocidade dos Além de melhorar a eficiência tas na elaboração da estratégia de Capacidade máxima de cada modal Custo das obras de implantação transporte de massa rápido, com ônibus, podemos reduzir necessi- do transporte público, o aumento transportes”, afirma o documen- 70.000 Fontes: base em projetos que usem tecno- dades de frota, oferecendo serviço da velocidade é um atrativo para to Cidades em Movimento: estraté� Banco Mundial (2002) logias e práticas de sucesso, pode de melhor qualidade, mesmo a que o sistema volte a conquistar gia de transporte urbano do Banco Ministério das Cidades/ITPD (2008) melhorar a eficiência das cidades e custos muito inferiores”, avalia. passageiros. De acordo com o do- Mundial, destacando a relação NTU (2009) de suas economias. Mais que isso, A opinião de Strambi coincide cumento Premissas para um Plano do transporte com o desenvolvi- pode reduzir o custo do transporte com o estudo Cidades em Movi� de Mobilidade Urbana, da ANTP e mento e a política de uso do solo 350 público. mento — estratégia de transporte da SPTrans, o aumento do tempo ­urbano. Segundo Orlando Strambi, as urbano do Banco Mundial (2002). despendido nos congestionamen- Porém, o Banco Mundial Passageiros por 300 velocidades obtidas pelos veículos Além da redução do custo, o do- tos levou à queda de desempenho aponta que raramente ocor- hora, por sentido, Milhões de dólares por do transporte público têm grande cumento afirma que haveria be- do transporte coletivo e contribuiu re um planejamento adequado, em uma faixa 40.000 quilômetro construído impacto sobre a despesa da opera- nefícios para o desenvolvimento para o ciclo que ­começa com a concebido em uma perspectiva de rolamento 250 ção, já que, com maior velocidade, urbano, para a revitalização do queda da demanda pelos ônibus. abrangente, de longo prazo, es- de 3,5 metros é possível reduzir o intervalo entre centro das cidades e das periferias “A velocidade se reduzia, os pecialmente nos países em desen- 200 os ônibus de uma mesma linha, servidas pelo transporte de massa tempos de viagem aumentavam e volvimento, onde a avaliação eco- diminuindo, assim, a necessidade rápido, valorizando os bairros. os ônibus perdiam produtividade, nômica do transporte de massa de uma frota maior, um dos maio- O Ipea calcula que o aumento gerando necessidade de aumento rápido se baseia no levantamento 150 res componentes de custo. no tempo de viagem onera o cus- de frota, com aumento de tarifa, convencional do custo-benefício 15.000 “A bala de prata [solução sim- to do sistema de transporte públi- ou redução de viagens e deteriora- do usuário. 100 ples para um problema complexo] co por ônibus em 16%. No estu- ção da qualidade do serviço. Para Ou seja, são muitas as variá- 13.500 dos sistemas de ônibus é a veloci- do A Mobilidade Urbana no Bra� o usuário, aumentava o estímulo veis, que se alteram de cenário 1.350 50 dade. E velocidade se dá tirando sil, divulgado em maio de 2011, para a migração para o transpor- para cenário, o que faz com que o ônibus do congestionamento e o órgão critica o fato de que os te individual, pois o serviço ficava a opção por uma tecnologia em fazendo-o operar direito”, afirma ônibus, responsáveis por 90% dos pior e mais caro. Com a migra- detrimento de outra seja sempre 0 o professor da USP. passageiros do transporte público ção, os congestionamentos au- cercada por muita controvérsia. Em São Paulo, exemplifi- brasileiro, tenham prioridade ín- mentavam e a tarifa ficava ainda Ainda assim, pode-se com- cou Strambi, a velocidade média fima na circulação na maior parte mais cara, pois caía a demanda, parar estimativas de custos e Carro Corredor VLT BRT Metrô BRT VLT Metrô de ônibus dos ônibus, de cerca de 13 qui- das cidades, “gerando velocidades gerando mais incentivo às futuras potenciais de transporte de pas- Fontes: Orlando Strambi (USP), Ministério das Cidades, Institute for Transportation & lômetros por hora, pode ir a 25 cerca de 30% ­inferiores às que ­migrações”, narra o documento. sageiros de cada um dos modais Development Policy (ITDP), Banco Mundial, NTU e Jaime Lerner Arquitetos Associados

14  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  15 SUMÁRIO Contexto

Transporte público de boa qualidade é essencial, já que, em geral, os mais pobres residem mais distante dos locais de emprego Uma história da falta de planejamento

O desenvolvimento das cida- cidade, propiciando, inclusive, ­passagem em relação aos bon- des e as políticas de transporte o crescimento­ do mercado imo- des, ampliados pela chegada dos urbano são marcadas por um biliário”, exemplifica o docu- ônibus, cujo inicio da operação problema ordinário no Brasil: mento Premissas para um Plano regulamentada se deu em 1926. a falta de planejamento, que de Mobilidade, da ANTP e da Os ônibus percorriam pratica- permitiu a soberania dos pneus SPTrans. mente os mesmos itinerários dos sobre os trilhos e do transporte Mais tarde, a popularização bondes, não raro interpondo-se individual sobre o coletivo. de ônibus, caminhões e auto- a eles nos pontos de parada e, A mobilidade urbana está di- móveis ampliou a possibilidade por vezes, causando acidentes”, retamente ligada à forma como de percorrer grandes distâncias afirma o documento da ANTP as cidades evoluíram mundo com velocidade, em pouco tem- e da SPTrans. afora. O modelo atual que con- po e a baixos custos, alterando A tendência de supremacia figurou as cidades, permitindo ainda mais o perfil das cidades. dos ônibus sobre os bondes se uma expansão sem precedentes, No Brasil, a migração dos consolidou, após a Segunda teve início no século passado e trilhos para o asfalto foi resul- Guerra, na década de 50. Em

JONI CORREIA se intensificou após a Segunda tado de uma política de Estado 1956, São Paulo tinha 860 qui- Guerra Mundial. que priorizou o investimento na lômetros de trilhos, com frota Até então, os automóveis ­indústria automobilística. de 500 bondes. Mas na década eram poucos, restritos a uma Assim, o bonde deu lugar a seguinte, já decadentes, os bon- Mais que transporte, a pequena parcela da população. ônibus, carros e motocicletas, des foram praticamente extintos­ No lugar deles, como transporte misturando o transporte públi- do cenário nacional. coletivo, funcionavam os bon- co e o privado, movido a gasoli- “A partir da década de 1950, saúde da própria cidade des, movidos a energia elétrica. na e óleo diesel. A transição, no muitas cidades e regiões metro- “A partir da segunda meta- entanto, não foi feita sem con- politanas passaram a apresentar O sistema de transporte tem re- das cidades brasileiras. Maciel de as famílias não conseguirem de do século 19, a implantação flitos, como em São Paulo: sistemas de mobilidade de baixa lação direta com o desenvolvimen- avalia que, por falta de poder pagar a tarifa, causando mais da ferrovia e, em 1900, de am- “Entre as décadas de 1910 e qualidade e de alto custo, com to urbano, podendo determinar a aquisitivo, grande número de pes- ­exclusão social. pla rede de bondes elétricos, 1920, começa a crescer a quan- qualidade de vida em geral, a velo- soas se concentraram nas perife- fizeram ampliar progressiva- tidade de automóveis e jardi- cidade de crescimento da cidade e rias, onde os imóveis eram mais Meio ambiente mente a mobilidade dos pau- neiras, aumentando os confli- Fábrica da Volkswagen produz o popular Fusca no a valorização ou desvalorização de baratos, até pela ausência de in- Mais que segregações socioe- listanos e alargar os limites da tos por direitos de espaço e de Brasil, nos anos 70: transporte privado caiu no gosto terrenos e bairros inteiros. fraestrutura e, consequentemente, conômicas, a prioridade dada no das elites, que não incentivaram alternativas “Sistemas de mobilidade ine- com acessibilidade ruim. Brasil ao transporte individual ficientes pioram as desigualdades “A classe com menores condi- leva a sérios problemas ambien- socioespaciais e pressionam as frá- ções reside distante dos locais de tais. Estima-se que o transporte

geis condições de equilíbrio am- emprego, consumo e entreteni- privado emite 15 vezes mais po- VOLKSWAGEN biental no espaço urbano”, obser- mento. Além disso, essa classe de- luentes locais (que causam im- va o estudo A Mobilidade Urbana pende de transporte público pou- pacto no entorno) e quase duas no Brasil, do Ipea. co eficiente e de baixa qualidade, vezes mais gás carbônico (CO², Em outro trabalho (Tarifação e que não foi priorizado ao longo causador do efeito estufa) do que Financiamento do Transporte Pú� de décadas”, escreveu Maciel no o transporte público. Isso signifi- blico Urbano), de julho deste ano, artigo “Problemas e desafios do ca que carros e motos respondem o Ipea observa que, no Brasil e na transporte público urbano”. por mais de 90% das emissões América Latina, a estrutura urba- Assim, o desenvolvimento ur- dos poluentes locais e 63% de na se desenvolveu de forma que bano sem planejamento faz com CO². De acordo com o Ipea, em as pessoas de baixa renda morem que, paradoxalmente, um trans- estudo de julho de 2013, a ­atual nas periferias das metrópoles, jus- porte público mais oneroso e mais frota emite 171,1 milhões de tamente onde o transporte é mais ineficiente esteja disponível jus- ­toneladas de CO². ineficiente, com maior custo. tamente para as pessoas de mais “O transporte rápido de massa Essa tendência, segundo o pro- baixa renda. Nesse tipo de trans- pode contribuir tanto para a efi- fessor de Economia da Univer- porte, que percorre longas distân- ciência urbana quanto para a sa- sidade Mackenzie Vladimir Fer- cias por vias despreparadas para tisfação das necessidades dos me- nandes Maciel, se deve justamente recebê-lo, se os custos de operação nos favorecidos”, sugere o Banco à prioridade dada ao transporte forem cobrados integralmente dos Mundial no documento Cidades individual durante o crescimento­ usuários, maior será a tendência em Movimento.

16  novembro de 2013 17 SUMÁRIO Contexto

Paulistanos protestam contra aumento impactos negativos na vida das SPTrans reforça a ideia de que da tarifa do bonde, em 1947: transporte pessoas e nos custos econômicos a opção pelo transporte sobre sobre trilhos perdeu espaço para e ambientais para a sociedade”, pneus e a falta de coordenação automotivo depois da década de 50 afirma o estudo do Ipea. da política de mobilidade ur- Para o senador José Pimen- bana foram resultado “da vi- tel (PT-CE), hoje pagamos o são restrita da importância do preço da falta de planejamento transporte coletivo, estimulada que marcou o forte processo de pelo lobb����y��������������������������������������� da nascente indús- urbanização do Brasil, que, “em tria de automóveis (com os seus um curtíssimo prazo de tempo”, ­ônibus rudimentares)”. mudou o país. O pesquisador da Fundação “O acordo das montadoras Getulio Vargas Samuel Pessôa, no final dos anos 50 exigiu que no entanto, não acredita em o Brasil desativasse todas as suas “teoria conspiratória” das mon- linhas ferroviárias. Somos um tadoras de automóveis. “Parece- dos poucos países do mundo -me que as elites simplesmente que arrancaram trilho e cobri- quiseram o espaço para uma ram trilho com asfalto. Todo o tecnologia privada nova”, avalia. transporte de cargas, que deve- A opção que o governo de ria estar no sistema ferroviário São Paulo fez, na década de 30, e no de cabotagem, veio para pelo Plano de Avenidas, de Pres- as rodovias com um objetivo: tes Maia, em vez do projeto de criar mercado para a indústria metrô, da Light, é um exemplo. automobilística de transporte de “A execução das obras viárias cargas e de transporte de pesso- transformou a estrutura urbana GERMAN LORCA as. Essa falta de planejamento e da cidade e consolidou o padrão esses acordos são os motivos do periférico de expansão apoiado época. Minha avaliação é que, ­incentivo ao transporte público. ­característicos dos dias atuais. ­especialmente nas regiões me- caos que temos hoje. Temos de no tripé loteamentos irregula- no período ditatorial, as elites Da mesma forma, no plano “Temos feito simplesmente o tropolitanas, continua sendo refazer tudo o que deixamos de res, autoconstrução e transporte dirigentes expressavam a prefe- federal, o Ipea, no estudo A Mo� mesmo no último século: cons- a regra. “A articulação entre fazer dos anos 50 para cá, com por ônibus”, diz o documento rência das camadas mais ricas, bilidade Urbana no Brasil, iden- truímos e damos para o auto- as políticas da mobilidade e as um custo altíssimo, que é a de- da ANTP e da SPTrans, com que sempre foram contra o mo- tificou que a política de desen- móvel. Parece que isso chegou demais de desenvolvimento ur- sapropriação urbana e as suas referência ao projeto do então delo BRT por ele tirar espaço volvimento urbano e a política ao limite. A gente já percebeu bano e de meio ambiente, por dificuldades”, acusa o senador. prefeito Francisco Prestes Maia, dos carros”, analisa Pessôa. de transporte urbano sempre se que não vai ser possível prosse- exemplo, ainda estão longe de se O documento da ANTP e da levado a cabo entre 1934 e 1945. caracterizaram por ações desar- guir assim”, afirma o professor tornarem políticas públicas, qui- Na maior cidade do país, Quebra-quebra ticuladas aplicadas por diferentes da USP Orlando Strambi. çá realidade”, afirma o órgão. houve diversas tentativas de pla- Diante do improviso e da setores do governo, sem diretrizes Recentemente, a deteriora- “O uso e a ocupação do solo, nejamento, como a segregação ineficiência, o histórico da mo- ou estratégias básicas. ção da mobilidade urbana vem se estruturados por um plano de faixas para ônibus, porém, bilidade urbana no Brasil inclui Sem intervenções coordena- acompanhada de iniciativas de de transporte, poderiam ter nos muitas delas, apesar dos diag- diversas manifestações popula- das do poder público, a adesão planejamento mais orgânico do permitido viver em uma cidade nósticos severos do presente e res contra altas tarifas e baixa ao transporte individual se in- problema. O Estatuto da Cida- mais rica, com melhor qualida- previsões sombrias sobre o futu- qualidade do transporte cole- tensificou. Entre 1977 e 2005, de (Lei 10.257/2001) e a criação de de vida e com maior atrati- ro da mobilidade em São Paulo, tivo. Nas décadas de 50 e 70, houve queda gradual no uso do Ministério das Cidades (em vidade de negócios. Ao mesmo JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA SENADO ou chegavam atrasadas ou se- foram registrados diversos mo- do transporte público (de 68% 2003), responsável por enca- tempo, uma cidade menos po- quer saíram do papel. Para se ter vimentos desse tipo e até hoje para 51% do total de viagens minhar a proposta da PNMU luente, menos congestionada, uma ideia, a proposta de metrô notícias sobre quebra-quebra de motorizadas) e o aumento no para o Congresso, em 2007, são com tarifas menores, com me- na capital paulista foi feita na ônibus ou trens urbanos, por uso do automóvel — de 32% ­indicações disso. nos acidentes de trânsito e com década de 30, mas a primeira li- atrasos, panes ou superlotação, para 49% (leia mais na pág. 20), “Se, até meados dos anos menos internações hospitalares nha só veio a ser inaugurada na não são raras. Não é de espan- ainda mais nos últimos anos. 1990, as políticas federais tra- decorrentes da poluição. Ou década de 70. tar, portanto, que as manifes- O documento da ANTP e da tavam o transporte nas cidades seja, estamos pagando muito Também nos anos 70, o Bra- tações por serviços públicos de SPTrans observa: o aumento de como questão de infraestrutura caro por não termos atendido os sil foi pioneiro na criação do qualidade tenham começado renda após o Plano Real, am- viária, gradualmente, a abor- princípios elementares do pla- corredor expresso para ônibus, justamente com reivindicações pliado pelo crescimento econô- dagem das políticas públicas nejamento urbano”, lamenta o em Curitiba. Porém, somen- por melhorias do transporte mico nos últimos dez anos, teve nesse setor passou a lidar com estudo da ANTP e da SPTrans. te 40 anos depois, o sistema, ­coletivo. impacto direto na mobilidade a mobilidade urbana enquanto “Na verdade, agora, não é já chamado de BRT (bus rapid A ANTP e a SPTrans citam urbana, com aumento de utili- função social e econômica es- mais hora de procurar quem transit), volta a ser implantado diversos estudos técnicos que, zação de transporte individual e sencial para o desenvolvimen- tem culpa disso. O momento, nas cidades do país. em diferentes oportunidades, consequente aumento dos con- to urbano”, analisa o estudo ­A agora, é de reconhecer um erro O senador José Pimentel lamenta que o Brasil tenha arrancado trilhos para cobrir “Em que pese a avaliação tentaram chamar a atenção gestionamentos e piora do de- ­Mobilidade Urbana no Brasil. feito por muitos e buscar solu- com asfalto: “Temos de refazer tudo o que positiva em Curitiba, não em- para a inviabilidade do uso do sempenho dos sistemas viários, Segundo o Ipea, po- ções”, resumiu Orlando Strambi deixamos de fazer dos anos 50 para cá” placou nas demais cidades na automóvel e a necessidade de gerando lentidão do tráfego, rém, a falta de coordenação, no Senado.

18  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  19 SUMÁRIO REALIDADE BRASILEIRA Na contramão da mobilidade

Aumento da quantidade de carros e motos, ausência de planejamento urbano e baixo investimento em transporte público podem tornar as cidades brasileiras inviáveis

Brasil tem experi- ­compra de automóveis (a frota do ­revelou o balanço de 2012 da mentado, nas décadas país mais que dobrou desde 1998) Associação Nacional de Trans- recentes, um gradual e motos, mas principalmente, na portadores de Passageiros sobre abandono dos trans- avaliação dos especialistas, do ­Trilhos, a ANPTrilhos (leia mais Oportes públicos por uma parce- descaso do poder público com o na pág. 41). la cada vez maior da população. transporte coletivo de passagei- O desafio que surgiu mundo Entre 1950 e 2005, o número de ros. Trens e metrôs transportaram afora, a partir dos anos 50, era viagens diárias, medido pela As- diariamente, em 2012, 9 milhões adequar as cidades às novas exi- PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO sociação Nacional de Transportes de passageiros, o que representa gências de transporte e mobilida- Públicos (ANTP), caiu de 68% apenas 3,8% do total, muito atrás de. E duas linhas diferentes foram para 51%, enquanto o uso do au- dos automóveis e motos (30%) e adotadas. De um lado, caso clás- Passageira no metrô de Brasília: menos de 4% das viagens no país são feitas sobre tomóvel subiu de 32% para 49%. dos ônibus (26%). São somente sico dos Estados Unidos, se deu trilhos, no rastro de um consistente abandono A queda é resultado não ape- 15 sistemas urbanos de transpor- ao automóvel a supremacia sobre do transporte coletivo pela população nas dos constantes incentivos à te sobre trilhos, em 11 estados, o transporte público e, para isso,

20  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  21 SUMÁRIO Realidade Brasileira

gigantescas infraestruturas viárias ao automóvel, no máximo, você um morador possuía carro subiu previsto. Segundo o governo fe- de alta capacidade foram constru- IPEA pode conseguir transportar 3 mil para 26,7 milhões, passando de deral, desde 2003 já foram dispo- ídas (viadutos, edifícios-garagem, pessoas por hora por sentido”, 40,9%, em 2011, para 42,4%. Já nibilizados R$ 21,6 bilhões para freeways, highways). De outro enumera Ailton Pires. as motos estão presentes em 12,6 infraestrutura de transporte ur- lado, solução preferencial na Eu- milhões de casas (variando de bano. Só o PAC da Mobilidade, ropa, partiu-se para a implantação Deterioração do quadro 19,1% para 20%). aprovado em fevereiro de 2011,

de transportes públicos de alta De acordo com o coordenador “O país cresceu, melhorou, se vai repassar R$ 18 bilhões para a GERALDO MAGELA/AGÊNCIA SENADO capacidade, especialmente sobre do estudo A Mobilidade Urbana desenvolveu e boa parte da popu- melhoria do transporte coletivo trilhos, e a adoção de políticas, a no Brasil, do Instituto de Pesqui- lação saiu da miséria, ­melhorou das grandes cidades brasileiras. partir dos anos 60, de restrição sas Econômicas Avançadas (Ipea), de vida, está na classe média. “Sempre estamos correndo ao uso do automóvel nos princi- o engenheiro de transportes e téc- Descobriu que o sistema de saúde atrás do que já está acontecendo pais centros urbanos (leia mais a nico de planejamento e pesqui- do país está falido, que o trans- errado, e isso é ruim”, lamenta o partir da pág. 52). O Brasil não sa Carlos Henrique Ribeiro de porte coletivo não foi prioriza- senador Ivo Cassol (PP-RO). se situou nem de um lado nem de Carvalho, em alguns lugares, de- do ao longo dos anos, é lento e é outro. pendendo do trajeto que se faça, caro. Tem que botar mais carro? Soluções variadas “Se, por um lado, não conse- sai mais barato usar moto ou até Não, tem que dar prioridade ao As necessidades de infraestru- guiu fazer os investimentos neces- mesmo o carro do que o ônibus, sistema de transporte coletivo em tura urbana das diferentes cidades sários à acomodação dos volumes metrô ou trem. todas as cidades, sem exceção. Te- são distintas. A grande é diversa de tráfego nem em capacidade “Obviamente, esse panorama mos que sentar para repensar as da pequena, as áreas centrais das nem em segurança, pelo outro tem causado sérios problemas cidades. A crise que estamos vi- periferias, os corredores de alta não investiu em sistemas de trans- Para o engenheiro e pesquisador do para as cidades, como conges- vendo é uma crise das principais demanda dos de baixa. “Soluções Ipea Carlos Henrique de Carvalho, se o porte que se tornassem alterna- transporte público não for valorizado, as tionamentos, acidentes e polui- cidades do país, porque não existe que podem servir para uma cida- Sérgio Souza defende que o país deve tivas viáveis ao automóvel, como cidades se tornarão inviáveis ção, principalmente. A renda da mais mobilidade, não existe mais de grande não servem para uma discutir itens que impedem o crescimento sistemas metroviários. O círculo população está aumentando e, facilidade para o cidadão”, afirma cidade pequena, mas as soluções do consumo e impactam os investimentos, vicioso do aumento do tráfego e se não houver políticas no senti- o senador Alfredo Nascimento que servem para uma cidade pe- como a mobilidade urbana da saturação do trânsito foi rápido pela estruturação de espaços do de melhorar e incrementar o (PR-AM), que foi ministro dos quena podem servir para uma e inexorável, reforçado pela estabi- ­urbanos onde o homem está transporte público, essa situação Transportes por duas vezes. região periférica de uma cidade prazo, em uma visão mais ampla lidade econômica trazida a partir em posição inferior às máqui- vai se deteriorar ao ponto em que A expectativa, no entanto, não grande, por exemplo. Soluções da política urbana, como a inter- do Plano Real e pela disponibili- nas. Pedestres e ciclistas, por ­teremos cidades inviáveis”. é de melhorias em curto prazo. que, eventualmente, servem para conexão de várias políticas geren- dade de crédito que impulsiona- exemplo, vivem escorraçados O documento aponta ainda A Fundação Dom Cabral apurou outro país podem não servir para ciadas, atualmente, separadamen- ram a fabricação e a venda de au- em espaços exíguos e perigo- que, nos últimos 15 anos, as tari- que, nos últimos 11 anos (2002 alguma cidade brasileira, mas te. Antes de investir em infraes- tomóveis a patamares nunca antes sos — as estreitas calçadas, fas de ônibus aumentaram cerca a 2012), em valores atualizados, muitas delas devem ser olhadas trutura viária custosa ou ferrovias, imaginados”, reflete o engenheiro as ciclovias mal sinalizadas e não de 60% acima da inflação. Já car- R$ 6,8 bilhões foram previstos no com carinho e devem ser estuda- a aposta dos governos de hoje de- Paulo Simão, deputado federal raro desrespeitadas pelos moto- ros e motos estão mais acessíveis. Orçamento da União para ações das”, recomenda o professor Or- veria ser em novas tecnologias da pelo PSD de São Paulo e membro ristas. “Não se tem calçadas de- O resultado é que o brasileiro de mobilidade urbana, porém lando Strambi, da Universidade informação e comunicação como do Conselho de Desenvolvimento centes no Brasil. Pelo contrário, o comprou mais automóveis e mo- apenas R$ 1,3 bilhão (19,1%) foi de São Paulo (USP). ferramentas de apoio a uma mu- Econômico e Social (CDES), no que temos é indecente. De novo, tocicletas, como constatou a Pes- aplicado. Neste ano, o cenário se- “Uma visão demasiada limita- dança maior na mobilidade urba- livro Urbanização e Civilização: o poder público fazendo a sua quisa Nacional por Amostra de guiu o mesmo: o Programa Mobi- da e tecnocrática da estratégia de na, de forma a enfrentar os três avanços e desafios. opção pelo cidadão que tem mais Domicílios (Pnad) 2012: o núme- lidade Urbana e Trânsito liberou, transporte tende a ocultar solu- maiores problemas mencionados poder aquisitivo”, continua o pre- ro de domicílios em que ao menos até junho, apenas 13,3% do total ções mais econômicas e de longo no início: congestionamento, con- Gastos estúpidos sidente da ANTP. taminação e discriminação social “O Brasil gasta muito dinheiro, A matemática é elementar, mas no transporte”, escreveu Solenne de maneira estúpida, na constru- não pareceu sensibilizar o poder Cucchi, mestre em Planejamento ção do sistema viário para a cir- público ao longo do tempo. “Em Urbano pela London School of culação de automóveis. É preciso uma mesma faixa de 3 metros de Economics. perceber que o transporte coletivo largura, você transporta desgraça- “O grande desafio do Brasil é é mais eficiente e as pessoas estão damente, em péssimas condições, diminuir o seu custo interno, para dispostas a utilizar, desde que ele no mínimo 6 mil pessoas por que o cidadão tenha uma capaci- tenha qualidade”, lamenta o pre- hora por sentido. Numa adminis- dade maior de consumo, de inves- MÁRCIA KALUME/AGÊNCIA SENADO

sidente da ANTP, o engenheiro tração mais razoável, você pode GERALDO MAGELA/AGÊNCIA SENADO timento. E não há como fazer isso Ailton Brasiliense Pires, que, en- chegar a 10 mil pessoas. Já em sem se discutir itens que impac- tre outros cargos, foi presidente um corredor estruturado, chega- tam, como a mobilidade urbana”, da Companhia de Engenharia de -se a 15 mil, 20 mil pessoas. Em complementa o senador Sérgio Tráfego (CET) de São Paulo, di- qualquer faixa destinada somente Souza (PMDB-PR). retor do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e presi- dente do Conselho Nacional de Alfredo Nascimento ressalta que a Para Ivo Cassol, o Brasil está sempre ­Trânsito (Contran). economia cresceu, mas os serviços correndo para corrigir o que foi feito Mais que privilegiar os auto- públicos, como transporte e saúde, não de forma errada, o que prejudica o móveis, o Brasil optou, ­ainda, acompanharam as novas demandas desenvolvimento do país

22  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  23 SUMÁRIO Realidade Brasileira

cai para um terço. A bicicleta, O perfil do usuário de transporte, conforme região e classe social Automóveis em termos nacionais, é usada em Estatísticas mostram que áreas mais desenvolvidas oferecem melhores opções aos apenas 3,4% dos trajetos, mas é cidadãos. Motos e bicicletas são mais usadas no Nordeste e no Norte bastante importante no Norte e tomam as vias Nordeste, justamente as regiões Os principais modais mais pobres. Nos grandes centros urbanos ­veículos comerciais leves, e o ou- ­amplamente as motocicletas (3%) No estudo Sistema de Indica� brasileiros, a mobilidade se ca- tro quarto, ônibus e caminhões. e as bicicletas (3%). dores de Percepção Social (Sips), racteriza pelo uso intensivo do Nesses municípios, são realizados Os dados acima foram cole- de 2010, o Ipea também investi- automóvel, com todos os efeitos 148 milhões de deslocamentos tados pelo Ipea, em uma série de gou que características o morador Transporte Automóvel Motocicleta Pedestre Bicicleta nocivos que isso traz ao trânsito, diários, cumpridos a pé (38%), estudos que, desde a década pas- considera essenciais para um bom público ao meio ambiente, à economia e por transporte coletivo (29%) sada, vem buscando traçar um sistema de transporte. A rapidez às pessoas. Nas cidades com mais e individual (33%). No modo diagnóstico completo da mobi- é o fator mais lembrado, com Sul e Sudeste, regiões mais ricas, usam mais o transporte público de 60 mil habitantes, acumu- coletivo, os ônibus atendem a lidade urbana no país. De acor- 35,1%, seguida pela capacidade 7% lam-se 20 milhões de veículos, maior parte (89%). No indivi- do com o estudo A Mobilidade de oferecer mais de um modo de Trilhos: 4,6% 40,3% três quartos deles ­automóveis e dual, o automóvel­ (27%) supera Urbana no Brasil, que se baseou deslocamento (13,5%), ser barato Ônibus metropolitano: 7,6% 17,9% 16,1% em dados de 2008 da ANTP re- (9,9%), confortável (9,7%) e sair 12,3% Ônibus municipal: 32,1% lativos às áreas metropolitanas, em horários adequados à neces- 44,3% 8,2% existe uma divisão quase perfeita sidade (9,3%). No momento da 12,6% 17,6% entre transporte individual (49%) escolha do meio de transporte, 37,5% e transporte público (51%), este os motivos que levam o usuário 23,8% 11,3% FERNANDO STANKUNS maciçamente atendido pelos a decidir são bem semelhantes ­ônibus. — 32,7% por ser o mais rápido e 18,8% Em relação ao transporte, quan- 14,8% por ser o mais barato. 19,4% to mais alta a escolaridade, maior Em relação à qualidade do 13% é o uso do automóvel (veja info� transporte coletivo, a avaliação gráfico na página ao lado). Mais é, como esperado, bastante ne- 39,6% 46,3% 50,7% da metade (52,4%) dos morado- gativa. Nacionalmente, 39% dos 3,7% 2% 3,8% res com nível superior incompleto usuários acham o serviço ruim 13,7% 7,6% 8,3% ou acima utiliza esse transporte e ou muito ruim. Os números são 6,5% 12,4% 11,6% pouco menos de 30% recorrem ao piores no Norte (45,8%) e no Su- 36,5% 31,7% 25,6% transporte público. Entre os que só deste (42,9%). Para 31,3% dos têm até o 5º ano do ensino funda- brasileiros das maiores cidades, Nas maiores cidades, morador faz mais viagens por dia mental, o cenário é bem diferente: o transporte público é regular e 50% vão de transporte público, somente 2,9% o classificaram Mais de 1 milhão 0,9 0,71 0,82 2,51 viagens 20,7% viajam de motocicleta e como muito bom. Quanto maior 0,05 0,03 apenas 13,6% de carro. o grau de escolaridade, maior é O uso da moto como veículo a avaliação negativa do serviço: Entre 500 mil e 1 milhão 0,37 0,53 0,67 1,67 viagem de locomoção é inversamente pro- 36,9% dos que têm nível superior 0,06 0,04 porcional ao nível educacional: incompleto ou acima consideram quanto maior a escolaridade, me- o transporte público ruim ou Entre 250 mil e 500 mil 0,27 0,33 0,49 1,21 viagem nor a utilização. Pessoas com es- muito ruim, contra 22,5% entre 0,06 0,06 colaridade entre o 6º e o 9º anos os que só foram até o 5º ano. do ensino fundamental usaram Na média nacional, 41,5% Entre 100 mil 0,18 0,23 0,44 e 250 mil 1,0 viagem 50% menos esse transporte que dos usuários reclamam de atrasos 0,06 0,08 pessoas com até a 4ª série. constantes no transporte coleti- Andar ou usar a bicicleta são vo, com destaque para o Sudes- Entre 60 mil e 0,170,17 0,38 0,91 viagem 100 mil modos de locomoção cujo empre- te, com 51,5%. Entre os motivos 0,07 0,12 go também é inversamente pro- que levam uma pessoa a desistir porcional ao tamanho das cidades de fazer o deslocamento, 35,3% Todas as cidades 0,48 0,45 0,61 1,65 viagem e à condição social. Nos municí- dos brasileiros alegaram ausência 0,06 0,06 pios com até 60 mil habitantes, de transporte no local e 36,5%, quase a metade das viagens é feita falta de linha no horário necessá- Uso do automóvel aumenta conforme o nível de escolaridade (em %) a pé. Em metrópoles de mais de rio. No Sul, a queixa por falta de 1 milhão de moradores, o índice­ transporte é menor (20,5%), em Até o 5o ano 49,9 13,6 20,7 6,7 9,1 contraste com o Norte (53,3%). O nível de mudança de planos ou 6o ao 9o ano 46,9 18,6 10,9 14,3 9,3 desistência na Região Norte por Estação da Luz, em São Paulo: Ensino médio 43,0 25,9 8,9 16,4 5,8 transporte coletivo no Brasil é utilizado falta de dinheiro é muito eleva- principalmente por pessoas de menor do (48,1%), bem acima da média escolaridade nacional (28,9%). Ensino superior 29,4 52,4 5,9 11,8 0,5 Fonte: Ipea

24  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  25 SUMÁRIO Rodoviária de Brasília: ônibus é o transporte público mais utilizado no país, sobretudo nas cidades com mais de 500 mil habitantes VALTER CAMPANATO/ABR VALTER

Apenas 38% dos municípios ­presente em duas de cada três ci- ­naqueles entre 20 mil e 100 mil ­prefeituras raramente consegue dades do país. São 67,7% muni- habitantes (superior a 74%). É formular uma política de trans- cípios com esse serviço, especial- nas regiões mais pobres que o mo- porte mais ampla (abrangendo mente presente na Região Nordes- totáxi tem maior força — 83,7% transporte coletivo, trânsito e vias têm transporte coletivo próprio te (90,5%) e nas cidades entre 50 dos municípios na Região Norte e públicas). mil e 100 mil moradores (80,6%). 87,7% na Região Nordeste. Só 6,4% de municípios pos- Um bom serviço público de Sudeste (52,3%) e Sul (51,3%), Se com os ônibus a realidade é O transporte por barco está suíam conselhos municipais de transporte coletivo é privilégio foram verificados os maiores per- essa, o que dizer das demais op- presente em 11,5% dos municí- Estruturas deficientes Transporte (menos da metade de muito poucos brasileiros. Na centuais de municípios com exis- ções de transporte público mais pios, com grande relevância na Segundo a Constituição fede- com competência deliberativa) e verdade, a simples presença de tal tência de transporte por ônibus. usuais no restante do mundo? Região Norte — em percentual ral, compete aos municípios orga- apenas 3,7% dispunham de fundo serviço, mesmo que de má qua- Em seguida vêm o Centro-Oeste Os trens só atendem a população muito superior aos das demais re- nizar e prestar, diretamente ou sob municipal para ajudar no custeio lidade, não é a realidade para a (26,8%), o Norte (23,1%) e o para viagens intramunicipais em giões (55,2%), por razões óbvias. regime de concessão ou permissão, do setor. Os dois instrumentos se maioria das cidades. A Pesquisa Nordeste (22,4%). apenas 2,49% dos municípios — Os táxis atendiam 83,5% dos mu- o serviço de transporte público mostram presentes em geral nas de Informações Básicas Municipais, Os números melhoram um e, das 139 localidades onde fun- nicípios no ano passado, de acor- coletivo. Porém, de acordo com cidades com mais de 500 mil ha- do IBGE, de 2012, constatou que pouco quando se investiga a exis- cionam, mais da metade fica na do com o levantamento do IBGE. a pesquisa do IBGE, ainda que bitantes (76,3% no primeiro caso o transporte coletivo por ônibus tência de transporte coletivo por Região Sudeste. O metrô, por sua Quanto maior a cidade, maior a 74,3% dos municípios possuam e 47,4% no segundo). Plano mu- está presente em apenas 2.114 dos ônibus intermunicipal. O IBGE vez, só existe em 19 municípios do presença do serviço, chegando a algum tipo de estrutura organiza- nicipal de transporte é ainda mais 5.565 municípios, 38% do total. registrou que tais serviços estão país (0,3%) e, até pela caracterís- 100% nas com mais de 500 mil cional para tratar do tema, apenas raro — só existe em 3,8% das ci- No entanto, a existência é real- disponíveis em 85,8% dos mu- tica de transporte de massa, se faz habitantes. 801 das 5.565 cidades do país ti- dades brasileiras. Naquelas com mente forte apenas nos maiores nicípios, porém só em metade os presente exclusivamente em gran- Em relação à pesquisa de 2009 nham uma secretaria exclusiva. menos de 20 mil habitantes, pelo centros urbanos — em todos com coletivos atendem também os des- des metrópoles. (53,9%), o transporte por moto- Quatro em cada cinco municípios menos nove em cada dez não o mais de 500 mil habitantes e em locamentos entre bairros, distritos Fenômeno relativamente recen- táxi foi o que mais cresceu, pas- têm apenas setores subordina- possuem, bem diferente do cená- 94,9% dos que têm entre 100 mil e localidades dentro do mesmo te, o serviço de vans já é a segun- sando a figurar em 55,3% dos dos a outras pastas. Não por aca- rio encontrado nos municípios aci- e 500 mil moradores. Nas Regiões município. da opção de transporte público, municípios, com maior presença so, portanto, a grande parte das ma de 500 mil cidadãos (15,8%).

26  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  27 SUMÁRIO “Os planos diretores de trans- Urbana do Ministério das Cida- ­princípios, diretrizes e instrumen- porte e da mobilidade são obri- des, Luiz Carlos Bueno de Lima, tos a serem executados pelos mu- gatórios para as cidades com mais ao apresentar o Guia PlanMob, nicípios na defesa dos interesses de 500 mil habitantes, fundamen- destinado a orientar prefeitos dos usuários de transporte públi- tais para as com mais de 100 mil ­sobre como agir no setor. co, inclusive a exigência de licita- habitantes e importantíssimos Nesse cenário, o máximo que ção para a contratação das empre- para todos os municípios brasilei- os prefeitos conseguem fazer é sas que vão explorar tais serviços. ros”, escreveu o secretário nacio- apresentar soluções para proble- O senador Lindbergh Farias (PT-­ nal de Transporte e Mobilidade mas localizados, o que pode pro- RJ) afirmou nos debates sobre o duzir novas dificuldades, como assunto que 90% das prefeituras alertaram os pesquisadores do não realizaram concorrência para “Art. 10. A contratação dos serviços de transporte público coletivo será precedida IBGE. o transporte. O Ministério Pú- de licitação e deverá observar as seguintes “Uma experiência bem-suce- blico de diversos estados tem en- diretrizes: dida em alguns municípios é a trado com ações na Justiça contra I - fixação de metas de qualidade e existência de uma estrutura orga- prefeituras que firmam contratos desempenho a serem atingidas e seus nizacional, dentro da prefeitura, com empresas de transporte co- instrumentos de controle e avaliação; para tratar da política, abrangen- letivo, sem a realização prévia de II - definição dos incentivos e das penalidades do as áreas de transporte, trânsito licitação. aplicáveis vinculadas à consecução ou não das e vias públicas. O fato de as três Um levantamento publicado metas; áreas estarem sob o mesmo co- pelo jornal O Globo em agosto III - alocação dos riscos econômicos e financei- ros entre os contratados e o poder concedente; mando facilita a ação articulada passado concluiu que em metade IV - estabelecimento das condições e meios nos projetos comuns”, sugere o das capitais do país o transporte para a prestação de informações operacionais, ­levantamento do IBGE. urbano não é licitado, sendo ope- contábeis e financeiras ao poder concedente; e rado por empresas que ganharam Sem licitações Trânsito no Distrito Federal: na capital do V - identificação de eventuais fontes de receitas permissões e autorizações décadas país, os mais pobres levam quase o dobro do alternativas, complementares, acessórias ou A recente Lei 12.587/2012, a atrás, mas que nunca passaram tempo dos mais ricos para chegar ao trabalho de projetos associados, bem como da parcela Política Nacional de Mobilida- por uma concorrência pública CADU GOMES/AGÊNCIA SENADO destinada à modicidade tarifária. (...)” de Urbana, regulamenta novos para regular o sistema. Em mui- tas capitais que fizeram licitação, o processo é bastante recente — Trens e metrôs só estão disponíveis nos grandes centros urbanos caso do Rio de Janeiro (2010). Nos pequenos municípios, vans e mototáxis desempenham importante papel no Em outras, havia só a promessa de Pobres perdem mais transporte público. Ônibus estão presentes na maioria das cidades promover a disputa, como em Sal- vador (setembro) e Porto Alegre, Mototáxi Van Ônibus Trem Metrô que programou para dezembro a tempo no trânsito primeira licitação para exploração Até 5 mil de transporte público da história Para chegar até os locais de Esse aumento gradual da pro- da cidade. trabalho, aproximadamente 24,2 porção de longas viagens casa-tra- O setor é marcado por de- milhões de pessoas se deslocam balho (acima de uma hora) pena- Entre 5 mil

núncias de irregularidades, trá- diariamente nas 15 metrópoles liza mais quem ganha menos. Na ARQUIVO PESSOAL e 10 mil fico de influência e corrupção brasileiras. Nos últimos 20 anos, média das áreas metropolitanas na ­assinatura dos contratos entre segundo as pesquisas, os brasilei- analisadas pelo Ipea no estudo A Entre 10 mil as prefeituras e as empresas. São ros perdem mais tempo se des- Mobilidade Urbana no Brasil, os e 20 mil Paulo cancelou licitação marcada locando dentro das principais mais pobres gastaram, em 2009, para este ano (a última ocorreu regiões metropolitanas (RMs). quase 20% a mais de tempo do Entre 20 mil em 2003) para aguardar os resul- Esse crescente tempo despendido que os mais ricos. E, se 19% dos e 50 mil tados de uma comissão parlamen- aparece, atualmente, como um mais pobres levam mais de uma tar de inquérito na câmara mu- dos grandes problemas das gran- hora, entre os mais ricos o índice Entre 50 mil nicipal. O mesmo jornal revelou des cidades, com fortes impactos, é muito menor (11%). e 100 mil que ­muitas das concessionárias também, sobre as condições de “Boa parte da população urba- de transporte, mesmo inscritas na bem-estar urbano. Um em cada na ainda não se encontra inserida Entre 100 mil dívida ativa da União por débitos dois brasileiros leva pelo menos numa estrutura de oportunidades e 500 mil milionários em tributos e con- meia hora para se deslocar de casa — onde se inclui a capacidade de tribuições não recolhidos, conti- para o trabalho, revela o Índice de deslocamento — que lhe garanta nuam firmando contratos com o Bem-Estar Urbano (Ibeu),�������� divul- melhores condições de empregos Mais de poder público. O levantamento gado este ano pelo Observatório e renda, como mostram alguns 500 mil revelou pelo menos 49 empresas das Metrópoles do Instituto Na- estudos. As formas precárias e O pesquisador Juciano Martins avalia e 17 empresários ­nessa situação, cional de Ciência e Tecnologia, da insuficientes de deslocamento que a precariedade do transporte público (%) 0 20 40 60 80 100 com uma dívida global de R$ 2,8 Universidade Federal do Rio de asseguradas por um sistema de é incompatível com o ganho de renda dos Fonte: Ipea bilhões. Janeiro (UFRJ). mobilidade ineficiente gerariam trabalhadores nos últimos anos

28  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  29 SUMÁRIO Realidade Brasileira

Pelo menos uma hora perdida por dia nos deslocamentos efeitos contrários aos ganhos de Curitiba. Mas há também várias Tempo perdido em congestionamentos Das maiores capitais brasileiras, Porto Alegre é a única na qual o morador leva, em renda obtidos pelos trabalhadores ­metrópoles cujo Ibeu-Mobilidade Nas quatro maiores cidades do país, pelo menos 70% das pessoas declararam média, menos de meia hora para ir da casa para o trabalho na atual conjuntura de geração de é superior ao geral — Florianó- gastar entre uma e duas horas em engarrafamentos emprego”, afirmou Juciano Mar- polis, Campinas, Fortaleza, Porto Cidade População (milhões) Densidade demográfica (hab./km²) tins Rodrigues, doutor em Urba- Alegre, Belém, Manaus e Recife. % 50 Tempo médio casa-trabalho (min) nismo e autor do capítulo sobre Em Salvador, Recife, Fortaleza mobilidade urbana do estudo. e Belém, por exemplo, a diferença 40 São Paulo 19,4 2.447 Os paulistanos levam, em mé- no quesito tempo de deslocamen- 42,8 30 dia, 43 minutos para ir de casa to entre pobres e ricos é conside- Menos de 1 hora para o trabalho, tempo seme- ravelmente pequena, apesar das 1 hora Rio de 11,8 2.097 lhante ao perdido pelos cariocas. diferentes condições desses dois 20 Janeiro 42,6 São números superiores à maio- grupos em termos de capacidade 2 horas ria das metrópoles nos países de- de escolha do local de moradia e 10 3 horas Belo 4,8 338 senvolvidos — como Nova York, de dependência do transporte pú- Mais de 3 horas Horizonte 34,4 0 Paris, Madri e Berlim — e infe- blico. Por outro lado, nas regiões Porto Alegre São Paulo Belo Horizonte Rio de Janeiro riores a poucas outras, como a metropolitanas de Belo Horizon- Porto 3,9 406 chinesa Xangai te, Curitiba e Distrito Federal, Fonte: Fundação Dom Cabral Alegre (veja infográfico à 27,7 ­esquerda). o grupo mais pobre faz viagens “O impacto causado pelas di- casa-trabalho respectivamente Alegre (31,2) e Belo Horizonte circulação é ínfima na maior par- Recife 3,8 1.397 ficuldades de deslocamento no 40%, 61% e 75% mais demora- (29,6). Entre 2001 e 2011 o nú- te das cidades, gerando velocida- 34,9 acesso ao emprego e à renda mui- das do que os mais ricos. mero de automóveis nas metró- des muito baixas — cerca de 30% tas vezes se deve à concentração “Os resultados apontam para poles aumentou 63%, seis vezes inferiores às que seriam praticadas Fortaleza 3,6 625 da oferta de trabalho nas áreas importância de futuros estudos mais que a população. com sistemas adequados de priori- 31,7 centrais, ao mesmo tempo em que investiguem em que medida Não por acaso, os engarrafa- dade, concluiu o mesmo estudo A que observamos o crescimento da essa desigualdade nos tempos de mentos são a marca do trânsito Mobilidade Urbana no Brasil. Salvador 3,5 816 população moradora nas perife- viagem é resultado de diferentes das grandes cidades. Outro estu- São Paulo tem programa espe- 33,9 rias distantes.”, alerta o estudo. níveis de segregação espacial e de do do Ipea — o Sistema de Indi� cífico para enfrentar essa situação. O índice de mobilidade mé- acessibilidade dos bairros nas áre- cadores de Percepção Social (Sips) A Operação Dá Licença para o Curitiba 3,2 209 dio da população nas metrópoles as metropolitanas brasileiras. Em — revelou que, em termos nacio- Ônibus, criada pela Companhia 32,1 brasileiras é de 1,86 viagem por muitas cidades, os mais pobres nais, o número de pessoas que os de Engenharia de Tráfego (CET), habitante por dia, medido em moram muito afastados dos locais enfrentam mais de uma vez por quer chegar a 220 quilômetros de Brasília 2,5 443 2008 pela ANTP. Se esse índice de trabalho e têm problemas com dia é de 20,5%. Na região mais faixas exclusivas para os coletivos 34,8 for mantido, o número de traje- o transporte público”, recomenda rica, o Sudeste, é ligeiramente su- até o fim do ano. No final de se- tos diários saltará, em 2025, para o estudo do Ipea. perior à média do país (21,6%). tembro, 15 vias da capital paulista­ Belém 2,1 1.155 156 milhões. Porém, o estudo Curitiba e Porto Alegre, que na A Região Norte é a líder nesse foram adicionadas ao projeto. 31,5 A Mobilidade Urbana no Brasil década de 90 implantaram me- quesito (26,2%) e também entre especula que o índice de mobi- lhorias significativas nos trans- os moradores que disseram pegar No resto do mundo, a realidade não é muito diferente lidade poderá ser de 2,5 viagens portes públicos (caso dos corre- congestionamentos uma vez por naquele ano, graças às melhorias dores de ônibus), conseguiram, dia (veja infográfico acima). Xangai 54,1 nas condições de vida e ao de- pelo menos, evitar a piora obser- “Dificilmente a classe A vai REPRODUÇÃO senvolvimento socioeconômico vada em outras cidades no tempo deixar de ter carro para andar de Londres 36,3 das metrópoles. Com isso, o total médio de deslocamento. Mas, na ônibus. Isso não acontece em ne- ­poderia chegar a 220 milhões de comparação entre os 10% mais nhum lugar do mundo. Só dei- Estocolmo 33,6 deslocamentos. pobres e os 10% mais ricos, Curi- xaria o automóvel para andar de tiba tem um dos maiores níveis de metrô. Em São Paulo o metrô Diferença menor Nova York 33,1 desigualdade, parecido ao de Bra- não tem nem 80 quilômetros. Em Os deslocamentos nas duas sília, onde os pobres levam qua- Londres, tem 410; Nova York, maiores cidades do país eram, em se o dobro do tempo para ir ao 380; Paris, 220. E são cidades Tóquio 32,9 2009, quase 31% mais longos do ­trabalho. com densidade populacional me- que a média das demais regiões nor”, afirma Paulo Rezende, co- Paris 31,9 metropolitanas. Em São Paulo, o Carros demais ordenador do Núcleo de Infraes- Ibeu-Mobilidade é 17 vezes me- Uma das razões para isso, trutura e Logística da Fundação Madri 31,0 nor do que a média; na Região apontadas pelo Ipea, é o excesso Dom Cabral. Metropolitana do Rio, 37 vezes de carros na capital paranaense, Além da frota particular em Berlim 29,0 menor. dona da maior taxa de motoriza- constante e acelerado crescimen- A maioria das metrópoles ção entre as dez principais metró- to (leia mais na pág. 24), falta apresenta o Ibeu-Mobilidade poles brasileiras: 41,6 automóveis ênfase ao transporte coletivo. No Chicago 27,8 Para o coordenador de infraestrutura abaixo do geral, algumas por di- para cada 100 habitantes. Em caso dos ônibus, que transportam Paulo Rezende, os mais ricos só deixariam ferença mínima, casos de Goiâ- seguida, vêm São Paulo (38,1), 90% dos passageiros do transpor- de usar o carro pelo metrô, modal Santiago 23,0 Fonte: Ipea nia, Grande Vitória, Salvador e ­Distrito Federal (37,3), Porto te público, a prioridade efetiva na bastante insuficiente no Brasil

30  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  31 SUMÁRIO Realidade Brasileira São Paulo já perdeu R$ 1 trilhão Aumentos acima da inflação com congestionamentos A indignação popular com o um crescimento bem abaixo da in- o que se chama de subsídio cruza- Pesquisas vêm sendo feitas para que as perdas seriam de R$ 21,8 alto preço das tarifas de ônibus, flação (44%) nesses 12 anos. Até o do, quando uma categoria de con- aferir, com rigor científico, as per- bilhões anuais. Hoje, em razão que deflagrou manifestações de preço a gasolina subiu menos que sumidor paga mais para cobrir o das econômicas e socioambientais do agravamento da situação dos rua em todo país no mês de junho, o do diesel. custo de quem não pode pagar. É causadas pelos congestionamentos transportes e do trânsito, pode-se encontra respaldo nos números. Na composição do custo, en- o que acontece no caso das gratui- urbanos. Há diversos estudos em avaliar as perdas totais anuais em É o que deixa claro o estudo do , em ordem de grandeza, salá- dades. A Constituição garante gra- andamento, porém a maioria está R$ 40 bilhões (valores de 2012), Instituto de Pesquisa Econômica rio de pessoal e encargos trabalhis- tuidade para maiores de 65 anos, concentrada nos impactos sobre o que equivale ao orçamento anu- Aplicada (Ipea) Tarifação e Finan� tas, combustível, impostos e taxas, medida regulamentada pelo Esta- a maior metrópole do país, São al da cidade de São Paulo. No ciamento do Transporte Público despesas administrativas, deprecia- tuto do Idoso. Já a Lei 8.899/1994 Paulo. As várias iniciativas, até ano passado, o professor Marcos BARRETO/AGÊNCIA SENADO WALDEMIR Urbano, divulgado em julho. A ção do equipamento, remuneração, concede passe livre a pessoas com agora, esbarram na definição so- Cintra, da Escola de Administra- área sofre com altas tarifas, falta de rodagem, lubrificantes, peças e deficiência comprovadamente ca- bre que parâmetros utilizar. ção da Fundação Getulio Vargas ­subsídios e distorções de custeio. acessórios. Embora seja o item que rentes e muitos estados e municí- Em 1958, um relatório feito (FGV), assinou artigo em que tais De 2000 a 2012, a tarifa de mais pese no preço do transporte, pios possuem legislação específica para a Prefeitura de São Paulo perdas foram estimadas em R$ 50 transporte público cresceu 197%, de 40% a 50%, o gasto com pes- concedendo gratuidade ou descon- chamou a atenção não só para os bilhões. acima da inflação, que ficou em soal se manteve estável desde 2000 tos, no âmbito dos próprios siste- custos econômicos resultantes do “As perdas existem e são mui- 125%. Isso se deve, segundo o (vej���a� ������um res�umo������ do�s ���cus�to��s� ����no i�nfo���� mas de transporte público, para mau transporte e do congestiona- to maiores do que os recursos Ipea, principalmente ao aumento gráfico na pág. 69). Impostos e ta- diversas categorias de beneficiários, mento urbano, mas também para necessários para minimizá-las. A Ex-secretário de Transportes de São do gasto com diesel, combustível xas levam cerca de 10% do valor como estudantes. Paulo, Adriano Murgel Branco apontou, os custos sociais. O estudo da Co- solução passa pela reestruturação em 1998, prejuízos bilionários causados usado pelos ônibus, que, no mes- cobrado. missão Anápio Gomes introduziu do transporte coletivo em cada pelos congestionamentos urbanos mo período, subiu 254%. Com O preço da tarifa do transporte Pobre é quem paga um novo gênero de avaliação, ba- cidade ou região metropolitana. isso, o peso do combustível nos coletivo é calculado pelo custo to- O problema é que não há com- seada na perda da produtividade, Não há uma solução única, mes- custos tarifários passou de cerca de tal do sistema dividido pelo volu- pensação pelo impacto das gra- e estimou a perda em torno de mo nas grandes cidades, apoiada, ­melhora o desempenho econômi- 10% em 2000 para 30% em 2012. me de passageiros pagantes. Com tuidades nas tarifas. Então, quem 8% do valor da massa salarial das por exemplo, na implantação de co das empresas. O aumento da tarifa fez cair o exceção da cidade de São Paulo, paga é o próprio usuário, princi- pessoas submetidas a esse estresse. metrôs — é preciso avaliar sempre “Duplicar a massa econômi- número de pagantes no transpor- a tarifa de transporte público no palmente os de classe mais bai- Somados os prejuízos da perda a convivência dos transportes de ca (ou diminuir a produtividade, te público. Ao mesmo tempo, o Brasil não recebe subsídio governa- xa, que são a grande maioria dos de tempo, do consumo de com- alta, média e pequena capacida- por meio da redução do tempo transporte individual privado não mental, seja ele municipal, estadu- passageiros de transporte coletivo bustíveis e outros elementos, o des”, afirma Murgel Branco. de transporte) a que determinada parou de crescer, estimulado pelo al ou federal (leia mais na pág. 35). urbano. São eles que custeiam no total de danos globais chegaria a Recente pesquisa do Departa- região tem acesso resulta em au- aumento do poder aquisitivo, pra- Na avaliação do Ipea, o modelo preço das tarifas os descontos ou R$ 9 bilhões de cruzeiros da épo- mento de Economia da Faculda- mento de 3,5% na produtivida- zos de financiamento longos e in- de financiamento baseado na re- o passe-livre para estudantes e ido- ca, o que representava uma vez e de de Economia, Administração de”, revelou Daniela Carla Deca- centivos tributários dos governos ceita tarifária traz distorções. Além sos, mesmo que esses beneficários meia o orçamento municipal. É e Contabilidade da Universidade ro Schettini, em sua tese de dou- federal e estaduais. Como resul- de não receber subsídio governa- pertençam a classes mais altas. como se a cidade tivesse perdido de São Paulo (FEA-USP) estimou torado em Economia pela mesma tado, o preço dos automóveis teve mental, a tarifa no Brasil apresenta De acordo com a Associação algo como US$ 1 trilhão ao longo que, se o metrô paulistano não USP, em 2010. Ela se referiu a es- dos últimos 50 anos. existisse, haveria perda econômi- tudo no Reino Unido (2006) que Em 1998, estudo de Adria- ca anual de R$ 19,3 bilhões. Se- comprovou a direta influência do no Murgel Branco, ex-secretário gundo o estudo, a velocidade do acesso ao transporte na variação Protesto contra o aumento do preço dos Transportes e da Habitação metrô contribui com o aumento de produtividade de uma área. da tarifa de ônibus em São Paulo: os do estado de São Paulo, concluiu da produtividade do trabalho e Sobre os prejuízos socioam- números confirmam a indignação popular bientais, os dados são mais conso- com o gasto com transporte

lidados. A Companhia de Tecno- MARCELO CAMARGO/ABR logia de Saneamento Ambiental (Cetesb) apurou que, na cidade de São Paulo, 90% da poluição é causada pelos carros. Já o Labora- FERNANDO STANKUNS tório de Poluição Atmosférica da USP concluiu que os paulistanos vivem em média dois anos a me- nos por causa da poluição, causa direta de 20 mortes diárias.

Avenida Alcântara Machado, no bairro da Moóca, na capital paulista: além de desvalorizar imóveis, congestionamentos causam prejuízos ambientais e sociais

novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  33 SUMÁRIO Realidade Brasileira Mais carro e menos ônibus O Brasil andou no caminho inverso do que manda a cartilha da boa mobilidade urbana. Nos Nacional das Empresas de Trans- últimos anos, as políticas públicas privilegiaram o automóvel particular em detrimento do portes Urbanos, o impacto mé- Subsidiar e desonerar transporte coletivo dio das gratuidades e benefícios nas tarifas em todo o Brasil é de O subsídio governamental é Já o presidente da Frente Na- especificamente de financiamento, 19,1%. Para evitar onerar mais a uma saída para baratear o trans- cional de Prefeitos, José Fortunati, mas fornece algumas indicações. Entre 2000 e 2012... população, Curitiba, por exemplo, porte público. No Brasil, isso só afirmou que a entidade defende o Primeiro, reconhece a necessidade impõe um controle rígido sobre acontece em São Paulo, onde o estabelecimento de um percentual de contribuição de beneficiários A tarifa de ônibus urbano cresceu acima da inflação, medida a concessão de gratuidades para transporte público não é finan- da Contribuição de Intervenção no diretos e indiretos do transporte pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Já os estudantes, só dando o benefício ciado exclusivamente pelas tarifas, Domínio Econômico (Cide) sobre público. Para Strambi, isso abre gastos com veículo próprio tiveram alta de apenas 44% para quem comprovar que real- pois inclui recursos previstos nos o álcool e a gasolina, a ser desti- possibilidade para que o subsídio mente precisa. Por isso, lá o im- orçamentos municipal e estadual, nado diretamente para os fundos seja dividido com outros setores pacto da gratuidade é de 14,26%. que cobrem 20% dos custos. Esse ­municipais de transporte urbano. da sociedade, como certos tipos de 200 192% Tarifa ônibus urbano valor, no entanto, ainda está abai- A Política Nacional de Mobili- ações que têm impacto no trânsito, Quem paga xo dos índices de subsídio euro- dade Urbana (PNMU) não trata por exemplo, os shopping centers. 150 Outro modo de subsídio cruza- peus, que giram em torno de 50% 125% IPCA 100 do está no modelo de tarifa média: (leia mais na pág. 52). as linhas superavitárias subsidiam O sistema de transporte público 50 44% Veículo próprio as deficitárias por meio de com- de São Paulo e Região Metropoli- Um bilhete, muitas viagens pensação tarifária. Quem utiliza tana é compartilhado pelo muni- 0 uma linha de baixo custo acaba cípio e pelo estado. Os ônibus são Uma das medidas que podem ba- de embarques nos ônibus da cidade pagando pelos que utilizam uma de responsabilidade da prefeitura; ratear e, ao mesmo tempo, melhorar de São Paulo utilizaram bilhete úni- Inflação (%) acumulada desde janeiro/2000 Jan./2000 Jan./2001 Jan./2002 Jan./2003 Jan./2004 Jan./2005 Jan./2006 Jan./2007Jan./2008 Jan./2009 Jan./2010 Jan./2011 Jan./2012 linha de alto custo. já metrô, trens e sistema de ônibus a eficiência do transporte público co. A medida também está sendo “Pessoas de baixa renda moram, intermunicipal ficam a cargo do é o bilhete único. Por esse sistema, implantada por outras cidades. Entre Nos postos de combustível... via de regra, nas periferias, justa- governo estadual. Segundo a São o usuário pode pegar mais de uma elas, estão o Rio de Janeiro, Brasília e mente onde o transporte apresen- Paulo Transporte S.A. (SPTrans), condução em um período de tempo Salvador. O diesel, um dos principais insumos do transporte coletivo, ta maior custo. Se o modelo de 70% das viagens de transporte pú- para percorrer o trajeto que neces- Mas, da maneira atual, o bilhete teve alta de 129% acima da inflação. Já a gasolina tem tarifação contemplar os custos in- blico são feitas em ônibus. sita. Onde implantada, a iniciativa único não é uma panaceia. De acor- subido a taxas menores do que a inflação tegrais para esses usuários, haverá O prefeito de São Paulo, Fer- deu maior mobilidade à população do com o Ipea, em 2007, 60% dos problema de falta de capacidade nando Haddad, informa que por um custo menor, benefician- usuários utilizavam apenas uma linha de pagamento das famílias, o que será gasto cerca de R$ 1,7 bilhão do, sobretudo, quem precisa fazer nos deslocamentos. “Fixando um 300 agravaria os problemas de exclusão para subsidiar a tarifa de ôni- ­sucessivos deslocamentos curtos. valor único para a tarifa com direito social. Por outro lado, não é justo bus de R$ 3 (veja o infográfico na Implantado em Curitiba em 1982 a várias integrações no período de 250 254% Óleo diesel que esse ônus recaia somente sobre pág. 40). Se a tarifa tivesse subido (leia mais na pág. 45), o sistema três horas, observa-se que os usuá- os demais usuários das linhas de para R$ 3,20, o subsídio seria de vem se popularizando. Em 2004, a rios que se deslocam em distâncias 200 menor custo, que também podem R$ 1,2 bilhão. Haddad afirmou Prefeitura de São Paulo implantou o curtas subsidiam quem utiliza mais 150 apresentar perfil de baixa renda”, que uma saída para custear o bilhete único, que permite fazer até de uma linha no período de tempo. 125% IPCA analisa o estudo do Ipea. transporte público seria a desone- quatro viagens pelo preço de uma Sem dúvida, há grandes benefícios 100 122% Gasolina De acordo com a Pesquisa de ração do serviço e cobrou a apro- tarifa (R$ 3), no prazo de três horas. para a população com a integração Orçamentos Familiares do IBGE vação do Projeto de Lei da Câmara Por R$ 4,65, o usuário pode fazer ­temporal. Mas o que se discute é 50 (2009), os 10% mais pobres com- 310/2009, que institui o Regi- a integração com metrô e trem. Em quem deve financiar isso”, avalia o

Inflação (%) acumulada desde janeiro/2000 prometiam, em média, 13,5% me Especial de Incentivos para agosto de 2013, 33% dos 86 milhões estudo. 0 da renda familiar com transpor- o Transporte Coletivo Urbano e

Jan./2000 Jan./2001 Jan./2002 Jan./2003 Jan./2004 Jan./2005 Jan./2006 Jan./2007Jan./2008 Jan./2009 Jan./2010 Jan./2011 Jan./2012 te público urbano (veja ilustração Metropolitano de Passageiros, o na pág. 74). Nesse mesmo grupo, ­Reitup (leia mais na pág. 68). 30% não efetuavam gasto com Insumos importantes nas tarifas do transporte coletivo, transporte, indicador de exclusão Tiro pela culatra os salários de motoristas e cobradores tiveram perda em social. A desoneração do transporte relação à inflação entre 2003 e 2010, seguida de recuperação O vale-transporte ameniza o público, um subsídio indireto, é nos últimos anos peso do gasto com transporte na um dos pontos centrais também renda das famílias. O benefício é para o professor Orlando Stram-

custeado pelo empregador e pelo bi. Na avaliação dele, o Brasil deu DE SÃO PAULO CIETE SILVÉRIO/GOVERNO 150 trabalhador, que contribui com um “tiro pela culatra” ao desonerar 125% IPCA até 6% do salário. Mas o alcance não o transporte público, mas a in- 100 é limitado, dada a grande quanti- dústria automobilística. “Será que dade de pessoas que sobrevivem de parte dos subsídios que têm sido 50 Salário motorista trabalho informal no país. Entre destinados à indústria automobilís- 0 Salário cobrador os 10% mais pobres, apenas 26% tica, ou ao uso do automóvel, não recebiam algum tipo de auxílio- poderia estar sendo parcialmen-

Jan./2000 Jan./2001 Jan./2002 Jan./2003 Jan./2004 Jan./2005 Jan./2006 Jan./2007Jan./2008 Jan./2009 Jan./2010 Jan./2011 Jan./2012 -transporte em 2009. te transferido para o transporte Inflação (%) acumulada desde janeiro/2000 ­coletivo?”, questionou. Fonte: Ipea Metrô paulista: bilhete único teve boa aceitação pela população na cidade de São Paulo

34  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  35 SUMÁRIO Realidade Brasileira Lei exige planejamento e integração Construção de ponte no Recife: 13 das 53 obras de mobilidade previstas para as cidades-sede da Copa foram canceladas Sancionada em janeiro de 2012 saltará dos atuais 38 para 1.669. ­transporte foi reduzido ou sus- pelo governo e efetivamente em vigor desde A lei tramitou por 17 anos no penso por alguma greve. A cida- abril daquele ano, a Lei 12.587 Congresso Nacional. Um tempo de para de funcionar. Ou seja, há trouxe a expectativa de que o pro- longo, mas que, segundo os espe- benefícios que vão além dos usuá- blema do transporte e do caos ur- cialistas, terminou com um bom rios, e a gente não reconhece isso. bano possa começar a ser resolvido resultado, mesmo com falhas con- Há, também, a preocupação no país. A chamada Lei da Mobi- sideradas graves, como a omissão com a distribuição e o uso do es- lidade, em vez de detalhar medi- sobre as calçadas como vias pú- paço viário. No caso da infraestru- das, fixa princípios, como a prio- blicas (leia mais na pág. 50). Com tura de superfície e infraestrutura ridade ao transporte público cole- objetivos, princípios e diretrizes viária em geral, saber como usar tivo e a formas de transportes não claramente traçados em seu texto, esse espaço adicional é essencial motorizados, integração da polí- o Ministério das Cidades aposta para o equilíbrio do ambiente ur- tica de mobilidade com a política na lei e no aporte de recursos pú- bano. “Tem que haver integração de uso e controle do solo e redu- blicos federais para acelerar o pro- do setor imobiliário com o pla- ção dos custos ambientais, sociais cesso de aumento da eficiência do nejamento da cidade, com o fator e econômicos dos deslocamentos transporte e da qualidade de vida transporte, que é preponderante, urbanos. Se for cumprida integral- das cidades. com a qualidade de vida da popu- mente, a nova lei exigirá que cada “Primeiro, o objetivo de melho- lação. Temos alternativas hoje no novo viaduto, rua ou qualquer ou- ria da acessibilidade e da mobili- mundo”, assegura o senador Cíce- tra obra que vá interferir no tráfe- dade. Segundo, contribuir para o ro Lucena (PSDB-PB), ao comen- go de veículos só seja implementa- acesso universal à cidade. Terceiro, tar uma das diretrizes da PNMU, da depois de cuidadosa análise. reduzir desigualdades e promover que é a integração da política de Municípios com mais de 20 a inclusão, missão que acaba sendo desenvolvimento urbano com as mil habitantes são obrigados, pela atribuída ao transporte, mas, na outras políticas setoriais — habi- nova lei, a apresentar até 2015 pla- verdade, ao que o transporte faz tação, saneamento básico, planeja- nos de mobilidade urbana, que de- com a cidade ou ao que a cidade mento e gestão do uso do solo. verão ser revistos a cada dez anos faz com os transportes”, descreve “Não há dúvida de que os pla- e integrados aos planos diretores Orlando Strambi. nos diretores das cidades são as DA COPA ANA ARAÚJO/PORTAL locais. Sem isso, a prefeitura não “A legislação é super avançada. peças fundamentais para mudar poderá pleitear recursos federais Agora, as ações dos gestores públi- essa realidade. Eles devem, entre para qualquer obra de transporte cos para priorizar o transporte pú- outras soluções, propor políticas público. Cálculos do IBGE indi- blico e adotar instrumentos como habitacionais para privilegiar a Obras de mobilidade da cam que o número de municípios pedágio urbano, cobrança por es- consolidação de áreas urbanas já obrigados a ter um plano do tipo tacionamento em áreas públicas e ocupadas, como prédios sem uso taxação sobre a gasolina contam no centro, ou revitalizar bairros Copa ficam para depois com um arcabouço jurídico de degradados. Essas medidas fazem retaguarda”, diz Carlos Henrique com que as cidades se adensem Os planos do governo federal ou 40% do total) seria destina- ­licitações, desapropriações e licen- Ribeiro de Carvalho, pesquisador em áreas que já contam com in- para aumentar a mobilidade ur- da a sistemas BRT e cerca de R$ ças ambientais, além de demora do Ipea e autor de vários estudos fraestrutura. Os planos diretores bana das 12 cidades-sede dos jo- 1,5 bilhão (13%), à construção de na liberação de verba, atingiram sobre mobilidade. precisam também cuidar dos pro- gos da Copa do Mundo de 2014 corredores de ônibus comuns. praticamente todas as obras. Até Outro princípio da PNMU é o jetos de expansão urbana, preven- incluem hoje dois VLTs, 15 BRTs, Estava prevista ainda a agora, foram canceladas 13 obras desenvolvimento sustentável das do redes integradas de transportes 26 corredores de ônibus e novas ­construção de dois monotrilhos: em dez cidades-sede: em Manaus, cidades. Ela fala também na justa e trânsito para as novas regiões. vias públicas, além de construção um em São Paulo (leia mais na o Monotrilho Leste-Centro e o PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO distribuição de benefícios e ônus. E também precisam controlar a de estações, terminais e centros pág. 46) e outro em Manaus, num BRT do Eixo Oeste-Centro; em No caso do transporte urbano, implantação, em áreas já ocupa- de controle de tráfego, num total total de R$ 4,16 bilhões (36% do São Paulo, o monotrilho da Linha há diversos beneficiários, o que das, de novos shopping centers, de 53 intervenções urbanas. Essas total), além de R$ 630 milhões­ 17-Ouro; em Brasília, o VLT; em tem implicações para o financia- edifícios de escritórios, faculdades obras foram apontadas como o destinados para os VLTs. Essas Curitiba, a requalificação das vias mento, que tem sido tratado de e outros empreendimentos que maior legado que a realização da são as obras nas quais o governo do Corredor Metropolitano; em forma muito convencional. Basta geram muito tráfego”, escreveu Copa deixaria para o país. ­federal prometeu injetar recur- Natal, a reestruturação da Aveni- imaginar uma cidade na qual o o engenheiro e deputado federal Em 2010, os governos fede- sos, naquela que seria a chamada da Engenheiro Roberto Freire; em Paulo Simão (PSD-MG), membro ral, estaduais e municipais com- Matriz de ­Responsabilidades da Salvador, o BRT no Corredor Ae- do Conselho de Desenvolvimento prometeram-se a executar 50 Copa 2014. roporto-Acesso Norte; em Forta- Econômico e Social (CDES), no projetos, investindo um total de leza, o Corredor Expresso Norte- Cícero Lucena: desenvolvimento Atraso urbano deve associar planejamento de livro Em Busca da Melhor Cidade R$ 11,46 bilhões, dos quais R$ 5 -Sul e o BRT; em Belo Horizonte, transportes, habitação e uso do solo para — análises, ideias e soluções para bilhões viriam do governo federal. De 2010 para cá, mudanças o BRT Pedro II-Carlos Luz; em promover qualidade de vida um município do Brasil. A maior parte (R$ 4,63 bilhões, de planejamento e atrasos em Porto Alegre, o BRT Assis Brasil;­

36  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  37 SUMÁRIO e os BRTs Aeroporto-CPA e no prazo foram duas estações ­Blairo Maggi (PR-MT) durante Coxipó-Centro, em Cuiabá. de ­metrô em Recife. Ainda em audiência pública na Subcomissão­ Outras 16 obras foram 2013, Belo Horizonte, Curitiba Permanente da Copa de 2014 so- ­incluídas posteriormente, a maio- e Fortaleza prometem entregar bre os problemas em Manaus, o ria de menor porte, totalizando suas obras, enquanto Natal deve ministro do Esporte, Aldo Rebe- LUIZ CARLOS MURAUSKAS as 53 obras citadas. Grande parte inaugurar duas novas estradas. lo, assinalou que “sabia dos pro- dessas novas obras está localizada No Rio de Janeiro, um BRT deve blemas que as obras por lá enfren- no entorno dos estádios — e, por- ser inaugurado até fevereiro do tavam, principalmente por falta tanto, relacionadas com o acesso ano que vem. Em São Paulo e de recursos federais e problemas aos jogos, não com a mobilida- ­Brasília, a expectativa é de que se- de licenciamento ambiental”. De de urbana. Por isso, o orçamento jam concluídos­ apenas projetos de acordo com ele, problemas com tem hoje mais de R$ 2,53 bilhões menor porte. os projetos e outros entraves bu- a menos do que o previsto: é de Segundo a ANPTrilhos, dos rocráticos atrasam o repasse dos R$ 8,9 bilhões. Só na última re- cinco projetos prioritários, três financiamentos ­federais. visão do documento, no mês pas- foram retirados da matriz. Dos As prefeituras das cidades-sede sado, seis obras de mobilidade dois VLTs remanescentes, o de e respectivos estados informam, ­foram substituídas por outras oito Cuiabá enfrenta problemas com o no entanto, que os cronogramas obras de entorno. Ministério Público e a Justiça Fe- previstos na licitação das obras Em Salvador, em vez de deral (assim como o de Brasília) e estão sendo cumpridos e que os um corredor de ônibus ligan- é pouco provável que fique pronto projetos que continuam na lista do o aeroporto ao norte da até a Copa. E o de Fortaleza tem de obras da Copa do Mundo de cidade, serão feitas duas in- problemas na desapropriação de 2014 estarão em funcionamento tervenções no entorno da Are- áreas essenciais para o projeto. durante o evento. Sobre os proje- na Fonte Nova, com custo Manaus possuía um dos mais tos que saíram, as cidades infor- de R$ 35,7 milhões, cerca de avançados planos de obras de mo- mam que houve um aumento de R$ 532 milhões a menos que o bilidade urbana entre as cidades- custos em relação à previsão de investimento previsto. São Paulo -sede. Mas as duas principais in- 2010. teve um caso semelhante: em vez tervenções previstas, ao custo de “As obras retiradas de versões do monotrilho da Linha 17-Ouro, R$ 2 bilhões, não haviam saído anteriores da Matriz de Respon- que ligaria o bairro do Morumbi do papel. Para resolver a questão, sabilidades foram incorporadas ao ao Aeroporto de Congonhas, com foi proposto um plano alterna- Programa de Aceleração do Cres- orçamento previsto de R$ 1,881 tivo, que custará R$ 1 bilhão a cimento para garantir a execução bilhão, o entorno do estádio do mais, com dez obras que devem como legado da Copa”, afirmou Corinthians ganhou intervenções ser ­finalizadas a tempo. em nota o Ministério do Esporte. viárias orçadas em 317,7 milhões. Ainda de acordo com o ministé- A única obra prevista na Ma- Justificativa rio, dos R$ 5 bilhões a serem re- Avenida Marginal Pinheiros, em São Paulo, às 8h: paulistano gasta 2 horas e 15 minutos no trânsito todos os dias triz de Responsabilidades da Questionado pelos senado- passados pela União, R$ 1,6 bi- Copa 2014 e que ficou pronta res Sérgio Souza (PMDB-PR) e lhão foi ­desembolsado até agora. Uma cidade quase imóvel

Obras do metrô do Recife estão no prazo. Em outras cidades, porém, Na maior e mais rica cidade do (veja ­infográfico na próxima pá� Cintra, de 2001 a 2012 a popu- projetos originais foram substituídos por Brasil, o trânsito flui com lenti- gina) e o rodízio de carros. Em lação paulistana cresceu apenas intervenções ao redor dos estádios dão. Ao contrário do que pensava janeiro, o governo do estado en- 8%, enquanto a frota de carros o ex-prefeito Paulo Maluf (para tregará mais uma iniciativa para aumentou 54%. Pode-se atribuir ANA ARAÚJO/PORTAL DA COPA ANA ARAÚJO/PORTAL quem congestionamentos seriam tentar amenizar o caos: a primeira esse resultado à política de in- um sinal de progresso), o trânsi- etapa do monotrilho, que atende- centivos ao automóvel e à inefici- to tem se revelado um atraso para rá a ­Região Metropolitana. ência do transporte público, que São Paulo. Independentemente O problema parece ser mes- não atende as necessidades dos do meio de transporte utilizado, mo o crescimento da frota de ve- ­habitantes. o paulistano gasta, em média, 2 ículos particulares, que avança Para o subsecretário, além des- horas e 15 minutos no trânsito muito mais rapidamente do que ses problemas, a cidade ainda pos- todos os dias. Dados da Compa- qualquer medida implantada até sui uma concepção urbanística nhia de Engenharia de Tráfego hoje para desafogar o trânsito. De que não favorece a circulação, ba- mostram que, desde 2005, a velo- acordo com relatório feito pelo seada em um sistema de grandes cidade média caiu de 23 para 18 professor de Administração da ruas e avenidas que concentram o quilômetros por hora, apesar das Fundação Getulio Vargas e sub- fluxo de veículos, em detrimento melhorias que foram implanta- secretário de Ciência e Tecnologia da circulação por ruas menores e das, como os corredores de ­ônibus do estado de São Paulo, Marcos secundárias.

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Mapa do transporte na maior cidade do Brasil da ilha de maneira mais ou me- Ônibus é o principal modal do paulistano nos homogênea, fazendo o trân- Metrôs e trens são mais caros sito fluir com mais velocidade”, ­argumenta. Pedágio e nem sempre resolvem Fontes: SPTrans, Denatran, IBGE, Para Orlando Strambi, ou- 1.318 Prefeitura de São Paulo 17.300 km Linhas de ônibus tra opção é desestimular o uso Os metrôs e trens possuem mesmo quando há dinheiro para ­Fortaleza, com 20 estações, e Extensão do sistema municipais do automóvel particular pelo grande capacidade de transporte construí-los, a operação de trens e mais 4 estações construídas em li- viário municipal ­pagamento de pedágio. de passageiros, maior velocidade, metrôs precisa ser subsidiada pelo nhas existentes. Em 2012, a rede 72% O rodízio, implantado em São altos níveis de segurança e me- governo. cresceu apenas 3,2% em compa- 4,5 milhões Paulo em 1997, já limita a circu- nor impacto ambiental. No ano Essas são algumas razões para ração com 2011. 7.336.796 15% utilizam transporte lação de veículos, porém apenas passado, de acordo com a Asso- que o país possua apenas 15 sis- Para a associação, o aumen- Total de veículos 11,8 coletivo em determinados horários e luga- ciação Nacional dos Transpor- temas urbanos de transporte de to do número de passageiros em da capital em 2012 milhões que rodam a uma 2,7 milhões res, de acordo com o número da tes de ­Passageiros sobre Trilhos passageiros sobre trilhos em 11 uma rede que não cresce demons- População utilizam carro velocidade média de placa. Já o pedágio, que mexe no (ANPTrilhos), transportaram 2,6 estados, de acordo com a ANP- tra que o setor está no limite da total da particular 13 km/h bolso do motorista, é uma me- bilhões de usuários, o que repre- Trilhos. A malha metroferroviária capacidade, o que explica trens e 13% cidade 4,6 milhões utilizam outros dida que Strambi considera im- sentou um crescimento de 8% em brasileira em 2012 tinha 1.028 metrôs lotados nas capitais bra- meios de transporte popular, mas necessária. É o que relação a 2011. A expectativa para quilômetros de extensão, distribu- sileiras. O balanço de junho des- 15.068 provam os bons resultados que 2013 é de que esse número au- ídos em 38 linhas, com 491 esta- te ano da entidade mostra que o Total de ônibus das pedágios urbanos vêm produzin- mente em 10%. ções e uma frota de 3.919 carros crescimento da rede ferroviária linhas municipais do em cidades como Londres, na No entanto, o custo da cons- (veja ­infográfico abaixo). tem ficado bem abaixo da de- 119,7 km Inglaterra, e em Estocolmo, na trução de um sistema de metrô é A ANPTrilhos adverte que o manda e só responde atualmente Extensão dos “Na capital paulista, são 1.500 Suécia (leia mais nas págs. 60 e alto. Além disso, segundo o Ipea, crescimento da malha ferroviária por 3,8% da matriz de ­transporte corredores de ônibus quilômetros quadrados por onde 64, respectivamente). enquanto os sistemas de ônibus de passageiros não vem acompa- ­público urbano do país. circulam quase 7 milhões de Curiosamente, segundo o pro- se pagam exclusivamente com nhando o aumento da demanda. 260,8 milhões veículos, pouco mais de 4.600 fessor da USP, essas medidas im- a receita da venda de passagens, Segundo a associação, nenhum Projetos Embarques mensais ­automóveis por quilômetro qua- populares recebem apoio da po- para que trens e metrôs urbanos novo sistema foi implantado no Por sua vez, o estudo A Mo� em ônibus urbano* drado. Na Ilha de Manhattan pulação assim que os resultados se fizessem o mesmo teriam que co- Brasil desde 2010. De novas, bilidade Urbana no Brasil, do 99 milhões (Nova York), com área de 87,5 refletem na melhoria do trânsito. brar tarifas astronômicas. Ou seja, apenas a Linha Sul do metrô de Ipea, afirma que o transporte Embarques mensais quilômetros quadrados, circulam “Isso quer dizer que devemos ter em metrô* 2 milhões de veículos, ou qua- pedágio urbano nas nossas gran- R$ 402 milhões se 23 mil carros por quilômetro des e congestionadas cidades? Projetos prometem, mas muitos têm problemas Receita tarifária* quadrado. Mesmo tendo cinco Não necessariamente. Mas quer Linhas de transporte metroferroviário vezes a densidade de automóveis dizer que não podemos evitar o em construção Metrô de Fortaleza R$ 526 milhões de São Paulo, os congestiona- estudo de uma solução como essa, VLT de Sobral Remuneração mensal mentos lá são bem menores, pois por mais dolorosa que ela seja”, dos operadores* os carros ocupam todas as vias ponderou. VLT de Natal R$ 6,3 bilhões Custo operacional Monotrilho de Manaus previsto para 2013 VLT de R$ 1,75 bilhão Carro na garagem e dinheiro no bolso João Pessoa Subsídio governamental previsto para 2013 Pesquisa divulgada em setembro Os usuários de carro (81%) da *dados de agosto/2013 pela ONG Rede Nossa São Paulo, ­capital paulista também são contra Metrô e VLT do Recife VLT de Cuiabá em parceria com o Ibope, mostrou o pedágio urbano. Entre a população Metrô de Salvador que 79% dos motoristas paulistanos como um todo, o índice é de 71%. estão dispostos a deixar o carro na Mas a pesquisa mostra que a re- garagem caso haja opção de trans- jeição vem diminuindo: em 2007, ­ VLT de Goiânia VLT de Brasília porte público de qualidade. Em 84% dos paulistanos em geral e 92% compensação, 61% deles não es- dos usuários­ de carro rejeitavam a tão dispostos a pagar 50 centavos ideia. Expansão do metrô de Belo Horizonte MARIANA CAVALCANTE a mais pela gasolina para custear o Sobre a qualidade do trânsito na VLT e expansão do metrô do Rio de Janeiro ­transporte público. cidade, 69% dos entrevistados dis- seram que é ruim ou péssima. As possíveis soluções mais citadas foram Manifestação no Dia Mundial sem Monotrilho e expansão do metrô de São Paulo Carro, em 2009: paulistanos rejeitam ampliação das linhas de metrô (51%) medidas de desestímulo ao uso do e aumento do número de corredores Fonte: Associação Nacional dos automóvel de ônibus (39%). Metrô de Porto Alegre Transportadores de Passageiros sobre Trilhos, ANP Trilhos

40  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  41 SUMÁRIO Realidade Brasileira

­metroferroviário brasileiro tem ­subterrâneos recém-construídos ­inacabada, o governo estadual ­trecho da Linha Sul foi inaugura- raramente reduz os congestiona- crescido em número de passagei- na América Latina chegam ao entregou à prefeitura trens que ti- do, mas a operação segue em fase mentos. “Em vez da redução dos ros nos últimos dez anos e deve dobro ou ao triplo dos custos dos veram que ser guardados em gal- de testes. O uso comercial, com custos de transporte ao longo do receber grandes investimentos. metrôs europeus da mesma época, pões, alugados pelo município ao cobrança de tarifas e integração tempo, a principal fonte de bene- Entre os projetos programados como o de Madri. custo de R$ 80 mil mensais. Sem ao sistema de bilhete único, ficou fício econômico é o efeito da es- para entrar em operação em 2018, O compromisso político com nunca terem sido usados, os equi- para 2014. truturação, que evita a expansão o maior, em extensão, é o do VLT o término do projeto, o financia- pamentos já apresentam sinais de Já a Linha Oeste, antes admi- desordenada das atividades co- de São José dos Campos (SP), mento completo garantido desde ­desgaste. nistrada pela CBTU, recebeu em merciais”, afirma o documento. com 94 quilômetros. Em segui- o início e os pagamentos tempes- Em 2012, auditoria do TCU 2010 cerca de R$ 125 milhões da Ainda assim, não se sabe se essa da, vêm a ampliação do metrô do tivos aos empreiteiros explicariam constatou que a obra foi contra- Metrofor, que reformou estações economia em infraestrutura e Recife (57,5 quilômetros), o VLT a diferença. A equipe de gestão tada com valor 113,7% acima do e trens, recuperou 17 quilômetros em deslocamento das atividades de Natal (56 quilômetros) e a Li- do projeto da capital espanhola, de mercado. O tribunal ordenou de via e duplicou outros 2,5 qui- econômicas para outros bairros nha 6 do metrô paulistano (34,6 por exemplo, tinha amplos pode- a devolução de mais de R$ 166 lômetros. Quanto à Linha Leste, compensa o custo de constru- quilômetros), além dos VLTs de res para tomar decisões de ordem milhões aos cofres públicos. O trata-se apenas de um projeto, or- ção e os subsídios a esse tipo de João Pessoa e do Recife, ambos técnica e financeira, o que evitou valor atualizado atinge a cifra de çado em cerca de R$ 3,5 bilhões. transporte. com 30 ­quilômetros de extensão. atrasos no cronograma.­ R$ 400 milhões. Os ministros Totalmente subterrânea, terá 12,4 Para Jaime Lerner, arquiteto e Rio de Janeiro, Fortaleza, Sal- determinaram que a Companhia quilômetros de extensão. As má- ex-prefeito de Curitiba, um dos vador e Cuiabá têm projetos com Atrasos de Transportes de Salvador não quinas que vão construir os tú- grandes equívocos cometidos pe- mais de 20 quilômetros de trans- Por outro lado, na maior parte emita o certificado de conclusão neis (tatuzões) foram adquiridas las sociedades é “a polarização en- portes sobre trilhos e há linhas dos projetos latino-americanos, da obra até o fim da apuração dos pelo governo do estado por R$ tre a opção pelo carro ou pelo me- menores em construção em ou- o banco identificou atrasos e fatos. 128,2 milhões e ainda estão sendo trô no enfrentamento dos desafios tras capitais (veja o infográfico na interrupções, causados por falta ­fabricadas. da mobilidade urbana”. ­página ­anterior). de recursos e mudanças nas Fortaleza A ideia disseminada por mui- prioridades políticas. Outros projetos brasileiros de Escolha difícil tos especialistas de que só o me- Deficitários Salvador, por exemplo, tenta transporte de passageiros sobre À primeira vista, metrôs e trens trô poderia resolver o problema Os altos custos de implantação há 15 anos construir o sistema de trilhos padecem de problemas se- parecem ser boas alternativas é falaciosa, segundo Lerner. Ele e de operação dos sistemas sobre metrô, mas nem sequer a primeira melhantes aos de Salvador. Em para solucionar dois dos grandes lembra que, se o metrô é rápido, trilhos, porém, emperram os in- fase foi concluída. Com recursos Fortaleza, a história se arrasta há males das metrópoles: transporte o tempo de deslocamento total vestimentos. O Banco Mundial da União, estado e município, 26 anos. público demorado e de má das pessoas pode não ser, já que estima o custo do quilômetro do o convênio, no valor de R$ 358 Em 1987, a cidade começou qualidade e engarrafamentos. as estações são mais espaçadas e metrô de superfície em US$ 8 mi- milhões, foi firmado em 1998 e a a implantação de um sistema de Mas, para os especialistas, não é é preciso subir e descer grandes LABJOR-UNIFOR lhões. No caso das linhas subter- prefeitura começou a construção trens metropolitanos, encerrado bem assim. escadarias — nem sempre auto- râneas em áreas problemáticas, o em 1999. Mas só a partir de 2001 dez anos depois sem que tivesse De acordo com o estudo Ci� matizadas — e percorrer longos Primeiro trecho da Linha Sul do metrô de custo sobe para US$ 150 milhões a obra passou a receber de fato sido construída uma única linha dades em Movimento, do Banco corredores em cada trajeto (veja Fortaleza, ainda em fase de testes: entre cortes de repasses e interrupções, obra se (veja infográfico na pág. 15). recursos federais e a ser fiscalizada férrea. Em 1997, foi criada a Me- Mundial, esse tipo de transporte infográfico abaixo). arrasta há 26 anos Ainda de acordo com o Ban- pelo Tribunal de Contas da trofor, para assumir e modernizar co Mundial, os custos totais União (TCU). a operação dos trens metropolita- por ­quilômetro em sistemas Em 2009, com a obra nos da cidade, até então realiza- Tempo de viagem deve levar em conta todo o trajeto da pela Companhia Brasileira de Trens ­Urbanos (CBTU). Considerando também o acesso às estações, BRT leva vantagem numa viagem de 10 km Em dezembro de 1999, come- Acesso à çou a construção da Linha Sul. Ônibus estação Viagem a 17 km/h Total: Em 2002, cessaram os repasses 3 min 35,3 min 38,3 min de recursos federais, o que pra-

MAXIMILIAN DÖRRBECKER ticamente paralisou a obra. Em Acesso à 2005, o projeto foi adaptado aos estação Viagem a 20 km/h VLT Total: recursos disponíveis: foi excluída 4 min 30 min 34 min a parte subterrânea e a previsão de trens caiu de dez para quatro. Acesso à Acesso à plataforma: 3 min Viagem Acesso à rua: 3 min As empreiteiras não aceitaram os estação a 40 km/h cortes e a obra parou até 2007, Metrô Total: 7,5 min 15 min 28,5 min quando foram retomados o proje- to original e o repasse de recursos Acesso à Viagem federais. estação a 27,5 km/h Total: Após 13 anos, o primeiro BRT 4 min 22 min 26 min

Obras do metrô de Salvador: má gestão dos recursos atrasa projetos e encarece tempo em 0 5 10 15 20 25 30 35 40 o transporte sobre trilhos na América minutos Fonte: Jaime Lerner Arquitetos Associados Latina, diz Banco Mundial

42  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  43 SUMÁRIO Realidade Brasileira

Obras do BRT de Brasília: em implantação em 20 cidades brasileiras, sistema combina baixo custo e bom desempenho Pioneira, Curitiba exige novas soluções Curitiba é reconhecida como podem ser feitas em cada terminal 338,68%, o preço da passagem cidade inovadora, pioneira na (veja mais no infográfico abaixo). subiu 612,5%. Uma auditoria in- modernização e reestruturação dependente foi contratada para do transporte público urbano. A Uso do solo avaliar o preço da tarifa. cidade, ainda na década de 1970, Curitiba cresceu ao longo dos Em 2013, prefeitura, Câmara optou por investir no ônibus, eixos do novo sistema. Ou seja, Municipal de Curitiba e Tribunal criando um sistema que, mais tar- diferentemente do que aconteceu de Contas do Paraná iniciaram de, passou a ser chamado de BRT no resto do país, as vias e o trans- auditorias para identificar as cau- (leia mais na página ao lado). porte chegaram antes da expansão sas do problema. As mais impor- Ônibus em vias exclusivas, urbana. Diversos serviços públicos tantes são o direcionamento da venda antecipada de passagens, foram descentralizados e passaram licitação iniciada em 2009 e a re- bilhete único, ar-condicionado a funcionar ao lado dos terminais. cusa do governo estadual em arcar

PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO nas estações e nos ônibus e inte- Para Jaime Lerner, prefeito da com o transporte intermunicipal gração de todas as linhas: eis as cidade à época da reestruturação, na Região Metropolitana, que se- premissas de qualidade do sistema Curitiba é uma referência impor- ria ­responsabilidade dele. Nascido no país, BRT ­curitibano. tante pela articulação entre uso Chamado de tronco-alimenta- e ocupação do solo, transporte Cidade foi a primeira a integrar dor, com terminais de transbordo ­público e sistema viário. e conexão em pontos estratégicos BRT e ônibus comum compõem o sistema avança nas capitais da cidade e da região metropoli- Parada no tempo tana, o sistema previa que os pas- No entanto, depois de quase Nascido em Curitiba em 1979, em Curitiba, Uberlândia (MG) e do transporte­ sobre trilhos. Mas, sageiros seriam recolhidos em ôni- de 40 anos, Curitiba cresceu sem Expressos (BRT) o sistema BRT, sigla para bus ra� Goiânia. além da obra, é preciso prever a bus menores, próximo às residên- atualizar o planejamento, que, Interbairros pid transit (trânsito rápido de ôni- integração entre o BRT e os mo- cias, e transferidos para veículos hoje, exige novas soluções. Segun- Linhas diretas bus), vem ganhando adeptos pelo Projetos dais existentes, alerta a Associação maiores e mais rápidos à medida do levantamento do Sindicato Na- Terminais mundo por causa da boa relação Outras 20 cidades têm proje- Nacional das Empresas de Trans- que se aproximassem do centro. cional de Arquitetura e Engenha- entre custo e desempenho. O mo- tos de implantação, num total de portes Urbanos (NTU). A entida- ria, trânsito e transporte público delo combina ônibus e estações 785 quilômetros de linhas e inves- de afirma que parte dessas linhas Facilidades são as principais reclamações de de alta qualidade, ����������������faixas de circu- timentos de R$ 12 bilhões. Mais já começará a operar no limite da Com o bilhete único, o passa- 85% dos curitibanos. Os maiores lação exclusivas, central de ope- 200 quilômetros estão previstos capacidade, em razão de falta de geiro usa um ou mais ônibus pa- problemas, informa o sindicato, rações e sistema de informação para o final de 2014 em Brasília planejamento e investimentos. gando apenas uma passagem por são a lotação dos veículos, as gran- aos usuários, aliando a eficiência (um corredor, 43 quilômetros), trecho, desde que a conexão ocor- des distâncias percorridas e o pre- e o conforto dos metrôs com a Belo Horizonte (três corredores, Atraso ra em um dos terminais de inte- ço da tarifa, mais cara em razão simplicidade, flexibilidade e me- 34,25 quilômetros), Porto Ale- São Paulo espera pela conclu- gração ou em uma estação tubo, do sistema de ­integração. nor despesa de operação de um gre (cinco corredores, com 31,3 são do desde onde passa mais de uma linha de Estudo do Departamento In- ­sistema de ônibus. quilômetros), Recife (dois cor- 1995. Idealizado como um VLP ônibus. tersindical de Estatística e Estudos No BRT, os ônibus, articulados redores, 45,7 quilômetros) e Rio (veículo leve sobre pneus), usando Os veículos contam ainda com Socioeconômicos (Dieese) observa ou biarticulados, têm ar-condicio- de Janeiro (um corredor de 39 trólebus elétricos, o projeto pas- um sistema de som que fornece que, entre 1994 e 2013, enquan- nado e capacidade de transpor- quilômetros). O BRT de Pernam- sou por quatro prefeitos. As obras informações sobre as conexões que to a inflação acumulada foi de Fonte: Prefeitura de Curitiba te semelhante à do VLT (veículo buco integra cidades da Região começaram, de fato, em 1998. leve sobre trilhos), de 40 mil pas- Metropolitana (Olinda, Paulista, Dez anos depois, o primeiro tre- sageiros por hora (veja infográfico Abreu e Lima, Camaragibe e São cho, de 8,5 quilômetros, foi en- na pág. 15). Corredores específi- ­Lourenço da Mata). tregue à população. Orçadas em cos ou elevados para o tráfego dos Este ano, foram inauguradas R$ 2,46 bilhões, as obras devem ônibus aumentam a velocidade linhas em Belo Horizonte (Cor- terminar em 2015. atingida. redor Cristiano Machado, com O Expresso Tiradentes ligará Pelo sistema, os passageiros 6,25 quilômetros), no Rio de Ja- os bairros do Sacomã e Cidade compram a passagem nas esta- neiro (, com 63 qui- Tiradentes ao Parque Dom Pedro ções, que também são climatiza- lômetros) e no Recife (Corredor II, passando pelos Terminais Vila das, e o embarque é feito no nível Leste-Oeste — Ramal Cidade da Prudente, São Mateus e Sapo- do passageiro (sem degraus), por Copa, com 6,3 quilômetros). O pemba-Teotônio Vilela. Quando meio de portas múltiplas. A rigor, tempo médio de construção é de concluído, o sistema poderá trans- BRT da capital do Paraná, o primeiro do mundo: 40 anos depois, só existem três experiências que 18 meses e o custo operacional portar 350 mil passageiros por dia moradores reclamam do preço da passagem

atendem esses requisitos no Brasil: pode ser dez vezes menor que o em 31,8 quilômetros. DURAN ORTIZ MARIO ROBERTO

44  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  45 SUMÁRIO VLT: bonde volta moderno e mais rápido A despeito de o sistema já ter sido implantado em grandes ci- Enquanto o Brasil escolhia o Metrô do Cariri possui nove esta- Em Cuiabá, cerca de 80% dos dades, como Mumbai (Índia), ônibus para o transporte públi- ções e uma linha de 13,6 quilôme- ônibus deixarão de trafegar nas três Kuala Lumpur (Malásia), Las Ve- co, muitos países decidiram não tros, adaptada de uma linha férrea principais vias da cidade após a im- gas (EUA) e Sidney (Austrália), abandonar os antigos bondes sobre desativada. Em vez de eletricidade, plantação do VLT, com 22,2 qui- a novidade tem preocupado os trilhos, optando por torná-los con- o motor é movido a diesel, ­opção lômetros. Parado pela Justiça desde paulistanos. Muitos alegam que a fortáveis, velozes e baratos. Hoje com custos menores. abril de 2011, o projeto do VLT de infraestrutura causará degradação conhecidos como VLTs (veículos Brasília foi retomado em abril des- semelhante à que o Elevado Costa leves sobre trilhos), esses novos Novos te ano e prevê a construção de 22,6 e Silva (Minhocão) causou ao cen- Obras do monotrilho na bondes transportam até quatro Mas, se ao longo do século 20 o quilômetros de linhas. tro da cidade, rebaixando os valo- capital paulista: uma série de vezes mais pessoas que o ônibus e Brasil extinguiu os bondes — desa- Já em São Paulo, o primeiro tre- res dos imóveis. Questionam ainda questionamentos a respeito custam metade do preço do metrô. tivou até o mais famoso deles, o de cho do VLT, que vai ligar Santos a escolha do monotrilho, frente do acerto na opção pelo Elétricos, os VLTs são mais silen- Santa Teresa, no Rio de Janeiro —, a São Vicente, deve ficar pronto ao metrô, como medida eficaz no modal

ciosos e muito menos poluentes na preparação para a Copa de 2014 até meados do ano que vem. O longo prazo. EDSON LOPES JR./A2 FOTOGRAFIA quando comparados ao BRT (leia há diversos projetos de mobilidade projeto ocupa a antiga linha férrea Outros projetos e estudos de mais na pág. 44), além de terem por VLT. Em Fortaleza, o VLT das cidades do litoral e prevê o viabilidade estão sendo realizados movido por ar comprimido, com ao BRT, por exemplo, outro pro- controle mais automatizado. deve ligar Parangaba ao Porto de transporte de 70 mil passageiros em Manaus, Santos, Natal, Forta- tecnologia 100% brasileira, ligan- blema é que a tecnologia do mo- O primeiro VLT brasileiro co- Mucuripe, atravessando 22 bairros por dia. leza, Salvador, Belo Horizonte, Rio do dois terminais do Aeroporto notrilho é pouco conhecida e não meçou a funcionar em 2009, ligan- e atendendo cerca de 90 mil passa- No Rio de Janeiro, o governo de Janeiro, Porto Alegre, Florianó- Internacional Salgado Filho, num há experiências com os níveis de do as cidades de Juazeiro do Norte geiros por dia numa linha de 14,1 federal comprometeu-se a repas- polis, Curitiba e Cuiabá. Já Porto trajeto de 814 metros. capacidade previstos em São Pau- (CE) e Crato (CE). O chamado quilômetros. sar R$ 532 milhões para um VLT Alegre inaugurou este ano um sis- Para Orlando Strambi, profes- lo. “Aquilo vai ser uma experiência que ligará pontos-chave da cida- tema parecido — o Aeromóvel —, sor da USP, além de caro, frente nova.” de, como a Rodoviária Novo Rio, a Central do Brasil, a estação da Praça 15 e o Aeroporto Santos Du- mont. Orçado em R$ 1,16 bilhão, Barcas perdem espaço, a capacidade prevista do sistema é de 285 mil passageiros por dia. Goiânia planeja converter parte mas ainda são procuradas do sistema de BRT para VLT, já que o sistema está saturado e, com De acordo com a Pesquisa de de Transportes do estado do Rio metade dos usuários não tinha en- VLT que liga Juazeiro do Norte a Crato, no Ceará, é o único em operação no Brasil, mas os 90 ônibus, não consegue aten- Informações Básicas Municipais de Janeiro, a média diária regis- sino fundamental completo e de- várias cidades planejam implantar o sistema der a demanda de mais de 200 mil (Munic 2012), do IBGE, 641 trada nos trajetos dentro da Baía clararam renda familiar inferior a

BLOGS DIARIO DO NORDESTE usuários diários. municípios ofereciam transporte de Guanabara — em especial, a dois salários mínimos. de barcos aos habitantes, 460 dos ligação Rio-Niterói — foi de 104 A Agência Nacional de Trans- quais no Norte e Nordeste. Os mil passageiros, o que equiva- portes Aquaviários (Antaq) con- de maior expressão estão no Rio leu a mais de 37 milhões por ano tou, em 2011, um total de 20.956 São Paulo inaugura trecho de Janeiro, Santos (SP), Salvador,­ (quatro décadas antes, eram 60 quilômetros navegados por linhas Aracaju, Vitória, São Luís e Be- ­milhões). de cargas, mistas e de passageiros. lém, além do sistema amazônico Na visão dos técnicos, a impor- Desses, 6.360 para o transpor- inicial de monotrilho em janeiro como um todo. tância do transporte hidroviário te misto de passageiros e cargas e Na década de 80, em média, transcende o número de passa- 1.192 utilizados exclusivamente no Outro modal de transporte pú- ­integrar o monotrilho aos sistemas ferrovias tradicionais, trafega em 61,2 milhões de brasileiros usavam geiros ou a participação deles no transporte de passageiros. blico que pode ganhar espaço nas de transporte na cidade, como a Li- um único trilho, sustentado por anualmente barcas e ferries. Em total, por atender justamente mui- cidades é o monotrilho: São Paulo nha Verde do metrô. Outras linhas rodas metálicas ou com pneus de 1997, respondiam por menos de tos cidadãos que não dispõem de está construindo o primeiro de alta ligarão o Jardim Ângela à Vila borracha, ou ainda por levitação 1% do transporte de passageiros outra opção de transporte e, mais Transporte hidroviário na Baía capacidade do país. A linha inicial Olímpia (M’Boi Mirim) e o Aero- magnética. nas nove maiores regiões metropo- ainda, se beneficiaram do baixo de Guanabara é usado por 37 — que vai ligar o bairro do Ipiran- porto de Congonhas à estação São litanas. E, hoje, essa participação é preço das tarifas. milhões de usuários por ano, ga, na Zona Sul, a Cidade Tiraden- Judas do metrô e dali seguirá até a Desconfiança ainda menor. Exemplo disso é levantamento mas já foram 60 milhões tes, na Zona Leste de São Paulo, Avenida Roberto Marinho. O monotrilho aparece como Como constatava, ainda em da Universidade Federal do Pará, passando pela Vila Prudente e por Elétricos em sua maioria, os opção por ter custo menor e cons- 1999, estudo elaborado pelo Ban- em 2012. O estudo mostrou que São Mateus — foi projetada para monotrilhos são trens de média ca- trução mais rápida em relação a co Nacional de Desenvolvimento 327 linhas de transporte hidrovi- SÉRGIO GOMES/CÂMARA NITERÓI transportar 40 mil passageiros por pacidade que trafegam em linhas outros sistemas metroferroviários, Econômico e Social (BNDES),­ a ário de passageiros operavam na hora em cada sentido. elevadas exclusivas, sobre postes além de não sofrer interferência do perda acentuada de passageiros foi região amazônica, com um índi- São seis trechos com um total com altura entre 6 e 12 metros. tráfego ou de semáforos e cruza- “resultado da própria deterioração ce de passageiros por quilômetro de 110 quilômetros de extensão e Trata-se de um tipo de veiculo leve mentos, como o BRT. Por último, dos serviços e da concorrência dos muito baixo (0,7, quando nos ôni- investimento entre R$ 7,7 bilhões sobre trilhos que, em vez de circu- mas não menos importante, o mo- demais transportes”. bus é pelo menos o dobro, mesmo e R$ 10,4 bilhões. A intenção é lar em um par de trilhos como as notrilho é silencioso. Em 2012, segundo a Secretaria nos municípios menores). Quase

46  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  47 SUMÁRIO Ciclistas passeiam com o Corcovado ao fundo: a cidade do Rio de Janeiro é a que tem a maior extensão em ciclovias do país, Veículo do passado e do futuro com 300 quilômetros

A bicicleta é um meio de trans- (120) e São Paulo (70). Outras cidades do mundo, como Berlim porte eficiente, barato, saudável e capitais estão investindo, como (750), Nova York (675), Amster- ambientalmente limpo. Não por Porto Alegre, Aracaju, Salvador, dã (400) ou Paris (394). acaso, a Política Nacional de Mo- Cuiabá e Rio Branco, mas o país Além da pequena extensão de bilidade Urbana (PNMU) esta- ainda está distante das ­grandes ciclovias, os usuários reclamam, belece, nas diretrizes, que as cida-

des deem prioridade aos tipos de ALEXANDRE MACIEIRA/RIOTUR transporte não motorizados — a pé e de bicicleta — sobre os de- mais. Mas o documento do Ban- Aluguel é alternativa co Mundial Cidades em Movimen� Rio de Janeiro, São Paulo, setembro deste ano, foi a vez de to afirma que o transporte não Porto Alegre e Salvador já implan- Salvador, que inaugurou 5 esta- motorizado costuma ser negligen- taram projetos que emprestam ções e pretende implantar mais 35 ciado pelas autoridades quando se bicicletas a moradores e turistas, até o final do ano. trata de políticas públicas de mo- à semelhança do que já ocorre em Para o professor Orlando bilidade e de infraestrutura urba- cidades europeias e norte-ameri- Strambi, os sistemas de bicicletas nas. No Brasil, não é diferente. canas (leia mais na pág. 61). No públicas são uma excelente ini- Poucas entre as grandes cidades Rio, são 60 estações com 600 ciativa, pois facilitam o uso da brasileiras possuem ciclovias que ­bicicletas. bicicleta, que, além de trazer van- efetivamente permitem a mobili- A capital paulista possui 19 tagens para a mobilidade urbana, dade da população nas atividades estações, 16 delas vinculadas ao são uma oferta de atividade física diárias. De acordo com estatís- metrô. Em Porto Alegre, o sistema, para a população. O senador Ran- ticas da ONG Mobilize Brasil, a inaugurado no ano passado, tem dolfe Rodrigues (PSOL-AP) quer campeã em quilômetros de ciclo- 10 estações. A intenção é chegar tornar a iniciativa obrigatória (leia via é o Rio de Janeiro (300), se- a 40 pontos em toda a ­cidade. Em mais na pág. 77). guida por Brasília (160), Curitiba­

segundo a Mobilize Brasil, da no mundo, de acordo com Clau- descontinuidade das vias, que di- dio Oliveira da Silva, arquiteto do ficulta o deslocamento. Nas gran- Ministério das Cidades. des cidades, como Brasília, há in- Esse é o veículo mais utiliza- tervalos sem ciclovias e barreiras do nas pequenas cidades do país, quase intransponíveis, como gran- com menos de 50 mil habitantes,

des e movimentadas avenidas. as quais, em geral, não possuem ZAQUEU PROENÇA

REPRODUÇÃO A PARTIR DE PANFLETO REPRODUÇÃO A PARTIR Sem falar nas vias muito estreitas, transporte coletivo e cuja popula- fora dos padrões de segurança, ção não tem amplo acesso a car- Exemplo de sucesso ou com obstáculos, como árvo- ro ou moto particular. E poucas res e postes, conforme acontece dessas cidades têm, segundo o Sorocaba (SP) é citada pela Associação Na- nos bairros da Gávea e do Jardim ministério, políticas para estimu- cional das Empresas de Transportes Urbanos ­Botânico, no Rio de Janeiro. lar o uso, organizar a circulação como exemplo bem-sucedido de incentivo e investir em infraestrutura. Por ao uso da bicicleta. Com 587 mil habitantes, Nas pequenas cidades isso e diante das facilidades tribu- a cidade começou, em 2005, a discutir a Mesmo com todos esses obs- tárias que o governo federal con- implantação de um plano cicloviário para au- táculos, a bicicleta é uma opção cedeu para a aquisição de veículo mentar a participação do modal. real de transporte no Brasil. De motorizado, tem crescido o nú- Hoje, são 92 quilômetros de ciclovias, que acordo com a Associação Brasilei- mero de motocicletas no interior permitem a circulação contínua e a integração ra de Fabricantes de Motocicletas, do Brasil. com a rede de transporte coletivo. O princi- Ciclomotores, Motonetas, Bicicle- Nas grandes e médias cida- pal terminal de ônibus e os locais estratégicos, tas e Similares (Abraciclo), o Bra- des, admite o ministério, o uso como centros comerciais e universidades, pos- sil possui mais de 65 milhões de da bicicleta como transporte está suem bicicletários gratuitos e com segurança. ­bicicletas. abaixo do potencial, sendo utili- Em 2012, Sorocaba lançou o Projeto Inte- Dos deslocamentos diários fei- zada principalmente pela classe gra Bike, de empréstimo de bicicleta. São 15 tos no país, 7% se dão por bicicle- de renda média alta para esporte e estações, com 120 unidades para servir à po- ta, porcentagem que coloca o país lazer e pela classe de renda muito pulação. Desde o lançamento, o projeto já no ranking dos dez países em que baixa, que de fato a aproveita para registrou 5 mil pessoas cadastradas e 20 mil mais se usa esse tipo de transporte ­locomoção. empréstimos.

48  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  49 SUMÁRIO Duas rodas vencem desafio

O Desafio Intermodal é uma o meio de transporte mais eficiente mundo. Em São Paulo, o vencedor foi pedestre na faixa. Segundo levan- modalidade de competição entre di- em diversas cidades. São avaliados o a motocicleta, que fez 15 quilômetros tamento da Companhia de Enge- ferentes tipos de modo de transporte tempo gasto para chegar ao destino em 20 minutos. O segundo e o ter- nharia de Tráfego de São Paulo (carro, metrô, ônibus, motocicleta e final, o custo gerado e a emissão de ceiro lugares foram conquistados por (CET), um ano depois, 30% dos bicicleta). A intenção é avaliar qual gás carbônico. Não basta alcançar o bicicletas. No ano passado, o mais automóveis paravam para os pe- primeiro lugar, é preciso chegar com rápido foi o helicóptero (22 minu- destres. Em Porto Alegre, a prefei- mais qualidade. tos), que não levou o prêmio porque tura lançou campanha em 2009, De acordo com a relação de ga- a bicicleta, com 24 minutos, foi consi- mas, um ano depois, o número de nhadores desde 2006, disponibilizada derada mais eficiente.­ atropelamentos aumentou.

RODAS DA PAZ pela ONG Mobilize Brasil, a bicicleta é Em Brasília, 13 voluntários ­saíram Essa dificuldade de respeito à o veículo que oferece a maior relação da cidade-satélite do Guará e foram faixa se reflete no sentimento das custo-benefício para quem se loco- até o Museu Nacional da Repúbli- pessoas. A pesquisa Sistema de In� move pela cidade. ca, na Esplanada dos Ministérios, um dicadores de Percepção Social mos- A última edição do desafio aconte- percurso de cerca de 15 quilôme- tra que a maior parte dos ciclistas ceu em 23 de setembro, logo após o tros. Foram dez modalidades de e pedestres no Brasil não se sente Dia Mundial sem Carro (22 de setem- deslocamento avaliadas, incluindo respeitada. Na Região Sul, o índi- bro) em várias cidades do Brasil e do deslocamentos mistos: carro, táxi, ce de quem raramente ou nunca Mesmo prevista em lei, prioridade ao pedestre é ônibus, metrô, bicicleta, caminhada se sente respeitado pelo motoris- raramente respeitada no país, apesar da multa pesada Bicicleta foi o meio de transporte mais e corrida leve. O vencedor foi uma ta de automóvel foi de 35,6%; no e dos pontos na carteira do motorista eficiente no Desafio Intermodal de ­bicicleta, com 21 minutos, seguida Norte, 57%; no Sudeste, 62,4%; MOREIRA MARIZ/AGÊNCIA SENADO Brasília, realizado em setembro pelo táxi e pelo carro. no Nordeste, 63,2%; e no Centro-

-Oeste, alcançou 63,6%. a só atravessar na faixa. De acor- Com exceção de Brasília, ne- do com o Detran-DF, na época do nhuma cidade no Brasil conseguiu lançamento da campanha, exis- tornar um hábito a preferência do tiam apenas 300 faixas de pedestre Dificuldade para andar a pé pedestre na faixa. A capital im- no DF. Atualmente são cerca de ­ plantou a medida ainda em 1997, 5 mil. Segundo dados do Sistema de deu uma nota 3,4 (em uma esca- inclusive quantitativa, dos deslo- quando a cidade era governa- Hoje, na capital da República,

Indicadores de Percepção Social, la de 0 a 10) às calçadas. Apenas camentos a pé. “Em uma cidade PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO da pelo hoje senador Cristovam em 85% das vezes, os carros pa- do Ipea (2011), 12,3% dos deslo- 2,19% dos locais ficaram acima do grande e complicada como São ­Buarque (PDT-DF). Ele credita o ram para os pedestres atravessarem camentos cotidianos no Brasil são mínimo e 74,13% abaixo de 5. Paulo, uma parcela significativa da sucesso da iniciativa à fiscalização na faixa. Porém, segundo o profes- realizados a pé, principalmente por Nota 5 seria aquela calçada com população se move, integralmente, e à intensa campanha educativa sor da Universidade de Brasília e causa do alto preço do transporte alguns desníveis e pequenos bura- da origem ao destino, a pé. Sem feita na mídia e nas escolas. especialista em trânsito David Du- coletivo para o bolso de uma par- cos. A nota mínima definida foi contar que qualquer outro desloca- Além de conscientizar os mo- arte Lima, para o pedestre se sen- cela grande da população. Apesar 8. Os principais problemas são: mento tem, em geral, uma parce- toristas da importância de parar, tir seguro, é preciso que 100% dos disso, tal qual acontece com a bi- buracos, irregularidades, degraus, la sendo feita a pé. Então, é muito é preciso conscientizar o pedestre carros parem na faixa. Com me- cicleta, a infraestrutura para que árvores, postes, mesas, cadeiras e importante cuidar desse tipo de nos fiscalização, no ano passado o cidadão caminhe pelas cidades barracas de ambulantes, largura deslocamento”, contou. Cristovam Buarque era governador do cresceu o número de pessoas atro- também é negligenciada. estreita, ausência de faixa de pe- Se a PNMU não previu infraes- DF quando cidade adotou a prioridade: peladas — e mortas — na ­faixa de O Censo 2010, do IBGE, mos- destre, placas e sinais luminosos, trutura física para quem se desloca fiscalização e campanha educativa pedestre em Brasília. trou que 69% dos domicílios ur- falta de rampas para cadeirantes e a pé, a prioridade para o pedestre banos possuem calçada, mas a ausência de paisagismo. sobre a faixa foi instituída em lei maior parte delas se concentra nas pelo Código de Trânsito Brasilei- regiões de melhor infraestrutura, Esquecidas pela lei ro, ainda em 1997, porém até hoje Menos estresse e mais Afonso Morais onde o índice sobe para 80%. Nos O professor de Transporte Ur- enfrenta resistência para ser efeti- vai trabalhar de bicicleta, depois bairros pobres, justamente nos bano da USP Orlando Strambi vada na maioria das grandes cida- tempo para estudar de chegar ao Plano quais os moradores andam mais lembra que a Política Nacional de des, apesar de não dar passagem Piloto usando o a pé, só há calçamento em 43% Mobilidade Urbana (PNMU) não às pessoas na faixa ser considera- O jornalista Afonso Augusto de onde trabalha, montado na bike. Na metrô das moradias consideradas se- trata de calçada como equipamen- da infração gravíssima (multa de Morais Filho resolveu que não que- hora do almoço, vai visitar a mãe ou miadequadas e de apenas 9% das to necessário aos deslocamentos da R$ 191,54 e sete pontos na ria mais sofrer no trânsito cada dia resolver problemas também de bi- inadequadas, na classificação do população. “Curiosamente, não se ­carteira). pior de Brasília. Ele resolveu utilizar cicleta. Ex-ciclista profissional, ele ­instituto. fala em pedestrovias, que, talvez, o recurso intermodal para ir todos diz que agora aproveita o tempo no Além de poucas, em geral as sejam uma das mais importantes Regra que não “cola” os dias para o trabalho. Morador do metrô para ler notícias e estudar ita- calçadas são de baixa qualidade. infraestruturas urbanas, às quais Em 2011, 14 anos depois da bairro de Águas Claras, ele pega o liano. “As ciclovias do DF melhoraram Levantamento feito no ano passa- não damos atenção e que não apa- promulgação do Código de Trân- metrô, carregando a bicicleta, e se- muito nos últimos anos, mas ainda do em 228 pontos de 39 cidades, recem de forma explícita no corpo sito Brasileiro, a cidade de São gue até a rodoviária, no centro da falta conscientizar o motorista sobre entre capitais e cidades de médio da lei”, critica. Paulo lançou uma campanha para cidade. De lá, percorre o trecho res- a prioridade da bicicleta no trânsito”, porte, pela ONG Mobilize Brasil, Ele reforçou a importância, colocar em prática a prioridade ao tante até a Câmara dos Deputados, avaliou. PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO

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uitas cidades do ­Energia (IEA, na sigla em in- ­Público (UITP) premiou o mundo têm ado- glês) em 2013, é repleto de projeto de modernização de tado medidas exemplos de como cidades Belgrado, que, entre outros Cidades se renovam para reduzir o aumentaram a eficiência do desafios, superou problemas Mtráfego de veículos automotores transporte urbano por meio como alta demanda por trans- e para promover um transporte de melhorias na tecnologia dos porte, problemas fundiários, mais eficiente e ambientalmen- sistemas e dos veículos, ocupa- obsolescência da infraestrutura te amigável. Os efeitos dessas ção do solo associada a políti- e a grande distância entre as e priorizam pedestres medidas — que vão de ferra- cas de mobilidade, melhoria áreas residenciais e as de traba- mentas para controle de de- na frequência­ e qualidade dos lho, além da frota de carros em manda de passageiros a planos serviços, bem como campanhas acelerado crescimento. diretores de transporte — têm de conscientização sobre o uso “A mobilidade urbana é um sido a melhoria do transpor- racional dos automóveis. dos temas mais delicados e ur- Grandes centros urbanos mundo afora já impõem restrições à te urbano, da mobilidade, da Entre as cidades destacadas gentes na agenda das grandes e circulação de carros, com prioridade para transporte público, ­segurança das vias, do núme- pelo relatório, estão Belgrado médias cidades do mundo. Os caminhadas e bicicletas, alvo de investimentos e subsídios. ro de congestionamentos, da (Iugoslávia), Nova York e Seul engarrafamentos quilométricos Resultados apontam para melhoria da qualidade de vida ­saúde dos moradores e da qua- (Coreia do Sul), que conquis- têm um custo elevado para a lidade do ar. taram reconhecimento interna- economia e chegam a provocar Um Conto de Cidades Re� cional pelos sistemas de trans- prejuízos expressivos. Na Ci- novadas, relatório elaborado porte urbano. A Associação dade do México, por exemplo, Na 1ª Avenida, em Nova York, cenário modificado por ciclofaixas protegidas (E), pela Agência Internacional de Internacional de Transporte­ as perdas chegam a 2,5% do ilhas-refúgio na faixa para pedestres (C) e pistas exclusivas para ônibus (D) NYCDOT

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Subsídio garante bom transporte na Europa ­desenvolvimento, porque po- público de expressão muito taxa sobre a gasolina destinada dem ser personalizadas­ para limitada (cerca de 3% da de- a um fundo específico para o Na maioria das grandes cidades, tarifas raramente cobrem metade dos custos dos sistemas públicos atender as necessidades, os re- manda diária), mas que é es- transporte público (leia mais so� cursos e as aspirações­ locais. sencial para jovens e idosos sem bre o caso de Bogotá na pág. 63). acesso ao automóvel e para o Há duas formas de finan- Subsídios dominam deslocamento da pequena par- ciamento que vêm sendo bas- REPRODUÇÃO Em Londres, berço do libe- cela da população com renda tante utilizadas. A primeira é a ralismo econômico, é o Estado muito baixa”, ensina o estudo concessão do serviço, em que a quem banca metade dos custos A Mobilidade Urbana no Brasil, infraestrutura a ser implantada com transporte público. Em do Instituto de Pesquisa Eco- seria paga posteriormente com 2012, Londres gastou o equi- nômica Aplicada (Ipea) . a cobrança de tarifa. A segunda valente a R$ 33,4 bilhões com A exceção mais conhecida é é a possibilidade de construção o complexo e completo sistema a da França, onde as empresas de imóveis junto aos sistemas de metrô, ônibus e trens, mas pagam uma taxa para ajudar a de transporte público (edifí- apenas 50% foram arrecadados manter operante o transporte cios de escritórios e centros de com a venda de passagens. A público. Criada em 1971 ape- compras), mediante pagamento capital inglesa não é caso isola- nas para cidades a partir de pelo direito de construir, além do — ao contrário. Na maioria 300 mil habitantes, tem sido de um pagamento­ a ser feito dos países, o subsídio vem de progressivamente ampliada e, após as construções, propor- recursos orçamentários. Nas hoje, já é cobrada em cidades a cional aos ganhos dos novos grandes cidades do continente, partir de 10 mil habitantes. O ­negócios. o poder público responde por valor varia entre 0,5% a 2% so- Muito comum no sistema de parcelas que chegam a até 70% bre a folha de pagamentos. Em trens do Japão, em Hong Kong das despesas do sistema (veja o Paris, a arrecadação anual está e em países europeus, essa úl- infográfico na pág­ ina ao lado). em cerca de 2,5 bilhões de eu- tima forma de financiamento Fontes: Autoridade Europeia de Transporte Metropolitano e Ipea “No caso dos Estados Uni- ros (R$ 7,5 bilhões). tem se associado a projetos mais dos, o subsídio ao transporte complexos de renovação urba- público também é elevado (da Concessões e imóveis na. Chamada de transit-orien� PIB. São produtos que deixam a 200% mais passageiros em de Pesquisa e Transformação ordem de 50%), mas não há Além dos subsídios dire- ted development (desenvolvi- de circular, eventos que dei- horários de pico, como revela para a Mobilidade Sustentá- cobrança dos custos causados tos, outras fontes de financiar mento urbano orientado para o xam de ser realizados, negócios o estudo da IEA. Em Dublin, vel e a Acessibilidade (Smart), pelos automóveis, porque a de- o transporte público são ado- trânsito), a política vem sendo desfeitos...”, diz o engenheiro na Irlanda, 12 corredores as- da ­Universidade de Michigan cisão é apenas de manter ope- tadas. Londres, Estocolmo e promovida nos Estados Unidos, Paulo Simão, no artigo “Urba- seguram prioridade, direito de (EUA), Susan Zielinski, no ar- rante um sistema de ­transporte Cingapura, entre outras, ado- com os objetivos de aumentar a nização e civilização: avanços e passagem e espaço dedicado a tigo “Nova mobilidade: a nova tam a cobrança pelo uso das demanda hoje muito reduzida ­desaf ios”. ônibus que circulam em inter- geração de transporte urbano vias em função do nível de dos sistemas de transporte pú- valos máximos de três minutos sustentável”. congestionamento. A cidade de blico e diminuir o uso do auto- Principais soluções nos horários de pico. A cidade É o caso do sistema Octo- Bogotá, por sua vez, criou uma móvel, com ganhos ambientais. Grandes metrópoles como conseguiu reduzir em até 50% pus, de Hong Kong (leia mais Paris, Londres, Nova York e o tempo de viagem. O número na pág. 62), que interliga por Tóquio têm encontrado solu- de automóveis no interior da meio de um cartão pré-pago Vias do centro de Londres ções. Transporte público de alta cidade foi reduzido em 21,4% vários serviços de trânsito, bal- marcadas com “C” indicam qualidade aumenta o valor dos (de 1997 a 2004) e o número sas, estacionamentos, estações cobrança de taxa de congestionamentos para imóveis. A infraestrutura de de passageiros de ônibus au- de serviço, controle de acesso, carros de passeio transportes pode ser financia- mentou 49% no período. pontos de venda e programas da com os desenvolvedores que Os recentes avanços na tec- de fidelização. O cartão usa se beneficiam desse crescente nologia, de telefones a redes in- ondas de rádio para efetuar valor da terra. Outras cidades teligentes e banda larga de alta os pagamentos. Bremen, na conseguem implementar proje- velocidade, beneficiam o setor Alemanha, é pioneira nas hub tos que integram uma política de transportes. “Simulações e ­networks (ou centrais de rede), de revitalização do centro com softwares podem ser utilizados que se espalham pelas cidades uma requalificação dos trans- para analisar as dinâmicas de europeias, do Canadá e algu- portes, assegurando a coexis- transporte, e centrais de redes mas metrópoles asiáticas. As tência pacífica entre pedestres, facilitam a adoção de soluções hubs interligam uma variedade ciclistas, ônibus e bondes e re- complexas e do fomento de de modos de transporte sus- duzindo a presença dos auto- oportunidades. Ênfase tam- tentáveis e serviços, em espaços móveis. A integração entre os bém é dada para a questão da físicos ou virtuais (pontos mó- diferentes modais de transpor- acessibilidade, por meio do uso veis), assegurando as condições tes é um ponto comum a todas adequado do espaço urbano, de para um deslocamento urbano as boas soluções encontradas. tecnologias de telecomunicação de porta a porta contínuo, inte- Outra opção vitoriosa é a e da continuidade nos trans- grado e sustentável. As centrais adoção de corredores de ôni- portes multimodais”, descreve são práticas para as cidades do bus, que transportam de 40% a diretora-executiva do projeto mundo desenvolvido ou em MARIO RDO59 54  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  55 SUMÁRIO Mundo

essas pressões e decidir que tipo Só um terço dos europeus usa o carro de ambiente eles querem para Transporte público cobre quase metade das viagens motorizadas sua cidade no futuro”, alertou no mesmo documento Margot Como os europeus Na Europa, mais de ­Wallström, que integra o orga- se deslocam 80% das pessoas nismo ambiental da CE. Para ela, vivem em cidades a opção de abrir mais ruas para A pé O transporte público acomodar mais veículos e, assim, Carro ou de responde por 48% reduzir os congestionamentos já particular bicicleta das viagens motorizadas se mostrou inviável. “Os impactos 32% 38% nas principais cidades econômicos, sociais e ambientais Nas áreas urbanas, metade desses podem ser altos e de baixo resul- Transporte trajetos tem menos tado. Mais e mais cidades estão 30% público de 5 km e um terço optando por uma abordagem dife- tem menos de 3 km renciada, trabalhando em conjunto *Consideradas as 28 das maiores metrópoles do continente com os cidadãos para lhes assegu- Fontes: Autoridade Europeia de Transporte Metropolitano (Emta) e Direção-Geral da Mobilidade e dos Transportes da Comissão Europeia rar acesso aos bens e serviços que precisam sem ter que depender do ­melhor resposta para os problemas era ocupado pelos automóveis. E transporte viário”, completa. ambientais causados pelo tráfego todas as praças eram usadas para NYCDOT Um desafio palpável é garantir urbano. estacionamentos dos carros. Assim, Antes contrário à medida, comércio da Times Square, em Nova York, viu vendas crescerem 50% meios de transporte mais sustentá- à medida que aumentava o número após fechamento da Broadway para o tráfego veis, inclusão social e acessibilidade Há 50 anos, em Copenhague de veículos nas ruas, piores eram as para os cerca de 30% de famílias Em algumas cidades onde há condições para pedestres e ciclistas. do bloco europeu que não têm espaço suficiente pode ser possível Em novembro daquele ano, automóvel. Uma ampla maioria promover o transporte sem o uso após um acalorado debate marca- é favorável a essa abordagem: na de carro — por exemplo, tornan- do pelo ceticismo de muitos sobre ...e os automóveis sumiram pesquisa Flash Eurobarometer, da do ruas exclusivas para pedestres a eficácia da medida, a principal Autoridade Europeia de Transpor- ou restringindo o acesso apenas a rua do centro, Strøget, foi fechada Mundo afora, a resposta padrão ­escolha da maioria dos motoristas. ­fenômeno similar, ainda que te Metropolitano (Emta), de abril ônibus, bicicletas e táxis —, mes- ao tráfego, para satisfação imediata para os problemas de engarrafa- oposto, da “indução de tráfego”. de 2002, metade dos entrevistados mo não reduzindo drasticamente a dos moradores. Foi o primeiro pas- mentos costumava ser abrir no- Reações diversas Nesse caso, constatou-se o surgi- apontou os congestionamentos de área total disponível para a circula- so de um processo que já completa vas ruas, alargar as já existentes, O fenômeno tem mais chances mento de uma demanda de tráfe- tráfego e a dependência dos auto- ção dos automóveis. meio século de sucesso. A cidade construir viadutos para acomodar de ocorrer onde o acesso aos car- go causada pela abertura de nova móveis como preocupações princi- Copenhague é um exemplo des- tem hoje mais de 96 quilômetros mais automóveis. Um estudo de ros foi vetado e, por um motivo via ou estrada. Os dois fenômenos pais nas comunidades. Mais ainda, sa estratégia. Até 1962, o centro da quadrados de áreas livres da circu- 1998 mostrou que a abordagem ou outro, os motoristas não dispu- se baseiam na complexa teia de re- quase 70% apontaram “melho- capital da Dinamarca, medieval lação de automóveis, das quais um não tem lógica nem eficácia. Ela- nham nem de rotas nem de horá- ações dos motoristas às mudanças rar o transporte ­público” como a (muitas ruas estreitas e sinuosas), terço é rua e o restante, praças. borado por três pesquisadores bri- rios alternativos ao que original- promovidas pelas autoridades nas tânicos, o estudo criou a teoria da mente cumpriam, sem, com isso, vias de circulação. Zona comercial, centro de Copenhague começou a ser fechado para carros, ônibus e até bicicletas em 1962 “evaporação do tráfego”, segundo enfrentar congestionamentos ainda a qual reduzir o espaço para car- maiores. O estudo analisou as con- O caso europeu ros nos centros urbanos congestio- sequências do fechamento ao tráfe- Mesmo onde o transporte co- nados é uma solução sustentável, go de automóveis nas áreas, com as letivo é muito bem estruturado, se planejada eficientemente. Mais seguintes conclusões: a presença maciça dos automóveis ainda, uma vez livres da domina- Curto prazo: as vias ficam ainda é, de longe, a maior ameaça ção do automóvel, tais espaços ur- ­engarrafadas com os motoristas à mobilidade urbana. A frota de banos podem se tornar áreas aces- ainda em busca de rotas ou horá- carros na Europa vem, em média, síveis e de intensa atividade.­ rios alternativos para trafegar. aumentando em 3 milhões de De cem locais onde a medida Médio prazo: motoristas plane- unidades anualmente. É o que foi implantada, em Londres e ou- jam as rotas de modo mais varia- afirma o documento Reivindican� tras cidades britânicas, um quar- do, mudam de meio de transporte, do as Ruas das Cidades para as Pes� to apresentou redução do tráfego, reavaliam a necessidade de fazer a soas: caos ou qualidade de vida?, sem que o movimento de carros viagem e, por fim, passam a ado- publicado em 2004 pela Direção- tivesse sido desviado para ruas e tar o transporte solidário ou a usar -Geral para o Meio Ambiente da vias vizinhas. O estudo, encomen- uma mesma viagem para dois ou Comissão Europeia. Se compara- dado pelo equivalente ao Minis- mais destinos. do a 1995, o total de vias urbanas tério do Meio Ambiente e Trans- Longo prazo: motoristas tro- destinadas ao tráfego de veículos portes do Reino Unido, mostrou cam os destinos ou até mesmo de terá aumentado 40% até 2030. que, se não é totalmente certo que domicílio ou local de trabalho. O sinal vermelho, literalmente, a “evaporação de tráfego” ocorre- Na visão dos pesquisadores, está aceso nas grandes cidades do rá sempre que áreas forem fecha- outro suporte para esse conceito ­Velho Continente. das à circulação dos automóveis, de evaporação de tráfego pode “Autoridades locais e cidadãos

no ­longo prazo essa se mostrou a ser indiretamente verificado no precisam decidir como reagir a OLGA ITENBERG

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Development of the public transport network since 1990

Mundo mas experimentou uma rápi- Uma rede para 1,5 bilhão de usuários da expansão na segunda me- Metrô, tram, trens e ônibus garantem sistema público eficiente na capital alemã. tade do século passado, até 44 chegar às atuais 10 linhas e Os bilhetes simples custam entre R$ 7,60 e R$ 9,40 (*), dentro do padrão europeu 173 estações, em quase 147 quilômetros, 80% dos quais Development of the public transport network since 1990 GÜNTER STEFFEN/VISIT BERLIN No sistema de transporte de Berlim, há três zonas de tarifas (A, B e C), ­subterrâneos. Os trens che- A conforme a distância do centro da cidade B gam às estações em interva- C los que variam de dois a cinco ­minutos, transportando anu- almente quase meio bilhão de pessoas. Já o S-Bahn (o trem rápido) tem características tanto de metrô quanto de trem urba- no. Surgiu a partir das linhas comuns de trem que atendiam os moradores de bairros mais distantes e cidades vizinhas que trabalhavam ou estudavam A em Berlim. Hoje, tem rotas e trilhos próprios, ainda que em muitos casos paralelos aos ori- ginais. Soma 15 linhas, 166 estações (uma grande parte in- Transport network Completion or reconstruction sinceB 1990 tegrada às de metrô) e mais de 300 quilômetros de extensão, U-Bahn U-Bahn atendendo 376 milhões de pas- S-Bahn S-Bahn sageiros por ano. Tram C Tram A terceira principal opção DB Bahn DB Bahn (realization of the so-called “Mushroom Concept”) para os berlinenses são os ôni- VLT cruza ponte de piso duplo sobre o Rio Spree, em Berlim: reunificação foi seguida de projeto de integração dos transportes bus urbanos. Ao todo, são 149 linhas (das quais 63 notur- TransportModal network Linhas CompletionEstações or reconstruction sinceExtensão 1990 (Km) Passageiros/ano nas), parte delas integrada a U-Bahn U-Bahn um sistema conhecido como S-Bahn U-Bahn 10 173S-Bahn 146,3 496 milhões Tram Tram MetroNetz, similar ao concei- Source: Ministry of Urban Development of the State of Berlin Berlim ressurge com DB Bahn DB Bahn (realization of the so-called “Mushroom Concept”) to de bus (BRT), Content Ônibus processing: LK Argus149 GmbH 2634 1.675 407 milhões adotado em capitais como 15 166 331 376 milhões soluções eficientes Curitiba e Bogotá (Colômbia). S-Bahn É uma teia de 1.675 quilôme- Tram 22 398 192 171 milhões tros de rotas que servem des- Source: Ministry of Urban Development of the State of Berlin Berlim superou a des- A queda do Muro de e trens urbanos. A meta era de o centro­ até a periferia de Content (*) 2,60processing: a LK3,20 Argus GmbHeuros (câmbio de 16 de outubro) Fontes: Deutsche Bahn Group e BVG truição da 2ª Guerra Mun- Berlim, em 1989, foi o si- garantir fluidez no tráfego Berlim, percorridos por 1.349 dial para emergir como ca- nal verde para o processo e limitar a um mínimo a ônibus que atendem, a cada pital da Alemanha unifica- de reintegração dos serviços circulação de automóveis e ano, mais de 400 milhões de da e com o mais eficiente e públicos da então dividida caminhões pelo centro da ­usuários. complexo sistema de trans- cidade. Foi realizada uma capital. O trabalho nunca O tram (VLT) completa o porte público. Um bilhão e concorrência internacional estará inteiramente concluí- conjunto de opções de trans- meio de pessoas utilizam os para conhecer o projeto de do (em 2009 foi aberta uma porte coletivo na cidade alemã. vários modais disponíveis remodelação urbana que nova linha de metrô), mas o São 22 linhas que comparti- para acessar desde o centro reuniria Berlim Ocidental sistema já está consolidado, lham a mesma tarifa do metrô histórico até pontos distan- e Oriental. Com a coorde- oferecendo aos alemães e e do S-Bahn e, apesar da dis- tes da metrópole, por meio nação estatal e o apoio de visitantes transporte rápido tribuição irregular pelo espaço de uma teia de 1.626 qui- grandes empresas, o traba- e eficiente por preços que urbano de Berlim, foram usa- lômetros de linhas de me- lho começou pela Potsda- variam entre 2,60 e 3,20 das por 171 milhões de pessoas trô, trem, veículo leve sobre mer Platz e, a partir dela, se euros o bilhete simples — no ano passado. trilhos (VLT, lá conhecido espalhou por toda a cidade. valor compatível com as de- como tram) e ônibus. A O governo supervisou a mais metrópoles europeias. S-Bahn, sistema de infraestrutura viária inclui construção de diversas in- trens rápidos da capital 5.334 quilômetros de vias fraestruturas viárias, inclu- Modais eficientes alemã, tem 15 linhas urbanas e 979 pontes sobre sive túneis, faixas exclusivas, O metrô de Berlim (U- e estações integradas com o metrô cursos d'água. novas estações para o metrô -Bahn) existe desde 1902, BVG

58  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  59 SUMÁRIO Mundo Paris reduziu 24% do tráfego em 10 anos

Em 1996, uma nova lei na disponibiliza mais de 20 mil bi- baixo custo e os benefícios à França obrigou os municípios cicletas, em 1.800 estações. O saúde. com mais de 100 mil habitan- serviço foi concedido por dez A prefeitura também reduziu tes a elaborar e implantar um anos para a empresa JCDecaux. o número de estacionamentos plano para reduzir o consumo Em quatro anos, foram regis- na rua, aumentou o número de de energia e a poluição relacio- tradas 120 milhões de viagens. pistas exclusivas para ônibus e nados ao transporte. Dois anos Em setembro de 2011, o Vélib reservou espaço para ciclistas. depois, Paris lançou seu plano registrou o recorde de 3,5 mi- Como resultado, a cidade regis- de mobilidade, que incluía me- lhões de locações. trou redução de 24% no tráfego didas de expansão da infraes- Pesquisa mostrou que 88% entre 2001 e 2010, de acordo trutura de transporte público, dos usuários aprovaram o pro- com a Agência ­Internacional adoção de faixas exclusivas para grama de bicicletas. Entre as de Energia no documento Um ônibus e a criação de um pro- vantagens, apontaram o senti- Conto de Cidades Renovadas. grama de bicicletas comparti- mento de liberdade, a luta con- No mesmo período, as viagens lhadas, o Vélib. tra a poluição, a integração com de metrô aumentaram mais de Implantado em 2007, o ­Vélib outros meios de transporte, o 18% e as de ônibus, 10%.

O sistema de aluguel de bicicletas Vélib oferece 20 mil bicicletas em 1.800 estações, com mais de 3 milhões de locações por mês LEONARDO SÁ

Inaugurado em 1863, o metrô de Londres é o mais antigo e o segundo mais extenso do mundo, com mais de 400 km de trilhos Londres se move pelo subsolo

O metrô de Londres, o passageiros por ano. De acor- Mas o sistema metroviário mais antigo do mundo, está do com a Transport for Lon- pode não ser uma boa opção completando 150 anos. E não don (TFL), empresa que ad- para todos os casos. No do- faltam motivos para comemo- ministra o metrô, a aprovação cumento Cidades em Movi� rar. Criado em 1863, é um ao serviço é de mais de 80%. mento, o Banco Mundial ad- dos melhores e mais extensos. Na capital inglesa, apenas verte, por exemplo, que siste- São 402 quilômetros, 270 es- cerca de 13% do espaço ur- mas como o metroviário im- tações e 11 linhas, utilizadas bano é destinado ao sistema plicam grandes investimentos por 8,1 milhões de habitan- viário. De forma geral, nas ci- e elevado custo operacional tes, sem contar os turistas. dades europeias, por causa da e podem impor pesada carga Para fins de comparação, o expressiva densidade da ocu- para o orçamento municipal. metrô de São Paulo possui 65 pação do solo, boa parte do “É necessário recomen- quilômetros de extensão, 5 li- espaço destinado para trans- dar um exame cuidadoso da nhas e 58 estações para 11,8 porte público está no subsolo. sustentabilidade fiscal desses milhões de habitantes. Por isso, o metrô é alternati- projetos e de seu efeito so- O metrô londrino é inte- va para transportar grande bre os grupos mais pobres, grado às linhas de trem que número de pessoas, evitar ­o antes de comprometer no- partem para outras cidades. ­congestionamento na superfí- vos e pesados investimen- Como resultado, são transpor- cie e fazer o deslocamento de tos”, recomenda a instituição

tados mais de 1,1 bilhão de longas distâncias. ­financeira. LEONARDO SÁ

60  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  61 SUMÁRIO Mundo

JUCEMBER Bogotá inova e aposta em teletrabalho

Como muitas cidades brasilei- uma alta ­proporção das viagens em outro modal: o teleférico. Pen- ras, Bogotá viu o número de car- ­compartilhadas na saída da fábri- sado inicialmente apenas para o ros em circulação crescer 146% de ca da montadora, distante das es- transporte de turistas, e como tal 2002 a 2011, atingindo mais de tações do Transmilênio, principal presente em várias montanhas, es- 1,45 milhão de veículos, para uma destino dos funcionários que par- tações de esqui e outros pontos tu- população de 7 milhões. O proces- tilham veículos. rísticos mundo afora, o teleférico so fez cair, entre 2009 e 2010, em Outra meta anunciada pelo go- começa a integrar o rol de opções 10% a velocidade média nas vias, verno colombiano em 2012 é in- das cidades latino-americanas para problema agravado pelas más con- centivar ao máximo o teletrabalho o transporte público de massa. dições de parte da malha viária. — tanto a partir da residência dos Medellín, segunda maior cidade Para diminuir congestiona- trabalhadores, quanto em unida- colombiana, já tem o seu. Vene- mento, discriminação social e po- des descentralizadas das empresas. zuela e Bolívia também prome- luição, Bogotá optou pelo BRT, Além de investir em tecnologia — tem ligar os bairros localizados em construindo, entre 1998 e 2000, infraestrutura para acesso rápido morros com teleférico. o sistema Transmilênio, inspirado à internet —, o país normatizou No Rio de Janeiro, foi inaugu- no modelo de Curitiba (leia mais a questão, garantindo aos teletra- rado, em julho de 2011, o teleféri- na pág. 45). balhadores os mesmos direitos de co do Morro do Alemão. Constru- A infraestrutura do sistema qualquer outro empregado. Em ído com recursos do Programa de inclui corredores exclusivos para outra frente, estabeleceu coopera- Aceleração do Crescimento (PAC), ônibus, terminais de linhas-tronco ção público-privada com funda- tem 3,5 quilômetros de extensão, 6 Em menos de 20 anos, Xangai (servidas por veículos articulados ções, empresas, governos locais e estações e usa 152 gôndolas, com já tem o metrô mais extenso para 160 passageiros) e linhas ali- entidades nacionais para alcançar capacidade para 8 passageiros cada do mundo e plano é dobrar de mentadoras, operadas por ônibus o maior número possível de tele- uma. Já transportou mais de 4 mi- Desafio chinês é tamanho até 2020 comuns. Cada ônibus articulado trabalhadores, reduzindo a deman- lhões de pessoas, com uma média possui GPS e as catracas infor- da pelo transporte público. de 12 mil por dia. Os moradores mam ao centro de controle sobre têm direito a duas passagens gra- mover 1,3 bilhão as movimentações de passageiros, Teleférico tuitas por dia e só pagam R$ 1 a permitindo o ajuste da oferta à O país vem inovando também partir da terceira viagem. demanda. As linhas-tronco param Garantir a mobilidade de 1,3 ­estações — 103 no total, para antes conhecida como Cantão, apenas em estações selecionadas, bilhão de pessoas é um desafio 218 quilômetros de linhas. optou por um investimento ra- permitindo ao sistema transpor- para a China. O país vem esti- Hoje, são 12 shoppings e 20 dicalmente diferente, feito na tar até 45 mil pessoas por hora em mulando a urbanização e, hoje, andares de escritórios no maior infraestrutura para o pedestre cada sentido. EMBARQ BRASIL 53% dos habitantes vivem nas edifício de Hong Kong. A ex- e para a bicicleta. Quinta maior Como parte de uma ampla es- cidades. Na década de 80, oito ploração imobiliária é respon- cidade da China, com 9 mi- tratégia de mobilidade urbana, de cada dez chineses viviam no sável por parte significativa do lhões de habitantes, Guangzhou Bogotá tem investido também campo. lucro da empresa. fez a separação de vias para no transporte não motorizado e Algumas megalópoles, como “Hong Kong é um exemplo transportes motorizados e não na restrição do uso do automóvel Xangai e Hong Kong, investi- de metrô autossustentável. Os motorizados. ­particular. ram em transporte de massa, terrenos próximos às áreas das Uma avenida foi transfor- Das estratégias em teste na ci- especialmente metrô. Com 23 estações recebem um impac- mada em um passeio público dade, o teletrabalho (leia mais na milhões de habitantes, Xangai to positivo da acessibilidade elevado para ciclistas e pedes- pág. 65) e o compartilhamento inaugurou o seu em 1995 e hoje adicional trazida pelos metrôs, tres, inspirado no parque aéreo de carros são as mais inovado- conta com 437 quilômetros de que, com isso, se valorizam. Em de Nova York. Abaixo, foi cria- ras, avalia a professora colombia- trilhos, mais do que Londres. geral, essa valorização é captu- do um corredor de BRT, com na Solenne Cucchi, formada em São 13 linhas e 292 estações rada por outro agente, não pelo área para comércio. De acordo Planejamento Urbano pela Lon- distribuídas pela cidade. A am- agente que está promovendo com Strambi, Guangzhou tem don School of Economics. Ela pliação do sistema prevê chegar o transporte ou que investiu hoje 30 mil bicicletas, modal ressalta a experiência “Comparte aos 877 quilômetros em 2020. na melhoria da acessibilidade. que está em expansão. Segun- tu Chevrolet”, que resultou em O metrô de Hong Kong A ideia de projetos associados do o Banco Mundial, a atitude também é exemplo, mas de sus- também foi consagrada na nova simples, de baixo custo e de fá- Sistema Transmilênio da tentabilidade. A empresa local lei de mobilidade”, afirmou o cil implementação, resulta em capital colombiana é apontado de transporte urbano construiu professor de Transporte Urbano maior proteção para ciclistas e pelo Banco Mundial como e administra salas e centros da USP Orlando Strambi. pedestres e aumento da veloci- modelo para o continente comerciais acima de algumas­ Já a cidade de Guangzhou, dade de todos os modais.

62  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  63 SUMÁRIO Mundo Pedágio urbano vence Novas tecnologias resistências iniciais e antigas práticas

Polêmico, o pedágio urbano dos votos. Em 2007, quando ­urbano, com forte oposição ini- A coletânea de arti- tem sido aplicado com sucesso se tornou permanente, já era cial da população. Milhares as- gos Tecnologias a Favor da em várias cidades, como Cin- aprovada por 70% dos habi- sinaram uma petição pedindo Mobilidade Urbana, da CHRIS UK gapura, Londres e Estocolmo, tantes da cidade sueca. Hoje um referendo sobre a medida, Confederação Nacional de na Suécia. Esta última criou praticamente não há congestio- aprovada pelo governo local em Municípios (CNM), mos- uma taxa de congestionamen- namentos urbanos em Estocol- 2010. tra que “uma combinação to, cobrada dos veículos que mo, cujo transporte público é de políticas intersetoriais” entram e saem do centro da referência mundial. Prós e contras pode oferecer soluções in- ­cidade. Os recursos arrecadados são A ideia básica é desestimu- tegradas para o transporte, Lá, cerca de 40% dos mo- usados na construção de novas lar o uso de veículos e criar um sobre três pilares: a escolha radores têm carro, que, geral- obras viárias. Pessoas e empre- fundo de investimento voltado correta e integração dos mente, usam apenas nos fins sas podem deduzir a taxa de para o transporte público. modais em estreita coorde- de semana. Rejeitada por 64% congestionamento do imposto A medida tem a vantagem nação, uma rígida política da população em 2006, quan- de renda. Gotemburgo, a se- de democratizar o uso do es- de uso do solo e a aposta do começou em fase de testes, a gunda maior cidade da Suécia, paço nas áreas centrais das ci- em tecnologia para melho- medida foi objeto de referendo, aderiu à ideia e implantou em dades, além de ser uma fonte rar os modais existentes — passando apertado, com 51% janeiro deste ano o pedágio interessante de recursos para a tornando-os mais eficien- melhoria do trânsito. tes e menos poluentes. A lei brasileira sobre Mobi- Assentados sobre a tec- lidade Urbana já oferece, desde nologia do ímã de terras-ra- 2012, fundamento para os mu- ras, os novos trens urbanos nicípios implantarem políticas asiáticos — como o que de estacionamento e de pedágio liga o centro de Xangai ao urbano. aeroporto da cidade, capaz O pedágio urbano nas gran- de “voar” à velocidade de des cidades brasileiras, porém, 430 quilômetros/hora — tem como entrave justamente deverão se multiplicar pelas o transporte público precário e megalópoles mundo afora. já superlotado. Assim, a medida Novos combustíveis, como Passarela circular em Xangai dá acesso a edifícios do centro poderia vir a ser apenas um im- o etanol e biodiesel, tendem financeiro e mira na verdadeira solução: a caminhada posto a mais, sem impacto na a agregar sustentabilida- melhoria do trânsito. Ou seja, de aos sistemas de ônibus, a vida do motorista de automó- ­diminuindo a poluição. ­começa a ser usada é a oferta ao lazer e compras. Com mais de veis particulares pioraria, sem proprietário de automóvel de 1 ­quilômetro de extensão, tem que uma opção de qualidade Teletrabalho listas de candidatos a partilhar capacidade para mais de 10 mil fosse oferecida. Uma medida importante o trajeto, dividindo as despesas pessoas. Elevadores e escadas Por isso, muitos defendem para aumentar a mobilidade e diminuindo o número de car- rolantes dão acesso ao nível da que o pedágio urbano deveria urbana nas grandes cidades é ros nas ruas. rua. vir depois da integração, do deixar de transportar as pesso- Outra novidade surgida no barateamento e da melhoria do as. O acesso à internet de alta Revolução Japão, que já sofre com a fal- transporte público, da recupe- velocidade, além de oferecer ao Paradoxalmente, revolucio- ta de espaço em ruas e praças ração das vias e de forte investi- usuário informações em tempo nário mesmo para a mobilida- para bicicletas, é o sistema de mento em educação e controle real sobre o melhor percurso e de urbana será criar condições estacionamento de bicicletas de trânsito. Exemplo dos em- as opções de transporte coleti- para que as pessoas voltem a Ecocycle. Construído em dois bates que virão é o projeto em vo, pode e deve ser usado para andar a pé e de bicicleta, di- meses, ao custo de R$ 3,5 mi- discussão na Câmara Munici- estimulá-lo a trabalhar em casa zem os estudiosos. Em Xan- lhões, é acionado por cartão pal de Curitiba, que proíbe a ou no conforto de um escritó- gai, na China, uma rotatória magnético e recolhe e arma- instalação de pedágios urbanos rio remoto do empregador em para pedestres prova que mui- zena bicicletas a 11 metros num raio de 40 quilômetros do seu próprio bairro, propõem tas cidades já perceberam esse de profundidade, mantendo marco zero da cidade. vários especialistas. Outra op- caminho. Na passarela circu- praças e calçadas livres para ção baseada na internet que lar Lujiazui, construída a 20 pedestres. Cada um dos 43 metros de altura, as pessoas Ecocycles construídos no país Desde 2007, todo veículo Em Discussão! traz os detalhes podem andar em segurança, comporta 204 bicicletas e co- que entra ou sai do centro de na edição 17. Acesse o link Estocolmo paga um imposto http://bit.ly/1c6qaX8 acessando prédios do centro bra mensalidade de cerca de

TAGE OLSIN TAGE de congestionamento financeiro da região e áreas de R$ 40.

64  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  65 SUMÁRIO PROPOSTAS Uma agenda para melhorar o transporte público

Como o Congresso não pode interferir na fixação das tarifas, saída é propor incentivos para garantir qualidade ao serviço e reduzir custos das empresas

s manifestações de ju- institui o ­Regime Especial de In- da Política Nacional de Mobili- nho repercutiram na centivos para o Transporte Co- dade Urbana (Lei 12.587/2012). pauta do Congresso letivo ­Urbano e Metropolitano Nesse sentido, os senadores apro- Nacional na forma de de Passageiros (Reitup), aprova- varam a exigência de instalação Aum pacote de medidas que foi do pela Comissão de Assuntos de conselhos de transporte nas ­batizado pelo presidente do Sena- ­Econômicos (CAE). cidades que aderirem ao Reitup do, Renan Calheiros, de “agenda Os parlamentares também bus- e debatem o projeto que obriga da sociedade”. Propostas que pro- cam facilitar o acesso de famílias os municípios a implantarem um curaram responder à demanda de baixa renda e estudantes ao sistema de transporte cicloviário pela melhoria no serviço de trans- transporte coletivo por meio da (PLS 262/2013). porte público ganharam destaque gratuidade. Projetos que criam, A aprovação dessas ­propostas na pauta da Casa desde então. respectivamente, o vale-trans- poderá contribuir na implemen- Por não ter como interferir porte social (PL 2.965/2011), em tação dos planos de mobilida- mais diretamente na fixação das análise na Comissão de Viação e de, uma exigência que os 1.669 passagens do transporte coletivo, Transportes da Câmara, e o passe ­municípios brasileiros com mais feita em nível municipal ou esta- livre estudantil (PLS 248/2013), de 20 mil habi- dual, o Senado optou pela con- na Comissão de Constituição e tantes preci- cessão de incentivos tributários Justiça do Senado (CCJ), têm essa sam cum- às empresas que prestam esse ser- intenção. prir até viço, o que deve levar ao baratea- Além da questão tarifária, as janei- mento da tarifa. Esse é o ­objetivo propostas em tramitação buscam ro de do projeto (PLC 310/2009), que ver implementados os objetivos 2015.

SUMÁRIO Propostas

transporte, a fim de adequar o atualmente, apesar de ser lei, não projeto ao princípio de “comple- acontece na maioria dos casos (leia Incentivos podem mentaridade e integração entre os mais na pág. 28). Além disso, as modos de transporte” da Política empresas serão obrigadas a res- Nacional de Mobilidade Urbana. peitar limites de tarifas e garantir reduzir tarifa em 10% Já em resposta ao artigo 15 da acesso às planilhas de custos, que mesma lei, que determina a “par- deverão ser publicadas na internet. O principal caminho pro- Viana (PT-AC), relator do pro- ticipação da sociedade civil no Para reforçar a fiscalização so- posto pelo Congresso Nacional jeto, considera a proposta uma BARRETO/AGÊNCIA SENADO WALDEMIR planejamento, fiscalização e ava- cial sobre as tarifas, os senadores para baratear a tarifa são os in- vitória, tendo em vista os múl- liação da política de mobilidade”, acrescentaram ao projeto a cria- centivos tributários da União, tiplos custos das operações do o Reitup prevê a instalação de um ção de uma planilha nacional de estados e municípios às empre- transporte público, que incluem conselho de transporte e a elabo- referência para cálculo dos cus- sas do setor de transporte de encargos de pessoal, combustí- ração de um laudo, a ser feito pe- tos das empresas. Com o mesmo passageiros, como prevê subs- vel, impostos e taxas. las prefeituras, para determinar os intuito, o substitutivo estende às titutivo do senador Lindbergh O Reitup amplia as isenções valores máximos das tarifas. empresas concessionárias as exi-

Farias (PT-RJ) ao projeto que já em vigor, por prever deso- BARRETO/AGÊNCIA SENADO WALDEMIR Só será beneficiada pelo regi- gências da Lei de Acesso à Infor- institui o Reitup, aprovado pela nerações nos âmbitos estadual me a empresa que tiver contrato mação (Lei 12.527/2011), inclu- Para Jorge Viana, relator da lei do Comissão de Assuntos Econô- (ICMS) e municipal (ISS). No Reitup, projeto é uma vitória por causa de concessão do serviço, ou par- sive àquelas que não aderirem ao micos (CAE) do Senado em primeiro caso, que envolve ca- dos múltiplos custos do transporte ticipado de licitação — o que, Reitup. julho e enviado à Câmara. Pelos deias produtivas em diferentes cálculos feitos até o momento, a estados, a desoneração se faria medida poderia reduzir o preço por meio de restituição direta às Impostos representam até 10% do preço da passagem das passagens do transporte pú- empresas, caso não seja possível Contas Reitup desonera empresas de transporte para reduzir a tarifa blico em até 10%. desonerar o produto na origem. O Regime Especial de In- Além dos benefícios tributários, Aloysio sugere usar recursos aplicados abertas centivos para o Transporte Co- o projeto propõe um descon- em mobilidade para abater da dívida de letivo Urbano­ e Metropolitano to mínimo de 75% nas tarifas estados e municípios com a União O acesso público a dados e de Passageiros — Reitup (PLC de energia elétrica para metrôs, informações para fixação e 310/2009) prevê uma série de trens metropolitanos e trólebus. PIS-Pasep e da Cofins, como revisão de tarifas de transpor- isenções, subsídios, restituições A perda da receita das conces- pneus ou veículos (veja o info� te público é objeto de outra e outros incentivos às empresas sionárias de energia elétrica será gráfico na página ao lado). proposta, aprovada pela Co- de transporte coletivo urbano. compensada pela União. missão de Constituição e Jus- De acordo com o projeto, O senador Aloysio Nunes Mais transparência tiça do Senado em outubro. desde que se comprometam a Ferreira (PSDB-SP) sugeriu Além da desoneração, a pro- O PLC 50/2013, do deputado manter a qualidade do servi- que os recursos aplicados pelos posta institui outras medidas Ivan Valente (PSOL-SP), quer Componente de custo Peso sobre a tarifa garantir que os usuários sejam ço, entre outros pré-requisitos, estados e municípios na melho- para melhorar a eficiência do Pessoal e encargos 40% a 50% as empresas beneficiadas ficam ria do transporte sejam aceitos transporte coletivo. Estados e informados, em linguagem de isentas do PIS-Pasep e da Co- como pagamento da dívida que municípios que aderirem ao fácil compreensão, sobre “a Combustível 22% a 30% fins sobre combustíveis, chassis, esses entes federados têm com a Reitup ficam responsáveis pela fundamentação de decisão do Impostos e taxas 4% a 10% carrocerias, veículos, pneus e União, até o limite de 30%. implantação, num prazo de dois poder público acerca de rea- Despesas administrativas 2% a 3% câmaras de ar, bem como sobre De acordo com a Consultoria anos, do bilhete único para o juste ou revisão de tarifas”. A a energia elétrica. de Orçamentos, Fiscalização e PNMU só menciona o princí- Depreciação 4% a 7% pio da publicidade no caso de A isenção das contribui- Controle do Senado, já é possível Remuneração 3% a 4% ções que incidem sobre o fa- estimar o impacto orçamentário revisão tarifária extraordinária, turamento, também parte do das medidas, apenas em relação deixando de lado os reajustes Rodagem 3% a 5% Reitup, já está prevista na Lei aos tributos federais: 0,08% do e revisões ordinárias. Lubrificantes 2% a 3% Atualmente, apesar de haver 12.860/2013, aprovada pelo Se- produto interno bruto (PIB), o Peças e acessórios 3% a 5% nado em agosto. Uma medida que equivaleria a R$ 4,3 bilhões uma disposição constitucional provisória (convertida no PLV e R$ 4,7 bilhões, consideradas as no sentido da transparência Fontes: Ipea, Ministério dos Transportes e NTU 24/2013) em tramita- projeções para 2014 e 2015. da estrutura tarifária e da pu- GERALDO MAGELA/AGÊNCIA SENADO IMPOSTOS E TAXAS Peso sobre a tarifa O projeto inclui ção na Câmara esten- Há também estimativas de blicidade do processo de re- o chamado de a desoneração ao impacto das desonerações na visão das tarifas (artigo 37, § DIRETOS transporte público transporte marítimo, redução da tarifa de ônibus. No 3º, inciso II), grande parte das Tributos federais (PIS e Cofins) 3,65% coletivo de prefeituras ignora a obrigação, caráter urbano, ao setor aéreo e ao estudo Tarifação e Financiamen� observa Valente. Tributos e taxas municipais (ISS e taxas gerais) 0% a 10% ou seja, o que transporte rodoviá- to do Transporte Público, o Ipea A proposta se soma aos es- liga municípios rio de passageiros en- combinou a isenção dos tributos ICMS sobre serviços metropolitanos 0% a 25% conurbados, que tre municípios de um diretos sobre o transporte públi- forços do PLC 310/2009 (leia Encargos sociais (INSS, salário-educação etc.) 9% a 11% cresceram até se mesmo estado e entre co com os indiretos sobre o óleo mais na página anterior) de unirem, como municípios de estados diesel. Calculou-se uma redução conferir transparência à defini- INDIRETOS (considerando apenas o diesel) os que formam ção da tarifa, sem depender de distintos que compo- de 7% a 10% do preço final da Lindbergh Farias: benefícios seriam dados ICMS sobre óleo diesel (12% a 25%) 2,5% a 5% a Grande São nham uma metrópole. tarifa — que não incluiu outros só às empresas que se comprometerem adesão. Paulo. Cide, PIS e Cofins sobre óleo diesel (cerca 25%) 4% a 5% O senador Jorge insumos que o Reitup isenta do com qualidade dos serviços

68  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  69 SUMÁRIO Propostas NATHALIA DAMACENO NATHALIA

MPL insiste na tese da tarifa zero

Por enxergar as iniciativas institucio- nais pelo passe livre estudantil como uma consequência­ da luta de vários se- tores da população — e não apenas dos estudantes —, o Movimento Passe Livre (MPL) defende o fim da cobrança pelo serviço de ônibus: a “tarifa zero”. Em nota divulgada em 27 de agosto, integrantes do movimento afirmaram que o passe livre estudantil tem limi- tações. “Os beneficiados recebem um número pequeno de viagens e podem utilizá-lo num itinerário ainda mais res- Manifestações iniciadas em São Paulo pelo Movimento Passe Livre reivindicam isenção, para alunos, de tarifas nos transportes públicos trito, delimitado entre casa e escola. Para ser de fato um investimento em ­Urbano: propostas em tramitação municípios. Do contrário, apon- educação, o passe livre teria que ser ir- no Congresso Nacional, o Ipea ta o estudo, corre-se o risco de restrito, pois a educação não pode se sugere que se faça um recorte so- “fazer justiça social sem justiça limitar à experiência escolar.” Passe livre para os estudantes cial para a concessão do benefí- ­tributária”. O Movimento Passe Livre se intitula cio, tendo por base o cadastro de De acordo com o estudo, a “apartidário e independente” e afirma Em junho, o Movimento Pas- ­movimento estudantil, o MPL haverá aumento das tarifas e o programas sociais, como o Bolsa partir da Política Nacional de que luta por um transporte público “de se Livre (MPL) liderou em São (leia mais no box ao lado) ficou assunto já voltou às ruas. O po- ­Família. Mobilidade Urbana (PNMU), verdade”, gratuito para todos e “fora Paulo as primeiras manifesta- identificado com aqueles protes- der público tem responsabilidade O Ipea também considera im- uma política social de transporte da iniciativa privada”. Criado na Plená- ções que acabaram reunindo tos. Mais do que condenar o au- de resolver a questão — afirmou. portante que o debate sobre gra- público deveria incluir também ria Nacional pelo Passe Livre, de 2005, milhões de pessoas nas grandes mento de R$ 0,20 na tarifa, ele A iniciativa parte do pressu- tuidade seja feito em paralelo a subsídios cruzados e a taxação de está ramificado em diversas cidades cidades pedindo­ melhorias nos cobra “uma vida sem catracas”. posto de que o aluno, por não propostas de desoneração do ser- outros modos de transporte ou ­brasileiras. serviços públicos. Originário do Concebido em resposta às ter fonte de renda, sofre de forma viço envolvendo União, estados e ­setores da economia. ruas, o PLS 248/2013, encabe- mais dramática os efeitos dos al- çado pelo presidente do Senado, tos custos do transporte público. Renan Calheiros (PMDB-AL), e — É o que se conclui quando assinado por mais 52 senadores, verificamos que o trabalhador Vale-transporte para institui o passe livre no transpor- tem seu transporte custeado pela te público para estudante matri- empresa, que o idoso goza da culado na rede pública de ensino. gratuidade, assim como a pessoa­ famílias de baixa renda A proposta foi apresentada em com deficiência ou o policial. 25 de junho e tramita em regime O presidente da CCJ, Vital do O projeto que institui o vale- o número de pessoas da família e os WALDEMIR BARRETO/AGÊNCIA SENADO WALDEMIR de urgência. O exame na Comis- Rêgo (PMDB-PB), anunciou a -transporte social pretende fran- deslocamentos mínimos para aten- são de Constituição, Justiça e Ci- realização de amplo debate antes quear o transporte público às fa- der as necessidades básicas, mas dadania (CCJ) foi adiado para a da votação em Plenário, ainda mílias listadas no cadastro único o texto não fixa valores e critérios análise do impacto econômico. este ano. de programas sociais do governo para o recebimento do benefício. Segundo o senador, hoje 3,6 — Entendemos que o Orça- federal, usado para programas Rosinha sugere que a seleção milhões de alunos pagam meia mento da União pode ser a fonte como o Bolsa Família. O substi- dos beneficiados seja feita com passagem e a expectativa é que o de financiamento, mas antes va- tutivo do deputado Dr. Rosinha base no cadastro único para evi- passe livre custe R$ 7 bilhões. mos formar uma audiência pública (PT-PR) ao PL 2.965/2011, do tar a exclusão de potenciais bene- — É um assunto inevitável. com todos os envolvidos­ — disse. deputado Rogério Carvalho (PT-​ ficiários que não se enquadrem no Não tem sentido que quem estu- SE), prevê que a proposta seja fi- perfil do Bolsa Família — como Recorte social ZECA RIBEIRO/CD Projeto de Renan Calheiros que institui a da pague pelo transporte. Todo nanciada com recursos do Orça- previa o texto original. O projeto Deputado Dr. Rosinha, relator do projeto: gratuidade para estudantes da rede pública país que está à frente do Brasil já Na nota técnica Ampliação mento da União. tramita na Comissão de Viação e sugestão é usar o cadastro único de deve ser debatido e votado até o fim do ano resolveu o problema. Em janeiro do Acesso ao Transporte Público Pelo projeto, serão considerados Transportes da Câmara (CVT). programas sociais, como o Bolsa Família

70  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  71 SUMÁRIO Propostas

integrado ao plano diretor, em ­menor cidade do país com sis- O plano de mobilidade ain- 2009, após três anos de discussão tema de bilhetagem eletrônica. da está em fase de elaboração. Cidades montam com a participação da sociedade. Os gestores municipais traba- Porém, de acordo com o gestor “Ouvimos a população do entorno lham, agora, na revisão do plano, da área, Daniel Rodrigueiro, as rural, associações de bairro, sindi- para adequá-lo às diretrizes da mudanças na estrutura do muni- planos de mobilidade catos de todos os setores”, disse. PNMU. Uma das metas é a im- cípio já são visíveis. A prefeitura O documento — elaborado plantação de corredores de ônibus tem investido na construção de A Política Nacional de Mo- ­Brasileiro de Geografia e Esta- ­Sustentáveis e Instituto Ethos a partir de estudos que levaram na área central. ciclovias, na implantação de fai- bilidade Urbana ampliou de tística (IBGE) em 2012, porém, — como modelo de boas prá- em conta o perfil dos transpor- xas de pedestres e na adaptação 38 para 1.669 o número de mostra que políticas específicas ticas no setor de mobilidade tes do município, as característi- Prioridades no interior das calçadas para uma melhor municípios obrigados a ter um para a mobilidade ainda são no Brasil por possuir uma das cas socioeconômicas e o uso do Também há boas práticas no ­acessibilidade. plano de mobilidade. Antes, uma meta distante de ser atingi- maiores redes cicloviárias per solo, com foco na sustentabilida- interior do país. É o caso de Pe- “A maior parte da cidade é pla- pelo Estatuto da Cidade (Lei da (leia mais na pág. 26). capita do país. São 98 quilôme- de — estabeleceu, por exemplo, nápolis, no noroeste de São Pau- na. Temos todas as condições de 10.257/2001), apenas as cida- Levantamento feito pelo tros de vias em funcionamento que toda obra de infraestrutura lo. Com cerca de 60 mil habi- investir no transporte não moto- des com mais de 500 mil mo- Greenpeace aponta que ape- para um total de 305 mil ha- deveria ser cercada por um espaço tantes, a cidade decidiu criar, em rizado”, disse Rodrigueiro, salien- radores precisavam de um pla- nas sete capitais — Brasília, bitantes. E o principal uso da para ­ciclovias. junho deste ano, uma secretaria tando que a maioria dos ciclistas no para o transporte público. Vitória, Belo Horizonte, Te- bicicleta é como meio de trans- Após quatro anos, Rio Bran- municipal para tratar de trânsito de Penápolis usa a bicicleta como Desde fevereiro do ano passa- resina, Boa Vista, Rio Branco porte. A iniciativa está de acor- co também se destaca por ser a e mobilidade urbana. meio de transporte. do, porém, municípios acima e Porto Velho — concluíram do com o que o Ipea encontrou de 20 mil habitantes também o plano de mobilidade. Ainda no estudo A Mobilidade Urba� terão que elaborar um plano de assim, há boas experiências em na no Brasil: os brasileiros da mobilidade urbana, integrado ­andamento. Região Norte são os que mais ao plano diretor, até janeiro de contam com a bicicleta para Guia ensina prefeituras 2015. Caso contrário, ficarão Bicicletas dominam os deslocamentos (leia mais na impedidos de receber os recur- Rio Branco, por exemplo, pág. 24). a elaborar políticas sos orçamentários federais des- é apresentada pelo Programa De acordo com Ricardo Tor- tinados à área. Cidades Sustentáveis — uma res, superintendente municipal Visando atender a deman- é que ele deve ser orientado Quanto ao ­suporte aos A Pesquisa de Informa- parceria das ONGs Rede Nos- de Transporte e Trânsito, Rio da por assistência técnica de para as pessoas. Por isso, tive- municípios, a Secretaria Na- ções Básicas Municipais (Mu- sa São Paulo, Rede Social Bra- Branco aprovou seu Plano Di- milhares de municípios na ela- ram destaque no guia temas cional de Transporte e da nic), divulgada pelo Instituto­ sileira por Cidades Justas e retor de Transporte e Trânsito, boração das próprias políticas que tratam da inclusão social, Mobilidade Urbana vem mi- de mobilidade, o Ministério das da sustentabilidade ambiental, nistrando seminários de Cidades elaborou o PlanMob, da equidade na apropriação dos capacitação de agentes munici- um guia para os gestores muni- espaços públicos e da gestão pais para elaboração dos planos cipais, com orientações precisas democrática, sempre de acordo de mobilidade. De acordo com sobre metodologias e formas com as diretrizes e princípios da informações da assessoria de de organização dos trabalhos. Lei 12.587/2012. Comunicação do Ministério No Guia PlanMob da Secre- O material do Ministério das Cidades, foram realizados PREFEITURA DE PENÁPOLIS taria Nacional de Transporte das Cidades está disponível na cinco seminários regionais em e da Mobilidade Urbana do internet, no endereço http:// 2012. A partir de outubro de Ministério das Cidades, os ges- www.cidades.gov.br/index. 2013, eles seriam aplicados nas tores encontram de conceitos php/publicacoes.html. ­regiões metropolitanas. básicos para formulação dos planos diretores (mobilidade, Pacto da mobilidade sustentabilidade, acessibilida- O advento da PNMU — im- de e circulação) a orientações pulsionado pelas manifestações para levantamento de dados de junho passado — também que permitam identificar quais ajudou a colocar o tema da são os fatores condicionantes mobilidade na agenda finan- da mobilidade no município ceira do governo. A segunda — como o porte da cidade, etapa do Programa de Acele- os aspectos socioeconômicos, ração do Crescimento (PAC 2) o sistema viário e os servi- tem R$ 50 bilhões para obras ços e modos de transporte em de melhoria de mobilidade ur- ­funcionamento. bana nos estados e municípios, O documento enfati- o chamado PAC Mobilidade. za que o objetivo final de Em julho, a ministra do Plane- qualquer planejamento da jamento, Orçamento e Gestão, mobilidade e do transporte, Miriam Belchior, anunciou que independentemente do tama- os recursos estariam disponí- No PlanMob, prefeitos encontram nho, da localização geográfica veis ainda este ano para quem orientações sobre como melhorar a ou da dinâmica da economia, já tivesse projeto pronto. mobilidade urbana em suas cidades Com apenas 60 mil habitantes, Penápolis (SP) já adotou plano de mobilidade e implantou até ciclovias

72  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  73 SUMÁRIO Propostas PEC inclui transporte Municípios querem entre os direitos sociais taxar gasolina

“Se discutimos incentivos para de Porto Alegre e presidente da Entretanto, entre as mais pobres, Na audiência pública na De acordo com estudo, co- ­transporte público urbano. a compra de alimentos, se discu- Frente Nacional de Prefeitos, José o item pesa ainda mais no orça- CAE que discutiu o Reitup, ordenado pelos economistas A ideia foi aproveitada pelo timos incentivos para compra da Fortunati, em audiência pública mento. Em 2009, 13,5% da renda o presidente da Frente Na- Marcio Lago Couto e Samuel senador Antonio Carlos Ro- linha branca, tão importante para da Comissão de Assuntos Eco- das 10% mais pobres, em média, cional de Prefeitos e prefeito Pessôa, se o imposto voltasse drigues (PR-SP), que apre- as famílias brasileiras, é inadmissí- nômicos (CAE), reflete a preo- era comprometida com transpor- de Porto Alegre (RS), José a ser cobrado no valor de R$ sentou projeto (PLS 11/2013) vel que a tarifa do transporte cole- cupação, inclusive do Senado, de te, sendo que cerca de 30% dessas Fortunati, defendeu que um 0,10 por litro de gasolina, ha- para garantir que não menos tivo, seja em ônibus ou nos demais garantir que a acessibilidade uni- famílias simplesmente não gasta- percentual da Contribuição veria uma elevação de receita que 5% da arrecadação da modais, não esteja colocada como versal, princípio da PNMU, seja vam com transporte, o que seria de Intervenção no Domínio pública de R$ 328 milhões. Cide seja aplicada em proje- componente da cesta básica do parte do dia a dia do brasileiro. um indicador de exclusão social Econômico (Cide) sobre os O consequente impacto sobre tos de infraestrutura urbana trabalhador.” Esse é o espírito da Proposta de (veja ilustração abaixo). combustíveis — que o gover- a inflação, medida pelo Índi- de transportes coletivos ou A afirmação, feita pelo ­prefeito Emenda à Constituição 90/2011, Outro estudo do Ipea (Amplia� no reduziu a zero em junho ce de Preços ao Consumidor não motorizados. pela qual a deputada Luiza Erun- ção do Acesso ao Transporte Público de 2012, para evitar reajustes Amplo (IPCA), seria da or- Rodrigues entende que a dina (PSB-SP) pretende inserir o Urbano — propostas em tramitação — seja utilizado para sub- dem de 0,16%. Cide seria cobrada principal- transporte no rol dos direitos so- no Congresso Nacional) avalia que, sidiar o transporte público Porém, o estudo mostra mente dos usuários de auto- ciais — ao lado de outros como ainda que esteja alinhada com os ­urbano. que, se esse valor fosse inte- móveis e motocicletas. Inves- educação, saúde, alimentação, objetivos e diretrizes da PNMU, Na avaliação de Fortuna- gralmente empregado como tir os recursos na “expansão trabalho, moradia etc. A proposta a PEC 90/2011 “necessita de leis ti, o mecanismo funcionaria subsídio à tarifa de transporte da infraestrutura de modos tramita em comissão especial da específicas que assegurem instru- como uma “política Robin público, seria possível reduzir de transporte mais democrá- Câmara dos Deputados. mentos e meios para a efetivação Hood”, em que quem usa o o valor da passagem em 14% ticos no tocante à utilização de seus princípios e diretrizes de transporte privado ajudaria a e, ainda, gerar um efeito de- do espaço urbano e mais efi- Exclusão social caráter social e universal”. subsidiar quem usa o trans- flacionário de 0,22%. cientes do ponto de vista am- A sugestão da deputada coinci- O Ipea destaca o “reforço ar- porte público. Entre as conclusões da pes- biental” seria, para ele, uma de com as conclusões em relação gumentativo” que a inclusão do quisa, os economistas desta- forma de garantir a prevalên- aos gastos das famílias com trans- transporte como direito social Efeitos positivos cam que, quando todo orça- cia do interesse coletivo sobre porte do estudo Tarifação e Finan� traria para o debate de propostas O prefeito de São Paulo, mento obtido com a elevação o individual. ciamento do Transporte Público, como as que criam o passe livre Fernando Haddad, também do preço da gasolina é em- O senador também des-

ZECA RIBEIRO/CD do Ipea. Os dados, colhidos entre estudantil ou o vale-transporte defende o uso da Cide para pregado na desoneração do tacou que, apesar do que de- Para o Ipea, PEC da deputada Erundina 2003 e 2009, mostram que, em social ou mesmo das que buscam subsidiar tarifas de ônibus. transporte público, quanto termina a legislação, histori- reforça argumentos em favor de novas média, as famílias gastavam 3% novas formas de financiamento Estudo recente feito pela maior a Cide, maior o ganho camente, os recursos da Cide formas de financiar transporte público da renda com transporte público. para o transporte público. Fundação Getulio Vargas, a em bem-estar para as famílias têm sido retidos no caixa do pedido da prefeitura, procu- com renda até 25 salários mí- Tesouro para a composição rou avaliar o impacto sobre a nimos. O custo ficaria para de superávits primários. inflação, sobre o orçamento os mais ricos. Favorável ao projeto, o re- Mobilidade pesa no bolso das famílias mais pobres público e sobre a renda das lator na CAE, senador Luiz famílias de um eventual im- Individual x coletivo Henrique (PMDB-SC), lem- Gastos com transporte equivalem a quatro dias de trabalho no mês posto sobre a gasolina des- Já a Frente Nacional dos brou que esses desvios fize- tinado ao subsídio do trans- Municípios (FNM) defende ram com que a destinação Em 2009, as famílias Enquanto isso, os 10% mais pobres Entre os 10% mais pobres, porte público urbano. o uso da Cide como subsí- dos recursos da Cide fosse gastavam em média comprometiam cerca de 13,5% da cerca de 30% das famílias não dio para o transporte objeto de questionamentos 3% da renda com renda com transporte coletivo gastavam com transporte público desde 2003. desde sua criação, inclusi- transporte público por falta de recursos Pela proposta, os re- ve de uma ação direta de cursos iriam para ­inconstitucionalidade. um fundo compos- O descumprimento da re- to pela aplicação de gra durou até 2007, quando, 13,5% 75% dos recursos após decisão do Supremo Tri- da contribuição para bunal Federal, o governo pas- o Fundo Nacional sou a adotar o entendimento 3% de Infraestrutu- de que os recursos da Cide ra de Transporte, somente seriam destinados dos quais 25% se- aos programas de infraestru- riam destinados ao tura de transportes.

Antonio Carlos Rodrigues defende expansão da infraestrutura de “modos

JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA SENADO de transporte mais democráticos”

Fontes: Ipea, Ministério dos Transportes e NTU www.senado.leg.br/emdiscussao  75 SUMÁRIO Propostas A bicicleta como opção

A PNMU dá prioridade aos determinado, gratuitamente ou que troquem o carro pela bici- modos de transportes não mo- com preços acessíveis. cleta. É uma maneira de dimi-

PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO torizados sobre os motorizados. Randolfe observou que gran- nuir a poluição e manter a for- O senador Randolfe Rodrigues de parte dos deslocamentos ma”, disse Suplicy. (PSOL-AP), porém, considera ocorre em distâncias relativa- Para que haja a integração que a lei deve ser mais específica mente curtas, que poderiam ser com o transporte coletivo, Ran- para estimular o transporte por percorridas de bicicleta, desde dolfe sugere colocar as bicicletas bicicletas e, por isso, apresentou que a viagem pudesse ocorrer de próximas às estações de metrô e um projeto (PLS 262/2013) que forma segura e confortável. terminais de ônibus, com a pos- obriga os municípios a implanta- Foi o que fizeram, no dia 19 sibilidade de devolvê-las em local

rem um “sistema cicloviário”. de setembro, o próprio Randol- diferente do inicial (leia mais nas RODRIGO VIANA/SENADO FEDERAL O sistema inclui ciclovias, ci- fe e o senador Eduardo Suplicy págs. 48 e 61). clofaixas, semáforos, estaciona- (PT-SP), defensor histórico do O projeto mentos, sinalização e bicicletas transporte alternativo, no trajeto tramita na públicas de uso compartilhado até o Senado. “Recomendo a to- CCJ. — que poderão ser utilizadas dos que tenham ­condições por qualquer pessoa, por tempo

Proposta torna dever conjunto da União, estados e municípios zelar pela proteção dos que andam a pé ou de bicicleta Proteção para pedestres e ciclistas

Há 16 anos, o Código trânsito, apresentados no estu- de Trânsito Brasileiro (Lei do Mapa da Violência 2012, 9.503/1997), aprovado pelo revelam outra escala de valo- Congresso Nacional e sanciona- res. De acordo com o estudo, do pelo então presidente Fernan- de 1996 a 2010, aconteceram do Henrique Cardoso, determi- 518.500 mortes no trânsito no MÁRCIA KALUME/AGÊNCIA SENADO nou: os veículos grandes serão Brasil. Dessas, 202 mil (39%) Segundo Inácio Arruda, prioridade de sempre responsáveis pela segu- foram de pedestres. décadas dada ao automóvel e às motos rança dos menores; os motori- Com a intenção de contribuir trouxe caos às ruas e estradas brasileiras zados, pelos não motorizados; e para, enfim, mudar essa reali- todos juntos, pelos pedestres. dade, o senador Inácio Arruda do transporte público e da cir- A PNMU, que entrou em (PCdoB-CE) propõe incluir na culação de pedestres e ciclistas, vigor 15 anos mais tarde, fez Constituição a responsabilidade explica em grande medida “o coro com o código ao estabele- comum da União, dos estados e caos em que se transformaram cer, nas diretrizes, que os mo- dos municípios quanto à segu- nossas ruas e estradas”. Aprova- dos de transporte não motori- rança e ao conforto dos pedes- da na CCJ em outubro, a PEC zados têm prioridade sobre os tres e ciclistas (PEC 24/2011). segue agora para dois turnos de ­motorizados. Para o senador, a priorida- votação no Plenário do Senado Randolfe e Suplicy fizeram de No entanto, dados do Insti- de dada ao longo das décadas a antes de ser enviada à Câmara bicicleta o percurso de casa até o tuto Sangari sobre acidentes no carros e motos, em detrimento dos Deputados. Senado, em apoio ao Dia Mundial sem Carro, 22 de setembro: “Leva quase o mesmo tempo”, disse Suplicy 76  novembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao  77 SUMÁRIO Saiba mais

Os debates realizados pelas Comissões de Assun- Nota Técnica — Tarifação e Financiamento do tos Econômicos (CAE) e de Infraestrutura (CI) so- Transporte Público Urbano, Ipea, 2013: http:// bre mobilidade nas cidades brasileiras em 19 de bit.ly/1bSmThA junho de 2013 orientaram a produção desta edi- • A Nova Lei de Diretrizes da Política Nacional de ção de Em Discussão!: Mobilidade Urbana, Ipea, 2012: http://bit.ly/ yrODgl Notas taquigráficas dos debates: • Perfil dos Municípios Brasileiros, IBGE, 2012: • CAE: http://bit.ly/1bSlKq9 http://bit.ly/1bSm2O3 • CI: http://bit.ly/1bSlMyg • Sistema de Informações da Mobilidade ­Urbana • Apresentações: http://bit.ly/1bSlU0M e — Relatório Geral 2011, ANTP, dezembro de http://bit.ly/1bSlUOo 2012: http://bit.ly/1bSm4W7 • Premissas para um Plano de Mobilidade Urbana Os registros feitos pelas agências de notícias do — São Paulo, ANTP, 2012: http://bit.ly/1bSm5t9 Senado e da Câmara dos Deputados contribuíram • Balanço do Transporte Metroferroviário, ANP- para o histórico da atuação do Congresso nessa Trilhos, 2011: http://bit.ly/1bSm742 área: • Cidades em Movimento, Banco Mundial, 2003: • Agência Senado: http://migre.me/4emq3 http://bit.ly/1bSmagl • Agência Câmara: http://migre.me/4emtt • A Mobilidade Urbana no Planejamento da ­Cidade, Instituto Brasileiro de Administração As análises do Instituto de Pesquisa Econômica ­Municipal (Ibam), 2008: http://bit.ly/1hUuvgP Aplicada (Ipea) e os dados do Instituto Brasileiro • A Tale of Renewed Cities, Agência Internacional de Geografia e Estatística (IBGE) e das Associa- de Energia (IEA), 2013: http://bit.ly/19MDujp ções Nacionais de Transportes Públicos (ANTP) e • Índice de Bem-Estar Urbano, Observatório das dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos Metrópoles (UFRJ), 2013: http://bit.ly/15sUIDn (ANPTrilhos) foram fundamentais para traçar um • Observatorio de Movilidad Urbana para América panorama da mobilidade nas cidades brasileiras: Latina, Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), 2010: http://bit.ly/15FkJgq • Comunicado 94 — A Mobilidade Urbana no • Avaliação Comparativa das Modalidades de Brasil, Ipea, 2011: http://bit.ly/U2K1ew Transporte Público Urbano, Associação Na- • Sistema de Indicadores de Percepção Social cional das Empresas de Transportes Urbanos — mobilidade urbana, Ipea, 2011: http://bit. (NTU), 2009: http://bit.ly/1bSmawZ ly/1bSm1JH • “A��������������������������� crise do trânsito em São Paulo���������������� e seus cus-� • Texto para Discussão 1.813 — Tempo de Deslo- tos”, Fundação Getulio Vargas, 2013: http:// camento Casa-Trabalho no Brasil (1992-2009), bit.ly/1bSmbAZ Ipea, 2013: http://bit.ly/1bSm3RR • Reclaiming City Streets for People: chaos or • quality of life?, Comissão Europeia, 2000: http://bit.ly/1bSmJqx

A equipe da revista agradece ao fotógra- fo German Lorca pela cessão da fotografia das páginas 18 e 19, que integra o livro A São Paulo de German Lorca, lançado re- centemente pela Im- prensa Oficial de São Paulo.

78  novembro de 2013 SUMÁRIO MOBILIDADE URBANA

Revista de audiências públicas do Senado Federal Ano 4 - Nº 18 - novembro de 2013

MOBILIDADE URBANA Grandes temas nacionais Hora de mudar os rumos Excesso de carros, má qualidade do transporte público coletivo e falta de investimentos desafiam o futuro das grandes cidades brasileiras

A cada edição, a cobertura completa de um assunto debatido no Senado Federal que afeta a vida de milhões de brasileiros. Leia esta e as demais edições também em www.senado.leg.br/emdiscussao

TERRAS RARAS DÍVIDA PÚBLICA ADOÇÃO EDUCAÇÃO PÚBLICA

TRÂNSITO DE MOTOS INOVAÇÃO TECNOLÓGICA RIO+20 DEFESA NACIONAL

NOVO CÓDIGO FLORESTAL DEPENDÊNCIA QUÍMICA TRABALHO ESCRAVO BANDA LARGA

Peça o seu exemplar pelo e-mail [email protected] O SENADO VOTOU. AGORA É LEI Emenda Constitucional 75 | PEC da Música S e c o m | C r i a ç ã M k t n g

Um tributo aos artistas brasileiros

O Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitucional 75, que estabelece imunidade de impostos para a produção de CDs e DVDs de artistas brasileiros. Com a mudança no tributo, o Congresso garante a redução dos custos de produção ao mesmo tempo em que amplia o combate à pirataria.

É o Congresso Nacional valorizando Saiba mais em: quem faz o Brasil cantar. www.senado.leg.br/agoraelei