A Era Fhc Nas Representações Da Mídia Impressa (1993 – 2002)
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Universidade de Brasília Instituto de Ciências Humanas Departamento de História Programa de Pós-Graduação NUNCA FOI TÃO FÁCIL FAZER UMA CRUZ NUMA CÉDULA? A ERA FHC NAS REPRESENTAÇÕES DA MÍDIA IMPRESSA (1993 – 2002) David Renault da Silva Brasília, dezembro de 2006 I Universidade de Brasília Instituto de Ciências Humanas Departamento de História Programa de Pós-Graduação NUNCA FOI TÃO FÁCIL FAZER UMA CRUZ NUMA CÉDULA? A ERA FHC NAS REPRESENTAÇÕES DA MÍDIA IMPRESSA (1993 – 2002) David Renault da Silva Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília – Área de Concentração: História Cultural, Linha de Pesquisa: Identidades, Tradições e Processos – para a obtenção do título de Doutor em História. Orientadora: Profª Dra. Maria T. Ferraz Negrão de Mello Brasília, dezembro de 2006 II NUNCA FOI TÃO FÁCIL FAZER UMA CRUZ NUMA CÉDULA? A ERA FHC NAS REPRESENTAÇÕES DA MÍDIA IMPRESSA (1993 – 2002) Banca examinadora Profª Dra. Maria T. Ferraz Negrão de Mello (Presidente) Prof. Dr. Antônio José Barbosa (Membro) Profª Dra. Eleonora Zicari Costa de Brito (Membro) Prof. Dr. Luiz Gonzaga Motta (Membro) Profª Dra. Teresinha Aparecida Mendes Marra (Membro) Profª Dra. Márcia de Melo Martins Kuyumjian (Suplente) III O ÚLTIMO POEMA Assim eu quereria o meu último poema Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos A paixão dos suicidas que se matam sem explicação Manuel Bandeira IV Para seu Mundinho e dona Cenira, o começo de tudo, na gloriosa Santana dos Brejos, sertão da Bahia. Para Tomás, Olívia e Mateus, meus filhos adorados. V AGRADECIMENTOS Muito obrigado a todos que compartilharam comigo o caminho nesta jornada, desde que decidi iniciar o doutorado, no Programa de Pós-graduação em História da Universidade de Brasília. Agradeço aos colegas estudantes e professores deste programa pelas frutíferas discussões que me abriram novos horizontes. Agradeço também aos colegas professores e funcionários da Faculdade de Comunicação da UnB, pelo estímulo, o apoio e, sobretudo, a boa vontade com que cobriram minhas obrigações nos dois anos em que fiquei de licença. Grato a Francisco de Paula e Oliveira Filho, o Chicão, revisor diligente e ágil dos textos originais, e aos amigos e amigas que minimizaram os momentos de solidão tão comum neste tipo de trabalho. Obrigado aos integrantes da Banca examinadora, professores doutores Antônio José Barbosa, Eleonora Zicari Costa de Brito, Luiz Gonzaga Motta e Teresinha Aparecida Mendes Marra, por deixarem outros afazeres e dedicarem o precioso tempo no exame desta tese. Meus agradecimentos, em especial, à querida amiga e professora orientadora Tereza Negrão de Mello, que indicou os primeiros passos em busca da conciliação entre jornalismo e história, desde a preparação do projeto original apresentado ao programa de pós-graduação da História. E também foi o porto seguro em que sempre aportei, quando os ventos ameaçavam- me levar não sei para onde. A todos o meu carinho para sempre. VI RESUMO A tese tem como pressuposto a convicção de que a história e o jornalismo são, como campos do saber, áreas que se entrecruzam. Neste entendimento e com base em um corpus principal, constituído de matérias selecionadas de jornais e revistas, complementado por uma corpus auxiliar, constituído com fontes plurais, objetivou-se rastrear a performance da imprensa na chamada “Era FHC”. Como hipótese de trabalho, e com o argumento de que o Plano Real alavancou a candidatura de Fernando Henrique Cardoso para a Presidência da República, em 1994, a investigação rastreou indícios nas representações veiculadas pela mídia. Construída ao abrigo da História Cultural e referenciais nela disponibilizados, a narrativa se desenvolve de modo a evidenciar que o enunciado em circulação - “nunca foi tão fácil fazer uma cruz numa cédula” - tem limites impostos por pontos de inflexão, nos quais a mídia, preservando a imagem do sociólogo-ator político, veicula discursos ambientados em condições específicas, nas quais se privilegiam a informação, função constitutiva do fazer jornalístico. Nunca foi tão fácil fazer uma cruz numa cédula? Palavras-chave: Representações, mídia impressa, política, discurso, Era FHC, eleição presidencial VII ABSTRACT The premise of this thesis is the conviction that history and journalism are, as knowledge fields, interconnected areas. With this understanding and based on a main corpus, formed by articles selected from newspapers and magazines, supplemented by an auxiliary corpus, formed by many different sources, this work aimed at tracing the performance of the press in the so- called “FHC Period”. As work hypothesis and with the argument that the Real Plan supported Fernando Henrique Cardoso’s candidature for the Presidency of the Republic in 1994, this research followed evidences in the representations spread in the media. Built based on the Cultural History and its references, the report is developed with a view to evidence that the widespread statement - “it was never so easy to make a cross in a bank note” - has limits imposed by points of inflexion, in which media, preserving the image of the sociologist-actor politician, diffuses speeches oriented by specific conditions, in which information, the constituent function of journalism, is privileged. Was it ever so easy to make a cross in a bank note? Key-words: Representations, printed media, politics, speeches, FHC Period, presidential election VIII SUMÁRIO INTRODUÇÃO 11 CAPÍTULO I – DOS BANCOS UNIVERSITÁRIOS A CANUDOS 26 I.1 A grande tacada. E agora, vai? 27 I.2 Plano para ação imediata 39 I.3 A sociedade e a mídia reagem ao plano 44 I.4 Surpresa, um plano sem surpresa 61 I.5 A largada da candidatura 73 I.6 Sai FHC, entra Ricupero. Tudo na mesma 79 I.7 O real entra em cena 89 I.8 No rastro da moeda, em cima do cavalo, com chapéu de cangaceiro 106 I.9 A cobertura das eleições 124 CAPÍTULO II – OS EMBATES VITORIOSOS COM A OPOSIÇÃO E A RENDIÇÃO AO CONGRESSO 131 II.1 A posse junto ao povo 132 II.2 A primeira crise do câmbio 141 II.3 A complicada sustentação política no Congresso 152 II.4 Os petroleiros vão à lona 161 II.5 O petróleo já não é nosso 170 II.6 Com um ano de vida, um real consolidado 176 II.7 A quebra de grandes bancos 182 II.8 O escândalo na porta do presidente 191 II.9 Oposições ameaçam, governo entrega cargos e retoma o controle 200 IX CAPÍTULO IIII – O AMARGO SABOR DAS DENÚNCIAS, UMA REELEIÇÃO TRANQÜILA 207 III.1 As oposições não seguram a reeleição 208 III.2 A marca da compra dos deputados 216 III.3 Uma reeleição tranqüila, em meio às turbulências internacionais 229 III.4 O arrocho que veio depois do voto 246 III.5 Do grampo clandestino à conta secreta 251 III.6 O primeiro mandato chega ao fim cheio de problemas 261 CAPÍTULO IV – E TUDO PARECIA FÁCIL PARA O NOVO MANDATO 267 IV.1 Na crise econômica, uma posse modesta 268 IV.2 A pedra no sapato de FHC 273 IV.3 O caos cambial e o rompimento do pacto 280 IV.4 O fiasco dos 500 anos, os amigos incômodos, o apagão 292 IV.5A ruptura com o velho aliado. A nova luta contra as CPIs 299 VI.6 Para os brasileiros, o melhor presidente 311 IV.7 O balanço de FHC sobre si mesmo, o governo e a imprensa 324 CONCLUSÃO 338 CORPUS DOCUMENTAL 349 BIBLIOGRAFIA - 351 X INTRODUÇÃO Quando o ministro Fernando Henrique Cardoso deixou o Ministério da Fazenda, em 31 de março de 1994, para se candidatar à Presidência da República, o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva parecia imbatível nas eleições que se realizariam em outubro daquele ano. Com um mês de campanha, Fernando Henrique tinha 16% das intenções de votos dos brasileiros, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha nos dias 2 e 3 de maio, enquanto Lula da Silva somava 42%. Dos outros candidatos, os dois mais citados na pesquisa foram Leonel Brizola, com 8%, e Orestes Quércia, com 7%. 1 Lembre-se que Lula perdera para Fernando Collor de Mello em votação em segundo turno, em novembro de 1989, na primeira eleição presidencial direta do país, após o golpe militar de 31 de março de 1964, o qual destituiu do poder o presidente João Goulart. No ano seguinte, anunciou o chamado “governo paralelo” para fazer oposição a Collor e, em 93, iniciaria as “caravanas da cidadania”, com viagens que percorreram as regiões brasileiras, com o objetivo de melhor conhecer a sua realidade, buscar idéias e definir propostas para um futuro governo. Os contatos diretos com a população, que na verdade já representavam nova campanha eleitoral, e a desilusão de parte da sociedade com a corrupção no governo e o posterior impeachment de Collor, menos de três anos depois da posse, reforçaram o crédito acumulado por Lula na eleição de 89, colocando-o na posição de favorito nas pesquisas eleitorais para 94. Ao final de junho de 1994, Lula da Silva ainda era de longe o primeiro colocado nas pesquisas, mas uma avalanche desabaria sobre ele e sua candidatura a partir do começo de julho: o real, a nova moeda nacional que começou a circular depois de seis meses de preparação. O Real, o Plano Econômico, e a sua moeda do mesmo nome mudaram o cenário eleitoral de 94 e foram fundamentais para eleger Fernando Henrique, que desde o Ministério da Fazenda começara a ser chamado por uma sigla que se tornaria uma marca: FHC. Fernando Henrique e o Plano são em parte produtos de Itamar Franco, que nasceu em 28 de junho de 1930 a bordo de um navio que fazia uma viagem entre Salvador e o Rio de Janeiro.