Mercado E Sistema Tributário Chinês: Análise Acerca Da Constituição De Uma Potência
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MERCADO E SISTEMA TRIBUTÁRIO CHINÊS: ANÁLISE ACERCA DA CONSTITUIÇÃO DE UMA POTÊNCIA Cláudio Tessari é Mestre em Direito pelo Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter Laureate International Universities. Pós-graduado em Gestão de Tributos e Planejamento Tributário Estratégico pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. Professor livre docente dos cursos de: Pós-graduação em Direito Tributário do Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter Laureate International Universities; Pós-gradução em Direito Tributário da PUCRS-IET; Pós- graduação da Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia da PUCRS; Pós-graduação em Direito de Família e Sucessões da PUCRS; Pós-graduação em Direito e Gestão Tributária da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos; Pós-graduação em Direito de Família Contemporâneo e Mediação da Faculdade de Desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Sul – FADERGS; Pós-graduação em Direito de Família e MBA em Direito de Empresa com ênfase em Direito Tributário do Instituto de Desenvolvimento Cultural – IDC. Sócio do Instituto de Estudos Tributários – IET. Sócio do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM e membro da Comissão de Estudos Multidisciplinares. Sócio da Bernardon, Gerent & Tessari Advogados Tributaristas Associados S.S. Advogado Tributarista. Área do Direito: Direito Tributário, Direito Empresarial, Direito Comercial Internacional. Sumário: 1.Considerações iniciais. 2. O Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) e a Organização Mundial do Comércio (OMC); 3. O que é dumping, o que significam as medidas antidumping, e a finalidade de proteger, de forma expressa (art. 3º, item 4 do WTO), os empregos e salários nas indústrias do país importador; 4. O Decreto n. 8.058, de 26.07.2013, a regulamentação dos procedimentos administrativos relativos à investigação e à aplicação de medidas antidumping no Brasil, e a finalidade de proteger, de forma expressa (art. 30, § 3º, III, letras “c” e “d”, de tal Decreto), os empregos e salários das indústrias brasileiras; 5. Análise do mercado chinês, o que mais fomenta dumping no mundo, antes e após o ingresso da China na OMC; 6. Análise do sistema tributário chinês e da concessão benefícios às empresas dos tipos FES e FIES que estiverem localizadas numa das cinco special economic zones (SEZs); 7. Casos recentes de aplicação de medida antidumping no Brasil, contra a exportação de produtos oriundos da China, com fulcro no Decreto n. 8.058, de 26.07.2013; 8. Conclusão Resumo: Um dos grandes desafios do Brasil, hodiernamente, é, sem dúvida, oferecer uma resposta ao seguinte questionamento: como conviver no âmbito do comércio internacional com a China, que passará a ser considerada uma economia de mercado a partir do ano de 2016, e, ao mesmo tempo, manter o nível de emprego, renda e salários da indústria nacional protegendo, de forma direta, os direitos laborais? E, sem dúvida, por meio do o Decreto n. 8.058, de 26.07.2013, o Governo do Brasil não ignorou as características sociais, os padrões de comportamento real de seus cidadãos. 1 Palavras-chave: Dumping; antidumping; mercado e sistema tributário chineses; Decreto-lei n. 8.058/2013. Abstract: One of the great challenges of Brazil, in our times, is undoubtedly offer an answer to the following question: how to live in international trade with China, which will be considered a market economy from the year 2016, and, while maintaining the level of employment, income and wages of protecting domestic industry, directly, labor rights? And no doubt, through Decree n. 8,058, of 07.26.2013, the Government of Brazil did not ignore the social characteristics, the actual behavior patterns of its citizens. Keywords: dumping; antidumping; Chinese market and tax system; Legislative Decree no. 8058/2013. 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS A intensificação das trocas comerciais entre Estados se constitui num importantíssimo fenômeno das relações internacionais contemporâneas na medida em que deu origem a padrões de comportamento contraditórios por parte dos Estados e a criação de uma institucionalidade complexa e ambígua para governar e estimular o crescimento do comércio internacional. Isso ocorre, porque, o comércio em muitas situações acaba cedendo às fortes demandas em nível mundial e, em consequência, pode esgotar os recursos naturais, explorar o trabalho humano, e causar uma divisão não equânime da riqueza entre os Estados. O Direito é totalmente influenciado pela Economia na medida em que é limitado a sua competência territorial, assim em qualquer lugar que exista a convivência humana haverá, também, movimentação econômica que deverá ser regulada por normas. Mas, se é verdade que o direito nasce com frequência em resposta a fenômenos econômicos e sociais, também é forçoso concluir que ele, direito, busca regulamentar esses fenômenos por meio da criação de órgãos como a CAMEX e o DECOM, em nível nacional, e como o GATT e a OMC, em nível mundial, que fomentam e aplicam normas e políticas públicas para promover a regulação, o desenvolvimento e a liberação do comércio de bens. Contudo, a busca pela redução dos custos tributários e encargos sociais na fabricação de produtos destinados à exportação, muitas vezes, dá ensejo a violações dos direitos dos empregados, seja por meio de prática cada vez mais comum de transferência e criação de unidades produtivas para países ou regiões nos quais não são respeitados os direitos laborais, o que não é objeto do presente artigo, seja através da exportação dos produtos produzidos dessa forma a preços inferiores àqueles normalmente praticados no mercado interno do país exportador, provocando danos materiais ou inibindo o desenvolvimento da indústria doméstica 2 do país importador, o que vem a ser classificado como dumping, constituindo-se no objeto do presente artigo. O mercado chinês é o que mais fomenta dumping no mundo, antes e após o ingresso da China na OMC, sendo que o sistema tributário chinês concede grandes benefícios às empresas estrangeiras (FEs) e com investimento estrangeiro (FIEs) desde que estejam localizadas numa das cinco zonas de economia especial (ZEE) existentes naquele país, proporcionando que tais empresas produzam e exportem para o Brasil bens a preços excessivamente competitivos. Diante dessa realidade, os governos buscam proteger seus países dessas práticas desleais de comércio internacional, em nível brasileiro, por meio do Decreto n. 8.058, de 26.07.2013, e mundial, por meio do Acordo Antidumping, com a fixação e estabelecimento de medidas antidumping que consistem numa imposição paratarifária de direito econômico internacional, adicionado ao preço do produto importado capaz de produzir efeitos danosos na economia dos países importadores. O Brasil, por sua vez, também com o Decreto n. 8.058, de 26.07.2013, regulamentou os procedimentos administrativos relativos à investigação e à aplicação de medidas antidumping, medidas essas que são respaldadas pelas Resoluções exaradas pelo Conselho de Ministros da CAMEX e, bem mais que isso, com base nas disposições do art. 30, § 3º, III, letras “c” e “d”, do referido decreto, dispôs que se considera como dano, justificador do antidumping, os efeitos negativos reais ou potenciais das importações objeto de dumping sobre o emprego e salários da indústria brasileira, o que demonstra a preocupação do legislador nacional com a defesa dos direitos laborais em total consonância com o Acordo Antidumping (WTO). 2. O ACORDO GERAL SOBRE TARIFAS E COMÉRCIO (GATT) E A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC) Passado o período da 2ª Guerra Mundial os países aliados, objetivando o fortalecimento da economia mundial que fora completamente mutilada pelas consequências da luta armada, buscaram o estreitamento de suas relações políticos-comerciais e, para tanto, idealizaram a criação de três instituições internacionais que colaborariam com esse objetivo, quais sejam, a Organização Internacional do Comércio (OIC), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), sendo que a OIC tinha como principal objetivo “coordenar e supervisionar a negociação de um novo regime para o comércio mundial baseado nos princípios do multilateralismo e do liberalismo”1. Através da Carta de Havana, originária da rodada de negociações comerciais multilaterais do GATT, foram delimitados os princípios e objetivos da Organização Internacional do Comércio (OIC), mas, infelizmente, a mesma não foi 1 BARROS, Maria Carolina Mendonça de. Antidumping e Protecionismo, São Paulo, Edições Aduaneiras Ltda., 2004, p. 15. 3 ratificada pelos Estados Unidos da América, ao que tudo indica, para manter sua liderança no âmbito do comércio internacional. Contudo, no ano de 1947, foi levado a efeito um acordo provisório que obrigava os 23 países signatários com relação ao tema – Política Comercial – que tratava das negociações de tarifas e regras gerais sobre o comércio, acordo esse que foi batizado de Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), que se tornou o foro mais importante de discussões sobre os temas relacionados com o comércio internacional, entre eles o dumping e o antidumping.2 Diversas foram às fases de negociações multilaterais, também chamadas de rodadas de negociações comerciais multilaterais do GATT, objetivando regular e ampliar o livre comércio entre as nações mundiais sendo que em 1986, no Uruguai, na cidade de Punta Del Este, teve início a 8ª rodada que se encerrou numa cidade do centro-sudoeste do Marrocos, também conhecida como a pérola do sul, ou seja, Maraqueche, no ano de 1994.3 A referida rodada recebeu o nome