A estratégia russa no conflito da Ucrânia: contribuições para a doutrina militar brasileira

Carlos Eduardo de Matos Barboza*

Introdução políticos e estratégicos cresceu e, em muitos casos, excedeu o poder da força das armas em sua eficá- interferência da Federação Russa no con- cia. Porém, resta evidente que as ações militares flito da Ucrânia, em 2014, trouxe à tona convencionais não deixaram de existir, mas foram o que muitos consideram um novo con- A aplicadas de uma nova forma e em sinergia com ceito de guerra, conhecido no mundo ocidental as não militares, fornecendo contribuições cujo pelo nome de guerra híbrida ou guerra de nova estudo é útil para a Doutrina Militar brasileira. geração. O que se viu foi a combinação sinérgica de ações de forças convencionais e irregulares, Contexto histórico e geopolítica realizando operações de informação, de guerra eletrônica e de guerra cibernética, gerando efei- Cada país possui uma interpretação específica tos no campo de batalha bem maiores do que se da sua conjuntura geopolítica. Deve-se buscar, realizadas por meio do combate convencional. em uma breve volta ao passado, as condições Para compreender a interferência russa e sua geográficas e políticas que influenciaram a atual participação no conflito, é preciso lembrar sua conjuntura geopolítica russa, justificando assim a história e geopolítica, sua influência étnica-cul- atuação de sua política externa. tural sobre os Estados vizinhos e seus objetivos políticos na pós-bipolaridade. Da outra parte, Contexto histórico é mister entender por que a Ucrânia, que teve Os Vikings da Escandinávia invadiram a re- sua formação territorial umbilicalmente ligada à gião compreendida entre o mar Báltico e o mar Rússia, se fez vítima indefesa dos objetivos políti- Negro, no século IX, procurando ampliar suas cos de Putin, e como suas vulnerabilidades foram rotas comerciais. Ao longo das rotas comerciais exploradas militarmente. Vikings, ficavam as cidades de Novgorod (na Por meio da ligação entre as ações e os fins atual Rússia, a sul de São Petersburgo) e Kiev políticos da Federação Russa, é possível concluir (atual capital ucraniana). sobre a estratégia adotada, verificando-se que o Rurik, o líder de um povo escandinavo cha- papel dos meios não militares de atingir objetivos mado Rus, assumiu o controle de Novgorod em

* Maj Cav (AMAN/00, EsAO/08). Atualmente é aluno da ECEME.

ADN • 4 862 d.C. Rurik e seus sucessores estabeleceram a Primeira Guerra Mundial fizeram renascer um um governo sobre Kiev e sobre as tribos eslavas movimento ucraniano de autodeterminação. próximas. A grande região sob seu controle era Fruto desse esfacelamento da Áustria-Hun- chamada de Rus. gria, a porção ocidental do território foi incor- Segundo a historiografia russa, o primeiro porada à Polônia e a parte maior, no centro e no líder a começar a unir as terras eslavas do Les- leste, transformou-se na República Socialista So- te, no que se tornou conhecido como Rússia de viética Ucraniana, posteriormente unida à União Kiev, foi Oleg, príncipe viking que, juntamente das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), com seu povo, deslocou-se de sua terra de ori- quando esta foi criada em 1922. gem, a Escandinávia, seguindo o curso dos rios Após a Segunda Guerra Mundial, as fron- do Leste Europeu, fixando-se nesta região. Para teiras da Ucrânia soviética foram ampliadas na melhor controlar as rotas comerciais, Oleg des- direção oeste, unindo a maior parte dos ucrania- locou a capital, de Novgorod para Kiev, que nos sob uma única entidade política. A maioria era um posto avançado central ao longo da da população não-ucraniana dos territórios ane- rota do rio Dnieper e um entroncamento com xados foi deportada e Joseph Stalin incentivou a a rota de comércio terrestre Leste-Oeste, entre migração russa para a região. os khazares, seminômades da Ásia Central, e as A Crimeia, que fazia parte do império russo, terras germânicas da Europa Central. Essas co- teve sua população nativa, os tártaros, deportados nexões comerciais enriqueceram os mercadores após a Segunda Guerra Mundial, bem como per- e príncipes de Rus, financiando forças militares deu sua condição de república autônoma. O gover- e a construção de igrejas, palácios, fortificações no soviético, então, enviou levas de colonos russos e outras cidades. Bielorrússia, Ucrânia e Rússia para ocupar as terras da Crimeia. (RINGIS, 2016) reivindicam a Rússia de Kiev como seu ancestral A fim de conter o movimento nacionalista cultural. (PLOKHY, 2006) ucraniano pós-guerra, a Crimeia foi cedida por Por volta do século XIV, o território hoje conhe- Nikita Kruschev à Ucrânia em 1954. Assim, a cido como Ucrânia foi conquistado pela Polônia e Ucrânia ficou de posse da terra que pertencia ao pelo Grão-Ducado da Lituânia, iniciando a série de povo tártaro, que era muçulmano. Isso colocou, influências externas e migrações populacionais. intencionalmente, as repúblicas da Ásia Central e Uma rebelião em 1648 contra a Polônia oca- os muçulmanos da URSS em oposição à Ucrânia, sionou a partilha da Ucrânia entre a Polônia e que deixaram de considerá-la como aliada con- a Rússia, após o tratado de Pereyaslav. A parti- tra o imperialismo russo. Além disso, outro resul- lha da Polônia, no século XVIII, entre a Prús- tado foi a mudança na relação entre a Turquia e sia, a Áustria e a Rússia, dividiu aquele pedaço a Ucrânia. (INTERNATIONAL COMMITTEE do território ucraniano, conquistado no século FOR , 2005) XIV pela Polônia, entre o Império Austríaco e o Após a dissolução da URSS em 1991, a Ucrâ- Império Russo. nia conquistou sua independência. No entanto, A queda do czar após a Revolução Russa de em seguida, passou por profunda recessão econô- 1917 e o esfacelamento da Áustria-Hungria após mica e por instabilidades políticas, culminando,

ADN • 5 em 2004, na Revolução Laranja, grandes mani- do mar Negro e do estreito de Bósforo, uma pas- festações após a disputa eleitoral entre Viktor sagem estreita controlada pela Turquia e que Yushchenko e Viktor Yuanukovych. O resultado facilmente pode ser fechada. O outro é a partir oficial declarou Yanukovych como vencedor e de São Petersburgo, onde os navios podem nave- os protestos alegando fraude eleitoral eclodiram gar através de águas dinamarquesas, passagem em diversas regiões do país. Após novas eleições, também facilmente bloqueável. O terceiro é por Yushchenko foi finalmente declarado presidente. meio da longa rota do Oceano Ártico, a partir de Disputas com a Rússia sobre dívidas de gás na- Murmansk e passando por entre a Groenlândia, tural interromperam brevemente todos os forne- a Islândia e o Reino Unido. Isso mostra a vulne- cimentos de gás à Ucrânia em 2006 e novamente rabilidade que a Rússia enfrenta devido à restri- em 2009, levando à escassez do produto também ção de acessos aos oceanos. em vários outros países europeus (QUEIROZ e Além disso, a maior parte da sua população QUINTSLR, 2018). Logo depois, Viktor Yanuko- concentra-se ao longo da fronteira Oeste, com a vych foi novamente eleito presidente, em 2010. Europa, e da fronteira Sudoeste, com o Cáucaso, Em fins de 2013, a Ucrânia encontrava-se no- entre o mar Negro e o Cáspio. As regiões a Oeste vamente abalada por uma forte crise econômi- e a Sul da Rússia são consideradas as áreas mais ca. O presidente Yanukovych tendia em aceitar produtivas e vitais para o país. Portanto, a maior um empréstimo de cerca de US$15 bilhões da vulnerabilidade russa está no Oeste, e em segun- Rússia, enquanto os cidadãos ucranianos exi- do lugar, no Cáucaso. (FRIEDMAN, 2016) giam uma maior integração do país com a União A Rússia situa-se na planície europeia, com Europeia (UE). A recusa de Yanukovych em as- poucas barreiras naturais para bloquear um sinar um acordo comercial com a UE resultou inimigo que venha de Oeste. A Leste dos Cár- no movimento conhecido como e os patos, estende-se uma planície para o Sul, protestos provocaram a sua destituição pelo Par- abrindo-se “uma porta” para a Rússia. E, com lamento da Ucrânia em 22 de fevereiro de 2014. muitas atividades econômicas próximas à fron- No fim dos anos 90, a OTAN já ia se expan- teira, com poucas barreiras naturais, reside o ris- dindo para leste, desde a Alemanha até as fron- co do acesso facilitado. teiras da Federação Russa com os Países Bálticos. Daí explica-se a histórica tentativa de mover a E em 2014 essa situação era ainda mais preocu- fronteira o mais para Oeste possível, proporcio- pante, com essa expansão ameaçando chegar às nando profundidade a sua defesa, assim como fronteiras russas com a Ucrânia. maiores oportunidades econômicas.

Geopolítica Neo-eurasianismo ou Escola O acesso da Rússia aos oceanos, com exceção Expansionista Eurasiana do Ártico (cujos portos ficam em águas congela- O termo eurasianismo surgiu pela primeira vez das na maior parte do ano), é limitado. Os aces- no século XIX. Defendia que o Império Russo fos- sos que possui são limitados por outros países se desenvolvido sobre valores e instituições deriva- europeus, que os controlam. Um deles é através das de tradição autóctone, e não a partir daqueles

ADN • 6 importados do ocidente. Rejeitava, categorica- rejeitando a versão Atlântica de globalização. mente, o projeto do Czar Pedro, “o Grande”, O Império Eurasiano será construído sob o para “europeizar” a Rússia. (SANTOS, 2008) princípio fundamental do inimigo comum: a Para Gaspar (2004, apud TEIXEIRA, 2009), rejeição do Atlanticismo - o controle estratégico pretendendo voltar a ser reconhecida como uma dos EUA, e a recusa em permitir que valores li- grande potência e na busca de um reequilíbrio berais nos dominem, escreveu Dugin (1997). geopolítico, surgem, na Rússia, sinais dos antigos ideais do Eurasianismo. Essas ideias tornaram- Doutrina militar russa se marcantes nos governos de Dmitri Medvedev (2008-2012) e (2000-2004; 2004- Em 25 de fevereiro de 2013, a revista russa 2008; 2012- 2018; 2018-____). de assuntos militares chamada VPK publicou um O principal teórico do Eurasianismo na artigo escrito pelo Chefe do Estado-Maior Geral atualidade é Alexander Dugin, professor da da Federação da Rússia, general Valery Gerasi- Universidade Estatal de Moscou. Fundador mov, com o título “O Valor da Ciência Está na do Movimento Político e Social Eurásia, prega Previsão: novos desafios demandam repensar as a primazia do Estado sobre o indivíduo. Sua formas e os métodos de conduzir as operações de obra reintroduz temas da geopolítica clássica, combate” (tradução nossa). Nesse artigo, Gerasi- de autores como Halford Mackinder e Klaus mov apresentou suas ideias a respeito da guerra Haushofer. Se a Eurásia é o centro do mun- no futuro. do, a Rússia tem que ser, na opinião de Dugin (1997),2 o centro da Eurásia. Ele se inspira na O foco dos métodos aplicados nos conflitos foi alterado na direção da ampla utilização de me- ideia das pan-regiões de Haushofer e as rede- didas políticas, econômicas, informativas, hu- senha para defender, contra o mundo unipolar manitárias e outras não militares – aplicadas da globalização atual, um novo modelo de glo- em coordenação com o potencial de protesto balização multipolar. Assim, a zona Anglo-Ame- da população. Tudo isto complementado por ricana (Atlantista) seria contrabalançada. meios militares de um personagem oculto, Segundo Teixeira (2009), Dugin “apresenta incluindo a realização de ações de conflito in- formacional e as ações das forças de operações o conceito filosófico de Eurasianismo do- sécu especiais. O uso aberto de forças – muitas vezes lo XXI ou Neo-eurasianismo como sendo uma sob o disfarce de manutenção da paz e regula- alternativa à globalização”. Na sua avaliação, “a ção de crise – é utilizado apenas em um certo globalização pretende universalizar o pensamen- estágio, principalmente para o alcance do su- to ocidental, é a unificação de diferentes estrutu- cesso final no conflito. ras sociais, políticas, econômicas, étnicas, religio- [...] sas e nacionais em um só sistema. É a imposição A derrota dos propósitos do inimigo é conduzi- da ao longo de toda a profundidade do seu ter- do paradigma Atlântico”. O pensamento neo-eu- ritório. As diferenças entre os níveis estratégico, rasiano não visualiza o sistema de governo com operacional e tático, bem como entre as opera- base nos valores liberais e democráticos como ções ofensivas e defensivas, estão sendo apaga- sendo o único caminho para a humanidade, das. (GERASIMOV, 2013) (tradução nossa)

ADN • 7 O artigo foi publicado um ano antes dos pro- em manter a ordem. À medida que a situação testos na praça Maidan que deram sequência aos interna se deteriora, os movimentos separatistas eventos que culminaram com a anexação da Cri- são estimulados e fortalecidos. Então, operações meia e com a insurreição da população de ori- especiais encobertas e forças militares privadas gem russa no leste ucraniano. podem ser introduzidas para lutar contra o go- Por ter sido produzida antes da anexação rus- verno e causar mais danos. E quando o governo sa da Crimeia e das ações no leste ucraniano, a é forçado a usar crescentes e violentos métodos doutrina contida nesse artigo é considerada no para manter a ordem, os EUA ganham o pretexto Ocidente como a nova forma de guerra que foi para a imposição de sanções políticas e econômi- utilizada nos conflitos na Ucrânia, conhecida cas, ou mesmo militares, como zonas de exclusão como “Doutrina Gerasimov” (BARTLES, 2016). aérea, a fim de limitar a liberdade de ação desse Devido as semelhanças com os aspectos do con- governo. Com a queda do governo e a situação de ceito já existentes da guerra híbrida e ao suces- anarquia resultante, forças militares com o disfar- so das ações russas apresentado no conflito da ce de forças de paz podem ser empregadas para Ucrânia, ocorreu o alargamento do citado con- pacificar a área e um novo governo favorável aos ceito, sua vinculação ao conflito e sua consagra- EUA e ao Ocidente pode ser instalado. ção nos dias atuais. No entanto, essa percepção do conceito e do Analistas russos têm usado o termo “Revolu- conflito é geralmente apresentada sob o prisma ção Colorida” ao discutir a Revolução das Rosas Ocidental. Para analisá-los com maior precisão, é na Georgia em 2003, a Revolução Laranja na preciso entendê-los sob a ótica russa. Ucrânia em 2004 e a Revolução das Tulipas no Do ponto de vista russo, os EUA, a fim de Quirguistão em 2005. Os militares russos agora atenderem a objetivos geopolíticos, provocam ligaram esse termo “Revolução Colorida” à crise interferências e mudanças de regime nos países na Ucrânia e ao que eles veem como uma nova ao redor do mundo. forma de guerra que cria revoluções desestabili- Porém, os russos acreditam que a maneira zadoras em outros Estados como meio de servir a como os EUA provocam trocas de regime mu- interesses do Ocidente, a baixo custo e com o mí- dou, por meio do emprego da força militar de nimo de baixas. Isto foi visto como uma ameaça uma forma adaptada (GERASIMOV, 2014). Em potencial à Rússia, à China e aos Estados asiáticos vez de realizarem uma invasão militar declara- não alinhados com os EUA, e como meio de de- da, com possibilidade de desgaste face à opinião sestabilizar países no Oriente Médio, na África e pública, a primeira ação é a instalação e/ou refor- na Ásia Central. (CORDESMAN, 2014) ço de uma oposição política por meio de propa- ganda, utilizando redes de televisão, a internet, O experimento das Revoluções Coloridas pode ser aplicado em qualquer parte do mundo. O as mídias sociais e as organizações não-governa- modelo já foi testado no Oriente Médio e no mentais (ONG). Após a provocada instigação da norte da África. Lembramos das tentativas de dissenção política, do separatismo e do conflito implementar o conceito das Revoluções Colo- social, o governo legítimo passa a ter dificuldades ridas no espaço da antiga URSS. No passado

ADN • 8 recente, isto aconteceu nos países da Ásia Cen- Ações da Federação Russa nas diversas tral e na Geórgia. Agora é na Ucrânia. (SHOY- fases do conflito GU, 2014) – Ministro da Defesa da Federação Russa (tradução nossa). Crimeia É aí que essa nova forma de guerra do Oci- Após a fuga de Yanukovych do país, dois pré- dente, sob o ponto de vista russo, pode ser fa- dios do governo, incluindo o Parlamento, em cilmente identificada com o polêmico artigo de , capital da Crimeia, foram tomados Gerasimov e a doutrina militar russa atual. Essa rapidamente, no dia 27 de fevereiro de 2014, mudança na ameaça à soberania, nesse ponto por homens encapuzados, armados de metra- de vista, está direcionando o foco dos militares lhadoras e granadas, que logo em seguida has- russos para o desenvolvimento de capacidades tearam a bandeira russa nos edifícios. Enquanto para conter essas ameaças assimétricas e indi- isso, do lado de fora, centenas de manifestantes pró-Rússia se confrontavam com muçulmanos retas. Segundo eles, os meios para implemen- tártaros que apoiavam o novo governo ucrania- tar essas capacidades seriam tão indiretos e as- no. O controle de prédios públicos é considerado simétricos quanto as ameaças que pretendem simbólico, pois veicula a imagem de que o gover- conter, podendo ser forças convencionais não- no é incapaz de defender-se. -declaradas, forças de paz, tropas de operações Na noite do mesmo dia, homens armados especiais, Cossacos, forças militares privadas, em uniformes militares sem insígnias tomaram criminosos, ONG patrocinadas, agentes de pro- o aeroporto de Simferopol e o aeroporto militar paganda e hackers. de Sebastopol. Aproximadamente dois batalhões Tudo isso corrobora o pensamento de Bartles aerotransportados russos e tropas de operações (2016), que afirma que, para os russos, guerra hí- especiais (Spetsnaz) foram deslocados por via aérea brida é um conceito ocidental e que eles nunca o para a Crimeia sob o pretexto de proteger a popu- discutiram, exceto para mencionar o uso do ter- lação de origem russa. A posse desses terminais de mo pelo Ocidente, bem como a aplicação daque- transporte permitiu à Rússia controlar a entrada le tipo de guerra contra a Rússia. Ressalta, então, de forças por via aérea na península. (EUA, 2015) que não há novidade em utilizar todos os meios Durante todo o dia seguinte, outros locais es- do poder nacional para atingir os objetivos do tratégicos foram tomados por tropas semelhan- Estado, mas sim ineditismo na maneira como os tes, incluindo a sede da companhia de televisão russos enxergam a aplicação dos meios não mi- estatal e instalações da Urktelecom, responsável litares. Para eles, a guerra é hoje conduzida por pela maioria das comunicações por telefone e in- meios não militares, em uma proporção cerca de ternet na península. Veículos militares russos co- quatro vezes maior do que os meios militares. Se- meçaram a aparecer e milícias locais foram vistas gundo Bartles, enquanto o Ocidente considera apoiando os homens de uniforme (. esses meios não militares como formas de evitar CSIS.ORG, 2014a). a guerra, os russos os consideram como meios As unidades militares ucranianas em Pere- para fazer a guerra. valnoye, Yevpatoria, Belbek e na base naval em

ADN • 9 Sebastopol foram cercadas por forças sem iden- como Estado independente. Finalmente, o pre- tificação e paramilitares. Autoridades russas ne- sidente russo Vladimir Putin, o primeiro minis- garam que tais forças fossem tropas de soldados tro da Crimeia, , e o prefeito de russos, chamando-as de forças de autodefesa que Sebastopol, Alexey Chaly, assinaram um acordo estavam utilizando uniformes adquiridos no co- de reunificação entre a Crimeia e a Federação mércio. (THE ATLANTIC, 2014) Russa, no dia 18 de março, sob protestos do go- Horas depois, o parlamento da Crimeia votou verno ucraniano. (UKRAINE.CSIS.ORG, 2014c) em favor da integração à Rússia e o governo pró- Com os soldados ucranianos cercados em -Moscou anunciou a realização de um referendo suas instalações militares, em menos de 4 sema- para consulta à população. nas, os russos, com o apoio de milícias locais, Em Simferopol, homens armados termina- capturaram cerca de 189 instalações militares ram de tomar todas as estações de mídia ainda ucranianas, quase sem disparar um tiro. A Ucrâ- em operação na cidade, fazendo trocar suas pro- nia perdeu a Crimeia mais devido a sua inação gramações por aquelas do canal de notícias russo do que em razão das ações russas. Os russos e Rossiya 24. (EUA, 2015) seus apoiadores usaram uma combinação de blo- Em 13 de março, os endereços eletrônicos queios navais, barricadas para impedir a saída de treze sítios de internet conhecidos por serem de soldados de suas bases, guerra psicológica, pró-Ucrânia e contra o governo russo foram blo- intimidação e suborno para convencer a maior queados. O Kremlin negou as acusações de censu- parte das unidades ucranianas a se render sem ra e pressão sobre a mídia. (GUTTERMAN, 2014) oferecer resistência. O grande número de russos Em 15 de março, entre 60 e 120 soldados rus- sos, apoiados por helicópteros e veículos blinda- étnicos nas unidades militares na Crimeia que se dos, ocuparam o centro de distribuição de gás recusaram a lutar pela Ucrânia e a falta de ações natural próximo a Strilkove, uma faixa de ter- concretas do governo em Kiev deram aos russos ra peninsular entre a Ucrânia e a Crimeia. Esse uma relativamente fácil vitória militar. centro é o nó do gasoduto que transporta o gás de origem russa, passando pela Ucrânia, para a Leste ucraniano Crimeia, e fornece quase toda a energia que nes- Os oblasts (províncias) de Donetsk e Luhansk ta é consumida. (UKRAINE.CSIS.ORG, 2014b) estão localizados no leste da Ucrânia. Eles têm De acordo com a comissão eleitoral da Cri- muitas características comuns e são unidos sob o meia, o resultado final do referendo realizado nome “Donbas”. A palavra “Donbas” é uma abre- no dia 16 de março indicou que 96,8% dos par- viação de duas palavras: “Donetsky Bassein” (bacia ticipantes foram a favor da reunificação com a de carvão de Donetsky). Donetsk e Luhansk com- Rússia. O Parlamento da Crimeia, após a divul- partilham uma fronteira com a Federação Russa. gação do resultado, declarou a independência Até 2014, a fronteira oriental estava mal equi- em relação à Ucrânia, formalizando petição para pada, porque a fronteira ucraniano-russa herdou anexação à Rússia e reivindicando a comunida- não a fronteira externa da URSS (uma fronteira de internacional o reconhecimento da Crimeia federal, com equipamento adequado), mas sua

ADN • 10 fronteira administrativa (inter-republicana). Sua Ativistas realizaram uma reunião no prédio da demarcação começou apenas em 2010. Esse fator administração regional e votaram a favor da facilitou travessias ilegais para a Ucrânia, a partir independência em relação à Ucrânia, declaran- da Rússia. (BALABAN, VOLYANYUK, et al., 2017) do fundada a “República Popular de Donetsk” Trabalhadores qualificados da Rússia e pesso- (RPD). Em Luhansk, os separatistas também as de diferentes nacionalidades, procurando por ocuparam o edifício da administração regional, uma vida melhor, foram para Donbas, que foi em 9 de abril de 2014, e criaram um governo pa- um dos principais centros industriais do Império ralelo, a “República Popular de Luhansk” – RPL. Russo e, depois, da União Soviética. De uma maneira geral, nas duas situações a Porém, com o fim da União Soviética, o colap- tática básica era convocar uma manifestação, as- so daquele complexo industrial soviético interco- segurar que as milícias e os líderes políticos que nectado, o principal consumidor da produção apoiavam as forças separatistas estavam presen- de Donbas, e a dolorosa transição de uma eco- tes, e depois simplesmente encorajar a multidão nomia planificada para uma economia de mer- a invadir o prédio. E então erigir barricadas e cado, levou ao declínio das fábricas e minas. O posições fortificadas fora dos prédios do gover- desemprego aumentou acentuadamente. E mais no, delegacias de polícia e centros municipais. recentemente, o declínio da indústria pesada na Por toda a região de Donbas, milícias locais economia e a incapacidade de competir com os montaram checkpoints para prevenir a chegada novos países industrializados (China, Índia etc.) trouxeram desemprego e vulnerabilidade social. de reforços do exército ucraniano, tomaram pré- (BALABAN, VOLYANYUK, et al., 2017) dios do governo e nomearam novos administra- A população de origem russa nas províncias dores. Ao mesmo tempo, continuava a campa- de Donetsk e Luhansk não negava a cidadania nha pelo reconhecimento da independência, na ucraniana, mas era a favor de boas relações com televisão, no rádio e nas mídias sociais. a Rússia. Essa boa aproximação foi usada por Moscou para lentamente formar uma rede de Batalhas de Donetsk, Zelenopillya, Ilovaisk e Debaltseve colaboradores, insurgentes, organizações civis e Violentos combates ocorreram no aeroporto partidos políticos, que sustentavam a narrativa de que a população de origem russa era oprimi- de Donetsk, um dos mais modernos da Europa. da pela maioria ucraniana. Os ucranianos temiam que a Rússia pudesse usar Protestos vinham ocorrendo em Donbas des- o aeroporto para infiltrar tropas em Donbas, assim de quando as manifestações na praça Maidan co- como fizeram na Crimeia. Além disso, o aeroporto meçaram em Kiev. Após diversas tentativas em tinha um valor simbólico para a Ucrânia, pois pas- fevereiro, manifestantes finalmente conseguiram sou por grandes reformas para sediar os jogos do ocupar o prédio da administração regional de campeonato de futebol da UEFA em 2012. Donetsk em 6 de abril de 2014, exigindo uma ses- Nessa batalha foi significativa a participação são legislativa extraordinária para implementar clandestina do batalhão Vostok, composto em sua um referendo para a independência da região. maioria por combatentes chechenos, cedidos pelo

ADN • 11 presidente daquela província, Akhmad Kadyrov3, à assinatura do Protocolo de Minsk em 5 de se- ao governo russo. (LUHN, 2014) tembro de 2014. A batalha de Zelenopillya ocorreu em 11 de Debaltseve foi a última peça territorial neces- julho de 2014. Foi a tentativa russa de conter a sária para unir a RPD à RPL e completar o obje- recuperação ucraniana e marcou a transição para tivo de uma . Para as forças russas e se- a fase do combate convencional de larga escala. paratistas, a cidade de Debaltseve era importante Às 04h30min desse dia, nos arredores da cidade porque ligava a RPD à RPL, por via ferroviária de Zelenopillya, na província de Luhansk, forças e via estrada M04, além de conectar a região de de reconhecimento russas e separatistas, com su- Donbas com a Rússia, por meio da estrada M03. porte de aeronaves remotamente pilotadas, iden- A Rússia e os separatistas procuraram comple- tificaram uma Zona de Reunião ucraniana, com tar um cerco, aproveitando a flange formada por elementos da 24ª Brigada Mecanizada, da 72ª tropas ucranianas na área controlada pelos rebel- Brigada Mecanizada e da 79ª Brigada Blindada. des, buscando fechar a faixa de terreno que ainda Forças russas desencadearam ataques cibernéti- ligava a cidade às linhas ucranianas. (FOX, 2017) co e eletrônico contra essas brigadas ucranianas, As forças russas e separatistas cercaram a ci- que neutralizaram seus sistemas de Comando e dade e, inicialmente, não investiram sobre ela, Controle (C2), limitando a capacidade de se co- evitando o combate em área urbana. Os bata- municarem. Sem seus sistemas funcionando, lhões russos utilizaram Aeronaves Remotamente os soldados ucranianos passaram a utilizar seus Pilotadas para identificar as posições das tropas aparelhos telefônicos celulares, iluminando o ucranianas, após o que realizaram fogos de bate- espectro eletromagnético, o que permitiu que rias de foguetes BM-21 Grad. Os prédios e a in- ações de guerra eletrônica russas identificassem fraestrutura da cidade foram atingidos, deixan- a localização precisa das forças ucranianas. For- do os combatentes ucranianos em dificuldades, ças russas, organizadas em estruturas modulares em um clima de temperaturas abaixo de zero e de nível batalhão, lançaram um massivo ataque neve. (FOX, 2017) com fogos de foguetes sobre as brigadas ucrania- O cerco da cidade e os ataques contra as de- nas. Relatos afirmam que os russos empregaram fesas ucranianas continuaram em fevereiro e, em baterias de lançadores múltiplos de foguetes BM- conjunto com outras ações no conflito, levaram 21 Grad e 9A52-4 Tornado, utilizando munições ao segundo acordo de Minsk, em 12 de fevereiro termobáricas e cluster. (GRYTSENKO, 2015) de 2015. No entanto, o acordo de nada adiantou Por sua vez, a batalha de Ilovaisk foi a mais para interromper a luta. Quando os comandan- sangrenta do conflito na Ucrânia, deixando um tes ucranianos perceberam que a situação estava grande número de mortos e feridos. Ilovaisk está se tornando catastrófica, resolveram retirar suas localizada na província de Donetsk, sobre uma tropas. Os governos de Kiev e Moscou chegaram importante estrada que liga a capital de Donetsk a um acordo para estabelecer um corredor para à Rússia. Constituía, assim, uma essencial linha permitir que as forças ucranianas se retirassem de comunicação para russos e separatistas. Essa pacificamente de Debaltseve. Foi uma retirada batalha e seu grande número de vítimas levaram desorganizada. Forças pró-Rússia emboscaram

ADN • 12 a coluna pela manhã. Os sobreviventes tiveram Mozhayev (também conhecido como “Babay”). que continuar a pé, pelos campos e florestas, ten- O recrutamento, armamento e implantação des- tando chegar às linhas ucranianas, deixando seus ses combatentes “voluntários” no território da mortos e feridos para trás. A cidade de Debalt- Ucrânia foi frequentemente organizado com a seve caiu nas mãos dos separatistas pró-Rússia, participação das autoridades russas. da RPD e da RPL, em 18 de fevereiro de 2015 O cidadão russo “voluntário” para lutar em (LUHN e GRYTSENKO, 2015). Donbas recebia uma compensação material. O A Batalha de Debaltseve foi o último grande dinheiro para apoiar os combatentes vinha de episódio da guerra. Ofensivas em larga escala já fundações russas, que eram financiadas com o não ocorrem mais, porém, o cessar-fogo tem sido apoio ativo de autoridades da Federação Russa. violado regularmente, até os dias atuais. (SHORINA e YASHIN, 2015) Desde o início do conflito, as autoridades rus- Voluntários, mercenários sas esconderam os dados sobre o número de ci- e funerais secretos dadãos russos mortos no território da Ucrânia, e ainda mais o número de soldados russos que É certo que as operações convencionais contra participaram em ações de combate. Estados soberanos convidariam o escrutínio não Informações sobre os militares russos mortos desejado, a pressão internacional e o protesto em Donbas permaneceram em segredo por um doméstico dentro da Rússia. Assim, para manter longo tempo. As autoridades militares russas de- o seu controle sobre a Ucrânia, a Rússia teria de claravam os soldados mortos como falecidos em empregar o poder de uma forma clandestina, treinamento na região de Rostov e providencia- negável. vam o sepultamento, sem a participação de pa- A fim de encobrir a sua participação no conflito, rentes. As famílias dos soldados mortos também as tropas russas tomaram algumas medidas, como tentavam não atrair a atenção. Os parentes dos cobrir as identificações nas suas viaturas e evitar usar quaisquer insígnias que pudessem ligá-las às falecidos recebiam grandes compensações finan- Forças Armadas russas. Muitos oficiais russos utili- ceiras e assinavam termos de manutenção do si- zaram documentos de identidade falsos e os solda- gilo. (SHORINA e YASHIN, 2015) dos fingiram ser voluntários ou mercenários. Dentre esses voluntários, havia alguns ex-ofi- Operações de informação ciais dos serviços especiais de inteligência da Rús- O coronel Sergei G. Chekinov e o general sia e oficiais militares de carreira, pessoas com Sergeu A. Bogdanov, do Centro de Estudos Es- experiência de combate e pessoas com passado​​ tratégicos e Militares do Estado-Maior das Forças criminoso. Muitas vezes, esses cidadãos torna- Armadas da Federação Russa, em artigo de peri- ram-se figuras chave nas tropas dos separatistas, ódico militar, afirmaram que os meios de influên- como o ex-oficial de inteligência Igor Girkin, Ar- cia da informação atingiram tal perfeição, que po- seny Pavlov (veterano da guerra chechena, tam- diam resolver tarefas estratégicas (CHEKINOV e bém conhecido como “Motorola”) e Aleksandr BOGDANOV, 2010). Segundo eles, a informação

ADN • 13 pode ser usada para prejudicar a governabilidade estava convencendo seus seguidores de que de um país, organizar protestos contra o governo, o partido de seu oponente, Yushchenko, era iludir os adversários, influenciar a opinião pública desdenhoso em relação às regiões Sul e Leste e reduzir a vontade de resistir de um oponente. da Ucrânia; que os consideravam “inferiores”, E ainda, que é fundamental que tais atividades quando comparados com as regiões central e comecem antes do início das operações militares ocidental. Embora Yanukovych tenha perdido tradicionais. (CHEKINOV e BOGDANOV, 2015) essas eleições, as regiões do Sudeste tornaram-se Nesse sentido, no plano externo, Moscou a base eleitoral para ele e seu partido por muitos combinou dissimulação, fraude, ameaças e acu- anos. (BALABAN, VOLYANYUK, et al., 2017) sações na fabricação da narrativa para a comu- Além disso, oligarquias locais no Leste ucra- nidade internacional. Durante as campanhas na niano procuravam manter suas lucrativas rela- Crimeia e na Ucrânia oriental, Putin e os seus ções econômicas com a Rússia, influenciando as agentes negaram o envolvimento russo, utilizan- decisões políticas de Kiev. do simultaneamente a ameaça da dissuasão mili- O argumento econômico foi sintetizado no tar (inclusive a nuclear) caso fossem provocados slogan “Donbas alimenta a Ucrânia”. A suposta demais. Rejeitando evidências de tropas russas na “injustiça” era que a política externa e a agenda região, acusaram o Ocidente de intromissão em ideológica eram formadas pelas “regiões subsi- assuntos ucranianos e pela escalada das tensões. diadas”, enquanto Donbas era privada de seus No plano interno, a Rússia utilizou a situação direitos políticos. Até 2013, o Kremlin apoiou política em Kiev para insuflar a população ucra- ativamente as atividades das organizações polí- niana de origem étnica russa. Muitos cidadãos de ticas pró-Rússia em Donetsk e Luhansk. (BALA- origem russa vivem na Ucrânia, em particular na BAN, VOLYANYUK, et al., 2017) região de Donbas e na Crimeia, fruto do passado Outra tentativa de criar uma identidade ét- nica foi o conceito de Novorossiya, oferecendo de anexações e migrações populacionais. Foi utili- uma base histórica para os projetos federativos zada uma variedade de meios para tal fim – televi- e separatistas das regiões do Sudeste da Ucrânia. são, internet, forças não-convencionais espalhan- No século XVIII, a província de Novorossiya foi do mensagens – exacerbando a tensão política e estabelecida no Império Russo. Suas fronteiras criando o pretexto de proteção dos russos étnicos. estavam sempre mudando, mas nunca se iguala- No Departamento de História da Universidade ram às do atual projeto “Novorossiya” separatista. de Donetsk, havia um grupo sob o patrocínio Na mídia, todos os programas de notícias da pessoal de Aleksandr Dugin. Todos os anos, ele TV russa noticiavam que a Ucrânia estava em organizava acampamentos, oferecia lições ideo- desordem, com pessoas protestando contra o lógicas à juventude graduada e instigava idéias “golpe de Estado”, a “junta”, a “opressão dos ci- neo-eurasianas. Taras Shumeyko – jornalista dadãos de língua russa”. Afirmavam que o fugiti- (apud BALABAN, VOLYANYUK, et al., 2017) – tradução nossa. vo Viktor Yanukovych era o legítimo presidente da Ucrânia. Essas redes de televisão alcançavam Durante as eleições presidenciais de 2004, o boa parte do Leste ucraniano, moldando a per- partido do candidato pró-Rússia, Yanukovych, cepção da população.

ADN • 14 Putin mantinha uma rede de meios de comu- seis contas no Facebook e publicar pelo me- nicação financiada pelo Estado. A RT, abreviatura nos três posts diários. No Twitter, eles pre- cisavam ter pelo menos 10 contas, nas quais de Russia Today, foi criada para melhorar a imagem postavam 50 vezes. Todos tinham metas para da Rússia no exterior, transmitindo em várias capi- o número de seguidores e o nível de engaja- tais mundo afora, por redes a cabo e satélite, nos mento que precisavam atingir (BENEDICTUS, Estados Unidos, na Europa, na Ásia e no Oriente 2016) – tradução nossa. Médio. (BALABAN, VOLYANYUK, et al., 2017) Segundo Rutenberg (2017), tamanha é a im- O Kremlin faz uso intensivo de redes sociais, portância desses meios de comunicação financia- especialmente a VK, com mais de 200 milhões dos pelo governo Putin que, de acordo com um de usuários, incluindo veteranos pró-Rússia para relatório das agências de inteligência do governo contar suas histórias com fins de propaganda. A dos EUA, a RT e o resto da máquina de informa- VK, originalmente VKontakte (ВКонтакте em rus- ção russa estavam sendo usadas para “operações so) é uma rede social de origem russa, equivalente secretas de inteligência” para “minar a ordem de- ao Facebook. De acordo com a Alexa Internet (dados 4 mocrática liberal liderada pelos EUA” e influen- de 2018) , é o 4º site mais visitado na Ucrânia e o ciar as eleições norte-americanas. (EUA, 2017) 2º na Bielorrússia e na Federação Russa, sendo, Na internet, em uma prática conhecida como nos três países, a rede social mais popular. “troll”, o governo russo pagou para que pessoas A seguir, os meios de influência para a cons- fizessem comentários pró-Rússia em redes- so trução da narrativa russa: ciais, blogs, vídeos e sites de notícias, com o intuito • Russia Today – canal de televisão estatal de disseminar uma campanha de desinformação, russo – lançado em 2005, tinha orçamento legitimar a anexação da Crimeia e apoiar os se- de US$ 350 milhões em 2015. Concentra- paratistas no leste ucraniano. -se em desacreditar a imagem e as poíticas do Ocidente, bem como qualquer percep- [...] a maior parte do que sabemos vem de ção de uma verdade objetiva. uma série de vazamentos em 2013 e 2014, a • Sputnik – agência internacional de notí- maioria deles diz respeito a uma empresa de São Petersburgo chamada Internet Resear- cias (radio e internet) do governo russo, ch Agency, depois renomeada como Internet que opera em mais de 30 (trinta) idiomas. Research. Acredita-se que seja uma das várias Lançada em 2014, com orçamento de US$ firmas onde os trolls são treinados e pagos 140 milhões. É uma plataforma online que para denegrir adversários de Putin, tanto no opera paralelamente à Russia Today (RT). país como internacionalmente. De acordo com documentos divulgados por um grupo de É uma modernização da clássica infraes- hackers em 2013, a Internet Research Agen- trutura e das ferramentas de informação cy empregou mais de 600 pessoas em toda a soviéticas. A Sputnik é um modelo de info- Rússia e teve um orçamento anual de US$ 10 tainment (informação e entretenimento), com milhões – metade pago em dinheiro. Os funcio- conteúdo multimídia atrativo, focando em nários tinham como tarefa postar comentários em artigos de notícias 50 vezes por dia. Aque- notícias locais e usando a credibilidade de jor- les que escreviam blogs tinham que manter nalistas conhecidos. Vende fotojornalismo,

ADN • 15 transmissões ao vivo, infográficos e -pes usados pelas​​ forças ucranianas constantemente quisas de opinião. Está em expansão. Tem apresentaram problemas. abrangência inclusive no Brasil. Também, o emprego de meios de Guerra • Russia Beyond the Headlines (RBTH) e Eletrônica foi combinado com SARP e fogos, no Russia Direct (RD) – publicações multi- nível tático, em formações de combate de bata- lingues. A RBTH busca parcerias com jor- lhão, proporcionando a aceleração do processo nais ocidentais de reputação para parecer identificação, aquisição de alvo, decisão, atuação isenta e objetiva, enquanto mantém fortes por fogos, e gerando grandes perdas às forças laços com organizações patrocinadas pelo ucranianas no Leste do país. governo russo. A RD produz newsletters Outro elemento chave foi a implementação de e reportagens especiais, parecendo uma propaganda, informação e campanhas de desin- fonte de informação legítima sobre a Rús- formação em larga escala. Para isso, a campanha sia, enquanto é, extraoficialmente, parte desenvolvida por Moscou integrou um crescente uso de ataques cibernéticos. do Kremlin. De 2014 a 2017, mais de 7.000 ataques ciber- • Midia sociais – Moscou emprega trolls que néticos foram realizados contra o Estado ucra- postam propaganda pró-Rússia, sob falsas niano. Os mais graves foram o ataque contra os identidades. As operações nas mídias sociais servidores do Comitê Eleitoral durante a eleição são destinadas a frustrar websites, retardar presidencial, contra as empresas de energia e os trabalhos jornalísticos e reduzir a utilidade ataques a sítios de internet das autoridades públi- da internet como um espaço democrático. cas (RESISTÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 2017). • Grupos de compatriotas russos – Esses O Serviço de Segurança da Ucrânia advertiu grupos representam infraestrutura crítica que oficiais do governo estavam sendo alvos de para os esforços de influência de Moscou, ataques Malware de espionagem (chamados de servindo como ligação para influenciar pa- “Snake”, “Uroboros” e “Turla”) desde 2010. íses com populações de língua russa. Trata A inteligência russa também utiliza hackers esses compatriotas como ferramentas para que são cooptados ou mascarados como agen- políticas em países vizinhos, para construir tes não-governamentais. Um desses atuadores a imagem da diplomacia russa ou legiti- da Internet russa é chamado CyberBerkut, uma mar a política externa que interfere nos organização de fachada para ataques cibernéti- assuntos de outros países. cos patrocinados pelo Estado russo, que apoia as operações militares e os objetivos estratégicos Guerra Eletrônica e Guerra Cibernética de Moscou na Ucrânia. A organização esteve li- Investigações independentes realizadas por gada a múltiplos ataques cibernéticos e espiona- ativistas ucranianos e especialistas fornecem gem, incluindo ataques de negação de serviço evidências do emprego de meios de Guerra (DoS Attack) contra a OTAN e os governos ucra- Eletrônica contra a Ucrânia.5 Fruto desse em- niano e alemão. (DEFENSE INTELLIGENCE prego, os equipamentos de telefonia e rádio AGENCY, 2017)

ADN • 16 Por fim, ressalta-se que muitos ucranianos políticos, econômicos e psicossociais, atuando a acusaram o governo interino de Kiev de falta de expressão militar como coadjuvante. ação e lentidão na resposta aos acontecimentos na O modelo de planejamento estratégico apre- Crimeia e no Leste do país. Portanto, fica eviden- sentado foi o do emprego de uma série de ações ciado que as operações de informação levadas a sucessivas, combinando a ameaça direta e a efeito pela Rússia, com a atuação integrada de ca- pressão indireta, bem como limitadas ações em pacidades relacionadas à informação, afetaram o força, mesclando ações políticas, diplomáticas, ciclo decisório das autoridades ucranianas, facili- psicológicas e militares, tendo sempre presen- te a preocupação de não agravar o conflito. As tando o desenvolvimento da campanha terrestre. operações russas visaram moldar e manipular Conclusão as percepções e comportamentos das audiências estrangeiras. Buscaram explorar a margem de Após a dissolução da União Soviética, o recuo liberdade de ação obtida pela manobra exterior, das forças russas para Leste foi sem precedentes. com a narrativa de proteção dos russos étnicos, A fronteira russa nunca esteve tão perto de Mos- para a execução de ações políticas, psicológicas cou. Vladimir Putin chegou ao poder acreditan- e militares com o objetivo de alcançar a decisão do que o colapso da União Soviética foi a maior e estabelecer um fato consumado. As fases das catástrofe geopolítica do século. Desde então, ações sucessivas caracterizaram-se pelo emprego da surpresa e pela rapidez de sua execução. Du- tenta restabelecer a hegemonia russa na Eurásia. rante todo o processo, a negativa da participação Assim, alinhados ao paradigma geopolítico, russa serviu para evitar a escalada ao extremo do inferem-se os seguintes objetivos políticos: conflito, que resultasse em uma guerra total com • deter o avanço da OTAN para Leste; outros países europeus. Reafirmou-se que a uti- • impedir que a Ucrânia se torne pró-Ocidente; lização da informação como arma é um aspecto • contrapor-se ao mundo unipolar liderado fundamental da estratégia da Rússia e é empre- pelos EUA; e gada em tempo de paz, crise e guerra. • recobrar a hegemonia regional e a influên- Esse mecanismo de agressão consiste na di- cia sobre seus vizinhos. visão do país por dentro. Para isso, os ressenti- mentos internos existentes (linhas de fratura) Esses objetivos foram perseguidos com limi- são insuflados de todas as formas possíveis, não tada liberdade de ação, fruto da possibilidade de importando de que tipo eles são - étnicos, religio- escalar o conflito, odendo p ocasionar a partici- sos, sociais ou territoriais. A população do país pação de potências nucleares. Além disso, outro vítima torna-se completamente desorientada em limitador foi a opinião pública internacional. termos referenciais do “nós e eles”. Em vez de se As ações da Federação Russa, principalmente unir em face da agressão externa, parte da po- na primeira fase do conflito, na Crimeia, carac- pulação entra em choque contra a outra parte de terizaram o uso do método da estratégia indi- seu próprio povo. reta, com o emprego predominante das demais Enquanto isso, o agressor assume o papel expressões do Poder Nacional, utilizando meios de protetor de uma parte, no conflito que ele

ADN • 17 mesmo criou. E os países que são vítimas desse A estratégia russa no conflito da Ucrânia, tipo de agressão são derrotados sem mesmo con- à luz da doutrina militar brasileira, pode ser seguir identificar quem é o agressor. caracterizada como um novo tipo de guerra, Pode-se inferir, como o Estado Final Desejado pois fez uso de meios das demais expressões das operações militares russas, a região de Don- do Poder Nacional, sincronizados no tempo e bas controlada pelos separatistas, as forças ucra- no espaço com as ações militares, com o predo- nianas e o governo local expulsos, o território mínio dos primeiros, em uma intensidade até conquistado autossuficiente e a liberdade de ação então inédita. russa mantida. Para isso, as Linhas de Operação Conforme afirmou Gerasimov (2013), as re- foram o controle das linhas de comunicação (ae- gras da guerra mudaram. O papel dos meios roportos, portos e nos rodoviários), a rendição não-militares de alcançar objetivos políticos e das forças ucranianas da Crimeia e o isolamento estratégicos cresceu e, em muitos casos, exce- e cerco das forças em Donbas. Por sua vez, as Li- deram o poder da força das armas em sua efi- nhas de Esforço foram a manutenção da superio- cácia. Esses meios foram complementados por ridade de informações, a conquista e manuten- meios militares velados, incluindo a realização ção da superioridade aérea e a manutenção das de ações de guerra de informações e as ações de infraestruturas críticas em funcionamento. forças de operações especiais. Foram essenciais para se atingir o Estado Final Outro aspecto a considerar é a percepção da Desejado: guerra como um conceito atrelado à violência. • o emprego de forças e equipamentos sem Segundo aponta a Doutrina Militar Terrestre identificação, para negar o envolvimento brasileira, a guerra é o conflito no seu grau má- no conflito; ximo de violência, podendo implicar, em fun- • o emprego de Forças-Tarefa Batalhão com ção de sua magnitude, a mobilização de todo o atuação independente, mantendo baixo perfil, facilitando o desdobramento de for- Poder Nacional. ça, por infiltração, no interior da Ucrânia; e Embora afirme que na guerra todo o Poder • a capacidade de autossustentação dos bata- Nacional pode ser aplicado, salienta que o em- lhões, pela formação modular, agregando prego de sua expressão militar é predominante. meios de guerra eletrônica, defesa antia- Define o espectro dos conflitos quanto ao grau érea e de apoio de fogo de longo alcance de violência. (baterias de foguetes). Não há dúvidas de que a Rússia e a Ucrânia es- tiveram em um estado de beligerância. É comum Mas se as ações descritas podem ser vistas referir-se ao tema aqui analisado como “Guerra como comuns aos conflitos híbridos, bem como da Ucrânia” ou “Conflito da Ucrânia”. Mas será afetar à guerra convencional, em uma segunda que o emprego da expressão militar foi predomi- fase, o que há de diferente no tipo de guerra nante? Ainda que se afirme que no Donbas tenha aplicado pela Rússia? sido, o que dizer da Crimeia? E exagerando ao - Sua escala. extremo, é possível guerra sem violência?

ADN • 18 O que se pretende é concluir, ou ao menos utilização da força militar e moldar uma respos- trazer à atenção, que nos dias atuais a guerra se ta favorável da comunidade internacional para torna cada vez mais disforme e sutil, dificultando a utilização da força. Em consequência, as fer- a percepção da ameaça e o processo de tomada ramentas de guerra de informações devem ser de decisão, acarretando a perda da iniciativa e a utilizadas antes do início das operações milita- possibilidade de derrota por inação. res, a fim de alcançar os objetivos do Estado sem Isso requer a atenção quanto à velocidade em ter que recorrer ao uso da força ou, sendo seu que o conflito e a guerra surgem e escalam e, uso necessário, desorientando e desmoralizando portanto, a necessidade de preparar-se para as o adversário, garantindo que o Estado é capaz diversas hipóteses e cenários, com uma mobiliza- de justificar suas ações perante a opinião pública. ção de curtíssimo prazo. Assim, as estruturas relacionadas às operações Militarmente, os russos reuniram métodos re- de informação tornam-se uma ferramenta do gulares e irregulares em uma combinação mui- Estado, legítima e necessária em tempo de paz, to flexível, empregando-os de forma altamente bem como na guerra. integrada. Perceberam a guerra em um sentido O Manual de Campanha Operações de Infor- mais amplo e não-linear e, portanto, além de tá- mação (BRASIL, 2014), quando trata das estru- ticas clássicas no campo militar, eles também em- turas responsáveis pelo planejamento, condução pregaram todos os meios da era da informação e avaliação das operações de informação, afirma para obter vantagem sobre seus inimigos. que a partir do nível politico, especialistas em Tamanha é a importância da superioridade operações de informação (Op Info) do Exército, de informações nos dias atuais, que se verifica a quando requisitados, podem integrar, sob a co- necessidade de considerar, na Força Terrestre ordenação do Ministério da Defesa, um Grupo brasileira, a maior integração das capacidades de Trabalho Interministerial (GTI). E no nível relacionadas à informação (inteligência, guerra estratégico, uma equipe de Op Info da Força eletrônica, guerra cibernética, operações psico- Terrestre, quando requisitada, poderá parti- lógicas e comunicação social), subordinando-as às operações de informação, evitando a atuação cipar de um Grupo de Integração Interforças independente de cada uma delas. Nas Forças (GII), sob a coordenação do Estado-Maior Con- Armadas da Federação Russa, essas capacidades junto das Forças Armadas (EMCFA). Portanto, estão integradas sob o manto da guerra de infor- além da ativação do GII, ressalta-se que não há mações (informatsionnaya voyna) e subordinadas previsão de uma estrutura permanente, no nível a um órgão central, possibilitando a unidade e de planejamento estratégico, responsável por li- convergência de esforços. dar com a complexidade das Op Info, especifi- De acordo com a doutrina militar da Fede- camente destinada a coordenar os esforços e a ração Russa (2010), uma das características dos desenvolver estratégias. conflitos militares modernos é a implementa- Por fim, cabe ressaltar que a ideia de que qual- ção prévia de medidas de guerra de informa- quer abordagem “nova” para a guerra, incluindo ção, a fim de alcançar objetivos políticos sem a a “guerra híbrida”, pode levar a repetidas vitórias

ADN • 19 militares, reflete uma incorreta compreensão da que o sucesso de uma estratégia é sempre depen- condução da guerra, enfatizando as capacidades dente do contexto. A Estratégia trata da aplicação operacionais e a doutrina em detrimento da Es- da força militar num caso particular, para atingir tratégia. Em outras palavras, a presunção de que fins específicos. Em resumo, guerra híbrida não qualquer modo definido de guerra ou abordagem é uma estratégia em si mesma, mas apenas uma doutrinária levará à vitória militar, independen- forma de abordagem operativa que foi utilizada temente das circunstâncias, negligencia o fato de para se atingir um objetivo específico.

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Notas

1 O livro “Fundamentos de geopolítica: o futuro geopolítico da Rússia” (tradução nossa) tem tido uma grande influência nas elites militares e políticas russas (CLOVER, 2016). O livro é utilizado como leitura obrigatória na Academia de Estado-Maior das Forças Armadas da Federação Russa (DUNLOP, 2004). 2 Em março de 2003, o governo russo organizou um referendo na Chechênia, sobre a nova Constituição local, que ratifi- caria a subordinação da república a Moscou. A lei foi aprovada por 96% dos eleitores, mas o referendo foi considerado irregular e condenado internacionalmente. Num pleito igualmente criticado, em outubro de 2003, Akhmad Kadyrov foi eleito presidente da Chechênia, com 81% dos votos. (GRAMMATICUS, 2003). Alguns analistas acreditam que o batalhão Vostok é um exército de mercenários dirigido ou ao menos ligado à inteligência russa. 3 https://www.alexa.com/topsites/countries 4 Como exemplo dessas iniciativas de investigação, tem-se a InformNapalm (https://informnapalm.org/ua/), que surgiu como uma resposta à agressão russa na Ucrânia, em março de 2014. Foi criada pelo jornalista Roman Burko (Ucrânia) e pelo especialista militar Irakli Komaxidze (Geórgia).

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