UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

ALANIS SILVA FERREIRA

A ALT-RIGHT E A REVITALIZAÇÃO DO IDEÁRIO NACIONALISTA BRANCO NA ERA DA INFORMAÇÃO

Guarulhos 2020

ALANIS SILVA FERREIRA

A ALT-RIGHT E A REVITALIZAÇÃO DO IDEÁRIO NACIONALISTA BRANCO NA ERA DA INFORMAÇÃO

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Sociais.

Orientador: Prof. Dr. José Lindomar Coelho Albuquerque

2020 Guarulhos

Na qualidade de titular dos direitos autorais, em consonância com a Lei de Direitos Autorais nº 9610/98, autorizo a publicação livre e gratuita desse trabalho no Repositório Institucional da UNIFESP ou em outro meio eletrônico da instituição, sem qualquer ressarcimento dos direitos autorais para leitura, impressão e/ou download em meio eletrônico para fins de divulgação intelectual, desde que citada a fonte.

Ferreira, Alanis Silva. A alt-right e a revitalização do ideário nacionalista branco na era da informação / Alanis Silva Ferreira. – Guarulhos, 2020. 78 f. Trabalho de conclusão de curso – Universidade Federal de São Paulo, Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2020. Orientador: José Lindomar Coelho Albuquerque. Título em inglês: The alt-right and the revitalization of ideas on the Information Age. 1. Nacionalismo branco. 2. Extrema-direita. 3. Ciberespaço. I. Albuquerque, José Lindomar Coelho. II. A alt-right e a revitalização do ideário nacionalista branco na Era da Informação.

ALANIS SILVA FERREIRA

A ALT-RIGHT E A REVITALIZAÇÃO DO IDEÁRIO NACIONALISTA BRANCO NA ERA DA INFORMAÇÃO

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Sociais.

Aprovação: 27/10/2020

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Prof. Dr. José Lindomar Coelho Albuquerque Universidade Federal de São Paulo

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Profa. Dra. Marcia Regina Tosta Dias Universidade Federal de São Paulo

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente ao meu orientador Dr. Lindomar Albuquerque por todo o suporte prestado durante o período de elaboração desse trabalho e por acreditar nesse projeto desde sua concepção, sempre sendo uma fonte incomparável de paciência, carisma e disposição de ajudar. Esse trabalho não teria sido possível se eu não tivesse ouvido todo o encorajamento que ouvi em minha proposição inicial de orientação – e a minha paixão pelo estudo da Sociologia não teria sido reacendida se não fosse por ele. Existiu uma graduação antes e existiu uma depois de ter tido o Lindomar como professor. Não menos importante, gostaria de agradecer também aos meus pais, Claudio e Helena, por sempre me apoiarem incondicionalmente em todas as empreitadas que inicio em minha vida, e aos meus amigos de dentro e fora da UNIFESP por todas as risadas e às imensuráveis ajudas prestadas. Me considero uma garota de muita sorte por ter a rede de suporte que tenho. Num âmbito mais macro, gostaria de agradecer à toda comunidade científica pela inspiradora resiliência diante dos ataques incansáveis da intolerância. A própria execução desse trabalho também não teria sido possível sem o financiamento do CNPq através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) durante os 6 primeiros meses em que conduzi esse estudo. Essa monografia é fruto da pesquisa de IC de mesmo título desenvolvida no período de agosto de 2019 a junho de 2020. A conjuntura parece nos desanimar mais e mais, dia após dia, manchete após manchete, mas seguimos em pé. Espero que trabalhos como esse sirvam como um tijolo para a construção constante de um conhecimento que há de triunfar sobre o extremismo.

They're gonna keep coming. They're everywhere. They're on the streets, they're on TV. They're in boardrooms, they're in . Seeping in. This is why we have to do what we do. (...) Because if not us, then who?

Hunters (2020)

RESUMO

O trabalho investiga como a direita alternativa (alt-right) tornou-se o maior vetor para a propagação do ideário nacionalista branco na internet, visto que nenhum outro proponente havia conseguido tanto êxito em ambientes virtuais anteriormente no que tange o recrutamento de apoiadores para a causa e a inserção dessas ideias extremistas no debate político mainstream. A materialização virtual de um discurso que representa uma ameaça às estruturas democráticas ocidentais da atualidade é analisada por meio de uma observação sistemática dos dois principais espaços virtuais de articulação do movimento, o agregador de links Reddit e o imageboard 4chan, com a finalidade de entender a origem, valores e identidade da direita alternativa. Apesar da análise se dar no contexto estadunidense, visto que os Estados Unidos são onde a maioria dos grandes websites da alt-right estão hospedados, a pesquisa também visa elucidar a influência que esse movimento tem tido sobre a democracia brasileira, baseando-se na discussão acerca do nacionalismo branco, novas tecnologias da informação e comunicação, supremacia branca e difusão de discurso de ódio na internet.

Palavras-chave: Alt-right; Extrema direita; Internet; Nacionalismo Branco; Ciberespaço.

ABSTRACT

The work investigates how the alternative right (alt-right) has become the biggest vector for the spread of white nationalist ideas on the internet, since no other proponent had previously been so successful in virtual environments in terms of recruiting supporters for the cause and inserting these extremist ideas in the mainstream political debate. The virtual materialization of a speech that represents a threat to Western democratic structures today is analyzed through a systematic observation of the two main virtual spaces for articulation of the movement, the link aggregator Reddit and the imageboard 4chan, in order to understand the origin, values and identity of the alternative right. Although the analysis takes place in the American context, since the United States is where most of the major alt-right websites are hosted, the research also aims to elucidate the influence that this movement has had on Brazilian democracy, based on the discussion about white nationalism, new information and communication technologies, and the spread of hate speech on the internet.

Keywords: Alt-right; Far-right; Internet; White nationalism; Cyberspace.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – “It’s Okay to Be White” no 4chan ...... 38 Figura 2 – “It’s Okay to Be White” no Reddit ...... 38 Figura 3 – Postagem misógina no 4chan ...... 39 Figura 4 – Outra postagem misógina do 4chan ...... 39 Figura 5 – Postagem no /r/The_Donald, no Reddit ...... 40 Figura 6 – Um dos comentários da postagem retratada acima ...... 40 Figura 7 – Outra postagem do /r/The_Donald ...... 41 Figura 8 – Comentário da postagem retratada acima ...... 41 Figura 9 – Outro comentário da postagem retratada acima ...... 41 Figura 10 – Mais um comentário da postagem retratada acima ...... 42 Figura 11 – Postagem no /r/DebateAltRight ...... 42 Figura 12 – Comentário em thread do 4chan ...... 47 Figura 13 – Tweet de Trump de 2015 ...... 48 Figura 14 – Alguns exemplos de Pepes ...... 49 Figura 15 – Alguns exemplos de Pepes problemáticos ...... 50 Figura 16 – versão “clown world” ...... 50 Figura 17 – Postagem no /r/frenworld ...... 51 Figura 18 – Postagem no /r/The_Donald fazendo uso do dog whistle “clown world” ...... 51 Figura 19 – Postagem em página brasileira ...... 53 Figura 20 – Adesivo do Pepe palhaço colado em cima de uma homenagem à vereadora Marielle Franco, na FFLCH-USP ...... 54 Figura 21 – Tweet de fazendo uso do dog whistle ...... 54 Figura 22 – Bandeira do Kekistão (acima) e bandeira de Guerra do Terceiro Reich (abaixo) ...... 55 Figura 23 – Bandeira do Kekistão em manifestação pró-Bolsonaro na Av. Paulista, em outubro de 2018 ...... 55 Figura 24 – Postagem do /r/frenworld, como vista no The Times of Israel ...... 56 Figura 25 – Uma imagem dentro da estética vaporwave ...... 57 Figura 26 – Outra imagem dentro da estética vaporwave – a capa do disco Floral Shoppe (2011) ...... 57 Figura 27 – Arte fashwave ...... 57

Figura 28 – Outro exemplo de arte fashwave ...... 58 Figura 29 – O fashwave brasileiro ...... 58 Figura 30 – de Carla Zambelli, deputada federal bolsonarista, com temática fashwave ...... 58 Figura 31 – Protesto “Unite the Right” de Charlottesville em 2017 ...... 59 Figura 32 – Protesto dos 300 do Brasil em junho de 2020 ...... 59

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... 11 2 DE VOLTA PARA O FUTURO ...... 14 2.1 Uma Sociologia para a internet ...... 14

2.2 O nacionalismo branco ...... 17

2.3 O passado do movimento nacionalista branco americano e sua herança .... 20 2.4 O nacionalismo branco na internet, pré-direita alternativa...... 28 3 A ALT-RIGHT: ETHOS, MÉTODOS E LOCAIS ...... 32

3.1 A estrutura da direita alternativa: Os principais locais ...... 32

3.2 A estrutura da alt-right: O ethos e o modus operandi ...... 37 4 O PAPEL DO VISUAL E DO COMPARTILHÁVEL NA ALT-RIGHT ...... 48

4.1 Sangue, honra e memes: O que a alt-right trouxe de novo ...... 48

4.2 A volta dos que não foram: O que a alt-right revitalizou ...... 56 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 61 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 63

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1 INTRODUÇÃO

Em 2016, ao navegar pela internet e ver o que acreditava inicialmente se tratar de um vídeo de humor no YouTube a respeito de um programa de televisão americano que acompanho religiosamente, fui bombardeada com “piadas” grosseiramente antissemitas, racistas e nazifascistas. Personagens negras tinham suas falas substituídas por sons de chimpanzés, e a criadora do programa era denominada uma “judia suja”. Falas de Adolf Hitler eram exaltadas, assim como as de Goebbels. Pausei o vídeo. Ele tinha surgido como uma recomendação do algoritmo do site a partir de um outro vídeo de um canal de humor comandado por um casal judeu – então só podia ser ironia, certo? Talvez o senso de humor da internet, que sempre foi um espaço muito aberto a anedotas e piadas maldosas, poderia apenas ter atingido níveis extremamente peculiares, moral e legalmente duvidosos. Ver espaços que eu frequentava com frequência serem tomados por “piadas” de cunho similar foi uma experiência terrivelmente confusa e desconfortável, que apenas se revelou como política conforme notícias sobre jornalistas perseguidos e violência cometida por membros de um novo agrupamento político – a chamada direita alternativa – foram surgindo. O que estava aparentemente apenas no território de humor sombrio e subversivo foi se revelando como um caminho para a comunicação de ideias e teorias da conspiração que tinham como cerne a supremacia branca, o nacionalismo branco e xenofobia/homofobia/misoginia exacerbadas, meio esse que estava começando a se manifestar no “mundo material” e em 2016 foi nomeado por veículos de notícias como uma das forças que ajudou a eleger Donald Trump, o presidente da maior potência econômica do mundo. Apesar de todo o entusiasmo do movimento supremacista branco com a internet no fim do século passado, que será exposto nessa pesquisa, a alt-right foi o primeiro vetor virtual que de fato levou as pautas do movimento para o debate público inúmeras vezes. Richard Spencer, um dos autoproclamados líderes da alt- right, apareceu em entrevistas para a CNN em 2019 (FORREST, 2019), e assim como outras figuras proeminentes do movimento teve seu perfil feito por diversas publicações. O protesto Unite the Right em Charlottesville em 2017, que foi gestado em ambientes virtuais da direita alternativa – inclusive alguns dos mencionados

12 nesse trabalho – levou um número considerável de pessoas para a rua por pautas que até a década de 2000 eram tidas como impensáveis e criminosas pelo senso comum. Hunter (1991) escreve sobre a existência de uma constante competição entre os dois limites do espectro político (esquerda e direita) para definir a realidade social. O papel desempenhado pela alt-right foi de suma importância na disparada das forças reacionárias na fase atual dessa competição à medida em que ela auxiliou e ainda auxilia imensamente na materialização de um discurso que representa um risco real às estruturas democráticas da atualidade. Tendo isso em mente, essa pesquisa visa contribuir para o preenchimento de uma lacuna existente nas produções acadêmicas referente ao estudo sociológico da direita alternativa, investigando a ascensão dela como o vetor mais bem-sucedido de propagação do ideário nacionalista branco em ambientes virtuais. A finalidade desta pesquisa, em termos gerais, é investigar o processo de formação, valores e identidade da direita alternativa, os objetivos específicos sendo os de compreender como a reconfiguração da comunicação e das relações sociais propiciada pela internet alterou as táticas de recrutamento e as formas pelas quais movimentos favoráveis a criação de um Estado exclusivamente branco se apresentam e se organizam; entender o modus operandi da alt-right no universo virtual; ver como seus membros propagam discursos e mensagens relacionados ao nacionalismo branco e analisar o processo de formação e disseminação de símbolos e imagens de fácil compartilhamento e sua relação com o fortalecimento do ideário nacionalista branco no ciberespaço. A pesquisa tem como foco os Estados Unidos, mas devo reforçar que entender a alt-right nos permite decifrar aspectos sociológicos muito importantes da atual situação política não apenas estadunidense, mas de diferentes partes do mundo, o que inclui o Brasil. O aporte metodológico dessa pesquisa, por sua vez, consistiu em uma observação sistemática dos dois espaços virtuais mais ativos da alt-right: o 4chan, um imageboard1 famoso por suas polêmicas e campanhas controversas, e dois subreddits2 da alt-right no agregador social de links Reddit. A razão por trás da escolha do recurso metodológico da observação sistemática e não da etnografia

1 Um imageboard é uma espécie de fórum onde todas as postagens devem conter imagem e texto. Não apenas um ou outro. 2 Subfóruns do agregador de links Reddit.

13 virtual ou quaisquer outro que envolva participação ativa da pesquisadora se deu pelo fato de que o movimento analisado é extremamente reativo e combativo, o que poderia pôr em risco o próprio andamento da pesquisa. Jessie Daniels (2009), ao explicar os caminhos metodológicos utilizados em sua análise de movimentos extremistas no espaço virtual, percebe que é preciso reconhecer que as coisas mudam rapidamente na internet e que a sociologia não consegue ficar à frente desse rápido ritmo de mudança. No entanto, é possível trazer as percepções da sociologia para o estudo da internet, como vários acadêmicos já demonstraram. Essa percepção é um princípio norteador para essa pesquisa. No primeiro capítulo, discutirei o âmbito teórico de minha pesquisa e os conceitos centrais de análise, a história do movimento nacionalista branco estadunidense até a formação da direita alternativa e como o nacionalismo branco se apresentava na internet antes da alt-right. No segundo capítulo, falarei detalhadamente sobre as origens, as estruturas, como e porque o Reddit e o 4chan, os dois websites analisados, se tornaram dois dos maiores redutos da direita alternativa na internet e tratarei do ethos e modus operandi do movimento. Por fim, estando estabelecidos o solo em qual a alt-right cresceu e a forma pela qual ela constrói suas campanhas e se apresenta na internet, o terceiro capítulo traz a análise específica do processo de formação e disseminação dos “memes”3 da alt- right, o que ela trouxe de novo e o que ela apenas busca revitalizar dentro desse campo da simbologia extremista. Todos esses pontos, unidos, nos explicam o porquê que a alt-right obteve este expressivo alcance em missões similares à de seus movimentos antecessores.

3 Termo originado por Richard Dawkins na obra O Gene Egoísta (1976), que nas palavras de Knobel e Lankshear (2007) “propôs um modelo evolutivo substancial de desenvolvimento cultural e mudança fundamentados na replicação de ideias, conhecimentos e outras informações culturais através da imitação e transferência” (tradução nossa), um meme é um termo popular para descrever ideias ou fenômenos “cativantes” e amplamente propagados (KNOBEL E LANKSHEAR, 2007) que geralmente se difundem por meio de piadas situacionais, imagens e vídeos de fácil compartilhamento (CHAGAS et al., 2017).

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2 DE VOLTA PARA O FUTURO

2.1 UMA SOCIOLOGIA PARA A INTERNET

Em um artigo de 1998 escrito para a revista Red Herring, o economista Paul Krugman fez um prognóstico: “O crescimento da Internet diminuirá drasticamente. (...) Por volta de 2005, ficará claro que o impacto da Internet na economia não foi maior que o do aparelho de fax” (KRUGMAN, 1998, tradução nossa)4. O tempo, por si só, refutou Krugman, que até hoje é objeto de gozação em sites que apontam coisas, falas ou pessoas que “envelheceram como leite”. Em um relatório de outubro de 2011 do McKinsey Global Institute, James Manyika e Charles Roxburgh escrevem que se a internet fosse um setor, teria um peso maior no PIB de economias maduras do que a agricultura ou os serviços públicos (MANYIKA E ROXBURGH, 2011). Mal imaginava Krugman o que o futuro reservava em termos políticos e sociais. Noções como a de Manuel Castells no prólogo da edição de 2010 de sua obra The Rise of The Network Society abrem um panorama que norteia o âmbito teórico desse trabalho:

A urgência de uma nova abordagem para entender o tipo de economia, cultura e sociedade em que vivemos é aumentada pelas crises e conflitos que caracterizaram a primeira década do século XXI. A crise financeira global; a turbulência nos mercados de negócios e trabalho resultante de uma nova divisão internacional do trabalho; o crescimento imparável da economia criminal global; a exclusão social e cultural de grandes segmentos da população do planeta das redes globais que acumulam conhecimento, riqueza e poder; (...) o reavivamento de divisões nacionais, étnicas e territoriais, introduzindo a negação do outro e, assim, o amplo recurso à violência como forma de protesto e dominação; a crise ambiental sintetizada pelas mudanças climáticas; a crescente incapacidade das instituições políticas baseadas no Estado-nação em lidar com problemas globais e demandas locais: todas são expressões diversas de um processo de mudança estrutural multidimensional que ocorre em meio a agonia e incerteza. Estes são realmente tempos difíceis. O sentimento de desorientação é agravado por mudanças radicais no campo da comunicação, derivadas da revolução nas tecnologias de comunicação. A mudança dos meios de comunicação de massa tradicionais para um sistema de redes de comunicação horizontal organizado em torno da Internet e da comunicação sem fio introduziu uma multiplicidade de padrões de comunicação na fonte de uma transformação cultural fundamental, à medida que a virtualidade se torna uma dimensão essencial da nossa realidade. A constituição de uma nova cultura baseada na comunicação multimodal e no processamento de informações digitais cria uma divisão

4 “The growth of the Internet will slow drastically (…) by 2005 or so, it will become clear that the Internet's impact on the economy has been no greater than the fax machine's”.

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geracional entre os nascidos antes da Era da Internet (1969) e os que cresceram sendo digitais (CASTELLS, 2010, p. 17-18, tradução nossa)5.

A integração de vários modos de comunicação (escrita, comunicação oral e audiovisual) dentro de uma rede interativa, argumenta Castells (2010), muda fundamentalmente o caráter da comunicação, e esta, por sua vez, molda essencialmente a cultura. Nesse contexto de comunicação multimodal, as pessoas costumam usar textos específicos da cultura popular para simplificar as mensagens e se expressar de maneira que atraem outras pessoas parecidas (TAY, 2012, p. 5, tradução nossa)6. Ainda segundo Tay (2012), a Internet cria inúmeros espaços criativos onde as ideias são estendidas, transformadas e circuladas pelos usuários. Esses espaços criativos são muitas vezes caracterizados como (ou chamados de) comunidades virtuais. Compartilho da posição de Beatriz Polivanov (2014) de que o conceito de comunidade só pode ser entendido enquanto um conceito polissêmico e que é por si só um objeto de disputas, uma vez que determinados critérios para se definir “comunidade” são escolhidos em detrimento de outros, de acordo com os interesses dos sujeitos (POLIVANOV, 2014, p. 1). O elemento que fundamenta a visão de Howard Rheingold (1993) de um grupo de usuários dentro de um espaço criativo virtual como uma comunidade virtual, por exemplo, é a interação. Para Rheingold, comunidades virtuais são agregações sociais que surgem da Internet quando um número suficiente de pessoas mantém discussões públicas por tempo suficiente,

5 “The urgency for a new approach to understanding the kind of economy, culture, and society in which we live is heightened by the crises and conflicts that have characterized the first decade of the twenty-first century. The global financial crisis; the upheaval in business and labor markets resulting from a new international division of labor; the unstoppable growth of the global criminal economy; the social and cultural exclusion of large segments of the population of the planet from the global networks that accumulate knowledge, wealth, and power; (…) the rekindling of national, ethnic, and territorial cleavages, ushering in the negation of the other, and thus the widespread resort to violence as a way of protest and domination; the environmental crisis epitomized by climate change; the growing incapacity of political institutions based on the nation-state to handle global problems and local demands: these are all diverse expressions of a process of multidimensional, structural change that takes place in the midst of agony and uncertainty. These are indeed troubled times. The sense of disorientation is compounded by radical changes in the realm of communication, derived from the revolution in communication technologies. The shift from traditional mass media to a system of horizontal communication networks organized around the Internet and wireless communication has introduced a multiplicity of communication patterns at the source of a fundamental cultural transformation, as virtuality becomes an essential dimension of our reality. The constitution of a new culture based on multimodal communication and digital information processing creates a generational divide between those born before the Internet Age (1969) and those who grew up being digital”. (CASTELLS, 2010, p. 17-18) 6 “People often use particular popular culture texts to simplify messages, and to express themselves in ways that appeal to likeminded others”. (TAY, 2012, p. 5)

16 com sentimentos humanos suficientes, para formar redes de relacionamentos pessoais no ciberespaço (RHEINGOLD, 1993, p. 6-7, tradução nossa)7. Essa visão configura e embasa o que é uma comunidade virtual tanto para o mainstream quanto para a maioria das subsequentes conceitualizações dentro da embrionária sociologia digital, o que inclui a de Christine Hine (2000), cujo método proposto da etnografia virtual não foi o utilizado por mim, mas trouxe noções extremamente úteis das quais esse trabalho se apropria.

A relação entre as comunicações mediadas por computadores e as ciências sociais foi reconceituada: ao argumentar que relações sociais significativas existiam no ciberespaço, os pesquisadores realizaram um movimento em direção à interpretar as comunicações mediadas por computadores como um contexto de relações sociais em seu próprio direito, ao invés de um meio usado para bons ou maus efeitos em outros contextos. Entre o autor de uma postagem de um grupo de notícias e o autor de uma resposta, um espaço se abriu, e esse espaço era um contexto cultural. (HINE, 2010, p. 17, tradução nossa8).

Enquanto Hine (2000) pensa no método etnográfico ao falar do desafio e da oportunidade trazidos pela mídia interativa na medida em que estes colocam em questão a noção de um espaço de interação (HINE, 2000, p. 64, tradução nossa)9, podemos muito bem aplicar esse entendimento à uma observação sistematizada de espaços virtuais. Hine (2000) também não pensa no ciberespaço como um espaço desconectado de quaisquer conexões com a “vida real” ou interação face-a-face, pois, segundo ela, o ciberespaço possui conexões ricas e complexas com os contextos em que ele é usado; mídias interativas como a internet podem ser entendidas simultaneamente como cultura e artefato cultural – segundo a autora, concentrar-se em um ou outro aspecto com exclusão do outro leva a uma visão empobrecida e limitada. Hine (2000), num estudo de caso acerca da repercussão virtual do caso de Louise Woodward, uma babá britânica acusada em 1997 de assassinar um bebê

7 “Virtual communities are social aggregations that emerge from the Net when enough people carry on those public discussions long enough, with sufficient human feeling, to form webs of personal relationships in cyberspace”. (RHEINGOLD, 1993, p. 6-7) 8 “The relationship between CMC and social science was reconceptualized: in arguing that meaningful social relations existed in cyberspace, researchers effected a move towards CMC as a context of social relations in its own right, rather than a medium used to good or bad effect within other contexts. Between the poster of one newsgroup message and the author of a response, a space opened, and that space was a cultural context.” 9 “Interactive media provide a challenge and an opportunity for ethnography, by bringing into question the notion of a site of interaction”. (HINE, 2000, p. 64)

17 americano que estava sob seus cuidados nos EUA, analisa a cultura emergente da internet, suas relações temporais e espaciais, a interação de autoridade e identidade na troca de informações e opiniões, e o apropriação das tecnologias de comunicação da internet para os mais diversos fins. Para a autora, seria muito limitado considerar esses fenômenos emergentes da internet como originados completamente dentro da própria internet, e para Hine, também é similarmente importante explorar as maneiras pelas quais o uso da internet é moldado por percepções dela como um meio de comunicação e como uma tecnologia com significados específicos para aqueles que a utilizam. “Para isso, é útil nos voltarmos para o significado da internet como um artefato cultural.” (HINE, 2000, p. 69, tradução nossa10) Retomando às colocações de Castells (2010) mencionadas no início dessa seção, principalmente no que tange o reavivamento de divisões nacionais, étnicas e territoriais, é essencial que nos aproximemos da visão de Hine (2000) de que, ao pensarmos na internet, é de crucial importância que não desvinculemos a mesma dos contextos em que ela é usada, da “vida real”.

2.2. O NACIONALISMO BRANCO

A esperança de uma grande insurreição do povo branco contra a “degeneração da sociedade” foi o que norteou o movimento nacionalista branco em todas as suas épocas de ascensão entre o final do século XIX e início do século XXI, de diferentes formas. Como um ideário camaleônico, o nacionalismo branco responde aos acontecimentos históricos e adapta suas narrativas de acordo com o desdobramentos destes (ZESKIND, 2009; EZEKIEL, 1995), de forma a convencer possíveis adeptos de uma sempre presente necessidade de um país habitado somente por pessoas brancas, para a proteção da cultura branca/europeia e de seu povo, um “ethnostate”. (ROBERTSON, 2015) Anthony Smith (1979), ao fazer uma comparação entre nacionalismo e racismo de modo a demonstrar a incompatibilidade existente entre os dois, escreve que o racismo dá pouco espaço para ideais como os de cidadania, independência e fraternidade, uma vez que se trata de uma doutrina que divide o mundo em castas

10 “For this it is useful to turn to the meaning of the Internet as a cultural artefact.”

18 raciais presas em uma luta perpétua pela dominação. Nessa lógica, os fisicamente superiores são supostamente destinados a governar os inferiores e formarem uma elite racial. Já Lloyd Kramer (1998) entende que o nacionalismo floresceu justamente da conexão entre as esferas íntimas e pessoais de vidas individuais e as esferas públicas da identidade coletiva, conexão essa que se desenvolveu sob as concepções modernas de família, reprodução e respeitabilidade pessoal – o bom cidadão era aquele que também era um membro responsável de uma família – e subsequentemente se transformou em preocupações relativas ao significado biológico de raça e pureza racial.

Os nacionalismos tornaram-se intimamente ligados às mais profundas ansiedades humanas sobre a vida e a morte, em parte porque prometem uma espécie de imortalidade para os mortos e, em parte, porque prometem uma vida melhor para os filhos da nação e para as futuras gerações. A maioria dos nacionalistas se interessou profundamente pela contínua reprodução da nação e celebrou o significado nacional de "boas famílias", "boas mães" e "bons pais". Essas preocupações biológicas também levaram a nacionalismos raciais na África e na Ásia que podem ser comparados a teorias sobre raça ou etnia na Europa e na América, mas mesmo os nacionalistas que ignoram a raça tendem a se preocupar com a pureza das famílias e os perigos do sexo "anormal". Uma vida doméstica saudável e bem ordenada torna-se ligada a uma vida pública saudável e bem ordenada na maioria das definições nacionalistas de identidades nacionais virtuosas (KRAMER, 1998, p. 131, tradução nossa)11.

A sobrevivência da nação em alguns nacionalismos, gradualmente, passou a depender da “pureza de sangue”, assim como da dominação de povos inerentemente superiores sobre os inerentemente inferiores, teorias estas que não foram antagônicas a projetos imperialistas de diversos países (KRAMER, 1998) e foram cultivadas e ensinadas à sucessivas gerações como um importante aspecto constituinte da história de suas nações e do sentimento de fraternidade, de pertencimento intrínseco à idealização da nação. O fator racial desempenhou um papel muito importante nos anos iniciais do nacionalismo estadunidense, visto que o “verdadeiro americano” tinha que ser

11 “Nationalisms have become closely connected to the deepest human anxieties about life and death, in part because they promise a kind of immortality for the dead, and in part because they promise a better life for the nation's children and future generations. Most nationalists have taken a deep interest in the continuing reproduction of the nation and celebrated the national significance of "good families," "good mothers," and "good fathers." These biological preoccupations have also led to racial nationalisms in Africa and Asia that can be compared to theories about race or ethnicity in Europe and America, but even nationalists who ignore race tend to worry about the purity of families and the dangers of "abnormal" sex. A healthy, well-ordered domestic life becomes linked to a healthy, well- ordered public life in most nationalist definitions of virtuous national identities”. (KRAMER, 1998, p. 131)

19 diferenciado do nativo americano, que teve sua terra tomada, e do africano, que teve seus direitos civis completamente negados na escravidão (KRAMER, 1998).

Os nacionalistas americanos construíram sua ideologia enfatizando dois temas culturais e políticos que poderiam ser encontrados em praticamente todos os movimentos nacionalistas da época: eles supunham que os Estados Unidos tinham um destino ou missão únicos na história mundial, e que esse destino se manifestava nas diferenças que separaram a América das outras nações, povos e sistemas de governo do mundo. O excepcionalismo americano presumia que os Estados Unidos tivessem rompido decisivamente com os valores e instituições do Velho Mundo, mas também enfatizava as diferenças fundamentais que dividiam os americanos europeus dos nativos americanos, que eram, naturalmente, os verdadeiros americanos antigos (KRAMER, 1998, p. 108, tradução nossa)12.

Esses princípios do excepcionalismo americano foram reiterados e defendidos como um componente essencial da identidade americana, que fora definida em termos étnicos, raciais, culturais e religiosos por colonos em sua grande maioria brancos, britânicos e protestantes. (HUNTINGTON, 2009) Ainda segundo Huntington (2009), os séculos XIX e XX trouxeram com eles o gradual afrouxamento e subsequente redefinição da identidade étnica, devido à assimilação de um vasto número de imigrantes do sul e leste europeus no país, e racial, devido às conquistas do movimento por direitos civis; a identidade americana passou a ser definida somente em termos culturais e religiosos, o que significou e passou a ser apregoado por nacionalistas brancos como um extermínio sistemático da população branca. Conforme escreve Zeskind (2009), dentro do movimento duas tendências políticas disputavam e seguem disputando a hegemonia estratégica: o mainstreaming e o vanguardismo, “reformistas” e “revolucionários”. A ala do mainstreaming age com muita cautela tendo em vista um panorama público onde a segunda guerra eliminara do campo do aceitável o nazismo e o fascismo (HOBSBAWM, 1995); e traz consigo métodos, estratégias e narrativas para tornar o discurso mais “palatável” para o debate público. A do vanguardismo não desempenha o mesmo esforço, optando por adotar um discurso mais agressivo e de confronto violento em frente à um cenário tido por eles como quase apocalíptico –

12 “American nationalists thus constructed their ideology by emphasizing two cultural and political themes that could be found in virtually every nationalist movement of the era: They assumed that the United States had a unique destiny or mission in world history, and they assumed that this destiny was manifested in the differences that separated America from the world's other nations and peoples and systems of government. American exceptionalism presumed that the United States had broken decisively with Old World values and institutions, but it also emphasized fundamental differences that divided European Americans from Native Americans, who were of course the truly ancient Americans”. (KRAMER, 1998, p. 108)

20 uma sociedade profundamente degenerada, para eles, exige ações radicais para seu “conserto”: na década seguinte ao bombardeio da cidade de Oklahoma em 199513, mais de 60 planos terroristas foram planejados ou realizados por extremistas de direita, 23 dos quais ocorreram entre 2000 e 2005 (BLEJWAS et al, 2005 apud SIMI, 2010): a lista inclui planos como bombardeios à prédios do governo americano, assassinatos de policiais, juízes, políticos e figuras de direitos civis e assaltos à bancos. É impossível entrar nos mínimos detalhes sobre todos os inúmeros grupos e vertentes do nacionalismo branco americano dentro do escopo desse trabalho, visto que todos tem histórias muito particulares entre si e foram criados a partir de pequenas divergências ideológicas entre seus membros ou bem documentadas brigas de ego dentro dos círculos extremistas norte-americanos. O que farei como alternativa é levantar os pontos principais de divergência entre eles e pontuar quais grupos, atores políticos e acontecimentos foram cruciais para o movimento em uma linha cronológica, assim como o legado que cada elemento deixou para novos grupos nacionalistas brancos até a chegada da alt-right.

2.3 O PASSADO DO MOVIMENTO NACIONALISTA BRANCO AMERICANO E SUA HERANÇA

Formada um ano após o fim da Guerra Civil Americana (1861-65) por ex- soldados confederados em Pulaski, Tennessee, a Ku Klux Klan inicialmente forneceu a base para o movimento nacionalista branco americano (DOBRATZ E SHANKS-MEILE, 1997). De acordo com Dobratz e Shanks-Meile (1997), a KKK se espalhou rapidamente pelo sul dos EUA, e tinha como objetivo central a manutenção da supremacia da raça branca na república estadunidense por meio da intimidação, assassinato e linchamento da população negra do Sul dos Estados Unidos. Esta proposta vanguardista que, em seu apogeu, atraiu cerca de meio milhão de membros espalhados em uma dúzia de estados no final da década de 1860 só teve um fim quando seus líderes foram convocados pelo Congresso estadunidense a prestar declarações sobre as atividades criminosas do grupo.

13 Perpetrado por Timothy McVeigh e Terry Nichols, terroristas antigoverno que eram inspirados pelas proposições de vanguardistas do movimento nacionalista branco, o ataque vitimou 168 pessoas, e antes do 11 de Setembro, tinha sido o maior caso de terrorismo doméstico nos EUA.

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A segunda era do movimento, criada em 1915 por William Simmons, conseguiu ainda mais sucesso em sua empreitada iniciada meses após o lançamento de The Birth of a Nation (1915), filme que elevou membros da KKK ao posto de heróis nacionais por supostamente salvarem o Sul e preservarem por lá o modo branco de vida (DOBRATZ E SHANKS-MEILE, 1997; ARMSTRONG, 2010). A KKK nessa época era tida por setores da sociedade estadunidense como um movimento benéfico para o país. Estimativas do índice de associação desse período da KKK variam entre 2 a 8 milhões de membros, até seu fim em 1925 ocasionado pela forte polêmica causada pelo sequestro, estupro e assassinato de Madge Oberholtzer, uma jovem mulher branca, cometido pelo líder da Ku Klux Klan de Indiana, D.C. Stephenson, no mesmo ano, e escândalos envolvendo sonegação de imposto por parte da administração da mesma. (DOBRATZ E SHANKS-MEILE, 1997; ZERZAN, 1993) O fim da segunda era da KKK culminou com a chegada da Segunda Guerra Mundial (1939-45) e a ascensão do Partido Nazista na Alemanha (1933). Percebemos aqui a falta de uma continuidade no que tange a adesão de americanos crentes num projeto racista à proposta eugenista hitlerista: o patriotismo exacerbado e o nacionalismo intrínseco aos planos de ação da Ku Klux Klan – que era o poder central do nacionalismo branco nos EUA – acabaram não tornando o plano de dominação mundial alemã algo amplamente aceito pela sociedade branca estadunidense, por mais que existissem muitas similaridades entre os projetos políticos e sociais de ambos. No entanto, isso não significa que houve uma aversão completa por parte do povo branco americano aos ideais do Partido Nazista alemão. Em junho de 1938, uma pesquisa de opinião da Gallup perguntou aos americanos o que era pior, o comunismo ou o fascismo. Enquanto quase metade dos participantes não tinham uma resposta, 32% acreditavam que o comunismo era pior, e 23% acreditavam que o fascismo era pior (HART, 2018). “Os Estados Unidos não corriam o risco de um iminente controle fascista no final da década de 1930, mas havia certamente um terreno fértil no qual uma ditadura [fascista] poderia criar raízes” (HART, 2018, p. 98, tradução nossa14). O curta-metragem A Night at The Garden (2017) causou burburinho no Festival de Sundance de 2017 por mostrar um comício nazista que ocorreu em 1939 no Madison Square Garden em Nova Iorque,

14 “The United States were not at risk of an imminent fascist takeover in the late 1930s, but there was certainly fertile terrain in which dictatorship might be able to take root”. (HART, 2018, p. 98)

22 com um público de 20.000 pessoas presentes. O evento, que fora anunciado como uma celebração do “americanismo” no aniversário de George Washington (BORT, 2019), fora organizado pela German-American Bund, organização que aceitava somente integrantes americanos de ascendência alemã e foi formada com o intuito de estabelecer uma imagem positiva da Alemanha Nazista em território estadunidense - insistindo que a saudação nazista era tão americana quanto torta de maçã (ELLS, 2007). O atentado japonês à base de Pearl Harbor (1941) e a subsequente entrada dos EUA na guerra como parte dos Aliados, no entanto, cimentou um patriotismo demasiadamente forte na sociedade americana, fazendo com que uma intensa propaganda antinazista (e por extensão, anti-Eixo) se espalhasse como fogo em muitos veículos de mídia. Neste contexto, o ato de se associar ao lado inimigo, mesmo que naqueles Estados fossem efetivadas políticas que iam de encontro aos seus ideais, fosse algo impensável e totalmente repreensível. Entre alguns exemplos de propaganda da época está o curta-metragem animado Der Fuehrer's Face (1943), da Disney, onde o Pato Donald tem um pesadelo onde ele vive na Alemanha Nazista e é forçado a trabalhar à exaustão, acordar ao som de uma marcha glorificando o führer e comer um pedaço de madeira no lugar de uma fatia de pão, e Why We Fight (1942-1945), uma série de documentários dirigidos por Frank Capra que tinha como objetivo mostrar para o povo americano os motivos que tornaram a presença dos EUA na Guerra necessária. No pós-guerra, entretanto, dentro do movimento nacionalista branco, passou- se a observar mais o que Hitler havia feito de “certo” do que de errado. Enquanto durante a guerra tanto a máquina de propaganda americana quanto a opinião da maioria da população fizeram com que os racistas americanos contivessem seu entusiasmo para não afastarem os “cidadãos de bem” patriotas de sua causa, a poeira da guerra abaixando deu margem para que um forte discurso de relativização às atrocidades nazistas tomasse a frente da retórica do movimento e ganhasse um número significante de adeptos por meio de diferentes grupos ao longo dos anos. O precursor bem-sucedido da vertente do nacionalismo branco patriota que agora também relativizava o nazismo e era fortemente antissemita15 foi Willis Carto. Carto, de acordo com Zeskind (2009), buscava poder político dentro do sistema da

15 Que é a que tomou a frente do movimento ao longo dos anos e eventualmente canalizou-se na alt- right.

23 política eleitoral, e conseguiu isso de certa forma por meio do Liberty Lobby, uma organização de lobby político que dentre as criações de Carto era a mais “comedida” por tentar alcançar alturas inimagináveis dentro do debate público. Quando escrevo “comedida” quero dizer a que escondeu melhor suas tendências eugenistas, antissemitas e neonazistas debaixo do rótulo vago de organização pela causa conservadora, populista e patriota. Debaixo desses rótulos:

[O Liberty Lobby] exortou a oposição ao livre comércio; implorou aos conservadores que abandonassem suas atitudes hostis em relação aos sindicatos. Também defendia o apoio ao “nacionalismo negro responsável” e “o fim de séculos de conflito racial através do reconhecimento mútuo da necessidade de separação racial.” Em essência, foi um pedido para reverter a decisão de Brown vs. Board of Education of Topeka16 e restaurar a segregação de Jim Crow, uma ideia com proponentes assassinos no Sul [dos Estados Unidos] na época (ZESKIND, 2009, p. 8, tradução nossa)17.

Além do Liberty Lobby, Carto, juntamente com David McCalden em 1978, foi responsável pela fundação do Institute for Historical Review (Instituto de Revisão Histórica, em tradução livre), ou IHR. O IHR foi uma organização criada com o intuito de “desmascarar” publicamente uma suposta “farsa” do Holocausto (BERLET E LYONS, 2000), sendo a organização de maior notoriedade no que concerne ao revisionismo do genocídio de cerca de 6 milhões de judeus por parte da Alemanha Nazista. O IHR, assim como outras organizações de cunho extremista, tentou, no início de suas operações, passar uma imagem de legitimidade e imparcialidade ao incorporar figuras que não eram alinhadas ao movimento neonazista, mascarando- se sob a pretensa de que o IHR se tratava apenas de mero revisionismo histórico; máscara essa que caiu conforme era percebido que esse revisionismo proposto pelo instituto era focado apenas em tentar provar que o Holocausto era uma mentira ou que pelo menos as informações foram “exageradas”. O reconhecimento da verdadeira natureza do IHR também desmascarou o que o Liberty Lobby queria dizer em seus manifestos quando se referia vagamente ao controle de uma pequena minoria das grandes mídias e do mundo em si. Em um artigo intitulado “’Crystal Night’ 1938: The great anti-German spectacle”, publicado

16 Decisão da Suprema Corte americana que acabou com a segregação nas escolas americanas. 17 “It urged opposition to free trade; it implored conservatives to abandon their hostile attitudes toward trade unions. It also advocated support of ‘responsible Negro nationalism’ and ‘an end to centuries of racial strife through mutual recognition of the need for racial separation.’ In essence, it was a call to reverse the Brown decision and restore Jim Crow segregation, an idea with murderous proponents in the South at the time”. (ZESKIND, 2009, p. 8)

24 no Journal of Historical Review, podemos notar já a partir do pequeno excerto abaixo o absoluto tom de relativização à Noite de Cristais, o pogrom símbolo do início da perseguição aos judeus na Alemanha Nazista, por parte de uma das “pesquisadoras” do IHR, Ingrid Weckert, que escreve:

Qualquer pessoa que esteja ciente da verdadeira situação na Alemanha durante a era do Terceiro Reich reconhece que o episódio da Noite de Cristal foi extraordinário. Foi uma aberração radical do padrão normal da vida cotidiana. A explosão não estava de acordo com a política oficial nacional socialista judaica nem com a atitude geral alemã em relação aos judeus. Os alemães não eram mais antissemitas do que qualquer outro povo. De fato, os judeus que tiveram que deixar outros países europeus preferiram a Alemanha como um lugar para morar e trabalhar (WECKERT, 1985, p. 185, tradução nossa)18.

Tanto o Liberty Lobby quanto o IHR usaram de inúmeras estratégias argumentativas para tentar o approach do mainstreaming. Entre essas estratégias, está o uso desmedido de um conspiracionismo operacionalizado para corroborar uma narrativa antissemita, racista e eugenista de uma maneira muito mais sutil que a KKK ou a German-American Bund. Sobre o conspiracionismo, Berlet e Vysotsky (2006) escrevem: Conspiracionismo é a ideia de que a maioria dos grandes eventos históricos foi moldada por vastas conspirações secretas de longo prazo que beneficiam grupos e indivíduos de elite. Histórias que explicam a suposta conspiração são narrativas sobre o bem e o mal que selecionam grupos- alvo específicos e justificam a agressão contra eles, combinando dualismo e apocalipticismo com uma retórica populista que pede um levante contra os conspiradores do mal (BERLET E VYSOTSKY, 2006, p. 12-13, tradução nossa)19.

O revisionismo do Holocausto foi, e ainda é, o ponto de partida para muitas argumentações conspiracionistas antissemitas, que acusam os judeus de se “vitimizar” por meio do Holocausto e conseguirem através do mesmo uma espécie de “passe livre” para o domínio total das grandes mídias e sistemas financeiros. (RAY E MARSH, 2001) Outro uso marcante do conspiracionismo na formulação de

18 “Anyone who is aware of the true situation in Germany during the Third Reich era recognizes that the Crystal Night episode was quite extraordinary. It was a radical aberation from the normal pattern of daily life. The outburst was not in keeping with either the official National Socialist Jewish policy nor with the general German attitude towards the Jews. The Germans were no more anti-Semitic than any other people. In fact, Jews who had to leave other European countries preferred Germany as a place to live and work”. (WECKERT, 1985, p. 185) 19 “Conspiracism is the idea that most major historic events have been shaped by vast, long-term, secret conspiracies that benefit elite groups and individuals. Stories explaining the alleged conspiracy are narratives about good and evil that select specific targeted groups, and justify aggression against them by combining dualism and apocalypticism with populist rhetoric calling for an uprising against the evil plotters”. (BERLET E VYSOTSKY, 2006, p. 12-13)

25 retóricas nazifascistas está na teoria da conspiração do genocídio branco, popularizada por David Lane. Lane também foi o responsável pela popularização das “”, as quatorze palavras20 que se tornaram o slogan de movimentos pró-nacionalismo branco por todo o mundo, algo que vamos retomar um pouco mais à frente. A teoria do genocídio branco consiste na crença de que há um extermínio sistemático da população branca em curso através da miscigenação, imigração de pessoas de outras etnias, entre outras causas (MOSES, 2019), e geralmente aos judeus recai a culpa de serem a elite maquiavélica por trás desse plano de substituição em massa dos brancos. Muitos dos métodos de persuasão e propaganda da extrema-direita do passado atualmente se baseiam em dog whistles21 para essa teoria. Um desses dog whistles, muito utilizado tanto por neonazistas quanto por políticos de extrema-direita é o da “defesa da civilização ocidental”. Em um discurso que fez em Varsóvia, em 2017, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump proferiu as seguintes afirmações (referentes à civilização ocidental):

Nós escrevemos sinfonias. Buscamos inovação. Celebramos nossos heróis antigos, abraçamos nossas tradições e costumes atemporais e sempre procuramos explorar e descobrir novas fronteiras. Nós recompensamos a magnificência. Buscamos a excelência e valorizamos obras de arte inspiradoras que honram a Deus. Valorizamos o Estado de direito e protegemos o direito à liberdade de expressão. (...) Americanos, poloneses e as nações da Europa valorizam a liberdade e a soberania individuais. Devemos trabalhar juntos para enfrentar forças, sejam elas de dentro ou de fora, do sul ou do leste, que ameaçam, com o tempo, minar esses valores e apagar os laços de cultura, fé e tradição que nos tornam quem somos. Se deixadas sem controle, essas forças vão minar nossa coragem, minar nosso espírito e enfraquecer nossa vontade de defender a nós mesmos e a nossa sociedade (CAPEHART, 2017, tradução nossa)2223.

20 As fourteen words são “We must secure the existence of our people and a future for White Children”, ou “Devemos garantir a existência de nosso povo e um futuro para as Crianças Brancas” em tradução livre. Uma forma comumente utilizada por neonazistas para se referir à frase é 14/88, 14 para a frase e 88 para se referir duas vezes à oitava letra do alfabeto, H, para “Heil Hitler”. 21 Uma observação, discurso ou propaganda que se destina a ser entendido por um grupo específico, especialmente um com sentimentos de racismo ou ódio, sem expressar explicitamente esses sentimentos (DICIONÁRIO, 2019). 22 “We write symphonies. We pursue innovation. We celebrate our ancient heroes, embrace our timeless traditions and customs, and always seek to explore and discover brand-new frontiers. We reward brilliance. We strive for excellence, and cherish inspiring works of art that honor God. We treasure the rule of law and protect the right to free speech and free expression. (…) Americans, Poles, and the nations of Europe value individual freedom and sovereignty. We must work together to confront forces, whether they come from inside or out, from the South or the East, that threaten over time to undermine these values and to erase the bonds of culture, faith and tradition that make us who we are. If left unchecked, these forces will undermine our courage, sap our spirit, and weaken our will to defend ourselves and our societies”. (CAPEHART, 2017)

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Para efeito de comparação, segue um outro trecho do texto de mencionado na introdução deste trabalho:

Nosso povo aprenderá que nossa própria sobrevivência está em risco. Finalmente perceberemos que nossa cultura e tradições estão sendo atacadas; que nossos valores e moralidade, nossa liberdade e prosperidade estão em perigo. Mais importante ainda, nossas melhores mentes finalmente entenderão que nosso próprio genótipo enfrenta uma possível extinção. A imigração maciça, a taxa de natalidade diferenciada e a miscigenação constituirão um pesadelo político e social para as nações ocidentais, do qual devemos despertar para que nosso povo viva (DUKE, 1999, tradução nossa)24.

Outro componente essencial do movimento se encontra no uso da simbologia, que se dá das mais diversas formas. Como escreve Womack (2005), em termos gerais, símbolos são imagens, palavras ou comportamentos que têm vários níveis de significado. Da suástica ao sol negro25, da cruz de ferro26 às runas da vida27 e de Othala28, neonazistas procuraram no passado, através dos símbolos, fazer alusões à características que eles consideravam intrínsecas apenas ao povo ariano, das quais apenas esse povo era supostamente merecedor, como vida eterna, força e resiliência. Os neonazistas estadunidenses do período pós-Segunda Guerra, entretanto, devido a já mencionada forte rejeição ao nazismo e por extensão seus símbolos por parte da sociedade americana, trabalharam em grande parte com uma simbologia muito mais velada, optando pela formulação de indicadores baseados em palavras e

23 Citações sem página foram retiradas de websites, que estão em formato de texto corrido e não possuem paginação. 24 “Our people will learn that our very survival is in jeopardy. We will finally realize that our culture and traditions are under attack; that our values and morality, our freedom and prosperity are in danger. Even more importantly, our best will finally come to understand that our very genotype faces possible extinction. Massive immigration, differential birthrates and miscegenation will constitute a political and social nightmare for Western nations, one from which we must awaken if our people are to live”. (DUKE, 1999) 25 O sonnenrad ou “sol negro” é um dos vários símbolos europeus antigos apropriados pelos nazistas em sua tentativa de inventar uma herança "ariana/nórdica" idealizada. O sonnenrad aparece na simbologia tradicional de muitos países e culturas, incluindo as culturas nórdica e céltica. (ADL, 2010a) 26 A mais alta condecoração militar alemã por bravura instituída em 1813. (DICIONÁRIO, 2020a) 27 A chamada "runa da vida" (do alemão Lebensrune), também conhecida como runa Elhaz ou Algis, tinha significados relacionados a veados ou caça, bem como honra, nobreza ou proteção. Os nazistas usaram o símbolo em vários contextos, incluindo o projeto Lebensborn da SS, que encorajou os soldados da SS a terem filhos fora do casamento com mães "arianas" e que sequestrou crianças de aparência ariana dos países da Europa ocupada para criar como alemãs. (ADL, 2010b) 28 Runa ligada à herança e à prosperidade material.

27 números em detrimento dos símbolos estilizados e já muito bem conhecidos pelo público geral (ZESKIND, 2009). O intuito por trás da utilização dos símbolos neonazistas também mudou, antes sendo o de representar algo muito maior. Adolf Hitler (2001) descrevia sua intenção de tornar a suástica nazista num verdadeiro símbolo da vitória em Mein Kampf. No pós-guerra, a simbologia passou a ser muito mais relacionada à identificação de neonazistas para neonazistas, interpretação que nos ajuda até mesmo a entender a formulação da identidade visual dos nacionalistas brancos da atualidade. Não podemos falar do nacionalismo branco pós-Segunda Guerra sem falar da Ku Klux Klan moderna e de sua figura central, David Ernest Duke. Na época em que presidia a Knights of the Ku Klux Klan (Cavaleiros da KKK, em tradução livre) do período de 1974 à 1980 e fazia constantes aparições na televisão, David Duke sempre teve a cautela de se portar e se vestir o mais profissional e polidamente possível, argumentando de forma serena e formulando sua retórica de forma a fazer os argumentos a favor do nacionalismo branco parecem plausíveis e necessários (ZESKIND, 2009). Duke, assim como a maior parte de seus contemporâneos do movimento, via nos meios institucionais e políticos um campo próspero para o florescimento de seus ideais, e entendia que o caminho a ser trilhado para atingir tais objetivos era o da polidez e civilidade, o que foi efetivo o suficiente para torná-lo um convidado frequente em talk shows da época e um representante Republicano do Estado da Louisiana. A Klan, que se fragmentou em mais de 40 facções separadas de tamanhos variados entre os anos 60 e 70 (ADL, 2010) (o que inclui a Knights) e não era mais a KKK centralizada e onipotente da primeira metade do século XX, teve em Duke o mais próximo de uma liderança unificada que a mesma poderia ter. A crença de Duke na conquista supremacista branca da política estadunidense culminou em tentativas ainda mais audaciosas do que a de Carto com o Liberty Lobby e a inserção de certas ideias na discussão política. Duke concorreu a duas primárias presidenciais, uma pelo partido Democrata e outra pelo Republicano, tendo menos de 1% dos votos em cada uma. A KKK descentralizada com Duke à frente perdeu uma parte significante de seus elementos abertamente místicos, reservando-os mais para cerimônias de iniciação de novos membros ou outros eventos reservados, indo no mesmo caminho da “sutileza” que o movimento como um todo, que via em números, códigos e outras criptografias a esperança para

28 uma comunicação simultaneamente efetiva e apoiada na ambiguidade, que nos leva até o próximo ponto a ser levantado. As quatorze palavras e o 14/88, assim como inúmeros dog whistles cuidadosamente criados por nacionalistas brancos e reforçados por políticos de direita e extrema-direita nas últimas décadas, como “states’ rights” e “forced busing”29, visavam acima de tudo criar uma armadilha argumentativa para aqueles que os questionavam. Se os defensores de um ethnostate não estavam com suásticas ou cruzes de ferro, então supostamente não haveriam razões para coibir seus discursos e divulgações; qualquer tentativa seria então enquadrada como censura. Essa discussão sempre se volta para os limites da liberdade de expressão, batalha que com a chegada da internet entrou num terreno muito mais cinza.

2.4 O NACIONALISMO BRANCO NA INTERNET, PRÉ-DIREITA ALTERNATIVA

Governos do mundo industrial, gigantes cansados feitos de carne e aço, venho do ciberespaço, o novo lar da mente. Em nome do futuro, peço a vocês do passado que nos deixe em paz. Vocês não são bem-vindos entre nós. Vocês não têm soberania onde nos reunimos. Não temos um governo eleito, nem é provável que tenhamos um, por isso lhes dirijo com maior autoridade do que aquela com a qual a própria liberdade sempre fala. Declaro que o espaço social global que estamos construindo é naturalmente independente das tiranias que você procura nos impor. Vocês não têm o direito moral de nos governar, nem possuem nenhum método de coação que tenhamos verdadeiras razões para temer. (...) Criaremos uma civilização da mente no ciberespaço. Que seja mais humana e justa do que o mundo que seus governos fizeram antes (BARLOW, 1996, tradução nossa)30.

A internet dá à milhões acesso à verdade que muitos sequer sabiam que existia. Nunca na história do homem a informação poderosa conseguiu viajar tão rápido e tão longe. Eu acredito que a internet vai começar uma reação em cadeia de esclarecimento racial que vai balançar o mundo com a velocidade de sua conquista intelectual (DUKE, 1999, tradução nossa)31.

29 Respectivamente “direitos dos estados” e “’ônibusamento’ forçado” em tradução e adaptação livres, são termos que visavam justificar a segregação racial nos estados do Sul dos EUA enquanto mantinham a mensagem principal apenas no campo do implícito, sendo muito utilizados por Richard Nixon para atrair eleitores conservadores na década de 60 (ZEITS, 2016). 30 “Governments of the Industrial World, you weary giants of flesh and steel, I come from Cyberspace, the new home of Mind. On behalf of the future, I ask you of the past to leave us alone. You are not welcome among us. You have no sovereignty where we gather. We have no elected government, nor are we likely to have one, so I address you with no greater authority than that with which liberty itself always speaks. I declare the global social space we are building to be naturally independent of the tyrannies you seek to impose on us. You have no moral right to rule us nor do you possess any methods of enforcement we have true reason to fear. (...) We will create a civilization of the Mind in Cyberspace. May it be more humane and fair than the world your governments have made before”. (BARLOW, 1996) 31 “The Internet gives millions access to the truth that many didn't even know existed. Never in the history of man can powerful information travel so fast and so far. I believe that the Internet will begin a

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O primeiro trecho acima foi retirado do manifesto “Uma Declaração da Independência do Ciberespaço” (tradução livre de “A Declaration of the Independence of Cyberspace”), escrito pelo ativista “ciberlibertário” John Perry Barlow em retaliação à promulgação da Lei de Telecomunicações de 1996 pelo governo estadunidense. O manifesto de Barlow é um demonstrativo claro das aspirações políticas e ideológicas da internet até a metade de década de 2000: ser um paraíso revolucionariamente libertário livre de intervenção estatal, controle capitalista e monopolização de suas capacidades (NAGLE, 2017). Entretanto, como pontua Lori Kendall (2002), a divisão de atenção constante entre dois mundos ou lugares experienciais por parte das pessoas, nesse caso o real e o virtual, torna impossível a tarefa de conceber o ciberespaço como um mundo soberano separado do “mundo real” e completamente autônomo. Nas palavras da autora, “ninguém habita apenas o ciberespaço” (KENDALL, 2002, p. 8, tradução nossa).32 É inconcebível existir um espaço onde indivíduos humanos interajam todo o tempo, mesmo que virtualmente, que eventualmente não espelhe as mesmas dinâmicas e construções sociais do mundo tangível – entre estes, a raça e o racismo, o gênero e o sexismo. A defesa da liberdade de expressão a todo custo embutida na concepção de uma internet totalmente independente e livre, como a retratada acima, abriu um precedente perigoso na medida em que se entendeu que o discurso intolerante, sob essa lógica, também tinha que ser tolerado. Da mesma forma que a Constituição Americana protege o uso e exibição de bandeiras nazistas sob o véu da Primeira Emenda (SCHOFIELD, 2015), que diz respeito à liberdade de expressão praticamente incondicional, a proposta da internet de ser um espaço totalmente livre de regulações “mundanas” desde o seu início tornou possível o uso da mesma como um meio inovador e mais eficiente de disseminação de conteúdo supremacista branco por todo o mundo (BURRIS, SMITH E STRAHM, 2000), conforme almejado por David Duke em 1999. De acordo com Berlet (2001), o ódio apareceu pela primeira vez na internet em 1984, com o surgimento de um pequeno bulletin board system que continha conteúdo antissemita e racista. Outros sucederam, e tinham seu público, mas o chain reaction of racial enlightenment that will shake the world by the speed of its intellectual conquest”. (DUKE, 1999) 32 “Nobody inhabits only cyberspace”. (KENDALL, 2002, p. 8)

30 primeiro espaço de agremiação notável dos nacionalistas brancos no ciberespaço foi o fórum . Criado por Don Black (que foi o substituto de David Duke como líder da Ku Klux Klan) em novembro de 1996 (DANIELS, 2008), o Stormfront foi de uma base de 5.000 usuários em 2002 para mais de 50 mil em questão de dois anos (DANIELS, 2008) e até 2015 contava com quase 300.000 usuários (POTOK, 2015). O website é também bastante acessível, as mensagens podendo ser lidas por qualquer pessoa (o que inclui não-membros) e sendo indexadas por mecanismos de busca como o Google e Bing (KOSTER E HOUTMAN, 2008). A vitória de Barack Obama nas eleições de 2008 foi um evento em especial que consolidou o Stormfront como o maior ponto de refúgio nacionalista branco do ciberespaço até aquele ponto: o fórum saiu do ar devido ao número inesperado de visitas que recebeu logo após a divulgação do resultado, e ficou entre os 10.000 mais acessados dos Estados Unidos na época (DANIELS, 2009). Zeskind (2009) e Koster e Houtman (2008) apontam que a mais importante renovação propiciada pela internet no que tange a dinâmica entre líderes e seguidores dentro do movimento foi o aspecto da interação dinâmica. Antes, os líderes escreviam e publicavam artigos ou manifestos que seus seguidores apenas recebiam, não existindo uma interação entre comunicador e receptor. Com a chegada da internet e principalmente dos fóruns, que possuem uma estrutura que estimula a conversa, teorias e estratégias podiam ser discutidas e aprimoradas constantemente por uma rede internacional e sempre conectada de extremistas. Como ponderam Ray e Marsh (2001), espaços como o Stormfront desempenham um papel crucial na glorificação da violência e do terrorismo extremista. A promoção de “lobos solitários”33 gestada por comunidades como o fórum em questão permite que esses grupos evitem a responsabilidade legal pelas ações cometidas pelos visitantes de seus sites que podem ser inspirados e incitados à ação, legado este que deixou sua marca na futura encarnação online do movimento. 2008 foi o ponto de virada para a história que estamos aqui tecendo: o Stormfront atingia seu apogeu, e em uma conferência paleoconservadora34 em , Maryland, o

33 Pessoas que cometem e/ou planejam atos terroristas sozinhas. Como por exemplo homens bomba, atiradores suicidas, etc. 34 Paleoconservadorismo é um termo que já acomodou duas correntes do conservadorismo: a oposição ao New Deal na década de 1930 e, atualmente, os críticos (à direita) do neoconservadorismo, que se preocupam em conciliar liberdade econômica e política com valores sociais e religiosos tradicionais (FROHNEN, 2006). Segundo Frohnen, enquanto não há consenso completo entre paleoconservadores no que tange todas as questões filosóficas e políticas, eles

31 termo alternative right era utilizado pela primeira vez por Paul Gottfried em uma palestra intitulada “The Decline and Rise of the Alternative Right” (O Declínio e a Ascensão da Direita Alternativa, em tradução livre) (NWANEVU, 2017), de 2008. Na palestra, Gottfried tece duras críticas ao conservadorismo, o qual acusa de ter tido tolerância e receptividade demais para com nacionalistas negros, feministas radicais e defensores de abertura das fronteiras e seus ideais, e clama por uma direita “autêntica” e independente – uma direita alternativa (NWANEVU, 2017). A fala de Gottfried reflete as diferenças do paleoconservadorismo quando comparado ao conservadorismo tradicional, que consistem em uma defesa ainda mais radical do nacionalismo, livre mercado e tradicionalismo moral, “(...) e um profundo ceticismo referente a globalização econômica que o coloca em desacordo com um importante elemento da agenda de negócios [dos Estados Unidos]” (MATTHEWS, 2016, tradução nossa).35 A alt-right como a conhecemos atualmente, contudo, apesar de ainda possuir características que tornam as influências teóricas paleoconservadoras facilmente detectáveis, possui métodos e estrutura diferentes das originalmente idealizadas por seus primeiros proponentes (WENDLING, 2018; NAGLE, 2017), que serão esmiuçadas no próximo capítulo.

compartilham de um ceticismo unânime quanto à democracia e igualdade e de uma crença na liberdade, pessoal e corporativa, associada ao respeito pela autoridade social. 35 “(…) and a deep skepticism of economic globalization that puts them at odds with an important element of the business agenda.” (MATTHEWS, 2016)

32

3 A ALT-RIGHT: ETHOS, MÉTODOS E LOCAIS

3.1 A ESTRUTURA DA DIREITA ALTERNATIVA: OS PRINCIPAIS LOCAIS

Tanto o Reddit quanto o 4chan são os locais de maior concentração observável de membros da alt-right36 na internet atualmente, possuindo algumas diferenças marcantes no que concerne seu funcionamento, mas ambos possuem taxas altas de usuários37. Ambos os websites permitem o acesso anônimo de visitantes, não coletando informações sensíveis como em plataformas como o Facebook, o que possibilita uma observação e coleta de dados segura por parte do pesquisador. A presença de “alt-righters” pode ser observada em todos os subfóruns (ou “boards”) do 4chan, enquanto no Reddit isso ocorre de forma mais segmentada em subreddits específicos. Neste caso, o foco da pesquisa foram os subreddits /r/The_Donald38 e /r/DebateAltRight.39 Fundado por Steve Huffman e Alexis Ohanian em 2005, o Reddit, além de um agregador de links, é movimentado por conteúdo elaborado por seus usuários e discussões dentro dessas postagens. O site, que até 2018 possuía cerca de 330 milhões de contas (PARDES, 2018), já foi o local de “entrevistas” (ou “AMAs”)40 com

36 Apesar de serem os maiores, não são os únicos: o foi uma rede social criada especificamente para usuários de extrema-direita, mas ao visitar o site era nítido que o engajamento das postagens não tinha índices iguais aos dos sites analisados nesse trabalho. A alt-right também tem uma forte presença no Twitter e Tumblr, mas por esses ambientes permitirem e propiciarem a presença de muitas postagens automatizadas e usuários “fantasmas”, optei por não os incluir em minha análise. 37 Em 2016, um artigo da BBC estimou que o 4chan tem cerca de 27 milhões de usuários (BBC, 2016), enquanto em 2018 o Reddit tinha cerca de 330 milhões de contas criadas (PARDES, 2018). É muito importante ressaltar dois pontos, no entanto: no Reddit é possível criar mais de uma conta sem qualquer tipo de obstáculo (e essa é uma prática feita por grande parte de seus usuários, que costumam criar contas “descartáveis” para fazer posts muito pessoais ou controversos) e esses 330 milhões de contas estão divididas entre cerca de 130 mil subfóruns (BRETT, 2017). O maior subfórum da alt-right no Reddit, o /r/The_Donald, tem 792,000 inscritos, o que o torna um dos 500 maiores subfóruns do website. 38 O “/r/” caracteriza um subfórum do Reddit. 39 Ambos os subreddits foram banidos do Reddit em 29 de junho de 2020, após os protestos em retaliação ao assassinato de George Floyd por um policial branco em Minneapolis, Minnesota trazerem um destaque muito grande à pautas antirracistas e a administração do Reddit ser cobrada ativamente por grande parte do site por ações mais assertivas contra subreddits responsáveis pela produção de conteúdo preconceituoso. Até a conclusão desse trabalho, outros subreddits constantemente surgem para tentar cobrir o espaço deixado pelos dois subfóruns, mas são banidos numa velocidade muito maior. 40 É em um subreddit chamado /r/AskReddit que geralmente acontecem os “AMAs”, abreviação para “Ask Me Anything” (pergunte-me qualquer coisa, em tradução livre). Em um AMA, usuários do Reddit podem perguntar qualquer coisa para uma pessoa com uma história de vida única ou uma celebridade. Um AMA também pode ser feito em outro subreddit, como no /r/popheads (um subreddit dedicado à música pop/indie), que recebe diversas cantoras pop ou no /r/Science (subreddit dedicado à ciência), que recebe diversos cientistas periodicamente que falam sobre suas respectivas áreas de pesquisa.

33 figuras como o ex-presidente estadunidense Barack Obama, o magnata Bill Gates e o rapper Snoop Dogg, e também o foco de diversas controvérsias ao longo dos anos. O Reddit, antes do surgimento da direita alternativa, já foi o responsável por uma “caça às bruxas” virtual a um suposto perpetrador do atentado à Maratona de Boston de 2013 que rendeu o suicídio de um jovem inocente (COSCARELLI, 2013), foi o hospedeiro do (já banido) subreddit /r/jailbait, que continha imagens sexualmente sugestivas de menores de idade (“jailbait”, traduzido para o português, seria “chave de cadeia”), e também foi um dos epicentros do Gamergate41, que será discutido um pouco mais à frente. Como coloca Christine Lagorio-Chafkin (2018):

Huffman e Ohanian haviam criado uma placa de Petri para discussão e proliferação das partes mais interessantes, engraçadas e terríveis da Internet. O site era gloriosamente anárquico, permitindo que os usuários, em vez de editores individuais, selecionassem as histórias que seriam apresentadas aos leitores da primeira página. Isso levou a acrobacias, memes, piadas nerds e atos coletivos de caridade. Isso também resultou em muitos limites ultrapassados, de modo que você frequentemente encontra discurso de ódio e misoginia junto com fotos fofas de cachorros e memes de Star Wars. Fóruns inteiros foram dedicados à gordofobia, ideologias racistas e revenge porn42 (LAGORIO-CHAFKIN, 2018, p. 15, tradução nossa)43.

O 4chan, por sua vez, foi criado por Christopher Poole em 2003. Segundo o FAQ44 do site, o formato de comunidade colaborativa do mesmo foi inspirado em um dos fóruns mais populares do Japão, o Futaba Channel, e diferentes boards são dedicadas a diferentes tópicos, indo de anime, mangá e cultura japonesa em geral até videogames, música ocidental e fotografia. Não é preciso registrar uma conta antes de participar de uma discussão (4CHAN, 2020). O 4chan moldou uma parte significativa da cultura da internet da atualidade, sendo responsável por criar algumas das maiores pegadinhas, incidentes de cyberbullying e memes vistos no

41 Trocadilho que faz alusão à comunidade gamer e ao Watergate, escândalo de corrupção que levou à renúncia do ex-presidente Richard Nixon e levou o sufixo “-gate” a todos os outros escândalos com grande cobertura em solo americano. 42 Divulgação de vídeos sexualmente explícitos, gravados com ou sem o consentimento da vítima, com o propósito de ridicularizar e violar a privacidade dela ou dele. Geralmente essa divulgação após um término não amistoso entre um casal, configurando-a como um ato de vingança na grande maioria das vezes. 43 “Huffman and Ohanian had created a Petri dish for discussion and proliferation of the most interesting, funny, and awful parts of the Internet. The site was gloriously anarchic, allowing users rather than individual editors to select the stories front-page readers were shown. This led to stunts, memes, nerdy in-jokes, and massive collective acts of charity. It also resulted in lots of limit-pushing, so that you'd often find hate speech and misogyny smattered in with the derpy dog photos and Star Wars memes. Entire separate forums were dedicated to fat shaming, racist ideologies and revenge porn”. (LAGORIO-CHAFKIN, 2018, p. 15) 44 Abreviação para “frequently asked questions”, ou “perguntas comuns”, em tradução livre.

34 mundo virtual (DEWEY, 2014), como o rickrolling45, o cyberbullying de Jessi Slaughter46, o “Apple Wave”47 e o Pepe The Frog48. Uma diferença fundamental entre as plataformas é o nível de mediação/moderação que há nelas. Enquanto a moderação do conteúdo do 4chan é praticamente nula, o que o torna uma espécie de “terra sem lei”, onde postagens com todo tipo de conteúdo explícito e de ódio circulam livremente, o Reddit ainda possui regras que coíbem comportamentos considerados extremos “demais” por parte de seus frequentadores, como o doxxing49, ameaças, etc. Tais diferenças têm um grande impacto sobre a forma que a alt-right opera em cada lugar: os alt-righters do Reddit se utilizam de formas cada vez mais discretas e complexas para transmitir mensagens de cunho extremista, enquanto os alt-righters do 4chan não tentam esconder de forma alguma o que realmente querem dizer50. Além das influências já mencionadas nas seções anteriores deste trabalho, a alt-right teve no Gamergate, que se deu em 2014, um solo muito fértil para sua existência e crescimento dentro do Reddit e 4chan em específico. O Gamergate, de acordo com Wendling (2018), não apenas estimulou a aliança entre movimentos machistas e neonazistas em particular, como também aprimorou as táticas retóricas que mais tarde dariam origem à integração da alt-right no mainstream da internet. A faísca inicial para o incêndio virtual que foi o Gamergate nessas duas redes sociais se deu por um post feito em um blog por Eron Gjoni, que acusava sua ex-namorada, a desenvolvedora de jogos eletrônicos Zoë Quinn, de trocar sexo em troca de boas

45 Prática de trocar um link pelo videoclipe da canção “Never Gonna Give You Up” (1987), do cantor inglês Rick Astley. Geralmente escondem o mesmo dentro de uma mensagem ou comentário que gera curiosidade ou choque, fazendo a pessoa clicar esperando ver o que a chamou a atenção e se deparar com o clipe. 46 Em julho de 2010, Jessi Slaughter, que agora atende por Damien Leonhardt, foi vítima de uma campanha intensa de cyberbullying com apenas 11 anos de idade após postar uma série de vídeos falando coisas extremamente inapropriadas. A dimensão causada pela perseguição fez com que os pais de Damien perdessem sua guarda temporariamente e informações pessoais de todos os membros da família fossem divulgadas constantemente. 10 anos depois, ainda é possível encontrar páginas que ofendem Damien e reúnem todos os seus dados de contato atualizados. 47 Pegadinha fortemente disseminada pelos usuários do 4chan à usuários de outras redes sociais que influenciava donos de iPhone a colocarem seu celular no micro-ondas para recarregar ele mais rápido. 48 Parte significante do próximo capítulo será dedicada a explicar a importância da ilustração desse sapo para o 4chan e para a internet em geral. 49 Prática de divulgar dados privados de indivíduos ou organizações, quase sempre com o objetivo de encorajar perseguição e violência contra a(s) vítima(s). 50 O que não necessariamente significa uma abordagem antagônica ao vanguardismo da alt-right no Reddit. Eles ainda usam terminologias pesadas para se referir a minorias e advogam abertamente por causas extremas, só que fazem isso por meio de uma simbologia mais complexa e simultaneamente de mais fácil compreensão para outros membros da mesma comunidade que compartilham da mesma ideologia.

35 avaliações de seu jogo, Depression Quest (2013) (JANE, 2017; MANTILLA, 2015). O post de Gjoni suscitou um debate intenso a respeito da ética do jornalismo gamer51, e pouco a pouco, conforme novas figuras como jornalistas e influenciadoras digitais que trabalhavam com o tema jogos eletrônicos e pautas progressistas eram colocadas na “fogueira virtual”, eufemismo para “vítimas de um assédio que beirava o psicótico por parte de milhares de internautas”, era perceptível que o Gamergate se tratava na verdade de uma guerra cultural. Nas palavras de Etherington (2018):

Os alvos do Gamergate se expandiram rapidamente para algumas categorias distintas. Os principais alvos eram aqueles que eram conhecidos como "SJWs" ou “guerreiros da justiça social”, que estavam aliados às feministas invasoras e progressistas sociais e estavam de alguma forma envolvidos com a indústria de videogames. Havia quem criticasse vocalmente o Gamergate devido à ideologia do Gamergate e/ou seus métodos. A terceira categoria era daqueles que supostamente estavam conectados a uma conspiração rapidamente compilada e incrivelmente abrangente para infectar a sociedade ocidental com ideologia feminista e socialista (Chess & Shaw, 2015). Por exemplo, Anita Sarkeesian, a criadora da série Tropes vs Women On Video Games do YouTube, sempre foi considerada uma intrusa devido ao seu status de importante crítica feminista da mídia, e foi quase imediatamente sujeita a um aumento no assédio online e até offline, como quando ela teve que cancelar uma palestra na Universidade Estadual de Utah em outubro de 2014 devido ao fato de a escola receber três ameaças violentas anônimas. Ela também foi forçada a se mudar depois que suas informações privadas foram publicadas online, também acompanhadas de ameaças de natureza violenta e/ou sexual. Por outro lado, Brianna Wu, outra desenvolvedora independente de videogames, tornou-se alvo do Gamergate depois de zombar publicamente do mesmo online. Muito parecido com os alvos anteriores, ela também foi forçada a se mudar depois de ter sido vítima de doxxing e repetidamente ameaçada de violência (ETHERINGTON, 2018, p. 6, tradução nossa)52.

É evidente como os modos de atuação do Gamergate, principalmente no que concerne as ameaças, influenciaram diretamente o modo de atuação da alt-right,

51 Como é denominada a comunidade de entusiastas de videogames. 52 “The targets of Gamergate quickly expanded to a few distinct categories. The primary targets were those who were known “SJWs” or “social justice warriors” that were in league with the intruding feminists and social progressives and were somehow involved with the video game industry. Then there were those who were vocally critical of Gamergate due to the ideology of Gamergate and/or their methods. The third were those who were believed to be connected to a rapidly compiled and incredibly far-reaching conspiracy to infect Western society with feminist or socialist ideology (CHESS & SHAW, 2015). For example, Anita Sarkeesian, the creator of the YouTube series Tropes vs Women in Video Games, had always been considered an intruder due to her status as a prominent feminist media critic, was almost immediately subjected to an increase in online harassment, and even offline harassment such as when she had to cancel a speaking engagement at Utah State University in October 2014 due to the school receiving three anonymous violent threats. She too was eventually forced to flee her home after her private information was posted online, also accompanied by threats of a violent and/or sexual nature. On the other hand, Brianna Wu, another female indy video game developer, became a target of Gamergate after publically mocking it online. Much like the previous targets, she was also eventually forced to flee her home after being doxed and repeatedly threatened with violence”. (ETHERINGTON, 2018, p. 6)

36 assim como as técnicas construídas pelo movimento nacionalista branco ao longo das décadas, mencionadas previamente. Isso, aliado a base completamente antagônica a qualquer regulação onde a internet se estabeleceu após todos os passos que o nacionalismo branco trilhava nos Estados Unidos, contribuiu para a fomentação de um movimento como a direita alternativa. No dia 26 de junho de 2019, o Reddit foi virado de cabeça para baixo. Membros do subfórum /r/The_Donald estavam indignados com a quarentena53 imposta no mesmo pela moderação do website, bradando em outros grandes subreddits sobre uma suposta censura e parcialidade do site. Membros de subreddits de esquerda estavam contentes com o ocorrido, o consenso nesses espaços sendo o de que a quarentena demorou até demais, visto o tipo de discurso que existia no /r/The_Donald desde que ele nasceu54 (BBC, 2019). Desde 2015, o /r/The_Donald desempenhou um papel central no apoio virtual à Donald Trump, com tópicos e memes muitas vezes tornando-se virais lá antes de irem para o Twitter, Facebook e outras plataformas (O'SULLIVAN, 2019). O conteúdo desses tópicos e memes, além de atacar candidatos do Partido Democrata, é o de também reforçar os ataques a todos aqueles que Trump também atacou durante sua campanha e seguiu atacando após sua vitória: movimentos antirracistas e contra a brutalidade policial, como o Black Lives Matter, minorias étnico-raciais e religiosas e oponentes políticos das mais variadas vertentes políticas, o que inclui algumas figuras conservadoras anti-Trump também, como Joe Walsh55. O /r/The_Donald compartilhou muito de sua “cultura”, como vocabulário, iconografia e projetos com outros subreddits de extrema-direita, muitos desses também já banidos pela moderação do Reddit pelos mais diversos motivos – apologia à violência, à pedofilia ou, mais comumente, ao racismo. O que está dentro ou fora da categoria do que é aceitável no Reddit é a questão principal quando pensamos no outro subreddit analisado, o /r/DebateAltRight. Quem visitou o /r/DebateAltRight até junho de 202056 via seus membros falando abertamente sobre como países europeus e norte-americanos se

53 Comunidades são colocadas em quarentena após tomar muitas advertências da moderação do Reddit. Para visualizá-las, é necessário ter uma conta no website, o que não ocorre com as comunidades abertas. Muitos usuários consideram a quarentena um prenúncio de banimento. 54 Além de campanhas neonazistas, o /r/The_Donald foi responsável também por diversas campanhas de ameaças e difamações gratuitas pela internet. 55 Walsh tentou concorrer às primárias presidenciais de 2020, mas perdeu de lavada para Trump, que se tornou o candidato republicano à reeleição. 56 Ver nota 39.

37 beneficiariam com a deportação em massa de negros, judeus e indígenas e sobre como a raça negra seria “sub-humana”. O /r/DebateAltRight não tinha o mesmo tamanho do /r/The_Donald, ou a mesma projeção5758, mas ainda se apresentava como um local seguro, dentro de um espaço teoricamente policiado, para a discussão e endossamento livre (sem dog whistles, claro e explícito) de ideologias genocidas e extremamente intolerantes. Não que um endossamento discreto seja de alguma forma melhor que um aberto, mas é muito preocupante que neonazistas tiveram por tanto tempo (de 2016 a 2020) uma plataforma para falar abertamente de suas demandas e crenças dentro de um website que se propõe a monitorar suas comunidades atentamente. Se víssemos a esfera nacionalista branca do Reddit como uma metáfora de uma célula, o /r/The_Donald seria a mitocôndria, visto que esse subreddit fora o responsável pela maioria esmagadora das aparições de discurso de ódio na página principal do Reddit e também foi o local onde as campanhas neonazistas mais ganhavam impulso dentro do website, fazendo um uso pesado de recursos de “humor” similares aos empregados pelo 4chan e dog whistles.

3.2 A ESTRUTURA DA ALT-RIGHT: O ETHOS E O MODUS OPERANDI

Os channers59 são claros e explícitos em seu objetivo de chocar com suas campanhas; os redditors60 diziam querer apenas “mandar uma mensagem” com as mesmas. Eventualmente, as comunidades no Reddit acabavam sucumbindo ao mesmo discurso violento visto no 4chan, e eram banidas assim que as coisas saem do controle (como saem constantemente no outro site). Esse comportamento foi observado com mais frequência antes de eu começar a estudar formalmente a direita alternativa, mas isso não significa que não fui capaz de observar a formação de uma campanha. Abaixo, um exemplo da continuidade entre os dois websites: como a campanha “It’s Okay to Be White” (“Tudo bem ser branco”, em tradução livre,

57 “O próprio Trump tuitou pelo menos um meme feito por um usuário do The_Donald e um funcionário da campanha de Trump disse em 2016 que o visita todos os dias.” (O'SULLIVAN, 2019, tradução nossa) 58 Em uma entrevista concedida ao New Yorker, o CEO do Reddit, Steve Huffman, disse: “Estou confiante de que o Reddit poderia influenciar as eleições. Nós não faríamos isso, é claro. E não sei quantas vezes poderíamos nos safar. Mas, se realmente quiséssemos, tenho certeza que o Reddit poderia ter influenciado pelo menos essa eleição, desta vez.” (MARANTZ, 2018) 59 Termo utilizado por frequentadores do 4chan para se autodefinirem. 60 Termo utilizado por frequentadores do Reddit para se autodefinirem.

38 como se o povo branco estivesse sob algum tipo de ameaça – um padrão de pensamento que até esse ponto nos soa muito familiar) teve um post dedicado ao seu impulsionamento no 4chan (atenção ao Pepe the Frog com uma abordagem no estilo Tio Sam, de convocação)61, e como um post com esse título apareceu no Reddit, um espaço que não toleraria o que o 4chan tolera.

Figura 1 – “It’s Okay to Be White” no 4chan.

Fonte: Captura de tela do 4chan, 2019.

Figura 2 – “It’s Okay to Be White” no Reddit.

Fonte: Captura de tela do Reddit, 2019.

No 4chan, no post dedicado ao impulsionamento da campanha, o usuário responsável por ela escreve que no dia 31 de outubro de 2019 esperava um “surto” da mídia, ironizando jornalistas que apontam o fator terrorista no nacionalismo branco como praticado pela alt-right. No dia seguinte, um post com o título “It’s ok to be white” no /r/The_Donald do Reddit ganha 7076 upvotes (que são os equivalentes do Reddit ao “Curtir” do Facebook). A postagem contém apenas um tweet onde uma

61 Novamente, vamos entender a importância dessa figura mais à frente.

39 mulher comenta como “sabemos que a lavagem cerebral é real quando pessoas brancas protestam contra pessoas brancas por serem brancas”. O fato de que a bandeira do nacionalismo branco não é a única levantada por seguidores da alt-right, que se trata essencialmente também de uma fusão gradual de movimentos pela “liberação masculina” e “direitos dos homens” (WENDLING, 2018) também graças ao Gamergate, além de tornar o discurso do movimento profundamente misógino (DARBY, 2017), atrai pessoas consternadas com o “privilégio feminino” e as tornam preocupadas também com uma suposta dominação multirracial/multicultural dos EUA.

Figura 3 – Postagem misógina no 4chan.

Fonte: Captura de tela do 4chan, 2019.

Figura 4 – Outra postagem misógina do 4chan.

Fonte: Captura de tela do 4chan, 2019.

Na figura 3, o usuário anônimo #1 postou um tópico com o título “WHY ARE WOMEN SUCH GARBAGE?” (“POR QUE AS MULHERES SÃO TÃO LIXO?”, em tradução livre), em seguida questionando se era possível que uma mulher entendesse o que era honra. O mesmo contém o vídeo de uma pegadinha onde um homem faz avanços para uma mulher aparentemente desinteressada, que imediatamente muda sua postura para uma de absoluto interesse quando o homem

40 em questão aparece com um belo carro esportivo. Um usuário responde que “esse é o tipo de coisa do qual eu era alertado na escola”, o outro simplesmente responde “pois elas são mulheres”. Na figura 4, o usuário postou uma foto de Belle Delphine62, colocando no título “what do we do to all of the worthless whores once we get the ethnostate?” (“o que vamos fazer com todas as prostitutas inúteis, quando tivermos o ethnostate?”, em tradução livre). É difícil dizer se Belle Delphine (e outras modelos, por seu estilo de vida considerado por eles “herege”) é o único foco do ataque aqui ou se ela é apenas um exemplo, para esses usuários, de como todas as mulheres são “horríveis” e “promíscuas”. Um outro usuário sugere num comentário que “a escravidão deveria começar de novo”.

Figura 5 – Postagem no /r/The_Donald, no Reddit.

Fonte: Captura de tela do Reddit, 2019.

Figura 6 – Um dos comentários da postagem retratada acima.

Fonte: Captura de tela do Reddit, 2019.

A postagem acima, com 3208 upvotes, tem como título “famílias fortes produzem uma América forte” – curiosamente a família retratada é branca. Um dos usuários, BundrickBundy, escreve que “a revolução sexual foi um erro. Divórcio sem

62 Uma modelo famosa na internet por suas fotos sensuais e por vender o que ela diz ser água de sua banheira pós-banho.

41 culpa foi um erro. Roe vs. Wade63 foi um erro. O crescimento do secularismo na sociedade foi prejudicial. Todas essas coisas enfraqueceram a família.” Um outro usuário, BeefyBelisarius, responde a esse comentário: “Erro? Não, todas essas coisas foram intencionais. A família nuclear monogâmica está sob ataque a décadas.” Aqui vemos que o ataque está direcionado majoritariamente às políticas que dizem respeito ao corpo feminino, mas a forma que os redditors articulam isso é muito diferente da dos channers. É mais sutil, comedida, direcionada.

Figura 7 – Outra postagem do /r/The_Donald.

Fonte: Captura de tela do Reddit, 2019.

Figura 8 – Comentário da postagem retratada acima.

Fonte: Captura de tela do Reddit, 2019.

Figura 9 – Outro comentário da postagem retratada acima.

Fonte: Captura de tela do Reddit, 2019.

63 Decisão da Suprema Corte americana que legalizou o aborto em todo o território estadunidense. Norma McCorvey, cujo nome no processo esteve como “Jane Roe”, foi representada pelas advogadas Sarah Weddington e Linda Coffee contra o seu promotor local do Texas, Henry Wade, referente à questão da proibição do aborto no Texas (exceto em caso de risco à vida da mãe) ser inconstitucional.

42

Figura 10 – Mais um comentário da postagem retratada acima.

Fonte: Captura de tela do Reddit, 2019.

Figura 11 – Postagem no /r/DebateAltRight.

Fonte: Captura de tela do Reddit, 2019.

Presentes aqui estão algumas capturas de tela de uma mesma postagem do /r/The_Donald e seus comentários. A postagem em questão traz um print de uma postagem do /pol/ que contém uma foto do Rio de Janeiro na década de 1940, com o texto “o engraçado é que as pessoas se preocupam com algum tipo de futuro distópico sem perceber que estamos vivendo nele. Imagine mostrar fotos ou vídeos do mundo moderno a alguém na década de 1950. Eles ficariam horrorizados.” Dentre os comentários, tem um que lamenta a “substituição” que houve daquela população para a de hoje em dia, e dentro desse, outro ironizando a fala de que a diversidade nos torna mais fortes64. Outro comentário faz uso de uma frase de um romance pós-apocalíptico de guerra escrito por G. Michael Hopf, Those Who Remain (2016) que aparece com certa frequência tanto no 4chan quanto nos subreddits de extrema-direita – “tempos difíceis criam homens fortes, homens fortes criam bons tempos, bons tempos criam homens fracos e homens fracos criam tempos difíceis” (HOPF, 2016, p. 72, tradução

64 O usuário usa o termo “shithole” para se referir ao Rio de Janeiro atual. “Shithole”, termo vulgar cuja tradução mais próxima no português seria provavelmente “buraco/lugar de merda”, passou a ser utilizado com muita frequência pelos alt-righters após Donald Trump utilizá-lo em uma reunião com senadores americanos para se referir à países subdesenvolvidos da África e América Central. (DAWSEY, 2018) Muitos apoiadores de Trump, inclusive aqueles que não estão nos ambientes virtuais explorados nesse trabalho, acharam isso um exemplo louvável do presidente “telling it like it is”, falando “na lata” o que eles, americanos patriotas “de bem” realmente pensam.

43 nossa65). Outra frase que aparece com frequência está presente na figura 10 – “se você soubesse o quão ruim as coisas realmente estão”. Essa frase geralmente aparece em postagens sobre transsexuais, igualdade de gênero – tudo o que torna o mundo atual para a alt-right um “mundo de palhaços”66. Já na figura 11, uma outra postagem no /r/DebateAltRight lamenta que as crianças não podem mais fazer “doçuras ou travessuras” nas portas de seus vizinhos pois comunidades estão cheias de “intrusos”, graças à imigração em massa e à “decadência cultural” propiciada pela diversidade. Vemos aqui a tentativa de estabelecimento de um pânico moral67 em cima da proteção das crianças brancas – vimos nas fourteen words de David Lane, e vemos aqui novamente. Hall (2006) postula que as pessoas não são apenas cidadãs legais de uma nação, elas também participam da ideia da nação tal como representada em sua cultura nacional. “(...) A lealdade e a identificação que, numa era pré-moderna ou em sociedades mais tradicionais, eram dadas à tribo, ao povo, à religião e à região, foram transferidas, gradualmente, nas sociedades ocidentais, à cultura nacional” (HALL, 2006, p. 49). A preservação de uma identidade cultural como pregada pela alt-right, que enfatiza as origens, continuidade, tradição e intemporalidade não diz respeito apenas à identidade estadunidense ou à de países europeus, mas sim de uma identidade cultural partilhada entre todos os países ricos ocidentais de maioria branca – mencionados quase sempre como apenas “países ocidentais”.68 Como coloca Stuenkel (2011), “países ocidentais” ou “mundo ocidental”, apesar de serem termos utilizados frequentemente no jornalismo ou em teorizações sociológicas e

65 “Hard times make strong men, strong men make good times, good times make weak men and weak men make hard times”. 66 Voltarei a falar da importância dessas frases e similares no próximo capítulo. 67 “As sociedades parecem estar sujeitas, de vez em quando, a períodos de pânico moral. Uma condição, episódio, pessoa ou grupo de pessoas emerge para ser definida como uma ameaça aos valores e interesses da sociedade; sua natureza é apresentada de maneira estilizada e estereotipada pela mídia de massa; as barricadas morais são administradas por editores, bispos, políticos e outras pessoas com pensamentos de direita; especialistas socialmente credenciados declaram seus diagnósticos e soluções; as formas de enfrentamento são desenvolvidas ou (com mais frequência) adotadas; a condição desaparece, submerge ou se deteriora e se torna mais visível. Às vezes, o objeto do pânico é bastante novo e, outras vezes, é algo que já existe há tempo suficiente, mas aparece subitamente no centro das atenções. Às vezes o pânico passa e é esquecido, exceto no folclore e na memória coletiva; outras vezes, tem repercussões mais sérias e duradouras e pode produzir mudanças como as da política legal e social ou mesmo da maneira como a sociedade se concebe” (COHEN, 2011, p. 1). 68 Esse aspecto quase sempre não mencionado do termo é ocultado de forma que a extrema-direita de outros países ocidentais, como a brasileira, acaba se achando muitas vezes parte desse “clube”; de tempos em tempos, surgem latinos empolgados com um ethnostate nesses ambientes, que são rapidamente rechaçados como “invasores” e com mensagens como “volte para o seu país, negro sujo!” ou “não queremos vocês aqui!”.

44 internacionalistas, são abstratos e se adaptam constantemente à novas realidades – essa definição que utilizei é o significado implícito que este termo tem quando utilizado por extremistas da alt-right. O que “embasa” esses discursos extremistas é um grande ressentimento com o crescimento do progressismo igualitário na sociedade, não apenas no que tange o multiculturalismo mas o feminismo também - Theodore Koulouris (2018), professor da Universidade de Brighton, participou de um debate em 2015 com , uma expressiva figura da alt-right entre 2015 a 201769, e detalhou em um artigo alguns dos argumentos utilizados por Yiannopoulos (que por extensão, só ilustrava o que já era gestado nos ambientes virtuais da alt-right):

[Para Yiannopoulos] os homens estavam em "desvantagem estrutural" e que os garotos barulhentos hoje em dia crescem de acordo com "padrões feministas"; ele prosseguiu dizendo que “feministas e outras minorias” se tornaram social e culturalmente hegemônicas - aqui, ele mencionou que “mulheres com menos de 30 anos agora ganham mais do que homens para o mesmo emprego” - e isso deixou os homens desorientados. (...) Perguntado pelo moderador se ele achava que havia uma crise entre os homens, ele observou que "os homens se preocupam" em ser ridicularizados e/ou em serem considerados "potenciais estupradores"; além disso, ele argumentou que existe uma forma de masculinidade "não reconstruída", "purista" que os homens devem ser capazes de expressar. (...) Yiannopoulos adota uma posição fundamentalmente de extrema direita sobre os direitos das mulheres: os avanços sexuais dos homens devem ser acomodados e entendidos como algo natural que os homens fazem, e que, embora as mulheres possam contribuir significativamente para a esfera pública, primeiro elas precisam reconhecer que sua principal experiência reside na esfera privada - a casa de sua família - e, em segundo lugar, elas devem aceitar que os homens são mais adequados para governar, liderar, e, é claro, para legislar - mesmo quando a legislação diz respeito aos corpos das mulheres e/ou às leis civis e os direitos reprodutivos da mulher (KOULOURIS, 2018, p. 752-753, tradução nossa)70.

69 Após o surgimento de um vídeo antigo onde Yiannopoulos defende que homens adultos e adolescentes de 13 anos podem ter relações consensuais, a imagem de Milo foi gravemente abalada perante o movimento (O’HARA, 2017). 70 “Men were at a ‘structural disadvantage,’ and that boisterous young boys these days grow up according to ‘feminist standards;’ he continued that ‘feminists and other minorities’ have now become socially and culturally hegemonic—here, he mentioned that ‘women under 30 now earn more than men for the same job’—and that this has left men feeling disoriented. (...) Asked by the moderator whether he thought there was a crisis with men, he noted that ‘men worry’ about being laughed at and/or about being considered as ‘potential rapists;’ further, he argued that there is an ‘unreconstructed,’ ‘purist’ form of masculinity which men should be able to express. (…) Yiannopoulos adopts a fundamentally far-right position on women’s rights: sexual advances from men ought to be accommodated and understood as something natural that men just do, and that while women may meaningfully contribute to the public sphere, first, they must acknowledge that their primary expertise lies within the private sphere — the family home —and, second, they must accept that men are better suited to rule, to govern, and, of course, to legislate—even when legislation concerns women’s bodies, and/or women’s civil and reproductive rights”. (KOULOURIS, 2018, p. 752-753)

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A visão do movimento acerca do papel das mulheres dentro e fora dele, apesar de ser aparentemente óbvia num primeiro olhar, é mais complexa do que parece. Angela Davis (2016), ao escrever sobre o movimento supremacista branco do século XX, postula:

Com a chegada do século XX, um casamento ideológico sólido uniu racismo e sexismo de uma nova maneira. A supremacia branca e a supremacia masculina, que sempre se cortejaram com facilidade, estreitaram os laços e consolidaram abertamente o romance. Durante os primeiros anos do novo século, as ideias racistas ganharam influência como nunca. A atmosfera intelectual – mesmo nos círculos progressistas – parecia estar fatalmente contaminada por noções irracionais sobre a superioridade da raça anglo- saxã. Essa crescente promoção da propaganda racista era acompanhada por uma promoção igualmente acelerada de ideias que denotavam a inferioridade feminina. Se as pessoas de minorias étnicas – dentro e fora do país – eram retratadas como bárbaras e incompetentes, as mulheres – quer dizer, as mulheres brancas – eram rigorosamente representadas como figuras maternais, cuja raison d’être [razão de ser] fundamental era nutrir os machos da espécie. Mulheres brancas estavam aprendendo que, como mães, elas carregavam uma responsabilidade muito especial na luta para salvaguardar a supremacia branca. Afinal, elas eram as “mães da raça”. Embora o termo raça supostamente se referisse à “raça humana”, na prática – especialmente quando o movimento eugenista cresceu em popularidade – fazia-se pouca distinção entre “a raça” e “a raça anglo-saxã” (DAVIS, p. 136, 2016).

Podemos ver, entretanto, de acordo com os prints acima, como os usuários do 4chan parecem não pressupor sequer um papel maternal das mulheres brancas em seu território. Como coloca o jornalista Seyward Darby (2017, p. 25, tradução nossa71), “na alt-right, as mulheres são o futuro e o problema”. Ao fazer o perfil de , uma “liderança feminina”72 da alt-right, Darby também escreve:

Ultimamente, Lokteff tem usado o Red Ice73 para amplificar as vozes de comentaristas femininas independentes. Todas estão amargamente decepcionadas com a agenda feminista e acreditam que o nacionalismo tem seus verdadeiros interesses em mente. Elas também incorporam uma contradição evidente: ao apoiar a alt-right, elas ficam lado a lado com homens que pensam que a independência das mulheres minou a civilização ocidental. À medida que a alt-right surge das sombras digitais e luta pela legitimidade cívica, essas comentaristas tentam moderar a reputação misógina do movimento. Elas descrevem a alt-right como um refúgio onde mulheres brancas podem abraçar sua feminilidade e sua herança racial sem vergonha (DARBY, 2017, p. 26, tradução nossa74).

71 “In the alt-right, women are the future, and the problem”. (DARBY, 2017, p. 25) 72 A alt-right em si não parece muito confortável com esse título, julgando pelo fato de que Lokteff é vítima constante de ataques por parte dos membros de movimento (DARBY, 2017). 73 Canal de Lokteff no YouTube, que foi banido em 2019 por conter discurso de ódio. 74 “Lately, Lokteff has been using Red Ice to amplify the voices of self-made female pundits. All of them are bitterly disappointed in the feminist agenda and believe that nationalism has their true interests at heart. They also embody a glaring contradiction: By supporting the alt-right, they stand

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A diferença nas percepções acerca do papel da mulher no ethnostate é talvez o maior ponto de divisão ideológica entre a “alt-lite”75 e a alt-right, que lutam por pautas iguais de formas diferentes, como os mainstreamers e vanguardistas mencionados no capítulo anterior. Apesar do mesmo uso de palavras aparentemente inócuas e do uso da aparência física como ferramenta de “credibilidade” como faziam os mainstreamers das décadas de 1950 a 2000, os membros da alt-lite não se esforçam para se desprender do rótulo de alt-righters como os mainstreamers antigos se esforçavam para se desprender dos rótulos que os expunham como extremistas. Eles se orgulham de ser parte da alt-right e por vezes até mesmo tentam ser uma espécie de “garoto(a) propaganda” da mesma. O termo alt-lite é utilizado em grande parte pela mídia para diferenciar a presença virtual intensa do movimento e sua presença física “comedida”, mas não para representar duas correntes ideológicas diferentes. A alt-right, principalmente no Reddit e 4chan, como documentada nesse trabalho e observada durante o fim de 2018 e começo de 2019, apesar de ainda influente, ameaçadora, persuasiva e parasitária, não é a mesma hive mind76 de 2015, 2016 e 2017: muitos alt-righters ficaram decepcionados com a proximidade de Trump com Israel, sentimento que não é surpreendente quando se vê o grau do antissemitismo presente nesses fóruns (ver figura abaixo – uma caricatura extremamente ofensiva e estereotipada de um judeu grita sobre seus 6 “bazilhões” de vítimas do Holocausto); outros, após a vitória de Trump, sentiram que não tinham mais como se divertir (e o que fazer) após terem cumprido seu objetivo.

shoulder to shoulder with men who think that female independence has undermined Western civilization. As the alt-right creeps out of the digital shadows and strives for civic legitimacy, however, these female commentators are trying to temper the movement’s misogynist reputation. They describe the alt-right as a refuge where white women can embrace their femininity and their racial heritage without shame”. (DARBY, 2017, p. 26) 75 A alt-lite é chamada assim por seguir o mesmo caminho de Duke e outros mainstreamers ao longo da história do movimento nacionalista branco. Utilizam as mídias sociais para fazerem vídeos ou postagens com argumentos aparentemente moderados sobre a necessidade de um ethnostate, expostos de maneira sutil. São constantemente atacados pelos outros membros mais “radicais” da alt-right. 76 Termo do inglês cuja tradução aproximada seria “mente de colmeia”, utilizado para definir uma mentalidade de grupo tão fortemente imbuída em seus membros que pode ser comparada à vários organismos sendo controlados por uma só mente.

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Figura 12 – Comentário em thread do 4chan.

Fonte: Captura de tela do Reddit, 2019.

A observação foi capaz de elucidar muitos aspectos da intolerância da alt- right. Para a minha surpresa, no entanto, a xenofobia, dentro do espectro da alt-right atual, acabou, nesse período, sendo quase uma coadjuvante comparada com o protagonismo de outros “-ismos” e “-fobias” nesses locais, principalmente quando se leva em conta que a alt-right ascendeu, principalmente, em cima do apoio “politicamente incorreto” às políticas migratórias de Trump. Num olhar mais atento, contudo, é possível perceber que o que a alt-right pós-campanha de Trump está procurando fazer é preencher lacunas deixadas pelas ações do presidente: não há mais tanto sentido em gritar por muros e banimentos migratórios quando Trump já está cuidando de fato disso para eles. Desde sua eleição, Trump emitiu proibições de viagens a países muçulmanos, causou o maior shutdown da história do Governo estadunidense devido ao financiamento de seu prometido (e muito anunciado) muro e, até hoje, a maioria das manchetes envolvendo suas políticas inclui algo que esteja relacionado à sua postura dura em relação à imigração. A onda de mudanças sociais progressistas em outras frentes, todavia, ainda não pôde ser detida - o Black Lives Matter ainda está crescendo vertiginosamente, pautas LGBTQIA+ e feministas seguem ganhando mais e mais destaque na discussão política mainstream, então são essas frentes que a alt-right sente que ainda precisa atacar com intensidade. Conseguimos também, ao longo dessa observação, perceber uma “escala de ódio” de grupos mais odiados até aqueles menos odiados. É possível ver a direita alternativa defendendo determinadas pessoas que em outras circunstâncias sofreriam preconceitos, pois estão se contrapondo a grupos mais odiados, questão que exemplificarei mais à frente.

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4 O PAPEL DO VISUAL E DO COMPARTILHÁVEL NA ALT-RIGHT

Mesmo que a unidade do movimento não seja a mesma que lhe deu a força aparentemente indestrutível de seus anos iniciais, outros processos desencadeados por ele vêm ganhando uma força inimaginável em campanhas e subsequentes governos de candidatos de extrema-direita, inclusive em território brasileiro. A campanha e o governo de Jair Bolsonaro sempre se mostraram muito próximos à todas as características levantadas até aqui sobre a direita alternativa. Algumas influências surgem em ondas graduais, outras, quase instantaneamente. Até agora, vimos o ethos do movimento e vimos o discurso em sua forma textual, o que nos permite apreender aspectos muito importantes da argumentação e da fundamentação da alt-right; mas para que tenhamos uma compreensão mais abrangente acerca do poder da alt-right, é fundamental que também entendamos o papel do visual e do facilmente compartilhável nestes ambientes virtuais.

4.1 SANGUE, HONRA E MEMES: O QUE A ALT-RIGHT TROUXE DE NOVO

Figura 13 – Tweet de Trump de 2015.

Fonte: Donald Trump Twitter, 2015.

O tweet acima, publicado por Donald Trump em outubro de 2015, causou um grande alvoroço na época em que foi publicado. O tweet consistia num vídeo de “melhores momentos” de Trump, e na foto anexada no mesmo, uma versão Pepe the Frog do empresário aparecia como presidente dos EUA. Naquele mesmo ano, alguns meses antes, a ilustração começou a ser reconhecida como um símbolo de ódio nas redes sociais graças ao 4chan, mesmo não tendo sido criada pelo

49 cartunista Matt Furie em 2005 com esse intuito – Pepe era um dos quatro colegas de quarto antropomórficos de seu webcomic77 Boys’ Club, e, de acordo com Dani Di Placido (2017), ganhou destaque no 4chan após o lançamento de uma tirinha onde o sapo em questão urinava em pé, com as calças até os tornozelos. “Quando Pepe é questionado sobre sua escolha incomum, ele responde com ‘é bom, cara’. Nessa simples declaração, Pepe provou que não dá a mínima para a expectativa da sociedade e simplesmente faz, bem, o que quer que seja prazeroso” (PLACIDO, 2017, tradução nossa).78 Quando pensamos nos pontos levantados no último capítulo acerca do ethos da alt-right, e quando pensamos na visão que os próprios usuários têm do 4chan como um lugar de absoluta livre expressão, podemos entender como uma figura como Pepe pode gerar uma atração tão grande nesse meio. O Pepe the Frog, no entanto, não foi utilizado no 4chan como um símbolo da extrema-direita desde o início. A ilustração era utilizada nos mais variados contextos, e até 2014, dada a vasta gama de variações existentes do Pepe, o meme era praticamente “colecionável”, e era uma prática comum de usuários de redes sociais mostrarem suas pastas cheias de “Pepes raros”.

Figura 14 – Alguns exemplos de Pepes.

Fonte: Rare pepe, 2020.

Conforme Pepes e mais Pepes eram feitos pelos usuários para ilustrar postagens sobre filmes, jogos, desenhos ou sentimentos, não é de se surpreender que um ambiente abertamente intolerante também começasse a produzir variações alinhadas com suas crenças. Vemos abaixo um Pepe desenhado de forma a se assemelhar à uma caricatura de um judeu, outros desenhados como agentes da

77 Série de quadrinhos postada na internet. 78 “Pepe’s breakout moment came when one strip depicted him peeing standing up, with his pants all the way down to his ankles. When Pepe is questioned over his unusual choice, he responds with, ‘feels good, man.’ In that one simple statement, Pepe proved that he didn’t give a toss about societal expectation, and simply does, well, whatever feels good”. (PLACIDO, 2017)

50 schutzstaffel (SS) (um deles sorrindo na frente de um campo de concentração) e outro como um membro da Ku Klux Klan.

Figura 15 – Alguns exemplos de Pepes associados ao ideário supremacista branco.

Fonte: Adl, [201-].

Um dog whistle recente, que se apoiou muito na figura do Pepe, foi o do “mundo de palhaços” (clown world). Um usuário do Reddit, em um post que perguntava “O que é essa coisa do ‘mundo de palhaços’ que todo mundo está falando hoje em dia?” feito no /r/outoftheloop79, respondeu que o dog whistle do “clown world”, como postavam os membros de subfóruns banidos como o /r/honkler ou /r/Clown__World, baseava-se “numa variação do meme Pepe que incorpora o ethos do ‘niilismo alegre’” (GIMMETHECPA, 2019, tradução nossa)80. E prossegue:

O mundo dos palhaços é a idéia de que o mundo está se tornando cada vez mais um show de horrores grotesco, com a degeneração em várias frentes se tornando pior (social, política, racial etc.). Em vez de carregar o fardo emocional do que alguns acreditam ser a crise multifacetada da sociedade, o honk honk representa a opção do niilismo alegre, onde se reconhece o absurdo do mundo, mas decidimos rir e tirar sarro dele. ‘Por que ficar irritado quando nada disso importa?’” (GIMMETHECPA, 2019, tradução nossa)81.

Figura 16 – Pepe the Frog versão “clown world”.

Fonte: Know Your Meme, [201-].

79 Subreddit para pessoas perguntarem a respeito de coisas que elas não estão inteiradas, como por exemplo “que gíria é essa?”, “de onde veio esse meme?”, etc. 80 “(…) A variation of the pepe meme which embodies the ethos of ‘cheerful nihilism’”. (GIMMETHECPA, 2019) 81 “(…) Clown world is the idea that the world is becoming more and more like a grotesque freakshow, with degeneration on various fronts becoming worse (social, political, racial, etc.). Instead of bearing the emotional burden of what some believe is the multi-faceted downturn of society, honk honk represents the option of cheerful nihilism, where one acknowledges the world's absurdity but decides to laugh and make fun of it. ‘Why get riled up when none of it matters anyways?’”. (GIMMETHECPA, 2019)

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O dog whistle do clown world apareceu tão sutilmente da primeira vez que o vi no Reddit (antes da elaboração deste trabalho), que num primeiro olhar, considerando que eu já tinha familiaridade com figuras de linguagem preconceituosa na internet, não consegui decifrar do que se tratava. O uso de uma linguagem infantilizada e alegorias que também se assemelhavam à de programas infantis era intenso, e apenas ao me deparar com postagens como a mostrada pelo The Times of Israel (2019) pude entender do que aqueles subreddits estavam realmente falando. Na figura 17, a postagem tem o título “estou indo acampar, amigos”, e nela, está presente uma ilustração de um Pepe infantilizado segurando um machado envolvido num feixe de varas de madeira, símbolo do fascismo.

Figura 17 – Postagem no /r/frenworld.

Fonte: Johnson, 2019.

Figura 18 – Postagem no /r/The_Donald fazendo uso do dog whistle “clown world”.

Fonte: Captura de tela do Reddit, 2019.

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A captura de tela acima mostra um Pepe palhaço descendo uma ladeira de “degenerações”. Essas “degenerações” desceriam entre a luta pelo casamento gay, pela aceitação de ser quem você é, uma suposta censura pautada por aquilo que eles consideram ser mera divergência de opiniões, mês LGBTQ+, entre outras etapas, até um ponto onde todos seriam supostamente obrigados a se conformar com a “degeneração”. É feita uma referência a um caso ocorrido no Canadá, onde uma mulher transsexual, chamada Jessica Yaniv, processou uma profissional de beleza brasileira por discriminação após a profissional se recusar a depilar a genitália dela (DIAS, 2019). O caso de Yaniv, assim como casos de estupros e/ou assassinatos perpetrados por integrantes de minorias étnico-raciais em países europeus, são constantemente usados como exemplo por grupos extremistas do quanto alegadamente estamos nos tornando um “mundo de palhaços” – aqui podemos ver um exemplo claro da escala de ódio mencionada anteriormente, visto que muito dificilmente se veria uma defesa de uma imigrante latina do sexo feminino em outros contextos. Como coloca ContraPoints (2017), ao fazer uso de símbolos aparentemente inócuos como a ilustração de um sapo e de emojis82 relacionados a esse dog whistle, a alt-right se mune do poderoso argumento do “exagero da esquerda”. Quando pessoas cientes do que eles querem dizer apontam a conotação real dos símbolos utilizados em seus memes e postagens, eles utilizam a carta do “viu como tudo é preconceito para a esquerda?”, unindo à sua causa muitas pessoas que não tem familiaridade com os ambientes virtuais em que essa linguagem é desenvolvida (e por vezes, não compartilham todas as mesmas crenças) e movendo a janela de Overton83 mais e mais à direita. Ao descaracterizar e subverter o que é esperado de um ambiente que advogue pela supremacia e separatismo branco, principalmente com a adição do humor como justificativa para a disseminação de conteúdos preconceituosos, a alt-right consegue chegar em lugares que nenhum outro movimento chegou. A alt-right opera num domínio extremamente ambíguo entre a verdade e a ironia; quando confrontados por conta das falas racistas e/ou sexistas proferidas, integrantes geralmente respondem que o que estão fazendo é simplesmente ironia, “humor transgressor” (termo mais utilizado pela alt-lite), como se tal comportamento

82 Símbolos que podem ser utilizados em textos. 83 Ver nota 1.

53 significasse apenas uma “quebra de gelo” da “chatice que se tornou o mundo atual”. A visão de tais comportamentos como meras brincadeiras, numa tentativa de isentá- los de qualquer responsabilidade, atrai muitos recrutas que talvez por medo de represália ou remorso se afastariam de um local explicitamente nacionalista branco, como os fóruns e blogs que tentaram se estabelecer no início da internet, o que não significa que não haja um desejo verdadeiro por parte dos nacionalistas brancos de uma conversão dessas pessoas para tais ideais. Abaixo, estão alguns exemplos: na figura 19, uma postagem de uma página brasileira do Facebook que tem mais de 4.000 seguidores, ironizando a frase comumente utilizada pela esquerda pós-eleição de Jair Bolsonaro: “se fere a minha existência, serei resistência”. Dentre esses compartilhamentos, estão perfis de pessoas que a alt-right americana não considerariam exatamente aliadas, aliás, o fato de existir uma página brasileira dedicada a esse dog whistle é por si só contraditório quando se leva em consideração o que a direita alternativa acha de latino-americanos. A figura 20 mostra um adesivo do Pepe versão clown world colado em cima de uma placa na FFLCH-USP homenageando a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada em 2018; e por fim, um tweet de Paul Joseph Watson, um dos poucos “superstars” restantes da alt-right, falando que todo mundo ter de seguir medidas de distanciamento social enquanto protestos antirracismo acontecem é coisa de um “mundo de palhaços”.

Figura 19 – Postagem em página brasileira.

Fonte: Captura de tela do Facebook, 2020.

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Figura 20 – Adesivo do Pepe palhaço colado em cima de uma homenagem à vereadora Marielle Franco, na FFLCH-USP.

Fonte: Caetano, 2019.

Figura 21 – Tweet de Paul Joseph Watson fazendo uso do dog whistle.

Fonte: Captura de tela do Twitter, 2019.

Além de Pepe e o mundo dos palhaços, existem vários outros símbolos e dog whistles de importância da alt-right: O Kekistan é uma nação fictícia, criada pelos alt- righters do 4chan (mais especificamente do /pol/) alegadamente com o intuito de ironizar políticas identitárias. O nome é um trocadilho do termo kek84 com nomes de países muçulmanos. A bandeira “oficial” do Kekistão, apesar de não ter supostamente nenhuma conotação ofensiva e ser algo 100% irônico e inócuo – argumento utilizado até mesmo por influenciadores digitais de centro cansados de serem “cancelados”85 pelos “cavaleiros da justiça social” da esquerda – é uma versão modificada da bandeira de guerra utilizada pelo Terceiro Reich, e

84 O kek é uma versão da já conhecida risada virtual americana “LOL” (laughing out loud, “rindo alto” em português) mas escrita com a linguagem fictícia do jogo online World of Warcraft. 85 Termo atrelado à call-out culture/cancel culture, que é como chamam a “cultura” gestada principalmente nas redes sociais Tumblr e Twitter de se denunciar comportamentos problemáticos sem distinção de raça, gênero, classe social ou fama de seus perpetradores. “Cancelar” alguém é apontar publicamente comportamentos que, perante um público presumivelmente progressista, faria um famoso adorado se tornar num famoso odiado.

55 constantemente aparece em manifestações conservadoras e/ou racistas também. O símbolo do canto esquerdo superior é o logotipo do 4chan.

Figura 22 – Bandeira do Kekistão (acima) e bandeira de Guerra do Terceiro Reich (abaixo).

Fonte: RationalWiki, 2020.

Figura 23 – Bandeira do Kekistão em manifestação pró-Bolsonaro na Av. Paulista, em outubro de 2018.

Fonte: The Brazilian Report Twitter, 2018.

O dog whistle dos três parênteses é utilizado para mencionar pessoas judias (famosas ou não) como forma de identificação à sua religião e fazer menção ao suposto “eco” de seus nomes ao longo da história e um suposto impacto negativo e eterno de judeus no curso da história (exemplo: (((Steven Spielberg))) ou (((Barbra Streisand))).) Mais recentemente, também tem sido usado por personalidades judias como um ato de confronto e protesto à tal antissemitismo. As porcentagens 13% e 41% fazem alusão à duas minorias de forma a supostamente “corroborar” os argumentos da direita alternativa: Os 13% dizem respeito à uma estatística muito desatualizada, de 1999, de que a população negra (que era 13% da população) era responsável por 50% dos crimes cometidos nos EUA (COOPER E SMITH, 2011). Dessa forma, supostamente comprovando sua “barbaridade” perante uma suposta superioridade intelectual e moral da raça branca. Quanto aos 41%, essa taxa diz respeito à porcentagem de pessoas transgênero que

56 tentaram cometer suicídio nos EUA (TANIS, 2016) – o que para a alt-right supostamente comprovaria a “insanidade” e incapacidade dessas pessoas de viverem em sociedade. Muitos desses dog whistles são vistos em memes aparentemente “inocentes” do Pepe e discussões também aparentemente inocentes. Abaixo, uma postagem do /r/frenworld (subreddit dedicado a postagens dentro do dog whistle do mundo de palhaços) no Reddit, onde a legenda da ilustração de uma foto de um Pepe estudando é “amigos, chequem essas estatísticas malucas que estou estudando! Hmm, 13%, sim, esse é o tanto de violência que... uau.” Cabe à nossa imaginação preencher o espaço em aberto:

Figura 24 – Postagem do /r/frenworld, como vista no The Times of Israel.

Fonte: Johnson, 2019.

4.2 A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM: O QUE A ALT-RIGHT REVITALIZOU

Estando estabelecidos o que a alt-right trouxe de completamente novo às dinâmicas dos nacionalistas brancos, é importante saber o que ela também somente “revitalizou”. A simbologia clássica neonazista, apesar de ser utilizada de maneira similar à que o movimento utilizava entre as décadas de 50 a 2000 (de maneira comedida e mais direcionada à identificação de nazistas para nazistas), aparece de formas inusitadas através de novas estéticas “emprestadas” de setores totalmente alheios à alt-right na internet. Manifestações da alt-right no “mundo real” também deixaram em evidência muitos elementos visuais da história do movimento nacionalista branco, elementos esses que a extrema-direita brasileira não se acanhou de utilizar mesmo com a carga histórica mais pesada ainda imbuída neles. O vaporwave é uma das estéticas apropriadas pela alt-right. Tendo ganho forma no ciberespaço no começo da década de 2010, o vaporwave trouxe consigo um estilo visual de arte e um gênero musical, ambos fazendo uma alusão muito forte

57 ao surrealismo, à uma certa nostalgia dos anos 80 (nos âmbitos da tecnologia, design, música e moda), à arte europeia clássica e à cultura japonesa; além de críticas ao consumismo exacerbado e à superficialidade da cultura pop.

Figura 25 – Uma imagem dentro da estética vaporwave.

Fonte: Tumblr, 2020.

Figura 26 – Outra imagem dentro da estética vaporwave – a capa do disco Floral Shoppe, da artista Macintosh Plus (2011).

Fonte: Last FM, 2020.

Assim como no caso do Pepe, o que começou como um meio de autoexpressão relativamente saudável, conforme coexistia com o ódio em determinados ambientes, foi apropriado por ele. E então, no meio da década de 2010, surgiu o fashwave – a variação fascista do vaporwave.

Figura 27 – Arte fashwave.

Fonte: Smith, 2018.

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Figura 28 – Outro exemplo de arte fashwave.

Fonte: Smith, 2018.

Figura 29 – O fashwave brasileiro.

Fonte: Declerca, 2019.

Figura 30 – Twitter de Carla Zambelli, deputada federal bolsonarista, com temática fashwave.

Fonte: Veleda, 2019

Por mais que a grande mídia opte por não atrelar bolsonaristas ao fashwave (apenas ao vaporwave), a direita brasileira só passou a fazer uso da estética após a popularização de sua versão fascista. A proximidade dos bolsonaristas de outros símbolos-chave neonazistas também nos ajuda a entender a afinidade desse grupo político por essa tendência visual. Em janeiro de 2020, Roberto Alvim, ex-secretário especial de Cultura do governo Bolsonaro, foi exonerado quase imediatamente após plagiar textual, sonora e visualmente um discurso de nada menos que Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha Nazista. Alguns meses depois, em junho de 2020, diante da pandemia do coronavírus, Sara Giromini (ou Sara Winter), militante bolsonarista autointitulada “ex-feminista”, levou sua facção paramilitar “Os

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300 do Brasil” à frente do STF com tochas, emulando os alt-righters do Unite the Right, de 2017. Mas ao invés de gritar que “os judeus não lhes substituiriam”, como fizeram os manifestantes de Charlottesville, Sara e os 300 gritavam palavras de ordem contra as instituições brasileiras. De acordo com Beorn (2017), para os nazistas, as tochas foram feitas para evocar uma conexão racial entre uma raça alemã pseudo-histórica e os alemães modernos. Além disso, aprimorou o espetáculo dos eventos nazistas, como visto nos comícios de Nuremberg e no filme de Leni Riefenstahl, Triunfo da Vontade (1935).

Figura 31 – Protesto “Unite the Right” de Charlottesville em 2017.

Fonte: Pardes, 2018.

Figura 32 – Protesto dos 300 do Brasil em junho de 2020.

Fonte: Paranáportal, 2020.

Ao esmiuçarmos a trajetória do nacionalismo branco antes e depois da chegada da direita alternativa, pudemos ver como discursos e símbolos não surgem repentinamente. Das cruzes flamejantes ao Pepe à tochas na frente do STF, de David Duke e Willis Carto a Richard Spencer e Roberto Alvim, podemos verificar uma grande insistência de proponentes do nacionalismo branco ao longo da história de fazer parecer com que o desejo de um ethnostate fosse justo, normal, digno de debate e de cautelosa consideração como qualquer outro debate político, e não se

60 tratasse de uma pauta abastecida pela violência contra aqueles percebidos como diferentes. É importante que, como sociedade, não deixemos o gaslighting86 tomar conta de nosso debate político, principalmente quando estamos lidando com um ideário que fomentou guerras, genocídios e atos de terrorismo em escala mundial.

86 Prática de abuso psicológico onde uma pessoa tenta convencer a outra de que o que ela sente ou vê foi fruto da própria imaginação, fazendo a outra pessoa questionar sua sanidade e/ou seus próprios julgamentos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para Anthony Smith (1999), o nacionalismo não é um conjunto fixo de princípios e ideais, e como doutrina, movimento e simbolismo, provou-se como um camaleão, capaz de adaptação e reformulação quase infinitas. O nacionalismo tornou-se um veículo para rápidas mudanças sociais e para mobilizar pessoas. O mito étnico, por sua vez, tornou-se um facilitador da revolução, de forma a virar os acordos estabelecidos de cabeça para baixo e criar novas comunidades políticas com base em um senso de comunidade derivado de memórias históricas e um mito de ascendência comum (SMITH, 1999) – esse mito, nesse contexto que estamos trabalhando em específico, é o conjunto de conceitos contraditórios que sempre são postos em circunstâncias políticas específicas como um lado de uma oposição “nós versus eles” (CONTRAPOINTS, 2018): o mito do todo-poderoso “Ocidente”, o nós, versus eles, os “bárbaros”. O ciberespaço, dadas as circunstâncias expostas nesse trabalho, foi indubitavelmente um ator muito significante na disseminação global do nacionalismo excludente da extrema-direita, e a noção de que esse espaço virtual era um “portal” para uma verdade que era supostamente suprimida – noção que, por sua vez, é uma dimensão do discurso populista “anti-elites” e “anti-privilégios” adotado pela extrema-direita mundialmente – ajudou a fomentar uma relativização generalizada da verdade que só pode ser combatida com mais conhecimento. Dada a velocidade com a qual as circunstâncias mudam virtualmente (os próprios espaços virtuais analisados nessa monografia sendo exemplos muito claros disso) e o crescente protagonismo desse espaço no cenário e debate políticos, vemos o quão forte é a necessidade de mais pesquisas sociológicas que acompanhem o ciberespaço e suas odisseias no futuro. Giddens (2009) define o nacionalismo como principalmente um princípio político, que sustenta que a unidade política e a nacional devem ser congruentes. O nacionalismo como sentimento, ou como movimento, pode ser melhor definido em termos desse princípio. O sentimento nacionalista, segundo o autor, é o sentimento de raiva despertado pela violação do princípio ou o sentimento de satisfação despertado por sua realização. Um movimento nacionalista é acionado por um

62 sentimento desse tipo (GIDDENS, 2009, p. 1, tradução nossa87), que é o alvo do caráter instigador da alt-right – em um momento, podemos achar que estamos simplesmente rindo de piadas de gosto duvidoso. Em outro, podemos nos pegar indiretamente concordando com uma agenda que prega que seus filhos não podem desfrutar de tradições antigas por causa dos “invasores”, a miscigenação trazida por eles vai tornar o seu país em um buraco subdesenvolvido como o lugar de onde eles vieram, os homens fracos que aceitam tudo isso calados estão criando tempos difíceis para a sociedade racional e compreensiva que possibilitou sua existência e cabe ao homem branco forte, sem medo de convenções politicamente corretas desse mundo de palhaços, colocá-los em seu lugar.

87 “Nationalism is primarily a political principle, which holds that the political and the national unit should be congruent. Nationalism as a sentiment, or as a movement, can best be defined in terms of this principle. Nationalist sentiment is the feeling of anger aroused by the violation of the principle, or the feeling of satisfaction aroused by its fulfilment. A nationalist movement is one actuated by a sentiment of this kind”. (GIDDENS, 2009, p. 1)

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