Parque Nacional De Itatiaia Diferente Paisagem De Altitude, Que Poucos

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Parque Nacional De Itatiaia Diferente Paisagem De Altitude, Que Poucos Parque Nacional de Itatiaia Diferente paisagem de altitude, que poucos brasileiros conhecem Paulo César Boggiani Por volta de 70 milhões de anos atrás, gigantesca massa de magma quente e fundente se instalava na crosta, comunicando-se com a superfície através de um vulcão de 4 a 5 km de altura, ou até mais. Na parte mais profunda, o resfriamento se dava de forma mais lenta, com tempo para formação de cristais com alguns milímetros. A placa da América do Sul se distanciava da África e o Oceano Atlântico se formava. Neste processo de separação de placas tectônicas, antes unidas, a borda da América do Sul se elevou e foi e vem sendo erodida até a situação atual, formando a Serra do Mar. No fundo do Oceano, na região costeira, formavam-se bacias sedimentares e suas imensas reservas de petróleo e gás dos campos do Pré-Sal. Continente adentro, o relaxamento da crosta provocou abatimento de blocos de rocha, limitados por falhas. Um desses, rebaixado, é serpenteado pelo Rio Paraiba do Sul, a caminho do Rio de Janeiro. A oeste deste rio, levantou-se outro bloco imenso, que veio formar a Serra da Mantiqueira, região elevada que tem os maciços do Passo Quatro e de Itatiaia, como suas maiores altitudes, entre as mais altas do Brasil, acima de 2 500m. Vista da Serra do Mar, mais elevada ao fundo, a partir do mirante no parque do Último Adeus. Abaixo da Serra do Mar, entre essa e a Serra da Mantiqueira, onde se encontra o Maciço de Itatiaia, nota-se a porção rebaixada, na forma de graben (bloco tectônico abatido e limitado por falhas), por onde passa o Rio Paraiba do Sul. Na foto dá para ver seu barramento na Represa do Fu nil. Esquema Geológico do livro clássico Geologia Geral de Leinz & Amaral. As rochas alcalinas que formam os maciços mais altos não seriam mais resistentes do que as que as envolvem, os gnaisses da Serra da Mantiqueira, até porque o provável vulcão que ali existia, tenha sido bem mais elevado e desgastado intensa e rapidamente pela erosão. Isso faz pensar que os maciços são assim tão altos por terem se formado há pouco tempo, em termos do tempo geológico, uma vez que as rochas que o circundam tem mais de 600 milhões de anos e as do maciço apenas 60 a 70 milhões de anos. As rochas alcalinas que formam o maciço de Itatiaia são chamadas de sienito e nefelina-sienitos e se diferem dos granitos por apresentarem pouco ou nenhum quartzo, mineral resistente ao desgaste físico (devido à dureza) e ao intemperismo químico. Devido à grande quantidade de feldspato, são rochas propícias à formação de bauxita, minério de alumínio, através da ação do intemperismo, por isso rochas de interesse econômico. Nefelina é um tipo específico de feldspato. No maciço, observam-se variações quanto à quantidade entre os minerais e no tamanho dos cristais (granulações). A parte central do maciço tem mais quartzo e granulação mais grossa devido, provavelmente, se encontrar no centro da antiga câmara magmática, rochas essas que formam as partes mais altas do Pico das Agulhas Negras e Prateleiras. Nesse local da câmara magmática, antes em profundidade, o magma se resfriava mais lentamente, dando tempo para formação de cristais maiores, ao contrário da borda, onde o resfriamento rápido solidificou o magma e, por isso, a rocha tem cristais menores. As rochas acima da câmara magmática foram, ao longo de dezena de milhões de anos, sendo desgastadas pela erosão, acelerada pelos processos tectônicos de soerguimento da Serra da Mantiqueira, associados à separação continental. Desta forma, as rochas formadas na parte mais profunda da crosta, afloraram na superfície e passaram a compor o relevo da região moldados pela ação integrada entre vegetação e clima, numa interação sistêmica – é o Sistema Terra em funcionamento. Essa interação funciona de forma distinta entre a parte alta e baixa do maciço, e é possível ver essa transição, por volta de 1 800 m, no Hotel do Ypê, um pouco abaixo do complexo das cachoeiras, ao final da estrada interna da parte baixa do parque. A ação do intemperismo sobre as rochas, cujos corpos sólidos foram previamente fraturados pelos movimentos da crosta, formando blocos geométricos, de faces planas, posteriormente arredondados, deve-se a um processo chamado de esfoliação esferoidal. Esse processo pode ser visto no caminho para as prateleiras, onde o intemperismo é mais acentuado nos vértices dos blocos, de forma intermediária nas arestas e menor nas faces, justamente devido à dimuição da área de exposição da rocha frente ao ataque químico. Processo do intemperismo nas rochas de Itatiaia, na estrada para as Prateleiras, agindo com mais intensidade nas fraturas. Processo de formação de blocos arredondados pelo intemperismo em rochas previamente fraturas, denominado “esfoliação esferoidal”, que dá o aspecto de cebola se desfazendo em camadas concêntricas. Extraído de https://www.geocaching.com/play Na parte baixa do parque, podemos ver a exuberância da Mata Atlântica, na parte alta, chamada de planalto, a incrível e diferente paisagem, distintas das que predominam no Brasil, conhecida como campo de altitude. Na parte baixa, repleta de palmeiras de palmito Jussara, o clima mais quente proporciona maior alteração das rochas e solos mais espessos, o que proporciona o desenvolvimento da mata fechada, com algumas araucárias. No alto, sob clima mais frio, a alteração das rochas e formação de solo é mais lenta, mas suficiente para, através da dissolução da água que escorre pelas rochas, formar caneluras, muitas delas que dão o nome ao pico de Agulhas Negras, dada a quantidade das ranhuras na rocha. A vegetação, de campo de altitude, é bem diferente do que se conhece pela região e abriga espécies vegetais raras e endêmicas (só encontrada ali), além do famoso flamenguinho, anfíbio que é o símbolo do parque. Entre os animais no parque, as cobras são raras e a região é muito procurada pelos observadores de aves, com lista de observação de 384 espécies, com abundância dos tico-ticos, antes frequentes nas cidades, segundo texto do plano de manejo do parque. Consta que a trilha dos Três Picos, na parte baixa, é muito boa para observação de aves. É muito comum ver jacuaçus, circulando pelas estradas, com seu característico papo vermelho. Esses, em quantidade, são tratados como animais de estimação no Hotel do Ypê. A região apresenta jaguatiricas, raposas e lobo-guará e facilmente se observa bandos de macacos pregos. Não se imagina paisagem tão distinta em região tão próxima ao eixo São Paulo – Rio de Janeiro, paisagem que lembra, com seus campos entre rochas expostas, às das Highlands da Escócia. Toda essa diferença, em espaço relativamente curto, deve-se à altitute, proporcionada por rochas ainda jovens, geologicamente falando, ainda não totalmente erodidas, como as demais ao redor do maciço. O que chama a atenção, na parte alta, são as exposições rochosas com suas ranhuras e caneluras. Essas ranhuras são chamadas de lapiás, e muito comuns em rochas calcárias, devido à dissolução da rocha pela percolação da água, cuja acidez é acentuada pela matéria orgânica, mais comum na parte alta, preservada pelo frio, formando depósitos de argila preta, conhecidos como turfa. Nota-se, também, na subida para o Pico das Agulhas Negras, inúmeras “bacias” na pedra, denominadas marmitas, também devido à dissolução. Ranhuras ou caneluras (lapiás) na rocha alcalina (nefelina sienito), originadas pela dissolução da rocha pelas águas. As caneluras, ou lapiás (termo mais técnico), proporcionam as escaladas nas faces das rochas. As depressões circulares, mais frequentes nas partes menos inclinadas da rocha são denominadas kamenitzas, e as caneluras lapiás, segundo Talim & Bueno (2014, Revista Brasileira de Geomorfologia, 15(3):327-338), em estudo dessas feições cársticas (nome dado ao relevo de rochas dissolvidas pelas águas, mais usualmente empregado para regiões calcárias, com cavernas). Depressões circulares (kamenitzas) frequentes nas partes mais planas, nas porções mais inclinadas, (parte superior da foto), evoluem para as caneluras (lapiás), e formam degraus naturais, que auxiliam muito as escaladas. (foto extraída de Talim & Bueno, 2014, Revista Brasileira de Geomorfologia, 15(3):327-338). A parte alta do Planalto, que tem como referência o abrigo Rebouças, casa rústica de pedra, referência para muitos excursionistas e alpinistas, ao lado do qual se pode acampar, recebeu esse nome em homenagem ao engenheiro e Abolicionista André Rebouças, o mesmo homenageado como nome de importante avenida em São Paulo, que desce outro planalto, no sentido do Rio Pinheiros e região do Butantan. André Rebouças participou da expedição para a região, juntamente com a Princesa Isabel e seu marido Conde D´Eu e foi um dos primeiros a propor a preservação da região, seguido de outros, como Santos Dumont, até que o parque foi sido criado, por Decreto do Getúlio Vargas, em 1937. André Rebouças fez essa proposta em 1876, quatro anos após a criação do Parque de Yellowstone nos EUA, o primeiro dessa categoria no mundo. André Rebouças pode ser considerado como um dos primeiros a ter o raciocínio do desenvolvimento sustentável, hoje tão propagado, ao se pronunciar pela criação de parques nacionais em 1876 - pois “a geração atual não pode fazer melhor doação às gerações vindouras do que reservar intactas, livres do ferro e do fogo, as belas ilhas do Araguaia e do Paraná”, ao propor outras áreas para preservação, além de Itatiaia. André Rebouças, juntamente como outro abolicionista – Joaquim Nabuco atribuía o descaso com a natureza à escravidão. “Eles procuraram estabelecer uma relação causal entre escravismo e práticas predatórias. A combinação entre a abundância de trabalho cativo, barato, e uma fronteira aberta para a ocupação de novas terras teria estimulado uma ação extensiva e descuidada na produção rural, baseada no avanço das queimadas, deixando terras degradadas e abandonadas”, segundo o historiador José Augusto Pádua, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor de Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista (Zahar).
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