O Pré-Modernismo

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O Pré-Modernismo Literatura Rodrigo Nóbrega Martins “A rotina arrota amargo, trava a boca. Torna comum o tempo, ‘Acostumiza’”. Marta Sousa. 16/10/14. O Pré-modernismo As marcas da transição entre o Simbolismo e o Modernismo Primeiras Palavras pré-modernismo foi um periodo stravam íntima relação com a realidade brasileira ano Lasar Segall. Apenas em 1917 uma forte rea- cultural brasileiro, que marca a e as tensões vividas pela sociedade do período. ção à exposição de Anita Malfatti expõe o confron- transição entre o simbolismo e o Contudo, mesmo os ’renovadores’, apesar de to que redundaria na Semana de Arte Moderna de movimento modernista. O termo iniciarem um rompimento com a temática dos 1922. Ganham destaque os periódicos O Malho, O pareceO ter sido criado por Tristão de Athayde, para períodos anteriores, não avançaram o bastante Tico tico e a revista Fon-Fon, ambas da primeira designar os "escritores contemporâneos do neo- para serem considerados modernos. década do século XX, que, por apresentarem uma parnasianismo, entre 1910 e 1920". No ambiente literário estão ativos autores linguagem mais objetiva e cotidiana, fortaleciam o momento histórico brasileiro interferiu na parnasianos, como Olavo Bilac, Raimundo Correia as estéticas de vanguarda, que pretendiam romper produção literária, marcando a transição dos e Francisca Júlia da Silva; neo-parnasianos como com os modelos clássicos, tal como buscavam os valores éticos do século XIX para uma nova reali- Martins Fontes e Goulart de Andrade. Simbolistas pré-modernistas. dade que se desenhava, pautada por uma série de como Emiliano Perneta e Pereira da Silva, con- novos movimentos de cunho religioso, como, por vivem com escritores pré-modernistas: Graça exemplo, o Padre Cícero e Antônio Conselheiro, Aranha, Lima Barreto e Euclides da Cunha, estuda- bem como o cangaço, no Nordeste; as revoltas da dos a seguir. Vacina e da Chibata, no Rio de Janeiro, as greves Outras manifestações artísticas também operárias em São Paulo e a Guerra do Contestado se destacam nesse período. Na música assis- na fronteira entre Paraná e Santa Catarina. tiu, tem-se a primeira gravação feita no A política seguia marcadamente dirigida pela país por Xisto Bahia. Há uma penetração oligarquia rural, com o nascimento da burguesia nas camadas mais elevadas de mani- urbana, a industrialização, segregação dos negros festações até então restritos às pós-abolição, o surgimento do proletariado e, camadas mais populares – ritmos finalmente, a imigração europeia. como o maxixe, a toada, a Além desses fatos somam-se as lutas políticas modinha e a serenata e o constantes pelo coronelismo, e disputas provincia- samba. Cresce o carnaval do nas como as existentes no Rio Grande do Sul entre Rio de Janeiro, e ganham maragatos e republicanos. sucesso compositores como Caracteriza-se o pré-modernismo por certa Chiquinha Gonzaga. Na música ambiguidade. Deve-se, sobre isto, entender que se erudita, o nome representativo trata de um período de transição. Muitos estudi- foi o de Alberto Nepomuceno, osos nem consideram esta manifestação cultural com composições nacionalistas. como estilo ou escola literária, dado à forte indi- Na pintura, através da Escola vidualidade das obras, o que não permite agrupá- Nacional de Belas-Artes, no Rio las senão em dois grandes grupos: (1) conser- de Janeiro, vigora o academi- vadorismo: traziam na sua estética os valores cismo, passando despercebida a naturalistas e simbolistas; (2) renovação: demon- exposição feita em 1913 pelo litu- Revistas do início do século XX. Autores pré-modernistas: Graça Aranha escritor e diplomata brasileiro, imortal diplomática. Como diplomata, serviu fontes muito diferentes e às vezes da Academia Brasileira de Letras, em Londres, com Joaquim Nabuco, e contraditórias. Participou da Semana considerado pré-modernista no Brasil, foi ministro na Noruega, Holanda e na de Arte Moderna de 1922, sendo um sendo um dos organizadores da Sema- França, onde se aposentou. dos organizadores, quando pronun- na de Arte Moderna de 1922. Assumiu o cargo de juiz de direito ciou o texto “A Emoção Estética na Devido aos cargos que ocupou na no Rio de Janeiro, ocupando depois a Arte Moderna”, defendendo uma arte, diplomacia brasileira em países da mesma função em Porto do Cachoeiro uma poesia e uma música novas, com Europa, esteve a par dos movimentos (hoje Santa Leopoldina), no Espírito algo do "Espírito Novo". Rompe com a vanguardistas, tendo tentado introduzi Santo. Nesse município buscou ele- ABL em 1924, a qual acusou de pas- -los, à sua maneira, na literatura bra- mentos necessários para criar sua obra sadista e dotada de total imobilismo sileira, rompendo com a Academia mais importante, Canaã, um marco do literário. Chegou a declarar "Se a Aca- Brasileira de Letras por isso em 1924. pré-modernismo, publicada em 1902, demia se desvia desse movimento Nascido em uma família abastada, junto com Os Sertões, de Euclides da regenerador, se a Academia não se José Pereira da Graça Aranha (São Graça Aranha graduou-se em direito Cunha. renova, morra a Academia!". Encontra Luís, 21 de junho de 1868 — Rio de pela Faculdade do Recife e exerceu Graça Aranha apresentou uma -se colaboração da sua autoria na Janeiro, 26 de janeiro de 1931) foi um cargos na magistratura e na carreira visão filosófica e artística assimilada de revista luso-brasileira Atlântida. 21 Canudos, Euclides adota um jaguncinho chamado Ludgero, a Lima Barreto quem se refere em sua caderneta de campo. Fraco e doente, o menino é levado para São Paulo, onde Euclides entrega-o a seu amigo, o educador Gabriel Prestes. O menino é rebatizado de Ludgero Prestes. Euclides deixou Canudos quatro dias antes do fim da guerra, não chegando a presenciar o final. Mas conseguiu reunir material para elaborar Os Sertões: campanha de Canudos (1902). O livro foi escrito "nos raros intervalos de folga de uma carreira fa- tigante", visto que Euclides se encontrava em São José do Rio EUCLIDES DA CUNHA, OS SERTÕES E A Pardo liderando a construção de uma ponte metálica. Na obra, ele rompe por completo com suas ideias anteriores e pré- TRAGÉDIA DA PIEDADE concebidas, segundo as quais o movimento de Canudos seria fonso Henriques comandado à distância por fortes monarquistas. Percebe que se de Lima Barreto, Do destaque de “Os Sertões” à tragédia melhor conhecido da piedade. Um pouco da vida conturbada trata de uma sociedade completamente diferente. De certa for- como Lima Barre- de Euclides da Cunha e Anna Ribeiro. ma, descobre o verdadeiro interior do Brasil, que mostrou ser muito diferente da representação usual que dele se tinha. to, nascido no Rio de AJaneiro em 13 de maio de Euclides se tornou internacionalmente famoso com a publi- uclides Rodrigues da Cunha (Cantagalo, 20 1881, foi jornalista e um destaca- de janeiro de 1866 — Rio de Janeiro, 15 de cação desta obra que lhe valeu vagas para a ABL (Academia Bra- do escritor brasileiro. E Agosto de 1909) foi um engenheiro, militar, sileira de Letras) e para o IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Negro nascido de escravos, físico, naturalista, jornalista, geólogo, geógrafo, Brasileiro). A obra divide-se em três partes: a terra, o homem e a aprendeu tipografia no Imperial botânico, zoólogo, hidrógrafo, historiador, so- luta. Nelas Euclides analisa, respectivamente, as características Instituto Artístico, que imprimia o periódico "A Semana Ilustrada". ciólogo, professor, filósofo, poeta, romancista, geológicas, botânicas, zoológicas e hidrográficas da região, a vida, Sua mãe foi educada com es- ensaísta e escritor brasileiro. os costumes e a religiosidade sertaneja e, enfim, narra os fatos ocorridos nas quatro expedições enviadas ao arrayal liderado por mero, sendo professora da 1ª à Filho de Manuel Rodrigues da Cunha Pimenta e 4ª séries. Ela faleceu quando Antônio Conselheiro. Eudóxia Alves Moreira da Cunha. Órfão de mãe Lima Barreto tinha apenas 6 desde os 3 anos, passa a viver em casas de Em agosto de 1904, foi nomeado chefe da comissão mista anos, tendo, seu pai, que tra- parentes em Teresópolis, São Fidélis e Rio de Janei- brasileiro-peruana de reconhecimento do Alto Purus, com o balhar muito para sustentar os ro. Em 1883 ingressa no Colégio Aquino, onde foi objetivo de cooperar para a demarcação de limites entre o Brasil quatro filhos do casal. aluno de Benjamin Constant, que muito influenciou e o Peru. Neste interregno, sua esposa, Anna Emília Ribeiro (34), João Henriques, pai do escri- tor, era monarquista, ligado ao a sua formação introduzindo-lhe à filosofia positiv- torna-se amante de um jovem tenente 17 anos mais novo do que ela: Dilermando de Assis. Ainda casada com Euclides, Anna teve visconde de Ouro Preto, padri- ista. nho do futuro escritor. As lem- Em 1885, ingressa dois filhos de Dilermando. Um deles morreu ainda bebê. O outro branças saudosistas do fim do na Escola Politécnica, período imperial no Brasil, bem e no ano seguinte, na filho era chamado por Euclides de como as reminicências da Escola Militar da Praia "a espiga de milho no meio do Abolição da Escravatura na Vermelha. cafezal", por ser o único louro infância vieram a exercer influên- Contagiado pelo numa família de morenos. Aparen- cia sobre a visão crítica de Lima ardor republicano dos temente, Euclides aceitou como Barreto sobre o regime republi- seu esse menino louro. A traição de cano. Faleceu aos 41 anos. Foi cadetes e de Benjamin sepultado no Cemitério de São Constant, professor da Anna desencadeou uma tragédia em 1909. Após esperar a noite João Batista no Rio de Janeiro. Escola Militar, durante Em sua obra, de temática inteira por sua mulher, que dormia uma revista às tropas social, privilegiou os pobres, os atirou sua espada aos com Dilermando, Euclides tomou boêmios e os arruinados. Foi um decisão: lavar a honra com pés do ministro da O velório de Euclides da Cunha severamente criticado por escri- Guerra, Tomás Coe- sangue.
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