Plínio Marcos: Uma Vez Mais 1
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Plínio Marcos: uma vez mais 1 Reitor José Daniel Diniz Melo Vice-Reitor Henio Ferreira de Miranda Diretoria Administrativa da EDUFRN Graco Aurélio Câmara de Melo Viana (Diretor) Helton Rubiano de Macedo (Diretor Adjunto) Judithe da Costa Leite Albuquerque (Secretária) Conselho Editorial Graco Aurélio Câmara de Melo Viana (Presidente) Anna Cecília Queiroz de Medeiros Arrilton Araújo de Souza Cândida de Souza Eduardo José Sande e Oliveira dos Santos Souza Francisco Dutra de Macedo Filho Glória Regina de Góis Monteiro Heather Dea Jennings Helton Rubiano de Macedo Jorge Tarcísio da Rocha Falcão Luciene da Silva Santos Márcia Maria de Cruz Castro Márcio Zikan Cardoso Maria Jalila Vieira de Figueiredo Leite Marta Maria de Araújo Mauricio Roberto C. de Macedo Richardson Naves Leão Sebastião Faustino Pereira Filho Tércia Maria Souza de Moura Marques Yanko Marcius de Alencar Xavier Editoração Helton Rubiano (Editor) Isabelly Araújo (Colaboradora) Suewellyn Cassimiro (Colaboradora) Design editorial Michele Holanda (Coordenadora) Rafael Campos (Projeto gráfico) André Parisi (Escultura da capa) Aberturas de capítulos (Pexels, Divulgação) Plínio Marcos: uma vez mais Fundada em 1962, a Editora da UFRN (EDUFRN) permanece até hoje dedicada à sua principal missão: produzir livros com o fim de divulgar o conhecimento técnico-científico produzido na Universidade, além de promover expressões culturais do Rio Grande do Norte. Com esse objetivo, a EDUFRN demonstra o desafio de aliar uma tradição de quase seis décadas ao espírito renovador que guia suas ações rumo ao futuro. Coordenadoria de Processos Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte.UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Contiero, Lucinéia. Plínio Marcos [recurso eletrônico] : uma vez mais / Lucinéia Contiero. – Natal, RN : EDUFRN, 2019. 428 p. : il., PDF ; 12,3 MB Modo de acesso: http://repositorio.ufrn.br ISBN 978-85-425-0931-1 1. Barros, Plínio Marcos de, 1935-1999. 2. Escritores – Brasil - Biografia. I. Título. CDD 928.6981 RN/UF/BCZM 2019/27 CDU 929Barros Elaborado por Gersoneide de Souza Venceslau – CRB-15/311 Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN | Brasil e-mail: [email protected] | www.editora.ufrn.br Telefone: 84 3342 2221 Lucinéia Contiero Plínio Marcos: uma vez mais NATAL 2019 Às minhas memórias – águas que me trouxeram a este porto... Ao meu pai, Oswaldo Contiero (in memoriam), por suas ricas e educadoras memórias em rodas noturnas iluminadas pela santificada união familiar... À minha mãe, Maria Luiza, e aos meus irmãos Márcia, Marcos e Oswaldo Jr, que persistem compondo as rodas das nossas memórias... Ao Sérgio, pelo respeito às minhas memórias e por ser aquele com quem construo as mais valiosas... À memória de Plínio, com profundo respeito por sua contribuição à Dramaturgia Brasileira. PrEfÁcIo Arvorar-se nos caminhos da produção biográfica não é tarefa das mais fáceis. Há muito deixou de ser a reunião de informações sobre determinado sujeito. As mudanças dos refe- renciais teóricos e metodológicos das Ciências Humanas e Sociais das últimas décadas fizeram o gênero biografia complexificar-se, assim como os demais princípios científicos da área. A produção de biografia mudou ao longo do tempo, tanto em termos de personagens-foco quanto de procedimentos, indo desde aquela produzida na forma de memórias ou com inserção de informações fictícias (biografias de cunho literário) até aquela pautada em investigação documental consistente, confiável e va- riada. Em termos históricos, foi, em um passado recente e de certa forma, considerada um modo superado de produzir conhecimen- tos. A partir de meados dos anos de 1960, sob a influência da Nova História e do consequente encaminhamento para que fosse estudado o fato histórico em sua totalidade e, portanto, com aten- ção às dimensões social, econômica, cultural e política, a atenção à biografia passou a ser revista. Uma biografia histórica renova- Plínio Marcos: uma vez mais da foi apresentada pelas mãos do historiador francês Lucien Fe- bvre. O que se buscava a partir de então? Que o pesquisador se voltasse para o indivíduo biografado, mas que, uma vez atento às dimensões em que este estava inserido, cuidasse de informar aos seus leitores, igualmente, sobre o seu contexto de vivência, com atenção a diferentes aspectos. Estudar um indivíduo significaria analisar suas ações em relação ao seu ambiente histórico-social. O entendimento, a partir de então, é o de que a clara com- preensão de quem se fala ou sobre quem se lê só se é concebida na relação com os outros e com o contexto de vivência. Nessa pers- pectiva renovada, biografar Plínio Marcos (1935-1999) significa ir além do homem, do escritor, do ator, do teatrólogo, do jorna- lista e do dramaturgo. Significa compreender e explicitar tal com- preensão sobre as diferentes teias que construíram a sociedade brasileira de todo o século XX. Discorrer sobre Plínio Marcos e a sua importância para o te- atro brasileiro é, antes de tudo, bem dominar a história política, econômica, social e cultural do País. A tarefa de gigante foi enca- rada por Lucinéia Contiero, a quem agradeço o prazer a mim con- cedido de poder ler essas páginas antes da sua publicação final. De fato, Lucinéia foi grandiosa; graduada em Letras, Mestra em Teoria da Literatura e Literatura Comparada e Doutora em Literatura e Vida Social, a autora, ao longo desses sete capítu- los, seguiu atenta na busca por informações corretas e métodos mais adequados para o desenvolvimento da pesquisa. Reconhe- ceu e dialogou com a produção existente sobre o seu biografado 8 Plínio Marcos: uma vez mais demonstrando, ao longo de todo o seu escrito, a postura ética que deve ter o pesquisador. Utilizando-se de entrevistas, fotografias, crônicas, artigos autobiográficos, revistas e diferentes jornais, li- vros e ensaios, a autora produziu um rico material. Conhecer a história de Plínio Marcos via palavras de Lu- cinéia Contiero é aproximar-se da história de Santos, desde a in- fluência econômica fruto da economia cafeeira até o seu processo de urbanização decorrente da expansão do seu parque tecnoló- gico-industrial no pós 1950. Mas a aproximação é, também, cul- tural. As informações apresentadas e as relações feitas entre elas dão ao leitor condições de perceber não só o Plínio Marcos e (seu crescimento em) Santos mas também a estrutura da sociedade brasileira do período. Plínio Marcos não foi dos mais assíduos e cuidadosos com a formação escolar. Apesar das dificuldades por falta de formação, foi ator profissional, escritor em alguns dos mais importantes pe- riódicos do país, assim como roteirista de televisão e de musicais, os quais também dirigiu. Conheceu a fama nacional ao atuar em “Beto Rockfeller”, de 1968, período que coincide com a luta contra a censura, acirrada na década de 1970, e da qual Plínio Marcos pode ser considerado como autor recordista com maior incidên- cia de censura às suas obras. Era grande a sua afinidade com os mais pobres e margina- lizados. Isso pode ser visto em sua obra, como bem explicita a muitas vezes montada e remontada peça Dois perdidos numa noi- te suja. O dramaturgo explora a experiência social e os dramas 9 Plínio Marcos: uma vez mais emocionais dos seus personagens de tal forma realista e relaciona- da ao sistema político e econômico em que se encontram no país, que a torna uma espécie de clássico, fazendo-nos pensar nas per- manências históricas brasileiras nas quais “ainda se mata por um par de sapatos”. O cenário abordado é o da pobreza, do deseprego e da falta de um mínimo para a manutenção da sobrevivência do sujeito, o que o leva à criminalidade. A tensão dramática da sua obra ganha ainda mais relevo com Navalha na carne mediante linguagem agressiva e despudorada de seus personagens. A censura, obviamente, fez-se presente e, dife- rente do que ocorreu com Dois perdidos, chegou, ainda, durante os ensaios. Acusada de pornográfica e subversiva, a peça foi proibida antes mesmo de finalizada a sua primeira montagem. Liberada em 1967 com o apoio de outros artistas e influência de alguns em específico, a exemplo de Tônia Carrero, seu texto foi um dos mais premiados por entidades ligadas às artes em São Paulo, no mesmo ano. Seus textos tinham as marcas das suas vivências. Plínio Mar- cos conhecia bem o universo social que explorava em suas peças. Como uma espécie de documentarista da realidade, Plínio Marcos promove quebra de tabus com diálogos dinâmicos e alta dose de tensão entre cenas orientadas por particularidades psi- cossociais dos seus personagens, resultantes, por exemplo, da so- lidão humana e da fragilidade espiritual, como bem dizia o pró- prio Plínio. Muitas outras obras contribuíram para fazer de Plínio Marcos um dos expoentes do teatro brasileiro moderno e por meio delas 10 Plínio Marcos: uma vez mais podemos conhecer mais sobre a história do Brasil e, especialmente, sobre algo específico: a incidência da censura aos artistas nas déca- das de 1960 e 1970. Lucinéia Contiero faz isso muito bem ao dis- correr sobre suas demais obras e seus respectivos percursos na di- nâmica autoritária em que viveu seu biografado. Como bem diz a autora: “vida política sempre repercute na vida cultural”. Lucinéia, portanto, apresenta diferentes aspectos de um tempo e de uma so- ciedade vistos por meio de parte da história de Plínio Marcos. As- sim é que a narrativa de sua vida, de suas experiências pessoais e profissionais ganha mais significado em termos gerais, ao mesmo tempo