Sexta-feira 8 Janeiro 2010 www.ipsilon.pt

Um clique na década A cultura nos anos 00 E TE T NTE N M AME AM A DAMED ADAME ADAM ADA A R A PA P EPAR EPA E SEPAR IDO I DIDO DID D N E VEN V R VEN RVEN RVE VE RV E ESE ES DE SE SE S O PO P O ÃO PO Ã PO P N EN E E N , E N ,EN O CO ICO LICO L BLICO B Ú P OPÚ O DO PÚ D PÚ 8 1 218 21 2 7218 7218 721 72 º Nº N ONº O Nº ON Ã ÇÃ Ç IÇ I DIÇÃ DIÇ D EDIÇÃ EDIÇ EDI A DA D E DA E DA EDA T N ANT AN A RAN RA R GRANT GRAN GRA G E TE T NTE NT INTE INT INTE E TE T ARTE ART AR PARTEPARTPARP AZ A FAZ FAZFA F FAZ O N ENT ENT MENTO MENT ME M E L P UPLE U SUPLE SUPL E TE T STE S ESTEEST E

S I BIS BIS BI B R O COR C S/CORS/COS AG A MAGE M IMAGE IMAG IM A NA N AMANA A / G EG./ EG. E MEG./ MEG Espaço Em época Público as minhas referências do “shoegazing” dos de balanço, vão para dois projectos anos 80, o que, por si só, não resisti a estreantes: os semi- poderá levar a pensar escrevinhar obscuros Girls (de que se trata de mais também as minhas Christopher Owen) e os uns teenagers pseudo- escolhas. Dos consensuais XX. Ambos deprimidos. Desenganem- consagrados, haveria criaram obras notáveis, se. Não cabendo em muito por onde escolher ainda que, bastante nenhuma das categorias mas limitar-me-ei a distantes musicalmente. anteriores, seria pecado referir duas hipóteses: Se o primeiro prima pela capital deixar de referir o os escoceses Camera diferença e intensidade segundo trabalho de Elvis Obscura e o veterano (elejo o tema “Hellhole Perkins (“Elvis Perkins in norte-americano Bill Retrace” como épico do Dearland”). Callahan. No entanto, ano), os segundos movem- António Freitas, radialista, curiosamente, este ano se num terreno devedor 38 anos

David Maranha em aventuras além-fronteiras no início de 2010 A editora Roaratorio prepara-se para lançar, no final de Fevereiro, um novo álbum do português David Maranha. “Antarctica”, o sucessor de “Marches of the New World” (décimo lugar na lista de música pop do Ípsilon, em 2007), terá o selo da casa editorial norte- americana, que já lançou trabalhos Flash de gente como Chris Corsano, Ben Chasny (Six Organs of Admittance), Joe McPhee e Vibracathedral Orchestra. Ao Ípsilon, Maranha adiantou que o som não será muito distante do de “Marches of the New World”. Ou Sumário seja, dizemos nós, música contínua, de desenvolvimento lento, mas Música 8 vigoroso, algures entre o Eu sou a minha cena musical minimalismo de Tony Conrad e o O dia em que Cormac McCarthy lado mais exploratório dos Velvet Cinema 12 Underground. A formação será composta pelo próprio Maranha Cinema anos zero viu “A Estrada” (órgão e violino), Riccardo Dilon Wanke (guitarra eléctrica), João Exposições 16 Foi um momento de agonia Hillcoat, tentando controlar filho que tentam sobreviver Milagre e Stefano Pilia (baixo, no Os anos da sincronia para o realizador John o nervosismo, perguntou: no pós-apocalípse. lado A e B, respectivamente) e absoluta Hillcoat e para John “Então?”. Mas McCarthy Quando se despediram, Afonso Simões (bateria). O álbum Penhall, o argumentista disse apenas que precisava Penhall pediu um será lançado em vinil, com uma peça de cada lado. Livros 20 que adaptou para cinema o de ir à casa de banho. autógrafo. McCarthy A confirmar que o início de 2010 Os livros estão livro “A Estrada”, de Demorou o que pareceu assinou um exemplar de será preenchido para David nas nuvens Cormac McCarthy: o uma eternidade. Mas “Meridiano de Sangue”: Maranha (que pertence aos próprio autor – quando voltou lançou: “É “Do teu amigo Cormac, históricos Osso Exótico) está a Teatro/Dança 24 “frequentemente descrito bastante bom”. Hillcoat mal Albuquerque, Novembro participação no projecto Box, em Bruxelas, entre 30 de Janeiro e 2 de As artes performativas como ‘o maior autor conseguia acreditar. 2002”. Mas era Novembro Fevereiro. Nesses quatro dias, à porta dos teatros americano vivo’”, explica “Verdade? Não está só a ser de 2008. O argumentista Maranha e outros músicos (estão já Penhall – vinha assistir à simpático?”. “Ouçam”, virou-se para o realizador confirmadas as presenças de Ben apresentação do filme. respondeu, “não fiz estes em pânico: “Meu Deus, Frost e Helge Sten, dos Supersilent) “Sabíamos que só a quilómetros todos só para John, quanto é que nós vão estar em estúdio, sem quaisquer planos prévios. O aprovação de McCarthy nos vos dizer uma mentira”. A bebemos? Ele tem que resultado será editado pela Rune permitiria lançar o filme adaptação é “muito guiar de volta para Santa Fé Grammofon, importante editora que realmente queríamos poderosa”, continuou à noite – se acabar numa norueguesa de música fazer. Sem ele ficávamos à McCarthy. Gostou muito da vala seremos os experimental. Pedro Rios mercê de investidores cada voz “off” (opção que tinha responsáveis. Teremos vez mais nervosos e o nosso sido polémica) – o que fez morto o maior escritor futuro em Hollywood Penhall ter vontade de “o americano vivo.” estava em risco”, escreve levantar no ar e dar-lhe um Mas no dia seguinte, às oito Penhall num texto no diário abraço”. Acabaram a comer da manhã, estavam a “The Guardian” no qual – e a beber – juntos. Falaram receber por fax as páginas recorda esse momento em de John, o filho de 11 anos de das notas que McCarthy Ficha Técnica que o escritor chegou a McCarthy (que tem 76 anos), tomara durante a numa sala de projecção e a inspiração para a projecção. Havia um Director Bárbara Reis deserta em Albuquerque, personagem da criança de diálogo “importante” que Editor Vasco Câmara, Inês Nadais vindo de Santa Fé no seu “AA EstradaEstrada” não estava no filme e, (adjunta) Conselho editorial Isabel velho Cadillac prateado. – história segundo o escritor, devia Coutinho, Óscar Faria, Cristina Assim que a projecção teve sobre a estar: quando o filho diz ao Fernandes, Vítor Belanciano início, McCarthy “começou ligaçãoligação pai: “O que farias se eu Design Mark Porter, Simon a tomar notas no seu entre um morresse?”, e o pai Esterson, Kuchar Swara bloco”. No final “tinha pai e um responde: “Quereria Directora de arte Sónia Matos Designers Ana Carvalho, Carla páginas cheias das malditas morrer também”. Noronha, Mariana Soares notas”. “A Estrada” está nas salas Editor de fotografi a Miguel A agonia prolongou-se. portuguesas [ver crítica Madeira Quando o filme terminou, neste suplemento]. A.P.C. E-mail: [email protected] John Hillcoat

2 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon Darth Vader

Darth Vader quer e serão precisamente as suas canções aquilo que ouviremos. Ou ser seu amigo no seja, uma apresentação em As 12 mil mulheres de Warren Beatty Facebook! primeiríssima mão: o público a ouvir a novíssima música que Panda Qualquer uma das mulheres que Como seria se houvesse um Bear tem para mostrar, Panda Bear esteve nos braços de Warren Beatty Facebook interplanetário e as a averiguar como resulta perante o até pode, no momento, ter sentido personagens da “Guerra das público aquilo que criou num ser a única. Agora ficará a saber, ou Estrelas” de George Lucas tivessem quarto no Bairro Alto. Os bilhetes, pelo menos a desconfiar, que não contas? É a improvável premissa do ao preço de 15 €, são postos à venda foi “uma em mil” mas sim “uma que o humorista Brian Murphy, do quarta-feira, dia 13, nas lojas Flur e em 12.775”. E se mais dias houvesse site College Humor, fez num post Louie Louie e no Lux. entre o momento em que o que anda a dar a volta à internet intérprete de “Bonnie and Clyde” que propõe “cinco status updates perdeu a virgindade, com 19 anos, da Guerra das Estrelas no The XX na Aula e aquele em que conheceu Annette Facebook” - desde os pilotos da Magna em Maio Bening, em 1991, com quem se Aliança Rebelde a combinarem casou já com 54 anos, mais saídas para bjecas ali ao planeta do mulheres haveria na vida, e na lado a Darth Vader a descobrir que cama, de Warren Beatty. os seus generais gozam com ele É o que sugere o escritor Peter quando ele não está a ler, passando Biskind na biografia “Star: How por piropos românticos de Han Solo Warren Beatty Seduced America”. à princesa Leia, pelos resmungos de Para chegar a esse número, o autor Chewbacca e pelas inconveniências de “Easy Riders Raging Bulls: How do robot tradutor C3PO, vale tudo. the Sex-Drugs-And Rock ‘N Roll Com direito a um grande momento Generation Saved Hollywood” – a de humor quando um dos crónica da ascensão dos “movie stormtroopers do Exército Imperial brats” a Hollywood, nos anos 70, a fica transtornado por ter morto um partir das idiossincrasias das Ewok. Está tudo em http://www. Chamam-se XX e a estreia foi um “personagens”, figuras como Al collegehumor.com/article:1794889 . dos discos mais celebrados de Ashby, Spielberg, Michael Cimino E agora desculpem mas vamos ali 2009, transformando dois miúdos e ou William Friedkin – usou nesta desamigar o Darth Vader. duas miúdas de Londres, 20 anos biografia a “simples aritmética”. E de idade, em celebridades pop (à partiu do princípio que Beatty escala indie, naturalmente). teve, em média, uma mulher por Panda Bear Sabemos agora que vamos vê-los no dia. Se for verdade, “é apresenta novo tempo certo. Dia 25 de Maio actuam impressionante”, escreve o jornal contar as estrelas no céu”, escreve Beatty: “Lembro-me de olhar para na Aula Magna, em Lisboa. A “The Guardian”, que lembra que, o “New York Post”. Algumas delas, a cara dele e me questionar: Como álbum no Lux música dos XX, onde o segundo o libretista de Mozart, estrelas de Hollywood, dão estou eu aqui?” minimalismo dosdos ritmosritmos e texturastexturas Lorenzo da PontePonte,, Dom Juan testemunhos pessoais, citados por Houve ainda Isabelle Adjani, que electrónicas see lligamigam a vozes “apenas”“apenas” ddormiuormiu cocom este jornal. Joan Collins: “Não sei se terá sugerido um “ménage-à-trois” desencantadas,s, existe num espaespaçoço 2065.2065. posso durar muito mais tempo. Ele com Fran Drescher, que recusou onde se concentraentra tudo o que a pop “Quantas“Quantas nunca pára – deve ser de todas depois de já antes ter dormido com criou de etéreoo e nnocturnoocturno nnosos mulheresmulheres aquelas vitaminas que ele toma... o actor. E, entre todas as outras, últimos vinte aanos:nos: o pós-punpós-punkk e o estiveramestiveram lálá?? Daqui a uns anos, estarei gasta.” houve também Julie Christie e shoegaze, os YYoungoung MarMarbleble Giants e Mais ffácilácil serseráá Ou Jane Fonda: “Oh meu Deus. Janice Dickinson. os Cure, os Ladytrondytron e uns Pixies Beijámo-nos até nos arrancarmos Verdadeiro ou não, este lado da sem distorção.. praticamentep at ca e te a cabeça uum ao vida de Warren Beatty circulou nos O que mais cativativa neles, porém, outro.”outro.” últimos dias por sites de notícias do será essas referênciaserências cruzcruzarem-searem-se TambémTambém houve MadonMadonna,n por mundo, da Austrália à Malásia. E de uma forma que só neles parece alturaaltura das ffilmagensilmagens de “Dick não apenas por causa da polémica realmente fazerer sentido. Tracy”, ou a Louise BBryantr de de esta ser ou não uma biografia Representanteses perfeitosperfeitos “Reds”, Diane KeatoKeaton,n que autorizada – alguns jornais de uma geraçãoão onde confessa ter ficadficadoo referiram-na como tal, Beatty diz são inexistenteses aass surpreendida,surpreendida, pporqueo que não o é, enquanto o editor habituais fronteirasteiras Jane Fonda achavaachava nnãoão fafazerzer dde todo Simon & Schuster omite essa de estilo, os XXX “o“ tipo”tipo” ddee WarrWarrene informação – mas mais pelo tanto servem o “extraordinário”“extraordinár ou o urbano “surpreendente”“surpreenden do número”, Tendo-o por perto, colhemos este depressivo comocomo qualifiqualificamc alguns jornais. tipo de benefícios. Noah Lennox, quarentão quee Warren BeatBeattyt desmente tal que conhecemos como Panda Bear cresceu com ooss número e o seus advogado Bertram nos e na carreira Joy Division FieldsFields acusa BBiskind de “muitas a solo, que nasceu em Baltimore, quanto o falsasfalsas afirmaafirmações”ç e de citar o actor mas vive em Lisboa, actua dia 12 de adolescente queue Diane Keaton dede 72 anos ““aa dizer coisas que Fevereiro no Lux. Quando editou o descobre numama pista de nuncanunca didisse”.sse”. celebrado “Person Pitch”, álbum dança que, a ppartirartir maior, pessoalíssima visão do daquele momento,ento, universo que ajudou a desbravar “Crystalised” seráserá a sua com os autores de “Feels”, canção preferida.ida. Joan Collins apresentou-o num B Leza esgotado Daí, provavelmente,mente, a onde se viveu ambiente de presença em variadíssimasvariadíssimas acontecimento. Mas o Panda não listas de melhoresores álbálbunsuns ddee pára e, no Lux, não se ouvirão as 2009, tendo ocupadocupado o qquintouinto Madonna canções de olhos e coração nos céus lugar na elaboradaorada pelo ÍÍpsilon.psilon. de “Person Pitch”. Panda Bear Os bilhetes parara o concerto, à começará a gravar o seu próximo venda nos locaisais habituais, álbum a solo nas próximas semanas custam 25 euros.os.

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 3 A década em que ser famosos pa

O pior dos tempos ou o melhor dos tempos. A cultura da Internet em par t se passou ao longo de dez anos no campo da criação artística - e, claro, do c

Perdidos. Na imensidão do espaço vas, se alteraram profundamente. estrutura narrativa reproduz estraté- perplexo, num primeiro momento. O digital. No excesso de informação. Na Foram dez anos esquizofrénicos em gias de propagação viral no imaginá- mesmo apetece dizer em relação ao proliferação de suportes, de manei- que as actividades culturais se con- rio colectivo, alegando teorias e inter- que se passou na década que finda. ras de ouvir, ver, ler. Em todo o lado, frontaram com uma espécie de esva- pretações paranóicas, assentes na Quem continuou a usar velhas grelhas a toda a hora, procurando, com an- ziamento, mas em simultâneo foram procura de um sentido para um pu- de leitura para pensar o que se passou siedade, a qualidade na quantida- vistas como veículo de desenvolvi- nhado de personagens que se encon- na música, no cinema ou nas artes, de. mento económico, servindo para ima- tram algures, sem noção de espaço e saiu dessa análise confundido, suge- Foi assim que vivemos a primeira ginar soluções para o crescimento de tempo, lembrando o dispositivo rindo que nada de expressivo acon- década do século XXI. Foram dez sustentável. cenográfico criado por Lars Von Trier teceu, não porque nada tivesse suce- Capa anos em que as condições de produ- “Perdidos” é também nome de uma no filme “Dogville”. dido realmente, mas porque o que se ção, existência, partilha e distribuição das séries de televisão mais iconográ- Quem tentasse ver “Perdidos” re- passou se manifestou de maneira di- da música, do cinema, da literatura ficas da década. Uma espécie de mi- correndo aos modelos habituais para versa, a um nível micro, de forma rá- ou das artes, plásticas e performati- tologia unificadora destes anos. A descodificar as séries de TV, ficaria pida, disseminada, sem que muitas

4 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon e todos puderam ara 15 pessoas

r ticular, e os desenvolvimentos tecnológicos em geral, marcaram o que o consumo. Nunca se passou tanto em tão pouco tempo. Vítor Belanciano

vezes chegasse a formar um todo co- dos tempos. Nunca aconteceu tanto das na década já eram perceptíveis Mas na maior parte dos casos essas erente. Não espanta que muitos te- em tão pouco tempo. no final do século passado – era visí- “obras” ficavam na gaveta. Graças ao nham proclamado que vivemos um vel, por exemplo, a contínua desma- fácil acesso aos meios de produção, período de cultura derivativa, esgo- Somos todos artistas terialização dos suportes musicais ou esta foi a era em que todos procla- tada, devorando-se a si própria, em No centro de todas as discussões e de o previsível impacto das câmaras di- maram “eu-também-posso-ser-artis- ciclos curtos. todas as mudanças, a tecnologia, com gitais no cinema –, mas a Internet ace- ta”. A maior parte continuará incóg- Quem tentou perceber procedi- destaque para a Internet. No início lerou todos os processos. nita, nunca alcançando a consistên- mentos em aberto, não receando a era aquela coisa estranha a que cha- Antes, já todos tínhamos escrito cia de um percurso, mas outros, desarrumação e as contradições que mávamos ciberespaço. Depois tornou- um poema ou um conto, criado uma como os Arctic Monkeys ou Lily Al- se apresentavam à sua frente, com- se no nosso ambiente quotidiano, na canção numa roda de amigos, tirado len, acederam ao panteão dos famo- preendeu que as rupturas continuam nossa casa, o habitat onde hoje pas- uma fotografia que até nos disseram sos graças a plataformas como o MyS- a existir mas manifestam-se de forma samos o tempo. ser muito “artístic” ou feito um pe- pace, o YouTube, os blogues ou as distinta. Para eles, foram os melhores Muitas das transformações opera- queno filme, documentário ou vídeo. redes sociais.

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 5 nasce-na Vivemos num mundo de 24 horas mentos e mudanças – e não apenas ramram no- de filmes, discos ou livros, passíveis revivalismos ou recalcamentos do vos íco- de serem experienciados onde e passado, como não parámos de ouvir nes.nes. MaisM quando nos apetece – às vezes, mes- ao longo da década – nos campos ar- humahumanos.n mo quando não queremos. Essa imer- tísticos, mas são agora percepciona- Mais ppróxi-r são contínua tanto pode estimular das de outra forma. No limite, de mosmos de nnós.ós. Ver- como banalizar a experiência. maneira mais subtil. dadeirosdadeiros cricriadoresad Talvez por isso, como reacção ao O mundo, e com ele o mundo da e não ffigurasiguras desdesenha-e consumo indiferenciado e individu- cultura, está mais desordenado, mas das a réguarégua e esquesquadro.a al, no computador ou no iPod, os também mais estimulante, do que há Não se obrigandoobrigando a comunicarcomun espectáculos ao vivo tiveram uma dez anos. É natural que aqueles que parapara o pplaneta,laneta mamass cocomunicandomunica época dourada. A experiência social não sabem guiar-se na desordem se Que o consumidor tenha passa- de facto para imensas minorias. de um concerto é irrepetível, bem sintam desnorteados e acabem por do a ser também criador não é uma Foi assim que, na música, se impu- como de uma peça, de uma coreo- regressar ao que sempre conheceram novidade. A diferença é que, hoje, seram nomes como M.I.A, LCD Soun- grafia ou de uma obra como “Ava- ou aos valores perenes – talvez por essa produção espontânea pode con- dsystem, Animal Collective, Arcade tar”, que explora uma tecnologia isso, esta foi também a década em que vergir directamente para o espaço Fire ou, de Portugal para o mundo, (3-D) que reafirma o prazer de ver a memória mais foi celebrada, seja ela virtual. Ao passo que até aqui um ar- os Buraka Som Sistema, todos bene- filmes em comunidade. personificada pelos Beatles, por An- tista, para o ser, tinha que ser criati- ficiando do novo contexto digital. Em todas as áreas criativas se as- tónio Variações (Os Humanos) ou por vo mas também de garantir o acesso sistiu ao irromper de novos centros. Andy Warhol. aos meios de produção, distribuição Do macro para o micro Nova Iorque, Londres, Paris ou Ber- Como acontece quase sempre em e legitimação. Os anos 00 foram protagonistas de lim continuaram a servir de farol circunstâncias de mudança profun- Não vale a pena romantizar. Esse inúmeros micro-fenómenos (revita- para perceber o que de mais impor- da, parte do público, dos criadores processo mantém-se. Mas é mais fá- liza-ção do rock com Strokes, entro- tante se passou na música, no cinema e dos gigantes das indústrias cultu- cil contorná-lo. Nunca a fantasia do namento do hip-hop com Jay-Z, res- ou nas artes. Mas da China ao Brasil, rais, tem nostalgia dos dias em que “faça-você-mesmo” pareceu tão real, tabelecimento da folk com Devendra da Índia a África, depende-se cada parecia existir uma espécie de uni- com plataformas da Internet a subs- Banhart, cruzamentos dança-rock vez menos desses centros de legiti- dade cultural, produtora de um sen- tituírem-se a editoras de discos e li- com Franz Ferdinand, afirmação da mação. tido, em que todos se reflectiam um vros, estúdios de cinema, galerias de geração pós-hip-hop com M.I.A., mi- Mais uma vez, o contexto é o de pouco. Mas esses dias, é quase certo, arte, estações de rádio e TV, jor- nimalismos electrónicos com Villa- um mundo que se confronta com a não vão regressar. nais. lobos, emergência do dubstep com circulação infinita de informação, Mas também não vale a pena mis- A maior parte do que conflui para Burial), sucedendo-se de forma ve- onde há partilha e recriação genera- tificar o papel da Internet, e das tec- a internet é lixo. Carradas de lixo. Há loz, dispersa e ampla, impedindo a lizada do conhecimento. nologias em geral. Por um lado por- uma ínfima parte que não o é. E isso focagem. Em muitos casos, do cinema orien- que a Internet ainda é terreno de é imenso. A multiplicidade de esco- Na música, foi um período de con- tal à música desqualificada de cidades ambivalências, celebrada como aber- Nunca a lhas promete mais diversidade e ino- tínua experimentação, com editoras, como Luanda, Cidade do Cabo ou Rio tura para novas possibilidades, mas fantasia do vação. Mas as audiências também são músicos (os Radiohead puseram um de Janeiro (kuduro, kwaito, baile também temida por constituir um “faça-você- mais segmentadas e estilhaçadas. álbum à venda tabelado pelo público) funk), passando pelos impulsos esté- sinal do fim da criatividade como a mesmo” Daqui resulta uma cultura de inúme- e consumidores tentando adaptar-se ticos de artistas como o indiano Su- conhecíamos. Nos próximos anos, pareceu tão ros pequenos cultos, que não se in- à convulsão. Seguiram-se o cinema, bodh Gupta, foi daí que saiu uma no- muito provavelmente, iremos assistir real, com tersecta entre si, dispersa por infin- os livros, a TV, a rádio e os jornais. va energia, forma de resolver o im- à sua domesticação. plataformas dáveis pequenos nichos. No cinema, os “blockbusters” não passe das práticas artísticas Por outro, porque independente- da Internet a A célebre máxima de Andy Warhol desapareceram e heróis de outras dé- ocidentalizadas, demasiado conscien- mente das tecnologias, o que interes- substituírem- nos anos 60 – “No futuro todos serão cadas até foram recuperados (Indiana tes da História, onde tudo já parece sa é a maneira como as artes e a cul- se a editoras famosos por 15 minutos” – não perdeu Jones, Rambo). Para alguns, a morte ter sido tentado. tura asseguram alguma forma de de discos sentido, mas poderia ser actualizada. de Antonioni e Ingmar Bergman sim- A modernidade produz-se agora ao compromisso com a vida, reflectindo, e livros, Nesta década, não só foi possível ser bolizou o fim de uma forma de estar ritmo de uma negociação planetária ampliando e até antecipando o que estúdios famoso por 15 minutos, como foi pos- no cinema, mas a verdade é que a feita de inúmeros centros. E também acontece à nossa volta, num período de cinema, sível sê-lo apenas para 15 pessoas. A ideia de autoria, em realizadores tão de múltiplas temporalidades. Até ago- histórico de grande experimentação galerias de nova (des)ordem digital não significou diferentes como Lynch, Gus Van Sant ra o acesso ao passado era parcial, politica, económica e social. Agora arte, estações forçosamente que os dias em que as ou Pedro Costa, continuou viva. não cumulativo. Com a Internet, tal- que chegámos aos anos 10, os anos de rádio e TV, grandes editoras, os estúdios de cine- Como na música, no cinema falou- vez pela primeira vez na História, te- zero estão só a começar. jornais ma ou o circuito das artes geravam se menos de autores e mais de forma- mos a sensação de poder aceder a estrelas duráveis, de dimensão plane- tos, contaminações e revoluções tec- todas as obras, de diferentes épocas, tária, desapareceram. A força da cul- nológicas. O cinema documental (de num ápice. Não admira que subsista tura popular pôde ser avaliada pelo “Fahrenheit 9 uma impressão em que passado, pre- impacto da morte de Michael Jackson, 11“, de Michael Moore, a “Grizzly sente e futuro se sucedem, não ape- ou pelo sucesso de Madonna, U2, Man”, de Werner Herzog) conheceu nas um atrás do outro, mas todos ao Eminem, Angelina Jolie, Brad Pitt ou um impacto inaudito; as séries de TV mesmo tempo, conectando-se entre Jeff Koons, ou de nomes alegóricos (“Os Sopranos”, “Sete Palmos de Ter- si, permeáveis. destes anos, como Beyoncé, Justin ra”, “Perdidos”) foram incensadas; Em vez de uma História com per- Timberlake, Kanye West, Amy Wi- o cinema contaminou a arte e vice- curso preciso e contínuo, passámos nehouse, Scarlett Johannson, Clint versa – o artista Douglas Gordon re- a ter regressos, anacronismos, des- Eastwood ou Damien Hirst. Mas as alizou “Zidane” e Steve McQueen fez continuidades, recuperações e con- cifras macroeconómicas deram lugar “Hunger”, enquanto Julian Schnabel vivências. Sempre foi assim. Mas a um novo pragmatismo – vender me- mostrava que é melhor realizador do essa consciência é agora nítida. Ou nos de mais produtos. Foi assim que que pintor. seja, continuam a existir desenvolvi-

6 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon SÃO LUIZ JAN / FEV ~1O WWW.TEATROSAOLUIZ.PT O TEATRO DA CORNUCÓPIA É UMA ESTRUTURA FINANCIADA POR

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Os anos 2000 serão mais recordados pela tecnologia que pela música. Não que a música seja n mais marcantes. Não por acaso, só nos encontramos todos em volta dos Beatles o

SintonizarSiintonizar o rádio às escondidas, ma- tilhadotilhado sem o saberem, noite aapóspós ClaroClaro qqueue entre matommato -, não seria descabido drugadadrugada dentro, era abrir uma porta noite.noite. osos anos 50 de DDylanylan queqque alalguémguém anunciasse com parapara um outro mundo, longe da pe- Se a descrição parece arcaica, é por- e ooss 8800 dodo “Som“Som dada pompappompa e circunstância o “fim“fim da quenaquena cicidadedade em nennenhureshures que a jja-a- queque o é. ExtrapoExtrapolámo-lalámo-la ddasas recorrecorda-da- Frente”,Frente”, assistiu-se ao história”história” do fenómenofenómeno pop, tal como nelanela revelava.revelava. AAlgolgo llongínquo,ongínquo, mis- çõesções dede BobBob DylanDylan ddee como ddescobriuescobriu nascimentonascimento ddaa era ddoo sin- popppop juve-juve- entendidoentendido por Fukuyama.Fukuyama. InstaInstaladoslados terioso,erioso, sopradosoprado no éter desde mil e a folk na rural Duluth, a cidade do glegle e, depois, do LP. Claro nil,nnil, tal como no final da primeiraprimeira década do sécu- muitosm q quilómetrosuilómetros de distância distância.. Ele Minnesota onde nasceu. nasceu. Evoca ima- ima queque apareceram apareceram ddepois epois as cas-cas - estabelecidaese tabelecida com lo XXI, XXI, não demoramos a encontrarencontrar queue ouvia o rádio não estava sozinhosozinho. gens a preto e branco, branco irreais por papa-- setes e, e com elas, elas gravando, gravando desgra- desgra- o memenearnear de ancas de Elvis expressão adequada a tal raciocínio: Mas quem seriam os outros: comu- recerem hoje tão improváveis – houve vando e regravando, a música passou Presley no Ed Sullivan Show, em 1956, balelas. No que à música diz respeito, nidade agrupada em volta da rádio mesmo um tempo em que a rádio era a circular de forma livre e personali- manteve, mais hippie, menos rocka- esta foi a década em que tudo reco- madrugada dentro? Nunca o saberia. a única porta aberta para o mundo? zada. Depois, nasceu o CD e, anos 90 billy, mais punk, menos metaleiro, meçou, para nada ser como dantes. Na melhor das hipóteses, iria desco- Contudo, não precisamos de recu- dentro, o CD gravável – em termos de os mesmos gestos, as mesmas normas bri-los anos depois, quando uma con- ar tanto. Tão perto quanto os anos impacto, um pequeno e pouco signi- de idolatria, os mesmos processos de A imparável democratização versa conduzisse a uma canção, essa 80, ainda era ela que servia de farol ficativo upgrade da cassete. Porém, mitificação. E não é por acaso que passámos os canção trouxesse a recordação do agregador e formador de comunida- estes saltos tecnológicos não altera- Em 1995, com o CD estabelecido, parágrafos anteriores a falar da tec- quarto e da caixa de madeira e cir- des de melómanos - basta recordar, ram radicalmente a forma como ou- com a indústria a lucrar como nunca nologia a ela associada. Nos anos cuitos eléctricos produzindo som e, cá dentro, o trabalho ímpar de Antó- víamos música. Não alteraram radi- antes – às novas edições juntavam-se 2000, Google, MP3, iPod ou MySpace: com ela, a revelação de que, há mui- nio Sérgio, o mais influente radialista calmente a forma como nos relacio- as reedições, de custo próximo do foram eles que mudaram tudo. Foi a to, aquele momento havia sido par- português. návamos com os músicos: a cultura zero, de álbuns prévios ao novo for- agressiva e imparável democratização

8 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon a cena musical

a negligenciável. Será até das décadas mais ricas da pop. Mas paradoxalmente, longe de ser das s ou Michael Jackson, ícones de um passado que já não existe. Mário Lopes

h Ninguém quer líderes ou pregadores. Ainda assim, f Os Animal Collective, tendo em conta as marcas da continuamos fascinados com figuras dessa dimensão sua música, são o grupo mais influente deste tempo. Mas icónica. Durante os anos 2000, foram os Rolling Stones, seria igualmente válido afirmar que as bandas mais não os Coldplay, a banda que mais lucrou em digressão. influentes da década não nasceram nela: não são os Os Beatles, com a edição da sua discografia Cure e os Joy Division aquilo que ouvimos nesse remasterizada, escalaram os topes mundiais. Michael saturante revival pós-punk/80s que nos acompanha Jackson foi chorado e reavaliado e reconquistou o trono desde 2001? de Rei da Pop

e Numa década que teve como último álbum consensual, enquanto marca geracional, “Funeral”, dos Arcade Fire, ninguém se destaca, ninguém pode ser entronizado como seu máximo representante

g A exclusividade, tão querida da ética indie, passou dos álbuns obscuros, propriedade de uns poucos resistentes à dominação do “mainstream”, para aquele “I had everything before everyone else” que os LCD Soundsystem cantaram em “Losing My Edge”, a canção que melhor expressou a decisiva ruptura com o passado vivida nos anos 2000

da experiência musical, da audição de um extremo da década para o ou- em casa e disponibilizá-lo a partir de naram a música omnipresente no já não existe, passou dos álbuns obs- de música à criação de música, que tro, perguntar-se-ia que raio se tinha casa), com as mil possibilidades cria- quotidiano, mas não a tornaram mais curos, propriedade de uns poucos nos trouxe até aqui: a um ponto em passado entretanto. Nos anos 2000, tivas geradas pela facilidade de aces- importante: “O tempo voa quando resistentes à tenebrosa dominação do que já não nos reconhecemos naqui- porém, o choque não seria tremendo. so a toda a história que a antecedeu estou a ouvir música. É assim: ‘hmm, “mainstream”, para aquele “I had lo que éramos quando, na passagem Praticamente nada de 2009 seria ir- (“o câmbio actual do conhecimento o que é que estava a ouvir há dois se- everything before everyone else” que de ano de 1999 para 2000, festejámos reconhecível em 2000 – esta foi a dé- de álbuns obscuros está abruptamen- gundos?’ Mas como que nos habitua- os LCD Soundsystem cantaram em a inexistência do apocalíptico “bug” cada em que toda a história pop se te tão desvalorizado quanto o dólar mos a isso”, descrevia um nova-ior- “Losing My Edge”, a canção que me- do milénio. reencontrou, se misturou e remistu- zimbabueano”, lia-se na última edição quino de 18 anos em artigo publicado lhor expressou a decisiva ruptura com Recentemente Alexei Petridis, crí- rou nas mesmas ou em novas combi- da Word), esta será uma das décadas no site da NPR. E, finalmente, porque o passado vivida nos anos 2000. tico do “Guardian”, propôs um exer- nações, em que todos os tempos co- mais ricas da pop – mas paradoxal- a net e as suas redes sociais, a intensa Numa década iniciada com a acla- cício. Olhando para a música que se existiram num imenso caleidoscópio mente, longe de ser das mais marcan- actividade divulgadora dos blogues e mação geral a “Is This It?” dos Strokes ouvia no início de uma década, e aqui- de sons. tes. Porquê? Porque o cenário está a capacidade de agregar gente em seu e que teve como último álbum con- lo em que se transformara no final, Em retrospectiva, esta década será sobrepovoado e o consenso é inexis- redor, geram pequenas comunidades sensual, enquanto marca geracional, teríamos uma panorâmica da sua di- mais recordada pelas transformações tente (nunca se anunciaram tantos de consensos, tornando profético al- “Funeral”, dos Arcade Fire; numa dé- nâmica transformadora. Nos anos tecnológicas que pela música ela mes- “álbuns do ano” ou “melhores discos go que Momus escreveu no distante cada em que se assistiu à ascensão de 1960, alega Petridis, passou-se do “ski- ma. Não porque a música seja negli- da década” como hoje, nunca se des- ano de 1991: “no futuro, todos serão M.I.A. como alguém que transportou ffle” para Jimi Hendrix. Nos 1970, de genciável. Pelo contrário, com a de- confiou tanto dos “álbuns do ano” ou famosos para 15 pessoas”. para o centro da pop expressões mu- Jethro Tull para Gary Numan – e qual- mocratização dos meios de produção “melhores discos da década” anun- A noção de exclusividade, tão que- sicais até então marginais e em que quer um que se visse teletransportado (qualquer um pode gravar um disco ciados). Porque o iPod e os MP3 tor- rida da ética indie num passado que Timbaland e os Neptunes transfor-

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 9 maram, perante todos, produções se-ia argumentar, por exemplo, que igualmente válido afirmar que as ban- Ninguém quer líderes ou pregadores: com a edição da sua discografia re- arrojadíssimas em matéria “mainstre- os Animal Collective, tendo em conta das mais influentes da década não John Lennons seriaria hojehoje em paterna-paterna- masterizada,masterizada, escalaramesc os topes am”; neste década em que as grelhas as marcas da sua música que reconhe- nasceram nela: não são os Cure e os lista com a maniaa do acti-acti- mundiaismundiais e voltaramvoltaram a ser ouvidos em de gosto se pulverizaram numa amál- cemos hoje em tantas bandas, são o Joy Division aquilo que ouvimos nes- vismo, Joe Strummer,mmer, massamassa nasnas rádiosrádios e nos iPods. E Mi- gama sem hierarquia (os Velvet Un- grupo mais influente deste tempo. se saturante revival pós-punk/80s muito genericamente,mente, chaelchael Jackson,Jackson, comcom a sua morte pre- dergroundnd popodemdem ser tão relevantes Mas seria que,que, dos She Wants RRevengee aos Edi- um chato. Aindaa as- coce, foi chorado e reavaliado e re- quanto bbandasandas sonoras televisivas tors, nos acompanha desde 2001? sim, continuamoss fas- conquistouconquistou o trontrono de Rei da Pop. dos anos 1980), nesta década a AAoo contrário do quequ muitos espe- cinados com figurasuras Todos eles nos fascinam por re- que, de AmyAmy WinehouseWinehouse a ravam,ravam, a net não trouxe verda- dessa dimensão icó-icó- presentaremprp esentarem umum passado e uma Jay-Z, nãoo faltaram perper-- deiradeira ddemocratizaçãoemocra comu- nica. possibilidadepossibilida pop que desa- sonagens,s, ninguninguémém nitária,nitária, antesante uma demo- Durante os pareceuparece e que só reco- se destaca,aca, nin-nin- ccraciaracia iindividualista.n anos 2000, fo- nhecemosnhe por contin- guém podeode ser CadaCada uumm define o seu ram os Rolling gênciag etária. Esta- entronizadozado percursopep rcur na rede, re- Stones, não os mosm num novo como seu colhendocolh informa- Coldplay, a ban- mundo e, para o máximo re-re- ção,ção saltando de da que mais lu- bem e para o malmal,, presentan-n- metame ligação em crou em digres- nadanada será como te. Poder-r- metam ligação. são. Os Beatles,, dantes.dad ntes.

Álbuns da década a João Bonifácio a 1. cLOUDDEADDEAD Ten; 2. Scott Walker The Drift; 3. Sil-Sil- ver Jews Bright Flight; 4. Kimmommo Pohjonen 5 Edan Kalmuk; Beautyy and OutKast, 6. Radiohead 77.. TheThe TheT Beat; Kid A; “Speakerboxxx NNational 8. Camané Boxer; Semprepre de The Love Below” MMim; 9. Zé Mário Branco Resistir É VVenc-enc- er;er; 10. Danny Cohen We’re All Gunnaa Die; 11. El-PEl-P Fantastic Damage; 12. Wilco Yankenke HotelkHotelk FFoxtrot;oxtr 13. Galandum Galundaina ModasModas I Anzo-Anzo- nas; 114.4 M.I.A. Kala; 15. Notwist Neon Golden;Golden; 16. Bill CCallahanallaha Sometimes I Wish We Were Ann EaEagle;gle; 17.17. JanJan JeJelineklinek KosmicherK Pitch; 18. Murcof Remembranza;membranza; 1919.. D’AngeloD’Angelo Voodoo;Vo 20. Boards of Canada Geogaddigaddi

a LuísLuís Maio a 1. AntonyAn and the Johnsons I am a BirdBird NowNow;; 22.. VampireVampire Weekend Vampire Weekend; 3. M.I.A. Arular;ar; 44.. BuenaBuena Vista presents Cachaito Cacha Lopez; 5. Sonantes Sonantes;s; 6. Tinari-Tinari- wen Radio Trisdas Sessions; 7. The Avalanches Sincee I Left You; 8. TV On The Radio Return To Cookie Mountain; 9.. Ali FarkaFarka Toure & Toumani Diabate In The Heart Of The Moon;on; 10.10. LCLCDD Soundsystem Sound Of Silver; 11. Devendra Banharthart Rejoic-Rejoic- inggtea in the Hands; 12. Benjamin Biolay. negative; 113.3. YoussouYoussou N’DourN’Dour - EEgypt; 14. Grizzly Bear Veckatimest; 15.5 SalifSalifKe Keitaita MouffMouff u; 116. Lila Downs La Cantina; 17. Herbert Bodily Functions; 1818.. SpacekSpac Curvatia; 19. Rokia Traouré Tchamatche; 20. Orches- trttraa BaobabBaob Specialist In All Styles

a MárioMário Lopes a 1. LCD Soundsystem Sound Of Silver; 2. The SStrokestroke Is This It?; 3. Animal Collective Feels; 4. White Stripes White BloodB Cells; 5. The Shins Oh Inverted World; 6- Fiery Fur- nacesnaces Blueberry Boat; 7. Franz Ferdinand Franz Ferdinand; 88.. TinariwenT Aman Iman; 9. OutKast Speakerboxxx The LLoveo Below; 10. Beachwood Sparks Beachwood Sparks; 11. B Fachada B Fachada; 12. Cass McCombs; Dropping The Writ; 13; Joanna Newsom Ys; 14. Norberto Lobo Mudar de Bina; 15. The Streets Original Pirate Material; 16. Arcade Fire Funeral; 17. The Go Team! Thunder Lightning Strike!; 18. Devendra Banhart Rejoicing in the Hands; 19. Primal Scream XTRMNTR; 20. Kanye West Late Registration

a PedroPedro RiosRios a 1.1. Radiohead Kid A; 2. Animal Collective Feels; 3. Panda BearBear PersonPerson Pitch;Pit 4. Outkast Speakerboxxx The Love Below; 5. Arcade FFireire FuneralFuneral;; 6. Queens of the Stoge Age Songs For The Deaf; 7. Six Or- gansgans Of AdmittanceAdmitt School Of The Flower; 8. At The Drive-In Relation- ship of CCommand;omman 9. Black Dice Beaches and Canyons; 10. Radiohead AmnesiacAmnesiac;; 11. FugaziFu The Argument; 12. The Streets Original Pirate Mate- rial; 13.13. DevendraDevend Banhart Rejoicing in the Hands; 14. Animal Collec- tive MMerriweathererriweath Post Pavillion; 15. M.I.A. Kala; 16. The Strokes Is This M.I.A., “Arular” It?It?;; 117.7. JustinJustin TimberlakeT FutureSex/LoveSounds; 18. LCD Soundsys- tetemm SSoundound OOff Silver; 19. Burial Untrue; 20. Gang Gang Dance Saint DyDymphnamphna

a VítorVítor BeBelancianolanc a 1. The Knife Silent Shout; 2. LCD Soundsystem LCD Soundsystem;Soundsy 3. M.I.A. Arular; 4. Burial Untrue; 5. D’ Angelo Voo- ddoo;oo; 66.. ArcadeArcad Fire Funeral; 7. Herbert Bodily Functions; 8. TV On LCD Soundsystem, TThehe RadioRadio RReturn To Cookie Mountain; 9. OutKast Speakerboxxx The “Sound Of Silver” LLoveove BBelow;elow; 10.1 Bitte Orca; 11. Kanye West Late Reg- istration; 1212.. Robert Wyatt Cuckooland; 13. Animal Collective Mer-Mer- riweather Post Poost Pavillion; 14.14. Spacek Curvatia; 15. Panda Bear Person PPitch;itch;h 16. BjörkBjörk Vespertine;Vespertine; 17. The Strokes TThishis Is ItIt;; 18. BurakaBuraka Som SSistemaistema FromFrom BurakaBuraka ToTo TheThe World;World; 19119.. VampireVampire Weekend VampireVampire Week-Weekk- end; 2020.. RicardoRicardor VillalVillalobosobos AlcachofaAlcachofa

Herbert, “Bodily Functions

D’Angelo, The Strokes, “Is This It?” Animal Collective, “Feels” e “Merriweather Post Pavillion” “Voodoo”

10 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon ORGANIZAÇÃO: PUBLICAÇÕESDOMQUIXOTE ENTRADA LIVRE entre outros. Antunes eJúlioPomar, Alves,Lobo António Com DE AMIGOS ENCONTRO 16 JAN A 1O ~ JAN LUIZ SÃO Clara Ferreira Clara Ferreira [email protected] /T:213257 640 RUA ANTÓNIOMARIACARDOSO,38;1200-027 LISBOA SÃO LUIZTEATROMUNICIPAL esta peçaem1965. actores queestrearam e RuydeCarvalho, Dolores de Cármen dos heróis publicação de da 50º Aniversário DOS HERÓIS O RENDER 23 JAN , comleituras O render er:St is/Paad sah / Espanha de Universitária Praça Cidade / / Rios Sete Metro: 31 Autocarro: 4 / www.fundacaocarmonaecosta.pt 003 Santos) 803 Bairro 217 / Tel. Rego Lisboa) D do de 6.º (Bairro Nova 1- Bolsa Lte Lisboa da Gomes, 1600-196 Edifício Pereira (antigo Soeiro Gomes Rua Pereira Soeiro Edifício costa e carmona fundação 18h30 às sexta-feira, Marchand Dezembro, Bruno catálogo) de com do 11 e texto Artistas do os (autor com 20h guiada às Visita 2010 15h de das Janeiro sábado, de a 22 quarta-feira até de Novembro Horário: de 11 Ferrão de Exposição Renato & Ramalho Nuno ESTÚDIO e António Montez. e António Jacques,Mário RuiMendes com leiturasdeLiaGama, Delito naSaladosEspelhos publicação de da 30º Aniversário ESPELHOS SALA DOS DELITO NA CORPO 3O JAN Corpo Corpo

, WWW.TEATROSAOLUIZ.PT silva!designers DUPLO PARAESTECONCERTO. OFERTALIMITADAAOSPRIMEIROS10 LEITORES. SEJA UMDOSPRIMEIROS AAPRESENTARHOJEESTEJORNALCOMPLETO NACASADAMÚSICAEGANHEUMCONVITE From ADream e Slava Grigoryan, Wolfgang Muthspiel, SÁBADO 22:00 16 RalphTowner JAN

SALA 2|€10 guitarras MECENAS CICLOJAZZ MECENAS CASADAMÚSICA APOIO INSTITUCIONAL universal. no pós-bopmasdedimensão espiritualidade, comraízes resulta emmúsicaplenade destinos premeditadosque apresentam. Umencontrosem Space Grace gravação doálbumemduo González iniciou-secoma trompetista texanoDennis música portuguesa,eo figura fundamentalda pianista JoãoPaulo, A colaboraçãoentreo MECENAS PRINCIPALCASADAMÚSICA , queagora

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Cinema anos zero

O cinema chegou a 2009, com “Avatar”, a anunciar uma “nova era”, fi nal perfeito para uma década obcecada com a mudança. E nós, espectadores: o que é que vimos nos “anos zero”, o que foi isto? Outra boa pergunta: o que é um espectador de cinema? Que venha a década nova. “No surrender”, como na canção de Bruce Springsteen. Luís Miguel Oliveira

1. Uma década é uma unidade de capável, para mais numa década em que anuncia o passado e não o con- dor, o que vê filmes mas não paga. tempo tão arbitrária como outra qual- que nos foi sendo garantido que tudo trário. Faz “downloads”, duplica, copia, vê quer, um utensílio fornecido pelo – da política, ao jornalismo, ao cine- os filmes mas não paga – é um espec- calendário para tentar impor uma ma – estava a mudar ou já tinha mu- 2. Houve uma coisa que sempre, ou tador de cinema que deixou de con- “ordem” ou, como nas narrativas, um dado. desde cedo, tinha sido sólida e ruiu tar, economicamente, como “espec- “princípio, meio e fim” àquilo que, No princípio da década o 11 de Se- durante os “anos zero”. A boa per- tador de cinema”. Só existe como na imparável dinâmica das coisas, tembro “mudou” o mundo, e no final gunta do parágrafo anterior: o que é buraco (de milhões) nas contas de não possui nada disso. Fazer “balan- da década foi a prometer “mudança” um espectador de cinema? Em 2010, Hollywood. O filme de James Came- ços”, impor um princípio de ordena- que um novo presidente foi eleito nos passar os olhos pelos “anos zero”, e ron, renovando a “experiência da ção, encontrar uma “narrativa” que EUA. O cinema chegou a 2009, com particularmente pela indústria ame- sala” (para preservar, chamemos-lhe, se distinga de outras, é um impulso “Avatar”, a anunciar uma “nova era”, ricana durante este período, não po- a “experiência da caixa”) através das humano antes de ser um impulso cul- um “cinema do futuro”, final perfeito de ignorar isto, tanto mais que alguns 3D, é a solução milagrosa para re- tural (ou é um impulso cultural por- para uma década obcecada com a dos passos decisivos dessa indústria chamar os tresmalhados e garantir a que é um impulso humano). Não é mudança. E nós, espectadores (outra (“Avatar”, mais espectacularmente) manutenção da indústria como a co- mau, não é bom, é o que é. Um tipo boa pergunta posta pela década: o foram uma resposta. Mesmo durante nhecemos ou é um estertor a prenun- de arbitrariedade para tentar domes- que é um “espectador de cinema”?), a grande crise provocada pela expan- ciar uma transformação ainda inima- ticar a arbitrariedade “cósmica”. Se o que é que vimos nos “anos zero”, o são da TV, nos anos 50 e 60, as coisas ginável? Pese o optimismo das máqui- não esquecermos isto, pode-se espe- que foi isto? continuaram relativamente claras: nas de “marketing” (cuja função é rar do exercício que seja minimamen- Vale a pena ensaiar uns passos por sabia-se o que era um espectador de promover o optimismo) e as certezas te proveitável. Arbitrário por arbitrá- esse sinuoso caminho, na certeza de cinema e o que era um espectador de dos cretinos das caixas de comentá- rio, faz tanto sentido falar do decénio que ficaremos longe de o esgotar e, televisão. Qualquer deles pagava, de rios (cuja função é promover o “ma- 1997-2007 como de 2001-2010 (como, outra advertência prévia, que para uma maneira ou de outra, para ver rketing”), “Avatar”, no que toca ao tecnicamente falando, devia ser). Mas uma visão mais clara e seguramente filmes, para ver televisão, para ver “cinema do futuro”, deixa mais per- por que não, e viva a força dos núme- mais completa dos “anos zero” do filmes na televisão – desde a primeira guntas do que respostas. ros redondos, os “poderes do 10” e século XXI o melhor é dar um salto a sessão dos Lumière que o “espectador o “mistério do zero”, falar de 2000- 2030. O tempo é severo mas é dele de cinema” era aquele que pagava 3. O espectador de cinema dissolveu- 2009? Os segundos “anos 00” da his- que vem a luz e, como sabem todos para ver um filme. Os “anos zero” se como entidade económica estável tória do cinema: o simbolismo é ines- os que gostam de cinema, é o futuro trouxeram um novo tipo de especta- porque a tecnologia chegou a um pon-

12 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon f“Avatar”, to culminante das possibilidades da mente alguma vez teve a ver. Como, lícula foram de John Carpenter, “Ci- exemplo em que o “moderno” foi pos- renovando a sua própria vulgarização. Qualquer numa estranha premonição de todo garette Burns”, ainda mais paradoxal to ao serviço de uma reflexão sobre a “experiência da pessoa com um computador e umas este excesso de imagens dos “anos visto que, episódio de uma série de “tradição”. O filme de Sokurov tam- sala” através das noções rudimentares de circulação zero” (e num estranho luto?), a “Bran- TV, dele não foram tiradas quaisquer bém põe em evidência a questão da 3D, é a solução pela Internet tem os filmes que quer ca de Neve” de João César Monteiro cópias em película; e claro, o “À Pro- invenção de um “peso” para estas no- milagrosa para (e de resto nem precisa da Internet). (ah, o escândalo), pareceu querer as- va de Morte” de Tarantino, furioso e vas câmaras digitais: a sua resposta re-chamar os A tecnologia digital, “maravilha” du- sinalar, logo em 2000. reaccionário manifesto em favor do em “Arca Russa” (mobilidade, flutua- tresmalhados e rante as últimas décadas, revelou nos arcaísmo e do analógico). ção, suspensão da gravidade) aproxi- garantir a anos 2000 a sua faceta “monstruosa”. 4. Curiosamente (ou previsivelmente) ma-o de Michael Mann (quem, na manutenção da A “luz e a magia” deixaram de ser “in- o cinema dos “anos zero” trabalhou 5. A questão película/digital também América “mainstream”, mais apro- indústria ou é um dustriais”, como na empresa criada a integração do digital, em todos os é um problema económico, pelo que fundou o trabalho sobre o vídeo digi- estertor a por George Lucas, e passaram a ser seus estados, na sua própria tradição. só surpreende a quem tenha passado tal, em filmes como “Miami Vice” e prenunciar uma “domésticas”. Não é a mesma coisa? Enrijecido por cem anos de periódi- estes anos com os olhos postos em “Inimigos Públicos”), tanto quanto o transformação Talvez não, mas não é seguro que não cas ameaças de “morte”, o cinema Hollywood e na “conversão da indús- afasta (a ele e a Mann) da resposta de ainda se trate apenas de um capítulo da quis mostrar que a morte da película tria” que essa conversão tenha arran- Pedro Costa, que submete a sua câ- inimaginável? mesma história. Só que antes discutia- (apesar de tudo, também ela mais re- cado, de facto, das margens, estéticas mara a uma gravidade descomunal, se o digital na origem, na raiz, na es- sistente do que se previa nos anos 90) e geográficas, onde o dinheiro é es- impondo-lhe um “peso” que ela de sência da imagem que era captada ou pode ser uma “libertação”, assim co- casso e os orçamentos se fazem a uma facto não tem (o que, para além de ter era interposta na imagem captada: o mo uma cobra se livra da pele velha escala diferente. No Irão, Abbas Kia- origem no facto de Costa ser um cine- vídeo e a película, o “efeito especial”. e a troca por uma nova. Vimos gran- rostami não estreou, durante os anos asta do plano e do enquadramento, Os “anos zero” impuseram a discus- des mestres, mestres vindos de outro 2000, nada feito em película, antes configura uma espécie de ética, e de são do digital no momento da chega- tempo, como Ingmar Bergman e a sua se obstinando, em filmes como “Ten” resistência ao próprio digital). O que da e da recepção, em termos (e numa “Sarabanda”, atirarem-nos uma últi- e, sobretudo, “Five Dedicated to Ozu” aproxima Mann e Costa, evidente- escala) em que nunca tinha sido pos- ma espreitadela, dominando o vídeo (o título, neste contexto, já é “todo mente, é a crença na luz como coisa ta. Do digital como modo de fabrico digital como se a questão dos suportes um programa”), em explorar o vídeo a redescobrir: que ninguém diga que ao digital como modo de consumo. não passasse de um detalhe, e em úl- digital como meio de ultrapassar a já tinha visto a luz da “Vanda” ou a luz Do digital como facto tecnológico ao tima análise provando que não passa “vocação narrativa” do cinema (e de “Miami Vice”. Mencionar, ainda, digital como facto cultural. É um cír- de um detalhe. Logo a abrir, em 2000, conduzi-la, de facto, para um terreno já que se falou de “resistência”, o es- culo demasiado perfeito para que se Pedro Costa estreou “No Quarto da próximo da “vídeo arte”). pantoso trabalho sobre as possibili- possa dizer que não se trata da mesma Vanda”, um dos mais influentes filmes Na Rússia, Aleksandr Sokurov ser- dades plásticas do digital, conduzidas história. Fenómenos como o YouTube da década (despertou vocações, gerou viu-se das possibilidades de “armaze- em direcção ao minimalismo, do es- encarregaram-se de garantir o fecho inspirações e imitações), apontando namento” das câmaras de vídeo digi- panhol Albert Serra em “O Canto dos do círculo. Que tem o YouTube a ver um caminho, estético e metodológico tal para concretizar, livre do constran- Pássaros”, o filme mais “2D” desde com o cinema? Quase nada, ou quase (que o próprio Costa ainda não parou gimento causado pelos 12 minutos das há muito. Em “double bill” com “Ava- tudo, com menos contradição do que de explorar, vide “Ne Change Rien”), bobinas de 35mm, o sonho de Hitch- tar” mostraria bem como um filme parece. Há muitos anos que o cinema para o casamento entre o cinema (co- cock em “A Corda”: um plano-sequên- pode ser “chato” sem ser “achatado”, não estava “só” (para usar a expressão mo tradição) e o digital (como supor- cia de hora e meia pelos corredores e “achatado” sem ser “chato”. de Godard nas “Histoire(s) du Ciné- te tecnológico). O mesmo Costa que, do Hermitage, sem os truques que ma”), mas nunca esteve tão acompa- de resto, nos deu (em vídeo digital) Hitchcock teve que empregar. Foi “A 6. Ainda a propósito da questão eco- nhado como nos anos 2000, tão ar- um dos últimos três grandes filmes Arca Russa”, “tour de force” entre os nómica, importaria referir que o eter- rastado para dentro duma “cultura sobre a película cinematográfica, “On- mais ousados e “vanguardistas” da no “parente pobre” dos géneros cine- da imagem”, enorme “bulldozer” de de Jaz o Teu Sorriso”, com os Straub. década, por acaso ou não (na sua re- matográficos, o documentário, sobre- indiferença, com que ele só marginal- (Os outros grandes filmes sobre a pe- lação com a história russa) mais um viveu aos 2000 em grande parte

E Em 2000 Pedro Costa estreou “No Quarto da Vanda”, f Quem, na América um dos mais infl uentes fi lmes da década (despertou vocações, “mainstream”, mais gerou inspirações), apontando um caminho para o aprofundou o trabalho casamento entre o cinema (como tradição) e o digital (como sobre o vídeo digital, em suporte tecnológico) fi lmes como “Miami Vice” e “Inimigos Públicos”, foi Michael Mann

h O “À Prova de Morte” de Tarantino, foi um furioso e reaccionário manifesto em favor do arcaísmo e do analógico

g As propriedades “domésticas” dos aparatos digitais g No caos de um mundo encharcado de imagens: propiciaram uma nova voga do registo diarístico, pessoa, “Afterschool”, de Antonio Campos, “Caché” de Michael de que os exemplos mais conhecidos serão os fi lmes de Haneke. Mas houve quem continuasse como se nada fosse: Agnès Varda: “Os Respigadores e a Respigadora”, a abrir Rohmer, James Gray, Wes Anderson, Oliveira, Rivette, a década, e “As Praias de Agnès”, a fechar Godard, Kaurismaki

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 13 “Disponível para Amar”, “Cartas de Iwo Jima”, Clint Eastwood “Ne Touchez pas la Hache”, Jacques Rivette “O Elogio do Amor”, Jean-Luc Godard Wong Kar-wai

Filmes de uma década a Jorge Mourinha a 1. Lost in Translation Sofi a Coppola, 2003; 2. Moulin a Mário Jorge Torres (por ordem cronológica) a 1. A Casa da Felicidade Rouge Baz Luhrmann, 2001; 3. O Novo Mundo Terrence Malick, 2005; Terence Davies (2000); 2. Disponível para Amar Wong Kar-wai (2000); 3. 4. Kill Bill Quentin Tarantino, 2003/2004; 5. Disponível para Amar Mulholland Drive, David Lynch (2001); 4. Moulin Rouge, Baz Luhrman Wong Kar-Wai, 2000; 6. Fala com Ela Pedro Almodóvar, 2002; 7. WALL-E (2001); 5. A. I. - Inteligência Artifi cial Steven Spielberg (2001); 6. Gosford Andrew Stanton, 2008; 8. A Última Hora Spike Lee, 2002; 9. O Despertar Park, Robert Altman (2001); 7. Longe do Paraíso, Todd Haynes (2002); da Mente Michel Gondry, 2004; 10. O Grande Peixe Tim Burton, 2003; 8. Vai e Vem João César Monteiro (2002); 9. Lost in Translation Sofi a 11. Monstros e Cª Pete Docter, 2001; 12. Sarabanda Ingmar Bergman, Coppola (2003); 10. A Má Educação, Pedro Almodóvar (2004); 11. Charlie 2003; 13. O Tempo que Resta François Ozon, 2005; 14. O Estádio de e a Fábrica de Chocolate Tim Burton (2005); 12. Odete João Pedro Wimbledon Mathieu Amalric, 2001; 15. Milk Gus van Sant, 2008; 16. Rodrigues (2005); 13. O Segredo de Brokeback Mountain, Ang Lee Miami Vice Michael Mann, 2006; 17. Elogio do Amor Jean-Luc Godard, (2005); 14. Cigarrette Burns John Carpenter (2005)*; 15. Cartas de Iwo 2001; 18. Ocean’s Eleven - Façam as Vossas Apostas Steven Soderbergh, Jima, Clint Eastwood (2006); 16. Os Amores de Astrea e de Celadon Éric 2001; 19. O Tigre e o Dragão Ang Lee, 2000; 20. Cartas de Iwo Jima Clint Rohmer (2006); 17. I Don’t Want to Sleep Alone Tsai ming liang (2006)**; Eastwood, 2006 18. Ne Touchez pas la Hache Jacques Rivette (2007)**; 19. Milk Gus Van Sant (2008); 20. Ne Change Rien Pedro Costa (2009) a Luís Miguel Oliveira (por ordem alfabética dos nomes dos realizadores) a 1. The Life Aquatic with Steve Zissou Wes Anderson, 2004; 2. Sarabanda a Vasco Câmara (por ordem cronológica) a 1. Plataforma Jia Zhang-ke Ingmar Bergman, 2003; 3. No Quarto da Vanda Pedro Costa, 2000; 4. (2000); 2. Disponível para Amar Wong Kar-wai (2000); 3. Mulholland Uma História de Violência David Cronenberg, 2005; 5. Homecoming Drive David Lynch (2001); 4. En Construccion, Jose Luis Guerin (2001) *; 5. Joe Dante + John Carpenter’s Cigarette Burns, John Carpenter, 2005 R Xmas, Abel Ferrara (2001); 6. Gerry Gus Van Sant (2002); 7. Irreversível *; 6. Gran Torino Clint Eastwood, 2009; 7. Elogio do Amor, 2001 + Dans Gaspar Noe (2002); 8. Kill Bill I e II Quentin Tarantino (2003); 9. Tie Xi Qu: Le Noir du Temps (Episódio de Ten Minutes Older, 2002) Jean-Luc West of the Tracks Wang Bing (2003) *; 10. The Brown Bunny Vincent Godard; 8. Nós Controlamos a Noite, James Gray, 2008; 9. Le Monde Gallo (2003); 11. I Don’t Want to Sleep Alone Tsai Ming-liang (2006) **; 12. Vivant Eugène Green, 2003*; 10. En Construccion Jose Luis Guerin, 2001 Juventude em Marcha Pedro Costa (2006); 13. Cartas de Iwo Jima Clint *; 11. Plataforma Jia Zhang-Ke, 2000; 12. Five Dedicated to Ozu Abbas Eastwood (2006); 14. Ne Touchez pas la Hache Jacques Rivette (2007)**; Kiarostami, 2003*; 13. O Homem Sem Passado Aki Kaurismaki, 2002; 14. 15. A Mulher sem Cabeça Lucrecia Martel (2008); 16. Quatro Noites com Miami Vice Michael Mann, 2006; 15. Ne Touchez Pas La Hache Jacques Ana, Jerzy Skolimowski (2008); 17. Shirin Abbas Kiarostami (2008)*; 18. Rivette, 2007**; 16. A Inglesa e o Duque Eric Rohmer, 2001; 17. Arca Afterschool Antonio Campos (2008); 19. Go Get Some Rosemary Ben e Russa Aleksandr Sokurov, 2002**; 18. Vai e Vem, João César Monteiro; Joshua Safdie (2009) *; 20. Lola Brillante Mendoza (2009)* 19. Une Visite au Louvre Straub/Huillet, 2004*; 20. À Prova de Morte Quentin Tarantino, 2007 *Inédito comercialmente em Portugal; ** Inédito comercialmente em Portugal, editado em DVD

“I Don’t Want to Sleep Alone” “Sarabanda”, Ingmar Bergman “Mulholland Drive”, David Lynch “Lost in Translation”, Sofi a Coppola Tsai Ming-liang

“Plataforma”, Jia Zhang-ke

graças EstaEsta ame- verdadeverdade paraa amamargura ao digi- aça difusa alémalém dasdas ver-- eem coisa tal. Para o bem ouou para o que vem da dadesdades oofi- bbela de se mal, ou mmelhorelhor ddizendo,izendo, para o sensaçãosensação dede ciais.ciais. UUma ver. Kau- bem e paraa o mamall (não se popodede qque-ue- o 11 dede Se- mençãomenção parap rismaki, rer ter só uumama coisa). As pproprie-roprie- ttembroembro todostodos os fil- sozinho e dades “domésticas”mésticas” dos aparaapara-- tterer sido mes que fo- maltrata- tos digitaiss (novo sentido para a dissecadodissecado rramam atrásatr do que “câmara-stylo”tylo” ddee Astruc) pro-pro- “clandes-“clandes- deste “zeit-“ze nem um piciaram aatété uma nova voga ddoo tinamen-tinamen- gest” ttão cãoc vadio, registo diarístico,arístico, pessoapessoall e quo- tte”,e”, com “anos“anos 2000”.200 . autora dos tidiano, dee queque os exemplosexemplos mais imagensimagens de O “Cach锓Caché dee ddois filmes conhecidosos serão os filmes de AAg-g- telemóveis,telemóveis, HanekeHaneke e o seueu mmaisa como- nès Vardaa (“Os Respigadores e a dede câma-câma- par perfeito,perfe , o ventesven da dé- Respigadora”,ora”, a aabrirbrir a ddécada,écada, e rasras ddee se- “Afterschool”“Aftersch ” de cadacada (“Um Ho- “As Praias de Agnès”, a fechar). ggurança,urança, e AntonioAntonio CCampos.pos. O mem ssem Passa- etc.etc. Para uma gge-e- “Redacted”“Redacted ddee Brian do”do” e ““Luzes no 7. O caos ddee um mundo encharcado raçãoração inteira (pa(pa-- dede PalmaPalma,, sobrebre a gguer-uer- Crepúsculo”).Crepúscul A ma- em imagens.ns. O YouTube. O 11 de Se- ra mais do que rara do IraIraque,q e a sua ver-ver- jestadejestade mamagoadag de tembro (emm rigor, e num sentisentidodo que umauma geração),geração), correscorres-- são melhorada,melho a, mais aabstrac-bstrac- Eastwood.Eastwood. Outros,Outr muitos levaria demasiadomasiado tempo a exexplicar,plicar, p oon- n -d deueu à noção dede uma tata e mais paródicaródica (mas muito outros.outros. AAquiloquilo a qque dantes a televisão desse dia devia entrar nu- perda da inocência. Uma câmara menos vista e muito discutidadiscutida,, “são sese chamavachamava os “autor“autores”.e Estão ma lista do mais “relevante” da déca- de telemóvel não pode ser um brin- zombies, senhor”),hor”), o “Diário dos Mor- quasequase varridos das salas ded cinema da), cujas imagens assombraram o quedo se serve para registar o mais tos”, dessa velha “térmita” do cinema portuguesas. São zombies, senhor, e resto da década, inclusive no YouTu- traumático assassínio em massa de americano que é George Romero. se. O velho Rohmer, que na “Inglesa encontram-se numa das cinquenta be, e muito para além da América (o tempos recentes. O vídeo – o vídeo e o Duque” des-diabolizou e domes- salas dedicadas ao Harry Potter. mais genial contracampo do 11 de Se- caseiro, vulgar de Lineu – como ins- 8. E todos, velhos e novos, solitários ticou o “efeito especial” (digital...), tembro é o plano final do “Filme Fa- trumento dúbio, invasor e invasivo quase sempre, obstinados por obri- transformando-o em cartão pintado. 9. Que venha a década nova. “No sur- lado” de Oliveira, e pouco que impor- ao mesmo tempo, como aparelho ca- gação, que inauguraram ou continu- James Gray e Wes Anderson.. Oliveira. render”, como na canção de Bruce ta que o filme seja o seu mais fraco). paz de construir, por “roubo”, uma aram as suas obras como se nada fos- Rivette. Godard, a transformar a Springsteen.

14 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon sŽrie ’psilon II Filmes premiados para os amantes da sŽtima arte.

Cannes îscares 2008 Festival Globo de Ouro Globos de Ouro Film Festival de Cannes 2007 2008 1958 Melhor 2003 Melhor Vencedor Palma de Ouro Argumento Original Melhor Actor Filme Estrangeiro C‰mara de Ouro ( Jack Nicholson) PrŽmio Especial Melhor Realiza‹o do Jœri Academy Awards 15 de Janeiro 22 de Janeiro 29 de Janeiro 5 de Fevereiro 12 de Fevereiro Juno Control As confiss›es O Escafandro O Meu Tio de Jason Reitman de Anton Corbijn de Schmidt e a Borboleta de Jacques Tati de Alexander Payne de Julian Schnabel

Bergen PrŽmio Coup International îscares 1981 Festival de de Coeur 2007 PrŽmios CŽsar Film Festival Melhor direc‹o de arte, Roterd‹o 2005 1990 Melhor fotografia PrŽmios CŽsar PrŽmio Melhor Filme Nomeado para Melhor Melhor Guarda Roupa e Melhor figurino do juri 2004 Argumento Original

19 de Fevereiro 26 de Fevereiro 5 de Maro 12 de Maro 19 de Maro Valmont Mysterious Skin Tess O CŽu Gira 2 dias em Paris de Milos Forman de Gregg Araki de Roman Polanski de Mercedes Alvarez de Julie Delpy

British existente PrŽmios CŽsar Golden Orange îscares 1999 Independent Cannes Film Melhor 2004 Film Awards Festival, 1991 Awards 2006 Melhor Filme, Document‡rio 2002 PrŽmio do Jœri Melhor Realizador Melhor Realizador, Melhor Produ‹o Melhor Argumento

26 de Maro 2 de Abril 9 de Abril 16 de Abril 23 de Abril Climas Os òltimos Dias A Esquiva 24 Hour Europa de Nuri Bilge Ceylan de James Moll de Abdellatif Kechiche Party People de Lars Von Trier de Michael Winterbottom

Festival de Festival de Veneza Cannes Film Sundance 2003 Cannes Festival 2004 Festival 2002 PrŽmio do Pœblico, Film Festival 2005 de Veneza 2003 PrŽmio UNESCO PrŽmio do Jœri Melhor Argumento, Vencedor da Palma Selec‹o Oficial Melhor interpreta‹o de Ouro Le‹o de Ouro

30 de Abril 7 de Maio 14 de Maio 21 de Maio 28 de Maio Terra da Abund‰ncia Interven‹o Divina A esta‹o A Criana As irm‹s de de Wim Wenders de Elia Suleiman de Thomas McCarthy de Jean Pierre Dardenne Maria Madalena e Luc Dardenne de Peter Mullan In’cio da Colec‹o: 15/01/2010 á Fim da Colec‹o: 28/05/2010 á Preo total da colec‹o: Û39 Promo‹o limitada ao stock In’cio da Colec‹o: 15/01/2010 á Fim 28/05/2010 CinemaExposições Livros Música Teatro/Dança RUI GAUDÊNCIO RUI

“Le Temps, Vite”, a exposição que o Pompidou inaugurou na vertigem da entrada no novo milénio, foi um prognóstico do estado da arte nos anos 00

Com a Internet alcançámos uma forma de estar e pensar tão antiga quanto os Veda hindus: uma realidade sincrónica, viral, não-linear. A contemporaneidade absoluta é agora. Vanessa Rato Os anos da sincr

Chamava-se “Le Temps, Vite”, ou se- so. Donde o problema da escolha, da vistos de cima, Telheiras e Brooklyn Modernidade, pós-moderni toriador norte-americano Hal Foster. ja “O Tempo, Rápido”, e inaugurou filtragem. É preciso aprender a ames- são e não são a mesma coisa. Onde Continuando: “Apesar de haver uma no Centro Pompidou, em Paris, no trar esta memória para que ela não o jardim babilónico que falta plantar dade, altermodernidade longa história de vanguardas moder- ano 2000, em plena vertigem da en- nos subjugue.” no Dubai é fabuloso no mesmo mo- Foi há dez anos. Entretanto, ao que nas e de a vanguarda se ter definido trada no novo milénio. Na entrevista A Internet, pois, esse não-tempo mento em que o atentado de agora tudo indica, a maior parte de nós sempre através da ruptura com o pas- que deu para o catálogo, Umberto Eco contínuo, espécie de super-consci- em Carachi é um horror a cair-nos habituou-se a fazer da ilusão, do caos sado, na verdade, sempre ficou ligada usava a expressão: contemporanei- ência extática, onde o Big Bang está em cima com todo o pó, os mortos e de todos os nivelamentos, por baixo ao passado. Já a arte contemporânea, dade absoluta. “Todas as sociedades, constantemente a criar o universo, e o sangue (e, afinal, onde é que fica ou por cima, uma experiência positi- especialmente porque é uma arte glo- como todos os indivíduos, vivem so- hoje. Onde as Torres Gémeas e os Carachi?, perguntamos ao tipo que, va, e isso foi suficiente para o nasci- bal, perfila-se como uma vasta pre- bre a memória. Sem memória não há Budas de Bamyian caem e voltam a ao mesmo tempo, temos na outra mento de um novo universo global, sença que vemos mais como um gran- duração, não há alma”, dizia. Expli- erguer-se todos os dias. Onde os bai- ponta de um chat Lisboa-Bombaim, de uma nova forma de estar e pensar de campo horizontal.” E depois a cando: “Todas as épocas tentaram larinos de Pina Bausch hão-de dan- um tipo que não conhecemos mas tão antiga quanto a filosofia holística pergunta recorrente: “Terá a tensão captar toda a memória possível por çar uma e outra vez “A Sagração da que, em segundos – quando esque- dos Veda hindus: uma forma de estar entre o presente e o passado sido es- todos os meios possíveis, como se a Primavera” ao som de “Thriller”, de cermos Carachi – , nos vai fazer che- e pensar sincrónica, em vez de dia- ticada ao ponto de ruptura?” E a res- memória dos anciãos não fosse sufi- Michael Jackson, porque estranha- gar o filme que está a montar e es- crónica, viral, não-linear – um univer- posta: “Acho que sim.” ciente.” mente resulta, como se sempre ti- treia daqui a um mês em Los Ange- so de contemporaneidade absoluta, “Ao longo dos últimos 20 anos, a O desenho, a escrita e os livros; o vesse sido assim. Onde Leonardo da les). de facto. Tão absoluta que se tornou arte tornou-se internacional e depois teatro e a dança; a arquitectura e a Vinci e Picasso são contemporâneos “Convém não esquecer que a con- categoria, em si. global. Hoje há todo o tipo de tradi- estatuária; a pintura, a fotografia e o de Warhol, Bansky, Jagdish Swami- temporaneidade é, por vezes, uma “Nos primeiros anos do século XXI ções e histórias da arte a considerar. cinema; os museus e as bibliotecas... nathan, Subodh Gupta e todos os ilusão. Assim, no momento em que a arte flutuou livre de qualquer liga- Não há uma, duas ou três linhas que “Hoje, o que é que acontece? O arqui- artistas conhecidos e desconhecidos dispomos da contemporaneidade ab- ção à História e à teoria. Tornou-se, possamos traçar ao longo do tempo vo, tanto quanto a memória que con- de antes, agora e por vir. Onde arte soluta, podemos também ser mario- de certa forma, numa categoria artís- e que funcionem e possam conferir tém, tornou-se enorme. A Internet é arte, mas também tatuagem e por- netas da ilusão da contemporaneida- tica em si. Um campo independente”, um sentido narrativo ao presente. De encerra a memória de todo o univer- nografia, ao mesmo nível. Onde, de”, dizia Eco. dizia-nos há semanas o crítico e his- uma forma ou outra [até há algum

16 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon e A Internet é o não-tempo contínuo onde as Torres Gémeas e os Budas de Bamyian caem e voltam a erguer-se todos os dias, onde os bailarinos de Pina Bausch hão-de dançar uma e outra vez “A Sagração da Primavera” ao som do “Thriller”, onde da Vinci e Picasso são contemporâneos de Warhol, Bansky, MASSOUD /AFP HOSSAINI Subodh Gupta e todos os artistas conhecidos e desconhecidos de antes, agora e por vir TIMOTHY A. CLARY/AFP TIMOTHY

h Ainda que o Brasil e a Índia se tenham juntado à discussão, a modernidade foi um conceito ocidental. Hoje o labirinto é muito mais complexo e as cidades já não chegam: é preciso um nómada global, um errante cultural à procura do inverso do enraizamento absoluto, encenando as suas raízes em contextos heterogéneos

g Depois mil discussões sobre se seríamos, finalmente, pós-modernos, podíamos pôr RAJESH KUMAR SINGH/AP RAJESH KUMAR esse ponto de interrogação na gaveta, tornado caduco por um singular evento: a actual crise económica mundial. Nem modernos nem pós-modernos. Submersa em

JEAN-PIERRE MULLER/AFP JEAN-PIERRE nova crise, a humanidade teria visto nascer a primeira era cultural do mundo globalizado

f Entretanto, um conceito relegado há 40 anos para os circuitos académicos mais obscuros voltava ao centro das discussões estéticas mais actuais (talvez como reacção a todos os nivelamentos): a obra-prima. Ultrapassado o espectro do modernismo, voltámos a poder ligar-nos “à grande tradição da obra-prima”, dizia-nos há seis anos o crítico e ensaísta norte-americano Arthur C. Danto cronia absoluta

tempo] éramos todos ‘hegelianos’. gunta, uma reflexão sobre a possibi- aplicação brutalmente parcial das lais de Tokyo, de Paris, lançava o de- tiplas temporalidades simultâneas em Até o pós-modernismo se definia em lidade da passagem de presente a suas demandas universais (liberdade, bate ao dizer que, depois de várias que a vida e a arte surgem como ex- relação ao modernismo, até as neo- passado de uma era que podemos igualdade, fraternidade) ou pelo sim- vidas a interrogar gigantes – Heideg- periências positivas de desorientação, vanguardas se definiam em relação defender como sendo ainda a nossa. ples facto de a modernidade e o co- ger, Wittgenstein, Benjamin, Baude- traçando linhas em todas as direcções às vanguardas históricas. Os artistas Propunha mais: a transformação da lonialismo terem andado, e provavel- laire, Bataille, Lyotard, Foucault, Bau- de tempo e de espaço e, assim, explo- pensavam no seu trabalho em relação Modernidade num equivalente da mente ainda andarem, de mãos da- drillard, Derrida, Lipovetsky... – e rando todas as dimensões do presen- aos precedentes. Os novos artistas já Antiguidade clássica, ali onde se arti- das. Ainda assim, a imaginação das depois de mil discussões sobre se se- te. Por outras palavras: uma era em não trabalham assim. Tudo parece culou o conceito do que o Ocidente pessoas está cheia das visões e for- ríamos, finalmente, pós-modernos, que se age e cria a partir de uma visão estar a ser empurrado para um arqui- entenderia como arte. mas da modernidade. Resumindo, podíamos pôr esse ponto de interro- de caos articulado. vo histórico que nem sequer parece A Modernidade como ciclo (re)fun- parece que estamos tanto dentro co- gação na gaveta, tornado caduco por “Ainda que, à época, países como ser já muito consultado. De certa for- dador que se abriu e fechou no tem- mo fora da modernidade, tão repeli- um singular evento: a actual crise eco- o Brasil e a Índia se tenham juntado ma, o período pré-guerra parece o po, matéria passível já de revisitação dos pela sua violência mortal como nómica mundial. à discussão, a modernidade foi um século XIX de hoje e o século XIX pa- arqueológica? Buergel explicou num seduzidos pelas suas mais imodestas Nem modernos nem pós-moder- conceito ocidental. Hoje vivemos rece a Renascença.” breve texto o que o levou à questão: aspirações ou potenciais: que possa, nos. Submersa em nova crise, no final num labirinto mais complexo e temos Posto de outra forma: será que a “A modernidade, ou o seu destino, apesar de tudo, haver um horizonte da primeira década do século XXI a que extrair dele significados especí- modernidade se transformou na nos- exercem uma influência profunda planetário para todos os vivos e os humanidade teria visto nascer a pri- ficos para o século XXI. A moderni- sa antiguidade? Foi uma das pergun- nos artistas contemporâneos. Parte mortos.” meira era cultural do mundo globali- dade de hoje não é nem pode ser to- tas lançadas pela mais recente edição da atracção pode derivar de ninguém Foi um salto até, já este ano, nos zado. talizadora nem continental”, disse- da mítica Documenta de Kassel. Há saber realmente se está viva ou mor- ser proposto o passo seguinte: a aber- Nem uma visão linear da História, nos a dada altura Bourriaud, dois anos, sob o tema geral “Migração ta. Parece estar em ruínas depois das tura de uma nova era cultural, uma como a do modernismo, nem uma enumerando os “depois” em que te- da forma”, Roger M. Buergel, director catástrofes totalitaristas do século XX outra modernidade – uma Altermo- imagem desta a avançar em espirais mos estado mergulhados nos últimos artístico da mais importante mostra (exactamente as mesmas catástrofes dernidade. de eternos retornos, como defendido 35 anos: pós-modernismo, pós-femi- de arte contemporânea do mundo, que de alguma forma instigou). Pa- Na IV edição da trienal da Tate, Ni- pelo pós-modernismo; agora, uma nismo, pós-colonialismo, pós-político, propunha, também ele, com esta per- rece totalmente comprometida pela colas Bourriaud, co-fundador do Pa- visão da História constituída por múl- pós-histórico... “Acabamos com a

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 17 sensação de estar em eterna nos- mento. Uma técnicaécnica liligadagada à viavia-- “E se a cultura do século XXI fosse talgia do passado, o que redunda nu- gem clássica, sim,m, mas tamtambémbém inventadainv a partir daqueles trabalhos ma preguiça de pensar. Pareceu-me (ou, sobretudo)) a esse outro quequ se lançam a si mesmos o desafio produtivo tentar decretar o fim desse tipo de viagemm dada era ddaa dede apagar as suas origens e falar de conforto, tentar periodizar de outra hipermobilidadede da InIn-- multiplicidadesmu de enraizamentos su- forma.” ternet, em que nasce- cessivosces ou simultâneos? Este proces- mos a conceberer for-for- so de rasura”, diz Bourriaud, “é parte A civilização-arquipélago mas de entenderder o dada condição do errante, uma figura Já não se trata do “flâneur” oitocen- que é o espaço dodo centralce da nossa precária era e que tista, aquele que se deixa perder na humano para lláá apareceap insistentemente no coração observação da vida das cidades. Hoje das formas clás-s- dad criação artística contemporâ- as cidades não chegam. É preciso um sicas no Oci-- nea”.n nómada global, ou, em rigor, um er- dente, e emm “O pós-modernismo saiu da de- rante cultural à procura do inverso que o hipertex- pressão da Guerra Fria rumo a uma do enraizamento absoluto, com as to se generali- preocupação neurótica com as ori- suas raízes sempre em movimento, zou como pro- gens típicas da era da globalização. encenando-as em contextos hetero- cesso de estru- É este modelo de pensamento que géneos, negando-lhes qualquer valor turação de hoje está em crise, esta versão mul- como origem, traduzindo ideias, pensamento, ticultural da diversidade cultural transcodificando imagens, transplan- uma janela a que tem que ser questionada, não tando comportamentos, trocando, abrir directa-- a favor de um ‘universalismo’ de mais do que impondo. mente para ou-u- princípiosp nem de um novo esperan- Uma nova “flânerie” como técnica tras, infinitas,s, to modernista, mas no enquadramen- de geração de criatividade e conheci- todas ligadas. toto de um novo movimento moderno

O edifício de Siza Vieira, a programação e o modeloodelo A programaçãoprogramaç de Miguel Wandschneider de parceria com o Estado fazem de Serralves na CulturgestCulturgest permitiu ao público descobrir um exemplo ainda único em Portugal obrasobras como a de Angela de La Cruz

A exposição de Bacon comissariada por Vincente Todolí trouxe a Portugal um dos mais relevantes artistas do século XX A década de Serralves Serralves, o acontecimento da década Há um antes e um depois da tem lugar a Documenta, exposição que procura defi nir um corpus inauguração do Museu de Arte Contem-porânea de Serralves. A ab- para a arte produzida nas últimas décadas. A revisão organizada, em ertura do edifício projectado por Siza Vieira, a programação desen- 2002, sob o comissariado do nigeriano Okwui Enwezor foi a primeira hada por Vicente Todolí, João Fernandes e Ulrich Loock, a colecção e com carácter global, acentuando a dimensão política da edição ante- a parceria entre o Estado e os privados, fazem da instituição um ex- rior, com curadoria da francesa Catherine David. O.F. emplo ainda único em Portugal. É o acontecimento da década. Óscar Faria Escultura no espaço público, modo de usar A ideia tem início em 1977. De dez em dez anos, durante cem dias, decorre a iniciativa “Es- Jorge Queiroz, CCB: a melhor opção? Depois de várias indecisões, divergências e de- cultura. Projectos em Münster”. A última edição, 2007, comissariada Carlos Roque, missões, a deriva do Centro Cultural de Belém parou. O Estado entre- por Brigitte Franzen, Kasper König e Carina Plath, sublinhou a ne- Bruno gou o seu Centro de Exposições ao Museu Berardo de Arte Moderna cessidade de um debate alargado sobre questões relacionadas com a Pacheco e Contemporânea e o CCB fi cou “refém” de uma colecção. Hoje ainda escultura no espaço público. O.F. e Leonor há quem se questione: foi a melhor opção? José Marmeleira Antunes Uma história da arte realmente contemporânea Há muito que se (da esquerda Portugueses em trânsito Com as bolsas e as residências, a circulação esperava uma história que tivesse em conta os desenvolvimentos para dos artistas portugueses no estrangeiro tornou-se um facto. Concor- artísticos do século XX sob um ponto de vista teórico esclarecido. a direita): O Centro de rem e vão, naturalmente. Uns voltam, outros permanecem em trânsi- Em 2004, quatro dos mais singulares historiadores da arte actuais alguns Exposições to e há quem vá fi cando, depois de fazer do exterior o lugar central da – Hal Foster, Rosalind Krauss, Yve-Alain Bois e Benjamin Buchloh – dos artistas do CCB fi cou sua actividade. Como Leonor Antunes, Bruno Pacheco, Carlos Roque publicaram “Art Since 1900”. Uma obra polémica, ainda à espera de portugueses “refém” ou Jorge Queiroz. J.M. resposta. O.F. que fi zeram da colecção do estrangeiro Berardo Culturgest e Project Room, trabalho de prospecção O ciclo Project Cinema vs. arte contemporânea O fenómeno de fl uxos e interpenetra- casa e local Room no CCB (2000-2002),(200 comissariado por Jürgenürggen çõççõesese entre t eoc o cinema e aeasa e as artes plásticas não é novo;o; eexiste ste pratica- p at ca de trabalho Bock, e a CulturgestCulturg com a programação de Migueluel memmentente desde o nascimnascimentoe da imagem em movimento.mento. MasMas,, WandschneiderWandschneider trouxeram à realidade localcal aoa longo da última ddécada,é assistimos a uma qquaseuase inin-- exposiçõesexposições mememoráveis,m afi rmando uma sin-n- versãovev rsão de papépapéis,is, cocomm os cineastas a tomaremm os mu- toniatonia com outrosoutro contextos e um raro trabalhoho seusses us de assalto e os artistasa plásticos a usaremem cada de “prospec“prospecção”.ção” O público, esse, pôde conhecerer vezvez maismais estratégiasestratégias próximasp do cinema. V.R.. aass obras de artiartistass como Renné Green ou Allanan Sekula, Angela dde La Cruz ou Atlas Group. J.M.

PortoPorto “do-“do-it-yourself”it-your Perante a ausência de espa-spa- çosços no PPorto,o os artistas mobilizaram-see e criaramcria os seus próprios espaços,s, alternativosalt aos contextos insti-- tucionaltu e galerístico da cidade, ondeon durante uma década foi possívelpo fazer, organizar e ex-- perimentar.pe Eis uma da históriaa da arte portuguesa criada pelolo solidárioso e prático espírito “do-it-o-it- yourself”.y J.M.

UmU corpus para a arte em Kasselel De ccin-in- coc em cinco anos, em Kassel, AAlemanha,lemanha,

18 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon baseado na heterocronia e na liber- dernismo, em que a arte se tomou dade de explorar”, diz Bourriaud. sujeito de si mesma, “estamos de Dá o exemplo de um conceito que novo capacitados a voltar a ligar-nos criámos a partir da natureza: “O ar- à grande tradição da obra-prima na quipélago é o exemplo da relação en- procura das visões mais formidá- tre o uno e o múltiplo. É uma entidade veis”, dizia-nos há seis anos o crítico abstracta; a sua unidade deriva de e ensaísta norte-americano Arthur uma decisão [humana] sem a qual C. Danto. nada seria lido a não ser um espraiar Na mesma altura, em Paris, Jean de ilhas unidas por nenhum nome Galard deixava-nos com uma per- comum. A nossa civilização, que leva gunta: “Passámos por uma época de as marcas da explosão multicultural relativismo tal que houve uma per- e da proliferação de estratos culturais, turbação no julgamento, uma espé- parece-se com uma constelação sem cie de pânico. Uns viveram isso mui- estrutura, à espera da sua transforma- to bem, dizendo que era a liberdade, ção em arquipélago.” a diversidade das culturas, das obras, Tudo isto ao mesmo tempo que das orientações. Mas, agora, há um um conceito relegado há 40 anos contra-golpe, uma demanda por de- para os circuitos académicos mais terminadas chaves que permitam o obscuros voltava ao centro das dis- reconhecimento das obras que va- cussões estéticas mais actuais (talvez lem o olhar. E, no final de contas, como reacção a todos os nivelamen- perguntamos: não há mesmo uma tos): a obra-prima. forma de nos pormos de acordo em Ultrapassado o espectro do mo- relação a certos princípios?”

A obra de Amadeo Souza-Cardoso foi fi nalmente exposta no contexto da arte europeia dos anos 10

Amadeo em contexto Em “Amadeo de Souza-Cardoso – Diálogo de Vanguardas” (Fundação Calouste Gulbenkian, 2006), a obra do pintor português foi pela primeira vez exposta em contexto com a arte europeia dos anos 10 – graças a um trabalho de investigação extraordinário, que permitiu tirar a medida da qualidade inques- tionável de Souza-Cardoso. Luísa Soares de Oliveira

Bacon em Serralves Com um trabalho de comissariado assinado por Vicente Todolí, a grande exposição sobre os espaços claus- trofóbicos da pintura de Francis Bacon (“Caged Uncaged”, Museu de Serralves, 2003) trouxe a Portugal a obra de um grande pintor da segunda metade do século XX. L.S.O.

As imagens em movimento de João Tabarra Na Galeria Zé dos Bois, em 2006, esteve uma das exposições mais belas e inquietantes da década, para lá das referências, das citações, da fi cção, da política, do quotidiano. Amorosa e exemplarmente pensada e concebida com imagens em movimento. “G”, de João Tabarra, foi uma oferta dolorosa ao espectador. J.M.

O resistente Robert Frank Fotografi as, livros e colagens de fotogra- fi as e textos numa exposição do CCB (2001) que mostrou uma uma obra resistente, livre, sempre aberta ao rejuvenescimento das ima- gens pela experimentação, a intuição e a poesia: “Hold Still- Keep Going”, de Robert Frank. J.M.

A instalação-puzzle de Francisco Tropa O modelo da instalação “L’Orage”, de Francisco Tropa (Centro de Arte Moderna da Gul- benkian, 2003), veio de “A vida: Modo de Usar”, romance-puzzle de Georges Perec. Foi um dos momentos mais relevantes da década queq agora termina. Do mesmo artista pode ainda citar-se o projecto “Assembleia“Assembleia de EEuclides”,uclide em processo desde 2005. O.F.

DanDan Brown no mmomento certo Em 2001, numa exposiçãoexposiçã em Serralves, Dan Graham demonstroudemo as razões por quqquee o rock é uma religião. Por cá, estaese ta foi a eexposiçãox da década. Nela reuniam-se,reuniam-se sob o comissariado de MarianneMaM rianne Brouwer e Corinne Dis- erens,ere ens, ttrabalhosrab realizados entre 1965 e 2000.200 Uma mostra feita no momento certo, quando a obra do aarartistatista nonorte-americanor começou a ser rederedescoberta.s O.F.

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 19 CinemaExposições Livros Música Teatro/Dança Os livros estão na

Começamos a década com Stephen King a lançar e-books por sua conta e risco. E terminamo-la c os seus clientes descarregaram mais e-books do que compraram livros i KAI PFAFFENBACH/REUTERS

Lembram-se do ano em que Stephen pio: “If you pay, the story rolls. If you recer? Para onde vai evoluir o livro em nossa posse em versão e-book. King fez a experiência de vender don’t, the story folds” (Se pagares, a electrónico?” E foi isto que fez com que o merca- “The Plant”, romance por capítulos, história continua. Se não pagares, a Não temos ainda respostas para to- do acelerasse. Por estes dias o acesso em formato electrónico, no seu site, história fica encerrada). King explica- das as perguntas. Mas o que parecia imediato é decisivo. Embora nem to- marimbando-se para a sua editora? va que só continuaria a escrever “The uma maluquice de uns passou a fazer dos os editores concordem: algumas Foi em 2000. O escritor escrevia na Plant” se 75 por cento das pessoas que parte do nosso quotidiano. das editoras americanas estão a tentar época no seu website: “Meus amigos, estavam a descarregar os capítulos Se em 2000 alguém dissesse a Ste- lançar as suas novidades primeiro em temos a chance de nos tornarmos o pagassem. Mas só 46 por cento dos phen King que em 2009 ele iria voltar papel e só meses mais tarde em digi- pior pesadelo das grandes edito- “downloads” feitos pelos internautas a ser pioneiro ao escrever a novela tal. Arriscam-se a que a pirataria os ras”. é que foram pagos naquele que ficaria “Ur” para o lançamento do Kindle 2, ultrapasse. Ou que lhes aconteça na Uns meses antes, em Março de a ser o último capítulo disponibiliza- a segunda versão do aparelho para vida um Paulo Coelho. 2000, a sua editora Simon & Schuster do. Até hoje o romance permanece ler e-books imaginado por Jeff Bezos É que se os editores portugueses lançara o primeiro e-book para as inacabado. e que revolucionou a maneira de ace- ainda andam a ver se apanham o com- massas. “Riding the Bullet” era uma der aos livros quando foi lançado no boio da digitalização, no Brasil o autor novela escrita por King, um e-book Os escritores e a sociabilidade final de 2007, talvez se risse. É como de “O Alquimista” é o primeiro escri- que começou a ser disponibilizado de Estávamos no início da década mas se, por desígnios insondáveis, tudo tor em língua portuguesa, vivo, a ter graça em livrarias online, como a nos anos seguintes não se falou de fizesse finalmente sentido. todas as suas obras disponíveis no Kin- Amazon e a Barnes & Noble, e mais outra coisa nas feiras de Frankfurt, Aconteceu tudo tão depressa que dle. Coelho, que em 2008 colocou tarde passou a ser vendido a 2,50 dó- Londres ou na Book Expo America. agora bastam 60 segundos e um car- online à socapa vários dos seus livros lares. Só nas primeiras 24 horas foram Ano após ano, os editores e agentes tão de crédito para termos “o prazer para serem descarregados gratuita- descarregadas 400 mil cópias. Foi um interrogavam-se: “Os livreiros vão ser de receber imediatamente um livro mente (acredita que isso aumenta a sucesso. King passou a ser o “príncipe ultrapassados pelos editores que vão que se quer ler, sem ter de dar um venda dos livros em papel), foi o pri- do ‘e-publishing’”. passar a vender os seus livros nos seus passo”, como escrevia Miguel Esteves meiro a negociar directamente com a Não resistiu a dar o passo seguinte: ‘sites’ directamente aos consumido- Cardoso na crónica, no PÚBLICO, do Amazon e “receberá 37,5% do preço colocar no seu “site” “The Plant”, de res? Será que os autores vão seguir a último dia de 2009. final de venda, quase quatro vezes que se podiam descarregar novos ca- mesma via? Como é que vão funcio- Em qualquer lugar do mundo, on- mais do que um autor costuma rece- pítulos por semana, e que ele iria con- nar as bibliotecas no futuro? Vamos de funcione a rede 3G ou uma ligação ber quando um livro é vendido numa tinuar a escrever se os leitores fossem emprestar livros online? As livrarias, à Internet, podemos, no momento em livraria convencional”, escrevia a re- pagando. Era uma questão de princí- tal como as conhecemos, vão desapa- que um livro vai para as lojas, tê-lo vista “Veja”.

20 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon Livros da década a Eduardo Pitta a 1. A Torre do Desassossego Lawrence Wright (2006); 2. Hitler Ian Kershaw (2008); 3. Lisboa. História Física e Moral José- Augusto França (2008); 4. Jóia de Família Agustina Bessa Luís (Trilogia 2001-03); 5. As Benevolentes Jonathan Littell (2006); 6. Amigos até ao Fim John Le Carré (2003); 7. Carnaval no Fogo Ruy Castro (2003); 8. A Grande Guerra Pela Civilização Robert Fisk (2005); 9. Pós-Guerra as nuvens Tony Judt (2005); 10. Shalimar o Palhaço Salman Rushdie (2005); 11. Todo-o-Mundo Philip Roth (2006); 12. A Paciente Misteriosa P. D. James (2008); 13. Estado de Negação Bob Woodward (2006); 14. A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao Junot Díaz (2007); 15. Hooking Up. a com a Amazon a dizer que no dia de Natal Um Mundo Americano Tom Wolfe (2000); 16. Tempos Interessantes Eric Hobsbawm (2002); 17. Onde Está a Sabedoria? Harold Bloom (2004); s impressos. Isabel Coutinho 18. Shakespeare. A Biografi a Peter Ackroyd (2005); 19. Uma Vida Inacabada John F. Kennedy Robert Dallek (2003); 20. Brando Mas Pouco Darwin Porter (2006) e Lembram-se do ano em que Stephen King fez a experiência de vender “The Plant” em a Gustavo Rubim a 1. Fernanda Ernesto Sampaio (2000); 2. Ou o Poema formato electrónico, no seu “site”, Contínuo: Súmula Herberto Helder (2001); 3. Da Democracia na marimbando-se para a sua editora? Foi em América Alexis de Tocqueville tradução de Carlos Correia Monteiro 2000. O escritor escrevia na época no seu de Oliveira e Lívia Franco (2001); 4. Antropologia e Império: Fonseca website: “Meus amigos, temos a chance de Cardoso e a Expedição à Índia em 1895 Ricardo Roque (2001); 5. Nove nos tornarmos o pior pesadelo das grandes EMMANUEL DUNAND/AFP Noites Bernardo Carvalho (2002); 6. Século de Ouro: Antologia Crítica editoras” da Poesia Portuguesa do Século XX Osvaldo M. Silvestre e Pedro Serra (2002); 7. Odisseia Homero tradução de Frederico Lourenço (2003); 8. Vozes da Poesia Europeia (I e II) traduções de David Mourão-Ferreira revista Colóquio-Letras nº 163-164 (2003); 9. Respiração Assistida Fernando Assis Pacheco (2003); 10. A Universidade sem Condição Jacques Derrida tradução de Américo Lindeza Diogo (2003); 11. Poesia Daniel Faria (2003); 12. Poética Aristóteles nova tradução de Ana Maria Valente (2004); 13. Peças Escolhidas I Henrik Ibsen traduzidas do norueguês por Pedro Fernandes Karl Eric Schollhammer e Fátima Saadi (2006); 14. Antropologia em Portugal: Mestres Percursos Transições João Leal (2006); 15. Desmedida Luanda – São Paulo – São Francisco e Volta Ruy Duarte de Carvalho (2006); 16. Uma Grande Razão: os Poemas Maiores Mário Cesariny de Vasconcelos (2007); 17. A Faca Não Corta o Fogo - Súmula & Inédita Herberto Helder (2008); 18. Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português org. Fernando Cabral Martins (2008); 19. O Homem Livre: Mito Moral e Carácter numa Sociedade Ameríndia Filipe Verde (2009); 20. Caderno de Memórias Coloniais Isabela Figueiredo (2009)

a Helena Vasconcelos a 1. O Assassino Cego Margaret Atwood (2000); 2. Expiação Ian McEwan (2001); 3. Austerlitz W. G. Sebald (2001); 4. Ler Lolita em Teerão Azir Nafi si (2003); 5. A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao Junot Díaz (2007); 6. A Linha da Beleza Alan Hollinghurst f Scott Sigler passou 15 anos a ser rejeitado por editoras até que, em (2004); 7. O Ano do Pensamento Mágico Joan Didion (2005); 8. Elizabeth 2005, teve a ideia de lançar a primeira experiência mundial de um Costello J. M. Coetzee (2003); 9. O Mar John Banville (2005); 10. Nunca Me Podcast em que o ficheiro áudio era de um livro de ficção. Hoje Deixes Kasuo Ishiguro (2005); 11. A Vista de Castle Rock Alice Munro nenhuma editora o ignora (2006); 12. A Estrada Cormac McCarthy (2006); 13. Corpo Presente Anne Enright (2007); 14. Millennium Stieg Larson (2005 2006 2007); 15 Na Praia de Chesil Ian McEwan (2007); 16. 2666 Robert Bolaño (2004); 17. A Feiticeira de Florença Salman Rushdie (2008); 18. Os Anagramas de Varsóvia Richard Zimler (2009); 19. Wolf Hall Hillary Mantel (2009); 20. The Children’s Book A.S. Byatt (2009).

a Isabel Coutinho (por ordem cronológica) a 1. Dentes Brancos Zadie Smith (2000); 2. Correcções Jonathan Franzen (2001); 3. A Vida de Pi f O que é um livro? Um livro impresso em papel, alguma coisa que se pode Yann Martel (2001); 4. Expiação Ian McEwan (2001); 5. Middlesex Jeff rey ouvir, ou será um livro que se pode ler num aparelho como o Kindle ou o Eugenides (2002); 6. Está Tudo Iluminado Jonathan Safran Foer (2002); Sony Reader? 7. Pode um Desejo Imenso Frederico Lourenço (2002)-trilogia; 8. The Whole Story and Other Stories Ali Smith (2003); 9. O Código Da Vinci Dan Brown (2003); 10. O Estranho Caso do Cão Morto Mark Hadoon Também Rubem Fonseca e a sua Será que com esta sociabilidade papel. Mas entre ler no telemóvel e (2003); 11. Equador Miguel Sousa Tavares (2003); 12. Jerusalém Gonçalo editora, a Agir, lançaram “O Semina- toda os escritores terão tempo para não ler nada, o que é que vamos es- M. Tavares (2004); 13. O Ano do Pensamento Mágico Joan Didion rista” numa versão que pode ser lida fazer aquilo que deviam estar a fazer, colher?”, perguntava Jens Redmer, (2005); 14. Nunca me Deixes Kazuo Ishiguro (2005); 15. Millennium no Kindle e nem sequer têm o livro à ou seja, escrever? O tempo se encar- do Google Search Books, há três anos, Stieg Larsson (2005 2006 2007); 16. Longe de Manaus Francisco José venda na Amazon. É vendido através regará de mostrar o melhor cami- em Frankfurt. E tinha razão. Viegas (2005); 17. As Benevolentes Jonathan Littell (2006); 18. A Breve de um “site” dedicado ao livro man- nho. Por muito que nos custe, o concei- e Assombrosa Vida de Oscar Wao Junot Díaz (2007); 19. O apocalipse tido pela editora. Ou seja: Fonseca, to de livro mudou. O suporte ou o dos trabalhadores valter hugo mãe (2008); 20. Ofício Cantante - Poesia do alto dos seus oitenta e tal anos, dá Defi nitivamente “retro” formato passaram a ser secundários, Completa Herberto Helder (2009) lições a qualquer aprendiz de marke- Ainda somos crianças nesta realidade o conteúdo é o mais importante. Tal ting editorial, pois utilizou a sua voz que, a uma velocidade espantosa, es- como explicou, na BEA, Mike Shat- Junot Díaz, magnífica para promover o livro num tá a acontecer. E se a meio da década zkin, consultor e especialista no futu- “A Breve e Assombrosa “book trailer”. se acreditava que todos os formatos ro da edição, em brevee aceacederemosderemos Vida de Oscar Wao” Estes vídeos, que depois são repli- se iam manter porqueque até aagoragora “nun-nun aos livros atravésatravésé de múmúltiplosúúltiplosltiplos apare-apapareare- cados em blogues e “sites”, foram ca nenhum ‘media’’ matou outro”outro”,, na lhoslhos ou ecrãs;ecrãs; uma das invenções da década. Agora última Book Expo AAmericamerica (BEA), em e os llivrosivros editores utilizam várias ferramentas Maio de 2009, pairourou no ar algoalgo dife- estarão na divulgação sem investirem em pu- rente. blicidade em jornais. E como sabe- Lance Fensterman,an, director da feifei-- mos, nos anos 2000 os suplementos ra, lançou o debate:te: “O que é um lli-i- literários e os críticos literários en- vro? Um livro impressopresso em papel,papel, cartados tornaram-se espécies em alguma coisa que se podepode ouvir, ou extinção. será um livro quee se podepode ler num Outro escritor, o norte-americano aparelho como o Kindle ou o SonySony James Ellroy, também percebeu (por Reader?”. Faltou-lhehe rereferirferir o telemtelemó-ó- insistência do seu editor, é verdade) vel, o aparelho que em 2000 ninguém Jeff rey Eugenides, que tinha de estar no Facebook, a re- suspeitaria que ia tterer ppapelapel imimpor-por- Salman Rushdie, “Middlesex” Cormac McCarthy, de social que de forma fácil e gratuita tante no futuro doo livro. “Ler “Shalimar o Palhaço” permite aos escritores perceberem um livro num telemóvelmóvel não “A Estrada” melhor quem são os seus leitores. é melhor do que ler em

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 21 armazenados algures no ciberes- impresso”. Isto não se vai iniciar na fantis ou os livros que precisamos de nos blogues e de edições de autor que mos pensar e o que devíamos fazer. paço (”all in the clouds”, disse). Ler próxima década. Isto já começou. ver antes de os comprarmos (os de venderam através da Internet. Para Hoje a tecnologia permite que tome- em papel passará a ser “retro”, con- Lembrem-se de dois livros publica- arte, que valem pelas imagens ou gra- depois os editarem da maneira tradi- mos conta das nossas próprias vidas cluiu. dos nos últimos anos: “The 39 Clues” fismo) vão continuar a ter peso no cional. - quer seja através de blogues, de pod- E não é que tinha razão? Meses de- (“As 39 pistas”), série escrita por vá- mercado do livro impresso, haverá Eis o caso de Scott Sigler. Passou 15 casting, das redes sociais, do My Spa- pois, em Outubro, o grupo norte- rios autores publicada pela editora cada vez mais livros só editados em anos a ser rejeitado por editoras até ce ou do Facebook ou do YouTube. americano Google esteve na Feira de que lançou Harry Potter, e “Level 26 , e-book ou através do Print-on-De- que, em 2005, teve a ideia de lançar As pessoas estão rapidamente a adop- Frankfurt a anunciar ao mundo que de Anthony E. Zuiker, o criador e pro- mand, impressão a pedido. Com o a primeira experiência mundial de tar uma miríade de tecnologias da lá para o Verão vamos poder comprar dutor da série “CSI”. desenvolvimento de máquinas como um Podcast em que o ficheiro áudio informação que emergem da Internet um livro à Google Editions e lê-lo em “Leia o livro, jogue o jogo e ganhe a Espresso Book Machine, da On De- era de um livro de ficção. Podia ser e estão a utilizá-las para se tornarem qualquer aparelho com ligação à In- prémios” era o “slogan” da campanha mand Books – com capacidade de descarregado para um computador participantes activos na cultura”. E ternet. Os livros estarão armazenados de “marketing” da série 39 pistas que imprimir um livro de 300 páginas em ou ouvido num leitor de mp3. Conse- isto faz com que se volte ao princípio, nos servidores da Google (a tal nu- se destina a pré-adolescentes. Cada sete minutos – tudo está a mudar. E o guiu 10 mil assinantes para este livro quando em 2000 Stephen King brin- vem...) e os leitores terão acesso on- livro é acompanhado por cartas que florescimento de sites como o Lulu. que se podia ouvir por capítulos. No cava dizendo que queria tornar-se no line às obras a partir de um compu- se podem coleccionar e que são es- com, que existe desde 2006, onde segundo romance atingiu os 30 mil e maior pesadelo das editoras venden- tador, um ecrã de televisão, um leitor senciais para se saber mais sobre as qualquer pessoa pode concretizar o uma pequena editora apercebeu-se do os seus próprios conteúdos. Tere- de livros electrónicos, um telemóvel, personagens, para se entrar no web- sonho de publicar seja em que forma- do fenómeno e publicou o livro. Foi mos mais autores a publicar do que etc... site, participar num jogo e ganhar to for, também marcou a mudança. colocado à venda na Amazon.com e nunca. E todos vamos ser autores, Mike Shatzin considerou no seu prémios. Há uns anos, numa edição da feira chegou ao segundo lugar do “top” de editores e livreiros. blogue que vão existir dois mercados “Level 26” é um livro para adultos. de Frankfurt, Jens Redmer, do Google ficção. Depois do sucesso, nenhum No dia de Natal, os clientes da Ama- de e-books: um mais tradicional, das Ao fim de 20 páginas aparece um có- Search Books, avisava: “Quem usa os agente podia ignorar Scott. Foi con- zon.com descarregaram mais e-books pessoas que querem ler um livro im- digo que permite ao leitor entrar na e-books hoje é um consumidor passi- tactado por uma editora note-ameri- da loja online do que compraram li- presso em versão digital num ecrã, e página oficial do romance e ver víde- vo, mas no futuro vai passar a ser ac- cana importante e lançou “Infecção” vros impressos. Pelo que se pode vis- um outro, o dos que desejam ler o os com actores que reconhecemos tivo na criação de conteúdos. Pensem (Gailivro). lumbrar, e a acreditar nas opiniões livro mas também aceder a “links”, das séries de TV. A partir daqui nada nos primeiros ‘bloggers’. Isso vai fazer Outro exemplo: Markos Moulitsas. de Mark Coker, fundador da editora verer vídeos, ouvir ficheiros de som ficará como antes. com que os editores questionem o seu Em 2002 criou o blogue Daily Kos. de e-books Smashwords, se calhar ouu outro género ddee coisas SeSe os llivrosivros in- papelpape na indústria editorial”. E os edi- Em 2008 esteve na BEA a apresentar vamos deixar de chamar aos livros queue “realmente mu- torestores questionaram. E viraram-se pa- o seu livro: “Antigamente era espera- digitais e-books. Vamos passar a cha- demem a nossanossa ex-ex- ra o imenso mundo virtual. Andaram do que ficássemos sentados quietos mar-lhes “livros”. Ler em papel será periênciaeriência de nos últimosú anos à caça de best-sellers e deixássemos os ‘gatekeepers’ deci- definidamente “retro”, como dizia o lerr um llivroivro em vversão digital, de novos autores dir o que devíamos ver, o que devía- outro.

a José Manuel Fernandes a neun Geschichten Daniel Kehlmann (2009); 11. Middlesex Jeff rey 1.1 História de Portugal Eugenides (2002); 12. Cavalos Roubados Per Petterson (2003); 13. O Coordenação de Rui Ramos Peso dos Números Simon Ings (2006); 14. Os Soldados de Salamina (2009); 2. O Futuro da Javier Cercas (2001); 15. O Acto de Amor do Povo James Meek (2005); Liberdade Fareed Zakaria 16. A Vida de Pi Yann Martel (2001); 17. Expiação Ian McEwan (2001); (2003); 3. Glória: biografi a 18. Istambul Orhan Pamuk (2002); 19. O Teu Rosto Amanhã – 1. Febre de J. C. Vieira de Castro e Lança Javier Marias (2002); 20. Trilogia Millennium Stieg Larsson Vasco Pulido Valente (2001); (2005 2006 2007) 4.4 Portugal Hoje: O Medo ded Existir José Gil (2004); a Maria da Conceição Caleiro a 1. Migrações do Fogo Manuel Gusmão 5. Impasses - seguido de (2004); 2. Alta noite em alta fraga Joaquim Manuel Magalhães (2001); 3. coisascoi vistas e coisas ouvidas A Faca Não Corta o Fogo - Súmula & Inédita Herberto Helder (2008); FerFernandon Gil e Paulo Tunhas 4. O Livro do Meio Maria Velho da Costa e Armando Silva Carvalho ((2004);2004 6. Colapso Jared Diamond (2006); 5. Caderno de Memórias Coloniais Isabel de Figueiredo (2009); (2005); 7. Álvaro Cunhal Uma 6. Jerusalém Gonçalo M. Tavares (2004); 7. Amigo e Amiga - Curso de BiografiBiografi a Política vol. II – Duarte o Silêncio de 2004 Maria Gabriela Llansol (2006) 8. O Apocalipse dos Dirigente ClandestinoC José Pacheco Trabalhadores valter hugo mãe (2008); 9. Campo de Sangue Dulce Pereira ((2001);2001); 8. A Conspiração contra a Maria Cardoso (2002); 10. O homem Lento J. M. Coetzee (2005); 11. O AméricaAmérica Philip RRotho (2004); 9. O Ocidentalismo: Homem em Queda Don DeLillo (2007); 12. As Benevolentes Jonathan Uma Breve HistóriaHistória ded Aversão ao Ocidente Ian Littell (2006); 13. A Estrada Cormac McCarthy (2006); 14. 2666 Roberto Buruma e Avishai Margalit (2004); 10. A Queda de Berlim Bolaño (2004); 15. Terraço em Roma Pascal Quignard (2000); 16. Luiz Antony Beevor (2002); 11. Suite Francesa Irène Némirovsky (2004); 12. A Pacheco: 1 Homem Dividido Vale Por 2 concepção e org. Luís Gomes Queda de Roma e o Fim da Civilização Bryan Ward-Perkins (2005); 13. (2009); 17. Literatura defesa do atrito Silvina Rodrigues Lopes (2003); 18. Pós-Guerra Tony Judt (2005); 14. O Jovem Estaline Simon Sebag (2008); Amor Líquido Zygmunt Bauman (2003); 19. L’Animal Que Donc Je Suis 15. Finest Years: Churchill as Warlord Max Hastings (2009); 16. César: Jacques Derrida (2006) 20. A Audácia da Esperança Barack Obama A Vida de um Colosso Adrian Golsworthy (2006); 17. O Sentimento de Si (2006) António Damásio (2001); 18. A Vingança de Gaia: Porque está a Terra a Retaliar James Lovelock (2006); 19. 1948: A History of the First Arab- a Pedro Mexia (por ordem cronológica estrangeiros e portugueses) a 1. Israeli Ben Morris (2008); 20. O Código Da Vinci Dan Brown (2003) Ravelstein Saul Bellow (2000); 2. A Mancha Humana Philip Roth (2000); 3. Austerlitz WG Sebald (2001); 4. Expiação Ian McEwan (2001); 5. The a José Riço Direitinho a 1. 2666 Roberto Bolaño (2004); 2. Austerlitz Coast of Utopia Tom Stoppard (2002); 6. Istambul – Memórias de uma W. G. Sebald (2001); 3. A Estrada Cormac McCarthy (2006); 4. As Cidade Orhan Pamuk (2003); 7. 2666 Roberto Bolaño (2004); 8. A Estrada Espantosas Aventuras de Kavalier & Clay Michael Chabon (2000); Cormac McCarthy (2006); 9. District and Circle Seamus Heaney (2006); 5. Está Tudo Iluminado Jonathan Safran Foer (2002); 6. Atlas das 10. As Benevolentes Jonathan Littell (2006); 11. Lillias Fraser Hélia Nuvens David Mitchell (2004); 7. Correcções Jonathan Franzen (2001); Correia (2001); 12. Poesia Daniel Faria (2003); 13. Jerusalém Gonçalo M. 8. As Benevolentes Jonathan Littell (2006); 9. A Heartbreaking Work Tavares (2004); 14. A Ronda da Noite Agustina Bessa-Luís (2006); 15. of Staggering Genius Dave Eggers (2000); 10. Ruhm. Ein Roman in Ofício Cantante - Poesia Completa Herberto Helder (2009)

Ian McEwan, Herberto Helder, “Expiação” “Ofício Cantante - Poesia Completa”; “Ou o Poema Contínuo: Súmula” e “A Faca Não Corta o Fogo - Súmula & Inédita”

Yann Martel, Jonathan Littell, “A Vida de Pi” “As Benevolentes”

Irène Némirovsky, “Suite Francesa”

22 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon "O poder s— desgasta aqueles que n‹o o tm." Giulio Andreotti

L NêVE ÒAO R ELHO DO M SE ORSE DE SC Ó POLA E COP mes NY Ti Il Divo. Um filme envolvente e provocador sobre a vida e o poder de Giulio Andreotti.

Em ÒIl DivoÓ, o reconhecido realizador Paolo Sorrentino oferece-nos um retrato da vida atribulada, e de certa forma espectacular, do pol’tico italiano Giulio Andreotti. Uma viagem aos seus tempos de poder, ˆs suas enigm‡ticas liga›es ˆ m‡fia e ˆ forma como sempre conseguiu sair intoc‡vel das suas batalhas pol’ticas e dos mœltiplos processos judiciais. Uma vis‹o sat’rica mas comprometida, surrealista mas, ao mesmo tempo, profunda. Um filme sobre poder. A n‹o perder.

Quinta-feira dia 14 de Janeiro, o DVD inŽdito e exclusivo ÒIl DivoÓ por mais Û12,50, com o Pœblico. Edi‹o limitada ao stock existente. CinemaExposições Livros Música Teatro/Dança LUÍS RAMOS/ARQUIVO LUÍS

g Ao mesmo “Não há distinções rígidas entre o que nard Shaw, em 1925). O discurso de ra final de 2011, pela Orfeu Negro), os Romeo Castelluci, Rodrigo García, tempo que se é real e o que não o é, nem entre o Pinter versou, depois, sobre a invasão anos 00 começaram como reacção a Pippo Delbono, Árpád Schilling, Alvis construíam que é verdadeiro e falso. Uma coisa do Iraque, numa violenta resposta à uma tentativa de integração dos dis- Hermanis, Emma Dante, René Polles- dezenas de novas não é necessariamente verdadeira ou Administração Bush. Mas as suas pa- cursos “in-yer-face” preconizados ch, entre outros), rompiam com a salas e o falsa; pode ser, ao mesmo tempo, ver- lavras, em 2005 como 44 anos antes pela geração inglesa do “Young British fronteira utópica do teatro militante objectivo-lua de dadeira e falsa”. A frase, escrita em e mesmo agora, no fim da década, Drama” (Mark Ravenhill, Sarah Kane, e documental para ir ao encontro do uma rede 1958 por Harold Pinter, serviu de epí- servem bem de mote para uma aná- entre outros) e da vaga alemã “esper- que, e de quem, ficava às portas dos nacional de grafe ao discurso que o dramaturgo lise sobre as fronteiras que limitaram, ma e sangue”, associada a nomes co- teatros engalanados. cineteatros se britânico fez perante a Academia Sue- bem para lá dos palcos, as artes per- mo Marius von Mayerburg ou Dea Na viragem do milénio, as artes de mostrava cada ca quando, em 2005, recebeu o Pré- formativas. Loher. Era, para uns, a chegada ao palco resolviam expor as feridas acu- vez mais mio Nobel da Literatura, tornando-se, Abertos pela incisiva análise de poder e, para outros, uma marcação muladas por anos de reorganização realizável, em 106 anos, o quinto dramaturgo a Hans-Thies Lehmann no ensaio “Te- de território a partir de discursos que social, agora pela mão de uma gera- desapareciam merecê-lo (depois de Dario Fo, em atro Pós-Dramático”, editado em 1999 revolviam os cânones dramatúrgicos ção com a responsabilidade de per- projectos 1997, Samuel Beckett, em 1969, Luigi na Alemanha e cinco anos depois em e que, aliando às palavras um dispo- petuar um legado que só era artístico pensados e Pirandello, em 1934, e George Ber- Inglaterra (em Portugal aponta-se pa- sitivo cénico (Thomas Ostermeier, porque era político. Enquanto edifício criados por artistas, como A Capital, dos Artistas Unidos, fechada em 2002 por ordem da Câmara Municipal de Lisboa As artes perfor à porta dos t

Em dez anos, as artes performativas tiveram, a seu favor e contra elas, o que se passou f construiu numa década em que, apesar de tudo, o sector se organizou - pelo m

24 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon e disciplina, o teatro tinha perdido o político e o económico. naquele palco morreu-se como na zantes sobre as comunidades, bem (mas sem grande resultado prático) seu lugar de catalisador dos discursos Quando, em 2002, um grupo de vida real, por ordem de Putin, que como com a sua integração artística, acerca da responsabilidade social pe- sociais, com as novas tecnologias e a separatistas tchetchenos invadiu o quis, literalmente, que o espectáculo uma consequência directa dos estu- rante estes profissionais. Com os prin- indiferenciação disciplinar a tomarem teatro Dubrovka, em Moscovo, duran- continuasse. Defendia-se assim, disse, dos pós-coloniais que levaram a um cipais festivais do país anulados, afec- entretanto conta de uma função an- te a representação de uma peça de a memória dos heróis que o teatro (falso) reconhecimento de territórios tando não apenas o investimento das tiga: reflectir sobre a sociedade. incidência nacionalista, pode defen- sempre procurou inscrever. anteriormente marginalizados e/ou organizações, mas também as rela- der-se que o fizeram porque conside- A metáfora, “a pior invenção da colonizados (era também de novas ções entre os festivais e os patrocina- Mais e menos metáfora raram ser aquela a melhor forma de humanidade”, como escreveu Ortega colónias que Pinter falava no seu dis- dores, a crise teve também efeitos na Isso mesmo se confirmou na crise de alertar para o perigo da reescrita his- y Gasset, sofreu, nesta década, a mais curso). circulação de artistas internacionais 2005 quando, em França, pelo Festi- tórica que o teatro instrumentalizado violenta das respostas, num área que A apresentação de uma família sikh que vivem do circuito francês. val d’Avignon adentro irromperam pelo poder procurava impor. O públi- sempre procurou ampliá-la, usá-la a disfuncional punha em causa uma A precaridade dos profissionais foi protestos do público contra a crítica co, composto na sua maioria pela al- seu favor, torná-la seu cavalo de ba- politicamente correcta opção gover- uma das principais linhas de comba- que depressa legitimara discursos no ta sociedade russa (Tarantino anyo- talha, muitas vezes de Tróia. namental por um sistema de quotas te de um sector que, apesar de ter teatro e na dança sem conseguir en- ne?), demorou a reconhecer nas ar- O espectáculo voltou a continuar temáticas e estilísticas com reflexo visto reconhecido o seu contributo quadrá-los completamente, da crítica mas, granadas e mascaras de gás em Dezembro de 2004, quando par- nos apoios financeiros. Apoios esses para o PIB da União Europeia (2,6%, contra os artistas por não consegui- outra coisa que não adereços. Os es- te da comunidade indiana sikh resi- que, sendo de monta, como em In- mais do que a indústria química e do rem ultrapassar o gozo na exploração pectadores aplaudiram o realismo da dente em Birmingham se manifestou glaterra, viriam a ser desviados para plástico, por exemplo – dados de da violência e da sujidade cénicas, de peça quando as primeiras balas se violentamente contra “Behzti”, a se- a concretização de outros projectos. 2003), ficou à porta da justiça social. uma crítica contra outra crítica, dis- provaram verdadeiras. Tinham pas- gunda peça de Gurpreet Kaur Bhatti, A 1 de Fevereiro de 2008, o Governo O impacto da greve foi de tal ordem cutindo ética, valores, princípios, sado mais de 15 minutos desde a in- forçando a autora a um exílio físico e britânico anuncia que os Jogos Olím- que o Festival d’Avignon, criado em cumplicidades e gostos, dos artistas vasão do palco e aqueles pretensos intelectual em tudo contrário ao es- picos de 2012 teriam um investimen- 1947, foi cancelado; tinha acontecido contra todos por não aceitarem as figurantes, de metralhadoras em ris- forço de integração que a própria co- to de 1,3 milhões de libras vindos do apenas uma vez, em 1968. regras do contrato “carta branca” que te, tiveram ainda tempo de gritar por munidade procurava. O caso tem Arts Council, paradigma europeu do se estabelece entre quem compra o um teatro verdadeiro. A história es- particular relevância quando uma das apoio à criação artística no campo do Construção, destruição bilhete e quem faz o espectáculo, do crevia-se através de uma dramaturgia linhas que nesta década atravessou teatro e da dança. Em Portugal, o reconhecimento do público contra os programadores acu- improvisada, e o público, ainda que os palcos, e os seus discursos, foi a da A greve dos intermitentes do espec- sector começou a ser feito apenas a sados de imporem gostos, dos pro- desconfiado, tomava partido. Mas, ao preocupação com o outro, numa tra- táculo em França, no Verão de 2003, partir de 2001, com o primeiro pro- gramadores contra o público por se contrário dos heróis bidimensionais, dução criativa dos discursos globali- lançou a Europa na discussão oficial grama de apoio a projectos de ini-

e Harold Pinter, Nobel da Literatura em 2005, foi o quinto dramaturgo em 105 anos a receber o prémio. O seu discurso perante a Academia Sueca - “Uma coisa (...) HENRIK MONTGOMERY

pode ser, ao mesmo tempo, CHANNEL RUSSIAN RTR verdadeira e falsa” - serve bem de mote para uma análise sobre as fronteiras que limitaram as artes performativas nesta década

ter esquecido de ser exigentes, de to- dos contra todos em nome de uma área cujo poder nunca ninguém quis, e bem, saber onde acabava. Não será por isso surpreendente verificar que, numa década em que a questão da comunidade esteve tão presente (a abertura a Leste e o novo mapa geopolítico alargado ao Médio Oriente e a África, por exemplo, trou- xeram novas formas de pensar o te- g Quando, em 2002, um grupo de separatistas tchetchenos invadiu o teatro Dubrovka, atro e, muito em particular, a dança em Moscovo, os espectadores aplaudiram o realismo da peça. Tinham passado mais de na sua relação simbolista e metafó- 15 minutos e aqueles pretensos figurantes, de metralhadoras em riste, tiveram ainda rica com o corpo), os que fizeram tempo de gritar por um teatro verdadeiro. Mas naquele palco morreu-se como na vida regressar as artes performativas a real, por ordem de Putin, que quis, literalmente, que o espectáculo continuasse essa função eminentemente social, responsabilizando-a por um papel menos metafórico e mais interventi- vo, se tenham tornado exemplos não apenas do campo estritamente cul- tural (ou da criação e do seu discur- so), mas também de campos como o rmativas teatros

u fora dos palcos. Destruiu-se tanto ou mais do que se o menos em Portugal. Tiago Bartolomeu Costa

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 25 e No fim de 2006, o auto- sequestro de alguns criadores

no Rivoli, em MANUEL ROBERTO protesto contra a sua anunciada a concessão a La Féria, foi o último acto de verdadeira afirmação do lugar que um teatro pode ter na memória colectiva de uma cidade

ciativa não governamental nas das circa 1974 iam competir áreas da dança, do teatro e da músi- com os seus primeiros e se- ca para períodos de quatro, dois e gundos descendentes direc- um anos. A medida encontra um ter- tos. É nessa altura que com- reno em que a dança contemporânea panhias acabadas de surgir era uma realidade recente (existe ou que tinham, até então, si-- oficialmente em Portugal desde 1989 do apoiadas pontualmentee com a criação da Bienal Universitária (Teatro Praga, Mónica Calle/e/ de Coimbra, feita para a selecção dos Casa Conveniente, Clara Ander-der- coreógrafos que representariam Por- matt ou Bomba Suicida), come-me- tugal na Europália, em Bruxelas) e çam a construir um percurso mais em que, no teatro, companhias cria- sólido a nível financeiro que,, natu-

“Otelas”, do lituano Eimuntas Nekrosius, A extinção do Ballet Gulbenkian, um choque ao fi m Comédias do Minho, um caso exemplar de trabalho um dos maiores triunfos internacionais do TNSJ de 40 anos de actividade com a comunidade RUI GAUDÊNCIO RUI PAULO PIMENTA PAULO JORGE MIGUEL GONÇALVES/N FACTOS GONÇALVES/N MIGUEL JORGE

A década em dez “fl ashbacks” Fim do Ballet Gulbenkian Em Julho de 2005, o anúncio da extinção Um novo perfi l de programação A saída de António Pinto Ribeiro e a do Ballet Gulbenkian deixou mais do que a comunidade artística em entrada de Miguel Lobo Antunes na Culturgest cria um outro para- Novos choque. Acompanhando um ciclo internacional de morte natural de digma de programação - sobretudo no teatro, com Francisco Frazão criadores, grandes companhias, não se traduziu nem na melhoria de condições - e marca a chegada de uma geração que inclui nomes como Paulo novos pro da única companhia de âmbito nacional, a Companhia Nacional de Vasques (Circular) e Marta Furtado (ZDB/Negócio) e que vem juntar- gramadores Bailado, nem num efectivo programa complementar de apoio à dança. se a outra, anterior (Paulo Ribeiro, Rui Horta, Cristina Grande e Pe- (da dro Rocha, Nuno Cardoso, Mark Deputter, e até Diogo Infante), que esquerda Encerramento do Rivoli Encabeçado da primeira à última hora por assume um entendimento plural e complementar das artes perfor- para a Isabel Alves Costa, o Rivoli funcionou como modelo de um teatro mativas. direita): Nuno que, sendo municipal na tutela, era nacional na ambição. O prece- Cardoso, Mark dente aberto por Rui Rio com o encerramento de um serviço público Novos nomes, valores… e prémios Muito porque o mapa e a fi lo- Deputter, José em nome da rentabilidade legitimou outras câmaras e marcou a de- sofi a dos espaços se modifi caram, e também porque o quadro de Maria Vieira sistência de um prprograma plural para uma cidade com a respon- atribuição de apoios públicos se alargou, a década permitiu o surg- Mendes, sabsabilidadei do Porto. imento de nomes nos mais diversos domínios, alguns dos quais Pedro Penim, acabaram premiados: Teatro Praga, Patrícia Portela, Tiago Guedes, Miguel Lobo CriseCr no Teatro Nacional D. Maria II Na década Tânia Carvalho, Cláudia Dias, Circolando, Mala Voadora, Sónia Bap- Antunes, eemm que os teatros nacionais passaram a em- tista, Tiago Rodrigues, José Maria Vieira Mendes, André Mesquita,uita, Rui Horta ppresasr públicas, para alívio orçamental do Primeiros Sintomas e Miguel Pereira. MMinistério da Cultura, assistiu-se à tumultu- ososa substituição, na direcção do D. Maria II, de A Capital, presente adiado Ao longo da década, o projecto Artistasstas AnAntónio Lagarto por Carlos Fragateiro. A nova Unidos, dirigido por Jorge Silva Melo, foi uma batalha que teve comoomo diddirecçãorecção foifoi concontestadatestada ccom mani- objectivo principal a recuperação do edifício A Capital, no Bairroairro ffestaçõesestações à porta e o Alto, fechado por ordem da Câmara Municipal de Lisboa em 2002.002. mandmandatoa de três Desde então, o que aquele edifício entaipado representa é tambémbém aanosnos não che- o diálogo de surdos entre os criadores e os decisores politicosos e ggouou aoa fi m, com económicos. a direcçãodire a ser disdispensada,pe por Descentralização Falar de descentralização signifi ca, hoje, falarr despdespacho,a de- em novos centros, com casos exemplares como o Espaço do Tem-- ppoisoi de acusa- po (Montemor-o-Novo), o Teatro Viriato (Viseu), o Devir/Capa da de gestão (Faro), o Festival Materiais Diversos (Minde), e as Comédias do ddanosa. Minho. Companhias houve ainda que saíram das suas casas,

26 • Ípsilonon • SSeSexta-feiraextaxxtttaa-fe--fffeeirrraa 8 JaJanJJaneiroaanneeiiroo2 220100010101010 ralmente, terá consequências a nível tos criados e pensados por artistas. e viram as verbas congeladas por de- artístico. Muitas delas beneficiarão A Capital, o Espaço Ginjal, o CENTA cisão de José Sasportes, um dos sete da criação de uma outra frente de e o Teatro Camões, entre outros, co- ministros da Cultura que tivemos em

apoio, para os projectos Trans e Plu- meçaram e deixaram de existir no FRANCOIS MORI dez anos), e uma providência cautelar ridisciplinares. O Ministério da Cul- espaço de uma década; criadores da Panmixia, em 2005, que paralisou tura reconhecia então a existência houve (como Vera Mantero) que co- toda o tecido teatral da região Norte, de projectos híbridos ou complemen- meçaram a ter mais financiamento por não existirem mecanismos de sal- tares, para lá das fronteiras clássicas, no exterior, outros ainda (como João vaguarda dos apoios atribuídos aos acompanhando uma alteração de Fiadeiro) deixaram de dançar para projectos concorrentes. valores artísticos a nível europeu. se dedicarem à investigação sem que Foi para esta ideia de contamina- Foi, por isso, e ao longo de dez alguma vez os programas de apoios ção, de acção com consequência, e anos, um sector em aprendizagem e previssem, convenientemente, essa da necessária avaliação (e validação) teste, optando o poder central por área. do impacto que isso produz no futu- políticas de “hardware”, nomeada- Se em França o regime de intermi- ro que Harold Pinter chamou a aten- mente a errática e ambiciosa rede de tência levou à paralisação do sector ção no discurso de aceitação do No- cineteatros, iniciada no fim da déca- cultural, em Portugal um projecto-lei bel da Literatura. “Acredito”, conti- da anterior, e entretanto contrariada sobre a intermitência, ainda que pe- nuava ele, “que estas asserções ainda pelo processo Rivoli, ou pelos mega- cando por falta de coragem política, fazem sentido e devem ser aplicadas eventos centralizadores (Faro 2005 foi aprovado a 30 de Novembro de na exploração da realidade através - Capital Nacional da Cultura fica 2007 pelo Partido Socialista, não me- da arte”. Então como agora, no ba- marcado por um protesto de diversos recendo mais do que protestos for- lanço de uma década que assistiu ao coreógrafos contra uma Plataforma mais da parte dos profissionais, com g A greve dos intermitentes do espectáculo em França, no Verão de 2003, desenvolvimento de um sector que de Dança Internacional sem condi- uma discussão tépida, em tudo con- obrigou à suspensão dos principais festivais do país; as ondas de choque da continua a precisar de entender que ções logísticas). A ideia de geração trastante com as manifestações por crise afectaram a circulação de artistas internacionais dependentes do a defesa da arte pela arte só existe que podia tomar o pulso da socieda- causa de atribuição de verbas, recor- circuito francês porque existem, à volta, atrás e ao de através da criação teve contra si, rentes nos vários concursos de apoio. lado, políticas claras para a sua pro- pelo menos em Portugal, a efectiva- Ficam para a memória, e para refle- tecção, o que ficar não pode ser ape- ção de políticas complementares. xão, a discussão entre “o grupo dos nas arquivo. Deve ser o alerta mais Ao mesmo tempo que se constru- 31 e os outros” (formado pelas estru- vivo para o futuro que se prepara a íam os teatros, desapareciam projec- turas que em 2001 receberam apoio cada representação.

ho Vigília de protesto contra o afastamento de António Lagarto do D. Maria II NUNO FERREIRA SANTOS

com destaque para o Teatro Meridional, que criou “Por Detrás dos Montes” com o Teatro Municipal de Bragança, e para a residência do Teatro da Garagem no mesmo interior profundo.

Internacionalização A presença regular de espectáculos interna- cionais teve nesta década um peso signifi cativo. É hoje comum ver o nome de instituições nacionais nas listas de co-produções. Caso par- ticular: o Teatro Nacional S. João que, em 2004, aderiu à União dos Te- atros da Europa. O esforço levado a cabo por Ricardo Pais e José Luís Ferreira teve os seus pontos altos nos festivais PoNTI e Portogofone.

Formação Não só o Centro de Estudos de Teatro, da Faculdade de Le- tras de Lisboa, conseguiu encontrar condições para avançar para um programa completo de formação que inclui agora mestrados e ddoutoramentosoutoramen em Estudos de Teatro, como a Escola Superior de Dança e a Escola Superior de Teatro e Cinema passaram a ooferecerferecer licenciaturasli e mestrados. Formaram-se ainda alu- nnosos em EEstudos Artísticos em Coimbra e Évora, alargando aassimssim o lequele de possibilidades.

RIP IsabelIsabel Alves Costa, Mário Barradas, Raúl Solnado, Dali- llaa Rocha,Ro Paula Castro, Morais e Castro, Augusto Boal, PiPina Bausch, Merce Cunningham, Harold Pinter, MMaurice Béjart, Henrique Viana, Paulo Autran, Al- eexandre Babo, Canto e Castro, Isabel de Castro, Ca- machom Costa, Glicínia Quartin, Carlos Porto, Manu- eel João Gomes, Mónica Lapa, Jorge Vasques, Paulo Claro…

*Tiago Bartolomeu Costa a partir de uma selecção de te- mas feita com Jorge Louraço Figueira, Luísa Roubaud, Rita Martins e Rui Pina Coelho

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 27 Acompanhando o “tour de Alexandre é o primeiro force” de Eunice Muñoz a entrar sozinho em em “O Ano do Pensamento cena; seguem-se, até 7 Mágico”, em cena desde de Fevereiro, João Reis ontem no Teatro Nacional (“A Febre”, de Wallace S. João, o Teatro Carlos Shawn), Flávia Gusmão Alberto recebe a partir (“Amor”, de André de hoje um ciclo de solos Sant’Anna), Ana Bustorff Ciclo que começa com este (“Concerto à la Carte”, de “Dois Homens”, de José Franz Xavier Kroetz) e Maria Vieira Mendes. Ivo Olga Roriz (“Electra”).

Depois da temporada no D. Maria II, “O Ano do Pensamento Mágico” muda-se para o Porto

anteontem. E mais ainda por Ler é luta termos visto este mesmo texto Agenda montado no inicio do ano passado por Gonçalo Amorim, depois de 32 Teatro 108. Até 17/01. Sáb. e Dom. às 16h. Tel.: 222003595. de classes anos sem ser encenado em 5€ a 7,5€. Portugal. Estreiam Eu Sou a Minha Própria Mulher “A Mãe”, de Bertolt Brecht, O director da Companhia de De Doug Wright. Pela Seiva Trupe. é um clássico que sobre a Teatro de Almada sempre quis A Cidade Encenação de João Mota. Com Júlio trabalhar “A Mãe”, mas só agora Cardoso. crise económica: greves, Porto. Teatro do Campo Alegre. R. das Estrelas s/n. conseguiu reunir os ingredientes Até 14/02. 4ª a Sáb. às 21h45. Dom. às 16h. Tel.: desemprego, redução para a montagem integral da peça: 226063000. um espectáculo de três horas, com salarial. Tempos modernos. Cratera 18 actores e uma orquestra ao vivo, Cláudia Silva De valter hugo mãe. Pelo Teatro dirigida pelo maestro Fernando Bruto. Encenação de Ana Luena. A Mãe Fontes, a tocar os originais de Com Carlos António, Pedro De Bertolt Brecht. Pelo Teatro Hanns Eisler. Para Benite, a Mendonça, Sílvia Silva. Porto. Fundação Escultor José Rodrigues. Rua da Municipal de Almada. Encenação de fidelidade ao texto e às didascálias é um traço do teatro ocidental que De Aristófanes. Pelo Teatro da Fábrica Social. Até 23/01. 4ª a Sáb. às 22h00. Tel.: Joaquim Benite. Com André 220109020. 7€. Cornucópia. Encenação de Luis Albuquerque, Carlos Gonçalves, não se deve perder. O encenador não é uma vedeta nem um criador, Miguel Cintra. Com Márcia Breia, Cão Que Morre Não Ladra Daniel Fialho, Teresa Gafeira, Teresa Rita Durão, Nuno Lopes, Maria Pela Companhia do Chapitô. Mónica, entre outros. mas antes um “equivalente ao maestro, que apresenta o texto na Rueff, Bruno Nogueira, Gonçalo Encenação de John Mowat. Com Almada. Teatro Municipal de Almada. Av. Professor Waddington. Jorge Cruz, Marta Cerqueira, Tiago sua atmosfera”. Também foi pelo Egas Moniz. Até 31/01. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Antº Maria Viegas. Teatro 16h. Tel.: 212739360. 6€ a 13€. desejo de mostrar a peça na sua Cardoso, 38-58. De 14/01 a 14/02. 4ª a Sáb. às 21h. Lisboa. Chapitô. R. Costa do Castelo, 1/7. Até 21/02. mais perfeita integralidade que Dom. às 16h. Tel.: 213257650. 12€ a 25€. 5ª a Dom. às 22h. Tel.: 218855550. 7,5€ a 10€. Há um certo simbolismo cronológico Benite foi rigoroso na escolha da Maria Mata-os Hannah e Martin inerente à encenação, hoje, de “A tradução. Depois de ler a versão de De Miguel Castro Caldas. Pelos De Kate Fodor. Pelo Teatro Aberto. Mãe”, de Bertolt Brecht. O Yvette Centeno e Teresa Balté sentiu Primeiros Sintomas. Encenação de Encenação de João Lourenço. Com dramaturgo alemão escreveu-a com que tinha a qualidade literária para Bruno Bravo e Gonçalo Amorim. Ana Padrão, Cátia Ribeiro, Cristóvão base no romance homónimo do enfim trabalhar “A Mãe”. O teatro Com Anabela Brígida, Bruno Bravo, Campos, Rui Mendes, entre outros. escritor russo Máximo Gorki (1868- brechtiano é dialéctico e cheio de Bruno Simões, Catarina Lisboa. Teatro Aberto - Sala Vermelha. Pç. Espanha. Até 31/12. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. contradições, com construções Mascarenhas, entre outros. 1936) mas, enquanto Gorki situou a Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Tel.: 213880089. 7,5€ a 15€. história em 1905, focando a ambivalentes. Por isso, “a tradução Miguel Contreiras, 52. De 12/01 a 20/01. 2ª a Sáb. às Revolução Russa desse ano, Brecht deve ser muito cuidadosa”. 21h30. Tel.: 218438801. 5€ a 12€. D. Quixote (de Coimbra) acrescentou cenas novas e estendeu Há quem diga que em Portugal A partir de Miguel Cervantes. Pelo No Rasto de Miguel Torga Teatrão. Encenação de Isabel a trama até 1917, criando uma tem havido um regresso subtil aos A partir de Miguel Torga. Pelo Urze Craveiro. Com Inês Mourão, João alegoria à sociedade alemã, textos de Brecht. É um fenómeno Teatro. Encenação de Pompeu José. Castro Gomes, Luís Carlos Eiras e massacrada por uma crise europeu, contrapõe Benite. “A Mãe” Com Fábio Timor, Glória de Sousa, Margarida Sousa. económica. O contexto é de redução mantém “uma grande actualidade, Isabel Feliciano, Rui Félix. Coimbra. Oficina Municipal do Teatro. Rua Pedro salarial, greves e luta de classes. Mas mas há muita gente que a considera Vila Real. Teatro de Vila Real. Alameda de Grasse. Nunes. Até 16/01. Sáb. e Dom. às 21h30. Tel.: De 13/01 a 14/01. 5ª às 10h30 e 15h. 6ª às 22h. Tel.: 239714013. 4€ a 10€. a peça só foi estreada no inicio da propaganda comunista”. 259320000. década de 30, período que dividiu as Evidentemente, continua, “traduz o águas entre a quebra da Bolsa de pensamento marxista e fala do Continuam Dança Nova Iorque, em 1929, e a comunismo como um ideal”. Mas o recuperação económica mundial. que está em causa é o processo de Tragédia A partir de Eurípides e Jean-Paul Estreiam Entretanto, vemo-nos em 2010, aprendizagem que resulta da prática Sartre. Pela Casa Conveniente. no inicio de uma nova década social. A mãe, viúva e mãe de um Veralipsi Encenação de Ana Ribeiro. Com De Sofia Silva. Com Joana Ratão, economicamente ressacada, muito operário, aprende a ler depois de Maria do Carmo, Mónica Calle, Rita Três horas, 18 actores, Patrícia Cabral. próxima do espaço-tempo de “A distribuir panfletos da greve para Só, Teresa Sobral, Vítor D’Andrade. uma orquestra ao vivo: é esta Lisboa. Instituto Franco-Português. Av. Luís Bívar, Mãe”. Por isso é tão significativo ver ajudar o filho. É na mudança de Lisboa. Teatro da Trindade. Largo da Trindade, 7a. 91. De 14/01 a 16/01. 5ª a Sáb. às 21h30. Tel.: a escala de “A Mãe”, a nova esta encenação de Joaquim Benite consciência que reside o acto Até 31/01. 4ª a Sáb. às 21h45. Dom. às 17h30. Tel.: 213111400. 5€. 213420000. 5€ a 8€. produção da Companhia abrir a programação de 2010 do revolucionário, como diz Vlassova: de Teatro de Almada Teatro Municipal de Almada, desde “Ler é luta de classes”. O Ano do Pensamento Mágico Continuam De Joan Didion. Pelo Teatro Nacional Dona Maria II. Encenação de Diogo Inferno Infante. Com Eunice Muñoz. Porto. Teatro Nacional S. João. Praça da Batalha. Até 31/01. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 223401900. 3,5€ a 15€. Dois Homens De José Maria Vieira Mendes. Pelo Teatro Municipal de Almada. Encenação de Carlos Pimenta. Com Ivo Alexandre. Porto. Teatro Carlos Alberto. Rua das Oliveiras, 43. De 8/01 a 10/01. 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 223401900. 5€ a 15€. De Olga Roriz. Com Catarina A Febre Câmara, Adriana Queiróz, Rafaela De Wallace Shawn. Pelo Teatro Salvador, Bruno Alexandre, Pedro Oficina. Encenação de Marcos Santiago Cal. Barbosa. Com João Reis. Faro. Teatro Municipal de Faro. Horta das Figuras Porto. Teatro Carlos Alberto. Rua das Oliveiras, 43. - EN125. 09/01. Sáb. às 21h30. Tel.: 289888100. 10€ De 14/01 a 17/01. 5ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. a 12€ Tel.: 223401900. 5€ a 15€. Talvez Ela Pudesse Dançar João Sem Medo Primeiro e Pensar Depois + A partir de José Gomes Ferreira. Olympia Encenação de Ricardo Alves. Com De e com Vera Mantero. Sara Costa, Sara Pereira, Teresa Portimão. Teatro Municipal de Portimão. Alpendurada. Largo 1.º de Dezembro. 09/01. Sáb. às 21h30. Porto. Teatro Sá da Bandeira. R. Sá da Bandeira, Tel.: 282402475.

28 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Ricardo Rocha deixa inscrita a sua marca na história da guitarra

Pop perfeição com aquele que o “Contra”, os Vampire antecedeu. Menos exuberante e Weekend temtemperamperam a euforia menos festivo, mas imediatamente com contenção, contrapõem Inteligente reconhecível, é um inteligente passo sintetizadores borbulhantes às em frente. guitarras luxuriantes e, sendo aquilo questão de afirmar que não é nem Recordemos os Strokes, outros que nos levou a celebrá-los, poderia ser seguidor de Carlos passo célebres nova-iorquinos desta mostram que também podem ser Paredes porque Paredes iniciou e década. Depois do terramoto algo mais.. fechou uma linguagem (a sua, em frente provocado por “Is This It?”, inimitável). Digamos então que gravaram “Room on fire” e Ricardo Rocha, depois de Sendo aquilo que nos levou conseguiram prolongar o Ceci n’est pas “Voluptuária”, e, agora, com este encantamento. Conseguiram-no da surpreendente “Luminismo” (à a celebrá-los, mostram que forma aparentemente mais fácil, ou guitarra, no CD1, sucedem-se peças também podem ser algo seja, criaram o segundo álbum como un fado para piano, no CD2, com mais. reflexo detalhado do primeiro. homenagens ao compositor russo Pagaram por isso: hoje, Obra incomum pela forma Alexander Skrajbin, de um Mário Lopes naturalmente, o reflexo é memória romantismo etéreo, e perturbantes como se apresenta: fiel ao Vampire Weekend esbatida perante o corpo reflectido. composições serialistas, ambas Pois bem, os Vampire Weekend destino da guitarra sem jurar interpretadas pela austríaca Contra XL; distri. Popstock fizeram o mesmo, com uma fidelidade ao seu fatalismo. Ingeborg Baldaszti), deixa também diferença substancial. Observaram o Mário Lopes inscrita a sua marca na história do mmmmn reflexo no espelho e caracterizaram- instrumento. Discos no, maquilharam-no, moldaram-no Ricardo Rocha O que se ouve em “Luminismo” Os Vampire até ao ponto em que, não é fado. Sendo-o, só o será no Luminismo Weekend chegam reconhecendo-o, não o Mbari Música sentido em que a guitarra, por então ao segundo confundíssemos com aquilo que era mais que tente, não consegue álbum, o tal difícil antes da operação. mmmmn escapar-lhe – é destino inscrito no segundo álbum, se “Horchata”, com as suas código genético. Quanto ao mais, confiarmos nas marimbas, tem aquela textura No disco, ouve-se- Ricardo Rocha transborda: nas anciãs regras da pop, e, antes fantasiosa que é felicidade lhe a respiração dinâmicas conturbadas de “Abismo mesmo de o ouvirmos, já sabemos sublimada em dança e “Holiday”, acompanhando o satânico”, no lirismo torrencial da que não provocará a mesma euforia com o baixo gingão e as guitarras em trinado da versão de “Dança das sombras”, de que a estreia homónima. Contra tangente indie às “africanices” guitarra. Claro que Pedro Caldeira Cabral, ou na força isso, fizessem o que fizessem, nada habituais da banda, é um adorável é uma luta o que cava, profunda, que emerge da podiam os Vampire Weekend – o pedaço de pop a pedir o Verão que por ali vai, mas só o afirmamos imensa “Porto Santo”, de Carlos primeiro álbum, com os seus há-de chegar – e ainda há o porque sabemos da relação Paredes. “Mansard roof” e os seus “Cape Cod contagiante frenesim do single conturbada de Ricardo Rocha com Obra incomum pela forma como kwassa kwassa”, com aquela forte “Cousins”, com bateria a rufar, o instrumento que o escolheu e do se apresenta, fiel ao destino da luminosidade pop filtrada de guitarras a silvar e os Devo a qual não pode agora escapar. guitarra sem jurar fidelidade ao seu audições atentas do Paul Simon espreitar por trás da cortina. Não Porque o que nos chega, quando o fatalismo, sem ambições de “africano” de “Graceland”, com fosse o contexto, todas elas ouvimos, não é uma luta. É aquele modernização e sem subjugação ao música contagiante e canções em poderiam ser aquilo que lhes som único a desenvolver-se corpo tradicionalismo, “Luminismo” é estado de graça foi surpresa conhecíamos antes. Em “Contra”, sem se metamorfosear numa outra música inspirada, a música de um irrepetível. servem como ponte. Porque nele se coisa. percurso único – e da guitarra em Ainda assim, há algo clássico na ouvem menos guitarras e mais Ricardo Rocha sempre fez que essa música se exprime. Os Vampire forma como “Contra”, fiel ao “look” electrónicas, porque aqui há Weekend, de universitários letrados (como samples de M.I.A. (na melancólica sendo aquilo sabemos, não é redundância) dos “Diplomat son”) e sintetizadores que nos levou Vampire Weekend, se alinha na erguidos ao alto como secção de a celebrá-los, metais eufórica (a magnífica mostram que “Run”).“Run”). também podem AAoo ouviouvirr “Contra”, ser algo mais recordamo-nosrecordam que, esteeste ano,ano, ,Batmang multi- instrumentistainstrume e produtorprod dos VampireVa Weekend,W se apresentou num delírio estival sintéticos chamadoc Discovery.D TalvezTal venha daí o equilíbrioe “electrónico“el orgânico”org do álbumálb - vem daí certamentece o Auto-TunesAu na vozvo de Ezra KoenigKo na lenta e encantatóriae “California“C english”.eng CertoC é que em

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 29 Discos

O norueguês Lindstrom também caiu na tentação da canção; com a cumplicidade de Christabelle Manu Dibango: ainda não a retrospectiva que ele merece

alusões a “Wanna be startin’ O novo ano something” de Michael Jackson e “Dr beat” de Miami Sound Machine, ou em “Let’s practise”, onde é quase começa inevitável pensar em algumas das canções mais conhecidas de Giorgio quente Moroder e Donna Summer. Mas há também digressões mais Um dos mais conhecidos bizarras, como “Never say never”, com efeitos sonoros e vocais na produtores das electrónicas mesma linha de improviso, ou encontra uma musa “Lovesick”, pop electrónica de inspiradora e o resultado é cabaret com libido lá dentro. No BlakRock: os “niggas” rockam total são dez canções onde a falsa e os “whiteys” groovam um álbum de canções racionalidade electrónica compacta ‘disco-pop-electrónicas’. a sensibilidade pop provocando uma Vítor Belanciano torrente de calor em pleno Inverno. O novo ano começa quente. Lindstrom & Christabelle Real Life Is No Cool Carreira excepcional Smalltow Supersound em resumo mmmmn Manu Dibango O norueguês afrobeat que responde pelo nome de Makossa Man Lindstrom também Demon, distri. Megamúsica “African boogie”. Mas, à semelhança caiu na tentação. de compilações prévias, esta Parece fazer parte mmmnn enferma de problemas de da ordem natural licenciamento e há longos períodos das coisas. Depois Guitarras funk e que são omitidos, como é o caso das de se imporem com temas ritmos makossa – brilhantes parcerias com Eliades predominantemente instrumentais é essas são as Ochoa e Simon Booth, nos anos 90. natural que alguns dos músicos- premissas sobre as As notas que acompanham a produtores mais reconhecidos das quais o sax vai compilação também são lacunares, chamadas músicas de dança improvisando, reforçando a ideia de que aqui o queiram experimentar o formato lânguido e sensual, em “Soul propósito foi construir um canção. Aconteceu nesta década makossa”. É o tema mais célebre de alinhamento dançante em função do com Herbert (ao lado de Dani Manu Dibango (Camarões, 1933), material disponível. O que não é Siciliano ou Roisin Murphy) ou com que em 1972 antecipou o disco nada mau, atendendo à prodigiosa o finlandês Vladislav Delay, com o sound, o afro jazz e a word music. elegância e versatilidade com que projecto Luomo, para nos ficarmos Mas o fascínio de “Soul makossa” Manu Dibango sempre promoveu a por dois dos casos mais não reside tanto em ser uma receita festa. Mas também é certo que esta conseguidos. vencedora, antes uma base não é ainda a retrospectiva definitiva Para entramos em 2010 acontece susceptível de mil e uma piruetas que ele há muito merece. Luís Maio agora com Lindstrom, um dos mais musicais – o género que pode dar importantes produtores da última voltas durante horas sem nunca se meia dúzia de anos, no campo das repetir. É o que comprova mais Rockando o hip hop sonoridades dançantes de prosaicamente “Reggae makossa” inspiração “disco”. A solo, ou ao (1980), que transplanta o tema para BlakRoc lado do compatriota Prins Thomas, um contexto jamaicano, BlakRoc tem conseguindo impor-se com um acrescentando-lhe um hipnótico V2; distri. Nuevos Medios número razoável de álbuns, máxi- solo de vibrafone. Em retrospectiva, singles e remisturas. Faltava no seu ou em função de uma compilação mmmnn currículo uma obra de maior como a presente, a matriz de “Soul sensibilidade pop. makossa” acaba por se reconhecer Há alguns anos, os “Real Life Is No Cool” é essa obra, em muitas outras gravações, nossos olhos um álbum onde a voz macia e efectuadas ao longo de mais de 40 passaram por uma sensual da companheira de anos de carreira. Graças à incrível crónica em jornal aventuras, a também norueguesa elasticidade das suas premissas britânico onde se Isabelle Haarseth Sandoo, mais musicais, o saxofonista camaronês cronista defendia conhecida por Christabelle, lhe pôde tocar um vasto ramalhete de que os génios do hip hop tinham impõe novos desafios, superados estilos musicais - desde o dificuldade em compreender o rock. com distinção. Quem conhece os psicadelismo ao highlife, passando Como argumento definitivo, elementos da música de Lindstrom pelo gospel e pelo reggae-, recordava-se um qualquer programa vai reconhecê-los nesta obra – conservando-se actual, criativo e televisivo em que Jay-Z (ou seria Ice desenvolvimentos rítmicos quase invariavelmente dançante. T ou Timbaland?), percorrendo a orgânicos provenientes do “disco”, “Makossa Man” resume-lhe a sua discoteca caseira, passava por traços de funk borbulhante, carreira excepcional em 32 títulos nomes sagrados da soul. Depois, ocasionais psicadelismos, dinâmica distribuídos por dois CD, o primeiro para demonstrar o seu ecletismo, evolutiva – mas o todo final, resulta centrado nos finais dos anos 60/ Jay-Z, Ice T ou Timbaland retirou um diferente, em canções aveludadas e inícios do 70, o segundo abarcando CD da prateleira e exibiu-o à câmara: ondulantes. um arco temporal mais largo que se “Phil Collins. Este é o meu gajo!” Enquanto Christabelle canta estende até meados da década de É certo que as voltas insondáveis palavras com algum erotismo, misto 90. Estão lá os êxitos mais óbvios, do gosto popular definiram que, de malícia e inocência, a música mas também títulos menos neste preciso momento na história, subverte referências, algumas delas conhecidos tão ou mais Phil Collins está “in”. Ainda assim, o expostas à flor da pele. É isso que combustivos, como o ultra funk “Ah argumento do cronista, recorrendo acontece em “Baby can’t stop”, com freak sans fric” e esse tratado de a uma memória selectiva e

30 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Espaço Tenho muito Público instrumental “Songs “Torches”, “The Ward gosto em by the tumbled sea” Colorado ddemos”emos” e partilhar as dos norte-americanos “Coyotes”. Na músmúsicaica minhas escolhas The tumbled sea; “Soil portuguesa,a, a pessoais, em termos creatures”, o quinto minha escolhaolha musicais, do ano de 2009. trabalho de Paddy recai novamentemente Nos álbuns internacionais Mann que assina como em Norbertorto os meus destaques vão Grand Salvo; e, acima de Lobo, destaa feita para: “Sometimes I wish tudo, Brian Borcherdt, com o álbumum “Pata we were an eagle”, de músico canadiano com as lenta”. Bill Callahan, o Sr. Smog; excelentes colecções de João Semog,g, “Collected recordings” do canções de 2004 a 2008 40 anos, escocês Gareth Dickson; o incluídas nos álbuns artista Amanda Blank: quase sempre divertido, quase sempre dançável

contrição, há ainda “Leaving you behind”, que corta com o teatro porno e revela a cantora pop que há em Amanda Blank, num elegante dueto com Lykke Li. Luís Maio Jazz Alemão suave

O lirismo, levemente abstracto, de um jovem pianista europeu. O lirismo de Jurgen Friedrich seus conceitos harmónicos. John belos momentos nas árias mais Rodrigo Amado Hebert, particularmente, revela aqui meditativas que apostam na Jurgen Friedrich enorme talento lírico, dimensão “cantabile” das melodias, desenvolvendo imaginativas mas é menos convincente nas peças Pollock Pirouet, dist. Mbari variações em torno das linhas do “di bravura”. Não se trata de uma piano. Apesar de tocar questão técnica, pois Piau é bastante mmmmn frequentemente a solo, o pianista precisa na “coloratura”, mas sim esquecendo, por exemplo, que evidente honestidade estética e alemão revela-se um mestre na arte retórica (no sentido em que a existe algo como a editora Stones demonstra uma compreensão Jackson Pollock, do trio, sabendo dar o espaço dimensão virtuosística tem de Throw, poderá ter alguma mútua que nos satisfaz. artista famoso pela necessário para que as notas de sublinhar o conteúdo semântico e sustentabilidade. Recordemos que Basicamente, os “niggas” rockam sua “action Hebert e Moreno possam respirar. dramático do texto) e de colorido os NERD se lembraram de gravar e os “whiteys” groovam e o pessoal painting”, pintava Ouça-se a suspensão dos tempos em vocal. Os seus agudos são acutilantes com os insignificantes Good aprecia acompanhar a empatia que a ouvir jazz. Para “I am missing her”, original de mas carecem de brilho e maior Charlotte ou que Jay-Z “brincou” ao daí nasce. M.L. além dessa ligação Hebert, ou a introspecção lírica que densidade. Assim, a sua versão da rock atirando-se de cabeça no lagar directa, poucos são os pontos em transforma “Round midnight”, única ária que abre a gravação de azeite que é o agrupamento Amanda Blank comum entre este “Pollock” e a obra versão do álbum, numa delicada (“Disserrativi, o porte d’Averno”, da musical Linkin Park. Portanto, nem do pintor norte-americano, um dos canção repleta de dramatismo e oratória “A Ressurreição”) deixa I Love You que seja para apagar tais atrocidades Downtown, distri. Popstock expoentes do expressionismo nostalgia. bastante a desejar, sobretudo se a da memória, BlakRoc é bem-vindo. abstracto, possuidor de um estilo compararmos com a interpretação Colaboração dos Black Keys com mmmnn baseado na fisicalidade crua do de Cecília Bartoli no disco “Opera nomes como Mos Def, RAZ, movimento. Neste registo, todo o Clássica Proibita”. Mas nos excertos da “Ode Raekwon, Q-Tip, um Ol’ Dirty “I Love You” é movimento é ponderado, para o Dia de Santa Cecília” e das Bastard vindo do além e um Noe sobre as elegantemente executado e Handel entre o céu e a terra oratórias “Theodora”, “Alexander anunciando-se desde Baltimore, vicissitudes da calmamente reflectido. E é aí que Balus” ou “Il Trionfo del tempo e del Handel nada tem de atroz. Estreita a relação maquilhagem e da está a grande beleza de “Pollock”, disingano”, Sandrine Piau mostra Between heaven and earth óbvia que existe entre o hip hop e toilette certa para oitavo álbum do pianista e porque razão é uma conceituada Sandrine Piau (soprano) blues, com os Keys a criarem as dar nas vistas, compositor alemão Jurgen Friedrich. intérprete de música barroca. Accademia Bizantina bases bluesy-fumarentas, blues- sobre quem são as “gatas” que Tendo conquistado inúmeros Destaca-se ainda a participação do Stefano Montanari (violino e psicadélicas, de batida mastodôntica abanam melhor as ancas e o traseiro, prémios, entre os quais os Gil Evans excelente tenor Topi Lehtipuu no direcção) à Led Zeppelin ou sinistras à filme de sobre quem paga as bebidas mais o Award e Julius Hemphill Naïve OP 30484 dueto “As steals the morn upon the zombies, e os convidados a falar táxi para casa, mesmo que ela e o Composition Award, Friedrich night” (extraído de “L’Allegro, il daquilo que interessa: de dores do parceiro da noite saiam separados colaborou com nomes como Kenny mmmnn penseroso e il moderato”). Sob a coração, do dinheiro que chega ou para não dar muita bandeira. Mas é Wheeler, David Liebman, Maria direcção do violinista Stefano não chega, de vidas difíceis tornadas sobretudo um disco de paleio de Schneider Jazz Orchestra ou NDR Sob a designação Montanari, a Accademia Bizzantina mais fáceis porque, afinal, “The engate twentysomething, repleto de Bigband, conquistando reputação “Céu e Terra”, o toca com brio e expressividade Black Keys got so much soul”. rimas hardcore e de diálogos de como um dos mais brilhantes jovens último CD da peças a solo como a sinfonia “The Perspectivando 40 anos de telenovela, conjugados com o único pianistas europeus. Neste segundo soprano Sandrine Arrival of the Queen of Sheba” ou o história, encontramos paralelismos intuito de manter a pista de dança CD para a Pirouet, Friedrich faz-se Piau reúne uma Largo do Concerto Grosso op. 2 nº3 entre este “BlakRoc” e o “Electric ao rubro. Seria vulgar, ou rasteiro, se acompanhar novamente pelo série de árias de (com óptimas intervenções dos Mud” de 1970, álbum maldito de Amanda não tivesse ao seu serviço contrabaixista John Hebert e pelo oratórias e óperas de Handel, oboés) e fornece uma base Muddy Waters, onde as canções do produtores do quilate de , baterista Tony Moreno, secção intercaladas por breves páginas consistente para as peças cantadas. mítico bluesman foram banhadas Switch e XXXChange () e rítmica que revela a mais profunda instrumentais. A selecção é Todavia, podia explorar mais a em acidez psicadélica. Muddy ela própria uma voz versátil que empatia com o pianista, explorando criteriosa, mas o resultado é dimensão teatral deste repertório. Waters renegou o álbum, os puristas conjuga na perfeição o artifício pop e ampliando da melhor forma os desigual. A cantora oferece-nos Cristina Fernandes detestaram-no. Sobreviveu e crueza rap. Todas as batidas em subterraneamente e, vinte anos voga, dos revivalismos disco sound e depois, alguém como Chuck D, o electro ao tecno e aos ritmos imenso MC dos imensos Public marciais ao estilo M.I.A., são Enemy, reabilitou-o orgulhosamente convocados, em receitas elásticas e enquanto obra-prima. “BlakRoc” aparatosas, que pelo meio vão está longe de o ser - apesar dos introduzindo uma pilha de falsetes de Dan Auerbach, o samplers, incluindo recitações de LL guitarrista dos Black Keys, ser Cool J, Romeo Void e . É contraponto perfeito ao imponente quase sempre divertido, quase Noé de “Hard times”, apesar de sempre dançável e pelo menos um Raekwon espalhar magia negra par de vezes a miúda de Filadélfia sobre o rock’n’roll tétrico de “Stay rebenta com a escala, produzindo off the fuckin’ flowers”, apesar da hinos de discoteca estonteantes com soul-woman Nicole Wray, longínqua “Something bigger, something “protegida” de Missy Elliot. Mas, não better” e “Might like you better”. sendo uma obra-prima, tem uma Para rematar, quase em jeito de

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 31 Stefano Bolllani já foi considerado pela “Downbeat” um dos dez maiores jovens talentos do jazz

O organista João Vaz, fi gura central do agrupamento Capella Patriarchal, que actua este fi m-de-semana nas sés de Lisboa e Porto

Clássica fora do vulgar, nunca antes Vicente ddee FForaora e nnaa SSéé ddee “Downbeat”“Downbeat” como interpretada em Portugal. Trata-se Lisboa desdeesde 2004 um dosdos dez maismais de “A Floresta Encantada”, de converteram-seram-se já numa talentosostalentosos jjovensovens músicos Uma banda Francesco Geminiani, resultante de tradição. Este ano, o destaque nono jazz, uma distinção uma encomenda ao compositor vai para a estreia momodernaderna ddee reafirmadareafirmada pelos críticos efectuada pelo arquitecto e um conjuntounto ddee oobrasbras ddee Fr. dodo “site” AAllll AAboutbout JJazz,azz, sonora cenógrafo Giovanni Niccolò Fernandoo de Almeida ((ca.ca. 1620- queque o consideraramconsideraram um Servandoni (1695-1766). A música 1660) — umauma Missa a quatroquatro dosdos mais imimportantesportantes setecentista devia servir como uma espécie de vozes e quatroquatro ResponsResponsóriosórios a músicosmúsicos de 2007. ComCom o banda sonora para a pantomima “La oito vozess — ppeloelo álbumálbum “Stone in the Water”,Water”, Forêt Enchantée”, inspirada na obra- agrupamentomento CapeCapellalla lançadolançado no ano passadopassado na editoraeditora A música escrita por prima do poeta italiano Torquato Patriarchal,hal, ddirigidoirigido pepelolo ECM e gravadogravado com este mesmo trio, Francesco Geminiani para Tasso, “La Gerusalemme Liberata”, organistaaJoãoVaz João Vaz. Bollani aprofundou ainda mais o seu a pantomima “A Floresta de 1580. Nela se descrevem Paralelamente, será possível escutar estilo bem característico, marcado combates imaginários entre cristãos peças para órgão solo e para voz e por um profundo lirismo e uma Encantada” preenche o e muçulmanos durante o cerco de órgão, de Dieterich Buxtehude (1637- suave delicadeza harmónica, ambos próximo concerto do Divino Jerusalém, no fim da primeira 1707), por João Vaz e pela contralto bem característicos de um Sospiro, sob a direcção de cruzada. Inês Madeira. O programa do determinado jazz de câmara Chiara Banchini. Cristina O texto centra-se nas tentativas de concerto de Lisboa (amanhã às europeu. Nascido em Milão, Bollani Goffredo di Buglione e Rinaldo para 21h30, na Sé) será repetido no foi projectado para o meio Fernandes retomar o cerco de Jerusalém, depois domingo, às 18h, na Catedral do profissional do jazz através de Enrico de o mago Ismeno ter encantado a Porto. Rava, que o convidou a integrar uma Divino Sospiro floresta de onde os guerreiros Natural de Lisboa, Fr. Fernando das suas muitas formações. Desde Direcção musical de Chiara queriam trazer a madeira para de Almeida era frade professo da então nunca mais parou, tendo Banchini. Com Tiago Rodrigues construir as suas máquinas de Ordem de Cristo, tendo sido mestre participado em projectos de (narração). guerra. A temática oferecia a de capela no Convento de Tomar. personalidades tão distintas como Servandoni a oportunidade para Aluno do grande polifonista Duarte Phil Woods, Lee Konitz, Pat Metheny Lisboa. Centro Cultural de Belém - Pequeno Auditório. Praça do Império. Sáb., 9, às 21h. Tel.: realizar um espectáculo com grandes Lobo, foi autor de várias partituras ou Gato Barbieri. Neste concerto, 213612400. 12,5€ a 15€. efeitos e ilusões cénicas, convocando religiosas, sobretudo para o ciclo de com Jesper Bodilsen no contrabaixo e “A Floresta Encantada”, de os artifícios da maquinaria teatral cerimónias da Semana Santa. Conta- Morten Lund na bateria, são de Francesco Geminiani barroca, o trabalho dos actores no se que D. João V ficou tão esperar interpretações de temas de domínio da pantomima e a música impressionado com a sua música, Caetano Veloso, Tom Jobim ou O Divino Sospiro tem mantido com de Geminiani. Segundo consta, a quando a ouviu no Convento de Francis Poulenc, presentes no já regularidade colaborações com apresentação deste projecto em Tomar, que solicitou cópias para a referido “Stone in the Water”, assim instrumentistas e maestros de Paris em 1754 não teve o sucesso que sua Capela Real. Actualmente, a como improvisos e variações em renome internacional na área da se esperava, mas Geminiani publicou obra de Fr. Fernando de Almeida é torno de composições originais, música barroca em programas pouco tempo depois em Londres quase desconhecida, constituindo os numa actuação que será certamente sempre aliciantes. Entre as parcerias uma versão para concerto da próximos concertos uma rara marcada pela profunda interacção mais assíduas, conta-se o trabalho partitura, dividida em duas partes e oportunidade para a reavaliar. musical do trio e pela técnica virtuosa com a violinista italiana Chiara intitulada “The Inchanted Forrest. Criado recentemente por João de Bollani. Banchini, que actuará mais uma vez An Instrumental Composition Vaz, o grupo Capella Patriarchal tem com o agrupamento no próximo Expressive of the same Ideas as the como principal objectivo a sábado, no Centro Cultural de Poem of Tasso of that Title”. Será divulgação da música sacra Pop

Concertos Belém. O programa inclui uma obra esta a versão que poderemos ouvir portuguesa escrita entre os séculos no CCB, acompanhada pela leitura XVI e XIX, apoiada na pesquisa de O outro nome do de excertos dos Cantos XIII e XVIII fontes musicais e nas práticas da “La Gerusalemme Liberata”, de interpretativas históricas. Tem mentor dos Mesa Tasso, pelo actor Tiago Rodrigues. estreado várias obras inéditas em Não se trata propriamente de música concertos em Portugal e no Andrew Thorn LUÍS RAMOS/ARQUIVO LUÍS programática ou descritiva, mas estrangeiro, nomeadamente em antes de música que serve de pano Espanha e na Alemanha. C.F. Coimbra. Salão Brazil. Largo do Poço, 3, 1º. Hoje, às de fundo à acção, a complementa ou 22h. Tel.: 239824217. 5€. sublinha ou seu carácter, incluindo a Andrew Thorn é João Pedro Coimbra, reciclagem de vários “concerti Jazz “inventor” dos Mesa e ex- grossi”, um género que muito Bandemónio, mas não soa à contribuiu para a celebridade do elegância pop dos Mesa ou ao acid compositor. Sangue novo jazz de Pedro Abrunhosa por altura de “Viagens”. Precisamente por isso, Jovem revelação do piano aliás, é que João Pedro Coimbra, que Ano Novo com agora ouvimos cantar pela primeira polifonia portuguesa abre a época jazz na vez, e em inglês, escolheu inventar o Culturgest, este ano com heterónimo que se revelou no Verão Capella Patriarchal sete concertos programados passado com o EP de cinco temas Direcção musical de João Vaz. por Manuel Jorge Veloso. “Brutes On The Quiet”, apresentado Lisboa. Sé Patriarcal. Largo da Sé. Sáb., 9, às 21h30. Rodrigo Amado Tel.: 218876628. Porto. Sé Catedral. Terreiro da Sé. Dom., 10, às 18h. Tel.: 222059028. Stefano Bollani Trio Concerto de Ano Novo Com Stefano Bollani (piano), Jesper Bodilsen (contrabaixo), Morten Com a particularidade de se Lund (bateria). centrarem no repertório sacro Lisboa. Culturgest - Grande Auditório. Rua Arco do português das várias épocas da Cego - Edifício da CGD. Dom., 10, às 21h30. Tel.: história da música, incluindo a 217905155. 18€. recuperação de obras esquecidas, os concertos de Ano Novo que o Apenas com 38 anos, o pianista A violinista italiana Chiara Banchini volta a dirigir o Divino Sospiro Patriarcado de Lisboa e a editora italiano Stefano Bollani foi já num concerto com um programa invulgar Althus têm realizado na Igreja de São considerado pela prestigiada revista João Pedro Coimbra é Andrew Thorn

32 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon Espaço Álbum-confi rmação: Animal Flaming Lips, “Embryonic”; Público MP3: Grizzly Bear,ar, Collective, “Merriweather Post Álbum para matar saudades “Veckatimest”; Pavillion”; Álbum-compilação: Vários, de Burial: Boxcutter, “Arecibo Hidden “Dark Was The Night”; Álbum- Message”; Álbum-desilusão: Cameras, “Origin: banda revelação: The XX, “XX”; Beirut, “Realpeople Holland/March Orphan”; Wild Beasts, Álbum-revelação artista masculino: of the Zapotec”, ex-aequo com “Two Dancers”; Yeah DM Stith, “Heavy Ghost”; Álbum- Fischerspooner, “Entertainment”; Yeah Yeahs, “It’s Blitz!”; revelação artista feminino: Fever Álbum mais sobrevalorizado: Dirty Royksopp, “Junior” Ray, “Fever Ray”; Álbum-esquecido: Projectors, “Bitte Orca”; e... the last, but not the Patrick Watson, “Wooden Arms”; Canção do ano: Grizzly Bear, “Two least... Yeasayer, “Odd Álbum-regresso mais aguardado: The Weeks”. Álbuns que teimaram em não Blood”. deixar o leitor de CD José Couto, Tavira

O maestro polaco Krzystof Penderecki dirige a Orquestra Gulbenkian

esta noite em Coimbra, no Salão com as redescobertas de coisas que Agenda Os Minta no Maxime, esta quinta-feira Brazil. julgávamos perdidas e o Com ele estão o guitarrista Jorge maravilhamento com o novo que é sexta 8 “A Miragem das Mil e Uma Noites”, Áustria 2010 - Sinfonia nas Margens Coelho, o baterista Jorge Queijo e o mesmo novo e o corpo mexe porque de Rimsky-Korsakov. do Reno. Obras de Schumann. baixista Miguel Ramos. Juntos, é novo, entre euforias e Manuel Barrueco e Orquestra Jorge Moyano Coral de São José e Orquestra do criaram um rock’n’roll de gingar deslumbramentos, dizíamos, Gulbenkian Braga. Theatro Circo - Sala Principal. Av. Liberdade, Algarve nervoso, onde a tensão do pós-punk descobrimos alguém que a Direcção musical de Miguel Harth- 697, às 21h30. Tel.: 253203800. 8€. Direcção musical João Tiago Santos. se cobre de um intenso mas sereno atravessou com uma discrição que, Bedoya. Obras de Chopin e Schumann. Com Sandra Medeiros (soprano), psicadelismo: ou seja, em “Me Jane”, em perspectiva, só o engrandece. Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian - Grande Auditório. Avenida de Berna, 45A, às 19h. David Maranha + Manuel Mota + Mário Alves (tenor), Luís Rodrigues põem a malta a dançar com riffs Old Jerusalem, Francisco Silva, Tel.: 217823700. 10€ a 20€. Riccardo Dillon Wanke (barítono). irrequietos e teclado efervescente, cultor da Americana, dono de uma Lisboa. Galeria Zé dos Bois. Rua da Barroca, 59 - Ponta Delgada. Teatro Micaelense. Largo de S. João, depois avançam por “Strip machine” voz poética com a rara capacidade de Alicia Nafé e Orquestra Bairro Alto, às 23h. Tel.: 213430205. 6€. às 17h. Tel.: 296284242. 15€. Nacional do Porto Concerto de Reis. como rockabillies futuristas, quais se fixar num pedaço de vida Direcção Musical de Joana Carneiro. Orquestra Clássica de Espinho Wire de poupa bem medida, e particular, ínfimo, e transformá-lo em Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho Direcção Musical de Pedro Neves. terça 12 acabam “Brutes On The Quiet” com algo universal, editou esta década de Albuquerque, às 21h. Tel.: 220120220. 16€. Com Dora Rodrigues (soprano). uma óptima versão de “Overcome”, “April”, “Twice The Humbling Sun”, Áustria 2010 - Romantismo vienense. Obras de Arouca. Cinema Globo D’Ouro. R. Alfredo Vaz Pinto, Carla Caramujo e João Paulo de Tricky. “The Temple Bell” e, já este ano, Webern, Wolf, Lieberson e Schumann.. Campo do Mosteiro, às 21h30. Tel.: 256944109. Santos Esta noite, tocam em Coimbra. “Two Birds Blessing”, mote para o Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian - Orquestra Filarmonia das Strauss Festival Orchestra e Mais lá para a frente, talvez os concerto que o leva amanhã ao Beiras Auditório 2. Avenida de Berna, 45A, às 19h. Tel.: Strauss Ballet Ensemble 217823700. 10€. encontremos do outro lado do Centro Cultural Vila Flor, em Direcção Musical de António Vassalo Porto. Coliseu. R. Passos Manuel, 137, às 21h30. Tel.: Obras de Berg, Schreker, Zemlinski, Atlântico. O EP chamou a atenção de Guimarães. Lourenço. 223394947. 15€ a 45€. Strauss, Debussy, Chabrier, Lalo e Vila do Conde. Teatro Municipal. Av. Dr. João Grande Concerto de Ano Novo. Tom Sarig, manager de Lou Reed ou Ouvindo os seus discos em Canavarro, às 21h30. Tel.: 252290050. Gounod. Blonde Redhead, e quando chegar o sequência, podemos falar de Concerto de Ano Novo e Reis. Grupo de Cantares de Portalegre novo álbum, com edição prevista evolução – a música vai-se tornando Portalegre. Centro de Artes do Espectáculo - Grande Daniel Bernardes Trio Obras de Freitas Branco, Strauss, Com Daniel Bernardes (piano), para este ano, é provável que viajem menos rarefeita, vai crescendo em Healey e Cardoso. Auditório. Pç. da República, 39, às 17h. Tel.: 245307498. Entrada gratuita. António Quintino (contrabaixo), Joel com ele pelos Estados Unidos.s. instrumentosst u e arranjos, vai-se Sean Riley & The Slowriders Concerto de Reis. Silva (bateria). Mário Lopes cconcentrandoon cada vez mais Guimarães. CC Vila Flor - Café-Concerto. Av. D. Porto. Casa da Música - Sala 2. Pç. Mouzinho de nnaquiloa que lhe vimos logo a Afonso Henriques, 701, às 23h. Tel.: 253424700. 2,5€. Anneleen Lenaerts Albuquerque, às 19h30. Tel.: 220120220. 7,5€. Vila Real. Agência de Ecologia Urbana. R. do Corgo, iinício:ní são as histórias que conta Maria Anadon às 16h. Tel.: 259308100. Entrada gratuita. quarta 13 À sombra quequ conduzem o que canta. Mas, Com Victor Zamora (piano), Léo FAN - Festival de Ano Novo 2010. retemperadora ouvindo-os, percebemos algo Espinoza (baixo), Marcelo Araújo Desbundixie B Fachada + Orquestra Invisível mais: que evolução é, neste Lisboa. Bacalhoeiro. Rua dos Bacalhoeiros, 125 - 2º, (bateria). Com Maria João (voz) e Filipe Melo de Old Jerusalemm contexto, palavra feia e Lisboa. Onda Jazz. Arco de Jesus, 7 - ao Campo das às 22h30. Tel.: 218864891. Cebolas, às 22h30. Tel.: 919184867. 7€. (piano). redutora. Old Jerusalem, ele Leiria. Teatro Miguel Franco (Centro Cultural). Lg. L’Occasione Fa il Ladro + Trouble Francisco queq retirou nome a uma canção Orquestra Clássica de Espinho Santana, às 21h30. Tel.: 244860480. in Tahiti Old Jerusalem Silva leva ded Will Oldham, foi caminhando Direcção Musical de Pedro Neves. Vozes da Bulgária: Tríada + Direcção Musical de Moritz Gnann. Guimarães. Centro Cultural Vila Flor - Café-Concerto. Avenida D. Afonso “Two Birds a nosso lado, oferecendo-nos Com Dora Rodrigues (soprano). Hristov Com João Merino, João Oliveira, João São João da Madeira. Paços da Cultura. R. 11 de Henriques, 701. Sáb., 9, às 23h. Tel.: Blessing” a palavrasp e melodias que se Bragança. Teatro Municipal. Pç Cavaleiro Ferreira, Cipriano, Marco Alves dos Santos, Outubro, 89, às 21h45. Tel.: 256827783. Entrada 253424700. 2,5€. às 15h. Tel.: 273302740. 5€. Raquel Alão, Ana Franco, Luisa Guimarães tornaramt sombra gratuita. FAN - Festival de Ano Novo 2010. Francesconi. Estamos em tempo de retemperadora para os nossos Concerto de Ano Novo. Obras de Lisboa. Teatro Nacional de São Carlos. Lg. S. Carlos, balanços e, olhando para passos. Palavras e melodias, Strauss, Gluck, Respighi, Gala de Ópera de Ano Novo 17, às 20h. Tel.: 213253045. 10€ a 15€. trás, para esta década que acrescente-se, que o tornam Canteloube, Hindemith e Bartok. Com Sérgio Martins (tenor), Marina Estúdio de Ópera - Programa Jovens vai terminando, entre o umu dos nomes inescapáveis da Pacheco (soprano) e Opera Intérpretes. Obras de Rossini e Adriana Miki Ensemble. Bernstein. estremecer dos mil músicamú que por cá vimos nascer Com Desidério Lázaro (saxofone), Guarda. Teatro Municipal - Grande Auditório. R. cruzamentos, o entusiasmo nosnos conturbados anos 2000. M.L. Joel Silva (bateria), Paulo Barros Batalha Reis, 12, às 21h30. Tel.: 271205241. 10€. OrangoTango (piano), Sérgio Crestana (baixo). Direcção Musical de Daniel Schvetz. Lisboa. Museu do Oriente - Auditório. Av. Brasília - Tim Tim por Tim Tum Lisboa. CCB - Pequeno Auditório. Pç. do Império, às Edifício Pedro Álvares Cabral - Doca de Alcântara Fundão. A Moagem, Cidade do Engenho e das Artes - 19h. Tel.: 213612400. 10€. Norte, às 21h30. Tel.: 213585200. 10€. Auditório. Lg. da Estação, às 22h. Tel.: 275774052. 4€. B Fachada + Orquestra Invisível Moazz - Ciclo de Jazz do Fundão. Lisboa. R. dos Bacalhoeiros, 125 - 2º, às 22h30. Tel.: Pedro Moutinho 218864891. Oeiras. Auditório Municipal Eunice Muñoz. R. Mestre de Aviz, às 21h30. Tel.: 214408411. 12€. domingo 10 Concerto de Ano Novo. quinta 14 Coral Vértice Direcção Musical de Sérgio Fontão. Gábor Boldoczki, Jonathan sábado 9 Lisboa. Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves. Av. 5 Luxton e Orquestra Gulbenkian de Outubro, 6/8, às 16h. Tel.: 213540823. Entrada Joanna MacGregor Direcção musical de Krzysztof gratuita. Penderecki. Com Gábor Boldoczki Lisboa. Culturgest - Grande Auditório. Rua Arco do Concerto de Reis. Cego - Edifício da CGD, às 18h. Tel.: 217905155. 10€. (trompete), Jonathan Luxton (trompa). Strauus Festival Orchestra e Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian Orquestra Gulbenkian - Grande Auditório. Av. de Berna, 45A, às 21h. Tel.: Strauss Ballet Ensemble 217823700. 10€ a 20€. Direcçãocção musmusicalicaal de Miguel Sintra.Sintra. CC OOlgalga CaCadavaldaval - AuAuditórioditó Jorge Harth-Bedoya.Haarth-Bedoya. Sampaio.Sampaio. Pç. Dr. Francisco Sá CCarneiro, às Obras de Haydn, Penderecki e Dvorák. Lisboa.Lisboa. FundaçFundaçãoão e Museu 1818h.h. TeTel.:l.: 219107110. 25€ a 30€30€.. MintaMinta CCaloustealouste GGulbenkianulbenkian - GrandeGrande CConcertooncerto ddee AAno GranGrandede AuAuditório.ditório. Lisboa. Maxime. Pç. Alegria, 58, às 22h. Tel.: Avenida de BBerna,erna, 45A45A,, Novo.Novo. 213467090.213467090. às 16h. Tel.Tel.:: 217823700. 6€. OrquestraOrquestra NacNacionalional doo Young-ChoonYoung-Choon PPark Porto Chaves. Centro Cultural.Cultura Lg. Estação, DirecçãoDirecção MusicalMusic às 2121h30.h30. TTel.:el.: 27633276333713.3 Entrada dede JJoanaoana ggratuita.ratuita. FANFAN - FestivalF de B Fachada com a Orquestra AnoAno NNovo 2010. Invisível no Bacalhoeiro, OsOs AAzeitonas em Lisboa Lisboa.Lisb Cinema São A pianista Joanna JorgeJorg - Sala 2. Av. Carneiro.Carneir Liberdade,Lib 175, às Porto.Porto. CasCasaa da MacGregor amanhã 22h30.22 Tel.: Sean Riley no Música - Sala SuSuggia.gg PPç.ç. na Culturgest 213103400.21 10€. Café-Concerto MouzinhoMouzinho de Albuquerque,Albuquerque, às 112h.2 Tel.:el.: do Vila Flor, 220120220.220120220. 5€.5€. em Guimarães

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 33 É nos desenhos a carvão e nas litografi as que a obra gráfi ca de Nikias Skapinakis mais se autonomiza da sua pintura A indepen- Apropriação,Ap hojehoje mmarcadaarcada pporor esta dência característica: campos cocoloridosloridos dada pintura ilusãoilu rrigorosamenteigorosamente delimitadosdelimitados pepelolo japonesajaponesa em rolo,rolo, do desenho desenhodesenho, e uma radicação figurativa convoca efectivamente o sentido e ccrítica constante. Mesmo quando parecem narrativo: percebemos que há um abstractas, as pinturas de Nikias início e um provável fim, e que o 50 anos de trabalhos sobre possuem sempre essa longínqua desenho se desenvolve sobre este “Pintura Para Uma Nova papel de Nikias Skapinakis filiação na realidade visível – ou, suporte como um automatismo, um Sociedade” é o momento estão em Cascais. Luísa como sucede em certas séries, na “doodle”, uma emergência de mais relevante na obra Soares de Oliveira realidade tal como foi imaginada formas apenas regulada pelo ritmo de um artista que tem pela história. da mão que desenha. Já os desenhos permanecido indiferente Desenho a preto e branco e a cores. Contudo, paralelamente a este sobre papel kraft instituem quase Antologia gráfica (1958-2009) trabalho de pintura, e em sistematicamente a proeminência de ao reconhecimento e à De Nikias Skapinakis. consonância ou não com ele, Nikias uma figura sobre o fundo pardo. consagração institucionais. sempre praticou o desenho. Esta Esta figura, que apenas se identifica Cascais. CC de Cascais. Av. R. Humberto II de Itália. exposição, como outras demasiado como tal não pelas suas José Marmeleira Até 28/02. 3ª a Dom., das 10h às 18h.

Expos raras que a precederam (uma na características miméticas mas por o Desenho. galeria 111, ainda na década de 90, e seu traço se fechar e encerrar um The Return of The Real IX - João outra no Palácio Galveias, além da interior em oposição a um exterior, Fonte Santa mmmmm retrospectiva em Serralves, em nunca é identificável. E inclusive 2000), dá apenas conta dos seus Nikias, numa série conhecida, presta Vila Franca de Xira. Museu do Neo-Realismo. R. Alves Redol, 45. Tel.: 263285626. Até 31/01. 3ª a 6ª das 10h Nikias Skapinakis, ou Nikias, é um trabalhos sobre papel, apresentando homenagem aos “tags” grafitados às 19h. Sáb. das 15h às 22h. Dom. das 11h às 18h. pintor que não deveria necessitar de duas selecções distintas que a utilizando este tipo de signos Ilustração. apresentação. Embora tenha própria montagem ajuda a abstractos como inspiração. começado a expor em 1948, aos 17 diferenciar: uma, centrada nos Outras obras na exposição mmmnn anos, foi um dos protagonistas, cartazes e nas serigrafias, onde a cor merecem atenção: as ilustrações durante a década de 60 (juntamente intervém de forma explícita; e outra, feitas para “Quando os Lobos Vinte anos depois, João Fonte Santa com Lourdes Castro, René Bertholo nos desenhos a carvão e nas Uivam”, de Aquilino Ribeiro (1958), e (Évora, 1965) realiza finalmente a e Costa Pinheiro, por exemplo), da litografias, evidenciando uma as peças da série de “desenhos do sua primeira exposição individual primeira conjunção entre arte autonomia desta disciplina em Aljube”, entre as quais uma no espaço de uma instituição. Foi portuguesa e arte internacional: ao relação à pintura que o próprio “Pomba” de 63 que recorda a uma delonga solitária, quase mesmo tempo que, em Londres, artista situa como tendo começado mesma ave desenhada por Picasso; esquecida, mas também a verdade é Paris ou Nova Iorque, os artistas em 1985. cenas populares dos anos 60, em que este artista sempre se furtou, desenvolviam a Pop ou a figuração E são estas últimas obras, que se litografia, também integráveis na com maior ou menor do “Nouveau Réalisme”, Nikias afastam daquilo que conhecemos da produção modernista da época; e responsabilidade, às instâncias trabalhava contrastes de figuras pintura de Nikias de uma forma finalmente as serigrafias dos anos 70 dominantes da consagração do planas e esquematicamente marcante, que importa aqui e 80, muito próximas daquilo que a meio. Com uma produção afirmada, coloridas sobre fundos lisos. Para destacar logo à partida. O artista sua pintura era na altura, e em que a no passado, noutras artes visuais além da evolução própria da sua elege dois tipos distintos de suporte: própria técnica utilizada favorecia a (banda desenhada e ilustração), um obra, que desenvolveu numa o rolo de papel higiénico e o papel aplicação de manchas saturadas desenho e pintura figurativos e entrevista recente publicada no de embrulho. O primeiro, que lhe de cor pura, tal como expressionistas (e último Ípsilon, a sua pintura é até terá sido sugerido pela descoberta acontecia nas telas. devedores dessas

A anatomia de Alberto Korda na Co Agenda

EscoladeMulheres É Proibido Proibir! Jesper Just oficinadeteatro Inauguram De Archizoom Lisboa. Centro de Arte Moderna Associati, Studio 65, - José de Azeredo Perdigão. R. Dr. Debret Nicolau Bettencourt. Tel.: 217823474. De Vasco Araújo. Grupo Sturm, Pierre Até 18/01. 3ª a Dom. das 10h às 18h. Lisboa. Museu da Cidade de Lisboa. Campo Paulin, entre outros. Temps d’Images 09. Vídeo, Grande, 245. Tel.: 217513200. Até 07/03. 3ª a Dom. Lisboa. MUDE - Museu do Design e da das 10h às 18h. Inaugura 14/1 às 22h. Moda. R. Augusta 24. T. 218886117. Até 31/1. 3ª a 5ª e Instalação. Escultura. Dom. das 10h às 20h. 6ª e sáb. das 10h às 22h. Moby Dick Design, Objectos, Outros. De João Pedro Vale. Continuam BES Revelação 2009 Lisboa. Galeria Filomena Soares. R. da Manutenção, 80. Tel.: 218624122. Até 16/01. 3ª a O Inverno do (nosso) De Susana Pedrosa, Ana Braga, Inês Sáb. das 10h às 20h. Descontentamento Moura. Outros. Porto. Museu de Serralves. R. Dom João de Castro, De André Romão. 210. Tel.: 226156500. Até 07/01. 3ª a 6ª das 10h às Lisboa. Kunsthalle Lissabon. R. Rosa Araújo, 7-9. Crying My Brains Out 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h. De António Olaio. Tel.: 918156919. Até 14/02. 5ª a Sáb. das 15h às 19h. Fotografia, Outros. Instalação, Outros. Lisboa. Galeria Filomena Soares. R. da Manutenção, 80. Tel.: 218624122. Até 16/01. 3ª a Emissores Reunidos - Episódio II: She is a Femme Fatale Sáb. das 10h às 20h. Senhor Fantasma, Vamos Falar Pintura. De Louise Bourgeois, Paula Rego, De Marcelo Cidade, Renato Ferrão. Cindy Sherman, Helena Almeida, Porto. Radiodifusão Portuguesa (Antiga RDP). R. The Hustler Nan Goldin, entre outros. Cândido dos Reis, 74. Até 24/01. 3ª e 4ª das 17h às De João Louro. Lisboa. Museu Colecção Berardo. Praça do Império 20h. 5ª e 6ª das 17h às 01h. Sáb. das 15h às 01h. Dom. Coimbra. Centro de Artes Visuais - CAV. Pátio da - CCB. Tel.: 213612878. Até 31/01. Sáb. das 10h às das 15h às 20h. Inquisição, 10. Tel.: 239826178. Até 28/02. 3ª a Dom. 22h. 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 19h. Objectos, Outros. das 14h às 19h. Pintura, Escultura, Fotografia, Instalação. Desenho, Vídeo, Outros. Sem Saída, Ensaio Sobre o Optimismo Pronounciations David Claerbout De Augusto Alves da Silva. De Katarina Zdjelar. Lisboa. MNAC - Museu do Chiado. R. Serpa Pinto, 4. Porto. Museu de Serralves. R. Dom João de Castro, Coimbra. Centro de Artes Visuais - CAV. Pátio da Tel.: 213432148. Até 28/02. 3ª a Dom. das 210. Tel.: 226156500. Até 31/01. 3ª a 6ª das 10h Inquisição, 10. Tel.: 239826178. Até 28/02. 3ª a Dom. 10h às 18h. Festival às 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h. das 14h às 19h. Temps d’Images 09. Fotografia. Vídeo. Instalação, Vídeo, Fotografia. “Senhor Fantasma, Vamos Falar” na antiga RDP

34 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

“Estúdio”, de Nuno Ramalho e Renato Ferrão, na Fundação Carmona e Costa

João Fonte Santa opera sobre as imagens e os imaginários da fi cção científi ca oitocentista

mesmas artes) e uma inclinação para obra de João Fonte Santa, ganha século XIX, Júlio Verne) uma dada pintura,pintu travestida e o apropriacionismo, João Fonte agora uma outra coerência. fluência conceptual mais revelareveladad aqui sob a Santa foi sempre “marginal” ao Movemo-nos e focos de luz apagam assertiva e um uso ágil dos fformaorma dde grandes e acertar dos relógios; como aliás pormenores das pinturas. Criam signos e significantes ffantásticasantástic ilustrações. Alice Geirinhas, Pedro Amaral ou buracos, vazios. escolhidos. E são estes ImaImagensgens que do passado Pedro Pousada (este aparentemente Outros paradoxos, porque aspectos que permitem às vvêmêm simsimples,p afastado do circuito artístico), todos reconhecíveis, não são tão pinturas libertar sentidos ddespretensiosas,espreten mas artistas com quem vai partilhando surpreendentes, mas “Pintura Para acerca da representação do outroutro acordadaacordadas,s como a voz de referências e preocupações. Uma Nova Sociedade” consegue ser (os índios em “Ces indigènes ((“Und“Und wer´s nie NNoamoam ChChomskyo que se Pese embora o contexto a melhor exposição individual deste rôdèrent prés du Nautilus”, o ggekonnt,ekonnt, der stehle weinend sich escuta em “Selling the institucional de “Pintura Para Uma artista. Há na operação sobre as monstro em “Un de ces longs bras se aus dem bund”, bund” título retirado do capitalist storystory”,” no ecrã escuro do Nova Sociedade”, João Fonte Santa imagens e os imaginários evocados glissa par l´ouverture”), da condição verso do libreto do “Hino à Alegria”, vídeo colocado no centro da sala por não abandonou essa condição, a de (a ficção científica, as utopias do existencial e da história do homem de Beethoven) ou da própria história João Fonte Santa. um artista periférico. Dito de outro modo, a sua exposição no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, no âmbito do ciclo comissariado por David Santos, reafirma um trabalho (pictórico) que torna imagens preexistentes (vinda dos media ou das outras artes visuais) em imagens com uma premência crítica. Como uma arte pop mais “comprometida” com as suas próprias fontes, menos impessoal, mais “politicamente” debruçada sobre o real. Oito telas de grandes dimensões reproduzem um desenho de Jack Kirby (autor de banda desenhada clássica dos EUA) e ilustrações de Alphonse de Neuville e Edouard Riou para “Vinte Mil Léguas Submarinas”, de Júlio Verne (1870) e de Léon Benett para “Dois anos de Férias”, do mesmo escritor. Contrastam com o laranja saturado das paredes e, prateadas pela técnica do acrílico, brilham a espaços sob a luz artificial em pleno ambiente de salão oitocentista. Evidencia-se mesmo, perante o espectador, um jogo teatral, ilusório, com as superfícies das telas – situação que, se não é inédita na na Cordoaria Nacional

Obras de Referência dos Museus da Madeira: 500 Anos De História De Um Arquipélago Lisboa. Galeria de Pintura do Rei D. Luís I. Calçada da Ajuda - Palácio Nacional da Ajuda. Tel.: 213633917. Até 28/02. Sáb. das 11h às 20h. 2ª a 6ª e Dom. das 11h às 18h. Pintura, Escultura, Objectos, Fotografia, Outros. Ínsulas De João Margalha. Porto. Centro Português de Fotografia - Cadeia da Relação do Porto. Campo Mártires da Pátria. Tel.: 222076310. Até 16/02. 3ª a 6ª das 10h às 18h. Sáb. das 15h às 18h. Fotografia. Korda - Conhecido Desconhecido De Alberto Korda. Lisboa. Galeria Torreão Nascente da Cordoaria Nacional. Avenida da Índia - Edifício da Cordoaria Nacional. Tel.: 213642909. Até 31/01. 3ª a 6ª das 10h às 19h. Sáb. e Dom. das 14h às 19h. Fotografia. Estúdio De Nuno Ramalho, Renato Ferrão. Lisboa. Fundação Carmona e Costa. Ed de Espanha - R. Soeiro Pereira Gomes L1 - 6º A/C/D. Tel.: 217803003. Até 22/01. 4ª a Sáb. das 15h às 20h. Instalação, Desenho, Outros.

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 35 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

“o remorso de baltazar contraponto forçado serapião”, de valter a uma escrita onde Espaço hugo mãe, é um retrato a poesia, a espaços, da brutalidade e do arranja tempo para Público miserabilismo feudal, dançar. 7 pais nossos que reivindica que em (em 10) para que o todas as sociedades remorso não seja em e regimes se esconde vão. uma idade média Pedro Miguel Silva, armada de bestas. A 36 anos, Técnico de violência pareceu-me Comunicação porém excessiva, às Blogue: http://fusco- vezes anti-natural, lusco.blogspot.com

Ficção fundação: ali se encontram “Outras Vozes, Outros Lugares” pagamos um preço. Estamos, ilustradas as pulsões que movem narra a história de um garoto de 13 portanto, condenados a estar desde sempre os homens, ali se anos, Joel Harrison, que é enviado, divididos. É uma visão terrível que Não ter encontram as questões eternas. após a morte da mãe, para junto do torna (mais uma vez: numa opinião Claro que pode ler-se uma vida pai, no Sul dos EUA. Durante pessoal) “Outras Vozes, Outros inteira de Eurípides, Sofócles, páginas a fio o pai não surge, e Joel Lugares” o grande livro de Capote, um lugar Hesíodo e Homero e ter o progresso fica entregue ao que se pode sem excessos de pena à parte. “humano” (perdoem o exemplo pejo designar por uma trupe de Mais que um grande caricatural) de um empreiteiro freaks: a mulher do seu pai, cujas alistado nas fileiras do PS com ou rendas dos vestidos escondem uma Uma romena livro sobre o Sul ou que sem D. E a um homem sensato e histeria latente; Randolph, um um grande livro sobre o prudente não há nada que lhe sujeito doente e efeminado que crescimento, é um grande garanta que os escritos de passa os dias de roupão e cujo em Paris livro sobre não ter um lugar Heisenberg ou de Norbert Weiner cavalheirismo deve tanto à sua não são mais fundamentais para a opção sexual quanto à sua boa Uma história intrigante João Bonifácio compreensão do mundo educação; a empregada negra que se contemporâneo que os de Hanna queixa de ter sido abusada pelo ex- sobre identidades no Outras Vozes, Outros Lugares Arendt. Podemos fazer o nosso marido; e o avô desta, um velho universo singular dos Truman Capote próprio cânone e preferir Geoffroy assustador e moribundo. Tudo imigrantes vindos de Leste. Sextante Saint-Hilaire, Cabeza de Vaca, ou o naquela casa é ruína: material, já José Riço Direitinho

Livros Gilgamesh à saga proustiana, porque que a casa vai caindo numa mmmmn o cânone, por mais que queiramos, degradação endémica; existencial, já A Bela Romena é “um” cânone. Só que um cânone, que aquelas gentes vivem para nada: Dumitru Tsepeneag Um cânone não é mesmo o nosso, o pessoal, depende o velho à espera que a morte o leve, (trad. por Isabel Fraga) somente uma lista da sua época e do vínculo aos a neta à espera de fugir dali, a Oceanos de chaves para valores dessa época, pelo que um histérica à espera de não se sabe o abrir a porta da cânone pessoal tem sempre uma quê, talvez adoptar Joel, talvez da mmmmn erudição e assim dívida “ao” cânone da sua época. E o aprovação de Randolph às suas ter acesso à classe cânone literário ocidental foi sendo manias; e Randolph à espera, claro, Em 2008, o júri da ilustrada, para lentamente revisto desde o final da II da morte, mas também do retorno 18.ª edição do conforto dos Guerra. (Não há aspirante a literato de um tal Pepe. Prémio da União nossos egos. No caso da literatura, o que hoje não comece por Roth ou A escrita, aqui, ainda não é a Latina das cânone serve, supostamente, de Faulkner em vez de Camus ou lâmina fria de “A Sangue Frio”: é Literaturas Flaubert.) A ascendência americana esguia como uma serpente, Românicas (que Redescobrir o extraordinário manifesta-se também nesse processo bruxuleando de imagens. Pode-se, contava entre os potencial de um escritor que de releitura do cânone. “A Sangue com facilidade, tomar cada um dos seus membros Lídia nunca foi tão bom quanto Frio”, obra inúmeras vezes laudada ademanes de escrita de Capote Jorge e José Eduardo poderia ter sido – à conta como obra-prima de Truman como demonstração de génio, mas Agualusa) distinguiu o romeno da sua extrema necessidade Capote, faz hoje figura de ícone – o diga-se que um pouco de rédea na Dumitru Tsepeneag (n. 1937). Entre de exibir talento que nos causa dúvidas. Em tempos caneta não o teria prejudicado: os argumentos justificativos da idos, se permitirem uma nota perde-se demasiado tempo em distinção conta-se a “excelente pessoal, seria capaz de apostar o descrições surrealistas da natureza qualidade artística dos seus mindinho em como “Outras Vozes, (ainda que isso sirva para romances, ensaios e memórias, mas Outros Lugares”, romance de estreia demonstrar a desintegração do também o seu empenho na defesa do autor de “Breakfast at Tiffany’s”, inadaptado Joel), há demasiados das formas literárias e da liberdade era a sua carta de alforria ao génio. sonhos estranhos e há demasiada de expressão”, isto para além do Isto há uns bons 15 anos. Relê-lo escrita que tenta enfiar pelos olhos facto de associar “na sua obra o agora, com cuidada distância, é do leitor adentro demonstrações de experimentalismo literário à redescobrir o extraordinário talento. No entanto, é meticulosa a preocupação social e histórica”. potencial de um escritor que – construção de um universo: mais Na Roménia dos anos 60 e 70, parece-nos agora – nunca foi tão que um grande livro sobre o Sul ou Dumitru Tsepeneag foi o líder da bom quanto poderia ter sido, à que um grande livro sobre o única corrente literária – o conta da sua extrema necessidade crescimento (esse é “Por Favor, Não “Onirismo”, vagamente inspirada no de exibir talento, seja o da pena, seja Matem a Cotovia”, de Harper Lee, “Surrealismo” – que se opunha ao o da sua vingança sobre o mundo amiga de Capote), é um grande livro “realismo socialista” do regime de (que é ao que “A Sangue Frio” soa). sobre não ter um lugar e não ser Ceausescu. Tal destemor valeu-lhe Certo é que em “Outras Vozes, dono do seu caminho: Joel não é do desentendimentos com a polícia Outros Lugares”, escrito com Sul, não compreende o Sul e não secreta romena (a temida precoces 23 anos, diversas marcas compreende os seus próprios “Securitate”), que culminaram em da escrita de Capote já estão acessos de afecto, ora por uma 1975, estando Tsepeneag em Paris formadas: a obsessão pelos pequena das redondezas, ora pelo (onde viria a pedir asilo político), “marginais”, aqueles a quem falta o próprio Randolph; Randolph não com a retirada da nacionalidade centro de afecto sustentador do ego pertence àqueles maneirismos romena em decisão assinada pelo (a família); a obsessão pelas figuras cavalheirescos, antes devia próprio ditador. que carregam tragédia; uma espécie pertencer a um mundo que aceitasse Tsepeneag faz parte do grupo de de fundo de loucura, surdo, a a sua sexualidade; o pai, enfermo na asilados romenos – com Herta Müller perpassar o ambiente geral da cama, comunica apenas por uma (a recente distinção do Comité narrativa; um olhar agudo sobre bola de ténis que lança quando quer Nobel), o poeta Oskar Pastior, entre detalhes mínimos que permitem, atenção – está igualmente preso a outros – que começaram a escrever por ampliação do objecto olhado, um lugar que não é o de um ser na língua do país que lhes deu aferir do grau de desespero que humano, preso a um vegetalismo acolhimento. Se até à queda do escorre das personagens página que o condena à nulidade. Todos regime do tirano Ceausescu a obra fora. Se quisermos ser simplistas, há estão doentes, ou virão a estar – e de Tsepeneag procurava descrever a em Capote uma espécie de fascínio e essa condição é a visão do mundo situação social e política na Roménia repulsa pelas gentes sem eira nem que enforma o trabalho de Capote: – o desejo das personagens deixarem beira, não no sentido da pobreza todos estão no sítio errado, o corpo o país e de irem ver o mundo –, no material, mas da sua própria trai-nos, não conseguimos dominar período que se lhe seguiu (e até inconsistência tectónica. as pulsões ou se conseguimos hoje) ele tem procurado fazer um

36 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon O livro de Marin É até uma forma de Gilbert, “A Segunda sabermos ainda melhor Guerra Mundial”, entender o que não poucas extraordinariamente vezes o ser humano bem escrito e com base consegue desfazer...de tão Espaço em vasta documentação irracional que consegue é de leitura obrigatória ser... Público para todos, mesmo para Augusto Küttner de aqueles que acham já tudo Magalhães, ex–gestor saber sobre este confl ito de recursos humanos, mundial contemporâneo. 60 anos

retrato da Europa e dos seus Odessa”, como uma feiticeira, vai Matute comprova com este livro imigrantes chegados do Leste, deixando marcas em todos os Infância a confi ssão feita um dia de que muitas vezes descritos a partir de homens que com ela se cruzam. Pelo desconfi ava que a infância dura dois pontos de vista, o do antigo meio, há o dono de um café mais que a vida inteira. exilado e o do novo emigrante. parisiense, Jean-Jacques, que por ela sem limites A literatura romena – à excepção se apaixona e começa a ter sonhos do teatro de Ionescu e de umas eróticos. Um antigo cliente do café, o Ana Maria Matute regressa quantas obras avulsas de ficção de russo Iegor, envolve-se com ela e à infância, o território onde Mircea Eliade – não tem despertado começa a ser atormentado pelos o interesse dos editores portugueses. muitos mistérios que vão surgindo encaixam as metáforas de Que me lembre, o único autor desde que encontra um pequeno uma vida inteira. romeno recentemente por cá gravador debaixo da cama. De que Rui Lagartinho editado foi Mircea Cartarescu vive ela? Como consegue viver numa (“Porque Gostamos de Mulheres”, das zonas mais exclusivas da cidade? Paraíso inabitado 2007), autor da genial trilogia São perguntas para as quais Iegor Ana Maria Matute Orbitor, já traduzida em mais de não consegue obter respostas nas (Tradução de Maria do Carmo uma dezena de línguas. suas conversas pós-coito, que, mais Abreu) Mas agora, e graças ao prémio da do que esclarecedoras, vêm apenas Editorial Planeta União Latina – que reserva parte do adensar o mistério. Terá ela sido montante para a tradução de obras médica ou enfermeira na Roménia? mmmnn do distinguido –, podemos ler Porque transporta para o café um também “A Bela Romena”, o mais livro escrito em alemão se diz não Há quase oito anos recente romance de Tsepeneag. Nele conhecer a língua? De que parte do que não havia se narram as muitas histórias de seu passado vem Johannes, o seu notícias de Ana uma inquietante e bonita mulher amante alemão que a besunta com Maria Matute que vive em Paris, diz ser romena e mel? Por que tem ela uma águia em (Barcelona, 1925). chamar-se Ana. A estrutura, algo casa presa numa pequena gaiola e a Não que os seus fragmentada, do romance permite esconde na despensa sempre que silêncios literários ao autor ir semeando a narração Iegor a visita? A mulher que alguns sejam uma Adriana estava atenta: “Às vezes, as ainda não cresceu. Este livro cheira a com factos que vão intrigando o homens quase juram ter avistado no novidade. Quem recordações parecem-se alguns cera dos soalhos recentemente leitor porque não fazem parte do Bosque de Bolonha é a mesma bela começa a publicar romances aos 17 objectos, aparentemente inúteis, polidos, sentem-se as mãos frias das que está a ser linearmente contado. romena que se senta a bebericar anos ganha o direito ao ócio ou à pelos quais sentimos um confuso criadas cúmplices dos primeiros Mas, aos poucos, eles parecem vodca no café de Jean-Jacques? reflexão mais cedo. apego. Sem saber muito bem por segredos da protagonista tocarem- começar a obedecer a uma certa Porque dizia chamar-se Hannah e “Paraíso Inabitado”, publicado o que razão, não nos decidimos a nos através das páginas. Há uma ordem interna que tem a ver com o ser judia quando vivia em Berlim? E ano passado em Espanha e agora deitá-los fora e acabam por se mãe, e três irmãos que são o eixo passado desconhecido de Ana, a há ainda muito mais. traduzido para português pela amontoar no fundo dessa gaveta que central da casa, e depois há uma tia “mulher misteriosa, vinda das Dumitru Tsepeneag, dono de um editorial Planeta, faz a síntese ente evitamos abrir, como se lá fôssemos excêntrica que conduz um carro nascentes do Danúbio”. universo muito singular, é um autor os dois capítulos da sua longa encontrar alguma coisa que não apelidado de “cafeteira” e um pai Com “o seu olhar de um azul tão que merece continuar a ser biografia literária. Num primeiro desejamos, ou inclusive tememos que se mudou com os livros para escuro como o mar Negro em descoberto. tempo, Matute pertence por direito vagamente” uma cidade onde há mar mas que às próprio à geração conhecida por A viagem do unicórnio é ponto de vezes regressa para levar a filha, Se até à queda do regime de “Niños asombrados”, a que se fez partida para esta longa viagem por vestida à Shirley Temple, aos Ceausescu a obra de Tsepeneag adulta durante os anos da Guerra um território geometricamente cinemas da Gran Via madrilena. procurava descrever a situação Civil espanhola (1936-1939). São dividido e onde os “gigantes” E há o pátio do prédio onde às social e política na Roménia, romances filiados num realismo raramente se misturam com quem vezes assomam “‘os pobres’. Uma no período que se lhe seguiu rural mas já dotados de uma tem retratado a Europa prolífera imaginação que lhe e dos seus imigrantes chegados permite desdobrar em sombras e sol do Leste cada personagem que a sua memória recria de forma poética. “Pequeño Teatro”, um dos primeiros Prémios Planeta (1954), é um exemplo dessa produção. Passam algumas décadas e descobrimos Ana Maria Matute imersa no imaginário das fadas, duendes, bosques e respectivos cavaleiros medievais. O tijolo “Olvidado Rei Gudú” (Difel 2001) é corolário desse sonho. Havia pois alguma expectativa sobre “Paraíso Inabitado”, escrito numa altura da vida (84 anos) que mesmo de forma involuntária é sempre de arrumações. Podemos dizer que Matute comprova com este livro a confissão feita um dia de que desconfiava que a infância dura mais que a vida inteira. Adriana cresce numa família madrilena burguesa durante a República Espanhola da década de 30 do século passado. A casa é grande, estratificada, densa, solene de lustres, veludos e tapetes. De um deles escapa-se uma noite um unicórnio que, passado breves instante, regressa à sua moldura.

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 37 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Livros

espécie de tribo assentada do outro lado das muralhas, vagamente ameaçadora, que era necessária acalmar de Natal em Natal com roupas usadas, latas de conservas e brinquedos com os quais já ninguém O conto mais interessante se divertia”. deste volume Também no pátio vive Gavrila, o é o de Dulce Maria Cardoso filho de uma bailarina ausente. É com ele que Adriana vai aprender a voar e a perceber o que é e quais são os limites desse mesmo amor. É como se Alice se cruzasse com Peter Pan. “Paraíso Inabitado” é, pois, um bosque de cimento onde a recriação mágica que se pode fazer da infância não tem limites, mas de onde se tiram lições: “Podemos passar dias, mesmo anos, movendo-nos numa neblina onde quase não tomamos conhecimento do que se passa à nossa volta. Algo semelhante penso agora me aconteceu”. Um livro que se constrói com uma de Noé chamada 40 – Quarenta, que mulheres dos homens que queria prosa transparente semelhante ao ia ao fundo porque entre os autores matar. e elas, burras, caíam por ele cristal com que se armaram os seleccionados não havia, nem de e faziam por ele o que lhes pedisse. lustres que caem do tecto em forma longe, quarenta escritores Uma velha de coração perdido é de aranha. Mas depois não sabemos propriamente ditos. Esta nova uma suicida” (pág. 134). Uma nunca se a mesma aranha, o próprio antologia, “Em Busca da Felicidade”, espécie de maldição sexual, amores bicho, não se cruzará connosco reduz o número a dez, com desenfreados que levam à perdição vinte páginas mais tarde. Se o fizer resultados um nadinha mais dos “corações estragados” (o conto entra e sai fugaz como o unicórnio, apresentáveis. de Maria do Rosário Pedreira é sem deixar qualquer marca de A “felicidade” é um tema literário muito semelhante, enquanto Maria sadismo no território que difícil, muito mais difícil do que a Antonieta Preto opta por um quase atravessou. Ou pelo menos disso não infelicidade. Se a felicidade é, para realismo mágico bastante frouxo). há recordação. Nem trauma. Apenas citar um poeta italiano, o José Luís Peixoto (1974) antecipa a constatação de um facto. “inexprimível nada”, então o conto felicidade sexual de um casal, ainda Apostamos que Ana Maria Matute mais interessante deste volume é o antes de ter acontecido alguma dificilmente aceitaria que um livro de Dulce Maria Cardoso, pequena coisa, e o conto oscila entre o seu fosse um dia ilustrado por Paula vinheta de um casal em férias que sentimentalismo e o engenho de um Rego. talvez lembre Hills Like White texto que é um programa que pode Aqui, a magia é mesmo branca. Elephants, de Hemingway, em ou não ser cumprido. Quanto a João registo mais leve. Não se passa Tordo (1975), continua fiel à sua nada, quase nada, lazer e bom concepção da narrativa como O inexprimí- tempo, copos de vinho e discussões jornalismo, com um português em amáveis. A felicidade aparece como Londres que investiga um caso de sinónimo de beleza, de beleza como violência racista. O conto não tem vel nada estado de espírito, como plenitude, nada de errado, mas lê-se e os sentidos todos lassos mas esquece-se. Dez autores de língua atentos. E, no entanto, surgem A presença africana vai do trivial indícios de infelicidade, da vida dos (o primeiro dia de aulas narrado por portuguesa escrevem contos insectos às crianças com Ondjaki) ao desagradável (um conto sobre a felicidade. problemas, rumores ou incidentes revanchista de Pepetela sobre os Pedro Mexia mínimos que turvam a felicidade ou autores angolanos exilados). Pelo mostram que a felicidade tem um que o outro ponto alto é o conto de Em Busca da Felicidade - Dez contexto, é um parêntesis sempre Lídia Jorge, uma tocante descoberta histórias ameaçado. do cristianismo por duas crianças. Vários autores Um dos motivos de interesse Duas crianças que não acreditam Dom Quixote deste “Em Busca da Felicidade” é a que o menino deitado nas palhinhas presença de três vencedores do e o homem pregado numa cruz mmnnn Prémio Saramago, geralmente sejam a mesma pessoa, que não apontados como três dos mais aceitam aquela cruel repetição anual Além de algumas interessantes autores novos. Nesta de nascimento e morte, e que por panorâmicas colectânea, valter hugo mãe (1971) é isso, na sua ingenuidade, dão substanciais do de longe o mais forte. Trata-se, sumiço a uma imagem religiosa conto português, como de costume, de uma história valiosa. Ao contrário do conto de como as de João de rural e visceral, neste caso sobre Patrícia Reis, que figura Melo e Vasco Graça um homem que se envolve com directamente Deus como Moura, saíram nos mulheres casadas até as fazer personagem, uma tentativa sempre últimos anos uma viúvas, e que depois se condenada a um retumbante quantas antologias desinteressa: “(…) passava-me pela fracasso, Lídia pega numa hipotética que geralmente reúnem autores de cabeça que o mal que este queria às memória infantil e, por assim dizer, determinada editora. A Campo das mulheres casadas seria mais salva o cristianismo de si mesmo, ou Letras e a Quasi, por exemplo, ou a exactamente um mal que queria aos seja, destaca aquilo que nele é Cotovia, que publicou um volume de maridos, se era destas que se ia bondade daquilo que é sofrimento. qualidade. Quanto à Dom Quixote, livrando. não o comentei senão com Claro que se trata de uma ilusão casa de muitos ficcionistas a minha avó, que o zequelino infantil, mas é uma bela ideia de portugueses, fez em 2005 uma arca haveria de escolher a dedo as felicidade.

38 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

“Where The Wild honestidade desarmante mas incisivo sobre os Things Are” é um fi lme no que diz respeito à fantasmas que percorrem Espaço para crianças pouco infância e ao que julgamos a infância. 8 monstros Público convencional e bastante poder vir a ser o mundo, em 10. deslocado. Esqueçam reis e senhores de um Pedro Migueliguel Silva, 3636 a varinha do Harry universo que é perfeito anos, Técnicocnico de Potter ou as crónicas até medirmos forças Comunicaçãocação semanais da Narnia, com a realidade. Está Blogue: http:http: aqui navegamos por tudo lá: a irreverência, /fusco-lusco.uscoo. territórios estranhos ao o medo, a descoberta, a blogspot.t. cinema infanto-juvenil desilusão, num retrato com do costume numa descomprometido

“Estrela Cintilante” fala: do poder quase sagrado da palavra (escrita ou falada) para nos abrir portas, câmara que a saúde frágil de Keats caminhos, janelas que nos mostram quem somos, quem podemos ser, quem queremos ser confina a salas, salões, quartos. A natureza, em “Estrela Cintilante” é uma Natureza idealizada, que Keats regista na sua memória num dos espaçados planos de exteriores do filme e depois reconstitui na sua poesia ornamentada à qual a voz de Ben Whishaw dá uma vida extraordinária (à atenção da distribuidora: é inexplicável e lamentável que o poema lido por Whishaw ao longo do genérico final não esteja legendado). Retrato assombroso de um romance moderno antes do seu tempo, “Estrela Cintilante” é um poema em cinema. E o primeiro grande filme de 2010. O dia do desespero

O filme que John Hillcoat tirou do romance de Cormac Estreiam responsabilidade dela mas sim das do seu tempo, moderna,

Cinema expectativas que o triunfo determinada. A Fanny de Abbie McCarthy é uma viagem improvável de “O Piano” (1993) Cornish é uma jovem que pode não sem regresso a um mundo A defesa colocaram nos ombros de uma ter verdadeiramente experiência de cineasta que segue uma musa muito vida, mas entrevê nas palavras que pós-apocalíptico onde a pessoal e ainda mais peculiar. De tal Keats escreve a possibilidade de uma humanidade enfrenta o do poeta modo que os olhares mais emoção de tal modo transcendente fim da esperança. Jorge mercantilistas olharam para que raia o sagrado. Mourinha O novo filme de Jane “Retrato de uma Senhora” (1996), E é disso que “Estrela Cintilante” “Fumo Sagrado” (1999) e “Atracção fala: do poder quase sagrado da A Estrada Campion finta todas as Perigosa” (2003) como “suicídio palavra (escrita ou falada) para nos expectativas do filme de The Road comercial” a longo prazo – abrir portas, caminhos, janelas que De John Hillcoat, época para contar uma esquecendo o modo como cada um nos mostram quem somos, quem com Viggo Mortensen, Kodi Smit- arrebatada paixão moderna desses três filmes se inscrevia com podemos ser, quem queremos ser; McPhee, Robert Duvall. M/16 naturalidade no percurso de uma da palavra poética como ponte despoletada pelo poder da realizadora mais atenta às correntes espiritual entre as pessoas; do amor MMMMn palavra. Jorge Mourinha subterrâneas das suas personagens como experiência sensorial de uma do que à recepção comercial de transcendência inexplicável mas Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 1: 5ª 2ª filmes que não foram pensados para que, em condições ideias de 3ª 4ª 16h20, 18h50, 21h50 6ª 16h20, 18h50, 21h50, Estrela Cintilante 00h10 Sábado 13h30, 16h20, 18h50, 21h50, 00h10 Bright Star serem “blockbusters”. temperatura e pressão, consegue ser Domingo 13h30, 16h20, 18h50, 21h50; Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo De Jane Campion, Isto tudo para dizer que, como é traduzida em palavras. E, para habitual em Campion, “Estrela melhor o traduzir para os seus 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h20, 18h10, 21h40, com Paul Schneider, Thomas Sangster, 00h10; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 5: 5ª 6ª Abbie Cornish, Kerry Fox. M/12 Cintilante”, primeiro grande (que espectadores, Campion filma tudo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h, 18h30, 21h40, 24h Sábado dizemos? Grandíssimo, isto no âmbito de um peculiar Domingo 11h30, 13h45, 16h, 18h30, 21h40, extraordinário) filme que estreia em triângulo amoroso (o terceiro vértice 24h; CinemaCity Campo Pequeno Praça de MMMMn Touros: Sala 7: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h30, 2010, vai começar por ser visto é Charles Brown, amigo, anfitrião e 18h55, 21h45, 00h05 Sábado Domingo 11h45, Lisboa: Castello Lopes - Londres: Sala 1: 5ª como uma daquelas biografias auto-nomeado protector de Keats 14h05, 16h30, 18h55, 21h45, 00h05; Medeia Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h30 6ª históricas muito britânicas de com quem Fanny se pega desde o Saldanha Residence: Sala 8: 5ª 6ª Sábado Sábado 14h, 16h30, 19h, 21h30, 24h; CinemaCity Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h, Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 6: 5ª 6ª irrepreensível reconstituição de primeiro encontro), como se fosse 00h30; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h20, 19h, época. Ou não contasse a história um idílio pastoral literalmente de Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h40, 19h05, 21h55, 21h25, 23h50; Medeia Monumental: Sala 4 - Cine verídica (mas livremente Teatro: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h, 00h30; UCI Cinemas - El Corte romanceada por Campion a partir Inglés: Sala 14: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h05, da pesquisa realizada por Andrew 16h40, 19h15, 21h45, 00h15 Domingo 11h30, 14h05, Motion, biógrafo do poeta) do 16h40, 19h15, 21h45, 00h15; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, romance entre John Keats, um dos 15h40, 18h20, 21h20, 24h; ZON Lusomundo Oeiras grandes poetas românticos do Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, princípio do século XIX, e Fanny 15h50, 18h40, 21h35, 00h20; ZON Lusomundo série ípsilon II Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Brawne, a sua jovem e arrebatada 13h40, 16h30, 20h55, 23h45; vizinha. Romântico é a palavra certa Porto: Arrábida 20: Sala 14: 5ª 6ª Sábado para descrever o amor de Keats e Domingo 2ª 14h05, 16h45, 19h25, 22h10, 00h55 3ª Fanny, noivado que a morte Sexta-feira, 4ª 16h45, 19h25, 22h10, 00h55; Medeia Cidade do prematura do poeta impediu de dia 15 de Janeiro, Porto: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h40, 19h10, 21h40; ZON Lusomundo consumar, mas se à superfície o o DVD “Juno”, NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª filme cumpre muitas das figuras de Jason Reitman. 14h30, 18h, 21h10, 00h10; obrigatórias do género, um simples Um filme de sucesso pode fazer olhar por baixo do tapete descobre Todas as sextas, muito mal a um realizador que não mais um daqueles “retratos de lhe está habituado – no caso da neo- senhora” em que a realizadora é O apocalipse tem sido recorrente no cinema recente, mas o que por €1,95. zelandesa Jane Campion, o perita – uma mulher imperiosa e Hillcoat faz ultrapassa a fancaria digital de Emmerich ou até a visão 20anos problema não é tanto insegura ao mesmo tempo, à frente da metrópole abandonada do “Ensaio Sobre a Cegueira” de Meirelles

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 39 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Cinema

00h25 Domingo 11h30, 14h10, 16h40, 19h05, McPhee no papel do pai e do filho Porto: Arrábida 20: Sala 13: 5ª 6ª Sábado 21h55, 00h25; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª que percorrem uma América pós- Domingo 2ª 14h20, 16h35, 18h55, 21h30, 00h10 3ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h25, 19h, 4ª 16h35, 18h55, 21h30, 00h10; ZON Lusomundo 21h50, 00h25; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª apocalíptica em busca de uma Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h20, quimera que talvez já não exista. 13h40, 16h20, 19h, 21h50, 00h25; 18h50, 21h40, 00h15; ZON Lusomundo Colombo: 5ª Mas o verdadeiro triunfo de “A 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h25, 18h, 21h15, 23h50; Castello Lopes - Rio Sul Shopping: Sala Estrada” é no modo como Hillcoat Spike Jonze, até nos telediscos 3: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h50, 22h, 00h40 articula todos esses elementos (alguns nada maus), tem um Sábado Domingo 12h40, 15h20, 18h50, 22h, numa visão angustiante, aterradora, interesse particular por neuroses e 00h40; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h15, 18h, incomodativa, de um mundo morto outros macaquinhos no sótão 21h45, 00h25; e sem esperança, onde a (“Being John Malkovich”, Porto: Arrábida 20: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo humanidade está reduzida a uma “Adaptation”). Não é, portanto, 2ª 14h05, 16h45, 19h25, 22h10, 00h45 3ª 4ª 16h45, selvajaria animal e impiedosa, a razão para grande surpresa que 19h25, 22h10, 00h45; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, uma sobrevivência primal. Onde um agora apareça com esta fábula 15h50, 18h40, 21h30, 00h10 ; ZON Lusomundo homem e um menino procuram, levemente freudiana, feita de GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª quase como D. Quixote investindo tristeza, raiva, uns pozinhos de 13h50, 16h30, 19h10, 21h40, 00h20 ; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado contra os moinhos, manter viva a Édipo e toda aquela “quirkiness” Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h20, 19h10, 22h, chama de uma civilização, por mais (falta-nos melhor palavra em 00h40; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª trémula que ela seja, no mais português), aliás já a caminho de se Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h10, 18h50, 21h40, 00h25; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª absoluto negrume. tornar um bocado irritante, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h15, 19h, 21h45 6ª Hillcoat faz deste mundo perdido característica dos filmes dele, dos Sábado 13h30, 16h15, 19h, 21h45, 00h30; em que nos mergulha de Charlie Kaufman, e doutros que Enquanto víamos “A Estrada”, impiedosamente o palco improvável andam por essa órbita. “O Sítio das demos por nós a pensar que o filme de uma meditação sobre a herança, Coisas Selvagens” diz que está tudo de John Hillcoat apenas vai ter uma a transmissão, a esperança. Inverte na mente; e se na mente está tudo o fracção infinitesimal dos de modo hábil as coordenadas que entristece e enfurece, que se espectadores que assistiram à habituais do cinema de género e da encontre na mente o remédio. É a super-produção de Roland ficção apocalíptica para as reduzir a moral da história, aparentemente Emmerich “2012”. Vai de si: as um mero esqueleto, amputado de fiel à do livro adaptado pelo pessoas hão-de sempre preferir um heroísmos e fantasias, do qual argumento, espécie de “clássico apocalipse que “encha o olho”, apenas resta um instinto tribal de moderno” da literatura infantil cheio de milagres tecnológicos que sobrevivência confrontado com um americana, da autoria de Maurice salvam o futuro da humanidade à mundo onde todas as referências e Sendak, e publicado nos anos 60 última hora, do que um que nos padrões desapareceram para talvez (um bocadinho de investigação recorde como a nossa existência na nunca mais regressarem e onde o rapidamente nos deixa mais Terra é frágil, à mercê dos desespero e a morte são curiosos com o livro do que elementos e, apesar de toda a perseguidores incansáveis. Talvez interessados no filme de Jonze). esperança, sem salvação garantida. haja mais de super-herói neste pai Reduzida ao esqueleto, a intriga O apocalipse tem sido assunto que teima em sobreviver no que em tem a limpidez de qualquer fábula. recorrente no cinema recente, mas o todas as fitas de super-heróis jamais Um miudo zanga-se com a irmã, que Hillcoat faz a partir do romance feitas (e não é inteiramente casual com a mãe, com o namorado da de Cormac McCarthy ultrapassa a que seja Viggo Mortensen, mãe, e no cúmulo da raiva abre-se- fancaria digital de Emmerich ou até consagrado pelo heróico Aragorn do lhe uma porta mental qualquer que a perturbante visão da metrópole “Senhor dos Anéis”, a entregar-se- o conduz a um mundo imaginário, abandonada do “Ensaio Sobre a lhe com esta paixão). O que reside povoado por criaturas vagamente Cegueira” de Fernando Meirelles. O no fim da estrada que Hillcoat parecidas com bois, cães e outros mundo destruído, moribundo, desenha não sabemos, tal como não animais, e mais ainda com os angustiantemente plausível de “A sabemos o que causou o apocalipse Marretas (o que não é de estranhar, Estrada” é um daqueles “milagres” que destruiu a civilização; o que porque as criaturas foram feitas que ainda só o cinema consegue sabemos é que a viagem em que ele pela Jim Henson Creature Shop). criar – um equivalente invertido, nos leva exige um estômago forte Depois dos quipróquós iniciais os cinzento e “flat”, da demiurgia (espíritos frágeis, abstenham-se) e bois e os cães (que têm vozes Cameroniana de “Avatar”. nos devolve à realidade famosas: James Gandolfini, Forest Não é, no entanto, nessa oposição singularmente impressionados. fácil e gratuita do filme inane de grande espectáculo ao filme intimista de prestígio que reside o Marretas no sótão discreto triunfo de “A Estrada”. Nem no facto do australiano Hillcoat (que O Sítio das Coisas Selvagens apenas conhecemos entre nós do Where the Wild Things Are western dos Antípodas “Escolha De Spike Jonze, Mortal”, 2005) e do argumentista com Catherine Keener, Max Records, inglês Joe Penhall terem conseguido Mark Ruffalo. M/12 adaptar o supostamente inadaptável romance de McCarthy, MMnnn transcendendo uma pós-produção complicada que viu a estreia do Lisboa: CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 6: 5ª 6ª filme, rodado em 2008, atrasada de 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h30, 23h30 Sábado Domingo 11h35, 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, quase um ano. 21h30, 23h30; Medeia Monumental: Sala 1: 5ª 6ª Esses factores ajudam, claro, e Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 15h40, 17h40, não é pouco – a par de uma 19h40, 21h40, 00h15; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 13: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h30, impecável produção artística e 16h45, 19h15, 21h30, 23h50 Domingo 11h30, 14h30, técnica (a fotografia cinzenta, 16h45, 19h15, 21h30, 23h50; ZON Lusomundo dessaturada de Javier Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h10, 19h, 21h50, 00h10; ZON Lusomundo Aguirresarobe, o design de CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª produção meticuloso de Chris 13h10, 16h10, 18h40, 21h25, 23h50; ZON Lusomundo Kennedy), a par das interpretações Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h, 18h35, 21h15, 23h50; ZON Lusomundo assombrosas de Viggo Mortensen e Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª do estreante australiano Kodi Smit- 13h, 15h25, 17h50, 21h50, 00h20; Sorry, Spike, das outras vezes funcionou um

40 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon Jorge Luís M. Mário Vasco As estrelas do público Mourinha Oliveira J. Torres Câmara Avatar mmmnn mnnnn mmnnn mmnnn Cinzas e Sangue mmnnn nnnnn mnnnn nnnnn Deixa Chover mmmnn mmnnn nnnnn nnnnn Depois das Aulas mmmmn mmmmn mmmmn mmmmm Estrela Cintilante mmmmn nnnnn nnnnn mmmnn A Estrada mmmmn nnnnn nnnnn mnnnn $9.99 mmmmn nnnnn nnnnn nnnnn Sherlock Holmes mmnnn nnnnn mmnnn nnnnn O Sítio das Coisas Selvagens mmmnn mmnnn nnnnn mmnnn Um Profeta mmmmn mmmmn mmmmn mmmmn

Whitaker, Chris Cooper) tratam o esse projecto está condenado ao mas não supera os “vícios” de uma graças ao atmosférico trabalho tom impiedoso dos “Short Cuts” de miudo nas palminhas, aclamam-no semi-fracasso (sejamos positivos: ao primeira obra – o querer falar de fotográfico de Gerard De Battista, Altman a partir de Carver e os como o “Rei” (o “rei” que ele sucesso relativo!), à míngua de um tudo, uma ambição desmedida de toda a guerra de clãs soa a falso. Os momentos mais fantasiosos da gostava de ser em casa, talento que dê para mais do que ritualizar gestos e relações, sem actores desconhecidos bem se velhinha “Quinta Dimensão” a meio naturalmente). Finalmente, o diálogos estrambólicos e uma meia- domínio da linguagem, que esforçam por “fazer das tripas termo entre o trivial e o miudo farta-se de tanto mimo, ou dúzia de, chamemos-lhes assim, corresponde à intensidade anímica coração”, mas aparecem perdidos desconcertante, pacientemente lembra-se que não há amor como o “ideias de visual”. Sorry, Spike, das do projecto, nem da montagem, numa ficção de que não entendem filmado em “stop-motion” (a amor de mãe. outras vezes funcionou um confusa e aleatória. bem as implicações, como estátuas técnica de animação usada pela Causa um certo efeito, durante bocadinho melhor. E as canções de Até existe, por vezes, nesta hirtas e impotentes ou, no caso da Aardman na série “Wallace e algum tempo. A aposta é confrontar Karen O (dos Yeah Yeah Yeahs), em história de vingança e morte uma protagonista, a israelita, Ronit Gromit”). O melhor elogio que se uma psique infantil, no que ela tem modo gata a miar (é a “melancolia”, interessante vontade de construir Elkabetz, a adoptar um “overacting” pode fazer ao filme da israelita de mais definido, com a estranheza a “tristeza”), que encharcam a radicada em Nova Iorque Tatia desconexa do universo das banda sonora, não ajudam muito. Rosenthal, meditação triste mas criaturas, que é uma representação Luís Miguel Oliveira Seja responsável. Beba com moderação. esperançosa sobre a solidão e o enviesada de uma mistura de isolamento pontuada por um sentimentos (a tristeza, a raiva, o humor escuro de tão seco, é que ao amor, o despeito) e de uma teia de Cinzentas bodas fim de pouco tempo nos relações, complicadas e de sangue esquecemos de que estamos a ver incompletamente explicadas, que uma animação para nos deixarmos por sua vez está no lugar do Cinzas e Sangue embalar pela inteligência do guião e “mundo dos adultos”. Cendres et sang pela elegância com que Rosenthal A cena da chegada à ilha (é duma De Fanny Ardant, transforma estes bonecos mal ilha que se trata) é francamente com Ronit Elkabetz, Abraham acabados em gente de carne e osso. boa: há ali uma violência vinda do Belaga, Marc Ruchmann. M/12 E, no entanto, é-nos difícil acreditar nada (as criaturas andam a destruir que este filme pudesse existir em casas, ou lá o que é), uma Mnnnn imagem real. Na sua recusa reformulação dos clássicos “ogres” terminante das gavetas, “$9.99” é ou clássicas “fadas” (todos têm um Lisboa: Medeia King: Sala 1: 5ª Domingo 3ª 4ª uma pequena surpresa que merecia pouco das duas coisas), que figura 14h, 16h, 18h, 20h, 22h 6ª Sábado 2ª 14h, 16h, 18h, outra atenção. J. M. 20h, 22h, 00h30; bem o choque, o “choque mental”. Porto: Medeia Cine Estúdio do Teatro Campo A gravidade e a dicção perfeita com Alegre: Cine-Estúdio: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª que a bicharada diz os seus diálogos 3ª 4ª 18h30, 22h; Continuam - absurdos, neuróticos, angustiados - cria uma sensação de estranheza A passagem de um actor para o Um Profeta que tanto atrai como repele (certas outro lado das câmaras é uma Para quem leva o riso bem a sério e se aplica na boa disposição, Un prophète cenas são um bocado “Beckett com tentação cujos resultados nem a Jameson preparou um conjunto de festas verdadeiramente divertidas. De Jacques Audiard, peluches”). Depois começa a sempre correspondem ao carisma Entre num caso sério de gosto pela vida. Há poucas oportunidades assim. com Tahar Rahim, Niels Arestrup, cansar, a tornar-se demasiado óbvio evidenciado em filmes de outrem. O Adel Bencherif. (as rimas, as frases que aludem à caso de Fanny Ardant, com carreira “vida real” do miudo) como prestigiosa desde os tempos em que www.jameson.pt MMMMn alegoria terapêutica, e ao mesmo funcionou como musa das últimas tempo demasiado aleatório obras de François Truffaut até à Lisboa: Medeia King: Sala 3: 5ª Domingo 3ª 4ª (caminhada para aqui, caminhada participação bastante criteriosa em 14h45, 18h15, 21h30 6ª Sábado 2ª 14h45, 18h15, 21h30, 00h20; Medeia Saldanha Residence: Sala 5: para ali, mas progressivamente películas internacionais, não 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h40, mais mole e mais esgotado). constitui excepção: “Cinzas e 18h35, 21h30, 00h20; UCI Cinemas - El Corte O miudo é bom (chama-se Max Sangue” parece revestir-se de uma uma dimensão operática, que insuportável. O facto de Ardant ter Inglés: Sala 7: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 15h, 18h05, 21h20, 00h20 Domingo 11h30, 15h, 18h05, 21h20, Records), as vozes são boas (Cooper certa força trágica, revelando confere relativa força a um optado por um não-tempo e não- 00h20; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado e Gandolfini, sobretudo), mas cicatrizes abertas na memória argumento recheado de boas espaço também ajuda pouco: nem Domingo 2ª 3ª 4ª 20h50, 23h50; rapidamente se percebe que se colectiva de uma sociedade intenções, embora mal construído e realista, nem mítico, o filme arrasta- Porto: Arrábida 20: Sala 17: 5ª 6ª Sábado Jonze tem um “projecto ancestral, dá boas indicações com diálogos inacreditáveis: uma se numa lentidão sem sentido, entre Domingo 2ª 14h15, 17h40, 21h15, 00h35 3ª 4ª 17h40, 21h15, 00h35; Medeia Cidade do Porto: Sala melancólico” não desprovido de quanto à construção de viúva que escapara à terra dos seus olhares vazios e figuras de negro 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h45, 18h15, originalidade e poder de sedução, personagens, sobretudo no início, antepassados, algures nos Balcãs (o vestidas, a fingir um “Lorca 21h30; filme foi rodado na Transilvânia, balcânico” (tragédia grega nem mas parte de um romance de Ismael sonhar) com mais sinais exteriores Moldado no filme de gangsters e no Kadaré, ambientado na sua Albânia do que nervo. clássico filme de prisão, “Um natal), na companhia dos três filhos, Preferimos a Fanny Ardant, Profeta” faz implodir todas as regras regressa dez anos depois para um ardente actriz de outras “aventuras” e códigos, mais interessado numa casamento de família e vê-se mais afortunadas. Mário Jorge espécie de realismo ontológico que confrontada com todo o tipo de Torres questiona as próprias formas animosidades, acabando por fílmicas. O que a câmara de Jacques sossobrar a um ambiente hostil que $9.99 Audiard faz é percorrer os corpos e desencadeia a “tragédia” no meio de De Tatia Rosenthal, os espaços, procurando a um conflito pela terra e pelo direito com Joel Edgerton (Voz), Geoffrey iconografia do mundo moderno e à “vendetta”. Rush (Voz), Anthony Lapaglia (Voz). desmitificando as razões da No entanto, com orçamento violência que estala em cada plano. reduzido, numa produção de Paulo MMMnn Por isso, se permanece atento ao Branco, a actriz-realizadora debate- mundo mafioso que retrata, não tem se com inúmeros problemas Lisboa: CinemaCity Classic Alvalade: Sala 4: 5ª 2ª contemplações ao focar um resultantes da inexperiência, mas 3ª 4ª 13h45, 15h30, 17h10, 19h, 21h35 6ª 13h45, ambiente claustrofóbico, sem 15h30, 17h10, 19h, 21h35, 23h30 Sábado 11h30, também do facto de contar com 13h45, 15h30, 17h10, 19h, 21h35, 23h30 Domingo embelezamentos, mas de um modo elevado número de personagens, 11h30, 13h45, 15h30, 17h10, 19h, 21h35; poético. Desde os tempos de Gabin cenas de acção com lobos e cavalos, com Carné e os irmãos Prévert que o tudo a escapar-lhe por entre os 2010 começa com um daqueles cinema francês não evidenciava esta dedos, sem conseguir soluções OVNIs de que o espectador incauto força, esta pujança maléfica, embora satisfatórias para evitar uma não se recompõe facilmente: uma vulnerável e comovente, dando ao sensação de involuntário improviso animação para adultos baseada nos protagonista um misto de e de desconchavo narrativo. Se a contos surreais do escritor israelita representação crística e de anjo ou um bocadinho melhor paisagem desolada ainda funciona, Etgar Keret, cruzamento entre o exterminador. M.J.T.

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 41 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

intérprete de Doinel ter sido sempre qualidades diferentes, no limite o esse “ex-libris” de Truffaut em próprio cinema de Truffaut vai particular e da “nouvelle vague” em mudando. “As aventuras de Antoine geral, Jean-Pierre Léaud: Truffaut Doinel” também são vinte anos nunca disse “Doinel, c’est moi”, mas revistos elipticamente, numa esteve quase a dizer “Doinel, c’est crónica pontual que funciona a Léaud”, e entre o que é “moi” e o vários níveis – e onde o mais que é “Léaud”, como se imiscuem e impressionante e o mais comovente como se cindem, se joga muita da é mesmo o crescimento e

DVD singularidade da série centrada na amadurecimento de Léaud entre a personagem de Antoine Doinel. adolescência dos “Quatrocentos Quatro longas-metragens e uma Golpes” e a idade de homem feito curta (“Antoine e Colette”), por altura do “Amor em Fuga”. A realizadas num período de vinte maneira como Léaud habita estes anos (entre 1959 e 1979), retratando filmes ajuda a perceber a que se diferentes etapas da vida referia Truffaut quando dizia que (sentimental, sobretudo) da Doinel foi ficando “cada vez mais personagem de Doinel. A Léaud e cada vez menos Truffaut” – Cinema De François Truffaut adolescência (“Os Quatrocentos a um nível não especialmente Edição: Valentim de Carvalho / MK2 Golpes”, 1959); as paixonetas ainda rebuscado, é quase uma “co- adolescentes (“Antoine et Colette”, autoria” (e isto sem falar da mmmmm 1962); a descoberta do amor adulto lindíssima Claude Jade, por quem, Vida paralela (“Beijos Roubados”, 1968”); o num efeito autobiográfico “ao Extras casamento (“Domicílio Conjugal”, contrário”, Truffaut se teria Truff aut nunca disse “Doinel, mmmmn 1970); e a ruptura (“Amor em Fuga”, apaixonado, já depois de a ter 1979). Vemo-la hoje como uma série escolhido para ser a paixão do seu c’est moi”, mas esteve quase Antoine Doinel foi a fechada, mas Truffaut tinha planos “duplo”…). a dizer “Doinel, c’est Léaud”, mais recorrente para continuar as “aventuras” de Para além dos cinco títulos da e entre o que é “moi” e o personagem de Doinel enquanto continuasse a série Doinel, apresentados em François Truffaut. realizar filmes. Só que morreu quatro discos, a edição inclui um que é “Léaud” se joga muita Não se tratava prematuramente em 1984, cinco bónus, “Os Putos” (“Les Mistons”), da singularidade da série propriamente de anos depois de “Amor em Fuga”, e a uma curta feita por Truffaut em centrada na personagem de um “alter ego” ou vida sentimental de Antoine Doinel 1957. Está muito bem assim como de um “duplo”, ficou interrompida no momento da está, mas fica-se com vontade de Antoine Doinel. mas ao mesmo “ruptura”, quando tinha, contando mais um bonuszitos, uns elementos Luís Miguel Oliveira tempo não deixava de o ser. Alguém pela idade de Léaud nessa altura, para contexto, umas surpresas… em quem se Truffaut se projectava, uns meros 35 anos. As Aventuras de Antoine Doinel: muito ou pouco conforme as Evidentemente, se há elementos Os Quatrocentos Golpes; circunstâncias, mas também “amigo autobiográficos disseminados por Ele e ela Antonoieto o e e Coette; Beijos e jos imaginário”, ou um “filho” de estes filmes, isso não faz deles mais RRoubados;oubados; Domicílio eexistênciaxistência apenas cinematográfica.cinematográfica. “pessoais”“pess ou “confessionais” do Conjugal; Amor Em qqueue também conta, e queque a maior parte da outra vintena Um fi lme notável sobre em fugafuga muitomuito,, o ffactoacto de o dede filmesfilm realizada por Truffaut – o uma relação dilacerada seu “testamento”,“t biográfico, intelectual,intele poético, está espalhado surge numa boa edição em porpor todato a sua obra, de resto DVD que contextualiza um abundanteabun em rimas, jogos de projecto onde tudo podia espelhos,espel e “fintas” na relação com a vida pessoalp (foi a esse pretexto que ter corrido mal mas tudo se deude a zanga definitiva entre ele e correu pelo melhor. Jorge Godard,Goda nos anos 70). Que essas Mourinha rimas,rimas que existem dentro dos “filmes“film Doinel”, facilmente se abrem Quem Tem Medo De Virginia parapara fora deles provam-no os “flash Woolf? backs”backs de “Amor em Fuga”, onde Who’s Afraid of Virginia Woolf? pelopelo menosm uma cena é recuperada de Mike Nichols, com Elizabeth (e(e “desviada”)“de da “Noite Taylor, Richard Burton, George Americana”.Amer Segal MMasa nada disto obsta à Warner Home Video, distribuição Zon pertinênciapertin de uma edição como Lusomundo esta, que reúne todos os “filme Doinel”Doine e dá consistência efectiva a mmmmn uma ideia de “série”. Potencia, alémalém do mais, uma das suas Extras carcaracterísticasa principais, um mmmnn ssentimentoen crescente de fafamiliaridade que não anda Imagine-se um longelo de recuperar uma lógica jovem realizador a folhetinesca.f Com elipses e quem “sai na rifa” buracos,b no que é outra dirigir, logo à característica da série primeira longa, o acentuada pela visão de casal de estrelas de conjunto, até porque a cada cinema mais reencontro os actores estão badalado da época, mais velhos, Paris está um e receber a Truff aut e Jean-Pierre Léadu por alturas pouco diferente, a própria imprensa de todo o mundo logo no de “Amor em Fuga”, que seria o fi nal da série iniciada imagem, no sentido mais primeiro dia de filmagens. Imagine- com “Os Quatrocentos Golpes” (em cima) material do termo, tem se, em seguida, que esse filme

42 • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • Ípsilon A fotografi a a preto e branco foi imposta por Nichols, contra a vontade de Warner, para permitir a Taylor, muito mais jovem que a sua personagem, ser credível no papel adapta ao cinema uma peça que é conjunto impecavelmente geridas, tudo menos um produto óbvio para desorientando a espaços o o “star system” que ainda é o centro espectador com câmaras ao ombro da produção hollywoodiana, e que e zooms velozes. Mas os truques o faz sem cedências ao visuais nunca distraem do essencial convencionalismo ou ao – são as performances conservadorismo dominantes. uniformemente extraordinárias dos Isto tudo para explicar que actores que transportam o filme, e “Quem Tem Medo de Virginia se foram Elizabeth Taylor e Sandy Woolf?”, êxito de bilheteira Dennis que levaram os Óscares para aclamado pela crítica, nomeado casa, seria escandaloso não para treze Oscares da Academia e mencionar as interpretações vencedor de cinco, é uma espécie igualmente assombrosas de Richard de milagre: um filme notável onde Burton e George Segal. tudo podia ter corrido mal (a Este bom duplo DVD (idêntico à começar pela reunião no écrã do edição americana de 2006 tumultuoso casal Elizabeth Taylor/ coincidente com o 40º aniversário Richard Burton) mas onde tudo da estreia) contextualiza correu improvavelmente pelo sagazmente o filme e faz melhor. O próprio Mike Nichols interessantíssimas revelações admite isso no comentário audio: históricas. A peça fora comprada “Quem Tem Medo de Virginia por Jack Warner para Bette Davis e Woolf?” foi uma “operação de James Mason; Nichols foi guerrilha” no interior do sistema contratado a pedido expresso de cada vez mais desagregado dos Taylor (o realizador originalmente estúdios. Numa espécie de escalado era John Frankenheimer); “prenúncio” da vaga de jovem a fotografia a preto e branco foi cinema americano que começaria a imposta por Nichols contra a desabrochar no ano seguinte com vontade de Warner, essencialmente “Bonnie e Clyde”, as circunstâncias para permitir a Taylor, muito mais conspiraram para um resultado jovem que a sua personagem, ser final que conseguia ser inovador credível no papel. para o habitual da produção O principal extra é o excelente Hollywoodiana sem trair a crueza comentário audio de Mike Nichols, do material de origem nem destoar conduzido por Steven Soderbergh, nas fachadas das salas populares. fascinante contextualização da A peça de Edward Albee, estreada produção do filme; acompanha-no em 1962, encena um “jeu de um outro comentário, mais técnico massacre” à volta de um casamento e bem menos interessante, do dilacerado no espaço de uma noite. director de fotografia Haskell George, professor de história, e a Wexler (igualmente vencedor do sua mulher Martha, filha do Óscar pelo seu trabalho no filme). presidente da universidade, Wexler surge também, a par do recebem um casal recém-chegado crítico Richard Schickel, de Edward que se torna testemunha e Albee e de Bobbie O’Steen, viúva do participante dos jogos psicológicos montador Sam O’Steen, em dois que George e Martha mantêm curtos documentários (30 minutos permanentemente, onde a verdade no total) que contextualizam a e a ficção estão constantemente a importância do filme no seu tempo: trocar de fronteiras e a humilhação quer em termos técnicos (graças à verbal é a palavra de ordem. utilização da câmara à mão e da Viagem alucinante e claustrofóbica sobreposição de diálogos na aos abismos de uma relação onde o montagem de som, técnicas amor e o ódio se cruzaram até já inéditas em Hollywood), quer em não se conseguirem distinguir, a termos socioculturais (foi um dos peça foi bem servida por uma primeiros filmes “adultos” adaptação cinematográfica que estreados pelos grandes estúdios, manteve intacta a estrutura, antecipando de poucos meses a construção e diálogos originais mas, entrada em vigor da classificação segundo Nichols, “preencheu os etária que ainda hoje existe). vazios que não se podiam ver em O leque de extras completa-se palco”. com um curioso documentário Nichols ainda não era então o televisivo de 1975 sobre Elizabeth cineasta de “A Primeira Noite”, Taylor, com declarações de colegas “Iniciação Carnal”, “Anjos na de trabalho como Rock Hudson e América” ou “Perto Demais” – era Roddy MacDowall e realizadores apenas um homem do teatro que como Richard Brooks e Vincente dava com “Virginia Woolf” os Minnelli, onde a hagiografia primeiros passos no cinema hollywoodiana abre algumas parecendo compreender brechas incautas muito instintivamente o que diferenciava interessantes; fragmentos de uma ambas as artes. A reprodução entrevista televisiva de Mike Nichols intacta do ambiente claustrofóbico realizada pouco depois da estreia; o da peça, com apenas quatro papéis trailer de época e o teste de câmara principais, é feita através de uma de Sandy Dennis. À excepção, como alternância entre takes longos e seria de esperar, dos comentários cortes rápidos, grandes planos audio, todo o material adicional quase invasivos e composições de está legendado.

Ípsilon • Sexta-feira 8 Janeiro 2010 • 43

Colecção Série Ípsilon II No ano em que completa 20 anos, é o PÚBLICO quem oferece presentes aos seus lei- tores. A colecção Série Ípsilon II reúne 20 dos filmes mais aplaudidos pela crítica e

20 anos premiados internacionalmente. Uma oportunidade única de ver ou rever pelícu- las de Lars Von Trier, Roman Polanski, Milos Forman, Jean Pierre e Luc Dardenne ou Jacques Tati. A melhor selecção de cinema, com o selo de garantia do suplemen- to Ípsilon. Todas as sextas-feiras, com o PÚBLICO, por apenas mais 1,95 euros

Juno 1.º DVD Juno Sexta-feira, 15 de Janeiro Por apenas + 1,95 euros na compra do PÚBLICO

Control As Confissões de Schmidt Série Ípsilon II À descoberta de novas vidas e novos mundos Do universo da ficção à realidade, pela mão de grandes mestres ou de novos talentos da sétima arte, 20 filmes que foram premiados na Europa ou nos Estados Unidos pela sua história, técnica ou personagens

reforma, Warren não sente alívio, Ian Curtis é, em Control (2007), Ana Filipa Gaspar Nos bastidores… mas sim angústia. Quem é esta uma personagem baseada na vida a Quando entramos numa sala mulher de rosto envelhecido real do vocalista dos britânicos Joy de cinema, experienciamos novas • Juno, de Jason Reitman, foi conhecer as pessoas em que que habita a sua casa? Em que Division. Interpretado por Sam vidas, novos mundos, novos filmado em apenas 31 dias. as personagens do filme foram momento do seu passado desistiu Riley, Curtis entra numa espiral tempos. As hipóteses são infi nitas – • James Anthony Pearson, que inspiradas. de todos os sonhos e conformou- de desespero à medida que o seu desde o drama de uma adolescente interpreta o músico Bernard • Roman Polanski dedicou Tess se com um emprego seguro? talento se torna cada vez mais que engravida nos anos 2000 à Summer em Control, aprendeu à sua mulher Sharon Tate que Está na altura de fazer as malas e visível. A fama e a família escapam recriação cómica da efervescência a tocar guitarra em apenas dois fora assassinada, em 1969, pela partir à descoberta da América e ao seu controlo, tal como os ataques musical no Reino Unido na meses para melhor dar vida ao família Manson. de si próprio, não antes de mais de epilepsia que constantemente década de 1970. Por vezes, somos guitarrista. • O argumento original de algumas surpresas, nem sempre o fulminam em palco. Até que o conduzidos pelo olhar de grandes • Ao receber o Globo de Ouro O Escafandro e a Borboleta agradáveis. suicídio se apresenta como única mestres, como Roman Polanski, para Melhor Actor num Filme foi escrito em inglês mas o Quem também parte à procura resposta possível. Jacques Tati ou Lars von Trier. Dramático pela sua interpretação realizador Julian Schnabel de uma nova vida é o jovem Neil São estas e muitas outras Noutras ocasiões, é a primeira em As Confissões de Schmidt, conseguiu convencer o estúdio McCormick (Joseph Gordon- histórias que a colecção Série tentativa cinematográfi ca de um Jack Nicholson afirmou: “Estou Pathé a filmar em francês para Levitt), em Mysterious Skin (2004). Ípsilon II reúne agora em 20 realizador que nos surpreende. um pouco surpreendido. Pensava ser mais fiel à vida de Jean- Vítima de abuso sexual aos oito DVD. Dramas e comédias, factos Em comum, apenas a capacidade que tinha feito uma comédia.” Dominique Bauby. anos, Neil não encontrou na mãe reais ou pura fi cção, retratam o de pôr em movimento realidades • Em 2 Dias em Paris, os pais • O actor Peter Dinklage, o Finbar o apoio de que precisava e, dez quotidiano de pessoas espalhadas mais ou menos distantes, com de Marion são interpretados de A Estação, é vegetariano. anos depois, é mais um prostituto pelo globo, com as mais diferentes personagens que nos convidam a pelos próprios pais da actriz e Na realidade, o bife que come masculino em Nova Iorque, nacionalidades, imortalizadas percorrer os seus dias. realizadora Julie Delpy. durante a película era feito de incapaz de vencer os demónios através da película de realizadores É o caso, por exemplo, de • Joseph Gordon Levitt, o Neil de tofu. que o atormentam. Apesar de se consagrados, novos talentos e Warren Schmidt, interpretado Mysterious Skin, viajou durante • Jimmy, o bebé de Sonia e Bruno encontrar a mais de 1400 milhas cineastas de culto. Todos dignos pelo oscarizado Jack Nicholson em uma semana por várias cidades em A Criança, de Jean-Pierre e de distância, Hutchinson, no de alguns dos mais importantes As Confissões de Schmidt (2002). do Kansas, acompanhado pelo Luc Dardenne, foi interpretado Kansas, continua demasiado prémios do universo da sétima Quando fi nalmente chega o último escritor Scott Heim, para por mais de 40 bebés diferentes. presente na sua memória. arte, na Europa ou nos Estados dia de trabalho antes da merecida Espírito igualmente torturado, Unidos.

O Céu Gira Europa O Escafandro e a Borboleta O Meu Tio

20 Filmes 1991 – Europa 2003 – A Estação 2004 – O Céu Gira Estrangeiro Prémio do Júri no Festival de BFATA para Melhor Argumento Prémio para Melhor Globo de Ouro para Melhor Premiados Cannes – Lars Von Trier Original – Thomas McCarthy Documentário no Buenos Realizador – Julian Schnabel Grande Prémio Técnico no Festival Prémio do Público no Festival de Aires International Festival of 1958 – O Meu Tio de Cannes – Lars Von Trier Sundance – Thomas McCarthy Independent Cinema – Mercedes 2007 – Juno Palma de Ouro e Prémio Especial Prémio para Melhor Actriz em Álvarez Óscar para Melhor Argumento do Júri no Festival de Cannes – 1998 – Os Últimos Dias Filme Dramático no Festival de Prémio Tiger no Festival Original – Diablo Cody Jacques Tati Óscar para Melhor Documentário – Sundance – Patricia Clarkson Internacional de Cinema de BAFTA para Melhor Argumento James Moll e Ken Lipper Prémio Waldo Salt para Melhor Roterdão – Mercedes Álvarez Original – Diablo Cody 1979 – Tess Argumento no Festival de Prémio Satellite para Melhor Óscar para Melhor Fotografia – 2002 – A Intervenção Divina Sundance – Thomas McCarthy 2005 – A Criança Actriz em Musical ou Comédia – Geoffrey Unsworth e Ghislain Prémio do Júri no Festival de Palma de Ouro no Festival de Ellen Page Cloquet Cannes – Elia Suleiman 2004 – A Esquiva Cannes – Jean-Pierre e Luc Óscar para Melhor Guarda-roupa – Prémio FIPRESCI no Festival de César para Melhor Filme – Dardenne 2007 – Control Anthony Powell Cannes – Elia Suleiman Abdellatif Kechiche e Jacques Prémio Carl Foreman para Óscar para Melhor Cenografia – Ouaniche 2006 – Climas Actor Mais Promissor Pierre Guffroy e Jack Stephens 2002 – As Confissões de Schimdt César para Melhor Realizador – Prémio FIPRESCI no nos BAFTA Awards – Matt César para Melhor Realizador – Globo de Ouro para Melhor Abdellatif Kechiche Festival de Cannes Greenhalgh Roman Polanski Actor em Filme Dramático – Jack César para Melhor Argumento – Nuri Bilge Ceylan Prémio para Melhor Filme nos César para Melhor Filme – Roman Nicholson – Abdellatif Kechiche e Ghalia Independent Film Awards Polanski Globo de Ouro para Melhor Lacroix 2007 – O Escafandro e a Prémio para Melhor Realizador Globo de Ouro para Melhor Filme Argumento – Alexander Payne e César para Melhor Jovem Actriz – Borboleta nos Independent Film Awards – Estrangeiro – Roman Polanski Jim Taylor Sara Forestier BAFTA para Melhor Argumento Anton Corbjin Globo de Ouro para Actriz Adaptado – Ronald Harwood Prémio para Melhor Actor Revelação do Ano – Nastassja 2002 – 24 Hour Party People 2004 – Terra da Abundância Prémio para Melhor Realizador Secundário – Toby Kebbell Kinski Prémio para Melhor Produção nos Prémio UNESCO no Festival de no Festival de Cannes – Julian Prémio Jovem Olhar no Festival de British Independent Film Awards Veneza – Wim Wenders Schnabel Cannes – Anton Corbjin 1989 – Valmont César para Melhor Actor César para Melhor Guarda-Roupa – 2002 – As Irmãs de Maria 2004 – Mysterious Skin – Mathieu Amalric 2007 – 2 Dias em Paris Theodor Pistek Magdalena Prémio do Júri no Bergen César para Melhor Montagem – Prémio Coup de Coeur no Mons César para Melhor Desenho de Leão de Ouro no Festival de International Film Festival – Gregg Juliette Welfling International Festival of Love Produção – Pierre Guffroy Veneza – Peter Mullan Araki Globo de Ouro para Melhor Filme Films – Julie Delpy 15 de Janeiro Depois de sofrer um acidente vascular Shue) o percebesse. Já Brian ficou amnésico durante quatro Juno (2007) cerebral, o prestigiado jornalista e editor horas e, ao voltar a si, tinha o nariz em sangue. Dez anos mais Realização: Jason Reitman da revista Elle desenvolve a síndrome do tarde, os dois reencontram-se. Argumento: Diablo Cody encarceramento, uma rara patologia que Elenco: Ellen Page, Michael Cera, Jennifer Garner e Jason lhe deixa o corpo totalmente paralisado, Gregg Araki Bateman à excepção do olho esquerdo. A partir de O californiano Gregg Araki, 50 anos, ocupa um lugar de Uma gravidez inesperada é o ponto de então, Bauby tem de aprender a conviver culto no cinema americano independente, distinguindo-se partida de Juno, comédia dramática que com o seu novo estado. O filme é baseado principalmente entre o chamado New Queer Cinema. Formado se centra na adolescente Juno MacGuff no livro das memórias ditado pelo pela Universidade da Califórnia, Santa Bárbara, foi crítico de (Ellen Page). Aos 16 anos, a pragmática próprio Jean-Dominique Bauby, também músico da publicação L.A. Weekly e estreou-se no grande ecrã e independente Juno descobre que está intitulado O Escafandro e a Borboleta. em 1987 com Three Bewildered People in the Night. grávida, consequência de uma única experiência sexual com o seu amigo Julian Schnabel 5 de Março Paulie Bleeker (Michael Cera). Ambos Multifacetado e famoso pela sua personalidade boémia, Tess (1979) concordam que uma relação não é a Julian Schnabel trabalhou como taxista e cozinheiro, Realização: Roman Polanski melhor opção, quanto mais formarem uma mas foi como pintor que se destacou na cena artística Argumento: Gérard Brach, Roman Polanski e John família. E, com o apoio de Bleeker, Juno nova-iorquina nos anos 1980. Em 1996, Schnabel apostou Brownjohn marca um aborto. No entanto, a jovem não consegue avançar também no cinema ao realizar Basquiat e não mais parou. Elenco: Nastassja Kinski, Peter Firth, Leigh Lawson e com o planeado. Depois de contar aos pais, decide ter a criança e Do seu currículo fazem também parte títulos como Antes John Collin entregá-la para adopção. Mas a história não fica por aqui... que Anoiteça (2000) ou O Escafandro e a Borboleta (2007). Tess (Nastassja Kinski), uma camponesa da Inglaterra dos finais do século Jason Reitman 12 de Fevereiro XIX, procura emprego na mansão dos O realizador nasceu em Montreal, no Quebec (Canadá), O Meu Tio (1958) D’Urbeville. Seduzida pelo dono da casa, em 1977 e é conhecido por realizar comédias a partir de Realização: Jacques Tati Tess engravida e foge para a casa dos assuntos sérios, como os perigos do tabaco, a gravidez Argumento: Jacques Tati pais mas também aí não encontra apoio. adolescente ou a crise económica. O seu mais recente Elenco: Jacques Tati, Jean-Pierre Zola, Adrienne Escorraçada pela família acaba por dar à trabalho, Nas Nuvens (2009), lidera a corrida aos Globos de Servantie e Lucien Frégis luz um bebé que não sobrevive ao parto. Ouro e chega às salas portuguesas a 21 de Janeiro. Meio século após a sua criação, as Mais tarde, a rapariga procura reconstruir aventuras de Monsieur Hulot (Jacques a sua vida ao lado de Angel (Peter Firth), o 22 de Janeiro Tati) não perderam uma pitada de filho do pastor da igreja local. Na véspera Control (2007) graça. Em O Meu Tio, Hulot é cunhado do casamento, Tess decide revelar o seu passado ao noivo mas Realização: Anton Corbijn do gerente de uma fábrica de plásticos conseguirá ele aceitar a verdade? Argumento: Deborah Curtis e Matt Greenhalgh e, à semelhança do automatismo fabril, Elenco: Sam Riley, Samantha Morton, Alexandra Maria tudo na casa dos Arpel é automático Roman Polanski Lara e Joe Anderson e ultramoderno, pouco adequado às Apaixonado pela arte dramática, o polémico Roman Baseado no livro Touching From a brincadeiras dos mais novos. Por isso, o Polanski realizou, em 1962, a sua primeira longa-metragem, Distance, de Deborah Curtis, Control é sobrinho de Hulot (Gerard Arpel/Alain Knife in the Water, que seria nomeada para o Óscar de um filme biográfico sobre Ian Curtis, Bécourt) prefere passar o seu tempo Melhor Filme Estrangeiro. Seis anos depois o realizador de vocalista da banda inglesa de pós-punk no pequeno e modesto apartamento do tio. Mas, para Charles origem polaca tentaria a sua sorte em Hollywood mas uma Joy Division, que se suicidou em 1980. A Arpel (Jean-Pierre Zola), a influência de Hulot é nociva e é série de acontecimentos macabros envolvendo a mulher película retrata a vida do jovem músico necessário convertê-lo aos tempos modernos. levá-lo-iam a abandonar o país. e acompanha o seu tortuoso percurso na emblemática banda que liderou. Também Jacques Tati 12 de Março o seu casamento, as suas relações Realizador e actor francês, Jacques Tati morreu em 1982, O Céu Gira (2004) extraconjugais e os seus problemas de em Paris, vítima de pneumonia. Os seus filmes são, em Realização: Mercedes Álvarez epilepsia são explorados no filme que, regra, protagonizados pelo excêntrico Monsieur Hulot, Argumento: Arturo Redin e Mercedes Álvarez apesar de ter sido filmado em 2007, foi depois convertido para eternamente atormentado pelo mundo moderno. Foi Elenco: Elias Álvarez, Mercedes Álvarez (voz), Pello preto e branco. classificado como o 46.º maior realizador de todos os Azketa e Hicham Chate tempos pela revista americana Entertainment Weekly. Um ano numa pequena aldeia no Norte Anton Corbjin de Espanha é o que nos propõe O Céu Fotógrafo e realizador, o holandês Anton Corbijn tornou-se 19 de Fevereiro Gira, o documentário de estreia da conhecido pelos trabalhos que efectuou com bandas como Valmont (1989) realizadora espanhola Mercedes Álvarez. os U2, os REM, os Nirvana ou os Depeche Mode, para quem Realização: Milos Forman Natural de Aldealseñor, na província dirigiu os videoclips Personal Jesus e Enjoy the Silence. Argumento: Choderlos de Laclos, Jean-Claude Carrière e de Soria, Mercedes foi a última criança Em 2007, estreou-se no cinema com Control, um filme Milos Forman a nascer no local, agora limitado a 14 biográfico sobre o vocalista dos Joy Division, Ian Curtis. Elenco: Colin Firth, Annette Bening, Meg Tilly e Fairuza habitantes. À beira do desaparecimento, Balk a aldeia torna-se numa metáfora para a 29 de Janeiro Na França do século XVIII, a Marquesa perda de visão do pintor Pello Azketa. As Confissões de Schmidt (2002) de Merteuil (Annette Bening) e o Num registo emocional, a narradora Realização: Alexander Payne Visconde de Valmont (Colin Firth) são observa o actual estado de Aldealseñor, ao mesmo tempo que Argumento: Alexander Payne e Jim Taylor um par engenhoso a cujas manobras de recupera memórias da sua infância quando, aos três anos, Elenco: Jack Nicholson, Kathy Bates, Hope Davis e sedução ninguém consegue escapar. deixou a aldeia na companhia dos pais e dos irmãos. Dermot Mulroney Ligados pelos seus conluios e segredos, Baseado no romance de Louis Begley, As Merteuil e Valmont reinam nos salões Mercedes Alvarez Confissões de Schmidt traz-nos a história e nas antecâmaras de uma aristocracia Oriunda de Aldealseñor, em Soria (Espanha), onde nasceu em de Warren Schmidt (Jack Nicholson), progressivamente minada por uma série 1966, Mercedes Álvarez deu os primeiros passos no mundo do um homem prestes a entrar na desejada de segredos obscuros. No entanto, os dois cinema com a curta-metragem El Viento Africano, de 1997. O reforma. Contudo, a viagem que tinha eternos aliados acabarão por se enfrentar Céu Gira (2004) foi a sua primeira e única longa-metragem até planeado com a mulher Helen (June e, nesse duelo impiedoso, qualquer sentimento sincero poderá ao momento, conquistando a atenção de vários festivais de Squibb) para partir à descoberta a constituir uma falha mortal. cinema independente na Europa e na América latina. América dá lugar a outros eventos, desde logo a morte de Helen e, pouco depois, Milos Forman 19 de Março o casamento da filha Jeannie (Hope Milos Forman nasceu na antiga Checoslováquia, em 1932, 2 Dias em Paris (2007) Davis) com um vendedor de colchões de mas foi nos Estados Unidos que se notabilizou na sétima Realização: Julie Delpy água, Randall Hertzel (Dermot Mulroney). Estes novos desafios arte. Voando Sobre um Ninho de Cucos (1975), Amadeus Argumento: Julie Delpy representam, porém, uma oportunidade de autoconhecimento (1984) ou The People vs Larry Flint (1996) são alguns dos Elenco: Adam Goldberg, Julie Delpy, Daniel Brühl para o angustiado Warren. filmes que lhe deram um lugar na história do cinema e lhe e Marie Pillet valeram dois Óscares para Melhor Realizador. Como tentativa de reatarem o seu Alexander Payne relacionamento, Marion (Julie Delpy), Natural de Omaha, no estado americano do Nebrasca, 26 de Fevereiro uma fotógrafa francesa, e Jack (Adam Alexander Payne, 48 anos, gosta de filmar nos arredores Mysterious Skin (2004) Goldberg), um decorador norte- da zona onde cresceu. A sua imagem de marca é o humor Realização: Gregg Araki americano, decidem viajar pela Europa. negro com que satiriza a sociedade americana, presente Argumento: Gregg Araki A sua primeira paragem é Veneza, mas em obras como As Confissões de Schmidt (2002) e Sideways Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Brady Corbet e Elisabeth Shue os namorados acabam por adoecer com (2004). Actualmente, está a trabalhar na pré-produção de A partir do romance de Scott Heim, gastroenterites e, por isso, optam por The Descendants, previsto para 2011. Mysterious Skin é uma viagem ao viajar até Paris, cidade onde vivem os passado de dois jovens, Neil McCormick pais de Marion. Os problemas não tardam 5 de Fevereiro (Joseph Gordon-Levitt) e Brian Lackey em aparecer. Intolerantes e autoritários, O Escafandro e a Borboleta (2007) (Brady Corbet). Ambos cresceram os pais da fotógrafa recusam-se a falar inglês com Jack. Por seu Realização: Julian Schnabel em Hutchinson, Kansas, e aos oito turno, este último irrita Marion por desejar fotografar todos os Argumento: Ronald Harwood e Jean-Dominique Bauby anos sofreram experiências que os ângulos da famosa “cidade da luz”. Elenco: Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner, Marie- traumatizaram para a vida. Neil foi Josée Croze e Anne Consigny vítima de abuso sexual por parte do seu Julie Delpy Aos 43 anos, Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric), mais treinador de beisebol (Bill Sage) e não Actriz, cantora e realizadora, Julie Delpy nasceu em Paris em conhecido por Jean-Do, vê a sua vida mudar radicalmente. conseguiu que a sua mãe (Elisabeth 1966, no seio de uma família ligada ao mundo do espectáculo. Como actriz, Delpy destacou-se ao lado de Ethan Hawke em própria editora de música, a Factory em Al-Ram, junto ao posto de controlo de Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Anoitecer (2004), de Records. Os Joy Division, James e os Jerusalém Leste... Richard Linklater. Em 1995 estreou-se na realização, sendo 2 Happy Mondays e uma série de artistas Dias em Paris a sua película de maior destaque. que marcaram a criação musical na Elia Suleiman Grã-Bretanha dos anos 70 rapidamente Palestiniano oriundo de Nazaré (Israel), o 26 de Março assinam contrato com a nova editora de realizador e actor Elia Suleiman, 49 anos, Climas (2006) Wilson que assim se vê enredado num viu o seu talento reconhecido através de Realização: Nuri Bilge Ceylan turbilhão de música, sexo e drogas que Intervenção Divina (2002), vencedor do Argumento: Nuri Bilge Ceylan culmina com o nascimento de um dos prémio do júri em Cannes. O seu estilo Elenco: Ebru Ceylan, Nuri Bilge Ceylan, Nazan Kirilmis e dance clubs mais famosos do mundo, o cinematográfico é frequentemente Mehmet Eryilmaz Hacienda. comparado ao de Jacques Tati e de O drama turco Climas é um relato de Buster Keaton, por conciliar a sobriedade e o burlesco. uma relação falhada entre Isa (Nuri Bilge Michael Winterbottom Ceylan), um professor universitário, e a O seu realismo e a sua notável capacidade de conjugar 14 de Maio mulher Bahar (Ebru Ceylan), directora características do documentário e da ficção são dois dos A Estação (2003) de arte para a indústria televisiva. Tudo aspectos que melhor identificam o trabalho do realizador Realização: Thomas McCarthy começa com as férias do casal na região britânico Michael Winterbottom. As questões de política Argumento: Thomas McCarthy turística de Kas, onde Bahar manifesta o internacional são temas recorrentes na sua obra, em Elenco: Peter Dinklage, Paul Benjamin, Jase Blankfort e seu descontentamento face à distância particular em filmes como Welcome to Sarajevo (1997), The Paula Garcés de Isa. Após um jantar com uns amigos Road to Guantanamo (2006) ou A Mighty Heart (2007). Finbar (Peter Dinklage) só queria e um dia na costa, a ruptura é mais do encontrar um pouco de paz quando que evidente e Bahar regressa sozinha 23 de Abril decide mudar-se para uma antiga estação para Istambul. Entretanto, Isa entrega-se nos braços de uma Europa (1991) de comboios de uma pequena cidade ex-namorada, Serap (Nazan Kirilmis), mas Bahar continua, de Realização: Lars von Trier no campo. No entanto, está longe de algum modo, presente. Argumento: Lars von Trier e Niels Vørsel adivinhar a mudança que vai acontecer Elenco: Jean-Marc Barr, Barbara Sukowa, Udo Kier e na sua vida. Aos poucos, Finbar envolve- Nuri Bilge Ceylan Ernst-Hugo Järegård se na vida dos vizinhos Olivia (Patricia Dividindo-se entre o cinema e a fotografia, o turco Nuri Bilge No pós-II Guerra Mundial, Europa, Clarkson), uma artista que tenta lidar Ceylan nasceu em 1959 em Istambul e é casado com Ebru de Lars von Trier, é um testemunho com o fim do seu casamento, e Joe Ceylan, a co-protagonista de Climas (2006). Ao receber o da impossibilidade de manter a (Bobby Cannavale), um trintão que adora prémio de melhor realizador em Cannes, em 2008, dedicou-o neutralidade num cenário de cozinhar e conversar. A Estação é um filme sobre três pessoas ao seu país, “solitário e belo, que amo apaixonadamente”. guerra. Em 1945, Leopold Kessler sem nada em comum, excepto a solidão que partilham. (Jean-Marc Barr), um americano 2 de Abril com descendência alemã, chega Thomas McCarthy Os Últimos Dias (1998) a Frankfurt e encontra uma Natural de New Jersey, nos Estados Unidos, onde nasceu Realização: James Moll Alemanha destruída. O tio (Ernst- em 1966, Thomas McCarthy começou a sua carreira como Os Últimos Dias são um testemunho Hugo Järegård) arranja-lhe trabalho actor, tendo participado em várias séries televisivas como pessoal de cinco judeus húngaros que na companhia ferroviária Zentropa e, The Wire ou A Lei e a Ordem, bem como em filmes como escaparam à morte nos campos de embora Leopold tente ser neutro, rapidamente percebe que, Um Sogro do Pior (2000) ou Boa Noite e Boa Sorte (2005). A concentração nazi. Os sobreviventes de ambos os lados, há interesses que tentam manipulá-lo. Estação (2003) marcou a estreia de McCarthy na realização. recordam o difícil período do domínio E é a paixão pela poderosa herdeira do império Hartmann, das tropas hitlerianas e revisitam as Katharina (Barbara Sukowa), que o vai obrigar a escolher 21 de Maio casas onde passaram a sua infância. um dos lados. A Criança (2005) O documentário reúne ainda os Realização: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne depoimentos de um Sonderkommando – Lars von Trier Argumento: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne nome dado aos prisioneiros encarregues Um dos grandes nomes do cinema dinamarquês, Lars von Elenco: Jérémie Renier, Déborah François e Jérémie dos trabalhos nas câmaras de morte Trier nasceu em 1956 em Copenhaga. As suas fobias são Segard –, um médico que efectuou experiências em prisioneiros de célebres e, aparentemente até hoje, nunca pôs os pés na À primeira vista, A Criança fala-nos de Auschwitz e soldados norte-americanos que participaram na América. Mesmo depois de, na sequência do sucesso de um romance. Bruno (Jérémie Renier) e libertação em Abril de 1945. Europa (1991), Steven Spielberg lhe oferecer um argumento Sonia (Déborah François) são dois jovens para dirigir um filme nos Estados Unidos. imaturos, apaixonados, que fazem de James Moll pequenos crimes o seu estilo de vida. Dada a sua paixão pelo piano, o realizador e produtor 30 de Abril Contudo, o casal tem agora um filho norte-americano James Moll chegou a pensar trocar a Terra da Abundância (2004) e a situação transtorna as suas vidas. escola de cinema pela escola de música. O talento para a Realização: Wim Wenders Acabada de sair do hospital, Sonia sétima arte acabou, porém, por falar mais alto. Nos últimos Argumento: Wim Wenders, Scott Derrickson e Michael procura Bruno no seu apartamento, anos, Moll tem realizado vários trabalhos de natureza Meredith quando descobre que foi arrendado a documental, dando especial atenção ao período da Elenco: Michelle Williams, John Diehl e Shaun Toub um outro casal. Depois de o procurar nas Segunda Guerra Mundial e do Holocausto. Filha de missionários norte-americanos, ruas, encontra-o com o seu gangue e, juntos, passam a noite Lana (Michelle Williams) foi criada na num abrigo. No dia seguinte, registam a criança como Jimmy. 9 de Abril África do Sul e no Médio Oriente. Uma Mas Bruno decide vender o filho para adopção. A Esquiva (2003) missão de apoio a pessoas sem-abrigo Realização: Abdel Kechiche leva-a, porém, de volta ao seu país de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne Argumento: Ghalya Laroix origem. De regresso aos Estados Unidos, Os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, 58 e 55 anos Elenco: Osman Elkharraz, Sara Forestier, Sabrina a rapariga procura o seu único familiar respectivamente, estrearam-se no universo cinematográfico Ouazani e Nanou Benhamou ainda vivo: o tio Paul (John Diehl) que em 1978 com o documentário Le Chant du Rossignol. Mas foi O drama romântico A Esquiva conta-nos a nunca conheceu. Veterano da Guerra do com a ficção La Promesse, de 1996, que se tornaram famosos história de Krimo (Osman Elkharraz), um Vietname, Paul vive num permanente a nível mundial, recebendo vários prémios internacionais. jovem de 15 anos que vive nos subúrbios estado de paranóia desde os ataques de Paris. Apesar de a sua mãe trabalhar terroristas do 11 de Setembro. Tio e sobrinha parecem não ter 28 de Maio num supermercado e o seu pai estar nada em comum mas a morte de um emigrante paquistanês vai As Irmãs de Maria Madalena (2002) preso, Krimo continua a alimentar o uni-los numa mesma missão. Realização: Peter Mullan sonho de um dia partir com os pais num Argumento: Peter Mullan veleiro até ao fim do mundo. De resto, Wim Wenders Elenco: Anne-Marie Duff, Nora-Jane Noone, Dorothy Duffy vive um dia-a-dia habitual para um rapaz Wim Wenders queria ser pintor mas foi o cinema que o e Eileen Walsh da sua idade, na companhia dos amigos. acabou por conquistar. O realizador alemão que nasceu em Numa Irlanda profundamente católica, Até que, em plena Primavera, se apaixona Düsseldorf, em 1945, é um dos mais prestigiados cineastas Margaret (Anne-Marie Duff), Bernadette por Lydia (Sara Forestier), uma jovem tão fascinante quanto da actualidade. Paris-Texas (1984), Asas do Desejo (1987), (Nora-Jane Noone), Rose (Dorothy Duffy) maliciosa... Buena Vista Social Club (1999) e Terra da Abundância e Crispina (Eileen Walsh) são acusadas (2004) são algumas das suas obras mais conhecidas. de manifestarem um comportamento Abdel Kechiche devasso e, por isso, internadas num Actor, realizador e argumentista, Abdel Kechiche, 49 7 de Maio convento das Irmãs de Maria Madalena. anos, é natural de Tunis, na Tunísia, mas cresceu em Nice, Intervenção Divina (2002) Ali estão à mercê da vilania da Irmã França. O seu primeiro filme, La Faute à Voltaire, viu a luz Realização: Elia Suleiman Bridget (Geraldine McEwan), a madre do dia em 2000 e uma das suas principais características é Argumento: Elia Suleiman superiora do convento que, além dos incluir actores amadores no elenco. Elenco: Elia Suleiman, Manal Khader e George Ibrahim trabalhos forçados na lavandaria da Drama, comédia, guerra e romance: Intervenção Divina, do instituição, as submete aos mais duros e pesados castigos. 16 de Abril palestiniano israelita Elia Suleiman, combina todos estes 24 Hour Party People (2002) ingredientes para transpor para o grande ecrã o quotidiano Peter Mullan Realização: Michael Winterbottom palestiniano em Israel, num bairro de Nazaré. Trata-se de várias Desde os 19 anos que o britânico Peter Mullan queria Argumento: Frank Cottrell Boyce histórias, entrelaçadas por personagens, locais e emoções. realizar filmes. O facto de não conseguir entrar na escola Elenco: Steve Coogan, John Thomson, Nigel Pivaro e Umas são demasiado absurdas e outras parecem lendas, mas de cinema levou-o, contudo, a apostar na carreira de actor, Shirley Henderson têm em comum o facto de poucas palavras serem ditas. Há, por tendo participado em filmes como Braveheart (1995) ou Em 1976, durante um concerto dos Sex Pistols, Tony Wilson exemplo, um homem que sofre um ataque de coração, um filho Trainspotting (1996). Só 1993 cumpriria o sonho antigo da (Steve Coogan) e um grupo de amigos decidem criar a sua que o visita no hospital e que regularmente visita uma mulher realização, ao dirigir a curta-metragem Close.