Eleições, Política Externa E Os Desafios Do Novo Governo Brasileiro
INVESTIGACIÓN Y ANÁLISIS Eleições, política externa e os desafios do novo governo brasileiro Guilherme Casarões Introdução Nas eleições de 2018, a política externa saiu da cozinha e entrou na sala de estar. Mas, em vez de sentar-se educadamente com os demais, causou transtorno e espanto ao subir em cima da mesa. De tema secundário nos debates eleitorais1, os temas ligados à diplomacia e integração regional foram motivo de muita polêmica ao longo da corrida presidencial. Isso se deveu a dois fatores fundamentais: em primeiro lugar, a polarização entre petismo e antipetismo, que pare- ce ter atingido seu auge neste ciclo eleitoral, colocou em evidência determinadas relações – chamadas, com conotações negativas, de “ideológicas” – estabelecidas pelos governos do PT com países como Cuba ou Venezuela, símbolos da esquerda autoritária. A utilização eleitoral, como tática de medo, do relacionamento com vizinhos la- tino-americanos não somente contaminou o debate sobre integração regional, como também disseminou analogias contrárias ao PT, segundo PENSAMIENTO PROPIO 49-50 PENSAMIENTO 231 Eleições, política externa e os desafios do novo governo brasileiro as quais o partido transformaria o Brasil em “uma nova Venezuela”2, obstruindo qualquer diálogo construtivo sobre o futuro daquele país. Em segundo lugar, a candidatura de Jair Bolsonaro apresentou-se como um polo novo, de extrema direita, com traços liberais na economia e profundamente conservador nos costumes. Sua orientação era não somente antipetista, como antissistema. Isso forçou o PT para uma posição mais à esquerda – que se manifestou, entre outras coisas, nas propostas de uma constituinte popular e de controle social das insti- tuições democráticas – e criou um “centro ampliado” com pequenas variações programáticas, ocupado por candidaturas como as de Ciro Gomes, Marina Silva e Geraldo Alckmin.
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