24 Dezembro 2013 rede Publicação trimestral do INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA

O que os números dizem 576 mil brasileiros deverão ser diagnosticados com câncer em 2014 É RÁPIDO, GRATUITO, SEGURO E SIGILOSO. Quem tem o vírus e descobre a tempo de se cuidar pode viver com mais qualidade. Faça o teste de aids. Aproveite e faça também os testes de sífi lis e hepatites B e C. Procure uma Unidade de Saúde ou saiba mais em www.aids.gov.br. PARA VIVER MELHOR, É PRECISO SABER.

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Anuncio_Gestante_Aids_205x275mm.indd 1 12/2/13 10:16 AM sumário

05 Debate Uma classificação para o câncer no século XXI 08 Social Vilão de seis letras 11 Capa Números que falam 14 Especial 5º Congresso Internacional de Controle de Câncer 16 Política Experiência tipo REDE CÂNCER exportação 20 2013 – Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) Entrevista Rede Câncer é uma publicação trimestral do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Por se tratar Somando esforços de um veículo jornalístico, cujo objetivo principal é promover a discussão de assuntos relacionados à saúde e à gestão da para o controle do Rede de Atenção Oncológica, artigos e reportagens contam com a participação de profissionais de várias instituições. As câncer declarações e opiniões dessas fontes não refletem a visão do INCA, expressa exclusivamente por meio de seus porta-vozes. 24 A reprodução total ou parcial das informações contidas nesta publicação é permitida sempre e quando for citada a fonte. Educação Realização: Equipe da Divisão de Comunicação Social do INCA | Coordenação-geral do Projeto e Edição: Os múltiplos papéis Daniella Daher | Editor assistente: Nemézio Amaral Filho | Redator: Marcio Albuquerque. do farmacêutico na Comissão Editorial: Cassilda dos Santos Soares, Letícia Casado, Marceli de Oliveira Santos e Maria de Fátima atenção oncológica Batalha Menezes | Produção: Conceito Comunicação Integrada. Jornalista responsável: Marcos Bin - JP23.958RJ | Reportagem: Maria Caldas, Rodrigo Feijó, Rosana Melo e Roseane Santos | Projeto Gráfico: Chica Magalhães | Diagramação: Luis Monteiro | Revisão gramatical: 30 Annecy Moraes | Tiragem: 12.000 exemplares. Personagem Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva - INCA - Praça Cruz Vermelha, 23 - Centro - 20230-130 - A imagem que o Rio de Janeiro - RJ - [email protected] - www.inca.gov.br. cigarro apagou 32 rede Pelo controle do câncer infantojuvenil

40 Ministério da Assistência Saúde Nutrição oncológica à mesa

Rede câncer 3 editorial

A força de uma palavra

Prezado leitor,

Nesta última edição de 2013 de sua REDE de acordo com a estimativa elaborada pelo INCA. CÂNCER, trazemos um rico debate sobre a reco- Excluindo o câncer de pele não melanoma, o de maior mendação internacional: tipos específicos de deter- incidência na população brasileira, os tipos mais co- minados cânceres que não ameaçam a vida devem muns entre os homens serão próstata e pulmão, e continuar a ser classificados como tal? Se, por um entre as mulheres, mama e colón e reto. Os números lado, a retirada da palavra “câncer” do diagnóstico confirmam tendência observada em estudo realizado tranquiliza o paciente, será que esse mesmo paciente ano passado, de que o número de casos de câncer de não abandonará o tratamento por entender que sua pulmão em homens e do colo do útero está em declí- doença não é grave? Mas, e se o nome continua, mé- nio. Saiba tudo sobre esse assunto na matéria de Capa. dicos não vão prescrever tratamentos muito radicais E você sabe quais são as atribuições de um far- para tipos pouco agressivos da doença? Leia e tire macêutico oncológico? Muito mais do que apenas suas conclusões a partir da página 5. manipular antineoplásicos, ele é responsável por va- Por falar da carga negativa da palavra “câncer”, lidar prescrições médicas e fazer o acompanhamen- o termo costuma ser evitado por alguns autores de to dos efeitos observados nos pacientes, tanto nos novela, como Walcyr Carrasco, que assina o texto de internados quanto naqueles que usam a medicação Amor à Vida. Duas personagens da trama das 21h em casa. A seção Educação revela que a Residência da TV Globo – Nicole () e Sílvia Multiprofissional do INCA é uma das portas de entra- (Carol Castro) – enfrentaram a doença sem que ela da para a especialização nesse segmento. fosse classificada como câncer. Por que, em pleno século XXI, ainda existe pudor em se falar de câncer? Boa leitura e até 2014! Confira na seção Social. De volta à vida real, o certo é que são espera- Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes dos 576 mil novos casos de câncer no País em 2014, da Silva

4 Rede câncer debatePesquisadores propõem mudanças na definição da doença, no intuito de reduzir sobrediagnóstico e sobretratamento Uma classificação para o câncer no século XXI

Apesar de todos os avanços da medicina, o cân- (realização de exames de diagnóstico em uma deter- cer continua a ser uma doença fortemente estigmati- minada população assintomática). O sobrediagnósti- zada. Diante desse diagnóstico, é razoável que o pa- co normalmente leva ao tratamento desses tumores, ciente queira se submeter a um ou mais tratamentos o que é conhecido como sobretratamento. “Essa situ- que “cortem o mal pela raiz”. Mas, por incrível que ação não é exclusiva da oncologia. As tecnologias de pareça, muitos tumores malignos são pouco agres- rastreamento acabam detectando alterações com as sivos e não precisam de tratamento. São os tumores quais os pacientes viveriam normalmente sem nun- de comportamento indolente, que se desenvolvem ca descobri-las e morreriam por outras causas”, co- lentamente e não se espalham para outros tecidos e menta Carlos José de Andrade, chefe do Serviço de órgãos. Apesar desse conhecimento, ainda é muito Oncologia Clínica do Hospital do Câncer I do INCA. difícil aceitar a opção de conviver com o tumor quan- No final de agosto deste ano, profissionais da do o laudo de exames aponta a presença de um Universidade da Califórnia, da Universidade do Texas carcinoma. Por conta dessa diferença no comporta- e do Cancer Research Center, em Washington, pu- mento dos tumores malignos, apesar de todos serem blicaram no Journal of American Medical Association classificados como câncer, um grupo de estudiosos artigo sobre seu ponto de vista acerca dessa ques- propõe uma mudança na nomenclatura, em busca de tão. O texto sintetiza as recomendações do grupo de uma classificação mais contemporânea para determi- trabalho formado a partir da reunião promovida pelo nados tipos da doença. NCI, com o intuito de desenvolver uma estratégia Em março de 2012, o Instituto Nacional de para aprimorar a abordagem para rastreamento e Câncer dos Estados Unidos (NCI) reuniu especia- prevenção do câncer. Entre as recomendações está listas para discutir a questão do sobrediagnóstico: uma mudança na terminologia do câncer, que pas- quando são detectados tumores que, sem tratamen- saria a ser aplicada somente para descrever “lesões to, não se tornariam clinicamente aparentes ou cau- com razoável probabilidade de progressão letal se sariam mortes. Esses tumores são descobertos, em deixadas sem tratamento”. “Essa discussão é muito sua maioria, a partir de estratégias de rastreamento importante e precisa ser levantada. Hoje está tudo

Rede câncer 5 “As tecnologias de em um mesmo pacote. Doenças com comportamen- tos completamente distintos são classificadas como rastreamento acabam câncer”, considera Antonio Carlos Lima Pompeo, diretor-responsável por uroncologia da Sociedade detectando alterações Brasileira de Urologia e professor da Faculdade de Medicina do ABC. com as quais os Os especialistas acreditam que há pelo menos pacientes viveriam duas possibilidades de mudança. A primeira se re- fere a condições pré-malignas, como os hoje cha- normalmente sem nunca mados carcinoma ductal in situ (tipo de câncer de mama) e a neoplasia intraepitelial da próstata, que descobri-las e morreriam não deveriam ser classificados como câncer nem por outras causas” ter as palavras “carcinoma” e “neoplasia” em seus nomes. Os pesquisadores acreditam que, assim, os Carlos José de Andrade, chefe do Serviço de pacientes ficariam menos assustados e buscariam Oncologia Clínica do Hospital do Câncer I do INCA menos tratamentos desnecessários e potencialmen- te prejudiciais, que podem incluir a remoção de ma- “Hoje não há nenhuma mas. “Esses tumores já não são reconhecidos como câncer, mas como pré-câncer. Eles são localizados ferramenta confiável no órgão afetado, não possuem a característica de invadir outros tecidos e não causam metástases. A que consiga definir o mudança na nomenclatura traria mais tranquilida- de também para os médicos na hora de observar comportamento uma condição como esta”, afirma Ruffo de Freitas biológico de um câncer Júnior, diretor da Escola Brasileira de Mastologia da Sociedade Brasileira de Mastologia. no pulmão. Isso torna A segunda mudança sugerida se refere a tu- mores indolentes e de baixo risco. Para isso, os impossível mudança pesquisadores acreditam que testes de diagnósti- na nomenclatura co molecular precisarão ser adotados e validados para identificação desses tipos de câncer. Eles desses tumores passariam a ser chamados de lesões indolentes de origem epitelial – IDLE, na sigla em inglês. O grupo neste momento” de especialistas aponta como passíveis de reclassi- Gustavo Prado, consultor da Sociedade ficação tumores encontrados por meio de testes de Brasileira de Pneumologia e Tisiologia rastreamento para detecção precoce de câncer de mama, próstata, tireoide e pulmão. Este último pas- sou a contar com estratégias de rastreio por meio “Essa discussão de tomografias de baixa dosagem para fumantes de alto risco nos Estados Unidos. “Apesar de realmente precisa ser levantada. haver a possibilidade de alguns tumores no pulmão Hoje está tudo em terem característica indolente, hoje em dia não há nenhuma ferramenta confiável que consiga definir o um mesmo pacote” comportamento biológico de um câncer no pulmão. Antonio Carlos Lima Pompeo, diretor da Isso torna impossível qualquer mudança na nomen- Sociedade Brasileira de Urologia clatura desses tumores neste momento”, contrapõe Gustavo Prado, consultor da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. O grupo não propõe uma mudança imediata na terminologia, mas sim a abertura do debate so- bre a necessidade de se buscar uma classificação mais contemporânea que responda às tecnologias

6 Rede câncer de diagnóstico e rastreamento disponíveis atual- “Acredito que já mente. “No caso do câncer de mama, apesar de não haver consenso dentro da Sociedade Brasileira de haja a possibilidade de Mastologia, acredito que já haja a possibilidade de mudança de nomenclatura, em especial do carcino- mudança de nomenclatura, ma ductal in situ. A nomenclatura dá ao oncologista clínico e ao cirurgião a sensação de que já é câncer, em especial do remetendo assim a tratamentos mais agressivos. A carcinoma ductal in situ” retirada do termo ‘carcinoma’ também geraria me- nos estresse para os pacientes”, considera Ruffo de Ruffo de Freitas Júnior, diretor da Escola Freitas Júnior. Brasileira de Mastologia O advento de tecnologias de rastreamento ul- trassensíveis nos últimos anos ampliou a probabili- “Podemos perder dade de se detectarem tumores com comportamen- to indolente que provavelmente nunca causariam muitos pacientes nenhum problema significativo. “Algumas estraté- gias de rastreamento, como do câncer do colo do no acompanhamento, útero e de intestino, mostraram-se efetivas em redu- já que há o risco zir o número de diagnósticos tardios. Outras, como de mama e de próstata, ampliaram a identificação de de eles ignorarem tumores em estágios muito iniciais, mas sem ter im- pacto na redução de diagnósticos tardios. Esses tu- a doença”, mores muito iniciais acabam levando a tratamentos Anderson Silvestrini, presidente da SBOC muitas vezes desnecessários. Por isso, é importante se discutir a efetividade dessas estratégias e testar todas as tecnologias disponíveis”, afirma Carlos José de Andrade. Anderson Silvestrini, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), acredita que Essa não seria a primeira vez que haveria mu- essa proposta ainda precisa ser muito discutida e que danças na classificação do câncer. Os autores do re- há riscos com a mudança. “Podemos perder muitos latório do NCI lembram que, em 1998, a Organização pacientes no acompanhamento, já que há o risco de Mundial da Saúde (OMS) trocou o nome “neoplasia eles ignorarem a doença, uma vez que ‘não se trata cervical intraepitelial” para “lesão de baixo grau”. de um câncer’. Mesmo para um carcinoma ductal in “Médicos e pacientes passaram a observar a doen- situ há possibilidade de evolução, e é preciso que ça com mais tranquilidade e a aceitar tratamentos o médico faça um acompanhamento muito próximo menos agressivos”, salienta Ruffo de Freitas Júnior. do paciente para detectar qualquer possibilidade de Os autores do relatório destacam ainda que o alteração para um comportamento mais agressivo”, sobrediagnóstico e o sobretratamento são hoje gra- comenta o presidente da SBOC. Anderson acredita ves problemas de saúde pública que trazem, além que a conscientização para derrubar o estigma atre- de prejuízos para os pacientes que se submetem a lado ao câncer possa ser um caminho menos radi- tratamentos desnecessários, desperdício de dinhei- cal para enfrentar o problema do sobretratamento. ro para os sistemas de saúde. As preocupações Em sua opinião, com menos medo da doença, os com os riscos atrelados à mudança na nomencla- pacientes estariam mais dispostos a se submeter a tura ficam centradas na adesão dos pacientes a es- esquemas terapêuticos menos agressivos. quemas de observação ativa – quando precisam ser “Independentemente de mudança na nomen- mais proximamente acompanhados por seu médico, clatura, é preciso que as pessoas estejam conscien- para verificar se houve mudança no comportamen- tes sobre a existência de diferentes tipos de câncer to do tumor, de indolente para mais agressivo – e à numa mesma localização e de diferentes comporta- segurança das tecnologias de diagnóstico que per- mentos da doença. Os pacientes devem estar mui- mitam identificar tumores indolentes. Cabe agora to bem informados sobre a sua condição”, destaca aos envolvidos com o controle do câncer debater a Carlos José de Andrade. questão e enfrentar o problema.

Rede câncer 7 socialAutores de novelas hesitam em colocar a palavra “câncer” nos textos, com receio da rejeição do público Vilão de seis letras

O câncer já norteou o enredo de muitos dra- Apesar de negarem censura das emissoras, mas na ficção e na vida real. Basta observar algumas autores admitem receio em empregar essa palavra, novelas para perceber que algo iguala dramaturgia seja por motivos pessoais ou em respeito ao senti- e realidade: o medo de escutar a palavra, que, para mento do público. Em 2000, Manoel Carlos como- muitos, ainda é sinônimo de sofrimento e morte. veu o Brasil com Laços de Família. A história da per- Recentemente, na novela Amor à Vida, dois perso- sonagem Camila (Carolina Dieckmann), portadora nagens foram vítimas da doença: a jovem Nicole de leucemia que raspou a cabeça em horário nobre, (Marina Ruy Barbosa), que morreu na metade da por conta dos efeitos da quimioterapia, alavancou história, e a advogada Silvia (Carol Castro), obrigada as campanhas de doação de medula óssea no País. a retirar um seio. Pouco se ouviu falar claramente em “Sempre que escrevo a palavra ‘câncer’, eu a cerco “câncer”. Sempre se tratava de “um nódulo”, “aque- de cuidados especiais, pensando nos telespectado- la doença”, “algo pior”. res que têm a doença. Eles tanto podem aumentar

Raquel Ripani raspou a cabeça para representar Tatiana, que tinha câncer de mama em Caras e Bocas

Em 2010, na novela Ti Ti Ti, foi Bruna, personagem que descobre um Em 2001, Bia Seidl interpretou câncer de mama avançado Vera, que descobriu um câncer na oitava temporada de Malhação

8 Rede câncer o volume da TV, para ouvir o que se vai dizer sobre Novela aumenta número a questão, como desligar o aparelho ou sair da sala, por não querer nem ouvir”, diz o autor. Ele conta de doadores de medula óssea que viveu essas duas experiências por meio de O número de pessoas cadastradas no Registro mensagens e declarações que recebeu diretamente Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) cresceu significativamente depois que, em dezembro do público. de 2000, foi ao ar a cena em que a personagem Manoel Carlos cita um exemplo familiar para res- Camila, interpretada por Carolina Dieckmann na saltar o impacto que a palavra “câncer” causa. “Minha novela Laços de Família, de Manoel Carlos, raspou a mãe morreu com mais de 90 anos, de morte natural, cabeça, por conta de uma leucemia. sem nenhuma doença grave, mas jamais falou a pa- lavra. Usava sempre, como algumas pessoas ainda Até 1999 usam, a expressão ‘aquela doença’, fazendo ao mes- 9.529 mo tempo o sinal da cruz”, lembra o autor. Opção pessoal e intuitiva 2000 Walcyr Carrasco, autor de Amor à Vida, confessa 11.981 (2.452 novos) que evitar a palavra “câncer” é proposital. “Eu percebi que as pessoas, mesmo quando têm câncer, hesitam 2001 em usar essa palavra”, afirma. 20.436 Ele justifica sua escolha dizendo que a novela (8.455 novos) não é um documentário e que não existem porquês, 2002 já que o processo de criação é subjetivo. “Eu ab- sorvo as informações e depois isso se transforma 35.809 em ficção. Não é como uma tese de doutorado, em (15.373 novos) que eu queira provar uma coisa ou outra, mas algo inteiramente pessoal, intuitivo”, esclarece. Carrasco tratou do mesmo tema em outras obras, como Caras e Bocas, com o câncer de mama da personagem Tatiana (Raquel Rapini), e em , na

Em Amor à Vida, Silvia (Carol Castro) retira um seio após o diagnóstico de câncer de mama

Fonte: Redome

Hilda, personagem de Maria Padilha, também enfrentou o câncer de mama em

Walcyr Carrasco admite que tem receio de colocar a palavra “câncer” nos textos

Rede câncer 9 qual a surfista Môa (Alinne Moraes) sofria com um “Sempre que escrevo tumor maligno no cérebro. Lauro César Muniz é autor da novela Máscaras, a palavra ‘câncer’, eu da Rede Record. Nela, a atriz Bruna Di Túlio raspou a cabeça para dar vida à personagem Sônia, com cân- a cerco de cuidados cer em fase terminal. “A palavra realmente tem uma conotação agressiva, como os palavrões. Não sou especiais, pensando nos contra os palavrões, assim como não evito a palavra ‘câncer’. Semanticamente tem muita força nos diálo- telespectadores que têm a gos. Quando faço uma cena crua, dura, sem nenhum doença. Eles tanto podem respiro poético, uso a palavra ‘câncer’. Se, no entan- to, a cena é suave, lírica, intimista, não a uso, porque aumentar o volume da quebra o lirismo”, explica o autor. Muniz, porém observa que ultimamente tem TV, para ouvir o que se ouvido pacientes com câncer se abrirem mais a res- peito da doença. “Ouve-se realmente pessoas dizen- vai dizer, como desligar o do, sem o menor preconceito: ‘Estou com câncer no intestino’. Os eufemismos, em geral, criam certo ar- aparelho ou sair da sala, tificialismo. Acho que a morte está deixando de ser por não querer nem ouvir” um tabu. Hoje, fala-se no tema com mais naturalida- de”, finaliza. Manoel Carlos, autor de novelas

Tabu vem do tempo em que doença era “sentença de morte” A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia, regional Rio de Janeiro (SBPO-RJ), Luiza Polessa, explica que a dificuldade em falar a palavra “câncer” existe para os portadores da doença, seus fa- miliares e a população em geral. A diferença é que uns enfrentam, enquanto outros recuam. “O que observo em minha prática profissional é que experiências próximas malsucedidas geram tamanho temor em relação à doença que até pronunciar seu nome torna-se extremamente perturbador”, comenta. Já experiências menos traumáticas, ou bem-sucedidas, determinam uma relação mais amena com a patologia. “Essas pessoas falam mais naturalmente a palavra ‘câncer’. Não se valem de imagens, eufemismos, diminuti- vos, como ‘um probleminha’, ‘um negocinho’, ‘um carocinho’, ‘aquela coisa ruim’, ‘aquilo que não se deseja ao pior inimigo’”, revela. Segundo Luiza Polessa, ser mais ou menos escolarizado ou favorecido economicamente não muda o impacto que a palavra provoca nas pessoas. “O medo que o paciente e seus familiares têm da doença vai determinar a relação que se estabelece com a palavra. Pessoas mais velhas, que presenciaram casos para os quais a medici- na não tinha resposta favorável, têm muita dificuldade não só de falar, mas também de ouvir a palavra”, informa. Ela acrescenta que em muitos desses lares a palavra é proibida de entrar, mesmo que a doença já esteja lá. “Os próprios médicos, muitas vezes, não nomeavam a patologia, que durante muito tempo era recebida como uma sentença de morte. Já pessoas mais jovens, que acompanharam um maior número de casos em que a doença foi curada, controlada, ou mesmo a morte não foi tão sofrida, têm menos medo de falar abertamente o nome ‘câncer’.” A psicóloga acredita que o tabu relacionado à palavra está menor por conta da divulgação da própria doença. Atualmente, profissionais da saúde, de outras áreas e a mídia falam em “câncer” abertamente. “Campanhas informativas e preventivas, associações de apoio a pacientes e familiares empregam a palavra em seus dis- cursos, abordam diretamente o assunto. Essa tem sido uma grande contribuição na quebra de estigmas que a palavra carrega. Espero, para um tempo não distante, que todos, independentemente de idade, escolaridade e cultura, possam falar sobre câncer com menos temor e mais consciência.”

10 Rede câncer capa“Estimativa 2014” aponta cânceres mais incidentes na população e expectativa de novos casos para os próximos dois anos Números que falam

Os números de câncer esperados para 2014 do País continuam sendo próstata, pulmão, colón e e 2015 comprovam a tendência observada no ano reto, estômago e cavidade oral. passado: as iniciativas para prevenção e detecção Essas e outras constatações fazem parte do le- precoce do câncer do colo do útero empreendidas vantamento Estimativa 2014, que o Instituto Nacional no Brasil vêm alcançando os resultados esperados. de Câncer apresentou no Ministério da Saúde em co- Esse tipo de câncer passou a ser o terceiro – e não memoração ao Dia Nacional de Combate ao Câncer, mais o segundo – mais incidente entre as mulheres 27 de novembro. A publicação completa, com núme- brasileiras, à exceção do de pele não melanoma. ros por estados e capitais, será lançada em fevereiro. O câncer colorretal agora aparece na segunda co- As informações também estarão disponíveis no portal locação. “Aqui observamos o padrão dos países do Instituto. desenvolvidos, com a redução no número de ca- As diferenças regionais persistem. O câncer sos de câncer do colo do útero”, destaca a chefe do colo do útero ainda é o mais incidente no Norte, da Divisão de Vigilância e Análise de Situação do embora a taxa bruta estimada (número de casos INCA, Marise Rebelo. esperados para cada 100 mil brasileiras) desse tipo Entre os homens, o câncer de pulmão tam- de câncer e a do segundo colocado na região, o de bém apresenta tendência de queda, conforme o mama, estejam bem próximas (23,65 contra 21,47). INCA também adiantou no Informativo Vigilância do “Isso reflete a tendência de redução na taxa bruta do Câncer, divulgado em novembro de 2012, mas não câncer do colo do útero na Região Norte, em função foi observada nenhuma mudança no ranking. Os do maior acesso das mulheres às ações de preven- cânceres mais incidentes na população masculina ção e de detecção precoce das lesões precursoras,

Rede câncer 11 Para 2014: 576 mil casos novos no Brasil

Homens Mulheres Total

Norte 10.090 9.930 20.020 Nordeste 47.520 51.540 99.060 Centro-Oeste 21.290 20.150 41.440 Sudeste 156.910 142.820 299.730 Sul 66.540 49.790 116.330

Fonte: MS/INCA/Estimativa de Câncer no Brasil, 2013 MS/INCA/CGPV/Divisão de Vigilância e Análise de Situação

Estimativa do número de casos novos em mulheres – Brasil, 2014 Localização primária Casos novos % Mama feminina 57.120 20,8% Cólon e reto 17.530 6,4% Colo do útero 15.590 5,7% Traqueia, brônquio e pulmão 10.930 4,0% Glândula tireoide 8.050 2,9% Estômago 7.520 2,7% Corpo do útero 5.900 2,2% Ovário 5.680 2,1% Linfoma não Hodgkin 4.850 1,8% Leucemias 4.320 1,6% Sistema nervoso central 4.130 1,5% Cavidade oral 4.010 1,5% Pele melanoma 2.930 1,1% Esôfago 2.770 1,0% Bexiga 2.190 0,8% Linfoma de Hodgkin 880 0,3% Laringe 770 0,3% Todas as neoplasias sem pele* 190.520 Todas as neoplasias 274.230 *Todas as neoplasias exceto pele não melanoma Fonte: MS/INCA/ Estimativa de Câncer no Brasil, 2013 MS/INCA/CGPV/Divisão de Vigilância e Análise de Situação 12 Rede câncer evitando sua transformação num câncer”, explica o coordenador de Prevenção e Vigilância do INCA, Claudio Noronha. Um pouco mais Entre os homens, por região, a segunda coloca- sobre a estimativa ção é a do câncer de estômago no Norte e no Nordeste O número de casos novos para cada tipo de cân- (a doença está diretamente relacionada a condições cer foi calculado com base nas taxas de mortali- socioeconômicas e a técnicas de conservação dos ali- dade dos estados e capitais brasileiras (Sistema mentos, como defumação e salga). No Centro-Oeste de Informação sobre Mortalidade – SIM). As e no Sul, o segundo câncer mais incidente é o de pul- taxas de incidência foram obtidas nas 23 cida- mão, e no Sudeste, o de cólon e reto. Chama a aten- des onde existem Registros de Câncer de Base ção as leucemias aparecerem como o quarto tipo mais Populacional (RCBP). A Organização Mundial da incidente na Região Norte e figurarem como o décimo Saúde (OMS) fez uma projeção de 27 milhões de na classificação geral das taxas brutas. novos casos de câncer para o ano de 2030 em “Cabe aos pesquisadores buscarem descobrir todo o mundo e 17 milhões de mortes pela doen- porque as leucemias ocupam essa importante posição ça. Os países em desenvolvimento serão os mais entre os cânceres masculinos na Região Norte. Fica a afetados, entre eles o Brasil. sugestão”, incentiva a técnica da Divisão de Vigilância Válidas também para o ano de 2015, as estima- e Análise de Situação do INCA Marceli Santos. tivas não podem ser comparadas com anos an- No geral, são esperados 576.580 novos casos teriores, uma vez que não têm como referência de câncer para 2014 e também para 2015 (as estima- a mesma metodologia nem as mesmas bases tivas são produzidas a cada dois anos). Excetuando- de dados, tendo em vista que houve melhorias se o câncer de pele não melanoma, são esperados tanto na quantidade quanto na qualidade das 394.450 novos casos de câncer, sendo 190.520 (48%) séries históricas de incidência e mortalidade. entre as mulheres e 203.930 (52%) entre os homens.

Estimativa do número de casos novos em homens – Brasil, 2014 Localização primária Casos novos % Próstata 68.800 22,8% Traqueia, brônquio e pulmão 16.400 5,4% Cólon e reto 15.070 5,0% Estômago 12.870 4,3% Cavidade oral 11.280 3,7% Esôfago 8.010 2,6% Laringe 6.870 2,3% Bexiga 6.750 2,2% Leucemias 5.050 1,7% Sistema nervoso central 4.960 1,6% Linfoma não Hodgkin 4.940 1,6% Pele melanoma 2.960 1,0% Linfoma de Hodgkin 1.300 0,4% Glândula tireoide 1.150 0,4% Todas as neoplasias sem pele* 203.930 Todas as neoplasias 302.350 *Todas as neoplasias exceto pele não melanoma Fonte: MS/INCA/Estimativa de Câncer no Brasil, 2013 MS/INCA/CGPV/Divisão de Vigilância e Análise de Situação

Rede câncer 13 especial

5º Congresso Internacional de Controle de Câncer Mais de 650 profissionais de 41 países participaram do 5º Congresso Internacional de Controle deCâncer (ICCC5), em novembro, em Lima, no Peru. O evento, organizado pelo Ministério da Saúde e pelo Instituto de Enfermidades Neoplásicas (Inen) peruanos, teve a colaboração da Associação Internacional de Controle de Câncer, com sede no Canadá. Dos 61 trabalhos aprovados para apresentação oral, 11 foram do Brasil. Ao todo, 65 trabalhos de autores brasi- leiros foram aprovados para o Congresso. Os participantes do evento compartilharam conhecimentos, experiências, estratégias e melhores práticas a fim de acelerar a implementação de programas nacionais de controle eficazes para reduzir incidência, morbidade e mortalidade por câncer, bem como contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população.

Participação do INCA Dos 11 trabalhos brasileiros aprovados para apresenta- ção oral, oito eram de profissionais do INCA, que também emplacaram 53 pôsteres. Quinze representantes da insti- tuição participaram do evento.

14 Rede câncer Plano Esperança Carissa Etienne, diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), parabe- nizou o governo peruano pelas ações desenvolvidas pelo Plano Esperança, progra- ma nacional de controle de câncer daquele país, que completou um ano. Etienne disse que o Plano Esperança é um exemplo a ser seguido. A ênfase no primeiro ano do Plano foi na capacitação de profissionais da atenção primária. A diretora da Opas ainda lembrou o compromisso assumido por governan- tes de reduzir em 25% as mortes causadas por doenças crônicas não transmissí- veis, entre elas o câncer, até 2025.

CÁNCER EN LAS AMÉRICAS Mortalidade em queda PERFILES DE PAÍS 2013 Em nove países da América Latina as mortes por todos os tipos de câncer diminuíram na última década. As informações constam da publicação Câncer nas Américas: Perfis de Países em 2013. O relatório da Opas mostra que 50% das mortes pela doença nas Américas ocorrem na América Latina e no Caribe. As maiores taxas estão em Trinidad e Tobago, Cuba e Argentina, de acordo com dados fornecidos à Opas pelos países-membros. México, Nicarágua e El Salvador têm as mais baixas taxas de mortalidade por câncer. As mortes por câncer em geral estão em declínio em nove países das Américas: Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Estados Unidos, México, Nicarágua, Paraguai e Venezuela. Na maioria dos 22 países americanos, o câncer de mama é a principal causa de morte em mulhe- res, enquanto em três países (Honduras, Nicarágua e Bolívia) o câncer do colo do útero continua a ser a primeira. Na maioria dos países (18) da região, o câncer de próstata é a principal causa de morte pela doença em homens. A publicação está disponível em: http://bit.ly/canceramericas.

Avanços da RINC Membros do colegiado de gestão da Rede de Institutos Nacionais de Câncer (Rinc) se reuniram logo após o encerramento do ICCC5. A proposta de formação de um grupo operativo para gestão do conheci- mento foi defendida por Teresa Romero Perez, chefe da Seção para o Controle do Câncer do Ministério da Saúde de Cuba. A Biblioteca Virtual em Saúde Prevenção e Controle de Câncer, iniciativa do Brasil, foi apresentada como ferramenta para in- tercâmbio de conhecimento. O grupo operativo de câncer do colo do útero apresentou resumo das últimas ati- vidades realizadas e incorporou novos integrantes: Suriname, El Salvador e Panamá. Luiz Antonio Santini, diretor-geral do INCA, foi reafirmado como coordenador da Rinc.O Suriname ficará na vice-coordenação. O colegiado ainda aprovou carta de compromisso entre a Rede e o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (Isags), que será levada ao Conselho de Saúde Sul-Americano. O documento prevê o desenvolvi- mento de cooperação técnica e de administração de fundos para o aprimoramento do controle do câncer na América do Sul.

Rede câncer 15 políticaBrasil reforça posição de protagonista nas discussões sobre diversificação da cultura do tabaco Experiência tipo exportação

Mais um passo importante foi dado, em ou- país que tem uma iniciativa de abrangência nacio- tubro, para traçar políticas e recomendações para a nal para o cumprimento do artigo 17 na perspectiva implementação dos artigos 17 e 18 da Convenção- de desenvolvimento rural sustentável. O Programa Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), da Nacional de Diversificação das Áreas Cultivadas com Organização Mundial da Saúde (OMS). Esses artigos Tabaco (PNDACT), coordenado pelo Ministério do tratam, respectivamente, de questões relativas ao Desenvolvimento Agrário (MDA), foi destaque na IV apoio a atividades alternativas economicamente viá- Reunião do Grupo de Trabalho, realizada em Pelotas, veis à cultura de tabaco e da proteção ao meio am- no Rio Grande do Sul. biente e à saúde das pessoas envolvidas com essa O evento contou com a presença de repre- cultura. Os temas foram debatidos em reunião do gru- sentantes da África do Sul, China, Colômbia, Itália, po de trabalho internacional que, desde 2007, levanta Nicarágua, Tanzânia e Zâmbia, além de Brasil, orientações sobre como essas determinações devem Grécia e Turquia, países facilitadores desse GT. ser executadas. Também compareceram representantes de órgãos Um dos facilitadores desse grupo, o Brasil, por do governo brasileiro, da Framework Convention meio da Comissão Nacional para a Implementação Alliance (FCA), da Organização Pan-Americana da da Convenção-Quadro (Conicq), assumiu posição Saúde (Opas/OMS) e o chefe do Secretariado da de protagonismo na discussão, já que é o único CQCT, Vijay Trivedi. Os participantes não só conhe- ceram os conceitos que norteiam o PNDACT, como visitaram áreas onde ele vem sendo implementado. No fim do even- to, firmou-se um documento estabelecendo que os princípios adotados pelo Brasil no Programa de Diversificação devem servir de base para a minuta que irá listar as opções de políticas e recomendações para a implementação do artigo 17. Essa minuta será elabo- rada na próxima reunião do GT, em fevereiro de 2014, em Genebra, Suíça, e levada para a 6ª Conferência das Partes da CQCT (COP6), marcada para outubro do mesmo ano, na Rússia. renda, a não depender “Foi muito positivo. Pudemos mostrar concre- de uma só cultura. Com o tamente a política do Brasil de desenvolvimento ru- programa, conseguimos dar ral sustentável, que inclui o Programa Nacional de aos agricultores assistência Diversificação das Áreas Cultivadas com Tabaco, dei- técnica, capacitação, condições xando claro que a pergunta não é que produto subs- de diversificar”, explica Christianne titui a cultura do tabaco, mas como criar mecanismos Belinzoni, consultora da Secretaria de que possibilitem a diversificação com alternativas Agricultura Familiar do Departamento de economicamente viáveis e sustentáveis. O Brasil está Assistência Técnica e Extensão Rural do MDA. liderando esse processo. Apresentamos no encontro Pequenos agricultores de Canguçu (RS), Marléa o modelo que estamos adotando. Os participantes e Paulo Otto Bersch decidiram diversificar seu plan- puderam ir a campo e conhecer na prática como o tio há três anos. Para isso contaram com o apoio do programa é desenvolvido, ouvir os agricultores e as programa. “Cerca de 90% da nossa lavoura era de pessoas que gerenciam as cooperativas que comer- fumo. No restante plantávamos milho e feijão, para cializam os novos produtos”, contou a secretária-exe- consumo próprio. O que mais incomodava era o ve- cutiva da Conicq, Tânia Cavalcante. neno que tínhamos que usar; a química é muito forte. Hoje não plantamos mais fumo. Partimos para o cul- Programa de Diversificação tivo orgânico de hortaliças, além do milho e do feijão. já apoiou 45 mil famílias Estamos otimistas e queremos diversificar cada vez mais. O ganho que tivemos com a saúde, o nosso A visita foi feita em áreas atendidas por um dos bem-estar, é a melhor parte”, diz Marléa. parceiros do Programa de Diversificação, o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (Capa), organização Estudo comprova danos à com 35 anos de tradição na qualificação do agricultor familiar, no cooperativismo e no acesso a crédito e saúde de fumicultores ao mercado. Os participantes conheceram duas pro- Os integrantes do GT também puderam conhe- priedades em São Lourenço do Sul (RS) que diversi- cer estudos relacionados ao artigo 18 da CQCT. A ficaram sua produção; uma com leite e a outra com Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da uva. A que optou pelo leite já abandonou a lavoura do Saúde (SVS/MS apresentou os resultados do primei- tabaco, enquanto a outra ainda mantém uma peque- ro estudo epidemiológico sobre a doença da folha do na produção, mas 80% da propriedade é destinada à tabaco no Brasil, comprovando por meio de exames uva, usada para produzir suco e vinho. laboratoriais que agricultores da lavoura do fumo nas “Desde que o Programa de Diversificação foi regiões de Arapiraca (AL) e Candelária (RS) sofreram criado, em 2005, demos apoio a 45 mil famílias, cer- intoxicação pela nicotina, inclusive crianças. Estudo ca de 80 mil agricultores. É um saldo positivo, mas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) com gostaríamos que esse processo fosse mais acelera- mais de duas mil famílias discorreu sobre os agravos do. Enfrentamos o problema de a indústria fumagei- provocados pela doença da folha do tabaco. A mu- ra passar para o agricultor a ideia de que o governo lher na fumicultura foi a questão abordada na pesqui- é contra a produção do tabaco. Não se trata disso. sa do Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde da O que queremos é ajudar as famílias a terem mais Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Rede câncer 17 Na área jurídica, coube à Procuradoria Federal “Desde que o Programa Especializada do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – unidade Rio de Diversificação foi criado, Grande do Sul (Ibama/RS) expor um exemplo de como lidar legalmente com uma situação de impacto em 2005, demos apoio ambiental. “É um caso de desmatamento para produção a 45 mil famílias, cerca de do fumo ocorrido em área de preservação florestal. A 80 mil agricultores. medida tomada foi cobrar do Sindicato da Indústria do Tabaco um termo de compromisso para financiar É um saldo positivo, projeto de monitoramento e de reflorestamento. O in- teressante é que nenhum país tem isso. O chefe do mas gostaríamos Secretariado da Convenção-Quadro destacou que essa que esse processo fosse é uma experiência que tem ligação com outro artigo da CQCT, o da responsabilização civil. Porque não apenas mais acelerado” o pequeno agricultor foi penalizado com o confisco do Christianne Belinzoni, consultora da fumo produzido na área de preservação. A penalização Secretaria de Agricultura Familiar do Departamento estendeu-se ao elo mais forte da cadeia produtiva, a in- de Assistência Técnica e Extensão Rural do MDA dústria do tabaco, através de seu sindicato, que teve de assumir a responsabilidade e está pagando o reflores- tamento e o monitoramento, feito pela Universidade de Santa Maria”, explica a secretária-executiva da Conicq. Relatório da OMS de 2013 sobre a evolução global do tabagismo e medidas para o seu controle Demanda por tabaco no ressalta importantes progressos na implementação da CQCT entre 2007 e 2012. Dos 126 estados-partes mundo está em retração da Convenção que apresentaram relatório sobre a Na véspera do encontro, foi realizada reunião evolução da implementação do tratado durante a 5ª aberta, em Porto Alegre, para explicar aos represen- Conferência das Partes da CQCT (COP5), realizada tantes da sociedade civil o que seria discutido no em 2012 na Coreia do Sul, 75% relataram ter adotado evento internacional, que tem participação restrita por medidas tributárias para reduzir o consumo do taba- questões de procedimento da Convenção-Quadro. co, 95% adotaram a proibição de fumar em recintos Compareceram à reunião, organizada pelo Ministério coletivos e cerca de 50% criaram medidas regula- do Desenvolvimento Agrário, com apoio dos ministé- mentando os produtos de tabaco quanto a conteúdo rios da Agricultura e Abastecimento e do Trabalho e e emissões. Além disso, 75% baniram descritores en- Emprego, integrantes de sindicatos dos produtores ganosos nas embalagens (light, suave), mais de 75% de tabaco, da Associação Médica do Rio Grande adotaram advertências sanitárias grandes, visíveis e do Sul, prefeitos e parlamentares da Comissão de legíveis, mais de 75% baniram a propaganda de pro- Agricultura da Assembleia Legislativa do estado. dutos de tabaco e mais de 50% incluíram diagnóstico Tânia Cavalcante chamou a atenção para o fato e tratamento da dependência de tabaco em seus pro- de que há dados que indicam diminuição da deman- gramas nacionais de saúde. da por tabaco no mundo, mas que, apesar disso, a “Vale lembrar que China e Rússia, respectiva- produção vem sendo estimulada no Brasil pelas em- mente primeiro e segundo maiores consumidores de presas fumageiras. tabaco do mundo, vêm implementando as medidas da “Estamos na contramão de uma situação global. Convenção que incluem leis restritivas ao consumo de A demanda está caindo, tanto internamente como no produtos de tabaco. E um elemento novo nesse pro- exterior. No Brasil, 85% da produção de fumo é ex- cesso é a questão dos cigarros eletrônicos. Eles estão portada, dependendo, portanto, de uma conjuntura vindo para substituir o cigarro tradicional. Nos Estados global de mercado, que está em retração. O cenário Unidos, por exemplo, a iniciação entre os adolescentes atual indica que diversificar as atividades produtivas é dobrou entre 2011 e 2012. Esse produto praticamente uma questão urgente e demanda um esforço concen- não usa tabaco. Minha pergunta durante a apresenta- trado de gestores de estados e municípios produto- ção foi: “Qual será o impacto disso para quem depende res”, alerta a secretária-executiva da Conicq. da produção de fumo?”, conclui Tânia.

18 Rede câncer 23 Setembro 2013

REDE PUBLICAÇÃO TRIME STRAL DO INSTITU TO NACIONAL DE CÂN CER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA PRAZO PARA A SAÚDE O DESAFIO DE A TENDER O PACIENTE ONCOLÓGICO NO TEMPO OPO cartasFaça você também parte desta Rede. Colabore enviando RTUNO dúvidas, sugestões, críticas e elogios para a Rede Câncer. [email protected] ou (21) 3207-5963.

Solicitações Olá, sou acadêmica de enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria e pretendo fazer residência em hemato-oncologia. Além disso, faço estágios nessa área e meu trabalho de conclusão de curso está voltado para oncologia infantil. Gostaria de rece- ber a revista REDE CÂNCER para aprofundar meus estudos de oncologia. Marilia Von Ende Schwertner – Santa Maria, RS Natal/RN. O conteúdo da revista é muito interessan- te, não só para quem trabalha na área de oncologia, Sou enfermeira oncológica da Acccom, ONG bem como para todas as pessoas que buscam mantenedora em várias assistências aos pacien- informações sobre a doença. tes do Hospital do Câncer, em Divinópolis (MG), Parabenizo o INCA pela qualidade das matérias da e gostaria, se possível, de receber a revista REDE REDE CÂNCER, como também pelas informações CÂNCER. Estou organizando uma pequena biblio- prestadas no site, em fôlderes etc. Sabemos que a teca em nosso HC para atender os alunos que nos informação é palavra-chave para acabar com o pre- procuram, os que fazem estágio e para as pessoas conceito contra o câncer, e o INCA está possibilitan- internadas também. do/facilitando à sociedade o acesso e conhecimento Sara Lemos – Divinópolis, MG sobre a doença, favorecendo, assim, a busca das pessoas pelo diagnóstico precoce. Sou farmacêutica atuante na área de oncologia e, Michely Costa – Natal, RN vendo uma edição da revista REDE CÂNCER, inte- ressei-me em recebê-la, para agregar mais conheci- Quando internado no HC I (19/07/2013), deparei- mentos e me atualizar na área. O que é necessário -me com um exemplar da consoladora revista REDE para adquiri-la? CÂNCER, de julho de 2013. Enquanto internado, Keilla Oliveira ela foi importante companheira! Ontem, ao voltar, encontrei, com muita alegria, a de setembro de Sou enfermeira da Pesquisa Clínica, trabalho com 2013. Procurei a de agosto, mas não tinha nem na oncologia há pouco mais de dois anos e meio e gos- Diretoria. Poderiam, por favor, me enviar? taria de receber de forma impressa a revista REDE Mauro Rafael Torres CÂNCER e a Revista Brasileira de Cancerologia. Narelle Prezado Mauro, Ficamos felizes em saber que, de alguma forma, Prezadas Marilia, Sara, Keilla e Narelle a revista tornou sua internação menos solitária. Mandem e-mail para comunicaçã[email protected] Aproveitamos para lembrar que a REDE CÂNCER solicitando a revista e informando seus nomes e é trimestral, por isso você não encontrou o exem- endereços completos. plar de agosto.

Parabéns Agradecimento Gostaria muito de receber as edições da revista Recebemos e agradecemos o envio da revista REDE REDE CÂNCER. Sou assistente social, especialista CÂNCER, nº 22, de julho de 2013. em saúde pública e trabalho em uma ONG que pres- Rozangela Zelenski – Universidade Federal de ta assistência a pessoas acometidas de câncer em Mato Grosso – Biblioteca Central

Rede câncer 19 entrevistaAndreas Ullrich, Oficial médico em Controle de Câncer da Organização Mundial da Saúde

Somando esforços para o controle do câncer

Por ser o câncer um conjunto de doenças com comportamentos, fatores de risco e possibilidades terapêuticas bastante distintas, o campo chamado “controle” envolve muitas frentes. Por isso, promover a articulação com áreas que possam atuar sobre esse campo é a principal atividade de quem trabalha pelo controle do câncer. Na sede da Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra, na Suíça, esse é o dia a dia do médico Andreas Ullrich. Funcionário do Departamento de Doenças Crônicas e Promoção da Saúde, Andreas é responsá- vel por organizar uma rede de prevenção e controle de câncer que envolve os principais programas técnicos na sede e nos escritórios regionais da Organização. O objetivo é responder às necessidades desse campo, especialmente em países de baixa e média rendas. Desde que começou sua carreira na OMS, em 2001, o médico se dedica a criar diretrizes para o planeja- mento de ações de controle do câncer e construção de capacidades globalmente. Atua também como ofi- cial de ligação com a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês). Graduado em medicina pela Universidade de Munique, na Alemanha, Andreas se especiali- zou em Saúde Pública pela Bielefeld School of Public Health, no mesmo país, onde foi professor “O câncer e as demais assistente em epidemiologia do câncer. Por meio de articulação com a Iarc, Andreas doenças crônicas são hoje traduz a agenda de pesquisa e de seus resultados em políticas e diretrizes da OMS. Uma de suas priori- responsáveis por 63% de dades é fortalecer a capacidade da Agência na área de registros de câncer, a fim de atender às necessi- todas as mortes ao redor do dades de monitoramento de indicadores de doenças mundo, o que representou crônicas não transmissíveis da OMS, como decidido na última Assembleia Mundial de Saúde, em maio. O mais de 36 milhões de médico também se dedica a firmar parcerias entre a OMS e entidades políticas, como a União Europeia, e óbitos em 2008” desenvolver redes regionais para troca de experiên- cias. Um dos resultados concretos é a iniciativa trans- versal em cânceres femininos, parceria com a União RC – O trabalho do Departamento está alinhado Internacional para o Controle do Câncer e a Agência ao Plano de Ação da OMS para enfrentamento das Internacional de Energia Atômica. Essa iniciativa tem doenças crônicas? definido normas e padrões aos seus estados-mem- Todo o trabalho do Departamento integra um bros e, somado ao alcance da OMS, também está de- plano de ações mais amplo, que foi aprovado pelos terminando a agenda global para enfrentamento do estados-membros da OMS na Assembleia Mundial de câncer do colo do útero. Saúde de 2008. Esse plano abrange um conjunto de seis objetivos, que visam a travar a epidemia de doen- REDE CÂNCER – Como funciona o Departamento de ças crônicas não transmissíveis. O desenvolvimento de Doenças Crônicas e Promoção da Saúde da OMS? planos nacionais, que se refere ao segundo objetivo, é São três áreas com a missão de contribuir para o elemento central da estrutura que a OMS está pro- o controle de doenças crônicas não transmissíveis, pondo aos estados-membros. A declaração política da como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer: Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral da ONU so- administração de doenças crônicas não transmissí- bre doenças crônicas não transmissíveis, realizada em veis, promoção da saúde e vigilância de fatores de 2011, sublinhou a urgência de ação na agenda global risco, na qual se incluem tabagismo, alimentação, de saúde e cria um forte impulso para traduzir o plano sedentarismo e consumo de álcool. O objetivo é de ação em processos de planejamento concretos. empoderar os estados-membros da OMS com fer- ramentas e informações sobre a melhor maneira de RC – E como se dá a colaboração do Departamento? se desenvolver planos e estratégias nacionais para o O Departamento contribui para o exercício de controle dessas doenças. Cada área contribui para planejamento nos países por meio do fornecimento esse objetivo geral. de assistência na coleta de informações, para que a definição de prioridades seja baseada em sólida evi- RC – Quais são as responsabilidades de cada área? dência. Em setembro de 2011, o Departamento lan- O grupo que trabalha com vigilância coleta e çou um quadro com perfis dos países para todos os analisa informações nacionais sobre a exposição aos estados-membros, no qual os definidores de políticas principais fatores de risco, incluindo também os psi- podem encontrar um conjunto abrangente de dados cológicos e metabólicos, como hipertensão arterial e sobre a carga dessas doenças, fatores de risco e ele- colesterol alto, quando há informações disponíveis. A mentos dos sistemas de saúde já existentes. Países área de promoção dá diretrizes de como possibilitar dispostos a enfrentar doenças não transmissíveis escolhas mais saudáveis: por exemplo, aumentar a como parte de sua agenda de saúde agora têm uma prática de atividades físicas. O terceiro grupo formula compreensão do seu risco inicial e da carga a partir orientações para o manejo clínico e a prevenção se- dos quais estão começando suas atividades. cundária das principais doenças crônicas, o que in- clui alguns tipos de câncer, como o do colo do útero. RC – Qual é a carga atual de doenças crônicas As diretrizes da OMS são especialmente dirigidas às não transmissíveis? necessidades de países de baixa e média rendas, nos Nós sabemos que essa carga permanece em quais os sistemas de saúde são, na sua maioria, mais crescimento. O câncer e as demais doenças crônicas fracos, e o acesso ao cuidado é limitado. são hoje responsáveis por 63% de todas as mortes ao

Rede câncer 21 “Tenho desenvolvido uma colaboração bem próxima com a Iarc, no intuito de que os resultados das pesquisas em câncer rapidamente sejam traduzidos em práticas de saúde pública e comunicados ao público em tempo hábil” redor do mundo, o que representou mais de 36 milhões essa epidemia. O conceito de “melhores compras”, de óbitos em 2008. A carga é maior em países de baixa definido como as intervenções com o mais amplo e média rendas: nove de 10 mortes por DCNTs antes impacto na saúde por unidade monetária investida, dos 60 anos ocorrem em países em desenvolvimento foi altamente promovido e condensado em uma das e nas economias em transição. Esse fato está relacio- principais publicações disponíveis para os delegados nado à composição demográfica dessas sociedades, do evento. Como exemplo de duas recomendações que possuem maior proporção de jovens se compara- importantes no que diz respeito ao câncer, estão de- das a países mais ricos. Também temos observado ex- finidas como melhores compras o rastreamento do posição precoce a fatores de risco, como o tabagismo câncer do colo do útero e a vacinação contra a hepa- em crianças, o que colabora para taxas mais altas de tite B para prevenir o câncer de fígado. mortalidade em pessoas com menos de 60 anos. RC – Como é seu trabalho no Departamento de RC – E quais são as projeções para o futuro? Doenças Crônicas e Promoção da Saúde? Os estilos de vida não saudáveis que aquecem a Defendo, dentro da OMS, que o controle do cân- epidemia de doenças crônicas não transmissíveis es- cer, objetivo principal do meu trabalho, é um assunto tão se expandindo rapidamente, impulsionados pelo pertinente a toda a organização, já que a doença está envelhecimento da população, a urbanização não relacionada a uma grande variedade de causas, re- planejada, a globalização do comércio e de estraté- sulta em diferenciadas condições de saúde e exige gias de marketing. Como consequência, o número de uma grande variedade de intervenções. A abordagem mortes por essas doenças, incluindo o câncer, deve para a definição da agenda de controle de câncer aumentar nos próximos 20 anos, e o maior aumento deve ser a de vinculá-la a agendas de saúde já exis- será em países em desenvolvimento. É sabido que tentes. Embora o câncer seja classificado como não as projeções de aumento de incidência de câncer em transmissível, alguns tipos, como o do colo do útero 2030, comparada a 2008, serão maiores em países de ou do fígado, têm causas infecciosas. A prevenção baixa renda, com uma estimativa de aumento de 82%. do câncer de fígado por imunização infantil em massa Em países de alta renda é projetado aumento de 70%. contra o vírus da hepatite B faz parte do Programa Ampliado de Imunização, uma das maiores histórias RC – Os recursos para o enfrentamento dessa de sucesso da OMS. Ligar o controle do câncer a esta epidemia nos países mais pobres são escassos. agenda poderosa é uma ação muito promissora. Como a OMS tem lidado com essa questão? Na preparação dos documentos de base para a RC – Que outras áreas podem trabalhar em reunião de alto nível da ONU sobre DCNTs, o principal conjunto para o controle de câncer? foco para a OMS foi a relação custo-efetividade das Há cada vez mais interesse em lidar com cân- intervenções a serem propostas como soluções para ceres relacionados com o HIV, por causa da estreita

22 Rede câncer ligação entre ambos, e a vontade de sinergia de siste- recursos forneceram à OMS a evidência necessária mas de prestação de cuidados existentes para o HIV para a definição de diretrizes e possibilitaram que, de com o tratamento do câncer. Durante a Reunião de maneira crescente, os estados-membros passassem Alto Nível da Assembleia Geral da ONU, organizei, a incorporar o rastreamento em seus planejamentos com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre nacionais de saúde. HIV/Aids (Unaids), um evento paralelo sobre doenças RC – Como a OMS encara o controle do crônicas e HIV, que foi muito bem recebido e consi- câncer do colo do útero, especialmente após o derado um marco na colaboração intersetorial e na surgimento da vacina contra o HPV? definição de agendas. O desenvolvimento de vacinas contra o HPV RC – Como se estrutura dentro da OMS a rede de criou uma nova dimensão de prevenção do câncer controle de câncer? cervical. A OMS tem liderado a introdução dessas Com o objetivo geral de realizar uma sinergia de novas tecnologias para prevenir o câncer do colo do forças na OMS para o enfrentamento da doença, a útero, fornecendo orientação técnica especializada e rede engloba programas de risco ambientais e ocu- recomendações. Desenvolvi, dentro da Organização, pacionais para câncer e também para HIV. Meu traba- um forte grupo transversal reunindo especialistas em lho é integrar programas genéricos de fortalecimen- saúde reprodutiva, vacinas e saúde do adolescente, to de sistemas de saúde, como de drogas básicas a fim de chegar a uma posição coerente em relação e tecnologia, para assegurar que as necessidades à prevenção deste tipo de câncer. Só recentemente a para o tratamento do câncer, como radioterapia, por Aliança Global para Vacinas e Imunização incorporou exemplo, estejam incorporadas ao planejamento de a vacina contra o HPV em seu portfólio. A partir de sistemas nacionais de saúde, onde quer que estes agora, países com poucos recursos podem buscar estejam baseados. apoio no desenvolvimento de programas nacionais de imunização contra o HPV. RC – E como se dá a interação com a Iarc? Podemos dizer que o controle do câncer tem o RC – Quais são as principais recomendações da privilégio de contar com uma agência de pesquisa OMS em relação ao controle de câncer? da OMS, a Iarc. Apesar disso, a definição de agenda A principal recomendação está centrada na está menos relacionada à descrição de problemas e criação de planos nacionais de controle de câncer. muito mais à proposição de soluções. Eu tenho de- Esses planos devem ser suficientemente abrangen- senvolvido uma colaboração bem próxima com a tes para agrupar ações de prevenção, rastreamento, Iarc, no intuito de que os resultados das pesquisas detecção precoce, diagnóstico, tratamento e cui- em câncer rapidamente sejam traduzidos em prá- dados paliativos. Embora nós saibamos que esses ticas de saúde pública e comunicados ao público planos são extremamente dependentes dos recur- em tempo hábil. Por exemplo, as pesquisas da Iarc sos disponíveis, das prioridades nacionais de saúde sobre tecnologias de baixo custo para rastreamento e da situação em relação aos fatores de risco para do câncer do colo do útero em contextos de poucos câncer, a OMS acredita que, mesmo em contextos de recursos bastante escassos, a prevenção e os cuidados paliativos devam fazer parte dos planos “A OMS acredita que, nacionais de controle da doença. RC – Como você avalia a situação da América mesmo em contextos Latina em relação ao controle de câncer? de recursos bastante O trabalho na América Latina é desenvolvido em parceria com a Organização Pan-Americana da escassos, a prevenção Saúde (Opas), nosso escritório na região, e vem ob- tendo sucesso. Vários países, como Brasil, Chile e, e os cuidados paliativos mais recentemente, o Peru, têm desenvolvido planos nacionais de controle de câncer. Além disso, a Rede devam fazer parte dos de Institutos Nacionais de Câncer (Rinc) desponta planos nacionais de como uma experiência promissora para troca de ex- periências e formação de parcerias, o que é essencial controle da doença” nesse campo.

Rede câncer 23 educaçãoCursos como a Residência Multiprofissional em Oncologia do INCA oferecem especialização na área Os múltiplos papéis do farmacêutico na atenção oncológica

Rede câncer 24 “Temos um papel muito Embora muita gente ainda associe o farmacêutico importante no preparo com aquela pessoa de jaleco atrás dos balcões das drogarias ou nos laboratórios das farmácias de ma- dos antineoplásicos, nipulação, o trabalho desse profissional é muito mais visando a preservar abrangente. Em hospitais, por exemplo, sua atuação é fundamental na equipe que presta assistência ao as características do paciente. Nos hospitais oncológicos, o farmacêutico atua em diversas frentes do processo de utilização de produto e não agregar medicamentos. Mas para atuar na área oncológica, é preciso se especializar. Um caminho para isso é cursar a ele nenhuma carga a Residência Multiprofissional em Oncologia oferecida microbiana” pelo INCA, que tem seleção anual bastante concorrida. A chefe da Farmácia Hospitalar do Hospital Dulce Couto, chefe da Farmácia do Câncer I (HC I) e do Centro de Transplante de Hospitalar do HC I e do Cemo do INCA Medula Óssea (Cemo) do INCA, Dulce Couto, deta- lha a atuação do farmacêutico oncológico na cadeia de assistência ao paciente: “Temos um papel muito pelo INCA, Dulce também integra o Comitê de Ensino importante no preparo dos antineoplásicos, visando a em Farmácia e é docente do Programa de Residência preservar as características do produto e não agregar Multiprofissional do Instituto. a ele nenhuma carga microbiana”. Farmacêutica es- Ela ressalta que o papel do farmacêutico vai pecializada em Toxicologia Social pela Universidade além do preparo do medicamento antineoplásico, fei- Federal Fluminense (UFF) e mestre em Oncologia to exclusivamente por esses profissionais. “A nossa responsabilidade não é só entregar um medicamen- to dentro do melhor padrão de qualidade, mas tam- bém acompanhar o resultado do tratamento. Quanto ao preparo, dentro da equipe multidisciplinar, somos mais um profissional para evitar que o paciente sofra danos por erro de medicação. Assim, a etapa da vali- dação da prescrição é fundamental”, explica. A validação da prescrição é feita analisando-se as características do medicamento, as condições clí- nicas do paciente e o protocolo de tratamento esta- belecido. Entre outras variáveis, são avaliadas as inte- rações medicamentosas, o diluente mais adequado e uma possível necessidade de alteração da dose por ocorrência de reações adversas em ciclos anteriores. Os quimioterápicos, de maneira geral, são prescritos por superfície corporal, ou seja, levando-se em conta o peso e a altura do paciente, cálculo que é conferido pelo farmacêutico. Validada a prescrição, ela segue para a linha de produção, na qual o medicamento é manipulado na dose que o paciente precisa. Fora das enfermarias, os farmacêuticos oncoló- gicos fazem o acompanhamento farmacoterapêutico dos pacientes ambulatoriais – aqueles que retiram o quimioterápico de uso oral na instituição e fazem uso dele em casa. O objetivo é promover a adesão ao tratamento e o uso racional e seguro do medica-

Preparação de antineoplásicos injetáveis mento, obtendo, dessa forma, o melhor resultado exige equipamentos de segurança terapêutico. “Hoje, 25% das moléculas anticâncer

Rede câncer 25 pesquisadas são para uso oral. O leigo, erroneamen- uso de equipamentos de proteção individual (másca- te, entende que os quimioterápicos em comprimidos ra de carvão ativado, óculos de segurança, botas e não fazem mal, porém eles também podem provocar uma roupa impermeável com baixa liberação de par- reações adversas já esperadas ou por interação com tículas, própria para ambiente de Sala Limpa) e da outros medicamentos. Essas reações precisam ser cabine de segurança biológica, com fluxo vertical que controladas”, ressalta Dulce Couto. garante a exaustão de 100% do que é manipulado. Eles também devem monitorar as condições de tem- Procedimentos de peratura e pressão da Sala Limpa. segurança rígidos E os cuidados não param por aí. No INCA, os profissionais são treinados quanto a padrões de se- Embora pesquisas da indústria farmacêutica gurança, e há rodízio nas atividades dos farmacêu- venham possibilitando a produção de medicamentos ticos que manipulam os medicamentos citotóxicos alvo moleculares, que são mais específicos e agridem e mutagênicos. Tanto porque não existe informação menos o organismo (porque atingem prioritariamente disponível na literatura quanto ao tempo máximo se- as células doentes, e não todas as células), a base guro de exposição como pelo risco de prejuízo na da quimioterapia convencional ainda são os antineo- saúde, devido à realização de movimentos repetiti- plásicos citotóxicos injetáveis, que, por suas caracte- vos. Somente no HC I, são realizados, em média, rísticas intrínsecas, podem fazer mal ao manipulador. 250 preparos de quimioterápicos injetáveis e medi- Por conta disso, os farmacêuticos precisam adotar camentos de suporte por dia, e em torno de 8 mil procedimentos para sua própria segurança, como o por mês.

Conselho da classe reconhece especialidade A Farmácia Oncológica é uma especialidade formado. “Os programas de residência são voltados, reconhecida pelo Conselho Federal de Farmácia e principalmente, para profissionais que ainda não está registrada no Ministério do Trabalho, juntamen- entraram no mercado de trabalho, porque eles têm te com outras duas áreas de atuação: a da Atenção maior disponibilidade de tempo, sem nenhum tipo de Farmacêutica em Oncologia e a de Farmacêutico vínculo ou impedimento. Mas um profissional que já Clínico em Oncologia. É o que explica o chefe da esteja no mercado e opte por interromper sua ativida- Divisão de Ensino e coordenador do Programa de de para se inserir no programa pode concorrer a uma Residência Multiprofissional em Oncologia do INCA, vaga”, diz Sobreira. Mário Jorge Sobreira da Silva, farmacêutico, mestre em A Residência Multiprofissional em Oncologia é Saúde Pública e especialista em Farmácia Hospitalar. dividida em dois eixos: um transversal, com grade de Segundo ele, o farmacêutico especialista em disciplinas única para todos os alunos, e um específi- Oncologia (formação oferecida pelo INCA) está apto co. A carga horária total do programa é de 5.760 horas a atuar nas três áreas. A Farmácia Oncológica é volta- (60 semanais e 10 diárias, em média), ministradas em da aos processos de gerenciamento dos medicamen- dois anos de curso, com aulas de segunda a sábado. tos e à preparação e manipulação de medicamentos “Para Farmácia, temos seis vagas ofertadas anualmen- antineoplásicos. A Farmácia Clínica em Oncologia te e um total de 12 residentes por ano, sendo seis do tem enfoque no seguimento farmacoterapêutico de primeiro ano e seis do segundo”, informa Sobreira. São pacientes internados, e a Atenção Farmacêutica em oferecidas, ainda, 16 vagas para Enfermagem, seis Oncologia destina-se ao seguimento farmacoterapêu- para Nutrição, seis para Psicologia, seis para Serviço tico de pacientes em atendimento ambulatorial. Social, seis para Física Médica, cinco para Fisioterapia A Farmácia é uma das oito categorias profissio- e três para Odontologia. A dedicação exclusiva é obri- nais contempladas na Residência Multiprofissional gatória, e o aluno recebe uma bolsa de R$ 2,9 mil por em Oncologia do INCA, junto com Enfermagem, mês, além de alojamento e alimentação. Nutrição, Odontologia, Serviço Social, Psicologia, O acesso à Residência Multiprofissional é por Fisioterapia e Física Médica. Para concorrer a uma meio de processo seletivo anual, no segundo semes- vaga, o candidato precisa ser graduado na área es- tre. Este ano, as inscrições se encerraram no dia 6 de pecífica. Não há limite de idade nem de tempo de outubro, e a prova foi realizada em 3 de novembro. Os

26 Rede câncer Pacientes em atendimento ambulatorial retiram quimioterápicos orais nas farmácias hospitalares aprovados na primeira fase vão para a segunda eta- apresentadas as atividades clínicas que o farmacêuti- pa, que consiste na avaliação de títulos e currículos. co pode desenvolver no âmbito da Oncologia. A procura pela Residência Multiprofissional do Os estudos de utilização de medicamen- INCA é grande. “Este ano tivemos aproximadamen- tos, as pesquisas clínicas e a análise de causalida- te 980 inscritos para pouco mais de 50 vagas”, diz de de reação adversa são abordados no módulo Sobreira. Existem cerca de dez outros programas Farmacoepidemiologia. No módulo Políticas de desse tipo no Brasil (ver box). Eles foram reconheci- Assistência Farmacêutica em Oncologia, o residente dos pelo MEC em 2005, mas começaram a funcionar entra em contato com todo o arsenal regulatório da a partir de 2010. Assistência Farmacêutica Hospitalar em Oncologia. Nos módulos transversais, comuns a todos Processo de avaliação os residentes, são abordados Fundamentos em do aluno é contínuo Oncologia, Abordagem Multiprofissional ao Paciente Oncológico, Bioética, Políticas Públicas de Saúde O eixo específico da Residência Multiprofissional e Oncologia, Metodologia Científica, Gestão em em Oncologia do INCA é organizado em seis módulos Saúde e Educação em Saúde. Há também o módulo teóricos. Inicialmente, o residente aprende conheci- de Seminários de Pesquisa, que fomenta a discus- mentos relativos ao contexto da Farmácia Hospitalar, são sobre o trabalho de conclusão de curso, e as no módulo Assistência Farmacêutica Hospitalar. No Práticas Integradas, em que os residentes acompa- módulo Farmacotécnica Hospitalar em Oncologia, nham os pacientes em equipes multiprofissionais e é ensinado o procedimento de manipulação de me- apresentam e discutem os casos com os precepto- dicamentos e todos os cuidados de biossegurança, res e tutores. bem como os riscos de interações e incompatibilida- O processo de avaliação dos residentes é con- des medicamentosas. tínuo, formativo e somativo. “O aluno vai sendo ava- O módulo Farmacoterapia em Oncologia é des- liado ao longo dos módulos, de modo que tenha um tinado aos conhecimentos relacionados ao tratamen- feedback da sua evolução. Se ele não tiver indepen- to antineoplásico. Nele, o residente aprende sobre dência em alguma atividade, será sinalizado de que os pré-quimioterápicos, quimioterápicos e outros não está conseguindo acompanhar o programa”, diz medicamentos envolvidos nos protocolos de qui- o coordenador. No eixo específico da residência não mioterapia. No quarto módulo, denominado Serviços houve nenhuma desistência por falta de afinidade Clínicos em Farmácia Hospitalar em Oncologia, são com o curso.

Rede câncer 27 “Quero aprender e ao Os profissionais da instituição envolvidos com a manipulação de medicamentos quimioterápicos antine- mesmo tempo ganhar oplásicos – tanto farmacêuticos quanto técnicos em far- mácia que atuam dentro da Sala Limpa, instrumentando experiência prática, o o especialista e manipulando medicamentos não citotó- xicos – passam por avaliação médica a cada seis me- que será de grande ses, promovida pela Divisão de Saúde do Trabalhador. relevância para minha Residentes querem vida profissional” estudar mais Ingrid Valverde, residente do INCA A sede pelo conhecimento é uma característica comum aos estudantes que ingressam na Residência Multiprofissional do INCA. Ingrid Valverde veio de São Paulo para cursar a especialização. “Sempre fui apaixo- “Vim para viver nada por áreas que proporcionam contato com o pacien- uma experiência te. Fiz, então, estágio em Farmácia Clínica e confirmei que era a área que eu queria. Escolhi a residência a fim única, que agregasse de me especializar na área hospitalar, com a qual não tive contato na faculdade e que tem sido muito requerida conhecimento no mercado de trabalho. Quero aprender e ao mesmo à minha formação” tempo ganhar experiência prática, o que será de grande relevância para minha vida profissional”, acredita. Gisele Dallapicola Brisson, Por três meses, Ingrid foi responsável por uma residente do INCA farmácia comunitária. Lá exerceu várias atividades, como reestruturação da farmácia e reorganização das documentações frente à Agência Nacional de

Ingrid gosta do contato com os pacientes. Para Gisele, prática hospitalar no Serviço de Quimioterapia é diferencial da residência do INCA

28 Rede câncer Os farmacêuticos validam as prescrições, a fim de evitar que o paciente sofra danos por erro de medicação

Vigilância Sanitária (Anvisa) e ao Conselho Federal de Farmácia (CFM). Também prestou atendimento ao público, orientando e fazendo contato com médicos Especializações quando necessário, além de controlar a temperatura em vários estados e a limpeza do espaço e a validade de medicamentos. Após completar a residência, Ingrid planeja vol- As vagas para graduados em Farmácia são mui- tar a São Paulo e se especializar em Farmácia Clínica. tos disputadas na Residência Multiprofissional “Pretendo trabalhar na área de Farmácia Oncológica do INCA: a relação é de 24 candidatos por voltada para o contato com o paciente. Em São Paulo, vaga. Aproximadamente 50% dos residentes as oportunidades no setor público nem sempre são tão são de fora do Estado do Rio. “Vemos esse favoráveis quanto a remuneração e condições de tra- interesse pelo curso como algo positivo, con- balho em comparação com o setor privado. Mas pre- siderando que uma das missões do INCA é a tendo prestar concursos na área, caso haja. Enquanto formação de recursos humanos para o País”, isso, quero trabalhar no setor privado”, revela. avalia Mário Jorge Sobreira da Silva, coordena- Para Gisele Dallapicola Brisson, o grande atrativo dor do programa. da especialização do INCA foi a prática da Farmácia Em praticamente todo o Brasil há progra- Hospitalar, principalmente, no serviço de quimiotera- mas desse tipo, como os do Hospital Erasto pia, que destaca como um diferencial da residência. Gaertner (PR), Universidade Federal do Paraná, “Tive bastante curiosidade em estudar os medica- Instituto do Câncer do Ceará, Universidade mentos antineoplásicos e aprender a manipulá-los. Federal de São Paulo, Hospital Sírio Libanês Acima de tudo, vim para o INCA com o objetivo de (SP), Hospital Universitário João de Barros viver uma experiência única, que agregasse conheci- Barreto (PA), Universidade Federal Fluminense mento à minha formação”, diz. (RJ), Universidade Federal de Uberlândia (MG), A estudante nunca exerceu a função de farmacêu- Universidade do Estado da Bahia, Hospital de tica. Fez apenas um estágio e, logo após a graduação, Clínicas de Porto Alegre, Universidade Federal de iniciou a residência. Por enquanto, não pretende procu- Santa Maria e Grupo Hospitalar Conceição (RS). rar emprego na assistência, e sim continuar estudando.

Rede câncer 29 persDepois de acompanharona dependência que gemlevou seu pai à morte, jornalista lança livro sobre males do tabagismo A imagem que o cigarro apagou

Quem está na casa dos 40 anos deve se lem- Quando a mãe descobriu foi uma briga feia, mas de brar dos comerciais de cigarro veiculados na televi- nada adiantou a proibição. Cigarro era sinônimo de são. O clima era de sonho. Quase sempre tudo esta- homem elegante na infância e adolescência dele. va ligado a sofisticação, esportes radicais, músicas Como colunista social no Correio da Manhã, teve uma inesquecíveis, gente jovem e bonita. Essas imagens vida intensa, passando incontáveis noites na redação. nunca convenceram Luciana Carlos Gomes. Ainda “Ele fumava quatro maços por dia. No jornal, seu ape- adolescente, ela comprava cigarros para o pai, a lido era Zeca Fumaça”, revela Luciana. pedido dele, mas aquele cheiro e a fumaça a inco- modavam desde criança. Só que a jovem, com bron- Mutilado aos poucos quite crônica, diagnosticada aos 2 anos de idade, Aos 56 anos, os danos causados pelo cigarro não imaginava que os efeitos do tabagismo fossem começaram a aparecer para José Carlos. “Ele deu atingir a vida de sua família de maneira tão cruel. uma topada na escada. Seu dedo inchou, depois O jornalista José Carlos Gomes tinha o so- inflamou e nada dava jeito. O levamos ao hospital nho de escrever sua biografia. Deixou essa vontade com o dedo praticamente necrosado. O médico re- como herança à filha, Luciana. Em A Imagem que o tirou parte do dedo e colocou um enxerto. Como Cigarro lhe Deu, ela narra como foi presenciar o pai não tinha diabetes e nenhum exame apontava ate- ser mutilado pelos efeitos do tabagismo. Hoje, aos rosclerose, a conclusão do médico foi de que a 39 anos, Luciana relata de forma clara o sofrimento e nicotina já havia criado uma placa que entupia as tudo o que seu pai perdeu por conta da dependência artérias, dificultando a circulação”, conta Luciana, da nicotina. As perdas atingiram a família em várias lembrando a sentença do médico para o pai: “Ou áreas. A moça, que já havia abraçado o Jornalismo, você larga o cigarro ou voltará aqui com problemas ingressou na faculdade de Enfermagem, com o ob- mais graves”. jetivo principal de cuidar do pai. “Tudo foi muito cho- Ele não largou. Cinco anos depois desse inci- cante. A gente demorou um pouco para acreditar no dente, em 1992, José Carlos perdeu a primeira perna. que estava acontecendo. Era uma autodestruição”, “Estava tudo praticamente necrosado do joelho para testemunha. baixo. Não tinha muito o quê fazer. Acho que ele não José Carlos começou a fumar aos 11 anos, jo- acreditou nas palavras do médico. Não me lembro gando com os amigos as tradicionais “peladas” nas do meu pai tentando parar de fumar nessa época”, areias de Copacabana, praia da Zona Sul do Rio. recorda-se Luciana.

30 Rede câncer Não demorou para o jornalista voltar à mesa de cirurgia. No dia 18 de junho de 1993, seu aniversário, ele amputou a segunda perna. Depois disso, Luciana lembra-se de seu pai entregando ao médico o maço de cigarros e um copo de plástico, onde costumava colocar as cinzas. Esse foi o início de uma luta que começava quase perdida. As impli- cações de anos de tabagismo conti- nuaram a causar estragos no corpo de José Carlos. Em 1997, ele so- Ao lado, José freu um Acidente Vascular Cerebral Carlos Gomes com Luciana, (AVC), e as consequências o con- ainda pequena. denaram à total dependência da Acima, a escritora família. “Ele não conseguia fazer autografa o livro, cuja capa (à Fotos: acervo pessoal nada. Precisava de nossa ajuda esq.) reproduz até para ligar a TV”, diz Luciana. a imagem do jornalista utilizada O ano 2000 nunca saiu da na campanha cabeça dela. Seu pai foi convida- antitabagismo do Ministério da do pelo então ministro da Saúde, Saúde José Serra, para ser personagem de uma campa- nha antitabagismo. A propaganda fazia uma retros- pectiva da vida do jornalista. “A gente demorou um Durante o anúncio, eram mostradas fotos de José Carlos em eventos, com pessoas famosas, e, pouco para acreditar no logo depois, ele aparecia em uma cadeira de rodas, com as pernas amputadas e sem o movimento dos que estava acontecendo. braços, por causa de arterite, vasculite e do AVC pro- Era uma autodestruição” vocados pelo uso do tabaco. “Essa é a minha atual imagem, doente e dependente para o resto da vida por causa do vício”, falava o jornalista. No final aparecia a mensagem: “Essa propaganda o cigarro não faz”. O que diz a Resolução Luciana revela detalhes dos últimos dias de vida da Anvisa de seu pai: “Cerca de uma semana antes de morrer, ele A Resolução 14/2012 da Agência Nacional de percebeu que estava chegando o fim e pediu para fu- Vigilância Sanitária (Anvisa), aprovada em março mar um cigarro. Colocamos o cigarro em sua boca, ele do ano passado, proíbe a fabricação de cigarros tragou e depois não falou mais nada, nem pediu outro. com aditivos. Essa é uma das principais estraté- Na verdade, acho que o vício nunca o abandonou.” gias da indústria para incentivar os jovens a expe- José Carlos morreu em decorrência de falên- rimentar o produto. cia múltipla de órgãos, aos 64 anos, em outubro de Primeiro, a Anvisa vetou o uso de aditivos em ge- 2000, apenas dois meses depois que a propaganda ral. Mas em agosto último, atendendo parte de do Ministério da Saúde foi ao ar. um pedido da indústria, a agência liberou tempo- Sua filha, hoje, além de divulgar o livro com pa- rariamente o uso de 121 substâncias, desde que lestras em instituições de saúde, faz parte da ONG não deem sabor específico ao cigarro. Segundo a Aliança de Controle do Tabagismo. Ela participa Anvisa, a lista de aditivos liberados será analisada ativamente da campanha para cassação da liminar novamente em 2014. concedida às principais indústrias tabageiras que au- O Supremo Tribunal Federal analisa Ação Direta toriza a fabricação de cigarros com sabores, como de Inconstitucionalidade da Confederação Na­ menta e cravo, suspendendo a proibição determina- cional da Indústria, que questiona o papel regula- da por resolução da Agência Nacional de Vigilância dor da agência. Sanitária – Anvisa (ver box ao lado).

Rede câncer 31 redehá uma década, “Unidos pela Cura” capacita pediatras para o diagnóstico precoce de neoplasias em crianças e adolescentes Pelo controle do câncer infantojuvenil

Apesar de representar um percentual pequeno acolhimento dos casos suspeitos e tratamento dos em relação aos de casos de câncer no Brasil, de casos confirmados; e informação, que monitora, por 2% a 3% do total, as neoplasias pediátricas são a meio de sistema informatizado, o recebimento e o principal causa de morte de crianças e adolescen- desfecho dos casos. O propósito é ampliar o conhe- tes de 5 a 19 anos. Cerca de 70% dos casos podem cimento dos profissionais de saúde sobre o câncer ser curados, desde que recebam diagnóstico pre- pediátrico e, ao mesmo tempo, estabelecer um fluxo coce e preciso, bem como tratamento adequado. claro de encaminhamento para que a confirmação A imprecisão dos sinais e sintomas do câncer na – ou não – da suspeita seja rápida, e o tratamento, infância e na adolescência, confundidos com ou- iniciado de imediato. tras doenças comuns entre os jovens, leva à de- “Desde a criação do Instituto, a temática do mora no diagnóstico. Além disso, entraves no fluxo câncer infantil surgiu como prioridade. Nós quería- de atendimento dentro do sistema de saúde tam- mos contribuir sem substituir o papel do Estado. O bém podem retardar o início do tratamento. Esses trabalho começou com viagens pelo Brasil para co- fatores têm consequência direta na sobrevida dos nhecer melhor o problema e a encomenda de estu- pacientes, e, portanto, a ênfase nas estratégias de dos sobre o tema”, lembra Roberta Costa Marques, controle deve ser dada ao diagnóstico precoce e à diretora-executiva do Desiderata. Os estudos fo- orientação terapêutica de qualidade. ram desenvolvidos pela Escola Nacional de Saúde Foi pensando nesses problemas que o Instituto Pública Sérgio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz Desiderata formou há 10 anos, no Rio de Janeiro, (Ensp/Fiocruz). Os trabalhos incluíram, por exem- um grupo de trabalho composto por representan- plo, o diagnóstico das condições de gestão dos tes das três esferas de gestão do Sistema Único de hospitais e serviços de oncologia pediátrica no eixo Saúde (SUS), de centros de tratamento do câncer Rio-São Paulo e o mapeamento do fluxo de diag- infantojuvenil na cidade, de organizações médicas e nóstico e atendimento do câncer pediátrico no mu- da sociedade civil, para construir coletivamente uma nicípio do Rio de Janeiro, com o intuito de identificar ação em torno do tema. Surgiu, então, a iniciativa possíveis barreiras de acesso. “A partir desses es- Unidos pela Cura, estruturada em três eixos de tra- tudos vimos que não era necessário criar nenhuma balho: educação, que inclui a capacitação de profis- estrutura nova, mas sim colocar todos os envolvidos sionais de saúde para detecção precoce do câncer juntos para conversar e aprimorar o trabalho”, afir- infantojuvenil; fluxo de atendimento, que organiza o ma Roberta.

32 Rede câncer Em parceria com o designer Gringo Cardia, o Instituto Desiderata humanizou a sala de exames infantis do Hospital Municipal Jesus, transformando o tomógrafo em um submarino amarelo

A partir daí surgiu a estrutura de trabalho da iniciativa Unidos pela Cura, construída coletivamen- “A espera no Rio te. Um Comitê Estratégico, formado por instituições podia chegar a 120 dias. interessadas no tema, define prioridades e divide as responsabilidades. “Essa forma colegiada de traba- Hoje, 32% dos casos lho é que possibilitou o sucesso do projeto, já que as pessoas levam para o Comitê Estratégico questões suspeitos são investigados que precisam ser resolvidas pelas instituições ali re- em até 72 horas, presentadas. Isso traz mais comprometimento aos envolvidos”, considera Maria Auxiliadora Mendes e mais de 70% em Gomes, superintendente de Hospitais Pediátricos e Maternidades da Secretaria Municipal de Saúde e no máximo 15 dias” Defesa Civil do Rio de Janeiro (SMSDC-RJ). Roberta Costa Marques, “O estabelecimento do fluxo de atendimento só diretora-executiva do Instituto Desiderata foi possível porque tínhamos todos os atores envolvi- dos sentados à mesa no nosso Comitê Estratégico. Antes da Unidos pela Cura, o encaminhamento de de atender em até 72 horas as suspeitas encaminha- pacientes e a busca por vagas em hospitais se dava das dentro de sua área de referência. Confirmada a de maneira muito informal”, comenta Roberta. A ini- suspeita, o paciente deve ser encaminhado ao centro ciativa estabeleceu o fluxo de encaminhamento dos especializado no tratamento. “A espera no Rio podia casos suspeitos de câncer desde a Atenção Básica chegar a 120 dias. Hoje, 32% dos casos suspeitos até os Polos de Investigação, unidades de saúde de são investigados em até 72 horas, e mais de 70% em média e alta complexidades que têm o compromisso no máximo 15 dias”, afirma a diretora do Desiderata.

Rede câncer 33 Quase 2 mil profissionais Dados capacitados acumulados O estabelecimento do fluxo também foi mui- de outubro 2008 a to importante na capacitação dos profissionais de maio 2013 saúde. “A metodologia era bastante participativa e baseada em problemas. Nós estudávamos a rede e discutíamos por que um caso havia tido êxito, e ou- tro, não. O curso não focava somente em questões crianças e adolescentes encaminhados com o cartão médicas. Acredito que essa metodologia foi o que fez Unidos pela Cura para os toda a diferença”, considera Dayse Peres, pediatra 902 Polos de Investigação da SMSDC-RJ que participou das primeiras capacita- cartões registrados a partir de demanda ções da Unidos pela Cura e hoje coordena essa área espontânea e de encaminhamento do projeto. Os tutores formados se comprometiam dentro do Polo de Investigação 372 a disseminar o conhecimento adquirido. “Confesso que, no início, recebi a proposta com desconfiança. Como pediatra, achava que o que estava sendo apre- sentado não condizia com a minha realidade. Foi no cartões encaminhados por unidades não especializadas decorrer do curso que percebi que havia muito a ser 530 feito e a pensar no que eu poderia fazer para melhorar 34 cartões sem informação sobre o aquela situação”, lembra Dayse. acolhimento nos Polos de Investigação e 144 crianças que não compareceram 178 Os cursos desenvolvidos em 2007, e inicial- mente voltados para pediatras, foram montados sob coordenação técnica do INCA, com estrutura opera- cional dos gestores do SUS no Estado do Rio e parti- crianças e adolescentes acolhidas pelos Polos de cipação da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio 352 Investigação de Janeiro (Soperj). Em 2010, por meio de parceria com o Instituto Ronald McDonald, foram criadas ca- pacitações voltadas para profissionais da Estratégia cartões em investigação 42 de Saúde da Família, que incluíam agentes comu- nitários, enfermeiros e técnicos de enfermagem. No total, 1.821 profissionais de saúde já foram capacita- dos, sendo 392 médicos – pediatras ou clínicos. “As

avaliações concluídas ações do projeto foram sempre sinérgicas e comple- 310 mentares, e isso garantiu sua continuidade. A Unidos pela Cura trouxe a questão do câncer para dentro da encaminhamentos para agenda da saúde da criança, onde conseguiu espaço outra especialidade 89 efetivo de mobilização”, destaca Maria Auxiliadora.

encaminhamentos para unidade de origem 169 “O diagnóstico precoce e o tratamento em

encaminhamentos para centros especializados 52 onco-hematologia são fundamentais para a obtenção da cura com suspeitas de câncer qualidade de vida” 37 confirmadas Sima Ferman, chefe do Serviço Fonte: Boletim Informativo Unidos pela Cura (número 11, agosto de 2013) de Oncologia Pediátrica do INCA

34 Rede câncer Ferramenta para monitorar O eixo de informação da iniciativa Unidos pela Cura se estruturou, desde sua concepção, por meio ações e avaliar resultados de um sistema desenvolvido pelo INCA, que reúne os Sima Ferman, chefe do Serviço de Oncologia casos de suspeita de câncer infantojuvenil encami- Pediátrica do Hospital do Câncer I do INCA, acredita nhados por meio do Cartão de Acolhimento. O cartão formaliza a pactuação do acolhimento em até 72h en- que um dos destaques do projeto foi a abertura de um tre a Atenção Básica e os serviços públicos especia- canal de comunicação com os pediatras, para sensi- lizados no Rio de Janeiro. Pelo sistema, os médicos bilizá-los em relação ao câncer infantil. “Desde que se podem monitorar todos as suspeitas encaminhadas conseguiu alcançar sucesso no tratamento do câncer por eles. O objetivo é fornecer uma ferramenta de po- pediátrico, é sabido que o diagnóstico precoce e o lítica pública que permita às instituições corresponsá- tratamento em centros especializados são fundamen- veis monitorar e avaliar a iniciativa. tais para a obtenção da cura com qualidade de vida. O sucesso foi tanto que, em 2010, a Unidos pela Nosso entusiasmo ao participar desta iniciativa está Cura se tornou a política de diagnóstico precoce de cân- em alertar para o diagnóstico precoce e a possibilida- cer infantojuvenil da cidade do Rio, passando a integrar de de cura do câncer infantojuvenil”, comenta Sima. o Plano Municipal de Saúde 2010-2013. No mesmo ano, A médica ainda destaca que tentativas de capacitar o ministro da Saúde, os secretários estadual e municipal pediatras já haviam acontecido no passado, porém, de Saúde e representantes das instituições que com- sem o mesmo sucesso. “Há alguns anos, uma par- põem a iniciativa assinaram Termo de Compromisso ceria entre a Soperj e a SMSDC-RJ buscou capacitar no qual assumiam responsabilidades condizentes com pediatras da rede para o diagnóstico precoce do cân- suas esferas administrativas relativas ao compromisso cer infantojuvenil. Foi uma iniciativa interessante, mas compartilhado de incluir o câncer infantojuvenil em suas não tínhamos bem estabelecido o fluxo de referência agendas de prioridades. “O trabalho de articulação é e de contrarreferência. Com a Unidos pela Cura deu- uma tarefa difícil em si, mas, ao mesmo tempo, é ele que -se início à capacitação associada à organização do permite a criação de espaços de cooperação e faz com fluxo de encaminhamento”, destaca Sima Ferman. que as ideias saiam do papel”, afirma Roberta Marques.

Recomendações acordadas em Fórum foram encaminhadas a gestores Outro projeto dentro da iniciativa é o Fórum de Oncologia Pediátrica do Rio de Janeiro. O evento bianual tem por objetivo instituir no mu- nicípio a tradição de um debate sobre a saúde da criança e do ado- lescente que contribua para a organização de políticas públicas. Os pontos debatidos durante a última edição, realizada em agos- to deste ano, foram transformados numa carta de recomendações entregue aos gestores das três esferas de governo, em outubro. O documento foi elaborado por especialistas de 10 instituições e apresenta quatro blocos: Acesso ao tratamento do câncer infan- tojuvenil; O câncer infantojuvenil e a formação em Medicina e em Enfermagem; Informação em saúde; e Princípios básicos do SUS em relação ao câncer infantojuvenil. A carta destaca, entre outras recomendações, a inclusão da oncologia pediátrica nas grades das universidades, a construção de banco de dados eficiente e a necessidade de melhor qualificação profissional de médicos e agen- tes de saúde. “Atingimos nosso objetivo, que era proporcionar uma discussão relevante com foco na atenção integral à saúde da criança e do adolescente com câncer”, considera Roberta. O projeto prepara para o próximo ano uma expansão para além do município do Rio. “Estamos nos reunindo com a Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil para escolher a melhor região ou município para onde possamos levar o modelo da iniciativa”, afirma a diretora do Desiderata. Bons ventos o leve.

Rede câncer 35 notas Missão saúde: games para crianças internadas O Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia da UFRJ lançou seis videogames para crianças internadas. A série, batizada de Missão Saúde, surgiu após estágio da aluna de Ciências Biológicas – Modalidade Médica da UFRJ – Carolina Vilella no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). Os games são: 7 Erros, sobre quais equipamentos de proteção individual os profissionais de saúde devem utilizar num ambiente hospitalar; Come-Come, que simula a corrente sanguínea e aborda os micróbios que circulam em nosso organismo; Uma Mão Lava a Outra, que reforça a ideia de higiene pessoal; Lixo no Lixo, que trata da coleta seletiva; Prato Cheio, com dicas sobre alimentação saudável; e Por Dentro, tipo de jogo da memória com imagens de micróbios que afetam, principalmente, crianças. Durante o estágio, Carolina pôde identificar vários aspectos que subsidiaram a construção dos games. Segundo ela, a internação para crianças e adolescentes é ainda mais dura. “É um período em que passam por mudanças na aparência e no seu dia a dia, além de terem que enfrentar o medo de um futuro completamente desconhecido. Estar internado significa abrir mão da escola, da convivência com os amigos e familiares, das brincadeiras, de casa e de todas as atividades.” Com base nessas observações, Carolina sugeriu, como estratégia lúdica, o desenvolvimento dos jogos educativos para computador, que foram criados por Lucas Brouck. Agora, a proposta do Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia da UFRJ é disponibilizar a série para outros hospitais da rede pública.

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Glossário Temático Controle Elaborado pela Coordenação-Geral de Documentação e Informação (CGDI) do Ministério da Saúde e de Câncer pelo INCA, o Glossário Temático Controle de Câncer reúne os 353 principais vocábulos utilizados na lin- guagem de atuação oncológica. Os termos, definições e siglas foram extraídos, a priori, de documentos Projeto de Terminologia da Saúde técnicos, relatórios, periódicos e legislações produzidos pelo INCA. O volume faz parte do Projeto de

Brasília – DF 2013 Terminologia da Saúde. Acesse em http://migre.me/gWVy7.

SETE VEZES MAIS INVESTIMENTOS EM PESQUISAS EM SAÚDE O Ministério da Saúde investiu R$ 248,7 milhões, em 2013, no desenvolvimento de pesquisas na área da Saúde – sete vezes mais que em 2011. O investimento visa a incentivar pesquisadores a encontrar soluções inovadoras para serem aplicadas no Sistema Único de Saúde (SUS) e aprimorar a assistência ao usuário. Do total de recursos investidos, R$ 104 milhões foram para editais nacionais; R$ 79 milhões para editais estaduais e R$ 59,2 milhões em contratação direta de instituições de pesquisa. “O orçamento parceiro do Ministério da Saúde com o Ministério da Ciência e Tecnologia e o CNPq nos proporcio- nou o desenvolvimento de pesquisas e projetos com grande relevância para o SUS. Trabalhar com editais é muito bom porque permite a competição criativa na pesquisa em saúde”, disse o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha.

Chamada para artigos Pesquisadores em câncer que tenham como língua materna o português ou o espanhol já podem publicar seus artigos no periódico oficial da Organização dos Institutos Europeus e Câncer (OECI), sem custo algum. Os artigos são revisados por pares em qualquer um dos dois idiomas e, se aceitos, são traduzidos gratuitamente para o inglês. Para submeter um artigo, basta acessar http://ecancer.org/journal. O periódico é indexado em todas as principais bases de dados, incluindo PubMed. A publicação ocorre em até dois meses.

36 Rede câncer Estrangeiros pedem 97% das patentes para câncer no País De 91 patentes solicitadas para tratamento, diagnóstico ou prevenção de câncer no Brasil entre 2001 e 2011, 88 foram requisitadas por instituições estrangeiras – ou 96,7%. Os dados são de pesquisa do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, feita em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz e baseada em bancos de dados internacionais. Dos três pedidos feitos por brasileiros, um foi conduzido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, sobre câncer de mama; um pela Universidade Federal de Pernambuco, para câncer de próstata; e o terceiro pela Universidade Federal de Uberlândia, em parceria com a Fundação de Pesquisa do Estado de Minas Gerais, também para câncer de próstata. Empresas americanas e europeias foram as principais depositantes de pe- didos de patente para tratamento de câncer, enquanto as asiáticas tiveram maior representatividade em relação a tecnologias para diagnóstico e pre- venção da doença. O tipo de câncer que mais teve pedidos de patente depositados no Brasil foi o de mama: 53, feitos por 35 instituições. O mesmo número de instituições depositou 43 aplicações de patente relacionadas a câncer de próstata. Para câncer de pulmão, foram 30 instituições com 36 aplicações e, para câncer do colo do útero, dez aplicações.

Frente Parlamentar de Combate ao Câncer O INCA participou, na Câmara dos Deputados, em Brasília, do lançamento da Frente Parlamentar de Combate ao Câncer, que visa a fomentar o deba- te e o acompanhamento da política de prevenção e tratamento da doença no País. A iniciativa foi do deputado federal Ruy Carneiro. A Frente preten- de propor o aperfeiçoamento da legislação, em especial as políticas de combate ao câncer, e defender a importância da articulação intersetorial, influindo no processo das comissões temáticas da Câmara e do Senado. O diretor-geral do Instituto, Luiz Antonio Santini, elogiou a iniciativa: “Existem muitas possibilidades de se atuar e reduzir o número de casos e de mortes por câncer e alcançar resultados eficientes por meio de ações de prevenção e de detecção precoce para vários tipos da doença. Uma Programa de inciativa como essa influi para alcançar esse objetivo.” Qualidade em Mamografia O Ministério da Saúde publicou portaria no Diário Oficial da União atualizando o Programa Nacional de Qualidade em Mamografia (PNQM). O objeti- vo é estabelecer mecanismos de monitoramento da qualida- de em mamografia aplicáveis aos serviços de diagnóstico por imagem que realizam o exame em todo o território nacional.

Rede câncer 37 internas

Parceria Brasil-Reino Unido INCA e Universidade de Birmingham, no Reino Unido – classificada entre as 75 melhores do mun- do –, assinaram, em outubro, termo de parceria com objetivo de desenvolvimento de programas bilaterais de treinamento clínico e de pesquisa, in- cluindo intercâmbios de doutorado, pós-doutorado e bolsas para convidados em ensaios clínicos, assim como pesquisas conjuntas em câncer e imunologia. No rol das atividades de pesquisa contempladas pelo investimento, incluem-se colaborações de longo prazo.

Cirurgia robótica em destaque A experiência do INCA como pioneiro em cirurgia robótica em oncologia foi des- taque durante o II Congresso Internacional de Cirurgia Robótica e Minimamente Invasiva, promovido pelo Hospital Israelita Albert Einstein – MD Anderson, em São Paulo, em outubro. Fernando Luiz Dias, do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço; o chefe da Divisão Cirúrgica do HC I, Roberto Araújo Lima; Gustavo Guitmann, do Serviço de Ginecologia; o chefe do Serviço de Urologia, Franz Campos; o chefe da Seção de Abdômen, José Paulo Jesus; e Carlos Eduardo Pinto, também da Seção de Abdômen, apresentaram trabalhos e participaram como moderadores.

Outubro Rosa Em comemoração ao Outubro Rosa, o INCA, a Casa de Oswaldo Cruz e a Prefeitura do Rio inau- guraram, na Nave do Conhecimento do Parque Madureira, a exposição digital A mulher e o cân- cer de mama no Brasil. Também foram promovi- dos debates sobre a doença, roda de conversa e show com a atriz e cantora Zezé Motta. O movimento internacional Outubro Rosa esti- mula a conscientização da população, principal- mente mulheres, para promover a redução dos casos da doença e a desconstrução do mito de que o câncer é uma sentença de morte.

38 Rede câncer Aprovada lei que viabiliza obras do Campus O prefeito do Rio, Eduardo Paes, sancionou, em dezembro, a Lei Complementar nº 130, que defi- ne parâmetros urbanísticos para a construção do Campus do INCA. Fazem parte das diretrizes a se- rem adotadas na implantação do novo endereço do Instituto: a integração com o projeto de urbaniza- ção e de paisagismo que promova a reestruturação da área e do seu entorno imediato; a valorização do patrimônio cultural tombado e preservado nas Áreas de Proteção do Ambiente Cultural (Apacs) e suas adjacências, contribuindo com a reabilitação do entorno; atendimento das orientações dos órgãos de tutela do patrimônio ambiental, cultural e de proteção da paisagem; e promoção de sustentabilidade ambien- tal e redução ou neutralização de emissões de gases de efeito estufa. Também ficou definida a altura máxima que cada edificação do Campus pode atingir.

Grafitagem em prol da saúde Em comemoração ao Dia Nacional de Combate ao Câncer (27/11), o INCA criou um hotsite e promoveu a Semana de Arte. Dezenove ar- tistas grafitaram os tapumes em volta do terreno onde será erguido o novo Campus do Instituto. As imagens foram colocadas no hotsite para que os internautas escolhessem sua preferida. A eleita será a capa da agenda 2015 da instituição.

Dez anos de dedicação O INCAvoluntário celebrou 10 anos de ativida- des na tradicional festa do Dia das Crianças. O evento teve recorde de público, com 600 parti- cipantes, entre pacientes mirins e responsáveis. Entre os muitos convidados especiais estavam o comediante Fábio Porchart, a modelo Daniela Sarahyba, os atores Lisandra Souto, Alexandra Richers, Kim Kamberlly e Bruno Araújo, o grupo de pagode Bom Gosto e jogadores de Vasco, Flamengo e Botafogo. A festa terminou com show de Buchecha, pre- sença constante nos eventos do INCAvoluntário. “Venho com o maior prazer e alegria do mundo. Saio como uma criança feliz, exatamente por causa da energia boa que circula aqui”, disse o cantor.

Rede câncer 39 assistênciaEstudo traça, pela primeira vez, perfil nutricional do paciente com câncer no momento da internação Nutrição oncológica à mesa “A triagem nutricional por Um dos fatores relevantes para o sucesso do tratamento oncológico é o estado nutricional do pa- meio da avaliação subjetiva ciente. E, neste campo, os dados apontam para uma realidade preocupante no País. De acordo com o global permite detectar, Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional Hospitalar por exemplo, o paciente (Ibanutri), a desnutrição calórica e proteica em pacien- tes internados com câncer no Brasil chega a 66,4%, em risco nutricional índice bem mais alto do que de pacientes internados por doenças de modo geral (50%). e tratá-lo antes que Pensando em melhorar as condições do pa- entre num quadro ciente oncológico, 45 instituições de 16 estados e do Distrito Federal construíram o primeiro Inquérito de desnutrição. Brasileiro de Nutrição Oncológica (IBNO). A publica- ção, lançada em novembro durante o III Congresso O foco é a melhoria da Brasileiro de Nutrição Oncológica do INCA, em Salvador, tem como objetivo identificar o perfil nutri- qualidade de vida” cional do paciente oncológico na hora da internação, Nivaldo Barroso de Pinho, chefe do Serviço de maneira a permitir que se estabeleça o melhor de Nutrição do Hospital do Câncer I/INCA momento e a forma mais apropriada de intervenção nutricional para esse grupo. “A triagem nutricional por meio da avaliação subjetiva global permite detectar, por exemplo, o pa- do tratamento cirúrgico e clínico para o paciente on- ciente em risco nutricional e tratá-lo antes que entre cológico. O foco é a melhoria da qualidade de vida”, num quadro de desnutrição. É uma ferramenta fun- afirma Nivaldo Barroso de Pinho, chefe do Serviço damental para antecipar complicações decorrentes de Nutrição do Hospital do Câncer I (HC I) do INCA, que junto com a nutricionista Cristiane D’Almeida, supervisora de clínica do setor, coordenou a cons- trução do IBNO. Desnutrição provoca morte de 20% dos pacientes Os principais fatores determinantes da desnutri- ção nos pacientes oncológicos são a redução na in- gestão total de alimentos, as alterações metabólicas provocadas pelo câncer e o aumento da demanda calórica devido ao crescimento do tumor. A detecção precoce das alterações nutricionais possibilita a inter- venção em momento oportuno, prevenindo a ocor- rência de alterações morfológicas e funcionais dos órgãos do aparelho digestivo e até dos pulmões, com riscos de complicações pós-operatórias, aumento na morbimortalidade, do tempo de internação e do custo hospitalar. Durante o tratamento, os pacientes oncológicos podem evoluir para desnutrição moderada ou grave. Cerca de 20% morrem em decorrência da desnutri- ção, e não da doença. Mais da metade necessita de aconselhamento nutricional e controle dos sintomas que interferem na ingestão de alimentos, e cerca de 30% precisam de suplemento nutricional.

Rede câncer 41 Para melhor orientar a dieta desses pacien- tes oncológicos, já foram estabelecidos consensos. “Existem dois volumes do Consenso Nacional de Inquérito reúne Nutrição Oncológica, publicados em 2009 e 2011, que quase 5 mil avaliações norteiam as condutas para os diversos tratamentos a O Inquérito Brasileiro de Nutrição Oncológica que é submetido o paciente com câncer”, diz Lucia (IBNO) descreve, em linhas gerais, o estado nu- Varjão, coordenadora do Departamento de Nutrição tricional do adulto com câncer nas diferentes fa- do Hospital Aristides Maltez, em Salvador, uma das ses da doença e do tratamento. Fizeram parte do instituições que trabalharam em parceria com o INCA estudo pacientes com doença avançada, em fase para a construção das publicações. terminal e ao final da vida, para os quais a atenção O chefe do Serviço de Nutrição do HC I ressal- nutricional continua fazendo parte da terapêutica. ta, porém, que os consensos tratam de orientações Ao todo, foram feitas 4.822 avaliações em novem- pontuais para o tratamento de efeitos colaterais da bro de 2012, o que corresponde a 13,56% de quimioterapia ou da radioterapia e de sinais e sinto- todas as internações hospitalares por câncer no mas do câncer. “A assistência nutricional durante o Brasil naquele mês. Os registros de prevalência curso da doença e do tratamento oncológico poderá de sinais e sintomas gastrintestinais, a história de prevenir e tratar as manifestações clínicas e nutricio- perda de peso, as alterações corporais e o esta- nais adversas”, explica Nivaldo. do nutricional expressos no inquérito contribuirão Para pacientes que apresentam quadro de ano- para que os profissionais possam se antecipar rexia, por exemplo, as recomendações incluem au- a essas manifestações clínicas e nutricionais de mentar a densidade calórica das refeições. Ao utilizar seus pacientes. complementos nutricionais hipercalóricos ou hiper- “Esse retrato do estado nutricional do paciente proteicos, deve-se dar preferência a alimentos ume- oncológico, além do conhecimento que nos traz, decidos e adicionar caldos e molhos às preparações, mostra aos gestores a necessidade de interven- além de aumentar a variedade de legumes e carnes e ção precoce e investimento para terapia nutricio- utilizar temperos naturais. nal desse grupo”, diz Lucia Varjão. Já em casos de enterite (inflamação intestinal), Para a elaboração do documento, foi utilizada a fer- muito frequente (de 25% a 75%) em pacientes sub- ramenta de Avaliação Subjetiva Global Produzida metidos à radioterapia contra câncer pélvico ou ab- pelo Paciente (ASG-PPP), indicada no I Consenso dominal, a conduta indicada inclui orientar a ingestão Nacional de Nutrição Oncológica, de 2009, como adequada de líquidos (volume e tipo), dieta pobre em instrumento para triagem nutricional no momento resíduos (restos de alimentos que não são digeridos da internação do paciente com câncer. pelo organismo, como fibras), glúten e sacarose, e “Essa ferramenta, que já era utilizada no exterior, isenta de lactose, teína (alcaloide presente na folha permite avaliar o paciente em toda sua complexi- do chá) e cafeína. Quando necessário, recomenda-se dade. Os parâmetros empregados ajudam a tra- ainda utilizar complementos nutricionais com fórmula çar um perfil mais minucioso da pessoa e, dessa industrializada pobre em resídu- forma, a planejar melhor a conduta nu- os e isenta de glúten, lactose e tricional a ser seguida. Isso é importan- sacarose. te, pois o apoio nutricional mais preciso “Não existe consenso so- dá ao paciente a chance de responder bre quais alimentos devem ser e suportar melhor o tratamento”, explica proibidos durante os tratamen- Cristiane D’Almeida. tos antineoplásicos. Cada caso De acordo com Nivaldo, os próximos deve ser avaliado individual- passos incluem a divulgação do inquérito mente, pautado numa alimen- e o desenvolvimento de novos protocolos tação saudável, observando de investigação que possam incluir o ido- as possíveis interações entre so e a criança com câncer. medicamentos em uso e nu- trientes, bem como respeitan- do preferências alimentares e fatores socioculturais”, pon- O Inquérito descreve o estado nutricional do adulto com câncer nas diferentes dera Lucia Varjão. fases da doença e do tratamento

42 Rede câncer MONTE O SEU TIME E VÁ AO ATAQUE CONTRA A DENGUE

Fique atento aos locais que podem acumular água e mantenha-os sempre limpos e fechados.

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INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA Divisão de Comunicação Social Rua Marquês de Pombal, 125/4º andar - Rio de Janeiro - RJ - CEP 22230-240 [email protected] www.inca.gov.br