Football: O Legado Colonial
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Entradas e bandeiras: a conquista do Brasil pelo futebol UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Reitor Ricardo Vieiralves de Castro Vice-reitor Paulo Roberto Volpato Dias EDITORA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Conselho Editorial Antonio Augusto Passos Videira Erick Felinto de Oliveira Flora Süssekind Italo Moriconi (presidente) Ivo Barbieri Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves Gilmar Mascarenhas Entradas e bandeiras: a conquista do Brasil pelo futebol Rio de Janeiro 2014 Copyright 2014, Gilmar Mascarenhas. Todos os direitos desta edição reservados à Editora da Universidade do Estado do Rio de Janei- ro. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou de parte do mesmo, em quaisquer meios, sem autorização expressa da editora. EdUERJ Editora da UNIVERSIDADE DO Estado DO RIO DE JANEIRO Rua São Francisco Xavier, 524 – Maracanã CEP 20550-013 – Rio de Janeiro – RJ Tel./Fax: (21) 2334-0720 / 2334-0721 www.eduerj.uerj.br [email protected] Editor Executivo Italo Moriconi Assistente Editorial Eduardo Bianchi Coordenadora Administrativa Rosane Lima Coordenador de Publicações Renato Casimiro Coordenadora de Produção Rosania Rolins Assistente de Produção Mauro Siqueira Revisão Andréa Ribeiro Fábio Flora Capa Carlota Rios Projeto e Diagramação Emilio Biscardi CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/NPROTEC M395 Mascarenhas, Gilmar Entradas e bandeiras: a conquista do Brasil pelo Futebol / Gilmar Mascarenhas. – Rio de Janeiro : EdUERJ, 2014. 256 p. ISBN 978-85-7511-320-2 1. Futebol – Brasil - História. 2. Brasil – Geografia histórica. I. Título. CDU 796.332(81)(091) A Cláudio Moisés, o abraço certo em cada gol. A Edinélia Souza, o gol certo em cada beijo. Aos filhos Paula, Cecília e Rodrigo, meus gols, abraços e beijos. ... Aos olhos marejados de Moisés, que, diante dos olhos fascinados de seu filho, despertou nele a magia do esporte-rei ao lhe narrar façanhas improváveis de Didi, Garrincha e Nilton Santos. Por tudo que me ensinou. À mãe Idalice, que traz no olhar (e em tudo vê) o brilho da Estrela Solitária. E aos olhos do netinho Victor Hugo, que sempre me desconcertam com a pureza, a simplicidade e o esplendor de um drible de Mané Garrincha. Sumário Prefácio: primeiro tempo ..................................................................................9 Roberto Lobato Corrêa Prefácio: segundo tempo ................................................................................ 13 Odette Carvalho de Lima Seabra Agradecimentos ................................................................................................ 17 Apresentação ...................................................................................................... 19 Introdução .......................................................................................................... 23 Parte I – Outras “raízes do Brasil” Capítulo 1 – A “bola nas redes”: uma novidade aporta nos trópicos ........................................................................................................ 39 Capítulo 2 – Uma “retranca” para a adoção do football: o legado colonial ............................................................................................... 59 Capítulo 3 – A modernidade calça chuteiras: o futebol no ritmo da industrialização ................................................................................ 79 Parte II – Política e multidões: a invenção do país do futebol Capítulo 4 – Retratos de um Brasil: rumo à Copa de 1950 ..................................................................................................105 Capítulo 5 – Abrindo estradas e vencendo o localismo: a lenta integração nacional ..........................................................................135 Capítulo 6 – Uma nova paisagem urbana: o gigantismo dos estádios ..............................................................159 Parte III – Espetáculo global e negócios: a reinvenção do futebol Capítulo 7 – A metropolização do futebol: concentração de capital e poder ................................................................................................173 Capítulo 8 – O torcedor em “impedimento”: 2014 e as novas territorialidades ................................................................209 Considerações finais ......................................................................................225 Posfácio: a bola que enredou o Brasil .......................................................233 Referências .......................................................................................................241 Sobre o autor ...................................................................................................255 Prefácio: primeiro tempo Processos e formas produzidos tanto pela natureza como pela ação humana estão necessariamente inscritos no tempo e no espaço, exibindo uma temporalidade e espacialidade, isto é, ori- ginam-se, desenvolvem-se e transformam-se em um tempo mais ou menos longo, a partir de certos locais de onde se espraiam até certos limites espaciais. A espacialidade e a temporalidade estão em toda a parte e em todos os momentos, ocorrendo simultane- amente, ainda que as relações entre elas sejam muito complexas. Incluem todas as esferas da vida, mesmo aquelas que aparente- mente não as exibam. Não é de se estranhar que o futebol exiba uma espacialidade e temporalidade que hoje se tornam globais, universais. Temporalidade e espacialidade expressam-se por meio de duração, frequência, sequência e ritmos, de um lado, e por loca- lização, extensão, concentração, configuração e periferização, de outro. Período, foco inicial, região, território e lugar, por sua vez, são termos que denotam temporalidades e espacialidades. As no- ções de genius tempori (espírito do tempo) e genius loci (espírito do lugar), adicionalmente, vinculam-se às temáticas da tempora- lidade e espacialidade numa perspectiva de intersubjetividade em torno do tempo e do espaço. A geografia histórica, cultivada com paixão, entre nós, por Maurício de Almeida Abreu, constitui-se no campo da geografia 10 Entradas e bandeiras: a conquista do Brasil pelo futebol que analisa a temporalidade e a espacialidade, procurando vê-las conjuntamente. De modo geral, há duas possibilidades de se fazer uma análise em geografia histórica. De um lado, considera-se certa duração do tempo em dada área e realiza-se uma análise diacrôni- ca. Processos e formas mutáveis são o interesse maior por parte do pesquisador. Mudanças e permanências devem ser evidenciadas, pois a análise diacrônica admite a premissa da heterogeneidade do tempo. De outro, situa-se a análise sincrônica na qual determina- da seção do tempo é analisada, vendo-se as combinações de con- figurações que produzem uma relativa homogeneidade. Trata-se da análise de um “presente no passado”, um “presente de então”, diria Maurício de Almeida Abreu. Mas ressalta-se que diacronia e sincronia devem ser vistas de modo relativo, levando-se em conta a escala temporal considerada pelo pesquisador. Ambas as pers- pectivas são úteis e os resultados de uma alimentam a outra. Este livro aborda o espaço-temporalidade do futebol no Brasil do último quartel do século XIX ao ano de 2014, quando no país realiza-se uma Copa do Mundo. Trata-se de uma análise na perspectiva diacrônica, na qual a origem, a difusão e a con- solidação do esporte bretão no país se efetivam. Há uma enor- me originalidade no texto de Gilmar, este geógrafo botafoguense apaixonado pelo futebol. Originalidade porque aborda uma ati- vidade esportiva (e também econômica, política, social e cultu- ral) na perspectiva do espaço e do tempo. Evidencia, assim, como afirmou Denis Cosgrove, que a geografia está em toda a parte. Nós, parafraseando Bruno Latour, é que nem sempre somos su- ficientemente geógrafos para isso perceber. O livro do professor Gilmar valoriza a geografia e particularmente a geografia históri- ca, subcampo ainda pouco cultivado no Brasil. Entradas e bandeiras são uma significativa metáfora que descreve muito bem os caminhos percorridos pelo futebol no Brasil, também conquistado por esse esporte. Conquista que o faz estar presente em muitas e muitas esferas da vida nacional, envol- Prefácio 11 vendo interesses diversos, associado ao Estado, ao grande capital e a uma crescente multidão de fervorosos torcedores. É relevante lembrar, como faz Gilmar, que o primeiro Campeonato Brasileiro de futebol ocorreu apenas em 1971, refletindo a integração terri- torial do Brasil após a realização do Plano de Metas da segunda metade da década de 1950. Foi possível realizar um campeonato com clubes paulistas, cariocas, mineiros, gaúchos e de outras uni- dades da Federação. A integração territorial do Brasil, no entanto, produz uma diferenciação entre áreas, a qual se expressa, entre outros modos, pela concentração de atividades industriais, renda e diversos in- dicadores associados à qualidade de vida. Expressa-se também na distribuição espacial dos times de futebol da primeira divisão, concentrados massivamente no centro-sul. Então, cidades como Campinas e Florianópolis são mais expressivas em termos de fu- tebol que as metrópoles regionais de Fortaleza, Belém e Manaus. Desenvolvimento desigual e combinado também do futebol. O futebol conquistou o país e contribuiu muito para a uni- dade nacional. Mas o futebol brasileiro, como o de outros países, seria absorvido pela globalização, claramente identificada por uma instituição supranacional de regulação em escala global e mais de uma centena de países a ela vinculados. A globalização, da qual a