Universidade Federal do Rio de Janeiro

O CRUZAMENTO VOCABULAR FORMADO POR ANTROPÔNIMOS: ANÁLISE MORFOLÓGICA E FONOLÓGICA

Vitória Benfica da Silva

2019 O CRUZAMENTO VOCABULAR FORMADO POR ANTROPÔNIMOS: ANÁLISE MORFOLÓGICA E FONOLÓGICA

Vitória Benfica da Silva

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves.

Rio de Janeiro Fevereiro de 2019 O CRUZAMENTO VOCABULAR FORMADO POR ANTROPÔNIMOS: ANÁLISE MORFOLÓGICA E FONOLÓGICA Vitória Benfica da Silva

Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

EXAMINADA POR:

______Professor Doutor Carlos Alexandre V. Gonçalves – Programa de Letras Vernáculas – UFRJ Orientador

______Professora Doutora Kátia Emmerick Andrade – UFRRJ/UFRJ

______Professor Doutor Roberto Botelho Rondinini – UFRRJ/UFRJ

______Professor João Carlos Tavares da Silva – UFRJ/UFRJ

______Professor Vítor de Moura Vivas – IFRJ/UFRJ

Rio de Janeiro Fevereiro de 2019

À minha família que tanto amo.

AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, agradeço a Deus por ter me guiado até aqui e me sustentado com tanto amor. Agradeço não só por minhas conquistas, mas também pelo milagre que é a minha vida! Milagre, inclusive, que foi a motivação do antropônimo dado a mim.

Sou imensamente grata também a minha família, que tem me acompanhado desde o princípio da jornada acadêmica. Aos meus pais, João Alexandre e Lucireny, agradeço por todo o apoio e incentivo de sempre; à minha irmã, Sara, por ser um verdadeiro exemplo e por estar ao meu lado em qualquer situação. Agradeço ao Caio Max, meu namorado, pela ajuda constante e companhia, que fazem muita diferença nos meus dias; à minha avó, Judith, por zelar por mim nessa caminhada; e ao meu cunhado, Thiago, sempre solícito no que for preciso. Vocês são meu suporte!

Meus parentes, mesmo quando de longe, também são muito especiais, sempre se mostrando satisfeitos com a minha felicidade. E além da minha família biológica, sou grata a minha família em Cristo, que muito significa para mim.

A todos os meus amigos, que tornam minha vida mais agradável, minha mais sincera gratidão. Entre esses, destaco Pâmela e Rodrigo, que me acompanharam desde o início do mestrado, compartilhando as alegrias e aflições do curso.

Em especial, agradeço ao prof. Dr. Carlos Alexandre Gonçalves. Obrigada por me apresentar de maneira mais tangível o caráter científico dos estudos linguísticos e por me mostrar a beleza que há nos dados de uma pesquisa. Agradeço também por toda dedicação e atenção durante esse período! Nunca imaginei ter o privilégio de ser orientada por quem orientou grandes profissionais que admiro.

Reconheço, inclusive, o valor de todos professores que me ajudaram a construir as bases para chegar até aqui, como os professores Dr. Roberto Botelho Rondinini e Dra. Kátia Emmerick Andrade, por quem tenho um grande apreço. Vocês me ajudaram a trilhar esse caminho!

Por fim, agradeço à CAPES pela bolsa concedida no período do mestrado.

Encerro este momento com o trecho de uma ilustre obra que me deu calmaria nos momentos de tribulação e me impulsionou a não desistir: "Damos-te graças, ó Deus, damos-te graças, pois perto está o teu nome; todos falam dos teus feitos maravilhosos." (Salmos 75:1).

Quem reflita um bocado sobre uma palavra há de perceber que mistério poderoso se entocaia nas sílabas dela. Tive um amigo que às vezes, até na rua, parava, nem podia respirar mais, imaginando, suponhamos, na palavra "batata". "Ba" que ele, "ta" repetia, "ta" assombrado. Gostosissimamente assombrado. De fato, a palavra pensada assim não quer dizer nada, não dá imagem. Mas vive por si, as sílabas são entidades grandiosas, impregnadas do mistério do mundo. A sensação é formidável. Mário de Andrade (Memória e assombração. In:______. Os filhos da Candinha. São Paulo, Martins: 1964, p.161) RESUMO O CRUZAMENTO VOCABULAR FORMADO POR ANTROPÔNIMOS: ANÁLISE MORFOLÓGICA E FONOLÓGICA Vitória Benfica da Silva Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves. Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdades de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas – Língua Portuguesa.

O presente trabalho tem como objetivo principal analisar o cruzamento vocabular, processo de formação de palavras que tem como base outras duas palavras já existentes na língua, a exemplo de chafé (< chá + café), cujo produto final não só determina um novo significado como também reproduz os das bases. Focalizamos, no entanto, um corpus diferenciado, não investigado anteriormente: cruzamento vocabular formado por, pelo menos, uma base antroponímica. Desse modo, nos baseamos tanto em estudos sobre o cruzamento vocabular – Gonçalves (2003, 2006, 2016) e Andrade (2008, 2009) – quanto naqueles sobre a antroponímia – Cassier (1985), Dick (1987) e Soledade (2012). Com esse perfil de corpus, coletamos dados de quatro categorias distintas: (i) antropônimos acrescidos de qualificador, como Imbeciro (< imbecil + Ciro); (ii) shippagem, a exemplo de Brumar (< Bruna + Neymar); (iii) nomes de batismo, como Ivedro (< Ivana + Pedro) e (iv) oniônimos de bases antroponímicas, como em Veterimário (< veterinário + Mário). Os resultados apontam para diferentes padrões de formação em cada grupo, além de um forte valor expressivo dos antropônimos, de modo geral.

Palavras-chave: morfologia; fonologia; cruzamento vocabular; antropônimos.

ABSTRACT THE LEXICAL BLEND FORMED BY ANTHROPONYMS: A MORPHOLOGICAL AND PHONOLOGICAL ANALYSIS Vitória Benfica da Silva Advisor: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves. Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdades de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas – Língua Portuguesa.

The main objective of this work is to analyze lexical blend, a process of word formation based on two other words already present in the language, such as chafé (< chá “tea” + café “coffee”), whose final product not only determines a new meaning but also reproduces those of the bases. We focus, however, on a differentiated corpus, not previously investigated: lexical blend formed by at least an anthroponymic basis. Thus, we base ourselves on studies on the lexical blend – Gonçalves (2003, 2006, 2016) and Andrade (2008, 2009) – and on those on anthroponyms – Cassier (1985), Dick (1987) and Soledade (2012). With this corpus profile, we collect datas from four distinct categories: (i) anthroponyms plus qualifier, such as Imbeciro (< imbecile + Ciro); (ii) shipping, like Brumar (< Bruna + Neymar); (iii) baptismal names, such as Ivedro (< Ivana + Pedro) and (iv) “oniônimos” with anthroponymic bases, such as Veterimário (< veterinary + Mário). The results point to different training patterns in each group, as well as a strong expressive value of anthroponyms, in general.

Keywords: morphology; phonology; lexical blend; anthroponyms.

SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS ...... 11 LISTA DE DIAGRAMAS ...... 12 LISTA DE IMAGENS ...... 13 LISTA DE QUADROS ...... 14 1. INTRODUÇÃO...... 15 2. ENFOQUES SOBRE O CRUZAMENTO VOCABULAR ...... 18 2.1 DEFINIÇÃO E TIPOLOGIA ...... 18 2.1.1 Definição ...... 18 2.1.2 Tipologia ...... 20 2.2 VALOR EXPRESSIVO ...... 28 2.3 O CRUZAMENTO VOCABULAR FRENTE A OUTROS PROCESSOS MORFOLÓGICOS 35 2.3.1 Composição ...... 36 2.3.2 Recomposição ...... 43 2.3.3. Hipocorização ...... 44 2.3.4 Siglagem ...... 45 3. ABORDAGENS SOBRE A ANTROPONÍMIA ...... 49 3.1 DEFINIÇÃO E ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ...... 49 3.2 PERSPECTIVAS DE ESTUDO ...... 53 3.2.1 Motivação ...... 53 3.2.2 Semântica ...... 55 3.2.3 Neológica ...... 58 3.2.4 Morfológica ...... 59 4. ANÁLISE DE DADOS ...... 62 4.1 ANTROPÔNIMO ACRESCIDO DE QUALIFICADOR ...... 63 4.1.1 Apresentação do corpus ...... 63 4.1.2 Análise do grupo antropônimo acrescido de qualificador ...... 69 4.2 SHIPPAGEM ...... 83 4.2.1 O fenômeno ...... 83 4.2.2 Apresentação do corpus ...... 96 4.2.3 Análise do grupo shippagem ...... 100 4.2.4 Um paralelo entre o cruzamento vocabular de bases antroponímicas (ships) e a siglagem ...... 107 4.3 NOMES DE BATISMO ...... 110 4.3.1 Apresentação do corpus ...... 110 4.3.2 Análise do grupo nomes de batismo ...... 118 4.3.3 Um paralelo entre o cruzamento vocabular de bases antroponímicas (nomes de batismo) e a hipocorização ...... 123 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 128 REFERÊNCIAS DAS IMAGENS ...... 132 REFERÊNCIAS...... 134 ANEXOS ...... 137 ANEXO I – Antropônimo acrescido de qualificador ...... 137 ANEXO II – Shippagem ...... 148 ANEXO III – Nome de batismo ...... 166 ANEXO IV – Oniônimo de bases antroponímicas ...... 184

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LISTA DE SIGLAS

CV – Cruzamento vocabular

BL – Blend Lexical (termo em inglês para cruzamento vocabular)

SSL – Substituição Sublexical

PWd – Prosodic Word (termo em inglês para palavra prosódica)

PWd* – Complex Prosodic Word (termo em inglês para palavra prosódica complexa)

MWd – Morfologic Word (termo em inglês para palavra morfológica)

MWd* – Complex Morfologic Word (termo em inglês para palavra morfológica complexa)

DT-DM – Determinante-Determinado

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LISTA DE DIAGRAMAS

Diagrama 1: Representação da ambimorfemia...... 21

Diagrama 2: Representação da palavra prosódica (PWd) ...... 40

Diagrama 3: Categorização dos antropônimos...... 50

Diagrama 4: Representação da quebra no cruzamento monossilábico...... 71

Diagrama 5: Representação da quebra na combinação truncada...... 73

Diagrama 6: Representação da quebra na interposição lexical...... 73

Diagrama 7: Representação de um segmento não aproveitado na interposição lexical...... 74

Diagrama 8: Representação da quebra na combinação truncada...... 75

Diagrama 9: Representação do continuum entre os grupos do corpus...... 130

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1: Dilmais (Meme postado no Facebook)...... 66

Imagem 2: Dilmais (Postagem no Twitter)...... 66

Imagem 3: Prólogo de uma fanfic do site Spirit Fanfics e Histórias...... 85

Imagem 4: Brumar (Título de matéria da Ig)...... 86

Imagem 5: Jorena (Postagem no Facebook)...... 86

Imagem 6: Casal da ficção para a vida real (Matéria do Gshow)...... 87

Imagem 7: Semi – Ship de amizade...... 89

Imagem 8: Ships de casais improváveis ou impossíveis...... 90

Imagem 9: Brincadeira de formar ships...... 92

Imagem 10: Enquete envolvendo ship...... 93

Imagem 11: Aplicativo gerador de ships...... 94

Imagem 12: Johnlock – Exemplo de slash ship...... 97

Imagem 13: Clanessa – Exemplo de femslash ship...... 98

Imagem 14: Geronnik – Uso representativo de ‘união de jogo...... 99

Imagem 15: Teste entre diferentes possibilidades de ordem nas bases dos ships..... 101

Imagem 16: Mart’nália e Analimar (Matéria da revista Quem)...... 111

Imagem 17: Brincadeira de junção de nomes...... 112

Imagem 18: Derick – Exemplo de nome não considerado neológico...... 113

Imagem 19: Exemplos de junção de nomes que não correspondem ao cruzamento vocabular...... 116

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Tipologia do cruzamento vocabular por diferentes autores...... 28

Quadro 2: Comparação entre a composição e o cruzamentovocabular...... 43

Quadro 3: Padrões da hipocorização...... 45

Quadro 4: Processo ocorrido na reanálise...... 80

Quadro 5: Distribuição quantitativa da estrutura dos ships...... 106

Quadro 6: Comparação entre a siglagem e o cruzamento vocabular...... 110

Quadro 7: Distribuição quantitativa da estrutura dos nomes de batismo...... 123

Quadro 8: Comparação entre a hipocorização e o cruzamento vocabular...... 126

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1. INTRODUÇÃO

Uma das mais instigantes características da língua é a sua dinamicidade, e o vocabulário do Português Brasileiro é exemplo incontestável disso. Ao passar por constantes atualizações, palavras são reinventadas a todo momento, além de outras serem criadas a depender do contexto sócio-comunicativo, o que nos leva a concluir que o vocabulário de uma língua está longe de se refletir apenas aos dicionários. A formação de palavras no Português é, em maior escala, pautada em processos aglutinativos, como afirma Gonçalves (2006), a exemplo da composição (guarda- chuva) e da afixação (feliz-mente), cujas palavras são caracterizadas pelo encadeamento estrito de suas partes, ou seja, um morfema começa no exato ponto em que o anterior acaba. Há, no entanto, processos chamados não concatenativos, em que essa linearidade não se verifica. Neles, “a sucessão linear dos elementos morfológicos pode ser rompida por reduções, fusões, intercalações ou repetições, de modo que uma informação morfológica não necessariamente se inicia no ponto que outra termina” (GONÇALVES, 2016, p.68). Enquadram-se nesta definição processos como o cruzamento vocabular (aborrescente), a hipocorização (Cadu) e a siglagem (FUNAI), entre outros. O objeto de estudo focalizado nesta dissertação é o cruzamento vocabular, processo criativo que forma palavras por meio de outras já existentes na língua, a exemplo de chafé (< chá + café), chocotone (< chocolate + panetone) e portunhol (< português + espanhol). Esse processo vem sendo estudado no português brasileiro por Gonçalves (2003, 2006, 2016), Andrade (2008, 2009), Almeida (2006), entre não muitos outros linguistas que se propõem a analisar os cruzamentos por diferentes perspectivas. Essas pesquisas revelam o quão produtivas têm sido essas formações e o quão interessante é a sua análise. Diante de um vasto levantamento de corpora apresentado pelos autores, encontramos dados ainda não estudados e bastante numerosos: os cruzamentos formados por antropônimos que, assim sendo, compõem o corpus desta pesquisa. O presente trabalho busca, então, analisar mesclas em que, pelo menos, uma das bases seja um antropônimo, como ocorre em Ruimbinho (< ruim + Rubinho), Brumar (< Bruna + Neymar), Lucireny (< Lucia + Ireny) e veterimário (< veterinário + Mário). Se o cruzamento vocabular já não recebe muita atenção nos manuais de morfologia em geral, mais raramente ainda dados como esses são analisados. O fato de

16 não haver trabalhos anteriores que tenham traçado a intercessão do cruzamento vocabular com a antroponímia caracteriza o ineditismo desta pesquisa. Além de dados ouvidos em situações espontâneas, o corpus desta dissertação tem a internet como fonte principal, a saber (a) redes sociais, como Facebook, e Twitter; (b) revistas e jornais online; (c) blogs sobre diferentes temáticas, como fanfics, séries etc.; e (d) listas de nomes. A literatura morfológica de cunho tradicional apresenta o cruzamento vocabular como um processo marginal de formação de palavras e, geralmente, não se dedica a descrevê-lo com detalhes. E, diante de uma análise superficial, os cruzamentos são apresentados como arbitrários (ALVES, 1994). Os estudos de Gonçalves (2003, 2006) e Andrade (2008, 2009), no entanto, provam que essa descrição não corresponde ao fenômeno e explicam que são assim descritos por não serem tratados adequadamente pela morfologia pura, ao passo que o tratamento mais compatível é a interface morfologia-prosódia. Entendendo que o cruzamento vocabular não é arbitrário, pretendemos descrever um corpus totalmente inédito, formado por antropônimos a serviço de, pelo menos, quatro funções:

(a) expressão de ponto de vista, como em Bolsolixo (< Bolsonaro + lixo);

(b) nomeação expressiva de pares românticos, como em Judrigo (< Juliana + Rodrigo);

(c) formação de outro antropônimo, desta feita complexo, a exemplo de Marelisa (< Osmar + Elisa);

(d) criação de oniônimos (nomes comerciais), na esteira de Paulufusos (< Paulo + parafusos).

Objetivamos, então, analisar os quatro grupos do corpus selecionado em prol de (i) investigar o comportamento morfológico e fonológico dos quatro grupos; (ii) observar se os padrões estruturais são os mesmos para cada grupo do corpus; (iii) examinar qual tipo de CV é o mais produtivo entre os dados; e (iv) checar quais processos morfológicos se assemelham mais ao CV em cada grupo.

Além da análise sobre o cruzamento vocabular, faz-se necessário também o estudo na área da antroponímia do Português Brasileiro em prol de verificar quais contribuições esse ramo da Linguística oferece para a análise do fenômeno em questão,

17 visto que a presença de um antropônimo, enfatizamos, é condição necessária para integrar o corpus deste estudo. Nesse viés, serão extremamente relevantes para o trabalho discussões sobre a motivação e o significado na escolha de nomes personativos, além dos aspectos presentes nos antropônimos neológicos, que são vistos em Dick (1987) e revisados por Obata (1994) e Camara (2008), entre outros.

O presente trabalho é dividido da seguinte maneira: nos capítulos 2 e 3, apresentamos uma revisão bibliográfica do cruzamento vocabular e da antroponímia, respectivamente; no capítulo 4, efetuamos a análise dos dados coletados; no quinto capítulo, expomos as considerações finais a que chegamos; e, por fim, apresentamos as referências bibliográficas e anexos.

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2. ENFOQUES SOBRE O CRUZAMENTO VOCABULAR

O processo de formação de palavras intitulado cruzamento vocabular não é descrito na língua de forma homogênea, a começar pelos diferentes nomes referentes a ele, tal como Contaminação (BASILIO, 2003), Fusão vocabular (BASILIO, 2005), Combinação (BECHARA, 2009); Palavra cabide (SANDMANN, 1991), Composição haplológica (SANDMANN, 1991), Amálgama (AZEREDO, 2000), entre outros.

Embora não esteja presente nos livros didáticos de Língua Portuguesa nem chame a atenção de tantos estudiosos da língua, o cruzamento vocabular vem sendo descrito por alguns linguistas, como Basilio (2003, 2005), Gonçalves (2003, 2006, 2016) e Andrade (2008, 2009), cujas obras serão aqui revisadas a fim de se elucidar o processo em foco neste trabalho.

2.1 DEFINIÇÃO E TIPOLOGIA

2.1.1 Definição

O cruzamento vocabular é um processo em que novas palavras são formadas por meio de outras, como afirma Gonçalves (2006, p.224) ao dizer que “mesclas lexicais são formas criadas pela junção de duas palavras já existentes na língua”. São exemplos deste processo palavras como mautorista (< mau + motorista) e chocotone (< chocolate + panetone).

Em outras palavras, o cruzamento vocabular é um processo criativo de formação de palavras que ocorre

quando duas palavras, pertencentes ou não a mesma classe gramatical, se fundem num todo fonético, com um único acento, à semelhança de um composto formado por aglutinação, mas sem perder, contudo, os traços semânticos das formas de base que lhes deram origem. (ANDRADE, 2008, p.17)

Fundir duas palavras significa misturá-las, combiná-las ou agrupá-las. A fusão de duas bases não só cria formas, mas também significados. Em chafé, por exemplo, a palavra chá se soma a café, de modo que a adição delas resulta em uma nova palavra, com uma nova forma e novo significado: ‘café tão fraco que parece chá’. Ao afirmar que as palavras-matrizes são “pertencentes ou não a mesma classe gramatical”, Andrade (2008) informa que as bases de um cruzamento vocabular não

19 necessariamente precisam ser da mesma classe gramatical, mas por outro lado, nada impede que elas assim sejam. Em apertamento (< aperto + apartamento), por exemplo, ambas as bases são substantivos; já em boadrasta (< boa + madrasta) a primeira base é um adjetivo e a segunda um substantivo – o que valida o fato de a classe gramatical das bases não interferir no processo do cruzamento. Ao descrever a ocorrência de um e somente um todo fonético, é enfatizado o fato de que o cruzamento vocabular seleciona apenas o acento de uma das bases, afinal, mesmo que seja originado por meio de duas palavras, o CV constitui apenas uma e, portanto, porta apenas um acento primário. Na mescla analfaburro (< analfabeto + burro), o acento da primeira base é suprimido em detrimento ao da segunda base. A palavra-fonte analfabeto, considerada paroxítona, porta o acento na penúltima sílaba /’bƐ/, no entanto, o núcleo dela foi ocultada favorecendo assim a permanência do acento primário em /’bu/, da segunda base, burro. Ao comparar um CV a um “composto formado por aglutinação”, a autora faz menção a um processo de formação de palavras semelhante ao cruzamento vocabular: a composição. Por formar uma palavra também por meio de duas bases, a composição se assemelha muito ao fenômeno aqui estudado, tanto que alguns autores o consideram como um subtipo da composição. Há diversos pontos de contato e de divergência entre os processos, que são enfocados com detalhes mais adiante.

O último trecho da citação, “mas sem perder, contudo, os traços semânticos das formas de base que lhes deram origem”, relaciona-se com o significado dos cruzamentos, pois, por mais que uma nova palavra seja formada, o produto cruzado continua fazendo referência ao significado das bases. Chafé, por exemplo, é um café tão fraco que parece um chá, ou seja, o CV possui um novo significado, mas ainda assim faz referência ao significado de suas bases.

Diante deste breve panorama sobre o cruzamento vocabular, é possível definir o CV como a “fusão de duas palavras, que, ao mesmo tempo, reproduz e cria significados”, como afirma Andrade (2009, p.193).

Basilio (2005), por sua vez, possui um posicionamento mais distante quando afirma que o termo cruzamento vocabular não é apropriado para o fenômeno, e que, em sua concepção, o processo assim denominado deveria ser descrito como dois processos diferentes, e não um.

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Basilio (2005) descreve, então, o fenômeno, dando preferência ao termo fusão vocabular, a fim de apresentar um processo mais abrangente do que o cruzamento vocabular propriamente dito. Em sua hipótese, “existem dois processos diferenciados. O primeiro é um processo de incorporação predicativa, (...) o segundo é um processo de combinação de partes de palavras” (BASILIO, 2005, p.5).

2.1.2 Tipologia

Em relação à tipologia do cruzamento vocabular, há divergências descritivas. A classificação das mesclas lexicais pode ser fundamentada em fatores morfológicos e fonológicos, uma vez que os dados são classificados principalmente pela semelhança fônica ou não entre as bases. Estudos mais pretéritos, com o de Sandmann (1993), categorizam o fenômeno pelo critério sintático. Há ainda autores, como Bechara (2009), que investigam o cruzamento vocabular de maneira mais superficial, e não chegam a classificar o fenômeno em tipos distintos.

A tipologia adotada pelo viés fonológico é a mais precisa para tratar o assunto, uma vez que cataloga os dados com mais particularidades. Nesta direção, Basilio (2003, 2005) descreve dois tipos associados ao fenômeno, mas identifica apenas um como legítimo, enquanto Gonçalves (2003, 2006) e Gonçalves, Andrade & Almeida (2010) defendem uma classificação bipartida e Andrade (2008, 2009) e Gonçalves (2016) apresentam uma tipologia tripartida.

Diante dessa divergência, adota-se aqui a tipologia tripartida do cruzamento vocabular. O primeiro tipo, descrito como interposição lexical, entranhamento lexical ou incorporação predicativa, é aquele em que há semelhança fônica entras palavras- base. No segundo tipo, combinação truncada ou composição truncada, essa semelhança não se realiza. Por fim, o terceiro tipo, conhecido como substituição sublexical, é um padrão em que uma parte do input é promovida à condição de palavra e, em seguida, é substituída.

O primeiro tipo, de acordo com Gonçalves (2003), é o mais produtivo pelo fato de que “80% dos cruzamentos vocabulares do português brasileiro são caracterizados pelo aproveitamento de pelo menos um segmento comum às palavras-matrizes”. Logo, exemplos como apertamento (< aperto + apartamento) e namorido (< namorado +

21 marido) são representativos desse padrão de formação que mais ocorre entre os cruzamentos vocabulares.

Andrade (2009, p.194) descreve este primeiro tipo como a

interposição de duas bases que compartilham material fonológico, sejam sílabas, rimas ou até mesmo porções fônicas sem status próprio, as quais se fundem de tal modo que estabelecem, no nível da forma cruzada, relações de correspondência de um-para-muitos entre os constituintes das formas de base e da forma resultante.

Desse modo, a principal característica do cruzamento formado por meio da interposição lexical é a relação de semelhança entre as palavras-base, como se vê em tristemunho (< triste + testemunho) e sofressor (< sofredor + professor)1. Nesses dois exemplos, é notório que as bases apresentam segmentos em comum; no primeiro caso, o material fonológico aproveitado é a sílaba /te/, já no segundo caso, as bases compartilham os segmentos /of,e,or/, material sem status fonológico próprio.

A fusão por meio do compartilhamento fonológico constitui “correspondência de um-para-muitos” entre as palavras-base e o cruzamento formado, como se pode ver no diagrama2 a seguir, em que as linhas contínuas representam correspondência entre o CV e apenas uma das bases, enquanto as linhas pontilhadas indicam associação dupla, por corresponderem ao CV e às duas bases simultaneamente.

Diagrama 1: Representação da ambimorfemia

Esse exemplo, bem como outros típicos da interposição lexical, aponta para o conceito da ambimorfemia, que consiste no “compartilhamento de unidade fonológicas

1 Os segmentos em negrito e sublinhados, neste trabalho, são os considerados como pertencentes às duas formas de base. 2 Representação retirada de Gonçalves (2006, p.234). Nesse exemplo, acrescentamos que, possivelmente, a sílaba compartilhada em P2, testemunho, é a segunda e não a primeira, principalmente por causa do maior grau de semelhança dela com a última sílaba de P1, que não é ramificada.

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(sons, sílabas, sequências) comuns a mais de um morfema em decorrência da interposição das palavras matrizes” (GONÇALVES, 2005).

Na interposição lexical, a quantidade de material fonológico compartilhado é diretamente proporcional ao grau de semelhança fônica entre as bases, como afirma Andrade (2009, p. 194). É por isto que sofressor apresenta um grau maior de semelhança entre as palavras-fonte do que tristemunho, visto que as bases da primeira compartilham cinco segmentos, /of,e,or/, e as da segunda, apenas dois, /te/.

Ainda sobre a interação entre as bases, encaixa-se a afirmação de Basilio (2005, p. 3) de que

mais exatamente, do lado fonológico, temos a superposição de um outro significante sobre o significante da palavra base hospedeira, mas de tal maneira que se atinge, na realidade, não apenas uma superposição, mas um entranhamento ou incorporação. Do lado do significado, temos uma forte evocação do significado da palavra incorporada, como predicação que passa a integrar o sentido da palavra base.

Este tipo de CV é o mais focalizado por Basilio (2003, 2005). Sua hipótese é que o CV é a incorporação de uma palavra na outra, de modo que a “palavra hospedeira” é a que sofre a predicação, projetada pela “palavra invasora”. O envolvimento das duas palavras entre si é tanto que a autora tece um questionamento sobre a definição de que cruzamento vocabular é a soma de parte de palavras.

No entranhamento lexical, a relação entre as bases é tão intrínseca que, de fato, coloca em xeque a linearidade, tanto que Basilio (2005, p.4), baseada no exemplo de pilantropia (< pilantra + filantropia), constrói o seguinte questionamento:

Na análise deste caso, já podemos observar que propostas que afirmam que o cruzamento vocabular se caracteriza por formações com partes de palavras não é satisfatória. Poderíamos, por acaso, dizer que o p representa o significado do pilantra? Claro que não. Poderíamos dizer que pil- é uma parte? Também não, pois só reconhecemos “pilantra” a partir do todo alterado. Ou seja, o que nos dá a chave para a interpretação é o reconhecimento da palavra predicativa incorporada. Ou seja, não se trata de formações a partir de parte de palavras, mas de composições integrais em que uma parte, embora presente, apresenta uma alteração, mínima e fundamental, em seu significante.

O caso de pilantropia, citado pela autora, de fato não é uma simples adição de duas partes de palavras, pois não há um encadeamento estrito que ligue partes isoladas das palavras-fonte. Nesse exemplo, ambas as bases, pilantra e filantropia, compartilham os segmentos /ilantr/ e são, assim, ligadas por uma interposição em que os segmentos de P1 se encontram entre os de P2. Nesse sentido, o que permite o

23 reconhecimento de P1 no cruzamento não é apenas p-, mas a modificação na palavra, como um todo. A esse caso de cruzamento vocabular a autora dá o nome de fuve (fusão vocabular expressiva). De acordo com Basilio (2010, p. 202), essas formações originam-se por um fenômeno diferente, tanto que defende a existência de “um tipo específico de formação, normalmente englobada sob o rótulo de cruzamento vocabular, a qual denomino ‘fusão vocabular expressiva’ (ou fuve)”.

Cruzamentos formados por meio da combinação truncada, por sua vez, são descritos como “formações mais isoladas na língua” (ANDRADE, 2009, p. 195) por corresponderem à minoria dos cruzamentos, se comparadas às formações por interposição lexical.

Diferente do primeiro tipo, a combinação truncada não necessariamente envolve compartilhamento de material fonológico entre as bases, como demonstram os exemplos selemengo (< seleção + Flamengo) e portunhol (< português + espanhol), em que as bases não possuem material fonológico em comum, não sendo então ambimorfêmicas como as formações por interposição lexical.

As combinações truncadas podem apresentar bases de tamanho iguais ou diferentes:

se as formas de base são do mesmo tamanho, ocorre fragmentação em ambas: chocotone (< chocolate + panetone); caso contrário, a maior sofre truncamento e a menor, sem perder massa fônica, se concatena inteiramente a maior: forrogode (< forró + pagode). (ANDRADE, 2008, p.14)

Desse modo, quando as duas bases do CV são de tamanho igual, as duas sofrem fragmentação, como ocorre em chocotone (< chocolate + panetone) e brasiguaio (< brasileiro + paraguaio). No primeiro exemplo, retirado do trecho acima, a palavra-base chocolate perde as sílabas finais, /la.tI/; e na segunda, panetone, são apagadas as sílabas iniciais /pa.ne/. Já em brasiguaio, as sílabas finais da primeira base, /lej.ɾʊ/, são omitidas, enquanto as finais de paraguaio são preservadas, sendo suprimidas então as iniciais da mesma, /pa.ɾa/. No caso em que as bases são metricamente diferentes, a maior sofre fragmentação enquanto a menor fica intacta, ou seja, não perde massa fônica, e assim ambas se conectam. Esse caso pode ser exemplificado por forrogode (< forró + pagode) e pescotapa (< pescoço + tapa). No primeiro exemplo, também retirado do trecho acima, a menor base, forró, apresenta duas sílabas, enquanto a segunda possui três,

24 pagode; sendo assim, a primeira base é preservada e a segunda sofre omissão da sílaba /pa/. Caso semelhante ocorre em pescotapa, em que, por seu tamanho, a base tapa é conservada e a maior base sofre apagamento da sílaba /sʊ/. Pode-se concluir assim que o cruzamento vocabular formado por combinação truncada se “assemelha à composição bem mais que o primeiro” (GONÇALVES, 2016, p. 77), tanto que Basilio (2005) não descreve esse padrão como um tipo de CV, mas sim como um subtipo da composição. O terceiro tipo de cruzamento, por fim, é a substituição sublexical (SSL), também conhecida como analogia ou reanálise. Nesse padrão, uma sequência de segmentos de uma determinada palavra é reinterpretada e promovida à condição de morfema e, logo em seguida, substituída. Sobre esse processo, Gonçalves, Andrade & Almeida (2010, p.3) exemplificam:

Em ‘macumba’, input de ‘boacumba’, caso claro de SSL, a sequência ‘ma’ – que não apresenta qualquer status morfológico – é idêntica ao adjetivo ‘má’. A palavra invasora (‘boa’) é projetada a partir dessa porção não-significativa em ‘macumba’, levando consigo suas estruturas métrica e silábica. ‘Boa’ promove a sílaba ‘ma’ à condição de palavra, substituindo-a sublexicalmente.

Conforme o funcionamento das SSLs, vale destacar que este é o único tipo que não se baseia na (des)semelhança fonológica entre as bases; logo, o processo se distancia bem mais dos outros dois. Além disso, o produto da SSL não se origina da fusão de duas palavras morfológicas. Por isso mesmo, esse padrão é, então, o que apresenta mais controvérsias entre os estudiosos.

Por ter um comportamento mais particular, alguns trabalhos o consideram como um processo à parte – como Gonçalves (2003, 2006) e Gonçalves, Andrade & Almeida (2010); outros já o abordam como um dos tipos do CV – Andrade (2008 e 2009) e Gonçalves (2016); e há ainda estudos que nem consideram os dados formados por meio da substituição sublexical – Basilio (2005). Para melhor compreensão dos diferentes pontos de vista, serão sucintamente revisadas as perspectivas dos autores que analisam as SSLs, na ordem em que foram citados. Comecemos com Gonçalves (2003, 2006).

Dadas algumas semelhanças e disparidades entre a substituição sublexical e o cruzamento vocabular, é possível notar a complexidade de ambos os processos. De modo geral, a pesquisa de Gonçalves (2003, p.152) aponta para a afirmação de que “BLs não podem ser analisados como substituições lexicais porque duas palavras constituem input a formação de uma terceira”.

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Segundo Gonçalves (2006), a reanálise se distingue do cruzamento vocabular principalmente pela forma com que as bases interagem. Na interposição lexical e na combinação truncada, os dados são formados a partir da combinação de duas palavras em ‘planos alternativos’, como no exemplo chafé, em que as duas bases, chá e café, são inputs e o cruzamento é o output. Nos dados de substituição sublexical, as bases interagem em ‘planos competitivos’, como em boacumba, em que a única base no input é macumba, que sofre uma reinterpretação e resulta na substituição lexical. Esse é um dos motivos pelo qual o autor declara que blends não operam como criações analógicas, não podendo ser analisados como substituições sublexicais. A mesclagem, na verdade, vem a ser o resultado da fusão de dois vocábulos que atuam em “planos alternativos”, ao contrário das formações analógicas, cujas bases operam em “planos competitivos”. (GONÇALVES, 2006, p. 234)

Desse modo, o pesquisador explicita uma tipologia dicotômica para o cruzamento vocabular, pois, em suas palavras, “há dois padrões para blends no português do Brasil: (a) um para os casos em que P1 e P2 apresentam algum tipo de semelhança fônica e (b) outro para aqueles em que P1 e P2 são totalmente dessemelhantes do ponto-de-vista segmental” (GONÇALVES, 2006, p. 234).

Em pesquisa específica sobre a substituição sublexical (SSL), Gonçalves, Andrade & Almeida (2010, p. 1) explicam que

por esse processo, reinterpretam-se formas linguísticas, de modo a promover uma sequência não-morfêmica à condição de base ou afixo, a exemplo do que ocorre, nesta ordem, com ‘boacumba’ (< ‘boa’ + ‘macumba’ = “macumba branca”) e ‘tricha’ (< ‘tri’ + ‘bicha’ = “homossexual exageradamente afetado”). A formação dessas palavras revela criatividade no uso da língua e sua força expressiva resulta (a) da expansão de significados e (b) do inesperado que se consegue com a combinação.

Sendo assim, a SSL também é descrita pelos autores como um processo diferente do cruzamento vocabular, não como um tipo de CV. Morfologicamente, esta distinção é evidenciada pelo fato de formações cruzadas apresentarem dois inputs, enquanto as substituições lexicais têm apenas um. Exemplos como portunhol, enxadachim e frátria esclarecem essa diferença, como será explicado a seguir.

No primeiro caso, portunhol (< português + espanhol), claramente duas palavras são combinadas para se obter o significado ‘espanhol com traços de português’ ou ‘português com traços de espanhol’, havendo, portanto, duas formas de entrada

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(português e espanhol) que contribuem na mesma medida para a nova formação, configurando-se, portanto, um cruzamento vocabular de bases dessemelhantes.

Já na análise de enxadachim < espadachim, por sua vez, há controvérsias. Apresentado primeiramente em Basilio (1997), esse dado demonstra imprecisão quanto a sua classificação. Afirma-se, em Gonçalves, Andrade & Almeida (2010), que esse exemplo é uma reanálise, pois, de acordo com os autores, há um único input, espadachim, classificado como “palavra-alvo”, no qual ocorre a incorporação de enxada, “palavra invasora”.

Para essa hipótese ser comprovada no exemplo em questão, considera-se que “o material melódico rastreado (espada) é posteriormente apagado” (op. cit., p. 7). Entretanto, este apagamento mostra-se improvável, pois se espada foi apagado do cruzamento, qual seria a origem da sua semelhança com enxada? A única diferença fonológica entre espadachim e enxadachim, além de /p/ e /ʃ/, é o traço nasal neste segundo3, visto que até o tamanho e a posição estrutural de ambas as palavras são semelhantes. Como muitos segmentos de espadachim foram aproveitados em enxadachim, analisamos esse caso como mais próximo da interposição lexical do que da substituição sublexical.

O exemplo de frátria < pátria, por sua vez, se mostra mais claramente uma SSL, pois apresenta um único input. Diferente de portunhol, em que duas bases contribuíram igualmente para a formação do cruzamento, o caso de frátria apresenta um único input, pátria, palavra alvo que sofreu a invasão da palavra fraterno. Esta invasão se dá na medida em que /pat/ de pátria é associado a ‘paterno’ (pai), e, por analogia, é substituído por /frat/ de ‘fraterno’ (irmão), (op. cit., p. 11).

Com base nesse fato, os autores concluem então que

cruzamentos vocabulares não podem ser analisados como SSLs porque duas palavras constituem input à formação de uma terceira. (...) Nas SSLs, portanto, o alvo é apenas uma das palavras e a interseção das bases é ocasionada pela reanálise intencional da forma de input. (GONÇALVES, ANDRADE & ALMEIDA, 2010, p.4)

Mesmo com todos os indícios de que a substituição sublexical pode ser um processo à parte do cruzamento vocabular, ainda assim não podem ser descartadas as

3 Esta afirmação leva em conta o dialeto carioca.

27 semelhanças entre os mesmos. Andrade (2009, p. 195) aponta uma semelhança ao afirmar que “embora não haja compartilhamento de segmentos nem tão pouco truncamento, já que envolve uma só palavra-matriz, o produto gerado constitui-se sempre de duas formas livres na língua”.

O fato de a substituição sublexical ser constituída de duas formas livres na língua é o bastante para ser traçado um grande paralelo entre ambos os processos, visto que o fator mais básico de um cruzamento é ser formada por duas palavras existentes na língua. O trabalho de Gonçalves (2016) concorda com essa visão, ao apresentar três tipos distintos de CV.

Diante do que foi exposto, é notório que o cruzamento vocabular é um processo descrito de forma heterogênea. Como foi apresentado, o primeiro tipo, mais recorrente, é conhecido como interposição lexical por ser basicamente caracterizado pela semelhança fônica entre as bases e a maneira como elas interagem. Já o segundo, combinação truncada, é identificado pela dessemelhança entre as bases. E, por fim, a substituição lexical é o único tipo que não leva em conta a semelhança ou não das bases.

Considerando fenômenos distintos, Basilio (2005, 2010) identifica como fusão vocabular apenas a incorporação predicativa, aqui denominada interposição lexical. O segundo tipo, composição truncada (segundo sua nomenclatura), é descrito pela autora como um subtipo da composição que combina partes de palavras. Segundo ela, esses dois tipos “constituem processos diferentes, que não deviam ter o mesmo nome e não deviam ser tratados em conjunto” (BASILIO, 2005, p.5).

Enquanto Basilio (2005) afirma que apenas o primeiro tipo corresponde de fato ao cruzamento vocabular, Gonçalves (2003, 2006) e Gonçalves, Andrade & Almeida (2010) defendem que apenas o terceiro tipo não é relativo ao fenômeno. Já Andrade (2008, 2009) e Gonçalves (2016) englobam três tipos possíveis para o CV. Considerando todas as análises apresentadas e não desprezando as diferenças expostas, este trabalho segue os passos destas últimas obras, ao descrever três possíveis tipos para o cruzamento vocabular.

A seguir, apresentamos um quadro expositivo cujo objetivo nada mais é do que resumir as diferentes visões apresentadas.

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Quadro 1: Tipologia do cruzamento vocabular por diferentes autores

TIPOLOGIA DO CRUZAMENTO VOCABULAR TIPO 1 TIPO 2 TIPO 3

Basilio (2005) X ------

Gonçalves (2003, 2006) e Gonçalves, X X ---- Andrade & Almeida (2010)

Andrade (2008, 2009) e Gonçalves (2016) X X X

2.2 VALOR EXPRESSIVO

Um dos maiores êxitos do cruzamento vocabular é a sua eficiência em expressar determinado significado de maneira concisa – remetendo o produto final às suas bases, tanto semanticamente quanto morfológica e fonologicamente, e ainda assim veiculando uma nova noção. Quando se fala em Rouberto (< roubo + Roberto), por exemplo, é atrelada a noção de ladrão, por meio da palavra roubo, a uma pessoa chamada Roberto (nesse caso, o ex-deputado Roberto Jefferson).

Entre as possibilidades Rouberto e Roberto rouba, é evidente que a primeira é muito mais compacta, mas, apesar disso – e talvez justamente por isso –, transmite um significado mais expressivo do que a segunda possibilidade. Sendo assim, não são duas formas de falar exatamente a mesma coisa, pois os significados veiculados causam efeitos diferentes no interlocutor; são modos distintos de veicular significados semelhantes.

A pergunta “como e por que o cruzamento vocabular é hábil para transmitir significados mais expressivos?” é respondida por Basilio (2003) pelo fator humorfológico próprio dos cruzamentos. A expressividade e o elemento humorístico dessas formações são pautados na habilidade de quebra de expectativa e de dupla possibilidade de interpretação. Mas, antes de mais nada, é crucial que se leve em conta a acumulação semântica que incide sobre o cruzamento vocabular, simultaneamente com a perda fonológica, como explica Basilio (2005).

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Basilio (2003, p.1) esclarece o chamado fator humorfológico por meio do exemplo presidengue (< presidente + dengue), formação criada ao longo de uma campanha presidencial em 2002 que estabelece uma relação entre um candidato a presidente da época, José Serra, e a dengue, doença causada pela picada de um mosquito. Esse cruzamento é, na verdade, uma evidência do escândalo em que o candidato foi envolvido por estar sendo acusado pela expansão da epidemia de dengue no Rio de Janeiro, por ter demitido mais de 5 mil agentes sanitários da FUNASA (Fundação Nacional da Saúde) em 19994.

Durante o ocorrido naquele período eleitoral, foi criada a expressão presidengue, que ironiza a relação do então candidato a presidente com a dengue. Este cruzamento cumpre claramente o objetivo de quebrar a expectativa do interlocutor, que esperaria se deparar com a palavra presidente, mas não é o que ocorre, provocando assim não só surpresa, mas também humor.

O cenário político é um grande fomentador para construções desse tipo. Bem como presidengue, há diversas outras formações criadas por meio de escândalos no governo brasileiro. O trabalho de Assunção (2006) comprova esse fato por meio da coleta de dezenas de mesclas somente na coluna de Agamenon, uma seção do jornal o Globo, escrita por Agamenon Mendes Pereira, personagem inventado pelos humoristas do grupo Casseta e Planeta.

A própria formação Rouberto (< roubo + Roberto), citada anteriormente, é retirada deste trabalho e também foi criada por uma ocasião política. Inspirado no deputado Roberto Jefferson, o cruzamento faz menção ao fato de o político ter denunciado a corrupção no Congresso Nacional mesmo sendo favorecido com o roubo, durante o primeiro governo do presidente Lula. Agamenon faz menção a esse fato afirmando ironicamente que “todos esperavam que, no dia do seu discurso final no Congresso, Rouberto Jefferson fosse devolver a mala com quatro milhões de reais, conforme havia prometido” (ASSUNÇÃO, 2006, p.17).

Em ambos os casos, presidengue e Rouberto, a recuperação da quebra conceitual “depende fortemente do conhecimento do mundo para o efeito expressivo na interpretação. (...) Só a partir deste conhecimento a predicação metonímica surte pleno

4 Notícia completa disponível em: . Acesso em: Abr. 2018.

30 efeito”, como afirma Basilio (2003, p.4). Em outras palavras, é necessário conhecimento de mundo para que o cruzamento vocabular seja plenamente eficiente em seu propósito expressivo. Por conhecimento de mundo, entende-se aqui um saber extralinguístico, contextual, como a vivência do falante e sua experiência cotidiana, ou seja, elementos extratextuais. Além dessa necessidade contextual, faz-se primordial, em alguns cruzamentos, a presença do cotexto, entendido como a porção de texto, anterior ou posterior à expressão5.

Por exemplo, é mais difícil que o interlocutor assimile o cruzamento isolado, Rouberto, do que com o sobrenome Jefferson. Sem ser acompanhada pelo sobrenome, a formação Rouberto pode ser relativa a qualquer pessoa chamada Roberto, por isso, é real a necessidade de cotexto. No entanto, se o usuário da língua não conhece o escândalo que gerou esse cruzamento ou se não conhece o então deputado, ainda que o sobrenome esteja presente, não consegue captar a real motivação e o efeito expressivo manifesto no cruzamento (deficiência contextual).

Sobre isto, Assunção (2006, p. 18) explicita o cruzamento Rosquinha Garotinho (< rosca + Rosinha):

a forma em questão, dada a existência do substantivo graduado em diminutivo, só é entendida como cruzada em função de um contexto e através da expressão “Rosquinha Garotinho”. Fora de contexto tal forma não seria interpretada como resultado de um cruzamento.

Como foi dito anteriormente, ainda com a presença dos sobrenomes, é possível que o interlocutor não compreenda todo o significado expresso se não estiver imerso na esfera política da época. Caso o interlocutor não domine o contexto político e não se interesse por esse cenário, ainda é provável que o cruzamento cause algum efeito, mas o receptor provavelmente não entenderia a real motivação da formação.

É, então, irrefutável o fato de o conhecimento de mundo e eventos do dia a dia favorecerem a compreensão de formas cruzadas relativas a fatos sociais, em geral. Sobre isso, Andrade (2009, p. 196) afirma que

os CVs podem ser reconhecidos como criações autorizadas pelas informações que se tem na memória acerca das entidades envolvidas sendo o

5 Segundo Travaglia (2000, p.85), “o contexto pode ser também linguístico, isto é, uma determinada sequência ou elemento linguístico vai ter um determinado sentido conforme os elementos linguísticos que o acompanham (precedem ou seguem) no texto. Esse contexto linguístico, para se diferenciar do contexto não linguístico, tem sido chamado na Linguística de ‘co-texto’”.

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conhecimento da situação e dos episódios do cotidiano mais significativamente mobilizado na criação/interpretação dessas palavras.

Assunção (2006, p.12), baseado em outros teóricos, ainda reitera que “para compreender esse tipo de construção, é necessário resgatar as pistas estruturais fornecidas e conectá-las a informações contextuais, culturais e/ou de conhecimento partilhado”.

Fatos sociais, incluindo não só a política, formam um tema fecundo de cruzamentos humorísticos. A própria coluna de Agamenon apresenta dados como Ciscarelli e Caetano Velhoso, referentes a atriz e modelo Daniella Cicarelli e ao músico e escritor Caetano Veloso.

Destacam-se agora as informações culturais necessárias para captar o significado de algumas mesclas. Por exemplo, o caso de Ciscarelli, por meio do verbo ciscar, faz menção metafórica à galinha pelo fato de a atriz Daniella Cicarelli ter se casado supostamente por interesse com Ronaldinho, jogador de futebol bem sucedido. Na cultura brasileira, a referência da galinha é atrelada a de uma mulher quando se quer designar ‘mulher de vida devassa’6 e, neste caso, interesseira; mas provavelmente a imagem da galinha não seja a mesma em outras culturas; portanto, chamar uma mulher assim pode não ser considerado um insulto mesmo em comunidades lusofônicas.

Cumprindo o objetivo de sua coluna, Agamenon empenhou-se em conscientizar a população acerca de informações políticas e sociais por meio de uma linguagem simples e de modo mais atraente. Seus textos, portanto, reportam importantes informações de maneira dinâmica, “abordando os fatos de forma constrangedora para os personagens, mas criando um fato geralmente humorístico para o leitor” (ASSUNÇÃO, 2006, p.11).

Voltando ao primeiro exemplo, Rouberto (< roubo + Roberto), é coerente afirmar que, ao ouvir essa formação, o interlocutor esperaria processar apenas uma das bases, não as duas juntas, mas a interferência de /u/ na segunda base o surpreende. Como afirma Basilio (2003, p. 1), “nos cruzamentos vocabulares bem sucedidos, há uma quebra de expectativa subitamente frustrada, resultante de uma construção em que

6 Definição informal de “galinha” no Português Brasileiro: Mulher que se comporta de modo considerado devasso ou imoral. = PIRANHA. Disponível em: < https://www.priberam.pt/dlpo/galinha>. Acesso em: Mai. 2018.

32 a parte surpresa ao mesmo tempo predica e nomeia a parte base de um modo tanto mais forte quanto inesperado”, como o que ocorre nesse exemplo, sendo que, em Rouberto, a base predicadora é a primeira (roubo), e, em presidengue, a segunda base (dengue) é a que exerce essa função.

É interessante também observar que, no CV bem sucedido, a reestruturação morfológica impõe reestruturação conceitual, visto que a mescla lexical não se constitui apenas de uma formação fortuita de segmentos fônicos, mas sim de uma combinação precisa de duas bases para formar uma nova palavra, levando em consideração aspectos não só morfológicos e fonológicos, mas também semânticos.

Outro aspecto investigado nesta questão é que o êxito do cruzamento vocabular é inversamente proporcional à interferência fonológica de uma base na outra, ou seja, quanto menos uma base interfere fonologicamente na outra, melhor é o resultado do cruzamento, como afirma Basilio (2003, 2010). Considerando essa premissa, presidengue (< presidente + dengue) é um exemplo de CV bem sucedido, pois a segunda base interfere minimamente na primeira, de modo que a única diferença entre elas, além das sílabas inicias de presidente, é a alteração de /t/ para /g/. Como os dois segmentos são oclusivos, a semelhança é ainda maior: a diferença fonológica é apenas o lugar de articulação e a sonoridade de ambos, visto que /t/ é uma alveolar desvozeada e /g/ uma velar vozeada.

Basilio (2005, p.3) reafirma essa ideia ao dizer que

a incorporação predicativa será tanto mais feliz quanto menor for a interferência fonológica na palavra básica, a qual deve garantir, no entanto, a evocação do significado predicativo acoplado ao significado da palavra base.

Outro exemplo oportuno para explicar o êxito de CVs, além de presidengue, é pilantropia (< pilantra + filantropia), conforme explica Basilio (2005, p.3). Nesse exemplo, a primeira base é a que projeta uma predicação para a segunda, filantropia. A única diferença entre a segunda base e o cruzamento é alteração de /f/ para /p/, ou seja, uma interferência diminuta foi capaz de produzir toda a predicação pretendida – o que caracteriza esse CV como exitoso, nos termos de Basilio.

Acerca da semelhança entre o cruzamento vocabular e outros processos de formação de palavras, ele é o único que

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em termos de reestruturação mórfica e integração conceitual capta os elementos simultaneamente necessários para efetivação do efeito expressivo, de caráter retórico ou humorístico, sendo que o padrão de estrutura da composição exerce uma função importante nestas construções. (BASILIO, 2003, p.1)

Outro fator interessante é que nem todo CV é motivado pelo humor, tanto é que em lambaeróbica e brasiguaio7 não há traços de comicidade – exemplos como esses são mais descritivos, cujos objetivos são baseados em expor características dos objetos, não transparecendo humor nem juízo de valor algum. Sobre isto, Basilio (2003) afirma que “cruzamentos vocabulares não são sempre humorísticos, mas a principal motivação para a sua existência é o poder expressivo”.

Gonçalves (2006) também ressalta a expressividade do CV ao afirmar que, na maioria dos casos, os cruzamentos remetem à opinião do falante, expressando, portanto, seu ponto de vista. Além disto, concorda com a ideia de Basilio de que “a pejoratividade é, sem dúvida, o caso por excelência da expressão subjetiva do falante” (BASILIO, 1987).

Sobre a carga semântica dos cruzamentos, Sandmann (1997, p.59) afirma que o “traço que caracteriza muitos cruzamentos vocabulares é a sua especificidade semântica, isto é, eles vêm muitas vezes carregados de emocionalidade, sendo que esta é depreciativa, às mais das vezes, e com pitadas de ironia”. Como vimos nos exemplos aqui citados, o caráter depreciativo é realmente muito recorrente nos cruzamentos. Complementando a afirmação do autor, Basilio (2005, p.1) descreve não só os cruzamentos pejorativos, como lixeratura (< lixo + literatura), mas também aqueles caracterizados como descritivos, como caipvoka (< caipirinha + vodka). E Andrade (2008, p. 18), por sua vez, vai além desta dicotomia ao afirmar que

ao lado da grande maioria de mesclas lexicais que expressam atitude pejorativa do falante frente ao enunciado (p.ex. “mautorista < mau + motorista”; “crionça < criança + onça”; “batatalhau < batata + bacalhau”), encontram-se também formações mais isoladas, indicando atitude neutra (“chocotone < chocolate + panetone”; “toboágua < tobogã + água”; “frambúrguer < frango + hambúrguer”) ou até mesmo atitude positiva do falante em relação ao objeto da fala, a exemplo de “chocolícia < chocolate + delícia”; “deliçoca < delícia + paçoca”. Logo, pode-se afirmar que, em geral, os CVs funcionam como expressões indicativas de intenções, sentimentos e atitudes do falante em relação ao seu discurso.

7 Exemplos retirados de Basilio (2003, p. 2).

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Por mais que haja um grande número de mesclas depreciativas, são consideráveis os casos em que se expressa um posicionamento positivo do falante. Desse modo, a descrição de Andrade (2008) complementa a de Basilio (2003) ao afirmar a existência de mesclas nas quais o parecer do falante pode ser positivo, negativo ou neutro. Mesmo com essa diversidade de possibilidades, os dados apontam para uma “função predicativa de impacto expressivo”, nas palavras de Basilio (2005, p. 1). Sendo assim, como foi visto, o fator humorfológico é um notável elemento nos cruzamentos vocabulares, mas não o essencial, visto que nem todas as mesclas veiculam comicidade. Por outro lado, nos casos em que esse fator está presente, a palavra-base surpresa, inesperada, é responsável por uma predicação forte e grotesca. O chamado fator humorfológico origina-se, então, da quebra conceitual de expectativa e da dupla possibilidade de interpretação da palavra. De acordo com Basilio (2005, p.3), “o objetivo do chamado cruzamento vocabular é uma interferência predicativa incorporada no significado da palavra base, realizada pela incorporação do significante do vocábulo predicativo ao significante do vocábulo qualificado”. O valor expressivo do cruzamento vocabular esclarece esse objetivo por meio não só do fator humorfológico, mas de todos os cruzamentos que veiculam um sentimento ou uma avaliação por parte do falante. Sobre o aspecto expressivo dos cruzamentos, Basilio (2010) ainda se dedica a explicitar a chamada fusão vocabular expressiva, ou fuve, (que) é uma construção estruturada de modo a incorporar fonologicamente os dois itens lexicais envolvidos, representando iconicamente a inclusão da função semântica do qualificador no significado da palavra base. (BASILIO, 2010, p.202)

Os exemplos de fuve apresentados por ela são lixeratura (de lixo, literatura), glitterari (de glitter, literari), burrocracia (de burro, burocracia), entre outros. É perceptível que novamente o tipo enfocado por ela é a interposição lexical, no qual as palavras-fonte compartilham segmentos, pois é o que mais se relaciona com o conceito descrito de fuve. Como o foco deste tópico é demonstrar o valor expressivo inerente aos cruzamentos, é crucial ainda rever a afirmação de que o cruzamento vocabular não forma expressões ingênuas, como afirma Basilio (2010, p.204):

As fuves não são formações inocentes, ao contrário, têm a função de nos levar a considerar novas (ir)realidades, seja pela contradição, seja pela

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maximização da força simbólica de elementos já existentes. É importante ressaltar que a transposição do nível de qualificação para o nível de denotação é fundamental, na medida em que a denotação não se discute; o impacto expressivo dessas formações também deriva deste fato.

Com a repercussão expressiva que as palavras cruzadas podem ter, é coerente que estas formações não se encontrem com frequência em situações muito formais da língua. Pelo contrário, transmitem traço de coloquialidade e são frequentemente encontradas em textos humorísticos, jornalísticos e literários, entre outros. Vale ainda destacar a expressividade do cruzamento vocabular de acordo com a sua classificação, pois os diferentes padrões de CV implicam diferentes papéis discursivos. De acordo com Gonçalves e Almeida (2007, p. 94), a interposição lexical evidencia propriedades do determinado e confere características a ele metafórica ou metonimicamente; já a combinação truncada e a substituição sublexical possuem caráter mais descritivo do que avaliativo, diferente do primeiro. O cruzamento vocabular, portanto, indica “intenções, sentimentos e atitudes dos falantes” (ANDRADE, 2009, p. 196), além de gerar sensação de desvio, causando a noção de algo inesperado e, não poucas vezes, manifesta humor, deboche, escárnio e ironia – sendo então, neste caso, eficaz para ridicularizar a imagem de determinadas pessoas, bem como provocar o riso em outras.

2.3 O CRUZAMENTO VOCABULAR FRENTE A OUTROS PROCESSOS MORFOLÓGICOS

O cruzamento vocabular apresenta semelhanças com outros processos morfológicos, tanto aqueles cuja função é lexical quanto aqueles de função expressiva8. A fim de fundamentar a comparação do CV com outros processos, apresentamos neste tópico a composição, a recomposição, a hipocorização e a siglagem, de maneira bem concisa. A seleção destes processos não exclui o paralelo entre o cruzamento vocabular e outros fenômenos, mas foi assim viabilizada por apresentar maior grau de semelhança entre os mesmos e pelo fato de nossos dados sinalizarem para essas distinções.

8 De acordo com Gonçalves (2006), os processos cuja função é lexical são considerados processos de formação de palavras, já os que apresentam função unicamente expressiva, não são assim considerados, pois o resultado é a mesma palavra modificada em função dos propósitos comunicativos do emissor.

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Entre os quatro processos aqui analisados, a composição é o que mais se aproxima do cruzamento vocabular formado por nomes comuns, o que justifica a maior extensão de revisão bibliográfica, visto que é um paralelo já traçado em estudos anteriores. A recomposição, por outro lado, é o que menos se assemelha com o cruzamento vocabular formado por antropônimos, mas foi aqui descrito pela semelhança com outros dados de CV. O paralelo do CV com a hipocorização e a siglagem será descrito com mais detalhes no capítulo 4.

2.3.1 Composição

De acordo com Basilio (1987, p.29), a composição “envolve a junção de uma base a outra base; não há elementos fixos, não há funções predeterminadas no nível dos elementos”, como ocorre nos exemplos sofá-cama, couve-flor e obra-prima.

A classificação das palavras compostas pode ser analisada de acordo com diferentes critérios, como o semântico, o fonológico e o sintático. Para Sandmann (1997), o critério semântico é o mais significativo para a descrição dos compostos. Por meio desse critério, pelo menos duas divisões são possíveis, uma vez que o significado dos compostos pode ser metafórico ou metonímico e endocêntrico ou exocêntrico.

Quando há uma transferência de significados baseada na semelhança entre dois referentes, o composto é metafórico, como em copo-de-leite, ‘nome popular de uma flor’, e pente-fino, ‘operação de cunho social ou policial’. Quando há uma transferência alicerçada na contiguidade física, o composto é metonímico, como em beija-flor e dedo- duro.

Com relação à motivação semântica, o composto pode ser endocêntrico ou exocêntrico. No primeiro caso, o significado é mais diretamente motivado, como o exemplo de erva-doce, em que o uso da primeira base foi justificado pelo significado do produto final, que é um tipo de erva. Já o caso de cabra-cega é exocêntrico, pois o composto não nomeia um tipo de cabra, mas uma brincadeira infantil; nesse caso, a motivação é menos direta e, como se pode ver, a contiguidade é a ponte que faz a associação da expressão com o referente.

Do ponto de vista fonológico, são descritos dois tipos de compostos. De acordo com Bechara (2009, p.340), as palavras compostas podem ser formadas por justaposição ou aglutinação. No primeiro tipo, é possível observar a individualidade dos

37 componentes, como nos exemplos guarda-chuva e couve-flor. Os compostos por aglutinação, por sua vez, são caracterizados pela fusão e maior integração dos radicais, como em aguardente e bloquiaberto.

O critério sintático divide os compostos em copulativos ou determinativos. Os copulativos são assim classificados por apresentarem uma relação de coordenação entre as bases, como em franco-britânico e cantor-compositor9. Os determinativos, por outro lado, apresentam relação de subordinação entre as bases, como em afro-brasileiro ‘cultura brasileira de influência africana’ e trem-bala ‘tipo de trem’.

O paralelo entre cruzamento vocabular e composição é “uma questão fundamental para a descrição do fenômeno” (ANDRADE, 2009, p. 197). Descreveremos a seguir algumas semelhanças e diferenças entre o cruzamento vocabular e a composição, tendo em vista, principalmente, os critérios semântico e fonológico.

De modo geral, é possível dizer que a semelhança mais evidente entre os processos está no fato de tanto compostos quanto cruzamentos serem palavras formadas por meio de outras duas. Basilio (2003, p. 2) afirma, inclusive, que é possível considerar o CV como uma espécie de composição, pois “sua formação envolve duas palavras, e o processo correspondente (CV) envolve o mecanismo de formar uma nova palavra cujo significado e forma final decorre diretamente da combinação de duas palavras”. Em outras palavras, o aspecto de maior equivalência entre composição e o cruzamento vocabular ocorre “na medida em que se forma uma palavra nova a partir de duas palavras-fonte” (BASILIO, 2010, p. 204). Em ambos os processos, duas palavras já existentes na língua formam uma terceira.

Por outro lado, Gonçalves (2003, 2006, 2013) e Andrade (2008 e 2009) defendem que o cruzamento vocabular não é um subtipo da composição. Por mais que tenham semelhanças, os processos são apresentados por eles como distintos, visto que as diferenças são mais significativas que as similaridades.

9 Quando copulativos, os compostos podem apresentar mais de duas bases, a exemplo de cantor- compositor-ator.

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Quanto à função, o cruzamento vocabular e a composição se aproximam, pois, ambos são processos que formam palavras e, portanto, possuem função lexical. Basilio (2005, p. 2) defende a semelhança dos processos ao afirmar que

a fusão vocabular é um tipo de composição que se caracteriza por ter pelo menos um de seus elementos sem expressão fonológica plena. Ou seja, a fusão vocabular poderia ser interpretada como uma composição vocabular em que o lado fonológico de um dos elementos vocabulares atua “nos bastidores”, ou seja, continua presente embora sem expressão aberta.

De acordo com essa hipótese, o cruzamento vocabular não é um processo autônomo, mas uma categoria da composição, cujo mecanismo forma palavras novas por meio de outras já existentes. Diferente da composição, o CV pode não aproveitar a totalidade fonológica das palavras-fonte.

Para traçar o paralelo pelo critério sintático, recorremos à sintaxe da palavra, proposta por Sandmann (1993). Os produtos do cruzamento vocabular, bem como os da composição formada por dois substantivos, podem ser copulativos ou determinativos. Segundo o autor, “quando temos uma adição de elementos do mesmo nível, uma coordenação, temos um cruzamento copulativo” (p. 76), como ocorre no ship Arliza (< Arthur + Eliza).

Quando a adição de elementos é feita em níveis diferentes, o cruzamento é classificado como determinativo, pois mantém relação de subordinação entre seus componentes. Essa relação pode ser observada no exemplo Dilmãe (< Dilma + mãe), em que Dilma é o núcleo determinado por mãe.

Com base no parâmetro semântico, reforçamos as palavras de Andrade (2009, p. 198), em concordância com Gonçalves (2003), ao dizer que “um CV se distingue de um composto porque, mesmo expressando um novo significado com traços que só nele estão presentes, sempre deixa transparecer os traços semânticos das palavras que lhes deram origem”. Dessa forma, o significado gerado nos cruzamentos sempre remete às suas bases, como pode ser observado no CV de bases comuns – cf. apertamento, ‘apartamento muito apertado’ – e no de base comum acrescido de qualificador – como Burrichello, ‘Barichello que é burro’. Dito de outra maneira, cruzamentos são sempre endocêntricos.

Já os compostos não contemplam essa característica na medida em que, mesmo sendo formados por meio de duas bases, o novo significado não necessariamente

39 corresponde ao significado das bases que o originaram. Por exemplo, o significado global de peixe-espada claramente remete aos significados das bases, peixe e espada, pois nomeia um peixe que se parece com uma espada, metaforicamente. Já o caso de pé- de-moleque é diferente, pois o produto final não corresponde às suas bases, visto tratar- se de um doce.

Sintetizando o aspecto semântico,

os compostos regulares, por justaposição, diferentemente dos vocábulos mesclados, podem dissociar-se, total ou parcialmente, dos significados de seus componentes, como ocorre, respectivamente, em pé-de-moleque (exocêntrico) e guarda-noturno (endocêntrico). (ANDRADE, 2008, p. 30)

Sob o prisma fonológico, outra diferença entre a composição e o cruzamento vocabular é pontuada, na medida que

diferentes dos compostos, que tendem a preservar o conteúdo segmental das bases (‘porta-luvas’ e ‘bóia-fria’), mesclas são caracterizadas pela interseção de palavras, de modo que é impossível recuperar, através de processos fonológicos como crase, elisão e haplologia, as sequências perdidas. (GONÇALVES, 2006, p. 224)

Ao “preservar o conteúdo segmental das bases”, as palavras compostas mantêm, no produto final, as características fonológicas das bases que lhe deram origem. Por exemplo, em porta-luvas, todos os segmentos da primeira e da segunda base foram mantidos. Os cruzamentos, por sua vez, costumam não preservar todos os segmentos das duas bases. Em alguns dados, a menor base é mantida em sua totalidade, como Fernandeus (< Fernando + deus); em outros casos, ambas as bases sofrem perda, como em Debochara (< deboche + Bechara).

No entanto, há compostos caracterizados pela aglutinação, como aguardente (< água + ardente), que, diferindo de porta-luvas e boia-fria, sofrem uma perda segmental caracterizada como crase. Embora os cruzamentos se assemelhem mais aos compostos por aglutinação que aos justapostos, não revelam a existência de segmentos apagados por meio de processos fonológicos, como acontece na aglutinação. Diferente do processo de crase, que acontece em aguardente, as sequências perdidas em Luciabo (< Luciano + diabo), por exemplo, não podem ser resgatadas pela crase nem por qualquer outro processo fonológico.

Entende-se, então, que o cruzamento vocabular não é fruto de mudanças fonologicamente motivadas que levam a perdas segmentais, como crase, elisão e

40 haplologia. Nos CVs, a perda de massa fônica de uma ou das duas palavras-base de modo algum é explicada por fenômenos fonológicos segmentais, o que, nos termos de Gonçalves (2003), constitui importante diferença entre compostos aglutinativos e cruzamentos, pois justifica o caráter não concatenativo desses últimos.

Ainda sobre o parâmetro fonológico, Gonçalves (2013, p. 153) apresenta um critério que diferencia os processos ao afirmar que “há uma diferença crucial entre BL e composição: nos compostos regulares, cada um dos formativos projeta sua própria palavra prosódica (PWd), enquanto nos blends os dois formativos levam a uma só PWd”.

Antes de mais nada, é necessário esclarecer que cada palavra-base, de um cruzamento ou de um composto, projeta uma palavra morfológica (MWd). A quantidade de palavras prosódicas, por sua vez, é contada pelo número de acentos que determinada porção linguística contém. Gonçalves (2013, p. 154) ilustra a estrutura prosódica de ambos os processos com a imagem a seguir, sendo baba-ovo um exemplo de composição e selemengo de cruzamento.

Diagrama 2: Representação da palavra prosódica (PWd)

Diferentemente da estrutura morfológica, a estrutura prosódica do cruzamento vocabular se dá pela soma de duas palavras prosódicas que resulta em apenas uma palavra prosódica simples, pois o acento primário de uma das bases é omitido em favor do acento da outra, como é ilustrado em selemengo (< seleção + Flamengo), cruzamento que preserva o acento da segunda base em detrimento ao da primeira. Desse modo, a junção de duas bases leva a uma única palavra prosódica, diferente do que ocorre na composição, que preserva o acento de ambas as bases, gerando uma palavra prosódica complexa.

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Em suma, o CV e a composição se aproximam quanto à estrutura morfológica, pois ambos apresentam a estrutura MWd + MWd = MWd*, e se distanciam quanto à estrutura prosódica, pois o cruzamento vocabular apresenta um acento enquanto a composição permite dois acentos; logo, a estrutura do primeiro é representada por PWd + PWd = PWd enquanto a da composição é PWd + PWd = PWd*.

Mesmo diante da semelhança estrutural (morfológica) entre os processos, a distinção entre eles prevalece. Primeiro porque, mesmo na semelhança, os processos não são idênticos, pois o significado do cruzamento vocabular sempre remete ao de suas bases, o que nem sempre ocorre na composição. Depois, a diferença é mais explícita na estrutura prosódica, visto que os compostos portam mais de um acento e os cruzamentos, não.

Outra distinção entre o cruzamento vocabular e a composição, também apontada por Gonçalves (2003), é que a quebra das bases no CV nem sempre aproveita um constituinte morfológico. Em outras palavras, “o que segue ou o que precede o ponto de quebra nem sempre é um constituinte morfológico, fazendo com que o blend seja visto como fenômeno distinto da composição, cujo encadeamento preserva a integridade das bases”, como afirma Gonçalves (2006, p.236).

Essa característica não se repete na composição, pois este é um processo concatenativo que prima por conservar a integridade lexical das palavras-fonte. Exemplos como amor-perfeito e aguardente são indícios do encadeamento preservado na composição, visto que a segunda base só começa no ponto em que a primeira acaba. Retomando as palavras de Gonçalves (2003, p. 154), o CV é entendido como “uma fusão que leva a mistura não-linear de bases, o que faz com que blends se diferenciem de compostos, cuja ligação sempre se dá por encadeamento, seja ele por justaposição ou por aglutinação”. Essa característica é resultado da natureza dos processos, pois, enquanto a composição é um processo substancialmente aglutinativo, o cruzamento vocabular não o é. É justamente por este fator que estudiosos mais tradicionais consideram a composição um processo regular de formação de palavras, enquanto descrevem o CV como irregular ou marginal tanto que na visão de Sandmann (1997, p. 58), o

“cruzamento vocabular” é, no fundo, um tipo de composição, diferenciando- se desta, porque no cruzamento vocabular as bases que entram na formação

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de nova unidade lexical, ou ao menos uma, sofrem diminuição, não sistemática ou regular, de seu corpo fônico.

Caracterizando o CV como um tipo de composição, o autor os descreve quase como um processo único, mas ressalta a diferença entre eles, uma vez que o corte das bases, no cruzamento vocabular, “não é sistemático”. Embora preserve a estrutura silábica da língua, “o corte é naturalmente opção de quem cria a palavra”, segundo Sandmann (1997, p. 58).

Entende-se aqui que a “irregularidade” descrita no corte é fruto da não concatenatividade do CV, uma vez que diferente das palavras compostas, formadas por encadeamento, no cruzamento vocabular, “a nova palavra é formada não por concatenação ou sequência linear, mas por fusão quase total”, como pontua Basilio (2010, p. 204). Acerca disso, Gonçalves (2006, p. 225) explica que “a sistematicidade dessa operação só pode ser observada na interação morfologia-prosódia, o que difere mesclagem de composição, fazendo do primeiro uma operação circunscritiva e do segundo um processo aglutinativo”.

Diante dos pontos aqui apresentados, Basilio (2003) esclarece seu posicionamento de que a relação entre CV e composto depende do objeto de descrição que está em análise. Por exemplo, tomando como pressuposto o enfoque fonológico, é possível dizer que os processos são, de fato, distintos; no plano morfológico, porém, é correto afirmar que o cruzamento vocabular está mais próximo da composição do que da derivação.

Já Gonçalves (2003, 2006, 2013) e Andrade (2008) possuem uma posição mais categórica ao afirmarem que a composição e o cruzamento vocabular são processos distintos. Mediante os argumentos defendidos pelos autores, somados com outros apresentados aqui, concordamos que o cruzamento vocabular seja um processo distinto da composição e elencamos, no quadro a seguir, algumas das principais diferenças entre esses dois mecanismos, além das semelhanças descritas.

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Quadro 2: Comparação entre a composição e o cruzamento vocabular

COMPOSIÇÃO VS. CRUZAMENTO VOCABULAR

CRITÉRIO COMPOSIÇÃO CV Forma palavras por meio de Forma palavras por meio de 1 Qtde de bases duas bases duas bases

2 Função Função lexical Função lexical

Pode ser copulativo ou Pode ser copulativo ou 3 Sintático determinativo determinativo Pode ser endocêntrico ou 4 Semântico É endocêntrico exocêntrico Recupera perdas fônicas por Não recupera perdas fônicas por 5 Fonológico processos fonológicos processos fonológicos Estrutura 6 1MWd + 1 MWd = 1 MWd* 1MWd + 1 MWd = 1 MWd* morfológica Estrutura 7 1PWd + 1 PWd = 1 PWd* 1PWd + 1 PWd = 1 PWd prosódica

8 Formação Processo aglutinativo Processo não-concatenativo

2.3.2 Recomposição

Segundo Monteiro (1987, p. 170), a recomposição é um processo que “ocorre quando apenas uma parte do composto passa a valer pelo todo e depois se liga a outra base, produzindo uma nova composição”. O fenômeno pode ser ilustrado com o formativo auto-, que etimologicamente possui o significado de ‘de/por si próprio’, como expressa a palavra autoavaliação ‘avaliação sobre si mesmo’. Com o tempo, o formativo passou a veicular também a ideia ‘automóvel’, tanto que autopeça, autoestrada e autoscola10 se referem, todos, à noção de ‘carro’. Desse modo, surgem

formas recompostas, pois auto- deixa de veicular o significado etimológico e, nos termos de Belchor (2011, p. 161), é empregado em referência a alguma

10Autopeça é a “peça destinada a autoveículo, fabricada na rede industrial desse ramo”. Enquanto autoestrada é a “rodovia ou estrada destinada ao trânsito de automotores ou automóveis em velocidades mais altas, que percorrem distâncias maiores e às vezes chegam a ter três vias de acesso em ambos sentidos”. E autoescola, por sua vez, é o “local, que funciona como uma escola, onde são ensinadas lições àqueles que desejam aprender a dirigir”. Disponível em: . Acesso em: Set. 2018.

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característica relevada no domínio “carro”. Desse modo, ‘autoesporte’ é o nome de um “programa de televisão dedicado a esportes automotivos” e ‘autosseguro’, um “seguro para veículos”. (GONÇALVES & OLIVEIRA, 2013, p. 3)

Ao lado de exemplos com auto- estão outras palavras recompostas, formadas por foto- (fotografia, fotonovela) e tele- (televisão, telefone), entre outros formativos ressemantizados. Esses exemplos apontam para uma “forma reduzida (que) tornou-se independente e passou a ser empregada com o valor semântico de todo o composto” (ANDRADE, 2009, p. 200), uma vez que foto-, por exemplo, é usado como sinônimo de fotografia, podendo criar uma série de novas palavras compostas. Entende-se, então, que este componente da palavra que se apropriou do significado total da palavra é denominado pseudoprefixo ou prefixóide11. A relação entre recomposição e cruzamento vocabular é de grande diferença, na medida que só na recomposição ocorre um pseudoafixo, já que CVs envolvem partes de palavras não necessariamente morfêmicas. Diante disto, Andrade (2009, p.200) afirma que “o que define se uma nova palavra se constrói por recomposição ou por cruzamento vocabular é a preservação ou não da estrutura morfológica das bases-fonte”.

2.3.3. Hipocorização

Nas palavras de Gonçalves (2001, p. 1), “a hipocorização é o processo pelo qual nomes próprios são abreviados afetivamente, resultando numa forma diminuta que mantém identidade com o prenome ou com o sobrenome original”, como ocorre em Chico e Mabel cujas bases são, respectivamente Francisco e Maria Isabel. Sendo assim, esse processo nada mais é do que o encurtamento afetivo de antropônimos.

A partir desta definição, é notável a relação do hipocorístico com apelido. De fato, todo hipocorístico é um apelido, mas nem todo apelido é um hipocorístico. Os exemplos apresentados, Chico e Mabel, são hipocorísticos e, por conseguinte, são apelidos; já exemplos como Gigante e Palito são apelidos, mas não hipocorísticos. Esses apelidos são claramente originados das características de uma pessoa alta e de uma pessoa magra, ou seja, guardam relação com características físicas de alguém e, portanto, são considerados apelidos; mas não podem ser considerados hipocorísticos por não guardarem uma relação de correspondência com um prenome, como explica

11 Termos utilizados em Cunha e Cintra (1985, p. 111).

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Gonçalves (2006, p. 223). Deste modo, Gigante pode ser o apelido de alguém chamado André, mas não pode ser o hipocorístico; já Dedé é tanto apelido quanto hipocorístico desse prenome, uma vez que corresponde a ele.

Existem cinco padrões possíveis de hipocorização, como é demonstrado na imagem a seguir, que apresenta a categorização proposta por Lima (2008, p.19).

Quadro 3: Padrões da hipocorização

O primeiro padrão é o chamado default, que mapeia apenas a borda direita dos nomes – é considerado o mais produtivo dos cinco. O sistema dois, por sua vez, é aquele que mapeia apenas a margem esquerda da palavra. Os padrões três e quatro envolvem o processo de reduplicação, sendo que, no terceiro sistema, ocorre a reduplicação da borda direita dos nomes, enquanto no padrão quatro a margem esquerda é reduplicada. O quinto padrão, por seu turno, apresenta nomes compostos como base.

Provavelmente por não haver pesquisas anteriores que focalizem o cruzamento vocabular formado por antropônimos, não foram encontrados trabalhos que comparem o CV ao hipocorístico. Logo, traçamos, no capítulo 4 desta dissertação, o paralelo entre os processos levando em consideração os conhecimentos sobre cruzamento vocabular já apresentados e as características do hipocorístico, principalmente apresentadas por Lima (2008).

2.3.4 Siglagem

Conceito anterior à siglagem é o da acrossemia, proposto por Monteiro (1987). Para ele, a acrossemia é uma das possibilidades de formação dos antropônimos, hipocorísticos e oniônimos, em que ocorre uma redução, que “se dá em cada elemento de um composto ou de uma expressão para em seguida formar o vocábulo” (p.199).

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Sobre o primeiro caso, formação de antropônimos, “há uma preferência pela formação de prenomes mediante a combinação de sílabas, quase sempre extraídas dos nomes dos pais”, segundo Monteiro (1987, p.185). Alguns exemplos de acrossemia neste grupo são Erlice (< Ernesto + Alice), Claudionor (< Cláudio + Leonor), Jomar (< José + Maria) e Edigênio (< Edite + Eugênio). Já com relação aos hipocorísticos, Monteiro apresenta quatro meios de formação: a braquissemia12, a acrossemia, a duplicação e a sufixação. Entre eles, a acrossemia é o processo que menos ocorre pelo fato de existirem poucos prenomes compostos em comparação aos nomes simples. Alguns dos exemplos apresentados são Cadu (< Carlos Eduardo), Mabel (< Maria Isabel) e Franzé (< Francisco José). Em exemplos como esses, que são “prenomes compostos não unidos graficamente, o normal e esperável é a ocorrência da acrossemia, responsável por formações bastante expressivas”. (MONTEIRO, 1987, p.193). Já no caso dos oniônimos13, a frequência se inverte, pois, segundo o autor, a acrossemia é bem mais produtiva do que a braquissemia. Nesse grupo, a acrossemia é novamente responsável por uma redução em cada palavra-base – de um composto ou de uma expressão – para a formação de uma nova palavra. Alguns casos desse grupo são Nescau (< Nestlê + cacau), Brastemp (< Brasil + Temperatura), Fiat (< Fabbrica Italiana diAutomobili Torino) e Cimo (< Companhia Industrial de Móveis).

A proposta de Monteiro (1987) vai em sentido oposto à de autores como Gonçalves (2016) e Lima (2008 e 2014). Para eles, a acrossemia não é um processo de formação de palavras propriamente dito, mas pode ser entendido melhor como um mecanismo que atua em determinados processos morfológicos.

Analisando os dados da formação de antropônimos apresentados anteriormente, na perspectiva de Gonçalves (2016), seria possível dizer que a acrossemia é um dispositivo atuante no processo cruzamento vocabular, tanto que, em Claudionor (< Cláudio + Leonor) e Jomar (< José + Maria), o que ocorre nada mais é do que uma “mistura de fragmentos de palavras existentes. Nesse sentido, as formas resultantes refletem iconicamente suas palavras-matrizes” (GONÇALVES: 2016, p. 74).

12A braquissemia é entendida pelo autor como um processo de formação de palavras à parte, no qual novas palavras são formadas pelo encurtamento de outras já existentes na língua – este encurtamento pode ser dado de diversas maneiras, como explica Monteiro (1987, p.191). 13 Monteiro (1987, p.197) define os oniônimos como o objeto do estudo de nomes próprios referentes a marca industriais ou artigos comerciais.

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Sobre a formação de hipocorísticos, Lima (2008) trata dos mesmos exemplos – Cadu (< Carlos Eduardo) e Mabel (< Maria Isabel) – sem recorrer ao termo acrossemia, visto que, segundo sua análise, formações como essas são produzidas por se submeterem a uma série de filtros e terem tratamento mais adequado com base na noção de Circunscrição Prosódica14.

Focalizando agora os oniônimos apresentados por Monteiro (1987), é possível perceber que o autor agrega no “rótulo” acrossemia tanto os exemplos que Lima (2014) descreve como sigla quanto casos referidos por Andrade (2016) como cruzamento vocabular.

A ocorrência de Fiat (< Fabbrica Italiana Automobili Torino), por exemplo, é designado como uma sigla em Lima (2014, p.6) por consistir na “combinação das iniciais de um nome composto ou de uma expressão”. Esse caso, na análise do mesmo autor, é classificado ainda como um acrônimo, por ser uma sigla “cuja sequência de letras permite a pronúncia de uma palavra normal” (LIMA, 2014, p.6), como também ocorre em ENEM (< Exame Nacional do Ensino Médio).

Retomando agora o caso de Nescau (< Nestlê + cacau), que Monteiro (1987) analisa no mesmo grupo de Fiat, é possível notar que ambos podem até ser semelhantes por se tratarem de novas palavras originadas de palavras-base já existentes na língua, mas são formadas por meio de processos diferentes.

O exemplo de Nescau (< Nestlê + cacau) se aproxima da definição de siglagem, apresentada por Lima (2014), na medida em que é uma combinação de letras originadas de duas palavras-base, mas não constitui uma sigla, uma vez que um dos requisitos da siglagem é que seus produtos sejam formados apenas por meio das iniciais de cada base, e em nescau isso não ocorre, tanto que /cau/ é a sílaba final da segunda palavra-base, cacau.

Caso semelhante é Nescafé (< Nestlé + café), analisado em Andrade (2008) como um cruzamento vocabular, visto que ocorre uma mescla lexical de duas palavras sob um único acento e com um único significado. Sendo assim, Nescau (< Nestlê + cacau) também seria um dado de CV.

14A Circunscrição Prosódica é um dos princípios da Teoria da Morfologia Prosódica, desenvolvida por McCarthy& Prince (1990).

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Pode-se concluir, então, que a análise de Monteiro (1987) é significativa principalmente por investigar processos morfológicos geralmente colocados à margem dos estudos linguísticos, tanto que em diversas obras nem se fala de processos morfológicos não concatenativos.

No entanto, a pesquisa de Monteiro (1987) é imprecisa em alguns aspectos. Primeiramente, é contestável o fato de a acrossemia ser um processo de formação de palavras. Levando em conta os dados apresentados, é coerente afirmar que a acrossemia se assemelha a um mecanismo que leva à combinação de determinadas partes de palavras e pode ser entendida como um dispositivo que atua tanto na hipocorização como em outros processos morfológicos.

Outro aspecto contestável é o tratamento impreciso que o autor atribui a grupos morfológicos distintos, desconsiderando suas diferenças. Em outras palavras, Monteiro (1987) trata três processos morfológicos – cruzamento vocabular, hipocorização e siglagem – sem esclarecer as diferenças entre eles, o que acaba desprezando as particularidades de cada um. Por outro lado, seus exemplos revelam que as fronteiras entre os processos não concatenativos podem ser flexíveis, havendo casos que parecem atuar no limiar entre siglagem, hipocorização e cruzamento.

Diante de todos os enfoques sobre o cruzamento vocabular vistos até aqui, apresentamos não só sua definição e tipologia, mas também seu valor expressivo e o paralelo entre ele e outros processos morfológicos; essas noções são essenciais para a descrição do corpus desta pesquisa – cruzamentos formados por, pelo menos, um antropônimo. Continuando a seguir, com a revisão bibliográfica, o próximo capítulo apresenta algumas noções sobre a antroponímia, concepção também significativa para a análise do corpus aqui adotado.

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3. ABORDAGENS SOBRE A ANTROPONÍMIA

O presente capítulo é dedicado a uma breve revisão bibliográfica sobre o objeto de estudo da antroponímia, área de conhecimento raramente explorada em materiais morfológicos da Língua Portuguesa. Como os antropônimos formam uma parte integrante do corpus desta pesquisa, é fundamental que sejam revistas algumas abordagens sobre a antroponímia no Português Brasileiro. Sendo assim, será estabelecida, a seguir, uma revisão bibliográfica desse tema.

3.1 DEFINIÇÃO E ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

O ramo da Linguística que se dedica ao estudo dos nomes próprios é chamado de Onomástica. Em linhas gerais, essa área se divide em duas especialidades: a antroponímia e a toponímia. A primeira, cerne de estudos do capítulo, focaliza os antropônimos15, ou seja, nomes personativos, que designam pessoas; a segunda especialidade, toponímia16, é referente a nomes de lugares.

Embora essa seja a linha adotada, há controvérsias sobre quais classes fazem parte dos nomes próprios, como descreve Amaral (2011). Segundo alguns autores, a antroponímia e a toponímia não são as únicas classes de nomes próprios, mas diante de um levantamento feito pelo autor, essas duas especialidades foram encontradas na classificação de todos estudiosos consultados em diferentes línguas, como o inglês, holandês, francês e espanhol17. Sendo assim, a antroponímia e a toponímia são classes certamente incluídas nos nomes próprios e são as que mais recebem atenção dos estudiosos.

A antroponímia também é uma área heterogênea quanto suas subclasses – tanto que chega a ser considerada “a categoria mais diversificada de nomes próprios” (AMARAL, 2011, p. 64). Estudiosos empenharam-se em traçar uma tipologia para os antropônimos na perspectiva linguística, mas ainda “faltam trabalhos que busquem definir e classificar tais itens, levando-se em conta, especialmente, dados do português brasileiro” (p. 64).

15Do grego anthropos ‘homem’ + ónoma ‘nome’ (Cunha: 2010). 16Do grego tópos ‘lugar’ + ónoma ‘nome’ (Cunha: 2010). 17Allerton (1987) no inglês, Van Langendonck (2007) no inglês e horlandês, Wilmet (1995) e Jonasson (1994) no francês e López García (2000) e Bajo Pérez (2002) no espanhol – cf. Amaral (2011, p. 65).

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Mediante essa carência e debruçado na revisão bibliográfica de estudos anteriores, Amaral (2011) apresenta uma proposta de classificação dos antropônimos, considerando o uso social dos nomes no Brasil, levando em conta fatores semânticos e pragmáticos. Sendo assim, seus estudos foram adotados neste trabalho.

Antes de expor sua proposta de categorização, o autor esclarece que entende como antropônimos apenas os nomes desprovidos de significado lexical, diferente dos nomes de parentesco (mamãe, papai, madrinha, etc.) e de elementos como fulano, beltrano e sicrano, que possuem significado lexical e, inclusive, têm entrada em dicionários.

A categorização de Amaral (2011) é baseada em dados retirados de textos da Folha de São Paulo durante o ano de 2009 e divide os antropônimos em dois grandes grupos: ortônimos e alônimos. O ortônimo18 equivale ao nome civil completo, como aparece no registro civil e se subdivide em prenomes e sobrenomes. Já o alônimo19, ao contrário do primeiro, é o nome não oficial, ou seja, não registrado civilmente; subdivide-se em hipocorístico, apelido, pseudônimo/codinome, heterônimo, nome artístico/de palco e nome de guerra. Essa divisão é representada no diagrama20 a seguir e será descrita adiante.

Diagrama 3: Categorização dos antropônimos

18Do grego orthós ‘reto, direito’+ ónoma ‘nome’ (Cunha: 2010). 19Do grego allo- de allós ‘outro, diverso’+ ónoma ‘nome’ (Cunha: 2010). 20 Diagrama da tipologia de antropônimos proposta por Amaral (2011, p.76).

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A começar pelo grupo dos ortônimos, o prenome é o antropônimo que precede o sobrenome e normalmente diferencia um indivíduo de outros em seus grupos sociais. Também conhecido como nome de batismo ou antenome, o prenome pode ser simples ou composto. Quando simples, tem apenas um item lexical, como Tiago e Lorena; quando composto, tem mais de um, a exemplo de Luís Felipe e Maria Clara.

O sobrenome, por sua vez, é o antropônimo que sucede o prenome; Silva, Oliveira e Souza são exemplos comuns no Brasil. Também designado como nome de família, o sobrenome normalmente é passado de pais para filhos, tanto que podem ser patronímicos, “antropônimos que têm origem no nome do pai ou de um ascendente masculino”, ou matronímicos, “originários do nome da mãe” (AMARAL, 2011, p.71). Essa relação é tão precisa que há sobrenomes como Júnior, Filho, Sobrinho e Neto que indicam diretamente o parentesco entre o portador do nome e seu familiar.

O grupo dos ortônimos tem importância efetiva nos antropônimos e, de acordo com a legislação brasileira, o prenome, junto com o sobrenome, constitui o nome pessoal garantido por lei: “Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome” (BRASIL, 2002). O prenome é utilizado oficialmente pelo portador durante toda a sua vida, mas o art. 1º da Lei Nº 9708, de 18 de novembro de 2008, possibilita sua substituição: “O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios”. (AMARAL, 2011, p.70)

Sobre esse fato, Ullmann (1987) também faz questão de evidenciar que “a posse de um nome é, e tem sido desde tempos imemoriais, privilégios de todo ser humano” (p.148), ou seja, todos têm direito a um nome independentemente de condições sociais, econômicas ou de qualquer outro fator, o que gera grande heterogeneidade de dados.

Passando agora para o grupo dos alônimos, serão brevemente descritas as seis subclasses. O hipocorístico, já analisado no capítulo 2, é descrito por Amaral (2011) como o produto de uma alteração morfológica de um antropônimo, como abreviação, diminutivo e aumentativo. Como discutido no capítulo anterior, essa definição se opõe ao conceito adotado aqui, de Gonçalves (2001), que considera como hipocorístico apenas as formas encurtadas dos nomes. Como esse não é foco agora, basta esclarecer que hipocorístico é diferente do apelido, por guardar identidade com o antropônimo, e geralmente é usado de forma afetiva, a exemplo de Dudu, originado de Eduardo, e Rafa, de Rafael.

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A segunda subclasse é o apelido (ou alcunha) definido como “antropônimo atribuído a um indivíduo geralmente por outra pessoa. Muitas vezes alude a uma característica física ou intelectual e pode ou não ser depreciativo”, conforme Amaral (2011, p.72). Presuntinho, por exemplo, é o apelido dado a um menino cujas características físicas, de peso e cor da pele, se assemelham a de um porco.

O pseudônimo, por sua vez, é um antropônimo usado no lugar do nome civil de uma pessoa, como por exemplo Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do escritor, radialista e compositor Sérgio Marcus Rangel Porto. Diferente do apelido, o pseudônimo é escolhido pelo próprio portador e outra característica dessa subclasse é que o pseudônimo pode ou não ser encoberto. Já o codinome é “utilizado para ocultar ou nomear um plano de ação ou uma organização” (AMARAL, 2011, p.73). Pode esconder a identidade de alguém, e, assim, sua concepção é considerada próxima à do pseudônimo.

O heterônimo é um antropônimo correspondente a um indivíduo fictício, o que o distingue do pseudônimo embora sejam parecidos. O referente fictício é criado pelo portador de outro antropônimo. Caeiro, por exemplo, é um dos heterônimos do poeta português Fernando António Nogueira Pessoa.

A quinta subclasse, nome artístico, é um antropônimo usado no lugar do nome civil pelo qual uma pessoa se identifica profissionalmente. Um exemplo é Dolores Duran, nome artístico de Adiléia da Silva Rocha. Semelhante a esse uso, o nome de palco tem acepção semelhante.

O nome de guerra, por último, se assemelha ao nome artístico, mas, por não se aplicar apenas na esfera artística, se distingue desse, tanto que parece ser comum na esfera militar, por exemplo, e pode ser usado em qualquer área de atividade. O nome de guerra também se aproxima do pseudônimo, mas não carrega o sentido pejorativo que aquele possui. Sendo assim, o nome de guerra constitui uma subclasse à parte, que pode ser exemplificada por Deadmau5, nome de guerra do DJ/produtor Joel Zimmerman, e Adriana, nome de guerra de uma garota de programa21.

Diante dessa categorização, proposta por Amaral (2011), é necessário destacar que

21 Exemplos retirados de Amaral (2011), bem como a maioria dos outros nesse tópico.

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esses conjuntos não possuem delimitação rígida e pode haver transição de um a outro. Um indivíduo pode, por exemplo, usar seu hipocorístico ou apelido como nome artístico. Esse fato pode ser exemplificado com (8), em que a atriz Daniela Maria Giustti Barra explica que adotou o apelido Calabresa como nome artístico. (pág. 77) A divisão e subdivisão das classes antroponímicas no Português Brasileiro é, provavelmente, resultado de relações sociais complexas formadas por diferentes motivações, cujo uso se enquadra em diferentes esferas sociais. Admitindo-se que existem outras propostas de classificação, adotamos a de Amaral (2011) por ser aparentemente completa e baseada no uso social dos nomes no Brasil, sem menosprezar fatores semânticos e pragmáticos.

Além da classificação apresentada, os estudos da antroponímia também podem ser realizados por outras perspectivas, a saber: motivação, significado, neologismos, processos de formação, etimologia, frequência, estrangeirismos, influências culturais, entre outras, todas voltadas aos antropônimos. Mantendo o foco desta pesquisa, serão revisadas referências que focalizam as quatro primeiras perspectivas citadas.

Antes de apresentar as perspectivas, é importante esclarecer que, como corpus, os estudiosos da antroponímia geralmente recorrem a catálogos como lista telefônica (CASTRO, 2004), registro de paróquias (MEXIAS-SIMON, 2004), lista escolar de estudantes (MEXIAS-SIMON, 2004), documento de aprovados em universidade (POSSIDÔNIO, 2009), variados sites brasileiros (SIMÕES-NETO E RODRIGUES, 2017), entre outros.

3.2 PERSPECTIVAS DE ESTUDO

3.2.1 Motivação

A relação do nome com as coisas não é um foco de estudo recente, uma vez que já no século XI a.C. esse debate vinha sendo traçado pelos filósofos que estudavam a língua, como afirma Dick (1987, p.190). Esse questionamento tomou maiores proporções e chegou também à antroponímia, na medida em que há uma discussão que gira em torno da arbitrariedade ou não dos prenomes, como será visto adiante.

Há povos que acreditam convictamente na motivação sobrenatural dos nomes. A chamada “verdadeira teoria do nome”, apresentada por Dick (1987, p.190), afirma que

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“bons nomes” conquistam benefícios originados de um mundo superior enquanto os “maus nomes” atraem influências negativas não só a seu referente, mas também ao grupo em que ele está inserido.

Algumas tribos indígenas, por exemplo, atribuem valores místicos e mágicos aos nomes. A importância dos nomes para eles é tamanha que os Bororo, tribo do Centro Oeste brasileiro, conferem aos seus habitantes cinco nomes com finalidades distintas durante a vida. Alguns povos africanos também defendem a significação dos antropônimos e são motivados a uma boa escolha de nome para afastar espíritos malignos, como também explica Dick (1987).

Embora essa percepção mágica não tenha desaparecido totalmente, a motivação para escolha de nomes não é mais essa, na maioria das sociedades. Muitos nomes são escolhidos por modismo, como, por exemplo, a partir de personagens de novela e de filmes. Além desse fator, há também muitas escolhas de nomes bíblicos e por tradições familiares. De qualquer forma, a questão da moda se mostra realmente forte – tanto que em alguns contextos são preferidos os nomes simples e curtos enquanto, em outros, a tendência predominante são os nomes complexos, a depender de variáveis como tempo, espaço, classe social, etnia etc.

As motivações da escolha de prenomes apresentadas por Obata (1994) convergem com essas expostas por Dick (1987), mas vão além ao apontar outras. Segundo a autora, um nome também pode ser escolhido por motivos políticos ou históricos quando os pais empregam nomes de personalidades ou até de fatos pelos quais são simpatizantes, como, por exemplo, a ocorrência de muitos adultos chamados Adolf Hitler na década de 80. Nomes também podem ser escolhidos simplesmente por gosto dos pais, fantasia ou até por arbitrariedade, como defende a autora.

Sobre os critérios para a escolha de um prenome, Obata (1994, p.6) relaciona seis e explica que

escolher o nome para um filho pode ser uma tarefa apaixonante e ao mesmo tempo fatigante. A preocupação começa muito antes do nascimento da criança. Em primeiro lugar, exige-se que o nome tenha um som agradável, depois, que tenha qualidades estéticas, ambientais, de significado, e até que expresse as tendências sociais ou políticas dos pais.

Como se vê, a motivação de um nome integra muitos fatores de diferentes ordens, como aspectos culturais, históricos, fonológicos, estilísticos e, sobretudo, os

55 semânticos. O grande debate em torno da motivação antroponímica é a questão do significado, como será abordado a seguir.

3.2.2 Semântica

O prenome, de acordo com alguns estudiosos, não passa de um “rótulo de identificação social” que distingue um referente do outro. Essa corrente afirma que o antropônimo constitui um mero símbolo desprovido de qualquer significado e é escolhido para seu portador de maneira totalmente arbitrária, sendo apenas uma “marca de individualidade”, como descreve Obata (1994, p. 5).

Essa linha de pensamento não é recente. Já no século XIX, o filósofo John Stuart Mill afirmava que um nome próprio não é mais que uma marca sem significado que relacionamos na nossa mente com a ideia do objeto, na intenção de que sempre que a marca se encontre com os nossos olhos, ou ocorra à nossa memória, possamos pensar naquele objeto individual. (MILL, 1879, p. 36)

A característica de identificação é o critério mais importante que diferencia o nome comum do nome próprio, na medida em que o segundo tem o papel de singularizar um indivíduo, mas não porta valor semântico. No exercício de distinguir os nomes comuns dos próprios, Mill (1879) lista outros critérios que convergem para a mesma conclusão.

No parâmetro designação contra conotação, ratificado em Ullmann (1964), prevalece a ideia de que os antropônimos “não são conotativos: designam os indivíduos que por eles são chamados; mas não indicam nem implicam nenhum atributo como pertencentes a estes indivíduos” (MILL, 1879, p. 33). Desse modo, os nomes próprios, diferente dos comuns, são apenas denotativos, não conotativos.

Com relação ao som distintivo, explica-se que a identificação característica dos nomes próprios é adquirida, também, por meios fonológicos ao singularizar nomes por sons contrastivos, mas, ainda assim, desconsiderando qualquer significado relacionado ao som.

Em oposição a essa corrente, Dick (1987) reitera a afirmação de Cassier de que “o nome não é nunca um mero símbolo, sendo parte da personalidade de seu portador: é uma propriedade que deve ser resguardada com o maior cuidado e cujo uso exclusivo deve ser ciosamente reservado” (CASSIER, 1985, p. 60).

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Em conformidade com essa corrente proposta por Cassier (1985), e em oposição à declaração de Mill (1879), a pesquisa de Camara (2008) defende que é impossível compreender os nomes próprios simplesmente como denotativos. Nesse viés, a autora elenca dez argumentos que justificam essa afirmação (CAMARA, 2008, pp. 27-39), como será brevemente resumido a seguir.

Primeiramente, é pontuada a ocorrência de nomes próprios se tornarem nomes comuns. Exemplos como chauvinismo, originado do nome Nicolas Chauvin de Rochefort, apontam para uma conotação proveniente dos nomes próprios, que motivou tal criação. Em outras palavras, a denotação, por si só, não daria conta de explicar essa mudança.

Além de nomes comuns, antropônimos também podem tornar-se verbos, a exemplo de malufar, expressando uma reação negativa ao político Paulo Maluf. Além da conotação negativa, também são possíveis casos dessa natureza que expressem cunho apreciativo. De qualquer modo, não há justificativa plausível para desconsiderar a conotação que os nomes próprios possuem.

O terceiro argumento focaliza exemplos originados na Grécia, fonte da cultura ocidental e de onde surgiram nomes como Édipo, herói da tragédia grega cujos pés foram amarrados ao nascer, razão pela qual recebeu esse nome que significa ‘pés inchados’. Exemplos como esse sinalizam, mais uma vez, o traço semântico presente nos antropônimos.

A Bíblia também fornece indícios que apontam para a conotação dos nomes. Nas situações bíblicas em que uma pessoa muda de nome, a troca não é arbitrária; pelo contrário, é sempre motivada. O exemplo de Abrão evidencia esse aspecto porque, ao receber de Deus o nome Abrãao, um novo batismo é anunciado.

Como quinto argumento, a autora desencadeia um fato histórico em que novos cristãos nomeavam a si mesmos com nomes de animais e de árvores frutíferas para se livrarem da perseguição aos judeus; desse modo, assumiam nomes como Leão, Lobo, Pereira, Laranjeira. Se os antropônimos não possuíssem significados, em vão seria essa estratégia.

A questão do tabu linguístico também muito contribui para este debate. Há nomes com elevado nível de honra que são evitados de serem proferidos, como o nome

57 de Deus, por exemplo, que é omitido em certos contextos como a oração do celebrante da igreja católica ao dizer “Bendito seja o seu santo Nome!”. Além desse caso, também é evitada a pronúncia de nomes de espíritos malignos, como diabo e demônio, sendo substituídos por demo, o cujo, entre outros, a depender da situação comunicativa.

Além dos seis argumentos expostos até então, os nomes próprios ainda demonstram indícios de que podem classificar certas situações. Por exemplo, a tendência de alguns prenomes estrangeiros, como Washington e Jennifer, é revelar ascensão social, portanto são nomes mais usuais nas classes menos favorecidas. Por outro lado, as famílias com maior poder econômico dão preferência a nomes mais simples, como Antônia e João, gerando uma quebra de expectativa e uma sofisticação pelo alto nível socioeconômico.

O próximo argumento, já citado na seção anterior, focaliza a escolha de prenomes baseada em famosos, por suas atitudes ou por suas qualidades como pessoa; são exemplos desse cenário nomes como Getúlio, renomado político, e Roberto Carlos, notável cantor e compositor brasileiro. “Nesses casos, o antropônimo não é uma simples identificação; é o próprio ser” (CAMARA, 2008, p. 32).

A conotação do nome próprio é tão forte que é capaz até de perpetuar o nome de alguém, mesmo após a sua morte. Esse, inclusive, é um dos possíveis motivos de escolha de um nome para uma criança. Na cultura brasileira, é comum que a criança receba nomes para homenagear alguém da família e, assim, faça perdurar o nome da pessoa condecorada.

Por fim, o último argumento citado pela autora enfatiza o campo da literatura. A escolha dos nomes dos personagens é sempre feita com uma intenção, como o nome Diadorim de Grande Sertão: Veredas, por exemplo, que conota o ser e o não-ser em que Deus e o demo se distanciam. Há muitos outros exemplos nesse sentido, mas o que importa agora esclarecer é que “o nome próprio dos personagens é o primeiro estágio de individualização, uma forma de fazer adquirir vida própria, de destacar-se e de diferenciar-se dos demais” (CAMARA, 2008, p. 33).

Diante dos argumentos apresentados, só há uma conclusão plausível: o nome “classifica, individualiza e significa; é apropriado” (CAMARA, 2008, p. 34).

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3.2.3 Neológica

A antroponímia no Português Brasileiro possui uma característica muito singular: a criatividade linguística – não vista em outras línguas (pelo menos não na mesma proporção). Em Portugal, por exemplo, existem normas que controlam a escolhas de nomes, de modo que os portugueses só podem escolher nomes que sejam autorizados por uma lista22, ao passo que não podem nomear seus filhos com nomes que constem na lista de nomes proibidos. Essas listas foram elaboradas por uma série de preocupações, como a conservação da Língua Portuguesa no território (impedindo estrangeirismos) e a preservação dos indivíduos à exposição de nomes constrangedores, entre outros motivos.

No Brasil, por outro lado, como esse conservadorismo não atua, o que se pode notar é uma “espantosa liberdade que ocorre na antroponímia brasileira, em que a imaginação criativa corre à solta na escolha dos nomes de batismo” (CASTRO, 2004). E não é preciso muito aprofundamento para se chegar a essa conclusão, uma vez que muitos brasileiros têm conhecimento de pelo menos uma pessoa que possua um nome inovador e, muitas vezes, excêntrico.

Obata (1994, p.7) explica que esses nomes incomuns recorrentes no Brasil podem ser justificados pela extravagância ou até por ignorância dos pais. Dentre muitos casos, a autora lista uma série de exemplos que serão aqui também mencionados: Abecê Nogueira, Antônio Morrendo das Dores, Bemvindo o Dia do Meu Nascimento Cardoso, Cafiaspirina Cruz, Céu Azul do Sol Poente, Dezecênio Feverêncio Delegas, Francisoréia Dorotéia Dorida, Jacinto Dores Peta, João da Mesma Data, Luciferino Barrabás, Oceânico Atlântico Linhares, Prodamor Conjugal de Marichá e Marimel, Rolando de Alto a Baixo da Estrada, Serpentina Rodo Metálico, Um Dois Três de Oliveira Quatro, Zero Fonseca etc.

Embora haja uma lei23 de 1973 que tente evitar a ocorrência de prenomes que causem constrangimento a seus referentes, ainda há inúmeros casos como esses, tanto

22Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 23“A lei nº 6015 de 1973, no seu artigo 55, prevê que ‘os oficiais do registro civil não registrarão pronomes suscetíveis de expor ao ridículo seus portadores. Quando os pais não se conformarem com a recusa dos oficiais, este submeterá por escrito o caso, independentemente da cobrança de quaisquer emolumentos, à decisão do juiz competente’” (OBATA, 1994, p. 8).

59 que se a escolha de nomes excêntricos não fosse tão recorrente na antroponímia brasileira, provavelmente não teria necessidade de haver uma lei nesse sentido, já que não há preocupação social com o conservadorismo, como ocorre em Portugal. E, independentemente da lei, os pais deveriam refletir acerca dos problemas que os nomes escolhidos podem acarretar em seus filhos.

Como foi visto, há casos de nomes excêntricos em que são quase incompreensíveis as razões de escolha dos pais, mas, por outro lado, há situações cujos motivos são mais transparentes. Nesse contexto, encaixam-se os casos de união de nomes na medida que grande parte dos nomes excêntricos são provenientes de combinação de dois nomes, principalmente do pai e da mãe. São exemplos Claudionor (Cláudio e Leonor), Jomar (José e Maria), Erlice (Ernesto e Alice), Aguimar (Aguinaldo e Maria), Edigênio (Edite e Eugênio), Mariel (Maria e Ariel), Marielza (Maria e Elza), Gusmira (Gustavo e Almira), Vanderci (Vanderlei e Cilene). O conhecido escritor e cartunista Ziraldo Alves Pinto costuma dizer que já nasceu com pseudônimo, graças à criatividade do seu pai, que combinou o nome da esposa e o seu próprio para formar o nome do filho (Zizinha e Geraldo). (OBATA, 1994, pp. 8-9)24

Como se pode notar, são consideráveis os casos em que prenomes funcionam como uma forma de homenagear duas pessoas de uma só vez, principalmente os pais. Nesse uso, merece destaque ainda o fato de a combinação usar como bases dois nomes de gêneros diferentes para criar um nome que se refira a um só gênero, o que pode gerar ambiguidade.

3.2.4 Morfológica

Diante de uma breve compilação de estudos antroponímicos brasileiros, pode-se afirmar que são raros os que descrevem processos morfológicos de formação dos nomes. Algumas das pesquisas que voltam à atenção para essa perspectiva são Monteiro (1987), Soledade (2012) e Simões Neto e Rodrigues (2017) – esta última obra faz um mapeamento mais geral baseando-se nas outras duas anteriores. Os processos de formação de antropônimos serão revisados adiante.

Antes de mais nada é fundamental esclarecer que

24 Alguns exemplos presentes nessa citação são também encontrados em Monteiro (1987, p.185), como foi apresentado no capítulo anterior.

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quando se trata da análise dos processos de formação dos nomes próprios e dos operadores que atuam nesse processo, as bases linguísticas se apóiam e, em geral, se encerram em parâmetros aplicáveis a nomes comuns, não tendo sido ainda identificados estudos que apontem para uma definição das peculiaridades dos processos morfolexicais de formação do léxico antroponímico. (SOLEDADE, 2012, p. 328)

Por essa deficiência de materiais voltados à formação de antropônimos, Simões Neto e Rodrigues (2017, p. 118) reafirmam a necessidade de “levar em conta as peculiaridades que a morfologia dos nomes próprios tem”, e descrevem assim os denominados processos genolexicais na formação de nomes de pessoas do Brasil. Diante disso, os autores traçam um panorama desses processos tendo como base a Morfologia portuguesa, de Monteiro (1987).

Apoiando-se em processos de formação de nomes comuns, mas contemplando especificidades dos antropônimos, os autores listam sete processos: derivação imprópria, sufixação, composição, braquissemia, acrossemia, anagrama, e empréstimos – cada um será brevemente apresentado a seguir.

No seu sentido básico, a derivação imprópria é caracterizada pela mudança de classe das palavras. Ao se tratar de antropônimos, o fenômeno “ocorre quando vocábulos, originalmente tratados como pertencentes ao léxico dos nomes comuns, passam a ser utilizados no léxico dos nomes próprios, a exemplos dos prenomes Morena, Sol, Rosa, Branca, etc.”, como afirmam Simões-Neto e Rodrigues (2017).

A sufixação, por sua vez, remete ao acréscimo de partículas a nomes designativos, como faz o diminutivo em Tereza, por exemplo, gerando Terezinha. O trabalho de Soledade (2012) é voltado somente para a sufixação em nomes personativos no português arcaico e apresenta exemplos de sufixo como -nte (Vicente, Clemente) e - el (Miguel, Isabel).

A composição dos antropônimos, como nos nomes comuns, também apresenta dois tipos, de acordo com a perspectiva fonológica, a justaposição e a aglutinação. Esses dois tipos, no entanto, geram três grupos: nomes separados (p.ex. José André), nomes justapostos (p.ex. Analucia) e aglutinados (p.ex. Rosalva).

O quarto “processo” é a braquissemia, baseada nos termos de Monteiro (1987), para designar parte de palavra usada no lugar da palavra inteira. Esse fenômeno abrange o truncamento e o hipocorístico. Sobre o truncamento, Simões-Neto e Rodrigues (2017) não apresentam exemplos de antropônimos – os exemplos expostos são de palavras

61 comuns como refri (refrigerante) e madruga (madrugada). Já o hipocorístico sempre possui antropônimos como base e, mesmo sendo uma forma afetiva de prenomes, podem acabar sendo usados como nomes de batismo, como ocorreu com Zeca.

A acrossemia é caracterizada pela mescla de sílabas ou fonemas. Já explicado no capítulo anterior, esse “fenômeno” mistura dois nomes para formar um terceiro, como ocorre na combinação de nomes de pais, já citada no tópico da perspectiva neológica. Sobre esse fato, inclusive, Simões-Neto e Rodrigues (2017, p. 125) contribuem com dois dados formados pelas mesmas bases em ordens diferentes: Mart’nália (< Martinho + Anália) e Analimar (< Anália + Martinho), caso de duas irmãs que receberam tanto o nome da mãe quanto o do pai.

O processo de anagrama ocorre quando há “inversão total ou troca de sílabas dos nomes e, ao que parece, não se mostra como um recurso na formação de nomes comuns” (SIMÕES-NETO E RODRIGUES, 2017, p.125). Exemplo conhecido de anagrama é o caso de Iracema, formado por América; além deste, os autores acrescentam Alobened e Airam, anagramas de Denébola e Maria, respectivamente.

O último processo é o de empréstimos, causado pela ocorrência de nomes importados de outra língua, a exemplo de Charles e Elvis. Nesse grupo, é comum a ocorrência de uma espécie de manutenção fonológica e/ou ortográfica da língua que recebe os nomes, como o nome do músico britânico John Lennon, que passou a nomear brasileiros como João Lennon.

Diante do breve panorama morfológico apresentado aqui, não se pode perder de vista que o estudo da morfologia dos nomes próprios é ainda incipiente, revelando-se, portanto, um desafio a partir do que se conhece da morfologia dos nomes comuns para se tentar estabelecer as bases linguísticas que entram nos processos morfolexicais de formação de antropônimos. (SOLEDADE, 2012, p.328)

Dos sete processos de formação de antropônimos, a acrossemia é o mais significativo para o presente trabalho. Além disso, o aspecto morfológico e a motivação dos antropônimos, em suas perspectivas semântica e neológica, contribuem para as abordagens sobre a antroponímia traçadas neste trabalho. O somatório dessas abordagens com os enfoques sobre o cruzamento vocabular, vistos no capítulo 2, dão suporte para a análise de dados do corpus desta pesquisa, realizada no próximo capítulo.

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4. ANÁLISE DE DADOS

Neste capítulo, apresentamos uma proposta de análise dos dados de cruzamento vocabular formados por, pelo menos, uma base antroponímica. Ao todo, coletamos 637 dados que categorizamos em quatro grupos distintos. O primeiro, antropônimos acrescidos de qualificador, apresenta dados em que uma base é antroponímica e a outra, não; a principal função de seus dados é a atitudinal, uma vez que revelam atitudes subjetivas dos falantes em relação à personalidade avaliada, a exemplo de Jeguerino (< jegue + Severino). O segundo grupo é denominado como shippagem, por englobar dados oriundos desse fenômeno, apresenta antropônimos em ambas as bases e tem como objetivo nomear casais, como em Shirlipe (< Shirlei + Felipe). O terceiro grupo, por sua vez, é constituído de nomes de batismo e também apresenta duas bases antroponímicas, mas não para nomear casais e sim um único indivíduo, a exemplo de Marcotônio (< Marco + Antônio). Por fim, o quarto grupo forma oniônimos, em que uma base é formada por nome comum e outra por antropônimo, como Veterimário (< veterinário + Mário).

O presente trabalho é de caráter descritivo, uma vez que objetiva pormenorizar de que maneira os dados são formados e como é seu uso no contexto social em que estão inseridos. Adotamos uma metodologia qualitativa, a fim tecer uma análise de como os dados se comportam. A coleta de dados foi feita, principalmente, da internet, mas de modos diferentes nos quatro grupos, devido às especificidades de cada um.

Os dados do grupo dos antropônimos acrescidos de qualificador foram retirados principalmente das seguintes fontes: (a) redes sociais, como Twitter, Facebook e Instagram; (b) sites humorísticos, como a Desciclopédia25; (c) jornais online, especialmente nas matérias esportistas, como o Globo Esporte do jornal G1; (d) revistas online, em especial de temáticas políticas, como a Isto é; (e) sites diversos, como Imprensa viva; além de (f) trabalhos anteriores e (g) conversas informais.

O grupo da shippagem, por sua vez, teve seus dados retirados sobretudo de (a) redes sociais, como Twitter, Facebook e Instagram; (b) sites de fanfics, como Spiritfanfiction; (c) jornais online, especialmente na categoria entretenimento, como o

25“Desciclopédia é uma (des)enciclopédia escrita com a colaboração de seus leitores, (...) é um site de humor debochado e seu conteúdo não deve ser levado a sério. Todas as nossas regras e políticas convergem para um só princípio: ser engraçado e não apenas idiota”. Disponível em: . Acesso em: Jan. 2019.

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Gshow do jornal G1; (d) revistas online, sobretudo de temáticas de adolescentes do sexo feminino, como Capricho e Toda teen; (e) sites diversos, principalmente sobre fofoca de famosos, como O fuxico, além de (f) conversas informais.

As fontes do terceiro grupo, nomes de batismo, são basicamente as seguintes: (a) a rede social Facebook; (b) sites diversos de interação dos usuários, como o Yahoo Respostas; (c) o site sobre gestação Baby Center, na categoria sobre nomes de bebês; além de (d) trabalhos anteriores e (e) conversas informais.

O quarto grupo, que apresenta oniônimos formados por antropônimos e nomes comuns, é de maior complexidade na tarefa de rastrear dados. Foram coletados apenas dois dados deste grupo no site Gazeta do povo, cujo título da matéria é “Não tem como negar que esses 14 trocadilhos são obras de brasileiros”, e apresenta a criatividade linguística dos brasileiros para nomear estabelecimentos comerciais. Entre os quatorze nomes, dois são formados pelo cruzamento vocabular envolvendo bases antroponímicas: Veterimário (< veterinário + Mário) e Paulufusos (< Paulo + parafusos). Pelo número restrito de dados, é o único grupo que não está descrito em um tópico específico.

A seguir, os três primeiros grupos serão investigados separadamente. Em cada seção, há pelo menos duas subdivisões: primeiro é apresentado o corpus de maneira detalhada; logo depois, segue a análise dos dados. Além disso, é traçado, nas seções 4.2 e 4.3, um comparativo entre os dados do grupo com um dos processos morfológicos apresentados no capítulo 226. O grupo da shippagem é o único que possui um subtópico a mais, para a descrição do fenômeno.

4.1 ANTROPÔNIMO ACRESCIDO DE QUALIFICADOR

4.1.1 Apresentação do corpus

O corpus da categoria Antropônimo + qualificador é constituído por 160 dados coletados em diversos meios de comunicação, principalmente online, como jornais, revistas, blogs e redes sociais, além de conversas espontâneas. Os dados coletados são

26 Esse paralelo não é apresentado no grupo 1 porque já há uma descrição detalhada, no tópico 2.3.1, do CV com a composição, mecanismo de maior semelhança com os dados.

64 de diferentes esferas sociais, sendo 2 do campo científico (especificamente da área de Letras), 2 de personalidades musicais, 5 de anônimos (originados de conversas espontâneas), 7 de figuras religiosas, 11 de celebridades que atuam na televisão (apresentador de programa, atores, etc.), 26 da área esportista (principalmente, futebol) e 107 dados provenientes da política.

As condições necessárias para uma palavra ser integrada ao corpus foram as seguintes: (a) ser formada pelo cruzamento de duas bases; (b) uma das bases ser antroponímica; e (c) uma das bases ser, necessariamente, um qualificador, podendo, nesse caso, também ser um antropônimo que funcione como modificador de outro prenome. Cada uma será esclarecida a seguir.

Para atestar a formação por meio do cruzamento vocabular, foram levados em consideração os aspectos descritos no capítulo 2, tanto morfológicos e fonológicos quanto semânticos. Desse modo, formações como Jeguerino (< jegue + Severino) e Malafalha (< Malafaia + falha) são interpretadas como produtos do cruzamento vocabular por mesclarem duas palavras já existentes na língua, de modo que o produto final ainda mantém relação semântica com as suas bases.

Formações que parecem mais com outros processos de formação de palavras não foram contabilizadas no presente corpus, a exemplo de Lulice (< Lula + burrice), em que a parte copiada da segunda base foi apenas o sufixo -ice, o que parece indicar o mecanismo da sufixação. Outros casos excluídos do corpus foram Mentiradilma (< mentira + Dilma), que é formado por composição, e Lucifer (< Lula + Ciro + Fernando (Haddad)), que parece produto da siglagem.

A condição em (b), de que uma das bases deve ser antroponímica, é o que atribui singularidade a este trabalho. Pesquisas anteriores já analisaram CVs com essa característica, mas não como foco central. Andrade (2008), por exemplo, inventariou, no total de 218 dados, apenas 8 com esse caráter, tais como Ladruf (< ladrão + Maluf) e Malufioso (< Maluf + mafioso). Assunção (2006), por sua vez, analisou 21 dados com essa característica, como Rouberto (< roubo + Rouberto) e Velhoso (< velho + (Caetano) Veloso), mas, ainda assim, a base antroponímica não foi uma condição necessária para a constituição de seu corpus, visto que, ao lado dessas formações, também foram analisadas formações com nomes comuns.

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É necessário, neste ponto, retomar o capítulo 3, que esclarece que antropônimos englobam (i) prenomes, como em Rouberto (< roubo + Roberto); (ii) sobrenomes, Galinisteu (< Galisteu + galinha); (iii) hipocorísticos, a exemplo de Eduerrado (< Edu + errado), (iv) apelidos/alcunhas, como em Rateen (< Ratinho + teen); (v) pseudônimos/codinomes; (vi) heterônimos; (vii) nomes artísticos e (viii) nomes de guerra, sendo que não houve ocorrências desses quatro últimos grupos.

O requisito (c), que prevê uma base qualificadora, aciona palavras de diferentes classes gramaticais. O corpus revela que o qualificador pode ser (i) substantivo comum – Martaxa (< Marta + taxa) – ou próprio – Ballothalles (< Balotelli + Thalles); (ii) verbo – Ciscarelli (< ciscar + Cicarelli); (iii) adjetivo – Imbeciro (< imbecil + Ciro) ou (iv) advérbio – Dilmais (< Dilma + mais).

A relação do qualificador com o referente pode ocorrer de maneira mais direta ou mais indireta. Em Gornaldo (< gordo + Ronaldo), por exemplo, o qualificador gordo caracteriza diretamente o referente Ronaldo, ex-futebolista da seleção brasileira, de maneira clara e objetiva. Já em Lazanhário (< lasanha + Nazário), o mesmo sentido é expresso para o mesmo referente, mas de maneira mais indireta porque o significado de gordo é expresso em lasanha por metonímia; além disso, esse exemplo se mostra mais opaco pela escolha do sobrenome do jogador, menos popular que seu prenome. Outros exemplos ilustram bem essa questão, como a diferença entre galinha e ciscar em Galinisteu (< galinha + Galisteu) e Ciscarelli (< ciscar + Cicarelli), respectivamente.

A base qualificadora caracteriza o referente do antropônimo, positiva ou negativamente, a depender do contexto sócio-comunicativo. Quando eminentemente positiva, a qualificação é exemplificada por dados como Daciolindo (< Daciolo + lindo) e Fabishow (< Fabi + show), que conferem atributos valorativos aos referentes. Já os qualificadores com proeminência negativa podem ser exemplificados por Bolsotário (< Bolsonaro + otário) e Jararaqueline (< jararaca + Jaqueline). Há dados, no entanto, cujo valor só pode ser depreendido de acordo com o contexto empregado, como ocorre com Dilmais (< Dilma + mais), que aparece nos seguintes contextos:

(I) Errar 1 vez é lulice! Errar 2 vezes é dilmais! Errar 3 vezes é malddad

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Imagem 1: Dilmais (Meme postado no Facebook)

(II) Legítima presidenta. #dilmais #ondapelademocracia #lula2018

Imagem 2: Dilmais (Postagem no Twitter)

Como se vê, a mesma formação é empregada com características opostas. Na primeira, o valor da formação destacada é negativo, uma vez que se associa a eleição da Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil, a um erro repetido e excessivo. Já no segundo

67 contexto, o cruzamento atribui caráter positivo à eleição da Dilma, afirmando que a mesma é legítima e valida a democracia.

Alguns dados, por outro lado, apresentam características aparentemente neutras, como Barbosafro (< Barbosa + afro), em que o CV salienta a característica afrodescendente do referente Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF, o que não necessariamente atribui valor positivo ou negativo ao mesmo.

Pelo fato de o valor discursivo dos cruzamentos depender do contexto, em alguns casos, é difícil contabilizar os dados que atribuem características positivas ou negativas, mas, de modo geral, a quantidade de formações com proeminência negativa é certamente superior. Dos 160 dados coletados, estima-se que 124 atribuem características negativas aos referentes, independentemente do contexto. Dentre eles, estão formações como Ruimbinho (< ruim + Rubinho) e Wyllixo (< Wyllys + lixo), que não variam quanto ao valor negativo atribuído ao esportista Rubens Barrichello e ao político Jean Willys, respectivamente.

Nos dados desse grupo, antropônimo acrescido de qualificador, geralmente o determinado é o próprio antropônimo, como em Fernandeus (< Fernando + deus), em que o jogador do Flamengo é comparado a um deus por ser extremamente competente; mas isso nem sempre acontece.

O caso de Gordiola (< gordo + Guardiola), por exemplo, une o sobrenome de um treinador de futebol espanhol, Josep Guardiola, ao adjetivo gordo, mas a intenção não é caracterizar o treinador como gordo, mas sim qualificar Guto Ferreira, um treinador de futebol brasileiro. Com dois atributos simultaneamente, Guto é comparado com o treinador espanhol, por seu bom desempenho profissional, e é caracterizado por seu peso acima do esperado. Esse uso é raro nos dados encontrados, mas, como houve essa ocorrência, foi analisada e merece destaque.

Entre os dados coletados, há um número expressivo de formações em que um antropônimo funciona como qualificador de outro antropônimo, a exemplo de Bolsohitler (< Bolsonaro + Hitler) e Luanel (< Luan + Lionel). O primeiro atribui a Bolsonaro, presidenciável das eleições 2018, o caráter de nazista por meio do sobrenome de Adolf Hitler, líder do Partido Nazista. No segundo caso, Luanel, o prenome de Messi, considerado um dos melhores jogadores do mundo, qualifica Luan, jogador do Grêmio que ocupa a mesma posição de Messi no campo, por ter mostrado

68 bom desempenho no último campeonato brasileiro. Observa-se que as bases das mesclas estão no mesmo domínio conceptual, tanto é que Bolsonaro e Hitler são políticos e Messi e Luan, jogadores de futebol.

Houve um caso cujo comportamento foi diferenciado: Cirocracia (< Ciro + democracia), em que o próprio antropônimo exerce a função de qualificador da outra base, que é um nome comum. Essa formação revela uma democracia baseada nos princípios de Ciro, candidato a presidente em 2018. Pelo fato de a segunda base não ser um antropônimo nem um qualificador, esse dado não foi contabilizado: confunde-se com a formação de uma palavra complexa com o formativo neoclássico -cracia.

Além das três condições necessárias para o grupo dos antropônimos acrescidos de qualificador, há ainda outros apontamentos a serem levados em conta, como a questão de formar palavra diferente. O produto do cruzamento vocabular nem sempre é uma unidade distinta na língua, o que significa dizer que, embora haja dados que apresentam novidade tanto no aspecto fônico quanto no gráfico, há também aqueles em que apenas a grafia é diferente, e outros que não alteram nada além do significado.

O primeiro caso, formações cujos produtos finais têm nova pronúncia e grafia, é exemplificado pela maioria dos dados já expostos, como Malafalha (< Malafaia + falha) e Velheira (< velha + Vieira). A grafia de ambos é nova (diferente das bases), bem como a pronúncia e o significado.

Além desse caso, há também dados em que apenas a grafia do produto final é diferente de uma das bases. É o que ocorre com Analfabetto (< analfabeto + Betto), em que a pronúncia do produto final é idêntica à da primeira base, tornando possível esclarecer o referente apenas pela grafia, com o [t] dobrado no produto final. Embora figure apenas uma pequena parcela, são formações interessantes27.

Há, ainda, formações que adquirem um novo significado, mas não sofrem alteração fônica nem gráfica, a exemplo de Frouxo (< Freixo + frouxo) e Roskoff (< Rousseff + roskoff). Nesses casos, há uma grande semelhança fônica entre as bases, o que deixa o produto final idêntico ao qualificador, ficando opaco o referente ao qual se está qualificando. A dúvida quanto ao referente pode ser resolvida pelo cotexto – como

27 Esse caso também é visto nos cruzamentos de nomes comuns, como o exemplo de cegurança (< cego + segurança) usado para designar um segurança que era cego.

69 foi explicado no tópico 2.2 – como, por exemplo, ao esclarecer o prenome de Marcelo Freixo, político filiado ao Partido Socialismo e Liberdade, e o de Dilma Rousseff, ex- presidente do Brasil.

As três condições necessárias para a integração de um dado no corpus delimitam um perfil mais particular dos dados, que sempre apontam uma pessoa qualificada, pelo fato de seu antropônimo ter sido associado a uma palavra que o caracteriza positiva ou negativamente. A seguir, o grupo Antropônimo acrescido de qualificador será analisado, principalmente, por meio de aspectos fonológicos e morfológicos.

4.1.2 Análise do grupo antropônimo acrescido de qualificador

Esta seção faz uma análise estrutural da formação de CVs oriundos de antropônimo acrescido de qualificador, a fim de se investigar os padrões pelos quais são formados. Pretende-se, então, responder a perguntas como as seguintes: (a) de que maneira é feita a escolha da ordem das palavras-base? (b) Como as bases se combinam? (c) Como é feito o ponto de quebra das bases no CV? (d) Que fator, de ordem fonológica, motiva a junção das bases? Acerca da ordem interna nos cruzamentos, Gonçalves (2006) pontua o exemplo de sa.co.lé (< sa.co + pi.co.lé), em que as bases apresentam uma sílaba em comum, co. A partir dessa sílaba, é estabelecida, além da junção das bases, a posição no produto final. Nesse exemplo, a sílaba em questão é átona final em P1, saco, e pretônica em P2, picolé; logo, o cruzamento conserva o acento de P2. Se a ordem das bases fosse inversa, não haveria como aproveitar a ambimorfemia dessa sílaba e seria produzido algo como *picosaco ou talvez *picosa, tornando o cruzamento extremamente opaco. Desse modo, o acento primário do cruzamento preserva o da P2, picolé. Sobre a ordem das bases no cruzamento vocabular, Basilio (2003, p.3) afirma que, na maioria dos dados, o componente predicador, aquele que atribui determinada característica ao outro, antecede o elemento qualificado. Alguns exemplos que correspondem a sua hipótese são boilarina (< boi + bailarina), chafé (< chá + café) e apertamento (< aperto + apartamento), diferente de presidengue (< presidente + dengue), que é uma exceção para sua proposta. Essa hipótese demanda maior análise, principalmente quando se refere ao corpus envolvendo antropônimos, que ainda não foi estudado como foco central de análise.

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Nos dados coletados, foram encontradas as duas possibilidades de ordem das bases, podendo o qualificador preceder o referente – cf. Chattoso (< chato + Mattoso), Falsiddad (< falso + Haddad), Gornaldo (< gordo + Ronaldo) e Ruimbinho (< ruim + Rubinho) – ou o suceder – cf. Bolsoasno (< Bolsonaro + asno), Collorrupto (< Collor + corrupto), Luladrão (< Lula + ladrão) e Sandiabo (< Santiago + diabo).

Há ainda casos mais complexos que não se encaixam necessariamente em uma das duas possibilidades. No caso de Gordiola (< gordo + Guardiola), como já citado, ambas as bases funcionam como qualificadoras, dado que o produto final do CV se refere a um outro referente. A intenção, nesse exemplo, é atribuir a Guto Ferreira, treinador de futebol brasileiro, o status de bom profissional, ao compará-lo com Guardiola, treinador espanhol reconhecido. Além disso, há outra motivação: destacar uma característica física do treinador. Como as duas bases qualificam, não há como definir a antecedência/sucessão.

Também como exceção à dupla possibilidade de ordem das palavras-fonte, encaixam-se os exemplos em que o produto final é idêntico a uma das bases, sendo elas metricamente semelhantes, como ocorre em Frouxo (< Freixo + frouxo), Roskoff (< Rousseff + roskoff), Rosquinha (< Rosinha + rosquinha). Nesses exemplos, não há como afirmar com certeza qual é a primeira base e qual é a segunda.

Eliminando esses casos que apresentam dúvida quanto à ordem do elemento qualificador (7), 60% dos dados apresentam o qualificador na segunda base contra 40% na primeira base, sendo uma diferença não muito díspar, mas que coloca em xeque a hipótese levantada por Basilio (2003). Essa porcentagem aponta para a posição regular do adjetivo em Português, que, geralmente, sucede o substantivo, como afirma Câmara (2000, p.87) ao dizer que “a posição regular do adjetivo determinante, em português, é depois do substantivo determinado”. Os sintagmas menina linda, garoto alto e cabelo curto exemplificam essa questão. Se pronunciados ao contrário, o primeiro sintagma até seria de possível realização, mas não veicularia exatamente o mesmo significado, como em Sua filha é uma linda menina!. Os outros dois sequer seriam aceitáveis, como *Seu filho é um alto garoto e *Que curto cabelo esse seu. Nesse aspecto, o português difere do inglês, por exemplo, cujo padrão é inverso, com a sequência Adj-S: beautiful girl, tall boy e short hair.

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Sendo assim, os exemplos do corpus que apresentam o qualificador na segunda base refletem o padrão geral do português. O dado Dilmãe (< Dilma + mãe), por exemplo, apresenta o núcleo e o modificador, respetivamente, bem como garoto alto. O mesmo padrão se repete em Fabishow (< Fabi + show), Sashanás (< Sasha + satanás), Naymaravilha (< Neymar + maravilha), entre outros.

Sobre a maneira como é feito o ponto de quebra das bases no CV, consideramos os três tipos de cruzamento vocabular existentes na Língua Portuguesa, descritos no capítulo 2, e as possibilidades métricas de cada tipo, formam-se quatro diferentes grupos em virtude de suas palavras-fonte: CV formado por bases monossilábicas, bases polissilábicas semelhantes (tipo 1), bases polissilábicas dessemelhantes (tipo 2) e bases da substituição lexical (tipo 3).

Sobre o primeiro grupo, Gonçalves (2006, p. 234) afirma que “quando as duas palavras envolvidas são monossilábicas, a unidade após a quebra pode ser identificada como rima”. Neste caso, aproveita-se o ataque da primeira base e a rima da segunda, como é exemplificado na representação28 a seguir.

Diagrama 4: Representação da quebra no cruzamento monossilábico

No caso de pãe (< pai + mãe), a mescla isolou o onset da primeira base, /p/, da rima /aɪ/, bem como houve um corte interno na segunda base, em que o onset, /m/, foi separado da rima /ãɪ/. Levando em conta que a rima é considerada a “unidade de produção nos blends” (op. cit.), fundiram-se o onset da primeira palavra e a rima da segunda, formando-se pãe, ‘pai e mãe ao mesmo tempo’. Esse tipo de formação não é muito numeroso nos dados de cruzamento vocabular com nomes comuns, e, nos dados formados por antropônimos, ainda não foi registrado caso algum, em nenhum dos grupos do corpus.

28 Representação retirada de Gonçalves (2006, p. 235), em que O corresponde ao ataque silábico (onset, do inglês) e R é referente a rima silábica.

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A respeito das bases polissilábicas semelhantes, Assunção (2006, p.20) defende que “faz-se necessária uma sílaba em comum entre as duas palavras envolvidas na construção, determinando a interseção e a posição das bases no interior do CV”. Casos como Martaxa ['max.ta + 'ta.ʃa] e Bolsonada [bow.so. 'na.ɾʊ + na.da]29 comprovam essa assertiva, uma vez que ambos compartilham exatamente uma sílaba . No entanto, exemplos como Rhodolfrank, Gordiola e Retarddad colocam em xeque essa hipótese.

Em Rhodolfrank [xo.'dow.fʊ + 'fɾã.kɪ], as bases não apresentam sequer uma sílaba compartilhada. O que faz desse exemplo um caso de interposição lexical é apenas um segmento que ambas têm em comum: /f/, onset da sílaba /fʊ/ em P1 e de /fɾã/ em P2. Sendo assim, é possível que a interposição seja originada de uma unidade prosódica menor que a sílaba, visto que, nesse caso, houve apenas um segmento compartilhado.

Gordiola ['goɣ.dʊ + guaɣ.di.'ɔ.la], por sua vez, é um caso cuja interposição aproveita os segmentos /g/, /ɣ/ e /d/ das duas bases, cuja relação com uma sílaba é ainda mais remota. Nesse caso, então, não é uma única sílaba que determina a interseção e a posição das bases, até porque nem todas as intercessões preservaram a sílaba na íntegra. Os segmentos /g/ e /ɣ/ fazem parte da mesma sílaba, o primeiro ocupando a posição de onset e o segundo, de coda; a oclusiva /d/, por sua vez, é o onset da segunda sílaba, em ambas as bases. Bem como o anterior, a interposição lexical em Retarddad [xe.taɣ.'da.dʊ + a.'da.dʒi] também não é pautada apenas em uma sílaba, pois, além da sílaba /da/, há outros dois segmentos ambimorfêmicos: /a/, que é núcleo da segunda sílaba da primeira base e da primeira sílaba na segunda base, e /d/, que é onset tanto na quarta sílaba de P1 quanto na terceira sílaba de P2. Esses três exemplos comprovam que é insuficiente dizer que é necessário existir “uma sílaba em comum entre as duas palavras envolvidas na construção, determinando a interseção e a posição das bases no interior do CV” (ASSUNÇÃO, 2006, p.20). Logo, conclui-se que a categoria em jogo na quebra das palavras mescladas não é a sílaba, mas os segmentos, que devem ser analisados um a um. Antes de passar para o próximo grupo, merece destaque a nota de rodapé em Gonçalves (2006, p.236) que esclarece que

29 Neste tópico, as bases estão transcritas fonologicamente para facilitar a análise fonológica, que é o foco da seção.

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a semelhança fônica deve ser interpretada não como a mera presença de um segmento comum, mas como uma semelhança em termos de posição na estrutura da sílaba. Assim, embora ‘show’ e ‘comício’ apresentem uma vogal média posterior em comum (/o/), essa identidade não é estrutural, uma vez que as rimas são diferentes: na primeira palavra, a rima é ramificada (/ow/), enquanto na segunda a rima é constituída unicamente da vogal média (/o/). Dessa forma, ‘show’ e ‘comício’ são interpretadas como dessemelhantes, sendo o blend formado a partir do padrão 2 (‘showmício’).

Desse modo, quando se fala em bases (des)semelhantes no cruzamento vocabular, não se deve atentar apenas para os segmentos em comum entre as bases, mas também para a posição estrutural que esses segmentos ocupam em cada uma. Por exemplo, no CV Bolsoasno [bow.so.'na.ɾʊ + 'aʃ.nʊ], as bases possuem a vogal /a/ em comum, que é núcleo da terceira sílaba em P1 e da primeira em P2. No entanto, em P1, a posição de coda é vazia, e P2, ao contrário, tem a coda preenchida; desse modo a vogal /a/ não é considerada ambimorfêmica em Bolsoasno, uma vez que as rimas não têm correspondência. A representação30 a seguir ilustra o não aproveitamento do segmento /a/ em comum, o que configura a formação por combinação truncada.

Diagrama 5: Representação da quebra na combinação truncada

Além disso, se a vogal /a/ em comum fosse aproveitada, ambas as sílabas que a compartilham se fundiram numa só, aproveitando ao máximo seus segmentos, formando um dado como *Bolnonasno, como está reproduzido a seguir, mas que não se realiza, razão de estar marcada com o (*).

Diagrama 6: Representação da quebra na interposição lexical

30 Nessa proposta de representação, a linha contínua preta sublinha todos os segmentos das bases que foram aproveitados no produto final do CV. O retângulo vermelho abrange os segmentos ambimorfêmicos. E, por último, a linha contínua vermelha risca os segmentos descartados no produto final.

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Outro exemplo interessante para observar essa questão é Neymaravilha [neɪ.'max + ma.ɾa.'vi.ʎa]. Os róticos na segunda sílaba de P1 e de P2 poderiam ser considerados em comum entre as bases, mas em P1 ele preenche a função de coda na sílaba /max/, e, em P2, de onset em /ɾa/, descaracterizando, assim, a possível ambimorfemia do segmento. Desse modo, apenas /ma/ configura a interposição lexical com a qual esse exemplo é formado, como está ilustrado a seguir.

Diagrama 7: Representação de um segmento não aproveitado na interposição lexical

Com relação ao padrão estrutural, os dados do corpus investigado se aproximam muito daqueles formados por nomes comuns, até porque esse grupo não deixa de ser formado por nomes comuns, além das bases antroponímicas. Comparando, então, os dados formados exclusivamente por nomes comuns, estudados em análises anteriores, e os dados de antropônimos acrescidos de qualificador, a interposição lexical predomina em ambos os casos. Gonçalves (2003) afirma que 80% dos cruzamentos são formados pelo aproveitamento de segmentos ambimorfêmicos, e, confirmando essa indicação, Andrade (2008) apresenta uma porcentagem de exatamente 80% dos seus 218 dados (173) formados por meio da interposição lexical. No presente corpus, de antropônimo acrescido de qualificador, 71% dos dados (114) correspondem a essa formação, do total de 160 formações analisadas. Sendo assim, nossos dados reafirmam e reforçam a indicação de Gonçalves (2003) de que a interposição lexical é o padrão responsável pela formação da maioria dos cruzamentos. Esse fato, de a interposição lexical ser predominante nos dados, também reforça a informação sobre o papel discursivo do CV: cruzamentos expressivos são, em sua maioria, formados pela semelhança fônica entre as bases, como defendem Gonçalves e Almeida (2007, p. 94) ao afirmarem que

os entranhamentos lexicais são predicativos. Neles, a predicação atua de duas maneiras: (a) acentua propriedades inerentes ou possíveis do determinado ou, em vez disso, (b) atribui propriedades implausíveis a ele, através de extensões metafóricas ou metonímicas. Ao contrário do entranhamento, as

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combinações truncadas e as reanálises têm em comum, em relação ao referente que designam, um caráter mais descritivo e menos avaliativo.

A veracidade dessa afirmação é inegável nos dados analisados até então. Como as formações deste corpus sempre qualificam alguém, os estudos desses autores já previam que o padrão mais recorrente seria a interposição/entranhamento lexical, (a) acentuando propriedades do determinado, como em Velheira (< velha + Vieira), referente à atriz Suzana Vieira, ou (b) atribuindo características implausíveis a ele, como em Sandiabo (< Santiago + diabo), sobre o religioso Valdomiro Santiago. Sobre CVs com bases polissilábicas dessemelhantes, Gonçalves (2004) afirma que a quebra é realizada nas sílabas tônicas das palavras-base, como é exemplificado em Ladrão [la.'dɾãʊ + ma.'lu.fɪ]31. A quebra, nesse caso, é feita nas sílabas tônicas de ambas as bases; na primeira, ladrão, o corte é feito no interior da sílaba /dɾãʊ/, sendo descartados os dois últimos segmentos, /ãʊ/; na segunda base, Maluf, a quebra também é realizada no interior da sílaba, sendo excluído o onset /l/ e aproveitado o núcleo /u/.

Diagrama 8: Representação da quebra na combinação truncada

Segundo Gonçalves (2006, p.235), “nos casos em que as bases são totalmente dessemelhantes, não haverá descontinuidade morfológica. A quebra será feita com base no melhor rastreamento das bases (maior grau de identidade)”. Um exemplo dessa realização nos nomes comuns é portunhol (< português + espanhol). Nesse caso, P2 teve seu acento preservado pelo maior grau de identidade das bases. Caso contrário, se o resultado fosse *espaguês, o cruzamento seria mais opaco, tornando muito mais difícil a associação do CV com as bases. A partir da seleção da sílaba tônica, aproveita-se o início de uma base e o final da outra. Como foram aproveitadas as sílabas iniciais de português, em espanhol são as sílabas finais que se aproveitam. No caso com antropônimos, também entende-se que a quebra é motivada pelo melhor rastreamento das bases, tanto é que se fossem aproveitadas outras sequências de

31 Nesse caso, os segmentos em negrito representam as sílabas tônicas de cada palavra.

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[la.dɾãʊ] e [ma.lu.fɪ], no exemplo de Ladruf, a formação *[ma.lɾãʊ] seria extremamente opaca, além de impronunciável. No corpus analisado, não foram encontrados dados de combinação truncada em que “a maior (base) sofre truncamento e a menor, sem perder massa fônica, se concatena inteiramente a maior”(ANDRADE, 2008, p.14), como ocorre nos dados de nomes comuns, a exemplo de forrogode (< forró + pagode). Alguns casos com antropônimos acrescidos de qualificador que têm essa configuração são, na verdade, formados por interposição lexical, como Jeguerino (< jegue + Severino), Dilmãe (< Dilma + mãe) e Ruimbinho (< ruim + Rubinho), em que as menores bases não perderam massa fônica. Contra os 71% dos dados formados pelo entranhamento lexical, os outros 29% (46 dados) possuem bases dessemelhantes. Além de Ladruf, são exemplos desse padrão de formação dados como Bourelles (< Boulos + Meirelles), Bolsodeus (< Bolsonaro + deus), Empregácio (< emprego + Inácio), Lulaminion (< Lula + minion), entre outros. Mas, mesmo não apresentando segmentos ambimorfêmicos, esses dados continuam sendo avaliativos (e não descritivos). A análise estrutural dos dados de substituição lexical, por sua vez, não pode se basear nos mesmos parâmetros dos demais grupos, afinal suas bases não são combinadas por meio de sua (des)semelhança fônica. Sendo assim, a análise desse grupo será baseada na noção de construção gramatical, desenvolvida por Gonçalves, Andrade e Almeida (2010) para a descrição da reanálise.

Com base na abordagem construcional, os autores apresentam a SSL na ótica de uma construção gramatical, visto que suas formações são unidades básicas da língua, nas quais forma e significado não se dissociam. Uma palavra formada por meio de uma SSL é, então, uma construção que deriva de outra construção básica, cujo modelo é de derivação afixal.

Focalizando a derivação, os autores explicam que a prefixação e a sufixação se constituem por meio do modelo em que há dois elementos: um determinante (DT) seguido de um determinado (DM), nesta ordem, como em antipatia, palavra derivada em que a base erudita -patia é determinada pelo prefixo de negação anti-. A sufixação também segue o modelo DT-DM. No entanto a base é determinada pelo sufixo, não o contrário, visto que em marinheiro, por exemplo, é o afixo –eiro que determina a característica de ocupação, ofício, profissão em relação à base mar-.

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Conforme os dados de SSLs coletados no trabalho de Gonçalves, Andrade & Almeida (2010) – boacumba, cracolândia, frambúguer, mãedrasta, entre outros –, é possível, de fato, afirmar que as substituições lexicais apresentam comportamento semelhante ao de palavras derivadas. O padrão estrutural que se repetiu foi o elemento determinante à esquerda, como consta nos exemplos apresentados. Na maioria dos casos, é na margem esquerda que ocorre a substituição pela ‘palavra invasora’, seguindo, em geral, o modelo DT-DM.

Outra característica significativa que as substituições sublexicais possuem é a aptidão em formar séries de palavras, promovendo itens à categoria de afixo, como também pontuam Gonçalves, Andrade & Almeida (2010, p.8). A série de palavras formada por meio da sequência -trocínio é uma evidência dessa capacidade. Presume-se que a primeira criação a partir de patrocínio foi paitrocínio, um cruzamento vocabular que, por analogia, deu origem a autotricínio, tiotrocínio, mãetrocínio etc.

Não há ocorrências de dados de CV com antropônimos que sejam formados por reanálise. Há, no entanto, casos que apresentam aptidão em formar séries de palavras, bem como as SSLs. Partículas com bolso-, mala-, -naro e -ácio ilustram bem essa habilidade.

Com 35 dados no corpus, o formativo bolso- é o que produz a maior série de palavras, correspondendo à forma Bolsonaro, sobrenome do candidato eleito a presidência do Brasil em 2018; os dados podem ser representados por

i. ‘Bolsonaro que é X’ – Bolsofalso, Bolsomito ii. ‘X que é típico(a) Y do Bolsonaro’ – Bolsogata32, Bolsoviolência33 iii. ‘X do Bolsonaro’ – Bolsofilho iv. ‘Princípios políticos do Bolsonaro com características de X’ – Bolsolula, Bolsohitler

A segunda maior série é formada por -ácio, com 12 dados, relativos ao segundo nome do ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e podem ser generalizados por34

32 Bolsogata ‘mulher que é típica eleitora do Bolsonaro’. 33 Esse caso realiza-se com Y preenchido com Ø: Bolsoviolência ‘violência típica Ø do Bolsonaro’. 34 Não foi encontrada a generalização para duas formações: Bombácio e Empregácio.

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i. ‘Inácio que é X’ – Galinácio, Viajandácio, Populácio ii. ‘X do Inácio’ – Filhácio iii. ‘Inácio envolvido com X’ – Mensalácio, Caipirinácio iv. ‘Princípios políticos do Inácio com características de X’ – Stalinácio

O formativo -naro responde por 5 dados, e, como bolso-, também corresponde a Bolsonaro. Esses cinco dados podem ser representados genericamente por

i. ‘Bolsonaro que é X’ – Lixonaro, Boçalnaro, Bozonaro ii. ‘X com característica do Bolsonaro’ – Lulanaro e Marinaro

Por último, mala- forma 4 dados referentes ao sobrenome do pastor Silas Malafaia, que podem ser generalizados por

i. ‘Malafaia que só X’– Malafala, Mafalha ii.‘Malafaia que se assemelha a uma mala X’ – Malacheia e Malafeia

É significativo observar que um único nome, Bolsonaro, resultou em dois formativos: bolso- e -naro. Provavelmente pela grande polêmica no processo eleitoral de 2018, o nome do candidato à presidência foi o mais popular entre os demais. O formativo bolso- teve significativa produtividade em comparação aos demais, sendo responsável por 61% das formações a seguir. As formações com os quatro fragmentos são listadas a seguir.

(1) Bolsoafetivo Bolsofilho Bolsonada Bolsoanta Bolsogatas Bolsonagem Bolsoasno Bolsohitler Bolsoneca Bolsobosta Bolsokid Bolsonegan Bolsocaixa (2) Bolsolixo Bolsoniver Bolsodeus Bolsolula Bolsonojo Bolsoditador Bolsolunático Bolsoquadrilha Bolsoestucpro Bolsomerda Bolsoréu Bolsofake Bolsominion Bolsotário Bolsofalso Bolsomito Bolsotonto Bolsofascista Bolsonabo Bolsotroglodita

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Bolsotrump Bolsoviolência

(2)

Bombácio Falácio Mensalácio Caipirinácio Filhácio Populácio Emgambelácio Galinácio Stalinácio Empregácio Manguácio Viajandácio

(3)

Boçalnaro Lixonaro Marinaro Bozonaro Lulanaro

(4)

Malacheia Malafalha Malafala Malafeia

Por mais que essas formações apresentem uma característica própria das SSLs, formar série de palavras, não necessariamente são caracterizadas como tais. Com relação a posição das bases, vimos que, nas reanálises, o determinante (DT) geralmente ocupa a posição esquerda. Em Galinhácio e Lixonaro, por exemplo, a posição do determinante também é à esquerda (como em boacumba), já em Bolsofalso e Malafalha o determinante está à direita. Com isso, notamos uma diferença entre as formações com antropônimos em séries e as SSLs.

Outra divergência entre as duas instâncias é que, no produto da substituição sublexical, como em boadrasta, a sequência reinterpretada é a que sofre a substituição, nesse caso a sílaba ma-. Já no dado com antropônimo formado em série, como em Bolsonojo/Bolsomito/etc, um formativo é reinterpretado e o outro é que sofre substituição; nesse caso, o formativo bolso- é reinterpretado, adquirindo valor do todo (Bolsonaro), e - naro é substituído, como representa o quadro a seguir.

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Quadro 4: Processo ocorrido na reanálise

Como se vê, em ambos os casos, boadrasta e Bolsonojo/Bolsomito/etc, há duas etapas atuantes: a (I) reinterpretação e a (II) substituição. No primeiro caso, no entanto, somente ma- sofre alterações, enquanto o formativo -drasta permanece intacto até o fim, ao passo que, no segundo caso, (I) atua em bolso- e (II) em -naro. Dessa forma, pela definição apresentada no capítulo 2, boadrasta se configura uma reanálise enquanto Bolsonojo/Bolsomito/etc, não.

É necessário, então, aprofundar a análise sobre bolso-, mala-, -naro e -ácio, uma vez que apresentam comportamento diferenciado dos demais dados do corpus. Do ponto de vista fonológico, como descrito, essas formações foram classificadas pela semelhança ou não entre as bases, mas demandam uma descrição morfológica mais precisa.

Pelo comportamento, de modo geral, esses formativos parecem se aproximar da noção de splinters, também denominados como fragmentos vocabulares. Baseando-se em estudos anteriores35, Andrade (2013, p.127) define fragmentos vocabulares como “partes não-morfêmicas resultantes de processos não-concatenativos de formação de palavras, como o truncamento e o CV, utilizados com alguma recorrência na criação de formas linguísticas”.

35 Como o de Bauer (2005) – cf. Andrade (2013).

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Considerando como parte resultante do cruzamento vocabular, Gonçalves, Carvalho e Andrade (2016) adotam o conceito de Bauer (2004) de que

splinter é uma parte de uma palavra que, devido a algumas reanálises da estrutura da palavra original, é interpretada como significativa e posteriormente utilizada na criação de novas palavras. Como exemplo familiar, considere a palavra ‘alcoholic’. Em termos morfológicos, esse vocábulo é dividido em ‘alcohol’ e -ic. Mas essa palavra foi reanalisada como alc-oholic, e o novo splinter -oholic (variavelmente soletrado), em seguida, reocorre em palavras como chocoholic, spendaholic e shopoholic. (p.77)

Assim como -nese em maionese, -naro não carrega informação morfológica alguma em Bolsonaro. O mesmo pode ser dito em relação a mala-, em Malafaia. Os três formativos resultam do processo de cruzamento vocabular, como em macarronese/ovonese/bacalhonese, Boçalnaro/Lixonaro/Lulanaro e Malafalha/Malafeia/Malacheia, respectivamente.

Além de formarem palavras em série por meio de um fragmento não morfêmico da palavra-base, os três formativos, bem como bolso- e -ácio, “precisam combinar-se com um outro elemento a fim de formar uma palavra”, característica dos splinters descrita por Andrade (2013, p. 130). Essa característica os identifica como bases presas, uma vez que só são usados quando ligados a outro elemento.

Outra propriedade do fragmento vocabular é a regularidade em seu recorte, pois se identifica “com a estrutura silábica e com os segmentos constituintes do pé métrico (o nuclear, mais raramente, o secundário) da base-alvo” (ANDRADE, 2013, p.131). Os estudos da autora apontam para fragmentos vocabulares com pés troqueus silábicos, ou seja, pés binários com cabeça à esquerda, representados por (X .), como -nese, -burguer, choco-, entre outros. Os quatro formativos oriundos de antropônimos também correspondem a essa característica, visto que apresentam cabeça à esquerda: bolso-, mala-, -naro e -ácio.

Em análise sobre os splinters, Gonçalves, Carvalho e Andrade (2016) testam dados com piri- e -guete (oriundos de periguete) à luz da Teoria da Otimalidade e chegam à conclusão de que “em todos esses casos, ocorre violação à restrição mais importante da hierarquia: NOPWd* (não recursividade no nó palavra prosódica, PWd, ou seja, realização sob um único acento), o que inviabiliza tratar essas construções como cruzamentos de cruzamentos, já que não se comportam como cruzamentos prototípicos” (p. 150).

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NOPWD*, retirada da citação anterior, é uma restrição que desfavorece recursividade no domínio da palavra prosódica (PWD). O fato de os dados analisados pelos autores violarem essa restrição implica dizer que eles apresentam palavra prosódica complexa, ou seja, mais de um acento lexical, fato também observado em algumas das formações focalizadas nesta pesquisa – cf. Bol.so.vi.o.lên.cia, Bol.so.mi.to, entre outros. É relevante notar que alguns dados, como Bolsoviolência, são grandes e, sem o recurso da ambimorfemia, não têm como possuir um único acento.

De qualquer forma, não é insignificante esse fato, visto que, na análise otimalista dos cruzamentos vocabulares, a restrição NOPWD* é a mais bem cotada, ou seja, a mais importante para a formação de outputs. Isso caracteriza essas formações como cruzamentos não prototípicos e talvez seja justificado pelo fato de os splinters se adjungirem a palavras inteiras.

A exceção de Bolsonagem, todos os outros dados com bolso- apresentam como segunda base uma palavra inteira (cf. Bolsoditador, Bolsolunático, Bolsoquadrilha). Consequentemente, essas formações portam mais de um acento.

Com mala-, todos os quatro dados, formados com aproveitamento da semelhança fônica entre as bases, se adjungiram a palavras inteiras. Esse é o grupo cujos dados mais se parecem com a base alvo, Malafaia. Em Malacheia, a diferença fônica é apenas a sílaba /fa/; em Malafala e Malafalha, a diferença para a base alvo é o ditongo que foi desfeito; e, em Malafeia, a alternância de /a/ para /e/. Mesmo assim, esses dados apontam para palavras prosódicas complexas, muito em função de processarem uma espécie de decomposição lexical, nos termos de Gonçalves (2016), aproximando-se de reinterpretações como ‘deter gente’ e ‘omo sexual’ para, respectivamente, ‘detergente’ e ‘homossexual’.

Os dados com -naro também se uniram a palavras inteiras, cf. Boçalnaro, Bozonaro, Lixonaro, Lulanaro e Marinaro. Apenas o último faz o aproveitamento ambimorfêmico: Marinaro, sendo, portanto, um caso de interposição lexical pelo fato de as bases compartilharem uma sílaba entre elas. Esses dados, como os splinters analisados por Gonçalves, Carvalho e Andrade (2016), também indicariam violação ao restritor NOPWD*.

Com os dados X-ácio, por sua vez, a análise foi diferente, pois apenas três apresentaram como primeira base uma palavra inteira, contra nove bases “incompletas”,

83 como Empregácio, cuja primeira base surge como empreg-, não emprego, provavelmente pelo fato de -ácio ser o mais parecido com afixo, o que leva suas formações a portarem um único acento.

Voltando ao trabalho de Andrade (2013, p.133), baseado em estudos anteriores, a tendência dos splinters é tornarem-se afixos36 “pelo fato de não terem autonomia discursiva, realizarem palavras morfológicas complexas sob um único acento e fixarem-se na borda direita da palavra formada”, o que implica dizer que são mais recorrentes splinters em posição de final de palavra, como -drasta, -trocínio, entre outros. É difícil comprovar essa afirmação com os dados de antropônimos visto que, dos quatro dados encontrados, dois são de posição inicial (bolso- e mala-) e dois de posição final (-naro e - ácio).

Diante dessa breve análise, é possível descrever bolso-, mala-, -naro e -ácio como “porções não-significativas reinterpretadas como formativos em função da recorrência” (ANDRADE, op.cit, p.134); logo parece coerente descrever esses elementos como splinters.

É interessante observar esse status em fragmentos de antropônimos, classe de palavras considerada sem significado por alguns autores (MILL, 1879) e desprovida de significado lexical na visão de outros (AMARAL, 2011). Os cruzamentos que unem antropônimos e qualificadores comprovam que esse tipo de substantivo tem adquirido valor morfológico (não idêntico aos nomes comuns), tanto que alguns formativos antroponímicos apresentam comportamento de splinters. Ainda que não seja a maioria, 36% dos dados (57) foram formados por fragmentos vocabulares de antropônimos, uma parcela consideravelmente expressiva.

4.2 SHIPPAGEM

4.2.1 O fenômeno

A shippagem é um fenômeno que tem se popularizado em grande escala, principalmente, entre adolescentes. A expressão shippagem parece ser uma tradução por

36 Além da possibilidade de se tornarem elementos derivados, Bauer (2005) descreve a possibilidade de os splinters se transformarem em bases da composição. Como essa discussão não é o foco da presente análise, não foi detalhada com mais rigor – cf. Andrade (2013, p. 135).

84 empréstimo do inglês shipping. Segundo o site Holofotes37, o fenômeno se tornou tendência primeiro na mídia americana, o que justifica o termo no inglês. A expressão, portanto, não é encontrada em dicionários oficiais da Língua Portuguesa. Dessa forma, os aspectos apresentados a seguir foram obtidos em dicionários informais do Português.

De acordo com essas fontes, shippar é uma expressão criada por meio da palavra relationship, do inglês “relacionamento”. Uma vez assumida essa noção, o fenômeno se refere à relação interpessoal, unindo, geralmente por meio de um neologismo, os referentes de um possível relacionamento amoroso. Sendo assim, shippar é definido como o “ato de torcer pelo relacionamento amoroso de alguém, normalmente personagens de filmes, seriados, desenhos animados, histórias em quadrinhos, mangás e etc”38, ou seja, ao praticar o ato de shippar, o falante expressa seu desejo de que duas pessoas se envolvam em um relacionamento, como por exemplo, a torcida para que Afonso e Amália ficassem juntos, personagens da novela Deus salve o Rei (Rede Globo), resultando no neologismo Afonsalia.

O fenômeno foi originado por expectadores e leitores de narrativas da ficção que admiravam determinados personagens desejando uni-los para que formassem um casal em uma história paralela, já que na versão original o casal não era real. Essas histórias alternativas, criadas por fãs, são nomeadas como fanfics, encurtamento de fanfiction, em português ‘ficção criada por fãs’.

Além de serem criadas pelos fãs, as fanfics também são divulgadas por eles, geralmente em sites específicos para esse fim. O site chamado Fanfics Brasil39, por exemplo, é um local virtual exclusivo para a publicação dessas histórias e organiza as mais de 15 mil fanfics em 24 categorias distintas, como aventura/ação, comédia, drama, guerra, LGBT, romance, suspense, terror, entre outros. O site Spirit Fanfics e Histórias40 também é uma plataforma popular para autopublicação de histórias em que muitas fanfics são encontradas, e foi inclusive uma fonte para muitos dados de shippagem deste trabalho.

37 Disponível em: . Acesso em: Jan. 2019. 38 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 39 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 40 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018.

85

A imagem a seguir apresenta o prólogo de uma fanfic do site Spirit Fanfics e Histórias. Nele, a autora faz um convite para leitores consumirem a sua história alternativa da série literária Os heróis do Olimpo. A autora, identificada como LoveJason, deixa claro que torce para que os personagens Jason e Piper formem um casal, mas, já que não formam na história original, ela mesma cria uma história para que seu desejo se torne realidade, e declara: “ja estou cansada de não ter o que quero como leitora, então faça vc mesmo, certo?”.

Imagem 3: Prólogo de uma fanfic do site Spirit Fanfics e Histórias

O fenômeno da shippagem foi se popularizando e, assim, se expandindo. Os ships não mais se referem somente a casais irreais nas histórias, mas também àqueles que são casais verídicos nas narrativas. Além disso, passaram a se reportar também a casais da vida real, e não somente da ficção.

Muitos dados são provenientes de casais famosos, como Brumar, junção dos nomes de Bruna Marquezine, atriz da Globo, e de Neymar, jogador de futebol da seleção brasileira. Ao que tudo indica, esse ship foi criado depois que o casal já tinha começado o

86 relacionamento amoroso, o que comprova que o fenômeno passou a se aplicar a casais já formados. Na imagem a seguir, o neologismo Brumar aparece no título de uma matéria do site da Ig, em um período que o casal tinha se separado.

Imagem 4: Brumar (Título de matéria da Ig)

A shippagem também se expandiu para casais “anônimos”, ou seja, todo casal que não é famoso, nem na vida real nem em narrativas ficcionais. A imagem a seguir exemplifica esse uso, e é uma publicação encontrada no Facebook, em que uma usuária da internet tirou uma foto de duas pessoas, João e Lorena, sentadas lado a lado, aparentemente sem elas verem. Depois, expressou publicamente seu desejo de que formassem um casal.

Imagem 5: Jorena (Postagem no Facebook)

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Há ainda casos em que o ship se origina nos personagens de uma ficção e acaba projetando outro ship, que envolve um casal da vida real, como ocorreu com os personagens Samuel e Marocas, par romântico na novela O tempo não para (Rede Globo). Durante as gravações da novela, os atores Juliana Paiva e Nicolas Prattes, que encenavam os respectivos personagens, começaram um relacionamento, o que gerou o ship Junick. Esse processo também aconteceu com os atores que interpretaram os personagens Mônica e Chandler da série Friends, entre outros. A imagem a seguir retrata o caso mencionado de Juliana Paiva e Nicolas Prattes.

Imagem 6: Casal da ficção para a vida real (Matéria do Gshow)

A shippagem, entendida como o fenômeno de maneira geral, envolve diversos termos referentes a ela: shippar, ship, shipper e shippado. Shippar é “o ato de unir os nomes dos personagens com a intenção de criar um novo, que caracterize toda a torcida

88 existente pelo casal”41, sendo assim a prática da mescla de nomes. O ship, por sua vez, é o neologismo formado por meio da união dos nomes de base, como, por exemplo, Brumar. Já o shipper é quem pratica o ato de shippar, ou seja, quem torce pelo casal. Por fim, os shippados são as pessoas envolvidas no ship, ou seja, o casal envolvido, como Bruna e Neymar, no caso de Brumar.

Os ships referentes a casais da ficção podem ser de dois tipos quanto a previsibilidade da narrativa. O termo canonship ou conventional couple é usado para casos em que o relacionamento pelo qual se torce é óbvio na história, de maneira que o autor não deixa dúvidas de que determinados personagens formarão um casal. Já cult ship ou unconventional couple é o oposto, pois se realiza quando um casal nunca é revelado pelo autor ao longo da narrativa.

Quanto à sexualidade do casal, os ships também recebem diferentes classificações. O termo slashship é usado para casais formados por personagens homossexuais masculinos, enquanto femslashship é a expressão usada para se referir a casais formados por personagens homossexuais femininos, o que leva a conclusão de que, quando não especificado, o ship é referente a casais heterossexuais.

Além dessas classificações, o site Amino também descreve o ship de amizade que, em vez de representar uma torcida para que os shippados se tornem um casal, expõe apoio pela amizade entre duas pessoas ou expõe a torcida para que duas pessoas se tornem amigas, como é o caso da torcida por Semi, mescla de Selena Gomes e Demi Lovato, como mostra a imagem a seguir.

41Disponível em: . Acesso em: Out. 2018.

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Imagem 7: Semi – Ship de amizade

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Segundo um site geek42, há ainda outros três critérios que tornam os ships passíveis de classificação, como serão descritos a seguir. OTP é a sigla de One True Paring, do inglês Único Casal Verdadeiro, termo atribuído ao ship do casal favorito. Ghost ship, por sua vez, é o referente ao ship de casais cujos personagens morreram ao longo da narrativa. E crack ship são aqueles que misturam personagens de histórias diferentes, o que os torna improváveis.

O fato de um casal ser improvável – ou até impossível – não inibe a torcida. A revista Capricho, voltada especificamente para adolescentes do sexo feminino, divulgou uma matéria sobre o assunto listando doze casais improváveis, mas que ainda assim são shippados. A revista deixa claro que não há regras quanto a isso e afirma: “Não adianta: nem todos os casais que shippamos vão acontecer. Ou porque eles nunca tiveram nada além de amizade ou porque já não tem mais nada a ver juntos. Mas no maravilhoso mundo dos shippers tudo é possível!”, como mostra a imagem a seguir.

Imagem 8: Ships de casais improváveis ou impossíveis

42 Disponível em: . Acesso em: Nov. 2018.

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Em redes sociais, como Instagram, Twitter e Facebook, os ships são frequentemente acompanhados de uma hashtag (#), ferramenta que facilita a busca de outras postagens sobre o mesmo assunto. Esse fato comprova a afirmativa do site Significados Br43 de que o ship “auxilia os fãs a encontrarem outras pessoas que torcem pelo mesmo casal”. Dessa forma, tanto a ferramenta hashtag quanto o ship podem facilitar o encontro de pessoas que tenham o mesmo interesse e, no caso do ship, interesse específico pelo mesmo casal.

Não é imprevisível o fato de pessoas que compartilham o mesmo interesse se juntarem para formar torcidas organizadas, visto que a existência de fãs clubes parece ser bem anterior ao fenômeno da shippagem. Existem sites, inclusive, cuja função principal é conectar pessoas que compartilham do mesmo gosto, como o Amino, por exemplo, que também foi uma importante fonte de dados para o presente trabalho.

A popularização da shippagem gerou diversas brincadeiras, a exemplo do desafio lançado pela Buscapé no Facebook no dia dos namorados, 12 de junho de 2018. Nesse desafio, as pessoas eram estimuladas a criar ships de seu próprio casal, ou seja, unir seu nome com o do cônjuge ou namorado(a). As perguntas feitas na página foram “Qual é o seu nome de casal?” e “Como ficaria se você juntasse seu nome com o do mozão?”.

43Disponível em: . Acesso em: Nov. 2018.

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Imagem 9: Brincadeira de formar ships

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Nos exemplos formados, fica claro o alto grau de monitoramento com que os ships são formados. Diferente de outros fenômenos linguísticos, os ships são produzidos controladamente pelo falante, que procura avaliar a forma criada pela soma das bases. No caso de uma avaliação negativa, o falante busca outra alternativa de cruzamento possível, geralmente trocando a ordem das bases, como ocorre em Gustanca ou Biantavo para Gustavo mais Bianca; Marisco ou Franciane para Mariane mais Francisco; e Izaquias ou Ezebel para Izabel mais Ezequias. E houve ainda um caso em que o falante julgou negativamente todas as alternativas pensadas para Gilvanice mais Gabriel, preferindo assim não registrar nenhuma.

Além do exercício de produzir ships, também são encontradas na internet enquetes envolvendo ships, como a votação no Blog do Mauricio Stycer sobre quem deveria ficar com a personagem Eliza, da novela Totalmente Demais. As opções da votação foram fechadas: Artur ou Jonatas, que originaram os ships Arliza (< Artur + Eliza) e Joliza (< Jonatas + Eliza).

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Imagem 10: Enquete envolvendo ship

A crescente popularidade da shippagem resultou até na criação de algoritmos produtores de ships. Existem aplicativos disponíveis no Google Play e sites que geram ships, enquanto o papel do usuário é apenas escrever o nome dos dois integrantes do (possível) casal. A imagem abaixo apresenta o aplicativo denominado Fandom Ship Names Generator.

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Imagem 11: Aplicativo gerador de ships

O aplicativo é gratuito e gera uma grande lista de possibilidades de ships, com base nos nomes dados e, dentro das opções, o usuário seleciona seu preferido. As alternativas oferecidas são diversas, mas muitas, ou até a maioria delas, não são passíveis de reconhecimento das bases ou são até agramaticais na língua. Para a entrada Bianca e Gustavo, por exemplo, são disponíveis opções como Ag, Agustav, Ancag, Bgustav, Biancgu, Caustavo, Gustavb, Iancatavo, Ncagu, entre outros.

Aparentemente, o padrão usado pelo aplicativo é uma análise combinatória que estabelece uma primeira letra (de P1) e vai acrescentado letras de P2 a ela. Depois de todas as tentativas com aquela primeira letra, o gerador muda de primeira letra, até que todas ocupem essa posição. No caso exemplificado, há 26 alternativas que começam com a, letra final de Bianca, e a ela vão se adicionando as letras da segunda base, Gustavo. As opções oferecidas são muito numerosas porque não há filtros que as controlem, fazendo com que muitas sejam agramaticais. Além da ausência de filtros, um grande problema do aplicativo é considerar as letras apenas como caracteres, ignorando os fonemas dos nomes.

Tendo sido apresentado o fenômeno da shippagem, será apresentado a seguir o corpus coletado neste grupo. Mas, antes, vale salientar que julgamos necessária uma

96 descrição mais exaustiva do fenômeno neste caso pelo fato de não haver trabalhos anteriores que o façam.

4.2.2 Apresentação do corpus

O corpus relativo à shippagem possui 212 dados. Com exceção de 10 dados coletados de fala espontânea (oralidade), todos foram retirados da internet. A maioria do corpus foi originado na televisão ou em plataformas online de filmes, séries e novelas (como a Netflix), mas os outros 202 dados foram coletados de sites que falam sobre os personagens e atores dessas narrativas, como revistas, jornais, sites de fanfics, blogs diversos, entre outros, além das redes sociais Twitter, Facebook e Instagram.

A quantidade de 120 ships, que representa 56% dos dados, são referentes a casais na vida real. Esse número comprova a ampliação do uso da shippagem, que originalmente se referia somente a personagens ficcionais e passou a representar casais da vida real. Entre esses ships de pares românticos da realidade, enquadram-se:

(i) 33 dados de anônimos, retirados principalmente das redes sociais – como Brelherme, união de Brenda e Guilherme; (ii) 29 dados de participantes do Big Brother Brasil e A Fazenda (reality shows brasileiros) – como Brenara, junção de Breno e Ana Clara; (iii) 24 dados de atores e atrizes – a exemplo de Judrigo, mescla de Juliana Paiva e Rodrigo Simas; (iv) 12 dados de artistas do campo musical (cantores, instrumentistas etc) – como Luade, ship de Luan Santana e Jade Magalhães; (v) 2 dados do domínio jornalístico (dois ships com as mesmas bases) – Sandrevaristo e Evarisandra, união de Sandra e Evaristo; (vi) 1 dado de youtubers – como Viihlu, mescla de Viih e Luiz; (vii) 1 dado da esfera política – como Marchele, ship de Marcela Temer e Michele Bolsonaro; (viii) 18 dados de casais em que os shippados não possuem a mesma função – a exemplo de Felena, ship de Fausto Silva, apresentador de televisão, e Selena Gomes, atriz.

Os outros 92 dados, que correspondem a casais da ficção, são distribuídos em:

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(i) 42 dados de novelas brasileiras – a exemplo de Shirlipe, junção de Shirlei e Felipe, da novela Haja coração (Rede Globo); (ii) 36 dados de séries – como Stelena, união de Stefan e Elena, da série The vampire diaries; (iii) 8 dados de personagens de filmes – como Dramione, cruzamento de Draco com Hermione, do filme do Harry Potter. (iv) 4 dados de personagens de mangá – a exemplo de Nalu, ship de Natsu e Lucy, do mangá Shonen; (v) 2 dados de personagens de livro – Jasiper, mescla de Jason e Piper, do livro Percy Jackson e os Olimpianos.

Quanto à relação interpessoal expressa nos ships, 205 dados manifestam torcida ou apoio por um casal contra apenas 7 ships de amizade, o que confirma que, embora a shippagem possa expressar outra relação interpessoal, é a relação romântica o principal domínio dos ships.

Entre os 205 ships de casais, 89% (183 dados) são de casais héteros, enquanto 7% (13 dados) são classificados como slash ship, ou seja, casais homossexuais masculinos e 4% (9 dados) são femslash ship, casais homossexuais femininos. As imagens a seguir apresentam um exemplo de slash ship e um de femslash ship, respectivamente. A primeira imagem foi retirada de um blog sobre Sherlock Holmes, um clássico personagem da literatura britânica que, segundo o blog, mantém um suposto romance com seu assistente Jonh Watson, o que gerou o ship Jonhlock. A segunda imagem, retirada do site Bol, apresenta o ship Clanessa, mescla de Clara e Vanessa, participantes da 14ª edição do Big Brother Brasil.

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Imagem 12: Johnlock – Exemplo de slash ship

Imagem 13: Clanessa – Exemplo de femslash ship Os requisitos adotados para que um dado fizesse parte desse grupo do corpus foram basicamente três, a saber: (a) ser formado pelo cruzamento de duas bases; (b) pelo menos uma base ser antroponímica; e (c) o produto final ser um ship de uma única palavra. Esses critérios serão pormenorizados a seguir.

Para que se cumprisse o requisito (a), excluímos dados cujo o número de bases é superior a dois, como os que constam a seguir.

(i) Geronnik (< Geralda + Ronan + Ana + Munik) Gleigneriana (< Gleici + Wagner + Ana Clara) Kaynopau (< Kaysar + Breno + Paula) Mallymar (< Marcos + Emilly + Ilmar) Roannik (< Ronan + Ana + Munik)

As bases dos cinco casos apresentados são antropônimos relativos a ex- participantes do Big Brother Brasil (Rede Globo). Esses dados, que unem três ou mais nomes, representam, nesse contexto, união de jogo. Diferente dos ships apresentados até então, esse uso apresenta a união de participantes da competição que formaram uma espécie de equipe e, portanto, apoiavam-se mutuamente. Quando um telespectador torce pela equipe, significa que apoia todos os integrantes dela, sem distinção. É comum que os integrantes desse reality show se unam como uma estratégia de jogo. A imagem a seguir

99 apresenta o uso da hashtag #Geronnik, encontrada em uma postagem do Twitter por um torcedor da equipe.

Imagem 14: Geronnik – Uso representativo de ‘união de jogo’

O requisito (b), por sua vez, pressupõe que, no mínimo, uma base seja antroponímica, característica básica dos ships, que na grande maioria dos casos apresenta antropônimos em ambas as bases. Um dos poucos casos em que apenas uma base é um antropônimo é o ship Dolly, cruzamento entre Doutor Marcos e Emilly. Esse critério restringe nomes comuns, mas abre um leque de opções visto que o antropônimo pode ser prenome, sobrenome, hipocorístico, alcunha ou nome artístico, entre outros apresentados no capítulo 3.

Na maioria dos casos, os ships unem prenomes, como Thiara (< Thiago + Sara). Em casos de prenomes compostos, o falante tende a selecionar o primeiro ou segundo nome para produzir a mescla. Como exemplo, podemos citar os ships que envolvem a Ana Clara, ex participante do Big Brother Brasil. No caso do cruzamento com o antropônimo Breno, o ship resultante é Breana, optando-se pelo primeiro nome, Ana; já no caso da mescla com o prenome Caruso, o produto é Claruso, sendo selecionado o segundo nome, Clara.

Em alguns poucos casos, os ships usam os sobrenomes. No caso de Tralliane (< Tralli + Ticiane), o cruzamento envolve o sobrenome do jornalista Cesar Tralli com o prenome da apresentadora Ticiane Pinheiro. Em Stylinson, foram mesclados dois sobrenomes, os dos músicos Harry Styles e Louis Tomlinson, da banda One Direction. São mais raros os casos do uso de sobrenomes.

Além de prenomes e sobrenomes, há também ships cujas bases são hipocorísticas, como Cabibi, de Caio e Bibi, personagens da novela A força do querer (Rede Globo). Os

100 outros tipos de antropônimos não se mostraram relevantes para o fenômeno da shippagem, sendo o prenome, de fato, o mais recorrente.

O critério (c), que requer que o produto final seja um ship de uma única palavra, exclui exemplos como Captain Swan, mescla entre Captain Hook e Emma Swan, da série Once upon a time. Esse, diferente dos demais, une as bases Captain e o sobrenome da personagem Emma, não formando uma só palavra, mas duas.

Apresentados os três requisitos adotados, vale reafirmar o que foi dito na descrição do grupo 1: nem sempre o CV é uma unidade distinta na língua. No grupo anterior, apresentamos palavras como Analfabetto (< analfabeto + Betto), que tem homófonos correspondentes na língua. Observamos que esse fato também acontece nos ships.

Os dados Amando (< Amanda + Fernando), Frango (< Franciele + Diego), Frito (< Franciele + Vitor), entre outros, possuem homônimos perfeitos na língua, com mesma grafia e mesma pronúncia, tendo alteração apenas na parte semântica. Já no caso de Thiara (< Thiago + Sara), a pronúncia é a mesma de tiara ‘adereço usado no cabelo’, mas a grafia das palavras se distingue pelo /h/ presente no ship. O caso de LuAr (< Lua + Arthur) também apresenta uma distinção gráfica do seu correspondente luar, uma vez que possui uma letra maiúscula no meio da palavra, ressaltando os limites entre as bases.

Os três requisitos adotados para a entrada de um dado no corpus delimitam o perfil dos ships, que sempre apontam para a união entre dois referentes por uma relação interpessoal, seja de amor ou amizade. Tendo justificados os dados coletados, analisamos, adiante, o grupo da shippagem, principalmente, por meio de aspectos fonológicos e morfológicos.

4.2.3 Análise do grupo shippagem

Nesse tópico, nós nos deteremos a analisar os dados coletados no grupo Shippagem, afim de (a) investigar como é feita a escolha da ordem das bases; (b) observar se há um padrão na estrutura dos dados; (c) descrever como é feito o ponto de quebra nas bases dos ships e (d) contabilizar qual tipo de CV é mais recorrente nos dados.

Nesse grupo, diferente do primeiro, os dados não apresentam bases predicadoras, mas antropônimos interligados. A grosso modo, observamos no grupo Antropônimo acrescido de qualificador uma relação de subordinação entre as bases, e, no grupo

101

Shippagem, uma relação de coordenação. De acordo com a noção da sintaxe da palavra, proposta por Sandmann (1993), os dados do primeiro grupo são determinativos, enquanto os do segundo são copulativos, como está representado nos exemplos a seguir.

(i) Antropônimo acrescido de qualificador Gornaldo – ‘Ronaldo que é gordo’ Luladrão – ‘Lula que é ladrão’ Ruimbinho – ‘Rubinho que é ruim no que faz’

(ii) Shippagem Bentriz – ‘Bento e Beatriz’ Jorena – ‘João e Lorena’ Peloísa – ‘Pedro e Heloísa’

Nos exemplos do primeiro grupo, observamos uma constante presença de que, enquanto na segunda de e, que denota adição. Mesmo sabendo que esses seis exemplos são uma amostra pouco expressiva do corpus, a diferença entre os dados de (i) e (ii) é significativa. Sendo assim, ao que tudo indica, a ordem das bases é escolhida diferentemente nos grupos 1 e 2. Os manuais consultados sobre shippagem não estabelecem restrições quanto à ordem que as bases devem seguir. Por exemplo, não há ressalvas se é o nome da mulher ou do homem que tem que vir primeiro no ship. A coleta de dados aponta para uma escolha da ordem baseada na sonoridade mais agradável do produto final, tanto que, na etapa de produção do ship, muitos falantes testam as duas ordens, A + B ou B + A, e escolhem a que “combina mais”, ou a que “fica mais bonita”, de acordo com as palavras dos falantes ao justificarem sua escolha. As imagens a seguir demonstram a dupla tentativa de ordenação das bases.

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Imagem 15: Teste entre diferentes possibilidades de ordem nas bases dos ships

Um questionamento muito instigante que se tenta responder no estudo do cruzamento vocabular é “como definir, entre as duas bases, qual é a primeira e qual é a segunda?”. No caso dos ships, podemos aplicar essa pergunta do seguinte modo: por que o ship de Afonso e Amália é Afonsália e não Amálionso? E por que o de Rodolfo e Brice é Bridolfo não Rodolce? Como já citamos aqui, nossa hipótese para essa pergunta, no caso dos ships, é a melhor sonoridade. Essa hipótese, por sua vez, gera outro questionamento: por que Afonsália e Bridolfo têm melhor sonoridade que Amálionso e Rodolce? Ao selecionar uma e não outra forma, o indivíduo aparentemente usa sua intuição de falante, que requer estudos mais extensos para descrever. Mas, por hora, nossa hipótese é baseada na de Basilio (2005), apresentada no capítulo 2. Para ela, a chave da interpretação do CV é reconhecê-lo como uma palavra alterada, como um todo, e não como partes de palavras. Nesse sentido, concluímos ser mais fácil reconhecer a base Afonso no ship Afonsália do que em Amálionso, do mesmo modo que é mais fácil identificar Brice em Bridolfo do que em Rodolce.

Quanto à estrutura dos ships, identificamos ao todo cinco possibilidades de formação entre os dados, sendo apenas dois consideradas padrões, pois as outras três apresentam número insignificante de ocorrências.

O padrão dominante de formação dos ships é o que mescla os segmentos iniciais da primeira base com os finais da segunda base, a exemplo de Joliza (< Jonatas + Eliza), em que houve aproveitamento da primeira sílaba de P1 e das duas últimas de P2. A grande maioria de 85% dos dados (180) foi formada por esse padrão ‘início + fim’. Seguem mais alguns exemplos.

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(i) Belidolfo (< Beliza + Rodolfo) Brelherme (< Brenda + Guilherme) Felena (< Fausto + Selena) Paugner (< Paula + Wagner) Shirlipe (< Shirlei + Felipe) Thiara (< Thiago + Sara)

O segundo padrão identificado é o que mescla os inícios de ambas as bases, a exemplo de DiRo (< Diego + Roberta). Apenas 13% dos dados (28) são formados por esse padrão, que parece não se repetir no cruzamento vocabular formado por nomes comuns, que geralmente seguem a estrutura ‘início + fim’, como portunhol (< português + espanhol) e chocotone (< chocolate + panetone). A seguir são listados mais alguns ships formados por ‘início + início’

(ii) BelGra (< Belo + Gracyanne) Jelu (< Jéssica + Lucas) Jolari (< João + Larissa) MaVi (< Manoel + Vivian) Peromar (< Pérola + Márcio) ToCar (< Tomás + Carla)

A terceira possibilidade estrutural une o início de P1 com o meio de P2, e forma apenas 2 dados do corpus, perfazendo o total de 1% dos ships. Essas ocorrências, listadas a seguir, são diminutas com relação a maioria, e parecem ser intencionalmente motivadas já que as duas palavras finais possuem homônimos disponíveis na língua: frito ‘que se frigiu ou estar em situação embaraçosa, sem desculpas para uma falta, sem dinheiro, sem escapatória’ e viada (≈ veada) ‘pej. vulgar. Designação pejorativa, preconceituosa e depreciativa para se referir a homossexuais’.

(iii) Frito (< Franciele + Vitor) Viviada (< Vivi + Radamés)

A quarta possibilidade de formação só ocorreu em 1 caso (0,5% dos dados), que mescla o fim da primeira base com o ínicio da segunda. Assim como os anteriores, esse caso isolado também parece ter sido formado com a intenção de fazer analogia com outra palavra de uso comum na língua: pau ‘vara, ripa, viga; [chulismo] pênis’.

104

(iv) Nopau (< Breno + Paula)

A quinta e última possibilidade estrutural também ocorreu em 1 só caso, que uniu P1, integralmente, com as duas extremidades de P2. Entendemos que a excentricidade desse caso raro pode ser justificado pelo fato de as bases serem antropônimos mais comuns na língua inglesa, visto que ambos os nomes são referentes a personagens da série Supergirl.

(v) Karamel (< Kara + Mon-el)

Apresentadas as cinco possibilidade estruturais, dicorreremos a seguir sobre as duas mais recorrentes, que consideramos aqui os efetivos padrões estrututurais.

A princípio, começando pelo padrão ‘início + início’, ressaltamos que nenhum dos dados compartilham material fonológico entre as bases. Identificamos alguns dados cujas bases até têm semelhanças, mas essas não foram aproveitadas para a produção do cruzamento, desconsiderando assim a interposição lexical já que não há compartilhamento das mesmas. Por exemplo, o ship LuAr (< Lua+ Arthur), mesmo tendo /a/ em comum, não apresenta semelhança fônica.

Outro caso interessante nesse sentido é o de TayTay (< Taylor + Taylor), ship do ator Taylor Lautner e da cantora . Os prenomes são idênticos, portanto, todos os segmentos podem ser considerados semelhantes entre as bases, mas, ao selecionar a primeira sílaba de cada base, o ship não aproveita nem uma dessas semelhanças no produto final, o que descaracteriza a interposição lexical.

Desse modo, todos os 28 dados do padrão ‘início + início’ são classificados como combinação truncada. Entre eles, uma particularidade que vale ser ressaltada é a mudança da estrutura silábica em relação as bases. Em Somic (< Sophia + Micael), por exemplo, o ship aproveita, além da primeira sílaba de P1, a primeira sílaba da segunda base (/mi/) e o onset da segunda sílaba (/k/); esse onset, no produto final acaba se tornando uma coda, graficamente. Outro exemplo semelhante é MerDer (< Meredith + Derek)44, em que o /ɾ/, onset da segunda sílaba de ambas as bases, passa a /r/ tornando-se em coda – mudança estrutural essa que não costuma ocorrer em outros dados de CV. Além desses dois casos

44 A diferença de antropônimos no português e no inglês foi levada em consideração uma vez que procuramos coletar apenas dados formados por falantes brasileiros, mesmo sendo nomes mais comuns em outra língua.

105 descritos, mudança estrutural semelhante é observada em Belgra (< Belo + Gracyanne), Catpe (< Catarina + Pedro) e Wellmiche (< Wellington + Michele).

Os ships formados pelo padrão ‘início + fim’, por sua vez, são os que perfazem a maioria dos dados e, entre eles, a combinação truncada também prevalece sobre interposição lexical, sendo 36% dos dados formados por este tipo contra 64% por aquele – levando em conta o total de 180 ships característicos do padrão ‘início + fim’.

Com relação ao ponto de quebra, observamos que, em alguns dados desse grupo, o corte nas bases é feito no nível inter-silábico. Como exemplo, citamos os casos de Ludrigo (< Luciana + Rodrigo), Pelice (< Pedro + Alice) e Maunam (< Maura + Ionam), cujo material aproveitado no produto final é a primeira sílaba de P1 e a(s) última(s) de P2. O ponto que merece destaque é que, nos três casos, o material aproveitado são sílabas na íntegra.

Há, no entanto, outros dados formados pelo mesmo padrão ‘início + fim’ e pelo mesmo tipo ‘combinação truncada’ cujo corte é feito no nível intra-silábico, uma vez que o material aproveitado são porções menores do que a sílaba – é o caso de Mafeu (< Mafalda + Romeu), Spoby (< Spencer + Toby) e Tatelson (< Tatiana + Kelson). No primeiro exemplo, o corte é feito no interior da segunda sílaba de P1, aproveitando apenas seu onset (/f/), que é ligado ao núcleo da segunda sílaba de P2 (/e/). De igual modo, em Spoby, o corte de P1 conecta o onset da segunda sílaba (/p/) com o núcleo da primeira sílaba de P2 (/ɔ/). Em Tatelson, novamente o onset da segunda sílaba de P1 (/t/) é ligado ao núcleo da primeira sílaba de P2 (/ɛ/). Nos três casos, a quebra foi feita no interior da sílaba, diferente dos outros apresentados.

Observamos assim que os dados formados pelo padrão ‘início + fim’ são heterogêneos quanto ao ponto de quebra, uma vez que, em alguns dados, o corte mantém as sílabas completas e, em outros, o corte é interno às mesmas – o que denominamos de nível inter-silábico e nível intra-silábico, respectivamente.

Nossa hipótese para explicar a motivação de um ou outro é a questão da melhor sonoridade somada à questão do reconhecimento do ‘todo alterado’, proposta por Basilio (2005). No exemplo de Pelice (< Pedro + Alice), se a quebra fosse feita no nível intra- silábico, o produto final (Pedrice), até poderia ser considerado sonoramente agradável, mas seria de mais difícil reconhecimento da base Alice. Do mesmo modo, se o corte do ship

106

Mafeu (< Mafalda + Romeu) fosse inter-silábico, o resultado (Mameu ou Mafalmeu), além de ter sonoridade incomum, seria opaco quanto a identificação da base Romeu.

Concluindo, não identificamos nenhum ship monossilábico e nem formado pela substituição sublexical. Observamos a combinação truncada como o tipo de cruzamento vocabular mais recorrente nos ships, correspondendo a praticamente 70% dos 212 dados. Segue uma tabela expositiva que distribui os dados entre as possibilidades estruturais de ships e os tipos de cruzamento vocabular identificados.

Quadro 5: Distribuição quantitativa da estrutura dos ships

INTERPOSIÇÃO COMBINAÇÃO Análise estrutural dos ships LEXICAL TRUNCADA

UNID % UNID % UNID %

Início + fim 180 85 65 31 115 54

Início + início 28 13 0 0 28 13

Início + meio 2 1 0 0 2 1

Fim + início 1 0,5 0 0 1 0,5

Início + extrem. 1 0,5 0 0 1 0,5

TOTAL 212 100 65 31 147 69

Nesse grupo, diferente do primeiro e diferentes dos cruzamentos de nomes comuns, a interposição lexical não prevalece e pode ser justificado pela hipótese de Gonçalves e Almeida (2007, p. 94) de que os cruzamentos formados por entranhamento lexical são predicativos, enquanto os dados da combinação truncada e da reanálise possuem “um caráter mais descritivo e menos avaliativo”.

Mesmo que menos avaliativo, o significado veiculado pelos ships são motivados por uma intenção específica do falante e aponta para um forte valor discursivo dos antropônimos quando cruzados. Ao apoiar um ship publicamente, muitas evidências são reveladas sobre o falante. Por exemplo, pelo simples fato de postar a hashtag #Paugner em uma rede social, os leitores saberão que o autor da postagem é expectador do realit show Big Brother Brasil, e claramente torce pelo romance entre Paula e Wagner, logo não deve

107 apoiar o romance da participante com nenhum outro jogador, e provavelmente torce para os dois terem um bom desempenho no programa, caso contrário não daria ibope para os mesmos. Sendo assim, mais uma vez o antropônimo se apresenta como muito mais do que uma “marca sem significado” ou um “mero rótulo”, mas revela um forte valor discursivo socialmente demarcado.

4.2.4 Um paralelo entre o cruzamento vocabular de bases antroponímicas (ships) e a siglagem Já examinados a estrutura dos dados e seus principais padrões de formação, investigaremos agora qual outro processo morfológico é próximo deste grupo da shippagem. Entre os processos apresentados no capítulo 2, observamos que os dados em questão, sobretudo os formados pelo padrão ‘início + início’, são parecidos com algumas siglas. Embora essa estrutura não seja a mais recorrente nos ships, ainda assim é a segunda mais frequente e, por sua característica principal, apresenta dados semelhantes às siglas que também são palavras formadas pelas iniciais de suas bases. Desse modo, traçamos um breve comparativo entre a siglagem e o cruzamento vocabular, tendo em vista os ships, principalmemte os formados pelas inciais de ambas as bases, mas também os de outras estruturas.

O paralelo entre a siglagem e o cruzamento vocabular não é inédito, pois foi apresentado no trabalho de Gonçalves (2006), ao juntar ambos os processos no mesmo grupo, o de processos criados pela fusão. Nesse sentido, analisaremos mais a fundo o que é a siglagem e, depois, verificaremos algumas divergências e convergências entre os processos a fim de investigar se os ships podem ser considerados siglas.

Segundo Gonçalves (2006), uma sigla nada mais é do que uma “combinação das iniciais de um nome composto ou de uma expressão” (p. 225). Uma sigla pode ser de dois tipos: (i) alfabetismo, em que são pronunciadas letra por letra, como em uma soletração, a exemplo de UFMG ou (ii) acrônimo, que são “siglas cuja combinação de letras possibilita pronunciar a nova forma como palavra comum na língua” (GONÇALVES, 2016, p.73), como em UERJ. Pela pronúncia dos dois tipos, selecionamos os acrônimos para serem comparados com os ships do padrão ‘início + início’.

O primeiro ponto em comum que assinalamos é não concatenatividade característica de ambos os processos pois, assim como os cruzamentos, as siglas também

108 não são formadas por meio do encadeamento estrito de seus componentes. E, além disso, a siglagem e o CV são formados por meio de fusão, como afirma Gonçalves (2006).

A fusão, inclusive, parece ser o fator que mais une os processos. Em siglas como Petrobras (< Petróleo Brasileiro), é nítida a fusão pela qual são processadas, o que também deixam claro que os acrônimos são mais parecidos com o CV do que os alfabetismos, uma vez que não usam apenas a primeira letra de cada base da expressão, mas aproveitam mais segmentos.

Em Petrobras, são empregadas as duas primeiras sílabas da primeira palavra, /petro/, que se unem à primeira sílaba da segunda palavra, /bra/, mais o onset da sílaba seguinte, /s/, o que torna a pronúncia do produto como a de outra palavra usual na língua. Esse caso se assemelha com o ship MaJo (< Manuela + Joaquim), por exemplo, que aproveita a primeira sílaba de cada base, formando uma palavra de pronúncia usual.

Outra semelhança entre os processos é que ambos possuem função lexical. Assim como o CV, a siglagem também forma novas palavras por meio de bases já existentes na língua. E, além disso, alguns ships formados pelas iniciais das bases são grafados com letras maiúsculas no interior da palavra, delimitando quando começa a segunda base, bem como ocorre em algumas siglas. São exemplos neste ponto BelGra (< Belo + Gracyanne) e MinC (< Ministério da Cultura) – ship e sigla, respectivamente.

A quantidade de bases, por sua vez, é um critério que aproxima os processos, mas também os distancia. A aproximação é justificada porque os produtos de ambos são formados por mais de uma base, já o afastamento ocorre porque, enquanto os dados de CV possuem invariavelmente duas bases, as siglas apresentam no mínimo duas bases.

A relação do produto final com as bases é uma convergência entre os processos. O falante pode considerar um acrônimo como palavra primitiva, ou seja, as siglas formadas por acronímia apresentam a possibilidade de criar derivados – cf. petista (< PT) e aidético (< AIDS). E, mesmo que não muito recorrente, verificamos um uso parecido com um ship do padrão ‘início + fim’ – cf. shirlipeiro45, oriundo do ship Shirlipe (< Shirlei + Felipe).

45 Dado disponível em:http://gshow.globo.com/tv/rapidinhas/noticia/2016/11/shirlipe-teste-seus- conhecimentos-sobre-o-casal-de-haja-coracao.html.Acesso em Out. 2016.

109

Comparando agora pelo critério semântico, constatamos uma divergência. No cruzamento vocabular, o significado total é a soma dos significados de cada base, isoladamente, de modo que o falante imerso na esfera social em que circulam os ships, capta as bases de modo quase automático. Por exemplo, o ship ToCar pode ser opaco pra muitos falantes, mas para os telespectadores da novela Rebelde (SBT), é de fácil acesso.

Já nas siglas, por sua vez, embora o significado total também seja a combinação dos significados de cada base, é possível afirmar que o significado parcial das bases é mais distante do significado da nova palavra, o que se dá pela possibilidade de o falante não conseguir identificar as bases de determinadas siglas, como ocorre em CEP (< Código de Endereçamento Postal) e BRT (< Bus Rapid Transit, em português ‘Transporte Rápido por Ônibus’). Por exemplo, o fato de o falante conhecer o BRT não é garantia de que ele reconheça as bases da sigla. Inclusive, no caso do BRT, é muito difícil que os próprios usuários do transporte consigam recuperar as bases.

Sobre isso, Gonçalves (2006, p.226) afirma que o distanciamento das formas de base advém da pequena relação de identidade entre a sigla e a expressão, uma vez que apenas a sequência inicial é copiada. Em decorrência, é grande a probabilidade de o acrônimo suplantar de vez o sintagma-base, a exemplo do que vem ocorrendo com CPF (abreviação de ‘cadastro de pessoas físicas’), que já não mantém qualquer relação de correspondência com a expressão que lhe deu origem.

Como já apresentado, há ships que aproveitam apenas as iniciais das bases, como em JeLu (< Jéssica + Lucas); mas também há dados que aproveitam o início de uma base e o fim de outra, como Artulia (< Artur + Julia), além de outras possibilidades menos significativas. Já as siglas, independentemente de serem alfabetismos ou acrônimos, necessariamente aproveitam os segmentos iniciais das bases, como em Detran (< Departamento de Trânsito) e Petrobras (< Petróleo Brasileiro). Fica claro, então, que a maior diferença entre os processos é o fato de a siglagem formar palavras, necessariamente, por meio das iniciais de suas bases, tanto que, no inglês, o termo usado para siglagem é initialism ‘inicialismo’ 46.

Levando em conta os critérios apresentados – como resume o quadro a seguir – concluímos que os ships, principalmente os formados por ‘início + início’, têm características tanto de cruzamento vocabular como de siglas. Em um continuum entre os

46O termo initialism, como tradução para siglagem, é encontrado no dicionário online de inglês Oxford. Disponível em: . Acesso em: Set. 2018.

110 processos, os ships provavelmente ficariam entre o cruzamento vocabular e a siglagem. Mas, sobretudo pelo último critério de diferenciação, descrevemos os ships como frutos do cruzamento vocabular, uma vez que apresentou cinco padrões estruturais, enquanto as siglas só permitem um: ‘início + início’.

Quadro 6: Comparação entre a siglagem e o cruzamento vocabular

SIGLAGEM VS. CRUZAMENTO VOCABULAR

CRITÉRIO SIGLAGEM CV (SHIP)

Processo não- Processo não- Formação 1 concatenativo/fusão concatenativo/fusão

2 Função Função lexical Função lexical

Qtde mínima de Duas bases Duas bases 3 bases

Qtde máxima de Permite mais de duas bases Duas bases 4 bases

Autonomia das Produto final poder ser Produto final poder ser 5 bases derivado derivado

Significado das bases distante Significado das bases próximo Semântico 6 do significado da nova palavra do significado da nova palavra

Permite apenas um padrão: Permite, pelo menos, dois Padrão estrutural 7 ‘início + início’ padrões

4.3 NOMES DE BATISMO

4.3.1 Apresentação do corpus

O corpus referente a nomes de batismo é constituído de 263 dados: 30 coletados da língua oral espontânea, frutos de nomes de que tomamos conhecimento ao longo dos anos de pesquisa, por intermédio de pessoas de nosso ciclo social; 14 dados extraídos de trabalhos anteriores, retirados das obras de Obata (1994), Sandmann (1993) e Simões Neto e Rodrigues (2017), cujas obras citam alguns exemplos de antropônimos oriundos do

111 cruzamento vocabular; e 219 retirados da internet, em sites diversos, como o Yahoo respostas, a rede social Facebook e, principalmente, o site Baby Center.

Poucos são os trabalhos anteriores que citam exemplos de antropônimos oriundos do cruzamento vocabular, e, mesmo quando citam, o fazem como parte de um subtópico de suas pesquisas, não como objeto central de estudo, o que justifica a pequena quantidade de dados oriundos desse tipo de fonte. A seguir, apresentamos dois dados encontrados no trabalho de Simões Neto e Rodrigues (2017), que foram originalmente retirados de uma entrevista da Revista Quem com a cantora/atriz Mart’nália Ferreira, uma das filhas de Martinho da Vila.

Imagem 16: Mart’nália e Analimar (Matéria da revista Quem)

A coleta de dados na internet foi mais difícil neste grupo pelo fato de os dados não fazerem parte de um fenômeno próprio, como a shippagem. Alguns nomes foram encontrados em sites muito específicos, como o Yahoo Respostas, em que as pessoas perguntam opinião de outros usuários da internet sobre a escolha de nome de bebês originados pela junção do nome do pai com o da mãe, por exemplo. No entanto, o local de onde a maioria de 207 dados foi coletado foi o site Baby Center, uma ferramenta digital exclusiva sobre gravidez e bebês, em que uma usuária lançou a seguinte brincadeira:

112

Imagem 17: Brincadeira de junção de nomes

Muitos casos deste grupo foram originados da combinação dos nomes dos pais do referente, como já citado também no subtópico sobre antropônimos neológicos, no capítulo 3. No entanto, nem todos os dados mesclam o nome dos pais. O caso de Eulana (< Eulália + Ana), por exemplo, surgiu como forma de homenagem a familiares, mas favorecendo duas avós desta vez – como o caso da personagem Renesmee, do filme Amanhecer. Em outros casos, ainda, a mescla é motivada pelo gosto de dois nomes distintos, que são unidos para formar um só, como o exemplo de Lucireny (< Lucia + Irene(y)). As motivações podem ser as mais variadas, mas o foco principal de análise é a estrutura morfológica e fonológica desses dados.

Para uma análise mais uniforme, estabelecemos três critérios para os dados constarem do corpus: (a) serem formados pelo cruzamento vocabular de duas bases; (b) as duas bases serem antroponímicas; e (c) o produto final ser um prenome simples. Além disso, demos preferência aos antropônimos neológicos, ou seja, não consagrados; o exemplo a seguir representa um dado que foi excluído por esse motivo.

113

Imagem 18: Derick – Exemplo de nome não considerado neológico

De acordo com a autora da postagem, o nome de seu filho Derick representa a junção de Deo e Ericka. No entanto esse nome não pode ser classificado como neológico de fato, visto que é encontrado no Dicionário de Nomes Próprios47. Desse modo, não estamos excluindo a possibilidade de Derick ser um cruzamento vocabular, mas estamos evitando prenomes como esses, já que não temos como afirmar suas bases formadoras.

O primeiro critério, (a), demanda muita cautela na análise, visto que é mais difícil identificar o processo morfológico formador de um antropônimo do que de um nome comum. Em primeiro lugar, justificamos essa dificuldade porque o conceito de morfema não pode ser empregado literalmente aos antropônimos, por causa do esvaziamento semântico que sofrem, como afirma Soledade (2012, 325)48. E, em segundo lugar, porque existe um número bem menor de material sobre os processos de formação dos antropônimos, como apontamos no capítulo 3, e essa carência de manuais linguísticos gera maior complexidade para tal tarefa.

O fato de um dado (a) ser formado pelo cruzamento entre duas bases, exclui a formação do antropônimo por outros processos morfológicos, senão o cruzamento vocabular. Como apresentado no capítulo 3, os antropônimos podem ser formados por sufixação, composição, derivação imprópria, entre outros dispositivos, cujas formações

47 Disponível em: . Acesso em:Jan. 2019. 48 O “esvaziamento semântico” ao qual a autora se refere leva em conta a perda do significado etimológico do Português arcaico, foco de sua pesquisa, até o Português contemporâneo.

114 foram eliminadas do corpus, em prol de prevalecerem apenas os antropônimos formados por meio do cruzamento vocabular.

Para identificar os antropônimos formados por sufixação, consultamos alguns trabalhos, como o de Soledade (2012), que lista e analisa uma série de sufixos de nomes personativos do Português arcaico que se refletem no Português do Brasil, tais como:

(i) -a, -o -am -eiro, -eira -el -es -ia -ino, ina, inho, inha -nte -ada -asco -dor -estre -inco -nça -ndo -triz

É certo que não é nosso objetivo acolher os prenomes formados por sufixação no corpus, visto que nosso objetivo é analisar somente as formações oriundas do cruzamento vocabular, mas não é por isso que excluiremos todo e qualquer prenome que tenha uma das terminações acima. Se assim o fosse, muitos cruzamentos de nomes comuns não seriam assim considerados por terminarem com sufixos recorrentes do português, tais como flumineiro (< fluminense + mineiro), globeleza (< Globo + beleza), horrorível (< horroroso + terrível), miserite (< miséria + holerite) e nepetismo (< nepotismo + PT)49, cujas terminações equivalem aos sufixos -eiro, -eza, -vel, -ite e -ismo.

49 Exemplos retirados de Andrade (2008).

115

A presença desses sufixos não impossibilita a produção do cruzamento vocabular, pois é natural que esse mecanismo crie palavras por meio de outras duas já existentes, sejam elas primitivas ou derivadas. Por exemplo, na formação de flumineiro (< fluminense + mineiro), entendemos que não há sufixação de -eiro, mas mesclagem da base fluminense com mineiro – novamente considerando a base como um todo alterado, não como parte de uma palavra. O mesmo ocorre com globeleza, horrorível, miserite e nepetismo, que não priorizam o sufixo no produto final, mas a base como um todo, que pode ou não apresentar sufixo.

Para identificar as formas compostas, por sua vez, levamos em consideração o mesmo trabalho de Soledade (2012), que descreve os elementos da composição como formas livres na língua, podendo assim ocorrer isoladamente, como Inês, Nalva, e Valdo, formativos da composição que geralmente aparecem na posição final do prenome. Além disso, esses elementos típicos de posição final podem ocorrer também em posição inicial – cf. Inesalva, Valdomiro e Nalvalice (SOLEDADE, 2012, 327).

Para essa distinção, é importante ainda relembrar que

diferentes dos compostos, que tendem a preservar o conteúdo segmental das bases (‘porta-luvas’ e ‘bóia-fria’), mesclas são caracterizadas pela interseção de palavras, de modo que é impossível recuperar, através de processos fonológicos como crase, elisão e haplologia, as sequências perdidas. (GONÇALVES, 2006, p. 224)

Assim sendo, exemplos como Maristela foram excluídos do corpus. De acordo com o Dicionário de Nomes Próprios, esse prenome é formado pela composição de maris e stella, com o significado de ‘estrela do mar’. A maneira como as bases foram aglutinadas caracteriza o processo de crase, visto que a primeira termina com /is/ tanto quanto o ínicio da segunda assim se pronuncia.

Como saber, então, se um determinado prenome é formado por sufixação, composição, cruzamento vocabular ou outro mecanismo de expansão lexical? A resposta para essa pergunta é um tanto quanto complicada, visto que nem sempre há fronteiras bem delimitadas entre os processos; admitimos, então, continuum entre eles.

Quanto ao critério (b), as duas bases serem antroponímicas, estabelecemos uma diferença com o grupo 1, antropônimos acrescidos de qualificador, e uma aproximação com o grupo 2, shippagem, cujos dados também possuem dois antropônimos como bases. Por esse critério, aceitamos incluir quaisquer tipos antropônimos listados no capítulo 3,

116 mas, pelo contexto em que os dados foram coletados, a grande maioria das bases corresponde a prenomes.

O critério (c), produto final equivalente a prenome simples, por sua vez, foi estabelecido pelo fato de todo cruzamento vocabular constituir uma única palavra. Por esse requisito, excluímos dados como Maria Paula, “junção” de Maria, nome da mãe do referente, e Paulo, nome do pai50.

Descartamos, ainda, dados cuja motivação foi de unir os nomes dos pais no prenome do(a) filho(a), mas morfologicamente não correspondem ao processo do cruzamento vocabular. A imagem a seguir apresenta alguns desses nomes em uma matéria do G1.

50 Dado disponível em: . Acesso em: Jan. 2019.

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Imagem 19: Exemplos de junção de nomes que não correspondem ao cruzamento vocabular (i) “Junção de nomes de pais resulta em nomes de filhos inusitados”

Davi, José, Maria e Ana. Os nomes bíblicos já são consagrados e nunca faltam em listas telefônicas, chamadas escolares e, naturalmente, nos livros dos cartórios de registro civil. Mas que tal fugir do convencional e ousar um pouco mais no nome do seu filho ou filha? A atriz e cantora norte-americana Gwyneth Paltrow, por exemplo, registrou a filha com o nome de Apple (maçã, em português). Mas há outras formas de conferir originalidade à sua árvore genealógica. A junção de nomes dos pais é uma das opções.

Na família da educadora física Juldrene Prates Ferreira, 34 anos, de Montes Claros (MG), muita gente recebeu nomes inusitados. A mãe dela se chama Julmar e o pai Pedro. Segundo ela, seu nome é resultado da união do “Jul” da mãe e o “edr” do pai. Já o "ene” no final "foi só para feminizar”, como ela conta. Hoje, Juldrene diz gostar do nome, por ser original, mas quando era criança a situação era difícil. “Na chamada no colégio sempre falavam meu nome errado”, comenta.

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Entre muitas risadas e até ga rgalhadas, ela fala sobre a criação do nome dos dois irmãos. A técnica utilizada foi a mesma: intercalar as letras dos nomes dos pais. O resultado: Jurrewerson e Juldroelson. Do nome do pai foram utilizadas algumas letras, embaralhadas. E para manter a tradição, as iniciais são da mãe. “No primeiro, o ‘w’ é o ‘m’ de Julmar de cabeça para baixo; no segundo, o 'son' e o ‘elson’ são só para masculinizar”, conta, se divertindo em relembrar as brincadeiras que já fez com os nomes.

Como explicado na matéria, os nomes Juldrene, Jurrewerson e Juldroelson foram formados a partir dos nomes dos pais, mas não necessariamente por meio do cruzamento vocabular, visto que foram envolvidos sufixos de gênero, além de outros mecanismos como “virar uma letra de cabeça para baixo”. Sendo assim, embora sejam formações interessantes, foram eliminadas do corpus pelo requisito (a).

Uma vez apresentados os critérios adotados para a formação do corpus dos nomes de batismo oriundos do cruzamento vocabular, descreveremos a seguir a contraparte morfológica e fonológica do processo.

4.3.2 Análise do grupo nomes de batismo Como na análise dos demais grupos, objetivamos investigar, nesta seção, a ordem das bases nos dados coletados, as possibilidades estruturais e o “corte” das bases. Além disso, pretendemos observar qual tipo de CV é o mais recorrente nesse grupo.

De modo geral, os nomes de batismo se assemelham aos ships. Em nenhum dos dois casos, há uma ordem pré-estabelecida que as bases devam seguir. E, assim como nos ships, há uma grande ocorrência de dupla tentativa da produção do CV para testar qual a melhor forma de saída do nome, o que explica a grande quantidade de antropônimos diferentes com as mesmas bases, como Leonnifer (< Leonardo + Jhennifer) e Jhennardo (< Jhennifer + Leonardo).

Observamos que a ordem das bases no interior do CV pode estar ligada ao ponto de quebra que elas sofrem. No caso de Cadré (< Carolina + André) ou Andrelina (< André + Carolina), por exemplo, a quantidade de material aproveitado em uma alternativa e em outra é bem diferente. Enquanto Cadré apresenta apenas duas sílabas, Andrelina possui quatro. Nesse caso, então, a ordem das bases parece exercer influência na quantidade de material aproveitado e, consequentemente, no ponto de quebra das bases.

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Nossa hipótese, enfatizamos, é a de que a ordem das bases no interior do cruzamento seja escolhida pela melhor sonoridade e pelo maior reconhecimento possível das bases no produto final, pois é característica do CV mesclar nomes, “mas sem perder, contudo, os traços semânticos das formas de base que lhes deram origem” (ANDRADE, 2008, p.17).

Os traços semânticos dos nomes comuns não são como os dos antropônimos, pois, como já citado com base em Soledade (2012), os antropônimos têm classificação à parte. De todo modo, é esperado que as bases de nossos dados sejam passíveis de recuperação no produto final do CV, visto que o objetivo básico da junção de nomes é expor dois antropônimos em um, de modo que as bases sejam o mais transparente possível no produto final.

Quando o falante opta, intuitivamente, por uma possibilidade de ordenação das bases, provavelmente analisa qual é a forma cuja identificação das bases se dá de maneira mais clara, além de testar a sonoridade das alternativas. De todo modo, a investigação acerca do motivo pelo qual as bases são mais facilmente identificadas em uma forma e não em outra merece mais destaque, que pretendemos dar em trabalhos futuros.

Com relação à estrutura dos nomes de batismo formados por cruzamento vocabular, verificamos a ocorrência de quatro possibilidades de formação, sendo, novamente, apenas duas consideradas como padrão por serem a estrutura de uma porcentagem significativa de dados. Apenas uma dessas possibilidades não foi identificada nos ships.

O padrão mais frequente é o que mescla o início de P1 com o fim de P2, como foi atestado nos ships. Um total de 74,5% dos dados (197) foi formado por esse padrão, como os seguintes exemplos:

(i) Bremila (< Breno + Samila) Claudionor (< Cláudio + Leonor) Francinanda (< Francisco + Fernanda) Juliarcio (< Juliana + Márcio) Paucela (< Paulo + Marcela) Ziraldo (< Zizinha + Geraldo)

120

O segundo padrão mais recorrente é aquele que une os segmentos iniciais de ambas as bases. Um total de 22% dos dados (57) é formado por esse padrão, como os que estão listados a seguir.

(ii) Arcângela (< Arcanjo + Ângela) Dailu (< Daianne + Lucas) Isape (< Isabela + Pedro) Jomar (< João + Maria) Letial (< Leticia + Allan) Marcélia (< Mário + Célia)

Cumpre esclarecer que consideramos formados por ‘início’ todos os cruzamentos que aproveitam os segmentos iniciais de uma base, mesmo que todos os segmentos dela sejam aproveitados na íntegra. Por exemplo, em Marcélia (< Mário + Célia), a segunda base foi totalmente empregada no produto final, mas a consideramos formada por ‘início’ por sua primeira sílaba estar contida no CV. Caso contrário, se o nome formado fosse Marlia, não consideraríamos assim. Englobamos no mesmo grupo tanto os casos que só aproveitam o início das bases, como Jomar, quanto os que aproveitam a palavra inteira, como Marcélia, a fim de simplificar as possibilidades. Se tratássemos desses casos em grupos distintos, teríamos nove alternativas estruturais em vez de cinco.

A terceira possibilidade mescla o fim da primeira base como o início da segunda, característica de 2% dos dados (5), elencados a seguir.

(iii) Marelisa (< Osmar + Elisa) TonSol (< Milton + Solange) Thamar (< Samantha + Marcos) Geljo (< Angel + João) Nicevo (< Genice + Ivo)

A quarta possibilidade, por fim, é mais inusitada por unir os segmentos finais de ambas as bases. Essa estrutura foi a única não vista nos ships, e é responsável pela formação de apenas 1,5% dos dados (4), expostos adiante.

(iv) Cilael (< Priscila + Rafael) Faela (< Rafael + Priscila) Milael (< Camila + Michel)

121

Celyne (< Marcelo + Alyne)

É interessante destacar, que embora tenham sido identificadas essas quatro possibilidades estruturais, um falante tende a recorrer a uma única, ou, no máximo, duas. Foi possível chegar a essa conclusão pelos comentários da postagem do site Baby Center, nos quais os usuários discorrem geralmente sobre duas ou mais tentativas de mesclagem. Essa é uma tendência que observamos, mas não uma regra, visto que nem todos os falantes fazem uso do mesmo padrão. Os pares de nomes abaixo exemplificam essa tendência por meio das formações dos falantes A, B e C.

A. Laulo (< Laura + Paulo) – ‘Início + fim’ Paura (< Paulo + Laura) – ‘Início + fim’ B. Natlu (< Nathan + Ludmila) – ‘Início + início’ Lunat (< Ludmila + Nathan) – ‘Início + início’ C. Prisra (< Priscila + Rafael) – ‘Início + início’ Rapris (< Rafael + Priscila) – ‘Início + início’ Cilael (< Priscila + Rafael) – ‘Fim + fim’ Faela (< Rafael + Priscila) – ‘Fim + fim’

Como nas seções anteriores, daremos ênfase à análise dos dados formados pela estrutura ‘início + fim’ e ‘início + início’, já que perfazem mais de 95% total dos dados do grupo nomes de batismo formados por cruzamento vocabular.

A começar pelo padrão ‘início + início’, verificamos 17 dados formados pela interposição lexical contra 40 formados pela combinação truncada, diferente dos ships, em que nenhum dos dados do modelo ‘início + início’ apresenta semelhança fônica entre as bases.

A semelhança detectada em alguns dados da interposição lexical apresenta mais ou menos material em comum, que pode ser “sílabas, rimas ou até mesmo porções fônicas sem status próprio” (ANDRADE, 2009, p.194). Assim sendo, dados como Arcângela (< Arcanjo + Ângela) apresentam mais material ambimorfêmico – um núcleo silábico e um onset, da sílaba seguinte – do que outros como Francisquelly (< Francisco + Quelly), cujo o único segmento compartilhado é o onset /k/.

Os dados do modelo ‘início + início’ formados pela combinação truncada, como os ships, apresentam, algumas vezes, mudança na estrutura silábica em relação às bases. O

122 exemplo de Letial (< Leticia + Allan) ilustra essa mudança, visto que o corte na segunda base ocorre no nível intra-silábico, pois aproveita, no produto final, o núcleo da primeira sílaba e o onset da segunda, que, ao ocupar nova posição na estrutura silábica, sofre mudança de /l/ para [w], típica do consonantismo do português. Essa e outras ocorrências indicam que, algumas vezes, no exercício de cruzar nomes, o falante controla letras, mas segue o padrão fonotático da língua.

Os casos formados pelo padrão ‘início + fim’, por sua vez, totalizam a maioria dos dados de nomes de batismo e também apresentam mais recorrentemente a combinação truncada (164) que interposição lexical (33).

Nesse grupo, também identificamos quebras tanto no nível inter-silábico quanto no intra-silábico. O prenome Cachel (< Camila + Michel) exemplifica o primeiro caso, já que o corte é feito entre as sílabas, aproveitando a primeira sílaba da primeira base e a última da segunda base, diferente do caso de Maruardo (< Mariana + Eduardo), cujo corte é interno às sílabas, empregando-se, no produto final, a primeira sílaba inteira mais o onset da segunda, de P1, e o núcleo da segunda sílaba mais os segmentos seguintes, de P2.

Pelo que se expõe, a combinação truncada é o tipo de CV mais produtivo entre os cruzamentos de bases antroponímicas, uma vez que praticamente 80% dos nomes de batismo são formados por esse mecanismo. É interessante observar que essa porcentagem equivale a que Gonçalves (2003) descreve para a interposição lexical nos cruzamentos com nomes comuns: “80% dos cruzamentos vocabulares do português brasileiro são caracterizados pelo aproveitamento de pelo menos um segmento comum às palavras- matrizes”. Como não é função desse grupo atribuir qualidades aos referentes, recorremos novamente a Gonçalves e Almeida (2007, p. 94) para explicar essa diferença radical. Os autores afirmam que os cruzamentos formados por combinação truncada são mais descritivos e menos avaliativos que os formados pela interposição lexical.

Apresentamos a seguir um quadro que resume os quantitativos dos tipos de CV – interposição lexical e combinação truncada – e das estruturas de formação verificadas ao longo da análise. Esse grupo, como os demais, também não apresentou casos de dados monossilábicos nem dados de reanálise.

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Quadro 7: Distribuição quantitativa da estrutura dos nomes de batismo

INTERPOSIÇÃO COMBINAÇÃO Análise estrutural dos nomes de batismo LEXICAL TRUNCADA

UNID % UNID % UNID %

Início + fim 197 74,5 33 12,5 164 62

Início + início 57 22 17 7 40 15

Fim + início 5 2 0 0 5 2

Fim + fim 4 1,5 2 0,75 2 0,75

TOTAL 263 100 52 20,25 211 79,75

4.3.3 Um paralelo entre o cruzamento vocabular de bases antroponímicas (nomes de batismo) e a hipocorização

Uma vez verificadas as questões estruturais dos nomes de batismo, traçamos, agora, um paralelo entre o cruzamento vocabular de bases antroponímicas e outro processo morfológico de natureza não concatenativa. Identificamos a hipocorização como um dos processos mais semelhantes à criação de nomes de batismo, o que nos levou a traçar um paralelo entre os dois mecanismos.

No capítulo 2, destacamos que o padrão de hipocorização que mais se assemelha ao cruzamento vocabular é o de nomes como Mabel (< Maria Isabel) e Joca (< João Carlos), pois ambos os processos envolvem duas bases. Nas palavras de Lima (2008, p. 19), a hipocorização de nomes compostos equivale à “junção de duas bases que se combinam e se encurtam”, como em Luís Carlos > Luca. O ato de “juntar” e “combinar” bases comprova a maior identidade do CV com esse padrão, visto que os cruzamentos também são formados por duas palavras-fonte, de modo a juntá-las e combiná-las.

Ao comparar exemplos como Jomar (< João + Maria) e Cadu (< Carlos Eduardo), é nítida a semelhança entre os processos, podendo até causar dúvida se há fronteiras bem demarcadas entre eles. Como o objeto de investigação deste trabalho é o cruzamento de antropônimos, convém tentar diferenciar os dois casos.

124

O aspecto semântico-pragmático se mostra um grande divisor de águas nesse sentido, podendo esclarecer casos aparentemente opacos. Jomar é um antropônimo, pois nomeia uma pessoa, e usa como base outros dois antropônimos, João e Maria. Já Cadu, pelo menos inicialmente, comporta-se como um apelido, um modo carinhoso de se referir a uma pessoa chamada Carlos Eduardo. Em outras palavras, Jomar cruza dois nomes para formar um terceiro, sendo que tanto as bases quanto o cruzamento possuem a mesma função: nomear alguém; Cadu, a princípio, não tem como função atribuir nome de batismo a uma pessoa.

Somada ao aspecto semântico, está a diferença nas funções de ambos os processos: “hipocorísticos e antropônimos diferem unicamente quanto ao valor estilístico/contextual, funcionando, na verdade, como sinônimos” (GONÇALVES, 2006, p. 222). Essa assertiva evidencia o fato de o significado veiculado por André e Dedé, por exemplo, ser o mesmo, pois ambos apontam para o mesmo referente, sendo considerados sinônimos. A diferença entre as formas é dada, portanto, em termos de função expressiva, uma vez que elas apresentam diferentes papéis, sendo a segunda mais afetiva que a primeira. Desse modo, conclui-se que o hipocorístico não forma novas palavras; modifica expressivamente a mesma unidade lexical.

O cruzamento vocabular, por sua vez, apresenta comportamento diferente, uma vez que, além da função expressiva, apresenta também função lexical, ou seja, além de veicularem, em sua maioria, a expressividade do falante, os cruzamentos formam novas palavras, tanto que Marcotônio (< Marco + Antônio) não possui o mesmo referente que Marco, isoladamente, nem Antônio; refere-se a uma outra pessoa, cujo nome remete a dois outros.

O fato de, no cruzamento vocabular formado por antropônimos, as bases poderem ter gêneros distintos (uma no feminino e outra no masculino ou vice-versa) reitera essa diferença. Inclusive, esse uso é recorrente na nomeação de filhos para homenagear, ao mesmo tempo, o pai e a mãe. Fato esse que já não é visto nos hipocorísticos de nomes compostos, visto que se referem sempre a uma única pessoa, sendo, portanto, idêntico o gênero das bases encurtadas.

Um aspecto que aproxima o cruzamento vocabular da hipocorização é a não concatenatividade. Ambos os processos morfológicos são considerados não concatenativos

125 porque não operam com mera adição de unidades morfológicas, promovendo, antes, algum tipo de encurtamento prosodicamente motivado.

Com relação à estrutura métrica e ao tamanho dos hipocorísticos, mais uma diferença entre os processos é revelada, pois o “hipocorístico deve constituir palavra mínima na língua” (LIMA, 2008, p. 69)51. Sendo um processo de encurtamento, a hipocorização impede formações que tenham mais de duas sílabas. Já o cruzamento vocabular não impõe essa limitação de tamanho, visto que são numerosas as formações que tenham três sílabas ou mais – como em Aguimar, Edilange e Eduarlene. Em outras palavras, a hipocorização é um processo de encurtamento e o cruzamento vocabular, não. Embora os processos se distanciem com relação ao tamanho máximo de suas formações, aproximam-se ao delimitar um tamanho mínimo, pois não são possíveis nem hipocorísticos nem cruzamentos com menos de um pé métrico.

Pelo viés prosódico, algumas diferenças também são pontuadas. Focalizando apenas o padrão de nomes compostos dos hipocorísticos e cruzamentos vocabulares formados por antropônimos, são claras algumas distinções fonológicas. Nos hipocorísticos desse tipo, são vedados52: (a) a posição de onset vazia, (b) onsets complexos, (c) codas que não sejam os glides /j/ e /w/, (d) pés trocaicos53, (e) alinhamento de sílabas que não sejam a primeira com onset preenchido de ambas as bases, e (f) acentuação da vogal -a quando em posição final de palavra prosódica.

O cruzamento vocabular formado por antropônimos, no entanto, não apresenta essas imposições em suas formações, visto que Arcângela (< Arcanjo + Ângela), por exemplo, infringe (a), (c) e (e) ao mesmo tempo. O item (a) é descumprido, pois o cruzamento apresenta a posição de onset desocupada logo na primeira sílaba /ar/; já a condição (c) é infringida pelo fato de o nome Arcângela apresentar uma coda preenchida por consoante, como é visto na sílaba /ar/, em que há uma fricativa ocupando essa posição; o item (e), por seu turno, não é satisfeito porque o cruzamento não alinha as primeiras sílabas com onset de cada base, pois, da primeira, são aproveitadas as duas sílabas iniciais,

51 Nas palavras de Gonçalves (2004), “ocorre palavra mínima todas as vezes em que a palavra fonológica (ω) dominar um e somente um pé (∑)”. 52 A análise prosódica dos hipocorísticos de nomes compostos é descrita a rigor por Lima (2008). 53 O pé métrico troqueu é aquele que considera o peso da sílaba, contando suas moras (µ). A cada duas moras, calcula-se um pé; assim sílabas pesadas formam, sozinhas, um pé. Além disto, outra característica do pé troqueu é que este possui cabeça à esquerda, apresentando o seguinte padrão silábico: (x.), como afirma Lima (2008, p. 20).

126 sendo que a primeira não apresenta onset e a segunda base é alinhada em sua totalidade, não havendo perda segmental.

Além de Arcângela, outros exemplos comprovam que, embora os processos sejam parecidos, o padrão prosódico de formação seguido nos hipocorísticos é distinto do padrão empregado nos cruzamentos vocabulares formados por antropônimos. Formas como Claudionor (< Cládio + Leonor) e Isalberto (< Isabela + Roberto) evidenciam o que estamos afirmando.

De modo geral, a comparação entre a hipocorização e o cruzamento vocabular (nomes de batismo) reuniu aqui dois critérios de semelhança contra cinco de diferença entre os processos, como mostra o quadro a seguir.

Quadro 8: Comparação entre a hipocorização e o cruzamento vocabular

HIPOCORIZAÇÃO VS. CRUZAMENTO VOCABULAR

CRITÉRIO HIPOCORIZAÇÃO CV (NOMES DE BATISMO)

Semântico- Designa nome um nome de 1 Não designa nome a alguém pragmático batismo

2 Função Função expressiva Função expressiva e lexical

As bases possuem o mesmo As bases podem ou não possuir o 3 Gênero das bases gênero mesmo gênero

4 Formação Processo não-concatenativo Processo não-concatenativo

Tamanho mínimo de um pé Tamanho mínimo de um pé 5 Estrutura métrica métrico métrico

Não é um processo de 6 Estrutura métrica É um processo de encurtamento encurtamento

7 Prosódico Possui uma série X de restrições Possui uma série Y de restrições

Diante disso, concluímos que o cruzamento vocabular de bases antroponímicas (nomes de batismo e ships) e o hipocorístico de nomes compostos são processos muito semelhantes. Em uma proposta de continuum, esses processos devem estar bem próximos, tanto é que, em processo de lexicalização, é possível que um hipocorístico de nomes

127 compostos admita a mesma função de um nome de batismo formado por cruzamento vocabular.

De acordo com o Dicionário de Nomes Próprios, o caso de Malu provavelmente é um exemplo um hipocorístico, de Maria Luiza ou Lúcia, que, ao que tudo indica, foi lexicalizado e atualmente é usado como nome de batismo, como consta no registro civil54. Esse processo de lexicalização também parece ter ocorrido com Alex, hipocorístico de Alexandre, entre outros casos. Desse modo, embora os processos tenham diferenças significativas, os limites entre eles podem ser instáveis.

Sendo assim, apresentamos a hipocorização de nomes compostos como um processo bem próximo do cruzamento vocabular de bases antroponímicas. Descrevemos o grupo de nomes de batismo como majoritariamente formado pelo padrão ‘início + fim’ por meio da combinação truncada, uma vez que a maioria dos dados têm bases que não compartilham segmentos.

Com a descrição dos grupos Antropônimos acrescidos de qualificador, Shippagem e Nomes de batismo, concluímos a análise de dados. No próximo capítulo, seguem as considerações finais, em que será apresentada uma visão panorâmica dos três grupos e as conclusões a que chegamos.

54 O antropônimo Malu é encontrado como um prenome no Dicionário de Nomes Próprios. Disponível em: . Acesso em: Jan. 2019.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer desta dissertação, foi apresentado o cruzamento vocabular como um processo produtivo de formação de palavra. Diferentemente de estudos anteriores, o presente trabalho teve um direcionamento inédito por focalizar somente as mesclas que possuem, no mínimo, uma base antroponímica. Para isso, foram revisadas também algumas abordagens sobre a antroponímia do Português Brasileiro.

Foram coletados 637 dados, que categorizamos em quatro grupos distintos: antropônimos acrescidos de qualificador, ships, nomes de batismo e oniônimos de bases antroponímicas. Retomamos, aqui, algumas questões importantes, obtidas com os resultados da análise, a fim de resumir o comportamento das mesclas com bases antroponímicas.

No primeiro grupo, foi refutada a hipótese de Basilio (2003) de que o elemento predicador dos cruzamentos geralmente ocupa a posição da primeira base. Dados como Dilmãe (< Dilma + mãe), Fabishow (< Fabi + show), Sashanás (< Sasha + satanás) e Naymaravilha (< Neymar + maravilha) reforçam a posição regular do adjetivo em Português, que, geralmente, sucede o substantivo, e contestam a alegação de Basilio (2003). Os dados desse grupo comprovam a expectativa de Gonçalves (2003) de que a interposição lexical é responsável pela formação da maioria dos cruzamentos. Consequentemente, os antropônimos acrescidos de qualificador também ratificam a assertiva de Gonçalves e Almeida (2007) de que a interposição lexical caracteriza formações predicativas, realçando características dos referentes ou conferindo a eles propriedades impossíveis, por meio da metáfora ou metonímia.

Embora não tenham sidos atestados casos de substituição sublexical nesse grupo, as formações iniciadas com bolso- e mala- e as que terminam com -naro e -ácio mostraram aptidão em formar séries de palavras. Mediante o comportamento desses casos, tais partículas foram classificadas como splinters, o que aponta para um forte valor linguístico dos antropônimos, contestando a noção, proposta por Mill (1879), de que eles são meros rótulos sem significado algum.

O processo morfológico que se mostra mais semelhante a esses dados é a composição, que também forma novas palavras por meio de duas bases. Alguns autores consideram, inclusive, o cruzamento vocabular como um subtipo da composição, mas, pelos argumentos reunidos, defendemos o CV como um processo autônomo.

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O segundo grupo, dados oriundos do fenômeno da shippagem, possuem características bem diferentes do primeiro por apresentarem antropônimos em ambas as bases, cuja escolha da ordem, ao que tudo indica, é justificada pela melhor sonoridade. Quanto à estrutura desses dados, foram identificadas cinco possibilidades que, ao todo, distribuíram-se em 31% de formações por interposição lexical contra 69% por combinação truncada. O padrão mais recorrente entre os ships é o que mescla o início da primeira base com o fim da segunda, que, formado por meio da combinação truncada, perfaz o total de 54% do corpus. A inversão da ocorrência entre a interposição lexical, no primeiro grupo, e combinação truncada, neste, pode ser justificada pela natureza menos avaliativa e mais descritiva dos dados, corroborando com a hipótese de Gonçalves e Almeida (2007). Entre os demais processos apresentados no capítulo 2, a siglagem foi o processo selecionado para ser comparado aos ships, principalmente pela semelhança entre os dados do padrão ‘início + início’ e as siglas, que são sempre formadas pelas iniciais de suas bases. Mediante aos argumentos apresentados, concluímos que os ships são fruto do cruzamento vocabular, mesmo tendo semelhanças com as siglas. No terceiro grupo, nomes de batismo, os dados também são formados por duas bases antroponímicas. Como nos ships, a escolha da ordem também parece ser justificada pela melhor sonoridade do produto final, além da forma cuja identificação das bases se dá de maneira mais clara.

Identificamos quatro possibilidades estruturais entre os nomes de batismo e novamente a porcentagem da combinação truncada (80%) foi superior à da interposição lexical (20%). O padrão mais produtivo entre esses dados foi, novamente, ‘início + fim’ não caracterizado pela semelhanca entre as bases, que atinge 62% do total.

O processo morfológico que mais se aproxima dos dados desse grupo é, sem dúvida, a hipocorização, principalmente a de nomes compostos. A grande semelhança, contudo, não é maior que as diferenças, visto que foram apresentados mais argumentos de diferenciação do que de aproximação entre os processos.

O quarto grupo, por sua vez, não foi analisado separadamente pelo baixo número de dados coletados até então. Oniônimos formados por bases antroponímicas constituem um grupo muito específico e, portanto, de difícil coleta de dados. De todo modo, os dois dados coletados são formados pela interposição lexical e apontam para uma semelhanca

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substancial com o primeiro grupo, tanto com relação à estrutura quanto ao valor expressivo.

De modo geral, apresentamos os antropônimos acrescidos de qualificador mais próximos aos oniônimos de bases antroponímicas, ao passo que os nomes de batismo se assemelham mais aos ships. A relação entre os quatro grupos é representada na proposta de continuum que se segue.

BASES: BASES: NOME COMUM E ANTROPÔNIMOS ANTROPÔNIMO

+ designativo + avaliativo

NOMES DE SHIPS ONIÔNIMOS DE ANTROPÔNIMOS BATISMO BASE ACRESCIDOS DE ANTROPONÍMICA QUALIFICADOR

Diagrama 9: Representação do continuum entre os grupos do corpus

Na extrema esquerda do continuum, localizam-se os cruzamentos designativos enquanto, na extrema direita, posicionam-se os cruzamentos avaliativos, e, no decorrer do continuum, encontram-se os grupos que têm características tanto designativas quanto avaliativas, mas com inclinação para um deles.

Os nomes de batismo são totalmente designativos por denominarem referentes, não os avaliando quanto à suas características. Ao seu lado, encontram-se os ships, conhecidos como “nomes/apelido do casal”, mas possuem diferente valor expressivo dos primeiros, pois são menos designativos que eles.

Na ponta direita, encontram-se os antropônimos acrescidos de qualificador, que, mesmo portando antropônimo em uma das bases, não são usados para nomear, mas para avaliar o referente do respectivo nome. Os oniônimos de bases antroponímicas, por sua vez, são mais designativos que aqueles por serem usados para nomear estabelecimentos comerciais, mas, ao mesmo tempo, os avaliando, o que justifica sua localização no continuum.

Concluímos assim que os pares de grupos mais parecidos são os que possuem bases da mesma natureza. Os nomes de batismo e os ships são formados por duas bases

131 antroponímicas, logo são mais designativos, enquanto os antropônimos acrescidos de qualificador e os oniônimos de bases antroponímicas possuem uma base antroponímica e uma de nome comum, sendo, portanto, mais avaliativos e menos designativos.

De modo geral, apresentamos os antropônimos como uma classe de palavras em potencial. Mesmo que não sejam como os nomes comuns, os antropônimos, principalmente os neológicos, como enfatizamos aqui, demonstram alta carga semântica e excessiva motivação para sua criação. O cruzamento vocabular, por sua vez, mostrou-se um processo morfológico produtivo capaz de refletir tendências sociais de modo criativo, econômico e, portanto, eficiente.

Consideramos, então, positiva a mescla entre a antroponímia e o cruzamento vocabular, visto que fomenta importantes questões da morfologia do Português Brasileiro, além de contribuir para a descrição das duas áreas.

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REFERÊNCIAS DAS IMAGENS

Imagem 1: Disponível em: http://vindodospampas.blogspot.com/2018/10/errar-uma-duas- tres-vezes.html. Acesso em: Out. 2018. Imagem 2: Postagem no Twitter, conta suspensa.

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ANEXOS

ANEXO I – Antropônimo acrescido de qualificador

Legendas utilizadas para a categorização dos cruzamentos (T. = TIPO): IL → Interposição Lexical CT → Combinação Truncada Legendas utilizadas para a categorização qualificador (QUAL. = QUALIFICADOR): PB → Primeira Base SB → Segunda Base PF → Produto final = base DB → Duas bases

NOME BASES T. QUAL. 1 Alckimedo Alckmin + Amoedo IL DB 2 Alckmia Alckmin + alquimia IL SB 3 Analfabetto (Frei) Analfabeto + Betto IL PB 4 Ballothalles Balotelli + Thalles IL PB 5 Barbiepta Barbieri + Heptacampeão IL SB 6 Barbiola Barbieri + Guardiola IL SB 7 Barbosafro (Joaquim) Barbosa + afro IL SB 8 Blackenbauer Black + Beckenbauer IL PB 9 Boçalnaro Boçal + Bolsonaro IL PB 10 Bolsoafetivo Bolsonaro + afetivo CT SB 11 Bolsoanta Bolsonaro + anta CT SB 12 Bolsoasno Bolsonaro + asno CT SB 13 Bolsobosta Bolsonaro + bosta CT SB 14 Bolsocaixa (2) Bolsonaro + caixa 2 CT SB 15 Bolsodeus Bolsonaro + deus CT SB 16 Bolsoditador Bolsonaro + ditador CT SB 17 Bolsoestucpro Bolsonaro + estucpro CT SB 18 Bolsofake Bolsonaro + fake CT SB 19 Bolsofalso Bolsonaro + falso CT SB 20 Bolsofascista Bolsonaro + fascista CT SB 21 Bolsofilho Bolsonaro + filho CT SB 22 Bolsogatas Bolsonaro + gatas CT SB 23 Bolsohitler Bolsonaro + Hitler CT SB 24 Bolsokid Bolsonaro + kid CT SB 25 Bolsolixo Bolsonaro + lixo CT SB 26 Bolsolula Bolsonaro + Lula CT SB 27 Bolsolunático Bolsonaro + lunático CT SB 28 Bolsomerda Bolsonaro + merda CT SB 29 Bolsominion Bolsonaro + minion CT SB 30 Bolsomito Bolsonaro + mito CT SB 31 Bolsonabo Bolsonaro + nabo IL SB 32 Bolsonada Bolsonaro + nada IL SB 33 Bolsonagem Bolsonaro + bobagem CT SB 34 Bolsoneca Bolsonaro + soneca IL SB

138

35 Bolsonegan Bolsonaro + Negan (Walking Dead) CT SB 36 Bolsoniver Bolsonaro + niver CT SB 37 Bolsonojo Bolsonaro + nojo CT SB 38 Bolsoquadrilha Bolsonaro + quadrilha CT SB 39 Bolsoréu Bolsonaro + réu CT SB 40 Bolsotário Bolsonaro + otário IL SB 41 Bolsotonto Bolsonaro + tonto CT SB 42 Bolsotroglodita Bolsonaro + troglodita CT SB 43 Bolsotrump Bolsonaro + Trump CT SB 44 Bolsoviolência Bolsonaro + violência CT SB 45 Bombácio bomba + Inácio IL PB 46 Bourelles (Guilherme) Boulos + (Henrique) Meirelles CT PB 47 Bozonaro Bozo + Bolsonaro IL PB 48 Bozonazi Bozo (Bolsonaro) + nazista CT SB 49 Buraque (Chico) Bu.ra.co + Bu.ar.que IL PB 50 Burrichello Burro + Barichello IL PB 51 Caipirinácio Caipirinha + Inácio IL PB 52 Cangaciro cangaceiro + Ciro IL PB 53 Carpezidane (Paulo) Carpegiane + Zidane IL SB 54 Chattoso Chato + Mattoso IL PB 55 Cihaddad Ciro + Haddad CT SB 56 Ciririca Ciro + Tiririca IL SB 57 Ciroará Ciro + Ceará IL PB 58 Cirula Ciro + Lula IL SB 59 Ciscarelli Ciscar + Cicarelli IL PB 60 Collorupto Collor + corrupto IL SB 61 Daciolindo Daciolo + lindo IL SB 62 Debochara Deboche + Bechara IL PB 63 Delábio Delúbio (Soares) + lábia IL SB 64 Desmorolizado Desmoralizado + Moro IL PB 65 Dilmãe Dilma + mãe IL SB 66 Dilmais Dilma + mais IL SB 67 Dilmônia Dilma + demônia IL SB 68 Eduerrado (Paes) Eduardo + errado IL SB 69 Emgambelácio Emgambelador + Inácio IL PB 70 Empregácio Emprego + Inácio CT PB 71 Fabishow Fabi (Fabrício) + show CT SB 72 Falácio Falácia + Inácio IL PB 73 Falsiddad falsidade + Haddad IL PB 74 Feliciddad felicidade + Haddad IL PB 75 Fernandeus Fernando + deus IL SB 76 Filhácio filho + Inácio CT PB 77 Frouxo (Marcelo) Freixo + frouxo IL PF 78 Fudel (Castro) Fudeu + Fidel IL PB 79 Fuscamar fusca + Itamar (Franco) IL PB 80 Galinácio galinha + Inácio IL PB 81 Galinhasso galinha + (Bruno) Galiasso IL PB 82 Galinisteu galinha + Galisteu IL PB 83 Gerohummels Geromel + Hummels IL SB 84 Gordiola (Guto Ferreira) Gordo + Guardiola IL DB 85 Gornaldo gordo + Ronaldo IL PB 86 Gracirambo Gracy(anne Barbosa) + Rambo IL SB

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87 Groheuer (Marcelo) Grohe + Neuer IL SB 88 Haddadmaleão Haddad + camaleão CT SB 89 Imbeciro (Gomes) Imbecil + Ciro IL PB 90 Janecrete Jane (Corso) + chacrete IL SB 91 Jararaqueline Jararaca + Jaqueline IL PB 92 Jeânus Jean (Wyllys) + ânus IL SB 93 Jeguerino jegue + Severino (Cavalcanti) IL PB 94 Jessiquenga Jéssica + quenga IL SB 95 Jordayrton (Senna) Jordan + Ayrton IL SB 96 Ladruf ladrão + Maluf CT PB 97 Lazanhário lasanha + (Ronaldo) Nazário IL PB 98 Linconel (Messi) Lincon + Lionel (Messi) IL SB 99 Lixonaro lixo + Bolsonaro CT PB 100 Luanel Luan + Lionel (Messi) IL SB 101 Luciabo Luciano (Hulk) + diabo IL SB 102 Luísque Luís (Inácio da Silva) + uísque IL SB 103 Luladrão Lula + ladrão IL SB 104 Lulaminion Lula + minion CT SB 105 Lulamsés Lula + Ramsés CT SB 106 Lulanaro Lula + Bolsonaro CT PB 107 Lularápio Lula + larápio IL SB 108 Lulassonaro Lula + Bolsonaro CT DB 109 Maconhela maconha + Manoela IL PB 110 Magrina magrinha + Marina IL PB 111 Malacheia Malafaia + cheia CT SB 112 Malafala Malafaia + fala IL SB 113 Malafalha Malafaia + falha IL SB 114 Malafeia Malafaia + feia IL SB 115 Malddad maldade + Haddad IL PB 116 Malufioso Maluf + mafioso IL SB 117 Malular malufar + Lula IL DB 118 Manguácio Manguaça + Inácio IL PB 119 Marinaro Marina + Bolsonaro IL SB 120 Marinelles Marina + (Henrique) Meirelles IL PB 121 Martaxa (Marta Suplicy) Marta + taxa IL SB 122 Mastro (Fidel) mastro + Castro IL PB 123 Maxichello Max[ɪ] + Barichello IL SB 124 MenegHell Meneghel + hell IL SB 125 Mensalácio mensalão + Inácio IL PB 126 Mentirez mentira + Martinez IL PB 127 Merdonça merda + mendonça IL PB 128 Mial miau + (Pedro) Bial IL PB 129 Neymaravilha Neymar + maravilha IL SB 130 Neymorzão Neymar + amorzão IL SB 131 Oligarcia oligarquia + Garcia (Neto) IL PB 132 Paquetotti (Lucas) Paquetá + Totti IL SB 133 Parálítico Pará + paralítico IL SB 134 Pedófyllys pedófilo + Wyllys IL PB 135 Pijânio pijama + Jânio IL PB 136 Pinotche (Guevara) Pinotche + Che IL SB 137 Pinton pinto + (Bill) Clinton IL PB 138 Pogbalace Pogba + Walace IL PB

140

139 Populácio popular + Inácio IL PB 140 Rateen Ratinho + teen IL SB 141 Renêymar Renê + Neymar IL SB 142 Retarddad retardado + Haddad IL PB 143 Rhodolfrank Rhodolfo + Frank(stein) IL SB 144 Rodibrei Rodinei + "dibrei" (drible) IL SB 145 Ronalducho Ronaldo + Gorducho IL SB 146 Roskoff Rousseff + Roskoff IL PF 147 Rosquinha Rosinha + rosquinha IL PF 148 Roubasself rouba + Rousseff IL PB 149 Rouberto roubo + Roberto IL PB 150 Ruimbinho ruim + Rubinho (Barrichello) IL PB 151 Sandiabo (Valdemiro) Santiago + diabo IL SB 152 Sarnento Sarney + sarnento IL SB 153 Sashanás Sasha + satanás IL SB 154 Stalinácio [i]Stalin + Inácio IL PB 155 Valdelícia Valdelice + delícia IL SB 156 Vandeuslei Vanderlei + deus IL SB 157 Velheira (Susana) velha + Vieira IL PB 158 Velhoso velho + Veloso IL PB 159 Viajandácio viajandão + Inácio IL PB 160 Wyllixo Wyllys + lixo IL SB

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FONTE 1 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 2 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 3 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 5 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. Disponível em: . Acesso 6 em: Out. 2018. 7 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. Disponível em: . Acesso 8 em: Mai. 2018. 9 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 10 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 11 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 12 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 13 Disponível em: https://www.facebook.com/home.php. Acesso em: ago. 2018 14 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 15 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 16 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 17 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 18 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 19 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 20 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 21 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 22 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 23 Disponível em: . Acesso em: Jan. 2019.

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144

72 Assunção (2006) 73 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 74 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 75 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 76 Assunção (2006) 77 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 78 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 79 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 80 Assunção e Gonçalves (2009) 81 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 82 X Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. Disponível em: . Acesso em: Mai. 84 2018. 85 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 86 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 88 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 90 Andrade (2008) 91 Disponível em: . Acesso em: Jan. 2019. 92 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 93 Assunção (2006) 94 Disponível em: . Acesso em: Jan. 2019. 95 Conversa informal

145

96 Andrade (2008) 97 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 98 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 99 Disponível em: http://www.retrogamesbrasil.com/t34240-bolsolixo-lixonaro-fazendo-algo-daora. Acesso em: Abr. 2018 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 101 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 102 Assunção (2006) 103 Disponível em: . Acesso em: Ago. 2017 104 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 105 Assunção (2006) 106 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 107 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 108 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 109 Facebook - Linha do tempo 110 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 111 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 112 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 113 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 114 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 115 Disponível em: . Acesso em: Jan. 2019. 116 Andrade (2008) 117 Andrade (2008) 118 Assunção (2006) 119 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 120 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 121 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018.

146

122 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 123 Conversa informal 124 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 125 Assunção (2006) 126 Sandmann (1993, p. 59) 127 Assunção (2006) 128 Andrade (2008) 129 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 130 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 131 Andrade (2008) 132 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 133 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 134 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 135 Andrade (2008) 136 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 137 Andrade (2008) Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 139 Assunção (2006) 140 Andrade (2008) 141 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 142 Disponível em: . Acesso em: Jan. 2019. 143 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 144 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 145 Disponível em: . Acesso em: Jan. 2019. 146 Assunção (2006) 147 Assunção (2006)

147

148 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 149 Assunção (2006) 150 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 151 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 152 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 153 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018. 154 Assunção (2006) 155 Conversa informal 156 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 157 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 158 Assunção (2006) 159 Assunção (2006) 160 Disponível em: . Acesso em: Out. 2018.

148

ANEXO II – Shippagem

Legendas utilizadas para a categorização dos cruzamentos (TIPO): IL → Interposição Lexical CT → Combinação Truncada

NOME BASES TIPO ESTRUTURA 1 Abelena Abel + Selena (Gomes) CT Início + fim 2 Afonsalia Afonso + Amália CT Início + fim 3 Alfredisis (José) Alfredo + Isis CT Início + fim 4 Amando Amanda + Fernando IL Início + fim 5 Amason Amanda + Robson CT Início + fim 6 Andretino André + Tolentino CT Início + fim 7 Annik Ana (Paula) + Munik IL Início + fim 8 Arliza Arthur + Eliza CT Início + fim 9 Artulia Artur + Julia IL Início + fim 10 Barchie Betty + Archie IL Início + fim 11 Barken Barbie + Ken (apelidos) CT Início + fim 12 Becstin Becky + Austin CT Início + fim 13 Bejei (Isa)Bella + Jeison CT Início + início 14 Belgra Belo + Gracyanne CT Início + início 15 Belidolfo Beliza + Rodolfo CT Início + fim 16 Belívia Beto + Lívia CT Início + fim 17 Bellarke Bellamy + Clarke IL Início + fim 18 Bennifer Ben + Jennifer CT Início + fim 19 Bentriz Bento + Beatriz IL Início + fim 20 Beremy Bonnie + Jeremy CT Início + fim 21 Beward Bella + Edward CT Início + fim 22 Beyon-Z Beyoncé + Jay-Z CT Início + fim 23 Biantavo Bianca + Gustavo CT Início + fim 24 Brangelina Brad + Angelina CT Início + fim 25 Breana Breno + Ana (Clara) CT Início + início 26 Brelherme Brenda + Guilherme CT Início + fim 27 Brenara Breno + (Ana) Clara CT Início + fim 28 Bridolfo Brice + Rodolfo CT Início + fim 29 Brittana Brittany + Santana IL Início + fim 30 Bruane Bruno + Leidiane CT Início + fim 31 Brucas Brooke + Lucas IL Início + fim 32 Brugio Bruno + Giovanna CT Início + início 33 Brullian Brooke + Julian IL Início + fim 34 Brumar Bruna + Neymar IL Início + fim

149

35 Bughead Betty + Jughead CT Início + fim 36 Cabibi Caio + Bibi CT Início + fim 37 Cadolfo Catarina + Rodolfo CT Início + fim 38 Camren Camila + Lauren CT Início + fim 39 Caskett (Ricahrd) Castle + (Kate) Beckett CT Início + fim 40 Catheus Cacau (Maria Claudia) + Matheus IL Início + fim 41 Catpe Catarina + Pedro CT Início + início 42 Chamel Chay (Suede) + Melanie (Fronckowiak) CT Início + início 43 Chaverroni Chavez + (Mai) Perroni IL Início + fim 44 Ciribela Cirilo + Isabela CT Início + fim 45 Clana Clark + Lana IL Início + fim 46 Clanessa Clara + Vanessa IL Início + fim 47 Clanitta (Ana) Clara + Anitta CT Início + fim 48 Clarick Clara + Patrick IL Início + fim 49 Claruso Clara + Caruso IL Início + fim 50 Claysar Clara + Kaysar IL Início + fim 51 Clexa Clarke + Lexa CT Início + fim 52 Clois Clark + Lois CT Início + fim 53 Debóger Déborah + Roger CT Início + fim 54 Delena Demi (Lovato) + Selena (Gomez) CT Início + fim 55 Delena Damon + Elena IL Início + fim 56 Destiel Dean + Castiel CT Início + fim 57 Dezalel Deborah + Bezalel CT Início + fim 58 DiRo Diego + Roberta CT Início + início 59 Dolly Doutor (Marcos) + Emilly CT Início + fim 60 Dramione Draco + Hermione CT Início + fim 61 Drarry Draco + Harry CT Início + fim 62 Duanca Duda + Bianca CT Início + fim 63 Elisabel Elisa + Isabel IL Início + fim 64 Evarisandra Evaristo + Sandra CT Início + fim 65 Ezebel Ezequias + Izabel IL Início + fim 66 Ezria Ezra + Aria IL Início + fim 67 Falice FP + Alice CT Início + fim 68 Felena Fausto Silva + Selena Gomez CT Início + fim 69 Ferline Fernando + Aline CT Início + fim 70 Fermanda Fernando + Amanda IL Início + fim 71 Finchel Finn + Rachel CT Início + fim 72 Flacelo Flávia + Marcelo CT Início + fim 73 Frango Franciele + Diego CT Início + fim 74 Frito Franciele + Vitor CT Início + meio 75 Gamila Gabriel + Camila IL Início + fim 76 Gamo Gabriel + Moisés CT Início + início

150

77 Gesório Gerusa + Osório CT Início + fim 78 Gimila Giovanni + Camila CT Início + fim 79 Gleigner Gleici + Wagner CT Início + fim 80 Glernanda Gláucio + Fernanda CT Início + fim 81 Grauã Grazi + Cauã IL Início + fim 82 Gustanca Gustavo + Bianca CT Início + fim 83 Haleb Hanna + Caleb CT Início + fim 84 Harmione Harry Potter + Hermione Granger IL Início + fim 85 Haylor Harry Styles + Taylor Swift CT Início + fim 86 Heloel Heloísa + Daniel CT Início + fim 87 Isales Isabela + Thales IL Início + fim 88 Isarilo Isabela + Cirilo CT Início + fim 89 Izaquias Izabel + Ezequias IL Início + fim 90 Jailey Justin (Bieber) + Hailey (Baldwin) CT Início + fim 91 Jasiper Jason + Piper CT Início + fim 92 Jaurello Jauregui + Cabello (sobrenomes) IL Início + fim 93 Jayoncé Jay + Beyoncé IL Início + fim 94 Jelena Justin (Bieber) + Selena (Gomez) CT Início + fim 95 JeLu Jéssica + Lucas CT Início + início 96 Jemerson Jéssica + Emerson IL Início + fim 97 Jeyzeca Jeiza + Zeca IL Início + fim 98 Johnlock John (Watson) + Sherlock CT Início + fim 99 Jolari João + Larissa CT Início + início 100 Joliza Jonatas + Eliza CT Início + fim 101 Jorena João + Lorena IL Início + fim 102 Joshelle Josh + Michele IL Início + fim 103 JuCa Juju + Zeca CT Início + fim 104 Judrigo Juliana + Rodrigo CT Início + fim 105 Jullipe Juliana + Fellipe IL Início + fim 106 Junick Juliana + Nick (Nicolas) CT Início + fim 107 Junik Juliano (Laham) + Munik IL Início + fim 108 Justney Justin (Timberlake) + Britney (Spears) IL Início + fim 109 Kamieser Kamilla + Elieser IL Início + fim 110 Karamel Kara + Mon-el CT Início+extremidades 111 Kayssica Kayser + Jéssica CT Início + fim 112 Kelana Kelson + Tatiana CT Início + fim 113 Kimie Kim (Kardashian) + Kanye (West) CT Início + fim 114 Klaine Kurt + Blaine CT Início + fim 115 Klamille Klaus + Camille IL Início + fim 116 Klaroline Klaus + Caroline CT Início + fim 117 Klaysar (Ana) Clara + Kaysar IL Início + fim 118 Klemila Klebber (Toledo) + Camila (Queiroz) CT Início + fim

151

119 Lanzotto Lanza + Salotto (sobrenomes) CT Início + fim 120 Larry Louis + Harry CT Início + fim 121 Lauríque Laura + Caíque CT Início + fim 122 Laylor Laura + Taylor CT Início + fim 123 Lexana Lex + Lana CT Início + fim 124 Leyton Lucas + Peyton CT Início + fim 125 Livipe Lívia + Felipe IL Início + fim 126 Lovi Lorrana + Vinícius CT Início + início 127 Luade Luan Santana + Jade Magalhães CT Início + fim 128 LuAr Lua + Arthur CT Início + início 129 Ludrigo Luciana + Rodrigo CT Início + fim 130 Mafeu Mafalda + Romeu CT Início + fim 131 MaJo Manuela + Joaquim CT Início + início 132 Mally Marcos + Emilly CT Início + fim 133 Marchelle Marcela + Michelle IL Início + fim 134 Mariben Marizete + Benjamin CT Início + início 135 Marilex Maria + Alex CT Início + fim 136 Marisco Mariane + Francisco IL Início + fim 137 MauNam Maura + Ionam CT Início + fim 138 MaVi Manoel + Vivian CT Início + início 139 Mayhashi Mayara + (Felipe) Hashimoto CT Início + início 140 MaZé Mafalda + Zé CT Início + fim 141 Meliz Mel + Liz CT Início + fim 142 MerDer Meredith + Derek CT Início + início 143 Miam Miley (Cyrus) + Liam (Hemsworth) IL Início + fim 144 Michewell Michele + Wellington CT Início + início 145 Mondler Monica + Chandler CT Início + fim 146 Mosh Michele + Josh IL Início + fim 147 Naley Nathan + Haley IL Início + fim 148 Nalu Natsu + Lucy CT Início + início 149 Nanlipe Nanda + Filipe CT Início + fim 150 Narry Niall + Harry CT Início + fim 151 NaruHina Naruto + Hinata CT Início + início 152 Narusuke Naruto + Sasuke CT Início + fim 153 Neymarquezine Neymar + Marquezine IL Início + fim 154 Neymessi Neymar + Messi IL Início + fim 155 Nikon Nicole + Akon IL Início + fim 156 Niley Nick (Jonas) + Miley (Cyrus) CT Início + fim 157 Nopau Breno + Paula CT Fim + início 158 Olicity Oliver + Felicity IL Início + fim 159 Oliguel Olívia + Miguel IL Início + fim 160 Paugner Paula + Wagner CT Início + fim

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161 Pauniel (Ana) Paula + Daniel CT Início + fim 162 Pauruso Paula + Caruso CT Início + fim 163 Paussica Paula + Jessica CT Início + fim 164 Pelice Pedro + Alice CT Início + fim 165 Peloísa Pedro + Heloísa IL Início + fim 166 Percabeth Percy Jackson + Annabeth Chase CT Início + fim 167 Perina Pedro + Karina IL Início + fim 168 Peromar Pérola + Márcio CT Início + início 169 Petniss Peeta (Mellark) + Katniss (Everdeen) CT Início + fim 170 Petrolfo Petrônio + Rodolfo IL Início + fim 171 Ponny Poncho Herrera + Anny (Anahi) CT Início + fim 172 Renik Renan + Munik IL Início + fim 173 Rizzles Rizzoli + Isles CT Início + fim 174 Robsten Robert (Pattinson) + Kristen (Stewart) CT Início + fim 175 Romena Romero + Atena IL Início + fim 176 Samurocas Samuel + Marocas CT Início + fim 177 Samygor Sâms + Ygor IL Início + fim 178 Sandrevaristo Sandra + Evaristo CT Início + fim 179 Sasusaku Sasuke + Sakura CT Início + início 180 Scallison Scott + Allison CT Início + fim 181 Semi Selena (Gomes) + Demi (Lovato) CT Início + fim 182 Shailey Shawn + Hailey CT Início + fim 183 Shamy Sheldon + Amy CT Início + fim 184 Shirlipe Shirlei + Felipe IL Início + fim 185 Somic Sophia (Abrahão) + Micael (Borges) CT Início + início 186 Spoby Spencer + Toby CT Início + fim 187 Steferine Stefan + Katherine IL Início + fim 188 Stelena Stefan + Elena CT Início + fim 189 Sterek Stiles + Derek CT Início + fim 190 Stucky Steve + Bucky CT Início + fim 191 Stydia Styles + Lydia CT Início + fim 192 Stylinson Styles + Tomlinson (sobrenomes) IL Início + fim 193 Susan Susana + Sandro CT Início + início 194 Suzércio Suzi + Tércio CT Início + fim 195 Tadrilles Tamires + Adrilles IL Início + fim 196 Talicks Talita + (Rafael) Licks IL Início + fim 197 Tatelson Tatiana + Kelson CT Início + fim 198 TayTay Taylor + Taylor CT Início + início 199 Thiara Thiago + Sara IL Início + fim 200 Tocar Tomás + Carla CT Início + início 201 Tralliane (Cesar) Tralli + Ticiane (Pinheiro) IL Início + fim 202 Troyella Troy + Gabriella CT Início + fim

153

203 Valdemario Valdineia + Romário CT Início + fim 204 Vashley Vanessa (Hudgens) + Ashley (Tisdale) CT Início + fim 205 Vaustin Vanessa (Hudgens) + Austin (Buttler) IL Início + fim 206 Viihlu Viih + Luis CT Início + início 207 Viviada Vivi + Radamés CT Início + meio 208 Vondy Von + Candy (Dulce Maria e Christopher) CT Início + fim 209 Wellmiche Wellington + Michele CT Início + início 210 Zanessa Zac (Efron) + Vanessa (Hudgens) CT Início + fim 211 Ziam Zayn + Liam IL Início + fim 212 Zigi Zayn + Gigi Hadid CT Início + fim

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FONTE Disponível em: . Acesso em: Nov. 2017. Disponível em: . Acesso em: Dez. 2018. Disponível em: . Acesso em: Nov. 2017. Disponível em: 5 . Acesso em: Jun. 2018. Disponível em: . Acesso em: Jan. 2019. Disponível em: . Acesso em: Dez. 2018. Diposnível em: . Acesso em: Mai. 2018. Disponível em: . 9 Acesso em: Jan. 2019. Disponível em: . Acesso 10 em: Jan. 2019. 11 Disponível em: . Acesso em: Dez. 2018. 12 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. Disponível em: 13 . Acesso em: Jun. 2018. Disponível em: 14 . Acesso em: Jan. 2019. Disponível em: . Acesso 15 em: Mai. 2018. 16 Disponível em: . Acesso em: Jan. 2019.

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36 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. Disponível em: . Acesso 37 em: Mai. 2018. Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 39 Disponível em: . Acesso em: Dez. 2018. 40 Disponível em: . Acesso em: Dez. 2018. Disponível em: . Acesso em: Dez. 41 2018. 42 Disponível em: . Acesso em: Dez. 2018. 43 Disponível em: . Acesso em: Dez. 2018. Disponível em: 44 https://www.facebook.com/buscape/videos/10155986654657182/?comment_id=10155988429632182¬if_id=1528817271193995&n otif_t=comment_mention&ref=notif. Acesso em: Jun. 2018. Disponível em: . 45 Acesso em: Dez. 2018. Disponível em: . 46 Acesso em: Mai. 2018. Disponível em: . Acesso em: Dez. 2018. 48 Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. Disponível em: . Acesso em: Mai. 2018. 52 Disponível em: . Acesso em: Dez. 2018. Disponível em: 53 . Acesso em: Jan. 2019.

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165

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ANEXO III – Nome de batismo

Legendas utilizadas para a categorização dos cruzamentos (TIPO): IL → Interposição Lexical CT → Combinação Truncada

NOME BASES TIPO ESTRUTURA 1 Adeli Adélcio + Sueli CT Início + fim 2 Adriara Adriano + Clara CT Início + fim 3 Adrilo Adriana + Paulo CT Início + fim 4 Aguimar Aguinaldo + Maria CT Início + início 5 Alair Alaíde + Jair IL Início + fim 6 Alcelo Alyne + Marcelo CT Início + fim 7 Aldelite Aldemar + Elite IL Início + fim 8 Aleago Alessandra + Tiago CT Início + fim 9 Alexana Alexandra + Daiana IL Início + fim 10 Aliandro Aline + Leandro CT Início + fim 11 Alidre Aline + André CT Início + fim 12 Alidre Aline + Alexandre CT Início + fim 13 Alinardo Aline + Leonardo IL Início + fim 14 Alixan Aline + Alexandre IL Início + início 15 Alubora Aluízio + Débora CT Início + fim 16 Amagina Amadeu + Regina CT Início + fim 17 Amailson Amanda + Vailson CT Início + fim 18 Analimar Anália + Martinho CT Início + início 19 Anamei Ana + Sitmei CT Início + fim 20 Anão Angel + João CT Início + fim 21 Andaldo Andreia + Ronaldo CT Início + fim 22 Andesley Anderson + Nasley CT Início + fim 23 Andiana Anderson + Juliana CT Início + fim 24 Andrean Andréa + Juan CT Início + fim 25 Andrelina André + Carolina CT Início + fim 26 Andrila André + Sheila CT Início + fim 27 Antoly Antônio + Rosely CT Início + fim 28 Antoniela Antônio + Manuela CT Início + fim 29 Arcângela Arcanjo + Ângela IL Início + início 30 Arilo Aline + Murilo CT Início + fim 31 Augusthia Augusto + Cynthia IL Início + fim 32 Aurimundo Aurineide + Raimundo CT Início + fim 33 Basmila Bastian + Camila CT Início + fim 34 Bastila Bastian + Camila IL Início + fim

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35 Bervan Berton + Vania CT Início + início 36 Bremila Breno + Samila CT Início + fim 37 Bruane Bruno + Cristiane CT Início + fim 38 Bruriana Bruno + Mariana CT Início + fim 39 Cachel Camila + Michel CT Início + fim 40 Cadré Carolina + André CT Início + fim 41 Carmaria Carmem + Maria IL Início + início 42 Carolardo Caroline + Leonardo CT Início + fim 43 Carolicio Carolina + Fabrício IL Início + fim 44 Castian Camila + Bastian IL Início + fim 45 Celsiane Celso + Tathiane CT Início + fim 46 Celyne Marcelo + Alyne IL Fim + fim 47 Cesela César + Pâmela CT Início + fim 48 Cilael Priscila + Rafael IL Fim + fim 49 Cirson Cinara + Jefferson CT Início + fim 50 Clariano Clara + Adriano CT Início + fim 51 Clariedro Clarissa + Pedro CT Início + fim 52 Claudelina Claudemir + Carolina CT Início + fim 53 Claudevane Claudemar + Vanessa CT Início + início 54 Claudionor Cláudio + Leonor IL Início + fim 55 Cleosvaldo Cleonice + Osvaldo IL Início + início 56 Crislene Cristiano + Marlene CT Início + fim 57 Daguisué Daguialine + Josué CT Início + fim 58 Dailu Daianne + Lucas CT Início + início 59 Damielena Damião + Helena CT Início + fim 60 Déluízio Débora + Aluízio CT Início + fim 61 Derran Débora + Lorran CT Início + fim 62 Dibiano Diones + Fabiana CT Início + fim 63 Dolorene Dolores + Marlene CT Início + fim 64 Douna Douglas + Janaína CT Início + fim 65 Dudardo Duda + Leonardo IL Início + fim 66 Edigênio Edite + Eugênio CT Início + fim 67 Edilange Edison + Solange CT Início + fim 68 Eduana Eduardo + Mariana CT Início + fim 69 Eduarlene Eduardo + Darlene IL Início + fim 70 Edunardo Eduarda + Leonardo IL Início + fim 71 Eliando Elisa + Fernando CT Início + fim 72 Eliedson Eliane + Edson CT Início + início 73 Elismar Elis + Márcio CT Início + início 74 Elizandra Elizeu + Sandra CT Início + fim 75 Elizelma Elias + Zelma CT Início + início 76 Eminuel Emília + Emanuel IL Início + fim

168

77 Emmamin Emmanuel + Yasmin CT Início + fim 78 Endriele Henrique + Adriele CT Início + fim 79 Erlice Ernesto + Alice CT Início + fim 80 Eulana Eulália + Ana (avós) CT Início + início 81 Euriso Eurides + Solange CT Início + início 82 Evandrila Evandro + Priscila CT Início + fim 83 Fabines Fabiana + Diones CT Início + fim 84 Fabrilina Fabrício + Carolina CT Início + fim 85 Faela Rafael + Priscila CT Fim + fim 86 Farla Fábio + Karla IL Início + fim 87 Fedrigo Fernanda + Rodrigo CT Início + fim 88 Felisa Fernando + Elisa IL Início + início 89 Fercisca Fernanda + Francisco CT Início + fim 90 Ferdinei Fernanda + Rudinei CT Início + fim 91 Fernanline Fernando + Aline CT Início + fim 92 Fernaula Fernando + Paula CT Início + fim 93 Flaberto Flávia + Gilberto CT Início + fim 94 Florduardo Flor + Eduardo CT Início + fim 95 Franando Francisco + Fernanda CT Início + fim 96 Franciberto Francine + Gilberto CT Início + fim 97 Francinanda Francisco + Fernanda CT Início + fim 98 Francisquelly Francisco + Quelly IL Início + início 99 Gabricelo Gabriela + Marcelo CT Início + fim 100 Geljo Angel + João CT Fim + início 101 Gilbercine Gilberto + Francine CT Início + fim 102 Gilnete Gilberto + Marienete CT Início + fim 103 Gilvia Gilberto + Flávia CT Início + fim 104 Guiliana Guilherme + Juliana CT Início + fim 105 Guslya Gustavo + Jullya CT Início + fim 106 Gusmira Gustavo + Almira CT Início + fim 107 Henribrina Henrique + Sabrina CT Início + fim 108 Hitarol Hitalo + Carol IL Início + fim 109 Hugline Hugo + Jaqueline CT Início + fim 110 Isadro Isabela + Pedro CT Início + fim 111 Isalberto Isabel + Alberto IL Início + início 112 Isape Isabela + Pedro CT Início + início 113 Isaria Isaque + Vitória CT Início + fim 114 Ivedro Ivana + Pedro CT Início + fim 115 Ivoneide Ivone + Neide IL Início + início 116 Ivonice Ivo + Genice CT Início + fim 117 Izaley Izaias + Shirlei CT Início + fim 118 Jael Jéssica + Rafael CT Início + fim

169

119 Jaiane Jairo + Cassiane CT Início + fim 120 Jaíde Jair + Alaíde IL Início + fim 121 Janeão Jane + João CT Início + fim 122 Janiel Jaqueline + Daniel CT Início + fim 123 Jaqgo Jaqueline + Hugo CT Início + fim 124 Jaquinato Jaquiele + Renato CT Início + fim 125 Jecina Jefferson + Cinara CT Início + início 126 Jefferlita Jefferson + Thalita CT Início + fim 127 Jessiel Jéssica + Rafael CT Início + fim 128 Jhennardo Jhennifer + Leonardo IL Início + fim 129 Joci Jorge + Luci CT Início + fim 130 Joleny João + Marlene CT Início + fim 131 Jomar João + Maria CT Início + início 132 Josenara José + Dinara CT Início + fim 133 Josuline Josué + Daguialine CT Início + fim 134 Joticia João + Letícia CT Início + fim 135 Jucélia Júlia + Célia CT Início + início 136 Juis Júnior + Thais CT Início + fim 137 Julerson Juliana + Anderson CT Início + fim 138 Juliarcio Juliana + Márcio CT Início + fim 139 Julierme Juliana + Guilherme CT Início + fim 140 Juliquel Juliano + Raquel CT Início + fim 141 Junirla Júnior + Marla CT Início + fim 142 Kárbio Karla + Fábio IL Início + fim 143 Karinaldo Karine + Ronaldo IL Início + fim 144 Karlene Carlos + Marilene IL Início + fim 145 Keltisa Kelton + Marisa CT Início + fim 146 Laerpa Laerte + Filipa CT Início + fim 147 Lalipa Laerte + Filipa CT Início + fim 148 Laulo Laura + Paulo IL Início + fim 149 Leandrine Leandro + Aline CT Início + fim 150 Leidiane Leomar + Lidiane CT Início + fim 151 Leoduarda Leonardo + Eduarda IL Início + fim 152 Leoline Leonardo + Caroline CT Início + fim 153 Leonnifer Leonardo + Jhennifer IL Início + fim 154 Letial Leticia + Allan CT Início + início 155 Liander Lidia + Anderson CT Início + início 156 Lobora Lorran + Débora CT Início + fim 157 Lucireny Lucia + Irene(y) IL Início + início 158 Lucitelma Lucia + Telma CT Início + início 159 Ludai Lucas + Daianne CT Início + início 160 Luéria Luís + Valéria CT Início + fim

170

161 Luge Luci + Jorge CT Início + fim 162 Luizna Luiza + Natan CT Início + início 163 Lunat Ludmila + Nathan CT Início + início 164 Maberta Marcelo + Roberta CT Início + fim 165 Maíres Mar + (arco) íris CT Início + início 166 Malena Maria (Rita) + Elena CT Início + fim 167 Marceleuza Marcela + Neuza CT Início + fim 168 Marcélia Mário + Célia CT Início + início 169 Marcila Marcelo + Priscila CT Início + fim 170 Marciliana Márcio + Juliana CT Início + fim 171 Marcir Marla + Moacir CT Início + fim 172 Marcivânia Marcia + Vânia CT Início + início 173 Marcotônio Marco + Antônio CT Início + fim 174 Mareldon Marina + Ueldom CT Início + fim 175 Marelis Márcio + Elis CT Início + início 176 Marelisa Osmar + Elisa CT Fim + início 177 Mariel Maria + Ariel IL Início + início 178 Marielza Mariel + Elza IL Início + início 179 Marilton Marisa + Kelton CT Início + fim 180 Marinardo Mariana + Eduardo CT Início + fim 181 Marinice Mário +Eunice CT Início + fim 182 Marion Mariana + Helton CT Início + fim 183 Mariuno Mariana + Bruno CT Início + fim 184 Marlenores Marlene + Dolores CT Início + fim 185 Marlior Marla + Júnior CT Início + fim 186 Marlo Marcela + Paulo CT Início + fim 187 Marmundo Marlene + Raimundo CT Início + fim 188 Marsa Marcos + Samantha CT Início + início 189 Mart’nália Martinho + Anália CT Início + fim 190 Maruardo Mariana + Eduardo CT Início + fim 191 Mathisa Matheus + Thaísa CT Início + fim 192 Maulo Maria + Paulo IL Início + fim 193 Milael Camila + Michel CT Fim + fim 194 Milange Milton + Solange CT Início + fim 195 Misol Milton + Solange CT Início + início 196 Muline Murilo + Aline CT Início + fim 197 Nafael Nathália + Rafael IL Início + fim 198 Naslerson Nasley + Anderson IL Início + fim 199 Nathalissa Nathalia + Lissa IL Início + início 200 Natlu Nathan + Ludmila CT Início + início 201 Nelvanda Nelson + Vanda CT Início + início 202 Neuci Neuza + Euci IL Início + início

171

203 Nicevo Genice + Ivo CT Fim + início 204 Oscelo Osvaldina + Marcelo IL Início + fim 205 Ozilaine Ozias + Elaine CT Início + fim 206 Pâmesar Pâmela + César CT Início + fim 207 Paucela Paulo + Marcela CT Início + fim 208 Paulando Paula + Fernando CT Início + fim 209 Pauliana Paulo + Adriana CT Início + fim 210 Paulicia Paulo + Letícia CT Início + fim 211 Paura Paulo + Laura IL Início + fim 212 Pedrana Pedro + Ivana CT Início + fim 213 Pedrissa Pedro + Clarissa CT Início + fim 214 Peisa Pedro + Isabela CT Início + início 215 Penia Pedro + Tânia CT Início + fim 216 Peta Pedro + Tânia CT Início + início 217 Priscelo Priscila + Marcelo CT Início + fim 218 Priscilandro Priscila + Evandro CT Início + fim 219 Prisra Priscila + Rafael CT Início + início 220 Rafica Rafael + Jéssica CT Início + fim 221 Railene Raimundo + Marlene CT Início + fim 222 Raineide Raimundo + Aurineide CT Início + fim 223 Ramanda Ramon + Amanda IL Início + início 224 Rapris Rafael + Priscila CT Início + início 225 Raquiano Raquel + Juliano CT Início + fim 226 Rathalia Rafael + Nathália IL Início + fim 227 Regineu Regina + Amadeu CT Início + fim 228 Relena (Maria) Rita + Elena CT Início + início 229 Reniele Renato + Jaquiele CT Início + fim 230 Ricamarta Ricardo + Marta CT Início + início 231 Roberlo Roberta + Marcelo IL Início + fim 232 Rodrinanda Rodrigo + Fernanda CT Início + fim 233 Roneia Ronaldo + Andreia CT Início + fim 234 Rorine Ronaldo + Karine CT Início + fim 235 Rosean Rosely + Antônio CT Início + início 236 Rosênio Rosely + Antônio CT Início + fim 237 Sabririque Sabrina + Henrique CT Início + fim 238 Samino Samila + Breno CT Início + fim 239 Sheidré Sheila + André CT Início + fim 240 Shirlias Shirlei + Izaias CT Início + fim 241 Silton Solange + Milton CT Início + fim 242 Sitmana Sitmei + Ana CT Início + início 243 Solandes Solange + Eurides CT Início + fim 244 Suélcio Sueli + Adélcio CT Início + fim

172

245 Suzângela Suzana(e) + Ângela IL Início + início 246 Tadro Tânia + Pedro CT Início + fim 247 Tape Tânia + Pedro CT Início + início 248 Thaju Thais + Júnior CT Início + início 249 Thalerson Thalita + Jefferson CT Início + fim 250 Thamar Samantha + Marcos CT Fim + início 251 Thatheus Thaísa + Matheus IL Início + fim 252 Thiara Thiago + Clara IL Início + fim 253 Tissandra Tiago + Alessandra CT Início + fim 254 TonSol Milton + Solange CT Fim + início 255 Ueldrina Ueldom + Marina CT Início + fim 256 Valine Vagner + Aline IL Início + início 257 Valu Valéria + Luís CT Início + início 258 Vamanda Vailson + Amanda IL Início + início 259 Vanderci Vanderlei + Cilene CT Início + início 260 Vanilde Valter + Leonilde CT Início + fim 261 Vitóque Vitória + Isaque CT Início + fim 262 Zatan Luiza + Natan IL Início + fim 263 Ziraldo Zizinha + Geraldo CT Início + fim

173

FONTE 1 Obata (1986) 2 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 3 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 4 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 5 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 6 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 8 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 9 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 10 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 11 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 12 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 13 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 14 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 15 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 16 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 17 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 18 Simões Neto e Rodrigues (2017) 19 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 20 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 21 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 22 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 23 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 24 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 25 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019.

174

26 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 27 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 28 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 29 Oralidade 30 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 31 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 32 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 33 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 34 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 35 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 36 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 37 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 38 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 39 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 40 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 41 Oralidade 42 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 43 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 44 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 45 Oralidade 46 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 47 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 48 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 49 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 50 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 51 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019.

175

52 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 53 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 54 Obata (1986) 55 Oralidade 56 Oralidade 57 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 58 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 59 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 60 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 61 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 62 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 63 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 64 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 65 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 66 Obata (1986) 67 Oralidade 68 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 69 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 70 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 71 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 72 Oralidade 73 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 74 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 75 Oralidade 76 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 77 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019.

176

78 Oralidade 79 Obata (1986) Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 81 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 82 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 83 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 84 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 85 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 86 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 87 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 88 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 89 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 90 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 91 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 92 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 93 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 94 Sandmann (1993, p. 60) 95 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 96 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 97 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 98 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 99 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 100 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 101 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 102 Oralidade 103 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019.

177

104 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 105 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 106 Obata (1986) 107 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 108 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 109 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 110 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 111 Oralidade 112 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 113 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 114 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 115 Oralidade 116 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 117 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 118 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 119 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 120 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 121 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 122 Oralidade 123 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 124 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 125 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 126 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 127 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 128 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 129 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019.

178

130 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 131 Obata (1986) 132 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 133 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 134 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 135 Oralidade 136 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 137 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 138 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 139 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 140 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 141 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 142 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 143 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 144 Oralidade 145 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 146 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 147 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 148 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 149 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 150 Oralidade 151 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 152 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 153 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 154 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 155 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019.

179

156 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 157 Oralidade 158 Oralidade 159 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 160 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 161 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 162 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 163 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 164 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 165 Oralidade 166 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 167 Oralidade 168 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 169 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 170 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 171 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 172 Oralidade 173 Oralidade 174 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 175 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 176 Oralidade 177 Obata (1986) 178 Obata (1986) 179 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 180 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 181 Sandmann (1993, p. 60)

180

182 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 183 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 184 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 185 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 186 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 187 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 188 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 189 Simões Neto e Rodrigues (2017) 190 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 191 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 192 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 193 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 194 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 195 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 196 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 197 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 198 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 199 Oralidade 200 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 201 Oralidade 202 Oralidade 203 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 204 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 205 Oralidade 206 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 207 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019.

181

208 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 209 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 210 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 211 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 212 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 213 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 214 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 215 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 216 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 217 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 218 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 219 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 220 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 221 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 222 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 223 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 224 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 225 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 226 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 227 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 228 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 229 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 230 Oralidade 231 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 232 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 233 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019.

182

234 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 235 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 236 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 237 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 238 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 239 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 240 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 241 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 242 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 243 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 244 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 245 Oralidade 246 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 247 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 248 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 249 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 250 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 251 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 252 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 253 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 254 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 255 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 256 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 257 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 258 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 259 Obata (1986)

183

260 Oralidade 261 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 262 Disponível em: . Acesso em Jan. 2019. 263 Obata (1986)

184

ANEXO IV – Oniônimos de bases antroponímicas

Legendas utilizadas para a categorização dos cruzamentos (TIPO): IL → Interposição Lexical

NOME BASE TIPO 1 Paulufusos Paulo + parafusos IL 2 Veterimário veterinário + Mário IL

FONTE

Disponível em: . Acesso em: Set. 2018.

Disponível em: . Acesso em: Set. 2018.