o o %A 8 llý,.1-Hllll - 1 1 . 1 1lý1111lýlljli 11 l'ý

10 anos aterlizados ii1esforço. 6 de Novembro de 1975 y ~ ~77 ,~I.

ó e.ra d e e Noemboee e. e e e m no. do~ povenolne de doeoiei t Poe*açã e Angla oe*A rcaiýoprneaAfiaeom de~~~. edí deAgoa e o Comité Ce P um miut de siêni e deemia qu via par sempre o heri tombados e pe independêci da P à era orespne aos e e seio maee w do - e e e e dec re e e e e0!e4e et Oe e. e e - edeiire ::ed * e e.ecor oe, e - e e3e1 nãeo* rdo ass e a e - -t

Sob a correcta direcção do MPLA, Movimento Popular de Libertação de , e depois de 14 anos de Luta Armada de Libertação Nacional, o Povo angolano fez cair estilhaçado o último baluarte do colonial-fascismo português. No mastro onde, num último insulto aos Povos angolano e português, o Comissário português havia surripiado horas antes a bandeira portuguesa, foi erguida às zero horas do dia 11 a Bandeira Nacional da República Popular de Angola. Angola é Independente. Embora ainda com parte do território ocupado por forças imperialistas empenhadas num voo cego ao nada - pois, como disse o Camarada Presidente Neto, essas forças nunca conseguirão «convencer» o Povo angolano - Angola é Independente, o Poder instaurado é o Poder Popular, o Povo angolano iniciou a construção de mais uma República Popular, foi estabelecida mais uma base revolucionâria, mais uma chama libertada que com as já existentes levará a fogueira da Revolução a incendiar todo o nosso Continente, alargará a Zona Libertada da Humanidade, até à Vitória Final, que é certa. Na República Popular de Moçambique, onde sob a direcção da FRELIMO, nos engajamos desde o início na mesma Luta, com quem o MPLA, _o PAIGC e o MLSTP, definiram desde 1961 estratégia comum, com quem encontraram princípios comuns, a Independência da República Popular, de Angola foi largamente comemorada. Do Rovuma ao Maputo o Povo moçambicano, enquadrado pelos Grupos Dinamizadores, estruturas bases do Partido, festejou o 11 de Novembro com o mesmo calor com que festejara o 25 de Junho, data da nossa Independência. Lançada pelo Camarada Presidente Samora no Comício de apoio ao MPLA realizado no Estádio da Machava a iniciativa de uma campa~ de solidariedade para com o Povo irmão de Angola, todos os moçambicanos se disposeram de imediato a contribuir com um dia de trabalho para a campanha. Numa recolha extra feita ali no próprio momento foram depositados sobre uma bandeira do MPLA mais de trinta e cinco mil escudos. Integrada na delegação da Informação moçambicana presente às celebrações da Independência Nacional da República Popular de Angola. «Tempo» fez deslocar aquele pais uma equipa de reportagem. Os textos que publicamos hoje enquadram-se e foram recolhidos nos dias que antecederam o acto. Grande parte da nossa próxima edição gerá dedicada à reportagem das celebrações e a outros aspectos ligados ao momento, ao clima vivido em Angola neste decisivo facto da suahistórià. à Luta do Povo angolano, que continua. «TEMPO» n.- 267- pág. 2

As mentiras que a boateira Internacional lança contra o Povo Angolano e sua vanguarda política, o Movimento Popular para a Libertaeã,o de Angola (MLA) mentiras e boatos sustentados por jorna, listas apressados na busca da sensação não resistem quando, sem preconceitos e dentro do território angolano, contactamos com o Povo, em busca da verdade. O que as agências noticiosas capitalistas têm transmitido nos seus telexes é um crime porque deforma toda uma realidade de luta organizada, toda uma realidade de mobilização, toda uma realidade de resistência activa contra a agressão imperialista que as FAPLA travam heroicamente nas picadas e nas matas contra as forças da UPA-FNI e seus mercenários sul-africanos, zairenses, portugueses m uitos outros dc várias nacionalidades. Uma delegaçião de jornalistas moçambicanos, em que «TEMPO» esteve integrada, deslocou-se a Angola, para fazer a cobertura da declaração de Independência e para tomar conhecimento de perto com a verdade sobre a terra angolana Dos contactos com os combatentes das linhas avançadas e da rectaguarda, dos contactos com as Comissões de Bairro da cidade de Luanda, das conversas com aqueles que acompanham de perto a situaÇão político-militar do país, podemos, sernamente, desmentir tudo o que se tem dito sobre a luta do ao Cunene. Moçambique J& tem uma larga experiSnea do que 6 o boato. Pois essa erva daninha esce e floresce na cidade de Lud capital e sede Iadministrativa de Angola Já a~'uf estávamos quando à boca pequena ouvimos falar do avanço das forças mercen4rias a ciíco -quil6metiros da cidade. Já aqui estávamos quando lrnaltas hospedados 0* mes- mo hotér que n6, mandaram telex para as suas agências a falar do bombardeamento de Luanda .o de fortes combates no aeroporto. Jã aqui estávamos quando se fez circular que Kifangondo. a poucas dezenas de quilómetros, ti n h a sido tomado pela UPA.FNLA. Já aquí estávamos quando ouvimo dizer que já estava nas mos dos invasores, para cinco minutos depois desta afirmaçao escutarmos a Emissora Oficial de Luanda a transmitir uma importante entrevista captada da emissora de Benguela, com a qual entrára em cadeia. Os factos são muitos e encheriam uma longa lista. Por exemplo, mal chegámos individuos mal intencionados informaram-nos que era altamieSte perigoso circular pelas ruas. que sem mais nem porquê uma pessoa era detida peia, FAPLA ou pelo CPA (Comando de Polícia de Angola) que «a gente está a ser k a n g a n d a assim mesmoa. prender diz-se kangar por aqui. O que acontece é que vigilMncia não é palavra vã nesta cidade que sofreu brutalmente com os assassinos da UPA-FNLA e com as forças da «pomba branca», expressão popular inventada para designarmos Jonas Savimbi e que, contrariariamt*e ao que pode parecer,. v.m carregada de um p r o f u ndo desepero. O mesmo como se pomba significasse abutre* e branca significas9 sangrento. O que acont«ce 6 que há ia-. filtrações akdui e essas infiltra- Ções t6m de ser detectadas apesar de, não se fazerem parar as pessoas que circulam para lhes pedir identificação quando o individuo não chama atenção por qualquer atitude. De automóvel e a pé circulamos por Luanda, toda a gente circula, sem que nada lhe aconteça. O essencial 6 ter identificação. Peirgoso é entrar nos mus'seques à noite e vamos explicar porquê. LUANDA É UMA FORTALEZA Multa coisa dura teriam que passar as forças invasoras sul-africanas e seus mauionetes da FNLA para tomarem a cidade de Luanda por terra. Esta fortaleza ntão 6 de manteiga mas feita de Povo, Mobilização. Vigiláncia. R ê s i stôncia Activa. ódio contra a UNITA o contra a UPA-FNLA tudoistopaipáve1 materializado, concreto. Se viessem pelo Norte, encontrariam barreiras militares do Povo Angolano fardado, as FAPLA que, como se diz por aqui numa maneira de falar tipica «náo estao para brincadeiTas». E não estão estes jovens endurecidos pela longa luta, que vimos bem firmes nos seus postos à beira da estrada, que vimos de longe (muito mal vistos .diga-se a verdade) emboscados nas suan armadilhas. Jovens 'brancos, negros, mulatos, toda a realidade do Povo Angolano. Mulheres tam«TEMPO» n.0 267- pdg. .3

Antiga casa onde se acoitavam os traidores e os,, bém. Moças que trocaram os musseques e os apartamentos pela dura vida militar, esbeltas nos seus camuflados, elegantes com as suas espiiýgardas, decididas nas suas atitudes, tudo isto numa opção em que o amor pela terra, a vontade de acabar com a expioração do Povo, comanda as vontades e toma sublime o combate em Angola. No momento em que redigimos este texto (9-11-75), as forças imperialistas debatem-se para conquistar mais uns quilómetros na sua tentativa de avanço em direcção a Benguela. Esta é a Frente Centro em que os revezes sofridos pelos inimigos do Povo Angolcmo de toda a África progressista. tomam-nos mais assanhados. A tomada de Benguela mesmo que venha a verificar-se, será apenas um pormenor na história da resistência angola«TEMPO» n.o 267 - pdg. 4 na. Porque enquanto que as forças sul-africanas e da UPA-FNLA estão empenhadas 'êim travar uma guerra clássica~ conquista de terreno, conquiista de cidades e vilas mesmo quando na sua entrada não encontram um único membro da população que avança para o mato - as FAPLA aplicam com inteligência a táctica da guerrilha: quando o inimigo avança recuam, deixam-no tomar algumas iniciativas para estudar os seus movimentos. Na região de Benguela empurram-no para o deserto próximo, a deserto de Moçamedes, onde foi encurralada a primeira coluna de dezasseis blindados que tentou abrir caminho para o Norte. Nesta tentativa de a t i n gi r Luanda pelo Sul as forças imperialistas terão que vencer a resistência do Povo em Benguela, depois no , de- pois em Novo Redondo - onde a populaçao toda armada se treina na guerrilha podendo ver-se mulheres com filhos ás costas com uma espingarda metralhadora a tiracolo. E admitindo que por terra estas forças atingiam Novo Redondo e por ali passavam em direcção a Luanda, antes de atingirem a cidade de pedra tinham que enfrentar os musseques e os bairros populares onde as massas organizadas - homens, mulheres (Organização da Mulher Angolana), jovens (Juventude do MPLA), crianças (Pioneiros), fãriam o mesmo qu'e fizeram quando a UNITA e a UPA-FNLA ocupavam a capital: resistiram heroicamente, perderam-se milhares de vi d as, é verdade. mas o inimigo não durou. Os pioneiros dos Musseques e as milícias, todas as organizações de massas mobilizaram o Po- vo p o r q u e Organizaçao nos musseques e bairros populares é qualquer coisa sólida, palpável, materializada. Compreende-se porquê: o fogo das armas temperou a população de Luanda. cidade que ainda tem bem presentes todos os sinais de destruição e vandalis, mo praticados pela UNITA e pela FNLA. «TEMPO» teve oportunidade de visitar as salas de tortura dos assassinos do Povo e viu, de entre os escombros resultantes da destruição das chamadas Casas do Povo da FNLA uma cadeira eléctrica destruida. Por isto tudo dissemos acima que Luanda é uma fortaleza. Por isso se compreenderá porquèe é que os apressados nas análises confundem a vigilância que se faz nas ruas com detenções indíscriminadas e porque é que também dissemos que não é de muita feli- A medida que as tropas invasoras sul-alricanas e zairenses e r com o seu equipamento bélico sOfisticado, o povo e as FAPLA a guerrilha no campo cercando os invasores ites reacciondrios nacionais ocupam vilas e cid4des raço armado abandonam esses locais para continuar cidade um desconhecido entrar à noite nos musseques.... Por isto tudo, e porque de facto o ambiente em Luanda não é de turismo, os agitadores aproveitando-se da situação e da susceptibilidade das massas lançam os mais incríveis boatos, as mais grosseiras mentiras e os jornalistas das agências noticiosas, instaiados em hotéis angolanos, servindo-se até dos telex angolanos, montados nesses mesmos hotéis. lançam falses noticias para o mundo. Assim, quando na sexta-feira. dia 7, faltou água durante toda a tarde no dia seguinte os jornais estrangeiros trouxeram a notícia de ter sido tomada o posto de tratamento de água de Kifangondo. A água que se bebe em Luanda é tratada ali, tirada do rio Bengo. Uma coluna desorganizada de mercenários tem tentado por várias vezes ocu.par Rifandongo. As intenções são fáceis de adivinhar. Tomando o posto de tratamento de água podiam criar problemas para a população de Luanda por falta de água. Mas nossas tentativas, apenas têm sofrido mortes, aprensão de material (por sinal sofisticado) e um avião de reconhécimento foi abatido no dia em que chegamos a Angola. Esta coluna mercenária faz parte das forças imperialistas què procuram atingir Luanda pelo Norte. A luta em Angola tem, de certo modo, visando a ocupação da capital política e administrativa. Até o Alto Comissério Português que numa conferência de imprensa dada aos jornalistas moçambicanos definiu-se a si 'próprio como um homem noventa por cento militar e dez por cento politi- co até ele, com esta tão pequena percentagem de visão política, disse que se o MPLA quisesse paralizar toda Angola ýpoderia fazê-lo. E fé-lo-ia porque Luanda - devido à concepção administrativa colonial - é o cérebro do pais, alimentada embora pelasterras férteis do norte e do centro. Das dezasseis províncias, o MPLA controla a maioria. De entre estas províncias contam-se aquelas que têm as zonas libertadas durante a luta anti-colonial como a província de . AS FRENTES DE COMBATE Asfrentes de combate onde fervilha a. heroicidade das FAPLA são as Frentes Norte acima da Primeira Região Mi- litar - linha Luanda-Malange - a Frente Centro - Benguela - Nova Lisboa - e a Frente Sul - Moçãmedes. Sé da Bandeira - Serpa Pinto. Sobre a situação na Frente Centro, presentemente a mais renhida publicamos uma entrevista neste número concedida pelo Çomandante dessa frente de Luta, o comandante Monty. Apesar da progressão das 'forças invasoras depois de ter sido publicada em Luanda tal entrevista, a verdade é que a situação não é desesperante, nem mesmo a ocupação de Benguela (a verificar-se) decisiva. Uma coisa é certa: antes de cair Benguela - ou outra cidade 9 vila - fica deserta de população. O Povo Angolano é assim. E abandonando a cidade ou a vila vai para o mato fazer resistência, numa terrível luta guerrilheira. «TEMPO» n. 267 - pdg. 5

Comandante Júlio de Almeida popularmente conhecido por comandante Juiu O Comandante Júlio de Almeida, popularmente conhecido por Comandante JUJU; tem frequentes encontros com a Informação, a fim de dar a conhecer a situação político-militar da Primeira Região Militar de Angola, de que Luanda faz parte. Numa dessas habituais comunicações à Informação, aquele comandante foi mais longe e deu uma panorâmica que permite avaliar o trabalho do Governo Angolãno, liderado pelo MPLA (mesmo antes «TEMPO» n. 267 - pág. 6 da Independência), sinal de um esforço colectivo levado a cabo para que, apesar da agressão imperialista, dos massacres do Povo, das provocações de toda a ordem, Angola possa caminhar sem paragens para o engrandecimento da sua economia e para a dinamização de todas as estruturas governamentais ligados à vida do País. Damos a seguir alguns excertos dessa importante comunicação.

Os pioneiros angolanos equipados com armas construídas por eles próprios, algumas disparam mesmo. O imperialismo não poderd deter a força desta juventude que cresce no campo da luta popular organizada O trabalho político e organizativo do MPLA As condições o b j e c tivas existentes, resultado dp esforço conjunto desenvolvido pelo Povo e o seu braço arma- do as FAPLA contra os sustentáculos que o imperialismo teima em instalar em Angola, não se podem concertar com as tentativas para legitimar os agentes internacionais do Capitalismo Internacional a UPA/FNLA e UNIta. Assim, a histórica declaração do Bureau Político do MPLA, sem deixar margem a dúvidas, definiu com clare-a qual é a realidade ango- lana e o rumo que o Povo Angolano traçou e está determinado a seguir, sejam quais forem as manobras urdidas nos bastidores afçctos ao imperialismo. ,.Enquanto, por um lado, prosseguem as tentativas visando o isolamento do MPLA e, consequentemente, a instauração de um novo regime de opressão e exploração em Angola, por outro lado, eIno âmbito' das nações progressis- tas, dos povos que constituem a «zona livre da humanidade», das organizações mundiaýs aliadas dos povos oprimidos -do chamado Terceiro Mundo, reforçam-se os laços de solidariedade para com a luta do Povo atigolano. É assim que, respondendo ào apelo lançado pelo MPLA, os portugueses residentes em Angola manifestaram o seu apoio incontestável ao Povo Angolano, reconhecendo que «TEMPO» n.- 267- pd9. 7 Recrutamento e mobilização geral dos cidadãos dos 18 aos 35 anos para lazer /rente à múltipla invasão imperialista de Angola Uma das artérias pr~c*Pais da capital da nova República Popular de Angola: Luanda «TEMPO» n. - 267 - pdg. S o MPLA é efectivamente o único movimento de libertação nacional a quem devem ser entregues os instrumentos da soberania do país na data prevista para a Independência. Com evidente satisfação aqui assinalamos esse facto, pois como é sabido, uma boa parte da população portuguesa radicada em Angola sempre se mostrou rçceptiva às atoardas dos inimigos do Povo que caracterizavam o MPLA como, movimento interessado em estabelecer o caos e a anarquia. Porém a realidade é bem diferente. Muito antes do surgimento do 25 de Abril, já o MPLA defendia correctamente que a luta do Povo Angolano não era dirigida contra o Povo Português, mas contra o regime colonial. É no quadro da luta que todos os povos oprimidos do Mundo travam contra e imperialismo, que se estabelecem os laços de fraternidade entre os povos Português e Angolano. Aos bons portugueses radicados em Angola que se colocaram ao lado do povo angolano na sua luta contra as forças da Reacção Internacional, f o r m ulamos um voto de confiança. Entretanto, nas áreas já controladas pelo Povo Angolano, o esforço para a Reconstrução Nacional é cada vez maior e as actividades governamentais d e c o r r e m normalmente. Agricultura O Ministério da Agricultura, virado fundamentalmente para o homem rural, tem desenvolvido a sua acção detectando as necessidades e recursos das comunidades rurais, orientando p r oj e ctos contrutivos para as mesmas, dinamizando métodos de acção, e criando novas estruturas adaptadas a uma política agrária realista. Assim, está em estudo e para breve a publicação a nova tabela de preços de compra, aos produtores, para a campanha de 1975-76, dos principais produtos agrários angolanos, nomeadamente o café, algodão, milho, arroz, t r ig o, amendoim e girassol. Encontrando-se ainda por comercializar cerca de 24 000 toneladas de algodão fibra, da campanha de 1974- 75, foi feito um estudo das características do mesmo, para ser entregue a uma Missão Comercial Angolana, que se deslocará a vários países para a sua colocação. Para o mesmo fim fez-se uma previsão das madeiras a vender neste ano. Por outro lado, vai ser adquirida uma frota de camiões para apóio à comercialização dos produtos agrários. Ainda no conjunto das actividades desenvolvidas p o r e s t e Ministério, salienta- se que está em estudo uma remodelação geral dos vários «Fundos» existentes nos Serviços e Organismos dependentes do mesmo. Energia A Secretaria de Estado da Indústria e Energia, tendo em vista o combate a determinadas manobras tendentes à paralização das actividades industriais, durante o, mês de Novembro, entrando o pessoa] de férias, determinou que nenhuma unidade de produção poderá encerrar durante os meses de Novembro e Dezembro sem prévia comunicação àquela Secretaria. Por outro lado, na Direcção dos Serviços de Indústria foi criada uma Comissão Nacional Industrial de Energia, a quem cabe requisitar às empresas públicas e privadas os técnicos considerados necessários para resolução dos problemas que lhe forem postos, uma vez que os Serviços Públicos não estão de modo algum dotadas, quer em meios humanos, quer materiais, para repor todo o aparelho produtivo em nomal funcionamento. Transportes e comunicações No âmbito do Ministério dos Transportes e Comunicações, é de registar que o funcionamento normal das linhas de cabotagem continua a ser perturbada pela situação nos portos, agora agravada com o frequente roubo de géneros alimentícios, o que prejudica o abastecimento de produtos nacionais. Entretanto, foi já anunciada uma reunião com todos os pequenos armadores de cabotagem no sentido de se concretizarem medidas de racionalização e formas de vencer os obstáculos existentes. A semelhança do que foi feito relativamente à NA- As figuras em pedra da opressão colonial portuguesa foram apeadas dos monumentos dias antes da in dependência VANG, iniciou-se esta semana o estudo económico-financeiro da empresa SECIL-MARITIMA, cujo capital deve, em cumprimento do -Programa Económico, pertencer ao Estado em 51 %. O resultado destes estudos mostra-se de grande importância por facultar indicadores p a r a uma nova fase de colaboração entre o Estado e os investimentos privados úteis à Nação e, por outro lado, da edificação de empresas sólidas capazes de cumprir o seu papel no comércio interno e externo, particularmente economizando divisas gastas nos fretes. Foram remetidos para o Conselho de Ministros vários projectos de decreto relatiyos, entre outros, à regulamentação da Direcção dos Transportes Marítimos, Serviços de Marinha, Polícia Martíima, Socorros a Náufragos, etc. Entre os decretos figuram ainda os relativos àf plataforma continental (cuja riqueza é conhecida, inclusive petróleo) e às águas territoriais e zona contínua, Por outro lado, ao nível da Di1recção-Geral da M a r i n h a Mercante prepara-se u m a centralização de dados relativos à movimentação de produtos nacionãis entre vários portos do país. Para terminar o breve relato das actividades desenvolvidas por este Ministério, informamos que, relativamente ao troço da Barra do Cuanza-Novo Redondo, prosseguem os trabalhos, faltando apenas terraplanar 9 quilómetros, perto do rio Lona, a fim de se passar à pavimentação; no «TEMPO» n. 267-- pdg. 9

Ao contrário do que a propag~ reaccionrio, ~o povo de todas as raças apoia o MPLA tocante ao troço Lucira-Benguela, estão formados dois grupos de trabalho, sendo um para atacar os pontos de transitabilidade difícil, outros para a construção em defini-, tivo. Justiça O camarada Ministro da Justiça deslocou-se à República Democrática de S. Tomé e Príncipe, em missão diplomática durante oito dias, tendo estabelecido contactos com o governo daquele país e com os responsáveis do M. L. S. T. P. (Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe) dos quais se espera venham a resultar um maior estreitamento dais relações não só entre os Governos de Angola e o de S. Tomé e Príncipe, mas ainda entre o MPLA e o MLSTP. Na passada segunda-feira, teve lugar no Ministério da Justiça uma reunião com os camaradas responsáveis da Polícia Judiciária, Corpo de Polícia de Angola; Polícia Militar, Segurança e Departamento de Reconstrução Nacional com o objectivo de coordenar as medidas que estão a ser levadas a efeito no sentido de se pôr cobro às situações de parasitismo e delinquência, não só em Luanda como noutras cidades do' País. Nesta fase .da Revolução que vivemos, o parasitismo, á corrupção e a delinquência terão de ser banidos da nossa sociedade. Os responsáveis da Polícia Judiciária e do Corpo de Polícia de Angola estão a desenvolver trabalho tendente a levar a efeito eFsas actividades. De notar que o 1,0 Cur«TEMPO» n.- 267 - Pdg. 10 so de Agentes da Polícia Judiciária angolanos terminou e neste momento actuam em Luanda oito novos agentes. Deste modo, apela-se a toda a população no sentido de ser dado todo o apoio à actividade que desenvolvem. Entretanto, uma outra reunião foi realizada com o grupo de trabalho que se debruça sobre a criação dos tribunais populares, de que saiu constituída uma comissão que engloba dois camaradas licenciados em Direito, que, com a Comissão de Trabalhadores dos Tribunais irá preparar e dar início ao 1.0 curso em Angola para ajudantes de escrivão. Ficou encarregada ainda esta comissão de apresentar propostas no sentido de se alterar o Código. das Custas, sendo também necessário alterar a legislação relativa ao Tribunal de Execução das Penas. Para aprovação foi entregue um diploma sobre medidas judiciais de recuperção e segurança que irão tornar menos morosos os processos tendentes à condenação de delinquentes e o seu consequente internamento. Oportunamente o camarada Ministro da Justiça fará uma comunicação ao País sobre a nova orientação que urge dar à justiça e cujos primeiros passos for a m já dados. Comunicaçâo Social No domínio da Comunicação Social há também factos dignos de nota. Depois do aparecimento da Radiotelevisão Popular de Angola - RPA, como órgão ao inteiro serviço das largas massas populares. Cabe-nos aqui anunciar que já na próxima semana se completará o quadro da comunicação social, com a agência noticiosa. Trata-se da agência NGOLA-PRESS, que se propõe, à -partida, veicular para todo o Mundo a verdade deste Povo combatente na sua justa luta contra a Reacção Internacional. Economia Relativamente ao Ministério da Economia, os abastecimentos continuaram a monopolizar as melhores atenções dos responsáveis por este sector governamental. A s s i m, em prosseguimento da preparação para a entrada em funcionamento da EMPA E M P R ESA PÚBLICA DE ABASTECIMENTOS, foi nomeado o respectivo Conselho de Administração, começando a mesma empresa a funcionar nas instalações da antiga Manutenção Militar. Foi publicado um despacho explicitando as medidas já anteriormente tomadas sobre vinhos e bebidas importadas. Nesse despacho é também fixado um prazo para levantamento das mercadorias em depósitos nos armazéns da Alfândega dos Portos de Angola, findo o qual, as mercadorias não levantadas ficarão à ordem do Fundo de Comercialização. Efectivamente existem produtos que há três ou quatro meses enchem os armazéns, sem que ninguém se apresente a levantá-los, correndo a risco de deterioração, e ocupando espaço necessário para outros produtos a descarregar. Saliente-se que alguns desses prodytos são e s s e n ciais, tais como leite e outros. Diversasac çõ e s na luta contra a especulação e e açambarcamento têm sido levadas a cabo. De referir a detenção de tambores de vinho e azeite provenientes da antiga manutenção militar, e que se encontravam em vias de comercialização, por entidades privadas, estando em curso o respectivo processo para apuramento das responsabildades. Neste particular, solicita-se a colaboração do público consumidor no sentido de se não deixar ludibriar por vendedores menos escrupulosos e para que denuncie às entidades competentes as irregularidades que detectar. No sector das Pescas, está em ultimação um esquema tendo em vista o controlo do funcionamento dos barcos e da comercialização do peixe, o que se espera, venha a permitir aumentar a produção e consequentementne as quantidades disponíveis para consumo, assim como diminuir e restringir a especulação qwe vem sendo feita. Finalmente, acaba de ser publicado um despacho que fixa os preços de cerveja.

EM CIMA: O povo anaolano organizado pelo MPLA preparando os locais para a celebração da independência Pelas ruas da cidade de Luanda palavras de ordem fazem lembrar a solidariedade existente entre o povo angolano e o povo moçambicano «TEMPO» n.« 267 - pdg. 11

Uma das grandes frentes de combate, em que o MPLA enfrenta os mercenários sul-africanos, enquadrados pela UPA-FNLA e vice-versa, é a Frente Centro que, como facilmente se depreende, é constituída por toda a zona central de Angola. Numa entrevista o Comandante Monty, membro do Estado Maior das FAPLA, traça em linhas claras a situação política, social e económica nessa região, que sofre directamente o assalto das forças do imperialismo, na sua tentativa de avanço para o, Norte em direcção a Luanda. Na altura em que esta entrevista foi feita por um jornalista do Jornal de Angola, não se travavam combates em Benguela cidade costeira sede militar da Frente Centro e capital da província com o mesmo nome. Sendo impossível prever o evoluir da situação, na altura em que redigimos este texto, tal facto não tira a importância dessa entrevista que permite avaliar os grandes e os pequenos problemas que o MPLA e o seu braço armado, as FAPLA, enfrentam neste momento, após a declaração da Independência porque, mais do que nunca, em Angola, a Luta Continua. Benguela é capital da província com o mesmo nome. Comandante Monty da Frente Centro, também membro dOEstqdo Maior das FAPLA«TEMPO» n.- 267 - pdg. 12 A vida na cidade' de Benguela, como na cidade do Lobito, está perfeitamente normalizada. Não há grandes problemas quer do ponto de vista social, quer das pequenas dificuldades que surgem sob o ponto de vista alimentar como têm surgi4o noutros pontos do País e que, felizmente, aqui não tem havido com grande acuidade. Por vezes nota-se, um dia ou outro, falta de pão, mas isso deve- se mais à produção das moageiras que não c o n s eguem dar vazão ao pedido de compra que a populaçção de Benguela e Lobito exige. Do ponto de vista social, benguelenses que estão a sair de Bnguela sem ra,ão aparente, a mim parece que se trata de um fenómeno de grupo, de psicologia de grupo. Che~aram cá os refugiados de Silva Porto e de Nova Lisboa (,) contando horrores do que se tinha passado nessas duas cidades precisamente, e c i, geral no e em todos os pontos em que a UNITA e a FNLA exerceram a sua acção bastante bárba-

Agostinho Neto, Pr#ete do MPLA e da República Popular de Angola: A vitória é WrW «TEMPO» n.' 267 - pág. 13

A ESQUERDA: Mapa elucidativo das zonas aia sob o poder dos lacaios do Imperialismo e tribalistas ra, que afectou muito, traumatizou memno muito as pessoas que tiveram ocasião de apreciar esses tristes espectáculos. A chegada de grande número de desalojados, traumatizados, alucinados mesmo, contagiou certas pessoas e o medo de que isso se pudesse repetir aqui, no Lobito e em Benguela, o medo de que a UNITA pudesse vir aqui, fez com que fossem tomados de pânico e abandonassem a cidade. Mas, de resto, a vida está normal. Está a normalizar-se também no , está a normalizar-se no Alto e na Babaera. Infelizmente na Ganda ainda há dificuldades porque toda a gente abandonou a cidade. A Ganda é hoje uma cidade praticamente abandona«TEMPO» n.- 267- pdg. 14 da, sobretudo pela população de origem europeia, mas eu penso que dentro de alguns dias a vida vai recomeçar na cidade da Ganda. Boato Respondendo, em seguida, a uma pergunta que visava a informao sobre medidas tomadas contra os boateiros que espalhavam falsas notícias em Benguela e Lobito, criando uma situação de instabilidade psicológica, o c o m a ndante Monty respondeu: Nós temos de estar conscientes de que o imperialismo tem várias formas de actuar. Nós não combatemos só o imperialismo, frente a frente, no campo de batalha, de armas na mão. Temos também de o enfrentar de uma maneira mais subtil na rectaguarda. Uma das formas que ele utiliza é justamente o boato e utiliza-o precisamente através de. pessoas despolitizadas ou mal politizadas. Outras vezes é através desses pseudo-intelectuais, uma nova classe de lupens intelec tuais que está ai a surgir e que faz muita confusão pelo seu super revolucionarismo, essa cultura livresca e que, ao fim e ao cabo, vê-se que esses indivíduos estão ligados a potências imperialistas e o que querem é destruir a nossa rectaguarda, mais precisamente a nossa organização. Portanto, isso é um trabalho que se faz num tempo bastante longo: - a mentalização, a politização das pessias, até porque não se deve esquecer que Bengula e Lobito foram sempre cidades, durante o tempo colonial; onde fervilhavam t a m b é m muitos boatos e esse hábito doboato não desaparece de um momento para o outro. É preciso que as pessoas comecem a mudar pouco a pouco, a maneira de pensar, que entrem num novo ritmo de vida, num ritmo mais angolano, direi mesmo, mais revolucionário. E referind-se c o n e ret.amente às medidas tomadas contra este estado de coisas: Claro que e s s a s medidas imediatas não são a repressão. De mo do henhum nós

As Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) braço armado do povo e do MPLA preparam-se para rechaçar a ofenstiva imperiaUsta 0 tribalist a soldo dosracistas sul-fricanos e do imperilismo internacioua: lonas Savimbi 6 lacalo, do ledo di~it da imagem. queremos cometer os erros que foram' cometidos p e los colonialistas ou por qualquer regime fascista.. Nós somos até bem diferentes desses regimes. Queremos um regime democrático e, embora justamente e por isso, alguns tomem as nossas atitudes por fraqueza, não é fraqueza. É porque nós seguimos princípios democráticos e sàeemos que estão num caminho errapodem obter com bastante paciência, muita perseverança e persuadindo as pessoas a entrarem no bom caminho. Nós recusamos entrar na repressão violenta; p re ferimos o diálogo e, conversando com as pessoas, a pouco e pouco, elas vão-se apercebendo de que estão num caminho errado. Estão a tomar-se medidas para irmos reeducando toda a população. Em relação à situação político-militar e económica da Província de Benguela, aquedas FAPLA explicou «que do ponto de vista militar» as FAPLA «estã oa progredir sem grandes vitórias espectaculares em direcção ao Distrito do Huamba e a Nova Lisboa. Já est4mosa combater no Distrito do Huambo». Não posso adiantar muito mais, neste momento. O combate não é simplesmente militar. E'stá-se a apoiar o trabalho de recuperação económica. Atrás, vem também o trabalho dos nossos activistas políticos não, como por vezes se possa pensar, para reconquistar as ~po- pulações politicamente, elas já são afectas ao MPLA, mas para temperar o ódio ao inimigo, de modo a que elas não exerçam represálias sobre os aderentes das outras organizações e que façam um trabalho de recuperação desses elementos que estavam des viados, enganados e que, por ingenuidade e falta de conhecimento, aderiram-à UNITA ou a FNLA. Portanto, é preciso todo um trabalho também nesse aspecto de recuperar esses elementos desviados através - dos nossos camaradas com- que eles-lidam todos os dias. Há todo um trabalho de recuperação a fazer. O camarada está ao corrente de todas as acções que a UNITA e a FNLA fizeram aqui nes- ta área. Por onde passaram incendiaram, saquearam. A Ganda, por exemplo, é uma cidade totalmente morta; foi totalmente saqueada; só não levaram aquilo que não puderam. Aliás, refugiados vindos de Nova Lisboacontamque até o combustível é roubado dos carros. Portanto já pode ver qual é a mentalidade que guia esses indivíduos que v i e r a m aqui para destruir e não para ajudar a construir o nosso País. Combater e reconstruir Nós temos que levar, a par das tarefas militares, as ta«TEMPO» n.- 267-Pd. 15 OtrSbaltsta a soldo dos racistas sul frieanos € do tmperta mo üt nal: Jonas 8avtmbt O lacaio do lado d rett da imagem.

Armas e -bagagens de um mercendrio fascista do exército português que se )untou às hordas de Holden Roberto refas de reconstrução nacional. Até agora foi formado aqui um Gabinete de Planeamento que se está a debruçar sobre os problemas da província de Benguela, da província do Cuanza Sul e também da província da Huíla. Este Gabinete está directamente ligado ao Ministério do Planea mento e Finanças. Não é, portanto, uma criação regional, um organismo independente ou autonomista, mas simplesmente faz parte da nossa política no MPLA de descentralizar para atender as necessidades do Pais. Portanto esses camaradas têm uma tarefa bastante árdua, porque o número de quadros é insuficiente, dada a enorme superfície que eles têm que abarcar. Têm tido todo o apoio, principalmente do nosso Bureau Político e do Ministério de Planeamento. O resto, são sem dúvida det alh e s técnicos que eu não posso dar-lhe com muita precisão, mas estamos a recuperar o património nacional os tractores que já existem, as fábricas que já existiam, as fazendas que já existiam - e estamos, a dar lhes uma outra dimensão, uma outra dinâmica, a reconvertê-las para uma vocação nacional e não de um simples instrumento de exploração colonial que vinham sendo até aqui. Contar com as próprias forças Angola-enfrenta neste momento uma falta tremenda de técnicos. Respondendo a uma pergunta do jornalista segundo o qual «o último técnico oíecânico de tractores que existia na Província de Ben- guela estava a preparar-se para abandonar o País», o Comandante Monty disse não ter conhecimento do assunto e acrescentou: «lamento que ele esteja a sair mas estou certo de que dentro em breve ele há-de voltar». Entretanto, vamos contar com as nossas próprias forças, como temos contado até aqui. Se saiu um técnico, vamos nós formar outros técnicos, porque com certeza ele teria os seus ajudantes que, com mais ou menos dificuldades, vão aprender. Nós também temos os nossos técnicos, alguns camaradas que estiveram no exterior, estiveram a estudar. Não são muitos. Vão ter m u i t o trabalho, mas a pouco e pouco vamos «arrancar». Não podemos parar, não vamos deitar as mãos à cabeça porque há alguns que estão a ir-se embora. Vamos continuar sem eles. É pena.; Seria melhor continuar com eles, mas se eles se vão embora, continuaremos nós mes, mos, sozinhos. Resumo da situação, definição da táctica e' análise dos problemas militares A guerra é uma coisa que não se pode prever ponto por ponto. Temos um plano global e as coisas decorrem mais ou menos como nós prevíamos. Há sempre imprevistos. Não se pode prever já que as populações vão correr, porque não se vão pôr entre dois fogos. Há maneiras de evitar q,a população se coloque entre dois fogos e o inimigo atire nas costas das pessoas. Mas uma coisa é certa e para ela é preciso chamar a atenção de todos os camaradas. Não devemos ser demasiado triunfantes e p e n s a r que a marcha até iNova Lisboa é um passeio. Isto porque, justamente, à medida que nós vamos acossando cada vez mais o inimigo, em que o inimigo se vai sentindo cada vez mais cercado, mais preso na sua ratoeira, vai-se tornando mais desesperado, capaz de tudo. Portanto, a defensiva dos últimos baluartes vai ser desesperada, mais dificuldades vão ser levantadas ao nosso avanço. O nosso avanço não vai ser fácil, estamos disso conscientes. Em consequência, a nossa marcha para Nova Lisboa não é, como já disse, um passeio que permita dizer :-Olhe, depois de amanhã estamos em Nova Lisboa, ou daqui a três dias. É preciso contar com essa resistência desesperada do inimigo. Porque o inimigo sabe que cometeu tais crimes que está condenado pelo Povo Angolano. Não tem o perdão do povo Angolano. (,) Silva Porto e Nova Lisboa ficam situados no interior de Angola, no centro do Pais e sV» importantes escalas da linha férrea servida pelo porto de Benguela. «TEMPO» n.0 267- pág. 16

.CELMOQUE +iP E na construção, nos grandes empreendimentos, na indústria, na electrificação, sinalizaao e iluminação ferroviãria, nas comunicações telefónicas A CE[MOGUE CONTRIBUI PARA O DESENVOLVIMENTO DE MOÇAMBIOUE SEDE E FÁBRICA NA BEIRA e CAIXA POSTAL 1171 , TELEFONES 721043/ 4 /5 ADMINISTRAÇÃO EM LOURENÇO MARQUES 0 CAIXA POSTAL 1974 * TELEFONES 20275/ 27125

... porque é o Banco do Povo! Ganho màis dinheiro e ajudo o crescimento de Moçambique! E sinto-me feliz. I oupo dinheiro que vou depositando todos os meses no Instituto de Crédito onde fica bem guardado e rende juros mais altos que podem chegar a 9,5 %! O pessoal é simpático, atende rapidamente e ajuda-me a escolher a modalidade que mais interessa: 9 % para 2 anos ou mais 8%de1anoa 2anos 7%de180 diasa1ano havendo ainda outros prazos mais curtos. Com a facilidade de poder ganhar ainda mais 0,5 % se depositar menos de 30 contos por mais de 90 dias. E não se pagam impostos sobre os juros que se ganham com os depósitos! É por isso que eu deposito todas as minhas economias no INSTITUTO DE CREDITO DE MOÇAMBIQUE o banco do povo

-,Mk A previsão de que as reservas de carvão e petróleo conhecidas não são inesgotáveis e que a sua duração é bastante limitada, tem motivado a procura de outras fontes de energia, entre as quais figura a energia atómica, actualmente largamente utilizada em certos países. Esta utilização da energia atómica levantar no entanto, alguns problemas para os quais ainda não foi encontrada uma resposta satisfatória. Por outro lado, uma questão que também se coloca é a de saber se a afirmação tantas vezes repetida do esgotamento num futuro próximo dos recursos energéticos conhecidos terá o mesmo significado e as mesmas repercussões em pai ses com graus de desenvolvimento completamente diferentes. Isto é, se a tão apregoada crise de energia afecta de igual forma um pais altamente industrilizado e um país do Terceiro Mundo, como é o caso de Moçambique? «TEMPO» n.'. 267-ãp. 19

Cabora Bassa - Uma das maiores barragens do 7nu dezenas de ve,-es superior ao consumo do País, na o construída ei' território moçambicano. A sua produção é da arrancada, e o seu interesse para o nosso pais é muito Uma resposta que se pode adiantar desde já e sem receio de erro é a de que a crise de energia não afecta de igual modo e com a mesma profundidade países com graus de kesenvolvimento industrial completamente diferentes. E é fácil de compreenpreender que assim é: as necessidades de energia de um país altamente industrializado são infinitamente maiores do que a de um país onde o sector industrial seja bastante reduzido. Além de que, enquanto no primeiro caso os recursos energéticos e s t ã o completamente aproveitados, no segundo esses recursos mal começaram a ser, utilizados, em muitos casos. Daí que as previsões le certos especialiotas sobre o esgotamento dos r e c u r s os energéticos tradicionais (petr6éo e carvão) tenham de «TEMPO» n.- 267-pág. 20 ser interpretadas apenas como uma visão parcial do Problema, ou melhor, uma visão do que se passa em certos países onde o esgotamento des,ses recursos motivou pesquisas e investigações com vista a encontrar novas fontes de energia. E uma dessas fontes de energia passou a ser as centrais nucleares que, pelo perigo que representam para a humanidade, têm sido largamente combatidas, embora o seu número não tenha parado de crescer. Mas, e s t a r á Moçambique em risco de ser grandemente afectadop e I a tão repetida crise' energética? Os d epo imentos de a,1 g u n s técnicos moçambicanos, que publicamos no presente trabalho, permitem concluir que não, embora se possa prever aumentos de preço dos derivados do petróleo. E isto pPrque o nosso País possui fontes de energia deveras importantes e ainda quase com- Centrais nucleares funcionam hoje nos mais diversos países enquanto outros se preparam para a sua instalação, com o objectivo de conseguirem obter a energia de que carecem. A pergunta tantas vezes formulada p e l o s opositores das centrais nucleares, é se este será de facto o único ou o mais aconselhado processo de se conse- guir en er gia?Procura-se, desta forma, alertar as populações para o perigo que representa viver «ao lado» de uma central nuclear, ao mesmo tempo que é demonstrada a possibilidade de se conseguir energia por outros processos, isentos de perigo, emb o r a proporcionando lucros mais reduzidos. A verdade é que se tem assistido a uma «imposição» das centrais nucleares como única solução para os problemas da energia, em p a r t icular para as aflições causadas pelo «jogo» do petróleo, que os especialistas classificam de encenação das multinacionais n o r t e-americanas para aumentar lucros, enganar as economias e democraciais europeias, justificar a proliferação cancerígena dessas mesmas centrais que elas ( m u 1 t i nacionais) têm em «stock», para impingir aos subdesenvolvidos, queiram estes ou não queiram.

A questão é quase sempre posta em termos que não admitem qualquer alternativa: ou uma centrl nuclear ou o desemprego para milhares de trabalhadores, principalmente operários da indústria onde a energia é elemento principal. Mas, outra questão que s levanta é a de saber queri precisa dessa enormequantidade de energi, cohncentrad-num determinado local, produzida por uma central nuclear? Quem p r e c i s a dessa quantidade de energia é um país chamado Estados Unidos, que com 6 por cento da população mundial gasta à sua conta 31 por cento da energia mundial. A crise da energia é, pois, um cancro americano ligado ao lucro capitalista, que tenta ramificar-se e envolver outros países, fornecendo-lhes unia arma para a sua própria destruição. Um especialista americano, King Hubbert, prevê o esgotamento dos recursos do mundo em petróleo para o ano 2100 e os de carvão em 2500. O que resta saber é - se o mundo chegará sequer ao ano 2000, se continuar esta marcha triunfante de gastos e polui,ões exportados p e l a América? Nenhum g r a n d e reactor nucleTr produziu ainda u~a reacção em cadeia incontrolável, m a s à medida que o seu número aumenta, aumentarão igualmente as probabilidades de tal acontecerafirma-se no livro «Há só uma Terra», onde logo a seguir se pode ler: O leigo pode supor e esperar que todas as precauções possívéis e todos os instrumentos de alame foram incorporados no projecto do reactor. Mas não fica nada tranquilizado quando cientis. tas responsáveis (?) lhe dizem - como r e c e ntemente ocorreu nos Estados Unidosque não existe posição de «recuo», se por qualquer otivo, o aparelho de arrefecimento de água de emergência, em cuja seguAança se baseiam os recentes reactores arrefecidos a água, deixa de funcionar. O coração nuclear podia derreter e produzir uma maciça libertação de wa dioactividade que se lançaria sobre a terra em proporções equivalentes às de uma explosão atómica. «Les amis de la Terre», com sede em Paris, puseram a circular recentemente um texto de apelo para un .a moratória nuclear, onde se afirmava: A actividade nuclear, mili. tar e cíivil, é perigosa: -pelo aumento da radioactividade e pela concentra, ção dos corpos radioactivos ao longo das cadeias alimentares, pode causar cancros, leucemias e mutações; -produz efluentes radioactivos que permanecerão perigosos durante centenas e mesmo milhares de a n o s, oferta envenenada aos nossos descendentes, pois ainda não existe nenhuma solução satisfatória ao problema dos efluentes e do seu créscimo; - um acidente grave numa central nuclear p o d e eventualmente provocar enormes prejuízos;- os c o n strutores têm dissabores com os sistemas de segurança actualmente propostos; -a indústria nuclear é vulnerável: ela representa um alvo ideal em caso de guerra ou de sabotagem. Também não está a salvo de catástrofes naturais. Ainda no que se refere aos perigos das centrais nucleares, em Fevereiro do ano passado, segundo Nigel Hawkes («The Observer»), um grupo jurídico de interesse público, intitulado Conselho p ar a a Defesa- dos Recursos Nacionais, publicou um relatório com importantes implicações para os reactores alimentadores rápidos em todo o mundo. O relatório pede o reforço drástico dos regulamentos que regem a libertação do elem e n t o radioactivo plutónio, um ingrediente essencial aos alimentadores rápidos e muito possivelmente o material mais perigoso que o homem conhece. O plutónico é um produto da era nuclear. Existe na natureza mas em quantidades tão minúsculas que mal pode ser detectado. Mas é produzido em quantidades substanciais nos reactores nucleares, pelo bombardeamento dos neutrões do urânio 238. Uma das duas primeiras bombas atómicas lançadas no Japão era feita de plutónio. As instalações, comerciais da actujalidade produzem plutónio como um subproduto da geração de electricidade. O alimentador rápido é simplesmente uma tentativa p ar a aumentar o rendimento dp s bproduto de m o d o a que possa ser utilizado, por sua vez, para abastecer em combustível n o v a s instalações nucleares. Se for concebido com êqito, um alimentador conseguirá p r o d u z i r. mais combustível, na forma de plutónio, do que ele queima na forma de urânio. Daí o seu nome e a sua atrac$o magnética para os governos preocupados com a possibilidade de que as reservas de urânio estejam esgotadas dentro dis próximas décadas. Porém, o plutónio tem um importante inconveniente: é, segundo as palavras dos peritos, «diabolicamente t ó x ico. Até agora, a adulteração da natureza pelo homem só tem produzido quantidades relativamente p e q u enas do elemento, mas os alimentadores rápidos eliminarão tudo isso. A Comissão de Energia Atómica dos E. U. A. calcula que, no ano 2000, a produção conjunta de plutónio, só nos Estados Unidos, terá tingido 4500 toneladas. Grande parte dela será transportada em comboios, dos reatores para as instalaçes- transformadoras. Se os alimentadores rápidos surgirem, o homem deverá aprender a viver com um tráfego extenso transportando um dos venenos mais mortíferos que ele 'jamais descobriu. Mas quem constrói estas centrais? O mercado mundial das centrais nucleares de água ligeira é dominado por dois enormes grupos americanos: General Electric e Westinghouse. A barragem ae caoora Bassa quanao anaa estava em consruçao. «TEMPO» n.- 267-p4k. 21

Na classificação das empresas dos Estados Unidos ocupam r e s pectivamente o quartoe o décimo lugar,com o. volume de transacçõesde 42 e 20 milhões de dólaies. O mercado europeu e stá largamente sob domínio dest a s empresas americanas, por intermédio de filiais ou pela venda de licenças a firmas europeias que utilizam a sua técnica. É o caso da França, através da Creusot-Loire e da Compagnie Générale d'Électricité, da Alemanha, através dos grupos Siemens e AEG, o mesmo sucedendo com outros grupos de empresas na Itália e na In- glaterra. Do que restam poucas dúvidas - segundo os cientistas - é de que o plutónio inalado é um dos mais poderosos causadores de cancro respiratórios conhecidos, sabendo-se que as quantidades de plutónio que existirão nos Estados Unidos no ano 2000, se fossem distribuídas na forma de um aerosol em todo o mundo, seriam suficientes para causar 100000 biliões de casos de cancro. Por outras palavras, haverá suficiente plutónio p a r a dar a cada habitante da Terra 10 milhões de vezes a dose que causa o cancro. As previsões de cientistas de países capítlistas sobre o esgotamento dos recursos do mundo em petróleo para o ano 2000 e em carvão para 2 500 podem ser consideradas válidas? Ou, pelo contrário, pretendem apenas permitir justificar o funcionamento de outras fontes de energia, no caso concreto a energia nuclear, com todos os perigos que daí possam resultar e, ao mesmo tempo, promover a venda dessas centrais e fazer subir o preço das matérias-primas referidas? Num país do Terceiro Mundo, como Moçambique, e dentro do sistema de desenvolvimento já definido (aldeias comunais), como poderá ser encontrada a energia necessária ao desenvolvimento do País e qual a validade da referida previsão? Estas, algumas das muitas questões que se podem levantar e para as quais procurámos resposta junto de técnicos responsáveis e conhecedoý res das realidades e potencialidades do nosso País. Um técnico ligado ao sector de geologia e minas tem a seguinte opinião: No que respeita ao carvão, Moçambique até nem tem medo que venha a faltar porque tem reservas que se admitem ser m u i t o grandes, embora não totalmente investigadas, sobretudo as da Bacia M ucanha - Búzi. As reservas hídricas--não sou a #essoa indicada para dizer qualquer coisa - mas «TEMPO» n.ý 267 - pdg. 22 parece que são importantes. Não sõo conhecidos por enquanto hidrocarbonetos lí4^idos mas são já conhecidos jazigos de gás natural, que pode ser u m a matéria-prima importante para os diversos campos de aplicação que podem interessar ao País, nomeadamente p e t ro química, fertilizantes, etc. As reservas de Pande estão ainda em fase de investigação mas admite-se que possam servir para uma indústria que possa servir Moçambique. No.que respeita a minérios radioactivos, não há nada de interesse. Os p o u c o s trabalhos feitos em Moçambique no tempo da Junta de Investigação Nuclear, as z o n a s que foram prospectadas pela Junta e .por,'empresas especializadas, não mostraram a presença de o c o r rências de minérios radioactivos que pu- dessem interessar de momento. São conhecidás ocorrências de minérios radioactivos refractários n a s províncias de Tete e da Zambézia, mas não tem qualquer interesse para a obtenção de radioactiVOS. CONTAR COM AS PRÓPRIAS FORÇAS Por sma vez, um técnico ligado ao sector da engenharia química respondeu n o s seguintes termos às questões levantadas: 1. Acerca do esgotamento dos recursos mundiais em petróleo e carvão para os anos 2100 e 2500, respectivamente: Não possuímos elementos acerca das citadas previsões, nomeadamente sobre os próprios limites indicados e suas margens de incerteza. 2. Acerca da justificação do funcionamento de outras fornas de energia (em especial da energia nuclear): É incontroverso que os recursos e n e r géticos tradicionais (carvão e' petróleo, em especial) hão-de alguma vez esgotar-se. Nos países industrializados os recursos hídri cos (barragens) estão, duma maneira geral, no ramo des-

O custo da energia eléctrica torna-se tanto mais elevado quanto maior for a distância entre o local de produção e o loca, de consumo. Daí que a energia de Cabora Bassa interesse muito mais à Africa do Sul do que a Moçambique, onde a ausência de grandes 'centros industriais torna impraticável, no momento actual, o aproveitamento da energia ali produzida. cendente da curva das possíveis utilizações. Destas circunstâncias r e sulta a natural preocupação de investigar novas fontes de energia. Num passado recente, julgou-se q u e a energia. nuclear fosse a resposta adequada à dissipação de tais preocupações. Porém, n e s t e domínio, continuam por se resolver a 1 g u n s problemas importantes: perigos «políticos» e perigos «técnicos». Destes últimos salientam-se o do destino a dar aos resíduos dos combustíveis nucleares e o da segurança do funcionamento das centrais (como controlar eventuais regimes de funcionamento anormais e «perígosos»?) 3. Acerca da subida de cotação das matérias-primas: Até à recente «crise do pe- tróleo» uma fracção importante da energia produzida do petróleo e seus derivados, devido ao seu baixo preço. A s u b i d a de cotações de tais produtos veio valorizar outras fontes de energia, n.meadamente o carvão. Simul: taneamente 'pôs-se o problema da «independência energética» dos países consumidores de petróleo. É um facto que dentre as respostas aos problemas que assim f o r a m levantados, a energia nuclear tem ocupado um lugar bastante modesto. A investigação tem sido dirigida para os domínios da gasificação do carvão e para a utilização de formas de energia não tradicionais, com especial destaque para a energia solar. As energias eólica e geot é r m i c a têm, igualmente, constituído tema de investigação, se bem que num plano secundário em relação ao da energia sola'. Esta, para além das vantagens comuns - inesgotabilidade, custo nulo - tem sobl-e as duas primeiras a de se encontrar' em fase mais adiantada no que respeita às utilizações possíveis. Os principais problemas que so põem, por ora, são o baixo rendimento de transformação e a dificuldade de «armazenagem». Embora existam jáý certos tipos de máquinas que utilizam energia solar (e outras formas de energia não tradicionais) e, até, pelo menos uma empresa que as comercializa, não é de forma alguma aceitável a hipótese de que uma resposta imediata ao problema das carências energéticas possa vir das fon- tes de energia tradicionais. . Acerca do pro b 1 em a energético em Moçambique : Moçambique dispõe de coinsideráveis recursos energéticos: hidroeléctricos e carvão. Não está «d e m o n strada» a inexistência de petróleo nem completamente avaliada a extensão dos recursos em gás natural. Na altura em que o projecto de Cabõra Bassa arrancou, a capacidade, má x i m a prevista situava-se em cerca de 60(?) vezes o consumo energético de todo o P a í s (nessa altura). As possibilidades de construção de n o v a s barragens «TEMPÓ» n.,, 267 - pdg 23 são, tanto q u a nto se sabe, m u i t o vastas. Julga-se que existem estudos ( p r o spectivos) realizados. Não será de pôr, portanto, qualquer hipótesequa.nt o a centrais nucleares. Os recursos em carvão não estão a i n d a completamente avaliados, mas o que se conhece permite encarar o futuro com optimismo, no que se refere a um eventual esgotamento. Tanto mais que o carvão é a matéria-prima de base para a chamada indústria carboquímica, p a r alela da Petroquímica (com base no petróleo). 5. Acerca de «energia e aldeias comunais»: A s grandes ,,centrais (hidroeléctricas ou outras) põe a questão do tr'ansporte de energia, que exige investimentos avultados. As formas não tradicionais de energia serão de considerar, provavelmente, apenas numa segunda fase. É natural que numa primeira fase se tenha de recorrer aos métodos tradicionais já rotinizados (geradores a diesel; pequenas barragens; pequenas centrais térmicas a carvão, onde exista; etc.) Uma fracção da energia poderá ser oriunda da decomposição de detritos orgânicos. De facto, desta decomposição resultam adubos orgânicos e gás (essencialmente metano), gás este que, sendo combustível, poderá fornecer parte da energia necessária. PLANIFICAR PARA EVITAR DISPERSÃO DE MEIOS Um outro técnico, ligado ao se c t o r da electricidade, manifestou a opinião de que a curto prazo não há proces«o de nos libertarmos da dependência do gasóleo, p a.r n funcionamento 4 os motores, devendo no entanto ser conjugados os esforços no sentido de melhorar ia produtividade dos sistemas existentes. Por outro lado, Moçambique dispõe de recursos imensos de energia mas para o seu aproveitamento é preciso dinheiro e técnica. Existe dispersão de meios e não há planificação conjunta da produção e distribuição de energia eléctrica. É por isso que, de acordo com o mesmo informador, o esforço a desenvolver deve ser orientado no sentido de planificar e modificar a si- tuação actual, disciplinar o sector. Qualquer situação futura, foi dito ainda, terá de ter em atenção uma ideia de conjunto e não apenas determinada província, pelo que será de extrema importância a concentração num serviço único das funções de distribuição e produção de energia, elimimando-se o sistema actualmente em vigor em que aquelas funções estão atribuídas a organismos locais, como Câmaras Municipais. 1 quando se afirma que a hipótese central nuclear hipótese só poderia ser posta desde que não houvesse não se pode pôr em relação a Moçambique, há muitos qualquer outro recurso, o que também não sucede fundamentos para o fazer. Primeiro, porque uma pois, no que se refere, por exemplo, a recursos hicentral (como uma barragem), é construída num dráulicos as disponibilidades são consideradas ilimilocal determinado, sendo necessário construir um tadas. Mas, para além destes, outros recursos exissistema de transporte de energia que se torna tanto temem Moçambique. Onde se situam e qual a sua mais caro quanto maior fôr a distência a que essa importância? energia tenha de ser levada. Segundo, porque tal «TEMPO» n. 267 - pág. 24

No que respeita a recursos carboníferos, sem falar nos carvões do, Moatize, já conhecidos, reveste-se de extraordinário interesse a inventariação d as outras reservas carboniferas de Moçambique, nomeadamente as existentes nas regiões de Morongodzi, Chicaa-Metemboa e Catur -Maniamba, bem como o estudo das propriedades dos vários tipos de carvão existentes. Das jazidas que se conhecem, as de Moatize e Chicoa -Metamboa são consideradas as que maior interesse api.esentam e foram objecto de vários estudos, particularmente no que se refere à avaliação da reserva e qualidade de carvão da zona a inundar pela albufeira de Cabora Bassa e consequente viabili- dade de exploração económica. As reservas possíveis das referidas ooorrências, Moatize, Morongodzi e Chicoa- Metamboa, estão avaliadas em 154 milhões de toneladas, embora seja de admitir que sejam superiores, dado q u e foram estimadas com certa segurança e dadas as suas cohdições geológicas. No que respeita a gás natural, foram detectados jazigos em Temane, em Pande e no Búzi. Juntamente com as reservas hídricas e carboníferas, o gás natural poderá constituir a terceira das grandes f o n t e s de energia existentes em Moçambique. A estimativa feita para a capacidade do jazigo de Pande, indica um valor superior a 3000 milhões de metros cúbicos. Por outro lado, nada de concreto se conhece quanto à existência de petróleo. Até ao momento terão sido encontrados apenas pequenos vestígios, embora os técnicos Manifestem a opinião de ser da maior conveniência o prosseguimento das pesquisas neste campo. Pode ainda referir-se que, no que se refere a outras fontes de energia, já não são utilizados com valores muito importantes, as lenhas, ramas e desperdícios industriais, tais como provenientes de laboração de cana sacarina, algodão, oleaginosas, etc. Para as lenhas e ramas, estimando um consumo anual de 500 quilos «per capita» obtém- se um consumo total da ordem das 375000 toneladas 8nuais'em relação à população de Moçambique, segundo dados respeitantes ao ano de 1969. RECURSOS HIDRÁULICOS: DISPONIBILIDAES. ILIMITADAS Segundo o Relatório e Estatística dos Serviços Autón o m os de Electricidade de As reservas de carvão existentes no nosso País, embora não totalmente conhecidas, representam importante fonte de energia. A sua aplicação é variada e faz funcionar centrais como a de Lourenço Marques. «TE'IíPO» n., 267-pdg. 25

Dada a fraca capacidade de consumo de energia no nosso País, os geradores a gasóleo são uma solução que está longe de ser ulirapassada. Porém, o que se afigura urgente é que a produção e distribuição de energia em todo o Pais seja entrequ a um unico organismo. AS 36 ALTERNATIVAS PARA A IDADE SOLAR Sociedade de tecnologias pesadas Comunidades de tecnologias suaves 1. Ecologicamente doente Ecologicamente sã 2. Grandes capitais de energia Pequenos capitais de energia 3. Forte nível de poluição Pouca ou nenhuma poluição 4. Materiais e energia não reciclados Materiais reciclados -somente fontes de energia inesgotáveis 5. ObSolescência do material Longo uso 6. Produção em- massa Produção artesanal 7. Alta especialização Especialização: mínima 8. Nú leo familiar Unidade comunitária 9. Prioridade à cidade Prioridade à aldeia 10. Separada da natureza Integrada 11. Maioria silenciosa Debate democrático 12. Limites técnicos impostos pelo dinheiro Limites técnicos propostos* pela natureza 13. Comércio internacional. Permuta local 14. Destruição do meio cultural e natural. Integrada nos particularismos culturais e naturais 15. Tecnologia responsável pelos abusos Garantias contra os abusos 16. Destruição de outras espécies Depende do 'seu bem-estar 17. Inovação dependente do lucro e da guerra Inovação estimulada pelas necessidades 18. Economia de crescimento Economia estável. 19. Motor da sociedade: o capital anónimo Motor da comuna: o trabalho dos indivíduos 20. Aliena novos e velhos Integra-os 21. Centralizada Descentralizadã 22. Quanto, maior, mais eficaz Quanto mais pequena, melhor 23. Gestão reservada à compreensão de alguns Compreensível a todos 24. Acidentes técnicos numerosos e graves Raros 25. Soluções únicas para os problemas técnicos e sociais Soluções diversas 26. Monocultura Diversidade de culturas 27. Quantidade Qualidade 28. Produção alimentar industrializada Compartilhada por todos 29. Trabalho para ganhar a vida Trabalho primeiramente pelo prazer 30. Pequenas unidades dependentes umas das outras Auto-suficientes 31. Ciência e tecnologia desligadas da cultura Integradas na cultura 32. Ciência e tecnologia na mão dos especialistas Praticadas por todos 33. Ciência e tecnologia separadas das outras formas Associadas 34. Distinção entre trabalho e lazer Fraca ou inexistente 35. Desemprego elevado (Conceito desconhecido) 36. Objectivos para alguns e por pouco tempo Para todos e para sempre «TEMPO» n.' 267 - pdg. 26

Moçambique, r e f e r ente ao ano de 1969, a energia hidráulica é a forma de energia que se apresenta com melhores perspectivas de utilização, quer em aproveitamentos p u r amente hidroeléctricos, quer em aproveita'-ento,, hidr4ulicos de fins múltivloq. Existem em Moçambique disponibilidades consideradas ilimitadas, não só para as exigências actuais como até p-3ra os planos mais ousados que possam ser feitos. Uma inventariação sumária do potencial de Moçambique em energia hidrocléctrica, aponta para uma capacidade na ordem dos 11 milhões de KW instaláveis. Esta inventariação refere-se às possibilidades energéticas dos rios de Moçambique, incluindo o Zambeze, onde foi cons*ruída a barragem de Cabora Bassa, cuja potência total é de 3 600 000 KW. Se recordarmos 'que na altura em que o projecto de Cabora Bassa arrancou a capacidade máxima daquele empreendimento era dezenas de v e z e s superior ao consumo energético de M o ç a mbique, nessa altura, fácil se torna compreender o grau de grandesa das potencialidades energéticas do nosso País. Contudo, um ponto que é importante ter presente é o do elevado custo do transporte de energia, desde o local onde é produzida até ao é tanto mais elevado quanto local onde é consumida, que maior for a distância entre aqueles dois pontos. Este, de facto, um factor sempre considerado' quando se projecta uma barragem e o motivo que, pode levar ao abandono de alguns projectos, n& medida em que nem sempre é possível a sua construção próximo dos locais de consumo mas onde as condiçõe naturais o permiem. «TEMPO» n.- 267- pdk. 27 pense no futuro delei Numa ocasião especial ou como presente de aniversãrio, ofereça um presente realmente útil: Uma conta depósito na Caixa Económica do Montepio. Mesmo com uma quantia pequena ... só para estimular o esp[rito de poupança. Dinheiro ý )oupado o dinheiro multiplicado. Montepio(W onde o seu dinheiro rende juros até 9,5%.

/'A/k PEPIZES. .$IAZ ~~11mM#eFA11os EMA. A/Ão z' voê põ,- tUEP£ EUD*PC OPAA/os tr* 5,1 ELE PePp*ip. EU£ Aýz so o é- --4 tos P- PAAi 0, p,0~C i745OAC.4444É P46.4& oéAEC 8MEtE065 SeUPOS £-p Se/ o t4é PPDAAO PAM

Na SOALPOcomo em qualquer outra empresa existe um produto, a matéria- prima - algodão -, asmáquinas ouos instrumentosde tr ab a1 ho - bobinadeiras, branqueadoras, teares, etc. e os operários - pessoas que operam dirçctamente com as máquinas -, os gerentes, os chefes de secção, contabilidade e técnicos - pessoas que não têm um contacto direto com as máquinas, mas cujo trabalho depende delas - e finalmente a Administração, os accionistas que são aquilo a que se chama os capitalistas - pessoas que são donos das máquinas, da fá b r i c a, mas que não operam com máquinas, apenas administram o capital obtido com as vendas da fábrica. As máquinas com que foi montada a primitiva fábrica da SOALPO eram velhas e tecnicamente u 1 t rapassadas, razão porque em 1954 as vendas da fábrica eram de 15 mil contose em1970 atingem quase os 200 mil contos. As vendas atingem 200 mil contos em 1970, porque a produção da fábrica aumentoue dois factores p e s a m neste ponto.Primeiro, o número de trabalhadores não t e v e um aumento muito grande, o que o capitalismo fez foi melhorar a qualidade das máquinas, máquinas mais rápidas e que produziam mais sem se preocuparem com a melhoria técnica dos operários, p o i s sempre que traziam n o v a s máquinas vinham mais técnicos portugueses para mexerem nelas. Assim, a fábrica produz hoje cerca de 60 a 70 mil metros de p a n o diariamente, tendo, cerca de 3000 operários, várias dezenas de trabalhadores na contabilidade, administração e facto importante: técnicos especializados estrangeiros que em vez de trabalharem apenas como supervisores, como capatazes das máquinas e dos operários, estão-se a esforçar para a elevação do nível técnico dos operários. Este f a c t o é importante pois com a lompra de máquinas feita em 1973 através de um empréstimo de 2 3 0 mil contos, conseguido pela administração da SOALPO, compyaram-se teares dá Suíça, engomadeiras na Alemanha Ocidental, bobinadeiras na América e equipamento de fiação PLATT na Inglaterra. Estas novas máquinas trouxeram b e n e fícios, mastambém gr a v e s problemas para a fábrica. Op operários ate aqui habituados a traba«TEMPO» n. 267 - pág. 30 Enquanto os operários têm de vender a sua força do trabalho para poderem sobreviver, sustentar a sua família e ao mesmo tempo trabalhar muito, produzir o mais possível para que... lhar com máquinas velhas, têm imensa dificuldade em operar com as novas, pelo que ainda hoje não dominam totalmente estes novos instrumentos de produção. Assim o papel desempenhado pelos técnicos que controlam estas máquinas é importante não só porque eles estão e podem desenvolver a capacidade produtiva dos operários, bem como a produção geral da empresa. Os referidos instrumentos de produção são de alta qualidade, grande precisão e bqa produção, embora não estejam a produzir normalmente porque, como nos afirmou um operário «estas m á q u i n a s compra4as em 1973 Éão muito sofisticadas e para nó é difícil tirar o melhor rendi-/ mento delas. P o r exemplo, quando o fio que sai de uma máquina de fiação mal afina4L chega à tecelagem, ele não pode ser consumido». Outro operário afirmou: «A vinda dos técnicos da Suíça beneficiou-nos com a formação e reabilitação técnica às novas máquinas». Mesmo assim e com a grande fuga de técnicos, a fábrica produziu em Abril um milhão e 400 mil metros de pa- no e 67 mil metros de mantas, em Agosto a produção foi de 1 milhão e 500 mil metros de pano e 57 mil metros de mantas, notando-se poisum aumento crescente na produção. Os operários Como dissemos, trabalham na SOALPO três mil operários e operárias. São eles que divididos em turnos, p õ e m em funcionamento toda a maquinaria da fábrica. É das máquinas onde eles operam que sai o pano que vai dar trabalho aos vendedores, vai trazer trabalho para a contabilidade, do que resultam os grandes lucros para os capitalistas. Parecendo que não, o trabalho da fábrica como de qualquer empresa é um trabalho colestivo. Se os operários que estao na tecelagem não tiverem o rendimento necessário, o fio quando c h e g a r às bobinadeiras poderá partir e consequentemente irá diminuir a produção, embora os operários que estão com as bobinadeiras tenham tanto ou mais trabalho do que o normal pois, o que acontece é que se o fio for fraco, quantas mais vezes se partir, mais vezes t e r ã o os operadores 'da máquina dar nós, menos pano será também produzido pela máquina. Também um pano fraco terá menos compra pelo que os vendedores menos panos venderão, menos trabalho haverá para a contabilidade, menos dinheiro terá o capitalista, o que o levará certamente a despedir trabalhadores ou a não lhes pagar os seus salários. Portanto, havendo ou não capitalistas, havendo ou não um s i s t e m a capitalista na fábrica a produção, o processo de produção é colectivo. Mas o que acontece e o que está errado dentro do processo de produção capitalista é que é o capitalista, a administração e os seus capatazes e gerentes são quem decide como se há-de produzir, quanto se há-de produzir e de que maneira, p ara que os seus interesses de capitalista sejam servidos do melhor modo, Õs seus interesses individuais sejam servidos. Assim por exemplo, na SOALPO a produção é decidida pela administração em conjunto com os técnicos da- os donos das mdquinas, dos meios de produção possam viver bem e dstribuir entre si e os seus sócios capitalistas o rendimento da quilo que o trabalho dos operários da, dajuilo que a exploração que fazem aos trabalhadores do campo ou da fábrica lhes dá o capital do que as máquinas com que a fábrica está apetrechada, por serem m u i t o evoluídas tecnicamente, é que impõem o ritmo de trabalho aos operários. Deste modo, só os operários e os técnicos podem controlar totalmente as máquinas, controlar um processo de produção que sirva não uma pessoa ou meia dúzia, mas que sirva as necessidades da Nação; Os operários em qualquer empresa, como em qualquer fábrica estão apenas dependentes daqueles quê produ. zem as matérias-primas para o caso o algodão. Portanto, na indústria têxtil, como na maioria das indústrias, os operários estão dependentes dos camponeses, ao contrário daquilo que o capitalismo apregoa: que os operários estão dependentes do dono das máquinas e do edifício onde está instalada a fábrica. «Quindo as abelhar querem construir a sua colmeia, elas não chamam o leão que é o rei da selva para as dirigir. Elas trabalham orgianizadamente, e o n fiando na sua direcção constituída também por abelhas», disse-nos um operário da indús- tria têxtil de Lourenço Marques. Na produção e a p italista, quem está dependente é o capitalista, ele está dependente da força do trabalho dos operários, os operários no processo de produção capitalista não fazem mais do que vender a sua força do trabalho ao dono das máquinas, que precisa de alguém que trabalhe com elas. Por outro lado, e tal como as abelhas, os operários só poderão chegar à produção e gestão colectiva da fábrica na altura em que estejam organizados, na altura em que tenham consciéncia de que apenas dependem do campo, dos camponeses. Esta é, a aliança operário-camponesa. Aliança que os operários da SOALPO que trabalham na machamba colectiva do Chiongo, ganharam e ganham diariamente, compreendendo o processo de trabalho no campo, vendo de onde vem e quem faz o algodão com que eles trabalham diariamente. A unidade dos trabalhadores. na produção «Os operários < la Soalpo estão unidos contra qualquer manobra que possa diminuir a produção desta fábrica» afirmou-nos Lourenço H a r son, um dos operários com quem falámos. Na verdade a maior preocupação que pudemos constatar junto dos operários da fábrica foi a da produção. «Nós sabemos que só poderemos derrubar o capitalismo no nosso Pais, se aumentarmos a p r o d u ç ã o. Nós baixamos um pouco a produção, mas nesta altura e o administrado da fábrica reconheceu isso, o atlcoolismo baixou muito, o que fez ,aumentar a produtividade de certos elementos. Por 'outro lado, também as massas tém agora maior consciência política e procuram melhor,,vr a todo o custo os seus conhe- cimentos técnicos - disse-nos Luís Alface, da secção de estatística daquçla fábrica. Realmente, pudemos verificar que existe da parte de todos os elementos com responsabilidades políticas na f2brica, a consciência de que a Luta contra os inimigos não se faz apenas contra o capitalismo. «Os inimigos interaos, os vícios que e xistem dentro das pessoas como o alcoolismo, o tribalismo e o racismo, devem e estão a ser combatidos porque esses vicios são a base com que o capítalismo conta dentro de cada trabalhador. Qulndo o cwpitalista actua, fala ou dá ordens com o fim de sabotar, ele conhece quais são os pontos fracos das pessoas e por isso explora esses vícios, essas ideias erradas existentes nos operários, sabendo que pode e vai criar a confusão e a divisão porque este é racisto, este é extremisto», acrescentou Luís Alface. O capitalismo sente-se atacado «0 Administrador M ay.lhães já nos ameaçou que se quisesse ele podia fechar esta fábrica. Disse-nos que no dia em que se chateasse levava os técnicos estrangeiros embora e que a fábrica sem eles fechava». Perguntamos ao trabalhador que nos fez esta afirmação, se caso os técnicos fossem embora a !ábrica fecharia. «A fábrica fechor não fechava, mas a ver1 :de é que a produção ia dininuir em quantidade e em qualidade». Quisemos s a b e r quais as bases de tal afirinação por parte do administra dor delegado, m:n1 :1 : lhães. A esta pergunta respon.lc.ram-nos: « O 1 l e , por exemplo quando o engenheiro que estava no temperamento ds,, yom'cs se foi e m b o r a, porque a Administração o asustou com a situação de Moçambique, esse temperamento deixou de ser tão ebm feito como dantes e o resultado é que nós agora temos a-produção mais baixa ne-ýse sector». «TEMPO» n. 267 - pog. 31

«A administração nunca se preocupou em mandar operários moçambicanos especializarem-se, nas novas máquinas., não temos nada contra os técnicos, só que não sabemos é se a administração os vai assustar que a situação aqui em Moçambique é má para eles.» Também nos disseram os trabalhadores que constantemente a direcção da fábrica se desculpa com a incapacidade técnics, a inconsciência produtiva dos operários, mas a isto respondeu-nos um operário dos teares. «A administra'ção n u n c a se preocupou em mandar operários moçambicanos especializarem-se nas novas máquinas. Antes pelo contrário, as únicas pess%,, aqui da fábrica que se vão especializar são os amigos da administração, os estrangeiros. Nós estamos a pagar para aí uns quatro contos aos técnicos estrangeiros por cada dia de trabalho. Eu ach o que está bem pago nas o que não acho bem é que .a administração não taça cursos de elevação técnica, aproveitando esses técnicos. Já falamos com eles e eles não se importam, até já nos ensinum, mas é por iniciativa «TEMPO» n.' 267- pdg. 32 deles e não da administração. Não temos nada contra os técnicos e achamos que eles são necessários, só o que não sabemos é se ,a administração os vai assustar dizendo e. já disseram isso, a situação aqui em Moçambique é má, para depois eles se irem embora. Isso é que está mal». As máquinas da TEXMOQUE' A TEXMOQUE (Têxtil de Moçambique) é uma fábrica têxtil instalada em Nampula e que tem como accionistas o Administrador Magalhães da SOALPO e o Ministro portugués, Almeida Santos. Essa fábrica funciona com máquinas,, te ar e s comprados na SOALPO. «Nós sabíamos que esses teares iam para Nampula e que no lugar deles vinham para a SOALPO teares novos .Eram teares velhos e muitos deles estav,am quase a parar, mas antes de irem para a TEXMOQUE, esses teares foram arranjaIdos aqui ma SOALPO, com peças que cá tínhamos em armazém. Se foram máquinas oferecidas ou vendidas, não sabemos, a única coisa que sabemos é que estão cá doze teares iguais aos que foram para a TEXMOQUE, que não trabalham porque não têm peças. Quer dizer, para as máquinas de Nanipula ficarem boas, eles tiraram peças nas da SOALPO e agora temos doze teares que não funcionam. Pode ir lá ver!» «Essas máquinas de Nam pula funcionam com as teias feitas cá no Chimoio e depois vêm de Nampula para aqui. Nós não percebemos isto, porque esta fábrica também, faz pano, e tem melhores máquinas, e nós é que fazemos as teias, por isso não há razão para se fazer o pn o em Nampula. Não há razão nenhuma. Nós temos teares que estão parados com falta de peças, mas que não funcionam porque as suas peças foram para Nam pula». Outro trabalhador dos teares disse-nos que «eles têm a manobra bem feita. Tudo podia ser feito ,aqui no Chimoio, mas eles querem que a TEXMOQUE trabalhe e então tiraro peças aqui para depois o pano ter de ser f eito em Nampula, Acrescentou-nos ainda um dos controladores da produção dos teares que a paragem dos doze teares referidos significam a não produção de cerca de vários milhares de

«Para as mdquinas da Texmoque trabalharem e ficarem boas, eles tiraram peças nas da SOALPO e agora temos doze teares parados». Na foto em cima os referidos teares a que se referiram os trabalhadores da SOALPO. metros de pano por dia, o que certamente d im i n u i a produção da SOALPO. A contabilidade descontabilizada A SOALPO tem para além da sua fábrica têxtil, vários interesses em outras empresas, interesses que também se verificam através de acções do seu Administrador Delegado nessas mesmas empresas. Não pudemos contactar com o senhor Manuel Magalhães, por este não ýe encontrar na altura em Moçambique, pois estava a faz e r uma vi age m que incluia a passagem por várias capitais da Europa, tais como: Londres, Roma, Turim, Lisboa, Porto, Génova, Rio de Janeiro e Joanesburgo. M a s, a contabilidade da SOALPO apresenta-se, seglindo nos confiaram várias pessoas q u e ali trabalham, um pouco desorganizada. «Nunca e.steve organizazda», afirmaram-nos. A TEXMOQUE tem por exemplo uma dívida de 33 mil contos à SOALPO. A Empresa Moçambicana de Malhas deve 20 mil. A Interminas devia 16 mil contos, mas a SOALPO, a administração da SOALPO comprou 12 mil contos em acções dos 16 mil que tinha a haver da Interminas (empresa que explora minérios), passando a restante dívida de quatro mil contos para a Textáfrica Comercial. Ainda a Comportei (empresa de elevadores), d e ve cerca de 10 mil contos à Textáfrica Comercial. A taxa de descaroçamento e transpor- tes, a taxa de 5 por cento ao Instituto do Algodão, foi paga pela fábrica da SOALPO quando a despesa pertencia à Quinta das Laranjeiras, empresa agro- pecuária que pertence à SOALPO. Todasestas empresas pertencem ao grupo SOALPOe a s u a contabilidade é, na maioria das empresas, feita na SOALPO, havendo ordens e contra-ordens na efectuação de pagamentos, efectuação de recibos, feitura das contabilidades, etc., etc., conforme nos disseram vários trabalhadores -da contabilidade e de outros departamentos a ela ligada. Outro aspecto a salientar é o gasto exagerado de dinhei ros em obras que mais tarde de nada vêm a servir. Construção de barragens que depois n ã o são aproveitadas, etc., etc. Quem apaga o fogo? Na fábrica da SOALPO não existe nenhum dispositivo de segurança contra incêndios. Anualmente acontecem vários incêndios na fábrica, a 1 g u n s chegaram a atingir grandes proporções, causando prejuízos avolumados. Mas oiispositivo de segurança contra incêndios n'ão existe. Trabalham 3 mil operários na fábrica durante as 24 horas de cada dia, operando com algodão, com máquinas eléctricas que podem entrar em curto-circuito, havendo uma caldeira a vapor que também pode rebentar e que é movimentada pela lenha que se queima. Mas não «TEMPO» n.- 267-~pdg. 33

Os novos teares são muito modernos e tecnicamente muito avançados pelo que só com uma intensa mobilização do G. D. e com a consciencialização de todos os operários em produzirem mais e melhor se poderá chegar ao ponto em que todis controlam esses meios de produção agora considerados muito sofisticados. Neste ponto convém referir a ajuda dada pelos técnicos estrangeiros que estão na SOALPO. existe dispositivo de segurança contra incêndios. A companhia de Seguros da SOALPO é a Ourique, onde a SOALPO também tem interesses. «Tem havido in-' cêndios, mas a Ourique nntvca exigiu que a administracão da fábrica protegesse os operários, o algodão, as máquinas onde trabalham os operários, contra um incéndio que pode acontecer ao mínimo descuido de uni trabalhador, que pode acontecer logo que qualquer 'reaccionário pretenda sabotar a nossa economia», disseram-nos. O Textáfrica Grupo Desportivo e Recreativo da Textáfrica, assim se chama um dos principais «TEMPO» n. 267 - pdg. 34 clubes de futebol de Moçamý bique. E como viveu esse clube, com o é que possuía as melhores estrelas do futebol de Moçambique? Em primeiro lugar tinha de ter dinheiro e para isso a administração, da fábrica descontava 25 escudos a cada operário para a quota do Textáfrica. Por outro lado, recrutavam-se jogadores que nada percebiam de máquinas têxteis, mas que para jogarem no Textáfrica tinham de ter emprego garantido' na fábrica. Vieram muitos jogadores de todo o Moçambique para garantirem as vitórias do Textáfrica. Chegavam a ir buscar trabalhadores ao trabalho para irem para o campo gritarem pelo Textáfrica quando a «coisa e s t a v a mal». Aviões pagos pela fábrica para irem buscar jogadores aos pontos mais longínquos de Moçambique. «As massas eram alienadas, esqueciam a explora- ção, a opressão, naquele domingo em que iam ,to «campo da bola» ouvir o patrão Magalhães dizer-lhes: « V a m o s Textáfrica, Textáfri. cn..,. Agora e depois de muita discussão, os operários já não têm de pagar a quota de um clube que ainda tem um treinador a quem paga 17 contos para todos os dias às três e meia da tarde, e sem que tenha trabalhado uma hora sequei- na fábrica, ir treinar os pupilos da Textáfrica. Os operários já não pagam a quota, mas a fábrica tem ainda uma quota de 20 contos por mês e por outro lado o Administrador D e 1 e gado ofereceu, em nome da SOALPO, 240 contos para as despesas do clube que agora já não tem 25 escudos do suor de cada trabalhador por mês. Mas donde vieram os 240 contos, donde vêm os 20 contos mensais, senão do suor dos trabalhadores q u e não praticam desporto, por o desporto na SOALPO ser exclusivo das «estrelas». As man bras Uma das m nobras sabotadoras denunciadas p e.1 o s trabalhadores foi a Administração ter admitido na fábrica antigos membros da administração colonial, pessoas essas que vieram ocupar car. gos bem pagos. Essa manobra incluia também a admissão de Canha e Sã, elemento há pouco expulso de Moçambique por ser um comprovado agitador, para o cargo de Director da Empresa Moçambicana de Malhas. O Canha e Sã só não entrou porque o Grupo Dinamizàdor e os trabalhadores se opuseram, lev a n d o a administração a compreender q u e realmente admitir o Canha e Sã era um pouco exagerado. Luís Alface também nos disse ainda sobre a administração: «Quando vêem que um elemento está bem l igado às massas, mudam-no 1o go desecção. Éo caso do Bento, do Matapa e do Lourenço. Para os mudar de secção deram razões que aquela era a única maneira deles poderem subir. Mas sempre que sobem uma pessoa é para ganhq/r mais e isso pode ser perigoso, pois as pessoas também se corrompem». Em seguida foi-nos contado a exemplo do caso anterior, o caso de Alberto Primeiro, primeiro Secretário do Grupo Dinamizador da SOALPO. «Ele g a n h a v a quatro contos e passou a Secretário do Grupo Dinamizador, au. mentaram-no para 12 contos, passdndo a chefe do turno da noite. O que aconteceu é que o Alberto ganhou condições para a corrupção e mais tar de foi denunciado por atitudesco ntr a-revolucionárias. Teve de abandonar o Grupo Dinamizador, m a s nós não acreditamos que ele seja realmente corrupto, ele procedeu mal, ele p o de ter roubado, mas quem lhe criou essa situação? Nós aprendemos muito com o exemplo do AIberto Primeiro». As contradições Existem, conforme nos comprovaram, certas contradições ao nível dos trabalhadores que se reflectem na produção e que acabam sendo um bom campo para a act ção da reacção. Assim, guns elementos dizem que técnicos não são necessári que estão a roubar, que vam o dinheiro embora, o e é uma manobra da 'reacçí pois conforme nos disser os trabalhadores, os técnh são necessáriose são es mesmos técnicos quem poc rã melhorar a qualidade pi fissional e produtiva dos ol rários. Outros acusam a admin tração de racista porque d va subsídios aos brancos, q a administração d iv id e brancos dos pretos, quan, são esses mesmos element como nos disseram, os prim ros a dizerem às massa «Aquele branco ganha mais tu podias ganhar tanto com ele». E, isto não passa tar bém de reacção, reacção qx divide os trabalhadores e i separa dos verdadeiros obje tivos que o Grupo Dinamiz dor pretende atingir que é maior produtividade, melh ria dos conhecimentos técn cos, identificação e n t r e c trabalhadores dos serviços c< merciais e de contabilidadi com os operários da fábric, identificação entre operário e técnicos para que Moçan bique possa vestir todo o P( vo com os panos da SOAI PO, para que a SOALPO d mais rendimentos e p o s s mesmo trazer para Moçambi que mais divisas através d; exportação dos produtos qu, os operários da SOALPO fa zem. Alguns mesmo pretenden isoladamente e fora do Gru po Dinamizador tomar medi das, o que nãotem passad de movimentos de agitação havendo outrosque q ua s conseguem levar os trabalha dores à greve. «A greve não nos convém porque só nos'ia trazer fome para as nossas famílias e acabávamos por fazer sabotagem porque há pessoas pobres que estão à espera dos panos que saem aqui da fábrica», disse-nos um o p e r ário. «Há também aqueles que ficam contentes por chamar capitalistas aos da administração, mas se formos a ver eles não sabem o que é o capitalismo, são p e s s o a s que produzem pouco e também não se preocupam em discutir como é que havemos de aumentar a produção. Eu penso que para acabar com a exploração dos capitalistas só arranjando uma pr o dução que seja controlada por nós e não pelos capitalistas e para isso o G. D. já se está a organizar», afirmou-nos um membro do G. D. da SOALPO. Soubemos ainda que uma das medidas pela qual o G. Apesar de ser uma fábrica muito evoluida tecnicamente não foi preocupação da administração montar um sistema contra incêndios à altura. Por ano acontecem incêndios mas a companhia seguradora OURIQUE nunca exigiu um sistema contra incêndios na fábrica, segundo nos disseram os operários da SOALPO D. se esforça em pôr em execução prática, é a admissão e demissão de pessoal ter a . sua consulta prévia. «Estão-se a admitir aqui pessoas que nós não poderiamos admitir porque sabemos que estão comprometidas com o colonialismo. Nós pensamos que isso d e v i a ser da nossa competência e vamos discutir isso com a administração», afirmou a este respeito o responsável pela Mobilização do G. D. Que estrutura tem a SOALPO A SOALPO (Sociedade Algodoeira de Fomento C o 1 o nial, S. A. R. L.), é uma empresa capitalista como tantas outras em Moçambique. E porquê capitalista? Porque o terreno onde está instalada a fábrica, o edifício, as máquinas que nela estão instaladas, etc., são propriedade de um g r u p o de capitalistas portugueses, ou de empresas onde esses capitalistas são os donos ou os maiores accionistas, pessoas que compram a Força de trabalho a 3000 ra do Z a m b e ze (SAZA), operários. Companhia de Seguros OuriO seu Administrador Dele- que e Algodoeira C o 1 o n i a l gado é Manuel Rook de Ma- Agrícola. galhães, engenheiro instalado Hoje, a SOALPO é um dos no Chimoio há vários anos e mais fortes potentados ecosobrinho de um dos mais in- nómnicos de Moçambique e deteressados a c c i o n istas da la, nasceu ui TRUST (na, SOALPO, o capitalista por- forma de Holding) com assetuguês a residir rio Porto, A1- guintes empresas: Testavex bano Magalhães. A SOALPO (companhia de fumigações de nasceu no tempo em que Mar- algodão), Interminas (explo celo C a e t a n o era Ministro ração mineira com exportadas Colónias, da Sociedade ção para o Japão), TextáfriAlgodoeira de Portugal e um ca Comercial (empresa --que dos s e u s objectivos era a tem a exclusividade de vencriação de uma outra empre- das dos produtos da fábrica) sa p ara aproveitamento de Empresa M oç a mbicana de energia hidroeléctrica. Assim Malhas, Quinta das Laranjeinasceu a SHER (Sociedade ras (exploração agro-pecuáHidroeléctrica do Revué) em ria), Sociedade Algodoeira do que Marcelo Caetano tinha Zambeze (exploração agrícocomparticipação e que levou la de a 1 g o d ã o), Texmoque à remodelação da Inicial So- (fábrica têxtil er. Nampula), eiedade Algodoeira de Fo- Comportei (indústria de elemento Colonial. vadores), SOALPO & Comandita (supermercado) e Em 1950, a Sociedade Al- ainda outras empresas. godoeira de Fomento Colonial De salieiitar no entanto, passou a ser uma Sociedade que o actual Administrador Anónima denominada SOAL- Delegado, Manuel Magalhães, PO, emque pa rt icipavam temacções emquase todas, com umcapital de 200 mil senão em todas as empresas contos o Estado Português, que nasceram da SOALPO e SHER, Sociedade Algodoeira que como dissemos formam de Portugal, Companhia de um TRUST (Holding) ou seFomento Colonial de Luan- ja: uma concentração finanda, Empresa Moçambicana de ceira, industrial, comercial e Malhas, Sociedade Algodoei- administrativa de todas as «TEMPO» n.o 267 -pdg. 35 empresas em que uma delas (a SOALPO) é a possuidora da maioria das acções e administra t o d a s as restantes (Manuel Magalhães é realmente quem controla administrativamente t o d a s estas empresas) mantendo a s s i m um monopólio completo. Quem quer comprar, vender, tratar o algodão, tem de parar nas mãos da SOALPO ou de uma das suas empresas, quem quer comprar pano tem quase por certo de parar na SOALPO. Q u e m distribui é a SOALPO, através de uma das suas empresas e tudo isto, todo o monopólio é na prática controlado por uma única pessoa - forma suprema do capitalismo. Actuação colonial-capitalista Como já se referiu a SOALPO nasceu em 1946 de um Decreto-Lei assinado por Marcelo Caetano, na altura em que este fascista desempenhava as funções de Ministro das Colónias para Portugal. Nessa altura o Governo português promovia em Moçambique a cultura do algodão, para o que usava todo o seu sistema de repressãoadministradores de c h-i cote, trabalhos forçados para os camponeses fazerem algodão, etc. O algodão nessa altura era comprado aos camponeses que trabalhavam debaixo do chicote a 1$10 o quilo e vendido para Portugal ý 11$83 e para o estrangeiro a 19$15. Por esta razão e com o algodão comprado a preços tão baixos aos camponeses, montou-se uma fábrica têxtil em Moçambique para depois se vender não o algodão, mas pano, para Portugal e para o estrangeiro. A fábrica foi montada com equipamentos velhos, máquinas usadas que já não servindo nas fábricas portuguesas por e s t a r e m ultrapassadas tecnicamente, serviam em Moçambique, porque a mão-de-obra era muito barata. Nessa altura, um operário ganhava 3, 4 ou 5 escudos por dia. Por outro lado, a energia era conseguida com caldeiras de vapor, onde se queimaram milhões de árvores que apenas custavam o preço do corte e custavam a Moçambique a perda do seu património nacional. A partir de 60 a energia passou a ser fornecida pela SHER que entretanto montara uma central de energia eléctrica, a p o u c o s metros da fábrica, energia obtida na barragem da Chicamba no rio Revué e que era vendida à SOALPO a preços baixos. Em 1954, as vendas da SOALPO eram de 15 mil 2ontos, mas em 1970 atingiram cerca de 200 mil contos. No entanto, o número de operários moçambicanos na fábrica pouco aumentou nos últimos dez anos, devendo-se isto a uma constante importação de operários portugueses e á terminante recusa da elevação don iv e 1 técnico dos operários moçambicanos, por serem considerados «p o u c o capazes» pela administração da SOALPO. O aumento de pl-odução da fábrica deveu-se e m p r e à melhoria das niáquinas, o que significava afäsar cada vez mais os operários moçambicanos do conhe imento técnico - cada máquina nova simbolizava a vinda de mais técnicos portugueses. Tantos ou tão poucos técnicos portugueses trouxe de Portugal a administração colonial-capitalista da SOALPO, que se formou na SOALPO uma verdadeira comunidade de portugueses originários do Porto, comunidade essa que viria a fundar um clube desportivo, com as cores do Futebol Clube do -Porto. O agravamento ao longo dos anos do racismo também foi outra manobra bem executada pela administração. Trabalhadores explorados portugueses que chegados a Moçambique, lhes era incuti- Contra a exploração defendem-se os operários e .cam técnica, para que o capitalismo, a exploração capitaliý prendem os operários e lhes ~suga a sua força de trab s produzindo mais, aprendendo a melhorar a sua qualidade xe de ser uma teia, um conjunto de fios manobrados que da a mentalidade racista da sua superioridade pela cor da pele que possuíam e que, vendidos por condições de vida superior às que mantinham em Portugal, esqueciam a sua origem de explorados, passando a oprimir, a explorar, a reaccionariamente manifestar a sua superioridade racial. Isto aconteceu também na SOALPO, indivíduos que explorados em Portugal, eram manobrados para servirem os objectivos do colonialismo e «TEMPO» n.o 267-pdg. 36 muitos passaram mesmo a ser leais agentes desse sistema. Denúncia constante durante o processo de Libertação Nacional de qualquer trabalhador que manifestasse qualquer desejo de Liberdade., Muitos agentes da PIDE trabalharam na S O A L P O, muitos operários foram presos, espancados e podem mostrar ainda hoje as marcas dessa policia repressiva portuguesa, bem como podem falar da polícia que a SOAL- PO mantinha: homens armados, informadores internos e guarda nocturna «para defender a fábrica de qualquer ataque terrorista». Convém relembrar como exemplo mais do que suficiente: o caso dos padres de. Burgos. Porque estes padres davam aulas de alfabetização p a r a .adultos, porque como dizia a PIDE, ep zssavam a vida com os pretos», a administração da SOALPO denunciou-os ao Governo de Lisboa, acabando por serem expulsos pela PIDE para fora de Moçambjque. Hoje os padres de Burgos estão de novo na SOALPO, onde desenvolvem um intenso trabalho junto das massas, onde juntamente com os operários da fábrica têm a machamba colectiva do Chiçngo-machamba colectiva que mereceu no nosso n., 247 extensa reportagem. e

PRIMEIROS PASSOS Efectuou-se no dia 4 do mês passado, uma reunião dos Grupos Dinamizadores das empresas de Lourenço Marques, Matola e Machava, durante a qual se procurou definir uma estratégia correcta para a luta anti-capitalista do operariado moçambicano, Luta essa inserida e determinada por um contexto duplo: por um lado o facto de que a causa dos operários «é global e não desta ou daquela unidade de trabalho», como se pode ler no Comunicado do Comissariado Polítito referente a essa reunião, e por outro a subordinação do próprio operariado a uma aliança operário- camponesa. 1-Como estrutura do Partido e como braço de acção mais directamente ligado aos trabalhadores, o papel fundamental do G. D. é precisamente o de elevar a consciência destes ao nível dessa aliança, o de emprestar à consciência de explorado uma visão clara do vasto contexto em que se situa a exploração. Há uma grande diferença entre estas duas consciências, a de explorado e a de classe. Enquanto que a primeira nao consegue ultrapassar a fase de reivindicação salarial imediata, a segunda reivindica a sociedade inteira, isto é, a totalidade dos órgãos do poder político e económico, e apresenta-se então capaz de destruir a contradição principal do sistema capitalista: a contradição que existe entre eles, exército de trabalhadores que nada têm senão a sua força de trabalho, e o controlo minoritário burguês dos meios de produção. Estes e muitos outros conhecimentos teóricos sobre o capitalismo, irão permitir que na Luta contra o capitalista, somente o agente mais patente do capitalismo c o m o sistem#u da exploração do h o m e m pelo homem, não se crie, através da adopção de estruturas capitalistas, a oportunidade da substituição de uns c a p i t a- 2- Durante o período de transição os G. D., mais propriamente os das cidades demonstraram uma capacidade de mobilização realmente notória mas determinada mais pela presença fí sic a e em grandes escala da reacção do que por uma percepção da luta a longo prazo - a materialização do poder popular a todos os níveis da sociedade moçambicana. O confronto directo com os sectores mais reaccionários do nosso país, na altura com uma actividade aberta e por isso facilmente detectável, os primeiros passos de uma interiorização da linha política da FRELIMO, e os preparativos para a Independência Nacional, foram as características principais deste primeiro período da actividade dos G. D. Passada que está essa fase, um novo e mais amplo campo de acção se seguiu essencialmente caracterizado pela necessidade de se ir implantando a complexidade do confronto classista. E, eTEMPO» n.- 267 - pdg. 37 «Descolonizar o Estado significa essencialmente desmantelar o sistema político, administrativo, cultural, financeiro, económico, educacional, jurídico e outros, que como parte integrante do Estado colonial se destinavam exclusivamente a impor às massas a dom~ estrangeira e a vontade dos exploradores.» (SAMORA MACHEL) como não podia deixar de ser aparecem d i v e r gências: umas secundárias, outras fundamentais porque ideológicas, no seio dos G,. D.; aparecem compatibilidades estranhas entre alguns dos seus membros e as entidades patronais, reveladoras de tendências pequeno-burguesas ou simplesmente dirigistas, por são hoje importadas podem ser produzidas no nosso país, mas 'para isso é necessário que haja essa ligação estreita entre operários e camponeses, imediata e através dos órgãos representativos, na investigação das possibilidades de se ir materializando a tã, desejada independência económica. O Grupo Dinamizador tem de constituir a ligação concreta entre o Governo e o povo, entre o pensamento popular e as directrizes governamentais. dência nacional o que já está em. causa é a capacidade de trabalho dos membros dos G. D., o conteúdo ideológico das suas acções, o seu conhecimento teórico sobre o capitalismo, a questão de conseguirem ou' não materializar a ajuda (gigantesca) ao processo de Reconstrução Nacional. 4-Os aspectos físicos des sa ajuda serão fundamentalmente, (a) a discussão dos problemas do Partido a nível de estruturas, portanto de G. D. sem que haja uma transplantação dessas discussões D., criação de conflitos tribalistas e rácicos entre as massas trabalhadoras, edificação de todo o tipo de barreiras à aprendizagem dos poderários quer através da aceitação de novos empregados sem conheciýnento prévio dos G. D. e daqueles quer através de campanhas mais ou menos subtis para consolidar o complexo de inferioridade a nível de profissão, etc- .... (c) revisão da composição dos G. D. figurando neles operários de vanguarda no sentido de emprestar maior significado à sua representatividade; parte daqueles descobrem-se infiltrações, d e n u n c iam-se atitudes liberalistas, arrogantes, tribalistas e racistas, tem de se depurar elementos dos G. D. de autênticos abusos do poder, e tudo isto vai determinar a Impossibilidade de estes passarem a Comités do Partido, até que a sua acção representativa seja obra de uma democratização completa das relações entre os Grupos Dinamizadores e as massas trabalhadoras. 3 - Mas dizer democratizar - tornar cada vez mais claras e consequentes as relações entre o topo e a base - é procurar os meios mais eficientes de se institucionalizar essa aliança opeário- camponesa, isto é, tentar uma coordenação s e m p r e mais ampla entre os órgãos que constituem o caminho para a vitória popular, o Partido, as FPLM, o Governo e os G. D., e usá-los no sentido de se poder concretizar uma cooperação constante e n t r e trabalhadores de fábrica e trabalhadores de campo. Democratizar não pode ter, portanto, a sua dimensão reduzida à participação colectiva - a nível de debate e da prática - numa fábrica, numa aldeia, sem haver uma outra participação entre essa fábrica e essa aldeia. E isto no vastissimo c a m p o chamado Moçambique. Por outro lado, nunca é demais frisá-lo, nada disto seria possível se não houvesse uma realidade bem concreta a permití-lo: (a) uma mesma origen de trabalhadores e camponeses Medida pelo facto de nada possuírem além da sua força de trabalho que vendem ao capital privado; e (b) a mútua dependência entre os sectores agrícola e industrial - mui-' tas das matérias-primas qut No que diz respeito à interiorização dos fundamentos ideológicos dessa aliança cabe aos G. D. explicá-la, corrigí-la, orientá-la mas sempre na prática; por outras palavras, se os G. D. nada fizeram para conseguir essa li.gação vista e sentida, através de trabalho de pesquisa em que participem operários e camponeses, através da discussão das necessidades e da maneira de superá-las com a participação de -uns e de outros, não teremos nem democratização n e m independêcia económica - já que os dois estão estreitamente relacionados: sem a primeira teremos a estagnação das for ças dinamizadoras do Partido hoje existentes e a sua subsequente estatizaçã, o, e sem a segunda entraremos no ciclo vicioso de dependência-pobreza-maior dependência. Não construir exemplos mensais, semanais, diários sobre as bases já existentes é negar a possibilidade de se edificar a ideologia revolucionária. É deixar que as diferenças geográficas, - salariais e mentais se perpetuem. Sem uma prática revolucionária não pode existir ideologia revolucionária, e sem ideologia revolucionária não h a v e r á uma prática revolucionária. E, finalmente, sem esta, dissipam-se as iniciativas populares, sobrecarrega-se o Governo e os órgãos mais altos do Partido com um trabalho fora do alcance das suas pos. sibilidades materia is, ýe criam-se assim as condições objectivas para uma negação do papel dos G. D. que deve ser a verdadeira antítese do ciclo vicioso acima referido: libertar novas forças de produção - democratizar - independência económica. Mesmo que passados pouco mais de 4 meses da indepen- para a rua cujas deturpações resultantes dariam origem a boatos da pior espécie - interessa aqui f r is a r que do uso correcto do centralismo democrático d e p e n d e uma contínua democratização da vida política moçambicana; (b) o combate às manobras do capitalismo qúe são semelhantes em todas as unidades de trlabalho: aumento de salários a alguns trabalhadores, infiltração dos seus agentes no seio destes e dos G. (d) purificação dos G. D.; (e) elevação dos conhecimen, tos políticos, ideológicos e técnicos dos trabalhadores; (f) organização de cursos periódicos nos próprios locais de trabalho (g) realização de campanhas de alfabetização; e (h) aumento de produtividade. São estes portanto, alguns dos factores que desde já constituem o critério de julgamento a aplicar às actividades dos G. D. «TEMPO» n. 267-pd. 38 O Grupo Dinamizador para ser eficiente tem de ser democrático, para ser democrático tem de ser eficiente.

VIGILÂNCIA POPULAR Um dos factores mais importantes em matéria de revolução é a vigilância popular, particularmente nesta fase de definição de métodos de trabalho, iniciação de uma prática democrática e estabe. lecimento dos limites do poder representativo. É nesta fase de arrancada para a Reconstrução Nacional - re- lidas para uma participação activa, organizada e democrática do povo moçambicano no conjunto das decisões que são tomadas em seu nome. Mas vamos ao assunto. Já se viu alguém a aprender a nadar num campo de futebol, ou alguém a aprender a jogar futebol numa piscina? Creio que não. Da mesma maneira a vigilância popular. Quer-se com isto dizer que a presente consolidação das 'vitórias alcançadas atraý vés da sua institucionalização - Governo, G. D., SNASPsem o seu limite na própria povo e das suas mais profundas aspirações. Uma coisa é a necessidade de se criarem órgãos representativos por causa de uma ainda ausente coordenação a nível de base (no seu todo); outra coisa é manter esta vigilância estatal, mas sempre com o objectivo máximo em vista: a divulgação dos conhecimentos e os métodos para uma (futura) vigilância popular eficiente, consequente e democrática. A parte que cabe aos G. D. é portanto a dinamização da capacidade de vigilância das massas trabalhadoras e nunca a sua substituição por eles, G. D., que têm o condão de abafar certas crises muitas vezes necessárias. A substituição não é só um passo para uma «revolução» de escritório; é contra os interes'ses das massas trabalhado- -lhe mais expressão, ãa i o r percepção global dos iroblemas, das posições políticas. É neste sentido que a crise é essencial a essa hierarquia; dinamizava, torna-a sempre mais representativa do povo e assim transforma os seres humanos que nela p ar t ic ipam. (Certamente um dos caminhos para o homem novo). Têm, deste modo, os G. D. duas avenidas perfeitamente distintas à sua frente: a sua dinamização como estrutura do Partido e simultaneamen. te representativa e educativa, ou a estagnação que leva ao espírito dirigista e a subsequente transformação dos G. D. em centros burocráticos preenchidos por mentalidades burocráticas. A escolha pode e deve ser feita desde já e reside precisamente nessas duas p a 1 avras: VIGILÂNCIA POPU- I A consciência de explorado reivindica o salário. A consciência de classe reivindica a sociedade, isto é, todos os órgãos do Poder Político e Económico. ras, dos camponeses, enfim, dos pobres, que devem estar sempr-de olho aberto no que diz respeito à construção do socialismo: se é tudo palavreado ou se há mesmo progressos. E resta agora reafirmar a importância de uma hierarquia dinâmica, uma hierarquia que não, esteja imbuída de conceitos hierárquicos mas de conceitos de a p e r f eiçoamento do poder de crítica dos trabalhadores. Há, portanto, um tipo de acção que muitos G. D. deviam já estar a seguir: criar a própria crise qu a nd o os seus membros souberem de divergências ideológicas no seu seio, mas escondidas debaixo da superfície. É isso o que a crise tem de positivo; (re)Criar a força crítica das massas trabalhadoras, dar- LAR. Os órgãos superiores têm (Comité Central, Governo, Departamento de Defesa) têm em mente a criação de um estado de coisas que permita ao povo reconstruir as maneiras de emancipar sempre que estas lhe fujam. Mas isto não basta. É preciso que sejam os G. D. a materializar o outro lado da moeda da representação: às directrizes que vêm do topo para a base é preciso acrescentar mais e mais inforrn:. ções da base para o topo, informações que irão alimentar a qualidade, a veracidade, a legitimidade e a democraticidade dessas directrizes. Os G. D. que hoje existem, e os seus membros, estarão à altura de servir as massas? Esta a pergunta que muitos trabalhadores já vão fazendo. Felizmente. construção económica, políti- necessidade de não se substica, cultural e a nível de men- tuir a vigilância popular por talidades - que estabelecere- outra, mesmo que esta última mos, ou não,, as fundações só- seja efectuada em nome do DOIS D[POIMFNIOS Publicamos os depoimentos de dois Secretários de G. D. respectivamente, da Companhia Industrial da Matola e da T U D O R, como complemento descritivo a este trabalho essencialmente 'analítico da situação objectiva dos G. D. na luta anti-capitalista que se desenrola presentemente. Um trahalho mais completo implicaria um estu- do pormenorizado de muitas fábricas e respectivos G. D. o que, por sua vez, necessitaria de uma base estatística d as condições subjectivas e objectivas do processo revolucionário s i m ultaneamente nas empresas e a nível do todo humano que nelas trabalha. O Sindicato único para todos os trabalhadores Moçgmbicanos anunciado após a «TEMPO» n.' 267- póg. 39 «Devemos sempre sublinhar que a causa da classe operária moçambicana está insérida na causa de todos os operários e trabalhadores do mundo inteiro, na sua Luta contra o inimigo comum, contra o explorador da força de trabalho dos trabalhadores: o capitalismo.» (Armando Guebuza) reunião do Comité Central da FRELIMO em Junho deste ano, irá com certeza permitir a feitura desse estudo estatístico e a subsequente visão mais clara e pormenorizada A. alrL mw.nmbiicana. Secretário do Grupo Dinamizador da Companhia Industrial da Matola: (a) «Realmente começa a verificar-se aqui o nascimento dessa consciência de classe, que abrange tanto os operários como os camponeses, a consciência de que existe uma Luta que tem de ser levada a cabo globalmente. Por exemplo, notou-se já uma preocupação dos operários desta fábrica em produzir mais para se poder alimentar melhor os camponeses e ao mesmo tempo garantirmos a nossa própria alimentação. Mas p a r a poder haver uma compreensãó mais clara dessa aliança é preciso dar um conteúdo mais amplo às nossas reuniões. No que diz respeito a reuniões com os G. D. de outras empresas não as temos tido, mas já programamos uma primeira reunião, para a próxima semana, com a fábrica de bicicletas. (b) Claro que o trabalho de consciencialização depende de muitos factores directamente relacionados com o G. D., a sua composição, aspectos ideológicos dos seus membros, conhecimentos técnicos, capacidade de dinamização, etc- .... Quer dizer, é o G. D. que tem a seu cargo as tarefasde consciencialização. E é aqui que se nota, talvez, a maior falha. Alguns membros do G. D. - somos 14 para 1200 operários - tomam posições mais ou menos inconscientes, não têm uma compreensac completa do processo de Luta e através das suas acções vão ýriar ainda mais problemas que, por sua vez, impossibilitam uma maior vigilância sobre possíveis manobras divisionistas por parte «TEMPO» n. 267- pág. 40 da administração. É a s s i m que as nossas posições se vão reflectir no seio das massas trabalhadoras. Por outro lado só muito recentemente foi feita a reestruturação dp G. D., isto é, houve a suspensão de alguns dos seus membros e é preciso frisar que isto não foi uma coisa interna; os trabalhadores participaram nessas suspensões. Com esta reestrutur a ç á o já poderemos tentar solucionar alguns dos problemas aqui existentes e mesmo conseguir uma mais pormenorizada informação sobre a nossa fábrica; por exemplo, acontece que os operários não têm conhecimento da situação financeira da fábrica o que os leva a fazer reivindicações salariais despropositadas. (e) Quanto à questão da discussão dos problemas do Partido muitas vezes existe uma falta de compreensão das causas desses problemas porque o G. D. não está aiída devidamente integrado em todos os aspectos da línha política da FRELIMO. (d) Está a haver agora um maior esforço para elevarmos o nível técnico e político dos trabalhadores. E s t a m o s a preparar técnicos, m a i s na parte industrial que administrativa, para ocuparem os lugares deixados vagos por aqueles técnicos que p a r t iram. E temos sessões de esclarecimento sempre aqui dentro da fábrica - durante as quais fazemos a leitura de textos, comunicados oficiais e discursos do Presidente Samora por exemplo, mas não tem havido uma participação conveniente dos operários. Os estrangeiros q u e aqui trabalham participam n a s reuniões de trabalho porque tudo o que ali é discutido lhes diz respeito, mas não nas sessoes de esclarecimento. Por último, estamos a fazer um plano de melhoramento para todos os operários, mas há alguns que pensam que um melhoramento deve ir para os carregadores, outro para os trabalhadores l i g a d o s à produção, etc- .... Isto é, portanto, ainda um reflexo de uma falta de consciência verdadeiramente válida, tanto dos trabalhadores e o m o do G. D.» Secretário do Grupo Dinamizador da TUDOR: (a) «Como o camarada Comissário Político N a c i onal frisou, nós, os operários, não podemos lutar sozinhos, isto é, temos que nos unir tanto aos outros operários como aos camponeses para poder haver uma luta conjunta. Para tentarmos materializar essa unidade já tivemos reuniões com os G. D. de duas empresas, a FABRINA e a Breyner & Wyrth. No entanto, no respeitante à relação com os camponeses ainda nada foi feito porque não temos ligações de trabalho com eles. Quase todas as nossas matérias-primas são importadas de Portugal, da África do Sul e do Japão. Só o chumbo é que não é importado. Portanto não há um pretexto imediato para essa relação com os camponeses e por isso a Unidade tem que ser c o n s truída no plano ideológico, sem passar por demonstrações práticas. E isso torna-se mais difícil. (b) Com a vitória sobre o colonialismo, é nossa tarefa agora esclarecermos os trabalhadores sobre o capitalismo e o imperialismo. Explicamos que os 'capitalistas ficam com os lucros,' que estes saem do nosso trabalho, mas não são distribuídos por nós. Por outro lado, existe o facto de que o capitalista olha para nós como se fossemos máquinas. Nas sessões de esclarecimento lemos alguns textos, circulares do Governo e do Partido, e se ouvimos n o t í cias importantes nos noticiários da Rádio transmitimo-las aos operários. Mas nem todos os trabalhadores vão a essas sessões de esclarecimento. Não estão habituados a participar nas discussões e isso é uma das grandes preocupações cá na fábrica. (e) No respeitante ao trabalho de elevação do seu nível técnico, temos tentado várias vias. Em Junho deste ano foram3 camaradas nossos estagiar a Portugal e agora vão mais 3, todos eles moçambicanos. Quando voltarem estarão à altura de ensinar aos -outros aqui. Também adoptamos um sistema de rotação para que fiquemos todos a saber um pouco de tudo. Por outro lado, ainda bem recentemente tivemos uma reunião do G. D. para considerarmos a possibilidade de termos um ou mais elementos ligados à parte administrativa e já há um camarada preparado para assumir esse cargo. Quando se põe a questão de um abandono da fábrica por parte das entidades p a t r o nais eu acho que se isso acontecesse nós estaríamos preparados para não deixar a fábrica falir até porque temos hoje trabalhadores hoje ligados à produção que poderiam tomar conta da parte de contabilidade. Já no ano passado, logo após o 25 de Abril e nos meses de Agosto e Setembro, quando houve uma baixa de produtividade por causa da fuga de técnicos, tivemos que manter a fábrica com os trabalhadores que cá havia e mesmo a s s i m conseguimos manter os «stocks». A produção tem aumentado e estamos agora empenhados em aprender mais e mais e tentar compreender como funciona a fábrica no seu todo. (d) Já houve uma reestruturação do G. D. mas só a nível de capacidade de trabalho, isto é, não houve a necessidade de fazer purificações; simplesmente deram entrada mais alguns elementos para facilitar a coordenação dos trabalhos. (e) Talver o maior problema imediato, e que re vel a uma certa falta de vigilância por parte do G. D., seja o de a administração saltar por cima das nossas cabeças. No passado tem acontecido que há pessoal'que é admitido e outro que é' demitido sem que tenhamos conhecimento disso. E isto é realmente gra-

O capitalismo, na sua fase avançada - o imperialismo - tem necessidade, para a sua sobrevivência da procura constante de novas fontes de matérias-primas, de novos mercados para colocação dos produtos da sua super-produção, bem como, e em especial, de força de trabalho, - trabalhadores assalariados, disposta a desregradas formas de exploração. Como consequência destes factores, e com o objectivo de os satisfazer, nasce toda a ocupação dos continentes do Terceiro Mundo por parte das metrópoles capitalistas, que justificam a construção dos seus vastos impérios coloniais com vago sentido de piedade paternalista e religiosa. Através de uma dominação política, militar, económica e cultural, as metrópoles coloniais estabelecem toda uma relação de dependência por parte dos países colonizados para com os países capitalistas industrializados. Com o desenvolvimento das relações de produção capitalistas nos países colonizados, nasce um novo estrato social - a burguesia nacional - que, forada à feição da burguesia colonizadora, serve perfeitamente os interesses desta. A burguesia nacional dos países colonizados, que assume directamente todos os valores culturais e sociais da burguesia colonizadora, não constitui, de forma nenhuma, uma força antagónica ao pais coloniaista, mas, pelo contrário, é sua aliada, pois luta pelos mesmos privilégios e não se «importa» de com ela os partilhar. Ela não se torna inimiga da burguesia colonizadora nem mesmo quando o espírito de patriotismo burguês reivindica a independência, pois esta irá permitir a continuidade da exploração económica nestes países (objectivo-base das metrópoles coloniais) através de um novo sistema de dominação econónca, política e cultural - o neocolonialismo. «TEMPO» n.- 267 - pdg. 41

AO LADO: Uma aldeia no, Mali. Que tipo de cooperação se exerce nas comunidades afro-europeias? Este sistema, que apresenta como justificação para manutenção das suas relações de dominação, uma pseudo-cooperação económica, cultural, político-militar, e «sentimental», vigora hoje na maior parte dos países do terceiro mundo, nomeadamente e m África, América do Sul o Ssia. A Comunidade dos Países Francófonos e Anglófonos em África, bem como certas organizações de cooperação económica na América do Sul, de que é exemplo a Aliança Latino Americana de Livre Comércio, não constituem senão organizações de carácter neocolonial que apenas visam dar uma base legal e permitir, por parte do país neocolonizador,um controle directo sobre as novas colónias. Assistimos a partir da segunda guerra (conflito militar imperialista de 1939 a 1945) à descolopização dos ý«TEMPO» n.- 267-pág. 42 impérios coloniais franceses e ingleses em Africa. Porém, a quem era, entregue o poder nestes novos países? Qual a razão da não oposição directa por parte dos governos inglês e francês ao desmembrar dos seus impérios? Que tipo de independência obtiveram estes países? Quais os objectivos das novas comunidades « 1 i n g u í s tas» (francófona e anglófona) que logo a seguir estabelecem relações económicas, culturais e políticas entre as ex-colonias e as velhas metrópoles colonizadoras? Se Estudarmos as relações que os membros das novas comunidades estabelecem entre si, bem como os seus movimentos, poderemos claramente descobrir os seus objectivos (bem diferentes dos proclamados), bem como compreen- der os processos de descolonização que levaram à sua criação. A França e a Comunidade francófona: que tipo de cooperação? O império neocolonial francês em África é, senão o maior aquele que de uma forma mais profunda encarna os prineipios da desigualdade económica, da dependência cultural e político-militar camuflada, que servem de base de sustento da primeira. Porém, para quem duma forma vaga se resolva a dar uma vista de olhos pela, constituição e operações da Comunidade francófona, estrutura organizativa do império, de nada se apercebe senão de um sentido de paternalismo por parte da França em relação às suas ex-colónias e uma tentiva de com elas «cooperar». Porém, que tipo de cooperação se executa? Se aprofundarmos um pouco o estudo da referida organização muitas explicações para esse sentido de piedade e paternalismo nos saltarão à cara, muitos moralismos se transformarão em puras consequências de um oportunismo sem limite. Para um pequeno estudo da situação do império neocolonial francês em África, observemos numa primeira fase, a evolução do impérioco"1onia 1ao neocolonialism) fiancêE. I-Do império colonial ao neocolonialismo No império colonial tal como existia no fim da última guerra mundial o imperialismo francês manifestava-se: 1 - Por um dominação política: - A «presença» francesa em quase todoo, mundo.

O ex-Presidente francês George Pompidou visita triunfante uma das suas ex- colónias, uma das suas neocolónías -Bases militares assegurando a defesa dos interesses estratégicos, gerais ou regionais, franceses n o quadro geral mundial, e a política internacional do governo francês. -a administração directa e sem controle sobre as populações africanas que não detêm qualquer direito nem liberdade, para único benefício do Estado francês, detentor e protector das empresas privadas. - Por uma exploração económica - A importação por parte da França de matérias primas necessárias às indústrias francesas, pyovenientes da cultura de plantas oleaginosas, texteis e alimentares, e cuja cultura tornada obrigatória para algumas populações é obrigada a efectuar constantes migrações, bem .como o recrutamento descordenado de mão de obra para florestas e minas. - Exportação por parte da França e para as colónias de produtos fabricados em Fran- ça com matéria prima dessas mesmas colónias. - Consequências: Inexistên. cia de qualquer transformação tio processo de extracção de matérias primas; nenhuma industrialização em função do benefício do próprio pais (colónia); investimântos cxtremamente débeis que benefeciam na maior parte o Estado colonial em lugar das empresas privadas; equipamento deficiente e apenas em função da «necessidades coloniais». 3 -Paraum domíniono plano cultural O emprego exclusivo do Francês a todos os níveis do ensino. - Um ensino limitado a uma ínfima minoria, o que implica o analfabetismo generalizado. Ensino secundá. rio, técnico e superior de frequência extremamente reduzido, e destinado a formar quadros médios, sobretudo administrativos, evoluídos e dóceis. - Insuficiência em qualida- Uma criança do norte dos Camarões, um dos países membros da comunidade francófona «TEMPO» n. - 267 - pdg. 43

í. Com efeito em 1969 a Tsumeb Corporation teve um licro líquido de 19 milhoes de rands (perto de oitocentos v sessenta e cinco mil contos) que em 1972 sobe para 26 milhões de rands (perto de novecentos e dez mil contos). Observamos portanto a existência de um impressionante lucro em troca de um investimento de o r i ge m de poucos milhões de dólales. Não são, porém, a American Metal Climax e a Newmont Mining Corporation, as únicas companhias que drenam muito habilmente os recursos e bens naturais da Namíbia, mas sim m uitas mais. A«United tates Stee l»tem ocontrolo de 30' das *concessõesde pr ospe cção, partilhando-o como gr u p o Angoval, umdos maiores complexos mineiros da Africa do Sul. As concessões foram cedidas p a r a exploração de cobre e minérios de base (vis), numa área cobrindo 1500 quilómetros quadrados no Ocidente e Centro da Namíbia. A Nord Mining é uma das subsidiárias da Nord Rcsour«TEMPO» n., 267- pag. 45 tý - .- fronteiras x á... reas ocupadas 1 2 reservas africanas 3 linhas ferroviárias 76 ____ 8 estradas nacionais 9 -....-- estradas secundáriasl° * Capital 12 * Outrascidades mines: TSUMEB BERG AUKAS KOMBAT BRANDBERG W uIS HENTI ESBAAI ROSSING MATCHLESS ONGANJA OAMITES KLEIN AUB ORANJEMUND ROSH PINAH «TEMPO» n.ý 267-pdg. 46 cobre e chumbo vanadium/chumbo cobre/chumbo tungstério/chumbo estanho sal urânio cobre cobre cobre cobre diamantes zinco ces do Novo México, que por sua vez controla um número extenso de concessões. Esta companhia anunciou em 1970 a intenção de desenvolver uma mina de volfrâmio com um capital proveniente de um investimento de sete milhões de dólares americanos. Ela anunciou t a m b é m que havia descoberto vastos jazigos de cobre em comum com uma companhia francesa. A Navaro 'Exploration, uma subsidiária da ZAPATA Norness de Houston, TexasEstados Unidos, opera uma mina de cobre em Oganja. Esta mina relativamente nova, foi concebida para desenvolvimento e crescimento rápido e a sua produção é exportada para o Japão. Por detrás da mina de Oganja, a Navaro tem uma concessão cobrindo 750 m 11 acres de terra para prospecção. A 1 g u m a s declarações põem a hipótese da possível descoberta de uma vasta ga, ma de recursos minerais, tais com> prata, zinco e chumbo. Não -há mais do que oito companhias britânicas o p erando na Namíbia. A Chartered Consolidated do Reino Unido, controla à0% da Sout'i West Africa Co., Ltd., e 33 % da Section Trust Ltd. A Consolidated Gold Fields, de Inglaterra, tem 2 % da companhia anterior, 60 % na Vogelstrusbult M e t a 1 Hold- ings Ltd., e 37 % na Kil Products, Ltd. A Selection Trust de Inglaterra detém 14 % do capital social da American Climatex, que como, vimos atrás, detém capital da Tsumeb Corporation, e outros 14!? na própria Tsumeb Corporation. A South West Africa Company, de Inglaterra, detém 7,50X do capital da Tsumeb Corporation. A British Pètrolium Company tem vindo a explorar petróleo em conjunto com a Shell Exploration Company of South West Africa. A Rio Tinto Zinco Corporation, de Inglaterra e a organização estatal de energia atómica, estão desenvolvendo e construindo a maior mina do mundo de urânio a céu aberto em Rossing, a 70 milhas de Swakopmund. Como pudemos ver, os interesses das potências capitalistas na Namíbia sob o domínio da África do Sul, e: plicam bem a posição por elas tomada -nas Nações Unidas, como também desmascar a r a m qualquer declaração fantoche de apoio ao povo da Namíbia e de luta pela defesa dos interesses desýte proferida por parte de qualquer destas potências Por outro lado e tentando entravar a luta de libertação revolucionária encetada pela SWAPO - vanguarda revo- lucionária do povo da Namíbia - que se reveste duma acção armada activa, o governo racista de Pretória tentou já organizar uma conferência fantoche com c h e f e s tribais da Namíbia onde, segundo declara um comunicado, iriam ser discutidos os termos da independêficia do território, sabendo-se'a indaqueuma das condições postas pela Africa do Sul seria a defesa dos direitos das minorias privilegiadas e estrangeiras na Namíbia, bem como os das companhias de capitais estrangeiros e a garantia da sua continuidade deoperação. Esta manobra que visa obter condições de construção do sistema (de exploração imperialista) neocolonial, não é já inédita no plano de política externa da Africa do Sul. o-ivs qu' ió. foi omrn».zue em certas colónias de bandoira livre, os chamados «B a n t u stões» económica, política, mietr P até culturalmente dominados pela primeira, mas rao'1es h a s e s dos recursos "noitRlistas do mundo. anes-r de constituir uma das m'iores fontes de exploração di- Militares franceses no Tchad, uma outra forma de cooperação recta de matéria-prima, base fundamental de laboração do imperialismo ec a p i talismo mundial, apesar dos esforços que estes tentarão fazer para manter a Namíbia e o seu povo numa forma de dominação e exploração, a determinação do povo da Namíbia em lutar pela sua libertação enquadrado pela sua vanguarda revolucionária, a SWAPO, quebrará toda e qualquer tentativa do imperialismo em mantê-lo explorado e oprimido, levando-o à vitória, à sua libertação total. A f ric a, continente do Terceiro Mundo, constitui um dos focos principais de explo. ração capitalista e das manobras imperialistas para a manter. É à Africa, que as potências imperialistas vêm extrair as bases do seu sustento, as matérias-primas e a mão-de-obra b ar at a.É em Africa que assentamospésdo imperialismo e capitalismo mundial. A libertação de um território da influência e dominação imperialista, a libertação de um povo, é o corte de um dosnumerosos pés do imperialismo,é um passo para a libertação dos povos de todo o mundo. « «€ TEMPO» n." 267- p0d, 47

*~~ .~<:~* ...... * acção dinamizada presença no, progresso apoio ao país. ao serviço de moçambique

A NOSSA CAPA: A Bandeira do MPLA Redacção: Albino Magaia, Calane da Silva Mendes de Oliveira, Luis David. Alvas Gomes, José Baptista, Orlando 'Azevedo, Carlos Cardoso; Secretéria da Redacção: Ofélia Tembe; Fotografia: Ricardo Rangel, Kok Nam, Armindo Afonso (colaborador) Maquetizaçio: Eugénio Aldasse; Comissão Ditsectiva: Ricardo Rangel, Albino Magaia e Calane da Silva; Propriedade: Tempogfáfica; Oficinas. Redacção, Administraço e Serviços Comerciais: Av. Afonso de Albuquerque, (017-A e B, Prédio Invicta; Telefones - 26191,26192, 26193; Caixa Postal: 2917 Lourenço Marques, Moçambique. LISTA DOS DISIRIBUIDORES PROVÍNCIA DO MAPUTO fotalagem Pinto Nerníacha Issufo Adam ...... MOAMBA Centro Comercial da Manhiça ...... MANIçA PROVÍNCIA DE GA l Luís Gomes Breda ...... INCOLIJANE Fernando Teixeira da Fonseca.... MACIA Magode Comercial, da...... MAGUDE Livraria Católica ...... CóÓCUE (ex-Trigo de Morai Amílcar Simões Julião ...... ClICUALACUALA (ex-Malvémlal Casa Lis ...... AI-XAI Manuel Francisco de Oliveira, Lda ...... CHIBUTO PROVNCIA DE INIAMBANE Joaquim Ribeiro Júnior ...... INHABAN Africano Benete ...... QUISSICO . ZAVALA PROVÍNCIA DE MANICA Tabacaria Desportiva Chímoio (Vila Pery) PROVINCIA DE SOFALA Auto Viação do Sul do Sove...... BEIRA Augusto, Frechaut ...... MARROMEU PROWNCIA DE 1!!! Discotete ...... TLt Bar do ÁeroDorto do Songo...... SONGO PROVÍNCIA DA ZAMBÉZIA Papelaria Central ...... MOCUBA Maria Inícia Osório ...... QUEIMANE José Elias Aedina ...... LUGEA PROVÍNCIA DE INMPUU CNsa Spanos ...... NAMPULA Papelaria Abrantina ...... ANGOCHE (e-Ant6No les) PROVNCIA DE CABO DELGADO Sotil ...... PEMBA (ex-Parto Amélia) Domingos da Silva Leal ...... MOCIMBOA DA PRAIA PROVNCIA DE NIASSA CNsimiro José Alves ...... LICHINGA (ex-Vila Cabli - 1 .-~çxV x2 Nú~iVr~~*?Vx VA4Ix~Vi.'*2Vt* -5V->"'- 5UMR E SECÇÕES: Cartas dos leitores Semana a semana (nacio.nal) ...... Nota da Redacção E REPORTAGENS: Angola independente como M.P. LA ...... Um exemp4o da exploração capitaliste ...... 27 M DOCUMENTOS: 50 Energia ...... 19 E APONTAMENTOS Grupos dinamizadores 37 Africa do Sul: Cooperação ou neocolonialismò . . 41 Seminário Nacional de Saúde ...... 54 Cimeira da CONCP . . . 58 DESEJO SER ASSIMNE DA REVISTA «TEMPO» A PAiTI DO DIA DA RxIMA SEMANA N.ELDD ...... MOAD ...... VALE 00 CORREIO TMErx ENVIO on o VAILOR CORESPONOENTE * UMA ASSINATUnA SEMESTRAL CHEOUE ANUAL PROVINCIAS DE OUTRAS PROVINCIAS ASSINATURAS MAPULTO GAZA INHAMBANE POR VIA AÉREA 1 ANO 52 NÚMEROS 760$00 40$00 MESES 26 NÚMEROS 380500 120$00 A MESES 13 NUMEROS 190500 210500 O PEDIDO De INSCRICAO DEVE SER ACOMPANHADO DA IMPORTANCIA RESPECTIVA

A edição desta semana apresenta-se na sua forma bastante alterada. Assim, as secções Sumário, Cartas dos Leitores ,e Semana a Semana Nacional encontram-se incluídas a partir da página 49, estando o seu espaço bastante mais reduzido. Razão de talfactoé a Independência de Angola, reportagem com que abrimos a nossa revista e que nos foi enviada da agora República Popular de Angola pelos nossos dois repórtes ali presentes. Essa reportagem é relativa á situação que antecedeu a Independência, proclamada em nome do Povo irmão de Angola pelo MPLA e na qual é descrita a forma heróica como os nossos irmãos angolanos estão a resistir à avançada reaccionária e assassina dos lacaios internos do imperialismo em Angola, ao exército sul-africano e zairense, aos reaccionários neocolonialistas portugueses, liquidando de arma na mão o imperialismo, construindo um novo pais e uma nova sociedade na batalha da produção segundo o lema: Produzir é Resistir. Chamamos a atenção dos Nossos Leitores para uma gralha existente no texto da reportagem «Um Exemplo da Exploração Capitalista». Na página 36 e onde começa o texto do subtítulo Actuação Colonial-Capitalista, ele tem seguimento em toda a parte superior da fotografia ali incluída, prosseguindo depois na mancha de texto que está por debaixo dessa mesma foto. Na edição da próxima semana contamos dedicar uma longa parte da nossa revista à proclamação da Independência da República Popular de Angola com a inclusão de inúmeras fotográfias, assim como um poster. Nessa edição e porque agora nos foi impossível fazê-lo, incluiremos uma alargada notícia da visita efectuada pelo Secretário-Geral do PAIGC e Presidente da República de Cabo Verde, Camarada Aristides Pereira e o texto integral da alocução proferida pelo Camarada Presidente Samora no Estádio da Machava, durante o comício em celebração e apoio à Independência de Angolp organizado pelos Grupos Dinamizadores do Maputo. 201 (TEMPO» n.,, 267 - pág. 50 9índependente; O aecooeismo; 74s ig,-eias e Aedeias Comunais Moçambique independente é uma história para todos os moçambicanos uma história que jamais esqueceremos, desde o Rovuma ao Maputo. Os nossos bisavós derrotados a combater pela sua liberdade. Como por exemplo o Maguiguane, Gungunhane e outros combatentes dos melhores nesse tempo. Os colonialistas portugueses os derrotaram. Os nossos bisavós lutaram sem unidade, não tinham material mederno, estavam desunidos, portanto os estrangeiros portugueses aproveitaram o fracasso de material e a nossa desunião. Instalados os estrangeiros portugueses em Móçambique, a primeira coisa que fizeram, nos dividiram em grupos para puderem reinar. Os colonialistas portugueses convencidos de que Moçambique nunca voltaria a cair nas mãos dos moçambicanos, eles até diziam: «Aqui é Portugal- Moçambique». Esse sinal era de que. os moçambicanos nunca podiam lutar para se libertarem. Os continuadores dos nossos bisavós, não deixaram em vão a luta dos nossos bisavós derrotados. Foram aos poucos, para um território vizinho da Tanzania, onde foram bem recebidos e apoiados pela luta de combater e derrubar os estrangeiros instalados no nosso país. Assim no dia 25 lde Junho de 1975 o colnialismo português foi derrubado. Portanto, moçambique que se tinha perdido nas mãos dos nossos bisavós, voltou nas mãos dos moçambicanos, por uma luta justa, que durou 10 anos. o ALCOOLISMO É um processo muito envergonhoso para o Moçambique independente, até nos faz esquecer o que o nosso governo quer. Nos grupos dinamizadores dos bairros dizem todos os dias nas reuniões que abaixo o alcoolismo, mas os nossos irmãos viciados de alcool, fazem daquilo como se fosse uma canção de brincadeira das crianças. Tenho verificado nos bares onde se fornece em grande quantidade de bebidas, a maneira como a população bebe, é vergonhoso, enche os bares duma maneira que até esgota as cadeiras e mesas, acaba com os copos, e que chega a beber pelas próprias garrafas. Não vou citar os lugares, mas a verdade é que nós que queremos ou mesmo que seguimos com a nossa revolução, vejamos que esses irmãos alcooólicos serão ultrapassados pela Revolução. C o m o é que devemos combater? Moçambique tem muito trabalho, trabalho esse em que ainda podiam ser aproveitados e engajarem-se na Revolução; na construção das aldeias comunais; no trabalho da agricultura, etc. A política da FRELIMO já está divulgada em todos os moçambicanos, já sabemos o que é que o nosso Governo quer. AS IGREJAS A guerra travada pela FRELIMO, não combateu para expulsar os portugueses, mas a verdade é que combater para acabar com a exploração do homem pelo homem, que vinha a ser efectuada pelo Colonialismo português As igrejas devem deixar os maus hábitos que vinham praticando no regime colonial. E devem reconhecer as ordens do Governo. Algumas delas vieram para enganar o nosso povo, para poderem explorar, devem acabar com essa exploração. Há igrejas que lutam com o nosso Governo, como por exemplo as Testemunhas de Jeová, que nem tem uma igreja aqui em Moçambique, como também não é uma religião, mas sim podemos dizer que são agentes dos Americanos. Esses devem ter um destino definitivo, que é para não contaminar os continuadores" da- revolução moçambicana. ALDEIAS COMUNAIS Nós, moçambicanos, d e v e m o s apoiar muito a construção das aldeias comunais. Porque isso não há quem não sabe, é um processo de acabar com a doeniça, fome, obscurantismo, e para podermos vigiar melhor o nosso inimigo. O colonialis- mo português não teve esse interesse, ele só veio oprimir o povo. Viva a FRELIMO que une e organiza o Povo! ARMANDO' ERNESTO DIMÂNDE Ccine com ossosCa-ne sem ossos O mesmo pzeco? Então se a carne de 2." limpa, sem ossos, é ao mesmo preço que a de 2.1 com ossos, porquê não'vendem a carne de 2. limpa? Não sei a quem posso dirigir este meu apelo, mas peço a todos o favor de darem o vosso parecer quanto a este assunto. Porque dentro da cidade da Maxixe, não há carne de 2. limpa, mas só há carne de 2./ com ossos, que custa 22$00! Ou talvez h o u v e alteração nos preços da carne, mas em Inhambane, vendem a 17$50 a mesma carne que na Maxixe cuýta 22$00. Tenho conhecimento de que a carne de 2., com ossos custa 17$50 o quilo o que na Maxixe custa 22$00 e o quilo de 2. limpa sem ossos custa 22$00, o que na Maxixe nao se vende porque não há. Além disso, os camaradas que ali vendem nos talhos, quando chegar uma pessoa para comprar carne, eles a primeira coisa que fazem olham para a posição da pessoa -'se merece boa carne ou não. E eu pergunto: Será que o dinheiro da pessoa desconhecida e da conhecida, não tem o mesmo valor? Camaradas: o que se verifica nos estabelecimentos comerciais da Maxixe, é a falta de espírito revolucionário. Eles apenas se dedicam muito às pessoas que têm valor e os conhecidos deles. O que me põe em dúvida é o seguinte: Embora eu tenha amigos conhecidos que me facilitam a mim comprar boa carne, só para minha casa, mas tenho pena daqueles que não têm amigos nos talhos da Maxixe, e que não são conhecidos lá, porque todos esses vão para o talho, são mal atendidose é-lhes dada carne que só tem ossos grandes, mas no valor de 22$00 o quilo. E se esses perguntam se há carne de 2." limpa, vem a resposta do cortador: nós aqui não temos carne de 2.' limpa! Mas será que os bois que se matam na Maxixe não têm carne de 2." limpa, só têm carne de 2.- com ossos grandes? E o preço por quilo será mesmo 22$00 de 2." com ossos grandes? De maneira que, se não estou errado, peço por favor que este problema dos comerciantes da Maxixe seja revisto. Assim como aqueles que andam nos dias dos magaíças a vender na praça da E. T. Majohane, camas por preços injustos e aparadores e outros artigos, será que os magaíças não podem ir fazer as suas compras nas cantinas onde tem tudo isso à venda? Mas também o que me admira, é que nem todos são comerciantes que ali vendem, nem são carpinteiros, são pessoas apenas que só nos dias de magaíças, saem de sua casa e vão a qualquer comerciante levantarem o que é preciso para venderem aos magaíças, e se na cantina levantarem, por exemplo, uma cama pelo valor de 1500$00 e ele quando chega à praça vende a cama por 3000$00 ou 4000$00, o dobro do custo por que se vendem nas cantinas, e assim eles aproveitam o dinheiro dum desgraçado que foi acabar um ano nas minas para o bem da família dele, e chegam à Maxixe é acabado o seu dinheiro. Camaradas: Será que só os magaíças é que precisam que lhes vendam tudo o que se vende ali nos dias de magaiças? Eu acho que se ali onde vendem nos dias de magaíças poderia ser proibido a vender tudo o que vendem nos dias de magaíças, e assim os magaiças poderiam ir às cantinas, ou às carpintarias - se eles precisarem duma cama - e de tudo o que se vende na praça. Porque, no referido sítio, tem por vezes aparecido lá à venda comidas nas panelas ,de barro, cujas panelas não têm tampas nem panos, e assim deste modo, eu acho ser muito vergonhoso numa cidade destas. A Luta continua! Saudações Revolucionárias! ALEXANDRE GUILANDE DOUTOR Caixa Postal 14- Maxixe «TEMPO» n. 267 - pág. 51 ((TEMPO)) n. 267 pdg. 51

W SEMANA A SEMANA _58. o aniversario da de Dulbro AMIZADE E S01 DARIEDADE ENTRE MOCAMBIQUE E A UAl As 10 horas da manhã do, diz 26 de Outubro de 1917, o Comité Militar Revolucionário dó Sovfete de Deputados, Operários e Soldados de Petrogrado dirigia a seguinte mensagem a todo o Povo da Rússia: «Aos cidadãos da Rússia! O Governo Provisório foi deposto. O Poder do Estado passou para as mãos do Comité Militar Revolucionário, que é o órgão dos deputados, operários e soldados de Petrogrado e se encontra à frente do Proletariado e da Guarnição da Capital. Os objectivos pelos quais lutou o Povo --a proposta imediata de uma paz democrática, a supressão da propriedade agrária dos latifúndios, o controlo operário da produção e a constituição de um Governo Soviético - estão asssegurados. Viva a Revolução dos operários e camponeses!N» Comemorou-se em Moçambique o 58.1 Aniversário da Revolução Socialista da União Soviética, com uma recepção oferecida pela embaixada daquele pais ao Governo de Moçambique e ao corpo diplomático acreditado nesta cidade. Este dia marca a libertação do Povo da União Soviética da exploração capitalista, libertação que havia de prosseguir na Europa, na Ásia, em Cuba e em Africa. Foi segundo a ideologia proletária de Marx, que Lenine desenvolveu a teoria da ditadura do proletariado, a qual viria a ser pedra fundamental para o desenvolvimento e transformação de todas as lutas de libertação dos povos oprimidos em Revolução. Conforme disse Arkádi Glukov. encarregado dos Negócios Estrangeiros da Embaixada da União Soviétiva no nosso país, ao dirigir-se ao Camarada Joaquim Chissano, Ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique e a todos os presentes: «O Povo soviético e todos os povos progressistas do Mundo celebraram hoje o 58.° Aniversdrio da Revolução Socialista de Outubro, que marcou uma nova época para a Humanidade. Ela foi o início da transformação do Mundo, foi o inicio da época socialista». Em seguida aquele membro da em«TEMPO» n.- 267- pdg. 52 baixada soviética falou da vitória que era para o Povo da União Soviética o nascimento em Moçambique de uma República Popular, da solidariedade que liga todos os povos amantes da paz e da ajuda que a União Soviética presta à Luta pela Libertação dos povos de todo o mundo. A seguir falou o Camarada Joaquim Chíssano que destacou o significado histórico daquela data, definindo em seguida qual o significado que assume a Independência de Moçambique e a sua política de solidariedade militante, o que não significa qualquer comprometimento, qualquer interfência na política interna dos países. Sobre este aspecto afirmou o Camarada Ministro dos Negócios Estrangeiros: - «Lutámos por uma independência total e completa, independência que nos permite escolher o n o s s o próprio caminho. Em Moçambique, escolhemos o socialismo. Mas antes de o fazermos pesámos os prós e os contras e comparámos o passado com os verdadeiros desejos do povo moçambicano que, durante tantos anos, sofreu sob um sistema capitalista. Foi por isso que escolhemos o socialismo. N4o é por cópia ou por submissãa à União; Soviética, à China ou a qualquer outro país socialista. Nós vamos desenvolver o socalismo em Moçambique independente. O senti-1 mento da independência governa todas as nossas acções e decisões. Apenas vamos seguir, de todo o Mundo, o que for de mais positivo para a nossa reconstrução. Em nenhum caso isso será sinal de' dependência. Durante a luta de libertação de Moçambique, recebemos ajuda da União Soviética, da China e de outros países progressistas. O recebermos esse apoio não significa que licássemos na dependência dos comunistas, que estaríamos sob a sua influência. Só recebemos uma ajuda para alcançarmos a nossa independência e só continuaremos a aceitar a ajuda de todos os países que não queiram interferir nos assuntos internos de Moçambique e não pretenASSINADO ACORDO ENIR F * 300 mil conte Foi assinado na passada sexta-feira em Lourenço Marqujes, no Ministério do Estado da Presidência o prothcolo de um acordo de cooperação entre Moçambique e a Suécia, que permite a utilização imediata de 90 mil dos 300 mil contos que aquele país concedeu a Moçambique. Chefiavam as delegações sueca e moçambicana, Sven Oloff Dõõs e Jorge Tembe, respéctivamente. O restante da ajuda -prestada por aquele país a Moçambique fica dependente de um acordo final a realizar em Fevereiro. Após a assinatura do acordo, Jorge Tembe proferiu uma breve alocução, onde realçou a continuação e o reforço das boas relações entre Moçambique e a Suécia em prol de uma libertação efectiva de ambos os povos e a contribuição para a derrota da exploração do homem pelo hçmem. Por fim, agradeceu o gesto amigável

0 VIT EICA dam prejudicar a nossa independén. cia. Esperamos que haja uma cooperação cada vez mais.jorte de parte da URSS, pois estamos certos de que não interlerirá nos nossos assuntos internos, assim como não interleriu nos assuntos da FRELIMO, na altura da luta armada. Da mesma maneira se processa o apoio dado a Angola e estamos certos que os nossos irmãos angolanos saberão manter a sua dignidade, não permitindo nenhuma interferência. Estou convicto que a URSS não o farã, como não o fez em Moçambique. No final da cerimónia Arkádi Glukov e -Joaquim Chissano brindaram por aquela data, pela fortificação da solidariedade militante entre os Povos socialistas de todo o mundo.. SU(CIA E MOÇAMBIQUI ara desenvolvimento que teve para com Moçambique, sendo desejo do nosso, pais que este acordo resultasse um sucesso para ambas as partes. Os 90 mil contos destinam-se a ser utilizados no incremento da agricultura através da compra de material agrícola a realizar em qualquer parte, como alfaias agrícolas, tractores, equipamento para irrigação, material para tratamento de leite, compra de gado. O restante dinheiro será ainda utilizado entre outras coisas na-construção naval e transportes, na criação de Indústria de papel, na produção de m inério de ferro e fornecimento de técnicos. As *duas delegações estudaram ainda a possibilidade da ajuda a prestar à construção da barragem de Corumana, projecto que não se Inclui na doação dos 300 mil contos prestada a Moçambique. AVISO O BANCO DE MOÇAMBIQUE NO USO DA COMPETÊNCIA QUE LHE É CONFERIDA PELO ART.° 10.0 DA SUA LEI ORGÂNICA e NOS TERMOS DO ART.0 2.0 N.O 2 DO DECRETO 13/75, AVISA O PÚBLICO DO SEGUINTE: AS NOTAS COM VALOR FACIAL DE 100 ESCUDOS' DA EMISSAO DO BANCO NACIONAL ULTRAMARINO DE 27 DE MARÇO DE 1961, E COM O N. DE SÉRIE C 13.000.001 a C 23.000.000 NAO CONTÊM NO EMOLDURADO'EM CIRCULO DO LADO ESQUERDO DA NOTA, A MARCA DE AGUA PREVISTA NO AVISO DE EMISSÃO PUBLICADO NO B. O. DE MOÇAMBIQUE N.° 41 >1 SÉRIE DE 14-10-61, MAS POSSUEM TODO O VALOR DAS REFERIDAS NOTAS, TENDO PORTANTO CURSO LEGAL EM MOÇAMBIQUE. O BANCO DE MOÇAMBIQUE O Governador, ALBERTO CASSIMO «TEMPO» n. 267 - pdg. 53

Aspecto da Assembleia dos trabalhadores da Saúde e responsáveis do mesmo sector do Partido e do Governo presentes em Quelimâne no Primeiro Seminário Nacional de Saúde Decorreu em Quelimane, capital da Província da Zambézia, de 30 de Outubro e 7 de Novembro o primeiro Seminário Nacional de Saúde com a participação de elementos de todas as províncias e responsáveis do partido e do Governo daquele sector no país. Culminando com a própria intervenção do camarada Vice-Presidente da FRELIMO e Ministro do Desenvolvimento e Planificação Marcelino dos Santos no dia do encerramento, este seminário têve por objectivo principal a palavra de ordem do Camarada Presidente sobre a saúde no sentido de «materializar o princípio de que a revolução liberta o povo». Foi uma semana inteira de debates sobre assuntos importantes para a futura resolução dos graves problemas sanitários por que Moçambique atravessa. A importância da mobilização política do pessoal dos Serviços de Saúde, lado a lado com as largas massas populares, tendo em vista o combate frontal e na origem contra as mais graves doenças endémicas e «TEMPO» n.; 267-pdg. 54 contagiosas, o saneamento das cidades, o funcionamento dos hospitais, a higiene, a captação de água, tudo isto tendo em vista o binómio Homem-Terra foram postos em.evidência durante o primeiro Seminá- rio Nacional de Saúde. Nos vários dias sessões que se prolongaram muitas vezes pela noite adiante intervieram vários responsáveis do partido e do governo, nomeadamente o Ministro da Saúde Helder Martins, o Ministro das Obras Públicas e Habitação Júlio Carrilho, o Ministro de Educação e Cultura Graça Simbine, o Director Nacional de Assistência médica Samuel Dhlakama e ainda Janet Mondane responsável da Direcção Nacional de Assistência Social. Noúltimo diae como já nos referimos falou o camar ad a Vice-Presidente d a FRELIMO e Ministro do Planeamento Eco n ó m i c o Marcelino dos Santos, cujas palavras _importantes transcreveremos mais adiante. O Seminário Nacional iniciou-se pelas 17.30 horas no pavilhão popular de Benfica em Quelimane tendo o Governador da Província da Zambézia Bonifácio Gruve- ta,salientado durante a sua alocução a importância do seminário que era mais uma experiência ao serviço das massas com base nas experiências colhidas noutros trabalhos realizados nesta e noutras Províncias, desta.cando a última reunião nacional de agricultura realizado recentemente na cidade da Beira. PROBLEMAS SANITÁRIOS ESTUDADOS EM PORMENOR Todos os representantes provinciais apresentaram os relatórios respeitantes a cada uma das respectivas provincias tendo os problemas sido discutidos em pormenor. Foram também formadas várias comissões de redacção respeitantes aos problemas de cada uma das provincias com assuntos assim distribuídos: - Infraestruturas a nível de todas as províncias, assistência médica, gestão de hospitais, alimentação de doentes, medicamentos, roupas e equipamentos, medicina preventiva,' acção social, meios de transportes e comunicações, pessoal, formação de pessoal, disciplina, integração dos serviços especializados e nacionalizações, relação-com os Serviços de Saúde e problemas políticos. Finalmente foi nomeada uma comissão responsável pela unificação dos relatórios apresentados. Dèvído ao dia em, que terminou o Primeiro Seminário Nacional de Saúde não noa , possível incluir neste núlmero resoluções finais d* referido seminário, esperando publicá-las na próxima edição. A SAODE E A EXPERIÊNCIA DAS ZONAS LIBERTADAS No dia do encerramento do Seminário o camarada Vice - Presidente Marcelino dos Santos fez uma importante intervenção cujas partes mais impoiítes transcrevemos em seguida: «Gostaria apenas de dizer algumas palavras sobre este problema da educação sanitária, porque nós podemos dizer que no nosso pais, na FRELIMO, o problema da educação sanitária data já de alguns anos, quer dizer a maneira de encarar este problema de modo que possa realmente realizar as exigênçi" num plano de preocupação popular. «Durante a luta armada, nós também tivemos que fazer face a estes problemas e, em particular porque nós tivemos, pela força das circunstâncias, que provocar grandes aglomerações de popu. lações, populações que estavam habituadas a um outro tipo de vida, uma vida dispersa, - por exemplo as populações do mato, populações do campo - e tiveos que colocar a viver juntas duas, três, cinco mil pesssoas e era necessário tomar medidas. A própria prática é que apresentou a exigência Para que medidas fossem tomadas. Era preciso fazer qualquer coisa, porque nós sentíamos que não podiamos fazer as necessidades em qualquer parte, nós viamos uma quantidade de moscas em toda a parte e era urgente tomar medidas. Muito simplesmente, põs-se o problema de como fazer. Para resumir, nós devemos dizer que a conclusão foi que a propaganda sobre a educação sanitária, era ao fim e ao cabo uma tarefa que competia a todos, e isso foi claramente definido num documento de 1973, pelo Camarada Presidente, em que se indica que todos nos devemos transformar e m agentes de educação sanitária, todos nós devemos realizar a educação sanitária. Portanto, primeiro ponto: cada um de nós deve estar consciente que tem papel importante a desempenhar na educação sanitári, é uma tarefa que não compete simplesmente ao Serviço de Saúde - quer dizer, àqueles que estão afectados ao Serviço de Saúde mas compete a todos os outros. Naturalmente, h á u m a certa tecnicidade que é exigida em particular, (...) para trabalhos de ordem curativa, mas também para essa explicação. Explicar todos os problemas, todos os aspectos. Por exemplo, porque devemos lutar contra as moscas, porque é que nós não podemos fazer necessidades em qualquer parte e quais são os problemas que se põem, é preciso que haja gente que saiba e conheça um pouco melhor e que ex,líque. Bem, esse conhecimento deve, portanto, chegar a todos e aquele que recebe ouve, compreende e age da, maneira que todos consideram. Aqu e1e quet ran sm ite,naturalmente precisa de conhecimentos mais profundos. «Nós dizemos então: como é que nós realmente devemos fazer - porque ao fim e ao cabo todos não poderão ter esse grau de tecnicidade necessária - como é que nós deveremos fazer para que possamos transmitir e ao mesmotempo, fazer de tal modo que atinja todos, toda a população. Aqui, põe-se simplesmente um problema de organização e estruturação. «Quando nós discutimos todos esses problemas durante o tempo da luta, o que nós vimos foi a importãncia de que os comités existentes - porque ,nós tínhamos oscomités ao nível da província, ao nível do sector, do distrito, ao nível da localidade e ao nível de círculo. Nesses comités havia responsáveis, como havia, do mesmo modo, responsáveis da produção, educação, defesa. A eles cabia o papel de dinamizar ~esta orientação sanitária, mas todo o resto do comité participava precisapnente nesta acção. Portanto, fazer educação sanitária implica que nós criemos as estruturas qpe elas vão manuer, perpectuar o trabalho *,nitário, que não é só uma. 4arefa para um ano, mas que é realmente uma tarefa permanente e que cabe a todos. PAPEL DO MÉDICO NA ACÇÃO SANITARIA Agora, qual é o papel do médico? O que é que o médico deve fazer? «O médico deve curar, mas deve ter esta função de prevenir a doença, explicar como nos defendermos, como evitarmos a doença. Finalmente diria, portanto que ao fazer isso no seu trabalho, ao tratar um doente, talvez não seja realmente aquele momento em que está a fazer o trabalho de educador sanitário: mas como todo e aquele cidadão, ele utiliza as possibilidades que tem para fazer esse trabalho e, se um dia for nomeado para uma estrutura em que ele é responsável também para a educação sanitária, então, ele realmente o será. «Quer dizer: o médico, mais do que qualquer outro, tem realmente. muitas possibilidades de agir como educador sanitário. -AGIR ORGANIZADOS «Em conclusão se se quer saber o que deve fazer a Universidade, diremos: é bom que aprendam, que conheçam o que é que se deve fazer e como se deve fazer educação sanitária. Esta é a resposta final e concreta que o camarada Ivo, certamente pedia. «MfIas queria realmente insistir sobre este ponto. Nós devemos ter consciência e aqui já foi muitas vezes repetido, da importância da acção colectiva, e se há algum sector em que realmen te a acção deve ser colectiva, é este sector da educação sanitária. Mas acção colectiva não significa que nós todos vamos agir, não importa como. Assim, não? Vamos agir não importa como... dispersos. Nós vamos agir organizados estruturados, o que implica precisamente sublinhar alguns pontos que aqui foram indica,dos, quando se estava a falar do «Ped-O-Jets», a saber a necessidade de termos consciência das nossas responsabilidades e daquilo que nós estamos a fazer, qual é o nosso papel e como é que nós nos situamos, finalmente, no conjunto da sociedade, na qual nós esta mos integrados». CONTAR COM AS PROPRIAS FORÇAS SIGNIFICA FAZER SACRIFCIO Após uma interrupeão, o Vice-Presidente da FRELIMO dirigiu-se de novo aos participantes no Seminário Nacional de Saúde, fazendo referência a diversos pormenonres de que se havia apercebido em diálogos travados com os mesmos. Falando aos assistentes, Marcelino dos Santos afirmou: - «Peço desculpa se vos vou roubar mais algumtempo, mas durante esta pausa estive a falar com alguns de vocês e, mais uma vez, notei uma falta de que não é culpa vossa e que é certa«TEMPO» n.' 267 - pdg. 55 mente culpa nossa ao nível de direcção superior de Moçambique, quer dizer, da direcção superior da FRELIMO. «Quer dizer que há uma experiência que foi vivida e foi forjada durante dez anos de luta armada revolucioria de libertação nacional e que aqueles que tiveram o privilégio de participar directamente nessa luta conhecem. Mas é um faCto que todos os outros não a conhecem e mesmo aqueles que a viveram talvez não tenham correctamente sinteti z a d o essa experiência ou não tenham sintetizado completamente essa experiência. «Os problemas que nós acabamos de ver aqui, em particular relativamente à educação sanitária, não são problemas novos, que nós vivemos tanto que nós, povo moçambicano, já os tivemos nesta perspectiva nas zonas libertadas. A experiência das zonas libertadas é uma experiência que é património do povo moçambicano inteiro, porque é uma experiência vivida num combate nacional e não era um combate de tribos, nem regional e, também, porque nela participaram elementos de todas as províncias, e todos os moçambicanos estiveram lá inclusivé os da região sul de Moçambique. «Essa experiência, portanto, é património do povo moçambicano inteiro e nós todos devemos estar em condições de conhecê-las; devemos possuir essa experiência. Portanto, quando digo que há uma falta ao nível da direcção superior, significa que nós ainda não podemos, não fizemos o necessário trabalho para transmitir a todos essa experiência adquirida; porque quando oiço aqui tratar problemas, alguns problemas, problemas de que, numa certa medida, já conhecemos realmente a base, quer dizer;realmente para alguns de nós, aqui, não se trata de saber como é, porque nós e s t a m o s profundamente convencidos de que é esta a direcção, é este o caminho Mas o problema que há é que esta convicção deve ser qualquer coisa que deve existir em todos nós. Portanto, é precisamente o trabalho de consciencialização que é necessário e neste ca- so, talvez seja mais simples, porque se trata de fazer compreender a experiência que foi vivida durante a luta de libertação nacional. «Nós temos aqui problema da educação sanitária e dizemos: Ah... nós temos regiões, lugares em que um agente sanitário tem que se ocupar de uma área e ele não consegue, mesmo em três meses, circular por todo o lado. Como é que vamos fazer? «Durante a luta armada também tínhamos esses problemas e talvez, diremos que eram mais agudos. Nós chegamos a um dado momento em que procuravamos mais gente com a terceira e quarta classes e não havia e os trabalhos tinham que ser feitos. Vocês sabem todos o grau de obscurantismo que existiu no nosso País e o facto de, por exemplo, vocês verema FRELIMO ter sido de entre as organizações do conjunto das colónias portuguesas, aquela que se encaminhou rapidamente para o estabelecimento de escolas secundárias. «No nosso caso, essa exigênoia era mais forte, era mais aguda, Tínhamos que nos encaminhar imediatamente para lá. Portanto, como eu ia dizendo, tivemos essa necessidade, mas as condições eram ainda mais duras do que aquelas que existem hoje, no que diz respeito a encontrar gente capaz, gente já sabendo como é que a coisa se faz. «Tínhamos que formar. Mas nós, para formarmos, como é que fizemos? Não tínhamos materiais, não tínhamos instrumentos, era muito difícil; não tínhamos conhecimento desses instrumentos, era muito difícil; não tínhamos conhecimento desses instrumentos mais sofisticados de que aqui falamos. «E hoje vemos que temos de formar, cada vez que pedimos uma máquina, porque podemos assumir os conhecimentos de tecnicidade que implica esses novos instrumentos. E vamos fazer. Mas na altura não tínhamos esses meios materiais, esses conhecimentos porque realmente o colonialismo procurou que talacontecesse, se essas coisas sucedem assim não é por acaso mas são realmente uma consequência que está na lógica do sistema: obscurantismo, nada de conhecimentos técnicos para os mo. çambicanos, nada de formação técnica. 'Para quê? Para que,sem meios materiais e sem meios técnicos, nós sejamos forçados a ficar obrigados, a ficar eternammnte dependentes do estrangeiro. Um pensamento quê digamos, seria assim: Bom, mesmo se esta gente um dia assumir uma certa autonomia, de toda a maneira eles não têm meios técnicos e materiais, vão ficando assim dependentes de nós. Ora, durante a guerra, não podíamos pôr esse problema de ficarmos dependentes de ninguém... porque evidentemente havia um corte - colonialismo de um lado e nós do outro. «Então, o que era preciso fazer? Contar com as nossas próprias forças. Quer dizer, a prática levou-nos, obrigou-nos a contar com as nossas próprias forças. Na prática o que é que isso significa? Contar com as nossas próprias iorças, significa que temos de fazer sacrifícios, que não podemos esperar que a solução venha daqui ou dali. «Há pouco estivemos a falar e o camarada Ministro disse que nós iríamos arranjar geleiras e que iríamos programar e levar as organizações internacionais a colocar isso nos seus orçamentos, de modo que para o ano que vem elas vão continuar a ajudar. Correcto. V a m o s fazer essse combate para desenvolver a solidariedade, em relação ao nosso País, em relação ao nosso Povo, e é correcto que o mundo seja solidário com a nossa luta porque a nossa luta é popular e o Mundo Popular compreende essa necessidade. «Mas, infelizmente, as org a n i z ações internacionais nã o são compostas por países com uma orientação popular. Há outros. Dissemos isso, é correcto, mas é uma s i t u a ção provisória temporária que nós devemos dizer sim. Nós temos dificuldades, mas desde já vamos colocar como um dos objectivos na nossa produção a criação de riqueza suficiente também para promover, para obter, os meios de que nós hecessitamos. Vamos trabalhar - porque temos necessidade para isso ~para criarmos a riqueza necessária, sem termos que ir sempre pedir ao exterior. «Entretanto, a falha que tinha havido nesses que tinham o problema da água, é que não tinham compreendido que era necessário fazer um sacrifício. Porque os outros, tendo feito isso, gastaram muito menos do que aquilo que as populações naquele momento, naquela área, continuavam a gastar - 150$00 por família. «Portanto, devemos contar com as nossas próprias forças. Mas para contarmos com as nossas próprias forças, não podemos fazê-lo de uma maneira dispersa. Temos que estar organizados. E voltando ao outro exemplo aqui: aquela população de que estávamos a falar, de problema de água, é população que, digamos, faz parte do mesmo conjunto. Mas estão divididos em grupos A, B, C, D, etc. O que tinha havido? Eles já tinham o seu grupo dnamizador, faziam parte do mesmo conjunto. Mas o problema que se pós ali presente é que eles, embora fazendo parte do mesmo conjunto,dirigidos por uma mesma câmara não tinham contactos entre si. Quer dizer: impediam-se a si próprios o benefício das experiências dos outros. E se o problema lhes surgiu ali, naquele momento em que nós estavamos a conversar, é porque havia alguém - precisamente, dessa outra unidade - que tinha água, que tinha realizado os trabalhos e informou de que tiveram que continuar. Quero dizer: também sentimos que se tivesse havido um nível mais desenvolvido de organização, se aquela unidade tivesse já contactado, se houvesse regularmente a ideia, o sentido de promover encontros, regularmente pelo menos ao nível dos comités dirigentes - para saber quais são as experiências, qual é, a vossa vida, quais os problemas que encontram, como os vencem e procuram vencer, já esta informação lhes teria chega. do e, uma vez chegada a informação, certamente lhes teria chegado a compreensão do problema. Significa, portanto, que nós, contando com as nossas próprias for. ças, devemos avançar de uma maneira organizada. «E, para voltarmos a este, problema de educação sanitária, durante a luta, nós como disse - tínhamos em cada comité um responsável de saie. MUs devemos ver também que muitas vezes aqueles camaradas responsáveis, que no seio do comité de círculo ou da localidade, que tiveram a responsabilidade da dinamização da acção, de educação sanitária, não tinham um conhecimento muito vasto Não é verdade? Não. Tinham um conhecimento um pouco maior do que os outros. Mas o que é que nós fazíamos? «Primeiro ponto: eles estavam num comité e os problemas eram discutidos entre eles e, nessas circunstâncias, aquele mínimo de conhecimentos, que cada um possui, passa para o conjunto. O conhecimento colectivo, automaticamente, é superior ao conhecimento individual. Portanto, primeiro passo: o crescimento se faz por essa discussão colectiva, mas não é tudo, porque nós sabemos que há outros sectores que fazem parte do mesmo conjunto. Temos, acima do comité de círculo, o comité de localidade, de distrito, de sector, de província, que fazem parte do mesno con- junto, e sabemos que normalmente, aos níveis superiores, o conhecimento é mais profundo. Então, vemos como resolver os problemas que encontramos e deixados pelo colonialismo. «Aos níveis superiores, os responsáveis têm a responsabilidade de estar em contacto permanente com os camaradas dos níveis inferiores, quer dizer que há uma exigência ao nível de responsável da Prnia, por exemplo, do círculo, de ir até aos lugares onde encontram os outros comités, e falar, explicar. «Isto é: se nós tomamos como exemplo o círculo que recebe a visita dos elementos de localidade - que outras vezes encontrar-se-á com o responsável do distrito - estes encontros são necessários para transmitir os conhecimentos que temos. «É evidente que o responsável da localidade tem uma experiência mais vasta que o responsável docírculo, mas também deve fazera circulação para irver se, ao nível do círculo, os conhecimentos, as informações estão a ser feitos correctamente. Portanto, para ir supervisionar, para ir ver se as coisas estão a ser bem feitas. Quer dizer, numa situação como a nossa, obrigatoriamente temos que pôr o ênfase na vida e no trabalho colectivo e acreditar mesmo que, se eu sou um grande médico, aquele homem que está ali, ao nível do circulo, e que é camponês, tem qualquer coisa que pode contribuir para permitir que o conhecimento final nascido da vida colectiva, seja o mais vasto possível e, portanto, colocarmo-nos, a nós próprios, em melhores condições para vencermos as dificuldades que enfrentamos. /[~~I1 a vitória é da juventude. agradável fresco delicioso. como os continuadores querem COMPANHIA INDUSTRIAI DA MATA, S. A.R.L[ UMA NOVA SENSAÇÃO DE FRESCURA 0 VERDADEIRO SABOR DE MENTA m gosto refrescante que todos apreciam

A agressão imperialista desencadeada contra o povo angolano, a objectiva cumplicidade do Governo português nessa agressão, e a tentativa de neocolonização de Angola empreendida pela reacção portuguesa, foram factos denunciados e energicamente condenados pela Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP), realizada em Lourenço Marques no passado dia 9. O objectivo desta reunião - convocada pel> Presidente da CONCP, Camarada Presidente Samora, dois dias antes da Proclamação da Independência Nacional da República Popular de Angola - foi a definição de nova estratégia conjunta das Organiza- ções que constituem a Conferência - PAIGC, MLSTP, MPLA e FRELIMO - para um acção solidária comum de oposição e combate a esta nova ofensiva imperialista. Participaram na reunião, presidindo cada uma das delegações, por parte do PAIGC, o Camarada José Araújo, membro do Comité Executivo de Luta do PAIGC e Comissário de Estado da República da Guiné-Bissau, por parie do MLTP, Leonel d'Alba, Secretário-Geral Adjunto do MLSTP, por parte do MPLA, o Camarada Presidente Agostinho Neto, e por parte da FRELIMO. o Camarada Presidente Samora Machel. Na sessão de Abertura desta importante reunião, falou primeiro o Camarada Presidente Samo,a, para explicar os motivos porque a havia convocado. O texto integral da intervenção do Camarada Presidente foi o seguinte: «Camaradas das antigas colónias portuguesas sejam bem-vindos a esta República Popular de Moçambique. Recebêmo-nos com muito calor, com muita satisfação e muito orgulho. Todo6, aqui, formamos em 1961 um instrumento importante, um instrumento que foi útil na luta contra o colonialismo português e no estabelecimento da nossa estratégia e da «TEMPO» n.' 267 - pdg. 58 nossa táctica, na formulação dos nossos princípios. Esta nossa organização foi importante, não somente para a Luta de Libertação dos nossos povos, como também foi importan te para a união dos nossos povos e para a unidade de militantes que se forjou ao longo desses anos que percorremos em conjunto. Nós fomos capazes, através desse instrumento, de unir-nos. Ao unirmo-nos, conseguimos, também, unir os nossos povos e de transformarmos as nossas organizações em organizações de vanguarda. Foi essa organização que contribuiu decisivamente - no apoio a Portugal - para criar as forças progressistas, as forças democráticas e as forças revolucionárias portuguesas. Permitiu-nos, este nosso instrumento de unidade, conquigtar a simpatia internacional para com a nossa causa, e conquistarmos a solidariedade internacional para com os nossos povos. E, parece que foi através desse instrumento que nós conseguimos derrubar o colonialismo português: a forma mais retrógrada, o cancro que corroia os nossos povos e impedia a sua liberdade, impedia o desenvolvimento e a emancipação económica dos nossos povos. Hoje, saudamos em nome do povo moçambicano, em nome da FRELIMO e do Governo da República Popular de Moçambique as vitórias al-' cançadas por esses quatro movimentos que etão aqui presentes. O Movimento Popular de Liberdtaçáo de Angola - o MPLA - de que saudamos particularmente a figura que dirige esse movimento, o nosso camar a d a Agostinho Neto. Saudámos, igualmente, os nossos camaradas do PAIGC que de maneira exemplar diirigiu a luta armada que derrotou os portugueses na Guiné e em Cabo Verde. E, saudamos o PAIGC, queremos render a mais comovida home-

Gija daC

Camarada Presidente Samora e camarada Vice Presi- Camarada Agostinho Neto, Presidente do MPLA dente Marcelino dos Santos Camarada Leonel d'Alba, SecretárioGeral Adjunto do Camarada José Aaújo, Membro do Comité Executivo MLSTP do PAIGC bém iniciou connosco o CONCP que por r~ próprias das suas funções não pode estar aqui presente. De todos seus homens de luta nós sentimos que as nossas organizações te. riam adquirido muito, no continente africano, da Importância elevada que adquiriram hoje. O papel dessa organização durante os vários anos de luta foi Importante para fazer a afirmação dos nossos movimentos perante o mundo, para os fazer acei-. tar diante da opinião pública, e para os focar através da luta - a maior parte das vezes, a luta armada - e Ipara fazer Portugal aceitar o nosso direito à Independência. 1., portanto na continuação destas responsabilidades que nós exercemos ao longo dos anos, que o MPLA se propõe continuar, juntamente com as outras organizações, a luta contra o imperialismo, contra todas as formas de opressão que se têm desenvolvido no mundo, e particularmente para o nosso pais, pm que há uma situação especial, em que nós asseguramos a independência em «TEMPO» n.- 267 - pdg. 60 parte do nosso território ocupado por invasores strangeiros. Nós sentimos que o nosso combate não termina no dia 11 de Novembro, mas continuará durante muito-tempo, para podermos evitar a secessão das zonas provisoriamente ocupadas. E, assim, a nossa tarefa prolongar-se-á para o terreno económico, social, cultural, que certamente vamos prosseguir em conjunto. Nesta nova fase, a CONCP terá novas tarefas a definir-se, e eu creio que, hoje, se há ura tarefa importante, essa é a da definição da nossa atitude comum diante do inimigo, a d9finição da nossa atitude comum perante a cumplicidade portuguesa em todos os actos dos países vizinhos de Angola. Vamos, portanto, durante esta sessão, exprimir-nos sobre alguns pontos, na certeza de que nós teremos ainda um futuro de luta. Por isso mesmo dizemos: A LUTA CONTINUO, e, também, dizemos: A VITÓRIA É -CERTA., Obrigado». Leonel D'Ala M1LSI REAFIRMA APOIO TOTAL AOMPLA Após as intervenções da FRELIMO e do MPLA o Presidente Samora Moisés Machel convidou o Secretário-Geral do MLSTP, Leonhl D'Alba, a proferir a sua intervençãotendo este responsável do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe come~ado por exprimir a sua satisfação por estar presente na- Conferência, ao mesmo tempo que explicava as razões da ausência do Secretário- Geral daquele movimento, Manuel Pinto da Costa. Depois de referir a importância da reunião na capital moçambicana dçs quatro movimentos fundadores da CONCP - Conferência das Organizações nacionalistas das Colónias Portuguesas - agora ex-colónias, disse que o MLSTP esperava desta cbnferêncla uma acção que permitisse coordenar as nossas acções, no se- tido de dar ao MPLA - Leaguasda revolucionádria do Povo Angolano o apoio que merece pelo seu sacrifício e devoção à causa da independência de Angola.» Leonel D'Alba aproveitou o ensejo para prestar homenagem a todos os movimentos presentes,, ao mesmo tempo que homenageava, também < povo irmão e combatente de Mo. çambique e a sua vanguarda revo luciondria - a FRELIMO - e particularmente o Camarada Presidente da FRELIMO e da República Popular de Moçambique, Samora Machel». Em determinado momento da sua intervenção, o SecretUrio-adjunto do MSTk,' anzrmou: Nós sabemos que é neste momento em que o povo de An gola se encontra nas vésperas da proclamação da sua lndependência e que o MPLA dirigido pelo seu Presidente, camarada Agostinho Neto, se prepara para continuar a levar avante a marcha desse pais irmão para consolidação da independência que os inimigos deste Povo o s inimigos da Africa redo, bram os seus actos criminosos para perpectuar a sua dominação sob outras formas. Por isso, a República Democrdiicw de São Tomé- e Príncipe reperesentada pelo seu Movimento de vanguarda, o MLSTP, reafirma o seu total apoio ao MPLA e ao seu Presidente Agostinho Neto, e. pretende encontrar, juntamente com os outros movimentos aqui representados - a FRELIMO, MPLA e PAIGC - uma estratégia e táctica adequadas para apoiar, de maneira eficiente o MPLA». Depois de sublinhar as anteriores fases que conduziram à Independência de Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, Leonel D'Alba afirmou que os citados quatro movimentos deveriam reforçar os anteriores laços de amizade e colaboração, de forma a permitir um mais eficiente combate dos inimigos do povo de Angola, da África e de todos os povos progressistas do Mundo. José Araújo do PAIGC A AGRESSÃO CONTRA ANGOLA É CONTRA TODOS NÓS Em seguida, usou da palavra José Araújo, membro do Comité Executivo da Luta do .PAIGC e Comissário de Estado da República da Guiné-Bissau, que começou por afirmar: «É com grande emoção que aproveito esta oportunidade para saudar, em nome da Direcção do nosso Par-tido - o PAIGC - e em nome do nosso Povo da Guiné e de Cabo Verde, o Povo Livre da República Popular de Moçambique, que conseguiu a liberdade, mercê do sangue e dos melhores filhos desta terra irmã, e também mercê da direcção ~usta da FRELIMO- que é sua vanguarda que feg conduzir à vitória através dos l0npos anos que teve de travar de luta arra». Depos de saudar o Presidente da PRELIMO e da Republica Popular de Moe~moique, Samora Moisés Ma- COMUNICADO FINAL Findos os trabalhos desta importante reunião foi divulgado um Comunicado referente às suas conclusões. O texto integral do Comunicado foi o seguinte:

Porque há uma Nova Vida em Angola. Há uma resistência revolucionária contra o avanço reaccionário em Angola. E quando há um avanço reaccionário, nós não duvidamos - estamos presentes. E fazemos isto para manifestarmos a nossa solidariedade militante, a nossa solidariedade anti-imperialista. Porque sabemos que o avanço do imperialismo em Angola é para impedir a existência da base revolucionária africana. É por isso que fazem o rodeamento. Não é por acaso a intervenção Sul-Africana. Não é. E se deixassem de atacar Angola, se deixassem de atacar a base revolucionária que nasce, que é edificada, que é desenvolvida pelo MPLA, perdia a sua natureza de ser, e perdia a razão de ser a nossa luta também. E, sem prolongar direi, temos aqui o nosso amigo Agostinho Neto, Presidente do MPLA e estamos à espera que chegue também o nosso companheiro Aristides Pereira, Secretário-Geral do PAIGC. Está a caminho. É muito longe. Os nossos transportes, as nossas comunicações são d i f i e e i s. Não criaram condições para isso os colonialistas. Mas no entanto está cá um Membro do Comité Central e Membro do Bureau Político do PAIGC, que é o nosso companheiro José Araújo. Conhecemo-nos há muito tempo. Que representa Cabo Verde e Guiné-Bissau. Temosaquitambém o nosso companheiro, Ministro da Coordenação Económica, que representa o Presidente do Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe, camarada Alba. S. Tomé, vocês sabem, tem recordações tristes para o Povo Moçambicano. Quando vemos um irmão de S. Tomé lembramo-nos das horas tristes, daquelas noites escuras, onde o nosso Povo, o Povo de Angola era zona de desterro S. Tomé. E nós não sabíamos que cor tinham, que altura, os olhos, a maneira de ser, agora vemos... É como nós, afinal, é como nós, é um ser humano... Em nome de todo o Povo Moçambicano, do Governo da República Popular de Moçaíbique, em nome da PRELIMÕ, bebamos para que a vitória em Angola $eia certa Pela vitória dos Povos oprimidos. Agstinho Neto 0 PODER SOMOS NóS Depois desta intervenção, o Camarada presidente copvidou o Camarada Agostinho Neto Presidente do MPLA. a falar também. Foi ai que o Camarada Agostinho Neto disse: Este é um momento de facto de grande alegria para nós, nós os angolanos, por podermos encontrar neste pais, em Moçambique, una terra outrora coloni,zada pelos portugueses, a simpatia de todo o Povo, a simpatia dos Camaradas que hoje« estão à testa do Governo de Moçambique, a simpatia da FRELIMO, e a muito notável simpatia do Camarada Samora Machel. . de facto uma alegria nós podermos falar assim, falar entre Camaradas, falar entre amigos. Estar ao lado dos camaradas do PAIGC, dos camaradas do MLSTP, aolado dos camaradas da FRELIMO, estar no solo Moçambicano, é uma grande honra, para todos os membros da delegação do MPLA que aqui estão esta noite. Uma honra e uma satisfação. Eu penso, camaradas, que este momento, momento decisivo como disse o Camarada Machel, é um momento que estamos a viver ao mesmo tempo com coragem e com alegria. Dentro de alguns dias Angola será independente E quando dizemos Angola será independente, isto não quer dizer que os colonialistas portugueses nos vão entregar seja o que for. Portugal não tem nada que entregar aos angolanos. Portugal anda a fazer declaraçõés, algumas delas muito c¥sajeitadas que não vai transferir o Poder. Mas o Poder somos nós quem o exerce eni Angola. Todos os camaradas que visitaram Angola recentemente podem ver que Portu. gal só lá está para, talvez, enfeitar as nossas ruas, mas não para mandar em coisa nenhuma. E ntós hoje mes-' mo podemos declarar a nossa Independência. Portugal não se pode opor. Não tem força política para isso. O Povo é oMPLA. E o MPLAé oPovo. Os sul-africanos resolveram interferir em Angola. Bem, é mais um problema que nós temos. Mas nós não pensamos que os Sul-Africanos poderão em qualquer ocasião dominar o nosso Povo. Eles estarão lá fisiêamerte, com as suas metrellldoras, com os seus canhões, com os seus helicópteros mas, não poderão convencer- o nosso Povo. E aquelas posições que eles torma hoje, posições que são muito empoladas pela propaganda, são posições que estão perdidas para eles, porque o Povo, à medida que os Sul-africanos avançam, o Povo sai das cidades, o Povo sal das aldeias, e faz a guerrilha. E --nós estamos a viver esse momento. Esse momento em que o nosso Povo consciente da , ,sua qualidade de angolano -combate em todas as frentes contra o Inimigo, contra os inimigos âlíAs - que são vários, coligadós contra nós combate, com toda a firniza, com todà a determinação, para que nós sejamos realmente livres. E quando o MPLA declarar a Independência de Angola o Povo inteiro sentir-se-á independente. Esteja ele na zona onde os Sulafricanos controlam militarmente, ou estejam eles nas zonas onde os zairenses têm o predomínio militar. 0- Povo todo será -independente com o MPLA. 'Temos o orgulho de termos feito esta aliança entre as antigas colónias portuguesas. Nós somos combatentes do mesmo combate, nós fizemos a Luta juntos e continuaremos esta L u t a j utos. Temos a consciência plena de que o imperialismo, os inímigos dos povos, o que queremem Angola é es tabelecer uma base reaccio nária, que possa formar com a Ãfrica do Sul, Com a Namíbia, com a Rodésia, com o' Zaire, e outros países, uma base para atacar os países progressistas como o Congo, exercer a sua influência sobre a Zâmbia, e mais tarde poder tambémí fazer os seus ataques contra a Tanzania e contra Mo. çambique. Este é um dos objectivos dos imperialistas. Nãó é só a questão material, a questão das riquezas de Angola, não é só o petróleo e os diamantes, que interessam. Mas sim razões estratégicas determinam que o imperialismo hoje esteja todo ele coligado para esmaw- o desejo do Povo Angolano de ser independente. Porque sabe perfeitamente que nós em Angola, nós o MPLA só pensamos num Estado em que de facto possa ser instalado o Poder Popular. Em que o- Poder Popular seja organizado. Em que a democracia seja para todo o Povo. Em que nós todos, todos os elementos angolanos nos sintamos verdadeiramente capazes de reconstruir o país. Reconstruí-lo d e maneira que não haja mais exploração do homem pelo homem. Toda a gente sabe isso. E isso é o que não se quer. O que se quer é a diferença, o que se quer é a dominação, o que se quer é a exploração, e essa exploração não será possível se nós estivermos, como estamos hoje, no combate contra os imperialistas. Que se julgam m u i t o- poderosos, mas que não poderão de facto vencer o nosso Povoo Povo de Angola. Nós sabemos que os imperialistas vão tentar opor-se a esta nossa união, a união de Moçambique, Guiné, S. Tomé e Angola, vão tentar opor-se. Porque esta é uma força nova que aparece no nosso continente. . uma força que, vai obrigar a uma mudança de orientação no conjunto do continente. Sem falarmos já muito especificamente da Organização da Unidade Africana, que nem 'sempre serve os objectivos d o s africanos. Como agora, por exemplo, no caso de Angola. A OUA nião está a servir os interesses dos Angolanos. Esperemos que aqueles que têm a capacidade de influenciar dentro da OUA possam chamar à razão os que querem ver o MPLA aliado numa coligação com os Sul-africanos e com os zairenses, que nos querem ver coligados com os imperialistas. Nós nunca o aceitaremos. Nós não somos um Povo que combateu desde 1961 para hoje nos afundarmos em novas composições políticas que prejudiquem, não somente o nosso Povo, mas também todo o. Continente africano. Enfim, penso que neste momento neste primeiro dia de estadia em Moçambique, devo agradecer aos camaradas da FRELIMO,'a todo o Povo Moçambicano, por esta ocasião em que se nos proporciona o encontro com todos os camaradas, todos os companheiros de luta, das ex-colónias portuguesas. E vamos portanto, peço- lhes, tomar uma gota de champanhe para sublinhar este agradecimento aos camaradas de Moçambique. «TEMPO» n.- 267- pdg. 63

A IRAIÇft. Os factos: 1-O Alto-Comissário Português em Angola, Leonel Cardoso, chegadas as doze horas do dia 10, convoca uma reunião com-os órgãos da Inform a ç ã o internacional e declara que Angola está independente. Uma cena deveras . estranha, já qjue não estava presente nenhüh representante do M. P. L. A., portanto do povo Angolano. Era Leonel Cardoso a representar o VI Governo português, qual Pilatos do século vinte a tentar lavar as mãos, a tentar fugir às responsabilidades, virar as costas a dois 'povos: o Português e o Angolano. 2- Mas se esta acção é negativa perante os anseios do povo Angolano, é perfeitamente positiva para o imperialismo internacional. Vejamos: (a) a potência colonizadoran-ão reconhece a independência declarada pelo único Movimento de Libertação existente, o MPLA; (b) o problema, a nível de direito internacional, passa para as mãos da ONU, cujo Conselho de Segurança não irá de maneira alguma responder aos direitos de paz e progresso do povo Angolano, porque dos 5 que têm o poder de veto, 4 estão abertamente contra uma Angola progressista: são eles os E.U.A., a Inglaterra, a França e a Alemanha Federal; (e) está assim vedada a entrada de Angola para as Nações Unidas e portanto não receberá os benefícios a que têm direito todos os seus membros; (d) a posição do VI Governo português coaduna-se perfeitamente com o seu estado de dependência da NATO, de onde provêm as armas da burguesia portuguesa, cujos interesses em Angola não são nada pequenos; (e) toda esta farsa que foi o pro- cesso de «descolonização» não é mais do que uma tentativa de permitir um avanço das forças neocolonizantes de que a dita burguesia faz parte integrante. 3-O Almirante Victor Crespo, ao ser entrevistado por uma comissão de apoio ao MPLA de portugueses residentes em Angola, diz-lhes abertamente que os americanos não desarmam, que o facto de o sr. Carlucci-embaixador dos E. U. A. em Portugal -andar a passear pelos corredores do seu Ministério não devia espantar ninguém porque são eles, os americanos, que comandam as operações. Parece-mentira mas é verdade. O dito senhor foi visto a passear por ali como se estivesse na sua própria casa. 4-Os retornados de Angola -ser retornado é o resultado inevitável do processo histórico ontem com a Inglaterra, com a França, com a Alemanha, hoje com Portugal -têm cometido toda uma séria de atropelos à revolução,(?) portuguesa e o VI Governo não mexe um dedo para lhes fazer frente, para, afinal, parar a escalada da reacção em Portugal. 5 - A acção global do governo de Pinheiro Azevedo está de tal modo enfeudada aos interesses da burguesia internacional que (a) não denunciou a invasão de Angola por parte de mercenários e de tropas dos exércitos regulares da Ãfrica do Sul e do Zaire; (b) não pôs a tropa portuguesa a defender o território Angolano, - como potência responsável pela descolonização devia tê-lo feito. Mais, retirou toda a sua tropa das áreas controladas pela UPA-FNLA e UNITA e pô-las nas áreas controladas pelo M. P. L. A.; (e) continuou a mandar os seus enviados'- Victor Crespo a Holden Roberto e a Savimbi. Puro Spinolismo sem Spínola. Será mesmo sem Spinola? 6 Desde o 25 de Abril que o povo português marchou tantas vezes pelas ruas de Portugal com bandeiras do MPLA, exigindo que Portugal saísse da sua últimà colónia com dignidade, que demonstrasse nos factos, na prática que os portugueses tinham saldo de uma vez para sempre do fascismo, do inferno colonial, do vexame neocolonial. Mas não, a burguesia portuguesa, demasiado fraca para por si própria tomar conta de todas as rédeas do poder, alia-se descaradamente ao imperialismo internacional, recebe empréstimos comprometedores, derruba o Governo de Vasco Gonçalves, assalta os órgãos de iiformação progressistas, e pela voz do seu presidente afirma que é a ONU que tem de resolver o problema Angolano. Por Angola entram hoje os canhões do imperialismo internacional, os canhões do império burguês, canhões virados contra o continente Africano, canhões que cheiram àquela escravatura deste século que uma OUA titubeante não consegue combater: o neocolonialismo. Canhões virados também contra o povo português, porque antagónicos a tudo que se pareça com revolução, com socialismo. Vão mal as coisas para o Povo português. Vão ainda muito piores para o povo Angolano, que heroicamente está a encarnar a tarefa de lutar contra esses canhões em nome dos povos de África, em nome do próprio Povo Português. A posicão do VI Governo Português representa o Poder burguês, representa o imperialismo internacional. É uma Dosicão Perfeitamente reaccionária. É uma traicão. «TEMPO»

DOM O>ONTA, N ýý 3 ,, hbh-