Música E Imagem Na Representação Do Sertão No Cinema Brasileiro Recente

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Música E Imagem Na Representação Do Sertão No Cinema Brasileiro Recente UnB - UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO TRILHAS DO SERTÃO: MÚSICA E IMAGEM NA REPRESENTAÇÃO DO SERTÃO NO CINEMA BRASILEIRO RECENTE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DÉCIO GORINI ORIENTADOR: PROF. DR. DENILSON LOPES GORINI, Décio Trilhas do Sertão: música e imagem na representação do sertão no cinema brasileiro recente. Universidade de Brasília, 2004. 149p. Dissertação (Mestrado em Comunicação) Universidade de Brasília. 2004. Palavras-Chave: 1. Sertão. 2. Cinema brasileiro. 3. Trilha sonora. I. Título. CDU “TRILHAS DO SERTÃO: MÚSICA E IMAGEM NA REPRESENTAÇÃO DO SERTÃO NO CINEMA BRASILEIRO RECENTE.’’ Décio Gorini COMISSÃO EXAMINADORA Membros Titulares Professor Doutor Denilson Lopes - Presidente Faculdade de Comunicação Universidade de Brasília Professora Doutora Dácia Ibiapina Professora Doutora Mércia Pinto Faculdade de Comunicação Departamento de Música Universidade de Brasília Universidade de Brasília Membro Suplente Professor Doutor David Pennington Faculdade de Comunicação Universidade de Brasília Dissertação de mestrado defendida e aprovada em 29/07/2004 pela presente Comissão Examinadora como requisito para conclusão do curso de Mestrado em Comunicação. Universidade de Brasília Brasília - DF BRASIL 2004 SUMÁRIO CAPÍTULO 1 1.1 Introdução 1 1.2 A importância da música na história do cinema 3 1.3 A música e seu papel no filme 4 1.4 A interação entre linguagem musical e cinematográfica 7 1.5 Ouvir, escutar, entender, compreender 8 1.6 Como significamos a música e como a significamos no cinema 10 1.7 Novos sentidos para velhos sons 13 CAPÍTULO 2 2.1 Imagens e sons do sertão: gênero cangaço e Cinema Novo 18 2.2 Trilhas do sertão: a imagem e a música 20 2.3 O novo cinema e o Cinema Novo 23 2.4 Corpus 35 2.5 Metodologia 37 2.6 Central do Brasil 45 2.6.1 A música e a imagem 47 2.6.2 O filme e a trilha 52 2.7 Baile Perfumado 70 2.7.1 A referência musical 72 2.7.2 Música diegética e não-diegética 78 2.7.3 Os sertões: musical e cinematográfico 85 2.7.4 Cânion do São Francisco/ Lampião no Raso da Catarina 90 iv 2.8 Abril Despedaçado 98 2.8.1 A imagem e a música 99 2.8.2 Os temas e sua disposição no filme 105 2.8.2.1 A Roda 106 2.8.2.2 O Circo (A Corda, O Balanço, O Mar) 110 2.8.3 Os outros temas 124 2.8.3.1 A Noite 124 2.8.3.2 O Sexo 128 2.8.3.3 A Carroça 130 CAPÍTULO 3 3.1 Conclusão 133 3.2 Referências Bibliográficas 140 3.3 Fichas técnicas dos filmes analisados ou usados como contraponto 146 3.4 Referências discográficas 148 3.5 índice dos exemplos musicais 149 v AGRADECIMENTOS Agradeço a meus pais por tudo que me proporcionaram e pelo exemplo de honestidade e trabalho. Agradeço a minha esposa Mariana pelo apoio sempre fiel e pelo amor e otimismo que lhe brotam de cada gesto. Agradeço a Jane e Henrique Lenzi pelo estímulo e entusiasmo com que conseguiram me contagiar. Agradeço a Denilson Lopes pela paciência e motivação. Menciono a contribuição de Antônio Pinto e, principalmente, Ed Cortes, por me enviar cópias das partes orquestrais de “Abril Despedaçado”. Dedico este trabalho a Sofia, minha filha amada, fonte de risos e pureza. RESUMO Este trabalho tem como principais objetivos analisar o intercâmbio de sentido entre música e imagem no âmbito do cinema narrativo e, de modo mais específico, examinar como isto se dá em determinada parcela da produção cinematográfica recente que se debruça sobre a temática do sertão. Herdada inicialmente da literatura, desdobra-se desde os primórdios do cinema no Brasil uma tendência em se discutir a identidade nacional a partir da perspectiva rural, da periferia para o centro. Neste sentido, a representação cinematográfica do sertão tem se deslocado em direção a uma abordagem alegórica, ou seja, do sertão como terreno simbólico. A música, enquanto integrante da linguagem cinematográfica, participa, portanto, de maneira discreta mas efetiva, deste processo de representação de um sertão cinematográfico, sertão enquanto instância privilegiada para a discussão, no âmbito do cinema, dos problemas nacionais. ABSTRACT The main objectives of this study are the analysis of the parameters shared between music and image in the narrative cinema, and the understanding of how this takes part in a especific type of the Brazilian recent cinematographic production, the one that leads with, and pictures, the sertão. With its first origins in the literature, the growing of a tendency of discussing the national identity based on the rural perspective has taKen part of the Brazilian cinema as well. Thus, the cinematographic representation of the sertão is toward an allegoric approach, in other words, as a symbolic environment. Further more the music, as part of the cinematographic communication, participates discretely, though efFectively, of this process of representing a cinematographic sertão, that is, the sertão as a perfect stage for the discussion of the national problems. CAPÍTULO 1 1.1 Introdução Após alguns anos de dificuldades em virtude de políticas de financiamento inibidoras para a atividade audiovisual, o final da década de 1990 foi um momento de retomada da produção cinematográfica brasileira e, em especial, de filmes envolvidos com a temática nordestina. Apesar de ter estado pouco presente ao longo dos anos 1980, o olhar sobre essa região tem sido, ao longo dos últimos cinqüenta anos, enfoque privilegiado para a construção de uma identidade nacional centrada no debate de nossos problemas sociais e na “descoberta”1 das paisagens visuais e sonoras de nosso país. Considerando, pois, a música como elemento fundamental da narrativa cinematográfica e o cinema como contexto privilegiado para a codificação de estruturas musicais, este estudo visa compreender determinados aspectos na representação do sertão em nossa cinematografia recente a partir de análise da interação entre trilha musical e narrativa cinematográfica2. A partir das análises de Baile Perfumado (Paulo Caldas, Lírio Ferreira, 1997), Central do Brasil (Walter Salles, 1998) e Abril Despedaçado (Walter Salles, 2001) - pretendemos compreender as contribuições de cada filme em suas relações intertextuais entre si e com as demais produções contemporâneas3 no sentido de identificar as peculiaridades de cada um que, supomos inicialmente, se complementam de alguma forma. Representações audiovisuais do sertão já consagradas como O Cangaceiro (Lima Barreto, 1953), Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha, 1964), Os Fuzis (Ruy Guerra, 1964) entre outras serão discutidas como dados de contraponto. Enquanto tal serão ressaltadas semelhanças e diferenças, entre os filmes citados, nas transformações ocorridas nas representações visuais e musicais do universo simbólico sertanejo. 1 “...expressão que não é um exagero se lembrada a escassez de imagens de certas regiões do país na época [1950-60] ” XAVIER, Ismail. O cinema brasileiro moderno. São Paulo: Paz e Terra. 2001, p. 28. 2 A música já está sendo considerada como integrante da narrativa de modo que salientamos que a produção de sentido para estruturas musicais no âmbito do filme (quando estas são fruídas como trilha musical) nutre uma relação de intercâmbio com estruturas semelhantes significadas a partir de outros contextos. 3 Por exemplo: Eu, tu, eles; Auto da compadecida, Guerra de Canudos, Caminho das Nuvens, entre outros que abordem temática semelhante. 1 Entretanto, não podemos considerar como isoladas imagens e música, pois assumimos aqui que, ao fruirmos qualquer produto audiovisual (incluindo o cinema), o fazemos atendendo a uma coerência perceptiva global4, em que todos os sentidos corporais se complementam de forma simultânea e coerente. Utilizamos para tanto a idéia de audiovisão desenvolvida por Michel Chion, ou seja, no âmbito dos meios audiovisuais, imagens e sons são significados conjunta e indissociavelmente, de forma que as imagens têm seu sentido complementado pelos sons5 (em nosso caso especificamente a música) e, embora Chion não explore esse viés, a trilha sonora6 é também significada sob influência da narrativa imagética. O trabalho de análise dos filmes será realizado, portanto, enfocando este último aspecto. Assim, estabelecido um repertório de associações visuais/musicais que tem implicações na codificação tanto de estruturas musicais como audiovisuais, pode-se, a partir da análise do corpus em questão, confrontar diferentes transformações nos campos musical e imagético. Estas servirão de base para a discussão da hipótese de que narrativas cinematográficas têm participado ativamente na codificação e renovação de estéticas musicais relacionadas intertextualmente dentro de uma perspectiva de acumulação histórica de significados audiovisuais. Indagamos também se as trilhas não poderiam de certo modo realizar o trajeto inverso e renovar códigos áudio/visuais consagrados. Perguntamos então: de que modo as linguagens musical e cinematográfica têm se amalgamado na representação audiovisual do sertão7 em filmes nacionais do final da década de 1990? 4 RODRÍGUEZ, Angel. La dimension sonora dei lenguaje audiovisual. Barcelona: Paidós, 1998. p.210-211. 5 Idéia desenvolvida por Chion no conceito de valor agregado: o sentido “extra” que um som acrescenta a uma imagem. Ver CHION, Michel. La Audio-vision. Barcelona: Paidós, 1998, p. 16. 6 Serão utilizados os termos trilha, trilha sonora, trilha musical, partitura e música original de/para cinema como se referindo a uma mesma coisa, ou seja, como à música composta ou utilizada nos filmes. Isto faz-se necessário, pois, em primeira instância, trilha sonora englobaria todo o som do filme: ruídos, diálogos, narração, música, etc. Ver CHION, Michel. loc. cit. 7 De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001: 2558), temos quatro significados semelhantes para a palavra: 1. região agreste afastada dos núcleos urbanos e das terras cultivadas. 2 terreno coberto de mato afastado do litoral. 3 a terra e a povoação do interior, o interior do país. 4 toda região pouco povoada do interior, em especial aquela mais seca que a caatinga, ligada ao ciclo do gado e onde permanecem tradições e costumes antigos.
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