Marina Barbosa De Almeida As Mulatas De Di Cavalcanti
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MARINA BARBOSA DE ALMEIDA AS MULATAS DE DI CAVALCANTI: REPRESENTAÇÃO RACIAL E DE GÊNERO NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE BRASILEIRA (1920 E 1930) Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de mestre em História, ao Departamento de História do Setor de Ciências, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Ribeiro Co-orientadora: Profa. Dra. Maria José Justino CURITIBA 2007 MARINA BARBOSA DE ALMEIDA AS MULATAS DE DI CAVALCANTI: REPRESENTAÇÃO RACIAL E DE GÊNERO NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE BRASILEIRA (1920 E 1930) CURITIBA 2007 ii AGRADECIMENTOS Diversas pessoas colaboraram de alguma maneira durante o desenvolvimento desta pesquisa. Agradeço, inicialmente, ao meu orientador, Prof. Dr. Luiz Carlos Ribeiro, pela dedicação e paciência e, sobretudo, seu comprometimento e orientação crítica constantes durante reuniões, conversas e leituras do texto. Agradeço também as generosas e importantes contribuições de minha co-orientadora, Prof. Dra. Maria José Justino, e as leituras atentas das professoras Dra. Ana Paula Vosne Martins e Dra. Marion Brepohl de Magalhães quando da qualificação deste trabalho. Agradeço aos professores, funcionários e colegas do Programa de Pós-Graduação em História, em especial às secretárias Doris e Maria Cristina, sempre atenciosas e prestativas. Gostaria de agradecer ainda à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela bolsa que permitiu minha dedicação exclusiva ao mestrado. Desejo também demonstrar minha gratidão à enorme dedicação e atenção de Elizabeth Di Cavalcanti na localização das obras e dos colecionadores. Sua contribuição foi indispensável a este trabalho. Ao Sr. Lucien Finkelstein e aos Sr. e Sra. Jean Boghici, agradeço a gentileza dispensada nas visitações às obras, as histórias contadas e as conversas sobre a produção artística modernista brasileira. Agradeço, por fim, a meus pais, Ronaldo e Marilene, e minhas irmãs, Maíra, Joana e Lígia, pelo apoio incondicional, sempre. Agradeço também a atenção e o carinho de amigas e amigos durante o período de escritura do texto – nos momentos em que eu precisava ser ouvida e nos momentos em que se esforçaram para ajudar, tentando compreender e contribuir com a pesquisa e com a realização de um estudo no qual estão presentes dúvidas e questionamentos os mais diversos. Agradeço especialmente às minhas amigas Gina, Marice e Maria Helena pelo apoio e pelas sugestões para as horas de cansaço. À Dani pelas longas conversas no telefone, pelos insights e pela torcida. Ao Oliver, pelas risadas presentes em todos os momentos e pelo carinho e afeto. Em especial, agradeço à Ju, pela leitura e revisão imprescindíveis na conclusão do texto, por suas sugestões e críticas, e pela amizade e bom humor sempre presentes nas discussões. iii RESUMO Emiliano Di Cavalcanti participou do processo de construção da identidade nacional através da reformulação das artes e cultura brasileira - projeto inaugurado oficialmente com a Semana de Arte Moderna em 1922. Engajado na busca pela independência cultural e pela identidade nacional, o artista elegeu a representação da mulata como metáfora da mestiçagem racial e cultural. Baseado na metodologia proposta por Pierre Francastel (1973), que analisa os objetos de arte dentro do contexto da cultura que o produziu, este trabalho aborda a representação de um tipo social, a mulata, sob o olhar de Di Cavalcanti refletindo um discurso ideológico de construção de imagens que reproduzem a complexidade em se representar a diversidade étnica e as relações raciais e de gênero em nossa sociedade. Palavras-chave: modernismo brasileiro, representação racial e de gênero, mulata iv ABSTRACT Emiliano Di Cavalcanti participated in the construction of the national identity through the reformulation of Brazilian art and culture – project officially commenced with the Semana de Arte Moderna in 1922. Engaged in the search for cultural independence and the national identity, the artist elected the mulata as a metaphor for our racial and cultural hybridism. Based on the methodology proposed by Pierre Francastel (1973), which analyses art objects within their cultural context of production, this study approaches the representation of a social type, the mulata, under Di Cavalcanti’s view - reflecting the ideological discourse of image construction that reproduces the complexity underlying the representation of ethnic diversity and of racial and gender relations in our society. Key-words: Brazilian modernism, racial and gender representation, mulata v SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ......................................................................................................... iii RESUMO ............................................................................................................................... iv ABSTRACT ........................................................................................................................... v INTRODUÇÃO ......................................................................................................................01 CAPÍTULO 1 – A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL MODERNISTA.......................................................................................................................19 1.1 O MOVIMENTO PAULISTA ..........................................................................................23 1.2 O DESENVOLVIMENTO ARTÍSTICO E INTELECTUAL DE DI CAVALCANTI ....29 1.3. A BOEMIA CARIOCA ....................................................................................................37 1.4 O ENVOLVIMENTO DE DI CAVALCANTI COM O MOVIMENTO MODERNISTA PAULISTA ..............................................................................................................................46 CAPÍTULO 2 - MODERNIZAÇÃO “A QUALQUER CUSTO”: TEORIAS RACIAIS NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX ..............................................................54 2.1. TIPOS SOCIAIS BRASILEIROS.....................................................................................64 2.2. A FIGURA DA MULATA E OS NOVOS PAPÉIS DA MULHER MODERNA: PERMANÊNCIAS ...................................................................................................................77 CAPÍTULO 3 – “A mulata, para mim, é um símbolo do Brasil” .....................................83 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................108 RFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 112 ANEXO I .............................................................................................................................117 ANEXO II ............................................................................................................................126 vi INTRODUÇÃO Um objeto de arte é um testemunho histórico. É algo que aconteceu no passado, mas, diferentemente de outros eventos históricos, continua a existir no presente, pode ser experienciado novamente (e infinitamente). Como um evento histórico sobrevivente, um objeto de arte é evidência primária de tempo e espaço e do artista que o criou. Assim, é sugerido que, através da interpretação deste objeto como uma proposição do passado, podemos aprender algo sobre a cultura e o indivíduo que o produziu. Este objeto de arte contém significados deliberadamente dados a ele pelo seu criador, como também possui significados que ultrapassam o controle do artista e de cada observador. São significados presentes na superfície do espaço pictórico, e que precisam ser pensados e decodificados a partir de um diálogo entre o objeto de arte e os outros diversos objetos, textos e discursos presentes naquele mesmo espaço e tempo.1 Quando tratamos da produção artística latino-americana, principalmente da arte produzida no século XX, o passado e o presente dialogam constantemente na busca dos artistas pela definição do que eles acreditam ser sua cultura e identidade. Assim surge o que Antônio Cândido chamou de nossa “ambigüidade fundamental”: “a de sermos um país latino, de herança cultural européia, mas etnicamente mestiço, situado no trópico, influenciado por culturas primitivas, ameríndias e africanas”.2 Foi a partir desta ambigüidade que o grupo liderado por Oswald e Mário de Andrade, idealizadores e organizadores do movimento modernista brasileiro e da Semana de 22, procurou pensar, representar e divulgar a cultura nacional. Eles não chegaram a estabelecer 1 PROWN, Jules D. “Mind in Matter: An Introduction to Material Culture Theory and Method.” Winterthur Portfolio, 17, Spring 1982, p. 1-19. 2 CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. Estudos de teoria e história literária. 5.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976. 1 um projeto fixo, verdades completas, uma receita do que seria a nação e a identidade brasileira. Apesar de idealistas, sempre houve uma visão crítica diante de fatos como o atraso econômico, social e educacional do país. O projeto modernista era então um projeto estético para a definição da identidade nacional através da ruptura com a linguagem formal e acadêmica nacional e com a insistência em seguir padrões europeus. Entretanto, essa ruptura não ignorava as inovações feitas na Europa e no resto da América; pelo contrário, havia um constante diálogo com o exterior, de forma que essa adaptação de idéias fosse coerente com a época de crescente mudança política e econômica. O principal objetivo era construir uma identidade nacional que fosse ao mesmo tempo