Versão Integral

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24 Dezembro 2013 REDE PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DO INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA O QUE OS NÚMEROS DIZEM 576 MIL BRASILEIROS DEVERÃO SER DIAGNOSTICADOS COM CÂNCER EM 2014 É RÁPIDO, GRATUITO, SEGURO E SIGILOSO. Quem tem o vírus e descobre a tempo de se cuidar pode viver com mais qualidade. Faça o teste de aids. Aproveite e faça também os testes de sífi lis e hepatites B e C. Procure uma Unidade de Saúde ou saiba mais em www.aids.gov.br. PARA VIVER MELHOR, É PRECISO SABER. Melhorar sua vida, nosso compromisso. PROTEJA SE. USE SEMPRE CAMISINHA. Anuncio_Gestante_Aids_205x275mm.indd 1 12/2/13 10:16 AM sumário 05 DEBATE Uma classificação para o câncer no século XXI 08 SOCIAL Vilão de seis letras 11 CAPA Números que falam 14 ESPECIAL 5º Congresso Internacional de Controle de Câncer 16 POLÍTICA Experiência tipo REDE CÂNCER exportação 20 2013 – Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) ENTREVISTA REDE CÂNCER é uma publicação trimestral do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Por se tratar Somando esforços de um veículo jornalístico, cujo objetivo principal é promover a discussão de assuntos relacionados à saúde e à gestão da para o controle do Rede de Atenção Oncológica, artigos e reportagens contam com a participação de profissionais de várias instituições. As câncer declarações e opiniões dessas fontes não refletem a visão do INCA, expressa exclusivamente por meio de seus porta-vozes. 24 A reprodução total ou parcial das informações contidas nesta publicação é permitida sempre e quando for citada a fonte. EDUCAÇÃO Realização: Equipe da Divisão de Comunicação Social do INCA | Coordenação-geral do Projeto e Edição: Os múltiplos papéis Daniella Daher | Editor assistente: Nemézio Amaral Filho | Redator: Marcio Albuquerque. do farmacêutico na Comissão Editorial: Cassilda dos Santos Soares, Letícia Casado, Marceli de Oliveira Santos e Maria de Fátima atenção oncológica Batalha Menezes | Produção: Conceito Comunicação Integrada. Jornalista responsável: Marcos Bin - JP23.958RJ | Reportagem: Maria Caldas, Rodrigo Feijó, Rosana Melo e Roseane Santos | Projeto Gráfico: Chica Magalhães | Diagramação: Luis Monteiro | Revisão gramatical: 30 Annecy Moraes | Tiragem: 12.000 exemplares. PERSONAGEM Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva - INCA - Praça Cruz Vermelha, 23 - Centro - 20230-130 - A imagem que o Rio de Janeiro - RJ - [email protected] - www.inca.gov.br. cigarro apagou 32 REDE Pelo controle do câncer infantojuvenil 40 Ministério da ASSISTÊNCIA Saúde Nutrição oncológica à mesa REDE CÂNCER 3 editorial A força de uma palavra Prezado leitor, Nesta última edição de 2013 de sua REDE de acordo com a estimativa elaborada pelo INCA. CÂNCER, trazemos um rico debate sobre a reco- Excluindo o câncer de pele não melanoma, o de maior mendação internacional: tipos específicos de deter- incidência na população brasileira, os tipos mais co- minados cânceres que não ameaçam a vida devem muns entre os homens serão próstata e pulmão, e continuar a ser classificados como tal? Se, por um entre as mulheres, mama e colón e reto. Os números lado, a retirada da palavra “câncer” do diagnóstico confirmam tendência observada em estudo realizado tranquiliza o paciente, será que esse mesmo paciente ano passado, de que o número de casos de câncer de não abandonará o tratamento por entender que sua pulmão em homens e do colo do útero está em declí- doença não é grave? Mas, e se o nome continua, mé- nio. Saiba tudo sobre esse assunto na matéria de Capa. dicos não vão prescrever tratamentos muito radicais E você sabe quais são as atribuições de um far- para tipos pouco agressivos da doença? Leia e tire macêutico oncológico? Muito mais do que apenas suas conclusões a partir da página 5. manipular antineoplásicos, ele é responsável por va- Por falar da carga negativa da palavra “câncer”, lidar prescrições médicas e fazer o acompanhamen- o termo costuma ser evitado por alguns autores de to dos efeitos observados nos pacientes, tanto nos novela, como Walcyr Carrasco, que assina o texto de internados quanto naqueles que usam a medicação Amor à Vida. Duas personagens da trama das 21h em casa. A seção Educação revela que a Residência da TV Globo – Nicole (Marina Ruy Barbosa) e Sílvia Multiprofissional do INCA é uma das portas de entra- (Carol Castro) – enfrentaram a doença sem que ela da para a especialização nesse segmento. fosse classificada como câncer. Por que, em pleno século XXI, ainda existe pudor em se falar de câncer? Boa leitura e até 2014! Confira na seção Social. De volta à vida real, o certo é que são espera- Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes dos 576 mil novos casos de câncer no País em 2014, da Silva 4 REDE CÂNCER debatePESQUISADORES PROPÕEM MUDANÇAS NA DEFINIÇÃO DA DOENÇA, NO INTUITO DE REDUZIR SOBREDIAGNÓSTICO E SOBRETRATAMENTO Uma classificação para o câncer no século XXI Apesar de todos os avanços da medicina, o cân- (realização de exames de diagnóstico em uma deter- cer continua a ser uma doença fortemente estigmati- minada população assintomática). O sobrediagnósti- zada. Diante desse diagnóstico, é razoável que o pa- co normalmente leva ao tratamento desses tumores, ciente queira se submeter a um ou mais tratamentos o que é conhecido como sobretratamento. “Essa situ- que “cortem o mal pela raiz”. Mas, por incrível que ação não é exclusiva da oncologia. As tecnologias de pareça, muitos tumores malignos são pouco agres- rastreamento acabam detectando alterações com as sivos e não precisam de tratamento. São os tumores quais os pacientes viveriam normalmente sem nun- de comportamento indolente, que se desenvolvem ca descobri-las e morreriam por outras causas”, co- lentamente e não se espalham para outros tecidos e menta Carlos José de Andrade, chefe do Serviço de órgãos. Apesar desse conhecimento, ainda é muito Oncologia Clínica do Hospital do Câncer I do INCA. difícil aceitar a opção de conviver com o tumor quan- No final de agosto deste ano, profissionais da do o laudo de exames aponta a presença de um Universidade da Califórnia, da Universidade do Texas carcinoma. Por conta dessa diferença no comporta- e do Cancer Research Center, em Washington, pu- mento dos tumores malignos, apesar de todos serem blicaram no Journal of American Medical Association classificados como câncer, um grupo de estudiosos artigo sobre seu ponto de vista acerca dessa ques- propõe uma mudança na nomenclatura, em busca de tão. O texto sintetiza as recomendações do grupo de uma classificação mais contemporânea para determi- trabalho formado a partir da reunião promovida pelo nados tipos da doença. NCI, com o intuito de desenvolver uma estratégia Em março de 2012, o Instituto Nacional de para aprimorar a abordagem para rastreamento e Câncer dos Estados Unidos (NCI) reuniu especia- prevenção do câncer. Entre as recomendações está listas para discutir a questão do sobrediagnóstico: uma mudança na terminologia do câncer, que pas- quando são detectados tumores que, sem tratamen- saria a ser aplicada somente para descrever “lesões to, não se tornariam clinicamente aparentes ou cau- com razoável probabilidade de progressão letal se sariam mortes. Esses tumores são descobertos, em deixadas sem tratamento”. “Essa discussão é muito sua maioria, a partir de estratégias de rastreamento importante e precisa ser levantada. Hoje está tudo REDE CÂNCER 5 “As tecnologias de em um mesmo pacote. Doenças com comportamen- tos completamente distintos são classificadas como rastreamento acabam câncer”, considera Antonio Carlos Lima Pompeo, diretor-responsável por uroncologia da Sociedade detectando alterações Brasileira de Urologia e professor da Faculdade de Medicina do ABC. com as quais os Os especialistas acreditam que há pelo menos pacientes viveriam duas possibilidades de mudança. A primeira se re- fere a condições pré-malignas, como os hoje cha- normalmente sem nunca mados carcinoma ductal in situ (tipo de câncer de mama) e a neoplasia intraepitelial da próstata, que descobri-las e morreriam não deveriam ser classificados como câncer nem por outras causas” ter as palavras “carcinoma” e “neoplasia” em seus nomes. Os pesquisadores acreditam que, assim, os CARLOS JOSÉ DE ANDRADE, chefe do Serviço de pacientes ficariam menos assustados e buscariam Oncologia Clínica do Hospital do Câncer I do INCA menos tratamentos desnecessários e potencialmen- te prejudiciais, que podem incluir a remoção de ma- “Hoje não há nenhuma mas. “Esses tumores já não são reconhecidos como câncer, mas como pré-câncer. Eles são localizados ferramenta confiável no órgão afetado, não possuem a característica de invadir outros tecidos e não causam metástases. A que consiga definir o mudança na nomenclatura traria mais tranquilida- de também para os médicos na hora de observar comportamento uma condição como esta”, afirma Ruffo de Freitas biológico de um câncer Júnior, diretor da Escola Brasileira de Mastologia da Sociedade Brasileira de Mastologia. no pulmão. Isso torna A segunda mudança sugerida se refere a tu- mores indolentes e de baixo risco. Para isso, os impossível mudança pesquisadores acreditam que testes de diagnósti- na nomenclatura co molecular precisarão ser adotados e validados para identificação desses tipos de câncer. Eles desses tumores passariam a ser chamados de lesões indolentes de origem epitelial – IDLE, na sigla em inglês. O grupo neste momento” de especialistas aponta como passíveis de reclassi- GUSTAVO PRADO, consultor da Sociedade ficação tumores encontrados por meio de testes de Brasileira de Pneumologia e Tisiologia rastreamento para detecção precoce de câncer de mama, próstata, tireoide e pulmão. Este último pas- sou a contar com estratégias de rastreio por meio “Essa discussão de tomografias de baixa dosagem para fumantes de alto risco nos Estados Unidos. “Apesar de realmente precisa ser levantada. haver a possibilidade de alguns tumores no pulmão Hoje está tudo em terem característica indolente, hoje em dia não há nenhuma ferramenta confiável que consiga definir o um mesmo pacote” comportamento biológico de um câncer no pulmão.

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